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1 Regionalização Geoeconômica do Território Mineiro: Identificação das Redes de Cidades para o Planejamento Estratégico 1 Ricardo Alexandrino Garcia IGC/UFMG [email protected] Carlos Fernando Ferreira Lobo IGC/UFMG [email protected] Bárbara Henriques de Oliveira Lobo Cordeiro IGC/UFMG [email protected] Tereza Cristina de Azevedo Bernardes Faria IGC/UFMG [email protected] Palavras-chave: Hierarquia urbana; ordenamento territorial; regionalização; desenvolvimento; Minas Gerais. 1 Apoio Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Regionalização Geoeconômica do Território Mineiro ... · influência em vista da caracterização da Rede de Cidades e seleção de nova centralidade ... brasileira, a partir

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Regionalização Geoeconômica do Território Mineiro: Identificação das Redes de Cidades para o Planejamento Estratégico1

Ricardo Alexandrino Garcia IGC/UFMG

[email protected]

Carlos Fernando Ferreira Lobo IGC/UFMG

[email protected]

Bárbara Henriques de Oliveira Lobo Cordeiro IGC/UFMG

[email protected]

Tereza Cristina de Azevedo Bernardes Faria IGC/UFMG

[email protected]

Palavras-chave: Hierarquia urbana; ordenamento territorial; regionalização; desenvolvimento; Minas Gerais.

1 Apoio Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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Regionalização Geoeconômica do Território Mineiro: Identificação das

Redes de Cidades para o Planejamento Estratégico

Resumo: este artigo analisa a importância de uma nova proposta de regionalização para

o Estado de Minas Gerais, que deve considerar as especificidades locais, a paisagem

cultural e de seus recursos, a complexidade crescente do espaço social e sua

flexibilidade na organização e coordenação do território. O objetivo deste artigo é

elaborar uma proposta de regionalização com base em centros urbanos e suas áreas de

influência em vista da caracterização da Rede de Cidades e seleção de nova centralidade

no território. Esta proposta visa identificar novos centros que possuem características

econômicas que lhes permitam uma classificação mais elevada na hierarquia urbana

brasileira, a partir de dois insumos básicos: Módulo III do Estudo Territorial Dimensão

do Planejamento - do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - e as regiões de

Influência dos Municípios definidos para 2007 - IBGE. O objetivo específico,

relacionado com a nova territorialidade econômica mineira, é o de identificar os atuais

polos econômicos e potenciais e desejáveis centralidades urbanas, com vistas ao

desenvolvimento. Esta divisão regional visa subsidiar o planejamento estratégico,

apoiando a escolha e localização de investimentos direcionados para fortalecer centros

emergentes e existentes capazes de criar nova centralidade para um Brasil policêntrico.

Indicadores sintéticos são apresentados, juntamente aos resultados preliminares que

validam essa proposta metodológica, fornecendo uma visão geral da rede urbana

mineira.

Palavras-chave: Hierarquia urbana; ordenamento territorial; regionalização;

desenvolvimento; Minas Gerais.

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1. Introdução

O desenvolvimento socioeconômico exige envolvimento e legitimação de ações

disruptivas e, portanto envolve tensão, eleição de alternativas e construção de trajetórias

históricas, com horizontes temporais de curto, médio e longo prazo. Estudá-lo, portanto,

exige ênfase em processos, estruturas, dinâmicas e a identificação dos agentes cruciais e

das interações entre decisões e aquelas estruturas. É fundamental que esse processo

transformador seja promovido simultaneamente em várias dimensões (produtiva, social,

tecnológica, etc.) e em várias escalas espaciais (local, regional, nacional ou global).

A complexidade subjacente ao espaço social - e a flexibilidade na sua

organização e articulação - dificulta definições regionais rígidas e exige a combinação

de critérios variados que dialoguem com as múltiplas espacialidades e territorialidades

implícitas e/ou explícitas nas políticas setoriais e nos recortes territoriais. Reafirmando,

as complexidades de análise territorial são enormes. Os instrumentos de intervenção

sobre uma realidade localizada territorialmente podem estar em outra escala espacial,

arena política, nível de governo, instância de poder. A escala deve ser vista como um

recorte para a apreensão das determinações e condicionantes dos fenômenos sociais

(LEMOS, 1991).

Neste sentido, é necessário construir, mesmo que introdutoriamente, estratégias

multiescalares, pois cada problema pode ter suas diversas escalas espaciais específicas.

Uma questão relevante da regionalização é definir qual a direção dos fluxos a ser

privilegiada no esforço de planejamento. Do ponto de vista da integração econômica do

território e do comércio exterior os fluxos inter-regionais são os mais relevantes, com

ênfase nos eixos de integração física, especialmente o sistema de transportes. Do ponto

de vista da integração urbano-regional, os fluxos intrarregionais devem ser enfatizados à

medida que privilegiam as infraestruturas intermediárias que induzem o processo de

integração urbano-regional e reforçam o papel polarizador do centro econômico

dominante.

As metodologias de regionalização mais recentes têm como grande mérito a

ideia de pensar a ordenação territorial a partir da função de centralidade do urbano, o

que permite entender a dinâmica territorial com base nos sistemas sub-regionais e as

redes urbanas que os integram espacialmente (GARCIA, 2002). Essas novas

centralidades deveriam ser selecionadas em função das forças do mercado, identificadas

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pelo potencial da expansão produtiva (agrícola, industrial, mineral, de serviços) e da

intencionalidade política em termos de ordenamento do território, redução das

desigualdades regionais, preservação ambiental, interesses de geopolítica e de

soberania. Para o fortalecimento das novas centralidades desejadas, dois elementos se

destacam: o sistema de transportes intrarregional e a concentração de equipamentos

urbanos (LEMOS, 2000).

Combinando critérios de homogeneidade e heterogeneidade – de modo a

conformar regiões-programa – é necessário estabelecer uma noção multiescalar e

multicritério na concepção regional da ação de planejamento. A primeira – baseada na

homogeneidade - permite ver o Brasil segundo suas grandes diferenças macroespaciais,

separando-se as áreas mais desenvolvidas das menos desenvolvidas, ou seja, áreas que

constituem o centro e áreas que constituem a periferia. Permite também separar as áreas

em expansão pelo seu dinamismo e potencialidade (LEMOS, 1991). O segundo critério

teórico de recorte macroespacial do território, fundamentada na literatura consagrada a

nível mundial, Lemos et al. (2000), parte da constatação de que as cidades, seus

equipamentos e a rede de infraestrutura, especialmente transporte, estabelecem as forças

polarizadoras, articulando e comandando o território.

Essa capacidade de comando, evidentemente, vai depender da escala (tamanho)

e da hierarquia das cidades, da natureza de sua base produtiva, de sua localização e da

infraestrutura de acessibilidade. O recorte em macrorregiões polarizadas combina a

força polarizadora das grandes metrópoles, que constituem as atuais grandes

centralidades do país, com suas áreas complementares (GARCIA, 2002). Tal

regionalização permite visualizar e entender a atual estrutura macrorregional do país por

meio da capacidade de comando do urbano sobre os grandes espaços subnacionais. Ela

serve, também, para uma avaliação das distorções no ordenamento do território e indicar

as alternativas para o fortalecimento de novas centralidades e das respectivas redes de

infraestrutura e de equipamento urbano.

Estas viriam permitir a mudança no ordenamento do território, a redução das

desigualdades regionais, o aproveitamento das potencialidades regionais e o

estabelecimento de políticas que permitam promover a integração macroespacial do

território brasileiro e deste com a América do Sul. Ela deve ser vista como uma etapa

necessária para a redução do peso de algumas megametrópoles e caminhar no sentido

do fortalecimento de um sistema urbano policêntrico (MAGNAGO, 1995).

5

É, pois, do contraste entre o recorte da homogeneidade e da polarização que

devem derivar os critérios de intervenção no território. Os mecanismos de polarização,

especialmente a rede urbana e a infraestrutura e seus complementos são exatamente os

instrumentos de intervenção para a redução das desigualdades identificadas pelos

critérios de homogeneidade/diferença (MAGNAGO, 1995). Essas são, pois, as razões

pelas quais o recorte do território como fundamento para o planejamento deve partir dos

dois fundamentos teóricos e metodológicos distintos para se atingir o objetivo único que

é o uso das forças polarizadoras como instrumentos para a redução de desigualdades,

identificadas pelos critérios de homogeneidade natural, econômica e social. Esses dois

recortes devem servir de referência para as políticas macroespaciais, estruturadoras do

território e voltadas para o seu ordenamento, guiado pelo objetivo ideal do

policentrismo dos macropolos ou das grandes cidades.

O desenvolvimento policêntrico implica a adequada articulação e coordenação

de ações políticas territoriais, setoriais e temporais. Política territorial é fundamental, já

que a eleição de pólos de desenvolvimento que sejam capazes de dar características

policêntricas à rede urbana brasileira depende de um conhecimento sub-regional da

malha urbana e da região de influências das cidades. A política setorial une o nacional

ao sub-regional, ao promover uma política deliberada de seletividade setorial – que

combinada à seletividade territorial acima mencionada - permita elencar conjuntos de

investimentos tanto em nível nacional (investimentos em infraestrutura física) quanto

em nível local (investimentos em funções e serviços urbanos). Neste contexto, a política

temporal aloca agrupamentos de investimentos no tempo. A seleção de novas

centralidades vai subsidiar a política territorial que as elegerão como estratégicas para a

construção de um Brasil Policêntrico.

A escala sub-regional, por outro lado, é a que mais se adéqua a construção de

tipologias para efeito de políticas públicas e desenvolvimento regional, pois quebra a

contiguidade regional que tradicionalmente é utilizada em macrorregiões com grandes

diferenças internas. Ela permite compatibilizar as políticas de desenvolvimento das

regiões menos desenvolvidas com a Política Nacional de Desenvolvimento Regional e a

adequação dos recursos orçamentários ou fiscais para a política nacional operada em

escala sub-regional. Permite, também, identificar e eleger um conjunto de novas

subcentralidades que permitam modificar a estrutura da rede urbana, alterando o

ordenamento do território com vistas a um Brasil policêntrico.

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A rede de cidades é a estrutura que organiza o território e é o substrato que o

condiciona, sobre o qual atuam as políticas públicas e os agentes sociais e econômicos

que compõem a sociedade (REGIC, 2008). Está, portanto, diretamente relacionado à

questão da territorialidade do desenvolvimento regional, buscando identificar os polos e

centralidades atuais, potenciais e desejáveis, com vistas ao desenvolvimento. Uma

melhor integração e um melhor ordenamento do território ocorrem em função das

seguintes características: distribuição dos polos com seus equipamentos, serviços e

atributos urbanos; potencial produtivo regional; infraestrutura; e capacidade,

abrangência e força desses pólos em termos de polarização, comando e organização do

território (MAGNAGO, 1995).

O objetivo principal deste artigo foi, portanto, realizar uma caracterização da

rede de cidades e seleção das novas centralidades, ou seja, identificar os polos e

centralidades atuais, potenciais e desejáveis, com vistas ao desenvolvimento, baseados

na regionalização por polos econômicos e suas áreas de influência. Para tanto, buscou-

se uma regionalização para o planejamento territorial brasileiro que permitisse subsidiar

a escolha e localização de investimentos direcionados para o fortalecimento de polos

existentes e novos polos que criassem novas centralidades para um Brasil policêntrico.

Assim, os fins da regionalização estriam articulados às políticas públicas de

planejamento regional no Brasil. O trabalho utilizou dois insumos básicos para a

regionalização: i) o Módulo III do Estudo da Dimensão Territorial do MPOG (a

regionalização que identificou 118 polos de desenvolvimento no Brasil); e ii) a Rede de

Influência das Cidades de 2007 do IBGE (REGIC, 2008), que mapeou todas as áreas de

influência dos centros urbanos brasileiros por meio de um da mensuração da intensidade

de suas ligações (fluxos de bens e serviços).

A partir desta regionalização pré-definida, foi estabelecido um conjunto de

indicadores relevantes que justifiquem a escolha dos novos polos reguladores. Tais

indicadores são de: massa (seja do ponto de vista populacional, seja do ponto de vista da

produção e da criação de riqueza), de conectividade (elos de relações ágeis com outros

centros), de competitividade (fatores relevantes que capacitam diferenciadamente os

territórios), de funções e instrumentos urbanos, entre outros, para a caracterização da

rede de cidades.

Os principais critérios para a escolha de novas centralidades são: 1) localização

das cidades no contexto do território nacional e sul-americano, sendo este critério

eliminatório; vale dizer, devem ser respeitadas as prioridades territoriais estabelecidas

7

pela regionalização estratégica contida no MIII do estudo do MPOG; 2) distância das

cidades de cada área de influência em relação aos seus macro e mesopolos; 3) densidade

dos fluxos de bens e serviços destas áreas com os seus macro e mesopolos; 4) densidade

populacional e econômica das cidades dentro de cada área de influência, definido a

densidade econômica por um índice de terciarização e um índice de industrialização; 5)

dinamismo econômico das cidades em cada área de influência; 6) simulação da

configurações da rede de cidades estimada, baseada em projeções populacionais a partir

das dinâmicas demográfica e econômica induzidas.

1.1 Breve histórico das regionalizações do território brasileiro: Articulação e

coordenação de ações políticas

As regionalizações para um mesmo território são inúmeras [grifo nosso] e usualmente atendem a interesses extremamente precisos e este, parece-nos, é um primeiro ponto a não se perder de vista [...]. Uma regionalização pode servir de base a propostas de desenvolvimento regional. Propostas estas cujo

caráter irá variar conforme os objetivos a que se propõe atender [grifo nosso]. (Limonad, 2004, p.28)

Assim como salienta Limonad (2004), o território brasileiro já passou por

inúmeras regionalizações, sendo que cada uma possuía propósitos distintos, buscando

apreender a realidade política e econômica do país. Soma-se a isso, o movimento da

própria ciência geográfica, no que tange as novas formas de (re) pensar essa categoria

de análise espacial [região], refletindo assim nos aspectos metodológicos considerados

para realizar a regionalização.

Partindo dessa concepção, diversas regionalizações foram propostas para o

território brasileiro desde o século XIX até o período atual, com o intuito de direcionar

políticas públicas, promover o ordenamento do território, subsidiar os planejamentos

governamentais.

Dessa maneira, nota-se que anteriormente a primeira divisão regional oficial

para o país realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) em 1941,

destacaram-se diversas outras propostas, como apresenta Guerra (1968) apud Contel

(2014), podendo ser citada a de Karl Von Martius (1843); André Rebouças (1889);

Elisée Reclus (1893); Said Ali (1905); Delgado de Carvalho (1913); Pierre Denis

(1927); Betim Paes Leme (1937).

Vale ressaltar que essas propostas de divisão regional do país, alicerçada em

pressupostos distintos, constituíram uma importante contribuição para a primeira

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regionalização oficial do Brasil, principalmente a de Delgado de Carvalho (1913) o qual

utilizou os elementos naturais para segmentar o território, tendo como referência o

conceito de região natural.

Nesse sentido, diante das diversas propostas de regionalização do território

nacional via-se a necessidade de uma única divisão regional que fosse reconhecida por

todas as instituições, como destacou Fábio de Macedo Soares Guimarães, chefe da

Divisão de Geografia do Conselho Nacional de Geografia. Assim, a primeira

regionalização oficial do território brasileiro também se baseou no conceito de região

natural, devido à estabilidade relativa dos elementos naturais.

Além dos aspectos físicos (clima, relevo e vegetação) utilizados para a

definição das cinco grandes regiões (identificadas como Norte, Nordeste, Leste, Sul e

Centro Oeste), valeu-se dos elementos socioeconômicos para realizar a delimitação das

subunidades regionais, denominadas de Zonas Fisiográficas. De acordo com Duarte

(1980) é nessa modificação de critérios para delimitar grandes e subunidades regionais

que se instaura a principal crítica referente a esta regionalização oficial.

Essa divisão regional teve 28 anos de duração, quando em 1969 surgiu uma

nova proposta que estivesse em consonância com o contexto político e socioeconômico,

de modo que as regiões naturais não mais poderiam ser o critério para a regionalização,

tendo em vista as modificações territoriais que ocorreram no país após a Segunda

Guerra Mundial, como: intensificação do processo de industrialização, concentrando-se

principalmente no estado de São Paulo, expansão da rede rodoviária e da infraestrutura

de energia, abertura ao comércio internacional, urbanização acelerada.

Soma-se a isso a tomada do poder pelos militares em 1964, tornando-se

recorrentes os planos governamentais de intervenção, podendo ser citado: o Programa

de Ação Econômica do Governo (1964-66), o Plano Decenal de Desenvolvimento

Econômico (1967-1976), o Programa Estratégico de Desenvolvimento (1968-70) e os

Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs):

As “regiões naturais” não mais explicariam um território cada vez mais urbanizado e tecnificado, e tampouco a divisão regional de 1942 teria efetiva capacidade de organizar as estatísticas territoriais e dar subsídios para a consecução dos Planos do Governo Federal. (Contel, 2014, p. 5)

Partindo desse contexto, nota-se a necessidade de uma nova regionalização que

considere as transformações materializadas no território, além de subsidiar a

implantação de políticas públicas propostas nos planos econômicos desenvolvidos pelo

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Governo. Neste sentido, as variáveis econômicas assumiriam o papel central na nova

divisão regional oficial do Brasil.

Além disso, é salutar ressaltar as modificações inerentes à própria produção do

conhecimento geográfico, a qual inseriu em suas análises o positivismo lógico,

rompendo com as concepções da geografia tradicional. Essas modificações refletiram

diretamente na metodologia utilizada para a regionalização do território brasileiro, tendo

como alicerce as teorias da economia espacial, tais como: a de Walther Christaller,

François Perroux, Jacques Boudeville, entre outros.

Tendo isso em vista, a nova regionalização oficial do Brasil do ano de 1969

contemplou cinco grandes regiões, sendo elas: Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-

Oeste. Notam-se, dessa maneira, modificações no recorte regional quando comparada a

primeira regionalização oficial do território brasileiro, dado aos critérios diferenciados

utilizados em cada uma delas.

Nesse período, além dessa regionalização oficial, surgiram outras propostas

como a do geógrafo Pedro Pinchas Geiger, em 1967, e a de Bertha Becker, em 1972. De

acordo com França (2013), baseado na divisão territorial do trabalho e na especialização

dos setores produtivos Geiger dividiu o território brasileiro em três macrorregiões

geoeconômicas: Amazônia, nordeste e centro-sul. Já Bertha Becker respaldou-se na

relação de dependência entre centro-periferia.

De acordo com França (2013), ainda na década de 1970, o IBGE iniciou os

estudos sobre as regiões de influência das cidades e hierarquia urbana, originando em

1972 a Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas, também conhecida a partir

da edição de 1987 como Região de Influência das Cidades (REGIC), sendo importante

para orientar as ações de políticas públicas no território:

Deveria servir também como mecanismo de promoção do desenvolvimento econômico, mas, sobretudo orientaria a racionalização no suprimento dos

serviços de infraestrutura urbana através da distribuição espacial mais

adequada [grifo nosso] (Perides, 1994, p. 89 apud Contel, 2014, p. 15)

Essa proposta de regionalização teve como influência as metodologias

desenvolvidas por Michel Rochefort, o qual considerava a complexidade dos

equipamentos do terceiro setor de cada cidade como definidor das relações existentes

entre os centros urbanos. Tendo isso em vista, “atuar no reforço ou na diminuição do

dinamismo do setor terciário das áreas urbanas seria uma das principais formas de

conjugar o planejamento econômico com o territorial” (Rochefort, 1967 apud Contel,

2014, p. 7).

10

Em decorrência do novo contexto político e econômico instalado no país a partir

do final da década de 1980, com a redemocratização e a adoção de políticas neoliberais,

tornou-se necessário repensar uma nova regionalização para o território brasileiro.

Partindo desse pressuposto, o IBGE publicou a Divisão do Brasil em Mesorregiões e

Microrregiões Geográficas, a qual teve por base as Unidades Federativas.

No século XXI foram realizadas diversas regionalizações para o Brasil, tendo

como exemplo a elaborada por Milton Santos em 2001, o qual identificou quatro

regiões - Amazônica, Centro-oeste, Nordeste e região concentrada - a partir da relação

existente entre o “processo histórico de formação dos complexos regionais e os aspectos

do meio técnico-científico-informacional” (França, 2013, p. 42).

Outra regionalização que se destaca foi a desenvolvida por Lemos, Mauro et al.

(2000), denominada de “A Nova Geografia Econômica do Brasil”, em que

identificaram-se 11 macrorregiões econômicas, a partir do cálculo do Índice de

Terciarização para as microrregiões geográficas do IBGE e da aplicação do Modelo

Gravitacional de Isard (1975). Vale ressaltar que a divisão regional proposta no Módulo

III do Estudo da Dimensão Territorial, baseou-se na metodologia de Lemos, Mauro et al

(2000), bem como na de Garcia (2002), responsável por incorporar a dimensão

migratória neste modelo de regionalização.

Desse modo, a regionalização subsidia o planejamento de ações políticas

setoriais, temporais e territoriais. Essas ações, por sua vez, delineadas a partir das

demandas e características de cada região, podem ser traçadas à luz do planejamento

estratégico, entendido como o “direcionamento de esforços para um ponto comum, na

consolidação do entendimento da missão, dos propósitos, das estratégias e das metas

por todos os envolvidos com a organização, constituindo o estabelecimento de uma

agenda de ações por um período de tempo” (OLIVEIRA, 1999).

2. Metodologia

A metodologia escolhida para identificar potenciais centralidades urbanas em

busca de um Brasil policêntrico procura estabelecer, a partir da regionalização contida

no Módulo III do Estudo da Dimensão Territorial do Planejamento, do Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão, diferenciais entre os níveis hierárquicos da rede

urbana brasileira, identificados no estudo sobre a Rede de Influência das Cidades de

11

2007, do IBGE, e uma possível reclassificação a partir de indicadores de potencial

econômico/demográfico de mercado.

A proposta procura, por meio de um método de análise multivariado, identificar

centralidades que possuiriam atributos, características econômicas que lhes permitissem

classificação superior na hierarquia urbana brasileira. O pressuposto é que centralidades

tipologizadas em um nível e que possuam elementos que poderiam coloca-la em outro

nível hierarquicamente acima poderiam se configurar numa escolha eficiente do ponto

de vista da inversão de recursos. Em outro registro, e complementarmente, as

centralidades historicamente consolidadas e que possuíssem atributos potenciais que lhe

dariam características de níveis inferiores no sistema urbano poderiam, também, ser

objeto de atenção a fim de que não se sucateiem ativos relacionais importantes na

configuração territorial brasileira.

O que aqui se apresentará a seguir é o conjunto de indicadores de potencial

econômico/demográfico e a estrutura do modelo multivariado de Análise Discriminante.

Os resultados preliminares foram apenas no sentido de validar esta proposta

metodológica e ter uma visão panorâmica da rede urbana brasileira e mineira.

Propositivamente, a incorporação de variáveis estratégicas, tais como as variáveis de

acesso às tecnologias de informação, bem como atualização dos indicadores

econômicos, permitiu um diagnóstico prospectivo da configuração dos sistemas urbanos

nacional e mineiro no horizonte de tempo delimitado, por meio da análise

discriminante. Com base nos trabalhos que subsidiaram a execução deste estudo, foram

selecionados os seguintes indicadores municipais do dinamismo socioeconômico e de

planejamento estratégico:

• Produto interno bruto per capita municipal (PIBPC);

• Taxa de crescimento anual do produto interno bruto municipal (TPIB);

• Taxa de crescimento anual do produto interno bruto per capita municipal

(TPIBPC);

• Índice de terciarização (ITc);

• Índice de industrialização (IDc);

• Índice da dinâmica migratória municipal (IDM);

• Índice de centralidade municipal (ICM);

• Índice de exposição ao comércio exterior (IECE).

12

Indicadores estratégicos:

• Índice de Inclusão digital urbano (IIDU);

• Índice de Inclusão digital rural (IIDR);

• Índice de acessibilidade à internet urbano (IAIU);

• Índice de acessibilidade à internet rural (IAIR).

Produto interno bruto per capita municipal (PIBPC)

Esse indicador foi obtido pela razão entre o Produto interno bruto municipal de

2007 pela população estimada/recenseada no mesmo anos, ambas informações

provenientes do IBGE:

POPPIBPIBPC

m

mm=

Em que: PIBPCm é o produto interno bruto per capita municipal; PIBm, o produto

interno bruto municipal e POPm é a população do município.

Taxa de crescimento anual do produto interno bruto municipal (TPIB)

Esse indicador foi obtido pelo cálculo da taxa de crescimento anual do PIB

municipal entre 2002 e 2007:

1

,

,

/1

, −=

im

fmTPIB

PIB

PIBn

ifm

Em que: TPIBm,if é a taxa anual de crescimento do produto interno bruto entre

2002 e 2007; PIBm,f, o produto interno bruto municipal de 2007; PIBm,i, o produto

interno bruto municipal de 2002 e n, o intervalo em anos.

Taxa de crescimento anual do produto interno bruto per capita municipal

(TPIBPC)

Esse indicador foi obtido pelo cálculo da taxa de crescimento anual do PIBPC

municipal entre 2002 e 2007:

1

,

,

/1

, −=

im

fmTPIBPC

PIBPC

PIBPCn

ifm

Em que: TPIBPCm,if é a taxa anual de crescimento do produto interno bruto entre

2002 e 2007; PIBPCm,f, o produto interno bruto municipal de 2007; PIBPCm,i, o produto

interno bruto municipal de 2002 e n, o intervalo em anos.

13

Índice de terciarização (ITc)

Em localidades cuja estrutura dos rendimentos dos setores econômicos é

esdrúxula, como é o caso das chamadas cidades dormitórios e das áreas de baixíssima

densidade demográfica, podem ocorrer sérias distorções no cálculo do IT; para evitá-las,

empregar-se-á um fator de ponderação, capaz de expressar simultaneamente um alto

nível de atividade terciária, bem como um grande volume de atividades diretamente

produtivas; ou seja, um conversor logarítmico de escala, que atribui ao maior PIB,

denominado PIB referencial, o fator 0,95. O ITc pode ser representado de acordo com a

seguinte expressão:

−=

−−

eln(0.05)

m

sm, 1)(PIB

a.v.m

ref

PIBPIB

mITc

Em que: a.v.m,s é o valor adicionado do setor de serviços no município m, PIBm é

o produto interno bruto municipal e PIBref. é o produto interno bruto municipal de

referência que, neste caso, foi o maior PIB municipal da UF a que pertence o município.

Índice de industrialização (IDc):

O IDc pode ser representado, analogamente ao ITc, de acordo com a seguinte

expressão:

−=

−−

eln(0.05)

m

im, 1)(PIB

a.v.m

ref

PIBPIB

mIDc

Em que: a.v.m,i é o valor adicionado do segundo setor no município m, PIBm é o

produto interno bruto municipal e PIBref. é o produto interno bruto municipal de

referencia que, neste caso, foi o maior PIB municipal da UF a que pertence o município.

Índice da dinâmica migratória municipal (IDM):

O IDM pode ser calculado de acordo com a seguinte expressão:

m

mPIB

IDM∑∑ +

= miiimimmmi TeSmTaPTeSmTaP

Na qual: Pm representa a população residente no município m, Pi representa a

população residente no município i Temi representa a taxa de emigração do município m

para o município i, Teim representa a taxa de emigração do município i para o município

m, Tam representa a taxa de atividade no município m, Tai representa a taxa de atividade

no município i, Smm e Smi representam, respectivamente, o salário médio mensal

auferido em município.

14

Índice de centralidade municipal (ICM):

O ICM pode ser calculado de acordo com a seguinte expressão:

∑= imLmICM

Em que: Lim é o município i que envia uma parcela de sua população para

estudar ou trabalhar no município m.

Índice de exposição ao comércio exterior (IECE):

Esse indicador foi obtido pela razão entre o valor total das exportações

internacionais do município e o PIB municipal.

PIBVCEIECE

m

mm=

Em que: VCEm é o valor total das exportações internacionais do município m e

PIBm, o produto interno bruto municipal.

Índice de Inclusão digital urbano (IIDU)

Esse indicador foi obtido pela razão entre o número de domicílios urbanos que

possuem microcomputadores e o total de domicílios urbanos, ambas informações

provenientes do Censo Demográfico de 2010:

DTUDCUIIDU

m

mm=

Em que: DCUm é o número de domicílios urbanos com microcomputadores no

município m e DTUm é o número total de domicílios urbanos do mesmo município.

Índice de Inclusão digital rural (IIDR)

Esse indicador foi obtido pela razão entre o número de domicílios rurais que

possuem microcomputadores e o total de domicílios rurais, ambas informações

provenientes do Censo Demográfico de 2010:

DTRDCRIIDR

m

mm=

Em que: DCRm é o número de domicílios rurais com microcomputadores no

município m e DTRm é o número total de domicílios rurais do mesmo município.

15

Índice de acessibilidade à internet urbano (IAIU)

Esse indicador foi obtido pela razão entre o número de domicílios urbanos que

possuem microcomputadores com acesso à internet e o total de domicílios urbanos,

ambas informações provenientes do Censo Demográfico de 2010:

DTUDCIUIAIU

m

mm=

Em que: DCIUm é o número de domicílios urbanos com microcomputadores com

acesso à internet no município m e DTUm é o número total de domicílios urbanos do

mesmo município.

Índice de acessibilidade à internet rural (IAIR)

Esse indicador foi obtido pela razão entre o número de domicílios rurais que

possuem microcomputadores com acesso à internet e o total de domicílios urbanos,

informações provenientes do Censo Demográfico de 2010:

DTRDCIRIAIR

m

mm=

Em que: DCIRm é o número de domicílios rurais com microcomputadores com

acesso à internet no município m e DTRm é o número total de domicílios rurais do

mesmo município.

Análise Discriminante

Análise discriminante é um termo abrangente, que se refere a diversas técnicas

estatísticas relacionadas. É uma técnica estatística para diferenciar grupos, utilizando

uma derivação de regra para designar de forma ótima um novo objeto às classes

existentes. Vale dizer, conhecidas as características de um novo indivíduo, pode-se

prever a que grupo pertence sendo a existência de grupos conhecida a priori. No nosso

caso, a existência de uma variável canônica por excelência, que nos serve de parâmetro

para reclassificações, ou seja, a hierarquia da REGIC permite identificar os indivíduos

(municípios e áreas de concentração da população) que possuem probabilidade de ser

classificados em níveis superiores e inferiores da hierarquia urbana e é este diagnóstico

que interessa aqui.

As funções canônicas discriminantes são funções lineares que combinam as

variáveis discriminantes, sendo uma técnica para redução de dimensionalidade,

relacionada à ACP e correlação canônica. Formalmente pode ser identificada por:

16

fkm = u0 + u1 X1km + u2 X2km + ... + up Xpkm

Na qual: fkm é o valor (score) da função discriminante canônica para o caso m no

grupo k; Xikm é o valor da variável discriminante Xi para caso m no grupo k; ui são os

coeficientes que produzem as características desejadas na função.

Utiliza-se a matriz das médias de cada grupo e das somas dos quadrados (intra e

inter-grupos) para comparar as diferenças entre eles. Feito isto, utiliza-se a matriz de

correlação ou de covariância para avaliar o quanto cada variável independente pode

discriminar entre os grupos, devendo-se analisar os coeficientes estandardizados para

evitar problemas de unidades diferentes entre as variáveis independentes.

A estratégia adotada para a formatação dos resultados pode ser descrita como se

segue: construção dos indicadores sintéticos para todos os municípios brasileiros;

estimação da Análise Discriminante para todo o sistema urbano brasileiro, sendo a

variável “Nível Hierárquico no REGIC/2007” o parâmetro discriminante. Devemos

lembrar que o REGIC/2007 apresenta cinco categorias básicas, subdivididas em 11 sub-

níveis. A estimação foi realizada somente para a primeira das duas distinções utilizando

os resultados do Censo Demográfico de 2010 e do PIB municipal para 2009, ambos do

IBGE (HU-2010); Atualização da tipologia municipal através da comparação dos

resultados obtidos com os resultados encontrados por meio da aplicação da metodologia

proposta nesse estudo, porém com a incorporação dos indicadores estratégicos (PE-

2010).

Esta estimação permitiu uma simulação da hierarquia urbana brasileira a partir

dos impactos diferenciados territorialmente; identificação dos municípios que

apresentavam probabilidade de pertencerem a categorias diferentes daquelas da

classificação inicial, tanto superior quanto inferior. Além disso, optou-se por trabalhar

com a categorização de cinco níveis a fim de captar variações mais significativas dos

níveis hierárquicos. Para tanto foi estabelecido um critério básico de identificação de

potenciais reclassificações, a saber: a razão entre a probabilidade de pertencimento à

soma das categorias superiores à sua classificação original ou a probabilidade igual ou

inferior à soma da probabilidade de pertencimento às categorias atual devem ser

superior a 0,75.

17

3. Resultados

A Tabela 1 traz a comparação dos resultados entre o grau de centralidade urbana

municipal obtida pela tipologia desenvolvida neste estudo para fins de validação do

modelo. Nota-se que das 5565 municipalidades comparáveis entre eles, o percentual

bruto de convergência foi de 75%. Houve, no entanto, significativas diferenças quando

se analisa o nível hierárquico dos municípios menos centrais, o que indica o forte poder

discriminador das variáveis de acessibilidade e de inclusão digital, tal como já era

esperado.

Tabela 1. Municipalidades brasileiras: 2010. Comparação entre as centralidades urbanas segundo os métodos HU-2010 e PE-2010 segundo as regiões estratégicas do Estudo da Dimensão Territorial do Planejamento, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Fonte: IBGE. REGIC de 2007, Produto Interno Bruto dos Municípios

Brasileiros e Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Além disso, o cartograma subsequente (Figura 1) ilustra sinteticamente a

distribuição espacial dos municípios segundo o grau de centralidade urbana, bem como

sua variação em relação aos dois métodos (HU-2010 e PE-2010) empregados neste

trabalho.

MetrópolesCapital

regional

Centro sub-

regional

Centro

de zona

Centro

local

Metrópoles

Capital regional 5 0 0 0 5

Centro sub-regional 1 9 2 0 12

Centro de zona 0 5 30 8 43

Centro local 0 0 12 99 111

6 14 44 107 171

Metrópoles

Capital regional 5 2 0 0 7

Centro sub-regional 0 23 5 0 28

Centro de zona 0 0 61 53 114

Centro local 0 0 4 255 259

5 25 70 308 408

Metrópoles 2 0 0 0 0 2

Capital regional 0 15 1 0 0 16

Centro sub-regional 0 1 36 2 0 39

Centro de zona 0 0 4 180 43 227

Centro local 0 0 0 75 226 301

2 16 41 257 269 585

Metrópoles 3 0 0 0 0 3

Capital regional 0 13 0 0 0 13

Centro sub-regional 0 0 44 3 0 47

Centro de zona 0 0 3 99 95 197

Centro local 0 0 0 9 367 376

3 13 47 111 462 636

Metrópoles 6 0 0 0 0 6

Capital regional 0 29 9 0 0 38

Centro sub-regional 0 4 130 21 0 155

Centro de zona 0 0 30 562 124 716

Centro local 0 0 1 684 1012 1697

6 33 170 1267 1136 2612

Metrópoles

Capital regional 6 0 0 0 6

Centro sub-regional 0 28 8 0 36

Centro de zona 0 0 136 115 251

Centro local 0 0 59 801 860

6 28 203 916 1153

Metrópoles 11 0 0 0 0 11

Capital regional 0 73 12 0 0 85

Centro sub-regional 0 6 270 41 0 317

Centro de zona 0 0 42 1068 438 1548

Centro local 0 0 1 843 2760 3604

11 79 325 1952 3198 5565

Total

PE-2010

Total

HU-2010

Centralidade Urbana

Bioma

Amazônico

Centro-NorteHU-2010

Total

Centro-OesteHU-2010

Total

Litoral Norte-

Nordeste

HU-2010

Total

Litoral Sul-

Sudeste

HU-2010

Total

Semi-ÁridoHU-2010

Total

TotalHU-2010

Total

18

Figura 1. Municipalidades brasileiras: 2010. Comparação entre as centralidades urbanas segundo os métodos HU-2010 e PE-2010 - centro de zona ou superior. Fonte: IBGE. REGIC de 2007, Produto Interno Bruto dos Municípios Brasileiros e Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Para o estado de Minas Gerais, considerando-se os indicadores estratégicos

(índice de inclusão digital urbano, índice de inclusão digital rural, índice de

acessibilidade à internet urbano e índice de acessibilidade à internet rural), os quais

apresentaram alta capacidade discriminatória, pode-se distinguir as cinco categorias2

básicas adotadas na REGIC a partir do acesso (baixo, médio e alto) às tecnologias de

informação. A distribuição das tipologias municipais no território mineiro, considerando

o critério de indicadores estratégicos (PE-2010), pode ser verificada na Figura 2.

Nesse sentido, nota-se que Belo Horizonte é a única metrópole com alto acesso a

tecnologia de informação em Minas Gerais. Essa categoria - de metrópole - não se

alterou com a aplicação dos dois métodos considerados nessa pesquisa.

2 Metrópole, capital regional, centro sub-regional, centro de zona e centro local.

19

Figura 2. Estado de Minas Gerais e Macrorregião de Belo Horizonte: 2010. Regionalização Geoeconômica e Tipologia municipal para o Planejamento Estratégico em Tecnologia da Informação. Fonte: IBGE. REGIC de 2007, Produto Interno Bruto dos Municípios Brasileiros e Censos Demográficos de 2000 e 2010.

No que tange à variação dos resultados de acordo com o método utilizado, HU-

2010 e PE-2010, pode-se verificar alterações na categoria da hierarquia urbana admitida

por alguns municípios mineiros. Essa variação se apresentou positiva (em 188

municípios) e negativa (em 43), ou seja, aumentando ou diminuindo um nível na

hierarquia urbana. No entanto, é importante ressaltar que essa modificação ocorreu de

um nível para outro imediatamente acima ou abaixo (variação igual a 1 ou -1).

De maneira geral, a maior parte dos municípios que subiram de categoria na

hierarquia urbana, passou de centro local para centro de zona e de centro de zona para

centro sub-regional. Já parcela expressiva dos municípios que apresentaram queda na

categoria da hierarquia urbana, passou de centro de zona para centro local e de centro

sub-regional para centro de zona. Apenas o município de Governador Valadares,

localizado na mesorregião Vale do Rio Doce, foi de capital regional a centro sub-

regional.

20

Nesse sentido, é possível observar que as categorias mais elevadas na hierarquia

urbana mineira - metrópole e capital regional – não apresentaram variação expressiva

com a aplicação dos dois métodos.

4. Considerações Finais

A simulação do sistema urbano e, principalmente, a análise de suas diferenças

para o identificado pelo REGIC/2007, possibilitaram a identificação prospectiva das

tendências da rede urbana brasileira. Neste sentido, a caracterização da rede de cidades

operacionalizada através da regionalização é apenas um primeiro passo metodológico.

Para a seleção final das novas centralidades seria necessário construir um consenso dos

atores atuantes no território balizando as escolhas dos novos polos em escala macro e

meso espacial. Esses atores são constituídos por formuladores de políticas do setor

público, formadores de opinião representantes da sociedade civil, como ONGs e

sindicatos trabalhistas, estudiosos especialistas e empresários investidores potenciais no

território.

Esta é a forma de progressão do chamado planejamento tradicional para o

planejamento situacional, que trás os atores para o palco principal do planejamento

territorial. No entanto, as limitações de tempo e recursos impedem tal empreitada. Uma

forma eficaz de mitigação dessa restrição é a metodologia de cenários. Este método é

uma representação que também situa o planejador no contexto político-institucional dos

atores no território. Por esse procedimento, os indicadores de caracterização do

território podem ser analisados por uma representação dos atores, através de alguns

representantes do governo federal, dos governos estaduais e especialistas no território.

A partir dessa abordagem dos indicadores hipóteses podem ser elaboradas e

algumas regras são previamente estabelecidas nesse jogo territorial. No caso em

questão, a premissa geral buscou uma configuração territorial menos desigual e mais

policêntrica sob a restrição de desenvolvimento sustentável de baixo carbono. A

segunda premissa buscou uma configuração territorial mais igualitária e que fortaleça a

coesão territorial do país e regiões. A terceira foi combinar a maior coesão territorial

interna do país com os objetivos da integração sul-americana, especialmente em sua

dimensão da integração física, da livre mobilidade de pessoas e do compartilhamento da

exploração de recursos naturais comuns. Partindo dessas premissas as escolhas puderam

ser feitas e a seleção das centralidades operacionalizada.

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