Reformador junho/2005 (revista espírita)

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ESPIRITISMO E PROGRESSOO espiritismo contribui para o progresso levando o homem ao seu aprimoramento moral

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EDITORIALEspiritismo e ProgressoRevista de Espiritismo Cristo Ano 123 / Junho, 2005 / No 2.115

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ENTREVISTA: SNIA MARIA A. FONSECAUnio, qualificao e difuso

PRESENA DE CHICO XAVIEREspiritismo e divulgao Irmo X

ESFLORANDO O EVANGELHOGlria ao bem Emmanuel

FEB/CFN COMISSES REGIONAISReunio da Comisso Regional NordesteFundada em 21 de janeiro de 1883 Fundador: Augusto Elias da Silva ISSN 1413-1749 Propriedade e orientao da Federao Esprita Brasileira Direo e Redao Av. L-2 Norte Q. 603 Conj. F (SGAN) 70830-030 Braslia (DF) Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

A FEB E O ESPERANTODo Esprito Ismael Gomes Braga a Francisco Thiesen Affonso Soares

CONSELHO ESPRITA INTERNACIONALReunio da Coordenadoria da Europa

38 425 7 8 9 10 12 14 15 16 19 22 25 27 28 31 34 36 37 39 41

SEARA ESPRITAConhecimento e Progresso Juvanir Borges de Souza Progresso e Felicidade Allan Kardec Coragem Joanna de ngelis Coragem Joo de Deus Alerta pela Vida Antonio Cesar Perri de Carvalho Tempo de Luz! Bezerra de Menezes Indagaes a ns mesmos Andr Luiz Braslia faz homenagem a Allan Kardec Despenseiros fiis Richard Simonetti Como nossos pais... Carlos Abranches Cuidado de um breve encontro Julio Cesar de S Roriz Somente Deus tem o direito de dispor da vida humana Jorge Hessen Violncia mundial: Desconhecimento da realidade espiritual Anselmo Ferreira Vasconcelos Encontro com Divaldo na FEB, em Braslia Esse teu dia Paulo Nunes Batista Plida descrio Rogrio Coelho Suicdio na adolescncia Dias da Cruz Ainda o Ms Allan Kardec Repensando Kardec Da Lei do Progresso 2a Parte Inaldo Lacerda Lima XII Congresso Esprita da Bahia (Cartaz)

Home page: http://www.febnet.org.br E-mail: [email protected] [email protected] o Brasil Assinatura anual Nmero avulso Para o Exterior Assinatura anual R$ 39,00 R$ 5,00 US$ 35,00

Diretor Nestor Joo Masotti; Diretor-Substituto e Editor Altivo Ferreira; Redatores Affonso Borges Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira So Thiago; Secretria Snia Regina Ferreira Zaghetto; Gerente Amaury Alves da Silva; REFORMADOR: Registro de Publicao no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polcia Federal do Ministrio da Justia), CNPJ 33.644.857/0002-84 I. E. 81.600.503. Departamento Editorial e Grfico Rua Souza Valente, 17 20941-040 Rio de Janeiro (RJ) Brasil Tel.: (21) 2187-8282; Fax: (21) 2187-8298 E-mail: [email protected] Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 / 8274 E-mail: [email protected] Capa: Leonardo Vieira

Tema da Capa: ESPIRITISMO E PROGRESSO. Contribuio da Doutrina Esprita para edificar um novo Homem e uma nova Sociedade.

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EditorialEspiritismo e Progresso

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ssentado na observao dos fatos e na universalidade dos ensinos dos Espritos Superiores, o Espiritismo mostra que o homem um Esprito imortal, temporariamente encarnado. Mostra mais: que esse Esprito, impulsionado pela Lei do Progresso que emana de Deus, evolui constantemente, saindo da condio de um ser simples e ignorante, tal como foi criado, para a condio de Esprito perfeito, o que ocorrer quando conquistar a sabedoria e a virtude plenas, custa do seu esforo, do seu trabalho e das experincias vivenciadas atravs de inumerveis e sucessivas reencarnaes. Essa verdade que o Espiritismo descortina para a Humanidade tem um efeito esclarecedor e consolador junto ao homem. Apresenta-nos Deus como expresso suprema de bondade, que no cria o homem para uma nica e curta existncia sem real proveito. Cria, sim, o Esprito imortal com tempo e condies suficientes para vivenciar experincias diversas que lhe proporcionam o aprendizado necessrio sua evoluo. Cometendo erros e acertos; manifestando coragem e medo; ampliando cada vez mais as reas de conhecimento com relao a si mesmo e s coisas que o cercam; aprendendo a administrar as emoes que desabrocham em seu ser; aprendendo a conhecer os seus prprios pensamentos e a selecionar os que melhor atendem aos seus interesses em face dos horizontes que se lhe descortinam; cultivando os sentimentos de toda ordem e aprendendo a utilizar os que correspondam aos seus objetivos de paz e progresso; conhecendo a importncia de sua integralidade fsica e espiritual e exercendo a sua segurana, o homem, esse Esprito imortal encarnado, dentre tantas outras conquistas, vai gradativamente dia aps dia, experincia aps experincia, encarnao aps encarnao, sculo aps sculo , aprimorando os valores que traz em si mesmo e, desbravando a selva da sua prpria ignorncia, atinge as clareiras de luz, onde melhor compreende as belezas da vida e onde passa a conviver com Espritos de escol, com os quais permuta os valores da sabedoria e da fraternidade. Encontra, assim, a felicidade, constante meta de sua existncia, e que s alcanada com a prtica das Leis de Deus. Nessa multimilenar caminhada evolutiva, ressalte-se, a Providncia Divina nunca abandona o homem. Inspira-o em suas decises, fortalece-o em suas aes, ampara-o em seu cansao e protege-o em seus desafios, oferecendo-lhe os recursos da natureza, com suas expresses de beleza, alimento e conforto, como palco para suas realizaes.

Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal a lei a verdade-sntese que a Doutrina Esprita nos revela.4 202 Reformador/Junho 2005

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Conhecimento e ProgressoJuvanir Borges de Souza

Histria da Humanidade mostra a evoluo dos conhecimentos do homem a respeito do mundo que habita, sobre si mesmo e sobre a Cosmogonia e a Astronomia. Homens de gnio reencarnados, como enviados do Governador deste orbe, retificaram conceitos errneos e lutaram contra preconceitos arraigados, no decorrer dos milnios. A inveno de um instrumento de ptica, por Galileu Galilei, no sculo XVII, derrubou a crena, de milhares de anos, de que a Terra era o centro do Universo e que todo o Cosmo girava em funo dela. A ignorncia humana sobre o que o homem, como se originou e qual o seu destino gerou falsos conhecimentos, preconceitos firmados em enganosos princpios e crenas e seitas desviadas da realidade. A retificao de um quadro dessa ordem, que caracteriza a nossa Humanidade e o nosso mundo atrasado, de expiaes e provas, no obra fcil, nem rpida, especialmente se atentarmos na condio do homem nesse estgio evolutivo, caracterizado pelo orgulho, pela presuno de saber, pela ignorncia e pelo livre-arbtrio com que foi criado.

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Hoje, com os conhecimentos que as cincias foram proporcionando aos homens, mostrando a grandeza do Universo e, conseqentemente, o poder sublime e infinito de Deus, o Criador, ficamos estarrecidos diante das suposies, conjecturas e supersties do passado, que geraram erros e crenas de difcil remoo. Ficaram para trs as idias mitolgicas dos povos antigos, como as dos hindus, que ensinavam que o Sol se apagava noite para reacender com o novo dia; e as dos gregos, que mostravam o astro-rei como sendo o carro de Apolo puxado por quatro cavalos. A Terra, na Antiguidade e na Idade Medieval, era considerada uma superfcie plana e horizontal, sem nenhuma noo de dimenso e espessura. A ignorncia a respeito da Terra, do Universo e do homem levou a Humanidade a crenas religiosas destitudas de base segura e slida. A falta de conhecimentos a respeito do Universo infinito fez da Terra a finalidade principal da Criao e todos os astros como partes secundrias e acessrias. Esse erro conceitual levou os homens a preconceitos prejudiciais que chegaram at os dias atuais. , portanto, extremamente importante a contribuio das cincias desenvolvidas pelo homem para o conhecimento de si mesmo e do mundo em que vive.

Ao abandonar os quatro elementos primitivos dos antigos conhecimentos a terra, o ar, a gua e o fogo a Cincia chegou a concepes corretas a respeito da matria e de seu elemento gerador. Na fase evolutiva em que se encontram os habitantes deste mundo, no havendo dvida de que a matria inerte em si mesma, carecendo de sentimentos, de pensamentos e de vida, a Cincia humana precisa urgentemente complementar suas bases, tomando conhecimento do outro elemento universal da Natureza o esprito. Matria e esprito so a unio que explica inmeros fatos que ocorrem no Universo, inclusive neste mundo em que vivemos. A Revelao Esprita vem demonstrar aos homens a existncia e a importncia do princpio espiritual. Vem em socorro das cincias, que ainda no tomaram conhecimento desse princpio, ajudando-as a pesquisar e explicar uma srie enorme de fatos e fenmenos inexplicveis diante somente das leis da matria. H, pois, forte razo para as cincias do mundo despojarem-se do preconceito materialista e aceitarem a contribuio do Espiritismo, em favor da Verdade, da realidade e de todo o gnero humano.

...Na evoluo humana, a Reve203 5

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lao Esprita representa uma nova e importante fase. Traz a Nova Revelao ao conhecimento dos homens o que eles realmente so Espritos eternos ora ligados matria, um corpo perecvel, ora livres, vivendo em mundos espirituais. Esse conhecimento novo foi vislumbrado por religies antigas, mas s comprovado pelo Espiritismo atravs de experincias srias, conduzidas pelo Codificador da Doutrina e por outros experimentadores idneos. No h, pois, razo plausvel para que os cientistas, materialistas ou no, deixem de tomar conhecimento de um fato evidente e comprovado, que modifica totalmente concluses anteriores a que chegaram determinadas cincias, sob o imprio do materialismo exclusivista. Se o compromisso da Cincia , antes de tudo, com a verdade, com a realidade e com os fatos, no h o que justifique o posicionamento dos cientistas que negam aquilo que realmente existe, ou dele no tomam conhecimento, na presuno de que somente eles detm o saber. Estamos convencidos de que a fase vivida pelas cincias da Terra, de profunda influncia materialista, tende a transformar-se, por insustentvel, em novo estgio evolutivo de grande proveito para a Humanidade. O verdadeiro carter da Cincia o da investigao da verdade, e no o de ocultar a realidade, por presuno de j ter chegado ao saber supremo. Na histria do Espiritismo, deparamos com alguns fatos que pem6 204

em evidncia o preconceito que a Cincia oficial precisa evitar, para no se comprometer com o erro. Eis dois exemplos de preconceitos, que se transformaram diante da realidade. William Crookes, sbio ingls do sculo XIX, com vasta experincia no campo cientfico, props-se a desmentir e desmascarar os fenmenos espritas, em 1870. O resultado final de suas investigaes foi o contrrio do que esperava, constatando a veracidade dos fenmenos, inclusive a materializao de

Os fatos espritas no esto subordinados mentalidade dos cientistas materialistas e preconceituososEspritos. Teve a hombridade e a nobreza de relatar Sociedade Real de Londres suas observaes e concluses, inteiramente favorveis ao Espiritismo. (v. Fatos Espritas 5. Ed. FEB.) Outro exemplo lamentvel do preconceito acadmico dos cientistas o que ocorreu com o Dr. Paul Gibier, que, por se manifestar favoravelmente natureza esprita de determinados fenmenos, foi excludo dos meios cientficos da Frana, emigrando para os Estados Unidos.

Mas os fatos espritas no esto subordinados mentalidade dos cientistas materialistas e preconceituosos e se multiplicam por toda parte. Por isso, sbios materialistas, representantes das cincias, tm procurado explicar esses fatos, desenvolvendo as mais esdrxulas explicaes, inteiramente em desacordo com a realidade, mas cheias de crticas e sarcasmos aos espritas. A realidade dos fatos espritas no ilide a possibilidade das fraudes, no vasto campo fenomenolgico. Mas, qual a atividade humana, material ou espiritual, que se acha inteiramente resguardada das fraudes? O que cumpre ao esprita, ou a qualquer pesquisador honesto, estar vigilante e denunciar o engano, a fraude, para que no produzam os efeitos visados pelos exploradores e charlates.

...Toda a fenomenologia esprita, essa gama de fatos que as cincias da Terra tm procurado negar, com prejuzo para a verdade, constitui apenas uma parte da Doutrina Esprita. Sem dvida, o aspecto factual do Espiritismo muito importante, por demonstrar que o elemento esprito est presente em todo o Universo e que as cincias da Terra incorrem em grande equvoco, de graves conseqncias, no campo do conhecimento, ao considerar somente o elemento matria em suas lucubraes. Quando a Doutrina se refere a esprito, no se restringe apenas Reformador/Junho 2005

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alma humana, mas ao elemento espiritual ligado matria, em todos os reinos da Natureza. Alm desse aspecto essencial, o Espiritismo desvenda os Mundos Espirituais de mltiplas condies, nos quais a Vida se desenvolve eternamente. Esse conhecimento novo trazido pelos Espritos Reveladores deveria constituir motivao especial para as cincias da Terra aprofundarem suas pesquisas e estudos. De outro lado, no podem os espritas, e tambm os cientistas, os religiosos das religies tradicionais e os materialistas e ateus esquecer os aspectos filosficos, ticos e morais que a Doutrina Consoladora encerra. Por mais materialista que seja o indivduo, no lhe defeso preocupar-se com os fundamentos tico-morais de seus pensamentos e de suas relaes no seio da sociedade em que vive. A Doutrina dos Espritos rica e segura ao demonstrar os aspectos morais e ticos que todo ser humano necessita aprender e vivenciar para progredir em sua eterna existncia. Cabe conscincia de cada ser a escolha do caminho a seguir. Naturalmente, o negativismo e a ignorncia da realidade da vida influem na hora de cada deciso individual que todos temos de tomar. A Doutrina Esprita auxilia cada ser, com segurana, com lgica, a tomar a deciso correta, para seu prprio bem. J os religiosos, seguidores das religies tradicionais, podero perceber que os valores morais de suas religies, resumidos pelo Cristo no amor a Deus e ao prximo, para todosReformador/Junho 2005

os homens, sem distino de credos e profisses de f, a grande estrada que leva ao destino final de cada um. O Espiritismo demonstra que no h razo que justifique o exclusivismo das religies, digladiando-se entre si, desde que a finalidade delas conduzir as criaturas no caminho certo para a verdade, a vida, o destino fixado pelo Criador, tal como ensinou o Cristo de Deus e os seus enviados, antes dEle. O conhecimento do Espiritismo, com suas verdades reveladas por Seres Superiores, seria o meio e a forma de melhor reeducar os homens para a grande transformao e regenerao mundial. Prosperando esse conhecimento no seio das religies e nos ncleos cientficos, despojados dos preconceitos prejudiciais de fundo niilista, materialista ou exclusivista, seria a alavanca poderosa para o despertamento daqueles que ainda no acordaram para as belezas da vida infinita do Esprito.

O conhecimento da ltima das Grandes Revelaes seria a forma de demonstrao Humanidade que a vida um Bem inefvel, competindo a cada ser humano lutar permanentemente pela sua edificao, pela sua compreenso e pelo seu aperfeioamento constante. Essa luta conduz o ser ao conhecimento das leis superiores do Criador, resumidas no Amor e na Justia, presentes em todo o Universo. A felicidade de cada ser consiste na sua integrao total s leis soberanas estabelecidas por Deus, a Inteligncia Suprema. O exemplo e o modelo para os habitantes da Terra o Cristo de Deus. Por tudo o que ficou acima expresso, ressalta o dever indeclinvel de todos os que tomam conhecimento da Doutrina Esprita o Consolador prometido de divulg-la na medida de suas foras e de sua capacidade.

Progresso e Felicidadeesde incontestvel o movimento progressivo, no h que duDvidarqueOra, buscando progredir,homemele procura aumentar a do progresso vindouro. O quer ser feliz e natural esse desejo. o que soma da sua felicidade, sem o que o progresso careceria de objeto. Em que consistiria para ele o progresso, se lhe no devesse melhorar a posio? Quando, porm, conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificar que no est completa a sua felicidade. Reconhecer ser esta impossvel, sem a segurana nas relaes sociais, segurana que somente no progresso moral lhe ser dado achar. Logo, pela fora mesma das coisas, ele prprio dirigir o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecer a mais poderosa alavanca para alcanar tal objetivo.Allan Kardec Fonte: O Livro dos Espritos, Concluso (IV), p. 589 da 1. ed. especial, FEB.

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Coragemcoragem real o esforo moral desenvolvido pelo ser humano para libertar-se da auto-imagem que se credita superior das demais pessoas do seu crculo social. Quase sempre a coragem est associada intemperana e agressividade nos atos, por cujos meios o indivduo resvala na precipitao, incapaz de conter os mpetos de violncia que o aturdem. Toda vez em que se atira no torvelinho ameaador ou nas lutas tirnicas com ambies desmedidas, ameaando a estabilidade vigente, parece demonstrar uma grande coragem, no entanto, irresponsvel, o gesto no passa de desequilbrio de comportamento e de desarmonia da emoo. A coragem d foras para que sejam suportadas as provaes mediante a conduta de misericrdia, munindo-se de cautela, a fim de que o tormento ntimo no se exteriorize de maneira destrutiva. A coragem atua com serena confiana nas prprias resistncias, no se expondo indevidamente, nem se permitindo os sentimentos inferiores da raiva, do ressentimento, do dio, no momento da ao. Muitos impulsos de violncia respondem por desequilbrios na rea da emoo, indevidamente con-

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siderados como sendo manifestaes de coragem ante as ameaas que, nem sempre, se convertem em realidade. A autodisciplina consegue desenvolver os tesouros morais que enriquecem o ser durante a sua vilegiatura terrestre, ampliando-lhe a capacidade para resolver os problemas existenciais em clima de paz. O Esprito possui, na sua estrutura moral, os recursos que exterioriza atravs da maquinaria orgnica. A coragem conquista conseguida na sucesso das experincias evolutivas, aps o trnsito entre dificuldades e os sofrimentos inevitveis, mediante os quais, adquire-se resistncia para os enfrentamentos e confiana nos resultados superiores que constituem a meta existencial. No so poucos aqueles que se detm diante dos obstculos que testam a capacidade do empreendimento moral e da lucidez intelectual, que surgem para serem vencidos. Cada vitria que se logra faculta novo passo mais audacioso na direo de outros nveis a serem conquistados. A coragem a fora moral dos pobres de haveres transitrios e o instrumento de perseverana, quando as circunstncias se apresentam desfavorveis. O mrtir da f, o sacrificado na investigao cultural ou cientfica, o lutador do idealismo, o entusias-

mo do apstolo e a perseverana do artista ou do sbio so expresses da coragem que os anima na permanncia da busca dos objetivos que os emulam ao avano. As perseguies de qualquer tipo no os atemorizam, as calnias no os molestam, as adversidades no os enfraquecem... Robustecem-se com o alimento da convico ntima de que se encontram possudos, e, por tal razo, no desfalecem, no alteram o rumo, no diminuem a intensidade do esforo. A coragem moral -lhes o sustento de todas as horas. Expressa-se, de incio, em auto-avaliao de possibilidades de que dispem, despindo-se dos adornos insensatos que escondem as debilidades espirituais e os desconsertos morais. A coragem irradia fora especial de tranqilidade que impulsiona sempre para o avano sem detena. necessrio coragem para ser autntico.

...A coragem, para alcanar os objetivos edificantes, enfrenta inimigos prximos e distantes, disfarados em atitudes incorretas, que parecem compatveis, tornando-se mecanismos conflitivos e perturbadores. Quando ama, por exemplo, na sua desenvoltura emocional eReformador/Junho 2005

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na necessidade de intercmbio afetivo, pode resvalar para o apego, que se transforma em paixo asselvajada. Tm origem, ento, os sentimentos controvertidos de posse e de desejo, que asfixiam os belos ideais de convivncia e de fraternidade. O apego transforma-se em tormento, abrindo espao para a instalao do cime e do ressentimento na afeio, em razo do medo da perda que inevitvel, considerando-se a transitoriedade de todos os fenmenos fsicos. O inimigo distante pode tomar a aparncia de indiferena, opondo-se ao apego, que tem a possibilidade de converter-se em morbidez, em distanciamento, em desinteresse pelo prximo e suas lutas. Em conseqncia das contnuas dificuldades e dos tenazes sofrimentos naturais que decorrem da altivez moral, mediante mecanismo de autodefesa, o indivduo assume uma postura emocional fria que se pode converter em expresso de crueldade. A dor de outrem j no o sensibiliza, a necessidade percebida no lhe chama a ateno, o auxlio fraterno tampouco lhe desperta o entusiasmo. O hbito de conviver com a dor alheia e a prpria, o enfrentamento contnuo com situaes aflitivas produzem-lhe uma aceitao destituda de compaixo, que imuniza a coragem e a torna insensvel, retirando-lhe o sentimento de co-participao, de solidariedade, de compaixo... A crueldade nasce na ausncia da misericrdia dinmica e, por efeito, na anestesia da emoo. necessrio coragem para queReformador/Junho 2005

o indivduo se mantenha humano, comporte-se de maneira adequada, sofra com dignidade, chore e sorria, sem escamoteamentos, sem a mscara de uma virilidade destituda de significado psicolgico, mais tormentosa que saudvel. A coragem de amar sem possuir e servir sem esperar retribuio caracterstica da sua estrutura emocional. O Esprito estico demonstra sua coragem, porfiando no bem quando os outros desistem, auxiliando indiscriminadamente quando campeia o desencanto, obstinadamente fiel aos seus objetivos.

CoragemSe o desnimo procura Mergulhar-te na amargura. No olvides, meu irmo, Que a vida por toda parte nova luz a buscar-te Em doce renovao. Na mgoa que te domina, Repara a Bno Divina A brilhar, aqui e alm... Tudo esperana e beleza No trono da Natureza Na glria do Eterno Bem... Da noite estranha e sombria, Assoma, envolvente, o dia E a treva faz-se esplendor. Do Inverno que dilacera, Vem o Sol da Primavera E o espinho revela a flor. Da serra empedrada e feia, Desce o regato que ondeia Em generosa cano. Do charco de baixo nvel, Desditoso e desprezvel, Ressurge o calor do po. Coragem! recorda o ninho, Suportando, de mansinho, Toda a fria do escarcu; E do alm, tranqila ao v-la, Coragem! repete a estrela, Sorrindo no azul do Cu. Assim tambm, cada hora, Trabalha, porfia e chora Guardando a f clara e s!... Padece mas busca a frente, Lembrando constantemente Que o dia volta amanh.Joo de Deus Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos, por Diversos Espritos. Rio de Janeiro: FEB, 1994, cap. 34, p. 59-60.

...A coragem honorvel. No se jacta, nem se assoberba, mantendo-se discreta at o momento em que, convocada ao, demonstra a sua fora e valor. Jamais se entibia, porque o mvel principal das suas realizaes tem carter interior de transformao moral para melhor. Quando se preocupa com o exterior, torna-se vtima de outro inimigo que a ronda a impulsividade. Nada igual coragem de Jesus! Ningum que se Lhe compare! Nela se inspiraram os mrtires e os santos, ainda hoje apoiando-se todos aqueles que aspiram pela construo de uma sociedade melhor, mais justa e mais feliz.Joanna de ngelis (Pgina psicografada pelo mdium Divaldo P. Franco, na sesso medinica da noite de 3 de janeiro de 2005, no Centro Esprita Caminho da Redeno, em Salvador, Bahia.)

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Alerta pela VidaAntonio Cesar Perri de Carvalho

imprensa tem trazido freqentes notcias e reportagens sobre decises iniciais do Supremo Tribunal Federal e algumas medidas do Governo Federal que sinalizam para mudanas legais que podem representar desrespeitos vida. A se inclui a reviso da legislao relacionada com a prtica do aborto, como objetivo de Comisso junto Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, e a proposta do Ministrio da Sade que estabelece parmetros para definir-se critrios, regras e parmetros para utilizao das unidades de terapia intensiva (UTIs). Esse conjunto de aes e projetos federais, com a devida ressonncia na mdia, cria um cenrio que visa favorecer a oficializao do aborto e da eutansia em nosso pas. Por outro lado, pesquisa da CNT/Sensus (abril/2005) revela que 85% da populao brasileira no so favorveis ao aborto. Este dado sugestivo para que as propostas de alterao na legislao brasileira, no tocante ao direito vida, e que parecem resvalar na Constituio (art. 5o), que garante a inviolabilidade do direito vida, sejam precedidas de ampla consulta popular, realizando-se o plebiscito. O momento oportuno e de vital importncia para que o pensa-

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mento esprita sobre o tema seja tornado pblico. No momento, duas aes neste sentido esto sendo ultimadas pela Federao Esprita Brasileira. O Conselho Federativo Nacional, em reunio realizada em 21 de novembro de 2004, aprovou a reativao conjunta das Campanhas Viver em Famlia e Em Defesa da Vida, e uma Resoluo do Conselho Diretor da FEB, de 15/2/2005, definiu a incluso destas no mbito da Campanha Construamos a Paz Promovendo o Bem!, considerando que essas trs Campanhas compem o grupo de campanhas que sintetizam a prestao de servio social comunidade, que cabe ao Movimento Esprita realizar, e devem ser trabalhadas integradamente. Paralelamente aos preparativos para o prximo lanamento conjunto da Campanha Famlia, Vida e Paz, a FEB articula a elaborao de um documento que expresse o pensamento esprita sobre o aborto, sob as ticas mdica, jurdica e doutrinria, interagindo com as Entidades Especializadas de mbito Nacional e com as Entidades Federativas Estaduais. O objetivo ser divulg-lo s autoridades da esfera federal dos poderes Executivo, Legislativo e Judicirio, bem como populao em geral. Os diversos procedimentos que

representam riscos ao respeito vida devem ser analisados a partir do entendimento da pergunta sobre o primeiro de todos os direitos naturais do homem e a resposta obtida: O de viver. Por isso que ningum tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existncia corporal. (O Livro dos Espritos, questo 880.) A Doutrina Esprita muito clara sobre a importncia de valorizar-se e respeitar-se a vida corprea, evitando-se tudo o que possa compromet-la e abrevi-la. A existncia fsica surge como uma oportunidade para o aprimoramento e o progresso do Esprito. Essa importncia fundamenta-se no Novo Testamento: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundncia (Joo, 10:10). A divulgao dos temas sobre famlia e de valorizao da vida, e a sua reflexo sob a tica da Doutrina Esprita, contribuem para mudanas comportamentais nos contextos do lar e da sociedade. Cabe a lembrana de que a paz, inclusive a conscincia tranqila, comea dentro de cada criatura, estende-se para a primeira clula social e se estende para a construo da paz no mundo. Pode-se concluir quo importante, sob todos os aspectos, o respeito vida como um direito natural para que, naturalmente, se instale a real paz no contexto social.Reformador/Junho 2005

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ENTREVISTA: SNIA MARIA A. FONSECA

Unio, qualificao e difusoSnia Maria Arruda Fonseca, Presidente da Federao Esprita Pernambucana, lembra que, unidos como um feixe de varas, conseguiremos fazer mais em prol da divulgao da Doutrina Esprita P. Como voc se envolveu com o trabalho de unificao? Snia Cheguei Federao Esprita Pernambucana na dcada de 60, levada por meus pais para a evangelizao. Fui admitida numa turma de pr-mocidade. Meus evangelizadores tiveram um papel fundamental para a minha compreenso do que era Movimento Esprita, mostrando-me, atravs de exemplos, a necessidade da unio e do companheirismo que deveriam existir em nosso meio. Passei a acompanh-los nas visitas que faziam s demais instituies espritas do Estado em nome da Federao. Achei to importante aquele intercmbio que pensei: Que coisa bonita! Quero conviver com estas pessoas, aprender com elas para tambm ajudar neste trabalho. Pode parecer inverossmel que algum com 17 anos naquela poca pensasse assim. Porm, ao tomar conhecimento da Doutrina Esprita, senti que tudo nela me era familiar. E no nasci num lar esprita! A partir de ento busquei aproveitar todas as oportunidades que a FEP me ofereceu para trabalhar em prol da unificao, fosse na condio de expositora, evangelizadora ou Coordenadora do ESDE, atividade que desempenhei por 18 anos, sensibilizando para a necessidade do estudoReformador/Junho 2005

Snia Maria Arruda Fonseca

ou implantando-o em grande parte das Instituies do Estado. P. Desde o momento que assumiu a direo da FEP, houve alterao no cenrio do Movimento Esprita? Snia O Movimento Esprita, no meu entender, tem buscado aproveitar, sobretudo nas duas ltimas dcadas, as oportunidades que lhe so oferecidas pelos rgos de unificao para mostrar a que veio e do que capaz. A Federao, no seu Estatuto, tem como um dos objetivos a unio das sociedades espritas de Pernambuco. Assumindo a direo da FEP, optei por intensificar esforos neste sentido, uma vez que como Coordenadora do ESDE j havia trabalhado nesta direo. Na primeira reunio do nosso Con-

selho Federativo Estadual (CFE) como Presidente, fiz uma proposta s instituies presentes: trabalhar com elas e no para elas. A aceitao foi total, demonstrando que a parceria se faz necessria para o fortalecimento do Movimento Esprita. Temos conseguido permanecer fiis FEP e vrios projetos elaborados em conjunto so aplicados hoje, trazendo resultados bastante positivos no que concerne ao trabalho de unio e unificao. P. O Movimento se desenvolve por todo o Estado de Pernambuco? Snia Sim. Para melhor atendermos a todas as instituies, o Estado foi dividido em reas federativas (AFs). Contamos hoje com 20 AFs e esses projetos, elaborados e posteriormente aprovados por nosso CFE, so de pronto implantados com as devidas adequaes a cada realidade.Temos equipes especialmente preparadas para atendimento s solicitaes das instituies da regio metropolitana e do interior, no que diz respeito capacitao dos trabalhadores voluntrios. O que mais nos gratifica que estas equipes so formadas no apenas por integrantes da FEP, mas tambm por voluntrios de instituies participantes do Movimento Esprita estadual. Sabemos que unificao no uniformizao; por209 11

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isso, cada um de ns, com as caractersticas que nos so prprias, temos conscincia do muito que ainda ser necessrio realizar, mas tambm sabemos que juntos, unidos como um feixe de varas, conseguiremos fazer mais em prol da divulgao da Doutrina Esprita, em nosso Estado. P. Como voc analisa as aes do Conselho Federativo Nacional desde o incio de sua participao? Snia As aes desenvolvidas pelo CFN tm me proporcionado uma ajuda imprescindvel nas atividades de unificao, graas ao material que disponibilizado pela FEB para trabalharmos em nossos Estados. Desde quando iniciei minha participao no CFN pude observar as mudanas ocorridas. A cada ano est mais dinmico e atual, provavelmente por este motivo, as pessoas esto mais participativas, mais conscientes, mais preparadas, mais dispostas, mais interessadas no que diz respeito ao contedo apresentado e trabalhado, seja na forma de cursos, campanhas ou outras atividades. A troca de experincias observada, a convivncia fraterna e o desejo de ajuda mtua, tm proporcionado uma especial atmosfera espiritual nas reunies. Tenho aprendido muito com todos. Observo atentamente, registro as informaes, e o somatrio destes fatores leva-me a um entendimento cada vez maior do processo de unificao. P. Desde sua participao inicial na Comisso Regional Nordeste, como avalia a evoluo da mesma? Snia Participo da Comisso Regional Nordeste desde que o ESDE comeou a fazer parte dela. 12 210

patente esta evoluo no apenas na rea do Estudo Sistematizado. A princpio apenas alguns representantes se pronunciavam e observvamos a timidez da maioria. Havia tambm renovao constante dos participantes. Com o passar dos anos, a mudana foi considervel. As pessoas presentes eram praticamente as mesmas, o que fez com que a amizade se consolidasse. Hoje, como resultado imediato, a comunicao entre todos flui com mais naturalidade, o trabalho conjunto de Estados geograficamente prximos tem aumentado a troca de experincias, e isto s faz enriquecer o Movimento Esprita da Regio. Vale a pena destacar o cuidado que cada Estado-sede tem tido no que diz respeito organizao, infra-estrutura e qualidade deste evento esperado com ansiedade por todos ns. P. Que ao considera prioritria para favorecer a difuso da Doutrina?

Snia A Doutrina Esprita tem recebido por parte da mdia uma ateno bastante significativa. Por este motivo, nossas Instituies so cada vez mais procuradas por aqueles que querem resolver seus conflitos existenciais, que buscam lenitivo para suas dores, esclarecimentos para as suas dvidas. Creio que, no obstante os cursos e treinamentos j levados a efeito pela FEB, a grande dificuldade que enfrentamos hoje diz respeito, ainda, pouca, e em alguns casos nenhuma qualificao do trabalhador voluntrio, principalmente aquele que lida diretamente com o pblico como, por exemplo, o atendente fraterno e o expositor. Portanto, que a aplicao de cursos e treinamentos seja intensificada para que possamos ter em nossas Instituies um atendimento cada vez mais condizente com os objetivos da divulgao doutrinria que de esclarecer e consolar a todos aqueles que buscam a sua reforma ntima.

Tempo de Luz!*Kardec lido, sentido e meditado. Deslumbra-se a mente com o seu desenvolvimento e ansiosa ergue-se para contemplar o mundo vasto, as estrelas cintilantes e ouvir, no silncio das horas, a Voz Excelsa a Sua Voz suave e mansa, a lhe dizer dos radiosos dias do futuro. Sentinela do prprio dever, o homem compreende que, alm da matria que passa, o Esprito ressurge para a vida imortal, sob o olhar compassivo no Criador! Cristo imolou-se numa cruz, ofertando-se como exemplo para a Humanidade. Kardec hipotecou-Lhe solidariedade, transmitindo, em Seu Nome, a mensagem do Consolador.Bezerra de Menezes *Trecho da mensagem com o mesmo ttulo, do livro Bezerra de Menezes Ontem e Hoje, 1. ed. FEB, p. 102.

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PRESENA DE CHICO XAVIER

Espiritismo e divulgaopanhia de Licnio Fonseca, recentemente desencarnado, o amigo que lhe partilhara vinte e seis anos de servio no foro. Ambos amadurecidos na existncia e na profisso, aps os sessenta de idade, eram associados invariveis de trabalho e de luta. Juntos sempre nos atos jurdicos, negcios, interesses, frias e excurses. Sem o colega ideal, baqueara Mota em terrvel angstia. Trancava-se em lgrimas, no aposento ntimo, ansiando v-lo em esprito... E tanto rogou a concesso, em preces ocultas, que ali nos achvamos, em comisso de quatro cooperadores, com instrues para lev-lo ao companheiro. Desligado cautelosamente do corpo, que se acomodara sob a influncia do sono, embora no nos percebesse o apoio direto, foi Joaquim transportado presena do amigo que a morte arrebatara. No leito de recuperao do grande instituto beneficente a que fora recolhido, no Mundo Espiritual, Licnio chorou de alegria ao rev-lo, e ns, enternecidos, seguimos, frase a frase, o dilogo empolgante que se articulou, aps o jbilo extrovertido das saudaes. Mota, meu caro Mota soluou o desencarnado, com impressionante inflexo , a morte apenas mudana... Cuidado, meu amigo! Muito cuidado!... Quanto tempo perdi, em razo de minha ignorncia espiritual!!... Saiba voc, Mota, saiba voc que a vida continua!... Mas eu sei disso, meu amigo ajuntou o visitante, no intuito de consol-lo , desde muito cedo entrei no conhecimento da imortalidade da alma. O sepulcro nada mais que a passagem de um plano para outro... Ningum morre, ningum... Ah! voc sabe ento que o homem na Terra um Esprito habitando provisoriamente um engenho constitudo de carne? que somos no mundo inquilinos do corpo? indagou Licnio, positivamente aterrado. Sei, sim... E voc j foi informado de que quando nascemos, entre os homens, conduzimos ao bero as dvidas do passado, com determinadas obrigaes a cumprir? De modo perfeito. Muito jovem ainda, aceitei o ensinamento e a lgica da reencarnao... Mota!... Mota!... gritou o outro visivelmente alterado voc j consegue admitir que nossas esposas e filhos, parentes e amigos, quase sempre so pessoas que conviveram conosco em outras existncias terrestres? que estamos enleados a eles, freqentemente, para o resgate de antigos dbitos? Sim, sim, meu caro, no apenas creio... Sei que tudo isso a verdade inconteste... E voc cr nas ligaes entre os que voltam para c e os que ficam? Voc j percebe que uma pes211 13

O

excelente advogado Joaquim Mota, esprita de convico desde a primeira mocidade, possua idias muito prprias acerca de pensamento religioso. Extremamente sensvel, julgava um erro expor qualquer definio pessoal, em matria de f. Religio costumava dizer assunto exclusivo de conscincia. E fechava-se. Na biblioteca franqueada aos amigos, descansavam tomos em percalina e dourados, reunindo escritores clssicos e modernos, em cincia e literatura. Conservava, porm, os livros espritas isolados em velha cmoda do espaoso quarto de dormir. No agia assim, contudo, por maldade. Era, na essncia, um homem sincero e respeitvel, conquanto esprita moda dele, sem a menor preocupao de militana. Espcie de ilha amena, cercada pelas correntes do comodismo. Encasquetara na cabea o ponto de vista de que ningum devia, a ttulo algum, falar a outrem de princpios religiosos que abraasse, e prosseguiu, vida afora, repelindo qualquer palpite que o induzisse renovao. Era justamente a esse homem que framos confortar, dentro da noite. Mota vinha de perder a comReformador/Junho 2005

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soa na Terra vive e respira com criaturas encarnadas e desencarnadas? que podem existir processos de obsesso, entre os chamados vivos e mortos, raiando na loucura e no crime?!... Claramente, sei disso... O interlocutor agarrou-lhe a destra e continuou, espantado: Mota! Mota! Oua!... Voc est certo de que a vida aqui a continuao do que deixamos e fazemos? j se convenceu de que todos os recursos do plano fsico so emprstimos do Senhor, para que venhamos a fazer todo o bem possvel e que ningum, depois da morte, consegue fugir de si mesmo?... Sim, sim... Nesse instante, porm, Licnio desvairou-se. Passeou pelo recinto o olhar repentinamente esgazeado, fez instintivo movimento de recuo e bradou: Fora daqui, embusteiro, fora daqui!... O visitante, dolorosamente surpreendido, tentou apazigu-lo: Licnio, meu amigo, que vem a ser isso? acalme-se, acalme-se... Sou eu, Joaquim Mota, seu companheiro do dia-a-dia... Nunca! Embusteiro, mistificador!... Se ele conhecesse as realidades que voc confirma, jamais me teria deixado no suplcio da ignorncia... Meu amigo Joaquim Mota como eu, enganado nas sombras do mundo... Ele foi sempre o meu melhor irmo!... Nunca, nunca permitiria que eu chegasse aqui, mergulhado em trevas!... Mota, em pranto, intentava redargir, mas interferimos, a fim de sustar o desequilbrio e, para isso, era preciso afast-lo de imediato.14 212

Mais alguns minutos e o advogado reapossou-se do corpo fsico. Nada de insegurana que o impelisse idia de sonho ou pesadelo. Guardava a certeza absoluta do reencontro espiritual. Estremunhado, ergueu-se em lgrimas e, sequioso de ar puro que lhe refrigerasse o crebro em fogo, abriu uma das janelas do alto apartamento que lhe configurava o ninho domstico. Mota contemplou o casario compacto, onde, talvez, naquela

hora, dezenas de pessoas estivessem partindo da experincia passageira do mundo para as experincias superiores da Vida Maior e, naquele mesmo instante da madrugada, comeou a pensar, de modo diferente, em torno do Espiritismo e da sua divulgao.Irmo X Fonte: XAVIER, Francisco C. Cartas e Crnicas. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996, cap. 12, p. 55-59.

Indagaes a ns mesmosue seremos na casa de nossa f, em companhia daqueles que comungam conosco o mesmo ideal e a mesma esperana? Uma fonte cristalina ou um charco pestilento? Um sorriso que ampara ou um soluo que desanima? Uma abelha laboriosa ou um verme roedor? Um raio de luz ou uma nuvem de preocupaes? Um ramo de flores ou um galho de espinhos? Um manancial de bnos ou um poo de guas estagnadas? Um amigo que compreende e perdoa ou um inquisidor que condena e destri? Um auxiliar devotado ou um expectador inoperante? Um companheiro que estimula as particularidades elogiveis do servio ou um censor contumaz que somente repara imperfeies e defeitos? Um pessimista inveterado ou um irmo da alegria? Um cooperador sincero e abnegado ou um doente espiritual, entrevado no catre dos preconceitos humanos, que deva ser transportado em alheios ombros, feio de problema insolvel? Indaguemos de ns mesmos, quanto nossa atitude na comunidade a que nos ajustamos, e roguemos ao Senhor para que o vaso de nossa alma possa refletir-lhe a Divina Luz.

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Andr Luiz Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio Fraterno. Por Diversos Espritos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 23, p. 61-62.

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Braslia faz homenagem a Allan Kardec

Conferncia no Ginsio Nilson Nelson: Aspecto da Mesa

Braslia fez a maior homenagem a Allan Kardec nas comemoraes de seu Bicentenrio de Nascimento. Nos dias 16 e 17 de abril de 2005, mais de 19 mil pessoas compareceram ao Ginsio Nilson Nelson, na Capital Federal, para ouvir o orador esprita Divaldo Pereira Franco no programa organizado pela Federao Esprita do Distrito Federal (FEDF), com apoio da Federao Esprita Brasileira (FEB). O seminrio Diretrizes para uma Vida Feliz no dia 16, com cer-

ca de 7,5 mil participantes, estendeu-se das 15h s 19h. A Orquestra de Cmara da Comunho Esprita de Braslia fez a abertura do evento. O Vice-Presidente da FEB, Altivo Ferreira, representou a Instituio na solenidade. Na tarde do dia 17, o Ginsio Nilson Nelson recebeu mais de 12 mil pessoas. O Presidente da FEDF, Csar de Jesus Moutinho, discursou na abertura do evento e o Vice-Presidente da FEB, Jos Carlos da Silva Silveira, fez a prece inicial.

Conferncia de Divaldo Franco para mais de 12 mil pessoasReformador/Junho 2005

A platia assistiu a nmeros musicais, apresentados por artistas espritas do Distrito Federal, e emocionou-se com o coral de 400 vozes, formado por membros das casas espritas da regio. Na palestra Alegria de Viver, Divaldo Franco falou sobre o papel da Doutrina Esprita para que o ser humano alcance a plenitude. Para situ-las como grande marco na histria da Humanidade, discorreu sobre a evoluo da Filosofia e da Literatura, fazendo uma retrospectiva do embate entre materialismo e espiritualismo. A cano Paz pela Paz, de Nando Cordel, cantada por todos os presentes, encerrou a programao do dia sob forte emoo. Todo o evento foi transmitido pela Internet, por meio do Sistema Paltalk. Centenas de internautas de 26 cidades brasileiras e de 12 pases, tanto da Amrica do Sul e Amrica do Norte quanto da Europa.213 15

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Despenseiros fiisRichard Simonetti

Mateus, 24:45-51 Lucas, 12:42-48

uem, pois, o despenseiro fiel e prudente, ao qual o seu senhor confiou a direo da sua casa, para que no devido tempo distribua o alimento? Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar assim fazendo. Em verdade vos digo que lhe confiar todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e comea a espancar os seus companheiros, a comer, a beber e embriagar-se, vir o senhor daquele servo, no dia em que no espere e na hora que ele no sabe, e o far partilhar da sorte dos infiis. O servo que soube a vontade do seu senhor, e no se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, ser castigado com muitos aoites. Mas o que no a soube, e fez coisas dignas de aoites, com poucos aoites ser castigado. A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedir, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedir.

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Jesus fala de um administrador ao qual o patro confiou seus negcios. Ora, se ele, ao invs de agir com equilbrio e prudncia, exorbita de sua autoridade, maltrata os subordinados, age com desonestidade, o patro, forosamente, o demitir de seus servios, e o submeter aos rigores da justia. Temos a uma imagem perfeita de nossa posio diante de Deus. A Terra propriedade do Eterno, como tudo mais que existe no Universo. Somos seus despenseiros. A natureza dos servios, a extenso dos deveres varia de pessoa para pessoa, de conformidade com suas potencialidades. Os mais capazes so chamados a responsabilidades maiores. Mas h algo que no podemos esquecer: Seja qual for o campo de ao no Mundo, o sucesso no desempenho das tarefas depende essencialmente de nosso esforo em fazer o que Deus espera de ns.

...H uma tarefa de carter geral que envolve a maioria dos seres humanos: o cuidado dos filhos. Deus no tem preconceitos nem discriminaes. Todos podem ser convocados! Sejamos ricos ou pobres, cultos ou incultos, brancos ou negros, vir-

Despenseiro o encarregado de cuidar de uma despensa e, por extenso, o administrador de bens alheios.16 214

tuosos ou viciosos, bons ou maus, os filhos que chegam nos do notcia de que Deus confia em ns. Obviamente, a divina concesso implica no compromisso de desempenhar com diligncia a tarefa de prepar-los para os desafios da existncia. A literatura medinica nos d notcias dos sofrimentos e angstias de pais desencarnados que se atormentam com os desvios de seus filhos. Sentem-se culpados porque no lhes deram a ateno devida, a orientao adequada, e exemplos de virtude, trabalho e dedicao ao Bem. H quem justifique seus fracassos nesse mister, alegando limitaes variadas, de ordem econmica, cultural, social. Mas seria uma incoerncia de Deus se nos confiasse seus filhos sem nos dar condies para cuidar deles. Potencialmente, podemos faz-lo e o bom xito no depende de facilidades, mas de nossa disposio em enfrentar dificuldades. Nos Estados Unidos, um negro, homem pobre, pauprrimo, que sustentava a famlia com pequenos servios braais, prometeu a si mesmo que suas seis filhas seriam mdicas, teriam uma vida decente, um lugar ao sol, uma posio na sociedade, vencendo o grande desafio da realizao profissional e social.Reformador/Junho 2005

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Detalhe: isso tudo num pas onde uma parcela da populao considera que negro no gente. Os irmos de cor riam de sua pretenso, mas ele jamais esmoreceu. Tinha expresses muito especiais para estimular as filhas s disciplinas do estudo. Se voc for msico, podem-lhe quebrar os dedos. Se for atleta, podem-lhe partir os joelhos, mas se voc for instruda, tudo o que tiver na cabea ser seu por toda vida. No empenho de progredir, se a porta no abrir, salte pela janela. Se a janela estiver trancada, tente entrar pelo poro. Se estiver fechado chave, suba no telhado e veja se consegue ir pela chamin. H sempre uma maneira, se voc no desistir. E tanto se empenhou, tanto se desdobrou em atividades para conseguir recursos, tanto orientou e ajudou as filhas, que acabou criando condies para que elas cursassem a universidade. No foram todas mdicas, apenas duas, j que h a questo da vocao, mas as demais tambm alcanaram nvel universitrio, conquistando, respectivamente, diplomas de enfermagem, comunicaes, cincias e odontologia. Despenseiro fiel, cumpriu muito bem o que Deus esperava dele, enfrentando provaes e desafios que teriam feito a maioria esmorecer. Todos teramos histrias a contar a propsito desse assunto, envolvendo pais que descortinaram horizontes aos seus filhos, batalhandoReformador/Junho 2005

para que se tornassem pessoas dignas e teis sociedade. So pais vitoriosos. E ainda que os filhos no correspondam plenamente s expectativas, e nem sempre sigam os caminhos ideais, no se perde seu esforo, como semeadura que germinar no tempo devido.

...H outras tarefas para os despenseiros de Deus. O dono de empresa, que tem sob suas ordens dezenas de funcionrios, responsvel por eles, tem o dever de criar um ambiente de respeito e cooperao onde todos se sintam felizes e ajustados. E na proporo em que uma firma prospera, tem a obrigao de fazer com que os funcionrios se beneficiem com um padro de vida melhor, com melhores oportunidades para seus filhos. As sociedades modernas se organizam, procurando criar mecanismos de distribuio de renda, para que os bens da produo no beneficiem apenas alguns, em detrimento da maioria. um progresso, mas falta o passo decisivo, fundamental, que a conscientizao dos homens de dinheiro, reconhecendo que so responsveis, perante Deus, pelo bem-estar daqueles que produzem sua riqueza.

...O mdico despenseiro de Deus, chamado a zelar pela sade humana. Quando desprendido e generoso, faz-se suporte para a ao de mentores espirituais, que com

ele realizam prodgios em favor dos pacientes. Mas se ele se empolga pelo dinheiro, transformando o ideal de curar no interesse em ficar rico, acabar incorrendo em graves falhas, praticando atos abominveis. Abastada famlia inaugurava em festa sua ampla e confortvel residncia... Em dado momento um filho de dois anos caiu na piscina, afogando-se. Um mdico disps-se a salv-lo. Esforo ocioso, considerando que, quando chegou, o garoto tinha expirado h vrios minutos, conforme lhe informaram. Todos admiraram seu empenho, que se transformou em indignao quando apresentou os honorrios. Valor astronmico. Despenseiro indigno, transformou a profisso, com a qual deveria colaborar com Deus em favor da sade humana, num instrumento de explorao da desgraa alheia. No desdobramento dos servios assistenciais, vezes inmeras so encaminhados pacientes pobres a mdicos ligados ao Centro Esprita Amor e Caridade, em Bauru. Ento sentimos o valor do conhecimento esprita. comovente observar como confrades mdicos, esclarecidos e conscientes, tratam desses pacientes com todo carinho, sem cogitar de remunerao! Peo licena, prezado leitor, para falar de uma experincia pessoal, envolvendo meu pai. Foi enfermeiro, num tempo em que esses profissionais tinham um pouco de mdico. Trabalhava em pequeno ambulatrio, onde atendia pessoas com os mais variados problemas de sade. >215 17

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Alm dos exemplos de honestidade que legou aos filhos, impressionava pelo esprito humanitrio. Tivessem seus clientes dinheiro ou no, de todos cuidava. Era comum comentar, aps um dia de trabalho: Hoje s atendi osso! Significava que estivera s voltas com atendimentos gratuitos. Extremamente eficiente, era sempre solicitado quando havia dificuldade em pegar uma veia ou passar uma sonda. Mo abenoada, diziam. que, despenseiro fiel em sua profisso, fazia por merecer o apoio dos mentores desencarnados que o assistiam.

Sou um despenseiro de Deus! O Senhor confia em mim! A propsito do assunto, vale lembrar uma poesia de Douglas Malloch: Se voc no puder ser um [pinheiro no topo da colina, Seja um arbusto no vale, mas [seja O melhor arbusto margem [do regato. Seja um ramo, se no puder [ser uma rvore, Se no puder ser um ramo, [seja um pouco de relva, E d alegria a algum caminho. Se no puder ser almscar, [seja, ento, uma tlia, Mas a tlia mais viva do lago! N o p o d e m o s s e r t o d o s [capites: Temos de ser tripulao. H alguma coisa para todos [ns aqui. E a prxima a tarefa que [devemos empreender. Se voc no puder ser uma estrada, seja apenas uma senda. Se no puder ser sol, seja uma [estrela. No pelo tamanho que ter [xito ou fracasso, Mas seja o melhor, do que [quer que voc seja!

...Por mais humilde seja a funo que exercitamos, somos todos despenseiros de Deus. H tarefas que o Senhor nos confiou. Algumas ou muitas pessoas precisam de ns. Quantos benefcios proporciona um motorista de nibus prudente e atencioso, conduzindo, com segurana, dezenas de pessoas ao seu destino? E o professor que instrui seus discpulos, preparando-os para os desafios da vida? E o operrio da coleta de lixo, que zela pela limpeza. Poderamos viver numa cidade sem eles? Assim, em qualquer setor de nossa atividade, somos convocados perante a famlia, a profisso, a sociedade, a cuidar dos interesses de Deus. algo maravilhoso ter essa conscincia, no desdobramento de funes perante a sociedade, considerando, intimamente:18 216

...A observao final de Jesus bastante significativa: Muito ser exigido daquele a quem muito dado; e daquele a quem muito confiado mais ainda ser reclamado.

Quanto maior a noo que tenhamos a respeito de nossos deveres como despenseiros de Deus, maior a nossa responsabilidade. Penso nisso como esprita. A Doutrina avana muito alm das religies tradicionais no esclarecimento dos porqus da vida. Estabelecendo uma comparao, diramos que em relao s realidades espirituais, profitentes de outras religies acreditam que h estrelas alm das nuvens. Ns as vemos, desvendamos o Alm com os poderosos mecanismos da mediunidade, que a Doutrina desdobra e disciplina. Vi, certa feita, uma propaganda que exaltava o algo mais que determinado produto oferecia aos consumidores, representando esse algo mais uma qualidade melhor, um aproveitamento maior, uma utilizao mais eficiente... O esprita tambm chamado a oferecer algo mais, uma compreenso maior, uma pacincia mais ampla, uma disposio mais constante de servir, uma vocao melhor definida para o Bem, seja em casa, na profisso, nas atividades sociais, em face da viso das realidades espirituais que se desdobra ao nosso olhar. Espritos sofredores que se manifestam nos Centros Espritas, em conseqncia de seus desatinos na Terra, lamentam: Ah! Se eu soubesse! Ns, espritas, jamais poderemos falar assim. E esse algo mais, bem mais, que a Doutrina Esprita nos oferece, representar apenas acrscimo de nossas responsabilidades, se no correspondermos s expectativas de Deus.Reformador/Junho 2005

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Como nossos pais...Carlos Abranches

ste artigo poderia ter outros ttulos. Poderia chamar-se como nossos avs, ou como nossos antepassados mais distantes ainda. Isso porque o objetivo dele justamente refletir sobre o que nos faz ser to parecidos com os que nos antecederam na viagem da vida carnal. No pretendo aqui fazer uma reflexo doutrinria sobre o aspecto da reeencarnao, mas sobre outro ngulo, talvez mais afeito Psicologia, porm igualmente de profundo interesse para quem enxerga a vida sob a lente esprita, buscando argumentos comparativos para entender o fenmeno das relaes entre as pessoas de uma mesma famlia. Tenho em mos o livro Repeties (in)desejadas uma questo de famlia1, da assistente social Ivone Placon Bertin, mestre em Psicologia e especialista em terapia de casal e famlia pela PUC de So Paulo. A autora relata os resultados do atendimento de uma famlia composta por cinco pessoas me e quatro filhos , feito durante a realizao do curso de especializao sobre dinmica e processos de mudanas na famlia, da referida Universidade.

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O atendimento foi feito gratuitamente durante treze meses, entre 1991 e 1992. A proposta de reflexo apresentada pela autora a seguinte: nos sistemas familiares existem certos padres de funcionamento que, embora sejam identificados e no desejados por seus membros, continuam sendo repetidos. Por que muitas pessoas no conseguem deixar de reproduzir hbitos apreendidos l na infncia, mesmo sabendo que tudo que queriam era desvencilhar-se deles de uma vez por todas? Quem j no pensou alguma vez: isso que meu pai fazia comigo jamais vou fazer com meu filho, ou nunca vou repetir esse hbito horrvel de minha me com minha famlia, e, num dado momento, flagrou-se cometendo o mesmo ato que sempre criticou nos pais? A dificuldade de sair das cadeias invisveis que prendem os membros da prole aos mesmos destinos remete a um possvel script familiar, que atua inconscientemente como que cumprindo a tarefa de equilibrar o sistema domstico. como se, para o funcionamento adequado do lar, fosse exigida de seus membros a constante observncia do enredo da histria familiar. No me refiro aqui a impulsos individuais parecidos que este e aquele parente possuem em comum, denotando supostas afinidades decorrentes de vnculos ante-

riores. Atenho-me a um acmulo de geraes em vida, formando uma rede de influncias de avs para bisnetos, trazendo atos e posturas que vieram ao longo das geraes influenciando silenciosamente tomadas de deciso e condutas, sem que os mais novos, muitas vezes, entendessem por que agem desta ou daquela forma.

...A famlia que Ivone acompanhou era composta por Nadir (30 anos) e os filhos Rogrio (15), Maira (11), Solange (9) e Marta (7). Todos os nomes so fictcios. Tudo comeou porque Rogrio no vinha bem nos estudos e acabou encaminhado ao atendimento psicolgico da Universidade. Foi nesse ambiente que a terapeuta ficou sabendo que Nadir havia ficado grvida do garoto aos 15 anos de idade. A me dela, Edna, av das crianas, tambm engravidara de Nadir com a mesma idade. Para completar o perfil familiar, a av Edna nascera quando sua me, a bisav Maria, estava justamente com 15 anos de vida. Coincidncia ou no, o fato que as repeties de vivncias semelhantes e no verbalizadas entre trs geraes de uma mesma famlia revelaram as marcas psicolgicas profundas que cada ser humano provoca em outro com sua conduta e > suas opes.217 19

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Ivone Bertin me relatou em entrevista pessoal que ao observar esse ncleo familiar, percebeu que existem alguns padres de funcionamento que so repetidos de uma gerao a outra. So verdadeiros contedos psquicos que podem vir a estabelecer um determinado modo de funcionar em grupo. O que mais lhe chamou a ateno foi o fato de as personagens vivas dessa teia de relaes parentais no terem plena conscincia das diversas tramas em que vieram se envolvendo, em uma histria que no comeou a ser escrita por eles, mas da qual eles faziam parte inexorvel.

O livro instigante e deve ser consultado por quem quer saber mais a fundo a respeito das relaes de causa e efeito entre os membros de uma mesma famlia. A ns, cabe o dever de investigar os aspectos doutrinrios que ressumam dessas consideraes. Nosso dever aprender com os mais velhos, mas no ficar escravos de atitudes que eles cometiam e que ns, por razes de razes familiares, nos vemos repetindo, mesmo que em descompasso com nossas novas opes de vida. evidente que nem tudo que nossos avs fizeram vai ser repetido

deria ser a av de volta ao corpo, porque todos estavam encarnados ao mesmo tempo em algum momento da formao desse enredo. preciso entender, portanto, que o componente psicolgico domstico se forma com a colaborao de todos os membros da famlia, e que cabe a cada um a responsabilidade de investigar qual tem sido a qualidade de sua contribuio para esse caldo psquico de emoes e vibraes mentais.

...A esse respeito, Emmanuel orienta2 que os filhos so as obras preciosas que o Senhor conferiu aos pais, solicitando-lhes cooperao amorosa e eficiente. Ora, se receber encargos desse teor alcanar nobres ttulos de confiana, conforme pensa o benfeitor espiritual, tarefa igualmente elevada investir fundo no autoconhecimento para saber quais elementos emocionais os pais esto deixando para a posteridade familiar. Essa uma tarefa silenciosa, que s cada pessoa pode cumprir por si. Faa sua anlise tranqilamente, na certeza de que valem todos os esforos para que voc seja uma pessoa melhor, mais consciente e mais equilibrada diante daqueles que vo continuar a sua e a histria de sua famlia.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:1

...Para aprofundar a compreenso do tema, preciso investigar os conceitos de lealdade, tica e justia. Nesse contexto, lealdade seria um sentimento de solidariedade e compromisso que une as necessidades e expectativas de uma famlia. Ela implica um vnculo e tem uma dimenso tica, alm de identificar um comprometimento inconsciente nas relaes intersubjetivas familiares. tica aqui significa respeito ao outro, esforo em favor de justia e igualdade na relao. Justia significa a distribuio correta dos recursos de uma famlia. No contexto do livro citado, lealdade foi entendida como uma expectativa de adeso a certas regras, gerando inclusive a ameaa de expulso de um membro, caso ele transgrida as normas ocultas, porm vigentes, do ambiente parental.

O componente psicolgico domstico se forma com a colaborao de todos os membros da famliapor ns agora. H a interferncia da individualidade no processo. O que ressalto o fato de que algumas atitudes dos antepassados continuam fomentando impulsos em cada ato nosso de agora. Por que isso? Por que nos pegamos repetindo posturas ultrapassadas, condutas infelizes que antes deplorvamos, mas que agora voltam com toda fora, nos deixando por vezes envergonhados pela contradio de sermos ns seus protagonistas, quando antes ramos seus crticos? Na famlia em estudo, no cabe a interpretao de que a neta po-

BERTIN, Ivone. Repeties (in)desejadas uma questo de famlia. Cabral Editora e Livraria Universitria, Taubat, 1. ed. 2004. XAVIER, Francisco C. Vinha de Luz, pelo Esprito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981, cap. 134 e 135.Reformador/Junho 2005

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ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

Glria ao bemGlria, porm, e honra e paz a qualquer que obra o bem. Paulo. (Romanos, 2:10.)A malcia costuma conduzir o homem a falsas apreciaes do bem, quando no parta da confisso religiosa a que se dedica, do ambiente de trabalho que lhe prprio, da comunidade familiar em que se integra. O egosmo f-lo crer que o bem completo s poderia nascer de suas mos ou dos seus. Esse dos caractersticos mais inferiores da personalidade. O bem flui incessantemente de Deus e Deus o Pai de todos os homens. E atravs do homem bom que o Altssimo trabalha contra o sectarismo que lhe transformou os filhos terrestres em combatentes contumazes, de aes estreis e sanguinolentas. Por mais que as lies espontneas do Cu convoquem as criaturas ao reconhecimento dessa verdade, continuam os homens em atitudes de ofensiva, ameaa e destruio, uns para com os outros. O Pai, no entanto, consagrar o bem, onde quer que o bem esteja. indispensvel no atentarmos para os indivduos, mas, sim, observar e compreender o bem que o Supremo Senhor nos envia por intermdio deles. Que importa o aspecto exterior desse ou daquele homem? que interessam a sua nacionalidade, o seu nome, a sua cor? Anotemos a mensagem de que so portadores. Se permanecem consagrados ao mal, so dignos do bem que lhes possamos fazer, mas se so bons e sinceros, no setor de servio em que se encontram, merecem a paz e a honra de Deus.Fonte: XAVIER, Francisco Cndido. Caminho, Verdade e Vida. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 42, p. 99-100.

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Cuidado de um breve encontroJulio Cesar de S Roriz

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oc, que tarefeiro do bem, responsvel pela Reunio Pblica da Casa Esprita, cuide para que eles, esses nossos irmos do mundo de expiaes e provas em que vivemos, cheguem ao espao acolhedor da sala de palestras, onde voc j ter chegado muito antes, em regime de preparao para receb-los com carinho e ateno. Como ns, eles merecem ateno, pois so Espritos encarnados, filhos de Deus. Antes do encaminhamento para o Atendimento Fraterno, da indicao para o Tratamento Medinico, da orientao para o Estudo Sistematizado etc., o dirigente da Reunio Pblica precisa realizar um breve encontro, fundamental para que os irmos que esto chegando possam ser bem recebidos dentro da Instituio. Do mesmo modo que no gostamos de ser meramente triados, quando precisamos ingressar em um evento de nosso interesse, no vamos fazer deste breve encontro uma mera distribuio de pacientes para c, para l e para acol. Porque so pessoas, seres humanos que, como voc, tambm tm sentimentos. Cuide para que eles se sintam22 220

mais confiantes na Casa Esprita, embora com suas caractersticas instveis, indecisos, ainda sem terem certeza se ficam ou se vo, naquele fluxo irregular, aparentemente, to sem valia. Ser sempre positivo que voc tenha pacincia com eles, principalmente com aqueles que se encontram em estado de adoecimento espiritual, quando tudo parece carecer de uma soluo urgente para os seus graves problemas. Como voc no desconhece, eles precisaro vivenciar um longo processo de abertura de possibilidades fecundas de aprendizado e conforto espiritual, junto ao Espiritismo. E esse tempo no nos pertence. No foi do dia para a noite que a Doutrina Esprita passou a fazer parte de sua maneira de ser, e, portanto, voc teve um tempo especfico para que pudesse amadurecer adequadamente ao contato com o Espiritismo. Cuide para que eles entrem pela porta da frente da Casa Esprita: a Reunio Pblica Doutrinria. Oferea a sua ateno, o fruto de seu estudo e de seu conhecimento esprita, mas que o esprito da Caridade esteja presente em tudo o que voc faz, atravs de sua ao ou de seu pensamento. H muita fobia social, pnico e obsessividade compulsiva na sociedade contempornea e esses nossos irmos precisam de conforto e ateno generosa. Lembre-se de que tudo isso que so-

frem decorrente, originariamente, do medo ante o que no podem controlar, em conjuno com uma crise de f sem precedentes, redundando em estados alterados de humor, ansiedade ou depresso. O conhecimento esprita, a f raciocinada e a fraternidade sero os antdotos de que precisam para se estabilizarem ante as duras provas da vida. Sentem a vigncia do medo em seus diversos nveis, e, ns, dirigentes espritas, enquanto Espritos encarnados que somos, j os experimentamos de algum modo. Ajud-los significa ajudar-nos tambm. Lembre-se que o maior usufruturio do bem que se faz aos outros exatamente aquele que o pratica. Cuide para que eles fiquem como puderem, obedecidos os limites estabelecidos pela Instituio Esprita, mas compreenda que, embora permaneam silenciosos, ali sentados naquelas cadeiras da sala de palestras, em muitos casos, isso pode ser s aparncia; muitas pessoas h que, ainda, no conseguem deixar de manter o psiquismo desarvoradamente l fora, onde residem os interesses mais caros ao seu corao. Alguns, ainda vinculados aos formalismos e posturas externas das religies tradicionais, tm dificuldades para orar, realizando uma prece genuinamente do corao. Por isso, o silncio antes e depois da reunio uma providncia extremamente salutar em benefcio daqueles queReformador/Junho 2005

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visitam a Casa Esprita pela primeira vez. Assim como nos sentimos desconfortveis quando h excesso de rudo prximo ao local onde nos recolhemos para viver o momento delicado de nossa prece, eles tambm se sentem incomodados com o excesso de conversas. Cuide para que eles estejam com voc pessoalmente, no breve encontro, antes ou depois da Reunio Pblica. Dirigente, diretor, presidente e conselheiro so trabalhadores do bem e devem aproximar-se do povo freqentador, para o qual a Casa foi estatuda. Esta a hora de servir, ou seja, vir para ser um cuidador. E voc, dirigente, o cuidador da reunio. Por isso, procure estar disponvel ao encontro com eles. Por detrs destes breves encontros h todo um esforo da Espiritualidade Maior no sentido de aproxim-los do Espiritismo, atravs dos espritas que trabalham de boa vontade na Instituio. Antes, eles podem ter experimentado alguns caminhos complexos e agora pode ser que um sem-nmero de Entidades orientadoras estejam mobilizando recursos eficazes para que eles tomem um novo rumo. E elas contam com sua disponibilidade para orient-los. Melhor ser que voc, dirigente da reunio, seja mesmo a parte mais segura com que a Espiritualidade conta, na Terra, para encaminh-los, com sucesso, ao progresso espiritual indispensvel. Por isso, antes de se preocupar em arranjar um espao fsico para que este breve encontro acontea de fato, oferea, com bonomia, sua melhor disponibilidade: o espao psquico favorvel para ouvir o que ele precisa dizer. Por isso, esprita que trabalha em direo deReformador/Junho 2005

Reunio Pblica Doutrinria precisa gostar das pessoas e dispor-se a ouvi-las em seus momentos difceis. Elas podem ser muito sofridas, beira do suicdio, trazendo o corao muito machucado, em plena depresso, assediadas ou no por Espritos doentes. Ajude naquilo que lhe apresentam no momento e oferea condies para que elas possam falar do que precisam dizer de mais urgente e significativo. Depois, se for o caso, voc deve encaminh-las para o servio de Atendimento Fraterno ou outro determinado servio doutrinrio da Instituio. E isso no vlido to-somente para o dirigente da Reunio Pblica: todos os espritas que se afiliam nos servios voluntrios da seara esprita so tarefeiros do bem a servio da Caridade. Para ns, muitas vezes, podem pouco significar alguns minutos de nossa ateno, mas para o que necessita faz muita diferena, pois pode salvar sua vida. Qual de ns no gostaria de ser bem recebido nos duros momentos de necessidade? Eles tambm... Cuide para que eles usufruam a simplicidade da organizao formal que a sua Casa propicia. A formalidade administrativa da Casa Esprita, apesar de ser importante, precisa ter o seu valor relativizado no rol de suas prioridades. Seja fiel neste mnimo, para ser confivel no mximo, e o mximo est diretamente relacionado com os resultados da Casa, no servio da Caridade e do Conhecimento Esprita. Estes resultados sero sempre medidos em ns e em outrem, nunca nos balanos estatutrios. Na Casa Esprita, h uma Lei Maior regendo as condutas dos tarefeiros do

bem e que maior do que todas as leis dos homens juntas: a Lei de Deus impressa na Conscincia. Nenhum de ns se sentiria bem, imerso no ambiente familiar do lar, mas com a obrigao de s exercer relaes administrativas e financeiras com o prprio pai ou me, irmo ou irm consangneos, na condio de meros scios de uma empresa familiar, tendo que dar conta, o tempo todo, dos negcios administrativos nos encontros afetivos, almoos, jantares e aniversrios. Cuide para que eles faam ncora na Instituio em que voc trabalha e que propicia tanto conhecimento e conforto espiritual aos encarnados e desencarnados. A Casa Esprita a representao viva do Espiritismo na Terra, quando de acordo com o fio de prumo das Obras Bsicas de Allan Kardec. O Espiritismo o nico referencial a que devemos, sinceramente, creditar todos os sucessos do Movimento Esprita. Nenhum de ns, por isso, deve-se colocar em posio de destaque, pois a identificao pessoal que os necessitados possam fazer algo asfixiante, tornando-os dependentes de sua presena. Ningum indispensvel no Movimento Esprita. Cuide para que eles, aps o breve encontro com voc, conheam melhor os espritas trabalhadores, os servios da Casa e o Espiritismo nos seus fundamentos doutrinrios. Pode ser, no entanto, que alguns freqentadores das Reunies Pblicas desejem, por enquanto, fazer parte da multido dos incgnitos, recolhidos no silncio interior da meditao ou da timidez, do preconceito ou da ignorncia, do221 23

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medo ou da angstia. Eles tm o direito de optar por no conversar, no falar ou no se expor. O importante o tarefeiro do bem saber perceb-los com cuidado, para que no se sintam invadidos ou incomodados. Seja como for, quando eles desejarem abrir os prprios olhos realidade que os cerca, que vejam o sorriso amigo do tarefeiro do bem que diz, sem palavras: Amigo! estamos aqui disponveis! Assim como nos sentimos enlevados diante da presena de queridos orientadores da Vida Maior que nos cobrem de fluidos salutares em nossos momentos de recolhimento e silncio, os freqentadores da Reunio Pblica podem desejar tambm receber, em silncio, o alimento espiritual tonificante de que necessitam para suas almas. Cuide para que eles, em se mantendo com suas convices religiosas, possam ser atendidos mesmo assim. Se, por enquanto, no apresentam a indispensvel disponibilidade interna para uma melhor compreenso do Espiritismo, que sejam respeitados em seus credos e crenas, suas igrejas e templos. O expositor que promove uma palestra respeitosa e educativa, sem tisnar a pureza doutrinria, consegue muito mais ateno dos expectadores. O Espiritismo no o nico manancial de que a Humanidade dispe para que os filhos de Deus tenham melhor sorte nesta e na vida futura (ver questo 982 de O Livro dos Espritos). Como muitos ainda esto profundamente vinculados ao vis da religio de origem, carecem de mais tempo de convivncia com os espritas, no Estudo Sistematizado da Doutrina Esprita, por exemplo, at o momento24 222

em que percebam que o Espiritismo pode fazer sentido em suas vidas. Por isso, em cada reunio pblica, ser salutar a indicao verbal dos estudos e servios disponveis na Casa. contraproducente que os oradores faam conotaes negativas de outras crenas, pois aos ouvidos sensveis do povo oriundo delas, mais se assemelharo a um convite de sada pela primeira porta que encontrarem e, o que pior, sero induzidos ao afastamento total do Espiritismo. preciso sempre lembrar que toda religio tem seu fundamento na prtica do bem e que no gostamos quando algum profitente de outra doutrina fala mal do Espiritismo e dos espritas na nossa frente. Cuide para que eles se sensibilizem quanto Caridade cristalina do Espiritismo, procurando voc viv-la integralmente. Mesmo que eles estejam alterados, mantenha-se firme e sereno, ciente de que rvore que d frutos a que leva mais pedrada. Deus sabe que envolvimentos espirituais esto em jogo nesse momento e a sua parte deve ser aquela com que os Espritos Superiores mais contam para que os que chegam possam aprumar-se na vida. Cada um deles leva um tempo especfico para consolidar os luminosos conceitos do Espiritismo. Cada semente lanada pode germinar em qualquer tempo, e esse tempo, como dissemos, no nos pertence, efetivamente. Mais tarde, eles compreendero que o modelo da Humanidade Jesus, como nos diz a questo 625 de O Livro dos Espritos. At chegarem a esta compreenso, atravessaro momentos de receio, dvidas, vacilaes, testemunhos e, com o estudo dos postula-

dos da Doutrina Esprita, sairo do estado de crena para o de lgica meridianamente clara do Espiritismo. Ser muito importante a sua presena, como tarefeiro do bem da Casa Esprita, em todos esses momentos, do mesmo modo que nos sentimos reconfortados quando nos certificamos de que no estamos ss em nossos empreendimentos espirituais. Cuide, portanto, que eles fiquem na Casa Esprita, vivenciando com voc a Causa Esprita, em todas as etapas de que necessitem para que a sua iluminao interior possa constituir-se de dentro para fora, pois que, afinal, a mesma iluminao de que ns sempre carecemos. Sabemos que nosso passado reencarnatrio pode ter sido pouco recomendvel e que nosso presente pede-nos esforos contnuos de evoluo espiritual. Assim como, um dia, os nossos orientadores espirituais se acercaram de ns e, carinhosamente, nos indicaram o caminho do Evangelho de Jesus luz do Espiritismo, codificado por Allan Kardec, ns devemos receber bem o irmo que chega Casa Esprita, carente deste mesmo roteiro. Do mesmo modo que, em pocas passadas, talvez num breve encontro, fomos ajudados por annimos da Vida Maior que no mediram esforos para investir em ns, o Homem de Bem e a Mulher de Bem que carecemos desenvolver, hoje, em nosso prprio benefcio. Enquanto dirigentes de Casa Esprita, guardadas as devidas propores, faamos o mesmo em benefcio daqueles que l comparecem, precisados tambm de um breve encontro, ensejo de possibilidades de transformaes espirituais significativas.Reformador/Junho 2005

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Somente Deus tem o direito de dispor da vida humanaJorge Hessen

hamou-me a ateno o caso de Terri Schiavo, uma mulher da Flrida-EUA que permanecia em estado vegetativo h 15 anos e que foi desconectada do tubo que a alimentava, depois de um intenso debate entre seus familiares, o governo americano e os tribunais. Segundo especialistas, ela pode levar at duas semanas para morrer, sem alimentao. 1 O que acabou acontecendo. preocupante a revelao de alguns mdicos, de que a eutansia prtica habitual em UTIs do Brasil, e que apressar, sem dor ou sofrimento, a morte de um doente incurvel ato freqente e, muitas vezes, pouco discutido nas UTIs de hospitais brasileiros.2 Apesar de a Associao de Medicina Intensiva Brasileira negar que a eutansia seja freqente nas UTIs, existem aqueles que admitem razes mais prticas, como a necessidade de vaga na UTI para algum com chances de sobrevivncia, ou a presso, na Medicina privada, para diminuir custos.

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Mdicos e especialistas em biotica defendem, na verdade, um tipo especfico de eutansia, a ortotansia, que seria o ato de retirar equipamentos ou medicaes que servem para prolongar a vida de um doente terminal. Ao retirar esses suportes de vida, mantendo apenas a analgesia e tranqilizantes, espera-se que a natureza se encarregue da morte.3 Por definio a palavra eutansia vem do grego, significando boa morte ou morte apropriada. O termo de Francis Bacon que, em 1623, em sua obra Historia vitae et mortis, a definiu como sendo o tratamento adequado s doenas incurveis. Diversas so as expresses utilizadas como sinnimas, podendo ser citadas boa morte, suicdio assistido, eutansia ativa. O seu antnimo distansia4 que, por sua vez, vem a ser a utilizao dos meios adequados para tratar uma pessoa que est morrendo. Baseada em valores humanitrios, em que a tica mdica visa a prolonga3 4

o da vida, em seu mximo possvel. Para alguns mdicos a palavra eutansia ficou estigmatizada, e as pessoas tm medo de us-la. Destarte, crem necessrio que uma legislao estabelea critrios e condutas ticas para uma morte sem sofrimento. Porquanto a morte um preo que merece ser pago para o alvio da dor, consoante atesta um professor de tica da Faculdade de Medicina de uma importante Universidade brasileira. Para ele deve-se aceitar a eutansia em situaes de doenas incurveis, uma vez que atendncia de no manter a vida a todo custo. 5 A eutansia vem suscitando controvrsias nos meios jurdicos, lembrando, no entanto, que a nossa Constituio assegura o direito vida (art. 5o) e o Direito Penal Brasileiro incisivo e conclusivo: constitui assassnio comum.6 Nas hostes mdicas, sob o ponto de vista da tica da Medicina, a vida considerada um dom sagrado e, portanto,5

Idem.

Publicado na Folha de S.Paulo, 19/3/2005.

1 2

Publicado no Correio Braziliense, 19/3/2005. Publicado na Folha de S.Paulo, 19/3/2005.

Distansia para alguns significa prolongamento exagerado da morte de um paciente ou, at mesmo, pode ser empregado como sinnimo de tratamento intil. Para alguns especialistas uma atitude mdica que, visando salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento.

Previsto na Constituio Federal, artigo 5o, caput, a principal caracterstica do direito vida vem a ser sua indisponibilidade. A vida, dom divino que , h que ser preservada em toda e qualquer circunstncia, sendo inconcebvel sua eliminao quer pelo homem, quer pelo Estado.

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vedada ao mdico a pretenso de ser juiz da vida ou da morte de algum. A propsito, importante deixar consignado que a Associao Mundial de Medicina, desde 1987, na Declarao de Madrid, considera a eutansia como sendo um procedimento eticamente inadequado. No aspecto moral ou religioso, sobretudo esprita, lembremos que no so poucos os casos de pessoas desenganadas pela Medicina oficial e tradicional, que procuram outras alternativas e logram curas espetaculares, seja atravs da imposio das mos, da f, do magnetismo, da homeopatia, ou propsitos de mudanas comportamentais. No so poucos os casos de criaturas com quadros clnicos de doenas incurveis e desenganados em que o magnetismo posto em atividade pela imposio das mos conseguiu modificar o diagnstico mdico e restabelecer o campo celular. Allan Kardec indaga aos Benfeitores espirituais se o homem tem o direito de dispor da sua prpria vida e os Espritos esclarecem que s a Deus asssiste esse direito. 7 Ningum tem o direito de tirar uma vida, somente a Deus cabe esta deciso. A eutansia uma forma de interromper uma expiao daquele Esprito que sofre como paciente terminal. Seus parentes, pensando que esto aliviando suas dores, solicitam a eutansia, mas um ledo engano, pois esto praticando um crime contra a vida e no consideram que os sofrimentos morais so maiores que os sofrimentos materiais e este Esprito deve resgatar suas dvidas.7

Emmanuel explica que (...) por trs dos olhos baos e das mos desfalecentes que parecem deitar o ltimo adeus, apenas repontam avisos e advertncias para que o erro seja sustado ou para que a senda se reajuste amanh.8 E ante o leito da doena mais difcil e mais dolorosa (...) brilha o socorro da Infinita Bondade facilitando, a quem deve, a conquista da quitao. ................................................. No desrespeites, assim, quem se imobiliza na cruz horizontal da doena prolongada e difcil, administrando-lhe o veneno da morte suave, porquanto, provavelmente, conhecers tambm mais tarde

O verdadeiro cristo porta-se sempre em favor da manuteno da vidao proveitoso decbito indispensvel grande meditao.9 No cabe ao homem, em circunstncia alguma, ou sob qualquer pretexto, o direito de escolher e deliberar sobre a vida ou a morte de seu prximo, e a eutansia, essa falsa piedade atrapalha a teraputica divina, nos processos redentores da reabilitao. Os espritas sabemos que a agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a molstia incurvel pode ser, em verdade, um bem. Nem sempre conhecemos as reflexes que o Espri8

KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos. Rio de Janeiro: FEB, 1999, questo 944.

XAVIER, Francisco Cndido. Religio dos Espritos. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, Sofrimento e eutansia, p. 59-60. Idem, ibidem.

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to pode fazer nas convulses da dor fsica e quantos tormentos lhe podem ser poupados em um relmpago de arrependimento. A eutansia interrompe o processo depurativo da enfermidade, impondo ao doente crnico srias dificuldades, inclusive no retorno ao plano espiritual. Ademais, os familiares que buscam tal recurso piedoso, na realidade, encontram-se apenas e indevidamente ansiosos por libertar-se do compromisso e da responsabilidade de ajudar, sustentar e amar seu ente querido. A rigor, o cncer pode ser o meio de expungir as trevas que povoam o corao, impedindo-lhe maior entendimento da vida. A paralisia e a loucura, o pnfigo e a tuberculose, a idiotia e a mutilao, quase sempre, funcionam por abenoado corretivo, em socorro do Esprito que a culpa ensandeceu ou ensombrou na provao expiatria. Desta forma, respeitemos a dor como instrutora das almas e, sem vacilaes ou indagaes descabidas, amparemos quantos lhes experimentam a presena constrangedora e educativa. Lembrando sempre que nos compete to-somente o dever de servir, porquanto a Justia, em ltima instncia, pertence a Deus, que distribui conosco o alvio e a aflio, a enfermidade, a vida e a morte, no momento oportuno. O verdadeiro cristo porta-se sempre em favor da manuteno da vida e do respeito em relao aos desgnios de Deus, buscando no s minorar os sofrimentos do prximo (sem eutansias, claro!), mas tambm, confiando na justia e na bondade divinas, at porque nos Estatutos de Deus no h espao para a injustia.Reformador/Junho 2005

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Violncia mundial: Desconhecimento da realidade espiritualAnselmo Ferreira Vasconcelos

espiral de violncia que tem ocorrido em algumas partes do Planeta s encontra satisfatria explicao na ignorncia das coisas espirituais. Ao se tentar analisar tais acontecimentos sob o ponto de vista dos seus protagonistas, deparamo-nos, em dado momento, com a falta de pacincia e humildade, ou com a intransigncia extremada, ou ainda com o orgulho ferido dos supostos prejudicados. Apesar de j nos encontrarmos em pleno sculo XXI, o homem continua apegado s reaes brbaras contra os seus semelhantes. Por meio da prtica agora corriqueira de aes terroristas, observamos uma pletora de iniciativas desse jaez que quase sempre culminam em sangue, mortes e destruio. A sanha assassina dos terroristas no tem limites e nem misericrdia. No tm sido poucos a dar cabo das prprias vidas menoscabando a suprema concesso divina , motivados por um discurso irracional ou por um desejo de vindita prprio dos indivduos mentalmente perturbados ou que no conhecem a justia celestial.

A

Arvorar-se condio de juiz, sem a respectiva procurao divina, coloca a suposta vtima em situao to ou mais desajustada do que a do agressor. Assim, assaz pesaroso ver crianas nutridas pelo sentimento de dio, conforme se observa nas imagens procedentes do Oriente

As pendncias entre pases podem perfeitamente ser arbitradas pelos organismos internacionais, criados para esse fimMdio. Crianas que, em vez de estarem nas escolas ou brincando, esto paramentadas militarmente, empunhando armas de fogo a brandir palavras de ordem contra seus inimigos. Na terrvel condio de soldados do mal so, portanto, futu-

ros candidatos a mrtires, e enfrentaro a dor e a revolta em conseqncia dos seus atos tresloucados. Convm acrescentar que essas infelizes criaturas humanas so, acima de tudo, joguetes nas mos de sagazes prepostos das trevas que as ludibriam com falsas promessas. Diante disto, podemos imaginar quo lancinantes devem ser os sofrimentos dos homens e mulheres-bomba, que ao desencarnarem, se deparam com uma realidade totalmente diversa da prometida, consoante a mxima: Quem com o ferro fere com o ferro ser ferido. Em decorrncia, embora no tenhamos conhecimento de obra esprita que trate especificamente deste assunto, podemos avaliar os terrveis padecimentos que os perpetradores de to impiedosos atos devem estar sofrendo. No aprendemos ainda infelizmente a elementar lio de que a violncia s gera a violncia. A lei mosaica, que prega o olho por olho e o dente por dente, fielmente seguida por muitos povos ainda, s tem trazido dor, lgrimas e ressentimentos. Convm recordar que as pendncias entre pases podem perfeitamente ser arbitradas pelos organismos internacionais, que foram > criados para isso.225 27

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H, verdade, naes que se julgam acima do bem e do mal, no respeitando as deliberaes de tais Instituies quando seus interesses so contrariados. Ao proceder assim, elas esto dando um pssimo exemplo, assim como atraindo antipatia e indignao dos demais pases. As implicaes destas posies j so observadas em degradantes ataques suicidas. Por outro lado, o homem moderno no divisou ainda as finalidades sacrossantas da vida. Portador de um mrbido sentimento atvico, tudo enxerga pelo prisma da posse e conquista, no reconhecendo em seu interlocutor algum que merece igualmente o direito a ser feliz. A interveno terrorista desconhece que a cada um ser dado segundo as suas obras. Os povos supostamente lesados deveriam confiar na ao do tempo, que se encarrega de despertar at mesmo os coraes mais empedernidos. Recordemos que a fora do amor deve permear tudo. No por outra razo, alis, que Jesus recomendava o amor a Deus sobre todas as coisas e ao prximo como a ns mesmos como roteiro seguro para o progresso do Esprito. Por isso, o Evangelho , a propsito, o instrumento basilar para a eliminao das divergncias humanas. Nele todos os homens e povos encontram slidas diretrizes para que questes fronteirias, econmicas, religiosas, sociais e polticas possam ser solucionadas de maneira pacfica. No entanto, a Humanidade ainda no conseguiu assimilar todo o seu teor no mago da alma, e a violncia crescente em vrias partes do Planeta reflete esse desconhecimento.28 226

Encontro com Divaldo na FEB, em Braslia

Mesa (esq./dir.): Divaldo Franco, Altivo Ferreira, Cesar de Jesus Moutinho e Ceclia Rocha

Como parte da comemorao do Bicentenrio de Nascimento de Allan Kardec, promovida pela Federao Esprita do Distrito Federal, Divaldo Pereira Franco realizou, na manh de 17 de abril passado, na Sede Central da Federao Esprita Brasileira, em Braslia, um Encontro com cerca de 600 dirigentes e trabalhadores das casas espritas do Distrito Federal. O Grupo Takto executou, na abertura da reunio, msicas clssicas e contemporneas, preparando o ambiente espiritual. Divaldo, em sua exposio, fez importantes consideraes sobre a atitude do dirigente esprita perante a Doutrina e na administrao de suas instituies. Em seguida, respondeu a perguntas dos participantes do evento. (Ver p. 15)