41

Reformador Agosto 2003 - WordPress.com...Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 5 6 284 Reformador/Agosto 2003 rial na Natureza, quando o elemen-to espiritual está presente

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 121 / Agosto, 2003 / No 2.093

    Fundada em 21 de janeiro de 1883

    Fundador: Augusto Elias da Silva

    ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

    Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

    70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

    Home Page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

    [email protected]

    Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

    Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

    I. E. 81.600.503.

    Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

    20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

    Capa: Rebouças & Associados

    Tema da Capa: O tema enfatiza a EVOLUÇÃO no con-ceito espírita: “Nascer, morrer, renascer ainda eprogredir sempre tal é a Lei.”

    EDITORIAL 4Imortalidade e progresso

    PRESENÇA DE CHICO XAVIER 13Câmara dos Deputados homenageia Chico Xavier

    ESFLORANDO O EVANGELHO 21Honras vãs – Emmanuel

    A FEB E O ESPERANTO 26Babel Européia – Affonso SoaresLíngua nacional não pode ser internacional... – 27

    William Auld

    CONSELHO ESPÍRITA INTERNACIONAL 31 Atividades do Movimento Espírita da América do Norte A Argentina sedia a reunião da Coordenadoria da América do Sul

    FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 33 Reunião da Comissão Regional Norte

    SEARA ESPÍRITA 42

    Evolução – Juvanir Borges de Souza 5

    O Deus em mim – Paulo Nunes Batista 7

    Idéias inatas e evolução – Humberto Schubert Coelho 8

    Idéias inatas 10

    O servidor humílimo e paternal de sempre! – Adilton Pugliese 11

    Investimentos – Richard Simonetti 14

    Grão de trigo – Mário Frigéri 15

    Carta Aberta... – Passos Lírio 16

    União e amizade – Cármen Cinira 17

    O novo Código Civil e as Instituições Espíritas 18

    Somos imortais – Fábio Henrique Ramos 20

    As Teorias sobre a Origem da Vida e a Visão Espírita – 22

    Roberto Lúcio Vieira de Souza

    Genética 25

    O homem e a religião (V-VI) – Eurípedes Kühl 28

    Unificação – Emmanuel 30

    IBGE divulga mais dados sobre população espírita 35

    Projeto Reformador – Geraldo Campetti Sobrinho 36

    O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico 37

    e religioso – Parte I – Silvio Seno Chibeni

    6o Congresso Espírita do Estado do Espírito Santo 41

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 3

  • 4 Reformador/Agosto 2003282

    Descortinando para os homens, através do Espiritismo, as Leis que emanam de Deus eque regem a vida em todos os seus aspectos, os Espíritos Superiores legaram à Hu-manidade uma Doutrina abrangente, que toca em todas as questões fundamentais daexistência humana e que pode e deve ser estudada e praticada em todos os seus aspectos, taiscomo: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional e social.

    Uma das frases que melhor sintetiza a sua mensagem e que melhor orienta o homem arespeito da sua própria existência é a que está inscrita no túmulo de Allan Kardec: “Nascer,morrer, renascer ainda e progredir sempre tal é a lei.” Nela temos bem configurada a claravisão da nossa realidade como seres imortais, Espíritos que já existiam e que continuamexistindo independentemente da existência ou não do corpo físico. Ela nos chama a atenção,também, para a Lei do Progresso a que todos estamos sujeitos e que nos leva, mesmo sem osaber, através do simples atendimento às nossas necessidades cotidianas, a desenvolver os va-lores que nós potencialmente carregamos, os quais edificam a nossa evolução.

    A consciência, em nossa vida, deste binômio – imortalidade e progresso –, tem naturaisconseqüências: abandonamos a idéia de pretender eliminar-nos, seja a nós mesmos, seja aonosso próximo, uma vez que a Providência Divina, que nos criou com toda a Sua bondade,não nos concedeu nem o poder e nem o direito de eliminar a ninguém, o que nos leva a con-viver, sempre, com todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, amigos ou inimigos,que se encontram na mesma faixa de evolução.

    Outra conseqüência natural é a conclusão de que nos convém colaborar com a Lei doProgresso que atua em nós, esforçando-nos por colocar em prática o amor ao próximo, o qualnos propicia reconciliar com os adversários criados pela nossa ignorância; evitar conflitos comnosso semelhante, que nos retardariam o progresso; e abreviar a nossa evolução moral e inte-lectual, para mais rapidamente alcançarmos seus benefícios.

    Não é sem razão que a Doutrina Espírita nos ensina: Fora da caridade não há salvação,conceituando caridade como a entendia Jesus1 – Benevolência para com todos, indulgênciapara com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. E o Espírito de Verdade recomen-da2: Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cris-tianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se en-raizaram.

    EditorialImortalidade e progresso

    1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 83. ed. FEB, q. 886, p. 407.2________. O Evangelho segundo o Espiritismo, 120. ed. FEB, cap. VI, item 5, p. 130.

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 4

  • Reformador/Agosto 2003 5283

    Oser humano, desde seu apare-cimento na Terra como Espí-rito encarnado, jamais pôde

    subtrair-se totalmente aos grandesenigmas de sua própria existência,da vida e da morte, do prazer e dador e das impressões que o mundoexterior sempre lhe causou, atravésde seus sentidos físicos.

    Esses problemas deram causa àprocura incessante de suas soluções.

    Fácil é imaginar-se, mesmo nohomem primitivo, a idéia de umSer criador, embora desconhecido,sob as mais diversas denominações.

    Daí o surgimento das reli-giões, das filosofias, das idéias deDeus, com seus atributos, com suasleis.

    Na medida em que o homemfoi evoluindo, novas concepçõessurgiram sobre os grandes enigmas.

    A angústia do desconhecimen-to, através dos tempos, não evitoua procura de um Deus sempre maisjusto e mais poderoso e a idéia, em-bora confusa, da existência de mun-dos paralelos.

    Há, pois, em todos os períodosevolutivos da Humanidade, um as-cendente místico, como afirmaEmmanuel, na Introdução de ACaminho da Luz, psicografado porFrancisco Cândido Xavier (Ed.FEB):

    “(...) O tempo, como patrimô-nio divino do espírito, renova as in-quietações e angústias de cada sécu-lo, no sentido de aclarar o caminhodas experiências humanas. Passamas raças e as gerações, as línguas e ospovos, os países e as fronteiras, asciências e as religiões. Um sopro di-vino faz movimentar todas as coisasnesse torvelinho maravilhoso.”

    Na realidade, em todas as épo-cas, desde os tempos pré-históricos,jamais faltou a assistência divina àHumanidade. O Cristo de Deus,através de seus emissários, sempreatendeu às necessidades da almahumana, de conformidade com seuestágio evolutivo, para sua contínuaascensão.

    O determinismo divino doprogresso, através do amor e do co-nhecimento, sempre esteve presen-te na Terra, desde os tempos primi-tivos, beneficiando seus habitantes,como está presente em todo o Uni-verso.

    No nosso mundo, o Cristo é oGuia e o executor das leis do Cria-dor. Ele é o Verbo e a Luz do Prin-cípio, a reger os destinos deste orbee de todos os habitantes de suas di-versas esferas.

    Ao lado dos tormentos queafligem o homem através dos tem-pos, na indagação a respeito de suaorigem e de seu destino, sempreexistiu também a indiferença pelas

    coisas transcendentes, o imediatis-mo, a influência poderosa da maté-ria – o materialismo.

    A tendência ao materialismotambém está presente no homemdesde os tempos primitivos. O ma-terialismo se afirma diante do pro-blema das origens, dispensando acriação divina e o elemento espiri-tual, para se fixar tão-somente namatéria e na sua transformação me-cânica e quantitativa.

    Fácil é imaginar a influênciapoderosa do materialismo sobre asconcepções humanas, em todos ostempos, uma vez que os sentidos fí-sicos do homem estão sob a açãopermanente da matéria.

    Já nos tempos atuais, o mate-rialismo procura explicar os proble-mas ético-morais pelo hedonismodo prazer; as questões de ordem psi-cológica pelas reações do organismoaos diversos estímulos ambientais;e as questões da evolução dos co-nhecimentos individuais e coletivospela sua adequação ao progressocientífico no mundo, sempre emfunção da matéria.

    Por esses simples enunciadospodemos perceber quão perniciosose ilusórios são os fundamentos domaterialismo multifário, espalhadospelo mundo, ao negar e desconhe-cer o outro elemento essencial doUniverso – o espírito.

    Infelizmente, a ciência materia-lista não percebeu ainda o grandeengano em que incorre, ao conce-ber tão-somente o elemento mate-

    EvoluçãoJuvanir Borges de Souza

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 5

  • 6 Reformador/Agosto 2003284

    rial na Natureza, quando o elemen-to espiritual está presente por todaparte.

    Essa concepção acanhada dasciências materialistas nos dá umaidéia do atraso dos conhecimentosno mundo em que vivemos e doavanço extraordinário que represen-tará o descobrimento do espíritonas pesquisas daquelas ciências.

    A verdadeira ciência não podedeixar-se dominar pelo sectarismo,pela negação da realidade e da ver-dade.

    Se a existência do espírito éuma realidade, um fato já compro-vado; se os mundos espirituais e aprópria matéria sob outras formas, jáforam descobertos, não mais se jus-tifica que a ciência dos homens seencarcere em suas concepções unila-terais, ultrapassadas e negativistas,com prejuízo para toda a Huma-nidade.

    Com as civilizações mais anti-gas da Terra surgiram as religiões eas filosofias.

    Várias dessas religiões e filoso-fias chegaram até os nossos dias.

    Na afirmativa de Emmanuel, agênese de todas as religiões se ligaao Cristo de Deus. (A Caminho daLuz, p. 83.)

    Se o Cristo é o Governadordeste orbe desde o princípio, nadamais lógico que sua assistência aosterráqueos seja permanente.

    Podemos ainda deduzir, facil-mente, que essa assistência obedeceàs leis divinas, sendo, por isso, gra-dativa, não impositiva, atendendoàs fases evolutivas dos povos, aolivre-arbítrio individual, aos esfor-ços coletivos.

    Na história milenar da Índia,da China, da Mesopotâmia, do Egi-to, dos israelitas, dos gregos e dosromanos, como de todos os povosantigos e modernos, jamais faltouou faltará a presença dos emissáriosdo Cristo, agindo ostensiva ou vela-damente na evolução do pensamen-to humano e no progresso de parce-las da Humanidade constituídas porpovos, raças, nações e civilizações.

    E o interessante é que em to-das as tradições religiosas existe umaunidade substancial, embora em to-das haja divergências de formas e deentendimento.

    “Todas se referem ao Deus im-personificável, que é a essência davida de todo o Universo e no tradi-cionalismo de todas palpita a visãosublimada do Cristo, esperado emtodos os pontos do globo.”

    Há, pois, revelações gradativase sucessivas no seio das múltiplas ci-vilizações da pré-história e da histó-ria, mesmo daquelas que flores-ceram nas terras da América, desco-

    nhecidas do Velho Mundo até osdescobrimentos do século XV.

    As revelações sucessivas vão,pois, muito além das três comu-mente citadas, ocorridas na parteocidental do mundo – a Mosaica, ado Cristo e a Espírita.

    Estas têm um significado espe-cial por serem explícitas na referên-cia ao Deus único, Criador do Uni-verso e apresentarem uma gradaçãocada vez mais lógica nos ensinosmorais que apresentam.

    Mas é curial que o Cristo, oGovernador do Planeta, não poderiadeixar sem sua assistência a maiorparcela da população da Terra, queestá justamente na sua face oriental.

    Assim, embora as civilizações enações asiáticas não disponham daslições diretas do Mestre Incompa-rável e de seus ensinos registradosnos Evangelhos, sabem, entretanto,do conteúdo da essência de suaMensagem, através dos missionáriosque lhes foram enviados em épocassucessivas.

    Após milênios de um longoaperfeiçoamento físico e espiritualdos habitantes deste planeta, com apresença pessoal do Cristo há doismil anos e das diversas correntes re-ligiosas atuando sobre consideráveisparcelas da Humanidade, eis queum novo período se anuncia deprogresso intelecto-moral.

    As descobertas científicas dosúltimos séculos, especialmente noextraordinário século XX e no pre-cedente “século das luzes”, associa-das à Nova Revelação, anunciadapelo Cristo como outro Consoladorque Ele pediria ao Pai e que já seencontra no mundo com o Espiri-

    É curial que o Cristo,

    o Governador do

    Planeta, não poderia

    deixar sem sua

    assistência a maior

    parcela da população

    da Terra, que está

    justamente na sua

    face oriental

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 6

  • Reformador/Agosto 2003 7285

    tismo, constituem indícios eviden-tes do início de uma Nova Era paraa Humanidade.

    O Espiritismo, como a NovaRevelação de conhecimentos trans-cendentes sobre os mundos espiri-tuais, mostra que o homem físico étão-somente uma face do homemespiritual, em marcha permanenteem busca da felicidade para a qualfoi criado.

    A luz imortal a que aspiramosespera-nos a todos num futuro depaz e de fraternidade.

    Os próprios homens, Espíritosimortais, serão os construtores des-se futuro glorioso, utilizando seusesforços em sucessivas reencarna-ções para forjar sua redenção, sob aorientação do Mestre:

    “Bem-aventurados os pobresde espíritos, porque deles é o reinodos céus!

    Bem-aventurados os que têmfome e sede de justiça, porque serãosaciados.

    Bem-aventurados os que cho-ram, porque serão consolados.

    Bem-aventurados os pacíficos,porque serão chamados filhos deDeus.”

    Evidentemente, essas promes-sas do Cristo não foram proferidasem vão. Têm um significado que seprojeta no futuro, construído pelopróprio homem.

    Como o mundo atual é a nega-ção de todas as promessas contidasnas bem-aventuranças, temos quesituá-las no futuro, com a redençãohumana.

    O caminho para isso é longo,cheio de lutas, dificuldades, amar-guras. Mas, um dia chegaremos to-dos a esse “reino de Deus”, trans-formando-nos naqueles que farãojus a esse reino.

    Para isso, serão proscritos defi-nitivamente, pelo homem regenera-do, os males que nos afligem.

    As guerras e conflitos serão ape-nas capítulos da história humana.

    A fraternidade legítima impe-rará por toda parte, na relação en-tre os indivíduos e as coletividades,entre si.

    A vida, em todos os reinos daNatureza, será respeitada.

    Desaparecerão a miséria, emtodas as suas manifestações, porcompreenderem todos que preci-sam ser solidários, e as doenças físi-cas e espirituais, pelos conhecimen-tos e práticas das virtudes.

    A justiça dos homens será muitomais eqüitativa, derivada de leis querefletirão a lei maior de Nosso Pai.

    Para essas grandes transforma-ções, o Consolador será o grande

    norteador das religiões do mun-do.

    Na sua feição de Cristianismoredivivo, todos os ensinos do Cris-to, no seu correto entendimento,serão a base e os fundamentos mo-rais que orientarão as sociedadeshumanas.

    Os novos conhecimentos, quesucessivamente beneficiam os ho-mens, serão recebidos como bênçãodo Alto e incorporados ao patrimô-nio da Humanidade.

    Em suma, a noite em que viveatualmente a Humanidade terrenanão é eterna.

    A lei de progresso, divina leique abrange toda a Criação, per-mite-nos vislumbrar a luz do ama-nhecer de uma Nova Era para as al-mas que já não mais necessitarãoreencarnar em mundos materiais.

    O Deus em mimPaulo Nunes Batista

    O Deus em mim me aplaude, me elogia,quando os planos de paz eu concretizoe os projetos de Amor eu realizo,no suceder fatal de noite e dia.

    O Deus em mim resplende de Alegria,quando em Sua Vontade eu me batizo;e me abre a Porta Azul do Paraíso,se abro Flores de Luz na minha via.

    O Deus em mim me ampara, me conforta,quando semeio, na “matéria morta”,irradiações transcendentais do Bem.

    E o Deus em mim, vibrando de Bondade,na epifania da Felicidadeala-me além de mim, além do Além!...

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 7

  • 8 Reformador/Agosto 2003286

    “Grande conexão deve entãohaver entre duas existências con-secutivas?

    – Nem sempre tão grandequanto talvez o suponhas, dadoque bem diferentes são, muitasvezes, as posições do Espíritonas duas e que, no intervalo deuma a outra, pode ele ter pro- gre-dido.”

    Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, 218-b.)

    Aconstrução empírica do co-nhecimento faz com que ohomem dependa da experiên-

    cia, da observação de fatos, davivência de situações para acumularconhecimento e tornar-se mais sá-bio e preparado. O fato de o co-nhecimento partir sempre de umaexperiência concreta garante-nosque ele é objetivamente válido.

    As teorias de que o homem éfruto do meio são válidas, já que eleaprende aquilo que seu ambientepode ensinar-lhe. A reencarnação,no entanto, nos dá outra dimensãode como se efetua este processo.

    Se considerarmos que o homempossa viver em lugares distintos e,portanto, adquirir conhecimentosdistintos em suas diversas encar-nações, temos de admitir que os co-nhecimentos e tendências adquiridosem uma vida entrarão em conflitocom os que amealhou em outra.

    Se em uma vida anterior eu es-tive entre os Incas, meu comporta-mento e minha personalidade eramcertamente os de um inca. Hoje, noentanto, sendo brasileiro, estou su-jeito a outras normas sociais e ou-tras condições que fizeram com queeu formasse um comportamento euma personalidade distinta das an-teriores, mas no fundo, por detrásde minha persona, guardo algunsimpulsos, desejos, tendências e pre-disposições inerentes a minha con-dição anterior. A isso se chamouinatismo ou teoria das idéias inatas.

    As idéias inatas, portanto, sãoaquelas que por estarem profunda-mente enraizadas em nosso ser per-manecem ao longo dos tempos. En-tre elas se contam os talentos ad-quiridos em outras vidas, as quali-dades morais, a agudez do racio-cínio, os vícios, os preconceitos etoda sorte de atributos que cons-tituem a individualidade do ser.

    É preciso fazer uma distinçãoentre o que seja individual no ho-mem, aquilo que permanece e lhe éinerente, e aquilo que lhe foi im-posto pela condição material, social,cultural, etc. A esta segunda chama-mos personalidade e pode ser com-parada a uma espécie de máscarausada pelo indivíduo para integrar--se ao ambiente em que está. Amaioria de nós não percebe este de-talhe sutil e facilmente confundesua personalidade temporária comsua individualidade imortal. Asobras de Jung constituem um gi-

    gantesco esforço para desfazer ailusão da personalidade e trazerà superfície o “verdadeiro ser”.

    Esta análise pode ser muitodifícil de efetuar-se, a ponto de al-gumas vezes a ilusão da personali-dade situada historicamente per-manecer na consciência do ser apósa desencarnação. Nestes indivíduosem que a consciência espiritual e mo-ral não está satisfatoriamente de-senvolvida, é natural que caracterís-ticas da última existência perma-neçam. Temos notícia de inúmerosrelatos de que os Espíritos dema-siadamente ligados aos aspectos ma-teriais da vida têm dificuldade, apóso desenlace do organismo, de reme-morar suas existências anteriores emesmo perceber suficientementesua nova condição. No mais, apenasas experiências significativas para ocrescimento do ser, que lhe afetemintimamente, serão adicionadas àsua bagagem inalterável, constituin-do então novo traço de sua indivi-dualidade. Isto é evidente, pois a in-dividualidade não é dada, ela deve serconstruída no mundo, na vivência,ao longo das reencarnações.

    Com o passar do tempo, oacúmulo de conhecimentos fazcom que o homem se dote de ta-lentos (artísticos, administrativos,científicos, de sobrevivência, etc.) ede sentimentos (ambição, amizade,lealdade, justiça, inveja, intolerân-cia, orgulho, amor), que eram im-possíveis de manifestar-se num serdesprovido de inteligência e co-

    Idéias inatas e evoluçãoHumberto Schubert Coelho

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 8

  • Reformador/Agosto 2003 9287

    nhecimentos. Estes talentos e sen-timentos constituem sua individua-lidade.

    Ao ser colocado numa existên-cia nova o Espírito deverá adequar--se aos padrões de comportamentodesta cultura. Receberá uma sériede conhecimentos novos, terá re-lações sociais diversas e isso tudo olevará a criar certos hábitos especí-ficos deste ambiente. A própriavontade do Espírito de ser aceito nogrupo o tornará mais maleável paracom essas novas normas, muitas ve-zes resultando na ab-dicação de talentos etendências morais ad-quiridas para inte-grar-se ao meio. Maseventualmente algu-mas características doindivíduo irão opor--se ao novo sistemaem que está inserido.

    Esta oposiçãonão precisa ser neces-sariamente uma re-beldia ou sentimentode aversão. Pode dar-se também deforma muito sutil caso o Espíritotenha recebido de boa vontade al-gumas das características do meio.Isso causaria uma espécie de angús-tia existencial muito grande, pois anatureza individual do ser estariaem confronto com sua própria per-sonalidade formada nesta existên-cia.

    Portanto, o inatismo não re-presenta mero acúmulo de idéiastranscendentais. Ele envolve todoum processo psíquico que irá de-terminar como será o indivíduo. Al-gumas vezes, o choque entre in-dividualidade e personalidade re-sultará num crescimento do Espí-rito, pois ele optará por uma reno-

    vação, quando assimilar realmenteos elementos de sua personalidadeatual, ou uma afirmação no caso deo Espírito conseguir desfazer-se deuma influência do meio (da per-sonalidade) e afirmar sua natureza.

    No primeiro caso ele terá umacréscimo de sua individualidade,que perdurará como importante ex-periência adquirida; no segundo ca-so terá passado por uma espécie deprovação de seu caráter individual esairá com ele mais sólido do queantes.

    Estes são basicamente os doisprocessos pelos quais um indivíduopode transformar-se durante avivência carnal. Na vivência espiri-tual os processos de transformaçãodo indivíduo serão tão mais distin-tos quanto mais distante o Espíritoestiver de condicionamentos cul-turais e materiais.

    A distinção entre individuali-dade e personalidade vai mais além.Uma vez que o Espírito não apenasguarda sentimentos e conhecimen-tos, mas também algumas reminis-cências peculiares às suas existênciasanteriores e estas reminiscências po-dem estar mais ou menos impreg-nadas em seu psiquismo, é possível

    que acontecimentos dos mais ba-nais influam em sua personalidade.

    Um Espírito que guarde pro-fundas impressões de uma mortepor afogamento poderia ter aversãoà água, e assim por diante. Peculia-ridades aparentemente irrelevantesda vida de um indivíduo podem, naexistência seguinte, determinar boaparte de suas atitudes, suas escolhase seus estados de ânimo. É precisoanalisar a própria consciência, a fimde esclarecer se determinadas fobias,angústias e tendências que possuí-

    mos têm alguma re-lação direta com nos-sa infância ou juven-tude.

    Os psicanalistasparariam por aí, masnum estudo espíritaprosseguiremos porentre os recônditos damemória até a causaverdadeira de cada so-nho, cada angústia,cada aborrecimentoque não tenham uma

    justificativa plausível na existênciaatual.

    Também inferimos destas con-clusões a noção espírita de realidadeúltima do ser. Ora, uma vez que oEspírito é definido historicamenteatravés das eras e sua mente é vaziade idéias no início de sua vida co-mo ser humano, concluímos neces-sariamente que o ser como o co-nhecemos é formado durante a ex-periência de vida. Isso não signifi-ca, no entanto, que não haja algoanterior à experiência, inerente aoser humano desde sua criação.

    A estas estruturas fundamen-tais da consciência chamamos dehomem-em-si, ou aquilo que defineo que em todos os homens é inelu-

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 9

  • 10 Reformador/Agosto 2003

    tavelmente idêntico e necessário,aquilo que, apesar de poder ser uti-lizado diferentemente, marcará aigualdade de condições iniciais sobas quais o ser só poderá indivi-dualizar-se por conta própria, e igual-mente só irá progredir por esforçopessoal.

    A coisa-em-si, que é o Espírito,tem uma formatação inicial deatributos e estruturas fundamentais(Razão, Vontade, Afetividade, Sen-sibilidade, Entendimento, Instinto),que ao lidarem com os fenômenosda experiência acabam por adquirirconhecimento e tornar-se indiví-duo/pessoa. Não temos conheci-mento do que seja despertado noprincípio espiritual de um animalque o leve a tornar-se um ser in-teligente e sensível, mas podemosafirmar que não se trata exclusiva-mente de atributos inerentes aopróprio princípio espiritual que seexpandem, e sim de um atributoqualquer, antes inexistente, que des-perta praticamente num instante etransforma toda a realidade daque-le ser.

    Podemos também afirmar queesta estrutura fundamental já nosdá, antes de qualquer experiência,algumas orientações quanto ao en-tendimento e a moral. Todos os se-res humanos parecem ser capazes decompreender e aceitar algo extre-mamente lógico que lhes seja apre-sentado. Um teorema matemáticoraramente causa problemas ou dis-cussões sérias no meio científico,pois mesmo aqueles que muito dis-tantes estão do conhecimento ma-temático, se lhes for pacientementeesclarecida a função do teorema, oaceitarão.

    O mesmo se dá com o senti-mento. Desde sua origem o Espíri-

    to tem um estado de natureza bom,ou uma lei moral grafada na cons-ciência. Este, a priori sentimental,seria o fundamento último de todaa moral, o sentimento que deno-minamos amor. Evidente que assimcomo a razão pode ser ludibriadapor falácias e sofismas bem arquite-tados, o sentimento de amor podeser nublado pelo véu da ignorânciae do orgulho, dando margem aosvícios que evidentemente contra-riam a natureza boa do homem.

    Na medida em que o ser se ex-pande, aproxima-se cada vez maisda individuação completa, os senti-mentos se harmonizam e o intelec-to passa a abranger aquilo que ago-ra consideramos incognoscível, nãoapenas por um acúmulo de conhe-cimento, mas porque o homemconsegue despir-se de sua máscara eencontra sua natureza inata, sua in-dividualidade original. Neste esta-do, o Espírito perde o lastro com o

    estilo de existência que conhecemose torna-se algo novo.

    A própria sensibilidade, o en-tendimento e a razão se expandem,passando a captar fenômenos queantes não se captariam ou sequerse poderiam supor pela imaginação.Através destes novos sentidos ouformas de raciocínio e entendimen-to, que estão no homem em estadoembrionário definido por intuição,o homem alcançará experiênciasque lhe descortinarão segredos maisamplos do Universo, da sua própriaalma e de Deus.

    A concepção que se tem daprecariedade humana é muito acer-tada para nossa realidade atual, mas,com o advento da mediunidade, aexpansão das ciências e transfor-mações de paradigmas culturais, aospoucos a Humanidade caminha pa-ra patamares mais felizes de exis-tência.

    Idéias inatas(O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,

    Parte 2a, cap. IV, ed. FEB.)

    218. Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percep-ções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências ante-riores?

    “Guarda vaga lembrança, que lhe dá o que se chama idéias inatas.”a) – Não é, então, quimérica a teoria das idéias inatas?“Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais

    se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Du-rante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém,a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse as-sim, teria que recomeçar constantemente. Em cada nova existência, oponto de partida, para o Espírito, é o em que, na existência preceden-te, ele ficou.” (...).

    288

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 10

  • Reformador/Agosto 2003 11289

    Aoperação da transferência do Espiritismo, daFrança, que o recepcionou, para o Brasil, no en-tardecer do século XIX, que dinamizaria e popu-

    larizaria a divulgação dos seus postulados científicos,filosóficos e religiosos, após a desencarnação de AllanKardec, motivou a convocação de inúmeros Espí-ritos missionários. Os anúncios e os prepara-tivos do advento do Consolador perdem--se nos tempos e historiadores maissensíveis encontram o seu ponto departida em dois momentos da vida doCristo:

    – Quando Jesus promete a vindado Consolador: “Se me amais, guar-dai os meus mandamentos; e eu ro-garei a meu Pai e ele vos enviará ou-tro Consolador, a fim de que fiqueeternamente convosco: O Espírito deVerdade (...).” (João, 14:15-17.)

    – Num diálogo que Jesus tem com sa-cerdotes e gente do povo, que questionam asua autoridade, rejeitando os seus ensinamen-tos, Ele destaca: “Por isso é que vos declaro que ti-rado vos será o Reino de Deus, e será dado a um po-vo que produza seus frutos.” (Mateus, 21:43.)

    Os séculos perpassaram, quando, então, em 18 deabril de 1857, com o lançamento de O Livro dos Es-píritos, foi concretizada, naquele país europeu, a Fran-ça, a primeira etapa da promessa do Cristo e, mais tar-de, durante o desenvolvimento da Codificação porAllan Kardec, tinha início a segunda fase, surgindo naCorte Imperial brasileira as “primeiras notícias” com a

    edição francesa de O Livro dos Espíritos. Comentáriosna imprensa, desfavoráveis ao Espiritismo nascente, pu-blicados no Diário da Bahia em 27/9/1863, com ré-plica de Luís Olímpio Teles de Menezes (1825-1893)no dia seguinte, no mesmo periódico, colocou o Bra-sil em destaque aos olhos de Allan Kardec, consoanteregistros do Codificador exarados na Revista Espírita de1865, página 323, publicada pela Edicel, com tradu-ção do francês por Júlio Abreu Filho.

    Após a desencarnação do Mestre de Lyon, em31/3/1869, o Espiritismo mundial entraria em

    sua segunda época. Nesse período, um jo-vem de 38 anos, nascido em 29/8/1831,

    em Riacho do Sangue, um pequenolugarejo nas terras áridas do Ceará, seentretinha com livros religiosos. Seunome: Adolfo Bezerra de MenezesCavalcanti. Aos 20 anos havia semudado para o Rio de Janeiro e,em 1856, com 25 anos, obtivera agraduação em Medicina. Quatroanos depois de ter contraído núpcias

    com D. Maria Cândida Lacerda, fi-cou viúvo, com dois filhinhos, de um

    e três anos. A viuvez, assim, levara-o aler a Bíblia e a discutir e estudar religião e

    é nesse estado de introspecção, de momentomístico, que... ouve falar da Doutrina de Allan

    Kardec.Dr. Silvino Canuto Abreu (1892-1980), na sua

    obra Bezerra de Menezes (Subsídios para a Históriado Espiritismo no Brasil até o ano de 1895), informaque a conversão de Bezerra de Menezes ao Espiritis-mo – fato que teria o seu apogeu em 16/8/1886,quando ele, num auditório com mais de duas mil pes-soas, declarou a sua fé espírita – foi um mero fenôme-no de recordação.1 >

    O servidor humílimo e paternalde sempre!

    Adilton Pugliese

    Bezerra de Menezes

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 11

  • 12 Reformador/Agosto 2003290

    > Realmente, examinando-se a informação acerca dodestino do Brasil, narrada pelo Espírito Humberto deCampos, na obra psicografada pelo inesquecível mé-dium Francisco Cândido Xavier, Brasil, Coração doMundo, Pátria do Evangelho, encontramos, nas pá-ginas 179 e 180, essas palavras de Ismael, Guia Espi-ritual da Pátria Brasileira, dirigidas ao seu discípulo,que reencarnaria com o nome de Adolfo Bezerra deMenezes:2

    “– Descerás às lutas terrestres com o objetivo deconcentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, di-rigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. (...)Não precisamos encarecer aos teus olhos a delicadezadessa missão; mas, com a plena observância do códi-go de Jesus e com a nossa assistência espiritual, pulve-rizarás todos os obstáculos, à força de perseverança ede humildade, consolidando os primórdios de nossaobra, que é a de Jesus, no seio da pátria do seu Evan-gelho. Se a luta vai ser grande, considera que não serámenor a compensação do Senhor, que é o caminho, averdade e a vida.”

    Examinando-se toda a trajetória da vida de Adol-fo Bezerra de Menezes, essa existência que nunca serádemais ser relembrada, porque se trata de uma vida in-comum e fascinante, pode-se confirmar que ele cum-priu, fielmente, com extremada dedicação e renúncia,ao apelo de Ismael. Seus primeiros contatos com afilosofia espírita dar-se-iam em 1875, quando oDr. Carlos Travassos, tradutor para o vernáculo deO Livro dos Espíritos, oferta ao então DeputadoBezerra de Menezes um exemplar. O Kardec Brasilei-ro, considerado o Apóstolo da Unificação no Brasil,cognominado, também, Médico dos Pobres, descreveo acontecimento:

    “Deu-mo na cidade, e eu morava na Tijuca, a umahora de viagem de bonde.

    Embarquei com o livro e, não tendo distração pa-ra a longa e fastidiosa viagem, disse comigo: ora, adeus!não hei de ir para o inferno por ler isto; e, depois, é ri-dículo confessar-me ignorante de uma filosofia, quan-do tenho estudado todas as escolas filosóficas (...).

    Lia; mas não encontrava nada que fosse novo pa-ra meu espírito, e entretanto tudo aquilo era novo paramim! (...)

    (...) parece que eu era espírita inconsciente, ou,como se diz vulgarmente, de nascença (...).”

    Mais tarde, depois de várias participações no en-

    tão nascente Movimento Espírita, Bezerra de Mene-zes, em 1895, convidado para assumir a presidênciada Federação Espírita Brasileira (FEB), decide ouvir aopinião dos Espíritos Superiores em reunião do “Gru-po Ismael” e é quando, então, através do médium Fre-derico Júnior, recebe do seu guia espiritual SantoAgostinho a exortação:

    “– Aceita o convite. É um chamado. Já te dissemosmais de uma vez que a união dos espíritas e a sua orien-tação te foram confiadas (...). Cumpre o teu dever ecumpriremos o nosso.” Bezerra, emocionado, declara:“– Neste caso, aceitarei e espero não me faltem o am-paro de Jesus, a proteção de nossos guias, assim comoo concurso de todos os companheiros do Grupo.”

    E Santo Agostinho encerra o decisivo diálogocom a mais expressiva das promessas: “– Iremos to-dos contigo!”3

    O Brasil espírita comemorou o seu centenário dedesencarnação há dois anos, relembrando a data de 11de abril de 1900, quando, em sua residência, no Riode Janeiro, aos 68 anos de idade, precisamente às11h30, retornou à Pátria Espiritual, sendo recebido,o seu Espírito, com os cânticos e saudações atribuídosaos verdadeiros heróis, servidores fiéis do Cristo. LéonDenis, ao tomar conhecimento da desencarnação deBezerra, declarou, da França:

    “– Quando tais homens deixam de existir, enlu-ta-se não somente o Brasil, mas os espíritas de todo omundo.”4

    Há mais de cem anos, contudo, esse VenerávelEspírito continua a sua missão na Terra. Comu-nicando-se através do médium Divaldo Pereira Franconas reuniões do Conselho Federativo Nacional, daFEB, “sempre enfatizando a união em torno dosideais cristãos”, testemunha sua humildade assinan-do-se “o servidor humílimo e paternal de sempre”.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1 4. ed. FEESP p. 29.2 XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, Coração do Mundo, Pá-tria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos. 26. ed.Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 179-180 e Reformador de agostode 2002.3 Equipe da FEB. Bezerra de Menezes – Ontem e Hoje. 3. ed.Rio de Janeiro: FEB, p. 26 e 200, 2001.

    4 Idem, ibidem, p. 203.

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 12

  • Reformador/Agosto 2003 13291

    ACâmara dos Deputados pres-tou uma emocionada home-nagem ao médium FranciscoCândido Xavier no dia 26 de junhodeste ano. Deputados de diversospartidos e Estados brasileiros lem-braram a vida apostolar e o exem-plo solidário de Chico Xavier napassagem do primeiro ano de suadesencarnação, ocorrida em 30 dejunho de 2002. A sessão solene foirequerida pelo Deputado FederalLuiz Bassuma (PT-BA). A Federa-ção Espírita Brasileira (FEB), naimpossibilidade de comparecimen-to do seu Presidente, Nestor JoãoMasotti, foi representada pelo Pre-sidente da Federação Espírita doDistrito Federal, João de JesusMoutinho, que integra o ConselhoFederativo Nacional da FEB.

    “O fato desta sessão solene serpresidida por um católico como eué prova da atitude respeitosa que to-dos os brasileiros têm para com oquerido Chico Xavier”, disse o Pre-sidente da Câmara, Deputado JoãoPaulo Cunha (PT-SP). Para ele, omédium mineiro é “um dos vultosmais importantes da História doBrasil”. O deputado Bassuma disseque a organização do evento cabiaaos Espíritos: “Esta sessão não foiconstruída por nós. Somos apenas

    o instrumento. A ação toda foi fei-ta pelo plano espiritual, e o traba-lho de hoje tem desdobramentosque nem sequer podemos perce-ber”, disse. Em seu pronunciamen-to, Bassuma afirmou que o grandedesafio da Humanidade é o exem-plo que Chico Xavier deixou: vi-

    venciar essencialmente a mensagemdo Cristo: “O desafio da nossa vidaé sermos coerentes com o que acre-ditamos, com o que falamos e como que fazemos no dia-a-dia.”

    Os Deputados Reginaldo Lo-pes (PT-MG), Wladimir Costa(PMDB-PA), Nice Lobão (PFL--MA), Paulo Afonso (PMDB-SC),Eduardo Barbosa (PSDB-MG), Ro-mel Anizio (PP-MG), Miguel deSouza (PL-RO), Colbert Martins(PPS-BA) e Francisco Gonçalves(PTB-MG) destacaram o exemplo

    de Chico Xavier, elogiando-lhe aconduta fraterna, a nobreza de ati-tudes e a dedicação ao próximo. Emseguida, foi exibido o vídeo “ChicoXavier – uma história de amor”. AFEB também homenageou o mé-dium mineiro com uma exposiçãodos livros por ele psicografados.

    A sessão foi encerrada comuma inspirada oração proferida pe-lo Deputado Bassuma. Depois deiniciar citando Jesus, disse que“uma nova aurora se avizinha paraesse País tão generoso” e encerrouafirmando que a homenagem aChico Xavier “é transferida, sob au-torização de Ismael, a todos aquelesque não puderam estar aqui e queperambulam pelas ruas do País comfome de pão e do Evangelho que li-berta amorosamente”.

    Enquanto se apresentava o Co-ral da Câmara, o médium José Me-drado executou um conjunto dequatro psicopictografias. O primei-ro quadro foi um retrato de ChicoXavier, já idoso, com boina e lápisà mão, pelo Espírito Cândido Por-tinari. A segunda obra, também dePortinari, chamada “Nordestina”,mostra um menino pobre com umatrouxa à cabeça. A terceira obra, doimpressionista francês Claude Mo-net, mostra uma paisagem com flo-res e aurora. A última pintura, deTarsila do Amaral, retrata o prédiodo Congresso Nacional em meio aum jardim.

    PRESENÇA DE CHICO XAVIER

    Câmara dos Deputados homenageia Chico Xavier

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 13

  • 14 Reformador/Agosto 2003292

    Apalavra de ordem, rezam oseconomistas, se desejamos me-lhorar nossa condição econô-mica, é poupar.

    Tanto quanto possível, reservar,mensalmente, um dinheirinho pa-ra o “pé-de-meia”, algo que nosproporcione segurança e a perspec-tiva de um futuro confortável etranqüilo.

    Envolve aplicações financeiraspara proteger o capital dos surtosinflacionários e ter algum rendi-mento.

    São incontáveis as opções, en-volvendo caderneta de poupança,fundos de renda fixa, dólar, imó-veis, ouro, bolsa de valores, merca-do futuro e similares…

    Diga-se de passagem, o resulta-do costuma ser inexpressivo, a nãoser que o investidor tenha muito di-nheiro para aplicar, o que não ocor-re com a maior parte da população.

    Há uma opção mais atraente,que merece atenção.

    Seria aplicar regularmente par-te de nossas disponibilidades noBanco da Providência, atendendopessoas que passam privações mate-riais, os carentes de todos os mati-zes, ajudando-os em suas necessi-dades.

    Partindo do velho aforismo,quem dá aos pobres empresta aDeus, todo recurso mobilizado nes-

    se sentido representará valiosa pou-pança nos “cofres do Céu”.

    E teremos dividendos abençoa-dos: paz, saúde, bem-estar, felicida-de, alegria de viver, muito mais im-portantes que o vil metal, o dese-jado patrimônio material.

    ...Detalhe ponderável: o dinhei-

    ro investido nos negócios da Terrapouca utilidade oferece, além da sa-tisfação de vê-lo crescer.

    Se sumir, não haverá nenhumarepercussão em nossa vida.

    Há pessoas que poupam otempo todo e acumulam razoávelcapital que nunca irão usar.

    Servirá apenas para suscitar dis-putas entre os herdeiros, quando opoupador bater as botas.

    Há um provérbio chinês bemsignificativo:

    Mesmo que tenhas dez milplantações, só podes comer uma ti-gela de arroz por dia; ainda que atua casa tenha mil quartos, nem dedois metros quadrados precisas pa-ra passar a noite.

    E há as tensões, as dúvidas e a

    perda de algo precioso, quando nosenvolvemos com os investimentosda Terra.

    Se me permite o leitor pacien-cioso, outro aforismo chinês:

    Quem abre o coração à ambi-ção, fecha-o à tranqüilidade.

    Melhor combater tais tendên-cias, aprendendo a investir algo denossos recursos no Banco da Provi-dência, minorando aflições, aten-dendo enfermos, alimentando fa-mintos, oferecendo melhores con-dições de vida para muita gente quevive miseravelmente.

    O lucro auferido com investi-mentos dessa natureza é imediato,exprimindo-se em inefável sensaçãode paz.

    O bem estendido ao redor denossos passos é bênção de Deus emnossas vidas.

    ...Questão crucial:Quando se trata de abrir a bol-

    sa em favor do próximo, o fechocostuma emperrar.

    A tendência é dar o que nãovai faltar.

    Invariavelmente, porém, sobinspiração do velho egoísmo huma-no, sempre nos parecerá indispen-sável o dinheiro amoedado, aindaque o tenhamos sobrando nos co-fres.

    É de Sêneca judiciosa observa-ção envolvendo a maneira como su-perestimamos nossas necessidades:

    Para a nossa avareza, o muitoé pouco.

    InvestimentosRichard Simonetti

    O bem estendido

    ao redor de nossos

    passos é bênção de

    Deus em nossas

    vidas

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 14

  • Reformador/Agosto 2003 15293

    Para a nossa necessidade, o pou-co é muito.

    Assim, quase nada sobra para oBanco da Providência.

    Por isso Jesus nos oferece oexemplo da viúva pobre (Lucas,21:1-4), dando a entender que ovalor está em darmos o que vai fa-zer falta.

    E considere, leitor amigo:Geralmente, esse “fazer falta”

    está em nossa cabeça, como sugereo filósofo romano.

    ...Talvez nos estimule reconhecer

    que os investimentos nos Bancosdo Mundo, por mais que rendam,não acrescentarão um só centavoaos valores espirituais.

    Tudo ficará aqui, quando for-mos convocados pela Morte à via-gem de retorno. Se só eles merecemnossa atenção, estaremos mal, “aorelento”, na Espiritualidade.

    Quanto aos investimentos noBanco da Providência, estes ren-dem dividendos para a Vida Eterna,habilitando-nos à estadia em “hotelcinco estrelas”, no Além, ampara-dos por generosos benfeitores.

    ...Se alimentamos a intenção de

    emprestar a Deus, recomenda-sealgum critério, evitando sustentar amalandragem e a indolência, que,infelizmente, grassam por aí.

    O ideal será escolhermos inter-mediários confiáveis.

    São as instituições que desen-volvem serviços assistenciais e pro-mocionais de forma transparente eprodutiva.

    Nelas são identificados os legi-timamente carentes, desenvolven-do-se, em seu benefício, ações no

    sentido de promovê-los, reorgani-zando suas vidas.

    Usando expressão bem atual,ajudam os excluídos a encontrar umlugar na sociedade, construindo seufuturo.

    O Centro Espírita envolvidocom o trabalho social, na vivênciados princípios de caridade que nor-teiam o Espiritismo, enquadra-seperfeitamente nessa condição.

    Ali se desenvolvem os mais va-riados serviços em favor da popula-ção carente, onde todos podemosfazer valiosos investimentos de doistipos:

    em espécie

    Reservar parte de nossos rendi-

    mentos, de forma disciplinada eperseverante, com a mesma regula-ridade com que pagamos contas deágua, luz e telefone.

    em serviço

    Reservar parte de nosso tempopara engrossar as fileiras de volun-tários que desenvolvem serviços deassistência e promoção social, sob abandeira da solidariedade.

    Então, sim, estaremos contabi-lizando créditos abençoados na Pou-pança do Céu, em favor de umaexistência mais feliz na Terra e umretorno tranqüilo à vida espiritual.

    Vamos investir?

    Grão de trigoMário Frigéri

    “Pois, que aproveitará o homem se ganhar o mundo in-teiro e perder a sua alma?” Jesus. (Mateus, 16:26.)

    Se, ao cair no chão, o grão de trigoNão perecer, fica ele só na terra;Mas se morrer, sua alma se descerraE a cem por um produz em seu jazigo.

    É um “morto” ativo que tomou da cruz,Após negar seu ego neste plano.Perdeu a vida – no conceito humano;Ganhou a vida – segundo Jesus.

    Quem não ajunta com Jesus, espalha.Ciente, pois, da luz que em ti floreia,Ergue bem alto do Evangelho a tocha.

    E enquanto os “vivos”, na mais vã batalha,Armam castelos de cartas na areia,Sê tu aquele que constrói na rocha.

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 15

  • Reformador/Agosto 2003294

    “Permita-me a liberdade de levarao seu conhecimento o que se meoferece transmitir-lhe a respeito decasos e coisas por mim constata-dos no meio espírita, que, a meuver, extrapolam da natureza e fina-lidade do Espiri-tismo.”(Trecho de carta do missivistaPolicarpo Moura.)

    Prezado Confrade,

    Impressionou-me o seu desabafoquanto ao desapontamento doobjeto de suas observações.Antes de entrar no mérito da

    questão, seja-me lícito, desde logo,fazer a ressalva de que a DoutrinaEspírita não comporta comprome-timentos de qualquer ordem, tãoinvulnerável é em seu tríplice aspec-to e indecomponível em seu emba-samento evangélico-doutrinário.Nós a esposando é que, não raro,deixamos muito a desejar, por agirem sentido contrário e contradito-riamente aos seus ensinos, como sóiacontecer quando, assim descarac-terizados espiriticamente, nos cons-tituímos em agentes de inovaçõesdescabidas e de novidades contra-producentes, de instrumentos dediscórdia, em promotores de mu-danças inconsistentes de programa-ções de trabalho sem nenhum pro-pósito de adequação aos meios efins justificadamente espiríticos, tãoempenhados estamos na prevalên-cia dos nossos pontos de vista e to-madas de posições quase sempre in-

    congruentes e intempestivas.Assim, as supostas desfigura-

    ções da Doutrina dos Espíritos, quejulgamos afetá-la, não procedem elonge estão de corresponder à reali-dade dos fatos, antes se situam nasmentes de profitentes incautos e de-savisados que se dão a toda sorte dedesmandos, tão desatentos se mos-tram à assimilação da essência dosseus ensinamentos.

    Não será esse o seu caso, desde

    que se proponha a preservar-se detais envolvimentos desagregadorese desgastantes, que levam a quantosos suscitam, ou por eles se deixaminfluenciar, à lamentável condiçãode pedras de tropeços no caminhodos que o vêm palmilhando espe-rançosos de chegarem a bom ter-mo.

    A Doutrina se nos apresentasem costuras, como inconsútil era atúnica do Cristo, tão meridiana-mente clara como a luz do Sol quãotoda transparente como a água que

    flui pura da nascente. Não dá mar-gem a quaisquer dúvidas, a nin-guém engana nem decepciona aquem quer que seja. O que falta adeterminados confrades é maturi-dade e bom senso, enquanto, emcertos casos, lhes sobra muito depersonalismo. Daí as interpolaçõesdespropositadas e a carência decomportamentos ajustados aos pa-râmetros da necessária exemplifi-cação.

    Mas, veja bem, a par dessa de-plorável incoerência, tão do nossoconhecimento e desagrado, há, dou-tra parte, como não podia deixar deser, tranqüilizador cenário, comcambiantes de realidades e realiza-ções, suavizando-nos os olhos e in-duzindo-nos à luta pela nossa pró-pria espiritualizacão. É nesse pano-rama de atos e fatos, de atitudes eações, de empreendimentos e feitosdignificantes que primordialmentedevemos volver o nosso olhar, detera nossa atenção, abrindo a mente edescerrando o coração aos influxosda orvalhada de bênçãos promana-da das altiplanuras da Espirituali-dade.

    No mirante de nossas observa-ções, precisamos de abranger toda avastidão da vista panorâmica, comos marcantes aspectos edificantesque sobejam no Espiritismo e ja-mais nos determos apenas em par-tes isoladas, envoltas em nebulosi-dades, que nos privam do aprazi-mento de vislumbrarmos a impres-sionante e surpreendente grandio-sidade do conjunto. Lentes escuras

    16

    Carta Aberta...Passos Lírio

    A Doutrina se nos

    apresenta sem

    costuras, como

    inconsútil era a túnica

    do Cristo, tão

    meridianamente clara

    como a luz do Sol

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 16

  • Reformador/Agosto 2003 295

    ou embaçadas só nos facultam verpenumbras e sombras, como se es-sa fora mesmo a realidade do quelobrigamos ver.

    É o de que, prezado Policarpo,nos dão idéia suas errôneas impres-sões do que vem a ser a DoutrinaEspírita, não detectando seus alta-nados objetivos, que, a admiti-las,nos levam até a supor tenha ela en-trado em decadência, quando, naverdade, decadentes e decaídos, des-falecentes e desfalecidos podemosser todos nós, seus profitentes, nasfrentes de trabalho em que atua-mos, quando nos desmandamos ar-bitrariamente, a ponto de perderáureas oportunidades de darmos al-guns passos à frente em mais umaencarnação com que fomos con-templados pela misericórdia do Al-tíssimo, nosso Criador e Pai.

    Ao demais, se a nós, indivi-dualmente, já nos é possível alcan-çar a essência dos ensinamentos daDoutrina dos Espíritos e ter as de-vidas posturas perante ela, esfor-çando-nos por bem exemplificá-laem todos os lances e ensejos que senos oferecem, por que nos afligir-mos com os nossos confrades quenão o fazem, tão certos estamos deque cada um de nós arca com asconseqüências de seus própriosatos? No caso, o que nos cabe fazeré orar por eles e, por nossa vez, nosacautelarmos para não incorrer nosmesmos eventuais disparates e com-prometimentos.

    Gostaria imenso, distinto mis-sivista, reconsiderasse a sua engano-sa concepção do que lhe parece sero Espiritismo, por não atinar, se-gundo confessa, com a razão de serdessas “coisas tão estranhas e espan-tosas”, nem poder conceber o quese lhe afigura “impossível de expli-

    cação e justificativa”.Grande seria a minha estranhe-

    za e maior ainda a estupefação, nãofora sabê-lo neófito, compreensivel-mente passível de decepcionar-secom o que vem de constatar quan-to ao teor de negatividade contras-tante com as diretrizes da Doutrinaque abraçou e nela há de firmar-seem definitivo, como convirá man-ter-se, sem desânimos nem des-falecimentos.

    Aproveite bem o tempo, eu lho

    peço, sem se desgastar nem se des-gostar com os arranjos e desarran-jos de nossos companheiros deideal ainda distanciados do verda-deiro sentido e alcance da TerceiraRevelação, tão magistralmente co-dificada pela genialidade de AllanKardec e de contexto facilmente as-similável.

    Abraça-o quem muito se prezade tê-lo como amigo e de ser seuservidor em Cristo.

    17

    União e amizadeUnião e Amizade,Asas de Luz da Paz e da Alegria,Com que nossa alma voa, cada dia,Ao reino augusto da Fraternidade!...

    Da União nasce a fonte soberanaDo poder que redimePelo amor milagroso, amplo e sublime,De que todo o Universo se engalana.

    Da Amizade provémA Santa vibraçãoDas aleluias de renovação,Das claridades do infinito bem.

    Sem que a luta nos una, passo a passo,E sem que nos amemos,Dormirão nossos sonhos nos extremosDa aflição, da amargura e do cansaço.

    União e Amizade,Fadas celestes da felicidade...Quem ouvi-las submisso,Agindo para honrá-las e entendê-las,Guarda os braços nas bênçãos do serviçoE o coração na glória das estrelas.

    Cármen Cinira

    Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Correio Fraterno, Diversos Espíritos. 5. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 24, p. 63-64.

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 17

  • 18 Reformador/Agosto 2003296

    O novo Código Civil, em vigor desde janeiro des-te ano, trouxe importantes inovações ao cotidiano detoda a sociedade, conforme amplamente divulgadopelos meios de comunicação.

    Como ocorreu com as demais entidades, as Insti-tuições Espíritas também foram atingidas por essas sig-nificativas alterações que, em alguns casos, podem en-sejar profundas mudanças na estrutura administrativada Casa.

    Assim, visando a auxiliar as Instituições Espíritasnas alterações que se fizerem necessárias em face donovo Código Civil, oferecemos, a título de colabora-ção, o presente material, elaborado em forma de per-guntas e respostas, transcrevendo os artigos respecti-vos, a fim de facilitar o entendimento dos dirigentesespíritas.

    Maiores detalhamentos estarão disponíveis nosite da Federação Espírita Brasileira: www.febnet.org.br,no link “Assessoria Jurídica”.

    1. Como se classifica a Instituição Espírita juridica-mente?

    É considerada associação, espécie do gênero pes-soa jurídica de direito privado.

    “Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:I – as associações;

    II – as sociedades;III – as fundações.Parágrafo único. As disposições concernentes às associa-ções aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que sãoobjeto do Livro II da Parte Especial deste Código.”

    2. O que é uma associação?É a união de pessoas que se organizem para fins

    não econômicos, incluindo-se nesta categoria todas aspessoas jurídicas que exerçam atividades assistenciais,

    religiosas, culturais, como, por exemplo, os centros es-píritas, as igrejas e as organizações não-governamen-tais.

    “Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pes-soas que se organizem para fins não econômicos.Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos eobrigações recíprocos.”

    3. Considerando que o novo Código Civil classificaa Instituição Espírita como associação, aquela quepossui em seu nome a designação “Sociedade” estáobrigada a alterá-la?

    Não, uma vez que a nova legislação somente co-loca como regra obrigatória constar de seu ato consti-tutivo – o estatuto – além de outras exigências, a de-nominação de associação, como forma de caracterizara natureza jurídica da instituição (art. 54).

    Como exemplo, supondo-se a existência de umainstituição registrada como Sociedade Espírita X, nãonecessitará ela mudar sua denominação para Associa-ção Espírita X, bastando que conste de forma expres-sa em seu estatuto o seguinte: A Sociedade Espírita X,associação constituída nos termos do art. 53 do Có-digo Civil, tem por objetivos (...).

    “Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associa-ções conterá:

    I – a denominação, os fins e a sede da associação;II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão

    dos associados;III – os direitos e deveres dos associados;IV – as fontes de recursos para sua manutenção;V – o modo de constituição e funcionamento dos ór-

    gãos deliberativos e administrativos;VI – as condições para a alteração das disposições esta-

    tutárias e para a dissolução.”

    O novo Código Civil e as Instituições Espíritas

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 18

  • Reformador/Agosto 2003 19297

    4. Quando se constitui, juridicamente, uma Institui-ção Espírita?

    Por ocasião do registro de seu estatuto no cartó-rio de registro civil de pessoas jurídicas da cidade on-de se localize sua sede social.

    “Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicasde direito privado com a inscrição do ato constitutivo norespectivo registro, precedida, quando necessário, de au-torização ou aprovação do Poder Executivo, averbando--se no registro todas as alterações por que passar o atoconstitutivo.”

    5. Com a entrada em vigor do novo Código Civil,qual o prazo que a Instituição Espírita tem para al-terar seu estatuto?

    Um ano, contado a partir de 10 de janeiro de2003, segundo o art. 2.031 do novo Código Civil, ouseja, a instituição deve registrar seu estatuto, após asdevidas alterações, até 10 de janeiro de 2004.

    6. Há alguma regra especial quanto à atribuição dedireitos e deveres em relação aos associados?

    Em princípio, todos os associados terão direitos edeveres iguais. Contudo, o estatuto poderá criar cate-gorias com vantagens especiais, de acordo com as ne-cessidades da Instituição, entre as quais se inclui a departicipar da assembléia geral e a de votar e ser votado.

    “Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas oestatuto poderá instituir categorias com vantagens espe-ciais.”

    7. Existem atribuições privativas da assembléia geral,de acordo com o novo Código Civil?

    Sim. Embora possa deliberar sobre quaisquer as-suntos a ela afetos no ato constitutivo, compete exclu-sivamente à assembléia geral eleger e destituir os ad-ministradores, aprovar as contas e alterar o estatuto daInstituição.

    “Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral:I – eleger os administradores;II – destituir os administradores;III – aprovar as contas;IV – alterar o estatuto.”

    8. Que critérios devem ser observados para a eleiçãodos administradores da Instituição Espírita?

    Somente a assembléia geral é competente paraeleger e empossar os administradores da associação.Poderá ser eleita uma Diretoria ou, como já ocorreem muitas entidades, um Conselho (Superior, Admi-nistrativo, Deliberativo, Diretor), “cabendo a este, emseguida, a designação, dentre seus membros, dos ti-tulares dos cargos de direção” (v. Miguel Reale em seutexto “As Associações no Novo Código Civil”, que es-tá disponível no site www.miguelreale.com.br).

    9. A eleição da Diretoria ou, quando for o caso, deum Conselho, que designará os diretores, deverá serfeita de uma só vez pela assembléia geral?

    Não necessariamente. Dependendo das conveniên-cias administrativas e do porte da entidade, o seu esta-tuto poderá prever a eleição dos membros da Diretoria“(...) em períodos distintos, de um ou mais anos, comrenovação periódica e parcial do mandato dos diretores.”Poderá, ainda, prever que a eleição do Conselho não se-ja global, “(...) mas apenas para uma de suas partes, naproporção e nas datas previamente estabelecidas.” (ado-tamos, também aqui, o magistério de Miguel Reale).

    10. Quem pode convocar a assembléia geral?A convocação da assembléia geral será feita na

    conformidade do que dispuser o estatuto (normal-mente pelo Presidente ou pelo Secretário da Institui-ção). Deve ficar garantido, contudo, o direito de pro-movê-la a um quinto dos associados com direito àparticipação nas assembléias gerais.

    “Art. 60. A convocação da assembléia geral far-se-á naforma do estatuto, garantido a um quinto dos associa-dos o direito de promovê-la.”

    11. Qual o número mínimo de participantes paraque se instale e possa deliberar a assembléia geral?

    Quanto ao quorum para as decisões ordinárias,não há inovações. Contudo, há regras especiais paraas seguintes situações:I) exclusão de associado (caput do art. 57): instala-

    ção na forma do estatuto e deliberação com maio-ria absoluta dos presentes convocados à assem-bléia geral para este fim; e

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 19

  • 20 Reformador/Agosto 2003298

    II) destituição de administradores e alteração do es-tatuto (parágrafo único do art. 59): instalação deacordo com o estatuto e deliberação, em primei-ra convocação, com a maioria absoluta dos asso-ciados ou com pelo menos um terço nas convo-cações seguintes, exigindo-se o voto concorde dedois terços dos presentes à assembléia especial-mente convocada para esse fim.

    “Art. 57. A exclusão do associado só é admissível haven-do justa causa, obedecido o disposto no estatuto; sendoeste omisso, poderá também ocorrer se for reconhecida

    a existência de motivos graves, em deliberação funda-mentada, pela maioria absoluta dos presentes à assem-bléia geral especialmente convocada para esse fim.”

    “Art. 59 (...)Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem osincisos II e IV [destituição de administradores e altera-ção do estatuto] é exigido o voto concorde de dois ter-ços dos presentes à assembléia especialmente convocadapara esse fim, não podendo ela deliberar, em primeiraconvocação, sem a maioria absoluta dos associados, oucom menos de um terço nas convocações seguintes.”

    Por que sofremos tanto quan-do perdemos um bem mate-rial? Por que nosso mundodesaba sobre nós quando somosdespedidos do emprego? Será queainda não nos demos conta de queestamos de passagem por aqui, fa-zendo um estágio temporário eque logo partiremos sem levarmosabsolutamente nada material da-qui?

    Somos Espíritos. Assim acre-ditamos a maior parte das pessoasde nossa Humanidade, indepen-dentemente da religião, mas nãovivemos de acordo com essa cren-ça. Espíritos não necessitam de ca-sas enormes em bairros chiques,carros de luxo ou posições de des-taque na sociedade para serem fe-lizes. Podem e devem usar estascoisas para seu bem estar, mas sem

    se descuidar de seus verdadeiros in-teresses neste mundo, que são odesenvolvimento de seus poten-ciais intelectuais e principalmenteos do coração. Porque entendi-mento e amor são os objetivosmestres que nos trouxeram atéaqui. Não viemos para possuir, pa-ra construir patrimônios ou paradeixar heranças. Estes são meiosúteis, mas muitas vezes perigosos,de se conseguir as metas reais. Nãopodemos despender todo o nossotempo, nossa atenção e nossos me-lhores esforços na aquisição debens. O tempo passa rápido, nos-sa vida escoa célere em direção aoseu final e, muitas vezes, somossurpreendidos com o término doestágio, sem que tenhamos feitogrande coisa em benefício dequem realmente somos: Espíritos!

    Quanto sofrimento com a es-tética imperfeita de nossos corpos!Quanta dor por não termos a po-sição que gostaríamos nos palcosdo mundo! Mas a verdade é que is-

    so aqui não passa realmente de umpalco, um grande teatro, onde nóssomos os atores. Interpretamos pa-péis diferentes, rimos, choramos,agredimos-nos e amamos, no en-tanto o que vale é a experiência, oaprendizado em cada situação, emcada relação. O espetáculo termi-na, ou pelo menos nossa participa-ção, e descobrimos que nossoscompanheiros de palco sempre fo-ram o mesmo que nós: Espíritos!

    Não há diferenças, somos fei-tos da mesma substância, comidêntica filiação e com os mesmosobjetivos. O que muda é a vivên-cia, que uns têm mais que outros.A experiência ensina que não valea pena agredir, magoar, competir,pois a peça termina rápido deixan-do-nos diante da única realidade anão se esvanecer: a de que somosEspíritos!

    Não há morte. Sobrevivemosapós o túmulo e levamos para aoutra vida somente aquilo quehouvermos conquistado dentro denós mesmos. Não podemos levarmais nada. Espíritos não precisamde nada mais.

    Somos imortaisFábio Henrique Ramos

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 20

  • Reformador/Agosto 2003 21299

    Honras vãs“Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que

    são mandamentos de homens.” – Jesus. (Marcos, 7:7.)

    A atualidade do Cristianismo oferece-nos lições profundas, relativamen-te à declaração acima mencionada.

    Ninguém duvida do sopro cristão que anima a civilização do Ocidente.Cumpre notar, contudo, que a essência cristã, em seus institutos, não passoude sopro, sem renovações substanciais, porque, logo após o ministério divi-no do Mestre, vieram os homens e lavraram ordenações e decretos na pre-sunção de honrar o Cristo, semeando, em verdade, separatismo e destruição.

    Os últimos séculos estão cheios de figuras notáveis de reis, de religiosose políticos que se afirmaram defensores do Cristianismo e apóstolos de suasluzes.

    Todos eles escreveram ou ensinaram em nome de Jesus.

    Os príncipes expediram mandamentos famosos, os clérigos publicarambulas e compêndios, os administradores organizaram leis célebres. No entan-to, em vão procuraram honrar o Salvador, ensinando doutrinas que são ca-prichos humanos, porquanto o mundo de agora ainda é campo de batalhadas idéias, qual no tempo em que o Cristo veio pessoalmente a nós, apenascom a diferença de que o Farisaísmo, o Templo, o Sinédrio, o Pretório e aCorte de César possuem hoje outros nomes. Importa reconhecer, desse mo-do, que, sobre o esforço de tantos anos, é necessário renovar a compreensãogeral e servir ao Senhor, não segundo os homens, mas de acordo com os seuspróprios ensinamentos.

    Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, 21. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001,cap. 37, p. 89-90.

    ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 21

  • 22 Reformador/Agosto 2003300

    “No princípio, criou Deus os céuse a terra. A terra, porém, estavasem forma e vazia; havia trevas so-bre a face do abismo, e o Espíritode Deus pairava sobre as águas.Disse Deus: Haja luz; e houve luz.”

    Gênesis, 1:1-3.

    Estes belos ensinamentos, con-tidos no primeiro livro dopentateuco judaico, acrescidosde toda a descrição da criação domundo, segundo o autor, vem sen-do constantemente ponto de dis-cussão acirrada, onde criacionistase evolucionistas tentam provar qualdas teorias estaria verdadeiramentecerta.

    A busca da compreensão daorigem do Universo e, conseqüen-temente, da origem da Vida, temsido uma constante para a Huma-nidade que, no entanto, se esquece,na sua presunção, de que tal procu-ra se confunde com a própria essên-cia do Criador e que para tal nosfalta “o sentido”, como nos afir-mam os Espíritos da Codificaçãosobre as possibilidades do homemde compreender a Deus.

    Apesar das limitações huma-nas, é dever da Ciência encontrarrespostas para os anseios de todos,tentando explicar-nos as causas, dasquais resultou o maravilhoso espe-táculo da vida. Sendo assim, aindaficam para a maioria as perguntas:A vida surgiu por acaso ou a partir

    de uma vontade superior? Os seresvivos sempre tiveram a aparênciaatual ou sofreram transformaçõesao longo do tempo? Os animais dediferentes espécies apresentam al-gum grau de parentesco? Temos umancestral comum?

    Os conflitos fizeram-se maisintensos no século dezoito, quandosurgiram novas teorias que contra-diziam as idéias criacionistas, quepreponderavam até então.

    O marco maior desses conflitosocorreu em 1859, com a publicaçãodo livro A Origem das Espécies porMeio da Seleção Natural, de Char-les Darwin. Para Darwin, a vida re-sultou de mutações aleatórias damatéria a partir de modelos extre-mamente simples. E foi evoluindopor meio de uma seleção adaptati-va dessas mutações, atendendo ànecessidade de sobrevivência. Den-tro de sua teoria, a vida teria come-çado espontaneamente no momen-to em que uma sopa primordial deelementos químicos básicos, sub-metida às condições da Terra primi-tiva, produziu pela primeira e úni-ca vez uma molécula replicante. Apartir daí, mudanças graduais, aoacaso, permitiram o surgimento deseres cada vez mais complexos.

    Dessa maneira, a evolução se-ria uma repetição incessante da re-produção, onde a geração anteriorpassaria para a próxima os genesherdados de seus antepassados,quando poderiam ocorrer pequenos

    erros, chamados de mutações, asquais, de forma aleatória, provoca-riam as mudanças progressivas nasespécies; e, no decorrer das gera-ções, essas mutações seriam selecio-nadas, atendendo à necessidade desobrevivência daqueles grupos.

    Essas colocações escandaliza-ram à Igreja e aos seguidores daTeoria Criacionista. É importante,porém, lembrarmos que elas nãoforam as primeiras idéias evolucio-nistas, que Lamarck já havia trazi-do uma abordagem neste sentido eque, num período anterior e muitopróximo, Kardec já trazia ao mun-do uma idéia nova, oriunda dos en-sinamentos dos Espíritos, os quaisreuniam posturas criacionistas eevolucionistas em uma só teoria.

    Com o surgimento das idéiasdarwinistas e a comprovação demuitos de seus postulados, a Ciên-cia, quase como um todo, foi assu-mindo a conceituação evolucionis-ta, de tal forma que, na maioria dospaíses, inclusive no Brasil, ela é aúnica teoria sobre a origem da vidaestudada nas escolas.

    No entanto, é importante res-saltar que o darwinismo não é umateoria acabada e comprovada, exis-tindo, hoje, várias abordagens quea reforçam ou retratam-na, buscan-do dar explicações mais consisten-tes, de acordo com a evolução dosconhecimentos científicos. No iní-cio do século vinte, os cientistasWilhelm Johannsen (inventor do ter-

    As Teorias sobre a Origem da Vida e a Visão Espírita

    Roberto Lúcio Vieira de Souza

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 22

  • Reformador/Agosto 2003 23301

    mo “gene”), e Thomas Morgan (paida teoria cromossômica da heredi-tariedade) deduziram que novas es-pécies surgiam de uma única gran-de mutação e não da seleção na-tural. Mooto Kimura, outro gene-ticista, retomou a teoria neutralista,afirmando que a maioria das mu-danças evolutivas, no âmbito da ge-nética molecular, seriam neutras, ouseja, não dependentes da seleçãonatural.

    Em 1972, os paleontólogosStephen Jay Gould (Harvard) e Ni-les Eldredge (Mu-seu de HistóriaNatural de NovaYork) trouxeramuma nova aborda-gem, vista pormuitos comocomplementar aodarwinismo, queafirma que a evo-lução acontece emsaltos rápidos,quando popula-ções pequenas desenvolvem, em pe-ríodos de não mais que 10.000anos, novas características para seadaptar a um certo ambiente. De-pois, essas espécies tendem a man-ter-se constantes por milhões deanos. Esse modelo explicaria a au-sência de fósseis que mostrem cla-ramente a mutação das espécies aolongo de bilhões de anos. Todo odesenvolvimento dessas idéias nãofoi o suficiente para sepultar a visãocriacionista, que, no momento atu-al, se utiliza da própria biologia, dabioquímica e da matemática parasofisticar os argumentos a favor des-sa última abordagem.

    No entanto, é preciso lembrar-mos que a teoria criacionista defen-dida pelos fundamentalistas religio-

    sos é diferente daquela apresentadapor este grupo de estudiosos. Paraaqueles, que se fazem radicais emsua abordagem, a teoria da origemda vida resume-se nas seguintes pre-missas:

    – O Universo, a energia e a vi-da foram criados do nada por Deus;

    – Os organismos complexosnão surgiram de formas mais sim-ples da vida, através de mutaçõesaleatórias;

    – As variações entre os seres vi-vos limitam-se dentro de cada espé-

    cie;– Os homens e macacos têm

    ancestrais distintos;– A geologia terrestre é explica-

    da pelo catastrofismo, a começarpelo dilúvio registrado na Bíblia;

    – E a Terra é jovem, tendo me-nos de 10.000 anos.

    Os estudiosos modernos vin-culados à teoria do criacionismoafirmam terem razões não religiosaspara acreditarem em suas aborda-gens. Para eles, a complexidade davida requer a existência de um “pla-nejamento inteligente”. Esta teoriajá estava presente no século treze,quando Tomás de Aquino, um dospríncipes da Igreja Católica, usou oargumento da complexidade da vi-da como uma das provas da exis-

    tência de Deus. Entretanto, o neo-criacionismo, como é agora conhe-cido, embora defenda o “planeja-mento inteligente”, foge dos racio-cínios metafísicos e esotéricos dopassado, buscando na bioquímicasuas maiores bases.

    Um dos principais defensoresdessas idéias é o bioquímico Mi-chael Behe, professor da Universi-dade Lehigh, na Pensilvânia (EUA),autor do livro A Caixa Preta deDarwin. Para ele, “a teoria de Dar-win pode explicar cascos de cavalos,

    mas não os alicer-ces da vida”.

    Os neocria-cionistas defen-dem que a vidanão tem nada dealeatório, seguin-do a este chama-do “planejamen-to inteligente”. Amaior prova distoestaria na com-plexidade dos sis-

    temas celular e molecular, os quaisseriam verdadeiras máquinas cujaspartes, embora independentes, es-tariam interligadas estreitamente ea ausência de um único componen-te do sistema seria o suficiente paraimpedir o seu funcionamento.Exemplos dessa situação encontra-ríamos em estruturas como o olhohumano e o sistema de coagulaçãosangüínea; eles só são capazes defuncionar quando todos os elemen-tos estão presentes e em perfeitasconexões. Para eles, essa engenhariacomplexa não poderia ser fruto demudanças aleatórias.

    O físico Grichka Bogdanov,em seu livro Deus e a Ciência, ex-plicando o surgimento das molécu-las de nucleoproteínas, afirma: “Pa-

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 23

  • 24 Reformador/Agosto 2003302

    ra que a agregação dos nucleotídeosconduzisse ‘por acaso’ à elaboraçãode uma molécula de ARN utilizá-vel, teria sido preciso que a natu-reza multiplicasse, às apalpadelas,as tentativas, durante pelo menos10 a(potência) 15 anos, ou seja, du-rante cem mil vezes mais tempo quea idade do nosso Universo” (p. 52).

    Outro elemento usado paraconfirmar esse posicionamento en-contra-se no fato de até hoje nãotermos registros de animais transi-cionais (um fóssil que fosse exata-mente uma transição de uma espé-cie para a outra).

    Michael Behe afirma em seucitado livro: “Dizer que a evoluçãodarwiana não pode explicar tudo nanatureza não equivale a dizer que aevolução, a mutação aleatória e a se-leção natural não ocorram. Elas fo-ram observadas (pelo menos nos ca-sos de microevolução) em muitasocasiões diferentes. Tal como osanalistas de seqüência, acredito quea prova confirma convincentemen-te a ascendência comum.” E conti-nua, posteriormente: “Ninguém ja-mais explicou de forma detalhada,científica, como a mutação e a sele-ção natural poderiam construir asestruturas complexas, intricadas,discutidas neste livro.” (Cap. 8, p.179.)

    Para esse grupo de estudiosos,o mundo da bioquímica está reple-to de sistemas irredutivelmentecomplexos, verdadeiras máquinasquímicas, precisas e interdependen-tes, que exigem uma amarraçãoque está muito além da coincidên-cia. Tal abordagem não é, entretan-to, uma defesa direta da existênciade Deus, como defendida pelamaioria das religiões, mas sim deum “plano inteligente”, que neces-

    sita ainda de pesquisa para sua me-lhor compreensão, mas sem o qualficam incompreensíveis muitas dassituações presentes no processoevolutivo.

    Chega para nós, com uma ale-gria e satisfação, a teoria espírita dosurgimento da vida, a partir de umCriador, que é “Inteligência Supre-ma, Causa Primária de todas ascousas”, mas que segue suas pró-prias leis, que são as da Naturezaem si, para realizar todo o processoevolutivo. Reúnem os Espíritos asduas teorias, retirando delas toda apostura radical, buscando desenvol-ver o conhecimento de forma racio-nal e crítica.

    O Espiritismo entende, comonos ensina Kardec, no seu livro AGênese, que o texto retratado noinício deste artigo, como tantas ou-tras formas mitológicas e místicasde narração da criação do mundo,seria aquele de possível compreen-são para aquele povo, em determi-nado momento da História, e nãouma visão acabada do fato; não pas-saria de forma alegórica, para asmentes ainda infantis, no campo doconhecimento científico.

    Sobre a criação dos mundos edo surgimento dos seres vivos, reco-lhemos alguns ensinamentos conti-dos em O Livro dos Espíritos, nocapítulo III, da sua primeira parte(Ed. FEB):

    – “É fora de dúvida que ele [oUniverso] não pode ter-se feito a simesmo. Se existisse, como Deus, detoda a eternidade, não seria obra deDeus.”

    – “Tudo o que a esse respeitose pode dizer e podeis compreenderé que os mundos se formam pelacondensação da matéria dissemina-da no Espaço.”

    – “No começo tudo era caos;os elementos estavam em confusão.Pouco a pouco cada coisa tomou oseu lugar. Apareceram então os se-res vivos apropriados ao estado doglobo.”

    Sobre a questão da evoluçãodos seres a partir de um elementocomum e das suas características in-dividuais, assim se expressam osmesmos Espíritos, na pergunta 611,do citado livro:

    – “Duas coisas podem ter amesma origem e absolutamentenão se assemelharem mais tarde.Quem reconheceria a árvore, comsuas folhas, flores e frutos, no gér-men informe que se contém na se-mente donde ela surge? Desde queo princípio inteligente atinge ograu necessário para ser Espírito eentrar no período da humanização,já não guarda relação com o seu es-tado primitivo e já não é a almados animais, como a árvore já nãoé a semente. De animal só há nohomem o corpo e as paixões quenascem da influência do corpo e doinstinto de conservação inerente àmatéria.”

    Ainda sobre o surgimento daTerra e a criação da vida e o seuprocesso evolutivo, recolhemos frag-mentos do capítulo III, da primei-ra parte do livro Evolução em DoisMundos, autoria espiritual de An-dré Luiz, psicografado pelos mé-diuns Francisco C. Xavier e WaldoVieira (Ed. FEB), que se ajustamaos postulados neocriacionistas, ex-plicando-os com clareza:

    “A matéria elementar, de que oeletrão é um dos corpúsculos-base(...) acumulada sobre si mesma, aosopro criador da Eterna Inteligên-cia, dera nascimento à provínciaterrestre (...).”

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 24

  • Reformador/Agosto 2003 303

    “A imensa fornalha atômica es-tava habilitada a receber as semen-tes da vida (...).”

    “Dessa geléia cósmica, verte oprincípio inteligente, em suas pri-meiras manifestações...”

    “Aparecem os vírus e, com eles,surge o campo primacial da existên-cia, formado por nucleoproteínas eglobulinas, oferecendo clima ade-quado aos princípios inteligentes oumônadas fundamentais, que se des-tacam da substância viva, por cen-tros microscópicos de força positi-va, estimulando a divisão carioci-nética.”

    “Evidenciam-se, desde então,as bactérias rudimentares, cujas es-pécies se perderam nos alicercesprofundos da evolução (...).”

    “O tempo age sem pressa, emvagarosa movimentação no berçoda Humanidade, e aparecem as al-gas nadadoras (...).”

    “Mais tarde, assinalamos o in-gresso da mônada, a que nos refe-rimos, nos domínios dos artró-podos (...).”

    “Avançando pelos equinoder-mos e crustáceos, entre os quais en-saiou, durante milênios, o sistemavascular e o sistema nervoso, cami-nhou na direção dos ganóides e te-leósteos, arquegossauros e labirinto-dontes para culminar nos grandeslacertinos e nas aves estranhas, des-cendentes dos pterossáurios, no ju-rássico superior, chegando à épocasupracretácea para entrar na classedos primeiros mamíferos, proce-dentes dos répteis teromorfos (...).”

    “Contudo, para alcançar a ida-de da razão, com o título de ho-mem, dotado de raciocínio e discer-nimento, o ser, automatizado emseus impulsos, na romagem para oreino angélico, despendeu para che-

    gar aos primórdios da época quater-nária, em que a civilização elemen-tar do sílex denuncia algum primorde técnica, nada menos de um bi-lhão e meio de anos (...).”

    Vemos, então, a Doutrina Es-pírita permanecendo com os seusensinamentos, nestes quase cento ecinqüenta anos de existência, comorecurso para o aprendizado da Hu-manidade, não fugindo aos estudose pesquisas que vêm sendo desen-volvidos, demonstrando com clare-za a grandiosidade do Criador, nãopor uma postura mágica ou mira-culosa, mas pelas suas leis que se fa-zem presentes em todo o Universo,construindo uma história da Cria-ção condizente com a sua Justiça, asua Verdade, mas, acima de tudo,com o seu Amor.

    Em sua lógica, quebra as fanta-sias dos mitos existentes em todosos povos sobre a criação do Univer-so, entendendo e respeitando essesrelatos como formas adequadas acada tempo para a compreensão

    dos fatos, sustenta idéias que vêmsendo progressivamente revistas eserão comprovadas em tempo hábil,provando a existência de Deus, asupremacia de suas Leis e a teoriada evolução direcionada por um“planejamento inteligente”; deter-mina, porém, os limites do conhe-cimento humano, pelas suas condi-ções evolutivas, quando Kardec, emO Livro dos Espíritos, na pergunta613, comenta:

    “O ponto inicial do Espírito éuma dessas questões que se pren-dem à origem das coisas e de queDeus guarda o segredo. Dado não éao homem conhecê-las de modoabsoluto, nada mais lhe sendo pos-sível a tal respeito do que fazer su-posições, criar sistemas mais ou me-nos prováveis. Os próprios Espíritoslonge estão de tudo saberem e, acer-ca do que não sabem, também po-dem ter opiniões pessoais mais oumenos sensatas.”

    25

    Genética– Pode a genética estatuir medidas que melhorem o homem?– Fisicamente falando, a própria natureza do orbe vem melhoran-

    do o homem, continuadamente, nos seus processos de seleção natu-ral. Nesse sentido, a genética só poderá agir copiando a própria natu-reza material. Se essa ciência, contudo, investigar os fatores espirituais,aderindo aos elevados princípios que objetivam a iluminação das al-mas humanas, então poderá criar um vasto serviço de melhoramentoe regeneração do homem espiritual no mundo, mesmo porque, de ou-tro modo, poderá ser uma notável mentora da eugenia, uma grandeescultora das formas celulares, mas estará sempre fria para o espíritohumano, podendo transformar-se em títere abominável nas mãos im-piedosas dos políticos racistas.

    Fonte: XAVIER, Francisco C. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel, 23. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 2001, pergunta 36, p. 37-38.

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 25

  • 26 Reformador/Agosto 2003304

    Transcrevemos abaixo uma ma-téria publicada na edição de21/11/02 do conceituado jor-

    nal “O Estado de São Paulo”, se-gundo a qual não há mais como ali-mentar qualquer dúvida sobre amagnitude dos prejuízos com que oproblema lingüístico mundial vaientravando o progresso da Huma-nidade e cuja solução definitiva jáse encontra entre nós desde 1887,quando surgiu o Esperanto.

    Eis o texto, na íntegra:

    “BABEL EUROPÉIA”CONTRATARÁ 166 INTÉRPRETES

    PARA CADA IDIOMA

    Com as 28 línguas que serão usadasna União Européia, em 2007, ca-bines ficarão superlotadas

    GILLES LAPOUGECorrespondente

    PARIS – O Parlamento Euro-peu, com sede em Estrasburgo, naFrança, realizou anteontem umasessão estranha. Estrasburgo convi-dou representantes dos dez paísesque deverão entrar na União Euro-péia em 2004, com os países quedeverão entrar em 2007.

    Nenhum comentário. Houve

    pouco interesse. Com exceção destapreocupação considerável: como sefará a comunicação entre os inte-grantes em Bruxelas, onde fica o“executivo” da UE, ou em Estras-burgo, quando a União contar com25 (ou 28) membros que falarão21 (ou 28) línguas diferentes? Umasolução simples teria sido a de op-tar por duas ou três línguas: as quesão entendidas pelo maior númerode membros.

    Escândalo! Isso seria introdu-zir hierarquias entre os europeus.Haveria os “grandes” – os ingleses,os franceses e, talvez, os alemães;nações superiores, dominantes – eos pequenos: gregos, tchecos, polone-ses; que seriam obrigados a “viverde empréstimos” lingüísticos, a ex-pressarem-se em uma língua estran-geira. Isso seria, significaria, o fimda Europa.

    Portanto, a regra é que cadaum pode expressar-se na próprialíngua. Dito assim, parece ser umacoisa sensata. Mas, se atentarmospara os efeitos desta regra, o queencontraremos? Uma mixórdia, um“quebra-cabeças”, um grande em-brulho! Vejamos as coisas comomatemáticos. Numa Europa com12 membros, como acontece atual-mente (com 9 línguas), as combi-nações lingüísticas (um francês fa-lando para um inglês, um alemão,e assim por diante) são 72. NumaEuropa com 25 membros (21 lín-guas) já aumentamos para 420

    combinações. E, em 2007, quandoa Europa tiver 28 membros (24línguas), as combinações lingüísti-cas se elevarão a 552.

    Em termos concretos, quais sãoas conseqüências? As cabines de in-térpretes estarão superlotadas, cheiasaté à boca. Serão necessários 20 in-térpretes por cabine para cadareunião. Bruxelas já prevê a con-tratação de 110 tradutores e 40 in-térpretes para cada língua, que vi-rão juntar-se aos 2000 funcioná-rios já em exercício. Em Estrasbur-go, será preciso recrutar 166 pessoaspara cada língua.

    E não há apenas a palavra.Há também o texto escrito. Novodrama! Apenas a “conquista comu-nitária”, isto é, a soma dos textoslegislativos, conta com 80.000 pá-ginas, às quais se juntam os docu-mentos preparatórios. É uma bi-blioteca colossal, traduzida paramais de 20 idiomas.

    Em resumo, a Europa vai tor-nar-se uma espécie de bibliotecaenorme e tentacular. A administra-ção desta “biblioteca de Babel” irápesar no orçamento da UE. Desa-gradável, mas, afinal, a UE já des-perdiça tantos bilhões...

    O mais preocupante é a previ-sível lentidão de todos os processos,de toda ação.

    A União Européia, já lerda epesada, corre o risco de tornar-seuma espécie de grude, de cola pega-josa. A futura UE, mais ou menos

    Babel EuropéiaAffonso Soares

    A FEB E O ESPERANTO

    Reformador Agosto 2003.qxd 06/08/03 08:09 Page 26

  • Reformador/Agosto 2003 305 27

    confederada, é freqüentemente com-parada com os EUA. Uma besteiracompleta que a questão das línguasbem ilustra.

    ...Não é, portanto, uma abstra-

    ção o prejuízo causado pela multi-plicidade das línguas nas relaçõesinternacionais dos povos. Nem asua solução está na adoção de umalíngua nacional, como nos sugere ocomodismo em associação com in-teresses hegemônicos de nações ougrupos de naçõ