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reforma 9^ W \ Ctstifl de Pasl^ü N. 0 BIBLIOTECA

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reforma

9^

W \

Ctstifl de Pasl^ü N.0

BIBLIOTECA

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SÍNVICALISMO

Fi* BUSCA DA UNIDADE POLÍTICA

EM TEMPO 08 a 21/04/82

Ern anos anteriores, a realização do 1° de Maio em S. Bernardo era automática. A pujança das

iutas naqueJa região não deixava margem a nenhuma dúvida. Ern 198i, quando não houve mobilizações grevistas no ABC, tivemos a realização de dois atos no i.^de Maio em São Paulo, sem nenhuma unificação política, somando o caráter de ama disputa entre as duas manifestações.

Agora, esía questão volta a se colocar. O movimento sindical, apesar de não ter perdido seu ânimo de luta, parece ter abandonado temporariamente a realiza- ção das grandes greves por categoria, optando por greves localizadas, por fábricas, procurando atingir objetivos específicos e bem medidos. A prudência, o passo medido é a principal característica deste momento.

Ao mesmo tempo que não existem grandes mobilizações grevistas, as articu- lações inter-síndicais demonstram enorme fraqueza. A pró-CUT, apesar de ler definido eixos de iutas nacionais comuns para o i.'": de Maio na sua última reunião, praticamente limitou a isso sua iniciativa para a organização desta data.

Num quadro como esse, que apresenta ainda nítidas diferenciações políticas dentro do movimento sindical, como fazer para que o 1.° de Maio contribua para a solidificação de um sentimento unitário no movimento sindicai, e para a organiza- ção do movimenso operário?

A Comissão Sindical L'nfca Uma possibilidade neste sentido foi

aberta pela Comissão Sindical Única de SP (CSU) que aprovou a realização de um !." de Maio na praça da Sé. baseado nos pontos aprovados pela pró-CUT; contra o pacote previdenciário; pelo fim do desemprego; pela liberdade e autonomia sindical; pelas liberdades democráticas. O ato terá como base de organização os sindicatos, responsáveis pela propaganda do evento nas suas bases.

No entanto, a CSU simplesmente não assumiu a última das palavras de ordem aprovadas até mesmo na pró-CUT: pela construção da Central Única. Isso poderá fazer com que deixemos de falar da CUT no I.0 de Maio. na importância dç se consolidar a unidade pela base dos trabalhadores brasileiros.

Ao mesmo tempo, a CSU propôs às Federações a feitura de um boletim e um cartaz únicos, além de um jornalzinho alusivo à data. Com medidas como essa. atribui-se às Federações o papel de órgãos unificadores do movimento sindical, numa política oficiaiista. servi! em relação a estrutura sindical. Passa-se às Federações o pape! que deveria ser da pró-CUT ou de uma futura CUT.

A decisão mais importante tomada pela CSU foi a de procurar descentralizar a realização do ií* de Maio. Menos por razões geografias, mas acima de tudo para contornar a já evidente realização de

vários atos no 1." de Maio sem nenhuma unidade política, a decisão foi uma adaptação à realidade atual do movi- mento sindical.

Serão realizadas manifestações nesta data em todas as cidades ou municípios que assim o desejarem, e mesmo as palavras de ordem aprovadas nesta reunião, são suficientemente amplas para permitirem que cada uma das correntes de opinião acentue ou acrescente os temas que julgar mais apropriados, em tornados eixos centrais.

A descentralização em São Paulo

Ao mesmo tempo, por outras raz.ões, setores da ANAMPOS Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Oposições ■ basicamente os movimen- tos populares e oposições sindicais, tomaram a iniciativa de procurar realizar atos nas concentrações industriais da fírande São Paulo, em Osasco, englo- bando a zona oeste de S. Paulo, em Santo Amaro, na zona leste e na região de haquera,

A iniciativa foi tomada com o objetivo explícito de esvaziar o ato da praça da Sé, mas, na conjuntura atual do movimento sindical, a regionalização pode permitir uma maior integração entre os movimentos regionais, uma maior massificação e contribuir para a' rir espaço para alguma consolidação orga- nizativa. Nas regiões onde for realizado.

A decisão incorre em alguns riscos sérios. Os eixos do !;' de Maio foram definidos pela pró-CUT, que foi eleita num congiesso operário. Suas diretrizes políticas, por isso, devem ser seguidas até mesmo por aqueles que tem divergências com elas. Num momento em que se prepara o í" Congresso das Classes Trabalhadores os setores classistas têm todo o interesse cm disulgar as bandeiras da 1:' CONCl.AT até mesmo para criar condições políticas para estabelecer uma maioria no CONCl.AT que se aproxima. Portanto, é necessário que os atos das regionais do tf de Maio se realizem também sob as bandeiras do pró-CUT.

Ao mesmo lempo. a decisão da CSU é suficientemente ampla para permitir que a realização de vários atos não tomem o caráter de disputa entre si. É perfeita- mente possível estender o convite nos atos regionais para todos que quiserem participar e até mesmo que os organizado- res destes atos regionais enviem represen- tantes à praça da Sé.

Combinaria-se assim a descentraliza- ção geográfica com um esforço para que o movimento marche sob bandeiras co- muns. Pois não seria correto utilizar a possibilidade de descentralização do l| de Maio para alimentar os anseios sectários e divisionistas que existem no movimento, ou a ansiedasde de alguns que "não agüentam" conviver com reformistas.'A idéia da unidade descria estar presente, então em todos os at^v pela palavra de ordem da construção da CU I. O

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SIlfPICAlISMO

PRÓ-CUT DEFINE AS REGRAS

Reunida no lim de semana «n Brasília, a pró-ClM apnnou. entre outros assuntos, o temário

■ os entenos de panicipação para os t*t I.A Is c para o CONCI.A 1

Tendo resolvido as palavras de ordem para o |f de maio (fora o pacote da pre- vidência; fim do desemprego: liberdade e l"1,0"0™3 indicai; pela construção da t-L I). foi delimdo que a data-limitc para a realração dos ENCLATs é 30 de iunho r-^v^.17""0- Vi,lido lambé™ Para o v-UNLLAi, seta o seguinte:

1 - Questão nacional e o avanço da^ lutas da classe trabalhadora: a - análise da conjuntura; 0 - atuação das entidades inter-sindicais na condução da luta dos trabalhadores c - plano de lutas:

2 - O movimento sindical organi- zação da Cl'! ia nível nacional e esta- dual): a - eana.de princípios: b - estatuto: c - relações internacionais;

3 - A questão internacional (avaliação da conjuntura internacional).

Os critérios de participação, também validos, para o CONCLAT:

i ,wJÍ,ef)rias corn base temtonal de até -AXK); 2 diretores; I delegado de base- ate lO.OW. 3 diretores. 2 delegados de base-

ai." Síü^4*^** 6 dek-^d« de base; ate mxm: 5 diretores: lüdelegadosdebase ;ite J

)(!^6(lirelores: ,4dele8adosdehase:

nms de 200,000:7 diretores: 18delegadosde

Comparando com os do ano passado os entenos atuais levarão a uma significativa diminuição do número de delegados, já que praticamente redu/em pela metade o nú- mero de participantes nas diversas faixas numéricas.

Além disso, ficou aprovado que as

EM TEMPO 8 21/4/82

fedecações e confederações podem enviar até sete delegados por diretona. As entida- des de funcionários públicos registradas têm direito a um delegado por diretona e os de- legados de base na mesma proporção dos sindicatos, mas com base no número de as- sociados. As entidades nacionais do fun- cionalismo terão direito de enviar até três delegados por diretoria.

Previdência Social Sobre a Previdência Social, a pió-CT I

resolveu aderir às propostas aprovadas na última reunião da CM I. realizada em 28 de março, que optou pela reali/açào de uma caravana à Brasília no dia_2 de junho e por uma manifestação pública em frente ao Congresso Nacional. Nota-se cada ve/ mais uma tentativa dos pelegos e refor- mistas de envolver a pió-Cl'! com as confederações e federações, buscando construir "por cima" uma Central Sindi- cal:

Um dado até certo ponto ridículo da reunião, foi a pró-Cl'T ter resolvido não votar uma moção de apoio e saudação à comissão de fábrica da Ford. A moção tinha sido apresentada na reunião ante- rior; alegou-se falta de informação e foram solicitados maiores esclarecimentos, que foram dados nesta reunião por Jair Mcnegueli. presidente do Sindicato de S. Bernardo. Mesmo assim, a maioria pelega leva a pró-CUT ao ponto de não saudar, não se importar com o avanço da orga- nização de base dos trabalhadores.

Isto tudo deve fazer todo mundo abrir o olho: tudo indica que os reformistas estão satisfeitos com a maioria que conseguiram na pró-CUT. e estão fazendo corpo mole na preparação da CONCLAT. Procuram também reduzir o número de delegados para poder melhor controlá-la. É hora de começar a acelerar a preparação do sin- dicalismo classista nos ENCLATs. abrindo ao máximo esta discussão.

cx Nossog x\ey>áos viãb mal!

Ou vtocè compra ^m áe postos televisores

ou òerexnos obr^ados a denülHoí

SITUAÇÃO

INTERNACIONAL

SERÁ TEMA DE

DEBATE NA

SEGUNDA CONCLAT

EM AGOSTO GAZETA MERCANTIL 09/04/82

por Ar.osro Toixeiro de Brasllio

Além de entidades como a Organização Internacio- nal do Trabalho (OIT), da qual participam era condi- ções igualitárias trabalha- dores, governos e empresá- rios, e a Federação Sindi- cal Mundial, de orientação comunista, serão convida- dos a participar da 2' COB- feréncia Nacional das Cias.' ses Trabalhadoras (2" Con- clat). em agosto, sindica- listas da Nicarágua e de El Salvador. Esta foi a manei- ra encontrada pela Comis- são Nacional Pró-Central Única dos Trabalhadores (Pró-CUT) de solidari. se com a luta do movimen- to sindical dessas nações da América Central.

A vinda de um sindicalis- ta de. cada país, segundo decisão da Pró-CUT, insere-se em um dos temas a serem tratados na confe- rência: a questão interna- cional. Concluiu-se que o movimento sindical brasi- leiro não pode ficar alheio aos problemas enfrentados pelos trabalhadores de ou- tros países, principalmente os que lutam em condições adversas, como na guerra civil salvadorenha, e vi- vem dificuldades para afirmar-se como nações políticas e economicamen- te estáveis, como a Nicará- gua.

JULGAMENTO Sexta-feira da próxima

semana, dia 16, haverá, em Brasília, o julgamento dos onze sindicalistas do ABC pelo Superior Tribunal Mi- litar (STM)acusados de te- rem incitado à greve, em abril-maio de 1C80, os me- talúrgicos da região. A Pró-CUT decidiu convocar os dirigentes sindicais do País para assistirem à ses- são e enviou telegramas so- licitando a entidades inter- nacionais que mandem re- presentantes.

Ao julgá-los pela segv-^a vez, em novembro do auo passado, a Segunda Audito- ria Militar de São Paulo condenou-os a' penas que variam de dois a três anos e meio.

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SWVICALISUÕ

CHTI CONCLAMA OS TRABALHADORES A VOTAREM CONTRA O GOVERNO HORA DO POVO 29/03 a 09/04/82

No momento cm que todo o poyo brasileiro se prepara para derro-

tatr o PDS nas eleições que se avizinham, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI) realizou uma de suas mais importantes reuniões, e, de acordo com o anseio que toma conta da Na- çào, aprovou uma conclama- do a todos oi trabalhadores brasileiros, no sentido de vo- tarem contra o governo cm 15 de novembro, principalmen- te se o famigerado pacote da Previdência não for retirado pelo Executivo.

O encontro ocorreu em Brasília nos dias 27 e 28/03, com a participação de 60 fede- rações, « mais de 350 sindica- tos de todo o país. Foi marca- do por um forte sentimento de unidade, entusiasmo c in- tensa disposição de luta para barrar o decreto 1.910/81, do presidente Figueiredo.

A realização de uma imensa concentração em Brasília no dia 2 de junho contra esta pro- vocação do governo, configu- rada no pacote daPrevidência - conforme a maioria dos diri- gentes sindicais enfatizou - a .organização do 1? de Maio Unitário, como um dia de protesto contra o roubo da Previdência, foram também propostas aprovadas por acla- mação, ao fina! da reunião, quando o presidente da oNTl, Ary Campista, que as

■relatou, foi aplaudido de pé.

JAIR SOARES LEVOU MINISTÉRIO À FALÊNCIA

Na ocasião, Ricardo Baldi- no, prcsidçnte do Sindicato dos Trabalhadores na Cons- trução Civil de Porto Alegre, foi enfático ao afirmar que "o Rio Grande do Sul está de luto e os trabalhadores gaúchos re-

voltados por verem a falência do Ministério da Previdência e à frente dele o (des}Ministro Jair Soares, que prega cm sua campanha eleitoral o lema; quem fez, fará. Acontece que quem faliu a Previdência, não vai falir o Rio Grande do Sul!"

Ricardo Baidino, que é também membro da domis- são Nacional Prô-Centrai Oni- ca dos Trabalhadores denun- ciou que ' 'em vista do Exerti- tivo estar jogando pesado e o legislativo ter maioria do PDS, pode-se deduzir que vão manobrar, como estão fa- zendo, para não ler o decreto agora c votá-lo depois das elei- ções. A nossa proposta vem no sentido de que o presidente Figueiredo retire ou anule o decreto-lei, sob pena do sen p?ttido ser ainda mais vergo- nhosamente derrotado nas eleições, pois a disposição dos trabalhaaores é de votar em massa contra o PDS''.

Prestigiando a iniciativa da CNTI e demonstrando a dis- posição de consolidar com vi- gor a unidade dos trabalhado- res do campo c da cidade, es- teve presente ao grandioso en- contro, o líder máximo dos trabalhadores rurais, José Francisco da Silva, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricul- tura e membro da Comissão Pró-CUT.

PACOTE E CORRUPÇÃO Durante a reunião, Ary

Campista informou que o de- creto que instituiu o desconto nos salários dos aposentados c pensionistas, e majorou o des- conto dos trabalhadores e em- pregadores, só será lido no Congresso daquela data há 17 semanas.

Descontando-sc o recesso parlamentar, prosseguiu Campista, provavelmente ele só será colocado em votação após as eleições, confirmando a denúncia do líder sindical gaúcho.

Participaram da reunião, entre outros dirigentes, vários membros da Comissão Pró- CUT: HugoPerez, presidente da Federação dos Trabalhado- res nas Indústrias Urbanas/SP; João Carlos Araújo, presidente do Sindi- cato dos Petroquímicos de Duque de Caxias/RJ; Rai- mundo Rosas, da Federação dos Trabalhadores nas Indús- trias, de Alimentação e presi- dente do Sindicato dos Padeiros/SP.

A maioria dos dirigentes sindicais ptonunciou-sc «fir- mando que o pacote tem ob- jetivos ejcítoreiros pois os fun- dos obtidos muito provavel- mente irão subvencionar a campanha do PDS.

MOVIMENTO SINDICAL UNIDO CON1RA PROVOCAÇÃO

Nesse sentido, Maria Ro- drigues, diretora do Sindicato dos Gráficos/SP, afirmou que " a reunião que a CNTI realiza é uma demonstração de que os trabalhadores e o movi- mento sindical estão mais do que nunca unidos e o governo que se cuide pois t.ão aceita- mos provocações como este pacote". A representante dos gráficos paulistas acrescentou que ' 'o governo tentou adiar as eleições e não conseguiu porque está isolado. Não tem a .seu lado os trabalhadores que lutam contra essa polítict de desemprego, inflação e ar-

0 MOVIMENTO SINDICAL ESTÁ EM RECESSO NO ABC FOLHA DE S. PAULO 04/04/82

tocho salarial; não tem a seu lado os empresários que se ba- tem também contra a faler das empresas, em meio ã crise recessiva imposta pela política de Delfim Netto, e contra a entrega das nossas riquezas às multinacionais; não tem a seu lado os militares que estão contra as iniciativas dos terro- ristas que perpetraram o aten- tado cio Riocentro sendo aco- bertados, e estão também^ contra a corrupção e a entrega do país aos grupos estrangei- ros". Maria Rodrigues finali- zou, afirmando: "o governo utiliza-se • da corrupção para tentar ganhar as eleições mas este esforço desesperado é inútü.porque cm 15 de no- vembro, será fragorosamente derrotado pois ninguém mais aceita, neste país, um governo como este"

PARANÁ: PDS CONTRA OROUBO

Definiu-se também que as entidades sindicais irão entrai em contato com as lideranças dos partidos políticos para âue fechem questão em torno

a rejeição do pacote, a exem- plo do êxito conquistado pelas federações de trabalhadores paranaenses que obtiveram da própria bancada do PDS na Assembléia Legislativa da- quele estado, o compromisso - já encaminhado ao coord--" dor da bancada do Par-^á junto ao Conercsso Nacional - recomendanao a revogação do decreto-lei. A nota assinada pelo deputado estadual, Erondy Siivério, em nome da bapeada do PDS, afirma que ' 'o aumento da arrecadação da Previdência, sem sanea- mento de uma estrutura onde se constataram freqüentes ca- sos de sonegação, desvios e corrupção, significa o mesmo qne tentar encher uma tina furada, sem antes tapar o bu- raco".

"De fábrica em fábrica 99

"Esse ano vai haver gre- ve de fábrica em fábrica" - afirma Lula, convicto de que essa será uma das "novas fórmulas de luta dos trabalhadores de São Bernardo". Ele não acre- dita que a recessão, o me- do do desemprego ou a mu- dança da diretoria do sin- dicato sejam as principais causas da menor partici- pação dos metalúrgicos nas assembléias da cate- goria. Reconhece que isso dificulta a mobilização, mas o principal para ele é que o trabalhador não acredita mais no tipo de lu- ta usado anteriormente, e "Já não está mais disposto a enfrentar a policia ".

O ex-presidente do sindi-

cato afirma que as gran- des greves foram "uma experiência que a classe trabalhadora precisava fa- zer consigo mesma", que "houve vitórias em 78 e 79". mas agora é necessá- rio organizar o movimento sindical de outra forma.

"Hoje o trabalhador sa- be que em uma greve ge- ral ele não está enfrentan- do só o patrão. Está en- frentando o Estado, a pro- paganda antigreve eatéo "Partidão", comenta Lu- la, para quem a greve de fábrica em fábrica exige um trabalho ainda maior de mobilização dos empre- gados, mas é a salda que eles podem encontrar para continuar a luta.

LUIZ SALGADO RIBEWO

Até dois anos atrás, a campanha salarial dos me- talúrgicos do ABC era o grande assunto nacional. Nos meses demarco e abril de 78,79 e 80, as manchetes dos jornais, as capas de re- vista e o principal noti- ciário das rádios e TVs es- tavam semi»* reservados para a luta dos "peões" da indústria automobilística por melhores salários e condições de trabalho. Pe- las primeiras brechas da anunciada abertura políti- ca, os brasileiros de todos os Estados arregalavam os olhos para ver a avalanche de milhares de operários parar as fábricas e — in- contida pelos cães, cassete- tes e bombas de gás lacri- mogênio da Policia Militar

— inundar ruas, avenidas, praças, estádios e igrejas, de onde transbordavam en- tusiasmados gritos de "greve, greve, greve". Gri- tos e refrões cesengasga- dos, depois de tantos anos, que assustavam e provoca- vam inusitado alvoroço nas mais altas esferas do poder.

Este ano, porém, a cam- panha salarial dos me- talúrgicos passou quase despercebida até mesmo na cidade que chegou a ser chamada de "República Popular de São Bernardo do Campo". No dom^o passado, o mesmo Estoco de Vila Euclides—que che- gou a reunir 80 ou 100 mil trabalhadores, nas campa- nhas dos anos anteriores — não abrigava mais nue 3

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sim ISHO

continuação da página anterior MOVinENTO SINDICAL ESTA

mil per íoaa (ou 8 mií nos cálc otimisU-s de • ns Hdares sindicais)

a ürcposta sa- -> paios em-

picsancs e ou .ir as mes- caa^ cr; Lica; a JS governos e patrões. Desta vê:, porém, os discursos r? o termina- ram, nem foram intói-rom- pidos, pelei in-.-amados brades aj ^TC /C. TJ O ânimo da f s vi- brante qüauto c ritmo "cie afo-parando" tíss minvinas que conti- nuam f'unc'onándo nas farinhas do ABC. A propos- ta da Fiesp ato M aceita, mas aingaém propôs paralisação.

Per eu? cs trabalhado- res não reasirara à propos- ta patronal com a decreta- ção de greve? Por que o

3 ficeu vazio? "Porque, ras condições

trabalhadores . qae a r.„-írsa propos-

ta éúr. .elispode- rmmconi -c';vcn- de o emj .erário I^oberto Ddla ] .-, princioal ne- gocia^cr do Orafo 14, da Pia . "Pãtpíe os tTEbalhadores

amadurectram e sabem que greve é um direito que E^ t!;ve ser usüdo como

. Sabem i vinha sen-

do feita com objetivos r e rio para reivin-

j os trabalhado- res. Cs fcuj, desejam" —

sentencia o ministro do Trabalho, Murilo Macedo.

"Porque está havendo um refluxo natural do movi- mento sindical em todo o País. Como em uma luta de boxe, às vezes é preciso re- cuar e esperar a hora certa para o golpe certo" — ga- rante o presidente do Sindi- cato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Jair Mene- gneüL

São compreensíveis as razões que fazem essas di- ferentes respostas fugirem da questão principal, que é exposta com toda a clareza por um ferramenteiro da Volkswagen Caminhões: "A verdade é que todo mundo está morrendo de medo de perder o emprego. Estamos mergulhados até o queixo nessa porcaria do desemprego e ninguém quer fazer onda". Apesar da sua indiscutível fran- queza, essa resposta também ttóo explica tudo que está acontecendo. Afi- nal, o medo do desemprego náo impediu que, há menos de um mês, houvesse uma greve na Brastemp.

TUDO MUDOU Na realidade, um parale-

lo entre a campanha sala- rial de 80 e de 82 mostra que náo houve mudança apenas no comportamento dos trabalhadores e dos lideres sindicais. Essa pa- rece ter sido a mudança menor. O importante é que tudo mudou nesses dois

anos, a começar da situa- ção econômica do País, o mercado de emprego, as táticas de repressão à gre- ve, até a diretoria do sindi- cato.

Osvaldo Bargas, se- cretário do sindicato, lem- bra que a cassação de Luís Inácio da Silva — Lula — e de todos os seus compa- nheiros de diretoria, ao fi- nal da última grande gre- ve, foi seguida de mais de um ano de intervenção fe- deral. "Nesse período desarticulou-se todo o es- quema de mobilização dos trabalhadores, e quando a nova diretoria foi eleita, ti- vemos que começar tudo de novo, sem a experiência da antiga, que já estava no sindicato há seis anos" — comentou.

Tanto Bargas quanto Ja- ir MeneguelTi reconhecem aue o apoio de Lula à nova diretoria tem sido vital pa- ra a mobilização que ela tem conseguido fazer nes- ses seis meses apôs a pos- se. Porém, mesmo com to- do o apoio e participação do ex-presidente, a nova dire- toria sente que ainda não conquistou, entre os traba- Ihadores, o mesmo prestígio que a anterior desfrutava. "É diferente. Antes o Lula

era o artilheiro, hoje é o técnico do time" — comen- ta Bargas, para quem a "mudança de escalação" é importante, mas não é o fa- tor principal na alteração

de comportamento dos "peões".

NOVAS FÓRMULAS Lula, Jair e Bargas a>

ditam que o mais impor- tante no momento é a"bus- ca de novas fórmulas de lu- ta da classe trabalhadora", como dizem com as mes- mas palavras.

"O trabalhador já conhe- ce o circulo vicioso a que ele foi levado no seu pro- cesso de luta: decreta a greve, ela é considerada Uegal pela Justiça do Tra- balho, vem a repressão vio- lenta e ele perae a greve e os dias parados. Ê preciso escapar desse círculo" — afirma Lula.

"A greve geral já náo sur- te efeito, porque o governo tema as dores dos patrões e o trabalhador não agüenta mais ficar 41 dias parado, como em 80. Com o desem- prego, o clima aporá é ou- tro'— comenta Jair.

"Em 80, fizemos 41 dias de greve, não conseguimos umbom acordo e perdemos o sindicato" — reconhece Bargas, para quem a "táti- ca tem que mudar", embo- ra náo concorde com a afir- mação de que tudo foi per- dido e que esse insucesso acarretou o refluxo do mo- vimento sindical: "Ganha- mos muita experiência e avançamos politicamente. Hoje as greves náo sã" '^ - tas só por saláriuá. Também paramos por soli- dariedade, o que é um avanço importante". «

HÃO SE PODE VOLTAR AO PASSADO EM TEMPO 08 a 12/04/62

A estratégia contra São Bernardo

A Federação dos Metalúrgicos acertou um acordo com a FIESP. Isso é confessado pubhcamente. Porém não o assinou. Isto também é público. E os motivos, igualmente : • . sao n.uito reveladores.

■ ycordo dignificaria dar chance a Trabalho, no julgamento do J os dissidentes, entendesse

a estes ulv.mos. no mínimo, os itens assinados pela federação. Do "sim pies" ponto de vista eccn^.-o.a FlFSPpretende ser menos-gêne- ro^ cm os pcbeMes*.

Mas há motivos políticos mais profundos. ^olmcarKne interessa à FIESP eao pelegoda

to. Argeu Fgidio dos Santos, "dar -'.o" ern S. Bernardo, para que não

corrompa a carneirice patrocinada pela

Federação. O coordenador do Grupo 14 da FIESP, empresário Roberto Dela Manna não poderia ser mais claro: "É uma questão de estratégia tanto da FIESP quanto da Federação dos Metalúrgicos ou de ambos. Não podemos jogar pela janela um acordo com os 32 sindicatos que a Federação dos Metalúrgicos representa - e esses sindicatos tiveram uma atitude que nós. empresários, achamos correta. Se falharmos com a Federação, não teremos mais sua credibilidade. É um compromisso que temos".

1 mauine-se o peso dessa manobra em muitos pequenos sindicatos do interior: que muiuis ve/es se submetem à Federação e ao governo não por serem "traidores" ou puramente pclegos. mas pelo medo de não sobreviver.

As negociações entre a Federação das industrias de S.Paulo (FIESP) e os metalúrgicos do interior chegaram, nesta semana, a um impasse revelador.

A Federação dos Metalúrgicos, órgão de cúpula que arrasta consigo 30 pequenos sindicatos do interior, acertou um acordo com os patrões: 5% acima do INPC, a título de aumento-produtividade para as faixas salariais mais baixas, e escalas menores para as faixas salariais mais altas, além de um piso salarial (salário-mínimo de categoria) de Ci4 25.780. Mas o acordo ainda não foi assinado formalmente, por razões de ordem econômica e pobtica (ver artigo nes- ta página).

Os "sindicatos dissidentes" (ver El anterior) não aceitaram o acordo, com exceção de S. Caetano, dirigido por um conhecido fura-greves, João Lins, e de Sto. André, ainda sob intervenção do Ministério do Trabalho. O sindicato metalúrgico de Sta. Barbara D,Oeste, para cuja base o acordo significava uma boa base de negociação,em vista das condições atuais de salário e trabalhe, fez assembléia e cs trabalhadores recusaram o acordo "por uma questão de honra e solidariedade^com o restante do "bloco".

São Bernardo, o centro pilotoyjo

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SZNPICAUSMO

continuação da página anterior: NÃO SE PODE VOLTAR

movimento, realizou assembléias nesta semana, No domingo, o Estádio de Vüa Euclides recebeu cerca de 6 a 7 mil trabalhadores, um número expressivo, se comparado com as reuniões de outros sindicatos,-mclusive maiores, como o dos metalúrgicos da capital, mas bastante pequeno se comparado com a tradição de São Bernardo. Na sexta-feira e no sábado, as assembléias foram também reduzidas.

As propostas saídas de S. Bernardo incluem:, a) nao realizar horas-extras até o julgamento do dissídio (20, 4, na melhor das hipóteses); b) preparar manifeviações no dia do julgamento do TRT; c) continuar as reuniões por fábrica c preparar paralisações por empresa "como em 1978"; d) realização do IV Congresso Metalúrgico e do ENCI.AT local, como formas de preparar melhor a organi?açâo dos operários; c) paralisações no dia 16 4 íuma hora) ém protesto contra o julga- mento dos sindicalistas enquadrados na Lei de Segurança Nacional; 0 ^var as propostas e o método de luta de S. Bernardo para as outras categorias "ainda que suas direções não aceitem".

Diferenças com 197S Na linha de atuação da nova diretoria, a

greve por fábrica está sendo apontada cornei "a saída que temos". Ela será preparada pelas reuniões por fábrica, pela discussão de problemas internos às empresas ao lado das gerais e pela participação nos enfrentamentos cotidia- nos, como as eleições da CIPA e das cooperativas das grandes empresas. Deste

último caso, os diretores citam, com orgulho, o exemplo da Mercedes-Benz, onde os operários elegeram, apesar das pressões e manobras da empresa, uma diretoria apoiada pelo sindicato.

Como já dissemos anteriormente, a recomposição do movimento metalúrgico em S. Bernardo tem passado, nos últimos meses, por uma série de lutas duras, moleculares e localizadas. Contudo, é um pouco forçado dizer que se trata de "repetir 1978". Afinal, as condições são novas: mudou a conjuntura econômica, política e sindical, e não apenas ao nível local. Mudou igualmente a FIESP.

O avanço político dos ativistas de S. Bernardo é algo inegável e mesmo entusiasmado. Contudo, a sua possibi- lidade de contagiar o restante do movimento sindicai está apenas começan- do. A rotina de mobilização e trabalho •permanente de base alcançou já uma série de categorias. Mas ainda não foi suficiente para varrer a sagrada aliança pelegos- reformistas-governo-patròes.

Além disso, em alguns casos, o avanço político e o enraizamento dos hábitos de auto-organização nem sempre andam juntos. Aliás, por vezes há perigosas disseciações. Exemplos disso, embora não definitivos nem fatais, foram as intervenções de alguns sindicalistas da antiga equipe de S. Bernardo na assem- bléia da categoria que aponuuam para o fato de que "só com o socialismo se resolverá o oroblema da classe trabalha-

dora". Us operários, com uma certa "ingenuidade esperta", perguntavam: "bem, e nesta situação concreta, como agir para não sermos desmoralizados, resistir e avançar?' Afinal, não será verdade que no sindicalismo que praticamos já existe uma semente do socialismo que queremos?

Em 1978, a eclosão de greves por fábrica, em grande número, deu condições para que o sindicato forçasse uma negociação com a FIESP, assinando um acordo vantajoso, extensivo a toda a base. É evidente que, nas condições atuais, essa evolução se fará com muito mais dureza. E as duas ondas de desemprego — a real e a manipulada politicamente — impõem medidas mais avançadas, das quais a greve da Ford foi apenas o começo: fazer greve e ocupar a fábrica. Atitudes como essa porém implicam uma enorme responsabilidade e a certeza de poder contar com uma generalização do clima político a outras categorias e setores sociais de todo o país.

Por todos esses motivos, ao lado do trabalho meticuloso e permanente dentro de sua base. os politizados metalúrgicos de S. Bernardo têm a responsabilidade de agir sobre o conjunto do movimento sindicai e popular nas suas direções e nas suas bases. As correntes inlcrsindicais existentes (a ANAMPOS, por exemplo) Cstâo preparada-^ paia esse desafio? E o PT.' Disso depende, em grande parte, o futuro do movimento sindical brasileiro, neste ciclo recessivo e no eventual momento seguinte de retomada da expansão industrial.

UNIDADE SINDICAL GAZETA DEMOCRÁTICA 02/04/82

JOÃO PAULO KULESZA*

A partir do final de 81 o movimento sindical viu-se diante de mais um desafio: quando o presidente Figueiredo "ofertou" à nação o famigerado pacote da Previdência, que veio aumentar ainda mais a miséria e a cota de sacrifício dos trabalhadores.

Diversos sindicatos convocaram assembléias de suas categorias para rejeitai" o pacote e organi/ar formas de luta. No meu sindicato. Metalúrgicos de São Paulo, estamos colhendo assinaturas em repúdio ao pacote nas praças públicas e portas de fábricas, conseguindo em alguns dias mais de 40.000 assinaturas. Além disso, nos posicionamos, em assembléia, a favor de uma greve gera! caso a medida não seja revogada pelo Congresso. Existe portanto, nas bases, disposição para a luta. Acontece porém que iniciativas localizadas são positivas mas não suficientes para barrar o pacote. É necessária uma ação de maior envergadura, nacional, que comprometa toda a Frente Democrática.

A CNT1 iniciou uma articulação nacional, que desem- bocou numa reunião em Brasília com mais de 130 entidades sindicais onde ficou estabelecida uma concentração de trabalhadores, dirigidos pelos líderes sindicais, no dia da votação do pacote. Considerando a possibilidade de greve geral.

A iniciativa da CNT! ainda carece de maior peso, pois a maioria dos dirigentes sindicais presentes ao encontro eram do segundo escalão, já que o prestígio do pres. da CNT1 Ari Campista é bem baixo entre os sindicalistas. Em contra- partida, a pró-CUT não se faz presente, limitando-se até agora à ações tímidas que beiram ao total imobilismo, fugindo do papel que lhe cabe. ou seja. trabalhar no sentido de ampliar iniciativas como a da CNTl, assumindo também

a direção do movimento e procurando atrair o maior número possível de Confederações, Federações e sindicatos, num verdadeiro pacto de ação comum. Com a realização deste trabalho torna-se bem mais fácil conquistar o compn>- metimento de outros setores da sociedade, fortalecendo assim a Frente Democrático.

I? DE MAIO Devemos realizar neste ano um primeiro de maio amplo e

unitário, que deve ser dirigido em cada estado pelas respec- tivas intersindicais. como forma de garantir seu total êxito.

Sendo assim, realizaremos um grande primeiro de maio. com meio dia de duração, em locais apropriados, para que sejam um verdadeiro encontro de trabalhadores e que seja acimsi tfeiteteSmàrHo de ji^OT cootfafiífrfjacotão, COíJI j» presença de artistas, jogadores de tut^ol, numa lesta cheia de alegria, mas também com Conteúdo eminentemente polí- tico com a presença da igreja, da OAB, da Une, dos partidos políticos e etc.

O primeiro de maio c uma data que nos pertence. Não podemos permitir que o regime se promova usando e defor- mando uma data que representa um dos momentos mais caros da luta dos (rabalhiidorcs por melhores condições de trabalho e vida.

F.ste primeiro de maio deve mais que nunca representar o avanço de nossa luta!

*.Joáo Paulo Kulesza é diretor do Sindicato doa Metalúrgicos de São Paulo. •

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SIWPICALISMO

METALÚRGICOS ITALIANOS

JOGAM PEDRA NO RELEGO TRIBUNA DA LUTA OPERARIA 5 a 11/4/82

Enquadrada dentro da crescente onda de luta operá- ria na Europa, Roma foi palco no dia 26 de março da maior manifestação operária já realizada na capital italia- na: mais de 270 mil metalúr- gicos procedentes de todo o país ocuparam a Capital, pro- testando contra a política eco- nômica do governo de Gio- vanni Spadolini. que aumen- tou o número de desemprega- dos no país de IJ8 milhão para 2,3 milhões nos últimos me- ses.

O que mais impressionou na manifestação dos traba- lhadores italianos foi o seu caráter extremamente comba-

tivo, üs manifestantes quase lincharam Giorgio Benvenuti, membro do Comitê Central do Partido Socialista (que faz parte do governo) c secretário da central sindical U1L. A Ull. foi a única central sindi- cal do país que se posicionou contra a greve geral de 2 de abril. Quando Benvenuti foi fazer uso da palavra, foi rece- bido por uma estrondosa vaia de do/ minutos. Insistindo em falar, o soclal-democrata passou a ser alvo de garrafas e pedras. Como o pelego não se calava, a massa se jogou sobre o orador, que teve que ser reti- rado rapidamente e embarca- do num automóvel para não ser massacrado.

PROJETO INCLUI HORA EXTRA

NO 13? SALARIO

EH TEMPO 09 a 11/04/82

U -.- ;.; jpiesenta- do nu Câmara Federal pelo deputado Henrique Eduar- do Alves propõe dever ser levado em conta, para efei- to do cálculo do 13? salário, a remuneração das horas extraordinárias, pela mé- dia dos 12 meses de refe- rência. A proposta acres- centa um parágrafo, de n" 3-, ao artigo 1? da Lei ní 4.090, de 13 de julho de 1962, que instituiu a gratificação de Natal.

Segundo o deputado, na justificação da proposta, a Lei n? 4.090/62, ao instituir a gratificação de Natal ou 135 salário, determina que o beneficio será igual a 1/12 avós da remuneração por mês de serviço do empre- gado. "Logo, se o pagamento pe- las horas extras integra tal remuneração, apesar das opiniães esporádicas em contrário e mesmo de algu- mas decisões também es- parsas negando-o, claro es- tá que seu 'quantum' deve compor a base do cálculo da mencionada gratifica- ção.

Mas como a lei, entretan- to, ao ver do deputado, não é muito clara a respeito, "cumpre reformulá-la", objetivo de sua proposta, que recebeu o n? 5.998/82 e foi remetida a exame das Comissões de Consíituiçâo

e Justiça, de Trabalho e Le- gislação Social e de Finan- ças da Câmara Federal.

TRANSPORTE INCENTIVADO

Outro projeto apresenta- do na Câmara dos Deputa- dos permite ás empresas deduzir do Imposto de Ren- da parte das despesas com fornecimento de transporte a seus empregados, para a vinda ao local de trabalho e retorno à residência. Se- gundo a proposta, a empre- sa poderá deduzir do Im- posto de Renda 30% das despesas realizadas.

Para os fins previstos na proposta, de autoria do de- putado federal Álvaro Dias, o empregador poderá fornecer condução própria ou contratada ou, ainda, optar por indenizar as des- pesas de transporte coleti- vo do empregado.

Ao justificar a proposta, diz o deputado que ela tem por objetivo estimular a concessão, pelo emprega- dor, de transprote aos em- pregados. Essa modalida- de já existe em várias em- presas, afirma, mas o cres- cente aumento dos deriva- dos de petróleo não têm en- corajado a permanência ou aumento desse tipo de ser- viço. ^

NOS PAÍSES CAPITALISTAS,,

25 MILHÕES DE DESEMPREGADOS EM TEMPO OS a 11/04/82

O niM, i. „ „,. ijtifci Hí"I.-

gados no mundo, hoje, esta- ria em torno de 25 milhões de pessoas. A informação consta do último bo!etim do Departamento Intersindi- cal de Estatística e Estu- dos Sócio-Econõmicos (DIEESE), que utilizou co- mo fonte a Organização pa- ra Cooperação e Desenvol- vim ento Econômico (OCDE).

Segundo o boletim do DIEESE, discussão recen- temente havida entre os 24 países que fazem parte da OCDE revelou a existência desse número de desem- pregados, representando um aumento de 365% de 1973 até hoje. A OCDE pre- vê ura crescimento ainda maior no número de de- sempregados este ano. Em dezembro último, somente nos países do Mercado Co- mum Europeu havia cerca de 10 milhões de desempre- gados, 8,8% da população economicamente ativa, ou 25 desempregados para ca- da vaga oferecida.

Tomando como exemplo alguns paises industrializa- dos do mundo capitalista, o DIEESE resumiu a situa- ção de desemprego era ca- da ura deles. Na Inglater- ra, os desempregados se- riam mais de 3 milhões, re- presentando 11,5% da força de trabalho. O desemprego na Inglaterra teria dobrado desde 1979, quando assu- miu o governo a primeira- ministra Margaret That- cher.

ESTADOS UNIDOS

Nos Estados Unidos, desconsiderando-se que 1,3 milhão de pessoas simples- mente desistiu de procurar emprego, os desemprega- dos somariam cerca de 10 milhões de pessoas, o que significou aumento de 1,7% após o início da administra-

çaa Reagan. tendo em vista que era julho último o de- semprego era de 7,2% do total da força de trabalho. Os mais atingidos pelo de- semprego, sempre segundo o boletim do DIEESE, são os jovens de 16 -a 19 anos '22,3% era fevereiro de 1982) e negros (42,3% em fevereiro de 1982). Segundo o boletim, não há perspecti- vas de melhoria imediata porque o "Programa Rea- gan" tomara vultosos em- préstimos no mercado fi- nanceiro, o que dificultará a queda de juros e, conse- qüentemente, desestimula- rã a.-retomEda de investi- mentos que possam gerar mais emprego.

ITÁLIA E ALEMANHA Na Itália, entre 1979 e

1981, o desemi. ego aumen- tou 1,5%. Apenas em 1981 o aumento foi de 8,8%. No Canadá, 8,6% da força de trabalho está sem emprego e. segundo a revista Busi- ness Week de fevereiro, es- te nível não ficarí e! ^ixo de 8% em 1982. Na I ,\.uça, o ano de 1981 terminou com 7,1% da população econo- micamente ativa sem em- prego. Em fevereiro últimoi o número de trabalhadores desempregados era de aproximadamente 2.008.000, um aumento de 1,3% em relação a janeirp. Nos últimos três anos, o contingente de desenipre. gados aumentou 1,2%.

Na Alemanha Ocidental, a situação era a seguinte: depois de terminar o ano passado com 6% de desem- prego, a situação continuou a piorar, pois em fevereiro já havia 1.935,C00 desem- pregados, ou 8,1% da força de trabalho. Os setores mais afetados são siderur- gia (Essen, Dortmund, etc), construção civil e têxtil (pressionado por im- portações mais baratas). A Alemanha precisa criar mais 1 milhão de empregos nesta década. 9

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VAÍITIVÜS

MIRO NAS CABEÇAS PARA

DEPENAR O FASCISMO! HORA DO POVO 02 a 09/04/62

Em entrevista na TV Ban- deirantes no ultimo domingo no Programa Canai livre, o futuro Governador do Rio de Janeiro, Miro Teixeira, mos- trou porque os oposicionistas conseqüentes desse Estado se uniram era torno do seu no- me. Sua campanha está apre- sentando um crescimento es- petacular após a Incorpora- ção. A seguir resumimos suas principais declarações:

1 - Sobre o PTB c Sandra Ca- valcanti, disse Miro; "O 'PTB' é o Partido auxiliar do Governo. Nos Estados em que n3o tem perspectivas de vitó- ria, o sistema tem se utilizado do 'PTB'. Temos que desen- volver uma campanha de es- clarecimento da opinião pú- blica sobre quem é Sandra Ca- valcanti. Vamos à Central do Brasil, às fábricas e às ruas ex- plicar que a estratégia do Go^ verno é apoiar o 'PTB'. A Sra.

L

Sandra Cavalcanti nío tem qualquer compromisso com a democracia e a luta pela liber- dade. Enquanto nós lutamos pelo povo, ela tem ao seu dis- por todo o tempo para fre- qüentar programas de rádio e televisão que lhe são abertos. O Governo se empenha dra- maticamente nas eleições no Rio. Lançará mão de todos os recursos."

2 • Sobre a Incorporação PP- PMDB, afirmou: "O PMDB está composto por aqueles que perceoerara que a estraté- gia do Governo é dividir as oposições. A incorporação foi a resposta ao pacote de no- vembro do governo. Decidi- mos nos unir c não dividirmo- nos".

3 - Sobre o desemprego: "Nessa crise o desemprego é alarmcnte. Em defesa do di- reito do emprego, elaborei

um projeto que assegura ao trabalhadora estabülidade a partir da assinatura do contra- to de trabalho". 4 - A chapa que o PM DB apre- sentará para o Senado: "No âmbito da Convenção decidi- remos, Só tenho compromisso com dois nomes: MííJíO Mar- tins e Hélio Fernandes. Res- salto que Mário Mart; ins devi- do a sua capacidade terá este lugar. Ê um homem de ex- traordinária categoiria, de grande experiência p>olítica". 5 - Cheio de disposáção con- fiança, Miro não recn sa deba- te com qualquer outro candi- dato. "Aceito debater com qualquer candidato J> o Gover- no.Sem exclusividad<:: para ne nhum canal de TV. Todos te- rão direito de registra r o deba- te. Proponho que sej;» realiza- do em local público e acima de qualquer suspeita, co mo a As- sociação Brasileira de Impren- sa. (ABI)". 6 - Certo da vitória., Miro já parte para definir ;JS linhas mestras de seu futuro Gover- no. E não foge dos te mas mais espinhosos. "Assutinimos o compromisso com a níaiizaçào de convenções populares para a elaboração do mem progra- ma de Governo. Mcvi compro- misso formal é dar a liíecretaria de Segurança preferencial- mente a um Delegado de Po- lícia. A PM será counandada

por um Coronel saído de seus próprios quadros". Essa é uma antiga reivindicação de toda a PM. Sobre essa corpora- ção, continua Miro: "A Polí- cia Militar foi feita para defen- der o cidadão e não para a .ar os operários, como no caso da Ciferal". 7 - Miro é otimista com relação às eleições e o fii turo do Brasil. "As eleições: aí repousam ?£ bases para a construção cio projeto democrSdco brasilei- ro. Minha formaçio é Socialis- ta: Desde criança conheci a pobreza. Fui muito pobre mss meu empenho no momento é conquistar a democracia. Não divido a sociecid: entre co- munistas e nã? comunistas. Divido entre democratas e não democratas. Não concor- do com o pensamento comu- nista mas estamos juntos na pregação e prática democráti- ca. Sou possuído por uma enorme ânsia de construir. Es- te í um desejo de minha gera- ção. Desejo do meu país, que é maior que os abismos que cavam para ele".

No próximo domingo, te 17 horas, Miro Teixeira, Mário Martins e o PMDB í arão pros- seguimento à pregação demo- crática da Oposição em gran- de comício a se rea Uzar na Pra- ça Seca, cm Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

feü

AS NOVAS ATIVIDADES, HOJE, DO MP-8 G ESTADO DE S. PAUL0.il/04/B2

A DEFESA

DO MOVIMENTO

Considerado como o mais Impor- tante dirigente do MR-8 em nossos dias, o ex-líder estudantil e atual candi- dato a deputado federal pelo PMDB do Rio, Carlos Alberto Muniz, defendeu em entrevista ao Estado a atuação do MR-8 desde as origens até os dias de hoje. Para ele, a víolSnci* dos militan- tes do Oito ou as dúvidas quanto ao volume de recursos em poder da organi- zação nSo passara de "bem orquestra- dns" campanhas cujo objetivo final é "destruir as bases do movimento demo- crâüco-popular".

P — O <tu* o l«veu ê rasponder *m nome do Mff-8 1* «cuMçéo* mais co- muns qw« M fnom i organização?

R — Até a decretação da anistia, fui, publicamente, um dirigente e fun- dador do MR-8, um homem que viveu «» ,«(,,„,-..,- i^rrnafn (jg gçgo políüca, desde as ajoes oe UM "**» contesta- ção armada. Após a anistia, pairam sobre o País as restrições de uma Lei de Segurança Nacional antidemocrática. Por liso, o MR-8 n£o tem porta-vozes públicos. Entretanto, é notória a exis- tência do MR-8, que tem prestado con- tribuições muito importantes à reorga- nização do movimento democrátlco- popular, particularmente, com uma in- tervenção muito firme na atual fase de luta política brasileira.

f» — Qual a ligaçie de MR-8 do hojo cem o MR-8 do íirfsi d« década do 60?

R — O MR-8 de hoje difere do antigo porque foi capaz de compreen- der que por mais heróica que tenha sido aquela página que fomos capazes de escrever na história de nosso país, não fomos capazes de apresentar uma alter- nativa & sociedade que solucionasse a crise em que o Páls estava mergulhado. O que diferencia então o MR-8 de on- tem do de hoje é que percebemos que a capacidade de reconquistarmos a de- mocracia em nosso país está intima- mente vinculada k capacidade de cons- truirmos uma ampla frente democrâti- co-popuiar que represente os mais am- plos setores da sociedade.

P — O MR-8 é uma organturção quo tom na vieiénei* tua marca mais carce- ttrittica?

R — O MR-8 encarna hoje o que os comunistas tradicionalmente encarna- ram na sociedade brasileira. São aque- les a quem se tenta, numa campanha ao velho método macartista, identificar tudo de mal, de arbitrário, de violento. Isso que é chamado de agressividade é no fundamentai a contundência, a fir- meza de objetivos, que esse movimento tem procurado encarnar. Toda leitura do caráter violento do MR-8 da juven- tude agressiva, eu coloco na essência de seu caráter revolucionário.

P — Ondo o MR-8 arran]* tsnfo dinheiro?

R — Qualquer força política que procure assentar no povo será capaz de encontrar uma fonte inesgotável de apoio material e político. Como é que o povo vietnamita, com aquelas sandaü- nhas, comendo uma porçáo de arroz por dia, poderia ter vencido o exército

norte-americano de 500 mil homens? O mesmo se pode dizer de El Salvador. O que temos hoje é fruto exclusivo do acerto de uma Unha política. Estou seguro que Isso não é uma Interrogação de companheiros do Partido Comunis- ta, P — Come você roago à suspeita do quo a attvidado de MR-8 sota financiada hojo cem o produto do» assaltos de finai da década do 60? Existo também dinheiro da Líbia o do OUP no MR-B? R — Quem melhor pode responder so- bre a capacidade de repasse do dinhei- ro das exproprlações justas de 1969 e de 1970 para a época atual são os órglos de repressão. Considero essas Idélâfi ima- ginosas, falsas mesmo. Elas refletem uma resistência desses setores em com- preender que o dinheiro do MR-8 não provém de nenhuma manobra enge- nhosa após dez anca de congelamento de recursos, ou por qualquer doação de um grande "sbeik", ou de povos que são a favor da luta democrática e que po- dem perfeitamente se irmanar, se soli- darizar, e apoiar determinadas lutas em desenvolvimento. Entretanto, no caso do MR-8, esses recursos são de dantro do próprio País e só podem ser entendi- dos quando se compreender o acerto de uma determinada visão política.

P — Como vecé explica o recente apoie dade «o candidato Ho goverrtedor Chagas Freitas è sucessão fluminense — o deputado Miro Teixeira, transTor- mado na mais nova vedete de MR-S?

R — Bem... Retirando o que é j osto por sua conta, considero que o movi- mento revolucionário é antes de tudo um movimento não revanchista. Só ho- mens não revanchistas são capazes de

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PARTIDOS

continuação da página anterior: AS NOVAS ATIVIDADES

owenvolver as grandes tarefas como é uma tarefa revolucionária. E mais, são homens políticos, capazes de serem contemporâneos de sua época. Voe* me fala de um Miro e de um Chagas, de um passado recente do qual nada tenho a retirar. Os erros da política do governo do Estado, os erros no tratamento das relvlndlcaçCes populares, os marcamos.

assinalamos, naquela época, e o fize- mos muito bem. Acontece que estamos vivendo um período em que a crise da sociedade vem provocando redefini- ções sucessivas na atitude dos homens e dos políticos principalmente. Quando a maioria dos membros do PP dediclu ficar ao lado do povo. incorporando-se ao PMDB, e nSo ao lado do governo,

demos uma virada na capacidade do povo construir a sua unidade que podt reconquistar a democracia para o Pais. O sen'ifnento do povo é o de através de 15 de Novembro virar a página do auto- ritarismo neste pais, e reconquistar a democracia. _

BM fim €LeirO*fiL ACCIÜJZCZ Cfibfi (MA-

f ...é-.çuem

0 MOVIMENTO CLANDESTINO NÃO DUROU

MAIS QUE SEIS MESES 0 ESTADO DE S. PAULO 11/04/62

A rigor, a existência do MR-8 como uma ativa organização clandestina que desejava derrubar o regime pela força das arpias náo durou mais do que seis meses. E nio fosse o desejo das demais organizações da esquerda radical de manter vivo o nome do movimento com ftns de propaganda contra o governo, ele teria desaparecido do cenário políti- co nacional Juntamente com as demais siglas do terror do ulcio da década de

Tanto a existência de fato por pou- cos meses, como a sobrevivência pela propaganda que permitiu ao MR-8 reto- mar suas atividades a partir da anistia, wm sua» razões hoje conhecidas. A fragilidade da açfio armada contra o governo foi explicada por um dos mais importantes membros e seu principal ananciador, o ex-bancário Jorge Medei- ros Vale, o "Bom Burguês". Preso pela ""rm^a em meados de 19«», na Ilha

.,olores' ern Plena bata da Guanaba- ra, Bom Burguês" conseguiu, pela pri- meira vez ver reunidos os companhei- ros de organização. "Quando vi o pes- , fíi tod0 ~ comentou ele dias mais jarae — notei que sào muito Jovens. A causa de nSo terem tido êxito pode ser mesmo a inexperiência."

Juventude e inexperiência sempre estiveram Juntos no MR-8 desde o seu surgimento pouco antes do final de i»87, na cidade de Niterói. Foi ali que

centes ao Partido Comunista Brasilei- ro, decidiram criar nova entidade. Ao contrário do PCB, a nova organizaçfio desprezava o caminho eleitoral, a Infil- tração no governo e a participaç&o sin- dicai, e pregava a luta armada Despre- zaram ainda a possibilidade de se uni- rem a outro grupo oriundo do PCB, o Partido Comunista Brasileiro Revolu- cionário — PCBR — por serem radical- mente contra a burocratizaçáo implíci- ta na existência de um partido. Para deixar claro suas posições, preferiram denominar-se "Movimento Revolucio- nário 8 de Outubro". A data marca o dia e o mês de 1967 em que morreu o guerrilheiro Ernesto "Che" Guevara.

FOOUISMO

O primeiro grande trabalho do gru po surgiria 9 meses depois, em Julho de 1968, e consistiu de um "levantamento" sócio-econômico do Brasil feito por três dirigentes. A partir dele foi escolhido o Noroeste do Paraná como a regi&o "on- de iria deflagrar-se a guerra de guerri- lhas no Pais". Para passar das hipóte- ses à ação, eles acabariam por comprar dois sítios no Paraná para treinar seus futuros guerrilheiros: um na região de Matelândia. conhecido como "Banha- dáo", e outro perto de Cascavel, o • Boi- piquá".

Na hipótese do MR-8, os "focos

do Paraná "funcionariam como pólos catalizadores das massas". Um de seus mais antigos integrantes, o principal dirigente, Milton Gaia, declarou após a pns&o que "embora houvesse muitas divergências, resolvemos mostrar os problemas para os camponeses. Depois trataríamos de desdobrar esses focos. Só então, quando chegasse o momento, começaríamos a estudar como seria a luta armada".

Na prática, nenhuma dessas etapas chegou a ser executada. A ação armada do MR-8 restringiu-se a uns poucos assaltos a bancos e a residências no Rio. E não fosse a figura do "Bom Burguês", que sustentou o movimento com uma parte dos quase 8 milhões de cruzeiros apropriados através de desfal- ques dos cofres do Banco do Brasil, o MR-8 talvez nem chegasse realmente a se estruturar. Todos os roubos eram Invariavelmente chamados de "expro- prtações".

INEXPERIÊNCIA

A primeira grande ação armada do grupo consistiu num assalto á agC-ncla Ipanema do antigo Banco Lar Brasilei- ro, de onde um dos clientes conseguiu fugir e dar o alarma. Na pressa da fuga, o grupo só conseguiu roubar Cr$ 13 mil.

O maior fracasso da operação, con- ^ tudo, foi revelar ã policia o nome de um

; lideres do MR-8, o arqul-

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PAKTJVÕS 10

continuação da página anterior: 0 MOVIMENTO CLANDESTINO NAO.

teto Ivens Marchettí, que utilizou seu próprio carro para dar fuga aos assai- tantes. Curiosamente, a placa tío carro loi anotada pelo irmão de um antigo militante comunista que pensava trs- tar-se o grupo de assaltantes comuns.

Mas foram duas desastradas opera- ções desenvolvidas no Paraná no mês de abril que acabaram por fornecer & policia e à Marinha de Guerra — a quem coube conduzir o Inquérito do MR-S — as informações que pratica- mente liquidaram com a organização. A primeira delas deveria consistir de um transporte de armes até Foz do Iguaçu por Aloísio Ferreira Palmar, co- nhecido na organização como "André", e Mauro Fernandes de Souza, conheci- do como "Silas". Em Foz do Iguaçu. Aloísio acabou preso após um acidente com o carro que dirigia, enquanto Mau- ro, com mais sorte, conseguia fugir.

No interrogatório a que foi subme- tido, Aloísio contou à polícia a existên- cia dos dois sítios, onde foram presos diversos companheiros. Ainda confusos com a desarticulação de vários de seus locais de encontro e treinamento, a que denominavam "aparelhos", os militan- tes do MR-6 perderam poucos dias mais tarde quatro importantes dirigentes, denunciados por um chofer de táxi da cidade de Cascavel que, durante uma corrida, ouviu espantado as conversa» do grupo sobre assaltos.

Em poucos dias. além dos dois sí- tios, a polícia e a Marinha conseguiram desbaratar nada menos que 18 «?«r«- Ihot no Rio, cinco no interior do Esta- do, e mais seis no Paraná. A prisão de Jorge Medeiros Vale, cerca de um mês e meio depois, após o retomo de uma Jííagem à Europa, acabou com as últi- mas possibilidades de rearticulaçâo do

grupo. „ Mesmo ferido de morte, o MR-8 ainda participaria em conjur*" com outras organizações do seqüc o do embaixador americano Charles El- brick, em setembro, solto em troca da libertação no Exterior de 15 presos polí- ticos. Segundo antigos simpatlz&ntcs. porém, uma das maiores ações do MB-» foi o roubo do cofre da residência de Ana Caplglione, amiga íntima do ex-go- vemador Adhemar de Barros, conside- rado ainda hoje o maior Jamais realiza» do contra uma residência no Brasil. Calcula-se que foram arrecadados na época cerca de ÜS$ 1 milhão, posterior- mente transferidos a um país árabe por melo da mala diplomática. Esse tflnhel- ro seria anos mais tarde distribuído a sete organizações terroristas brasileiras com representantes no Exterior, entre as quais o próprio ME-S. &

13 ANOS DEPOIS, A VOLTA. - COM OUTRA ESTRUTURA 0 ESTADO DE S. PAULO 11/04/82

Quase treze anos depois de ter sido revelado ao país como uma das organi- zações dispostas a substituir o regime pe pela força das armas, o MR-8 está de volta, Durante a maior parte desse pe- ríodo, principalmente após o aniquila- mento do terror pelas Forças Armadas, existiu apenas como sigla, e só recente- mente, em meio ao processo de abertu- ra política, foi que readiqulrlu uma nova estrutura

Como foi possível ao MR-8 sobrevi- ver, quando a maioria das organizações do terror do final dos anos 60 desapare- ceram do cenário poiíttcp nacional?

O ex-simpatizante Pedro Porflrto, que chegou a ser preso e a responder a processo por envolvimento com o Otto, em 1999, é da opinião que a permanên- cia da sigla foi possível graças a uma bem montada estratégia de propagan- da contra o governo, posta em prática por algumas organizações de esquerda radical no início da década de 70. Na verdade — raciocinavam — nenhuma organização de contestação armada ob- üvera tanta notoriedade como o MR-S, e se o governo afirmava que ele desapa- recera, cumpria mantê-lo vivo, nem que fosse somente por meio da sigla, para desmoralizar a propaganda oficiai.

Com o desbaratamento das demais organizações ligadas ao terror, também a sigla do MR-S deixou de ser mencio- nada, a não ser em reuniões de antigos militantes, exilados ou banidos, em Pa- ris ou Santiago. E foi de uma dessas reuniões, }á em Buenos Aires, durante o governo Ernesto Gelsel, que ressurgiu um novo MR-& Na nova organização, a luta' armada deixava de ser prioritária para seus objetivos finais de implantar uma república socialista no Brasü.

Mas, se a guerra revolucionária ce- deu ante a constatação de que era impossível enfrentar nesse terreno as forças da repressão, as novas táticas de atuação nem por isso podem ser qualifi- cadas de pacme»». A violência parece acompanhar a atuação do MR-S como uma marca a evidenciar suas origens, COMIW Nos dias 16 e 17 de janeiro, realizou-se em São Paulo, no ginásio do Pacaembu, um congresso de representantes de as- sociações de moradores de bairros, reu- nindo cerca de 3.500 pessoas de 18 Esta- dos. A organização coube ao MR-8, que não perdeu a oportunidade de se apos- sar da Confederação Nacional de Asso- ciações de Moradores que surgiu do encontro.

Para obter o controle da Conam os militantes do Oito lançaram mão de todos os recursos. Segundo o depoi- mento de vários participantes, sucede- ram-se as ofensas, ameaças, intimida- ções e agressões, até terminar na fraude que se constituiu a votação da própria Conam.

Antônio Oliveira Lima, presidente da união Pró-Melhoramentos da Fave- la da Rocinha — a maior do Rio — presente ao congresso de criação da Conam, denunciou as agressões físicas e intimidações contra representantes dos favelados. "Além de um corrvdor potoné» organizado pelo pessoal do jor- nal Hora do Povo— forma usual de designar os integrantes do MR-8 — eles ameaçavam os favelados do Rio de não terem condução de volta, caso votas-, sem contra eles" — descreveu Antônio.

O presidente da Famerj, Jó Rezen- de, chamado de "vagabundo" e "vadio" por um colaborador do MR-8, denun- ciou, porjsua vez, a fraude nas sucessi- vas votações que acabaram por criar a Conam. "Em pelo menos duas ocasiões, elementos estranhos se fizeram passar por representantes de associações de moradores do Rio e foram flagrados no ato de votar, pois os verdadeiros dele- gados estavam presentes. Com esses métodos, não é de estranhar que, doe 3.500 delegados ao congresso, só 1.600 permanecessem até o finai A outra metade manifestou seu protesto reti- rando-se do ginásio do Pacaembu" — concluiu Jô Rezende.

Tanta repulsa causaram os méto- dos empregados pelo MR-8 que as duas maiores federações estaduais de mora- dores, a Famerj, do Rio, e a Fracap, do Rio Grande do Sul, se desligaram da Conam, em assembléias realizadas pos- teriormente em seus Estados.

PARAFASCiSTAS

O ex-deputado Hércules Corrêa, um dos atuais dirigentes do Partido Comunista Brasileiro, classifica o MR-8 como "um grupo com uma proposta de esquerda, um linguajar populista e mé- todos de atuação parafascistas, basea- dos na violência física. Esses métodos — prossegue — acabam confundindo a juventude, pois é diíícü convencer com o linguajar populista. Daí a saída para a violência física, á falta de argumentos que convençam".

Analisando a atual forma de açáo do MR-8, o dirigente comunista infor-

ma que seus militantes pretendem rea- lizar um "trabalho de massa", com ações de repercussão, "em benefício do pessoal do foquisroo armado. O que ss vê, então — conclui—são greves provo- cativas, ou palavras de ordem destina- das a deflagrar uma reação do organis- mo policial-militar".

Quanto à atuação junto a diversas entidades. Hércules Corrêa diz que "a tática do Oito é articular semore a Jormaçôo de organizações dt ..râter popular que mesclem elementos és di- ferentes classes e camadas sociais (ds modo a facilitar o trânsito deles — é claro), condicionando sempre a presen- ça de seus militantes na direção. Eles fazem qualquer tipo de acordo com qualquer força política, desde que par- ticipem da direção dessas entidades que, na verdade, visara a le?sltear a atividade de cada um de seus mSitan- tos. Quando juntam algumas dessas organizações eles então deacmincn o fato de 'movimento de massas*. Não há massa nessas organlzaçôca, msis eles insistem".

Segundo o dirigente comunista, um exemplo claro de atuação do lIIi-3 fo- ram "as alianças com o prefeito cie 33o Paulo, Reynaldo de Barros, cue permi- tiram ao Oito organizar a Conam. Fo- ram concedidas todas as facilidades — diz Hércules —, desde o gtofisio do Pacaembu, até a montagem do 'show* Canta Brasil, no Anhembi. Todas as associações de amigos de bairros de São Paulo, controladas pela Prefeitura, votaram com o MR-8, garantindo-lhe o controle da Conam."

DINHEIRO

A organização do congresso da Co- nam, a aparente pujança editorial do MR-8 e, mais recentemente, a campa- nha eleitoral de seus candidatos vém espantando o antigo dirigente comu- nista. "Numa época como a de hoje, em que é difícil arrancar contribuições, o Oito está nadando em dinheiro. Quem é que financia esta organização? De onde é que o Oito arranca tanto dinheiro? Deixo essa pergunta para que a socie- dade brasileira responda."

Tão preocupadas quai. o ex- deputado Hércules Corrêa com o volu- me de recursos à disposição do MR-8 Líbia e da CLP — informam cs mili- tares." V

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PART1V0S 11

continuação da página anterior: 13 ANOS DEPOIS volta

estão algumas fontes mimam consul- tadas pelo Estado. Para essas fontes, "o MR-8 é atualmente a organizaç&o clan- destina marxista que conta com maior número de recursos financeiros".

"Esses recursos sâo oriundos de di- versas fontes, entre aa quais estôo as contribuições de militantes, da URSS, de empresas da própria organização e de algumas entidades cstrangelrastom rótulos de 'humanistas'. É também pos- sível a existência de contribuições da

As ligações do MK-S com os repre- sentantes da Líbia no Brasil sào conhe- cidas. O próprio semanário Hors do Povo, órgão oficial cio Movimento, des- tacou essas ligações em seu noticiário do número 98, de 18/S a 25/9 de 1981. quando relatou as comemorações da data nacional da Líbia realizadas na embaixada em Brasília. Às comemora- ções esteve presente o pióprio diretor do Jornal Hor» do Povo, Nelson Chaves. Também presente, o representante da OLP no Brasil, Farid Sawan, o que, para os militares, é mais um Indício da estreita união dn MR-8 com a Libia e a OLP.

Nem todos, porém, Julgam miste- riosas as verbas do MR-8. Para Pedro Porílrio, candidato a deputado esta- dual pelo PMDB no Rio, e apoiado pelo MR-e na 18' Zona Eleitoral (Copacaba- na), "o dinheiro vem da criatividade de seus membros." E para provar sua tese mostra um camô mandado confeccio- nar pela organização, através do qual qualquer pcsoa pode ajudar a sua can- didatura depositando quantias de sua Uvre escolha em agências bancárias.

Outro argumento usado por Pedro Porfírlo é a contribuição de Cr* 25.000,00 que teve de efetuar para que seu nome aparecesse nos cartazes man- dados imprimir pelo Oito e espalhados por toda a cidade: "Os cartazes — diz — foram impressos com o Uy-out deles, mas o dinheiro foi meu".

ORGANIZAÇÃO

,._Oj.affltgM com acesso a Iníortna- çoc» dizem que o MR-8 "mantém uma

estrutura aparente, isto é, que se mos- tra nos atos públicos e jornais, e outra absolutamente clandestina, que garan- te a segurança da organização". Toda- via — comentam — mesmo as preocu- pações com segurança náo sào Ideais, "pois falta formação política a seus membros e lhes sobram ambições". Os militares informam ainda que, noa ór- gãos de segurança, sâo ouvidos comen- tários jocosos no sentido de que "se fossem retirados todos os informantes que militam no Oito, a organização per- deria 5090 de seu efetivo".

O processo de abertura política le- vou os militares do MR-8 a se filiarem em massa ao PMDB, atendendo à orientação dos dirigentes. Mas foi no PMDB do Rio que os métodos de atua- ção do Oito causaram as maiores desa- venças Internas nos últimos tempos, até que fossem colocados sob controle no inicio do ano.

Para as brigas dentro do PMDB contribuíram multo a amblçào dos membros do MR-8 em assumir o maior número possível de postos na estrutura do partido. Com a mesma facilidade com que propunham um acordo, po- rém, os militantes do Oito o repudia- vam quando chegava o momento de cumprir a parte deles.

Mas foram as ações públicas prati- cadas em nome do PMDB que levaram o partido a assumir um controle cada vez maior dos Integrantes do MR-8. A gota d'água consistiu na plchaçáo dos muros do Instituto de Educação, no Rio. logo após a edlçfio do "Pacote Eleitoral" pelo governo. Particularmen- te, a frase "Tira a pata Figueiredo, o povo quer eleições — PMDB", levou o editor e jornalista Lúcio Abreu a pro- testar numa reunião da comissão de coordenaç&o parüdérla. Do protesto nasceu a providência de impor aos dire- tórios "normas destinadas a impedir esse tipo de tiso do nome do partido".

Lüdo Abreu lembrou que "a Ima- gem pública do PMDB estava sendo comprometida com ilegans que não são do partido, mas do Jornal "Hora do Povo". Ante a ameaça do jornalista de mandar fotografar as Inscrições por to- da a cidade e levá-las à nova discussão no diretório regional, as plchações aca-

baram. Advertidos do perigo que represen-

tava a manipulação do PMDB, os dire- tórios da Zona Sul do R;o ac " ram Infligindo ao MR-í! sua mais séria derro- to quando da eleição do coordenador Interaonal, no dia 6 de Janeiro, e que marca o refluxo da organização dentro do partido. Naquela ocasláo, a candida- to do MR-8. Olga Darke, foi derrotada por Ciro Kurtz em todos os seis diretó- rios da Zona Sul (Inclusive no seu pró- prio diretório), numa das mais concorri- das eleições já realizadas dentro do PMDB do Rio.

INCORPORAÇÃO

O processo de Incorporação do PP ao PMDB. contudo, acabou por benefi- ciar o MR-8 no Rio, que promoveu ijnedlatamente uma aliança com seu arqulinlmigo, o deputado federal Miro Teixeira, candidato do governador Chagas Freitas á sucessão estadual Aproveitando-se de um momento de Indefinição partidária, os membros do Oito colocaram à disposição de Miro Teixeira (oriundo do PP) os postos que conquistaram dentro do PMDB. Em troca doa «ervlços prestados a quem chamavam dias antes de lacaio da dita- dura, os membros do MR-« dizem que terão garantidos no futuro governo es- tadual 18 altos postos.

Verdade ou fantasia, a benevolên- cia com que os membros do Oito passa- ram a ser tratados na administração do governador Chagas Freitas difere em multo do tratamento recebido semanas atrás. Na quinta-feira, 27 de março o recinto da Fundação Leão XHI—Insti- tuição governamental de amparo a pes- soas carentes—era cedido para que um grupo de associações de favelados liga- do ao MR-8. tendo á frente o presidente da Faíerj. Irineu Guimarães, organizas- se sua forma de atuaçõo em íkrat da campanha eleitoral de Miro Ttwelra Em vista de situações como esto, a pilhéria mais ouvida no PMDB do Rio é a que associa o candidato do governa- dor Chagas Freitas á esquerda radical por meio da sigla Mlro-8.

'HP, UMA VERTENTE PARA 0 FASCISMO^ FOLHA DE S. PAULO 09/04/82

MAURÍCIO TRAGTENBERG ^T-I01"8 do Povo", uma vertente pa-

XXra o fascismo", é o título de um texto de autoria de três jor-

Mhstaa gaúchos, Adeimo Genro Filho, Marcos Rolme e Sérgio Veigert. Consti- tui um estudo importantíssimo dos ele- mentos políticos e ideológicos que for- mwna base da proposta da "Hora do Í?!2- :.0 fcpcisnío. Isso, após analisar « emções de um total de 70 publicadas. ,.oSSSm&?s a"tores- HP cultua a táti- m.J^ li^i*' separando meios e fins SS? l0^de. vale-tudo, manipulação S» aparências dos acontecimentos sem explicação das causas, conciliacio- í^?00?]" ? "status quo^, apesar de uma violência verbal enganosaTÈ por- que os mentores do HP têm profundo ri^BT620 P6'35 massas, que a eles só in- í^sa.m enquanto objetos mani- guláveis. Daí HP defender sempre a

este&feffitl^^ a "anar«luia". ™ O desprezo pelas massas nutrido pelo

nr aparece quando apresenta nas suas «lições a valorização do cantor Teixei- nfí^u C?KS representante da cultura gaúcha (HP n.^SO), quando na realida-

de ele com sua música reforça o ma- chismo, chauvinismo e os piores pre- conceitos das próprias massas. Quando anuncia levianamente a prisão de um visitante extraterreno (Ovni) pelo Deops, pregando a fusão do partido ov- nista com o PMDB. Quando publica cartas de um trabalhador de nome "Je- sus Cristo" apoiando o jornal. Também quando denuncia Delfim por "arriar as calças" e estar "de namoro com os ban- queiros internacionais" reproduzindo os piores preconceitos fundados no sen- so comum.

É muito comum a utilização pelo HP de títulos ambíguos: "Santo Padre con- tra histerismo de Carter" (HP n.0 22). "Igreja põe em dúvida se Figueiredo e cnstáo" (HP n.0 43). No primeiro título analisa Carter no nível do histerismo, no segundo insinua intriga entre Figuei- redo e a Igreja. A manchete que ilustra a visita do general Videla ao Brasil, "Figueiredo abraça o anti-Cristo" (HP n.0 51) esquece os aspectos políticos do fato, reduzindo-o a ato pecaminoso.

Outro aspecto do HP é seu mani- queísmo, a divisão do mundo entre bons e maus. Assim, ' 'Deus está com os me- talúrgicos e Figueiredo com Satanás" (HP n.0 34). Na medida envque HP ma-

nipula os aspectos "aparenciais" dos fatos, afasta as massas da compreen- são de suas causas e, portanto, do real. Quando enuncia que Puxa-saco tenta acabar com computador nacional" (HP n." 41), procura mostrar que a subordi- nação da economia brasileira à interna- cional deve-se a uma pessoa. Quando escreve que "Trapalhões ianques ameaçam o mundo" tHP n.0 41), enun- cia que a guerra é devida a atrapalha- dos governantes, e não inerente à lógica do sistema econômico.

Utiliza o clássico argumento que o go- verno usou para combater as oposiçoes quando enuncia que "O governo é sub- versivo" (HP n/" 42), caracterizando assim subversivo como o ruim, o nega- tivo, algo que deva ser desqualificado, E não como expressão de contradições internas do sistema.

Para HP, isso tudo pode constituir uma tática, porém não há tát: > sem princípios. Para HP, a tática é vista co- mo um elemento utilitarista imediatis- ta e os princípios ficam no nível da de- claração de fé, isto é, não têm valor algum.

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PARTlVÕStf 12

continuação da página antsrior! "HP, UMA VERTENTE 0 FASCISMO"

Para HP o povo só pode perceber o imediato e o aistorcido. Dai, publicar matéria sobre a morte de Fragonar — personagem àe novela — por um íascis- la, trazendo a confusão entre fantasia (novela) e realidade. Reconhece HP co- mo úíiica realidade o que se dá a nível imediato, desprezando a subjetividade das massas. Reproduz, dessa maneira, a ideologia da ciasse dominante entre os dominados. Eles pensam que "estão na faixa dos dominados mas na verda- de estão na área dos dominantes",

HP desenvolve um reformismo fas- dstizante. Dos 47 Jornais consultados pelos três jornalistas, 14 criticavam a política administrativa do Presidente, 4 criticavam o partido do governo, 3 de- nunciam a corrupção e 10 são lau- datórios a Ulisses Guimarães, que fora, no governo Castelo Branco, relator da Lei de Greve que acabou com o direito de greve no País. Manchetes referentes a lutas populares constituem só 7% do total.

Outra característica do reformismo fascistizante de HP é sua defesa do pe- leguísmo sindical. Em sua edição n.0

90, HP apresenta Joaquinzáo como "hder dos operários" e o metalúrgico Valdemar Rossi como "peça-chave na tramóia das multinacionais". Hitler também deformava os fatos dessa maneira.

O antüntelectualismo do HP, o culto à força pela prática das "brigadas", o dogmatismo do jornal, constituem seu componente fascistizante. HP soma pa- ra o fascismo na medida em que a clas- se média esmagada após o "milagre" e o fim das ilusões encontra nele e na sua violência verbal e conciliacionismo prático, um canal para expressão de ressentimentos. Os ressentidos na política sempre sustentaram nazis- mo, fascismo e stalinismo.

Na medida em que HP reforça nas massas os elementos ideológicos, que num futuro possivel poderão ser mani- pulados pela direita radical, ele está so- mando para o fascismo. O próprio jor- nal prepara a cooptação de sua base pe- la ultradireita, se ela se tornar he- gemônica na esfera política. Como o fascismo, sua ideologia é eclética, ba- seada em conceitos irrácionalistas e es- tereotipados. Manifesta sua "falsa consciência" através de seu discurso ideológico. Como a ideologia fascista, a ideologia dç HP é eclética, antiintelec- tualisia e supervalorizadora do imedia- tismo e do alivismo.

HP procura o convencimento pela ar- gumentação e, na medida do possível, pela utilização do soco inglês, correntes e barras de ferro contra seus ad- versários no meio operário e popular mais amplo.

Num período de indecisão social e política como o que atravessa o ís, no qual um "fechamento" de direita não está excluído, HP cria o clima para que a massa receba de braços abertos al- gum general ditador que se proponha a

salvar o Brasil". Ao defender a supos- ta unidade da "família brasileira", HP nega a especificidade da condição do trabalhadcr, gerando a maior confusão ideológica. Hitler eMussolini também o fizeram e seu fim foi o que conhecemos.

Por todas essas razões, o texto "Hora do Povo, uma vertente para o fascis- mo" é de leitura urgente e inadiável por todos aqueles comprometidos com a causa operária e popular, que não pre- tendem comer galo por lebre.

Falta, porém, uma análise das práti- cas do HP. Com isso os autores comple- tariam o estudo.

Minrlck) Tragtenberg é professor do Departamen- to de Ciências Sociais da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas em SSo Pau- lo e da Universidade Estadual de Campinas, autor de "Burocracia e Ideologia" e "Administração, Poder e Ideologia".

TRADUZINDO O "ECONOMES" FOLHA DE S. PAULO 04/04/82

Gesner Oliveira Filho "Onde não havia sentido a frase era mais espe-

ciosa ou retumbante" — Machado de Assis, Várias Histórias.

O público ouve e lê diariamente o famoso jar- gão economes. Em debates, entrevistas e docu- mentos oficiais, as expressões técnicas pululam, quase sempre encobrindo os fenômenos econômicos, ao invés de esclarecê-los. Vale, por- tanto, um esforço de tradução. Neste domingo, tomaremos duas frases escritas no referido "idioma". , .

1. "Não houve corrosão salarial no período re- cente pois a taxa inflacionária apresentou uma tendência descendente".

Taxa inflacionária (de inflação) quer dizer a taxa de crescimento dos preços; isto é, da média dos preços que, por sua vez, é captada através de vános indicadores, tais como o índice geral de preços (IGP) da FGV e o índice nacional de pre- ços ao consumidor (INPC) do IBGE.

Pode parecer estranho a afirmação de que a taxa inflacionária está caindo numa situação em que todos sabemos que persiste a alta dos pre-

IOS. Porém, os produtos se encarecem, ou seja .iá inflação, mas o ritmo de elevação dos preços é mais reduzido. Em fevereiro do ano passado, por exemplo, a taxa anual de inflação era de 119,5% (ver tabela, coluna 3), ao passo que che- gamos à marca dos 91,8% em igual mês de 1982. Contudo, é verdade que o elevado índice acumu- lado do primeiro bimestre (13,6%), é preocupan- te, mas isto é uma outra estória.

Voltemos à frase analisada. Afirma-se que, co- mo a taxa de inflação está caindo (o que é verda- de), não há corrosão salarial (ou seja, perda do poder aquisitivo dos salários). Está evidente- mente errado. O fato de os preços crescerema um ritmo menos acelerado (ainda assim pon- derável, diga-se de passagem) não implica inexistência de prejuízo por parte dos assalaria- dos. Apenas e tao-somente diminui a queda do salário real. vale dizer, da remuneração percebi- da pelo trabalhador, depois de descontarmos a vanação dos preços.

2. rtA elevação do salário médio real na indústria de transformação demonstra que a conjuntura do mercado de trabalho não é tão desfavorável ao trabalhador".

f

TAXA DE CRESCIMENTO EM DOZE MESES (%)

Salário INPC 1GPE-DI 1,981

médio * (1) (2) (3)

Fon 99,1 95,1 110,9 F«v 100,7 97.8 119,5 Mor 105,3 98,8 121.2 Abr 127,4 101,0 120.6

Moi 118,4 104,1 120,6

Jun 118,0 101.8 117,3

Jul 120.! 101,8 110.6

Ago 123.8 106.5 110.2

S«t 117,1 106,1 109,8

Out 120,4 100,5 103,4

No* 120,7 95.3 99,1

Dex ND 91,2 95,2 .

1982 1

Jtm ' ND 93,1 94,7

F»v ND 95.6 91,8

* Referente ao pessoof ocupodo na indústria de

transformaçõo Fontes: {1) F/SGê - "Indicadores Con/uníurais do Indústria"

(2)flBGB (3) FGV -, "Conjuntura fconôm/co"

Vejamos, em primeiro lugar, a noção de salário médio. Trata-se da média das i jvaunera- cões correspondentes aos vários níveis de quali- ficação do pessoal empregado. Para alertar o leitor quanto ao caráter abstrato da média, os manuais costumam lembrar que um homem que esteja com a cabeça num forno ligado e os pés num congelador encontra-se numa temperatura média supostamente ideal. Assim, é natural que

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ECONOMIA 13

continuação da página anterior- TRADUZINDO C "ECOMDMÊS"

a evolução ao salário médio deva sempre ser analisada cora cautela. Num período de expan- são, a elevação deste indicador não necessaria- mente expressa o aumento do conjunto dos salários. Pode ocorrer, por exemplo, aquilo que caracterizou o período recente de expansão no Brasil: os altos salários cresceram muito, em detrimento dos ganhos daqueles que estão na ba- se da pirâmide salarial.

Verificamos na tabela que de fato, a taxa de expansão do salário médio do pessoal ligado à produção (coluna 1) tem sido maior do que o crescimento do INPC (coluna 2) e, a partir de ju- nho de 1981, também superior ao IGP (coluna 3). Isto quer dizer que o salário médio real se ele- vou, ou seja, aumentou o poder de compra da re- muneração média.

Vale à pena, a esta altura, lembrar o leitor que existe um conceito diferente deste último mas cuio nome é bastante semelhante: o salário real médio de um determinado período. Tomemos a evolução de um salário hipotético de Cr$ 100 mil ao longo de um ano. Se a inflação anual chegar a 100% sabemos que o salário real, no fim doúJti- mo mês, será apenas Cr» 50 mil.aoo.000/200 X 100); em outras palavras, quando os preços do- bram, o salário cai pela metade. E o saláno real médio? No primeiro dia do ano seu nível estava em Cr* 100 mil; para simplificar, podemos supor que sua deterioração foi uniforme ao longo ao tempo e, assim, basta calcular a média aritméti- ca dos extremos para obtê-lo; o resultado seria Crt 75 mil (100-50/2).

Feita esta pequena digressão, voltemos à con-

juntura atual do mercado de trabalho. Não é no- vidade para ninguém que o desemprego assumiu dimensões assustadoras, A taxa media !e de- semprego do IBGE, que compreende as seis principais regiões metropolitanas do País, atin- giu marca superior a 9% em ianeiro. Tal fenôme- no se deve, era grande medida, à política recessi- va adotada peío governo, Como explicar, nesse contexto, o aumento do salário médio real? Pelo menos dois fatores são relevantes. O desempre- go afeta primordialmente as categorias menos qualificadas. Isto implica numa queda mais acentuada dos ganhos menores, elevando a in- fluência, na média, dos altos salários. Ademais, cora as dispensas, são pagas salários adicionais e encargos trabalhistas. Desta forma, ironica- mente, o maior salário médio real pode revelar uma situação desesperadora para boa parte dos trabalhadores.

£ fácil perceber que a linguagem econômica contribui, por vezes, para ocultar sérios equívo- cos. Urge, portanto, que os políticos, economis- tas e técnicos era geral precisem seus argumen- tos. Não bastassem fortes e boas razões de or- dem moral, porque a opinião pública assimila muito rapidamente a agudeza raachadiana.

Gemer Oliveira TO» t prafenor do DeparUmeoto * Ecoooml» d» PUC/SP e pewlMdor do CtDW.

O LEAC MANSO PARA ALFUKS

JUca/tdo Bu&no

PASQUIM 08 a 14/04/82

Quando tudo vai mal, nada melhor que lançar algo bombástico para des- viar a atenção dos problemas que se acumulam. O ministro Delfim Neto é mestre nesse tipo de coisas e agora sa- cou do bolso do colete a tese de que o Brasil precisa de uma reforma tributá- ria. O balão de ensaio tem fins eleito- reiros, pois a reforma só será mesmo discutida em 83 e entraria em vigor em 84. Mas lançar a idéia agora, às vés- peras das eleições, pode render bons dividendos políticos. Afinal, é muito simpático o governo dizer por exem- plo que está disposto a dar mais di- nheiro para os estados e municípios, que vivem à míngua pois 70rr ou mais do que é arrecadado através de impos- tos no Brasil vai para os cofres do go- verno federal.

O problema é que a empulhação oficial fica evidente quando os minis- tros da área econômica admitem que querem fazer uma reforma tributária sem mexer na grana e nos bens dos ricos. Ora, qualquer reforma tributária digna desse nome tem que, no caso brasileiro, ir em cima da grana dos ri- cos através de profundas modificações no Imposto de Renda cobrando das pessoas físicas e de alterações no im- posto sobre heranças.

Acontece que o ministro da Fa- zenda, Ernane Galvéas (um homem a quem ninguém pode acusar de ser es- pecialmente brilhante) afirmou que o governo não pensa em qualquer trans- formação profunda para o IR, mas "apenas algum ou outro aperfeiçoa- mento, quando houver necessidade," Assim, a reforma tributária proposta por Delfim e Galvéas cheira mal, mui- to mal, como quase tudo que vem de suas cabeças autoritárias.

Para ter uma idéia como o sistema tributário brasileiro é injusto, alguns números ajudam (paciência, leitor). Vamos lá. Para começar: o sistema tri- butário no Brasil está muito baseado nos chamados impostos indiretos (co- mo o imposto sobre produtos indus- trializados e o imposto sobre circula- ção de mercadorias) e não nos impos- tos diretos (basicamente o imposto de renda).

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ECOWOMIÂ 14

continuação da página anteior: 0 LEÃO: MANSO PARA ALGUNS

E dai? Daí que os impostos indire- tos recaem sobre as vendas de merca- dorias e serviços e taxam todo mundo igual. Se eu entro num bar e compro um maço de cigarros, pago tanto de imposto quanto Augusto Trajano de Azevedo Antunes (dono do Jari) caso ele compre um maço de cigarros da mesma marca. Mora! da história: os impostos são extremamente injustos pois taxam ricos e pobres da mesma maneira. E uma das regras básicas de qualquer sistema tributário decente é cobrar mais impostos dos que ganham mais e menos dos que têm rendas bai- xas.

No Brasil, segundo dados levanta- dos pelo Grupo de Política Fisca! do Instituto dos Economistas do Rio de Janeiro, os impostos indiretos são res- ponsáveis por 77% da arrecadação tri- butária e os diretos por apenas 23%. Já nos países capitalistas desenvolvi- dos a participação dos impostos indi- retos caí para 40% e a dos diretos para 60%. è preciso dizer mais?

6,7 milhões são considerados renda não tributável." O Leio se preocupa

apenas com 3,3 milhões. Pode parecer piada, mas não é.

E. Vamos mergulhar agora no uni- verso dos impostos diretos, ou melhor, no universo do Imposto de Renda. Es- j te tem tcídas as possibilidades de ser j um imposto justo. Quanto maior a renda, maior o IR a pagar. Quanto me- nor a renda, menor o IR a pagar. Ao contrário dos impostos indiretos, o IR não tributa igualmente a todo mundo e por isso pode ser um poderoso ins- trumento nas mãos de governos deci- didos a redistribuir melhor a renda e a arrancar dinheiro dos ricos para gastar em escolas, hospitais, casas populares etc.

Será que no Brasil o imposto de renda é tão bem utilizado como deve- ria ser? O Leão morde os ricos e ape- nas arranha levemente a classe média? Não. O Leão faz exatamente o contrá- rio. Ele é um gatinho mimado ao lidar com a renda dos ricos e um animal fe- roz ao tratar da renda dos assalariados de classe média.

; Por quê? Bem, a maioria das ren- das dos ricos é considerada "não tribu- tável", ou seja, o IR não recai sobre elas. Os ganhos no mercado financei

O governo sabe dessa mutreta, mas a admite e até bate palmas para ela. A desculpa é que se a renda dos milio- nários for fortemente taxada, estes perderão o estímulo para investir e ga- nhar mais dinheiro e isso prejudicará o crescimento econômico. O engraça- do é que nos Estados Unidos, na Fran- ca e em diversos outros países os ricos são muito mais penalizados pelo Im- posto de Renda do que no Brasil e ao que se sabe não foram todos para con- ventos, decepcionados com as injusti- ças desta vida terrena ., .

A conclusão a tirar disso é que a Secretaria da Receita Federai, a dona do Leão, que tanto mete medo nos as- salariados, deveria mandar seu bichi- nho rosnar em outras portas e subir nas paredes de outras salas que não as dos assalariados de classe média. Aliás, em 1979 a própria secretaria checou as declarações de 1.000 pessoas riquís- simas e constatou que elas apresenta- ram como rendimento não tributável Cr$ 79,7 bilhões.

Somando-se a esse rendimento nao tributável (ou seja, que não paga IR) o rendimento tributável de apenas Cr$ 2,4 bilhões temos CrS 82 bilhões. Sabem quanto é que os milionários pa-, gavam de IR? Apenas Cr$ 921 mi- lhões, o que correspondeu a 1,3% dos seus rendimentos totais. Na mesma época, um assalariado com renda mé- dia anual de apenas Cr$ 94 mil desem- bolsava para o IR 5% do que ganhava. Proporcionalmente pagava quatro ve- zes mais imposto do que os ricos (5% contra 1,3%).

Vamos juntar agora os impostos indiretos e os impostos diretos. Te-

É bom que ninguém se íkida e pense que a reforma tributária é a cha- ve mágica que permitirá resolver todos os problemas brasileiros. Nada disso, mesmo porque há problemas que nada têm a ver com os impostos, como por exemplo a dívida externa. Mas, uma reforma tributária para valer ao arran- car um pouco da renda dos privilegia- dos aumentará o volume de dinheiro à disposição do poder público para apli- car em escolas, creches, obras de sa- neamento etc, beneficiando as famí- lias de baixa renda.

Desconfio, ou melhor, tenho cer- teza de que o dr. Delfim não está pen- sando exatamente nisso ao falar em re- forma tributária e que caso mais recur- sos fossem para os cofres públicos aca- bariam indo parar nas obras faraônicas do programa nuclear e não em empre- endimentos que melhorassem^ as con- dições de vida da população. Não basta, portanto, uma reforma tributária de- cente. É fundamental ter no poder um governo igualmente decente, voltado para o atendimento das necessidades básicas da população.

Temos isso no Brasil, leitor? Car- tas oara a redação.

o

mos, então, a chamada carga tributária ^ global. O que é que a análise da carga tributária revela? O esperado. Os po- bres pagam proporcionalmente muito mais impostos do que os ricos. Um es- tudo do economista Ibrahim Eris mos- tra que pessoas que ganham até 1 salá- rio mínimo têm 33,5% de sua renda engolida por impostos e as que rece

ro, os lucros com transações nas bolsas |bem de 1 a 2 salários mínimos quase de valores, as vendas de imóveis urba nos e terras etc. tudo isso é taxado de maneira insignificante. Ora, é dessas transações que vêm a grana dos ricos. No caso das pessoas que ganham cerca de 100 salários mínimos por mês a proporção da renda considerada não tributável é de 57%. Para quem recebe 200 salários mínimos a brincadeira sobe para 65% e para quem ganha mais de 300 salários mínimos a coisa vai para 67%.

Assim, se um milionário ganha CrS 10 milhões nada menos que CrS

30%. Assim, de cada 1.000 cruzeiros que o sujeito fatura os impostos engo- lem 300. Já os ricos .. .

Já os ricos que ganham de 100 sa- lários mínimos para cima perdem ape- nas 15% de sua renda para os impos- tos. Logo, de cada 1.000 cruzeiros que recebem apenas 150 são "surrupia- dos" através dos impostos. Ou seja, a metade do que um sujeito de 1 a 2 salários mínimos perde. Como o gene- ral Figueiredo quer desencadear uma cruzada contra a pornografia, acho que poderia começar oor aí-

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WACTONAL 15

MILITARES RECEBEM ORIENTAÇÕES SOBRE O PRÓXIMO PLEITO FOLHA DE S. PAULO 21/04/82

GUILHERME COSTA MANSO

BRASÍLIA — Os chefes militares do País, em re- centes encontros secretos, receberam duas orienta- ções básicas: respeitar os resultados das eleições de 15 de novembro, assegu- rando a posse dos candida- tos eleitos, e' buscar o maior entrosamento possível com os futuros go- vernadores oposicionistas.

As Forças Armadas se esforçam para nâo serem surpreendidas. Sabem, e estão se preparando para •sso, que a oposição fará um grande número de par- lamentares no Congresso Nacional e os governadores dos Estados mais impor- tantes. Evidentemente acreditam que o PDS, par- tido do governo, tem possi- bilidades de eleger, pelo menos, 30 a 40% dos candi- datos aos cargos que se disputa em 15 de novembro ese.como um poder conser- vador, já estão imbuídas da necessidade do respeito aos resultados eleitorais, ainda não se dispõem a ad- mitir a rotatividade no poder.

Em encontros sigilosos, que vêm se tornando fre- qüentes por se tratar de ano eleitoral, tem-se troca- do idéias e até mesmo de- batido a situação política do Pais. Relatórios secre- tos são apresentados aos ministros e chefes milita-

res comc.itiu o resultado cie pesquisas, realizadas em todo o País, sobre os candi- datos mais cotados e suas tendências ideológicas. Acompanha-se ainda, deti- damente, e até constam nos mesmos relatórios, a situação sindical em todos os Estados, os candidatos apoiados pelos sindicatos bem como as suas convic- ções políticas, os movimen- tos comunitários, tais como as Comunidades Eclesiais de Base, os partidos pros- critos, enfim, procura-se separar tudo o que se consi- dera governo, daquilo que seria a oposição.

Os militares não desejam ser surpreendidos e, se ain- da não estão convictos de que a oposição é capaz de governar o País, sabem que daqui para frente terão de suportar não mais dis- cursos contrários à ordem econômica e política vigen- tes, mas governadores es- taduais que deverão colo- car em prática as teses oposicionistas que defendem.

Por isso, também os co- mandantes de área oreparam-se para um novo período de administração militar, em que serão indis- pensáveis o diálogo e a to- lerância, para um mínimo de convivência pacífica. Hoje em dia, por exemplo, os chefes militares, na maioria dos Estados, prati- camente decidem sobre to-

dos os assuntos de seguran- ça, incluindo a repressão aos movimentos sindicais e estudantis.

Governadores oposicio- nistas, eleitos sob o com- promisso popular, deverão se conduzir com comedi- mento em relação aos con- flitos sociais nos Estados. Os comandantes de área, que nâo estão subordinados aos governadores, preparam-se, então, para o exercício da tolerância, pa- ra a convivência com as idéias contrárias e discor- dantes, para o exercício da política, a que estão, no mínimo, desacostumados.

Ainda como parte da adaptação das Forças Ar- madas, á convivência com outras tendências políticas que não as do governo, vem se reformulando os DOI (Destacamento de Opera- ções de Informação) num verdadeiro trabalho chinês, como quem des- monta uma mina, com todo o cuidado para o gatilho não disparar. Vale lembrar que os Codi

(Conselho de Defesa Inter- na) são considerados órgãos permanentes e não serão modificados, mesmo porque deles fazem parte os governadores dos Esta- dos e os secretários de Justiça.

O DOI por sua vez — su- bordinado às 2.â Seções dos Exércitos — est* sendo re- formulado há quase um

ano, desde que explodiu a bomba do Riocentro, e que ficou constatada a inviabi- lidade de manter-se os gru- pos operacionais do Siste- ma. Provavelmente a par- tir deste ano, o Doi passará a existir apenas em estado latente, ou seja, seus efeti- vos serão desmobilizados das tarefas operacionais, passando a atuar como analistas.

Segundo importante fon- te militar consultada on- tem, o Doi foi criado para a obtenção de informações por meios não convencio- nais e é acionado pelos che- fes de Estado-Maior dos Exércitos. Conforme o ge- neral consultado, "só deve funcionar quando ne- cessário, quando houver lu- ta armada —. — Por isso — prossegui — ele será ape- nas desmoralizado, mas continuará existindo poten- cialmente, se não existir o agente da subversão atuan- do não é necessária a ação respota. Então, o órgão fi- car* parado, não importa se com ou sem o mesmo no- me, pois o nome é o que me- nos importa".

O mesmo informante acrescentou que o Exército -àge em resposta ao mo- mento, por issq, a sua es- trutura tem que s^. .uncio- nal para uma determinada época e finalidade. Se vol- tarem os agentes subversi- vos, o Doi será imediata- mente ativado". O

OPINIÃO EDITORIAL

DA GAZETA DEMOCRÁTICA 04/04/82

Continuou caindo a atividade econômica nos três primeiros "^eses do ano e acentuadamente [JO setor industriai, aumentando o desemprego. A inflação em março foi de 7,2%, portanto superior à janeiro e fevereiro. As exportações caminham penosa- mente abaixo das previsões do governo. A energia, na qual 'oram invetidos tantos e tâo custosos recursos, nâo tem iK0tLsumo- 0 P*19 e8tá mergu- mado na mais grave recessão econômica de toda a sua histó- na.

Mais grave a situação, mais o governo revela sua fraqueza Para enfrentá-la, para enfrentar os senhores da crise. Aos pro- tstos generalizados contra os 'ucros escandalosos dos ban- queiros o governo respondeu «ugeríndo a possibilidade de aumentar a taxação dos lucros aos bancos. Os banqueiros rea- giram dizendo que este tributo '«ria um gesto desesperado". O

governo calou e quem caia consente.

No 31 de março, tão melanco- llcamente comemorado, os mi- nistros militares se manifesta- ram. Na linha do que tinha dito o general Figueiredo ao comemo- rar seus 3 anos de governo, os graves problemas que desgra- çam a vida do povo brasileiro foram Ignorados. Os ministros se contentaram em fazer louva- ções de feitos semelhantes a batalha de itararé — feitos que não existiram, que não existem. Mas não perderam a oportuni- dade para falar em "maus brasi- leiros".

Quem são os maus brasilei- ros? O regime quer fazer crer que são os que falam de liberda- de, em justiça social e tem um compromisso com a democra- cia e a satisfação dos interesses e necessidades do povo. Os que não aceitam e se insurgem contra o fato de num pais rico como o Brasil o povo ser tão pobre. Estes "maus brasileiros" querem a independência e sobe- rania nacional e o bem estar social de todos os brasileiros.

Exatamente aquilo que este regime foi e é Incapaz de asse- gurar.

O Brasil hoje ê mais depen- dente e vulnerável as determina- ções dos banqueiros e das grandes empresas multinacio- nais que em qualquer outro momento de sua historia. E os mifHãres tem o dever de meditar profundamente sobre estes fa- tos tão evidentes e tão facilmen- te comprováveis dla-a-dia.

Os privilegiados de ontem e hoje, os que a eles se associarem e atrelaram os Interesses nacio- nais, se locupletam com o empobrecimento do povo. M3oé sem razão que dizem que não abrirão mão de suas "conquis- tas" espúrias e no desespero de vê-las ameaçadas ficam queren- do dividir o país entre "maus" e "bons" brasileiros. O clamor de liberdade e democrac'~ ■ uni- dade das oposições, a determi- nação dos trabãlhadors em se organizarem no campo político e sindical, sinais seguros e eloqüentes da vontade da na-

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MÂCIOWÂL 16

A VIOLÊNCIA DA ABERTURA EM TEMPO 06 a 21/04/82

O inimigo não é mais o " terrorista", mas o criminoso comum infiltrado nas massas populares. A seguir o resumo de um ensaio publicado em livro, do sociólogo Paulo S. Pinheira mostrando o grau assustador da violência que desaba sobre o povo e as relações da repressão ã guerrilha urbana com a chamada guerra crimilidade.

As relações emre a repressão política e a policial no Brasil são mais profun- das e diretas do que usualmente se

pensa. É o que demonstra o ensaio "Polícia e Crise Política: o caso das policias militares", de Paulo Sérgio Pinheiros, contido no livro, recém editado, "A Viottnda Brasileira".

"As tênues barreiras que, em regime democrático isolam a repressão s criminalida- de comum da propriamente política vêm abaixo nas situações de arbítrio. As avenidas

continuação da página anterior: GPINIAO

çâo, causam-mes temores In- controlávels. No desespero, falam até mesmo de risco de guerra civil. Querem assim inti- midar e imobilizar o povo, a oposição, como ontem o fizeram através do terror, da tortura e dos assassinatos políticos. Mas não conseguirão caiar a oposi- ção, hoje fortalecida várias vezes pela revolta e indignação de todo o povo.

No primeiro de abrii a impren- sa mostrou dezenas de brasilei- ros manifestando-se contra o que aí está, dizendo que gosta- riam de ouvir que estamos nUma democracia, que há emprego para todos, que dá para comprar leite e ter onde morar. Esses brasileiros, como milhões de outros, não podem ser chama- dos impunemente de "maus" brasileiros. O desejo que que- rem ver realidade são a certeza de que o Brasil é viável. Cons- truindo e sedimentando o ca- minho da democracia, na luta contra o pacote da previdência, pela estabilidade no emprego, pelo reajuste semestral, décimo terceiro e direito de sindicaliza- çáo dos funcionários públicos, pela reforma agrária, pela Cons- tituinte soberana e popular, contra o entreguismo e a corrup- ção, o povo brasileiro, as oposi- ções unidas, tirarão o país da crise, derrotando os pescadores de águas turvas que querem dividir o pais para seguir reinan- do.

entre uma e outra forma de repressão se tornam facilmente comunicáveis, com a incorporação recíproca das técnicas e das motivações. Quando em vez da cessação plena do arbítrio, ocorre, como a partir de 1974 no Brasil, um processo de transição lenta para a democracia, esse intercâmbio das duas práticas não se interrompe".

E foi em plena crise do regime em 1969. durante o governo da Junta militar, quesedeu o grand? passo para a subordinação mais rígida das torças militares estaduais às diretri/es da doutrina de segurança nacional, de guerra permanente contra as dissidências armadas de esquerda. Pelo decreto-lei nr 667 de 2 de julho de 1969, foi atribuído ao Ministério do Exército através de seu Esíado-Maior à nível nacional e aos comandos militares nas regiões, a reorganização e a condenação da> polícias militares.

Foi igualmente para combater a guerrilha urbana que surgiu a ROTA, tropas de choque formadas por grupos de 'quatro homens armados com grande poder de fogo. mobili- dade e comunicação.

Dizimada a resistência armada da esquerda, a ideologia da segurança nacional e o aparato montado para colocá-la em prática são transferidos para a repressão à criminalidade. "Aos métodos convencionais de maus-tratos e de tortura, as polícias militares, especialmente as unidades especiais como a ROTA, conser- varam o poder de abater o inimigo sem riscos penais. O inimigo não é mais o "terrorista" mas o criminoso comum infiltrado nas massas populares, no "povão" como carinhosamente a essas se referem as polícias militares".

"A única solução para o crime é o enírentamento armado. Os criminosos são agentes do mal, infiltrados no povo que é naturalmente pacifico e ordeiro. As outras abordagens sociológicas, psicológicas, antro- pológicas, econômicas ou até religiosos são consideradas como ilusórias e mal intenciona- das. O criminoso (o "bandido") bom é o criminoso abatido, se possível".

A tática da guerra ativa Não apenas a ideologia e o aparato da luta

contra a guerrilha foram transferidos para a guerra ao crime. É também o método da guerra ativa, a ofensividade; prender, lorlurare matar para prevenir.

"Na medida em que nós ocupamos todos os espaços, o inimigo não tem espaço para se movimentar", afirma o coronel Orlando Couto, comandante do I.V'1 BPM do Rio para justificar uma blitz policial. No Rio, em 1977 a polícia militar prendeu 160 mi! pessoas: dessas somente 20.795 processos foram distribuídos ao Judiciário. Em São Paulo, no primeiro semestre de 1981. foram detidas para averiguação 62.220 pessoas.

"Nos últimos três anos, 215 pessoas encontraram a morte nas prisões e delegadas de São Paulo. Informações extra-oficiais dão conta de que em todo o Brasil, o número de condenados, detidos, mortos em presídios, xadrezes e cadeias públicas não é inferior a 350 perfazendo a surpreendente média de um por dia". Em uma semelhança patética com os assassinatos de militantes de esquerda nos cárceres da ditadura, são usadas as versões do

suicídio, como no caso do pintor Aézio, encontrado morto em uma prisão do Rio há alguns anos atrás.

Coincidentemente, a versão da- legitima defesa dos policiais, do tiroteio, é chamada para justificar os fuzilamentos sumários. "De janeiro a setembro de 1981, a ROTA matou de acordo com as suas próprias estatísticas, 129 pessoas. Para todas elas, a versão apresentada, com pequeníssimas variações, é sempre a mesma: foi dada ordem de prisão a um sujeito perseguido, o sujeito responde a bala ou a faca, segue-se tiroteio, os policiais são constrangidos a atirar e o suspeito morre em combate... Não deixa de intrigar que mesmo com todos esses tiroteios nenhum soldado da ROTA de janeiro a setembro de 1981 tenha sido morto nestes combates. A única morte de soldado, indicada na estatística da ROTA, ocorreu em um acidente de trânsito."

Acima das leis "O princípio da necessidade justifica as

medidas excepcionais de caráter repressivo ou preventivo (obviamente diversas das comuns providências acauteladoras da ordem), adotadas pelo governo em defesa do Estado ou da Nação quando se positivam ameaças, tentativas de subversão ou subversões baseadas em antagonismos ou pressões de origem interna, externa ou extemo-lntemá. Tais medidas transpõem as regras que tutelam, em época normal, os direitos antes de tudo individuais, assegurados habitualmente pelos textos constitucionais e também pela Declara- ção Universal dos Direitos do Homem ou pelas leis ordinárias especificas*. Assim, se expressa- va a revista "Segurança e Desenvolvimento" da Escola Superior de Guerra em 1968.

O mesmo critério, a mesma impunidade perante as leis se aplica aos fuzilamentos da ROTA. "Através da Emenda Constitucional n? 7 de 1977 (o "pacote de abril"), c; outros decretos e de interpretações aparentemente inconstitucionais do Supremo Tribunal Federal, as policiais militares se vêem asseguradas uma justiça interna corporis (isto é, da própria polida). O que lhes dá plenas condições de construir e implementar sua própria lei . Além disso, no caso da ROTA, as armas são retiradas em lote impedindo a possi- bilidade de averiguar quem usou que armas e em que circunstâncias. Nenhuma reconstitui- çao das mortes da ROTA pode ser feita com rigor pericial e, em conseqüência, vale qualquer relato que os soldados queiram apresentar."

Violência de ciasse "Sim, é possível governar com 50% de

inflação. Naturalmente, você precisaria de uma boa força policial." A declaração, citada por Paulo Sérgio Pinheiro, é atribuída a um ministro de Estado brasileiro em uma reunião financeira internacional em 1975.

Há alguns anos, a inflação brasileira já se situa em patamares duplamente superiores às expectativas do ministro. Não é a toa pois que neste contexto, assolado ainda pela recessão e pelo desemprego, as previsões do ministro quanto à repressão policial apareçam com toda a sua crueza.

Algumas comparações de Paulo Sérgio Pinheiro ajudam a compreender o grau de violência que desaba permanentemente sobre o povo brasileiro. Comparado com os tempos macabros da repressão da Idade Média em Paris (100 pessoas executadas, emre 1389 e 1392), com os mortos resultantes dos conflitos raciais nos EUA durante toda a década de 60 (menos dç 250) ou com o número de execuções no ano da repressão mais forte no país mais segregacionista do mundo (África do Sul. 132 monos em 1978), o número d;* assassinado:, pela ROTA (129, de janeiro a seicmbro de 1981), é simplesmente assustador. O

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WACKML 17

PCB 60 ANOS: A DEMOCRACIA PASSA PELA QUESTãO COMUNISTA VOZ DA UNIDADE r:/4/62

Há precisamente sessenta anos. amn mesmo no Rio de Janeiro, uns poucos homens se reuniam e acendiam uma chama destinada a perdurar na vida social brasileira: surgia o Partido Comunista Brasi- leiro.

Ao longo de seis décadas, o PCB provou-se e comprovou-se como um componente ineliminável da nossa sociedade: as mais cruéis repressões, as calúnias mais ardilosas, as perseguições mais sistemáticas: nada disto pôde liquidá-lo. Na agonia da noite, nos ásperos tempos, a bandeira erguida por Astroiíldo Pereira, Cristiano Cordeiro, Hermogeno Fernandes c outros companheiros sempre brilhou como a luz no túnel.

Em face dos sessenta anos do PCB - das lutas pelas reivindicações de todos os trabalhadores, pela autonomia e liberdade sindical, peto industrialização, pela educação, pelo monopólio estatal do petróleo, pela reforma agraria, pela paz, pela democracia, pela libertação de nosso povo. em defesa da justiça social —, em face dos sessenta anos do PCB, a pergunta que se impõe é simples: como explicar a resistência histórica do PCB? Como entender o fenômeno -- único na história brasileira — de um partido que, sempre submetido a duros golpes, recuperou-se c rsergueu-se com vigor inesperado?

Há duas respostas vulgares para esta pergunta. A primeira é o conhecido argumento da repressão e

da reação: o PCB é produto da maquinação interna- cional, da subversão do marxismo-leninismo. O ridí- culo desta colocação é tão óbvio que só pode inspirar- nos um sorriso de piedade e ironia.

A segunda situa-se no extremo oposto, é a resposta dos ingênuos bem-intencionados. Ela acreditam que o PCB é o fruto da vontade desta ou daquela perso- nalidade ilustre ou exclusivamente da abnegação dos seus militantes, que jamais vacilaram em oferecer a própria vida na defesa dos seus nobres tobjetivos — o fim da exploração do homem pelo homem.

Ambas as respostas são equivocadas. A primeira peca pela má fé e sua evidente ignorância da dinâmi- ca social, A segunda é viciada pelo seu flagrante idea- lismo.

Somente a análise da história moderna e contem- porânea do Brasil fornece a resposta correta àquela questão. Na verdade, o PCB surge, em 25 de março de 1922, no interior de transformações estruturais da sociedade brasileira: o colapso da economia agro- exportadora e de toda a superestrutura política que ela engendrara e que, dialeticamente, conformava o seu desenho social. A deterioração dos padrões sócio- econômico* que sustentavam a Primeira República, por efeito de substanciais modificações no aparelho produtivo do país, que já começava a receber os influ- xos do capitalismo nascente, faz-se sentir no período do p '•meiro conflito mundial.

Se as vagas iniciais da industrialização dinamizam a urbanização e todos os seus corolários e colidem com um ordenamento políticooligárquico(a"política dos governadores"), o processo geral a que me refiro encontrará um novo ritmo quando os sujeitos sociais típicos deste processo puderem articular formas de in- tervenção política. É o que parcialmente ocorre na década de vinte, quando o tenentísmo faz a sua entrada na cena política.

No plano da cultura, a Semana da Arte Moderna é o primeiro índice dos novos tempos. No domínio político, os tenentes — com o seu ardor juvenil e com os limites umbém postos pelo seu confusionismo ideológico — encarnam a tentativa de participação

social dos novos estratos, uri«nose pequeno-burgue- ses.

O mesmo processo coloca um segundo sujeito social: o proletariado urbano. Este novo protagonista — que desde o princípio do século, guiado pelos anarquistas, busca dar forma às suas tendências associativas — irrompe na vida brasileira em 1917: atesta-o a greve geral paulistana.

Como se constata esquematicamente, a política oligárquica. derruído o modelo agro-exportador, sofre a erosão de componentes burgueses e proletá- rios. É esta presença das duas classes sociais moder- nas fundamentais, então apenas se gestando. que inaugura a modernidade da vida social brasileira. Modernidade necessária; não se trata de algo aleatório ou arbitrário, mas de imposições do próprio desen- volvimento econômico e social.

Postas as bases destús duas classes sociais, é a dinâ- mica da sociedade mesma que responde à sua urgên- cia de expressão política. A dis^clução do tenentismo nos anos trinta c a articulação do Estado nacional sob o bloco de forças aglutinado em torno da Aliança Liberal vão configurar a intervenção burguesa no es- paço do poder (condividido com o latifúndio). Ao proletariado, sujeito sociei, impunha-se a expressão política autônoma: daí a emergência - depois de várias tentativas efêmeras — do PCB.

O PCB explica-se, assin , como uma necessidade histórica: ele é o legítimo produto da afirmação polí- tica da classe operária brasileira e a ela se vincula umbelicalmente. Não é fnno unicamente do idealis- mo de Aitrojildo Pereira, Cristiano Cordeiro, Her- mogeno Fernandes e mais uns poucos: fundamental- mente é o resultado do processo objetivo de diferen- ciação e complexificação da estrutura de classes bra- sileira no século XX.

E a mesma vinculaçâo de classe do PCB, explicita desde a sua origem, permite compreender o seu dia- grama histórico. Diagrama que, como sabemos, não mostra um percurso isento de erros. Ao contrário: não foram raros os momentos em que o partido se equivocou, patrocinando iniciativas criticáveis. En- tretanto, este itinerário só e inteligível quando se leva em conta a natureza, a formação e as características do proletariado brasileiro — porque o PCB as reflete de modo intensificado. As debilidades teóricas do partido, os seus erres decorrem do próprio perfil da. classe cujos interesses maiores ele sempre se esforçou por exprimir. Além do mais, estas debilidades, em si mesmas são marcas gerais de toda a sociedade bra- sileira — em que a reiteração da "modernização con- servadora" sempre manteve vigentes os traços mais anacrônicos da nossa formação social e cultural.

Esta segunda determinação permite-me delimitar melhor o que me parece ser a característica peculiar do PCB. Respondendo à necessidade histórica da expressão política do proletariado, o PCB é também um partido nacional: ele reflete e amplia os caracteres constitutivos da nossa classe operária, centro de gravi- tação das massas trabalhadoras. Em resumo: a resis- tência histórica do PCB explica-se pelo fato de ele ser uma resposta nacional à universal urgência da expressão política autônoma da classe operária.

Parece-me importante, a esta altura, lárer relerênóa a um elemento de vital significação na história do PCB, história passada e história cm desenvolvimento. Penso na relação entre o partido e os agentes da cultura, os intelectuais.

Não se pode esquecer que o PCB precede a or^nização da universidade brasileira (para a qual, aliás, forneceu técnicos de nível indiscutível). Quando o partido surgiu, o que tínhamos no Brasil eram apenas cursos superiores esparsos. Somente nos anos'

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NACIOWÂL 13

continuação da pagina anterior:

A DEMGCRACIA PASSA PELA QUESTÃO..

trinta é que a universidade se estrutura, com o partido já contando com mais de uma década de política, acenos e erros.

Isto significa que, na sua origem, nos seus anos de formação, o PCB nlo se alimentou do suporte de sua produção intelectual institucional. Bem ao contrário: foi o partido — e isto me parece um de seus méritos mais indeléveis — que pressionou, forçou e influiu sobre esta produção. Algumas das idéias hoje banais no dia-a-día acadêmico (imperialismo, luta de classes, dominação, concepção dialética dos processos so- dais, etc), foram introduzidos na nossa cultura pela ação do PCB.

Não caberia, aqui, mencionar a significativa parce- la da intelectualidade brasileira que, de uma forma ou de outra, vinculou-se e vincula-se ao PCB. Creio que é mais decisivo apontar para o fenômeno de base: aquele que situou o PCB como parâmetro, positivo ou negativo, do que melhor a nossa cultura produziu a partir de 1930.

Não se trata de sugerir as ligações orgânicas de inte- lectuais com o partido. Trata-se, antes, de assinalar que, de Jorge Amado a Oduvaldo Vianna Filho, o PCB foi o instrumento que permitiu a dezenas de cria- dores mediar e totalizar as relações entre cultura e lutas sociais. Mesmo aqueles artistas, investigadores e pensadores que não se vincularam ao partido encon- traram nele um espaço de compreensão c de estímulo que não será fácil superestimar.

Evidentemente, isto se credita a dois elementos. Em primeiro lugar, o fato de o PCB ter sido, por décadas, o único veículo de divulgação do marxismo — este poderoso catalisador das melhores inteligências. Em segundo lugar, a constante e decidida lutado PCB em defesa da liberdade — substrato de qualquer criação autêntica.

A conjunção desses dois elementos fez com que as mais altas manifestações da nossa arte (de Graciliano a Portinari, de Oswald de Andrade a Oscar Niemeyer) e da nossa ciência sócia! (de Caio Prado Jr, a Alberto Passos Guimarães) — em suma, a nossa cultura mo- dems »- sejam incompreensíveis sem a análise do papel jogado pelo PCB.

È desnecessário dizer que o partido cometeu erros no domínio da política cultural. Especialmente entre 1948 e 1957, o PCB implementou uma prática cukural estreita e dogmática. Superada esta etapa, que deixou seqüelas entre os comunistas e mesmo fora deles, a relação entre o PCB e os intelectuais adquiriu aspecto de que se reveste hoje. Uma relação felizmente tensa: não somos adeptos da paz dos cemi- térios e da unanimidade a todo custo.

Entendemos a inquietude intelectual e estimula- mos a pesquisa livre e responsável. Propomos uma política cultural flexível e ampla, que supere o obrei- risroo sectário e o liberalismo oportunista; uma polí- tica cultural onde a luta pela hegemonia passa pelo obrigatório respeito por opiniões distintas e diver- gentes. Um bloco cultural nacional e popular, pda sua iminente riqueza, será sempre diferenciado.

Todas estas observações, todavia, podem dar a impressão de se referirem ao passado. É importante, por isso mesmo, enquadrá-las à luz do futuro. Nesta perspectiva, e com absoluto realismo, estamos con- vencidos de que o papel do PCB na vida brasileira só será ampliado c fortalecido.

Com efeito, o futuro imediato do país é impensável sem uma renovação democrática da sociedade, com substanciais alterações em todos os níveis da vida so- cial e em todos os planos institucionais. Agora, mais do que nunca, coioca-se aos brasileiros a tarefa histó- rica de reverter e eliminar o mais iníquo dos traços da

nossa vida política e social: a exclusão das grandes massas. Sem a efetiva incorporação delas aos exercí- cios dvicos, este país não é viável. Ora, precisamente esta incorporação determina o rompimento do orde- namento econômico que se cristalizou em 1964 — a ditadura do grande capital, f. a luta pelas liberdades políticas amplas que viabiliza a destruição do império econômico do monopólio (nativo e estrangeiro). Em poucas palavras: a luta democrática, no plano estritamente político, tem incidências profundas na instância econômica. E se nós não pretendemos liqüi- dar reacionariamente o monopólio, para retomar a um idílico e utópico capitalismo liberal, a alternativa é avançar no rumo da socialização da economia. Tudo isto tem um claro significado; as lutas sociais brasi- leiras que apontam para o futuro sáo aquelas que conectam diretamente democracia e socialismo.

Não creio que estas lutas sejam o apanágio exclusi- vo de uma classe ou um partido. Estou persuadido de que o proletariado é o agente histórico privilegiado da democracia e do socialismo. Mas a sua lula tem seu êxito hipotecado à construção de um novo blocn histórico através de um inteligente sistema de alianças. Sozinho, o proletariado pode pouco; agluti- nando em tomo de si e de seu eixo revolucionário as grandes massas trabalhadoras do campo e da cidade, as camadas médias urbanas, os intelectuais, pode levar a cabo a liquidação da exploração do homem pelo homem, fonte principal de todas as alienações.

Estas considerações propiciam iluminar a prospectiva do PCB. Compromissado, desde a sua origem, com o socialismo (e, portanto, com a demo- cracia), o PCB tem o lastro da sua experiência a ponderar a sua renovação e sua abertura às novas exigências da realidade brasileira. Ele é e será o refe- rencial básico, o marco em relação ao qual se posicio- nam e se posicionarão as mais diversas forças progres- sistas do país. Sem a sua intervenção, a sua partici- pação e a sua colaboração, qualquer projeto demo- crático e socialista para o Brasil está fadado ao fracas- so. Sem o PCB, não haverá democracia; sem o PCB, não se pode pensar na transição socialista.

É isto, aliás, que coloca sobre os ombros dos comunistas uma enorme responsabilidade: a visão do seu fossado heróico, motivo de justificado orgulho, não pode embaçar a consciência do peso e da com- plexidade das suas tarefas no presente e no futuro.

Há sessenta anos, nesta data, uns poucos homens davam corpo ao PCB. Seis décadas corridas, o PCB está no coração mesmo da vida brasileira: há que se equacionar a questão comunisU no Brasil. Equacio- namento que transita pela legalidade do partido, de todos os partidos e agremiações políticas.

A luta pela legalidade do PCB, inserida no bojo da luta maior pela renovação democrática de nossa so- ciedade, não é apenas um problema dos comunistas. Aqui e agora, a quectio comunictt é a própria questão da democracia.

Conclamamos todos os comunistas a cerrar filei- ras na luta pela legalidade do partido, E apelamos a todos os democratas, de todos os matizes, a refletirem seriamente e a se juntarem a nós.

O mundo do socialismo — o único mundo verda- deiramente democrático — não será obra somente dos comunistas. Será uma gigantesca tarefa coletiva. Cada qual com seu perfil e com sua identidade, desde que empenhado na liberdade e na justiça social, na causa das massas trabalhadoras, tem uma contribui- ção a oferecer.

Aqui e agora, os comunistas podem e devem dizer, e dizer, a todos os democratas, como o poeta:

"O mundo é tão grande... ^ Vamos de mãos dadas."

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INTERWÂCIONAL 19

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AS MUITAS RAZÕES

DE UM VELHO CONFLITO FOLHA DE S. PAULO 03/04/82

Os argumentos evocados por Londres e Buenos Aires para reivindicarem a posse das Malvinas sâo ao mesmo tempo complexos e sutis, tendo provocado dores de cabeça nos juristas do Co- mitê de Descolonização da ONU que certa época os analisaram.

A Argentina evoca, fundamentalmente, o di- reito à sucessão das terras que pertenciam à Co- roa Espanhola, antes de sua independência em 1810, enquanto Londres diz que sua soberania no arquipélago, desde 1833, eqüivale, em verdade, a uma espécie de usucapião, reforçado pelo fato de a reduzida população local estar umbilical- mente ligada à cultura britânica.

O primeiro esforço malogrado da Argentina para se apoderar por meios diplomáticos do ar- quipélago data de 1961, quando acusou a Ingla- terra de ter'usurpado pela força' um território posteriormente transformado em,colônia'.Mas a organização internacional preferiu, menos pole- micamente, qualificar as Malvinas de simples terras.ltão autônomas'.como era o caso de 48 ou- tras que em sua maioria viraram país independente.

Em 1964, ainda na ONU, o "Comitê dos 24" re- conheceu a existência de um litígio, e incitou Buenos Aires e Londres a abrirem negociações. Elas se romperam em 1973, com o "pacote" di- plomático de que também constavam os meios de comunicação entre o coiiünente e as ilhas dele distantes. Na ocasião, Buenos Aires exigiu uma interpretação mais ampla da palavra "sobera- nia", aplicada pela ONU como projeto para as ilhas que, aliás, a própria ONU já admitia pode- rem se chamar, indistintamente, Malvinas ou Falkland.

No ano seguinte, as conversações se reabrem, permitindo que a YPF (a Petrobrás portenha) aMstecesseoarqulpéiagodecombustível.Porém, cnegou-se rapidamente a um nove impasse, guando Londres exigiu que qualquer decisão de- finitiva passasse pela consulta dos interesses da População local, que, logicamente, lhe seriam favoráveis.

O impasse se transformou em crise há oito anos: qualificando de "estéril" suas discussões com Buenos Aires, a Grã-Bretanha levou o em- baixador argentino a abandonar seu posto por al- gum tempo em sinal de protesto.

O "round" diplomático no qual a atuai crise emergiu começou em 1977, quando os ingleses prometeram aceitar, na agenda, o tema da sobe- rania. Apesar dos convênios de cooperação li- Bando Londes a Buenos Airec em outros setores, náo se chegou, no entanto, "a um acordo de de- niarcação sobre a linha divisória entre a Argen- tina e as Ilhas Falkland", afirmava, há 14 meses na Câmara dos Lordes, o ministro do Exterior, e também Lord Camngton.

ARGENTINA: A GRANDE FARSA DO NACIONALISMO En TEMPO 08 ^ 21/04/32

OTYSAE é uma entidade que reúne nos diferentes países em que os argen-

tinos estio exilados aqueles trabalhadores que, mesmo fora de seu pais, continuam a luta contra a ditadura, pela recupera- ção dos sindicatos sob interven- ção e pela independência política do movimento operário. Nele se agrupam diferentes tendências políticas e ativistas indepen- dentes.

A seguir, reproduzimos a análise e o posicionamento dos membros do TYSAE de Sio Paulo diante da mais nova manobra da ditadura argentina, o desembarque militar nas ilhas Malvinas.

1) — O colonialismo, resultado das necessidades econômicas, polhi- cas e militares do imperialismo, é um inimigo que os trabalhadores de todo o mundo devem combater, apoiando sempre aos povos que lutam para iibertar-se dele.

2) — No caso das ilhas Malvinas, usurpadas pelo imperialismo britâ- nico em 1883, é desnecessário in-sistir sobre o direito da Nação Argentina recuperar a sua soberania num território geográfico e historicamen- te pertencente à América Latina.

3) — O governo das Forças Armadas que articulou o desembar- que nas ilhas, não tem autoridade moral para assumir uma atitude anti-imperialista, desde que nos 6 anos de sua administração entregou o pak ao capital financeiro e às multinacionais do imperialismo. Recentemente, a diudura militar agora pretensamente ami-imperialis- ta, tentou ditar uma lei ftue lhe possibilitasse vrnder o subsolo do nosso território

4) — A covardia da oficialidade das Forças Armadas Argentinas, que durante seu governo seqüestrou 30 mil pessoas, assassinou inocentes e indefesoss torturou homens, mu- lheres, velhos e até crianças, ficou mais uma vez clara ao desembarca- rem 5 mi! soldados para ocupar um território com 1.800 habitantes, defendido por 80 homens armados. Três dias antes, essas mesmas forças armadas colocaram 5 mil homens nas ruas de Buenos Aires para enfrentar uma manilestaçâo de trabalhadores convocada pela cen- tral operária argentina, a CGT.

5) — Nós trabalhadores argenti- nos no exílio, achamos necessário sublinhar que o humilhante e desonroso papel da Grã-Br^janha.

8) — O aspecto político desse plano consiste em conseguir um acordo entre o governo c os partidos para que as Forças Armadas possam se retirar rapidamente do governo, mantendo porém o centro do poder e evitando que a pilhagem e os assassinatos destes anos sejam cobrados aos militares. Para isto, o Exército se propõe apresentar o general Galticri como um Vrói popular e democrático, capa/ de acaudilhar o conjunto do povo em tomo de um projeto nacionalista. Galticri seria assim o candidato único dos partidos para presidente da Nação, numas eleições gue

permitiriam, no próximo ano. "^ "s Forças Armadas disfarçassen ..n sua retirada depois de ter afundado ao país na pior crise de sua história.

9) — Os trabalhadores argentinos, que sofreram a repressão, a desocu- pação, a miséria e a falta de liberdade, a intervenção nos seus sindicatos e a morte e seqüestro dos melhores dos seus filhos, rejeitam e denunciam o plano da ditadura e advertem que os partidos políticos e os dirigentes sindicais que partici- pem desta farsa serão marcados ao fopo pela classe trabalhadora, ilm neste caso não se explica pela sua indubitável decadência.mas sim pelo fato de ter negociado o desembar- que, trocando umas ilhas já politica- mente indefensáveis para a coroa por acordos e concessões que. embora não conheçamos hoje, temos a certeza loram assumidos pelos ditadores argentinos a. troca da passividade dos ingleses para que e: ses heróis de opereta pudessem se mostrar como bravos naciona- listas (...)

6) — Alertamos que esta ação c um precedente para as Forças Armadas Argentinas repetirem o método no canal de Beagle. hoje em disputa com o Chile, puxando aos nossos povos á guerra.

7) — A operação de "recupera- ção" das ilhas foi levada a cabo co- mo parte de um plano político òe emergência, quando os mili* s se esforçam por não perdu^n o controle da situação no país. O desembarque ocorreu 3 dias depois da mobilização de 15 mil pessoas convocadas pela CGT em frente à casa do governo, e no mesmo dia em que a outra central operária, $ CNT. anunciava a sua decisão de convocar para uma greve geral. conseqüência, denunciam os dirigentes dos partidos que depois do desembarque nas ilhas loram à casa do governo para cumprimentar Galticri e os comandantes da junta.

10) — Nós trabalhadores e sindicalistas argentinos no exílio compartilhamos a alegria do nosso povo pela retirada do imperialismo britânico das ilhas Malvinas, ao mesmo tempo que remarcamos a nossa decisão de continuarmos lutando até a expulsão definitiva do imperialismo e seus agentes, que estão destruindo o nosso país e reprimindo nosso povo. Os traba- lhadores rejeitamos o falso patriotis- mo dos torturadores e defendemos a unidade dos explorados latino- americanos no caminho da unidade continental.

Por isto tuto. o TYSAE convi- da aos trabalhadores e o povo brasileiro a dar o apoio às lutas da classe operária e ao povo argentino contra a ditadura, organizando pa- lestras, reuniões, denúncias e comu- nicados que façam sentir; IOSSOS irmãos que a preparação Ua greve geral para acabar com a ditadura conta com o apoio do povo brasilei- ro.

_ TYSAE • São Paulo. 03 de abnl de 1982

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REGIME OBTÉM APOIO INÉDITO COM INVASÃO FOLHA DE S. PAULO D3/Q4/B2

BUENOS AIRÉb - "Tero, tero, tero, hoy le to- ca a los ingleses y mafmna a los chilenos -este o grito de guerra da multidão que se concentrou ontem à tarde na Plaza de Mayo, em frente ao palácio do governo, para festejar a ocupação das ilhas Malvinas. A operação militar deu ao regi- me, no plano interno, uma vitória inédita em seus seis anos de existência: o apoio, ou pelo me- nos a solidariedade, de todas as forças políticas, até mesmo do Peronismo. Três dias depois das forças de segurança terem reprimido violenta- mente um protesto convocada pela CGT (Confe- deração Geral dos Trabalhadores) na Plaza de Mayo, o presidente Leo^oldp Galtieri foi ovacio- nado por 20 mil pessoaâ no mesmo local, ao sau- dar a multidão de uma sacada da Casa Rosada.

Galtipri ordenou pessoalmente a libertação de 107 pessoas presas na manifestação de terça- feira, "em vista do conflito que o país mantém com a Grã-Bretanha", enquanto a CGT dava seu apoio à ação de força adotada pelo governo nas Malvinas. A CGT suspendeu todas as ações sindi- cais devido "aos acontecimentos no Atlântico Sul", medida adotada também pela Comissão Nacional do Trabalho-20, a outra central sindical argentina. .. . , ,

Convocados ao palácio presidencial pelo mi- nistro do Interior, general Saint-Jean, todos os principais dirigentes políticos, de oposição ou nâo, atenderam ao chamado. Peronistas, radi- cais, socialistas, intransigentes e representantes de outros partidos políticos (que, como a CGT, «stáo formalmente proscritos e atuam na semi- clandestinidade) foram ouvir oa informes de Saint-Jean sobre a situação nas ilhas.

No esforço para ganhar o apoio de todo o país, Galtieri reumu-se com diversos ex-presidentes e ex-comandantes militares, entre eles o general Roberto Viola, com o cardeal-primaz da Argenti- na, d. Juan Carlos Aramburu, enquanto o minis- tro da Economia, Alberto Aleman, recebia um grande grupo de empresários.

A única voz a destoar do coro de apoio ao go vérno foi a de Adolfo Peréz Esquivei, Prêmio No bel da Paz de 1980. Em entrevista à imprensa err Washington, Esquivei disse que, embora a Ar gentina tenha todo o direito de reivindicar a pos se das ilhas Malvinas, estava preocupado com os métodos empregados pelas autoridades de sei

país. "As Malvinas são argentinas e temos direi- to sobre essas ilhas, que são resíduos do colônia-1 lismo. Mas a ocupação das ilhas pode distrair a1

atenção da situação interna vivida pela Argenti- na."

BANDEIRAS E BUZINAS Desde as primeiras horas da manhã, quando1

foram divulgadas as primeiras notícias sobre a ocupação das Malvinas, a Argentina, e especial-, mente Buenos Aires, a capital, começou a vi-l ver em clima de euforia e de patriotismo. Todos os edifícios ostentavam a bandeira nacional, as1

ruas estavam repletas de papel picado e os moto- ristas tocavam insistentemente as buzinas de seus carros. ■

As emissoras de rádio e os canais de televisão! logo interromperam suas programações nor-l mais para entrar em cadeia com a rádio nacio- nal, que divulgava sucessivos comunicados ofi-, ciais. Nos intervalos, marchas militares. Por de-1 terminação do Ministério da Educação, os alu- nos de todas as escolas tiveram de cantar o hino argentino e outras canções patrióticas, depois ouviram palestras dos professores sobre questão das Malvinas.

Por volta do meio-dia, a Plaza de Mayo come-' çou a ser tomada por milhares de pessoas, que portavam bandeiras e rosas (a rosa é um dos símbolos nacionais argentinos) e gritavam slo- gans referentes à disputa com os ingleses e também ao conflito fronteiriço com o Chile, na região do canal de Beagle. Um grupo de manifes- tantes, porém, que cantava a marcha "Los Mu- chachos Peronistas" e se dirigia para o centro da capital, foi forçado a se dissolver pela polícia. sob a alegação de que é proibido cantar marchas partidárias.

A praça "Britânica" de Buenos Aires, onde fi- ca a conhecida Torre dos Ingleses, em frente á estação ferroviária, foi tomada por manifestara tes entusiasmados, que "mudaram" seu nome para "praça Ilhas Malvinas". Preocupado com possíveis manifestações antibritânicas, o minis-* tro do Interior, general Saint-Jean deu instru- ções para que se "garantissem ao máximo a se- gurança e os bens dos cidadãos e das empresas inglesas em todo território argentino". (R.S.)

GOVERNO ARGENTINO ESTUDA O FIM DO ESTADO DE SÍTIO FOLHA DE S'. PAULO 14/04/62

Kifl iJORpÊSTS...

BUENOS AIRES - O go- verno argentino estuda a possibilidade de suspender o estado de sítio vigente no país e decretar uma anistia que facilite a participação de ex-guerrilheiros de es- querda na futura reorgani- zação do país, segundo in- formou era sua edição de ontem o jornal "La Nacion".

De acordo com o matuti- no conservador, o presiden- te Leopoldo Galtieri já tem em mãos um informe por- menorizado sobre a reali- dade nacional, que contém essas duas determinações.

O documento se baseia, segundo o jornal, numa "nova situação interna" criada a partir da recupe- ração das ilhas Maivinás.

De acordo com a versão do jornal, os sete pontos do

documento de Galtieri são os seguintes:

1) Estabelecer canais de comunicação com todos os partidos políticos, com vis- tas à sua participação no

acordo de um plano político mínimo.

2) Decretação de uma anistia generosa para todos os envolvidos em delitos políticos, cujo alcance po- deria beneficiar também as situações derivadas da guerra contra a subversão.

3) Anular total ou par- cialmente a Ata de Respon- sabilidade Institucional, aplicável às personalida- des do regime peronista, suspeitas de terem cometi- do delitos políticos ou comuns.

4) A decretação de um novo estatuto para os parti- dos políticos, legalizando

novamente as atividades político-partidárias.

5) Suspensão do estado de sítio.

6) Decretação de uma norma especial e tem- porária aue permitisse manter 'a' disposição do Executivo algumas pes- soas de comprovada pert- culosidade terrorista.

7) Comutação de penas.

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INTERNACIONAL 21

MONTONEROS DEFENDEM

ATÉ O USO DA FOLHA DE

FORCA S. PAULO 11/04/B2

A posição mais belicista durante a crise das Malvi- nas foi defendida, parado- xalmente, pelo dirigente guerrilheiro Mario Firme- nich, da organização

Montoneros", que se en- contra exilado no México. 'A ünica alternativa que devemos levar agora em consideração é a defesa do arquipélago por todos os meios", disse ele, ao mes- mo tempo em que rejeitava — sem poderes reais para fazê-lo — a mediação norte-americana que pro- cura evitar o conÍTronto armado.

Fiermenich também de- fendeu a criação de um "governo de unidade nacio- nal", em Buenos Aires, in- cluindo forças da oposição hoje banidas, sobretudo dos setores moderados e radicais do peronismo.

O dirigente Montonero argumenta que sem esta ampla soma de esforços a defesa dos interesses na- cionais ficaria nas mãos da "oligarquia" de seu país, que nào possui fôlego para resistir as pressões norte- americanas e britânicas.

Por fim, Fiermenich afirma que o regime do ge- neral Galtieri ''tem a obri-

§açáo política e moral" de ecretar uma anistia para

que os presos e exilados políticos possam participar "da resistência popular contra o imperialismo"

CUBA APOIA ARGENTINA

O governo de Cuba ex- pressou seu apoio à Argen- tina na crise das Malvinas e enviou a Buenos Aires seu embaixador Emílio Arago- nes. Aragones, vice-decano do corpo de embaixadores na capital Argentina, per- maneceu em Havana por pouco mais de um ano, o que foi interpretado nos meios diplomáticos como sintoma de uma certa ten- são nas relações entre os dois países. Mas, o próprio Aragones disse ontem, ao chegar a Buenos Aires, que sua ausência da Argentina não foi motivada por ne- nhuma deterioração na re- lação bilateral. "Eu deve- ria ter outro destino quan- do ocorreu a conquista das uhas Malvinas. O governo cubano pensou então que esse era o momento ade- quado para que seu embai- xador retomasse e fixasse com sua presença em Bue- nos Aires a posição de apoio à Argentina."

O embaixador cubano acrescentou que seu país acredita que ^as Malvinas e as demais Uhas do ar- quipélago são uma parte inalienável do território ar- §entino, posição que defen-

emos em todos os foros internacionais". •

QUAL É A SUA^ FIDEL? TRIBUNA DA LUTA OPERARIA 05 a 11/04/82

Ha muito que a opinião pública progressista no

mundo vem defendendo a abertura de negociações em El Salvador como forma de deter a crescente escalada interven- cionista norie-americana em toda a América Central. Mas para de fato servir aos interes- ses do povo salvadorenho, estas negociações têm de ser abertas, reunindo à luz do dia as partes envolvidas na crise salvadorenha. Não foi essa a natureza do

encontro secreto de qua- tro horas realizado em Cuba.- entre o presidente Fidel Castro e o ex-vice-diretor da CIA, general Vernon Walters. Wal- ters é um velho e corrupto ini- migo dos povos latino-ameri- canos, muito conhecido aqui no Brasil, onde ajudou a arti- cular o golpe de abril de 1964.

Esta negociata de Walters e Fidel em nada ajudou a causa da democracia c da liberdade em El Salvador. E Cuba aqui cumpriu um papel sujo, de moleque de recados da União Soviética que, junto com os EUA, sente-se dona e senhora do destino dos povos do mundo. No final de tudo, fica para todos que admiraram e apoiaram a revolução cubana esta indagação. Qual é a tua, Fidel?

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INTERNACIOWAL 22

EL SALVADOR

A PREOCUPAÇÃO DOS AMERICANOS FOLHA DE S. PAULO 04/04/82

WARREN HOGE Do H. Y. Times

SAN SALVADOR — Passada a eu- foria provocada' pelos resultados das eleições realizadas no domingo passado em El Salvador, os funcionários nortí- amertcanos que se encontram aqui en- frentam uma situação que poderá frus- trar suas esperanças de promover maior democracia neste pequeno e con- turbado país.

Isso constitui motivo de grande preocupação para os diplomatas, uma vez que a preparação de El Salvador para a democracia é o objetivo declara- do da ampliação do interesse norte- americano.

Após as eleições, os líderes dos par- tidos direitistas agiram com o objetivo de inverter, na prática, os resultados; militares de alta patente sondaram a possibilidad& de um golpe e a esquerda sentiu a necessidade de intensificar a violência para reconquistar a sua ini- ciativa, contida pelos eleitores — 1,2 milhão — que compareceram ás umas.

No centro da frustração dos diplo- matas está a convicção de que, embora a grande participação do eleitorado te- nha representado, sobretudo, um apelo em favor da paz, as conseqüências po- derão ser, no final, o aumento da dissi- dência è da violência.

O embaixador dos Estados Uhídos, Deane Hintdn, mantém-se ocupado, dialogando com todas as partes envol- vidas no conflito político, tentando fa- zer sentir até que ponto suas ações poderão afetar a continuidade da ajuda norte-americana a El Salvador.

OBSTÁCULOS

A ajuda militar e econômica dos Estados Unidos a El Salvador poderá chegar a mais de 320 milhões de dóla- res, este ano, e isso aparentemente deve dar a Hlnton uma certa força, nas con- versações que vem mantendo. Em al- guns casos, realmente dá. Mas, em ou- tros, ele tem encontrado simpatizantes da linha dura, pessoas que acreditam que o país poderá arranjar-se sozinho, ou que sentem que o governo Reagan está tão empenhado em conter a es- querda militante que jamais as aban- donará, façam elas o que fizerem.

Hinton enviou uma carta pessoal a todos os líderes políticos e comandan- tes militares, anexando, a cada uma delas, uma cópia da emenda à lei de ajuda externa,, em cujos termos Rea- gan deve "certificar-se" de que houve progressos na contenção de violações dos direitos humanos, e de que estão sendo promovidas mudanças políticas e econômicas, como condição para a continuidade da ajuda. Trata-se de uma lei que o embaixador chamou, publicamente, de "estúpida", devido à sua inflexibilidade, mas ele passou a constderá-Ia útil nas circunstâncias atuais.

O embaixador diz aos salvadore- nhos que, por uma questão de tempera- mento, os norte-americanos gostam de soluções rápidas, e talvez não tenham a paciência ou a persistência necessárias para continuar a apoiar políticos que preferem o confronto à negociação.

O trabalho em prol da cooperação, após as eleições, entre os seis partidos que concorreram, e de uma ampla re- conciliação entre a esquerda e a direita de El Salvador — ambas armadas — toma-se mais complicado em vista da dificuldade de promover acordos em melo a uma sociedade na qual as diver- gências são multas vezes resolvidas por meto de assassínios.

"De que forma se interrompe uma

situação como essa?" — indagou uma pessoa envolvida na atual confusão po- lítica.

Os Estados Unidos empenharam- se, politicamente, em favorecer a reali- zação de eleições, e os funcionários sentiram-se extraordinariamente sur- presos quando 1,2 milhão de pessoas, de um número de eleitores estimado era 1,4 milhão, compareceram às umas. O comparecimento correspondeu ao do- bro do que se esperava.

ALIANÇA INESPERADA

Mas os Estados Unidos também esperavam que o Partido Democrata Cristão, centrista, de José Napoleón Duarte, presidente da junta de governo clvll-mllitar, obtivesse maioria de ca- deiras na nova Assembléia Constituin- te, que terá 60 membros. Os democra- tas-cristãos obtiveram mais votos — 41% —, porém não a maioria necessária para controlar a Assembléia. Os outros cinco partidos, todos de direito, uni- ram-se politicamente, dois dias após as eleições, manifestando a intenção de formar uma coalizão que excluiria os democratas-cristãos do governo.

O líder dos democratas-cristãos, Júlio Adolfo Rey Prendes, declarou, em entrevista coletiva, na presença de uma multidão de partidários que acenavam com bandeiras, que a medida causaria uma "terrível polarização" e poderia conduzir a uma "guerra civil".

Os diplomatas norte-americanos não refutam essa aíirmação^amática de Rey Prendes. Hinton expôs a todos os líderes envolvidos quais serão, na sua opinião, as conseqüências.

. Os norte-americanos temem que, se os democratas-cristãos forem realmen- te excluídos do novo governo, muitos deles se unam à Crente Revolucionaria Democrática, de linha esquerdista, que apóla a guerrilha, e que muitos outros sejam vítimas de assaàsínio político. De acordo com o pensamento norte- americano, a instalação de um regime inteiramente direitista em El Salvador convenceria a opinião pública estran- geira de que a oligarquia que dominou o país durante anos voltou ao poder, e de que a máquina de segurança basea- da nos "esquadrões da morte" foi legiti- mada.

Os desertores democratas-cristãos reforçariam a esquerda, na sua tentati- va de reconquistar o terreno político perdido no domingo passado. A esquer- da boicotou as eleições, e os guerrilhei- ros tentaram impedir o povo de votar, atacando as umas.

Os indícios de que alguns militares estariam pensando num golpe descon- certaram os diplomatas, uma vez que as forças Armadas mantiveram a pro- messa de garantir a realização de elei- ções livres, e nada teriam a perder. qualquer que tosse o resultado das elei- ções. Eles se aliaram aos democratas- cristãos nos últimos dois anos e contam com o apoio entusiástico de todos os partidos de direita.

Embora as possibilidades de haver um golpe, dentro em breve, sejam con- sideradas remotas, a continuidade do caos político poderia ser um convite a um golpe militar.

Não há um consenso sobre o que a nova Assembléia Constituinte deverá fazer, e não há precedentes estabeleci- dos por assembléias constituintes sal- vadorenhas anteriores, que possam ser- vir de orientação. Os candidatos eleitos no domingo passado são, em grande parte, homens sem experiência políti- ca, e estarão atuando em uma socieda- de na qual o consenso político sempre foi uma ilusão.

SALVADORENHOS ESTÃO

PRÓXIMOS DE FAZER

O ACORDO FOLHA DE S. PAULO

09/04/82

SAN SALVADOR - Lide- res dos cinco partidos de di- reita e do partido Democrata Cristão encontraram-se se- cretamente e se aproximam de um acordo para formar um governo de unidade na- cional, com a inclusão de to- das as agremiações. Essa no- va coalização de governo po- derá concretizar-se na próxi- ma semana, segundo fontes salvadorenhas. Os cinco par- tidos, direitistas conseguiram uma maioria de 36 cadeiras nas eleições de 28 de março para a Assembléia Consti- tuinte, mas, diante das pres- sões americanas, estão incli- nados a incluir os moderados democratas-cristãos, atual- mente no governo, na coali- zão. Não é certa, contudo, a inclusão do presidente José Napoleón Duarte.

Fontes próximas às nego- ciações disseram que o em- baixador dos Estados Uni- dos, Deane Hinton, persuadiu os direitistas a aceitarem al- guns democratas-cristãos em sua coalizão.

Elas disseram que Hinton advertiu que o governo do presidente norte-americano Ronald Reagan teria dificul- dade em ganhar a aprova- ção do Congresso para a aju- da a El Salvador se ficasse óbvio que os direitistas ti- nham o controle completo da Assembléia.

No campo de batalha, um oficial da Guarda Nacional na capital província' de Usu- lután disse que atiradores re- beldes infiltrados na cidade abriram fogo contra quatro guarnições locais, a partir de telhados próximos, depois de terem cortado as linhas de energia. • |