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Reformador novembro/2005 (revista espírita)

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FAMÍLIA, VIDA E PAZSubsídios para a implantação e desenvolvimento das campanhas "Viver em Família" , "Em Defesa da Vida" e "Construamos a Paz Promovendo o Bem!"

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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 123 / Novembro, 2005 / No 2.120

Fundada em21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da SilvaISSN 1413-1749

Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61)3321-1767; Fax: (61) 3322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail:  [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 39,00Número avulso R$ 5,00Para o ExteriorAssinatura anual US$ 35,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:

Registro de Publicação no

121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – BrasilTel.: (21) 2187-8282; Fax: (21) 2187-8298

E-mail: [email protected] de Reformador:Tel.: (21) 2187-8264 / 8274

E-mail: [email protected]

Capa: Caroline de Q. Vasquez e Luis Hu Rivas

Tema da Capa: FAMÍLIA, VIDA E PAZ – sintetizaas Campanhas Viver em Família , Em Defesa da Vida e Construamos a Paz Promovendo o Bem! 

EDITORIAL 4Família, Vida e Paz

ENTREVISTA : SPARTAK SEVERIN 13Delineia-se o Espiritismo na Bielo-Rússia

ESFLORANDO O E VANGELHO 21Sempre vivos – Emmanuel 

 A FE B E O ESPERANTO 34Przemek Grzybowski no Brasil – Affonso Soares 

P ÁGINAS DA R EVUE S PIRITE  36 A festa dos mortos não é nos cemitérios – Moki 

SEARA ESPÍRITA  42

 Vigilância permanente – Juvanir Borges de Souza 5O bom livro espírita – Umberto Ferreira 8Bem passada! – Richard Simonetti  9O idoso – José Carlos Monteiro de Moura 10Rafael González Molina  12O chamamento de Jesus – Mauro Paiva Fonseca 14Mortes prematuras – F. Altamir da Cunha 15Quem escreve – Cármen Cinira 16

Reativação das Campanhas sobre Família, Vida e Paz – 17Campanha em Defesa da Vida – Aborto / Eutanásia 18

 A educação como solução para os desafios do progresso 19humano – Licurgo Soares de Lacerda Filho

Na escola – Emmanuel  20Pensamentos: instrumento para a evolução humana – 22

Rodrigo Machado Tavares Encontro de Magistrados Espíritas 25

Léon Denis e sua conferência O Progresso pela 26Liga do Ensino – Eduardo Carvalho Monteiro Alma e evolução – Léon Denis  28Os mortos que falam – Joel M. Soares  29Divulguemos o Espiritismo – Jorge Leite de Oliveira 31Santa maternidade – Epiphanio Leite  33Como estamos pensando? – Jorge Hessen 35Qual o aspecto mais importante do Espiritismo? – 37

Gerson Simões Monteiro

Repensando Kardec – Da Lei de Justiça, de Amor e de 39Caridade – Inaldo Lacerda Lima

Desportos – André Luiz  41

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4 Reformador/Novembro 2005402

Adespeito das conquistas que vem obtendo nos campos da Ciência e da Tecnologia, bem como dosavanços na aquisição dos valores morais, a Humanidade se debate com os problemas da desagrega-ção familiar, do desrespeito à vida e do culto à violência.

Visando a colaborar com os homens na solução desses problemas, colocando à sua disposição osensinos, esclarecimentos e orientações que os Espíritos Superiores nos oferecem através da DoutrinaEspírita, o Movimento Espírita brasileiro – representado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB –,lançou, em 1993, as Campanhas Viver em Família e Em Defesa da Vida, e, em 2001, a CampanhaConstruamos a Paz Promovendo o Bem! , campanhas estas que estão sendo reativadas.

 A Campanha Viver em Família destaca a importância da família na formação moral, intelectual esocial das crianças, dos jovens e dos adultos, oferecendo-lhes condições de melhor vencer os desafios daexistência humana. A Campanha Em Defesa da Vida valoriza a vida que a Providência Divina nos con-

cede, mostrando a insensatez do suicídio, do aborto, da eutanásia, da pena de morte, da violência e douso indevido das drogas. A Campanha Construamos a Paz Promovendo o Bem! ressalta que a Paz – quetodos querem –, não se encontra pronta, e que só é alcançada construindo-a em nós mesmos através davivência das Leis Morais que emanam de Deus, representadas pela prática do bem.

 As pessoas clamam por paz, buscam uma vida feliz e esperam encontrar ou constituir uma famíliaque atenda às suas necessidades de sustentação, orientação, aprendizado e afeto. A destinação da nossaexistência, conforme estabelece a Providência Divina através da Lei do Progresso, caminha nesse sentido.Necessário, todavia, conscientizarmo-nos de que essas conquistas são obra nossa, realizada a cada dia,através da vivência do Evangelho, com claras conseqüências sociais.

Os Espíritos Superiores esclarecem que, ao revelarem os ensinos espíritas aos homens, estavam lan-çando “as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mes-mo sentimento de amor e caridade”.*

Todos nós – os que temos conhecimento dos ensinos espíritas –, diante da realidade que nos cercae da mensagem consoladora e esclarecedora da Doutrina Espírita, estamos convidados a colaborar na di-fusão desses ensinos, contribuindo, real e eficazmente, para a construção desse mundo novo, no qual aprática da Lei de Amor fortalecerá os laços da família e tornará a vida efetivamente fraterna e solidária,em clima de paz e progresso.

*O Livro dos Espíritos , Prolegômenos. Ed. FEB.

EditorialFamília, Vida e Paz

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D

entro das hostes espiritistas,no seio do movimento quenasceu e vai-se avolumando

como conseqüência da Doutrinados Espíritos, que lhe dá embasa-mento, existe a preocupação de evi-tar que os homens façam do Espi-ritismo o que fizeram do Cristianis-mo primitivo.

Léon Denis já expressara opensamento de que o Espiritismoserá o que dele fizerem os homens.

Em um mundo atrasado comoo nosso, de expiações e provas, no

qual a grande maioria da populaçãopreocupa-se somente com a mate-rialidade da vida, com os interessesimediatos, esquecendo-se ou desin-teressando-se do que diz respeito aofuturo do ser, nos desdobramentosda sua vida espiritual, não deixa dehaver razão e lógica na comparaçãoentre dois momentos na história dohomem na Terra – o surgimento doCristianismo e do Espiritismo.

 A grande lição que se eviden-cia, na comparação entre os doismovimentos, nas suas fases nascen-tes, iniciais, é a da necessidade davigilância permanente e eficaz departe dos espíritas sinceros, paraque o seu movimento, em qualquerparte do mundo, corresponda sem-pre à grandeza, à beleza, ao realis-mo e às verdades da Doutrina quelhe dá causa e o inspira.

É evidente que a superioridadedas fontes que projetaram o Cristia-nismo e o Espiritismo no mundodas formas, bem assim as verdadese realidades dos seus princípios efundamentos, não impedem a opo-sição, total ou parcial, daqueles quese abrigam nas sombras e na igno-rância.

 As conquistas no Bem, a evo-lução das criaturas, nos mundos co-mo o nosso, nos quais predominamas imperfeições de seus habitantes,são conseqüências do esforço, dotrabalho e da dedicação de minoriasque despertam e aceitam verdades,ora conquistadas por elas mesmas,ora reveladas por Emissários de um

Poder mais elevado.No caso da Terra, esfera de se-

gunda categoria, na classificação doadiantamento dos mundos, pelaDoutrina Espírita, não têm faltadoos promotores do progresso, seja nocampo da vida material, no qual asciências vão acrescentando semprenovos conhecimentos, seja no queconcerne aos interesses do Espíritoimortal, graças às Revelações que

fluem do Alto. Apesar da inegável evoluçãonos dois campos de atuação do Es-pírito, os avanços ocorrem com di-ficuldades de diversas ordens, emvirtude da oposição daqueles quenão alcançam a superioridade dasnovas proposições, novas idéias enovas revelações, retificadoras de er-ros e desvios que se tornaram assen-tes e aceitos.

Os que se opõem ao avanço eao progresso são sempre em maiornúmero que os de boa vontade,abertos às verdades novas.

Essas dificuldades de aceitaçãoocorreram com a Mensagem de Je-sus, o Cristo, com a Terceira Reve-lação – o Espiritismo – e, de formageral, com todas as novas idéias re-tificadoras de outras anteriores.

Muitos indagam, por não en-tenderem a atuação das leis divinas,por que Deus, a Suprema Sabedoriae o Cristo, Governador deste Orbe,permitiram o desvio ocorrido com oCristianismo, com as graves conse-qüências daí decorrentes repercutin-do nos séculos e milênios afora?

 A resposta, com os conheci-mentos que a Doutrina Espíritaproporciona, torna-se evidente elógica.

O progresso, como lei divina,não é imposto coercitivamente pe-lo Criador e por seus Cooperadores.

Para que ocorra a evolução decada ser, seja individualmente ouem grupo, constituindo um povo,uma raça ou uma civilização, há ne-

cessidade da compreensão, coope-ração e aceitação do próprio ser, in-dividual ou coletivo.

O auxílio superior, a solidarie-dade dos mais adiantados para comos que se encontram na retaguardaestá sempre presente. Mas é neces-sário também que seja obedeci-do o livre-arbítrio, a liberdade coma qual foi dotado cada Espíritocriado. >

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Vigilância permanente Juvanir Borges de Souza 

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Torna-se evidente que Deus, oCriador, a Inteligência Suprema,

não iria estabelecer leis eternas jus-tas e infalíveis, e permitir sua deso-bediência ou aplicação somente emdeterminadas hipóteses.

Dentro dessa lógica e diante daperfeição das leis divinas reveladaspelos Espíritos Superiores podemoshoje compreender porque Jesus,com seu poder e superioridade es-piritual indiscutíveis, não impôsseus ensinos a homens rebeldes, or-gulhosos e auto-suficientes. Sub-metendo-se à lei divina, não fugiuàs perseguições, sendo preso, injus-tiçado num processo irregular e iní-quo e, crucificado, juntamente comdois ladrões.

Certamente que o Mestre In-comparável tinha poderes para exi-mir-se de todas aquelas iniqüidades.

Mas preferiu o próprio sacrifí-cio, numa demonstração e exemploque ficariam como ensinamento in-

delével para os que já então o se-guiam, como também para toda aHumanidade dos tempos futuros.

Decorridos dois mil anos dapresença do Mestre entre os ho-mens, com suas lições e exemplosregistrados nos Evangelhos, não hácomo negar o desvirtuamento deseus ensinos, ocorrido logo nos pri-meiros séculos após sua vinda e nosdois milênios que se seguiram.

Podemos perceber, hoje, que oCristo sabia e previu o que ocorre-ria com sua Mensagem.

Quando prometeu que pediriaao Pai o envio de outro Consolador,para relembrar seus ensinos e ensi-nar coisas novas, como ficou regis-trado no Evangelho de seu discípu-lo João, no capítulo XIV , versículos15 a 17 e 26, deduzimos, com todacerteza e segurança, que o Mestre,

conhecendo o mundo e os homensque governa, previra o futuro, com

as interpretações equivocadas desuas palavras por parte de muitosde seus seguidores e de parte dosque tinham outros interesses a de-fender.

 A própria Instituição fundadacom base nos ensinos do Mestredesviou-se do seu roteiro natural,impelida pelos interesses transitó-rios e pela ânsia do poder temporal,aliando-se aos poderosos do mun-do, em detrimento dos interessesmaiores visados pelo Cristo em fa-vor de toda a Humanidade.

O resultado dessa insensatezcolossal, de parte dos que não com-preenderam a alta significação dapresença do Cristo de Deus junto

aos homens, com sua Mensagem deVida para toda a eternidade, foi oretardamento do progresso espiri-tual da maior parcela dos habitantesdeste planeta de expiações e provas.

 A pureza do Cristianismo pri-mitivo ficou conspurcada por re-gras, interesses mundanos, ânsia depoder, dogmas impróprios, impos-tos através dos séculos pelas institui-ções humanas que se propuseram a

divulgar e a praticar no mundo aBoa Nova do Cristo.

Depois de muitos séculos, tor-na-se difícil separar a pureza e bele-za originais da Mensagem dos acrés-cimos humanos, com seus interes-ses imediatistas, seus cultos exterio-res, sua hierarquia de poderes e suasinterpretações ajustadas às suas pre-tensões.

...

O que ocorreu com o Cristia-nismo, entendido como a Mensa-gem do Cristo aos homens, na suasignificação original, é motivo depreocupação para os espíritas, pelaslições que encerra.

O Consolador prometido por Jesus foi enviado à Terra, após de-zoito séculos da presença do Mestreentre os encarnados, quando ascondições do mundo permitiram ocumprimento da promessa.

Mesmo com o progresso inegá-vel do nosso mundo, sob os aspec-tos da organização política e social,do aperfeiçoamento das leis huma-nas e do reconhecimento de direi-tos essenciais do homem, entre osquais a liberdade de pensamento,de expressão e de crença, não foi fá-cil a vinda do Consolador prometi-do – o Espiritismo.

Resultante da presença de Es-

píritos Superiores junto aos ho-mens, para transmitir-lhes conheci-mentos transcendentes sobre Deus,o Criador dos Universos, sobre a vi-da do Espírito imortal, ora ligada aum corpo físico, ora livre, em esfe-ras espirituais, sobre as leis divinaspermanentes e perfeitas, sobre omundo de expiações e provas emque vivemos, governado espiritual-mente pelo Cristo, o filho de Deus,

6 Reformador/Novembro 2005404

A pureza do

Cristianismo primitivo

ficou conspurcada por

regras, interesses

mundanos, ânsia de

poder, dogmas

impróprios

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e sobre outras questões de suma im-portância para a evolução da Hu-

manidade, o Consolador, no mun-do, representa uma nova fase naevolução deste planeta e de seus ha-bitantes que despertarem para umanova visão da vida.

 A Humanidade, desde seus pri-mórdios, separada em raças, dividi-da pelas crenças e religiões, pelas or-ganizações sociais e pelo podereconômico, de que resultaram a ri-queza e a miséria vivendo lado a la-do, com o Consolador – o Espiri-tismo – tem a possibilidade de com-preender-se melhor, pondo em exe-cução a lei de amor, ensinada peloCristo e reafirmada pelos seusenviados da Terceira Revelação.

Demonstrando, através de fa-tos, que a vida continua em outrasdimensões, sem a perda das aquisi-ções feitas pelo Espírito imortal, oEspiritismo se opõe, com vanta-gem, ao materialismo de múltiplas

faces cultivado na Terra.Com a demonstração da con-

tinuidade da vida, deixa de ter amorte a significação e as conseqüên-cias que lhe empresta a maior parteda população mundial.

De outro lado, vêm as revela-ções espíritas em socorro das reli-giões, reafirmando o que é verdade,em suas tradições, e demonstrandoo desenvolvimento e continuação

da vida nos planos espirituais, comas descrições dos mundos e esferasem que os Espíritos continuam suasexperiências e colhem os resultadosde suas atuações passadas.

 A Doutrina Consoladora jácomprovou que, ao lado das conso-lações e esperanças que proporcio-na àqueles que a aceitaram, há cer-tos baluartes, verdadeiras fortalezas,que se obstinam em não reconhecer

a Verdade ampla e incontestável,preferindo defender suas verdades

restritas ao campo material. São asdiversas ciências que se desenvol-veram sob a influência do materia-lismo. Nesse campo, não há dúvidaque o reconhecimento da realidadeé simples questão de tempo. Se asciências persistem na busca da ver-dade, cedo ou tarde a encontrarão,não no restrito terreno da matériaem que atuam, mas na amplidãodos elementos componentes do Uni-verso: Deus, o espírito e a matéria.

Na busca da verdade não hánecessidade de sufocar a liberdade. As leis naturais ou divinas não au-torizam as imposições do superiorao inferior. Para a evolução há ne-cessidade da adesão espontânea, doconvencimento, da aceitação das

novas idéias por parte do aprendiz,que tem respeitada, assim, sua liber-dade de pensar e de agir, com a cor-respondente responsabilidade porseus atos e decisões.

No Movimento que resultouda Doutrina dos Espíritos, desdecedo, ainda quando o Codificadortrabalhava na sua elaboração e co-dificação, apareceram os primeirosescolhos, as primeiras divergências

oriundas daqueles elementos quenão concordavam com determina-

dos princípios, ou que os interpre-tavam segundo seus pontos de vis-ta pessoais.

O “Espiritismo Independente”foi uma comprovação das divergên-cias iniciais, que trouxeram a AllanKardec dificuldades e tristezas pre-vistas pelo Espírito de Verdade.

O Codificador superou as difi-culdades com seu preparo, seus mé-todos e seu valor.

Mas uma Doutrina Superior,portadora de verdades novas quecontrariam crenças e dogmas acei-tos por longo tempo pelos habitan-tes de um mundo atrasado, como onosso, encontra naturalmente opo-sições de diversas ordens.

Interesses contrariados, retifi-cações de erros milenares, inovaçõesde difícil assimilação influem pode-rosamente nas individualidades or-gulhosas e egoístas, que se postam

em defesa de valores que já aceita-ram como verdadeiros e que sãocontestados.

Essa é a grande dificuldade queo Espiritismo encontra no mundo.

De outro lado, sendo umaDoutrina de grande abrangência,com contribuições de natureza reli-giosa, filosófica e científica que con-trariam tradições poderosas aceitaspelo homem, o Movimento que de-

corre do Espiritismo nem sempre seapresenta unido e unificado, por di-vergências e interpretações diferen-tes em seu próprio seio.

Infelizmente, nem todos os es-píritas compreendem que o Espiri-tismo, tal como o apresenta o mis-sionário da Codificação, tem comofonte de seus princípios e ensina-mentos a Espiritualidade Superior,com o Espírito de Verdade à frente.

Reformador/Novembro 2005 7405

O Movimento que

decorre do

Espiritismo

nem sempre se

apresenta unido e

unificado

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Por isso os homens, habitantes deum mundo atrasado em conheci-

mentos e moralidade, como o nos-so, têm a opção de aceitá-lo, ounão, no uso de seu livre-arbítrio,mas esse direito não vai ao ponto demodificar os princípios fundamen-tais da Doutrina, opondo-lhe opi-niões pessoais, com acréscimos ousupressões que modificam a unida-de doutrinária.

O desdobramento das basesfundamentais da Doutrina Espíritaé natural, por ser ela evolucionistae não estática, como já vem ocor-rendo na vasta literatura posterior àCodificação que não contraria ospostulados revelados.

O que não se justifica é a mu-tilação, alteração ou truncamentoda Doutrina Revelada, para supri-mir-lhe, por exemplo, o princípioda reencarnação, como ocorre como Espiritualismo de determinadospaíses de língua inglesa, ou para

desvincular os ensinos morais doCristo do Consolador por Ele pro-metido, ou para considerar o Es-piritismo apenas mais uma ciên-cia, concorrente com as demais, oureduzi-lo à sua parte fenomenoló-gica.

Em suma, o perigo dos desviosdoutrinários, com prejuízos eviden-tes para a unidade do Espiritismo,existiu no Movimento desde seu

início, continuando nos dias atuais,tal como ocorreu com o Cristianis-mo primitivo, com as conseqüên-cias conhecidas.

Esse fato ressalta a necessidadede vigilância permanente, de amorà Doutrina e de trabalho conscien-te e pertinaz, de parte dos espíritassinceros, em defesa da Verdade, talcomo a revelaram os Enviados doCristo.

8 Reformador/Novembro 2005406

Onúmero de livros, abordandoos mais diferentes assuntos,aumenta dia após dia. A qua-

lidade, entretanto, é bastante dife-rente. Há os que são bons, os razoá-veis e os de conteúdo pobre. Comoconseqüência, há muitos livros quepermanecem encalhados em livra-rias ou editoras.

Isso é válido para livros espíri-tas, tanto de autores encarnados,como de autoria dosEspíritos, porquantoentre os livros psico-grafados há muitosque são de qualidadeinferior.

O número de

livros espíritas é bas-tante expressivo: maisde três mil títulos.

É possível, é ne-cessário, é convenien-te lê-los todos? A exis-tência de tantos li-vros – de qualidadebastante diversa – pode causar pre- juízos aos leitores?

O espírita goza da liberdade de

expor as suas idéias através de livros,bem como de divulgá-los livremente.Não há, no Movimento Espí-

rita, instrumento de censura ou decontrole com a finalidade de impe-dir a edição e divulgação de livrosde conteúdo inadequado ou ruim.

Nesse caso, como selecionarum livro para leitura? Como reco-nhecer o bom livro de autor encar-nado ou psicografado?

Há um critério que é bastanteseguro e que é recomendável em-pregar: é selecionar o livro combase no conteúdo. O conteúdodo bom livro é edificante, edu-cativo, doutrinariamente seguroe não entra em desacordo comos ensinamentos do Mestre Jesusou de Allan Kardec. Para chegara essa conclusão, todavia, a pes-soa interessada não pode prescin-

dir de razoável co-nhecimento doutri-nário. Caso contrá-rio, pode julgar bomum livro nada edi-ficante ou que con-tenha falhas ou de-

turpações doutriná-rias mais ou menosgraves.

Como procederpara se adquirir essabase doutrinária?

 A resposta é sim-ples: É estudar O Li-

vro dos Espíritos . Em seguida, asoutras obras de Allan Kardec, ouseja: O Evangelho segundo o Es-

 pirit ismo, O Livro dos Médiuns ,O Céu e o Inferno, A Gênese . Comesses conhecimentos, o interessa-do terá condições de selecionarlivros espíritas, psicografados ounão.

Uma boa opção para se realizaro estudo das obras básicas de AllanKardec é o estudo sistematizado,hoje implantado em grande núme-ro de centros espíritas.

O bom livro espíritaUmberto Ferreira 

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Num bate-papo informal entreconfrades falava-se das vanta-gens do conhecimento espíri-

ta, em relação à morte.Sucediam-se comentários ani-

mados:– Será tranqüilo o nosso re-

torno…– Sem dúvida! Afinal, sabemos

como será…– Não teremos nenhum pro-

blema de adaptação, o que nãoacontece com nossos irmãos de ou-

tras crenças...– Coitados! Imaginam que vão

dormir até o juízo final!…– Manifestam-se perturbados

quando tomam conhecimento desua condição…

O pessoal estava animado comessa perspectiva, quando Chico Xavier jogou água fria na fervura:

– Jamais vi, em meus contatoscom o Mundo Espiritual, um es-

pírita que me dissesse estar contentecom sua situação. Todos lamentam,e muito, não terem feito o que po-diam, enquanto encarnados.

...

Que o Espiritismo é bênçãode Deus, mostrando-nos as reali-dades de além-túmulo, não padecedúvida.

Os aprendizes espíritas não ex-perimentarão grandes dificuldadesao desencarnar.

Temos, nas obras doutrinárias,um bê-á-bá da vida espiritual.

No entanto, é bom lembraruma observação de Jesus (Lucas,12:48):

 Muito será pedido àquele aquem muito se ofereceu.

Conhecimento é sinônimo deresponsabilidade. E mais: O co-nhecimento da verdade implicacompromisso com ela.

E qual seria o nosso grandecompromisso, diante dessa maravi-

lhosa visão das realidades espirituaisque a Doutrina Espírita nos oferece?Kardec responde:

Reconhece-se o verdadeiro es- pírita pela sua transformação mo-ral e pelos esforços que emprega pa-ra domar suas inclinações más.

Somos chamados à decantadareforma íntima, abrangendo como

pensamos, o que fazemos.

Se sabemos que:

Não transitamos pela Terra em jornada de férias.

Somos seres imortais que jávivíamos antes do berço e con-tinuaremos a viver depois dotúmulo.

 Aqui estamos com o objetivoprimordial de evoluir , supe-

rando limitações e mazelas. É preciso vencer o egoísmo, o

elemento gerador de todos osmales humanos.

Devemos nos harmonizar comas pessoas de nossa convivên-cia, superando desentendimen-tos do passado ou do presente.

 A vivência das virtudes evan-gélicas constitui um exercíciodiário indispensável.

Se aprendemos tudo isso, dápara perceber que o Espiritismonão é mero passaporte para as bem--aventuranças, além-túmulo.

Situa-se muito mais como umroteiro.

Roteiro maravilhoso, diga-sede passagem, o mapa da mina ce-lestial , mas com uma particulari-dade ponderável:

Tomar conhecimento dele é,implicitamente, assinar um termode compromisso, mais ou menosassim:

Eu, fulano de tal, estou per- feitamente consciente das respon-sabilidades inerentes ao conheci-mento espírita.

 Assumo o compromisso de com-bater, com perseverança e tenaci-dade, as minhas mazelas e imper- feições, a pensar no Bem e praticar o Bem em todos os dias de minhavida, tendo por roteiro as lições de  Jesus.

É bom tomar cuidado, portan-to, evitando surpresas desagradáveisnos tribunais do Além.

Reformador/Novembro 2005 9407

Bem passada! Richard Simonetti 

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10 Reformador/Novembro 2005408

1. Quando se pergunta a umoriental a respeito de sua saúdeou de sua idade, ele normalmenteresponde: “meu corpo está são” ou“meu corpo está doente”; “meu cor-po está velho” ou “meu corpo estánovo”. A sua cultura lhe permiteconviver com a dualidade corpo–es-pírito e aceitar como fato naturale consumado a supremacia destesobre aquele. Por isso, a morte, asdoenças e o envelhecimento são fa-tos que, para ele, não ultrapassam a

esfera corporal, apesar de não des-conhecer que o Espírito tambémtem idade, podendo ser velho ounovo.

No Ocidente, ocorre o contrá-rio. O lado material predomina, ra-zão por que morte, doenças e velhi-ce são aceitas com restrições e vistas,na maioria das vezes, como castigode Deus, principalmente as duasprimeiras. Em torno da morte de-

senvolveu-se um verdadeiro cultode terror, alimentado pelas idéiasdas penas eternas, do inferno, dodemônio e de outros absurdos im-pingidos ao povo. As doenças, so-bretudo as epidemias que, periodi-camente, faziam milhares de víti-mas, eram tidas como manifestaçãoda cólera divina. Essa situação tinhacomo fator primordial a ignorânciapopular cuidadosamente cultivada,

por ser indispensável à manutençãodos privilégios das classes dominan-tes, entre as quais, sabidamente,pontificava o clero romano. O ladoespiritual do ser humano era prati-camente considerado mero acessó-rio, numa réplica do velho adágiodo Direito Romano: acessio cedat  principalis (o acessório segue o prin-cipal). Funcionava (ou ainda fun-ciona) como uma espécie de com-pensação diante da morte do corpoou das moléstias que o atingem.

Em face da inevitabilidade da mor-te e dos sofrimentos provocados pe-las doenças, acenava-se, para o ho-mem, com uma espécie de com-pensação: a vida após a morte, emque a ociosidade, a ausência de pro-blemas e uma extática e enfadonhaadoração a Deus, além do privilégiode poder assistir aos desfiles das mi-lícias celestiais, compensaria a per-da do corpo físico ou os sofrimen-

tos que lhe são próprios. Dos males,o menor!

2. Embora essa indiscutívelprevalência da matéria sobre o es-pírito, foi deste lado do mundoque o Cristianismo alcançou o seuapogeu, pelo menos do ponto devista quantitativo. A contradiçãoque daí decorre é flagrante, sobre-tudo se se levar em conta o inevitá-

vel conflito entre o modo de vi-da ocidental e aquele pregado peloCristianismo.

3. Essa situação recrudesceu deforma violenta nos últimos tempos,com o advento da globalização. A Terra, no particular aspecto do re-conhecimento dos autênticos valo-res humanos, nunca foi um mode-lo digno de imitação, e sempre con-viveu, em todas as épocas, com osmesmos males da era atual. Toda-via, os erros do passado não justifi-cam nem autorizam a sua repetiçãono presente. Muitas situações, en-raizadas no contexto social há sé-culos ou milênios, clamam por uma

modificação ou mesmo extinção, afim de que, no futuro, seja possí-vel a existência de uma sociedademais justa, mais solidária, mais com-passiva e mais fraterna.

4. Entre os hábitos e costumesque insistem em manter-se vivosdentro da cultura ocidental está aforma de se tratar o idoso. Obser-va-se, quanto a ela, uma incontes-

tável falta de caridade, nenhumapiedade e compaixão. Não são pou-cas as ocasiões em que o ancião étido na conta de um verdadeirotrapo, inútil, incômodo e descartá-vel. No caso particular do Brasil,tal estado de coisas se verifica comindesejável freqüência, não obstan-te a existência até de normas legaisregulamentando seus direitos. A própria sociedade não se sensibili-

O idoso José Carlos Monteiro de Moura 

“– Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não inte- ressa!... Antes de tudo, é preciso ser de Deus!...” 

(In Boa Nova , cap. 9, p. 67, pelo Espírito Humberto de Campos.)

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Reformador/Novembro 2005 11409

za tanto diante do idoso, principal-mente do idoso desamparado, co-

mo o faz quando se defronta como menor nas mesmas condições. Otema é, do ponto de vista histó-rico, extremamente conflitante econtraditório. Se é certo que emtodas as civilizações do passado eaté da Idade Moderna os anciãossempre foram ouvidos em rela-ção aos problemas mais sérios doGoverno, da Nação ou do Estado,também não é menos certo queem muitas delas se recomendava aeutanásia para aqueles que, devidoà idade avançada, não poderiammais ser úteis à coletividade. NaGrécia e na Roma antigas, onde osConselhos dos Anciãos alcançaramrelevante papel na estrutura do Es-tado, a morte era, no entanto, con-siderada um alívio para a velhi-ce, em face da pregação hedonistade seus filósofos de que “a dor é oúnico mal, e o prazer o único bem

da vida”.Com o Cristianismo, tal situa-

ção não poderia nem deveria conti-nuar existindo. No entanto, foi nu-ma nação eminentemente cristã, a Alemanha, que, em pleno século XX , milhares de idosos foram mor-tos, em nome de uma pretensa su-perioridade eugênica e em atençãoa outros interesses nem sempre bemexplicados...

5. O Espiritismo, na condiçãode vertente cristã que mais se iden-tifica com a pureza e autenticidadeda doutrina pregada e exemplifica-da por Jesus, não faz distinção en-tre velhos e novos, mas, sim, entreEspíritos evoluídos ou não. Moci-dade e velhice são apenas etapaspassageiras do progresso do Espí-rito. De acordo com Emmanuel,

“(...) não podem significar senãomeras expressões de uma vida física

que finda com a morte. Não hámoços nem velhos e sim almas jo-vens no raciocínio ou profunda-mente enriquecidas no campo dasexperiências humanas”. (Cinqüen-ta Anos Depois , 32. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 2004, Primeira Parte,cap. II, p. 40.)

Manoel Philomeno de Miran-da entende que “os Espíritos são asalmas dos homens com as suas qua-lidades e imperfeições” anteriores.(Temas da Vida e da Morte , 5. ed.Rio de Janeiro: FEB, 2005, “Cal-vário de Luz”, p. 137.) E Joanna de Ângelis é incisiva ao dizer: “O es-pírito é a soma das suas vidas pre-gressas.” (Estudos Espíritas , 7. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1999, cap. 17,p. 134.)

 Ademais, a idade física nemsempre corresponde à idade espiri-tual, e vice-versa. Um Espírito ve-

lho pode habitar um corpo novo,bem como um Espírito novo podeanimar um corpo já velho. Isso nãosignifica, porém, que a mocida-de ou a velhice do Espírito impli-quem, fatalmente, a ignorância ouo atraso de um e a sabedoria e aevolução de outro. De acordo comO Livro dos Espíritos , Deus os criousimples e ignorantes e a todos con-cedeu as mesmas oportunidades,

não obstante as diferenças das mis-sões individuais, a fim de alcança-rem a perfeição pelo conhecimen-to da verdade (questão 115). Daídecorre que, perante Ele, existea mais absoluta igualdade natural(questão 803), e que o progresso decada um é encargo de sua alçadaexclusiva, uma vez que o plano di-vino não comporta exceções, pri-vilégios ou preferências (questões

117 e 803). Não há que se cogitarde um tratamento diferenciado pa-

ra crianças ou para os jovens de ummodo geral, e de um outro destina-do à velhice. Kardec, comentandoa passagem evangélica em que Jesuschama a si as criancinhas (Marcos,10:13-16), ressalta o caráter sim-bólico desse chamamento, asseve-rando que o Espírito da criança po-de ser muito antigo e trazer con-sigo, ao renascer “para a vida cor-poral, as imperfeições de que senão tenha despojado em suas pre-cedentes existências”. (O Evange-lho segundo o Espiritismo, cap. VIII,item 3.)

Por sua vez, é bom lembrarque um dos mais edificantes exem-plos de sabedoria de que se tem no-tícia no Novo Testamento foi dadopor Gamaliel, um dos membros doSinédrio que já havia atingindouma avançada faixa etária. (Atosdos Apóstolos, 5: 38-39.)

6. Entretanto, existem algunsprocedimentos referentes aos ido-sos que servem apenas para de-monstrar o atraso moral ainda vi-gente no seio da Humanidade, re-veladores que são de um egoísmosuperlativo e de uma carência ab-soluta do sentimento de caridade.Entre eles, podem ser lembrados,por exemplo:

1. A permanência prolongadae desnecessária do idoso enfermoem hospital, para os parentes se ve-rem livres dele em casa.

2. A constante falta de tempopara conversar com ele.

3. A ausência sistemática de pa-ciência para compreendê-lo.

4. O desinteresse pelos seus pro-blemas.

5. A tendência de ignorá-lo ou

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12 Reformador/Novembro 2005410

de considerá-lo verdadeiro objetodescartável.

6. O desconhecimento da soli-dão que o aflige, que nem sempresignifica estar sozinho, mas o sen-tir-se só e indesejável!

Diante disso e para que sirvade reflexão para todos os que sepreocupam com uma sociedademelhor, da qual, necessariamente,não se poderão excluir os idosos,abaixo se encontra transcrito o poe-ma de um autor inglês desconheci-do, traduzido por Charles WillianRule, cujo objeto é:

O Idoso

 Abençoados são aqueles que compreendem meus passos vacilan-tes, minhas mãos que tremem.

 Abençoados são aqueles que sa-bem que hoje meus ouvidos preci-sam se esforçar para apreender as coisas que dizem.

 Abençoados são aqueles que  parecem saber que meus olhos sãoembaçados e meu espírito, vaga-roso.

 Abençoados os que olharam para o outro lado, quando hoje derramei café na mesa.

 Abençoados aqueles que comum alegre sorriso param para con-versar um pouco.

 Abençoados aqueles que nunca

dizem: “Você contou esta históriaduas vezes hoje.”  Abençoados aqueles que sabem

como trazer de volta lembranças de ontem.

 Abençoados os que percebem omeu desalento em forças encontrar  para a cruz carregar.

 Abençoados aqueles que combondade suavizam minha jornadaà última morada.

Regressou à Pá-tria Espiritual, nodia 16 de maio de2005, Rafael Gon-zález Molina, valo-roso seareiro do Mo-vimento Espírita es-panhol e um dos fun-dadores do Conse-lho Espírita Interna-cional.

Viveu tempora-riamente no Brasil, em São Paulo,com sua esposa Manuela Morata ecom seus filhos Félix e Rafael, de1954 a 1967, onde mantiveramseus primeiros contatos com o Es-piritismo e leram a obra O Evan- gelho segundo o Espiritismo. Fre-qüentaram a Liga Espírita do Es-

tado de São Paulo, Federação Es-pírita do Estado de São Paulo e oCentro Espírita Irmão X. Fixa-ram-se nestes dois últimos, nosquais colaboraram com os conhe-cimentos adquiridos nos cursos es-píritas de oratória e de passes deque participaram, destinados a diri-gentes espíritas.

 Ao retornar para a Espanha,Molina freqüentou reuniões me-

diúnicas em residências particula-res. Passou a editar uma revista es-pírita, intitulada Divulgación Espí-rita e, apesar do período da di-tadura franquista, lutou para a le-galização do Espiritismo na Espa-nha. Esse objetivo foi alcançado emoutubro de 1981. Rafael GonzálezMolina, junto com sua esposa Ma-nuela Morata e com um pequenogrupo de entusiastas espíritas, con-

seguiram a autoriza-ção do Ministério doInterior para o fun-cionamento da Aso-ciación Espírita Es- pañola . Posterior-mente também con-seguiu, em 10 de ou-tubro de 1984, a au-torização para cons-tituir a FederaciónEspírita Española, da

qual foi presidente durante muitosanos.

No Congresso Espírita Mun-dial de Liège (Bélgica), em 1990,foi designada uma Comissão Provi-sória, sob a coordenação de RafaelGonzález Molina para preparar eorganizar uma Entidade Espírita

Internacional.No ano de 1992, como Presi-

dente da Federação Espírita Espa-nhola, propôs-se a realizar o Con-gresso Mundial de Espiritismo, noperíodo 27 a 29 de novembro. Esteevento foi muito importante, poisensejou a constituição do Conse-lho Espírita Internacional, com aparticipação da Argentina, Brasil,Espanha, Estados Unidos (Flórida),

França, Grã-Bretanha, Guatemala,Itália, Portugal, e tendo Molina si-do escolhido como o primeiro Se-cretário-Geral do CEI.

 A partir de 1992 iniciaram-setambém os Congressos Nacionaisde Espiritismo, na Espanha.

(Informações biográficas com base emsubsídios fornecidos por Juan Miguel Fer-nández Muñoz.)

Rafael González Molina

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Reformador/Novembro 2005 13411

P. – O que o levou a entrar emcontato com a Doutrina Espírita? 

Spartak – Há uns 25 anos co-mecei a estudar as várias escolas defilosofia e de religião. Somente ago-ra eu entendo que era minha tarefaatual estudar e distribuir a fé. Fo-ram interessantes as leituras que fizem variadas direções, sobre todos ostipos de religião – ortodoxa, católi-ca, budista, xintoísta, protestante eoutras. Em 1995 eu encontrei em

livraria de nossa cidade um livro de Allan Kardec – O Livro dos Mé-diuns – , vertido para o russo, o qualli com um grande interesse. A par-tir daí encontrei e li integralmenteos cinco livros principais de AllanKardec. Então pensei que poderiacomeçar meus estudos sobre Espi-ritismo porque, diferente de outraslinhas da filosofia e da religião, oEspiritismo não provoca a fé cega,

mas se baseia em pensamentos lógi-cos e em pesquisas.P. – Como surgiu o Grupo Es-

 pírita de Minsk? Spartak – Primeiramente era

sozinho, mas logo encontrei algunscolegas e formamos um grupo depessoas interessadas no Espiritismo. Atualmente um grupo de 30 pes-soas trabalha com curas e estudosbaseados na Doutrina Espírita. Fi-

zemos contatos com alguns acadê-micos da Academia Nacional deCiências da Bielo-Rússia, interessa-dos em parapsicologia e em fenô-menos sobre o “outro lado” da vi-da, e oferecemo-lhes algumas de nos-sas traduções de artigos de La Re-vue Spirite para que eles as publi-cassem.

P. – Quantos livros de AllanKardec estão publicados em russo? Spartak – Já relatei anterior-

mente que os cinco principais livrosde Allan Kardec estão disponíveisem russo. Graças a estas versões éque agora sou um adepto do Espi-ritismo.

P. – Você tem vertido alguns li-vros para o russo? 

Spartak – Primeiramente tra-

duzi alguns artigos de La Revue Spirite para o russo e os encami-nhei a Roger Perez, Presidente daUnião Espírita Francesa e Franco-fônica, e a Elsa Rossi, do ReinoUnido. Desde então tenho traduzi-do algumas informações para pági-nas eletrônicas de Espiritismo e, hápouco, concluí a tradução de doislivros a partir do idioma inglês (Si-nal Verde , de Francisco Cândido Xavier, e Viver e Amar , de Divaldo

Pereira Franco) que Elsa Rossi meenviou. Em seguida traduzi maisalguns artigos de La Revue Spirite para a revista Mistérios do Univer-so, da Academia Nacional de Ciên-cias da Bielo-Rússia. Agora estoutraduzindo, com grande interesse, olivro Os Mensageiros , do Espírito André Luiz, psicografado por Fran-cisco Cândido Xavier, a partir daedição do CEI em francês.

P. – Como ocorreu seu primei-ro contato com o Conselho EspíritaInternacional? 

Spartak – O primeiro contatocom o Conselho Espírita Interna-cional ocorreu após meu encontrocom Roger Perez. Em 1996 eu faziaum estágio de televisão em Paris,em função de meu trabalho na TV Bielo-russa. Tive um tempo livre efui visitar o cemitério do Père-La-

ENTREVISTA: SPARTAK SEVERIN

Spartak Severin compareceu ao Curso de Capacitação do Trabalhador Espírita, promovido pelo CEI em Brasília, em julho passado. Nesta entrevista, presta informações acerca do iniciante 

Grupo Espírita em Minsk (Bielo-Rússia) e de livros existentes no idioma russo, bem como sobre a tradução de livros e revistas para aquela língua 

Spartak Severin

Delineia-se o Espiritismo na Bielo-Rússia

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chaise e encontrei na sepultura de Allan Kardec, na sua parte traseira,um quadro de informações que

contém algumas frases de livros de Allan Kardec e o telefone do Sr. Ro-ger Perez. Telefonei a ele e conver-samos um pouco. No ano seguinteo Sr. Perez convidou-me para parti-cipar da Reunião do Conselho Es-pírita Internacional, em Paris, de 2a 5 de outubro de 1997. Foi paramim uma valiosa experiência. Naoportunidade fiz contato com o

Sr. Nestor João Masotti e muitosoutros participantes do Movimen-to Espírita internacional. Recente-

mente estive na Reunião da Coor-denadoria de Apoio ao MovimentoEspírita da Europa, órgão do CEI,realizada em Luxemburgo.

P. – Teria algum fato interes-sante a relatar, sobre médiuns ousobre a Doutrina Espírita? 

Spartak – Há alguns fatos in-teressantes sobre as manifestaçõesespíritas em minha vida... Em 1998

eu estava na Itália como líder deum grupo de órfãos bielo-russos,porque eu também falo italiano. Vi-

sitei uma pequena igreja em Gêno-va e fiz foto de uma estatueta daMãe de Jesus. Quando revelei o fil-me verifiquei que, na parede daigreja, aparecia uma grande imagemde Jesus olhando a estatueta de suaMãe. Penso que foi uma grandeoportunidade poder vê-la. Foi co-mo uma confirmação para meus es-tudos sobre Espiritismo.

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“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos (...).”, capítulo VI,item 1, de O Evangelho segundo o Espiritismo , p. 136 da 58a 

edição.

Como sempre, os ensinamentosdo Divino Mestre guardamum sentido velado que nos le-

va a pesquisá-los para podermos ab-sorver seus verdadeiros significados.

 Jesus já não se encontra encar-nado na Terra, então, qual o senti-do do “vinde a mim”? Deveríamostransportar-nos às paragens de luz,onde Ele habita, para encontrá-lo?

Deveríamos adorá-lo contem-plando suas imagens espalhadas aosmilhões pelos recantos da Terra, ousignificaria buscá-lo através da prece?

O raciocínio lógico está a nosdizer que o convite tem um sentidomais real, mais de acordo com osensinos do Evangelho, legado porEle à Humanidade.

Se os sofrimentos têm todosuma razão justa, o bom senso indi-

ca que não nos libertaremos delesapenas balbuciando uma súplica a Jesus, que declarou claramente: “Nãovim destruir a lei, mas, cumpri-la!”

Com a afirmação “a cada um,conforme suas obras”, o Mestre rati-

fica a Lei do Mérito, mostrando quecada qual receberá o quinhão de fe-licidade e paz de acordo com os es-forços que empregar em seu progres-so espiritual. A prece, sem dúvida,tem um grande poder de realizaçãoquando respaldada pelo merecimen-to, porém, os pedrouços e as urzesdo nosso caminho foram colocadospor nós mesmos no uso pleno do li-vre-arbítrio, quando nos recusamos

pautar os atos da existência pelas di-retrizes do dever e do amor.Fica assim claro que “vinde a

mim” significa: buscai os meus ensi-namentos! Não seria admissível quealguém, comprometido com umpassado de erros e crimes, fosse agra-ciado com a libertação dos sofrimen-tos à custa, apenas, de uma prece!

O Cristo está representado entreas criaturas por seu Evangelho, repo-

sitório completo de diretrizes, cujoconhecimento e prática conduzirão àlibertação da inferioridade e do mal.

Para consecução desse objetivo,entretanto, serão necessários requi-sitos indispensáveis, como: crer nas

verdades ensinadas, sacudir o ócio,vencer a preguiça mental e superaro orgulho, fazendo-se humilde pa-ra reconhecer as próprias necessida-des. Será fundamental estar imbuí-do de elevada dose de boa vontade,para empreender estudo sistemá-tico e perseverante do Evangelhode Jesus, claramente explicado pelaDoutrina Espírita.

Este é o caminho a que nos

convida o Mestre, como inevitávelpara todos, sem exceção. Recusarsegui-lo significa retardar o desper-tamento, que obrigatoriamente sedará, mais cedo ou mais tarde, por-que todo aquele que se afastar dEle,estagnando-se na rebeldia indife-rente, será invariavelmente compe-lido a avançar, empurrado, inexo-ravelmente, pelo turbilhão do pro-gresso!

O chamamento de JesusMauro Paiva Fonseca 

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Reformador/Novembro 2005 15413

Amorte em qualquer idade temsido motivo para profundasreflexões; porém maiores se

tornam essas reflexões quando elaatinge criaturas que mal desperta-ram para a vida.

 As mortes prematuras sur-preendem a tal ponto, que muitosindagam perturbados: Por que mor-re uma criança que mal começou aviver, enquanto pessoas idosas con-tinuam a viver?

 A crença de que o Espírito é

criado no momento da formaçãodo corpo, e que a ele é dada apenasuma oportunidade encarnatóriaconduz à interpretação errônea deque as mortes prematuras são umparadoxo.

Se tivesse o Espírito apenasuma encarnação, se sua sorte fossedefinida, assim, para toda a eterni-dade, bem que seria um contra-sen-so; e porque não dizer, uma injusti-

ça; pois enquanto uns têm umaexistência longa com mais condiçãode progredir e melhor definir seudestino, outros, que mal desperta-ram para a vida, sofrem a sua inter-rupção definitiva.

Claro que tal ordem de coisasnão estaria em sintonia com a Jus-tiça Divina.

De acordo com a Doutrina Es-pírita, pela reencarnação, a igualda-

de é para todos; o futuro pertence atodos sem exceção e sem favor paraninguém.

Se observarmos o comporta-mento de algumas crianças, encon-traremos motivo suficiente paracompreender que a infância não éum estado normal de inocência,pois vemos crianças dotadas dospiores instintos em idade na qual aeducação não pôde ainda exercersua influência, enquanto outras sãoprovidas de instintos tão diferentes,apesar de conviverem no mesmomeio, e até pertencerem à mesmafamília.

Com base no exposto, e paramantermos a certeza de que a justi-

ça de Deus alcança a todos indistin-tamente, a desencarnação deve serentendida, mesmo em crianças, co-mo um fenômeno natural.

O meio onde reencarnará o Es-pírito, as provações que enfrentará,o gênero de morte que o fará retor-nar e a idade do retorno fazem par-te de um programa divino com oobjetivo de proporcionar o melhorpara a sua evolução espiritual, e não

de fazê-lo sofrer.Não resta dúvida que nas cha-madas desencarnações prematuras,a Espiritualidade enseja importan-tes transformações espirituais paraos pais.

Quantas criaturas, após a de-sencarnação de entes queridos ain-da jovens, entram em profundas re-flexões, despertam para objetivosmais nobres, iniciando a mudança

na visão materialista de que eramportadoras?

Os objetivos da desencarnaçãoprematura são variados, mas jamaiscontrariam os desígnios de Deus.

De acordo com Jesus, “uma fo-lha não se move, que não seja como consentimento do Pai”.

Em quaisquer circunstâncias,este acontecimento ocorre paraatender às necessidades do Espíritodesencarnante e daqueles que estãoa ele ligados pela consangüinidadeou afetividade.

Na questão 199 de O Livrodos Espíritos , indaga Kardec: “Porque tão freqüentemente a vida seinterrompe na infância?”

Resposta: – “A curta duraçãoda vida da criança pode representar,para o Espírito que a animava, ocomplemento de existência prece-dentemente interrompida antes domomento em que devera terminar ,e sua morte, também não raro, cons-titui provação ou expiação para os  pais .” (Grifamos.)

 Analisemos separadamente osdois destaques que propositalmen-

te fizemos na resposta acima:

a) O complemento de exis-tência precedentemente interrom-pida antes do momento em quedevera terminar: Todos nós ao reen-carnar trazemos os recursos neces-sários para um programa, no qualse encontra inserido o tempo mé-dio de vida que teremos no corpofísico. >

Mortes prematuras F. Altamir da Cunha 

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16 Reformador/Novembro 2005414

O tipo de vida que escolhemosviver, se com moderação ou com

excesso, é que irá definir se atingi-remos este tempo médio ou se re-tornaremos antecipadamente à es-piritualidade.

Este retorno antecipado temnormalmente duas causas: o suicídiodireto, quando o Espírito delibera-damente decide fugir da vida e o sui-cídio moral (ou indireto), quando pe-los excessos praticados, como a gula,a ociosidade, a violência, os desequi-líbrios das emoções, as irresponsabi-lidades no trânsito, a violência, e ou-tros, atrairão para si acontecimentosfora do programa preestabelecido,provocando abrupta ou gradati-vamente a sua desencarnação, re-querendo, assim, uma reencarnaçãocomplementar no futuro.

b) Prova ou expiação para ospais: Àqueles que no passado come-teram delitos que influenciaram ne-

gativamente no destino de outrem,ou que não souberam valorizar amaternidade ou a paternidade, nor-malmente recebem-no de volta nacondição de filho que muito amam;e, feridos pelo choque do retornoprematuro do mesmo, aprenderãoa valorizar o que no passado despre-zaram.

Como vemos, tudo tem umarazão de ser, e cada um receberá de

acordo com suas obras.O retorno em qualquer idade éconseqüência de uma lei naturalque atinge igualmente a todos.

 A qualquer criatura, que estejaa enfrentar a dor da separação deum ente querido, a orientação é a deconfiança em Deus, que nos supri-rá com os recursos necessários paraque a suportemos com resignação, ea certeza de que a vida continua.

Se a lacuna deixada se transfor-mou em dor insuportável, preen-

chamo-la direcionando o amor pe-lo ente querido ausente para outrosque na vida não tiveram a oportu-nidade de ser amados.

 Agindo desta forma, não ire-mos esquecer aquele que partiu,pois jamais olvidaremos os que

amamos, mas o amor ao próximoserá como força transformadora da

dor em suave saudade.Resta-nos, portanto, a gratidãoa Deus pelos momentos felizes quetivemos ao lado do ente amado, ali-mentada pela esperança do reen-contro que com certeza um dia sedará.

Quem escreveQuem escreve no mundoÉ como quem semeiaSobre o solo fecundo...

 A inteligência brilha sempre cheiaDe possibilidades infinitas.

PlantaUma idéia qualquer onde te agitas,Semeia essa idéia pecadora ou santa,E vê-la-ás, a todos extensiva,Multiplicar-se milagrosa e viva.

Sem tanger as feridas e as arestas,Conduze com cuidado A pena pequenina em que te manifestas!Foge à volúpia das maldades nuas,Não condenes, não firas, não destruas...

Porque o verbo faladoMuita vez é dispersoPelo vento que flui da Fonte do Universo.

Mas a palavra escritaGuarda a força infinitaQue traz resposta a toda a sementeira,Em frutos de beleza e de alegriaOu de mágoa sombria,Para os caminhos de uma vida inteira.

Cármen Cinira 

Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos . Diversos Espíritos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 108-109.

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Esclarecimentos iniciais

 A Federação Espírita Brasilei-ra antecipou os esclarecimentos so-bre o aborto, editando o Suplemen-to “O Aborto na Visão Espírita”, emReformador de julho de 2005. Essa

medida foi acompanhada de inten-sa movimentação da FEB, em con- junto com a Associação Médico-Es-pírita do Brasil e a Associação Bra-sileira dos Magistrados Espíritas, junto aos três poderes da Repúbli-ca – Executivo, Legislativo e Judi-ciário –, tendo em vista as inicia-tivas do Governo Federal no senti-do de revisar alegislação relacio-

nada com a prá-tica do aborto emnosso país, en-tregando-lhes osopúsculos A VidaContra o Aborto(da  AMEB) e ODireito à Vida noOrdenamento Ju-rídico Brasileiro (da ABRAME).

Paralelamente aos esclarecimen-tos levados às autoridades do País,chega o momento de deflagrar-se orelançamento das Campanhas Viver em Família, Em Defesa da Vida eConstruamos a Paz Promovendo oBem! , nos termos definidos em

reunião do Conselho Federativo Na-cional, realizada na FEB, em Brasília,aos 21 de novembro de 2004. Osmembros do CFN aprovaram a rea-tivação das Campanhas Viver emFamília e Em Defesa da Vida, demaneira conjunta, no País, com oobjetivo de estimular o aprofunda-mento de temas sobre a família e a

defesa da vida, na visão espírita.Ofereceram, também, opções paramelhor operacionalizar essas Cam-panhas, estimulando-se o intercâm-bio entre as Federativas e AssociaçõesEspecializadas. Em seqüência, con-siderando que a Campanha Cons-truamos a Paz Promovendo o Bem! reflete o modelo de difusão da Pazoferecido pela Doutrina Espírita àHumanidade, o Conselho Diretorda FEB decidiu que essas três Cam-panhas “compõem o grupo de cam- panhas que sintetizam a presta-ção de serviço social à comunida-de, que cabe ao Movimento Espíri-ta realizar, e devem ser trabalhadas integradamente” .

Materiais das Campanhas

 Ao ensejo da integração dastrês campanhas, realizou-se a atua-lização e a ampliação do opús-culo Campanha Viver em Família.

Subsídios parasua implantação

e desenvolvimen-to (Edição FEB//CFN, 1994), oqual serviu de ba-se para o desen-volvimento daCampanha. To-davia, para faci-litar a utilizaçãoisolada de temasespecíficos de ca-

Reativação das Campanhassobre Família, Vida e PazEm atendimento à decisão do Conselho Federativo Nacional da 

FEB estão sendo relançadas as Campanhas Viver em Família, EmDefesa da Vida e Construamos a Paz Promovendo o Bem! Os mate- riais a serem utilizados nas Campanhas encontram-se disponíveis e 

serão apresentados na Reunião do CFN, entre 11 e 13/11/2005. As Entidades Federativas Estaduais realizarão adequações e a imple- mentação nos respectivos Estados. 

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da campanha, eles são apresentadosseparadamente, seguidos de uma

bibliografia. São referências que cer-tamente não contemplam todas aspublicações espíritas, nem mesmoas obras publicadas pela FEB, masque servem de orientação doutri-nária básica para as discussões ereflexões sobre os temas. O livro Fa-mília,Vida e Paz  contempla in-formações sobre: Histórico das Cam-panhas, Objetivos das Campanhas,Fundamentação Doutrinária dasCampanhas, Temário e Bibliogra-fia das Campanhas e Sugestões pa-ra o Desenvolvimento das Campa-nhas. Além deste livro de funda-mental importância para a imple-mentação das três Campanhas, aFEB está disponibilizando cartazese opúsculos que contêm mensagens

sobre os principais itens das Cam-panhas.

O papel das FederativasEstaduais

 As Entidades Federativas Es-taduais têm efetivas experiênciaspara oferecer ao Movimento Espíri-ta, como fruto do trabalho realiza-do ao longo dos últimos anos emfavor da divulgação dessas Cam-panhas. Considerando essas con-tribuições, o novo livro Família,Vida e Paz sintetiza, em um só do-cumento, subsídios capazes de en-riquecer e orientar ações de divul-gação, as quais mobilizam todos osdepartamentos ou áreas para umtrabalho conjunto. Os temas rela-cionados no citado livro extrapolam

as faixas etárias, os grupos de estu-do, as áreas de trabalho, ensejan-

do, assim, esforço unificado. As En-tidades Federativas Estaduais, osórgãos regionais de unificação e asinstituições espíritas poderão apro-veitar e dinamizar as Sugestões parao Desenvolvimento das Campa-nhas, relacionadas na referida pu-blicação.

Cabe às Entidades FederativasEstaduais a responsabilidade deoferecer subsídios, apoio e acom-panhamento às entidades espíritasdo Estado, fazendo chegar em cadainstituição as três Campanhas.

Informações: Secretaria Geral doCFN, FEB – Brasília; página eletrô-nica da FEB:http//:www.febnet.org.br

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“Educai as crianças e não será preciso punir os homens.” 

Pitágoras

Muitos são os que crêem eprofessam que a educaçãocultural e informativa é a

única que resulta no progresso hu-mano, em sua forma mais ampla.Nós discordamos, em parte; a edu-cação cultural e informativa real-mente tem sua importância na for-

mação das pessoas; contudo, emnosso entendimento, se pretende-mos um progresso efetivo, constan-te, e essencialmente compartilhadocom todas as classes sociais, o prin-cipal mecanismo para alcançá-lo éa educação moral dos seres.

 A evolução dos sistemas educa-cionais deu-se como acontece emtoda evolução sistêmica; surgiu pormeio de processos rudimentares,

que depois foram sendo aperfei-çoados até resultarem nos métodosatualmente utilizados. Para se teruma idéia da demora no aperfeiçoa-mento de tais sistemas, até o finaldo primeiro século da Idade Con-temporânea, aproximadamente noano 1900, a educação de indiví-duos era abertamente elitista e asoportunidades de aprendizado, pa-ra os menos favorecidos, pratica-

mente nulas. Quando existiam, de-pendiam normalmente da ação degrupos religiosos.

Desde a remota Antiguidade aquestão da educação já incomoda-va os grandes filósofos. Em meio àssuas ilações filosóficas eles busca-vam alcançar o melhor método detransferência do conhecimento ra-cional, ou seja, as melhores formasde realizar a educação. Assim ocor-reu com os filósofos gregos Sócra-tes, Platão e Aristóteles.

Deste modo, foi evoluindo opensamento acerca da melhor ma-

neira de educar os indivíduos.Durante a Idade Moderna, o

filósofo humanista holandês De-siderius Erasmus Roterodamus, oErasmo de Rotterdam, orientava pa-ra que se utilizasse a educação mo-ral na formação dos educandos.

Mais à frente, surgiu o profes-sor e pastor protestante, oriundo doReino da Boêmia, Jan Amos Ko-mensky, conhecido entre nós como

Comenius.Comenius propunha uma mu-dança radical nos ortodoxos siste-mas de então; para ele, tudo deve-ria ser ensinado a todos, indepen-dentemente da condição social oudo sexo. Também insistia que todoensino deveria ser acompanhado dademonstração prática, buscando ascausas e focando os princípios gerais.

O professor foi seguido em seu

ideal por outro educador, o filósofofrancês François de Salignac de LaMothe, o duque de Fénelon.

O pensamento de Fénelon,que valorizava a educação como ummeio de tornar os seres mais justose humanos, influenciou o tambémfilósofo francês Jean-Jacques Rous-seau.

Rousseau, demonstrando sin-tonia com a filosofia de seu anteces-sor, pregava “(...) que a verdadeira finalidade da educação é ensinar acriança a viver e a aprender a exer-cer a liberdade”.

Muitos se interessaram pelotrabalho de Rousseau; apesar disso,poucos conseguiram colocá-lo emação como o educador suíço JohannHeinrich Pestalozzi.

O método de ensino de Pesta-lozzi até hoje desafia os educado-res. Há uma enorme dificuldade emreproduzi-lo, já que ele pregava quecada um deve aprender dentro deseu ritmo, sem memorizações ou

apressamentos. Ele demonstrava quea tarefa dos mestres é a de exempli-ficar ensinando, para que sejam for-mados adultos nobres, moralmenteconscientes e socialmente responsá-veis.

Pestalozzi, por sua vez, conse-guiu despertar o senso moral-edu-cativo de seu discípulo, o professorfrancês Hippolyte Léon DenizardRivail. >

A educação como solução para osdesafios do progresso humanoLicurgo Soares de Lacerda Filho 

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Reformador/Novembro 200541820

Hippolyte viveu e exemplificouo que aprendera no Instituto de

Educação Pestalozzi – o que certa-mente já conhecera e vivenciara emvidas anteriores.

 Adotou métodos de ensino quealcançaram as classes não favoreci-das pela educação institucional eacrescentou um componente querevoluciona almas e as torna emseres mais afáveis: a educação mo-ral; não aquela moral aparente, queconsidera apenas as crenças e va-lores individuais, mas a moral cole-tiva, que respeita os seres e a eles dáoportunidades de progresso.

Depois, quando Hippolyte ado-tou o pseudônimo Allan Kardec e

passou a intermediar o ensino dosEspíritos Superiores que objetiva-vam a elucidação das mentes seden-tas pelo verdadeiro entendimento,o alcance de seu trabalho tornou-seainda maior, e os educandos pas-saram a ser toda a Humanidade,encarnada e desencarnada.

Em suas obras fica claro quea função precípua da DoutrinaEspírita é a educação moral, quetransforma, melhorando os seres.

Quando é bem entendido, oEspiritismo nos coloca na condi-

ção de aprendizes, e, por mais an-tagônico que possa parecer, ao mes-

mo tempo de educadores. Pois apartir do momento em que conhe-cemos verdadeiramente a DoutrinaEspírita, passamos a enxergar a im-portância de nos educarmos moral-mente para também transformar-mos os indivíduos que caminhamconosco nesta jornada de evolução.Conseqüentemente, a somatória deindivíduos transformados moral-mente resulta em uma sociedademais justa, equânime, menos mate-rialista e mais compartilhadora dosrecursos disponíveis.

ATerra é uma grande e abençoada escola, emcujas classes e cursos nos matriculamos, solici-tando – quando já possuímos a graça do conhe-

cimento – as lições necessárias à nossa sublimação.Todas as matérias que constituem o patrimônio

do educandário, se aproveitadas por nossa alma, po-dem conduzir-nos aos resultados que nos propomosatingir.

Não existe, porém, ensinamento gratuito para a

comunidade dos aprendizes.Cada aquisição tem o preço que lhe corres-ponde.

 A provação da riqueza é sedutora, mas repleta deperigos cruéis.

 A passagem na pobreza é simples e enternecedo-ra; contudo, oferece tentação permanente ao extre-mo desespero.

O estágio na beleza física é fascinante; entre-tanto, mostra escuros abismos ao coração desavi-sado.

 A demora no poder é expressiva; todavia, atraidificuldades infernais, que podem comprometer-noso futuro.

O ingresso na cultura da inteligência favorece a

posse de verdadeiros tesouros; no entanto, nesse se-tor, o orgulho e a vaidade representam impertinen-tes verdugos da alma.

 A estação de calmaria na vida familiar é tempodoce e agradável ao espírito, mas, aí dentro, no oásisdo carinho, o monstro do egoísmo pode enganar-noso coração.

Em qualquer parte onde estiverdes, acordai pa-ra o bem!...

Recordai que o ouro e a intelectualidade, os tí-tulos e as honras, as aflições e os sofrimentos, as pos-

ses e os privilégios são meros acidentes no longo eabençoado caminho evolutivo.Lembrai-vos de que a vida é a eternidade em as-

censão e não vos esqueçais de que, em qualquer con-dição, só no cultivo do amor puro conseguireis edi-ficar para a vitoriosa imortalidade.

Emmanuel 

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio Fraterno. Por DiversosEspíritos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 53, p. 124--125.

Na escola

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Sempre vivos“Ora, Deus não é de mortos, mas,

sim, de vivos. Por isso, vós errais muito.”

– J ESUS (Marcos, 12:27.)

Considerando as convenções estabelecidas em nosso trato com os amigos encar-

nados, de quando em quando nos referimos à vida espiritual utilizando a palavra “mor-te” nessa ou naquela sentença de conversação usual. No entanto, é imprescindível en-tendê-la, não por cessação e sim por atividade transformadora da vida.

Espiritualmente falando, apenas conhecemos um gênero temível de morte – a daconsciência denegrida no mal, torturada de remorso ou paralítica nos despenhadeirosque marginam a estrada da insensatez e do crime.

É chegada a época de reconhecermos que todos somos vivos na Criação Eterna.

Em virtude de tardar semelhante conhecimento nos homens, é que se verificam

grandes erros. Em razão disso, a Igreja Católica Romana criou, em sua teologia, umcéu e um inferno artificiais; diversas coletividades das organizações evangélicas protes-tantes apegam-se à letra, crentes de que o corpo, vestimenta material do Espírito, res-surgirá um dia dos sepulcros, violando os princípios da Natureza, e inúmeros espiri-tistas nos têm como fantasmas de laboratório ou formas esvoaçantes, vagas e aéreas,errando indefinidamente.

Quem passa pela sepultura prossegue trabalhando e, aqui, quanto aí, só existe de-sordem para o desordeiro. Na Crosta da Terra ou além de seus círculos, permanece-mos vivos invariavelmente.

Não te esqueças, pois, de que os desencarnados não são magos, nem adivinhos.São irmãos que continuam na luta de aprimoramento. Encontramos a morte tão-so-mente nos caminhos do mal, onde as sombras impedem a visão gloriosa da vida.

Guardemos a lição do Evangelho e jamais esqueçamos que Nosso Pai é Deus dosvivos imortais.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. PãoNosso. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005,cap. 42, p. 97-98.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel 

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Pensamentos? Quando pensa-mos em pensamentos, os nos-sos pensamentos voam alto. E

foi de fato proposital essa repetiçãoda palavra pensamento, para quepossamos refletir, desde o iníciodeste simples artigo, em sua impor-tância para as nossas vidas. É umassunto tão complexo e ao mesmo

tempo tão fascinante, que desdeque o homem iniciou a sua digres-são filosófica no orbe terrestre, sem-pre se preocupou em abordá-lo. A História nos prova isso: “Onde euestiver, os meus pensamentos esta-rão também”, já sabiamente diziaSócrates. Ou ainda, evocando RenéDescartes, na sua ilustre afirmativa:“Penso, logo existo.”

E como tudo na criação divina

evolui, o homem então vê sur-girem teorias, conceitos, modelos,etc., que objetivaram compreendere analisar os pensamentos na buscade melhor entender o ser humano.É então que em meados do século XIX surge a Psicologia como umaciência oficialmente reconhecida, aqual ajudou muito, também, nessabusca de entendimento entre a re-lação homem–pensamento. Contu-

do, foi somente a partir da Doutri-na dos Espíritos, também no sé-culo XIX, que o pensamento rece-beu uma abordagem mais real; istoé, foi com a Terceira Revelação queo homem teve a oportunidade dedesvendar ainda mais, e de umaforma jamais dantes imaginada, os“enigmas” da relação existente entreo homem e os pensamentos, e con-seqüentemente a influência que es-ses têm em sua jornada evolutiva.Isto porque a Doutrina Espíritaanalisa o Espírito em primeiro lu-

gar e sua relação com o mundo cor-póreo. Emmanuel, em Pão Nosso,psicografado pelo nosso irmão ines-quecível Chico Xavier, afirma que“pensar é criar”. Ou ainda, no mes-mo livro, quando diz que “todas asobras humanas constituem a resul-tante dos pensamentos das criatu-ras”, mostra-nos claramente a gran-deza que os pensamentos possuemem nossas vidas e conseqüentemen-

te para a nossa evolução. Mas antesde adentrarmos especificamente narelação pensamento–evolução, sur-ge uma pergunta: De onde vêm ospensamentos? Ora, para respondertal pergunta, é mister fazer brevesconsiderações sobre o cérebro hu-mano.

O cérebro humano, órgão dosistema nervoso central que chega apesar em média 1kg e 300g, contém

em torno de 75 bilhões de neurô-nios, ou seja, células nervosas. Eletambém é responsável pelo consu-mo de 25% do oxigênio absorvidopelo corpo; em outras palavras, pa-ra que ele possa trabalhar, necessitade 1/4 de todo oxigênio que estádentro dos nossos corpos. O cére-bro apresenta 38 tipos de enzimas(i.e., os famosos neurotransmisso-res, tais como: cerotonina, endorfi-na, etc.). Além de tantas outras fun-ções vitais. Em suma, o cérebrohumano constitui-se num verdadei-

ro arcabouço complexo de inúme-ras reações de várias naturezas (i.e.,bioquímicas, eletroquímicas, etc.).E por ser tão complexo e tão im-portante, muitos materialistas dopassado defendiam hipóteses seme-lhantes nas quais afirmavam que ospensamentos vinham do cérebro.(Uma análise mais detalhada sob oponto de vista espiritual nos é dadana riquíssima obra de Gabriel De-

lanne, só para citar nomes). Outroschegaram ao absurdo de concluirque os pensamentos eram secreçõesdo cérebro. Mas como tudo evolui,novas pesquisas foram desenvolvi-das e novas concepções foram apre-sentadas. E a que “ficou” dentro docontexto materialista e ainda hojeaceita é a de que os pensamentossão frutos da mente. Ou seja, ospensamentos não são secreções do

Pensamentos: instrumentopara a evolução humanaRodrigo Machado Tavares 

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cérebro, mas sim produtos da men-te humana. Entretanto, até hoje,

início do século XXI, entre a comu-nidade acadêmica, o conceito demente não é muito claro. Se per-guntarmos a um materialista o queé mente, ele irá responder certa-mente que a mente é responsávelpelos pensamentos, entretanto nãoirá responder especificamente o quede fato a mente é.

Então “pensemos” de forma ló-gica, como nos sugere o bom sensodo Cristianismo redivivo. Se os pen-samentos vêm da mente, logoa mente pensa! Se a mentepensa, a mente é pensante. Seé pensante, ela raciocina, ouseja, é inteligente. E bem sa-bemos, em O Livro dos Es- píritos , de Allan Kardec (videParte Primeira, capítulo IV,Do Princípio Vital, item 71– “Inteligência e Instinto”),que a inteligência é um atri-

buto do Espírito. O termomente nada mais é do queum termo científico que osmaterialistas utilizam paranão aceitar a existência do Es-pírito. Portanto, respondendoà pergunta, de onde vêm ospensamentos?, os pensamen-tos vêm da mente, isto é, do Espíri-to. O Espírito é o responsável pelospensamentos. O cérebro, por sua vez,

é apenas um instrumento físico paraprocessá-los, quando o Espírito estáencarnado. Em outras palavras, o cé-rebro constitui-se num dispositivomaterial necessário para esse proces-so de codificação dos pensamentos,enquanto o Espírito se encontra tem-porariamente como alma (i.e., Espí-rito encarnado). Contudo, quandonão somos mais alma, ou seja, quan-do o Espírito não se encontra mais

no corpo material (i.e., Espíritodesencarnado), obviamente, conti-

nuamos a pensar, todavia sem o usodo cérebro. Isto porque o mundomaterial é uma cópia imperfeita domundo espiritual, e dessa forma,quando desencarnados não precisa-mos mais de um cérebro para proces-sar os nossos pensamentos. Processa-mos os mesmos através do fluidocósmico (i.e., fluido universal, éteruniversal, etc.). Pois tudo é energia.Tudo no Universo é energia. O quemuda são os estados de condensação

dessa energia; desse elemento primi-tivo. Tudo é energia, sem exceção. A própria matéria, nada mais é do que

uma variação de energia; daí o con-ceito de relatividade. A matéria é aenergia condensada. Daí surge a idéiaconclusiva e real de que os pensa-mentos estão aqui, ali e alhures: emtodos os lugares.

Dessa forma, quando nos per-guntamos – onde estão os pensa-mentos? – podemos responder, semhesitação, que estão no infinito. Eisso, indubitavelmente, nos remete

à idéia do todo. O todo é o Univer-so infinito, o qual está além de nos-

sa vã compreensão humana. Portan-to, não foi sem razão que o ilustremissionário Einstein afirmou, certafeita, que “o materialismo está mor-rendo por falta de matéria”. E é defato uma grande verdade. Ele, aoformular a sua famosíssima teoria darelatividade, revolucionou a ciênciamecanicista e pragmática (i.e ., ma-terialista), dando também um cunhofilosófico e metafísico essencial pa-ra a compreensão de que o mundo

é tão complexo e que a reali-dade material é apenas umapequena parte do todo. Aodizer que a energia é igual àmassa (a qual é uma proprie-dade da matéria) vezes a ve-locidade da luz elevada à se-gunda potência, mostra cien-tífica e claramente que a ma-téria não é a causa das coi-sas, e sim o resultado de algo

mais, isto é, de uma energiacósmica. E o que vai ao en-contro do Espiritismo, poisa Ciência quando estudadaa sério, sem os preconceitosmaterialistas e/ou interessesmesquinhos e pessoais, ten-de a convergir para a verda-

de (i.e., a lei divina) que é uma sóproclamada pelo Espiritismo. Eispor que tantas personalidades ilus-

tres da atualidade, só para citar al-guns e sem nos referir a inúmerosdo passado, Steve Hopkins, Carl Sa-gan, Robert Holden entre outros,os quais não são espíritas e nem es-piritualistas na concepção da pala-vra, vêm nos trazendo em suas obrasidéias que vão ao encontro do que já é pregado pela Ciência dos Espí-ritos, tais como: a pluralidade dosmundos habitados, a complexidade

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da vida, a quarta dimensão, entreoutras. Isto porque “a verdade é co-

mo o Sol, onde um eclipse podeocultar o seu brilho temporariamen-te”, mas jamais tirá-lo para sempre.E isso está acontecendo nos temposatuais; os tempos são chegados e aHumanidade marcha cada vez maispara uma maturidade intelecto--moral que indubitavelmente nosirá conduzir a essa verdade única dacriação divina.

Portanto, voltando aos pensa-mentos, percebemos que os pensa-mentos não são abstratos; eles sãotangíveis. Eles são matéria também,pois são energia condensada. Tudo érelativo. E por isso vemos que osmesmos, apesar de não podermosver, dada a nossa situação rudimen-tar, nós os sentimos. Eles nos in-fluenciam constantemente, pois es-tão conosco 24 horas em todos oslugares. Isso fica muito bem explica-do em duas obras específicas do Pen-

tateuco espírita, a saber: O Livro dos Espíritos (Parte Segunda, capítulo IX “Da Intervenção dos Espíritos noMundo Corporal”, primeiros doisitens) e em A Gênese  (no capítulo XIV, que aborda “Os fluidos”). Emessência, por exemplo, o planeta Ter-ra é um oceano de pensamentos. Es-tamos imersos em freqüências dosmais diferentes valores, haja vista queos pensamentos são campos eletro-

magnéticos (i.e., uma forma de pro-pagação de energia). Tudo é onda. Ese levarmos em conta que a popula-ção terrestre é em torno de 6 bilhõesde Espíritos e que a população deEspíritos desencarnados é algo alémde 3 vezes essa quantidade (mais de20 bilhões de Espíritos desencarna-dos)*, começamos a ter uma peque-

na idéia do quão importante os pen-samentos são; do tanto que eles nos

influenciam direta e/ou indireta-mente, pois conforme esses núme-ros, temos mais de 26 bilhões de Es-píritos pensando constantementeaqui, ali e alhures nas mais varia-das freqüências de ondas eletromag-néticas e diversos teores fluídicos.Não foi à toa que o Mestre Jesusnos exortou: “Vigiai e orai para nãocairdes em tentação.” (Mateus, 26:41.) Pois Ele já atentava na impor-tância que os pensamentos têm em

nossas vidas e conseqüentemente emnossa evolução, pois eles estão emtodos os lugares e vamos atrair pen-samentos afins com os nossos deacordo com o que quisermos, poisque a lei de liberdade é uma lei di-vina (O Livro dos Espíritos , ParteTerceira, capítulo X – “Da lei de li-

berdade”, item Liberdade de pensar).Então começa a ficar cada vezmais claro que os pensamentosinfluenciam nossa conduta cons-tantemente. E foi por isso que oMestre Jesus, com a sua misericór-dia, nos enviou sempre mensageirospara nos lembrar deste aspecto tão

sutil e importante. E foi desta for-ma que Paulo de Tarso, o maior di-

fusor do Cristianismo puro, em suacarta aos Filipenses (4:8) falava:“Quanto ao mais, irmãos, tudo oque é verdadeiro, tudo o que é ho-nesto, tudo o que é justo, tudo oque é puro, tudo o que é amável,tudo o que é de boa fama, se há al-guma virtude e se há algum louvor,nisso pensai.” Paulo nos remete cla-ramente à importância do policia-mento de nossos pensamentos; eque devemos sempre buscar colocarem nossa tela mental coisas boas,pensamentos positivos pois dos mes-mos emanam bons fluidos e boasenergias dando-nos força para vi-ver. Pensamento é força que atraibons Espíritos ou maus Espíritos.Tudo vai depender de nosso livre--arbítrio. De fato, somos como es-tações de rádio: sintonizamos comtudo aquilo que quisermos. Se pen-sarmos em coisas negativas, auto-

maticamente iremos atrair coisasnegativas, é a lei de causa e efeito. Emuitas obsessões começam a partirdaí. Às vezes os obsessores não fa-zem isso nem por mal, mas por ig-norância. Os Espíritos ociosos noPlano Espiritual obviamente irãoprocurar companhias desencarna-das e encarnadas que compartilhemdas mesmas idéias; é algo natural. Eaí é que entra a importância de nos-

sa vigilância constante. Pois assimcomo há os Espíritos ignorantes,também existe uma outra gama deEspíritos, incluindo os nossos desa-fetos do passado e até mesmo dopresente, que estão sempre à esperade uma única oportunidade paraentão atuar contra nós. E é por issoque a reforma íntima é tão funda-mental para o nosso crescimento es-piritual. Tudo começa de fato em

Pensamento é força

que atrai bons

Espíritos ou maus

Espíritos. Tudo vai

depender de nosso

livre-arbítrio

* Ver Roteiro, pelo Espírito Emmanuel, psico-grafado por Francisco C. Xavier, capítulo “OGrande Educandário”, Ed. FEB.

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nosso mundo interior. Da mesmaforma que atraímos os irmãos me-

nos esclarecidos, podemos atrair Es-píritos bons que também queremevoluir. Espíritos que querem nosajudar em nosso vôo espiritual. Tu-do depende da sintonia.

E o espírita, por sua vez, tem odever de sempre buscar pensar ca-da vez melhor. O espírita convicto éotimista, ou pelo menos procura ser.Os bons pensamentos, sem dúvidaalguma, são um instrumento para anossa evolução. Busquemos semprepensar nisso. Busquemos, pois, cadavez mais nos conhecer melhor, como já recomendava Sócrates (“conhece--te a ti mesmo”) a fim de que possa-mos verificar como é que estamosconduzindo os nossos pensamentos.E aí começaremos a ver que muitascoisas que acontecem em nosso dia--a-dia podem ser frutos de como nósestamos pensando. A nossa evoluçãomoral e espiritual depende de uma

mudança psíquica (a reforma ínti-ma).

O Espiritismo, essa fonte ricade conhecimentos, é uma oportu-nidade ímpar para todos nós andar-mos em comunhão com o bem. Oslivros espíritas nos facilitam essamarcha. E mais especificamente, noque diz respeito aos pensamentos, asérie psicológica de Joanna de Ân-gelis, os livros de André Luiz, e tan-

tos outros, sem jamais esquecerda pedra fundamental, o Pentateu-co, são recursos fortes para que pos-samos sempre estar sintonizadoscom o Alto. A partir do momentoque melhoramos nossos pensamen-tos, melhoramos gradativamente deconduta e conseqüentemente co-meçamos a andar mais em linha re-ta na direção da porta estreita dobem. Quando melhoramos os teo-

res de nossos pensamentos, comsentimentos positivos e bons, faze-

mos uma higienização mental queinfluencia nosso corpo e nossa al-ma. E o mundo se torna mais boni-to; não porque o mundo tenha mu-

dado, mas porque nós começamosa mudar intimamente e o nosso vi-

ver se tornará mais fácil.Pensamento é força; pensa-mento é energia. Pensemos nissosempre!

Realizou-se, com sucesso, emGoiânia (GO), de 7 a 10 de setem-bro, o III Encontro Nacional dosMagistrados Espíritas, tendo com-parecido cerca de 200 magistradosde todo o País, entre Juízes, Desem-bargadores e Ministros dos Tribu-nais Superiores.

 A palestra inaugural foi profe-rida, no Auditório do Egrégio Tri-

bunal de Justiça, por Divaldo Perei-ra Franco, sob o tema: Espiritismoe Direito no Século XXI .

O público – cerca de 800 pes-soas –, contava com a presença deinúmeras autoridades. Entre elas, oPresidente do Tribunal de Justiça,Des. Jamil Pereira de Macedo, oPresidente da ASMEGO, Des. Kis-leu Dias Maciel Filho, o MinistroPaulo Costa Leite, Vice-Presidente

da ABRAME, e o Ministro EdsonVidigal, Presidente do Superior Tri-bunal de Justiça.

Do Movimento Espírita esta-vam presentes o representante daFEB, Norberto Pásqua, o represen-tante da FEEGO, Weimar Munizde Oliveira, além do Presidente da ABRAME, Zalmino Zimmermann,e de outras autoridades.

Os painéis e as palestras foramrealizados exclusivamente por ma-gistrados, nos dias 8 e 9, na sede da ASMEGO, e envolveram temas degrande interesse, destacando-se en-tre eles: Aborto – Direito ou Deli-to? ; Efeitos Espirituais do Aborta-mento; Espiritualização do Direitoe da Justiça; O Espiritismo e o Di-reito Natural ; O Juiz Espírita e aFunção de Julgar .

Encontro deMagistrados Espíritas

 Aspecto da Mesa na Sessão de Abertura do Encontro

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26 Reformador/Novembro 2005424

E

m 1872, após a guerra franco--prussiana, retoma-se a idéia deimpulsionar o ensino laico na

região tourangense onde Léon De-nis vivia, criando-se então o Círcu-lo Tourangense da Liga do Ensino“a fim de propagar a Instrução portodos os meios possíveis”. Estavamentre seus objetivos: “(...) estimular a instrução do povo nos locais des- providos de escolas; concorrer, atra-vés da doação de livros, por meiode subvenções especiais, para a cria-ção de cursos de adultos e de biblio-tecas populares”.1 Léon Denis en-gajou-se no movimento, tornando--se secretário-geral do Círculo.

Tratava-se, a Liga, de um mo-vimento de intelectuais conscientescom seu dever social, sem qualquerentrave burocrático, com o objeti-vo de dotar a França de um ensinolaico e gratuito, consagrando a in-dependência do Estado e da socie-dade em relação à Igreja.

Nos anos seguintes, Denis foicompanhia constante de Jean Ma-cé, o fundador da Liga, nos Círcu-los Regionais onde houvesse umaBiblioteca sendo formada, o que le-vou Macé a valorizar a amizade e ovalor do Secretário Léon Denis. Suapalavra fazia vibrar os auditórios pa-ra os quais expunha suas idéias.

“Juntos, visitaram Château--Renault, Langeais, Bourgueil, Ri-

chelieu, Loches, no Departamentode Indre-et-Loire, depois outras ci-dades dos Departamentos vizinhos: Jaulnay-Clan, no Departamento de Vienne, Orléans, Angers, Le Mans,Nantes, etc.” 1

Léon Denis provocou os se-guintes comentários do jornalL’Avenir du Loire, de 27 e 28 dedezembro de 1880: “Conferencistade primeira ordem, escreve-se, pa-lavra fácil, expressões escolhidas, períodos bri lhantes e claros, alémdisso, demonstra uma ciência pro- funda e um conhecimento incon-testável das coisas e dos lugares, graças às numerosas viagens que sãoa sua paixão.

Conferencista de grande méri-to, apregoa-se, ele sabe cativar seuauditório e, com sua palavra ar-dente e colorida, as mais árduas questões adquirem um encantoinesperado.

Ele sabe como despertar um

 grande interesse no auditório, por-que os temas que escolhe são trata-dos com uma encantadora elevaçãode pensamento, numa linguagemmuito honesta e muito pura, à qual certos conferencistas ainda crêemque não devem se submeter, esque-cendo que só é possível instruir efi-cazmente com expressões e frases apresentadas de forma simples.” 1

Também o L’Union Libérale 

de 1o e 2 de março de 1880, elogiao orador Denis: “O Sr. Denis pos-sui as qualidades que o tornam umorador: erudição profunda, memó-ria prodigiosa, elegância de forma,harmonia de períodos, sobriedade de gestos e, acima de tudo, a pre-sença, que torna sua eloqüência par ticularmente comunicativa e conquista logo a simpatia do audi-tório.” 1

O biógrafo de Léon Denis,Gaston Luce 2, descreve e comentasua trajetória como orador: “Comosecretário-geral do Círculo da Ligado Ensino, em Tours, vemo-lo rea-lizar uma série de grandes confe-rências nas cidades do Oeste: Tours,Le Mans, Angers, Nantes,Poitiers,etc.

Os assuntos que Denis escolhialhe permitiam abordar a questãoque ele desejava, mas que não po-dia ainda tratar livremente, mas é  preciso, entretanto, levar em conta

as dificuldades que um tal em- preendimento apresenta. Sob o pa-trocínio da Liga nem seria possível  pensar nisso.

Limita-se, então, a desenvolver temas gerais de História: A Repú-blica Americana, Astronomia Po- pular, As Terras do Espaço, Os Uni-versos Distantes, etc.

Em sessões privativas, ele tratade assuntos mais específicos, tais co-

Léon Denis e sua conferênciaO Progresso pela Liga do EnsinoEduardo Carvalho Monteiro 

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Reformador/Novembro 2005 27425

mo: O Mundo e a Vida, Os Pro-blemas Morais e Religiosos, etc.

Em 1880, proferia uma de suas primeiras grandes conferências:‘O Progresso’. Fala sucessivamente em quatro cidades diferentes: Tours,Bourgueil, Château-Renault e Or-léans. Esta brilhante palestra, de um alto teor literário, bem compos-ta, foi publicada num opúsculo, nomesmo ano, a pedido de seus nu-merosos ouvintes.” 1

Por longos anos temosprocurado esse famoso opús-culo em bibliotecas e alfarrá-bios da França, para trazer ànossa geração integralmenteesse texto magnífico de LéonDenis de que falam esses críti-cos da época e não o encon-tramos. Em recentes pesquisasque fizemos, no entanto, naBiblioteca Saint-Geneviève , emParis, garimpamos um excertoda conferência no Jornal Le  Messager , de janeiro de 1881,que reproduzimos a seguir. A tradução é de Emilia dos San-tos Coutinho.

“O tema da conferência émuito vasto e muito rico paranão ser exposto sob diferentesaspectos. Esta exposição doProgresso sob muitos pontosde vista que M. Denis compiloucom seu talento de conferencista

memorável.O Orador definiu de início oPROGRESSO; ele mostra que o Pro-gresso é a inspiração em direção aomelhor, ao belo, ao bem; que estaaspiração é natural entre os ho-mens, independente de seu livre-ar-bítrio. Uma bela alegoria concluieste primeiro capítulo.

O capítulo seguinte nos mos-tra o Progresso através das idades.

 A civilização inicia no Oriente,atravessa as Índias, a Pérsia, a Assí-

ria, o Egito, depois pela Grécia on-de ela alcança o ponto culminante.De lá a bandeira da civilização pas-sa pelos romanos, mas sua prepon-derância se esvai desde que o vícioe a corrupção invadem o Império;seguindo a invasão dos Bárbaros,época onde começa para a humani-dade uma parada de 12 séculos namarcha do Progresso.

O conferencista retrata os sofri-mentos do povo durante a Idade

Média, até o momento onde ospensadores, morrendo na fogueiraou pelos mais apavorantes suplí-cios, fazem eclodir a Reforma. Maisadiante uma grande impulsão dadaao Progresso, Gutenberg inventa aImprensa. O orador se detém naRevolução de 1789, a última gran-de etapa da civilização.

No terceiro capítulo, o oradoraborda o Progresso político; ele de-

monstra pelo exemplo da Françacomo a República Democrática, na

forma mais racional da liberdade, éprópria para levantar o moral de to-da uma nação e a formar bons cida-dãos; ele trata em seguida da questãodo Progresso Social, onde a marchateria dado um passo de gigante se asfortunas da terra soubessem com-preender que a associação da classeoperária à exploração do capital éum dos mais seguros meios de con-

servar a paz interior e exterior;se eles preconizassem o aumen-to incessante de escolas parao povo, o estabelecimento deinstituições de previdência, demutualidade, etc.

O progresso religioso, umdos pontos mais importantes,é tratado mais longamente. Oorador faz sobressair o antago-nismo das religiões existentes,suas lutas incessantes contra oProgresso, a razão, a ciência, e

conclui pelo futuro da religiãonatural que deve conduzir ohomem em direção à perfeição.

O Progresso na imortali-dade , tal é o título do últi-mo capítulo desta interessanteconferência. Léon Denis fez oleitor assistir às etapas sucessi-vas que o homem deve percor-

rer sobre esta Terra, e ele terminaseu brilhante discurso pelas palavras

seguintes que nós gostaríamos dereproduzir.Homem, meu irmão, tem fé em

teu destino porque ele é grande. Pos-sa, nas vastas perspectivas que ele abre a teu pensamento, fornecer-te aenergia necessária para afrontares os ventos e as sombras do mundo. Marcha, valente lutador, sobe a la-deira que conduz aos cimos que se chamam virtude, dever, sacrifício. >

Léon Denis 

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28 Reformador/Novembro 2005426

Não pares no caminho paracolher as florzinhas da moita, para

 jogar com os pedregulhos dourados.Sempre em frente, sempre.Vê nos céus esplêndidos estes 

astros brilhantes, estes sóis inume-ráveis animando nas suas evoluções  prodígios, brilhantes comitivas de  planetas.

Quantos séculos terão sido ne-cessários para a sua formação? Quantos séculos serão necessários  para dissolvê-los? 

E bem, um dia virá onde todos os fogos serão acesos, onde estes mundos gigantescos desaparecerão para dar lugar aos globos novos, aoutras famílias de astros emergindodas profundezas. Nada do que ho- je se vê existirá mais. O vento dos espaços não terá jamais varrido a poeira destes mundos usados; mas tu, tu viverás sempre, perseguindoa marcha eterna no seio da Criaçãosem cessar renovada. Que serão en-tão para tua alma apurada, en- grandecida, as sombras e os pesares do presente? Acidentes efêmeros de nosso curso, eles não deixarão mais no fundo de nossa memória senãotristes e doces lembranças. Diante dos horizontes infinitos da imorta-lidade, os males do passado, as pro-vas sustentadas serão como umanuvem fugitiva no meio do céusereno.

Restringe então ao seu justovalor as coisas da Terra. Não as des- prezes sem dúvida, porque elas sãonecessárias a teu progresso, e tuaobra é contribuir para seu aperfei-çoamento; e em te aperfeiçoando ati mesmo, mais está ligada exclusi-vamente a tua alma, e procuradiante de tudo os ensinamentos que eles contêm.Graças a eles tucompreenderás que o objetivo da

vida não é a alegria nem a tristeza,mas o desenvolvimento, por meio

do trabalho, do estudo, do cumpri-mento do dever desta alma, desta personalidade que reencontrarás dolado de lá do túmulo que tu a terás  feito por ti mesmo no curso destaexistência terrena.” 

R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1LUCE, Gaston. Léon Denis, o Apóstolo do Es-

 piritismo. Sua Vida, Sua Obra. Tradução José

 Jorge. 2. ed. Ed. CELD, “O Conferencista da

Liga do Ensino”, p. 103-114.2Gaston Luce (1880-1965) Militar, escritor

e educador, perdeu o braço em batalha em1915, ferimento este que lhe provocou muitos

sofrimentos estoicamente suportados. Foi fun-dador do SANS-TABAC, associação dos vete-ranos de guerra de seu Regimento, 66o. Psicó-logo escolar, foi muito estimado por seu amoràs crianças e jovens, simplicidade e humildade.Fez parte da Escola do Loire ao lado de outrosconceituados escritores como René Boylesve,

 Jacques-Marie Rougé, Louis Chollet, Foulon deVaux e com muito sentimento ele cantou asbelezas de Touraine e do Vale do Loire atravésde poemas premiados pela Academia Francesa.Luce fundou a Sociedade Tourangense de Es-

tudos Metapsíquicos, foi oficial da Legião deHonra e portador da láurea da Cruz de Guerra14-18. Desencarnou em 13 de janeiro de 1965.

Alma e evolução

Aalma contém, no estado virtual, todos os germens dos seus desen-volvimentos futuros. É destinada a conhecer, adquirir e possuir tu-

do. Como, pois, poderia ela conseguir tudo isso numa única existên-cia? A vida é curta e longe está a perfeição! Poderia a alma, numa vidaúnica, desenvolver o seu entendimento, esclarecer a razão, fortificar a

consciência, assimilar todos os elementos da sabedoria, da santidade,do gênio? Para realizar os seus fins, tem de percorrer, no tempo e no es-paço, um campo sem limites. (...)

O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a felicidadeterrestre, como muitos erradamente crêem, mas o aperfeiçoamento decada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meiodo trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, atéque nos tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao estado ce-leste. Se há na Terra menos alegria do que sofrimento, é que este é o ins-trumento por excelência da educação e do progresso, um estimulantepara o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor, física e moral, forma a nossa experiência. A sabedoria é o prêmio.

Pouco a pouco a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vaiacumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-semais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais inti-mamente com o seu meio social e planetário. Elevando-se cada vezmais, não tarda a ligar-se por laços pujantes às sociedades do Espaço edepois ao Ser Universal.

Léon Denis 

Fonte: O Problema do Ser, do Destino e da Dor . 28. ed. Rio de Janeiro: FEB,2005, p.119-120.

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Reformador/Novembro 2005 29427

“Deixa aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos.” 

Jesus. (Mateus, 8:22.)

A

s palavras do Cristo encerram um profundo en-sinamento. É evidente que Ele não quis recomen-dar que os seus seguidores deixassem aos cadáve-

res o cuidado de sepultar os cadáveres. Seria, na ver-dade, uma interpretação paradoxal.

Sob o seu ponto de vista, estritamente espiritual,o morto é aquele que se ausentou da vida, no que elatem de mais importante e fundamental, que é o rela-cionamento positivo com os próprios semelhantes e asua relação afetuosa com Deus.

Nesse sentido, existe muita gente que já morreu,mas ainda perambula pelos caminhos do mundo, semo saber. Homens e mulheres que ainda não foram se-pultados. Fugitivos do dever e da participação na

vida coletiva, encerram-se nas paredes rígidas e friasde sua própria mente enfermiça, solidificados no pró-prio culto de si mesmos, paralisados nas teias do egoís-mo, que teceram para o próprio coração, enfim, afas-tados voluntariamente do convívio social, onde po-deriam partilhar experiências com seus semelhantes.Não há que duvidar. Virtualmente mortos.

 A vida física constitui-se basicamente do empre-go dos cinco sentidos com que a Natureza nos dotou.Buda já afirmava, há dois mil e seiscentos anos: Atra-vés de cinco vias [os sentidos], os ignorantes andam à

roda como o torno na mesa do oleiro... Por formas agradáveis à vista, por sons melodiosos, pelos perfu-mes e gostos aprazíveis, e pelos doces contactos, o mun-do envolve-se nas malhas do tempo, tal como o símioque se enreda nos laços do caçador.1 O famoso prín-cipe da estirpe dos Sáquias também bradava aos seuscontemporâneos: Ouvi, ó seramanas [ascetas e medi-tadores], foi encontrado o não-morto! 2

Os argentinos têm sua própria versão de nosso jo- go do bicho. Em sua quiniela não comparecem ape-nas os animais, como acontece entre nós. O número

47 representa a morte e o 48 é el muerto que habla.Não conhecemos bem a psicologia desse povo amigo,nem suas tradições, folclore, crendices populares, etc.,enfim sua própria identidade. Esse fato, todavia, nosfornece algum material para pensar.

 Até melhores esclarecimentos, vamos nos ater aofato de que existe, na verdade, uma concepção diferen-te na quiniela argentina. Parece que o morto que fala éexatamente aquele cidadão que vive apenas para os sen-tidos físicos, enclausurado em seu sepulcro de ouro, oude vícios, ou de amarguras incontidas ou mesmo deilusões. São seres que gostam, mas não amam. Cuidoque gostar nós o fazemos com os sentidos, mas o amarnós o exercemos com o coração. Por isso, quem gostase contrai, quem ama se expande. Os que simplesmen-te gostam, nada criam fora da esfera dos sentidos, nemapreciam as criações do Espírito. Seu lema é comamos e bebamos porque amanhã morreremos .3

 Jesus sempre fez alusão à vida interior, que acon-

tece sempre de dentro para fora e não de fora paradentro como sói acontecer com a vida estritamentesensual. Ele afirmou aos judeus atônitos que o acom-panhavam: (...) estreita é a porta, e apertado o cami-nho que conduz à vida, e poucos são os que a encon-tram.4 Doutra feita dizia Ele, aos mesmos judeus, nãomenos aparvalhados: (...) não quereis vir a mim pa-ra terdes vida! 5 Deixou claro o seu pensamento a res-peito da verdadeira vida quando disse: Eu sou o pãoda vida.6 Todo o escopo de sua augusta missão podeser resumido nestas suas palavras: (...) vim para que 

tenhais vida e a tenhais em abundância.7

Levantando o véu que encobria nossos olhos físi-cos, Ele nos mostrou que temos duas vidas, a materiale a imaterial; que somos de duas naturezas, a física e aespiritual. Essa duplicidade está em toda parte, em to-dos os nossos momentos. Forma e essência, trevas eluz, eros e phílos .

No início dos anos 40, Carlos Drummond de Andrade dedicou a seu amigo Otto Maria Carpeauxo poema Os Rostos Imóveis ,8 em que ele nos fala demorte e de mortos. A fatídica cumplicidade das duas

Os mortos que falam Joel M. Soares 

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faces da existência nele se esboça. O poeta filosofoucom a morte. Compreendeu a mensagem evangélica

da vida, num sonho singular e angustiado. Embarque-mos com ele em seus devaneios:

Pai morto, namorada morta.Tia morta, irmão nascido morto.Primos mortos, amigo morto. Avô morto, mãe morta(mãos brancas, retrato sempre inclinado na

[parede, grão de poeira nos olhos).

Conhecidos mortos, professora morta.Inimigo morto.Noiva morta, amigas mortas.Chefe de trem morto, passageiro morto.

Irreconhecível corpo morto: será homem? bicho? Cão morto, passarinho morto.Roseira morta, laranjeiras mortas. Ar morto, enseada morta.Esperança, paciência, olhos, sono, mover de mão:

[mortos.

Homem morto. Luzes acesas.Trabalha à noite, como se fora vivo.Bom dia! Está mais forte (como se fora vivo).

 Morto sem notícia, morto secreto.Sabe imitar fome e como finge amor............................................................................Nessa visão whitmaniana do poeta o mundo

está morto para a vida do espírito. As luzes estão ace-sas, o homem trabalha à noite, diz “boa-noite”, diz“bom-dia”, indaga sobre a saúde de seus semelhan-tes, sabe imitar a fome e sabe fingir que ama, peram-

bula pelas ruas, como um autômato, gesticula aesmo, diz adeus aos países distantes, o tempo neleentra e sai, como se fora vivo, mas o homem estámorto.

 Acordei e vi a cidade:eram mortos mecânicos,eram casas de mortos,ondas desfalecidas, peito exausto cheirando a lírios, pés amarrados .

O poeta estava dormindo, isto é, estava semimor-to, ou semivivo, como os demais. Enquanto dormia o

sono do descuido, do espírito mundano, do homemsem disciplina, dos fracos e negligentes, como todos, nãopodia imaginar que o tempo de perigo é o período desegurança aparente. Acordou de seu sono e viu a reali-dade. Como a viu? Deus nos deu dois instrumentos dever, que são os olhos e o entendimento: o corpo vê, a al-ma entende; do mesmo modo que nos deu dois instru-mentos de falar, que são a língua e o coração: a línguasoa, o coração fala. O poeta despertou de seu sono letár-gico e viu com o entendimento e falou com o coração.Viu os homens mecânicos, quais bonecos de corda, quese agitam rotineiramente, dia após dia, sem sair do mes-mo lugar, com os pés amarrados. No entanto, cansados,se enfeitam e se perfumam para a vida que não possuem.

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade .9 Assimressoa melancolicamente a sabedoria dos antigos.

E o poeta prossegue em seus devaneios. Torna adormir e novamente o sonho singular lhe perturba oentendimento:

Dormi e fui à cidade:toda se queimava,estalar de bambus, boca seca, logo crispada.Sonhei e volto à cidade. Já não era a cidade,Estavam todos mortos, o corregedor geral 

[verificava etiquetas nos cadáveres.O próprio corregedor morrera há anos, mas sua

[mão continuava implacável.

Nesse momento, o poeta compreendeu o verda-deiro significado da vida. O próprio corregedor mor-rera. Cadáveres que cuidavam de cadáveres. Os mor-tos cuidando do sepultamento de seus mortos.

R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:1MALCOM. E. T.  As Idéias de Buda. Rio de Janeiro, Edições deOuro, Tecnoprint Gráficas S.A., p. 21-22.2Idem, ibidem, p. 32.3Isaías, 22:13.4Mateus, 7:13-14.5 João, 5:40.6 João, 6:48.7 João, 10:10.8 ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa e Prosa. Rio de

 Janeiro, Companhia José Aguilar Editora, 1973, p. 128-129.9Eclesiastes, 1:2.

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Reformador/Novembro 2005 31429

Em O Evangelho segundo o Es- piritismo, capítulo XXV, item11, lemos esta sábia recomen-

dação:“(...) não violenteis nenhuma

consciência; a ninguém forceis pa-ra que deixe a sua crença, a fim de adotar a vossa; não anatematizeis os que não pensem como vós; aco-lhei os que venham ter convosco e deixai tranqüilos os que vos repe-lem. Lembrai-vos das palavras doCristo. Outrora, o céu era tomadocom violência; hoje o é pela bran-dura.” (KARDEC, 2001, p. 361.)

Tais palavras, se mal interpre-tadas, podem ser entendidas comoestímulo à nossa indiferença no quese refere à divulgação da DoutrinaEspírita. Afinal, dirão os que assimpensam, para que nos preocupar-mos com a pressa em tornar univer-sais esses conhecimentos? Um dia,

todos pensarão como nós. Deusnão tem pressa. A verdade está aci-ma dos julgamentos humanos. OEspiritismo se imporá por si mes-mo... Em parte, isso é verdade. Pre-cisamos, entretanto, refletir sobre oconteúdo das palavras transcritas.Elas não autorizam a interpretaçãoacima. Para seu melhor entendi-mento, vamos desmembrar a frasecitada em duas partes.

Primeiramente, recomenda-senão “violentar nenhuma consciên-cia”, etc. Nesse sentido, até mesmoentre os adeptos do Espiritismo po-de haver divergência de pensamen-to sem que deixemos de nos estimare respeitar fraternalmente. É preci-so compreender que uma das coisasmais detestáveis, para quem acalen-ta uma idéia, ainda que errada, é serdesmentido publicamente.

Carnegie (2003, p. 257) afirmaque para alguém ser levado a pen-sar como queremos, entre outrascoisas, é preciso evitar discutir e res-peitar sua opinião, por mais equi-vocada seja a pessoa. Isso porque,

após ter ouvido, tomado parte demilhares de discussões, concluiuque “há apenas um caminho paraconseguir o melhor numa discussão– é correr dela, correr como vocêcorreria de uma cobra ou de umtremor de terra”. (CARNEGIE,2003, p. 166-167.)

 As coisas mais óbvias, em ques-tão de crença, podem nos deixarcom má vontade sobre elas, quan-

do nos sentimos pressionados aaceitá-las como condição única deobter a proteção divina. Isso ocor-re, principalmente, se já temos nos-sa posição firmada a respeito do as-sunto. Um exemplo disso são essasmensagens cristãs que recebemos narua ou são colocadas em nossas cai-xas de correspondência. Aparente-mente, não há nada demais nisso, eaté mesmo seria de se desejar que fi-

cássemos gratos a quem as oferta.Entretanto, exceto quando compar-tilhamos da mesma crença dos por-tadores das mensagens, se já temosnossa fé, sempre vemos nelas umaforma direta de proselitismo. Mes-mo quando simplesmente lemos:basta crer no Senhor e serás salvo.

Condição única: “crer no Se-nhor”. Podemos continuar perver-sos, viciosos, hipócritas, invejosos,descaridosos, etc., mas se “cremos noSenhor”, ah, isso é o bastante. Na-da de preocupações com nossa refor-ma íntima, afinal, a fé nos basta.

 Ainda que concordemos com oconteúdo dessas mensagens, pois

quase sempre nada mais são do quereproduções literais de passagensevangélicas ou do Antigo Testamen-to, a impressão que temos é a deque se não procurarmos a igreja X e nos filiarmos à mesma estaremosexcluídos, definitivamente, das bem--aventuranças celestiais.

Isso não significa que tambémos espíritas não incomodemos osnão espíritas com nossas mensagens

impressas em papel ou mesmoenviadas por e-mail sem que no-lastenham solicitado. Também enten-demos que não há nada mais desa-gradável, para quem não acreditanas comunicações dos Espíritoscom os homens, do que receberuma mensagem psicografada por al-guém, ainda que essa pessoa estejaacima de qualquer suspeita. Ne-nhum tipo de violência à consciên-

Divulguemos o EspiritismoJorge Leite de Oliveira 

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cia alheia é aceitável, por mais bem--intencionados estejamos.

Entretanto, não podemos negaros imensos benefícios, para milharesde pessoas, que, tanto umas, quan-to outras mensagens proporcionamquando oportunas. Quantos enfer-mos nos hospitais, quantos presidiá-rios não se têm sentido confortadose agradecidos aos que lhes fazemuma prece, estendem as mãos e lhesdeixam sua mensagem de fé, escritaou falada! A forma de transmiti-lase a intenção existente por trás dessadivulgação é que podem ser questio-nadas. Se a pessoa se sente bem comsua crença, ou mesmo descrença,não temos que tentar convertê-la aonosso modo de crer. Quando che-gar o momento adequado, os bonsEspíritos encaminharão cada umpara o templo religioso adequado aoseu estado mental e necessidade dedesenvolvimento espiritual.

 A segunda parte da mensa-

gem que encima este texto afirma:“Outrora, o céu era tomado comviolência; hoje o é pela brandura.”Durante muito tempo, acreditou-seque quando algo era bom para aHumanidade tinha que ser impos-to pelas armas. Ainda hoje, algumasnações e sociedades pensam equivo-cadamente dessa forma. Em espe-cial na política e na religião, imagi-nam que aquilo que é bom para si

também o é para os outros semqualquer respeito à sua cultura. To-davia, se é assim, por que os quepensam desse modo continuamsendo detestados por muitos? Portentarem impor, à força, seu siste-ma político, sua religião, seus va-lores intelectuais e morais. É pelabrandura, pelo amor que convence-mos, e não pela imposição de nos-sas idéias. E não pela força.

Segundo Kardec, o maior ad-versário do Espiritismo não é qual-

quer religião, e sim o materialis-mo. É este o mais devastador sis-tema filosófico já imaginado pelamente humana, que tudo reduz aosfenômenos da matéria. A vida, se-gundo tal teoria, seria obra do aca-so e se extinguiria com a morte.Mas até mesmo aos que em nadacrêem não devemos violentar comnossa crença na imortalidade daalma, comunicação dos Espíritos,reencarnação e existência de Deus,entre outros aspectos básicos do Es-piritismo. Esclareçamo-los, sobretu-do pela razão, sem deixar de tocar--lhes, amavelmente, o sentimentoquando nos questionarem.

 A Doutrina Espírita, como ou-trora a mensagem de Jesus, não veiopara os sãos do espírito, e sim paraos enfermos da alma, para os quebuscam uma esperança, um conso-lo para as suas existências atribula-

das. Desse modo, é útil refletirmosnas seguintes palavras do EspíritoEmmanuel ( XAVIER , 1988, p. 190):

Convençamo-nos, porém, de que todo desequilíbrio do espírito pede, por remédio justo, a educaçãodo espírito.

Veiculemos, assim, o livro no-bre.

Estendamos a mensagem edifi-cante.

 Acendamos a luz dos nossos  princípios nas colunas da im- prensa.

Utilizemos a onda radiofôni-ca, auxiliando o povo a pensar emtermos de vida eterna.

Relatemos as nossas experiên-cias pessoais, no caminho da fé,com o desassombro de quem se co-loca acima dos preconceitos.

 Amparemos a infância e a ju-

ventude para que não desfaleçam àmíngua de assistência espiritual.

Instruamos a mediunidade. Aperfeiçoemos nos sos próprios conhecimentos, através da leituraconstrutiva e meditada.

Instituamos cursos de estudo doEvangelho de Jesus e da obra de  Allan Kardec, em nossas organiza-ções, preparando o futuro.

Ofereçamos pão ao estômago faminto e alfabeto ao raciocínioembotado.

Plantemos no culto da carida-de o culto da escola.

E, sobretudo, considerando omaterialismo como chaga oculta,não nos afastemos da terapia doexemplo, porque, em todos os cli-mas da Humanidade, se a palavraesclarece, o exemplo arrasta sempre.

Cabe, pois, a nós, espíritas, ob-servar o momento propício de au-xiliar aqueles que não possuem uma

fé a lhes consolar o coração e a lhessatisfazer o cérebro, mas que se en-contram à procura dela. Tambémhá os que têm sua crença, entretan-to, continuam sentindo um vazioem seus corações. Os templos reli-giosos que freqüentam lhes pare-cem frios; o deus que lhes dão a co-nhecer parece distante de nós, seusfilhos; as misérias e desigualdadeshumanas não lhes são suficiente-

mente explicadas. Para esses veio oEspiritismo ou Consolador prome-tido por Jesus.

É, pois, pela doçura, pela boapalavra, pela brandura de nossosatos que divulgaremos o Espiritis-mo, e não pela discussão estéril, pe-lo ataque sistemático às outras e àsnossas instituições, e aos irmãos deideal. E não pela violência.

É pelo estudo sistemático das

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obras codificadas por Allan Kardecque nos iluminaremos com o saber

renovado por Jesus. Comecemospor O Livro dos Espíritos , conti-nuemos com O Livro dos Médiuns ,prossigamos com O Evangelho se- gundo o Espiritismo, O Céu e o In- ferno e concluamos com A Gênese .Essas obras maravilhosas que com-põem o chamado pentateuco kar-dequiano é que nos darão a base daNova Revelação.

Prosseguindo no estudo, quese leia as informações da RevistaEspírita, de Allan Kardec, e ne-las reflita. Ensaio profundo para a

publicação das obras posterioresda Codificação, ela nos traz ao co-

nhecimento as primeiras experiên-cias, relatos sobre fatos extraor-dinários e reflexões de Kardec,bem como de muitos outros ilus-tres pioneiros do Espiritismo nomundo.

Mas não fiquemos nisso, leia-mos as boas obras, mediúnicas ounão, que analisam ou complemen-tam o conteúdo das obras acima.Em especial, recomendamos a cha-mada Série Nosso Lar , atualmentepublicada pela Federação EspíritaBrasileira sob o título genérico de

 A Vida no Mundo Espiritual , emtreze volumes, ditada pelo Espírito

 André Luiz a Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. São tantosos médiuns, escritores e livros a se-rem lidos e meditados por nós que,se enumerados todos, transforma-ríamos este artigo em catálogo. Omais importante, porém, é que co-nheçamos bem, para melhor prati-car a Doutrina, as obras da Codifi-cação Kardequiana já referidas.

 Allan Kardec nos lembra que“fora da caridade não há salvação”.E o Espírito Emmanuel nos fazrefletir que, em Espiritismo, suamaior caridade é a divulgaçãomesma dos ensinamentos elevadosdos emissários do Cristo, para se-rem vivenciados, e nossa exempli-ficação permanente no Bem. As-sim, pelos nossos pensamentos eatos sempre coerentes com a Dou-trina dos Espíritos, pelo estudopermanente das obras da Codifi-

cação Espírita, na vontade de ven-cer as próprias limitações, e pelotrabalho em prol de um mundo ca-da vez melhor, renovando o pró-prio mundo íntimo, estaremospromovendo a melhor divulgaçãodo Espiritismo.

BIBLIOGRAFIA :

CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e in-

 fluenciar pessoas . 51. ed. São Paulo: Companhia

Editora Nacional, 2003.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos . 82. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2001.

______. O Evangelho segundo o Espiritismo.

117. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

 XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Es-

 píritos , pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de

 Janeiro: FEB, 1988.

Santa maternidade(Preito de amizade a dois companheiros do pretérito,atualmente reencarnados em provação regenerativa.)

Recordo, castelã!... O narciso trescalaDo teu colo a fulgir de jóias soberanas... Alguém morre na festa... E, soberba, te ufanasDo jovem que impeliste ao suicídio na sala.

Tempos correram, presto... Entre humildes choupanas,Trazes agora ao peito um filhinho sem fala,Mutilado ao nascer, flor que se despetala,No trato de aflição da prova em que te fanas...

Restauras, padecente, a vítima de outrora,Ontem, transviada e ré, hoje, mãe que ama e chora!...

Salve a reencarnação, passaporte ao futuro!Mãe, agradece a dor!... No porvir que vem perto,Brilharás como estrela, ante o filho liberto,E alcançarás, ditosa, o reino do amor puro!...

Epiphanio Leite 

Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos . 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994,cap. 40, p. 66.

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O“Curso para Capacitação deTrabalhadores Espíritas”, rea-lizado na Sede Central da FEB,

em Brasília (DF), entre os dias 20 e24 de julho próximo passado, e queefetivamente atingiu as proporçõesde um minicongresso internacionalde Espiritismo, proporcionou-noso feliz ensejo, entre tantos outros,de um encontro pessoal com Prze-mek Grzybowski, o jovem esperan-tista-espírita polonês com quemnos correspondemos desde meadosda década de 80. Então, Przemek,com apenas 15 para 16 anos de ida-

de, decide buscar a orientação daFEB, envolvido que estava em expe-rimentações mediúnicas em sua ci-dade natal, Bydgoszcz. De lá paracá, cresceu um incessante e provei-toso intercâmbio entre o jovem po-lonês, não somente conosco, pes-soalmente, e com a FEB, mas igual-mente com o círculo de esperantis-tas-espíritas do Brasil, do que resul-taram fecundas iniciativas de Prze-

mek para a divulgação do Espiri-tismo na Polônia. Ao nos despedirmos em Brasí-

lia, Przemek prometeu-nos enviaralgumas informações sobre a reali-dade dos frutos por ele obtidos emseu país num campo que ainda re-veste todas as características de umtrabalho exclusivamente pioneiro.

Esse trabalho agora receberávalioso auxílio da FEB e do Conse-

lho Espírita Internacional (CEI),que lhe acenaram com a certeza de

sustentar-se, sobre bases mais sóli-das, a publicação de todas as obrasde Allan Kardec e algumas de An-dré Luiz na língua polonesa.

Eis o texto de nosso amigo, emtradução do esperanto:

Caro e estimado Sr. Affonso,Como prometi, faço-lhe agora

um pequeno relato sobre Espiritis-mo na Polônia, pois, visitando o

Brasil, constatei o fato de que mui-tas pessoas, não tendo qualquer co-nhecimento a respeito do assunto, perguntavam-me com freqüênciasobre um movimento espírita polo-nês que ainda, efetivamente, nãoexiste.

No tempo de Allan Kardec, aPolônia havia desaparecido dos mapas da Europa, dividida que es-tava entre três nações, tendo essa si-

tuação durado cerca de 100 anos.Havia, portanto, naquela épocauma enorme preocupação de se pro-teger a cultura polonesa, ante a di- ficuldade de se desenvolver as artes e a literatura nacionais. Por essa ra-zão, entre outras, muitas obras es-trangeiras não eram traduzidas pa-ra o polonês. Além disso, é necessá-rio destacar que a principal institui-ção a cuidar da proteção da cultu-ra nacional era a Igreja Católica,cujos sacerdotes eram muito cultos e relativamente poderosos, não cons-tituindo, portanto, motivo de sur- presa o fato de que as primeiras traduções das obras de Allan Kar-dec e de outros espíritas só tenhamsurgido após a Primeira Guerra Mundial. A ação de uma censuracultural fazia com que as tiragens não fossem muito grandes e os li-vros, às vezes, tivessem uma formaabsolutamente estranha. Por exem- plo, a edição de O Livro dos Espí-ritos, que apareceu nos anos 30 doséculo XX, tinha apenas 250 pági-nas, isto é, com metade do texto su-

 primido. Somente após a mudançados sistemas econômico e político, a partir de 1989, foi possível desen-volver na Polônia um livre merca-do para a edição de livros, o que  possibi litou a publicação das pri-meiras traduções integrais da lite-ratura clássica do Espiritismo. Até agora foram publicados  O Livrodos Espíritos e  O Livro dos Mé-diuns, já estando no prelo O Céu e

A FE B E O ESPERANTO

Przemek Grzybowski no BrasilAffonso Soares 

Przemek Grzybowski 

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o Inferno. Durante muitas déca-das, quando em outros países já 

bem se conhecia e se utilizava a li-teratura espírita, apenas alguns pou-cos adeptos havia na Polônia, os quais, graças a seus conhecimentos da língua francesa, ou (como nomeu caso) graças às obras espíritas editadas em esperanto pela FEB , podiam cultivar seus interesses. Até agora ainda não nasceu um efetivomovimento espírita polonês, pelosimples fato de que, sendo aindamuito poucos, os militantes estãoseparados por grandes distâncias e se comunicam apenas pela Internet.Pessoalmente só conheço sete pessoas que se declaram espíritas na Polô-nia, dentre as quais duas são brasi-leiras.

Na minha opinião, a principal tarefa desses poucos, mas entusias-mados, espíritas poloneses é prepa-rar traduções completas e de boaqualidade de obras espíritas que aseu tempo virão a influir no pensa-mento do povo polonês. É um tra-balho que deve ser feito de modo prudente e sistemático, visando a proteger os valores culturais da so-ciedade polonesa e prepará-la parao conhecimento da Doutrina Espí-rita. É provável que somente as ge-rações futuras possam colher os fru-tos resultantes do trabalho que agora é feito pelos pioneiros do Es-

 piritismo na Polônia, os quais estãorecebendo um enorme auxílio de es- píritas do Brasil, da França, da In- glaterra, sob a forma de livros, con-selhos, preces e bons votos, sempre úteis a tão nobre ideal. A semeadu-ra está iniciada e os frutos, cedo outarde, certamente surgirão.

Para mim, portanto, revestem--se de grande importância a nossacorrespondência, nossos contatos e a

recíproca colaboração. Não obstan-te a imensa distância que nos sepa-

ra, lançamos juntos as sementes de nosso ideal comum, e um trabalhodessa natureza é, sem dúvida al- guma, fonte de grande felic idade.Ele, porém, não poderia ser tão fe-

cundo, se não pudéssemos comuni-car-nos através do esperanto.

 Ainda uma vez mais, agrade-ço-lhe por tudo, desejando-lhe, e atodos os samideanos do Brasil, as bênçãos de Deus. Até breve! 

Przemek.

Os pensamentos negativos ope-ram em nosso estado íntimodeterminada perturbação, ins-

taurando desarmonias de grandesproporções nos centros da alma eprovocando lesões funcionais va-

riadas. Deste modo, estabelecem ful-cros mórbidos de natureza singularno arcabouço físico, impondo às cé-lulas a desarmonia pela qual se vul-nerabilizam os recursos de defesa,sedimentando-se campo fértil à pro-liferação de bactérias patogênicasnos tecidos menos propensos à de-fesa.

Quaisquer enfermidades sur-gem como efeitos, residindo a cau-

sa no desequilíbrio dos reflexos davida interior, uma vez que os sinto-mas mentais depressivos influen-ciam as células fisiológicas.

Óbvio que no desleixo da nu-trição o corpo paga pesados tribu-tos de sofrimento, posto que pos-sibilita a infestação de grande quan-tidade de microorganismos patogê-nicos que, em se instalando nas cé-lulas orgânicas, podem induzir às

moléstias infecciosas de múltiploscaracteres. Porém, não é somentedessa forma que se originam osprocessos patológicos multiformes.

Nossas emoções mais profun-das, quaisquer que sejam, geramtambém agudas enfermidades.

Os reflexos dos sentimentos e

pensamentos menos dignos quealimentamos se voltam sobre nósmesmos, depois de transformadosem ondas mentais, tumultuandonossas funções neurológicas, e essesreflexos inconseqüentes, derraman-do-se sobre o tecido cortical, ges-tam alucinações que podem variardo medo manifesto ao estado neu-rótico, situação em que os obsesso-res nos atingem com sugestões des-

truidoras, diretas ou indiretas, con-duzindo-nos a deploráveis fenôme-nos de descontrole psicoemocional.

Mister é não esquecer jamaisque apenas o sentimento de amorcristão pode impulsionar o corretopensamento, sem os quais adoece-mos pela insuficiência de equilíbrioíntimo, imprimindo no corpo físi-co as distonias e as variadas patolo-gias que lhe são conseqüentes.

Como estamos

pensando? Jorge Hessen 

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Hoje é dia de festa nos asilosconsagrados ao repouso dosmortos. A multidão se apres-

sa, os trajes brilham; percorrem-seos campos fúnebres a passos lentos,e parece que esta afluência deveriaencher de alegria as almas dos quenão pertencem mais ao número dosencarnados! Entretanto, quão pou-co numerosos são os Espíritos quedo espaço vêm reunir-se aos seusantigos amigos da Terra! Os huma-

nos são inumeráveis, quase alegresou no mínimo indiferentes; umzumbido imenso se eleva acima damultidão. Mas, de que se ocupa to-da essa gente? que sentimento asreúne? Pensam nos mortos? Sim,pois que vieram! Mas o pensamen-to salutar bem depressa se eclipsou;e se alguns nomes inscritos sobre aslápides tumulares provocam as ex-clamações do transeunte indiferen-

te, ele lança no éter com a fuma-ça de seu charuto algumas refle-xões banais, alguma gargalhada semeco!...

Nessa balbúrdia nascem todosos pensamentos, todos os sentimen-tos, todas as aspirações, exceto o re-colhimento, o sentimento religio-so, a aspiração à comunhão íntimacom os que partiram. Muitos curio-sos, mas bem poucos possuem a re-

ligião da lembrança!... Por isso, osmortos que não se sentem chama-dos estão por toda parte, menos noscemitérios, e a maioria dos que pla-nam no espaço ou circulam nas es-treitas aléias, estão fatalmente chum-bados pelas paixões terrestres aosdespojos mortais que outrora tantoamaram.

Risos, discursos inúteis entre osvivos; gritos de dor e de raiva namaior parte dos mortos; um espetá-culo sem interesse para todos, umavisita formal para alguns, hábito pa-ra a maioria, eis o quadro que apre-sentam os cemitérios parisienses nodia dos mortos!...

E, contudo, há festa na Terra eno espaço; festa para os Espíritosque, havendo cumprido a missãoque aceitaram, expiado o mal deoutra existência, voltaram ao mun-do da vida real e normal comalguns florões a mais. É festa paraos santos que a Humanidade intei-ra consagrou, não por uma abnega-ção sem utilidade e um isolamentoegoísta, mas pelo devotamento a to-

dos, por seus trabalhos fecundos,por seus ensinos perseverantes, porsua luta incessante contra o mal,pelo triunfo do bem. Para estes háfesta no espaço, como há festa naTerra para todos os que, esclareci-dos pelas grandes leis que regem osuniversos, clamam em seu foro ín-timo pela visita dos que tanto ama-ram e que não estão perdidos paraeles. Há festas para os espíritas que

crêem e praticam. Há festa para osEspíritos que instruem e que conti-nuam no espaço a obra de regene-ração começada neste mundo!...

Ó, meus amigos, no campodos mortos, nestes dias consagradospelo uso, tudo é do domínio damorte em seu sentido mais restri-to!... A vestimenta abandonada pe-lo Espírito não existe mais e não hácrença alguma no coração dos visi-tantes; são mortos que só têm da vi-da as aparências terrestres, pois avida real, a grande vida da alma ain-da é desconhecida para o maior nú-mero.

Nós vivemos, nós que pensa-

mos, que progredimos, que traba-lhamos juntamente para estabelecera base dos progressos futuros; e elesmorrem, ou, melhor, vão morrer nopassado para nascer no futuro, gra-ças ao Espiritismo, que traz em seuseio a fonte fecunda de toda per-feição.

 A morte não existe; a desagrega-ção que leva este nome restitui à ter-ra os elementos que o corpo material

aí hauriu; mas a alma em que residea vida, a alma que é o ser integral,edifício incessantemente aperfeiçoa-do pela provação humana, emergeno limiar da morte para a vida real esem fim da erraticidade!...

Moki 

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita ) –dezembro de 1869, p. 513-515, traduçãode Evandro Noleto Bezerra – Ed. FEB.

PÁGINAS DA R EVUE S PIRITE 

A festa dos mortos não é nos cemitérios

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Ciência, do latim scientia, co-nhecimento exato de certascoisas, conforme alguns lexi-

cólogos, é a primeira das três pala-vras que exprimem o tríplice aspec-to sob o qual se apresenta a Dou-trina Espírita, composta pelos trêspilares que a sustentam: Ciência,Filosofia e Religião. Entendemosque todos estes três aspectos, gera-dores de conseqüências morais paraa Humanidade, são importantes, deacordo com a linha de pensamento

exposta a seguir.

Ciência

Se entendemos por ciência asistematização lógica dos conheci-mentos resultantes da observação eda experiência, orientados e dirigi-dos convenientemente, então, nãohá dúvida: o Espiritismo é tambémciência. Ademais, se a ciência tem

como finalidade a rigorosa investi-gação dos fatos observáveis, decor-rentes de causas ignoradas, cuja ex-tensão e natureza procura conhecera fim de deduzir suas leis, o Espiri-tismo, ainda assim, é ciência, e co-mo tal requer, por força de seus mé-todos comprovadamente experi-mentais, o lugar que lhe deve caberna classificação das ciências ditaspositivas.

 As características científicasda Doutrina Espírita são evidentesquando examinamos o intercâmbioexistente entre encarnados e de-sencarnados. Neste caso, ela é puraciência quando comprova, experi-mentalmente, a existência do Espí-rito e sua sobrevivência ao desapa-recimento do corpo físico, por meiodos fenômenos espíritas.

Como se sabe, a pesquisa séria

e toda a análise criteriosa conduzemsempre o homem ao encontro daverdade. Eis por que Allan Kardec,observando os fenômenos das cha-madas “mesas girantes”, chegou aconclusões tão significativas capazesde levá-lo a codificar o Espiritismo.Por outro lado, embora os princí-pios da Doutrina Espírita sejamcomprovados experimentalmente,o que lhe confere o caráter científi-

co, podemos afirmar que ela é es-sencialmente filosófica.

Diante de tais colocações, con-cluímos que o Espiritismo comoCiência estuda e pesquisa os fenô-menos espíritas como fatos naturaise universais perfeitamente observá-veis, e prova que os Espíritos exis-tem e são imortais, sendo eterna avida.

Filosofia

O Espiritismo, enquanto Filo-

sofia, define as responsabilidades doEspírito encarnado e desencarnado,estabelecendo uma regra moral devida e comportamento para os se-res da Criação, dotados de razão econsciência.

 Ao encontro dessa assertiva, aquestão 614, de O Livro dos Espí-ritos , nos mostra que “a lei naturalé a lei de Deus. É a única verdadei-ra para a felicidade do homem. In-

dica-lhe o que deve fazer ou deixarde fazer e ele só é infeliz quandodela se afasta”.

Portanto, o aspecto filosóficodo Espiritismo está no estudo quefaz do homem, em sua dimensão fí-sica e espiritual, da sua origem, dasua destinação e de seus problemas;e no estudo de Deus, Criador detodas as coisas e que tudo dirige in-teligentemente. >

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O Espiritismo como

Ciência estuda epesquisa os

fenômenos espíritas

como fatos naturais e

universais

Qual o aspecto mais importantedo Espiritismo?Gerson Simões Monteiro 

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Podemos dizer, então, que oEspiritismo enquanto Filosofia com-

preende todas as conseqüências mo-rais que emanam da interpretaçãodos fatos naturais e universais, per-mitindo ao Homem chegar, pela re-flexão e pela razão, à verdade a res-peito de si mesmo, da Vida, doMundo e de Deus.

Religião

Vale lembrar que, em todas asobras da Codificação, Allan Kardecevidenciou o caráter religioso doEspiritismo, como demonstraremosatravés das citações que faremos aseguir:

a) “O Espiritismo é forte por-que assenta sobre as próprias ba-ses da religião: Deus, a alma, as pe-nas e as recompensas futuras (...).” –O Livro dos Espíritos (Conclusão,item V);

b) “(...) o Espiritismo repousasobre as bases fundamentais da re-ligião e respeita todas as crenças;que um de seus efeitos é incutirsentimentos religiosos nos que osnão possuem, fortalecê-los nos queos tenham vacilantes.” – O Livrodos Médiuns (Primeira Parte, capí-tulo III, item 24);

c) “A Ciência e a Religião são

as duas alavancas da inteligênciahumana: uma revela as leis do mun-do material e a outra as do mundomoral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus , nãopodem contradizer-se.” – O Evan- gelho segundo o Espiritismo (Capí-tulo I, item 8);

d)“(...) o Espiritismo vem oporum dique à difusão da increduli-

dade (...).” – O Céu e o Inferno(1aParte, capítulo I, item 4);

e)“O Espiritismo, longe de ne-gar ou destruir o Evangelho, vem,ao contrário, confirmar, explicar edesenvolver, pelas novas leis da Na-tureza, que revela, tudo quanto oCristo disse e fez (...).” – A Gênese (Capítulo I, item 41);

f) “(...) o Espiritismo é umareligião (...) e nós nos vanglo-riamos por isto (...).” – Discursode 1o de novembro de 1868, pro-nunciado na Sociedade Parisiensede Estudos Espíritas e publicadona Revista Espírita (Dezembro de1868, p. 491);

g) “(...) o Espiritismo (...) vemconfirmar (...) todas (...) as verda-des fundamentais da religião (...).”– O que é o Espiritismo (TerceiroDiálogo); e,

h) “O Espiritismo (...) não vemdestruir os fatos religiosos, porémsancioná-los, dando-lhes uma expli-

cação racional.” – Obras Póstumas (Primeira Parte, Manifestações dos

Espíritos, item 7).Por essas afirmações muito cla-

ras do Codificador, podemos dizerque a Religião que se traduz em féna existência de Deus, na certezada imortalidade da alma, na gran-deza da vida aqui e no Mais Além,é o fator decisivo que garante a vi-da espiritual estruturada em nossomundo, principalmente por inter-médio da vida social e familiar.

Pelo visto, o Espiritismo comoReligião compreende os deveres doHomem para com Deus, não admi-te liturgia ou culto exterior, prega afé raciocinada e repousa sobre as ba-ses fundamentais da crença religio-sa: Deus, a alma e a vida futura.

Conclusão

 Após tais considerações, pode-

mos responder à pergunta-título des-te artigo com o pensamento do Ben-feitor espiritual Emmanuel, à ques-tão 260 de O Consolador , livro psi-cografado pelo médium Chico Xa-vier ao ser perguntado: “Em face daCiência e da Filosofia como inter-pretar a Religião nas atividades davida?” A resposta é cabal:

“Religião é o sentimento Di-vino, cujas exteriorizações são sempre

o Amor, nas expressões mais subli-mes. Enquanto a Ciência e a Filo-sofia operam o trabalho da experi-mentação e do raciocínio, a Religiãoedifica e ilumina os sentimentos.

 As primeiras se irmanam naSabedoria, a segunda personifica o Amor, as duas asas divinas com quea alma humana penetrará, um dia,nos pórticos sagrados da espiritua-lidade.”

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Enquanto a Ciência

e a Filosofia operam

o trabalho da

experimentação e

do raciocínio,

a Religião edifica

e ilumina os

sentimentos

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1. Justiça e direitos naturais(questões 873 a 879): Allan Kardecinicia o capítulo XI, da Parte 3a,com a seguinte indagação: “O sen-timento da justiça está em a na-tureza, ou é resultado de idéiasadquiridas?” Os Espíritos Revelado-res respondem com ênfase: “Está de tal modo em a natureza, que vos re-voltais à simples idéia de uma in- justiça. É fora de dúvida que o pro- gresso moral desenvolve esse sentimen-to, mas não o dá.” Esclarecem que“Deus o pôs no coração do homem.” E enfatizam: “Daí vem que, fre-qüentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas de justiça do que nos que  possuem grande cabedal de saber.” 

Então, na segunda questão(874), o Codificador pergunta:

“Sendo a justiça uma lei da Na-tureza, como se explica que os ho-mens a entendam de modos tão dife-rentes, considerando uns justo o quea outros parece injusto?” Sempreatenciosos respondem que “(...) aesse sentimento se misturam muitas  paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens ve- jam as coisas por um prisma falso” .

 Allan Kardec, buscando maisesclarecimento para melhor percep-ção desse relevante tema, pergun-ta ainda aos Espíritos Superiores(questão 875): “Como se pode de-finir a justiça?” Eles respondemcom amor e sabedoria: “A justiçaconsiste em cada um respeitar os di-reitos dos demais.”  Para que ne-nhuma dúvida pudesse ficar na men-

te de alguém, o mestre Kardec insis-te: “Que é o que determina esses di-reitos?” Respondem os porta-vozesda Espiritualidade superior: “Duas coisas: a lei humana e a lei natu-ral.” Os homens, porém, visando aseus próprios interesses e costumescaracterísticos, estabeleceram direitosmutáveis.

Comparemos as leis de hoje,mesmo imperfeitas, com as leis que

dominavam na era medieval, cujasmonstruosidades vistas agora, atra-vés da História, eram aceitas como justas naquele tempo! Analisemoscom cuidado e à luz do que nos en-sina o Evangelho, as questões se-guintes (876 a 879), cujas respostaslongas denotam o cuidado com queforam respondidas.

Quanto à base da justiça se-gundo a lei natural (questão 876),

atentemos ao que nos determina oCristo: “Queira cada um para os outros o que quereria para si mes-mo.” Onde está a dificuldade paraisso? Só há uma resposta: no egoís-mo, que é o mal de todos os males! Allan Kardec, em sua Nota inspi-radamente o explica: “(...) A subli-midade da religião cristã está emque ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.” 

Viver, por exemplo, em so-ciedade (questão 877) é uma neces-sidade que exige obrigações naturais,conforme concordam os Espíritos Re-veladores, salientando que a princi-pal ou primeira das obrigações é res-peitar o direito dos semelhantes. Einformam que “(...) a causa da per-turbação e da confusão em que vi-vem as sociedades humanas” está no

fato de a maioria dos homens nãopraticar a lei de justiça.Na questão 878, ao indagar o

Codificador acerca de o homem en-ganar-se quanto à extensão do seudireito, e que é o que melhor faráconhecer o limite desse direito, res-pondem os Espíritos ser dever de talhomem reconhecê-lo sempre ao seusemelhante, em idênticas circuns-tâncias e reciprocamente. >

Repensando KardecDa Lei de Justiça, de Amore de Caridade

(O Livro dos Espíritos , questões 873 a 892)Inaldo Lacerda Lima 

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Todavia, aplicando a psicologiaao que conhece dos homens, faz ver

que se cada um atribuir a si mesmodireitos iguais aos dos seus seme-lhantes, que virá a ser da situaçãoentre superiores e subordinados?Não ocorreria a anarquia de todosos poderes? Eles respondem: “Os direitos naturais são os mesmos  para todos os homens, desde os de condição mais humilde até os de  posição mais elevada.” Claro que talresposta era esperada pelo Codifi-cador. Mas convinha registrar queDeus não fez a uns mais puros quea outros. Os homens é que criaramseparações e diferenças em suas ins-tituições. Encerram os Espíritos aresposta com esta sentença: “(...) Asubordinação não se achará com- prometida, quando a autoridade  for deferida à sabedoria.” 

Quanto a “qual seria o caráterdo homem que praticasse a justi-ça em toda a sua pureza” (questão

879), respondem os Espíritos Su-periores: “O do verdadeiro justo, aexemplo de Jesus, porquanto prati-caria também o amor do próximoe a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.” 

2. Direito de propriedade.Roubo (questões 880 a 885): Ini-cialmente, indaga o Codificador:“Qual o primeiro de todos os di-reitos naturais do homem?” E a res-

posta vem de imediato: “O de vi-ver.”  Daí não caber a ninguém aação de atentar contra a vida dosemelhante, nem de “comprometer--lhe a existência corporal” , confor-me ainda ocorre em todo este sofri-do planeta, inclusive aqui, nestepaís destinado pelo Cristo a ser, nofuturo, a pátria do Evangelho e ocoração do mundo, com o esforçoe colaboração dos verdadeiros es-

píritas e dos homens de boa von-tade, que já são muitos!

O direito de viver (questão881) – confirmam os Espíritos Re-veladores – dá ao homem o direitode acumular bens, “(...) mas ele deve fazê-lo em família, como aabelha, por meio de um trabalhohonesto, e não como egoísta” , doque até algumas espécies irracionaisdão bons exemplos.

Indaga Allan Kardec (questão882) se a todo homem assiste o di-reito de defender os bens que hajaconseguido juntar através do tra-balho honesto. E os Espíritos Supe-riores o confirmam: “Não disse Deus:‘Não roubarás?’ E Jesus não disse:‘Dai a César o que é de César?’” 

Há, porém, os desperdiçado-res, que esquecem a previdência echamam de egoístas os que guar-dam para as ocasiões difíceis algoque lhes haja sobrado dos haveresdiários! E Kardec pergunta (questão

883): “É natural o desejo de pos-suir?” “Sim, [respondem eles] mas quando o homem deseja possuir  para si somente e para sua satis- fação pessoal, o que há é egoísmo.” 

Kardec procura ouvir dos Es-píritos tudo o que possa contribuirpara os nossos acertos, e indaga de-les se não é legítimo o desejo depossuir naquele que tendo de queviver a ninguém é pesado. Obtém

como resposta que “há homens in-saciáveis, que acumulam bens semutilidade para ninguém, ou apenas  para saciar suas paixões” . E é ver-dade. Observamos isso no compor-tamento social de muitas classes, atémesmo daqueles que têm o deverde exemplificar. Àquele que juntacom objetivos morais sérios, comvistas ao bem, é-lhe válida a parci-mônia.

Os Espíritos Superiores res-pondem ao mestre Kardec (questão

884) que “propriedade legítima só é a que foi adquirida sem prejuízode outrem” . Ele nos chama a aten-ção para a questão 808, que trata davelhacaria e do roubo.

Em relação à última questãodeste item (885), asseguram-nos osEspíritos Reveladores que “(...) tu-do que legitimamente se adquire constitui uma propriedade .  Mas,como havemos dito, a legislação dos homens, porque imperfeita, consagramuitos direitos convencionais (...)”.

3. Caridade e amor do próxi-mo (questões 886 a 889): “Qual overdadeiro sentido da palavra ca-ridade , como a entendia Jesus?” A esta indagação de Allan Kardec(questão 886), os Espíritos respon-dem: “Benevolência para com todos,indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.” É a cari-dade moral, que atende às necessi-

dades do Espírito imortal e não àscarências do homem temporal.

Ficamos a refletir sobre cadaexpressão da Nota do Codificador,a esta questão, na qual ele destacaque a caridade, segundo Jesus, “(...)abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes,sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos  prescreve a indulgência, porque de 

indulgência precisamos nós mesmos,e nos proíbe que humilhemos os de-safortunados, contrariamente ao que se costuma fazer”.

Na questão 887, os EspíritosSuperiores, diante da indagação deKardec, concordam que não se podeoferecer a um inimigo um amor ter-no e apaixonado, esclarecendo queesse não foi o pensamento do Cris-to. Todavia, “(...) amar os inimigos 

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é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem” . Se assim procedessem

todos os homens, estaria definiti-vamente resolvido o problema daPaz e estabelecida a fraternidade naTerra.

Em seguida (questão 888), per-gunta Kardec: “Que se deve pensarda esmola?” Eles respondem: “Con-denando-se a pedir esmola, o homemse degrada física e moralmente: em-brutece-se.” Com isso, entendemosque esmola nem sempre é caridade,mas humilhação. E aqui temos umassunto da área da Sociologia, daPolítica e dos governos, pois competeao Estado assegurar existência dignaaos que já não podem trabalhar, e fo-mentar meios de educação e desen-volvimento social a fim de que nãofalte trabalho para ninguém.

Os Espíritos não são contra aesmola, mas sim a maneira pelaqual ela é feita. Vale, aqui, meditar-mos atentamente na resposta de

Vicente de Paulo, em cujo teor háexpressões que merecem ser bem re-fletidas por todos os homens, emsua sublime e caridosa lição.

Respondendo à questão 889,que encerra o assunto sobre a es-mola, concordam os Espíritos Re-veladores que há homens condena-dos à mendicância por sua própriaculpa, “mas, se uma boa educa-ção moral lhes houvera ensinado a

 praticar a lei de Deus, não teriamcaído nos excessos causadores da sua perdição”.

4. Amor materno e filial (ques-tões 890 a 892): É muito interes-sante a primeira pergunta (890) domestre Allan Kardec, iniciando oassunto: “Será uma virtude o amormaterno, ou um sentimento ins-tintivo, comum aos homens e aosanimais?” Respondem os Espíritos:

“Uma e outra coisa.” E estabelecemdiferença entre o amor dos seres hu-

manos e de nossos irmãos irracio-nais. Nestes, o amor se limita às ne-cessidades físicas, mas, no homem,persiste pela vida inteira.

Na questão 891, refere-se oCodificador a mães que odeiamseus filhos, às vezes desde a infân-cia. Os Espíritos Superiores atri-buem tal fato à prova que o Es-pírito do filho escolheu por tersido mau pai ou mãe perversa,ou filho mau noutra existência,uma vez que Deus não permite

que mal algum alguém sofra ime-recidamente.

 Assim (questão 892), quandoos filhos causam desgostos a seuspais, não cabe a estes abandoná-losou deixar de assisti-los, porque pa-ternidade ou maternidade repre-sentam encargos que são dados aoser humano em missão, e ai daque-les que os descumprem. “(...) De-mais, [concluem eles] esses desgos-tos são, amiúde, a conseqüência domau feitio que os pais deixaramque seus filhos tomassem desde oberço. Colhem o que semearam.” 

DesportosSe há esportes que auxiliam o corpo, há esportes que ajudam a

alma... A marcha do dever retamente cumprido. A regata de suor no trabalho.O exercício do devotamento ao estudo.O salto do esforço, acima dos obstáculos. A maratona das boas obras.O torneio da gentileza.O mergulho no silêncio, diante da injúria.O nado da paciência nas horas difíceis. A ginástica da tolerância perante as ofensas.O vôo do pensamento às esferas superiores. A demonstração de resistência moral nas provas de cada dia.Todos esses desportos do espírito podem ser praticados em todas

as idades e condições. E creia que qualquer campeonato num deles seráprêmio de luz em seu coração, a brilhar para sempre.

André Luiz 

Fonte: XAVIER, Francisco C.; VIEIRA Waldo. Estude e Viva . 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, p. 86.

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Formação de Trabalhadores da UnificaçãoPromovido pelo Conselho Federativo Nacional da FEB,realizou-se em Recife, nos dias 24 e 25 de setembro pas-sado, o Curso de Formação de Trabalhadores da Uni-ficação, destinado aos representantes das Federativas Es-taduais do Nordeste. O Curso teve como eixo temáticoo pensamento de Kardec na Viagem Espírita de 1862 ,desdobrado em três módulos – Unidade Doutriná-ria, União dos Espíritas e Organização do MovimentoEspírita –, sendo coordenado por Altivo Ferreira (FEB)e ministrado por Antonio Cesar Perri de Carvalho eMarco Leite (FEB), Creuza Santos Lage (BA ) e SandraMaria Borba Pereira (RN). Participaram dirigentes eassessores das nove Federativas que integram a Região: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambu-co, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

R. G. do Sul: Congresso Médico-Jurídico-EspíritaÉtica da Vida: uma visão médico-jurídico-espíritado ser humano é o tema do I Congresso Médico-Ju-rídico-Espírita do Rio Grande do Sul, que ocorrerános dias 26 e 27 deste mês, no centro de eventos do

Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, promovi-do pelas instituições Associação Jurídico-Espírita doRio Grande do Sul ( AJERS), Hospital Espírita dePorto Alegre e Federação Espírita do Rio Grande doSul (FERGS). As palestras, cujo temário se funda-menta no tema geral, serão proferidas por: Dival-do Pereira Franco, Marlene Nobre, Sérgio Lopes,Izaias Claro, Júlia Nezu de Oliveira, Décio Iandoli Jr., João Alessandro Müller, Cícero Marcos Teixeirae Sandra Della Pola da Silva.

Holanda: Encontro EspíritaO Movimento Espírita holandês reuniu-se, no dia 25de setembro, no 5o Encontro Nacional da Holanda,que teve como tema central  A Caridade . O eventocontou com tradução simultânea do português para oholandês. (SEI .)

Paraná: Inter-Regional NorteRealizou-se em Apucarana, no Colégio Estadual Poli-valente, em 30 de outubro, a Inter-Regional Norte,composta pelas 4a, 5a e 6a UREs (Uniões Regionais

Espíritas), com sede respectivamente em Jacarezinho,Londrina e Apucarana. O programa constou de Semi-nário Geral (Maria Helena Marcon), e Seminários Se-toriais das Áreas: Administrativa/Institucional (LuizHenrique da Silva e Francisco Ferraz Batista), Doutri-nária/Difusão (Terezinha Colle e Wilson Reis Filho),Infância e Juventude (Adriano Greca) e Serviço de Assistência Espírita (Shou Wen Allegretti e ZenaideSimões).

Pernambuco: FEP realiza seminários A Federação Espírita Pernambucana promove nos dias19 e 20 deste mês, com a expositora Marlene Nobre,Presidente das Associações Médico-Espíritas do Bra-sil e Internacional, dois seminários: Obsessão e suas  Máscaras , no Auditório do Instituto Histórico e Geo-gráfico de Vitória de Santo Antão, e  Autoconheci-mento: Fonte de Saúde e Equilíbrio, em sua sede emRecife.

Ceará: Estação Kardec A Federação Espírita do Estado do Ceará lançou o

projeto Estação Kardec , que visa estimular o estudo ea reflexão sobre as obras do Codificador nas institui-ções espíritas cearenses. O tema deste ano é O Cen-tro Espírita segundo Allan Kardec , utilizando comobase de estudo o livro O Céu e o Inferno, editado há140 anos, e será abordado através de fóruns de deba-tes nos órgãos de Unificação e de palestras nas casasespíritas.

Matão (SP): Centenário de O Clarim  A solenidade comemorativa do Centenário do jornal

O Clarim movimentou a cidade de Matão nos dias12, 13 e 14 de agosto, e atraiu 900 participantes de3 países (Itália, Peru e Suécia) e de 14 Estados brasi-leiros, compreendendo 112 cidades. O Presidente daFEB e Secretário-Geral do Conselho Espírita Inter-nacional, Nestor João Masotti, participou da soleni-dade. O tema do evento – Dimensão Espiritual daNova Era – foi desenvolvido por: Divaldo PereiraFranco, José Raul Teixeira, Marlene Nobre, IrvêniaPrado, Moacir Costa Lima, André Luiz Peixinho, Alberto Almeida e Sérgio Felipe de Oliveira.

SEARA ESPÍRITA

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