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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 128 • Nº 2.172 • Março 2010 D EUS , C RISTO E C ARIDADE R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749

Reformador Março / 2010 (revista espírita)

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Mediunidade Responsável

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Page 1: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 128 • Nº 2.172 • Março 2010D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

R$ 5,00

ISSN 1

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo Cristão

Ano 128 / Março, 2010 / N o 2.172

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:

Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:

Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASIL

Assinatura anual R$ 39,00

Número avulso R$ 5,00

PARA O EXTERIOR

Assinatura anual US$ 35,00

Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mail: [email protected]

Editorial

Prática mediúnica espírita

Entrevista: Francisco Ferraz Batista

A busca por laços inquebrantáveis

Presença de Chico Xavier

Mediunidade sublimada – Irmão X

Esflorando o Evangelho

Guardemos lealdade – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Chopin, Espiritismo, Esperanto... – Affonso Soares

Seara Espírita

O radicalismo religioso – Juvanir Borges de Souza

Irmão – João de Deus

Terrorismo de natureza mediúnica (Capa) –

Vianna de Carvalho

Controle universal do ensino dos Espíritos –

Allan Kardec

O Espiritismo e os espíritas – Richard Simonetti

O Evangelho em casa – Isabel

A Natureza e seus reinos – Christiano Torchi

Necessidade de meditação – Mário Frigéri

Enfermidades: lições valiosas para os que as

adquirem – Clara Lila Gonzalez de Araújo

Em dia com o Espiritismo – Processo racial –

Marta Antunes Moura

Onde Deus está? – Carlos Abranches

Religião e salvação – F. Altamir da Cunha

Agadyr Teixeira Torres – Uma vida com a Doutrina

Espírita

Retrato da amizade – Maria Dolores

Cristianismo Redivivo – Profecias bíblicas –

Haroldo Dutra Dias

A mensagem do Cristo chega de vários modos –

Rogério Coelho

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Editorial

1 “Conheça o Espiritismo” – Texto da Campanha de Divulgação do Espiritismo, promovida pela FEB e pelo CEI.

mediunidade é uma faculdade que muitas pessoas possuem, independentementede sua vontade, que permite a comunicação entre os homens (Espíritos encarna-dos) e os Espíritos desencarnados, ou, ainda, entre o mundo espiritual e o mundo

material. Existe desde que o homem habita a Terra. Todas as religiões, desde as mais primi-tivas, têm na mediunidade a base para os seus princípios e a sua prática.

Em “A minha primeira iniciação no Espiritismo” (Obras Póstumas, p. 297 e 299), AllanKardec comenta sobre os seus primeiros contatos com o fenômeno mediúnico represen-tado, na época, pelas mesas girantes ou falantes, como se observa em alguns trechos:

Foi aí [em casa da Sra. Plainemaison, em maio de 1855] que, pela primeira vez, presenciei ofenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavamlugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios [...] mas havia ali um fato que ne-cessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades [...] qual-quer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

[...]

Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo [...]. Apliquei aessa nova ciência [...] o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas;observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos procuravaremontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos [...] percebi,naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado edo futuro da Humanidade [...]. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas cren-ças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não levianamente; serpositivista e não idealista, para não me deixar iludir.

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nadamais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciên-cia integral [...] e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. [...]

Adotando um sistema de investigação racional, intitulado “Controle Universal doEnsino dos Espíritos” (O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 26-36), Allan Kardec codi-ficou a Doutrina Espírita, que tem como máximas: “Nascer, morrer, renascer ainda, eprogredir sempre, tal é a lei”, “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade” e “Fora da Caridade não há Salvação”.Assim, toda atividade identificada como espírita, inclusive a mediúnica, será sempre aque for realizada de conformidade com os ensinos espíritas.

No mundo existem muitas atividades mediúnicas, mas, “prática mediúnica espíritasó é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro damoral cristã”.1

A

Prática mediúnicaespírita

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s religiões, entendidas co-mo crenças na existênciade seres superiores ou for-

ças criadoras do Universo, e quedevem ser adorados e obedecidos,criaram suas doutrinas, cada qualcom seus preceitos ético-morais ereverências às coisas sagradas.

As religiões geram, em seus se-guidores, sistemas de pensamentosque levam a posicionamentos filosó-ficos, éticos e metafísicos, influin-do poderosamente na maneira in-dividual e coletiva de agir.

Assim, quanto mais próximas es-tiverem as doutrinas religiosas daVerdade e da realidade, melhoresserão suas influências sobre seusadeptos.

Hoje, à luz da Revelação Espí-rita, sabemos que todas as gran-des religiões do mundo, desde asmais remotas eras, tiveram, emseus fundadores, os missionáriosencarregados de orientar e aju-dar parcelas da Humanidade aprogredir em conhecimentos e sentimentos.

Mas o auxílio do Alto nunca ul-trapassou a capacidade de entendi-

mento e absorção dos ensinos porparte daqueles aos quais era dirigi-do. Esse fato explica a linguagemfigurada, sujeita a interpretações eestudos mais aprofundados a res-peito dos textos religiosos antigos.

Moisés, Maomé, Buda, Lao-Tsée todos os demais enviados por Je-sus, o Cristo – Governador da Ter-ra – utilizaram linguagem inteligí-vel à época em que cumpriramsuas missões.

Entretanto, transformadas ascondições do mundo em que atua-ram e deixaram suas mensagens eensinos, pelo progresso natural, pe-las modificações dos usos, costu-mes e leis humanas, pelos desco-brimentos científicos e pela evolu-ção geral do Planeta e de seus ha-bitantes, é necessário que se inter-pretem os textos antigos dos livrossagrados das religiões em suas sig-nificações legítimas.

As interpretações literais de tex-tos escritos há milênios, sem oscuidados naturais para se buscar asignificação real, levam a enganose erros como decorrências nor-mais.

Há que se considerar tambéma evolução natural das línguasem que foram expressos os tex-tos, entre as quais algumas estãoextintas.

Outra dificuldade ocorrente éa das traduções dos textos origi-nais para as línguas atuais, muitomais ricas que as antigas, nasquais um vocábulo tem hoje sig-nificações diversas. Daí a diversi-dade das traduções.

Essas considerações visam foca-lizar verdadeiros paradoxos que seobservam no seio de determinadasreligiões, os quais se tornam in-compreensíveis ou inexplicáveisperante a finalidade visada pelosprincípios religiosos, que é o da ele-vação dos sentimentos e dos co-nhecimentos da criatura humana.

Referimo-nos ao fanatismo, aoradicalismo e ao fundamentalismoque se observam em determinadosmovimentos religiosos, gerandoconsequências negativas e diversi-ficadas no seio de grande parte daHumanidade.

O radicalismoreligioso

AJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

5Março 2010 • Reformador 83

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O fanatismo é o procedimento,a qualidade e o caráter intolerante ecego do religioso.

Entusiasmado e apaixonado pe-las ideias que aceitou, é incapaz deexaminar qualquer pensamento,princípio, ou ideal que não estejamestritamente contidos na sua dou-trina. Sua vida de relação se faz ex-tremamente difícil, em face da suapresunção de superioridade comreferência a tudo que o cerca.

Próximo do fanatismo encon-tra-se o radicalismo daqueles cujaopinião ou comportamento os tor-nam inflexíveis, mesmo diante deevidências e provas contrárias aoponto de vista que aceitaram.

Fanatismo e radicalismo são ma-les que se enraízam nos movimen-tos religiosos, com graves prejuízospara os invigilantes que os acei-tam e para aqueles que com eles serelacionam.

Aos prejuízos das interpretaçõesliterais do Velho e do Novo Testa-mentos somaram-se os equívocos

das igrejas denominadas cristãs,com suas estruturas e hierarquiastradicionais, criando as organiza-ções religiosas que se desviaram doCristianismo autêntico, resultantedos ensinos do Cristo de Deus.

Os dogmas impróprios criadospelos diversos Concílios, desde osprimeiros séculos do Cristianis-mo, desfiguraram a mensagem doCristo de tal forma que se tornadifícil identificá-la, na sua pureza,com as práticas e cultos exterioresdas igrejas.

Não se ajustam os ensinos doMestre Incomparável, resumidospor Ele mesmo no “amar a Deussobre todas as coisas e ao próximocomo a si mesmo”, com as ideias eas práticas resultantes da interpre-tação literal dos Evangelhos e doVelho Testamento.

A interpretação que se deu às pa-lavras céu, inferno, anjos, demônios,penitência, dia do juízo e tantas ou-tras constantes dos Evangelhos, nasua letra, sem se considerar que Je-

sus se dirigia a pessoas de parcoentendimento e que sua lingua-gem tinha, tantas vezes, sentido fi-gurado para ser entendida, levouas doutrinas católica e protestante aerros e enganos evidentes.

Céu e inferno, por exemplo, nãopodem ser considerados lugaresdeterminados ao gozo eterno ou aosofrimento eterno das almas, comoentendem as igrejas, mas sim esta-dos de alma, resultantes de seus pen-samentos e ações no bem ou no mal.

Penitência não deve ter o sentidode simples castigo pelo mal feito,mas sim o de arrependimento, semprejuízo da retificação necessária.

Anjos são Espíritos que já se en-contram em avançados estágiosevolutivos, mas que iniciaram suatrajetória como seres simples e ig-norantes e não como criaturas es-peciais do Criador.

Demônios são Espíritos que sedesviaram, comprazem-se no mal,mas que terão oportunidade dese redimir, dentro da lei de Deus,

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que é justa e equitativa para comtoda a Criação.

O juízo não é um julgamentoespecial em um tempo indefinidodentro da eternidade, mas sim asconsequências dos atos e pensa-mentos de cada ser pelo automa-tismo das leis divinas, às quais to-das as criaturas estão sujeitas.

Essas noções retificadoras dasdoutrinas baseadas na literalidadedas escrituras antigas foram trazidaspelo Consolador, prometido porJesus, que sabia da necessidade fu-tura do correto entendimento deseus ensinos, que se ajustam per-feitamente ao Amor, ao Poder e àJustiça de Deus.

A interpretação radical dos fun-damentos, assim considerada a le-tra das escrituras, corresponde aoimobilismo de ideias superadaspelo progresso normal do mundoque habitamos, resultante de no-vos conhecimentos oriundos dasciências e novas revelações.

O fundamentalismo resultanteda interpretação literal, quando sejunta à força do poder temporário,conduz povos, raças e nações àviolência e às guerras, como ocor-reu no passado e ainda aconteceno presente.

Fundamentalismo tornou-se si-nônimo de radicalismo. Suas con-sequências são incompatíveis comos objetivos das religiões, que vi-sam o progresso moral e intelec-tual do homem, na busca da felici-dade das criaturas de Deus.

O fundamentalismo não ficouadstrito a determinados movi-mentos religiosos denominadoscristãos.

Fenômeno semelhante ocorreno movimento islâmico, com ba-se na interpretação literal e radicalde seu livro sagrado.

Como o Alcorão foi escrito noséculo VII da Era Cristã, quando omundo era ainda muito mais atra-sado que na atualidade, torna-se evi-dente a necessidade do ajustamen-to de suas normas e regras às novascondições de conhecimentos e desentimentos alcançados pelo gêne-ro humano, que conduzem ao Bem.

Também no islamismo ou emqualquer outro movimento religio-so não se justificam os fundamen-tos interpretados literalmente.

Devem ser considerados os man-damentos, a letra, à luz da razão,da justiça e do entendimento su-perior, sem o que os resultados in-terpretativos levam a verdadeirosabsurdos, como é exemplo a con-dição da mulher, colocada em po-sição de inferioridade injustifica-da, atendendo a costumes de umpassado superado.

Apesar do progresso alcançadopela Humanidade, em pleno séculoXXI subsistem tendências relativis-tas, utilitaristas e subjetivistas di-fundidas nas sociedades atuais, compretensões de legitimidade social,cultural e religiosa.

O Espiritismo, a Terceira Reve-lação nos tempos modernos, oriun-do da Espiritualidade superior, vemmostrar, aos homens que desper-tam, a realidade da vida e sua con-tinuidade infinita, procurando reti-ficar tendências e erros provenien-tes do passado milenar.

Não se justifica o relativismo dian-te da lei moral superior do Amor,que promana do Criador do Uni-verso e foi ensinada pelo Cristo.

O fundamentalismo, o utilitaris-mo, o subjetivismo e o materialis-mo são desvios perigosos de vivên-cia e de interpretações infelizes, comconsequências sérias para quem osaceita, contra os quais estão semprepresentes a mensagem do Cristo ea Doutrina Consoladora por Eleprometida e enviada.

Não é fácil para os que se en-contram reencarnados em ummundo material como a Terra,com inúmeras obrigações perantea vida física, lembrarem-se perma-nentemente de que são, antes detudo, seres espirituais em trânsitopor este mundo.

Essa é a condição de toda a po-pulação terrena: Espíritos eternos,ligados a corpos materiais perecí-veis, em busca do aperfeiçoamento.

As religiões auxiliam esse enten-dimento lembrando-nos do quesomos em essência.

Mas as religiões não dispõemde todo o conhecimento, estandosujeitas a desvios, como os fatos ocomprovam.

Daí o auxílio do Alto, que se ma-nifestou em todas as épocas, atra-vés de emissários e missionáriosdo Cristo, com o objetivo de escla-recer parcelas da Humanidade eanular as influências inferiores.

A vida em mundos de expiaçõese provas, como o nosso, apresentaas dificuldades naturais do cam-po material, reclamando esforçode aprendizagem, trabalho e de-dicação, na vasta lavoura terrena,

7Março 2010 • Reformador 85

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além dos serviços necessários àaquisição dos valores espirituaisque representam o verdadeiroprogresso da alma.

São de Bittencourt Sampaio, olúcido Espírito, que militou nashostes da Federação Espírita Brasi-leira nos fins do século XIX, as ob-servações seguintes:

Nos dias correntes, epílogo de

um ciclo planetário, vasculham-

-se os umbrais da Espiritualida-

de inferior, reformando-se os

museus de sofrimentos purga-

toriais, forjados através de mi-

lênios inumeráveis.

E no nosso mundo, o que nota-

mos?

Apesar do ingente esforço re-

novador dos arautos das letras

do Evangelho, mais da metade da

população terrestre ainda nem

ouviu falar de Jesus, o Sublime

Governador da Terra; esmaga-

dora maioria ainda nem sequer

pensou no intercâmbio entre os

dois mundos; grande parte da

Humanidade cultua doutrinas

clara e confessadamente mate-

rialistas.

Por toda parte: delitos passio-

nais, rebeliões, suicídios, terro-

rismo, fanatismos, obsessão, lou-

cura, guerras.

Tal fato não deve, entretanto,

desanimar, mas deve constituir

chamamento para mais dedica-

ção ao trabalho perseverante.

Notadamente à minoria espíri-

ta cristã, pequena minoria num

mundo de desesperançados, ca-

be a tarefa de ir prevenindo os

erros seculares, que desfiguram

a existência, consomem o equi-

líbrio, vacinando tanto quan-

to se puder, as consciências com

a fé raciocinada, apoiada nos

fatos, acendendo no semelhan-

te a luz da certeza na imortali-

dade, à força da palavra e à

custa do exemplo.

A tarefa é enorme, mas não im-

possível.

É necessário perseverança. (Gri-

fo nosso.)

Nessa síntese, formulada comrealismo e clareza por quem viveuas experiências espiritistas em umperíodo difícil para a afirmação da

Doutrina Consoladora no “Cora-ção do Mundo”, vemos traçadas aslinhas gerais de um mundo confu-so, atrasado e desesperançado.

É nessa esfera de provas e expia-ções que os espíritas, pequena mi-noria da população global, são cha-mados a atuar numa tarefa ingen-te, difícil, mas não impossível.

É a luta por um ideal superiorna difusão da Verdade para toda aHumanidade.

Se o progresso é lei divina paratodas as criaturas, o conhecimentode nós mesmos impõe-nos deveresdiversos, inclusive o de auxiliarnossos semelhantes.

8 Reformador • Março 201086

Irmão é todo aquele que perdoaSetenta vezes sete a dor da ofensa,Para quem não há mal que o bem não vença,Pelas mãos da humildade atenta e boa.

É aquele que de espinhos se coroa Por servir com Jesus sem recompensa,Que tormentos e lágrimas condensa,Por ajudar quem fere e amaldiçoa.

Irmão é todo aquele que semeia Consolação e paz na estrada alheia,Espalhando a bondade que ilumina;

É aquele que na vida transitória Procura, sem descanso, a excelsa glória Da eterna luz na Redenção Divina.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio fraterno. Por diversos Espíritos. 6. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 6.

João de Deus

Irmão

Page 9: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

utilmente vai-se populari-zando uma forma lamen-tável de revelação mediú-

nica, valorizando as questõesperturbadoras que devem rece-ber tratamento especial, ao invésde divulgação popularesca decaráter apocalíptico.

Existe um atavismo no com-portamento humano em tornodo Deus temor que Jesus desmis-tificou, demonstrando que o Paié todo Amor, e que o Espiritismoconfirma através das suas exce-lentes propostas filosóficas e éti-co-morais, o qual deve ser exa-minado com imparcialidade.

Doutrina fundamentada emfatos, estudada pela razão e lógi-ca, não admite em suas formula-ções esclarecedoras quaisquer ti-pos de superstições, que lhe tis-nariam a limpidez dos conteúdosrelevantes, muito menos ameaçasque a imponham pelo temor, co-mo é habitual em outros segmen-tos religiosos.

Durante alguns milênios omedo fez parte da divulgação doBem, impondo vinganças celes-

tes e desgraças a todos aquelesque discrepassem dos seus pos-tulados, castrando a liberdade depensamento e submetendo aotacão da ignorância e do primiti-vismo cultural as mentes maislúcidas e avançadas...

O Espiritismo é ciência que in-vestiga e somente considera aqui-lo que pode ser confirmado emlaboratório, que tenha caráter derevelação universal, portanto, sem-pre livre para a aceitação ou nãopor aqueles que buscam conhe-cer-lhe os ensinamentos. Igual-mente é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, atra-vés da Lei de Causa e Efeito, quemsomos, de onde viemos, para on-de vamos, porque sofremos, quaissão as razões das penas e das amar-guras humanas... De igual ma-neira, a sua ética-moral é total-mente fundamentada nos ensi-namentos de Jesus, conforme Eleos enunciou e os viveu, propor-cionando a religiosidade que in-tegra a criatura na ternura do seuCriador, sendo de simples e fácilformulação.

Jamais se utiliza das tradiçõesmíticas greco-romanas, quais asdas Parcas, sempre tecendo tra-gédias para os seres humanos, oude outras quaisquer remanescen-tes das religiões ortodoxas deca-dentes, algumas das quais hojeestão reformuladas na apresenta-ção, mantendo, porém, os mes-mos conteúdos ameaçadores.

De maneira sistemática e con-tínua, vêm-se tornando comunsalgumas pseudorrevelações alar-mantes, substituindo as figuras mi-tológicas de Satanás, do Diabo,do Inferno, do Purgatório, porDragões, Organizações demonía-cas, regiões punitivas atemorizan-tes, em detrimento do amor e damisericórdia de Deus que vigemem toda parte.

Certamente existem personifi-cações do Mal além das frontei-ras físicas, que se comprazem emafligir as criaturas descuidadas,assim como lugares de purifica-ção depois das fronteiras de cin-za do corpo somático, todos, noentanto, transitórios, como ensaiospara a aprendizagem do Bem e

S

Terrorismo denatureza mediúnica

9Março 2010 • Reformador 87

Capa

Page 10: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

sua fixação nos painéis da mentee do comportamento.

O Espiritismo ressuscita a espe-rança e amplia os horizontes doconhecimento exatamente parafacultar ao ser humano o enten-dimento a respeito da vida e decomo comportar-se dignamenteante as situações dolorosas.

As suas revelações objetivamesclarecer as mentes, retirando anévoa da ignorância que aindapermanece impedindo o discer-nimento de muitas pessoas emtorno dos objetivos essenciais daexistência carnal.

Da mesma forma como nãose deve enganar os candidatosao estudo espírita, a respeito dasregiões celestes que os aguar-dam, desbordando em fantasiasinfantis, não é correto derraparnas ameaças em torno de feti-ches, magias e soluções miracu-losas para os problemas huma-nos, recorrendo-se ao animismoafricanista, de diversos povos e

às suas superstições. No passa-do, em pleno período medieval,as crenças em torno dos fenô-menos mediúnicos revestiam-sede místicas e de cerimônias ca-balísticas, propondo a liberta-ção dos incautos e perversos dassituações perniciosas em quetransitavam.

O Espiritismo, iluminando astrevas que permanecem domi-nando incontáveis mentes, des-vela o futuro que a todos aguar-da, rico de bênçãos e de oportu-nidades de crescimento intelec-to-moral, oferecendo os instru-mentos hábeis para o êxito emtodos os cometimentos.

A sua psicologia é fértil de li-ções libertadoras dos conflitosque remanescem das existênciaspassadas, de terapêuticas espe-ciais para o enfrentamento comos adversários espirituais queprocedem do ontem perturba-dor, de recursos simples e de fácilaplicação.

A simples mudança mentalpara melhor proporciona ao in-divíduo a conquista do equilí-brio perdido, facultando-lhe aadoção de comportamentos sau-dáveis que se encontram exara-dos em O Evangelho segundo oEspiritismo, de Allan Kardec, ver-dadeiro tratado de eficiente psi-coterapia ao alcance de todosque se interessem pela conquis-ta da saúde integral e da alegriade viver.

Após a façanha de haver ma-tado a morte, o conhecimentodo Espiritismo faculta a perfeitaintegração da criatura com a so-ciedade, vivendo de maneira har-mônica em todo momento, ondequer que se encontre, liberada dereceios injustificáveis e sintoni-zada com as bênçãos que de-fluem da misericórdia divina.

A mediunidade, desse modo, aserviço de Jesus, é veículo de luz,de seriedade, dignificando o seuinstrumento e enriquecendo de

10 Reformador • Março 201088

Capa

Page 11: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

esperança e de felicidade todosaqueles que se lhe acercam.

Jamais a mediunidade séria es-tará a serviço dos Espíritos zom-beteiros, levianos, críticos contu-mazes de tudo e de todos que nãoanuem com as suas informaçõesvulgares, devendo tornar-se instru-mento de conforto moral e de ins-trução grave, trabalhando a cons-trução de mulheres e de homenssérios que se fascinem com o Es-piritismo e tornem as suas exis-tências úteis e enobrecidas.

Esses Espíritos burlões e pseu-dossábios devem ser esclarecidose orientados à mudança de com-portamento, depois de demons-trado que não lhes obedecemos,nem lhes aceitamos as sugestõesdoentias, mentirosas e apavoran-tes com as histórias infantis so-bre as catástrofes que sempre exis-tiram, com as informações sobreo fim do mundo, com as tramasintérminas a que se entregam pa-ra seduzir e conduzir os ingê-nuos que se lhes submetemfacilmente...

O conhecimento real do Espi-ritismo é o antídoto para essa on-da de revelações atemorizantes,que se espalha como um bafiopestilencial, tentando mesclar-seaos paradigmas espíritas que de-monstraram desde o seu surgi-mento a legitimidade de que sãoportadores, confirmando o Con-solador que Jesus prometeu aosseus discípulos e se materializouna incomparável Doutrina.

Ante informações mediúnicasdesastrosas ou sublimes, um mé-todo eficaz existe para a avalia-

ção correta em torno da sua legi-timidade, que é a universalidadedo ensino, conforme estabeleceuo preclaro Codificador.

Desse modo, utilizando-se da ca-ridade como guia, da oração comoinstrumento de iluminação e doconhecimento como recurso de li-bertação, os adeptos sinceros doEspiritismo não se devem deixarinfluenciar pelo moderno terro-rismo de natureza mediúnica, en-

carregado de amedrontar, quan-do o objetivo máximo da Dou-trina é libertar os seus adeptos, afim de os tornar felizes.

Vianna de Carvalho

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, no dia 7 de dezembro

de 2009, durante o período de realização

do XVII Congresso Espírita Nacional, em

Calpe, Espanha.)

11Março 2010 • Reformador 89

Espiritismo não tem nacionalidade, não faz parte de nenhumculto particular, nem é imposto por nenhuma classe social,

visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus paren-tes e amigos de além-túmulo. Era preciso que fosse assim, para queele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade. Se não semantivesse em terreno neutro, teria alimentado as dissensões, emvez de apaziguá-las.

Essa universalidade no ensino dos Espíritos faz a força do Espi-ritismo; aí reside também a causa de sua tão rápida propagação.Enquanto a palavra de um só homem, mesmo com o concurso daimprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos,eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente emtodos os pontos da Terra, proclamando os mesmos princípios etransmitindo-os aos mais ignorantes, como aos mais sábios, a fimde que ninguém seja deserdado. É uma vantagem de que não haviagozado ainda nenhuma das doutrinas surgidas até hoje. Se o Espi-ritismo, portanto, é uma verdade, não teme o malquerer dos ho-mens, nem as revoluções morais, nem as perturbações físicas doglobo, porque nada disso pode atingir os Espíritos.

Não é essa, porém, a única vantagem que resulta da sua excep-cional posição. O Espiritismo nela encontra poderosa garantiacontra os cismas que pudessem ser suscitados, quer pela ambiçãode alguns, quer pelas contradições de certos Espíritos. Tais contra-dições, certamente, são um escolho, mas que traz consigo o remé-dio, ao lado do mal.

Oensino dos Espíritos

Fonte: O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de

Janeiro: FEB, 2008. Introdução, item 2, p. 26-27.

Allan Kardec

Controle universal do

Capa

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Reformador: Como está organiza-da a ação de unificação da FEP?Francisco: A Ação de Unificaçãoda FEP se materializa através dasações próprias da Federativa nocampo doutrinário, a exemplo deEncontros Estaduais de Jovens, Se-minários de Orientação aos Coor-denadores de Infância, de Juven-tudes Espíritas, de grupos de estu-do, de quatro seminários anuaispelas 17 Uniões Regionais Espíri-tas, das cinco Interregionais, quemapeiam o Estado, com a reuniãodas UREs por região, aos mol-des das Comissões Regionais doCFN da FEB, e também atravésdas Conferências Estaduais Espíri-tas, anuais, e neste mês ocorrerá aXII Conferência Estadual, com atemática: “Vida – Desafios & Solu-ções” e além disso através do apoiopermanente aos Seminários Re-gionais promovidos pelas UREs, eaos meses espíritas e semanas es-píritas dos centros espíritas filia-

dos, em todo o Estado. A partirdeste ano, a Federação inauguraráo Centro de Treinamento Lins deVasconcellos, em área recém-ad-quirida, próxima a Curitiba, nomunicípio de Balsa Nova, onde,nas instalações existentes, já hápossibilidade de acomodação de180 pessoas, cujo número subirápara 500 pessoas, auditório, refei-tório, salas de apoio para estudos,local que se ofertará para encon-tros, seminários, estudos etc., aoMovimento Espírita do Estado,permitindo uma unificação maisampliada possível. Importanteacrescentar que nesses dois últi-mos anos, em razão do investi-mento no trabalho das UREs e doscentros espíritas do Estado, os re-sultados de uma unificação atuan-te se traduziram na filiação de 31novos centros espíritas, o queequivale a mais de 10% da totali-dade dos centros espíritas filiadospela FEP nos seus 107 anos de

existência. Desse modo, julgamosque as ações da Federativa nocampo da Unificação, com a graçade Deus e a ajuda dos bons Espíri-tos, vai muito bem.

Reformador: Há planejamento deatividades para o ano de 2010? Francisco: Sem dúvida! Aprova-mos na reunião do Conselho Fe-derativo Estadual a Agenda Dou-trinária para o ano de 2010, da qualconstam os seminários: 29 doDIJ, sete sobre a mediunidade, trêssobre o Serviço Social Espírita, seisna área de Comunicação SocialEspírita, 13 outros com diversastemáticas espíritas, totalizando 59seminários em 2010 em todo o Es-tado; além disso, cinco reuniões deInterregionais no Estado, quatroEncontros Estaduais: 3o EncontroEstadual de Coordenadores de Es-tudo (maio), 9o Encontro Estadualsobre Comunicação Social Espíri-ta (agosto), 3o Encontro Estadual

12 Reformador • Março 201090

FR A N C I S C O FE R R A Z BAT I S TAEntrevista

Francisco Ferraz Batista, presidente da Federação Espírita do Paraná, comentao momento atual do Movimento Espírita e considera que a fraternidade e a

união dos espíritas brasileiros são indispensáveis para que os laços daUnificação Espírita sejam inquebrantáveis

A busca por laçosinquebrantáveis

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de Evangelizadores Espíritas (ou-tubro), 1o Encontro Estadual daÁrea de Atendimento Espiritual(novembro), a XI Conferência Es-tadual Espírita, no corrente mês,havendo, ainda, participação daFederativa no 3o Congresso Espíri-ta Brasileiro, em abril deste ano.

Reformador: E relacionado como “Projeto Centenário de ChicoXavier”?Francisco: Registramos que o lan-çamento do Projeto na RegiãoSul, pela FEB, se deu na reuniãoda Comissão Regional Sul, nomês de maio de 2009, em Curitiba,ocasião em que compareceu a im-prensa local, que fez registro dolançamento, inclusive o jornaldiário de maior circulação no Es-tado – A Gazeta do Povo. Além dis-so, criamos, a partir de janeiro pas-sado, um e-mail específico, que éenviado a todos os espíritas e nãoespíritas cadastrados no MomentoEspírita, em Casa, via Internet, quesão mais de 35 mil, para os assi-nantes do jornal Mundo Espírita,e para os espíritas cadastrados emtodas as Interregionais do Estado,cujo e-mail reproduz um dos car-tazes do Projeto, aquele em queChico Xavier está psicografandoe, ao lado, uma mensagem edifi-cante, extraída de seus livros psi-cografados. Incentivo a todas ascasas espíritas do Estado para arealização de palestras alusivasà vida e obra psicográfica.

Reformador: As Comissões Regio-nais do CFN da Região Sul têmprogredido?

Francisco: Convivemos com asComissões Regionais do CFN háoito anos, inicialmente como par-ticipante em nome da Federativa,e, já por quatro anos aproxima-damente, na condição de secre-tário da Comissão Regional Sul.Assim, vislumbramos que a partirdos últimos dois anos, tem havidoum crescimento considerável naação prática das mesmas, que é defazer com que o Movimento Espí-rita nacional seja ouvido pelo CFNe que o CFN esteja mais próximodo Movimento. As Comissões Re-gionais, além disso, entre os seuspares e representantes, têm pro-curado se aprimorar quanto à suaprópria destinação e atuação,tanto que não há hoje uma uni-formização procedimental dostrabalhos das Comissões Re-gionais, de modo que, aten-dendo às características regio-nais, cada Região tem busca-do o melhor modelo para osseus debates, para a troca deexperiências entre os dirigen-tes em todos os níveis de atua-ção, inclusive sobre a temáticaque mais interesse ao progres-so das instituições espíritas e oMovimento Espírita no sentidoda União e da Unificação. Antetodas essas expectativas, há que seregistrar que as Comissões Re-gionais têm progredido, porém,entendemos que elas po-dem crescer ainda

mais, quando puderem consti-tuir-se, efetivamente, nos braçosdo CFN na sua região, reunindo--se mais vezes com as FederativasRegionais afetas, sendo convida-das por essas Federativas paraas suas programações e reuniõesdos seus Conselhos Federativos, afim de tratar de assuntos de inte-resse comum do Movimento Es-pírita nacional, dada a amplitudecontinental de nosso país.

Reformador: Como avalia as açõesdo CFN, 60 anos após a assinatura doPacto Áureo?Francisco: Acompanho de pertoo Movimento Espírita nacional apartir do ano de 1998. A impor-

13Março 2010 • Reformador 91

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tância do Pacto Áureo dispensamaiores comentários, tanto queem 2009 a FEP lançou o livro Pac-to Áureo – A Vitória da Fraterni-dade, em comemoração aos 60anos do Pacto e da criação doCFN. O Pacto Áureo veio na épo-ca certa e necessária, fruto da inte-ligência e luminar ação de Espíri-tos de escol que por aqui passa-ram. Hoje, decorridos 60 anos, ostempos são outros, o MovimentoEspírita nacional cresceu, as Fede-rativas Estaduais a seu modo, bus-caram aprimorar-se, e a divulga-ção do Espiritismo, apesar de to-do o avanço da mídia, tem sido ogrande desafio dos tempos mo-dernos. Nesse passo, as ações doCFN têm sido extremamente pro-veitosas, instigadoras da necessi-dade de um melhor trabalho dedivulgação, orientadoras à práticaespírita sadia nos centros espíri-tas, e vejo que o CFN traz aper-feiçoamentos a serem empreendi-dos na relação entre as Federa-tivas e com as áreas da FEB, o queensejará ao Movimento Espíritanacional um salto de qualidadenunca antes visto.

Reformador: O que considera prio-ritário para o Movimento Espíritaatual?Francisco: Considero como prio-ritário o investimento na melhordivulgação doutrinária, o que sig-nifica cuidados com a divulgaçãoem bases doutrinárias seguras. OMovimento Espírita atual temsido alvo de uma avalancha delivros “ditos espíritas”, mas que deEspiritismo pouco ou nada têm.

Há uma imensa invasão delivros que mostram um pla-no espiritual com invençõesaté malucas, criações esta-pafúrdias, diálogos chulos.A pretexto de indepen-dência e liberdade de im-prensa e comunicação, háperiódicos lamentáveisque, não satisfeitos comesse desarranjo todo, dei-tam críticas contra os di-rigentes espíritas, de todaordem, pregam a desu-nião entre os espíritas;há movimentos de revi-são da obra kardequia-na, pretendendo deteruma verdade nova; con-tinua o movimento ra-cionalista científico a apartar aideia da religião, que confundemcom organização religiosa, quan-do Emmanuel, através de nossovenerando Chico Xavier, já tradu-ziu a palavra religião, do latim re-ligare, como ato de ligar a criaturacom o Criador; há hoje, a completaausência de Jesus em vários gru-pos, divulgações, seminários e pa-lestras,“ditas espíritas”, como se fos-se possível existir um Espiritismosem Jesus, o que, queiramos ounão, é impossível de existir. Dessemodo, prioritária será, sempre, adivulgação do Consolador em ba-ses imprescindivelmente doutri-nárias e seguras.

Reformador: Mensagem para oleitor de Reformador.Francisco: Não devemos, sob hi-pótese alguma, sejam quais foremos apelos, dispensar as oportuni-

dades de serviço e autoburila-mento que o Senhor da Vida colo-cou em nossas mãos. Somos de fa-to os trabalhadores da última ho-ra, distinguidos em O Evangelhosegundo o Espiritismo, e havere-mos de nos aplicar quanto maispossível para cumprir os compro-missos que assumimos na pátriaespiritual, dentre os quais, no mí-nimo, o de modificarmos a nossacontextura espiritual para melhore de divulgarmos aos quatro can-tos, de maneira firme e segura, aBoa Nova de Jesus, revivida naspáginas da Codificação Espírita.Gostaríamos, então, de deixar, aoleitor de Reformador, nossa men-sagem final, fazendo um apelo pe-la fraternidade e união dos espíri-tas brasileiros, a fim de tornarmosos laços da Unificação Espírita,inquebrantáveis.

14 Reformador • Março 201092

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s séculos a se desdobrarem pelos milêniosque nos forjam as civilizações são degraus daexcelsa escalada evolutiva, fazendo do bruto

o anjo que reflete a Divindade, em identidade debeleza e sublimação que assinala o trabalho genial do artista sobre o bloco rude de mármore.

A história do progresso terreno representa a efetivainiciação dos seres simples e ignorantes nas ciências doInfinito – clima de realização e felicidade no Cosmo.

Através de seu trabalho – seja ele de que naturezafor – as individualidades se aprimoram, contribuin-do para o aperfeiçoamento da vida social em suasinfinitas escalas, reconhecidas no tempo.

Se a ciência ortodoxa, que formata o modelo exis-tencial de bilhões de seres, é por si a descoberta de re-cursos e sua consequente utilização, temos no planoda religião, nascida da fé que é uma força imanente dacriatura, a contemplação do Divino, num primeiromomento em adoração externa para, em franco des-dobramento pelo tempo, induzir os seres a se interio-rizarem, em poderosa valorização de sua origem: Deus.

E sempre será pela capacidade de intermediar avida – cada vez mais pujante e essencial – que os in-divíduos, na Terra, encarnados, ou nas faixas espiri-tuais do Além, lograrão sua emancipação moral,com o verdadeiro serviço do Amor e da Luz a se pa-tentear, definitivo.

Os oráculos, desse modo, através das eras que seforam, expressam não somente a conscientizaçãoprogressiva das almas que tangem ao Reino da For-ças Cósmicas, mas a irradiação de semelhante cons-ciência em favor das comunidades, despertando-asou propondo seu encaminhamento ao apogeu da vi-da em Deus.

Francisco Cândido Xavier, em sua trajetória deiluminação e sofrimento redentor, torna-se a partir

do século XX, em que se imortaliza como médiumresponsável, poderosa e inspiradora referência paraas sociedades em provações revisoras. Ao abrir a pró-pria alma em renúncia a toda manifestação de per-sonalismo, substitui a leitura das entranhas de ani-mais para os vaticínios e orientações aos guerreiros epoderosos de antanho, consoante os hábitos de cul-turas e reinos já mortos. Ofertando em humildade econsciência cristã o seu coração, revela a Verdade queo Espiritismo sintetiza – também utilizando a me-diunidade de inúmeros cooperadores –, para que, nacontramão de exterioridades e misticismos, todos osinteressados pudessem sentir o Evangelho, em espíri-to e santificação.

A proposta do tempo em sucessão é emoldurar osfundamentos da vida que se constitui do amor. E éatravés do tempo que o Senhor da Misericórdia atin-ge os divinos planos da evolução e do progresso da-queles que lhe foram confiados por Deus.

A sublimação da mediunidade é fato nas linhas detrabalho libertador do Espiritismo e o doce ChicoXavier, isento de presunção, mas amante da disci-plina e do dever bem cumprido, merece, como esfor-çado seguidor de Jesus, a coroa da Caridade, que é olaurel dos triunfadores – de todos aqueles que, ven-cendo-se pela prática do Bem, repetem, com as pró-prias atitudes:

– Ave, Cristo! Os que te amam e desejam servir-tepara sempre, te glorificam e te saúdam!

(Mensagem psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão

no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais,

durante evento de abertura das comemorações do Centenário

de Chico Xavier, ocorrido no dia 1o de janeiro de 2010.)

15Março 2010 • Reformador 93

O

Presença de Chico Xavier

Pelo Espírito Irmão X

Mediunidadesublimada

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tribui-se a Léon Denis,o grande filósofo espírita,a seguinte frase:

O Espiritismo não será a reli-gião do futuro, mas será o futurodas religiões.

Diferenças culturais, sociais, es-pirituais, evolutivas, geram con-cepções diferentes, usos e costu-mes diversos.

Muita água rolará no rio dotempo até que a Humanidadeatinja um grau de evolução quepermita a unificação de prin-cípios religiosos para que te-nhamos na Terra um só reba-nho e um só pastor, como previaJesus.

Não obstante, quando Denisafirma que o Espiritismo será o fu-turo das religiões, reporta-se a al-

guns de seus princípios básicoscomo Reencarnação, Mediunidadee Lei de Causa e Efeito, que fatal-mente serão assimilados por elas.

Isso por uma razão muitosimples, amigo leitor: não esta-mos diante de meros princípios.Exprimem leis divinas, que re-gem nossa evolução.

Por isso, cedo ou tarde, todasas religiões haverão de assimilá--los, com radicais transforma-ções em sua estrutura teológica,favorecendo um melhor enten-dimento quanto aos objetivos daexistência humana.

Ainda veremos reuniões me-diúnicas nas igrejas tradicionais,a estabelecerem contato com omundo espiritual, alterando subs-tancialmente as concepções me-dievais sobre o inferno e aspenas eternas.

Assim como o pensamentoreligioso tradicional foi forçadoa renunciar à pretensão de que aTerra seria o centro do Universo,ante os avanços da Física e da As-tronomia, a ideia da unicidadeda existência humana será colo-cada abaixo com o avanço das pes-quisas sobre a reencarnação.

O Espiritismo situa-se, assim,numa vanguarda de esclareci-mentos em favor da Humanida-de, e nós espíritas desfrutamos daabençoada possibilidade de andarde olhos abertos pelos caminhoshumanos, com perfeito conheci-mento de onde viemos, por queestamos na Terra e para onde va-mos, levando em conta o que dizAllan Kardec em O Céu e o Infer-no, cap. II, item 10:

O Espiritismoe os espíritas

16 Reformador • Março 2010 94

AR I C H A R D S I M O N E T T I

l

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A Doutrina Espírita transformacompletamente a perspectiva dofuturo. A vida futura deixa de seruma hipótese para ser realidade.O estado das almas depois da mortenão é mais um sistema, porém oresultado da observação. Ergueu--se o véu; o mundo espiritual apa-rece-nos na plenitude de sua reali-dade prática; não foram os ho-mens que o descobriram pelo es-forço de uma concepção engenho-sa, são os próprios habitantes dessemundo que nos vêm descrever asua situação [...].

Considere-se, entretanto, quenão há privilégios na obra daCriação, e Jesus ensinava que mui-to será pedido àquele que muitorecebeu.

E o que a Doutrina espera denós é que não comprometamossua expansão com um compor-tamento inadequado, à distân-cia de seus princípios regene-radores, já que a melhor ma-neira de divulgar uma ideia évivenciá-la.

Maus exemplos, marcados pordesvios de comportamento e por práticas estranhas aos con-ceitos doutrinários, sempre pas-sarão uma impressão negativa,já que, essencialmente, o Espiri-tismo será avaliado pelas pes-soas a partir do que somos e doque fazemos.

Nesse particular vale lembraroutra expressão feliz de LéonDenis:

O Espiritismo será o que os ho-mens dele fizerem.

17Março 2010 • Reformador 95

Evangelho aberto ao acaso e lido sobretudo nas horas difíceis

da caminhada terrena, é luz que irradia no mais íntimo de

nossos Espíritos. O Evangelho lido e explanado nos lares, em dia e

hora certos, semanalmente, ensejará a paz nos corações que ali se

reunirem. Culto doméstico é remédio espiritual que cura e orienta,

alevantando-nos das derrocadas espirituais por que tenhamos pas-

sado ou que nos ameacem.

Formemos bom ambiente e inauguremos em nossos lares aque-

le culto que tenha o poder de nos pôr em contato com Jesus, pela

ação da prece e dos mensageiros excelsos. Estudemos o Evangelho

e as demais obras de Allan Kardec, assimilando-os quanto puder-

mos. Leiamos as sublimes mensagens do Evangelho e as luminosas

páginas de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.

Oremos com o coração para que a paz faça morada em nossos

lares, sem esquecer ainda de rogar ao Pai pelos lares que se encon-

tram em aflição e, bem assim, pelos que se encontram esquecidos

de contatos com os planos espirituais. É quase impossível traduzir

a importância desse culto cristão. Mesmo as dificuldades dos lares

vizinhos são aliviadas pela influência que recebem.

Façamos o culto com Jesus e ofereçamo-lo em amor ao nosso

próximo. Nunca esqueçamos que a prece proferida com sincerida-

de é luz a irradiar de nossas almas e é arma abençoada que nos sus-

tenta contra as astúcias da treva.

Culto doméstico é organização do amor, abrindo para Jesus as

portas do coração. Acendamos esse sublime nume em nossas casas

e nos aqueçamos ao calor alentador das leituras sadias, sob os eflú-

vios da prece redentora.

Cultuemos Jesus dentro de nós, em casa, e, desse modo, estare-

mos em estado de alerta contra os perigos a que possivelmente

estaremos expostos sem o escudo da fé.

Vivamos com Jesus e Ele nos resguardará das quedas do caminho.

Isabel

(Página recebida pela médium Dinorah Burgos, em 15/7/73, na reunião pública da

Federação Espírita Brasileira, em Brasílla, DF.)

Fonte: Reformador, ano 92, n. 1.746, p. 27(279), set. 1974.

OO Evangelho em casa

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nsinam os Espíritos que,do ponto de vista material,a divisão da Natureza em

três reinos (mineral, vegetal e ani-mal) é apropriada, mas, do pontode vista moral, acrescentam umquarto: o “reino hominal”, con-firmando que tal classificaçãonada tem de absoluta, pois a Na-tureza, onde tudo é transição,1

conserva uma unidade invisívelaos olhos humanos, pelo fato deque todas as coisas estão conecta-das em sua essência:

A Natureza jamais se encontra

em oposição a si mesma. Uma só

é a divisa do brasão do Universo:

unidade-variedade. Remontando

à escala dos mundos, encontra-se

unidade de harmonia e de criação,

ao mesmo tempo que uma varie-

dade infinita no imenso jardim

de estrelas. Percorrendo os de-

graus da vida, desde o último

dos seres até Deus, patenteia-se a

grande lei de continuidade. Con-

siderando as forças em si mesmas,

pode-se formar com elas uma sé-

rie, cuja resultante, confundindo-

-se com a geratriz, é a lei univer-

sal.2 (Grifo nosso.)

Comentando a resposta dos ben-feitores do Espaço à questão 585 deO Livro dos Espíritos, Kardec afirmaque esses quatro graus apresentamcaracterísticas bem distintas, muitoembora pareçam confundir-se nosseus limites: a matéria inerte, quecompõe o reino mineral, só tem emsi uma força mecânica. As plantas,ainda que compostas de matériainerte, são dotadas de vitalidade.Os animais, também compostos dematéria inerte e igualmente dotadosde vitalidade, possuem, além disso,uma espécie de inteligência instinti-va, limitada, e a consciência de suaexistência e de sua individualidade.

O homem – prossegue o Codifi-cador, na mesma questão –, tendotudo o que há nas plantas e nos ani-mais, domina todas as outras classespor uma inteligência especial, indefi-nida, que lhe dá a consciência do seufuturo, a percepção das coisas extra-materiais e o conhecimento de Deus.

O fato de admitirmos a interde-pendência e a unidade essencial que

vincula todos os seres, não significa,porém, que podemos confundi-los,como se fossem uma coisa só. É que“duas coisas podem ter a mesma ori-gem e absolutamente não se asseme-lharem mais tarde”.3 A ordem, a gra-dação e a sabedoria divina consti-tuem a pedra de toque do progresso,que ocorre de maneira harmoniosae coordenada, com a assistência dosEspíritos superiores, sob o influxodivino:“[...] É assim que tudo serve,tudo se encadeia na Natureza, desdeo átomo primitivo até o arcanjo, quetambém começou pelo átomo”.4

Os animais não são simples má-quinas, todavia, a liberdade de açãode que desfrutam é limitada pelassuas necessidades, não podendoser equiparada à do homem. Sendomuito inferiores ao homem, nãotêm os mesmos deveres que ele, ra-zão pela qual a sua liberdade é res-trita aos atos da vida material.5 Por-tanto, não têm vida moral e tam-bém não estão sujeitos às expiaçõesderivadas da lei de causa e efeito,como ocorre com os humanos,

A Naturezae seus reinos

ECH R I S T I A N O TO RC H I

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. Q. 589.

2Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro.52. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2008. Cap. 6, item 11.

3Idem. O livro dos espíritos. Trad. EvandroNoleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB,2010. Q. 611.

4Idem, ibidem. Q. 540.

5Idem, ibidem.

18 Reformador • Março 2010 96

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pelo abuso do livre-arbí-trio. Por isso, os benfeito-res dizem que os nossosirmãos inferiores progri-dem por “força das coi-sas” e não por ato da pró-pria vontade.6

Os animais, tal qual osseres humanos, possuem,em elaboração, um prin-cípio inteligente indepen-dente da matéria, que so-brevive ao corpo físico.Logo, têm uma espécie dealma, embora inferior àdo homem. Em vista dis-so, também possuem, ne-cessariamente, um laço semima-terial que os prende ao corpo físi-co, denominado pelo Codificador,no homem, “perispírito”.7 Vai daí,também estão sujeitos à lei bioló-gica da reencarnação.

Alerta o Codificador:

Ainda que isso lhe fira o orgu-

lho, tem o homem que se resig-

nar a não ver no seu corpo mate-

rial mais do que o último anel

da animalidade na Terra [...].

Todavia [prossegue Kardec],quan-

to mais o corpo diminui de valor

aos seus olhos, tanto mais cresce de

importância o princípio espiritual.

E conclui:

Se o primeiro o nivela ao bruto, o

segundo o eleva a incomensurável

altura.Vemos o limite extremo do

animal: não vemos o limite a que

chegará o espírito do homem.8

É verossímil que os chamados“elos perdidos” entre a espécie ani-mal e hominal se devem à trans-formação, inacessível aos cientis-tas encarnados, que o princípio in-teligente sofre no mundo espiri-tual, onde prossegue elaborandoo seu veículo sutil (perispírito),correspondente ao grau evolutivoem que se encontra. Saliente-seque, “ainda na atualidade, os Ins-trutores Espirituais intervêm namelhoria das formas evolutivas in-feriores nas quais o princípio inteli-gente estagia”.9

É para esse ponto queconvergem as pesquisasda ciência biológica dosnossos tempos, sancio-nando a teoria evoluti-va concebida pelo inglêsCharles Darwin (1809--1882), de que o homemprovém dos seres inferio-res da criação e que “as vá-rias espécies de vida nãoforam criadas já ‘prontas’,mas evoluíram no correrdas eras”,10 evidenciandoo que o Espiritismo já re-velou há século e meio:“nada se faz na Natureza

por brusca transição”.11 Sem em-bargo das controvérsias que podemsurgir a respeito dessa questão,optamos pela abalizada opinião deEmmanuel, externada no livro queleva o mesmo nome do autor espi-ritual, de “que todos nós já nos de-batemos no [...] acanhado círculoevolutivo” dos animais, visto que“são eles os nossos parentes próxi-mos, apesar da teimosia de quantospersistem em o não reconhecer”.12

Quanto mais inferior é o Espíri-to, tanto mais apertados são os la-ços que o prendem à matéria. A al-ma do animal e a do homem são de

6KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 602.

7Idem, ibidem. Q. 93.

8Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52.ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.Cap. 10, item 29.

9XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.Evolução em dois mundos. Pelo EspíritoAndré Luiz. Ed. espec. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 18, p. 239.

10Revista VEJA. São Paulo. Ed.Abril, Origensda origem, ed. 1.640, ano 33, n. 11, p. 150,março 2000; A Darwin o que é de Darwin...,ed. 2.099, ano 42, n. 6, p. 82, fev. 2009.

11KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 609.

12XAVIER, Francisco C. Emmanuel. PeloEspírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. Cap. 17, item Osanimais – nossos parentes próximos, p. 122.

19Março 2010 • Reformador 97

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tal forma distintas que uma nãopode animar o corpo criado para ooutro. Por isso, os imortais, negan-do a doutrina da metempsicose,ensinam que o Espírito não retro-grada, sendo falsa a ideia de que háa transmigração direta da alma doanimal para o homem e vice-versa.Apesar disso, o corpo do homem,que tem natureza animal, pode serebaixar ao nível dos animais, pois“o corpo é um ser dotado de vitali-dade e que tem instintos, porémininteligentes e limitados aos cuida-dos que a sua conservação exige”.13

A inteligência do homem e dosanimais emana de um único prin-cípio, contudo, no homem ela pas-sou por uma elaboração que o colo-ca acima da que existe nos animais.Nestes, o princípio inteligente sofreuma transformação, individualizan-do-se pouco a pouco, como numensaio para a vida, até se tornar Es-pírito, a partir de quando se inicia operíodo de humanização e, com ele,

a consciência do seu futuro, a distin-ção entre o bem e o mal, e a respon-sabilidade dos seus atos. Do pontode vista físico, o homem compõe oselos da cadeia dos seres vivos, o quejá não acontece no âmbito moral,em que “há solução de continuida-de entre o homem e o animal”.14

Essa origem não deve humilharo homem, pois todos nós, inclusiveos grandes gênios, fomos um diafetos informes no ventre materno.Os vestígios de nossa origem animalse apagam à medida que desenvol-vemos o livre-arbítrio.

O preconceito, o orgulho, o egoís-mo e a ignorância continuam sendoos travões do progresso moral dohomem, que o impedem de son-dar, nas leis gerais da Natureza, asublimidade da sabedoria do Cria-dor. Os cientistas encarnados ja-mais decifrarão o enigma da imor-talidade e da evolução, enquantonão tiverem humildade de investi-gar aquilo que transcende sua capa-cidade sensorial, considerando “que

o princípio espiritual, desde o obs-curo momento da Criação, cami-nha sem detença para a frente”.15

A Terra é um imenso laborató-rio, palco da evolução dos seres,onde a vida se desenvolve sob leisperfeitas e imutáveis, que o homemainda não consegue desvendar ape-nas por meio de suas precárias fa-culdades racionais.

Esses elos da Criação, interliga-dos misteriosamente, sob a super-visão dos emissários divinos, for-mam a grande teia que sustenta avida no Planeta, permitindo a in-tegração do ecossistema: “O mun-do envolve-se em grande unidade,nenhum elemento está isolado,nem na extensão presente, nemna História”.16

Quanto mais os cientistas apro-fundam seus estudos, mais ficamsurpresos ante a perfeição da Na-tureza, que é um livro aberto dasleis divinas que nos regem, pois

cada espécie de seres, do cristal

até o homem, e do homem até

o anjo, abrange inumeráveis fa-

mílias de criaturas, operando em

determinada frequência do Uni-

verso. E o amor divino alcança-

-nos a todos,à maneira do Sol que

abraça os sábios e os vermes.17

13KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 605a.

14Idem ibidem. Comentário de Kardec àq. 613.

15XAVIER, Francisco C. No mundo maior.Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4, p. 68.

16FLAMMARION, Camille. Deus na natu-reza. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. To-mo II, cap. 1, p. 86.

17XAVIER, Francisco C. Libertação. PeloEspírito André Luiz. 31. ed. 2. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. Cap. 1, p. 19.

20 Reformador • Março 201098

Page 21: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

21Março 2010 • Reformador 99

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel.”

– PAULO. (I CORÍNTIOS, 4:2.)

Guardemoslealdade

Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 115.

ivamos cada dia fazendo o melhor ao nosso alcance.

Se administras, sê justo na distribuição do trabalho.

Se legislas, sê fiel ao bem de todos.

Se espalhas os dons da fé, não te descuides das almas que te rodeiam.

Se ensinas, sê claro na lição.

Se te devotas à arte, não corrompas a inspiração divina.

Se curas, não menosprezes o doente.

Se constróis, atende à segurança.

Se aras o solo, faze-o com alegria.

Se cooperas na limpeza pública, abraça na higiene o teu sacerdócio.

Se edificaste um lar, sublima-o para as bênçãos de amor e luz, ainda mesmo que

isso te custe aflição e sacrifício.

Não te inquietes por mudanças inesperadas, nem te impressione a vitória apa-

rente daqueles que cuidam de múltiplos interesses, com exceção dos que lhes dizem

respeito.

Recorda o Olhar Vigilante da Divina Providência que nos observa todos os passos.

Lembra-te de que vives, onde te encontras, por iniciativa do Poder Maior que nos

supervisiona os destinos e guardemos lealdade às obrigações que nos cercam.

E, agindo incessantemente na extensão do bem no campo de luta que a vida nos

confia, esperemos por novas decisões da Lei a nosso respeito, porque a própria Lei

nos elevará de plano e nos sublimará as atividades no momento oportuno.

V

Page 22: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

22 Reformador • Março 2010 100

Uma existência tranquila e sadia Exige o hábito da meditação:Por meio dessa interiorizaçãoO homem se conhece e autoavalia.

Meditar é reunir, na intimidade,Os muitos fragmentos da emoção Num todo harmonioso, com a expulsão De fobias, conflitos e ansiedade.

Liberam-se, destarte, em tal processo,Os sentimentos que prendem o indivíduo,Impossibilitando-lhe o assíduoAnseio genuíno de progresso.

As compressões e excitações da vida,Bem como as rebeldias interiores,Geram conflitos, amarguras, dores,Que enfermam o Ser, nessa agitada lida.

Só a meditação é que lhe ensejaA terapia de refazimento,Reconduzindo-o, à luz do sentimento,Aos bons valores que sua alma almeja.

Para alcançar esse estado de paz,Desnecessária é a alienaçãoDa sociedade; nem a imposição De novos hábitos mister se faz.

São necessárias só, sem misticismo,Singelas instruções para, com calma,Reoxigenar as células da alma,Vitalizando a fé e o otimismo.

Respiração tranquila é o idealPara o exercício da meditação,Eliminando os pontos de tensão No espaço físico e também mental.

Manter-se quieto, em concentrar profundo,Fixando a mente em algo superior,Como a felicidade, ou o amor,Acima dos limites deste mundo.

Há identificação, assim, tecidaDe luz, entre a criatura e o Pai Criador,E se descobre o sentido e o valorDe quem se é, e do porquê da vida.

Não é momento de interrogações,O da meditação; é de silêncio.O Ser supera o nosso mundo e vence-o,Se harmonizando em novas dimensões.

Nesse processo a Alma se conduz Mais pelo coração e sentimento:Assim se anula a ação do pensamento,Para sentir, viver, tornar-se luz.

Reserva, pois, após teu árduo dia,Alguns minutos à meditação;Ora em seguida a Deus, com devoção,Agradecendo a bênção que te envia.

Fonte de consulta: FRANCO, Divaldo P. “Necessidade da medi-

tação”. In: Reformador, ano 104, n. 1.891, p. 16(300), out. 1986.

Necessidade de meditação“Habitua-te à meditação, após as fadigas.”

Joanna de Ângelis

MÁ R I O FR I G É R I

Page 23: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

23Março 2010 • Reformador 101

diálogo destacado acima,entre Jesus e seus seguido-res, também registrado por

Marcos (10:26-27) e Lucas (18:26--27), enaltece a essência da mise-ricórdia divina ao dizer que paraDeus tudo é possível; confere-nos acerteza de que todos os recursosindispensáveis, para nossa edifi-cação espiritual, serão oferecidospor Ele, facultando-nos condiçõespara vencermos todos os óbicesque precisamos superar em nossamarcha evolutiva na Terra. A pas-sagem evangélica nos traz infinitasesperanças e convida-nos a medi-tar sobre o tema.

As doenças físicas são contin-gência natural da maioria dos se-res reencarnados em processo deaprendizado no orbe terreno.Decorreriam elas dos reflexos dasmentes que se desajustam? Essestranstornos da mente seriam ca-

pazes de impor ao veículo orgâ-nico efeitos doentios indefiníveis,que lhe propiciariam a derrocadaou a morte?

Dr. Francisco de Menezes Diasda Cruz (1853-1937), distinto mé-dico e denodado batalhador doEspiritismo, em estudos espiri-tuais sobre o assunto, elucida:

Todos os nossos pensamentos

definidos por vibrações, pala-

vras ou atos, arrojam de nós

raios específicos.

Assim sendo, é indispensável

curar de nossas próprias atitu-

des, na autodefesa e no amparo

aos semelhantes, porquanto a

cólera e a irritação, a levianda-

de e a maledicência, a crueldade

e a calúnia, a irreflexão e a bru-

talidade, a tristeza e o desâni-

Enfermidades:lições valiosas paraos que as adquirem

O

Ouvindo isso, seus discípulos, muito espantados, perguntaram: Quem pode entãoser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse: Impossível é isto para os homens,

mas para Deus tudo é possível. (Mateus, 19:25-26.)

CL A R A L I L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

Page 24: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

mo, produzem elevada percen-

tagem de agentes [...], de natu-

reza destrutiva, em nós e em

torno de nós [...], suscetíveis de

fixar-nos, por tempo indeter-

minado, em deploráveis labi-

rintos da desarmonia mental.

Em muitas ocasiões, nossa con-

duta pode ser a nossa enfermi-

dade, tanto quanto o nosso

comportamento pode repre-

sentar a nossa restauração e a

nossa cura.1

Igualmente, o Espírito Emma-nuel, em análise sobre o proble-ma, observa que “ninguém pode-rá dizer que toda enfermidade, arigor, esteja vinculada aos proces-sos de elaboração da vida mental”,mas garante “que os processos deelaboração da vida mental guar-dam positiva influenciação sobretodas as doenças”,2 e reconheceque os descontroles psíquicosgeram “zonas mórbidas de natu-reza particular no cosmo orgâni-co, impondo às células a distoniapela qual se anulam quase todosos recursos de defesa, abrindo-seleira fértil à cultura de micróbiospatogênicos nos órgãos menoshabilitados à resistência”.3 Dondese conclui que os pensamentos re-sidem na base de todas as nossasações. Os médicos, a partir dosavanços científicos obtidos, nodecorrer dos séculos, associaramcertas doenças, a exemplo do cân-cer, às causas psíquicas.4

Ao nos depararmos com o sur-gimento da doença, somos toma-dos por sentimentos de incertezase dúvidas, não querendo aceitar

a difícil realidade que nos aguar-da, sobretudo nos processos detratamento indispensáveis paraeliminar os seus efeitos e sinto-mas. Não temos suficiente sere-nidade para analisar a própria si-tuação e, segundo as leis que nosregem, para vivenciar provas e so-frimentos apropriados às nossasnecessidades de melhoria espiri-tual. O filósofo espírita León Denis(1846-1927), defensor ardorosona luta em proveito da causa doEspiritismo, identifica na dor“uma lei de equilíbrio e educa-ção”.5 Diz ele:

[...] Sem dúvida, as falhas do

passado recaem sobre nós com

todo o seu peso e determinam

as condições de nosso destino.

O sofrimento não é, muitas ve-

zes, mais do que a repercussão

das violações da ordem eterna

cometidas, mas sendo partilha

de todos, deve ser considerado

como necessidade de ordem ge-

ral, como agente de desenvolvi-

mento, condições do progresso.

Todos os seres têm de, por sua

vez, passar por ele. Sua ação é

benfazeja para quem sabe com-

preendê-lo, mas somente po-

dem compreendê-lo aqueles

que lhe sentiram os poderosos

efeitos. [...]5

As provas desenvolvem a inte-ligência e nos ensinam a exercitara paciência e a resignação. Ao con-siderarmos as enfermidades comoformas de retificação dos compor-tamentos desequilibrados, deve-mos, portanto, aceitar os sofri-

mentos sem nos lamentar e lutarpara suplantar as dificuldades quesurgem dos graves problemas desaúde, que não nos sejam possí-veis evitar. Algumas vezes, podemser provas buscadas pelo Espíritocom o intuito de ativar o seuprogresso espiritual, suportan-do, sem esmorecer, os reveses davida material.

Hermínio C. Miranda (2008),em seus estudos espíritas, cen-trado, sobretudo, na análise dascuras promovidas pela homeo-patia, desenvolve interessantetese sobre a importância da dor,tanto nos males físicos como nosespirituais, e considera que “asmais esclarecidas correntes da me-dicina moderna admitem hoje aorigem psicossomática de inúme-ras doenças”.6 É pertinente res-saltar algumas de suas anotaçõessobre o assunto:

Assim como a doença orgâni-

ca resulta de abusos que geram

desarmonias ou desafinamen-

tos no sistema biológico, assim

também as dissonâncias e de-

sarmonias espirituais criam

doenças mentais e emocionais

gravíssimas resultantes de abu-

sos de natureza ética. [...]

No caso das mazelas espiri-

tuais, o “tratamento”, às vezes

um tanto rude, mas sempre justo,

que as leis divinas nos pres-

crevem, consiste em nos fazer

experimentar dores, angústias,

aflições e carências que impu-

semos ao semelhante. Somen-

te assim estaremos em con-

dições de avaliar com lucidez

24 Reformador • Março 2010102

Page 25: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

a extensão e pro-

fundidade do so-

frimento que

causamos ao nos-

so irmão, ou se-

ja, sentindo-o na

“própria pele”.

[...]7

O autor, contudo,admite que os me-canismos das leisespirituais não exi-gem o sofrimento aqualquer preço, tor-nando-se inclemen-tes e inflexíveis. Aocontrário, a comise-ração divina haveráde favorecer-nos em todas as oca-siões, concedendo-nos meios de so-brepujar infortúnios e angústias.

A carne não prevalece sobre oEspírito, a quem cabe a responsa-bilidade moral de todos os atos.Os abusos são decorrentes dastendências nocivas que passamosa cultivar ao longo de nossas in-termináveis reencarnações, tran-sigindo com os vícios e excessosde toda ordem, em prejuízo doveículo físico. Não devemos, pois,maldizer as doenças do corpo; elasservem para sarar as nossas almas,de modo a não reincidirmos nosmesmos erros cometidos.

Além disso, é possível buscartodos os recursos ao nosso alcan-ce para o equilíbrio orgânico, semprescindir dos médicos e demaisequipes da área de saúde, subme-tendo-nos às orientações clínicas,cirúrgicas ou terapêuticas. O im-portante é não nos entregarmos

ao desânimo, apegados, erronea-mente, a um determinismo irre-mediável, não aceitando as solu-ções da medicina que nos propor-cionariam alívio e bem-estar. Fa-çamos fervorosas preces suplican-do a assistência dos benfeitores es-pirituais para que se tornem con-selheiros e mestres dos esculápiosterrenos, permitindo-lhes as con-dições necessárias para bem inter-pretar as intuições que advenhamdo Plano Maior, estando aptos,conforme o conhecimento cientí-fico que conquistaram, para agi-rem com competência no trata-mento das doenças que adquiri-mos e, dessa maneira, diminuirou extinguir os padecimentos queainda não conseguimos afastar.

É preciso desenvolver o nossoesforço, tendo como recurso de êxi-to, em benefício da cura, o exer-cício equilibrado do livre-arbí-trio. Deus zela por nós; e tudo é

possível para aquele que crê nasua infinita compaixão!

Referências:1XAVIER, Francisco C. Instruções psicofôni-

cas. Por diversos Espíritos. 9. ed. 3. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 19, p. 98-99.2______. Pensamento e vida. 18. ed. 1.

reimp. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2009. Cap. 28.3Idem, ibidem. Cap. 15, p. 65-66.4SERVAN-SCHREIBER, Davi. Anticâncer:

prevenir e vencer usando nossas defesas

naturais. Trad. Rejane Janowitzer. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2008. p. 164.5DENIS, Léon. O problema do ser, do des-

tino e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. P. 3, As potências da alma,

item 27, p. 520.6MARCUS, João (pseudônimo de Hermínio

C. Miranda). Candeias na noite escura. 4.

ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

Cap. 39, p. 202.7______. ______. p. 202-203.

25Março 2010 • Reformador 103

Page 26: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

or definição, preconceito équalquer ideia, opinião ousentimento concebido sem

exame crítico, sem conhecimentoabalizado, ponderado ou racional.Expressa sentimento hostil e este-reotipado, que abre portas à intole-rância, à discriminação e à violên-cia. Os preconceitos mais comunssão o racial, o social e o sexual,mas há outros: de classe social, dereligião, contra portadores de defi-ciência física ou mental, estrangei-ros, analfabetos etc. Dessa forma, os

preconceitos revelam a faceta

pouco harmoniosa de nossa so-

ciedade. Estão sedimentados

em nosso cotidiano não só as

marcas de uma desigualdade

estrutural, mas também as for-

mas de desvalorização social

que são recriadas a cada dia to-

da vez que se tenta legitimar a

preterição de pessoas, grupos

ou estratos sociais com a des-

qualificação de suas diferenças,

desvantagens, preferências, cren-

ças e singularidades.1

O preconceito racial ou racis-mo é direcionado contra pessoaspertencentes a uma raça ou etniadiferente, geralmente consideradainferior. O racismo é uma doutri-na “segundo a qual todas as mani-festações histórico-sociais do ho-mem e os seus valores (ou desva-lores) dependem da raça; tambémsegundo essa doutrina existe umaraça superior (‘ariana’ ou ‘nórdi-ca’) que se destina a dirigir o gê-nero humano”.2

Trata-se, na verdade, de umgrande equívoco, sem base cientí-fica e moral, gerado pela falsa in-terpretação de que na espécie hu-mana há indivíduos portadoresde características genéticas espe-ciais – como traços de caráter e deinteligência – que lhes permitemmanifestações culturais superio-res, mas que estariam ausentes emoutras etnias.

Afirmou Nicola Abbagnano:

Não existe nenhuma raça “aria-

na” ou “nórdica”, assim como

não há qualquer prova de que

a raça ou as diferenças raciais

exerçam algum tipo de influên-

cia nas manifestações culturais

ou nas possibilidades de desen-

volvimento da cultura em ge-

ral. Tampouco existem provas

de que os grupos em que pode

ser dividido o gênero huma-

no diferem em sua capacida-

de inata de desenvolvimen-

to intelectual ou emocional. Ao

contrário, os estudos históri-

cos e sociológicos tendem a

fortalecer a ideia de que as di-

ferenças genéticas são fatores

insignificantes na determina-

ção de diferenças sociais e cul-

turais entre grupos humanos

diferentes.3

O racismo revela atraso moral,posição diametralmente oposta às

26 Reformador • Março 2010104

P

Em dia com o Espiritismo

ProcessoMA RTA AN T U N E S MO U R A

racial

Page 27: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

manifestações de amor ao próxi-mo. É declarada violação dos di-reitos humanos, comumente uti-lizada para justificar perseguições,marginalizações, atrocidades, es-cravidão e o domínio de algunspovos sobre outros.

Estudos sociológicos indicamque o preconceito de cor ou deraça é antigo, estando relaciona-do, no Ocidente, ao significadodas cores fornecido pela mitolo-gia dos povos europeus e pelateologia católica: “o negro signi-ficava a derrota, a morte, o peca-do, enquanto o branco significa-va o sucesso, a pureza e a sabedo-ria”,4 informa o sociólogo e escri-tor brasileiro António SérgioGuimarães, que também defendea tese de que, estando esse sim-bolismo profundamente enraiza-do na mentalidade europeia, fezsurgir um sentimento negativocontra a cor da pele dos nativosda África e dos indígenas da

América, durante o período co-lonial. Tais povos foram, a partirdesse momento, considerados in-feriores aos brancos, principal-mente por possuirem pigmenta-ção epidérmica diferente.5

Importa considerar, porém,que na Antiguidade não havia aconotação de racismo relaciona-do à cor da pele: as relações se de-finiam de acordo com o binômiovencedor-cativo, pois os povos demesma matriz racial guerreavamentre si. Na Idade Média, desen-volveu-se o sentimento xenofóbi-co de origem religiosa. Xenofobiaindica desconfiança, antipatia outemor por pessoas estranhas ou es-trangeiras ao meio daquele que asajuiza.

Antes do século XVII, a Hu-manidade não era subdivididaem raças. Trata-se de uma divisãoproposta pelo francês FrançoisBernier (1625-1688), médico, an-tropólogo e viajante, na sua obra

Nouvelle division de la terre parles différentes espèces ou races quil’habitent (Nova divisão da Terrapelas diferentes espécies ou raçasque a habitam), publicada em1684. A classificação foi anuncia-da em Paris, num artigo do Jour-nal des Savants, em 24/4/1684.Nele, Bernier informa a existên-cia de quatro ou cinco raças hu-manas, definidas de acordo comos traços fisionômicos: cor da pe-le (branca e preta); estatura, con-formação do crânio e rosto; ta-manho e forma do nariz (grandee pequeno, achatado e alonga-do); espessura dos lábios (fina,larga); tipo do cabelo (liso, cres-po) etc.

Estudos biológicos e genéticosdesenvolvidos nos séculos subse-quentes demonstram, claramen-te, que não existem raças, masapenas uma única raça, a huma-na. Elucida, então, a Ciência queas diferentes características físicas

27Março 2010 • Reformador 105

Page 28: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

visíveis nos grupos humanos de-correm das composições, misci-genações e recombinações genéti-cas, obviamente mais evidentesnos grupos que vivem isolados,que não se misturam. Acrescentaque as chamadas raças provêm deum só tronco, o do Homo sapiens,fato que, só por si, indica que écomum o patrimônio hereditáriodos humanos.

Não há, pois, raças superioresnem inferiores, tal como esclareceo conhecido geneticista e evolu-cionista italiano Guido Barbujani(1955-), uma das mais respeitá-veis autoridades mundiais no cam-po da genética, em seu livro A in-venção das raças, São Paulo, Edi-tora Contexto:

A palavra raça não identifica ne-

nhuma realidade biológica re-

conhecível no DNA de nossa

espécie, e que portanto não há

nada de inevitável ou genético

nas identidades étnicas e cultu-

rais, tais como as conhecemos

hoje em dia. [...]6

O racismo não apresenta, por-tanto, base científica. Por este moti-vo, em 1951, ocorreu na UNESCO,em Paris, a Declaração sobre Raçae Preconceito Racial proferida porcinco geneticistas e seis antropólo-gos, de diferentes países. Esta Decla-ração está resumida nas ideias de-senvolvidas acima.

Não há dúvida que a terminolo-gia “povo” (ou povos), utilizada naCodificação Espírita, é mais ade-quada do que a de raça: faz refe-rência às combinações e recombi-

nações gênicas que caracterizam aevolução da humanidade terrestre;indica que há apenas uma espécieplanetária, o Homo sapiens, inde-pendentemente dos traços fisionô-micos dos diferentes habitantes daTerra, e, sobretudo, não traz qual-quer sentimento segregacionistaou preconceituoso. Em O Livro dosEspíritos consta, a propósito, o ca-ráter distintivo de cada povo:

Os Espíritos também possuem

famílias, formando-as pela seme-

lhança de suas inclinações mais

ou menos depuradas, conforme a

elevação que tenham alcançado.

Pois bem! um povo é uma grande

família onde se reúnem Espíritos

simpáticos. A tendência que têm

os membros dessas famílias, para

se unirem, é a origem da seme-

lhança que existe no caráter dis-

tintivo de cada povo. [...]7

As sucessivas reencarnaçõesfavorecem as miscigenações ge-néticas e culturais, anulando qual-quer ideia de superioridade espi-ritual, principalmente a que sefundamenta na aparência ou nacor da pele. A evolução, mecanis-mo fundamental da reencarna-ção, demonstra que o ser huma-no se revela verdadeiramente su-perior quando aprende a colocarem prática este admirável ensi-namento de Jesus, denominadoMandamento Maior:

Amarás o Senhor, teu Deus, de

todo o teu coração, e de toda a

tua alma, e de todo o teu pensa-

mento.

Este é o primeiro e grande man-

damento. E o segundo, seme-

lhante a este, é: Amarás o teu

próximo como a ti mesmo. (Ma-

teus, 22: 37-39.)

Emmanuel, por sua vez, nosorienta a respeito da chamada po-lítica do racismo, lamentavelmen-te ainda presente na sociedademoderna:

– Se é justo observarmos nas

pátrias o agrupamento de múl-

tiplas coletividades, pelos la-

ços afins da educação e do

sentimento, a política do racis-

mo deve ser encarada como

erro grave, que pretexto algum

justifica, porquanto não pode

apresentar base séria nas suas

alegações, que mal encobrem

o propósito nefasto de tirania e

separatividade.8

Referências:1GUIMARÃES, António Sérgio A. Precon-

ceito racial: modos, temas e tempos. São

Paulo: Cortez, 2008. Contracapa.2ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filo-

sofia. Trad. Alfredo Bosi. 4. ed. São Pau-

lo: Martins Fontes, 2000. Racismo. p. 822.3______. ______. p. 823.4GUIMARÃES, António Sérgio A. Precon-

ceito racial: modos, temas e tempos. São

Paulo: Cortez, 2008. Cap. 1, p. 12.5______. ______. p. 17-19.6Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/

wiki/Racismo>.7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 215.8XAVIER, Francisco C. O consolador. 28. ed.

2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Q. 61.

28 Reformador • Março 2010106

Page 29: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

29Março 2010 • Reformador 107

ive de ler duas vezes paraacreditar na notícia que re-produzo aqui, para nossa

reflexão em conjunto.No início de 2008, uma ação

legal contra Deus foi arquivada naRomênia, porque os promotoresnão conseguiram encontrar oendereço do acusado, desistindodo caso.

Pavel Mircea, que cumpre sen-tença de 20 anos de prisão por as-sassinato na cidade de Timisoara,havia iniciado um processo con-tra o próprio Deus.

“Deus e eu fechamos um con-trato quando fui batizado e a par-te que lhe cabia no acordo não foicumprida”, diz o texto do proces-so, segundo o site Ananova. “Deusdeveria ter me protegido do malem vez de dar-me a Satã, que meencorajou a matar”.

Mircea ainda pediu compensa-ção financeira por todo o dinheiroque gastou em velas e serviços ri-tualísticos, que também não o aju-daram. Mas os promotores deci-diram largar o caso depois de doisanos.“Não conseguimos encontraro endereço de Deus. Ele não temcasa”, disse um porta-voz.

Surgiu-me imediatamente umapergunta: se o criminoso bateu à porta de sua convicção religiosa elá não encontrou quem esperava,por onde Deus andava?

Seria lá mesmo que o rapaz te-ria de procurar? E se o destinatá-rio não foi localizado, será que elenão poderia ao menos supor queDeus, como pode ser achado emtodo lugar, não poderia estar maisperto do que pudesse imaginar?

Um caso assim leva-nos a refle-tir sobre a qualidade da vida mentaldo ser humano. O que esse rapazviveu revela o resultado de quemtem poucos caminhos alternati-vos para se encontrar com as for-ças que desconhece possuir.

Na perspectiva espírita da ques-tão, Deus não mora dentro de umtemplo de pedra, nem vende prote-ção a ninguém por causa de umavela acesa ou uma indulgência pa-ga. Ele está lá como está aqui, no ar,no rio, na floresta e na gota d’água,sem precisar de qualquer tipo degorjeta para fazer o seu trabalho.

O rapaz nem precisaria ter idomuito longe. Segundo poderia terdescoberto por suas próprias bus-cas, Deus mora nele, em sua cons-ciência, onde estão fincados seusvínculos essenciais com a lei de

amor, que torna os seres iguais,sem privilégios e responsáveis porseus próprios atos.

O que nos é possível conjectu-rar é que o homem, com culpasguardadas na consciência, não estámuito interessado em saber dis-so, porque, se tomar consciênciade que Deus está mais dentro de-le do que imagina, vai ter de as-sumir as responsabilidades ine-rentes a esse saber.

Quando souber que Deus é“inteligência suprema, causa pri-meira de todas as coisas”, ele po-derá descobrir-se como criaturadiante do Criador, o que o desa-fiará a assumir seu lugar como co-laborador da Divindade na me-lhoria das condições de vida paratodos, e isso exigirá uma mudan-ça completa de interesses e metas.

Assim como a esse moço, con-vém a nós saber que Deus pode nosencontrar por aí, fazendo o opostodisso tudo, dispostos a nos oferecercomo instrumentos de sua paz, on-de devemos estar, para levar a suaproposta de afeto incondicional portodos, como tentamos realizar, nacondição de espíritas conscientes.

E você? já se empenhou o sufi-ciente para saber qual é o endere-ço de Deus?

TCA R LO S AB R A N C H E S

l

Onde Deus está?

Page 30: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

ano em curso assinala a passagem do bicen-tenário de nascimento de um dos maioresgênios da Música que a Terra tem conhecido.

É em 1o de março de 18101 que regressa ao mundo,na pequena cidade polonesa de Zelazowa Wola, parauma fecunda missão no campo das Artes, FredericoChopin (Fryderyk Franciszek Szopen), cuja copiosaprodução, em forma de canções, mazurcas, valsas, no-turnos, scherzos, baladas, estudos, sonatas e concertos,tem encantado, até hoje, os corações sensíveis ao Belo.

Nosso objetivo, ao evocar data tão significativa, érelembrar ao leitor a existência de um contexto liga-do ao Espiritismo e ao esperanto, em que se insere a en-cantadora personalidade do genial compositor. Para issovamos respigar em quatro importantes fontes de nossaliteratura espírita: a Revista Espírita, de Allan Kardec, eas obras Grandes Vultos da Humanidade e o Espiritismo,de Sylvio Brito Soares, Devassando o Invisível, deYvonne A. Pereira, sob a orientação de seus Espíri-tos-guias, e A Psicografia ante os Tribunais, de MiguelTimponi, além da enciclopédia virtual Wikipédia.

Começamos por confrontar duas informações deorigem mediúnica: uma proveniente de outro gênioda Música, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791),a respeito de Chopin, durante a manifestação deambos, então evocados por Allan Kardec, como se lêna Revista Espírita de maio de 1859, sob o título“Música de Além-Túmulo”; e a outra vazada em im-pressão colhida por Yvonne A. Pereira, durante os seuscolóquios com o gênio polonês, constante do capítu-lo “Frederico Chopin, na Espiritualidade”.

Kardec se dirige a Mozart:

“11. Desejamos interrogar Chopin. Será possível?Resp. – Sim; ele é mais triste e mais sombrio do que eu”.(Op. cit., p. 188, Ed. FEB.)

Yvonne revela sobre ele:

Mostra-se afetuoso e discreto, pouco expansivo e,

geralmente, entristecido. Uma única vez vimo-lo sor-

rir. Esta última qualidade, a melancolia, parece ser

predisposição natural do seu caráter e não motivada

por provações ou recordações de vidas passadas. No

entanto, já o vimos chorar copiosamente, recordando

sua última existência terrestre. (Op. cit., p. 77, Ed. FEB.)

Chopin, como a maior parte dos grandes compo-sitores, também era fecundado, em sua criação artís-tica, por inspirações que certamente provinham dealtas regiões espirituais, funcionando então comoum verdadeiro médium. Na citada obra de SylvioBrito Soares, no capítulo “Frederico Francisco Cho-pin”, colhemos este sugestivo trecho:

Chopin foi indiscutivelmente um médium de muita

sensibilidade, haja vista o fato de ele permanecer

muitas vezes diante do piano, com o olhar perdido

no infinito, extremamente pálido, e, quando alguma

pessoa amiga o surpreendia nessas ocasiões, ele, só

depois de alguns instantes, conseguia reconhecê-la.

Durante e após essas crises de exaltação nervosa, na

opinião da época, pois que tais crises nada mais eram

do que simples êxtases, é que ele compunha suas

magistrais páginas. Há quem afirme que diversos de

seus Prelúdios nasceram dessas angústias, isto é, des-

ses transes mediúnicos. (Op. cit., p. 112, Ed. FEB.)

Chopin, Espiritismo, Esperanto...

O

30 Reformador • Março 2010108

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

1Esta é a data de nascimento correta do compositor, embora sejabastante divulgada a de 22 de fevereiro de 1810. Consultar os sites:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Frédéric_Chopin#cite_note-nasci-mento-0>; <http://pt.wikipedia.org/wiki/Frédéric_Chopin#vida>.

Page 31: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

Miguel Timponi, na supracitada obra, inseriu textosde personalidades ilustres, como reforço de sua argu-mentação em favor do Chico Xavier e da FederaçãoEspírita Brasileira (FEB), no famoso “Caso Humbertode Campos”, em que o médium e a FEB foram obje-to de ação movida pela família do grande literato bra-sileiro. Um desses textos está nas páginas 321-322 (6a

edição) sob o título “O Espírito de Chopin” e foi colhi-do em O Globo de 1/8/1944, assinado pelo jornalistaEdmundo Lys. Trata-se de manifestações, naquela épo-ca, do compositor ao pianista londrino Frank Cox, aquem Chopin dava lições de piano. Cox, indagando domestre polonês se ele continuava a tocar o instrumen-to no Além, recebe a seguinte resposta: “– Como acre-dita que eu possa viver de outro modo? Se não há har-monia, não existe, para mim, imortalidade possível”.

A médium inglesa Rosemary Brown também foiintermediária de Chopin, bem como de outros gran-des músicos do passado, que igualmente acionaramsuas raras faculdades mediúnicas para ditar peças musi-cais. O leitor interessado poderá melhor informar-sesobre Rosemary, acessando a página da Wikipédia:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosemary_Brown>.

É, porém, através das riquíssimas experiênciasmediúnicas de Yvonne A. Pereira que conhecemossignificativos detalhes de sua vida no além-túmulo.

Levada por seu Espírito-guia, Charles, para umaexcursão instrutiva no Espaço, Yvonne percebe queregressa com mais uma companhia: era o grande músi-co. Praticamente materializado em seu quarto, Chopinnarra-lhe suas provações no final da última existência,chora premido por grande sofrimento moral e, à pro-porção que expõe o seu calvário, revive as angústias físi-cas e mentais causadas pela tuberculose, mostrando-se àmédium com a aparência de um homem oprimido pelagrave enfermidade, a tossir, expectorar, suar, exalan-do o hálito próprio dos portadores da terrível doença.

Outras manifestações se deram com ele, mas a exi-guidade de espaço não nos permite alongamentos.Vamos nos limitar ao que mais possa satisfazer e edi-ficar o leitor, sob a forma de tópicos colhidos nasvivências mediúnicas de Yvonne.

Chopin diz sentir-se intensamente amado pelosbrasileiros, mas observa que ninguém lhe dirige uma

prece, estímulo de que muito necessita para fortale-cer-se e assim poder trabalhar na construção do seufuturo, quando buscará servir a Deus, o que nuncafez através da música.

Sua dedicação à Arte perde-se na noite dos tem-pos, tendo reencarnado como o poeta romano Pú-blio Ovídio Naso (43 a.C.-16 d.C.) e o pintor italia-no Rafael Sanzio (1483-1520), um dos grandes artis-tas do Renascimento. Em nota de rodapé, a médiumcomo que reforça um traço comum na trajetória dereencarnação desses vultos, lembrando que Rafael“é considerado o poeta da Pintura”, como Ovídio é “omúsico da Poesia” e Chopin, “o poeta da Música”.

Ele pretende reencarnar no Brasil e servir aqui comomédium curador, estando agora, para concretizar essaprogramação reencarnatória, a estudar Medicina Psíquica.

Poderá ainda dedicar-se à música, pois, como re-velou a Yvonne, “não profanei as Artes nem cometiquaisquer deslizes nesse setor. [...] Mas, no momen-to, o que me preocupa mais é o desejo de servir aospequeninos e sofredores, aos quais nunca protegi”.(Op. cit., p. 85, Ed. FEB.)

Finalizaremos nossa singela homenagem ao muitoquerido mestre polonês com sua manifestação,expressa com palavras da própria Yvonne Pereira, arespeito da Língua Internacional Neutra:

[...] Ele serviu mesmo, como gênio inesquecível, as Be-

las-Artes, a Arquitetura, a Pintura e finalmente a Mú-

sica, que parece ser o ponto culminante das Artes em

nosso planeta, o ápice da sensibilidade que um gênio

da Arte pode galgar no estado de encarnação. Interessa-

-se igualmente, enternecido, pelo Esperanto, cuja perspecti-

va abrange numa visão futura deslumbradora, ainda

porque se sensibiliza com o fato de haver sido polonês o

gênio criador do brilhante idioma, Lázaro Zamenhof, seu

compatriota [...]. (Grifo nosso.) (Op. cit., p. 69, Ed. FEB.)

Chopin se despede do mundo físico às 2 horas dodia 17 de outubro de 1849, com apenas 39 anos. Suasúltimas palavras, segundo Sylvio Brito Soares, foram:“Quando eu me tiver ido, toquem um pouco demúsica para mim, pois sei que hei de ouvi-la noAlém”. (Op. cit., p. 113, Ed. FEB.)

31Março 2010 • Reformador 109

Page 32: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

32 Reformador • Março 2010110

ão muitos os que aderem àpreguiça ou acomodação,transferindo deveres que

apenas eles podem cumprir. A re-ligião é um dos alvos mais comunsdesses transferidores de responsa-bilidades. Por desconheceremo verdadeiro papel da religião,transformam-na em uma institui-ção paternalista, com o poder deintermediar junto ao Criador umtratamento diferenciado para osseus seguidores: isenção do com-promisso de lutar para evoluir.

Tal ilusão, tornada realidade,feriria frontalmente as afirmativasde Jesus: “Porque o Filho do Ho-mem há de vir na glória de seuPai, com os seus anjos; e, então,dará a cada um segundo as suasobras”1 e “Meu Pai trabalha atéagora, e eu trabalho também”.²

Estas verdades, sem sombra dedúvida, descartam qualquer méri-to para os que aderem à lei do me-nor esforço, inoperantes, à esperade desmerecidos privilégios, co-

mo se as leis divinas fossem espe-lhadas nas leis humanas.

A religião tem muito a oferecerpara a nossa formação espiritual,mas podemos compará-la muitobem a uma luz que se acende ilu-minando o caminho que devemosseguir; todavia, é necessário quenos submetamos ao esforço dacaminhada.

Ainda que muitos busquem nareligião a fórmula mágica para asalvação, não podemos esquecerque a salvação nada mais é que alibertação da criatura com relaçãoàs forças deprimentes dos víciosque a aprisionam. De forma que,sem desconsiderar a importânciada religião como coadjuvante des-se processo de libertação, o êxitodepende exclusivamente do firmepropósito da vítima para se liber-tar. Ou seja, a religião influencia,porém a libertação (salvação, co-mo é conhecida por algumas reli-giões), é determinada pelo esforçode quem deseja libertar-se.

Todo processo de libertação doEspírito realiza-se de dentro parafora, sendo, então, um processode autolibertação.

O bom senso nos conduz a esteraciocínio e tomamos como refe-rencial as inolvidáveis lições con-tidas nos Evangelhos.

Destaquemos as lições de vidaque nos foram transmitidas porJudas e Pedro. Ambos beberam daágua especial que Jesus prometeraà samaritana:

Mas aquele que beber da água

que eu lhe der nunca terá sede,

porque a água que eu lhe der se

fará nele uma fonte de água a

jorrar para a vida eterna.3

Judas, escravizado à sede depoder e a resultados imediatos,entregou Jesus, e, atormentadopela culpa, aniquilou-se atravésdo suicídio. Todavia, Pedro agiude forma diferente: acicatadopelo medo, negou ser discípulodo Mestre; reconhecendo, entre-tanto, o equívoco cometido, entreescravizar-se à culpa e reparar oerro, optou pela reparação, trans-formando-se em um dos baluar-tes do Cristianismo.

Religião esalvação

SF. ALTA M I R DA CU N H A

1MATEUS, 16:27.

2JOÃO, 5:17. 3JOÃO, 4:14.

Page 33: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

Por que essa diferença de resul-tados? Será que Jesus salvou Pedroe desprezou Judas?

De Jesus jamais poderíamosimaginar um tratamento diferen-ciado, que nos fizesse concluir queEle amava a Pedro mais que a Ju-das. No entanto, Jesus já havia ofe-recido lições importantes, paracompreendermos este aparente pa-radoxo – a parábola do semeador:

E o que foi semeado entre os espi-

nhos, este é o que ouve a palavra;

mas os cuidados deste mundo e a

sedução das riquezas sufocam

a palavra, e ela fica infrutífera.

Mas o que foi semeado em boa

terra, este é o que ouve a pala-

vra, e a entende; e dá fruto, e

um produz cem, outro, sessen-

ta, e outro, trinta.4

Judas representou muito bem a terra invadida pelos espinheiros(cuidados deste mundo e seduçãodas riquezas), e Pedro a boa terra,que produziu frutos. Sem quedesconheçamos a excelente se-mente plantada por Jesus, comoJudas não se dispôs à autoliberta-ção, Jesus não usou do seu poderpara violentar-lhe o processo na-tural de evolução.

O Mestre já fizera referência aoconhecimento da verdade, comoinstrumento indispensável paraa libertação. Porém, o conheci-mento da verdade não acontecerepentinamente, ou por imposi-ção: é um processo que se vaicompletando através das sucessi-vas reencarnações. Sob a ação dotempo e o esforço de aprender,Judas não poderia ser diferente:conheceu a verdade e através delalibertou-se.

Ante o exposto, por que nosiludirmos com o canto de sereiada salvação gratuita (sem luta e,consequentemente, sem mérito)?

Não podemos olvidar o perigoque representa a porta larga5 dasfacilidades; muitas vezes, ela se tor-na indutora das deserções, que ge-ram tragédias e multiplicam dores.

No Evangelho de Marcos (8:34),Jesus Cristo, chamando a si a mul-tidão, com os seus discípulos, dis-se-lhes: “Se alguém quiser vir apósmim, negue-se a si mesmo, e tomea sua cruz, e siga-me”.

Portanto, fé improdutiva e sal-vação gratuita não constam nosensinamentos do Mestre Jesus, quedeixou claro que cada um recebe-ria de acordo com as suas obras.6

33Março 2010 • Reformador 111

4MATEUS, 13: 22-23.

5MATEUS, 7:13-14.

6MATEUS, 16:27.

Page 34: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

esencarnou na cidade doRio de Janeiro, em 10 dedezembro de 2009, aos 96

anos, o confrade Agadyr Teixei-ra Torres, abnegado seareiro doConsolador, com mais de 50anos dedicados à Federação Es-pírita Brasileira (FEB) e às ati-

vidades do Conselho FederativoNacional (CFN).

Natural de Cantagalo (RJ),nasceu em 1o de março de 1913.Casou-se com Antonia RaphaelTorres, com a qual teve cinco fi-lhos: Altair, Maria Isabel, CélioMarinho, Mauro e Clarêncio.

Seu primeiro contato como Espiritismo dá-se aos 12

anos quando, assistindo auma palestra na Socie-dade Musical 15 de No-vembro, em sua cidadenatal, tem seu interes-se despertado para oconhecimento da Dou-trina.

Mas sua iniciaçãodata de 1935, no Rio

de Janeiro, onde ingres-sa no Exército e passa a

frequentar o Centro Es-pírita Amor e Luz, diri-

gido por Vicente Moret-ti, e o Centro Espíri-

ta João Batista,em Bangu.

Adere, em se-guida, ao movi-

mento de mocida-des espíritas e assu-

me a direção do núcleo

juvenil do Grupo Espírita Ga-briel, Discípulo de Maria Ma-dalena, fundando, em seguida,no Centro Espírita Amaral Or-nellas, no bairro carioca do En-genho de Dentro, juntamentecom Hernani Trindade Sant’Annae Alberto Nogueira da Gama,uma mocidade espírita, que deuorigem, mais tarde, à Central deMocidades Espíritas, pela qualpassou a responder.

Foi um dos construtores doAcordo de Unificação das Mo-cidades e Juventudes Espíritas,de que resultou a extinção, em13 de novembro de 1949, daUnião das Juventudes Espíritasdo Distrito Federal, onde ocu-pou o cargo de diretor de pro-paganda, e do Conselho Con-sultivo das Mocidades Espíritasdo Brasil, constituído pelo I Con-gresso de Mocidades Espíritasdo Brasil, realizado no Rio de Ja-neiro, em julho de 1948. O Acor-do, que ocorreu sob a influênciaunificadora do Pacto Áureo,assinado em 5 de outubro da-quele ano, deu-se em favor doDepartamento de Juventude daFederação Espírita Brasileira,em fase de criação.

Agadyr Teixeira TorresUma vida com a Doutrina Espírita

34 Reformador • Março 2010112

D

Page 35: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

Convidado por Rocha Garciaa fazer parte, como secretáriode divulgação, do Diretório deJuventudes e Mocidades Espíri-tas, integrou-se à FEB em 1948,vindo a exercer, ao longo dosanos, as seguintes funções: di-retor do Departamento de Ju-ventude (1954-1959), respon-dendo, durante quatro anos,por seu jornal – Brasil Espírita;diretor do Departamento Grá-fico (1989-1990); gerente deReformador (1981-1987 e 1990--1996) e um de seus redatores(1988-1989).

No Conselho Federativo Na-cional, em que foi representan-te da Federação Espírita do Ma-ranhão por vários anos, atuoucomo secretário de suas reu-niões e das reuniões dos Conse-lhos Zonais.

Em 15 de janeiro de 1948, comsua esposa, fundou o “CultoCristão Espírita Saraí”, cujasatividades de assistência espiri-tual e de estudos doutrinários,que se desenvolvem até hoje,sem interrupção, fizeram-noconhecido por seus integrantescomo “Hospital-Escola de Sa-raí”, hoje “Grupo Cristão Espí-rita Saraí”.

Na área de comunicação,além de excelente expositor es-pírita, trabalhou nos periódicosO Novo Friburguense, MundoEspírita e Aurora. Em 1965, comGeraldo de Aquino, colaboroucomo secretário de propagandado programa Hora Espiritualis-ta João Pinto de Souza, da RádioRio de Janeiro, onde também

criou o programa Alvorada CristãEspírita. Atuou, ainda, nas emis-soras Rádio Clube do Brasil,Rádio Mundial, Rádio Copaca-bana e Rádio Mauá, com páginasevangélicas intituladas “Ao En-

contro de Jesus” e “O Olhar deJesus”.

A esse nobre Espírito, nosso de-sejo sincero de que colha, na Pá-tria Espiritual, as merecidas recom-pensas aos fiéis servidores.

35Março 2010 • Reformador 113

Agradeço, alma fraterna e boa,

O amor que no teu gesto se condensa,

Deixando, ao longe, a festa, o ruído e o repouso

Para dar-me a presença...

Sofres sem reclamar, enquanto exponho

Minhas ideias diminutas

E anoto como é grande o teu carinho,

No sereno sorriso em que me escutas.

Não sei dizer-te a gratidão que guardo

Pelas doces palavras que me dizes,

Amenizando as lutas que carrego

Em meus impulsos infelizes...

Auxilias-me a ver, sem barulho ou reproche,

Dos trilhos para o bem o mais certo e o mais curto,

Sem cobrar pagamentos ou louvores

Pelo valor do tempo que te furto.

Aceitas-me, no todo, como sou,

Nunca me perguntaste de onde vim,

Nem me solicitaste qualquer conta

Da enorme imperfeição que trago em mim!...

Agradeço-te, ainda, o socorro espontâneo

Que me estendes à vida, estrada afora,

Para que as minhas mãos se façam mensageiras

De consolo a quem chora!...

Louvado seja Deus, alma querida e bela,

Pelo conforto de teu braço irmão,

Por tudo o que tens sido em meu caminho,

Por tudo o que me dás ao coração!...

Retrato da amizade

Maria Dolores

Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia da espiritualidade. Pelo Espírito Maria

Dolores. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 25.

Page 36: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

o discorrer sobre o fenô-meno da predição do fu-turo, em sua magnífica

obra A Gênese, o Codificador es-clarece que a Providência Divi-na regula os acontecimentos queenvolvam interesses gerais daHumanidade, salientando que oshomens concorrem para a exe-cução dos desígnios divinos, masnenhum deles é indispensável aoseu cumprimento, visto não es-tar o Criador à mercê de suascriaturas.

Por esta razão, “os detalhes eos modos de execução” consti-tuem estratégias da ProvidênciaDivina, que podem variar se-gundo o grau de adesão da Hu-manidade aos propósitos celes-tes, que buscam invariavelmen-te o progresso e o aperfeiçoa-mento intelectual e moral dosseres humanos.

O livre-arbítrio do homem, re-lativo e sempre subordinado à von-tade soberana do Criador, podeopor inúmeros obstáculos aoprogresso individual e coletivo,como também pode representar

poderosa alavanca na execuçãodesses desígnios.

Em matéria de predição dosacontecimentos concernentes aofuturo da Humanidade, ou seja,

no tocante à profecia bíblica, urgecompreender e meditar a respei-to das questões acima menciona-das, de modo a não incorrer emfalsas interpretações ou em alar-mismo inconveniente.

Nunca é demais lembrarque o amor e a misericórdiaintegram a Justiça Divina, ra-zão pela qual os planos da Pro-vidência visam sempre o aper-feiçoamento dos seres. Nesse ca-so, provações, expiações, cala-midades, guerras constitueminstrumentos didáticos da pe-dagogia divina, que jamaisdesampara os seres duranteseus sofrimentos, por consi-derá-los todos como filhos deDeus, Espíritos imortais emevolução.

No limiar do Apocalipse,encontramos o belíssimo ver-

sículo: “E dei-lhe um tempo paraque se arrependa, mas não quer searrepender da sua prostituição”.2

36 Reformador • Março 2010114

A

HA RO L D O DU T R A D I A S

Cristianismo Redivivo

“O resultado final de um acontecimento pode, portanto, ser certo, por se acharnos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os detalhes e o modo deexecução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos

homens, podem ser eventuais os caminhos e os meios.”1

1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. EvandroNoleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.Cap. 16, item 14. 2Ap., 2:21. Tradução do articulista.

Profecias bíblicas

Page 37: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

Emmanuel mais uma vez nossocorre na tarefa de interpretaçãodeste versículo:

Muita gente insiste pela rigi-

dez e irrevogabilidade das de-

terminações de origem divina,

entretanto, compete-nos reco-

nhecer que os corações incli-

nados a semelhante interpreta-

ção, ainda não conseguem ana-

lisar a essência sublime do amor

que apaga dívidas escuras e faz

nascer novo dia nos horizon-

tes da alma.

Se entre juízes terrestres exis-

tem providências fraternas, qual

seja a da liberdade sob condição,

seria o tribunal celeste consti-

tuído por inteligências mais du-

ras e inflexíveis?

A Casa do Pai é muito mais ge-

nerosa que qualquer figuração

de magnanimidade apresentada,

até agora, no mundo, pelo pen-

samento religioso. Em seus ce-

leiros abundantes, há emprésti-

mos e moratórias, concessões de

tempo e recursos que a mais vi-

gorosa imaginação humana ja-

mais calculará.3 (Grifo nosso.)

O Altíssimo conjuga todas asprovidências e recursos para que oprogresso das almas se efetue emclima de harmonia e paz, sob osauspícios do seu infinito amor. Atormenta, o desajuste, o desequilí-brio e a expiação decorrem do aban-dono voluntário do Amor Divino.

Não há determinações rígidase irrevogáveis nos códigos celes-tes. Se o condenado4 pela justiçahumana é acompanhado duran-te o cumprimento de sua pena,tendo em vista a possibilidadeda concessão de diversos benefí-cios, dependendo do seu com-portamento na prisão, não hárazão para aguardar comporta-mento diverso da ProvidênciaDivina, no curso das nossas ex-piações e provas.

Pelo contrário, a programa-ção espiritual de uma existênciaou de um ciclo de progresso dacivilização humana é sempre fei-ta com base em cálculos de pro-babilidade. Os caminhos são tãointricados e dependem de tantasvariáveis que lembram uma teiade aranha, com suas vigorosasramificações.

Nessa linha interpretativa, Em-manuel assim se expressa:

Cada homem possui, com a

existência, uma série de esta-

ções e uma relação de dias, es-

truturadas em precioso cálculo

de probabilidades. [...]5

Nesse contexto, podemos asse-verar que todas as predições/pro-fecias da Bíblia se acham subordi-nadas a um paradoxo, que podeser expresso nos seguintes termos:“A profecia é revelada para quenão se cumpra”.

A afirmação pode causar certaestranheza ao leitor. Pensandonisto, transcrevemos a seguir otrecho de uma entrevista conce-dida pelo médium Francisco Cândi-do Xavier sobre o assunto em es-tudo, que muito tem nos auxilia-do na compreensão desse palpi-tante tema:

O Célebre Nostradamus assina-

la os meses de julho e outubro

de 1999 como sendo o período

final do tempo que estamos

atravessando; com a ocorrência

de imensos cataclismos astro-

nômicos e sociais. Nostrada-

mus deve ser levado a sério?

– Com respeito às profecias

de Nostradamus que, aliás, de-

vemos estudar com o maior

respeito ao mensageiro huma-

no dos vaticínios conhecidos,

pede-nos Emmanuel para lermos

37Março 2010 • Reformador 115

3XAVIER, Francisco C. Pão nosso. PeloEspírito Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. Cap. 92, p. 199-200.

4Na legislação brasileira, o condenado,durante a execução de sua pena, é chama-do de “reeducando”, o que revela a novavisão humanista do Direito Penal.

5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. PeloEspírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2008. Cap. 113, p. 258.

“A profeciaé reveladapara que

não secumpra”

Page 38: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

com meditação a Parábola de

Jonas no Antigo Testamento.6

(Grifo nosso.)

Sendo assim, no tocante aocumprimento das profecias, so-bretudo as bíblicas, o paradigmadeve ser a Parábola de Jonas, en-

contrada no Antigo Testamento(Jonas, 3-4), segundo nos orien-ta o Benfeitor Emmanuel.

O profeta Jonas foi encarrega-do de transmitir à cidade de Níni-ve tenebrosos vaticínios de des-truição e morte, caso os cidadãosdaquele local não se arrependessemdos seus erros.

Todavia, contrariando as ex-pectativas do profeta, os habi-tantes de Nínive se arrepende-

ram, passando a viver segun-do as determinações da LeiDivina, motivo pelo qual aprofecia foi anulada, nãoobstante a revolta de Jonas,que se sentiu humilhadopelo suposto fracasso da suamissão.

Quando o profeta des-cansava do Sol ardente, soba sombra de uma mamonei-ra, Deus enviou vermes quedestruíram a planta, expon-do o profeta novamente aocalor escaldante.

Diante da revolta de Jo-nas, Deus exclamou, na ins-trutiva parábola do VelhoTestamento:

“Tu tens pena da mamoneira,

que não te custou trabalho e que

não fizeste crescer, que em

uma noite existiu e em uma

noite pereceu. E eu não terei

pena de Nínive, a grande ci-

dade, onde há mais de cento e

vinte mil seres humanos, que

não distinguem entre direita e

esquerda, assim como muitos

animais!”7

Sendo assim, considerando-seo infinito amor de Deus por to-das as suas criaturas, bem comoo caráter pedagógico de todarevelação acerca dos aconteci-mentos futuros, individuais oucoletivos, é lícito asseverar que“a profecia é revelada para que nãose cumpra”.

38 Reformador • Março 2010116

7Bíblia de Jerusalém. 3. imp. São Paulo:PAULUS, 2004. Jonas, 4:10-11, p. 1.633.

6XAVIER, Francisco C.; ARANTES, Hér-cio M. C. Autores diversos. Encontros notempo. São Paulo: IDE, 1979. Cap. 1, q. 6.

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Jonas pregando para o ninivitas

Page 39: Reformador Março / 2010 (revista espírita)

inguém pode alegar ig-norância acerca dos divi-nos postulados, uma vez

que, de um modo ou de outro, oacesso a essas informações lu-minosas existe sempre.

As notícias do Cristo chega-ram antes dele próprio, já que oBatista o anunciava dizendo quenão era digno de atar-lhe os cor-dões da sandália...

A mensagem do Cristo che-gou para o mancebo de qualida-de, mas ele era prisioneiro vo-luntário dos valores argentáriose a oportunidade se perdeu...

A mensagem do Cristo chegoupara aquele homem cuja preo-cupação em enterrar o pai im-pediu que saísse para propagá-la,esquecendo-se de que a funçãode enterrar os mortos pertenceaos mortos...

A mensagem do Cristo che-gou para Marta que, num pri-

meiro momento estava aflita eafadigada com muitas coisas,quando apenas uma era impor-tante: beneficiar-se do banqueteque o Divino Amigo oferecia àsua irmã...

A mensagem do Cristo che-gou para os convidados ao ban-quete de núpcias, mas todos es-tavam apenas preocupados comseus negócios e casas de campoe não deram maiores atençõesao convite...

A mensagem do Cristo che-gou para os moradores de Si-quém, nos altiplanos da Sama-ria, mas o preconceito abafouas sementes de luz que fenece-ram sem proveito para nenhumdeles...

A mensagem do Cristo che-gou até mesmo para os bárba-ros gentios pelas abençoadasmãos de Paulo, com as quaisDeus operava maravilhas, e não

desconhecemos o quanto so-freu o austero e forte tapeceirotarsense.

A mensagem do Cristo tam-bém chegou através de Paulo àsoberba Grécia, mas não encon-trou respaldo na meca da inte-lectualidade, que era Atenas...

A mensagem do Cristo che-gou para os escribas e fariseus,que se acumpliciaram com oschefes de Jerusalém e a casta sa-cerdotal para eliminá-lo...

A mensagem do Cristo che-gou para Pilatos, que não tinhadescortino mental suficiente pa-ra conhecer a Verdade, fazendocom que o Amigo Divino sequedasse mudo...

A mensagem do Cristo che-gou para Herodes, que ardia emfebres por conhecê-lo e ficavaem suspenso com suas notícias,mas também não apresentavacondição moral para aproveitar

A mensagem do Cristochega de vários modos

39Março 2010 • Reformador 117

N

“Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.”

Jesus. (Lucas: 10:42.)

Jesus é esse Amigo que nos visita o lar interno,

trazendo-nos lições de vida feliz e plena

RO G É R I O CO E L H O

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as alcandoradas verdades de queEle se fazia mensageiro...

A mensagem do Cristo che-gou para o povo de Gerasa, ouGadara, mas o expulsaram commedo de seu poder paranormal,ainda que testemunhassem acura do louco que vivia no ce-mitério da cidade, aborrecidosque ficaram por ver dispersa emorta sua vara de porcos...

A mensagem do Cristo che-gou, inclusive, para seus ir-mãos consaguíneos que oqueriam prender, alegan-do que perdera o espí-rito...

A mensagem doCristo chegou parao povo de sua ter-ra natal, mas a in-credulidade impe-diu a germinaçãoda boa semente,uma vez que o ter-reno das almas erasáfaro e onusto deagrestia...

A mensagem doCristo chegou para oorgulhoso doutor Nico-demos, que apesar de sermestre em Israel não com-preendia nem mesmo as coisasda Terra quanto mais as doCéu!...

A mensagem do Cristo che-gou para Judas de Querioth, queo traiu; chegou para Pedro, que onegou; chegou para todos os de-mais discípulos que, à exceçãodo adolescente João, fugiram ame-drontados quando o amigo foipreso...

A mensagem do Cristo conti-nua chegando às diversas seitasque se dizem cristãs, mas per-manecem sem o Cristo...

A mensagem do Cristo chega nostempos hodiernos – através da ve-neranda Doutrina dos Espíritos –,desfraldando a bandeira da frater-nidade, da caridade e do conheci-mento da verdade, a qual é vilipen-

diada por muitos que até se dizemcristãos, e negligenciada por ou-tros tantos que se dizem espíritas...

Sem embargo, a mensagem doCristo chegou para o coração amo-roso de Maria, que o ouviu enter-

necida; chegou para a outra Ma-ria, a de Magdala que, tecendoum poema de amor e abnegação,se transformou em carta viva pa-ra os irmãos segregados por insi-diosa doença; chegou, na Úmbriado século XIII, ao “poverelo”, quese transformou na maior expres-são de amor na Terra depois doMeigo Rabi; chegou para AllanKardec, o missionário escolhidopara fazer cumprir a sua promes-

sa acerca do “outro Consola-dor”; chegou para os cora-

ções amorosos e compas-sivos de Madre Tereza

de Calcutá, de IrmãDulce, de FranciscoCândido Xavier, e sereverteu em bênçãospara toda a Huma-nidade, em expan-sões de amor in-condicional aos fi-lhos do calvário...

Tão altissonan-tes são essas mensa-

gens que, passadosdois mil anos, consti-

tuem e sempre consti-tuirão o roteiro lumi-

noso da emancipação es-piritual, o marco maior da

misericórdia do Pai para com aHumanidade...

Os tempos são chegados. Urgenão malbaratar a oportunidadede ascensão espiritual.

No entendimento de Francis-co de Paula Vítor,

[...] os instantes desfilam, va-

zando pela ampulheta da opor-

tunidade rara [...].

40 Reformador • Março 2010118

Jesus Cristo na casa de Marta e Maria,

por Jan Vermeer, óleo sobre tela

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Na vida terrena, no mundo,

do mesmo modo, há ocasiões de

grande fortuna moral que nos

permitem ouvir, para apreen-

der, lições formidáveis para a

alma eterna. Uma conferência

de boa instrução capaz de ala-

vancar o nosso íntimo para

níveis mais altos de vida espi-

ritual. A chance de um con-

certo ou de uma apresentação

cênica que nos convida a me-

ditações maduras sobre os fa-

tos da existência humana, per-

cebidos e pinçados por men-

tes verdadeiramente geniais e

convertidos em pautas ou pe-

ças de rara beleza.

Inumeráveis oportunidades nos

surgem para apreciar a natu-

reza em festa, seja uma noite

de plenilúnio, seja um ama-

nhacer de ouro; seja um jar-

dim que explode em perfume

e cores, seja um véu de noiva

que se estira na montanha ro-

chosa. Pode ser, ainda, um ban-

do multicor de aves chilrean-

tes ou a chuva que cai aben-

çoando o solo, os lençóis do

subsolo, os estuários.

Quantas vezes somos convi-

dados a ver tudo isso sem que

encontremos tempo, motivo

ou razão para fazê-lo?

O homem do mundo está

sempre correndo em busca do

que vai comer ou beber, e, se

já o conseguiu, corre, agora,

por conta da viagem dos ne-

gócios, da atividade social.

Desgasta-se, esfalfa-se, des-

gosta-se e culpa a vida por ser

como é e por estar como está.

A mensagem do Cristo chega

para nós de diversos modos, ca-

bendo-nos achar um jeito de

determos um pouco a nossa ex-

citação em torno de muitos na-

das, buscando acrescentar co-

nhecimentos ao intelecto e har-

monia e paz aos sentimentos.

[...]

Observando a boa, mas desa-

tenta amiga e percebendo toda

a ansiedade que se lhe irrompia

do íntimo, falou-lhe com suavi-

dade, mas com a firmeza que a

verdade exige: Marta! Andas in-

quieta e te preocupas com muitas

coisas. Contudo, pouco se faz ne-

cessário, ou mesmo uma coisa só:

Maria escolheu, pois, a melhor

parte, e essa não lhe será tirada.

A pobre Marta se dá conta, ti-

tubeia, algo estonteada pela

constatação de que sequer es-

tava aproveitando a visita de

tão importante e bom Amigo...

e se acerca para ouvir também.

Jesus Cristo é esse Amigo que

nos visita o lar interno, tra-

zendo-nos blandiciosas lições

de vida feliz e plena, esperan-

do tão-só que Lhe ofereçamos

um pouco de atenção, a fim

de que esses filetes de ouro, de

sabedoria e sentimento, de

que se faz portador, penetrem

o nosso ser, como a parte me-

lhor que nos impulsiona para

a luz do Altíssimo.1

41Março 2010 • Reformador 119

1TEIXEIRA, José Raul. Quem é o Cristo?.Pelo Espírito Francisco de Paula Vítor. 3.ed. Niterói, RJ: Editora Fráter Livros Espí-ritas, 2008. Cap. 11.

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42 Reformador • Março 2010120

Seara Espírita

R. G. do Sul: Projeto Trocando IdeiasA Federação Espírita do Rio Grande do Sul reali-zou, nos dias 12, 19 e 26 de janeiro e 9 e 23 defevereiro, o Projeto Trocando Ideias, na sua sede.O Projeto contou com palestras sobre “Materni-dade e Paternidade na Adolescência”, “Sexualida-de”, “Sonhos”, “Planejamento Reencarnatório”, “Leide Reprodução”, entre outros temas. Informações:<www.fergs.org.br>.

R. G. do Norte: Workshop Em Busca daVerdade

Com o tema “Em Busca da Verdade”, ocorreu no dia24 de janeiro, no Centro de Convenções de Natal,o workshop com o orador Divaldo Pereira Franco. Oevento foi promovido pela Federação Espírita do RioGrande do Norte. Informações: <[email protected]>.

Mato Grosso do Sul: Curso deCapacitação de Evangelizadores

A Federação Espírita de Mato Grosso do Sul realizou,nos dias 6 e 7 de fevereiro, no Centro Espírita Dis-cípulos de Jesus, o novo Curso de Capacitação paraEvangelizadores. Informações: <www.fems.org.br>.

Amapá: Jovens estudam Chico XavierPromovido pela Federação Espírita do Amapá, em13 de fevereiro, o Encontro de Mocidades Espíritasdo Amapá teve como tema “Chico Xavier, a Juven-tude e a Mediunidade”, abordado pelo diretor daFEB Antonio Cesar Perri de Carvalho e por CéliaMaria Rey de Carvalho. Informações: fone (96)3224-1730.

Goiás: Congresso EstadualO 26o Congresso Espírita do Estado de Goiás, pro-movido pela Federação Espírita do Estado deGoiás, ocorreu de 13 a 16 de fevereiro, no Centrode Cultura e Convenções de Goiânia, tendo comotema central “Minha paz vos deixo...”. Foram expo-sitores Simão Pedro, Haroldo Dutra Dias, Otaciro

Rangel, Alberto Ribeiro de Almeida e Divaldo Pe-reira Franco. A programação voltada aos jovensdesenvolveu-se, pela primeira vez, nas dependên-cias do Colégio Santo Agostinho, enquanto a parteinfantil permaneceu no Centro de Convenções.Informações: <www.feego.org.br>.

Santa Catarina: Confraternização Regionalde Jovens

Jovens estiveram reunidos, de 13 a 16 de fevereiro,para discutir temas ligados ao seu cotidiano e ao tra-balho no Movimento Espírita, durante a 23a ediçãoda Confraternização Regional de Juventudes Espí-ritas da região da grande Florianópolis (CONREJE).O evento foi promovido pelo Conselho RegionalEspírita das 1a e 14a Regiões da Federação EspíritaCatarinense. Informações: <www.fec.org.br>.

Amazonas: Encontro de Jovens homenageia Chico Xavier

A XXVIII COMEAM – Confraternização das Mo-cidades Espíritas do Amazonas –, ocorreu de 13 a17 de fevereiro de 2010, em período integral, naFundação Allan Kardec. O evento, cujo tema foi“Juventude, Vida e Sexo”, teve por objetivo com-preender a importância da fase juvenil, da valoriza-ção da vida e da canalização positiva da energiasexual, pautando a conduta nos ensinamentos deJesus como garantia de equilíbrio e de paz interior.Todas as noites os jovens realizaram apresentaçõesalusivas ao Centenário de Chico Xavier com dra-matizações, poesias, músicas, exposições etc. Nossoquerido Chico foi lembrado em vários estudos,como exemplo de jovem que soube canalizar suaenergia para o trabalho no bem.

Casas Espíritas centenáriasSolicitamos às instituições espíritas que já tenhamcompletado 100 anos, o envio dessa informação, comdados sobre suas atividades, para divulgação emReformador.

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