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reformador setembro 2010 - a.qxp

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 128 / Setembro, 2010 / N o 2.178

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Número avulso R$ 55,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

Editorial

Atualidade do Espiritismo

Entrevista: Wagner de Assis

Filme Nosso Lar destaca a renovação espiritual

Presença de Chico Xavier

A Independência – Humberto de Campos

Esflorando o Evangelho

Obreiros – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

95o Congresso Universal de Esperanto, em Cuba –

Affonso Soares

Seara Espírita

Lei de Reprodução – Christiano Torchi

Comportamento preconceituoso (Capa) – Victor Hugo

O apelo de Cáritas – Richard Simonetti

A finalidade dos romances de Emmanuel –

Flávio Rey de Carvalho

A isso fomos chamados – Lucy Dias Ramos

Sempre chamados – André Luiz

Em dia com o Espiritismo – Evolução epigenética –

Marta Antunes Moura

A pessoa do futuro – Cezar Braga Said

O mandamento maior – Allan Kardec

Luís Olímpio Teles de Menezes – Adilton Pugliese

Bendito sejas – Maria Dolores

Tributo a Chico Xavier na ONU

O trabalho voluntário na Casa Espírita – o voluntariado

do amor – Xerxes Pessoa de Luna

A progressividade “homeopática” das revelações –

Rogério Coelho

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Editorial

Atualidadedo Espiritismo

m A Gênese, no seu capítulo I – “Caráter da Revelação Espírita”, Allan Kardec

mostra, com clareza, o raciocínio lógico que deu condições sólidas para que

os ensinos espíritas se consolidem como expressão da verdade, confirmados

pelos avanços da Ciência.

De início, Kardec registra: “O caráter essencial da revelação divina é o da eterna

verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de

Deus”. (Op. cit., item 10.)

Com base em todo trabalho de pesquisa e observação que realizou desde os pri-

meiros contatos com o fenômeno das mesas girantes, constata que “o que caracteri-

za a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo

a sua elaboração fruto do trabalho do homem”. (Op. cit., item 13.)

Na sequência observa que “caminhando de par com o progresso, o Espiritismo ja-

mais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro

acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se

revelar, ele a aceitará”. (Op. cit., item 55.)

Em sua estrutura solidamente assentada na busca da verdade, a Doutrina

Espírita está em condições de melhor esclarecer os homens em seus questionamen-

tos existenciais: o que sou, de onde vim, para onde vou, qual o objetivo da existên-

cia terrena, qual a razão da dor e do sofrimento...

Cabe-nos lembrar que nosso mundo está em fase de transição, de expiações e pro-

vas para regeneração, como se observa na Codificação Espírita, e que para bem

assistir aos homens, nesta fase, a Providência Divina enviou à Terra o Consolador

que Jesus havia prometido.

Atender, pois, ao ser humano, em suas necessidades de esclarecimento, assistên-

cia e orientação, em caráter de urgência, é dever de todos os já beneficiados com o

conhecimento da Doutrina Espírita e com o trabalho pioneiro e abnegado dos que

participaram de sua Codificação e se empenharam na sua difusão, colocando a sua

mensagem consoladora e esclarecedora ao alcance e a serviço de todas as pessoas,

indistintamente.

E

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o tratar das Leis Morais,em O Livro dos Espíritos,Kardec inicia o estudo da

Lei da Reprodução (questões 686a 694), indagando dos Espíritossuperiores sobre a “População doglobo”, “Sucessão e aperfeiçoa-mento das raças” e “Obstáculosà reprodução”.

A reprodução é uma Lei Natu-ral imprescindível. Destinando-seà perpetuação das espécies, semela o mundo corporal não se sus-tentaria. Se do ponto de vista bio-lógico, o objetivo da reproduçãoé a procriação de novos indivíduos,do ponto de vista espiritual, a re-produção é a Lei Moral que via-biliza a reencarnação dos seres,para que estes progridam. Por is-so, em regra, a encarnação é umacondição “inerente à inferiorida-de do Espírito”.1 A reprodução apli-ca-se apenas aos seres encarnados,porque “os Espíritos [princípiointeligente] não têm sexo [e] não

se reproduzem”.2 A esse respeito,nunca é demais recordar as liçõesinesquecíveis do Codificador,Allan Kardec (1804-1869), inspi-radas nos ensinos dos Espíritossuperiores:

A verdadeira vida, tanto do ani-

mal como do homem, não está

no invólucro corporal, do mesmo

modo que não está no vestuá-

rio. Está no princípio inteligen-

te que preexiste e sobrevive ao

corpo. Esse princípio necessita

do corpo, para se desenvolver

pelo trabalho que lhe cumpre

realizar sobre a matéria bruta.

O corpo se consome nesse

trabalho, mas o Espírito não

se gasta; ao contrário, sai dele

cada vez mais forte, mais lúci-

do e mais apto. [...]3

O fluxo migratório entre os doismundos – o espiritual e o físico – éconstante. Diariamente, ocorrem a desencarnação e a reencarnaçãode milhares de criaturas. A ques-tão demográfica tem sido coloca-da na pauta de muitas organiza-ções internacionais, pois existe apreocupação, que é antiga, de queo excesso de população da Terrapoderia trazer um colapso ecoló-gico-social, em virtude da satura-ção do meio ambiente. Entretan-to, Deus, em sua suprema sabedo-ria, nunca desguarneceu a Huma-nidade dos recursos necessáriospara vencer os seus desafios.

Thomas Malthus, economistabritânico (1766-1834), baseando--se em cálculos matemáticos, pre-viu um futuro aterrador para aHumanidade, pois, segundo seusensaios, publicados em 1798, den-tro dos 100 anos seguintes (até1898, portanto), se exauririam osrecursos de subsistência aos habi-tantes do Planeta, visto que a po-pulação estaria aumentando nu-ma proporção muito maior doque a produção dos alimentos.

5Setembro 2010 • Reformador 333399

ACH R I S T I A N O TO RC H I

Lei deReprodução

1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. GuillonRibeiro. 52. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2009. Cap. 11, item 26, p. 249.

2Idem. O céu e o inferno. Trad. GuillonRibeiro. 60. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. P. 2, cap. 2, Sanson (III), item 11.

3Idem. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52.ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.Cap. 3, item 21.

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Felizmente, por uma série de fa-tores, entre os quais as inovaçõestecnológicas aplicadas na produçãoagrícola e industrial, não se con-sumou a catástrofe prevista, pelomenos dentro do período anun-ciado pelo economista, e há moti-vos para se acreditar que tambémnão ocorrerá no futuro, uma vezque o surgimento e a evolução dosseres vivos obedecem a um Plane-jamento Superior, como se infereda Providência, que é “a solicitudede Deus para com as suas criatu-ras”, a qual atua por meio das “leisgerais do Universo”.4 A propósito,Michael Behe, professor-adjuntode Bioquímica da Universidade deLehigh, Pensilvânia, EUA, levan-tou a hipótese da existência de um“Planejamento Inteligente” na evo-lução dos seres vivos, deduzida apartir da análise de dados científi-

cos, que encontra ressonância noensino dos Espíritos superiores.5

Admitindo, como admitimos, aexistência de uma Providência Di-vina perfeita em seus princípios,parece lógico a nós outros que odesenvolvimento das coisas ocorredentro desse Plano Diretor Maior,traçado com antecedência de bi-lhões de anos, que escapam às nos-sas acanhadas noções de tempo, emque estão previstas todas as variá-veis decorrentes da geração e re-produção dos seres vivos e de suaprópria imortalidade, tais como oaumento de população, a produçãode alimentos, as guerras, as agres-sões à Natureza, enfim, todos osfatores oriundos do uso devido ouindevido do livre-arbítrio, tudoconspirando a favor da emancipa-ção do Espírito imortal.

Isso não quer dizer que a Hu-manidade esteja indene dos erroscometidos, uma vez que a dor é amestra do aprendizado a infun-dir responsabilidade por seusatos, com escopo educacional ereeducacional.

As leis divinas são sábias eperfeitas, uma vez que, proven-

do os Espíritos de faculdadescocriadoras, possuem me-

canismos para encami-nhar a solução na-

tural desses pro-

blemas por meio dos próprios se-res inteligentes, sob o crivo da leide causa e efeito. De fato, as con-quistas científicas têm oferecidomeios de se controlar, responsavel-mente, a natalidade e aumentar aprodutividade dos alimentos. Se hámiséria e agressões ao meio am-biente, elas se devem mais ao egoís-mo humano do que ao crescimen-to populacional ou à falta de recur-sos financeiros e tecnológicos.

Os habitantes atuais da Terra nãoformam uma criação nova, mas,antes, são os mesmos Espíritos,descendentes aperfeiçoados dasraças primitivas, que substituírama força bruta pela utilização dointelecto. Se a população do Globotem aumentado, é porque a quan-tidade de habitantes do mundoespiritual é muito superior à deencarnados,6 e a evolução moral eintelectual dos Espíritos, em obe-diência ao Planejamento Divino,permite que haja o aumento gra-dual e tolerável do fluxo de reen-carnações. Acresça-se que a jorna-da evolutiva do Espírito não se dáapenas na Terra, mas também emoutros planetas e que há um inter-câmbio incessante entre os mun-dos, de modo que, enquanto unsestão imigrando para o nosso or-be, outros estão emigrando paramundos diferentes, conforme te-nham estacionado ou ascendidoem seu progresso.5In: A Caixa Preta

de Darwin. ApudNOBRE, Marlene.

O clamor da vida: re-flexões contra o aborto

intencional. São Paulo:FE Editora Jornalística

Ltda., 2000. Cap. 3, p. 70.

6XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Es-pírito Emmanuel. 13. ed. 1. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2010. Cap. 9. Apud ANDRA-DE, Hernani G. Você e a reencarnação.Bauru, SP: CEAC. Cap. 16, p. 187.

4KARDEC, Allan. A gênese. Trad. GuillonRibeiro. 52. ed. 2. reimp. Cap. 2, item AProvidência.

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Os Espíritos superiores esclare-cem que os avanços científicos nãosão contrários à Lei Natural, entreeles o aperfeiçoamento das raçasanimais e dos vegetais, porquanto“tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem éum instrumento de que Deus seserve para atingir os seus propósi-tos”, pois, “sendo a perfeição o ob-jetivo para o qual tende a Nature-za, favorecer essa perfeição é cor-responder aos desígnios de Deus”.7

Desde que respeite o semelhan-te e não abuse do poder que temsobre os demais seres vivos, é líci-to ao homem regular a reprodu-ção de acordo com as necessida-des e os princípios éticos, caso emque estará utilizando a inteligên-cia como um contrapeso instituí-do por Deus para restabelecer oequilíbrio entre as forças da Natu-reza. Quando entrava a reprodu-ção, desnecessariamente ou com

vistas apenas à satisfação da sensua-lidade, o homem, demonstrandoa predominância de sua naturezaanimal, adia as nobres realizaçõesda alma, acumulando sofrimentospara o futuro.

Enfim, a reprodução despontacomo Lei Moral que possibilita areencarnação do Espírito, o qualutiliza o corpo físico como veícu-lo da própria evolução intelecto--moral. Daí se compreende a razãopela qual os Espíritos superioresensinaram que estamos todos depassagem e que tanto o nascimentocomo a morte são apenas estágiosde transformação, confirmando apremissa de que “o corpo procededo corpo, mas o Espírito não pro-cede do Espírito, porque o Espí-rito já existia antes da formaçãodo corpo”.8

À medida que o Espírito progri-de, este necessita de corpos mais

aprimorados para continuar am-pliando suas faculdades. É por is-so que, tendo como intermediárioo perispírito e sofrendo a influên-cia do ser pensante, os corpos vãose tornando, à medida que o tem-po passa, mais aptos às novasaquisições do princípio inteligenteque, na verdade, é o responsável,pelo aperfeiçoamento das espécies.

Quanto mais cresce em conhe-cimento, mais o Espírito, encarna-do ou desencarnado, se torna res-ponsável pelas suas escolhas, sendo,por isso, o artífice de seu própriofuturo, que acontece dentro das ba-lizas do Planejamento Divino paraa felicidade de todos, sem esqueci-mento dos mínimos detalhes.

Se desejamos alcançar maiorqualidade de vida, em todos os as-pectos, devemos buscar conhecermais a nossa própria natureza es-piritual, o que nos propiciará me-lhor compreensão das Leis Moraisque nos regem, para que possa-mos, vivendo de acordo com suasdiretrizes, construir um mundofeliz para todos.

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7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 692.

8Idem. O evangelho segundo o espiritismo.1. reimp. atualizada. Trad. Evandro NoletoBezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.14, item 8, p. 290-291.

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processo antropossocio-psicológico do indivíduoé realizado com imensa

dificuldade, em razão do imposi-tivo de vencer os hábitos enfer-mos que o retêm nas etapas ven-cidas, e que lhe constituem vigo-rosas travas à aceitação e adapta-ção aos novos comportamentos.Como decorrência, o desenvolvi-mento intelectivo, tecnológico,científico dá-se com mais facilida-de e repercussão do que aquele denatureza moral, por proceder da li-bertação dos atavismos viciososque produzem as sensações de pra-zer e de gozo, em detrimento daharmonia que deve viger no serque se ilumina.

O brilho intelectual produz ajactância que proporciona a sober-ba e a presunção, desenvolvendono ser imaturo uma falsa superio-ridade, que observa as demais pes-soas como sendo pigmeus culturaisque não merecem consideração ouoportunidade, em razão do seu ní-vel de conhecimentos não acadê-micos, como se a sociedade se er-guesse sobre os alicerces da ilusãocultural e do predomínio do poder

temporal que todos perseguem co-mo maneira de ocultar os própriosconflitos, descarregando-os nodesdém dirigido àqueles que sãoconsiderados fracos e submissos.

Quando se trata de valores mo-rais e espirituais, normalmente avisão dos refugiados nos gabine-tes da pseudossabedoria presun-çosa, sempre distante das massasque despreza, é a de que esses va-lores são tidos como equipamen-tos próprios para vestir a ignorân-cia e mascarar os limites intelec-tuais em que se demoram.

Em todas as épocas o intelec-tualismo zombou da pequenez da-queles que não tiveram oportuni-dade de proporcionar brilho àmente, embora trabalhando emfavor do progresso sociológico emoral da Humanidade, sendodesconsiderados nas suas realiza-ções enobrecedoras.

Nada obstante, seres brilhantese ricos de sabedoria como Racineou Voltaire, Rousseau ou Clemen-ceau, Montaigne ou Auguste Com-te, Descartes ou Rossini, Flaubertou Chateaubriand, Debussy ouRenoir, ou Sartre, apenas para re-

cordar alguns gênios, devotaram-seà compreensão das necessidadeshumanas, observando e apoiandoas ideias revolucionárias pelo seuconteúdo libertador, embora nãosendo deles, desse modo cons-truindo a sociedade progressista edignificada pelas virtudes e pelaeloquência dos seus valores mo-rais e espirituais...

Têm sido esses eminentes pen-sadores e outros tantos cientis-tas e investigadores dos fenôme-nos da vida, artistas e sábios,santos e apóstolos, como Pascal,Pasteur ou Broca, Charcot ouPierre Curie, Rouget de Lisle ouMassenet, Jeanne d’Arc ou Vin-cent de Paul, Degas ou Gide, quecompreenderam os fenômenoshumanos e entregaram-se comdedicação total ao ministério deconstruir a sociedade da espe-rança, da beleza, do conheci-mento e do amor, a fim de quetodos os homens e mulheres domundo tivessem os mesmos di-reitos ao sonho e à realidade, àsaúde e à alegria, à vivência do bemna Terra livre do terror, do sofri-mento e da miséria...

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Comportamentopreconceituoso

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Dentre os grandes missioná-rios franceses representantes dainteligência superior da evolução,Allan Kardec destacou-se comocientista e apóstolo, educador emissionário de Jesus Cristo, apre-sentando o Espiritismo, no clímaxdo enflorescimento cultural naFrança e no mundo, como sendoa filosofia ética e moral mais bemurdida durante o século XIX paraservir de paradigma cultural esocial ao pensamento que mer-gulhava no materialismo dialé-tico e mecanicista, histórico eagressivo, fomentador deguerras e de desgraças, emnome da soberania ideoló-gica dos seus líderes apaixo-nados e de algumas naçõesenlouquecidas...

Concomitantemente ,ocorrendo a separação natu-ral que eclodiu nas academias,colocando as religiões totalitáriasnos seus devidos lugares, sem quese imiscuíssem nos negócios doEstado e no comportamento dasinvestigações a respeito do serhumano, da vida e do Cos-mo, surgiu, com AllanKardec, a doutrina li-bertadora de consciên-cias, capaz de proporcio-nar a fé raciocinada apoiadana experiência dos fatos, avançan-do com as conquistas da Ciêncianos seus diversos campos de in-vestigação, propondo novos e feli-zes conceitos perfeitamente deacordo com os avanços culturais efilosóficos de então.

Desdenhado pela presunção dealguns magister dixit, o Espiritismo

serviu de campo de experimen-tação para Charles Richet, GabrielDellanne, Osty, Geley, Mme.Bisson, na França, e no mundopara Crookes, Lombroso, Aksakofe toda uma elite de homens emulheres comprometidos com a verdade e não com os interes-ses mesquinhos da prepotênciahumana um tanto irracional.

Jean Jaurés, por exemplo, tornou--se mártir por defender a França docompromisso de entrar na guerrade 1914, sendo assassinado covar-demente pelos defensores da he-catombe, e, à semelhança de ou-tros mártires dos direitos huma-nos e da liberdade, ofereceu-se pa-

ra a preservação da vida, enquantoa sua foi sacrificada...

Resultado de profundas obser-vações no campo da mediunida-de, na França das liberdades de-mocráticas e das conquistas dabeleza e da sabedoria, essa nobreDoutrina lentamente foi transfor-mada em campo para inqualificá-veis comportamentos, quais os deexploração da ignorância por fal-sos médiuns e fantoches da indig-nidade, travestidos de espíritas...Os farsantes, aproveitando-se darespeitabilidade do Espiritismo,sendo alguns portadores de me-

diunidade atormentada ou di-rigida por Espíritos vulgares,zombeteiros e mistificado-res, passaram explorandoa ingenuidade da clientela

aturdida, contribuindo pa-ra a desmoralização, no país,

da obra gloriosa e libertadora daCodificação...

Por outro lado, pessoas afli-tas, que se lhe vincularam

aos postulados renovadores,não tiveram a coragemde despir-se das indu-

mentárias nefastas do orgu-lho, da presunção, e apropria-

ram-se do nome respeitável doEspiritismo para o adaptar a con-

ceitos e doutrinas outras, que lhespareciam simpáticas, numa mi-xórdia compatível com as suas ne-cessidades de sucesso, ora discor-dando da parte religiosa, momen-tos outros da científica e até mes-mo da filosófica, para criarem gru-pos de investigadores, alguns ines-crupulosos, gerando contínuas elamentáveis discórdias na grei.

Allan Kardec,missionário francês

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Por outro lado, a partir da Guer-ra Franco-prussiana de 1870-1871e as que a sucederam, o país ficouassinalado pelo sofrimento, e omau exemplo de alguns religiosos,que fugiram dos deveres de ampa-rar as ovelhas dos seus rebanhos,geraram a animosidade a todo equalquer movimento portador depropostas ético-morais e de reli-giosidade doutrinária, ampliandoa área do materialismo e do exis-tencialismo, de modo que o ime-diato passou a dominar as mentese a emocionar os sentimentos.

– Viver por viver é gozar –passou a ser normativaexistencial de milhõesde pessoas, não ape-nas na França mas emtodo o mundo.

À medida que as comunicaçõese o intercâmbio de ideias torna-ram-se mais fáceis e presentes emtodos os momentos, a ânsia doser humano pelas informações ea busca desordenada pelos acon-tecimentos trágicos, em mecanis-mos de fuga da realidade e de trans-ferência dos conflitos, estimula-ram o surgimento e a manuten-ção de comportamentos aliena-dos uns, frios outros, inquietosainda outros mais...

Nesse comenos diminuiu a di-vulgação dos postulados espíritas,na veneranda e moderna Gália, ape-sar da presença digna e ativa detrabalhadores dedicados à searada luz, ficando, porém, o campoantigo trabalhado pelos pioneirosà mercê das pragas da indiferença eda desconfiança dos presunçososintelectuais que passaram a consi-

derar o Espiritismo pelas informa-ções errôneas, ao invés de mergu-lharem nos conteúdos extraordi-nários da filosofia profunda, sus-tentada pelos fatos extraordiná-rios defluentes das seguras com-provações da imortalidade, dajustiça divina, da reencarnação...

O Espiritismo é uma doutrinaque não pode ser penetrada pormeio de leituras superficiais, aliás,como sucede com toda ciênciaexperimental, exigindo reflexõescuidadosas em torno dos seus con-teúdos iluminativos, da sua mo-ral assentada nos ensinamentosde Jesus Cristo, conforme Ele osenunciou, e não conforme foram

adaptados às paixões de grupos ede teólogos amargurados e dés-potas, formando greis fanáticas eperversas.

Libertando o Evangelho da le-tra que mata e facultando o conhe-cimento do espírito que vivifica, asua é a missão de esclarecer e deproporcionar condutas saudáveis,mediante a mais elevada ética deque se tem notícia, aplicando a jus-tiça social, favorecendo todos os in-divíduos com as mesmas oportu-nidades de dignificação median-

te o trabalho, a educação,o repouso, a constru-ção da solidariedade e

o respeito aos direitosde pensamento e ação igua-

litariamente para todos.Não havendo sido fruto da ela-

boração de um homem, antes, po-rém, resultado de uma propostafirmada pelos expoentes da filoso-fia universal, que atravessaram ospenetrais da morte e retornaramvivos, confirmando a sua e a nos-sa imortalidade, fixa-se no mecanis-mo da mediunidade, que lhe cons-titui o instrumento de comprova-ções, favorecendo aqueles que bus-cam entendê-lo com textos de in-superável beleza sobre os mais di-versos conhecimentos históricos elógicos dos tempos passados e dosatuais e com as belas perspectivasem torno do futuro.

Desdenhado, porém, pelos mul-tiplicadores de opinião e pelosintelectuais de gabinete, que ja-mais se permitiram sair das suascelas douradas para a convivênciacom a massa de sofredores de queo mundo está referto, ou mesmo

Gabriel Delanne

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com os portadores das chagas mo-rais virulentas das enfermidadesmal disfarçadas, que são os tor-mentos interiores, não encontraressonância, exceto esporadica-mente quando algo abala a opi-nião pública pela sua grandezaou miséria, nas páginas dos veí-culos da mídia escrita ou comen-tários edificantes na comunica-ção radiofônica, televisiva, navirtual, no abençoado e formosocampo cultural da vene-randa França...

Os fatos são imperio-sos, escreveu CromwellVarley, ao tornar-se espí-rita, e não existe nadamais brutal do que umfato, proclamou Broussai,defendendo as pesquisascientíficas do seu tempo.

A formação culturalfrancesa é cartesiana, en-frentando sempre a razãoe contestando tudo quan-to suporte a demonstra-ção científica e o debatecultural.

O Espiritismo foi tra-balhado pelos seres imor-tais dentro desses parâ-metros vigorosos e, poressa razão, suplantou a in-tolerância com que o ata-caram acadêmicos e religiosos par-tidaristas, populares ignorantes,enfrentando a revolução das dou-trinas psicológicas que passarama confirmar-lhe indiretamenteos conteúdos psicoterapêuticos, osavanços da Física e da Astrono-mia, da Medicina e da Antropolo-gia, demonstrando a robustez dos

seus ensinamentos sem alterarum paradigma sequer, mantendo--se tão atual neste momento,quanto o esteve ao ser publicado,há mais de um século e meio...

A indiferença francesa ao Espi-ritismo, ainda confundido por al-guns jactanciosos como sendouma seita, apesar do seu carátercientífico, portador de moralelevada e profundamente cristã,sua ética socraticoplatônica e

todo o acervo de sabedoria, nãodeixa de ser chocante.

A atitude científica é sempre ade pesquisar, tendo o direito dediscrepar, combater ou confirmaras metas a que se propõe, nuncaporém ignorar o que se encontraà disposição e ao alcance de quemse permita a experimentação.

Esse comportamento, porém,é transitório e passará, queiramou não os ditadores da cultura eos sábios de ocasião, porque nin-guém pode deter a força do pro-gresso nem a marcha do conhe-cimento que atingirá o Infinito,decifrando todas as incógnitasque ainda aturdem a mente e afli-gem os sentimentos.

O Espiritismo se propõe a cons-truir a nova sociedade humana em

a qual o sofrimento deixa-rá de afligir e as manifesta-ções da barbárie, tais co-mo as injustiças sociais, aviolência, as arbitrarieda-des, os crimes hediondos eo desrespeito pela vida ce-derão lugar ao equilíbrio eà beleza, ao conhecimentoenobrecido e ao amor, àsaúde e à arte, à dignifica-ção da criatura e à consi-deração afetuosa pela mãeTerra, que nos tem servi-do de lar desde os primór-dios da nossa evolução.

Auguramos, sinceramen-te emocionado e confiante,que esses formosos e bem--aventurados tempos logochegarão, porquanto já seencontram em acercamen-to, proporcionando, por

antecipação, alegria e bem-estar,ventura e plenitude.

Victor Hugo

(Página psicografada pelo médium Divaldo

Pereira Franco, no dia 11 de maio de 2010,

na residência de João e Milena Rabelo Jú-

nior, em Paris, França.)

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Reformador: Qual a principal men-sagem que o filme Nosso Lar trans-mite?Wagner: A história de “Nosso Lar”é muito profunda por falar de umtema que interessa a todos: a vidaapós a vida. Esse é o melhor pontode encontro de todas as religiões, detodas as pessoas. Trata-se de um pa-radigma que permite uma mudan-ça na vida de qualquer pessoa quecomeça a entender, seja pelos atri-butos da fé raciocinada, ou pelacuriosidade simples, ou mesmo pe-la dor, as realidades da vida espiri-tual junto à vida material. O filmeconta a história da transforma-ção de um homem que acorda nomundo espiritual. Talvez essa sejaa principal mensagem – a históriaem si. A existência de uma outradimensão, a possibilidade de rea-justes, enfim, todas as leis que im-peram nessa nova dimensão. E que

também são diretamente ligadas àforma de viver o hoje e o agora.

Reformador: O mundo espiritualé mostrado como ambiente de re-cuperação e novos planejamentosde existências?Wagner: Exatamente como no livro– um mundo que permite que reno-vemos nossos sentimentos, nossospensamentos. Um mundo que per-mite repensar a vida pregressa e pla-nejar melhor a vida futura na Terra.De fato, as imagens do mundo espi-ritual têm ligação direta com a vidaencarnada – porém sempre partin-do do conceito de que o mundo es-piritual é anterior ao mundo mate-rial. Daí, algumas coisas que apa-recem em Nosso Lar já fazem partedo nosso cotidiano.

Reformador: Como foi o esforço paramostrar o Espírito André Luiz desde o

sofrimento no Umbral até o momen-to de colaborador de “Nosso Lar”?Wagner: Esse é o drama da histó-ria. Ao mostrar o Espírito AndréLuiz desde o Umbral, e relembrarpartes de sua vida em família, es-tamos acompanhando suas dores,seus pensamentos, seu arrependi-mento, suas saudades. Isso tudo atéo momento em que ele volta pararever os familiares, quando temoso momento crucial da trama. Esseciclo de renovação pelo qual elepassa é a essência da história. É oque está na estrutura do filme.

Reformador: O filme tem algunsmomentos de emoção?Wagner: Esperamos que sim! Emtodos os momentos temos teste-munhos de emoção – do reen-contro com a mãe passando peloreencontro com a família. Tudoé pensado para que as lágrimas

Wagner de Assis, diretor e responsável pelo roteiro do filme Nosso Lar,destaca a transformação do homem que acorda no mundo espiritual,os momentos de emoção no enredo do filme e o impacto que esta

mensagem pode representar para a melhoria das nossas vidas

WAG N E R D E AS S I SEntrevista

destaca a renovaçãoFilme Nosso Lar

espiritual

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sejam sinceras. Esperamos ter con-seguido!

Reformador: Qual parte do filmeque mais o sensibilizou?Wagner: Pessoalmente, fico sempretentado a buscar na força da trans-formação de um homem a partemais importante. O momento doperdão, do arrependimento. O Sauloque vira Paulo. O homem que sedobra à força do amor. Quandoisso acontece no filme, gosto mui-to, mas não paro de me emocio-nar também quando o governa-dor e os ministros estendem asmãos para os Espíritos egressos daSegunda Guerra Mundial. Aquelaimagem, o encontro dos lados,que muitas vezes vimos como oencontro de dois lados opostos,é um símbolo que me toca bas-tante – mostra que os lados po-dem se abraçar e não guerrear.

Reformador: Durante a produçãodo filme sentiu alguma presença denatureza espiritual?Wagner: Sempre tem, ainda maisquando o ideal está acima de tu-do. Não gostaria de citar para queo assunto não fique mais impor-tante do que a história do filme. Oimportante é o filme, sua trajetó-ria, o projeto de divulgação atra-vés de projetos universais, de qua-lidade extrema, que alcance todosos públicos. Mas agradecemos sem-pre, emocionados, todos os dias,pelo apoio recebido do Alto.

Reformador: Como você se sente,agora que o filme está concluído enas telas de cinema?

Wagner: Que o filme tem vidaprópria sempre. Desde o início. Eesperamos que todos compreen-dam que investimentos altos po-dem e devem ser sinônimo de qua-lidade. Que uma história só deve-ria ser levada às telas quando hou-vesse meios para isso – caso con-trário, ficaríamos devendo à his-tória o ponto mais importante,com sua mensagem libertadora.Ela é que deve sempre ser a rainhado trabalho em cinema. A históriamanda. E nós vamos atrás...

Reformador: Há projetos para lan-çamentos de DVDs e também dedistribuição do filme no Exterior?Wagner: Sim, o DVD sai em de2011. É bom lembrar que as có-pias originais estão cheias de no-vidades e que comprar ou baixarna Internet “cópia pirata” é crime!Quanto ao Exterior, estamos nego-

ciando; há propostas e intenções.E uma das metas deste projeto,grande como ele é, com a propos-ta de falar a todos os públicos, éser mostrado em diversos países.

Reformador: No momento pós-fil-me, teria alguma ideia ou recomen-dação com relação ao livro NossoLar?Wagner: Leiam, leiam, leiam o livro!A obra de André Luiz é um guiatambém para o dia a dia. Um lega-do que ele deixou, através da dedi-cação e do trabalho de Chico Xavier,para o mundo. E que venham ospróximos filmes!

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movimento da emancipação percorria todosos departamentos de atividades políticas dapátria; mas, por disposição natural, era no Rio

de Janeiro, cérebro do país, que fervilhavam as ideiaslibertárias, incendiando todos os espíritos. Os men-sageiros invisíveis desdobravam sua ação junto detodos os elementos, preparando a fase final do trabalhoda independência, através dos processos pacíficos.

Os patriotas enxergavam no príncipe D. Pedro afigura máxima, que deveria encarnar o papel de li-bertador do reino do Brasil. O Príncipe, porém, con-siderando as tradições e laços de família, hesitava ain-da em optar pela decisão suprema de se separar, emcaráter definitivo, da direção da metrópole.

Conhecendo as ordens rigorosas das cortes de Lis-boa, que determinavam o imediato regresso de D. Pe-dro a Portugal, reúnem-se os cariocas para tomar asprovidências de possível execução e uma representa-ção com mais de oito mil assinaturas é levada aoPríncipe regente, pelo Senado da Câmara, acompa-nhada de numerosa multidão, a 9 de janeiro de 1822.D. Pedro, diante da massa de povo, sente a assistênciaespiritual dos companheiros de Ismael, que o incitama completar a obra da emancipação política da Pátriado Evangelho, recordando-lhe, simultaneamente, aspalavras do pai no instante das despedidas. Aquelepovo já possuía a consciência da sua maioridade enunca mais suportaria o retrocesso à vida colonial,integrado que se achava no patrimônio das suas con-quistas e das suas liberdades. Em face da realidadepositiva, após alguns minutos de angustiosa expecta-tiva, o povo carioca recebia, por intermédio de JoséClemente Pereira, a promessa formal do Príncipe deque ficaria no Brasil, contra todas as determinaçõesdas cortes de Lisboa, para o bem da coletividade e paraa felicidade geral da nação. Estava, assim, proclama-da a Independência do Brasil, com a sua audaciosa deso-bediência às determinações da metrópole portuguesa.

Todo o Rio de Janeiro se enche de esperança e dealegria. Mas as tropas fiéis a Lisboa resolvem norma-lizar a situação, ameaçando abrir luta com os brasi-leiros, a fim de se fazer cumprirem as ordens daCoroa. Jorge de Avilez, comandante da divisão, fazconstar, imediatamente, os seus propósitos, e, a 11 dejaneiro, as tropas portuguesas ocupam o Morrodo Castelo, que ficava a cavaleiro da cidade. Ameaçadode bombardeio, o povo carioca reúne as multidões demilicianos, incorpora-os às tropas brasileiras e seposta contra o inimigo no Campo de Santana. Operigo iminente faz tremer o coração fraterno da ci-dade. Não fosse o auxílio do Alto, todos os propósi-tos de paz se teriam malogrado numa pavorosa maréde ruína e de sangue. Ismael acode ao apelo das mãesdesveladas e sofredoras e, com o seu coração angéli-co e santificado, penetra as fortificações de Avileze lhe faz sentir o caráter odioso das suas ameaças àpopulação. A verdade é que, sem um tiro, o chefeportuguês obedeceu, com humildade, à intimaçãodo príncipe D. Pedro, capitulando a 13 de janeiro eretirando-se com as suas tropas para a outra margemda Guanabara, até que pudesse regressar com elaspara Lisboa.

Os patriotas, daí por diante, já não pensam noutracoisa que não seja a organização política do Brasil.Todas as câmaras e núcleos culturais do país se diri-gem a D. Pedro em termos elogiosos, louvando-lhe agenerosidade e exaltando-lhe os méritos. Os homenseminentes da época, a cuja frente somos forçados acolocar a figura de José Bonifácio, como a expressãoculminante dos Andradas, auxiliam o Príncipe re-gente, sugerindo-lhe medidas e providências neces-sárias. Chegando ao Rio por ocasião do grande triun-fo do povo, após a memorável resolução do “Fico”,José Bonifácio foi feito ministro do Reino do Brasil edos Negócios Estrangeiros. O Patriarca da Indepen-dência adota as medidas políticas que a situação exigia,

A Independência

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O

Presença de Chico Xavier

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inspirando, com êxito, o Príncipe regente nos seusdelicados encargos de governo.

Gonçalves Ledo, Frei Sampaio e José ClementePereira, paladinos da imprensa da época, foram igual-mente grandes propulsores do movimento da opi-nião, concentrando as energias nacionais para a su-prema afirmação da liberdade da pátria.

Todavia, se a ação desses abnegados condutores dopovo se fazia sentir desde Minas Gerais até o RioGrande do Sul, o predomínio dos portugueses, desdea Bahia até o Amazonas, representava sério obstácu-lo ao incremento e consolidação do ideal emancipa-cionista. O governo resolve contratar os serviços dastropas mercenárias de Lorde Cochrane, o cavaleiroandante da liberdade da América Latina. Muitaslutas se travam nas costas baianas, e verdadeirossacrifícios se impõem os mensageiros de Ismael, quese multiplicam em todos os setores com o objetivode conciliar seus irmãos encarnados, dentro da har-monia e da paz, sempre com a finalidade de preser-var a unidade territorial do Brasil, para que se nãofragmentasse o coração geográfico do mundo.

José Bonifácio aconselha a D. Pedro uma viagem aMinas Gerais, a fim de unificar o sentimento geralem favor da independência e serenar a luta acerbados partidarismos. Em seguida, outra viagem, com osmesmos objetivos, realiza o Príncipe regente a SãoPaulo. Os bandeirantes, que no Brasil sempre cami-nharam na vanguarda da emancipação e da autono-mia, recebem-no com o entusiasmo da sua paixãolibertária e com a alegria da sua generosa hospitali-dade, e, enquanto há música e flores nos teatros e nasruas paulistas, comemorando o acontecimento, asfalanges invisíveis se reúnem no Colégio de Pirati-ninga. O conclave espiritual se realiza sob a direçãode Ismael, que deixa irradiar a luz misericordiosa doseu coração. Ali se encontram heróis das lutas mara-nhenses e pernambucanas, mineiros e paulistas, ou-vindo-lhe a palavra cheia de ponderação e de ensina-mentos. Terminando a sua alocução pontilhada degrande sabedoria, o mensageiro de Jesus sentenciou:

– A independência do Brasil, meus irmãos, já seencontra definitivamente proclamada. Desde 1808,ninguém lhe podia negar ou retirar essa liberdade.

A emancipação da Pátria do Evangelho consolidou--se, porém, com os fatos verificados nestes últimosdias e, para não quebrarmos a força dos costumesterrenos, escolheremos agora uma data que assinaleaos pósteros essa liberdade indestrutível.

Dirigindo-se ao Tiradentes, que se encontravapresente, rematou:

– O nosso irmão, martirizado há alguns anos pelagrande causa, acompanhará D. Pedro em seu regres-so ao Rio e, ainda na terra generosa de São Paulo,auxiliará o seu coração no grito supremo da liberda-de. Uniremos assim, mais uma vez, as duas grandesoficinas do progresso da pátria, para que sejam asregistradoras do inesquecível acontecimento nos fas-tos da História. O grito da emancipação partiu dasmontanhas e deverá encontrar aqui o seu eco realiza-dor. Agora, todos nós que aqui nos reunimos, no sa-grado Colégio de Piratininga, elevemos a Deus onosso coração em prece, pelo bem do Brasil.

Dali, do âmbito silencioso daquelas paredes res-peitáveis, saiu uma vibração nova de fraternidade ede amor.

Tiradentes acompanhou o Príncipe nos seus diasfaustosos, de volta ao Rio de Janeiro. Um correioprovidencial leva ao conhecimento de D. Pedro asnovas imposições das cortes de Lisboa e ali mesmo,nas margens do Ipiranga, quando ninguém contavacom essa última declaração sua, ele deixa escapar ogrito de “Independência ou Morte!”, sem suspeitarde que era dócil instrumento de um emissário invi-sível, que velava pela grandeza da pátria.

Eis por que o 7 de setembro, com escassos comentá-rios da história oficial, que considerava a independên-cia já realizada nas proclamações de 1o de agosto de1822, passou à memória da nacionalidade inteira co-mo o Dia da Pátria e data inolvidável da sua liberdade.

Esse fato, despercebido da maioria dos estudiosos,representa a adesão intuitiva do povo aos elevadosdesígnios do mundo espiritual.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Brasil, coração do mundo, pátria do

evangelho. 33. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 19.

15Setembro 2010 • Reformador 334499

Pelo Espírito Humberto de Campos

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uma manifestação registra-da em O Evangelho segundoo Espiritismo, capítulo XIII,

item 13, ed. FEB, diz a entidade:

Dei esta manhã o meu giro habi-tual e, com o coração amargurado,venho dizer-vos: Oh! meus amigos,que de misérias, que de lágrimas,quanto tendes de fazer para secá-lastodas! Em vão, procurei consolaralgumas pobres mães, dizendo-lhesao ouvido: Coragem! há coraçõesbons que velam por vós; não sereisabandonadas; paciência! Deus láestá; sois dele amadas, sois suaseleitas. Elas pareciam ouvir-me evolviam para o meu lado os olhosarregalados de espanto; eu lhes liano semblante que seus corpos, ti-ranos do Espírito, tinham fome eque, se é certo que minhas pala-vras lhes serenavam um pouco oscorações, não lhes reconfortavamos estômagos. Repetia-lhes: Cora-gem! Coragem! Então, uma pobremãe, ainda muito moça, que ama-mentava uma criancinha, tomou-anos braços e a estendeu no espaçovazio, como a pedir-me que prote-gesse aquele entezinho que só en-contrava, num seio estéril, insufi-ciente alimentação.

Alhures vi, meus amigos, pobres ve-lhos sem trabalho e, em consequência,sem abrigo, presas de todos os sofri-mentos da penúria e, envergonhadosde sua miséria, sem ousarem, eles quenunca mendigaram, implorar a pie-dade dos transeuntes. Com o coraçãotúmido de compaixão, eu, que nadatenho, me fiz mendiga para eles e vou,por toda a parte, estimular a bene-ficência, inspirar bons pensamentosaos corações generosos e compassivos.Por isso é que aqui venho, meus ami-gos, e vos digo: Há por aí desgraçados,em cujas choupanas falta o pão, osfogões se acham sem lume e os leitossem cobertas. Não vos digo o que de-veis fazer; deixo aos vossos bons cora-ções a iniciativa. Se eu vos ditasse oproceder, nenhum mérito vos trariaa vossa boa ação. Digo-vos apenas:Sou a caridade e vos estendo as mãospelos vossos irmãos que sofrem.

Estas vigorosas afirmativas sãodo Espírito Cárita, piedosa religio-sa martirizada em Roma.

Segundo o índice biográfico daRevista Espírita, de Allan Kardec,seria o mesmo que ditou a famo-sa “Prece de Cáritas”.

Não devemos ver na mensagemtranscrita simplesmente um apelo

à beneficência, mas o registro delamentável realidade que somoschamados a modificar.

O falecido prefeito de Nova York,La Guardia, era famoso por suastiradas filosóficas.

Costumava presidir, periodica-mente, um tribunal onde eram jul-gados casos policiais simples.

Numa dessas sessões apresenta-ram-lhe um homem que fora sur-preendido roubando um pão.

La Guardia julgou-o, conside-rou-o culpado e o condenou a pagaruma multa de cinquenta dólares.

Depois, dirigindo-se à peque-na multidão que lotava o recinto,sentenciou:

– Quanto aos presentes, estão to-dos condenados a pagar um dólarcada um, até atingir o limite damulta imposta ao réu, para que elaseja quitada e ele, libertado.

Após breve pausa, enfatizou:– Os senhores estão multados

por viverem numa cidade onde umhomem é obrigado a roubar pãopara matar a fome.

O episódio de La Guardia éeloquente.

Permite-nos considerar que to-dos nós, habitantes de qualquer ci-dade do mundo, estamos sujeitos

NRI C H A R D SI M O N E T T I

de CáritasO apelo

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a uma sanção muito mais grave, auma multa muito mais severa –a crônica insatisfação, a inquieta-ção constante, os desajustes inter-mináveis, a frustração do anseiode felicidade...

Isso tudo por vivermos nummundo onde as palavras caridade,bondade, fraternidade, solidarieda-de, são enunciadas como virtudesraras, não como elementares de-veres de convivência social, cujoexercício é indispensável ao equi-líbrio de qualquer comunidade.

Dizem os Espíritos superioresque a felicidade do Céu é socorrera infelicidade da Terra.

Diríamos nós que somente namedida em que nos preocuparmosem socorrer a infelicidade da Terraé que estaremos a caminho da fe-licidade do Céu.

Não há alternativa.Podemos estar isolados da mul-

tidão aflita e sofredora, mas jamaisestaremos bem, porquanto a infe-

licidade é o clima crônico dos quese fecham em si mesmos.

Mãos servindo são antenas queestendemos para a sintonia comas fontes da vida e a captação dasbênçãos de Deus.

Por isso, manifestações como ade Cárita não podem morrer semeco em nossos corações.

Há muita dor a amenizar, mui-ta fome a saciar, muitas necessida-des a atender...

Há muita gente precisando de nós!

Justificativas para a omissãosempre aparecem, mas facilmentedesmontadas, amigo leitor, comopodemos constatar em breve diá-logo entre assíduos frequentadoresde reuniões mediúnicas e o men-tor que os convidava a participardo trabalho filantrópico, numainstituição espírita.

– Não tenho tempo!

– Tempo é uma questão depreferência.

– Até que gostaria de participar,mas estou adoentado!

– A prática do Bem é o melhorremédio para os males do corpo eda alma.

– Meu tempo passou. Estou com75 anos!

– A ferrugem só atinge a enxa-da que deixou de trabalhar.

– Prometo para mais tarde.– Amanhã haverá apenas espi-

nhos em nosso caminho se nãosemearmos o bem agora!

Para finalizar, leitor amigo,uma observação interessante deum lidador espírita:

– É tão bom praticar o Bem, mastão bom mesmo, que se o malan-dro soubesse disso, o faria pormalandragem.

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oda obra escrita é produzi-da, invariavelmente, comuma finalidade específica.

Esta, por sua vez, deriva de umconjunto de intenções, objetivos eexpectativas do autor. É norteadopor esses princípios que um textoé, geralmente, pensado e elabora-do. Neste estudo, pretendemosanalisar não o conteúdo propria-mente dito, o qual dá corpo às tra-mas transcorridas em Há Dois MilAnos, Cinquenta Anos Depois, Pau-lo e Estêvão, Renúncia e Ave, Cris-to!, mas destacar parte das inten-ções e dos pressupostos que moti-varam Emmanuel a rememoraressas histórias. Com esse propósi-to, seguem algumas passagens ex-pressas por ele mesmo, acerca dosentido e da função do conteú-do de cada um de seus romances.

Em “Na intimidade de Emma-nuel”, espécie de texto introdu-tório à obra Há Dois Mil Anos, épossível conhecer as intençõesprévias do autor, assim como assuas primeiras impressões acer-

ca do conteúdo do romance. Em7 de setembro de 1938, quandoainda ditava o livro A Caminhoda Luz1 – finalizado em 21 domesmo mês –, Emmanuel mani-festou:

– “Algum dia, se Deus mo permi-

tir, falar-vos-ei do orgulhoso pa-

trício Públio Lentulus, a fim de

algo aprenderdes nas dolorosas

experiências de uma alma indi-

ferente e ingrata.”2

Em 24 de ou-tubro de 1938, foiiniciada a psico-grafia de Há DoisMil Anos e, no diaseguinte, o Espí-rito revelou:

“Agora verificareis a extensão

de minhas fraquezas no passado

[...]. Orai comigo, pedindo a Je-

sus para que eu possa completar

esse esforço [...] a fim de que

minha confissão seja um rotei-

ro para todos.”3

E em dezembro do mesmo ano,o autor complementou:

“Permita Jesus que eu possa atin-

gir os fins a que me propus, apre-

sentando, nesse trabalho, não uma

lembrança interessante acerca de

minha pobre personalidade, mas,

tão somente, uma experiência

para os que hoje trabalham na

semeadura e na seara do Nosso

Divino Mestre.”4 (Grifo nosso.)

Em “Carta ao Leitor”, texto queintroduz o livro Cinquenta AnosDepois, Emmanuel chamou

TFL Á V I O REY D E CA RVA L H O

1XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Conclusão, p. 262.

2Idem. Há dois mil anos. Pelo EspíritoEmmanuel. 4. ed. esp. 3. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2009. p. 7.

3Idem, ibidem. p. 8.

4Idem, ibidem. p. 9.

A finalidade

Emmanueldos romances de

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atenção para ofato de o escra-vo Nestório, queaparece na his-tória como areencarnaçãode Públio Len-tulus, não ser

a figura central das páginas des-te romance. Conforme a seguintepassagem:

Podemos afirmar [...], que

este volume não relaciona, de

modo integral, a continuação

das experiências purificado-

ras do antigo senador Lentu-

lus, nos círculos de resgate dos

trabalhos terrestres.5

Nesse sentido, o conteúdo dolivro trata, na verdade, da histó-ria da vida de Célia, que foi, se-gundo o autor,

[...] um sublime coração femi-

nino que se divinizou no sacri-

fício e na abnegação, confian-

do em Jesus, nas lágrimas da

sua noite de dor e de trabalho,

de reparação e de esperança.

[...]6

E em seguida, Emmanuel fez aseguinte recomendação ao leitor:

[...] lê esta história real e me-

dita. Os exemplos de uma al-

ma santificada no sofrimento

e na humildade, ensinar-te-ão

a amar o trabalho e as penas

de cada dia; observando-lhe

os martírios morais e sentin-

do, de perto, a sua profunda

fé, experimentarás um conso-

lo brando, renovando as tuas

esperanças em Jesus Cristo.7

Em “Breve No-tícia”, texto queantecede e prepa-ra o leitor paraa história Paulo eEstêvão, Emma-nuel esclareceu:

[...] não é nosso propósito levan-

tar apenas uma biografia roman-

ceada. [...] Nosso melhor e mais

sincero desejo é recordar as lutas

acerbas e os ásperos testemunhos

de um coração extraordinário,

que se levantou das lutas huma-

nas para seguir os passos do Mes-

tre, num esforço incessante.8

Mais adiante, o autor revelou:

Outra finalidade deste esforço

humilde é reconhecer que o

Apóstolo não poderia chegar

a essa possibilidade, em ação

isolada no mundo.

[...] sem cooperação, não po-

deria existir amor; e o amor é

a força de Deus, que equilibra o

Universo.9

E, no final, Emmanuel com-plementou:

Oferecendo, pois, este humil-

de trabalho aos nossos irmãos

da Terra, formulamos votos

para que o exemplo do Gran-

de Convertido se faça mais

claro em nossos corações, a

fim de que cada discípulo

possa entender quanto lhe

compete trabalhar e sofrer,

por amor a Jesus Cristo.10

Em “VelhasRecordações”,texto que servecomo introdu-ção à históriaR e n ú n c i a ,E m m a n u e lponderou:

Este é um livro de sentimento,

para quem aprecie a experiên-

cia humana através do cora-

ção. [...] A maioria dos apren-

dizes do Evangelho deixa-se

tomar, em sentido absoluto,

pelas ideias de resgate esca-

broso, de olho por olho, ou,

então, pela preocupação de

recompensas na Terra ou no

Céu. [...] A esperança e a res-

ponsabilidade parecem tesou-

ros esquecidos. [...]11

Nesse sentido, pautando-sepelos exemplos de dedicação e

19Setembro 2010 • Reformador 335533

5XAVIER, Francisco C. Cinquenta anos de-pois. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. 2.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 9.

6Idem, ibidem.

7Idem, ibidem. p. 10.

8Idem. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Em-manuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. p. 7.

9Idem, ibidem. p. 9.

10Idem, ibidem. p. 10.

11Idem. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel.3. ed. esp. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2009. p. 8.

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de amor renunciado demons-trados por Alcíone, que é a per-sonagem central das páginasdesse romance, o autor fez a se-guinte exortação ao leitor:

[...] Com seu gesto divino, a

Terra não é apenas um lugar

de expiação destinado a exílio

amarguroso, mas, também,

uma escola sublime, digna de

ser visitada pelos gênios ce-

lestes. Dentro dos horizontes

do Planeta, ainda vigem a

sombra, a morte, a lágrima...

Isso é incontestável. Mas,

quem seguir nas estradas que

Alcíone trilhou, converterá

todo esse patrimônio em te-

souros opimos para a vida

imortal.12

No texto in-trodutório –homônimo –de Ave, Cristo!,Emmanuel feza seguinte co-locação:

Hoje, como outrora, na organi-

zação social em decadência, Je-

sus avança no mundo, restau-

rando a esperança e a fraterni-

dade, para que o santuário do

amor seja reconstituído em

seus legítimos fundamentos.13

Com base nessa frase, é pos-sível inferir a existência de cer-ta analogia entre os sacrifíciosvividos pelos cristãos do séculoIII e o papel a ser desempenha-do pelos espíritas no proces-so de exemplificação do Evan-gelho na atual fase de transi-ção, vivida na Terra, rumo aoreajustamento dos valores hu-manos. Pois, conforme o autorexplicou:

[...] não nos propomos ro-

mancear, fazer literatura de

ficção, mas sim trazer aos

nossos companheiros do Cris-

tianismo redivivo, na seara

espírita, breve página da his-

tória sublime dos pioneiros

de nossa fé.

Que o exemplo dos filhos do

Evangelho, nos tempos pós-

-apostólicos, nos inspire hoje

a simplicidade e o trabalho, a

confiança e o amor, com que

sabiam abdicar de si próprios,

em serviço do Divino Mestre!

[...].14

Portanto, voltados à divulga-ção de exemplos de vida pauta-dos pelas lições e pelos princí-pios do Evangelho, os cinco ro-mances – a nós ofertados porEmmanuel, por intermédio damediunidade de Chico Xavier– têm a finalidade de nos servirde roteiro e fonte de inspiraçãopara melhor conduzirmos, emtermos morais, as nossas vidas.

Ademais, o autor espiritual nosinduz à reflexão sobre a exis-tência de certa similitude entreo momento em que vivemos eos três primeiros séculos doCristianismo – época em quetranscorreu a maior parte dashistórias por ele narradas.15

Nesse sentido, essas obras sedestinam à promoção de certotipo de conduta a ser assimila-da e vivida, em termos práti-cos, no transcorrer de nossasexperiências cotidianas, con-forme consta na seguinte reco-mendação extraída do livroEmmanuel:

O essencial é meter mãos à

obra, aperfeiçoando, cada qual,

o seu próprio coração pri-

meiramente, afinando-o com

a lição de humildade e de

amor do Evangelho, transfor-

mando em seguida os seus la-

res, as suas cidades e os seus

países, a fim de que tudo na

Terra respire a mesma felici-

dade e a mesma beleza dos

orbes elevados [...].16

20 Reformador • Setembro 2010335544

12XAVIER, Francisco C. Renúncia. PeloEspírito Emmanuel. 3. ed. esp. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. p. 9.

13Idem. Ave, Cristo!. Pelo Espírito Em-manuel. ed. esp. 1. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. p. 7.

15As histórias de Há dois mil anos ePaulo e Estêvão se passam no século I,a de Cinquenta anos depois, no séculoII, e a de Ave, Cristo!, no século III. Aexceção é Renúncia, cuja trama se pas-sa entre 1662 e os primeiros anos doséculo XVIII – apesar disso, ressalta-seque, na essência, as suas lições, os seusensinamentos e os seus exemplos estãoplenamente alinhados aos princípiosevangélicos do Cristianismo Primitivo.

16 XAVIER, Francisco C. Emmanuel. PeloEspírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. A tarefa dos guiasespirituais, p. 18.14 Idem, ibidem. p. 8.

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21Setembro 2010 • Reformador 335555

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“Procura apresentar-te a Deus aprovado como obreiro que não tem de que se envergonhar.”

– PAULO. (II TIMÓTEO, 2:15.)

Obreiros

Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. 29. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 145.

esde tempos imemoriais, idealizam as criaturas mil modos de se apresenta-

rem a Deus e aos seus mensageiros.

Muita gente preocupa-se durante a existência inteira em como talhar as

vestimentas para o concerto celestial, enquanto crentes inumeráveis anotam cuida-

dosamente as mágoas terrestres, no propósito de desfiá-las em rosário imenso de

queixas, diante do Senhor, à busca de destaque no mundo futuro.

A maioria dos devotos deseja iniciar a viagem, além da morte, com títulos de

santos; todavia, não há maneira mais acertada de refletirmos em nossa posição, com

verdade, além daquela em que nos enquadramos na condição de trabalhadores.

O mundo é departamento da Casa Divina.

Cátedras e enxadas não constituem elementos de divisão humilhante, e sim

degraus hierárquicos para cooperadores diferentes.

O caminho edificante desdobra-se para todos.

Aqui, abrem-se covas na terra produtiva, ali, manuseiam-se livros para o sulco da

inteligência, mas o espírito é o fundamento vivo do serviço manifestado.

Classificam-se os trabalhadores em posições diferentes, contudo, o campo é um só.

No centro das realidades, pois, não se preocupe ninguém com os títulos conde-

corativos, mesmo porque o trabalho é complexo, em todos os setores de ação

dignificante, e o resultado é sempre fruto da cooperação bem vivida. Eis o motivo

pelo qual julgamos com Paulo que a maior vitória do discípulo será a de apresen-

tar-se, um dia, ao Senhor, como obreiro aprovado.

D

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manhece... O céu aindacoberto por tênue nevoei-ro deixa transparecer tons

de azul esvanecidos pela sombra danoite, que aos poucos desapare-ce dispersada pelo nascimentodo Sol que desponta no horizon-te... A lua minguante, recurvadacomo um barquinho de brinque-do, segue seu rumo calmo, comseu brilho menos intenso, a nosindicar que com serenidade po-deremos vislumbrar a vida queacorda neste novo dia cheio depromessas e expectativas... Hádentro de mim um turbilhão deideias, de planos para este alvore-cer, todavia procuro me acalmarmeditando e orando a Jesus paraque eu não me perca na pressanem me acomode na indiferençaao iniciar mais um dia.

Quando somos alvo de proble-mas que causam desencanto eperplexidade, devemos procurarentender a causa de tudo e acal-mar nosso mundo íntimo; buscar

nas mensagens do Evangelho deJesus as lições e diretrizes paradesanuviar nossa mente diantedos testemunhos que, certamente,devem auferir se melhoramosnossas atitudes ou se ainda dei-xamos o orgulho obscurecer nos-sos melhores sentimentos.

Pois para isto é que fostes cha-

mados, porque também o Cris-

to padeceu por vós, deixando-

-vos exemplo para que lhe sigais

as pegadas (I Pedro, 2:21).

Passamos a refletir em tornodos problemas que vivenciamos.Sabemos que irão passar e que so-luções chegarão para superá-los.

Não estamos na Terra para vi-ver somente de prazeres e ilusões,mas sim para os testemunhosdiante das aflições que nos procu-ram em diferentes formas e noslevam a sofrer, muitas vezes, in-justamente, se analisarmos apenasnossos atos do presente...

Em sua caminhada evolutiva oser humano se defronta com situa-ções nas quais são analisadas suasreações e analisados seus compor-tamentos diante do poder, do di-nheiro e da beleza física. Poucossabem lidar com estes atributossem ferir o próximo, sem se deixarlevar pelas paixões perturbado-ras... Dos três, considero o poder omais perigoso. As pessoas mudamquando dispõem de autoridade ma-terial. Tornam-se arbitrárias, pre-potentes, insensíveis, usam más-caras procurando ocultar seusconflitos, sua realidade interior...

Muitas o fazem sem perceberque estão causando sofrimentos eprejuízos aos outros...

Julgam-se corretas em suas de-cisões, não analisam seus gestos ese perdem ante a bajulação dos queas cercam enquanto estão no topodas decisões... Esquecem-se de quetudo é transitório e de que, pelalei de causa e efeito, estão semean-do o que colherão no futuro...

22 Reformador • Setembro 2010335566

ALU C Y DI A S RA M O S

A isso fomoschamados

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Suas atitudes exteriores revelamseu “eu” mais profundo.

Nem o aconselhamento dosmais experientes consegue demo-vê-las de atitudes impensadas eprejudiciais ao grupo social ondeatuam.

Infelizmente, no meio espírita,surgem também pessoas assim, des-preparadas para cargos diretivos,iludidas com o poder transitório.

Deveria ser diferente, porquecomo espíritas desejosos de abra-çar a causa do Espiritismo e vi-venciar os ensinamentos de Jesusem quaisquer situações da vida,mesmo enfrentando muitas difi-culdades, não poderíamos nosdeixar levar pelas perigosas ten-tações do poder...

Todavia, nos verdadeirosespíritas há um grau dediscernimento que ostorna mais fortes eimunes às arbitra-riedades, porquese sentem fortale-cidos quando a luzdo Evangelho se alo-ja em seu coração,iluminando sua mente.

Alterações profun-das acontecem em seumundo íntimo:

Não se envaidecem aoocupar posições de destaque;

afastam o egoísmo de seumundo íntimo;

evitam dissensões, maledicên-cias e comentários levianos;

defendem os mais fracos e nãoabusam do poder para ferir a quemquer que seja;

são simples e humildes, buscan-do sempre entender o outro, mes-mo que discordem de suas opiniões;

não impõem sua vontade e bus-cam sempre o equilíbrio íntimo ea convivência harmoniosa com osque estão caminhando ao seu lado.

São almas livres, sem as alge-mas do preconceito, da vaidade edas ilusórias conquistas materiais,sabendo que são transitórias asposições, as glórias e o poder...

Quando os ensinamentos deJesus iluminam nossa consciênciapara acertarmos nossos passos nasenda do progresso moral, nossasensibilidade aumenta e começa-mos a perceber nuanças que antesnos eram desconhecidas... Senti-

mo-nos mais suscetíveis de en-tender o outro em suas dores eaflições...

Todo crescimento e toda mu-dança causam sofrimento e des-conforto íntimo.

Por estarem mais sensíveis,aguçam suas percepções e pade-cem incompreensões e distancia-mento dos que antes se acer-cavam deles com objetivo de re-ceber ajuda ou obter algumavantagem.

Na hora do testemunho geral-mente estamos sozinhos...

Mesmo rodeados dos que sãoverdadeiramente amigos e que-rem nos ajudar, nos sentimos

23Setembro 2010 • Reformador 335577

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isolados do mundo... É quandobuscamos na fé e no amor de Deusa coragem para prosseguir...

Em nossas fileiras espíritas,quando somos defrontados porproblemas e sofremos incom-preensões dos que deveriam nosestender as mãos, temos que vi-giar as nascentes do coração e ou-vir as lições de Jesus que enrique-cem nosso mundo íntimo, convi-dando-nos à reflexão em tornodos valores reais da vida, da acei-tação da lei divina, e buscar no re-côndito de nossas almas o confor-to espiritual para vencermos, osdesafios do caminho.

Emmanuel nos diz que:

Se nos encontrarmos, pois, em

extremos desajustes na vida ín-

tima, em face dos problemas

suscitados pela fé, saibamos su-

perar corajosamente os confli-

tos da senda, optando sempre

pelo sacrifício de nós mesmos,

em favor do bem geral, de vez

que não fomos trazidos à co-

munhão com Jesus, simples-

mente para o ato de crer, mas

para contribuir na extensão do

Reino de Deus, ao preço de nos-

sa própria renovação.1

E enfatiza que não podemosdesistir da luta, nem recuar diantedo sofrimento, mas sim aprendera usá-lo na concretização de nos-sos ideais de amor e crescimentoespiritual por meio da fraternidade,

da compreensão, do ânimo e daalegria, prosseguindo corajosos elivres.

Jesus nos deixou o roteiro, e sefomos chamados a servir, cami-nhando ao seu encontro, teremosque alijar de nosso coração a má-

goa, o desencanto, o desânimo,buscando sempre evidenciar quejá estamos seguindo seus ensina-mentos e já conhecemos o quantoainda nos falta crescer para che-garmos até Ele.

“A isso fomos chamados”...

24 Reformador • Setembro 2010 335588

1XAVIER, Francisco C. Fonte viva. PeloEspírito Emmanuel. 36. ed. 3. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Cap. 171, p. 414.

Sempre chamadosO cristão é chamado a servir em toda parte.

Na casa do sofrimento, ministrará consolação.

Na furna da ignorância, fará esclarecimento.

No castelo do prazer, ensinará a moderação.

No despenhadeiro do crime, sustará quedas.

No carro do abuso, exemplificará sobriedade.

Na toca das trevas, acenderá luz.

No nevoeiro do desalento, abrirá portas ao bom ânimo.

No inferno do ódio, multiplicará bênçãos de amor.

Na praça da maldade, dispensará o bem.

No palácio da justiça, colocar-se-á no lugar do réu, a fim de

examinar os erros dos outros.

Em todos os ângulos do caminho, encontraremos sugestões do

Senhor, desafiando-nos a servir.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco C. Agenda cristã. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.Cap. 45.

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evolução epigenética é ex-pressão utilizada pelos cien-tistas para indicar influên-

cias ambientais capazes de neutra-lizar ou “silenciar” genes, condiçõesque podem ser transmitidas às ge-rações subsequentes. É bem conhe-cida a influência do ambiente naslarvas das abelhas que se trans-formam em operárias ou rainhas,conforme o tipo de alimento inge-rido e a interação ocorrida na col-meia. Mas há muitos outros exem-plos, identificados com mais cla-reza atualmente.

O ambiente e a experiência nãoalteram o genoma vegetal, animalou humano, todavia, agem comomoduladores da expressão gênica.É por meio deste mecanismo epige-nético que as células se especiali-zam, apresentando diferenças deaparência e de funções, ainda que,estruturalmente, possuam o mesmocódigo genético: uma célula óssea édiferente do neurônio, este de umacélula hepática ou epitelial. Neste

contexto, afirmam Eva Jablonka eMarion J. Lambda, autoras do li-vro Evolução em Quatro Dimensões:

Quando as células do fígado se

dividem, suas filhas são células do

fígado, e as filhas das células re-

nais são também células renais.

Mesmo que as suas sequências

de DNA permaneçam inaltera-

das durante o desenvolvimento,

as células adquirem informação

que podem passar à progênie. Es-

ta informação é transmitida atra-

vés do que chamamos de sistemas

de herança epigenéticos (shes).1

As pesquisas que analisam a in-fluência do ambiente sobre os ge-nes têm se revelado promissoras,indicando, inclusive, mudanças depadrões comportamentais ou ma-nifestação de doenças em diferen-tes espécies. Destacamos, a propó-sito, uma pesquisa bem controladaque foi realizada na Universidadede Linköping, na Suécia. Pesqui-

sadores submeteram um grupode galináceos à exposição diária ealeatória de luz até a fase adultadestes animais. Outro grupo, con-siderado controle, foi criado deacordo com as condições usuaisda Natureza: luz durante o dia eescuridão ou baixa luminosida-de durante a noite. Os resultadosque se seguem demonstram comoo fator luz interagiu com os genesdas aves expostas à variação lumi-nosa: a) perderam o sentido de lo-calização espacial; b) tornaram-semuito agressivas; c) cresceram ra-pidamente; d) tais característicasforam herdadas pelos descenden-tes; e) foi bloqueada a expressãode 31 genes do hipotálamo e dapituitária.2

Especialistas explicam que o am-biente “liga” ou “desliga” os genespor intermédio das proteínas regu-ladoras, situadas fora do DNA. Taisproteínas, comuns no organismo,não só realizam interação gênica,mas também controlam outros

A

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Evoluçãoepigenética

25Setembro 2010 • Reformador 335599

Page 26: reformador setembro 2010 - a.qxp

processos fisiológicos e metabóli-cos, como produção de hormônios,absorção de nutrientes etc. Para obiólogo estadunidense Bruce H.Lipton, autoridade internacionalna área de Biologia Celular, profes-sor da Escola de Medicina da Uni-versidade de Winsconsin e pesqui-

sador da Universidade de Stan-ford, é preciso con-

siderar que o “[...] DNA ocupa ocentro do cromossoma e as pro-teínas formam um revestimentoao seu redor. Enquanto os genesestão cobertos [por proteínas re-guladoras], porém, sua informa-ção não pode ser ‘lida’”.3 Esclarecetambém que “estudos de síntesede proteínas revelam que os ‘con-troles’ epigenéticos podem criarmais de duas mil variações deproteínas a partir de um mesmopadrão genético”.4

Os cientistas defendem a ideiade que a hereditariedade, com ousem influência do ambiente, re-sulta de reações bioquímicas, con-troladas pelo corpo físico. O Espí-rito André Luiz considera, porém,que a herança genética está, naverdade, subordinada às necessi-dades evolutivas do Espírito, defi-nida pela lei de causa e efeito emcada reencarnação:

Com alicerces na hereditarie-

dade [o Espírito], toma a for-

ma física e se desvencilha dela,

para retomá-la em nova reen-

carnação capaz de elevar-lhe o

nível cultural ou moral, quan-

do não seja para refazer tarefas

que deixou viciadas ou esque-

cidas na retaguarda.5

Colocada a questão dessa forma,vemos então que os fatores genéti-cos e epigenéticos só exercem açãono corpo físico se foram aceitos pe-

lo Espírito, pois é este que, em úl-tima instância, irá estabelecer vin-culações com moléculas, substân-cias e estruturas orgânicas paraatender os fins da reencarnação.Prosseguindo em suas elucidações,o Espírito Benfeitor analisa que a

[...] hereditariedade e afinidade

no plano físico e no extrafísico,

respectivamente, são leis inelutá-

veis, sob as quais a alma se dife-

rencia para a Esfera Superior, por

sua própria escolha, aprenden-

do com larga soma de esforço a

reger-se pelo bem invariável, que,

em lhe assegurando equilíbrio,

também lhe confere poder so-

bre os fatores circunstanciais do

próprio ambiente, a fim de criar

valores mais nobres para os

seus impulsos de perfeição.6

Os cromossomos, por sua vez,são interpretados pelo Espiritis-mo como “[...] caracteres em quea mente inscreve, nos corpúsculoscelulares que a servem, as disposi-ções e os significados dos seus pró-prios destinos, caracteres que sãoconstituídos pelos genes, como aslinhas são formadas de pontos[...]”.7 Sendo assim, é preciso in-vestir na harmonia do Espírito,visto que a mente equilibrada temcapacidade para operar prodígios,que extrapolam os determinantesdo código genético. A fé e a prece,a conduta harmônica no bem euma vida sadia, sem vícios ou ex-cessos, podem, perfeitamente, re-verter ou amenizar provações exis-tenciais, como enfermidades con-sideradas incuráveis.Im

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26 Reformador • Setembro 2010 336600

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O cientista Bruce H. Lipton ana-lisa que muitos

estudos mostram que os meca-

nismos epigenéticos são um fator

importante em diversas doenças,

entre elas o câncer, os problemas

cardiovasculares e a diabetes. Na

verdade, apenas cinco por cento

dos pacientes de câncer ou que

apresentam problemas cardio-

vasculares podem atribuir suas

doenças a fatores hereditários

[...]. A mídia alardeou a desco-

berta do gene do câncer de ma-

ma, mas deixou de mencionar

que 90 por cento dos casos desse

tipo de câncer não está associa-

do a genes herdados. A maioria

ocorre por alterações induzidas

pelo ambiente e não por genes

defeituosos [...].8

É necessário, então, desenvolver-mos um processo de reeducação,que nos permita a adequada inte-ração no meio em que vivemos,pois, como ensina a Doutrina Es-pírita, o estado de felicidade ou in-felicidade depende das sintoniasmentais que estabelecemos aolongo da jornada evolutiva. Re-corda Emmanuel, assim, que amente é “o espelho da vida”, emqualquer situação.

Definindo-a por espelho da vida,

reconhecemos que o coração lhe

é a face e que o cérebro é o cen-

tro de suas ondulações, gerando

a força do pensamento que tudo

move, criando e transformando,

destruindo e refazendo para acri-

solar e sublimar.

[...]

Em semelhantes manifestações

alongam-se os fios geradores das

causas de que nascem as cir-

cunstâncias, válvulas obliterati-

vas ou alavancas libertadoras da

existência.9

O orientador e benfeitor Alexan-dre, citado no livro Missionáriosda Luz, destaca, por sua vez, o po-deroso efeito da mente humanasobre o organismo:

[...] Dela se originam as forças

equilibrantes e restauradoras

para os trilhões de células do

organismo físico; mas, quando

perturbada, emite raios magné-

ticos de alto poder destrutivo

para as comunidades celulares

que a servem. [...]10

Quando os cientistas aceita-rem essa verdade, pontos obscurosda teoria da evolução deixarão deexistir. Por ora, vale esperar o pro-gresso e guardar esta oportunaorientação de André Luiz:

O metabolismo subordina-se,

desse modo, à direção espiritual,

tanto mais intensa e exatamente,

quanto maior a quota de respon-

sabilidade do ser pelo conheci-

mento e discernimento de que

disponha, e, em plena floração

da inteligência, podemos identi-

ficá-lo não apenas no embate das

forças orgânicas, mas também

no domínio da alma, porquan-

to raciocínio organizado é pen-

samento dinâmico e, com o

pensamento consciente e vivo,

o homem arroja de si mesmo

forças criadoras e renovadoras,

forjando, desse modo, na matéria,

no espaço e no tempo, os mean-

dros de seu próprio destino.11

Referências:1JABLONKA, Eva; LAMBDA, Marion J. Evolu-

ção em quatro dimensões. Trad. Claudio

Angelo. São Paulo: Companhia das Letras,

2010. Cap. 4, p. 141.2HUNTER, Philip. Do que os genes se lem-

bram. Disponível em: <www.ceticismo.org/

forum/index.php?topic=423.0>.3LIPTON, Bruce H. A biologia da crença:

ciência e espiritualidade na mesma sinto-

nia – o poder da consciência sobre a ma-

téria e os milagres. Trad. Yma Vick. São

Paulo: Butterfly, 2007. Cap. 2, p. 82.4______. ______. p. 85.5XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evo-

lução em dois mundos. Pelo Espírito André

Luiz. 25. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2010. P. 1, cap. 7, item Hereditariedade e

afinidade, p. 71.6______. ______. p. 71-72.7______. ______. Item Geometria trans-

cendente, p. 72.8LIPTON, Bruce H. A biologia da crença:

ciência e espiritualidade na mesma sinto-

nia – o poder da consciência sobre a ma-

téria e os milagres. Trad. Yma Vick. São

Paulo: Butterfly, 2007. p. 87.9XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.

Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 1, p. 10.10______. Missionários da luz. Pelo Espí-

rito André Luiz. 43. ed. 2. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2009. Cap. 13, p. 249.11XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evo-

lução em dois mundos. Pelo Espírito André

Luiz. 25. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2010. P. 1, cap. 8, item Metabolismo do

corpo e da alma.

27Setembro 2010 • Reformador 336611

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uitas vezes, obser-vando as caracterís-ticas de uma crian-

ça, ficamos a imaginar o quea espera no futuro, as pos-síveis profissões para as quaispoderá se inclinar, as difi-culdades que terá, se aspec-tos da sua personalidadenão forem corrigidos, e tam-bém o quanto será feliz, sealgumas qualidades se man-tiverem em sua conduta.

É também muito comum,numa espécie de devaneio,imaginar como estaremosno futuro ou pelo menos o quedesejamos ser e ter nos dias doamanhã e, conscientes do que pre-cisa ser feito, nos esforçarmos pa-ra a realização desses desejos.

Embora a sabedoria popular játenha dito que “o futuro a Deuspertence”, podemos pelos nossosesforços no bem preparar umamanhã mais ditoso, aqui ou noAlém, rompendo as repetições econdicionamentos que nos escra-

vizam a um processo nitidamenteneurótico.

Carl Rogers (1902-1987) psicó-logo americano, humanista, escri-tor de vários livros e um dos pre-cursores da psicologia transpes-soal, ousou descrever quais seriamas características da pessoa do fu-turo a partir de seus largos estudose observações como terapeuta,educador e pesquisador do com-portamento humano.

Para ele a pessoa do futuro teráas seguintes características:

• Abertura•Desejo de autenticidade• Ceticismo em relação à Ciên-

cia e à Tecnologia• Desejo de inteireza• Desejo de intimidade• Reconhecer-se sempre em pro-cesso

• Dedicação

28 Reformador • Setembro 2010336622

M

“Tu mesmo preparas muitas vezes os acontecimentos que hão de sobrevirno curso da tua existência.” (O Livro dos Espíritos, q. 869.)

CE Z A R BR AG A SA I D

A pessoado futuro

Page 29: reformador setembro 2010 - a.qxp

• Atitude em relação à Natureza• São pessoas anti-institucionais• Autoridade interna• Certa irrelevância aos bens ma-teriais

• Anseio pelo espiritual

Estas 12 características nos sus-citam vários questionamentos.

Um deles o de pensar se as fa-mílias, centros espíritas e demaisespaços educativos, em concor-dando com a visão de Rogers,estão preparados para a forma-ção de um ser humano com esteperfil.

Outra questão controversa éque ser anti-institucional pode sertambém uma discordância da ma-neira pela qual as instituições seapresentam e se regulam e nãouma oposição sistemática a toda equalquer instituição.

Da mesma forma, ter ceticis-mo em relação à Ciência e à Tec-nologia não significa negar siste-maticamente os inúmeros benefí-cios que elas já puderam propiciarà Humanidade, mas questionar osinteresses mercantilistas e hegemô-nicos daqueles que delas se utili-zam para lucrar, oprimir, aumen-tar a miséria, dominar com o po-der do conhecimento, quando de-veriam melhorar as condições devida de todos os que se encon-tram na Terra.

A proposta de Rogers nos fazlembrar Allan Kardec quando esterevela que a aristocracia do futu-ro será marcada por caracteresintelectuais e morais, isto é, que oser humano do futuro utilizaráa sua inteligência sempre de forma

pacífica, benigna, a serviço do pro-gresso coletivo.

A partir daí, começamos a pen-sar que esta oportuna síntese deCarl Rogers tem relação com aproposta espírita, com os caracte-res do homem de bem, com amissão do homem inteligente naTerra, com a missão dos espíritas,em particular, e com a tarefa quenos cabe a todos como seres en-carnados de um modo geral. E quetoda esta reflexão e ação deve serpermeada por uma necessidadeconstante de autoconhecimento.

Não se trata de um exercíciovazio de futurologia, mas de umaanálise feita por um educadorhumanista do século XIX, sob a ins-piração dos Espíritos superiores, e

de outra análise elaborada tambémpor um educador, este do séculoXX, igualmente inspirada nas suasricas e proveitosas experiências.

Que ambas nos façam refletirsobre como podemos empregarbem o nosso tempo, desenvolven-do em nós, agora no presente, ascaracterísticas da pessoa do futuro.

Bibliografia:KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.

Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2010. Q. 869.

______. Obras póstumas. Trad. Guillon

Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. atualizada. Rio

de Janeiro: FEB. 2010. P. 1, As aristocra-

cias, p. 265.

ROGERS, Carl. Um jeito de ser. São Paulo:

E. P. U., 1987.

29Setembro 2010 • Reformador 336633

mar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o quequereríamos que os outros fizessem por nós”, é a expressão

mais completa da caridade, porque resume todos os deveres dohomem para com o próximo. Não podemos encontrar guia maisseguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazeraos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigi-ríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência,mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temospara com eles? A prática dessas máximas tende à destruição doegoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base desuas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraterni-dade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais have-rá ódios, nem dissensões, mas, tão somente, união, concórdia ebenevolência mútua.

Fonte: KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro.129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 11, item 4.

Allan Kardec

“A

O mandamento maior

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euniram-se em Havana, de 17 a 24de julho, para os trabalhos do 95o

Congresso Anual da Universala Espe-ranto-Asocio (Associação Universal de Es-peranto) <www.uea.org>, mais de 1.000adeptos da Língua Internacional Neutra,provenientes de cerca de 60 países.

O tema principal – “Aproximação deCulturas” –, que traz o mesmo título doAno Internacional proclamado pela ONUe pela UNESCO, ensejou fecundos deba-tes e preleções, evidenciando a paciente eobstinada semeadura do movimento es-perantista durante os 123 anos de suaexistência, cujos esforços têm contribuídopositivamente para a construção de pon-tes entre as diferentes culturas formadoras desse ver-dadeiro mosaico que é a família humana.

Preparando, sobre um fundamento linguísticoneutro, o terreno propício a que mais se estreitem aaproximação e a intercompreensão dos povos, o es-peranto efetivamente se constitui num dos instru-mentos de que aquelas duas organizações mundiaispodem dispor para atingirem seus objetivos precí-puos, em harmonia com a Declaração Universal dosDireitos do Homem.

Os esperantistas-espíritas, representados pela So-ciedade Editora F. V. Lorenz (Societo Lorenz), com acolaboração da Federação Espírita Brasileira (FEB),tiveram ativa participação no evento, pela realizaçãodo tradicional encontro para a exposição dos princí-pios do Espiritismo aos congressistas interessados.

A reunião ocorreu no dia 20 de julho, no Salão IvoLapenna, e, graças a um intenso e bem organizadotrabalho de divulgação que a equipe da Societo Lorenz– Robinson Mattos, João Silva dos Santos, Joana Pi-mentel, Valéria Mattos, Therezinha dos Santos, PauloSérgio Viana e Álvaro Borges de Almeida Motta – rea-lizou, já antes mesmo da abertura do Congresso, como material impresso elaborado pela FEB, o salão aco-lheu o significativo número de 120 congressistas pro-venientes de diversos países, dentre os quais citamos ahonrosa presença do Sr. Alfredo Durán Arias, presiden-te do Consejo Supremo Nacional Espiritista de Cuba.

Após a prece inicial, proferida pela samideaninoJoana Pimentel, o coidealista Álvaro Borges exibiuretratos de pioneiros do Movimento Espírita local, eo Dr. João dos Santos discorreu sobre as atividades da

95o CongressoUniversalde Esperanto, em Cuba

R

30 Reformador • Setembro 2010 336644

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

Público interessado. À esq., Joana Pimentel, à dir., Robinson Mattos

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Societo Lorenz, despertando o interessedaquela associação espírita no senti-do de que a Sociedade possa pu-blicar obras sobre o MovimentoEspírita em Cuba que, contan-do com cerca de 450 entida-des, coloca o país em 2o lugarem número de adeptos, de-pois do Brasil.

Seguiu-se a palestra do Dr.Paulo Sérgio Viana, de Lorena(SP), sobre o tema “Minhaconsciência está anestesiada?”,construída em torno da realida-de de que uma responsabilidadeverdadeiramente cristã pesa sobre to-dos nós diante da miséria em que jazmergulhada uma enorme parcela daHumanidade, miséria que não pode-mos ignorar. Com base nessa realidade,Paulo Sérgio teve a oportunidade de tecer comentá-rios sobre a seguinte questão: À luz do Espiritismo, ohomem é essencialmente bom ou essencialmente mau?.E finalizou seu trabalho com uma rápida compara-ção entre a chamada “ideia interna” do esperanto, ex-pressa no famoso poema de Zamenhof, “Prece sob oEstandarte Verde” e os ensinos dos Espíritos superio-res, codificados por Allan Kardec.

A reunião encerrou-se em clima de fraterna ale-gria, com o sorteio de livros espíritas em esperanto,recebidos com efusivo entusiasmo pelos premiados,

e uma prece emocionada, proferidapelo presidente da Societo Lorenz,

Robinson Mattos.Logo após o 95o Congresso

da UEA, realizou-se, em SantaCruz del Norte, o CongressoMundial da Juventude Espe-rantista, em cuja programa-ção o jovem Álvaro Borges,já mencionado, vice-presi-dente da Cooperativa Cultu-

ral dos Esperantistas, do Rio deJaneiro, também expôs os prin-

cípios da Doutrina Espírita, combase no impresso Konati1u kun

Spiritismo (“Conheça o Espiritismo”),distribuído pelo Conselho Espírita In-ternacional (CEI), despertando o mes-mo interesse, manifestado na reuniãoda Societo Lorenz, em Havana.

Retornaram os organizadores da programação espí-rita com a inabalável certeza de que o trabalho de divul-gação do Espiritismo e do Evangelho por meio do espe-ranto é semeadura sempre promissora na fecundaçãodos corações de irmãos de outras terras, por levar--lhes a orientação, a edificação e a consolação de quesão portadores os dois grandes ideais, e por eviden-ciar-lhes a sua afinidade, a sua estreita aproximação como generoso ideal de justiça e fraternidade entre todosos homens que forma a alma da Língua InternacionalNeutra, iniciada por Lázaro Luís Zamenhof.

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Robinson Mattos eAlfredo Durán Arias

Paulo Sérgio Viana realiza sua palestra

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berço mundial do Espiri-tismo foi a França, maspodemos considerar que,

no Brasil, a nascente dos fenôme-nos provocados pelos Espíritos foia Cidade do São Salvador, na Ba-hia, desde os idos de 1853, antesmesmo da iniciação do futuroCodificador, no mês de maio de1855, em torno dos episódios dasmesas girantes – que seriam con-siderados por ele como o ponto departida da Doutrina Espírita –,1

inicialmente em encontro íntimona casa da sonâmbula Sra. Roger,ali comparecendo em companhiado Sr. Fortier, magnetizador da re-ferida médium, e posteriormente,numa terça-feira do mesmo mês,às oito horas da noite, em casa damédium Sra. Plainemaison, à ruaGrange-Batelière, 18, em Paris.2

Desde 1853, enfatizamos, jáaconteciam noticiários, na antigaProvíncia da Corte Brasileira, so-

bre os fenômenos das tables mou-vantes ou tables parlantes, que agi-tavam, desde 1850, a Europa e osEstados Unidos (as table-mo-ving),3 “que giravam, saltavam ecorriam”,4 e também experimen-tações mediúnicas, quando “pes-soas distintas se agrupavam emtorno das mesinhas, com os dedosmínimos sobre elas, aguardandoum movimento ou batimento depés, sem um objetivo científico,contudo”.5

Há, porém, registros de ocor-rências de “intercâmbio com osmortos” desde 1845, no antigoDistrito de Mata de São João, hojemunicípio, distante 62km de Sal-vador, conforme queixa assinadapor um juiz municipal, datada de24 de maio daquele ano, apresen-tada ao tenente-general presi-

dente da Província, contra pessoas“que faziam reuniões noturnas”no referido Distrito, “a pretextode se ouvirem revelações de almasde mortos que se fingem apare-cer”. Consoante a pesquisadorabaiana Lúcia Loureiro, “é a pri-meira notícia oficialmente docu-mentada sobre a perseguição apessoas que conversavam com osmortos”.6

Mais tarde, oito anos após olançamento de O Livro dos Espíri-tos (1857), por Allan Kardec, emParis, o Brasil iria destacar-se,pela primeira vez, no cenárioespírita mundial, em decorrênciade uma nota inserida pelo Codi-ficador na Revista Espírita de 1865,graças a episódio ocorrido naProvíncia da Bahia, que envolviaesforçado estudioso da novel Dou-trina, desde as obras iniciais pu-blicadas, as quais, no Brasil, noantigo Império, eram lidas por pes-soas cultas da Corte no idiomaoriginal, o francês.

O affaire, que envolveu o entãotaquígrafo da Assembleia Legisla-tiva da Bahia (autor, em 1885,do livro Manual de Estenografia

OAD I LTO N PU G L I E S E

Luís Olímpio Telesde Menezes

1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 2,item 60.

2Idem. Obras póstumas. Trad. EvandroNoleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.P. 2, A minha iniciação no espiritismo.

3WANTUIL, Zêus. As mesas girantes e oespiritismo. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.Item Anteriormente às “mesas girantes”,p. 7.

4KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:FEB, 2009. P. 2, A minha iniciação noespiritismo, p. 348.

5LOUREIRO, Lúcia. Memórias históricasdo espiritismo na Bahia. Teatro EspíritaLeopoldo Machado. p. 19. 6Idem, ibidem. p. 22.

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Brasiliense), Luís Olímpio Teles deMenezes, tinha como referênciaartigo-réplica de sua coautoria,estampado em jornal da cidadedo Salvador, o Diário da Bahia.Na edição de 28 de setembro de1865, ele refutava crônica de cer-to Dr. Déchambre, publicada naGazette Médicale, de Paris, e queexarava comentários depre-ciativos a O Livro dos Espíri-tos. O fato, chegando ao co-nhecimento de Allan Kardec,levou-o a registrá-lo na Re-vue Spirite.7

Luís Olímpio Teles de Me-nezes, soteropolitano, nasci-do em 26 de julho de 1825, foium extraordinário precursore divulgador do Espiritismona sua pátria. A ele devemos afundação, em 1865, a 17 de se-tembro daquele ano, em Salvador,do primeiro centro espírita doBrasil, o Grupo Familiar do Espi-ritismo, do qual foi seufiel dirigente.

Mas, a preocupaçãoe o esforço de LuísOlímpio eram em tornoda divulgação da Doutri-na, em face do valor e daexcelência dos seus postulados, a

exemplo da Existência de Deus;da Reencarnação; da Lei daCausa e Efeito; da Imortalidade;da Sobrevivência da Alma após amorte, fundamentos esses capa-zes de mudar consciências elibertá-las do mal e do materia-lismo.

Em julho de 1869, culminaria osseus objetivos lançando o primeiroperiódico espírita em terras brasi-leiras: o Eco d’Além-Túmulo, por eledenominado Monitor do Espiritis-mo no Brasil, sendo citado peloCodificador na Revue de outubrode 1869, no capítulo “Bibliografia –Novos jornais estrangeiros”.8

Luís Olímpio retornaria aomundo espiritual, após uma vidadedicada à divulgação do Espiri-tismo, em 16 de março de 1893.Seu nome deverá sempre ser lem-brado por todos nós, seguindo osseus passos nesse desiderato.

Se Allan Kardec foi o primeiroespírita da França e do mundo, onome de Luís Olímpio Teles deMenezes merece brilhar na ga-leria dos continuadores da mis-são do Codificador, como umdos pioneiros do Espiritismo noBrasil.

Em sua homenagem, ao seu de-dicado esforço de idealista desdeos primeiros clarões do Espiritis-mo na nação brasileira, o Movi-mento Espírita comemora, anual-mente, em 26 de julho, o Dia daImprensa Espírita.

Em 1 de janeiro comemora-se,também, o Dia Internacio-nal da Imprensa Espírita,designado pelo Conselho

Espírita Internacional (CEI)desde 2004, em homenagem aolançamento do primeiro periódi-co, e considerado um dos maio-res veículos de comunicação so-cial espírita do mundo, a RevistaEspírita (Revue Spirite: journald’études psychologiques). Publi-cada por 11 anos e quatro me-ses, de janeiro de 1858 a abril de 1869, sob a orientação direta deAllan Kardec, quando o mestredesencarnou, em 31 de março,deixara no prelo a edição de abrildo mesmo ano, mas que “não

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7KARDEC, Allan. O Espiritismo no Bra-sil – Extraído do Diário da Bahia. In: Re-vista espírita: jornal de estudos psicológi-cos, ano 8, p. 442-444, nov. 1865. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Vide tambémWANTUIL, Zêus. Grandes espíritas doBrasil. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.Teles de Menezes, p. 568; e LOUREIROLúcia. Memórias históricas do espiritismona Bahia. Teatro Espírita LeopoldoMachado. p. 57 e ss.

8KARDEC, Allan. Revista espírita: jornalde estudos psicológicos, ano 12, p. 436,

out. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra.3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

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chegaria a ver com os olhos dacarne”.

A imprensa espírita é atual-mente notável e comovedorarealidade, expressa em centenasde jornais, revistas, periódicosdiversos, inclusive através daInternet, alguns deles centená-rios, a exemplo de Reformador,com edições ininterruptas desdea sua fundação, em 21 de janeirode 1883, por iniciativa de Au-gusto Elias da Silva (1848-1903),no mesmo dia que, em Paris,retornava à pátria espiritual aprofessora de Belas-Artes Amé-lie-Gabrielle Boudet, MadameRivail/Kardec, viúva do grandemissionário.

Nesta fase de transição porque passa o planeta Terra, em quese observa a perplexidade que atodos domina, em face do avassa-lador crescimento da violência edo crime, ao lado de cataclismosque ceifam milhares de vida,acontecimentos esses prenuncia-dores do planeta de regeneração;neste momento em que a cria-tura humana questiona, comonunca, na História, a própriaexistência de Deus, optando, en-tão, pelo materialismo, pelo sui-cídio, pela eutanásia, torna-seimprescindível e emergencial queos ideais de Luís Olímpio Telesde Menezes se multipliquem esensibilizem o maior número pos-sível de espíritas, transforman-do-se, cada um, em “cartas vi-vas” da mensagem do Cristo, re-novada a partir do século XIX,com o advento do Consolador, queé o Espiritismo.

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Bendito sejasBendito sejas, coração amigo,Pelo pão que dás, à porta,Ao companheiro que se desconforta,Na aflição da penúria sem abrigo!...

Deus te faça feliz pela roupa que ofertasAos torturados do caminho,Que tanta vez se vão no desalinhoDas feridas que trazem descobertas...

Deus te conceda o prêmio da venturaPela ternura sorridenteCom que levas ao doenteO amparo do remédio e a esperança da cura.

Deus te guarde na fonte da alegria,Para lenir, no esforço a que te dês,A orfandade e a viuvezQue vivem para a dor de cada dia.

Deus, porém, te abençoe, coração brando e pasmo,Com a mais sublime recompensa,Quando olvidas a intromissão da ofensa,O golpe da injustiça e a pedra do sarcasmo.

Deus te exalte no santo esquecimentoDo mal que te golpeia,Reduzindo a extensão da chaga alheiaSem cogitar do próprio sofrimento.

Bendito sejas, coração submisso,Embora sábio entre os mais sábios,Pela palavra boa de teus lábios,No exemplo da bondade e do serviço,Porque o amor transforma a sombra em luzE o perdão, onde ampare, nunca erra,Auxiliando a vida em toda a TerraPara o Reino Divino de Jesus.

Maria Dolores

Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia da espiritualidade. 5. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2002. Cap. 31.

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O evento “Tributo a Chico Xa-vier”, realizado no auditório 4 daOrganização das Nações Unidas(ONU), em Nova York, na noi-te de 6 de agosto, foi promovidopela área da ONU – United Na-tions Staff Recreation Council(LNSRC), e pela Society for En-lightenment and Transformation. Acerimônia foi aberta pela represen-tante da citada área da ONU, Sra.Rosely Saad, seguindo-se esclare-cimentos de Vanessa Anseloni so-bre as razões da homenagem aChico Xavier, e saudação por Jus-sara Korngold, vice-presidente doConselho Espírita dos Estados Uni-dos. Como parte da homenagempelo Centenário de Francisco Cân-dido Xavier, foi exibido o DVD dofilme Chico Xavier e montada me-sa-redonda integrada por NestorJoão Masotti, presidente da Federa-ção Espírita Brasileira (FEB) e se-cretário-geral do Conselho EspíritaInternacional (CEI), e AntonioCesar Perri de Carvalho, diretordas referidas instituições. Amboscompareceram como convidados

dos organizadores do evento e te-ceram considerações sobre o papelde Chico Xavier como um homemde bem, sua va-lorosa e exem-plar história devida e a práticada mediunida-de fiel à orien-tação da Dou-trina Espírita.Foram respon-didas pergun-tas formuladaspelo público e,em seguida, foi exibido o trailer dofilme Nosso Lar. A Mesa foi coorde-nada por Vanessa Anseloni e JoãoKorngold colaborou nas traduções.Ao final, foi solicitado um momen-

to de oração dedicado ao homena-geado. O auditório, com a capaci-dade de 540 pessoas – previamen-

te inscritas –,estava lotado,contando coma presença delideranças es-píritas de vá-rios Estadosnorte-ameri-canos. Na vés-pera do even-to, Nestor JoãoMasotti e An-

tonio Cesar Perri de Carvalho pro-feriram palestras, respectivamente,nas instituições espíritas novaior-quinas Spiritist Group of New Yorke no Allan Kardec Spiritist Center.

Chico Xavier na ONUTributo a

Cesar Perri e Nestor Masottiem frente a sede da ONU

Mesa de Abertura: João Korngold, Antonio Cesar Perri,Vanessa Anseloni e Nestor João Masotti

Aspecto parcial do público

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trabalho voluntário naCasa Espírita é um em-preendimento de luz vol-

tado para a edificação do amorna Humanidade, atendendo àsrecomendações de Jesus de quedevemos nos amar uns aos ou-tros como Ele nos amou. Étarefa que todo espírita de boavontade deve realizar espontâ-nea e naturalmente, com o co-ração cheio de alegria e felici-dade.

Diante de uma realidade, on-de o trabalho está associado afontes de renda voltadas para asmais diversas necessidades dotrabalhador, desenvolver ativi-dades voluntárias em prol dobem-estar social e espiritual dosemelhante, sem auferir nenhu-ma remuneração financeira porisso é, indubitavelmente, exem-plo sublime de acolhimento aochamado do Cristo para a cons-trução de uma nova relação dotrabalho com a felicidade, rea-lização e segurança da criaturahumana.

Razões que devemmotivar os espíritas a

participarem, com amor,do trabalho voluntário

na Casa Espírita

a) O trabalho como testemunhoda fé em Deus e em Jesus

Ter fé em Deus e em Jesus não é,somente, acolher no íntimo seusensinamentos, mas acima de tudovivenciá-los. Demonstrá-la é dara Deus o que é de Deus, é edificar oamor no coração, é expandir es-se amor para as criaturas, é doar--se com dedicação para que a dore o sofrimento sejam afugentadosdo nosso meio. Só isso bastaria pa-ra realizarmos nosso trabalho comalegria, sem falar da imensa felici-dade de ter como companheirosde jornada os Voluntários de Jesusque habitam o plano espiritual davida.

b) O trabalho como fonte de rea-lização pessoal

O conceito de realização pessoal,geralmente, está associado a ganhos

financeiros, prestígio profissional,influência social, alcance do maisalto cargo no âmbito do trabalho,e às mais variadas conquistas par-ticulares, para citar alguns aspec-tos que fundamentam tal conceito.Seus resultados, entretanto, visam,quase que unicamente, o bem-es-tar e o prazer do seu agente, fican-do o semelhante numa posiçãosecundária. Esse modelo, contu-do, por ser individualista, não temconcorrido para a felicidade sus-tentável da criatura humana, umavez que muitos dos seus adeptosnão lograram êxito no seu propó-sito, pois a felicidade é uma con-quista coletiva. Nesse contexto, aDoutrina Espírita nos dá um novoparadigma de realização pessoal,uma nova forma de sentir prazer esatisfação íntima. Esse novo mo-delo fundamenta-se em bem ser-vir ao próximo, fazê-lo feliz, semnenhuma recompensa exterior,pois estamos aqui para trabalharna edificação do amor no coraçãodas criaturas, único caminho ca-paz de nos fazer sentir a felicida-

OXE R X E S PE S S OA D E LU NA

O trabalho voluntári0na Casa Espírita –

o voluntariado do amor

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de plena e a sensação ímpar derealização.

Por atender plenamente a essenovo paradigma, o trabalho vo-luntário da Casa Espírita, nas suasmais variadas formas, deve servivenciado com muito despren-dimento, dedicação, esmero e ca-rinho, pois ao servirmos a tantosnecessitados e aflitos dos dois la-dos da vida e também aos benfei-tores espirituais que nos assistem, écomo se ao Cristo estivéssemosservindo.

c) O trabalho como contribuiçãopara um mundo futuro melhor

É certo que não vivemos nummundo ideal, haja vista os quadrosde violência, injustiça, ganância,fome e miséria, que ainda fazemparte da nossa realidade. Se, porsi sós, tais flagelos são indesejáveis,imagine-os atuando como fontesgeradoras do alimento necessá-

rio à fortificação de alguns encar-nados e desencarnados compro-metidos com a quebra da paz e daharmonia social. Este estado de coi-sas tem raízes, naturalmente, naausência de fraternidade, solida-riedade e amor entre as criaturas.

Sabemos também que esta nãoserá nossa última reencarnaçãona Terra, pois ainda temos queaqui retornar a fim de dar cum-primento a outros compromissosrelacionados com nosso progra-ma evolutivo. Trabalhar hoje novoluntariado do bem com essalucidez de consciência é plantar,na sociedade e nas almas de tan-tos aflitos e desencontrados navida, sementes que com o tem-po florescerão e darão os frutosapropriados à efetivação da paz eda concórdia entre os homens.Os efeitos desse labor, com todacerteza, sentiremos em nossasfuturas reencarnações.

d) O trabalho como fator de rea-juste espiritual e reconciliação

Sendo a Terra um mundo deexpiações e provas, é de se espe-rar que seus habitantes, deten-tores dos mais variados grausevolutivos, guardem relativa ouacentuada sintonia com os pa-drões éticos e morais desta cate-goria de mundo, causa geradorada maioria dos desentendimen-tos humanos.

Quando do seu surgimento, en-tretanto, Deus, no infinito de suasabedoria, encaminha as partes en-volvidas para espaços de convivên-cia que favoreçam a restauraçãoda concórdia e do entendimento,então fragilizados. A Casa Espírita,pela natureza dos seus propósitosna sociedade terrena, não poderiadeclinar do chamado divino paraacolher alguns desses irmãos emlitígio, no sentido de favorecersua reconciliação.

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Dependendo do grau de discór-dia, podem surgir comportamen-tos de risco para o processo evo-lutivo das partes e para a funcio-nalidade da própria instituição,todavia, a Espiritualidade benfei-tora estará atenta para que danoalgum atinja a Casa e a Causa es-píritas, pois, no momento certo,agirá com eficiência no sentidode restaurar a paz e a funcionali-dade da instituição.

Ante a possibilidade dessa ocor-rência, reflitamos sobre duas si-tuações delicadas: o confronto en-tre a dinâmica de trabalho do vo-luntário e aquela existente na insti-tuição, e o conflito motivado porciúme ou vaidade.

Em ambos os casos é indispen-sável que pelo menos uma das par-tes busque ampliar sua visão do queé servir com amor à causa do Cristoatravés do Espiritismo. Essa am-plitude de vista, fatalmente, as le-vará ao diálogo fraterno, objetivan-do o reajuste imediato das relações,a compreensão de que nem sem-pre se pode alcançar tudo num sómomento, e de que o avanço pau-latino das ideias e empreendimen-tos guarda seus méritos. Não nosprecipitemos assumindo posturasde embates, porque, se nossospropósitos forem corretos, maisadiante a Espiritualidade benfei-tora os fará efetivar-se, sem danoalgum à obra e à Casa. Nessas situa-ções cabe-nos vigiar, renunciar à contenda, guardar sintonia com oplano espiritual superior, porquenão interessam ao Espiritismoavanços que deixem no seu rastrodesuniões, ódios, rancores, ou

coisas similares, pois nossa Dou-trina segue as pegadas do Cristo,que nos recomenda amarmo-nosuns aos outros e perdoarmo-nos,mutuamente, para que não ve-nhamos a sofrer no futuro.

Nos casos em que uma das par-tes se mantenha irredutível, cabeà outra dar seu testemunho deentendimento da lei de amor,recuando temporariamente do

seu intento, continuando a exercerseu trabalho com dedicação eempenho, orando pelos compa-nheiros que não o compreen-dem e, acima de tudo, tratando--os como irmãos.

Ao optarmos pela não agressi-vidade ou pelo não confronto, es-taremos arando o terreno para, nofuturo, germinar com sucesso a se-mente da reconciliação ora plan-

tada. Um porvir que poderá ocor-rer ainda na atual reencarnação.

e) O trabalho como recurso favo-rável à desobsessão

Sabemos que a obsessão se esta-belece em decorrência das imper-feições humanas, nas relações entresemelhantes, nesta ou em outrasexistências reencarnatórias, e quesua intensidade está intimamenteligada aos procedimentos e açõessintonizados com o mal. O inimi-go invisível, ao perceber que suavítima, mesmo com outra vesti-menta corpórea, tem comporta-mento similar ao de outrora, sente--se estimulado a continuar sua vin-gança, no intuito de causar-lhe des-confortos e dores desnecessárias.Se, ao contrário, depara-se com seudesafeto, comportando-se de ma-neira totalmente diferente da ante-rior, atuando, por exemplo, comoagente da misericórdia divina noalívio às dores dos semelhantes,ou mesmo contribuindo, com seutrabalho, para a felicidade de cria-turas deste ou do outro lado da vi-da, a energia negativa que venha aliberar em direção à sua vítima se-rá amortecida ou mesmo extinta,pois a força do bem, natural eespontânea, lhe é superior.

Dessa forma, e pelas inúmerasoportunidades de felicidade que otrabalho voluntário na Casa Espí-rita nos propicia, alistemo-nos nassuas fileiras e desenvolvamos nos-sas tarefas com muito amor, alegria,zelo e dedicação. Afinal, poucos sãoos que percebem que, trabalhan-do no voluntariado do bem, estãotrabalhando ao lado de Jesus.

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Poucossão os que

percebem que,trabalhando

no voluntariadodo bem, estãotrabalhando

ao ladode Jesus

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screvendo aos hebreus so-bre a necessária progressi-vidade evolutiva, Paulo, o

singular “Vidente de Damasco”,exorou:

Porque, devendo já ser mestres

pelo tempo, ainda necessitais de

que se vos torne a ensinar quais

sejam os primeiros rudimentos

das palavras de Deus; e vos haveis

feito tais que necessitais de leite e

não de sólido mantimento.

Porque qualquer que ainda se

alimenta de leite não está expe-

rimentado na palavra da justi-

ça, porque é menino.

Mas o mantimento sólido é

para os perfeitos, os quais, em

razão do costume, têm os senti-

dos exercitados para discernir

tanto o bem como o mal.1

Nessa carta Paulo chamava aatenção dos hebreus para o ne-

cessário aproveitamento das li-ções que não deveriam ficar mu-mificadas nas teorias, mas sim,deveriam ser levadas para ocampo da prática, isto é: apren-der primeiro e depois fazer,praticar...

Kardec volta hoje com a mes-ma advertência paulina: “Pois que

vos dizeis espíritas, sede-o”.2 Deque adianta a teoria espírita seno campo da ação, da prática,nós não a vivenciamos?!

A progressividade“homeopática”

das revelações

E

“Deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição.” – Paulo. (Hebreus, 6:1.)

RO G É R I O CO E L H O

2KARDEC,Allan. O evangelho segundo o espi-ritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10,item 14, p. 193.1HEBREUS, 5:12-14.

Apóstolo Paulo

39Setembro 2010 • Reformador 337733

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Se traçarmos uma linha retaimaginária desde o tempo do pa-triarca Abraão até Kardec, passan-do por Moisés e Jesus, vamos ob-servar que existe, aproximada-mente, um lapso de vinte séculosentre cada um deles.

Isso vem nos mostrar a dosa-gem “homeopática” da metodolo-gia pedagógica do Mais Alto. Umaluz muito forte, em vez de iluminar,ofusca. Assim, as revelações obe-deceram a um rigoroso critério deespaçamento e oportunidade entresi, proporcional à nossa capacidadede assimilação.

Ainda nos tempos do Império,sob o pseudônimo “Max”, o Dr.Bezerra de Menezes escreveu naspáginas do jornal O Paiz:

[...] Prestando-se atenção valio-

sa aos fatos da revelação divina,

não se pode deixar de reconhe-

cer que ela tem vindo à Terra gra-

dual e progressivamente, de mo-

do correlativo ao gradual e pro-

gressivo esclarecimento da capa-

cidade humana.

Nos tempos primitivos, quando

o homem possuía mais sentidos

do que faculdades, era mais ma-

téria do que Espírito, a revelação

não passou do círculo da família

de Abraão, e não compreendeu

mais do que a ideia de um Deus

criador, soberano e senhor...

Vinte séculos de progresso hu-

mano já permitiram a revelação

moisaica, muito mais ampla em

extensão e compreensão, tanto

que já foi dada a uma nação que

compreendeu os princípios con-

sagrados no Decálogo.

Mais vinte séculos de progresso

humano, e já a lei de Moisés,

considerada a última palavra do

Céu, era insuficiente para enca-

minhar os homens ao alto des-

tino que lhe foi posto pelo Cria-

dor, e eis que baixou à Terra a

Boa Nova, a revelação messiâ-

nica, incomparavelmente, mais

ampla que a moisaica, pois que

se estendeu a todas as nações, e

compreendeu a grandeza des-

lumbrante do Evangelho.

Esses estágios da revelação divina

descobrem, aos que “têm olhos

de ver”, a lei que enunciamos:

revelação progressiva, na medida

do progresso humano.

Se essa lei vigorou, desde os

tempos primitivos até à vinda

de Jesus, ou Deus põe leis mu-

táveis, ou ela vigorará pelos sé-

culos dos séculos.

Escolham os agressores, mas te-

nham a lealdade de confessar

por qual das duas hipóteses se

decidem: atacar as infinitas per-

feições, dando às suas obras o

caráter da imperfeição, da va-

riabilidade, ou acatá-las, admi-

tindo novas revelações, à medi-

da que a Humanidade, por seu

progresso, adquirir a capacida-

de de compreender os mais ele-

vados princípios.

Pode-se negar que tenham as

novas revelações feito espantoso

progresso com relação ao que era

na permanência da revelação

moisaica? Impossível!...

Logo, ou a lei da progressividade

da revelação era efêmera, e Deus

é mutável em suas volições ou

devemos esperar novo ensino,

mais amplo que os precedentes.

E devemos esperá-lo, não só pe-

las razões expendidas, como por-

que nos foi ele prometido pelo

próprio Jesus, que disse (Evange-

lho de S. João): não poder ensinar

muitas outras verdades, porque o

mundo não podia, ainda, com-

preendê-las (confirmação da lei

da progressividade da revelação,

na medida do progresso huma-

no) que, a seu tempo, mandaria

o Consolador; que as explicaria.3

O ínclito mestre lionês ensina:

Jesus [...] conformando seu ensi-

no com o estado dos homens de

sua época, não julgou conveniente

dar-lhes luz completa, perceben-

do que eles ficariam deslumbra-

dos, visto que não a compreen-

deriam. Limitou-se a, de certo

modo, apresentar a vida futura

apenas como um princípio, como

uma lei da Natureza a cuja ação

ninguém pode fugir. [...]

O Espiritismo veio completar,nes-

se ponto, como em vários outros,

o ensino do Cristo, fazendo-o

quando os homens já se mostram

maduros bastante para apreender

a verdade. Com o Espiritismo, a

vida futura deixa de ser simples

artigo de fé, mera hipótese; torna-

-se uma realidade material, que

os fatos demonstram, porquanto

são testemunhas oculares os que

a descrevem nas suas fases todas e

em todas as suas peripécias, e de

tal sorte que, além de impossi-

3MENEZES, Bezerra de. Espiritismo, estudosfilosóficos. São Paulo: FAE, 2001.V. 2, cap. 90.

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bilitarem qualquer dúvida a esse

propósito, facultam à mais vul-

gar inteligência a possibilidade

de imaginá-la sob seu verdadeiro

aspecto, como toda gente ima-

gina um país cuja pormenori-

zada descrição leia. [...]4

Ainda ensina Kardec:

Desde que é incontestável o mo-

vimento progressivo, não há que

duvidar do progresso vindouro.

O homem quer ser feliz e é na-

tural esse desejo. Ora, buscando

progredir, o que ele procura é

aumentar a soma da sua felicida-

de, sem o que o progresso care-

ceria de objeto. Em que consis-

tiria para ele o progresso, se lhe

não devesse melhorar a posição?

Quando, porém, conseguir a so-

ma de gozos que o progresso in-

telectual lhe pode proporcionar,

verificará que não está comple-

ta a sua felicidade. Reconhecerá

ser esta impossível, sem a segu-

rança nas relações sociais, segu-

rança que somente no progresso

moral lhe será dado achar. Logo,

pela força mesma das coisas, ele

próprio dirigirá o progresso para

essa senda e o Espiritismo lhe ofe-

recerá a mais poderosa alavanca

para alcançar tal objetivo. (Grifo

nosso.)5

Por tudo que expusemos aci-ma, é que, provavelmente, Kardectenha feito o seguinte questiona-mento aos Espíritos do Senhor:

Por que não ensinaram os Espí-

ritos, em todos os tempos, o que

ensinam hoje?

Ao que eles responderam:

Não ensinais às crianças o que

ensinais aos adultos e não dais

ao recém-nascido um alimento

que ele não possa digerir. Cada

coisa tem seu tempo. Eles ensi-

naram muitas coisas que os

homens não compreenderam

ou adulteraram, mas que po-

dem compreender agora. Com

seus ensinos, embora incom-

pletos, prepararam o terreno

para receber a semente que vai

frutificar.6

Hoje é o tempo da frutificação.Boa colheita a todos!...

4KARDEC, Allan. O evangelho segundo oespiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed.1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 2,item 3.

5Idem. O livro dos espíritos. Trad. GuillonRibeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2010. Conclusão, item 4.

6Idem, ibidem. Q. 801.

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Santa Catarina: Preparo de Monitores Mais uma etapa no processo de revisão dos módulosdo Curso de Capacitação e Formação de Monitoresdos Cursos para o Estado de Santa Catarina foi reali-zada no dia 14 de julho. Reunidos na sede da Federa-ção Espírita Catarinense, em Florianópolis, confra-des realizaram revisões em textos e material didáticoem geral, com discussões para uniformizar a propos-ta educativa. Informações: <www.fec.org.br>.

Alagoas: Evento sobre Fluidoterapia A Federação Espírita do Estado de Alagoas pro-moveu nos dias 17 e 18 de julho, o II Encontro deTrabalhadores do Atendimento Espiritual, sendo “OPasse” o tema principal. Atuaram no evento MariaEuny Herrera Masotti e Virgínia Roriz, da Área deAtendimento Espiritual das Comissões Regionaisdo CFN da FEB. Informações: <www.feeal.org.br>.

Espírito Santo: Atendimento a Encarnadoe Desencarnado

O Grupo da Fraternidade Espírita Jerônymo Ribeiro(ES) sediou, no dia 25 de julho, o Encontro Estadualde Trabalhadores das Áreas de Atendimento Espiri-tual e Orientação Mediúnica 2010. O evento foi rea-lizado pela Federação Espírita do Estado do EspíritoSanto, tendo como tema “Desafios no atendimen-to ao Encarnado e ao Desencarnado”. Informações:<[email protected]>.

Rio Grande do Norte: Trabalhadoresespíritas em ação

O órgão da Federação Espírita do Rio Grande doNorte, operacionalizador do Movimento Espíritajunto às instituições espíritas de Natal – CRENATAL–, promoveu nos dias 30 e 31 de julho o XII Encon-tro dos Trabalhadores Espíritas de Natal. Com o temacentral “Chico Xavier: O Homem e a Missão” houvepainéis temáticos, oficinas e palestras com desmem-bramento do tema central e participação de oradorescomo Frederico Menezes e Silvio Romero. Informa-ções: <www.fern.org.br>.

Maranhão: Gestão de Centro Espírita Um seminário sobre Gestão de Centros Espíritas foirealizado, com promoção da Federação Espírita doMaranhão, nos dias 31 de julho e 1o de agosto, emImperatriz. O evento teve a atuação de RobertoVersiani e César Adonnay, da equipe da Secretaria--Geral do CFN da FEB. Informações: <[email protected]>.

Distrito Federal: Aspectos Jurídicos doCentro Espírita

No dia 1o de agosto ocorreu o seminário “AspectosJurídicos do Centro Espírita”, realizado pela Federa-ção Espírita do Distrito Federal, em sua sede. Parti-cipou como facilitador Ricardo Silva, da equipe daSecretaria-Geral do CFN da FEB. O evento foi volta-do para dirigentes dos centros espíritas e advogadosvoluntários do Movimento Espírita. Informações:<www.fedf.org.br>.

Rio de Janeiro (RJ): Encontro sobre ChicoXavier

No dia 15 de agosto ocorreu evento pelo Centenáriode Chico Xavier promovido pelo Centro Espírita Joan-na de Ângelis, da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro).O “Encontro com Chico Xavier” contou com palestrasdos seguintes expositores: Antonio Cesar Perri de Car-valho, Arnaldo Rocha, José Raul Teixeira, Júlio Césarde Sá Roriz, Plínio de Oliveira, e da equipe do filmeNosso Lar, o diretor Wagner de Assis e os atores AnaRosa e Renato Prieto. O evento foi realizado no Arou-ca Barra Clube. Informações: <www.cejabarra.org>.

Itaperuna (RJ): A Família como Alicerce daRegeneração

A ação conjunta do Conselho Espírita de UnificaçãoNoroeste com o Conselho Espírita do Estado do Riode Janeiro culminou na realização da 52a SemanaEspírita do Noroeste Fluminense. Foi realizada nosdias 18 a 24 de julho, na cidade de Itaperuna, tendocomo tema central “A Família como Alicerce da Re-generação”. Informações: <www.ceunoroeste.org.br>.

Seara Espírita

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