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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE FUNDAÇÃO FLORESTAL REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO AS EXPERIÊNCIAS DOS ESTADOS DE SÃO PAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO AS EXPERIÊNCIAS DOS ESTADOS DE SÃO PAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE 32141001 capa.indd 1 15/09/09 23:06

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

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CONAMA

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  • Governo do estado de so Paulosecretaria do Meio aMbienteFundao Florestal

    REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAOas exPerincias dos estados de so Paulo, Minas Gerais e rio de Janeiro

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    SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

    32141001 capa.indd 1 15/09/09 23:06

  • REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAOAs experinciAs dos estAdos de so pAulo, MinAs GerAis e rio de JAneiro

  • GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    Jos Serra

    Governador

    SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

    Francisco Graziano Neto

    Secretrio do Meio Ambiente

    FUNDAO FLORESTAL

    Jos Amaral Wagner Neto

    Diretor Executivo

  • orGAnizAdores AnA cArolinA de cAMpos HonorA cHArles AlessAndro Mendes de cAstro luizA Muccillo de BArcellos

    REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAOAs experinciAs dos estAdos de so pAulo, MinAs GerAis e rio de JAneiro

    Realizao:Apoio:

  • Ficha catalogrfica preparada pela Biblioteca Centro de Referncias em Educao Ambiental

    S241r So Paulo (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Fundao para a Conservao a Produo Florestal do Estado de So Paulo.

    Regularizao fundiria em unidades de conservao: as experincias dos Estados de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo : Organizao Ana Carolina de Campos Honora; Charles Alessandro Mendes de Castro; Luiza M. de Barcellos. - - So Paulo : IMESP, 2009.168 p. : mapas ; il. ; 15 x 24 cm.

    1. Regularizao fundiria So Paulo-Estado 2. Minas Gerais-Estado Rio de Janeiro-Estado 4. Unidades de conservao I. Ttulo.

    CDD 333.323.4

  • SumrioDEDICATRIA 7

    APRESENTAO 9

    A REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO NO ESTADO DE SO PAULO 11

    1. Introduo 132. Breve anlise fundiria 203. A criao das unidades de conservao paulistas 234. As desapropriaes 265. Uma nova proposta institucional 326. Compensao Ambiental uma grande aliada 397. Compensao de Reserva Legal 408. A parceria com a Procuradoria Geral do Estado 439. Recategorizao de Unidades de Conservao 4410. Prximos passos 46

    A REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO NO ESTADO DE MINAS GERAIS 47

    INTRODUO 49I. Unidades de Conservao 492. Histrico do Instituto Estadual de Florestas - IEF,

    e suas Unidades de Conservao 54

    3. Criao da Gerncia de Regularizao Fundiria e o apoio do Ncleo de Compensao Ambiental 55

    4. Fontes de recursos disponveis 575. Ferramentas Jurdicas para

    a Regularizao Fundiria 64

    6. Desapropriao de Direitos (Posse) 757. Do reassentamento e da compra direta 908. Compensao Social da Reserva Legal 94

    A REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 101

    1. Introduo 1032. O Sistema Estadual de Meio Ambiente

    do Rio de Janeiro 103

    3. Criao e estruturao do Ncleo de Regularizao Fundiria do Instituto Estadual do Ambiente 112

    4. Situao fundiria das unidades de conservao do Estado do Rio de Janeiro 114

    5. Metodologia utilizada pelo Ncleo de Regularizao Fundiria NUREF 136

    6. A Regularizao Fundiria da Estao Ecolgica Estadual de Guaxindiba EEEG 139

    7. A Regularizao Fundiria de imveis estratgicos do Parque Estadual dos Trs Picos PETP 142

    GLOSSRIO 147

    TABELA DE LEGISLAO 153

    BIBLIOGRAFIA 165

  • DEDICATRIA

    Todos chegam. E todos partem um dia, com certeza.Mas deixar pegadas luminosas e diretivas,Especialmente aquelas que serviro a todos os caminhantes, privilgio de poucos.

    A busca pelo conhecimento, de forma incessante, a vivncia e a dedicao,Fizeram do Doutor Joaquim de Britto Costa Neto,Nosso amigo e companheiro nas lutas pela qualidade de vida desse Planeta,O caminhante de todos os tempos.

  • APRESENTAO

    A idia de publicar a srie Regularizao Fundiria em Unidades de Conservao surgiu nos encontros so-bre REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO, dos quais participaram as equipes dos departamentos de regularizao fundiria dos rgos estaduais responsveis pela gesto das unida-des de conservao (Fundao Florestal FF/SP, Instituto Estadual de Florestas IEF/MG e Instituto do Meio Ambiente INEA/RJ) e do Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade.

    O primeiro encontro, promovido pelo Instituto Estadual de Florestal - IEF de Minas Gerais, foi realizado em abril de 2008 na cidade de Belo Horizonte durante o II COMBIO (Congresso Mineiro de Biodiversidade); o segundo, organizado pelo Instituto Estadual de Florestas IEF do Rio de Janeiro (atual INEA) em agosto de 2008 no Rio de Janeiro e o terceiro, realizado pela Fundao Florestal em abril de 2009, no Ncleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, Ubatuba-SP.

    Este primeiro volume (As Experincias dos Estados de SP, MG e RJ) procura demonstrar quais os procedi-mentos e metodologias adotados pelos trs Estados que, embora diferentes, vem obtendo resultados favorveis na regularizao fundiria das unidades de conservao.

    Os prximos volumes sero destinados a discutir profundamente diversos temas vinculados a regularizao fundiria de unidades de conservao.

    Esperamos que esta iniciativa mobilize outros Estados a participar dos encontros tcnicos, potencializando a troca de experincias e reflexes para este tema fundamental para a gesto das Unidades de Conservao em nosso Pas.

    Jos Amaral Wagner NetoDiretor Executivo da Fundao Florestal

  • A REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO NO ESTADO DE SO PAULOAna Carolina de Campos Honora

    Maria Aparecida Cndido Salles Resende

    Tatiana Vieira Bressan

  • Colaboradores Ana Fernandes Xavier

    Anglica Maria Fernandes Barradas

    Caio Fontana Alves

    Erasmo Henrique Belmar Arrivabene

    Genival Sales de Souza

    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos ao Secretrio de Estado do Meio Ambiente Xico Graziano Neto, pelo apoio e nfase que atribuiu s unidades de conservao em sua gesto, e ao Secretrio Adjunto, Pedro Ubi-ratan Escorel Azevedo, pela sua atuao na regularizao fundiria de unidades de conservao do Estado de So Paulo.

    Ao Diretor Executivo da Fundao Florestal, Jos Amaral Wagner Neto, pela criao do Ncleo de Regularizao Fundiria e pela importncia diria que atribui ao nosso trabalho.

    Aos nossos familiares e amigos, pela compreenso nas horas de ausncia e companhia nas horas de lazer.

    A toda a equipe da Fundao Florestal que vem desenvol-vendo um excelente trabalho na gesto das unidades de conservao do Estado de So Paulo.

    Aos Procuradores do Estado de So Paulo que atuam na defesa das unidades de conservao paulistas.

    Parque Estadual da Serra

    do Mar Ncleo Picinguaba

    Foto: Adriana Mattoso

  • 13A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    1. INTRODUO

    O Governo do Estado de So Paulo abriga, entre suas reas naturais protegidas na forma de unidades de conservao (UCs), as que atendem a categoria de Proteo Integral, que permitem apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, e as de Uso Sustentvel, cujo objetivo compatibilizar a conservao da natureza e o uso susten-tvel dos recursos naturais protegidos, alm de outras categorias de UCs estabelecidas pela legislao estadual, de acordo com as especificidades de cada rea protegida.

    A criao, implantao e gesto de espaos territoriais especialmente protegidos devem ser baseadas na Lei Federal n 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natu-reza SNUC e define as diretrizes, objetivos e categorias de UCs que sero criadas em todo o territrio nacional, regulamentada pelo Decreto Federal n 4.340, de 22 de agosto de 2002.

    No mbito estadual, em 2006, o Governo de So Paulo, que abriga 145 reas naturais institudas, criou, pelo Decreto Estadual n 51.453, de 29 de dezembro de 2006, alterado pelo Decreto Estadual n 54.079, de 04 de maro de 2009, o Sistema Estadual de Florestas SIEFLOR, com vistas a conservao, ampliao e aperfeioamento da gesto das florestas e demais reas naturais protegidas do patrimnio estadual, levando em conta a importncia de realizar pesquisas cientficas voltadas aos aspectos da conservao da biodiversidade de 51 UCs de proteo integral, 64 de uso sustentvel, 3 de outras reas naturais especialmente protegidas e 27 unidades de produo administradas pela Fundao Florestal e pelo Instituto Florestal.

  • 14 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Tabela 01. Relao das unidades de conservao sob gesto do SIEFLOR1

    REAS NATURAIS PROTEGIDAS, EXISTENTES NO TERRITRIO DO ESTADO DE SO PAULO,GERENCIADAS PELO SIEFLOR

    reas Naturais Protegidas

    SIEFLORTOTAL

    FF IF

    Qtde rea Aprox. Qtde rea Aprox. Qtde rea Aprox.

    PROTEO INTEGRAL - grupo e categorias definidas pelo SNUC

    Estaes Ecolgicas 16 115.399,64 8 10.002,52 24 125.402,16Parques Estaduais 26 735.682,28 1 174,00 27 735.856,28Total 42 851.081,92 9 10.176,52 51 861.258,44

    USO SUSTENTVEL - grupo e categorias definidas pelo SNUC

    APAs 30 3.616.217,14 0 30 3.616.217,14ARIEs 3 18.590,21 0 3 18.590,21Florestas Estaduais 1 2.230,53 12 17.784,81 13 20.015,34RESEXs 2 2.790,46 0 2 2.790,46RDS 5 12.665,06 0 5 12.665,06RPPNs* 11 3.604,62 0 11 3.604,62Total 52 3.656.098,02 12 17.784,81 64 3.673.882,83

    OUTRAS reas Naturais Especialmente Protegidas - no definidas pelo SNUC

    Reservas Estaduais 1 48,40 0 1 48,40Parques Ecolgicos 2 458,00 0 2 458,00Total 3 506,40 0 3 506,40

    UNIDADES DE PRODUO - no definidas pelo SNUC

    Estaes Experimentais 0 19 29.700,04 19 29.700,04Hortos Florestais 0 6 922,02 6 922,02Viveiros Florestais 0 2 19,92 2 19,92Total 0 27 30.641,98 27 30.641,98 97 48

    TOTAL GERAL SIEFLOR 145 * RPPNs - Categoria reconhecida pela FF e gerenciada pelo proprietrio da UC

    1 Elaborada pelo N-cleo de Geoproces-samento e Cartografia da Fundao Florestal Agosto de 2009

  • 15A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    A Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo, rgo da administrao estadual indireta, vinculada a Secretaria do Meio Ambiente, possui como objetivo a conservao, manejo e am-pliao das florestas de produo e de preservao permanente pertencentes ao patrimnio do Estado, possuindo como atribuio o levantamento e caracterizao de reas de domnio particular, de interesse pblico para fins de desapropriao pelo Estado; o perfeito dimensionamento jurdico-patrimonial das referidas reas; a implantao e gesto de florestas para fins conservacionistas, tcnico-cientficos e econmicos; entre outras.

    O SIEFLOR atribuiu Fundao Florestal diversas atividades, entre elas, executar aes para a conservao, manuteno, proteo e fiscalizao das reas protegidas sob sua administrao, pertencentes ou possudas pelo patrimnio do Estado, em articulao com a Procuradoria Geral do Estado e demais rgos de fiscalizao e licen-ciamento do Estado, bem como garantir a aplicao dos recursos provenientes das compensaes ambientais nas UCs sob sua responsabilidade.

    Dentre as 97 UCs administradas pela Fundao Florestal, 42 so de Proteo Integral, que englobam as estaes ecolgicas e parques; 52 de Uso Sustentvel, divididas entre reas de proteo ambiental, florestas, reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentvel, rea de relevante interesse ecolgico e reservas particulares do patrimnio natural; e 3 consideradas Outras categorias de reas protegidas, quais sejam, reservas estaduais e parques ecolgicos.

    Dentre as reas protegidas do Estado de So Paulo existem aquelas que: necessariamente devem possuir posse e domnio pblicos, ocorrendo a desapropriao das reas

    particulares inseridas nos seus limites; podem possuir posse e domnio tanto particular quanto pblico, desde que os objetivos da unidade

    de conservao criada e do proprietrio da rea sejam compatveis, salvo contrrio devero ser desapropriadas pelo poder pblico;

    a posse e domnio so exclusivamente particulares; e aquelas em que o domnio pblico mas podem ser ocupadas por populaes tradicionais.

  • 16 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Tabela 02. Relao das unidades de conservao sob gesto da Fundao Florestal2

    Uni

    dade

    s de

    Con

    serv

    ao

    de

    Pro

    te

    o In

    tegr

    al

    Qtde Categoria rea Total Aprox. (ha) Posse Domnio

    16 Estaes Ecolgicas 115.399,64 Pblica

    26 Parques 735.682,28 Pblica

    Uni

    dade

    s de

    Con

    serv

    ao

    de

    Uso

    Sus

    tent

    vel

    Qtde Categoria rea Total Aprox. (ha) Posse Domnio

    30 reas de Proteo Ambiental 3.616.217,14 pblica ou particular

    1 Florestas 2.230,53 Pblico

    2 Reservas Extrativistas 2.790,46pblica ou concedida s populaes extrativistas

    tradicionaispblico

    5Reservas de Desenvolvimento

    Sustentvel12.665,06 populaes tradicionais

    pblica ou particular

    3Area de Relevante Interesse

    Ecolgico18.590,21 pblica ou particular

    11Reserva do Particular do

    Patrimnio Natural3.604,62 Particular

    Out

    ras

    Cat

    egor

    ias

    de

    re

    as E

    spec

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    Pro

    tegi

    das

    Qtde Categoria rea Total Aprox. (ha) Posse Domnio

    1 Reservas Estaduais 48,40 Pblicos

    2 Parques Ecolgicos 458,00 Pblicos2 Elaborada pelo N-

    cleo de Geoproces-samento e Cartografia da Fundao Florestal Agosto de 2009

  • 17A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Mapa 01. Unidades de Conservao sob gesto da Fundao Florestal

    Ressaltamos que as reas das UCs apresentadas na tabela acima so aproximadas e tm o objetivo de de-monstrar a dimenso das mesmas por grupos e categorias, no sendo possvel apresentar os valores totais das reas naturais protegidas, devido sobreposio de territrios e categorias.

    Dentre o territrio aproximado das UCs onde a posse e o domnio so pblicos, cerca de 205.159,09 hec-tares j foram regularizadas, conforme demonstra o estudo realizado pelo Dr. Joaquim de Britto Costa Neto3, nas tabelas abaixo.

  • 18 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Tabela 03. Relao das unidades de conservao sob gesto da Fundao Florestal j regularizadas

    Unidades de proteo integral j regularizadas, domnio da Fazenda do

    Estado de So Paulo

    reas de Domnio Pblico Governo do Estado de So Paulo

    rea total da unidade (ha)

    Origem em terras devolutas %

    Origem em desapropriaes %

    Parque Estadual Carlos Botelho 37.644,36 29.041,00 77 8.603,00 23Estao Ecolgica de Xitu 3.095,17 3.095,17 100 0 -Estao Ecolgica de Bananal 884,00 884,00 100 0 -Estao Ecolgica dos Chaus 2.699,60 2.699,60 100 0 -Parque Estadual do Jaragu 492,68 0 - 492,68 100Parque Estadual do Juquery 1.955,51 0 - 1.955,51 100Parque Estadual Campos do Jordo 8.385,89 0 - 8.385,89 100P. E. Mananciais de Campos do Jordo 502,96 0 - 502,96 100Parque Estadual Alberto Lofgren 174,00 0 - 174,00 100Parque Estadual Ilha Anchieta 828,08 828,08 100 0 -Parque Estadual Intervales 41.704,27 0 - 41.704,27 100Parque Estadual da Cantareira 7.900,00 0 - 7.900,00 100Parque Estadual de Porto Ferreira 611,00 0 - 611,00 100Parque Estadual do Aguape 9.043,97 0 - 9.043,97 100Parque Estadual Furnas do Bom Jesus 2.069,06 0 - 2.069,06 100Parque Estadual Ilha do Cardoso 22.500,00 22.500,00 100 0 -Parque Estadual Morro do Diabo 33.845,33 33.845,33 100 0 -Reserva Biolgica de Paranapiacaba 336,00 250,00 75 86,00 25Reserva Biolgica de Mogi Guau 470,00 470,00 100 0 -Reserva Estadual do Morro Grande 10.700,00 0 - 10.700,00 100Unidades Pblicas do interior 19.317,21 0 - 19.317,21 100

    TOTAIS 205.159,09 93.613,18 46 111.545,55 54

    3 A questo fundiria nos Parques e Es-taes Ecolgicas do Estado de So Paulo. Origens e efeitos da indisciplina da docu-mentao e do registro imobilirio. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Ur-banismo. Universidade de So Paulo. Joaquim de Britto Costa Neto. So Paulo. 2006

  • 19A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Tabela 04. Relao das unidades de conservao sob gesto da Fundao Florestal em processo de regularizao fundiria

    Situao das unidades de proteo integral que demandam aes de regularizao fundiria

    Unidades de proteo integral sob conflitos

    de documentao imobiliria

    rea total da unidade (ha)

    reas de domnio pblico consolidado ou em fase adiantada de regularizao

    rea total a regularizar %Domnio

    pblico (ha) %Origem

    em terras devolutas

    % Origem em desapropriaes %

    Parque Estadual do Alto Ribeira - PETAR

    35.772 6.141 5.000 1.141 29.631 80

    Parque Estadual de Ilhabela

    27.025 0 0 0 27.025 100

    Parque Estadual de Jacupiranga

    150.000 0 0 0 150.000 100

    Parque Estadual da Serra do Mar

    315.390 79.795 16 27.348 52.447 235.595 67

    Estao Ecolgica Jureia-Itatins

    79.270 16.865 21 8.036 8.829 62.405 79

    Parque Estadual do Jurupar

    26.250 2.350 9 0 2.350 23.900 91

    Parque Estadual Xixov-Japu

    901 721 80 721 0 180 20

    TOTAL 634.608 105.872 41.105 64.767 528.736 79 A rea total do Parque Estadual da Ilhabela foi classificada como pblica a regularizar em resultado da solicitao da cesso das terras Unio, pelo Governo do Estado Da rea total (105.001 ha) de domnio pblico do Parque Estadual da Serra do Mar, apresentada no anexo 3, foi excluda a rea estimada em 25.208 ha, onde o

    Estado no tem controle, ou esto sob risco em resultado de conflitos da pose, ou de conflitos de documentao imobiliria.

  • 20 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    2. BREVE ANLISE FUNDIRIA

    Por direito de conquista, a Coroa Portuguesa exercia poderes plenos sobre as terras descobertas e integradas ao seu domnio4. Sendo as terras brasileiras patrimnio da Coroa Portuguesa, esta podia conced-las a quem as solicitasse, pois somente ela tinha poderes para transmiti-las a outras pessoas. Neste particular, a doao de terras era uma espcie de abdicao do poder real sobre a propriedade, cujo domnio e posse lhe pertenciam.

    O regime das sesmarias considerado retrocesso ao feudalismo - foi, ento, estabelecido como poltica gover-namental de ocupao e povoamento do territrio brasileiro.

    Entretanto, a doao de sesmarias sempre esteve condicionada ao cumprimento das exigncias estabelecidas no ttulo de concesso da regalia; descumpridas essas condies, era lcito Coroa - como clusula resolutiva - re-tomar a terra do sesmeiro cado em comisso.

    O sesmeiro tinha por obrigaes, dentre outras, aproveitar a terra em prazo determinado, a rigor, no mximo, de cinco anos, sob pena de perd-la como devoluta5.

    O regime das sesmarias perdurou por cerca de trezentos e cinquenta anos, findando com a edio da Reso-luo de 17 de julho de 1822. No entanto, deixou marcas, como a devoluo da terra inaproveitada e da, a noo de terra devoluta6.

    Entre o fim do regime sesmarial, em 1822, e o advento da Lei n 601, de 18 de setembro de 1850, que disps sobre as terras devolutas do Imprio, houve um lapso de vinte e oito anos, conhecido como o catico regime de posses, caracteriza-do pelo apossamento generalizado de terras ainda no ocupadas, pois nesse interregno no se disciplinou juridicamente o processo de aquisio de terras no Brasil. O nico ttulo era o corpus, a presena fsica do possuidor ou seus descendentes7.

    2.1. TERRAS DEVOLUTASA Lei n 601/1850, em seu artigo 3, definiu como devolutas as terras:

    Que no se acharem aplicadas a algum uso pblico nacional, provincial, ou municipal. Que no se acharem no domnio particular por qualquer ttulo legtimo, nem forem havidas por

    sesmarias e outras concesses do Governo Geral ou Provincial, no incursas em comisso por falta de cumprimento das condies de medio, confirmao e cultura.

    4 Fundamentado na Bula Inter Coetera, do Papa Alexandre VI (1493); posteriormente, no Tratado de Tordesilhas (1494).

    5 ASSUNO, Lute-ro Xavier. Direito Fundirio Brasileiro. 1 ed. So Paulo: Edipro, 2008. p. 17.

    6 ASSUNO, Lutero Xavier. Op. cit., p. 43.

    7 CARVALHO, Vailton Loula de. Formao do Direito Fundirio Brasileiro. 1 ed. So Paulo: Iglu, 1999. p. 55.

  • 21A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Que no se acharem dadas por sesmarias, ou outras concesses do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei.

    Que no se acharem ocupadas por posses, que, apesar de no se fundarem em ttulo legal, forem legitimadas por esta lei.

    Percebe-se, todavia, que a Lei n 601/1850 no adotou um conceito doutrinrio acerca das terras devolutas, definindo-as por excluso: so terras devolutas aquelas que no estiverem enquadradas nas hipteses previstas no art. 3 da referida Lei.

    Nos termos da Lei de Terras de 1850, as terras devolutas pertenciam ao Imprio, e no s Provncias; tal situao seria modificada apenas com a Repblica, quando a Constituio de 1891 transferiu aos Estados-membros a maior parte das terras devolutas, sem, contudo, defini-las8.

    Com a mudana, vrios Estados passaram a legislar sobre a questo, objetivando, basicamente, definir os casos em que reconheciam ou deixavam de reconhecer o domnio privado9.

    Atualmente, a Constituio Federal de 1988 dispe que so bens da Unio as terras devolutas indispensveis defesa das fronteiras, das fortificaes e construes militares, das vias federais de comunicao e preservao ambiental, definidas em lei10, arrolando entre os bens dos Estados as terras devolutas no compreendidas entre as da Unio11. O princpio geral, pela interpretao do disposto na Carta Magna, que todas as terras devolutas per-tencem aos Estados onde se localizem, sendo as terras devolutas da Unio definidas por exceo, pois destinadas aos objetivos especificados no texto constitucional.

    A jurisprudncia consolidou o entendimento de que as terras devolutas so bens pblicos, embora a tese contrria ainda encontre eco entre alguns doutrinadores, mesmo aps a Constituio de 198812.

    Nesse sentido, merecem destaque, por seu didatismo, duas decises que sintetizaram a questo:O acrdo do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo na Apelao n 2.529 (Revista Forense, abril de

    1946, p. 470):

    TRANSMISSIBILIDADE DA PROPRIEDADE ANTERIORIDADE TERRAS DEVOLUTAS. No confronto da transmisso da propriedade, anterioridade ttulo. Mas esse princpio se aplica aos modos derivados de aquisio de domnio. Diverso o caso de legitimao de terreno devoluto. Nenhum ttulo supera o do Estado em antiguidade e a legitimao que este conceda a primeira passagem do imvel para o domnio particular.

    8 Constituio da Rep-blica dos Estados Uni-dos do Brasil (1891): Art 64 - Pertencem aos Estados as minas e ter-ras devolutas situadas nos seus respectivos ter-ritrios, cabendo Unio somente a poro do ter-ritrio que for indispen-svel para a defesa das fronteiras, fortificaes, construes militares e estradas de ferro federais.Pargrafo nico - Os prprios nacionais, que no forem necessrios para o servio da Unio, passaro ao domnio dos Estados, em cujo ter-ritrio estiverem situados.

    9 Em So Paulo, a pri-meira lei estadual sobre o assunto foi a Lei de Terras n 323, de 1895, que dispunha sobre as terras devolutas, sua medio, demarcao e aquisio, sobre a legitimao ou revali-dao das posses e con-cesses, discriminao do domnio pblico do particular e outras providncias

    10 Art. 20, inc. II.11 Art. 26, inc. IV.12 ASSUNO, Lutero

    Xavier. Op. cit., p. 45.

  • 22 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    E o voto do Ministro Aliomar Baleeiro, relator do Recurso Especial 49.158/GO, de 23/08/1966, da Segun-da Turma do Supremo Tribunal Federal, fundamento de outras decises:

    Num pas em que pela posse histrica da Coroa Portuguesa, por fora do ato de Cabral aps o descobrimento, todas as terras foram originariamente do domnio pblico, quero crer que milita em favor do Estado, hoje sucessor daquela Coroa (Constituio de 1891, art. 64), a presuno juris tantum de ser o dono de qualquer solo. O particular que deve provar pela cadeia de ttulos sucessrios, ou por ttulo hbil, o desmembramento da gleba, que a destacou do patrimnio pblico. (RJ 51/42).

    Em suma, as terras que no foram passadas, de forma legtima, ao patrimnio privado, integravam o domnio da Coroa Portuguesa, sucedida, aps a Independncia, pelo Imprio. Com a Repblica e a Constituio de 1891, at os nossos dias, o domnio sucedeu aos Estados.

    Por conseguinte, os Estados no tm necessidade de demonstrarem ttulo para provarem o domnio sobre as terras devolutas, j que o ttulo a prpria posse histrica, como j foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, prevalecendo a presuno de que a terra pblica, cabendo ao particular demonstrar a origem legtima do seu ttulo.

    Ademais, mesmo que as terras devolutas se encontrem ocupadas por particulares e ainda que haja ttulo dominial registrado, a propriedade dessas terras pertence ao Estado, por constiturem bens pblicos, portanto, imprescritveis.

    No entanto, o fato de terem sido arrecadas e incorporadas ao patrimnio estadual, no significa que as terras devolutas estejam livres de qualquer ocupao. Pelo contrrio, muitos Permetros, mesmo com rea total julgada devoluta, demarcada e incorporada, encontram-se ocupadas por inmeros seguimentos da sociedade. Desde os moradores tradicionais da regio, at os especuladores imobilirios que entendem serem estas terras de ningum.

    De qualquer forma, de longa data, as terras devolutas arrecadadas, quando necessrias segurana das fron-teiras e proteo do meio ambiente, ficam reservadas pelo Poder Pblico que, analisando a necessidade e vocao destas, expede instrumento jurdico destinando as mesmas aos fins mais adequados.

    Nesse sentido, no Estado de So Paulo, disps o Decreto-lei n 14.916, de 06 de agosto de 1945, revogado pela Lei Estadual n 12.392/2006, que fossem reservadas as reas devolutas arrecadas que apresentassem condies de vegetao significativa. A Constituio Federal de 1988, disps no 5 do artigo 225, que so indisponveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por aes discriminatrias, necessrias proteo dos ecossistemas naturais.

  • 23A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Neste compasso tambm veio a dispor a Constituio Paulista:

    Artigo 203 - So indisponveis as terras devolutas estaduais, apuradas em aes discriminatrias e arrecadadas pelo Poder Pblico, inseridas em unidades de preservao ou necessrias proteo dos ecossistemas naturais.

    Ao estabelecer que as UCs do Grupo de Proteo Integral devem ser de domnio pblico, o SNUC (Lei n 9985/2000), assegurou possa o Poder Pblico exercer o poder de gesto sobre tais reas, atravs de polticas pblicas que garantam a proteo da biodiversidade que justificou a criao da unidade.

    3. A CRIAO DAS UNIDADES DE CONSERVAO PAULISTAS

    A criao dos Parques Estaduais no Estado de So Paulo teve incio com a instituio do Parque Estadual de Campos do Jordo, em maro de 1.941.

    poca, j existiam alguns dispositivos legais que amparavam a instituio, pelo Poder Pblico, de reas reservadas ou declaradas como necessrias proteo do meio ambiente, a exemplo dos dispositivos constantes do Cdigo Florestal de 1.934, e tambm do artigo 3 do ento (vigente at 2006) Decreto-Lei n 14.916, de 6 de agosto de 1945, que estabelecia fossem reservadas as reas devolutas arrecadas que apresentassem condies de vegetao significativa.

    Em 1962, a Lei Estadual n 6.884, que dispe sobre os parques e florestas estaduais, estabeleceu no artigo 1 que Os parques estaduais so reas de domnio pblico, destinadas conservao e proteo de paisagens, de grutas, da flora e da fauna (grifamos).

    O artigo 5 e pargrafo nico do novo Cdigo Florestal (Lei Federal n 4.771/1965), revogado expressa-mente pelo SNUC, deixava expresso que:

  • 24 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Artigo 5 - O Poder Pblico criar:Parque Nacionais, Estaduais e Municipais e Reservas Biolgicas, com a finalidade de resguardar os atributos ...........Pargrafo nico Ressalvada a cobrana de ingresso a visitantes, cuja receita ser destinada em pelo menos 50% (cinqenta por cento) ao custeio da manuteno e fiscalizao, bem como de obras de melhoramento em cada unidade, proibida qualquer forma de explorao dos recursos naturais nos parques e reservas biolgicas criados pelo poder pblico na forma deste artigo.

    A partir do incio da dcada de 1980, outras normas vieram para consolidar a criao e a proteo destes espaos territoriais na forma de UCs, a exemplo da Lei Federal n 6.938/1.981, que estabeleceu a Poltica Nacional do Meio Ambiente; da Lei n 7.347/1.985, que regulamentou a Ao Civil Pblica para reparao de danos am-bientais causados as reas protegidas; e outras que, mesmo no fazendo referncia expressa ao domnio e posse da terra pelo Poder Pblico, nos casos dos Parques e tambm das Estaes Ecolgicas, estabeleciam regras de proteo restringindo a utilizao dos recursos naturais protegidos por essas UCs, consolidando, assim, a necessidade de que as terras protegidas estivessem na posse e domnio da Administrao Pblica.

    Evidentemente, os mecanismos de proteo dos ecossistemas naturais relevantes, ou dos remanescentes sig-nificativos destes, podero incidir (e muitas vezes incidem), sobre reas de domnio particular. Mas, ainda assim, tal contexto no exime os dirigentes pblicos de criar instrumentos legais de proteo s mesmas. Nestes casos, o instrumento de criao dever indicar as medidas necessrias regularizao das terras que compem o territrio declarado sob proteo ambiental.

    Algumas normas de proteo e gesto das UCs precisam ser destacadas, tais como:

    Decreto Estadual n 25.341/1.986, que aprovou o Regulamento dos Parques Estaduais Paulista que, seguindo o modelo do Regulamento dos Parques Nacionais, foi um marco na gesto dos Parques Estaduais. Vale ressaltar que seu artigo 4 estabeleceu Os Parques Estaduais, compreendendo terras, valores e benfeitorias, sero administrados pelo Instituto Florestal IF. Com a criao do SIEFLOR Sistema Estadual de Florestas, pelo Decreto n 51.453, de 29 de dezembro de 2006, complementado pela Resoluo SMA 16, de 2-4-2007, a responsabilidade pela administrao dos Parques Estaduais

  • 25A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    passou do Instituto Florestal para a Fundao Florestal. Outras normas, nas ltimas duas dcadas, vieram consolidando e aperfeioando a gesto dessas UCs,

    com destaque aqui para o Tombamento da Serra do Mar e de Paranapiacaba (1985); a Lei da Ao Civil Pblica por danos ao Meio Ambiente (Lei Federal n 7347/1985); a Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal n 9.605/1.998), e a Resoluo CONAMA 13/90.

    Tambm os Tratados e Convenes Internacionais, e as Declaraes da UNESCO, conferindo as reas protegidas o status de Reserva da Biosfera e do Patrimnio Mundial, firmaram a responsabilidade compartilhada entre vrios organismos.

    Com o advento do SNUC, o artigo 60 deste diploma legal revogou expressamente os dispositivos do Cdigo Florestal, acima citados. Mas, em contrapartida, estabeleceu em seu artigo 11, 1 que o Parque Nacional de posse e domnio pblicos, sendo que as reas particulares includas em seus limites sero desapropriadas, de acordo com o que dispe a lei (grifamos).

    Por outro lado, muitas das aes discriminatrias para a arrecadao de terras devolutas foram interpostas pelo Estado junto ao Poder Judicirio, na dcada de 1.930, especialmente na regio do Vale do Ribeira. Ocorre que muitas dessas aes s agora esto sendo encerradas, por vrios fatores, dos quais se destacam:

    a escolha de reas com grande extenso na definio dos Permetros; a precariedade ento existente quanto aos instrumentos e equipamentos de campo para aferio da

    situao cartogrfica; e os altos custos para a tramitao dos processos (citaes pessoais em locais longnquos, Editais,

    Percias, etc.).

    As aes discriminatrias, ao extremar as terras devolutas das particulares, com a incorporao das devolutas arrecadadas ao Patrimnio da Fazenda Pblica, vm definindo a situao dominial nas terras abrangidas pela legislao ambiental e desonerando o Errio quanto s aquisies necessrias a regularizao fundiria do territrio protegido.

    Em So Paulo, via de regra, os Parques Estaduais eram criados em reas pblicas que: foram reservadas aps a arrecadao das terras como devolutas; quando a rea era desapropriada para a finalidade de preservar a flora e a fauna para os projetos de reflorestamento, at incio da dcada de 1960.

  • 26 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Com a degradao acelerada dos ecossistemas (especialmente de Mata Atlntica), fez-se necessrio uma postura mais enrgica do Poder Pblico Estadual no sentido de estabelecer espaos protegidos em vastas reas con-tnuas indicadas em levantamentos tcnicos, sob pena de deixar em risco significativas parcelas da biodiversidade local e regional.

    A partir da segunda metade do sculo passado, houve ento a criao de inmeras UCs no Estado de So Paulo.

    Em razo da importncia e a urgente necessidade de proteger os remanescentes da Mata Atlntica presentes no Estado, especialmente na regio de ocorrncia do contnuo deste bioma que segue pelo Estado do Paran, a deli-mitao dos polgonos dessas unidades passaram a abranger as referidas Reservas e partes de terras particulares. No ato normativo de criao da UC havia um artigo que estabelecia que, havendo terras identificadas como particulares na rea abrangida pela Unidade, ficavam estas declaradas de utilidade pblica para fins de desapropriao.

    4. AS DESAPROPRIAES

    Desapropriao a cesso ao domnio pblico, compulsria e mediante justa indenizao, de propriedade perten-cente a um particular13.

    De acordo com a doutrina de HELY LOPES MEIRELLES, desapropriao ou expropriao a transferncia compulsria da propriedade particular (ou pblica de entidade de grau inferior para a superior) para o Poder Pblico ou seus delegados, por necessidade ou utilidade pblica, ou ainda por interesse social, mediante prvia e justa indenizao em dinheiro, salvo a exceo constitucional de pagamentos em ttulos especiais da dvida pblica para o caso de propriedade rural conside-rada latifndio improdutivo localizado em zona prioritria (Constituio da Repblica, arts. 153, 22, e 161, 2 e 3)14.

    , portanto, ato discricionrio, decorrncia do poder eminente que o Poder Pblico exerce sobre todos os bens existentes no territrio de sua soberania e competncia.

    O fundamento constitucional da desapropriao encontra-se no art. 5, inc. XXIV, da Carta Magna, que tam-bm trata do assunto nos arts. 182 a 184 e 185. Os requisitos so a necessidade ou utilidade pblica e o interesse social.

    13 Dicionrio HOUAISS Rubrica: Termo ju-rdico.

    14 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Admin-istrativo Brasileiro. 34 ed. So Paulo: Malhei-ros Editores, 2009. p. 608 e 609.

  • 27A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    O Decreto-lei n 3.365/1941, que trata da desapropriao por utilidade pblica, e a Lei n 4.132/1962, que cuida da desapropriao por interesse social, so os diplomas legais que regem os procedimentos para a desapro-priao, com a aplicao subsidiria das normas gerais do Cdigo de Processo Civil.

    A indenizao exigncia que se impe como forma de buscar o equilbrio entre o interesse pblico e o pri-vado: o particular perde a propriedade e, como compensao, recebe o valor correspondente. O direito indenizao de natureza pblica, j que constitucionalmente embasado; a indenizao dever ser prvia, justa e em dinheiro, podendo ser em ttulos da dvida pblica, nas hipteses previstas expressamente nos arts. 182, 4, III, e 184 da Carta Magna.

    Neste sentido, importante ressaltar, ainda, a disposio do artigo 45 do SNUC, que exclui das indeniza-es referentes regularizao fundiria das UCs:

    as espcies arbreas declaradas imunes de corte pelo Poder Pblico; expectativas de ganhos e lucro cessante; o resultado de clculo efetuado mediante a operao de juros compostos; as reas que no tenham prova de domnio inequvoco e anterior criao da unidade.

    4.1. DESAPROPRIAO DIRETAA desapropriao direta nada mais que a alienao compulsria de determinado bem imvel ao Poder

    Pblico, tendo em vista a necessidade ou utilidade pblica e o interesse social.Como j mencionado, quando se tratar de necessidade ou utilidade pblica, ser regida pelo Decreto-lei n

    3.365/1941, e quando for o caso de interesse social, pela Lei n 4.132/1962.O proprietrio expropriado deve fazer a prova de seu domnio, nos termos do art. 34 do Decreto-lei n

    3.365/1941, cabendo ao Estado a anlise cuidadosa e minuciosa do ttulo de domnio apresentado. A indenizao devida apenas ao titular do domnio de propriedade imobiliria juridicamente constituda, ou seja, aquela descrita e caracterizada em uma matrcula do registro pblico imobilirio do local da situao do imvel, em conformidade com as disposies da Lei n 6.015, de 31 de dezembro de 1973 Lei de Registros Pblicos.

    As terras desapropriadas para tal fim no podem ser destinadas outra finalidade. No processo expropria-trio a discusso versa, essencialmente, sobre os valores (terra, benfeitorias, etc).

  • 28 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    4.2. DESAPROPRIAO INDIRETAA chamada desapropriao indireta, por outro lado, construo pretoriana que pressupe o apossamento

    administrativo do bem imvel sem processo expropriatrio.Considerando que a declarao de utilidade pblica est vinculada ao prazo de 05 (cinco) anos para que o

    Poder Pblico efetive as providncias expropriatrias e que em muitos casos isto no ocorreu (por vrias razes, sendo a no destinao de recursos oficiais a preponderante, poca da instituio dessas unidades), os propriet-rios de terras no interior das UCs tomaram a iniciativa de acionar judicialmente a Fazenda Pblica, atravs das to faladas desapropriaes indiretas.

    Este contexto demandou um grande volume de aes contra a Fazenda Estadual, gerando para a Procu-radoria Geral do Estado, a qual responsvel pela defesa do Errio Pblico, uma demanda enorme de trabalho para contrapor os argumentos dos proprietrios que, dentre outros, alegavam estarem desapossados de seus imveis por fora da instituio destes espaos declarados protegidos pelo Governo do Estado. Mas tal argu-mento, a partir do final da ltima dcada do sculo passado, no tem sido acatado pela maioria dos julgadores do Poder Judicirio que, analisando os argumentos apresentados pela defesa do Estado, de que as aes de fiscaliza-o nas reas protegidas configuram apenas limitaes administrativas, tm decidido pelo no reconhecimento do referido apossamento.

    Cumpre esclarecer que o apossamento administrativo no caracteriza o crime de esbulho possessrio (art. 161, inc. II do Cdigo Penal); ato que obriga o Estado a indenizar o proprietrio e no restituir o bem objeto do apossamento, o que resulta no ajuizamento de aes de desapropriao indireta.

    Porm, para que tais aes possam prosperar, deve o proprietrio (que, evidentemente, deve provar que proprietrio), comprovar objetivamente trs condies:

    A existncia do apossamento administrativo pelo Estado; O nexo de causalidade entre o ato jurdico que limita ou impede o aproveitamento da propriedade; Os danos decorrentes dessa limitao ou impedimento do aproveitamento da propriedade.

    Do contrrio, no cabe qualquer indenizao por parte do Estado. No por outro motivo que nossa Juris-prudncia tem firmado posio no sentido da inexistncia de apossamento administrativo e, consequentemente, do direito indenizao nas hipteses em que no se verificam essas trs condies:

  • 29A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    ADMINISTRATIVO CRIAO DO PARQUE ESTADUAL XIXOV-JAPU DECRETO ESTADUAL 37.536/93 DESAPROPRIAO INDIRETA REQUISITOS NO-CONFIGURAO.1. Na seara do Direito Constitucional no h mais lugar para falar-se em direito absoluto, j que, segundo o princpio da razoabilidade, os direitos previstos na Carta Magna encontram seu fundamento e limite no prprio texto constitucional.2. Antes da promulgao da Constituio vigente, o legislador j cuidava de impor algumas restries ao uso da propriedade com o escopo de preservar o meio ambiente.3. Para se falar em desapropriao indireta impe-se que sejam preenchidos os seguintes requisitos: que o bem tenha sido incorporado ao patrimnio do Poder Pblico e que a situao ftica seja irreversvel.4. Caso dos autos, em que no restou constatado que as apontadas restries estatais implicaram no esvaziamento do contedo econmico da propriedade da recorrente, tampouco que o Poder Pblico revelou qualquer inteno de incorporar ao seu patrimnio o imvel de propriedade da embargante.5. Eventual limitao administrativa mais extensa do que as j existentes quando da edio do Dec. Estadual 37.536/93 deve ser comprovada pela autora por meio de ao prpria.6. Embargos de divergncia no providos.

    (Embargos de Divergncia em Recurso Especial n 628.588 SP - Relatora: Ministra Eliana Calmon - Primeira Seo do Superior Tribunal de Justia Data j. 10/12/2008).

    ADMINISTRATIVO. AO DE INDENIZAO POR DESAPROPRIAO INDIRETA. PARQUE SERRA DO MAR. INDENIZAO. INOCORRNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA AO. INEXISTNCIA DE PREJUZOS. PROPRIEDADE VINCULADA FUNO SOCIAL. MATA ATLNTICA. PRESERVAO.1. Recurso especial contra v. Acrdo que apreciou Ao de Indenizao por Desapropriao Indireta contra o Estado de So Paulo, referente a imvel localizado no Parque Serra do Mar.2. Do exame dos autos, verifica-se que esto comprovados os seguintes aspectos: a) o Estado de So Paulo, em nenhum momento, apossou-se dos imveis dos recorridos; b) as certides imobilirias no identificam, com

  • 30 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    clareza, os imveis objeto da indenizao, pois h descries nas referidas certides que excluem parcelas de imveis, fazendo-se meno a outra transcrio, conforme documento acostado; c) h dificuldades para se identificar se os imveis mencionados na inicial se constituem num imvel contguo ou no.3. A presente ao no pode ser enquadrada como uma expropriatria indireta, visto que no esto presentes os pressupostos que orientam tal espcie de ao. Inexiste apossamento administrativo por parte do Estado, nem este praticou, com relao propriedade discutida, qualquer esbulho ou ilcito que causasse prejuzo aos autores. Em nenhum momento os autores provaram haver apossamento, esbulho ou qualquer outro ilcito por parte do Estado ou seus pressupostos com relao propriedade. O imvel sempre permaneceu no mesmo estado, ou seja, intocado, quer pelos autores, seus antecessores, ou mesmo pelo poder pblico, quer por fora da legislao federal quer em face da legislao municipal que orienta o uso e ocupao do solo local.4. Nenhuma indenizao devida, pelo fato de nenhum prejuzo terem sofrido os recorridos. O uso da propriedade est vinculada a sua funo social. Esta tornou-se presente com a necessidade de preservar-se, para o bem da humanidade, os recursos naturais da Mata Atlntica. No exploravam qualquer atividade comercial ou industrial no imvel, dele no obtendo renda de qualquer limite. No h de se chancelar indenizao no valor de mais de 4,5 milhes de reais, fixada em 1995, acrescido de juros de mora, juros compensatrios, correo monetria e honorrios, para cobrir alegadas limitaes administrativas em 112 ha. de terra sem qualquer explorao econmica.5. Recurso provido.

    (Recurso Especial n 468.405 SP - Relator: Ministro Jos Delgado - Primeira Turma do Superior Tribunal de Justia. Data j. 20/11/2003).

    Desta forma, a criao das UCs no Estado de So Paulo, ensejou a propositura de diversas aes de desa-propriao, conforme pode ser observado na tabela 05.

    As reas de domnio pblico de outras esferas de governo, quando inseridas em reas protegidas, tambm podem ser regularizadas atravs de vrios instrumentos legais, quais sejam: doao, cesso administrativa, permuta, ou outro.

    As dificuldades polticas, financeiras e administrativas podem retardar os procedimentos de regularizao fundiria das terras protegidas. A conscincia da responsabilidade compartilhada entre os rgos pblicos que compem um sistema integrado de proteo da biodiversidade pode facilitar o processo, viabilizando o desenvolvi-mento dos vrios programas de gesto e manejo, e a efetiva implantao destas UCs.

  • 31A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Outra questo que se apresenta com freqncia a do detentor de reas no inte-rior da UC, com ou sem ttulo, que solicita uma declarao do rgo gestor sobre a lo-calizao de sua gleba. H cerca de 25-30 anos atrs, essas declaraes eram expedi-das sem ressalva quanto impossibilidade de reconhecimento, pelo rgo Gestor, de eventuais direitos de posse ou propriedade do requerente sobre a rea apresentada. Pos-teriormente, o Instituto Florestal, atravs de Portarias (1994 e 1999), passou a disciplinar as condies para o requerimento do interes-sado e tambm para a expedio da declara-o. Atualmente a Fundao Florestal est revisando o assunto para regulamentar a ex-pedio dessas declaraes. Vale lembrar que o rgo gestor no possui a atribuio para

    reconhecimento de limites de prprios estaduais com particulares, sendo esta uma responsabilidade da Procuradoria Geral do Estado.

    Quando se fala em regularizao fundiria das reas de proteo integral, faz-se necessria tambm uma an-lise das terras limtrofes e circundantes a UC, pois estas tm influncia, muitas vezes direta, sobre a rea protegida. Por ser zona de amortecimento, ou de entorno, sua ocupao no pode ocorrer de forma desordenada. Mas a restri-o severa pode ensejar requerimentos dos ocupantes e proprietrios na busca de indenizao pelo Poder Pblico.

    A interao scio-ambiental da UC com seu entorno de fundamental importncia para efetiva gesto da mesma. O SNUC estabelece um modelo de gesto participativa, estimulando o Poder Pblico a abrir espaos s comunidades e autoridades locais.

    clareza, os imveis objeto da indenizao, pois h descries nas referidas certides que excluem parcelas de imveis, fazendo-se meno a outra transcrio, conforme documento acostado; c) h dificuldades para se identificar se os imveis mencionados na inicial se constituem num imvel contguo ou no.3. A presente ao no pode ser enquadrada como uma expropriatria indireta, visto que no esto presentes os pressupostos que orientam tal espcie de ao. Inexiste apossamento administrativo por parte do Estado, nem este praticou, com relao propriedade discutida, qualquer esbulho ou ilcito que causasse prejuzo aos autores. Em nenhum momento os autores provaram haver apossamento, esbulho ou qualquer outro ilcito por parte do Estado ou seus pressupostos com relao propriedade. O imvel sempre permaneceu no mesmo estado, ou seja, intocado, quer pelos autores, seus antecessores, ou mesmo pelo poder pblico, quer por fora da legislao federal quer em face da legislao municipal que orienta o uso e ocupao do solo local.4. Nenhuma indenizao devida, pelo fato de nenhum prejuzo terem sofrido os recorridos. O uso da propriedade est vinculada a sua funo social. Esta tornou-se presente com a necessidade de preservar-se, para o bem da humanidade, os recursos naturais da Mata Atlntica. No exploravam qualquer atividade comercial ou industrial no imvel, dele no obtendo renda de qualquer limite. No h de se chancelar indenizao no valor de mais de 4,5 milhes de reais, fixada em 1995, acrescido de juros de mora, juros compensatrios, correo monetria e honorrios, para cobrir alegadas limitaes administrativas em 112 ha. de terra sem qualquer explorao econmica.5. Recurso provido.

    (Recurso Especial n 468.405 SP - Relator: Ministro Jos Delgado - Primeira Turma do Superior Tribunal de Justia. Data j. 20/11/2003).

    Desta forma, a criao das UCs no Estado de So Paulo, ensejou a propositura de diversas aes de desa-propriao, conforme pode ser observado na tabela 05.

    As reas de domnio pblico de outras esferas de governo, quando inseridas em reas protegidas, tambm podem ser regularizadas atravs de vrios instrumentos legais, quais sejam: doao, cesso administrativa, permuta, ou outro.

    As dificuldades polticas, financeiras e administrativas podem retardar os procedimentos de regularizao fundiria das terras protegidas. A conscincia da responsabilidade compartilhada entre os rgos pblicos que compem um sistema integrado de proteo da biodiversidade pode facilitar o processo, viabilizando o desenvolvi-mento dos vrios programas de gesto e manejo, e a efetiva implantao destas UCs.

    Tabela 05. Distribuio das aes ambientais imobilirias no Estado de So Paulo (AZEVEDO, 2002, p. 26).

    Tipo de Unidade de Conservao Nmero de Processos

    Parque Estadual da Serra do Mar 378Estao Ecolgica Juria-Itatins 199Parque Estadual de Jacupiranga 95Parque Estadual de Ilhabela 129Outros Parques e Estaes Ecolgicas 59 Subtotal em reas mais restritivas 860reas de Proteo de Mananciais RMSP 132Tombamento e reas de Proteo Ambiental

    83

    Unidades de proteo diversas 94 Subtotal em reas passveis de uso 309

    TOTAL GERAL 1.169

  • 32 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    5. UMA NOVA PROPOSTA INSTITUCIONAL

    Devido ao processo histrico de implantao das UCs estaduais em So Paulo, o Instituto Florestal contava em sua estrutura com uma Assessoria de Estudos Patrimoniais AEP, que apoiava a gesto nos assuntos fundi-rios, imobilirios e jurdicos.

    Com o recebimento da atribuio de gesto das UCs estaduais em 2006, foi criado na estrutura da Fundao Florestal, em setembro de 2007, o Ncleo de Regularizao Fundiria - NRF.

    A princpio, as atividades do NRF concentraram-se em consolidar e sistematizar as informaes existentes.Com a anlise de todos os elementos e documentos existentes, foi constatado que faltavam informaes im-

    portantes e atualizadas sobre determinadas UCs, que seriam condio essencial para subsidiar a adoo de medidas no sentido de estabelecer Programas de Regularizao Fundiria eficientes e adequados.

    Foram priorizadas as UCs com grandes necessidades de regularizao fundiria e com trabalhos j iniciados e recursos destinados, a saber:

    Tabela 06. UCs com atividades de regularizao fundiria previstas ou iniciadas

    UC ATIVIDADE ANDAMENTO

    Parque Estadual da Serra do MarCadastro de Ocupantes e de Aes de Desapropriao Indireta

    Incio do contrato em 2006, com previso de trmino para dezembro de 2009.

    Estao Ecolgica da Juria-ItatinsAtualizao do Cadastro de Ocupantes e Levantamento das Aes de Desapropriao Direta

    Incio do contrato em 2008, com previso de trmino para setembro de 2009.

    Parque Estadual do Jurupar Cadastro de Ocupantes Contratado em 2009 e finalizado.

    Mosaico de UCs do JacupirangaCadastro de Ocupantes apenas das reas inseridas no Mosaico

    Em fase de contratao.

  • 33A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Exemplos de produtos dos levantamentos fundirios:

    Malha fundiria do Mosaico de Unidades de Conservao da Juria-Itatins (atual Estao Ecolgica da Juria-Itatins, em decorrncia da deciso da Ao Direta de Inconstitu-

    cionalidade no 153.336/0 TJSP)

  • 34 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Levantamento de Ocupaes do Mosaico de Unidades de Conservao da Juria-Itatins (atual Estao Ecolgica da Juria-Itatins, em decorrncia da deciso da Ao Direta

    de Inconstitucionalidade no 153.336/0 TJSP)

    Para otimizar os procedimentos de regularizao fundiria das UCs estaduais, as atividades do NRF foram divididas em 03 linhas de ao:

  • 35A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    LINHA DE AO 1 Apoio Jurdico e Fundirio gesto

    Esta linha de ao est vinculada s atividades de rotina do NRF e da gesto das UCs, que podem ser exem-plificadas pelas seguintes demandas:

    Instruo e manifestao em processos administrativos; Elaborao de respostas de demandas do Ministrio Pblico, Poder Judicirio e Procuradoria Geral

    do Estado; Recebimento de demandas da PGE e encaminhamentos junto aos gestores das UCs (cumprimento de

    decises judiciais de desocupao, congelamento, demolio, imisses na posse, dentre outros); Apoio s Diretorias Adjuntas, respectivas Gerncias e gestores na soluo de conflitos fundirios

    (ocupaes, sobreposies com Terras Indgenas e Territrios Quilombolas) e nos processos de redefinio de limites de UCs.

    Fotos da Imisso na Posse na Fazenda Rio Branco Estao Ecolgica da Juria-Itatins:

    Demolio das edificaes

    que no sero utilizadas para

    a gesto da UC

    Foto: Ana Carolina de Campos

    Honora

  • 36 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Retirada e recuperao das

    reas com espcies exticas

    (bananal)

    Foto: Ana Carolina de Campos

    Honora

    Implantao de ncleo de

    fiscalizao na antiga sede

    da Fazenda

    Foto: Ana Carolina de Campos

    Honora

  • 37A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Cumprimento de Liminares de

    Congelamento na Vila Barra

    do Una- Estao Ecolgica da

    Juria-Itatins

    Fotos: Osmar Gomes de Pontes

    LINHA DE AO 2 Apoio Jurdico e Fundirio elaborao dos Planos de Manejo

    Esta linha de ao est vinculada s atividades de elaborao do captulo de Caracterizao Fundiria (sn-tese do levantamento fundirio) e do respectivo Programa de Regularizao Fundiria que compem os Planos de Manejo das UCs estaduais, consistindo, basicamente, em:

    Sistematizar e consolidar as informaes existentes sobre a situao fundiria da UC; Providenciar levantamentos complementares, quando necessrio, bem como sistematizar os resultados

    destes; Definir, em conjunto com os demais Programas de Gesto (proteo, uso pblico, dentre outros), as

    prioridades para regularizao fundiria; De acordo com as prioridades, estabelecer as diretrizes e linhas de ao para elaborao do respectivo

    Programa de Regularizao Fundiria.

  • 38 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Neste sentido, e sob a superviso do NRF, foram elaborados os Programas Fundirios dos Planos de Manejo do Parque Estadual da Cantareira e Parque Estadual Alberto Loefgren, j finalizados; do Parque Estadual do Ju-rupar, em finalizao; e do Parque Estadual Xixov-Japu e Parque Estadual Turstico do Alto Ribeira PETAR, em elaborao.

    LINHA DE AO 3 Compensao Ambiental

    Esta linha de ao est vinculada solicitao de recursos a Cmara de Compensao Ambiental da Secre-taria do Meio Ambiente e atividades necessrias para a execuo dos mesmos, a saber:

    Elaborar Planos de Trabalho para solicitar recursos Cmara de Compensao Ambiental; Elaborar Termos de Referncia para contratao de servios; Solicitao de oramentos e acompanhamento dos processos de contratao; Acompanhar a execuo dos recursos; Prestar contas dos recursos utilizados.

    Uma definio institucional importante refere-se ao fato de priorizar a destinao de recursos de compensa-o ambiental (artigo 36 do SNUC) para a elaborao dos Planos de Manejo das UCs.

    Desta forma, foi definido que o Plano de Manejo de cada UC ser composto por um captulo de Caracteri-zao Fundiria (sntese do levantamento fundirio) e pelo respectivo Programa de Regularizao Fundiria.

    Esta definio muito importante para delinear um Programa de Regularizao Fundiria discutido em conjunto com os demais Programas de Gesto.

  • 39A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    6. COMPENSAO AMBIENTAL UMA GRANDE ALIADA

    A possibilidade de destinao de recursos de compensao ambiental para regularizao fundiria de UCs certamente um importante instrumento para consolidar a gesto destas reas (artigo 36 do SNUC).

    Os recursos de compensao ambiental, destinados para regularizao fundiria de UCs do Estado de So Paulo, so utilizados para:

    Levantamento fundirio (elaborao de cadastros de ocupantes, levantamentos de aes de desapropriao e atualizao dos andamentos, dentre outros); Anlise dominial de propriedades; Avaliao de propriedades e benfeitorias; Aquisio de propriedades e benfeitorias; Demarcao, sinalizao e georreferenciamento; Assistncia tcnica em aes judiciais.

    Tambm existe a previso de destinao destes recursos para elaborao e execuo de Projetos de Reassen-tamento de Populaes residentes nas UCs.

  • 40 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    7. COMPENSAO DE RESERVA LEGAL

    O Cdigo Florestal prev, em seu artigo44, inciso III, a possibilidade de compensao de Reserva Legal, a saber:

    Art. 44. O proprietrio ou possuidor de imvel rural com rea de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetao nativa em extenso inferior ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do art. 16, ressalvado o disposto nos seus 5 e 6, deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente:III - compensar a reserva legal por outra rea equivalente em importncia ecolgica e extenso, desde que pertena ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critrios estabelecidos em regulamento.

    O 6 do referido artigo dispe que:

    6. O proprietrio rural poder ser desonerado das obrigaes previstas neste artigo, mediante a doao ao rgo ambiental competente de rea localizada no interior de unidade de conservao de domnio pblico, pendente de regularizao fundiria, respeitados os critrios previstos no inciso III do caput deste artigo.

    Na esfera estadual, a possibilidade de compensao de Reserva Legal em imveis inseridos no interior de UCs pendentes de regularizao fundiria est regulamentada no artigo 8 do Decreto Estadual n 53.939, de 06 de janeiro de 2009:

    Artigo 8 - Para compor o percentual de Reserva Legal por meio da aquisio e doao ao Estado de reas em Unidades de Conservao de Domnio Pblico pendentes de regularizao fundiria devero ser observadas as seguintes condies:I - a rea a ser adquirida e doada ao Estado dever possuir extenso equivalente da rea necessria para compor o percentual de Reserva Legal do imvel e dever estar localizada na mesma microbacia hidrogrfica onde se localiza o imvel rural cuja reserva legal ser objeto de regularizao;

  • 41A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    II - na impossibilidade de regularizao utilizando rea localizada na mesma microbacia hidrogrfica, podero ser aceitas reas localizadas na mesma bacia hidrogrfica, considerando-se no Estado de So Paulo as Bacias Hidrogrficas do Paran e do Atlntico Sudeste;III - em caso de Unidades de Conservao Estaduais, a composio da Reserva Legal por meio da aquisio e doao de reas em Unidades de Conservao estar condicionada aprovao pela Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo - Fundao Florestal, rgo integrante do Sistema Estadual de Florestas - SIEFLOR, da Secretaria do Meio Ambiente, e pela Procuradoria do Patrimnio Imobilirio - PPI, da Procuradoria Geral do Estado. 1 - A Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo - Fundao Florestal dever manter cadastro de propriedades inseridas em reas consideradas prioritrias para o controle, consolidao e gesto das Unidades de Conservao, conforme indicao dos respectivos Planos de Manejo, para a finalidade de orientar a aquisio e doao das reas de que trata o caput. 2 - A Secretaria do Meio Ambiente e a Procuradoria Geral do Estado devero definir, no prazo de 90 (noventa) dias contado da data da edio deste decreto, prazos e procedimentos para a composio da Reserva Legal por meio da aquisio e doao ao Estado de reas inseridas em Unidades de Conservao.[grifos nossos]

    Uma anlise preliminar j constatou que tal instrumento dificilmente ser utilizado no Estado de So Paulo.

    Isto porque a maioria das propriedades rurais que no possuem Reserva Legal averbada se encontra no interior do Estado, ou seja, esto localizadas na Bacia do Paran. E grande parte das UCs de domnio pblico, pendentes de regularizao fundiria, est localizada na Bacia do Atlntico Sudeste, conforme pode ser observado no mapa abaixo:

  • 42 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Mapa 02. UCs e Bacias do Paran e Atlntico Sudeste

  • 43A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    8. A PARCERIA COM A PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

    Simultaneamente criao do NRF na estrutura da Fundao Florestal, foi criada, na Procuradoria Geral do Estado, a Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente - CDMA.

    A CDMA tem por objetivo estabelecer contato mais estreito com o Ministrio Pblico e demais esferas que interagem nas questes de meio ambiente, de modo a superar dificuldades pontuais, evitando, na medida do possvel, discusses judiciais, bem como prestar apoio mais prximo aos rgos encarregados de fiscalizar; licenciar as atividades, primordialmente nas reas especialmente protegidas; alm de fomentar o intercmbio de informaes e experincias entre as vrias unidades da Procuradoria, visando uma atuao mais harmnica e eficaz no campo da defesa do meio ambiente [grifo nosso]15.

    Em dezembro de 2008 foi assinado Convnio entre a Fundao Florestal e a Procuradoria Geral do Estado objetivando a conjugao de esforos e a cooperao tcnica para a otimizao dos procedimentos relativos regu-larizao fundiria nas UCs no Estado de So Paulo.

    Tendo em vista que a Fundao Florestal administra reas que so patrimnio do Estado de So Paulo (as propriedades inseridas nas UCs so patrimnio do Estado de So Paulo, e no da Fundao Florestal, com exceo das propriedades que compem o territrio do Parque Estadual Intervales), gerando uma grande interface de atua-o da PGE neste processo de regularizao fundiria, a assinatura do convnio foi essencial para o estabelecimento de procedimentos e diretrizes entre as duas instituies, no sentido de que as atividades se tornem complementares, e no conflitantes.

    Nas Procuradorias Regionais de Santos e de Taubat que abrangem a maior parte de Municpios do Estado de So Paulo que possuem UCs em seus territrios existem Procuradores designados para atuar apenas no con-tencioso imobilirio, o que demonstra a seriedade e importncia com as quais o assunto vem sendo tratado pela PGE.

    Tambm foram realizados Encontros dos Procuradores que atuam em UCs sob gesto da Fundao Flo-restal, a saber:

    15 Entrevista concedida pelo Coordenador de Defesa do Meio Ambi-ente, Dr. Jaques Lamac, ao Portal do Governo do Estado de So Pau-lo. Fonte: http://www.saopaulo. sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?id=87200

  • 44 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    Parque Estadual da Ilha do Cardoso; Parque Estadual da Serra do Mar Ncleo Cunha; Estao Ecolgica da Juria-Itatins; Parque Estadual Intervales.

    A riqueza destes encontros supera os complexos debates jurdicos medida que coloca os Procuradores em contato direto com as UCs, com a equipe da gesto e com os conflitos existentes, permitindo uma percepo in loco das questes amplamente discutidas em juzo.

    9. RECATEGORIZAO DE UNIDADES DE CONSERVAO

    A partir de 2004, projetos de lei de iniciativa do Poder Legislativo trouxeram propostas de alterao dos limites de UCs (PL Juria-Itatins e PL Jacupiranga).

    Em 2006, a Lei Estadual n 12.406 instituiu o Mosaico de Unidades de Conservao da Juria-Itatins, composto pelas seguintes UCs:

    Estao Ecolgica da Juria-Itatins; Parque Estadual do Itinguu, Parque Estadual do Prelado; Reserva de Desenvolvimento Sustentvel da Barra do Una; Reserva de Desenvolvimento Sustentvel do Despraiado; Refgio de Vida Silvestre Abrigo e Guararitama.

  • 45A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de So Paulo

    Foi proposta Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) em face da referida Lei, cujo julgamento a de-clarou inconstitucional definindo, dentre outros aspectos, que as leis que propem recategorizao de UCs devem ser de iniciativa do Poder Executivo (ADIN n 153.336-0 TJSP).

    Em fevereiro de 2008 foi sancionada a Lei Estadual n 12.810, de iniciativa do Poder Executivo, que insti-tuiu o Mosaico de UCs do Jacupiranga composto pelas seguintes unidades:

    Parque Estadual do Rio Turvo; Parque Estadual Caverna do Diabo; Parque Estadual do Lagamar de Canania; APA do Planalto do Turvo; APA de Cajati; APA do Rio Pardinho e Rio Vermelho; APA dos Quilombos do Mdio Ribeira; RDS Barreiro/Anhemas; RDS dos Quilombos de Barra do Turvo; RDS dos Pinheirinhos; RDS de Lavras; RDS de Itapanhapima; RESEX da Ilha do Tumba; RESEX Taquari.

    Diferentemente da Lei Estadual n 12.406/2006, a Lei Estadual n 12.810/2008 foi de iniciativa do Poder Executivo, razo pela qual no houve propositura de ADIN questionando a constitucionalidade do referido ato normativo.

    Atualmente, a Secretaria do Meio Ambiente e a Fundao Florestal esto elaborando um novo projeto de lei para a criao de um Mosaico no territrio abrangido pela Estao Ecolgica da Juria-Itatins.

    Tambm esto sendo estudadas reas para incluso e outras para redefinio de limites no Parque Estadual da Serra do Mar.

  • 46 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    10. PRXIMOS PASSOS

    Os levantamentos em andamento (Tabela 06) esto sendo finalizados e, atualmente, a Fundao Florestal e a PGE esto estabelecendo os procedimentos e metodologias para realizao das avaliaes, anlises de documen-tao imobiliria e aquisio. Importante ressaltar que o grande volume de documentos que instruem os processos judiciais tambm subsidia a definio de procedimentos e metodologias.

    Tambm esto sendo contratadas as primeiras avaliaes de imveis e definidas as reas para realizao de projetos-piloto de reassentamento de populaes residentes nas UCs.

    Definidas as metodologias e procedimentos, o NRF ter maior agilidade no atendimento das demandas e na execuo dos recursos de compensao ambiental destinados para regularizao fundiria.

  • A REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO NO ESTADO DE MINAS GERAISCharles Alessandro Mendes de Castro

  • Colaboradores Airton Peixoto Fernandes

    Marina Freitas dos Santos

    Ricardo Alves Lage Cabral

    Vinicio Vitor Rodrigues

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, aos meus familiares, todos os amigos da GEREF e do NCA, e demais colegas de trabalho do IEF.

    Ao Dr. Jos Carlos Carvalho, Dr. Humberto Candeias Ca-valcanti, e, principalmente, ao Professor Clio Murilo de Carvalho Valle, que afianou as idias e os ideais de um advogado agrarista, transformando-o em um ambientalista prtico.

    Este captulo, professor, para o senhor, que diante de suas sbias palavras ensina mais que a Biologia, ensina a vida.

    Homenagem a todos os bichos e plantas que, sem partido poltico ou voz, buscam apenas permanecer vivos nesta aldeia global chamada Gaia.

    Parque Estadual do Rio Preto

    Foto: Vinicio Vitor Rodrigues

  • 49A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de Minas Gerais

    INTRODUO

    I - UNIDADES DE CONSERVAO

    Com o advento da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, ficou regulamentado o art. 225, 1, incisos I, II, III, IV e VII da Constituio Federal, dispondo o Estado Brasileiro de regras para a criao e implantao das Unida-des de Conservao existentes no Territrio Nacional.

    A presente lei classifica as Unidades de Conservao - UC estabelecendo o grau de utilidade de cada catego-ria, inclusive definindo quais so as que devem ser obrigatoriamente de domnio e posse pblicos.

    O SNUC, como comumente denominado, sistematiza as unidades de conservao dispostas em todo o territrio nacional, atuando como regulador geral, obedecendo aos preceitos constitucionais de repartio de com-petncia legislativa, concedendo a cada estado membro a faculdade de criar as suas prprias categorias de unidades de conservao, ou ento adequar estas quelas elencadas na norma supracitada.

    O Estado de Minas Gerais, ao longo das ltimas dcadas, preocupado com a conservao dos biomas exis-tentes no Estado, externou esta conduta com a publicao de vrios decretos e leis criando unidades de conservao, sem, contudo, efetivar na sua totalidade a regularizao fundiria de tais unidades.

    Nota-se que este fenmeno de criao sem, contudo, efetivar a regularizao, no um problema s de Mi-nas, mas de todos os estados membros da federao, inclusive do poder pblico federal.

    A criao e implantao de unidades de conservao se fazem necessrias devido grande perda de reas com relevncia ecolgica ocorrida de forma acelerada nos ltimos cinqenta anos, em razo do desenvolvimento de ativi-dades como: agro-industriais, parcelamento do solo urbano, com conseqente perda de reas significativas, principal-mente nas regies sul e sudeste, onde grande parte da cobertura vegetal primitiva encontra-se quase toda devastada.

    Dessa forma, a preservao da biodiversidade, sob a forma de Unidades de Conservao da natureza, visa garantir a perpetuao das espcies, a conservao de recursos naturais como a gua para o abastecimento pblico, alm de representar um cenrio ideal para conscincia ecolgica e cientfica. Da, a necessidade inconteste e urgente de promover a efetiva regularizao fundiria, considerando que este instrumento fundamental para a gesto das unidades, em especial dos Parques, Estaes Ecolgicas e Reservas Biolgicas, que devem ser obrigatoriamente de posse e domnio pblicos.

  • 50 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    1.1 - UNIDADES DE CONSERVAO DE PROTEO INTEGRAL

    Parques, Estaes Ecolgicas, Reservas Biolgicas, Monumentos Naturais e Refgios de Vida Silvestre, so Unidades de Conservao de Proteo Integral, sendo admitido apenas o uso indireto para fins cientficos, de re-creao, educao e lazer. Destas, as trs primeiras devem, por fora da Lei, pertencer integralmente ao Patrimnio Pblico, e a responsabilidade pela administrao e manejo de todas elas deve recair sobre rgos governamentais.

    1.2 SITUAO FUNDIRIA ATUAL DAS UNIDADES DE CONSERVAO

    A maioria dos Parques e Estaes Ecolgicas no Brasil, apesar de j terem sido criados e em alguns casos at mesmo j possurem infra-estrutura administrativa, ainda no se encontram com a situao fundiria resolvida, e suas reas ainda no foram incorporadas ao patrimnio pblico, acarretando problemas institucionais, jurdicos, legais e criminais, tais como:

    Ocorrncia de pores de terras com escrituras originais de grilagens cartorrias, cujo domnio poderia ser do Estado sem a necessidade de indenizaes; Divergncias quanto ao valor das indenizaes pagas nas aes de desapropriao indireta, resultando em indenizaes com valores irreais, inclusive indevidas quando em reas de domnio pblico; Invases de reas no interior das UCs; Especulao monetria das terras; Ausncia de bancos de dados sistematizados e integrados que permitam aes conjuntas entre os rgos responsveis pelas questes fundirias (Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais (ITER/MG), Advocacia Geral do Estado (AGE), Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA), Ministrio da Fazenda e outros); Populaes residentes, que no possuem ttulo de domnio, mas ocupam terras ao longo de vrias geraes, gerando conflito social;

  • 51A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de Minas Gerais

    Falta de georreferenciamento tanto das Unidades de Conservao quanto das reas particulares nela inseridas, que deveriam ser de posse e domnio do Estado; Ausncia de aes discriminatrias capazes de estabelecer as terras de domnio pblico e particulares, diminuindo o quantum a ser indenizado.

    O caso concreto traz aos administradores pblicos vrias questes que implicam a necessidade de se estabe-lecer solues conjuntas entre os rgos diretamente ligados Regularizao Fundiria em UCs, tais como os Ins-titutos Florestais Estaduais responsveis pela gesto das UCs, Institutos de Terras Estaduais, INCRA, ICMBio, IBAMA, Ministrio Pblico e Procuradorias Estaduais e Federais .

    Na prtica interessante adotar alguma medida que envolva a questo social no processo de regularizao fundiria, de forma que sejam elencados todos os lados envolvidos no fulcro da questo abordada, executando com maestria as questes correlatas: de um lado o meio ambiente social, capaz de assegurar ao ser humano condies de desenvolvimento de acordo com os direitos constitucionais difusos; e de outro, a preservao do meio ambiente natural, com a perpetuao de fauna e flora.

    A Constituio Federal, juntamente com a Constituio Estadual, trouxeram amplamente em suas clusulas ptreas, abordagens principiolgicas atinentes obrigao estatal na conjectura de se efetivar a proteo dos direi-tos, principalmente das classes menos favorecidas, o que destarte, asseguraria o reassentamento ou a indenizao de famlias que estariam desenvolvendo atividades de subsistncia dentro das UCs, possuindo direitos referentes gleba inserida independente do direito de propriedade, para fins de desapropriao ou reassentamento. Nestes termos, podemos notar que a simples leitura dos artigos 1, 3, 4, 6, 225 da CF/88, j assegurariam estes direitos por se tratar de princpios.

    No mbito estadual, podemos notar a equivalncia dos princpios acima dispostos, contendo in-clusive implicaes acerca da responsabilizao do administrador pblico na no efetivao dos direitos constitucionais subjetivos, j constantes no prembulo da Carta Magna Estadual, bem como nos artigos 1, 2, 4, 10 e 18 da mesma.

    So vrias as questes envolvidas no caso concreto em Unidades de Conservao que necessitam um maior interesse por parte dos administradores pblicos para no causar celeuma nos princpios constitucionais; so temas pertinentes e propcios para o debate, jurdico, tico e moral, sobre as aes a serem tomadas pelo Estado na efetiva-o dos direitos constitucionais, tanto em seu contexto social, quanto para o contexto ambiental.

  • 52 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    seguir, traaremos alguns dos problemas concretos encontrados nos procedimentos de regularizao fundiria: O primeiro ponto concreto a busca de mecanismos jurdicos mais cleres que possibilitem a

    indenizao pelo Estado, atravs do rgo competente, de reas efetivamente ocupadas dentro de unidades de conservao estaduais, por famlias que utilizem terras presumivelmente devolutas ou no, como meio de subsistncia, as chamadas famlias tradicionais, que, independente de ttulo de domnio, possuem o efetivo uso, gozo e fruio do bem (direito possessrio), necessitando dessa gleba como meio de subsistncia.

    Encontrar solues para famlias que possuem reas apenas com direito de herana, a qual se situa dentro de unidades de conservao que devam ser de posse e domnio pblico, terras estas que foram passadas por seus antepassados, que em alguns casos at possuam registro no Cartrio de Registro de Imveis, mas que devido ao custo elevado no houve o processo de Inventrio. vlido lembrar que, na prtica, os casos encontrados demonstram que os herdeiros em sua maioria no vivem da terra, ficando apenas um ou dois remanescentes da famlia que ainda utilizam a propriedade como seu meio de subsistncia, e que, se aplicarmos a letra fria da lei no ensejo do depsito judicial em nome do esplio, com o pedido de imisso de posse, o dano social ser demasiadamente grande, pois, na medida em que a imisso s atingir a famlia que realmente necessita da rea para sobreviver, acarretando o deslocamento desta, sem que haja condies para fixao de nova moradia, alm de impossibilitar que esta famlia habite outro local em melhores condies de uso.

    Ausncia de mecanismos que viabilizem a compra direta de propriedades inseridas nas unidades de conservao estaduais, que j passaram pelo crivo do processo discriminatrio administrativo, cuja documentao tenha se mostrado apta para aquisio, bem como, definio acerca dos recursos que possam ser utilizados para as indenizaes (compensao ambiental, oramento anual do Estado, etc.).

    Buscar mecanismos que viabilizem a aplicao do dispositivo constitucional no que tange justa e prvia indenizao das reas afetadas pela criao das unidades de conservao, evitando demandas judiciais acerca do valor indenizatrio, alm de que a afetao de uma rea por interesse social abrange a desapropriao no s de propriedade estrito senso, pois a terminologia empregada tambm para direitos e benfeitorias, de forma pela qual o Estado deve se situar na abordagem do tema.

    Possibilidade de indenizao de reas registradas, que em virtude do novo processo de medio, mais preciso, (georreferenciamento) ocorra diferena entre a quantidade de terra descrita no Cartrio

  • 53A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de Minas Gerais

    de Registro de Imveis, e a efetivamente ocupada, desde que respeitadas as divisas e confrontaes descritas no memorial descritivo da matrcula, somando-se a anuncia dos vizinhos, obtendo o limite levantado como certo e eficaz, no trazendo in causu, prejuzos a terceiros, face a acrscimos que o proprietrio poderia normalmente requerer pela via administrativa atravs da retificao de rea no prprio Cartrio de Registro de Imveis, conforme art. 213 da Lei 6.015 de 1973, acrescentada pelas Leis 10.267/00 e 10.931/04.

    Fomentar mecanismos que possibilitem a iseno das taxas cartoriais e impostos incidentes sobre certides e transferncias de imveis para os rgos estatais envolvidos no mbito da regularizao fundiria, pois a iseno cartorial, se entendida como para rgos da administrao direta, s abarcaria as secretarias estaduais, ficando os entes pblicos como o IEF (Instituto Estadual de Florestas), fora desta definio legal.

    Instrumentalizar mecanismos que viabilizem a aplicao dos preceitos legais contidos na Lei Federal 9.985/00, regulamentada pelo Decreto 4.340/02, alterado pelo Decreto 5.566/05, que viabilizem o reassentamento de famlias tradicionais.

    Carrear a possibilidade de desapropriao direta efetiva, com a confirmao da rea dentro da UC, implementando a desburocratizao do procedimento, nos casos em que o prprio particular concorde com a desapropriao, com a medio, com os procedimentos e o preo sugerido pela avaliao efetuada pelo setor especfico ligado ao patrimnio imobilirio do Estado, adotando-se a pesquisa cartorial vintenria, de forma que, no corpo da escritura, fique bem explcito a forma de aquisio atravs de desapropriao administrativa, uma vez que esta forma de aquisio originria, no acarretando nenhum nus futuro ou passado acerca da gleba a ser adquirida em nome da autarquia, vez que esta possui imunidade no recolhimento dos impostos referentes ao imvel rural.

    Assim temos que o IEF, buscando resolver alguns destes conflitos, inicia atravs da presente pea, indicar aos demais rgos correlatos os procedimentos que viabilizaro a regularizao fundiria de forma mais clere e justa.

  • 54 REGULARIZAO FUNDIRIA EM UNIDADES DE CONSERVAO AS ExpERINCIAS DOS EStADOS DE SO pAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO

    2 - HISTRICO DO INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - IEF, E SUAS UNIDADES DE CONSERVAO

    o Instituto Estadual de Florestas (IEF) uma autarquia vinculada Secretaria de Estado de Meio Am-biente e Desenvolvimento Sustentvel SEMAD, com sua criao ocorrida em 5 de janeiro de 1962 pela Lei estadual 2.606, sendo atualmente regulamentado pelo Decreto Estadual 44.807, de 12/05/2008, cuja misso assegurar o desenvolvimento sustentvel, atravs da execuo das polticas florestal e de proteo da biodiversidade.

    O Instituto tem por finalidade executar a poltica florestal do Estado e principalmente promover a pre-servao e a conservao da fauna e da flora, conjugado com o desenvolvimento sustentvel dos recursos naturais renovveis e da pesca, bem como a realizao de pesquisa em biomassa e biodiversidade.

    Com a Lei Delegada n 158, de 25 de janeiro de 2007, restou ao executivo a faculdade de alterar algumas se-cretarias e a estrutura bsica de suas autarquias, dentre elas o IEF, que sofreu alteraes partir do Decreto 44.466 de 16 de fevereiro de 2007, sendo extinta a diretoria de Pesca e Biodiversidade e sendo criadas duas novas direto-rias: uma de Biodiversidade (a qual se responsabilizou por pesquisas, fauna e pesca) e uma seguinte denominada Diretoria de reas Protegidas (responsvel pela criao, regularizao e gesto destas no Estado de Minas Gerais).

  • 55A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de Minas Gerais

    3 - CRIAO DA GERNCIA DE REGULARIZAO FUNDIRIA E O APOIO DO NCLEO DE COMPENSAO AMBIENTAL

    Antes de entrarmos na criao de uma gerncia especfica no Estado de Minas para a regularizao fundiria das reas protegidas no Estado, deveremos destacar outra conquista pioneira do Estado com a instalao de um ncleo especfico para tratar de assuntos referentes compensao ambiental.

    Aps a regulamentao do SNUC atravs do Decreto Federal 4.340/02, alguns estados comearam a se mobilizar para a cobrana da compensao ambiental estipulada no art. 36 da Lei 9985/00, a qual dispunha que os empreendi-mentos, ao se instalarem, deveriam indenizar sociedade todos os impactos no mitigveis causados por suas atividades, e estes recursos dever-se-iam ser aplicados prioritariamente em regularizao fundiria de unidades de conservao, alm da elaborao de planos de manejo, aquisio de bens e equipamentos para UCs e criao de novas unidades.

    No caso de Minas, o governo estadual celebrou, junto Unesco, um convnio no intuito de promover a im-plementao da compensao ambiental no Estado, ficando a UNESCO responsvel pela cesso de profissionais especialistas e o Estado sendo o garantidor de toda a infraestrutura necessria para a instalao da equipe, denomi-nada de ncleo de compensao ambiental.

    Com o sucesso do ncleo na elaborao de metodologia de cobrana e verificao da incidncia de compen-sao ambiental nos processos de licenciamento, notou-se um grande afluxo financeiro no caixa do IEF com todos os valores vinculados atividades especficas em unidades de conservao, com destaque para aes de regularizao fundiria de UCs.

    A partir deste ponto comea a cair por terra o mito de que os Estados no implementavam a regularizao fundiria de suas UCs devido a falta de recursos, pois uma vez com valores em caixa o que se viu na prtica eram outros inmeros problemas que deixavam a falta de recurso como apenas um detalhe.

    Nesta esteia destacamos vrios problemas fundirios encontrados que impediam a realizao clere da re-gularizao fundiria caso fossem usados os meios at ento existentes, que se resumiam desapropriao pura e simples, ou com aes discriminatrias que em muitos casos apenas agravavam o problema de regularizao ao passo que titulava a terra supostamente devoluta em nome do Estado, mas no retiravam os seus ocupantes.

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    Como se infere, o problema torna-se outro. Uma vez possuindo recursos, como a administrao pblica faria para possibilitar a aplicao destes em regularizao fundiria, vez que os procedimentos at ento utilizados no eram suficientes para resolver o imbrglio da regularizao fundiria das unidades de conservao

    A soluo encontrada foi a estruturao de uma equipe inicialmente composta apenas de um consultor e um auxiliar administrativo, que com os resultados positivos encontrados insuflou o Estado a estruturar uma equipe de fato para enfrentar abertamente os desafios da regularizao fundiria, sendo ento criada a GEREF Gerencia de Regularizao Fundiria, ligada diretamente Diretoria de reas Protegidas.

    A grande mudana de paradigma nos procedimentos at ento adotados pelo Estado foi introduzida pela filosofia de no mais criminalizar o proprietrio rural afetado por unidade de conservao de proteo integral, at que sua condio fosse analisada com um vis voltado justia social conjugado com a preservao ambiental.

    Fruto dessa nova filosofia a GEREF estabeleceu na sua gesto algumas propostas dentre as quais destaca-mos de incio a mudana do conceito de regularizao fundiria, antes resumida apenas na aquisio de uma gleba inserida na UC pura e simplesmente, contendo neste novo projeto as interfaces com a agrimensura, a biologia, a agronomia e o direito:

    Regularizao fundiria de UC um novo conceito: A regularizao fundiria, como instrumento de implantao de unidade de conservao, consiste no s, em delimitar o espao territorial legalmente institudo pelo Poder Pblico, como rea ambientalmente protegida, mas, tambm, promover a discriminao fundiria da unidade, identificando os posseiros e proprietrios inseridos dentro dos seus limites, promovendo a readequao da utilizao, quando no for a unidade de conservao de posse e domnios pblicos, ou, quando assim determinar a lei, promover a desapropriao ou reassentamento das famlias de acordo com o grau de fixao e utilizao destas.

  • 57A regularizao fundiria em unidades de conservao no Estado de Minas Gerais

    4 - FONTES DE RECURSOS DISPONVEIS

    Diante do novo conceito de regularizao, houve para a atividade finalstica de aquisio de terras um afluxo de receitas que ajudavam a formar um fundo estatal destinado em parte para a regularizao fundiria, composto de Reposio Florestal, Taxa Florestal, Recursos Diretamente Arrecadados, Recursos Hdricos, sempre utilizando-se do saldo do exerccio final de cada ano, uma vez que prioritariamente estes davam cobertura s despesas (custeio e investimentos) fixas e de campo da Autarquia.

    4.1 COMPENSAO AMBIENTALOs recursos para regularizao fundiria constantes da Proposta Oramentria Anual do IEF com a

    finalidade bsica para a regularizao fundiria so provenientes da Lei Federal n 9.985/2000 Receita de Compensao Ambiental, que no caso de Minas Gerais gerido por um rgo colegiado ligado ao Conselho de Poltica Ambiental COPAM, denominado de CPB Cmara de Proteo da Biodiversidade, a qual aprova um plano operativo anual elaborado em conjunto pelo Ncleo de Compensao Ambiental e pela Gerncia de Regularizao Fundiria.

    A compensao ambiental abarcada no SNUC se descreve como um instrumento de poltica pblica que reflete o papel prioritrio do Estado como agente propulsor da elevao do patamar de qualidade de vida das populaes, na medida em que intervm junto aos agentes econmicos, para a incorporao dos custos sociais da degradao ambiental em seus custos globais.

    A medida jurdica da compensao possui carter indenizatrio, petrificando os princpios do usurio pa-gador, da responsabilidade objetiva, da preveno e da restaurao natural, princpios estes ratificados em recente deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal o qual julgou procedente a cobrana, alterando apenas a forma de sua valorao.

    Basicamente a compensao ambiental pode ser utilizada para as seguintes proposies: Regularizao fundiria e demarcao de terras; Elaborao, reviso ou implantao de plano de manejo;

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    Aquisio de bens e servios necessrios implantao, gesto, monitoramento e proteo da unidade, compreendendo sua zona de amortecimento;

    Desenvolvimento de estudos necessrios criao de nova unidade de conservao; e Desenvolvimento de pesquisas necessrias para o manejo da unidade de conservao e rea de

    amortecimento.

    4.2 PROJETO ESTRUTURADOR E RECEITA DO TESOUR