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ANáLISE Nova Tabela Emolumentar dos Registos e do Notariado (continuação) MARCAS REGISTO DE MARCA – providência cautelar ENTREVISTA Hugo Lourenço, novo presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE) O ano de 2013 será de “mais fiscalização” e “combate à pendência processual” EM FOCO Regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à habitação em situação económica difícil dezembro/2012 Vida Judiciária Nº 172 - dezembro 2012 - 7,50 €

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AnáliseNova Tabela Emolumentar dos Registos e do Notariado (continuação)

mArcAsREGISTO DE MARCA – providência cautelar

enTreVisTA Hugo lourenço, novo presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE)

O ano de 2013 será de “mais fiscalização” e “combate à pendência processual”

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regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à habitação em situação económica difícil

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Nº 172 - dezembro 2012 - 7,50 €

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editorial VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 1

A eficiência do processo executivoPor: Sandra Miranda da Silva

Na entrevista concedida à “Vida Judiciária”, a respeito da revisão do Código de Processo Civil, o novo presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE), dr. Hugo Lourenço, acredita que o processo executivo vai mudar profundamente, sendo que o diploma que regulamenta a extinção das execuções, nomeadamente quando não for demonstrada a existência de bens penhoráveis do executado, deverá contribuir para a efetiva redução da pendência processual.Na opinião do dr. Hugo Lourenço, será possível, muito em breve, acompanhar em tempo real toda a tramitação processual e todos os movimentos financeiros por todos os agentes de execução através da adaptação dos atuais sistemas informáticos às novas competências legais da CPEE, o que já está em curso.O Dr. Hugo Lourenço acredita que está em desenvolvimento um melhor processo executivo e que, durante 2013, serão e continuarão a ser desenvolvidas ações de fiscalização externas, formadas por comissões de fiscalização, sobretudo vocacionadas para aspetos específicos da atividade dos agentes de execução, em matéria das pendências processuais, da tramitação processual e dos movimentos contabilísticos/financeiros das contas-cliente.

ProprietárioVida Económica - Editorial, S.A.

Rua Gonçalo Cristóvão, 14 - 2º

4000-263 Porto

NIF 507 258 487

DiretorJoão Carlos Peixoto de Sousa

Coordenadora de ediçãoSandra Silva

PaginaçãoFlávia Leitão

Direção ComercialPorto:

Teresa Claro

Madalena Campos

AssinaturasMaria José Teixeira

E-mail: [email protected]

Redação, Administração Vida Económica - Editorial, S.A.

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Telefone: 223 399 400

Fax 222 058 098

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Delegação de LisboaCampo Pequeno, 50 – 4º Esq.

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ImpressãoUniarte Gráfica / PortoPublicação inscrita no Instituto

da Comunicação Social nº 120738

Empresa Jornalística nº 208709

Periodicidade: mensal

Nº 172 dezembro 2012REVISTA MENSAL

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sumárioVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 20122

12 Em Foco •Regimeextraordináriodeproteçãoaosdevedoresdecréditoàhabitaçãoemsituação

económica difícil

•AreformadoMapaJudiciário(continuaçãodaediçãoanterior“Atualidades”)

25 Atualidades Informações jurídicas

33 Registos & Notariado Compra de locação com opção de compra

34 Análise Nova Tabela Emolumentar dos Registos e do Notariado em vigor desde 1.10.2012

(continuação na edição anterior da VJ)

36 Marcas & Patentes REGISTO DE MARCA – PROVIDÊNCIA CAUTELAR

(Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.11.2012)

45 Jurisprudência

Resumos de Jurisprudência

Jurisprudência do STJ e das Relações

Sumários do STJ

63 Legislação

Principal legislação publicada

1ª e 2ª séries do Diário da República

Hugo Lourenço, novo presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE)

O ano de 2013 será de “mais fiscalização” e “combate à pendência processual”

4 Entrevista

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“Os sistemas informáticos estão a ser adaptados às competências legais da CPEE, sendo que, a muito breve trecho, será possível acompanhar, em tempo real, toda a tramitação processual e todos os movimentos fi nanceiros praticados por todos os agentes de execução”, revela Hugo Lourenço à VJ.

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O processo executivo “está a mudar” em Portugal. e mudará ainda mais “profundamente” com a entrada em vigor das soluções previstas no novo Código do Processo Civil e, também, com um diploma intercalar já aprovado que regulamenta a extinção das execuções nalgumas circunstâncias, nomeadamente quando não for demonstrada a existência de bens penhoráveis ao executado. Ambos os diplomas deverão “contribuir para a efetiva redução da pendência processual”, acredita o novo presidente da Comissão para a eficácia das execuções (CPee).em entrevista à “vida Judiciária”, Hugo Lourenço, que tomou posse em abril, está ciente de que começa este mandato num momento em que o número de insolvências

atinge valores recorde em Portugal e em que a cobrança de dívidas dos particulares e das empresas é cada vez mais difícil de cumprir. Certo de que o futuro está, pois, “pleno de desafios”, o novo presidente da CPee traça objetivos para 2013. Garante que é “essencial” haver “mais fiscalização externa e interna” e que no novo ano que está à porta haverá um novo enfoque: “o combate à pendência processual”.

vida Judiciária - tomou posse a 18 de abril de 2012 como presidente da Co-missão para a eficácia das execuções (CPee). Como encara este mandato que tem pela frente?Hugo Lourenço - Pleno de desafios. O processo executivo está a mudar. Mudará profundamente com a entra-da em vigor das novas soluções legais contidas no novo Código do Processo Civil, mudará com a entrada em vigor do diploma intercalar, já aprovado em

Conselho de Ministros, cuja entrada em vigor se aguarda para muito breve e já está a mudar de forma muito sensível, aliás, no seguimento da introdução, em junho de 2012, das novas regras relativas ao controlo dos movimentos financeiros dos agentes de execução, através das denominadas contas clien-te, nas quais são movimentados os fundos relativos às execuções. Estas mudanças constituem também uma oportunidade para aprofundar o mo-delo de acompanhamento e controlo da atividade dos agentes de execução, adotando, também a este propósito, novas soluções que promovam o maior rigor e a transparência nesta importante área da Justiça.

vJ - Num momento em que o número de insolvências atinge valores recor-de e a cobrança de dívidas é cada vez mais difícil, quais são as suas grandes prioridades?HL - Antes de mais, contribuir para o

TERESA SILVEIRA

[email protected]

Hugo Lourenço, novo presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE), em entrevista

O ano 2013 será de “mais fiscalização” e “combate à pendência processual”

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rigoroso cumprimento da lei. Entre as principais competências da CPEE, destaca-se a fi scalização e a disciplina da atividade dos agentes de execução. Estas duas competências interligam-se e complementam-se, pressupondo ain-da uma terceira: a formação. A comple-xidade e a abrangência destas funções pressupõe uma correta interação com as diferentes entidades e organismos com competências e valências espe-cializadas, como a Câmara dos Solicita-dores enquanto associação profi ssional dos agentes de execução, em matéria de formação, ou o DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) quando estão em causa ilícitos criminais. É uma rede essencial que se encontra em de-senvolvimento – ainda recentemente a CPEE contou com a colaboração da Inspeção-Geral de Finanças e com a

ASAE na formação dos seus próprios agentes fi scalizadores.

vJ - Logo a seguir à sua tomada de posse, mais propriamente em julho, a Câmara dos Solicitadores abriu novo concurso para o recrutamento de Agentes de execução Liquidatários, Agentes de execução Gestores de Contas-Cliente e de Agentes de exe-cução Monitores. O número destes profi ssionais ainda não é sufi ciente em Portugal?HL - Permita-me a seguinte correção: os concursos em causa não consubs-tanciam um recrutamento de novos agentes de execução. São concursos exclusivamente abertos para quem já é agente de execução e que tem em vista a atribuição de novas valências aos profi ssionais que, no seguimento

de um processo formativo que ainda se encontra em curso, vierem a ser para tal selecionados. É um procedimento da maior importância e um bom exemplo de boas práticas que permitirá a im-plementação de soluções mais ágeis, viradas para a prestação de um melhor serviço a todos os intervenientes nas execuções.Muito sumariamente, poderia adiantar:o agente de execução liquidatário é responsável por verifi car a tramitação processual e a movimentação de valo-res realizadas no âmbito dos processos judiciais que se encontram a cargo de um determinado agente de execução, que entretanto tenha cessado funções, sido suspenso ou expulso, com vista a apurar e a reportar ao órgão compe-tente todas as diligências realizadas ao longo de cada processo e os valores

“Em 2013, “continuaremos a ter as ações de fi scalização externas, formadas por comissões de fi scalização especialmente direcionadas para aspetos específi cos da atividade, de entre os quais se destacam: pendências processuais, tramitação processual, movimentos contabilísticos/fi nanceiros”, explica Hugo Lourenço.

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movimentados nas respetivas contas--clientes. O agente de execução gestor de contas--cliente é responsável por autorizar as movimentações a débito nas contas--cliente de um agente de execução que solicite, voluntariamente, a inibição de movimentar a débito as suas contas--cliente. O agente de execução monitor é res-ponsável por realizar formações nos escritórios dos agentes de execução que apresentem necessidades formati-vas no âmbito da sua atividade, sobre determinados aspetos específicos, no sentido da melhoria do desenvolvimen-to da sua profissão e por selecionar con-teúdos e ações que promovam a visão integrada das componentes fiscalização e formação.

vJ - O Dr. João Correia, que coorde-nou o grupo de trabalho nomeado pelo Ministério da Justiça para a revisão do Código do Processo Civil, disse, em entrevista à “vida Judiciá-ria” o mês passado, que “muitos agen-tes de execução deixavam e deixam muito a desejar no cumprimento das suas obrigações”. Que comentário lhe merecem estas afirmações?HL - Compreenderá que não comen-te as afirmações do Dr. João Correia. Tenho, no entanto, como certo que o exercício das funções de agente de execução tem que estar estritamente reservado para os profissionais que apresentem uma absoluta idoneidade moral e elevada competência técnica. Os padrões preconizados pela CPEE são claros e acolhem integralmente a Recomendação n.º IV.4 das Recomen-dações (2003) 17 da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça aos Estados Membros onde se lê: “Enforcement agents should be ho-nourable and competent in the perfor-mance of their duties and should act, at all times, according to recognised high professional and ethical standards. They should be unbiased in their dea-lings with the parties and be subject to

professional scrutiny and monitoring which may include judicial control.” (disponível em http://www.cpee.pt/media/uploads/pages/recomendaco-es_enforcement.pdf ).Os agentes de execução têm de ser profissionais de qualidade, não sendo de todo aceitável que existam profis-sionais no ativo com má formação ética ou profissional. Compete a todos os intervenientes no processo executivo e também à CPEE velar para que assim seja.

vJ - Como avalia o desempenho des-tes profissionais ao longo dos anos, sendo que são uma classe alvo de várias críticas, nomeadamente entre os advogados?HL - Não procedi propriamente a uma avaliação. Tal não me compete, e tenho consciência da seriedade implícita no termo “avaliação”, que pressupõe um trabalho técnico incompatível com apriorismos. Posso, no entanto, dar conta da minha experiência. E esta mostra-me que os agentes de execução são, genericamente, profissionais sérios, trabalhadores e preocupados com a qualidade do seu trabalho e com a sua valorização profissional. Na compreen-são do ponto em que nos encontramos e é um ponto de mudança profunda, como tive ocasião de referir, haverá sempre que ponderar o processo asso-ciado ao lançamento desta profissão, ter em conta o desapoio de que, durante muito tempo, foi objeto e valorizar a extraordinária capacidade de reação dos muitos profissionais que, com es-forço e sacrifício pessoal, trabalharam e lutaram pela valorização da profissão, não baixando os braços nos momentos mais difíceis e ousando dar a “volta por cima”, propondo e implementando um modelo de controlo informático e pro-cedimental que coloca hoje Portugal na vanguarda no que respeita a este tipo de soluções. Acredito que estamos todos a construir um melhor processo executivo e que estas melhorias dependem mesmo de

todos. As críticas são importantes, espe-cialmente quando vêm de profissionais com especial interesse no bom funcio-namento do processo executivo, como é o caso dos advogados. É importante ouvi-las e utilizá-las como fator de me-lhoria. Mas, acima de tudo, é importante promover uma cultura de exigência, é preciso recusar a conformação com o que está mal. A atuação do agente de execução é sempre sindicável e o processo executivo comporta garantias que devem ser plenamente exercidas no próprio processo, propiciando a intervenção do magistrado sempre que necessário. Comportamentos ilícitos de foro criminal devem ser prontamente denunciados junto das entidades com competências nessa matéria. A CPEE exercerá as suas competências disci-plinares sempre que se demonstrar adequado.

“O exequente pode livremente substituir o agente de execução sem necessidade de apresentar qualquer justificação. O que se prevê, com as alterações legislativas, é que o exequente tenha que fundamentar a substituição do agente de execução”, adianta Hugo Lourenço à “Vida Judiciária”.

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vJ - Que ações concretas tem de-sempenhado a CPee no sentido de fiscalizar a atividade dos agentes de execução e como forma de garantir que cumprem escrupulosamente com as suas obrigações?HL - A CPEE tem desenvolvido ações de acompanhamento e fiscalização da atividade dos agentes de execução desde o seu início de atividade, em março de 2009. É um processo que

tem de ser continuado, com reforço muito substancial dos meios afetos à fiscalização. São precisos mais agentes fiscalizadores, novas metodologias de fiscalização, muito especialmente as propiciadas pela utilização dos novos instrumentos de acompanhamento e controlo cuja plena disponibilização à CPEE se encontra em curso.Em 2012 deu-se início às fiscalizações orientadas, focadas em aspetos específi-

cos da atividade do agente de execução (ações executivas pendentes, movi-mentos financeiros das contas cliente, qualidade da tramitação processual, etc.). Também se adotou um modelo de acompanhamento da atividade dos agentes de execução com eleva-do número de processos executivos pendentes, solução que será muito reforçada com a entrada em vigor do supra mencionado diploma intercalar.

vJ - É possível fazer um balanço quantitativo do número de ações de fiscalização desenvolvidas em 2011 e das realizadas já este ano?HL - Ainda não. O balanço só será pos-sível depois de finalizadas as ações que decorrem durante o mês de dezembro.

vJ - Quantos agentes de execução foram suspensos e/ou interditados definitivamete de exercer a atividade até agora?HL - A CPEE divulga na sua página eletrónica (www.cpee.pt) todas as me-didas cautelares e penas disciplinares aplicadas. Até à data foram aplicadas 15 medidas de suspensão preventiva e bloqueio a débito de contas-cliente e seis penas de expulsão.

vJ - Admite um reforço das ações de fiscalização por parte da CPee em 2013?HL - É essencial. Mais fiscalização ex-terna, mais fiscalização interna - esta eminentemente associada à exploração da informação constante dos principais sistemas informáticos de apoio ao pro-cesso executivo (CITIUS e SISAAE - Siste-ma Informático de Suporte à Atividade dos Agentes de Execução). Para isso es-tamos a adequar a estrutura interna da CPEE e a formar agentes fiscalizadores. No quadro desta formação já contámos, como já referido, com a colaboração da IGF e da ASAE, esperando ser possível manter e aprofundar esta colaboração. Mais fiscalização, mas também maior interação com a área da formação dos agentes de execução. E uma atenção especial para com a área da disciplina,

“Acredito que estamos todos a construir um melhor processo executivo e que estas melhorias dependem mesmo de todos. As críticas são importantes, especialmente quando vêm de profissionais com especial interesse no bom funcionamento do processo executivo, como é o caso dos advogados”, afirma Hugo Lourenço à VJ.

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cuja capacidade de resposta está tam-bém a ser reforçada.

vJ - Como sabe, está concluído o processo de revisão do Código do Processo Civil. O que espera que mude com este novo Código na área das execuções?HL - Aguardamos, com grande expec-tativa, o novo Código, esperando que propicie uma melhoria da qualidade do processo executivo no seu todo. O re-forço da intervenção do magistrado, as novas regras em matéria de tramitação, tudo poderá contribuir para um proces-so mais seguro e rápido. Mas, para tanto, será também essencial o envolvimento de todos os intervenientes processuais, quer sejam as partes, os respetivos man-datários, quando os haja, os agentes de execução e o próprio tribunal. Um Códi-go é sempre um instrumento e cumpre aos intervenientes processuais pugnar pela exemplar e legal aplicação dos normativos legais que se encontram ao seu dispor, só assim se fazendo Justiça.

vJ – O Dr. João Correia dizia, na já re-ferida entrevista que nos concedeu, que com o novo Código “a situação está a melhorar e vai entrar nos ei-xos. Oxalá os agentes de execução estejam à altura da aposta que a reforma faz na sua missão”. Pergun-to-lhe: o novo Código do Processo Civil vai dar um novo impulso às execuções?HL - Sempre sem comentar o que foi dito, permito-me expressar a minha convicção: o processo executivo tem um amplo espaço para melhoria e acredito que os agentes de execução estarão à altura deste novo desafio. Para o sucesso do mesmo é essencial um modelo de acompanhamento, de fiscalização e de disciplina dos agentes de execução, muito empenhado, bem estruturado e adequadamente dimen-sionado. Neste contexto, espero que o novo Código constitua um impulso para a melhoria do processo executivo, contribuindo para a segurança e rapidez na sua tramitação.

vJ - Com o novo Código, na ação executiva são empreendidas várias alterações que visam acabar com a dependência do agente de execu-ção face ao exequente, dignificar esta função e, ao mesmo tempo, responsabilizá-la. Parece-lhe bem?HL - A independência e a isenção do agente de execução são essenciais para o bom funcionamento do processo executivo. As alterações previstas ao CPC podem contribuir para reforçar essa independência do agente de execução face ao exequente. Um exemplo tradicio-nalmente apontado dessa eventual falta de independência surge, por vezes, na livre substituição do agente de execução pelo exequente que, atualmente, pode ser imotivada, ou seja, o exequente pode livremente substituir o agente de exe-cução sem necessidade de apresentar qualquer justificação. O que se prevê, com as alterações legislativas, é que o exequente tenha que fundamentar a substituição do agente de execução. Em qualquer caso não podemos deixar de notar que, sendo o quadro legal da maior importância para a independên-cia e a isenção do agente de execução, esta só se alcança com a assunção de padrões éticos adequados por parte dos intervenientes processuais. Também nesta área é preciso que sejamos todos exigentes, reagindo sempre a qualquer tentativa de desvio.

vJ - Uma das matérias constantes do novo Código é a intenção de agilizar a penhora de contas bancárias para a cobrança de dívidas. Que comentário lhe merece esta novidade?HL - Eliminar atos estritamente buro-cráticos é sempre muito positivo. No que respeita à penhora de saldos ban-cários, atualmente existem entraves que atrasam as execuções sem conferirem garantias adicionais ao executado. Ao serem eliminados os aspetos que ape-nas entorpecem a normal tramitação de um procedimento de penhora, sem que com isso estejamos a ofender direitos do executado, estamos a melhorar a efi-ciência e eficácia do processo executivo.

vJ - entretanto, autonomamente ao novo Código do Processo Civil, já foi aprovado em Conselho de Ministros um outro diploma que regulamenta a extinção das execuções nalgumas circunstâncias. Que importância as-sume este diploma?HL - É um diploma que tem a maior relevância, contendo regras concretas que contribuirão para a efetiva redução da pendência processual. No que espe-cificamente concerne à CPEE, destaca--se, a título de exemplo, a possibilidade de aplicar uma medida cautelar de suspensão de aceitar novos processos, por tempo determinado, sempre que se verifique que o agente de execução apresenta um elevado número de processos judiciais sem tramitação processual há mais de três meses, face ao número de processos distribuídos.

vJ - Nos processos executivos para pagamento de quantia certa ins-taurados antes de 15 de setembro de 2003, se não for demonstrada a existência de bens penhoráveis, a instância extingue-se. Quantos processos executivos estarão aqui enquadrados?HL - A CPEE não dispõe de dados que permitam essa quantificação.

vJ - também os processos que se encontrem a aguardar impulso pro-cessual há mais de seis meses se extinguem por via da entrada em vigor deste diploma. Parece-lhe bem? Os interesses dos exequentes ficam salvaguardados?HL - Parece ser uma solução correta. Esta solução legal vai retirar do sistema judicial muitos processos executivos há muito parados e que se revelam inviáveis. Os interesses do exequente encontram-se salvaguardados na me-dida em que nos processos extintos por inexistência de bens penhoráveis, o exequente pode requerer a renovação da instância quando indiquem concre-tos bens penhoráveis.

vJ - A falta de pagamento atempado

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dos honorários aos agentes de exe-cução também irá originar a extinção daqueles processos. esta não é uma medida demasiado radical? HL - Temos nota que existem muitos processos executivos parados por falta de pagamento da remuneração devida ao agente de execução (o que pode ocorrer no início ou no decurso do processo executivo). A constatação desta realidade terá motivado a imple-mentação de um mecanismo legal para extinção de processos executivos pen-dentes por este motivo em concreto, a falta de pagamento ao agente de exe-cução. Os interesses do exequente ficam sempre salvaguardados, porquanto, sendo extinta a execução por falta des-te pagamento, há lugar à extinção da instância (e não do direito subjacente), permitindo-se ao exequente que, caso assim o entenda, proponha nova ação executiva, que correrá os seus normais

trâmites se o exequente pagar as pro-visões devidas ao agente de execução.Encontram-se ainda salvaguardadas as situações de insuficiência económica, sendo, neste caso, possível recorrer a apoio judiciário, designadamente na modalidade de atribuição de agente de execução (cfr. L 34/2004, de 29 de Julho).

vJ - Acredita que este novo diploma, aliado à entrada em vigor do novo Có-digo do Processo Civil, vai revolucio-nar, por assim dizer, a ação executiva em Portugal e libertar os tribunais de muitas pendências?HL - Como referi, em geral as alterações legislativas constituem um importante contributo para os processos de mu-dança. No entanto, a melhoria da ação executiva em Portugal não se faz por mera alteração legal. É preciso que a sociedade civil acompanhe e adote todo o processo de mudança, para se alcançarem os objetivos pretendidos.

vJ - Como comenta as imposições da ‘troika’ a Portugal, constantes no Memorando de entendimento, em matéria de Justiça? São metas exequíveis?HL - O termo “imposição” não se me afi-gura correto ou adequado. A Justiça em Portugal tem ainda um amplo espaço para melhorias. Melhorias que não são apenas possíveis, mas que constituem um verdadeiro imperativo nacional. No que especificamente concerne ao acompanhamento da atividade dos agentes de execução, as metas que envolvem diretamente a CPEE têm sido cumpridas. Saliento, a este propósito, e a título exemplificativo, as metas conti-das na Portaria 2/2012, de 2 de Janeiro, que regulamenta o acesso eletrónico da CPEE ao CITIUS e ao SISAAE, para o exer-cício das competências legais da CPEE.No que concerne à redução da pendên-cia dos processos executivos, matéria em que a CPEE está também envolvida, afigura-se-nos ser matéria da maior urgência e que, com ou sem Troika, tem que ser enfrentada e resolvida. A este

respeito, e sempre a título exemplifi-cativo, é de salientar a aprovação do já referido diploma intercalar (que confere o também referido poder de aplicação da medida cautelar de suspensão de aceitar novos processos ao agente de execução apresente um elevado núme-ro de processos judiciais sem tramitação processual há mais de três meses, face ao número de processos que lhe este-jam distribuídos), instrumento que con-tribuirá para a redução da pendência.

vJ - Como tem sido a sua relação e a da CPee com a ministra da Justiça, Paula teixeira da Cruz?HL - É uma relação que tem decorrido com toda a normalidade institucional. Privilegiou-se a articulação e coorde-nação institucional nos projetos cujos interesses são convergentes. Acresce que o Ministério da Justiça, através da sua Secretaria-Geral, é um dos respon-sáveis pelo financiamento da CPEE, tendo feito um esforço permanente e manifesto no sentido de corresponder às necessidades da CPEE em matéria de apoio logístico e recursos humanos.

vJ - tem sentido recetividade da ministra da Justiça ao trabalho de-senvolvido pela CPee?HL - Sim. A CPEE tem sido ouvida no quadro das reformas em curso, tendo havido a recetividade necessária que é normal entre instituições que pugnam pelos mesmos interesses, que são a efi-cácia das execuções, e que, em última análise, é a eficácia da justiça.

vJ - Com que meios, humanos e fi-nanceiros, conta hoje a CPee? Haverá cortes para 2013?HL - A CPEE começou como um peque-no organismo, no qual se inserem dois órgãos, o Plenário e o Grupo de Gestão. No Plenário encontram-se representa-das todas as entidades com interesse para as execuções, como sejam o Conselho Superior da Magistratura, os Ministérios da Justiça, Finanças e Segurança Social, a Câmara dos Soli-citadores, a Ordem dos Advogados, o

“Compreenderá que não comente as afirmações do Dr. João Correia. Tenho, no entanto, como certo que o exercício das funções de agente de execução tem que estar estritamente reservado para os profissionais que apresentem uma absoluta idoneidade moral e elevada competência técnica”

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eNtRevIStA VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 11

Presidente do Colégio de Especialida-de, as associações representativas dos consumidores ou de utentes da justiça e as confederações com assento na Comissão Permanente de Concertação Social do Conselho Económico e Social, sendo no total composto por 11 pesso-as, contando com o presidente da CPEE. Como órgão executivo temos o Grupo de Gestão, que é composto pelo Pre-sidente da CPEE, três membros por si escolhidos e votados favoravelmente pelo Plenário, em exclusividade de fun-ções, e pelo Presidente do Colégio de Especialidade dos Agentes de Execução. Desde junho deste ano que a CPEE conta igualmente com o trabalho de-senvolvido por duas técnicas juristas, que pertencem aos quadros gerais do Estado e têm vindo a reforçar a com-ponente técnico-jurídica, essenciais ao exercício das competências legais do Grupo de Gestão. Para auxiliar o traba-lho administrativo da CPEE, encontram--se ao seu serviço duas administrativas.No entanto, o grande reforço de meios humanos da CPEE verifica-se em sede de fiscalização e da disciplina dos agentes de execução. Em Setembro de 2012 a CPEE abriu novo processo de recrutamento para 30 agentes de execução no sentido de reforçar o quadro de fiscalizadores ao serviço da CPEE. Este processo de recrutamento encontra-se em reta final, contando a CPEE já com o trabalho diário de dois fiscalizadores internos que analisam numa fase liminar as participações recebidas na CPEE, estando previsto para muito brevemente a chegada de mais fiscalizadores internos. Os demais fiscalizadores integrarão ações de fis-calização no terreno, com deslocações pontuais aos escritórios dos agentes de execução integrando assim comissões de fiscalização externas no âmbito de ordens de operação definidas pelo Grupo de Gestão da CPEE.No departamento da disciplina dos agentes de execução, contamos já com a recente colaboração de dois estagiários, que auxiliam o membro do

Grupo de Gestão responsável pela área da disciplina, na análise e na tramitação dos processos disciplinares. No entanto, este reforço de colaboradores, apesar de substancial, e o qual não teria sido possível sem a colaboração da Câmara dos Solicitadores, pode ainda ser refor-çado com vista a dar resposta célere à pendência processual existente neste departamento, esperando que num futuro próximo este departamento veja ainda mais reforçado o seu quadro de colaboradores.

vJ - Que expectativa tem quanto ao ano de 2013 em matéria de Justiça?HL - O ano de 2013 é um ano em que se perspetiva a entrada em vigor de grandes reformas, designadamente a entrada em vigor do novo mapa judiciá-rio, das alterações significativas ao CPC e da revisão do Código do Processo Penal. Face ao novo panorama judicial a ser implementado, será muito interessante acompanhar e controlar a atuação dos agentes de execução.

vJ - A CPee tem programada alguma atividade extraordinária para 2013 que queira partilhar connosco?HL - No ano de 2013 a CPEE dará um especial enfoque ao combate à pen-dência processual. Os processos que os agentes de execução deixem sem tramitação por mais de três meses serão objeto de especial atenção, com ações de fiscalização específicas e aplicação das medidas de acompanhamento e correção que se mostrem necessárias. Sem prejuízo deste especial enfoque, a CPEE encontra-se apostada em reforçar a atividade inspetiva, quer isolada, quer em parceria com outras entidades com competências inspetivas e de inves-tigação, como sejam, por exemplo os Departamentos de Investigação e Ação Penal (Lisboa, Coimbra e Porto) com quem tem estabelecidos protocolos de cooperação que muito têm contri-buído para a descoberta da verdade material, quer de natureza disciplinar, quer criminal.

A par dessa colaboração institucional, os sistemas informáticos estão a ser adaptados às competências legais da CPEE, sendo que, a muito breve trecho, será possível acompanhar, em tempo real, toda a tramitação processual e to-dos os movimentos financeiros pratica-dos por todos os agentes de execução. Esse será, seguramente, para a CPEE o auge da supervisão de toda a atividade do agente de execução, permitindo detetar falhas graves ao momento da prática das mesmas. Esta capacidade de meios ao dispor da CPEE também permitirá dar um alerta geral aos agen-tes de execução mais faltosos e menos sérios, no sentido em que a CPEE poderá estar a assistir à prática dos seus atos à distância de um clique e em tempo real.A par desta fiscalização, dita interna e permanente, continuaremos a ter as ações de fiscalização externas, formadas por comissões de fiscalização especial-mente direcionadas para aspetos espe-cíficos da atividade, de entre os quais se destacam: pendências processuais, tramitação processual, movimentos contabilísticos/financeiros.

“A CPEE divulga na sua página eletrónica todas as medidas cautelares e penas disciplinares aplicadas. Até à data foram aplicadas 15 medidas de suspensão preventiva e bloqueio a débito de contas-cliente e seis penas de expulsão”

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201212

Regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à habitação em situação económica difícil

No dia 1 de janeiro entraram em vigor as recentes alterações introduzidas ao re-gime jurídico dos planos de poupança--reforma, pela Lei n.º 57/2012, de 9.11.De acordo com as citadas alterações, os valores dos PPR/E (planos poupan-ça reforma ou educação) utilizados para pagamento de prestações de cré-dito à aquisição de habitação própria e permanente vão passar a ser reem-bolsados sem qualquer penalização. Regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à habitaçãoEncontra-se em vigor desde o dia 10 de novembro do corrente ano o regime extraordinário de proteção de devedo-res de crédito à habitação em situação económica muito difícil, aprovado pela Lei n.º 58/2012, de 9.11.

Âmbito de aplicação: Este diploma aplica-se às situações de incumprimento de contratos de mú-tuo celebrados no âmbito do sistema de concessão de crédito à habitação de agregados familiares que se encontrem em situação económica muito difícil e apenas quando o imóvel em causa seja a única habitação do agregado familiar e tenha sido objeto de contrato de mú-tuo com hipoteca. Requisitos:Para ser possível a aplicabilidade deste

regime têm de se verificar os seguin-tes requisitos cumulativos:

- O crédito à habitação estar garantido por hipoteca que incida sobre imóvel que seja a habitação própria perma-nente e única habitação do agregado familiar do mutuário e para o qual foi concedido;

- O agregado familiar do mutuário en-contrar-se em situação económica muito difícil (nos termos definidos no diploma ora aprovado que infra indicamos);

- O valor patrimonial tributário do imó-vel não exceder:

1. € 90 000 nos casos em que o imóvel hipotecado tenha coeficiente de lo-calização até 1,4;

2. € 105 000 nos casos em que o imó-vel hipotecado tenha coeficiente de localização entre 1,5 e 2,4;

3. € 120 000 nos casos em que o imó-vel hipotecado tenha coeficiente de localização entre 2,5 e 3,5;

- O crédito à habitação não estar ga-rantido por outras garantias reais ou pessoais, salvo se, neste último caso, os garantes se encontrem também em situação económica muito difícil.

Definição de situação económica difícil:Considera-se em situação económica muito difícil o agregado familiar rela-tivamente ao qual se verifiquem cumu-lativamente os seguintes requisitos:- Pelo menos um dos mutuários, seu

cônjuge ou pessoa que com ele viva em condições análogas às dos côn-juges, se encontre em situação de desemprego ou o agregado familiar tenha sofrido uma redução do ren-dimento anual bruto igual ou supe-rior a 35 %;

- A taxa de esforço do agregado fami-liar com o crédito à habitação tenha aumentado para valor igual ou supe-rior a 45 % para agregados familiares que integrem dependentes; e a 50 % para agregados familiares que não integrem dependentes;

- O valor total do património financei-

ro de todos os elementos do agrega-do familiar seja inferior a metade do rendimento anual bruto do agrega-do familiar;

- O património imobiliário do agregado familiar seja constituído unicamen-te pelo imóvel que seja a habitação própria e permanente do agregado familiar; e por garagem e imóveis não edificáveis, até ao valor total de (euro) 20 000;

- O rendimento anual bruto do agre-gado familiar não exceda 12 vezes o valor máximo calculado em função da composição do agregado familiar e correspondente à soma global das seguintes parcelas:

1. Pelo mutuário: 100 % do valor do salário mínimo nacional ou 120 % no caso de o agregado fa-miliar ser composto apenas pelo requerente;

2. Por cada um dos outros membros do agregado familiar que seja maior: 70 % do valor do salário mínimo nacional;

3. Por cada membro do agregado familiar que seja menor: 50 % do valor do salário mínimo nacional

Medidas de proteção: São três as medidas de proteção em caso de execução da hipoteca sobre o imóvel, a saber:- Plano de reestruturação das dívidas

emergentes do crédito à habitação;- Medidas complementares ao plano

de reestruturação, e- Medidas substitutivas da execução hi-

potecária. De referir que, neste caso, por exemplo, na hipótese da dação em cumprimento, a dívida extingue--se totalmente quando:

1.º A soma do valor da avaliação

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eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 13

atual do imóvel, para efeito de dação, e das quantias entre-gues a título de reembolso de capital for, pelo menos, igual ao valor do capital inicialmen-te mutuado, acrescido das ca-pitalizações que possam ter ocorrido; ou

2.º O valor de avaliação atual do imóvel, para efeito de dação, for igual ou superior ao capital que se encontre em dívida.

Aplicação no tempo: Este novo regime é aplicável nos se-guintes casos:- A todos os contratos celebrados

anteriormente à sua publicação (9.11.2012) que se encontrem em vigor;

- A todos os contratos celebrados anteriormente à sua publicação (9.11.2012) em que, tendo sido re-solvidos pela instituição de crédito com fundamento em incumprimen-to, não tenha ainda decorrido o prazo para a oposição à execução relativa a créditos à habitação e créditos cone-xos garantidos por hipoteca, ou até à venda executiva do imóvel sobre o qual incide a hipoteca do crédito à habitação, caso não tenha havido lugar a reclamações de créditos por outros credores.

vigência:Está previsto que este regime vigore até ao final de 2015.

Novas salvaguardas para os devedores do crédito à habitaçãoNo dia 09 de dezembro do corrente ano entrou em vigor a Lei n.º 59/2012, de 9.11, que cria salvaguardas para os mutuários no crédito à habitação e in-troduz alterações ao regime do crédito à aquisição, construção e realização de obras de conservação ordinária, extra-ordinária e de beneficiação de habita-ção própria permanente, secundária ou para arrendamento, e à aquisição de terreno para construção de habita-ção própria permanente.

SalvaguardasUma das salvaguardas ora criadas é, por exemplo, a norma que determi-na que a instituição de crédito ape-nas poderá proceder à resolução ou a qualquer outra forma de cessação do contrato de concessão de crédito à aquisição ou construção de habitação própria permanente com fundamento no incumprimento, na sequência da verificação de pelo menos três presta-ções vencidas e ainda não pagas pelo mutuário.Outra tem a ver com a retoma do cré-dito à habitação. Assim, no prazo da oposição à execução, o mutuário passa a ter direito à retoma do contrato, des-de que se verifique o pagamento das prestações vencidas e não pagas, bem como os juros de mora e as despesas em que a instituição de crédito incor-reu, quando as houver. Regime especial de garantias do empréstimoDe acordo com o diploma ora aprova-do, a instituição de crédito mutuante e o mutuário podem, por acordo, sujei-tar o empréstimo às seguintes regras especiais:• Em reforçodagarantiadehipoteca

da habitação adquirida, construída ou objeto das obras financiadas, in-cluindo o terreno, apenas pode ser constituído seguro de vida do mu-tuário e cônjuge e seguro sobre o imóvel;

•Avendaexecutivaoudaçãoemcum-primento na sequência de incumpri-mento do empréstimo pelo mutuário exoneram integralmente o mutuário e extinguem as respetivas obriga-ções no âmbito do contrato de em-préstimo, independentemente do produto da venda executiva ou do valor atribuído ao imóvel para efei-tos da dação em cumprimento ou negócio alternativo.

Na negociação de qualquer contrato de crédito à habitação a instituição de crédito mutante deve informar o mutu-ário da existência deste regime especial e respetivas regras.

encargos com o créditoPor outro lado, as instituições de crédito mutuantes não podem agora agravar os encargos com o crédito, nomeadamen-te aumentando os spreads estipulados em contratos de concessão de crédito à habitação em caso de renegociação motivada, nomeadamente pela seguin-te situação:- O mutuário ter celebrado com tercei-

ro um contrato de arrendamento da totalidade ou parte do fogo na se-quência de um dos seguintes eventos:

1. Mudança de local de trabalho do mutuário ou de outro membro do agregado familiar não descen-dente, para um local que diste não menos de 50 km, em linha reta, do fogo em causa e que implique a mudança da habitação perma-nente do agregado familiar;

2. Situação de desemprego do mu-tuário ou de outro membro do agregado familiar.

Âmbito de aplicaçãoO diploma ora aprovado aplica-se aos contratos de empréstimo celebrados após 09.12.2012, aos contratos em vigor a 09.11.2012 e aos processos executivos pendentes, exceto àqueles em que a venda executiva já tiver sido concreti-zada de acordo com os critérios legais então em vigor.

São três as medidas de proteção em caso de execução da hipoteca sobre o imóvel, a saber:• Plano de reestruturação

das dívidas emergentes do crédito à habitação;

• Medidas complementares ao plano de reestruturação, e

• Medidas substitutivas da execução hipotecária

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201214

A reforma do Mapa Judiciário (continuação da edição anterior “Atualidades”)

Tal como temos vindo a fazer nas anteriores edições da VJ, transcrevemos nesta edição parte do documento intercalar “Linhas Estratégicas para a Reforma da Organização Judiciária”.O projeto final da reforma está em discussão pública, onde serão ouvidos os autarcas, conselhos superiores e sindicatos, para depois dar entrada na Assembleia da República em no-vembro. O diploma entrará em vigor, segundo as contas do Ministério, no início de 2013 e deverá estar concretizado no final do próximo ano.

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA De fARO

1. Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de faro

1.2. Secções de Competência especializada

InstâncIa central: secção de execução

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total juízes

Loulé – 1ª Secção de Execução (c) 4472 0,69 1Silves - 2ª Secção de Execução (d) 4552 0,70 1

(a) Corresponde à média de ações executivas entradas nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 6500 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António.(d) Área de competência territorial: municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo.

InstâncIa central: secção de Instrução crImInal

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total juízes

Faro - 1ª Secção de Instrução criminal (c) 189 1,26 2Portimão - 2ª Secção de Instrução criminal (d) 101 0,67 1

(a) Corresponde à média de instruções entradas nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 150 instruções por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António.(d) Área de competência territorial: municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo.NOTA: Nas circunscrições onde não se mostrem instaladas secções de instrução criminal, os atos jurisdicionais são assegurados pelos juízes das instâncias locais.

InstâncIa central: secção de comércIo

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total juízes

Olhão (d) 188 0,94 2

(a) Corresponde à média de processos de insolvência entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 200 processos de insolvência por juiz.(c) A tendência de subida do número de processos entrados, desta área processual, justifica o número de juízes proposto.(d) Área de competência territorial: distrito de Faro.NOTA: A localização geográfica e a existência de instalações adequadas justificam esta opção.

2. Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca de faroVolume processual expectável subsistente à especialização atrás proposta.

Atual comarcaÁrea

cível (a)Área

criminal (a)total

(áreas cível e criminal) Total Total

1. albufeira 377 946 1323

2. Faro 519 1451 1970

3. lagos 244 570 814

4. loulé 562 1417 1979

5. monchique 19 61 80

6. olhão 245 502 747

7. Portimão 563 1181 1744

8. silves 216 276 783

9. tavira 181 276 457

10.Vila real de santo antónio 186 375 561

total 3112 7346 10458

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.

No distrito de Faro existem comarcas que apresentam um vo-lume processual muito reduzido. No entanto, a população re-sidente neste distrito apresenta um aumento de 13,98% nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares). Porém, os municí-pios de Alcoutim, Monchique e Vila do Bispo verificaram uma diminuição da população. A análise de alguns fatores, nomea-damente, o movimento processual e a evolução demográfica, tendem a justificar a extinção de um tribunal no distrito de Faro.

Instância local: tribunal de albuFeIra

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (d) 377 0,474

Secção de Competência Criminal (d) 946 1,37

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Inclui os juízes afetos à recuperação das pendências processuais.(d) Área de competência territorial: município de Albufeira.

Instância local: tribunal de Faro

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (d) 519 0,655

Secção de Competência Criminal (d) 1451 2,10

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Inclui os juízes afetos à recuperação das pendências processuais.(d) Área de competência territorial: municípios de Faro e S. Brás de Alportel.

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eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 15

Instância local: tribunal de loulé

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (d) 562 0,705

Secção de Competência Criminal (d) 1417 2,05

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Inclui os juízes afetos à recuperação das pendências processuais.(d) Área de competência territorial: município de Loulé.

Proposta de extinção do tribunal de Monchique:

A comarca de Monchique apresenta valores muito reduzidos ao nível do movimento processual.No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca de Monchique apre-senta uma diminuição de 13,44%.Tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extinção do Tribunal de Monchique e a sua integração no Tribunal de Portimão, que oferece condições para tal, como se apresen-ta de seguida:

Instância local: tribunal de PortImão

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (d) 582 0,734

Secção de Competência Criminal (d) 1442 1,80

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Inclui os juízes afetos à recuperação das pendências processuais.(d) Área de competência territorial: municípios de Monchique, Portimão e Lagoa.NOTA: Deslocação entre os municípios de Portimão e Monchique: 34 min./25 km.

Instância local: tribunal de lagos

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 814 1,48 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Aljezur, Lagos e Vila do Bispo.

Instância local: tribunal de olhão

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 747 1,36 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Olhão.

Instância local: tribunal de sIlVes

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 783 1,42 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Silves.

Instância local: tribunal de taVIra

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 457 0,83 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Tavira.

Instância local: tribunal de VIla real de santo antónIo

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 561 1,02 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António.

3. Proposta global de reorganização para o tribunal Judicial da Comarca de faro

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA De fARO

Estrutura de gestão: 1 Juiz presidente;1 Magistrado do Ministério Público coordenador;1 Administrador judiciário.

Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de faroa) faro – 1ª Secção Cível (área de competência territorial:

Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

b) faro – 1ª Secção Criminal (área de competência territorial: Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

c) Portimão – 2ª Secção Cível (área de competência territorial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

d) Portimão – 2ª Secção Criminal (área de competência terri-torial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Mon-chique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

e) faro – 1ª Secção do Trabalho (área de competência ter-ritorial: Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Lou-lé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201216

f ) Portimão – 2ª Secção do Trabalho (área de competência territorial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

g) faro – 1ª Secção de Família e Menores (área de compe-tência territorial: Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

h) Portimão – 2ª Secção de Família e Menores (área de com-petência territorial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

i) Loulé – 1ª Secção de Execuções (área de competência ter-ritorial: Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Lou-lé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

j) Silves – 2ª Secção de Execuções (área de competência terri-torial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Mon-chique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

l) faro – 1ª Secção de Instrução Criminal (área de compe-tência territorial: Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira e Vila Real de Santo António);

m) Portimão – 2ª Secção de Instrução Criminal (área de com-petência territorial: Municípios de Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo);

n) Olhão - Secção de Comércio (área de competência terri-torial: Distrito de Faro).

Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca de faroa) Tribunal de Albufeira - Secção de Competência Cível e Sec-

ção de Competência Criminal (área de competência terri-torial: Município de Albufeira);

b) Tribunal de faro - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Municípios de Faro e S. Brás de Alportel);

c) Tribunal de Loulé - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Município de Loulé);

d) Tribunal de Portimão - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Municípios de Portimão, Lagoa e Monchique);

e) Tribunal de Lagos - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Municípios de Aljezur, Lagos e Vila do Bispo);

f ) Tribunal de Olhão - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Olhão);

g) Tribunal de Silves - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Silves);

h) Tribunal de tavira - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Tavira);

i) Tribunal de vila Real de Santo António - Secção de Com-petência Genérica (área de competência territorial: Mu-nicípios de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António).

4. Serviços do Ministério Público da Comarca de faro

Tendo em conta as funções de investigação, de representa-ção e de coordenação que ao Ministério Público estão legal-mente cometidas, propõe-se para os serviços do Ministério Público da Comarca de Faro o quadro de magistrados como a seguir se apresenta:

situação atual

serviços do ministério Público

magistrados do mP Inquéritos Penais (a) Pr Pa total

1. albufeira – 7 7 5494

2. Faro 10 10 20 6336

3. lagos – 3 3 3050

4. loulé 1 8 9 6236

5. monchique7 10 17

202

6. Portimão 6254

7. silves 1 3 4 2196

8. olhão 1 3 4 2803

9. tavira – 2 2 1410

10. Vila real de s. antónio – 3 3 1621

total 20 49 69 35602

(a) Corresponde à média de inquéritos penais entrados nos anos 2008 a 2010.

No âmbito da estrutura de especialização de inquéritos, pro-põe-se a criação do Departamento de Investigação e Ação Penal da Comarca de Faro, com sede em Faro.O Departamento de Investigação e Ação Penal integra sec-ções em Faro e Portimão e serviços de inquéritos junto das demais instâncias locais.

ii) Proposta de organização

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DA GUARDA

1. Instância Central do tribunal Judicial da Comarca da Guarda

1.1. Secções Cíveis e Criminais

Instância central: secção cíVel e crImInal

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Guarda – Secção Cível (c) 210 0,943

Guarda – Secção Criminal (c) 64 0,91

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 224 processos por juiz (secção cível); 70 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: distrito da Guarda.

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eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 17

1.2. Secções de Competência especializada

InstâncIa central: secção do trabalho

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Guarda – Secção do Trabalho (c) 513 0,66 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010 no Tribunal do Trabalho da Guarda e à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010 no Tribunal do Trabalho da Covilhã, na parte que corresponderá ao município do Sabugal, valor calculado em função do peso relativo da população residente em 2001 nos municípios que integram a área de jurisdição do re-ferido tribunal (Fonte: Censos 2001, Instituto Nacional de Estatística, in www.ine.pt).(b) VRP considerado: 772 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: distrito da Guarda.

2. Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca da Guarda

Volume processual expectável subsistente à especialização atrás proposta:

Atual comarcaÁrea cível Área criminal total

(áreas cível e criminal) Total Total

1. almeida 133 128 261

2. celorico da beira 221 88 309

3. Figueira de castelo rodrigo 170 57 227

4. Fornos de algodres 115 42 157

5. gouveia 274 96 370

6. guarda 1070 329 1399

7. meda 122 44 166

Atual comarcaÁrea cível Área criminal total

(áreas cível e criminal) Total Total

9. sabugal 151 57 208

10. seia 547 220 767

11. trancoso 222 96 318

12. Vila nova de Foz côa 148 69 217

total 3353 1309 4662

No distrito da Guarda existem comarcas que apresentam um volume processual muito reduzido.De facto, a população residente neste distrito sofreu uma re-dução de 10,57% nos últimos 10 anos (Censos 2011 Prelimi-nares), sendo que todos os municípios verificaram uma dimi-nuição da população. A análise de alguns fatores, nomeada-mente, o movimento processual, a evolução demográfica e as instalações existentes, tende a justificar a extinção de alguns tribunais no distrito da Guarda.

Proposta de extinção do tribunal do Sabugal:

A comarca do Sabugal apresenta valores reduzidos ao nível do movimento processual.

No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca do Sabugal apresenta uma diminuição de 15,65% da população.Tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extinção do Tribunal do Sabugal e a sua integração no Tribunal da Guarda que oferece condições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal da guarda

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 1221 1,364

Secção de Competência Criminal (c) 386 0,56

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010).(b) VRP considerado: 900 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios da Guarda, Manteigas e Sabugal.NOTA: Deslocação entre os municípios da Guarda e Sabugal: 40 min./32 km.

Instância local: tribunal de almeIda

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 261 0,33 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Almeida.

Proposta de extinção do tribunal de fornos de Algodres:A comarca de Fornos de Algodres apresenta valores reduzi-dos ao nível do movimento processual.No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca de Fornos de Algodres apresenta uma diminuição de 11,33% da população.Assim, tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a ex-tinção do Tribunal de Fornos de Algodres e a sua integração no Tribunal de Celorico da Beira, que oferece condições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal de celorIco da beIra

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 466 0,58 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Celorico da Beira e Fornos de Algodres.NOTA: Deslocação entre os municípios de Celorico da Beira e Fornos de Algodres: 14 min./17 km.

Proposta de extinção do tribunal de vila Nova de foz Côa:A comarca de Vila Nova de Foz Côa apresenta valores reduzi-dos ao nível do movimento processual.No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca de Vila Nova de Foz Côa apresenta uma diminuição de 13,85% da população.

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201218

Assim, tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a ex-tinção do Tribunal de Vila Nova de Foz Côa e a sua integração no Tribunal de Figueira de Castelo Rodrigo, que oferece con-dições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal de FIgueIra de castelo rodrIgo

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 444 0,56 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa.NOTA: Deslocação entre os municípios de Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa: 52 min./37 km.

Instância local: tribunal de gouVeIa

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 370 0,46 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Gouveia.

Instância local: tribunal de PInhel

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 263 0,33 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Pinhel.

Instância local: tribunal de seIa

secção Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Secção de Competência Genérica (c) 767 0,96 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Seia.

Proposta de extinção do tribunal da Meda:A comarca da Meda apresenta valores reduzidos ao nível do movimento processual.No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca da Meda apresenta uma diminuição de 17,25% da população.Assim, tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extinção do Tribunal da Meda e a sua integração no Tribunal de Trancoso, que oferece condições para tal, como se apre-senta de seguida:

Instância local: tribunal de trancoso

secção Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Secção de Competência Genérica (c) 484 0,61 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Aguiar da Beira, Meda e Trancoso.NOTA: Deslocação entre os municípios de Meda e Trancoso: 32 min./31 km.

3. Criação de extensões JudiciaisPropõe-se a criação de Extensões Judiciais do tribunal Judi-cial da Comarca da Guarda em:

- Meda;- Sabugal;- Vila Nova de Foz Côa.

4. Proposta global de reorganização para a Comarca da Guarda

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DA GUARDA

Estrutura de gestão: 1 Juiz presidente; 1 Magistrado do Ministério Público coordenador; 1 Administrador judiciário.

Instância Central do tribunal Judicial da Comarca da GuardaGuarda – Secção Cível e Secção Criminal (área de competên-cia territorial: Distrito da Guarda); Guarda - Secção do Trabalho (área de competência territorial: Distrito da Guarda).Instâncias Locais do Tribunal Judicial da Comarca da Guardaa) Tribunal da Guarda - Secção de Competência Cível e Sec-ção de Competência Criminal (área de competência territo-rial: Municípios da Guarda, Manteigas e Sabugal);b) Tribunal de Almeida - Secção de Competência Genéri-ca (área de competência territorial: Município de Almeida);c) Tribunal de Celorico da Beira - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Ce-lorico da Beira e Fornos de Algodres);d) Tribunal de figueira de Castelo Rodrigo - Secção de Com-petência Genérica (área de competência territorial: Municí-pios de Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa);e) Tribunal de Gouveia - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Gouveia);f ) Tribunal de Pinhel - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Pinhel);g) Tribunal de Seia - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município de Seia);h) Tribunal de trancoso - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Municípios de Aguiar da Bei-ra, Meda e Trancoso).

extensões Judiciais do tribunal Judicial da Comarca da Guarda

a) Meda;b) Sabugal;c) Vila Nova de Foz Côa.

5. Serviços do Ministério Público da Comarca da GuardaTendo em conta as funções de investigação, de representação e de coordenação que ao Ministério Público estão legalmen-te cometidas, propõe-se para os serviços do Ministério Públi-co da Comarca da Guarda o quadro de magistrados como a seguir se apresenta:

Page 21: regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à … · da Comunicação Social nº 120738 Empresa Jornalística nº 208709 Periodicidade: mensal Nº 172 dezembro

eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 19

situação atual

serviços do ministério Público

magistrados do mP Inquéritos Penais (a) Pr Pa total

1. almeida - 1 1 269

2. Figueira de castelo rodrigo– 1 1

219

3. Vila nova de Foz côa 207

4. Pinhel – 1 1 181

5. celorico da beira– 1 1

274

6. Fornos de algodres 124

7. gouveia - 1 1 383

8. guarda2 4 4

1904

9. sabugal 253

10. seia - 2 2 881

11. trancoso- 1 1

390

12. meda 181

total 2 12 14 5266

(a) Corresponde à média de inquéritos penais entrados nos anos 2008 a 2010.

ii) Proposta de organização

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA De LeIRIA

1. Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de Leiria

1.1. Secção Cível e Secção Criminal

Instância central: secção cíVel e secção crImInal

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Leiria – Secção Cível (c) 1053 4,70 5Leiria – Secção Criminal (c) 164 2,34 3

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 224 processos por juiz (matéria cível), 70 processos por juiz (matéria criminal).(c) Área de competência territorial: Distrito de Leiria.

1.2. Secções de Competência especializada

InstâncIa central: secção do trabalho

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

Leiria – 1ª Secção do Trabalho (c) 1310 1,70 2Caldas da Rainha - 2ª Secção do Trabalho (d) 679 0,88 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010 nos Tribunais do Tra-balho de Caldas da Rainha, Coimbra (no que se refere às comarca de Alvaiázere, Ansião, Figueiró dos Vinhos e Pombal) e de Leiria, exceto o que corresponderá à comarca de Rio Maior (Distrito de Santarém), calculado em função do peso relativo da população residente em 2011 nos municípios que integram a respetiva área de jurisdição (Fonte: Censos 2011 Preliminares, Instituto Nacional de Estatística, in www.ine.pt).(b) VRP considerado: 772 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós.(d) Área de competência territorial: municípios de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Óbi-dos e Peniche.

InstâncIa central: secção de FamílIas e menores

Sede Volume

processual expectável (a)

Rácio volume processual/

VRP (b)

Total de juízes

Leiria – 1ª Secção de Família e Menores (c) 1607 2,19 3

Caldas da Rainha – 2ª Secção de Família e Menores (d) 1063 1,45 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 733 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós.(d) Área de competência territorial: municípios de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Naza-ré, Óbidos e Peniche.NOTA: Sem prejuízo da prática de atos urgentes em matéria da competência de família e menores que podem ser assegurados pelos juízes das respetivas instâncias locais.

InstâncIa central: secção de execução

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b) total juízes

Leiria – 1ª Secção de Execuções (c) 4055 0,62 1

Pombal – 2ª Secção de Execuções (d) 5169 0,80 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 6500 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos, Peniche e Porto de Mós.(d) Área de competência territorial: municípios de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande e Pombal.

InstâncIa central: secção de Instrução crImInal

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b) total juízes

Leiria - Secção de Instrução criminal (c) 309 2,06 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 150 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: distrito de Leiria.NOTA: Nas circunscrições onde não se mostrem instaladas secções de instrução criminal, os atos jurisdicionais são assegurados pelos juízes das instâncias locais.

InstâncIa central: secção de comércIo

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b) total juízes

Alcobaça - 1ª Secção de Comércio (c) 163 0,82 1

Marinha Grande - 2ª Secção de Comércio (d) 243 1,22 2

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 200 processos de insolvência por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos, Peniche e Porto de Mós.(d) Área de competência territorial: municípios de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande e Pombal.

2. Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca de Leiria

Volume processual expectável subsistente à especialização atrás proposta.

Page 22: regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à … · da Comunicação Social nº 120738 Empresa Jornalística nº 208709 Periodicidade: mensal Nº 172 dezembro

eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201220

Atual comarcaÁrea cível

Área criminal

total (áreas cível e criminal) Total Total

1. albobaça 420 589 1009

2. alvaiázere 63 58 121

3. ansião 124 109 233

4. bombarral 83 89 172

5. caldas da rainha 463 509 972

6. Figueiró dos Vinhos 107 156 263

7. leiria 1447 1323 2770

8. marinha grande 340 465 805

9. nazaré 98 192 290

10. Peniche 144 128 272

11. Pombal 594 537 1131

12. Porto de mós 421 390 811

total 4304 4545 8849

No Distrito de Leiria existem comarcas que apresentam um volume processual reduzido.A população residente neste Distrito sofreu um aumento de 2,47% nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), porém metade dos municípios registou uma diminuição da população.A análise de alguns fatores, nomeadamente, o movimento processual, a evolução demográfica, e as instalações exis-tentes, tendem a justificar a extinção de alguns tribunais no Distrito de Leiria.

Instância local: tribunal de alcobaça

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 420 0,534

Secção de Competência Criminal (c) 589 0,85

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: município de Alcobaça.

Proposta de extinção do tribunal do Bombarral:

A comarca do Bombarral apresenta valores reduzidos ao ní-vel do movimento processual.

No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca do Bombarral apresen-ta uma diminuição da população em 1,32%.Assim, tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extinção do Tribunal do Bombarral e a sua integração no Tri-bunal das Caldas da Rainha, que oferece condições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal de caldas da raInha

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 546 0,685

Secção de Competência Criminal (c) 598 0,87

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios de Bombarral, Caldas da Rainha e Óbidos.NOTA: Deslocação entre os municípios do Bombarral e Caldas da Rainha: 18 min./21km.

Instância local: tribunal de leIrIa

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cívil (c) 1447 1,816

Secção de Competência Criminal (c) 1323 1,92

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: município de Leiria.

Proposta de extinção do tribunal de Ansião:A comarca de Ansião apresenta valores reduzidos ao nível do movimento processual.No que se refere à evolução demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Preliminares), a comarca de Ansião apresenta uma diminuição da população em 4,51%.Tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extin-ção do Tribunal de Ansião e a sua integração no Tribunal de Pombal, que oferece condições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal de Pombal

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cívil (c) 718 0,904

Secção de Competência Criminal (c) 646 0,94

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios de Ansião e Pombal.NOTA: Deslocação entre os municípios de Ansião e Pombal: 24 min./20 km.

Instância local: tribunal de Porto de mós

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cívil (c) 421 0,533

Secção de Competência Criminal (c) 390 0,57

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios da Batalha e Porto de Mós.

Proposta de extinção do tribunal de Alvaiázere:A comarca de Alvaiázere apresenta valores reduzidos ao ní-vel do movimento processual. No que se refere à evolução

Page 23: regime extraordinário de proteção aos devedores de crédito à … · da Comunicação Social nº 120738 Empresa Jornalística nº 208709 Periodicidade: mensal Nº 172 dezembro

eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 21

demográfica, nos últimos 10 anos (Censos 2011 Prelimina-res), a comarca de Alvaiázere apresenta uma diminuição da população de 13,69%. Tendo em atenção a situação descrita, propõe-se a extinção do Tribunal de Alvaiázere e a sua inte-gração no Tribunal de Figueiró dos Vinhos, que oferece con-dições para tal, como se apresenta de seguida:

Instância local: tribunal de FIgueIró dos VInhos

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 384 0,70 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: municípios de Alvaiázere, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Pedrogão Grande.NOTA: Deslocação entre os municípios de Alvaiázere e Figueiró dos Vinhos: 30 min./30 km.

Instância local: tribunal de marInha grande

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 805 1,46 3

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município da Marinha Grande.

Instância local: tribunal de nazaré

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 290 0,53 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município da Nazaré.

Instância local: tribunal de PenIche

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Genérica (c) 272 0,49 1

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 550 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Peniche.

3. Criação de extensões JudiciaisPropõe-se a criação de Extensões Judiciais do tribunal Judi-cial da Comarca de Leiria em:

- Alvaiázere;- Ansião.

4. Proposta global de reorganização para o tribunal Judicial da Comarca de Leiria

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA De LeIRIAEstrutura de gestão:

1 Juiz presidente;1 Magistrado do Ministério Público coordenador;1 Administrador judiciário.

Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de Leiriaa) Leiria - Secção Cível (área de competência territorial: Dis-

trito de Leiria);b) Leiria - Secção Criminal (área de competência territorial:

Distrito de Leiria);c) Leiria - 1ª Secção do Trabalho (área de competência terri-

torial: Município de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Naza-ré, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós);

d) Caldas da Rainha - 2ª Secção do Trabalho (área de com-petência territorial: Municípios de Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche);

e) Leiria - 1ª Secção de Família e Menores (área de compe-tência territorial: Municípios de Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós);

f ) Caldas da Rainha - 2ª Secção de Família e Menores (área de competência territorial: Municípios de Alcobaça, Bom-barral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche);

g) Alcobaça - 1ª Secção de Execuções (área de competên-cia territorial: Municípios de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos, Peniche e Porto de Mós);

h) Pombal - 2ª Secção de Execuções (área de competência territorial: Municípios de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande e Pombal);

i) Leiria - Secção de Instrução Criminal (área de competência territorial: Distrito de Leiria);

j) Alcobaça - 1ª Secção de Comércio (área de competência territorial: Municípios de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Cal-das da Rainha, Nazaré, Óbidos, Peniche e Porto de Mós);

l) Marinha Grande - 2ª Secção de Comércio (área de compe-tência territorial: Municípios de Alvaiázere, Ansião, Casta-nheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande e Pombal).

Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca de Leiriaa) Tribunal de Alcobaça - Secção de Competência Cível e Sec-

ção de Competência Criminal (área de competência terri-torial: Município de Alcobaça);

b) Tribunal das Caldas da Rainha - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de compe-tência territorial: Municípios de Bombarral, Caldas da Rai-nha e Óbidos);

c) Tribunal de Leiria - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Município de Leiria);

d) Tribunal de Pombal - Secção de Competência Cível e Sec-ção de Competência Criminal (área de competência terri-torial: Municípios de Ansião e Pombal);

e) Tribunal de Porto de Mós - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Municípios da Batalha e Porto de Mós);

f ) Tribunal de figueiró dos vinhos - Secção de Competên-cia Genérica (área de competência territorial: Municípios de Alvaiázere, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande);

g) Tribunal da Marinha Grande - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: Município da Marinha Grande);

h) Tribunal da Nazaré - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: município da Nazaré);

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201222

i) Tribunal de Peniche - Secção de Competência Genérica (área de competência territorial: município de Peniche).

extensões Judiciais do tribunal Judicial da Comarca de Leiria

a) Alvaiázere;b) Ansião.

5. Serviços do Ministério Público da Comarca de Leiria

Tendo em conta as funções de investigação, de representa-ção e de coordenação que ao Ministério Público estão legal-mente cometidas, propõe-se para os serviços do Ministério Público da Comarca de Leiria, o quadro de magistrados como a seguir se apresenta:

situação atual

serviços do ministério Público

magistrados do mP Inquéritos Penais (a) Pr Pa total

1. alcobaça 2 4 4 2252

2. Figueiró dos vinhos– 1 1

481

3. alvaiázere 329

4. caldas da rainha3 6 9

3482

5. bombarral 605

6. leiria 10 8 18 5136

7. marinha grande 2 3 5 1840

8. nazaré - 1 1 764

9. Peniche - 2 2 1474

10. Pombal- 4 4

1964

11. ansião 443

12. Porto de mós - 3 3 1720

total 17 32 49 20490

(a) Corresponde á média de inquéritos penais entrados nos anos 2008 a 2010.

No âmbito da estrutura de especialização de inquéritos, pro-põe-se a criação de um Departamento de Investigação e Ação Penal da Comarca de Leiria, com sede em Leiria.O Departamento de Investigação e Ação Penal integra uma secção em Leiria e serviços de inquéritos junto das demais instâncias locais.

ii) Proposta de organização

tRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA De LISBOA

1. Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de Lisboa

1.1. Secções Cíveis e Criminais

Instância central: secção cíVel e crImInal

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes (c)

Lisboa – Secção Cível (d) 4018 17,94 21

Lisboa – Secção Criminal (d) 1695 24,21 31

(a) Corresponde aos processos entrados em 2010.(b) VRP considerado: 224 processos por juiz (secção cível); 70 processos por juiz (secção criminal).(c) As atuais pendências e duração média dos processos desta natureza justificam, por ora, o número de juízes proposto. Na secção criminal estão incluídos 4 juízes militares.(d) Área de competência territorial: municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Lisboa, Moita, Montijo e Seixal.

1.2. Secções de Competência especializada

InstâncIa central: secção do trabalho

sede Volume processual expectável (a)

rácio volume processual/VrP (b)

total de juízes

(c)Lisboa – 1ª Secção do Trabalho (d) 5024 6,51

12Lisboa – 2ª Secção do Trabalho (e) 656 0,85

(a) Corresponde aos processos entrados no ano de 2010 no Tribunal do Trabalho de Lisboa e à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010 nos Tribunais do Trabalho de Almada, Barreiro.(b) VRP considerado: 772 processos por juiz.(c) As atuais pendências e duração média dos processos desta natureza justificam, por ora, o número de juízes proposto.(d) Área de competência territorial: municípios de Almada, Lisboa e Seixal.(e) Área de competência territorial: municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo.

InstâncIa central: secção de FamílIas e menores

Sede Volume

processual expectável (a)

Rácio volume processual/

VRP (b)

Total de juízes

Lisboa – 1ª Secção de Família e Menores (c) 4076 5,56

18Almada – 2ª Secção de Família e Menores (d) 1032 1,41

Barreiro – 3ª Secção de Família e Menores (e) 1271 1,73

Seixal – 4ª Secção de Família e Menores (f) 1228 1,68

(a) Corresponde aos processos entrados no ano de 2010 no Tribunal de Família e Menores de Lisboa e à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010 nos Tribunais de Família e Menores de Almada, Barreiro e Seixal.(b) VRP considerado: 733 processos por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Lisboa.(d) Área de competência territorial: município de Almada.(e) Área de competência territorial: municípios do Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo.(f) Área de competência territorial: município do Seixal.NOTA: Sem prejuízo da prática de atos urgentes em matéria da competência de família e menores que podem ser assegurados pelos juízes das respetivas instâncias locais.

InstâncIa central: secção de execução

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b)

total juízes

(c)

Lisboa– 1ª Secção de Execução (d) 27566 4,24 12

Almada – 2ª Secção de Execução (e) 10302 1,58 2

(a) Corresponde à média de ações executivas entradas no ano de 2010.(b) VRP considerado: 6500 ações executivas por juiz.(c) A tendência de subida do volume de entradas justifica o número de juízes proposto. (No ano de 2011 o volume de processos entrados teve um aumento de cerca de 50% (41000 processo). Poderá ter resultado da entrada em vigor da taxa de justiça agravada para os grandes litigantes).(d) Área de competência territorial: município de Lisboa.(e) Área de competência territorial: municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Seixal.

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eM fOCO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 23

InstâncIa central: secção de comércIo

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b)

total juízes

(c)Lisboa– 1ª Secção de Comércio (d) 412 2,06

9Almada – 2ª Secção de Comércio (e) 530 2,65

(a) Corresponde à média de processos de insolvência entrados no ano de 2010 no Tribunal de Comércio de Lisboa, valor calculado em função do peso relativo da população residente em 2011, nos municípios que integram a área de jurisdição daquele tribunal (Fonte: Censos 2011 Preliminares, Instituto Nacional de Estatística, in www.ine.pt);(b) VRP considerado: 200 insolvências por juiz.(c) A tendência de subida do volume de entradas justifica o número de juízes proposto.(d) Área de competência territorial: município de Lisboa.(e) Área de competência territorial: municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Seixal.

InstâncIa central: secção de Instrução crImInal

sede Volume

processual expectável (a)

rácio volume processual/

VrP (b) total juízes

Lisboa– 1ª Secção de Instrução Criminal (c) 884 5,89 6Almada – 2ª Secção de Instrução Crimina (d) 188 1,25 2Barreiro – 3ª Secção de Instrução Crimina (e) 87 0,58 1

(a) Corresponde às instruções entradas no ano de 2010.(b) VRP considerado: 150 instruções por juiz.(c) Área de competência territorial: município de Lisboa.(d) Área de competência territorial: municípios de Almada e Seixal.(e) Área de competência territorial: municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo.Nota: Atualmente, nos termos da Lei, Lisboa tem um Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) e, correspondentemente, um Tribunal de Instrução Criminal.

InstâncIa central: secção de execução de Penas

Sede Volume

processual expectável (a)

Rácio volume processual/VRP

Total de juízes

Lisboa – Secção de Execução das Penas (b) – – 6 (c)

(a) A entrada em vigor do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, introduziu alterações significativas que impossibilitaram uma leitura estatística rigorosa.(b) Competência territorial: área correspondente ao atual distrito judicial de Lisboa e Estabelecimentos Prisionais de Alcoentre e de Vale de Judeus.(c) A definição do número de juízes propostos teve em conta a perceção dos magistrados colocados nesta área processual.

2. Instâncias Locais do tribunal Judicial da Comarca de Lisboa

Volume processual expectável subsistente à especialização atrás proposta:

Atual comarcaÁrea cível

Área criminal

total (áreas cível e criminal) Total Total

1. almada 779 1618 2397

2. barreiro 319 461 780

3. lisboa 12177 9832 22009

4. moita 246 568 814

5. montijo 377 582 959

6. seixal 586 1434 2020

total 14484 14495 28979

Instância local: tribunal de almada

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 779 0,977

Secção de Competência Criminal (c) 1618 2,34

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: município de Almada.

Instância local: tribunal de barreIro e da moIta

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/

VrP (b) total de

juízes

Moita – Secção de Competência Cível (c) 565 0,714

Barreiro – Secção de Competência Criminal (c) 1029 1,49

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios do Barreiro e da Moita.

Instância local: tribunal de lIsboa

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (d) 12177 15,22 21

Secção de Competência Criminal (d) 5369 10,74 18

Secção de pequena Criminalidade (d) 4463 4,19 7

(a) Corresponde aos processos entrados em 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 500 processos por juiz (secção criminal); 1065 processos por juiz (secção de pequena criminalidade).(c) A tendência de subida do volume de entradas justifica o número de juízes proposto.(d) Área de competência territorial: município de Lisboa.

Instância local: tribunal do montIjo

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 377 0,473

Secção de Competência Criminal (c) 582 0,84

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: municípios de Alcochete e Montijo.

Instância local: tribunal do seIxal

secção Volume

processual expectável

(a)

rácio volume processual/VrP

(b) total de

juízes

Secção de Competência Cível (c) 586 0,736

Secção de Competência Criminal (c) 1434 2,08

(a) Corresponde à média de processos entrados nos anos de 2008 a 2010.(b) VRP considerado: 800 processos por juiz (secção cível); 690 processos por juiz (secção criminal).(c) Área de competência territorial: município do Seixal.

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eM fOCOVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201224

3. Proposta global de reorganização para o tribunal Judicial da Comarca de Lisboa

TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA

Estrutura de gestão: 1 Juiz presidente;1 Magistrado do Ministério Público coordenador;1 Administrador judiciário.

Instância Central do tribunal Judicial da Comarca de Lisboaa) Lisboa – Secção Cível (área de competência territorial: Municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Lisboa, Moita, Montijo e Seixal);b) Lisboa – Secção Criminal (área de competência territo-rial: Municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Lisboa, Moi-ta, Montijo e Seixal);c) Lisboa – 1ª Secção do Trabalho (área de competência ter-ritorial: Municípios de Almada, Lisboa e Seixal);d) Barreiro – 2ª Secção do Trabalho (área de competência ter-ritorial: Municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo);e) Lisboa – 1ª Secção de Família e Menores (área de compe-tência territorial: Município de Lisboa);f ) Almada – 2ª Secção de Família e Menores (área de compe-tência territorial: Municípios de Almada);g) Barreiro – 3ª Secção de Família e Menores (área de com-petência territorial: Municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo);h) Seixal – 4ª Secção de Família e Menores (área de compe-tência territorial: Município do Seixal);i) Lisboa – 1ª Secção de Execução (área de competência ter-ritorial: Município de Lisboa);j) Almada – 2ª Secção de Execução (área de competência territorial: Municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Seixal);l) Lisboa – 1ª Secção de Comércio (área de competência ter-ritorial: Município de Lisboa);m) Barreiro – 2ª Secção de Comércio (área de competência territorial: Municípios de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Seixal);n) Lisboa – 1ª Secção de Instrução Criminal (área de compe-tência territorial: Municípios de Lisboa);o) Almada – 2ª Secção de Instrução Criminal (área de compe-tência territorial: Municípios de Almada e Seixal);p) Barreiro – 3ª Secção de Instrução Criminal (área de com-petência territorial: Municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo);q) Lisboa – Secção de Execução das Penas (área de compe-tência territorial: Área correspondente ao atual distrito judi-cial de Lisboa e Estabelecimentos Prisionais de Alcoentre e de Vale de Judeus).

Instâncias Locais do tribunal judicial da Comarca de Lisboaa) Tribunal de Almada - Secção de Competência Cível e Sec-

ção de Competência Criminal (área de competência territo-rial: Município de Almada);b) Tribunal do Barreiro e da Moita - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competên-cia territorial: Municípios do Barreiro e da Moita);c) Tribunal de Lisboa - Secção de Competência Cível, Secção de Competência Criminal e Secção de Pequena Criminali-dade (área de competência territorial: Município de Lisboa);d) Tribunal do Montijo - Secção de Competência Cível e Sec-ção de Competência Criminal (área de competência territo-rial: Municípios do Alcochete e Montijo);e) Tribunal de Seixal - Secção de Competência Cível e Secção de Competência Criminal (área de competência territorial: Município do Seixal).

4. Serviços do Ministério Público da Comarca de Lisboa

Tendo em conta as funções de investigação, de representa-ção e de coordenação que ao Ministério Público estão legal-mente cometidas, propõe-se para os serviços do Ministério Público da Comarca de Lisboa o quadro de magistrados como a seguir se apresenta:

atuais comarcas

serviços do ministério Público

magistrados do mPInquéritos Penais (a)

Pr Pa total

1. lisboa 60 83 143 62815

2. almada 6 13 19 9714

3. barreiro

7 10 17

4308

4. moita 3445

5. montijo - 5 5 4069

6. seixal 2 13 15 8724

total 75 124 199 93075

(a) Corresponde á média de inquéritos penais entrados nos anos 2008 a 2010.

No âmbito da estrutura de especialização de inquéritos, pro-põe-se a criação de um Departamento de Investigação e Ação Penal da Comarca de Lisboa, com sede em Lisboa.O Departamento de Investigação e Ação Penal integra sec-ções em Almada e Barreiro e serviços de inquéritos junto das demais instâncias locais.

Continua na próxima edição

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AtUALIDADeS VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 25

No dia 20 de dezembro entra em vigor a Lei n.º 62/2012, de 10.12, que cria a “Bolsa de Terras”, ou seja,

a bolsa nacional de terras para utilização agrícola, florestal ou silvopastoril.Este diploma aplica-se aos prédios rústi-cos e aos prédios mistos; a todos aqueles que sejam integrados voluntariamen-te pelos seus proprietários, assim como aos baldios.Não são integrados na aplicação deste regime os prédios considerados mistos para efeitos fiscais com edificações des-tinadas a habitação não permanente, quando a área da parte inscrita na matriz rústica respetiva seja inferior a 1 ha; nem os prédios com projetos de instalação de empreendimentos turísticos aprova-dos ou em apreciação junto da entidade competente. A bolsa de terras consiste em disponibilizar para arrendamento, venda ou para outros tipos de cedência as terras com aptidão agrícola, florestal e silvopas-toril do domínio privado do Estado, das autarquias locais e de quaisquer outras entidades públicas; ou pertencentes a entidades privadas.Para esse efeito existe agora um sistema de informação, em suporte informático e com acesso para consulta no sítio da Inter-net da Direção-Geral de Agricultura e De-senvolvimento Rural (DGADR) com infor-

mação sobre os prédios disponibilizados, nomeadamente área, aptidão agrícola, florestal ou silvopastoril, principais carac-terísticas do solo e eventuais restrições à sua utilização, designadamente restrições de utilidade pública e servidões adminis-trativas. A entidade gestora da bolsa de terras é o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, através da DGADR.Qualquer privado pode disponibilizar os seus prédios na bolsa de terras. Por outro lado, são disponibilizados na bolsa de ter-ras os prédios reconhecidos como prédios sem dono conhecido, e os prédios que não estejam a ser utilizados para fins agrí-colas, florestais ou silvopastoris.O processo de reconhecimento da situa-ção de prédio sem dono conhecido que não esteja a ser utilizado para fins agríco-las, florestais ou silvopastoris, e o registo de prédio que seja reconhecido enquan-to tal, serão regulados em lei própria. De referir que, se for feita prova da identida-de do prédio em questão, no decurso do respetivo processo de reconhecimento, esse prédio é imediatamente restituído ao seu dono, tendo o proprietário direito a receber o montante correspondente às rendas e ou a outros proveitos entretanto recebidos pelo Estado, enquanto foi por este gerido.

Aprovada a “Bolsa de terras” para utilização agrícola

Crédito à habitação. Reembolso dos PPR/eNo dia 1 de janeiro de 2013 entra em vigor o DL n.º 57/2012, de 9.11, que introduz alterações ao DL n.º 158/2002, de 2.7 (regime jurídico dos planos de poupança-reforma).De acordo com as citadas alterações, os valores dos PPR/E (planos poupança) utilizados para pagamento de prestações de crédito à aquisição de habitação própria e permanente vão ser reembolsados

No passado dia 1 de dezembro entraram em vigor as recentes alterações introduzidas pelo DL

n.º 258/2012, de 30.11, à legislação que impõe medidas contra a emissão de po-luentes gasosos e de partículas pelos motores de combustão interna a insta-lar em máquinas móveis não rodoviárias.A legislação atual fixa valores-limite de emissão de gases que os motores de ig-nição por compressão devem cumprir para poderem ser homologados e colo-cados no mercado. O diploma ora apro-

vado adapta a legislação nacional à legis-lação comunitária em vigor autorizando o aumento do limite máximo de motores que podem ser colocados no mercado ao abrigo do regime flexível para deter-minados tipos de máquinas, bem como aceitando a aplicação deste regime aos motores destinados a equipar locomo-tivas ferroviárias, até certo limite e num período limitado de tempo, incluindo al-gumas especificidades para os motores destinados às locomotivas ferroviárias a operar na rede do Reino Unido.

Ambiente. Melhoria da qualidade do ar. Combate à poluição

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AtUALIDADeSVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201226

No caso de estarem a planear en-cerrar as empresas nas “pontes” de 2013, as respetivas entida-

des empregadoras deverão comunicar tal intenção aos trabalhadores abrangi-dos até ao dia 15 de dezembro.Estes dias são contabilizados no perío-do de férias do trabalhador, no entan-to, pode o mesmo compensar tais dias de encerramento por trabalho presta-do noutros dias, não se considerando, nesta situação, como trabalho suple-mentar.Estas novas regras constam do art. 242º do Código do Trabalho, com redação in-troduzida pela Lei nº 23/2012, de 25.6, e produzem efeitos a partir de 1 de ja-neiro de 2013.Refira-se que o mesmo diploma elimi-nou a regra do acréscimo de dias de fé-

rias (majoração do período de férias) em função da assiduidade do trabalhador.A propósito desta matéria, importa ter presente que a citada Lei nº 23/2012, que procedeu à 3ª revisão do Código do Trabalho, eliminou os feriados reli-giosos do Corpo de Deus e 1 de novem-bro (Dia de Todos os Santos), bem como os feriados civis do dia 5 de outubro e 1 de dezembro (Dia da Restauração da Independência).Segundo aquele diploma, a eliminação dos referidos feriados produz efeitos a partir de 1 de janeiro de 2013.Nos termos do art. 234º do Código do Trabalho, em 2013 são feriados obri-gatórios os dias 1 de janeiro, “Sexta--Feira Santa”, “Domingo de Páscoa”, “25 de abril”, 1 de maio, 10 de junho, 15 de agosto, 8 e 25 de dezembro.

encerramento das empresas nas “pontes”

No passado dia 8 de novembro foi aprovado em Conselho de Ministros um diploma que veio

estabelecer o regime de determinação do rendimento anual bruto. Este diplo-ma faz referência ao regime de deter-minação do rendimento anual bruto corrigido (RABC) . Na determinação do RABC têm de ser tidos em conta os rendimentos dos agregados familiares relativos a 2012 (e não os de 2011). Por força disso, já se previa que não poderiam verificar-se aumentos de rendas antes de 2013. Na verdade, se o processo negocial, para efeitos do aumento das rendas antigas, deverá ter em conta os rendimentos de 2012 (e não os de 2011), e se o fis-co não poderá atestar tais rendimentos enquanto não receber as declarações de IRS de 2012, então, até lá (2013), não haverá atualizações das rendas. A nova lei do arrendamento já está em vigor

desde novembro, mas para beneficia-rem da eventual isenção de aumento de renda, os inquilinos apenas conse-guirão provar os seus rendimentos em 2013, depois de calculado o IRS relati-vo a 2012. Perante esta questão, o Governo deci-diu agora criar uma exceção, em virtu-de da qual o senhorio só poderá co-brar o novo valor da renda a partir do segundo semestre de 2013. Em contra-partida, o executivo alerta os inquilinos que tentarem utilizar esta exceção para invocarem “carência económica” sem terem direito, adiantando que os mesmos serão alvo de multas. Assim, caso se venha a verificar uma diferen-ça superior a 20% entre o rendimento efetivo do agregado e o valor máximo de Rendimento Anual Bruto Corrigido (RABC) que impõe limites à subida das rendas, o senhorio tem direito a ser in-demnizado.

Arrendamento. Aplicação de multas aos inquilinos que mintam sobre a sua situação económica

Sociedades comerciais. Medidas

para obrigar ao registo de prestação

de contasNo dia 3 de dezembro de 2012 entrou

em vigor o diploma que introduz alterações ao Código do Registo

Comercial, ao Regime do Registo Nacional de Pessoas Coletivas e ao

regime do incumprimento da obrigação do registo da prestação de contas.

O DL n.º 250/2012, de 23.11. visa criar nos representantes legais das

sociedades comerciais a consciência da gravidade da omissão do registo

da prestação de contas. Assim, quem incumprir esta obrigação fica

obrigado ao pagamento do dobro do emolumento aplicável.

Por outro lado, quem não cumprir a obrigação de registar a prestação de contas fica impedido de registar

outros factos sobre a entidade, com exceção dos registos referentes à

designação e cessação de funções dos membros dos órgãos de administração

e de fiscalização, dos registos de atos emanados de autoridade administrativa

e de processos judiciais.Por último, se a sociedade comercial

não proceder ao registo de prestação de contas durante dois anos consecutivos,

a mesma será dissolvida automática e oficiosamente.

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AtUALIDADeS VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 27

No dia 09 de dezembro de 2012 entrou em vigor a Lei 59/2012, de 9.11, que cria salvaguardas

para os mutuários no crédito à habi-tação e introduz alterações ao DL n.º 349/98, de 11.11( regime do crédito à aquisição, construção e realização de obras de conservação ordinária, extra-ordinária e de beneficiação de habita-ção própria permanente, secundária ou para arrendamento, e à aquisição de ter-reno para construção de habitação pró-pria permanente).Uma dessas salvaguardas é, por exem-plo, a norma que determina que a ins-tituição de crédito apenas poderá pro-ceder à resolução ou a qualquer outra forma de cessação do contrato de con-cessão de crédito à aquisição ou cons-trução de habitação própria permanen-te com fundamento no incumprimen-

to, na sequência da verificação de pelo menos três prestações vencidas e ainda não pagas pelo mutuário.Outra tem a ver com a retoma do crédito à habitação. Assim, no prazo da oposi-ção à execução, o mutuário passa a ter direito à retoma do contrato, desde que se verifique o pagamento das presta-ções vencidas e não pagas, bem como os juros de mora e as despesas em que a instituição de crédito incorreu, quan-do as houver.Por outro lado, as instituições de crédito mutuantes não podem agora agravar os encargos com o crédito, nomeadamen-te aumentando os spreads estipulados em contratos de concessão de crédito à habitação em caso de renegociação motivada, nomeadamente pela seguin-te situação:- O mutuário ter celebrado com terceiro

um contrato de arrendamento da totali-dade ou parte do fogo na sequência de um dos seguintes eventos:1. Mudança de local de trabalho do mu-tuário ou de outro membro do agrega-do familiar não descendente para um local que diste não menos de 50 km, em linha reta, do fogo em causa e que implique a mudança da habitação per-manente do agregado familiar;2. Situação de desemprego do mutu-ário ou de outro membro do agrega-do familiar.O diploma ora aprovado aplica-se aos contratos de empréstimo celebrados após 09.12.2012, aos contratos em vigor a 09.11.2012 e aos processos executivos pendentes, exceto àqueles em que a venda executiva já tiver sido concreti-zada de acordo com os critérios legais então em vigor.

No passado dia 13 de novembro foi aprovada a Recomendação n.º 5/2012 do Conselho do Con-

selho de Prevenção da Corrupção em matéria de gestão de conflitos de inte-resses no setor público.Em Portugal, a questão dos conflitos de interesses no setor público, a par da problemática da corrupção, tem vindo a assumir um lugar de destaque em Portugal e na Comunidade Inter-nacional. Os principais organismos internacio-nais, como a ONU, a OCDE e o GRECO (Conselho da Europa), definem o confli-to de interesses no setor público como qualquer situação em que um agen-te público, por força do exercício das suas funções, ou por causa delas, tenha de tomar decisões ou tenha contacto com procedimentos administrativos de qualquer natureza, que possam afetar, ou em que possam estar em causa, in-

teresses particulares seus ou de tercei-ros e que por essa via prejudiquem ou possam prejudicar a isenção e o rigor das decisões administrativas que te-nham de ser tomadas, ou que possam suscitar a mera dúvida sobre a isenção e o rigor que são devidos ao exercício de funções públicas. O ordenamento jurídico português dis-põe de instrumentos normativos que contemplam o controlo dos conflitos de interesses, nomeadamente a Cons-tituição da República Portuguesa, o Código do Procedimento Administra-tivo; o Regime de incompatibilidades do pessoal de livre designação por ti-tulares de cargos políticos , etc.Nesta matéria destacamos algumas das mais recentes recomendações aprovadas:Os gestores e órgãos de direção de todas as entidades do Setor Público, incluindo os que a qualquer título ou

sob qualquer forma tenham de gerir dinheiros, valores ou património pú-blicos, devem criar e aplicar nas suas organizações medidas que previnam a ocorrência de conflitos de interes-ses, tais como: - Manuais de boas práticas e códigos de conduta relativamente a todas as áre-as de atuação, incluindo o período que sucede ao exercício de funções públi-cas, em conformidade com o quadro le-gal e os valores éticos da organização; - Identificação de potenciais situações de conflitos de interesses relativamen-te a cada área funcional da sua estru-tura orgânica; - Identificação de situações que pos-sam dar origem a um conflito real, aparente ou potencial de interesses que envolvam trabalhadores que dei-xaram o cargo público para exercerem funções privadas como trabalhadores, consultores ou outras.

Gestão de conflitos de interesses no setor público – recomendações

Criadas novas salvaguardas para os devedores do crédito à habitação

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AtUALIDADeSVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201228

A revisão do regime do arrendamen-to urbano foi aprovada pela Lei n.º 31/2012, de 14.12, a qual também intro-duz alterações ao Código Civil, ao Códi-go de Processo Civil e à Lei n.º 6/2006, de 27.2 (que aprovou o NRAU). Esta lei encontra-se em vigor desde o dia 12 de novembro de 2012.São várias as novidades introduzidas por este diploma, das quais temos vin-do, aliás, a dar conta em edições pas-sadas. São também várias as dúvidas que se colocam sobre a aplicação prá-tica destas alterações, pelo que decidi-mos publicar algumas questões feitas neste âmbito e que constam do sítio do Portal da Habitação, que a seguir transcrevemos:

“1 - Quando entra em vigor o diplo-ma que introduz alterações ao regi-me do arrendamento urbano?A Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto, que introduz as alterações ao regime do ar-rendamento urbano, aprovado pela lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro, entra em vigor 90 dias após a sua publicação, ou seja, a 12 de novembro de 2012.

2 - A que contratos se aplicam as al-terações ora introduzidas?As alterações ora introduzidas aplicam--se aos contratos de arrendamento ur-bano para fins habitacionais e não ha-bitacionais, celebrados após 12 de no-vembro de 2012, bem como às relações contratuais constituídas que subsistam nessa data, sem prejuízo do previsto nas normas transitórias, quer no que diz respeito aos contratos para fins habita-cionais celebrados na vigência do Re-gime do Arrendamento Urbano (RAU), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 321-B/90 de 15 de outubro, e contratos para fins não habitacionais celebrados na vigên-cia do Decreto-Lei n.º 257/95, de 30 de setembro, quer quanto aos contratos habitacionais celebrados antes da vi-gência do RAU e contratos não habi-tacionais celebrados antes da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 257/95, 30 de setembro, quer, ainda, no caso dos senhorios que tenham iniciado a atua-lização da renda ao abrigo do regime

constante dos artigos 30.º a 56.º da Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro. 3 - Que tipos de contrato de arrenda-mento podem ser celebrados?O contrato de arrendamento urbano para habitação pode celebrar-se com prazo certo ou por duração indetermi-nada, sendo que no contrato com prazo certo pode convencionar-se que, após a primeira renovação, o arrendamento tenha duração indeterminada.De acordo com as alterações ao NRAU, agora introduzidas pela Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto, na ausência de estipu-lação das partes, o contrato considera--se celebrado, com prazo certo, pelo período de dois anos.O prazo deve constar de cláusula inseri-da no contrato e não pode ser superior a 30 anos, considerando-se automa-ticamente reduzido ao referido limite quando o ultrapasse.No que respeita aos arrendamentos para fins não habitacionais, as regras relativas à duração, denúncia e oposi-ção à renovação dos contratos são li-vremente estabelecidas pelas partes, aplicando-se, na falta de estipulação, o disposto quanto ao arrendamento para habitação. Na falta de estipulação, o contrato considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de cinco anos, não podendo o arrendatário denunciá--lo com antecedência inferior a um ano. 4 - Qual a forma exigível para a ce-lebração do contrato de arrenda-mento?O contrato de arrendamento urbano deve ser celebrado por escrito, inde-pendentemente do prazo da sua du-ração. 5 - Que alterações são introduzidas pela nova lei no que se refere à trans-missão por morte, no arrendamento para habitação, em contratos cele-brados antes da entrada em vigor do NRAU (junho de 2006)?Nos termos das alterações ora intro-duzidas, o contrato de arrendamento para habitação não caduca por morte do primitivo arrendatário quando lhe

sobreviva: a) Cônjuge com residência no locado; b) Pessoa que com ele vi-vesse em união de facto há mais de dois anos, com residência no locado há mais de um ano; c) Ascendente em 1.º grau que com ele convivesse há mais de um ano; d) Filho ou enteado com menos de 1 ano de idade ou que com ele convivesse há mais de 1 ano e seja menor de idade ou, tendo idade infe-rior a 26 anos frequente o 11.º ou 12.º de escolaridade ou estabelecimento de ensino médio ou superior; e) Filho ou enteado, que com ele convivesse há mais de um ano, portador de deficiên-cia com grau comprovado de incapaci-dade superior a 60%. 6 - em que casos não se verifica o di-reito à transmissão por morte, no ar-rendamento para habitação, nos ter-mos referidos na resposta anterior?O direito à transmissão descrito na res-posta anterior não se verifica se, à data da morte do arrendatário, o titular des-se direito tiver outra casa, própria ou arrendada, na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítrofes ou no respetivo concelho quanto ao res-to do País. 7 - Que outras especificidades intro-duzidas pela nova lei, quanto ao regi-me de transmissão por morte do pri-mitivo arrendatário, no arrendamen-to para a habitação, em contratos ce-lebrados antes da vigência do NRAU?Quando a posição do arrendatário se transmita para ascendente com idade inferior a 65 anos à data da morte do arrendatário, o contrato fica submeti-do ao NRAU, aplicando-se, na falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos com prazo certo, pelo pe-ríodo de 2 anos. Esta situação aplica-se ao caso da transmissão por morte entre os ascendentes que tiverem sobrevivi-do ao primitivo arrendatário e a quem a posição deste se transmitiu.Por outro lado, quando a posição do arrendatário se transmita para filho ou enteado – à exceção do caso de se tra-tar de filho ou enteado, portador de deficiência com grau comprovado de

Nova lei do arrendamento – questões práticas

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AtUALIDADeS VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 29

incapacidade superior a 60% – com menos de um ano de idade ou que com ele convivesse há mais de um ano e seja menor de idade ou, tendo idade inferior a 26 anos, frequente o 11.º ou 12.º ano de escolaridade ou estabele-cimento de ensino médio ou superior, o contrato fica submetido ao NRAU na data em que aquele adquirir a maio-ridade ou, caso frequente o 11.º ou o 12.º ano de escolaridade ou de cursos de ensino pós-secundário não superior ou de ensino superior, na data em que perfizer 26 anos, aplicando-se, na falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos com prazo certo, pelo período de 2 anos.

8 - Que alterações são introduzidas pela nova lei no que se refere à trans-missão por morte no arrendamento para fins não habitacionais?No que diz respeito à transmissão por morte no arrendamento para fins não habitacionais, o arrendamento termina com a morte do primitivo arrendatário, salvo existindo sucessor que, há mais de três anos, explore, em comum com o ar-rendatário primitivo, estabelecimento a funcionar no local.

9 - No caso em que a renda está a ser atualizada ao abrigo da Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro (NRAU), qual o regime que se aplica?Os senhorios que tenham iniciado a atualização da renda ao abrigo do re-gime constante dos artigos 30.º a 56.º do NRAU, na sua redação originária, e da respetiva legislação complemen-tar, podem optar pela continuação da aplicação do referido regime se, a 12 de novembro de 2012, se verificar uma das seguintes situações: a) o período de atu-alização faseada do valor da renda, em 2, 5 ou 10 anos, se encontre a decorrer; b) estiverem verificados os pressupos-tos previstos nos artigos 35.º (avaliação do locado, nos termos do CIMI, e nível de conservação do prédio não inferior a 3) ou 52.º da Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro, (a renda pode ser atualizada independentemente do nível de con-servação) do NRAU, na sua redação ori-ginária, consoante se trate de arrenda-mento para habitação ou para fim não habitacional.

A opção supracitada deverá ser comu-nicada pelo senhorio ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, no prazo de 30 dias, a contar de 12 de novembro de 2012. 10 - Modo como o senhorio deverá proceder para desencadear o novo mecanismo de atualização da renda?A transição para o NRAU e a atualização da renda dependem de iniciativa do se-nhorio que deve comunicar a sua inten-ção ao arrendatário, indicando:a) o valor da renda, o tipo e a duração do contrato que pretende;b) o valor do locado, avaliado nos ter-mos dos artigos 38.º e seguintes do Código do Imposto Municipal sobre imóveis (CIMI), constante da caderneta predial urbana e juntar cópia da referi-da caderneta predial.

11 - Qual o prazo de resposta, à pro-posta do senhorio, de que dispõe o arrendatário?O arrendatário tem o prazo de 30 dias, a contar da receção da comunicação do senhorio, para responder

12 - O que pode o arrendatário fazer?Na resposta, o arrendatário, pode:a) aceitar o valor da renda proposto pelo senhorio;b) opor-se ao valor da renda proposto pelo senhorio contrapondo novo valor, tipo e duração do contrato;c) denunciar o contrato.

13 - No caso de o arrendatário acei-tar o valor da renda proposto pelo senhorio, o que acontece?Neste caso, a renda é atualizada e o con-trato fica submetido ao NRAU, a partir do 1.º dia do 2.º mês seguinte ao da re-ceção da resposta.Quanto ao tipo e duração do contrato, ele considera-se celebrado pelo período de cinco anos, no caso de não se verifi-car acordo entre senhorio e arrendatá-rio ou no silêncio das partes. 14 - e não concordando com os ter-mos apresentados pelo senhorio, como pode o arrendatário opor-se ao valor da renda, ao tipo ou à duração do contrato propostos e quais as con-sequências dessa oposição?

O arrendatário pode opor-se ao valor da renda, ao tipo ou à duração do con-trato propostos pelo senhorio, propon-do outros.Se o arrendatário manifestar oposição ao valor da renda proposta pelo senho-rio mas não apresentar novo valor, essa oposição vale como proposta de ma-nutenção do valor da renda em vigor à data da comunicação do senhorio. 15 - Qual o prazo de que dispõe o senhorio para responder à contra-proposta/oposição do arrendatário?O senhorio, no prazo de 30 dias conta-dos da receção da resposta do arrenda-tário deve comunicar se aceita ou não a proposta, sendo que a falta de respos-ta vale como aceitação da renda, bem como do tipo e da duração do contrato propostos pelo arrendatário.

16 - Se o senhorio aceitar o valor da renda contraposto pelo arrendatá-rio?No caso de o senhorio aceitar o valor da renda contraposto pelo arrendatário, a renda é atualizada e o contrato fica sub-metido ao NRAU de acordo com o tipo e a duração acordados, a partir do 1.º dia do 2.º mês seguinte ao da receção, pelo arrendatário, da comunicação do senhorio ou do termo do prazo de 30 dias que este dispõe para responder à contraposta do arrendatário.No que diz respeito ao tipo ou duração do contrato, verificando-se o silêncio ou a falta de acordo entre as partes, ele considera-se celebrado com prazo cer-to, pelo período de 5 anos. 17 - e se o senhorio não aceitar o va-lor da renda proposto pelo arren-datário?Se o senhorio não aceitar o valor da ren-da proposto pelo arrendatário pode de-nunciar o contrato, pagando a este uma indemnização equivalente a 5 anos de renda resultante do valor médio das rendas propostas por cada um deles.Em alternativa, pode atualizar a renda de acordo com os critérios previstos nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 35.º da Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto, caso em que o contrato se considerará cele-brado com prazo certo, pelo período de 5 anos, a contar da referida comunica-

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ção. A alínea a) citada refere que o va-lor atualizado da renda tem como limite máximo o valor anual correspondente a 1/15 do valor do locado, sendo este, nos termos da alínea b), igualmente ci-tada, o que corresponder à avaliação realizada nos termos do artigo 38.º e seguintes do CIMI.No caso de arrendatários com rendi-mento anual bruto corrigido (RABC) in-ferior a cinco retribuições mínimas na-cionais anuais (RMNA) e de idade igual ou superior a 65 anos ou com deficiên-cia com grau de incapacidade superior a 60%, aplicam-se regras especialmente previstas nos artigos 35.º e 36.º da Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto.

18 - Se o senhorio pretender denun-ciar o contrato, qual o prazo para a respetiva produção de efeitos?A denúncia do senhorio produz efei-tos no prazo de seis meses a contar da receção da correspondente comunica-ção, devendo o arrendatário desocupar o locado e entregá-lo ao senhorio no prazo de 30 dias.Este prazo de seis meses é, contudo, alargado até 1 ano, no caso de arren-datário que tenha a seu cargo filho ou enteado menor de idade ou que, tendo idade inferior a 26 anos, frequente o 11.º ano ou o 12.º ano de escolaridade ou cursos de ensino pós-secundário não superior ou de ensino superior, man-tendo-se a obrigação de o arrendatá-rio desocupar o locado e entregá-lo ao senhorio no prazo de 30 dias.

19 - Qual a renda que vigora no pe-ríodo compreendido entre a receção da comunicação pela qual o senhorio denuncia o contrato e a produção de efeitos da denúncia?No período compreendido entre a rece-ção da comunicação pela qual o senho-rio denuncia o contrato e a produção de efeitos da denúncia vigora a renda an-tiga ou a renda proposta pelo arrenda-tário, consoante a que for mais elevada.

20 - e no caso de se tratar de arren-datário com rendimento anual bruto corrigido (RABC) inferior a cinco re-tribuições mínimas nacionais anuais (RMNA), como proceder?O arrendatário, na sua resposta ao pro-

cesso de atualização da renda desen-cadeado pelo senhorio, pode invocar e comprovar que o seu agregado familiar tem um rendimento anual bruto corrigi-do (RABC), inferior a 5 retribuições míni-mas nacionais anuais (RMNA), caso em que a atualização da renda correspon-derá, durante um período transitório de 5 anos, a máximos de 10% do RABC, quando o rendimento do agregado fa-miliar for inferior a 500 euros mensais, 17% do RABC quando o rendimento do agregado familiar for inferior a € 1500 mensais ou a 25%, nos restantes casos. A atualização referida terá, em todos os casos, o limite de 1/15 do valor do locado, determinado de acordo com o valor patrimonial tributário do imóvel.

21 - e no caso de arrendatário com idade igual ou superior a 65 anos ou com deficiência com grau de incapa-cidade superior a 60%?Caso o arrendatário na sua resposta, in-voque, e comprove ter idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência supe-rior a 60%, poderá haver lugar a atua-lização de renda pelo valor negociado ou pelo valor do locado determinado de acordo com o valor patrimonial tri-butário do imóvel, exceto se se verificar simultaneamente uma situação de ca-rência económica. 22 - No caso de o arrendatário, em resposta à iniciativa do senhorio para transição para o NRAU e atualização da renda, pretender denunciar o con-trato, como deve proceder?Neste caso não há lugar à atualização da renda e o arrendatário dispõe de 3 meses para desocupar o locado, sendo que, 2 meses, a contar da receção pelo senhorio da resposta do arrendatário, é o prazo de produção de efeitos da de-núncia e 1 mês o prazo para desocupar e entregar a habitação. 23 - No caso de um contrato de arren-damento para habitação celebrado antes da entrada em vigor do RAU, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 321-B/90, de 15 de outubro e em que o arrendatário tem idade igual ou su-perior a 65 anos ou deficiência com grau comprovado de incapacidade superior a 60%, como se processa a

transição para o NRAU e a atualiza-ção da renda?Tratando-se de um contrato de arren-damento urbano para fins habitacionais anterior ao RAU, tendo o arrendatário idade igual ou superior a 65 anos ou sendo portador de uma incapacidade superior a 60%, ele só fica submetido ao NRAU mediante acordo entre as partes, aplicando-se no que respeita ao valor da renda o disposto no 36.º. da Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto. Não sendo o acordo possível, e tendo o arrendatário invocado a sua condição relativa à idade ou deficiência, o contrato mantém-se em vigor sem alteração do regime que lhe é aplicável, sendo que o senhorio apenas pode atualizar a renda recor-rendo ao critério agora estabelecido, isto é, o valor da renda tem como limite máximo o valor anual correspondente a 1/15 do valor do locado determinado nos termos do CIMI.Se o arrendatário invocar e comprovar que o RABC do seu agregado familiar é inferior a cinco RMNA, a atualização não poderá ser superior a 10% do RABC, quando o rendimento do agregado fa-miliar for inferior a 500 euros mensais, a 17% do RABC quando o rendimento do agregado familiar for inferior a € 1500 mensais ou a um máximo de 25%, nos restantes casos.Estas atualizações de renda têm como limite máximo o valor anual correspon-dente a 1/15 do valor do locado e vigo-ram por um período de 5 anos.Findo o período de 5 anos, o valor da renda pode ser atualizado por iniciati-va do senhorio, não podendo o arren-datário invocar que o RABC é inferior a cinco retribuições mínimas nacionais anuais e o contrato só fica submetido ao NRAU mediante acordo entre as partes. Neste caso o arrendatário po-derá ter direito a uma resposta social, nomeadamente através de subsídio de renda, de habitação social ou de mercado social de arrendamento, nos termos e condições a definir em diplo-ma próprio.

24 - Qual a definição de agregado fa-miliar para a determinação do Rendi-mento Anual Bruto Corrigido (RABC)?A definição de agregado familiar é im-portante para efeito de se apurar o

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RABC. Assim, de acordo com o dispos-to no artigo 2.º do DL 158/2006, ain-da em vigor, mas que irá ser adapta-do às alterações agora introduzidas ao NRAU, considera-se agregado familiar, em cada ano, o conjunto de pessoas constituído pelo arrendatário e pelas seguintes pessoas que com ele vivam em comunhão de habitação: cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e os seus dependentes; cônjuge ou ex-cônjuge e os dependentes a seu cargo; pessoa que com o arrendatário viva em união de facto há mais de dois anos, com residência no locado, e os seus dependentes; ascendentes do ar-rendatário, do seu cônjuge ou de pes-soa que com ele viva em união de facto há mais de dois anos. 25 - Sou arrendatário titular de um contrato de arrendamento antigo. Com as alterações ao NRAU permite--se a transmissão do arrendamento para os filhos?O arrendamento para fins habitacio-nais na sequência da morte do primi-tivo arrendatário continua a poder ser transmitido paro os seus descenden-tes. Com efeito, se o contrato de arren-damento tiver sido celebrado antes da entrada em vigor do NRAU (antes de junho de 2006) o arrendamento pode transmitir-se para o filho ou enteado do primitivo arrendatário com menos de 1 ano de idade ou que com ele con-vivesse há mais de um ano e seja me-nor de idade ou, tendo idade inferior a 26 anos, frequente o 11.º ou 12.º ano de escolaridade ou estabelecimento de ensino médio ou superior. Neste caso o contrato ficará sujeito ao NRAU na data em que aquele adquirir a maioridade ou, caso frequente o 11.º ano ou 12.º ano de escolaridade ou cursos de ensi-no pós-secundário não superior ou de ensino superior, na data em que per-fizer 26 anos, aplicando-se, na falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos com prazo certo, pelo pe-ríodo de dois anos.A transmissão para filho ou enteado com deficiência superior a 60% não está condicionada à idade ou maioridade mas só se verificará para descendente que convivesse com o primitivo arren-datário há mais de um ano.

26 - O senhorio pode denunciar o con-trato para obras?Nas alterações ao NRAU prevê-se uma agilização no procedimento de denún-cia do contrato de arrendamento para habitação celebrado por duração inde-terminada: quando o senhorio pretenda proceder à demolição ou a realização de obra de remodelação ou restauro profundos que obriguem à desocupa-ção do locado. A denúncia do senhorio deverá ser feita mediante comunicação ao arrendatário com uma antecedência não inferior a seis meses sobre a data pretendida para a desocupação e da qual conste de forma expressa o funda-mento da denúncia. A denúncia tendo por base o referido fundamento, para ser eficaz, deverá ser acompanhada dos seguintes documentos: comprovativo de que foi iniciado, junto da entidade competente, procedimento de contro-lo prévio da operação urbanística a efe-tuar no locado, bem como de termo de responsabilidade do técnico autor do projeto legalmente habilitado que de-clare que a operação urbanística obri-ga à desocupação do locado, quando se trate de operação urbanística sujei-ta a controlo prévio ou de descritivo da operação urbanística a efetuar no loca-do indicando que a operação urbanísti-ca está isenta de controlo prévio. A de-núncia nesta situação obriga o senho-rio, mediante acordo, e em alternativa, ao pagamento de uma indemnização correspondente a um ano de renda ou a garantir o realojamento do arrendatário em condições análogas às que já deti-nha, quer quanto ao local quer quanto ao valor da renda e encargo.Nas situações em que o arrendatário te-nha idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau comprovado de incapacidade superior a 60%, na fal-ta de acordo das partes, o senhorio é obrigado a garantir o realojamento do arrendatário nos termos atrás descritos.

27 - No caso de contratos de arren-damento para habitação celebrados após a entrada em vigor do Regime do Arrendamento Urbano (RAU), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 321-B/90, de 15 de outubro e de contra-tos de arrendamento não habitacio-nais celebrados depois da entrada

em vigor do Decreto-Lei n.º 257/95, de 30 de setembro, a renda pode ser atualizada?Em relação aos contratos de arrenda-mento urbano para habitação celebra-dos após a entrada em vigor do Regime do Arrendamento Urbano, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 321-B/90, de 15 de outu-bro, bem como aos contratos para fins não habitacionais celebrados após a en-trada em vigor do Decreto-lei n.º 257/95, de 30 de setembro, haverá lugar à atuali-zação anual da renda, nos termos hoje em vigor. Essa atualização é feita em função da inflação, sendo o seu coeficiente publi-cado anualmente em Diário da República. 28 - No caso de se verificar incumpri-mento do contrato de arrendamento, por falta de pagamentos de rendas, pode o senhorio fazer cessar o refe-rido contrato?A mora pelo arrendatário igual ou su-perior a dois meses no pagamento da renda, encargos ou despesas que cor-ram por conta do mesmo, confere ao senhorio o direito de resolver o con-trato de arrendamento. O arrendatário poderá fazer cessar a mora, no prazo de um mês, sendo que esta faculdade só poderá ser utilizada uma única vez, com referência a cada contrato. O senhorio deverá desencadear a reso-lução do contrato mediante o envio de comunicação à contraparte onde fun-damentadamente se invoque a obriga-ção incumprida, por uma das seguintes formas: a) notificação avulsa; b) contac-to pessoal através de representante le-gal (advogado, solicitador ou agente de execução); c) escrito assinado e remeti-do pelo senhorio. Prevê-se também ser inexigível ao se-nhorio a manutenção do arrendamen-to, no caso do arrendatário se constituir em mora superior a oito dias, no paga-mento da renda, por mais de quatro ve-zes seguidas ou interpoladas, num pe-ríodo de doze meses, com referência a cada contrato. 29 - em que consiste o procedimento especial de despejo, criado por esta alteração ao NRAU?Através desta alteração ao NRAU cria-se um meio processual que se destina a efe-tivar a cessação do arrendamento, inde-

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AtUALIDADeSVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201232

pendentemente do fim a que este se des-tina, quando o arrendatário não desocu-pe o locado na data prevista na lei ou na-quela que resultou do acordo das partes. Este procedimento aplica-se às seguintes situações: a) resolução do contrato por comunicação, com fundamento no não pagamento de renda, igual ou superior a dois meses, ou por mora superior a oito dias no pagamento da renda, por mais de quatro vezes, seguidas ou interpoladas, no período de 12 meses; b) revogação; c) caducidade do contrato por decurso do prazo; d) cessação por oposição à re-novação; e) cessação por denúncia para habitação do senhorio/filhos, para obras profundas ou, ainda, por livre denúncia (alínea c) do art.º 1101.º do CC); f) por de-núncia do arrendatário. 30 - trâmites seguidos pelo procedi-mento especial de despejo.Com competência em todo o território nacional, é criado, junto da Direção-Ge-ral da Administração da Justiça, o Bal-cão Nacional do Arrendamento (BNA), destinado a assegurar a tramitação do procedimento especial de despejo. Este procedimento é constituído pelas se-guintes fases: A) O senhorio apresenta o requerimento de despejo, junto do BNA; B) O BNA promove a notificação do arrendatário; C) Se o arrendatário não deduzir oposição ao pedido de despejo, o balcão emite o título de de-socupação do imóvel, com base no qual o senhorio pode proceder ao despejo imediato, só havendo intervenção do tribunal quando o arrendatário se re-cuse a entregar o imóvel; D) Se o arren-datário deduzir oposição ao pedido de despejo, alegando que não se verifica o fundamento invocado pelo senhorio, há lugar à intervenção do juiz, num pro-cesso judicial especial e urgente, para o qual é necessário a prestação da cau-ção, o pagamento da taxa de justiça e o depósito das rendas vencidas. Releve-se que o procedimento especial de despejo apenas pode ser utilizado relativamente aos contratos de arren-damento cujo imposto de selo tenha sido liquidado.

31 - No caso em que o contrato de ar-rendamento de duração limitada te-nha sido celebrado em 2004, como se

opera a respetiva renovação?Se se tratar de um contrato para fins habitacionais, de duração limitada, ce-lebrado na vigência do RAU, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 321-B/90, de 15 do outubro, ou, no caso de contratos para fins não habitacionais celebrados na vigência do Decreto-Lei n.º 257/95, de 30 de setembro, quando não sejam denunciados por qualquer das partes, a renovação é automática, no fim do prazo pelo qual foram celebrados, pelo período de dois anos, se outro superior não tiver sido previsto. 32 - estas alterações do regime do arrendamento urbano têm espe-cificidades, no que diz respeito ao arrendamento para fins não habi-tacionais?Sim. No que diz respeito aos arrenda-mentos para fins não habitacionais, consagra-se um regime especial, que permitirá ao arrendatário invocar e comprovar, aquando da interpelação efetuada pelo senhorio, para efeitos de transição para o NRAU e de atua-lização da renda, uma das seguintes circunstâncias: a)Que existe no locado um estabelecimento comercial aberto ao público e que é uma microentidade; b) Que tem a sua sede no locado uma associação privada sem fins lucrativos, regularmente constituída que se de-dica à atividade cultural, recreativa ou desportiva não profissional, e declara-da de interesse público ou de interesse nacional ou municipal; c) Que o locado funciona como casa fruída por repúbli-ca de estudantes, nos termos previstos na Lei n.º 2/82, de 15 de janeiro, altera-da pela Lei n.º 12/85, de 20 de junho. Neste caso, o contrato só fica submeti-do ao NRAU, mediante acordo entre as partes ou, na falta deste, no prazo de cinco anos a contar da receção, pelo senhorio, da resposta do arrendatário. No período de cinco anos, o valor da renda é determinado de acordo com os seguintes critérios: a) o valor atualizado da renda tem como limite máximo 1/15 do valor do locado; b) o valor do loca-do corresponde ao valor da avaliação realizada, nos termos dos artigos 38.º e seguintes do CIMI. Findo o período de cinco anos, o se-nhorio pode iniciar novo processo de

atualização da renda, sendo que o ar-rendatário não poderá invocar nova-mente quaisquer das circunstâncias su-pra referidas. No silêncio ou na falta de acordo das partes acerca do tipo ou da duração do contrato, este considera-se celebrado, com prazo certo, pelo perí-odo de dois anos. 33 - O que se entende por microen-tidade?Microentidade é a empresa que, inde-pendentemente da sua forma jurídica, não ultrapasse, à data do balanço, dois dos três limites seguintes: a) Total do balanço: € 500 000; b) Volume de ne-gócios líquido: € 500 000; c) Número médio de empregados durante o exer-cício: cinco. 34 - O senhorio pode denunciar o contrato para habitação própria?Sim. O senhorio pode denunciar o contrato de duração indeterminada, quando necessite de habitação pelo próprio ou pelos seus descendentes em 1.º grau.O referido direito de denúncia depen-de do pagamento do montante equi-valente a um ano de renda e da verifi-cação dos seguintes requisitos: a) Ser o senhorio proprietário, comproprietá-rio ou usufrutuário do prédio há mais de dois anos ou, independentemente deste prazo, se o tiver adquirido por su-cessão; b) Não ter o senhorio, há mais de um ano, na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítrofes ou no respetivo concelho quanto ao res-to do País, casa própria que satisfaça as necessidades de habitação própria ou dos seus descendentes em 1.º grau.Contudo, importa referir que, nos casos de contratos de arrendamento celebra-dos em data anterior ao NRAU (junho de 2006), ainda que se encontrem pre-enchidos todos os requisitos para a de-núncia do contrato, para que aí possa residir, o senhorio não o poderá fazer, sempre que se verifique alguma das seguintes situações: arrendatário com idade igual ou superior a 65 anos, inde-pendentemente desta, se se encontrar em situação de reforma por invalidez absoluta, ou, não beneficiando de pen-são de invalidez, sofra de incapacidade total para o trabalho.”

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ReGIStOS e NOtARIADO VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 33

A minuta que a seguir publicamos tra-duz um exemplo de contrato de locação com opção de compra

Compra de locação com opção de compra

CONtRAtO De LOCAÇÃO COM OPÇÃO De COMPRA

Entre:1.º Outorgante(adiante designado Locador)e2.º Outorgante (adiante designado Locatário)

É celebrado o presente contrato, que se rege pelos termos e condições das cláusulas seguintes:

1ªO Locador dá de aluguer ao Locatário a/o ( Identifi cação da coisa dada de aluguer).________ para (descrição do fi m a que se destina o aluguer da coisa).

2ª1. O prazo do aluguer é de _____ meses, não renovável, fi ndo o qual termina

automaticamente sem necessidade de qualquer comunicação entre as partes.2. No fi nal do prazo do aluguer, o Locatário deverá entregar o _______ em _____,

ou noutro local que venha a ser indicado pelo Locador.

3ª1. O Locatário pagará um aluguer mensal de _____€ __ ( ___________ euros),

vencendo-se o primeiro aluguer na data da celebração do presente contrato e os restantes no primeiro dia útil de cada mês a que respeita.

2. Os alugueres deverão ser pagos no domicílio/sede do Locador [ou por depósito na conta ____________ junto do Banco_______].

4ª1. O Locador obriga-se a vender ao Locatário, no fi nal do prazo do contrato e caso

este manifeste a vontade de o adquirir o bem locado, pelo preço de ___________.2. O Locatário deverá manifestar a vontade de adquirir o bem locado por carta

registada com aviso de receção, enviada com uma antecedência mínima de 30 dias relativamente ao prazo fi nal do contrato.

3. O preço referido no número um da presente cláusula será pago no termo do contrato de aluguer, considerando-se a propriedade do bem transmitida para o Locatário na data do pagamento do preço correspondente.

4. O direito do Locatário a comprar o bem locado cessará se este não cumprir, temporária ou defi nitivamente, o contrato de locação.

5ªFica expressamente proibida a sublocação ou a cedência, a qualquer título, do

bem alugado sem o consentimento prévio e escrito do Locador.

6ªPara todas as questões emergentes do presente contrato fi ca estipulado como

competente o tribunal da Comarca de ______, com expressa renúncia a qualquer outro.

Feito em ________, em dois exemplares, sendo um para cada parte.

O Locador,O Locatário,

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AnáliseVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201234

Nova tabela emolumentar dos Registos e do Notariado em vigor desde 1.10.2012(continuação na edição anterior da VJ)

As alterações introduzidas ao Regula-mento Emolumentar dos Registos e do Notariado, pelo DL n.º 209/2012, de 19.9, encontram-se em vigor desde o passado dia 1 de outubro de 2012. Estas alterações vão ao encontro do esforço de moderni-zação e de reorganização dos serviços dos registos e do notariado, sem esque-cer a contenção financeira que se impõe presentemente.Caberá ao Instituto dos Registos e do No-tariado, I. P., a obrigação de suportar o cres-cente custo de manutenção dos respetivos

serviços, nomeadamente dos sistemas in-formáticos.O ajustamento ao valor dos emolumentos ora efetuado teve em consideração o prin-cípio da proporcionalidade. Todavia, a nova tabela emolumentar traduz uma atualiza-ção, ou seja, um acréscimo substancial dos valores anteriormente em vigor.Para além das alterações ao Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notaria-do, altera-se ainda a legislação conexa com emolumentos e taxas.De acordo com as alterações introduzidas

aos Códigos do Registo Predial e Comercial, as certidões passam a ser válidas por um período de apenas seis meses, podendo ser revalidadas por períodos de igual dura-ção se a sua informação se mantiver atual.Enunciamos de seguida em quadro com-parativo as taxas emolumentares dos regis-tos e notariado anteriormente em vigor e as atuais. Nesta edição publicamos as tabe-las dos emolumentos da identificação civil, dos emolumentos comuns e do procedi-mento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis.

TAbELA compARATIVA doS EmoLumEnToS doS REgISToS E do noTARIAdo

• Emolumentos procedimento especial de transmissão, operação e registo de imóveis

em vigor até 30.09.2012

Pelo procedimento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis, com ou sem marcação prévia, incluindo todos os registos e os averbamentos de cancelamento de hipotecas aí titulados, com exceção dos atos de que dependa a verificação dos pressupostos do procedimento

600 G

Pelo procedimento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis, com ou sem marcação prévia, se apenas for registado um facto incluindo os averbamentos de cancelamento de hipotecas aí titulados, com exceção daqueles de que dependa a verificação dos pressupostos

325 G

Pela desistência ou indeferimento do procedimento assim como pela emissão de certificado relativo a procedimento não concluído por motivos imputáveis aos interessados 50 G

Pelo procedimento que abranja mais de dois imóveis, acresce ao valor fixado nos termos dos números anteriores por cada prédio a mais, até ao limite de (euro) 5000 50 G

Por cada averbamento ao documento que titule o negócio jurídico, incluindo retificações não imputáveis aos serviços 50 G

A vigorar a partir de 1.10.2012

Pelo procedimento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis, independentemente do número de atos de registo, com ou sem marcação prévia 700 G

Pelo procedimento que titule atos de permuta com constituição de uma ou mais hipotecas, acresce ao emolumento previsto no número anterior 225 G

Pelo procedimento especial de transmissão, oneração e registo de imóveis, com ou sem marcação prévia, se apenas for regis-tado um facto 375 G

Pelo procedimento especial de que resulte a constituição da propriedade horizontal acresce ao emolumento que se mostre devido nos termos dos números anteriores, 25 G por cada descrição subordinada, até ao limite de 30 000 G

Pelo procedimento especial de que resulte a modificação do título constitutivo da propriedade horizontal acresce ao emolu-mento previsto nos termos dos n.os 1 e 2, 25 G por cada descrição subordinada, criada ou alterada, até ao limite de 30 000 G

Pela emissão de certificado relativo a procedimento não concluído por motivo imputável às partes 50 G

Pelo procedimento que abranja mais de um imóvel, acresce ao valor fixado nos termos dos números anteriores por cada pré-dio a mais, até ao limite de 30 000 G 50 G

Pelo documento de retificação a título elaborado no âmbito do procedimento, por erro não imputável aos serviços 50 G

Por cada averbamento ao documento que titule o negócio jurídico, incluindo retificações não imputáveis aos serviços 50 G

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Análise VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 35

TAbELA compARATIVA doS EmoLumEnToS doS REgISToS E do noTARIAdo• Emolumentos da identificação civil

Em vigor até 30.09.2012

A vigorar a partir de 1.10.2012

Pela emissão de cada bilhete de identidade 3 G (revogado)

Por cada certidão 15 G (revogado)

Por cada informação 8 G (revogado)

• Emolumentos comunsServiço de telecópia: pela utilização do serviço de telecópia nos serviços dos registos e do notariado, para emissão de documentos, são cobrados os seguintes emolumentos; por qualquer outro documento que contenha até sete folhas, incluindo as do pedido e resposta e uma eventual folha de certificação ou encerramento; no continente e Regiões Autónomas

5 G 5 G

Em relação aos serviços consulares portugueses na Europa 20 G 20 G

Em relação aos serviços consulares portugueses fora da Europa 50 G 50 G

Por cada folha a mais, nos casos previstos nos nos 1.1.2.1 a 1.1.2.3 acrescem respetivamente 0,50 G , 2,50 G e 7,50 G. – –

Pela prática dos atos compreendidos no regime especial de constituição imediata de sociedades, com ou sem nomeação de órgãos sociais ou secretário da sociedade 360 G 360 G

Pela prática dos atos compreendidos no regime especial de constituição imediata de associações 250 G 300 GPela prática dos atos compreendidos no regime especial de constituição on-line de sociedades, com ou sem nomeação de órgãos sociais ou secretário da sociedade e com opção por pacto ou ato constitutivo de modelo aprovado

360 G 220 G

No caso de constituição on-line de sociedades, com ou sem nomeação de órgãos sociais ou secretário da sociedade e com opção por pacto ou ato constitutivo elaborado pelos interessados 380 G 360 G

Pela prática dos atos compreendidos no regime especial de criação imediata de representações permanentes 100 G 200 G

Impugnação das decisões, por cada processo de recurso hierárquico 150 G 300 G

Por cada processo de recurso hierárquico de conta ou de recusa de passagem de certidão – 150 G

Por cada certificado emitido nos termos do artigo 133.º do Regulamento dos Serviços dos Registos e do Notariado 50 G 50 G

Pelo reconhecimento de cada assinatura e de letra e assinatura 8 G 12 G

Pelo reconhecimento que contenha, a pedido dos interessados, menção de qualquer circunstância especial 12,50 G 16,50 G

Por cada termo de autenticação de documentos não abrangidos pelo n.º 7.7, com um só interveniente 20 G 24 G

Por cada interveniente a mais 5 G 6,50 G

Por cada termo de autenticação de procuração com um só mandante e mandatário 15 G 20 G

Por cada mandante ou mandatário adiciona 6 G 10 G

Por cada termo de autenticação de documentos particulares que titulem atos sujeitos a registo predial nos termos do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho 100 G 175 G

Por cada interveniente, acresce 5 G 10 G

Por cada ato ou negócio jurídico a mais além do primeiro, acresce – 50 G

Por cada ato ou negócio jurídico a mais além do primeiro, acresce – 50 G

Por cada prédio a mais além do primeiro, acresce – 25 G

Pelo certificado de exatidão da tradução de cada documento realizada por tradutor ajuramentado 20 G 25 G

Pela tradução de documentos, por cada página 15 G 20 G

Fotocópias e respetiva conferência, públicas-formas e certificação da conformidade de documentos eletrónicos com os documentos originais:

Por cada pública - forma,

conferência de fotocópia ou fotocópia e respetiva conferência

15 G

Por cada pública - forma, conferência

de fotocópia ou fotocópia e respetiva

conferência, até quatro páginas, inclusive - 18 G;

A partir da 5.ª página, por cada página a mais, 1

G, até ao limite de 150 G;

Por cada certificação da conformidade de documentos eletrónicos com os documentos originais e respetiva digitalização 10 G 17 G

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marcasVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201236

REGISTO DE MARCA – PROVIDÊNCIA CAUTELAR(Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.11.2012)

SUMÁRIO: I. No nosso regime da propriedade

industrial vigora o registo consti-tutivo, face ao que preceitua o n.º 1 do artigo 224.º do CPI: “O registo confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da mar-ca para os produtos e serviços a que esta se destina”.

II. Apesar da proteção legal da “marca de facto”, decorrente da conjugação dos artigos 266.º, n.º 1, 239.º, n.º 1, e) e 241.º, n.º 2, todos do CPI, traduzida na possibilidade de anulação do registo de uma marca conflituante com fundamento em concorrência desleal objetiva, não tendo o reque-rente registado a marca, não poderá requerer providências cautelares ao abrigo do disposto no artigo 338.º-I do CPI, aplicável exclusivamente às situações em que existe titularidade do direito de propriedade industrial [só concretizável através do registo].

III. No entanto, o requerente da provi-dência que não registou a marca po-derá – face à conjugação do disposto no artigo 338.º-P do CPI, com o n.º 3 do artigo 392.º do CPC – lançar mão do procedimento cautelar comum previsto no artigo 381.º do CPC, fundado na concorrência desleal, desde que a mesma se traduza em lesão grave e dificilmente reparável, pressuposto essencial enunciado no n.º 1 do citado preceito.

IV. O n.º 3 do artigo 392.º do CPC impõe ao juiz o poder-dever de convolação da providência concretamente requerida para a que considere legalmente adequada ou mais efi-caz à prevenção do receado dano, cumprindo-lhe corrigir, mesmo oficiosamente, o erro na forma do procedimento.

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I. Relatório B… e C…, autores na ação declarativa em que é ré D…, instauraram por apenso à mesma, o presente procedimento cau-telar comum contra a ré e intervenientes principais E…, Lda., e F…, formulando os seguintes pedidos: I. Que sejam os requeridos intimados a, no prazo de 8 dias a contar da notificação para o efeito, alterarem o nome do estabelecimento de restauração que exploram no n.º .. da Rua …, no Porto, no sentido de deixarem de usar o nome “ALEIXO”, ou palavras com ele confundíveis ou que lhe façam alu-são, na identificação e publicidade desse estabelecimento e em toda a documen-tação com ele relacionada; II. Que sejam proibidos os requeridos, até ao trânsito em julgado da decisão a proferir na ação declarativa, de utilizar a palavra “ALEIXO” como sinal distintivo da sua atividade ou de algum estabelecimento que explorem ou venham a explorar, ou produtos ou serviços que comercializem, bem como quaisquer palavras com ela confundíveis ou que lhe façam alusão, nomeadamente na publicidade, papel timbrado, Internet, correio eletrónico ou na ornamentação de estabelecimento; III. Que seja fixada como sanção pecuniária compulsória a quantia de € 500,00 (quinhentos euros) a pagar pelos Requeridos à Requerente, por cada dia de atraso no cumprimento da intima-ção referida no ponto I ou de violação da proibição referida no ponto II, supra.Alegaram em síntese os requerentes[1]: a requerente B… é mãe e o requerente C… irmão da requerida D…; na sequência do falecimento de G…, marido da 1.ª reque-rente e pai do 2.º requerente e da requeri-da D…, foi feito inventário, fazendo parte do acervo hereditário, o restaurante “Casa Aleixo”; o referido estabelecimento foi ad-judicado a todos os herdeiros (requerentes e 1.ª requerida), na proporção de 4/6 à 1.ª requerente, 1/6 ao 2.º requerente e 1/6 à

requerida D…; a requerida D… abriu um restaurante em local próximo da “Casa Aleixo”, ao qual atribuiu a designação de “D… do Aleixo”, tendo pedido ao INPI o registo da marca, do nome do estabeleci-mento, bem como de um logótipo muito semelhante ao que usa a “Casa Aleixo”; os proprietários da “Casa Aleixo” nunca solicitaram qualquer registo de nome ou de marca; a requerida visou com a conduta descrita, uma associação do seu estabele-cimento à imagem da “Casa Aleixo”, que é um restaurante de referência na cidade do Porto, e que assim vem sendo gravemente prejudicado.Os requeridos deduziram oposição, ale-gando em síntese: não se verificam os pressupostos enunciados no artigo 338.º do CPI; os restaurantes em causa não se situam na mesma rua; os requerentes não são detentores de qualquer “marca registada”, tal como assumem no seu arti-culado; a requerida D… é comproprietária do estabelecimento “Casa Aleixo”, preva-lecendo o seu direito à marca, porque a registou; a proibição de uso do nome do estabelecimento da requerida causaria elevados danos.A M.ª Juíza entendeu desnecessária a reali-zação de quaisquer diligências instrutórias, face às alegações e documentos contidos nos autos, proferindo de imediato senten-ça, onde conclui: «Portanto, daqui não se pode concluir que os requerentes tenham um direito – direito à marca “Casa do Aleixo”, nem que esta esteja devidamente registada, cfr. art. 224º do CPI. (vd. Ac. TRG de 19.12.07).O CPI consagra o sistema de registo cons-titutivo ou atributivo da propriedade da marca – art. 224º, n.º 1 –, o que significa que não existe um direito exclusivo sobre uma marca se e enquanto não se encontrar registada; a propriedade da marca não resulta do seu uso mas do seu registo – Ac. RC de 23.11.93.Daqui decorre, desde já, que o primeiro pressuposto não se verifica, pelo que nos parece que prejudicada fica a apreciação

[1] Do relatório da sentença recorrida não consta qualquer síntese das posições assumidas pelas partes.

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marcas VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 37

dos demais pressupostos previstos no art. 338º-I, n.º 1, do CPI, julgo improcedente a presente providência cautelar».Não se conformaram os requerentes, e interpuseram o presente recurso de apelação, apresentando alegações onde formula as seguintes conclusões:A - O tribunal recorrido decidiu erra-damente a matéria de facto, ao ter-se abstido de dar como provada a matéria alegada pelos Apelantes nos artigos 8.º a 15.º e 31.º a 47.º do requerimento inicial da providência. B – Especificando (…) os factos alegados nos artigos 8.º a 15.º do requerimento da providência resultam provados dos docu-mentos nos 5 a 23 da PI da ação principal, bem como do documento junto aos autos com o requerimento de 19/07/2012, sen-do em boa parte admitidos pelos requeri-dos, na sua oposição e na contestação da ação; e os factos alegados nos artigos 31.º a 44.º do requerimento da providência resultam provados dos documentos 1 a 7 da réplica da ação principal, sendo em boa parte admitidos pelos requeridos, na sua oposição e na contestação da ação. C - Pelo exposto, existe fundamento para que a decisão sobre a matéria de facto desde já seja alterada, no sentido de passar a dar como assente a matéria ale-gada nos artigos 8.º a 15.º e 31.º a 44.º do requerimento de providência (sendo que a matéria dos artigos 45.º a 47.º depende de produção de prova testemunhal). D - Ao abrirem um restaurante denomi-nado “D… DO ALEIXO” a poucos metros do famoso restaurante “ALEIXO”, os Apelados sabiam e não podiam ignorar que, com essa designação e localização, iriam causar confusão e, sobretudo, aproveitar a grande reputação que este estabelecimento goza, tentando desse modo desviar clientela deste para aquele estabelecimento, numa conduta típica de Concorrência Desleal. E - O facto de os Apelantes – comproprie-tários do restaurante “ALEIXO” – não serem ainda titulares de um registo de marca ou de logótipo sobre esse sinal, não os priva da tutela decorrente da proibição da Concorrência Desleal, nem daquela que decorre do direito de anular marcas registadas abusivamente. F - No caso em apreço, o direito cuja efe-tividade se pretende assegurar através da providência cautelar é o direito à absten-ção e/ou cessação da conduta ilícita por parte do infrator, fundando-se o interesse dos requerentes em direito emergente da decisão a proferir na ação principal. G - O facto de o registo de marcas e logó-

tipos ter natureza constitutiva em nada impede a concessão da providência, pois é a própria lei (art. 381.º/2 do C PC) que admite que o interesse do requerente se funde num direito já existente ou direito emergente de decisão a proferir em ação constitutiva já proposta. H - Por isso, mal andou o tribunal a quo, ao entender que os Apelantes – pelo facto de não disporem de uma marca ou logótipo registado – não eram titulares de um direito passível de fundar a providência requerida. I. A sentença recorrida – além de ter de-cidido erradamente a matéria de facto assente – violou o disposto nos artigos 381º/2 do C PC e 317.º do CPI. Os requeridos apresentaram resposta às alegações de recurso, onde alegam que impugnaram os factos que os recorren-tes pretendem que sejam considerados provados, formulando as seguintes conclusões:i. Deverá ser mantida a decisão recorrida, não se alterando a decisão sobre matéria de facto, no sentido de passar a dar como assente a matéria alegada nos artigos 8.º, 14.º, 15.º, 32.º a 39.º e 44.º do requerimen-to inicial da providência.ii. Por não serem titulares do direito exclusi-vo sobre a marca “CASA ALEIXO” (ou sobre qualquer outra marca contendo o vocábulo “ALEIXO”), nem sequer estarem autorizados a utilizá-la, falha, desde logo, o primeiro dos pressupostos do qual depende, nos termos do art. 338.º-I do CPI, a procedência da pro-vidência cautelar requerida.iii. E, bem assim, não poderá ser invocado o disposto no art. 381.º, n.º 2, do CPC, re-lativo ao procedimento cautelar comum, por a tutela cautelar dos direitos de pro-priedade industrial ser hoje realizada atra-vés da providência cautelar especificada constante do art. 338.º-I do CPI.iv. Tão-pouco poderá valer a acusação dirigida pelos Apelantes, por força da qual se imputa injustamente aos, aqui, Recorridos a prática de concorrência desleal, porquanto inexiste em absoluto, o primeiro e essencial pressuposto da aplicação do invocado art.º 317.º do CPI, a titularidade do direito de propriedade industrial, in casu, o direito exclusivo sobre a marca “CASA ALEIXO”.v. Inexiste, pois, fundamento legal que sustente a pretensão deduzida pelos Recorrentes, pelo que o Tribunal a quo apreciou de forma rigorosa, fundamen-tada e crítica a prova produzida, pelo que a decisão de total improcedência do pedido constituiu a única solução possível nos autos.

II. Do mérito do recurso

1. Definição do objeto do recurso O objeto do recurso, delimitado pelas con-clusões das alegações (artigos 684.º, n.º 3, e 685.º-A, nos 1 e 3, do CPC), salvo questões do conhecimento oficioso (artigo 660º, nº 2, in fine), consubstancia-se nas seguintes questões: i) saber se deveriam ter sido integrados no elenco da factualidade as-sente, os factos referidos pelos recorrentes nas alíneas A), B) e c) das suas conclusões de recurso; ii) reapreciar o mérito da deci-são e, consequentemente, da integração jurídica da factualidade provada.

2. Fundamentos de factoO Tribunal considerou assente[2], não ten-do sido objeto de impugnação, a seguinte factualidade:1. Em 19 de novembro de 1980 faleceu G…, que foi casado com a Requerente, B… e era pai do Autor, C… e da Reque-rida, D….2. Como nessa data a Requerida D… era ainda menor, foi instaurado inventário obrigatório que correu termos sob o n.º 1519 na 3.ª Secção do então 3.º Juízo Cível do Porto.3. Do acervo hereditário dessa herança fez parte o estabelecimento comercial de casa de pasto denominado “CASA ALEIXO”, cito na Rua …, …, no Porto.4. Por acordo de todos os interessados, os bens da herança, incluindo o referido estabelecimento (verba n.º 18), foram adjudicados a cada um dos três herdei-ros, na proporção das respetivas quotas hereditárias, tendo ficado 4/6 (quatro sextos) para a viúva, aqui Requerente, e 1/6 (um sexto) para cada um dos filhos, o aqui Requerente, C…, e a Requerida D… — tudo conforme resulta de cópias da relação de bens e do mapa da partilha juntos ao citado Proc. n.º 1519, que foram juntas na ação como docs. n.º 1 e 2, aqui se dando por reproduzidas.5. Assim, em resultado da partilha, a Requerente, o Requerente e a Requerida D… ficaram sendo comproprietários do referido estabelecimento comercial, na proporção de 4/6, 1/6 e 1/6, respetiva-mente.6. A fim de titular a exploração do referido estabelecimento perante a Adminis-tração Fiscal, esta unidade económica foi coletada como sociedade irregular, sob a designação “B…, C… e D…”, com contabilidade organizada e número de contribuinte próprio (………), conforme resulta da síntese cadastral e do cartão de identificação de entidade equiparada

[2] O Tribunal considerou que a factualidade relevante se resumia ao referido elenco, questão que ulteriormente se apreciará.

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a pessoa coletiva, de que foram juntas na ação cópias como docs. 3 e 4.7. Apesar disso, os Requerentes e a Reque-rida D… permaneceram comproprietários do dito estabelecimento, com tudo o que o compõe, nomeadamente bens móveis e direitos, incluindo o direito ao arrenda-mento e trespasse.8. Apesar de a designação “Casa do Aleixo” constituir o nome do estabelecimento, os seus comproprietários não tiveram o cuidado de requerer oportunamente o registo desse sinal como marca ou logó-tipo junto do INPI.9. Devido a desentendimentos familiares, a Requerida D… deixou de participar na gestão e exploração do referido estabe-lecimento a partir de 22 de outubro de 2011, que vem desde então sendo gerido apenas pelos Requerentes, apesar de a Requerente continuar sendo comproprie-tária dessa unidade de restauração.10. A Requerida D…, em 15.04.2009, pediu no INPI — Instituto Nacional da Proprie-dade Industrial o registo, em seu próprio nome, de uma marca mista (n.º 447674) que reproduz o sinal distintivo que tem vindo a ser utilizado na exploração do estabelecimento acima referido, pedido para serviços da classe 43.ª — mais con-cretamente para serviços de bar, cafés/restaurantes, cafetarias, cantinas, serviços hoteleiros, restaurantes para serviço rápi-do e permanente [snack/bars]; refeições, restaurantes «self-service» — foi concedi-do por despacho de 7.07.2009, publicado no Boletim da Propriedade Industrial de 10.07.2007 (conforme resulta do extrato da base de dados do INPI, acessível na página www.marcasepatentes.com, de que se anexou cópia à PI da ação princi-pal como doc. n.º 22, aqui se dando por reproduzido e integrado).11. A Requerida D… pediu em 18.11.2011 um novo registo de marca no INPI, sob o n.º 490792 (“D… DO ALEIXO”), para servi-ços de bar, cafés-restaurantes, cafetarias, cantinas, serviços hoteleiros, restaurantes para serviço rápido e permanente [snack--bars]; refeições, restaurantes «self-servi-ce» (cf. extrato da base de dados do INPI, acessível na página www.marcasepaten-tes.com, de que se anexou cópia à PI da ação como doc. n.º 24, aqui se dando por reproduzido e integrado).12. Contra esse pedido de registo, foi já deduzida reclamação que atualmente pende no INPI.

3. Recurso sobre a matéria de facto considerada assenteSem impugnar os factos assentes, os recorrentes preconizam a sua ampliação, de forma a: englobar os factos alegados nos artigos 8.º a 15.º e 31.º a 44.º do re-

querimento de providência; englobar os factos alegados nos artigos 45.º a 47.º do mesmo articulado, mas após produção de prova testemunhal.Na resposta às alegações de recurso, ale-gam os recorridos: os factos constantes dos artigos 8.º, 14.º e 15.º do requerimento da providência, encontram-se expressa e especificadamente impugnado nos arti-gos 14.º, 16.º e 17.º da oposição; quanto aos factos constantes dos artigos 31.º a 44.º do requerimento da providência cautelar, o conteúdo dos artigos 32.º a 39.º e 44.º é expressamente impugnado no artigo 47.º da oposição, constituindo o que se afirma nos artigos 32.º a 34.º e 39.º “um conjunto gratuito de meras insinua-ções de caráter claramente difamatório, que em nada resultam provados dos documentos 1 a 7 da Réplica”.Vejamos a factualidade em apreço:8. O referido estabelecimento desde a sua abertura, em 1929, sempre girou sob o nome de “CASA ALEIXO” ou simplesmente “ALEIXO” (nome do fundador, um galego com esse nome), 9. figurando como tal na citada relação de bens de 1981 e no alvará de abertura e funcionamento (cuja cópia se protesta juntar). 10. Esta casa de pasto (hoje um verdadeiro restaurante), foi-se tornando ao longo dos anos uma referência incontornável da gastronomia nortenha, 11. figurando com destaque em nume-rosos guias turísticos e contando com inúmeras referências elogiosas na comu-nicação social, nacional e internacional, 12. sendo procurado por inúmeras figuras públicas, das artes e letras, da política e do desporto, para além de ter recebido inúmeros prémios e distinções, pela sua qualidade gastronómica. 13. A comprovar a excelente reputação deste estabelecimento de restauração, e a título meramente exemplificativo, foram juntos à ação os seguintes documentos (nos 5 a 20): a) Revista Visão, de 9.06.2011, mencio-nando a preferência do atual primeiro--ministro, Pedro Passos Coelho, pelos filetes de polvo do Aleixo; b) The New York Times, de 20.05.2001, referindo que “um dos mais populares restaurantes do Porto é a Casa Aleixo, … (Rua …, perto da esta-ção de comboio de Campanha” (...) e que “a decoração é agradável, com paredes e chão de granito, o serviço é amigável e a cozinha de alta qualidade. As especialida-des são tenros filetes de polvo fresco e de pescada e o cabrito assado e costeletas de vitela” (...); c) O Expresso, de 30.01.1988; d) O Primeiro de Janeiro, de 16.02.2001; e) A Bola, de 23.01.1984; f ) O Jornal Novo, de Macau, de 17.11.1993; g) revista CARAS,

de 14.11.1998; h) Guia “BOA CAMA, BOA MESA” do jornal Expresso, edição de 2009; i) Casa Cláudia, de outubro de 1997; j) Crónica do crítico gastronómico Alfredo Hervías y Mendizabal, relatando a história do “Aleixo” desde 1929; k) Guia Turístico da revista VISÃO, edição de 2007; l) Revista Pousadas de Portugal, verão de 1999; m) Revista francesas LA VIE, de 16.03.2000; n) Revista FUGAS, do Público, de 12.05.2001; o) Jornal Tal & Qual; p) Revista GENTE; q) Revista do Diário de Notícias, de 8.07.1984 14. Para assinalar e identificar o estabe-lecimento e os serviços de restauração aí prestados, desde pelo menos 1948 é utilizado o sinal distintivo que abaixo se reproduz: (…) 15. Esse sinal distintivo tem vindo a ser usado no papel timbrado do estabele-cimento, nos menus, cartas de vinhos, faturas e até na louça do estabelecimento (conforme pode observar-se nos exem-plos juntos na ação como docs. nos 21 e 23). 31. Na segunda semana de janeiro passa-do, abriu ao público um estabelecimento de restauração denominado “D… DO ALEIXO”, sito na Rua …, .., em …, no Porto. 32. A intenção de conseguir uma “asso-ciação” à imagem da “Casa Aleixo” e de aproveitar parasitariamente da sua repu-tação são evidentes, resultando aliás dos seguintes factos: 33. Desde logo, o próprio nome do estabelecimento (“D… do Aleixo”) faz uma associação inegável ao restaurante “Aleixo” - transmitindo a ideia de que a dona do mesmo vem do “Aleixo” original. 34. O dito estabelecimento está localizado acerca de 80 metros do restaurante “Casa Aleixo”. 35. tendo no seu exterior uma tabuleta com a expressão “D… do Aleixo”, enci-mando uma “perna de polvo”, conforme se pode observar na fotografia junta com a réplica, como doc. n.º 2. 36. Ora, um dos pratos mais famosos da Casa Aleixo, aplaudido em todos os guias e críticas gastronómicas, é justamente o arroz de polvo e os filetes de polvo (nesse sentido, cf. docs. nos 5 a 20 da PI). 37. E, não por acaso, a ementa do res-taurante “D… do Aleixo” reproduz, no essencial, o menu da “Casa Aleixo”, até na sua particularidade característica de acompanhar com arroz de polvo não só os filetes de polvo, mas também os filetes de pescada... (…), 38. sendo praticamente idênticos os preços praticados nos vários items, espe-cialmente nas “1/2 doses”. 39. Além disso, o pessoal ao serviço desse restaurante é quase todo proveniente da “Casa Aleixo” na sequência de um despe-dimento “orquestrado” pela Ré, quando

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já preparava a abertura deste novo esta-belecimento. 40. Assim, como aliás consta da foto-grafia incluída na página do “Facebook” acima referida, estão agora ao serviço do restaurante “D… do Aleixo” os seguintes ex- funcionários da «Casa Aleixo»: H…, I…, J…, K…, L… e M… (figurando ainda nessa foto a Requerida D…, o seu marido, F…, e o cozinheiro, N…). 41. Esse restaurante “D… do Aleixo” está ser explorado por uma sociedade deno-minada «E…, LDA.», conforme resulta da fatura emitida em 18.01.2012 (de que se anexou à réplica cópia como doc. n.º 5, aqui se dá por reproduzida). 42. Essa sociedade tem por único sócio e gerente o marido da Requerida D…, N…, conforme consta da certidão permanente com o código ….-….-…. (de que se ane-xou cópia à réplica, sob o n.º 6). 43. A sede da referida sociedade é, justa-mente, na Rua …, .., em …, no Porto, 44. onde funciona o restaurante «D… do Aleixo», a poucos metros da “Casa Aleixo”.Vejamos agora a impugnação constante do articulado de oposição apresentado pelos requeridos:14º Os Requeridos desconhecem se o alegado pelos Requerentes no artigo 8.º da peça em resposta corresponde ou não à verdade, reconhecendo, contudo, que o visado estabelecimento de restauração, desde que o conhecem, girava sob o nome de “Casa Aleixo”.16º O sinal distintivo reproduzido no artigo 14.º do requerimento inicial, não corresponde exatamente àquele que os Requeridos conheceram, uma vez que no material impresso, habitualmente uti-lizado, não aparecia o texto: “Onde cada refeição é um espetáculo culinário!”17º Tão-pouco, ao que se recordam, era exatamente esse o sinal distintivo utiliza-do na louça em uso no estabelecimento, diversamente, portanto, daquilo que os Requerentes referem no artigo 15.º do seu Requerimento inicial.47º É verdade o alegado pelos Reque-rentes no item 31º do requerimento em oposição, já quanto ao mais vertido pelos Requerentes nos itens 30º e 32º a 39º e 44º, por ser insidioso, misturar factos verdadei-

ros com falsos, a par com a atribuição de intenções pouco bondosas que não são próprias dos Requeridos, passar-se-á à sua impugnação especificada.Do confronto dos articulados que par-cialmente se reproduziram, aplicando a regra enunciada no n.º 2 do artigo 490.º do CPC, concluímos: i) o artigo 31.º do RI[3] encontra-se expressamente admitido por acordo; ii) o artigo 9.º do RI, não está provado no que respeita à 1.ª parte (figu-ração da denominação na relação de bens – dado que tal documento não foi junto aos autos, apesar do despacho de fls. 98), nem no que respeita à 2.ª parte – figuração do nome do estabelecimento no alvará [sendo certo que, relativamente a esta matéria, na sequência da notificação do despacho de fls. 98, os requerentes vieram expressamente admitir (fls. 106), que a de-nominação “Casa Aleixo” não consta do al-vará (junto a fls. 108)]; iii) os artigos 8.º, 14.º e 15.º do RI encontram-se expressamente impugnados; iv) os artigos 10.º a 13.º do RI não foram objeto de impugnação, pelo que se consideram admitidos por acordo (excluindo, obviamente, a sua compo-nente conclusiva); v) os artigos 40.º, 41.º, 42.º e 43.º do RI não foram impugnados, estando documentalmente provados; vi) os artigos 32.º a 39.º e 44.º do RI foram objeto de expressa impugnação, não se considerando matéria assente; vii) os artigos 45.º a 47.º do RI não se encontram provados, como expressamente reconhe-cem os recorrentes.Cabe, no entanto, referir que o facto de se encontrar assente determinada factualidade não significa que a mesma tenha que ser integralmente vertida na sentença final.Com efeito, como refere o Professor An-tunes Varela[4], na sentença o juiz deve elencar apenas “a matéria de facto pro-vada, com interesse para o julgamento da causa”[5]

A M.ª Juíza decidiu indeferir o procedi-mento por considerar que face à ausência de registo não se pode afirmar que “os requerentes tenham um direito – direito à marca “Casa do Aleixo”, nem que esta esteja devidamente registada, cfr. art. 224º do CPI[6].

Considerou, em suma, que os requeren-tes não detêm na sua esfera jurídica o direito que lhes permita a utilização do procedimento cautelar previsto no artigo 338.º-I do Código da Propriedade Indus-trial, e com esse fundamento indeferiu a providência.Para a solução jurídica adotada na senten-ça recorrida, a factualidade relevante seria apenas a que consta do respetivo elenco, não se revelando necessária a factualida-de referente à concorrência desleal.Tese diferente é a que defendem os recor-rentes, que preconizam o deferimento da providência, apesar da ausência de registo do nome e da insígnia do estabelecimen-to, com fundamento na concorrência desleal.Esta é a questão que nos ocupará, de seguida.

4. Fundamentos de direitoComo refere António Abrantes Geraldes[7], o legislador foi obrigado a proceder à transposição para o ordenamento jurídico nacional da Diretiva 2004/48/CE, de 29-4-04, vulgo Diretiva de Enforcement, já que no caso português, os meios cautelares existentes revelavam-se insuficientes para satisfazer as imposições e objetivos da Diretiva, tendo-se optado por proceder à regulamentação autónoma e pratica-mente exaustiva da matéria em cada um dos diplomas que regulam a propriedade intelectual: o CPI e o CDADC.No âmbito de uma revisão mais profunda, em cada um dos referidos diplomas foi introduzido um preceito (art. 338º-I do CPI e art. 210º-G do CDADC) com redações praticamente idênticas.Tal opção foi acompanhada da introdu-ção do art. 338º-P do CPI, com a epígrafe “Direito subsidiário” e a seguinte redação: «Em tudo o que não estiver especialmente regulado na presente secção, são subsi-diariamente aplicáveis outras medidas e procedimentos previstos na lei, nome-adamente no Código de Processo Civil.»Como refere também o autor citado, uma leitura menos atenta dos art. 338º-I do CPI e art. 210º-G do CDADC pode induzir em erro, levando a concluir que o legislador praticamente condensou neles o conteú-

[3] Designação correspondente a “requerimento inicial”, doravante utilizada.

[4] Manual de Processo Civil, 2.ª edição, Coimbra Editora, 1985, pág. 665.

[5] No mesmo sentido, veja-se João de Castro Mendes, Direito Processual Civil III, edição da AEFDL, Lisboa, 1980, pág. 267

[6] Consta da fundamentação da sentença recorrida: “Dos factos assentes, e tal é reconhecido pelos próprios requerentes, apesar de a designação “Casa do Aleixo” constituir o nome do estabelecimento, os seus comproprietários não tiveram o cuidado de requerer oportunamente o registo desse sinal como marca ou logótipo, junto INPI”.

[7] Tutela Cautelar da Propriedade Intelectual (Propriedade Industrial, Direitos de Autor e Direitos Conexos), Centro de Estudos Judiciários, 13 de no-vembro de 2009, disponível, nomeadamente, no site da Relação de Lisboa: http://www.trl.mj.pt/publicacoes/estudos.php.

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do material que, em relação às providên-cias cautelares não especificadas, se extrai dos arts. 381º, nº 1, e 387º, nº 1, do CPC.Uma análise mais detalhada que atente na evolução histórica e no contexto em que surgiram tais normas deixa claras as diferenças de regime.Neste contexto, até à entrada em vigor do novo regime, a tutela cautelar dos di-reitos de propriedade intelectual era feita essencialmente através de providências cautelares não especificadas, nos termos dos arts. 381º, nº 1, e 387º, nº 1, do CPC, não se estabelecendo qualquer distinção entre as situações em que a lesão ainda não ocorrera (lesão iminente) e aquelas em que a lesão já efetivada, prosseguia de forma repetida ou continuada. Em qualquer dos casos a lei não dispensava a prova sumária da ocorrência de uma atuação suscetível de causar “lesão grave e dificilmente reparável” no direito do requerente.Com efeito, através do procedimento cau-telar comum regulado no CPC, a lei não tutela situações de efetiva e consumada violação, salvo se for de prever que a vio-lação prosseguirá de forma continuada ou repetida, sendo exigência comum a todas as providências não especificadas que se esteja perante situação suscetível de cau-sar lesão grave e dificilmente reparável.Outra é a solução que resulta dos referi-dos arts. 338º-I do CPI (e art. 210º-G do CDADC), cuja redação deixa claro que o legislador tutelou, como seria de esperar, situações caracterizadas pelo fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável nos direitos de pro-priedade intelectual (violações iminentes), a par das situações em que já tenha ocor-rido violação e em que, continuando essa violação, se prescindiu da gravidade ou das dificuldades de reparação da lesão[8].Transcreve-se o teor do citado artigo 338.º-I do CPI:1 - Sempre que haja violação ou fundado

receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável do direito de propriedade industrial, pode o tribunal, a pedido do interessado, decretar as provi-dências adequadas a: a) Inibir qualquer violação iminente; ou b) Proibir a continuação da violação. 2 - O tribunal exige que o requerente forneça os elementos de prova para demonstrar que é titular do direito de propriedade industrial, ou que está auto-rizado a utilizá-lo, e que se verifica ou está iminente uma violação. 3 - As providências previstas no n.º 1 podem também ser decretadas contra qualquer intermediário cujos serviços estejam a ser utilizados por terceiros para violar direitos de propriedade industrial. 4 - Pode o tribunal, oficiosamente ou a pedido do requerente, decretar uma sanção pecuniária compulsória com vista a assegurar a execução das providências previstas no n.º 1. 5 - Ao presente artigo é aplicável o dispos-to nos artigos 338.º-E a 338.º-G. 6 - A pedido da parte requerida, as pro-vidências decretadas a que se refere o n.º 1 podem ser substituídas por caução, sempre que esta, ouvido o requerente, se mostre adequada a assegurar a indemni-zação do titular. 7 - Na determinação das providências pre-vistas neste artigo, deve o tribunal atender à natureza dos direitos de propriedade in-dustrial, salvaguardando, nomeadamente, a possibilidade de o titular continuar a explorar, sem qualquer restrição, os seus direitos. Do elemento literal do n.º 1 do normativo transcrito “Sempre que haja violação ou fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável”, particu-larmente da disjunção alternativa “ou”, se conclui, que a previsão legal se desdobra em duas situações distintas: i) sempre que haja violação do direito de propriedade individual; ii) sempre que exista fundado

receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável.Em suma, na primeira situação prevista, quando a lesão já se encontra concre-tizada, o decretamento das medidas cautelares não depende da apreciação da sua gravidade ou das dificuldades da sua reparação.Da disposição legal que se transcreveu se conclui também que as providências cautelares nela previstas se reportam expressa e especificamente à violação do direito de propriedade industrial (corpo do n.º 1 do normativo citado).Por essa razão, imperativamente impõe o n.º 2 do mencionado preceito que o tribunal exija que o requerente forneça os elementos de prova para demonstrar que é titular do direito de propriedade industrial, ou que está autorizado a utilizá--lo, e que se verifica ou está iminente uma violação.Dúvidas não parecem restar, de que o re-gime cautelar previsto no artigo 338.º-I do CPI se aplica exclusivamente às situações em que existe titularidade do direito de propriedade industrial.No nosso regime legal, vigora o registo constitutivo[9], face ao que preceitua o n.º 1 do artigo 224.º do CPI: «O registo confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina».Decorre do exposto que, assumindo os requerentes que não registaram, nem o nome do estabelecimento, nem o seu sinal distintivo (artigo 16.º do RI), e que quem procedeu a tal registo foi a requerida (art. 20.º da RI), nunca pode-riam requerer validamente ao Tribunal a aplicação das providências previstas no artigo 338.º-I do CPI.Com base na conclusão enunciada, a M.ª Juíza indeferiu as providências requeridas, fundamentando a decisão, sinteticamen-te, nestes termos: «Dos factos assentes, e tal é reconhecido

[8] O autor citado refere o acórdão por si relatado na Relação de Lisboa, em 10.02.2009, no âmbito do Processo n.º 2974/2008.4TVLSB.L1-7, cujo sumário se transcreve parcialmente: «1. As providências cautelares previstas no art. 210º-G do Código de Direitos de Autor e de Direitos Conexos, introduzido pela Lei nº 16/08, de 1 de abril, em transposição da Diretiva nº 2004/48/CE, visam duas situações diferenciadas: a) Violação de direitos de autor ou de direitos conexos; b) Fundado receio de ocorrência de lesão grave e dificilmente reparável desses direitos.

2. Na primeira situação, ou seja, em situações de lesão já concretizada, o decretamento das medidas cautelares não depende da apreciação da sua gravidade ou das dificuldades da sua reparação».

O entendimento expresso neste acórdão é também válido para o regime previsto no artigo 338.º-I, do CPI, conclusão que o autor do estudo citado retira, nestes termos: “Tal resultado obtido no confronto com o art. 210º-G do CDADC seria igualmente obtido se acaso estivesse em causa direito de propriedade industrial submetido ao disposto no art. 338º-I do CPI.4”.

[9] Vide, nesse sentido, o acórdão nº STJ, de 26-11-2009, proferido no Processo n.º 08B3671, acessível em http://www.dgsi.pt, onde se refere, nomeada-mente: «Quanto ao efeito do registo dos direitos privativos em causa nestes autos, entende-se na verdade que é constitutivo», concluindo-se que «A “atual proteção legal à marca de facto” (…) tendo em conta a possibilidade de “anulação do registo de uma marca conflituante com fundamento em concorrência desleal objetiva” (artigos 24º, nº 1, d) e 266º, nº 1, b) do Código da Propriedade Industrial), em nada contraria esta afirmação». No mesmo sentido, veja-se o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 22.10. 1992, proferido no Processo n.º nº 0060022, acessível no mesmo site: «Num sistema como o nosso, de registo constitutivo, a garantia legal que a firma, o nome de estabelecimento e a marca conferem só deflagra após esse registo. A constituição de direitos aparece somente após o registo constitutivo».

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pelos próprios requerentes, apesar de a designação “Casa do Aleixo” constituir o nome do estabelecimento, os seus com-proprietários não tiveram o cuidado de requerer oportunamente o registo desse sinal como marca ou logótipo, junto INPI.Portanto, daqui não se pode concluir que os requerentes tenham um direito – direi-to à marca “Casa do Aleixo”, nem que esta esteja devidamente registada, cfr. art. 224º do CPI. (vd. Ac. TRG de 19.12.07).O CPI consagra o sistema de registo cons-titutivo ou atributivo da propriedade da marca – art. 224º, n.º 1 –, o que significa que, não existe um direito exclusivo sobre uma marca se e enquanto não se encon-trar registada; a propriedade da marca não resulta do seu uso mas do seu registo – Ac. RC de 23.11.93.Daqui decorre, desde já, que o primeiro pressuposto não se verifica, pelo que nos parece que prejudicada fica a apreciação dos demais pressupostos previstos no art. 338º-I, n.º 1, do CPI, julgo improcedente a presente providência cautelar».Fica, no entanto, por resolver a seguinte questão: estava o Tribunal adstrito à apreciação da providência concretamen-te requerida, com base no regime legal específico referido (artigo 338.º-I do CPI), ou deveria ter equacionado a tutela do direito invocado pelos requerentes nos termos gerais (art. 381.º do CPC)?Vejamos.Dispõe o já citado artigo 338.º-P, do CPI: «Em tudo o que não estiver especialmente regulado na presente secção, são subsi-diariamente aplicáveis outras medidas e procedimentos previstos na lei, nome-adamente no Código de Processo Civil».E preceitua o n.º 3 do artigo 392.º do CPC: «O tribunal não está adstrito à providência concretamente requerida, sendo aplicável à cumulação de providências cautelares a que caibam formas de procedimento diversas o preceituado nos nos 2 e 3 do artigo 31º.».Como refere Lopes do Rego[10], estabelece-

-se no normativo transcrito, de forma expressa, o poder-dever de o juiz convolar a providência concretamente requerida para a que considere legalmente ade-quada ou mais eficaz à prevenção do receado dano, cumprindo-lhe corrigir, mesmo oficiosamente, o erro na forma do procedimento[11].No requerimento inicial, os requerentes fundamentam a sua pretensão na con-corrência desleal por parte das requeri-das, alegando factualidade suscetível de integrar este conceito jurídico (artigos 31.º a 62.º).Mais alegam os requerentes factos ten-dentes à integração do conceito de “marca de facto”, concluindo que o procedimento das requeridas preenche a previsão da alínea a), do nº 1, do artigo 317º do Código da Propriedade Industrial (art. 51.º do RI), não obstando a isso a circunstância da marca alegadamente usada pelos reque-rentes não se achar registada[12].Na ação declarativa, os ora requerentes (ali autores) pediram a anulação do registo da marca nacional n.º 447674 «Casa Aleixo “Onde Cada Refeição é um Espetáculo Culinário»[13] (fls. 107), pretendendo nesta providência acautelar o efeito útil da refe-rida ação «evitando-se a consumação de um “facto consumado”, até ao trânsito em julgado da ação declarativa – que poderá demorar vários anos a ser decidida em última instância» (art. 70.º do RI). Face ao princípio constitucional da tutela jurisdicional efetiva[14], não é concebível a ideia de que ao direito invocado pelos requerentes[15] não corresponda um meio processual idóneo à sua realização (ação), bem como um procedimento capaz de acautelar o seu efeito útil. Nesta matéria assiste razão aos recorrentes, quando alegam nas alíneas E), F) e G) das conclusões de recurso: “E - O facto de os Apelantes – comproprietários do restau-rante “ALEIXO” – não serem ainda titulares de um registo de marca ou de logótipo sobre esse sinal, não os priva da tutela

decorrente da proibição da Concorrência Desleal, nem daquela que decorre do direito de anular marcas registadas abusi-vamente. F - No caso em apreço, o direito cuja efetividade se pretende assegurar através da providência cautelar é o direito à abstenção e/ou cessação da conduta ilícita por parte do infrator, fundando-se o interesse dos requerentes em direito emergente da decisão a proferir na ação principal. G - O facto de o registo de marcas e logótipos ter natureza constitutiva em nada impede a concessão da providência, pois é a própria lei (art. 381.º/2 do C PC) que admite que o interesse do requerente se funde num direito já existente ou direito emergente de decisão a proferir em ação constitutiva já proposta.”[16]

Da conjugação do disposto no artigo 338.º-P do CPI, com o n.º 3 do artigo 392.º do CPC, concluímos que, sendo inviável o procedimento previsto no artigo 338.º-I do CPI, na medida em que pressupõe a titularidade da marca, o que por sua vez pressupõe o seu registo [atenta a natureza constitutiva do mesmo], continua a ser viável o procedimento cautelar comum previsto no artigo 381.º do CPC, fundado na concorrência desleal, que se poderá traduzir em lesão grave e dificilmente re-parável, pressuposto essencial enunciado no n.º 1 do citado preceito.Este Tribunal não está em condições de apreciar a pretensão dos requerentes à luz do regime geral, na medida em que, como se concluiu no ponto 2. deste acórdão, foi alegada pelos requerentes factualidade relevante sobre a qual terá que incidir a produção de prova.Decorre do exposto que deverá ser re-vogada a sentença recorrida, devendo o Tribunal de 1.ª instância substituí-la por despacho que determine o prossegui-mento dos autos, nomeadamente com produção de prova sobre a factualidade relevante perspetivada nos termos e com o enquadramento jurídico que an-tecedem.

[10] Comentários ao Código de Processo Civil, Volume I, 2.ª edição, 2004, Almedina, pág. 362.

[11] No mesmo sentido, veja-se Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo Civil, III Volume, 4.ª edição, Almedina, 2010, pág. 339, que refere como único limite ao poder decisório do Tribunal, o que resulta do artigo 664.º do CPC.

[12] Neste sentido veja-se, Propriedade Industrial, Volume I, Sinais Distintivos do Comércio, Concorrência Desleal, Almedina 2005, Carlos Olavo, página 280.

[13] Constituindo a referida ação causa prejudicial relativamente ao processo de verificação da marca nacional n.º 490792, segundo se colhe da infor-mação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial prestada a fls. 107.

[14] Enunciado, nomeadamente, no n.º 2 do art. 2.º do CPC: “A todo o direito, exceto quando a lei determine o contrário, corresponde a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá-lo coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da ação».

[15] Não curamos nesta sede, de apreciar o mérito do direito invocado, que depende, nomeadamente, da prova da factualidade que o suporta e que foi alegada pelos requerentes.

[16] No recurso, os recorrentes omitem a invocação do artigo 338.º-I, do CPC, sendo certo que no RI o referem expressamente, se bem que também ali invocam os requisitos do procedimento cautelar comum (art. 381 CPC – vide pedido).

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marcasVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201242

COMENTÁRIO:No âmbito do presente recurso coloca--se a seguinte questão:

- Alteração da matéria de facto

Os recorrentes pedem, neste recurso, a ampliação da matéria de factos, de forma a: englobar a seguinte matéria de facto:8. O referido estabelecimento desde a sua abertura, em 1929, sempre girou sob o nome de “CASA ALEIXO” ou simplesmente “ALEIXO” (nome do fundador, um galego com esse nome), 9. figurando como tal na citada relação de bens de 1981 e no alvará de aber-tura e funcionamento (cuja cópia se protesta juntar). 10. Esta casa de pasto (hoje um ver-dadeiro restaurante) foi-se tornando ao longo dos anos uma referência in-contornável da gastronomia nortenha, 11. figurando com destaque em nu-merosos guias turísticos e contando com inúmeras referências elogiosas na comunicação social, nacional e internacional, 12. sendo procurado por inúmeras figuras públicas, das artes e letras, da política e do desporto, para além de ter recebido inúmeros prémios e distin-ções, pela sua qualidade gastronómica. 13. A comprovar a excelente reputação deste estabelecimento de restauração, e a título meramente exemplificativo, foram juntos à ação os seguintes do-cumentos (nos 5 a 20): ….14. Para assinalar e identificar o estabe-lecimento e os serviços de restauração aí prestados desde pelo menos 1948 é utilizado o sinal distintivo que abaixo se reproduz: (…) 15. Esse sinal distintivo tem vindo a ser usado no papel timbrado do estabele-cimento, nos menus, cartas de vinhos, faturas e até na louça do estabeleci-mento (conforme pode observar-se nos exemplos juntos na ação como docs. nos 21 e 23). 31. Na segunda semana de janeiro passado, abriu ao público um estabe-

lecimento de restauração denominado “D… DO ALEIXO”, sito na Rua …, .., em …, no Porto. 32. A intenção de conseguir uma “as-sociação” à imagem da “Casa Aleixo” e de aproveitar parasitariamente da sua reputação são evidentes, resultando aliás dos seguintes factos: 33. Desde logo, o próprio nome do estabelecimento (“D… do Aleixo”) faz uma associação inegável ao restaurante “Aleixo” - transmitindo a ideia de que a dona do mesmo vem do “Aleixo” original. 34. O dito estabelecimento está locali-zado acerca de 80 metros do restauran-te “Casa Aleixo”. 35. tendo no seu exterior uma tabuleta com a expressão “D… do Aleixo”, enci-mando uma “perna de polvo”, conforme se pode observar na fotografia junta com a réplica, como doc. n.º 2. 36. Ora, um dos pratos mais famosos da Casa Aleixo, aplaudido em todos os guias e críticas gastronómicas, é justamente o arroz de polvo e os filetes de polvo (nesse sentido, cf. docs. nos 5 a 20 da PI). 37. E, não por acaso, a ementa do res-taurante “D… do Aleixo” reproduz, no essencial o menu da “Casa Aleixo”, até na sua particularidade característica de acompanhar com arroz de polvo não só os filetes de polvo, mas também os filetes de pescada... (…), 38. sendo praticamente idênticos os preços praticados nos vários items, especialmente nas “1/2 doses”. 39. Além disso, o pessoal ao serviço desse restaurante é quase todo prove-niente da “Casa Aleixo” na sequência de um despedimento “orquestrado” pela Ré, quando já preparava a abertura deste novo estabelecimento. 40. Assim, como aliás consta da foto-grafia incluída na página do “Facebook” acima referida, estão agora ao serviço do restaurante “D… do Aleixo” os seguintes ex- funcionários da “Casa Aleixo”: H…, I…, J…, K…, L… e M… (figurando ainda nessa foto a Requerida D…, o seu marido, F…, e o cozinheiro, N…).

41. Esse restaurante “D… do Aleixo” está ser explorado por uma sociedade deno-minada “E…, LDA.”, conforme resulta da fatura emitida em 18.01.2012 (de que se anexou à réplica cópia como doc. n.º 5, aqui se dá por reproduzida). 42. Essa sociedade tem por único sócio e gerente o marido da Requerida D…, N…, conforme consta da certidão permanente com o código ….-….-…. (de que se anexou cópia à réplica, sob o n.º 6). 43. A sede da referida sociedade é, jus-tamente, na Rua …, .., em …, no Porto, 44. onde funciona o restaurante “D… do Aleixo”, a poucos metros da “Casa Aleixo”.O facto de se encontrar assente deter-minada factualidade não significa que a mesma tenha que ser integralmente vertida na sentença final.Tal como refere o Professor Antunes Varela, na sentença o juiz deve elencar apenas “a matéria de facto provada, com interesse para o julgamento da causa”No caso em apreço, a M.ª Juíza decidiu indeferir o procedimento cautelar por considerar que, face à ausência de registo da marca, não se pode afirmar que “os requerentes tenham um direito – direito à marca “Casa do Aleixo”, nem que esta esteja devidamente registada, cfr. art. 224º do CPI.Considerou, em suma, que os reque-rentes não detêm na sua esfera jurídica o direito que lhes permita a utilização do procedimento cautelar previsto no artigo 338.º-I do Código da Proprieda-de Industrial, e com esse fundamento indeferiu a providência.Para a solução jurídica adotada na sentença recorrida, a factualidade relevante seria apenas a que consta do respetivo elenco, não se revelando necessária a factualidade referente à concorrência desleal.Tese diferente é a que defendem os recorrentes, que preconizam o defe-rimento da providência, apesar da au-sência de registo do nome e da insígnia do estabelecimento, com fundamento na concorrência desleal.

IV. DispositivoCom fundamento no exposto, acordam os Juízes desta Relação em julgar procedente o recurso, ao qual concedem provimento e, em consequência, revogam a decisão recorrida, que deverá ser substituída por outra que determine o prosseguimento dos autos, nomeadamente para produção

de prova, nos termos que se deixaram definidos supra, se a tanto outra causa não obstar.

Custas do recurso pelos Apelados.

O presente acórdão compõe-se de de-zanove páginas e foi elaborado em pro-

cessador de texto pelo relator, primeiro signatário.

Porto, 26 de novembro de 2012

Carlos Manuel Marques QueridoJosé Fonte RamosAna Paula Pereira de Amorim

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marcas VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 43

Na verdade, esta é a questão que im-porta decidir neste recurso.O legislador foi obrigado a proceder à transposição para o ordenamento jurídico nacional da Diretiva 2004/48/CE, de 29-4-04, vulgo Diretiva de Enfor-cement, já que, no caso português, os meios cautelares existentes revelavam--se insuficientes para satisfazer as impo-sições e objetivos da Diretiva, tendo-se optado por proceder à regulamentação autónoma e praticamente exaustiva da matéria em cada um dos diplomas que regulam a propriedade intelectual: o CPI e o CDADC.No âmbito de uma revisão mais profun-da, em cada um dos referidos diplomas foi introduzido um preceito (art. 338º-I do CPI e art. 210º-G do CDADC) com redações praticamente idênticas.Tal opção foi acompanhada da intro-dução do art. 338º-P do CPI, com a epí-grafe “Direito subsidiário” e a seguinte redação: «Em tudo o que não estiver especialmente regulado na presente secção, são subsidiariamente aplicáveis outras medidas e procedimentos pre-vistos na lei, nomeadamente no Código de Processo Civil.»Uma leitura menos atenta dos art. 338º-I do CPI e art. 210º-G do CDADC pode induzir em erro, levando a concluir que o legislador praticamente condensou neles o conteúdo material que, em relação às providências cautelares não especificadas, se extrai dos arts. 381º, nº 1, e 387º, nº 1, do CPC.Uma análise mais detalhada deixa cla-ras as diferenças de regime.Neste contexto, até à entrada em vigor do novo regime, a tutela cautelar dos direitos de propriedade intelectual era feita essencialmente através de provi-dências cautelares não especificadas, nos termos dos arts. 381º, nº 1, e 387º, nº 1, do CPC, não se estabelecendo qualquer distinção entre as situações em que a lesão ainda não ocorrera (lesão iminente) e aquelas em que a lesão já efetivada, prosseguia de forma repetida ou continuada. Em qualquer dos casos a lei não dis-pensava a prova sumária da ocorrência de uma atuação suscetível de causar “lesão grave e dificilmente reparável” no direito do requerente.Através do procedimento cautelar comum regulado no CPC, a lei não tu-tela situações de efetiva e consumada violação, salvo se for de prever que a violação prosseguirá de forma conti-nuada ou repetida, sendo exigência comum a todas as providências não

especificadas que se esteja perante si-tuação suscetível de causar lesão grave e dificilmente reparável.Outra é a solução resulta dos referidos arts. 338º-I do CPI (e art. 210º-G do CDADC), de cuja redação resulta que o legislador tutelou situações carac-terizadas pelo fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável nos direitos de propriedade intelectual (violações iminentes), a par das situações em que já tenha ocorrido violação e em que, continuando essa violação, se prescindiu da gravidade ou das dificuldades de reparação da lesão.O citado artigo 338.º-I do CPI dispõe que:1 - Sempre que haja violação ou funda-do receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável do direito de propriedade industrial, pode o tribu-nal, a pedido do interessado, decretar as providências adequadas a: a) Inibir qualquer violação iminente; ou b) Proibir a continuação da violação. 2 - O tribunal exige que o requerente forneça os elementos de prova para demonstrar que é titular do direito de propriedade industrial, ou que está autorizado a utilizá-lo, e que se verifica ou está iminente uma violação. 3 - As providências previstas no n.º 1 podem também ser decretadas contra qualquer intermediário cujos serviços estejam a ser utilizados por terceiros para violar direitos de propriedade industrial. 4 - Pode o tribunal, oficiosamente ou a pedido do requerente, decretar uma sanção pecuniária compulsória com vista a assegurar a execução das provi-dências previstas no n.º 1. 5 - Ao presente artigo é aplicável o disposto nos artigos 338.º-E a 338.º-G. 6 - A pedido da parte requerida, as providências decretadas a que se refere o n.º 1 podem ser substituídas por caução, sempre que esta, ouvido o requerente, se mostre adequada a assegurar a indemnização do titular. 7 - Na determinação das providências previstas neste artigo, deve o tribunal atender à natureza dos direitos de pro-priedade industrial, salvaguardando, nomeadamente, a possibilidade de o titular continuar a explorar, sem qual-quer restrição, os seus direitos. Do elemento literal do n.º 1 do normati-vo transcrito “Sempre que haja violação ou fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável” conclui-se, que a previsão legal se desdobra em duas situações distintas:

sempre que haja violação do direito de propriedade individual; ii) sempre que exista fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável.Em suma, na primeira situação prevista, quando a lesão já se encontra concre-tizada, o decretamento das medidas cautelares não depende da apreciação da sua gravidade ou das dificuldades da sua reparação.Da disposição legal que se transcreveu se conclui também que as providências cautelares nela previstas, se reportam expressa e especificamente à violação do direito de propriedade industrial (corpo do n.º 1 do normativo citado).Por essa razão, imperativamente impõe o n.º 2 do mencionado preceito, que o tribunal exija que o requerente forneça os elementos de prova para demonstrar que é titular do direito de propriedade industrial, ou que está autorizado a utilizá-lo, e que se verifica ou está imi-nente uma violação.Dúvidas não parecem restar, de que o regime cautelar previsto no artigo 338.º-I do CPI se aplica exclusivamente às situações em que existe titularidade do direito de propriedade industrial.No regime legal português vigora o registo constitutivo face ao que pre-ceitua o n.º 1 do artigo 224.º do CPI: «O registo confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da marca para os produtos e serviços a que esta se destina».Decorre do exposto que, assumindo os requerentes que não registaram, nem o nome do estabelecimento, nem o seu sinal distintivo (artigo 16.º do RI), e que quem procedeu a tal registo foi a requerida (art. 20.º da RI), nunca pode-riam requerer validamente ao Tribunal a aplicação das providências previstas no artigo 338.º-I do CPI.Com base na conclusão enunciada, a M.ª Juíza indeferiu as providências requeridas.Fica, no entanto, por resolver a seguinte questão: estava o Tribunal adstrito à apreciação da providência concreta-mente requerida, com base no regime legal específico referido (artigo 338.º-I do CPI), ou deveria ter equacionado a tutela do direito invocado pelos re-querentes nos termos gerais (art. 381.º do CPC)?Dispõe o já citado artigo 338.º-P, do CPI: «Em tudo o que não estiver espe-cialmente regulado na presente secção, são subsidiariamente aplicáveis outras medidas e procedimentos previstos

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marcasVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201244

na lei, nomeadamente no Código de Processo Civil».E preceitua o n.º 3 do artigo 392.º do CPC: «O tribunal não está adstrito à providência concretamente requeri-da, sendo aplicável à cumulação de providências cautelares a que caibam formas de procedimento diversas o preceituado nos nos 2 e 3 do artigo 31º.».O poder-dever de o juiz convolar a providência concretamente requerida para a que considere legalmente ade-quada ou mais eficaz à prevenção do receado dano, cumprindo-lhe corrigir, mesmo oficiosamente, o erro na forma do procedimento.No requerimento inicial, os requeren-tes fundamentam a sua pretensão na concorrência desleal por parte das requeridas, alegando factualidade suscetível de integrar este conceito jurídico (artigos 31.º a 62.º).Mais alegam os requerentes factos tendentes à integração do conceito de “marca de facto”, concluindo que o procedimento das requeridas preen-che a previsão da alínea a), do nº 1, do artigo 317º do Código da Propriedade Industrial (art. 51.º do RI), não obstando a isso a circunstância da marca alega-damente usada pelos requerentes não se achar registada.Na ação declarativa, os ora requerentes (ali autores) pediram a anulação do

registo da marca nacional n.º 447674 «Casa Aleixo “Onde Cada Refeição é um Espetáculo Culinário» pretendendo nesta providência acautelar o efeito útil da referida ação «evitando-se a consu-mação de um “facto consumado”, até ao trânsito em julgado da ação declarativa – que poderá demorar vários anos a ser decidida em última instância» (art. 70.º do RI). Face ao princípio constitucional da tutela jurisdicional efetiva não é conce-bível a ideia de que ao direito invocado pelos requerentes não corresponda um meio processual idóneo à sua realiza-ção (ação), bem como um procedimen-to capaz de acautelar o seu efeito útil. Nesta matéria assiste razão aos recor-rentes, quando alegam nas alíneas E), F) e G) das conclusões de recurso: “E - O facto de os Apelantes - comproprie-tários do restaurante “ALEIXO” - não serem ainda titulares de um registo de marca ou de logótipo sobre esse sinal, não os priva da tutela decorrente da proibição da Concorrência Desleal, nem daquela que decorre do direito de anular marcas registadas abusiva-mente. F - No caso em apreço, o direito cuja efetividade se pretende assegurar através da providência cautelar é o direito à abstenção e/ou cessação da conduta ilícita por parte do infrator, fundando-se o interesse dos requeren-

tes em direito emergente da decisão a proferir na ação principal. G - O facto de o registo de marcas e logótipos ter natureza constitutiva em nada impede a concessão da providência, pois é a própria lei (art. 381.º/2 do C PC) que admite que o interesse do requerente se funde num direito já existente ou direito emergente de decisão a proferir em ação constitutiva já proposta.”Da conjugação do disposto no artigo 338.º-P do CPI, com o n.º 3 do artigo 392.º do CPC, concluímos que, sendo inviável o procedimento previsto no artigo 338.º-I do CPI, na medida em que pressupõe a titularidade da mar-ca, o que por sua vez pressupõe o seu registo [atenta a natureza constitutiva do mesmo], continua a ser viável o procedimento cautelar comum pre-visto no artigo 381.º do CPC, fundado na concorrência desleal, que se poderá traduzir em lesão grave e dificilmente reparável, pressuposto essencial enun-ciado no n.º 1 do citado preceito.Face ao exposto, o Tribunal da Relação do Porto decidiu julgar procedente o recurso, ao qual concedeu provimento e, em consequência, revogar a decisão recorrida, que terá de ser substituída por outra que determine o prossegui-mento dos autos, nomeadamente para produção de prova.

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Resumos - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 45

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 11 de dezembro de 2012, foi sumariada do se-guinte modo:- Como critério para a prescrição do direi-

to à restituição por enriquecimento o legislador adotou o do conhecimento do direito,

- O que se trata aqui é, pois, do conheci-mento do direito e não propriamente do dano.

- Aquele conhecimento do direito equiva-le à consciência da possibilidade legal de ressarcimento dos danos.

- Para que ocorra esse conhecimento para o efeito daquela prescrição necessário é que o empobrecido tenha consciên-

cia da existência cumulativa dos três requisitos para aquela restituição: um enriquecimento, a carência da causa justificativa do mesmo e que esse enri-quecimento tenha sido obtido à custa de quem requer a restituição.

- O conhecimento do direito a que alude o artigo 482º do Código Civil tem que ser pessoal por parte dos empobrecidos e não apenas dos seus mandatários.

- O enriquecimento corresponderá à di-ferença entre a situação real e atual do beneficiado e a situação (hipotética) em que ele se encontraria, se não fosse a deslocação patrimonial operada.

Neste recurso interposto junto do Supre-mo Tribunal de Justiça discute-se a se-guinte matéria:A) – Prescrição do direito à restituição por

enriquecimento. B) – Montante do enriquecimento.

A) – Prescrição do direito à restituição por enriquecimento

Na decisão recorrida entendeu-se que o direito de os réus reconvintes pedirem a restituição do valor das benfeitorias realizadas nos prédios em causa com base no enriquecimento sem causa não se encontrava prescrito porque, tendo o conhecimento do direito exigido para o início da contagem do prazo no artigo 482º do Código Civil de “ser provado em relação aos próprios titulares e não apenas relativamente aos seus mandatários (…) não se apurou qual a data em que os réus tiveram pessoal e efetivo conhecimento” da decisão proferida na ação ordinária 182/98, em que se deu como provado que os aí autores GG e EE – aqui ré – tinham mandado realizar obra nos prédios em causa na presente ação, no valor total de 1.600.000$00. Os recorrentes entendem que com o trânsito em julgado da decisão preferida naquele processo 182/98 e o seu conhe-cimento pelo mandatário dos aí autores, se iniciou o prazo de prescrição referido naquele artigo 482º e assim, decorridos

que estavam mais de três anos após esse conhecimento, o direito que os réus re-convintes pretendem exercer nesta ação com base no enriquecimento sem causa se encontrava prescrito. O Tribunal de recurso entendeu que se decidiu bem.Nos termos do disposto no citado artigo 482º do Código Civil “,o direito à restituição por enriquecimento sem causa prescreve no prazo de três anos, a contar da data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável (…)”. Ao que se trata aqui é, pois, do conhe-cimento do direito e não propriamente do dano. Aquele conhecimento do direito equiva-le à consciência da possibilidade legal de ressarcimento dos danos. Ora e como resulta do disposto no arti-go 473º do Código Civil, para que haja a obrigação de restituir fundada no enri-quecimento sem causa – e, consequente-mente, para que haja o respetivo direito por parte do credor – necessário é que se reúnam cumulativamente três requisitos: um enriquecimento, a carência da causa justificativa do mesmo e que esse enri-quecimento tenha sido obtido à custa de quem requer a restituição. Posto isto e independentemente da questão de se saber se o conhecimento do direito tinha que ser pelos aqui réus reconvintes ou pelo seu mandatário, há que averiguar se dos factos dados como provados se pode concluir com seguran-ça que quer aqueles quer este tiveram conhecimento desse direito antes dos três anos anteriores à dedução do pedi-do reconvencional formulado nesta ação pelos réus com base no enriquecimento sem causa. Ora, quanto a esta questão, nada se pode concluir. Na verdade, apenas se sabe que por acór-dão proferido em 1993.02.22 numa ação intentada pela aqui ré reconvinte EE e pelo seu marido GG, entretanto falecido e pai do aqui também réu reconvinte FF, foi dado como provado que os aí autores mandaram fazer nos imóveis em causa obras no valor de 1.600.000$00 e os aí réus condenados a reconhecer a realiza-ção dessas obras. Nada mais.

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA- Prescrição

Referência: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 11.12.2012Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

Como resulta do disposto no artigo 473º do Código Civil, para que haja a obrigação de restituir fundada no enriquecimento sem causa necessário é que se reúnam cumulativamente três requisitos: um enriquecimento, a carência da causa justificativa do mesmo e que esse enriquecimento tenha sido obtido à custa de quem requer a restituição.

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jurisprudência - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201246

Quanto à consciência de que tinham o direito de pedir a restituição baseada no enriquecimento sem causa, nada se pode concluir. Assim, só com instauração da presente ação e com a perspetiva da fixação da in-demnização pelo incumprimento do con-trato promessa condicionadora daquele direito de retenção é crível que tenha ha-vido por parte dos réus ou do seu manda-tário a consciência daquela deslocação. Embora a questão tenha perdido relevân-cia face ao que acima ficou dito, sempre entenderíamos que o conhecimento do direito a que alude o artigo 482º tinha que ser por parte dos réus. Na verdade, o conhecimento de um direi-to é um ato de pendor nitidamente sub-jetivo, isto é, pessoal. Ou seja, pode ser considerado aqui como um estado subjetivo relevante para o exercício ou não exercício de um direito, decisivo para o efeito. Sendo assim e tendo em conta o disposto no nº1 do artigo 259º do Código Civil, é no representado que tem que existir esse conhecimento e não no representante. E isto sem esquecer que, como se refere no acórdão deste Supremo de 1995.06.20 “in” Coletânea de Jurisprudência/Supremo Tribunal de Justiça, 1995, II, página 135, “a lei, no âmbito da representação, não im-põe, como requisito desta, o conhecimen-to do ato praticado pelo representante,

por parte do representado, limitando-se a inserir, na esfera jurídica deste, as con-sequências do ato.” Não se encontra, pois, prescrito o direito dos réus reconvintes à restituição por en-riquecimento sem causa.

B) – Montante do enriquecimento

Nos termos do disposto no nº 1 do arti-go 479º do Código Civil, “a obrigação de restituir fundada no enriquecimento sem causa compreende tudo quanto se tenha obtido à custa do empobrecido ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente”. Isto significa, em primeiro lugar e nas pa-lavras de Pires de Lima e Antunes Varela, “in” Código Civil Anotado, 2ª edição, em anotação ao citado artigo, que “o bene-ficiado não é obrigado a restituir todo o objeto da deslocação patrimonial opera-da (ou o valor correspondente quando a restituição em espécie não seja possível)” mas “deve restituir apenas aquilo com que efetivamente se acha enriquecido (…)”. “O enriquecimento assim determinado corresponderá à diferença entre a situa-ção real e atual do beneficiado e a situa-ção (hipotética) em que ele se encontra-ria, se não fosse a deslocação patrimonial operada” . E em segundo lugar, que “o objeto da obrigação de restituir deve compreender

tudo quanto se tenha obtido à custa do empobrecido”. Ora, no caso, concreto dos autos, apenas se sabe que em agosto de 1982 e em 18 de março de 1988, o valor dos prédios, não considerando o valor das construções entretanto neles realizadas, era, respeti-vamente, de € 6907,00 e de € 17 829,00 e, na última data, esse valor mais o valor das obras entretanto realizadas era de € 36 821,00. E que o valor das construções realizadas pela primeira Ré e pelo seu marido era, no ano de 2009, pelo menos de € 49 000,00 e não superior a € 53 153,46. Com base nestes factos, não se sabe, assim e em concreto, qual o valor dos prédios em 2009 com inclusão das benfeitorias e o valor hipotético desses prédios sem elas nessa data, o que consubstanciaria, pois e nos termos acima referidos, a des-locação patrimonial com que os autores se haviam enriquecido. À falta de mais factos, temos então que a deslocação patrimonial operada com a realização das benfeitorias coincidirá, pelo menos tendencialmente, com o valor atu-al das benfeitorias. E utilizando a equidade, conforme o dis-posto no nº3 do artigo 566º do Código Civil, entendemos como adequado o valor fixado na sentença recorrida. Face ao exposto, o STJ decide-se negar a revista e confirmar a sentença recorrida.

DESPEDIMENTO COLETIVO- Formalidades

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 19 de dezembro de 2012, foi sumariada do se-guinte modo:1. Na falta de comissão de trabalhadores,

comissão intersindical ou comissões sindicais, a circunstância do emprega-dor não proceder ao envio das informa-ções aludidas no n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho de 2009 aos trabalhadores que possam ser abran-gidos pelo despedimento coletivo e estes não designarem a comissão ad hoc representativa prevista nos nos 3 e 4 do artigo 360.º citado, não constitui motivo determinante da ilicitude do despedimento coletivo.

2. Na ausência das estruturas representa-

tivas dos trabalhadores a que se refere o n.º 1 do artigo 360.º do Código do Trabalho de 2009 e não sendo desig-nada a comissão ad hoc representati-va dos trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo, aludida no n.º 3 do mesmo artigo, o empregador não é obrigado a promover a fase de infor-mações e negociação tal como se acha desenhada no artigo 361.º seguinte.

3. Na apreciação da procedência dos fundamentos invocados para o des-pedimento coletivo, o tribunal deve proceder, à luz dos factos provados e com respeito pelos critérios de gestão da empresa, não só ao controlo da ve-racidade dos fundamentos invocados, mas também à verificação da existência

de uma relação de congruência entre o despedimento e os seus fundamentos, por forma a que estes sejam aptos a justificar a decisão de redução de pes-soal através do despedimento coletivo.

Neste recurso interposto junto do Supre-mo Tribunal de Justiça discute-se, além do mais, a seguinte matéria:- Saber se o despedimento coletivo não é ilícito, quando o empregador, na falta de comissão de trabalhadores, comis-são intersindical ou comissões sindicais, e comissão ad hoc representativa dos trabalhadores, não enviar a cada um dos trabalhadores a abranger as informações contidas no n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho de 2009.E saber se o despedi-mento coletivo efetivado não é ilícito por falta de promoção da fase de informações e negociação.A recorrente alega que «não se mostra violado o artigo 360.º, n.º 1 e n.º 4, do C.T., de forma a concluir pela ilicitude do

Referência: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.12.2012Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

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Resumos - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 47

despedimento coletivo promovido pela R. com base na primeira parte da alínea a) […] do artigo 383.º do C.T., pois nenhuma das suas alíneas prevê a violação do n.º 3 do artigo 360.º como geradora de ilicitude, não havendo qualquer sinal ou indicação na lei — antes pelo contrário — de que a comunicação provisória e prévia de in-tenção de despedimento que dá início ao procedimento de despedimento coletivo tenha de conter, quando é feita aos traba-lhadores, os elementos previstos no n.º 2 do artigo 360.º do C.T.: expressamente apenas refere a violação do n.º 1 e do n.º 4 do artigo 360.º do C.T.».A sentença do tribunal de primeira ins-tância afirma que os elementos informa-tivos enumerados no n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho de 2009 «apenas têm de ser comunicados à comissão de trabalhadores, comissão intersindical ou sindical representativa deles ou, na falta destas entidades, à comissão que os traba-lhadores envolvidos resolvam designar no prazo de 5 dias contados da comunicação escrita da intenção do despedimento — cfr. os nos 1, 3 e 4 do [artigo 360.º] do C.T. Não havendo nem tendo sido designada nenhuma dessas estruturas representa-tivas dos trabalhadores — circunstância que o A. não põe em causa —, a R. ape-nas estava obrigada a comunicar ao A. a intenção do despedimento coletivo — o que fez — e a comunicar os elementos a que alude o n.º 2 do artigo 360.º [cita-do] ao “serviço do ministério responsável pela área laboral com competência para o acompanhamento e fomento da contra-tação coletiva” (n.º 5), o que a R. também fez», sendo que não resultava da lei, nem de nenhum elemento interpretativo (lite-ral, histórico, sistemático ou teleológico), a imposição de comunicar a cada um dos trabalhadores os elementos discrimina-dos no n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho de 2009 «e, muito menos, como algo cujo desrespeito possa envolver a nulidade de todo o procedimento de des-pedimento (como pretende o A.)».Por outro lado, considerou que «parece resultar claramente da lei que a fase de informações e negociação prevista no citado preceito [artigo 361.º, n.º 1, do Código do Trabalho de 2009] apenas tem de ter lugar ou apenas é obrigatória quando existe alguma das estruturas de representação coletiva dos trabalhadores previstas no art. 360.º, para cujos nos 1 e 4 remete o n.º 1 do art. 361.º do C.T.», o que bem se compreendia, «pois para negociar individualmente com cada trabalhador envolvido não é necessário promover reu-niões coletivas, nem elaborar atas com o teor referido no art. 361, nos 1 e 4», sendo certo que, «no caso, a R. até nem deixou

de promover uma fase de informações e negociação com o serviço competente do Ministério do Trabalho e Segurança Social, convocando-o para uma reunião nos termos constantes do fax junto a fls. 59 do procedimento de despedimento», tendo aquele serviço respondido que, «não havendo estruturas representativas dos trabalhadores, não se faria representar na dita reunião, face à ‘impossibilidade de realização do processo de negociação em conformidade com o estipulado nos arts. 361.º e 362.º do Código do Trabalho’», con-cluindo não se verificar, «por parte da R., uma omissão, muito menos deliberada, de uma formalidade suscetível de envolver a nulidade do procedimento, nos termos do art. 383.º, alínea a), do Cód. Trabalho».No caso em apreço, para além das declara-ções da R. constantes das duas cartas, o A. não pôde dispor de quaisquer elementos de controlo, não podendo ajuizar acerca da existência de justa causa objetiva, tudo se passando como se não tivesse existido qualquer procedimento, o que torna o despedimento ilícito, atento o disposto no Art. 381.º, alínea c) do CT2009: “… o despedimento por iniciativa do empre-gador é ilícito … se não for precedido do respetivo procedimento”.»Os artigos 359.º a 366.º do Código do Trabalho de 2009 estabelecem o regime jurídico do despedimento coletivo aplicá-vel no caso, pois o despedimento coletivo verificou-se em 13 de julho de 2010, isto é, em data posterior à entrada em vigor daquele Código do Trabalho, que ocorreu em 17 de fevereiro de 2009.A noção de despedimento coletivo acha--se explicitada no artigo 359.º do Código do Trabalho de 2009, diploma a que per-tencem os demais preceitos a citar adian-te, sem menção da origem, de acordo com o qual «[c]onsidera-se despedimento co-letivo a cessação de contratos de trabalho promovida pelo empregador e operada simultânea ou sucessivamente no período de três meses, abrangendo, pelo menos, dois ou cinco trabalhadores, conforme se trate, respetivamente, de microempresa ou de pequena empresa, por um lado, ou de média ou grande empresa, por outro, sempre que aquela ocorrência se fun-damente em encerramento de uma ou várias secções ou estrutura equivalente ou redução do número de trabalhadores determinada por motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos».O despedimento coletivo caracteriza-se, deste modo, pela cessação de uma plura-lidade de contratos de trabalho promovi-da pelo empregador num dado período, simultânea ou sucessivamente, que se fundamente em (i) encerramento de uma ou várias secções ou estrutura equivalente

ou (ii) redução do número de trabalhado-res determinada por motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos.Por conseguinte, no despedimento cole-tivo, os fundamentos da cessação de con-tratos de trabalho respeitam à empresa, relevam do conjunto de circunstâncias ou condições em que se desenvolve a ativi-dade da própria organização produtiva, e são de natureza essencialmente econó-mica, podendo estar relacionados com a estrutura empresarial, as alterações tec-nológicas ou a evolução das tendências do mercado.A densificação desses fundamentos é ope-rada nas alíneas do n.º 2 do artigo 359.º, em que são considerados, nomeadamen-te: a) motivos de mercado – a redução da atividade da empresa provocada pela diminuição previsível da procura de bens ou serviços ou impossibilidade superve-niente, prática ou legal, de colocar esses bens ou serviços no mercado; b) motivos estruturais – o desequilíbrio económi-co-financeiro, mudança de atividade, re-estruturação da organização produtiva ou substituição de produtos dominantes; c) motivos tecnológicos – as alterações nas técnicas ou processos de fabrico, automa-tização dos instrumentos de produção, de controlo ou de movimentação de cargas, bem como informatização de serviços ou automatização de meios de comunicação.A tramitação a adotar para promover um despedimento coletivo figura nos artigos 360.º a 363.º e inicia-se com a comunica-ção da intenção de proceder ao despedi-

Considera-se despedimento coletivo a cessação de contratos de trabalho promovida pelo empregador e operada simultânea ou sucessivamente no período de três meses, abrangendo, pelo menos, dois ou cinco trabalhadores, conforme se trate, respetivamente, de microempresa ou de pequena empresa, por um lado, ou de média ou grande empresa, por outro.

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mento (artigo 360.º), seguindo-se a fase de informações e negociação (artigos 361.º e 362.º) e a fase decisória do despe-dimento (artigo 363.º). Os direitos dos trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo são enuncia-dos nos artigos 364.º a 366.º, especifica-mente, o direito a utilizar, durante o pra-zo de aviso prévio, «um crédito de horas correspondente a dois dias de trabalho por semana, sem prejuízo da retribuição» (artigo 364.º, n.º 1), o direito de denunciar o contrato de trabalho, durante o prazo de aviso prévio (artigo 365.º) e o direito a receber uma compensação (artigo 366.º).Refira-se que, nos termos do artigo 381.º, «[s]em prejuízo do disposto nos artigos seguintes ou em legislação específica, o despedimento por iniciativa do emprega-dor é ilícito», (a) se for devido a motivos políticos, ideológicos, étnicos ou religio-sos, ainda que com invocação de motivo diverso, (b) se o motivo justificativo do despedimento for declarado improceden-te, (c) se não for precedido do respetivo procedimento, (d) em caso de trabalha-dora grávida, puérpera ou lactante ou de trabalhador durante o gozo de licença parental inicial, em qualquer das suas modalidades, se não for solicitado o pa-recer prévio da entidade competente na área da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, e, também, que, nos

termos do artigo 383.º, o despedimento coletivo é ilícito se o empregador não ti-ver (a) feito a comunicação prevista nos nos 1 ou 4 do artigo 360.º ou promovido a negociação prevista no n.º 1 do artigo 361.º, (b) observado o prazo para decidir o despedimento, referido no n.º 1 do arti-go 363.º, (c) posto à disposição do traba-lhador despedido, até ao termo do prazo de aviso prévio, a compensação a que se refere o artigo 366.º e os créditos venci-dos ou exigíveis em virtude da cessação do contrato de trabalho, sem prejuízo do disposto na parte final do n.º 4 (será do n.º 5) do artigo 363.ºNo caso, questiona-se se foram cumpridas as formalidades dos artigos 360.º a 362.º respeitantes às comunicações e negocia-ção do despedimento coletivo.O artigo 360.º, com a epígrafe «Comunica-ções em caso de despedimento coletivo», estabelece que o empregador que preten-da proceder a um despedimento coletivo comunica essa intenção, por escrito, à co-missão de trabalhadores ou, na sua falta, à comissão intersindical ou às comissões sindicais da empresa representativas dos trabalhadores a abranger (n.º 1), devendo constar da referida comunicação, (a) os motivos invocados para o despedimento coletivo, (b) o quadro de pessoal, discri-minado por setores organizacionais da empresa, (c) os critérios para seleção dos trabalhadores a despedir, (d) o número de trabalhadores a despedir e as categorias profissionais abrangidas, (e) o período de tempo no decurso do qual se pretende efetuar o despedimento, e (f ) o método de cálculo de compensação a conceder genericamente aos trabalhadores a des-pedir, se for caso disso, sem prejuízo da compensação estabelecida no artigo 366.º ou em instrumento de regulamentação coletiva de trabalho (n.º 2), sendo que, na falta das entidades referidas no n.º 1, «o empregador comunica a intenção de proceder ao despedimento, por escrito, a cada um dos trabalhadores que possam ser abrangidos, os quais podem designar, de entre eles, no prazo de cinco dias úteis a contar da receção da comunicação, uma comissão representativa, com o máximo de três ou cinco elementos consoante o despedimento abranja até cinco ou mais trabalhadores» (n.º 3) e remete à comissão aludida no n.º 3 «os elementos de informa-ção discriminados no n.º 2» (n.º 4).Mais determina o artigo 360.º que o empre-gador, na data em que procede à comuni-cação prevista no n.º 1 ou no n.º 4, «envia cópia da mesma ao serviço do ministério responsável pela área laboral com compe-tência para o acompanhamento e fomento da contratação coletiva» (n.º 5).Por sua vez o artigo 361.º, intitulado «Infor-

mações e negociação em caso de despe-dimento coletivo», dispõe que, nos cinco dias posteriores à data do ato previsto nos nos 1 ou 4 do artigo 360.º, «o empregador promove uma fase de informações e ne-gociação com a estrutura representativa dos trabalhadores, com vista a um acordo sobre a dimensão e efeitos das medidas a aplicar e, bem assim, de outras medidas que reduzam o número de trabalhadores a despedir, designadamente, (a) suspensão de contratos de trabalho, (b) redução de períodos normais de trabalho, (c) recon-versão ou reclassificação profissional e (d) reforma antecipada ou pré-reforma (n.º 1), podendo o empregador e a estrutura representativa dos trabalhadores fazer-se assistir cada qual por um perito nas reuni-ões de negociação (n.º 4) e devendo ser elaborada ata das reuniões de negociação, contendo a matéria acordada, bem como as posições divergentes das partes e as opiniões, sugestões e propostas de cada uma (n.º 5).Enfim, o artigo 362.º, subordinado à epígra-fe «Intervenção do ministério responsável pela área laboral», comanda que «[o] servi-ço competente do ministério responsável pela área laboral participa na negociação prevista no artigo anterior, com vista a promover a regularidade da sua instrução substantiva e procedimental e a concilia-ção dos interesses das partes» (n.º 1), que o referido serviço, «caso exista irregularidade da instrução substantiva e procedimental, deve advertir o empregador e, se a mesma persistir, deve fazer constar essa menção da ata das reuniões de negociação» (n.º 2) e que, a pedido de qualquer das partes ou por iniciativa daquele serviço, «os serviços regionais do emprego e da formação pro-fissional e da segurança social indicam as medidas a aplicar, nas respetivas áreas, de acordo com o enquadramento legal das soluções que sejam adotadas».Decorre do exposto que a solução do problema submetido à apreciação deste Supremo Tribunal passa, necessária e fun-damentalmente, pela interpretação do disposto nos artigos 360.º, nos 1 a 4, 361.º, n.º 1, e 383.º, alínea a).Do texto destas normas não se extrai qual-quer elemento interpretativo no sentido de que o empregador, na falta de comis-são de trabalhadores, comissão intersin-dical ou comissões sindicais, e comissão ad hoc representativa dos trabalhadores, deve enviar a cada um dos trabalhadores a abranger no despedimento as informações complementares a que alude o n.º 2 do artigo 360.º, nem sequer a lei inclui a não comunicação daquelas informações aos trabalhadores entre as causas de ilicitude do despedimento coletivo (artigo 383.º). Na verdade, segundo o artigo 360.º, o em-

No despedimento coletivo, os fundamentos da cessação de contratos de trabalho respeitam à empresa, relevam do conjunto de circunstâncias ou condições em que se desenvolve a atividade da própria organização produtiva, e são de natureza essencialmente económica, podendo estar relacionados com a estrutura empresarial, as alterações tecnológicas ou a evolução das tendências do mercado.

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pregador que pretenda proceder a um despedimento coletivo comunica essa intenção, por escrito, à comissão de traba-lhadores ou, na sua falta, à comissão inter-sindical ou às comissões sindicais da em-presa representativas dos trabalhadores a abranger (n.º 1), comunicação que deve ser acompanhada de informação relativa aos elementos constantes do n.º 2 do arti-go 360.º, e, em simultâneo, deverá enviar cópia da mesma comunicação ao serviço do ministério responsável pela área laboral com competência para o acompanhamen-to e fomento da contratação coletiva (n.º 5), e, na falta das entidades aludidas naquele n.º 1, «o empregador comunica a intenção de proceder ao despedimento, por escrito, a cada um dos trabalhadores que possam ser abrangidos, os quais podem designar, de entre eles, no prazo de cinco dias úteis a contar da receção da comunicação, uma comissão representativa, com o máximo de três ou cinco elementos consoante o despedimento abranja até cinco ou mais trabalhadores» (n.º 3), devendo, neste caso, enviar à comissão ad hoc representativa dos trabalhadores e ao serviço do pertinen-te ministério «os elementos de informação discriminados no n.º 2» (nos 4 e 5).E, neste conspecto, a alínea a) do artigo 383.º só determina a ilicitude do despe-dimento coletivo quando o empregador não tiver feito a comunicação prevista nos nos 1 ou 4 do artigo 360.º, não incluin-do entre as causas específicas de ilicitude do despedimento o caso do empregador não proceder ao envio das informações a que se reporta o n.º 2 do artigo 360.º aos trabalhadores, seja com a comunicação inicial, seja no caso dos trabalhadores não designarem uma comissão ad hoc repre-sentativa.Ora, não pode ser considerado pelo intér-prete um sentido que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, devendo ainda presumir-se que o legisla-dor soube expressar o seu pensamento em termos adequados e que consagrou as soluções mais acertadas, como referem os nos 2 e 3 do artigo 9.º do Código Civil.Daí que se conclua que na falta de comis-são de trabalhadores, comissão intersindi-cal ou comissões sindicais, a circunstância do empregador não proceder ao envio das informações aludidas no n.º 2 do artigo 360.º aos trabalhadores que possam ser abrangidos pelo despedimento coletivo e estes não designem a comissão ad hoc prevista nos nos 3 e 4 do artigo 360.º, não constitui motivo determinante da ilicitude do despedimento coletivo.E o mesmo se deve afirmar relativamente à não promoção, pelo empregador, da fase de informação e negociação quando não existam as estruturas representativas dos

trabalhadores referidas no n.º 1 do artigo 360.º e os trabalhadores que possam ser abrangidos pelo despedimento coletivo não tiverem designado a comissão ad hoc representativa a que alude o n.º 3 do artigo 360.ºAdite-se que a alínea a) do artigo 383.º só prevê a ilicitude do despedimento coletivo quando o empregador não tiver promovi-do a negociação prevista no n.º 1 do artigo 361.º, normativo que, literalmente, pressu-põe a existência das estruturas representa-tivas dos trabalhadores referidas nos nos 1 e 4 do artigo 360.ºEm conformidade, conclui-se que, na au-sência das estruturas representativas dos trabalhadores referidas no n.º 1 do artigo 360.º e não sendo designada a comissão ad hoc representativa dos trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo a que alude o n.º 3 do artigo 360.º, o empre-gador não é obrigado a promover a fase de informações e negociação estabelecida no artigo 361.º.Portanto, a realidade dos factos conside-rados provados não permite afirmar que o despedimento coletivo não tenha sido precedido do respetivo procedimento.Com efeito, a empregadora, na falta de comissão de trabalhadores, comissão in-tersindical ou comissões sindicais, comu-nicou, por escrito, a intenção de proceder ao despedimento coletivo a cada um dos trabalhadores a abranger, informando que «aguardaria a designação da comissão re-presentativa, para, nesse caso, enviar os elementos mencionados no n.º 2 do artigo 360.º do Código do Trabalho», e porque os trabalhadores «não constituíram uma co-missão representativa no prazo previsto no n.º 3 do artigo 360.º do Código do Trabalho, a R., tendo em vista promover uma fase de negociações, nos termos do artigo 361.º do Código do Trabalho, na qual o MTSS pode participar, nos termos do artigo 362.º do Código do Trabalho, contactou diretamen-te os serviços», os quais responderam «que, face à ausência de estruturas representa-tivas e de comissão representativa ad hoc, não pretendia[m] fazer-se representar», pelo que «houve negociações diretamen-te com o A.», pese embora as mesmas não tivessem em vista «um acordo sobre a dimensão e efeitos das medidas a apli-car e, bem assim, de outras medidas que reduzissem o número de trabalhadores a despedir, designadamente: a. suspensão de contratos de trabalho; b. redução de pe-ríodos normais de trabalho; c. reconversão ou reclassificação profissional».Refira-se que a ré cumpriu, igualmente, a última fase do procedimento para despe-dimento coletivo, ou seja, a fase decisória, comunicando, «por escrito a cada traba-lhador, no dia 13 de julho de 2010, a data

da cessação e a indicação do montante, forma, momento e lugar de pagamento da compensação, créditos vencidos e exigí-veis por via da cessação do contrato», com a menção expressa dos motivos.Ora, tal como se demonstrou supra, na falta de comissão de trabalhadores, comis-são intersindical ou comissões sindicais, a circunstância do empregador não pro-ceder ao envio das informações aludidas no n.º 2 do artigo 360.º aos trabalhadores que possam ser abrangidos pelo despedi-mento coletivo e estes não designarem a comissão ad hoc representativa prevista nos nos 3 e 4 do artigo 360.º, não constitui motivo determinante da ilicitude do des-pedimento coletivo.E, doutra parte, na ausência das estruturas representativas dos trabalhadores a que se reporta o n.º 1 do artigo 360.º e não sen-do designada a comissão ad hoc represen-tativa dos trabalhadores abrangidos pelo despedimento coletivo, aludida no n.º 3 do artigo 360.º, o empregador não é obri-gado a promover a fase de informações e negociação tal como a mesma se encontra desenhada no artigo 361.ºFace ao exposto o STJ decide-se negar a revista e confirmar o acórdão recorrido, embora com diferente fundamentação.

Devendo constar da referida comunicação, (a) os motivos invocados para o despedimento coletivo, (b) o quadro de pessoal, discriminado por setores organizacionais da empresa, (c) os critérios para seleção dos trabalhadores a despedir, (d) o número de trabalhadores a despedir e as categorias profissionais abrangidas, (e) o período de tempo no decurso do qual se pretende efetuar o despedimento, e (f) o método de cálculo de compensação a conceder genericamente aos trabalhadores.

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jurisprudência do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201250

PATERNIDADE- Impugnação

ASSUNTO: Prazo de propositura da ação

Referências: Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 03.12.2012

Fonte: site do TRP – www.dgsi.pt

Sumário:

I. Tal como reiteradamente vem defenden-do o Tribunal Constitucional, a previsão legal de um prazo de caducidade para a impugnação de paternidade não de-verá ser considerado restrição [vedada pelo artigo 18.º, n.º 2, da CRP], mas sim mero condicionamento ao exercício do direito à identidade pessoal.

II. O estabelecimento de um prazo de caducidade para o exercício do direito à impugnação de paternidade revela--se, em abstrato, um condicionamento adequado, necessário e proporcional deste direito, harmonizando a facul-dade do seu exercício com a satisfação do interesse da segurança jurídica, ele-mento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º, da C.R.P.).

III. Decorre das conclusões anteriores, que a existência do prazo de caducidade não merece um juízo constitucional de censura, sem prejuízo de tal juízo negativo poder incidir sobre o prazo concreto, por desconformidade com os valores constitucionais, na medida em que inviabilize ou dificulte excessi-vamente o exercício do direito funda-mental à identidade pessoal.

IV. O prazo de três anos previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil, na redação que lhe conferiu a Lei 14/2009, de 1 de abril, garante o cabal exercício do direito fundamen-tal à identidade pessoal, previsto no artigo 26º, nº 1, da CRP, traduzindo-se, em abstrato, num condicionamento adequado, necessário e proporcional deste direito, sem o pôr em causa, harmonizando-o com o interesse da segurança jurídica, que também garante.

V. Este entendimento, na situação con-creta dos autos, sai confortado com o facto de do mesmo não decor-rer a absoluta preclusão do direito fundamental à identidade pessoal,

considerando a menoridade do filho e o disposto na alínea c) do n.º 1 do citado normativo, onde se estabelece a seu favor a faculdade de impugnar a paternidade até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstân-cias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe.

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I. Relatório B… intentou em 20 de junho de 2011

a presente ação de impugnação de pater-nidade contra C… e D…, formulando os seguintes pedidos: que se declare que o 1.º réu não é pai do 2.º réu; que se anule o registo de paternidade presumida do 2.º réu, constante do assento de nascimento n.º 3481, do ano de 1987; que se ordene o cancelamento da inscrição de paterni-dade do 1.º réu no referido assento de nascimento.

Como fundamento da sua pretensão, alegou a autora em síntese: foi casada com o réu, tendo o casamento sido dissolvido no ano de 2009; o menor D… (2.º réu), nasceu em 12 de novembro de 2007, na constância do casamento da autora com o 1.º réu; em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 1826.º do Código Civil, foi lavrado o assento de nascimento onde consta que o 1.º réu é pai do menor; pos-teriormente, foi regulado o exercício das responsabilidades parentais, por decisão de 17.12.2009, cabendo a ambos os “pro-genitores” (autora e 1.º réu) o exercício de tais responsabilidades; o 1.º réu não é pai do menor D… (2.º réu); o menor D… é filho de E…, com quem a autora mantém desde 2007 relações sexuais regulares.

No despacho de 7.07.2011 (fls. 23), foi considerado que a autora não bene-ficiava do apoio judiciário por si alegado, considerando que o mesmo se reportava apenas à sua intervenção no processo administrativo que correu termos nos serviços do MP.

Através do requerimento junto a fls. 25, a autora comprovou o deferimento em 12 de agosto de 2011, do pedido de apoio judiciário na modalidade de nomeação

de patrono e dispensa de taxa de justiça e demais encargos.

Foi nomeada curadora provisória ao menor e réu D… (fls. 38), após o que os réus foram citados, não tendo havido contestação.

Foi proferido despacho saneador ta-belar, nos termos que constam de fls. 44.

Realizou-se a audiência de discussão e julgamento, após o que foi proferida sentença, com o seguinte dispositivo: «Pelo exposto julgo verificada a exceção da caducidade do direito da autora em intentar a presente ação e, em consequên-cia, julgo improcedente a ação».

Não se conformou a autora e inter-pôs recurso de apelação, apresentando alegações e formulando as seguintes conclusões:1) Estabelece a lei a presunção de pater-

nidade, no artigo 1826 nº 1 do c. Civil, na qual se presume que o filho nascido na constância do matrimónio da Mãe tem como pai o seu Marido.

2) Contudo, o réu D… não nasceu fruto das relações de cópula completa entre a autora e o réu C…, conforme facto provado 3 da sentença e relatório pericial de fls 57 e seguintes dos autos

3) De acordo com o disposto nos art.(s) 1839º e 1841º do Código Civil pode a Paternidade do filho ser impugnada pela Mãe.

4) Podendo a ação de impugnação de paternidade ser intentada no prazo de três anos posteriores ao nascimento, conforme disposto no art. 1842º nº 1 al. b) do Código Civil.

5) Certo que a autora intentou a ação passado 3 anos do nascimento do filho, contudo, não se pode esquecer a inércia do Ministério Público que deixou passar o prazo de caducidade de 3 anos para se julgar ilegítimo para intentar a ação de impugnação de pa-ternidade (conforme copia da decisão junta nos autos).

6) Apesar deste preceito formal, o respeito pela verdade biológica sugere a im-prescritibilidade não só do direito de investigar, como o de impugnar.

7) A jurisprudência, de um modo geral, defende, que ao caso previsto no artigo 1842.º CC se deveria aplicar a mesma solução, uma vez que se o filho pode impugnar a paternidade, sem limitação

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de prazo, também o presumido pai o poderá fazer, sob pena de discri-minação de um dos elos da relação jurídico-filial, argumentando-se que o respeito pela verdade biológica sugere a imprescritibilidade não só do direito de investigar como o de impugnar, tratando-se, pois, tanto num caso como no outro, de estabelecer a pater-nidade biológica seguindo a doutrina do Acórdão n.º 23/2006 do Tribunal Constitucional.

8) O argumento essencial do referido acórdão é que não se podem colocar desproporcionadas restrições aos direi-tos fundamentais à identidade pessoal e ao desenvolvimento da personali-dade, sustentando que “as razões que estiveram na origem da declaração da inconstitucionalidade do mencionado artigo 1817.º, n.º1, do Código Civil estão, outrossim para a disposição contida no artigo 1842.º, n.º 1 alínea c), do mesmo Código”, acabando assim por decidir pela “inconstitucionalidade da norma prevista no artigo 1842.º, n.º 1, alínea c), do Código Civil, na medida em que prevê, para a caducidade do direito do filho maior ou emancipado de impugnar a paternidade presumida do marido da mãe, o prazo de um ano a contar da data em que teve conheci-mento de circunstâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe, por violação dos artigos 26.º, n.º1, 36.º, nos 1 e 18.º, n.º 2 da Constituição da República Portuguesa”.

9) Neste sentido veja se também os Acórdãos do STJ, de 14.12.2006, de 31/01/2007, de 07.07.2009 e de 25/03/2010, disponíveis in www.dgsi.pt/, de 07/07/2009, in CJ/STJ, T. II, 2009, a pág. 168 e segs. e os Acórdãos desta Relação de 24/11/2008, 15.03.2010 e de 19/04/2012 (para o caso da mãe impugnar a paternidade passado o prazo de 3 anos) também disponíveis in www.dgsi.pt/

10) O Acórdão do STJ, de 07.07.2009, salienta o ponto primordial nesta problemática: “a valorização dos di-reitos fundamentais da pessoa, como o de saber quem é e de onde vem, na vertente da ascendência genética, e a inerente força redutora da verdade biológica fazem-na prevalecer sobre os prazos de caducidade para as ações de estabelecimento da filiação”.

11) Ao nível de doutrina no que diz res-peito à imprescritibilidade das ações de filiação, a propósito da caducidade do direito a investigar, afirmam os pro-fessores Pereira Coelho e Guilherme de Oliveira in “Curso de Direito de Família”, vol. II, tomo I, 2006, pág. 139, que os

tempos correm a seu favor, afirmando que:” não tem sentido, hoje, acentuar o argumento do enfraquecimento das provas; e não pode atribuir-se o relevo antigo à ideia de insegurança prolongada, porque este prejuízo tem de ser confrontado com o mérito do interesse e do direito de impugnar a todo o tempo, ele próprio tributário da tutela dos direitos fundamentais à identidade e ao desenvolvimento da personalidade. Diga-se, numa palavra, que o respeito puro e simples pela verdade biológica sugere claramente a imprescritibilidade”.

12) Assim, sendo o apuramento da pa-ternidade biológica uma dimensão do “direito fundamental à identidade pessoal”.

13) A fixação deste prazo para a pro-positura da ação de impugnação de paternidade pela mãe do menor enferma de inconstitucionalidade, com o fundamento em que o mesmo possa estabelecer um limite despro-porcional, irrazoável e/ou inadequado tendo em vista o direito quer da mãe em ver afastada a presumida paterni-dade, pondo em causa a salvaguarda do direito fundamental ao conheci-mento da paternidade biológica e ao estabelecimento do respetivo vínculo jurídico.

14) O direito ao conhecimento das origens genéticas, e que cabem no âmbito de proteção quer do direito fundamental à identidade pessoal, consagrado no art. 26.º, n.º 1, da CRP, quer de consti-tuir família, plasmado no art. 36.º, n.º 1, da mesma CRP. Direito à identidade pessoal, que tal como está consagra-do no art. 26.º, n.º 1, da Constituição, abrange, não apenas o direito ao nome, mas também o direito à historicidade pessoal, enquanto conhecimento da identidade dos progenitores, e po-derá fundamentar por si, um direito à investigação da paternidade e da maternidade, como referem Gomes Ca-notilho e Vital Moreira, in Constituição da República Portuguesa Anotada, 4.ª Ed. Revista, Vol. I, pág. 462

15) E sendo o “direito à identidade” um direito fundamental, de aplicação di-reta – art. 18º CRP – a sua valorização como direito fundamental da pessoa fazem-no prevalecer sobre os prazos de caducidade para as ações de esta-belecimento da filiação.

16) Estando em causa o instituto da filia-ção, invoca-se, pois, o direito à identi-dade – na vertente de se saber de onde se vem, ou de quem se vem – dos art. s 25º nº 1 e 26º nº 1 da Constituição – que não seria devidamente acautelado se a

ação que o concretiza estivesse sujeita ao dito prazo de caducidade.

17) Não pode, também, atribuir-se relevo à antiga ideia de insegurança prolon-gada, porque este prejuízo tem de ser confrontado com o mérito do interesse e do direito de impugnar a todo o tem-po, ele próprio tributário da tutela dos direitos fundamentais à identidade e ao desenvolvimento da personalidade.

18) Deve assim a valorização dos direitos fundamentais da pessoa, como o de saber quem é e de onde vem, na vertente da ascendência genética e a inerente força redutora da verdade biológica, fazer-se prevalecer sobre os prazos de caducidade para as ações de estabelecimento da filiação.

19) Princípios e disposições legais viola-das ou incorretamente aplicadas (art. 685.º-A, n.º 2 do CPC): Artigos 1839.º, 1842.º, n.º 1, alínea b), do Código Civil; Artigos 18.º nº 2, 25.º, n.º 1, 26.º, n.º 1, e 36.º, nos 1, da Constituição da República Portuguesa.

Não foi apresentada resposta às alegações de recurso.

II. Do mérito do recurso

1. Definição do objeto do recurso

O objeto do recurso, delimitado pelas conclusões das alegações (artigos 684.º, n.º 3, e 685.º-A, nos 1 e 3, do CPC), salvo questões do conhecimento oficioso (ar-tigo 660º, nº 2, in fine), consubstancia-se numa única questão: aferição da constitu-cionalidade da alínea c) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil.

2. Fundamentos de facto

O Tribunal recorrido considerou pro-vada a seguinte factualidade relevante, que não foi objeto de impugnação:1. Autora e réu C… foram casados entre

si, tendo tal casamento sido dissolvido por divórcio decretado pela Conserva-tória do Registo Civil de Santa Maria da Feira, por decisão de 17 de setembro de 2009, proferida no âmbito do processo de divórcio por mútuo consentimento 10171/2009; (fls.

2. No dia 12 de novembro de 2007 nas-ceu o D…, o qual tem a paternidade registada em nome do aqui réu C… e a maternidade registada em nome da aqui autora B…; (fls. 40 e 41)

3. O réu D… não nasceu fruto de relações sexuais de cópula completa entre au-tora e réu C…; (relatório pericial de fls. 57 e seguintes).

4. A ação foi intentada no dia 12 de junho de 2011.

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3. Fundamentos de direito

A recorrente começa por admitir que a ação deu entrada decorridos mais de três anos sobre o nascimento do menor (conclusão 5.ª), restringindo o objeto do recurso à questão da constitucionalidade do referido prazo de caducidade, previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil.

Preceitua o artigo 1842.º do Código Civil, na redação que lhe conferiu a Lei 14/2009, de 1 de abril:

1 - A ação de impugnação de paterni-dade pode ser intentada: a) Pelo marido, no prazo de três anos

contados desde que teve conheci-mento de circunstâncias de que possa concluir-se a sua não paternidade;

b) Pela mãe, dentro dos três anos poste-riores ao nascimento;

c) Pelo filho, até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circuns-tâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe. 2 - Se o registo for omisso quanto à

maternidade, os prazos a que se referem as alíneas a) e c) do número anterior contam-se a partir do estabelecimento da maternidade.

Os prazos previstos no normativo em apreço são de caducidade, de conheci-mento oficioso, nos termos do n.º 1 do artigo 333.º do Código Civil, considerando que está em causa matéria excluída da disponibilidade das partes[1].

No decurso do prazo previsto na alí-nea b) do n.º 1 da disposição legal citada,

a 2 de abril de 2009, entrou em vigor a Lei n.º 14/2009, de 01 de abril (art. 2.º), que alterou o referido prazo, de dois para três anos, estipulando expressamente o seu artigo 3.º que a nova lei se aplica aos processos pendentes à data da sua entrada em vigor[2].

A questão que se coloca é a de saber se o estabelecimento de um prazo de caducidade para a investigação da ma-ternidade ou de paternidade constitui uma restrição ao direito fundamental à identidade pessoal[3] (artigo 26.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa), restrição vedada pelo artigo 18.º, n.º 2[4], da Lei Fundamental e, consequentemen-te, materialmente inconstitucional.

A resposta a esta questão obriga a distinguir entre restrição de um direito fundamental e um mero limite desse tal direito, distinção proposta pelo Professor Jorge Miranda nestes termos[5]:

«A restrição não se confunde com ou-tras realidades normativas como o limite ou limite de exercício, o dever, a autorrutu-ra e, noutro plano, com a regulamentação, a concretização e a suspensão de direitos.

A restrição tem que ver com o direito em si, com a sua extensão objetiva; o limite ao exercício de direitos contende com a sua manifestação, com o modo de se exteriorizar através da prática do seu titular. A restrição afeta certo direito (em geral ou quanto a certa categoria de pessoas ou situações), envolvendo a sua compressão ou, doutro prisma, a ampu-tação de faculdades que a priori estariam nele compreendidas; o limite reporta-se a quaisquer direitos. A restrição funda-se em razões específicas; o limite decorre de razões ou condições de caráter geral,

válidas para quaisquer direitos (a moral, a ordem pública e o bem-estar numa sociedade democrática, para recordar, de novo, o art. 29.º da Declaração Universal).

O limite pode ser absoluto (vedação de certo fim ou de certo modo de exercí-cio de um direito) ou relativo. Neste caso, desemboca em condicionamento, ou seja, num requisito de natureza cautelar de que se faz depender o exercício de algum direito, como a prescrição de um prazo (para o seu exercício) […]. Uma coisa é re-gulamentar, por (como já se disse) razões de certeza jurídica, de clarificação ou de delimitação de direitos; outra coisa é res-tringir com vista a certos e determinados objetivos constitucionais […]».

No caso dos autos, está em causa, como já se disse, o estabelecimento de um prazo de caducidade para o exercício de uma faculdade legal que se funda no direito fundamental à identidade pessoal (artigo 26º, nº 1, da CRP), cabendo-nos averiguar se o estabelecimento de tal prazo, considerando a sua duração, con-tende ou não com a extensão objetiva desse direito.

Na apreciação da constitucionalidade material dos prazos de caducidade no domínio da investigação de paternidade, o Tribunal Constitucional tem posto o acento tónico na questão de saber se o prazo fixado permite, em concreto, o exercício do direito em tempo útil ou, pelo contrário, se é de tal modo exíguo que inviabiliza ou dificulta gravemente esse exercício, tornando-se numa verdadeira restrição ao direito fundamental à iden-tidade pessoal[6].

Nas conclusões de recurso, a recor-rente funda essencialmente no acórdão

[1] Como refere o Professor Vaz Serra [Prescrição Aquisitiva e Caducidade, in BMJ, n.º 107, páginas 258/259], a solução legal é justificada por motivos de ordem pública que obstam a que o direito seja exercido depois de findo o prazo legalmente previsto para esse exercício.

[2] O artigo 3.º da Lei n.º 14/2009 foi objeto de juízo de inconstitucionalidade no acórdão do TC, n.º 24/2012, proferido no Processo n.º 382/10. A questão não se coloca na situação em apreço, considerando que a ação não estava pendente à data de entrada em vigor da nova lei, e o novo prazo (3 anos), por ser mais longo que o anterior, sempre seria aplicável nos termos do n.º 2 do artigo 297.º do CC.

[3] O Direito à identidade pessoal, tal como está consagrado no art. 26.º, n.º 1, da Constituição, abrange não apenas o direito ao nome, mas também o direito à historicidade pessoal, enquanto conhecimento da identidade dos progenitores, e poderá fundamentar por si um direito à investigação da paternidade e da maternidade, como referem Gomes Canotilho e Vital Moreira, in Constituição da República Portuguesa Anotada, 4.ª Ed. Revista, Vol. I, pág. 462.

[4] De acordo com o normativo constitucional citado, “A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos”.

[5] O Princípio da Eficácia Jurídica Dos Direitos Fundamentais, estudo publicado no site “CJLP”, acessível em http://www.cjlp.org/principio_eficacia_ju-ridica_direitos_fundamentais.html [Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa].

[6] Nesse sentido, veja-se o acórdão n.º 626/2009, proferido no Processo n.º 271/09, Relatado pelo Conselheiro João Cura Mariano, onde, nomeada-mente, se refere: “O estabelecimento de um prazo de caducidade para o exercício do direito à investigação de paternidade nestes casos revela-se, em abstrato, uma limitação adequada, necessária e proporcional deste direito, para satisfação do interesse da segurança jurídica, como elemento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º da C.R.P.). Contudo, para além do modo como se processa a contagem desse prazo, importa também saber se este permite, em concreto, o exercício do direito em tempo útil, ou se, pelo contrário, é de tal modo exíguo que inviabiliza ou dificulta grave mente esse exercício, tornando-se numa verdadeira restrição ao conteúdo daquele direito fundamental”. Este, como todos os acórdãos do TC que doravante serão citados, está acessível no site do referido Tribunal: http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/.

[7] Proferido no Processo n.º 885/05, relatado pelo Conselheiro Mota Pinto.

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do Tribunal Constitucional n.º 23/2006[7], a sua pretensão recursória de recusa de aplicação da alínea b) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil, com base em in-constitucionalidade material.

No entanto, na fundamentação do aresto citado enfatiza-se o facto de a inconstitucionalidade não se reportar à existência do prazo de caducidade, mas apenas ao “concreto limite temporal” nele previsto, que sofrerá do vício imputado, apenas na eventualidade de se revelar exíguo ao ponto de inviabilizar o exercício do direito.

Mais uma vez, não falamos de restri-ção do direito, mas apenas dos limites desse direito, legitimados por outros valores, como a segurança jurídica.

No acórdão invocado, enfatiza-se a questão nestes termos:

«Importa começar por deixar bem vincado que, na averiguação da conformi-dade constitucional da solução limitativa, atualmente consagrada na norma ora em apreço, o que está em questão não é qualquer imposição constitucional de uma “ilimitada (…) averiguação da ver-dade biológica da filiação”. Pese embora a tese defendida pelo recorrente, de que qualquer caducidade da ação de investi-gação de paternidade é inconstitucional, no presente recurso está apenas em ques-tão o concreto limite temporal previsto no artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, de dois anos a contar da maioridade ou emancipação (portanto, no máximo, os vinte anos de idade do investigante). Não constitui, assim, objeto do presente pro-cesso apurar se a imprescritibilidade da ação corresponde à única solução consti-tucionalmente conforme. Antes o que está em causa é, apenas, a constitucionalidade da específica limitação prevista nesta norma, que (salvo casos excecionais, como o da existência de “posse de estado”) exclui o direito a averiguar a paternidade depois dos 20 anos de idade: a ação “só pode ser proposta durante a menoridade do investigante ou nos dois primeiros anos posteriores à sua maioridade ou

emancipação”. É este limite temporal de “dois anos posteriores à maioridade ou emancipação”, e não a possibilidade de um qualquer outro limite, que cumpre apreciar – e, consequentemente, só sobre aquele específico limite temporal, previsto atualmente no artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, se poderá projetar o juízo de (in)constitucionalidade a proferir».

Apesar de no acórdão citado se cir-cunscrever o seu âmbito de apreciação à questão do juízo de exiguidade do prazo [e à consequente possibilidade de tal exiguidade restringir o direito] e não à existência de prazos de caducidade nas ações de investigação e de impugnação de paternidade[8], a verdade é que se ve-rificou uma inflexão na jurisprudência do STJ, que reiteradamente passou a emitir juízos de inconstitucionalidade sobre os aludidos prazos de caducidade, por os considerar “limitadores da possibilidade de impugnação a todo o tempo”[9].

Não é, entanto, essa a posição maio-ritariamente assumida pelo Tribunal Constitucional, que, várias vezes chamado a pronunciar-se, reiteradamente o fez no sentido de considerar que a fixação de prazos de caducidade para a impugnação e investigação de paternidade não fere princípios constitucionais, sendo tais princípios suscetíveis de violação, isso sim, pela exiguidade dos referidos prazos, se a mesma condicionar o exercício do direito de forma a configurar uma verdadeira restrição desse direito[10].

Refere-se no já citado acórdão do Tribunal Constitucional n.º 626/2009 que as razões avançadas para a previsão de prazos limitativos da ação de investigação da paternidade encontram-se há muito identificadas pela doutrina portuguesa e prendem-se com a segurança jurídica dos pretensos pais e seus herdei ros, o progressivo “envelhecimento” das provas e com a prevenção da “caça às fortunas”, e conclui-se:

«Na verdade, tendo o titular deste direito conhecimento dos factos que lhe permitem exercê-lo, é legítimo que

o legislador estabeleça um prazo para a propositura da respetiva ação, após esse conhecimento, de modo a que o interesse da segurança jurídica não possa ser posto em causa por uma atitude desinteressada daquele.

O estabelecimento de um prazo de caducidade para o exercício do direito à investigação de paternidade nestes casos, revela-se, em abstrato, uma limitação adequada, necessária e proporcional deste direito, para satisfação do interesse da segurança jurídica, como elemento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º da C.R.P.)».

Em suma, sopesando os vários direitos e os legítimos interesses, num juízo de proporcionalidade e de adequação, tem o Tribunal Constitucional concluído pela conformidade com a Constituição, do es-tabelecimento de prazos de caducidade, sem prejuízo da possibilidade de censura constitucional dos mesmos, desde que não garantam o cabal exercício do direito fundamental à identidade pessoal, previs-to no artigo 26º, nº 1, da CRP.

Foi esse o entendimento expresso no Acórdão 401/2011[11], onde o Plenário daquele Tribunal conclui que “a norma do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, na redação da Lei n.º 14/2009, de 1 de abril, na parte em que, aplicando-se às ações de investigação de paternidade, por força do artigo 1873.º do mesmo Código, prevê um prazo de dez anos para a propositura da ação, contado da maioridade ou eman-cipação do investigante, não se afigura desproporcional, não violando os direitos constitucionais ao conhecimento da pa-ternidade biológica e ao estabelecimento do respetivo vínculo jurídico, abrangidos pelo direitos fundamentais à identidade pessoal, previsto no artigo 26.º, n.º 1, e o direito a constituir família, previsto no artigo 36.º, n.º 1, ambos da Constituição”.

Posteriormente, no Acórdão n.º 247/2012[12], para além de reiterar o juízo de não inconstitucionalidade do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, na redação da Lei n.º 14/2009, de 1 de abril, na parte

[8] A este propósito, refere-se no já referido acórdão do TC n.º 626/2009, que em toda a jurisprudência constitucional anterior sempre o TC encarou os prazos de caducidade como” meros condicionamentos do exercício do direito de investigação da paterni dade, inerente ao direito à identidade pessoal, e não como verdadeiras restrições desse direito fundamental”.

[9] Nesse sentido, para além dos acórdãos citados na conclusão 9.ª do recurso, veja-se o acórdão do STJ, de 07.07.2009, proferido no Processo n.º 1124/05.3TBLGS.S1 (acessível em http://www.dgsi.pt), onde se decidiu que “o prazo previsto no art. 1842º, nº1, alínea a), do C. Civil, mesmo na atual redação (Lei nº 14/2009, de 1 de abril), na medida em que é limitador da possibilidade de impugnação, a todo o tempo, pelo presumido progenitor, da sua paternidade, é inconstitucional”.

[10] Nesse sentido, veja-se o acórdão do TC, n.º 98/88, proferido no Processo n.º 101/85, relatado pelo Conselheiro Cardoso da Costa, onde se consignou que nas normas que estabelecem prazos de caducidade para as ações de reconhecimento e impugnação de paternidade “devem ver-se, não propria-mente «restrições» ao direito fundamental em causa, mas antes, simplesmente, «condicionamentos» a que tem de obedecer o respetivo exercício”.

[11] Proferido em Plenário, no âmbito do Processo n.º 497/10, do qual foi relator o Conselheiro João Cura Mariano.

[12] Proferido no Processo n.º 638/10, relatado pelo Conselheiro Carlos Pamplona de Oliveira.

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em que, aplicando-se às ações de inves-tigação de paternidade, prevê um prazo de dez anos para a propositura da ação, o Tribunal Constitucional não julgou inconstitucional a norma da alínea b) do n.º 3 do artigo 1817º do Código Civil, quando impõe ao investigante, em vida do pretenso pai, um prazo de três anos para interposição da ação de investigação de paternidade.

Anteriormente, no acórdão n.º 65/2010[13] o mesmo Tribunal havia consi-derado que “a norma constante do n.º 4 do artigo 1817.º do Código Civil (na redação da Lei n.º 21/98, de 12 de maio), aplicável por força do artigo 1873.º do mesmo Código, na medida em que prevê, para a proposição da ação de investigação de paternidade, o prazo de um ano a contar da data em que tiver cessado voluntaria-mente o tratamento como filho, traduz uma restrição desproporcionada ao direi-to fundamental à identidade pessoal, em violação do disposto nos artigos 26.º, n.º 1, e 18.º, n.º 2, da Constituição”.

No entanto, tal juízo de inconstitucio-nalidade não incide sobre a existência de um prazo de caducidade, mas antes sobre a insuficiência desse prazo, traduzida numa “restrição desproporcionada ao direito fun-damental à identidade pessoal”, censurada pelo Tribunal nestes termos: «precisamente pelas razões que fundamentaram a previ-são de um prazo “mais alargado” para as situações em que o investigante benefi-ciava do tratamento como filho, se tem de concluir que o prazo de 1 ano a contar da cessação voluntária desse tratamento é, à luz dos critérios de proporcionalidade e adequação exigidos pelo artigo 18º, n.º 2, da Constituição, manifestamente insufi-ciente e desadequado»[14].

Regressando ao caso que nos ocu-pa, não merecendo censura, à luz dos princípios constitucionais, a fixação pelo legislador de prazos de caducidade para a impugnação da paternidade, haverá que questionar se o prazo em apreço, de três anos, previsto na alínea b) do n.º 1 do

artigo 1842.º do Código Civil, é suscetível do pretendido juízo de inconstitucio-nalidade, por inviabilizar ou dificultar excessivamente o exercício dos direitos fundamentais à identidade pessoal e a constituir família, previstos nos artigos 26º, nº 1, e 36º, nº 1, ambos da Constitui-ção da República Portuguesa.

Vejamos.De acordo com o preceito em causa,

a ação de impugnação de paternidade pode ser intentada pela mãe, dentro dos três anos posteriores ao nascimento.

A recorrente alegou na petição, que o 1.º réu não é pai do menor D... (2.º réu), mas sim de E…, com quem a autora mantém desde 2007 relações sexuais regulares.

Decorre do exposto que a autora sem-pre soube[15] que o menor D…, seu filho, era fruto das relações sexuais regulares que manteve com E….

Dispôs de três anos para impugnar a paternidade. Eventualmente não lhe terá interessado essa impugnação nos dois anos subsequentes ao nascimento do menor, devido ao facto de a relação matrimonial se ter prolongado durante esse período. No entanto, mesmo após a dissolução do casamento (em 17.09.2009), ainda dispôs de mais de um ano para o exercício do direito (o menor nasceu em 12.11.2007). Como refere o Professor Mota Pinto[16], na caducidade só o aspeto objetivo da certeza e segurança jurídica é tomado em conta, o que explica a insus-cetibilidade da sua suspensão, perante situações e acontecimentos justificadores da inércia do titular do direito, apenas relevantes na apreciação da prescrição.

O que assume particular relevância, face às considerações que se teceram, é o facto de os três anos se revelarem um prazo que garante o cabal exercício do direito fundamental à identidade pes-soal, previsto no artigo 26º, nº 1, da CRP, traduzindo-se, em abstrato, numa limita-ção adequada, necessária e proporcional deste direito, para satisfação do interesse

da segurança jurídica, como elemento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º da C.R.P.).

Foi este o entendimento prevalecente no acórdão do Tribunal Constitucional n.º 523/2009[17], onde se decidiu não julgar inconstitucional a norma do artigo 1842.º, n.º 1, alínea a), do Código Civil, na medida em que limita a possibilidade de impug-nação, a todo o tempo, pelo presumido progenitor, da sua paternidade.

É este o entendimento que perfilha-mos, confortados pelo facto de, “in casu”, do mesmo não decorrer a absoluta preclusão do direito fundamental à identidade pes-soal (art. 26.º, n.º 1 da CRP), considerando o disposto na alínea c) do n.º 1 do citado normativo, onde se estabelece a favor do menor, a faculdade de impugnar a paterni-dade até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe.

Perante o exposto, concluímos que não merece qualquer reparo ou censura a douta decisão recorrida, não se justifi-cando a recusa da aplicação da alínea b) do n.º 1 do artigo 1482.º do Código Civil, com fundamento em inconstitucionali-dade material.

III. DispositivoCom os fundamentos que antecedem,

acordam os Juízes desta Relação em julgar totalmente improcedente o recurso, ao qual negam provimento, mantendo em consequência a decisão recorrida.

Custas do recurso pela Apelante.O presente acórdão compõe-se de

quinze páginas e foi elaborado em pro-cessador de texto pelo relator, primeiro signatário.

Porto, 3 de dezembro de 2012Os Desembargadores,Carlos Manuel Marques QueridoJosé Fonte Ramos

[13] Proferido no Processo n.º 339/09, do qual foi relator o Conselheiro Joaquim de Sousa Ribeiro.

[14] Refere-se no acórdão em apreço: “Os acórdãos citados [jurisprudência anterior do TC] não censuraram a existência de prazos de caducidade, mas apenas consideraram constitucionalmente desconforme o prazo concreto aí em questão, por inviabilizar ou dificultar excessivamente a possibilidade de o interessado averiguar o vínculo de filiação natural”.

[15] Bem como o seu ex-marido C…, que participou tal facto ao MP (vide despacho de fls. 14) – o casamento foi dissolvido apenas em 17 de setembro de 2009, e terá sido na sequência dessa dissolução que a participação foi efetuada.

[16] Teoria Geral do Direito Civil, 3.ª edição, Coimbra Editora, 1996, pág. 376.

[17] Proferido no Processo n.º 783/09, relatado pelo Conselheiro Benjamim Rodrigues. Consta da respetiva fundamentação: “não parece que a fixação de um prazo de caducidade para a impugnação de paternidade pelo pai presumido, nos termos em que se encontra previsto na referida norma do artigo 1842º, n.º 1, alínea a), do Código Civil, represente uma intolerável restrição ao direito de desenvolvimento da personalidade entendido com o alcance de um direito de conformar livremente a sua vida, quando é certo que a preclusão do exercício do direito de impugnar pode justamente ter correspondido a uma opção que o interessado considerou ser em dado momento mais consentâneo com o seu interesse concreto e o seu con-dicionalismo de vida”.

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jurisprudência do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 55

ANOTAÇÃO:Questão decidenda:

O Tribunal da Relação do Porto, no dia 03 de dezembro de 2012, procurou dar solução definitiva, entre outras, à seguinte questão:

- Aferição da constitucionalidade da alínea c) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil.

Solução jurídica:A ação dos autos deu entrada decor-

ridos mais de três anos sobre o nascimen-to do menor, restringindo o objeto do recurso à questão da constitucionalidade do referido prazo de caducidade, previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil.

Preceitua o artigo 1842.º do Código Civil, na redação da Lei 14/2009, de 1 de abril:

1 - A ação de impugnação de pater-nidade pode ser intentada:

a) Pelo marido, no prazo de três anos contados desde que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir--se a sua não paternidade;

b) Pela mãe, dentro dos três anos posteriores ao nascimento;

c) Pelo filho, até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe.

2 - Se o registo for omisso quanto à maternidade, os prazos a que se referem as alíneas a) e c) do número anterior contam-se a partir do estabelecimento da maternidade.

Os prazos previstos no normativo em apreço são de caducidade, de conheci-mento oficioso, nos termos do n.º 1 do artigo 333.º do Código Civil, consideran-do que está em causa matéria excluída da disponibilidade das partes.

No decurso do prazo previsto na alí-nea b) do n.º 1 da disposição legal citada, a 2 de abril de 2009, entrou em vigor a Lei n.º 14/2009, de 01 de abril (art. 2.º), que alterou o referido prazo, de dois para três anos, estipulando expressamente o seu artigo 3.º, que a nova lei se aplica aos processos pendentes à data da sua entrada em vigor.

A questão que se coloca é a de saber se o estabelecimento de um prazo de caducidade para a investigação da ma-ternidade ou de paternidade constitui uma restrição ao direito fundamental à

identidade pessoal (artigo 26.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa), restrição vedada pelo artigo 18.º, n.º 2, da Lei Fundamental e, consequentemente, materialmente inconstitucional.

A resposta a esta questão obriga a distinguir entre restrição de um direito fundamental e um mero limite desse tal direito.

No caso dos autos, está em causa o estabelecimento de um prazo de caduci-dade para o exercício de uma faculdade legal que se funda no direito fundamen-tal à identidade pessoal (artigo 26º, nº 1, da CRP), cabendo averiguar se o esta-belecimento de tal prazo, considerando a sua duração, contende ou não com a extensão objetiva desse direito.

Na apreciação da constitucionalida-de material dos prazos de caducidade no domínio da investigação de paternidade, o Tribunal Constitucional tem posto o acento tónico na questão de saber se o prazo fixado permite, em concreto, o exercício do direito em tempo útil ou, pelo contrário, se é de tal modo exíguo que inviabiliza ou dificulta gravemente esse exercício, tornando-se numa verda-deira restrição ao direito fundamental à identidade pessoal.

O Tribunal Constitucional tem con-siderado que a fixação de prazos de caducidade para a impugnação e investi-gação de paternidade não fere princípios constitucionais, sendo tais princípios suscetíveis de violação, isso sim, pela exiguidade dos referidos prazos, se a mesma condicionar o exercício do direito de forma a configurar uma verdadeira restrição desse direito.

As razões avançadas para a previsão de prazos limitativos da ação de investi-gação da paternidade encontram-se há muito identificadas pela doutrina por-tuguesa e prendem-se com a segurança jurídica dos pretensos pais e seus herdei-ros, o progressivo “envelhecimento” das provas e com a prevenção da “caça às fortunas”, e conclui-se:

«Na verdade, tendo o titular deste direito conhecimento dos factos que lhe permitem exercê-lo é legítimo que o legislador estabeleça um prazo para a propositura da respetiva ação, após esse conhecimento, de modo a que o interesse da segurança jurídica não pos-sa ser posto em causa por uma atitude desinteressada daquele.

O estabelecimento de um prazo de caducidade para o exercício do direito à investigação de paternidade nestes casos, revela-se, em abstrato, uma limita-ção adequada, necessária e proporcional

deste direito, para satisfação do interesse da segurança jurídica, como elemento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º, da C.R.P.)».

Em suma, o Tribunal Constitucional tem concluído pela conformidade com a Constituição, do estabelecimento de prazos de caducidade, sem prejuízo da possibilidade de censura constitucional dos mesmos, desde que não garantam o cabal exercício do direito fundamental à identidade pessoal, previsto no artigo 26º, nº 1, da CRP.

Foi esse o entendimento expresso no Acórdão 401/2011, onde o Plenário daquele Tribunal conclui que “a norma do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, na redação da Lei n.º 14/2009, de 1 de abril, na parte em que, aplicando-se às ações de investigação de paternidade, por força do artigo 1873.º do mesmo Código, prevê um prazo de dez anos para a propositu-ra da ação, contado da maioridade ou emancipação do investigante, não se afigura desproporcional, não violando os direitos constitucionais ao conhecimento da paternidade biológica e ao estabele-cimento do respetivo vínculo jurídico, abrangidos pelo direitos fundamentais à identidade pessoal, previsto no artigo 26.º, n.º 1, e o direito a constituir família, previsto no artigo 36.º, n.º 1, ambos da Constituição”.

Posteriormente, no Acórdão n.º 247/2012, para além de reiterar o juízo de não inconstitucionalidade do artigo 1817.º, n.º 1, do Código Civil, na redação da Lei n.º 14/2009, de 1 de abril, na parte em que, aplicando-se às ações de inves-tigação de paternidade, prevê um prazo de dez anos para a propositura da ação, o Tribunal Constitucional não julgou inconstitucional a norma da alínea b) do n.º 3 do artigo 1817º do Código Civil, quando impõe ao investigante, em vida do pretenso pai, um prazo de três anos para interposição da ação de investiga-ção de paternidade.

Esta apelação foi, pois, atentos os motivos supra, julgada improcedente.

Decisão do acórdão: A decisão to-mada pelos juízes Desembargadores acabou por ser sumariada no Acórdão do seguinte modo:

I. Tal como reiteradamente vem defendendo o Tribunal Constitucional, a previsão legal de um prazo de caduci-dade para a impugnação de paternidade não deverá ser considerado restrição [ve-dada pelo artigo 18.º, n.º 2, da CRP], mas sim mero condicionamento ao exercício do direito à identidade pessoal.

II. O estabelecimento de um prazo de

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jurisprudência do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201256

caducidade para o exercício do direito à impugnação de paternidade revela-se, em abstrato, um condicionamento ade-quado, necessário e proporcional deste direito, harmonizando a faculdade do seu exercício com a satisfação do interesse da segurança jurídica, elemento essencial de Estado de Direito (artigo 2.º, da C.R.P.).

III. Decorre das conclusões anteriores, que a existência do prazo de caducidade não merece um juízo constitucional de censura, sem prejuízo de tal juízo negativo poder incidir sobre o prazo concreto, por desconformidade com os valores constitucionais, na medida em

que inviabilize ou dificulte excessivamen-te o exercício do direito fundamental à identidade pessoal.

IV. O prazo de três anos previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 1842.º do Código Civil, na redação que lhe conferiu a Lei 14/2009, de 1 de abril, garante o cabal exercício do direito fundamental à identidade pessoal, previsto no artigo 26º, nº 1 da CRP, traduzindo-se, em abs-trato, num condicionamento adequado, necessário e proporcional deste direito, sem o pôr em causa, harmonizando-o com o interesse da segurança jurídica, que também garante.

V. Este entendimento, na situação concreta dos autos, sai confortado com o facto de do mesmo não decorrer a ab-soluta preclusão do direito fundamental à identidade pessoal, considerando a me-noridade do filho e o disposto na alínea c) do n.º 1 do citado normativo, onde se estabelece a seu favor a faculdade de im-pugnar a paternidade até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emancipado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe..

O QUE DIZ A LEICódigo Civil

Artigo 1839.º(Fundamento e legitimidade)

1. A paternidade do filho pode ser im-pugnada pelo marido da mãe, por esta, pelo filho ou, nos termos do artigo 1841.º, pelo Ministério Público.

2. Na ação o autor deve provar que, de acordo com as circunstâncias, a paternida-de do marido da mãe é manifestamente improvável.

3. Não é permitida a impugnação de pa-ternidade com fundamento em inseminação artificial ao cônjuge que nela consentiu.

Artigo 1840.º

(Impugnação da paternidade do filho concebido antes do matrimónio)

1. Independentemente da prova a que se refere o n.º 2 do artigo anterior, podem ainda a mãe ou o marido impugnar a paternidade do filho nascido dentro dos cento e oitenta dias posteriores à celebração do casamento, exceto:

a) Se o marido, antes de casar, teve conhe-cimento da gravidez da mulher;

b) Se, estando pessoalmente presente ou representado por procurador com poderes especiais, o marido consentiu que o filho fosse declarado seu no registo do nascimento;

c) Se por qualquer outra forma o marido reconheceu o filho como seu.

2. Cessa o disposto na alínea a) do número anterior se o casamento for anulado por falta de vontade, ou por coação moral exercida contra o marido; cessa ainda o disposto nas alíneas b) e c) quando se prove ter sido o consentimento ou reconhecimento viciado por erro sobre circunstâncias que tenham con-tribuído decisivamente para o convencimento da paternidade, ou extorquido por coação.

Artigo 1841.º

(Ação do Ministério Público) 1. A ação de impugnação de paternidade

pode ser proposta pelo Ministério Público a requerimento de quem se declarar pai do filho, se for reconhecida pelo tribunal a viabi-

lidade do pedido. 2. O requerimento deve ser dirigido ao

tribunal no prazo de sessenta dias a contar da data em que a paternidade do marido da mãe conste do registo.

3. O tribunal procederá às diligências necessárias para averiguar a viabilidade da ação, depois de ouvir, sempre que possível, a mãe e o marido.

4. Se concluir pela viabilidade da ação, o tribunal ordenará a remessa do processo ao agente do Ministério Público junto do tribunal competente para a ação de impugnação.

ARTIGO 1842.º

(Prazos) 1 - A ação de impugnação de paternidade

pode ser intentada: a) Pelo marido, no prazo de três anos

contados desde que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se a sua não paternidade;

b) Pela mãe, dentro dos três anos poste-riores ao nascimento;

c) Pelo filho, até 10 anos depois de haver atingido a maioridade ou de ter sido emanci-pado, ou posteriormente, dentro de três anos a contar da data em que teve conhecimento de circunstâncias de que possa concluir-se não ser filho do marido da mãe.

2 - Se o registo for omisso quanto à mater-nidade, os prazos a que se referem as alíneas a) e c) do número anterior contam-se a partir do estabelecimento da maternidade.

Artigo 1843.º(Impugnação antecipada)

1. Se o registo for omisso quanto à ma-ternidade, a ação de impugnação pode ser intentada pelo marido da pretensa mãe no prazo de seis meses a contar do dia em que soube do nascimento.

2. O decurso do prazo a que se refere o número anterior não impede o marido de intentar ação de impugnação, nos termos gerais.

Artigo 1844.º(Prossecução e transmissão da ação)

1. Se o titular do direito de impugnar a

paternidade falecer no decurso da ação, ou sem a haver intentado, mas antes de findar o prazo estabelecido nos artigos 1842.º e 1843.º, tem legitimidade para nela prosseguir ou para a intentar:

a) No caso de morte do presumido pai, o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens que não seja a mãe do filho, os descendentes e ascendentes;

b) No caso de morte da mãe, os descen-dentes e ascendentes;

c) No caso de morte do filho, o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e os descendentes.

2. O direito de impugnação conferido às pessoas mencionadas no número anterior caduca se a ação não for proposta no prazo de noventa dias a contar:

a) Da morte do marido ou da mãe, ou do nascimento de filho póstumo, no caso das alíneas a) e b);

b) Da morte do filho, no caso da alínea c).

Artigo 1845.º(Ausência)

No caso de ausência justificada do titular do direito de impugnar a paternidade, a ação a que se refere o artigo 1839.º pode ser inten-tada pelas pessoas referidas no artigo anterior, no prazo de cento e oitenta dias a contar do trânsito em julgado da sentença.

Artigo 1846.º

(Legitimidade passiva) 1. Na ação de impugnação de paterni-

dade devem ser demandados a mãe, o filho e o presumido pai quando nela não figurem como autores.

2. No caso de morte da mãe, do filho ou do presumido pai, a ação deve ser intentada ou prosseguir contra as pessoas referidas no artigo 1844.º, devendo, na falta destas, ser nomeado um curador especial; se, porém, existirem herdeiros ou legatários cujos direitos possam ser atingidos pela procedência do pe-dido, a ação não produzirá efeitos contra eles se não tiverem sido também demandados.

3. Quando o filho for menor não eman-cipado, o tribunal nomear-lhe-á curador especial.

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Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 57

ARRENDAMENTOReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 30/10/2012,Revista n.º 1181/09.3TVPRT.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Contrato de arrendamento verbal

I - Celebrado entre a mãe do autor e a ré, em 1989, contrato verbal de arrendamen-to de um prédio urbano em comproprie-dade, pertencente a uma herança ilíquida e indivisa da qual era cabeça de casal a mãe do autor e a um filho desta última, verifica-se que, na respetiva celebração, a mãe do autor atuou na qualidade de re-presentante sem poderes desse seu filho e, simultaneamente, em representação da citada herança ilíquida e indivisa.II - Provado que esse arrendamento per-durou no tempo, mantendo-se sem inci-dentes durante cerca de 16 anos após a morte da mãe do autor, não tendo o outro comproprietário ou qualquer dos herdei-ros deduzido oposição, tal atuação cai na previsão da norma especial para arren-damento de prédios indivisos constante do art. 1024.º, n.º 2, do CC, verificando-se um posterior consentimento, que é, no caso, uma verdadeira ratificação/sanação juridicamente qualificável como confirma-ção, nos termos e para os efeitos do art. 288.º do CC.III - No caso, não sendo exigida escritura pública para a celebração do arrendamen-to, a lei não exige forma expressa para a confirmação, podendo verificar-se através de comportamentos que, sem qualquer margem para dúvida, sejam concludentes no sentido de demonstrarem um animus confirmandi.IV - Enquanto a previsão normativa da al. c) do art. 1051.º do CC se reporta à caducidade do contrato de locação em consequência da cessação do direito ou dos poderes legais com base nos quais o contrato foi celebrado, o n.º 2 do art. 1024.º do mesmo Código estabelece um regime especial para o arrendamento de prédios em compropriedade, afastando a regra geral do art. 1407.º do CC.V - Por aplicação do disposto no art. 1404.º do CC, mesmo naquelas situações em que o contrato de arrendamento é celebrado pelo cabeça de casal em ato de adminis-

tração da herança, o contrato de arrenda-mento não caduca caso os co-herdeiros tenham dado o seu assentimento ao con-trato, de forma expressa ou tácita.

CIVILReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/10/2012,Revista n.º 1947/07.9TBAMT-A.P1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Cláusulas contratuais

I - Será despiciendo enfatizar a relevância atribuída, por todos os civilistas, inter alia, Almeida Costa (Direito das Obrigações, 9.ª Edição, Almedina, pág. 242),e pela nossa jurisprudência, ao conhecimento ade-quado e seguro das cláusulas contratuais pelos seus destinatários. Trata-se de uma necessidade básica para o cumprimento pontual dos contratos e para o estabele-cimento da confiança dos contraentes na parte contrária.II - Tal necessidade assume especial pre-ponderância quando se trata de condu-tas, por ação ou omissão, que, pela sua essencialidade na economia do contrato, possam determinar a resolução do mesmo com fundamento no incumprimento, pois de outro modo está em risco a vulneração dos princípios de boa fé e de confiança que estão na base do nosso Direito das Obrigações.III - Como escreveu Antunes Varela, «a lei portuguesa, além de obrigar a agir de acordo com os cânones da boa fé quem quer que negoceie com outro para a con-clusão de um contrato (art. 227.º do CC), vincula em seguida ao mesmo princípio, quer o devedor, quer o credor, não apenas no que toca à realização da prestação debitória, mas em tudo quanto respeita, seja ao cumprimento da obrigação (lato sensu), seja ao exercício do próprio direito» (Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, vol. II, reimpressão da 7.ª edição, pág. 13).

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/10/2012,Revista n.º 4661/07.TBLRA.C1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Cheque - quirógrafo

I - O cheque, enquanto título de crédito, faz prova da obrigação cartular por ele ti-

tulado, dados os princípios de literalidade e de autonomia que subjazem aos títulos cambiários, mas não das relações funda-mentais ou subjacentes que se tenham estabelecido entre os credores e devedo-res e que estejam na base da constituição da relação creditícia em apreciação sub judicio, ou com ela conexas.II - Como simples quirógrafo de obrigação, o cheque mais não é do que um documen-to particular de prova livre e, portanto, em pé de igualdade com outros meios de prova livre que se revelarem necessários à demonstração dos factos.III - Como é sabido, e como resulta da experiência da vida (id quod plerumque accidit), fora das situações de represen-tações cénicas ou de meras atividades lúdicas, onde pontifica o animus ludendi vel jocandi, a regra é que a simulação seja fraudulenta, como ensinou Castro Mendes ao escrever que «em geral, a simulação é fraudulenta: finge-se vender, e não doar, para pagar a sisa e não o mais pesado imposto sobre sucessões e doações, portanto em prejuízo do Estado; finge-se vender bens a certa pessoa com o fim de os subtrair à garantia geral dos credores do vendedor, portanto em prejuízo des-tes; etc».IV - É certo que também pode acontecer que haja uma simulação inocente, isto é, sem intuito ou consciência de prejudicar, mas, como escreveu o grande Mestre de Coimbra que foi o Prof. Manuel Andrade, «isto são casos raríssimos, embora não de todo impensáveis. Na prática, quase sempre a simulação se caracteriza como fraudulenta».

COMERCIALReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 25/10/2012Revista n.º 1059/06.2TBVCD.P1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Gerentes – responsabilidade

I - Não se podem responsabilizar as rés, membros da direção da cooperativa, desde 1985 até 27 de Junho de 2005, pelo elevado nível de endividamento da autora à Segurança Social e à Fazenda Nacional, não obstante o incumprimento do dever de requerer a insolvência perante o in-

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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jurisprudência - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201258

cumprimento das obrigações daquelas entidades e a falta de apresentação das contas dos exercícios das suas gerências, quando se prova também que até 2002 a produção da autora dependia quase em exclusivo de um cliente (M...) que asse-gurava, em maior valor, os proveitos da autora e que a partir de outubro de 2002 esta empresa reduziu significativamente as encomendas colocando a autora em sérias dificuldades financeiras para fazer face às despesas normais de exploração e que com o agravamento na crise no setor têxtil, a autora não conseguiu absorver capacidade produtiva instalada, tendo assim reduzido consideravelmente o seu volume de vendas e, consequentemente os seus resultados da exploração.II - Nos termos do art. 72.º, n.º 1, do CSC, ex vi do art. 9.º do CCoop, as, aqui rés, na qualidade de membros da direção da au-tora (cooperativa), respondem para com a cooperativa pelos danos a esta causados por atos ou omissões com preterição dos deveres legais ou contratuais, salvo se provarem que procederam sem culpa.III - O citado art. 72.º, n.º 1 – ex vi do ci-tado art. 9.º do CCoop –, estabelece uma presunção de culpa que impende sobre os gerentes ou administradores, no caso em apreço, sobre as rés, como membros da direção da cooperativa, presunção esta que pode ser ilidida se provarem que pro-cederam sem culpa.IV - Quando ocorre uma reiterada falta de apresentação das contas de vários exercí-cios (2001, 2002, 2003 e 2004), a obrigação que sobre as rés impendia na qualidade de diretoras da autora, existe violação osten-siva das disposições legais do arts. 56.º e 64.º do CCoop que fazem incorrer as rés na responsabilidade civil solidária prevista no art. 65.º do CCoop, ex vi do art. 72.º, n.º1, do CSC, aqui, observado por força do art. 9.º do CCoop, sendo certo que as rés não ilidiram a presunção de culpa estabeleci-da no citado normativo, porquanto não provaram como lhes competia que não tiveram culpa nos danos que provocaram na autora, nomeadamente quando fazem em nome da cooperativa negócios para proveito próprio (aquisição de veículo e recebimento de cheques em seu favor) que eram da cooperativa, sendo certo também que não provaram qualquer matéria exclusiva dessa responsabilidade, nomeadamente que atuaram em termos informados, livre de qualquer interesse pessoal e segundo critérios de racionalida-de empresarial – cf. art. 72.º, n.º 2, do CSC.V - As rés também são responsáveis à luz dos citados normativos pelo pagamento de uma importância que receberam de uma seguradora em nome da autora, na

sequência de um sinistro (incêndio), no-meadamente quando as próprias rés não provaram o destino dessa importância, ónus que, aliás, sobre elas sempre impen-dia, também por força da inversão do ónus da prova, nos termos do art. 344.º do CC, inversão esta que tem a sua justificação no facto de as rés não apresentarem contas nos diversos exercícios das suas gerências, circunstância que sempre prejudica ou dificulta a autora de saber qual o destino que foi dado a essa verba.

CONTRATOSReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/10/2012Revista n.º 624/06.2TBPRG.P1.S1 - 7.ª SecçãoAssunto: Contrato de comodato – arrendamento

I - Nos negócios jurídicos a onerosidade ou gratuitidade ressalta da própria função objetiva do ato, conforme este é, ou não, fonte de duas recíprocas atribuições pa-trimoniais, que se contrapõem como os pratos de uma balança.II - Tendo a autora cedido ao réu, enquan-to seu trabalhador, uma casa, a título precário, até à cessação do contrato de trabalho ou até uma eventual mudança de local de trabalho, é de concluir que a cedência da casa, objeto de disputa nos presentes autos, constitui uma decor-rência do próprio contrato de trabalho celebrado entre autor e réu, sendo uma das componentes retributivas do salário atribuído pela empresa.III - Esta situação, comum em diversas rela-ções laborais, foi clarificada com a entrada em vigor do Estatuto Unificado do Pessoal da autora no qual o alojamento veio a ser contemplado no cômputo do subsídio de estaleiro.IV - Do regulamentado nesse estatuto se retira – sem margem para dúvidas – que não estamos nem perante um contrato de comodato a se, nem perante um contrato oneroso como o de arrendamento, mas sim perante uma das vertentes remune-ratórias inseridas no próprio contrato de trabalho.V - A permanência do réu na casa, após passagem à situação de reforma, confi-gura uma simples detenção (art. 1253.º, al. b), do CC) por ato de mera tolerância da autora, com o consentimento (ao menos tácito) desta, mas sem que assim tivesse aquela pretendido atribuir um direito aos réus.VI - Com tal tolerância não quis a titular do direito de propriedade sobre a habitação limitar esse seu direito, conservando a faculdade de, a qualquer momento, pôr fim à atividade tolerada.

VII - Tal não viola o art. 65.º da CRP, pois os direitos sociais, nos quais se inclui a habitação, têm como sujeitos passivos essencialmente o Estado e outras enti-dades públicas; embora os particulares possam ser chamados a colaborar no esforço de concretização de tais direitos, não dispõem estes de uma eficácia hori-zontal que possa impor a tutela de todas as situações existentes.

FAMÍLIAReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/10/2012Revista n.º 194/08.7TBAGN.C1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Investigação da paternidade

I - A questão essencial que o presente re-curso encerra é a de se saber se a Relação decidiu bem ao proceder à inversão do ónus da prova a que alude o art. 344.º, n.º 2, do CC, derivado da circunstância de o exame biológico não se ter realizado por culpa do réu, se bem que, pelo facto de a ação ter sido julgada procedente com base na presunção de paternidade a que alude o art. 1871.º, n.º 1, al. e), do CC, sem que o réu tivesse logrado afastar esta presunção, o tema deixe de ter interesse relevante.II - Hoje, os exames hematológicos aos pretensos pai e filho dão um grau de certeza sobre a filiação, quando esta se verifique, próximo dos 100%, excluindo--a quase completamente quando não ocorra. Assim, nas ações de investigação da paternidade esses exames constituem elementos importantes e até essenciais para a descoberta da verdade, secundari-zando as outras provas, designadamente a testemunhal, patentemente muito mais falível e aleatória.III - No caso, o réu, ao faltar ao exame injustificadamente, inviabilizou a sua re-alização, obstaculizando, assim, a que a verdade da sua paternidade em relação ao autor fosse cientificamente investiga-da e determinada. Recusou-se, assim, a colaborar para a descoberta da verdade, pelo que se justificou a inversão do ónus da prova a que alude o n.º 2 do art. 344.º.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 25/10/2012Revista n.º 2525/10.0TBPTM.E1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Prazo da ação de impugnação da paternidade

I - A al. a) do n.º 1 do art. 1842.º do CC (pra-zo de propositura de ação de impugnação de paternidade) estabelece um prazo de caducidade, um prazo que define a vida de um direito, da propositura, ou não, de uma ação judicial.

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Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 59

II - Na ação de impugnação de paternida-de estamos perante uma ação de estado, cujo objeto é a apreciação dos factos ati-nentes à filiação, que versa sobre direitos indisponíveis.III - Cabe ao réu, sem embargo do conhe-cimento oficioso por banda do Tribunal, logo que factos suficientes para tal cons-tem dos autos, por alegação de uma ou de outra das partes (princípio da aquisição processual), o ónus de alegação e prova do decurso do prazo de caducidade.IV - Se bem que as afirmações e confissões expressas de factos, feitas pelo mandatá-rio nos articulados, vinculem, em princí-pio, a parte, salvo se forem retificadas ou retiradas enquanto a parte contrária não as tiver aceitado especificamente (art. 38.º do CPC), o certo é que a confissão não faz prova quanto ao confitente se recair sobre factos relativos a direitos indisponíveis (art. 354.º, al. b), do CC).V - Na ação de impugnação de paternida-de, os factos conducentes ao conhecimen-to da caducidade, que não se mostrem provados por documento autêntico, de-vem ser levados à base instrutória.

PENALReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 09/05/2012Proc. n.º 33/05.0JBLSB.C1.S1 - 3.ª SecçãoAssunto: Alteração da qualificação jurídica

I - O CPP, na sua reforma introduzida em 1998 (Lei 59/98, de 29-08), na esteira do que já era o entendimento do TC, veio con-sagrar a possibilidade de uma livre altera-ção da qualificação jurídica em julgamen-to, desde que se proceda a comunicação prévia da alteração ao arguido, mediante a inserção do n.º 3 no art. 358.º do CPP.II - E essa necessidade de comunicação prévia da alteração da qualificação jurídica é, também, de observar, agora por força da alteração introduzida pela Lei 48/2007, de 29-08, ao art. 424.º, do CPP, no seu n.º 3, no Tribunal da Relação, se este modificar os factos e a qualificação jurídica, e no STJ, por força da sua competência como tribu-nal de revista, alterando apenas o direito, forçando essa notificação para pronúncia em 10 dias, que tem lugar apenas se o arguido não a conhecia.III - Quando não há audiência no tribunal de recurso, a comunicação da nova qua-lificação em vista, previamente ao relato, deve ser feita ao arguido por via postal.IV - A Lei 48/2007, de 29-08, limita, con-tudo, o dever de notificação do arguido à alteração de si não conhecida, seja ela in mellius, seja in pejus, porque a lei, na alte-ração introduzida, não consente distinção, isto porque se entende prevenir a hipó-

tese de o arguido ser surpreendido com essa qualificação, ante a qual, em nome do direito de contraditório e igualdade de armas, deve estar prevenido.V - Se o tribunal de recurso não cumprir o dever de comunicação, o acórdão do tribunal de recurso é nulo (arts. 425.º, n.º 4, e 379.º, n.º 1, al. b), do CPP).

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/05/2012Proc. n.º 44/12.0YFLSB.S1 - 3.ª SecçãoAssunto: Prazo da prisão preventiva

I - O habeas corpus constitui uma provi-dência excecional destinada a garantir a liberdade individual contra abusos de poder derivados de prisão ilegal. Não constitui um recurso da decisão judicial que decretou a privação da liberdade. Destina-se, sim, a indagar da legalidade da prisão, de forma a pôr termo às situações de ilegalidade manifesta, diretamente identificáveis a partir dos elementos de facto recolhidos nos autos.II - Para efeitos do n.º 6 do art. 215.º do CPP, deve entender-se por “confirmação” não só a integral manutenção da decisão condenatória recorrida como também qualquer outra decisão condenatória que altere a medida da pena fixada na 1.ª instância.III - A decisão proferida em recurso que agrave ou atenue a pena decretada em 1.ª instância também é uma decisão con-firmativa da condenação. Simplesmente, havendo a manutenção ou agravamento da pena, o prazo máximo da prisão pre-ventiva calcular-se-á com base na pena fixada pelo tribunal recorrido. Caso a pena seja reduzida pelo tribunal superior, é esta a pena de referência para fixação do prazo daquela medida de coação.IV - No caso dos autos, tendo a pena fi-xada em 1.ª instância sido reduzida pela Relação para 8 anos e 6 meses de prisão, o prazo da prisão preventiva é de 4 anos e 3 meses de prisão, conforme resulta da aplicação do n.º 6 do art. 215.º do CPP. Como passaram pouco mais de 2 anos desde o início da medida de coação, não há fundamento para a concessão de habe-as corpus, por excesso de prazo de prisão preventiva.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/05/2012Proc. n.º 77/11.3JELSB.L1.S1 - 3.ª SecçãoAssunto: Correio de droga – fins das penas

I - “Correios de droga” são pessoas contra-tadas para o transporte intercontinental de estupefacientes por via aérea, que viajam como vulgares passageiros e que levam a droga disfarçada na bagagem,

na roupa ou mesmo no interior do corpo.II - Não permitem a passagem de grandes quantidades de estupefacientes, mas, em compensação, possibilitam a rápida intro-dução destes produtos nos mercados de consumo, sendo, por isso, um meio inten-sivamente utilizado pelas organizações que controlam a produção dos estupe-facientes para a sua colocação nos países de maior consumo, em complemento da via marítima, que viabiliza o transporte de grandes quantidades.III - Os “correios de droga” constituem uma peça importante, porventura cada vez mais importante, para fazer a cone-xão entre a produção e o consumo, sem a qual não existe negócio, pese embora não sejam eles os donos da droga que transportam e estejam normalmente des-ligados do meio e do circuito comercial dos estupefacientes.IV - Consequentemente – de acordo, aliás, com a posição absolutamente uniforme do STJ – não é possível integrar a conduta em referência na previsão típica do art. 25.º do DL 15/93, que abrange o tráfico de menor gravidade.V - Situa-se no mínimo exigível pela pre-venção e não excede a medida da culpa, a aplicação da pena de 5 anos e 6 meses de prisão, pela prática de um crime de tráfico de estupefacientes p. e p. pelo art. 21.º do DL 15/93, a um arguido que, no âmbito de um transporte intercontinental de droga, desembarcou no Aeroporto de Lisboa, proveniente de Cabo Verde, trans-portando cocaína com o peso líquido total de 4.308,681 g., no interior de uma mala de viagem, dissimulando-a no interior de latas de atum.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/05/2012Proc. n.º 290/07.8PATNV.C1.S1 - 3.ª SecçãoAssunto: Responsabilidade civil emergente de crime

I - Afora os casos em que a morte surge instantaneamente, se a vítima tomou consciência, sentiu, os resultados da coli-são no hiato temporal, de alguns minutos, aos quais se seguiu a morte, sofrendo an-gústia e tendo medo da morte após o aci-dente, esses danos não patrimoniais estão a coberto da obrigação de indemnização, portadores como são da gravidade pres-suposta no art. 496.º, nos 1, 2 e 3, do CC.II - Não merece reparo o quantitativo de € 10 000 arbitrado pela Relação a favor da mulher e dos filhos para compensação dos danos não patrimoniais sofridos pela vítima desde o momento do acidente de viação até ao seu óbito.III - Conforme se escreveu no Ac. de 17-03-1991, tirando com a intervenção

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jurisprudência - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201260

de todas as secções do STJ, a obrigação de indemnização pela perda do direito à vida, enquanto dano não patrimonial autónomo, nasce “no momento em que o agente inicia a prática do ato ilícito, integrando-se o correlativo direito, desde logo no património da vítima e assim se transmitindo aos herdeiros a titularidade da indemnização”.IV - Nesse domínio, o Tribunal da Relação condenou a demandada a pagar aos de-mandantes a quantia de € 120 000, a título de danos futuros e de lucros cessantes, com o direito de reembolso do Estado das pensões pagas. As recorrentes fazem reparo a este segmento decisório, por-quanto entendem que nenhum interve-niente processual reclamou o reembolso das prestações de sobrevivência já pagas à lesada.V - No enxerto cível está apenas em cau-sa a indemnização a arbitrar pelos danos patrimoniais e não patrimoniais e os intervenientes processuais são apenas a seguradora e a demandante cível, sem que nenhum organismo estatal de Segu-rança Social tenha formulado qualquer pedido de reembolso. Nessa medida, ajustando a decisão aos cânones legais, particularmente aos princípios do dispo-sitivo e do pedido, há que, nesta parte, declarar nula a decisão da Relação, por excesso de pronúncia – art. 379.º, n.º 1, al. c), do CPP.VI - A fixação do montante da indemni-zação pelos danos sofridos pela deman-dante e filhos, privados da contribuição do marido e do pai, que lhes deve alimentos [arts. 1675.º, 2003.º, 2001.º e 2009.º, n.º 1, al. c), do CC], assume contornos delicados exatamente porque há que lidar com a in-certeza no que respeita à sua capacidade de ganho futuro.VII - Tem-se generalizado a ideia de que o comum das pessoas gasta 1/3 do salário com a satisfação das suas necessidades pessoais, pelo que a contribuição para as despesas domésticas se cinge ao re-manescente e não à totalidade do salário auferido.VIII - Os prejuízos ao nível salarial estão em direta ligação com a capacidade la-boral, que não se estende ao longo de todo o trajeto vital, antes se fazendo por referência ao período de vida ativa, in-confundível com a esperança média de vida. Numa visão atualista, o STJ começa a ponderar que o tempo de vida ativa se estenda para além dos 65 anos, atingindo mesmo os 70 anos, dada a probabilidade de continuidade do trabalho para além da reforma.IX - A Portaria 377/2008, de 26-05, esti-pula na al. b) do art. 6.º que, para fins de

cálculo de prestações ao cônjuge ou ao descendente incapaz por anomalia psíqui-ca em caso de violação do direito à vida, se presume que a vítima trabalharia até aos 70 anos, o que concretiza a abertura do legislador a um tempo de vida ativa excedente a 65 anos.X - De resto, a jurisprudência do STJ tem vindo a abandonar a idade de 65 anos como ponto de inação definitiva. A refor-ma não é sinal de pura inutilidade, isto como corolário do aumento da longevi-dade – cf. Ac. STJ de 25-11-2009, Proc. n.º 397/03.0GEBNV.S1 - 3.ª.XI - A especificidade do caso limita a idade a 65 anos, já que se deve considerar de desgaste a missão de guarda da PSP, não sendo normal a cessação de funções para além dessa idade.XII - Considerando que a vítima tinha previsivelmente mais 18 anos de vida ati-va, que auferia um salário de € 1118,55 e que os lesados recebem de uma vez só a indemnização, fazendo-a frutificar, aufe-rindo juros, pelo que importa proceder a desconto para evitar eventual enrique-cimento sem causa, mostra-se justa e equitativa a quantia de € 120 000 fixada a título de reparação do dano patrimonial futuro (lucros cessantes).

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 16/05/2012Proc. n.º 196/00.1GAMGL. C2.S1 - 3.ª Secção C2.S1 - 3.ª SecçãoAssunto: Caso julgado parcial

I - Tendo havido absolvição da acusação por se terem dado como não provados os factos integrantes do tipo legal de cri-me, não pode, em recurso, discutir-se os mesmos factos integrantes da causa de pedir do pedido cível, levando a julgados contraditórios.II - Não é admissível impugnação que ponha em crise o caso julgado que se formou sobre a matéria penal. Dito com força de caso julgado que o arguido não era autor do crime que lhe foi imputado não mais lícito é discutir matéria de facto que ponha em crise a decisão absolutó-ria da Relação, tornada irrecorrível por força da lei.III - Na esteira do Ac. do STJ de 18-09-2009, a adesão do pedido cível ao pro-cesso penal significa independência no plano substantivo e dependência ao nível do processo penal.IV - O iter probatório é o mesmo, com a especificidade de ao lado do conhe-cimento do facto se aditar o exame dos factos em ordem a que se fixem os de-mais pressupostos da responsabilidade extracontratual à luz do art. 483.º do CC (o dano e o nexo causal). Socorre-se das

regras processuais penais a respeito da aquisição e valoração das provas, pois pela adesão o enxerto cível está obrigado a recebê-las. Mas no plano substantivo regem as normas da lei civil, por força do art. 129.º do CP, que se incorporam no processo.V - No entanto, conforme recentemente se decidiu no Ac. do STJ de 23-02-2012, Proc. n.º 296/04.9TAGMR - 5.ª, num caso em que o recurso respeita à parte civil, cindido, como resulta da al. c) do n.º 1 do art. 401.º do CPP, da ação penal, em que, por força da inadmissibilidade do recurso da parte penal, transitando esta em julgado, não foi dada possibilidade ao lesado de discutir em recurso a decisão que deu como não provados os factos integrantes do crime, há de aquela fa-culdade ser concedida, apenas se não retirando as consequências em sede pe-nal da eventual procedência do recurso.

PROCESSO CIVILReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 10/10/2012Revista n.º 196/09.6TBAGD.C1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Oposição entre os fundamentos e a decisão

I - A nulidade prevista no art. 668.º, n.º 1, al. c), do CPC, aplicável ao acórdão da Relação, por força do art. 716.º, n.º 1, do CPC, ocorre quando “há um vício real no raciocínio do julgador em que a fundamentação aponta num sentido e a decisão segue caminho oposto ou, pelo menos, direção diferente”.II - A decisão proferida padecerá desse erro lógico na conclusão do raciocínio jurídico, se a argumentação desenvolvida ao longo da sentença/acórdão apontar claramente num determinado sentido e, não obstante, a decisão for no sentido oposto.III - No âmbito do recurso de revista, o modo com a Relação fixou os factos materiais só é sindicável se foi aceite um facto sem produção do tipo de pro-va para tal legalmente imposto, ou se tiverem sido incumpridos os preceitos reguladores da força probatória de certos meios de prova (art. 722.º, n.º 2, do CPC).IV - Embora ao STJ seja vedado sindicar o uso feito pela Relação dos seus poderes de modificação da matéria de facto, já lhe é, todavia, possível verificar se, ao usar tais poderes, agiu dentro dos limites tra-çados pela lei para os exercer (art. 712.º, nos 1 a 4, do CPC).V - Nesse caso, do que se tratará é de saber se a Relação, ao proceder da forma como o fez, se conformou, ou não, com as normas que regulam tal temática, o que,

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Sumários - jurisprudência VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 61

no fundo, constitui matéria de direito e, nessa medida, cai já na esfera de compe-tência própria do STJ.VI - Impugnada adequadamente a de-cisão referente à matéria de facto, a Relação deverá debruçar-se sobre os diferentes pontos da matéria de facto questionados pelo recorrente, fazendo recair a sua análise crítica e incisiva sobre os meios probatórios por ele indicados, ou seja, terá de revisitar as provas em que o recorrente se abonou e, de seguida, atestar ou infirmar a razão probatória em que se fundamentou a 1.ª instância para dar ou não como provado determi-nado facto.VII - A Relação terá de fazer, ainda que restrito aos pontos questionados, o seu julgamento dessa matéria de facto, com emissão da sua própria convicção, que pode coincidir ou não com a da 1.ª ins-tância, desse modo, assegurando o duplo grau de jurisdição em relação à matéria de facto.VIII - Constitui estipulação verbal aces-sória nula, de acordo com o art. 221.º, n.º 1, do CC, a definição da linha divisória entre dois prédios integrados no acervo hereditário a partilhar, antecedendo a conferência de interessados e a partilha.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 10/10/2012Incidente n.º 6557/1993.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Aplicação do regulamento das custas processuais

I - O Regulamento das Custas Processuais (RCP), na redação resultante das altera-ções introduzidas pela Lei n.º 7/2012, de 13-02, é aplicável a um processo instau-rado no ano de 1993, aos atos praticados a partir da sua entrada em vigor, nos ter-mos do art. 8.º, nos 2 e 3, da mencionada Lei, designadamente a um incidente de reclamação apresentado em 23-05-2012.II - O DL n.º 324/03, de 27-12, foi revo-gado, com efeitos a partir de 20-04-2009, pelo art. 25.º, n.º 1, al. a), do DL n.º 34/2008, de 26-02, ex vi do art. 1.º do DL n.º 181/2008, de 28-08, e art. 156.º, n.º 1, da Lei n.º 64-A/2008, de 31-12. Com essa revogação in totum do mencionado DL n.º 324/03, ficou também revogado o art. 690.º-B do CPA, aditado por aquele diploma.III - O art. 2.º do DL n.º 303/2007, de 24-08, introduziu o art. 685.º-D do CPC, que reproduz, sem alterações de fundo, o an-terior art. 690.º-B, aditado pelo citado DL n.º 324/2003. Só que o DL n.º 303/2007 não se aplica aos processos pendentes à data da sua entrada em vigor, que foi em 01-01-2008 – cf. arts. 11.º, n.º 1, e 12.º, n.º 1, do DL n.º 303/2007.

RESPONSABILIDADE CIVILReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 30/10/2012Revista n.º 2709/07.9TVLSB.L1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Acidente desportivo

I - A divulgação pela ré, através da publi-cação em jornal do qual era diretora, do conteúdo de cassetes que não lhe per-tenciam, que tinham sido dadas como furtadas pelo respetivo proprietário e que não tinha autorização para divulgar publi-camente, configura um aproveitamento em benefício próprio das cassetes furta-das, suscetível de integrar ilícito criminal (art. 231.º do CP).II - Tendo a ré perfeito conhecimento de que a publicação do conteúdo das cas-setes era ilícita, agiu com dolo ao decidir conscientemente fazê-la.III - A publicação do conteúdo das cas-setes, em que a autora, na qualidade de assessora de imprensa de órgão superior, mas fora do exercício de funções e sem autorização do seu superior hierárquico, aparece a transmitir informações sobre um processo judicial a um jornalista, exigindo ao jornalista a não revelação da fonte, causou danos irreversíveis à ima-gem daquela, que se viu forçada a pedir a demissão e dificilmente recuperará a confiança de eventuais empregadores.IV - No entanto, a denúncia da situação ao órgão superior em causa, às autoridades de polícia criminal ou a publicação no mesmo jornal da simples notícia de que a autora passava informações ao jornalista, sem divulgação do conteúdo das cassetes, condutas lícitas, teriam o mesmo resul-tado, no plano dos danos sofridos pela autora, que a concreta conduta da ré.V - Tendo-se provado que cópias das gra-vações chegaram às redações de vários órgãos de comunicação social e que o nome da autora já circulava como estando envolvida nessas gravações, era inevitável a sua descoberta como uma das autoras das fugas de informação do processo em causa, mesmo que a ré não tomasse qualquer iniciativa, descoberta que lhe causaria os mesmos danos.VI - Os danos foram causados pelo ato re-provável da autora, de quebra de confian-ça relativamente ao Presidente do órgão superior em causa, para além da eventual dignidade penal, e pela sua justificada vergonha de o ter praticado.VII - A ré tinha o dever de denunciar às autoridades a situação de que se inteirou ao ouvir as cassetes que lhe chegaram à redação do jornal, só não tinha o direito de as usar em seu benefício, como o fez.VIII - A forma da denúncia, com a apro-priação do conteúdo de cassetes que não

lhe pertenciam, foi ilícita, ética e deonto-logicamente reprovável, mas não foi esta forma de denúncia a causadora dos danos efetivamente sofridos pela autora.IX - Inexiste nexo de causalidade adequa-da entre o comportamento ilícito da ré e os danos sofridos pela autora, se estes devem ser imputados a esta última, aos seus próprios atos, sendo certo que não deixaria de os sofrer mesmo que a autora não tivesse praticado o ato ilícito.

TRABALHOReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 03/10/2012Recurso n.º 54/03.8TBPSR.E1.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Descaracterização do acidente de trabalho

I - Nos termos da alínea a) do n.º 1 da Base VI da Lei n.º 2127, não dá direito a repa-ração o acidente provocado por conduta intencional e deliberada do sinistrado e que desta forma pratica não só o ato determinante do acidente mas também deseja ou se conforma com todas as suas consequências (1.ª parte) e o acidente que provier de ato ou omissão do sinistrado que importe, sem causa justificativa, viola-ção das regras de segurança estabelecidas pelo empregador (2.ª parte).II - No entanto, a violação de regras de segurança resultantes da lei ou regula-mentos relativos a trabalhos industriais, só será apta a descaracterizar o acidente quando seja enquadrável na alínea b), impondo-se assim que a violação destas normas de segurança assuma a natureza dum comportamento temerário do sinis-trado, inútil para o trabalho, indesculpável e reprovado pelo mais elementar sentido de prudência.III - Não estando demonstradas as cir-cunstâncias concretas em que ocorreu a descarga elétrica que atingiu o sinistrado, nomeadamente a distância a que o mes-mo se encontrava dos cabos elétricos e as condições atmosféricas na altura do acidente, não se pode concluir que o acidente de que o A. foi vítima resultou dum comportamento temerário ou abso-lutamente indesculpável do mesmo, pelo que é de afirmar o seu direito à reparação.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 03/10/2012Recurso n.º 103/10.3TTEVR.E1.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Justa causa de despedimento

I - O dever de lealdade, que genericamen-te é sinónimo de honestidade e honradez, assume particular importância no contra-to de trabalho como dever orientador ge-ral da conduta do trabalhador no cumpri-

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jurisprudência - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201262

mento do contrato, traduz-se no dever de agir segundo um modelo de correção de molde a contribuir para a realização dos interesses legítimos que as partes preten-dem obter com a celebração do contrato.II - Viola gravemente o dever de colabo-ração leal o trabalhador que, na ausência do empregador, dá ordens ao operador de máquina da empresa, para que, usando uma pá carregadora, propriedade desta, carregue a viatura dum sucateiro com colchões de ferro pré-utilizados e um bidon de desperdício de fio diamantado, que se encontravam na pedreira onde trabalhava, de quem recebeu, em troca, vinho e sumos que partilhou com os de-mais trabalhadores, sem previamente ter dado conhecimento dessa atuação à sua entidade patronal.III - Agrava ainda este comportamento a circunstância de se tratar do encarrega-do da pedreira, que era responsável pela direção dos trabalhos e pela gestão dos meios técnicos e humanos ali existentes, em virtude de o gerente viver fora da localidade e passar semanas ausente do País e da pedreira.IV - Sendo esta conduta do trabalhador grave em si mesma e nas suas conse-quências, por ser suscetível de abalar irremediavelmente a relação de confiança na medida em que criou justificadas dú-vidas no espírito do empregador sobre a idoneidade da sua futura conduta, ocorre justa causa no seu despedimento.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/10/2012Recurso n.º 726/07.8TTMTS.P2.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Revogação do contrato de trabalho

I - A revogação do contrato de trabalho prefigura-se, face ao disposto no artigo 394.º do Código do Trabalho de 2003, como um negócio formal; operando contudo no âmbito da liberdade con-tratual, o negócio em causa está sujeito à disciplina civilista, comum aos demais negócios jurídicos, relativa aos vícios da vontade, sempre no pressuposto da igualdade e equilíbrio entre as partes outorgantes.II - Todavia, e porque não raras vezes esta modalidade de desvinculação dá cobertura à prática do chamado despe-dimento negociado – expediente que, não obstante a sua natureza negocial/bilateral, vai primacialmente ao encontro dos interesses do empregador, surgindo a acertada compensação pecuniária como o preço da contrapartida pelo assentimento do trabalhador na promovida cessação do contrato – deve assumir particular rele-vância, atenta a especificidade da relação laboral, a salvaguarda da genuinidade da

formação da vontade extintiva, por banda do trabalhador.III - No âmbito da relevância do erro-vício ressalta a sua essencialidade: só é relevan-te o erro essencial e só é essencial o erro se, sem ele, se não celebraria qualquer negócio ou só se celebraria um outro, com diverso objeto, de outro tipo ou com outra pessoa.IV - Não resultando provado que o motivo determinante da vontade rescisória do trabalhador fosse a extinção do seu posto de trabalho, nem se demonstrando que as partes tivessem reconhecido, no acordo, que a verificação de tal motivo era essen-cial à pactuada desvinculação, não pode operar a pretendida anulação do acordo revogatório.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/10/2012Recurso n.º 1087/07.0TTVFR.P1.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Acidente de trabalho- Culpa do sinistrado

I - A negligência grosseira relevante para a descaracterização do acidente de traba-lho, de acordo com o disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º 100/97, de 13 de setembro, pressupõe, nos termos do artigo 8.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 143/99, de 30 de abril, uma conduta do sinistrado que se possa considerar temerária em alto e relevante grau e que se não materialize em ato ou omissão resultante da habituali-dade ao perigo do trabalho executado, da confiança na experiência profissional ou dos usos e costumes da profissão.II - Não pode concluir-se pela descaracte-rização de um acidente de trabalho resul-tante de uma queda de um escadote que era utilizado pelo sinistrado e se encontra-va em mau estado de conservação, o que era do conhecimento daquele, quando se impute a queda a uma situação de dese-quilíbrio sofrida pelo sinistrado cuja causa não se apurou.III - A prova dos factos integrativos da des-caracterização do acidente, uma vez que se trata de factos impeditivos do direito à reparação reclamada pelo autor, constitui ónus daquele contra quem esse direito é reclamado, nos termos do n.º 2 do artigo 342.º do Código Civil.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/10/2012Recurso n.º 293/09.8TTSNT.L1.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Comissão de serviço – despedimento ilícito

I - Uma nota de serviço, que retira a tra-balhadora da dependência hierárquica di-reta do Presidente do Conselho de Admi-nistração da empresa, significa, conforme

decorre dos termos em que está redigida, a cessação da comissão de serviço sem extinção do contrato de trabalho e a trans-formação do respetivo vínculo laboral em contrato de trabalho sem termo.II - Provando-se que a empregadora tinha conhecimento da gravidez da trabalhado-ra e que não requereu o parecer prévio à CITE, como exige a lei (art. 51.º, n.º 1, do CT de 2003), o procedimento de despedi-mento é inválido, nos termos do art. 51.º, n.º 4, do CT de 2003, e o despedimento ilícito, com as respetivas consequências indemnizatórias.III - Os danos não patrimoniais causados pelo despedimento ilícito (ansiedade, angústia e nervosismo), agravados pelo estado de gravidez em que se encontrava a trabalhadora, abrangem o dano exis-tencial e merecem a tutela do direito, nos termos do art. 496.º, nos 1 e 3, do C.Civil.IV - Havendo prova documental acerca do conhecimento da gravidez, com assinatu-ra e aposição de carimbo pela entidade patronal, a defesa da tese do desconhe-cimento da gravidez, por aquela, não representa uma mera perspetiva jurídica dos factos, uma tese controvertida ou um problema de interpretação do direito, mas antes uma situação de má fé psicológica e ética, suscetível de gerar condenação da ré por litigância de má fé.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 31/10/2012Recurso n.º 821/06.0TTVIS.C2.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Caducidade do contrato de trabalho

I - Não tendo ficado provada a impossibili-dade absoluta e definitiva do trabalhador, monitor de atividades ocupacionais, de prestar trabalho à sua empregadora, não ocorre a caducidade do contrato de traba-lho, nos termos da alínea b) do artigo 387.º do Código do Trabalho de 2003, pelo que a comunicação da cessação do contrato de trabalho efetivada pela ré constitui um despedimento, que é ilícito por não ter sido precedido de processo disciplinar.II - Provando-se que, após a comunicação da caducidade do contrato de trabalho pela empregadora, o trabalhador se fe-chou em casa, «ficando incapaz de sair à rua à procura de emprego, sentindo-se vexado e angustiado, ficando desgostoso por ter deixado de trabalhar numa área que gostava», é inquestionável a vincu-lação causal entre tal comunicação e os aludidos danos não patrimoniais.III - O valor de € 250,00 por cada dia de atraso no cumprimento da reintegração, fixado a título de sanção pecuniária com-pulsória, mostra-se razoável, revelando-se idóneo aos seus fins, incluindo os preten-didos efeitos admonitórios.

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LegisLação - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - dezembro 2012 63

Bolsa de TerrasLei nº 62/2012, de 10.12- Cria a bolsa nacional de terras para utilização agrícola, florestal ou silvopastoril, designada por «Bolsa de terras»Lei nº 63/2012, de 10.12- Aprova benefícios fiscais à utilização das terras agrícolas, florestais e silvopastoris e à dinamização da «Bolsa de terras»

Bonificações 2013Aviso nº 16787/2012, de 17.12 (II série) - Fixa em 0,842 %. a taxa de referência para o cálculo de bonificações (TRCB) a vigorar entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2013

CIMI - - valor da construção por metro quadradoPort. nº 424/2012, de 28.12 - Fixa em (euro) 482,40 o valor médio de constru-ção por metro quadrado, para efeitos do artigo 39º do Código do Imposto Municipal sobre os Imóveis, a vigorar no ano de 2013

Cobrança eletrónica de portagensDecl. de Ret. nº 75/2012, de 17.12- Retifica a Portaria nº 343/2012, de 26 de outubro, do Ministério da Economia e do Emprego, que procede à quarta alteração à Portaria nº 314-B/2010, de 14 de junho, que define o modo de utilização do dispositivo eletrónico de matrícula para efeitos de cobrança eletrónica de portagens, publicada no Diário da República nº 208, 1.ª série, de 26 de outubro

Código do Direito de Autor - alteraçõesLei nº 65/2012, de 20.12 - Altera o artigo 47º do Código do Direito de Au-tor e dos Direitos Conexos - Sétima alteração ao Decreto-Lei nº 63/85, de 14 de março

Coeficientes de desvalorização da moedaPort. nº 401/2012, de 6.12- Procede à atualização dos coeficientes de des-valorização da moeda a aplicar aos bens e direitos alienados durante o ano de 2012.

Estabelecimentos prisionais - refeiçõesRCM nº 106/2012, de 14.12- Autoriza o Ministério da Justiça a proceder à contratação de refeições confecionadas para estabelecimentos prisionais e centros educativos, no período de 2013 a 2015

Faturas eletrónicasPort. nº 426-A/2012, de 28.12 (2º Supl) - Aprova o modelo oficial de declaração para a comu-nicação dos elementos das faturas, por transmissão eletrónica de dados, prevista na alínea d) do nº 1 do artigo 3º do Decreto Lei nº 198/2012, de 24 de agosto

Retenção na fonte – declaração mensalPort. nº 426-C/2012, de 28.12 (2º Supl) - Aprova a Declaração Mensal de Remunerações - AT e as respetivas instruções de preenchimento, para cumprimento da obrigação declarativa prevista no artigo 119º, nº 1, alíneas c) e d), do Código do IRS

Factura- recibo – trabalhadores independentesPort. nº 426-B/2012, de 28.12 (2º Supl) - Aprova os modelos das faturas-recibo para efei-tos do disposto no artigo 115º ao Código do IRS

Impostos – cobrança de créditosDL nº 263/2012, de 20.12 - Transpõe a Diretiva nº 2010/24/UE, do Conselho, de 16 de março de 2010, relativa à assistência mútua em matéria de cobrança de créditos res-peitantes a impostos, direitos e outras medidas, definindo os termos de aplicação do regime de assistência mútua à cobrança a que fica sujeito o Estado Português

Obrigações – Modelos de declaraçõesPort. nº 413/2012, de 17.12- Aprova as instruções de preenchimento da declaração modelo 37 - «Juros e Amortizações de Habitação Permanente Prémios de Seguros de Saúde, Vida e Acidentes Pessoais PPR, Fundos de Pensões e Regimes Complementares»Port. nº 414/2012, de 17.12- Aprova a declaração modelo 39 - «Rendimentos e Retenções a Taxas Liberatórias» e as respetivas instruções de preenchimentoPort. nº 415/2012, de 17.12- Aprova as instruções de preenchimento da decla-ração modelo 13 - «Valores mobiliários, warrants autónomos e instrumentos financeiros derivados»Port. nº 416/2012, de 17.12- Aprova a declaração modelo 42 - «Subsídios ou Subvenções Não Reembolsáveis», e as respetivas instruções de preenchimentoPort. nº 421/2012, de 21.12 - Aprova os novos modelos de impressos a que se refere o nº 1 do artigo 57º do Código do IRS

OE – 2012 alteraçõesLei nº 64/2012, de 20.12 Procede à segunda alteração à Lei nº 64-B/2011, de 30 de dezembro (Orçamento do Estado para 2012), no âmbito da iniciativa para o reforço da estabilidade financeira, alterando ainda as Leis nos 112/97, de 16 de setembro, e 8/2012, de 21 de feve-reiro, a Lei Orgânica nº 1/2007, de 19 de fevereiro, e os Decretos-Leis nos 229/95, de 11 de setembro, 287/2003, de 12 de novembro, 32/2012, de 13 de fevereiro, 127/2012, de 21 de junho, 298/92, de 31 de dezembro, 164/99, de 13 de maio, e 42/2001, de 9 de fevereiro

Orçamento Madeira 2013RALRA Madeira nº 44/2012/M, de 20.12 - Aprova o Orçamento da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira para o ano de 2013

REGIÕES AUTÓNOMAS- MADEIRAAlienação de participações sociaisDecreto Legislativo Regional nº 37/2012/M, de 12.12 - Aprova o regime de alienação das participações sociais detidas pela Região Autónoma da Madeira

Código do TrabalhoDLR nº 39/2012/M, de 21.12 - Adapta à Região Autónoma da Madeira as alte-rações ao atual Código do Trabalho

Orçamento Madeira - alteraçõesDLR nº 41-A/2012/M, de 28.12 (Supl.)- Primeira alteração ao Decreto Legislativo Re-gional nº 5/2012/M, de 30 de março que aprova o Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2012

Orçamento Madeira - 2013DLR nº 42/2012/M, de 31.12 - Aprova o Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2013

Regulamento das Contrastarias – taxas e emolumentosPort. nº 418-A/2012, de 19.12 (Supl.) - Aprova os emolumentos, as taxas e as propinas previstos no Regulamento das Contrastarias, aprovado pelo Decreto-Lei nº391/79, de 20 de setembro, e revoga a Portaria nº 477-A/90, de 27 de junho.

TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL Proteção social na maternidadeRALRA Madeira nº 42/2012/M, de 3.12- Resolve apresentar à Assembleia da República a proposta de lei sobre majoração da proteção social na maternidade, paternidade e adoção.

Manuais escolaresDL nº 258-A/2012, de 5.12 ( Supl.)- Estabelece um procedimento especial de ava-liação e certificação de manuais escolares novos a avaliar previamente à sua adoção no ano letivo de 2013-2014, nas disciplinas para as quais foram homologadas metas.

Medidas Passaporte EmpregoPort. nº 408/2012, de 14.12- Implementa as Medidas Passaporte Emprego Industrialização, Passaporte Emprego Inovação e Passaporte Emprego Internacionalização, e aprova o Regulamento Específico Passaportes Emprego 3i.

Revisão dos preços de medicamentosPort. nº 411-A/2012, de 14.12 (Supl.)- Suspende a aplicação do disposto nos nº 1 do artigo 5º e nº1 do artigo 6º da Portaria nº. 4/2012, de 2 de janeiro, no que se refere aos prazos esta-belecidos para efeitos da revisão anual de preços de medicamentos para o ano de 2013

Jogos sociais – repartição das verbasPort. nº 418/2012, de 19.12 - Fixa as normas regulamentares necessárias à repartição das verbas dos jogos sociais afetas ao Ministério da Solidariedade e da Segurança SocialPort.nº 422/2012, de 24.12 - Fixa as normas regulamentares necessárias à repartição das verbas dos jogos sociais atribuídas ao Ministério da Solidariedade e da Segurança Social

PRINCIPAL LEGISLAÇÃO PUBLICADA1ª e 2ª Séries do Diário da República de 1 a 31 dezembro de 2012

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LegisLação - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - dezembro 201264

disponíveis em www.dgsi.ptACóRDÃOS DO STJ

CESSÃO DE QUOTASSumário: I - Tendo o autor J e o réu C acordado entre si várias cessões de quotas – envolvendo uma multiplicidade de sociedades e participações sociais entre ambos, mas que a determinada altura decidiram «desirmanar» seguindo cada um o seu negócio com um percurso próprio e autónomo – e resultando desse mesmo acordo a obrigação de pagamento do réu C ao autor J do montante de € 630 000, que aquele se obrigou a pagar a este logo que formalizadas tais separações (sendo certo que os contratos de cessão de quotas foram celebrados em março de 2007), cabia ao réu C o ónus de provar que efetuou tal pagamento, enquanto causa extintiva da sua obrigação.II - Resultando provado que – após a subs-tituição de inúmeros cheques – o réu C entregou ao autor J o cheque nº 0..da conta nº yyy do réu banco B, cheque esse titulado pela ré V Lda., no montante de € 630 000, e que essa mesma ré V Lda. (através do réu C) comunicou e solicitou ao réu banco B a revogação do mesmo «face à divergência de falta, vício e divergência na formação da vontade, atenta a inexistência por incum-primento de qualquer negócio subjacente», e que essa mesma ordem foi acatada pelo réu banco B (que devolveu o mesmo com a menção «cheque revogado/vício formação da vontade»), resulta claro que o único facto suscetível de consubstanciar o pagamento acordado, entre autor e réu C, não se concre-tizou, pelo que teria sempre que subsistir a condenação deste pagamento do montante titulado pelo cheque.III - Não obstante o disposto no art. 6º do CSC (que dispõe «Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou pessoais a dívidas de outras entidades, salvo se existir justificado interesse próprio da sociedade garante…»), a ré V Lda., ao subscrever o cheque, com o qual cumpria a obrigação assumida pelo réu C, coassumiu a dívida deste, não se podendo ignorar que

quem o fazia – quem subscrevia o cheque – era exatamente a mesma pessoa física que suportava a dívida original para com o autor e aquele que incorporava e representava o in-teresse societário que coassumia essa dívida.IV - A sociedade V Lda., ao emitir o cheque para pagamento da obrigação do réu C, mais não fez do que agir em seu interesse próprio, interesse esse consubstanciado na intenção de ter apenas como sócios o réu C e os seus filhos, sem a participação do autor.V - Aligeirar responsabilidades na emissão do cheque – invocando que ao fazê-lo a socie-dade estaria a agir em violação do disposto no art. 6º do CSC – sempre configuraria um abuso de direito, na modalidade de “venire contra factum proprium”.VI - De igual forma, é de responsabilizar o réu banco B, uma vez que, ao aceitar uma ordem de revogação dentro do prazo de apresenta-ção a pagamento – cujos efeitos o art. 32º do LUCh lhe negava –, violou o direito do autor a ver cumprida a ordem de pagamento que o mesmo incorporava ou, ao menos, de ver assinalada no verso a verdadeira indicação do não pagamento por falta de provisão, com as consequências daí decorrentes.VII - Assim, e conforme referido no AUJ nº 4/2008, de 28-02-2008, «o banco é, em princí-pio, responsável pelo pagamento ao tomador de uma indemnização correspondente ao valor dos cheques ou, pelo menos, ao valor do prejuízo resultante do seu não pagamento, se se entender que o mesmo não é idêntico ao valor dos cheques não pagos».VIII - Nem mesmo a inexistência de provisão suficiente poderia conduzir a solução diferen-te, sendo certo que o réu banco não cuidou sequer de afirmar qual a provisão quantitativa de que a conta dispunha, e que a ele competia o ónus de provar que o tomador do cheque havia recebido o montante do mesmo, a totalidade ou mesmo parte e que, por via disso, o prejuízo do autor seria inexistente ou diferente para menos.” (Proc. nº 2460/07.0TBFAF.G1.S1, de 06/12/2012).

SERVIDÃO PREDIALSumário: I - Sendo a servidão predial o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro pertencente a dono diferente (art. 1543º do CC), existe uma relação real entre dois prédios e não qualquer relação obrigacional entre os respetivos donos.II - Quando se trate de extinguir uma servi-dão por desnecessidade, nos termos do art. 1569º, nº 2, do CC, deve atender-se, apenas, à desnecessidade objetiva, referente ao prédio dominante, em si mesmo considerado, o que significa que a extinção com o fundamento na desnecessidade da servidão tem de resultar de alterações objetivas, típicas e exclusivas, verificadas no prédio dominante.III - A apreciação da utilidade ou desnecessi-dade da servidão deve ser objeto de um juízo de atualidade, no sentido de que há de ser apreciada pelo tribunal, atendendo à situação presente, ou seja, atendendo à situação que se verifica na data em que a ação é proposta.IV - Constituindo a servidão um direito real que limita seriamente o direito de proprieda-de do dono do prédio serviente, e sendo tal limitação apenas justificada pela necessidade de obter para o prédio dominante determina-das utilidades que não estariam disponíveis sem a servidão, resulta manifesto que o encargo deve desaparecer logo que se torne desnecessário (desde que a extinção seja re-querida), ou seja, quando o prédio dominante possa alcançar, sem a servidão, as mesmas utilidades que por meio dela conseguia.V - Compete a quem pretende ver extinta a ser-vidão o ónus de alegar e provar que a servidão perdeu, em relação ao prédio dominante, a uti-lidade que esteve na base da sua constituição.VI - A extinção das servidões por desnecessida-de é situação diversa da sua extinção pelo não uso, nada impedindo que se declare extinta por desnecessidade uma servidão que, todavia, está a ser usada pelo titular do prédio dominante.” (Proc. nº. 3303/07.0TBBCL.G1.S1, de 11/12/2012).

Trabalhador-Estudante – regime de feriadosLei nº 66/2012, de 31.12 - Procede à sexta alteração à Lei nº 12-A/2008, de 27 de fevereiro, à quarta alteração à Lei nº 59/2008, de 11 de setembro, à segunda alteração ao Decreto-Lei nº 209/2009, de 3 de setembro, à terceira alteração ao Decreto-Lei nº 259/98, de 18 de agosto, e à décima alteração ao Decreto--Lei nº 100/99, de 31 de março, determinando a aplicação do regime dos feriados e do Estatuto do Trabalhador-Estudante, previstos no Código do Trabalho, aos trabalhadores que exercem fun-ções públicas, e revoga o Decreto-Lei nº 335/77, de 13 de agosto, e o Decreto-Lei nº 190/99, de 5 de junho

Apoio à contrataçãoPort. nº 432/2012, de 31.12 - Cria a medida de Apoio à Contratação de Traba-lhadores por Empresas Startups

Vigilância eletrónica 2013-2015

RCM nº 105/2012, de 14.12- Autoriza o Ministério da Justiça a proceder à contratação de serviços de vigilância eletrónica para o período de 2013 a 2015

Vítimas de crimes violentosPort. nº 403/2012, de 7.12- Aprova os modelos de requerimento para a concessão do adiantamento da indemnização por parte do Estado pelas vítimas de crimes violentos e de violência doméstica

ACÓRDÃOS

Supremo Tribunal de JustiçaFalta do arguido a julgamentoAcórdão do Supremo Tribunal de Justiça nº 9/2012, de 10.12- Notificado o arguido da audiência de julgamento por forma regular, e faltando injustificadamente à mesma, se o tribunal considerar que a sua presença não é necessária para a descoberta da verdade, nos termos do nº 1 do artigo 333º do CPP, deverá dar

início ao julgamento, sem tomar quaisquer medidas para assegurar a presença do arguido, e poderá encerrar a audiência na primeira data designada, na ausência do arguido, a não ser que o seu defensor requeira que ele seja ouvido na segunda data mar-cada, nos termos do nº 3 do mesmo artigo

Supremo Tribunal AdministrativoPromoção na Administração PúblicaAcórdão do Supremo Tribunal Administrativo nº 7/2012, de 19.12Uniformiza a jurisprudência nos seguintes termos: o DL nº 408/89, de 18 de novembro, contém normas específicas relativamente ao regime de promoção do pessoal docente universitário e do ensino superior politécnico e do pessoal de investigação científica, devendo, em consequência, o regime por ele estabelecido, designadamente no seu art. 3º, al. b), in fine, ser considerado como lei especial, preva-lecendo sobre as regras gerais para as carreiras da Administração Pública previstas no DL nº 353-A/89, de 16 de outubro, concretamente a contida no seu art. 17º, nº 2.

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Nº 1475 / 11 de janeiro de 2013 / Semanal / Portugal Continental 2,20 J www.vidaeconomica.pt

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João Peixoto de Sousa

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No espaço de quatro a cinco anos, a supressão líquida

de funcionários públicos oscilará entre os 70 ou 80 mil,

afi rma, em entrevista à VE, Hélder Rosalino, secretário de

Estado da Administração Pública. Os contratados a termo

despedidos terão direito a subsídio de desemprego.

No fi nal de 2012 estavam pendentes na CGA mais de 25 mil

pedidos de passagem à reforma.

Págs. 4 e 5

FISCALIDADE

Emissão de fatura também

nos pagamentos antecipados Pág. 29

AUTOMÓVEL

Diferença no custo dos pneus

pode ultrapassar os 80% Págs. 46 e 47

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Governo reduz 80 mil funcionários

nos próximos cinco anos

MINISTRO DA ECONOMIA PROMETE SIMPLIFICAÇÃO DOS PROCESSOS

Empresas vão ter

mais apoios

no novo QRENPágs. 6 e 7

PRESIDENTE DA CCLBL

Portugal tem vantagens

em investir fora

da EuropaPág. 18

MERCADOS

Caminho aberto

para o aumento

das comissões bancáriasPág. 42

JORGE MIRANDA

Cavaco Silva devia

ter promovido acordo

entre Governo e PSPág. 3

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Miguel Peixoto de Sousa

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Peixoto de Sousa

4,00 euros (IVA incl.)

DEZEMBRO • 1ª QUINZENA

ANO 80º • 2012 • Nº 23

(Continua na pág. 813)

Como contestar a avaliação

do seu imóvel

No âmbito das obrigações assumidas por Portugal no

acordo de assistência nanceira celebrado com o FMI

e a UE, foi estabelecido no Orçamento do Estado para

2012 (Lei 60-A/2011, de 30 de Novembro) que este

ano seria realizada a avaliação geral, de acordo com as

regras do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), dos

ditos “prédios antigos”, ou seja, os que foram construí-

dos antes de Dezembro de 2003 e não foram entretanto

transacionados (onerosa ou gratuitamente), e que por

isso mantêm o seu valor patrimonial determinado de

acordo com regras anteriores aos IMI.

Esta avaliação geral, cujas regras constam dos artºs

15ª-A a 15º-P, aditados ao DL nº 287/2003, de 12.11,

pelo OE para 2012, está em curso há já algum tempo, e

os valores patrimoniais que dela resultarem vão servir

para a liquidação do IMI de 2012, a pagar em 2013,

o que se traduzirá, na generalidade dos casos, num

signi cativo aumento do imposto a pagar.

Acontece que, não sendo obrigatória a vistoria ao

prédio a avaliar e estando as avaliações a ser efectuadas

essencialmente com base nos dados constantes das

matrizes e os fornecidos pelas autarquias locais, que

por vezes apresentam erros, muitos proprietários estão

a ser noti cados de avaliações com as quais não con-

cordam por terem erro na idade dos prédios ou a errada

quali cação ou quanti cação das respectivas áreas.

NESTE NÚMERO:

• IRC: benefícios scais aplicáveis

ao exercício de 2012

• Convenções sobre dupla tributação

- tabela actualizada

IMI e avaliação geral dos prédios urbanos

Legislação

Portaria n.º 370-A/2012, de 15.11 (Cria a medida

“passaporte para o empreendedorismo”) ........

838

Resoluções Administrativas e Informações Vinculativas

IVA novas regras de faturação ...............

.............

828

Cobrança coerciva de propinas devidas a instituições

de ensino superior público: intervenção da autoridade

tributária e aduaneira no processo de execução

scal previsto no CPPT ................

................

... 832

Tributação do património: avaliação da propriedade

urbana - remunerações - unidade de remuneração

do perito local da avaliação geral - Dec.-Lei nº

287/2003, de 12.11, na redação dada pela Lei

nº 60-A/2011, de 30.12 - Artigo 15º-L ............

832

IVA: cheque prenda – “Voucher” ................

........

833

IVA: operações imobiliárias - licenciamento

de loteamento urbano ................

................

...... 835

Obrigações scais do mês e informações diversas . 810 a 822

Sistemas de incentivos e apoios ................

..................

827

Trabalho e Segurança Social

Legislação e Informações Diversas ...............

...... 838 a 842

Sumários do Diário da República ..................

............ 844

SUMÁRIO Em foco

marcas

ENTrEVIsTa João correia, coordenador do grupo

de trabalho para a reforma do Código do Processo Civil

aNálIsE

Reforma da Lei

do Arrendamento

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novembro e dezembro 2012 | n.º 18 | 2ª série

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AssuntosFiscais

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• SérgioVasques

, ex-secretário d

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de funcionários públicos oscilará entre os 70 ou 80 mil,

afi rma, em entrevista à VE, Hélder Rosalino, secretário de

Estado da Administração Pública. Os contratados a termo

despedidos terão direito a subsídio de desemprego.

No fi nal de 2012 estavam pendentes na CGA mais de 25 mil

pedidos de passagem à reforma. Págs. 4 e 5

FISCALIDADE

Emissão de fatura também

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Diferença no custo dos pneus

pode ultrapassar os 80%Págs. 46 e 47

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Empresas vão ter

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JURISPRUDÊNCIA

• Penhora de vencimento

Salário mínimo

rendimento disp

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JANEIRO • 1ª QUINZENA

ANO 81º • 2013 • Nº 1

(Continua na pág. 11)

O regime especial de isenção

previsto no art. 53.º do CIVA

O artigo 53.º do Código do Imposto sobre o Valor

Acrescentado (CIVA) estabelece um regime especial de

isenção aplicável às pequenas unidades de produção,

de comércio ou de prestação de serviços que, devido à

sua reduzida dimensão, não possuem a estrutura admi-

nistrativa necessária ao cumprimento das obrigações

decorrentes da aplicação do imposto às suas operações.

Face à diversidade de condicionalismos a observar

na formação do enquadramento, nem sempre tem sido

fácil, quer para os sujeitos passivos quer para os serviços,

encontrar a forma mais adequada de dar cumprimento

às disposições deste regime especial de isenção, motivo

pelo qual se considera oportuno divulgar as presentes

instruções administrativas.

Âmbito de aplicação do regime especial de isenção

Podem bene ciar da isenção do imposto os sujeitos

passivos que:

- Não tenham nem sejam obrigados a ter contabi-

lidade organizada para efeitos do IRS ou IRC;

- Não pratiquem importações, exportações ou ati-

vidades conexas com alguma destas operações;

NESTE NÚMERO:

• IRS - Novo sistema de faturação - modelos

das faturas-recibo

• IVA - as novas regras de faturação em 2013

INCLUI SUPLEMENTO:

• Orçamento do Estado para 2013 - Alterações

aos Códigos Fiscais - Lei nº 66-B/2012, de

31.12

Esclarecimentos quanto às regras aplicaveis aos pequenos retalhistas

e pequenas unidades de produção, comércio e serviços

LegislaçãoLei nº 66-B/2012, de 31.12 (Orçamento do Estado

- 2013) ................................

......................... Suplemento

Dec-Lei nº 266-B/2012, de 31.12 (Arrendamento urbano

e Reabilitação urbana - regime de determinação

do nível de conservação dos prédios urbanos) ..... 22

Port. n.º 424/2012, de 28.12 (IMI - avaliação de prédios

urbanos - Valor médio de construção por metro

quadrado a vigorar em 2013)................................

25

Port. n.º 426-A/2012, de 28.12 (IVA - novo sistema

de faturação - modelo o cial de declaração para

a comunicação dos elementos das faturas) ........... 15

Port. n.º 426-B/2012, de 28.12 (IRS - modelos

das faturas-recibo) ................................

................ 17

Port. n.º 426-B/2012, de 28.12 (IRS - Declaração

mensal de remunerações) ................................

...... 19

Sistemas de incentivos e apoios ............................... 10

Resoluções administrativas

IVA: regime especial de isenção; bens sujeitos

a impostos especiais de consumo, em circulação,

em regime suspensivo, com destino a um local

de entrega direta .................................

................... 13

IRS: tabela prática do IRS para 2012 ........................ 14

Obrigações scais do mês e informações diversas ...... 2 a 9

Trabalho e Segurança Social

Informações Diversas .................................

................ 26 a 28

Sumários do Diário da República ............................

32

SUMÁRIO

• Orçamento do Estado para 2013 - Alterações

aos Códigos Fiscais - Lei nº 66-B/2012, de

ANÁLISE

Nova Tabela Emolumentar

dos Registos e do Notariado

(continuação)

MARCAS

REGISTO DE MARCA

– providência cautelar

ENTREVISTA Hugo Lourenço, novo presidente da

Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE)

O ano de 2013 será de

“mais fiscalização” e

“combate à pendência

processual”

EM FOCO

Regime extraordinário de proteção

aos devedores de crédito à habitação

em situação económica difícil

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ária

Nº 172 - dezembro 2012 - 7,50 €