44

Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através
Page 2: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através
Page 3: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 121 / Agosto, 2003 / No 2.093

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home Page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Rebouças & Associados

Tema da Capa: O tema enfatiza a EVOLUÇÃO no con-ceito espírita: “Nascer, morrer, renascer ainda eprogredir sempre tal é a Lei.”

EDITORIAL 4Imortalidade e progresso

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 13Câmara dos Deputados homenageia Chico Xavier

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Honras vãs – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 26Babel Européia – Affonso SoaresLíngua nacional não pode ser internacional... – 27

William Auld

CONSELHO ESPÍRITA INTERNACIONAL 31 Atividades do Movimento Espírita da América do Norte A Argentina sedia a reunião da Coordenadoria da América do Sul

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 33 Reunião da Comissão Regional Norte

SEARA ESPÍRITA 42

Evolução – Juvanir Borges de Souza 5

O Deus em mim – Paulo Nunes Batista 7

Idéias inatas e evolução – Humberto Schubert Coelho 8

Idéias inatas 10

O servidor humílimo e paternal de sempre! – Adilton Pugliese 11

Investimentos – Richard Simonetti 14

Grão de trigo – Mário Frigéri 15

Carta Aberta... – Passos Lírio 16

União e amizade – Cármen Cinira 17

O novo Código Civil e as Instituições Espíritas 18

Somos imortais – Fábio Henrique Ramos 20

As Teorias sobre a Origem da Vida e a Visão Espírita – 22

Roberto Lúcio Vieira de Souza

Genética 25

O homem e a religião (V-VI) – Eurípedes Kühl 28

Unificação – Emmanuel 30

IBGE divulga mais dados sobre população espírita 35

Projeto Reformador – Geraldo Campetti Sobrinho 36

O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico 37

e religioso – Parte I – Silvio Seno Chibeni

6o Congresso Espírita do Estado do Espírito Santo 41

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 3

Page 4: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

4 Reformador/Agosto 2003282

Descortinando para os homens, através do Espiritismo, as Leis que emanam de Deus eque regem a vida em todos os seus aspectos, os Espíritos Superiores legaram à Hu-manidade uma Doutrina abrangente, que toca em todas as questões fundamentais da

existência humana e que pode e deve ser estudada e praticada em todos os seus aspectos, taiscomo: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional e social.

Uma das frases que melhor sintetiza a sua mensagem e que melhor orienta o homem arespeito da sua própria existência é a que está inscrita no túmulo de Allan Kardec: “Nascer,morrer, renascer ainda e progredir sempre tal é a lei.” Nela temos bem configurada a claravisão da nossa realidade como seres imortais, Espíritos que já existiam e que continuamexistindo independentemente da existência ou não do corpo físico. Ela nos chama a atenção,também, para a Lei do Progresso a que todos estamos sujeitos e que nos leva, mesmo sem osaber, através do simples atendimento às nossas necessidades cotidianas, a desenvolver os va-lores que nós potencialmente carregamos, os quais edificam a nossa evolução.

A consciência, em nossa vida, deste binômio – imortalidade e progresso –, tem naturaisconseqüências: abandonamos a idéia de pretender eliminar-nos, seja a nós mesmos, seja aonosso próximo, uma vez que a Providência Divina, que nos criou com toda a Sua bondade,não nos concedeu nem o poder e nem o direito de eliminar a ninguém, o que nos leva a con-viver, sempre, com todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, amigos ou inimigos,que se encontram na mesma faixa de evolução.

Outra conseqüência natural é a conclusão de que nos convém colaborar com a Lei doProgresso que atua em nós, esforçando-nos por colocar em prática o amor ao próximo, o qualnos propicia reconciliar com os adversários criados pela nossa ignorância; evitar conflitos comnosso semelhante, que nos retardariam o progresso; e abreviar a nossa evolução moral e inte-lectual, para mais rapidamente alcançarmos seus benefícios.

Não é sem razão que a Doutrina Espírita nos ensina: Fora da caridade não há salvação,conceituando caridade como a entendia Jesus1 – Benevolência para com todos, indulgênciapara com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. E o Espírito de Verdade recomen-da2: Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cris-tianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se en-raizaram.

EditorialImortalidade e progresso

1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 83. ed. FEB, q. 886, p. 407.2________. O Evangelho segundo o Espiritismo, 120. ed. FEB, cap. VI, item 5, p. 130.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 4

Page 5: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 5283

Oser humano, desde seu apare-cimento na Terra como Espí-rito encarnado, jamais pôde

subtrair-se totalmente aos grandesenigmas de sua própria existência,da vida e da morte, do prazer e dador e das impressões que o mundoexterior sempre lhe causou, atravésde seus sentidos físicos.

Esses problemas deram causa àprocura incessante de suas soluções.

Fácil é imaginar-se, mesmo nohomem primitivo, a idéia de umSer criador, embora desconhecido,sob as mais diversas denominações.

Daí o surgimento das reli-giões, das filosofias, das idéias deDeus, com seus atributos, com suasleis.

Na medida em que o homemfoi evoluindo, novas concepçõessurgiram sobre os grandes enigmas.

A angústia do desconhecimen-to, através dos tempos, não evitoua procura de um Deus sempre maisjusto e mais poderoso e a idéia, em-bora confusa, da existência de mun-dos paralelos.

Há, pois, em todos os períodosevolutivos da Humanidade, um as-cendente místico, como afirmaEmmanuel, na Introdução de ACaminho da Luz, psicografado porFrancisco Cândido Xavier (Ed.FEB):

“(...) O tempo, como patrimô-nio divino do espírito, renova as in-quietações e angústias de cada sécu-lo, no sentido de aclarar o caminhodas experiências humanas. Passamas raças e as gerações, as línguas e ospovos, os países e as fronteiras, asciências e as religiões. Um sopro di-vino faz movimentar todas as coisasnesse torvelinho maravilhoso.”

Na realidade, em todas as épo-cas, desde os tempos pré-históricos,jamais faltou a assistência divina àHumanidade. O Cristo de Deus,através de seus emissários, sempreatendeu às necessidades da almahumana, de conformidade com seuestágio evolutivo, para sua contínuaascensão.

O determinismo divino doprogresso, através do amor e do co-nhecimento, sempre esteve presen-te na Terra, desde os tempos primi-tivos, beneficiando seus habitantes,como está presente em todo o Uni-verso.

No nosso mundo, o Cristo é oGuia e o executor das leis do Cria-dor. Ele é o Verbo e a Luz do Prin-cípio, a reger os destinos deste orbee de todos os habitantes de suas di-versas esferas.

Ao lado dos tormentos queafligem o homem através dos tem-pos, na indagação a respeito de suaorigem e de seu destino, sempreexistiu também a indiferença pelas

coisas transcendentes, o imediatis-mo, a influência poderosa da maté-ria – o materialismo.

A tendência ao materialismotambém está presente no homemdesde os tempos primitivos. O ma-terialismo se afirma diante do pro-blema das origens, dispensando acriação divina e o elemento espiri-tual, para se fixar tão-somente namatéria e na sua transformação me-cânica e quantitativa.

Fácil é imaginar a influênciapoderosa do materialismo sobre asconcepções humanas, em todos ostempos, uma vez que os sentidos fí-sicos do homem estão sob a açãopermanente da matéria.

Já nos tempos atuais, o mate-rialismo procura explicar os proble-mas ético-morais pelo hedonismodo prazer; as questões de ordem psi-cológica pelas reações do organismoaos diversos estímulos ambientais;e as questões da evolução dos co-nhecimentos individuais e coletivospela sua adequação ao progressocientífico no mundo, sempre emfunção da matéria.

Por esses simples enunciadospodemos perceber quão perniciosose ilusórios são os fundamentos domaterialismo multifário, espalhadospelo mundo, ao negar e desconhe-cer o outro elemento essencial doUniverso – o espírito.

Infelizmente, a ciência materia-lista não percebeu ainda o grandeengano em que incorre, ao conce-ber tão-somente o elemento mate-

EvoluçãoJuvanir Borges de Souza

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 5

Page 6: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

6 Reformador/Agosto 2003284

rial na Natureza, quando o elemen-to espiritual está presente por todaparte.

Essa concepção acanhada dasciências materialistas nos dá umaidéia do atraso dos conhecimentosno mundo em que vivemos e doavanço extraordinário que represen-tará o descobrimento do espíritonas pesquisas daquelas ciências.

A verdadeira ciência não podedeixar-se dominar pelo sectarismo,pela negação da realidade e da ver-dade.

Se a existência do espírito éuma realidade, um fato já compro-vado; se os mundos espirituais e aprópria matéria sob outras formas, jáforam descobertos, não mais se jus-tifica que a ciência dos homens seencarcere em suas concepções unila-terais, ultrapassadas e negativistas,com prejuízo para toda a Huma-nidade.

Com as civilizações mais anti-gas da Terra surgiram as religiões eas filosofias.

Várias dessas religiões e filoso-fias chegaram até os nossos dias.

Na afirmativa de Emmanuel, agênese de todas as religiões se ligaao Cristo de Deus. (A Caminho daLuz, p. 83.)

Se o Cristo é o Governadordeste orbe desde o princípio, nadamais lógico que sua assistência aosterráqueos seja permanente.

Podemos ainda deduzir, facil-mente, que essa assistência obedeceàs leis divinas, sendo, por isso, gra-dativa, não impositiva, atendendoàs fases evolutivas dos povos, aolivre-arbítrio individual, aos esfor-ços coletivos.

Na história milenar da Índia,da China, da Mesopotâmia, do Egi-to, dos israelitas, dos gregos e dosromanos, como de todos os povosantigos e modernos, jamais faltouou faltará a presença dos emissáriosdo Cristo, agindo ostensiva ou vela-damente na evolução do pensamen-to humano e no progresso de parce-las da Humanidade constituídas porpovos, raças, nações e civilizações.

E o interessante é que em to-das as tradições religiosas existe umaunidade substancial, embora em to-das haja divergências de formas e deentendimento.

“Todas se referem ao Deus im-personificável, que é a essência davida de todo o Universo e no tradi-cionalismo de todas palpita a visãosublimada do Cristo, esperado emtodos os pontos do globo.”

Há, pois, revelações gradativase sucessivas no seio das múltiplas ci-vilizações da pré-história e da histó-ria, mesmo daquelas que flores-ceram nas terras da América, desco-

nhecidas do Velho Mundo até osdescobrimentos do século XV.

As revelações sucessivas vão,pois, muito além das três comu-mente citadas, ocorridas na parteocidental do mundo – a Mosaica, ado Cristo e a Espírita.

Estas têm um significado espe-cial por serem explícitas na referên-cia ao Deus único, Criador do Uni-verso e apresentarem uma gradaçãocada vez mais lógica nos ensinosmorais que apresentam.

Mas é curial que o Cristo, oGovernador do Planeta, não poderiadeixar sem sua assistência a maiorparcela da população da Terra, queestá justamente na sua face oriental.

Assim, embora as civilizações enações asiáticas não disponham daslições diretas do Mestre Incompa-rável e de seus ensinos registradosnos Evangelhos, sabem, entretanto,do conteúdo da essência de suaMensagem, através dos missionáriosque lhes foram enviados em épocassucessivas.

Após milênios de um longoaperfeiçoamento físico e espiritualdos habitantes deste planeta, com apresença pessoal do Cristo há doismil anos e das diversas correntes re-ligiosas atuando sobre consideráveisparcelas da Humanidade, eis queum novo período se anuncia deprogresso intelecto-moral.

As descobertas científicas dosúltimos séculos, especialmente noextraordinário século XX e no pre-cedente “século das luzes”, associa-das à Nova Revelação, anunciadapelo Cristo como outro Consoladorque Ele pediria ao Pai e que já seencontra no mundo com o Espiri-

É curial que o Cristo,

o Governador do

Planeta, não poderia

deixar sem sua

assistência a maior

parcela da população

da Terra, que está

justamente na sua

face oriental

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 6

Page 7: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 7285

tismo, constituem indícios eviden-tes do início de uma Nova Era paraa Humanidade.

O Espiritismo, como a NovaRevelação de conhecimentos trans-cendentes sobre os mundos espiri-tuais, mostra que o homem físico étão-somente uma face do homemespiritual, em marcha permanenteem busca da felicidade para a qualfoi criado.

A luz imortal a que aspiramosespera-nos a todos num futuro depaz e de fraternidade.

Os próprios homens, Espíritosimortais, serão os construtores des-se futuro glorioso, utilizando seusesforços em sucessivas reencarna-ções para forjar sua redenção, sob aorientação do Mestre:

“Bem-aventurados os pobresde espíritos, porque deles é o reinodos céus!

Bem-aventurados os que têmfome e sede de justiça, porque serãosaciados.

Bem-aventurados os que cho-ram, porque serão consolados.

Bem-aventurados os pacíficos,porque serão chamados filhos deDeus.”

Evidentemente, essas promes-sas do Cristo não foram proferidasem vão. Têm um significado que seprojeta no futuro, construído pelopróprio homem.

Como o mundo atual é a nega-ção de todas as promessas contidasnas bem-aventuranças, temos quesituá-las no futuro, com a redençãohumana.

O caminho para isso é longo,cheio de lutas, dificuldades, amar-guras. Mas, um dia chegaremos to-dos a esse “reino de Deus”, trans-formando-nos naqueles que farãojus a esse reino.

Para isso, serão proscritos defi-nitivamente, pelo homem regenera-do, os males que nos afligem.

As guerras e conflitos serão ape-nas capítulos da história humana.

A fraternidade legítima impe-rará por toda parte, na relação en-tre os indivíduos e as coletividades,entre si.

A vida, em todos os reinos daNatureza, será respeitada.

Desaparecerão a miséria, emtodas as suas manifestações, porcompreenderem todos que preci-sam ser solidários, e as doenças físi-cas e espirituais, pelos conhecimen-tos e práticas das virtudes.

A justiça dos homens será muitomais eqüitativa, derivada de leis querefletirão a lei maior de Nosso Pai.

Para essas grandes transforma-ções, o Consolador será o grande

norteador das religiões do mun-do.

Na sua feição de Cristianismoredivivo, todos os ensinos do Cris-to, no seu correto entendimento,serão a base e os fundamentos mo-rais que orientarão as sociedadeshumanas.

Os novos conhecimentos, quesucessivamente beneficiam os ho-mens, serão recebidos como bênçãodo Alto e incorporados ao patrimô-nio da Humanidade.

Em suma, a noite em que viveatualmente a Humanidade terrenanão é eterna.

A lei de progresso, divina leique abrange toda a Criação, per-mite-nos vislumbrar a luz do ama-nhecer de uma Nova Era para as al-mas que já não mais necessitarãoreencarnar em mundos materiais.

O Deus em mimPaulo Nunes Batista

O Deus em mim me aplaude, me elogia,quando os planos de paz eu concretizoe os projetos de Amor eu realizo,no suceder fatal de noite e dia.

O Deus em mim resplende de Alegria,quando em Sua Vontade eu me batizo;e me abre a Porta Azul do Paraíso,se abro Flores de Luz na minha via.

O Deus em mim me ampara, me conforta,quando semeio, na “matéria morta”,irradiações transcendentais do Bem.

E o Deus em mim, vibrando de Bondade,na epifania da Felicidadeala-me além de mim, além do Além!...

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 7

Page 8: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

8 Reformador/Agosto 2003286

“Grande conexão deve então

haver entre duas existências con-

secutivas?

– Nem sempre tão grande

quanto talvez o suponhas, dado

que bem diferentes são, muitas

vezes, as posições do Espírito

nas duas e que, no intervalo de

uma a outra, pode ele ter pro- gre-

dido.”

Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, 218-b.)

Aconstrução empírica do co-nhecimento faz com que ohomem dependa da experiên-

cia, da observação de fatos, davivência de situações para acumularconhecimento e tornar-se mais sá-bio e preparado. O fato de o co-nhecimento partir sempre de umaexperiência concreta garante-nosque ele é objetivamente válido.

As teorias de que o homem éfruto do meio são válidas, já que eleaprende aquilo que seu ambientepode ensinar-lhe. A reencarnação,no entanto, nos dá outra dimensãode como se efetua este processo.

Se considerarmos que o homempossa viver em lugares distintos e,portanto, adquirir conhecimentosdistintos em suas diversas encar-nações, temos de admitir que os co-nhecimentos e tendências adquiridosem uma vida entrarão em conflitocom os que amealhou em outra.

Se em uma vida anterior eu es-tive entre os Incas, meu comporta-mento e minha personalidade eramcertamente os de um inca. Hoje, noentanto, sendo brasileiro, estou su-jeito a outras normas sociais e ou-tras condições que fizeram com queeu formasse um comportamento euma personalidade distinta das an-teriores, mas no fundo, por detrásde minha persona, guardo algunsimpulsos, desejos, tendências e pre-disposições inerentes a minha con-dição anterior. A isso se chamouinatismo ou teoria das idéias inatas.

As idéias inatas, portanto, sãoaquelas que por estarem profunda-mente enraizadas em nosso ser per-manecem ao longo dos tempos. En-tre elas se contam os talentos ad-quiridos em outras vidas, as quali-dades morais, a agudez do racio-cínio, os vícios, os preconceitos etoda sorte de atributos que cons-tituem a individualidade do ser.

É preciso fazer uma distinçãoentre o que seja individual no ho-mem, aquilo que permanece e lhe éinerente, e aquilo que lhe foi im-posto pela condição material, social,cultural, etc. A esta segunda chama-mos personalidade e pode ser com-parada a uma espécie de máscarausada pelo indivíduo para integrar--se ao ambiente em que está. Amaioria de nós não percebe este de-talhe sutil e facilmente confundesua personalidade temporária comsua individualidade imortal. Asobras de Jung constituem um gi-

gantesco esforço para desfazer ailusão da personalidade e trazerà superfície o “verdadeiro ser”.

Esta análise pode ser muitodifícil de efetuar-se, a ponto de al-gumas vezes a ilusão da personali-dade situada historicamente per-manecer na consciência do ser apósa desencarnação. Nestes indivíduosem que a consciência espiritual e mo-ral não está satisfatoriamente de-senvolvida, é natural que caracterís-ticas da última existência perma-neçam. Temos notícia de inúmerosrelatos de que os Espíritos dema-siadamente ligados aos aspectos ma-teriais da vida têm dificuldade, apóso desenlace do organismo, de reme-morar suas existências anteriores emesmo perceber suficientementesua nova condição. No mais, apenasas experiências significativas para ocrescimento do ser, que lhe afetemintimamente, serão adicionadas àsua bagagem inalterável, constituin-do então novo traço de sua indivi-dualidade. Isto é evidente, pois a in-dividualidade não é dada, ela deve serconstruída no mundo, na vivência,ao longo das reencarnações.

Com o passar do tempo, oacúmulo de conhecimentos fazcom que o homem se dote de ta-lentos (artísticos, administrativos,científicos, de sobrevivência, etc.) ede sentimentos (ambição, amizade,lealdade, justiça, inveja, intolerân-cia, orgulho, amor), que eram im-possíveis de manifestar-se num serdesprovido de inteligência e co-

Idéias inatas e evoluçãoHumberto Schubert Coelho

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 8

Page 9: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 9287

nhecimentos. Estes talentos e sen-timentos constituem sua individua-lidade.

Ao ser colocado numa existên-cia nova o Espírito deverá adequar--se aos padrões de comportamentodesta cultura. Receberá uma sériede conhecimentos novos, terá re-lações sociais diversas e isso tudo olevará a criar certos hábitos especí-ficos deste ambiente. A própriavontade do Espírito de ser aceito nogrupo o tornará mais maleável paracom essas novas normas, muitas ve-zes resultando na ab-dicação de talentos etendências morais ad-quiridas para inte-grar-se ao meio. Maseventualmente algu-mas características doindivíduo irão opor--se ao novo sistemaem que está inserido.

Esta oposiçãonão precisa ser neces-sariamente uma re-beldia ou sentimentode aversão. Pode dar-se também deforma muito sutil caso o Espíritotenha recebido de boa vontade al-gumas das características do meio.Isso causaria uma espécie de angús-tia existencial muito grande, pois anatureza individual do ser estariaem confronto com sua própria per-sonalidade formada nesta existên-cia.

Portanto, o inatismo não re-presenta mero acúmulo de idéiastranscendentais. Ele envolve todoum processo psíquico que irá de-terminar como será o indivíduo. Al-gumas vezes, o choque entre in-dividualidade e personalidade re-sultará num crescimento do Espí-rito, pois ele optará por uma reno-

vação, quando assimilar realmenteos elementos de sua personalidadeatual, ou uma afirmação no caso deo Espírito conseguir desfazer-se deuma influência do meio (da per-sonalidade) e afirmar sua natureza.

No primeiro caso ele terá umacréscimo de sua individualidade,que perdurará como importante ex-periência adquirida; no segundo ca-so terá passado por uma espécie deprovação de seu caráter individual esairá com ele mais sólido do queantes.

Estes são basicamente os doisprocessos pelos quais um indivíduopode transformar-se durante avivência carnal. Na vivência espiri-tual os processos de transformaçãodo indivíduo serão tão mais distin-tos quanto mais distante o Espíritoestiver de condicionamentos cul-turais e materiais.

A distinção entre individuali-dade e personalidade vai mais além.Uma vez que o Espírito não apenasguarda sentimentos e conhecimen-tos, mas também algumas reminis-cências peculiares às suas existênciasanteriores e estas reminiscências po-dem estar mais ou menos impreg-nadas em seu psiquismo, é possível

que acontecimentos dos mais ba-nais influam em sua personalidade.

Um Espírito que guarde pro-fundas impressões de uma mortepor afogamento poderia ter aversãoà água, e assim por diante. Peculia-ridades aparentemente irrelevantesda vida de um indivíduo podem, naexistência seguinte, determinar boaparte de suas atitudes, suas escolhase seus estados de ânimo. É precisoanalisar a própria consciência, a fimde esclarecer se determinadas fobias,angústias e tendências que possuí-

mos têm alguma re-lação direta com nos-sa infância ou juven-tude.

Os psicanalistasparariam por aí, masnum estudo espíritaprosseguiremos porentre os recônditos damemória até a causaverdadeira de cada so-nho, cada angústia,cada aborrecimentoque não tenham uma

justificativa plausível na existênciaatual.

Também inferimos destas con-clusões a noção espírita de realidadeúltima do ser. Ora, uma vez que oEspírito é definido historicamenteatravés das eras e sua mente é vaziade idéias no início de sua vida co-mo ser humano, concluímos neces-sariamente que o ser como o co-nhecemos é formado durante a ex-periência de vida. Isso não signifi-ca, no entanto, que não haja algoanterior à experiência, inerente aoser humano desde sua criação.

A estas estruturas fundamen-tais da consciência chamamos dehomem-em-si, ou aquilo que defineo que em todos os homens é inelu-

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 9

Page 10: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

10 Reformador/Agosto 2003

tavelmente idêntico e necessário,aquilo que, apesar de poder ser uti-lizado diferentemente, marcará aigualdade de condições iniciais sobas quais o ser só poderá indivi-dualizar-se por conta própria, e igual-mente só irá progredir por esforçopessoal.

A coisa-em-si, que é o Espírito,tem uma formatação inicial deatributos e estruturas fundamentais(Razão, Vontade, Afetividade, Sen-sibilidade, Entendimento, Instinto),que ao lidarem com os fenômenosda experiência acabam por adquirirconhecimento e tornar-se indiví-duo/pessoa. Não temos conheci-mento do que seja despertado noprincípio espiritual de um animalque o leve a tornar-se um ser in-teligente e sensível, mas podemosafirmar que não se trata exclusiva-mente de atributos inerentes aopróprio princípio espiritual que seexpandem, e sim de um atributoqualquer, antes inexistente, que des-perta praticamente num instante etransforma toda a realidade daque-le ser.

Podemos também afirmar queesta estrutura fundamental já nosdá, antes de qualquer experiência,algumas orientações quanto ao en-tendimento e a moral. Todos os se-res humanos parecem ser capazes decompreender e aceitar algo extre-mamente lógico que lhes seja apre-sentado. Um teorema matemáticoraramente causa problemas ou dis-cussões sérias no meio científico,pois mesmo aqueles que muito dis-tantes estão do conhecimento ma-temático, se lhes for pacientementeesclarecida a função do teorema, oaceitarão.

O mesmo se dá com o senti-mento. Desde sua origem o Espíri-

to tem um estado de natureza bom,ou uma lei moral grafada na cons-ciência. Este, a priori sentimental,seria o fundamento último de todaa moral, o sentimento que deno-minamos amor. Evidente que assimcomo a razão pode ser ludibriadapor falácias e sofismas bem arquite-tados, o sentimento de amor podeser nublado pelo véu da ignorânciae do orgulho, dando margem aosvícios que evidentemente contra-riam a natureza boa do homem.

Na medida em que o ser se ex-pande, aproxima-se cada vez maisda individuação completa, os senti-mentos se harmonizam e o intelec-to passa a abranger aquilo que ago-ra consideramos incognoscível, nãoapenas por um acúmulo de conhe-cimento, mas porque o homemconsegue despir-se de sua máscara eencontra sua natureza inata, sua in-dividualidade original. Neste esta-do, o Espírito perde o lastro com o

estilo de existência que conhecemose torna-se algo novo.

A própria sensibilidade, o en-tendimento e a razão se expandem,passando a captar fenômenos queantes não se captariam ou sequerse poderiam supor pela imaginação.Através destes novos sentidos ouformas de raciocínio e entendimen-to, que estão no homem em estadoembrionário definido por intuição,o homem alcançará experiênciasque lhe descortinarão segredos maisamplos do Universo, da sua própriaalma e de Deus.

A concepção que se tem daprecariedade humana é muito acer-tada para nossa realidade atual, mas,com o advento da mediunidade, aexpansão das ciências e transfor-mações de paradigmas culturais, aospoucos a Humanidade caminha pa-ra patamares mais felizes de exis-tência.

Idéias inatas(O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,

Parte 2a, cap. IV, ed. FEB.)

218. Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percep-ções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências ante-riores?

“Guarda vaga lembrança, que lhe dá o que se chama idéias inatas.”a) – Não é, então, quimérica a teoria das idéias inatas?“Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais

se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Du-rante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém,a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse as-sim, teria que recomeçar constantemente. Em cada nova existência, oponto de partida, para o Espírito, é o em que, na existência preceden-te, ele ficou.” (...).

288

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 10

Page 11: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 11289

Aoperação da transferência do Espiritismo, daFrança, que o recepcionou, para o Brasil, no en-tardecer do século XIX, que dinamizaria e popu-

larizaria a divulgação dos seus postulados científicos,filosóficos e religiosos, após a desencarnação de AllanKardec, motivou a convocação de inúmeros Espí-ritos missionários. Os anúncios e os prepara-tivos do advento do Consolador perdem--se nos tempos e historiadores maissensíveis encontram o seu ponto departida em dois momentos da vida doCristo:

– Quando Jesus promete a vindado Consolador: “Se me amais, guar-dai os meus mandamentos; e eu ro-garei a meu Pai e ele vos enviará ou-tro Consolador, a fim de que fiqueeternamente convosco: O Espírito deVerdade (...).” (João, 14:15-17.)

– Num diálogo que Jesus tem com sa-cerdotes e gente do povo, que questionam asua autoridade, rejeitando os seus ensinamen-tos, Ele destaca: “Por isso é que vos declaro que ti-rado vos será o Reino de Deus, e será dado a um po-vo que produza seus frutos.” (Mateus, 21:43.)

Os séculos perpassaram, quando, então, em 18 deabril de 1857, com o lançamento de O Livro dos Es-píritos, foi concretizada, naquele país europeu, a Fran-ça, a primeira etapa da promessa do Cristo e, mais tar-de, durante o desenvolvimento da Codificação porAllan Kardec, tinha início a segunda fase, surgindo naCorte Imperial brasileira as “primeiras notícias” com a

edição francesa de O Livro dos Espíritos. Comentáriosna imprensa, desfavoráveis ao Espiritismo nascente, pu-blicados no Diário da Bahia em 27/9/1863, com ré-plica de Luís Olímpio Teles de Menezes (1825-1893)no dia seguinte, no mesmo periódico, colocou o Bra-sil em destaque aos olhos de Allan Kardec, consoanteregistros do Codificador exarados na Revista Espírita de1865, página 323, publicada pela Edicel, com tradu-ção do francês por Júlio Abreu Filho.

Após a desencarnação do Mestre de Lyon, em31/3/1869, o Espiritismo mundial entraria em

sua segunda época. Nesse período, um jo-vem de 38 anos, nascido em 29/8/1831,

em Riacho do Sangue, um pequenolugarejo nas terras áridas do Ceará, seentretinha com livros religiosos. Seunome: Adolfo Bezerra de MenezesCavalcanti. Aos 20 anos havia semudado para o Rio de Janeiro e,em 1856, com 25 anos, obtivera agraduação em Medicina. Quatroanos depois de ter contraído núpcias

com D. Maria Cândida Lacerda, fi-cou viúvo, com dois filhinhos, de um

e três anos. A viuvez, assim, levara-o aler a Bíblia e a discutir e estudar religião e

é nesse estado de introspecção, de momentomístico, que... ouve falar da Doutrina de Allan

Kardec.Dr. Silvino Canuto Abreu (1892-1980), na sua

obra Bezerra de Menezes (Subsídios para a Históriado Espiritismo no Brasil até o ano de 1895), informaque a conversão de Bezerra de Menezes ao Espiritis-mo – fato que teria o seu apogeu em 16/8/1886,quando ele, num auditório com mais de duas mil pes-soas, declarou a sua fé espírita – foi um mero fenôme-no de recordação.1 >

O servidor humílimo e paternalde sempre!

Adilton Pugliese

Bezerra de Menezes

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 11

Page 12: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

12 Reformador/Agosto 2003290

> Realmente, examinando-se a informação acerca dodestino do Brasil, narrada pelo Espírito Humberto deCampos, na obra psicografada pelo inesquecível mé-dium Francisco Cândido Xavier, Brasil, Coração doMundo, Pátria do Evangelho, encontramos, nas pá-ginas 179 e 180, essas palavras de Ismael, Guia Espi-ritual da Pátria Brasileira, dirigidas ao seu discípulo,que reencarnaria com o nome de Adolfo Bezerra deMenezes:2

“– Descerás às lutas terrestres com o objetivo deconcentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, di-rigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. (...)Não precisamos encarecer aos teus olhos a delicadezadessa missão; mas, com a plena observância do códi-go de Jesus e com a nossa assistência espiritual, pulve-rizarás todos os obstáculos, à força de perseverança ede humildade, consolidando os primórdios de nossaobra, que é a de Jesus, no seio da pátria do seu Evan-gelho. Se a luta vai ser grande, considera que não serámenor a compensação do Senhor, que é o caminho, averdade e a vida.”

Examinando-se toda a trajetória da vida de Adol-fo Bezerra de Menezes, essa existência que nunca serádemais ser relembrada, porque se trata de uma vida in-comum e fascinante, pode-se confirmar que ele cum-priu, fielmente, com extremada dedicação e renúncia,ao apelo de Ismael. Seus primeiros contatos com afilosofia espírita dar-se-iam em 1875, quando oDr. Carlos Travassos, tradutor para o vernáculo deO Livro dos Espíritos, oferta ao então DeputadoBezerra de Menezes um exemplar. O Kardec Brasilei-ro, considerado o Apóstolo da Unificação no Brasil,cognominado, também, Médico dos Pobres, descreveo acontecimento:

“Deu-mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a umahora de viagem de bonde.

Embarquei com o livro e, não tendo distração pa-ra a longa e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus!não hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, é ri-dículo confessar-me ignorante de uma filosofia, quan-do tenho estudado todas as escolas filosóficas (...).

Lia; mas não encontrava nada que fosse novo pa-ra meu espírito, e entretanto tudo aquilo era novo paramim! (...)

(...) parece que eu era espírita inconsciente, ou,como se diz vulgarmente, de nascença (...).”

Mais tarde, depois de várias participações no en-

tão nascente Movimento Espírita, Bezerra de Mene-zes, em 1895, convidado para assumir a presidênciada Federação Espírita Brasileira (FEB), decide ouvir aopinião dos Espíritos Superiores em reunião do “Gru-po Ismael” e é quando, então, através do médium Fre-derico Júnior, recebe do seu guia espiritual SantoAgostinho a exortação:

“– Aceita o convite. É um chamado. Já te dissemosmais de uma vez que a união dos espíritas e a sua orien-tação te foram confiadas (...). Cumpre o teu dever ecumpriremos o nosso.” Bezerra, emocionado, declara:“– Neste caso, aceitarei e espero não me faltem o am-paro de Jesus, a proteção de nossos guias, assim comoo concurso de todos os companheiros do Grupo.”

E Santo Agostinho encerra o decisivo diálogocom a mais expressiva das promessas: “– Iremos to-dos contigo!”3

O Brasil espírita comemorou o seu centenário dedesencarnação há dois anos, relembrando a data de 11de abril de 1900, quando, em sua residência, no Riode Janeiro, aos 68 anos de idade, precisamente às11h30, retornou à Pátria Espiritual, sendo recebido,o seu Espírito, com os cânticos e saudações atribuídosaos verdadeiros heróis, servidores fiéis do Cristo. LéonDenis, ao tomar conhecimento da desencarnação deBezerra, declarou, da França:

“– Quando tais homens deixam de existir, enlu-ta-se não somente o Brasil, mas os espíritas de todo omundo.”4

Há mais de cem anos, contudo, esse VenerávelEspírito continua a sua missão na Terra. Comu-nicando-se através do médium Divaldo Pereira Franconas reuniões do Conselho Federativo Nacional, daFEB, “sempre enfatizando a união em torno dosideais cristãos”, testemunha sua humildade assinan-do-se “o servidor humílimo e paternal de sempre”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1 4. ed. FEESP p. 29.2 XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, Coração do Mundo, Pá-tria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos. 26. ed.Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 179-180 e Reformador de agostode 2002.3 Equipe da FEB. Bezerra de Menezes – Ontem e Hoje. 3. ed.Rio de Janeiro: FEB, p. 26 e 200, 2001.

4 Idem, ibidem, p. 203.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 12

Page 13: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 13291

ACâmara dos Deputados pres-tou uma emocionada home-nagem ao médium Francisco

Cândido Xavier no dia 26 de junhodeste ano. Deputados de diversospartidos e Estados brasileiros lem-braram a vida apostolar e o exem-plo solidário de Chico Xavier napassagem do primeiro ano de suadesencarnação, ocorrida em 30 dejunho de 2002. A sessão solene foirequerida pelo Deputado FederalLuiz Bassuma (PT-BA). A Federa-ção Espírita Brasileira (FEB), naimpossibilidade de comparecimen-to do seu Presidente, Nestor JoãoMasotti, foi representada pelo Pre-sidente da Federação Espírita doDistrito Federal, João de JesusMoutinho, que integra o ConselhoFederativo Nacional da FEB.

“O fato desta sessão solene serpresidida por um católico como eué prova da atitude respeitosa que to-dos os brasileiros têm para com oquerido Chico Xavier”, disse o Pre-sidente da Câmara, Deputado JoãoPaulo Cunha (PT-SP). Para ele, omédium mineiro é “um dos vultosmais importantes da História doBrasil”. O deputado Bassuma disseque a organização do evento cabiaaos Espíritos: “Esta sessão não foiconstruída por nós. Somos apenas

o instrumento. A ação toda foi fei-ta pelo plano espiritual, e o traba-lho de hoje tem desdobramentosque nem sequer podemos perce-ber”, disse. Em seu pronunciamen-to, Bassuma afirmou que o grandedesafio da Humanidade é o exem-plo que Chico Xavier deixou: vi-

venciar essencialmente a mensagemdo Cristo: “O desafio da nossa vidaé sermos coerentes com o que acre-ditamos, com o que falamos e como que fazemos no dia-a-dia.”

Os Deputados Reginaldo Lo-pes (PT-MG), Wladimir Costa(PMDB-PA), Nice Lobão (PFL--MA), Paulo Afonso (PMDB-SC),Eduardo Barbosa (PSDB-MG), Ro-mel Anizio (PP-MG), Miguel deSouza (PL-RO), Colbert Martins(PPS-BA) e Francisco Gonçalves(PTB-MG) destacaram o exemplo

de Chico Xavier, elogiando-lhe aconduta fraterna, a nobreza de ati-tudes e a dedicação ao próximo. Emseguida, foi exibido o vídeo “ChicoXavier – uma história de amor”. AFEB também homenageou o mé-dium mineiro com uma exposiçãodos livros por ele psicografados.

A sessão foi encerrada comuma inspirada oração proferida pe-lo Deputado Bassuma. Depois deiniciar citando Jesus, disse que“uma nova aurora se avizinha paraesse País tão generoso” e encerrouafirmando que a homenagem aChico Xavier “é transferida, sob au-torização de Ismael, a todos aquelesque não puderam estar aqui e queperambulam pelas ruas do País comfome de pão e do Evangelho que li-berta amorosamente”.

Enquanto se apresentava o Co-ral da Câmara, o médium José Me-drado executou um conjunto dequatro psicopictografias. O primei-ro quadro foi um retrato de ChicoXavier, já idoso, com boina e lápisà mão, pelo Espírito Cândido Por-tinari. A segunda obra, também dePortinari, chamada “Nordestina”,mostra um menino pobre com umatrouxa à cabeça. A terceira obra, doimpressionista francês Claude Mo-net, mostra uma paisagem com flo-res e aurora. A última pintura, deTarsila do Amaral, retrata o prédiodo Congresso Nacional em meio aum jardim.

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Câmara dos Deputados homenageia Chico Xavier

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 13

Page 14: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

14 Reformador/Agosto 2003292

Apalavra de ordem, rezam oseconomistas, se desejamos me-lhorar nossa condição econô-

mica, é poupar. Tanto quanto possível, reservar,

mensalmente, um dinheirinho pa-ra o “pé-de-meia”, algo que nosproporcione segurança e a perspec-tiva de um futuro confortável etranqüilo.

Envolve aplicações financeiraspara proteger o capital dos surtosinflacionários e ter algum rendi-mento.

São incontáveis as opções, en-volvendo caderneta de poupança,fundos de renda fixa, dólar, imó-veis, ouro, bolsa de valores, merca-do futuro e similares…

Diga-se de passagem, o resulta-do costuma ser inexpressivo, a nãoser que o investidor tenha muito di-nheiro para aplicar, o que não ocor-re com a maior parte da população.

Há uma opção mais atraente,que merece atenção.

Seria aplicar regularmente par-te de nossas disponibilidades noBanco da Providência, atendendopessoas que passam privações mate-riais, os carentes de todos os mati-zes, ajudando-os em suas necessi-dades.

Partindo do velho aforismo,quem dá aos pobres empresta aDeus, todo recurso mobilizado nes-

se sentido representará valiosa pou-pança nos “cofres do Céu”.

E teremos dividendos abençoa-dos: paz, saúde, bem-estar, felicida-de, alegria de viver, muito mais im-portantes que o vil metal, o dese-jado patrimônio material.

...Detalhe ponderável: o dinhei-

ro investido nos negócios da Terrapouca utilidade oferece, além da sa-tisfação de vê-lo crescer.

Se sumir, não haverá nenhumarepercussão em nossa vida.

Há pessoas que poupam otempo todo e acumulam razoávelcapital que nunca irão usar.

Servirá apenas para suscitar dis-putas entre os herdeiros, quando opoupador bater as botas.

Há um provérbio chinês bemsignificativo:

Mesmo que tenhas dez milplantações, só podes comer uma ti-gela de arroz por dia; ainda que atua casa tenha mil quartos, nem dedois metros quadrados precisas pa-ra passar a noite.

E há as tensões, as dúvidas e a

perda de algo precioso, quando nosenvolvemos com os investimentosda Terra.

Se me permite o leitor pacien-cioso, outro aforismo chinês:

Quem abre o coração à ambi-ção, fecha-o à tranqüilidade.

Melhor combater tais tendên-cias, aprendendo a investir algo denossos recursos no Banco da Provi-dência, minorando aflições, aten-dendo enfermos, alimentando fa-mintos, oferecendo melhores con-dições de vida para muita gente quevive miseravelmente.

O lucro auferido com investi-mentos dessa natureza é imediato,exprimindo-se em inefável sensaçãode paz.

O bem estendido ao redor denossos passos é bênção de Deus emnossas vidas.

...Questão crucial:Quando se trata de abrir a bol-

sa em favor do próximo, o fechocostuma emperrar.

A tendência é dar o que nãovai faltar.

Invariavelmente, porém, sobinspiração do velho egoísmo huma-no, sempre nos parecerá indispen-sável o dinheiro amoedado, aindaque o tenhamos sobrando nos co-fres.

É de Sêneca judiciosa observa-ção envolvendo a maneira como su-perestimamos nossas necessidades:

Para a nossa avareza, o muitoé pouco.

InvestimentosRichard Simonetti

O bem estendido

ao redor de nossos

passos é bênção de

Deus em nossas

vidas

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 14

Page 15: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 15293

Para a nossa necessidade, o pou-co é muito.

Assim, quase nada sobra para oBanco da Providência.

Por isso Jesus nos oferece oexemplo da viúva pobre (Lucas,21:1-4), dando a entender que ovalor está em darmos o que vai fa-zer falta.

E considere, leitor amigo:Geralmente, esse “fazer falta”

está em nossa cabeça, como sugereo filósofo romano.

...Talvez nos estimule reconhecer

que os investimentos nos Bancosdo Mundo, por mais que rendam,não acrescentarão um só centavoaos valores espirituais.

Tudo ficará aqui, quando for-mos convocados pela Morte à via-gem de retorno. Se só eles merecemnossa atenção, estaremos mal, “aorelento”, na Espiritualidade.

Quanto aos investimentos noBanco da Providência, estes ren-dem dividendos para a Vida Eterna,habilitando-nos à estadia em “hotelcinco estrelas”, no Além, ampara-dos por generosos benfeitores.

...Se alimentamos a intenção de

emprestar a Deus, recomenda-sealgum critério, evitando sustentar amalandragem e a indolência, que,infelizmente, grassam por aí.

O ideal será escolhermos inter-mediários confiáveis.

São as instituições que desen-volvem serviços assistenciais e pro-mocionais de forma transparente eprodutiva.

Nelas são identificados os legi-timamente carentes, desenvolven-do-se, em seu benefício, ações no

sentido de promovê-los, reorgani-zando suas vidas.

Usando expressão bem atual,ajudam os excluídos a encontrar umlugar na sociedade, construindo seufuturo.

O Centro Espírita envolvidocom o trabalho social, na vivênciados princípios de caridade que nor-teiam o Espiritismo, enquadra-seperfeitamente nessa condição.

Ali se desenvolvem os mais va-riados serviços em favor da popula-ção carente, onde todos podemosfazer valiosos investimentos de doistipos:

em espécie

Reservar parte de nossos rendi-

mentos, de forma disciplinada eperseverante, com a mesma regula-ridade com que pagamos contas deágua, luz e telefone.

em serviço

Reservar parte de nosso tempopara engrossar as fileiras de volun-tários que desenvolvem serviços deassistência e promoção social, sob abandeira da solidariedade.

Então, sim, estaremos contabi-lizando créditos abençoados na Pou-pança do Céu, em favor de umaexistência mais feliz na Terra e umretorno tranqüilo à vida espiritual.

Vamos investir?

Grão de trigoMário Frigéri

“Pois, que aproveitará o homem se ganhar o mundo in-

teiro e perder a sua alma?” Jesus. (Mateus, 16:26.)

Se, ao cair no chão, o grão de trigoNão perecer, fica ele só na terra;Mas se morrer, sua alma se descerraE a cem por um produz em seu jazigo.

É um “morto” ativo que tomou da cruz,Após negar seu ego neste plano.Perdeu a vida – no conceito humano;Ganhou a vida – segundo Jesus.

Quem não ajunta com Jesus, espalha.Ciente, pois, da luz que em ti floreia,Ergue bem alto do Evangelho a tocha.

E enquanto os “vivos”, na mais vã batalha,Armam castelos de cartas na areia,Sê tu aquele que constrói na rocha.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 15

Page 16: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003294

“Permita-me a liberdade de levarao seu conhecimento o que se meoferece transmitir-lhe a respeito decasos e coisas por mim constata-dos no meio espírita, que, a meuver, extrapolam da natureza e fina-lidade do Espiri-tismo.”(Trecho de carta do missivistaPolicarpo Moura.)

Prezado Confrade,

Impressionou-me o seu desabafoquanto ao desapontamento doobjeto de suas observações.

Antes de entrar no mérito daquestão, seja-me lícito, desde logo,fazer a ressalva de que a DoutrinaEspírita não comporta comprome-timentos de qualquer ordem, tãoinvulnerável é em seu tríplice aspec-to e indecomponível em seu emba-samento evangélico-doutrinário.Nós a esposando é que, não raro,deixamos muito a desejar, por agirem sentido contrário e contradito-riamente aos seus ensinos, como sóiacontecer quando, assim descarac-terizados espiriticamente, nos cons-tituímos em agentes de inovaçõesdescabidas e de novidades contra-producentes, de instrumentos dediscórdia, em promotores de mu-danças inconsistentes de programa-ções de trabalho sem nenhum pro-pósito de adequação aos meios efins justificadamente espiríticos, tãoempenhados estamos na prevalên-cia dos nossos pontos de vista e to-madas de posições quase sempre in-

congruentes e intempestivas.Assim, as supostas desfigura-

ções da Doutrina dos Espíritos, quejulgamos afetá-la, não procedem elonge estão de corresponder à reali-dade dos fatos, antes se situam nasmentes de profitentes incautos e de-savisados que se dão a toda sorte dedesmandos, tão desatentos se mos-tram à assimilação da essência dosseus ensinamentos.

Não será esse o seu caso, desde

que se proponha a preservar-se detais envolvimentos desagregadorese desgastantes, que levam a quantosos suscitam, ou por eles se deixaminfluenciar, à lamentável condiçãode pedras de tropeços no caminhodos que o vêm palmilhando espe-rançosos de chegarem a bom ter-mo.

A Doutrina se nos apresentasem costuras, como inconsútil era atúnica do Cristo, tão meridiana-mente clara como a luz do Sol quãotoda transparente como a água que

flui pura da nascente. Não dá mar-gem a quaisquer dúvidas, a nin-guém engana nem decepciona aquem quer que seja. O que falta adeterminados confrades é maturi-dade e bom senso, enquanto, emcertos casos, lhes sobra muito depersonalismo. Daí as interpolaçõesdespropositadas e a carência decomportamentos ajustados aos pa-râmetros da necessária exemplifi-cação.

Mas, veja bem, a par dessa de-plorável incoerência, tão do nossoconhecimento e desagrado, há, dou-tra parte, como não podia deixar deser, tranqüilizador cenário, comcambiantes de realidades e realiza-ções, suavizando-nos os olhos e in-duzindo-nos à luta pela nossa pró-pria espiritualizacão. É nesse pano-rama de atos e fatos, de atitudes eações, de empreendimentos e feitosdignificantes que primordialmentedevemos volver o nosso olhar, detera nossa atenção, abrindo a mente edescerrando o coração aos influxosda orvalhada de bênçãos promana-da das altiplanuras da Espirituali-dade.

No mirante de nossas observa-ções, precisamos de abranger toda avastidão da vista panorâmica, comos marcantes aspectos edificantesque sobejam no Espiritismo e ja-mais nos determos apenas em par-tes isoladas, envoltas em nebulosi-dades, que nos privam do aprazi-mento de vislumbrarmos a impres-sionante e surpreendente grandio-sidade do conjunto. Lentes escuras

16

Carta Aberta...Passos Lírio

A Doutrina se nos

apresenta sem

costuras, como

inconsútil era a túnica

do Cristo, tão

meridianamente clara

como a luz do Sol

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 16

Page 17: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 295

ou embaçadas só nos facultam verpenumbras e sombras, como se es-sa fora mesmo a realidade do quelobrigamos ver.

É o de que, prezado Policarpo,nos dão idéia suas errôneas impres-sões do que vem a ser a DoutrinaEspírita, não detectando seus alta-nados objetivos, que, a admiti-las,nos levam até a supor tenha ela en-trado em decadência, quando, naverdade, decadentes e decaídos, des-falecentes e desfalecidos podemosser todos nós, seus profitentes, nasfrentes de trabalho em que atua-mos, quando nos desmandamos ar-bitrariamente, a ponto de perderáureas oportunidades de darmos al-guns passos à frente em mais umaencarnação com que fomos con-templados pela misericórdia do Al-tíssimo, nosso Criador e Pai.

Ao demais, se a nós, indivi-dualmente, já nos é possível alcan-çar a essência dos ensinamentos daDoutrina dos Espíritos e ter as de-vidas posturas perante ela, esfor-çando-nos por bem exemplificá-laem todos os lances e ensejos que senos oferecem, por que nos afligir-mos com os nossos confrades quenão o fazem, tão certos estamos deque cada um de nós arca com asconseqüências de seus própriosatos? No caso, o que nos cabe fazeré orar por eles e, por nossa vez, nosacautelarmos para não incorrer nosmesmos eventuais disparates e com-prometimentos.

Gostaria imenso, distinto mis-sivista, reconsiderasse a sua engano-sa concepção do que lhe parece sero Espiritismo, por não atinar, se-gundo confessa, com a razão de serdessas “coisas tão estranhas e espan-tosas”, nem poder conceber o quese lhe afigura “impossível de expli-

cação e justificativa”.Grande seria a minha estranhe-

za e maior ainda a estupefação, nãofora sabê-lo neófito, compreensivel-mente passível de decepcionar-secom o que vem de constatar quan-to ao teor de negatividade contras-tante com as diretrizes da Doutrinaque abraçou e nela há de firmar-seem definitivo, como convirá man-ter-se, sem desânimos nem des-falecimentos.

Aproveite bem o tempo, eu lho

peço, sem se desgastar nem se des-gostar com os arranjos e desarran-jos de nossos companheiros deideal ainda distanciados do verda-deiro sentido e alcance da TerceiraRevelação, tão magistralmente co-dificada pela genialidade de AllanKardec e de contexto facilmente as-similável.

Abraça-o quem muito se prezade tê-lo como amigo e de ser seuservidor em Cristo.

17

União e amizadeUnião e Amizade,Asas de Luz da Paz e da Alegria,Com que nossa alma voa, cada dia,Ao reino augusto da Fraternidade!...

Da União nasce a fonte soberanaDo poder que redimePelo amor milagroso, amplo e sublime,De que todo o Universo se engalana.

Da Amizade provémA Santa vibraçãoDas aleluias de renovação,Das claridades do infinito bem.

Sem que a luta nos una, passo a passo,E sem que nos amemos,Dormirão nossos sonhos nos extremosDa aflição, da amargura e do cansaço.

União e Amizade,Fadas celestes da felicidade...Quem ouvi-las submisso,Agindo para honrá-las e entendê-las,Guarda os braços nas bênçãos do serviçoE o coração na glória das estrelas.

Cármen Cinira

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Correio Fraterno, Diversos Espíritos. 5. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 24, p. 63-64.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 17

Page 18: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

18 Reformador/Agosto 2003296

O novo Código Civil, em vigor desde janeiro des-te ano, trouxe importantes inovações ao cotidiano detoda a sociedade, conforme amplamente divulgadopelos meios de comunicação.

Como ocorreu com as demais entidades, as Insti-tuições Espíritas também foram atingidas por essas sig-nificativas alterações que, em alguns casos, podem en-sejar profundas mudanças na estrutura administrativada Casa.

Assim, visando a auxiliar as Instituições Espíritasnas alterações que se fizerem necessárias em face donovo Código Civil, oferecemos, a título de colabora-ção, o presente material, elaborado em forma de per-guntas e respostas, transcrevendo os artigos respecti-vos, a fim de facilitar o entendimento dos dirigentesespíritas.

Maiores detalhamentos estarão disponíveis nosite da Federação Espírita Brasileira: www.febnet.org.br,no link “Assessoria Jurídica”.

1. Como se classifica a Instituição Espírita juridica-mente?

É considerada associação, espécie do gênero pes-soa jurídica de direito privado.

“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:I – as associações;

II – as sociedades;III – as fundações.Parágrafo único. As disposições concernentes às associa-ções aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que sãoobjeto do Livro II da Parte Especial deste Código.”

2. O que é uma associação?É a união de pessoas que se organizem para fins

não econômicos, incluindo-se nesta categoria todas aspessoas jurídicas que exerçam atividades assistenciais,

religiosas, culturais, como, por exemplo, os centros es-píritas, as igrejas e as organizações não-governamen-tais.

“Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pes-soas que se organizem para fins não econômicos.Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos eobrigações recíprocos.”

3. Considerando que o novo Código Civil classificaa Instituição Espírita como associação, aquela quepossui em seu nome a designação “Sociedade” estáobrigada a alterá-la?

Não, uma vez que a nova legislação somente co-loca como regra obrigatória constar de seu ato consti-tutivo – o estatuto – além de outras exigências, a de-nominação de associação, como forma de caracterizara natureza jurídica da instituição (art. 54).

Como exemplo, supondo-se a existência de umainstituição registrada como Sociedade Espírita X, nãonecessitará ela mudar sua denominação para Associa-ção Espírita X, bastando que conste de forma expres-sa em seu estatuto o seguinte: A Sociedade Espírita X,associação constituída nos termos do art. 53 do Có-digo Civil, tem por objetivos (...).

“Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associa-ções conterá:

I – a denominação, os fins e a sede da associação;II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão

dos associados;III – os direitos e deveres dos associados;IV – as fontes de recursos para sua manutenção;V – o modo de constituição e funcionamento dos ór-

gãos deliberativos e administrativos;VI – as condições para a alteração das disposições esta-

tutárias e para a dissolução.”

O novo Código Civil e as Instituições Espíritas

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 18

Page 19: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 19297

4. Quando se constitui, juridicamente, uma Institui-ção Espírita?

Por ocasião do registro de seu estatuto no cartó-rio de registro civil de pessoas jurídicas da cidade on-de se localize sua sede social.

“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicasde direito privado com a inscrição do ato constitutivo norespectivo registro, precedida, quando necessário, de au-torização ou aprovação do Poder Executivo, averbando--se no registro todas as alterações por que passar o atoconstitutivo.”

5. Com a entrada em vigor do novo Código Civil,qual o prazo que a Instituição Espírita tem para al-terar seu estatuto?

Um ano, contado a partir de 10 de janeiro de2003, segundo o art. 2.031 do novo Código Civil, ouseja, a instituição deve registrar seu estatuto, após asdevidas alterações, até 10 de janeiro de 2004.

6. Há alguma regra especial quanto à atribuição dedireitos e deveres em relação aos associados?

Em princípio, todos os associados terão direitos edeveres iguais. Contudo, o estatuto poderá criar cate-gorias com vantagens especiais, de acordo com as ne-cessidades da Instituição, entre as quais se inclui a departicipar da assembléia geral e a de votar e ser votado.

“Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas oestatuto poderá instituir categorias com vantagens espe-ciais.”

7. Existem atribuições privativas da assembléia geral,de acordo com o novo Código Civil?

Sim. Embora possa deliberar sobre quaisquer as-suntos a ela afetos no ato constitutivo, compete exclu-sivamente à assembléia geral eleger e destituir os ad-ministradores, aprovar as contas e alterar o estatuto daInstituição.

“Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral:I – eleger os administradores;II – destituir os administradores;III – aprovar as contas;IV – alterar o estatuto.”

8. Que critérios devem ser observados para a eleiçãodos administradores da Instituição Espírita?

Somente a assembléia geral é competente paraeleger e empossar os administradores da associação.Poderá ser eleita uma Diretoria ou, como já ocorreem muitas entidades, um Conselho (Superior, Admi-nistrativo, Deliberativo, Diretor), “cabendo a este, emseguida, a designação, dentre seus membros, dos ti-tulares dos cargos de direção” (v. Miguel Reale em seutexto “As Associações no Novo Código Civil”, que es-tá disponível no site www.miguelreale.com.br).

9. A eleição da Diretoria ou, quando for o caso, deum Conselho, que designará os diretores, deverá serfeita de uma só vez pela assembléia geral?

Não necessariamente. Dependendo das conveniên-cias administrativas e do porte da entidade, o seu esta-tuto poderá prever a eleição dos membros da Diretoria“(...) em períodos distintos, de um ou mais anos, comrenovação periódica e parcial do mandato dos diretores.”Poderá, ainda, prever que a eleição do Conselho não se-ja global, “(...) mas apenas para uma de suas partes, naproporção e nas datas previamente estabelecidas.” (ado-tamos, também aqui, o magistério de Miguel Reale).

10. Quem pode convocar a assembléia geral?A convocação da assembléia geral será feita na

conformidade do que dispuser o estatuto (normal-mente pelo Presidente ou pelo Secretário da Institui-ção). Deve ficar garantido, contudo, o direito de pro-movê-la a um quinto dos associados com direito àparticipação nas assembléias gerais.

“Art. 60. A convocação da assembléia geral far-se-á naforma do estatuto, garantido a um quinto dos associa-dos o direito de promovê-la.”

11. Qual o número mínimo de participantes paraque se instale e possa deliberar a assembléia geral?

Quanto ao quorum para as decisões ordinárias,não há inovações. Contudo, há regras especiais paraas seguintes situações:I) exclusão de associado (caput do art. 57): instala-

ção na forma do estatuto e deliberação com maio-ria absoluta dos presentes convocados à assem-bléia geral para este fim; e

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 19

Page 20: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

20 Reformador/Agosto 2003298

II) destituição de administradores e alteração do es-tatuto (parágrafo único do art. 59): instalação deacordo com o estatuto e deliberação, em primei-ra convocação, com a maioria absoluta dos asso-ciados ou com pelo menos um terço nas convo-cações seguintes, exigindo-se o voto concorde dedois terços dos presentes à assembléia especial-mente convocada para esse fim.

“Art. 57. A exclusão do associado só é admissível haven-do justa causa, obedecido o disposto no estatuto; sendoeste omisso, poderá também ocorrer se for reconhecida

a existência de motivos graves, em deliberação funda-mentada, pela maioria absoluta dos presentes à assem-bléia geral especialmente convocada para esse fim.”

“Art. 59 (...)Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem osincisos II e IV [destituição de administradores e altera-ção do estatuto] é exigido o voto concorde de dois ter-ços dos presentes à assembléia especialmente convocadapara esse fim, não podendo ela deliberar, em primeiraconvocação, sem a maioria absoluta dos associados, oucom menos de um terço nas convocações seguintes.”

Por que sofremos tanto quan-do perdemos um bem mate-rial? Por que nosso mundo

desaba sobre nós quando somosdespedidos do emprego? Será queainda não nos demos conta de queestamos de passagem por aqui, fa-zendo um estágio temporário eque logo partiremos sem levarmosabsolutamente nada material da-qui?

Somos Espíritos. Assim acre-ditamos a maior parte das pessoasde nossa Humanidade, indepen-dentemente da religião, mas nãovivemos de acordo com essa cren-ça. Espíritos não necessitam de ca-sas enormes em bairros chiques,carros de luxo ou posições de des-taque na sociedade para serem fe-lizes. Podem e devem usar estascoisas para seu bem estar, mas sem

se descuidar de seus verdadeiros in-teresses neste mundo, que são odesenvolvimento de seus poten-ciais intelectuais e principalmenteos do coração. Porque entendi-mento e amor são os objetivosmestres que nos trouxeram atéaqui. Não viemos para possuir, pa-ra construir patrimônios ou paradeixar heranças. Estes são meiosúteis, mas muitas vezes perigosos,de se conseguir as metas reais. Nãopodemos despender todo o nossotempo, nossa atenção e nossos me-lhores esforços na aquisição debens. O tempo passa rápido, nos-sa vida escoa célere em direção aoseu final e, muitas vezes, somossurpreendidos com o término doestágio, sem que tenhamos feitogrande coisa em benefício dequem realmente somos: Espíritos!

Quanto sofrimento com a es-tética imperfeita de nossos corpos!Quanta dor por não termos a po-sição que gostaríamos nos palcosdo mundo! Mas a verdade é que is-

so aqui não passa realmente de umpalco, um grande teatro, onde nóssomos os atores. Interpretamos pa-péis diferentes, rimos, choramos,agredimos-nos e amamos, no en-tanto o que vale é a experiência, oaprendizado em cada situação, emcada relação. O espetáculo termi-na, ou pelo menos nossa participa-ção, e descobrimos que nossoscompanheiros de palco sempre fo-ram o mesmo que nós: Espíritos!

Não há diferenças, somos fei-tos da mesma substância, comidêntica filiação e com os mesmosobjetivos. O que muda é a vivên-cia, que uns têm mais que outros.A experiência ensina que não valea pena agredir, magoar, competir,pois a peça termina rápido deixan-do-nos diante da única realidade anão se esvanecer: a de que somosEspíritos!

Não há morte. Sobrevivemosapós o túmulo e levamos para aoutra vida somente aquilo quehouvermos conquistado dentro denós mesmos. Não podemos levarmais nada. Espíritos não precisamde nada mais.

Somos imortaisFábio Henrique Ramos

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 20

Page 21: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 21299

Honras vãs“Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que

são mandamentos de homens.” – Jesus. (Marcos, 7:7.)

A atualidade do Cristianismo oferece-nos lições profundas, relativamen-te à declaração acima mencionada.

Ninguém duvida do sopro cristão que anima a civilização do Ocidente.Cumpre notar, contudo, que a essência cristã, em seus institutos, não passoude sopro, sem renovações substanciais, porque, logo após o ministério divi-no do Mestre, vieram os homens e lavraram ordenações e decretos na pre-sunção de honrar o Cristo, semeando, em verdade, separatismo e destruição.

Os últimos séculos estão cheios de figuras notáveis de reis, de religiosose políticos que se afirmaram defensores do Cristianismo e apóstolos de suasluzes.

Todos eles escreveram ou ensinaram em nome de Jesus.

Os príncipes expediram mandamentos famosos, os clérigos publicarambulas e compêndios, os administradores organizaram leis célebres. No entan-to, em vão procuraram honrar o Salvador, ensinando doutrinas que são ca-prichos humanos, porquanto o mundo de agora ainda é campo de batalhadas idéias, qual no tempo em que o Cristo veio pessoalmente a nós, apenascom a diferença de que o Farisaísmo, o Templo, o Sinédrio, o Pretório e aCorte de César possuem hoje outros nomes. Importa reconhecer, desse mo-do, que, sobre o esforço de tantos anos, é necessário renovar a compreensãogeral e servir ao Senhor, não segundo os homens, mas de acordo com os seuspróprios ensinamentos.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, 21. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001,cap. 37, p. 89-90.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 21

Page 22: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

22 Reformador/Agosto 2003300

“No princípio, criou Deus os céuse a terra. A terra, porém, estavasem forma e vazia; havia trevas so-bre a face do abismo, e o Espíritode Deus pairava sobre as águas.Disse Deus: Haja luz; e houve luz.”

Gênesis, 1:1-3.

Estes belos ensinamentos, con-tidos no primeiro livro dopentateuco judaico, acrescidos

de toda a descrição da criação domundo, segundo o autor, vem sen-do constantemente ponto de dis-cussão acirrada, onde criacionistase evolucionistas tentam provar qualdas teorias estaria verdadeiramentecerta.

A busca da compreensão daorigem do Universo e, conseqüen-temente, da origem da Vida, temsido uma constante para a Huma-nidade que, no entanto, se esquece,na sua presunção, de que tal procu-ra se confunde com a própria essên-cia do Criador e que para tal nosfalta “o sentido”, como nos afir-mam os Espíritos da Codificaçãosobre as possibilidades do homemde compreender a Deus.

Apesar das limitações huma-nas, é dever da Ciência encontrarrespostas para os anseios de todos,tentando explicar-nos as causas, dasquais resultou o maravilhoso espe-táculo da vida. Sendo assim, aindaficam para a maioria as perguntas:A vida surgiu por acaso ou a partir

de uma vontade superior? Os seresvivos sempre tiveram a aparênciaatual ou sofreram transformaçõesao longo do tempo? Os animais dediferentes espécies apresentam al-gum grau de parentesco? Temos umancestral comum?

Os conflitos fizeram-se maisintensos no século dezoito, quandosurgiram novas teorias que contra-diziam as idéias criacionistas, quepreponderavam até então.

O marco maior desses conflitosocorreu em 1859, com a publicaçãodo livro A Origem das Espécies porMeio da Seleção Natural, de Char-les Darwin. Para Darwin, a vida re-sultou de mutações aleatórias damatéria a partir de modelos extre-mamente simples. E foi evoluindopor meio de uma seleção adaptati-va dessas mutações, atendendo ànecessidade de sobrevivência. Den-tro de sua teoria, a vida teria come-çado espontaneamente no momen-to em que uma sopa primordial deelementos químicos básicos, sub-metida às condições da Terra primi-tiva, produziu pela primeira e úni-ca vez uma molécula replicante. Apartir daí, mudanças graduais, aoacaso, permitiram o surgimento deseres cada vez mais complexos.

Dessa maneira, a evolução se-ria uma repetição incessante da re-produção, onde a geração anteriorpassaria para a próxima os genesherdados de seus antepassados,quando poderiam ocorrer pequenos

erros, chamados de mutações, asquais, de forma aleatória, provoca-riam as mudanças progressivas nasespécies; e, no decorrer das gera-ções, essas mutações seriam selecio-nadas, atendendo à necessidade desobrevivência daqueles grupos.

Essas colocações escandaliza-ram à Igreja e aos seguidores daTeoria Criacionista. É importante,porém, lembrarmos que elas nãoforam as primeiras idéias evolucio-nistas, que Lamarck já havia trazi-do uma abordagem neste sentido eque, num período anterior e muitopróximo, Kardec já trazia ao mun-do uma idéia nova, oriunda dos en-sinamentos dos Espíritos, os quaisreuniam posturas criacionistas eevolucionistas em uma só teoria.

Com o surgimento das idéiasdarwinistas e a comprovação demuitos de seus postulados, a Ciên-cia, quase como um todo, foi assu-mindo a conceituação evolucionis-ta, de tal forma que, na maioria dospaíses, inclusive no Brasil, ela é aúnica teoria sobre a origem da vidaestudada nas escolas.

No entanto, é importante res-saltar que o darwinismo não é umateoria acabada e comprovada, exis-tindo, hoje, várias abordagens quea reforçam ou retratam-na, buscan-do dar explicações mais consisten-tes, de acordo com a evolução dosconhecimentos científicos. No iní-cio do século vinte, os cientistasWilhelm Johannsen (inventor do ter-

As Teorias sobre a Origem da Vida e a Visão Espírita

Roberto Lúcio Vieira de Souza

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 22

Page 23: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 23301

mo “gene”), e Thomas Morgan (paida teoria cromossômica da heredi-tariedade) deduziram que novas es-pécies surgiam de uma única gran-de mutação e não da seleção na-tural. Mooto Kimura, outro gene-ticista, retomou a teoria neutralista,afirmando que a maioria das mu-danças evolutivas, no âmbito da ge-nética molecular, seriam neutras, ouseja, não dependentes da seleçãonatural.

Em 1972, os paleontólogosStephen Jay Gould (Harvard) e Ni-les Eldredge (Mu-seu de HistóriaNatural de NovaYork) trouxeramuma nova aborda-gem, vista pormuitos comocomplementar aodarwinismo, queafirma que a evo-lução acontece emsaltos rápidos,quando popula-ções pequenas desenvolvem, em pe-ríodos de não mais que 10.000anos, novas características para seadaptar a um certo ambiente. De-pois, essas espécies tendem a man-ter-se constantes por milhões deanos. Esse modelo explicaria a au-sência de fósseis que mostrem cla-ramente a mutação das espécies aolongo de bilhões de anos. Todo odesenvolvimento dessas idéias nãofoi o suficiente para sepultar a visãocriacionista, que, no momento atu-al, se utiliza da própria biologia, dabioquímica e da matemática parasofisticar os argumentos a favor des-sa última abordagem.

No entanto, é preciso lembrar-mos que a teoria criacionista defen-dida pelos fundamentalistas religio-

sos é diferente daquela apresentadapor este grupo de estudiosos. Paraaqueles, que se fazem radicais emsua abordagem, a teoria da origemda vida resume-se nas seguintes pre-missas:

– O Universo, a energia e a vi-da foram criados do nada por Deus;

– Os organismos complexosnão surgiram de formas mais sim-ples da vida, através de mutaçõesaleatórias;

– As variações entre os seres vi-vos limitam-se dentro de cada espé-

cie;– Os homens e macacos têm

ancestrais distintos;– A geologia terrestre é explica-

da pelo catastrofismo, a começarpelo dilúvio registrado na Bíblia;

– E a Terra é jovem, tendo me-nos de 10.000 anos.

Os estudiosos modernos vin-culados à teoria do criacionismoafirmam terem razões não religiosaspara acreditarem em suas aborda-gens. Para eles, a complexidade davida requer a existência de um “pla-nejamento inteligente”. Esta teoriajá estava presente no século treze,quando Tomás de Aquino, um dospríncipes da Igreja Católica, usou oargumento da complexidade da vi-da como uma das provas da exis-

tência de Deus. Entretanto, o neo-criacionismo, como é agora conhe-cido, embora defenda o “planeja-mento inteligente”, foge dos racio-cínios metafísicos e esotéricos dopassado, buscando na bioquímicasuas maiores bases.

Um dos principais defensoresdessas idéias é o bioquímico Mi-chael Behe, professor da Universi-dade Lehigh, na Pensilvânia (EUA),autor do livro A Caixa Preta deDarwin. Para ele, “a teoria de Dar-win pode explicar cascos de cavalos,

mas não os alicer-ces da vida”.

Os neocria-cionistas defen-dem que a vidanão tem nada dealeatório, seguin-do a este chama-do “planejamen-to inteligente”. Amaior prova distoestaria na com-plexidade dos sis-

temas celular e molecular, os quaisseriam verdadeiras máquinas cujaspartes, embora independentes, es-tariam interligadas estreitamente ea ausência de um único componen-te do sistema seria o suficiente paraimpedir o seu funcionamento.Exemplos dessa situação encontra-ríamos em estruturas como o olhohumano e o sistema de coagulaçãosangüínea; eles só são capazes defuncionar quando todos os elemen-tos estão presentes e em perfeitasconexões. Para eles, essa engenhariacomplexa não poderia ser fruto demudanças aleatórias.

O físico Grichka Bogdanov,em seu livro Deus e a Ciência, ex-plicando o surgimento das molécu-las de nucleoproteínas, afirma: “Pa-

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 23

Page 24: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

24 Reformador/Agosto 2003302

ra que a agregação dos nucleotídeosconduzisse ‘por acaso’ à elaboraçãode uma molécula de ARN utilizá-vel, teria sido preciso que a natu-reza multiplicasse, às apalpadelas,as tentativas, durante pelo menos10 a(potência) 15 anos, ou seja, du-rante cem mil vezes mais tempo quea idade do nosso Universo” (p. 52).

Outro elemento usado paraconfirmar esse posicionamento en-contra-se no fato de até hoje nãotermos registros de animais transi-cionais (um fóssil que fosse exata-mente uma transição de uma espé-cie para a outra).

Michael Behe afirma em seucitado livro: “Dizer que a evoluçãodarwiana não pode explicar tudo nanatureza não equivale a dizer que aevolução, a mutação aleatória e a se-leção natural não ocorram. Elas fo-ram observadas (pelo menos nos ca-sos de microevolução) em muitasocasiões diferentes. Tal como osanalistas de seqüência, acredito quea prova confirma convincentemen-te a ascendência comum.” E conti-nua, posteriormente: “Ninguém ja-mais explicou de forma detalhada,científica, como a mutação e a sele-ção natural poderiam construir asestruturas complexas, intricadas,discutidas neste livro.” (Cap. 8, p.179.)

Para esse grupo de estudiosos,o mundo da bioquímica está reple-to de sistemas irredutivelmentecomplexos, verdadeiras máquinasquímicas, precisas e interdependen-tes, que exigem uma amarraçãoque está muito além da coincidên-cia. Tal abordagem não é, entretan-to, uma defesa direta da existênciade Deus, como defendida pelamaioria das religiões, mas sim deum “plano inteligente”, que neces-

sita ainda de pesquisa para sua me-lhor compreensão, mas sem o qualficam incompreensíveis muitas dassituações presentes no processoevolutivo.

Chega para nós, com uma ale-gria e satisfação, a teoria espírita dosurgimento da vida, a partir de umCriador, que é “Inteligência Supre-ma, Causa Primária de todas ascousas”, mas que segue suas pró-prias leis, que são as da Naturezaem si, para realizar todo o processoevolutivo. Reúnem os Espíritos asduas teorias, retirando delas toda apostura radical, buscando desenvol-ver o conhecimento de forma racio-nal e crítica.

O Espiritismo entende, comonos ensina Kardec, no seu livro AGênese, que o texto retratado noinício deste artigo, como tantas ou-tras formas mitológicas e místicasde narração da criação do mundo,seria aquele de possível compreen-são para aquele povo, em determi-nado momento da História, e nãouma visão acabada do fato; não pas-saria de forma alegórica, para asmentes ainda infantis, no campo doconhecimento científico.

Sobre a criação dos mundos edo surgimento dos seres vivos, reco-lhemos alguns ensinamentos conti-dos em O Livro dos Espíritos, nocapítulo III, da sua primeira parte(Ed. FEB):

– “É fora de dúvida que ele [oUniverso] não pode ter-se feito a simesmo. Se existisse, como Deus, detoda a eternidade, não seria obra deDeus.”

– “Tudo o que a esse respeitose pode dizer e podeis compreenderé que os mundos se formam pelacondensação da matéria dissemina-da no Espaço.”

– “No começo tudo era caos;os elementos estavam em confusão.Pouco a pouco cada coisa tomou oseu lugar. Apareceram então os se-res vivos apropriados ao estado doglobo.”

Sobre a questão da evoluçãodos seres a partir de um elementocomum e das suas características in-dividuais, assim se expressam osmesmos Espíritos, na pergunta 611,do citado livro:

– “Duas coisas podem ter amesma origem e absolutamentenão se assemelharem mais tarde.Quem reconheceria a árvore, comsuas folhas, flores e frutos, no gér-men informe que se contém na se-mente donde ela surge? Desde queo princípio inteligente atinge ograu necessário para ser Espírito eentrar no período da humanização,já não guarda relação com o seu es-tado primitivo e já não é a almados animais, como a árvore já nãoé a semente. De animal só há nohomem o corpo e as paixões quenascem da influência do corpo e doinstinto de conservação inerente àmatéria.”

Ainda sobre o surgimento daTerra e a criação da vida e o seuprocesso evolutivo, recolhemos frag-mentos do capítulo III, da primei-ra parte do livro Evolução em DoisMundos, autoria espiritual de An-dré Luiz, psicografado pelos mé-diuns Francisco C. Xavier e WaldoVieira (Ed. FEB), que se ajustamaos postulados neocriacionistas, ex-plicando-os com clareza:

“A matéria elementar, de que oeletrão é um dos corpúsculos-base(...) acumulada sobre si mesma, aosopro criador da Eterna Inteligên-cia, dera nascimento à provínciaterrestre (...).”

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 24

Page 25: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 303

“A imensa fornalha atômica es-tava habilitada a receber as semen-tes da vida (...).”

“Dessa geléia cósmica, verte oprincípio inteligente, em suas pri-meiras manifestações...”

“Aparecem os vírus e, com eles,surge o campo primacial da existên-cia, formado por nucleoproteínas eglobulinas, oferecendo clima ade-quado aos princípios inteligentes oumônadas fundamentais, que se des-tacam da substância viva, por cen-tros microscópicos de força positi-va, estimulando a divisão carioci-nética.”

“Evidenciam-se, desde então,as bactérias rudimentares, cujas es-pécies se perderam nos alicercesprofundos da evolução (...).”

“O tempo age sem pressa, emvagarosa movimentação no berçoda Humanidade, e aparecem as al-gas nadadoras (...).”

“Mais tarde, assinalamos o in-gresso da mônada, a que nos refe-rimos, nos domínios dos artró-podos (...).”

“Avançando pelos equinoder-mos e crustáceos, entre os quais en-saiou, durante milênios, o sistemavascular e o sistema nervoso, cami-nhou na direção dos ganóides e te-leósteos, arquegossauros e labirinto-dontes para culminar nos grandeslacertinos e nas aves estranhas, des-cendentes dos pterossáurios, no ju-rássico superior, chegando à épocasupracretácea para entrar na classedos primeiros mamíferos, proce-dentes dos répteis teromorfos (...).”

“Contudo, para alcançar a ida-de da razão, com o título de ho-mem, dotado de raciocínio e discer-nimento, o ser, automatizado emseus impulsos, na romagem para oreino angélico, despendeu para che-

gar aos primórdios da época quater-nária, em que a civilização elemen-tar do sílex denuncia algum primorde técnica, nada menos de um bi-lhão e meio de anos (...).”

Vemos, então, a Doutrina Es-pírita permanecendo com os seusensinamentos, nestes quase cento ecinqüenta anos de existência, comorecurso para o aprendizado da Hu-manidade, não fugindo aos estudose pesquisas que vêm sendo desen-volvidos, demonstrando com clare-za a grandiosidade do Criador, nãopor uma postura mágica ou mira-culosa, mas pelas suas leis que se fa-zem presentes em todo o Universo,construindo uma história da Cria-ção condizente com a sua Justiça, asua Verdade, mas, acima de tudo,com o seu Amor.

Em sua lógica, quebra as fanta-sias dos mitos existentes em todosos povos sobre a criação do Univer-so, entendendo e respeitando essesrelatos como formas adequadas acada tempo para a compreensão

dos fatos, sustenta idéias que vêmsendo progressivamente revistas eserão comprovadas em tempo hábil,provando a existência de Deus, asupremacia de suas Leis e a teoriada evolução direcionada por um“planejamento inteligente”; deter-mina, porém, os limites do conhe-cimento humano, pelas suas condi-ções evolutivas, quando Kardec, emO Livro dos Espíritos, na pergunta613, comenta:

“O ponto inicial do Espírito éuma dessas questões que se pren-dem à origem das coisas e de queDeus guarda o segredo. Dado não éao homem conhecê-las de modoabsoluto, nada mais lhe sendo pos-sível a tal respeito do que fazer su-posições, criar sistemas mais ou me-nos prováveis. Os próprios Espíritoslonge estão de tudo saberem e, acer-ca do que não sabem, também po-dem ter opiniões pessoais mais oumenos sensatas.”

25

Genética– Pode a genética estatuir medidas que melhorem o homem?– Fisicamente falando, a própria natureza do orbe vem melhoran-

do o homem, continuadamente, nos seus processos de seleção natu-ral. Nesse sentido, a genética só poderá agir copiando a própria natu-reza material. Se essa ciência, contudo, investigar os fatores espirituais,aderindo aos elevados princípios que objetivam a iluminação das al-mas humanas, então poderá criar um vasto serviço de melhoramentoe regeneração do homem espiritual no mundo, mesmo porque, de ou-tro modo, poderá ser uma notável mentora da eugenia, uma grandeescultora das formas celulares, mas estará sempre fria para o espíritohumano, podendo transformar-se em títere abominável nas mãos im-piedosas dos políticos racistas.

Fonte: XAVIER, Francisco C. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel, 23. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 2001, pergunta 36, p. 37-38.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 25

Page 26: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

26 Reformador/Agosto 2003304

Transcrevemos abaixo uma ma-téria publicada na edição de21/11/02 do conceituado jor-

nal “O Estado de São Paulo”, se-gundo a qual não há mais como ali-mentar qualquer dúvida sobre amagnitude dos prejuízos com que oproblema lingüístico mundial vaientravando o progresso da Huma-nidade e cuja solução definitiva jáse encontra entre nós desde 1887,quando surgiu o Esperanto.

Eis o texto, na íntegra:

“BABEL EUROPÉIA”CONTRATARÁ 166 INTÉRPRETES

PARA CADA IDIOMA

Com as 28 línguas que serão usadasna União Européia, em 2007, ca-bines ficarão superlotadas

GILLES LAPOUGE

Correspondente

PARIS – O Parlamento Euro-peu, com sede em Estrasburgo, naFrança, realizou anteontem umasessão estranha. Estrasburgo convi-dou representantes dos dez paísesque deverão entrar na União Euro-péia em 2004, com os países quedeverão entrar em 2007.

Nenhum comentário. Houve

pouco interesse. Com exceção destapreocupação considerável: como sefará a comunicação entre os inte-grantes em Bruxelas, onde fica o“executivo” da UE, ou em Estras-burgo, quando a União contar com25 (ou 28) membros que falarão21 (ou 28) línguas diferentes? Umasolução simples teria sido a de op-tar por duas ou três línguas: as quesão entendidas pelo maior númerode membros.

Escândalo! Isso seria introdu-zir hierarquias entre os europeus.Haveria os “grandes” – os ingleses,os franceses e, talvez, os alemães;nações superiores, dominantes – eos pequenos: gregos, tchecos, polone-ses; que seriam obrigados a “viverde empréstimos” lingüísticos, a ex-pressarem-se em uma língua estran-geira. Isso seria, significaria, o fimda Europa.

Portanto, a regra é que cadaum pode expressar-se na próprialíngua. Dito assim, parece ser umacoisa sensata. Mas, se atentarmospara os efeitos desta regra, o queencontraremos? Uma mixórdia, um“quebra-cabeças”, um grande em-brulho! Vejamos as coisas comomatemáticos. Numa Europa com12 membros, como acontece atual-mente (com 9 línguas), as combi-nações lingüísticas (um francês fa-lando para um inglês, um alemão,e assim por diante) são 72. NumaEuropa com 25 membros (21 lín-guas) já aumentamos para 420

combinações. E, em 2007, quandoa Europa tiver 28 membros (24línguas), as combinações lingüísti-cas se elevarão a 552.

Em termos concretos, quais sãoas conseqüências? As cabines de in-térpretes estarão superlotadas, cheiasaté à boca. Serão necessários 20 in-térpretes por cabine para cadareunião. Bruxelas já prevê a con-tratação de 110 tradutores e 40 in-térpretes para cada língua, que vi-rão juntar-se aos 2000 funcioná-rios já em exercício. Em Estrasbur-go, será preciso recrutar 166 pessoaspara cada língua.

E não há apenas a palavra.Há também o texto escrito. Novodrama! Apenas a “conquista comu-nitária”, isto é, a soma dos textoslegislativos, conta com 80.000 pá-ginas, às quais se juntam os docu-mentos preparatórios. É uma bi-blioteca colossal, traduzida paramais de 20 idiomas.

Em resumo, a Europa vai tor-nar-se uma espécie de bibliotecaenorme e tentacular. A administra-ção desta “biblioteca de Babel” irápesar no orçamento da UE. Desa-gradável, mas, afinal, a UE já des-perdiça tantos bilhões...

O mais preocupante é a previ-sível lentidão de todos os processos,de toda ação.

A União Européia, já lerda epesada, corre o risco de tornar-seuma espécie de grude, de cola pega-josa. A futura UE, mais ou menos

Babel EuropéiaAffonso Soares

A FEB E O ESPERANTO

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 26

Page 27: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 305 27

confederada, é freqüentemente com-parada com os EUA. Uma besteiracompleta que a questão das línguasbem ilustra.

...Não é, portanto, uma abstra-

ção o prejuízo causado pela multi-plicidade das línguas nas relaçõesinternacionais dos povos. Nem asua solução está na adoção de umalíngua nacional, como nos sugere ocomodismo em associação com in-teresses hegemônicos de nações ougrupos de nações. Como tambémnão é devaneio o trabalho em favordo Esperanto – única língua inter-nacional digna desse nome – emtodos os níveis dos contactos inter-nacionais, como ironizam os cha-mados “espíritos práticos”.

A questão agora também inte-ressa muito de perto às atividadesdos espíritas que, já se organizandoalém de nossas fronteiras, não po-dem perder de vista os altos objeti-vos da aspirada unificação, contra aqual também se levanta o problemalingüístico, como se pode depreen-der destas sábias exortações do Espí-rito Emmanuel na mensagem AMissão do Esperanto, ditada ao sau-doso médium Francisco CândidoXavier em 19 de janeiro de 1940:

“Sim, o Esperanto é lição defraternidade. Aprendamo-la, parasondar, na Terra, o pensamento da-queles que sofrem e trabalham nou-tros campos. Com muita proprie-dade digo: ‘aprendamo-la’, porquesomos também companheiros vossosque, havendo conquistado a expres-são universal do pensamento, vosdesejamos o mesmo bem espiritual,de modo a organizarmos, na Ter-ra, os melhores movimentos deunificação.” (Destaque nosso.)

“Contra o uso universal deuma única língua nacio-nal levantam-se muitos

fatores, e dentre eles os principaistalvez sejam:

1. É uma discriminação contraos falantes de todas as demais lín-guas, os quais se colocam em des-vantagem em relação aos nativos dalíngua escolhida.

2. Mesmo os falantes nativos,que têm uma relação mais afetivacom a sua língua, abominam a cons-tante deturpação imposta a essa lín-gua pelos estrangeiros.

3. As circunstâncias políticasmudam constantemente, de tal for-ma que um grupo, que hoje desfru-ta de superioridade política ou co-mercial, amanhã perderá essa su-perioridade em favor de outro grupoe de sua língua. Prova-o um golpe devista sobre a História, e somente umingênuo otimista poderia supor queserá diferente no futuro.

4. Todas as línguas nacionaissão de aprendizado muito difícilpara um estrangeiro. As irregulari-dades e as complicações gramaticaisentravam a sua plena posse. A pro-núncia varia tanto de um idiomapara outro (aliás, também dentrode um único idioma) que a falacorreta de uma língua estrangeira épraticamente impossível para amaioria das pessoas.

5. Todo educador honesto de-ve constatar que o ensino de lín-

guas nas escolas do mundo inteirorepresenta um enorme investimen-to de tempo e recursos em contra-partida a um resultado final magroe insatisfatório. Numa escola ingle-sa – nada atípica – a direção fezuma experiência e chegou à seguin-te conclusão: dos 300 alunos quereceberam o ensino obrigatório dalíngua francesa durante um perío-do de 4 anos, somente 30 (10%)tentaram e passaram no exame ofi-cial do Estado ao fim do período.Para se conseguir isso, foram gastasaproximadamente 3.200 horas emclasse! – e não há nenhum cinismo,mas simplesmente realismo, emconfessar que dos 30 aprovados so-mente 2 podiam compreender efazer-se entender em francês. Issomais ou menos reflete a situaçãoem quase todo o mundo. Não édessa forma que os problemas lin-güísticos serão solucionados.

A única conclusão a que sechega é que o uso internacional deuma língua nacional nunca passaráde uma solução parcial, muito im-perfeita, dos problemas lingüísticos.

Por essa razão, não é de seadmirar que alguns homens setenham voltado para a criação deuma nova língua, especialmenteplanejada para uso internacional(ou mundial).”

(Transcrito, com a gentil permissão daUniversala Esperanto-Asocio, da obra LaFenomeno Esperanto, de William Auld,editada em Rotterdam, 1988.)

Língua nacional não podeser internacional...

William Auld

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 27

Page 28: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

28 Reformador/Agosto 2003306

– V –

Estabelecidas as bases funda-mentais que diferenciam o Es-piritismo das religiões do Can-

domblé e da Umbanda (vide Ohomem e a religião – IV), passare-mos, de agora em diante, a caracte-rizar a Doutrina dos Espíritos. An-tes, porém, se faz necessária umapequena exposição sobre outrasduas correntes “quase” religiosas dopensamento humano, as quais, dealguma forma, se aproximam doEspiritismo. Referimo-nos à Me-tapsíquica e à Parapsicologia. Osleitores certamente hão de com-preender que o espaço nos induz àsíntese, motivo pelo qual nos refe-rimos em linhas gerais.

Metapsíquica

Fundada por Charles RobertRichet (1850-1935), notável cien-tista francês, ganhador do PrêmioNobel de Medicina/1913 (Fisio-logia), visava a pesquisa e análisecientífica dos fenômenos mecâni-cos ou psicológicos de todos ostempos, ditos paranormais (mediu-nidade), devidos a forças que pare-ce serem inteligentes ou a poderesdesconhecidos latentes na inteli-gência humana.

Assim, Metapsíquica não é Es-

piritismo – é ciência puramente in-vestigativa.

O termo metapsíquica não foibem aceito pelos pesquisadores; ho-je, quase não é mais usado.

Parapsicologia

Foi impulsionada por JosephBanks Rhine (1895-1980), teólogoe cientista norte-americano, que aatrelou ao campo das ciências e par-ticularmente à Psicologia.

Dedicou-se Rhine, em particu-lar, ao estudo do transe anímico natelepatia e na clarividência; pesqui-sou a “ESP” (extrasensory percep-tion = percepção extra-sensorial),termo que criou em 1935 e que émundialmente empregado nos tra-tados sobre Parapsicologia.

O termo parapsicologia é maisusado nos países anglo-saxônicos egermânicos.

Talvez possamos dizer que aParapsicologia procede como a Me-tapsíquica, sendo-lhe herdeira emvários aspectos.

Considerações gerais sobre aMetapsíquica e a Parapsicologia

Tanto uma quanto a outra, en-quanto Ciência, seguiram os mes-mos passos de todas as demais ciên-cias, isto é, buscaram, pelo métodoexperimental, definir leis de acon-tecimentos que observaram na Na-tureza.

Deixaram de ser exponenciais,

porque o cientista só aceita um fe-nômeno como verdadeiro se puderexplicá-lo e reproduzi-lo, desde queofertadas as mesmas condições am-bientais em que ele se deu – nãoconseguiram...

– Surgiu-lhes intransponívelbarreira pelo fato de que a origemda maioria dos fenômenos analisa-dos caracterizam-se como mediúni-cos, isto é, têm origem no Plano Es-piritual (ação de Espíritos desen-carnados), com manifestação no pla-no material, através de médiuns (Es-píritos encarnados). Ora, ação espi-ritual é algo que a Ciência não con-segue manipular numa proveta...

A nós, espíritas, o que nos cau-sa pena é verificar que tais pesqui-sadores (poucos, hoje em dia) nãose deram ou não se dão conta deque, na verdade, apenas se apropria-ram de termos científicos para subs-tituir a nomenclatura tão bem deli-neada, pioneiramente, por AllanKardec. E mais: somente encontra-rão o que procuram quando, combom senso, se convencerem da im-potência humana para explicar invitro aquelas ocorrências que se ori-ginam in spiritus. Aí, sem abando-nar seus cuidados, irão ao humildeCentro Espírita, onde poderão ve-rificar que ali há outra espécie de la-boratório, ofertando novos apren-dizados àqueles que têm olhos paraver e ouvidos para ouvir.

Passemos agora a falar plena-mente do Espiritismo, cujos códigosde moral, de ciência e de filosofia

O homem e a religiãoEurípedes Kühl

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 28

Page 29: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 29307

foram tão bem codificados por Al-lan Kardec, em cinco obras: O Li-vro dos Espíritos (1857), O Livrodos Médiuns (1861), O Evangelhosegundo o Espiritismo (1864), OCéu e o Inferno (1865) e A Gênese(1868). Devemos gratidão ao feno-menal trabalho kardequiano em es-tabelecer contato com médiuns devários países, para deles receber aslições do Plano Espiritual, as quaiseram meticulosamente filtradas eselecionadas, gerando a Codifica-ção. Por isso é que se diz que Kardeccodificou a Doutrina Espírita. Taismensagens foram os tijolos, com os

quais o “grande edifício” Espiritis-mo foi erguido, qual farol, para per-manentemente clarear caminhos.

Kardec era pedagogo por exce-lência, comprovando-se que o aca-so não existe, eis que tão importan-te cometimento teria mesmo queaportar no plano material atravésde uma inteligência invulgar, fluin-do de inspiração da EspiritualidadeSuperior. E apenas com cinco livrosbásicos! (Atualmente, a LiteraturaEspírita compreende milhares detítulos – cerca de 412, via ChicoXavier e quase 200, via DivaldoFranco).

Para melhor entendermos oconteúdo moral (revelações eensinos) da Doutrina dos Es-

píritos – o Espiritismo –, nada me-lhor do que alinhavar suas premis-sas e abrangência.

Em primeiro lugar, não comodefinição, mas apenas conceituan-do-o, podemos dizer que:

“O Espiritismo é o conjuntode princípios e leis, revelados pelosEspíritos Superiores, contidos nasobras de Allan Kardec, constituin-do tais obras o que se denominaCodificação Espírita”.

Uma vez conceituado, generi-camente, vejamos suas particulari-dades morais (ver O Livro dos Es-pírtos, Introdução, VI):

Revelação

– Revela o que somos, de ondeviemos, para onde vamos, qual oobjetivo da nossa existência e quala justificada razão da dor e do sofri-mento;

– oferta à análise e reflexão, ex-pondo conseqüências, conceitos no-vos e mais aprofundados a respeitode Deus, do Universo, dos Ho-mens, dos Espíritos e das Leis queregem a vida.

Ensinamentos

– Deus: é a inteligência supre-ma, causa primeira de todas as coi-sas. É eterno, imutável, imaterial,único, onipotente, soberanamentejusto e bom;

– o Universo: é criação deDeus. Abrange todos os seres racio-nais e irracionais, animados e ina-nimados, materiais e imateriais;

– Leis Divinas: todas as leis daNatureza são leis divinas, pois queDeus é o seu autor. Abrangem tan-to as leis físicas como as leis morais;são inalteráveis, perfeitas, imutáveisno Universo todo;

– os Mundos: além do mundocorporal, habitação dos Espíritosencarnados, que são os homens,

existe o mundo espiritual, habita-ção dos Espíritos desencarnados;

– Jesus: é o Guia e Modelo pa-ra toda a Humanidade – a Doutri-na que ensinou e exemplificou é aexpressão mais pura da Lei de Deus;

– a moral do Cristo, contidano Evangelho, é o roteiro para aevolução segura de todos os ho-mens, e a sua prática a solução pa-ra todos os problemas humanos e oobjetivo a ser atingido pela Huma-nidade;

– Evolução: no Universo háoutros mundos habitados, com se-res de diferentes graus de evolução,iguais, mais evoluídos e menos evo-luídos que os homens;

– os Espíritos: são os seres in-teligentes da Criação. Constituemo mundo dos Espíritos, que pre-existe e sobrevive a tudo:

a) são criados simples e igno-rantes. Evoluem, intelectual e mo-ralmente, passando de uma ordeminferior para outra mais elevada, atéa perfeição, onde gozam de inalte-rável felicidade;

b) preservam sua individuali-dade, antes, durante e depois de ca-da encarnação;

c) reencarnam tantas vezesquantas forem necessárias ao seupróprio aprimoramento;

d) evoluem sempre: em suasmúltiplas existências corpóreas (reen-carnações), podem estacionar, masnunca regridem; a rapidez do seuprogresso intelectual e moral de-pende dos esforços que façam parachegar à perfeição;

e) os bons Espíritos nos atraempara o bem, sustentam-nos nasprovas da vida e nos ajudam a su-portá-las com coragem e resigna-ção; os imperfeitos nos induzem aoerro;

– VI –

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 29

Page 30: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

30 Reformador/Agosto 2003

– o Perispírito: é o corpo semi-material que reveste o Espírito eune-o ao corpo material:

– o Homem: é um Espírito (re-vestido de perispírito) encarnadoem um corpo material:

a) tem o livre-arbítrio para agir,mas responde pelas conseqüênciasde suas ações;

b) a vida lhe reserva penas egozos compatíveis com o procedi-mento de respeito ou não à Lei deDeus (Lei de Justiça, nesse caso ca-racterizando causa e efeito, ação ereação);

– a Prece: é um ato de adora-ção a Deus. Torna melhor o ho-mem. Está na lei natural e é o resul-

tado de um sentimento inato nohomem, assim como é inata a idéiada existência do Criador. Ao pedi-do feito com sinceridade Deus en-via sempre a assistência dos bonsEspíritos;

– Mediunidade: o intercâmbiodos Espíritos com os homens sem-pre existiu.

Apenas por essas revelações eensinamentos já se deduz que o Es-piritismo abre uma nova era para aregeneração, primeiro, do Homem,e a seguir, da Humanidade intei-ra.

Há muito mais. O estudo dasobras de Allan Kardec é fundamen-tal para o correto conhecimento e a

prática da Doutrina Espírita, den-tro do princípio cristão de queDeus deve ser adorado em espíritoe verdade.

O Espiritismo não impõe osseus princípios. Convida os interes-sados em conhecê-lo a submeteremos seus ensinos ao crivo da razão,antes de aceitá-los. Aí, entendendoo porquê de tudo que o cerca, emtodas as suas atividades, o indivíduose capacita a administrar com bomsenso, compreensão e resignação asnaturais dificuldades que se lheapresentam – as provações ou ex-piações que o visitam na presen-te existência terrena. (Final da sé-rie.)

308

“Quem não está comigo, é contra mim; e quemcomigo não ajunta, espalha.” – Jesus. (Lucas,11:23.)

“... e haverá um só rebanho e um só Pastor.” –Jesus. (João, 10:16.)

Trabalhar pela Unificação dos órgãos doutriná-rios do Espiritismo no Brasil é prestar relevan-te serviço à causa do Evangelho Redentor jun-

to à Humanidade. Reunir elementos dispersos,concatená-los e estruturar-lhes o plano de ação, naordem superior que nos orienta o idealismo, é ser-viço de indiscutível benemerência porque demandasacrifício pessoal, oração e vigilância na fé renova-dora e, sobretudo, elevada capacidade de renun-ciação.

À maneira do trabalhador fiel que se desvela noamanho da terra, subtraindo-lhe os espinheiros edrenando-lhe os pantanais, cooperar na associaçãode energias da fraternidade legítima – com o Espíri-

to do Senhor –, legislando em nosso mundo íntimo,representa obrigação de quantos se propõem a con-tribuir na reconstrução planetária, a caminho da Ter-ra regenerada e feliz.

Trabalhemos, pois, entrelaçando pensamentos eações, dentro dessas diretrizes superiores de confra-ternização substancial. A tarefa é complexa, bem osabemos. O ministério exige lealdade e decisão. To-davia, sem o suor do servo fiel, a casa pereceria sempão.

Lembremo-nos de que a vitória do Evangelho,ainda não alcançada, começou com a congregação dedoze aprendizes, humildes e sinceros, em torno deum Mestre sábio, paciente, generoso e justo, e con-tinuemos, cada qual de nós, no posto de trabalhoque lhe compete, atentos às determinações divinasda execução do próprio dever.

Emmanuel

(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier,inserta nos Anais do 2o Congresso Espírita Mineiro, reali-zado de 3 a 5/10/1952, em Belo Horizonte, MG.)

Unificação

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 30

Page 31: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 31309

Na cidade de Miami, Flórida,Estados Unidos, em 30 de maio,próximo passado, na sede do Cen-tro Espírita Fraternidade e Amor, aComissão Executiva do ConselhoEspírita dos Estados Unidos estevereunida com membros da Comis-são Executiva do Conselho EspíritaInternacional – Nestor João Masot-ti (Secretário-Geral) e Altivo Fer-reira –, tratando de assuntos rela-cionados com o Movimento Espí-rita daquele país, estudando a me-lhor forma de se desenvolver umtrabalho mais integrado, com vistasà difusão, o estudo e a prática daDoutrina.

No dia seguinte, 31 de maio,no mesmo local, além dos mem-bros das Comissões Executivas doConselho Espírita Norte-Ameri-cano e do Conselho Espírita Inter-nacional, estiveram reunidos diri-gentes e trabalhadores das CasasEspíritas sediadas no Estado da Fló-rida, incluindo a representação daFederação Espírita daquele Estado,oportunidade em que, de maneiradinâmica e fraterna, procurou-seconhecer o trabalho de cada Insti-tuição ali realizado, estudando-se,também, o processo pelo qual po-derá ser desenvolvida uma ação deapoio mais intenso aos citados nú-cleos, principalmente através deatuação voltada à melhor prepara-ção dos trabalhadores espíritas.

No dia 1o de junho, ainda nocitado local, estiveram reunidosalém do representante do ConselhoEspírita dos Estados Unidos da

América, Vanderlei Marques, os re-presentantes do Movimento Espíri-ta do Canadá, João Luiz Chagas –e da Central Espírita Mexicana, Ig-nacio Ramon Dominguez Lopez –,em uma atividade preparatória vi-

sando à organização da Coordena-doria de Apoio ao Movimento Es-pírita da América do Norte, órgãodo Conselho Espírita Internacional,que deverá ser integrada pelos cita-dos países.

CONSELHO ESPÍRITA INTERNACIONAL

Atividades do Movimento Espírita da América do Norte

Mesa diretora do evento

A Coordenadoria de Apoio aoMovimento Espírita da América doSul realizou sua primeira reuniãoem Buenos Aires, no período de 13

a 15 de junho, com a presença, pe-lo Conselho Espírita Internacional,de Nestor João Masotti, Secretário--Geral, e Fabio Villarraga, Coorde-

A Argentina sedia a reunião da Coordenadoria da América do Sul

Formação da Mesa (esq./dir.): Félix José Renaud, Fábio Villarraga e Nestor Masotti (na tribuna)

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 31

Page 32: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

32 Reformador/Agosto 2003310

nador para a América do Sul. Com-pareceram as representações dos se-guintes países: Argentina – Confe-deração Espiritista Argentina (FélixJosé Renaud e Juan Antonio Du-rante); Brasil – Federação EspíritaBrasileira (Altivo Ferreira); Bolívia– Federação Espírita Boliviana(Eduardo Nanni); Colômbia –Confederação Espiritista Colom-biana (German Téllez Espinosa);Equador – Federação Espiritista doEquador (Manuel Intriago Cobeña);Paraguai – Centro de Filosofia Es-piritista Paraguaio (Gloria Ávalos deInsfrán); Peru – Federação Espíritado Peru (Monsser Rezkalah Mejía);e Uruguai – Federação EspíritaUruguaia (Eduardo dos Santos eEva Morales).

A abertura da reunião ocorreuàs 19 horas de sexta-feira, dia 13 dejunho, com saudação inicial porparte de todos os representantes dospaíses presentes, quando usaram dapalavra o Presidente da Confedera-ção Espiritista Argentina, Dr. FélixJosé Renaud, o Secretário-Geral doCEI, Nestor João Masotti, e oCoordenador para a América doSul, Fabio Villarraga.

Os trabalhos tiveram início namanhã de sábado, dia 14, e se pro-longaram até a tarde de domingo.O Secretário-Geral teceu considera-ções sobre as atividades do CEI e a atuação das Coordenadorias. O Coordenador apresentou a estru-

tura orgânica do CEI, com todas assuas Coordenadorias, objetivos,funções e trabalhos realizados. Emseqüência, os representantes das En-tidades Nacionais participantes doevento fizeram o relato sobre o Mo-vimento Espírita de seus países, res-saltando os resultados positivos ob-tidos e as dificuldades e necessi-dades que enfrentam.

O tema da reunião – Apoioaos Movimentos Espíritas da Amé-rica do Sul – foi abordado inicial-mente pelo Secretário-Geral, sendodebatido pelos delegados dos paísesparticipantes.

Como reforço no apoio doCEI aos países-membros, o Secre-tário-Geral distribuiu os folhetosConheça e Divulgue o Espiritismo,a apostila sobre Preparação de Tra-balhadores para as Atividades Espí-ritas e Diretrizes de apoio às ativi-dades dos Grupos, Centros e So-ciedades Espíritas. Referiu-se, emseguida, a três pontos básicos: Inter-net – ligação com o site do CEI(que foi objeto de exposição pela as-

sessoria da Secretaria Geral); provi-dências para a edição da Revue Spi-rite em espanhol; e a necessidade depreparação de trabalhadores para asatividades do CEI. Finalizando, deuinformações sobre os preparativosdo 4o Congresso Espírita Mundial,que se realizará em Paris, de 3 a 5de outubro de 2004.

A próxima reunião da Coor-denadoria da América do Sul serárealizada na Bolivia, em maio de2004.

Aniversário da Confederação Es-piritista Argentina

No dia 14, à noite, houve umasessão solene comemorativa do103o Aniversário da ConfederaçãoEspiritista Argentina, com a parti-cipação dos representantes dos paí-ses presentes à Reunião da Coor-denadoria da América do Sul, dedirigentes de Entidades Federativase Casas Espíritas de Buenos Aires eoutras cidades argentinas. O Presi-dente da CEA, Dr. Félix José Re-nauld, e o Secretário-Geral do CEI,Nestor João Masotti, ressaltaram osignificado daquele evento para oMovimento Espírita, tanto argenti-no quanto internacional. O Sr. Jor-ge R. Moltó proferiu a conferên-cia comemorativa, sobre o tema“O Movimento Espírita e a Reuni-ficação”.

Representantes: Argentina, Bolívia, Brasil e Colômbia

Representantes: Uruguai, Peru, Paraguai e Equador

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 32

Page 33: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 33311

Rio Branco (Acre) sediou aReunião da Comissão RegionalNorte de 2003, no período de 19 a21 de junho, com o compareci-mento de 77 participantes das seisFederativas Estaduais da Região: Fe-deração Espírita do Acre (37 pes-soas), Federação Espírita do Amapá(7), Federação Espírita Amazo-nense (10), União Espírita Paraen-se (7), Federação Espírita de Ron-dônia (14) e Federação EspíritaRoraimense (2). A FEB compare-ceu com o Presidente e mais 12 in-tegrantes. Total de participantes: 80.

Conferência Pública

No noite de quinta-fera, 19 dejunho, houve uma conferência pú-blica na sede da Federação Espíritado Estado do Acre – onde se desen-volveram os trabalhos da ComissãoRegional Norte –, pelo expositorLuiz Marques, de Rondônia, que

abordou o tema “Espiritismo eCompromisso”.

Reunião Geral

Iniciou-se a Reunião Geral namanhã de sexta-feira, com a prece ea saudação aos visitantes pela Presi-dente da FEEAC, Gasparina dosAnjos de Jesus. O Coordenador daReunião passou a palavra ao Presi-dente da FEB, Nestor João Masot-ti, para transmitir sua mensagemaos companheiros da Região Nor-te; a seguir, informou sobre os mo-tivos da suspensão do Seminário“Qualificação do Trabalhador deUnificação”; prestou esclarecimen-tos gerais sobre o desenvolvimentodos trabalhos, apresentou os mem-bros da delegação da FEB e solici-tou aos Dirigentes das Federativasque também apresentassem os de-mais componentes de suas dele-gações. A Reunião Geral foi inter-

rompida, iniciando-se as sete reu-niões setoriais: a dos Dirigentes e asdas Áreas de Atividade Mediúnica,Comunicação Social Espírita, Estu-do Sistematizado da Doutrina Es-pírita, Infância e Juventude, Servi-ço de Assistência e Promoção SocialEspírita e Atendimento Espiritualno Centro Espírita.

Reunião dos Dirigentes

Participaram dessa Reunião:pela Federação Espírita Brasileira –Nestor João Masotti (Presidente),Altivo Ferreira (Coordenador), An-tonio Cesar Perri de Carvalho (Se-cretário, na ausência do titular,Alberto Ribeiro de Almeida) e Ar-mando Tomaz (Assessor); pelas Fe-derativas, os seguintes Dirigentes:Acre, Gasparina dos Anjos de Jesuse o Assessor José Furtado de Medei-ros (FEEAC); Amapá, Augusto Ce-zar Barbosa Brito (FEAP); Ama-

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS

Reunião da Comissão Regional Norte

Aspecto da Reunião Plenária

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 33

Page 34: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

34 Reformador/Agosto 2003312

zonas, Sandra Farias de Moraes(FEA); Pará, Najda Maria de Oli-veira Santos (UEP); Rondônia, Pe-dro Barbosa Neto (FERO); e Rorai-ma, Volmar Julson Buffi (FERR).

Iniciados os trabalhos comuma prece, Antonio Cesar Perri deCarvalho fez a exposição sobre otrabalho de Capacitação Adminis-trativa dos Dirigentes Espíritas,apresentando, através de datashow,os principais aspectos do curso “Ca-pacitação Administrativa para Ges-tão de Casas Espíritas”, que seráministrado na Região, para forma-ção de multiplicadores, sendo, paratanto, escolhidos três pólos, com asrespectivas datas: Rondônia-Acre(Porto Velho, 27-28/9/03), Ama-zonas-Roraima (Manaus, 27--28/9/03) e Pará-Amapá (Belém,25-26/10/03).

O assunto da reunião – “Apoioao Centro Espírita: trabalho que es-tá sendo desenvolvido, levantamen-to das necessidades e mecanismosde atendimento” – foi objeto de re-latos das Federativas, que expuse-ram suas experiências no processode atendimento ao Centro Espírita,as dificuldades e necessidades en-contradas, assim como as providên-cias adotadas, de acordo com aspossibilidades e limitações de cadauma para solucioná-las. Foi coloca-da a importância da distribuição evenda do livro espírita, como ins-trumento de divulgação da Doutri-na e fonte de recursos financeirospara a manutenção das atividadesespíritas de âmbito federativo. OPresidente da FEB disse que a Ins-tituição tinha consciência disso etudo faria para cooperar com a Re-gião Norte, cujas longas distânciasdificultam o recebimento dos livrosadquiridos e a sua distribuição pe-

las Casas Espíritas do interior de ca-da Estado; deu informações acercado projeto de montar na Internetum “Portal da FEB”, para facilitaro intercâmbio com as Federativas, esobre o programa radiofônico “Bra-sil Espírita” e o boletim Brasil Espí-rita, do CFN, concluindo com no-tícias relativas ao Conselho EspíritaInternacional e o 4o Congresso Es-pírita Mundial, que será realizadoem Paris, de 2 a 5 de outubro de2004. A Presidente da FEA comu-nicou que a Federação EspíritaAmazonense comemorará em 2004o seu Centenário, com a realizaçãodo 1o Congresso Espírita Amazo-nense em abril/2004 e o lançamen-to de livro sobre a história do Espi-ritismo no Amazonas.

A próxima reunião ocorreráem Belém do Pará, no período de10 a 13 de junho de 2004, com aabordagem dos seguintes assuntos:“a) Recursos para a manutenção dasatividades espíritas: busca de solu-ções”; b) Planejamento orçamentá-rio”. Serão realizados, também, oseminário “Qualificação do Traba-lhador de Unificação” e a palestrapública, na abertura do evento,

com o tema “Bicentenário de nas-cimento de Allan Kardec”.

Sessão Plenária

Reiniciou-se a Reunião Geralna manhã de sábado, com a SessãoPlenária, em que houve o relato dasatividades desenvolvidas nas reu-niões setoriais, como segue:

Área da Atividade Mediúnica,coordenada por Edna Maria Fabro.Assuntos da reunião: “1. Desviosdoutrinários na prática mediúnica;2. Qualificação de trabalhadores,para a Reunião Mediúnica.” Assun-tos para a próxima reunião; “1. Reu-niões Mediúnicas: Característicasdos componentes (encarnados; de-sencarnados); Comunicantes; Ca-racterísticas; Formas de atuação;Tratamento; 2. Comunicações si-multâneas.”

Área da Comunicação SocialEspírita, coordenada por MerhySeba. Análise da Campanha de Di-vulgação do Espiritismo. Assuntosda reunião: “1. O Livro Espírita;2. Técnicas de redação para a mí-dia impressa; 3. Aprofundamento eaperfeiçoamento de projetos para a

Participantes da Reunião dos Dirigentes

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 34

Page 35: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 35313

Internet.” Assunto para a próximareunião: “Curso teórico-prático so-bre ‘Como elaborar projetos jor-nalísticos’.”

Área do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita, coordenadapor Maria Túlia Bertoni, com oapoio de Elzio Antonio Cornélio.Assuntos da reunião: “1. O traba-lho de Unificação das FederativasEstaduais na área do ESDE; 2. Aná-lise da aplicação de estratégias paraa dinamização do ESDE; 3. Censode 2003; 4. Contribuições para aPauta do II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE.” Assun-tos para a próxima reunião: “1.Avaliação das estratégias definidasna Comissão Regional Norte/2002,em Boa Vista; 2. Relato das ativida-des desenvolvidas pelas Federativaspara a dinamização da Campanhado Estudo Sistematizado no Bicen-tenário de Allan Kardec; 3. Resul-tado do II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE na açãofederativa (avaliação).”

Área da Infância e Juventude,coordenada por Rute Vieira Ribeiro,com o apoio de Miriam Lúcia Dusi.Assuntos desta reunião: “1. Análisedo Censo de Evangelização EspíritaInfanto-Juvenil: levantamento de da-dos nos Estados, tabulação e inter-pretação dos resultados; 2. Realiza-ção de duas oficinas: ‘Oficina deAfetividade’ e ‘Oficina de Cartões’.”Assunto para a próxima reunião:“Acompanhamento da Execução dosProjetos Elaborados no IV EncontroNacional de Dirigentes de DIJ; 2.Música na Evangelização.”

Área do Serviço de Assistência ePromoção Social, coordenada por Jo-sé Carlos da Silva Silveira, com oapoio de Maria de Lourdes Pereira deOliveira. Assuntos desta reunião:

“1. A preparação do trabalhador doSAPSE: Experiências de dinâmicade grupo aplicadas pelas Federativas;2. Acompanhamento da aplicaçãodo Manual de Apoio para as Ativida-des do SAPSE.” Assuntos para a pró-xima reunião: “Apresentação de te-mas com base no conteúdo doManual de Apoio, assim definidos:1. A sensibilização para o trabalhadordo SAPSE; 2. O voluntário espírita esua relação com o assistido; 3. A vi-são jurídica da Assistência Social Es-pírita; 4. Experiências de parceria.”

Área do Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita, coordena-da por Maria Euny Herrera Masot-ti. Assuntos da reunião: “1. Aten-dimento espiritual para trabalhado-res; 2. Experiências de implantaçãodo Tratamento Espiritual em CasasEspíritas de pequeno porte”; obser-

vação: o termo Tratamento Espiri-tual foi alterado para AtendimentoEspiritual. Assuntos para a próximareunião: “1. Atendimento Espiri-tual Infantil (ATI); 2. Capacitaçãode trabalhadores para a recepção e oatendimento fraterno através dodiálogo.”

Reunião dos Dirigentes: O re-lato foi feito por Antonio CesarPerri de Carvalho, que secretariouos trabalhos.

Esgotada a Pauta, o Coordena-dor concedeu a palavra aos Dirigen-tes das Federativas para as conside-rações finais e despedidas, falando,pela equipe da FEB, o PresidenteNestor João Masotti. Os trabalhosforam encerrados com uma preceproferida pela representante daUnião Espírita Paraense, anfitriã dareunião de 2004.

IBGE divulga mais dados sobre população espíritaOs espíritas apresentaram a maior média de anos de estudo entre os

grandes grupos religiosos do Brasil. Os dados são do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte dos resultados definitivosdo Censo Demográfico 2000.

Com informações até o nível municipal, o Censo revela, além de da-dos econômicos, importantes mudanças sociais e de comportamento. Se-gundo o IBGE, há 2,2 milhões de espíritas no Brasil, o que torna o Espi-ritismo a terceira maior religião do País. Os católicos são maioria (124milhões de adeptos), seguidos pelos evangélicos de várias denominações(26 milhões). Os que se declararam sem religião somam 12,4 milhões.

De acordo com o Censo, os espíritas estudam em média 9,6 anos. Amédia para pessoas que se declararam da umbanda e do candomblé foi de7,2 anos de estudo; dos evangélicos de missão 6,9; dos católicos apostóli-cos romanos 5,8; os sem religião 5,6 anos de estudo; e dos evangélicospentecostais 5,3 anos.

Também está entre os espíritas a menor taxa de analfabetismo do País(1,9%). Essa taxa é de 6,7% entre os adeptos de umbanda e candomblé;de 6% entre os evangélicos de missão; 12%, evangélicos pentecostais;13,8% entre os católicos.

Segundo o IBGE, a alta escolaridade dos espíritas reflete diretamen-te no rendimento: são o grupo religioso com maior renda média mensaldo País: R$ 700,00.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 35

Page 36: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

36 Reformador/Agosto 2003314

Em certa ocasião, no ano de1987, conversávamos com oentão Presidente da FEB,

Francisco Thiesen, que, dirigindo oolhar para uma estante repleta delivros, dizia-nos:

“Já possuímos muitos livros es-píritas em nossa literatura. Essasobras não devem ficar guardadas eesquecidas em prateleiras de biblio-tecas residenciais ou de instituiçõesespíritas. É preciso saber o que setem dentro dessas publicações. Co-nhecer o seu conteúdo para melhorutilizá-lo. É necessário criar meca-nismos que possibilitem acessar orico e vasto manancial dessas pre-ciosidades que não podem ficar re-legadas.”

Nunca nos esquecemos destaconversa com o saudoso amigo. Es-timulados por suas palavras, desen-volvemos, em equipe, o Projeto Sé-rie Bibliográfica que resultou, aolongo de dez anos de pesquisas, napublicação de três obras de referên-cia: O livro espírita na FEB; O Es-piritismo de A a Z; e o Guia deFontes Espíritas.

Sempre tivemos em mente,após iniciados os trabalhos da SérieBibliográfica, que outros projetos aele se seguiriam. O que de fato acon-teceu.

Em 2001 iniciamos as ativida-des do Projeto Reformador, objeti-vando resgatar o valioso conteúdo

desse importante periódico para ahistória do Espiritismo no Brasile no mundo.

O projeto foi estruturado, pre-vendo-se o desenvolvimento de trêsetapas:

1a) elaboração de índices ono-másticos (de autor espiritual, mé-dium e autor encarnado), biblioní-mico (de títulos das matérias), etemático (de assuntos). O períodoabrangido foi o de 1883 – primei-ro número do Reformador – a2002. Portanto, a coleção comple-ta de 120 anos da revista.

2a) digitalização das matérias in-dexadas, objetivando disponibilizarao usuário o inteiro teor dos artigos.

3a) restauração física dos volu-mes que reclamam maiores cuida-dos de preservação.

Pela breve descrição das etapas,percebe-se que o trabalho é extensoe só poderá ser realizado no decor-rer de alguns anos: previu-se apro-ximadamente cinco anos para con-clusão de todas as atividades.

Para isso, constituiu-se umaequipe interdisciplinar, a fim de quefossem seguidos critérios técnicos emetodológicos necessários ao bomandamento do projeto. Bibliotecá-rios, analistas de sistemas, progra-madores, historiadores, professores,estudantes e bibliófilos foram perfisque integraram o grupo de trabalho.

Em dois anos e meio de profí-cuo serviço e, contando exclusiva-mente com voluntários, conseguiu--se concluir os índices onomásticoe biblionímico, além de dar anda-

mento ao índice de assuntos, cujaconclusão levará mais tempo, emdecorrência de sua complexidade.

Pretende-se oferecer ao públicointeressado o resultado parcial dostrabalhos por meio de relatórios im-pressos que acompanharão a coleçãoencadernada de Reformador. Estuda--se também a possibilidade de divul-gação pela Internet, no site da FEB.

Após concluída a digitalizaçãodos documentos, o material prova-velmente será disponibilizado emCD-ROM, o que permitirá a pes-quisa e a recuperação dos artigosprocurados, sem ter de se recorreraos fascículos impressos que nemsempre serão de fácil acesso, princi-palmente os mais antigos.

À medida que o índice de as-suntos for sendo elaborado, cogita--se ampliar a sua divulgação pela In-ternet, por se tratar de meio dinâ-mico a exigir constantes atualizações.

Esse Projeto Reformador é,portanto, o desdobramento daque-la idéia original de Francisco Thie-sen sobre a necessidade de facilitaro acesso ao rico patrimônio infor-macional que a Doutrina Espíritadetém em seu acervo bibliográficosob a responsabilidade da FEB.

Espera-se que ele seja útil a to-dos os interessados em pesquisar econhecer melhor os postulados bá-sicos do Espiritismo, bem comoaprofundar seus conhecimentosdoutrinários em torno da Ciência,Filosofia e Religião que haverão depromover a regeneração social daHumanidade.

Projeto ReformadorGeraldo Campetti Sobrinho

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 36

Page 37: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 37315

Resumo:

Tornou-se comum no meio espírita afirmar-se que oEspiritismo é ciência, filosofia e religião, ou tem um“tríplice aspecto”, englobando as três áreas. Essa carac-terização não pode ser encontrada exatamente nessestermos na obra de Kardec. É, porém, correta e, em suaessência, está presente no pensamento do criador doEspiritismo e de seus mais lúcidos continuadores. Noentanto, a questão tem dado lugar a mal-entendidos,por causa da compreensão incorreta ou imprecisa dosconceitos de ciência, filosofia e religião, bem como daverdadeira natureza do Espiritismo. Este trabalho pro-cura contribuir para esclarecer o assunto, com o apoioda filosofia e dos próprios textos de Kardec.

1. Introdução

Ao refundir o material da primeira edição de O Livrodos Espíritos (1857), preparando a segunda edição(1860), Kardec achou por bem inserir, já na primeiralinha do livro, na folha de rosto, a seguinte frase: “Fi-losofia Espiritualista”. Kardec quis, com ela, fornecerao leitor uma caracterização sucinta do caráter do Es-piritismo, cujas bases a obra assentava. Essa caracteri-zação é depois detalhada de modo implícito ou explí-cito no resto do livro e no restante de sua produçãoespírita. Uma das primeiras especializações do concei-to expresso na frase é introduzida já na Introdução domesmo livro, item I, no qual Kardec traça a distinçãoentre espiritualismo e Espiritismo. A partir desse pon-to, tratará sempre (salvo para efeito de comparação)do conceito mais específico de filosofia espírita.

O destaque dado por Kardec a esse conceito in-dica que é por ele que devemos começar a análise dochamado “tríplice aspecto” do Espiritismo. Essa carac-terização não pode ser encontrada exatamente nessestermos na obra de Kardec. Não nos ocuparemos aquida questão histórica da origem dessa maneira tão dis-seminada de compreender o Espiritismo. Nosso obje-tivo neste artigo é estabelecer que ela é, em sua essên-cia, correta, e que está presente no pensamento docriador do Espiritismo. Além disso, pretendemos es-clarecer alguns mal-entendidos a que a caracterizaçãotem dado lugar, por causa da compreensão incorreta,ou imprecisa dos conceitos de ciência, filosofia e reli-gião, bem como da verdadeira natureza do Espiri-tismo.

2. O que é filosofia?

Antes de tentarmos entender o que Kardec entendiapor ‘filosofia espírita’, e por que ele priorizou essa no-ção ao dar uma fórmula sucinta do Espiritismo, é im-portante compreendermos a noção geral de filosofia.É claro que se trata de um assunto complexo, que re-quereria estudos especializados para ser abordado deforma satisfatória. O que exporemos aqui é apenas umesboço, mas que, tanto quanto julgamos, é correto eútil para investigações ulteriores.

Como quase todas as palavras, filosofia possui di-versos significados. Popularmente, o termo tem hojetrês acepções principais: 1) certos valores ou princí-pios de vida, muito gerais e variáveis segundo os indi-víduos ou grupos sociais; 2) certos métodos, regras epropósitos de um empreendimento qualquer; e 3) cer-tas doutrinas esotéricas ou místicas. Nenhum dessestrês significados corresponde à noção original, aca-dêmica, de filosofia, e que foi usada por Kardec em

O Espiritismo em seu tríplice aspecto:científico, filosófico e religioso1

Parte ISilvio Seno Chibeni

1Texto apresentado no XII Congresso Estadual de Espiritismo (USE).Campinas, SP, 17 a 20/4/2003.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 37

Page 38: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

38 Reformador/Agosto 2003316

quase todas as ocasiões em que falou no aspecto filo-sófico do Espiritismo.

Não obstante aparentemente simples, as questõesdo que é e para que serve a filosofia – no sentido aca-dêmico do termo – estão entre as que mais dificulda-des e divergências causam entre os próprios filósofosprofissionais. Esse mero fato, porém, já indica algo im-portante sobre a natureza da filosofia: o questiona-mento sistemático, incessante e profundo de tudo oque se afirma.

As origens da filosofia remontam à Grécia Anti-ga. Pela própria etimologia do termo, notamos que afilosofia era entendida como o amor do saber, oua busca da verdade. Naquela época e, em certa medida,por muitos séculos da era cristã, a filosofia englobavatodos os ramos do conhecimento puro (em contrastecom as artes e ofícios, o conhecimento “aplicado”).Gradualmente, alguns desses ramos foram se tornan-do autônomos, como a matemática, a astronomia, ahistória, a biologia, a física. Mais ou menos a partir doséculo XVII, alguns deles começam a ser agrupadossob outra denominação: a de ciência.

Hoje em dia costuma-se considerar pertencentesao tronco principal da filosofia as disciplinas da estéti-ca, lógica, ética, epistemologia e metafísica. De formamuito simplificada, pode-se dizer que a estética exami-na abstratamente a beleza e a feiúra; a lógica investigao encadeamento formal das proposições; a ética estu-da questões relativas ao bem e ao mal, aos direitos e de-veres; a epistemologia ocupa-se do conhecimento, suasorigens, fundamentos e limites, enquanto que a meta-física procura especular sobre a natureza última dascoisas. Fora esses ramos fundamentais, há ainda diver-sos outros que resultam de suas interconexões e espe-cializações, como a teologia, a filosofia política, a filo-sofia da linguagem, a filosofia da ciência.

Uma das principais correntes filosóficas contem-porâneas propõe que a filosofia não deve ser entendi-da como a formulação ou defesa de teses ou conjun-tos de teses sobre o que quer que seja, mas simples-mente como o desenvolvimento de métodos de aná-lise crítica e sistemática, a serem aplicados especial-mente ao chamado conhecimento científico. Nessaperspectiva, o filósofo seria alguém que tenta explici-tar os conceitos, os pressupostos, a estrutura lógica eas implicações das teorias científicas, políticas, religio-sas, etc. Semelhante atitude crítica – que não se con-

funde com uma crítica leviana, estouvada ou interes-seira – seria a essência da filosofia, o elemento comumque permearia a grande variedade de linhas filosóficasexistentes.

Embora quando se olhe para as abstrações e suti-lezas tipicamente discutidas pelos filósofos se possaconcluir que a filosofia para nada serve, a referida pro-posta talvez permita encontrar, num plano afastadodo das necessidades materiais cotidianas, uma finali-dade útil para a filosofia: a elucidação das bases, mé-todos e implicações das ciências e de outras discipli-nas intelectuais, contribuindo assim para a identi-ficação de fundamentos falsos ou inseguros, de falá-cias argumentativas, de dogmas encobertos.

Ensinando, ou pelo menos convidando, o ho-mem a refletir criticamente sobre tudo o que se afir-ma ou faz em todos os setores, a filosofia de algumaforma auxilia o aprimoramento de seu intelecto e, tal-vez, de seus sentimentos, que o diferenciam de ummero ser que come, bebe, dorme e se reproduz.

3. A filosofia espírita

Passando agora à noção de filosofia espírita, uma ob-servação preliminar importante é que no tempo deKardec o sentido original, amplo, da palavra ‘filosofia’ainda prevalecia, em boa medida. Assim, ao dizer queo Espiritismo era uma filosofia, Kardec não estava ex-cluindo seu caráter científico, muito pelo contrário.Além disso, como a ética ou moral é uma das áreas dafilosofia – e isso até hoje –, aquela designação tambémnão excluía o aspecto moral do Espiritismo, que é aessência da chamada religião espírita. Detalharemosesses pontos nas seções seguintes deste trabalho.

Há referências à filosofia, ou à filosofia espírita,em todas as obras de Kardec. O significado preciso dasexpressões varia, é claro, segundo o contexto. De ummodo geral, podemos identificar duas acepções prin-cipais da expressão, uma ampla e outra restrita.

Na acepção ampla, Kardec entende pela expres-são alguma teoria, conjunto de teses, ou atividade in-telectual que se caracterizam pela racionalidade, e seinserem portanto na tradição da filosofia acadêmicade cultivo do saber pelo saber. Nesse sentido a filoso-fia engloba a própria ciência e a moral, como já apon-tamos. Há dezenas de passagens nas obras de Kardecem que a expressão é usada nessa acepção. A primeira

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 38

Page 39: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 39317

é, naturalmente, a já mencionada frase da folha de ros-to.Vejamos algumas outras, restringindo-nos, por fal-ta de espaço, ao Livro dos Espíritos (os itálicos do ter-mo ‘filosofia’' são nossos).2

LE, Prolegômenos: “Este livro é o repositório de seus en-sinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espí-ritos superiores, para estabelecer os fundamentos de umafilosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito desistema.”

LE, Prefácio da 2a edição (que não é mais reproduzidonas edições atuais): “O ensino relativo às manifestaçõesdos Espíritos, propriamente ditas, bem como aos mé-diuns, forma uma parte distinta da filosofia espírita, po-dendo constituir objeto de um estudo especial” [a ser de-senvolvido no Livro dos Médiuns].”

LE, Conclusão, item V: “Três períodos distintos apresen-ta o desenvolvimento dessas idéias: primeiro, o da curio-sidade, que a singularidade dos fenômenos produzidosdesperta; segundo, o do raciocínio e da filosofia; tercei-ro, o da aplicação e das conseqüências. O período da cu-riosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez sa-tisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece comaquilo que se dirige à razão e evoca reflexões sérias. Co-meçou o segundo período, o terceiro virá inevitavel-mente.”

LE, Conclusão, item VII: “O Espiritismo se apresentasob três aspectos diferentes: o fato das manifestações, osprincípios de filosofia e de moral que delas decorrem ea aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes,três graus de adeptos: [...]”3

Na acepção restrita da expressão ‘filosofia espíri-ta’, Kardec refere-se a tópicos clássicos tratados pelos

filósofos, como a existência e atributos de Deus, a dis-tinção alma-corpo, as idéias inatas, o livre-arbítrio, aobjetividade dos critérios morais, etc. Na maior partedas vezes em que ele usa o termo 'filosofia' nesse sen-tido mais específico, quer ressaltar um ponto de cen-tral importância: a capacidade que o Espiritismo temde tratar com segurança, clareza e plausibilidade al-guns dos mais espinhosos e desafiadores problemasfilosóficos. Em alguns casos o ponto é mencionado ge-nericamente; em outros ele considera explicitamenteesses problemas. Vejamos alguns exemplos, começan-do com alguns trechos do primeiro tipo (destacamoso termo ‘filosofia’).

LE, Conclusão, item I: “Pois bem! Sabei, vós que nãocredes senão no que pertence ao mundo material, quedessa mesa, que gira e vos faz sorrir desdenhosamente,saiu toda uma ciência, assim como a solução dos proble-mas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver.”

LE, Conclusão, item V: “Mesmo quem não testemu-nhou nenhum fenômeno material relativo às manifesta-ções dos Espíritos diz para si próprio: à parte esses fenô-menos, há a filosofia, que me explica o que NENHU-MA outra havia explicado. Nela encontro, por meio uni-camente do raciocínio, uma solução racional para osproblemas que no mais alto grau interessam ao meu fu-turo. Ela me dá calma, segurança, confiança; livra-me dotormento da incerteza.”

QE, Preâmbulo: “No terceiro capítulo, publicamos umresumo de O Livro dos Espíritos, com a solução, peladoutrina espírita, de certo número de problemas do maisalto interesse, de ordem psicológica, moral e filosófica,que diariamente são propostos, e aos quais nenhuma fi-losofia deu ainda resposta satisfatória. [...] Procurem re-solvê-los por qualquer outra teoria, sem a chave que nosfornece o Espiritismo; comparem suas respostas com asdadas por este, e digam quais são as mais lógicas, quaisas que melhor satisfazem à razão.”

Vejamos agora algumas passagens com referênciasa problemas filosóficos tradicionais, que têm soluçãoadequada pelo Espiritismo. Indicamos sumariamenteentre colchetes o problema em questão.

LE, Introdução, item 17 [a continuidade evolutiva na

2 Neste trabalho usaremos as seguintes abreviações: LE – O Livro dosEspíritos; QE – O que é o Espiritismo; LM – O Livro dos Médiuns;ESE – O Evangelho Segundo o Espiritismo; CI – O Céu e o Inferno;G – A Gênese; OP – Obras Póstumas (as referências de páginas destelivro são feitas pela tradução da FEB); VE – Viagem Espírita em 1862(páginas pela edição francesa corrente).3Outros exemplos importantes do uso da expresão ‘filosofia espírita’ naacepção ampla estão em: LM, parágrafos 14 (n. 7) e 32, capítulo 31(item 18); OP, pp. 221, 247 e 253; QE, Preâmbulo; VE, pp. 6, 8 e 20.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 39

Page 40: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

40 Reformador/Agosto 2003318

criação]: “A razão nos diz que entre o homem e Deus ou-tros elos necessariamente haverá, como disse aos astrô-nomos que, entre os mundos conhecidos, outros have-ria, desconhecidos. Que filosofia já preencheu estalacuna? O Espiritismo no-la mostra preenchida pelos se-res de todas as ordens do mundo invisível e estes seresnão são mais do que os Espíritos dos homens, nos dife-rentes graus que levam à perfeição. Tudo então se liga,tudo se encadeia, desde o alfa até o ômega.”

LE, item 222 [a desigualdade das aptidões face à justiçadivina]: “Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolverestes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas sãoiguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, porque, entre elas, tão grande diversidade de aptidões?”

LM, par. 35, n. 2 [o futuro do homem]: “O Livro dosEspíritos. Contém a doutrina completa, como a ditaramos próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas assuas conseqüências morais. É a revelação do destino dohomem, a iniciação no conhecimento da natureza dosEspíritos e nos mistérios da vida de além-túmulo.”

ESE, cap. 5, item 6 [a dor face à justiça divina]: “Quedizer, enfim, dessas crianças que morrem em tenra ida-de e da vida só conheceram sofrimentos? Problemas sãoesses que ainda nenhuma filosofia pôde resolver, anoma-lias que nenhuma religião pôde justificar e que seriam anegação da bondade, da justiça e da providência deDeus, se se verificasse a hipótese de ser criada a alma aomesmo tempo que o corpo e de estar a sua sorte irrevo-gavelmente determinada após a permanência de algunsinstantes na Terra.”

CI, parte 1, cap. 1, item 13 [a questão do materialis-mo e do panteísmo]: Apresente-se-lhe, porém, um fu-turo condicionalmente lógico, digno em tudo da gran-deza, da justiça e da infinita bondade de Deus, e elerepudiará o materialismo e o panteísmo, cujo vácuosente em seu foro íntimo, e que aceitará à falta de me-lhor crença. O Espiritismo dá coisa melhor; eis porque é acolhido pressurosamente por todos os atormen-tados da dúvida, os que não encontram nem nas cren-ças nem nas filosofias vulgares o que procuram. O Es-piritismo tem por si a lógica do raciocínio e a sançãodos fatos, e é por isso que inutilmente o têm comba-tido.”

G, cap. 4, item 11 [a origem das faculdades espirituaisdo homem]: “Mas a história do homem, considerado co-mo ser espiritual, se prende a uma ordem especial deidéias, que não são do domínio da Ciência propriamen-te dita e das quais, por este motivo, não tem ela feito ob-jeto de suas investigações. A Filosofia, a cujas atribuiçõespertence, de modo mais particular, esse gênero de estu-dos, apenas há formulado, sobre o ponto em questão, sis-temas contraditórios, que vão desde a mais pura espiri-tualidade, até a negação do princípio espiritual e mesmode Deus, sem outras bases, afora as idéias pessoais de seusautores. Tem, pois, deixado sem decisão o assunto, porfalta de verificação suficiente.”

G, cap. 4, item 12 [origem e destino do homem]: “Es-ta questão, no entanto, é a mais importante para o ho-mem, por isso que envolve o problema do seu passado edo seu futuro. A do mundo material apenas indireta-mente o afeta. O que lhe importa saber, antes de tudo,é donde ele veio e para onde vai, se já viveu e se ainda vi-verá, qual a sorte que lhe está reservada. Sobre todos es-ses pontos, a Ciência se conserva muda. A Filosofia ape-nas emite opiniões que concluem em sentido diame-tralmente oposto, mas que, pelo menos, permitem sediscuta, o que faz com que muitas pessoas se lhe colo-quem do lado, de preferência a seguirem a religião, quenão discute.

OP, pp. 86-7 [o problema mente-corpo]: Onde acaba opoder da alma sobre os corpos? Qual a parte dessa forçainteligente nos fenômenos do Magnetismo? Qual a doorganismo? Aí estão questões de muito interesse, ques-tões graves para a Filosofia, como para a Medicina. [...]Tínhamos, como se vê, grandes motivos para avançarque o estudo dos fenômenos magnéticos guarda fortesrelações com a filosofia e a psicologia.

QE, pp. 169-70, 189 [a imortalidade da alma]: As ma-nifestações não são, pois, destinadas a servir aos interes-ses materiais; sua utilidade está nas conseqüências mo-rais que delas dimanam; não tivessem, elas, porém, comoresultado senão fazer conhecer uma nova lei da Nature-za, demonstrar materialmente a existência da alma e suaimortalidade, e já isso seria muito, porque era largo ca-minho novo aberto à Filosofia. [...] Nas lições de filoso-fia clássica, os professores ensinam a existência da almae seus atributos, segundo as diversas escolas, mas sem

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 40

Page 41: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

Reformador/Agosto 2003 41319

apresentar provas materiais. “[...] Quando um cientistaemite uma hipótese, sobre um ponto de ciência, procu-ra com empenho e colhe com alegria tudo o que possademonstrar a veracidade dessa hipótese; como, pois, umprofessor de filosofia, cujo dever é provar a seus discípu-los que eles têm uma alma, despreza os meios de lhes for-necer uma patente demonstração?”

Esses trechos ilustram bem a afirmação de Kardecem O que é o Espiritismo (diálogo com o cético,p. 65) de que “O Espiritismo prende-se a todos os ra-mos da Filosofia [...]”. E note-se que tal afirmação éconfirmada não só por passagens como as citadas, emque o termo ‘filosofia’ aparece explicitamente (e háainda muitas outras em que isso ocorre), mas tambémpelos estudos efetivamente desenvolvidos por Kardecacerca de numerosos outros tópicos filosóficos.

(Continua no próximo número.)

REFERÊNCIAS

Kardec, A. Le Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 1a ed.

francesa. 1a ed, bilíngüe, trad. e ed. Canuto Abreu. São Paulo,

Companhia Editora Ismael, 1957.

––, Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 2a ed. francesa,

com adendos do Autor. 1a ed., Rio, Federação Espírita Brasileira,

1998.

––, O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. 43a ed., Rio de

Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s. d.

––, Qu’est-ce que le Spiritisme. Paris, Dervy-Livres, 1975.

––, O que é o Espiritismo. (s. trad.) 25a ed., Rio de Janeiro, Federa-

ção Espírita Brasileira, s. d.

––, Le Livre des Médiums. Paris, Dervy-Livres, 1972.

––, O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro, 59a ed., revista, Rio

de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s. d.

––, Voyage Spirite en 1862. Paris, Vermet, 1988.

––, L'Évangile selon le Spiritisme. (Reprodução fotográfica da 3a edi-

ção francesa.) 1a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasilei-

ra, 1979.

––, O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 113a

ed., Rio, FEB.

––, Le Ciel et l'Enfer. Farciennes, Editions de l'Union Spirite, 1951.

––, O Céu e o Inferno. Trad. de Manuel Quintão. 28a edição, Rio de

Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s. d.

––, La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme. Pa-

ris, La Diffusion Scientifique, s. d.

––, A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Trad.

Guillon Ribeiro, 23a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Bra-

sileira, s. d.

––, Oeuvres Posthumes. (Ed. André Dumas.) Paris, Dervy-Livres,

1978. Também na edição original de Leymarie, em texto eletrô-

nico, Centre d'Études Spirites Léon Denis:

http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/

––, Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18a ed., Rio de Janeiro,

Federação Espírita Brasileira, s. d.

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 41

Page 42: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através

42 Reformador/Agosto 2003320

Minas Gerais: Encontro de Comunicação SocialA União Espírita Mineira patrocinou, em 26 de julho,o Encontro Estadual de Comunicação Social, com oobjetivo de reestruturar o setor, tanto na Federativaquanto nos órgãos regionais. O programa do eventoconstou dos seguintes itens: 1.Visão geral sobre a filo-sofia e o planejamento da Comunicação Social Espí-rita; 2. Alternativas de mídia para a dinamização dadivulgação doutrinária espírita; 3. Estratégias de cria-ção de campanhas que envolvam as modalidades co-municacionais: publicidade, promoção institucional,assessoria de imprensa, relações públicas e outras.

Bahia: Plantão da PazO “Plantão da Paz”, um serviço de atendimento tele-fônico a pessoas que precisam de uma palavra amiga,foi criado por integrantes do Movimento Espíritabaiano. O Plantão é um trabalho anônimo e sigiloso,desenvolvido por 20 voluntários, que responde a umamédia diária de 25 telefonemas, de segunda a sexta--feira, das 8 às 12 horas e das 13 às 21 horas, pelo te-lefone (71) 322-3580.

Luxemburgo: Grupo EspíritaFoi criado recentemente o Grupo Espírita Allan Kar-dec de Luxemburgo, sob a coordenação de ZelinaPoinsignon, o qual já recebeu em maio, pela segundavez, a visita de Divaldo Pereira Franco. O Grupo par-ticipou da reunião da Coordenadoria da Europa, doCEI, realizada em Estocolmo, Suécia, nos dias 9, 10e 11 de maio. Para contato com o GEAK, usar oe-mail – [email protected] ou visitar o web si-te www.isc.europe.og.

Curso de Medicina Além do CorpoRealizou-se na Faculdade de Medicina da Universida-de de São Paulo (USP), no período de 2 a 5 de junho,o Curso de Medicina Além do Corpo, ministrado pormédicos e especialistas, e destinado a acadêmicos eprofissionais da área da saúde. A aula de abertura, nodia 2, foi ministrada pelo Dr. Sérgio Felipe de Olivei-ra, com o tema Medicina e Espiritualidade, seguida,no dia 3, pela aula da Dra. Marlene Nobre sobre Ex-periências de Quase Morte.

Ceará: Cruzadas dos Militares EspíritasA Cruzada dos Militares Espíritas promoveu, no pe-ríodo de 4 a 7 de junho, a III Jornada Espírita Militarem Fortaleza, com uma série de palestras nas seguin-tes instituições: Casa do Caminho, Centro EspíritaAurora Redentora, Federação Espírita do Estado doCeará e Centro Espírita Irmão Leite. Foi expositor, noevento, o confrade Pedro de Almeida Lobo, que pre-side a CME nos Estados de Mato Grosso e MatoGrosso do Sul

Sergipe: Conferência e SeminárioA Federação Espírita do Estado de Sergipe promoveu,com o apoio do Movimento Espírita daquele Estado,no dia 21 de junho, conferência de Divaldo Francono Espaço EMES, para o público em geral, e, no dia22, Seminário sobre Amor, Imbatível Amor, no Tea-tro Atheneu.

Paraguai: Congresso EspíritaOrganizado pelo Movimento Espírita Paraguaio, serárealizado em Assunção, no Salão de Convenções doHotel Excelsior, de 11 a 13 de setembro próximo, o1o Congresso Espírita Paraguaio, que abordará o temaCongresso pela Paz do Mundo à Luz do Espiritismo,com a abordagem da Doutrina Espírita nos seus trêsaspectos – Ciência, Filosofia e Religião. Estarão parti-cipando do evento o tribuno Divaldo Pereira Franco,o Presidente da FEB, Nestor João Masotti, e outrosexpositores brasileiros. Endereços para informações einscrições: Alberdi 2831 c/ 16 pyltdas; tel.: (595-210)373-594 – 390-976 – 900-318 – 502-582. E-mail:[email protected].;py – Asunción – Paraguay. Taxa deinscrição: Gs 50.000.

Áustria: Instituição EspíritaA Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec (Ve-rein für Spiritische Studien Allan Kardec) foi funda-da em dezembro de 1999, com incentivo de DivaldoPereira Franco (que anualmente visita a Instituição),José Raul Teixeira e outros líderes espíritas. A SEEAKdesenvolve diversas tarefas de divulgação da Doutrina Espírita, assim como estudos semanais das obras daCodificação Kardequiana.

SEARA ESPÍRITA

Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:10 Page 42

Page 43: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através
Page 44: Reformador Agosto 2003 - bvespirita.combvespirita.com/Revista Reformador - 2003 - Agosto (Federacao... · surgiram sobre os grandes enigmas. A angústia do desconhecimen-to, através