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Nº 46 - RELATÓRIO FINAL REGIME JURÍDICO DE COOPERATIVAS POPULARES E EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

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Nº 46 - RELATÓRIO FINAL

REGIME JURÍDICO DE COOPERATIVAS POPULARES E EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

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Série Pensando o Direito

Nº 46 – Relatório Final Regime Jurídico de Cooperativas Populares e Empreendimentos de

Economia Solidária

Convocação 01/2011

Núcleo de Extensão em Economia Solidária

da Universidade de São Paulo (NESOLI –

USP)

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

COORDENAÇÂO:

Sonia Maria Portella Kruppa

(NESOL/USP)

Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB)

José Brendan Macdonald

(INCUBES/UFPB)

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL)

Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Edifício Sede – 4º andar, sala 434

CEP: 70064-900 – Brasília – DF www.mj.gov.br/sal e-mail:

[email protected]

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MINISTÉRIOS DA JUSTIÇA SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO NÚCLEO DE EXTENSÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

PROJETO BRA 07/004 PROJETO PENSANDO O DIREITO

CONVOCAÇÃO Nº 001/2011 – SELEÇÃO DE PROJETOS

REGIME JURÍDICO DE COOPERATIVAS POPULARES E EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

PESQUISADORE:

Fábio José Bechara Sanchez (NESOL/USP)

Selene Ferreira de Morais (NESOL/USP) Danilo Queiroz de Souza (NESOL/USP)

Mariana Neubern de Souza Almeida (NESOL/USP) Victoria Puntriano Zuniga de Melo (UNICAMP/UFPB)

Vanessa José da Rocha (UFPB) Misael Gomes da Silva (UFPB)

Hector Ferreira Gonçalves Scuratto Abdal (UFPB) Valquiria Villar (UFPB)

Oswaldo Texeira de Freitas (UFPB) Belinda Pereira da Cunha (UFPB) Maurício Sardá (INCUBES/UFPB)

Raoni Fernandes Azeredo (INCUBES/UFPB) Edinaldo Rosendo Barbosa (INCUBES/UFPB)

Jaciara Gomes Raposo (INCUBES/UFPB) Jocifran Dantas (INCUBES/UFPB)

Auremir Marinho Costa (INCUBES/UFPB)

APOIO

FUNDAÇÃO DE APOIO A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FUSP) FUNDAÇÃO JOSÉ AMÉRICO

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

1

NÚCLEO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

NESOL-USP

RELATÓRIO FINAL - 3° PRODUTO

PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011:

Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

SETEMBRO DE 2012

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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SUMÁRIO

GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................ 7

LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS ................................................................................. 9

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................................... 11

1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA - OS MEIOS UTILIZADOS PARA O DIAGNÓSTICO. 12

2. QUAIS SÃO? QUANTOS SÃO? ONDE ESTÃO OS EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA

SOLIDÁRIA ................................................................................................................................... 19

2.1. A diversidade dos empreendimentos da Economia Solidária nos meandros da

sobrevivência e da informalidade........................................................................................... 27

2.2. Os empreendimentos econômicos solidários e o Super Simples .............................. 30

2.3. Um olhar para os grupos entrevistados – da informalidade à cooperativa .......... 32

2.3.1. As gradações da informalidade ................................................................................... 33

2.3.2. O caminho da formalização pelas associações – um exemplo interessante 38

2.3.3. O caso das cooperativas .................................................................................................. 39

3. SUJEITOS SOCIAIS EM DISPUTA – MARCHAS CONTRAMARCHAS DA ELABORAÇÃO

LEGISLATIVA .............................................................................................................................. 39

4. APONTAMENTOS SOBRE OS PROJETOS DE REGULAMENTAÇÃO DO

COOPERATIVISMO EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO ................................................. 47

4.1. Os principais pontos controversos no debate da nova “lei geral do cooperativismo”

............................................................................................................................. ...................................... 52

4.2. Os principais pontos controversos no debate da tributação das cooperativas ....... 55

4.3. Os principais pontos controversos no debate lei das cooperativas de trabalho ..... 56

5. REPRESENTAÇÃO DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS: A UNICIDADE E O DIREITO À

LIVRE ASSOCIAÇÃO .................................................................................................................. 63

5.1. Histórico: a criação da Lei 5764/71 e da OCB ...................................................................... 64

5.2. A Constituição Federal de 1988 e o regime democrático ................................................. 68

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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5.3. Inconstitucionalidade por invasão de competência legislativa federal ...................... 71

5.4 A representação das cooperativas e os projetos de lei no senado: unicidade versus

liberdade ............................................................................................................................. ......................... 74

6. SOCIEDADES COOPERATIVAS E FORMAS DE REGISTRO .............................................. 77

6.1. Formas societárias do Código Civil de 2002 e respectivos registros .......................... 78

6.2. Interpretações em disputa: Juntas comerciais x Registro Civil de Pessoas

Jurídicas................................................................................................................................................. 80

7. UM PANORAMA DA TRIBUTAÇÃO NO BRASIL ................................................................. 87

7.1. Sistema Tributário Nacional ....................................................................................................

87

7.1.1 Impostos ............................................................................................................................. ... 88

7.1.2. Taxas ...................................................................................................................................... 90

7.1.3. Contribuição de Melhoria .............................................................................................. 90

7.1.4. Empréstimo compulsório ............................................................................................. 91

7.1.5. Contribuições ..................................................................................................................... 91

7.2. Breve descrição dos tributos de maior relevância arrecadatória ............................... 92

7.2.1. ICMS ............................................................................................................................. ......... 93

7.2.2. Imposto de renda ............................................................................................................. 94

7.2.3. Contribuição para a Previdência Social .................................................................... 95

7.2.4. COFINS e Contribuição para o PIS/Pasep ................................................................ 96

7.2.5. Contribuição para o FGTS .............................................................................................. 98

7.2.6. Contribuição Social sobre o Lucfro Líquido ........................................................... 98

7.2.7. IPI ............................................................................................................................. ............... 99

7.2.8. ISS ............................................................................................................................. ............... 99

8. O ATO COOPERATIVO NA LEGISLAÇÃO ATUAL ................................................................ 99

8.1. O conceito de ato cooperativo no texto constitucional ................................................... 103

8.2. A discussão jurisprudencial sobre o ato cooperativo e os diferentes tributos ..... 106

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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8.2.1. O ICMS e o ato cooperativo ............................................................................................ 107

8.2.2. O Imposto de renda e o ato cooperativo .................................................................. 108

8.2.3. Incidência do imposto sobre o resultado positivo das aplicações

financeiras............................................................................................................................. ..................... 109

8.2.4. Imposto de renda e cooperativas de trabalho ........................................................ 110

8.2.5. Cooperativas de vendas em comum ........................................................................... 111

8.2.6. Cooperativas de produção .............................................................................................. 112

8.2.7. Cooperativas de consumo ............................................................................................... 114

8.2.8. Cooperativas de trabalho ou de serviços .................................................................. 114

8.2.9. A discussão jurisprudencial ........................................................................................... 116

8.2.10. O ato cooperativo e a Contribuição para a Previdência Social ...................... 116

8.2.11. O ato cooperativo e o PIS e COFINS ........................................................................... 117

8.2.12. O ato cooperativo e a Contribuição para o FGTS ................................................. 120

8.2.13. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido ............................................................ 121

8.2.14. O IPI e o ato cooperativo ............................................................................................... 121

8.2.15. O ISS e o ato cooperativo ............................................................................................... 121

9. ANÁLISE DE PROJETOS DE LEI SOBRE A DEFINIÇÃO DO ATO COOPERATIVO E SEU

ADEQUADO TRATAMENTO TRIBUTÁRIO ......................................................................... 122

10.1. Projeto n° 386/2008 .................................................................................................................. 123

10.2. Projeto n° 3.723/2008 .............................................................................................................. 124

10.3. Projeto n° 3/2005 ...................................................................................................................... 125

10.4. Projeto n° 2713/2005 .............................................................................................................. 126

10. SIMPLES NACIONAL .............................................................................................................. 126

11. CONCLUSÕES SOBRE A TRIBUTAÇÃO DAS COOPERATIVAS ..................... 127

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS - PROPOSTAS PARA O MARCO JURÍDICO DO

COOPERATIVISMO E ECONOMIA SOLIDÁRIA ............................................................... 129

12.1 Arcabouços em torno do Cooperativismo ....................................................................... 130

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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12.1.1. Lei Geral do Cooperativismo .................................................................................. 130

12.1.2. Decreto de criação do conselho nacional do cooperativismo .................. 148

12.1.3. Transformações no SEESCOOP ............................................................................ 153

12.1.4. Adequado tratamento tributário para as cooperativas populares ....... 155

12.1.5. Cooperativas de trabalho ........................................................................................ 156

12.1.6. Cooperativas Sociais ................................................................................................. 157

12.1.7. Cooperativas formadas a partir da recuperação de empresas em crise 163

12.1.8. Projetos complementares que viabilizam os empreendimentos solidários –

alargando o exemplo da compra direta da agricultura familiar – O

Programa Nacional do Uniforme Escolar (PMUE) .......................................... 163

12.2. Lei da Economia Solidária ....................................................................................................... 169

13. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 172

13.1. Legislativas ............................................................................................................................. ...... 172

13.2. Bibliográficas ............................................................................................................................... 176

1.3.3. Sítios na web ........................................................................................................ ........................ 177

14. ANEXOS ....................................................................................................................................... 178

14.1. Anexo 1 – Breve histórico das leis regulatórias das cooperativas, com destaque

para os dispositivos de natureza tributária................................................................................. 178

14. 2. Anexo 2 – Quadro comparativo dos diferentes projetos de lei ............................... 182

14.2.1. Disposições gerais .................................................................................................... 182

14.2.2. Tributação das cooperativas ................................................................................ 184

14.3. Anexo 3 – Quadro Comparativo dos empreendimentos entrevistados ................ 194

14.4. Anexo 4 – Roteiro básico de entrevista utilizado junto aos trabalhadores dos

empreendimentos ...................................................................................................................... .......... 207

14.5. Anexo 5 – Contabilidade nas cooperativas ....................................................................... 219

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GLOSSÁRIO

ABCOOP – Aliança Brasileira de Cooperativas

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

AI-1 – Ato Institucional n.º 1

AI-2 – Ato Institucional n.º 2

AI-5 – Ato Institucional n.º 5

ANCOSOL – Associação Nacional de Cooperativismo de Crédito de Economia Solidária

ANTEAG – Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão

CICOPA – Organização Internacional de Cooperativas de Produção Industrial, Artesanal e de

Serviços

CC – Código Civil

CF/88 – Constituição Federal de 1988

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNC – Conselho Nacional de Cooperativismo

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

CONCRAB – Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DENACOOP – Departamento de Cooperativismo e Associativismo Rural

DNRC – Departamento Nacional de Registro de Comércio

EES – Empreendimento Econômico Solidário

FATES - Fundos de Assistência Técnica Educacional e Social

FBES – Fórum Brasileiro de Economia Solidária

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FETRAF/BRASIL-CUT – Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na

Agricultura Familiar

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MJ – Ministério da Justiça

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NESOL – Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Economia Solidária

OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras

OCERGS - Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PL – Projeto de Lei

PLS – Projeto de Lei do Senado

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRONACOOP – Programa Nacional de Fomento ao Cooperativismo de Trabalho

REDESIM – Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e

Negócios

SAL/MJ – Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

SESCOOP- Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo

SIES – Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária

SUTACO – Superintendência do trabalho artesanal nas comunidades

SINREM – Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis

UNASCO – União Nacional das Associações de Cooperativas

UNICAFES – União Nacional de Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária

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UNISOL Brasil – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Cooperativas – Balança Comercial 2005 a 2011 – US$ FOB

Tabela 2 – Evolução do nº de cooperativas por região no período de 2006-2010

Tabela 3 – Distribuição dos EES por forma jurídica

Tabela 4 – Distribuição dos EES por área de atuação – Urbano, Rural e Rural e Urbana

Tabela 5 – EES por região – Total

Tabela 6 – Total de associados dos EES por gênero

Tabela 7 – Nº de associados por empreendimentos

Tabela 8 – Valor de Produção Mensal

Tabela 9 – Sobras dos EES – Total

Tabela 10 – Dimensão da Comercialização dos EES – Total

Tabela 11 – Comercialização dos EES – Total

Tabela 12 – Financiamento dos EES – Total

Tabela 13 – Tipos de empreendimentos entrevistados pela pesquisa

Tabela 14 – Tributos – competência impositiva

Receita tributária por relevância do tributo

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Taxa de Crescimento dos Tipos de Empreendimentos Econômicos Solidários

Gráfico 2 – Distribuição dos EES por figura jurídica

Gráfico 3 – Distribuição regional dos Empreendimentos Econômicos Solidários

Gráfico 4 – Participação na Informalidade Nacional

Gráfico 5 – Proporção da Informalidade entre Todos os EES Regionais

Gráfico 6 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

das COOPERATIVAS

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Gráfico 7 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

das ASSOCIAÇÕES

Gráfico 8 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

dos INFORMAIS

Gráfico 9 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

das LIMITADAS

Gráfico 10 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

das Sociedades mercantis em nome coletivo

Gráfico 11 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

das Sociedades mercantis de capital industrial

Gráfico 12 – Lei das cooperativas de trabalho impacto do número mínimo para a constituição

de TODOS os tipos de EES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipos de empreendimentos analisados pela pesquisa

Quadro 2 – Comparativo do PLS 3/2007 com a Lei 5764/1971

Quadro 3 – Classificação dos tributos quanto à competência impositiva dos entes da

Federação

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de Economia

Solidária

1. APRESENTAÇÃO

Este trabalho - Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de

economia solidária - tem como origem um concurso de Projetos no âmbito do Programa de

Democratização de Informações no Processo de Elaboração Normativa - Pensando o Direito,

desenvolvido em parceria entre o Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para

o Desenvolvimento (PNUD).

É uma iniciativa que visa a manter e fortalecer o diálogo entre a Secretaria de Assuntos

Legislativos do Ministério da Justiça e as Universidades e Centros de Estudos para qualificar e

subsidiar análises e elaboração de propostas normativas.

A pesquisa foi realizada por três equipes de pesquisadores, sendo dois da Universidade

Federal da Paraíba e outro do Núcleo de Apoio a Cultura e Extensão em Economia Solidária

(NESOL) da Universidade de São Paulo.

Por si só, o Edital que orienta a pesquisa tem função meritória, pois ao tempo em que

possibilita ao Ministério da Justiça o beneficio de valer-se da capacidade investigativa da

Universidade, dá a ela a oportunidade de comprometer-se com questões que podem mobilizar

a ação governamental e legislativa na formulação de marcos jurídicos novos, essenciais à ação

pública do Estado. É exigente, portanto, de pesquisas e de metodologias compromissadas com

a intervenção social.

No caso específico deste trabalho, está em causa a melhoria de condição de vida de

milhares de brasileiros, com severas dificuldades, devido também aos impedimentos que

encontram na formalização do trabalho. Trata-se de trabalhadores que vêm se organizando

nos marcos do cooperativismo popular e da Economia Solidária.

Suas treze partes constitutivas voltam-se para elucidar a questão. Assim, para situar o

problema, definindo a metodologia e as estratégias de diagnóstico, bem como para situar os

principais protagonistas do cooperativismo e da economia solidária foram elaboradas as partes

1 a 3. Em seguida, são feitas as análises sobre os pontos controversos dos projetos em

tramitação no Congresso Nacional, com destaque para alguns temas específicos como a

unicidade e o direito à livre associação, as formas de registro das cooperativas, a tributação, o

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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ato cooperativo e o simples nacional, partes 4 a 10. Por fim, a conclusão elabora novas

propostas legislativas sobre o marco regulatório geral do cooperativismo e da economia

solidária, tendo a ousadia de propor um projeto complementar, que dá continuidade a

procedimentos que facilitam a formação de um mercado público aos empreendimentos

solidários e que poderão contribuir para seu fortalecimento.

1. A IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA - OS MEIOS UTILIZADOS PARA O DIAGNÓSTICO

O Cooperativismo tem uma história antiga no Brasil, tendo surgido a partir da emigração

europeia, ainda no século XIX.

Na Europa, no contexto da segunda revolução industrial, o cooperativismo apareceu como

forma de resistência à exclusão perpetrada pelo avanço do capitalismo industrial, a partir da

organização econômica de trabalhadores em empreendimentos coletivos e democráticos

(SINGER, 1998), momento em que rapidamente se espalhou pelo movimento operário

europeu. Foi assim que os trabalhadores emigrantes da Europa trouxeram na “bagagem” essas

experiências e começaram a organizá-las no Brasil.

As primeiras legislações cooperativistas brasileiras surgiram no inicio do século XX, ainda

na república velha. Em 1907, o governo federal publica o Decreto nº 1.637, que introduziu pela

primeira vez as cooperativas no arcabouço jurídico nacional, como uma espécie de sociedade

comercial. Não por acaso, este Decreto trata tanto das cooperativas como dos sindicatos

profissionais, uma vez que as cooperativas, na época, ainda eram bastante vinculadas ao

movimento operário.

Contudo, apesar deste vínculo operário, no decorrer do século XX, o cooperativismo se

transformou no Brasil (assim como em outras regiões do mundo), ficando restrito a poucos

setores econômicos, não mais sendo parte da organização da classe trabalhadora. A

Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) toma as rédeas do cooperativismo,

assumindo o papel de organizadora e representante única das cooperativas no Brasil.

Já quase na última década do século XX, o texto democrático da Constituição Federal de

1988 abala essa forma de organização centralizada, dado que a garantia de liberdade de

organização e a não intervenção do Estado no funcionamento das cooperativas passam a ser

assegurados. A Organização das Cooperativas Brasileiras perde suas prerrogativas públicas e se

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

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torna uma entidade privada, embora tente manter seus poderes de órgão controlador federal do

cooperativismo.

A partir dos anos 90, sob os efeitos da crise social do desemprego em massa e da

exclusão social, ao lado do cooperativismo tradicional, surgem cooperativas de empresas

recuperadas pelos empregados, de assentamentos de reforma agrária, de humildes prestadores

de serviços nas periferias das metrópoles, de catadores de material reciclável no lixo, de

camponeses e de artesãos empobrecidos.

Esse cooperativismo popular contrasta com as grandes e prósperas cooperativas

agropecuárias, que reúnem milhares de pequenos, médios e grandes proprietários rurais e

disputam os mercados nacionais e internacionais com os grandes conglomerados capitalistas.

Hoje, as cooperativas do agronegócio atuam como grandes empresas, o que explica que a OCB

recentemente se tenha transformado em sindicato patronal das cooperativas.

Tabela 1 - Cooperativas - Balança Comercial 2005 a 2011 - US$ FOB

Entradas e Saídas /Ano

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Exportação 639.793.023,0 677.473.756 945.760.829 1.085.221.714 991.821.024 1.250.595.637 1.681.363.581

Importação 48.123.168 47.734.101 61.145.910 106.236.483 76.020.044 59.910.627 63.548.163

Saldo 91.669.855 629.739.655 884.614.919 978.985.231 915.800.980 1.190.685.010 1.617.815.418 Fonte: MDIC/SCE Nota: Os valores mencionados na tabela se encontram em reais R$.

Em números, as cooperativas que se têm registro nas estatísticas expressam sua força.

Em 2010, registra-se o total de 24.128 cooperativas.

Tabela 2 - Evolução do n⁰ de COOPERATIVAS por região no período de 2006 - 2010

Região/Ano 2006 Part. % 2007 Part. % 2008 Part. % 2009 Part. % 2010 Part. %

Norte 1.100 4,9% 1.055 4,5% 1.095 4,6% 1.095 4,6% 1.098 4,6% Centro-Oeste 1.949 8,6% 2.027 8,7% 2.123 8,9% 2.077 8,7% 2.087 8,6%

Nordeste 3.303 14,6% 3.221 13,9% 3.170 13,3% 3.172 13,2% 3.180 13,2% Sul 7.035 31,0% 7.473 32,2% 7.809 32,8% 7.955 33,2% 8.284 34,3%

Sudeste 9.292 41,0% 9.421 40,6% 9.598 40,3% 9.670 40,3% 9.479 39,3%

Brasil 22.679 100% 23.197 100% 23.795 100% 23.969 100% 24.128 100%

Fonte: RAIS/MTE – 2010

Ressalta-se que dentre as 23.197 cooperativas registradas na RAIS/MTE, em 2007,

apenas 2.114 são consideradas como economia solidária, o que dá a dimensão do embate que

vem sendo travado entre essas duas concepções, que diferem profundamente: o cooperativismo

empresarial timbra por ser “moderno”, por ter abandonado conceitos que considera

“ultrapassados”, tais como a definição segundo a qual a cooperativa singular é uma sociedade de

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pessoas físicas. Já o cooperativismo popular quer recuperar os valores de origem, quando as

cooperativas também eram formadas por gente pobre e marginalizada. Esse “novo

cooperativismo”, aqui entendido não como uma forma jurídica, uma vez que a atual legislação

impede muitas vezes esses empreendimentos de se formalizarem, mas como realidade de fato,

passaram a ser conhecido nas ultimas décadas como Economia Solidária.

Esta pesquisa volta-se aos interesses desses trabalhadores. Analisa as experiências

contemporâneas de cooperativas populares e dos Empreendimentos Econômicos Solidários e

suas limitações no campo normativo. Discute os mecanismos de registros jurídicos, a liberdade

de associação e de representação estadual, regional e nacional, a proteção trabalhista e

previdenciária do trabalhador cooperado, as relações econômicas estabelecidas pelos

empreendimentos de economia solidária, as injunções jurídicas, étnicas e de gênero bem como

as diferenciações regionais, que impactam as proposições legislativas.

Os trabalhadores da Economia Solidária ocupam gradativamente, desde os anos 90, a

arena pública, assumindo o papel de sujeitos políticos. Não por outra razão, tornam-se o

objeto desta pesquisa, cuja metodologia busca responder ao objetivo maior de fortalecê-los,

propondo, nas conclusões, alterações nos marcos jurídicos que os regulamentam.

Vera Silva Telles, no texto “Indicadores Sociais entre Objetividade e Subjetividade”1,

aborda a importância dos indicadores sociais como ferramenta de ação política, que visa a

interferir e alterar o estado prático das coisas. A autora pergunta-se sobre o modo como a

1 Extratos do texto apresentado por Vera Telles no Seminário Internacional sobre Indicadores Sociais para Inclusão Social Núcleo de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social do Programa de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP, em 15 e 16 de maio de 2003.

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dimensão cognitiva/descritiva implícita nos indicadores articula-se com a dimensão

normativa/prescritiva, que rege a ação política, visando a interferir e alterar o estado prático

das coisas.

A razão estatística participa “da construção do que poderíamos chamar de consensos

cognitivos” (medindo coisas, produzindo fatos, construindo realidades sociais ) e da construção dos

fatos sociais. Os indicadores não medem a realidade por si, mas participam da sua construção.

A razão estatística participa da construção do que poderíamos chamar de consensos

cognitivos - certezas e evidências sobre as coisas em torno das quais o debate se

desenvolve e em torno dos quais a divergência e discordância de opiniões, posições e

proposições podem se tornar inteligíveis. E isso significa dizer que a razão estatística

participa (...) da produção/construção dos fatos sociais – fatos que parecem dotados

de objetividade e evidência. E para isso, põe em ação um conjunto de regras de

comparação e medidas de equivalência que transformam coisas em princípio

disparatadas na realidade em “fatos sociais” dotados de consistência, coerência

interna, com um estatuto de objetividade que opera como parâmetro e referência para

o debate público (...) E essa construção não tem a ver tão simplesmente com o “mundo

das representações” – são práticas e disputas, mediações e conexões, articulações e

toda uma rede social (ao mesmo tempo técnica, científica, política, institucional) que

permite que os “fatos sociais” ganhem evidência e pertinência”2.

Para formular indicadores é necessário criar nichos, categorias que correspondem à

realidade. Um exemplo dado por Telles refere-se à construção da “pobreza”. Quando se fala de

pobreza nós construímos uma imagem e a partir daí são construídas categorias que partirão

para grupos que formarão demonstrações com bases em dados, com índices, com números.

Telles cita como exemplo a questão do desemprego na Inglaterra e França, no século XIX:

A partir do século XIX (ref. França, Inglaterra), há o lento processo pelo qual, entre a

massa indiferenciada e indiscernível dos sem-trabalho e dos pobres em geral, vai

sendo destacada a parcela daqueles que serão identificados, classificados e também

codificados como desempregados, categoria até então inexistente. Entra em operação

um conjunto de medidas, de regras de equivalência, critérios de codificação e de

classificação que são ao mesmo tempo estatísticas, jurídicas e institucionais,

montando uma rede de relações e conexões a partir da qual o objeto “desemprego”

ganha objetividade como fato social. A categoria de desempregado é definida por

regras de equivalência e classificação em operação pelas estatísticas sociais, mas

também em operação no campo jurídico para efeito de atribuição de direitos e no

2 Ibidem, idem

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campo institucional para circunscrever alvos e objetivos de políticas públicas. Trata-se

da construção do desemprego como fato social.

- Mas afinal, quem é o desempregado? O que é o desemprego? No Brasil, é conhecido o

exemplo dos indicadores formulados pelo DIEESE3, que contribuíram para medidas da

inflação e do desemprego, favorecendo que o espaço público fosse ocupado pelos

trabalhadores e que medidas políticas e sociais a seu favor tivessem mais força na arena

política.

Da mesma forma, pretende-se que este trabalho seja aliado dos trabalhadores e

empreendimentos da economia solidária e das cooperativas populares. Os indicadores

trazidos por esse estudo podem se constituir em evidências que originem normas jurídicas,

políticas e orientações. De igual maneira, os estudos feitos das alterações da legislação e

jurisprudência cumprem a função de “desnaturalizar os fatos”, indicando o processo histórico

e social que os constituíram. Isto exigiu o olhar minucioso para os processos legislativos,

situando os interesses e forças políticas que se enfrentam nos debates jurídicos e políticos. O

texto e o contexto social e político que circunda a elaboração das leis foi analisado buscando

as vozes dos diferentes sujeitos que vêm compondo esse discurso, suas práticas e

representações. A produção dos índices pode corroborar com os argumentos em disputa.

A Economia Solidária vem produzindo, por ela mesma, um conjunto sistematizado de

dados que constitui o Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES). Essa iniciativa

teve início em 2003, quando a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e o Fórum

Brasileiro de Economia Solidária (FBES) assumiram em conjunto a tarefa de realizar um

mapeamento da Economia Solidária no Brasil. É um dos objetivos do SIES “subsidiar os

processos de formulação de políticas públicas e a elaboração de um marco jurídico para a

economia solidária”4.

Os passos dados nesta pesquisa levaram em consideração o texto e o contexto do

processo legislativo e da produção das políticas do cooperativismo e da economia solidária. O

levantamento do material empírico que orientou a pesquisa combinou procedimentos

quantitativos e qualitativos, assim descritos:

3 DIEESE – Departamento de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Fundado em 1955, por lideranças sindicais,

produz pesquisas relativas ao mundo do trabalho, assessorando dirigentes sindicais em processos de negociação coletiva e realizando formação sindical. 4 Sistema de Informações em Economia Solidária – SIES, apresentação disponibilizada na página do Ministério do Trabalho e Emprego, consulta realizada em agosto de 2012.

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- Por meio do SIES, teve-se acesso a um conjunto de informações quantitativas que

deram uma visão macro dos empreendimentos solidários. O questionário que origina as

informações é constituído por 72 questões. Dentre elas foram selecionadas aquelas que

apresentam maior interesse, inclusive relativamente às quatro principais formas jurídicas

assumidas pelos empreendimentos: grupos informais (caracterizados pela ausência de

registro, e que podem ser considerados como sociedades não personificadas), associações,

cooperativas e empresas (sociedades) limitadas. A seguir, agregamos os empreendimentos

por zona geográfica de atuação, urbano, rural e urbano e rural. A partir das classificações

mencionadas dos empreendimentos, selecionamos suas principais características: divisão

espacial dos empreendimentos pelos grandes grupos, ano de criação dos empreendimentos,

ciclo do empreendimento (em funcionamento ou em implantação), segmentação dos grupos

em pessoas físicas e jurídicas, número total de associados, dentre estes, a quantidade de

homens e de mulheres, média de pessoas por grupos e quantos grupos possuem de 1 a 6

associados, quantos de 7 a 19 e quantos mais de 20, definição das principais atividades

econômicas desenvolvidas, características da forma de comercialização dos

empreendimentos, acesso ao financiamento público, acesso a assistência técnica e

faturamento e excedente econômico gerado pelos empreendimentos.

- Pesquisa de campo, em que foram realizados estudos de caso de vinte e um (21)

empreendimentos5 que assumem as formas jurídicas de cooperativas, associações, grupos

informais e empresas limitadas, e atuam em vários segmentos da economia nas zonas rural e

urbana no Sudeste e Nordeste. A amostra foi selecionada pelas equipes em função do perfil

jurídico do empreendimento e de suas práticas econômicas solidárias e autogestionárias.

Privilegiamos os empreendimentos que revelam a heterogeneidade e os vários segmentos de

atuação dos mesmos nas zonas urbana e rural e aqueles que permitiram o acesso dos

pesquisadores aos dados dos empreendimentos. Estes estudos de caso envolveram a pesquisa

de campo, observações in loco e participante, registros visuais, aplicação de questionários e

realização de entrevistas qualitativas. A perspectiva jurídica permitiu-nos trazer à luz

conflitos entre a existência empírica dos empreendimentos econômicos solidários informais e

o Estado.

- Oficinas, realizadas no Litoral Sul e Sertão da Paraíba. No sertão cujo foco é a

associação de apicultores, a metodologia de pesquisa envolveu a aplicação de treze

5 Foram contados como um empreendimento aqueles voltados para a mesma atividade econômica. Assim, os

pesquisadores da Paraíba entrevistaram trabalhadores de mais de um grupo voltado à pesca e à coleta seletiva.

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questionários, conversas informais e filmagem amadora de algumas entrevistas e das oficinas

com características de grupo focal. Algumas entrevistas foram gravadas. Solicitamos

autorização dos apicultores para as filmagens e as gravações. A duração de aplicação dos

questionários oscilou entre 40 e 60 minutos e as oficinas foram realizadas entre os dias 16 e

17 de fevereiro de 2012, com duração de 12 horas. A oficina do dia 17 debateu o problema

dos apicultores e das artesãs (que se dividiram em dois grupos) no tocante à autogestão,

cooperação, solidariedade, limites jurídicos e escoamento da produção. No dia seguinte,

foram abordadas as questões de gênero nos empreendimentos apícolas e de artesanato.

Ainda, foi realizado um documentário amador sobre o trabalho dos catadores do mangue, da

cooperativa agrícola e apícola que atuam no Litoral Sul e Sertão do estado da Paraíba.

- Mapeamento dos principais pontos de convergência e divergência entre os sujeitos

políticos (governamentais e da sociedade civil) envolvidos no debate em torno do novo marco

regulatório do cooperativismo no Brasil. Neste sentido, foram realizadas entrevistas com

Jerônimo Souza do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ademar Bertucci do Fórum

Brasileiro de Economia Solidária (FBES), Luigi Verardo, da Associação Nacional dos

Trabalhadores e Empresas autogestionárias (ANTEAG) Pedro Christofolli – CONCRAB e Paul

Singer, Secretário Nacional da Economia solidária do Ministério do Trabalho e Emprego

(SENAES/MTE). Além disso, foi realizado levantamento de documentos das entidades que

apresentam posições públicas sobre o tema, tendo um dos pesquisadores participado de várias

reuniões com representantes das entidades envolvidas na temática, tais como OCB, DENACOOP,

UNICAFES e UNISOL, numa “observação participante”.

- Pesquisa de jurisprudência e legislação, por meio de consulta aos Anais da Assembleia

Nacional Constituinte, disponível no sítio da Câmara dos Deputados e aos sítios do Supremo

Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e do Senado Federal.

- Por fim, no mês de julho de 2012, como parte da metodologia e com organização

conjunta do MTE/SENAES, MJ/SAL, Conselho Nacional de Economia Solidária e pesquisadores

foi realizado, em Brasília, o Seminário intitulado: PENSANDO O DIREITO: MARCO JURÍDICO

DO COOPERATIVISMO E ECONOMIA SOLIDÁRIA, em que a pesquisa foi apresentada, com

debates em três painéis principais:

O “Estado da Arte” e a realidade jurídica dos empreendimentos

econômicos solidários e do cooperativismo no Brasil, com a presença de

representantes da Casa Civil da Presidência da República, do Departamento

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Nacional de Registro Comercial do Ministério do Desenvolvimento Indústria e

Comércio Exterior, da União e Solidariedade de Cooperativas e Empreendimentos

de Economia Solidária (UNISOL), da Confederação de Cooperativas de Reforma

Agrária (CONCRAB), sob coordenação do Ministério da Justiça.

Sistema tributário do cooperativismo e da economia Solidária: ato

cooperativo, supersimples e o adequado tratamento tributário das

sociedades cooperativas e da economia solidária, com a participação de

representantes da Receita Federal do Brasil, Organização das Cooperativas

Brasileiras (OCB) da União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Reforma

Agrária (UNICAFES), do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) do

Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão em Economia Solidária da

Universidade de São Paulo (NESOL/USP) e da Procuradoria Geral da Fazenda

Nacional , sob coordenação da SENAES/MTE.

Agenda Legislativa da Economia Solidária: encaminhamentos do

Projeto de Lei da Política Nacional de Economia Solidária, com participação de

representantes do Comitê Temático do Marco Jurídico do Conselho Nacional de

Economia Solidária e da Frente Parlamentar em Defesa da Economia Solidária.

Ainda, durante o Seminário foi passado um questionário aos membros do Conselho

Nacional de Economia Solidária.

2. QUAIS SÃO? QUANTOS SÃO? ONDE ESTÃO OS EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA

SOLIDÁRIA?

É grande a diversidade dos empreendimentos solidários. As associações ocupam o

maior percentual dentre esses empreendimentos (51,8%), seguido pelos informais (36,5%) e

pelas cooperativas (9,7%). Quanto à distribuição regional, pela ordem, situam-se 43,5% no

Nordeste, 17,9% no Sudeste, 16,4% no Sul, 12,2 no Norte e 10,1% no Centro Oeste.

Tabela 3 – Distribuição dos EES por forma jurídica (2007)

EES Quantidades Part. %

Associações 11326 51,8%

Informais 7978 36,5%

Cooperativas 2114 9,7%

Limitadas 54 0,2%

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Outras 385 1,8%

Total 21.857 100%

Fonte – SIES/MTE

Com base em informações coletadas entre os

anos de 2005 e 2007, o SIES aponta que grande

parte dos empreendimentos econômicos solidários

(EES) mapeados não possui uma forma jurídica

adequada para desenvolver suas atividades

econômicas, sendo a grande maioria formalizada

como associação.

Desde 2002, o Código Civil define associação

como “a união de pessoas que se organizam para

fins não econômicos” (art. 53). Assim, esses

empreendimentos têm uma série de restrições para o desenvolvimento de suas atividades

como, por exemplo, dificuldade ou impossibilidade de emissão de notas fiscais. Outros 36,5%

dos EES são informais e apenas aproximadamente 9,7% deles estão formalizados como

cooperativas que, supostamente, seria a forma jurídica apropriada para a grande maioria dos

EES devido suas características organizacionais e políticas.

Em números absolutos a região com maior número de empreendimentos informais

no país é o Nordeste, conforme gráfico 4, mas isso de certa forma é “natural” pois o mesmo

nordeste abriga o maior número de EES conforme gráfico 3. Mas, o curioso é o caso do sudeste

e sul, que tem considerável impacto na informalidade nacional, conforme gráfico 4,

respectivamente 28,4% e 20,7% e que regionalmente têm maior proporção de EES informais

com 57,9% e 46% conforme gráfico 5.

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Uma hipótese explicativa para esse fato é que os empreendimentos solidários

informais são mais comuns nas regiões urbanas do que nos territórios rurais, sendo que mais

de 57,2% dos grupos informais estão em áreas urbanas. Se somarmos a estes números os

empreendimentos atuantes em áreas urbanas e rurais, ele vai para 71,1%, ou seja, apenas

28,5% dos grupos informais se encontram em áreas rurais, descontando-se aqueles que não

informaram seu local de atuação (Tabela 4).

Tabela 4 - Distribuição dos EES por área de atuação - Urbano, Rural, Rural e Urbana

Área de atuação

Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil

de capital e indústria

Outra

Não informado tipo de

EES

Total geral

Part. %

Rural 7.544 570 2.271 14 17 62 35 - 10.513 48,1%

Urbana 1.909 865 4.564 28 29 88 55 1 7.539 34,5%

Rural e Urbana 1.834 659 1.109 12 10 40 47 - 3.711 17,0%

Não informado 39 20 34 - - 2 - 1 96 0,4%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.859 100%

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

O mesmo fenômeno pode ser observado em relação às cooperativas, onde, apenas,

27% delas se encontram nas regiões rurais (Tabela 4).

Em relação à distribuição conforme as regiões nacionais, o número de cooperativas não

se altera significativamente entre as grandes regiões, com exceção da região sul, que possui a

maior porcentagem de cooperativas formalizadas (18%), e região norte, com o menor número

(6%) (Tabela 4). As causas para isso devem ser mais pesquisadas, mas deve pesar para o

fenômeno uma maior consolidação do cooperativismo na região. Dados da evolução da

organização de cooperativas na agricultura familiar podem estar colaborando para este

quadro. Por exemplo, a maior parte da compra da agricultura familiar para a merenda escolar

dos municípios do ABC e Alto Tietê, situados na região metropolitana de São Paulo vêm de

cooperativas formadas na região sul6.

*Por outro lado, inversamente a realidade encontrada nos grupos informais e nas

cooperativas, as associações são mais frequentes no mundo rural e nas atividades com a

agricultura familiar, sendo que quase 66,6% delas aí se encontram. Por regiões, as associações

6 Dados trazidos em reuniões da União dos Secretários de Educação (UNDIME) destes municípios.

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se distribuem da seguinte maneira: Nordeste, 54,3%; Norte, 14,3%; Centro Oeste, 11,1%;

Sudeste, 10,1% e Sul, 10,2% (Tabela 5).

Tabela 5 - EES por região – Total

Região Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil

de capital e indústria

Outras

Não informado tipo de

EES

Total geral

Part. %

Centro Oeste 1.255 178 743 2 3 22 7 - 2.210 10,1%

Nordeste 6.153 586 2.640 11 7 52 49 - 9.498 43,5%

Norte 1.616 253 681 6 24 38 38 - 2.656 12,2%

Sudeste 1.144 429 2.265 8 10 33 23 - 3.912 17,9% Sul 1.158 668 1.649 27 12 47 20 2 3.583 16,4%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.85

9 100%

Fonte: SIES

Podemos assim afirmar que, além de um fenômeno eminentemente rural, as

associações são eminentemente nordestinas. Outra característica interessante quando

olhamos para os grupos informais, associações e cooperativas é que a informalidade significa

além de um recorte urbano também um recorte de gênero. De fato, conforme podemos

observar na Tabela 6, os grupos informais são mais frequentemente formados por mulheres,

as associações já um pouco menos e as cooperativas já são majoritariamente formada por

homens.

Os dados revelam que o total dos associados já é 1.607.807 pessoas, em 2007, o que dá

a abrangência social das políticas públicas que se voltem a esses empreendimentos. A área de

influência direta desses trabalhadores deve atingir a cerca de cinco milhões de pessoas,

aproximadamente, considerando que cada associado participe de grupo familiar composto em

média por quatro membros.

Tabela 6 - Total de associados dos EES por gênero

Sexo Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil

de capital e indústria

Outras Total geral

Part. %

Homens 474.191 461.811 75.117 584 1.023 28.450 15.938 1.057.114 62,6% Mulheres 330.205 171.666 97.607 509 812 20.865 8.710 630.374 37,4%

Total 804.396 633.477 172.724 1.093 1.835 49.315 24.648 1.687.488 100%

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

Na Tabela 7, podemos observar que o mesmo se dá com o numero de associados por

tipo de empreendimento. Os grupos informais possuem em média menos associados por

empreendimento do que as cooperativas, ficando as associações em um patamar intermediário.

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Desta maneira, apesar dos grupos informais representarem 36,5% do total dos

empreendimentos mapeados, eles agregam apenas 10% do total de associados. Relação

inversa às cooperativas, ou seja, apesar delas representarem 9,7% do total de EES, elas

agregam quase 40% do total de associados.

Tabela 7 - N⁰ de associados por empreendimentos

N⁰ de associados

Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercanti

l de capital e indústria

Outros

Não informad

o Total Part. %

Menor que 7 409 84 2.943 35 27 51 24 1 3.574 16,4% Entre 7 e 20 1.775 177 2.876 6 9 47 35 1 4.926 22,5%

Maior que 20 9.142 1.853 2.159 13 20 94 78 - 13.359 61,1%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.859 100% Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

Estes dados nos mostram que o grau de formalização é relacionado com a capacidade

dos empreendimentos agregarem mais ou menos pessoas. Quanto maior o grau de

formalização, a tendência é o empreendimento agregar mais associados.

Relacionado com este dado, e que tem impacto direto pela nova Lei das Cooperativas

de Trabalho (Lei Federal nº 12.690/2012), está o número de associados em cada

empreendimento conforme sua forma jurídica, como pode ser visto na Tabela 7. Pela nova lei

do cooperativismo, “a cooperativa de trabalho poderá ser constituída com um número

mínimo de 7 (sete) sócios” (art. 6º).

Podemos observar que 8.500 EES não possuem 20 associados e, portanto, não podem

se formalizar como cooperativas, conforme a Lei Geral do Cooperativismo (Lei Federal nº

5764, de 16 de dezembro de 1971), atualmente em vigor, que prevê como sendo vinte o

número mínimo de associados (art.6º, inciso I). Destes, 4.926 empreendimentos econômicos

solidários têm entre 7 e 19 associados e, agora, podem se instituir como cooperativas, com a

mudança no número de associados de 20 para 7 (sete).

Outra curiosidade é que entre as cooperativas, mais de 20% também não possuem

mais que 20 associados, o que indica provavelmente que se formalizaram chamando

“laranjas”, pessoas não envolvidos com a cooperativa e que logo abandonam a empreitada,

uma prática comum entre os empreendimentos econômicos solidários que querem se

formalizar como cooperativa, mas não possuem o numero mínimo exigido pela Lei nº

5764/1971.

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De toda forma, chama a atenção o impacto da Lei Federal 12.690/12, em todos os tipos

de empreendimentos.

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Do ponto de vista econômico, um importante fator de viabilidade dos EES pode ser

verificado nos indicadores referentes ao valor da produção mensal total (VPM-T) e médio

(VPM-M), quando observados de acordo com a natureza jurídica desses empreendimentos.

As cooperativas apresentam um VPM-T de R$ 254.940.114,61. Esse valor é bastante

significativo tendo em vista que, apesar de representar apenas 10% dos EES cadastrados no

SIES, as cooperativas são responsáveis por mais da metade (51,9%) de todo o VPM-T

contabilizado entre os empreendimentos. Na outra ponta, os EES informais, que respondem a

37% dos empreendimentos cadastrados, geram apenas 4% do VPM-T.

Tabela 8 - Valor da Produção Mensal

Forma de Organização

VPM – T VPM – M Participação %

Grupo Informal R$ 250.767.193,97 R$ 31.432,34 36,3%

Associação R$ 120.316.234,06 R$ 10.623,01 17,4%

Cooperativa R$ 318.919.701,63 R$ 150.860,79 46,2%

Soc. Merc. por cotas de resp. ltda

R$ 0,00 R$ 0,00 0,0%

Sociedade mercantil em nome coletivo

R$ 0,00 R$ 0,00 0,0%

Sociedade mercantil de capital e indústria

R$ 0,00 R$ 0,00 0,0%

Outras R$ 0,00 R$ 0,00 0,0%

Não informado R$ 733.510,19 R$ 366.755,10 0,1%

Total R$ 690.736.639,86 R$ 31.599,64 R$ 31.599,64

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES.

No caso das associações, um tipo de formalização jurídica que enfrenta limites para o

pleno desenvolvimento de atividades econômicas, verifica-se um VPM-T de

R$180.165.567,54. Ou seja, mais da metade dos EES cadastrados no SIES (55% são

associações) são responsáveis por 36,7% do VPM-T.

O tipo de formalização também indica diferenças no Rendimento Médio Mensal (RMM)

obtido por trabalhadores e trabalhadoras nos EES. Do total de EES, 50% declarou o valor do

RMM. Entre as cooperativas, este índice foi de 65%, enquanto que 57% dos grupos informais

fizeram essa declaração. As associações apresentam o menor percentual, com 43% de

declaração. Presume-se que as associações têm maior dificuldade de gerar renda ou de

declarar a renda do seu associado, já que muitas vezes ela apenas presta um serviço a este,

que pode variar muito em valor e de acordo com o período do ano de sócio a sócio.

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Em relação ao desafio da viabilidade econômica, se observa no mapeamento que 38,1%

dos EES conseguiram obter sobras em suas atividades enquanto somente 14,9% foram

deficitários no último ano (isto é, não obtiveram faturamento suficiente para pagar as suas

despesas). Ao mesmo tempo, 33,8%, embora não obtendo sobras, conseguiram pagar as

despesas realizadas.

Considerando os dados, verifica-se que as cooperativas têm o maior percentual de

situação superavitária (43%) e estão na média da situação de déficit (17%). As Sociedades

Mercantis colocam-se na média da situação superavitária (38%) e estão um pouco abaixo da

situação deficitária (14%). Já os grupos informais têm superávit acima da média (40%) e

déficit abaixo da média (12%), o que indica que estão tendo alguma sustentabilidade apesar

do baixo faturamento mensal (VPM) e da baixa renda possibilitada aos seus participantes

(RMM).

Tabela 9 - Sobras dos EES – Total

Sobras Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil de capital

e indústria

Outras

Não informado tipo de

EES

Total geral

Part. %

Houve Sobras

3.968 906 3.297 24 22 62 44 1 8.324 38,1%

Sobra Zero 4.061 672 2.491 24 21 70 44 - 7.383 33,8% Resultado Negativo

1.895 343 958 2 7 29 25 - 3.259 14,9%

Não Se Aplica

1.361 180 1.173 4 6 29 23 - 2.776 12,7%

Não informado

41 13 59 - - 2 1 1 117 0,5%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.859 100%

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

2.1. A diversidade dos empreendimentos da Economia Solidária nos meandros da

sobrevivência e da informalidade

Segundo a SENAES/MTE, os Empreendimentos Econômicos Solidários são aquelas

organizações:

Coletivas e suprafamiliares (associações, cooperativas, empresas autogestionárias,

grupos de produção, clubes de trocas etc.), cujos participantes são trabalhadores

dos meios urbano e rural que exercem a autogestão das atividades e da alocação

dos seus resultados.

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Permanentes (não são práticas eventuais). Além dos empreendimentos que já se

encontram implantados, em operação, devem-se incluir aqueles em processo de

implantação quando o grupo de participantes já estiver constituído e definido sua

atividade econômica.

Que podem dispor ou não de registro legal, prevalecendo a existência real ou a vida

regular da organização.

Que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços,

de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de

comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de

consumo solidário. As atividades econômicas devem ser permanentes ou principais,

ou seja, a razão de ser da organização.

São singulares ou complexas. Ou seja, deverão ser consideradas as organizações de

diferentes graus ou níveis, desde que cumpridas as características acima

identificadas. As organizações econômicas complexas são as centrais de associação

ou de cooperativas, complexos cooperativos, redes de empreendimentos e

similares.

Pelo mapeamento da Economia Solidária feito pelo SIES, constatamos a diversidade

dos empreendimentos solidários e também o que poderíamos chamar de um alto grau de

informalidade econômica da Economia Solidária no Brasil.

O debate teórico em torno do conceito de informalidade é extenso. Contudo,

importante aqui destacar que informalidade, do ponto de vista etimológico, é um termo que se

conceitua pelo negativo: o que não tem forma. É nesse sentido estrito que estamos utilizando

o conceito de informalidade econômica, ou seja, empreendimentos econômicos solidários que

não possuem forma jurídica apropriada para desenvolver suas atividades.

As consequências dessa realidade de informalidade econômica são significativas para

os EES e seus trabalhadores e trabalhadoras. Podemos citar, entre elas, a impossibilidade de

emitir notas fiscais, fazendo com que a circulação de seus serviços e produtos fique restrita a

pequenos circuitos de consumo e dificultando a própria consolidação do empreendimento.

Cabe destacar que a situação de precariedade leva a que esses grupos procurem meios

de sobrevivência que ampliam o distanciamento entre o mundo da legalidade e as condições

concretas de vida. O termo ilegal, que poderia ser atribuído aos procedimentos adotados pelos

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grupos, não se aplica, em nosso julgamento, pois são decorrentes, principalmente, de uma

inadequação da atual regulação pública e da falta de políticas públicas de apoio e assistência a

essas iniciativas. Daí a enorme importância da busca de tratamento adequado a esses

empreendimentos7.

De fato, a partir dos dados sistematizados, se formos construir uma gradação que vai

da falta de forma jurídica (grupo informal) a forma jurídica mais apropriada (cooperativa)

passando no meio pelas associações, veremos que quanto maior é a informalidade, mais

restrito é o universo de comercialização dos produtos e serviços oferecidos pelos

empreendimentos.

Tabela 10 - Dimensão da comercialização dos EES – Total

Dimensão Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil de capital

e indústria

Outras Não

informado tipo de EES

Total geral

Part. %

Comércio legal ou comunitário

4.568 566 4.729 15 28 99 70 1 10.076 46,1%

Mercado/comércio municipal

2.885 455 1.510 16 13 28 26 - 4.933 22,6%

Mercado/comércio micro-regional

1.083 268 488 9 4 13 5 - 1.870 8,6%

Mercado/comércio estadual

657 224 336 6 2 9 11 - 1.245 5,7%

Mercado/comércio nacional

240 163 113 3 3 2 3 - 527 2,4%

Exportação para outros países

69 21 20 - - 1 2 - 113 0,5%

Não se aplica 147 47 83 1 2 8 6 - 294 1,3%

Não informado 1.677 370 699 4 4 32 14 1 2.801 12,8%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.859 100%

Desta maneira, grande parte dos grupos informais limita-se a vender na própria

comunidade (72,31%%) ou no município que fazem parte (19,84%). Regionalmente ou em

nível estadual, a venda é mínima. São também os que mais afirmam ter dificuldade de

comercialização. Conforme se caminha para as cooperativas, o número de empreendimentos

que vendem em sua região (15,77%) ou no estado (13,28%) vai aumentando

significativamente. Porcentagem insignificante de empreendimentos disputa o mercado das

compras públicas. Apenas 2% fornecem a órgão governamental.

Tabela 11 - Comercialização dos EES – Total

7 Pochmann (2003:139) refere-se a esses tipos de empreendimentos, valendo-se do termo “alegal”.

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Venda Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil

de capital e indústria

Outras Não

informado tipo de EES

Total geral

Part. %

Direta ao consumidor

5.303 978 5.992 34 34 108 83 1 12.53

3 57,3%

A revendedor/ Atacadistas

3.488 527 881 11 16 30 21 - 4.974 22,8%

A órgão governamental

220 91 110 - 2 7 2 - 432 2,0%

Troca com outros EES

37 6 45 - - - - - 88 0,4%

A outros EES 115 25 44 - - - 5 - 189 0,9%

Outro 405 97 153 2 1 12 9 - 679 3,1%

Não se aplica 87 22 67 1 - 2 3 - 182 0,8%

Não informado 1.671 368 686 6 3 33 14 1 2.782 12,7%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.85

9 100%

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

A informalidade também torna impossível acessar as já difíceis linhas de financiamento

e crédito, dificultando ainda mais o acesso ao investimento para os empreendimentos

econômicos solidários. Apesar da dificuldade de crédito ser generalizada para os EES,

observamos que, enquanto nas cooperativas algumas conseguiram financiamento junto aos

bancos públicos, nos grupos informais, créditos são inexistentes e bem incomuns entre as

associações.

Tabela 12 - Financiamento dos EES – Total

Tipo Associação Cooperativa Informal Limitada

Soc. mercantil em nome coletivo

Soc. mercantil de capital

e indústria

Outras

Não informado

tipo de EES

Total geral

Part.%

Dos próprios sócios 7.146 1.333 4.438 26 39 105 73 - 13.160 60,2%

Empréstimo(s) e/ou

financiamento(s) 1.433 273 849 19 8 19 10 - 2.611 11,9%

Doação(ões) 2.023 358 2.074 5 6 49 39 1 4.555 20,8% Não exigiu

aplicação inicial de recursos

367 56 318 1 2 4 5 - 753 3,4%

Outros 272 75 232 1 - 14 7 - 601 2,7%

Não informado 85 19 67 2 1 1 3 1 179 0,8%

Total 11.326 2.114 7.978 54 56 192 137 2 21.859 100%

Fonte : Sistema nacional de Informações em Economia Solidária - SIES. Nota: (-) Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento ou dado inexistente.

Desta maneira, a informalidade dificulta também até mesmo o acesso às políticas

públicas. A título de exemplo, podemos lembrar que um programa como o PNAE (Programa

Nacional de Alimentação Escolar), onde os agricultores familiares vendem seus produtos para

o estado, é bem mais comum nos grupos formalizados do que nos não formalizados.

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Dessa maneira, a informalidade econômica dos empreendimentos econômicos

solidários aprofunda e amplia as dificuldades concretas apresentadas pelos EES como seus

três principais gargalos: a comercialização, o crédito e a formação.

2.2. Os empreendimentos econômicos solidários e o Super Simples

Em 2006, foi aprovada a Lei Complementar nº 123/2006, também chamada de Super

Simples, e que buscou instituir o Estatuto Nacional da Microempresa (ME) e da Empresa de

Pequeno Porte (EPP). Esta lei unificou impostos federais, estaduais e municipais e reduziu a

carga tributária sobre estas empresas.

No entanto, foi estabelecida uma restrição no Super Simples (que não havia no Simples

anterior) que impediu a inclusão das cooperativas entre os beneficiários da lei. A pessoa

jurídica constituída sob a forma de cooperativa, exceto as de consumo (ver Parágrafo 4º do

artigo 3º), foi excluída dos benefícios possibilitados pela Lei do Super Simples. Tal medida,

“além de injustificada é injusta, pois pune empreendimentos enquadrados entre as ME ou

EPP, pelo fato de se associarem de forma democrática e igualitária, própria do

cooperativismo”.8

Esta exclusão se torna ainda mais aguda considerando as características e efeitos da

informalidade dos EES descritos acima e que conforme os dados abaixo, grande parte dos EES

cadastrados no SIES seriam, não fosse sua forma jurídica, beneficiados pela Lei 123/2006 e

por suas novas regulamentações.

Desta maneira, considerando o Valor da Produção Mensal (VPM) declarado pelos

empreendimentos no SIES, os dados indicam que mais de 96% dos EES poderiam, segundo

esse critério, ser reconhecidos no Super Simples conforme o faturamento definido na lei de

20069.

De modo geral, 80% dos EES estavam, quando da realização do mapeamento, na faixa

limite de Micro Empresa (ME), com faturamento mensal de até R$ 20 mil, e 17% na faixa

8 Singer (2007). O Supersimples: Uma reforma tributária para promover a inclusão social. Mimeo. 9 Pelas últimas adequações da Lei Complementar nº 139, de 10 de novembro de 2011, Lei do Simples Nacional, o limite de faturamento anual para permanecer no programa subiu de R$ 240 mil para R$ 360 mil para as microempresas e de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões para as pequenas empresas. Já o teto para os empreendedores individuais passou de R$ 36 mil para R$ 60 mil por ano. A Lei também estabelece que exportações de até 3,6 R$ milhões poderão ser registradas para fins de enquadramento no Simples Nacional. Outra novidade é a autorização do parcelamento das dívidas tributárias em até 60 meses para as empresas do Simples.

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limite de Empresa de Pequeno Porte (EPP), com faturamento mensal superior a R$ 20 mil e

inferior a R$ 200 mil. Em relação às cooperativas, verifica-se que 32% possuem VPM dentro

da faixa de referência do Super Simples como EPP e 54,1% como ME. Entre os Grupos

Informais, 6% enquadram-se como EPP e 93,6% como ME. 18,5% das associações encontram-

se na faixa de EPP e 79,5% como ME.

A informalidade é um reflexo direto da exclusão social, impedindo o acesso aos fundos

e políticas públicas e dificultando os processos de comercialização de milhares de

empreendimentos.

Nesse sentido, a simplificação dos processos de formalização, além de fortalecer vários

empreendimentos já legalizados, é uma importante estratégia em termos de reforma

tributária para promover inclusão social. Como apresentado aqui, dentro da economia

solidária há milhares de empreendimentos informais que possuem receita bruta mensal

inferior a cinco mil reais e que poderiam ser beneficiados com o Super Simples. Proporcionar

regimes tributários mais justos, reconhecendo a sua importância social, é condição mais que

necessária para viabilizar as iniciativas econômicas que se orientam pelos princípios da

economia solidária.

A formalização pode trazer vantagens organizativas e econômicas consideráveis não

apenas para os EES, mas para toda a sociedade. Assim, o acesso ao regime tributário especial

do Super Simples poderia atuar como elemento incentivador da formalização adequada dos

EES com repercussões na melhoria das suas atividades econômicas, multiplicando suas

possibilidades de comercialização e acesso a crédito, e expandindo a arrecadação tributária.

2.3. Um olhar para os grupos entrevistados - da informalidade à cooperativa

Como parte deste estudo, os pesquisadores realizaram mais vinte entrevistas, que

qualificaram as informações quantitativas obtidas junto ao SIES. O material gravado foi

transcrito e poderá servir a outras produções.

A pesquisa qualitativa, neste caso, a entrevista, proporciona ao pesquisador a

possibilidade de “ver por dentro”, podendo dispor de uma dupla posição de observação: a de

investigador e a do próprio sujeito pesquisado10. Com este procedimento, houve a coleta de

novos dados e, ao mesmo tempo, a ampliação da capacidade de entendimento e da procura de 10

Sobre o uso de entrevistas, ver, especialmente, BOURDIEU, Pierre (Coord.) A Miséria do Mundo. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997.

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maior sentido aos elementos norteadores das sugestões jurídicas a serem formuladas. Cabe

ressaltar que os entrevistados, ao saberem do objetivo deste trabalho, comportaram-se como

“co-participantes” da própria pesquisa, dado o interesse que o assunto despertou neles. Por

vezes, abriram aos pesquisadores, inclusive, suas anotações contábeis, reveladoras das

estratégias de sobrevivência utilizadas. Este fato aumenta a responsabilidade dos

pesquisadores com os resultados deste trabalho, mas também indica às instituições

contratantes o acerto dos objetivos do edital que dá origem à pesquisa e, em decorrência, a

responsabilidade com os possíveis desdobramentos.

As entrevistas realizadas procuraram dar conta da diversidade dos empreendimentos

solidários. Foram feitas obedecendo ao critério de contemplar empreendimentos de

diferentes tipos, atividades econômicas e áreas de atuação (rural, urbana, rural e urbana).

Aconteceram junto a empreendimentos localizados em dois estados brasileiros: na Paraíba,

região nordeste, e em São Paulo, região sudeste, mais precisamente na capital desse estado,

Tabela 13 - Tipos de empreendimentos entrevistados pela pesquisa

Localização/Tipo Associação Cooperativa Informal Empresa

TOTAL São Paulo

Paraíba São

Paulo Paraíba

São Paulo

Paraíba São

Paulo Paraíba

Rural 5 4 6 2 17

Urbano 1 2 1 4

TOTAL 1 7 1 4 0 6 2 0 21

2.3.1. As gradações da informalidade

As experiências analisadas in loco nos revelam que há facetas, níveis e gradações do

trabalho classificado de informal. Os dados empíricos revelam que podemos elaborar uma

tipologia dos empreendimentos informais como dois tipos ideais, representativos de muitas

experiências no Brasil no campo da economia solidária.

I – Grupos com severas limitações de sustentabilidade em termos de viabilidade econômica e

solidária e também em termos de cooperativismo e autogestão.

II- Grupos com potencial econômico e organizativo já inicialmente desenvolvido, em termos

de cooperativismo, relações solidárias e de autogestão. Neste caso, a diminuição da carga

tributária para sua formalização e a diminuição legal do número de pessoas para se

constituírem em cooperativas são fatores que podem ter impactos em curto prazo.

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34

Exemplifica o grupo I: - Grupo Informal das mulheres

artesãs – Alto Sertão da Paraíba: O grupo das mulheres

artesãs constitui-se como um tipo ideal,

representativo daqueles empreendimentos que por

sua fragilidade econômica e tecnológica, baixo nível de

organização política e baixo grau de articulação com o

mercado têm um potencial mínimo de conquistar sua

sustentabilidade como empreendimento econômico e

beneficiar-se das vantagens jurídicas de sua

formalização como uma associação e/ou cooperativa.

Trata-se de um grupo situado num assentamento (a

primeira desapropriação de terra privada no sertão da

Paraíba), conquistado a partir de muita luta.

Constituído há três anos, impulsionado pela política

dos “Fundos Rotativos Solidários” (FRS), contava com

vinte mulheres, das quais, atualmente, restaram

apenas seis. Cabe fazermos um parêntese, para

destacarmos a metodologia do FRS, a qual busca

resgatar os elementos de solidariedade presentes nos

grupos e na história de seus antepassados. Iniciativa

bastante interessante para este e para

outros empreendimentos entrevistados, que indicam

que os FRS deveriam contar com aporte maior de

recursos da política pública para ampliar sua

intervenção.

As dificuldades, especialmente de organização e de

comercialização impediram, contudo, que o grupo

tenha se mantido coeso, mesmo tendo recebido, pelo

FRS, capacitação para produzir redes, lençóis, pano de

prato, tendo como carro chefe uma rede diferenciada,

Gradações da Informalidade

Tipo Ideal I – severas limitações de

sustentabilidade, situação extrema da

informalidade

Causas da informalidade

1. Fragilidade econômica do

empreendimento.

2. Fragilidade em termos de

organização do grupo.

3. Acesso precário ao mercado e às

políticas públicas.

4. Menor acesso à informação. Em

geral o grupo apresenta menor

escolaridade.

Condições do trabalho informal

1. Ausência de equipamentos

adequados.

2. Ausência de infraestrutura física

para a produção.

3. Não acesso às proteções sociais como

seguro saúde, licença maternidade e

aposentadoria.

4. Limitações para acessar o mercado

via estratégia de vendas.

5. Pequeno volume de produção.

Impactos da informalidade

1. Dificuldades de acessar o

mercado.

2. Limitações no acesso às políticas

públicas.

Ações imediatas, para formalização em

médio prazo

1. Ações de assistência, inclusive

formações específicas relativas à

produção e gestão.

2. Acesso de forma regular e

assistida a programas de crédito

do tipo praticado pelo FRS.

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que é a “rede de almofada” (serve como rede de dormir e, quando dobrada, transforma-se em

almofada). Esse produto é o mais caro, variando de R$ 150,00 à R$170,00 e o trabalho é todo

artesanal, embelezado de bordados e vitrilhos (bordado especial). O grupo encontra-se

desarticulado, atualmente. Sua principal dificuldade é vender os produtos no mercado. Elas

alegam que foram bem treinadas para produzir a mercadoria, mas não têm quem faça o

marketing. Sendo assim não adianta produzir se o produto fica encalhado. Precisam de

dinheiro para investir nessa etapa, mas não apresentam capacidade para desenvolver essa

fase do empreendimento. A deficiência nas vendas traz consigo a desistência das mulheres de

permanecer no grupo. A incerteza e a falta de perspectivas de um retorno financeiro as

desanimam. Em termos de estrutura física, não dispõem de sede para o empreendimento

funcionar, pois hoje o mesmo funciona em suas próprias casas, e da máquina de bordar -

alguns bordados são terceirizados, encarecendo o produto11.

Como exemplo do Grupo II, temos:

- Grupo informal de fabricação de salgados – Litoral Sul Paraíba

O grupo de fabricação de salgados, formado por três mulheres, constitui-se como um

tipo ideal daqueles empreendimentos que são razoavelmente organizados, tem potencial de

crescimento, dado que mesmo tendo acesso a um mercado restrito, já conseguem obter

sobras que complementam a renda familiar, garantem relativa autonomia e modificam, em

certa medida, as relações familiares.

Razões da informalidade, segundo as entrevistadas:

O número de participantes ainda é pequeno (somente três);

Não possuem os recursos financeiros (os custos para abertura de firma, honorários do

contador e de um advogado);

A carga tributária elevada em relação aos ganhos obtidos que são modestos;

Não possuem sede e, no momento, não conseguem atender todas as exigências da

vigilância sanitária.

11

Segundo a SENAES/MTE, os Fundos Rotativos são “fundos mantidos por entidades da sociedade civil ou organizações comunitárias, e destinados ao apoio de

projetos associativos e comunitários de produção de bens e serviços. Por meio dos fundos rotativos solidários, investem-se recursos na comunidade, através de empréstimos com prazos e reembolsos mais flexíveis e mais adaptados às condições socioeconômicas das famílias empobrecidas beneficiadas nos projetos. Com isso, o financiamento é mais barato e mais acessível para os projetos apoiados, favorecendo o acesso mais democrático e solidário ao crédito, e estimulando o desenvolvimento local”. A experiencia pregressa dos pesquisadores indica a Cáritas como grande propulsora dessa iniciativa e seu esforço permanente de colocar a ampliação desses recursos na agenda política dos Ministérios do Trabalho (MTE) e do de Desenvolvimento Social (MDS). (http://www3.mte.gov.br/ecosolidaria/prog_fomento_financas_rotativos.asp). Segundo Gonçalves (2010), “no Estado da Paraíba práticas de Fundos que circulam na comunidade são antigas; datam de 30 anos quando pequenos agricultores apoiados pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) se associavam para disponibilizar e gerir recursos financeiros visando atender as necessidades imediatas da comunidade que ressarciam tais recursos trocando produtos entre si (como porcos, cabras, galinhas e sementes) configurando, desde longa data, a partir das relações de troca, o circuito da dádiva”.

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Considerando que o grupo é formado por três integrantes, com reduzidos custos,

estima-se que a sobra mensal individual seja entorno de R$ 405,0012 aproximadamente.

Os entraves para consolidação e consequente formalização do grupo são três,

principalmente:

Sede própria; no momento o grupo fabrica no mesmo local da associação à qual tem

filiação, sendo que o maior receio de ambas as partes é o de realizar investimentos na

infraestrutura e, após as melhorias, o locador não desejar renovar o contrato,

implicando em perda de investimentos e na necessidade de um recomeço em um novo

local;

Acesso a recursos de baixo custo para realizar investimentos em equipamentos e

adaptação do local às exigências da Vigilância Sanitária;

Após o incremento das vendas, aumentar o número de participantes mediante a

realização de outro curso de Tecnologia de Pescado, nos moldes do que já foi

ministrado pela prefeitura municipal e o governo estadual e receber outras

capacitações.

Ressaltamos que, por serem informais, as integrantes do grupo estão desprotegidas

dos direitos sociais, a não ser uma delas que já foi pescadora e possui carteirinha, portanto

contribui como segurada especial. As outras integrantes poderiam contribuir ao INSS como

autônomas, na medida em que as vendas melhorassem de modo a assegurar seus direitos.

Ainda, na condição de informais, esse grupo não tem acesso às políticas públicas, tais como o

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE)13.

Percebe-se que, em relação ao grupo anterior, a diferença apresentada por este grupo

de mulheres está na manutenção regular da atividade econômica, que permite a cada uma, a

retirada de um pequeno valor, sendo este o elemento que as agrega por manter, também, a

condição de funcionamento do pequeno grupo.

Nas condições atuais para a formalização dos grupos, algumas assessorias vêm

indicando que grupos como esse deveriam apostar na formalização de cada um de seus

12

Este cálculo representa 65% do salário mínimo de 2012. 13 Os agricultores familiares podem fornecer alimentos para as escolas da Rede Pública de Ensino com ajuda da Lei 11.947/2009. A legislação determina que no mínimo 30% do valor destinado para a compra da merenda escolar – recurso do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – deverá ser utilizado na aquisição da produção agrícola familiar. Em 2009, o orçamento do PNAE destinado à aquisição de produtos da agricultura familiar somou R$ 600 milhões (30%). Mas, o PNAE pode destinar todo o seu orçamento (mais de R$ 2 bilhões) para os produtores familiares.

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membros, como micro empreendedores individuais (MEI), de forma a poderem conta com a

emissão de nota fiscal, o que poderia ser feito em rodízio pelas integrantes do grupo,

possibilitando a ampliação do acesso ao mercado, inclusive com a venda para os setores

públicos14. Pensa-se que, a partir desse novo patamar, será possível buscar outros tipos de

formalização, uma vez que o pequeno número de associados é impeditivo da formação de uma

cooperativa, mesmo nos termos da nova Lei das Cooperativas de Trabalho, já mencionada.

Mas, a alternativa do MEI – como outra, a seguir comentada, referente à formalização

como micro empresa – fere, de certa maneira, os princípios organizativos das cooperativas,

especialmente, no que diz respeito à autogestão e democracia, objetivos a que se colocam

esses trabalhadores.

Em síntese, sobre a condição dos grupos informais, podemos trabalhar a hipótese de

que, tanto o acesso ao mercado como às políticas públicas, são inversamente proporcionais à

capacidade de formalização dos empreendimentos, ou seja, os que mais necessitam acabam

ficando de fora das políticas públicas, que precisam ser recriadas ou assumirem outra

capilaridade para atingir esses grupos.

Em síntese, a pesquisa indica que para os dois tipos de grupos, ainda que com

intensidades diferenciadas, é necessária a ampliação de uma política permanente de

qualificação/formação continuada, no âmbito da atividade desenvolvida pelo grupo, na gestão

do empreendimento e em economia solidária, entre outros assuntos, tanto para os

trabalhadores(as) já associados, quanto com o objetivo de qualificar outros possíveis

integrantes do grupo. Mas é preciso, também, uma política pública de acesso ao crédito

produtivo com nenhum e/ou com baixos juros, para que os empreendimentos possam investir

em equipamentos, em melhoria de condições do local onde se funcionam, para se adequarem

às exigências da produção bem como às determinações da Vigilância Sanitária, por exemplo, e

para formarem capital de giro. Ainda, é preciso que não haja descompasso entre essas

políticas, mas que elas atuem de forma integrada, potencializando-se mutuamente.

14 Pode se formalizar como MEI o empresário individual que atenda às seguintes condições: tenha obtido faturamento no ano anterior de até R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), ou R$ 5.000,00 (cinco mil) por mês no caso de início de atividade; (Valor vigente a partir de janeiro de 2012); seja optante pelo Simples Nacional; exerça as atividades permitidas para o MEI, possua um único estabelecimento; não participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador; tenha, no máximo, um empregado com remuneração de um salário mínimo ou piso da categoria (o que for maior); exerça atividade permitida no local pretendido, segundo a legislação municipal de uso e ocupação do solo e demais posturas. Há mais de 400 ocupações que podem ser formalizadas por meio da figura do MEI. A grande novidade do MEI vem justamente da isenção de praticamente todos os tributos. Paga-se apenas uma taxa fixa mensal de 5% do salário mínimo vigente (R$ 31,10) a título de contribuição previdenciária ao INSS, R$ 1,00 de ICMS para o Estado (se a atividade for comércio/indústria), e/ou R$ 5,00 de ISS para o município (se a atividade for prestação de serviço. Retirado de: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/planejamento/mei/informacoes_gerais/index.php?p=20463, consulta realizada em setembro de 2012.

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Cabe, ainda, fazer o destaque sobre as diferenças da informalidade no meio urbano e

rural. A informalidade dos empreendimentos no espaço urbano revela-se com maior

intensidade, como já foi dito neste trabalho, exigindo outros desenhos de políticas públicas.

De certa forma, a proximidade com a miséria é própria do espaço urbano, diferentemente das

áreas rurais, onde a pobreza presente, feita a intervenção adequada, tem melhor condição de

resolução. A espoliação urbana é muito violenta, “não há como se plantar ou pescar no

asfalto”. Na cidade, “a pobreza é um todo” – daí a miséria, como revelam os catadores.

As entrevistas também indicam a existência de políticas aparentemente interessantes,

mas que ainda exigem adequação. É o que relata um empreendimento paulista, hoje

formalizado como empresa, que adquiria a nota fiscal por meio de um órgão governamental.

Trata-se da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco). Consta no

sítio dessa entidade que “os artesãos, regularmente cadastrados na Sutaco, podem solicitar à

autarquia a emissão de Nota Fiscal para venda, exposição, consignação e transporte de peças

artesanais”.

O grupo em questão gastava com a aquisição dessa nota fiscal valor superior

àquele que gastaria se estivesse legalizado, o que é surpreendente. Assim, uma política de

apoio torna-se um “castigo”, de certa maneira, como se lê no diálogo, a seguir:

Na verdade, nós nos legalizamos na necessidade. Nós estávamos em um evento que era

da educação e, como mexemos com brinquedos educativos e lúdicos, as escolas que iam

começaram a fazer os pedidos e precisavam de nota. Nesse momento, nós não éramos

legalizadas. Éramos só artesãs pela Sutaco. Então o que é que a gente tinha que fazer?

Ligar na Sutaco e agendar pra pegar nota e pagar a porcentagem da Sutaco. Foi aí que a

gente viu a nossa necessidade, depois de muitas idas e vindas na Sutaco pra pegar a nota.

Foi onde que a gente realmente viu: Temos que nos legalizar! Estávamos esperando ter

uma melhora financeira, mas aí tivemos uma necessidade mesmo. O que a gente pagava

de nota pra eles, porque não poderia ser direto pra nós?

E: Quando vocês pagavam na nota da Sutaco?

Sócia 1: 5% do valor da nota

E: E hoje em dia, quanto vocês pagam de imposto?

Sócia 1: Hoje a gente paga 4% porque somos optantes do simples nacional.”

2.3.2. O caminho da formalização pelas associações – um exemplo interessante

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O fio virtuoso de políticas integradas, facilitadoras da formalização dos

empreendimentos solidários, foi constatado junto a outro grupo de trabalhadores

entrevistados, que se voltam à produção do mel e que se apresentam organizados em

associações. Nesse caso, é bastante interessante verificar como políticas de assistência ligadas

ao ASA Brasil – Articulação no Semi Árido Brasileiro, combinado com a política de fundos

rotativos e às compras governamentais, por meio do PAA, PNAES, na chave de atuação da

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), criaram condições para que o(s) grupo(s),

num espaço relativamente pequeno de tempo15, afirmem a necessidade de se organizarem em

cooperativa pela exigência da dinâmica do próprio empreendimento. Os trabalhadores

relatam sua evolução como sendo uma “organização da base”: grupo informal, associação e,

finalmente, a cooperativa, ainda não implantada, mas afirmada como uma necessidade. Neste

caso do mel, de certa forma, os grupos de trabalhadores estão “mais avançados” do que o

próprio município – suas instâncias regulatórias, que não dispõem de uma logística em

vigilância sanitária para emissão do SIM (Selo de Inspeção Municipal), demandado pelos

produtores.

2.3.3. O caso das cooperativas

No extremo oposto à informalidade, os pesquisadores entrevistaram cooperativas.

Uma delas, situada em área urbana, conta com cerca de 300 cooperados e de 200 empregados.

Para além dessa questão (a convivência, de certa forma contraditória, entre cooperados e

empregados), o contato com um empreendimento formalizado e de maior porte econômico

mostrou a amplitude da discussão sobre a identidade dos empreendimentos de economia

solidária. Se, por um lado, a grande cooperativa apresenta questões similares aos

empreendimentos que se encontram na informalidade, tais como a necessidade de formação

continuada dos trabalhadores e o crédito, que nesse caso seria de valor substancial e já fora

obtido junto ao BNDES, por outro, traz demandas qualitativamente diferentes do ponto de

vista dos entraves tributários. Em especial, citamos a insegurança jurídica referente a

interpretação do ato cooperativo, uma questão bastante sensível para uma cooperativa

economicamente consolidada.

15 Os trabalhadores entrevistados pertencem a uma associação, criada em 2003, e que se faz presente em dez municípios.

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3. SUJEITOS SOCIAIS EM DISPUTA – MARCHAS E CONTRAMARCHAS DA

ELABORAÇÃO LEGISLATIVA

Este objetivo específico da pesquisa buscou estudar os principais pontos de

convergência e divergência entre os sujeitos políticos (governamentais e da sociedade civil)

envolvidos no debate em torno do novo marco regulatório do cooperativismo no Brasil.

Para atingir este objetivo, foram realizados dois grandes procedimentos, que

estruturam este tópico: 1) apresentação dos principais sujeitos envolvidos com a temática; 2)

sistematização dos principais pontos de divergências entre os sujeitos.

Para aprofundar estes pontos de divergências no decorrer da pesquisa foram utilizados

diferentes procedimentos, sendo que podemos apontar como principais: 1) realização de

entrevistas16; 2) estudo dos documentos públicos das entidades em relação ao tema17 e 3)

participação pregressa de integrantes da equipe de pesquisa em reuniões e espaços de

discussão e negociação.

Neste sentido, principalmente considerando este item 3, dos métodos de coletas de

informações, que foi de fato o instrumento mais utilizado para a redação deste tópico, o

exposto neste texto constitui impressões particulares dos pesquisadores, não podendo neste

caso, o leitor deixar de levar em consideração que "um ponto de vista é sempre a vista de um

ponto".

O cooperativismo brasileiro possui hoje diversas matrizes e uma diversidade de

experiências que estão representadas em inúmeras entidades e movimentos que agregam e

representam interesses diversos, quando não antagônicos.

De fato, desde que o cooperativismo no Brasil passou a se diversificar, surgiram

entidades do cooperativismo ligadas aos mais diversos seguimentos da sociedade - de

16 Para esta pesquisa, foram realizadas entrevistas com as seguintes pessoas:

Representantes do Governo:

- Jerônimo Rodrigues Souza - Secretário de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrario - Paul Singer - Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego

Representantes da sociedade civil:

- Ademar Bertucci – integrante da coordenação do Forum Brasileiro de Economia Solidária - Pedro Christofolli – participante da CONCRAB - Luigi Verardo – diretor da ANTEAG As entrevistas com representantes de outras entidades, que estavam previstas para serem realizadas, acabaram não ocorrendo devido a diferentes motivos que impossibilitaram a sua realização.

17 Neste sentido, se teve acesso aos seguintes documentos: pareceres e cartas de entidades ou conjunto de entidades se posicionando sobre o tema e relatórios e memórias de reuniões e audiências públicas.

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trabalhadores industriais a profissionais liberais, de trabalhadores sem terra a latifundiários,

de catadores de material reciclável a consumidores urbanos – e também de diversos espetros

políticos ideológicos.

Esta diversificação do cooperativismo no Brasil - tanto em relação aos segmentos da

população brasileira que vem se organizando em cooperativas como a diversificação política

do cooperativismo brasileiro - tem sua origem em dois processos concomitantes da sociedade

brasileira, que ocorrem principalmente a partir dos anos de 1980.

De fato, como mostra Fábio Sanchez (2011), a década de 1980 foi marcada no Brasil

por dois processos concomitantes e paralelos, um de ordem econômica e outro de ordem

político-social, determinantes para o re(s)-surgimento do cooperativismo popular e da

Economia Solidária no Brasil.

Assim, se por um lado, ficou conhecida pelos economistas como a década perdida do

ponto de vista econômico, com inflação galopante, falta de crescimento, aumento exponencial

do desemprego e estagnação; por outro, ficou marcadamente conhecida pelos cientistas

sociais como a década de intensa “invenção democrática” e politização da sociedade

brasileira, tendo como grande marco todo o processo de emergência e mobilização dos

movimentos sociais em torno da luta pela redemocratização, após o longo período de ditadura

militar. Este processo trouxe novos sujeitos para a arena pública, politizou novos temas e

radicalizou a democracia no Brasil, abrindo novos espaços de participação popular.

Deste duplo processo: intensa crise econômica (que colocou os trabalhadores e seus

movimentos diante de novos desafios, particularmente as mudanças no mundo produtivo e o

desemprego) e mobilização e politização da sociedade brasileira; re(s)-surgem às

experiências de empreendimentos autogeridos, de participação associada e democrática de

trabalhadores no processo de produção, iniciando, enfim, um novo ciclo do cooperativismo

brasileiro.

Contudo, nem sempre foi assim. Principalmente no período da ditadura militar (nos

anos 60 e 70), o cooperativismo brasileiro ficou atrelado a uma estratégia governamental de

modernização conservadora do campo brasileiro, transformando-se mais em um instrumento

de organização puramente produtiva - ganhar escala e diminuir custos- da burguesia agrária

atrelada ao agronegócio, perdendo sua inserção em outros segmentos da sociedade e se

homogeneizando tanto social e politicamente. Esta homogeneização foi inclusive prevista em

lei.

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De fato, durante o período do Regime Militar (1964-1985), o chamado sistema

cooperativo nacional, sob a Lei 5764/71, deveria ser uno, coeso e homogêneo por força da

determinação legal, que impunha a todo cooperativismo um único figurino político-ideológico

e uma única direção. O Capítulo III da referida lei define com certa minúcia as cooperativas

singulares, federações e confederações de cooperativas, designando os objetivos de cada uma;

o Capítulo IV Seção I: “Da Autorização de Funcionamento” incumbe órgãos federais de

controle a autorizar o registro e o funcionamento de cada cooperativa; o órgão de controle,

criado pela lei é a OCB, designada como “sociedade civil, (...) órgão técnico-consultivo do

Governo, estruturada nos termos desta lei” (art. 105). Finalmente, o art. 108 da lei institui a

contribuição cooperativista “que será recolhida anualmente pela cooperativa (...) a favor da

OCB”.

Este tipo de organização homogênea e coesa sofre rude golpe quando a Constituição

Federal de 1988 garante a liberdade de organização e veda explicitamente a intervenção do

Estado no funcionamento das cooperativas. A OCB perde suas prerrogativas públicas e se

torna entidade privada, embora tente manter seus poderes de órgão controlador federal do

cooperativismo.

Retirada a camisa de força legal, cria-se a possibilidade de diversificação do

cooperativismo brasileiro. E esta possibilidade se realiza, a partir dos anos 90, sob os efeitos

da crise social do desemprego em massa e da exclusão social.

Mesmo assim, a OCB ainda é a maior e politicamente mais forte entidade cooperativista

no Brasil, tanto pelo número de cooperativas associadas como, principalmente, pelas forças

sociais que agrega. Assim, apesar de diversa no seu interior, politicamente a OCB possui uma

base social muito próxima dos chamados ruralistas e grandes produtores rurais ligados ao

agronegócio. De fato, ao observarmos a frente parlamentar do cooperativismo, observamos

que existe uma grande semelhança entre a mesma e a bancada ruralista.

Apesar disso, a OCB vem paulatinamente se enfraquecendo em relação a outras formas

sociais que emergem. Conforme informações da Revista Gestão Cooperativa, de junho/julho

de 2005, “Segundo o Departamento Nacional de Registro Comercial (DNRC), o número de

empreendimentos cooperativos no país subiu de 4660, em 1990, para 20.279, em 2000. E já deve

ultrapassar 25 mil em 2005. Deste total, menos de oito mil são registrados na Organização das

Cooperativas Brasileiras”.

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De fato, segundo dados da própria OCB, em dezembro de 2010 existiam 7.549

cooperativas registradas a OCB18. Isto considerando que, devido à confusão na interpretação

da legislação, em alguns estados brasileiros ainda é exigido que as cooperativas sejam

registradas na sua organização das cooperativas estadual, mesmo não se sentindo

representado por esta.

Devido a este enorme crescimento do cooperativismo brasileiro e sua vitalidade, com

cooperativas advindas de diversos setores da sociedade e formadas pelos mais diversos

sujeitos sociais, passaram a surgir outras entidades de representação do cooperativismo, com

diferentes matizes e cores. Só para dar o exemplo de algumas destas entidades, temos:

Em 22.06.2005, foi criada a UNICAFES – União Nacional das Cooperativas da

Agricultura Familiar e Economia Solidária. Representa mais de 1.000 cooperativas no

país e está se estruturando em cinco unidades regionais e outras estaduais congêneres.

A UNICAFES tem historicamente proximidade com movimentos de trabalhadores

rurais, particularmente com a CONTAG, e com o sindicalismo rural brasileiro. Nas

palavras da própria UNICAFES, sua missão é:

Tornar o cooperativismo um instrumento de desenvolvimento local sustentável dos

agricultores e das agricultoras familiares, provendo a inclusão social articulando

iniciativas econômicas que ampliem as oportunidades de trabalho, de distribuição de

renda, de produção de alimentos, das melhorias de qualidade de vida, da manutenção

da biodiversidade e da diminuição das desigualdades19.

Em 2004, foi criada a União e Solidariedade das Cooperativas Empreendimentos de

Economia Social do Brasil – UNISOL- BRASIL. Em 2010 a UNISOL/Brasil possuía mais

de 700 cooperativas espalhadas pelos 27 estados da federação. A UNISOL/Brasil surgiu

com forte apoio da Central Única dos Trabalhadores/CUT, e segundo sua pagina na

web tem por objetivo:

A UNISOL Brasil (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários) é uma

associação civil com fins não econômicos, de âmbito nacional, de natureza

democrática, cujos fundamentos são o compromisso com a defesa dos reais interesses

da classe trabalhadora, a melhoria das condições de vida e de trabalho das pessoas, a

eficiência econômica e o engajamento no processo de transformação da sociedade

brasileira com base nos valores da democracia e da justiça social.20

18 www.ocp.org.br. Consultado em dezembro de 2010. 19 http://cirandas.net/unicafes. Consultado em agosto de 2012. 20 http://www.unisolbrasil.org.br/. Consultado em agosto de 2012

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A Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária (CONCRAB) - entidade Ligada ao

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi criada em 1992 com

objetivo de organizar a produção nos assentamentos do MST a partir do fomento de

cooperativas e da cooperação. Neste sentido, a CONCRAB aglutina cooperativas e

centrais de cooperativas e há duas décadas representa centenas de cooperativas de

produtores organizados nos assentados rurais. Como afirmam seus militantes:

A Confederação (Concrab), organização das cooperativas na terceira instância, tem a

função de coordenação geral das políticas e planejamento do desenvolvimento das

atividades das cooperativas. Cabe ainda, organizar a formação técnica (administrativa,

financeira e agronômica) de caráter nacional, desenvolver estudos e estratégicas de

mercado, cuidar das relações internacionais relacionadas às cooperativas (exportação,

por exemplo) e articulação com outras confederações.

A Associação Nacional dos Trabalhadores de Empresas Autogeridas e Co-geridas

(ANTEAG) surgiu em 1991, inicialmente a partir da criação de cooperativas por

trabalhadores que buscavam recuperar empresas em crise com a autogestão e já

representou mais de 400 empresas recuperadas e/ou controladas pelos trabalhadores

na forma de cooperativas. Segundo seu web site, o objetivo da Anteag é:

Promover a construção, divulgação e desenvolvimento de modelos autogestionários

que contribuam para criar/recriar trabalho e renda desenvolvendo a autonomia e

formação dos trabalhadores, estimulando ações solidárias e fraternas e representando

as empresas/empreendimentos autogestionários21.

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES)22, criado em Plenária em junho de

2003, com a participação de mais de 900 delegados, hoje está organizado nos 27

estados do Brasil e representada milhares de cooperativas e empreendimentos

econômicos solidários através dos Fóruns Estaduais de Economia Solidária. Além dos

empreendimentos e cooperativas, também compõem o FBES entidades de

representação das cooperativas, como a UNICAFES e ANTEAG, entidades de apoio e

fomento a economia solidaria, ligadas a igrejas, sindicatos, ONG´s, universidades etc., e

gestores públicos de economia solidária, organizados na Rede de Gestores Públicos de

Economia Solidária.

21 http://cirandas.net/anteag. Consultado em agosto de 2012. 22 www.fbes.org.br

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Estas entidades citadas – OCB, UNICAFES, UNISOL, CONCRAB, ANTEAG e FBES – são

aquelas que têm se posicionado e debatido mais constantemente os diversos temas em torno

dos diferentes marcos jurídicos envolvendo o cooperativismo.

Apesar de diversas e de suas origens distintas, desde 2005 as entidades que

poderíamos chamar de ligadas aos movimentos sociais e ao campo da economia solidária

(FBES, ANTEAG, CONCRAB, UNISOL, UNICAFES) tem buscado construir uma articulação

conjunta e posicionamentos comuns sobre os mais diversos temas, particularmente aqueles

referentes ao marco jurídico do cooperativismo.

Nesta articulação, houve épocas de maior convergência e outras de menor, mas

geralmente as estratégias e negociações tem sido comuns entre elas. Neste sentido, inclusive,

parte dos documentos coletados nesta pesquisa são assinados pelo conjunto destas entidades.

De certo modo, estas entidades em seu conjunto se posicionam num certo campo de

conflitos23, construindo unidade no confronto com o seu antagônico, a OCB, sendo este

antagonismo o propulsor destas construções comuns de posicionamentos.

Apesar destas convergências entre as entidades ligadas ao campo dos movimentos

sociais e economia solidária, podemos, contudo, perceber entre elas diferenças de

posicionamentos e estratégias. Provavelmente, como veremos abaixo, alguns temas principais

as separam, como a questão da representação do “sistema cooperativista”, tendo entidades

como UNICAFES que advogam por uma multiplicidade de representação (mas que esta seja

regulada) e outras que advogam pela total liberdade de representação (caso, por exemplo, da

CONCRAB).

Outro tema que separou e reaglutinou as forças do campo do cooperativismo foi a

aprovação da lei das cooperativas de trabalho, como veremos também abaixo, colocando

23. Estamos entendo campo de conflito como uma arena pública onde convivem elementos, sujeitos e interesses

contraditórios e em conflito, pressionando-se para definir-se, e que a partir deste“determinado equilíbrio de

forças” (THOMPSON,1989;32), os sujeitos em conflito vão construir suas alianças e oposições e suas próprias

identidades.“ Thompson, ao analisar as relações gentry/plebe na inglaterra do século XVIII, afirma que lá “nós

nos encontramos não tanto em uma inflexível batalha entre antagonismos irreconciliáveis, como com um ‘campo

de forças sociais’” (p.40,). O autor explica assim o que entende por campo de força, ou campo de conflito: “Estou

pensando em um experimento escolar em que uma corrente elétrica magnetiza uma placa coberta de lâminas de

ferro. As lâminas, que estavam uniformemente distribuídas, se arranjavam em um pólo ou em outro, enquanto

entre elas as lâminas que permaneciam em seu lugar tomavam o aspecto de alinhamentos dirigidos a um ou

outro polo oposto” (THOMPSON;1989,41)

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neste caso OCB e a UNISOL a favor da aprovação da lei, e a UNICAFES e a CONCRAB contrárias

a mesma.

Além destas entidades acima, que são as principais em torno do cooperativismo, outras

organizações da sociedade civil e movimentos sociais tem se envolvido nos debates e embates

em torno do marco jurídico do cooperativismo, geralmente a partir de questões pontuais.

Alguns destes movimentos sociais, e sua interface com o tema do marco jurídico do

cooperativismo, são:

Movimento de luta antimanicomial e pela reforma psiquiátrica: O movimento de luta

antimanicomial, no contexto da sua luta pela reforma psiquiátrica, foi e tem sido um

dos importantes sujeitos nas questões relativas ao cooperativismo social. De fato, foi o

movimento de luta antimanicomial que nos anos de 1990 propôs, a partir do modelo

italiano, a aprovação de uma lei das cooperativas sociais no Brasil. Esta lei foi aprovada

em 1999 e tem sido um importante instrumento na organização de pessoas com

desvantagens de acesso ao mundo do trabalho.

Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável: Já há algumas décadas os

catadores de material reciclável tem se organizado em movimento para efetivar sua

representação política e em cooperativas como forma de se organizarem

economicamente. Neste contexto, e a partir de seu continuo fortalecimento, o

movimento dos catadores tem cada vez mais participado dos debates em torno dos

marcos jurídicos do cooperativismo.

Movimento sindical do campo: Pela enorme presença de cooperativas no meio rural,

particularmente entre agricultores familiares, os principais sindicatos de

trabalhadores rurais, como CONTAG e FETRAF, tem tido participação ativa nos debates

sobre a lei geral do cooperativismo e sobre cooperativas de credito.

Centrais Sindicais – Particularmente a CUT, que vem debatendo o cooperativismo e a

economia solidária desde os anos de 1990, tem se interessado pelo marco jurídico da

economia solidaria e do cooperativismo.

Ainda, devido à pluralidade do cooperativismo, hoje se espalhando pelos mais diversos

campos econômicos, conforme o segmento que se trabalhe, novos sujeitos se envolvem em

torno dos debates sobre o marco jurídico do cooperativismo. Assim, quando se trata do tema

das cooperativas de trabalho, além das entidades citadas acima, se envolveram outras, como

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Ministério Público do Trabalho, cooperativas de médicos, Conselho Federal de Medicina, entre

outros. Quando se trata de cooperativas de crédito, se envolve também nos debates o Banco

Central do Brasil. Quando se trata de cooperativas sociais, aparecem movimentos ligados e

pessoas com deficiência, entidades ligadas aos direitos humanos, entre outras.

Além das entidades da sociedade civil, outro sujeito social que historicamente se

envolveu com a temática do marco jurídico do cooperativismo foi o próprio governo federal e

seus diversos órgãos que trabalham com a temática.

Neste sentido, desde que voltou para a pauta do Congresso Nacional a reformulação

das leis cooperativistas, no final de 2005, o governo federal vem participando do debate e

buscando mediações, tendo tomado posições explícitas em relação ao tema, tanto da lei geral,

como de legislações especificas.

Em 2008, fruto deste envolvimento do governo federal, o governo LULA apresentou ao

Congresso Nacional e à sociedade suas posições e opiniões em relação às mudanças

necessárias sobre o marco jurídico do cooperativismo.

Devido à diversidade e à pluralidade de sujeitos em torno dos debates, optamos por

apresentar abaixo apenas os principais pontos controversos das diferentes leis, a começar

pela principal, a chamada lei geral do cooperativismo.

4. APONTAMENTOS SOBRE OS PROJETOS DE REGULAMENTAÇÃO DO

COOPERATIVISMO EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO

A aprovação de uma nova Lei do Cooperativismo é um dos principais desafios para o

desenvolvimento e a democratização do cooperativismo no Brasil, e, especialmente, para a

garantia de possibilidades de formalização enquanto cooperativas dos empreendimentos

econômicos solidários. Como já afirmado antes neste trabalho, pelo menos desde a década de

1980 passam a surgir uma série de experiências de empreendimentos que são cooperativas

de fato, mas não de direito. Desta maneira, pode-se observar uma mudança significativa da

realidade social do cooperativismo brasileiro que não foi, contudo, acompanhada pelas

mudanças do arcabouço jurídico de modo a incluir esta diversidade de experiências no âmbito

do direito.

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No entanto, não são poucas as propostas que visam realizar mudanças nas leis que

regulam o cooperativismo, mas nem todas as propostas caminham no sentido, que nos parece

urgente, de aproximar o direito da realidade social pujante que vem ocorrendo no país.

Desta maneira, este objetivo específico da pesquisa visa à análise dos projetos para a lei

geral do cooperativismo atualmente em tramitação no Senado Federal, tendo em vista as

mudanças que os projetos trazem em relação à Lei 5764/71 e os aspectos mais polêmicos que

têm oposto os diversos setores do cooperativismo nessa matéria.

Embora o debate sobre a necessidade de renovação da legislação cooperativista do

Brasil venha ocorrendo desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os atuais

projetos de lei geral, dispondo sobre as sociedades cooperativas, vêm sendo discutidos no

Senado Federal há treze anos, a partir da apresentação do PLS n.º 171 de 1999, de autoria do

senador Osmar Dias (então filiado ao PSDB-PR), do PLS n.º 428 de 1999, do senador José

Fogaça (PMDB-RS), e do PLS n.º 605 de 1999, do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Desde

então, têm ocorrido um intenso debate, no âmbito do Senado e fora dele, entre sujeitos

políticos da sociedade civil e do Estado ligados ao cooperativismo, sem que haja consenso em

torno de alguns pontos cruciais dos projetos, como a questão da unicidade de representação.

Após oito anos de tramitação no Senado, os projetos foram arquivados, devido ao

decurso do prazo de tramitação previsto no Regimento Interno da casa (art. 332, § 1º). Nesse

período, foram realizadas audiências públicas com os diversos atores do movimento

cooperativista para debater os projetos. Criou-se um grupo de trabalho com representantes

do poder Legislativo e dos setores do poder Executivo ligados ao tema, foram apresentados

relatórios por Leomar Quintanilha (PMDB-TO), na Comissão de Constituição, Justiça, e

Cidadania, e Demóstenes Torres (do então PFL-GO), na Comissão de Agricultura e Reforma

Agrária, e foram propostas várias emendas pelos senadores Sibá Machado (PT-AC) e Ana Julia

Carepa (PT-PA).

Após o arquivamento, os senadores Osmar Dias e Eduardo Suplicy reapresentaram seus

projetos, praticamente sem alterações (PLS 3 e 153 de 2007), que, tramitando em conjunto,

receberam relatório, com projeto substitutivo, na Comissão de Constituição, Justiça e

Cidadania, pelo senador Renato Casagrande (PMDB-ES), e na Comissão de Assuntos

Econômicos, pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) estando agora na Comissão de

Agricultura e Reforma Agrária, tendo como relator o senador Waldemir Moka (PMDB-MS), e

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após a apresentação de seu relatório, retornará à Comissão de Assuntos Econômicos, sob a

relatoria do senador Lindbergh Farias (PT-RJ).24

O PLS 3 de 2007, de Osmar Dias, foi aprovado por todos os relatórios que se sucederam

até o momento (do senador Casagrande e da senadora Gleisi Hoffmann), e serviu de base aos

substitutivos por eles propostos. O PLS 153 de 2007 do senador Suplicy tem, no geral, uma

estrutura semelhante ao do senador Osmar Dias, mas em alguns pontos cruciais do debate

sobre a nova lei, que opõem os deferentes setores do cooperativismo, os dois projetos

divergem.

Conforme é expresso por Osmar Dias na justificativa do PLS 3 de 2007, o projeto é fruto

dos pontos de vista e das posições assumidas pela Organização das Cooperativas Brasileiras

(OCB): “Muitas das sugestões apresentadas, fruto de debates amplos e continuados,

promovidos nas bases do sistema por suas entidades de representação, sob a direção da

Organização das Cooperativas Brasileiras, estão incorporadas neste projeto, que julgamos

fundamental para a modernização do setor cooperativista.”25

O próprio autor reconhece que, além da necessidade de modernizar o cooperativismo no

Brasil, a lei 5764/71 foi superada pela Constituição de 1988 por estabelecer um sistema de

controle e interferência estatal sobre as cooperativas, sendo essa a principal justificativa do

projeto. No entanto, conforme veremos, o projeto reflete acima de tudo os interesses da OCB

(e dos setores do cooperativismo a ela ligados), sem observar aos princípios constitucionais

que a ela se contraponham.

Uma das principais novidades que o PLS 3 de 2007 traz é a expansão do conceito de ato

cooperativo, ao contrário do PLS 153, que mantém a conceituação tradicional. Além das

operações realizadas entre a cooperativa e o cooperado que constituam o objetivo social da

cooperativa, de acordo com o PLS 3/2007, estariam equiparados ao ato cooperativo “os

negócios auxiliares ou meios, indispensáveis à consecução os objetivos sociais.”26 Tal

dispositivo causou polêmica em função de representar, do ponto de vista do governo, uma

grande perda de receita fiscal, devido ao tratamento tributário diferenciado do ato

24 Depois apresentar seu relatório, em 06/05/2011, a senadora Gleisi Hoffmann o retirou de pauta, pedindo pra reexaminar do projeto, e após se afastar do mandato para assumir o cargo de Ministra de Estado, o projeto foi redistribuído para a relatoria do senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Dessa forma, o relatório de Gleisi Hoffmann não chegou a ser aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos. 25 BRASIL. Projeto de Lei do Senado n.º 3 de 2007, pg. 23. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=51036&tp=1> 26 BRASIL. Projeto de Lei do Senado n.º 3 de 2007, Art. 48, § 2º. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=51036&tp=1>

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cooperativo, previsto na Constituição. Em virtude do Projeto de Lei Complementar que trata

especificamente sobre o tratamento tributário do cooperativismo tramitar em separado da lei

geral do cooperativismo, a matéria foi excluída dos substitutivos apresentados pelo senador

Casagrande e pela senadora Gleisi Hoffmann, sendo deixada sua regulamentação

integralmente para a legislação específica, de forma que nos substitutivos o artigo da Lei

5764/71 (Art. 79) que trata do tema não é revogado.

Outra inovação do PLS 3 de 2007 é a criação de formas de participação de não-sócios na

cooperativa, como os Certificados de Aporte de Capital e os contratos de parceria, ambos não

previstos no PLS 153 de 2007, do senador Suplicy. Como mecanismo de capitalização, os

Certificados de Aporte de Capital são títulos que concedem o direito a uma remuneração, fixa

ou percentual, dos resultados da cooperativa. O total das emissões é limitado a um montante

não superior ao capital social, ou, no caso de estar vinculado a um investimento específico,

limitado a 80% de seu valor.

Ao possibilitar que tais certificados possam ser ofertados a não-sócios, no art. 56, o

projeto o aproxima a um processo de abertura de capital de uma empresa comum. Embora o

mesmo artigo proíba que com ele seja concedido qualquer direito privativo de sócio, exceto o

de fiscalização, o que, em tese, evitaria o risco de que os investidores passem a controlar a

cooperativa, mantendo sua autonomia, esse mecanismo afetaria o princípio do

cooperativismo, expresso em lei (inclusive no próprio projeto), de que as cooperativas são

sociedades sem fins lucrativos, o qual fundamenta o tratamento tributário diferenciado ao ato

cooperativo. Embora o investidor não seja sócio, ele estaria se beneficiando do ato

cooperativo, o que retiraria a justificativa para o tratamento diferenciado.

Em função disso, o senador Casagrande propôs a modificação, em seu substitutivo, da

natureza dos títulos, chamando-os de Certificados de Crédito Cooperativo (CCC), com

características semelhantes às de debêntures, isto é, títulos que conferem direito a

remuneração por meio de juros, mas sem participação nos resultados da cooperativa. Além

disso, propõe a redução do limite de sua emissão para 70% do capital social da cooperativa.

Essa proposta foi mantida pelo substitutivo da senadora Gleisi Hoffmann, apenas com uma

redução nos limites de emissão para 49% do capital social.

Apesar dessas modificações, a proposta ainda não é uma unanimidade nas discussões

entre os sujeitos do movimento cooperativista, sendo apontadas alternativas para a

necessidade de capitalização das cooperativas, como a ampliação das possibilidades de uso

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dos fundos de Assistência Técnica Educacional e Social (FATES), já existentes no regime da Lei

5764/71, com a permissão do uso entre as cooperativas, por exemplo, através de centrais ou

confederações de cooperativas.

Outro ponto de divergência, trazido pelo PLS 3/2007, é a possibilidade de pessoas

jurídicas com fins lucrativos e empresários individuais participarem como sócios das

cooperativas, desde que não exerçam atividades concorrenciais às delas (Art. 17, § 1º ). O

projeto ressalva que somente pessoas físicas podem ser eleitas para cargos de administração

e fiscalização. Além de colidir com os princípios do cooperativismo, teme-se que essa brecha

normativa seja utilizada por empresas apenas como forma de evasão fiscal, se beneficiando do

ato cooperativo, ou seja, das vantagens tributárias atribuídas às sociedades que não têm fins

lucrativos. A grande crítica a essa proposta é o fato do projeto de lei tirar o caráter de

excepcionalidade da admissão de pessoas jurídicas, que estava presente na lei 5764/71.

Outra crítica seria dirigida à introdução de dispositivos legais que aproximam cada vez

mais a cooperativa das empresas com fins lucrativos e sociedades simples com fins lucrativos

– a exemplo do art. 58, que cria a possibilidade de parcerias com não associados. Constatamos

um aprofundamento do processo que começou com a introdução do conceito de ato

cooperativo, qual seja, o de permitir que a cooperativa atue no mercado sem a limitação de

praticar atos apenas com os cooperados. Um avanço nestes mecanismos pode resultar na

descaracterização da sociedade como verdadeira cooperativa. Se a sociedade cooperativa faz

jus a benefícios fiscais é porque seu modo de comercializar ou atuar no mercado é diferente

das demais. Não há como justificar os benefícios fiscais concedidos às cooperativas se elas

cada vez mais atuam no mercado como as empresas com fins lucrativos.

Por seu turno, o PLS 153, do senador Suplicy, mantém a redação da lei 5764/71, que

prevê, no art. 4º, que podem ser admitidas nas cooperativas singulares, excepcionalmente,

pessoas jurídicas que exerçam as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas

naturais, ou que não tenham fins lucrativos. Embora esta última possibilidade não afete a

cooperativa quanto a seus princípios, a primeira, aparentemente, traria os mesmos problemas

das normas propostas no PLS 3/2007, isto é, a brecha para evasão fiscal e a contradição com

os princípios do cooperativismo.

Além disso, o projeto original de Osmar Dias, em seu art. 30, estabelece que “salvo

disposição diversa no estatuto social” cada associado tem direito a apenas 1 voto, no caso das

cooperativas singulares. Dessa forma, o estatuto poderia prever poderes de voto desiguais, o

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que, além de violar os princípios do cooperativismo, cumulado o artigo anteriormente citado,

possibilita a concentração de poder e a instrumentalização das cooperativas por empresas

capitalistas comuns. Cabe ressaltar que o PLS 153/2007 prevê, no art.2º, VII, a singularidade

de votos, facultando disposição diversa pelo estatuto apenas nas cooperativas centrais, nas

federações e confederações de cooperativas. Ademais, o referido artigo do PLS 3/2007 foi

modificado pelo substitutivo do senador Casagrande, que nesse ponto adotou redação

semelhante ao do PLS 153/2007, assim como o substitutivo da senadora Gleisi Hoffmann.

Estes são os principais pontos em debate em relação aos projetos de lei em tramitação.

4.1. Os principais pontos controversos no debate da nova “lei geral do

cooperativismo”

UNICIDADE, MULTIPLICIDADE OU LIBERDADE DE REPRESENTAÇÃO: A questão relativa à

representação do chamado sistema cooperativista parece ser um dos temas mais conflituosos

entre os sujeitos políticos que compõem o campo do cooperativismo. Por um lado, a lei

atualmente em vigor, a 5.764/1971, prevê que a lei regule o cooperativismo como um sistema,

ou seja, como uma unidade sistêmica e, portanto, quem deve regular e representar este

sistema, no caso, a Organização das Cooperativas Brasileiras.

Apesar de ter, com a constituição federal, perdido seu caráter paraestatal e mesmo

suas prerrogativas de entidade de representação única, a continuidade em vigor da lei 5.764

tem dado prerrogativas e privilégios para a OCB que as outras entidades de representação não

possuem. Além de ter sua representatividade garantida de cima para baixo, garantindo

inclusive unidade em seu interior que provavelmente não teria sem a lei 5764, a OCB tem

também acesso privilegiado a fundos públicos, que outras entidades de representação estão

longe de conseguir. É o caso dos recursos do SESCOOP, geridos por determinação infra legal

pela OCB e que garantem à entidade a gestão de um montante financeiro que ultrapassa, em

muito, a totalidade dos recursos do governo federal para apoio direto às cooperativas.

Por esta realidade de possuir acesso privilegiado aos recursos públicos é que se

compreende porque para a OCB é tão difícil abrir mão, nas atuais negociações, da unicidade de

representação prevista em dispositivo legal. Provavelmente não o fará se não em

circunstâncias especiais. Parece-nos que, para a OCB, é melhor a insegurança jurídica atual do

que uma mudança que, do ponto de vista dela, ameace tanto a sua atual unidade interna como

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o acesso privilegiado que hoje tem aos fundos públicos. Portanto, não aceitará mudanças se

não com a pressão democrática dos outros sujeitos políticos envolvidos.

Esta pressão vem ocorrendo nos últimos tempos, o que vem aumentando a dificuldade

moral para a OCB manter sua posição a favor da Unicidade. Desta maneira, a OCB já tem

manifestado publicamente que estaria disposta a abrir mão da unicidade de representação.

Contudo, por um lado, ela afirma que só abriria mão se fosse limitado pela lei o número de

representações, aceitando uma outra representação ao lado de si mesma. Por outro lado,

mesmo com suas afirmações públicas, no cotidiano da tramitação dos projetos de lei no

congresso nacional, a OCB tem constantemente impedido qualquer transformação na sua

reivindicação de ser considerada em lei a única entidade de representação.

Além disso, a questão da representação hoje parece não ter uma unidade de

posicionamento também entre as demais entidades de representação. Enquanto há entidades

(e o próprio governo federal) que advogam que a lei não deve interferir e regular

representação, sendo esta livre conforme versa a Constituição Federal, existem outras

entidades que defendem uma mediação entre a unicidade defendida pela OCB e a liberdade,

ou seja, algo que se aproxima de uma multiplicidade de representações, a partir de critérios

de representatividade definidas em lei. Desta maneira, a lei deveria sim regular a

representação, mas esta deveria contemplar não apenas a OCB, mas também outras entidades

que alcançassem certo patamar mínimo de representatividade. Considerando os critérios que

estão sendo debatidos seriam reconhecidas, além da OCB, mais uma ou duas entidades de

representação.

Outro posicionamento existente sobre o tema parece ser o do governo federal durante

o governo Lula. A compreensão do governo federal, manifesto em falas de seus representantes

assim como nos subsídios que encaminhou aos senadores, era que não cabe à lei

regulamentar representação e nem mesmo regular um pretenso “sistema cooperativista”. A lei

deveria se restringir a regular a sociedade cooperativa e deixar livre para que as cooperativas

se representem como acharem melhor, “de baixo para cima”. O que o governo federal aceitava

discutir era critérios para que entidades de representação pudessem representar seus

segmentos diante do estado e suas políticas públicas. Portanto, não caberia a lei determinar

como as cooperativas seriam representadas, estas seriam livres, mas sim os critérios para

que, por exemplo, estas representações participassem de um Conselho de políticas publicas

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para o cooperativismo. Esta posição do governo parecia ser apoiada por algumas entidades de

representação, mas como afirmamos acima, não por todas.

Por outro lado, a OCB, ao afirmar que abriria mão de ser a única entidade de

representação, fazia uma separação entre representação e controle, afirmando que, se por um

lado abriria mão da unicidade de representação, por outro não aceitaria o questionamento

contra a unicidade doutrinária do cooperativismo, isto é, um questionamento ao fato de que

ela própria fosse considerada como um órgão de fiscalização e controle do mesmo, como

veremos abaixo.

REGISTRO e CONTROLE: este é um dos pontos mais difíceis e controversos dos

projetos em tramitação. O principal projeto, do senador Osmar Dias e defendido pela OCB,

prevê que toda a cooperativa terá que se registrar na OCB, de modo que esta tenha a

possibilidade de monitorar e fiscalizar as cooperativas. O argumento, na nossa opinião

equivocado, é que a Constituição Federal impede a interferência do estado nas cooperativas, e,

portanto caberia a alguma entidade privada fazê-la, transformando a OCB numa espécie de

agencia reguladora do cooperativismo, mesmo mantendo seu caráter privado. Parece-nos

equivocada esta compreensão, pois, em primeiro lugar, confunde intervenção com regulação,

e em segundo, porque concede o poder de policia, atividade eminentemente estatal, para

entidade privada, dai sim sendo inconstitucional. Além dos absurdos jurídicos desta proposta,

nos parece ainda mais absurda moral e politicamente, ao conceder a uma única entidade

privada de representação, que como vimos, não representa o conjunto das cooperativas

brasileiras, o poder de regular a totalidade das cooperativas.

Na tentativa de construir mediação e negociação em relação ao tema o governo federal

e algumas entidades (aquelas do campo da economia solidária) propuseram que, no lugar de

uma entidade privada cuidar do registro e do controle das cooperativas, que fosse criado um

Conselho Nacional do Cooperativismo para tal cadastro e monitoramento, mas sem poder

punitivo, mas apenas consultivo. A responsabilidade de fiscalização continuaria sobre a

responsabilidade de cada órgão publico responsável pela área de atuação da cooperativa,

como por exemplo, o banco central para as cooperativas de credito ou a fiscalização do

trabalho para as cooperativas de trabalho. O Conselho seria composto por representantes do

governo e por entidades (no plural) de representação do cooperativismo e seria responsável

em propor políticas para o setor além de criar um banco de dados do cooperativismo

brasileiro.

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Esta proposta tem sido constantemente recusada pela OCB.

ADMISSÃO DE PESSOAS JURÍDICAS COM FINS LUCRATIVOS COMO SÓCIAS NAS

COOPERATIVAS: algumas entidades de representação ligadas à economia solidária são contra

esse mecanismo, principalmente em função do desvio que tal prática representa em relação

aos princípios cooperativistas, mas também preocupadas que, com a combinação deste e

outros artigos, vá se consolidando um perfil de cooperativa aberto a brechas para fraudes e

evasão fiscal. Por outro lado, outras entidades e o próprio governo federal não pareciam ter

objeção ao tema, levando em consideração a realidade de alguns ramos do cooperativismo.

POSSIBILIDADE DE APORTE DE CAPITAL EM COOPERATIVAS; as entidades da

economia solidária propõem colocar regras e barreiras ao aporte de capital nas cooperativas,

principalmente quanto à possibilidade de controle dos investidores da cooperativa. O

governo propõe que as transações sejam reguladas pela CVM.

AMPLIAÇÃO DO ATO COOPERATIVO: o projeto do senador Osmar Dias defendido pela

OCB prevê a ampliação da definição de ato cooperativo para as atividades correlatas. Isto

pode acabar resultando em uma significativa evasão fiscal, uma vez que o ato cooperativo tem

tratamento fiscal diferenciado, conforme a Constituição federal. O Governo federal

encaminhou à Câmara dos deputados uma proposta diversa de conceituação do ato

cooperativo. As entidades da economia solidária adotam uma postura de meio termo entre

OCB e governo: reivindicam facilidades tributárias vinculadas ao ato cooperativo, mas

restritas às pequenas cooperativas.

4.2. Os principais pontos controversos no debate da tributação das cooperativas

Em relação às leis tributárias, observa-se uma rearticulação das forças sociais e dos

sujeitos políticos do cooperativismo, o que define um campo de forças diferenciado para esse

tema. A esse respeito, apesar das diferenças entre as diferentes entidades de representação,

particularmente entre os dois principais campos, representados pela OCB, por um lado, e

pelas entidades da economia solidaria, por outro, os conflitos parecem colocar as duas do

mesmo lado, ambas se confrontando com o governo e, em particular, com a receita federal.

Para essa questão, o debate não coloca mais em lados opostos OCB e demais entidades,

mas sim o conjunto das entidades e o governo. As primeiras, pedindo uma legislação

tributária e uma definição de ato cooperativo mais amplo e que traga maiores benefícios ao

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conjunto das cooperativas e o segundo (o governo) preocupado em não transformar a

tributação de cooperativas em um grande instrumento de evasão fiscal para setores

consolidados.

Na verdade, a preocupação central da receita federal não parece ser as pequenas

cooperativas, aquelas formadas por pessoas pobres, que não aparecem em suas falas, nem

como problema nem como preocupação, mas sim, as grandes cooperativas. Nesse sentido,

forma-se um confronto entre o governo e o conjunto de cooperativas, sem se distinguir as

cooperativas entre si.

No entanto, é importante ressaltar que na fala de algumas entidades que representam

as cooperativas da economia solidaria, aparece a necessidade de se pensar uma forma de

imposto progressivo para as cooperativas, menor para as pequenas e que aumente

progressivamente conforme a cooperativa seja mais consolidada. Mas este debate,

infelizmente, desaparece diante o macro confronto entre a receita federal e o conjunto das

cooperativas.

4.3 Os principais pontos controversos no debate lei das cooperativas de trabalho

Pelo menos desde 2003, está sendo discutida pela sociedade brasileira a necessidade

de uma regulamentação específica para as cooperativas de trabalho. Essa discussão é

motivada pelo enorme crescimento desse tipo de cooperativas nas últimas décadas.

Esse crescimento, apesar de ter uma causa principal comum – as enormes mudanças

econômicas e sociais que levaram a profundas transformações no mundo do trabalho,

aumento do desemprego e precarização do trabalho no decorrer das décadas de 80 e 90 do

século XX – teve como consequência dois processos distintos em torno do cooperativismo de

trabalho: por um lado, a criação de cooperativas de trabalho por parte de trabalhadoras e

trabalhadores que foram excluídos do mercado de trabalho e buscaram a auto-organização

como alternativa para a criação de empreendimentos coletivos e solidários para gerarem seus

trabalhos e renda por cooperação e associação; por outro, a utilização da forma jurídica das

cooperativas nos processos de terceirização e subcontratação como instrumentos para burlar

a legislação trabalhista e precarizar o trabalho, o que deu origem às chamadas

“cooperfraudes” ou “coopegatos“ e que fragilizou as condições de trabalho de milhares de

trabalhadores no Brasil.

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Não vem ao caso aqui aprofundar as características dessa realidade e desse fenômeno

que, embora com idênticos nome e origem, tem motivações e consequências bem diferentes.

Cabe apenas destacar que essa realidade levou a sociedade brasileira – sujeitos da sociedade

civil (sindicatos, representação do cooperativismo, entidades de apoio à Economia Solidária

etc.) e agentes estatais – a discutir a necessidade de construção de um marco regulatório

específico para o cooperativismo do trabalho27.

Algumas entidades questionam se cabe construir uma legislação específica para as

cooperativas de trabalho, relacionando-as ao direito do trabalho e ao mundo do trabalho, ou

se tais empreendimentos deveriam ser considerados sob a ótica da legislação mais geral de

cooperativas.

Aquelas que advogam por esta necessidade percebem que a realidade vivida pela

sociedade brasileira nas últimas décadas, fruto da crise da sociedade salarial e das

metamorfoses do trabalho, fez com que surgissem tanto formas solidárias de cooperação no

trabalho, como também a proliferação das chamadas “coopergatos”. Considerando, portanto,

que as cooperativas de trabalho estão inseridas nas dinâmicas e conflitos próprios do mundo

de trabalho, lhes parece ser necessário uma regulação própria que as faça dialogar com esse

mundo, já extremamente regulado e um dos pilares dos direitos sociais que se construirão no

século XX.

Ou seja, podemos dizer que, para este grupo, tem sentido propor uma regulamentação

das cooperativas de trabalho devido à relação que estas têm com o chamado mundo do

trabalho – e, portanto, com os próprios direitos trabalhistas historicamente conquistados pela

27 Em 2003, o grupo de trabalho sobre micro e pequenas empresas, autogestão e informalidade do Fórum

Nacional do Trabalho tirou como diretriz que se deveria revogar o artigo 442 da CLT (artigo que abriu as portas

para a utilização da forma jurídica das cooperativas para burlar a legislação trabalhista) e no lugar dele propor

uma lei específica que regulamentasse o cooperativismo de trabalho. A partir dessa recomendação do Fórum

Nacional do Trabalho o governo federal, particularmente o Ministério do Trabalho, iniciou um amplo processo de

discussão interna do governo assim como com o Poder Judiciário e com entidades da sociedade civil relacionadas

com o tema (entidades da Economia Solidária, sindicatos, cooperativas de trabalho). Como fruto desse processo

foi encaminhado em 2006 ao Congresso Nacional um projeto de lei que tem como objetivo regular as

cooperativas de trabalho. Por 5 anos o Congresso Nacional tem debatido esse projeto, que foi apensado a outros

dois projetos que já existiam no parlamento de autoria de deputados (deputado Pompeo de Mattos e deputado

Walter Barelli) com o mesmo objetivo de regular as cooperativas de trabalho. Desde então um novo ciclo de

discussão se abriu no Congresso Nacional. Depois de muito debate, muitas polêmicas e muita negociação, no

momento de redação desse texto, o projeto de lei de regulamentação das cooperativas de trabalho foi aprovado

pelo Congresso nacional, de transformando na lei 12.690 de 19 de julho de 2012.

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classe trabalhadora – e com os processos e modificações que este mundo do trabalho vem

passando nas últimas décadas, particularmente o processo de precarização.

Dessa maneira, por essa visão, o esforço de construção de um novo marco regulatório

específico para as cooperativas de trabalho teria uma dupla motivação: por um lado,

reconhecer e conceituar juridicamente as cooperativas de trabalho, possibilitando-lhes

segurança jurídica, uma vez que a legislação cooperativista em vigor hoje no Brasil, a Lei

5.764 de 1971, não dá conta de regular a realidade das cooperativas de trabalho que crescem

e proliferam a partir dos anos 80 do século XX. Por outro lado, uma regulamentação mais

consistente das cooperativas de trabalho ajudaria a brecar o processo de precarização do

trabalho que se abriu a partir da utilização dessa forma jurídica como meio para burlar a

legislação trabalhista.

Para combater a precarização, as entidades responsáveis pela fiscalização do trabalho

e parte da justiça do trabalho procuram delimitar uma área do mercado de trabalho como

sendo exclusiva do trabalho assalariado e por suposto protegido. Outra área seria própria do

trabalho autônomo, dentro da qual estaria o trabalhador cooperado, ou seja, o autônomo e/ou

associado.

Esta distinção cria um mercado de trabalho monopolizado pelo capital, ou seja,

qualquer pessoa que queira vender seus serviços nesta área do trabalho dito “subordinado”

tem de encontrar um empregador que o contrate. O que fica patente no caso do TAC (Termo

de Ajuste de Conduta) da União com o Ministério Público do Trabalho: a maior parte do

mercado público de serviços terceirizados fica proibida a cooperativas; só intermediários de

mão de obra capitalistas têm acesso a ele. Essa realidade imposta pelo TAC tem inviabilizado a

existência de uma série de cooperativas.

Assim, o mecanismo cuja intenção inicial seria a de proteção acaba prejudicando o

direito à auto-organização do trabalho. O trabalho explorado pelo capital é imposto como o

normal, sem que o trabalhador possa fazer outra opção de gestão do seu trabalho.

A questão de fundo que baliza esse debate é que, no nosso mundo jurídico, o

trabalhador de uma cooperativa é classificado como um trabalhador autônomo, o que é

entendido, por sua vez, como mais próximo de um empregador do que de um trabalhador.

Argumenta-se assim que, por serem autônomos e, portanto, “senhores” do seu trabalho, não

cabem a estes trabalhadores os direitos do trabalho. Com este argumento, acreditamos estar

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caindo em uma série de armadilhas jurídicas e conceituais que estão longe de refletir a

realidade.

De fato, o trabalhador de uma cooperativa de trabalho é ao mesmo tempo dono

“associado” da cooperativa e trabalhador dela. Assim, não pode ser confundido nem com o

trabalhador empregado, pois é “dono do negócio” nem com o trabalhador autônomo, pois ele

“trabalha para a cooperativa”. É neste sentido que a experiência internacional vem chamando

o trabalhador cooperado como possuindo uma dupla condição: o de dono e de empregado da

cooperativa.

A Organização Internacional de Cooperativas de Produção Industrial, Artesanal e de

Serviços (Cicopa), a partir da Recomendação 193 da OIT (Organização Internacional do

Trabalho)28, afirma: “A relação do sócio trabalhador com sua cooperativa deve ser

considerada como distinta da do trabalho assalariado dependente convencional e do trabalho

autônomo”. A mesma Cicopa indica que os Estados nacionais devem:

(Reconhecer) em suas legislações que o cooperativismo de trabalho associado

está condicionado por relações trabalhistas e industriais distintas do trabalho

dependente assalariado e do auto emprego ou trabalho individual independente e

aceitem que as cooperativas de trabalho associado apliquem normas e regulamentos

correspondentes29

Ao realizarmos estudos de legislação comparada, podemos observar que estas

diretrizes propostas pela Cicopa encontram correspondência em legislações nacionais. Assim,

a OIT fez um inventário de legislações nacionais e regionais onde formulações semelhantes a

da Cicopa estão presentes. Como exemplo, podemos citar o estudo de um consultor da OIT

sobre a legislação cooperativa na França que evidenciou que:

as cooperativas estão em geral fundadas sobre o princípio da dupla condição

(...) Enquanto associado, o cooperador participa do lucro econômico, enquanto

assalariado ele é regido pelo direito do trabalho e se beneficia de sua proteção (...) Se

for fazer uma análise estritamente jurídica, está claro que com exceção das regras

28

Na recomendação 193 da OIT, ao afirmar o papel dos governo no apoio ao cooperativismo, existe o seguinte

item: os governos nacionais devem “(b) assegurar que não se instituam cooperativas, ou sejam usadas, como

artifícios para escapar a obrigações trabalhistas ou para mascarar relações de emprego, e combater falsas

cooperativas que violam direitos trabalhistas, garantindo a aplicação da legislação trabalhista em todas as

empresas” 29 http://www.cicopa.coop

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particulares expostas na 1ª parte, todo direito do trabalho aplica-se às Sociedades

Cooperativas Operárias de Produção.30

Não cabe repetir outras legislações semelhantes, que são diversas (Itália, Espanha,

Turquia etc.), mas afirmar que a compreensão dos trabalhadores cooperados como sendo

trabalhadores que possuem uma dupla condição, a de donos associados da cooperativa e de

trabalhadores dela, podendo e devendo assim incidir sobre estes obrigações e direitos da

legislação trabalhista, é algo comum dentro da legislação de outros países.

No Brasil, o instrumento utilizado pelos órgãos de fiscalização até agora para combater

a precarização através das cooperativas de trabalho é a restrição da atuação em alguns

mercados, particularmente o de serviços. Assim, como afirmam alguns, as cooperativas só

podem funcionar através de “trabalho novo”, ou seja, argumentam que onde existe

trabalhador subordinado (empregado celetista), cooperativas estão proibidas de inserir-se.

Além de isso levar a uma reserva de mercado para as empresas tradicionais, vai no sentido

contrário a qualquer política de desenvolvimento do cooperativismo, restringindo o lugar

destas “às margens” e às situações de crises.

Assim, só tem sentido propor um projeto de lei para as cooperativas de trabalho, se

este for capaz de resolver a questão a partir de um outro viés, no qual permaneça a

preocupação em coibir o processo contínuo de precarização do trabalho, seja através das

cooperativas fraudulentas (coopergatos), seja através da precarização que trabalhadores

associados se impõem em condições de mercado, e ao mesmo tempo permita o fortalecimento

da possibilidade de trabalhadores se organizarem em cooperativas.

A lei 12.60/2012 realiza esse movimento ao entender os direitos trabalhistas como

direitos humanos. Ou seja, os direitos do trabalho são irrenunciáveis, não podendo ser

“negociados em contrato mercantil”. Só assim será possível combater a precarização.

Os principais argumentos contra essa proposta são de três ordens: uma conceitual,

outra jurídica e outra econômica.

Do ponto de vista conceitual, voltamos ao debate em relação à caracterização do

trabalhador de uma cooperativa como trabalhador associado. Argumenta-se que ele é um

autônomo que não pode e não deve ter heteronomia em seu trabalho. Qualquer obrigação

imposta a esses trabalhadores iria ferir sua autonomia e sua capacidade empreendedora. Esse

argumento advoga que a cooperativa de trabalho nada tem a ver com a legislação trabalhista,

30 Fonte: http://www.oit.org.br/content/sobre-promo%C3%A7%C3%A3o-de-cooperativas

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por serem trabalhadores autônomos associados, donos de empresas e, portanto, devem ser

regulados pelo código civil e não pela legislação trabalhista.

Considerando que autonomia é um conceito relacional, se é autônomo em relação a

alguma coisa, o limite desse argumento é a inviabilização da cooperativa de trabalho, pois

apenas pelo fato de uma assembleia de uma cooperativa determinar regras simples, como

coordenação de trabalho entre cooperados, já seria ferida a autonomia destes. Apesar de

parecer exagerado o argumento, ele já foi utilizado por um fiscal do trabalho para argumentar

que se numa cooperativa houver coordenação entre os cooperados de horário de trabalho,

então já existe subordinação.

Alguns daqueles que defendem a lei caminham no sentido do parâmetro da Cicopa

anteriormente citado e afirmam, ao contrário, que o trabalhador cooperado tem uma dupla

condição, de associado da cooperativa e de trabalhador nela e que, nesse sentido, ele não se

confunde com o trabalhador autônomo nem com o trabalhador empregado. É uma categoria

própria.

Assim, a proposta de expansão de direitos aos cooperados, por um lado, coloca limites

à cooperativa na possibilidade de rebaixar a remuneração do trabalho a limites considerados

socialmente não aceitáveis, mas mantém a autonomia de definir os valores acima deste

patamar.

Além disso, não se pode pensar as cooperativas de trabalho e os trabalhadores

associados como um mundo à parte e dissociado das questões e embates do mundo do

trabalho e de suas transformações nas últimas décadas e, portanto, de sua própria regulação,

sob o risco de ser funcional para os processos de exploração do trabalho que o cooperativismo

de trabalho surgiu justamente para negar.

Do ponto de vista jurídico os que advogam contra a lei argumentam, em primeiro lugar,

que a legislação trabalhista existe apenas para regular a relação capital/trabalho, e a situação

de “hipossuficiência” do trabalho em relação ao capital, cabendo assim sua lógica apenas para

o trabalho subordinado.

Esse argumento não se sustenta, em primeiro lugar, quando aceitamos a dupla

condição do trabalhador cooperado, ou seja, ele não é autônomo em relação à assembleia, ele

tem que coordenar seu trabalho com os outros associados e com os contratos estabelecidos.

Mas, acima de tudo, não se sustenta se entendermos, como o faz o projeto de lei, o direito do

trabalho como um direito humano, ou seja, de caráter universal, que parece ser o caminho

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seguido pelas organizações internacionais e pelo próprio Brasil quando prevê os direitos do

trabalho nos direitos fundamentais do cidadão, ou seja, de todos. Dessa maneira, a questão

não está na complexidade das relações do trabalho existentes hoje, de como delimitar as

fronteiras onde os direitos são aplicáveis ou não, mas justamente ampliar os direitos e

construir novas institucionalidades que deem conta dessa ampliação.

Outro argumento jurídico diz respeito à necessidade de distinção clara entre o

trabalhador subordinado, conforme previsto no artigo 2° e 3° da CLT e o trabalhador de uma

cooperativa. Afirma-se que ao se expandir os direitos para os trabalhadores de cooperativas,

ficará reduzida a capacidade de realizar esse tipo de distinções. No entanto, se ambos forem

sujeitos dos mesmos direitos, a distinção deixa de ter importância.

Um último argumento jurídico diria respeito à inconstitucionalidade do artigo, uma vez

que a Constituição federal versa que não haverá intervenção do Estado na cooperativa. Na

nossa compreensão este artigo versa a não interferência na dinâmica e na vida interna da

cooperativa. Se não fosse assim, e se fôssemos levar este artigo ao pé da letra, o Estado não

poderia construir nenhuma legislação para as cooperativas, pois qualquer delas, mesmo que

seja obrigando a realização de assembleias anuais, seriam intervenções do Estado na

cooperativa. Como não é essa a compreensão mais geral sobre o tema, entendemos que o

Estado não deve intervir nas dinâmicas e decisões das cooperativas, mas não pode se furtar a

regulá-las.

Por fim, existem os argumentos de ordem econômica, ou seja, que as cooperativas de

trabalho, ou a grande maioria delas, não sobreviveriam se a ampliação dos direitos para os

trabalhadores de cooperativas fosse colocada em prática imediatamente.

Esse de fato parece ser o problema mais delicado enfrentado pela nova lei das

cooperativas de trabalho. Se o objetivo do projeto, por um lado, é evitar que se utilize a

cooperativa para precarizar o trabalho, por outro, como afirmamos, é possibilitar o

desenvolvimento e apoio ao cooperativismo de trabalho. Não se pode, em torno de um dos

objetivos, relevar o outro.

Dessa maneira, não deve ser a intenção de uma nova lei inviabilizar as cooperativas de

trabalho, mas sim trabalhar para seu desenvolvimento e consolidação, não restringindo o

mercado para elas e tampouco aceitando que sejam utilizadas para precarizar o trabalho.

Foi no sentido de contemplar esses dois objetivos – desenvolver o cooperativismo de

trabalho e propor formas de se evitar a precarização – que se propôs que se atrelasse ao

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projeto um Programa Nacional de Fomento ao Cooperativismo de Trabalho (Pronacoop),

tendo em vista habilitar essas cooperativas a proporcionar condições de trabalho decente a

seus membros. Assim, o Estado, a partir de políticas de apoio e fomento, deve oferecer

condições para que as cooperativas se desenvolvam economicamente, de modo a propiciar a

seus trabalhadores condições de trabalho descente.

Em suma, uma nova lei do cooperativismo do trabalho deve buscar, em primeiro lugar,

dar segurança jurídica ao cooperativismo de trabalho. Isso significa dar maior clareza à

conceituação jurídica desse tipo de cooperativa, contemplando suas especificidades. Além

disso, deve fortalecer as instâncias democráticas desse tipo de cooperativa. Nesse sentido, a

lei aprovada prevê a realização de um número maior de assembleias anuais em relação aos

demais tipos de cooperativas, desburocratiza a convocação de assembleias e prevê quóruns

mais representativos.

Em terceiro lugar, a lei deve considerar a dupla condição dos trabalhadores

cooperados, e afirmar que a cooperativa deve garantir condições de trabalho descente,

prevendo a expansão de direitos do trabalho previstos no artigo 7° da Constituição federal aos

trabalhadores cooperados.

Por fim, para não inviabilizar a cooperativa com a expansão destes direitos, deve-se

garantir que o Estado, a partir dos fundos públicos, disponibilize condições de

desenvolvimento econômico para as cooperativas de modo que elas tenham os meios para

propiciar aos seus cooperados esses diretos.

Foi conseguido, depois de anos de debate e discussões, um relativo consenso entre os

interessados – sindicatos, cooperativas de trabalho e seus órgãos de representação, auditores,

procuradores e magistrados da Justiça do Trabalho – em torno de uma lei do cooperativismo

do trabalho conforme exposto acima. Resta efetivá-la de modo que uma nova página do

cooperativismo de trabalho no Brasil se abra.

5. REPRESENTAÇÃO DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS: A UNICIDADE E O DIREITO À

LIVRE ASSOCIAÇÃO

Uma das heranças mais fortes da Política Nacional de Cooperativismo instaurada pelo

Regime Militar, a questão da unicidade de representação das cooperativas, concedida à OCB e

às suas afiliadas estaduais pela Lei 5.764/71, é um dos principais pontos de disputa dentro do

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cooperativismo brasileiro, cuja superação envolve não apenas repercussões de ordem

econômica para as cooperativas, mas a própria adequação do regime jurídico das

cooperativas à Constituição Federal de 1988 e a consolidação do regime democrático nessa

esfera da sociedade brasileira.

Esta seção procura, a partir de uma leitura das origens históricas da representação do

cooperativismo no Brasil e da jurisprudência atual à luz da Constituição, analisar a

constitucionalidade do regime de unicidade de representação estabelecido na Lei 5764/71, e

as propostas de disciplina jurídica da representação nos projetos de lei em discussão no

Senado Federal.

5.1. Histórico: a criação da Lei 5764/71 e da OCB

A criação do sistema de unicidade de representação das cooperativas no Brasil ocorre

no contexto histórico específico da ditadura militar. No decorrer de um processo de

acirramento das tensões sociais e políticas, intensificado pelo contexto da Guerra Fria, o golpe

militar de 1964 foi a saída encontrada pelas classes dominantes, por meio do uso da força,

para conter a ascensão da participação política da classe trabalhadora e estabelecer um

processo de modernização conservadora, articulado “pelo alto”, por acordo entre diferentes

parcelas das classes dominantes e com a conservação de traços pré-capitalistas (como o

latifúndio).31

Após o golpe militar de 1964, verificou-se um processo generalizado de intervenção do

regime militar nas diversas instâncias da sociedade civil que lhe pudessem oferecer

resistência, e uma concentração total de poderes nas mãos do Poder Executivo, em

detrimento do Legislativo e do Judiciário. Inicialmente, suspenderam-se os direitos políticos e

cassaram-se os mandatos legislativos daqueles considerados inimigos do regime, pelo Ato

Institucional n.º 1; em seguida, extinguiram-se os partidos políticos e instaurou-se o

bipartidarismo, pelo Ato Institucional n.º 2.

31 FARIA, Eduardo. A Organização das Cooperativas Brasileiras e a negação do direito fundamental à livre

associação, 2006, pp. 47-48 (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná). Disponível em: <

http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/3768/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf?sequenc

e=1 >. Acesso em: 02/08/12.

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O movimento sindical, um dos principais setores da sociedade civil que se mobilizavam

em oposição ao regime, foi reprimido com a intervenção nos sindicatos, por meio dos artigos

528 e 555 da CLT32, que previam a possibilidade de intervenção do Ministério do Trabalho e

Previdência Social por motivos de segurança nacional, e até a possibilidade de cassação da

entidade sindical. Outro instrumento de repressão foi a restrição ao exercício do direito de

greve, pela Lei n.º 4.330, de 1964, que tornou ilegais as greves realizadas por motivos

políticos, partidários, religiosos, sociais, de apoio ou solidariedade, sem quaisquer

reivindicações que interessem, direta ou legitimamente, à categoria profissional, entre outras

medidas de intervenção.33

E, por fim, com o Ato Institucional n.º 5, endureceu-se a repressão às mobilizações

populares e ao movimento estudantil, através da suspensão do habeas corpus para “crimes

políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular”34,

tornando-se sistemática a realização de prisões políticas e tortura. O AI-5 também deu plenos

poderes ditatoriais para o Poder Executivo decretar o recesso do Poder Legislativo nas três

esferas da União, e durante sua vigência, impôs-se a censura prévia à imprensa, ao cinema, ao

teatro e à música.35

Enquanto o governo intervinha e desarticulava os espaços da sociedade civil que se

opunham ao regime militar, ao mesmo tempo estimulava a criação de entidades que

apoiassem e dessem legitimação política e ideológica ao regime, preenchendo o vácuo

produzido na sociedade pela repressão. Nesse processo de centralização de poder e controle e

de construção de espaços de sustentação do regime, em 1969, o governo procurou, também

32 “Art. 528. Ocorrendo dissídio ou circunstâncias que perturbem o funcionamento de entidade sindical ou motivos relevantes de segurança nacional, o Ministro do Trabalho e Previdência Social poderá nela intervir, por intermédio de Delegado ou de Junta Interventora, com atribuições para administrá-la e executar ou propor as medidas necessárias para normalizar-lhe o funcionamento. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 3, de 27.1.1966) Art. 555. A pena de cassação da carta de reconhecimento será imposta à entidade sindical: b) que se recusar ao cumprimento de ato do Presidente da República, no uso da faculdade conferida pelo art. 536; (Vide Decreto nº 229, de 1967) c) que criar obstáculos à execução da política econômica adotada pelo Governo. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 8.080, 11.10.1945)” BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 02/08/12. 33 “Art 22. A. greve será reputada ilegal: III - Se deflagrada por motivos políticos, partidários, religiosos, sociais, de apoio ou solidariedade, sem quaisquer reivindicações que interessem, direta ou legitimamente, à categoria profissional;” BRASIL. Lei n.º 4.330, de 1º de junho de 1964. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4330.htm>. Acesso em: 02/08/12. 34 “Art. 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.” BRASIL. Ato Institucional n.º 5, de 13 de dezembro de 1968. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm>. Acesso em: 02/08/12. 35 SOARES, G. A. D. Censura durante o regime autoritário. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 4, n. 10, p. 22 e ss, jun. 1989.

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no intuito de apoiar o cooperativismo como instrumento de desenvolvimento econômico do

setor rural, através da atuação do Ministério da Agricultura, estimular a unificação das duas

entidades representativas do cooperativismo do Brasil à época, a Aliança Brasileira de

Cooperativas – ABCOOP, e a União Nacional das Associações de Cooperativas – UNASCO,

resultando na criação da Organização das Cooperativas Brasileiras36.

Após a sua criação, a OCB integrou, conjuntamente com representantes do governo, um

chamado grupo de estudos para discutir e definir uma política nacional para o cooperativismo.

Esse grupo elaborou o Projeto de Lei 292, depois convertido na Lei 5764/71, por meio da qual

seria atribuída à OCB a função de representar e centralizar todas as medidas relacionadas ao

cooperativismo no Brasil.37

A Lei 5764/71 estabeleceu um sistema de controle sobre o cooperativismo baseado em

três instâncias. Em primeiro lugar, o Conselho Nacional de Cooperativismo (CNC), responsável

pela ordenação e regulamentação geral da política nacional. Subordinados a ele, os órgãos

executivos federais de fiscalização e controle, representados pelo Banco Central do Brasil,

para as cooperativas de crédito, o Banco Nacional da Habitação, para as cooperativas de

habitação, e o INCRA, para as demais cooperativas. E por fim, a OCB, elevada pela lei à

condição de órgão técnico-consultivo responsável pela representação e defesa do chamado

“sistema cooperativista nacional”.

Em seus arts. 105 e 107, a lei determinou a obrigatoriedade, para todas as

cooperativas, de registro na OCB, suprimindo qualquer forma de liberdade de criação de

cooperativas sem que elas passassem por seu crivo, e qualquer liberdade de associação das

cooperativas em relação a ela. À OCB era delegada a função autorizar o registro, fiscalizar e até

denunciar “práticas nocivas” ao Conselho Nacional do Cooperativismo. Sua estrutura,

organização e competências, dentro da Política Nacional do Cooperativismo, são definidas

pelo art. 105:

36 Segundo a ata de constituição da OCB, a reunião que deliberou pela fusão das duas entidades ocorreu por

convocação do então Ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, e foi realizada em seu gabinete. Cf.

FARIA, Eduardo. A Organização das Cooperativas Brasileiras e a negação do direito fundamental à livre associação,

2006, pp. 70-71 (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná). Disponível em: <

http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/3768/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf?sequenc

e=1 >. Acesso em: 02/08/12. 37FARIA, Eduardo. A Organização das Cooperativas Brasileiras e a negação do direito fundamental à livre

associação, 2006, 133 p. (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Paraná). Disponível em: <

http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/3768/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf?sequenc

e=1 >. Acesso em: 02/08/12.

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Art. 105. A representação do sistema cooperativista nacional cabe à Organização

das Cooperativas Brasileiras - OCB, sociedade civil, com sede na Capital Federal,

órgão técnico-consultivo do Governo, estruturada nos termos desta Lei, sem

finalidade lucrativa, competindo-lhe precipuamente:

a) manter neutralidade política e indiscriminação racial, religiosa e social;

b) integrar todos os ramos das atividades cooperativistas;

c) manter registro de todas as sociedades cooperativas que, para todos os

efeitos, integram a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB;

d) manter serviços de assistência geral ao sistema cooperativista, seja quanto à

estrutura social, seja quanto aos métodos operacionais e orientação jurídica, mediante

pareceres e recomendações, sujeitas, quando for o caso, à aprovação do Conselho

Nacional de Cooperativismo - CNC;

e) denunciar ao Conselho Nacional de Cooperativismo práticas nocivas ao

desenvolvimento cooperativista;

f) opinar nos processos que lhe sejam encaminhados pelo Conselho Nacional

de Cooperativismo;

g) dispor de setores consultivos especializados, de acordo com os ramos de

cooperativismo;

h) fixar a política da organização com base nas proposições emanadas de seus

órgãos técnicos;

i) exercer outras atividades inerentes à sua condição de órgão de

representação e defesa do sistema cooperativista;

j) manter relações de integração com as entidades congêneres do exterior e suas

cooperativas.

§ 1º A Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, será constituída de

entidades, uma para cada Estado, Território e Distrito Federal, criadas com as mesmas

características da organização nacional.

§ 2º As Assembléias Gerais do órgão central serão formadas pelos Representantes

credenciados das filiadas, 1 (um) por entidade, admitindo-se proporcionalidade de

voto.

§ 3° A proporcionalidade de voto, estabelecida no parágrafo anterior, ficará a

critério da OCB, baseando-se no número de associados - pessoas físicas e as exceções

previstas nesta Lei - que compõem o quadro das cooperativas filiadas.

§ 4º A composição da Diretoria da Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB

será estabelecida em seus estatutos sociais.

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§ 5° Para o exercício de cargos de Diretoria e Conselho Fiscal, as eleições se

processarão por escrutínio secreto, permitida a reeleição para mais um mandato

consecutivo.

(...)

Art. 107. As cooperativas são obrigadas, para seu funcionamento, a registrar-se

na Organização das Cooperativas Brasileiras ou na entidade estadual, se houver,

mediante apresentação dos estatutos sociais e suas alterações posteriores.

(Grifos nossos.)

Procurando manter um poder de controle direto sobre as cooperativas, o governo

instituiu, no capítulo referente à constituição das sociedades cooperativas, um procedimento

de autorização de funcionamento no qual os órgãos executivos federais de controle tinham

competência para verificar a “existência de condições de funcionamento da cooperativa em

constituição”:38

O regime da Lei 5764/71 caracteriza, portanto, o sistema cooperativo como uma

estrutura na qual, por meio de agentes dos setores público e privado, o Estado suprimia

qualquer forma de autonomia de constituição e organização das cooperativas. Nesse sistema,

a OCB era crucial para a manutenção da unidade da doutrina cooperativista, garantindo que

ela permanecesse alinhada ao projeto político do regime militar.

5.2. A Constituição Federal de 1988 e o regime democrático

Nos anos 80, ao mesmo tempo em que ocorreu uma nova ascensão das mobilizações

populares e nos movimentos sociais no processo de redemocratização e na Assembleia

Constituinte, o país passou por um longo período de estagnação econômica, que resultou no

surgimento de novas formas de organização social no cooperativismo. Neste novo cenário, a

Lei 5764/71 se tornava anacrônica, tanto por manter uma herança de tutela do Estado sobre

o cooperativismo, quanto pelo fato de que as novas cooperativas que surgiam, as cooperativas

38

Art. 17. A cooperativa constituída na forma da legislação vigente apresentará ao respectivo órgão executivo

federal de controle, no Distrito Federal, Estados ou Territórios, ou ao órgão local para isso credenciado, dentro de 30 (trinta) dias da data da constituição, para fins de autorização, requerimento acompanhado de 4 (quatro) vias do ato constitutivo, estatuto e lista nominativa, além de outros documentos considerados necessários. Art. 18. Verificada, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de entrada em seu protocolo, pelo respectivo órgão executivo federal de controle ou órgão local para isso credenciado, a existência de condições de funcionamento da cooperativa em constituição, bem como a regularidade da documentação apresentada, o órgão controlador devolverá, devidamente autenticadas, 2 (duas) vias à cooperativa, acompanhadas de documento dirigido à Junta Comercial do Estado, onde a entidade estiver sediada, comunicando a aprovação do ato constitutivo da requerente. (...)

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populares, mais tarde chamadas de cooperativas de economia solidária, não se enquadravam

no modelo de cooperativa ao qual a lei se dirigia: majoritariamente, cooperativas

agropecuárias orientadas por uma visão empresarial e agroexportadora.

Refletindo seu contexto de ascensão democrática, a Constituição de 1988 trouxe dois

dispositivos que contrariam frontalmente o regime jurídico do cooperativismo tal como

estabelecido pela Lei 5764/71. Contidos no rol dos Direitos e Garantias Fundamentais, no art.

5º, inciso XVIII, o direito à livre constituição de cooperativas e a proibição da intervenção

estatal em seu funcionamento foram afirmados, nos seguintes termos:

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de

autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Ainda no art. 5º, em seu inciso XX, a Constituição proibiu expressamente a

possibilidade de se obrigar alguém a se associar ou permanecer associado a qualquer tipo de

entidade:

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Fazendo-se uma interpretação sistemática dos dois dispositivos, pode-se desdobrar o

direito à liberdade de organização e associação para constituição e representação das

sociedades cooperativas nas seguintes dimensões:

a) como o direito de livre criação dessas sociedades e de livre estabelecimento das

normas de organização, funcionamento e representação interna; b) como direito à

livre associação das sociedades cooperativas entre si,para deliberarem sobre a criação

de pessoa jurídica que as congregue e as represente na defesa de seus interesses

comuns ou, em sentido oposto, o direito de se desvincular espontaneamente da pessoa

jurídica a que estavam associadas, e c) em sua vertente negativa, pode ser

compreendido como o direito a não se associar, ou de não tomar parte de qualquer

entidade representativa, como têm ressaltado a doutrina e as Cortes Constitucionais

de outros países.39

Portanto, o direito de livre associação, nessas três dimensões, foi inscrito entre os

direitos fundamentais e à luz dele deve ser analisada a constitucionalidade da Lei 5764/71,

especialmente seus artigos que dispõem sobre a unicidade de representação. Assim sendo, os

artigos 105 e 107, ao estabelecerem que à OCB caiba a representação do sistema

cooperativista nacional, e que as cooperativas são obrigadas a se registrarem nela para seu

39

FARIA, Eduardo A Organização das Cooperativas Brasileiras e a Negação do Direito Fundamental à Livre Associação, Dissertação de Mestrado, UFPR, Curitiba, 2006, pg. 94.

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funcionamento, violam claramente o direito de livre associação garantido na Constituição, e,

na medida em que são direitos fundamentais, são uma afronta ao próprio Estado Democrático

de Direito. O mesmo se dá com os artigos 17 e 18, que estabeleciam o procedimento de

autorização de funcionamento das cooperativas pelo Estado.

Assim, tem sido o entendimento da jurisprudência. Ao apreciar demanda a respeito da

obrigatoriedade de filiação de uma cooperativa à Organização das Cooperativas do Estado do

Rio Grande do Sul (OCERGS), a Justiça Federal do Rio Grande do Sul firmou o seguinte

entendimento, em caráter liminar:

De fato, a exigência em pauta cerceia o direito constitucional de livre

associação, uma vez que o art. 5º, XX da CF/88 diz que ninguém poderá ser compelido

a associar-se ou a permanecer associado. Ademais, também a Constituição garante,

pretendendo incentivar a criação de cooperativas, que estas não dependem de

autorização do Poder Público para serem criadas. Ora, se não dependem sequer de

autorização do Poder Público, por que dependeriam de autorização de pessoas

jurídicas de direito privado, como os sindicatos?

E em que pese a lei estadual não mencionar o vocábulo ‘autorização’, a exigência de

pré-registro no Sindicato funciona como verdadeira autorização para funcionarem as

cooperativas, na medida em que sem tal medida não conseguem efetivar o registro na

Junta Comercial, e em conseqüência, no CNPJ, inviabilizando inteiramente as atividade

da Cooperativa, o que denota a presença do periculum in mora.40

Igualmente, o Ministério Público Federal manifestou entendimento, em outro caso de

mandado de segurança, nesse mesmo sentido quanto ao tema da liberdade de associação,

sendo depois acatado na decisão de mérito:

Note-se que não se olvida dos benefícios que a associação entre entes com

comunhão de interesses pode trazer para a coletividade, já que é possível que um

sindicato de cooperativas possa obter maior sucesso no pleito de maiores incentivos

estatais do que uma única cooperativa, por exemplo. Todavia, tal objetivo não pode

servir como justificativa para uma obrigatoriedade de associação da cooperativa a ser

criada pelos impetrantes junto a OCERGS, pelo que também sob este aspecto pode ser

tido como ilegal o ato da autoridade impetrada.41

40 BRASIL. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio Grande do Sul. Circunscrição Judiciária de Porto Alegre. Mandado de Segurança n.º 2003.71.00.0017767-7. Adair Machado Barbosa e outros e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul - OCERGS. Juíza Federal Verbena Duarte B. de Carvalho. 2003. 41 BRASIL. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio Grande do Sul. Circunscrição Judiciária de Porto Alegre. Mandado de Segurança n.º 2003.71.00.006267-9. Ademar de Oliveira e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul - OCERGS. Procurador da República Marcelo Veiga Beckhausen. 2003.

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Caso se adote essa interpretação da garantia do direito à livre associação pela

Constituição, a conclusão lógica que se segue é a revogação tácita, por superveniência das

normas constitucionais, dos artigos 17, 18, 105 e 107da Lei 5764/71, sob o ângulo material,

assim como do sistema de controle e intervenção do Estado sobre as cooperativas, seja de

forma direta, seja de forma delegada, através da OCB. Conforme veremos, no entanto, em face

da persistência na legislação de diversos Estados da obrigatoriedade de filiação à OCB, a

jurisprudência aponta a inconstitucionalidade desse poder conferido à OCB a partir de outros

fundamentos.

5.3. Inconstitucionalidade por invasão de competência legislativa federal

Além de sua inconstitucionalidade devido à violação da liberdade de associação, a

prerrogativa conferida pela lei 5764/71 à OCB, de entidade representativa do cooperativismo

no Brasil, que acarreta na obrigação das cooperativas de se registrarem nela ou nas entidades

estaduais a ela afiliadas, viola atualmente outros preceitos constitucionais.

A OCB, desde a edição da lei 5764/71, tem tido presença em juntas comerciais de

diversos estados, seja por livre indicação de vogais pelo governador, seja por previsão

normativa expressa, quando a legislação estadual exige pré-certificado de registro na OCB

para registro na junta comercial. Para se analisar os mecanismos desses dois tipos de situação,

é necessário compreender um pouco a estrutura das juntas comerciais.

Os órgãos colegiados das Juntas Comerciais são o Plenário e as Turmas, sendo que o

Plenário é composto de 13 a 23 vogais, que com a exceção do Presidente e do Vice-Presidente,

são divididos em Turmas de três vogais cada. As decisões singulares, dentro das quais se

encontra o arquivamento do ato constitutivo das sociedades cooperativas, são proferidas pelo

presidente da junta comercial, por um vogal por ele designado ou por um servidor pra isso

designado que possua comprovados conhecimentos de Direito Comercial e Registro de

Empresas Mercantis (Lei 8.934/94, art. 42), cabendo pedido de reconsideração da decisão a

quem proferi-la, além de recurso ao Plenário (arts. 44 a 46). A escolha dos vogais se dá

conforme o art. 12 da Lei 8.934/94:

Art. 12. Os vogais e respectivos suplentes serão escolhidos da seguinte forma:

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I – a metade do número de vogais e suplentes será designada mediante

indicação de nomes, em listas tríplices, pelas entidades patronais de grau superior e

pelas Associações Comerciais, com sede na jurisdição da junta;

II – um Vogal e respectivo suplente, representando a União, por nomeação do

Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; (Redação

dada pela Lei nº 10.194, de 14.2.2001)

III – quatro vogais e respectivos suplentes representando a classe dos

advogados, a dos economistas, a dos contadores e a dos administradores, todos

mediante indicação, em lista tríplice, do Conselho Seccional ou Regional do Órgão

Corporativo dessas categorias profissionais; (Redação dada pela Lei nº 9.829, de

1999)

IV – os demais vogais e suplentes serão designados, no Distrito Federal,

por livre escolha do Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo;

e, nos Estados, pelos respectivos governadores.

(Grifo nosso.)

Alega-se freqüentemente que a presença de vogais da OCB nas Juntas Comerciais de

vários estados, com poderes de tomar decisões singulares sobre o registro de cooperativas

estaria acarretando, em muitos casos, a denegação dos pedidos de registro de

empreendimentos econômicos solidários por questões políticas, além da imposição do

registro na OCB para a realização do arquivamento do ato constitutivo. 42

Embora a Lei 8.934/94 não garanta (como visto acima) a participação de vogais

indicados pela OCB, um projeto de lei de autoria do Deputado Reinaldo Azambuja (PSDB/MS),

o PL 1953/2011, propõe um aumento “no número mínimo de vogais para incluir

representantes das filiadas da OCB (Sindicatos e Organizações Estaduais) na composição dos

membros das Juntas Comerciais”43 para a análise de atos constitutivos, sob a justificativa de

contribuir para um aprimoramento dos quadros de vogais com a presença de pessoas com

42 Cita-se, geralmente, casos de empreendimentos agrícolas de assentamentos de reforma agrária que são impedidos de arquivar seus atos constitutivos de criação de cooperativas sob argumentos esdrúxulos, como a impossibilidade de inclusão da expressão “reforma agrária” na denominação social, ou a incompatibilidade das profissões dos cooperados com o cooperativismo. Cf. FARIA, Eduardo, A Organização das Cooperativas Brasileiras e a Negação do Direito Fundamental à Livre Associação, Dissertação de Mestrado, UFPR, Curitiba, 2006, pg. 83. Disponível em: < http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/3768/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf?sequence=1> 43 SISTEMA OCB – CNCOOP –OCB – SESCOOP, Agenda Legislativa do Cooperativismo, Edição 2012, pg. 44. Disponível em versão digital em: <http://www.brasilcooperativo.coop.br/gerenciador/ba/arquivos/agendalegislativacooperativismo2012.pdf>. Acesso em 15 de abril de 2012.

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vasta experiência em cooperativismo, e com a multiplicação de seus conhecimentos entre seus

pares.44

Em alguns estados, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, existem

legislações específicas que impõem o pré-certificado de registro na OCB para arquivamento

dos atos constitutivos de cooperativas que desejam se formalizar. Nesse sentido, o caso do Rio

Grande do Sul é mais uma vez paradigmático. A lei estadual 11.829/02, que cria a Política

Estadual Cooperativista, reserva a vaga de um dos dez vogais do plenário da Junta Comercial

do Rio Grande do Sul para a OCERGS, afiliada gaúcha da OCB, e impõe registro nela para a

realização do registro na junta comercial, além de exigi-lo para a participação em processos

licitatórios do Estado. No entanto, a jurisprudência tem declarado a inconstitucionalidade

desta lei. Em demanda contra a exigência de pré-certificado, assim se manifestou a 4ª Turma

do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

EMENTA

ADMINISTRATIVO. REGISTRO DO COMÉRCIO. SOCIEDADE COOPERATIVA.

CONDIÇÃO DE APRESENTAR PRÉ- CERTIFICADO DE REGISTRO EM

SINDICATO.CR/88, ARTS. 22, INC. I E 24, INC. III. LEI ESTADUAL DO RIO GRANDE DO

SUL Nº 11.829/02. INCONSTITUCIONALIDADE.

Rezam o art. 10 e seu parágrafo único, da Lei Estadual nº 11.829, de 05.09.02,

que as sociedades cooperativas deverão estar registradas na Junta Comercial do

Estado do Rio Grande do Sul e inscritas nos órgãos fazendários estaduais, sendo que a

Junta Comercial deverá exigir, por ocasião do registro, o pré-certificado de registro

emitido pelo Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado – OCERGS.

Legislar sobre direito comercial, que abrange o registro do comércio, é

competência privativa da União, segundo o art. 22, inc. I, da CR/88. Já a legislação

sobre juntas comerciais compete, concorrentemente, à União, aos Estados e ao Distrito

Federal, consoante o art. 24, inc. III, da CR/88 e seus parágrafos.

A meu ver, não há empecilho a que o Estado imponha às sociedades

cooperativas o pré-certificado de registro na OCERGS, por ocasião do registro na Junta

Comercial. Todavia, não pode converter essa exigência em pré-requisito do registro do

comércio. Por outras palavras, se a sociedade cooperativa registrada não apresentar o

pré-certificado, poderá sofrer as sanções que a lei estadual estabelecer para essa

omissão, mas não ser impedida de inscrever-se no registro do comércio. Se o fizer,

44 Ibid.

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estará incorrendo em flagrante inconstitucionalidade por invasão de competência

legislativa federal, como acima explicitado.4546

Portanto, conforme a entendimento firmado no acórdão citado acima, segundo a

distribuição de competências legislativas previstas nos Art. 22, II e 24, III da Constituição

Federal, os Estados podem legislar sobre as juntas comerciais, sem, no entanto, poder alterar

matéria relativa ao registro de comércio, pertencente ao Direito Comercial, que é de

competência privativa da União. Essa distinção, aparentemente confusa, se explica pelo fato

de que as juntas comerciais se encontram sob uma subordinação hierárquica híbrida. Em

matéria técnica de registro de empresa (ou de outras formas societárias, como as sociedades

cooperativas), elas devem reportar-se ao Departamento Nacional de Registro de Comércio, ao

passo que nas questões de natureza administrativa e financeira (como questões específicas

relativas ao funcionalismo à sua dotação orçamentária), elas devem reportar-se ao Poder

Executivo estadual.47

Poder-se-ia argumentar que a própria Lei 5764/71 obriga as cooperativas a se

registrarem na OCB. No entanto, os artigos 17 e 18 da lei, que dispõem sobre a “autorização

para funcionamento”, prevendo a tutela do Estado através do “órgão executivo federal de

controle”, ou do “órgão local para isso credenciado”, encontram-se incontestavelmente

revogados, conforme a unanimidade das posições hoje existentes.48

Por outro lado, supondo que o art. 107 tenha sido recepcionado pela Constituição de

1988, conforme defende a OCB, a decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª

Região ainda faz sentido, se é feita uma interpretação literal do art. 107:

Art. 107. As cooperativas são obrigadas, para seu funcionamento, a

registrar-se na Organização das Cooperativas Brasileiras ou na entidade estadual, se

houver, mediante apresentação dos estatutos sociais e suas alterações posteriores.

(Grifo nosso.)

45 Brasil. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio Grande do Sul. 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Remessa “ex officio” em Mandado de Segurança Nº 2003.71.00.006267-9/RS Ademar Aldo de Oliveira e Outros e Presidente da junta Comercial do Estado do Rio grande do Sul. 2003. 46 Cabe ressaltar ainda que a referida lei é objeto da ADI-2811, proposta pelo então governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, em 2002, por violação de competência legislativa do Poder Executivo, revista no art. 61, § 1º, II, e. Porém, como os fundamentos da contestação da constitucionalidade da lei pela ADI são outros, voltados para outros dispositivos normativos nela contidos, não nos aprofundaremos em seus argumentos. 47 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial – Direito de Empresa. Editora Saraiva. 2007. Pg. 39. 48 Mesmo o senador Osmar Dias, cujo PLS 3 de 2007 defende a manutenção da unicidade de representação com a OCB, reconhece a revogação das disposições da Lei 5764/71 referentes à tutela e controle do Estado. Cf. BRASIL. Projeto de Lei do Senado n.º 3 de 2007, Justificação, pg. 23. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=51036&tp=1>

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Ou seja, o art. 107 não implicaria na necessidade de pré-registro na OCB para o registro

na junta comercial pelas cooperativas, mas apenas para o seu funcionamento regular.

Portanto, qualquer tentativa pelos Estados de condicionar o registro de comércio ao

certificado de pré-registro na OCB ou suas afiliadas incorre em flagrante

inconstitucionalidade, por invasão das competências privativas da União previstas no art. 22, I

da Constituição.

5.4. A representação das cooperativas e os projetos de lei no senado: unicidade

versus liberdade

A questão da representação do cooperativismo é, sem dúvida, uma das mais polêmicas

no debate sobre os projetos de lei geral do cooperativismo. O PLS 3 de 2007, de autoria do

senador Osmar Dias, representando de forma declarada os pontos de vista da OCB,

praticamente mantém inalterada a unicidade de representação tal como estabelecida na Lei

5764/71, sob a justificativa de manter a força do cooperativismo em sua “interlocução com o

Estado e [n]a definição de diretrizes que mantenham o sistema competitivo face à

concorrência das empresas capitalistas”49. No projeto, permanece a obrigação das

cooperativas de se registrarem na afiliada estadual da OCB, que tem poderes, conforme os art.

102 e 105, de não autorizar sua constituição, caso os atos constitutivos não correspondam às

determinações legais, fiscalizar suas atividades e até mesmo propor judicialmente a sua

dissolução (art. 102, XII).

Em orientação diametralmente oposta, com relação à unicidade de representação, o

PLS 153 de 2007, do senador Eduardo Suplicy, estabelece a liberdade de filiação das

cooperativas a entidades de representação, sem qualquer limitação de quantas e a partir de

quais pré-requisitos devem ser constituídas essas entidades. Embora mantenha a

obrigatoriedade das cooperativas se filiarem a alguma dessas entidades, e preveja para elas

poderes de fiscalização (art. 83, I, VI e art. 86), o PLS 153 de 2007 é, dentre aqueles que se

encontram em tramitação no Senado, o que trouxe maiores avanços relativamente à

adequação do regime jurídico das cooperativas ao direito à livre associação e representação,

conforme estabelecem os incisos XVIII e XX do artigo 5º, bem como aos princípios do

cooperativismo de “livre acesso e adesão voluntária; organização democrática;

49 BRASIL. Projeto de Lei do Senado n.º 3 de 2007, pg. 24. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=51036&tp=1>

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indiscriminação política, religiosa, racial e sexual;sociedade civil sem fins lucrativos;

realização das operações prioritariamente com os associados e liberdade de organização e

filiação.”50

O projeto substitutivo apresentado pelo senador Renato Casagrande, aprovado

juntamente com seu relatório dos PLS 3/2007 e 153/2007 no parecer da Comissão de

Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, rejeita a proposta do PLS 3 de 2007 de

manutenção da unicidade de representação, em função da flagrante violação do direito à

plena liberdade de associação (art. 5º, XVII). No entanto, o projeto do senador Casagrande

exige uma série de pré-requisitos para a constituição das entidades de representação: reunir

em seus quadros dez por cento do total das cooperativas do País constituídas a mais de dois

anos e com CNPJ regular (art. 79. I); reunir cooperativas classificadas em, no mínimo, quatro

diferentes ramos do cooperativismo (art. 79, II); reunir pelo menos três cooperativas em cada

unidade da Federação (art. 79, III). Dessa forma, ao invés de se posicionar pela unicidade de

representação ou pela total liberdade, o projeto substitutivo do senador Casagrande propõe

um modelo de multiplicidade de representação, no qual não há limitação quanto ao número

de entidades possíveis, mas que são fixados critérios que, na prática, limitariam a

representação a duas ou três entidades que conseguiriam cumpri-los.

O projeto prevê uma regra para um período de transição, com um prazo de 24 meses a

partir da data da publicação da lei, para a exigência dos requisitos citados. Durante esse

período, os requisitos para a constituição das entidades de representação seriam: a filiação de,

no mínimo, trezentas cooperativas constituídas há mais de dois anos e comm CNPJ regular

(art. 82, I); a filiação de cooperativas classificadas em, no mínimo, quatro diferentes ramos do

cooperativismo (art. 82, II); a presença de cooperativas nas cinco regiões geográficas (art. 82,

III).

Com relação aos três projetos51, cabe ressaltar que todos eles mantém ao menos

menção ao chamado “sistema cooperativista”. Acreditamos, no entanto, que para a maior

50 BRASIL. Projeto de Lei do Senado n.º 153 de 2007, pg. 21. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=51166&tp=1> 51 Houve ainda a apresentação de um projeto substitutivo pela senadora Gleisi Hoffmann, relatora na Comissão de Assuntos Econômicos, mas que não chegou a ser aprovado na comissão, em virtude de a relatora ter pedido reexame e, antes de reapresentar seu relatório, ser nomeada Ministra de Estado. O substitutivo da senadora mantinha o sistema de multiplicidade, mas já com duas entidades nominalmente indicadas: a OCB e a UNICAFES. O novo relator escolhido para a Comissão de Assuntos Econômicos foi o senador Lindbergh Farias, mas antes da apresentação de seu relatório, o projeto foi encaminhado à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, onde se encontra hoje (setembro/ 2012).

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efetivação possível do direito à livre representação, seria mais adequado que a lei geral

regulasse apenas as sociedades cooperativas, e facultasse que as cooperativas organizassem

livremente seus sistemas de representação. A ideia da constituição de “um sistema”, único e

de participação obrigatória remete ao controle exercido pelo Poder Público e pela OCB sob a

vigência da Lei 5764/71. Dessa forma, acreditamos também que a lei geral do cooperativismo

não deva impor que a cooperativa, para se constituir, necessite estar filiada a alguma das

entidades de representação existente, sob o risco de violação do art. 5, XX.

Por outro lado, não se deve de forma alguma confundir, como fazia a lei 5764/71 e

como fazem ainda algumas das entidades de representação participantes do debate52, a

filiação às entidades de representação com o direito do Estado de exigir o arquivamento dos

atos constitutivos e societários das cooperativas, assim como seu direito de fiscalizá-las, de

forma a perfectibilizar sua constituição como pessoas jurídicas.

Em primeiro lugar, não se pode admitir que se fizesse a delegação dessa função a entes

privados, isto é, a delegação do exercício do poder de polícia, sem previsão constitucional,

pois ele é privativo do Estado. Em segundo lugar, a exigência pelo Estado de arquivamento

dos atos constitutivos e societários não se caracteriza como uma autorização para

funcionamento53, uma vez que, como já foi aduzido acima, a Constituição veda expressamente

a necessidade de autorização pelo poder público para a formação de cooperativas, dando-lhes

total independência nesse sentido.

Dessa forma, seria claramente inconstitucional qualquer tentativa, como aquela

presente no PLS 3 de 2007 e no substitutivo do senador Renato Casagrande, de exigir filiação

previa à (ou uma das) entidade de representação para a constituição das cooperativas

enquanto pessoas jurídicas.

O direito à livre associação também não exclui a criação de cadastros, de adesão

voluntaria pelas cooperativas, para a reunião de informações de interesse para a promoção, o

52 É o caso, particularmente, da OCB. Cf. Ata, com as notas taquigráficas, da audiência pública para discussão dos projetos de lei em 24/05/2012, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/sicon/index.jsp?action=AvancadaTradicionalSil&niveis=Comissao&niveis=Permanente&niveis=CRA&niveis=Ata&niveis=&dataDe=24/05/2012&dataAte=24/05/2012&camposOrdenacao=dat_documento@DESC@Data%20Documento >. 53 “A Junta Comercial, no exercício de suas funções registrárias, está adstrita aos aspectos exclusivamente formais dos documentos que lhe são dirigidos. Não lhe compete negar a prática do ato registral senão com fundamento em vício de forma. E mesmo nesta seara, a sua atuação deve orientar-se pelas prescrições legais, sendo-lhe defeso exigir o atendimento de requisito formal não estabelecido no ordenamento jurídico em vigor.” COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial – Direito de Empresa. Editora Saraiva. 2007. Pp. 39-40.

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apoio e o fortalecimento do cooperativismo no Brasil. Nesses moldes, foi proposta em alguns

dos debates sobre esse tema, pelo governo e por entidades ligadas ao campo da Economia

Solidária, a criação de um Conselho Nacional composto por entidades do cooperativismo e por

representantes do governo, para a gestão de um cadastro público e de um banco de dados, e

para a discussão e proposição de políticas públicas que fortaleçam o cooperativismo.

Por fim, a questão da forma do registro adequada às sociedades cooperativas também é

de interesse para a elaboração da nova lei geral do cooperativismo, especialmente em face do

alto nível de informalidade atual e será abordada na seção seguinte.

6. SOCIEDADES COOPERATIVAS E FORMAS DE REGISTRO

Conforme foi indicado pelos dados levantados na pesquisa, a maior parte dos

empreendimentos econômicos solidários mapeados pelo SIES não foram formalizados como

sociedades cooperativas. De acordo com os dados coletados de 2005 a 2007, dos 21.378

empreendimentos cadastrados, apenas 9,79% deles são cooperativas, enquanto 52,79% são

associações, 0,24% são sociedades limitadas, e 37,19% são grupos informais.

O elevado número de associações, especialmente no meio rural, sugere que apesar das

vantagens, em hipótese, da formalização como cooperativa, como melhores possibilidades de

comercialização, acesso a crédito e a políticas públicas, existem desvantagens e obstáculos

que, em muitos casos, são impeditivos para essa opção. Um fator que claramente atua nesse

sentido, apontado como obstáculo por 17% dos empreendimentos entrevistados, é a

exigência legal de, no mínimo, 20 pessoas para a constituição de cooperativas54, ao passo que

se exige apenas duas pessoas para formar uma associação, por exemplo.

Além disso, existem também desvantagens na forma de registro das sociedades

cooperativas, que, em função da interpretação predominante da legislação atual, tem se dado

principalmente nas juntas comerciais. Tais desvantagens, como veremos, podem impedir ou,

no mínimo, dificultar a opção pela formalização como cooperativa. O objetivo desta seção é

investigar qual é a forma de registro mais adequada para as sociedades cooperativas, e que

respostas, a partir da legislação vigente, tem sido dadas a esta questão. Para isso, analisamos

as diferentes formas de registro de acordo com o tipo de personalidade jurídica; seu possível

54 Lei Nº 5.764, Art. 6º, I. Com a recente aprovação da Lei 12.690, de 19 de julho de 2012, as cooperativas de trabalho passam a necessitar de apenas 7 sócios para se formalizarem, o que deverá ter um impacto positivo na redução da informalidade.

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impacto sobre a formalização de empreendimentos de economia solidária como cooperativas,

dependendo da forma de registro imposta ou permitida pela lei; a controvérsia que adveio

com o Código Civil de 2002, no que tange às cooperativas; e a forma como esse problema tem

sido decidido pela jurisprudência.

6.1. Formas societárias do Código Civil de 2002 e respectivos registros

O Código Civil, em seu Art. 44, prevê seis tipos de pessoa jurídica de direito privado:

associações, sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e empresas

individuais de responsabilidade limitada. Destas, as sociedades e empresas individuais de

responsabilidade limitada (além do empresário individual, que exerce a empresa como pessoa

física) são definidas como voltadas para o exercício de atividade econômica, ou seja, atividade

que tem como objetivo a obtenção de lucro ou sobras e a sua partilha entre os sócios (CC., arts.

981 e 980-A, § 6º). As demais, só podem ser constituídas para fins não econômicos, ficando

assim limitadas, formalmente, à realização de fins políticos, religiosos, morais, culturais, de

assistência ou outros (CC., arts. 53 e 62, parágrafo único), ainda que possam exercer atividade

econômica apenas como um meio para alcançar esses fins, ou seja, atividades cujos resultados

positivos sejam revertidos integralmente para suas finalidades, e não distribuída entre seus

titulares55

Na disciplina específica das atividades e pessoas jurídicas com fins econômicos, são

previstas pelo Código Civil as figuras do empresário, da sociedade empresária e da sociedade

simples. Segundo o Código:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade

econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão

intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de

auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de

empresa.

Assim, como regra geral, é considerado empresário todo aquele que exerce atividade

empresária, caracterizando-se esta por ser: atividade econômica organizada, isto é, com

organização pelo empresário dos diversos fatores de produção (capital, mão-de-obra,

insumos e tecnologia); com profissionalismo, ou seja, com habitualidade, pessoalidade (a

55 VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, v.1., pp. 122-123. São Paulo: Malheiros, 2004.

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atividade é exercida em nome do próprio empresário ou da sociedade, e não de outros) e

monopólio das informações; e realizada por meio da produção ou circulação de bens ou

serviços. O parágrafo único, no entanto, exclui dessa classificação a pessoa física ou jurídica

cuja atividade consiste no exercício de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou

artística (exceto quando em tal exercício houver elemento de empresa).56

Dessa forma, o Código Civil de 2002 adotou o exercício de atividade empresária como

principal critério para separar as sociedades entre aquelas que seriam disciplinadas pelo

Direito Comercial, as sociedades empresárias, e aquelas que seriam sujeitas apenas ao regime

jurídico de Direito Civil, as sociedades simples, ou civis57, definidas em razão do tipo de

atividade não ser empresária (art. 966, parágrafo único) ou da forma adotada ser a de

cooperativa, além de outras exceções expressas em lei:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que

tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.

967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a

sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

São previstos, além do empresário individual de responsabilidade limitada (art. 980-

A), incluído no Código pela Lei nº 12.441, de 2011, cinco tipos de sociedade empresária:

sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); sociedade em comandita simples (arts.

1.045 a 1.051); sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087); sociedade anônima (arts. 1.088 e

1.089); e sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092).

O art. 983 estabelece que a tipicidade da sociedade empresária é numerus clausus, isto

é, deve necessariamente ser constituída segundo um dos tipos previstos e regulados no

Código58. Por outro lado, a sociedade simples, segundo o mesmo art. 983, tem a opção de

constituir-se segundo o seu regime próprio (arts. 997 a 1.038) ou em conformidade a uma das

espécies de sociedade empresária acima enumeradas, embora continuando a ser considerada

sociedade simples em função da atividade exercida estar entre aquelas previstas no parágrafo

56

Para uma análise aprofundada da Teoria da Empresa do conceito de “empresário” no Direito Comercial e de cada um de seus elementos, cf. VERÇOSA (2004.) pp. 118 e ss. Para uma visão mais sintética, cf. COELHO (2007), pp. 11 e ss. 57 VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, 2ª edição, v.2., pp. 71 e 83-84. São Paulo: Malheiros, 2010. 58 MACHADO, Brandão. Sociedade cooperativa e seu registro. Repertório de Jurisprudência IOB – VOL. III – Civil, Processual, Penal e Comercial. 2ª quinzena de agosto de 2004. No 16/2004, Vol. III, pp 476-478.

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único do art. 966. Por fim, as sociedades cooperativas serão sempre sociedade simples,

independentemente da atividade exercida (art. 982, parágrafo único).

6.2. Interpretações em disputa: Juntas comerciais x Registro Civil de Pessoas

Jurídicas

A classificação pelo Código Civil de 2002 das cooperativas como sociedades simples

iniciou um período de incerteza e de debates, na doutrina e na jurisprudência, a respeito de

qual é o registro público em que deve ser inscrito o contrato da sociedade cooperativa.

Embora haja legislação especial, isto é, a Lei 5794 de 1971, que disponha que as cooperativas

sejam inscritas nas Juntas Comerciais (art. 18), o novo Código estabelece que as sociedades

simples devem ser inscritas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (art. 998), ao contrário do

empresário e da sociedade empresária, que devem ser inscritos no Registro Público de

Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais (arts. 967 e 982).

A controvérsia gerada com a entrada em vigor do Código Civil é de grande interesse

para as cooperativas e empreendimentos econômicos solidários, uma vez que a necessidade

de realização do registro nas Juntas Comerciais impõe dificuldades adicionais às já presentes

na legislação para a formalização dos empreendimentos enquanto cooperativas. Dos

empreendimentos econômicos solidários entrevistados na presente pesquisa, 10% apontou

dificuldades de registro como sendo o motivo pelo qual adotaram outras formas jurídicas, ou

se mantiveram na informalidade.

Uma primeira dificuldade, frequentemente levantada quando esse tema surge nos

debates do movimento, consiste no custo do deslocamento espacial dos empreendimentos

para efetuar o registro: em geral as Juntas Comerciais possuem escritórios e agências apenas

nas capitais e nas cidades mais populosas de cada estado, enquanto os cartórios de registro

civil possuem uma capilaridade maior no interior e nas pequenas cidades. Em algumas

situações, como quando os membros do empreendimento não são alfabetizados, chega-se a

exigir que todos vão pessoalmente à Junta Comercial para realizarem o arquivamento do ato

constitutivo, por não ser aceita a assinatura por impressão digital sem que a pessoa

compareça pessoalmente. Soma-se a isto que o custo e a burocracia da própria inscrição,

segundo os empreendimentos, seria menor nos cartórios de Registro Civil do que nas Juntas

Comerciais.

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Além das já citadas, existem dificuldades de outra ordem, relacionadas ao papel da

Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) como entidade de representação do

cooperativismo. Conforme vista na seção anterior, a Lei 5764/71, que em seu art. 105

concedia a unicidade de representação do “sistema cooperativista nacional” à OCB, na

qualidade de órgão técnico-consultivo do governo, conferiu a ela competência para manter o

registro de todas as cooperativas, obrigando-as a nela se registrarem para poderem entrar em

funcionamento. A despeito da questionável constitucionalidade da manutenção dessa

prerrogativa após a Constituição Federal de 1988, a OCB conta com representantes em Juntas

Comerciais de vários estados, que muitas vezes exigem o registro prévio das cooperativas na

OCB para serem constituídas.59

A respeito do registro adequado para as cooperativas ser as juntas comerciais ou os

cartórios de registro civil, a jurisprudência tem se posicionado no sentido de que o registro

seja feito nas juntas comerciais. Tal entendimento se apóia nos artigos 1.093 e 1096 do Código

Civil:

Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente

Capítulo, ressalvada a legislação especial.

(...)

Art. 1.096. No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à

sociedade simples, resguardadas as características estabelecidas no art. 1.094.

Por conta da ressalva à lei especial no art. 1.093, e da previsão pelo art. 1.096 de

aplicação das normas da sociedade simples à cooperativa apenas quando a lei for omissa,

entende-se que deve ser aplicado o art. 18 da Lei 5.764/71, que estabelece que o registro das

cooperativas deva ser feito nas juntas comerciais. Tal foi o intendimento do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região na Apelação em Mandado de Segurança (2006.51.01.003676-3)

impetrado por uma cooperativa de taxistas, contra a Delegacia da Receita Federal do Rio de

Janeiro, por ter esta exigido o registro da cooperativa na junta comercial para a sua inscrição

no Cadastro Nacional de pessoas Jurídicas – CNPJ:

EMENTA

59

Cf. FARIA, Eduardo, A Organização das Cooperativas Brasileiras e a Negação do Direito Fundamental à Livre Associação, Dissertação de Mestrado, UFPR, Curitiba, 2006, pg. 83. Disponível em: < http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/3768/A_Organizacao_das_Cooperativas.pdf?sequence=1>

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ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. COOPERATIVAS. SOCIEDADE

SIMPLES. REGISTRO. JUNTA COMERCIAL. ARTIGO 18 DA LEI 5.764/71 C/C OS

ARTIGOS 1.093 E 1.096 DA LEI 10.406/2002.

I- Embora sociedade simples, a sociedade cooperativa encontra-se sujeita à

inscrição na Junta Comercial, por força de previsão em Lei especial (Lei nº 5.764/71,

artigo 18), que prevalece na espécie, conforme ressalvam os artigos 1.093 e 1.096 da

Lei 10.406/2002.

II- Em que pese o Novo Código Civil ter definido a sociedade cooperativa como

sociedade simples, a sua legislação de regência continua a ser a Lei nº 5.764/61,

limitando-se o estatuto civil pátrio a fixar as suas características fundamentais.

IIII- Consoante o que preconiza o artigo 1.093 da Lei 10.406/2002, aplicam-se

às sociedades cooperativas as disposições contidas no capítulo próprio para as

cooperativas do estatuto civil, ressalvada a legislação especial.

IV- Apenas naquilo em que a legislação de regência das cooperativas for omissa

é que se aplicam as disposições referentes à sociedade simples (artigo 1.096 da Lei

10.406/2002).

V- Remessa oficial e apelo da União Federal providos. Liminar revogada e

segurança denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas.

Decide a Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2a

Região, por unanimidade, dar provimento à remessa oficial e ao apelo, para revogar a

liminar deferida e denegar a segurança, nos termos do voto do Relator.

Rio de Janeiro, de de 2008

THEOPHILO MIGUEL

Relator

Esse entendimento prevaleceu também nas I, II e III Jornadas de Direito Civil

promovidas pelo Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal, onde se reúnem

magistrados, professores, representantes das diversas carreiras jurídicas e estudiosos do

Direito Civil para debater sobre temas controversos do Código Civil de 2002, e emitir

enunciados que representem a visão da maioria dos presentes nas comissões. Segundo o

enunciado 63, aprovado na I Jornada, em 2002:

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63 – Art. 1.093: As sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à

inscrição nas juntas comerciais.60

O próprio Departamento Nacional de Registro de Comércio (DNRC), que possui função

supervisora, coordenadora, orientadora e normativa no Sistema Nacional de Registro de

Empresas Mercantis (Sinrem) (Lei 8.934/94, arts. 3º e 4º), em parecer emitido em 06/02/03

a pedido do Instituto de Cooperativismo e Associativismo – Coordenadoria de

Desenvolvimento dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado

de São Paulo, também afirmou essa posição, no sentido de que as cooperativas permanecem

sujeitas à inscrição na junta comercial, em função da prevalência da lei especial – a Lei

7564/71 – devida à ressalva dos arts. 1.093 e 1.096 do Código Civil61.

Embora essa visão esteja consolidada na jurisprudência e na doutrina, existem, no

entanto, motivos para se discordar dela. Em parecer62 sobre o registro das sociedades simples

no novo Código Civil, Fábio Ulhoa Coelho afirma que as sociedades cooperativas, enquanto

sociedades simples, devem ser registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Argumenta

ele que, embora o Código ressalve a vigência da legislação especial das cooperativas, o art. 18

da Lei 5.764/71 não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, uma vez que o art.

5°, XVIII veda a exigência legal de autorização prévia do Estado para a criação de cooperativas,

bem como qualquer outra forma de interferência em seu funcionamento:

Art. 5°, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas

independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu

funcionamento;

Não apenas o art. 18, mas todos os artigos da Seção I – Da Autorização de

Funcionamento – do Capítulo IV da Lei 5.764/71, ou seja, do art.17 ao art. 20, seriam

inconstitucionais, por tratarem dos procedimentos de autorização estatal, inclusive a

participação da junta comercial nesses procedimentos, que se daria com o registro após

aprovação do ato constitutivo pelo órgão executivo federal de controle ou órgão local para

isso credenciado:

60 BRASIL. Conselho da Justiça Federal, Jornadas de Direito Civil I, III e IV – Enunciados Aprovados, Secretaria de Pesquisa e Informação Jurídicas do Centro de Estudos Judiciários – SPI/CEJ, 2007, pg. 25. Disponível em: http://columbo2.cjf.jus.br/portal/publicacao/download.wsp?tmp.arquivo=1296. Acesso em 15/04/12. 61

BRASIL. Departamento Nacional de Registro de Comércio, Parecer jurídico DNRC/COJUR/N° 17/03, 2003. Disponível em: <http://www.facil.dnrc.gov.br/Pareceres/arquivos/Pa017.pdf> 62 COELHO, Fábio Ulhoa, Parecer. Disponível em: Disponível em: <http://www.irtdpjbrasil.com.br/NEWSITE/parecerfabio.htm>

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Art. 17. A cooperativa constituída na forma da legislação vigente apresentará ao

respectivo órgão executivo federal de controle, no Distrito Federal, Estados ou

Territórios, ou ao órgão local para isso credenciado, dentro de 30 (trinta) dias da data

da constituição, para fins de autorização, requerimento acompanhado de 4 (quatro)

vias do ato constitutivo, estatuto e lista nominativa, além de outros documentos

considerados necessários.

Art. 18. Verificada, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de

entrada em seu protocolo, pelo respectivo órgão executivo federal de controle ou

órgão local para isso credenciado, a existência de condições de funcionamento da

cooperativa em constituição, bem como a regularidade da documentação apresentada,

o órgão controlador devolverá, devidamente autenticadas, 2 (duas) vias à cooperativa,

acompanhadas de documento dirigido à Junta Comercial do Estado, onde a entidade

estiver sediada, comunicando a aprovação do ato constitutivo da requerente. (Grifo

nosso).

Dessa forma, o Código não poderia ter ressalvado normas inconstitucionais, o que

torna necessária a aplicação das normas relativas à sociedade simples nessa questão em

particular. Mesmo o art. 32, II da Lei do Registro de Empresas (Lei 8.934/94), que também

prevê o registro das cooperativas pelas juntas comerciais, não se enquadraria na ressalva do

art. 1.093, por não ser de lei especial voltada à disciplina das cooperativas.

Está é também a posição de Modesto CARVALHOSA63, que aponta na Constituição

Federal de 1988, através de seus arts. 5°, XVIII e 174, §§ 2°, 3° e 4°, para além da vedação à

necessidade de autorização prévia de funcionamento pelo Estado, um movimento de

liberalização das cooperativas, com estímulos ao cooperativismo independente,

uniformização de seu tratamento tributário, etc.

Cabe ressaltar também que, no sistema do Código Civil de 2002, a sociedade simples, e

conseqüentemente também a sua inscrição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, prestam-se

melhor às atividades de menor envergadura, como prestadores de serviço não-empresários,

pequenos comerciantes, artesãos, etc., devido à simplicidade e agilidade de suas normas, o

que poderia beneficiar, pelo menos no que se refere à forma de registro, grande parte dos

empreendimentos econômicos solidários de pequeno porte, muitos dos quais se encontram

na informalidade. Tanto é assim que, para o produtor rural, o art. 971 do Código Civil prevê

tanto a possibilidade de inscrição no Registro Civil e Pessoas Jurídicas, caso esse em que o

63 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil, São Paulo, Saraiva, 2003, vol. 13. pp. 395 – 396, apud COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. Direito de Empresa, 18ª edição. São Paulo: Saraiva, 2007, 497p.

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produtor não é considerado empresário e fica sujeito às regras de Direito Civil, opção essa

mais vantajosa para o pequeno produtor de agricultura familiar, quanto a possibilidade de

inscrição na junta comercial, ficando sujeito às normas de Direito Comercial, o que serve

melhor à realidade do agronegócio.

Uma medida que poderá auxiliar na superação dos impasses e obstáculos ao registro e

formalização de cooperativas, em especial aos empreendimentos de economia solidária, é o

processo de simplificação e integração do registro e legalização de empresários e de pessoas

jurídicas, iniciado com a criação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da

Legalização de Empresas e Negócios – REDESIM pela Lei 11.598/2007. Em seu art. 3°, a lei

prevê que os órgãos e entidades que compõem a REDESIM deverão “considerar a integração

do processo de registro e de legalização de empresários e de pessoas jurídicas e articular as

competências próprias com aquelas dos demais membros, buscando, em conjunto,

compatibilizar e integrar procedimentos (...)”.

Embora a lei não ofereça solução para o problema da necessidade de deslocamento

das cooperativas até as grandes cidades, uma vez que não altera a divisão de competências

entre Registro Civil e Registro de Comércio, de forma que, de acordo com a interpretação

predominante, as cooperativas se mantêm obrigadas ao registro nas juntas comerciais, a lei

contêm dispositivo que pode contribuir para coibir a exigência sem previsão legal de que as

cooperativas tenham filiação prévia à OCB para poderem se registrar:

Art. 7º Para os atos de registro, inscrição, alteração e baixa de empresários ou pessoas

jurídicas, fica vedada a instituição de qualquer tipo de exigência de natureza

documental ou formal, restritiva ou condicionante, que exceda o estrito limite dos

requisitos pertinentes à essência de tais atos, observado o disposto nos arts. 5º e

9º desta Lei, não podendo também ser exigidos, de forma especial:

I - quaisquer documentos adicionais aos requeridos pelos órgãos executores

do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e do Registro Civil de

Pessoas Jurídicas, excetuados os casos de autorização legal prévia;

Embora essa visão esteja consolidada na jurisprudência e na doutrina, a questão

permanece em aberto, inclusive na interpretação e aplicação das normas em vigor. Há

evidências de que muitas cooperativas têm tentado, devido à maior facilidade, e conseguido se

registrar em cartórios de Registro Civil. Em questionário distribuído a entidades de

representação e empreendimentos que compareceram ao seminário realizado no decorrer

desta pesquisa, obtivemos informações de cooperativas registradas em cartórios de Registro

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Civil na Bahia, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Norte e Piauí. Esta é uma realidade

que precisa ser levada em conta na discussão sobre a nova lei das cooperativas de trabalho,

caso se deseje que o problema da informalidade no cooperativismo e na Economia Solidária

seja resolvido.

A questão de qual é a forma de registro adequada para as cooperativas não está

resolvida, tanto no que diz respeito à interpretação e aplicação das normas vigentes, quanto a

se decidir qual forma deverá ser prevista na legislação em discussão no Congresso. Os PLS 3 e

153 de 2007 preveem que o registro seja feito nas juntas comerciais. No projeto substitutivo

apresentado no relatório do senador Renato Casagrande à Comissão de Assuntos Econômicos

do Senado, em 200864, a pedido de entidades ligadas à economia solidária, como a UNICAFES,

foi proposto que o registro se desse nos cartórios de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, que

depois de declarar sua adequação à legislação, encaminharia cópia de sua inscrição à junta

comercial do Estado (art. 8°, caput e § 1°). No entanto, o mesmo senador Renato Casagrande,

em novo parecer, aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado em

2010, mudou de posição e propôs que o registro se desse em junta comercial.65

Acreditamos que a nova lei geral do cooperativismo deveria trazer expressamente, de

forma a dirimir a controvérsia, a previsão de que as cooperativas possam se registrar tanto

em Registro Civil de Pessoas Jurídicas, quanto em Junta Comercial, à semelhança do que é

previsto no Código Civil para o empresário rural. Conforme foi exposto acima, seria a melhor

forma de contemplar toda a diversidade geográfica, econômica e social existente entre as

diferentes matrizes e experiências do cooperativismo brasileiro.

7. PANORAMA DA TRIBUTAÇÃO NO BRASIL

7.1. Sistema Tributário Nacional

Antes de analisarmos as espécies tributárias, é necessário sabermos o que significa

tributo. O Código Tributário Nacional define o tributo como uma “prestação pecuniária

64 BRASIL. Parecer do senador Renato Casagrande à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal sobre os PLS 3 e 153 de 2007, com projeto substitutivo. 2008. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/mate-pdf/86025.pdf> 65 BRASIL. Parecer do senador Renato Casagrande aprovado Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal sobre os PLS 3 e 153 de 2007, com projeto substitutivo. 2010. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/mate-pdf/85232.pdf>

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compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato

ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

O poder de tributar decorre diretamente da Constituição Federal e é a aptidão de criar

uma lei instituidora de tributo, atribuída aos entes que integram a estrutura federativa

brasileira: União, Estados, o Distrito Federal e os Municípios. A competência para instituir o

tributo é indelegável, e se privativa, só pode ser exercida pela pessoa jurídica de direito

interno discriminada na Constituição Federal.

Normalmente, a cobrança é efetuada pela própria pessoa jurídica de direito público

que instituiu o tributo. No entanto, é possível ocorrer a delegação da cobrança do tributo, bem

como de sua administração e fiscalização, a outra pessoa jurídica. Isto é o que ocorre com a

contribuição sindical e as contribuições corporativas, que são cobradas por entidades

privadas.

É a lei que define quem deve pagar, o quanto e em que momento. Não se pode cobrar

um tributo sem a existência prévia de uma lei. Todo tributo possui um fato gerador, uma base

de cálculo e uma alíquota. O fato gerador é a situação descrita na lei, cuja ocorrência é

necessária para que surja a obrigação de pagar. Assim, por exemplo, no Imposto sobre a

Renda o fato gerador é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de rendas ou

proventos de qualquer natureza. A base de cálculo é o valor sobre o qual será aplicado uma

determinada alíquota, sendo o montante devido, o resultado desta operação.

A competência tributária pode ser privativa, residual ou comum. A primeira é aquela

atribuída com exclusividade a determinado ente da federação. Já, a comum é atribuída a todos.

Por fim, a residual é a faculdade para criar impostos não descritos na constituição.

O Sistema Tributário Nacional é composto pelas seguintes espécies de tributos:

impostos, taxas, contribuição de melhoria, empréstimo compulsório e contribuições.

A tabela abaixo apresenta classificação dos tributos quanto à competência impositiva.

Tabela 14 – Tributos – Competência impositiva

Competência da União Competência dos Estados, DF e Municípios

Impostos

Taxas

Contribuição de melhoria

Impostos

Taxas

Contribuição de melhoria

Contribuição social previdenciária, cobrada de seus

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Contribuições

Empréstimo compulsório

Outros impostos e contribuições (competência

residual)

servidores, em benefício destes.

7.1.1 Impostos

Esta é a espécie mais conhecida de tributo, sendo que muitas vezes fala-se em impostos

como sinônimo de tributos. No entanto, existem outros tipos de tributos, cuja arrecadação

também é expressiva.

Os impostos caracterizam-se por serem devidos, independentemente de uma atuação

específica do Estado. Isto significa que os cidadãos têm de fornecer recursos, sem um retorno

direto, visível e pré-determinado por parte daquele que recebe estas receitas, ou em outras

palavras, existe a obrigação de pagar, sem que se saiba para quê, nem para onde vai o dinheiro

num primeiro momento.

Compete à União instituir impostos sobre:

importação de produtos estrangeiros - II

exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados - IE

renda e proventos de qualquer natureza - IR

produtos industrializados - IPI

operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários - IOF

propriedade territorial rural - ITR

grandes fortunas, nos termos de lei complementar – IGF

A União tem competência residual para instituir impostos, nos termos do art. 154 da

Constituição Federal.

Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos - ITCMD

operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de

transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as

prestações se iniciem no exterior - ICMS

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propriedade de veículos automotores – IPVA

Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e

Municípios (§ 1º, art. 32 da Constituição Federal).

Compete aos Municípios instituir impostos sobre:

propriedade predial e territorial urbana - IPTU

transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza

ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão

de direitos a sua aquisição - ITBI

serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, I, b, definidos em lei

complementar - ISS

Portanto, existem 13 impostos diferentes, sendo que o IGF (imposto sobre as grandes

fortunas) não pode ser cobrado porque ainda não foi instituído por lei. A União não exerceu a

competência tributária que lhe foi atribuída pela Constituição Federal.

7.1.2 Taxas

As taxas são de competência tributária comum, ou, em outras palavras, podem ser

instituídas por qualquer ente da federação.

As taxas podem ser cobradas em virtude de uma atuação específica do Estado, que

pode ser o exercício do poder de polícia ou a prestação de um serviço público. O poder de

polícia é a atividade de fiscalização e regulamentação da administração, exercida em razão do

interesse público, e que diz respeito à segurança, saúde, higiene, ao exercício de atividades

econômicas dependentes de autorização do poder público.

No município de São Paulo, a título de exemplo, existem, entre outras, a taxa de limpeza

pública e a taxa de fiscalização de localização, instalação e funcionamento (TLIF). A primeira é

cobrada pela prestação de serviços de remoção de lixo domiciliar, varrição, lavagem e

capinação, desentupimento de bueiros, destinação final do lixo recolhido, por meio de

incineração, tratamento ou qualquer outro processo adequado.

A TLIF é um exemplo de taxa cobrada em razão do exercício do poder de polícia. As

prefeituras exercem um controle sobre o uso e a ocupação do solo urbano, a higiene, saúde,

segurança, ordem ou tranquilidade pública, em relação as atividades de comércio, indústria,

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agropecuária, prestação de serviços, localizadas ou instaladas no município. A Prefeitura

Municipal de São Paulo cobra a TLIF de toda pessoa física ou jurídica sujeita à fiscalização em

razão do exercício destas atividades no município.

O que diferencia a taxa do imposto é que ela é vinculada a uma atuação específica do

Estado - poder de polícia ou serviço público – e destina-se a custear esta atividade.

7.1.3. Contribuição de Melhoria

A contribuição de melhoria também pode ser cobrada pela União, Estados, Distrito

Federal ou Municípios, isto é, é um tributo de competência tributária comum. Ela é instituída

para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, ou seja, o

proprietário de imóvel beneficiado por um aumento no valor de seu patrimônio, em

decorrência da realização de uma obra pública, deve pagar uma quantia a título de ajuda para

custear a obra realizada.

7.1.4. Empréstimo compulsório

O empréstimo compulsório é um tributo que apenas a União pode instituir, para

atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou

sua iminência; ou no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse

nacional.

É um tributo peculiar, porque como o próprio nome indica, trata-se de um empréstimo,

sendo que o cidadão tem o dever de emprestar, e a União a obrigação de devolver os recursos

após um determinado prazo.

7.1.5. Contribuições

As contribuições são, juntamente com os impostos, os tributos de maior importância

financeira, principalmente para a União. Possuem uma destinação vinculada, e podem ser de

três tipos: sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse de categorias

profissionais ou econômicas.

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A União pode instituir contribuições sociais como instrumento de sua atuação no

campo da ordem social, que tem como base o primado do trabalho e como objetivo o bem-

estar e a justiça sociais.

Podemos dividir as contribuições sociais em dois grandes grupos: (i) as que se

destinam a financiar a Seguridade Social (saúde, previdência social e assistência social); (ii) as

que se destinam a custear despesas com a manutenção de direitos sociais específicos.

As contribuições destinadas a custear a Seguridade Social são instituídas com base no

art. 195 da Constituição Federal. É exemplo desta contribuição a que é recolhida por

trabalhadores e empregadores sobre a folha de pagamento.

Podemos citar como contribuições destinadas a custear outros direitos sociais, o

salário-educação (art. 212,§5º da CF); o PIS (art. 239 da CF); as contribuições para o serviço

social privado e de formação profissional vinculada ao sistema sindical (as chamadas

contribuições ao sistema S – art. 240 da CF), e o FGTS.

Com exceção das contribuições previdenciárias cobradas pelos Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, de seus servidores públicos, apenas a União pode criar esta

modalidade tributária.

As contribuições para intervenção no domínio econômico destinam-se a financiar os

gastos efetivados pela União no domínio econômico. Como exemplo, pode-se citar a

contribuição para renovação da Marinha Mercante, e a CIDE-combustíveis, que incide sobre a

importação e comercialização de combustíveis.

Por fim, existem as contribuições no interesse de categorias profissionais ou

econômicas, que são tributos destinados ao custeio das atividades das instituições

fiscalizadoras e representativas de categorias econômicas ou profissionais, que exercem

funções legalmente reputadas como de interesse público, tais como as contribuições para a

Ordem dos Advogados do Brasil e para o Conselho Regional de Medicina.

7.2. Breve descrição dos tributos de maior relevância arrecadatória

A Secretaria da Receita Federal divulga em seu sítio estudo sobre a carga tributária no

Brasil

(http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudoTributarios/estatisticas/CTB2010.pdf).

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Da tabela TRIB 02 deste estudo extraímos os dados da receita tributária relativa aos 9

tributos de maior relevância, responsáveis por 84,07% da arrecadação.

Tabela 15 - Receita tributária por relevância do tributo

Tributo

2010

R$ milhões % PIB %

Total da Receita Tributária 1.233.491,32 33,56% 100%

1 ICMS 256.837,91 6,99% 21,09%

2 Imposto de Renda 213.46,71 5,81% 17,53%

3 Contribuição para a Previdência Social 211.968,53 5,77% 17,41%

4 Cofins 139.174,35 3,79% 11,43%

5 Contribuição para o FGTS 61.797,21 1,68% 5,07%

6 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido 45.487,17 1,24% 3,74%

7 Imposto sobre Produtos Industrializados 37.305,31 1,02% 3,06%

8 Contribuição para o PIS 30.337,50 0,83% 2,49%

9 ISS 27.417,76 0,75% 2,25%

Fonte:Carga Tributária no Brasil 2010 (Análise por tributos e bases de incidência – Receita Federal

7.2.1. ICMS

ICMS é a sigla que identifica o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de

Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de

Comunicação. É um imposto que cada um dos Estados e o Distrito Federal podem instituir,

como determina a Constituição Federal de 1988.

O ICMS é um imposto não cumulativo, compensando-se o valor devido em cada

operação ou prestação com o montante cobrado anteriormente. Em cada etapa da circulação

de mercadorias e em toda prestação de serviço sujeita ao ICMS deve haver emissão da nota

fiscal ou cupom fiscal. Esses documentos serão escriturados nos livros fiscais para que o

imposto possa ser calculado pelo contribuinte e arrecadado pelo Estado.

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Ele incide sobre:

operação relativa à circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de

alimentação, bebidas e outras mercadorias em qualquer estabelecimento;

prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via;

prestação onerosa de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a geração,

a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de

comunicação de qualquer natureza;

fornecimento de mercadorias com prestação de serviços: a) não compreendidos na

competência tributária dos municípios; b) compreendidos na competência tributária

dos municípios, mas que, por indicação expressa de lei complementar, sujeitem-se à

incidência do imposto de competência estadual;

entrada de mercadoria ou bem, importados do exterior por pessoa física ou jurídica,

qualquer que seja a sua finalidade.

De acordo com Leandro Paulsen e José Eduardo Soares de Melo, a operação de

circulação de mercadorias pode ser compreendida como a passagem das mercadorias de uma

pessoa para outra, sob um título jurídico.66

Como é um tributo de competência estadual a alíquota é definida pela legislação estadual.

No estado de São Paulo, a alíquota básica é de 18%, nas operações que ocorrem dentro do estado.

A base de cálculo é o valor da operação.

As pessoas físicas que praticarem, habitualmente, em nome próprio ou de terceiro,

operações relativas à circulação de mercadoria ou prestações de serviço de transporte

interestadual ou intermunicipal ou de comunicação, também são contribuintes do imposto.

7.2.2. Imposto de renda

O imposto de renda é de competência da União, e incide sobre a renda e proventos de

qualquer natureza. Tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou

jurídica: a) de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de

66

PAULSEN, Leandro, MELO, José Eduardo Soares de. Impostos federais, estaduais e municipais. 5. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009.

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ambos; b) de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais

não compreendidos no inciso anterior.

Incide sobre a pessoa física e a pessoa jurídica.

Há várias situações em que a legislação obriga a fonte pagadora dos rendimentos a

reter o imposto devido pelo beneficiário. Tal é o caso dos rendimentos do trabalho pagos por

pessoa física ou jurídica e os rendimentos de aplicações financeiras pagos pelas instituições

financeiras.

A tributação pode ser feita em separado, como no caso do ganho de capital, ou ser

exclusiva na fonte, como nas aplicações financeiras. Isto quer dizer que nestes casos os

rendimentos não se comunicam com os outros rendimentos, e não alteram o imposto devido

na declaração de ajuste. Na declaração constam apenas as informações sobre os rendimentos

auferidos o imposto que já foi pago.

Os rendimentos do trabalho são tributados com base em tabela progressiva, que

determina alíquotas diferentes para cada faixa de renda.

A pessoa jurídica pode ser tributada com base no lucro real, presumido ou arbitrado. O

lucro real é o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições, exclusões ou

compensações prescritas ou autorizadas pela legislação. O lucro presumido é apurado a partir

de um percentual que deve ser aplicado sobre a receita bruta, mais os ganhos de capital, os

rendimentos e ganhos líquidos auferidos em aplicações financeiras, as demais receitas e os

resultados positivos. Após a apuração deste lucro presumido, que pode ser maior ou menor

que o lucro efetivamente apurado, é aplicada a alíquota de 15%. O lucro arbitrado é aplicado

em situações determinadas na legislação, e também decorre da aplicação de percentuais sobre

a receita bruta e os demais rendimentos.

7.2.3. Contribuição para a Previdência Social

As contribuições previdenciárias abrangem os tributos que gravam diretamente a folha

de salários e as remunerações pagas ao segurado contribuinte individual. Ou seja, recaem sobre

a relação de emprego e a prestação de serviços por conta própria.

As contribuições são devidas tanto pelos que exercem a atividade laboral, quanto pela

empresa ou equiparado a quem os serviços são prestados.

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As principais contribuições da empresa ou equiparados são as seguintes:

20% (vinte por cento) sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a

qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que

lhes prestam serviços.

20% (vinte por cento) sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, a qualquer

título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhes prestam

serviços, para fatos geradores ocorridos a partir de 1° de março de 2000 (Lei nº

9.876/1999).

15% (quinze por cento) sobre o valor bruto da nota fiscal, da fatura ou do recibo de

prestação de serviços, relativamente aos serviços que lhes são prestados por

cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho, para fatos geradores

ocorridos a partir de 1° de março de 2000.

1% (risco leve), 2% (risco médio) ou 3% (risco grave) incidente sobre o total das

remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos

segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhes prestam serviços, para o

financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de

incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho.

Contribuição adicional devida pela empresa – aposentadorias especiais: exercendo o

segurado atividade em condições especiais que possam ensejar aposentadoria especial

após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de trabalho sob exposição a agentes nocivos

prejudiciais à sua saúde e integridade física, é devida pela empresa ou equiparado a

contribuição adicional destinada ao financiamento das aposentadorias especiais: i)

12%, 9% e 6%, sobre a remuneração paga, devida ou creditada ao segurado

empregado e trabalhador avulso, para fatos geradores ocorridos a partir de 1º de

março de 2000; ii) 12%, 9% e 6%, sobre a remuneração paga ou creditada ao

contribuinte individual filiado à cooperativa de produção.

As contribuições dos segurados empregados, empregado doméstico e trabalhador

avulso são calculadas com base na tabela de contribuição, e incidem sobre o salário de

contribuição, que deve observar o limite máximo e mínimo. A alíquota pode ser de 8, 9 ou

11%.

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Para o contribuinte individual os valores também são calculados com base no salário

de contribuição:

11% (onze por cento) para o contribuinte individual que presta serviço à empresa,

inclusive cooperativa de trabalho, a partir de abril/2003.

20% (vinte por cento) para o contribuinte individual que presta serviços à pessoa

física; a outro contribuinte individual; à entidade beneficente de assistência social,

isenta da cota patronal; a missões diplomáticas ou a repartição consular de carreira

estrangeira.

7.2.4. COFINS e Contribuição para o PIS/Pasep

A Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) foi instituída pela

Lei Complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991.

A contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) foi criada pela Lei

Complementar nº 7/1970, e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

(Pasep), pela Complementar nº 8/1970. Elas foram unificadas pela Lei Complementar nº

26/1975, e seus recursos se destinam a financiar o seguro-desemprego e o abono do PIS (art.

239 da CF).

A Cofins é devida apenas pelas pessoas jurídicas de direito privado, e é calculada com

base no faturamento, o qual corresponde à receita bruta da pessoa jurídica.

A contribuição para o PIS incide sobre o faturamento mensal das pessoas jurídicas de

direito privado; sobre a folha de pagamento das entidades sem fins lucrativos, definidas como

empregador pela legislação trabalhista; e sobre a arrecadação de receitas correntes e das

transferências correntes e de capital recebidas pelas pessoas jurídicas de direito público

interno.

A base de incidência sobre o faturamento das pessoas jurídicas de direito privado da

Cofins e da contribuição para o PIS/Pasep é a mesma, podendo ser analisada conjuntamente.

A Contribuição para o PIS/Pasep e a Cofins podem ser apuradas por dois regimes: cumulativo

e não cumulativo. A Contribuição para o PIS/Pasep e a Cofins, além das duas regras gerais de

apuração (incidência não-cumulativa e incidência cumulativa), possuem ainda diversos

regimes especiais de apuração.

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No regime de incidência cumulativa, a base de cálculo é o total das receitas da pessoa

jurídica, sem deduções em relação a custos, despesas e encargos. Nesse regime, as alíquotas

da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins são, respectivamente, de 0,65% e de 3%.

As pessoas jurídicas de direito privado, e as que lhe são equiparadas pela legislação do

imposto de renda, que apuram o IRPJ com base no lucro presumido ou arbitrado estão

sujeitas à incidência cumulativa.

Há algumas receitas que mesmo quando a pessoa jurídica está sujeita à incidência não-

cumulativa, que devem ser apurados pelo regime cumulativo (art. 10, VII a XXV da Lei nº

10.833/2003). O regime de incidência não-cumulativa apenas foi instituído pela Lei nº

10.637/2002 para a Contribuição para o PIS/Pasep; e pela Lei nº 10.833, de 2003, para a

Cofins. Neste regime é permitido o desconto de créditos apurados com base em custos,

despesas e encargos da pessoa jurídica. As alíquotas da Contribuição para o PIS/Pasep e da

Cofins são, respectivamente, de 1,65% e de 7,6%.

As pessoas jurídicas de direito privado, e as que lhe são equiparadas pela legislação do

imposto de renda, que apuram o IRPJ com base no lucro real estão sujeitas à incidência não-

cumulativa, exceto: as instituições financeiras, as cooperativas de crédito, as pessoas jurídicas

que tenham por objeto a securitização de créditos imobiliários e financeiros, as operadoras de

planos de assistência à saúde, as empresas particulares que exploram serviços de vigilância e

de transporte de valores de que trata a Lei nº 7.102, de 1983, e as sociedades cooperativas

(exceto as sociedades cooperativas de produção agropecuária e as sociedades cooperativas de

consumo).

Os regimes especiais caracterizam-se por alguma diferenciação em relação à base de

cálculo ou alíquota. Um exemplo de regime especial é o das instituições financeiras, inclusive

as cooperativas de crédito, que têm direito a deduções específicas, e sujeitam-se à alíquota de

4% para cálculo da Cofins.

7.2.5. Contribuição para o FGTS

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado pelo Governo Federal, com

o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa, mediante a abertura de uma

conta vinculada ao contrato de trabalho. Foi instituído pela Lei nº 5.107/1966. É devida pelos

empregadores, e incide sobre o salário de cada funcionário à alíquota de 8%.

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O percentual de 8% do FGTS não é recolhido somente sobre o valor do salário recebido

pelo empregado. Incide, também, sobre o valor das horas extras, adicionais de periculosidade

e insalubridade, trabalho noturno, 13º salário, valor das férias e sobre o valor do aviso prévio

trabalhado ou indenizado.

Há autores que classificam a contribuição como contribuição social e de intervenção no

domínio econômico, pelo fato do FGTS ter dupla finalidade: amparar o empregado demitido e

ser utilizado para o financiamento de programas de habitação popular, saneamento básico e

infraestrutura urbana.

7.2.6. Contribuição Social para o Lucro Líquido

A CSLL é devida pelas pessoas jurídicas de direito privado, e foi criada pela Lei nº

7.689/1988. É uma contribuição social instituída com base no art. 195, I, da Constituição

Federal. A base de cálculo da contribuição é o lucro líquido do exercício, ajustados pelas

adições e exclusões previstas na legislação.

As alíquotas da CSLL são: de 15% (quinze por cento), no caso das pessoas jurídicas de

seguros privados, das de capitalização e das referidas nos incisos I a VII, IX e X do § 1º do art.

1º da instituições financeiras; e 9% (nove por cento), no caso das demais pessoas jurídicas.

Aplicam-se à CSLL no que couberem, as disposições da legislação do imposto sobre à

renda referentes à administração, ao lançamento, à consulta, à cobrança, às penalidades, às

garantias e ao processo administrativo.

7.2.7. IPI

O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados incide na

importação, quando ocorre o desembaraço aduaneiro; e sobre o valor da operação quando o

produto sai do estabelecimento industrial.

As alíquotas são variadas, distintas por produtos e encontram-se na Tabela de

Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI). É um tributo seletivo, ou seja,

possui alíquotas menores para produtos essenciais, e mais gravosas para produtos supérfluos.

Também é não-cumulativo, sendo que os valores pagos nas operações anteriores podem ser

compensados com o valor devido.

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7.2.8. ISS

O Imposto sobre Serviços de Qualquer natureza incide sobre as prestações de serviços

listadas na Lei Complementar nº 116/2003.

O contribuinte é o prestador dos serviços, mas há várias hipóteses em que o tomador

dos serviços é responsável pela retenção na fonte do ISS, tais como as pessoas jurídicas e os

condomínios que tomarem serviços de limpeza. Por ser um imposto de competência

municipal as alíquotas são estabelecidas na legislação de cada município.

8. O ATO COOPERATIVO NA LEGISLAÇÃO ATUAL

É interessante começar a discussão acerca do ato cooperativo a partir de uma das

respostas coletadas durante a realização da pesquisa. Pergunta: o que é o ato cooperativo?

Resposta: "não sei, e acho que ninguém sabe, se sabe não diz". Esta resposta reflete falta de

acesso à informação, mas também a polêmica jurídica que se estabeleceu em torno do

conceito de ato cooperativo.

Nas respostas coletadas fica claro que para muitos o ato cooperativo refere-se à

própria ideia de cooperação – trabalhar coletivamente, de forma igualitária e democrática,

com o objetivo de melhorar a condição econômica.

No entanto, no nosso sistema jurídico o conceito de ato cooperativo está vinculado à

questão da tributação, sendo que não há nenhum dispositivo expresso que condicione o gozo

dos benefícios à concretização dos princípios cooperativistas. Na Itália, por exemplo, a

cooperativa que tem mais de 30% de trabalhadores assalariados, perde direito à tributação

favorecida. Este é o sentido que será privilegiado no texto, como o objetivo de fornecer

subsídios para análise dos projetos de lei existentes sobre o tema.

O conceito de ato cooperativo ganha relevância no sistema jurídico brasileiro a partir

da edição da Lei nº 5.764/1971. Os primeiros dispositivos de natureza tributária relativos às

sociedades cooperativas aparecem no Decreto nº 22.239/1932. A legislação diferenciava as

cooperativas de natureza civil – como por exemplo, as que tinham atividade agrícola, as de

consumo que vendiam exclusivamente a associados, as de construção de habitações populares

para venda unicamente aos associados – e as de caráter mercantil.

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Os impostos que recaíam sobre a atividade mercantil não incidiam sobre as

cooperativas de natureza civil. As cooperativas de natureza civil e as mercantis, que não

distribuíam dividendos aos associados proporcionalmente ao capital, gozavam de isenção do

imposto sobre a renda.

Na legislação anterior à Lei nº 5.764/1971, foi efetuada uma classificação e

conceituação mais detalhada dos diferentes tipos de cooperativas. Em alguns casos, como na

cooperativa de seguros, prescrevia-se o “regime da pura mutualidade”, devendo aquela operar

apenas com os associados.

No Decreto nº 22.239/1932 foram listadas as seguintes categorias de cooperativas:

“I – Cooperativas de produção agrícola.

II – Cooperativas de produção industrial.

III – Cooperativas de trabalho (profissionais ou de classe).

IV – Cooperativas de beneficiamento de produtos.

V – Cooperativas de compras em comum.

VI – Cooperativas de vendas em comum.

VII – Cooperativas de consumo.

VIII– Cooperativas de abastecimento.

IX – Cooperativas de crédito.

X – Cooperativas de seguros

XI – Cooperativas de construção de casas populares.

XII – Cooperativas editoras e de cultura intelectual.

XIII – Cooperativas escolares.

XIV – Cooperativas mistas.

XV – Cooperativas centrais.

XVI – Cooperativas de cooperativas (federações).”

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No Decreto nº 24.647/1934 as cooperativas agrícolas foram proibidas de adquirir

produtos de não associados para revender ao público67.

A Lei nº 5.764/1971 não traz qualquer definição ou tipologia das cooperativas, e

introduz o conceito de ato cooperativo, que é genérico e aplica-se indistintamente a qualquer

categoria de cooperativa.

Ela permite expressamente a aquisição de produtos, e o fornecimento de bens e

serviços a não associados, mas determina a segregação dos resultados obtidos com estas

operações. Assim, há um tratamento tributário diferenciado apenas para os atos cooperativos.

As cooperativas podem praticar atos com não associados, mas tais operações são tributadas

normalmente, ou seja, sem qualquer benefício decorrente da forma societária cooperativa.

É oportuno destacarmos as principais alterações e objetivos mencionados na

Exposição de Motivos do Projeto de Lei nº 292/1971, de autoria do Poder Executivo, que se

transformou na Lei nº 5.764/1971 (Diário do Congresso Nacional – Seção I – 25/08/1971 – p.

4275):

A iniciativa do projeto de lei enquadrou-se nas metas do governo de apoio

efetivo à área rural, para incorporá-la ao desenvolvimento nacional.

Em apoio à tarefa educativo-profissional em que o país se acha empenhado, foi

criado o Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, constituído de, pelo

menos 5% das sobras líquidas apuradas em cada exercício.

Dadas as características “sui generis” das cooperativas, que são sociedades civis,

não sujeitas à falência e sem objetivo de lucro, divergindo seus atos da atividade

puramente comercial, foi definido o ato cooperativo, caracterizando

perfeitamente as relações entre as entidades entre si e seus associados.

A fim de criar condições de competição, atualmente inexistentes, já que as

cooperativas, a despeito de suas finalidades não lucrativas, estão equiparadas

em termos tributários, no que tange a ICM e IPI, às entidades tradicionais de

comércio, foram introduzidas algumas inovações: i) as cooperativas de

produtores rurais poderão adquirir produtos de não associados, para completar

lotes destinados ao cumprimento de contratos, ou suprir capacidade ociosa de

67 Art. 37. As cooperativas agrícolas não poderão adquirir produtos de não associados para revender ao público.

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instalações industriais; ii) as cooperativas poderão fornecer bens e serviços a

não associados, desde que tal faculdade atenda aos objetivos sociais.

Neste momento, que vivemos até os dias de hoje, instaura-se a celeuma em relação ao

conceito de ato cooperativo, que é um ponto de grande tensão nas relações entre as pessoas

jurídicas de direito público interno (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), que

figuram no pólo ativo da obrigação tributária, e as cooperativas, como sujeitos passivos.

A tributação das cooperativas sempre foi assunto controverso, e que gerou inúmeras

pendências no âmbito do Poder Judiciário, como demonstra trecho de voto de Ministro do

Supremo Tribunal Federal proferido em 25 de agosto de 1976:

O Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator): 1- Trata-se do discutido problema da

tributabilidade ou não das operações das Cooperativas de Consumo entre seus

filiados, e que há mais de trinta anos vem desafiando a argúcia dos doutrinadores e a

sabedoria deste Colendo Supremo Tribunal Federal, sem que se tenha conseguido a

desejada uniformidade.

A questão, portanto, merecer ser reaberta e ser resolvida à força de argumentos,

principalmente com base na legislação, pois não há dúvida de que só se pode lançar

mão dos princípios doutrinários e da natureza jurídica de um instituto para o deslinde

de uma controvérsia, quando inexiste lei expressa sobre a matéria.

O desate da tese depende, pois, de um exame harmônico entre a natureza jurídica de

um instituto – cooperativas de consumo -, o direito positivo que o rege, no Brasil, e a

Legislação Tributária, reformulada pela Emenda Constitucional n° 18, de 1° de

dezembro de 1965, que substituiu o imposto “em cascata” por um imposto “sobre

valor agregado”, isto é, calculado apenas sobre a diferença entre o valor da operação

anterior e a posterior. E desta última deve partir o estudo. (RE n° 82.612 – SP -

Tribunal Pleno - R.T.J. – 96, pp. 137-138)

Mesmo antes da introdução do conceito de ato cooperativo a aplicação das regras

tributárias sobre as operações das cooperativas já gerava controvérsias. E isto em virtude da

concepção de que os atos praticados entre a cooperativa e seus associados não tem natureza

mercantil.

Esta concepção está expressamente prevista no parágrafo único do art. 79 da Lei n°

5.764/1971:

Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus

associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para

a consecução dos objetivos sociais.

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Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de

compra e venda de produto ou mercadoria.

Antes da Lei n° 5.764/1971 as cooperativas podiam ser civis ou mercantis. Após este

diploma legal, uma mesma cooperativa pode praticar atos mercantis – aqueles efetuados com

não associados para a consecução dos objetivos sociais – e não mercantis, o ato cooperativo

propriamente dito.

A proposta deste trabalho é analisar as diferentes interpretações do Poder Judiciário,

surgidas do confronto das concepções sobre a natureza jurídica das cooperativas no direito

brasileiro e a legislação tributária relativa aos 9 tributos com maior arrecadação, passando

inicialmente sobre o conceito de ato cooperativo no texto constitucional.

8.1. O conceito de ato cooperativo no texto constitucional

O movimento cooperativista logrou introduzir no texto constitucional diversos

dispositivos relativos às sociedades cooperativas. A seguir destacamos as principais

conquistas:

Como um desdobramento do direito à liberdade, foi vedada a interferência estatal no

funcionamento das cooperativas, e permitida sua criação sem qualquer autorização,

estatal ou de outro órgão regulador. (art. 5º, inciso XVIII)68

O estímulo ao cooperativismo ficou expressamente previsto no texto constitucional,

devendo o Estado, como agente normativo e regulador da atividade econômica, criar

legislação que apoie o cooperativismo e outras formas de associativismo. (art. 174, §

2º)69

O cooperativismo foi citado como elemento fundamental da política agrícola. (art. 187,

VI)70

68 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de

autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; 69 Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este

determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.

§ 2º - A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. 70 Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,

bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente:

VI - o cooperativismo;

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A introdução no texto constitucional da expressão “adequado tratamento tributário ao

ato cooperativo”. (art. 146, “c”)71

A menção expressa às cooperativas de crédito, como integrantes do sistema financeiro

nacional. (art. 192)72

Ao consultarmos o Diário da Assembléia Nacional Constituinte, constatamos a

participação intensa da Organização das Cooperativas Brasileiras nas reuniões das diversas

comissões que trataram sobre o tema do cooperativismo.

A OCB defendeu as emendas populares protocoladas sob o nº PE-025-3, que foram

subscritas por mais de 46.000 pessoas, na época. 73

Uma das emendas propunha a imunidade fiscal ao ato cooperativo. Ela foi defendida na

Comissão de Sistematização da seguinte forma:

A segunda emenda cuida da imunidade fiscal do ato cooperativo, ou seja, daquele

praticado entre a cooperativa e o associado, na consecução do objetivo social. A

cooperativa é mero instrumento de seus associados. Não tem objetivo lucrativo. Todas

as sobras pertencem aos associados, na proporção dos atos praticados com a

cooperativa. Assim, o contribuinte é sempre o associado, jamais a cooperativa. O art.

129 do Regulamento do Imposto de Renda reconhece a não-incidência no ato

cooperativo e determina que as cooperativas somente pagarão o imposto quando

operam com não-associados, o que está correto. Em relação ao ICM, a Lei

Complementar nº 24, de 1975, suspende a exigência do tributo nas operações dos

associados com suas cooperativas e destas com as centrais de que sejam associadas.

Quando a cooperativa vende o produto de seu associado, o imposto é pago em sua

totalidade, visto que a venda do produto já não constitui ato cooperativo, isto é, trata-

se de negócio entre a cooperativa e terceiros. Quanto ao imposto sobre serviços, o

Supremo Tribunal vem decidindo que "o ISSQN pressupõe a finalidade lucrativa da

atividade exercida por seus contribuintes, afastando-se a sua incidência se se trata de

sociedade cooperativa, como a Autora, cujos objetivos não prevêem o lucro"

(Rec.Extraordinário n.§ 97.059-02-MG, Relator Ministro Oscar Corrêa).

Para se chegar ao entendimento de que as cooperativas não podem ser consideradas

contribuintes e que contribuintes são os seus associados, que pagam a totalidade dos

71 Art. 146. Cabe à lei complementar:

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. 72 Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. 73 Assembléia Nacional Constituinte (Atas de Comissões) – 17ª Reunião Ordinária da Comissão de Sistematização – 03/09/1987 - p. 53

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impostos federais, estaduais e municipais, não sendo razoável que eles próprios, como

associados, venham a ser novamente tributados, através de suas cooperativas, é que a

emenda popular pretende a aprovação de sua proposta, evitando-se os altos e baixos

da legislação ordinária, que, quando influenciada pelos agentes do mercantilismo,

tudo faz para impedir o livre trânsito das cooperativas em nossa economia,

principalmente agropecuária.74

No texto final não prevaleceu a proposta de imunidade do ato cooperativo, mas foi

introduzida a alínea “c” do art. 146:

Art. 146. Cabe à lei complementar:

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades

cooperativas.

O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de se manifestar sobre o sentido da

expressão “adequado tratamento tributário ao ato cooperativo”, tendo decidido o art. 146, III,

c, da não implica imunidade ou tratamento necessariamente privilegiado às cooperativas” (AC

2.209-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 2-3-2010, Segunda Turma, DJE de

26-3-2010.)

O Supremo Tribunal Federal reconheceu que a discussão sobre a incidência da Cofins,

do Pis e da CSLL sobre o produto de ato cooperativo tem repercussão geral, por violação dos

conceitos constitucionais de “ato cooperado”, “receita da atividade cooperativa” e “cooperado”

(decisão no RE 672.215-Ceará, publicada no Dje de 30/04/2012).

Neste recurso extraordinário, mais uma vez será confrontado o conceito de ato

cooperativo e sua natureza jurídica, com as normas de incidência tributária do PIS, da Cofins

e da CSLL previstas nas leis n ° 7.689/1988, n° 9.718/1998 e n° 10.833/2003.

Há ainda mais dois recursos extraordinários versando sobre a tributação das

cooperativas com repercussão geral reconhecida:

RE 599.362-RJ: controvérsia atinente à possibilidade da incidência da contribuição

para o PIS sobre os atos cooperativos, tendo em vista o disposto na Medida Provisória

n° 2.158-33, originariamente editada sob o n° 1.858-6 e nas Leis n° 9.715 e 9.718,

ambas de 1998.

74 Assembléia Nacional Constituinte (Atas de Comissões) - 17ª Reunião Ordinária da Comissão de Sistematização – 03/09/1987 - p. 533.

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RE 598.085-RG: a constitucionalidade da revogação, por lei ordinária ou medida

provisória, de isenção, concedida por lei complementar (revogação do inciso I, do art.

6° da Lei Complementar n° 70/91 pela Medida Provisória n° 1.858/99).

A existência destes recursos extraordinários, com repercussão geral reconhecida pelo

Supremo, demonstra que a controvérsia sobre a tributação das cooperativas já dura cerca de

76 anos, e está pacificada apenas em relação a alguns tributos.

8.2. A discussão jurisprudencial sobre o ato cooperativo e os diferentes tributos

Como a discussão sobre o conceito do ato cooperativo sempre tem sido travada em

relação a um tributo determinado, passamos a analisar decisões judiciais envolvendo o conceito

de ato cooperativo e a legislação específica do tributo cuja incidência é questionada.

Adota-se o pressuposto de que as questões jurídicas são melhor compreendidas a

partir do conflito, ou seja, da identificação das diferentes interpretações existentes sobre os

mesmos fatos e normas.

Eros Roberto Grau afirma que “o intérprete discerne o sentido do texto a partir e em

virtude de um determinado caso dado; a interpretação do direito consiste em concretar a lei

em cada caso, isto é, na sua aplicação [Gadamer]. Assim, existe uma equação entre

interpretação e aplicação: não estamos, aqui, diante de dois momentos distintos, porém frente

a uma só operação [Mari]. ”75

8.2.1. O ICMS e o ato cooperativo

Não há decisões questionando a incidência do ICMS sobre a venda de mercadorias a

terceiros, sendo que as discussões se travaram sobre o fornecimento de bens pelas

cooperativas de consumo a associados, ou seja, sobre atos tipicamente cooperativos.

A incidência do ICM sobre as operações das cooperativas de consumo com seus

associados gerou controvérsias desde o surgimento deste tributo.

A seguir analisamos decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a incidência do ICM em

operações realizadas em 1967 e 1968. Naquele momento, ainda estava vigente o

75 GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. 5ª ed. rev. amp. São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

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Decreto-lei n° 59/1966. Não havia distinção entre o ato cooperativo e operações com

não associados.

A decisão não foi unânime: para a maioria a cooperativa, por força do art. 4° do

Decreto-lei 5976 não desempenha atividade comercial, nem vende, mas presta serviços, e

antes do Decreto-lei n° 406/1968, não era equiparada a comerciante, industrial ou produtor.

Nas palavras de Aliomar Baleeiro:

(...) o art. 4° do Dec-lei n° 59/1966, que regulou as cooperativas, define-as

como sociedades de natureza civil “para prestação de serviços”, serviços e

não circulação de mercadorias. Então, a tributação das atividades delas

deveria caber ao imposto municipal de serviços.

Nos votos vencidos, o argumento é que a cooperativa de consumo pratica

habitualmente a circulação de mercadorias, estando dentro do campo de incidência do ICM . 77

A Lei n° 5.764/1971 não conseguiu colocar fim às controvérsias das cooperativas de

consumo com o Fisco. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acabou se firmando no

sentido de que para o ICM é irrelevante que o ato cooperativo não implique uma operação de

mercado ou de compra e venda, pois para a incidência do tributo basta a saída do

estabelecimento. Para o relator, a legislação apenas impediu a incidência do imposto sobre os

bens entregues à cooperativa pelos cooperados, não havendo idêntico dispositivo com relação à

76 Art. 4º As cooperativas, qualquer que seja sua categoria ou espécie, são entidades de pessoas com forma jurídica própria, de natureza civil, para a prestação de serviços ou exercício de atividades sem finalidade lucrativa, não sujeitas a falência, distinguindo-se das demais sociedades palas normas e princípios estabelecidos na presente lei. 77 A cooperativa de consumo, do ponto de vista econômico, é organização empresarial, de caráter auxiliar, por cujo intermédio uma coletividade de consumidores promove, em comum, a defesa de suas economias individuais. Os consumidores que se congregam visam a obter os produtos de que necessitam, ao mais baixo preço. A organização empresarial cooperativa entra no mercado como compradora e se propõe a excluir a presença do comerciante, fornecendo as mercadorias, adquiridas nas diversas fontes de produção, aos seus associados. A cooperativa de consumo vive em permanente contato com as demais organizações econômicas que exploram a indústria e o comércio. O único traço que distingue as cooperativas de consumo das outras organizações econômicas é o de que o objetivo de lucro inexiste nas primeiras e está presente nas segundas. Conceituada a cooperativa de consumo, resta saber se ela realiza operações relativas à circulação de mercadorias. A resposta será, necessariamente, afirmativa. A organização econômica cooperativa, ao adquirir mercadorias no mercado para, em seguida, por meio de “ato cooperativo”, transferi-las aos seus associados, está integrada no processo de “circulação de mercadorias”. Como assinalamos, linhas acima, um dos objetivos da cooperativa de consumo é substituir-se ao comerciante que é o agente normal da circulação de mercadorias. Tais operações caracterizam, sem qualquer dúvida, o fato gerador do imposto de circulação de mercadorias definido no art. 52, I, do Código Tributário Nacional. RE 74.377-SP.

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cooperativa de consumo. Assim o ICMS incide inclusive sobre os atos cooperativos. (RE n°

82.612-SP – RTJ – 96, p. 139).

No que diz respeito ao ICMS, houve pacificação jurisprudencial, não havendo mais

discussões recentes sobre a incidência do ICMS sobre as operações das cooperativas.

8.2.2. O Imposto de renda e o ato cooperativo

A legislação do imposto de renda isenta os resultados positivos decorrentes do ato

cooperativo. O âmbito material de incidência do Imposto de Renda é a aquisição da

disponibilidade econômica ou jurídica de renda, assim entendido o produto do capital, do

trabalho ou da combinação de ambos; e de proventos de qualquer natureza, assim entendidos

os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda.

Logo, a tributação dos seus resultados positivos, independe da natureza mercantil ou

não de seus atos, e de sua finalidade não lucrativa. As sociedades cooperativas gozam de

isenção em relação ao imposto de renda, uma vez que a norma tributária incide quando

auferem renda ou obtém qualquer acréscimo patrimonial.

No imposto de renda identificamos duas discussões relevantes no Superior Tribunal de

Justiça: a que discute o conceito de ato cooperativo em relação às cooperativas de trabalho; e

a que discute a incidência do imposto sobre o resultado positivo decorrente de aplicações

financeiras realizadas pela cooperativa.

8.2.3. Incidência do imposto sobre o resultado positivo das aplicações

financeiras

Em face da existência de múltiplos recursos que versavam sobre a questão, o recurso

especial 58.265, que foi selecionado como representativo da controvérsia, foi processado no

Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil.

Nesta sistemática, a decisão é aplicada automaticamente aos recursos especiais ainda

pendentes de julgamento, pelos tribunais de origem.

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O contribuinte sustentava que, se o art. 111, da Lei nº 5.764/197178, for interpretado

de maneira sistemática e finalística, as receitas financeiras ficam fora do campo de incidência

do imposto de renda, porque integram as atividades que constituem o objeto social das

pessoas jurídicas. As operações financeiras ativas e passivas participam inseparavelmente da

atividade própria da cooperativa.

A Fazenda Nacional afirma que as aplicações financeiras, a que se lançam todos,

mesmo as pessoas de direito público, são atos civis e comerciais, com objetivo de lucro e

especulação, não se enquadrando no conceito de ato cooperativa. Além disso, são operações

realizadas com terceiros, não se tratando de operações entre a cooperativa e seus cooperados.

O Superior Tribunal de Justiça entendeu que o art. 111 determina que sejam tributados

os resultados positivos decorrentes de atos não cooperativos, ou seja, aqueles praticados

entre a cooperativa e não associados, ainda que para atender a seus objetivos sociais. Segundo

a ementa do acórdão, “a caracterização de atos como cooperativos deflui do atendimento ao

binômio consecução do objeto social da cooperativa e realização de atos com seus associados

ou com outras cooperativas, não se revelando suficiente o preenchimento de apenas um dos

aludidos requisitos”. Conclui que as aplicações financeiras, por constituírem operações

realizadas com terceiros não associados (ainda que, indiretamente, em busca da consecução

do objeto social da cooperativa), consubstanciam "atos não-cooperativos", cujos resultados

positivos devem integrar a base de cálculo do imposto de renda.

Neste caso, pretendeu-se dar ao conceito de ato cooperativo uma extensão maior do que

a devida, pretendo-se caracterizar como ato cooperativo o resultado de operações efetuadas

com não-associados, no caso as instituições financeiras.

A incidência do imposto de renda sobre as aplicações financeiras é matéria sumulada

pelo STJ: “Súmula 262: Incide o imposto de renda sobre o resultado das aplicações financeiras

realizadas pelas cooperativas”.

Não há dúvidas sobre o fato de que as receitas financeiras sejam renda. O resultado dos

atos cooperativos corresponde ao montante faturado pelas cooperativas em decorrência das

vendas de produtos e serviços, deduzido das despesas incorridas.

78 Art. 111. Serão considerados como renda tributável os resultados positivos obtidos pelas cooperativas nas operações de que tratam os artigos 85, 86 e 88 desta Lei.

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8.2.4. Imposto de renda e cooperativas de trabalho

No caso das cooperativas de trabalho, a controvérsia não gira em torno do campo de

incidência do tributo, mas no conceito de ato cooperativo propriamente dito.

Antes de analisarmos a questão na jurisprudência tecemos rapidamente considerações

sobre o ato cooperativo nos diversos tipos de cooperativa.

Como o conceito de ato cooperativo é genérico, é necessário identificá-lo e aplicá-lo aos

diferentes tipos de cooperativas. Não serão objeto de estudo as cooperativas de crédito, por

serem instituições financeiras, que envolvem a análise da legislação específica do setor.

Na Lei nº 5.764/1971 não há uma classificação das cooperativas, nem tampouco

qualquer definição. Por isso, extraímos os conceitos do Decreto nº 22.239/1932, que foi

revogado e revigorado diversas vezes:

Revogado pelo Decreto nº 24.647/1934 e revigorado pelo Decreto-Lei nº 581/1938,

com alterações.

Revogação tácita pelo Decreto-Lei nº 5.893/1943, que dispôs sobre a organização,

funcionamento e fiscalização das cooperativas, e revigorado pelo Decreto-Lei nº

8.404/1946.

O Decreto-Lei nº 581/1938 também foi revogado tacitamente pelo Decreto-Lei nº

5.893/1943, e posteriormente revigorado pelo Decreto-Lei nº 8.404/1946.

Além dos conceitos do Decreto n° 24.647/1934, apontamos a existência das definições da

Lei n° 10.666/2003 e da recente Lei n° 12.690/2012.

Lei n° 10.666/2003, art. 1°, §§ 1° a 3°:

§ 1° Será devida contribuição adicional de nove, sete ou cinco pontos percentuais, a

cargo da empresa tomadora de serviços de cooperado filiado a cooperativa de

trabalho, incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de

serviços, conforme a atividade exercida pelo cooperado permita a concessão de

aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição,

respectivamente.

§ 2° Será devida contribuição adicional de doze, nove ou seis pontos percentuais, a

cargo da cooperativa de produção, incidente sobre a remuneração paga, devida ou

creditada ao cooperado filiado, na hipótese de exercício de atividade que autorize a

concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de

contribuição, respectivamente.

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§ 3° Considera-se cooperativa de produção aquela em que seus associados contribuem

com serviços laborativos ou profissionais para a produção em comum de bens,

quando a cooperativa detenha por qualquer forma os meios de produção.

Lei n° 12.690/2012:

Art. 2o Considera-se Cooperativa de Trabalho a sociedade constituída por

trabalhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com

proveito comum, autonomia e autogestão para obterem melhor qualificação, renda,

situação socioeconômica e condições gerais de trabalho.

Art. 4o A Cooperativa de Trabalho pode ser:

I - de produção, quando constituída por sócios que contribuem com trabalho para a

produção em comum de bens e a cooperativa detém, a qualquer título, os meios de

produção; e

II - de serviço, quando constituída por sócios para a prestação de serviços

especializados a terceiros, sem a presença dos pressupostos da relação de emprego.

Ao confrontarmos os dois conceitos, percebemos que na legislação previdenciária a

expressão “cooperativa de trabalho” é utilizada de maneira mais restrita, como se a de

produção e a de trabalho fossem dois tipos diferentes de cooperativa. Na legislação

previdenciária, cooperativa de trabalho equivale à cooperativa de serviços na Lei n°

12.690/2012.

8.2.5. Cooperativas de vendas em comum

O art. 27 do Decreto nº 22.239/1932 assim definia este tipo de cooperativa:

Art. 27. As cooperativas de venda em comum distinguem-se pelo fato de organizarem

coletivamente a defesa comercial dos produtos particularmente colhidos ou

elaborados por seus associados, lavradores ou criadores, por eles trazidos à

cooperativa para esta com os recursos próprios, promover, sem ulterior

transformação, a venda nos mercados de consumo ou nos de exportação.

Podemos representar graficamente as operações da cooperativa da seguinte forma:

cooperados Produtos venda

terceiros

meios de produção

cooperativa

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Nas cooperativas de vendas em comum o objeto da sociedade é a comercialização dos

produtos colhidos ou elaborados pelos cooperados. Os cooperados possuem os meios de

produção, e entregam para a cooperativa apenas os produtos para serem comercializados.

Para definir o ato cooperativo neste tipo de cooperativa, é interessante trazermos as

palavras do Professor José de Campos Melo, Chefe da Consultoria Jurídica da Organização das

Cooperativas Brasileiras, que proferiu palestra na reunião da Subcomissão de Tributação e

Finanças da Assembléia Nacional Constituinte:

O ato cooperativo é o que os juristas alemães consideram como um negócio-fim, um

negócio-objeto da cooperativa. Na cooperativa de produtores de soja, por exemplo, o

ato cooperativo é o recebimento da soja, produzido por seu associado. Agora, para

colocar a soja no mercado é necessário que a cooperativa pratique negócio-meio, sem

o qual é impossível esse ato cooperativo. De que adianta receber a soja do associado,

se a cooperativa não for vendê-lo ao mercado consumidor? É absolutamente

necessário que a cooperativa pratique esse negócio-meio, ou seja, a venda para não-

associado. Esse negócio poderá ser tributado, porque ele não é ato cooperativo.

O expositor definiu com clareza que o ato de venda do produto do associado tem

caráter mercantil e poderá ser tributado, sendo um negócio-meio indispensável para realizar

o objeto principal da cooperativa, que é a comercialização da produção do cooperado.

O ato cooperativo é a comercialização dos produtos dos associados, ao passo que o não

cooperativo é a comercialização dos produtos de não associados.

8.2.6. Cooperativas de produção

No Decreto nº 22.239/1932 foram previstos expressamente dois tipos de cooperativas

de produção: as de produção agrícola e as de produção industrial, que foram assim definidas:

Art. 22. As cooperativas de produção agrícola caracterizam-se pelo exercício coletivo

do trabalho agrário de culturas ou criação, com os recursos monetários dos próprios

associados, ou de crédito obtido pela própria cooperativa, em terras que a sociedade

possua em propriedade ou por arrendamento, concorrendo cada um,

simultaneamente, com trabalho e recursos.

Art. 23. As cooperativas de produção industrial têm por objeto manipular produtos

agrícolas, extrativos, matérias primas e outros artigos, transformando-os por qualquer

meio em novos produtos;

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Parágrafo único. Só poderão fazer parte destas cooperativas, os profissionais ou

operários interessados diretamente na respectiva indústria objeto da sociedade.

Podemos representar graficamente as operações da cooperativa da seguinte forma:

Cooperativa

venda

terceiros

Nas cooperativas de produção o trabalho é realizado coletivamente. Os meios de

produção são de propriedade da cooperativa. Nelas os cooperados, por intermédio da

cooperativa, são proprietários dos meios de produção, não havendo separação entre a

propriedade dos meios de produção e o trabalho.

Pergunta-se: qual é o ato cooperativo nestes tipos de sociedade?

A seguir transcrevemos os objetivos sociais de modelo de estatuto de cooperativa de

produção constante no sítio do Sebrae/MG79:

Art. 2º - A ...(sigla da cooperativa) tem por objetivos:

a) adquirir ou construir infraestrutura necessária para a produção coletiva de

...(definir o que será produzido);

b) produzir, beneficiar, industrializar, embalar e comercializar ...(definir o produto);

c) gerar trabalho de autônomos para o quadro social;

d) promover a difusão da doutrina cooperativista e seus princípios ao quadro social.

Aqui o negócio fim da cooperativa é providenciar os meios de produção necessários para

permitir o trabalho dos cooperados. A cooperativa de produção gera para seus cooperados

postos de trabalho autônomos.

79

Disponível em http://www.sebraemg.com.br/culturadacooperacao/cooperativismo/modelos/Modelo%20de%20Estatuto%20de%20Coop.%20de%20Produ%E7%E3o-eventual.doc

cooperados

meios de produção

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Pelo mesmo raciocínio do Professor José de Campos Melo, o ato cooperativo é o trabalho

coletivo nas instalações de propriedade da cooperativa. A venda dos produtos industrializados é

negócio-meio e, portanto, um ato mercantil.

8.2.7. Cooperativas de consumo

A definição legal do Decreto nº 22.239/1932 para as cooperativas de consumo é a

seguinte:

Art. 28. As cooperativas de consumo têm por escopo ajudar a economia doméstica: –

adquirindo, o mais diretamente possível, ao produtor, ou a outras cooperativas, os

gêneros de alimentação, de vestuário, e outros artigos de uso e consumo pessoal, da

família ou do lar; – os distribuindo, nas melhores condições de qualidade e preço, aos

consumidores, associados ou não, no interesse dos quais pode ainda prover a outros

serviços afins; – e convertendo em economias, a favor dos mesmos consumidores, os

eventuais resultados líquidos verificados pelo balanço.

Podemos representar graficamente as operações da cooperativa da seguinte forma:

terceiros Produtos venda

cooperados

não cooperados

É interessante notar nesta definição a possibilidade da distribuição dos produtos a

associados e não associados. O escopo maior da cooperativa é beneficiar os consumidores em

geral, diminuindo os custos dos bens de consumo para as famílias.

Na sistemática da Lei n 5.764/1971, apenas seriam considerados como ato cooperativo

as vendas realizadas para os cooperados. A venda dos produtos para os cooperados seria o

negócio-fim da cooperativa.

8.2.8. Cooperativas de trabalho ou de serviços

Mais uma vez nos socorremos do conceito legal do Decreto nº 22.239/1932:

Art. 24. São cooperativas de trabalho aquelas que, constituídas entre operários de uma

determinada profissão ou oficio, ou de ofícios vários de uma mesma classe, – têm

como finalidade primordial melhorar os salários e as condições do trabalho pessoal de

seus associados, e, dispensando a intervenção de um patrão ou empresário, se

cooperativa

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propõem contratar e executar obras, tarefas, trabalhos ou serviços, públicos ou

particulares, coletivamente por todos os por grupos de alguns.

Além da prestação de serviços coletivos, existem aquelas em que o cooperado trabalha

individualmente, e detém seus próprios meios de produção, como no caso das cooperativas de

taxistas, ou de médicos que prestam serviços em seus consultórios. A seguir representamos

graficamente os dois tipos:

Cooperativa em que a prestação de serviços a terceiros é individual:

cooperados presta serviços

terceiros

meios de produção

Cooperativa em que a prestação de serviços é coletiva:

Cooperativa

presta serviços

terceiros

Na mesma linha de raciocínio da análise dos outros tipos de cooperativas, nas de trabalho

o ato mercantil é a obtenção de consumidores para os serviços a serem prestados pelos

cooperados.

No caso das cooperativas de trabalho, o produto do trabalho cooperado não é um bem

material, sendo que para a concretização do negócio-fim, qual seja, a prestação de serviços

pelos cooperados, é necessário ter havido o ato mercantil de obtenção dos clientes no mercado.

Neste caso, a operação com terceiros precede o exercício da atividade econômica pelos

cooperados.

cooperativa

cooperados

meios de produção

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8.2.9. A discussão jurisprudencial

No caso do imposto de renda, a discussão em torno do conceito de ato cooperativo tem

sido mais intensa em relação às cooperativas de trabalho.

Em decisão recente, o Superior Tribunal de Justiça não acolheu a alegação de que a

relação intermediação/apresentação dos associados feita pela Cooperativa com os

tomadores de serviços, dentro do objeto e finalidade da sociedade, não configura ato negocial,

não devendo, por isso, ser tributada, diferentemente dos atos praticados pelos cooperados,

que possuem caráter econômico e devem ser tributados na pessoa física (por meio do ISS, IR

ou outras contribuição sociais).

De acordo com a ementa do acórdão exarado no Recurso Especial n° 1.115.430-SP, “é

entendimento consagrado de que o fornecimento de serviços a terceiros não cooperados não

configura ato cooperativo, sofrendo a incidência do IR”.

Tal entendimento aplica-se inclusive às cooperativas de trabalho médico:

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. ATOS

NÃO-COOPERATIVOS.

1. O STJ possui entendimento pacificado no sentido de que a prestação de

serviços privados de saúde (inclusive alienação, mediante terceiros, de serviços

de assistência médica) qualifica-se como ato não cooperativo, sujeitando-se à

incidência do Imposto de Renda.

2. Agravo Regimental não provido (AgRg no REsp. 380.324/RS, Rel. Min. HERMAN

BENJAMIN, DJe 04.02.2011)”

Por este entendimento, todo o valor das receitas auferidas com a prestação de serviços

a não cooperados seria resultado de ato não cooperativo.

8.2.10. O ato cooperativo e a Contribuição para a Previdência Social

O conceito de ato cooperativo não é relevante para a análise da incidência da

contribuição para a previdência social.

A natureza jurídica da cooperativa também não influencia a análise, pois desde a

Emenda Constitucional n° 20 de 1998, a lei pode equiparar qualquer entidade, com ou sem

fins lucrativos, à empresa ou empregador.

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Identificamos uma questão, já com repercussão geral reconhecida, envolvendo a

contribuição para a previdência social. Novamente, as discussões são travadas em relação às

cooperativas de serviços.

A discussão gira em torno da constitucionalidade da contribuição previdenciária

devida pelos tomadores de serviços sobre a nota fiscal ou fatura de prestação de serviços

desenvolvidos pelas cooperativas de trabalho. (RE 595.838-8-SP).

A contribuição foi instituída pela Lei n° 9.876/1999, que incluiu o inciso IV, no art. 22

da Lei n° 8.212/1991.

8.2.11. O ato cooperativo e o PIS e COFINS

Estas contribuições são os tributos que estão com o maior número de pendências no

Poder Judiciário. Tanto é assim, que há três recursos extraordinários, com repercussão geral

já reconhecida, envolvendo as duas contribuições. Escolhemos para a análise uma decisão do

Superior Tribunal de Justiça, que discutiu o ato cooperativo, em relação às cooperativas de

trabalho médico, por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº 1.081.747-PR, em 15 de

outubro de 2009. Partiremos do caso concreto analisado no recurso para compreendermos o

sentido do art. 79 da Lei nº 5.764/1974, que assim dispõe:

Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus

associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para

a consecução dos objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato

de compra e venda de produto ou mercadoria.

No recurso especial acima mencionado foi analisada a incidência do PIS e da COFINS

sobre os valores que a cooperativa repassa aos:

(a) médicos cooperados pela prestação de serviços médicos (atos cooperativos próprios); e

(b) hospitais e clínicas não cooperadas pela prestação de serviços complementares e

necessários ao atendimento da finalidade da cooperativa (atos cooperativos auxiliares).

A pergunta central que a Ministra Eliana Calmon levantou e respondeu foi a seguinte: a

venda de produtos/mercadorias ou a prestação de serviços a terceiros (não cooperados)

pelos associados constitui ou não ato cooperativo?

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As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS são devidas apenas pelas pessoas

jurídicas de direito privado, e são calculadas com base no seu faturamento. Este é o campo de

incidência destas duas contribuições. As sociedades cooperativas são pessoas jurídicas de

direito privado, que emitem faturas em seu nome, e não no dos cooperados.

A Fazenda Nacional alega que o art. 6º, I, da LC 70/91, que previa a isenção da COFINS

para as receitas decorrentes de atos cooperativos foi revogado pela MP 2.158-35/01, sendo

que as exclusões da base de cálculo permitidas pelo art. 15 da mesma norma são aplicáveis

apenas para as cooperativas de produção. No caso trata-se de cooperativa de trabalho médico.

Para melhor compreender os argumentos da Fazenda é necessário transcrevermos os

dispositivos legais mencionados.

Lei Complementar 70/91:

Art. 6° São isentas da contribuição: I – as sociedades cooperativas que observarem ao

disposto na legislação específica, quanto aos atos cooperativos próprios de suas

finalidades;.(Revogado pela Medida Provisória nº 2158-35, de 24.8.2001)

MP nº 2.158-35

Art. 15. As sociedades cooperativas poderão, observado o disposto nos arts. 2º e 3º

da Lei nº 9.718, de 1998, excluir da base de cálculo da COFINS e do PIS/PASEP:

I – os valores repassados aos associados, decorrentes da comercialização de produto

por eles entregue à cooperativa;

II – as receitas de venda de bens e mercadorias a associados;

III – as receitas decorrentes da prestação, aos associados, de serviços especializados,

aplicáveis na atividade rural, relativos a assistência técnica, extensão rural, formação

profissional e assemelhadas;

IV – as receitas decorrentes do beneficiamento, armazenamento e industrialização de

produção do associado;

V – as receitas financeiras decorrentes de repasse de empréstimos rurais contraídos

junto a instituições financeiras, até o limite dos encargos a estas devidos.

§ 1º Para os fins do disposto no inciso II, a exclusão alcançará somente as receitas

decorrentes da venda de bens e mercadorias vinculados diretamente à atividade

econômica desenvolvida pelo associado e que seja objeto da cooperativa.

Art. 93. Ficam revogados:

II – a partir de 30 de junho de 1999:

5) os incisos I e III do art. 6º da Lei Complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991;”

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Por sua vez, a cooperativa alega, em síntese, que:

a Secretaria da Receita Federal trata a cooperativa nos moldes das demais sociedades

comerciais, ignorando sua atuação como mera intermediária dos serviços prestados

por seus cooperados a terceiros, nos limites de sua finalidade, sem a obtenção de

ingresso patrimonial próprio. Reclama que o Fisco federal entende que pelo simples

fato de ela ter “faturamento”, está automaticamente descaracterizada como

cooperativa;

a Constituição Federal atual protege e estimula o cooperativismo;

para alcançar sua finalidade legal e estatuária, contrata com terceiros em nome e por

conta dos médicos cooperados, em razão do que a prestação de serviços é a do médico

para o usuário, e, todos os atos realizados com seus cooperados, no caso o repasse de

honorários, são atos cooperativos e não implicam operação de mercado, conforme

dispõe o art. 79 da Lei 5.764/71.

à luz do princípio da isonomia, o art. 15 da Medida Provisória 1.858/99 não poderia

privilegiar as cooperativas de produção, em detrimento daquelas que atuam em outros

ramos da economia.

O que chama a atenção na decisão é a busca por uma interpretação não tão extensiva,

nem tampouco literal da expressão ato cooperativo. É o que constamos nas conclusões do

voto:

1) equivocados a doutrina e os precedentes do STJ que entendem como ato

cooperativo, indistintamente, todo aquele que atende às finalidades institucionais da

cooperativa;

2) constitui-se ato cooperativo típico ou próprio, nos termos do art. 79 da Lei

5.764/71, o serviço prestado pela cooperativa diretamente ao cooperado, quando:

a) a cooperativa estabelece, em nome e no interesse dos associados, relação jurídica

com terceiros (não-cooperados) para viabilizar o funcionamento da própria

cooperativa (com a locação ou a aquisição de máquinas e equipamentos, contratação

de empregados para atuarem na área-meio, por exemplo) visando à concretização do

objetivo social da cooperativa;

e b) a cooperativa recebe valores de terceiros (não-cooperados) em razão da

comercialização de produtos e mercadorias ou da prestação de serviços por seus

associados e a eles repassa.

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3) estão excluídos do conceito de atos cooperativos a prestação de serviços por não-

associado (pessoa física ou jurídica) através da cooperativa a terceiros, ainda que

necessários ao bom desempenho da atividade-fim ou, ainda, a prestação de serviços

estranhos ao seu objeto social;

e 4) os atos cooperativos denominados “auxiliares”, quando a cooperativa necessita

realizar gastos com terceiros, como hospitais, laboratórios e outros – mesmo que

decorrentes do atendimento médico cooperado -, não se inserem no conceito de ato

cooperativo típico ou próprio;

5) ao instituir a COFINS e, no art. 6º, I, conceder isenção às cooperativas, a LC 70/91,

na verdade, não alterou a forma de tributação dos atos cooperativos típicos, ou seja,

aqueles praticados com associados e voltados à consecução dos objetivos sociais da

cooperativa, e tampouco isentou as demais operações, praticadas com não-associados,

tendo em vista a expressa determinação, contida no referido inciso, a que fosse

observado “o disposto na legislação específica”. Dito de outra maneira, ao instituir a

COFINS, a LC 70/91 apenas manteve a isenção que já gozavam os atos cooperativos

típicos, na forma concedida pela Lei 5.764/71. Assim, a revogação do art. 6º, I, da LC

70/91, é irrelevante para a discussão acerca da tributação das cooperativas.

Por outro lado, ao cotejarmos esta decisão com outras já proferidas sobre o imposto de

renda, é interessante que sejam utilizados dois conceitos diferentes de ato cooperativo.

Independentemente do tributo – se PIS, COFINS ou IR – o conceito de ato cooperativo, no caso

das cooperativas médicas ou de prestação de serviços deveria ser o mesmo.

Nas decisões sobre o imposto de renda, todo o valor recebido em razão da prestação de

serviços a terceiros é ato não cooperativo.

8.2.12. O ato cooperativo e a Contribuição para o FGTS

Não há nenhuma controvérsia em relação a obrigatoriedade das sociedades

cooperativas recolherem o FGTS, quando possuírem empregados.

Isto porque a legislação é clara ao definir o fato gerador, que é a existência do vínculo

empregatício.

8.2.13. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

A Lei n° 10.865/2004 isentou as cooperativas da CSLL, nos seguintes termos:

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Art.39. As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação

específica, relativamente aos atos cooperativos, ficam isentas da Contribuição Social

sobre o Lucro Líquido - CSLL.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica às sociedades

cooperativas de consumo de que trata o art. 69 da Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de

1997.

As controvérsias existem sobre a incidência da CSLL no período anterior a 1° de janeiro

de 2005.

No Superior Tribunal de Justiça se pacificou o entendimento de que a prática de atos

cooperativos, realizados na forma descrita na Lei n° 5.764/71, não configura hipótese de

incidência da Contribuição Social Sobre o Lucro - CSLL sobre tais atos; caracterizando-se,

conseqüentemente, indevida. Para o tribunal a não-incidência da CSLL, nos termos da

jurisprudência dominante do STJ, em casos de cooperativas, restringe-se a atos cooperados

praticados exclusivamente entre a cooperativa e seus associados. (Resp n° 1.190.066-SP)

8.2.14. O IPI e o ato cooperativo

Não há controvérsias sobre a incidência do IPI, sendo que a legislação é bem clara ao

equiparar as sociedades cooperativas aos estabelecimentos industriais, que são os

contribuintes do IPI.

8.2.15. O ISS e o ato cooperativo

O ISS apenas incide sobre os prestadores de serviços. Logo, apenas há controvérsias

em relação às cooperativas de serviços, principalmente as de serviços médicos. A

jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça afirma que o ISS não incide sobre os

atos praticados pelas cooperativas médicas consistentes no exercício de atividades em prol

dos associados que prestam serviços médicos a terceiros (atos cooperados). Neste caso a

prestação de serviços é feita pelo médico e não pela cooperativa.

Entende que a venda de planos de saúde a terceiros são atos não cooperados, havendo

incidência do ISS sobre a receita advinda da cobrança da taxa de administração. (Resp

875.388/SP)

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9. ANÁLISE DE PROJETOS DE LEI SOBRE A DEFINIÇÃO DO ATO COOPERATIVO E SEU

ADEQUADO TRATAMENTO TRIBUTÁRIO

A análise dos tópicos anteriores nos leva à conclusão de que um projeto de lei que regule

a tributação das cooperativas deveria tem como um de seus objetivos principais tentar colocar

fim às discussões judiciais sobre o tema.

Transcrevemos abaixo trecho de voto do Ministro Aliomar Baleeiro, proferido no recurso

extraordinário n° 74.377-SP:

Essa tributação das cooperativas vem sendo discutida no STF há 30 anos, oscilando

pendularmente a jurisprudência, em parte pela culpa da instabilidade do legislador.

Além deste, um outro objetivo, que não está muito presente na literatura sobre a

tributação das cooperativas, deveria ser o de dar efetividade ao princípio da capacidade

contributiva, que está previsto no art. 145, § 1° da Constituição Federal:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os

seguintes tributos:

§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados

segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração

tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar,

respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e

as atividades econômicas do contribuinte.

Como já mencionado anteriormente, o “adequado tratamento tributário ao ato

cooperativo” não significa imunidade ou tratamento necessariamente privilegiado às

cooperativas.

Se pensarmos no sistema tributário como um todo, sob o prisma da justiça fiscal, o

princípio constitucional básico é o da capacidade contributiva. Segundo Luciano Amaro, em sua

obra Direito Tributário Brasileiro80, o princípio da capacidade contributiva “avizinha-se do

princípio da igualdade, na medida em que, ao adequar-se o tributo à capacidade contributiva dos

contribuintes, deve-se buscar um modelo de incidência que não ignore as diferenças (de

riqueza) evidenciadas nas diversas situações eleitas como suporte da imposição. E isso

corresponde a um dos aspectos da igualdade, que é o tratamento desigual para os desiguais”.

80

AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15a. ed. São Paulo:Saraiva, 2009, p. 139.

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A tributação incide sobre a riqueza. Em que medida a isenção total das cooperativas,

mesmo aquelas que são capazes de gerar grande riqueza, atende ao princípio constitucional da

capacidade contributiva?

Com base nos elementos levantados, serão analisados os seguintes projetos de lei: n°

386/2008 e 3723/2008, ambos de autoria do Poder Executivo, e os n° 271/2005, de autoria do

Deputado Luiz Carlos Hauly, e n° 3/2005, de autoria do Senador Osmar Dias. Elaboramos quadro

comparativo dos projetos, que estão como anexo no relatório. Neste ponto, verificaremos a

incidência tributária apenas sobre 4 tipos de cooperativas:

Sociedade cooperativa de produção agropecuária e agroindustrial

Sociedade cooperativa de produção industrial

Sociedade cooperativa de trabalho

Sociedade cooperativa de consumo

Serão comparados apenas os seguintes tributos: ICMS, Imposto de Renda, Contribuição

para a Previdência Social, Cofins, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Imposto

sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição para o PIS e ISS. A arrecadação destes

tributos em 2010 correspondeu a 79% da carga tributária. Não serão incluídas na análise as

disposições tributárias específicas em relação à atividade econômica desempenhada pela

cooperativa.

9.1. Projeto n° 386/2008

O projeto n° 386/2008, do Poder Executivo é um projeto de lei complementar que

regulamenta o adequado tratamento tributário para o ato cooperativo de que trata a alínea “c”

do inciso III do art. 146 da Constituição.

A lei tem de ser complementar porque prevê a isenção de tributos estaduais e

municipais, tais como o ICMS e o ISS. A lei complementar assume caráter de lei nacional e tem

como destinatários os súditos do Estado Federal, abrangendo também os Estados e Municípios.

A Constituição Federal proíbe que a União institua isenções de tributos da competência

dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Neste projeto é reproduzida a definição de

ato cooperativo contida no PL 3723/2008.

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9.2. Projeto n° 3.723/2008

O projeto n°3.723/2008, do Poder Executivo é um projeto de lei ordinária, que dispõe

sobre o tratamento tributário aplicável às sociedades cooperativas em geral no âmbito

federal. Ela apresenta disposições gerais sobre o ato cooperativo; define o ato não

cooperativo; e define o ato cooperativo para as seguintes espécies: cooperativa de produção

industrial, cooperativa de produção agropecuária e agroindustrial, cooperativa de venda em

comum de bens de produção, cooperativa de eletrificação rural, cooperativa de transporte

rodoviário de cargas, cooperativa de transporte de passageiros, cooperativa de trabalho,

cooperativa de serviços de saúde, cooperativa de habitação, cooperativa de mineração,

cooperativa de produção educacional, cooperativa social, cooperativa de crédito, cooperativa

de corretores de seguros.

Na exposição de motivos do projeto fica claro que o objetivo é manter os níveis atuais

de arrecadação, in verbis:

Os dispositivos propostos neste projeto uniformizam o tratamento tributário

reservado ao ato cooperativo a que alude a alínea “c” do inciso III do art. 146 da

Constituição Federal, permitindo manter os níveis atuais de arrecadação, compatível

com a legislação vigente, garantindo a justiça fiscal e o equilíbrio da concorrência.

Desta forma, as medidas estão em conformidade com o art. 14 da Lei Complementar

nº 101, de 4 de maio de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal.

A análise de seus dispositivos nos leva às seguintes conclusões:

O ato cooperativo do IRPJ e da CSLL continua isento. Assim, eventual modificação

apenas ocorreu na definição do ato cooperativo, que é distinta para cada tipo de

cooperativa contemplado na norma.

Permanece o tratamento não isonômico das cooperativas, que mais uma vez beneficia

as cooperativas agrícolas. Nas cooperativas agrícolas, a realização do processo de

transformação, beneficiamento, industrialização de produtos dos cooperados, sejam

eles efetuados por meio do trabalho coletivo dos cooperados ou não, é considerado ato

cooperativo.

No caso de uma cooperativa que atue na metalurgia, e empregue na produção tanto o

trabalho do cooperado como o de empregados, será considerado ato cooperativo

apenas o valor repassado ao cooperado em decorrência da prestação de serviços. Além

disso, como é considerado ato não cooperado o negócio jurídico realizado pela

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sociedade cooperativa quando o beneficiário do resultado jurídico, econômico ou

financeiro for a própria sociedade cooperativa, não haveria nenhum estímulo

tributário para a capitalização das cooperativas, uma vez, que a parcela do faturamento

que fosse destinada a investimentos seria tributada normalmente.

Só há previsão de suspensão do PIS e da COFINS paras as cooperativas agropecuárias e

de trabalho. A sociedade cooperativa de produção industrial está sujeita às mesmas

normas de incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS no regime de

incidência cumulativo.

As cooperativas de consumo continuam a ter o mesmo tratamento tributário das

demais pessoas jurídicas.

O conceito de ato cooperativo para as cooperativas agrícolas é o mais abrangente de

todos, e extrapola a visão inicial do ato cooperativo, como unicamente aquele praticado

entre a cooperativa e seus associados.

Não há nenhum dispositivo na lei que diferencie as cooperativas segundo o porte

econômico e a capacidade contributiva, sendo que o regime tributário adotado para

uma pequena cooperativa que tenha por atividade econômica o fornecimento de

refeições prontas é mais oneroso que o da grande cooperativa agrícola exportadora.

Isto porque o regime tributário proposto no projeto de lei toma por base apenas a

forma jurídica e os ramos de atividade econômica, e não a capacidade contributiva dos

empreendimentos.

9.3. Projeto n° 3/2005

O projeto n° 3/2005, de autoria do Senador Osmar Dias, é um projeto de lei de caráter

societário, que regula as sociedades cooperativas. Neste projeto, o conceito de ato cooperativo

é o mais amplo de todos, e aplica-se para todos os tipos de cooperativas. Segundo ele, todos os

atos praticados pelas cooperativas, inclusive os negócios auxiliares seriam considerados como

ato cooperativo.

9.4. Projeto n° 2713/2005

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O projeto n° 271/2005, de autoria do Deputado Luiz Carlos Hauly, é um projeto de lei

complementar que dispõe sobre o adequado tratamento tributário para o ato cooperativo. Este

projeto estabelece a não incidência de tributos e contribuições federais sobre os fatos geradores

praticados pelas cooperativas em geral. Não se aplica a tributos estaduais e municipais.

10. SIMPLES NACIONAL

A primeira pergunta que precisa ser respondida neste tópico é: por que haveria

interesse por parte das cooperativas de ingressar no Simples Nacional se elas têm um regime

próprio de tributação?

A resposta é muito simples. Atualmente, para as cooperativas de micro e pequeno

porte, assim entendidas como aquelas que seriam passíveis de enquadramento no regime, a

carga tributária é menor, principalmente em virtude dos tributos indiretos, ICMS, e ISS e IPI.

O projeto de lei do Poder Executivo, que procura definir o ato cooperativo para várias

espécies, deixa de fora a situação da pequena cooperativa de produção urbana não industrial.

Ele usa a definição do art. 1º da Lei nº 10.666/2003 como se ela fosse aplicável apenas à

produção industrial.

Pergunta-se: uma cooperativa que exerce a atividade de fornecimento de refeições ou

alimento preparados, não é uma cooperativa de produção, uma vez que seus associados

contribuem com serviços laborativos ou profissionais para a produção em comum de bens, e a

cooperativa detém os meios de produção?

Se não for, não haveria definição específica de ato cooperativo para ela, sendo aplicável

apenas o conceito genérico do art. 3°, que é praticamente equivalente ao que existe na

legislação atual. Nessa hipótese não poderíamos supor que continuariam as intermináveis

discussões jurídicas em torno do conceito de ato cooperativo?

Para uma cooperativa de pequeno porte que forneça alimentos preparados (pequena

cooperativa urbana não industrial), a opção pelo regime do Simples Nacional seria muito mais

vantajosa e adequada do ponto de vista da capacidade contributiva.

No projeto de lei n° 288/2008, de autoria do Deputado Tarcísio Zimmermann, foi

proposta alteração da Lei Complementar n° 123/2006, para permitir que as cooperativas, cuja

receita bruta total oriunda da soma das operações enquadradas no ato cooperativo e as

demais operações seja igual ou inferior aos limites previstos para enquadramento como

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microempresas ou empresas de pequeno porte, possam optar pelo Simples Nacional em

relação à receita bruta decorrente dos atos não cooperativos.

Se forem aprovadas as isenções dos impostos estaduais e municipais, o projeto deixa

de ser interessante, porque a tributação das cooperativas passa a ser mais vantajosa que a do

Simples Nacional. Em caso, contrário, dependendo do tipo de cooperativa e da atividade

econômica exercida, a tributação pelo Simples Nacional torna-se mais vantajosa que a do

regime próprio das cooperativas.

11. CONCLUSÕES SOBRE A TRIBUTAÇÃO DAS COOPERATIVAS

As controvérsias em torno da tributação das cooperativas surgiram antes da

introdução do conceito de ato cooperativo no sistema jurídico nacional.

A origem das discussões repousa na natureza jurídica da cooperativa, que é uma

pessoa jurídica criada a fim de realizar operações com fim econômico, mas sem fins

lucrativos. O ponto de discórdia é o caráter mercantil ou não de suas operações quando

atuam no mercado, vendendo bens e serviços. Para uns, apesar da ausência de fins

lucrativos, as cooperativas praticam atos mercantis, tal como os demais tipos de

sociedades. Para outros, a cooperativa apenas presta serviços a seus cooperados,

sendo que os atos no mercado são apenas negócios externos realizados em nome dos

sócios.

O conceito de ato cooperativo foi introduzido na legislação a partir do momento em

que foi permitida às cooperativas de produtores rurais a aquisição de produtos de não

associados, e às cooperativas em geral o fornecimento de bens e produtos a não

associados.

Na exposição de motivos do Projeto de Lei n° 292/1971, que resultou na Lei n°

5.764/1971, fica explícito que o foco da lei foram as cooperativas de produção rural.

Por isto, há dificuldade maior em definir o ato cooperativo em relação aos demais tipos

de cooperativas, principalmente às de serviço.

Quando da apresentação da emenda popular sobre a imunidade fiscal do ato

cooperativo, havia clareza quanto ao fato de que a venda do produto do associado – ou

seja o negócio jurídico externo praticado no mercado – não era ato cooperativo, por

tratar-se de negócio entre a cooperativa e terceiros.

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A relevância do conceito de ato cooperativo para a discussão tributária depende do

campo de incidência de cada tributo.

Os tributos que incidem sobre qualquer pessoa jurídica, de natureza mercantil ou não,

independentemente de seus fins, não geram controvérsias.

A diferenciação dos atos cooperativos em típicos, auxiliares e acessórios, foi criação

doutrinária que acabou por fundamentar inúmeras ações judiciais questionando a

incidência dos tributos que dependem do conceito de ato cooperativo. Esta

diferenciação acabou por ampliar o conceito de ato cooperativo, antes claramente

delimitado como negócios com associados ou internos. A análise das discussões

judiciais em torno do tema revela a resistência do movimento cooperativista em ser

tributado como os demais empreendimentos econômicos.

O adequado tratamento tributário a ser dado ao ato cooperativo é uma decisão política,

que envolve discussões sobre a temática da justiça fiscal e do princípio da capacidade

contributiva. A opção pela tributação na pessoa dos associados e não da pessoa jurídica

não decorre da natureza jurídica das sociedades cooperativas.

Os benefícios fiscais deveriam estar condicionados à efetiva concretização dos

princípios da economia solidária, tais como a gestão democrática, a busca por

condições dignas de trabalho e pela inserção comunitária, com respeito ao meio

ambiente e tendo como finalidade última assegurar a todos a participação nos

resultados do bem estar produzido. Por isso, as cooperativas, principalmente as de

grande porte, deveriam ser obrigadas a publicar Balanço Social, a fim de demonstrar e

dar transparência ao seu desempenho social, explicitando os benefícios gerados para a

sociedade.

O princípio da capacidade contributiva deveria ser levado em consideração em toda

proposta de alteração do sistema tributário, inclusive na regulamentação do adequado

tratamento ao ato cooperativo. Mas para isto ser feito de forma eficaz, primeiro seria

necessário termos uma ideia sobre a carga tributária que incide sobre o conjunto das

cooperativas, verificando qual o faturamento total das cooperativas, e os montantes

arrecadados por este setor, pelo menos na esfera federal.

Com base neste estudo poderia ser verificado se a melhor forma de tributação das

cooperativas é realmente no cooperado. O adequado tratamento tributário

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mencionado na Constituição não significa ausência de tributação ou tratamento

privilegiado às cooperativas.

Se forem aprovadas as isenções dos impostos estaduais e municipais, perde relevância

a proposta de possibilidade de opção pelo Simples, porque a tributação das

cooperativas passa a ser mais vantajosa que esta última. Em caso contrário,

dependendo do tipo de cooperativa e da atividade econômica exercida, a tributação

pelo Simples Nacional torna-se mais adequada ao porte do empreendimento que a do

regime próprio das cooperativas.

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS - PROPOSTAS PARA O MARCO JURÍDICO DO

COOPERATIVISMO E ECONOMIA SOLIDÁRIA

A partir dos dados coletados no decorrer da pesquisa, das conversas estabelecidas com

diferentes sujeitos e particularmente da visão dos autores deste relatório acerca dos

processos vividos nas ultimas décadas pelo cooperativismo brasileiro, quando ocorreu uma

enorme diversificação dos segmentos sociais e políticos que fazem parte do campo

cooperativista e, principalmente, considerando o sentido amplo que o cooperativismo

brasileiro vem assumindo neste novo contexto, tendo cada vez mais o papel de apontar para

novos modelos de desenvolvimento, justo e solidário, além de estar cada vez mais envolvido

em estratégias de combate a pobreza e a exclusão, fazemos a seguir propostas de marco

jurídico que visam dar forma e apoiar a construção dessa nova visão de cooperativismo.

Separamos as propostas em dois grandes tópicos, estando o primeiro relacionado ao âmbito

exclusivo do cooperativismo e o segundo mencionando a possibilidade de uma legislação mais

ampla em torno da Economia Solidária propriamente dita.

12.1 Arcabouços em torno do cooperativismo

12.1.1. Lei Geral do Cooperativismo

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131

Em relação ao que vem sendo chamado de lei geral do cooperativismo propomos,

assim como fez o governo federal, focar esta lei apenas nos aspectos societários, simplificando

e aproximando a nova lei do cooperativismo das disposições do Código Civil de 2002. Além

disso, deve ser uma lei enxuta, que regule o conjunto das cooperativas, se furtando em entrar

em especificidades de cada tipo e ramo de cooperativas, deixando a regulação de ramos para

leis especificas, quando houver necessidade. Desta maneira, as premissas para uma nova Lei

do cooperativismo, em nossa opinião, deve ser:

Regular a sociedade cooperativa (não o sistema)

o Estabelecer regras gerais para funcionamento

o Ampliar os temas definidos em estatuto

o Não definir tratamento diferenciado por ramo

Liberdade de representação

Fortalecimento da Assembleia como instância decisória

o Aumento do quorum para assembleias

o Maior facilidade para convocação de assembleias

Redução do número mínimo de sócios para constituir cooperativas

Participação de pessoa jurídica como cooperado

o Preservar, como regra geral, um voto por sócio, independente da participação no

capital social.

o PJ pode votar, mas não ser votada.

Capitalização das cooperativas: ampliar possibilidades de utilização do FATES,

permitindo o uso entre as cooperativas.

Conselho Nacional do Cooperativismo, como instância de caráter consultivo e

composição bipartite.

Cadastro nacional de cooperativas

o Público, gestão das informações compartilhada por Estado e setor

o Não obrigatório, mas requisito para acesso a políticas públicas

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ANTEPROJETO DE LEI SOBRE SOCIEDADES COOPERATIVAS

Dispõe sobre o regime jurídico das

sociedades cooperativas e dá outras

providências.

O Congresso Nacional decreta:

Da natureza e característica das cooperativas

Art. 1º Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade

econômica ou financeira, de proveito comum.

§ 1º A sociedade cooperativa pode adotar por objeto social qualquer gênero de

serviço, operação ou atividade.

§ 2º Denomina-se cooperativa mista aquela que inclua em seu objeto social mais

de um gênero de serviço, operação ou atividade.

Art. 2º A cooperativa é sociedade simples de pessoas, não sujeita à recuperação

judicial nem à falência, constituída para promover a melhoria econômica, financeira e social de

seus membros, com base na ajuda mútua, sem objetivo de lucro, que se distingue das demais

sociedades pelas seguintes características:

I – variabilidade ou dispensa do capital social;

II – ausência de número máximo de sócios, salvo impossibilidade de prestação de

serviços, controle ou reunião;

III – limitação do valor da soma de quotas-parte do capital social que cada sócio

poderá subscrever;

IV – intransferibilidade das quotas-parte do capital a terceiros estranhos à

sociedade, ainda que por herança, exceto quando autorizado a sua transferência em assembleia

geral;

V – quorum para a assembleia geral funcionar e deliberar fundado no número de

sócios presentes à reunião e não no capital social representado;

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VI – direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, qualquer que seja sua

participação no capital da sociedade;

VII – distribuição das sobras líquidas proporcionalmente ao valor das operações

efetuadas pelo sócio com a sociedade;

VIII – possibilidade de remuneração das quotas-parte do capital social;

IX – indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica, Educacional e

Social entre os sócios;

X – prestação de assistência aos sócios e, nos termos do estatuto social, aos

empregados da cooperativa.

Parágrafo único. No caso de dispensa de capital social, a responsabilidade dos

sócios se dá nos termos do art. 1095, § 2º, do Código Civil.

Art. 3º A sociedade cooperativa é considerada:

I – singular, a composta por no mínimo sete pessoas físicas para a prestação

direta de serviços aos sócios;

II – central, a composta somente por cooperativas singulares, em número mínimo

de duas, com o objetivo de organizar, em comum e em maior escala, os serviços econômicos e

assistenciais de interesse dos filiados, integrando e orientando suas atividades, bem como

facilitando a utilização recíproca de serviços.

III – confederação, a composta somente por cooperativas centrais, em número

mínimo de 2 duas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos transcender o âmbito de

capacidade ou conveniência de atuação das centrais.

§ 1º Na cooperativa singular é admitida a participação de pessoa jurídica, exceto

cooperativa, desde que não exerça atividades econômicas concorrenciais ou opostas às da

sociedade e sem prejuízo do número mínimo de pessoas físicas de que trata o inciso I.

§ 2º Na cooperativa central e na confederação é admitida a participação de

cooperativas de objetivos e finalidades diversas, desde que para a prestação de serviços de

interesse comum.

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Da Constituição e Registro

Art. 4º A sociedade cooperativa constitui-se por deliberação dos fundadores, em

assembleia geral, e mediante estatuto social escrito, particular ou público, que, além das

cláusulas estipuladas pelos sócios, mencionará:

I – o nome, nacionalidade, idade, estado civil, profissão e residência dos sócios

fundadores;

II – a denominação da sociedade, obrigatoriamente composta pela palavra

“cooperativa”, o objeto, a sede e o prazo da sociedade;

III – o capital da sociedade, expresso em moeda corrente;

IV – o valor da quota-parte, o máximo de quotas-parte a ser subscrito pelo sócio e

o modo de integralização das quotas-parte, bem como as condições de sua retirada nos casos de

eliminação ou de exclusão do sócio;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

VI – os órgãos de administração e fiscalização, com definição de suas composições,

atribuições, poderes e funcionamento;

VII – o prazo do mandato dos componentes dos órgãos de administração e

fiscalização, limitado ao máximo de quatro anos, assim como o respectivo processo de eleição e

substituição, no caso dos órgãos reservados exclusivamente aos sócios, e o processo de indicação,

nos casos de órgãos cujos membros possam ser não associados;

VIII – a fixação do exercício social e da data do levantamento do balanço geral ou

demonstrações financeiras;

IX - os direitos e deveres dos sócios e as condições e procedimentos de admissão,

exclusão e eliminação;

X – responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, nos termos do art. 1.095

do Código Civil, vedado a existência, quanto à responsabilidade, de categorias diferentes de

sócios numa mesma cooperativa;

XI - a forma de devolução das sobras registradas aos sócios ou do rateio das

perdas apuradas por insuficiência de contribuição para cobertura das despesas da sociedade;

XII - as formalidades de convocação das assembleias gerais, quorum para

instalação e quantidade de voto requerido para a validade das deliberações;

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XIII – a forma de participação nas assembleias dos sócios ocupantes de cargos ou

funções na cooperativa ou, ainda, daquelas pessoas que tiverem interesse oposto ao que estiver

sendo deliberado;

XIV - os casos de dissolução voluntária da sociedade;

XV - o modo e o processo de alienação ou oneração de bens imóveis da sociedade; e

XVI - o modo de reformar o estatuto social.

§ 1º É vedado à sociedade cooperativa o uso da expressão “Banco” em sua

denominação.

§ 2º A cooperativa contará com, no mínimo, um Conselho de Administração e um

Conselho Fiscal, cuja composição mínima é de três sócios cada e respectivos suplentes.

§ 3º No caso de cooperativas com número inferior a sócios, poderá ser

estabelecido, em estatuto social, organização e composição da administração e da fiscalização

distintas do disposto no § 2º.

Art. 5º Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade cooperativa

deverá requerer a inscrição do estatuto social na Junta Comercial do local de sua sede ou em

cartório de registro de pessoa jurídica.

Dos Sócios

Art. 6º O ingresso de sócios na cooperativa exige a adesão aos propósitos sociais e

o preenchimento das condições estabelecidas no estatuto social.

Parágrafo único. O estatuto social poderá condicionar a admissão de novos sócios

à autorização da assembleia geral ou de órgão colegiado da estrutura da cooperativa,

garantido, neste caso, direito de recurso à assembleia geral.

Art. 7º A exclusão do sócio ocorrerá:

I – a pedido;

II- por dissolução da pessoa jurídica;

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III- por morte da pessoa natural;

IV - por incapacidade civil não suprida;

V - por deixar de atender aos requisitos de ingresso ou permanência na

cooperativa.

Art. 8º A eliminação do sócio é aplicada em virtude de grave infração legal ou

contratual, devidamente apurada, assegurada a ampla defesa.

Parágrafo único. A eliminação será feita pelo Conselho de Administração, cabendo

recurso à Assembleia Geral.

Art 9º. Qualquer que seja o tipo de cooperativa, não existe vínculo empregatício

entre ela e seus associados.

Dos Livros das Cooperativas

Art. 10. A sociedade cooperativa deve manter os seguintes livros:

I - de matrícula;

II - de atas das assembleias gerais, com as respectivas listas de presença;

III - de atas das reuniões dos administradores e dos órgãos de administração e

fiscalização da sociedade;

IV – outros, necessários à escrituração fiscal e contábil.

Art. 11. No livro de matrícula os sócios serão inscritos por ordem cronológica de

admissão, dele constando:

I - o nome, idade, estado civil, nacionalidade, profissão e residência, se pessoas

físicas, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede, se pessoa jurídica;

II - a data de admissão e, quando for o caso, da exclusão ou eliminação;

III - a conta corrente das respectivas quotas-parte do capital social, se for o caso.

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Do Capital Social

Art. 12. Na sociedade que tiver capital social, este será subdividido em quotas-

parte.

Parágrafo único. Nenhum sócio poderá subscrever mais de um terço do total das

quotas-parte, salvo nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamente proporcional ao

movimento financeiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a serem comercializados,

beneficiados ou transformados, ou ainda, em relação à área cultivada ou ao número de plantas e

animais em exploração.

Art. 13. É vedado à sociedade cooperativa distribuir qualquer espécie de benefício

às quotas-parte do capital ou estabelecer vantagens ou privilégios, financeiros ou não, em favor

de quaisquer sócios ou terceiros, excetuando-se o previsto no art. 2º, inciso VIII, limitado ao valor

da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia para Títulos Federais - SELIC.

Art. 14. Para a formação do capital social poder-se-á estipular que o pagamento

das quotas-parte seja realizado mediante prestações periódicas, independentemente de

chamada, por meio de contribuições ou outra forma estabelecida no estatuto social.

Art. 15. A integralização das quotas-parte e o aumento do capital social poderão

ser feitos com bens avaliados previamente e após homologação em assembleia geral ou

mediante retenção de determinada porcentagem do valor do movimento financeiro de cada

sócio.

Art. 16. O estatuto social deverá prever a forma e a periodicidade para

atualização do valor da quota-parte em função da reavaliação do patrimônio da cooperativa.

Dos Fundos

Art. 17. A sociedade cooperativa é obrigada a constituir:

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I - Fundo de Reserva, constituído por 10% (dez por cento), no mínimo, das sobras

líquidas apuradas na Demonstração de Resultado do Exercício, destinado a reparar perdas e

atender ao desenvolvimento de suas atividades;

II - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social – FATES, constituído por

5% (cinco por cento), no mínimo, das sobras líquidas apuradas na Demonstração de Resultado

do Exercício, destinado a prestar assistência quanto à capacitação técnica, formação

educacional e ações de cunho social que visem facilitar as atividades produtivas e propiciem a

melhoria na qualidade de vida dos sócios.

Parágrafo único. Além dos previstos neste artigo, a Assembleia Geral poderá criar

outros fundos, inclusive rotativos, com recursos destinados a fins específicos, fixando o modo de

formação, aplicação e liquidação.

Art. 18. Anualmente, a administração da cooperativa apresentará à assembleia

geral o plano de aplicação dos recursos do FATES para efeito de exame e prestação de contas.

§ 1º Quando previsto no estatuto social, os recursos do FATES poderão ser

destinados para atender os empregados das cooperativas, desde que para as mesmas finalidades

previstas no art. 17, inciso II.

§ 2º Quando previsto no estatuto social, os recursos do FATES poderão ser

repassados para o mesmo fundo de outras cooperativas singulares ou para a central ou

confederação de que faça parte, como forma de contribuir com a formação e consolidação

técnica, desde que para utilização nas mesmas finalidades previstas no art. 17, inciso II.

Art. 19. Em caso de dissolução ou liquidação da sociedade, o valor remanescente

nos fundos de que trata o art. 17, será assim destinado:

I – no caso das cooperativas singulares não associadas, ao Tesouro Nacional;

II – no caso de cooperativas singulares associadas em centrais, para os fundos da

respectiva central a que estiverem associadas;

III – no caso de centrais e confederações, deverá ser distribuído aos respectivos

fundos das cooperativas singulares e centrais, respectivamente.

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Das Deliberações dos Sócios

Art. 20. Dependem da deliberação dos sócios:

I - a aprovação das contas da administração;

II – a eleição dos membros dos órgãos de administração e fiscalização;

III - a designação dos administradores, quando feita em separado;

IV- a destituição dos administradores;

V - a modificação do estatuto social;

VI - a incorporação, a fusão, o desmembramento e a dissolução da sociedade ou a

cessação do estado de liquidação;

VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;

VIII – outras matérias previstas no estatuto social.

Art. 21. As deliberações dos sócios serão tomadas por maioria de votos dos

presentes, salvo nos casos em que esta Lei ou o estatuto social exigirem maioria mais elevada,

em reunião ou em assembleia

§ 1º As deliberações tomadas de acordo com a Lei e o estatuto social vinculam

todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes.

§ 2º A pessoa jurídica sócia de cooperativa tem direito a voto, mas não de ser

votada.

§ 3º Nas assembleias das cooperativas centrais e confederações o estatuto social

poderá prever votação pela proporcionalidade, baseado no número de sócios ou na participação

no capital social.

Art. 22. A assembleia geral será convocada:

I - pelo Presidente, nos casos obrigatórios, e nos casos em que houver deliberação

do Conselho de Administração;

II – pelo Conselho de Administração, na forma do estatuto;

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III – pelo Conselho Fiscal, por maioria simples, sempre que surgirem motivos

graves e urgentes e desde que a solicitação de convocação não tenha sido atendida pelo Conselho

de Administração no prazo de quinze dias;

IV – pelos associados, cujo número mínimo deverá ser estabelecido em estatuto,

quando o Conselho de Administração não atender, no prazo de 15 dias, a pedido fundamentado

de convocação ou, quando não observado o disposto nos incisos I e II, a qualquer tempo.

§ 1º A Assembleia Geral será convocada com antecedência mínima de dez dias de

sua realização, mediante notificação pessoal, via postal ou meio eletrônico, obedecido, neste

último caso, aos requisitos de segurança e autenticidade da Infraestrutura de Chaves Públicas

Brasileira – ICP Brasil.

§ 2º Na impossibilidade de notificação pessoal, postal ou por meio eletrônico, os

sócios serão notificados mediante edital afixado na sede da sociedade e publicado por três vezes

em jornal de circulação nas localidades de atuação da cooperativa, observada a antecedência

mínima de dez dias.

Da Assembleia Geral

Art. 23. O quorum de instalação da assembleia geral é de:

I – maioria absoluta dos sócios, em primeira convocação;

II – um terço dos sócios, em segunda convocação;

III –dez por cento dos sócios, em terceira convocação.

Parágrafo único. O estatuto social poderá prever quóruns mínimos maiores.

Art. 24. É vedada a representação por meio de mandatário.

§ 1º Quando o número de sócios exceder a três mil, o estatuto social poderá

estabelecer que, mediante designação expressa, o sócio seja representado por delegado que

tenha a qualidade de sócio no gozo de seus direitos sociais e não exerça cargo eletivo na

sociedade.

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§ 2º Na hipótese prevista no § 1º, o estatuto social deverá prever a forma da

escolha, a duração da delegação e o número de sócios que cada delegado poderá representar,

limitado a cinco por cento do total de sócios da cooperativa.

§ 3º Quando houver representação por delegados, a assembleia geral somente

poderá ser instalada com a presença da maioria dos delegados eleitos e atingido o quorum

previsto nos incisos I e II do art. 23.

Art. 25. A assembleia geral ordinária deve realizar-se ao menos uma vez por ano,

nos três meses seguintes ao término do exercício social, com o objetivo de:

I – tomar as contas dos administradores e deliberar sobre:

a) o relatório da gestão;

b) a Demonstração de Resultado do Exercício;

c) o parecer do Conselho Fiscal, se houver.

II - deliberar sobre a destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas

decorrentes da insuficiência das contribuições para cobertura das despesas da sociedade,

deduzindo-se, no primeiro caso, as parcelas para os Fundos obrigatórios;

III – eleger os componentes dos órgãos de administração e fiscalização e outros,

quando for o caso;

IV - quando previsto no estatuto social, a fixação do valor dos honorários,

gratificações e cédula de presença dos membros do Conselho de Administração, da Diretoria

Executiva, do Conselho Fiscal e outros, quando houver;

V - outros assuntos de interesse social.

§ 1° Os administradores ou membros dos órgãos de administração e fiscalização

não poderão participar da votação das matérias referidas nos incisos I e IV deste artigo.

§ 2º A aprovação do relatório de Demonstração do Resultado do Exercício e das

contas dos órgãos de administração desonera os seus componentes de responsabilidade,

ressalvados os casos de erro, dolo, fraude ou simulação, bem como de infração a lei ou ao

estatuto.

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Art. 26. A assembleia geral extraordinária realizar-se-á sempre que necessário

para deliberar sobre qualquer assunto de interesse da sociedade, desde que mencionado no

edital de convocação.

Art. 27. É da competência exclusiva da assembleia geral extraordinária deliberar

sobre os seguintes assuntos:

I - reforma do estatuto social;

II - fusão, incorporação ou cisão;

III - mudança do objeto da sociedade;

IV - dissolução voluntária da sociedade e nomeação e destituição de liquidantes;

V - contas do liquidante.

Parágrafo único. As deliberações de que trata este artigo exigem aprovação

mínima de 2/3 dos presentes.

Da Dissolução e Liquidação

Art. 28. A sociedade cooperativa se dissolve de pleno direito:

I - quando assim deliberar a assembleia geral extraordinária, desde que os sócios,

totalizando o número mínimo exigido por esta Lei ou pelo estatuto social, não se disponham a

assegurar a sua continuidade;

II - pelo decurso do prazo de duração;

III - pela consecução dos objetivos predeterminados;

IV - devido à alteração de sua forma jurídica; e

V - pela redução do número mínimo de sócios se, até a assembleia geral

subsequente, realizada em prazo não inferior a seis meses, o número não for restabelecido.

Parágrafo único. Quando a dissolução for deliberada pela assembleia geral, esta

nomeará um liquidante ou mais e um Conselho Fiscal de três membros para proceder à sua

liquidação.

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Art. 29. Quando a dissolução da sociedade não for promovida voluntariamente,

nas hipóteses previstas no artigo anterior, a medida poderá ser tomada judicialmente a pedido

de qualquer interessado.

Art. 30. Em todos os atos e operações, os liquidantes deverão usar a denominação

da cooperativa seguida da expressão: "Em liquidação".

Art. 31. Os liquidantes terão todos os poderes normais de administração, podendo

praticar atos e operações necessários à realização do ativo e pagamento do passivo.

Art. 32. As obrigações e as responsabilidades dos liquidantes regem-se pelos

preceitos peculiares aos dos administradores da sociedade liquidanda.

Art. 33. Respeitados os direitos dos credores preferenciais, o liquidante pagará as

dívidas sociais proporcionalmente e sem distinção entre as vencidas ou não.

Art. 34. O liquidante convocará assembleia geral para prestação final de contas

após solucionado o passivo, reembolsados os sócios até o valor de suas quotas-parte e

encaminhado o remanescente conforme o estatuto social.

Parágrafo único. Após a solução do passivo e o reembolso dos sócios, o valor

remanescente originário dos fundos indivisíveis deve ser destinado às finalidades indicadas no

art. 19.

Art. 35. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação e a sociedade se extingue,

devendo a ata da assembleia ser arquivada na Junta Comercial e publicada em jornal de

circulação local.

Parágrafo único. O sócio discordante terá o prazo de 30 (trinta) dias, a contar da

publicação da ata, para promover a ação judicial que couber.

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Das Despesas e Prejuízos

Art. 36. As despesas da sociedade serão cobertas pelos sócios mediante rateio na

proporção direta da fruição de serviços.

Parágrafo único. O estatuto social poderá, para melhor atender à equanimidade

de cobertura das despesas da sociedade, estabelecer:

I - rateio, em partes iguais, das despesas gerais da sociedade entre todos os sócios,

quer tenham ou não, no ano-calendário, usufruído dos serviços por ela prestados, conforme

definido no estatuto social;

II - rateio, em razão diretamente proporcional, entre os sócios que tenham

usufruído dos serviços durante o ano, das sobras líquidas ou dos prejuízos verificados no balanço

do exercício, excluídas as despesas gerais já atendidas na forma do item anterior.

Art. 37. A cooperativa que tiver adotado o critério de separar as despesas da

sociedade e estabelecido o seu rateio na forma indicada no parágrafo único do art. 36 deverá

demonstrar separadamente as despesas gerais.

Art. 38. Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos com

recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficiente, mediante rateio, entre os sócios, na

razão direta dos serviços usufruídos, ressalvada a opção prevista no parágrafo único do art. 36.

Do Ato Cooperativo

Art. 39. O ato cooperativo é o negócio jurídico decorrente do objeto social da

sociedade cooperativa, por ela realizado em proveito de seus cooperados, pessoas físicas ou

jurídicas, quando praticado entre:

I - a sociedade cooperativa e o cooperado e vice-versa; e

II - a sociedade cooperativa e a respectiva central, ou confederação da qual seja

associada.

Das Operações das Cooperativas

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145

Art. 40. O estatuto social deverá estabelecer as condições da entrega da produção

do sócio à cooperativa e como esta poderá dispor dos mesmos.

Art. 41. Respeitado o objeto social, a cooperativa poderá operar com não sócios,

quando a assembleia geral autorizar.

Parágrafo único. Os resultados das operações com não sócios deverão ser

contabilizados em separado e destinadas ao FATES.

Art. 42. As cooperativas poderão participar de sociedades não cooperativas para

melhor atendimento dos próprios objetivos e de outros de caráter acessório ou complementar.

Parágrafo único. As inversões decorrentes dessa participação serão contabilizadas

em títulos específicos e seus eventuais resultados positivos levados ao FATES.

Dos Contratos de Consórcio

Art. 43. Nos contratos de consórcio, celebrados por cooperativas com não sócios,

nos termos do art. 279 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976:

I - a participação de não sócios no capital dos empreendimentos não poderá

ultrapassar a quarenta e nove por cento;

II - a participação de não sócios no consórcio não gera direitos próprios dos sócios,

sendo facultado conferi-lhes tão somente poderes de cogestão no empreendimento contratado;

III - o objeto do empreendimento deverá ser correlato ou complementar ao objeto

da cooperativa.

Do Conselho Nacional de Fomento ao Cooperativismo

Art. 44. Fica criado o Conselho Nacional de Fomento ao Cooperativismo –

CONACOOP, órgão colegiado consultivo.

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§ 1º Decreto do Poder Executivo regulamentará composição, mandatos, estrutura,

entre outras condições, para o funcionamento do CONACOOP.

§ 2º A composição do CONACOOP deverá ser paritária entre o poder público

federal e a representação do setor.

Art. 45. Compete ao Conselho Nacional de Fomento ao Cooperativismo:

I - subsidiar a formulação de políticas públicas de apoio e desenvolvimento do

cooperativismo;

II – auxiliar na articulação das ações dos órgãos governamentais e na integração

do próprio setor;

III - propor a atualização da legislação cooperativista nacional; e

IV – apoiar a gestão da Relação Anual de Informações das Cooperativas - RAIC,

nos termos do art. 46 desta Lei e respectivo regulamento.

Art. 46. Fica instituída a Relação Anual de Informações das Cooperativas – RAIC, a

ser preenchida pelas cooperativas anualmente, com informações relativas ao ano-calendário

anterior.

§ 1° Após consulta ao Conselho Nacional de Fomento ao Cooperativismo, o Poder

Executivo regulamentará o modelo de formulário da RAIC, os critérios para entrega das

informações e as responsabilidades institucionais sobre a coleta, processamento, acesso e

divulgação das informações.

§ 2° A cooperativa que não fornecer anualmente as informações para

cumprimento do disposto no caput não poderá ter acesso às políticas de estímulo ao

cooperativismo do governo federal e de seus órgãos oficias, na forma de assistência técnica,

crédito e apoio financeiro.

Da Adaptação às disposições desta lei

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Art. 47. As cooperativas existentes na data de entrada em vigor desta Lei deverão

adaptar integralmente os seus estatutos sociais na primeira alteração contratual ou estatutária

que vier a ser realizada.

Parágrafo único. Todas as cooperativas existentes na data de entrada em vigor

desta Lei deverão, no prazo de cinco anos, adaptar seus estatutos sociais às suas disposições.

Das Disposições Finais

Art. 48. É livre a organização de sistemas de representação de sociedades

cooperativas.

Art. 49. Fica o Governo Federal autorizado a implementar ações de apoio e

estímulo ao cooperativismo, que serão exercidas na forma desta Lei e de outras normas que

surgirem em sua decorrência.

§ 1º O poder público promoverá o cooperativismo mediante o desenvolvimento de

programas direcionados a capacitação e a assistência técnica, ao desenvolvimento tecnológico e

gerencial.

§ 2º O poder público também estimulará a criação e o desenvolvimento das

cooperativas e da cooperação, incentivando as relações das cooperativas entre si, com seus

associados e com o mercado.

Art. 50. Devem ser observadas, na aplicação desta lei, as seguintes disposições:

I – depende de regulamentação do Conselho Monetário Nacional a aplicação, às

cooperativas de crédito, das disposições legais relativas à admissão de sócios, pessoas físicas e

jurídicas, à prestação de serviços a não sócio e à participação societária em entidades não

cooperativas.

II – às cooperativas de crédito não se aplicam:

a) a constituição de cooperativas mistas, prevista no § 2º do art. 1º;

b) a dispensa do capital social, prevista no inciso I do art. 2º;

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148

c) as restrições à filiação de pessoas jurídicas por cooperativas singulares

previstas no § 1º do art. 3º;

d) a associação de cooperativas de outros ramos a cooperativas centrais e a

confederações, prevista no § 2º do art. 3º;

e) a integralização de capital e de quotas-partes com bens, bem como mediante

retenção de qualquer porcentagem do valor do movimento do sócio , previstas no art. 14;

f) a desoneração de responsabilidade dos órgãos de administração, prevista no §

2º do art. 25; e

g) a celebração de contratos de consórcio, prevista no art. 43.

III - não se aplicam às cooperativas de seguro e às habitacionais as disposições do

art. 15.

IV - não se aplicam às pessoas jurídicas de direito público que participem de

cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicações as disposições do parágrafo único do

art. 12.

Art. 51. Aplicam-se às sociedades cooperativas:

I - a legislação trabalhista e previdenciária, em relação a seus empregados; e

II – o previsto na Lei 10.416, de 10 de janeiro e 2002 - Código Civil, nos processos

de fusão, incorporação e desmembramento e às demonstrações financeiras.

Art. 52. Fica acrescido o art. 46-A à Lei nº 11.076, de 30 de dezembro de 2004:

“Art. 46-A. A cooperativa que se dedicar a vendas em comum poderá registrar-se

como armazém geral, podendo também desenvolver as atividades previstas na Lei no 9.973, de

29 de maio de 2000, e nessa condição expedir Conhecimento de Depósito, Warrant, Certificado

de Depósito Agropecuário - CDA e Warrant Agropecuário - WA para os produtos de seus sócios

conservados em seus armazéns, próprios ou arrendados, sem prejuízo da emissão de outros

títulos decorrentes de suas atividades normais, aplicando-se, no que couber, a legislação

específica.

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149

§ 1° Para efeito deste artigo, os armazéns da cooperativa se equiparam aos

“Armazéns Gerais”, com as prerrogativas e obrigações destes, ficando os componentes do

Conselho de Administração, emitente do título, responsáveis pessoal e solidariamente, pela boa

guarda e conservação dos produtos vinculados, respondendo criminal e civilmente pelas

declarações constantes do título, como também por qualquer ação ou omissão que acarrete o

desvio, deterioração ou perda dos produtos.

§ 2° Observado o disposto no § 1°, as cooperativas poderão operar unidades de

armazenagem, embalagem e frigorificação, bem como armazéns gerais alfandegários, nos

termos do disposto no Capítulo IV da Lei n. 5.025, de 10 de junho de 1966.”

Art. 53. Ficam revogados os arts. 1º a 78; 80 a 110; e 112 a 117 da Lei nº 5.764, de

16 de dezembro de 1971.

Art. 54. Esta lei entra em vigor no primeiro dia do terceiro mês subseqüente ao de

sua publicação.

12.1.2. Decreto de criação do conselho nacional do cooperativismo

A ideia de criar um Conselho Nacional do Cooperativismo não e nova. Na verdade, nas

antigas legislações do cooperativismo no Brasil já havia a previsão da existencia de um

Conselho nacional do Cooperativismo. Contudo, este conselho teve existência num período de

forte intervenção do estado na vida das cooperativas, e portanto foi abandonado a partir da

constituição de 1988.

Contudo, num novo contexto do cooperativismo brasileiro, nos parece essencial criar

um novo conselho nacional do cooperativismo, por trás motivos distintos, dois de ordem

estratégica, e outro por ordem tática:

Em primeiro lugar, do ponto de vista estratégico, e importante criar um espaço de

articulação das diferentes politicas publicas para o cooperativismo no Brasil, assim

como de articulação das diferentes matrizes politicas existentes na sociedade em torno

do cooperativismo. Hoje existem pelos menos 8 órgãos de governo distintos que

desenvolvem politicas para o cooperativismo (ministério do trabalho, com politicas

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150

para a economia solidaria, ministério da agricultura, com o Departamento Nacional de

cooperativismo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, com as cooperativas de

agricultura familiar, o Ministério da Fazenda e o Banco Central, com as cooperativas de

credito, o Ministério da Saude, com as cooperativas sociais, o Ministério de Minas e

Energia, com as cooperativas de garimpeiros, entre outros). É importante articular

estes ministérios para politicas comuns para o cooperativismo. Alem da articulação, é

importante a participação da sociedade civil na construção destas politicas, desta

maneira, um conselho paritário entre sociedade civil e governo viria cumprir este

papel.

O segundo motivo estratégico de refere a necessidade de se ter um espaço publico que

propicie a construção de uma agenda comum do cooperativismo no Brasil, apesar de

toda a sua diversidade, e que seja responsável tanto pelas informações do

cooperativismo brasileiro como por propor mudanças legislativas para o

cooperativismo, quando necessário

Do ponto de vista tático, um Conselho Nacional de Cooperativismo cumpriria um papel

de órgão regulador, que de fato existe em vários países, sem cair nem num órgão

eminentemente estatal nem no absurdo de conceder esta prerrogativa para uma

entidade privada, como a OCB. Desta maneira, a proposta de Um Conselho Nacional de

Cooperativismo esvazia a reivindicação da OCB pelo que ela chama “unicidade

doutrinaria” do cooperativismo, colocando estas prerrogativas num espaço publico e

republicano de um Conselho Nacional.

Desta maneira, segue abaixo proposta de Decreto presidencial com a criação de um

Conselho com estas características.

CONSELHO NACIONAL DE COOPERATISMO

DECRETO Nº , DE DE DE 2009

Dispõe sobre a criação, composição,

estruturação, competência e funcionamento

do Conselho Nacional de Cooperativismo e

cria o Registro Anual de informações do

Cooperativismo - RAIC

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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso

IV, da Constituição.

DECRETA:

Art. 1° Este Decreto dispõe sobre a criação, competência e composição do Conselho Nacional de

Cooperativismo e cria o Registro Anual de informações do Cooperativismo - RAIC.

Art. 2° Fica criado, na estrutura básica da Secretária Geral da Presidência da República, o

Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC.

Art. 3° O Conselho Nacional de Cooperativismo, é órgão colegiado integrante da estrutura da

Secretária Geral da Presidência da República, de natureza consultiva e propositiva, composto

por representantes do Poder Público e da sociedade civil, que tem por finalidade realizar a

interlocução e buscar consensos em torno das políticas e ações de fortalecimento do

cooperativismo no Brasil.

Art. 4º Ao Conselho Nacional de Cooperativismo compete:

I – articular e estimular a participação da sociedade civil no âmbito das políticas de

apoio e fomento ao cooperativismo;

II - propor diretrizes e prioridades para as políticas de cooperativismo desenvolvidas

pelos diferentes órgãos do governo federal;

III - Subsidiar a formulação de políticas públicas de apoio ao desenvolvimento do

cooperativismo brasileiro;

IV – Recomendar a adequação de políticas públicas às demandas das cooperativas e à

obrigação constitucional do estado de apoiar e estimular o cooperativismo no país

V - avaliar o cumprimento dos programas do governo federal para o cooperativismo e

sugerir medidas para aperfeiçoar o seu desempenho

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VI - examinar propostas de políticas públicas que lhe forem submetidas pelos órgãos do

governo federal e apresentar emendas ou substitutivos a elas;

VII - Propor a atualização da legislação cooperativista nacional;

VIII - aprovar o seu regimento interno;

IX - coordenar as atividades de entidades nele representadas com os diferentes órgãos

federais que desenvolvem programas de apoio ao cooperativismo no Brasil da Secretaria

Nacional de Economia Solidária;

X - colaborar com os demais conselhos envolvidos com as políticas de desenvolvimento,

combate ao desemprego e à pobreza e;

XI - Responsabilizar-se e gerir a Relação Anual de Informações das Cooperativas,

conforme definido neste decreto;

Art. 5. Fica instituída a Relação Anual de Informações das Cooperativas – RAIC, a ser preenchida

pelas cooperativas anualmente, com informações relativas ao ano-calendário anterior.

§ 1° A Relação Anual de Informações das Cooperativas – RAIC tem por finalidade a

identificação e registro de informações do cooperativismo brasileiro.

§ 2°O Conselho Nacional de Cooperativismo, definirá os critérios para entrega das

informações e as responsabilidades institucionais sobre a coleta, processamento, acesso e

divulgação das informações.

§ 3° A cooperativa que não fornecer anualmente as informações para

cumprimento do disposto no caput não poderá ter acesso às políticas de estímulo ao

cooperativismo do governo federal e de seus órgãos oficias, na forma de assistência técnica,

crédito e apoio financeiro.

Art. 6º O CNC terá a seguinte composição:

I – Governo Federal:

a) um representante da Secretária Geral da presidência da República;

b) um representante da Casa Civil da presidência da república;

c) um representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

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153

d) um representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário;

e) um representante do Ministério da Fazenda;

f) um representante do Ministério do Trabalho e Emprego

g) um representante do Banco Central do Brasil

II – oito representantes de Entidades Nacionais de representação do Cooperativismo que

cumprirem os seguintes critérios:

a) Terem filiadas, no mínimo, 300 cooperativas singulares com, no mínimo, 30 mil

cooperados;

b) Representar Cooperativas filiadas em pelo menos 03 macro-regiões geográficas;

c) Representar Cooperativas filiadas em pelo menos 9 estados brasileiros;

d) Possuírem em seu quadro de filiados, Cooperativas representantes de pelo menos 03

ramos do cooperativismo.

§ 1º as oito representações das entidades que comprimirem os critérios definidos no

caput deste artigo serão proporcionalmente distribuídos entre as entidades conforme o

numero de cooperativas filiadas a mesma.

§ 2° - A participação no CNC será considerada prestação de serviço relevante e não

remunerada.

Art. 7º A estrutura do CNC compõe-se de:

I- Plenário;

II – Secretaria Executiva; e

III- Comitês Temáticos.

§ 1º O Plenário é o órgão deliberativo máximo do CNC, ao qual cabe formular, decidir e

encaminhar proposições afetas às competências desse Conselho.

§ 2º O Plenário reunir-se-á, trimestralmente, em caráter ordinário e,

extraordinariamente, por convocação do seu Presidente ou por requerimento da maioria

absoluta de seus Membros.

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§ 3º O Presidente do Conselho será eleito dentre os integrantes para um mandato de 02

(dois) anos.

§ 4° A Secretária Executiva do CNC será exercida pela Secretaria Geral da Presidência da

República, à qual compete elaborar as atas das reuniões e dar apoio operacional às reuniões

plenárias e aos Comitês Temáticos.

§ 5º O CNC poderá instituir Comitês Temáticos, de caráter permanente ou temporário,

destinados ao estudo e à elaboração de propostas sobre temas específicos, podendo, inclusive

convidar para deles participar representantes de órgãos e entidades públicas e privadas que não

compõe o Conselho Nacional de Cooperativismo.

§ 6º O CNC, no ato de criação dos Comitês Temáticos, definirá os objetivos específicos, a

composição e o prazo para a conclusão dos trabalhos.

Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, de de; da Independência e da República.

12.1.3. Transformações no SESCOOP

O Sescoop foi criado em 1999 a partir de Medida Provisória do então presidente da

Republica Fernando Henrique Cardoso. Com a criação do Sescoop se cria uma nova entidade

no contexto do chamado sistema “S”. Assim, os recursos originalmente destinados a outros

sistemas “S” (SENAC, SENAI, etc), passam a, quando uma cooperativa tiver empregado, ser

repassados para o Sescoop.

Por se encontrar dentro do desenho do sistema patronal criado durante o período

Vargas, o Sistema “S” se baseia em recursos oriundos da folha de pagamento das empresas

para ser gerido pelo sindicato patronal visando propiciar formação e cultura para seus

“empregados” e estava baseado, conforme a estrutura sindical brasileira, em ramos de

atividade econômica

Desta maneira, com a criação do Sescoop uma primeira estranheza causa: se cria uma

nova estrutura não baseada em ramo de atividade econômica, mas sim tendo como

pressuposto a forma societária

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155

Este fato fez com que a Confederação Nacional do Comercio entrasse no Supremo

Tribunal Federal questionando a validade da criação do Sescoop, uma vez que este não se

enquadraria nas definições de nossa estrutura sindical.

Esta ação direta de inconstitucionalidade ainda não foi votada pelos ministros do

Supremo Tribunal Federal.

Contudo, para nos de fato a criação do Sescoop parece um tanto estranha, uma vez que

arrecada recursos dos empregados da cooperativas para desenvolver projetos para seus

cooperados. Nos parece assim, que seria mais conveniente, a longo prazo, pensar em outras

formas de criação de fundos públicos para as cooperativas. Um modelo interessante seria o

italiano, que taxa em 3% as sobras das cooperativas para constituir um Fundo de apoio e

fomento as mesmas. Esta poderia ser uma boa alternativa ao Sescoop.

Contudo, pelo processo jurídico e principalmente pelas resistências jurídicas para estas

mudanças, que só seriam possível a longo prazo, nos parece que de qualquer forma é

necessário pensar em reformulações no SESSCOOP.

A principal mudança que vemos necessária é a ampliação do conselho do Sescoop e a

sua democratização. De fato, como é característica do sistema “S”, a gestão dos recursos do

Sesscoop é feito por um conselho que tem como presidente a OCB. Ao fim, por mais que exista

um Conselho, quem gere de fato os recursos do Seescoop e defini as suas destinações é a

Organização das Cooperativas Brasileiras, ficando as demais cooperativas e entidades de

representação apartadas destes vultuosos recursos públicos, que somam a mais de R$ 100

milhões ao ano.

Desta maneira, nos parece urgente reformular o Conselho do Seescoop, fazendo que

sejam incorporadas ao Conselho as outras entidades de representação do cooperativismo, já

citadas neste trabalho. Desta maneira, seria necessário incorporar ao conselho do seescoop as

outras entidades de representação do cooperativismo brasileiro, assim como reformular seu

funcionamento para que esta incorporação não seja apenas aparente mas sim de fato.

Desta maneira, manter-se-ia os recursos do Sescoop, contudo a gestão dos mesmos

seria democratizada e republicanizada.

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156

12.1.4. Adequado tratamento tributário às cooperativas populares.

Em relação a tributação das cooperativas, realizamos em outra parte deste relatório

uma avaliação detalhada sobre a realidade da tributação hoje das mesmas. A parte esta

avaliação, seria necessário um maior esforço para redigir uma proposta concreta que de conta

complexidade das cooperativas e dos setores econômicos que elas se encontram.

Contudo, a pesquisa já aponta como proposição a necessidade de se pensar a relação

do sistema tributário instituído pelo chamado super simples com as cooperativas. De fato,

podemos observar que varias cooperativas de fato estão optando em se formalizarem como

limitadas, e não como, cooperativas, para poderem desfrutar dos benefícios tributários da lei

do simples nacional.

Por outro lado, a receita federal afirma que não pode conceder os benefícios do simples

para as cooperativas porque estas já possuem um tratamento tributário especifico, que é o ato

cooperativo.

A partir das conclusões da pesquisa, fazemos as seguintes propostas em relação à

tributação das cooperativas:

• Apoio ao projeto de lei n° 288/2008, de autoria do Deputado Tarcísio

Zimmermann, que prevê que cooperativas possam optar entre estarem sob o

regime tributário do ato cooperativo ou serem beneficiarias do simples.

• Obrigatoriedade de divulgação de Balanço Social pelas cooperativas com mais de

50 cooperados, para tornar transparentes os benefícios sociais decorrentes do

exercício de sua atividade econômica.

• Regulamentação do adequado tratamento tributário ao ato cooperativo a partir

do princípio da capacidade contributiva.

• Reformulação do projeto de lei enviado pelo Poder Executivo com base nos

resultados de estudo sobre a relação entre o faturamento das cooperativas e a

carga tributária por elas suportada.

• Vinculação da concessão de benefícios fiscais à concretização dos princípios

cooperativistas.

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• Criação de programas de formação e assessoria jurídico-contábil com o objetivo

de minimizar as dificuldades de acesso à informação e desconhecimento das

normas legais que incidem sobre o exercício da atividade econômica.

12.1.5. Cooperativas de trabalho

A nova lei das cooperativas de trabalho foi aprovada recentemente. Desta maneira, não

cabe a nos fazermos grandes proposições a respeito, uma vez que ela e fruto de um longo

debate e deve colocar novas questões para o cooperativismo brasileiro. Contudo, não

podemos deixar de faze alguns comentários e algumas proposições para que a lei cumpra de

fato seu papel.

Em primeiro lugar, é necessário que a lei seja regulada o mais depressa possível. Em

relação a regulação da lei, propomos que ela esteja baseada em trás grandes eixos:

1 – Regulamentação da forma de funcionamento de uma cooperativa de trabalho,

inclusive deixando claro o artigo quarto da lei, que defini quem esta dentro e quem esta fora

do escopo da lei

2 – Regulamentação da forma de fiscalização que sera realizado pelos órgãos

responsáveis, ajudando a fiscalização do trabalho e o ministerio publico do trabalho em sua

atuação.

3 – Regulamentação do Programa Nacional de Apoio as cooperativas de trabalho,

fazendo com que suas propostas previstas em lei sejam de fato efetivadas.

Em relação a este ultimo ponto, e necessário afirmar com enfase que a nova lei só sera

de fato benéfica as cooperativas e cumprira seu papel de propiciar trabalho descente aos

trabalhadores das cooperativas de trabalho se o estado desenvolver uma ação seria e eficaz

para dar condições econômicas para que as cooperativas possam cumprir o artigo 7 da

referida lei, ou sejam o artigo que prevê os direitos dos trabalhadores das cooperativas.

Para que as cooperativas hoje fragilizadas possam de fato cumprir este artigo 7, e

necessário que o PRONACOOP tenha condi coes e orçamento para apoiar as cooperativas de

trabalho com credito subsidiado, formação, tecnologias e facilidades de acesso ao mercado

publico. Somente assim as cooperativas de trabalho poderão, por um lado, ter sua segurança

jurídica e, por outro, de fato propiciar trabalho descente para seus cooperados.

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12.1.6. Cooperativas Sociais

A Lei n° 9.867 de 10 de novembro de 1999 institui no Brasil a figura das cooperativas

sociais. Estas são cooperativas formadas majoritariamente por pessoas com desvantagem de

acesso ao mundo do trabalho. A Lei em questão foi inspirada na legislação italiana em

questão, onde desde os anos de 1980 existem cooperativas deste tipo que representam um

importante instrumento de inclusão socioeconômica e elemento de desenvolvimento.

Esta lei teve efeito simbólico extremamente positivo ao reconhecer que existem

empreendimentos econômicos, de caráter coletivo e democrático, formado por pessoas com

as mais diversas desvantagens. Contudo, devido as particularidades do sistema jurídico

brasileiro e dos vetos presidenciais que sofreu no momento de sua sanção, ela teve poucos

efeitos práticos.

De fato, o numero de cooperativas sociais, formadas a partir desta lei, existentes hoje

no Brasil é irrisório (não passa de uma dezena). Contudo, o numero de empreendimentos

informais coletivos e democráticos formados por essas pessoas em desvantagem é enorme e

vem em crescente expansão (mapeamento realizado pelo Ministério do Trabalho e Ministério

da saúde mostram que só no campo dos usuários do sistema de saúde mental, um dos

públicos da referida lei, existem mais de 700 empreendimentos informais).

Desta maneira, é nossa opinião que se faz urgente iniciativas de reformulação da Lei n°

9.867 de 10 de novembro de 1999 para que possamos formalizar estes empreendimentos e

termos, para além das cooperativas de fato, cooperativas sociais de direito.

Um dos pontos que se precisa pensar e que esta baseado na experiência das

cooperativas sociais em outros países, particularmente a Itália, é que as cooperativas sociais

devem ser formadas por pessoas em desvantagem, mas não exclusivamente por elas. É

necessário que pessoas sem desvantagens também possam se associadas para que o principio

da autoajuda e que a diversidade de condições possa alavancar de fato os empreendimento.

Assim, a legislação italiana prevê que uma cooperativa para ser considerada social

tenha pelo menos 30% de seus associados classificados como pessoas em desvantagem, sendo

que os outros 70% não precisam ser. No Brasil, os grupos informais citados acima são

formados tanto por pessoas em desvantagem como não e tem tido enorme sucesso.

Foi realizada pelo governo Federal, em 2010, uma Conferencia temática sobre

cooperativismo social, onde se apontou que a legislação brasileira deveria prever que uma

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cooperativa social deveria ter no mínimo 50% de pessoas em desvantagem, sendo que o

restante não precisaria ser.

Em conclusão, nossa opinião é de que se deve, na reformulação da lei das cooperativas

sociais, propor um parágrafo com a seguinte redação: “Para ser considerada cooperativa social,

pelo menos cinquenta por cento dos sócios de cada Cooperativa Social deverão ser pessoas em

desvantagem”.

Outro problema enfrentado pelas cooperativas sociais se refere aquelas formadas por

pessoas que são consideradas incapazes juridicamente. Para resolver isso seria importante

lembrar que a incapacidade jurídica das pessoas, pelo código civil brasileiro, não precisa ser

total. O Juiz pode colocar graus de incapacidade. Desta maneira, seria importante a lei apenas

indicar essa possibilidade. Nossa proposta é dada pela seguinte redação:

§ 4° - Os sócios em desvantagens de uma cooperativa social devem possuir os mesmos

direitos e deveres dos demais sócios da cooperativa, conforme definido pela Lei

5764/1971, ressalvados os casos que o estado do associado não permitir.

§ 5° A suspensão temporária dos direitos e deveres de um cooperado devido ao seu estado

deve ser definido pela assembleia geral da cooperativa.

Outra mudança necessária para que as cooperativas sociais sejam viáveis de fato são

previsões em relação a situação previdenciária dos associados em desvantagem. Hoje, muitos

dos associados potenciais destas cooperativas possuem aposentadoria por invalidez. Segundo

as atuais regras, se eles integrarem a cooperativa, perdem seus direitos previdenciários, o que

leva a uma falta de incentivo entre trocar o certo (a previdência) para o incerto (o trabalho na

cooperativa), por mais benefícios que o trabalho da cooperativa possa trazer para ele.

Desta maneira e necessário pensar tanto em formas progressivas de perda dos direitos

previdenciários (algo como, depois de um ano perde 50% dos direitos) e só perde totalmente

depois de 3 anos, ou, o que nos parece mais importante, o principio da porta aberta, ou seja,

mesmo que ele perca o direito, que ele possa readquiri-lo automaticamente se deixar de

trabalhar na cooperativa.

Por fim, um debate presente hoje esta em relação ao publico que seria considerado em

desvantagem para constituir uma cooperativa social. Existem propostas de ampliação do

publico, e resistência de setores para que isso ocorra. Acreditamos que se faz necessário um

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160

amplo debate a respeito, percebendo os pros e contras de uma ampliação das pessoas que

seriam beneficiarias da lei das cooperativas sociais.

Além disso, nos parece essencial politicas públicas efetivas para estas cooperativas.

Propomos abaixo decreto que cria Programa Nacional de Cooperativas sociais.

PRONACOOP – SOCIAL

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea

“a”, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1o O Programa Nacional de Apoio ao Cooperativismo Social – PRONACOOP SOCIAL tem por

finalidade planejar, orientar, coordenar, executar e monitorar a implantação de ações voltadas

às cooperativas sociais e aos empreendimentos econômicos solidários formados por pessoas em

situação de desvantagem, conforme definidas pelo artigo 3° da lei 9867, de 10 de novembro de

1999.

Art. 2o Para os fins deste Decreto, entende-se por:

I - cooperativas sociais: os grupos de geração de trabalho e renda organizados na forma de

cooperativas, com o objetivo de promover a inserção social, laboral e econômica de pessoas em

desvantagem, nos termos do art. 3° da Lei n° 9.867, de 10 de novembro de 1999; e

II – empreendimentos econômicos solidários: organizações de caráter associativo que realizam

atividades econômicas, cujos participantes sejam trabalhadores do meio urbano ou rural e

exerçam democraticamente a gestão das atividades e a alocação dos resultados.

Art. 3o São princípios do PRONACOOP SOCIAL:

I – respeito à dignidade e independência da pessoa, inclusive a autonomia individual e coletiva;

II - não-discriminação e promoção de igualdade de oportunidades;

III - participação e inclusão de pessoas em desvantagem na sociedade e respeito pela diferença

como parte da diversidade humana;

IV - geração de trabalho e renda a partir da organização do trabalho com foco na autogestão;

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V - articulação e integração de políticas públicas para a promoção do desenvolvimento local e

regional; e

VI – ação coordenada dos órgãos que desenvolvem políticas de geração de trabalho e renda para

as pessoas em desvantagem.

Art. 4o São objetivos do PRONACOOP-SOCIAL:

I - produção de diagnóstico e plano de desenvolvimento institucional para as cooperativas

sociais e empreendimentos econômicos solidários formados por pessoas em situação de

desvantagem;

II – incentivo a formalização dos empreendimentos econômicos solidários, formados por pessoas

em situação de desvantagem, em cooperativas sociais;

III - fortalecimento financeiro, de gestão e de organização do processo produtivo das

cooperativas sociais e dos empreendimentos econômicos solidários, formados por pessoas em

situação de desvantagem, bem como qualificação e formação dos cooperados e associados;

IV - viabilização de linhas de crédito;

V - acesso a mercados e à comercialização da produção proveniente das cooperativas sociais e

dos empreendimentos econômicos solidários, formados por pessoas em situação de

desvantagem;

VI- Incentivo a formação de redes e cadeias produtivas formadas por cooperativas sociais e

empreendimentos econômicos solidários.

VII - monitoramento e avaliação dos resultados e alcances sociais e econômicos das políticas de

apoio ao cooperativismo social; e

VIII - outras ações que venham a ser definidas pelo Comitê Gestor de que trata o art. 7°.

Art. 5o Para o cumprimento dos objetivos do PRONACOOP SOCIAL, serão utilizados as seguintes

políticas e instrumentos:

I - programas de formação continuada que deverão atender as necessidades dos trabalhadores

das cooperativas sociais e dos empreendimentos econômicos solidários formados por pessoas em

situação de desvantagem, visando à autonomia, à emancipação e à autogestão do grupo;

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II - ampliação dos conhecimentos e habilidades dos trabalhadores por meio da oferta de padrões

tecnológicos e gerenciais para a condução de suas atividades;

III - capacitação tecnológica e gerencial de pessoas em situação de desvantagem que desejem

ingressar ou formar cooperativas sociais e empreendimentos econômicos solidários;

IV – criação de linha de crédito facilitada para as cooperativas sociais e empreendimentos

econômicos solidários formados por pessoas em situação de desvantagem ; e

V – abertura de canais de comercialização dos produtos e serviços, possibilitando, inclusive, o

acesso das cooperativas sociais e empreendimentos econômicos solidários, formados por pessoas

em situação de desvantagem às compras públicas.

VI – Transferência de recursos, a titulo de auxilio, previstos no artigo 12°, § 6°, da Lei n° 4320, de

1964, conforme definidos pelos incisos III, IV e VIII do artigo 36° da lei n° 12.309, de 9 de agosto

de 2010, para as cooperativas sociais e empreendimentos econômicos solidários formados por

pessoas em situação de desvantagem.

Parágrafo único. O PRONACOOP-SOCIAL terá seus objetivos desenvolvidos em regime de

parceria entre os órgãos e as entidades da administração pública federal, estadual, distrital e

municipal, a iniciativa privada e as pessoas em situação de desvantagem, seus familiares e suas

organizações sociais.

Art. 6° O PRONACOOP SOCIAL será coordenado por um Comitê Gestor, que terá as seguintes

atribuições:

I - acompanhar e coordenar a implementação das ações previstas neste Decreto;

II - estabelecer as diretrizes, metas e normas operacionais para o Programa;

III - promover estratégias de articulação de programas, projetos e atividades voltadas ao

desenvolvimento do cooperativismo social;

IV - propor ações de formação e capacitação em cooperativismo social para técnicos e gestores

que atuem junto as pessoas em situação de desvantagem;

V - estabelecer critérios para aprovação de projetos, aplicação de recursos e avaliação dos

resultados das cooperativas sociais e empreendimentos econômicos solidários formados por

pessoas em situação de desvantagem;

VI - propor mecanismos para a concessão de crédito;

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VII - disciplinar os critérios para o repasse dos recursos e de financiamento e fiscalizar a sua

aplicação.

VIII - manter banco de dados atualizado do cooperativismo social no Brasil; e

IX – estabelecer acordos de cooperação e parcerias com entidades nacionais e internacionais

com vistas a desenvolver o cooperativismo social no Brasil.

Art. 7° O Comitê Gestor do PRONACOOP SOCIAL será composto por um representante, titular e

suplente, dos seguintes órgãos e entidades:

I - Ministério do Trabalho e Emprego;

II - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;

III - Ministério da Saúde;

IV – Ministério da Justiça;

V – Secretaria de Direitos Humanos; e

VI – Secretaria-Geral da Presidência da República.

§ 1º Serão convidadas a participar do Comitê Gestor representantes da sociedade civil e do

Conselho Nacional de Justiça, sendo:

I – seis representantes de entidades da sociedade civil, de caráter nacional, indicados pelo

Comitê e designados pelo Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, a partir de processo de

seleção baseado em critérios objetivos previamente definidos no regimento interno; e

II – um representante do Conselho Nacional de Justiça.

§ 2o O Comitê Gestor do PRONACOOP SOCIAL será coordenado pela Secretária Nacional de

Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.

§ 3o O regimento interno do Comitê Gestor disporá sobre o seu funcionamento, forma de atuação

e detalhamento de atribuições, devendo ser aprovado pela maioria absoluta de seus membros e

publicado por portaria do Ministro de Estado do Trabalho e Emprego.

§ 4o O Comitê Gestor poderá convidar para participar das reuniões representantes de outros

Ministérios, de instituições públicas e da sociedade civil.

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§ 5º Os membros do Comitê Gestor e seus respectivos suplentes, a que se referem os incisos I a

VIII do art. 8° serão indicados pelos titulares dos órgãos e entidades representados e designados

pelo Ministro de Estado do Trabalho e Emprego.

§ 6º Os membros do Comitê Gestor e seus respectivos suplentes, a que se referem os incisos I e II

do § 1° do art. 8° serão indicados e designados pelos titulares das respectivas entidades.

§ 7º A participação dos membros do Comitê Gestor é considerada serviço público relevante e não

será remunerada.

Art. 8o As despesas necessárias ao funcionamento do Comitê Gestor, bem como as decorrentes da

execução das ações e projetos do PRONACOOP SOCIAL advirão das dotações orçamentárias

próprias consignadas anualmente nos orçamentos dos órgãos e entidades envolvidos no

Programa, observados os limites estipulados na legislação orçamentária e financeira.

Art. 9º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

12.1.7. Cooperativas formadas a partir da recuperação de empresas em crise

Existe a necessidade de se avançar em marcos jurídicos específicos para a realidade

das cooperativas que surgem a partir da mobilização e organização de trabalhadores para

recuperarem empresas que entraram em crise. A lei de recuperação judicial de empresas já

prevê esta possibilidade, mas de maneira genérica, desta maneira, vemos como necessário

aprovar o Projeto de lei numero 41/2009 de autoria do deputado Pimentel. O projeto prevê a

regulamentação da lei de recuperação judicial de empresas em crise, prevendo que, quando os

antigos empregados decidem formar cooperativa para arrendar a empresa, as dividas não são

transferidas para eles. Atualmente este projeto de lei esta tramitando no Senado Federal.

12.1.8. Projetos complementares que viabilizam os empreendimentos solidários

– alargando o exemplo da compra direta da agricultura familiar – O Programa

Nacional do Uniforme Escolar (PMUE)

O presente projeto, apesar de não integrar o marco jurídico estrutural do

cooperativismo e da economia solidária, é exemplo de medida concreta que possibilitaria o

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165

fortalecimento da educação básica, e o fomento à melhoria das condições de comercialização

dos empreendimentos econômicos solidários.

Como política pública voltada à educação, o Programa Nacional do Uniforme Escolar

enquadra-se como programa suplementar à política educacional, com o objetivo de fornecer

condições para o acesso e permanência dos alunos na escola.

Os resultados da pesquisa demonstraram a fragilidade econômica de muitos

empreendimentos solidários em virtude da dificuldade de acesso ao mercado e de

comercialização de seus produtos e serviços.

O Estado, ao implementar políticas públicas com o objetivo de construir uma sociedade

livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a

marginalização; e reduzir as desigualdades sociais e regionais, torna-se um agente econômico

importante, ao demandar bens e serviços enquanto consumidor.

O estabelecimento de um percentual mínimo de consumo de bens e serviços de

empreendimentos econômicos solidários, além de reforçar a educação básica, fortalece o

comércio local e a inserção de pessoas marginalizadas no sistema produtivo, gerando renda e

criando condições para um desenvolvimento sustentável.

Ademais, o Programa assim criado seria para os trabalhadores urbanos, de certa forma,

o correspondente do que é o Programa de Alimentação Escolar para os trabalhadores da

agricultura familiar e, tal como este, poderia ensejar um circuito virtuoso e facilitador de

desenvolvimento das localidades.

Minuta de Lei do Programa Nacional de Uniforme Escolar (PNUE)

Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa:

Art. 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por uniforme escolar todo vestuário padronizado

oferecido no ambiente escolar durante o período letivo.

Art. 2º O uniforme escolar insere-se nos programas suplementares de material didático-escolar

que atendem ao aluno em todas a etapas da educação básica.

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Art. 3º O Programa Nacional do Uniforme Escolar - PNUE tem por objetivo assegurar ao aluno

igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, por meio da oferta de uniforme

escolar durante o período letivo.

Art. 4º São diretrizes do Programa Nacional do Uniforme Escolar – PNUE:

I – a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para definir o padrão do

uniforme escolar, com respeito às preferências culturais da comunidade.

II – a adequação do uniforme escolar ao clima da região.

III - a universalidade do atendimento aos alunos matriculados na rede pública de educação

básica;

IV - a participação da comunidade no controle social, no acompanhamento das ações realizadas

pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios para garantir a oferta do uniforme

escolar;

V - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição dos uniformes,

produzidos em âmbito local e preferencialmente pelos empreendimentos econômicos

solidários.

Art. 5º Os recursos financeiros consignados no orçamento da União para execução do PNUE

serão repassados em parcelas aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às escolas

federais pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, em conformidade com o

disposto no art. 208 da Constituição Federal e observadas as disposições desta Lei.

§ 1º A transferência dos recursos financeiros, objetivando a execução do PNUE, será efetivada

automaticamente pelo FNDE, sem necessidade de convênio, ajuste, acordo ou contrato, mediante

depósito em conta corrente específica.

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§ 2º Os recursos financeiros de que trata o § 1º deverão ser incluídos nos orçamentos dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios atendidos e serão utilizados exclusivamente na

aquisição de uniforme escolar.

§ 3º Os saldos dos recursos financeiros recebidos à conta do PNUE existentes em 31 de dezembro

deverão ser reprogramados para o exercício subsequente, com estrita observância ao objeto de

sua transferência, nos termos disciplinados pelo Conselho Deliberativo do FNDE.

§ 4º O montante dos recursos financeiros de que trata o § 1º será calculado com base no número

de alunos devidamente matriculados na educação básica pública de cada um dos entes

governamentais, conforme os dados oficiais de matrícula obtidos no censo escolar realizado pelo

Ministério da Educação.

§ 5º Para os fins deste artigo, a critério do FNDE, serão considerados como parte da rede

estadual, municipal e distrital, ainda, os alunos matriculados em:

I - creches, pré-escolas e escolas do ensino fundamental e médio qualificadas como entidades

filantrópicas ou por elas mantidas, inclusive as de educação especial;

II - creches, pré-escolas e escolas comunitárias de ensino fundamental e médio conveniadas com

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Art. 6º É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios repassar os recursos

financeiros recebidos à conta do PNUE às unidades executoras das escolas de educação básica

pertencentes à sua rede de ensino, observando o disposto nesta Lei, no que couber.

Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do FNDE expedirá normas relativas a critérios de

alocação de recursos e valores per capita, bem como para organização e funcionamento das

unidades executoras e demais orientações e instruções necessárias à execução do PNUE.

Art. 7º Os Estados poderão transferir a seus Municípios a responsabilidade pelo atendimento

aos alunos matriculados nos estabelecimentos estaduais de ensino localizados nas respectivas

áreas de jurisdição e, nesse caso, autorizar expressamente o repasse direto ao Município por

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parte do FNDE da correspondente parcela de recursos calculados na forma do parágrafo único

do art. 6º.

Art. 8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apresentarão ao FNDE a prestação de

contas do total dos recursos recebidos.

§ 1º A autoridade responsável pela prestação de contas que inserir ou fizer inserir documentos

ou declaração falsa ou diversa da que deveria ser inscrita, com o fim de alterar a verdade sobre o

fato, será responsabilizada na forma da lei.

§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios manterão em seus arquivos, em boa guarda e

organização, pelo prazo de 5 (cinco) anos, contados da data de aprovação da prestação de

contas do concedente, os documentos a que se refere o caput, juntamente com todos os

comprovantes de pagamentos efetuados com os recursos financeiros transferidos na forma desta

Lei, ainda que a execução esteja a cargo das respectivas escolas, e estarão obrigados a

disponibilizá-los, sempre que solicitado, ao Tribunal de Contas da União, ao FNDE e ao Sistema

de Controle Interno do Poder Executivo Federal.

§ 3º O FNDE realizará auditagem da aplicação dos recursos nos Estados, no Distrito Federal e

nos Municípios, a cada exercício financeiro, por sistema de amostragem, podendo requisitar o

encaminhamento de documentos e demais elementos necessários para tanto, ou, ainda, delegar

competência a outro órgão ou entidade estatal para fazê-lo.

Art. 9º O FNDE, os entes responsáveis pelos sistemas de ensino e os órgãos de controle externo e

interno federal, estadual e municipal criarão, segundo suas competências próprias ou na forma

de rede integrada, mecanismos adequados à fiscalização e ao monitoramento da execução do

PNUE.

Parágrafo único. Os órgãos de que trata este artigo poderão celebrar convênios ou acordos, em

regime de cooperação, para auxiliar e otimizar o controle do programa.

Art. 10. Qualquer pessoa física ou jurídica poderá denunciar ao FNDE, ao Tribunal de Contas da

União, aos órgãos de controle interno do Poder Executivo da União e ao Ministério Público as

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irregularidades eventualmente identificadas na aplicação dos recursos destinados à execução do

PNUE.

Art. 11. Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNUE, no mínimo

5% (cinco por cento) deverão ser utilizados na aquisição de uniforme escolar diretamente de

empreendimentos econômicos solidários.

§ 1º A aquisição de que trata este artigo poderá ser realizada dispensando-se o procedimento

licitatório, desde que os preços sejam compatíveis com os vigentes no mercado local,

observando-se os princípios inscritos no art. 37 da Constituição Federal, e os uniformes atendam

às exigências do controle de qualidade estabelecidas pelas normas que regulamentam a matéria.

§ 2º A observância do percentual previsto no caput será disciplinada pelo FNDE e poderá ser

dispensada quando presente uma das seguintes circunstâncias:

I - impossibilidade de emissão do documento fiscal correspondente;

II - inviabilidade de fornecimento regular e constante do uniforme escolar;

Art. 12. Compete à União, por meio do FNDE, autarquia responsável pela coordenação do PNUE,

as seguintes atribuições:

I - estabelecer as normas gerais de planejamento, execução, controle, monitoramento e

avaliação do PNUE;

II - realizar a transferência de recursos financeiros visando a execução do PNUE nos Estados,

Distrito Federal, Municípios e escolas federais;

III - promover a articulação interinstitucional entre as entidades federais envolvidas direta ou

indiretamente na execução do PNUE;

IV - promover a adoção de diretrizes e metas estabelecidas nos pactos e acordos internacionais,

com vistas na melhoria da qualidade de vida dos alunos da rede pública da educação básica;

V - prestar orientações técnicas gerais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o

bom desempenho do PNUE;

VI - cooperar no processo de capacitação dos recursos humanos envolvidos na execução do

PNUE e no controle social;

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VII - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas objetivando a avaliação das ações do

PNUE, podendo ser feitos em regime de cooperação com entes públicos e privados.

Art. 13. Fica o FNDE autorizado a suspender os repasses dos recursos do PNUE quando os

Estados, o Distrito Federal ou os Municípios:

I - não apresentarem a prestação de contas dos recursos anteriormente recebidos para execução

do PNUE, na forma e nos prazos estabelecidos pelo Conselho Deliberativo do FNDE;

II - cometerem irregularidades na execução do PNUE, na forma estabelecida pelo Conselho

Deliberativo do FNDE.

§ 1º Sem prejuízo do previsto no caput, fica o FNDE autorizado a comunicar eventuais

irregularidades na execução do PNUE ao Ministério Público e demais órgãos ou autoridades

ligadas ao tema de que trata o Programa.

§ 2º O restabelecimento do repasse dos recursos financeiros à conta do PNUE ocorrerá na forma

definida pelo Conselho Deliberativo do FNDE.

Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

12.2. Lei da Economia Solidária

Outro campo de discussão e atuação que se constitui em torno do chamado marco

jurídico da Economia Solidária não tem mais a ver com as formas “societárias” que os EES vão

assumir e como serão reconhecidos os trabalhadores associados, mas sim com a regulação do

próprio Estado para o desenvolvimento de ações e políticas que garantam o direito ao

trabalho associado.

Há aproximadamente três décadas, a Economia Solidária vem crescendo no Brasil

como uma forma de organizar a atividade econômica baseada no trabalho associado, na

propriedade coletiva dos meios de produção, na cooperação e na autogestão. Como tal, uma

parcela significativa da população brasileira tem se organizado em empreendimentos

econômicos solidários, gerando assim trabalho e renda, combatendo a pobreza e propiciando

modelos de desenvolvimento socioeconômico includentes, justos, sustentáveis e

democráticos. Contudo, esse importante movimento de parcelas crescentes da sociedade

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brasileira ainda carece do reconhecimento de seus direitos e de políticas públicas que

fomentem este instrumento e política de desenvolvimento.

As primeiras políticas públicas de Economia Solidária remontam à segunda metade

dos anos 1990, quando municípios e governos estaduais passaram a criar estruturas e

desenvolver programas e ações com vistas a apoiar e fomentar a Economia Solidária. A partir

de 2003, também o governo federal passa a desenvolver políticas estruturadas para apoiar a

Economia Solidária no Brasil.

Desde que essas políticas começaram a ser desenvolvidas, um tema permanente tem

sido como institucionalizá-las, ou seja, como fazer com que essas políticas sejam incorporadas

pela estrutura do Estado, para que, ao invés de políticas transitórias, se perenizem.

Contudo, é importante destacar que institucionalizar uma política é muito mais do que

lhe dar permanência no tempo. Mais do que uma estratégia particular de um governo, trata-se

de compreendê-la enquanto direito dos milhões de homens e mulheres que vivem e fazem a

Economia Solidária no Brasil, e, portanto, enquanto dever do Estado de dispor dos

instrumentos que efetivem este direito.

A história recente do Brasil também mostra que a lei em si não cria a realidade. Porém,

a lei é a representação de uma realidade de lutas e processos históricos de mobilização social.

Por isso, ela é um importante instrumento de luta para que a sociedade civil organizada possa

reivindicar o reconhecimento de direitos perante a estrutura do Estado.

Nesse sentido, a proposta de Lei da Economia solidária pretende ser uma síntese do

que os diferentes sujeitos sociais esperam da ação do Estado em relação à Economia Solidária,

apresentando uma agenda para que o Estado brasileiro atue no apoio a ela.

Dessa maneira, o primeiro grande objetivo de um projeto de lei para institucionalizar

uma política nacional de Economia Solidária seria o de reconhecê-la, bem como reconhecer o

trabalho associado a ela, como um direito, constituindo um instrumento de mobilização que

propicie que segmentos da sociedade reivindiquem este direito perante o Estado. Mas não

podemos esquecer um segundo grande objetivo de uma lei dessa natureza, que é o de dar

condições jurídicas para que o Estado desenvolva suas ações de apoio e fomento à Economia

Solidária.

Assim, o projeto de lei da Economia Solidária atualmente em discussão tem quatro

grandes eixos para dar conta desses objetivos.

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172

O primeiro eixo é quanto às definições. O objetivo desse eixo é reconhecer

juridicamente a Economia Solidária como uma realidade da sociedade brasileira, como direito

dos sujeitos sociais que fazem a Economia Solidária, e como dever do Estado brasileiro de

modo que este possa fomentá-la, cumprindo seus preceitos constitucionais. Trata-se de um

capítulo de definições conceituais, onde se definirá o que é Economia Solidária e quem são os

sujeitos de direito desta política.

O segundo eixo é o da política pública de Economia Solidária, ou mais especificamente

quais serão os instrumentos que o Estado deve desenvolver para garantir os direitos ao

trabalho associado.

Depois de definir quem são os sujeitos de direito beneficiários da política pública de

Economia Solidária e quais são os instrumentos e prioridades desta política, o terceiro eixo

tem por objetivo delimitar o desenho institucional da política, ou seja, sua estrutura de gestão

e execução, que nesse caso se daria por meio de um Sistema Nacional de Economia Solidária.

Nesse sentido, trata-se de definir os entes (poderes públicos federais, estaduais e municipais e

organizações da sociedade civil) que deverão integrar o Sistema e como se organizarão para

desenvolver a política. Este eixo prevê também que as políticas de Economia Solidária devem

contar com a participação da sociedade civil organizada na elaboração, acompanhamento,

execução e avaliação das políticas. Dessa maneira, institucionaliza espaços de participação

social no desenvolvimento das políticas públicas.

Por fim, depois de delimitar quem são os sujeitos de direito, de apresentar que ações o

Estado deve desenvolver para garantir estes direitos, como o Estado deve se organizar, com a

participação da sociedade civil, para que estas ações sejam realizadas, o último eixo prevê a

criação de um fundo nacional de Economia Solidária que garantiria o financiamento dessas

políticas e o acesso dos empreendimentos econômicos solidários aos fundos públicos.

Uma legislação que englobasse esses aspectos estaria, efetivamente, criando uma

regulamentação para o sistema de funcionamento da Economia Solidária, da qual a

cooperativa seria apenas um dos sujeitos. Tal sistema poderia refletir o marco de construção

de uma nova economia, onde o processo de produção e consumo se tornariam eixos de

promoção da justiça social, da sustentabilidade ambiental e da democracia em seu sentido

mais profundo.

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173

13. ......................................................................................................................... REFERÊN

CIAS

13.1. Legislativas

BRASIL. Ato Institucional (n.º 1), de 9 de abril de 1964. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-01-64.htm>. Acesso em: 02/08/12.

BRASIL. Ato Institucional n.º 3, de 27 de outubro de 1965. Disponível em: <

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Federal da 4ª Região. Remessa “ex officio” em Mandado de Segurança Nº 2003.71.00.006267-

9/RS Ademar Aldo de Oliveira e Outros e Presidente da junta Comercial do Estado do Rio

grande do Sul. 2003.

BRASIL. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio Grande do Sul. Circunscrição Judiciária de

Porto Alegre. Mandado de Segurança n.º 2003.71.00.0017767-7. Adair Machado Barbosa e

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Duarte B. de Carvalho. 2003.

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13.2. Bibliográficas

GONÇALVES, Alícia. A história dos fundos rotativos solidários no estado da Paraíba: a

construção político-institucional de uma política pública. Revista Gestão Pública: Práticas e

Desafios, Recife, v. I, n. 1 pp 225-240, fev. 2010.

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TELLES, Vera. “Indicadores Sociais entre Objetividade e Subjetividade”, Extratos do texto

apresentado no Seminário Internacional sobre Indicadores Sociais para Inclusão Social. Núcleo

de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social do Programa de Estudos Pós-

Graduados da PUC-SP, em 15 e 16 de maio de 2003.

THOMPSON, E.P. Costume em Comum - estudo sobre cultura popular tradicional. São Paulo:

Companhia das Letras, 1989.

VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, v.1. São Paulo: Malheiros,

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VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de Direito Comercial, v.2., 2ª edição. São Paulo:

Malheiros, 2010.1

13.3. Sítios na web

http://www.cicopa.coop

http://cirandas.net/anteag

http://cirandas.net/unicafes

http://www.fbes.org.br

http://www.ocb.org.br

http://www.oit.org.br/content/sobre-promo%C3%A7%C3%A3o-de-cooperativas

http://www.unisolbrasil.org

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14. ANEXOS

14.1. Anexo 1. - Breve histórico das leis regulatórias das cooperativas, com destaque

para os dispositivos de natureza tributária.

Decreto n° 1.637/1907

Este dispositivo legal criou sindicatos profissionais e as cooperativas.

As cooperativas poderiam assumir 3 formas societárias:

Art. 10. As sociedades cooperativas, que poderão ser anonymas, em nome collectivo

ou em commandita, são regidas pelas leis que regulam cada uma destas fórmas de

sociedade, com as modificações estatuidas na presente lei.

Não há nenhum dispositivo de natureza tributária.

Não há nenhum dispositivo que se refira a número mínimo de associados para sua

constituição.

A cooperativa tinha duração limitada (não poderia exceder a 30 anos).

Registro na Junta Comercial.

Decreto 22.239/1932

Segundo Waldirio Bulgarelli1 este decreto ficou sem aplicação com a criação da

Diretoria do Sindicalismo-Cooperativista.

Este decreto foi revogado pelo Decreto-lei 24.627/1934, em complementação ao

Decreto 23.661/1933 (este último criou “consórcios”, em substituição aos sindicatos

agrícolas).

O Decreto-lei 581/1938 recolocou em vigor o Decreto 22.239/1932, com algumas

alterações.

Número mínimo de 7 pessoas.

Não é definida como sociedade sem fins lucrativos.

Pode ser de natureza civil ou mercantil.

1 BULGARELLI, Waldirio. Regime jurídico das sociedades cooperativas. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1965.

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O registro pode ser efetuado no cartório do registro das pessoas jurídicas do termo ou

comarca da circunscrição onde a sociedade tiver a sua sede. O oficial do registro deverá

dar um certificado dos documentos arquivados e remeter, por intermédio do Juizo, as

duplicatas á Junta Comercial da capital do Estado.

São sociedades civis, e como tais não sujeitas a falência, nem à incidência de impostos

que recaiam, sobre atividades mercantis, as cooperativas:

a) de produção ou trabalho agrícolas;

b) de beneficiamento e venda em comum de produtos agrícolas ou de origem animal,

não transformados industrialmente;

c) de compras em comum, para abastecimento dos sítios ou das fazendas, de animais,

de plantas vivas, mudas, sementes, adubos, inseticidas, maquinas e instrumentos

agrários e outras matérias primas ou fabricadas, uteis á lavoura ou á pecuária, sem

intuito de revenda;

d) de seguros mútuos contra a geada, a mortandade do gado e outros;

e) de crédito agrícola, quando não distribuam dividendos proporcionalmente ao

capital;

f) de consumo, quando não tenham estabelecimento aberto ao público, e vendam

exclusivamente aos associados, não distribuindo dividendo proporcionalmente ao

capital;

g) de construção de habitações populares para venda unicamente aos associados;

h) editoras e de cultura intelectual (bibliotecas, etc.), ainda mesmo que mantenham

oficinas próprias de compor, imprimir, gravar, brochar e encadernar, livros, opusculos,

revistas e periódicos, uma vez que tais edições e trabalhos gráficos sejam de proveito

exclusivo dos associados ou sirvam a intuitos de propaganda unicamente da sociedade

ou da instituição cooperativista, sem estabelecimento aberto ao público;

i) escolares, com objetivo educativo, além dos fins econômicos.

Dispositivos tributários:

- não incidência dos impostos que recaiam sobre as atividades mercantis para as

cooperativas que sejam sociedades civis.

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181

- isenção do imposto de renda para as cooperativas de natureza civil, e as de natureza

mercantil que não distribuam dividendos aos associados proporcionalmente sobre o

capital.

- isenção do imposto federal de selo para o seu capital social, seus atos, contratos,

livros de escrituração e documentos.

Decreto-lei 24.627/1934 e Decreto 23.661/1933

O decreto 23.611/1933 criou os “consórcios”, revogando a lei 979/1903, sobre os

sindicatos agrícolas.

Segundo Waldirio Bulgarelli com estes diplomas legais procurou-se “enquadrar o

cooperativismo no sindicalismo, dentro de uma orientação corporativa, através dos

consórcios, criando-se uma situação absurda, pois pelo decreto-lei 24.647 não se

poderia fundar qualquer tipo de cooperativa (excluída a cooperação social), sem que se

fundasse antes, um “consórcio”.

Segundo Fábio Luz Filho, “o decreto 23.611 criou os consórcios que eram verdadeiros

sindicatos, assim denominados face à resistência imposto pelo Ministério do Trabalho,

que não admitiu o uso da expressão sindicato, privativa dele por lei. Tiveram os

adeptos do sindicalismo-cooperativista, de apela para um outro nome, embora as

funções fossem idênticas. Daí o consórcio com eixo do sindicalismo cooperativista.

Decreto-lei 5.893/1943

Baseava-se nas normas gerais do Decreto 22.339. Permaneceu vigente até 1945,

quando com a redemocratização do país, promulgou-se o decreto-lei 8.401/1945, que

recolocou em vigência o Decreto 22.339.

Decreto-lei n° 59/1966

Introduz a exigência de um mínimo de 20 pessoas físicas para a constituição de

cooperativas de 1º grau.

As cooperativas agropecuárias ou mistas não podiam receber ou adquirir produtos de

não associados para venda a terceiros, salvo nos casos de complementação de quota de

exportação ou capacidade ociosa de industrialização, até o montante de 5% (cinco por

cento) do volume de comercialização de cada produto.

Dispositivos tributários:

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Os resultados positivos obtidos nas operações sociais das cooperativas não poderão

ser, em hipótese alguma, considerados coma renda tributável, qualquer que seja a sua

destinação.

As operações com terceiros não gozarão dos benefícios concedidos àquelas com os

cooperados.

Todos os atos das cooperativas, bem como títulos, instrumentos e contratos firmados

entre as cooperativas e seus associados, não estão sujeitos a tributação do imposto de

selo ou de obrigações ou outros quaisquer que o substituam.

Lei 5764/1971

Reprodução de trechos da Exposição de motivos do PL 292/1971:

Dadas as características “sui generls" das cooperativas que são sociedades civis, não

sujeitas à falência e sem objetivo de lucro divergindo seus atos da atividade

puramente comercial, foi definido o "ato cooperativo", caracterizando perfeitamente

as relações entre as entidades entre si e seus associado.

A fim de criar condições de competição, atualmente inexistentes, já que as

Cooperativas, a despeito de suas finalidades não lucrativas, estão equiparadas em

têrmos tributários, no que tange a ICM e IPI, às_entidades tradicionais de comércio,

foram introduzidas algumas inovações, a saber:

- Permissão, às que se dedicarem à venda em comum, para se registrarem como

armazém geral, podendo operar unidades de armazenagem, embalagem e

frigorificação, bem como armazéns gerais alfandegados, obedecida a legislalção

específica.

- Possibilidade de funcionamento seção de crédito das cooperativas agrícolas mistas,

mediante prévia autorização do Banco Central cio Brasil.

- As Cooperativas de produtores rurais poderão adquirir produtos de não associados,

para completar lotes destinados ao cumprimento de contratos ou suprir capacidade

ociosa de instalações industriais.

- As Cooperativas poderão fornecer bens a serviços a não associados, desde que tal

faculdade atenda aos objetivos sociais.

Foram introduzidas algumas modificações em termos de estímulos creditícios, a fim

de adaptar o Banco Nacional de Crédito Cooperativo S.A., principal instrumento de

crédito na execução da política cooperativista da União.

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184

14.2. Anexo 2 – Quadros comparativos dos diferentes projetos de lei

14.2.1. Disposições gerais

As definições sobre o ato não cooperativo são comuns a todos as espécies de cooperativas.

Ato

cooperativo Legislação atual PL 386/2008 e 3723/2008 PL 3/2005 PL 271/2005

Disposições

genéricas

Denominam-se atos cooperativos os

praticados entre as cooperativas e

seus associados, entre estes e aquelas

e pelas cooperativas entre si quando

associados, para a consecução dos

objetivos sociais.

O ato cooperativo não implica

operação de mercado, nem contrato

de compra e venda de produto ou

mercadoria.

(Lei nº 5.764/1991)

O ato cooperativo é o negócio jurídico

decorrente do objeto social da sociedade

cooperativa, por ela realizado em proveito de

seus cooperados, pessoas físicas ou jurídicas,

quando

praticado entre:

I - a sociedade cooperativa e o cooperado;

II - a sociedade cooperativa e a central à qual a

sociedade cooperativa está associada;

III - a sociedade cooperativa e a confederação à

qual a sua central está associada;

IV - a central e a sua respectiva confederação.

Ato cooperativo é aquele praticado entre a

cooperativa e seu

associado, ou entre cooperativas associadas, na

realização do trabalho, serviço ou

operação que constituem o objetivo social da

cooperativa.

§ 1° O ato cooperativo não é operação de

mercado nem contrato de

compra e venda de produto, mercadoria ou

prestação de serviço.

§ 2° Equiparam-se ao ato cooperativo os

negócios auxiliares ou meios,

indispensáveis à consecução dos objetivos

sociais.

Remete a definição do

ato cooperativo à

legislação vigente.

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Decreto nº 3.000/1999 PL 386/2008 e 3723/2008 PL 3/2005 PL 271/2005

Ato não

cooperativo

As sociedades cooperativas pagarão o

imposto calculado sobre os resultados

positivos das operações e atividades

estranhas à sua finalidade, tais como:

I - de comercialização ou

industrialização, pelas cooperativas

agropecuárias ou de pesca, de

produtos adquiridos de não

associados, agricultores, pecuaristas

ou pescadores, para completar lotes

destinados ao cumprimento de

contratos ou para suprir capacidade

ociosa de suas instalações industriais;

II - de fornecimento de bens ou

serviços a não associados, para atender

aos objetivos sociais;

III - de participação em sociedades não

cooperativas, públicas ou privadas,

para atendimento de objetivos

acessórios ou complementares.

(Decreto nº 3.000/1999, art. 183)

Não se considera ato

cooperativo o negócio jurídico

realizado pela sociedade

cooperativa quando o

beneficiário do resultado

jurídico, econômico ou

financeiro for a própria

sociedade cooperativa ou as

pessoas, físicas ou jurídicas,

públicas ou privadas, não

cooperadas.

Não há dispositivo. Não há dispositivo.

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186

14.2.2. Tributação das cooperativas

Serão analisados apenas 3 tipos de cooperativas:

Sociedade cooperativa de produção agropecuária e agroindustrial

Sociedade cooperativa de produção industrial

Sociedade cooperativa de trabalho

Serão comparados apenas os seguintes tributos: ICMS, Imposto de Renda, Contribuição para a Previdência Social, Cofins,

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição para o PIS e ISS. A

arrecadação destes tributos em 2010 correspondeu a 79% da carga tributária.

Não serão incluídas na análise as disposições tributárias específicas em relação à atividade econômica desempenhada pela

cooperativa.

Sociedade cooperativa de produção agropecuária e agroindustrial

Ato cooperativo Legislação atual PL 386/2008 PL 3/2005 e PL 271/2005

Definição específica em relação à

espécie cooperativa Não há.

Considera-se ato cooperativo da sociedade cooperativa de produção

agropecuária e agroindustrial, e a de venda em comum de bens de produção:

I - receber, classificar, armazenar, beneficiar, padronizar, expurgar,

industrializar e comercializar a produção dos cooperados no mercado interno

ou externo;

II - fornecimento aos cooperados de insumos, mercadorias e produtos, bens

Não há.

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187

como máquinas e implementos, peças e acessórios, lubrificantes, entre

outros, para serem utilizados no processo produtivo desenvolvido pelo

cooperado;

III - disponibilizar ou viabilizar máquinas, equipamentos e implementos

agropecuários para a realização das operações inerentes às atividades

desenvolvidas pelo cooperado;

IV - a prestação, aos cooperados, de serviços especializados aplicáveis na

atividade desenvolvida pelos cooperados, inclusive de assistência técnica,

extensão rural, formação profissional e

assemelhados;

V - a prestação aos cooperados de serviços de transportes da produção;

VI - a realização do processo de transformação, beneficiamento,

industrialização e

embalagem de produtos:

a) destinados ao suprimento das necessidades de seus cooperados; e

b) entregues à sociedade cooperativa para comercialização no mercado

interno e externo;

VII - a realização de atividades na forma de integração ou parceria

agropecuária com os cooperados.

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

188

Tabela de incidência tributária nos projetos de lei do Poder Executivo

Tributo Legislação atual PL 386/2008 e 3723/2008

IRPJ

São isentos os resultados positivos obtidos pelas cooperativas.

As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica pagarão

o imposto calculado sobre os resultados positivos das operações e atividades estranhas à

sua finalidade

O ato cooperativo praticado pela sociedade

cooperativa está isento.

Tributação das sobras líquidas no cooperado

(tributação do IR na fonte).

CSLL

As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica,

relativamente aos atos cooperativos, ficam isentas da Contribuição Social sobre o Lucro

Líquido - CSLL. (Art. 39 da Lei n° 10.865/2004)

O ato cooperativo praticado pela sociedade

cooperativa está isento.

PIS/COFINS

Incidem, mas há permissão das seguintes exclusões da base de cálculo:

- valor das sobras apuradas na Demonstração do Resultado do Exercício, destinadas à

constituição do Fundo de Reserva e do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e

Social (Fates)

- valor repassado ao associado, decorrente da comercialização, no mercado interno, de

produtos por ele entregues à cooperativa

- exclusão das receitas de venda de bens e mercadorias ao associado exclusão das

receitas decorrentes da prestação, ao associado, de serviços especializados aplicáveis na

atividade rural, relativos a assistência técnica, extensão rural, formação profissional e

A incidência da Contribuição para o PIS/PASEP

e da COFINS fica suspensa no

caso de:

I - vendas aos cooperados de insumos,

mercadorias e produtos, bens como máquinas

e implementos, peças e acessórios,

lubrificantes, entre outros, para serem

utilizados no processo produtivo

desenvolvido pelo cooperado;

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

189

assemelhadas;

- receitas decorrentes do beneficiamento, armazenamento e industrialização de produto

do associado;

- dedução dos custos agregados ao produto agropecuário dos associados, quando da sua

comercialização;

- receitas financeiras decorrentes de repasse de empréstimos rurais contraídos junto a

instituições financeiras, até o limite dos encargos a estas devidos, na hipótese de

apuração das contribuições no regime cumulativo; (Art. 15 da MP 2.158-35/2001)

II - vendas de produtos dos cooperados, cujo

valor resultante a eles seja repassado; e

III - valor cobrado pela cooperativa dos

cooperados correspondente ao custo agregado

de produção.

A sociedade cooperativa, relativamente ao ato

cooperativo, está sujeita ao

pagamento da Contribuição para o PIS/PASEP

incidente sobre a folha de salários.

INSS - cooperativa

20% vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer

título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem

serviços. (Art. 22, inciso III, da Lei n° 8.212/1991)

Nas cooperativas de trabalho não há cota patronal em relação aos contribuintes

individuais cooperados prestando serviço por seu intermédio. É o tomador dos serviços

quem paga 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços.

Não se altera.

INSS – cooperado

(contribuinte individual)

No mínimo, 20% sobre o salário de contribuição ( o mínimo é o salário mínimo - Arts. 4°

e 5° da Lei n° 10.666/2003.

Não se altera

IPI As mesmas regras das demais pessoas jurídicas . As mesmas regras das demais pessoas jurídicas

.

ICMS Legislação de cada estado. Isenção.

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

190

ISS Legislação de cada município. Isenção

Sociedade cooperativa de produção industrial

Ato

cooperativo

Legislação atual PL 3723/2008 PL 3/2005 e PL 271/2005

Definição

específica

em relação à

espécie

cooperativa

Não há.

Art. 32. Considera-se ato cooperativo da cooperativa de produção industrial, de que trata o

art. 1º da Lei nº 10.666, de 2003, a prestação de serviços realizada pelos cooperados,

expressos em forma de tarefas, obras ou serviços, indispensáveis ao processo produtivo

comum de bens ou serviços.

Parágrafo único. As atividades de aquisições de insumos necessários ao processo produtivo,

de industrialização e comercialização dos bens, produtos ou serviços são realizadas

exclusivamente pela sociedade cooperativa.

§ 3o Considera-se cooperativa de produção aquela em que seus associados contribuem com

serviços laborativos ou profissionais para a produção em comum de bens, quando a

cooperativa detenha por qualquer forma os meios de produção. (Lei nº 10.666/2003)

Não há.

Tabela de incidência tributária nos projetos de lei do Poder Executivo

Tributo Legislação atual PL 386/2008 e 3723/2008

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

191

IRPJ

São isentos os resultados positivos obtidos pelas cooperativas.

As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica pagarão o imposto

calculado sobre os resultados positivos das operações e atividades estranhas à sua finalidade

O ato cooperativo praticado pela sociedade

cooperativa está isento.

Tributação das sobras líquidas no cooperado

(tributação do IR na fonte).

CSLL

As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica, relativamente aos

atos cooperativos, ficam isentas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL. (Art. 39 da Lei

n° 10.865/2004)

O ato cooperativo praticado pela sociedade

cooperativa está isento.

PIS/COFINS

Incidem, mas há permissão das seguintes exclusões da base de cálculo:

- valor das sobras apuradas na Demonstração do Resultado do Exercício, destinadas à constituição

do Fundo de Reserva e do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (Fates)

- valor repassado ao associado, decorrente da comercialização, no mercado interno, de produtos

por ele entregues à cooperativa

- exclusão das receitas de venda de bens e mercadorias ao associado exclusão das receitas

decorrentes da prestação, ao associado, de serviços especializados aplicáveis na atividade rural,

relativos a assistência técnica, extensão rural, formação profissional e assemelhadas;

- receitas decorrentes do beneficiamento, armazenamento e industrialização de produto do

associado;

- dedução dos custos agregados ao produto agropecuário dos associados, quando da sua

comercialização;

- receitas financeiras decorrentes de repasse de empréstimos rurais contraídos junto a instituições

financeiras, até o limite dos encargos a estas devidos, na hipótese de apuração das contribuições no

A sociedade cooperativa de produção

industrial está sujeita às mesmas normas de

incidência da Contribuição para o PIS/PASEP

e da COFINS no regime de incidência

cumulativo.

Não há mais exclusões específicas paras as

cooperativas.

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

192

regime cumulativo; (Art. 15 da MP 2.158-35/2001)

INSS -

cooperativa

20% vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no

decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços. (Art. 22, inciso

III, da Lei n° 8.212/1991)

Nas cooperativas de trabalho não há cota patronal em relação aos contribuintes individuais

cooperados prestando serviço por seu intermédio. É o tomador dos serviços quem paga 15% sobre

o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços.

Não se altera.

INSS –

cooperado

(contribuinte

individual)

No mínimo, 20% sobre o salário de contribuição ( o mínimo é o salário mínimo - Arts. 4° e 5° da Lei

n° 10.666/2003.

Não se altera

IPI As mesmas regras das demais pessoas jurídicas . As mesmas regras das demais pessoas

jurídicas .

ICMS Legislação de cada estado. Isenção.

ISS Legislação de cada município. Isenção

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

193

Sociedade cooperativa de trabalho

Ato cooperativo Legislação atual PL 3723/2008 PL 3/2005 e PL 271/2005

Definição

específica em

relação à espécie

cooperativa

Não há.

Art. 60. Considera-se ato cooperativo da sociedade cooperativa

de trabalho:

I - o agenciamento de tarefa, atividades específicas em obra ou

serviço realizado pelo cooperado, para atendimento de demanda

do mercado; e

II - o fornecimento aos cooperados de bens necessários ao seu

desempenho profissional.

Não há.

Tabela de incidência tributária nos projetos de lei do Poder Executivo

Tributo Legislação atual PL 386/2008 e 3723/2008

IRPJ

São isentos os resultados positivos obtidos pelas cooperativas.

As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica

pagarão o imposto calculado sobre os resultados positivos das operações e atividades

estranhas à sua finalidade

O ato cooperativo praticado pela sociedade cooperativa está

isento.

Tributação das sobras líquidas no cooperado (tributação do

IR na fonte).

CSLL As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica,

relativamente aos atos cooperativos, ficam isentas da Contribuição Social sobre o O ato cooperativo praticado pela sociedade cooperativa está

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194

Lucro Líquido - CSLL. (Art. 39 da Lei n° 10.865/2004) isento.

PIS/COFINS

Incidem, mas há permissão das seguintes exclusões da base de cálculo:

- valor das sobras apuradas na Demonstração do Resultado do Exercício, destinadas à

constituição do Fundo de Reserva e do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e

Social (Fates)

- valor repassado ao associado, decorrente da comercialização, no mercado interno, de

produtos por ele entregues à cooperativa

- exclusão das receitas de venda de bens e mercadorias ao associado exclusão das

receitas decorrentes da prestação, ao associado, de serviços especializados aplicáveis

na atividade rural, relativos a assistência técnica, extensão rural, formação profissional

e assemelhadas;

- receitas decorrentes do beneficiamento, armazenamento e industrialização de

produto do associado;

- dedução dos custos agregados ao produto agropecuário dos associados, quando da

sua comercialização;

- receitas financeiras decorrentes de repasse de empréstimos rurais contraídos junto a

instituições financeiras, até o limite dos encargos a estas devidos, na hipótese de

apuração das contribuições no regime cumulativo; (Art. 15 da MP 2.158-35/2001)

Art. 61. A incidência da Contribuição para o PIS/PASEP e da

COFINS fica suspensa no

caso de operações:

I - de venda de bens e serviços para o cooperado a serem

utilizados na atividade de prestação de serviço por ele

desenvolvida ; e

II - de prestação de serviços, pelas sociedades cooperativas

de que trata o art. 58,

decorrentes do ato cooperativo cujo valor resultante seja

repassado ao cooperado.

Art. 62. A sociedade cooperativa, relativamente ao ato

cooperativo, está sujeita ao

pagamento da Contribuição para o PIS/PASEP incidente

sobre a folha de salários.

INSS - cooperativa

20% vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer

título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem

serviços. (Art. 22, inciso III, da Lei n° 8.212/1991)

Nas cooperativas de trabalho não há cota patronal em relação aos contribuintes

Não se altera.

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

195

individuais cooperados prestando serviço por seu intermédio. É o tomador dos

serviços quem paga 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de

serviços.

INSS – cooperado

(contribuinte

individual)

No mínimo, 20% sobre o salário de contribuição ( o mínimo é o salário mínimo - Arts.

4° e 5° da Lei n° 10.666/2003.

Não se altera

IPI As mesmas regras das demais pessoas jurídicas . As mesmas regras das demais pessoas jurídicas .

ICMS Legislação de cada estado. Isenção.

ISS Legislação de cada município. Isenção

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

196

14.3. QUADRO COMPARATIVO DOS EMPREENDIMENTOS ENTREVISTADOS

INFORMAIS

Informal 1 Informal 2 Informal 3 Informal 4 Informal 5 Informal 6

Rural/Urbano Urbano Urbano Urbano Urbano Urbano Urbano

Atividade Confecção Confecção Confecção Material de Limpeza Panificação Artesanato de redes

Local Alto do mateus Valentina Cristo Rdentor Timbó São Rafael Alto Sertão da Paraíba

N. de participantes 06 mulheres 09 mulheres 12mulheres 14 jovens 6

tempo de atuação 10 anos 09 anos 05 anos 05 anos o6 anos 3 anos

Motivo não formalização

Financeiro / n. de sócios insuficiente

Dificuldades para comercializar

Dificuldade Financeira

O grupo ainda esta nascendo

O grupo não tem estrutura não esta

fortalecido / FINANCEIRO TAMBEM E

PROBLEMA

Rotatividade das pessoas no grupo

produtivo

inadequação do número de sócios, ausência de

capital inicial, carga tributária excessiva

Já tentou se formalizar?

Sim Não Não Não Sim

Pensa em se formalizar?

Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Possui regimento interno

Não Não Não Não Não Não

conhece procedimento de

formalização Mais ou menos Não Não Sim Não

Houve necessidade de

formalização Sim Não Sim Não Sim Sim

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

197

Comprou nota fiscal

Não Não Sim Não Não Não

Usou nf avulsa Sim Sim Não Não Sim Não

deixou de vender por ser informal

Sim Não Não Sim Sim Sim

percebe vantagem em ser

formalizado? Sim Sim Sim Sim Sim Sim

quais vantagens? Não perde vendas Melhor comercialização

Possibilidade de comercializar os

produtos no Shopping das Redes(local) e em

outras regiões do estado e também ter os acesso a

direitos trabalhistas e previdenciários

teria código de barras

Exigência de 20 sócios pra iniciar

cooperativa É um problema É um problema É um problema É um problema É um problema

Sem limite n. de sócios cooperados

é problema não Sim não Não não

Entidades de apoio Sim Sim Sim Sim Sim

Remar, Incubes,

prefeitura projeto beira da linha

Amazona, Ass. Moradores e jovens, INCUBES, Igreja

Filiados ao Fórum Estadual de E. S.

Sim Sim Não Não Não Não

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

198

Vantagem em ser filiado ao fórum

Conhecer outras experiências

Mais conhecimento, e experiências

Crítica de um não filiado: Novos grupos

não tem oportunidade de falar

Espaço de articulação Sim

Contrata trabalhadores

Não Não Não Não Não Não

Contrat.de trabalhadores é consonante com

ES

Não Não Sim Não Sim . Devem contratar seus próprio trab. Par

ter direitos trabalhistas

quando contrata deixa

de ser trabalho coletivo

Rec. de credito financeiro a fundo

perdido Sim Não Não Sim Sim Não

Colégio Marista projeto beira da

linha Prefeitura

Rec. Recurso não financeiro

Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Remar, Incubes,

prefeitura, projeto beira da linha

Remar,prefeitura, incubes, polo de incl. Prod. Alto do Mateus

Remar, Prefeitura Projeto rede nordeste,

inter rede ESSOR, INCUBES,

Prefeitura

Compra insumos de outros

empreend. E.S. Não Não Não Não Não

Venda a emprend. de E.S

Sim Sim Não Não Sim Sim

Compras co*letivas

Não Não Não Não Não Sim

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

199

ASSOCIAÇÕES COLÔNIA

Ass. 1 Ass. 2 Ass.3 Ass. 4 Ass. 5 Col. 1 e 2

Rural/Urbano Grupo urbano Rural Rural Rural Urbana Rural

Atividade Artesanato Agrícola Agrícola Apicultura Reciclagem de

redíduos sólidos Pesca

Local Casa do artesão Feira UFPB Feira no bairro do

Bessa Semiárido do Estado da

Paraíba João Pessoa Litoral sul da Paraíba

N. de participantes 7 mulheres 30 a 40 pessoas entre homens e mulheres

47 135 (nas duas

associações juntas) 1350 (considerando as duas

colônias)

Tempo de formalizado 4 meses 8 anos 15 anos

Motivo formalização Para se fortalecer Para conseguir

financiamento, etc. Ganhar apoio e

direito a projetos

Tem reconhecimento legal o que permite a todos os filiados acesso aos direitos sociais,

incluindo o seguro-defeso e em alguns casos apoio na

comercialização

Associação e não Cooperativa?

Custo, burocracia Burocracia e

fracassos de outras cooperativas

Dificuldades de outras cooperativas

Menor tributação e pela facilidade de

registro

Facilidade de registro, proposta

da EMLUR, as lideranças já tinham decidido, não sabe.

São uma colônia. Essa é a forma estabelecida em Lei. Desejam se

organizar em cooperativas porém falta organização e recursos financeiros e não

financeiros. A carga tributária é considerada excessiva e

enfrentam as dificuldades de registro.

Dificuldade para formalização

Sim Desafiador Não teve Não teve Não teve Não teve

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

200

Repartição / orgão formalização

Cartório Cartório Cartório Registro civil de pessoas jurídicas

Registro civil de pessoas jurídicas

Não sabem

Problemas enfrentados para formalização

Foi demorado, busca advogado

Não teve Exigência de muitos

documentos Excesso de burocracia

Burocracia, custos e não possuir sede

Não lembram

Custos formalização R$ 230,00 Poucos custos R$ 200,00 Não lembram

Origem do dinheiro Esforço coletivo Esforço coletivo Esforço Coletivo

Tempo do processo formalização

Não foi demorado Não foi demorado Não foi demorado

Vantagens da formalização

Visibilidade confiança Facilita as vendas

com nota fiscal

Direito a participar de projetos e

políticas publicas

Possui contador Não Sim Sim

Livros de registros Sim Sim Sim

Fundos Não Sim bem estruturado (vide questionário)

reserva de 10% ( vide questionário)

Exigência de 20 sócios pra iniciar cooperativa

Sim Sim Não Não

Sem limite n. de sócios cooperados é problema

Sim. Acaba virando empreendimento

capitalista

Não. Depende do engajamento organização

Sim Não

Entidades de apoio

Casa da Mulher do Nordeste, INCUBES,, Projeto do sistema justo e solidário(

Marista)

Caritas,Ministério agricultura,CPT

Universidade

Caritas,Comissão Pastoral da terra,

Rede Abelha, Comissão Pastoral da Terra, STR-

A, Cáritas, ASA, EMATER, Pastoral da

Criança

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

201

Filiados ao Fórum Estadual de E. S.

Sim Sim Não Via Rede Abelha Não

Vantagem em ser filiado ao fórum

Não tem vantagem Formação e troca de

experiências, aprendizado

Não Não é de economia

solidaria Não Sim

Contrata trabalhadores Não e de economia

solidaria vira atravessador

Depende da necessidade se

contrata e voluntario e por tempo determinado

Sim Não Sim

Rec. de credito financeiro a fundo

perdido Não

Recebeu R$ 36.000,00 Ministério

agricultura Não Não Não Não

Rec. Recurso não financeiro

INCUBES 1 maquina de costura e

formação de 40hrs; Projeto marista 1

maquina overloque

2 caminhões projeto zona da mata

Sim Sim Sim Sim

Tributos pagos ISS Não tem Não tem ICMS, INSS e FGTS Isento INSS e FGTS

Compra insumos de outros empreend. E.S.

Não Não Não Não Não

Venda a emprend. de E.S Não Não Não Sim Não

Compras coletivas Não Não Não Não

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

202

MICROEMPRESA

ME 1 ME 2

Rural/Urbano Urbana Urbana

Atividade Alimentação Brinquedos educativos em tecido e acessórios

femininos

Local Osasco Osasco

N. de participantes 4 3

Tempo de formalizado 3 anos 2 anos

Motivo formalização Viabilizar realização de eventos e contratos com a

prefeitura Viabilizar vendas com nota

Associação e não Cooperativa? Número de pessoas Número de pessoas, burocracia

Dificuldade para formalização Não Não

Repartição / orgão formalização Junta Comercial Junta Comercial

Problemas enfrentados para formalização

Não teve Não teve

Custos formalização Irrelevante Não lembram exatamente – pouco

Origem do dinheiro Próprio Próprio

Tempo do processo formalização Rápido Rápido

Vantagens da formalização Acesso a contratos Venda com nota

Possui contador Sim Sim

Livros de registros Sim Sim

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

203

Fundos Sim Sim

Entidades de apoio Centro de referência de Economia Solidária de Osasco e

entidades relacionadas Centro de referência de Economia Solidária de

Osasco e entidades relacionadas

Filiados ao Fórum Estadual de E. S. Sim Sim

Vantagem em ser filiado ao fórum Obter informação Divulgar o trabalho e a Economia Solidária

Contrata trabalhadores Eventual Eventual

Rec. de credito financeiro a fundo perdido

Não Não

Rec. Recurso não financeiro Sim Sim

Tributos pagos Simples Simples

Compra insumos de outros empreend. E.S.

Não Não

Venda a emprend. de E.S Sim Sim

Compras coletivas Não Não

COOPERATIVA

Coop. 1 Coop. 2 Coop. 3 Coop. 4 Coop. 5 Coop. 6

Motivo opção por cooperativa

Exigência de notas fiscais Projeto da prefeitura de Mari com convenio com

o MDS

Forma de compensar o trabalho

desempenhado desde 2007

Solicitação de regularização por um

cliente

situação da economia: "nós não tínhamos outra alternativa a não ser nos

unir e manter a fábrica de pé"

resultado da incubagem da ITCP-

USP

Passou pelo crivo da OCB

Sim Sim Não Sim não não

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PROJETO PENSANDO O DIREITO 01/2011: Regime jurídico de cooperativas populares e empreendimentos de economia solidária

204

Repartição onde foi formalizada

Junta Comercial de Campina Grande

Receita Federal Não lembra de todos

Receita Federal e Junta Comercial

Cartório e junta comercial

junta comercial junta comercial

Problemas enfrentados ao se

formalizarem Burocracia / taxas altas Problemas Financeiros Burocracia e tributos Problemas financeiros

abertura de conta bancária

Quais custos Taxas anuais chegam a R$

800,00 . Agora estão no SIMPLES

Taxa de formalização em media R$ 500,00

Impostos

Origem do dinheiro para pagar custos

(formalização)

Dos cooperados Venda de polpa de

frutas Doação entidade

italiana Doação e dinheiro

próprio

Continuidade da produção. A fabrica nunca parou. A única falência no

Brasil que pagou a indenização aos

trabalhadores foi a nossa. Foi o seguinte: a massa

falida arrecadou valores para poder pagar. Nós

pagamos o valor do arrendamento, e nós

tivemos que comprar essa área. Essa área é nossa.

Financiamos pelo BNDES e pagamos a área.

Pagamos a massa e estamos pagando o BNDES

agora.

dinheiro emprestado possibilitou o início do

funcionamento do empreendimento, que

pode pagar as custas de sua formalização

Tempo do processo de

formalização 3meses 5 meses 10 meses alguns meses cerca de 2 anos

aproximadamente 1 ano

Foi demorado? Não Não Sim Não demorou muito.

Foi relativamente demorado. Início em dezembro de 2002,

formalizada em 2004.

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205

Vantagens da formalização

pode participar de licitação Não conhece ainda Não conhece ainda Ter nota fiscal

Garantir emprego e renda, comprar a massa falida,

receber os créditos trabalhistas, e aposentar. Passados dez, doze anos, desde o final de 1997 e 1998, nós atingimos os

quatro objetivos. Compramos a empresa;

todo mundo se aposentou pelo teto máximo; muita

gente já foi embora, inclusive, os que não foram embora foi por

opção; garantimos emprego e renda,

indiscutivelmente, até a média de retirada dos cooperados é sempre

maior do que a da região.

1."não tínhamos condições de comprar,

ninguém nos dava credito sem o CNPJ". 2.

"com o documento a gente pode fazer

qualquer coisa, abrir uma conta no banco,

comprar um equipamento que falta,

porque antes a gente dependia do

equipamento do fornecedor aí

queimava, quebra... "

Dificuldades/ desvantagens

Maior fiscalização. Concorrentes

Dificuldade de comercializar o

produto não tem código de barras.

Tributação/ gastos de manutenção

Não existe incentivo financeiro

há dificuldade no pagamento dos

impostos devidos

Paga contador Sim Não sim No momento não sim sim

Existem livros de registro

Sim todos Sim Sim Sim sim dois livros-caixa: caixa

1 e caixa 2 (caixa de miudo)

Avanços econômicos

Não teve Ter autonomia pensar a

comercialização

O nosso estudo diz que quando ele vira cooperado ele praticamente dobra o

salário dele

O restaurante está estruturado. A

cooperativa recebe propostas de outros restaurantes da USP

para parcerias.

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Fundos Não tem Não tem

40% investimento, 5% FATES, 10% reserva legal,

23% integralização de cotas, 15% sobras

fundo reserva, calculado depois das retiradas; fundo de

férias, que é um fundo para manter o

pagamento dos que trabalham quando cai a

receita do empreendimento pelas

férias dos alunos das faculdades.

Sobras em 2008 R$ 70,00 para

cada Não tem 15 % do resultado

Licitação Não participou

Participou nos Correios. Sente a

necessidade de acesso a políticas publicas

municipais no direito a coleta seletiva

Não participaram, tem contrato anual firmado

com o Centro Acadêmico da FAU

Exigência de 20 sócios pra iniciar

cooperativa Sim Sim sim Não Sim

começaram com 9, mas arrumaram 21 para se

formalizarem

Sem limite n. de sócios cooperados

é problema Sim Sim a gestão fica difícil Não Não Não sim

Entidades que já apoiaram a cooperativa

SEBRAE,Embrapa,UEPB, Banco do Brasil

Prefeitura Entidades Italianas(

Coro) Uni trabalho,

UFCG,SEBRAE,Prefeitura Anteag, UNISOL

ITCP-USP, direção da FAU

Filiados ao Fórum Estadual de E. S.

Sim Não Não Sim Sim não

Vantagem em ser filiado ao fórum

Não Sim contribuem com outras

cooperativas, participam da UNISOL

Contrata trabalhadores

Não Não Não Não 300 cooperados e 209 CLT 12 cooperados e 3

candidatos a cooperado

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207

Contrat.de trabalhadores é consonante com

ES

Sim Sim Não Não

É um tema controverso, 2 Fala:”Você, numa

empresa, tem que ter uma margem de manobra. Por

quê? De 2008 pra 2009 nosso faturamento caiu a menos de 50%. Se eu não tenho funcionários para

poder fazer uma manobra, como é que o meu

negócio... Apesar de tudo a empresa é um negócio. Autogestionário, gerido

por um grande colegiado.

Tem empresa Capitalista como

sócia Não Não Não Não Não não

Rec. de credito financeiro a fundo

perdido

Sim. Fundação Banco do Brasil, e uma Fundação

Alemã

Sim. Prefeitura projeto MDS

Sim. Entidades Italianas

Sim. Irmãs Assunção e Programa de Combate a

Pobreza

Rec. Recurso não financeiro

Não Não Sim Sim

Pagamento cotas parte em dia

Sim Não Sim Sim

80% do que o cooperado recebe dos direitos trabalhistas dele ele

devolve. Integraliza como quota parte, num valor

que vai de 10% a 20% do que ele ganhar

Tributos pagos SIMPLES Nacional Está inadimplente Ainda não tem esta despesa. Não estão

comercializando Vários

Diadema dá isenção de 20 no IPTU para as

cooperativas. Provisiona PIS e COFINS, que segundo a legislação não incide no

ato cooperado,

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Paga direitos sociais

Não. Os impostos cobrados não deixam margem para

isto, só tira 3% para o FATES com apoio de ONGS

e pastoral da Criança

Não Não Não

sim. Previdência (11 da retirada, no regime de

autônomo), seguro saúde. Paga adicional noturno no

valor de 25%.

só INSS

Paga regularmente(

direitos Sociais) Não

Compra insumos de outros

empreend. E.S. Sim Não Não não

Venda a emprend. de E.S

Sim Não Não não

Compras coletivas Não Não Não não

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209

14.4. Anexo IV – Roteiro básico de entrevista utilizado junto aos trabalhadores dos

empreendimentos

Para a realização da pesquisa empírica juntos aos empreendimentos econômicos solidários,

foi construído um instrumento de coleta de informações (questionário) que apresentamos, a seguir.

Questionário para a liderança do empreendimento

DADOS DO ENTREVISTADO:

1. Gênero

( ) Masculino ( ) Feminino

2. Idade do gestor:______________________________

3. Estado civil

( ) Solteiro ( ) Casado ( ) União estável ( ) Viúvo ( ) Divorciado

4. Anos de escolaridade formal_________ ( ) Curso técnico ( ) Curso superior

5. Número de filhos _____________________________

6. Idade dos filhos________________________________

7. Freqüência dos filhos à escola ( ) Não. Explique: _________________________

( ) Sim. Responda:

( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino técnico ( ) Ensino superior

8. Orientação religiosa

( ) Católico ( ) Evangélico ( ) Outros. Especifique: ____________________________

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210

9. Tem seguro saúde?

( ) Sim ( ) Não

10. Desenvolve outra atividade?

( ) Sim. Qual? _______________________________________________ ( ) Não.

10.1 Essa atividade é remunerada? ______________________________________________

I- CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

1. Localização do empreendimento

( ) Zona Rural ( ) Urbana ( ) Peri-urbana

2. Tipo de empreendimento

( ) Formalizado ( ) Informal. Se formalizado responda a questão abaixo e se for

informal responda a questão 3 e 4 :

( ) Cooperativa ( ) Associação ( ) Limitada ( ) Outra. Qual___________

3. Atividade (s) desenvolvida(s)

____________________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

4. Descrição (densa) do processo de econômico do empreendimento (descrever como se

dá a produção, em que parte do processo econômico os associados cooperam, ou seja,

realizar uma descrição aprofundada do processo do trabalho de cada associado, assim

como do empreendimento)

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

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____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

______________________________

5. Quais os motivos da não formalização do grupo?

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

5.1 Quais são os aspectos positivos e

negativos?________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________

________________________________________________ 5.2 Quais os principais entraves à

formalização do grupo?

____________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________

______________________________

6. Histórico da fundação do empreendimento: Origem do empreendimento – motivação

original

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

7. Há quanto tempo funciona o empreendimento?______________

8. Quantos cooperados, membros ou associados têm o empreendimento?_________

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212

9. Qual o percentual de mulheres cooperadas/associadas/ membros de grupos

informais?_____

10. O empreendimento é filiado a alguma entidade de representação? ( ) Não. ( )

Sim. Responda qual:

( ) UNICAFES ( ) UNISOL ( ) CONCRAB ( ) ANTEAG

( ) OCB ou Organização estadual de cooperativas

11. O empreendimento faz parte de alguma Rede de Empreendimentos? Qual_____________

Qual o papel da Rede? Descreva.

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

12. O empreendimento é acompanhado por alguma entidade de apoio, movimento ou

entidade de classe? ___________Qual? ______________

III– QUESTÕES SOBRE O PROCESSO DE FORMALIZAÇÃO. Exclusivo para

empreendimentos formalizados. Caso não seja passe para o item IIIA.

1. Quais mudanças observadas após a

formalização?____________________________________________________________________________________________

_______ __________________________________________________________________________

( ) Emissão de nota fiscal ( ) Custo tributário ( ) Honorários contábeis ( ) Burocracia

( ) Firmar contrato ( ) Participar de licitações e convênios

1.1 Quais foram os aspectos positivos e negativos?____________________________________

______________________________________________________________________________________________

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2. Quais os entraves jurídicos enfrentados por ocasião da formalização?___________________

_______________________________________________________________________________________________

3. O empreendimento realiza registros contábeis?

( ) Livro Caixa ( ) Livro Diário ( ) Livro do Entradas e Saídas –ICMS

( ) Livro Razão ( ) Livro do IPI ( ) Outros. Quais? ____________________

__________________________________________________________________________

4. No processo de formalização teve que se filiar a alguma entidade de representação?

( ) Sim. Por que? ____________________________________________________ ( ) Não

5. Houve incremento das vendas após a formalização?

( ) Sim. Que percentual?____________ ( ) Não. Por que?_______________________

________________________________________________________________________

5.1 Houve aumento da renda do empreendimento?

( ) Sim. Que percentual?____________ ( ) Não. Por que?_______________________

________________________________________________________________________

6. Existiu alguma interferência de entidade de representação? ( ) Sim ( ) Não

Por que?__________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

7. Teve a contribuição de algum órgão municipal, estadual ou federal?

( ) Não ( ) Sim. Qual?_________________________________________________

8. Teve contribuição da sociedade civil organizada ou de entidades religiosas?

9. ( ) Não ( ) Sim. Qual?_________________________________________________

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214

III. QUESTÕES PARA EMPRESAS AINDA NÃO FORMALIZADAS

1. Como o grupo discute a possibilidade de se formalizar?

_______________________________________________________________________________________________

2. Quais os entraves jurídicos que seriam enfrentados por ocasião da formalização?

____________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________

3. O empreendimento realiza registros contábeis?

Quais?__________________________________________________________________

________________________________________________________________________

IV. QUESTÕES TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIAS - RELAÇÕES TRABALHISTAS E

SÓCIO-ECONOMICAS ENTRE COOPERADOS E COOPERATIVAS. Exclusivo para

empreendimentos formalizados. Caso não seja passe para as duas últimas perguntas

deste bloco.

Para a definição do ato cooperativo

1. O empreendimento contrata mão-de-obra?

( ) Não. Passe para as duas ultimas perguntas do bloco. ( ) Sim. Especifique:

1.1 Qual a quantidade de pessoas contratadas? ___________________________________

1.2 Quais as modalidades de contrato de trabalho?

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

2. Quais os direitos sociais garantidos pelo empreendimento?

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( ) Férias remuneradas ( ) 13º salário ( ) Descanso Semanal Remunerado ( )

Previdência

3. Quais os auxílios concedidos pelo empreendimento?

( ) Plano de Saúde ( ) Creche ( )Subsídio para Formação Educacional

( ) Subsídio para Qualificação Profissional ( ) Outros. Especifique____________________

4. A Atividade desenvolvida proporciona algum tipo de adicional?

( ) Adicional noturno ( ) Adicional de Insalubridade ( ) Adicional de

Periculosidade

5. Os cooperados ou associados contribuem para a previdência social como autônomo ou

com outro tipo de segurado (segurado especial)?

( ) Não. Por que? ______________________________________( ) Sim. Quantos?_____

6. Os cooperados, associados ou membros de grupo informal recebem algum beneficio

governamental?

( ) Não ( ) Sim. Especifique: ( ) Seguro Defeso ( ) Seguro Safra

( ) Programa especifico.

6.1 O auxílio é relativo a que espécie ou produto?

_____________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

6.2 Quais são os critérios para ter acesso a esse tipo de auxílio________________________

V. COMERCIALIZAÇÃO

1. Para quem os cooperados/associados/participantes vendem ou prestam serviços?

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( ) Pessoa física ( ) Pessoa Jurídica

2. Qual o tipo de cliente?

( ) Cliente final ( ) Intermediário/revendedor/atravessador ( ) Órgãos públicos

2.1 Cite os pontos positivos e negativos de se vender ao atravessador___________________

3. O empreendimento tem cliente (s) fixos?

( ) Não ( ) Sim. Por que? __________________________________________________

4. Onde compra ou adquire seus insumos/matéria prima?

_______________________________________________________________________________________________

4.1 Quais os custos envolvidos na aquisição ou compra dos insumos?

____________________________________________________________________________________________________

________________________________

5. Quais os locais de comercialização?

( ) Sede ( ) Feiras livres ( ) Feiras solidárias ( ) Mercado local

( ) Lojas da rede filiada ( )Eventos ( ) Porta em Porta ( ) Outros.

Especifique_______________________________________________________________

6. O empreendimento firma contrato ou convênio com entidades privadas?

( ) Não ( ) Sim

7. O empreendimento firma contrato com a administração pública (municipal, federal ou

estadual) via política pública ou programa?

( ) Não. Por que? __________________________________________________________

( ) Sim; Especifique. ( ) PAA ( ) PNAE ( ) Outros.Quais/ _________________________

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217

8. O empreendimento realiza planejamento da produção?

( ) Não. Por que? __________________________________________________________

( ) Sim. Especifique. ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Semestral ( ) Anual

9. Existe uma tabela de preços dos produtos comercializados pelo empreendimento?

( ) Sim. Exemplifique_______________________________________________________

( ) Não. Quais os critérios para estabelecer os preços dos produtos ou serviços?__________

10. Quais produtos ou materiais são mais caros e os mais

baratos?__________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________

11. Desenhar (esquematizar) a cadeia produtiva do empreendimento

____________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

VI. QUESTÕES TRIBUTÁRIAS. Exclusivo para empreendimentos formalizados. Caso não

seja passe a seguinte bloco de perguntas.

1. Quais os tributos que o empreendimento contribui?

( ) PIS ( ) COFINS ( ) ICMS ( ) ISS ( ) Outros ____________

1.1 Caso contrate mão de obra.

( ) INSS ( ) FGTS ( ) Outros ____________

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2. Quanto representa o total dos tributos no seu faturamento?_________________________

3. Qual o tributo que mais impacta o faturamento? __________________

4. Teria alguma sugestão para a tributação do seu empreendimento?

______________________________________________________________________________________________

VII. QUESTÕES SOBRE A GESTÃO DO EMPREENDIMENTO

1. Tipo de gestão do empreendimento

( ) Heterogestão ( ) Gestão Participativa ( ) Autogestão

2. Como se realiza a autogestão no

empreendimento?__________________________________________________________________________

3. Há reuniões? Com que freqüência?

( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Semestral ( ) Anual ( ) Raramente

4. Como são registradas as reuniões?

( ) Atas ( ) Livros ( ) Outros.Especifique: ______________________________

5. Como os cooperados (associados) participam nas reuniões?

_______________________________________________________________________________________________

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219

6. Quem participa do processo decisório do empreendimento?

( ) Diretoria ( ) Lideranças ( ) Todos os cooperados/associados

( ) Outros. Especifique______________________________________________________

7. Como os trabalhadores participam do processo de tomada de

decisão?____________________________________________________________________________________

8. Onde são realizadas as reuniões?

( ) Sede ( ) Local cedido por entidade ( ) Outros.Especifique._____________

9. Como se realiza a prestação de contas do

empreendimento?__________________________________________________________________________

9.1 Quem é o responsável pela prestação de contas? _______________________________

10. Os documentos comprobatórios ficam expostos ou arquivados?

( ) Sim. Onde? ( ) Quadros de aviso ( ) Pastas ( ) Outros. Especifique____________

( ) Não. Por que? ___________________________________________________________

11. Como se realiza a repartição das sobras?

__________________________________________________________________________________________

12. Quais são as dificuldades encontradas no cotidiano de

trabalho?________________________________________________________________________

13. Cite as tarefas que considera mais

difíceis____________________________________________________________________________________

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VII. QUESTÕES DE ETNIA/GÊNERO

1. A que grupo étnico você pertence:

( ) branco ( ) negro ( ) multirracial

2. Participa de algum programa de cunho étnico?

_______________________________________________________________________________________________

3. Em sua opinião existem discriminações étnicas no dia-a-dia do

empreendimento?__________________________________________________________________________

4. Explique como se realiza a participação das mulheres nos processos autogestionários:

Há alguma dificuldade na participação das cooperadas?

5. Em sua opinião a participação das mulheres nos empreendimentos muda as relações

de gênero na família, na comunidade e no mundo do trabalho?

_______________________________________________________________________________________________

6. Estaria havendo um “empoderamento” das mulheres por meio da sua participação nos

empreendimentos solidários?

_______________________________________________________________________________________________

7. O empreendimento concede algum benefício social às cooperadas?

( ) licença maternidade remunerada ( ) auxilio maternidade ( ) creche

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( )Outros __________________________________________________________________________________

8. Sabe informar com que ficam os filhos das cooperadas/associadas/participantes

quando estão no trabalho?

______________________________________________________________________________________________

9. As mulheres trabalham a mesma quantidade de horas que os homens?

_________________________________________________________________________________

10. Em sua opinião existem discriminações de gênero no dia-a-dia do empreendimento?

_______________________________________________________________________________________________

14.5. ANEXO 5 – CONTABILIDADE NAS COOPERATIVAS

CONTABILIDADE NAS COOPERATIVAS

Autor: Raoni Fernandes Azeredo

Orientadores: Prof. Dr.Mauricio Sardá de Faria

Prof. Dr. José Brendan Macdonald

INCUBES – Incubadora de Empreendimentos Solidários

UFPB – Universidade Federal da Paraíba

João Pessoa, Brasil

Aspectos da Contabilidade nas Cooperativas

Os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade

(especificamente a NBC T 2, que trata da Escrituração Contábil e NBC T 4 que descreve os

procedimentos de avaliação patrimonial) são aplicados a qualquer tipo de cooperativa (por exemplo,

uma pequena cooperativa de polpas de frutas), deve escriturar seu movimento financeiro e

econômico de forma a atender as exigências do CFC.

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222

Na constituição da cooperativa, o Objeto Social (Exercício Social) é de extrema importância, pois

irá acordar a atividade econômica no seu respectivo estatuto, e sobre ele a contabilidade irá atuar. A

grande diferença na escrituração contábil das cooperativas está relacionada com os atos destas

entidades sendo divididos entre atos cooperativos e não cooperativos. Com relação à guarda de

documentos que uma cooperativa deve manter, podemos citar os seguintes: livro de matrícula, ata

das Assembleias Gerais, Atas dos órgãos de administração, Atas do conselho Fiscal, Presença dos

Associados nas Assembleias Gerais, Escrituração Contábil no lucro Presumido (quando optantes

por ele), LALUR, (quanto optantes pelo lucro real). Os documentos que afetam ou que possam a vir

afetar a situação patrimonial da cooperativa, devem ser guardados por 5 anos (AZEVEDO e

SENNE 2006).

A Resolução do CFC nº 920/2001 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), aprovou a Norma

Brasileira de Contabilidade NBC T nº 10.8 para as cooperativas e Resolução CFC nº 1.013/2005

aprovou a Interpretação Técnica NBC T 10.8 – IT 01. Estas normas são de uso obrigatório, para

qualquer entidade cooperativa, a partir da data de publicação (03/01/2002), seus principais pontos

são:

10.8.1.3 Aplicam-se às Entidades Cooperativas os Princípios Fundamentais da

Contabilidade, as Normas Brasileiras de Contabilidade [...].

18.8.1.4 A movimentação Econômico-financeira decorrente do ato cooperativo,

na forma disposta no estatuto social, é definida contabilmente como ingressos e

dispêndios (conforme definido em lei). Aquela originada do ato não

cooperativo é definida como receitas, custos e despesas.

10.8.1.9 As entidades cooperativas devem distribuir as sobras líquidas aos seus

associados de acordo com a produção de bens ou serviços por eles entregues,

em função do volume de fornecimento de bens de consumo e insumos dentro

do exercício social, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral.

10.8.2.1 A escrituração Contábil é obrigatória.

10.8.2.6 O resultado líquido decorrente do ato não cooperativo, quando

positivo, deve ser destinado para a Reserva de Assistência Técnica,

Educacional e Social, não podendo ser objeto de rateio entre os associados.

Quando negativo, deve ser levado à Reserva Legal e, se insuficiente sua

cobertura, será rateado entre os associados.

10.8.2.7 As perdas apuradas no exercício não cobertas pela Reserva legal serão

rateadas entre os associados, conforme disposições estatutárias e legais, e

registradas individualmente em contas do Ativo, após deliberação da

Assembleia Geral.

10.8.2.8 As despesas de Assistência Técnica Educacional e Social serão

registradas em contas de Resultado e poderão ser absorvidas pela Reserva de

Assistência Técnica, Educacional e Social em cada período de apuração.

A partir de então as cooperativas ganharam maior detalhamento na forma de apresentação e

denominação das demonstrações que devem apresentar. No entanto as maiorias das Demonstrações

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Contábeis permaneceram com a mesma denominação, mas sofreram em sua estrutura a forma de

contabilização.

Segundo Azevedo e Senne (2006, p. 200) esta norma citada acima “estabelece critérios e

procedimentos específicos de avaliação, de Registro das variações patrimoniais e de estrutura das

demonstrações contábeis, e as informações mínimas a serem incluídas em notas explicativas para as

entidades cooperativas”.

Quadro Comparativo antes e depois da NBC T 10.8 nas Entidades Cooperativas

Antes da NBCT 10.8

Depois da NBCT 10.8

Balanço Patrimonial Balanço Patrimonial

Demonstração do Resultado do Exercício Demonstração das Sobras e Perdas

Demonstração das origens e aplicação de

Recursos

Demonstração das origens e aplicação de

Recursos

Demonstração das Mutações do

Patrimônio Líquido

Demonstração das Mutações do

Patrimônio Líquido

Notas Explicativas Notas Explicativas

Por outro lado temos as empresas de cunho autogestionário constituídas em forma de sociedade, sob

a orientação da contabilidade societária, regulamenta pela Lei das Sociedades Anônimas 6404/76,

(alterada pela Lei Nº 11.638) que no artigo 177, determina que a escrituração deve ser feita

seguindo- se os preceitos da Lei das Sociedades por Ações e os princípios da contabilidade

geralmente aceitos e conforme orientado no Manual das Sociedades por Ações ( Iudicibus et al,

2003, Pg.29), “ o conjunto de informações que deve ser divulgado por uma sociedade,

representando sua ‘ prestação de contas’ abrange o Relatório de Administração, as Demonstrações

Contábeis e as Notas Explicativas...”. Com a aprovação da Lei das Sociedades por Ações alteradas

pela Lei Nº 11.638 de dezembro de 2007 há uma mudança na forma de se apresentar as

Demonstrações Contábeis, no entanto o plano de contas padrão adotado pelas cooperativas, ainda

permanece.

Para Pereira (1993, p. 187) apud Gonçalves (2003, p.

61) as cooperativas passaram a adotar esses

procedimentos para sua contabilização, no entanto em

muitas delas não é possível a elaboração de todas as

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demonstrações, pois esse padrão, foi estipulado para

empresas capitalistas e não para sociedades

autogestionárias, e muitas pequenas cooperativas não

possuem estrutura organizacional para elaborar tais

demonstrações:

Para os autores, as cooperativas e sociedades autogestionárias ainda não possuem uma legislação

própria, um aparato contábil específico que lhes forneça critérios para suas necessidades

informacionais e demonstrações contábeis. A própria Lei 5764/71, dá pouca ênfase à contabilidade

das cooperativas, tratando-a quase “marginalmente”. Desta forma as cooperativas não possuindo

uma legislação específica que lhes forneça critérios próprios para suas Demonstrações Contábeis se

veem sem horizontes de alternativa, sendo obrigadas a se adaptarem e absorverem a práticas

contábeis exigidas pelas sociedades de essência capitalista e pratica heterogestionária.

Por inabilidade ou falta de conhecimento acerca do

cooperativismo da parte de seus contadores ou ainda

por uma orientação voltada a usuários externos que

utilizam métodos convencionais para análise e

fiscalização das cooperativas, as demonstrações

contábeis das cooperativas pouco revelam sobre suas

peculiaridades.

Este parece ser um ponto de plena concordância entre diversos autores: Santos, Pacheco, Almeida,

Dantas onde identificam em seus trabalhos que as demonstrações contábeis e sua didática

informacional têm papel de transparência organizacional econômica e financeira que devem ser

adaptadas aos diversos grupos de usuários, com uma linguagem de fácil compreensão apropriavel e

relevante a tomadas de decisões pelos trabalhadores (cooperados). Esse fato é contestado, pois uma

Entidade que tem como principio não visar o lucro como finalidade, não deve apresentar seus

resultados apurados da mesma forma que uma empresa sob a ótica do capital, principalmente

porque existe no momento uma norma específica para tais entidades.

Destacamos neste trabalho a principal mudança com a NBCT 10.8. A inserção da Demonstração de

Sobras e Perdas

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Nas Cooperativas após a regulamentação da NBCT

10.8, a Demonstração do Resultado, regidos pela NBC

T 3.3.1.1 e NBTC 3.3.1.2, foi alterada para

Demonstração de Sobras e Perdas, a qual deve

evidenciar, separadamente, a composição do resultado

de determinado período, considerando os ingressos

diminuídos dos dispêndios do ato cooperativo, e das

receitas, custos e despesas do ato não-cooperativo,

demonstrados segregadamente por produtos, serviços e

atividades desenvolvidas pela Entidade Cooperativa

Portanto a NBC T 10.8.4.1 diz que a Demonstração de Sobras ou Perdas (DSP), deve demonstrar

separadamente toda a composição do resultado do período, por setor da cooperativa de trabalho ¹

por produtos ou serviços, fazendo a distinção das operações com cooperados (atos cooperativos) das

operações com não cooperados (ato não cooperativo) facilitando no final a divisão das sobras ou até

mesmo perdas entre os cooperados, além de planejar melhores resultados no decorrer das atividades

da Cooperativa dentro de cada produto ou setor especifico.

Para isto, o tratamento contábil se da no preenchimento de duas lacunas (decorrentes do ato

cooperativo e do ato não cooperativo). Primeiramente inicia a contabilização no ingresso (receitas

incorridas, recebidas ou não, por conta de associados) subtraindo os dispêndios (despesas

incorridas, pagas, ou não, por conta de associados), decorrentes dos atos cooperativos, praticados de

forma prevista no Objeto Social do estatuto da Cooperativa, resultando em sobras ou perdas

apuradas na DSP.

Dessa forma, as sobras não se confundem com

lucros, pois o lucro é a remuneração do capital

investido pelos sócios na empresa, que é

distribuído de acordo com a participação de

cada um na sociedade, enquanto as sobras são

resultantes da dificuldade da previsão exata dos

custos operacionais e são devolvidas na

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proporção da participação de cada associado

na operação de cada produto, e é por isso que a

demonstração de sobras das [cooperativas de

trabalho] deve ser segregada em ingressos e

dispêndios por produtos. Com isso verifica-se

que a distribuição de sobra nada mais é que a

devolução do montante recebido a mais para

cobrir os custos e despesas operacionais

Em seguida contabiliza o ato não cooperativo, praticados na forma diferente do Objeto Social do

Estatuto da Cooperativa, denomina-se a nomenclatura Receita, Custos e Despesas. Vale destacar

que o ato não cooperativo será apurado sob a ótica do lucro ou prejuízo sofrendo tributação como o

de uma empresa capitalista.

Após a finalização da Demonstração de Perdas e Sobras, só poderá efetivar a distribuição das sobras

entre os cooperados, após ocorrer o adequado tratamento das destinações legais previstas no artigo

28 da Lei 5.764/71 que são: 10% das sobras líquidas irão para o fundo de reservas destinados a

reparar perdas e atender as atividades das cooperativas (art. 28, I) e 5% das sobras líquidas vão para

a Reserva de Assistência Técnica, Educacional e Social (art. 28, II). A referida Lei prevê também a

criação de outras reservas que poderão ser destinadas a fins específicos. Caso a cooperativa só tenha

tido perda, será destinada ao Fundo de Reserva, e caso não tenha o montante suficiente para supri-la

será rateada entre os cooperados, de acordo com as decisões que tiverem na elaboração do Estatuto

Social.

Evidencia-se também ao final da demonstração de sobras e perdas, se tiver lucro resultante do ato

não cooperativo não pode ser rateado entre os associados, devendo ser retido na conta RATES

(Reserva de Assistência Técnica), e o prejuízo do ato não cooperativo deve ser levado à Reserva

Legal, e se a mesma não for suficiente, deve rateado entre os associados das cooperativas.

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Fonte: Gonçalves (2003, p. 68)

Sugere-se o seguinte modelo básico contábil de segregação decorrente da movimentação

econômico-financeira de Atos Cooperativos e Atos não Cooperativos:

INGRESSOS DE ATOS COOPERATIVOS::

Venda de Serviços Prestados pelos Cooperados a Pessoa Jurídica

Venda de Serviços Prestados pelos Cooperados a Pessoa Física

Venda de Mercadorias e Produtos de Associados

Venda de Mercadorias e Produtos a Associados

DEDUÇÕES DE INGRESSOS DE ATOS COOPERATIVOS

ISS Serviço – Associados

ICMS sobre Vendas de Mercadorias e Produtos – Associados

IPI sobre Vendas de Produtos – Associados

PIS sobre Vendas – Associados

COFINS sobre Vendas – Associados

RECEITAS DE ATOS NÃO COOPERATIVOS

Vendas de Serviços Prestados por Terceiros a Pessoa Jurídica

Vendas de Serviços Prestados por Terceiros a Pessoa Física

Venda de Mercadorias e Produtos – Operações com Não Associados

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DEDUÇÕES DE VENDAS DE ATOS NÃO COOPERATIVOS

ISS Serviço Terceiro

ICMS sobre Vendas de Mercadorias e Produtos – Operações com Não Associados

IPI sobre Vendas de Produtos – Não Associados

PIS sobre Vendas – Não Associadas

COFINS sobre Vendas – Não Associados

DISPENDIOS DOS SERVIÇOS, MERCADORIAS E PRODUTOS – ATOS COOPERATIVOS

Serviço Prestado pelos Associados

Custo das Mercadorias e Produtos Vendidos – Associados

DISPENDIOS DOS SERVIÇOS, MERCADORIAS E PRODUTOS – ATOS NÃO COOPERATIVOS

Serviço Prestado por Terceiros

INSS sobre Serviço Terceiros

Custo das Mercadorias e Produtos Vendidos – Não associados

DISPENDIOS OPERACIONAIS DIRETOS- ATOS COOPERATIVOS

Despesas de Vendas (como comissões sobre vendas de serviços e produtos de associados, fretes CIF, etc)

Despesa Financeira (como despesas com desconto de duplicatas nas vendas de serviços e produtos de associados, etc)

DESPESAS OPERACIONAIS DIRETAS- ATOS NÃO COOPERATIVOS

Despesa de Vendas ( como comissões sobre vendas de serviços e produtos de terceiros, fretes CIF, etc.)

Despesas Financeiras (como despesas com desconto de duplicatas nas vendas de serviços e produtos de terceiros, etc.)

DISPENDIOS E DESPESAS OPERACIONAIS INDIRETAS

Despesas Gerais da Produção

Despesas Administrativas

Despesas de Vendas ( que não possam ser atribuídas diretamente)

Despesas Financeiras (que não possam ser atribuídas diretamente)

Despesas Tributárias ( CPMF, IOF, Taxas de Licença, etc.)

(-) RATEIO DE DISPENDIOS OPERACIONAIS COM COOPERADOS

(-) Rateio de Impostos sobre Vendas de Mercadorias, Produtos e Serviços de Cooperados

(-) Rateio de Despesas Gerais – Operações com Associados

RESULTADOS NÃO OPERACIONAIS

Receitas Financeiras

Resultado na Venda de Bens do Ativo Imobilizado

Outros Resultados não operacionais (como alugueis, dividendos e lucros recebidos, etc.)

PIS e COFINS sobre receitas não operacionais

(Portal Tributário)

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Nota: A entrada de produto de cooperado não caracteriza uma venda, mas sim, uma operação

cooperada. Desta forma, a entrega de produção a cooperativa, para fins de beneficiamento,

armazenamento, industrialização ou comercialização, não configura receita do associado – Inciso

6 do artigo 32 do Decreto 4.524/2002.

Após a pesquisa em quatro cooperativas da Paraíba, apontamos em linhas gerais, que as entidades

cooperativas mesmo após a regulamentação e aprovação da NBC T 10.8 que trouxe alterações para

os demonstrativos contábeis dessas sociedades, principalmente com a inclusão da Demonstração de

Perdas e Sobras, não vêm sendo [OU têm sido] contabilizadas pelo conselho administrativo das

cooperativas e pelos contadores, em especial no que diz respeito da segregação entre o ato

cooperativo do que é ato não cooperativo.

Cabe ressaltar que a regulamentação da NBCT 10.8 precisa que o cooperado se aproprie de tais

informações, pois o mesmo exerce a função de gestor e trabalhador da cooperativa. Assim irá

conseguir evidenciar qual proporção dos resultados da Cooperativa é advindo da relação com

mercado na figura de terceiros e/ou das relações a partir da sociedade de pessoas (cooperativa), na

figura do associado, o que ajudará significativamente no processo de gestão das cooperativas, e no

poder de decisões a serem tomadas pelos seus associados.

A partir do momento em que os trabalhadores se inter-relacionarem com a práxis contábil, sendo

uma experimentação autogestionária do dia-a-dia, a Contabilidade enquanto Ciência Social com

seus respectivos Demonstrativos Contábeis estarão cumprindo a sua função de gerar e agregar

melhorias financeiras econômicas e transparentes dos atos praticados pelos seus associados e pela

cooperativa.

Tributação nas Cooperativas de Trabalho

Conforme artigos 90 e 91 do Capítulo XII da Lei 5.764/71 “Art. 90 Qualquer que seja o tipo de

cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados”. Art. 91 As cooperativas

igualam-se às demais empresas em relação aos seus empregados para os fins da legislação

trabalhista e previdenciária. Deve ressaltar que a proibição do vínculo entre cooperativa e

cooperado já existia na redação do artigo 90, da Lei 5.764/71.

A novidade veio no afastamento do vínculo de emprego

do associado com o tomador de serviços da

cooperativa. O objetivo do legislador foi, claramente, o

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de viabilizar a terceirização e é resultado de uma

tendência moderna para flexibilização da legislação

trabalhista. A hipótese é aquela expressa no item III,

"in fine", do Enunciado 331/TST, ou seja, não forma

vínculo de emprego com o tomador a contratação de

serviços especializados ligados à atividade-meio do

tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a

subordinação direta.

A Lei nº 5.764/1971 trata da cooperativa de trabalho da seguinte forma: é a sociedade de pessoas

sem fins lucrativos, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita à falência,

constituída para prestar serviços a seus . O Art. 208 da Instrução Normativa RFB nº 971/2009

salienta que a cooperativa de trabalho, espécie de cooperativa também denominada cooperativa de

mão de obra, é a sociedade formada por operários, artífices ou pessoas da mesma profissão ou

ofício ou de vários ofícios de uma mesma classe, que, na qualidade de associados, prestam serviços

a terceiros por seu intermédio. A cooperativa de trabalho intermedeia a prestação de serviços de

seus cooperados, expressos em forma de tarefa, obra ou serviço, com os seus contratantes, pessoas

físicas ou jurídicas, não produzindo bens ou serviços próprios. O Art. 209 da Instrução Normativa

RFB nº 971/2009 considera o Cooperado o trabalhador associado à cooperativa, que adere aos

propósitos sociais e preenche as condições estabelecidas no estatuto dessa cooperativa.

Em relação ao regime tributário das cooperativas existe diversas discursões. Isto devido ao artigo

146, III, "c", da Constituição Federal 1988 o que cabe à lei complementar definir e dar adequado

tratamentos tributários aos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas.

Aplica-se as sociedades cooperativas que tenham

auferido, no ano calendário anterior, receita bruta até

o limite definido no inciso II do caput do art. 3º da Lei

Complementar 123/2006, nela incluídos os atos

cooperados e não cooperados, o disposto nos Capítulos

V a X, na Seção IV do Capítulo XI, e no Capítulo XII

da referida Lei Complementar: - Do acesso aos

mercados, licitações publicas e preferências na

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contratação ; Da simplificação das relações de

trabalho ; Da fiscalização orientadora ; Do

associativismo na forma de consórcios; Do estímulo ao

credito e a à capitalização ; Do estimulo a inovação;

Das condições para protesto de títulos e ; Do acesso a

Justiça ( base: artigo 34 da Lei 11.488/2007)

Porém esta lei ainda não foi editada, e ainda não se tem o conceito sobre o que consiste este

adequado tratamento tributário e diversos autores defendem que as cooperativas diante de tantas

peculiaridades e demandas das cooperativas, em especial do ato cooperativo devam ter imunidade

ou isenção ou não incidência tributária. No entanto todas as três possibilidades remetem a mesma

consequência e finalidade: o não pagamento do tributo. De acordo com a CF, “tem-se que como

agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as

funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor publico e

indicativo para o setor privado, e a lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de

associativismo” ( Art. 174, inciso II , CF/88).

Dessa forma o adequado tratamento tributário a ser

dado ao ato cooperativo deve ser em beneficio ao

desenvolvimento e crescimento do setor cooperativista, já

que as sociedades cooperativas não objetivam o lucro em

si, visando à organização da sociedade em bases mais

solidárias.

Como vimos no tópico anterior, à regulamentação da NBC T 10.8 reconhece o ato cooperativo,

adaptando a terminologia contábil à realidade das cooperativas. Para operações que envolvam atos

não cooperativos, mantém-se a nomenclatura tradicional, receita, custos, despesas, lucros e

prejuízos e é sobre eles que os tributos, em regra geral, irão incidir e são:

IRPJ, CSLL, COFINS, PIS, ISS, ICMS, INSS. Já em operações que envolvam apenas atos

cooperativos temos apenas o INSS.

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232

José Eduardo, (apud BECHO, 2002, p. 166),

orienta as Cooperativas não têm faturamento

porque o fornecimento de bens e serviços

destinados aos cooperados não tipificam

negócios jurídicos, por inexistir bipolaridade

em razão desses destinatários não se

qualificarem como terceiros.

IRPJ – Imposto de Renda Pessoa Jurídica – Ressalta-se que as cooperativas de trabalho que

praticarem Atos Cooperados tanto na coleta de matérias primas e venda pelos cooperados no

beneficiamento do produto, não irá existir incidência de IRPJ no resultado dessa atividade, pois

todos os associados coletam e vendem, não havendo a mediação de terceiros na produção e

comercialização. Lúcia Helena Young (2008, p. 95) fala sobre a isenção do IRPJ – Imposto de

Renda de Pessoa Jurídica nas Cooperativas de Trabalho, “As sociedades cooperativas que

obedecerem ao disposto na legislação especifica não terão incidência do imposto sobre suas

atividades econômicas, de proveito comum, sem objetivo do lucro”.

Isso se comprova através do art. 4º da Lei

5.764/71, e pelo art. 168 Decreto 1.041/84.

Como as cooperativas em geral, e em destaque

aqui, as de [trabalho] não visam o lucro, as

sobras que são distribuídas a seus cooperados,

estas se enquadram no campo de não incidência

do Imposto de Renda, conforme descrito no

artigo 182 do RIR/99.

Assim, somente incidirá IRPJ no resultado dos atos não cooperativos, aqueles que diferem do

estatuto social da cooperativa, onde serão tributados optando ou pelo Regime do Lucro Presumido

ou Lucro Real e os resultados positivos realizados nas operações serão contabilizados como FATES

– Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social.

Lei de Política do Cooperativismo de nº

5.764/71 em seu Artigo 87: os resultados das

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operações das cooperativas com não

associados, mencionados nos arts. 85 e 86

serão levados à conta do Fundo de Assistência

Técnica, Educacional e Social e serão

contabilizados em separado, de molde a

permitir cálculo para incidência de tributos.

Lucro Presumido Lucro Real

Receita Bruta no ano calendário anterior,

igual ou inferior a R$ 48.000.000,00.

Receita Bruta > R$ 48.000.000,00 ou

4.000.000,00 multiplicado pelo número de

meses do período, quando inferior a 12

meses. (obrigadas a cooperativas de crédito)

Opção de Pagamento Mensal ou trimestral Opção de pagamento mensalmente ou

trimestralmente. Segundo o artigo 28 da lei

9.430/96 a forma de tributação escolhida

para recolhimento do IRPJ, deve ser seguida

para cálculo da CSLL.

A alíquota dependerá da Atividade que a

Cooperativa irá exercer

A alíquota de 15% será aplicada sobre o

lucro real trimestral apurado no LALUR

CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro: Ressalta-se que a partir de 01/01/2005 foi

regulamentada a Lei 865/2004 que menciona: “As sociedades cooperativas que obedecerem ao

disposto na legislação especifica, relativamente aos atos cooperativos, ficam isentas da

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, exceto as cooperativas de consumo”. (Base:

Artigo 39 e 48 da Lei 865/2004). Portanto só terá tributação do CSLL as operações decorrentes dos

atos não cooperativos seguindo o mesmo regime de apuração adotado para o IRPJ, conforme

estipulado na Lei 10637/02.

Entretanto é válido ressalvar a Jurisprudência no tratamento da CSLL a cooperativas, visto que a

Receita Federal, no seu artigo 6, trata da CSLL aplicada a cooperativas da seguinte forma: “As

sociedades cooperativas calcularão a CSLL sobre o resultado d o período de apuração, decorrente

de operações com cooperados ou não cooperados”.

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COFINS e PIS/PASEP – São regulamentados pela Lei 9.718/98, alterada pela MP 2.158-35/01 e

MP 101/2002, onde as cooperativas poderão excluir da base de cálculo do PIS e da COFINS:

1. Os valores repassados aos associados, decorrentes da comercialização de produto por eles

entregue à cooperativa; 2. As receitas de venda de bens e mercadorias a associados; 3. As receitas

decorrentes da prestação, aos associados, de serviços especializados, aplicáveis na atividade rural,

relativos a assistência técnica, extensão rural, formação profissional e assemelhadas; 4. As receitas

decorrentes do beneficiamento, armazenamento e industrialização de produção do associado; 5. As

receitas de venda de bens e mercadorias a associados que sejam vinculados diretamente á atividade

econômica desenvolvida pelo associado e que seja objeto da cooperativa. 6. Às Sobras apuradas na

Demonstração do Resultado do Exercício, antes da destinação para constituição do Fundo de

Reserva e do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, previstos no art. 28 da Lei no

5.764, de 1971, efetivamente distribuídas; 7. Aos custos agregados ao produto agropecuário dos

associados das cooperativas de produção agropecuária, quando de sua comercialização. 8. Aos

valores dos serviços prestados pelas cooperativas de eletrificação rural a seus associados. (PORTAL

TRIBUTÁRIO).

Vale ressaltar que a contribuição social referente ao PIS sofre incidência na folha de pagamento

com a alíquota de 1% sobre as remunerações salariais descrito no artigo 8º, inciso II da Lei 9.715 de

25 de novembro de 1998.

Portanto o cálculo de PIS e COFINS nas cooperativas de trabalho será considerado apenas na base

de calculo do faturamento decorrente de atos não cooperativos que podem ser Cumulativos ou Não

Cumulativos.

[...] “não incide PIS/COFINS sobre os atos próprios

da sociedade cooperativa que tem por objetivo a

prestação direta de serviço aos seus cooperados, na

defesa dos seus interesses, na melhoria econômica e

social, na orientação e gerenciamento de atividades

executadas a terceiros pelos seus cooperados, a fim de

aproximar o sócio-cooperado das fontes de trabalho,

para que este possa melhorar executa-lo, de acordo

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com a competência e capacidade de cada um”.

INFORMATIVO STJ 353 21/04 a 25/04/2008 apud

YOUNG (2008, P. 99).

Regime Alíquota PIS/PASEP Alíquota COFINS

Cumulativo 0,65% 3%

Não cumulativo 1,65% 7,6%

A partir da lei 9.718/98, alterada pela MP 2.158-35/01 e MP 101/2002, as sociedades cooperativas

foram enquadradas da seguinte maneira: Não cumulativo: Aquelas que têm como objetivo a

produção agropecuária e o consumo. Nesse caso, elas possuem o direito de gerar crédito de

COFINS nas entradas dos custos e despesas. Cumulativo: As demais sociedades cooperativas,

inclusive a cooperativa de crédito. Nesse outro regime, não tem direito.

Portanto as cooperativas de trabalho estão no regime cumulativo com alíquotas de PIS – 0,65% e

COFINS – 3%. Finalizo trazendo a definição de Trindade (2004) “quando afirma que como todas as

sobras retornam ao cooperado e todas as despesas são rateadas entre eles, as sobras não são, nem ao

longe, o objetivo das cooperativas, mas sim o resultado positivo das operações por ela realizadas,

em nome dos seus sócios. Por isso as sobras não podem ser equiparadas ao lucro”.

ICMS – O imposto incide sobre as Cooperativas de Trabalho no âmbito estadual de acordo com o

serviço prestado pelos cooperados, seja por atos cooperativos ou atos não cooperativos. Sendo

tributáveis apenas de atos não cooperativos e sobre as cooperativas que prestam serviços de

transporte de cargas.

De acordo com a Lei 11.651 de 1991: art. 15 a ase de

cálculo do imposto é: I - na operação relativa à

circulação de mercadoria, o valor da operação; II - na

prestação de serviço de transporte ou de comunicação,

o valor da prestação. art. 27. As alíquotas do imposto

são: I - 17% (dezessete por cento), nas operações ou

prestações internas, excetuadas as hipóteses previstas

nos incisos II, III, VII, IX e X;

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ISS - Imposto sobre Serviços a nível Municipal que incide sobre faturamento dos serviços prestado

aos tomadores.

A sociedade cooperativa será contribuinte do ISS

somente se prestar a terceiros serviços tributados pelo

referido imposto. Isto significa que os trabalhos

desenvolvidos em prol dos cooperados, que se

enquadrem como aqueles pertinentes ao objeto social

da cooperativa, não estão sujeitos à incidência deste

imposto. As operações realizadas pela cooperativa com

terceiros, que não possam ser tipificados como atos

cooperativos, situam-se no campo de incidência do ISS.

Quanto às cooperativas de trabalho, tem-se que sobre

os serviços que tais sociedades cooperativas prestam

aos seus cooperados não incidem tributos. (BRAGA;

Da Silva. 2002).

Contribuição Previdenciária – INSS - A promulgação da Lei 9.876 de 26/11/1999 diz que “A

contribuição do INSS a cargo da empresa contratante é de 15 % sobre o valor bruto da nota fiscal,

relativamente aos serviços prestados por cooperativas de trabalho”. E a Lei 10.666/2003,

estabeleceu, dentre outras medidas, a concessão de aposentadoria especial a cooperado de

cooperativa de trabalho ou produção; sobre os requisitos para a concessão de auxílio- reclusão para

os dependentes do segurado recluso; sobre a possibilidade da não consideração da perda da

qualidade de segurado; sobre a obrigação por parte da empresa em arrecadar a contribuição

previdenciária do contribuinte individual, (autônomos e sócios) a seu serviço; sobre a extinção da

escala transitória de salário- base e também sobre a revisão de benefícios.

§ 11. Será devida contribuição adicional de nove, sete ou cinco pontos

percentuais, a cargo da empresa tomadora de serviços de cooperado filiado

a cooperativa de trabalho, incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou

fatura de prestação de serviços, conforme a atividade exercida pelo

cooperado permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte

ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente. (Incluído pelo

Decreto nº 4.729, de 2003)

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As cooperativas de trabalho devem elaborar o PPP – Perfil Profissiográfico instituído pelo art. 148,

parágrafo 1 da Instrução Normativa INSS/DC 95/2003, obrigatório a partir de 01.01.2004. O PPP é

um documento histórico-laboral, individual do trabalhador que presta serviço à empresa,

destinado a prestar informações ao INSS relativas a efetiva exposição a agentes nocivos que, entre

outras informações, registra dados administrativos, atividades desenvolvidas, registros

ambientais com base no Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho - LTCAT e

resultados de monitorização biológica com base no PCMSO (NR - 7) e PPRA (NR - 9). Assim as

cooperativas de trabalho na figura dos seus cooperados filiados poderão ter a possibilidade de

concessão de aposentadoria especial, devendo atualiza-la anualmente entregando ao cooperado

cópia autêntica quando do desligamento da cooperativa. (Instrução Normativa INSS/DC 95/2003)

Desde 01.03.2000 pela Lei 976 a cooperativa de trabalho não esta sujeita à contribuição do INSS

(20%) em relação à remuneração aos respectivos cooperados, a titulo de serviços prestados a

empresas (parágrafo 19 do art. 201 do Decreto 3.408/1999 – Regulamento da Previdência Social).

Deve-se salientar que esta isenção não abrange valores caso a cooperativa pague autônomos ou

dirigentes não empregados ou cooperados, incidirá sobre respectiva remuneração INSS 20 % desde

Março/2000.

A cooperativa de trabalho não está sujeita à contribuição patronal de 20% (vinte por cento) sobre o

total das remunerações ou retribuições pagas ou creditadas, por elas, no decorrer do mês aos

respectivos cooperados (segurado contribuinte individual), de que trata o art. 201, caput, inciso II,

do RPS, a título de remuneração ou retribuição pelos serviços que, por seu intermédio, tenham

prestado às empresas (art. 201 § 19, do RPS, aprovado pelo Decreto 3.048/1999, incluído pelo

decreto 3265/99).

§ 19. A cooperativa de trabalho não está sujeita à

contribuição de que trata o inciso II do caput, em relação às

importâncias por ela pagas, distribuídas ou creditadas aos

respectivos cooperados, a título de remuneração ou

retribuição pelos serviços que, por seu intermédio, tenham

prestado a empresas. (Parágrafo acrescido pelo Decreto nº

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3.265, de 29/11/1999 e com nova redação dada pelo Decreto

nº 3.452, de 9/5/2000)

Com o Decreto 3.265/1999 e o Art. 212 da Instrução Normativa RFB nº 971/200 o cooperado foi

enquadrado no Regime Geral de Previdência Social como segurado obrigatório na categoria de

contribuinte individual que equipara todos os cooperados a contribuintes autônomos, devendo se

inscrever no INSS e se enquadrar a categoria de segurado contribuinte individual no Regime Geral

de Previdência Social (RGPS).

§ 23. A cooperativa de trabalho e a pessoa jurídica

são obrigadas a efetuar a inscrição no Instituto

Nacional do Seguro Social dos seus cooperados e

contratados, respectivamente, como contribuintes

individuais, se ainda não inscritos. (Incluído pelo

Decreto nº 4.729, de 2003)

Sendo a cooperativa de trabalho obrigada a:

§31 descontar onze por cento do valor da quota distribuída

ao cooperado por serviços por ele prestados, por seu

intermédio, a empresas e vinte por cento em relação aos

serviços prestados a pessoas físicas e recolher o produto dessa

arrecadação no dia quinze do mês seguinte ao da competência a

que se referir prorrogando-se o vencimento para o dia útil

subsequente quando não houver expediente bancário no dia

quinze. (Incluído pelo Decreto nº 4.729, de 2003). (A

partir de Novembro/2008, o INSS será

recolhido até o dia vinte do mês subsequente).

Portanto o Decreto nº 4.729 da Lei 10666 de abril de 2003, diz que cooperativa fica obrigada a arrecadar a contribuição dos cooperados como contribuinte individual em relação a:

-11% (onze por cento) para o Contribuinte individual que presta serviço à empresa, inclusive cooperativa de trabalho, a partir de abril/2003.

- 20% (vinte por cento) para o contribuinte individual que presta serviços à pessoa física; a outro contribuinte individual; à entidade beneficente de assistência social, isenta da cota patronal; a missões diplomáticas ou a repartição consular de carreira estrangeira.

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Contudo, se o cooperado receber menos de uma contribuição mínima (equiparada ao salário

mínimo), ele fica sujeito a recolher a diferença com alíquota de 20% em seu nome. Por exemplo, se

um cooperado recebeu a remuneração pelos seus serviços no valor R$ 300,00 da cooperativa em um

intermédio com a empresa X por seus serviços no mês, à cooperativa de trabalho irá recolher os

11% no valor de R$ 33,00. (Porém o cooperado não atingiu o valor de um salário mínimo, no valor

de R$ 622,00). Logo, a diferença (R$ 322,00) será tributada novamente em 20%, da alíquota do

contribuinte individual, dessa forma totalizando o valor do salário mínimo. Deve-se observar que tal

enquadramento previdenciário é um problema concreto para o cooperado no acesso aos benefícios

da previdência social, pois os mesmos não têm as informações necessárias que devem recolher a

diferença entre o limite mínimo do salário contribuição e a remuneração total recebida na alíquota

do contribuinte individual de 20%.

2.5 – Obrigações Acessórias

As cooperativas de trabalho são equiparadas às empresas capitalistas, ficando sujeitas também ao

cumprimento das obrigações acessórias, definidas no art. 60 da instrução Normativa MPS/SRP nº.

03/2005, a saber:

a) inscrever, no RGPS (Regime Geral da Previdência Social), os segurados empregados e os

trabalhadores avulsos a seu serviço;

b) inscrever, quando pessoa jurídica, como contribuintes individuais no RGPS, a partir de 1º de

abril de 2003, as pessoas físicas contratadas sem vínculo empregatício e os sócios cooperados, no

caso de cooperativas de trabalho, se ainda não inscritos;

c) elaborar folha de pagamento mensal da remuneração paga, devida ou creditada a todos os

segurados a seu serviço, de forma coletiva por estabelecimento, por obra de construção civil e por

tomador de serviços, com a correspondente totalização e resumo geral, nela constando: c.1)

discriminados, o nome de cada segurado e respectivo cargo, função ou serviço prestado; c.2)

agrupados, por categoria, os segurados empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual;

c.3) identificados, os nomes das seguradas em gozo de salário-maternidade;

c.4) destacadas, as parcelas integrantes e as não-integrantes da remuneração e os descontos legais;

c.5) indicado, o número de cotas de salário-família atribuídas a cada segurado empregado ou

trabalhador avulso;

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d) lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos

geradores de todas as contribuições sociais a cargo da empresa, as contribuições sociais

previdenciárias descontadas dos segurados, as decorrentes de subrogação, as retenções e os totais

recolhidos;

e) fornecer ao contribuinte individual que lhes presta serviços, comprovante do pagamento de

remuneração, consignando a identificação completa da empresa, inclusive com o seu número no

CNPJ, o número de inscrição do segurado no RGPS, o valor da remuneração paga, o desconto da

contribuição efetuado e o compromisso de que a remuneração paga será informada na GFIP (Guia

de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social) e a contribuição correspondente

será recolhida;

f) prestar ao INSS e à Secretaria da Receita Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB) todas as

informações cadastrais, financeiras e contábeis de interesse dos mesmos, na forma por eles

estabelecida, bem como os esclarecimentos necessários à fiscalização;

g) exibir à fiscalização da SRFB, quando intimada para tal, todos os documentos e livros com as

formalidades legais intrínsecas e extrínsecas, relacionados com as contribuições sociais;

i) informar mensalmente, em GFIP emitida por estabelecimento da empresa, com informações

distintas por tomador de serviço e por obra de construção civil, os seus dados cadastrais, os fatos

geradores das contribuições sociais e outras informações de interesse da SRFB e do INSS, na forma

estabelecida no Manual da GFIP;

j) matricular-se no cadastro do INSS, dentro do prazo de 30 (trinta dias) contados da data do início

de suas atividades, quando não inscrita no CNPJ;

l) matricular no cadastro do INSS obra de construção civil executada sob sua responsabilidade,

dentro do prazo de trinta dias contados do início da execução;

m) comunicar ao INSS acidente de trabalho ocorrido com segurado empregado e trabalhador

avulso, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato;

n) elaborar e manter atualizado Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT)

com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores,

conforme disposto no inciso V do art. 381 da Instrução Normativa MPS/SRP nº. 03/2005

o) elaborar e manter atualizado Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) abrangendo as

atividades desenvolvidas por trabalhador exposto a agente nocivo existente no ambiente de trabalho

e fornecer ao trabalhador, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica deste

documento, conforme previsto no inciso VI do art. 381 da Instrução Normativa MPS/SRP nº.

03/2005;

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p) elaborar e manter atualizadas as demonstrações ambientais de que tratam os incisos I a IV do art.

381 da Instrução Normativa MPS/SRP nº. 03/2005, quando exigíveis em razão da atividade da

empresa.

A cooperativa de trabalho deverá elaborar folhas de pagamento nominais mensais, separando as

retribuições efetuadas a seus associados decorrentes de serviços prestados às pessoas jurídicas e as

decorrentes de serviços prestados às pessoas físicas, bem como efetuar os respectivos lançamentos

contábeis em contas próprias.

As cooperativas de trabalho ainda deverão elaborar mensalmente, folha de pagamento para seus

empregados; entregar aos órgãos fiscalizadores SEFIP/GFIP, mensalmente; Declaração de Débitos

e Créditos Tributários Federais (DCTF) e Demonstrativo de Apuração das Contribuições Sociais

(DACON), mensal ou semestral, dependendo da opção que lhe faculta a legislação; Declaração de

Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) e Declaração de Imposto de Renda

Retido na Fonte (DIRF) anualmente e a partir de 2013 o SPED (Sistema Público de Escrituração

Digital) e ainda o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) quando ocorrer

entrada ou saída de empregado.

Todas estas declarações quando entregue em atraso sofrerá penalidades que variam de acordo com o

prazo ou informações incorretas.

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