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Portugal mais Competitivo REINDUSTRIALIZAçãO Plano de Formação Financeira Qualificação e vida ativa Soluções financeiras para PME’s Revista de Empresários e Negócios Trimestral • Julho / Agosto / Setembro 2012 • N.º 93 • 3,5€ Reindustrialização para o crescimento e a competitividade na Europa PROGRAMA DA CONFERêNCIA NESTA EDIÇÃO

ReindustRialização Portugal mais Competitivo - cip.org.pt · calização industrial para a China e para ou - ... do euro afirmou que é imperativo quebrar o círculo vicioso entre

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Portugal mais Competitivo

ReindustRialização

Plano de Formação Financeira

Qualificação e vida ativa

Soluções financeiras para PME’s

Revista de Empresários e NegóciosTrimestral • Julho / Agosto / Setembro 2012 • N.º 93 • 3,5€

Reindustrialização

para o crescimento e a

competitividade na europa

Programa

da ConferênCianesta ediÇÃo

António Saraiva Presidente da CiP

1.A CIP dedica esta edição da Revista Indústria à reindustrializaçãoO tema é da maior oportunidade. No dia 26 de outubro, a CIP e o Ministério da Economia organizam uma conferência de alto nível so-bre o tema “Reindustrialização para o Cresci-mento e a Competitividade na Europa”.Como bem refere Luis Mira Amaral, que coordena este dossiê da Revista, “a deslo-calização industrial para a China e para ou-tros países emergentes foi longe de mais”, pois “há uma ligação entre produção indus-trial, desenvolvimento tecnológico e inova-ção”, uma vez que a deslocalização da pro-dução implica também a deslocalização da capacidade de desenvolvimento de novos produtos, da inovação e da tecnologia.Este caminho tem que ser invertido, pois a melhoria da competitividade, o cresci-mento económico e a geração de emprego dependem da aposta nos bens e serviços transacionáveis.

2.A preparação do Orçamento do Estado para 2013 tem sido um exercício muito acidentadoDepois do anúncio das principais medi-das do Governo – orientadas mais para o aumento dos impostos e para o cresci-mento da receita fiscal do que para a re-dução da despesa pública, continuando a ignorar que a resolução dos problemas da economia portuguesa não se esgota na via orçamental e persistindo no erro de não tomar medidas que gerem confian-ça no investimento e estimulem o cres-cimento económico -, assistiu-se a um avolumar da tensão social que, se deixar de se manter nos termos cívicos e mo-derados em que se desenvolveu, poderá comprometer o sucesso do programa de ajustamento.Uma das medidas anunciadas pelo Primei-ro-Ministro no dia 7 de setembro foi o au-mento da TSU para os trabalhadores em 7 pp e a diminuição para as empresas em 5,75 pp.

A CIP, no âmbito do Conselho Estratégico para a Internacionalização da Economia e do anterior Conselho para a Promoção da Internacionalização, sempre defendeu uma redução significativa da TSU para as empresas produtoras de bens e serviços transacionáveis, nomeadamente as mais expostas à concorrência internacional, abrangendo indústria em geral, transportes e turismo (hotelaria e restauração).Todavia, tendo a medida sido anunciada pelo Primeiro-Ministro na forma textual de “aumentar a contribuição para a Segurança Social exigida aos trabalhadores do sector privado para 18%, o que permitirá, em con-trapartida, descer a contribuição exigida às empresas também para 18%”, resultou claro que os impactos deste anúncio, feito desta maneira, seriam muito sensíveis no domínio dos equilíbrios sociais que há que, a todo o custo, preservar, sob pena de, não o conseguindo, comprometer seriamente o processo de ajustamento a que a econo-mia portuguesa está subordinada.Ora, o alargado apoio social que o referido processo tem alcançado constitui um ativo de elevado valor, embora dificilmente cap-tável por modelos económicos, que não pode ser alienado.Logo após a comunicação feita ao País pelo Primeiro-Ministro, a CIP considerou “positiva a redução das contribuições para a segurança social a cargo dos emprega-dores” mas “constata que, infelizmente, esta medida só foi tornada possível pelo aumento das contribuições a cargo dos trabalhadores.”Mantivemos e mantemos, ao longo deste processo, a mesma apreciação e avalia-

ção: questionámos a eficácia global e a eficiência que o modelo de desvalorização fiscal anunciado teria. A eficácia, devido ao agravamento da contração do mercado doméstico que provocaria, com reflexos muito negativos nas PME de menor dimen-são que trabalham essencialmente para o mercado interno. A eficiência, pelo facto de, não prevendo qualquer seletividade na redução das contribuições a cargo das em-presas, implicar, em alguns setores, custos para as finanças públicas que não se reper-cutiriam em efeitos favoráveis à economia como um todo.A CIP tem participado nas discussões em sede de Concertação Social com que o primeiro-ministro se comprometeu e espe-ra que, do diálogo social, possam resultar medidas ponderadas e exequíveis que con-tribuam para o cumprimento do programa de ajustamento, com repartição equilibrada dos sacrifícios, redução expressiva da des-pesa pública e promoção do crescimento económico.Os agentes económicos têm que saber qual é o caminho que devem percorrer e o Governo tem que dar sinais muito claros sobre o que pensa e sobre como atua. A redução da TSU para as empresas é decisiva para o reforço da competitividade das empresas de bens e serviços transa-cionáveis expostas à concorrência interna-cional, bem como ao turismo em geral.Por isso, a CIP espera que o Primeiro-Mi-nistro apresente não as razões pelas quais a proposta de redução da TSU para as em-presas deve ser abandonada pelo Governo mas, isso sim, sobre as contrapartidas a encontrar para sustentar essa redução.

Editorial

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Aposta nos bens e serviços transacionáveis

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diretorantónio saraiva

diretor adjuntodaniel soares de oliveira

Conselho editorialantónio alfaiateGregório Rocha novoJaime BragaJoão Mendes de almeidaManuela Gameironuno BiscayaPatrícia GonçalvesPedro CapuchoPedro Correiasofia Baião Horta

secretariadoFilomena MendesFrancisco Carrera

administração e PropriedadeCiP – Confederação empresarial de PortugalPraça das indústrias1300-307 lisboatel.: 213 164 700 Fax: 213 579 986e-mail: [email protected]: 500 835 934

n.º de registo na eRCs - 108372depósito legal 0870 - 9602

Produção e edição

Bleed - sociedade editorial e organização de eventosav. da República 41, 3.º andar – 3051050-187 lisboatel.: 217 957 045 / [email protected]

diretor editorialMiguel [email protected]

diretor ComercialMário [email protected]

gestor de meiosdiogo Camacho

editor fotográficosérgio saavedra

design e PaginaçãoJosé santos

impressãosocingrafRua de Campolide, 133 - 1.º dto.1070-029 lisboa

Periodicidadetrimestral

tiragem10.000 exemplares

Editorial

Conjuntura

Atualidade CIP

Conferência- Programa da Conferência: “Reindustrialização para o crescimento e a competitividade na Europa”

Dossiê - Reindustrialização- Portugal mais competitivo

Artigos de Opinião de Luís Mira Amaral, Álvaro Santos Pereira, Aníbal Santos, Henrique Neto, Veiga Simão, José Manuel Fernandes, Carlos Matias Ramos, Daniel Bessa, Helder Gonçalves, Gonçalo Lobo Xavier, Felix Ribeiro, Miguel Flórido, José António Barros, Pinto de Sá, Luís Portela, José Carlos Caldeira, Clemente Pedro Nunes e Paulo Martins

Qualificação e Vida Ativa- Qualificação é uma responsabilidade nacional, por José de Oliveira Guia- Pensar na educação de adultos de uma forma holística, por Gonçalo Xufre Silva

Formação Financeira- O plano nacional de formação financeira

Financiamento PME- Soluções financeiras para PME, por Susana Caetano

Indústria Farmacêutica- Caminho perigoso, por João Almeida Lopes

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Conjuntura económica ENVOLVENTE INTERNACIONALNos dias 28 e 29 de junho realizou-se uma Cimeira Europeia (reunião do Conselho Eu-ropeu e do Eurogrupo) considerada decisiva para o futuro do euro. No dia 28, o Conselho Europeu acordou as principais linhas do Compacto para o Cresci-mento e Emprego (enquadrado no âmbito da estratégia Europa 2020).Nesse dia foi ainda discutido o relatório pre-liminar “Em Direção a Uma Genuína União Económica e Monetária”, preparado pelo Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, em cooperação com os presi-dentes da Comissão Europeia, do Europgru-po e do BCE. Este relatório propõe um for-talecimento da arquitetura da UEM ao longo da próxima década com vista a assegurar a estabilidade e uma prosperidade sustentada na Europa. Esta visão será realizada, segun-do o relatório, através de um enquadramento integrado para o setor financeiro, para a polí-tica orçamental e para a política económica.Segundo as conclusões da Cimeira, o Pre-sidente do Conselho Europeu foi convidado a desenvolver, em estreita colaboração com os Presidentes da Comissão, do Eurogrupo e do BCE, um roteiro específico e calendari-zado para a consecução de uma verdadeira União Económica e Monetária. Será analisa-do o que pode ser feito no âmbito dos Trata-dos em vigor e as medidas que exigirão uma alteração dos Tratados. Em outubro de 2012 será apresentado um relatório intercalar e, antes do final do ano, um relatório final.No dia 29, a declaração da Cimeira da área do euro afirmou que é imperativo quebrar o círculo vicioso entre os bancos e as dívidas soberanas e que a Comissão apresentará propostas tendo em vista a criação de um mecanismo único de supervisão, a serem analisadas pelo Conselho com urgência até final de 2012. Quando estiver efetivamente estabelecido um mecanismo único de super-visão dos bancos da zona euro que envol-va o BCE, o MEE (Mecanismo Europeu de Estabilização) poderá, após decisão tomada nos termos aplicáveis, ter a possibilidade de

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recapitalizar diretamente os bancos. Tal de-penderia de uma condicionalidade adequada e seria formalizada num Memorando de En-tendimento.A declaração referiu também a necessidade de uma rápida conclusão do Memorando de Entendimento em anexo ao apoio financeiro à Espanha com vista à recapitalização do seu setor bancário, e indicou que a assistência financeira será prestada pelo FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) até que o MEE esteja operacional, sendo então trans-ferida para o MEE sem este adquirir um es-tatuto preferencial. Foi ainda afirmado o firme empenho em fazer o que for necessário para assegurar a estabilidade financeira da área do euro, recorrendo, em especial, aos instru-mentos existentes do FEEF e do MEE (onde se inclui a compra de dívida nos mercados) de uma forma flexível e eficaz para estabili-zar os mercados, em relação aos Estados--Membros que respeitem as respetivas reco-mendações específicas por país e os demais compromissos assumidos. Estas condições deverão ficar refletidas num Memorando de Entendimento. O BCE deu o seu acordo para atuar como um agente do FEEF/MEE na condução de operações de mercado.Os resultados da Cimeira Europeia foram

bem recebidas pelos mercados financeiros, com destaque para a descida muito signifi-cativa das yields dos países sob pressão nos mercados de dívida, assim como para a re-cuperação da cotação do euro.Na reunião de 7 de julho, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu em 0.25 pontos per-centuais as suas taxas de juro diretoras, para novos mínimos históricos (para 0.75%, no caso da taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento).No dia 16 de julho, o FMI reduziu as suas previsões de crescimento do PIB mundial em volume para 3.5% em 2012 e 3.9% em 2013 (ver Gráfico 1), devido ao recrudesci-mento das tensões financeiras relacionadas com a dívida soberana europeia e à expan-são abaixo do previsto em várias economias emergentes. Nas economias avançadas, a previsão de crescimento em 2012 manteve--se em 1.4% e a de 2013 foi reduzida para 1.9%. Apesar de tudo, a deterioração das perspetivas de crescimento da economia mundial acabou por ser bastante limitada por causa da evolução acima do esperado no primeiro trimestre deste ano em vários países (sobretudo da Europa, na sequên-cia do programa de empréstimos a 3 anos do BCE).

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inconstitucionalidade da participação do país no MEE (que poderá, assim, entrar em vigor a partir de 8 de outubro) e no Tratado Orça-mental Europeu, sustentando que não ferem as atribuições do Parlamento.Um dia depois, a Reserva Federal anunciou novas medidas de estímulo para reforçar a recuperação da economia, de modo a gerar uma melhoria sustentada das condições de emprego. A autoridade monetária decidiu ainda que vai manter as taxas de juro “exce-cionalmente baixas pelo menos até meados de 2015”, em vez de até finais de 2014.

COTAÇÕES INTERNACIONAISA cotação média mensal do euro face ao dó-lar dos EUA recuou pelo quinto mês seguido em julho (para 1.2288 dólares por euro, me-nos 1.9% que em junho), a refletir os riscos acrescidos para a zona euro centrados na Espanha, Itália e Grécia. A perspetiva de um plano de compra de dívida do BCE apoiado pela Alemanha permitiu uma recuperação da cotação em agosto (para 1.24 dólares por euro – ver Gráfico 2), um movimento que prosseguiu em setembro (até 1.291 dólares por euro no dia 13) em face do anúncio deta-lhado do programa.O preço médio do barril de brent registou uma forte recuperação em julho (subida men-sal de 7.9%, para 103.14 dólares, após um mínimo de dois anos e meio em junho – ver Gráfico 3), a traduzir a aproximação do em-bargo da UE ao Irão e, sobretudo, a redução das taxas de referência do Banco Central da China e a expectativa de mais medidas para contrariar o abrandamento económico. A subida acentuou-se em Agosto (9.9%, para 113.34 dólares), a refletir as tensões no Mé-dio Oriente. A cotação prosseguiu em alta em setembro (até 116.79 dólares no dia 13), reagindo em alta ao programa de compra de dívida do BCE e à perspetiva de novos estí-mulos económicos da Reserva Federal.

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De qualquer modo, os riscos descendentes são ainda muito grandes e estão associados sobretudo à possibilidade de adiamento ou insuficiência de medidas para travar a crise de dívida europeia, cuja resolução deverá estar no “topo das prioridades”, tendo sido sendo assumido no cenário base que as autoridades europeias serão capazes de adotar as políticas adequadas para melhorar gradualmente as condições financeiras na periferia da zona do euro. O FMI conside-rou as decisões da Cimeira Europeia de ju-nho um passo na direção certa. Nos EUA, o FMI considera ser essencial um acordo para prolongar os cortes de impostos e reverter alguns cortes automáticos de despesa (que poderiam levar a um corte de 4% do PIB no défice estrutural), de modo a evitar um colap-so orçamental e o congelamento da atividade económica em 2013, bem como a adoção de um programa de consolidação a médio prazo credível.A partir do dia 23 de julho, a crise de dívida soberana europeia registou um novo agra-vamento, refletido no forte aumento da ins-tabilidade dos mercados de dívida pública. O regresso da troika à Grécia faz temer uma nova reestruturação da dívida ou a saída do euro. Na Espanha, três regiões autonómicas pediram acesso a um fundo de liquidez cria-do pelo Governo devido a dificuldades de tesouraria, o que fez subir as yields espa-nholas para níveis cada vez mais insusten-táveis (acima de 7.5% no prazo de 10 anos) e a apontar para a iminência de um pedido de resgate.No dia 26 de julho, o Presidente do BCE, Mario Draghi, afirmou que o “BCE fará o que for necessário para preservar a zona euro” e “acreditem em mim, será suficiente”, reiteran-do que o euro é “irreversível”. No dia 2 de agosto, o Presidente do BCE anunciou, na reunião de política monetária realizada nesse dia, que estava em estudo a apresentação de um programa de compra de dívida pública no mercado secundário para os países que solicitassem ajuda no âm-bito dos fundos de resgate existentes (FEEF e o sucessor MEE) com a condicionalidade associada.Este anúncio conduziu a uma descida signifi-cativa das yields dos países periféricos após a concordância do Governo da Alemanha, no dia 6, relativamente à estratégia do Presi-dente do BCE, Mario Draghi.O novo programa de compra de dívida do BCE, designado de “transações monetárias diretas”, foi anunciado e detalhado por Ma-rio Draghi na reunião de política monetária do BCE de 6 de Setembro. Estas transa-ções têm como principal objetivo preservar a

transmissão e unidade da política monetária na zona euro (recaindo, assim, no âmbito do mandato do BCE) e compreendem a com-pra ilimitada de títulos de dívida pública com maturidade residual entre 1 a 3 anos no mer-cado secundário para os países que requei-ram ajuda no âmbito dos fundos de resgate existentes (FEEF e o sucessor MEE) tendo associado um programa de condicionalidade exigente e efetiva com a participação do FMI e que preveja a possibilidade de compra de dívida no mercado primário. Essa condicio-nalidade pode ter a forma de um programa de ajustamento macroeconómico comple-to ou ser um programa preventivo (linha de crédito com condições especiais). As com-pras de títulos (em que o estatuto de credor do BCE será o mesmo de qualquer privado) terminarão assim que os objetivos do BCE forem atingidos ou houver incumprimento do programa de ajustamento ou preventivo por parte do país em causa. As compras serão consideradas em futuros pedidos de ajuda, mas também para os países já sob programas de ajustamento (como é o caso de Portugal) quando estes começarem a re-cuperar o acesso aos mercados. É também garantida a esterilização das operações, de modo a assegurar um impacto líquido nulo sobre a massa monetária da zona euro, e a divulgação dos valores agregados com pe-riodicidade semanal e dos valores por país mensalmente.O Governo da Alemanha anunciou o seu apoio ao programa apresentado pelo BCE, conside-rando que cabe dentro do seu mandato e que o caráter ilimitado das compras visa apenas evitar dar um alvo aos especuladores, distan-ciando-se assim da posição do Banco Central alemão e do seu Presidente, que foi o único a votar contra a medida no seio do Conselho de Política Monetária do BCE.No dia 12 de setembro, o Tribunal Constitu-cional da Alemanha indeferiu as queixas de

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conjuntura

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PORTUGALNo dia 11 de setembro, a troika constituída pela Comissão Europeia, FMI e BCE anun-ciou a conclusão com parecer favorável da quinta avaliação regular do PAEF (Progra-ma de Assistência Económica e Financeira a Portugal), considerando que o programa continua a progredir de forma globalmen-te favorável. A previsão de variação do PIB em 2012 está em linha com o previsto (-3% em termos reais), apesar da deterioração da conjuntura externa. As exportações estão a comportar-se melhor do que o esperado e a rápida redução do défice externo contribui para aliviar as restrições de financiamento externo. Contudo, a subida do desemprego, a redução do rendimento e uma mudan-ça na base fiscal estão a penalizar a receita fiscal. Neste contexto, o Governo precisa de estabelecer políticas de consolidação orçamental que não penalizem a economia, proceder a uma rápida implementação das reformas estruturais com vista a um cres-cimento sustentado e, ao mesmo tempo, manter um consenso político e social alar-gado. A previsão de variação do PIB para 2013 foi revista em baixa para -1% (face a 0.2% na anterior revisão do PAEF), embora se preveja uma recuperação da atividade a partir do segundo trimestre desse ano. No que se refere às metas orçamentais, a troi-ka cumpriu a promessa de deixar funcionar parcialmente os estabilizadores automáticos e o fim da situação de défice excessivo foi adiado por um ano, com as metas do défice orçamental em percentagem do PIB a pas-sarem de 4.5% para 5% em 2012 e de 3% para 4.5% em 2013, estabelecendo-se um valor de 2.5% em 2014 (em consequência, o rácio da dívida pública no PIB deverá atingir um pico de quase 124% em 2014 e diminuir significativamente nos anos subsequentes). Segundo a troika, as metas revistas permi-tirão ao Governo o desenho e implementa-ção de medidas orçamentais sãs ao mesmo tempo que amortece os custos económicos e sociais do ajustamento.Contudo, a prossecução das novas metas exigirá medidas adicionais de consolidação, tendo sido acordadas medidas permanentes do lado da despesa e da receita para atingir o défice de 2013, incluindo as necessárias para ter em conta o recurso a medidas tem-porárias em 2012. Foi ainda referido que o Governo pretende reduzir as contribuições sociais das entidades patronais utilizando as medidas para compensar a inconstitucionali-dade dos cortes de subsídios de funcionários públicos e pensionistas (anunciada a 5 de ju-lho pelo Tribunal Constitucional).No dia 9 de setembro, o Primeiro-ministro

comunicou que a compensação da redução das contribuições sociais dos empregadores (de 23.75% para 18%) e a restituição de um subsídio aos funcionários públicos será feita através da subida da contribuição social dos trabalhadores (de 11% para 18%), embora com proteção dos menores rendimentos (em moldes a modular em sede de concertação social), proporcionando ainda um exceden-te de 500 milhões de euros para reforçar as contas da Segurança Social.No dia 11 de setembro, o ministro das finan-ças detalhou as medidas já anunciadas pela troika e pelo primeiro ministro e prestou es-clarecimentos adicionais.Quanto a dados de conjuntura, no dia 7 de setembro o INE confirmou, em segunda es-timativa, os valores de queda real do PIB do segundo trimestre (variação de -3.3% em ter-mos homólogos e de -1.2% em cadeia, após -2.3% e -0.1% no trimestre anterior, respeti-vamente – ver Gráfico 4), que traduzem um agravamento muito significativo face ao pri-meiro trimestre.O detalhe quantificado dos dados, disponibi-

lizado no dia 7, mostra que o reforço da que-bra homóloga do PIB teve origem na evolu-ção mais negativa da procura interna (queda real de 7.6%, após 6.1% no primeiro trimes-tre), cujo contributo para a variação do PIB passou de -6.4 para -7.9 pontos percentuais, uma evolução que foi ligeiramente mitigada pela subida do contributo da procura externa líquida de 4.1 para 4.7 pontos percentuais. A melhoria da procura externa líquida decorreu da queda mais acentuada das importações (variação de -8.1%, face a -3.8% no primeiro trimestre), já que as exportações registaram um abrandamento apreciável (de 7.9% para 4.3%, a variação mais baixa desde o final de 2009), mas mantendo ainda uma evolução bastante positiva. Dentro da procura interna, o maior agravamento da descida homólo-ga ocorreu no investimento (de 12.8% para 18.7%), seguido do consumo público (de 1.8% para 3.9%) e do consumo privado (de 5.6% para 5.9%). A impedir uma evolução mais negativa do consumo privado esteve a redução da quebra dos bens duradouros (de uma variação de -26.3% para -22.3%, ten-

do-se registado um agravamento de -3.4% para -4.2% nos bens não duradouros), que têm sofrido um recuo pronunciado no con-texto das medidas de austeridade.Salienta-se ainda o agravamento da quebra homóloga do emprego (na ótica da Contabili-dade nacional) de 3.6% no primeiro trimestre para 4.6% no segundo.Dados mais recentes, do indicador coinciden-te do Banco de Portugal (mês de julho) e do indicador de clima económico do INE (meses de julho e agosto) sugerem uma queda menos acentuada da atividade no terceiro trimestre.No que se refere à atividade industrial, realça--se, em julho: (i) a variação homóloga de -0.1% na produ-ção industrial (-4.7% em junho; dados ajus-tados de efeitos de calendário) e de -3.8% no volume de negócios, que se repartiu entre 3% no mercado externo e -8.2% no nacional (-2.3%, 5.3% e -7.5% em junho, respetiva-mente) – ver Gráfico 5. As variações médias anuais situaram-se em -4.3% no índice de produção e -0.6% no volume de negócios, incluindo 9.1% no mercado externo e -6.6% no mercado nacional;(ii) a variação homóloga de -7.4% no trimes-tre até julho das novas encomendas indus-triais (-4.7% no segundo trimestre), incluindo variações de -16.4% no mercado nacional (-13.2%) e de -0.4% no mercado externo (1.7%) – Gráfico 6. Apesar da ligeira quebra das encomendas do exterior, espera-se que o mercado externo continue a ser o principal suporte da atividade industrial, amortecendo o forte ajustamento no mercado doméstico.No segundo trimestre, a taxa de desemprego nacional subiu para um novo máximo históri-co de 15% (Gráfico 7), traduzindo um aumen-to de 2.9 p.p. em termos homólogos e de 0.1 p.p. em cadeia (nota: os dados não são corrigidos de sazonalidade, que influencia a evolução trimestral). A população desempre-gada situou-se em 826.9 mil pessoas, repre-sentando um acréscimo homólogo de 22.5% e trimestral de 0.9% (mais 151.9 mil e 7.6 mil pessoas, respetivamente).A taxa de inflação homóloga medida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC) au-mentou pelo segundo mês consecutivo em agosto, para 3.1% (face a 2.8% em julho e 2.7% em junho), após ter atingido um míni-mo de dois anos e meio em junho. Excluindo a energia e os bens alimentares, a variação homóloga subiu para 1.4% (1.3% em junho). A variação média anual do IPC manteve-se em 3.3%. O comportamento do IHPC foi si-milar ao do IPC (variação homóloga de 3.2% e média anual de 3.3%).

CIP - DIReçãO De ASSuNtOS eCONóMICOS (elaborado com informação até 14/09/2012)

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atualidadE ciP

A CIP face às medidas orçamentais anunciadas em setembroReagindo às medidas anunciadas em 7 de setembro pelo Primeiro-Ministro e detalhadas depois, em 11 de setembro, pelo Ministro das Finanças, a CIP emitiu dois comunicados (que podem ser consultados em www.cip.org.pt) nos quais expressou a sua posição relativamente à estratégia orçamental delineada pelo Governo

Nestes comuNicados, a CIP reco-nheceu a necessidade de consolidação das finanças públicas e os fatores que condicio-nam o Governo na prossecução deste obje-tivo, nomeadamente:• As dificuldades que, desde o início do Pro-grama de Ajustamento, se têm verificado no reequilíbrio do saldo orçamental, e que têm implicado medidas de austeridade muito mais severas do que o previsto na primeira versão do Programa.• As dificuldades adicionais que o acórdão do Tribunal Constitucional implicou, ao con-siderar inconstitucional a supressão dos subsídios de férias e de natal dos trabalha-dores do setor público e dos pensionistas, acima de um determinado nível de rendi-mentos.Contudo, a CIP criticou o novo desvirtua-mento de uma estratégia que visava com-bater o desequilíbrio orçamental através da redução do peso do setor público na economia, mais do que pelo aumento das receitas.De facto, o Governo não procedeu a uma definição rigorosa, quantificação e calenda-rização de novas medidas de redução da despesa.Pelo contrário, na opinião da CIP, as novas medidas anunciadas, significam que o Go-verno insiste numa estratégia de ajustamento das finanças públicas pelo lado da receita, resultando previsivelmente em menos inves-timento, numa reforçada contração da eco-nomia e numa menor competitividade fiscal.A CIP reafirmou, a este propósito, que não será possível atingir os objetivos propostos pela via de um novo aumento da carga fiscal sobre a economia, que dificilmente terá re-percussões na receita arrecadada.

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Comentário da CIP à comunicação do Primeiro-Ministro, em 7 de setembro

Face às medidas agora anunciadas pelo Primeiro-Ministro, a CIP con-sidera positiva a redução das con-tribuições para a segurança social a cargo dos empregadores. Trata-se de uma medida que há muito temos defendido, embora em moldes dife-rentes, como forma de aumentar a competitividade das empresas, nomeadamente as exportadoras, e de fomentar o emprego. Contu-do, constatamos que, infelizmente, esta medida só foi tornada possível pelo aumento das contribuições a cargo dos trabalhadores.

Não foi anunciada nenhuma nova medida que prenuncie um maior es-forço de consolidação por via da redução da despesa pública. Não pode-mos deixar de criticar esta lacuna e este novo desvirtuamento de uma estratégia que visava combater o desequilíbrio orçamental através da re-dução do peso do setor público na economia, mais do que pelo aumento das receitas.

Só através de uma reforma profunda do Es-tado e da Administração Pública será pos-sível alcançar um equilíbrio sustentável das finanças públicas.Relativamente ao debate sobre a desvalo-rização fiscal, a CIP lembrou que há muito tem vindo a defender a redução das con-tribuições para a segurança social a cargo

dos empregadores, mas em moldes dife-rentes dos que foram anunciados.A sua proposta, da qual nunca desis-tiu, consiste na redução seletiva da TSU, abrangendo apenas os setores da indústria transformadora e do turismo, exigindo uma contrapartida comportável em termos de medidas de compensação e concentrando

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Comentário da CIP à conferência de Imprensa do Ministro das Finanças, em11 de setembro

As novas medidas agora anuncia-das, que aumentam a tributação das empresas e das famílias, afetando em particular os rendimentos de ca-pital e o património imobiliário, sig-nificam que o Governo insiste numa estratégia de ajustamento das finan-ças públicas pelo lado da receita, re-sultando previsivelmente em menos investimento, numa reforçada con-tração da economia e numa menor competitividade fiscal.A CIP reafirma que não será possível atingir os objetivos propostos pela via de um novo aumento da carga fiscal sobre a economia, que dificil-mente terá repercussões na receita arrecadada.Só através de uma reforma profunda do Estado e da Administração Pública será possível alcançar um equilíbrio sustentável das finanças públicas.

reforma

só através de uma

reforma profunda

do estado e da

administração Pública

será possível alcançar

um equilíbrio sustentável

das finanças públicas

o seu impacto nos sectores mais relevan-tes para a competitividade externa da nos-sa economia.A CIP questionou por isso a eficácia e efi-ciência da medida avançada pelo Governo.Por um lado, implicando o aumento das contribuições a cargo dos trabalhadores, a medida provocaria uma nova contração no mercado doméstico, com reflexos mui-to negativos nas PME de menor dimensão que trabalham essencialmente para o mer-cado interno.Além disso, no caso de alguns dos mais importantes sectores não transacionáveis, responsáveis por uma parte significativa da despesa fiscal que a redução da TSU im-plica e que funcionam longe do paradigma de concorrência perfeita, não estava asse-gurado que os ganhos proporcionados por esta medida fossem repercutidos em bene-fício da economia como um todo.A CIP considerou positivo o alargamento por mais um ano das metas orçamentais, tendo em conta a evolução da realidade económica interna e externa. No seu en-tender, o Governo deverá aproveitar esta flexibilização para conceber e implementar medidas de caráter estrutural com um im-pacto mais significativo na despesa públi-ca, medidas essas que continuam a tardar.O anúncio de que, no biénio 2013/2014, 70% do esforço de consolidação das finan-ças públicas virá do lado da despesa é, a este respeito, importante.Finalmente a CIP disponibilizou-se para participar nas discussões em sede de Concertação Social com que o primeiro--ministro se comprometeu, esperando contribuir para que sejam tomadas me-didas de promoção do crescimento eco-nómico, que considera indispensáveis e inadiáveis.

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confErência

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Dossiê

reindustrialização em Portugal No Dossiê desta edição, abordamos o tema da reindustrialização sob diversas perspetivas

de análise económica e de estudo da atividade industrial. Com um painel de reputados

especialistas nas várias matérias, pretende-se que o tema contribua para empreender

um novo rumo à indústria portuguesa

NOTA DE AbERTURA

16 • A reindustrialização e caso português • Luís Mira Amaral

18 • Reindustrialização centrada na competitividade • Álvaro Santos Pereira

POLíTICA INDUSTRIAL

20 • Um novo programa de apoio à indústria e aos bens transaccionáveis: a aposta para o crescimento • Luís Mira Amaral

21 • Estratégia industrial e realidade empresarial em Portugal • Aníbal Santos

REINDUSTRIALIzAÇãO

22 • O Erro da Desindustrialização • Henrique Neto

24 • Reindustrialização na sociedade do conhecimento • Veiga Simão

26 • Passado e presente • José Manuel Fernandes

27 • O Papel da Engenharia e da Tecnologia • Carlos Matias Ramos

28 • Reindustrializar? • Daniel Bessa

30 • Reindustrializar • Helder Gonçalves

31 • O último desafio • Gonçalo Lobo Xavier

PORTUGAL NA ECONOMIA GLObAL

32 • Reconciliando-se com a globalização? • Felix Ribeiro

34 • Competências, Ativos e Relações Privilegiadas • Miguel Flórido

FINANCIAMENTO

36 • Condição sine qua non da reindustrialização do país • José António Barros

INVESTIGAÇãO, DESENVOLVIMENTO TECNOLóGICO E INOVAÇãO

40 • Por uma política de investigação & desenvolvimento para a competitividade da indústria portuguesa • José Luís Pinto de Sá

42 • Uma indústria virada para o futuro – os desafios da inovação e da competitividade • Luís Portela

PROCESSOS E TECNOLOGIAS INDUSTRIAIS

44 • Uma nova oportunidade para a indústria • José Carlos Caldeira

46 • Pistas para o reforço da competitividade industrial em Portugal: As indústrias de processos químicos e biológicos • Clemente P. Nunes

47 • A tecnologia mecânica e a reindustrialização • Paulo Martins

PROPOSTAS DA CIP PARA A REINDUSTRIALIzAÇãO DO PAíS

50 • Como ganhar competitividade

a reindustrialização e o caso português

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Nota De abertura

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o ocideNte – eua e europa - parecia ter perdido a indústria para a china mas nos eua começa-se a sentir que a deslocali-zação industrial para a china e para outros países emergentes foi longe de mais. Com efeito começa-se a perceber que:- quando se deslocaliza produção industrial por razões de custos salariais, haverá al-guns ganhos de curto prazo mas esses não tomam em conta custos logísticos, os riscos de gestão das cadeias de abastecimento e que as empresas subcontratadas, depois de dominarem a tecnologia, avançam para

a inovação e para a criação de marcas, aca-bando muitas vezes por constituir uma séria ameaça à empresa ocidental.- há uma ligação entre produção indus-trial, desenvolvimento tecnológico e ino-vação. Quando se deslocalizam produções industriais de forma duradoura, a capaci-dade de desenvolvimento de novos produ-tos e a inovação acabam por ser postos em causa na empresa que deslocalizou.Os EUA já não conseguirão fazer retornar muitas produções industriais que desloca-lizaram porque entretanto perderam esses

“skills” industriais. Mas nos EUA os seus típicos pontos-fortes estão neste momento a gerar uma revitalização da sua indústria, e a aumentar a sua liderança tecnológica como é evidente nas redes sociais e no “cloud computing”Nas novas indústrias com elevado cresci-mento como maquinaria industrial, robóti-ca, aeroespacial, biotecnologia, automóveis eléctricos e baterias recarregáveis, nanotec-nologia há a consciência que não se deve seguir o paradigma do fim do século XX: os EUA investigavam, concebiam e desenvol-

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viam os novos produtos mas depois a pro-dução industrial era integralmente feita na China e noutros países emergentes.Voltar-se-á a produzir de novo nos eua, com maior integração dos segmentos da cadeia de valor no próprio território. O enfraquecimento do dólar e o controle de salários nos EUA permitem-lhe voltar a ser de novo uma plataforma industrial.Os EUA continuam a ser a economia mais competitiva do Mundo. Ela é conduzida pe-las forças de mercado e não pelo planea-mento central, é muito inovadora, recom-pensa a inovação e protege a propriedade intelectual. Os EUA continuam a ser o maior mercado para bens e serviços sofisticados.os eua estão a mostrar que quando se investe nas pessoas e nas tecnologias e se criam novos modelos de negócio, é possível trazer de volta a indústria.Os custos dos fretes nos transportes, os custos de materiais e os salários aumen-tam na China, onde não se tem controlo da cadeia de abastecimento.Numa altura em que o “time-to-market” é es-sencial, separar a I&DT e o desenvolvimento da produção não fará grande sentido.A produção industrial depende do ecos-sistema em que se vive. Necessita fontes de capital, boas escolas técnicas e univer-sidade.Há postos de trabalho e actividades in-dustriais que podem voltar ao ocidente se se tornar em conta todos os custos e não apenas os custos laborais.A partir dos anos 80 do século passado, o poder nas empresas passou dos respon-sáveis pela produção para os financeiros, que serviriam como agentes dos mercados financeiros com terríveis pressões para os retornos de curto prazo.Os financeiros viram então a atividade de produção apenas como un centro de custos e daí a tendência para o outsour-cing e o offshoring, pondo em causa a capacidade para inovar pois não consi-deravam a produção industrial parte dum sistema de inovação.Tudo isto está a ser posto em causa nos EUA e espero bem que esta discussão chegue à Europa, onde até agora apenas a Alemanha parecia contrariar este modelo de desindustrialização.Japão, Coreia do Sul, Alemanha, China têm sido as potências industriais.É imperioso que outros países euro-peus reforcem este “come-back” para a reindustrialização.o problema europeu não é apenas um problema financeiro da crise de dívi-das soberanas. É preciso perceber que

a Europa envelheceu, acomodou-se a ser a potência do “life-style” e tem perdido empregos industriais para os outros con-tinentes. se se perceber que é nos em-pregos industriais que se gera maior va-lor acrescentado e que os serviços estão intimamente ligados à atividade industrial, percebe-se que a desindustrialização europeia é uma causa determinante do seu impasse económico e da “malaise” europeia.como dizia artur miller “uma era chega ao fim quando as suas ilusões básicas estão esgotadas…”É o que está a acontecer em Portugal quando se percebe que:- a adesão à União Económica e Monetária não fez esquecer o problema da balança de pagamentos com o exterior, pois uma União Monetária entre Estados Soberanos é vulnerável às crises de Balanças de Pa-gamentos dos Estados membros.- o Estado e a aposta nos bens não tran-saccionáveis não se pode substituir numa pequena economia aberta como a nossa ao setor dos bens transaccionáveis.- o Estado não é uma fortaleza inexpugná-vel e as finanças públicas podem entrar em “default” Não mais é possível pensar que a sim-ples ultrapassagem da crise pelo núcleo duro da União Europeia, coisa que neste momento não é evidente face á crise da zona euro, nos iria resolver o problema, arrastando, como acontecia no passado, as exportações dos sectores tradicionais, os quais hoje estão seriamente ameaçadas pela globalização. Assim sendo, isso não chega para reequilibrar a balança externa e pagar os juros do endividamento externo. Temos uma oferta de bens e serviços tran-saccionáveis com a qual não conseguire-mos ter uma trajectória de convergência com a União Europeia. O crescimento económico e as preocupa-ções de competitividade precisam natural-mente de ser acompanhadas por preocu-pações de distribuição de riqueza. se não houver coragem para criar um ecossis-tema favorável à competitividade em-presarial e à criação de emprego, a crise social vai agravar-se dramaticamente.

A grande preocupação da política eco-nómica tem de ser então a questão da competitividade. Só tornando o país mais produtivo e competitivo é que poderemos melhorar a prazo a nossa qualidade de vida e reduzir as desigualdades. Fala-se muito na necessidade de aumentar as exporta-ções. Mas sem competitividade não te-remos produtos para vender no mercado internacional!Portugal nunca assumiu as políticas finan-ceiras e económicas essenciais à compe-titividade externa e sustentabilidade finan-ceira, indispensáveis à participação no Euro. Ao esforço feito para aderir seguiu-se logo o abandono de políticas exigentes e indispensáveis.A perda de competitividade evidenciada pelo deficie da balança corrente atingiu níveis de alarme desde 2000 e a crise ac-tual, potenciada pela crise internacional, não será resolvida sem encarar, de forma decidida e persistente, as raízes do pro-blema.em meados dos anos 90, a agricultura e a indústria representavam quase 30% do PiB. Hoje representam apenas 16%. Há que voltar a pensar de novo nas ac-tividades produtivas, reindustrializando o país!Por outro lado, ao contrário dos eua, nós não fomos tão longe na deslocaliza-ção industrial pelo que não temos ainda o problema de termos perdido os nos-sos “skills” industriais.Temos que aproveitar a nossa flexibilidade evoluindo para produtos individualizados e pequenas series, como o vestuário e o cal-çado estão a fazer, com grande qualidade, com entrega rápida em mercados exigen-tes. Um pequeno país como Portugal terá grande dificuldade em competir com gran-des economias massificadas em produtos pouco valorizados e tem que usar a flexi-bilidade da sua mão–obra para aproveitar rapidamente as oportunidades.Tudo isto é naturalmente facilitado pelos actuais sistemas de informação que permi-tem processos industriais flexíveis e entre-gas rápidas das pequenas séries coisa que as grandes economias massificadas terão dificuldade em fazer.

Luís Mira Amaral engenheiro e eConomistaPresidente do Conselho da indústria da CiP

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Reindustrialização centrada na competitividadeO Programa do XIX Governo Institucional assume o compromisso de inverter a tendência de de-industrialização que Portugal tem registado nos últimos anos e de promover uma reindustrialização centrada na competitividade e na subida na cadeia de valor da produção industrial nacional

RePeNsaR o futuRo da indústria em Portugal e na Europa constitui um impor-tante desafio para os decisores nacionais e europeus, já que este é um vector essencial para relançar a tão necessária Agenda para o Crescimento e o Emprego, pois não ha-verá uma economia forte sem uma indústria competitiva ao nível global.A Indústria europeia representa 34 milhões de empregos, 75% das exportações euro-peias, 25% do emprego e 80% da despesa em ID.Contudo, temos vindo a assistir ao declínio da competitividade da indústria europeia, a qual tem perdido terreno para as economias emergentes. Acresce que o setor industrial tem vindo a ser fustigado pela crise econó-mica e financeira, apresentando crescimen-tos negativos em 2012 e tendo visto o em-prego no setor cair 10% desde o início da crise e 18% desde 2000. Torna-se indispensável inverter esta tendên-cia e isso implica medidas de âmbito euro-peu e de âmbito nacional. A nível europeu, é indispensável que várias políticas europeias concorram para o cresci-mento e a competitividade da indústria euro-peia. Desde logo a Política de Concorrência e os auxílios de Estado deverão ser objecto de uma profunda análise que tenha presente os condicionalismos, nomeadamente de or-dem financeira, em que as empresas euro-peias operam atualmente e que lhes permita competir em pé de igualdade com os seus concorrentes. Igualmente, a Política Comercial joga aqui um papel chave, na promoção de um cres-cente acesso aos mercados baseado na re-ciprocidade, na utilização dos instrumentos de defesa comercial e no respeito da pro-priedade intelectual.As redes transeuropeias no domínio dos transportes e das telecomunicações e da

Álvaro Santos Perreira ministro da eConomia e do emPrego

Nota De abertura

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energia e a conclusão do mercado inter-no da energia são outras das áreas chave, onde se deverão registar progressos indis-pensáveis ao eficaz funcionamento do Mer-cado Interno europeu, permitindo que todos os seus membros, incluindo os mais periféri-cos geograficamente beneficiem desse mo-tor de crescimento que é o Mercado Único. Portugal está a colaborar ativamente nesta discussão europeia e iremos organizar um Seminário dedicado ao tema da Reindus-trialização, no final do mês de Outubro, que contará com a participação do Comissário e Vice-Presidente da Comissão Europeia, res-ponsável pela Política Industrial, o Sr. Tajani.A nível interno, temos vindo a trabalhar num pacote de medidas de apoio à Reindustria-lização que permita largar a base industrial nacional, redimensionar e fortalecer as em-presas industriais e promover a subida na cadeia de valor das indústrias tradicionais, bem como de novos segmentos de ativida-de da indústria transformadora, orientada para a produção de bens transacionáveis e para a promoção do emprego.Com estes objectivos temos vindo a traba-lhar em várias frentes:• Acesso ao financiamento por parte das empresas• Simplificação legislativa e redução dos custos de contexto• Corredores logísticos • Desenvolvimento regional, Clusters e po-los de competitividade • Ensino dual• Inovação, ID, TIC e criatividade• Sustentabilidade e eficiência energética - Economia VerdeVárias iniciativas foram já adoptadas e en-contram-se em curso de implementação, como o Programa “Portugal sou eu” orien-tado para a reestruturação do tecido empre-sarial, para a cooperação empresarial, para o estímulo à produção de bens e serviços

que acrescentem valor à economia nacional e para a valorização da oferta nacional, o Programa “Revitalizar” que entre outros ob-jetivos, promove a capitalização e a reestru-turação financeira das empresas, o Progra-ma PME Crescimento também no domínio do reforço dos instrumentos financeiros, o Programa da Indústria Responsável que simplifica substancialmente todo o proces-so de licenciamento industrial reduzindo os custos de contexto e o Programa Empreen-dedorismo e Inovação que aposta no co-nhecimento e na inovação empresarial. Muito recentemente foram ainda aprovadas medidas de desvalorização fiscal tendentes a aumentar a competitividade externa do pais, a promover as suas exportações, con-tribuindo para a captação de investimento, ao mesmo que tempo que deverão conduzir a uma diminuição do nível de desemprego, objetivo que constitui para este Governo um combate prioritário.Mas ainda há muito a fazer para concreti-zar uma agenda para a Reindustrialização e nisso temos vindo a trabalhar com as em-presas, as associações empresariais e os parceiros europeus. Destacaria pela sua importância estratégica para o conjunto da economia, mas muito particularmente para o desenvolvimento in-dustrial, a criação dos grandes corredores logísticos que ligarão os portos portugue-ses à Europa. O desenvolvimento de plata-formas logísticas e zonas empresariais em áreas chave do território nacional, ligadas por redes transeuropeias de transportes que assegurem o trânsito e o escoamen-to de mercadorias oriundas de África e da América para o centro da Europa constitui um elemento estratégico para a competitivi-dade da nossa indústria, para o incremento das trocas comerciais e para a captação de investimento estruturante e para a afirmação estratégica do nosso país como plataforma

entre a Europa e alguns dos principais mer-cados emergentes do mundo. Outro domínio chave consiste no desen-volvimento de clusters que congreguem recursos de excelência e promovam uma in-dústria integrada desde a matéria-prima até ao produto final, reforçando e preenchendo a cadeia de valor, interligando-se com ou-tras políticas e indústrias do território como a agricultura, a floresta, o mar, e os recur-sos geológicos. Portugal tem importantes recursos naturais, humanos e culturais no seu território nacional que urge optimizar neste contexto. A dinamização destes clus-ters promoverá ainda um desenvolvimento regional adequado, gerando importantes economia locais geradoras de crescimento e emprego e promovendo desta forma a coesão económica e social.O reforço e a qualificação do capital humano é indispensável nesta estratégia de reindus-trialização e por isso, a aposta forte deste Governo no ensino dual. É preciso dotar os nossos jovens com as competências que a economia da pós-crise irá exigir, adequando--as e aproximando-as das necessidades das empresas. É necessário reforçar, competên-cias de gestão, competências digitais, tecno-lógicas e criativas numa aliança duradoura e sinérgica entre a indústria e a universidade. Uma aposta clara e medidas concretas de estímulo à incorporação da inovação tec-nológica e não tecnológica, à Investigação e Desenvolvimento, à criatividade, ao de-sign, à concepção nacional por parte das empresas industriais é o passaporte para a indústria portuguesa subir na cadeia de va-lor, associando capacidade executora pela qual já somos largamente reconhecidos a uma visão estratégica e capacidade de concepção e de projeto para a qual temos um indubitável talento mas que ainda não endogeneizámos nos nossos processos de produção industrial. Uma última palavra para a economia verde e a transição de que a mesma implica para as industriais tradicionais em matéria de pro-dutos e processos e serviços. Esta transição deverá ser vista não como um custo, mas como uma oportunidade de se desenvolve-rem novos segmentos inovadores de ativi-dade industrial - a eco inovação- de elevado crescimento potencial, contribuindo em si-multâneo para a eficiência energética e para a sustentabilidade.É, pois, nossa missão trabalhar convosco para lançar as bases duma nova indústria para Portugal globalmente competitiva, sustentável e que contribua para o relan-çamento económico e para o emprego em Portugal.

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Luís Mira Amaral engenheiro e eConomistaPresidente do Conselho da indústria da CiP

uM novo PRoGRaMa de aPoio à indústRia e aos Bens tRansaCCionáveis

a aposta para o crescimentoÉ aqui que se jogam a competitivida-de externa, o crescimento e o emprego. É, então, essencial e impõe-se no pós-crise um novo programa de apoio focado nos bens e serviços transaccionáveis, com um âmbito de intervenção sectorial com a ló-gica do PEDIP com os seguintes eixos:1. fomentar o agrupamento dos secto-res industriais em clusters, levando ao adensamento das relações intra-industriais com mecanismos de acesso ao crédito atra-vés dos sistemas de garantia mútua.2. dinamização dos “clusters” e pólos de competitividade, ligando universidades, ins-titutos politécnicos e centros de investigação com empresas e respectivas associações nos vários sectores da indústria portuguesa.3. Revitalização das infra-estruturas tec-nológicas criadas pelo PediP, designa-damente dos centros tecnológicos, com o apoio a novos institutos de novas tecnologias nos domínios da biotecnologia, nanotecnolo-gia e tecnologias energéticas.4. sistema de incentivos financeiros à inovação e investigação industrialmen-te orientada nas empresas, privilegiando as ligações às universidades e aos centros de conhecimento.5. apoio à criação de Núcleos de ino-vação nas Pme’s e de centros do i&dt nos grupos económicos e empresas. As empresas que tenham estes núcleos e es-tes centros deverão fazer parte do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN) em perfeita igualdade com as universidades e os centros de investigação no que toca aos apoios públicos.6. Revitalização dos Laboratórios do es-tado das áreas industriais e agro-indus-triais, passando os seus investigadores a serem classificados em função das patentes criadas e do trabalho feito em ligação com as empresas.

7. sistema de incentivos ao investi-mento inovador, englobando a logística, distribuição e racionalização energética e ambiental.8. Reforço dos mecanismos de garantia mútua criados no PediP ii para apoio ao investimento produtivo e ao fundo de ma-neio das empresas.9. apoio da aiceP à promoção externa das empresas e marcas e ao investimento externo na logística e nos canais de distri-buição, em consonância com a criação de valor na economia global.10. Reformulação dos centros de for-mação Protocolares de modo a formarem os talentos de que a indústria hoje necessita.11. Revitalização das escolas tecno-lógicas lideradas pelo ministério da economia, funcionando em rede com as infra-estruturas tecnológicas e as empresas industriais e não sob a alçada do sistema formal de ensino, como está a acontecer. 12. Lançamento de um Programa uni-versidade-indústria por forma a: - Criar uma imagem positiva para a indústria portuguesa nos jovens do ensino superior e universitário; indústria, nos nossos dias, é criatividade, design, conhecimento, inova-ção e não manufactura massificada! - Dotar os cursos do ensino superior e uni-versitário com os “skills” necessários à ativi-dade industrial moderna. 13. Lançar com as universidades Por-tuguesas e seus institutos de forma-ção para executivos um programa de

acção-formação para introduzir jovens quadros nas empresas, com um apoio pú-blico transitório e sem as exigências “apa-rentemente” protectoras da actual legis-lação laboral. Tal levaria a que mantivesse a actual legislação para os que estão e se fizesse outra extremamente flexível para os jovens. Os jovens não querem a protecção “falsa” da legislação, querem oportunidades para mostrarem o que valem! 14. Reforço do crédito fiscal ao inves-timento.15. introduzir a amortização do goodwi-ll como custo fiscal para incentivar movi-mentos de concentração e de internaciona-lização.16. Reduzir o tempo de reembolso do iVa, sincronizando para as PME’s o reem-bolso com o recebimento efectivo pelo pro-duto ou serviço prestado. 17. aplicar uma majoração, em sede de iRc, às despesas resultantes da contra-tação de pessoal especializado nas áreas técnicas, design, marketing e técnico-co-mercial.18. Reforçar e agilizar o sifide, sistema de incentivos fiscais focalizando-o no apoio à Investigação e Desenvolvimento Tecnoló-gico industrialmente orientado e à inovação empresarial.19. Negociar com a união europeia uma derrogação transitória para concen-tração dos apoios financeiros, fiscais e para-fiscais nas empresa de bens e serviços transaccionáveis.

política iNDustrial

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estou assim em crer, desde há muitos anos, que uma verdadeira estratégia de de-senvolvimento industrial se deve centrar na especificação e resolução de quais as neces-sárias alterações estruturais da Indústria (em sentido lato), o que significa que aquela estra-tégia se deve caracterizar pela possibilidade de libertar as potencialidades de uma econo-mia verdadeiramente descentralizada, pressu-pondo intervenção pública apenas e quando se revele inequivocamente necessária.As iniciativas conducentes a alterações estru-turais da indústria devem visar, naturalmen-te, o aumento do seu nível de desempenho (quaisquer que sejam os indicadores), o que exige, entre outras condições, um clima que proporcione níveis adequados de investi-mento empresarial (produtivo) e um reforço significativo daquilo a que chamarei, factores dinâmicos de competitividade.Estes factores, que em alguns casos têm sido, com sucesso, compreendidos por vá-rias empresas portuguesas não têm, no en-tanto, sido facilmente interiorizados por parte significativa dos nossos empresários.Assim e talvez mais do que nunca, deve prestar-se atenção a elementos visando o aumento dos níveis de produtividade e ino-vação das empresas como: incorporação de progresso tecnológico em novos produtos e novos materiais; atenção especial às altera-ções no comportamento dos consumidores, reforçando a “variedade” e a diferenciação dos produtos oferecidos; possibilidade de tornar a discriminação dos preços mais efectiva nos vários segmentos de mercado, atendendo às diferentes reacções da procura aos preços e às classes de rendimento; incorporação de estruturas modernas de organização e gestão com recurso, por exemplo, à larga oferta de qualidade de MBA’S hoje já existente no país mas não minimizando, no entanto, a necessá-ria experiência desses candidatos, no terreno. Todos estes e outros aspectos centrados, no

entanto, em algo que deve estar na primeira linha de prioridades na gestão: controlo rigoro-so, digamos mesmo “obcessivo”, da qualida-de dos produtos a oferecer.As alterações que, nas últimas décadas, se têm verificado na estrutura produtiva dos paí-ses industrializados e semi-industrializados, têm levado a processos dolorosos de ajusta-mento industrial, à reconversão (profunda) da indústria pesada, a novos tipos de acordos de cooperação parcial entre empresas e, com importância relevante, a uma maior atenção ao papel desempenhado pelas PME’s,Tudo o que referi tem sobretudo a ver com a capacidade de decisão dos empresários (li-bertação das potencialidades de uma econo-mia verdadeiramente descentralizada), mas tem também a ver com a responsabilidade que os Governos devem assumir, através das suas políticas macroeconómicas e sec-toriais, na criação de condições adequadas ao desenvolvimento dos negócios.As actuais condicionantes macroeconómi-cas, em Portugal, sobretudo em situação de pré-rotura social, sugerem que, tão depres-sa, os parâmetros macroeconómicos não estejam estabilizados, as condições secto-riais estejam, como consequência e naquilo que deles dependem, bastante fragilizadas, e a interacção desejável entre mercados direc-tamente produtivos e os mercados financei-ros seja uma miragem.Quem alguma vez teve responsabilidades de gestão sabe que são as Pequenas e Médias Empresas, sobretudo (mas não só!) na área dos bens transaccionáveis, as mais pena-lizadas. De qualquer forma, as que melhor

entenderam e implementaram aquilo a que chamámos factores dinâmicos de competi-tividade, revelaram maior sucesso (o caso do setor do calçado é paradigmático).Não me parece que o envolvimento activo do Estado, no apoio ao ajustamento de determi-nadas indústrias, a alterações do mercado e no lançamento de medidas específicas para este ou aquele setor, a par do lançamento de iniciativas do tipo “picking the winner’s”, tenha grande margem de manobra no momento actual e nos próximos anos. Aliás, a dose de iniciativas desse tipo, introduzida no passado, ao nível da terapia de choque, apresentou re-sultados em geral confrangedores.Já atitudes voluntaristas que possam fomentar o tão desejado acréscimo de produtividade da indústria portuguesa, deverão obter uma aten-ção especial dos decisores políticos, apesar dos poucos recursos de que Portugal dispõe, neste momento, para esse efeito. A prioridade deve, no entanto, ser o aumento urgente dos níveis de especialização dos recursos huma-nos e os incentivos à inovação, imitação (!) e I&D, de forma realista. Há que passar, urgen-temente, das palavras aos actos. A situação é, no entanto, complexa. Em pri-meiro lugar, as relações de causa e efeito, de medidas fracturantes não conduzem, longe disso, a resultados imediatos. Em segundo lugar, aumentar a capacidade competitiva, qualquer que seja a via escolhida, exige ca-pacidade de financiamento.Mas não há volta a dar e, mais do que nunca se exige dos nossos empresários e gestores a capacidade e, também, alguma criativida-de, para lidar com sistemas complexos.

Aníbal Santos Professor Universitário

Estratégia industrial e realidade empresarial em PortugalNão existe escolha dicotómica entre o recurso exclusivo aos mecanismos de mercado e um controlo sistemático e paternalista do desenvolvimento (ou estratégia) industrial de um país. Apesar de a ciência económica e, também, a ciência política terem, como uma das suas tarefas mais importantes, tentado explicar como e quando o Estado deve intervir na Economia, a unanimidade sempre se revelou e continuará a revelar, como uma impossibilidade, sendo as propostas fortemente determinadas pelo posicionamento ideológico dos actores no terreno. Os resultados estão, infelizmente, bem à vista

política iNDustrial

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Entre as principais causas da perda de competitividade da economia portuguesa, depois dos anos de relativo sucesso do período EFTA, avulta o processo de desindustrialização encetado e a desvalorização dos sectores produtivos de bens transaccionáveis, a par com a insuficiente atenção dada às exportações

No PRimeiRo caso, confundiu-se o na-tural crescimento do emprego nos secto-res de serviços, com a redução relativa do emprego nos sectores produtivos – indús-tria, agricultura e pescas – sobreavaliando a importância económica dos serviços e a sua influência no desenvolvimento futu-ro da economia. As exportações, por sua vez, mantiveram-se em Portugal ao nível dos 35% do PIB, que é o padrão aceite nas grandes economias europeias com grandes mercados internos – Alemanha, França, Itá-lia - mas que é apenas cerca de metade das exportações dos países da dimensão da nosso - Irlanda, Holanda, Áustria, República

Henrique Neto ex-emPresário

Checa, Eslováquia, etc. – cujas exportações variam entre os sessenta e os mais de oiten-ta por cento do produto.Uma das principais causas para este erro de avaliação e consequente desvalorização dos sectores produtivos está associada ao facto de nos últimos vinte anos os governos e as grandes empresas e grupos económicos te-

rem sido vítimas de uma certa cultura finan-ceira na direcção da economia, que, como defendo no meu livro “Uma Estratégia para Portugal”, é composta por dirigentes que se sentem mais à vontade nos serviços, dia-logando mal com a maior complexidade da produção. Causa também da sistemática deslocalização de empresas industriais para

o erro da desindustrialização

reiNDustrialização

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países de mão de obra barata, na medida em que para um financeiro á mais fácil fe-char uma fábrica enviando-a para a China, do que robotizar a produção industrial ou aumentar a produtividade. Pela mesma razão os bancos portugueses olham com suspeição para os sectores pro-dutivos e durante as duas últimas décadas dirigiram a esmagadora maioria dos financia-mentos para o imobiliário, construção, obras públicas, turismo e consumo, deixando à míngua a indústria, a agricultura e as pescas. Por sua vez o Estado não ajudou porque, ao favorecer os sectores não transaccionáveis da economia, acentuou a sua dimensão mo-nopolista e criou, a partir das privatizações, um sistema de rendas a pagar em grande parte pelas empresas produtoras de bens transaccionáveis e pelas exportações.A crise que Portugal atravessa não é por-tanto um acidente económico conjuntural e tem muito a ver com os dois factores refe-ridos: desvalorização dos sectores produti-vos no conjunto da economia e a dimensão claramente insuficiente das exportações. Além disso, foram cometidos demasiados erros estratégicos na direcção da econo-mia portuguesa. Exemplos: (1) sobredimen-sionamento dos sectores da construção e obras públicas, que chegaram a atingir uma dimensão quatro vezes superior às neces-sidades normais do mercado num país da

nossa dimensão; (2) investimentos do Esta-do em excesso, sem critério estratégico e sem rentabilidade assegurada; (3) insuficien-te atenção dada ao investimento estrangeiro nos sectores produtivos e aos factores que poderiam atraí-lo; (4) recurso excessivo ao crédito externo e poupança interna insufi-ciente; (5) sistema educativo pouco exigente e fracamente adequado às necessidades da economia; (6) excesso de impostos. Trata-se de erros grosseiros, difíceis de en-tender por qualquer empresário experiente e cujas causas deveriam ser estudadas e melhor compreendidas, para não se repeti-rem. Até porque a incompreensão com os sectores produtivos mantém-se e sendo o endividamento nacional excessivo, tendo já conduzido à nossa perda de soberania, é essencial compreender que apenas a apos-ta nos sectores produtivos de bens transac-cionáveis e o crescimento das exportações poderão evitar maior empobrecimento e de-pendência externa. Uma economia de serviços não é sustentá-vel sem um setor produtivo forte e sem um crescimento acelerado das exportações. Os Estados Unidos possuem o setor de servi-ços mais poderoso do mundo, para mais com uma forte componente de serviços transaccionáveis, mas mesmo assim enfren-tam um défice monstruoso da sua balança comercial. Ao ponto de algumas grandes

empresas, como a General Electric, terem decidido voltar a investir na indústria norte americana, ao mesmo tempo que muitos especialistas culpam o anterior processo de desindustrialização pelas fragilidades ac-tuais da sua economia.Em Portugal é preciso compreender que a diversidade económica é essencial e que necessitamos de uma agricultura forte, de um setor das pescas moderno e de uma indústria competitiva e inovadora. Por outro lado, apesar dos erros cometidos, a indús-tria portuguesa ainda possui uma notável vitalidade e sempre que surgem oportunida-des não as deixa fugir. Aconteceu assim no setor automóvel a partir dos projectos Re-nault e Auto Europa e hoje as exportações, apenas de componentes, já valem mais de seis mil milhões de euros por ano. Temos uma dimensão e uma qualidade notáveis na engenharia de produto, na prototipagem, nas indústrias de moldes e de ferramentas, dos plásticos, da embalagem, dos equipa-mentos e da robótica. Para além dos secto-res chamados tradicionais, como o calçado, a confecção, a cerâmica, o vidro e, natural-mente, os novos sectores tecnológicos de que muito se espera no futuro. Assim haja a visão e a sabedoria suficientes para não estrangular as empresas, nomeadamente através da falta de crédito, das rendas ex-cessivas, dos impostos e da burocracia.

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Reindustrialização na sociedade do conhecimento

O Presidente da CIP, António Saraiva, solicitou-me que escrevesse um texto síntese para uma edição especial da Revista Indústria, dedicada ao tema “A Reindustrialização”

ao teNtaR corresponder, aproximando--me da limitação facilmente compreensível, começo por salientar que os caminhos tri-lhados por Portugal, designadamente nas últimas duas décadas, para a construção de um modelo de desenvolvimento susten-tado, se revelaram profundamente errados. Em particular a evolução da indústria por-tuguesa no quadro de uma “pequena eco-nomia virada para dentro”, privilegiou uma economia dual em que se tornou flagrante um desequilíbrio “anti-natura” entre as em-presas de bens não transaccionáveis e as empresas de “bens transaccionáveis”, estas fortemente penalizadas. O processo de desindustrialização assumiu uma dimensão e natureza sem paralelo na União Europeia, só com algumas similitudes em países do sul da Europa, mas mesmo nestes em escala mais reduzida. É nítido o contraste com o “modelo de desenvolvi-mento germano-escandinavo” que preser-vou uma base industrial forte e dinâmica de qualidade e alto valor acrescentado, asse-gurando salários elevados aos trabalhado-res. Numa breve síntese, em termos esta-

Veiga Simão Professor CatedrátiCo, ConsUltor da PresidênCia da aiP/CCiassoCiação indUstrial PortUgUesa/Câmara de ComérCio e indústria

tísticos, o peso da indústria transformadora naqueles países era em 2010, cerca de 20% do PIB, enquanto que em Portugal esse in-dicador caiu para 13,4% do PIB. Note-se que em 1990 era da ordem dos 26%, ou seja, quase o dobro. Os efeitos push e pull noutras actividades foram obviamente rele-vantes e no emprego têm sido devastadores na qualidade e na quantidade. Esta situação foi ainda agravada pelos efeitos no grau de abertura à orientação exportadora de Portugal. É certo que em 2011 esse grau cresceu para 35,5% do PIB, como resultado de esforços meritórios dos últimos anos, mas a média da União Europeia centra-se em 69,2% do PIB. O contraste com países de dimensão similar à

nossa é ainda mais gravoso, porquanto nes-ses países o referido grau oscila entre 60% e 80% do PIB (ex. Áustria, Dinamarca, Ho-landa, Bélgica, Suécia, Finlândia, Eslovénia, Eslováquia, República Checa…).Ora, o desígnio nacional de construção de um novo modelo de desenvolvimento in-tegra a “Reindustrialização” como fazendo parte de uma resposta criativa a este desa-fio, muito embora na era do conhecimento a sua natureza não tenha similitude com a dos períodos de adesão à EFTA, com os anos de ouro da economia portuguesa1, ou com a concepção e operacionalização do PEDIP2, no quadro inicial da integração europeia.A “Reindustrialização” na actualidade é, as-sim, dominada pelo objectivo muito concre-

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to da economia portuguesa atingir um grau de abertura da orientação exportadora que seja pelo menos igual à da média da União Europeia, sem o que o Estado Social não terá apenas limitações mas será posto em causa em termos que põe em perigo a coe-são social.Num estudo em publicação relacionado com “Opções Estratégicas e Bases de Sus-tentação da Carta Magna de Competitivi-dade, Revisão 2012”, este tema é tratado em pormenor, dando-se ênfase à aposta na expansão de competências e potencia-lidades existentes3, em que se evidencia a qualidade, o design, a originalidade e a di-versificação nos mercados, mas também a complementaridade com novos motores de exportação de bens e serviços em áreas se-leccionadas e fundamentadas por análises prospectivas. Impõe-se para isso uma nova matriz de inovação e internacionalização empresarial assente em quatro pilares es-tratégicos coordenados: Políticas públicas; Estratégias empresariais; Hélices Triplas de cooperação entre o Governo, a Universida-de (em sentido lato) e Empresa, substituindo as “esferas de competência” por “espaços de cooperação”. Uma mudança de men-talidades. A capacidade e a qualidade dos agentes políticos, empresariais e académi-cos, é o quarto pilar. Os caminhos a seguir exigem, porém, es-tudo e reflexão recorrendo-se a análises comparativas adaptadas à realidade na-cional, como seja o caso da evolução da experiência de sucesso do “Mittelstand” na Alemanha com as suas redes de inovação institucionalizadas por contratos entre em-presas e centros de investigação. Os requi-sitos a que são obrigados os empresários são de enorme exigência, enquanto a tem-poralidade rigorosa é cultivada na Universi-dade. Mas outros casos de Hélices Triplas emergem com sucesso como o “Medicon Valley Alliance” resultante de uma parceria entre a Dinamarca e a Suécia, e, bem as-sim múltiplos exemplos de certas regiões dos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Espanha e Itália.Em síntese, o desígnio nacional a cumprir identifica-se com a viabilidade da nossa existência como País, que cultiva a sobe-rania do conhecimento e procura um repo-sicionamento para a economia portuguesa quer na globalização quer numa economia de proximidade competitiva. Trata-se de uma estratégia capaz de propiciar uma poupança interna significativa e ser condu-cente à criação de uma plataforma atrac-tiva de investimento, valorizando-se em simultâneo a posição geoestratégica de

Portugal no centro de mercados dinâmicos como “cabeça da Europa toda“ no dizer de Camões, conjugando a via comercial do caminho tradicional Indico-Mediterrânico com a via mais directa do Pacífico à Euro-pa, após a ampliação do canal do Panamá, nunca esquecendo o relacionamento privi-legiado com países da CPLP.As dificuldades para essa “Reindustrializa-ção” e as exigências de uma “Nova Globali-zação” vão ser enormes. É que os interesses em manter os mesmos pesos e benefícios de grupos empresariais na economia dual são poderosos. Antero de Quental no seu tempo perguntava “se não reconhecermos os nossos erros como podemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva?”.Os portugueses estão perplexos. Ainda ninguém lhes explicou como o País “bom aluno” da União Europeia, reconhecido e assumindo-se perante outros, se colocou à beira da bancarrota a ser resgatado e tute-lado por uma troika…. Afinal os governan-tes ao longo de duas décadas leram textos errados e as más práticas resultantes des-sa leitura tiveram consequências gravosas para várias actividades (agricultura, pescas, floresta, recursos mineiros, marinha mer-cante…). O facilitismo imperou no Ensino, apesar de nichos de enorme qualidade, a Justiça vive na intemporalidade, as Forças Armadas não são respeitadas e enquadra-das como motoras de modernização… As dívidas soberana, da banca e das famílias atingiram valores excessivos e a percenta-gem de investimentos sem rentabilidade tem sido deplorável.Apesar de tudo os portugueses vêm acei-tando os sacrifícios da austeridade neces-sária, mas interrogam-se cada vez mais

perante “os buracos negros” duma equi-dade cada vez mais longínqua, pejada de excepções insólitas e de contratualiza-ções ofensivas da ética do Bem Comum, as quais contribuem para o agravamento das desigualdades sociais para níveis que a Democracia não merece.A “Reindustrialização” só será possível se os “agentes públicos e privados” forem ac-tores credíveis de uma competitividade e produtividade saudáveis, sujeitos à mensu-rabilidade e à ética da responsabilidade. É uma condição sine qua non para se reduzir o hiato entre a criação do conhecimento, onde temos feito esforços louváveis, e a transformação desse conhecimento em bens e serviços económicos e culturais, em tempo útil. Não me canso de repetir a máxima de Einstein, segundo a qual “quem não fizer as coisas a tempo está perdido”. Por tudo isto não podemos confinar-nos à austeridade, sendo imperioso definir uma visão estratégica de futuro que permita conceber e iniciar um processo de “Rein-dustrialização criativa”, mobilizando os portugueses. Acontece que, infelizmente o Estado decapitou a sua inteligência, extin-guindo nas últimas décadas Gabinetes de Estudo, Planeamento e Prospectiva e sujei-tando Laboratórios do Estado e Instituições Autónomas a danças já antigas chamadas quadrigas ou de grand chaine… O Estado prefere aquisições de serviço e decisões cir-cunstanciais. O País é um navio sem rumo.Eis uma razão, entre outras, para que os empresários tomem a iniciativa de ajudar e pressionar o Governo, apresentando-lhe cenários e propostas fundamentadas para uma “Reindustrialização de Portugal na So-ciedade do Conhecimento”.

notas

(1) José da Silva Lopes, A Economia Portuguesa desde 1960, Gradiva 1996 (2) Ver Tratado de Adesão à Comunidade Europeia. (3) A qualidade e a capacidade inovadora é notável nalgumas áreas como a engenharia de produto, moldes e prototipagem, ferramentas, plásticos, embalagens, instrumentação científica, robótica, componentes de automóvel, electromecânica, biotecnologia associada à química fina, à flora e à farmacologia, para além da inter-acção criativa das novas tecnologias e design com indústrias impropriamente chamadas tradicionais, em produtos da floresta e agro-industriais.

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José Manuel Fernandes Presidente frezite groUP

Passado e presente

as causas próximas do desapareci-mento foram já muitas vezes abordadas, não havendo dúvidas que os ajustamentos permanentes da estratégia empresarial não foram feitos pelos responsáveis de topo das mesmas, como gestores, accionistas ou proprietários muito acomodados, com pou-ca ambição e fraco nível de exigência.Com a entrada de Portugal na EU come-çamos a ter cenários enganadores para o nosso desenvolvimento económico e empresarial, em que diferentes governos aceitaram aprovar com Bruxelas mega pro-gramas com forte componente de apoio ao desenvolvimento económico em que os próprios empresários, actores de primeira linha da economia, se viram quase sem-pre colocados na posição de utilizadores e pré-alinhados, nunca como parceiros da solução nesses mesmos programas numa óptica de co-responsabilização. A excepção pode ser feita no período da implementação do PEDIP.Por sua vez os empresários perdiam poder pelo desfoco das suas energias valorizando mais e prioritariamente as lutas de repre-sentação e poder entre si e suas institui-ções, do que pela unidade, defenderem e influenciarem o aparecimento de políticas públicas estratégicas para o país a médio e longo prazo. Esta situação beneficiou teori-camente quem governava porque não tinha a pressão reivindicativa que potencialmente os homens da economia real do país po-diam colocar. Infelizmente muitos empresários deram o seu melhor no movimento associativo, esti-veram sempre limitados por uma cultura co-lectiva que revelava, pelas lideranças, falta de atitude reivindicativa e assertiva.Este ambiente levou-nos fatalmente a baixar o nível de exigência das práticas pró-cresci-mento entre a economia real e governos até porque quem geria o dinheiro dos apoios é que ditava lei e mandava.Daqui resultou a falta de atitude de não haver capacidade e por colocar em deba-

te uma mobilização nacional de todos os stakeholders em torno das grandes linhas de desenvolvimento para o país, com um plano estratégico de desenvolvimento a lon-go prazo.Infelizmente os partidos políticos não estive-ram à altura deste desafio como causa afas-tada, mas não menos gravosa, adoptaram--se apoios ao desenvolvimento de um forte sistema financeiro, aos serviços em particu-lar, do consumo, distribuição e ao turismo, criando-se para estas políticas de favore-cimento à sua expansão com margens de resultados incentivados e muito mais favorá-veis do que para uma nova indústria e seus investidores.O país perdeu uma oportunidade histórica de reforçar o seu tecido empresarial indus-trial, em particular nos bens transaccioná-veis.Simultaneamente nesses tempos, quem governava cometia um erro, que é sempre tendencial, em tratar os empresários, suas instituições e representatividade com des-confiança e não como parceiros do desen-volvimento com um nível alto de exigência nas soluções para melhoria contínua da economia e aparecimento de novas empre-sas.Assim com o emergir de importância e valor de áreas da economia atrás citadas, assis-tiu-se em Portugal e na Europa ao desapa-recimento da indústria como uma moda. Desfocou-se completamente a necessida-de de valorização e reforço de políticas de apoio à contínua industrialização, pelo apa-recimento de novas empresas industriais com um foco no desenvolvimento e não na componente manufactureira, de que resul-tou nos nossos dias, em falha estruturante

da economia, como está demonstrado.O programa do actual governo tem uma componente empresarial adjunta ao fun-cionamento do Ministério da Economia na forma de um Conselho, que perante a ne-cessidade de aumento da competitividade nacional é um instrumento muito valioso se for correctamente composto e implementa-do.Hoje assistimos a um o processo de recupe-ração e equilíbrio das contas públicas e da produtividade nacional a passar por uma es-tratégia das chamadas reformas estruturais. Não podemos ficar só por aqui à espera que as “coisas” aconteçam.O crescimento económico do nosso país exige também um tratamento estrutural e não de políticas de tratamento do cresci-mento pelo “curativo”. Estamos cheios de “curativos” e muitos deles à base de “ál-cool”.A Reindustrialização do país está na primei-ra linha do crescimento pelo que temos de identificar e valorizar os factores e variáveis da moderna indústria e com uma visão es-tratégica de longo prazo, colocar este país no caminho crescimento sustentado em que os empresários são os primeiros acto-res junto do governo nesta mudança.A excelência de uma estratégia nacional de apoio, reforço e reaparecimento de uma in-dústria de desenvolvimento mais focada nos bens transaccionáveis de alto valor acres-centado, é prioritária. A criação de novas empresas de base in-dustrial é urgente porque significa, um novo impulso à nossa economia, em ambiente de sustentação e resiliência com rápido cresci-mento do PIB, mais emprego e mais valor para o país.

É uma realidade, que a nossa economia perdeu nas últimas décadas a prestação de muitas empresas que estavam inseridas numa atividade económica, vulgo, designada de industrial. A dimensão, vai desde a pequena até à grande empresa com actividades entrosadas em verdadeiros “clusters” na sua maioria dos ditos sectores tradicionais ou seja, sectores com longo tempo de atividade

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Nos úLtimos quinze anos deste século, observa-se uma clara tendência de desin-dustrialização de Portugal, isto é, de perda do peso da indústria na atividade económi-ca e na ocupação da população ativa, em favor dos serviços. Este aspeto é evidenciado ao comparar-se a situação do País em 1986, ano da entra-da de Portugal na CEE, em que a indústria nacional representava perto de 32% da ri-queza nacional (PIB), e a situação verificada no final da última década, em que este valor passou para pouco mais de 27%. Ou seja, entre 1986 e o final do século, registou-se uma descida de cinco pontos percentuais do peso da indústria no PIB nacional.É, no entanto, consensual que não se pode sustentar a base terciária da economia se não houver uma base industrial forte e que os países industrializados conseguem resis-tir melhor às crises dos ciclos económicos. Surge, então, a necessidade de uma refle-xão sobre como atuar face à necessidade de reindustrializar o País. A discussão sobre este tema não pode, no entanto, resvalar na nostalgia. Significa isto que o fortalecimento do setor industrial não pode ser nostálgico e tentar reproduzir as empresas da década de 60 e 70 do século passado. Há que reinven-tar a indústria, designadamente nos setores determinantes para a produção de bens transacionáveis e de bens de substituição das importações.Estamos numa sociedade em mudança e a um ritmo tal que às vezes não conseguimos perceber o que está a mudar. Um mundo globalizado e altamente competitivo pressu-põe um setor empresarial capaz de incorpo-rar a inovação e de promover uma evolução tecnológica, ao serviço de uma economia de bens de valor acrescentado. A vantagem competitiva advém da utiliza-ção da informação certa no momento cer-to e orientada para o desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento, na inovação, na educação e estimulando a sociedade digital.

Não é possível desenvolver a competitivi-dade empresarial sem esforços sistémicos e sustentados conducentes ao desenvolvi-mento e à concretização de uma estratégia de qualidade, a qual exige elevadas compe-tências em Engenharia e tecnologia. Naturalmente que o desígnio subjacente a este objetivo está associado à atividade de Engenharia, pressupondo um setor em-presarial capaz de incorporar a inovação e de promover uma evolução tecnológica ao serviço de uma economia de bens de valor acrescentado, que nos diferencie dos demais e nos permita conquistar um novo lugar num mundo globalizado e altamente competitivo. A eficiência e a produtividade relacionadas com a Engenharia e a tecnologia são, por tudo isto, a chave da reindustrialização e, consequentemente, do desenvolvimento económico. Não há viabilidade de sucesso com vista à melhoria da nossa economia, designadamente quando está em causa a produção de bens transacionáveis, sem tecnologia e Engenharia de grande qualida-de. Naturalmente que este objetivo está as-sociado à necessidade de garantir o envolvi-mento da Engenharia nacional, em paralelo com a importação de conhecimento.Há, por isso, que reinventar o setor indus-trial, o que pressupõe, entre outras medi-das, o estímulo a uma relação mais profun-da entre as escolas de ensino superior e o setor empresarial, sendo altamente vantajo-so que se desenvolvam esforços para um melhor ajustamento entre as capacidades instaladas nessas escolas e as necessida-des das empresas. Defendemos um ensino da Engenharia com uma maior ligação às necessidades da indústria e um maior en-volvimento da indústria na definição das po-

líticas de investigação tecnológica aplicada.Esta visão impõe alterações nas escolas de ensino superior, por forma a constituir-se como polos de investigação estimuladores do empreendedorismo e do desenvolvi-mento de novas qualificações; e uma forte ligação das empresas às instituições de ensino e centros de investigação nacionais e internacionais, fomentando clusters de atividade, numa lógica de interação entre empresas e centros de conhecimento, que inclua a formação.O Estado tem um papel relevante na defi-nição estratégica dos setores da indústria considerados como mais relevantes para o desenvolvimento do País, que sirva como um guia para os agentes económicos e que garanta o estímulo a uma política industrial, dentro dos objetivos constantes da Estra-tégia Europa 2020, por forma a contribuir para a competitividade da indústria na UE no mundo que emergirá da crise. A partici-pação e o contributo da Engenharia e dos seus profissionais neste processo serão, por todas as razões, inevitáveis.É determinante a defesa de uma industriali-zação em áreas que têm sido relegadas para segundo plano ou desvalorizadas por políti-cas, ditas comuns, e que em muitas situa-ções não se ajustaram à realidade nacional. Referem-se, a título de exemplo, políticas que permitam estimular a agroindústria, que valorizem a designada “economia do mar” e que conduzam ao desenvolvimento de pro-cessos que resultem na redução de custos em fatores determinantes para a produção, dos quais a parcela referente à energia é determinante. A dependência energética de Portugal constitui uma das principais fragili-dades da nossa economia.

Carlos Matias Ramos Bastonário da ordem dos engenheiros

O papel da Engenharia e da Tecnologia Durante o século XX, o período mais dinâmico do crescimento da produtividade industrial ocorreu entre 1951 e 1973, tendo tido por base um modelo de desenvolvimento económico assente em três requisitos: políticas industrialistas, abertura ao exterior e condições internacionais favoráveis. Destacam-se, neste período, as indústrias transformadoras

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reindustrializar?Eu sei: reindustrializar está na moda, o termo feito slogan, talvez mais do que o objectivo ou qualquer programa de acção ao mesmo conducente. Como cantava o Padre Fanhais, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. É o que sucede comigo

o coNtexto é conhecido: a Europa, e tam-bém os Estados Unidos, envolveram-se num processo de globalização, em resultado do qual viram transferir-se para outras geografias uma boa parte da sua velha atividade indus-trial. As nossas economias terciarizaram-se e, o que é pior, passaram a caracterizar-se por taxas de crescimento muito reduzidas, com problemas crescentes de desemprego.As razões também são conhecidas: outras áreas do mundo (a Ásia mas também a América Latina e hoje, cada vez mais, a pró-pria África), com custos de produção muito inferiores, tiveram acesso ao conhecimento e aos meios que lhes permitiram realizar com vantagem actividades de tipo indus-trial. A redução dos custos de transporte e a alteração do quadro regulatório fizeram o resto, abrindo o Mundo desenvolvido a im-portações de que antes se defendia.De forma um pouco mais profunda, com o que nos tornaremos mais rigorosos, não po-demos deixar de verificar que a alteração do quadro regulatório, e da política subjacente, teve por mentor e principal agente impulsio-nador o interesse de gente ligada à comer-cialização de todo o tipo de produtos (pouco interessada na produção, e vendo sempre na importação uma oportunidade), o interesse de ex-industriais que se transformaram em comerciantes (passando a ver na importação uma oportunidade) e o interesse de grupos que aderiram à deslocalização da sua ativi-dade industrial (passando a importar compo-nentes e partes de produtos, quando não os produtos na sua totalidade). Tudo isto foi su-portado por teorias sobre o ganho de bem--estar colectivo proporcionado pela abertura ao comércio e por uma especialização em conformidade com as “vantagens compa-rativas” dos vários países. No fim da linha, encontravam-se os consumidores, ganhan-do efectivamente com o acesso a produtos importados de mais baixo preço.A redução do crescimento económico e o desemprego são um dos preços a pagar por este sentido de evolução. E criaram o “caldo de cultura” em que veio a emergir a chamada “reindustrialização”.Permitam-me que seja muito céptico. Fui

Daniel Bessa diretor-geral da CoteC PortUgal

educado na convicção de que “as mesmas causas produzem as mesmas consequên-cias”. Não vejo nenhuma alteração, talvez pelo contrário, nas causas objectivas (que considero as mais profundas) que conduzi-ram à desindustrialização da Europa e dos Estados Unidos. E, no que se refere às cau-sas subjectivas, ainda não consigo identificar as forças capazes de, de forma consequen-te, reverterem o quadro político e regulatório. Acresce que não tenho a certeza de, eu pró-prio, estar muito interessado nisso.Acredito que a liberdade de comércio e a consequente divisão internacional do traba-lho constituem um bem em si mesmo, de que pode resultar uma efectiva melhoria do nível de bem-estar global. Não tenho, por outro lado, nenhum preconceito em relação às formas de valor económico em que se suporta o nível de vida de cada comunidade – com o que quero significar que não vejo nenhum prejuízo no predomínio crescente de actividades de serviços, como, no passa-do, não me parece que a redução do peso da agricultura, então em benefício da indús-tria, tivesse redundado em qualquer tipo de inconveniente. Excluo, naturalmente, razões de defesa, a começar por razões de segu-rança alimentar, em relação às quais não sei

o suficiente para poder retirar daí quaisquer conclusões com um mínimo de robustez.O cepticismo e as crenças em que se funda-menta não são, no entanto, suficientes para que não compreenda a questão, para que não me sinta incomodado por ela e pelas suas consequências, e impelido a fazer al-guma coisa no sentido de a superar. Ponde-raria sobretudo três possibilidades:

- Há países europeus em que o sentido de evolução acabado de referir não deu lugar a consequências tão penalizantes, e tão dra-máticas. Souberam conviver com ele, adap-tando-se melhor e tornando-se mesmo ga-nhadores. A Alemanha será o expoente desta postura bem sucedida. Continua a ter indús-tria, na certeza de que o termo não se aplica hoje às mesmas actividades a que se aplicava no passado: com a engenharia e o desenvolvi-mento de produtos a ocuparem o lugar dantes ocupado pelas velhas actividades meramente “transformadoras” ou “manufactureiras”. Se por indústria se entende isto mesmo, ou seja, uma atividade intensiva em conhecimento e em inovação, com um elevadíssimo conteú-do de serviços incorporados em produtos em que há muita matéria transformada, sim, eu também sou pela reindustrialização – mesmo

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continuando muito pouco preocupado em saber quem executa a fase de menor valor acrescentado em todo o processo, leia-se, a “transformação” da matéria propriamente dita, ou a sua “manufactura”;

- Com o decorrer do tempo, têm vindo a tornar-se cada vez mais claras as vantagens oferecidas por actividades industriais de maior proximidade ao cliente final, suporta-das por organização e logística consentâ-neas com o aproveitamento de todas essas vantagens – em contraposição ao argumen-to preço propriamente dito. Se por indústria se entende o aprofundamento e o aproveita-mento destes factores de competitividade, sim, eu também sou pela reindustrialização, tirando ainda partido do mais que provável aumento dos custos de produção nas áreas do Mundo hoje designadas de “emergen-tes” ou “em desenvolvimento”;

- Torna-se absolutamente indispensável alterar algumas das condições de um quadro regula-tório selvagem e que, com o decorrer do tem-po, se tornou aberrante. Refiro-me à uniformi-zação das regras ambientais (em que há um interesse verdadeiramente colectivo, tão agre-dido pela infracção destas regras numa como noutra qualquer parte do Mundo), à imposição de um efectivo cumprimento das regras de propriedade intelectual, e, sobretudo, à exi-gência a todos os países de reciprocidade em matéria de abertura ao comércio. Compreen-do e aceito as limitações que foram introduzi-das e que poderão continuar a ser mantidas em benefício das populações de países muito pobres, mas não consigo concordar com li-mitações que, em nome de uma pobreza já em boa parte ultrapassada, continuam a pro-teger os mercados internos de alguns dos mais poderosos países do Mundo, em termos políticos e também económicos. Em áreas de atividade em que os maiores produtores e ex-portadores mundiais se encontram nos países ditos “emergentes” ou “em desenvolvimento”, tendo reduzido a pouco mais do que a insig-nificância os “pequenos produtores” europeus ou norte-americanos, não consigo compreen-der, de facto, que razões poderão continuar a justificar a protecção dos mercados internos daqueles grandes produtores e exportadores mundiais – impedindo a indústria dos países “desenvolvidos” de aceder à oportunidade (tão free como fair) de competir junto das clas-ses médias desses países, por vezes de enor-me dimensão e em franco desenvolvimento. Se por indústria se entende a alteração deste quadro regulatório, e o aproveitamento das oportunidades que tal não deixará de oferecer, sim, eu também sou pela reindustrialização.

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ReindustrializarComeça hoje em dia a falar-se da necessidade de reindustrialização do país, após décadas de destruição de valor. A necessidade de voltarmos à economia real é hoje um imperativo. Devemos interrogar-nos sobre quais as ilações que o país soube retirar do estudo que Michael Porter realizou sobre a economia portuguesa

um dos asPetos mais determinantes para termos chegado à atual situação foi e é a ausência de estratégia, obviamente enten-dida não numa perspetiva de planeamento centralizado, mas sim como uma linha con-dutora que nos permita a definição de um rumo subordinado a uma lógica coerente de crescimento e desenvolvimento económico tendo como base:1‐ Os recursos naturais;2‐ O acesso e custo dos meios de financia-mento;3‐ As competências existentes, bem como a identificação de novas necessidades de forma a estabelecer políticas educativas e de formação profissional consequentes;4‐ Os custos de contexto.Chegámos a um ponto em que nos deve-mos interrogar quais as vantagens compe-titivas quePortugal apresenta, num mundo cada vez mais globalizado, para ser atrativo para a instalação de empresas industriais.Hoje em dia, qualquer empresa instalada em

Helder Gonçalves Presidente do Conselho diretor da afiaassoCiação de faBriCantes Para a indústria aUtomóvel

Portugal apresenta sérias desvantagens que se traduzem, por exemplo:1‐ Nos elevados custos da energia e na fia-bilidade do seu fornecimento;2‐ Na escassez de acesso ao crédito e nas dificuldades que o seu preço e prazo apre-sentam;3‐ Os elevados custos de transporte im-pulsionados, entre outros, pelos preços de combustíveis, portagens e fretes portuários;4‐ Uma fiscalidade absurda, como é o exemplo da sujeição a IMT e IMI quando, tratando-se de empresas de cariz industrial, existe na esmagadora maioria dos casos um efeito mobilizador, quer do ponto de vis-ta regional quer nacional.

Os custos de contexto são determinantes na forma como afetam a produtividade e, não sendo competitivos, traduzem‐se ine-xoravelmente na redução do preço do fator trabalho. A inovação é um dos pilares que tende a contrariar este efeito, mas esta, por sua vez, exige a libertação de meios signi-ficativos para o seu financiamento, meios estes que são erodidos ou não gerados, de-vido ao peso dos referidos custos de con-texto e de financiamento.A indústria de componentes para automó-veis que a AFIA representa tem, ao longo dos anos, contribuído para o desenvolvi-mento da indústria nacional, tendo‐se cons-tituído como um Cluster exportador impor-tante em que a componente de inovação, nomeadamente ao nível dos processos, é uma constante. Em Portugal, esta indústria está dispersa por 38 CAES, ocupa mais de 41 000 postos de trabalho diretos, tem um volume de negócios anual de 7 500 M€, dos quais mais de 90 % se destinam à expor-tação.À guisa de conclusão, direi que a manuten-ção e desenvolvimento futuro desta indús-tria, a par de muitas outras, estão subor-dinados às decisões políticas de carácter reformista que permitam diminuir os custos de contexto a par da difícil tarefa de ultra-passar a crise das fontes de financiamento. O tempo urge e há muito que foi ultrapas-sado o limite para que estas medidas se-jam concretizadas, pelo que continuaremos garantidamente a assistir a uma destruição sem precedentes do tecido industrial e ao empobrecimento inevitável do país.

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Não PReteNdo fazer análises de conjuntura e muito menos dissecar as razões do sufoco que todos passamos com a crise económica e financeira nacional e europeia. Há quem o faça com muito mais propriedade e saber e há tam-bém quem esteja a tratar do assunto.Importa-me sim que, às medidas que têm sido tomadas, em nome da “consolidação orçamental”, se junte uma verdadeira política de fomento da atividade económica e com o empenho do setor produtivo português.E isto a bem do interesse nacional e, leia-se tam-bém, a bem da indústria nacional, indispensável para o sucesso de todas as “operações em curso”.Não posso deixar de referir que se perdeu muito tempo. Mas ainda vamos a tempo de recuperar e de reafectar os recursos necessá-rios para que este desígnio nacional e euro-peu, seja uma realidade.Vejamos o que são hoje as condições da indústria nacional: uma indústria de média dimensão, fortemente exportadora, com en-foque em mercados de nicho e de alto valor acrescentado, com produtos finais e com-plementares de indústrias mais pesadas, apresentando uma melhoria significativa na qualidade e formação da mão-de-obra, mais flexível e em menor número, é certo.Sintetizando: menos força de trabalho, produz com mais flexibilidade, com novos materiais e ferramentas da era digital, usando outras competências e chegando a novos mercados.E do que necessita o mercado global? De in-dústrias flexíveis, de valor acrescentado e com forte pendor inovador, com capacidade para adaptação às necessidades do cliente, para séries mais pequenas e capacidade de res-posta muito curta face aos pedidos do merca-do. Ah, e de preço competitivo…O que é curioso, pelo menos para mim, é que os nossos antigos concorrentes, em grande parte responsáveis pelo nosso declínio (e em boa medida, pelo nosso “despertar”!), perdem agora os seus factores críticos de sucesso (mão de obra barata e massificação de produ-tos), sendo por isso o seu “declínio”, uma opor-tunidade para a indústria portuguesa e europeia com a conquista dos mercados onde eles ope-ravam e de outros com exigências diferentes.É pois, e tiremos toda a carga política a esta de-claração, uma altura de oportunidades e desafios.O que pode o país industrial fazer perante isto?

O que já está em curso e não pode ter retorno: readaptação às novas realidades; aposta contí-nua na inovação e qualidade dos produtos; rea-fectação dos recursos humanos às novas reali-dades com mais formação e informação; aposta contínua nas tecnologias de produção mais up dated, conjugando tudo com a agressividade comercial que o momento merece e com a ca-pacidade de valorizar a “arte de ser português”.Pergunto-me se alguém tem dúvidas que este caminho já está a ser percorrido? É que ape-sar de tudo, os indicadores da balança comer-cial estão aí para dissipar as dúvidas, ou por ventura há quem pense que estes resultados são o fruto das apostas dos últimos seis me-ses? Não! Antes são o resultado de uma certa indústria que há quase uma década se renova continuadamente para enfrentar os desafios e grande parte do choque que vivemos.O que pode o Estado fazer perante isto? Para além do que a CIP pede há vários anos e que se mantém actualíssimo (sistema fiscal eficaz e claro; sistema judicial eficaz e eficiente; con-dições de financiamento à economia real) há toda uma política pública, discreta mas orde-nada, que pode facilitar a procura de oportuni-dades, capitalizando a indústria existente, re-forçando as suas competências e valorizando a qualidade e excelência dos seus produtos. Este movimento tem espaço para ser execu-tado, até porque a política de clusters em cur-so, tem incorporado este desafio.É certo que por definição ou “decreto, a clus-turlização por si só não resolve o problema da competitividade da industrial nacional. Mas os processos em curso, sobretudo os que têm ligação directa à indústria transformadora e que são já irreversíveis, com os efeitos da sua organização a fazerem-se sentir num alargado número de empresa e com resultados visíveis, mostram que esse é um caminho a seguir. (A PRODUTECH – Polo Das Tecnologias de pro-dução sustentável e a Poolnet –Polo de Com-petitividade Engineering& Tooling, são dois bons

exemplos desta forma colaborativa de trabalhar).Defendemos que uma política publica que coor-dene e incentive a instalação e a reestruturação das indústrias ligadas ao automóvel, á saúde, ao ambiente e energia, às TIC e mesmo a aeronáu-tica faz sentido face à capacidade existente.Mas também o sucesso de uma certa indús-tria dita tradicional (calçado; têxtil; metalome-cânica) é um sinal importante: há produtos que o retalho europeu já não quer comprar na Asia, pela sua morosidade, porque despre-zam a qualidade e o seu controlo, porque é difícil litigar, porque são menos flexíveis, menos rápidos, e porque muitos países do Oriente se viraram para o mercado interno e de proximi-dade, com crescimentos alucinantes. O país industrial está a ver isto e está a mover-se.Aquilo a que se chama hoje “reindustrializa-ção” é assim a possibilidade de afectarmos recursos ao que já temos e fazemos bem, conjugando esse esforço com a renovação dos recursos humanos e aproveitamento mais eficiente das tecnologias existentes e dos mercados por explorar. Não será fácil, so-bretudo com a escassez de meios financeiros mas aqui é que não há que hesitar.A aposta na reindustrialização da nossa eco-nomia, a exemplo do que tem vindo a acon-tecer em diversos países europeus e nos Es-tados Unidos da América, permitirá potenciar um aumento do investimento privado em I&D e inovação – na Europa, mais de 2/3 do inves-timento privado em I&D é efetuado pela indús-tria transformadora – e vem criar espaço para um reforço da intervenção das infraestruturas tecnológicas portuguesas.Não tenhamos dúvidas: com mais ou menos austeridade, todo o trabalho de reinvenção do tecido industrial português tem de continuar a ser feito.Temos por isso que perseguir o objetivo de que me ouvi falar há meses, por parte de um diretor de fábrica alemão: “I want my factory back”! So do we!

Gonçalo Lobo Xavier diretor exeCUtivo da reCet rede dos Centros teCnológiCos de PortUgal

o último desafio“Now more than ever, Europe needs industry and industry needs Europe”* O país está a passar um momento difícil, talvez o mais crítico da sua história recente, mas este só será vencido se o interesse nacional prevalecer, como tão bem disse há dias o Professor Adriano Moreira

*In european Commission (28 October 2010) An Integrated Industrial Policy for the Globalisation era Putting Competitiveness and Sustainability at Centre Stage -COM(2010) 614

reiNDustrialização

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Reconciliando-se com a globalização?

José Félix Ribeiro eConomista

1. Portugal: uma economia que não soube aproveitar a globalização para crescerA evolução da economia portuguesa nos úl-timos 25 anos foi caracterizada por quatro processos principais:um forte crescimento do setor não mercantil da economia devido à amplia-ção das funções do estado na oferta de “bens de mérito” – educação, saúde – e na realização de transferências para as famílias, como contrapartida da ”poupança forçada” recolhida pelo Estado para financiamento da segurança social; uma profunda modernização do setor mercantil de serviços não transacioná-veis entendidos num sentido amplo de sec-tores no essencial orientados para o serviço do mercado interno, embora funcionando num quadro mercantil (telecomunicações, distribuição, serviços às empresas, servi-ços financeiros, etc.), num quadro de maior competição, resultante da entrada de novos operadores; as privatizações e a liberaliza-ção destes sectores foram determinantes para este processo;Uma reabsorção dos défices elevadís-simos que existiam em meados da dé-cada de 80 do século xx em áreas infra -estruturais como acessibilidades, indús-trias de rede (telecomunicações, eletricida-de, gás natural), abastecimento de água e tratamento de efluentes e resíduos, equipa-mentos sociais e desportivos das cidades e, mais recentemente, habitação;uma limitada mudança na “carteira de bens e serviços transacionáveis” trazida quase exclusivamente pelo investimento di-reto alemão nos sectores automóvel e ele-trónica e serviços, pela viragem no turismo para o golfe e pela emergência do calçado como o mais dinâmico dos sectores de ex-portação tradicional.A intensidade dos dois processos assinala-

dos 2) e 3) determinaram que o essencial dos polos empresariais de maior dimensão em Portugal se tivessem vindo a concentrar num conjunto de atividades que têm o mer-cado doméstico como foco do crescimen-to, nomeadamente em torno das atividades que poderíamos designar por Cluster da Construção e por sectores infra-estruturais.Alguns destes polos empresariais de maior dimensão estão presentes também em sec-tores exportadores: nas indústrias florestais (madeira e aglomerados, cortiça e aglome-rados, pasta e papel), nas agro- indústrias (vinhos, óleos alimentares) e ainda em pe-quena escala no turismo, ou seja, em secto-res cuja competitividade assenta em recur-sos naturais e ambientais de Portugal. Por sua vez, o sistema financeiro português, assente na intermediação bancária, tem vin-do cada vez mais a dirigir a sua atenção ao financiamento das famílias (crédito à habi-tação e crédito ao consumo), à promoção do imobiliário (residencial, de escritórios, co-mercial e turístico) e aos investimentos das empresas dos sectores infra-estruturais, incluindo sob a forma de Parcerias Público - Privadas.Ao contrário das pequenas economias aber-tas que connosco estão estiveram na EFTA - Áustria, Dinamarca e Suécia - ou de novos Estados Membros da UE– como a Hungria, República Checa e Eslováquia, Portugal “vi-rou-se para dentro” e comportou-se como se fosse uma economia de média dimensão como a Espanha, França, a Itália ou Reino

Unido, com muito menor orientação expor-tadora - mas qualquer delas com quatro a seis vezes mais população e muito maior PIB per capita do que Portugal .Este com-portamento anormal implicou crescimentos lentos que tiveram que ser apoiados num endividamento externo para assegurar o crescimento do consumo e do investimen-to residencial das famílias, do investimento em infra estruturas e nos sectores infra es-truturais por parte do Estado e das grandes empresas desses sectores.

2. Portugal: uma economia que necessita de se reposicionar na globalização para voltar a crescer Gostaríamos de começar por salientar qua-tro elementos que condicionarão a retoma do crescimento na economia portuguesa: • A retoma sustentada do crescimento tem que assentar num aumento substancial da produtividade dos fatores - capital, conhecimento/tecnologia , trabalho e terra - quer nos sectores exportadores, quer nos sectores mais “protegidos” da concorrência internacional e que atualmente, por estarem sob controlo do Estado não podem evoluir para soluções muito mais eficazes e eficien-tes (rompendo com a uniformidade típica dos serviços prestados pelo estado); • A retoma do crescimento tem que con-tribuir para dois outros objetivos: reduzir o défice externo de forma continuada e ser compatível com a consolidação orçamental que nos assegure de novo a

portugal Na ecoNomia global

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confiança dos mercados de capitais inter-nacionais;• A retoma do crescimento tem que as-sentar numa nova vaga exportadora e não apenas na viragem da atual carteira de atividades exportadoras para novos merca-dos ; ou seja tem que assentar na abertura de oportunidades no mercado exterior sufi-cientemente vastas para que justifiquem um aumento substancial e continuado do investimento no setor exportador;• Num período prolongado de limitação da capacidade de financiamento interno - público e dos s bancos comerciais - esta vaga exportadora tem que assentar em atividades pouco intensivas em capital e muito intensivas em competências e conhecimentos, que se encontram qua-se todas quer em sectores de serviços quer de bens industriais muito transforma-dos por serviços (I&D, Design e marketing) deixando para o investimento exterior o investimento industrial em sectores mais intensivos em capital que possam localizar-se em Portugal devido ao seu po-sicionamento e características geográficas e às suas opções geo económicas.Portugal para responder à crise em que se encontra tem pois que organizar uma “ex-pedição coletiva” à globalização. para voltar a crescer. Não pode crescer manten-do o seu foco nem exclusivamente no que já se exporta a partir de Portugal para exportar “mais do mesmo” (mesmo quando o “mes-mo” seja melhorado).Portugal tem uma presença aual nos merca-dos internacionais que é muito vulnerável à concorrência das grandes economias emer-gentes e a cada vez maior número de eco-nomias em desenvolvimento .E Portugal está inserido numa das regiões mundiais com pior desempenho nos anos próximos.Nessa expedição de Portugal , à descoberta de novas funções, novos mercados, novas atividades e novas maneiras de realizar ati-vidades onde acumulou competências, as empresas multinacionais podem fornecer VoLume em atividades que tenham forte procura internacional, empreguem recursos humanos qualificados e permitam a Portugal posicionar-se nas respetivas cadeias de va-

lor de modo a poder ascender gradualmente nessa cadeias. Enquanto as PME`s e as start ups fornecerão a VaRiedade. Volume e Variedade são as duas componentes chave numa vaga de internacionalização para que seja rápida nos efeitos e prudente no evitar de uma dependência exclusiva de um núme-ro restrito de grandes operadores.O investimento direto estrangeiro que nós precisamos de atrair não se irá entrar uni-camente na indústria como aconteceu na década de 80 e 90 em torno do automóvel, eletrónica e material elétrico. A evolução re-cente revela uma vaga de vendas no exterior realizada sobretudo por multinacionais de tecnologia e de serviços que localizam em Portugal centros de I&D e centros de com-petência para os seus respetivos grupos e redes; fazem outsourcing em Tecnologias de Informação, instalam centros de recursos partilhados e contact centers que ocupam hoje no seu conjunto dezenas de milhares de empregos - recrutando quer trabalha-dores jovens, escolarizados, mas não ainda qualificados, quer engenheiros de elevada qualificação.Assim no futuro será tão importante atrair uma clínica de renome internacional, uma empresa de equipamento médico, um pro-dutor de conteúdos para internet, uma em-presa de telecomunicações para localizar unidades de consultadoria para o mundo, como uma empresa de aeronáutica ou de veículos elétricos para uso urbano.O investimento direto estrangeiro será tanto mais estruturante quanto mais oportunida-des abrir de fornecimentos locais e quanto mais emprego qualificado permitir fixar em Portugal Se procurarmos partir do que já temos os Poólos de Competitividade exis-tentes seriam mais interessantes se se tor-nassem em poólos de atração de IDE nas novas áreas que acabámos de referir.A diplomacia económica do País deve es-tar orientada antes de mais para a cap-tação de investimento direto e não pode fazê-lo centrando-se nos mercados do sul do planeta - mesmo que falem a nossa língua - mas de onde não podem vir os in-vestidores que nos permitam reposicionar a nossa oferta em atividades, produtos e ser-

viços que empregando recursos humanos qualificados respondam a áreas da procura em forte crescimento mundial.Portugal faria bem em configurar uma rede de relações privilegiadas com regiões do mundo em que se condensem valor e va-riedade. Ou seja não podemos olhar para atração de investimento direto como uma “pesca à linha” mas como um processo diri-gido a regiões onde se concentram hoje as empresas que organizam cadeias de valor mundiais e onde se concentra a inovação. Num período de grande incerteza sobre o futuro da União Europeia poderíamos definir com vantagem uma estratégia de relaciona-mento externo que, não nos afastando do centro mais próspero e inovador da Europa, nos protegesse de eventuais ruturas euro-peias. Dai a importância de relacionamentos fora da Europa com regiões dinâmicas, va-riadas e inovadoras.Nesta perspetiva faria quatro sugestões de focos que não poderão faltar no “mapa” mais abrangente da nossa “expedição à Globalização”. Assim:Em qualquer abordagem temos que procu-rar estreitar relações empresariais, culturais (e até desportivas) com algum dos três Es-tados que financiam o resto da Alemanha - ou seja o Baden-Wurtemberg, a Baviera e o Hesse pois é junto dos estados alemães mais poderosos que temos que mudar a imagem de Portugal.Na Europa deveríamos combinar este rela-cionamento alemão com duas economias que nós conhecemos do tempo da EFTA - a Suécia e a Suiça que em conjunto com as três regiões da Alemanha formam o núcleo industrial mais poderoso do Continente - e que podem ter vantagem em localizar servi-ços e fases de fabrico em Portugal.Fora da Europa deveríamos privilegiar rela-cionamento com regiões pertencentes às economias tecnologicamente mais avança-das do Pacifico - ou seja dos EUA e do Ja-pão - e preferindo na Ásia de matriz chinesa, “Estados intersticiais” como Singapura.E se tivermos possibilidade de olhar para o “Sul da economia mundial deveria ser prio-ritário estreitar alianças empresariais e atrair investimento da Índia e de Estados do Golfo (Qatar, Emiratos Árabes Unidos e Omã).

EM SíNTESEPortugal poderá retomar o crescimento renovando a sua carteira de atividades ex-portadoras na indústria e nos serviços e po-derá fazê-lo se funcionar como plataforma atrativa de investimento, para quem queira estar presente em mercados da Europa e do Atlântico-Norte e Sul.

Portugal PodeRá retomar o CresCimento Renovando a sua CaRteiRa de atividades exPortadoras na indústRia e nos seRviços e PodeRá Fazê-lo se FunCionaR CoMo Plataforma atRativa de investimento, PaRa queM queiRa estaR PResente em merCados da euroPa e do atlântiCo-noRte e sul

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Competências, ativos e relações PrivilegiadasA dimensão avassaladora dos problemas que a economia portuguesa defronta no presente dificulta, por vezes, uma visão de perspetiva, sempre essencial quando se trata de discutir um modelo de desenvolvimento sustentado para o país. Essa visão de perspetiva é relevante, não porque seja menos cruel nas suas conclusões, face a uma economia com um passado recente de crescimentos desapontantes, um modelo de desenvolvimento esgotado e à míngua de investimento, mas porque tal visão ajudará certamente a relativizar a importância dos diferentes desafios enfrentados. Hoje, muito se fala do equilíbrio das contas públicas e do controlo da dívida pública e a tal se subordinaram, na total e literal extensão do conceito, os objetivos, as metas e as ações de política económica

Não se questioNa aqui a premência e a necessidade do programa de ajustamento empreendido ao longo do último ano. Consi-dero, inclusive, que Portugal enfrenta a opor-tunidade histórica de criar os espaços de con-senso necessários para executar as reformas estruturais indutoras da competitividade e da modernidade, processo em que a CIP-CEP tem vindo a assumir um papel protagonista digno de realce. O tratamento de austeridade empreendido é, pois, necessário mas, como muito bem diz a sabedoria popular, “o que é demais é moléstia”! É legítimo questionar se não estaremos no limiar da sua admissibilida-de (ou se não o teremos já ultrapassado) do ponto de vista da perenidade das estruturas sociais e económicas portuguesas. Tanto mais que o programa de ajustamento em cur-so dirige baterias para o equilíbrio das contas e da dívida públicas, condição necessária, sem dúvida, mas muito longe de suficiente, talvez quiçá nem a mais importante, para um mo-delo de desenvolvimento económico e social sustentável para Portugal. Acredito que ne-nhum modelo de desenvolvimento com estas características será equacionável sem que Portugal encontre soluções para o equilíbrio das suas contas externas. E esse sim é o de-safio que urge ganhar.Desafio de envergadura, para um país que apenas no longínquo ano de 1943 (e por in-felizes circunstâncias) registou o seu último excedente comercial externo e cujo último excedente das balanças corrente e de capital (ou da balança de transações correntes) data de há quase 20 anos atrás (1993). Desafio que exige a conquista de competitividade in-ternacional e o investimento em capacidade

produtiva, principalmente no setor dos bens transacionáveis. Desafio para um país que sempre se viu como uma pequena econo-mia aberta mas que, confrontado com a frie-za dos números, tende a remeter essa ideia para a gaveta dos mitos urbanos. Como muito bem nota José Félix Ribeiro

(no domínio da Prospetiva, uma das vozes portuguesas mais originais, clarividentes e interessantes, a quem aqui presto sincera homenagem), há na Europa duas categorias de países. De um lado os países que, con-frontados com a exiguidade dos seus mer-cados internos, construíram o seu modelo de

Miguel Flórido viCe-Presidente do Conselho geral e memBro da direção da CiP

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portugal Na ecoNomia global

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desenvolvimento enquanto economias aber-tas voltadas ao exterior. É o caso da Irlanda, da Hungria ou da República Checa. Do outro lado, os países dotados de amplos merca-dos internos e que, por conseguinte, abra-çaram modelos de desenvolvimento alicer-çados no estímulo da procura interna. Entre estes o Reino Unido, a Espanha, a França ou a Itália, cujo peso do comércio internacional (exportações mais importações) no respetivo PIB é relativamente menor. Há, depois, duas exceções. A primeira, a Alemanha, que, apesar da dimensão do seu mercado interno, assume a sua voca-ção exportadora (principalmente de bens de equipamento), ombreando com a China en-quanto detentoras dos maiores excedentes comerciais do mundo. A segunda exceção, com contornos menos honrosos, adivinhe--se, é Portugal. Portugal, com um mercado interno de apenas 10 milhões de consumido-res, com cerca de 75% do poder de compra médio de um cidadão comunitário, regista um nível de abertura económica ao exterior (peso da soma das exportações e importa-ções no PIB) pouco superior a países como o Reino Unido, a França ou a Espanha.É esta inusitada disparidade portuguesa que urge corrigir. Para tal, há que assumir o de-sígnio nacional de promover o investimento, criando as condições de confiança, minimi-zando os custos de contexto e assegurando

o acesso a financiamento, pois a capacida-de técnica e empreendedora, essa, existe junto do empresariado português. Acredito igualmente que, minimizados aqueles custos de contexto, a economia portuguesa revela um potencial de atração de investimento di-reto estrangeiro que não pode, de todo, ser desvalorizado. A realidade atual é, porém, confrangedora: em 2011 o investimento em Portugal não foi suficiente para repor a ca-pacidade produtiva interna, com a formação líquida de capital fixo a registar um valor ne-gativo. Há, pois, que potenciar o investimen-to na economia portuguesa, com enfoque óbvio no setor dos bens transacionáveis, vocacionado para as exportações ou para a substituição de importações, e o papel que pode ser desempenhado pelas estratégias de internacionalização do tecido empresarial português (através da criação e desenvolvi-mento, além fronteiras, de canais de escoa-mento da produção nacional). Internacionali-zar, com ou sem presença física no exterior, é consumidor de recurso (humanos e finan-ceiros) e conduz, na generalidade dos casos, a projetos com prazos de retorno longos e com risco não despiciendo, nem sempre ao alcance de estruturas empresariais de menor dimensão ou com menor folgo financeiro. O esforço de associativismo empresarial, unin-do forças e promovendo sinergias, fazendo do pequeno grande, e o apoio, sem peias

ou falsas demagogias, aos grandes grupos empresariais portugueses constituirão eixos privilegiados para promover a internacionali-zação da economia portuguesa, a sua indus-trialização e o desbravar de um caminho de desenvolvimento sustentável. Aos grandes grupos empresarias, infelizmente menos do que aqueles que gostaríamos de ter, in-cumbe a responsabilidade de se assumirem como exemplo neste desígnio nacional, for-çando a sua entrada em novos mercados e arrastando o vasto rol de PME que constitui a coluna dorsal do nosso tecido produtivo.Evite-se, finalmente, o excesso de voluntaris-mo (assume-se que bem intencionado) que, muitas vezes, impulsiona o poder político para a criação de projetos por decreto. No grupo onde trabalho, acreditamos que um projeto está votado ao sucesso se estiver su-portado nas nossas Competências, fizer uso dos nossos Ativos Estratégicos e das nossas Relações Privilegiadas de parceria com os di-ferentes stakeholders.Abandonem-se, pois, em Portugal, as deci-sões por decreto e procurem-se as Compe-tências, os Ativos Estratégicos e as Relações Privilegiadas que permitam a construção de um projeto de desenvolvimento coerente, integrado e sustentável. E acreditem: tais Competências, Ativos e Relações são mui-tos, são variados e são sólidos…aqui à mão do nosso esforço.

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Condição sine qua non da reindustrialização do paísPela primordial importância no atual contexto da economia portuguesa, a reindustrialização do País é um assunto que tem merecido uma especial atenção por parte da AEP. Recordo que a Fundação AEP, em conjunto com a Fundação de Serralves, organizaram as suas Jornadas em 2011 inteiramente dedicadas a este tema, amplamente debatido por distintas personalidades do mundo académico e empresarial

É sabido que à medida que as economias se desenvolvem o setor dos serviços tende a tornar-se “mais relevante”, em detrimento dos setores primário e secundário, pelo que Portugal não é exceção a esta tendência. A repartição do VAB e do Emprego gerados pelos diferentes ramos de atividade econó-mica mostra que ao longo das últimas déca-das, o nosso País, tal como a Europa, tem vindo a assistir a uma crescente “desindus-trialização”, com tradução na redução do peso relativo da indústria na produção e no emprego. Há, contudo, algumas exceções, como é o caso da Alemanha, que conse-guiu suster esta tendência. Portugal assistiu entre 1995 e 2010 a uma redução de cinco pontos percentuais do peso do VAB da in-dústria transformadora (para 13,5%), idên-tica, em termos relativos, à observada na UE27. (Gráfico I). Porém, a competitividade presente e futura do País só será possível com a existência de uma indústria forte, ca-paz de ser o suporte de várias atividades. No entanto, as estatísticas incorporam uma subavaliação do peso da indústria, por igno-rarem os impactos indiretos e induzidos que esta exerce noutros sectores, a montante e a jusante, constituindo o núcleo duro das cadeias de valor globais onde está inserida. Também parte daquela redução estará as-sociada a fenómenos de outsourcing (com a deslocação de funções de natureza terciá-ria, até então desempenhadas pela indústria e como tal contabilizadas, para o setor dos serviços). Porém, não restam dúvidas que se assistiu a uma forte quebra do peso da indústria na economia portuguesa e, consequentemen-te, a um afastamento do investimento de sectores expostos à concorrência (em re-gra, mais eficientes e com maiores ganhos

José António Barros Presidente da aePassoCiação emPresarial de PortUgal

de produtividade e de eficiência) por contra-ponto de uma maior concentração em sec-tores “mais protegidos” (sectores regulados, como a eletricidade e as telecomunicações, ou as infraestruturas), que foram apoiados pelas políticas públicas e pela banca, pena-lizando a indústria. No atual contexto, marcado por uma forte contração da procura interna, que se agra-vará, com elevada probabilidade, face às medidas agora anunciadas pelo Primeiro--Ministro, o comércio internacional assume uma importância acrescida como um fator impulsionador do crescimento económico. Como tenho referido, o comportamento

positivo das exportações portuguesas, com ganhos de quota de mercado, é um sinal da capacidade de resistência e de resiliência dos industriais portugueses, atendendo a que o mesmo não está unicamente asso-ciado à procura por parte dos mercados externos, mas depende, sobremaneira, da capacidade das empresas em aumentar e qualificar a sua produção e colocá-la nos mercados internacionais a preços compe-titivos. O cenário macroeconómico mostra que o bom desempenho das exportações está a evitar uma quebra mais acentuada do PIB e a contribuir para a redução substancial das

Gráfico 1

FiNaNciameNto

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necessidades de financiamento da econo-mia portuguesa. O resultado alcançado em matéria de correção do défice da Balan-ça Corrente, acima do que era esperado, é um sinal inequívoco da capacidade de ajustamento do nosso setor produtivo, em particular do esforço acrescido por parte dos empresários da indústria transformado-ra, basta pensar que perto de dois terços das exportações totais portuguesas são de bens fabricados por este setor de atividade, já para não referir a importância que tende a desempenhar ao nível da substituição de importações.A indústria é, pois, o motor da recuperação económica, pelo que não temos alternativa senão voltar a investir neste setor para con-seguir elevar a intensidade exportadora, ain-da muito aquém do que é expectável face à dimensão do País. Porém, para ter sucesso, a indústria neces-sita de condições de enquadramento e de funcionamento adequadas às suas reais necessidades, com particular destaque para as que condicionam a sua dinâmica de criação de riqueza e emprego. Como por di-versas vezes tenho referido, o financiamen-to é o constrangimento mais crítico para as empresas portuguesas, em particular para o segmento das Pequenas e Médias Em-presas (PME), que constitui a esmagadora maioria do nosso tecido empresarial. A dificuldade ao nível do financiamento ban-cário por parte das empresas é precisamen-te um dos principais problemas apontados no Relatório de Competitividade Global 2012-2013 do World economic Forum, re-lativamente a Portugal. Pode ler-se no Re-latório “Portugal continues to suffer (…) a worrisome state of the banking system that has shut down access to affordable finan-cing, affecting the capacity of local firms to obtain loans, equity, or venture capital for their investment projects”.Também o Inquérito ao Crédito, de Março de 2012, da AIP e CIP, fornece diversos re-sultados que dão conta de um acréscimo das dificuldades no acesso ao crédito ban-cário e de um aumento do seu custo. Sem entrar em detalhe, há, porém, um resultado que considero muito relevante e que tem a ver com o facto de que um quinto das em-presas recusou, nos últimos seis meses, alguma encomenda por dificuldades de fi-nanciamento. O constrangimento financeiro (crédito à tesouraria inexistente ou a um preço in-comportável com a margem de negócio da empresa), ao inviabilizar a satisfação de encomendas por parte de empresas eco-nomicamente viáveis, amplifica um efeito

recessivo sobre a atividade económica. Es-tas circunstâncias legitimam uma redobrada atenção sobre este tema. Sou da opinião que o financiamento bancá-rio deveria ser visto como uma complemen-taridade ao capital próprio das empresas. No entanto, uma das fragilidades estruturais do nosso tecido empresarial é precisamente a excessiva dependência do crédito bancá-rio, sua principal fonte de financiamento, em detrimento de uma maior participação de capitais próprios, que se torna ainda mais preocupante na conjuntura atual. Basta olhar para as estatísticas dos rácios de autonomia financeira e de endividamen-to das empresas para se perceber que uma proporção significativa apresenta uma es-trutura de financiamento desequilibrada, vin-cada por um elevado grau de dependência de credores e por um défice de capitais pró-prios, o que tem significativas consequên-cias na obtenção de crédito.Reafirmo aqui que a situação do financia-mento do setor produtivo de bens ou ser-viços transacionáveis, quer para apoiar diretamente a sua exportação, quer para investimento em ativos fixos, em tecnolo-gia, em inovação ou em atividades de I&D, permitindo o aumento da sua produção, da qualidade dos seus produtos e do seu valor acrescentado, quer para apoio de neces-sidades de tesouraria, quer mesmo para a recapitalização das empresas, tem que ser encarada como uma urgência nacional!Se não, vejamos:O financiamento do setor produtivo para além de permitir alcançar as desejadas me-tas da intensidade exportadora, essencial para o reequilíbrio da nossa balança comer-cial, cujo peso terá de ser muito superior a 40% do valor do PIB, mesmo sem descon-tar a redução que este vem verificando, é a única forma de criar novos postos de traba-

lho, preservar os já existentes e garantir a sustentabilidade do emprego criado no âm-bito das medidas recentemente implemen-tadas, como é o caso do Programa Impulso Jovem.Por outro lado, há vários anos que vimos assistindo a uma evolução negativa e con-tinuada do investimento, ou seja, da For-mação Bruta de Capital Fixo. Esta situação, aliada ao grande número de insolvências, com encerramento das empresas, que se tem verificado, não nos vai permitir dispor de aparelho de produção capaz de ultrapas-sar as metas acima referidas.Também a evolução recente da taxa de uti-lização da capacidade produtiva da indús-tria transformadora (Gráfico II) é um sinal de que começa a estreitar a margem para au-mentos significativos das exportações, com base na capacidade instalada do nosso par-que industrial.Assim, há já três anos que a AEP vem pro-

Fonte: INe, Inquérito Qualitativo de Conjuntura à Indústria transformadora

finanCiamento

a dificuldade ao nível do

financiamento bancário

por parte das empresas

é... um dos principais

problemas apontados no

Relatório de

Competitividade

Global 2012-2013 do

World economic Forum,

relativamente a Portugal

Gráfico 2

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pondo ao Governo, por escrito, a criação de um estímulo fiscal ao investimento em ativos fixos, nos setores produtores de bens e ser-viços transacionáveis e, portanto, exportá-veis, através da dedução à matéria coletável dos lucros e reservas retidos na empresa e reinvestidos. Apraz-nos verificar que a CIP tem vindo a incorporar esta nossa proposta nas suas mais recentes posições e propos-tas ao Governo.Entretanto, o agravamento das condições de financiamento às empresas é bem visí-vel, quer no aumento dos custos (a média ponderada das taxas de juro sobre novas operações de empréstimos concedidos a sociedades não financeiras subiu de 5,1% em janeiro de 2010 para 7,1% em junho deste ano), quer na redução acentuada do volume de crédito interno (por contrapartida do financiamento crescente do setor públi-co, que retira, assim, recursos à economia privada). No final do ano passado o stock de crédito bancário a sociedades não financeiras era inferior em 2,7 mil milhões de euros face ao valor observado em dezembro de 2010,

correspondendo a uma taxa de variação homóloga de -2%, e em junho deste ano a redução foi de cerca de 8,6 mil milhões de euros face a junho de 2011, ou seja -6,1%, que corresponde à maior quebra, em ter-mos homólogos, registada desde 1980 (Gráfico III).Por dimensão das empresas, a redução do financiamento bancário atinge fundamen-talmente o segmento das PME. Em junho último, os empréstimos às PME registaram uma variação homóloga negativa em 8,3% (-3,5% em dezembro de 2011). Um com-portamento diverso teve o crédito concedi-do a grandes empresas, que tem registado uma evolução positiva, embora com algum abrandamento (variação homóloga de +2,2% em dezembro de 2011 e de +2,1% em junho de 2012). Também o setor expor-tador tem assistido a uma desaceleração dos empréstimos concedidos pelo setor fi-nanceiro residente (+3,5% em dezembro de 2011 que compara com apenas +1,6% em junho de 2012), Gráfico IV.Face à contração do crédito interno às empresas, o recurso à banca estrangeira

e à emissão de dívida tem-se apresentado como uma solução alternativa para o finan-ciamento das empresas privadas, como mostram de forma clara os dados do Banco de Portugal. Comparando os valores refe-rentes a junho deste ano com os de de-zembro do ano passado observa-se uma redução de 2,6 mil milhões de euros nos empréstimos internos, por contrapartida de um acréscimo dos empréstimos externos (em cerca de 2,7 mil milhões de euros, isto é, +12,6%). O financiamento através dos tí-tulos da dívida registou um acréscimo global de 2,76 mil milhões de euros (+7,6%), que correspondeu a +4,5% nos títulos de dívida detidos por residentes e +11,5% pelos não residentes.Sabe-se, porém, que estas fontes de finan-ciamento beneficiam fundamentalmente o segmento das grandes empresas, e, so-bretudo, as cotadas em Bolsa, e são pra-ticamente inacessíveis às PME. Basta pen-sar nas várias emissões de obrigações por parte das empresas cotadas ocorridas ao longo deste ano.Assim, a par da necessidade urgente em assegurar o regular financiamento do se-tor produtivo, é igualmente imprescindível apoiar a recapitalização das PME, através de linhas de crédito para apoio ao reforço dos capitais próprios, ou de alterações fis-cais no sentido de tornar atrativa a entrada de capitais pelos sócios ou acionistas, face às aplicações alternativas do mercado, ta-xadas com taxas liberatórias muito mais atrativas, e sem risco.Os dois aspetos não estão de modo algum dissociados, na medida em que o reduzido rácio de autonomia financeira das PME é uma das razões mais invocadas pela banca para recusar crédito às PME.Deste modo, vejo como muito positivo que o Plano de Recapitalização da Banca preve-

Fonte: Banco de Portugal, Boletim estatístico

Fonte: Banco de Portugal, Boletim estatístico

emPréstimos

Por dimensão das

empresas, a redução do

financiamento bancário

atinge fundamentalmente

o segmento das PMe.

os empréstimos às PMe

registaram uma variação

negativa em 8,3%

Gráfico 3

Gráfico 4

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ja, como contrapartida, a capitalização das PME e não apenas o seu financiamento, embora os montantes até agora anunciados sejam manifestamente insuficientes.Relativamente a este Plano, a folga entre a cedência de liquidez do Estado à banca já verificada e a verba contemplada no MoU para este efeito (doze mil milhões de euros), parece mesmo ter de ser resguardada para posterior cedência de liquidez, dado o preo-cupante aumento do crédito mal parado e os seus efeitos nos balanços dos bancos. Quanto à possibilidade destes recursos se-rem vertidos em crédito às PME, o custo anunciado dessa cedência de liquidez, pelo valor dos juros que vai implicar, é, em ter-mos de racionalidade económica, absoluta-mente desencorajador. A reduzida dimensão das PME portuguesas.Para além de um melhor e mais adequado acesso ao financiamento e de apoio à reca-pitalização das empresas, é absolutamente necessário combater outras fragilidades es-truturais da própria indústria e do seu meio envolvente, de modo a criar as condições de atratividade do investimento, quer nacio-nal quer estrangeiro. No primeiro caso, para além da estrutura financeira desequilibrada, acresce a reduzida dimensão das empresas e o consequente problema de escala e de massa crítica, que a globalização requer, e a baixa qualificação dos recursos humanos. Ao nível dos custos de contexto, continua a ser necessário atuar ao nível da Justiça, da fiscalidade, da burocracia, do licenciamento ambiental, do combate à economia informal e dos custos da energia elétrica e do gás natural, entre outros. O Governo tem vindo a implementar algumas reformas estruturais (nas áreas laboral, concorrencial, licencia-mento e recuperação de empresas) que vão

no sentido certo, mas há ainda um longo caminho a percorrer.Num ambiente vincado pela falta de liquidez na economia e dificuldade de financiamen-to, as linhas de crédito apoiadas pelo Esta-do, com particular destaque para a recente Linha PME Crescimento e o seu já anuncia-do reforço, têm-se revelado como um im-portante instrumento.Ao reduzir o risco das operações bancárias através do recurso ao mecanismo de garan-tia mútua, possibilitaram o acesso ao finan-ciamento de muitas empresas, responden-do a necessidades imediatas de tesouraria. Por outro lado, as empresas aderentes pu-deram beneficiar de spreads inferiores aos praticados no mercado. Saliento, ainda, a facilidade concedida às empresas através da moratória de um ano para efeitos de amortização do capital em dívida, mantendo-se as suas obrigações re-lativamente ao vencimento de juros (embora com um spread mais elevado). Decorrido quase um ano sobre a mesma, a degra-dação já referida das condições de finan-ciamento aconselha a rápida prorrogação daquela moratória, sem o que as empresas irão proximamente ser chamadas a devol-ver aqueles empréstimos, agravando a sua falta de liquidez e o crédito mal parado dos bancos.Tenho consciência de que sem estas me-didas, em cuja conceção a AEP esteve profundamente envolvida, o setor produtivo poderia ter colapsado, com consequências incomensuráveis. Contudo, face à dimensão da crise e às necessidades das empresas, estas medidas não são de todo suficientes, apesar dos reforços que têm surgido ao ní-vel da respetiva dotação.Mas outras alternativas podem e devem

ser consideradas, designadamente a im-plementação de mecanismos de reforço da estrutura de capitais permanentes das empresas, como a emissão de obrigações participantes e de outros produtos híbridos entre crédito e equity (mezzanine financing), adaptados às PME.A plena implementação da reestruturação do capital de risco público e dos fundos re-gionais de expansão empresarial é aguarda-da com elevada expetativa.A reindustrialização também não pode es-tar dissociada da questão da inovação. O investimento em I&D tem evoluído de forma positiva (em termos de percentagem do PIB), mas já em termos de resultados as estatísticas não são tão favoráveis. Neste âmbito, é fundamental um estreitamento da ligação entre o mundo académico e o empresarial. Por isso tenho defendido que parte da afetação de recursos financeiros públicos para a investigação (designada-mente para o financiamento das Universida-des) deveria ser indexado ou resultante dos contratos-programa estabelecidos com as empresas.Ninguém terá dúvidas de que uma indústria débil fragiliza a base de criação de riqueza, constituindo um forte entrave à recuperação económica sustentada do País.É, pois, necessário reavivar este motor de crescimento económico que é a indústria, não porque esteja já sem vida mas porque lhe falta o lubrificante (como é, por vezes, identificado o financiamento) essencial ao seu pleno funcionamento. O nosso País não pode, nem deve, permitir que as empresas portuguesas percam encomendas e clientes por falta de financiamento à sua atividade. Estou certo que só com um setor industrial forte e uma visão global pró-indústria será possível resolver, ou pelo menos minimizar, os problemas do desequilíbrio externo e do desemprego, perspetivando, assim, um caminho mais promissor para a economia portuguesa.Tal, só será possível com um claro compro-metimento e cumplicidade com a indústria dos vários intervenientes, diretos e indiretos (entidades públicas, banca, associações empresariais e cada um de nós), desde logo ao nível das opções que tomamos em termos de consumo, valorizando o que é português e, desse modo, substituindo importações, para que este setor possa conquistar a atenção que realmente mere-ce e desempenhar o importante papel que lhe compete no aumento das exportações, com a consequente melhoria do saldo da balança comercial e, a prazo, da nossa dí-vida externa.

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PoR uMa PolítiCa de investiGação & desenvolviMento

1. O legado da política de I&D da década transactaEm 2010, a despesa nacional em I&D atingiu o valor de 1,6% do PIB (2 750 M€). Deste va-lor, 1 250 M€ foram de despesa pública directa, mas a que há que somar os crédi-tos fiscais concedidos à despesa empresa-rial em I&D, estimáveis em cerca de 450 M€, para se obter a despesa total do Estado em I&D: 1 700 M€. Numa década, a despesa pública em I&D au-mentou redondamente em 1 000 M€, quase triplicando.Simultaneamente, a despesa empresarial registada em I&D só entre 2005 e 2008 teve um aumento de 170% (Fig. 1).Este surpreendente crescimento da I&D em-presarial coincidiu com a entrada em vigor do novo Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Em-presarial, SIFIDE. Ora, com a criação do SI-FI-DE, excepcionalmente generoso quando com-parado com práticas internacionais simila-res, o Governo da altura adoptou um entendimento do que é I&D tal que praticamente tudo o que seja Engenharia cabe no seu âmbito.Os resultados deste esforço financeiro têm sido avaliados pelos seguintes indicadores:a) O próprio valor da despesa, em percen-tagem do PIB;b) Publicações científicas, doutoramentos e bolsas de pós-graduação;c) Patentes.As publicações científicas, que tiveram um considerável crescimento, poderão valorizar o prestígio português nos reduzidos círculos onde são lidas, mas a isso se reduzirá o seu impacto para a competitividade do país.Mais importante terá sido o crescimento do número de bolsas de doutoramento atribuí-das ao longo da década e ilustrado na figura 2. No entanto, este crescimento deve ser ponde-rado pelo facto de que com “Bolo-nha” os doutoramentos passaram a exigir o mesmo que os anteriores Mestrados, en-quanto estes passaram a ser a designação das antigas licenciaturas.Infelizmente, o crescimento da despesa empresarial em I&D não foi acompanhado de qualquer incremento na contratação de doutorados, de que o próprio Estado se

José Luís Pinto de Sá Professor do ist e engenheiro eleCtrotéCniCo

Fig.1 - Evolução da despesa nacional em I&D na década transacta

Fig.2 - Evolução do número de doutoramentos nacionais e de bolsas atribuídas em 1990-2008

Para a competitividade da indústria portuguesa

tornou o grande empregador, sobretudo no Ensino Superior, com os restantes essen-cialmente assa-lariados nas IPSFL (figura 3).O número de patentes, por outro lado, tam-bém teve uma melhoria relativa quanto a soli--citações, mas não quanto a concessões. Enquanto o enorme aumento da despesa na-cional em I&D, na década passada, encontra na própria despesa o seu melhor indicador de sucesso, a economia nacional estagnou em termos de PIB e a indústria perdeu quo-

tas de mercado de exportação, sem que se eviden-ciasse uma modificação estrutural significativa do setor transaccionável.Ora esta perda de competitividade dos sec-tores tradicionais, de baixa e média-baixa tec-nologia, não foi substituída por novos de maior intensidade tecnológica.Pode-se, pois, concluir que os sucessos nas estatísticas habituais de medição da I&D não tiveram correspondência na competitivi-dade da economia nacional.

iNvestigação, DeseNvolvimeNto tecNológico e iNovação

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2. Adequar a despesa em I&D do Estado à capacidade da economiaNo actual contexto de escassez financeira, a premente melhoria da competitividade nacio-nal depende do aumento de valor do que já fazemos e da criação de novos servi-ços de ele-vado valor acrescentado e pouco exigentes em capital. Neste contexto, o enri-quecimento tecnológico da nossa produção de bens e serviços transaccionáveis é vital.Dos 1 700 M€ (1% do PIB) de despesa pelo Estado em I&D em 2010, pelo menos 700 M€ poderão ser economizados sem prejuízo para a competitividade nacional, distribuindo-os, por exemplo, por 400 M€ no Ensino Superior e 300 M€ nos créditos fiscais outorgados pelo SIFIDE.Com efeito, a observação das últimas es-tatísticas disponíveis (2009) mostra que, em apenas 2 anos, a despesa em I&D no Ensino Superior cresceu de 400 M€, mas sem que isso tivesse reforçado equipamen-tos e instalações, nem pessoal do quadro das escolas. Tal acréscimo financiou essen-cialmente milhares de Bolsas de doutora-mentos “bolonheses” e pessoal contratado precariamente para Investigação, muito dele estrangeiro.Por outro lado, as avaliações internacionais sobre os créditos fiscais mostram um fraco pa-pel na sua incentivação de I&D, pondo em causa o facto de Portugal ter o sistema “mais generoso do espaço europeu”: na UE, apenas também Espanha oferece crédito pela I&D e, a somar, pelo seu acréscimo, e muitos países não o têm!Mais importante, porém, será que a classi-ficação adoptada pela FCT para as activi-dades de I&D, dividindo-a em Investigação Fundamental, Aplicada e Desenvolvimento Experimental, é desajustada do universo empresarial; neste, a divisão feita por econo-mistas é entre Desenvolvimento incremental nuclear (correcção e aperfeiçoamento de produtos existentes), complementar (de

produtos novos apenas para a empresa), e disruptivo (de novos produtos inexistentes em absoluto). Ora sem correcção e aperfei-çoamento dos pro-dutos existentes, o que em média absorve 70% de toda a I&D em-presarial, nenhuma em-presa é sustentável, e por isso a sua subsidiação pelo Estado dificilmente se justifica.Nesta medida, a redução selectiva em 2/3 dos créditos fiscais concedidos, limitando--os à promoção do Desenvolvimento tec-nológico de novos produtos, não deverá ter qualquer efeito negativo na competitividade tecnológica da economia nacional, nem se-quer no vo-lume de I&D empresarial efecti-vamente realizada.

3. Optimizar a aplicação dos recursos disponíveisEm 2010, a Comissão Parlamentar de Ciên-cia e Educação propôs três medidas que aqui re-tomamos: o princípio do co-finan-ciamento, a prioridade ao financiamento de projectos em vez de instituições, e a selecção pelo Estado de temas estratégicos nacionais.O princípio do co-financiamento requer que, para o Ensino Superior e Laboratórios, os fundos devam ser, preferencialmente, atribuídos em co-financiamento de projec-tos realizados em parceria com empresas estabelecidas em Portugal. Esta exigên-cia, comum a muitos países (da Polónia à Suécia), orienta a I&D feita nas respectivas instituições para as necessidades da eco-nomia e poderá até financiar mais de 50% das respectivas despesas, mas exigir-lhe-á que procure nas empresas manifestações de necessidade para as mesmas.Um resultado crucial do co-financiamento da I&D é a drástica melhoria da empregabili--dade dos doutorados, como a nossa pró-pria experiência demonstra. Ao especializa-rem-se em temas que interessam a quem os co-financia, quando tais trabalhos alcançam os objec-tivos pré-definidos os doutorados

Fig.3 - Características do emprego dos doutorados portugueses em 1989-2008 constatam que as entidades co-financiado-ras vêm no seu emprego o melhor meio de endogeneizarem o conhecimento adquirido.Defendendo a recentragem dos financia-mentos públicos em I&D em projectos em vez de em instituições, o relatório de 2010 da Comissão Parlamentar notava que, em 2009, do fi-nanciamento feito pela FCT ape-nas 15% o fora em projectos. Além disso, esta despesa era atomizada por inúmeros pequenos financiamentos.Ora a estruturação de equipas de investiga-dores que realmente logrem as dimensões ne-cessárias a projectos de dimensão com impacto nacional é a única forma de cons-truir reais sinergias entre investigadores. Tais projectos deverão ser preferencialmente negociados directamente entre empresas ou serviços públicos e investigadores, mas o Estado pode ter um activo papel de ca-talisador de entendimentos. Em particular, os projectos de valoriza-ção digital comuni-cante de máquinas e ferramentas de fabrico nacional podem dinamizar clusters inteiros com investimentos relativamente reduzidos.Apesar de, em geral, ser preferível a nego-ciação directa entre investigadores e em-presas, o Estado pode também seleccionar temas específicos com alcance estratégico e dinamizado-res de tecnologias com larga aplicação secundária. O grupo de trabalho da Comissão Par-lamentar de 2010 sugeria temas estratégicos como, entre outros, a escassez de recursos energéticos.As sugestões da Comissão Parlamentar são particularmente interessantes se articuladas em estratégias económicas mais vastas, nomeadamente e quanto à escassez de recursos energéticos, por exemplo com o Mar, como centro de mineração e explora-ção de gás de xisto e petróleo offshore. No passado distante, tais projectos poderiam ter sido a missão de Laboratórios do Esta-do, mas há muito que estes ignoram qual-quer missão nacional.Finalmente, é de notar que a dinamização de tecnologias de futura importância estra-tégica é um papel típico da I&D militar, que absorve 13% da despesa da UE em I&D mas de que em Portugal apenas se encon-tram resíduos. Uma aposta em “drônes” na-cionais que sejam algo mais que pequenos aeromodelos, por exemplo, além de múlti-plas aplicações civis permitiria promover o desenvolvimento articulado de tecnologias estratégicas, da telede-tecção às estrutu-ras de materiais, fomentando competências em sectores de elevado cres-cimento eco-nómico mundial e onde Portugal tem fraca expressão: a aeronáutica e as acti-vidades aeroespaciais.

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Luís Portela Presidente da Bial

Os desafios da inovação e da competitividade O maior desafio da indústria continua a ser o de colocar à disposição dos cidadãos bens e serviços que lhes proporcionem bem-estar. As empresas de base industrial são, deste ponto de vista, uma resposta de cidadania: um exercício de imaginação coletiva dos seus colaboradores, bem como de trabalho persistente e rigoroso para responder às necessidades da sociedade

as emPResas industriais são, assim, bem mais que simples organizações econó-micas, pois estabelecem um compromisso com o futuro da sociedade e dos territó-rios onde estão inseridas. São a base para a construção de países prósperos, para a retenção de talentos, de conhecimento, de valor. Mas, também de emprego, e da sua qualificação, agentes das redes sociais lo-cais, participantes dos mecanismos de in-serção social, estruturantes duma colectiva responsabilidade social face aos desafios ambientais.Sem uma indústria forte, sem empresas competitivas, não haverá uma resposta po-sitiva à situação conjuntural de dificuldades económicas, sociais e financeiras que Por-tugal atravessa. Hoje estão colocados às empresas indus-triais os desafios de construir a sua compe-titividade num quadro concorrencial em que a dinâmica de inovação é a resposta àquilo que a sociedade necessita para evoluir, para melhorar a qualidade de vida.É necessária e urgente uma estratégia de-senvolvimentista para o país, que aproveite as melhores capacidades que possuímos, que aproveite o enriquecimento científico e cultural que construímos, que viabilize os investimentos de qualificação dos jovens e a sua energia, que sinalize às empresas, aos empreendedores, aos trabalhadores em geral os caminhos positivos em que apos-tamos colectivamente. Um compromisso com o futuro, construído com o que melhor temos e apostado naquilo que melhor po-demos fazer. Mas, longe parece ir o tempo em que os países, as comunidades e as empresas eram capazes de definir o seu rumo fora das relações de interdependência que hoje ca-

racterizam o mundo, em particular o espaço comunitário da União Europeia; pelo que a capacidade de gerar consensos activos so-bre a forma de prosseguir o desenvolvimen-to do nosso país será um sedimento seguro para a afirmação de Portugal no mundo.Nesse sentido, atrevo-me, modesta mas con-victamente, a formular algumas sugestões.A primeira, centrada na governação das empresas, enfatiza a necessidade de acen-tuar os mecanismos de transparência e de prestação de contas, mas sobretudo de evolução das formas de gestão e de or-ganização, de melhoria dos instrumentos de planeamento e controle e fomento da capacitação técnica. No entanto, o reforço da cultura de responsabilidade, de orienta-ção para objectivos e para a afirmação de

estratégias próprias, de avaliação individual e colectiva dos resultados, não pode signi-ficar o fecho das organizações à dinâmica empreendedora interna, dado que o desafio primordial é tornar o desenvolvimento hu-mano nas organizações empresariais como central para os mecanismos de mudança das dinâmicas de inovação, de performan-ce, e de desenvolvimento do capital social e imaterial da empresa.Só assim um cada vez maior número de empresas portuguesas poderá dimensionar a sua ambição a mercados mais alargados, desde a África de expressão portuguesa ao resto do continente africano, à América La-tina, à Europa de Leste, mas também aos países da União Europeia, ao Oriente e à América do Norte. É muito importante para

UMA INDúSTRIA VIRADA PARA O FUTURO

iNvestigação, DeseNvolvimeNto tecNológico e iNovação

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o país que algumas empresas portuguesas possam apresentar marcas próprias, produ-tos e serviços competitivos à escala global.A segunda, orientada para as questões específicas do investimento em inovação e, nomeadamente, em I&D e do seu finan-ciamento. Favorecer o investimento em I&D significa adoptar politicas concertadas em diversas dimensões, nomeadamente de índole fiscal, financeira e regulamentar, dis-persas pela ação de várias estruturas go-vernamentais centrais e locais, implicando sobretudo orientação clara para objectivos centrados no médio prazo e, concomitan-temente, não alteração das regras em pe-ríodos temporais curtos. Exige, desde logo, um uso preferente dos instrumentos de ali-geiramento fiscal, como o SIFIDE, nos sec-tores e actividades mais expostos à concor-rência internacional, em complemento com mecanismos de financiamento cruzado pe-las actividades em sectores protegidos ou objecto de concessão pelo Estado de ins-trumentos de uso na disseminação em ou-tras áreas de resultados de actividades de I&D. Bem como a criação de instrumentos fiscais que permitam favorecer o reinvesti-mento, nomeadamente em actividades de I&D, em relação à distribuição de resultados. Mas, também a adaptação dos instrumen-tos de financiamento à I&D, nomeadamen-te por criação de linhas dedicadas, tanto na área do crédito como do quase-capital. Assim como uma reorientação dos apoios públicos (e regulamentares) em matéria de emprego muito qualificado, permitindo su-portar a contratação de doutorados pelas empresas, favorecendo a circulação dos mesmos entre as universidades e as em-presas, estimulando as atividades dos dou-torandos para a imersão empresarial. E, fi-nalmente, uma melhoria do enquadramento regulamentar, tanto ao nível dos contratos públicos, como daqueles em que o Estado intervém na definição dos preços e do aces-so ao mercado, por forma a estimular a I&D de base interna.A terceira, mais preocupada em garantir que as políticas europeias possam favorecer as dinâmicas de crescimento que diminuam as tendências de comportamentos assimétri-cos, como aqueles a que temos assistido. Neste campo a adopção efetiva de linhas de atuação e investimento em áreas estratégi-cas, em complemento ao Tratado Orçamen-tal, que, em articulação com uma releitura das regras europeias em matéria de concor-rência, possam traduzir-se na recuperação dos investimentos, de actividades de I&D, de empregos e de presença comercial forte no contexto internacional.

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uma nova oportunidade para a indústria

Na Europa (e em várias outras regiões do globo, como, por exemplo, nos Estados Unidos da América), a indústria está a assumir novamente uma posição de relevo na agenda política, como pilar fundamental da sustentabilidade do seu modelo económico e social, assistindo-se a um número crescente de atos legislativos, programas de apoio e parcerias público e privadas, destinados a reforçar a competitividade de empresas e sectores e, sobretudo, a sua capacidade de atuar nos mercados globais

dois exemPLos na área da Inovação são a Parceria Público Privada (PPP) Fac-tories of the Future, um programa europeu de I&D destinado ao desenvolvimento de tecnologias de produção multisetoriais, com um orçamento de 1.200M€ para o período 2010-2013 (no qual Portugal tem participado ativamente) e as Advanced Manufaturing Initiatives, lançadas pela Ad-ministração Obama em Junho de 2011, que incluem um reforço de 19% no ano de 2013 no investimento em I&D nesta área (para cerca de 2.200 milhões de USD) e a criação de um novo gabinete de política industrial na Casa Branca.

José Carlos Caldeira administrador exeCUtivo do Pólo ProdUteChdiretor do inesC Porto

Esta transformação resulta de diversos fa-tores, nomeadamente:A falência do modelo de economia basea-da nos serviços (não confundir com uma economia que alia indústria e serviços, essa sim geradora de consideráveis van-tagens competitivas);

A existência de uma forte correlação en-tre grau de industrialização competitiva e capacidade de resistir à(s) crise(s), medi-da em termos de indicadores económicos e sociais (confirmada em países como a Alemanha ou a Holanda e também na comparação entre regiões do mesmo

processos e tecNologias iNDustriais

45Indús tr Ia • Se tembro 2012

País, como ilustra o caso espanhol, onde o País Basco tem uma taxa de desempre-go mais de 10 pontos percentuais inferior à média nacional);Face à relocalização geográfica dos prin-cipais pontos de investimento e consumo, a necessidade da Europa aumentar as suas exportações extracomunitárias de produtos produzidos no seu território, como forma de capturar as crescentes oportunidades desses mercados e, simul-taneamente, assegurar a geração interna de valor e a criação de emprego para os seus cidadãos.O que acaba de ser referido tem reflexos também no contexto nacional e justifica a anunciada aposta na reindustrialização da economia portuguesa. No entanto, para ser eficaz, praticável e sustentável, esta reindustrialização não se fará através do regresso ao passado (re-cuperando atividades industriais, tal como as conhecíamos) e muito menos através de uma rutura com aquilo que é a base da indústria portuguesa, fazendo uma aposta cega em setores emergentes, completa-mente desenraizados da atual matriz em-presarial. Pelo contrário, é promovendo a complementaridade e as sinergias entre setores maduros e emergentes que será possível modernizar e transformar os pri-meiros, e desenvolver de forma sustenta-da os segundos, abrindo caminha a uma reconversão gradual do tecido industrial do País. Esta relação é cimentada em exemplos como a utilização de nanotec-nologias na metalomecânica, de novos materiais no calçado, da incorporação de micro e optoeletrónica nos têxteis ou ain-da de desenvolvimentos na área da bio-tecnologia no agroalimentar.Nos setores maduros encontramos reali-dades muito diversas, mas é possível des-tacar algumas linhas de atuação razoa-velmente transversais para as “Fábricas com Futuro” (designação que surgiu no seio da Plataforma Tecnológica Europeia MANUFUTURE), nomeadamente o desen-

volvimento de novos modelos de negócio e de uma relação mais próxima com os clientes e consumidores, um reforço signi-ficativo da capacidade de inovar produtos (através da incorporação de novos mate-riais, tecnologias, de serviços, etc.) e de os adaptar às necessidades e especifici-dades dos consumidores (costumização). Na vertente dos processos, uma aposta muito forte na sua flexibilização e eficiên-cia e na diminuição do respetivo impacto ambiental (condição fundamental para o desenvolvimento de atividades produtivas na Europa), nomeadamente através da re-dução de consumos (materiais, energia, etc.).Já nos setores emergentes (nano e bio-tecnologias, novos materiais, etc.), o principal desafio consiste em assegurar os avultados investimentos necessários à industrialização dessas tecnologias e à sua produção em larga escala, visando criar as “Fábricas do Futuro”. Atendendo à situação económica nacional, a capacida-de de captar investimento externo nestas áreas é fundamental (público e privado). No entanto, é preciso também mobilizar financiamento privado nacional, e aqui as grandes empresas portuguesas, que pos-sam ser beneficiárias ou clientes destes novos produtos, têm um papel fundamen-tal a desempenhar, seja como financiado-ras, seja como lead users estratégicos, e o Estado pode e deve induzir e apoiar este posicionamento de forma substancial. Caso contrário, o investimento realizado nestas áreas cairá em saco roto ou irá be-neficiar outros, não se traduzindo em im-pacto económico e emprego em Portugal. Quer a transformação dos setores ma-duros, quer a industrialização das tecno-logias emergentes exigem o desenvolvi-mento de novos processos e tecnologias de produção. Esta é uma fileira de impor-tância estratégica, com um significativo nível de incorporação tecnológica e com um impacto transversal na indústria. Es-tes factos justificam a escolha das tecno-

logias de produção como uma das áreas prioritárias de intervenção, como ilustram a criação da PPP Factories of the Future ou o reconhecimento, a nível nacional, do PRODUTECH – Pólo das Tecnologias de Produção.O atual contexto económico-financeiro eu-ropeu e (sobretudo) nacional não é o mais favorável ao desenvolvimento de progra-mas de ação que exijam investimentos públicos e privados significativos, mas, também nesta vertente, abrem-se oportu-nidades que importa agarrar. No próximo período de programação (2014-2020), a CE pretender alocar uma parte considerá-vel dos fundos estruturais a atividades de investigação aplicada (com impacto eco-nómico e social) e inovação, no apoio às PME’s e na redução das emissões de car-bono. Embora a legislação esteja ainda a ser negociada, as atuais propostas apon-tam para que este conjunto de temáticas receba, no mínimo, 50% (nas regiões mais desfavorecidas) ou 80% (nas restantes) de um montante global que rondará os 100.000M€. A confirmar-se, este cenário corresponderá a um reforço significativo das verbas disponíveis para desenvolver estas temáticas, nas quais a indústria tem, naturalmente, um papel central. No entanto, o acesso a estes fundos está condicionado à apresentação, pelos países e regiões, de planos de desen-volvimento estratégico (as designadas “Regional Innovation Smart Specializa-tion Strategies ou RIS3), detalhando as respetivas prioridades (áreas de espe-cialização), planos de ação, resultados e impactos (devidamente quantificados) e as respetivas fontes de financiamento. Naturalmente, a elaboração destes planos exige a participação ativa dos principais intervenientes e beneficiários, do lado pú-blico e privado e, neste processo, o asso-ciativismo tem um papel fundamental.Existe assim uma oportunidade efetiva para o desenvolvimento em Portugal de uma nova indústria, composta por seto-res maduros competitivos e capaz de fa-zer crescer outros em áreas emergentes. Este desafio exige apostas fortes em di-versas vertentes (IDI, educação e forma-ção, empreendedorismo, etc.) e um papel mais interventivo da indústria na definição e operacionalização das respetivas políti-cas e programas de apoio. Cabe à indús-tria dinamizar este processo e assegurar uma intervenção compatível com a sua relevância para o futuro de Portugal, não deixando esse desiderato exclusivamente nas mãos do Estado.

o atual Contexto eConómiCo-finanCeiro euRoPeu e (soBRetudo) naCional nÃo é o mais favorável ao desenvolviMento de PRoGRaMas de ação que exijam investiMentos PúBliCos e PRivados siGniFiCativos, Mas, também nesta vertente, aBReM-se oPortunidades que imPorta agarrar

46 Indús tr Ia • Se tembro 2012

Clemente Pedro Nunes Professor CatedrátiCo do institUto sUPerior téCniCo

Pistas para o reforço da competitividade industrial em Portugal

As indústrias de processos químicos e biológicosEm termos de enquadramento conceptual será de referir desde logo que as indústrias de processos químicos e biológicos são todas aquelas em que “as matérias são tratadas para se efectuarem mudanças de estado, ou de conteúdo energético, ou de composição química e/ou biológica”

assim, incluem-se neste setor as indústrias de sínteses químicas, como as de produtos farmacêuticos, e também a refinação de pe-tróleos / petroquímica de base / grandes in-termediários de química orgânica / polímeros e materiais, a fileira da floresta / celulose / pa-pel, as indústrias cimenteiras e de materiais de construção, as de transformações de pro-dutos alimentares, e ainda as de tratamentos de águas, de efluentes e de reciclagem de resíduos.Face à gravíssima crise económico-financeira em que Portugal se viu mergulhado, é funda-mental garantir-se o aumento da competitivi-dade dos bens directamente transaccionáveis produzidos no nosso país, e que são em gran-de parte dos casos obtidos através das indus-trias de processos químicos e / ou biológicos.- e daí é muito importante adiantar al-gumas pistas concretas para promover essa competitividade nos dificílimos mercados europeu e global onde Portu-gal está hoje inserido.Em termos transversais, note-se que todos os sectores destas indústrias dependem duma atitude permanente de inovação tec-nológica dos processos de fabrico e duma estratégia de optimização da malha industrial em que os produtos e subprodutos duma dada indústria possam ser subsequente-mente, e duma forma economicamente competitiva as matérias-primas de outras indústrias a jusante.Daí, a importância que têm nestas industrias aspectos como:- recrutamento, e inserção no próprio meio empresarial, de quadros especializados que aí possam promover a inovação tecnológica economicamente competitiva;- articulação optimizada entre as redes logísticas, incluindo pipelines, e as unidades industriais;- “ políticas de contexto “ em termos am-bientais, e de reutilização de subprodutos industriais, que privilegie a competitivida-

de das industrias instaladas em Portugal.Vejamos, pois, e apenas como exemplo, al-guns desafios que hoje se deparam a três sectores concretos:

a) O “Cluster” refinação de petróleo / petroquímica / materiais e polímeros es-pecializados tem como pólos industriais sines, matosinhos e estarreja.Os importantes investimentos realizados nas refinarias da Galp em Sines e em Matosinhos, bem como a recente expansão das unidades de fileira de poliuretanos da CUF e da DOW no complexo de Estarreja, permitem visuali-zar a optimização complementar da unidade de aromáticos de Matosinhos, através do aumento da produção de benzeno, de forma a satisfazer as necessidades que Estarreja já tem hoje deste intermediário, bem como articular a produção de outro aromático pro-duzido em Matosinhos, o para-xileno, com o futuro consumo deste na unidade de ácido tereftálico em construção em Sines.Também em Sines, a unidade de petroquímica de olefinas, actualmente da Repsol Polímeros, que enfrenta hoje uma fortíssima concorrência dos países produtores de petróleo e gás natu-ral, carece de reforços produtivos e logísticos, nomeadamente pela instalação duma nova unidade de polipropilenos que evite a actual exportação de todo o propileno produzido. b) O “Cluster” da floresta / celulose / pa-pel tem sido um notável caso de suces-so da indústria portuguesa nos últimos 60 anos.Como reforço complementar da pujante

realidade já hoje existente, representada por grandes empresas como a PortucelSopor-cel e a Altri, poder-se-á apontar a nível das matérias-primas o reforço da articulação com os pequenos e médios produtores flo-restais e com a produção de energia eléctrica e de calor em centrais térmicas a biomassa que, viabilizando economicamente a limpeza das florestas, contribuem simultaneamente para o reforço da produção florestal como matéria-prima da fileira da celulose e para a diminuição da gravíssima dependência ener-gética de que Portugal padece. c) as indústrias farmacêuticas são aque-las em que o i + dt da própria síntese química mais influencia a respectiva competitividade. Aqui, empresas de sucesso internacional como a Bial, a Hovione e a CIPAN, poderão também beneficiar de programas públicos mais pró-activos de inserção de doutorados nas indústrias, fazendo com que os técnicos mais qualificados pelas universidades portu-guesas encontrem nas empresas privadas campo de actuação para a sua preparação científica, evitando-se assim o recurso ex-cessivo a fundos públicos para a atribuição de bolsas de pós-doutoramento em temas que eventualmente não são prioritários para a competitividade deste setor no mercado glo-bal.Estes exemplos, necessariamente sucintos, revelam bem a importância dos contributos que as indústrias de processos químicos e biológicos podem e devem dar para a rein-dustrialização de Portugal.

processos e tecNologias iNDustriais

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Paulo A. F. Martins Professor CatedrátiCo de teCnologia meCâniCa Presidente do Conselho CientífiCo do institUto sUPerior téCniCo

a tecnologia mecânica e a reindustrializaçãoO termo ‘manufacturing’ tem interpretações e traduções muito diversas. No caso concreto da engenharia mecânica e na tradição da utilização do termo ‘tecnologia mecânica’, que consta do primeiro curriculum do curso de engenharia mecânica do Instituto Superior Técnico, deve associar-se a palavra ‘manufacturing’ à ciência e à arte de transformar os materiais em produtos finais utilizáveis e vendáveis, num contexto de economia de mercado

as desigNações ‘tecnologias de fa-brico’ ou ‘tecnologias de produção’ são igualmente compatíveis com a tradição do Instituto Superior Técnico mas a designa-ção ‘manufactura’ originária do Latim ‘manu factus’ (feito à mão) não faz parte do léxico dos especialistas nacionais de tecnologia mecânica.A importância da tecnologia mecânica para a sociedade em geral e para a engenharia em particular é óbvia na medida em que re-presenta um dos principais eixos de desen-volvimento das sociedades industrializadas e um dos pilares da criação de riqueza e bem-estar das nações.Infelizmente, nem sempre os decisores po-líticos e económicos que têm a responsa-bilidade de perspectivar e materializar o fu-turo das nações e das empresas possuem conhecimentos tecnológicos à altura das responsabilidades para que foram eleitos ou contratados. No caso concreto do bloco económico ocidental, em que o nosso país se encontra inserido, foram tomadas deci-sões profundamente erradas que, em larga medida, são responsáveis pela actual crise económica e social que afecta (e irá afectar) a generalidade dos países Europeus. A crise, ao contrário do que é afirmado pela generalidade dos políticos e economistas, não tem origem no problema da dívida so-berana mas no mito da sustentabilidade de uma sociedade pós-industrial na qual os países ocidentais mais desenvolvidos des-localizariam as suas unidades de fabrico tradicionais para os países menos desenvol-vidos, com custos de mão-de-obra mais re-duzidos, de modo a poderem concentrar-se exclusivamente na prestação de serviços de elevado valor acrescentado e no desenvol-vimento e produção de bens de consumo associados a tecnologias emergentes.Este mito, que foi rapidamente absorvido pelas nações ocidentais onde a consciên-

cia ambiental estava mais desenvolvida (com excepção, da Alemanha), deu origem a um declínio industrial dos países ociden-tais que se consubstanciou na diminuição da capacidade produtiva instalada (através da deslocalização de indústrias por motivos económicos e/ou ambientais), no aumento generalizado do desemprego e na perda de liderança e de competências em vários sec-tores produtivos. O aumento significativo da dívida soberana que se verificou em alguns países ocidentais nos últimos 10 anos re-sultou de tentativas desesperadas para es-timular a economia, que por terem acabado no lado errado (por exemplo, nas grandes obras públicas), não só não resolveram o declínio da atividade industrial como ainda vieram agravar mais a crise.As universidades dos países ocidentais, que têm tradição e responsabilidade seculares na perspectivação do futuro das nações, fi-caram igualmente deslumbradas com o mito da sociedade pós-industrial e, com excep-ção de países como a Alemanha, decidiram eliminar ou reduzir os grupos de investiga-ção em tecnologia mecânica, e circunscre-ver as unidades curriculares de tecnologia mecânica em vários cursos de engenharia a níveis sub-críticos que, em muitos casos, ficam muito aquém daquilo que a indústria espera de um engenheiro mecânico.Este problema e as suas consequências não se circunscreveram apenas à engenha-ria mecânica. De facto, as novas ofertas for-mativas nos vários domínios da engenharia que foram surgindo ao longo das décadas de 1990 e 2000 procuraram, quase sem-

pre, privilegiar a gestão de organizações, de projectos industriais ou de processos produtivos em detrimento das tecnologias de fabrico ficando naturalmente a pergun-ta de como é possível transmitir estes co-nhecimentos a alunos desprovidos de uma sólida formação de base tecnológica (mecâ-nica, química, electrotécnica, etc…). E para que servem? É como ensinar empreende-dorismo e transferência de tecnologia sem conhecer as empresas industriais, sem ter conhecimentos tecnológicos ou sem ter de-senvolvido qualquer solução tecnológica em colaboração com a indústria. No caso concreto da engenharia mecânica entendo que a ligação entre a tecnologia mecânica e a gestão industrial é fundamen-tal e, admito, que o mesmo deva acontecer nas restantes áreas da engenharia.O problema da falta de visão dos deciso-res políticos e económicos dos países oci-dentais e do suporte que tiveram junto da generalidade das universidades explica-se através de duas reflexões bastante simples:

(i) insustentabilidade da sociedade pós-industrialA prestação de serviços avançados de en-genharia ligados, por exemplo, à concep-ção e projecto de produtos e processos de fabrico pode revelar-se uma atividade de sucesso nos anos imediatamente seguin-tes à deslocalização industrial porque existe experiência e conhecimento para alavancar este tipo de atividade. Porém, a evolução tecnológica associada à perda de experiên-cia de ‘chão de fábrica’ dificilmente permi-

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te assegurar a sustentabilidade a médio e longo prazo. A segunda geração vai, inevita-velmente, confrontar-se com problemas de sustentabilidade.

(ii) terceira revolução industrialA primeira revolução industrial, com origem na mecanização da indústria têxtil na Ingla-terra do final do século XVIII, e a segunda revolução industrial, com origem no desen-volvimento das linhas de montagem para a produção automóvel nos Estados Unidos da América no início do século XX, estive-ram associadas à produção em massa e à criação de empregos para milhões de pes-soas sem qualquer tipo de formação.A terceira revolução industrial está asso-ciada à produção flexível em pequenas e médias séries de produção com elevados níveis de customização e aos ciclos de de-senvolvimento de produto e de fabrico cada vez mais reduzidos. Esta tendência exige o desenvolvimento e integração de proces-sos de fabrico inovadores devidamente articulados com os novos conhecimentos ao nível das metodologias de concepção e projecto, da ciência dos materiais, das tec-nologias de automação e da informática.A terceira revolução industrial vai acentuar a necessidade de recursos humanos cada vez mais qualificados e vai a mudar o pa-radigma da imigração. Portas abertas para imigrantes com formação avançada, bar-reiras intransponíveis para imigrantes sem qualquer tipo de formação e redirecciona-mento dos actuais estigmas da imigração para os cidadãos nacionais ou estrangeiros sem qualquer tipo de formação, os quais irão ficar cada vez mais vulneráveis à discri-minação social e económica.A história ensina-nos que as revoluções são momentos disruptivos nos destinos das nações. A terceira revolução industrial em que estamos inseridos abre uma janela de oportunidade para inverter o sentido da deslocalização, trazendo de volta para os países ocidentais algumas das unidades produtivas que deles saíram nos últimos 20 anos. Porém, interessa desmistificar aque-le que poderá vir a tornar-se no novo mito do mundo ocidental (ver por exemplo, o special report on manufacturing and inno-vation’ da revista ‘The Economist’ de 2012 e o documento ‘Made in America Again’ do Boston Consulting Group, 2012) e que aponta para a reindustrialização dos paí-ses ocidentais por motivos exclusivamente económicos associados à apreciação cam-bial de algumas divisas (como por exemplo o yuan Chinês), à subida do nível de vida em alguns dos países para onde a produ-

ção foi deslocalizada, ao impacto do preço do petróleo nos custos dos transportes e à perda de importância do custo de mão-de--obra no valor final dos produtos em face dos ganhos que se conseguem alcançar através da utilização de novos processos de fabrico.Antes de abraçarmos este novo mito que está a ser criado por alguns políticos e economistas é importante conhecermos as diferentes valências da comunidade académica internacional no domínio das tecnologias de fabrico. Saber quais são os principais actores do desenvolvimento tecnológico e quais os recursos humanos e materiais de que dispõem é fundamen-tal para se conseguir identificar as nossas vantagens e desvantagens relativamente aos parceiros internacionais com quem competimos ou com quem almejamos vir a competir.Tomando como exemplo a distribuição per-centual de publicações por países numa das mais prestigiadas revistas internacio-nais de tecnologia mecânica durante o ano de 2011 concluímos que o maior número de publicações veio da China (18%), se-guida pelos Estados Unidos (9%), Japão (7%), Alemanha e Irão (6%), India, França e Inglaterra (5%). A mesma análise realizada em 2012 permite concluir que o número de publicações da China subiu para 25% re-forçando a liderança sobre os Estados Uni-dos que desceram para 7%. Estes sinais da atividade científica no domínio da tec-nologia mecânica significam que não só a relocalização não é garantida, como alguns dos países de onde se espera vir a subtrair unidades produtivas estão fortemente em-penhados em gerar conhecimento para as manter ou para criar empresas industriais concorrentes, no caso de alguns decisores económicos ocidentais quererem inverter o sentido da deslocalização.Á criação de indústrias concorrentes em países como a China e a Índia, que apos-tam fortemente na formação de recursos humanos e na valorização da comunidade académica no domínio da tecnologia me-cânica, acresce o facto destes países ainda terem um considerável espaço de manobra para deslocalizações internas (das zonas urbanas para as zonas menos desenvolvi-das) ou para países vizinhos tais como o Vietname, o Bangladesh, o Camboja e a Indonésia sempre que as unidades indus-triais a deslocalizar possam competir com unidades industriais congéneres, mais mo-dernas, relocalizadas nos países ocidentais por intermédio de mão-de-obra intensiva a preços esmagadores.

No caso concreto da revista internacional supramencionada as publicações com ori-gem em Portugal representaram cerca de 3% em 2011 e 2% em 2012. Um resulta-do em pé de igualdade com países mais industrializados como o Canadá, a Coreia do Sul, o Brasil, a Itália e a Holanda, onde a tecnologia mecânica é considerada uma área de investigação prioritária.Com todas as ressalvas que uma análise deste tipo merece, o resultado Português não deixa de ser encorajador e demons-trativo do potencial que existe na pequena comunidade académica nacional de tecno-logia mecânica para gerar e transferir co-nhecimento para as empresas em sectores fundamentais da economia tais como, a metalomecânica e as indústrias dos trans-portes (automóvel, aeronáutica, ferroviária e naval), do fabrico de maquinaria industrial e da produção de energia, entre outras.A competição pela instalação e reforço de unidades industriais de terceira geração vai estar cada vez mais ligada à capacida-de das universidades formarem recursos humanos qualificados e gerarem conheci-mento que seja directamente aplicável na indústria. Neste sentido, não deixa de ser paradigmático que num momento em que a sobrevivência das empresas e a capaci-dade para atrair unidades industriais avan-çadas está fortemente dependente da per-formance das universidades nas áreas da ciência e da tecnologia se venha a assistir a continuados desinvestimentos no ensino superior numa grande parte dos países oci-dentais, nomeadamente em Portugal.No caso concreto Português, e apesar da tecnologia mecânica ter sido ignorada enquanto área de investigação prioritária durante várias décadas pelas razões que foram expostas anteriormente, houve dis-cernimento da parte dos poucos grupos de investigação existentes para apostar na formação, na internacionalização, nas par-cerias com as empresas e no reforço dos meios materiais e laboratoriais. A universi-dade Portuguesa tem muito poucos espe-cialistas em tecnologia mecânica e o finan-ciamento institucional destes investigadores situa-se pelo menos uma ordem de gran-deza abaixo da média dos países Europeus mais desenvolvidos. Contudo, neste mo-mento de crise nacional, o que é importante é transmitir a mensagem que a universidade Portuguesa tem as competências neces-sárias para colaborar com as empresas na reindustrialização do país através do desen-volvimento de novos produtos e processos de fabrico e da actualização formativa dos seus quadros técnicos.

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PROPOSTAS DA CIP PARA A REINDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS

Como ganhar competitividadeDesde meados da década de 90 do século passado, sob um modelo de crescimento impulsionado pela procura interna, a indústria foi significativamente penalizada face a setores que, embora com menores ganhos de produtividade, aumentaram o seu peso na economia nacional. Foram esses setores (onde se destaca a Administração Pública), na sua generalidade protegidos da concorrência internacional, que determinaram, por efeito de contágio, aumentos salariais desajustados à realidade concorrencial dos setores extrovertidos da economia nacional

de facto, as estatísticas da Comissão Europeia mostram que os custos laborais por unidade produzida aumentaram em Portugal (em termos nominais) 47% entre 1995 e 2010, enquanto na União Europeia, em média, o aumento foi de 30% e na zona do euro de 24%. O diferencial dá uma ima-gem dessa perda de competitividade da economia portuguesa nos últimos anos.Por outro lado, foram também os setores mais protegidos da concorrência interna-cional que, ao contrário da indústria, pude-ram facilmente repercutir os aumentos dos custos nos respetivos preços (ou na carga fiscal, no caso da Administração Pública) afetando negativamente, por essa via, a in-dústria. Acresce ainda o efeito de políticas que favoreceram a rentabilidade dos setores regulados e contribuíram diretamente para o aumento dos custos de produção suporta-dos pelos restantes setores.Deste modo, a competitividade dos setores abertos à concorrência internacional foi for-temente penalizada por aumentos de cus-tos (salariais, fiscais e das diversas utilities) excessivos face aos respetivos ganhos de produtividade.Este fator foi ainda potenciado pela maior

fragilidade de Portugal face à integração no comércio internacional de grandes países onde prevalecem baixos salários.Estes fatores explicam que, sobretudo a par-tir de 2000, o investimento se tenha afastado dos setores abertos à concorrência interna-cional para se concentrar em setores mais protegidos, particularmente em setores regu-lados, contribuindo assim para um forte re-cuo do peso da indústria transformadora na economia, que passou de cerca de 19% em 1996 para menos de 13% presentemente.O agravamento do desequilíbrio externo, os níveis que a dívida externa acumulada atin-giu e a crise económica e financeira torna-ram evidente o caráter insustentável desta tendência e a importância dos setores pro-dutores de bens e serviços transacionáveis para o desenvolvimento equilibrado da eco-nomia portuguesa. De facto, se não forem os setores abertos ao exterior a ganharem um maior protagonismo na economia, qual-quer sinal de recuperação será efémero.Desde há muito que a CIP tem vindo a aler-tar para a necessidade de inverter as ten-dências acima descritas. Em maio de 2010, no documento “Mudar de Vida”, defendía-mos que: “Portugal só se desenvolverá atra-

vés da aposta nos produtos e serviços tran-sacionáveis que se vendem na economia global. Está esgotado o crescimento pelo lado da procura (consumo público e priva-do) atendendo à situação de endividamento das famílias e do Estado”.No seu Plano de Atividades para 2011/2013, a CIP elegeu como uma das suas causas a aposta na produção de bens e serviços transacionáveis, assumindo como obri-gação essencial a de reclamar para esses setores o reconhecimento público do seu papel estruturante e estratégico para o de-senvolvimento da economia portuguesa.Nas conclusões do seu Congresso de no-vembro de 2011, foi afirmado que “é pre-ciso reindustrializar Portugal”, entendendo este desígnio no contexto de uma estratégia mais vasta que visa “redirecionar a estrutura produtiva do País para os setores abertos à concorrência internacional”.

RecomendaçõesComo forma de ultrapassar eventuais obs-táculos decorrentes das regras europeias em matéria de auxílios de Estado à plena concretização de algumas das medidas que apresentamos, propomos que o Governo negoceie com a União Europeia uma der-rogação transitória que permita a concen-tração dos apoios financeiros, fiscais e pa-rafiscais nas empresas de bens e serviços transacionáveis.

1. InvestimentoA queda abrupta do investimento a que es-tamos a assistir é tanto mais preocupante quanto o investimento é uma variável fun-damental para que possamos recuperar o

as estatístiCas da ComissÃo euroPeia MostRaM que os Custos laborais PoR unidade PRoduzida aumentaram em Portugal (eM teRMos noMinais) 47% entRe 1995 e 2010, enquanto na uniÃo euroPeia, eM Média, o aumento foi de 30% e na zona do euro de 24%

propostas Da cip para a reiNDustrialização Do país

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potencial de crescimento económico perdi-do ao longo da última década e sustentar o aumento das exportações. De facto, a margem para aumentos das exportações com base na capacidade instalada está a esgotar-se; a partir de determinado limite, só será possível incrementar significativa-mente as exportações com o aumento da capacidade instalada nas empresas, o que exige um claro esforço de investimento em-presarial nos setores produtores de bens e serviços transacionáveis.

1.1. FinanciamentoA CIP tem insistido em que a escassez de financiamento e os baixos níveis de capita-lização da generalidade das empresas são os principais constrangimentos de curto prazo à recuperação da economia, e a sua principal preocupação.Uma urgente resposta a este problema é não apenas uma condição indispensável para a retoma do investimento empresarial. É também indispensável para evitar a des-truição do nosso setor produtivo e todas as nefastas implicações daí decorrentes.Neste sentido, a CIP apela à rápida concre-tização da cessão de créditos elegíveis do setor bancário sobre os municípios, entida-des públicas e entidades do setor da Saúde, prevista no OE retificativo no valor de 3000 milhões de euros. Tal operação deverá ser enquadrada por um acordo entre o Gover-no e os bancos envolvidos em que estes se comprometam a canalizar esses recursos financeiros para o financiamento das em-presas produtoras de bens e serviços tran-sacionáveis.A CIP reafirma a sua proposta no sentido de reafetar ao apoio à recapitalização das empresas não financeiras a parcela não utilizada pela banca do pacote de 12 mil milhões de euros previsto no Programa de Ajustamento para a recapitalização do setor bancário. Tal apoio seria operacionalizado por um Fundo específico de apoio à reca-pitalização de empresas dos setores pro-dutores de bens e serviços transacionáveis, utilizando preferencialmente instrumentos de quase capital.No âmbito da reprogramação do QREN, é necessário reafetar parte das verbas não comprometidas para reforço das medidas de apoio à capitalização das empresas na-cionais, com recurso a private equity. A este respeito, a CIP lembra a intenção expressa no programa do Governo de criação de Fundos de Capitalização, garantindo a parti-cipação do setor financeiro (via reconversão de crédito em capital) e de outros investido-res nacionais e internacionais.

A CIP apela à rápida operacionalização da linha de crédito do BEI para cofinanciamen-to de projetos apoiados pelo QREN, bem como das novas linhas que o Governo está a negociar com o BEI.A CIP relembra ainda as suas propostas no sentido de potenciar o papel da garantia mútua:• Que os créditos garantidos por Socieda-des de Garantia Mútua (SGM) voltem a ser ponderados em 20% para efeitos do cálculo de requisitos dos fundos próprios das insti-tuições de crédito.• Que novas linhas de financiamento, a criar nestas condições, na sequência da PME Crescimento, assegurem o aumento da per-centagem de garantia para 75% e o redes-conto de idêntica percentagem no Fundo de Contragarantia Mútuo (FCGM), para PME exportadoras;• Que se proceda à recapitalização do FCGM, viabilizando desse modo o reforço da capacidade das SGM para participarem nas novas linhas de financiamento.A CIP insiste na necessidade da assunção, por parte do Estado e de todas as entida-des públicas das suas dívidas para com as empresas fornecedoras, do respeito pelos prazos de pagamento legais ou contratual-mente fixados bem como da regularização dos pagamentos dos reembolsos do IVA cujos atrasos têm agravado os problemas de tesouraria de muitas empresas expor-tadoras.Há também particular urgência na concre-tização das medidas previstas no Compro-misso para o Crescimento, Competitividade e Emprego com o objetivo de apoiar as empresas na resolução das suas dificulda-des de tesouraria, nomeadamente no que respeita à introdução de um regime de «IVA de caixa», simplificado e com caráter facul-tativo, destinado às microempresas.

1.2. FiscalidadeA CIP reconhece que, neste domínio, a mar-gem de manobra do Governo está muito limitada pelos compromissos assumidos no Programa de Ajustamento.Contudo, e esperando a possibilidade de negociação de ajustamentos do Memo-rando de Entendimento, a CIP lembra duas das suas propostas de medidas fiscais de caráter conjuntural que, tendo um impacto reduzido na receita pública, sinalizariam a prioridade de promoção do investimento:• Criação de um regime de dedução à co-leta de lucros retidos e reinvestidos dirigido a pequenas e médias empresas de setores produtores de bens e serviços transacioná-veis;

• Incentivos a business angels e investidores privados em fundos de capital de risco, não os submetendo ao limite imposto aos be-nefícios fiscais, em sede de IRS, introduzido no OE 2011.

2. Competitividade e inovaçãoO aumento do peso dos setores produto-res de bens e serviços transacionáveis terá de ser baseado na competitividade das empresas desses setores, adequando a evolução dos custos aos ganhos na pro-dutividade.A médio e longo prazo, as empresas terão de aumentar a sua produtividade, o que exige investimento e uma forte aposta na afirmação de marcas, no design, na inova-ção, na organização e na capacidade de gestão.Este esforço cabe, em primeiro lugar, às próprias empresas, mas só poderá concre-tizar-se plenamente se for criado um am-biente propício à atividade empresarial.No curto prazo, a contenção de custos é incontornável. Custos salariais, mas tam-bém outros custos que vão pesando sobre as empresas.No debate sobre a desvalorização fiscal, a CIP propôs uma redução seletiva da TSU, abrangendo apenas os setores da indústria transformadora e do turismo, que exigiria uma contrapartida comportável em termos de compensação por receita adicional de IVA e concentraria o seu impacto nos seto-res mais relevantes para a competitividade externa da nossa economia. A CIP conti-nua a considerar a redução da TSU como medida da maior importância para aumen-tar a competitividade das empresas produ-toras de bens e serviços transacionáveis, embora reconheça que deixou de existir

um alerta

a CiP tem insistido

em que a escassez de

financiamento e os baixos

níveis de capitalização da

generalidade das empresas

são os principais

constrangimentos de curto

prazo à recuperação

da economia, e a sua

principal preocupação

propostas Da cip para a reiNDustrialização Do país

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margem para uma compensação por au-mentos na tributação indireta. Retemos, por isso, a intenção de reequacionar esta medida quando os progressos na consoli-dação orçamental o permitirem.Relativamente aos custos não salariais, destacam-se, pela sua escalada e pelo peso que representam na estrutura de cus-tos das empresas, os custos energéticos.A CIP propõe a este respeito:• A reavaliação do conjunto de medidas tendentes à contenção dos custos indire-tos que oneram as tarifas de eletricidade, genericamente indicadas no Memorando de Entendimento, as quais são indispensá-veis à competitividade dos custos da eletri-cidade para as empresas.• A revisão da remuneração da interrupti-bilidade. • Uma maior diferenciação entre as tarifas noturnas e as correspondentes às horas cheias e às horas de ponta.• A isenção da aplicação do novo imposto elétrico para as empresas sujeitas ao regi-me de gestão dos consumos intensivos de energia.• O aperfeiçoamento do quadro legal e re-gulamentar aplicável ao mercado do gás natural, do qual possa resultar mais con-corrência e um mercado mais competitivo;• A criação de programas de eficiência energética com disponibilidade de financia-mento das açõesImporta também que o Governo atue deci-sivamente no sentido da redução dos cus-tos de instalação e de funcionamento das empresas relacionados com a qualidade do desempenho da Administração e com a interação do Estado na economia enquan-to fornecedor de bens públicos e regulador dos mercados – os designados custos de contexto.Tal como consta do Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego, haverá que avaliar os impactos em ter-mos de competitividade, nomeadamente sobre as PME, de novas medidas legisla-tivas, através da implementação do SME Test (teste PME), a exemplo do previsto no Small Business Act. Ainda no âmbito do relacionamento entre o Estado e as empresas, a CIP relembra as prioridades que indicou no âmbito dos trabalhos para o estabelecimento do Com-promisso para o Crescimento, Competitivi-dade e Emprego:• Simplificação de procedimentos em algu-mas avaliações ambientais (por exemplo, a avaliação da utilização de resíduos que, tradicionalmente e desde sempre, foram utilizados como matéria-prima – atuação

inútil e dispendiosa por parte do Estado);• Abordagem integrada das variáveis am-bientais em matéria de licenciamento, eliminando duplicações (por exemplo, a duplicação de procedimentos em que, pri-meiro, se tiram todas as licenças relativas à água e, depois, se repetem os processos para os restantes temas ambientais). • Instituição de um quadro legal realista que, sem que deixem de ser cumpridas as obrigações legais, isente as PME dos encargos financeiros (ex: obrigatoriedade de garantias financeiras) e burocráticos no âmbito da legislação sobre responsabilida-de ambiental, tal como sucede na maioria dos Estados-membros da UE.Como medidas de promoção de uma maior produtividade, baseada na inovação, propomos ainda:• Potenciar a dinâmica dos polos de com-petitividade e clusters, facilitando e promo-vendo a cooperação efetiva entre empre-sas e instituições.• Colocar as competências de que Portu-gal já dispõe no domínio da I&D ao serviço de estratégias de inovação das empresas que resultem em novos produtos e serviços baseados em conhecimento e tecnologia e em processos mais eficientes. Para tal, propomos que um dos critérios do finan-ciamento público à atividade das institui-ções de I&DT seja o montante de receitas provenientes de contratos estabelecidos com empresas.• Valorização das experiências de coope-ração com as empresas como critério de progressão nas carreiras académicas.• Reorientar a vocação dos laboratórios do Estado para a investigação dirigida ao teci-do empresarial, em estreita ligação com os centros tecnológicos.• Potenciar a participação de consórcios nacionais em programas e projetos euro-peus de I&D e Inovação.

3. InternacionalizaçãoA reindustrialização do País, no quadro do aumento do peso dos setores produtores de bens e serviços transacionáveis pressu-põe obviamente um estratégia coerente de internacionalização da economia.Neste âmbito, a CIP tem vindo a trabalhar empenhadamente no quadro do Conselho Estratégico de Industrialização da Econo-mia, nos seus quatro grupos de trabalho, cujas conclusões integram os seus contri-butos nesta área.

4. Contexto europeuTambém ao nível europeu, o tema da rein-dustrialização tem vindo a ganhar algum

protagonismo. Vários estudos têm vindo a pôr em evidência os perigos do declínio industrial, evidenciando os erros cometidos por políticas que se focalizaram quase ex-clusivamente no desenvolvimento dos ser-viços como forma de preservar empregos, muitas vezes pouco qualificados, enfra-quecendo a indústria em benefício doutros setores. A indústria está a ser recolocada no centro das estratégias nacionais e da própria União Europeia.Há alguns meses, o Comissário europeu responsável pela Indústria e o Empreen-dedorismo alertou para “a quimera de um mundo dividido em países produtores e economias avançadas ou maduras, foca-lizadas essencialmente nos serviços ou em nichos de produtos com muito alto valor acrescentado”. Dizia ainda que os riscos do declínio político e económico da Euro-pa estão diretamente ligados ao declínio industrial, concluindo que a força real da Europa se encontra na sua indústria.Contudo, não basta à Europa promover uma política industrial baseada sobretudo no reforço do mercado único e no fomento da inovação.É preciso que outras políticas, em especial a política comercial e as políticas ambiental e energética sejam compatíveis com o de-sígnio da reindustrialização.É fundamental tomar consciência que, num contexto internacional, políticas rígidas e a imposição de metas ambiciosas em maté-ria ambiental, de proteção dos consumi-dores ou mesmo de eficiência de recursos energéticos podem prejudicar a competiti-vidade de alguns setores e colocá-los fora do mercado, se exigirem custos excessi-vos.No domínio da política comercial, é neces-sário garantir que a globalização seja en-quadrada por um conjunto de princípios e regras que promovam o gradualismo e a reciprocidade na liberalização e que ga-rantam que a concorrência entre as econo-mias se baseia em vantagens competitivas legítimas, não podendo ser pervertida pelo desrespeito por valores universais da pes-soa humana, pelo desprezo relativamente à proteção ambiental ou por práticas fraudu-lentas ou desleais, como a contrafação ou o dumping e as subvenções.a ciP apela ao governo para que, nas instituições europeias, atue com parti-cular firmeza para que as políticas eu-ropeias, no seu conjunto, contribuam para os esforços nacionais no senti-do da reindustrialização e, em geral, do reforço dos setores produtores de bens e serviços transacionáveis.

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QualificaÇÂo E Vida atiVa

qualificação é uma responsabilidade nacionalA qualificação das pessoas para tarefas ligadas à vida activa é uma responsabilidade nacional prioritária. Não tem merecido, infelizmente, a necessária atenção prática e consistente dos mais responsáveis: os titulares do poder político-administrativo e os empresários e gestores da atividade económica pública e/ou privada

EQUíVOCOS IArticular a vocação e operação do sistema formal de ensino com as exigências da eco-nomia real - traduzidas no paradigma de uma educação-formação para a mudan-ça - é tarefa não apenas difícil do ponto de vista técnico-pedagógico mas, sobretudo, exigente quanto à metodologia do trabalho a desenvolver: não dispensará, sob pena de logro total e consequente desperdício de recursos, a íntima cooperação dos serviços públicos envolvidos com as representações privadas da economia real. A verdade é que, sendo isto óbvio - tanto quanto o é reco-nhecer que não há economia sem empresas - vimos consumindo décadas de oportuni-dades e gerações perdidas, produzindo su-cessivas teorias e modelos, reorganizando, reestruturando, alimentando monstruosida-des burocráticas que proclamam servir a competitividade nacional mas apenas sus-tentam o crescimento incessante de uma generalizada mediocridade.Desde que, em nome da democratização do ensino e de outras fórmulas semelhantes e vazias, foi superiormente decidido extinguir

o Ensino Técnico Profissional, temos vindo a testemunhar o progressivo e dramático empobrecimento do nosso tecido industrial. A falácia do desenvolvimento - e conseguir o acordo sobre o que isso é e como se ava-lia?! - definitivamente ganho por milagrosa intervenção das novas tecnologias da infor-mação - não é apenas o lamentável equívoco transformado em “slogan” da ignorância: ins-tila na sociedade portuguesa - e sobretudo nos mais jovens- a ilusão de que uma mera, ainda que indispensável, ferramenta de tra-balho contém e disponibiliza com um simples “click”, toda a informação e todo o conheci-mento que abrem as portas da felicidade...!

O FACTOR HUMANOO valor do trabalho e do esforço pessoal persistente e sério, o espírito e a prática do

respeito e da solidariedade, o culto da Pátria e da sua História, a consciência da partilha na aventura de prolongar e enriquecer a herança que nos cumpre passar às novas gerações não ocupam, há demasiado tem-po, nos programas e na prática das nossas escolas o lugar primeiro que deveriam mere-cer. Assim sendo, à realidade virtual gerada pela “cultura das novas tecnologias da in-formação” soma-se o vazio das referências verdadeiramente reais e humanizantes: o resultado, em termos sociais, é o dramático crescimento do individualismo, gerador da solidão e das perturbações de relaciona-mento que agitam, entre outras, as comuni-dades escolares e empresariais; em termos económicos, as consequências traduzem--se, ao lado de um desolador processo de desmaterialização da nossa economia .

José de Oliveira Guia Presidente da anemm - ass. naCional das emPresas metalúrgiCas e eleCtromeCâniCasvogal da direção da CiP - Confederação emPresarial de PortUgal

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causa próxima do agravamento das contas externas por aumento inusitado do volume e valor das importações no empobrecimen-to generalizado do nosso parque industrial, impossibilitado de se regenerar por razões de ordem financeira e fiscal mas igualmente por razões devidas à endémica carência de competências profissionais: fator decisivo que limita a capacidade tecnológica e pre-judica a competitividade.É o fator humano, como sempre e em tudo, que distingue as sociedades e as econo-mias. É ao fator humano que o país deve conferir a prioridade absoluta, e o melhor critério de validação de qualquer estratégia de desenvolvimento global reside indubita-velmente na importância prática conferida às políticas de valorização das pessoas.

EQUíVOCOS IIAcontece que vários equívocos têm compro-metido a nitidez das análises da realidade em-presarial portuguesa, não apenas nas verten-tes organizacional e financeira mas também no que respeita às dependências tecnológicas e ao desenho e natureza das estruturas hu-manas que lhe estão associadas.De facto, convivem em Portugal, desde sempre, realidades radicalmente distintas a que, por comodidade administrativa ou ignorância sociológica e económica das organizações, continua a designar-se por empresas. Sabemos todos que a esmaga-dora maioria das referidas organizações não preenche os requisitos mínimos caracterís-ticos de uma empresa: falta-lhes a identifi-cação e até a noção do respectivo negó-cio, a estrutura organizativa e funcional, a capacidade financeira, a prática ou mesmo uma ideia sobre as mais elementares regras de gestão. A verdade é que mais de 90% do chamado tecido empresarial português é constituído por organizações deste tipo que, assim mesmo, asseguram praticamen-te 80% do emprego. Quer dizer: têm um de-sempenho e são agentes do nosso quadro económico mas a superação das suas in-suficiências deve começar por intervenções nos planos social e educativo/formativo.

POLíTICA E ESTRATÉGIAUma estratégia nacional de valorização das pessoas não pode, pois, continuar a privile-giar concepções, recursos e instrumentos de aplicação universal, modelados para a obten-ção de “ratios” favoráveis e para uma perigo-sa extensão da cultura tecno-burocrática do Estado. Um eventual mas fugaz sucesso po-lítico pode até reconhecer competências ge-rais e avulsas que alimentam alguns “egos”, mas não resolverá as questões de fundo:

porque as necessidades precedem as políti-cas e estas não podem ignorar as realidades sociais, culturais e económicas específicas de diferentes regiões e sectores. E como, en-tretanto, o nosso “espaço natural” se alargou a outras realidades, sem que tenha havido tempo para “caldear” diferenças e ir cons-truindo novas estruturas de convívio social e cooperação político-económica, as decisões terão que ponderar mais o que representa a progressiva consolidação de um sistema de valores do que a efémera construção de sis-temas de poder...A função educativa não pode ser reduzida - mais uma vez e sempre por tentação do insaciável poder burocrático - a um mero sistema educativo. Ainda pior será se à sua nobreza e complexidade forem agregadas responsabilidades na área da qualificação profissional, sendo certo que ao Ministério da Educação faltam as estruturas de liga-ção - portanto de conhecimento da reali-dade empresarial e das suas necessidades -, acrescendo que não dispõe, há muitos anos, de experiência pedagógica, compe-tências técnicas e equipamentos didácticos para realizar, com o mínimo de credibilidade, acções na área da formação profissional.

ObJECTIVOS E CLIENTESA preparação para a vida activa tem um ob-jectivo: fazer de cada pessoa, mais ou menos jovem, um cidadão: consciente dos seus de-veres e direitos, equilibrado consigo mesmo e com a comunidade em que se integra, en-tre outras coisas porque dispõe das habilita-ções e competências que lhe permitem con-tribuir para o desenvolvimento harmónico do conjunto nacional: nos planos social, cultural, político e económico! Mas todo o trabalho de valorização do fator humano nacional tem também um cliente principal: o universo das empresas - particularmente as da economia real, as que sabem e podem produzir os bens e serviços transaccionáveis que podem alimentar a balança comercial do lado das exportações, aumentando assim a riqueza nacional e, consequentemente os factores de reforço da nossa independência.É por tudo isto que as decisões políticas que objectivam as estratégias de qualificação dos nossos recursos humanos não podem deixar de atribuir aos agentes da economia real e às suas representações institucionais um papel absolutamente fulcral. É por tudo isto que a construção de um modelo operacional de qualificação para a vida activa que ignore os contributos irrecusáveis dos seus clientes - as empresas! - está condenado ao fracasso. O país assistirá - veremos se pacificamente - ao desmoronar de mais uma tentativa de

resposta à questão principal da nossa vida colectiva: porque foi ignorado o contributo activo, e não apenas formal, de quem, exclu-sivamente, pode identificar a necessidades em termos das competências adequadas às exigências da atividade económica real.Todos conhecemos, de resto, os frutos da desastrosa experiência de extensão das condições de acesso ao ensino superior, consubstanciada na proliferação de univer-sidades... Por efeito deste voluntarismo de enviesada cultura “democrática”, permitiu--se, à sombra de instituições seculares da máxima respeitabilidade, que se instalas-sem no país algumas organizações des-qualificadas relativamente à competência universitária, que, ainda por cima, acumula-ram e utilizaram de modo criminoso as ver-bas escandalosas obtidas por extorsão de famílias obcecadas pelo sonho, sem dúvida legítimo, de terem filhos doutores...As dezenas de milhar de jovens licenciados, oriundos das boas e das más universidades, e também de alguns politécnicos, testemu-nham o desastre de um ensino formal que tem vivido à margem da realidade e que, cumulativamente, ajudou a instalar na cons-ciência colectiva a ideia de que a formação profissional é um último recurso para os que não são capazes de frequentar, com aproveitamento, a escolaridade formal obri-gatória: são os excluídos da normalidade que, afinal, produz excluídos da realidade! Entre os excluídos licenciados e os excluí-dos inadaptados corre a vida, perturbada e difícil, de uma atividade económica que não pode aproveitar nem uns nem outros.

UM MODELO ISOLADO DA REALIDADEFoi criado um novo modelo para a formação profissional. Aos que mais interessa, tudo foi ocultado. - Não se vislumbra para tamanho erro senão o inevitável fracasso: as estatís-ticas vão abarrotar de índices gloriosos que nos colocarão numa ilusória vanguarda da Europa; à economia e às empresas que a realizam nada aproveitará.Os recursos destinados à formação pro-fissional, disponibilizados pelas empresas e pelos seus trabalhadores, via segurança social, serão utilizados segundo critérios so-bre os quais os que pagam não foram con-sultados, e através de estruturas operacio-nais que os não integram e são totalmente alheias à economia real.Mas o que representa este detalhe, com-parado com as lições de boa gestão em-presarial que frequentemente recebemos de alguns “especialistas” que nunca entraram numa empresa nem têm qualquer ideia de como funciona?

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QualificaÇÂo E Vida atiVa

Indús tr Ia • Se tembro 2012

Gonçalo Xufre Silva Presidente da agênCia naCional Para a QUalifiCação e ensino Profissional

Pensar na educação de adultos de uma forma holísticaa cRise ecoNómica que a Europa atra-vessa tornou evidente que a aprendizagem é condição essencial para a preparação dos indivíduos nas várias transições que os mesmos efetuam ao longo da vida, seja no momento de passagem da escola para o mundo do trabalho, do desemprego para o emprego, do trabalho para a reforma, ou até de mudança de residência entre países ou entre ambientes sociais ou profissionais (ex: de modelos mais tradicionais e me-cânicos para outros mais tecnológicos de produção). Aprender passou a ser algo na-tural e inerente à socialização neste mundo globalizado onde as fronteiras se esbatem, a todos os níveis. A aprendizagem deixou de ser domínio exclusivo das escolas, as-sim como deixou de estar confinada às ge-rações mais jovens, dizendo agora respeito a um novo paradigma que atravessa todos os estádios da vida humana, afeta todos os intervenientes da sociedade e acontece nos mais variados contextos. Olhar para a educação neste prisma implica que se reequacione e se procure readaptar os sistemas de educação e de formação que se veem obrigados a interligar no sen-tido de fornecer as respostas adequadas a um público cada vez mais heterogéneo (não só em termos de necessidades forma-tivas mas também em idade), sendo essas mesmas respostas focadas nos efetivos re-sultados que se obtêm com os processos de aprendizagem e na sua aplicabilidade perante os desafios que temos de enfren-tar nos diversos domínios em que atuamos enquanto indivíduos. É neste perspetiva que se procura agora afirmar a nova Agenda Europeia para a Educação de Adultos, cuja coordenação a nível nacional é da responsabilidade da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP). Considerando o trajeto prosseguido por Portugal nesta matéria, nos últimos anos, e os objetivos definidos pela Estratégia EU 2020 (que deverá ser capaz de catapultar a Europa como um todo para um outro pa-tamar, assente no “crescimento inteligente, sustentável e inclusivo”), a Agenda Euro-peia para a Educação de Adultos carac-terizar-se-á, no nosso país, por uma con-

ciliação entre a educação de adultos e as temáticas da competitividade e da inclusão social, razão pela qual foram eleitos como públicos-alvo prioritários os adultos em si-tuação de exclusão social ou com propen-são para tal, os adultos com deficiências e incapacidades e ainda os seniores (estes últimos atendendo à realidade do envelhe-cimento da população – estima-se que, em 2050, 37,7% da população portuguesa te-nha 65 ou mais anos de idade). Para o efeito, impõe-se conhecer, de for-ma mais aprofundada, o impacto das me-didas já preconizadas, estabelecendo-se uma análise dos custos-benefícios reais da educação de adultos; envolver os di-versos parceiros, em especial as entida-des empresariais e outras estruturas da sociedade, na concretização de parcerias capazes de ajudar a (re)qualificar para se fazer face às atuais e futuras exigências do

mercado de trabalho; aliciar os públicos mais desfavorecidos para os percursos de qualificação, recorrendo sobretudo à ca-pacidade motivacional das aprendizagens informais e não formais; e criar um sistema de informação e orientação abrangente, sustentado em estratégias eficazes que tenham em atenção a aquisição das com-petências consideradas essenciais e que assegure o acompanhando do indivíduo independentemente da sua condição de jovem ou adulto (o que justifica a transição dos atuais Centros Novas Oportunidades para os futuros Centros de Qualificação e Ensino Profissional). Não se pode esquecer que a educação dos adultos não deve ser pensada só a partir da idade em que já se é adulto. Ser--se adulto é cumprir mais uma das etapas de aprendente, nesta perspetiva holística da aprendizagem ao longo da vida.

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forMaÇÂo financEira

Indús tr Ia • Se tembro 2012

Lançado no passado dia 9 de julho, o portal “TODOS CON-TAM” (www.todoscontam.pt), disponibiliza informação e ferramentas úteis sobre questões financeiras com impacto na gestão das finanças pessoais e sobre as principais deci-sões financeiras em diferentes etapas da vida.Para além de conteúdos sobre o planeamento do orçamen-to familiar ou produtos financeiros de poupança e investi-mento para particulares, o portal conta também com um espaço dedicado ao crédito às empresas e ao empreende-dorismo. Neste espaço destacam-se aspetos a considerar na criação de uma empresa, com informação relativa a procedimentos iniciais e a modalidades de financiamento. No Portal podem ainda ser encontrados con-teúdos sobre as características dos principais meios de pagamento (no tema “Fazer pagamentos”) e dos cuidados a ter para acautelar situações de fraude na utilização dos diversos produtos financeiros (no tema “Prevenir a fraude”). As bibliotecas do Portal disponibilizam também materiais de apoio à formação financeira na área empresarial.

O portal “TODOS CONTAM”

o plano nacional de formação financeiraPoRtugaL disPõe hoje de um Plano Na-cional de Formação Financeira (PNFF), uma iniciativa lançada pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), que integra o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e o Instituto de Segu-ros de Portugal. O Plano pretende estimular e apoiar os esforços de um vasto conjunto de entidades comprometidas com o desenvolvi-mento de iniciativas destinadas a melhorar os conhecimentos e atitudes financeiras da po-pulação em geral. A CIP é uma das entidades envolvidas nos trabalhos do PNFF. A CIP integra a Comissão de Acompanhamento 1 do Plano, à qual cabe dinamizar projetos na área da formação finan-ceira, bem como propor a forma de concreti-zação e os métodos e meios de implementa-ção das várias iniciativas de formação. O Plano conta ainda com a Comissão de Acompanhamento 2, que é responsável por identificar prioridades e necessidades de for-mação e disponibilizar meios para a sua con-cretização.Nestas duas comissões participam 28 en-tidades do setor público e privado, incluindo ministérios, universidades, associações do se-tor financeiro, associações de consumidores, centrais sindicais e associações empresariais.A coordenação de esforços entre estas duas comissões, tendo em vista o aproveitamento de sinergias e a maximização de oportunidade de formação, é assegurada pela Comissão de Coordenação do Plano, constituída por repre-sentantes dos três reguladores financeiros. O Plano conta ainda com um Comité Consultivo, que, além dos membros do CNSF, integra um grupo de personalidades com reconhecida competência e experiência profissional para apoiar a reflexão e os projetos a desenvolver no âmbito do PNFF. O Plano pretende com estas iniciativas que os principais temas financeiros estejam ao alcance dos segmentos da população que deles necessitem. A formação financeira da estrutura empresarial portuguesa, constituída essencialmente por micro, pequenas e mé-dias empresas, é um dos principais objetivos do Plano. O lançamento do Plano surgiu precisamente do reconhecimento da necessidade de refor-

çar a formação financeira em Portugal, tendo em conta os resultados do diagnóstico reali-zado, nomeadamente, através do Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa do Banco de Portugal, de inquéritos condu-zidos pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ao perfil do investidor português, bem como das análises realizadas pelo Insti-tuto de Seguros de Portugal às reclamações e pedidos de informação apresentadas pelos consumidores de seguros e de fundos de pensões. Ao contribuir para o reforço dos conhecimen-tos financeiros da população portuguesa e para a alteração de comportamentos, o Plano

promove o bem-estar da população e o cres-cimento económico, no qual o contributo das empresas portuguesas é decisivo. As iniciativas e os materiais de formação a serem utilizados nos trabalhos do Plano de-vem cumprir com linhas diretoras e critérios de qualidade e isenção definidos e que constam do documento “Princípios Orientadores de Formação Financeira” (disponíveis no portal www.todoscontam.pt). O PNFF conta já com o Portal “TODOS CON-TAM”, que constitui um instrumento de apoio e divulgação das iniciativas de formação finan-ceiras dinamizadas pelas entidades envolvidas no Plano.

CoMeMoRações do dia Mundial da PouPança Os trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos pelo PNFF terão divulgação pública no próximo dia 31 de outubro, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Poupança. O CNSF, com o apoio das entidades que integram as Comissões de Acompa-nhamento do Plano, vai dinamizar, nesse dia, um vasto conjunto de iniciativas em diferentes pontos do país, designadamente no Porto e Lisboa. Em Lisboa decorrerá um evento no Pátio da Galé, junto ao Terreiro do Paço, que inclui a realização de uma conferência sobre poupança e literacia financeira e a apresentação de iniciativas e projetos de formação financeira integrados no Plano.

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financiaMEnto PME

Indús tr Ia • Se tembro 2012

Susana Caetano internal sales da grenke renting

soluções financeiras para Pme’sUm estudo recentemente encomendado pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) alerta para o colapso eminente das PME pelo pagamento/recebimento tarde e a más horas que destrói por ano em Portugal 14 mil empregos e 2,8 mil milhões de euros

o PRoBLema, surge principalmente por dificuldades de tesouraria, pois a pressão da tesouraria e o corte do crédito levam muitas empresas, em desespero, arras-tarem os pagamentos para financiarem, através dos fornecedores, a sua atividade operacional. Na Europa o grau de incum-primento de pagamentos varia entre os 17% da Bélgica e os 27% da Itália. O estu-do verifica que em Portugal, 44% dos actos de pagamento são realizados com atraso.A solução é adoptar mecanismos ou solu-ções financeiras através de instituições es-pecializadas que garantam o recebimento imediato de facturas e consequentemente, eliminem o risco da operação. São exem-plo destes mecanismos financeiros: o fac-toring, leasing, renting.

RentingExistem três vantagens principais e muito objectivas do renting para a gestão finan-ceira das PME.1. Incentivo à preservação da liquidez das empresas, ou seja, o incentivo ao financia-mento faseado do investimento em equi-pamentos com prestações fixas e, conse-quentemente, com planeamento total de custos futuros.2. Benefícios fiscais. As rendas liquidadas são integralmente aceites como custo do

exercício a que respeitam com dedução a 100% em sede de IRC. 3. Renovação e modernização dos equi-pamentos. Promove a competitividade das PME num mercado em permanente mudança, minimizando o risco de obsoles-cência dos equipamentos, com benefícios para a sua gestão financeira.

Grenke Renting O core business da Grenke Renting, é o renting de equipamentos tecnológicos de baixo valor para PME. Como é exemplo o financiamento de hardware (computado-res, fotocopiadoras, servidores), software, comunicações, entre outros equipamentos tecnológicos. Faz parte do grupo multinacional alemão Grenkeleasing AG, independente de bancos e com 30 anos de experiência no mercado. A Grenke é líder de mercado em Portugal no renting tecnológico com um volume

de financiamento em 2011 de 32 milhões de euros, com previsão para 2012 de 38 milhões de euros, e conta com 1300 re-vendedores (agentes/integradores na área das TIC) que colaboram em parceria com a Grenke. Possuí 3 escritórios em Portugal: Lisboa, Porto e Leiria com cobertura co-mercial em todo o país.Em propostas que não ultrapassem os 50 mil euros, a análise e resposta do financia-mento são dados, no limite, em 20 minutos e sem burocracia. Esta simplicidade ope-rativa promove a concretização de vendas dos revendedores às PME e a realização imediata dos projectos das respectivas PME. Ou seja, valor acrescentado para os re-vendedores de equipamentos, bem como para as PME, que vêem os seus projectos de investimento ou modernização de equi-pamentos tecnológicos concretizarem-se, melhorando a sua competitividade.

Cin investe na MaiaA CIN revelou um plano para investir 12 milhões de euros no aumento da capacidade industrial da sua fábrica de tintas em pó para o setor Industrial, na Maia. “Temos recusado clientes por não ter mais capacidade de produção. Era essencial aumentar esta capacidade, num segmento - Indústria - que é vol-tado para a exportação e com bastante potencial de negócio para o Grupo CIN.”, refere João Serrenho, Presidente do Gru-po CIN. O investimento será executado no pra-zo de 5 anos, sendo que a primeira fase, já iniciada, será completada em julho corrente e que importa em 6 milhões de euros. Atualmente as tintas em pó representam 11% da faturação total do Grupo que passará a produzir mais 50%, na primeira fase, atingindo as 10.000 toneladas por ano. Este aumento de produção será quase na totalidade canalizado para a exportação.Na segunda fase, a decorrer de dezem-bro 2012 até fevereiro de 2013, será instalada uma unidade de produtos es-pecíficos, com um investimento de 1,5 milhões. Na terceira e última fase, será aumentada a capacidade instalada para 14.000 toneladas/ano, por instala-

ção de novas linhas de produção. Esta obra permitirá não só o aumento da presença da marca nos principais mer-cados estrangeiros, como por exemplo na Europa Central, mas também um reforço da liderança do Grupo CIN em território nacional permitindo um au-mento da actual quota de mercado. A sustentabilidade ambiental esteve presente em todo o projeto com a in-trodução de novas tecnologias e no-vos processos de produção, como por exemplo o bonding que permite o de-senvolvimento de revestimentos em pó poliéster com efeitos metálicos, isentos de metais pesados, destinados a pro-jectos de arquitectura. Os processos da atual unidade fabril serão também op-timizados e mais flexíveis. Esta aposta em tecnologia de ponta permite a cria-ção de produtos cada vez mais inova-dores, eco suficientes e também mais competitivos. A expansão da fábrica na Maia vai criar, na primeira fase, mais 15 postos de tra-balho que acrescem aos 58 já existentes e aumentar a área dedicada à Investi-gação & Desenvolvimento que actual-mente emprega 17 pessoas exclusiva-mente na área de tintas em pó.

Capgemini é uM dos dez MelHoRes PRestadoRes de outsourCing do MundoA Capgemini, um dos líderes globais em serviços de consultoria, tecnologia e out-sourcing, foi reconhecida pela International Association of Outsourcing Professio-nals® (IAOP®) como um dos dez melhores prestadores de outsourcing em todo o mundo. A Capgemini ficou na oitava posição do “2012 Global Outsourcing 100”, uma subida de seis lugares no ranking comparativamente ao ano passado.“A indústria global sourcing atravessa, actualmente, algumas mudanças estraté-gicas fundamentais nas áreas de modernização tecnológica, fornecimento de mo-delos e arbitragem de custos. A classificação alcançada neste Top 10 reconhece a Capgemini enquanto líder em ajudar os clientes, com a sua abordagem diferenciada para serviços globais de outsourcing em torno de Applications, Infrastructure and Business Processes”, considera Arun Kumar R., Senior Vice-President and Global Ad-visor Relations Lead na Capgemini.Os “2012 Global Outsourcing 100” e o “World’s Best Outsourcing Advisors” reconhe-cem, anualmente, os melhores prestadores mundiais de serviços de outsourcing. Estes rankings são baseados em inscrições recebidas e avaliadas por um júri inde-pendente organizado pela IAOP®. Todos os candidatos são avaliados em factores que incluem receitas, resultados dos clientes, capacidades de relacionamento, abor-dagens de gestão, para além da gestão de talentos e experiência.“No panorama económico actual, é cada vez mais importante que os clientes finais de outsourcing possam ser capazes de identificar e seleccionar, facilmente, o parcei-ro certo para as suas necessidades de outsourcing. As listas dos Global Outsourcing 100 e World’s Best Outsourcing Advisors são essenciais para as empresas que pro-curam as soluções dos líderes comprovados da indústria de Outsourcing”, defende Michael Corbett, Chairman da IAOP.

notíciaS

Indús tr Ia • Se tembro 201260

Breves

Greve nos portos - Posição da CIP a CiP considera que, na situação difí-cil que o País atravessa, as greves nos portos portugueses constituem um ato de irresponsabilidade e representam um retrocesso significativo nas escolhas dos sindicatos sobre as formas de contestação a qualquer medida que considerem que diminui ou ameaça os seus interesses.num momento em que as exportações constituem um fator decisivo para o de-senvolvimento da economia, compensando a redução do mercado interno e permitin-do a manutenção de emprego, esta greve compromete todo este esforço e põe em causa o sucesso das políticas de incentivo ao crescimento das exportações. ao mes-mo tempo, a paralisação dos portos atrasa a receção de matérias primas essenciais à atividade produtiva nacional.a CiP apela ao bom senso dos dirigentes sindicais e dos trabalhadores, pondo ter-mo a uma greve que prejudica a economia nacional. Caso não prevaleça o bom senso, a CiP considera que o Governo não deverá excluir a hipótese de recurso aos instru-mentos legais que tem à sua disposição para assegurar o normal funcionamento dos portos nacionais.

III Jornadas AEP as iii Jornadas empresariais aeP / ser-ralves reúnem a 18 de outubro, no Porto, alguns dos principais protagonistas da promoção externa do país e da internacio-nalização económica dos últimos anos. o auditório de serralves volta a abrir-se para esta iniciativa conjunta das fundações aeP e de serralves, que se vai consolidando como uma das conferências anuais de referência que se realiza na capital do norte.este ano, o encontro surge como um es-paço de reflexão e partilha entre decisores institucionais, académicos, empresários, gestores e dirigentes associativos sobre um tema que, há anos, está no topo da agenda empresarial nacional: “a interna-cionalização da economia portuguesa”.

Encontro Nacional APG a associação Portuguesa de Gestão de Pessoas – aPG realiza, a 30 de outubro no Centro Cultural de Belém, em lisboa, o seu encontro nacional 201. o evento reúne a comunidade portuguesa de Gestores de Pessoas num programa composto por ses-sões de formação e inspiração, de partilha e interacção. “Pessoas: Confiança, Coragem e Colaboração” é o tema da edição de 2012.

notíciaS

Indús tr Ia • Se tembro 2012 61

Breves

REN debate ambiente a Ren, as suas congéneres espanhola e belga, Ree e elia, em parceria com a CCdR-n, a autoridade federal belga para a saúde e ambiente e o Ministério da indústria espanhol promoveram, no pas-sado dia 10 de outubro, uma conferência denominada “ Grid development Plan strategic environmental assessements (sea): towards sustainability”. o evento, que se realizou no âmbito do “open days of the Regions 2012”, em Bruxelas, teve como objetivo apresentar algumas das melhores práticas ambien-tais no planeamento e projeto de uma rede elétrica de transporte de muito alta tensão, partilhando um conjunto de estratégias, orientações práticas e expe-riências concretas no sentido de minimi-zar o impacto ambiental procedente das suas infraestruturas (linhas e subes-tações) elétricas , e ao mesmo tempo, identificar os melhores procedimentos na cooperação com as entidades externas, incluindo comunidades regionais e locais.

Portucel Soporcel adere à “FSC Friday”Considerando a floresta um dos pilares da sustentabilidade do seu negócio, o grupo Portucel soporcel tem a sua ges-tão florestal certificada pelos sistemas internacionais FsC® (Forest stewardship Council - Co10852) e PeFC (Programme for the endorsement of Forest Certifi-cation schemes). o Grupo foi a primeira entidade em Portugal a usufruir da ges-tão florestal certificada simultaneamente pelos dois sistemas. em linha com a sua estratégia de pro-moção da gestão florestal certificada em Portugal, e da adopção dos princípios estabelecidos pelo sistema FsC, em 2007, quando alcançou a certificação, o Grupo juntou-se este ano à quinta edição do “FsC Friday”, iniciativa que teve lugar no dia 28 de setembro.

Alidata Pme Líder o estatuto PMe líder 2012 foi recentemen-te atribuído à alidata, que renova assim a distinção atribuída pelo iaPMei – instituto de apoio às Pequenas e Médias empresas e à inovação. o objetivo consiste em refor-çar a visibilidade das empresas nacionais de pequena e média dimensão, com relevo para a alavancagem da economia em Portugal e é atribuído através do progra-ma FinCResCe do iaPMei, integrado no ministério da economia e do emprego.

XiX Congresso naCional da oRdeM dos engenheiros

A Ordem dos Engenheiros (OE) organi-za o seu XIX Congresso Nacional entre 19 e 20 de outubro de 2012, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.Dedicado ao tema central “Sociedade, Território e Ambiente – A Intervenção do Engenheiro”, o Congresso da Ordem será composto por conferências con-vidadas proferidas por personalidades de destaque no panorama nacional e internacional, por Sessões de Especia-lidade a cargo dos diferentes Colégios Nacionais de Especialidade de Enge-nharia e por Sessões Plenárias de índo-le profissional.Neste XIX Congresso, para além da re-flexão sobre os aspetos específicos da profissão e a solidez da formação, será dado enfoque à necessidade do recurso à Engenharia e à participação ativa dos seus profissionais nas problemáticas que emergem no País, porquanto são detentores de conhecimento científico e tecnológico indispensável na iden-tificação de soluções. Num contexto de crise, reforça-se a necessidade de critérios exigentes na aplicação dos recursos nacionais e na definição das políticas públicas, só possíveis com a intervenção de profissionais bem pre-parados e atualizados.A Sessão de Encerramento será presidi-da pela Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, Professora Assunção Cristas. O Congresso de 2012 encerra o ciclo de comemorações do 75.º aniversário da Ordem dos Engenheiros, iniciadas em novembro de 2011, no Dia Nacional do Engenheiro, período em que esta Asso-ciação Profissional tem vindo a reforçar o seu posicionamento enquanto insti-

tuição que se encontra ao serviço da Engenharia e da sociedade.Precedendo o seu XIX Congresso, a Or-dem dos Engenheiros (OE) organiza o 1.º Congresso de Engenheiros de Língua Portuguesa, que servirá de ponto de en-contro da lusofonia e que permitirá a apresentação dos projetos que estão a emergir ou em desenvolvimento nos países de língua portuguesa. Este evento, marcado para 18 de outu-bro, a realizar igualmente no CCB, pre-tende evidenciar “A Engenharia como Fator Decisivo no Processo de Desen-volvimento”.Através deste Congresso, pretende es-tabelecer-se uma plataforma de comu-nicação entre os países participantes, potenciadora de contactos privilegia-dos entre as entidades públicas e priva-das, incluindo empresas e instituições de ensino ligadas à Engenharia.O Encontro dos Engenheiros da lusofo-nia constituirá uma ocasião privilegiada para divulgar aos setores económicos nacionais as realidades socioeconómi-cas e planos de desenvolvimento em políticas públicas dos países que inte-gram a Comunidade de Países de Lín-gua Portuguesa e de Macau, apresen-tando as oportunidades de negócio daí decorrentes e relevar as competências que a Engenharia reúne para colocar em prática os desígnios apresentados.O 1.º Congresso de Engenheiros de Lín-gua Portuguesa pretende reunir em Portugal representantes oficiais dos países participantes, bem como outras personalidades de destaque do mundo lusófono e evidenciar o papel fulcral da Engenharia no seu desenvolvimento socioeconómico.

Caminho perigoso

No camPo ecoNómico, gera emprego e riqueza, através do pagamento das suas contribuições fiscais, e promove o cresci-mento do PIB do país. Na área do conhe-cimento científico, as parcerias e protocolos estabelecidos entre as empresas farmacêu-ticas e os centros de investigação nacionais permitem o apoio a bolsas de investigação em inúmeras áreas e o desenvolvimento de ensaios clínicos.No entanto, nos últimos anos, as iniciativas da governação, que se têm centrado ex-clusivamente na degradação do preço do medicamento, associadas às medidas de austeridade decorrentes do Memorando de Entendimento, e ao contínuo crescimento das dívidas dos hospitais do Serviço Nacio-nal de Saúde, colocam as empresas farma-cêuticas perante graves constrangimentos, que põem em risco a manutenção da sua normal atividade em Portugal. 2013 será, sem dúvida, um ano de extrema dificuldade para as empresas e terá, é qua-se inevitável, um impacto negativo no nor-mal abastecimento do mercado farmacêuti-co. A meta imposta pela troika para o valor da despesa em medicamentos no próximo ano, de 1% do PIB, é irrealista e tem de ser claramente repensada. Este ano, com o contributo das empresas

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indÚStria farMacEutica

Indús tr Ia • Se tembro 2012

As empresas farmacêuticas em Portugal representam um importante investimento na Saúde dos cidadãos, na Economia do país e no desenvolvimento do conhecimento científico. A atividade das empresas, nacionais e multinacionais, permite aos portugueses um acesso rápido aos medicamentos de que necessitam, sejam eles mais recentes ou aqueles que estão há vários anos no mercado

farmacêuticas, através do protocolo assina-do com o Ministério da Saúde, a despesa do Estado vai situar-se em 1,22% do PIB, abaixo dos 1,25% determinados pela troika. Cumprir a meta de 2013 significa que esta-ríamos a fazer, em três anos, um corte supe-rior a mil milhões de euros. Teria um impacto muito perigoso nas empresas e no acesso dos doentes ao medicamento. Além disso, há que ter em atenção o facto de o valor percentual colocado no Memorando ser muito mais exigente para Portugal quando comparado com a média dos países euro-peus. Trata-se de uma meta para a despesa total, ambulatório mais hospitalar, quando o valores disponíveis para efeitos comparati-vos se baseiam em dados publicados pela OCDE que, em primeiro lugar são referentes apenas ao mercado ambulatório, não abran-gendo os gastos com medicamentos a nível hospitalar. Assim, não só não é razoável o valor obtido, como o total da despesa em Portugal está já abaixo dos níveis da OCDE.

A adoção de medidas de austeridade na Saúde que colocam a tónica exclusivamen-te na redução de custos para o Estado, sem uma devida monitorização das suas conse-quências, para as empresas e para as po-pulações, é um caminho perigoso.Há, claramente, uma séria ausência de per-ceção daquilo que representa na vida das pessoas e das empresas o cumprimento cego de objetivos numéricos, estabelecidos sem estudo prévio e sem monitorização das suas consequências.O momento de recessão económica que Portugal atravessa obriga-nos a tomar cada vez mais consciência de que o investimen-to em Saúde, em especial na prevenção, diagnóstico e inovação, tem de ser enca-rado como um investimento no futuro, nos resultados positivos que representa para a sociedade, da qualidade de vida dos cida-dãos à redução e otimização de encargos a longo prazo, ao invés de nos restringirmos ao chavão fácil de ser mais um custo.

João Almeida Lopes Presidente da aPifarma