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Rejuvenescimento e Identidade Cultural de Lisboa

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Rejuvenescimento e Identidade Cultural de Lisboa

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FICHA TÉCNICA Título Debate Rejuvenescimento e Identidade Cultural de Lisboa

Edição Assembleia Municipal de Lisboa Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto Coordenação da Edição Assembleia Municipal de Lisboa Audição/Transcrição e Revisão de Texto Paulo Viegas Capa Sofia Henriques Ano 2012

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Rejuvenescimento e Identidade Cultural de Lisboa

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ÍNDICE

ABERTURA DOS TRABALHOS

Simonetta Luz Afonso…………………………………………….………11 Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa

Luísa Vicente Mendes……………………………………………………13 Deputada Municipal

Catarina Vaz Pinto………………………………………………………..16 Vereadora da Cultura da CML

1º Painel Virgínia Estorninho………………………………………………………..25 Deputada Municipal

Apresentação dos oradores

Diogo Moura……………………………………………………………….26 Deputado Municipal

Intervenções dos oradores

Dra. Gabriela Canavilhas………………………………………………...28

Prof. José Quaresma……………………………………………………..35

Dr. Miguel Tiago…………………………………………………………..41

Prof. António Pedro Dores……………………………………………….49

Debate

Fernando Gonçalves..……………………………………………….…...55

Vitor Agostinho……………………………………………………….…...55

Ana Sara Brito…………………………………………………………….56

Dra. Gabriela Canavilhas………………………………………………...58

Dr. Miguel Tiago…………………………………………………………..63 Dra. Teresa Craveiro……………………………………………………..66

Dra. Paula Marques………………………………………………………66

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Catarina Vaz Pinto………………………………………………………..67 Vereadora da Cultura da CML

Prof. António Pedro Dores……………………………………………69

Dr. José Quaresma……………………………………………………72

Dra. Gabriela Canavilhas…………………………………………….74 Dr. Miguel Tiago……………………………………………………….74

2º Painel

Modesto Navarro…………………………………………………………79 Deputado Municipal

Apresentação dos oradores Teresa Almeida……………………………………………………………80 Deputada Municipal

Intervenções dos oradores Dra. Inês Pedrosa…………………………………………………………82

Dr. José Manuel Amaral Lopes…………………………………………89

Prof. Manuel Gusmão…………………………………………………….97

Arqtª. Margarida Bentes Penedo………………………………...…….102

Arqtº. Pedro Soares Neves…………………….………………………106

Catarina Vaz Pinto………………………………………………………111 Vereadora da Cultura da CML

Debate

Fernando Gonçalves……………………………………………………120

Ana Sara Brito……………………………………………………………122

Dr.ª Teresa Craveiro……………………………………………………123 Dr.ª Inês Pedrosa………………………………………………………..126

Dr. José Manuel Amaral Lopes………………………………………..130

Arqtº. Pedro Soares das Neves……………………………………….132

Catarina Vaz Pinto………………………………………………………135 Vereadora da Cultura da CML

Dr.ª Margarida Bentes Penedo………………………………………...139

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Prof. Manuel Gusmão…………………………………………………..141

Teresa Almeida………………………………………………………….143 Deputada Municipal

Simonetta Luz Afonso…………………………………………………..143 Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa

Luísa Vicente Mendes…………………………………………………..144 Presidente da Comissão Permanente da Cultura, Educação, Juventude e Desporto

ENCERRAMENTO

Simonetta Luz Afonso…………………………………………………..147 Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa

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Aos trinta dias do mês de janeiro de dois mil e doze, pelas dez, reuniu em Sessão Extraordinária na sua Sede, sita no Fórum Lisboa, na Av enida de Roma, a Assembleia Municipal de Lisboa, para a realização de um Debate Específ ico sobre “Rejuvenescimento e Identidade Cultural de Lisboa”. Assinaram a “Lista de Presenças” os seguintes Deputados Municipais: Alberto Francisco Bento, Aline Gallash Hall, Álv aro da Silv a Amorim de Sousa Carneiro, Ana Bela Burt Magro Pires Marques, Ana Maria Gaspar Marques, Ana Sof ia Pedroso Lopes Antunes, André Nunes de Almeida Couto, António José do Amaral Ferreira de Lemos, António Manuel, António Manuel Pimenta Prôa, António Modesto Fernandes Nav arro, Armando Dias Estácio, Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho, Cláudia Alexandra de Sousa e Catarino Madeira, Diogo Vasco Gonçalv es Nunes de Bastos, Fernando Manuel Moreno D’ Eça Braamcamp, Fernando Manuel Pacheco Ribeiro Rosa, Francisco Carlos de Jesus Vasconcelos Maia, Gonçalo Maria Pacheco da Câmara Pereira, Gonçalo Matos Correia Castro de Almeida Velho, Hugo Alberto Cordeiro Lobo, Hugo Filipe Xambre Bento Pereira, Idália Maria Jorge Poucochinho Morgado Aparício, João Álv aro Bau,João Diogo Santos Moura, João Manuel Costa de Magalhães Pereira, João Nuno de Vaissier Nev es Ferro, Joaquim Emanuel da Silv a Guerra de Sousa, Joaquim Lopes Ramos, Joaquim Maria Fernandes Marques, Jorge Manuel da Rocha Ferreira, Jorge Telmo Cabral Saraiv a Chav es de Matos, José Alberto Ferreira Franco, José Manuel Rosa do Egipto, José Roque Alexandre, Luis Filipe Graça Gonçalv es, Manuel Luís de Sousa Silv a Medeiros, Maria Albertina de Carv alho Simões Ferreira, Maria Cândida Rio de Freitas Cav aleiro Madeira, Maria Clara Currito Gargalo Ferreira da Silv a, Maria da Graça Rezende Pinto Ferreira, Maria Elisa Madureira de Carv alho, Maria Filomena Dias Moreira Lobo, Maria Irene dos Santos Lopes, Maria Isabel Homem Leal de Faria, Maria João Bernardino Correia, Maria José Pinheiro da Cruz, Maria Luísa Rodrigues das Nev es Vicente Mendes, Maria Simonetta Bianchi Aires de Carv alho Luz Af onso (Presidente da AML), Maria Teresa Cruz de Almeida, Maria Virgínia Martins Laranjeiro Estorninho, Miguel Alexandre Cardoso Oliv eira

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Teixeira, Nelson Pinto Antunes (Primeiro Secretário da AML), Patrocínia da Conceição Alv es Rodrigues do Vale César, Paula Cristina Coelho Marques Barbosa Correia, Paulo Alexandre da Silv a Quaresma, Pedro Miguel de Sousa Barrocas Martinho Cegonho, Pedro Miguel Ribeiro Duarte dos Reis, Rita da Conceição Carraça Magrinho, Rodrigo Nuno Elias Gonçalv es da Silv a, Rosa Maria Carv alho da Silv a, Rui Jorge Gama Cordeiro, Rui Manuel Pessanha da Silv a, Salv ador Posser de Andrade, Valdemar António Fernandes de Abreu Salgado, Vitor Manuel Alv es Agostinho, Manuel dos Santos Ferreira, Maria Isabel dos Prazeres Pinto Nascimento Pereira, Renata Lajas Custódio, Pedro Manuel Tenreiro Biscaia Pereira, Ricardo Amaral Robles, Maria Margarida Mota, António Henrique, Carla Almeida, João Maria Martins Baioneto e João Francisco Borges da Costa.

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ABERTURA DOS TRABALHOS A Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Maria Simonetta Bianchi Aires de Carvalho Luz Afonso: Muito bom dia a todos, Senhores Deputados Municipais, Senhores Deputados da Assembleia da República, Senhores Vereadores, Público e Oradores. Vejo aqui parte do mundo da cultura também representado. Muito obrigada por terem v indo. Esta será uma sessão da Assembleia Municipal dedicada ao Rejuv enescimento da Cidade e à Identidade Cultural de Lisboa. Penso que é um tema de atualidade e quando o mundo está em mudança, como está o nosso mundo, é preciso parar para pensar o que v amos f azer e como v amos f azer. A identif icação das circunstâncias estruturantes de Lisboa é condição necessária para a sua plena v alorização cultural e para o seu rejuv enescimento de perfil urbano marcadamente mediterrânico, com património dif uso e importante série de itinerários culturais e identitários associados. A cidade dev e apostar hoje num desenv olv imento integrado, que contemple não só uma política de interv enção no património monumental mas também uma atenção especial às suas dinâmicas sociais, procurando o ponto de equilíbrio entre a continuação das v iv ências mais genuínas e a adaptação indispensáv el às necessidades e tendências dos habitantes do século XXI. Teremos hoje aqui um dia de trabalho partilhado entre os Deputados Municipais, Deputados da Assembleia da República, os Oradores, os Especialistas e o Público a quem queremos dar um espaço grande para podermos receber e dar e sairmos daqui com alguma inf ormação mais do que aquela que conseguimos obter às v ezes sentados na Assembleia Municipal ou circulando só pela cidade, ouv indo as pessoas. Será esse o nosso principal tema e o nosso principal desejo, de v ez em quando a Assembleia

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Municipal, de tanto em tanto tempo, dedica um dia a um tema importante para a cidade, para ouv ir de f acto os Especialistas e o Público em geral. A sessão de hoje, o Sr. Presidente da Câmara, Dr. António Costa, tev e um impedimento de ultima hora, já na sexta-f eira à tarde e não pode estar presente, pede imensa desculpa mas a Sra. Vereadora da Cultura Dra. Catarina Vaz Pinto v ai representá-lo e lerá a interv enção que o Sr. Presidente tinha preparado para a abertura desta sessão. A Sra. Dra. Luísa Vicente Mendes, Presidente da Comissão de Cultura que organizou este colóquio, são quinze Deputados Municipais que f azem parte da Comissão de Cultura e que tiv eram esta boa iniciativa de dedicar um dia ao estudo destes temas. Dou a palav ra à Dra. Luísa Vicente Mendes que v os dará mais inf ormação sobre o nosso dia.

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A Senhora Deputada Municipal Luísa Vicente Mendes: Bom dia a todos. Eu começaria por agradecer o empenhamento da Senhora Presidente da Assembleia Municipal na realização deste colóquio. Não posso deixar de, em nome da comissão, agradecer ao Dr. António Costa que desde o início mostrou toda a disponibilidade para participar neste colóquio e que dado o imprev isto surgido na ultima sexta-f eira e que o impede de estar hoje aqui, não deixou de pedir que a sua interv enção e ref lexão sobre o rejuv enescimento e sobre a identidade cultural da nossa cidade nos f osse aqui trazida pela Senhora Vereadora da Cultura Catarina Vaz Pinto. Em nome da Comissão, tenho de agradecer aos Oradores, quer os que v ão participar agora no primeiro painel quer os que v ão participar no segundo painel da parte da tarde. Oradores que desde a primeira hora se prontif icaram a trazer-nos e a discutir connosco as suas reflexões sobre a cidade, a cidade como um todo. Terei também em nome da comissão que agradecer na pessoa da Dra. Aida Tav ares, diretora deste espaço do S. Luís, a disponibilidade que a EGEAC também demonstrou na cedência deste salão de inv erno. À Casa Fernando Pessoa, terei que agradecer na pessoa da Sra. Diretora Dra. Inês Pedrosa pela disponibilização da exposição que está ao longo da escadaria sobre Lisboa de Pessoa. A Comissão Permanente de Cultura Educação Juv entude e Desporto que no seu trabalho se preocupa e empenha em ouv ir, em av aliar e em contribuir com soluções para a cidade, no âmbito das áreas da sua competência, áreas que considero que são transv ersais a todas as outras, propôs e realiza este colóquio para ref letirmos sobre Lisboa cidade que não podendo esquecer a sua história, as suas memórias, todos queremos que seja uma cidade do f uturo, cosmopolita, reabilitada, inov adora, criativa, ou seja, que seja uma cidade atrativ a. Lisboa sempre f oi uma cidade de muitas culturas, de muitos pensares, de v ariados saberes, de variadas tradições. Lisboa sempre f oi um ponto de encontros, e não pensemos só no

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cruzamento dos pov os de v árias outras origens, pensemos desde logo na paleta de culturas, na paleta de costumes, de f ormas de estar, de f ormas de ver que existem no nosso País e todas se cruzaram e cruzam em Lisboa, enriquecendo-a mas também exigindo muito dela, exigindo que permanentemente se v á adaptando, se v á renov ando. Houv e um tempo em que a cidade env elheceu, houv e um tempo em que a cidade como que parou no tempo, houv e um tempo em que as pessoas v iraram as costas à sua cidade porque ela, cidade, também lhes v oltou as costas. A cidadania perdeu-se, muitos não puderam aqui continuar a v iv er, alguns outros aqui v iv iam quase por obrigação, quase por inércia, outros ainda permaneceram só pelo trabalho, os jov ens pelo estudo, outros ainda porque amav am Lisboa. Felizmente está-se na v iragem desse tempo, hoje a cidade é mais pensada, acidade é mais discutida, a cidade é mais participada e mais participativ a, a cidade é mais planeada. Não pode deixar de ser dito que a Assembleia Municipal a Câmara e as Freguesias ouv em diretamente os cidadãos, conv ida-os a participarem nas mais diversas f ormas da v ida de Lisboa e lembro os plenários da Assembleia, lembro as div ersas comissões permanentes da Assembleia, lembro as reuniões descentralizadas da Câmara, o orçamento participativ o, as discussões públicas dos múltiplos projetos estruturantes para a Cidade. Muito já está a ser f eito e já todos sentimos que Lisboa mudou e está a mudar. Deixem-me ref erir o abraço entre Lisboa e o seu rio, deixem-me ref erir a preocupação com o espaço público, o espaço de todos nós como eixo central do planeamento da cidade, deixem-me ref erir a preocupação com o criar de condições para o regresso dos jov ens, o criar de condições para o bem-estar dos que aqui v iv em, dos que aqui trabalham, dos que aqui estudam, dos que aqui nos procuram para simplesmente usuf ruírem Lisboa. Este debate terá dois painéis, ambos moderados por membros da Comissão Permanente da Cultura Educação Juv entude e Desporto. Este da manhã, o painel sobre

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Rejuv enescimento, será moderado pela Senhora Deputada Municipal Virgínia Estorninho e pelo Senhor Deputado Municipal Diogo Moura. O da tarde, onde v amos ref letir sobre a identidade cultural de Lisboa, será moderado pelo Senhor Deputado Municipal Modesto Nav arro e pela Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida. Teremos no f inal do segundo painel um momento cultural e o f ado f oi há bem pouco tempo considerado património imaterial da humanidade. Nessa medida, nós iremos encerrar os nossos trabalhos por v olta das 17.30 com uma sessão de f ados, sessão essa onde o nosso colega Gonçalo da Câmara Pereira, Deputado Municipal, irá interpretar uns f ados e também a f adista Teresa Machado. Ambos serão acompanhados pelo guitarrista e pela v iola de Manuel Gomes e Fernando Gomes. Vamos então dar início à interv enção.

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A Senhora Vereadora Catarina Vaz Pinto: Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Exma. Sra. Presidente da Comissão Permanente da Cultura Educação Juv entude e Desporto da Assembleia Municipal de Lisboa, Sras. e Srs. Deputados Municipais, Sras. e Srs. Vereadores, Sras. e Srs. Oradores, minhas Sras. e meus Srs. bom dia a todos aqui presentes. É com o maior gosto que participo na sessão de abertura do debate Rejuv enescimento e Identidade Cultural de Lisboa pela importância que representa hoje em dia a ref lexão, a troca de ideias, a f ormulação de propostas e o diálogo e o debate em torno de um dos desaf ios mais cruciais que as cidades enf rentam, muito em especial as cidades capitais. Desaf io que estou convicta todos temos que assumir, desafio para os poderes públicos, para a autarquia, para os especialistas, para as instituições da sociedade civ il, ev identemente para todos os que pensam e sentem a cidade e nela v iv em e trabalham. Gostaria assim e em primeiro lugar de f elicitar a Assembleia Municipal de Lisboa pela iniciativ a e qualidade da sua organização, medida designadamente pela atualidade dos temas propostos e relev ância e saber dos participantes, cujo contributo será certamente iluminador f ace à transdisciplinaridade das suas leituras e representações da cidade presente e f utura. Permitam-me que inicie a minha interv enção sobre o tema com a citação de um excerto do poema de Dav id Mourão Ferreira intitulado “Ao Reencontro de Lisboa” para melhor testemunhar o espírito que aliou o conhecimento do que somos hoje com a ação a desenv olv er nos próximos anos, tendo em v ista tornar Lisboa na cidade em que pretendemos v iv er e que nós os Lisboetas a sintam sua também. Escrev e assim o Poeta: “Donde ressurge esta Lisboa, de que recôndita cisterna, alguns dirão que apenas sonham mas outros sabem que desperta”.

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Com ef eito, o Rejuv enescimento da cidade e a identidade cultural implicam uma f orte interação entre o exercício de pensar/sonhar a cidade e execução de programas e medidas que assegurem que se cumpra o reencontro harmonioso da cidade com os seus atuais e nov os habitantes, dando corpo a imagem metaf órica de David Mourão Ferreira de uma Lisboa reencontrada. O Rejuv enescimento da cidade nas suas múltiplas e interligadas dimensões é ef etivamente para nós um desígnio essencial, ocupando assim um lugar central na agenda política e programática da Câmara Municipal de Lisboa. Centralidade que as Grandes Opções do Plano de 2012/2015 bem expressam. Sendo das GOP, Grandes Opções do Plano, o documento que espelha a nossa v isão para Lisboa é manif esto o reconhecimento de que o Rejuv enescimento da cidade constitui objetiv os que atrav essam o programa do gov erno da Cidade de Lisboa estruturada em grandes eixos: a cidade amigáv el, cidade de oportunidades, cidade sustentáv el, cidade competitiva, inovadora e descentralizada, gov erno ef iciente e participativo. Neste quadro, a cidade que queremos amigáv el, sustentáv el, competitiv a, inov adora e descentralizada com bons serv iços urbanos e com um gov erno ef iciente e participativ o não é uma utopia mas algo realista e atingív el porque a assumimos para as pessoas e com as pessoas, sendo este não apenas um princípio orientador mas o sentido intrínseco da gov ernação da cidade e da priorização dos nossos esf orços e recursos. A cidade que queremos pressupõe a aposta no desenv olv imento de políticas que estimulem a f ixação de pessoas na cidade assumida a um tempo como f inalidade e como motiv ação da nossa ação, ou seja, uma cidade aberta e cosmopolita que v aloriza os bens públicos, o espaço púbico, a v ida de bairro e a disponibilização de equipamentos sociais, culturais, comunitários, segura, bem como v aloriza a igualdade de oportunidades no acesso aos direitos sociais e ao exercício de uma plena cidadania, torna-se certamente uma Lisboa atrativ a e suscetív el de constituir um espaço desejado para as pessoas.

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Sabemos contudo que a f ixação da população na cidade é multif atorial e nessa medida implica a execução de políticas integradas e sistémicas. O incentivo da f ixação de pessoas e f amílias resulta de facto do inv estimento na diversif icação da of erta imobiliária acessível, na reabilitação do edif icado e do papel regulador do Município, mas resulta também nomeadamente da of erta acessível de uma rede de creches, jardins-de inf ância, escolas, centros de saúde, sistemas de transportes e acessibilidades e de uma conv iv ência pacíf ica entre todas as culturas e etnias que f azem parte do tecido social e cultural da cidade. Neste sentido, e para ilustrar o carácter de interv enção integrado e sistémica subjacente ao Rejuv enescimento da cidade e Identidade Cultural, porque não é possív el nem apropriado neste f órum anunciar cada um dos programas e projetos que integram os ref eridos eixos, realço algumas medidas com impacto direto na prossecução daqueles objetiv os. Nomeio, por exemplo, medidas que v isam jov ens residentes inscritas no âmbito do urbanismo de proximidade, v alorização dos bairros, no eixo Lisboa cidade amigáv el, bem como nomeio a proposta de criação de uma rede de projetos culturais de base local, espaços v ocacionados designadamente para manif estações culturais, a participação cív ica e a educação, ancorados na realidade socioeconómica em que se inserem e promotores da coesão social das respetiv as comunidades. O eixo Lisboa cidade de oportunidades que inclui projetos com objetiv o de a prazo contribuir para a f ixação de f amílias em Lisboa, realço a proposta de rev isão do Plano Diretor Municipal que prev ê a possibilidade de majoração de índices de construção para quem promov a o arrendamento a custos acessív eis. Destaco também a criação em parceria com as IPSS de nov as creches, o ref orço do equipamento pré-escolar com nov as salas em jardim-de-inf ância, bem como a construção de nov os equipamentos educativ os no quadro do programa “Escola Nov a” ou o programa creches “Bê-a-Bá”, construção de nov as creches em locais distintos da cidade que conferirão

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um aumento da capacidade total de nov os lugares na rede pública. No contexto das respostas à infância às famílias e aos jov ens é relev ante o incremento da of erta e qualif icação do acompanhamento dos alunos no âmbito do complemento de apoio à f amília, como relev ante é a introdução de medidas v árias que procuram f ixar a numerosa população universitária, ref orçar a sua ligação à cidade e tornar Lisboa mais atrativ a para os alunos estrangeiros no âmbito “Lisboa cidade Erasmus” e da af irmação internacional das nossas univ ersidades cuja qualidade e competitiv idade têm sido recentemente distinguidas e reconhecidas. Dev o realçar ainda que no eixo Lisboa cidade de oportunidades muito v alorizamos a promoção do ordenamento do território com equipamentos culturais div ersos para que a criação, dif usão e inf ormação culturais estejam ao alcance dos cidadãos na sua inteira div ersidade. Uma última nota brev e para atestar a transv ersalidade da rev italização populacional. Importa ref erir a sua inclusão no eixo Lisboa cidade competitiv a, inov adora e internacionalizada, ao reconhecer o desaf io demográf ico a par das acessibilidades e do energético ambiental, tornam muito nítido o reconhecimento de que a atração de competências, de riqueza e inv estimento se repercute decisiv amente nos f luxos globais de pessoas, de conhecimento, de capital, de bens e serv iços, f atores determinantes para a f ixação de população. Mas a multidimensionalidade do rejuv enescimento da cidade passa também pela renov ação da sua imagem dos diferentes domínios do património arquitetónico natural e paisagístico, no parque habitacional e na div ersidade da sua população. Lisboa, por se conf igurar como uma placa giratória para a nav egação de conquista e de comércio oceânico, f oi-se inv entando a si mesma na resposta às sucessiv as necessidades e a sua população, pela sua história, ref lete o incessante encontro de culturas.

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Se Lisboa ao longo da história f oi marcadamente um espaço multicultural, impõem-se no mundo globalizado de hoje respostas que assegurem a um tempo o Rejuv enescimento, a procura de equilíbrio social e a af irmação da sua identidade plural e multif acetada, mutante e dinâmica, uma v ez que a identidade se molda e consolida na participação e cidadania ativ a por parte de todas as comunidades étnicas e culturais que atuam e interagem e são protagonistas nos sistemas culturais de que f azem parte. Em suma, uma Lisboa que se consubstancia em v árias expressões sem se perder em si mesma. Assumimos, todavia, que a identidade cultural, ao conf igurar-se como objeto de ação institucional, é causa e ef eito das políticas de integração e incentiv o à imigração, de v alorização de div ersidade social étnica e cultural, de promoção da heterogeneização f uncional e do combate à segregação social no território. Acresce que a identidade cultural se f ortalece ainda pela promoção de uma of erta cultural div ersif icada, pela criação artística plural, pela democratização do acesso ao ensino e aos bens culturais e, essencialmente, pela observ ância ef etiv a de uma ética da univ ersalidade de direitos. Os tempos em que v iv emos colocam-nos desaf ios particularmente exigentes, exigentes porque sendo na generalidade as cidades um produto de processos de crescimento longo, contínuo e dinâmico, enquadrar estes processos signif ica garantir a execução e monitorização de instrumentos de planeamento urbano e social, de entre os quais o Plano Diretor Municipal assume especial importância. Especial importância porque por um lado contém linhas programáticas necessariamente def inidas e estruturantes e, por outro, tem a intenção, a dimensão ev olutiva e orgânica da cidade. Ev oco a respeito desta dimensão orgânica de Lisboa, como se um ser v iv o fosse, dois brevíssimos versos da bela canção “a cidade” de Zeca Af onso “ A cidade é um saco, um pulmão que respira, pela palav ra água pela palav ra brisa”.

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Exigentes porque a promoção da coesão social, cultural e territorial implicam um exercício de articulação estreita com as estratégias do ordenamento do espaço, de reabilitação urbana e qualif icação social. Exigentes porque perante a f ortíssima tendência para a f ragmentação e para a indiv idualização, importa pôr em prática estratégias de interv enção que f av oreçam a construção de um território que seja agregado, coeso e solidário. E é para uma Lisboa agregada, coesa e solidária, que em processo participativ o e mobilizador estamos a trabalhar.

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1º Painel

“Rejuvenescimento da Cidade”

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PRIMEIRO PAINEL “Rejuv enescimento da Cidade”

A Senhora Deputada Municipal Virgínia Estorninho: Bom dia. Vamos dar início aos trabalhos. Permitam-me que dê algumas inf ormações na f orma de realização deste encontro. Os oradores terão dez minutos cada para uma interv enção, a Dra. Gabriela Canav ilhas, o Prof . José Quaresma, o Dr. Miguel Tiago e o Dr. António Pedro Dores. No f inal terão cinco minutos cada um para respostas a questões que sejam ef etuadas pelos Senhores Deputados Municipais e pelos senhores conv idados. Dentro de cada pasta está uma f icha de inscrição para quem se quiser inscrev er, quer para interv enção quer para perguntas. Pela sala estarão f uncionários que recolherão as inscrições. Aos senhores f uncionários agradeço que mantenham a ordem da inscrição à medida que a v ão recolhendo, para que depois na Mesa possamos organizar a f orma de interv enção e também div idir os tempos. Esperemos que seja prof ícua, uma intervenção em que todos juntos possamos ref letir, pensar a cidade, e que cada um possa trazer algo para o rejuv enescimento, que é o painel que v amos ter agora e que tem como subtemas: “Questões estratégicas para a cidade”, “Cidade Erasmus”, “Estímulo à criação” e “Criativ idade e empregos criativ os”. Todos os contributos f arão desta cidade uma cidade melhor e uma cidade para todos. Muito obrigada.

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O Senhor Deputado Municipal Diogo Moura: Bom dia a todos os presentes. Passo então a apresentar os oradores conv idados deste nosso painel: Gabriela Canavilhas Tem o Curso Superior de Piano do Conserv atório Nacional de Lisboa e é licenciada em ciências musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univ ersidade Nov a de Lisboa. Exerceu entre outros o cargo de Ministra da Cultura do décimo sétimo Gov erno Constitucional, é pintora, gestora cultural e exerce atualmente o cargo de Deputada na Assembleia da República. José Quaresma Licenciado em pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, mestre em Filosofia de Arte pela Faculdade de Letras da Univ ersidade de Lisboa e doutorado em Filosof ia de Arte pela mesma instituição. É artista plástico e desempenha as f unções de prof essor auxiliar da área de pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Miguel Tiago Geólogo, f oi dirigente da Juv entude Comunista Portuguesa e da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Univ ersidade de Lisboa. Exerce o cargo de Deputado da Assembleia da República e de Vereador em regime de substituição na Câmara Municipal de Lisboa pelo PCP.

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António Pedro Dores É Prof essor de sociologia no ISCTE e Prof essor auxiliar com agregação do departamento de sociologia e do centro de inv estigação e estudos de sociologia da mesma instituição de ensino. Inf elizmente, a oradora Eduarda Abondanzza diretora da moda Lisboa, não poderá estar hoje presente por motiv os de saúde, pelo que desde já endereçamos v otos de rápidas melhoras.

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Dra. Gabriela Canavilhas: Muito bom dia a todos. De f acto é um dia marav ilhoso, este sol hoje reconciliamos com qualquer problema que Lisboa pudesse ev entualmente ter e de f acto o tema é bastante aliciante e estimulante para todos nós. Estou certa que todos nós amamos Lisboa de uma f orma despojada e completamente desinteressada. “A paisagem cultural é a nossa autobiograf ia inconsciente, pois ref lete de uma f orma tangív el os nossos gostos, aspirações e temores”. Começo com uma citação de Pierce Lewis, o f amoso Geógraf o Americano que tem pensado a geograf ia urbana de uma f orma muito inteligente. “Cada lugar é único porque é f eito de pessoas que são por sua v ez únicas, entender uma cidade é tentar ler e compreender as pessoas que a habitam na sua div ersidade e nos seus impulsos comuns.” Os recursos materiais e imateriais e os recursos naturais e humanos são a estrutura base das identidades territoriais. Sobre eles conta ainda e cada v ez mais nos dias de hoje a linguagem da comunicação, que nos seus códigos v ários se encarrega de contar aos outros como é af inal essa identidade territorial. Digamos que é mais um mediador. O caráter único de cada cidade adv ém da f orma como cada um dos f atores que participam na sua edif icação se estabelece e se relaciona com outro, com quem concorre, porque no f undo todos concorrem uns com os outros de uma f orma ou de outra. A harmonização que resulta dessa eterna luta silenciosa entre domínios temporários de heranças culturais e tendências sociais antropológicas é f eita de ajustes e sobreposições, num perpétuo mov imento em serenos sobressaltos, como diria António Gedeão. E sem dúv ida Lisboa e a temática que hoje aqui debatemos assenta, penso eu, entre o conhecimento, o associativismo e

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participação, o dinamismo e a div ersidade e o multiculturalismo. Lisboa é uma cidade de conhecimento que integra univ ersidades, escolas, arquiv os, bibliotecas, centros de inv estigação, laboratórios. Afinal, muito daquilo que hoje aqui iremos debater se relaciona obv iamente com o conhecimento e a f orma como os centros de produção de conhecimento conseguem f azer cumprir a sua missão. Uma missão que, em alguns casos, passa pelas Univ ersidades se abrirem a outras formas de interpenetração da sociedade e por trazer conhecimento para outros espaços, acrescentando-lhes outras plataf ormas de dif usão. A população univ ersitária é parte f undamental do sangue que f lui nas v eias das cidades e constitui-se como parte importante da massa crítica e destinatários das políticas culturais. O Programa Erasmus tem sido também um instrumento precioso para importar e exportar temporariamente inf ormação e comunicação cultural, mesmo que aqui, quando se f ala de comunicação e de cultural, f alemos apenas no sentido antropológico. A participação cív ica e associativ a, o associativ ismo e a participação cív ica é, do meu ponto de v ista, das formas mais emocionais da participação por v ia da ação cultural e é aquela que resulta do dinamismo das múltiplas associações culturais lisboetas que representam todo o tipo de práticas e consumos culturais, desde as centenárias bandas filarmónicas ao grémio literário oitocentista. A riqueza de uma comunidade cultural mede-se também pela div ersidade dos seus mov imentos associativ os e aqui englobam-se as associações e coletiv idades de bairro, as associações de comunidades imigrantes e associações de prof issionais do sector criativo, todas de dif erente natureza e dif erente tipologia geracional, prov ocando uma renov ação regular do tecido associativ o lisboeta.

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No que respeita ao seu dinamismo cultural, Lisboa tem sido uma cidade equiparada às suas congéneres europeias de mesma dimensão e população, com uma of erta de nív el internacional consideráv el e div ersa. Mesmo que este dinamismo possa ser nalguns casos mais quantitativ o que qualitativ o, a v iv ência e a experimentação cultural que se tem f eito sentir não tem paralelo com qualquer outra cidade portuguesa, apesar de que o Porto f ez um percurso notáv el na última década e que ali se encontram duas das mais notáv eis instituições culturais portuguesas, com programações arrojadas e altamente competitiv as internacionalmente. Falo da Fundação de Serralv es e da Casa da Musica. O retorno que se espera de uma presença cultural regular de âmbito global numa cidade como Lisboa, em que se estabelecem pontes de contacto regulares com centros de produção internacional e onde surgem por v ezes coproduções com estruturas nacionais, esse retorno, a presença nacional nesses circuitos internacionais, o segundo sentido de um desejáv el intercâmbio, esse retorno não tem ainda v ingado, não tanto como desejaríamos e merecíamos. A importação supera em muito a exportação e sem deixar sublinhar a capacidade de internacionalização que muitas estruturas artísticas nacionais e lisboetas conseguiram, este equilíbrio ainda está muito longe de ser atingido. Rejuv enescer a Identidade Cultural de Lisboa é partir do princípio que ela se encontra env elhecida, penso que não é o caso. O permanente rejuv enescimento da energia criativ a intelectual de Lisboa tem no entanto que continuar a ter em conta o esf orço permanente em trav ar a descaracterização em f av or da preserv ação das paisagens culturais. A div ersif icação contra a padronização tem que se manter também uma luta incessante contra a xenof obia nas suas múltiplas f ormas, continuar a af irmar a modernidade sobre o tradicionalismo serôdio, o cosmopolitismo sobre o localismo, a criativ idade sobre o erotismo e as redes de diáspora sobre o isolacionismo.

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Parecendo que muitas v ezes estas premissas são conquistas adquiridas, na v erdade muito rapidamente se rev ogam conquistas, especialmente nos tempos de hoje. O peso da história de Lisboa e o peso das suas instituições culturais aqui centralizadas durante séculos não impedem Lisboa de se reinv entar culturalmente todos os dias, apoiando-se nos seus bens mais preciosos, a sua identidade única e inconf undív el que assenta na sua natureza, na sua geograf ia e na sua história e por consequência na sua multiculturalidade. Lisboa como cidade de capital europeia insere-se em tudo nas linhas estratégicas corporizadas na agenda europeia para a cultura, que são claras na identif icação das bases para o desenv olv imento europeu assente na cultura. O diálogo intercultural é o inv estimento social que promov e a div ersidade cultural, já ninguém duv ida disto. A economia da cultura é um catalisador da criativ idade no quadro da Estratégia de Lisboa, todos sabemos. A cultura e as relações externas são um inv estimento político v ital das relações internacionais da união. As tendências do debate atual, quando se f ala de cultura, são sobre a pertinência de políticas integradas e interministeriais, como já de resto ouv imos hoje aqui, sobre a transversalidade da cultura, sobre a abrangência da expressão cultura, sobre as relações cultura/economia. Sei bem o quanto estes conceitos v ingaram no discurso político durante os últimos dois ou três anos, quer por v ia do debate e ref lexão europeus no quadro da Comissão Europeia, desde que Tony Blair encomendou os primeiros estudos sobre as industrias criativ as e Cris Smith, o seu ministro da cultura, trouxe esta matéria para a agenda, para a ordem do dia na União Europeia e que de resto esse primeiro estudo encomendado a nív el europeu sobre a importância da economia cultural na Europa tev e como sucedâneo nacional a encomenda que o Ministério da Cultura f ez ao Prof essor Augusto Mateus, que resultou também no estudo que hoje todos conhecemos.

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Sei bem, portanto, quanto este conceito tem sido usado, por um lado à esquerda para alegar que o Estado não tem f inanciado à altura um sector que é responsáv el por percentagens consideráv eis do PIB, por outro à direita a justif icar que o Estado não precisa de f inanciar um sector que até é responsáv el por retorno económico em Portugal. Como todos os estudos, a leitura dos números é f eita conf orme a v ontade de cada um e, desde que o estudo Mateus tem sido tornado público, muitas leituras, não direi erradas, mas ligeiras têm sido v inculadas e de alguma maneira o cerne da questão que é o sector nuclear cultural, tem hav ido alguma distração sobre o olhar que dev e apesar de tudo permanecer, porque é no f undo o sector que alimenta tudo o resto. Uma indústria pressupõe matéria-prima e a matéria-prima consegue-se e obtém-se precisamente no núcleo central nuclear da cultura, que não é responsáv el por 2,6% do PIB, é responsáv el por 0,2%. Com o conceito de economia cultural e com as indústrias culturais e criativ as surgem também as cidades criativ as, distritos ou regiões culturais, o que pressupõe uma interação planeada a médio e longo prazo entre a gov ernança, população e agentes culturais, env olv endo univ ersidades, empresas, administração pública local e central, ou então simplesmente a conjugação natural de f atores intrínsecos e extrínsecos que lev am a que o Bairro Alto, o Chiado, o Castelo, Santa Apolónia, Santos, Alcântara, entre outros, sejam pontos de conf luência de interesses empresariais e pessoais que os transf ormaram em bairros ou zonas de interesse comuns no plano das indústrias culturais. As ativ idades criativas têm uma tendência particular para se agruparem, estabelecendo se próximas no mesmo espaço ou pelo menos na mesma área, dando origem aos chamados clusters. Grande parte do mundo criativ o é constituído por empresas de pequenas dimensões e escala, normalmente localizadas próximas umas das outras. Benef iciam mutuamente dessa proximidade, partilhando ideias e complementando-se. De certa f orma a zona onde estão instaladas, redesenham-se e

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contaminam-se mutuamente, nascendo pequenos caf és, restaurantes, liv rarias e o bairro v ai-se alindando nas suas f ormas exteriores. De forma impercetível no início, os próprios residentes começam a mudar de hábitos e de certa f orma aculturando-se. Não sei se esta expressão aqui é pertinente ou não. O conceito de cultura tem v indo a ser expandido para além da conotação antropológica e sociológica. A democratização da cultura lev ou à expansão da palav ra a disciplinas abrangentes, à multidisciplinaridade, a domínios artísticos ligados à tecnologia e a práticas de entretenimentos coletivos que são de certa maneira herdeiros das f eiras tradicionais para trocas de produtos, apenas para ref erir alguns exemplos. Isto tem lev ado a que a f ronteira entre cultura e entretenimento tem v indo a esbater de forma muito perigosa. O f estiv al do chocolate, por exemplo, que é dos expoentes mais mediáticos da v ila de Óbidos, onde o conceito de cidade criativ a tem sido levado muito longe, é um desses exemplos. Será disto que queremos f alar quando pensamos numa cidade ou numa região criativ a em Portugal? A pluralidade cultural espraia-se nas práticas urbanas de f orma extraordinária, sendo a cidade um território de encontros e de trocas por excelência, em particular as cidades como Lisboa com a sua história, a sua geograf ia, cultura, demograf ia, ambiente, economia e gov ernação da cidade. São estes os f atores que decidem se a cidade é ou não bonita de se v iv er. Para tal a cidade exige f ormação intelectual, espaços públicos, transportes, condições de habitação e atrativ idade turística, f acilitação dos contactos entre os cidadãos e a administração, proximidade entre uns e outros, segurança, conf iança. Tudo isto são f acilitadores para a criação de condições de dignidade e por consequência de respeitabilidade criativ a. Para além das grandes questões que são determinantes para o que irá ser o f uturo das políticas culturais, qual o papel do Estado e das autarquias na sustentabilidade das ativ idades

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culturais, o que é ou não é cultura e como prev enir que os mecenas priv ados v enham no f uturo a ser os únicos barómetros da qualif icação das artes, importa nesta altura sombria para todos nós, em especial para os europeus, pensar simples e reduzir todas as preocupações à mais pequena equação: v ale ou não a pena continuar a acreditar que a cultura é o f ator dif erenciador das pessoas, de um pov o, de uma região, de uma cidade? Vou citar Cris Smith, o tal Ministro da Cultura de Tony Blair que há pouco ref eri, que conta que em Inglaterra, quando o conceito de políticas culturais começou a ser trazido à discussão pública, coisa que não era algumas décadas atrás, ter-lhe-ão dito num primeiro desabaf o: “Cultura? Isto não é para f lorescer tomates, grow tomatos”. Imediatamente a mesma pessoa que perguntou isto ref lete um pouco e diz: “bem, talv ez seja também para f azer f lorescer pessoas, to grow people”. Certamente será e com as pessoas também f lorescer as cidades. Eu termino citando a v isão estratégica para a cultura de Lisboa. Foi produzida pela Câmara Municipal de Lisboa há dois ou três anos atrás e é um documento muito interessante de ref lexão sobre a cidade nas suas div ersas f ormas de af irmação e interligação sectorial. Essa v isão continua, do meu ponto de v ista obv iamente, muito atual. “Lisboa capital aberta, cidade central e cosmopolita, com v ocação internacional, cidade v iv ida quotidianamente e experienciada por todos, cidade de trânsitos e f luxos entre culturas, entre espaços, entre tempos, cidade de memória e contemporaneidade, cidade que promov e as condições para a expressão cultural e para o desenv olv imento da criatividade e que moderniza e adapta o f uncionamento das suas instituições para assumir o seu lugar no mundo global da contemporaneidade”. Esta v isão continua a ser a v isão da cidade de Lisboa e com ela o Rejuv enescimento e Identidade Cultural desta marav ilhosa cidade.

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Prof. José Quaresma: Muito bom dia a todos, muito bem-v indos. É com grande prazer que estou aqui conv osco, quero agradecer o conv ite para estar aqui a partilhar conv osco algumas narrativ as ligadas ao mundo do Chiado, que depois tem obv iamente uma analogia com Lisboa no seu todo. Quero agradecer à Assembleia Municipal, à partida da Dra. Simonetta Luz Af onso, o conv ite que me dirigiram para estar aqui conv osco e também à Comissão Permanente da Cultura, do Desporto, da Juv entude e à respetiv a Presidente, a Dra. Luísa Vicente Mendes, que também estão por detrás deste conv ite para eu estar aqui conv osco, e à Dra. Catarina Vaz Pinto Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa. Obv iamente também um bom dia aos outros oradores. Estou aqui então para me comprometer com o seguinte: tenho como título o contributo dos estudantes da Faculdade das Belas Artes de Lisboa para o nov o espaço público do Chiado e da Cidade de Lisboa. Isto está relacionado obv iamente com a questão do Rejuv enescimento e da Identidade Cultural de Lisboa. Dev o já dizer antecipadamente o seguinte: quando eu colei o meu discurso à questão do Rejuv enescimento, f i-lo com consciência de dois ou três eixos f undamentais da atuação que eu e a minha equipa habitualmente exerce aqui no espaço do Chiado em perf eita consonância com a Junta dos Mártires, presidida ali pelo Joaquim de Sousa, que são os seguintes eixos: eu f alo em Rejuv enescimento com alguma naturalidade com o seguinte motiv o: para já porque desde há três ou quatro anos integrado num programa aqui da Junta de Freguesia dos Mártires, que é o Chiado da Moda, integro um outro programa relacionado com a discussão do espaço público e arte pública, é bom que se separe as duas coisas embora tenham muitas ligações, como é óbv io. Então há um eixo f undamental que é o Rejuv enescimento, na medida em que eu ano após ano renov o os quadros de participantes, seja nas exposições de arte pública dos mais div ersos espaços,

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religiosos, públicos, prof anos, tertulianos etc., a div ersidade é enorme. Renov o também os painéis dos conferencistas, também muito div ersif icados com especialistas sobre div ersos aspetos do Chiado, v amos falar de Património, vamos falar da história do Chiado, v amos f alar da cultura do Chiado, v amos f alar das tertúlias do Chiado, v amos f alar de questões relacionadas com música no Chiado, a literatura no Chiado etc. e todos os anos eles são renov ados, de maneira que eu posso dizer à minha maneira, passe este excesso de ego-centralidade, faço esse Rejuv enescimento anual dos diversos painéis, e também nos ensaios porque todos os anos há uma publicação sobre este tema da arte pública e da ref lexão sobre o espaço público no Chiado. Peço desculpa por f alar muitas v ezes no Chiado, aliás nós estamos aqui mesmo no coração do Chiado, isto é o palco do Chiado. Depois então em coroas v amos alargando para outros univ ersos de Lisboa. Eu acho que só posso f alar daquilo que conheço melhor e com o qual lido normalmente, que é a região do Chiado. Uma outra aceção do Rejuv enescimento é o f acto de trabalhar com gente na casa dos v inte anos, f inalistas da licenciatura com que se convocam este projetos obv iamente, e com gente do mestrado. Ora bem, como vocês sabem, três mais dois estamos a f alar de 21/23 anos, gente de tenra idade que há v inte ou trinta anos não era tenra idade, hoje é mas não v amos f alar ai nesse tema, e obviamente que é um grande conf ronto trabalhar com eles, é sempre um quadro muito alargado de gente que também se renov a. Daí o Rejuv enescimento em dois eixos, portanto, renovo os quadros todos independentemente de serem grandes políticos ou não sobre o Chiado e renov o na medida em que também trabalho sobretudo com jov ens dev ido à contingência de lecionar na licenciatura e no mestrado com estas idades muito tenras. Isto é muito apetecív el para mim e v amos dizer na minha condição de empreendedor, um assanhado empreendedor se assim posso dizer, e para eles também porque toda a gente conhece a condição de um estudante/artista, obv iamente se quer mostrar ao mundo, quer encontrar uma oportunidade, as galerias

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têm a maior parte das v ezes as portas f echadas para gente tão tenra a não ser que seja uma grande aposta, etc. A arte pública, se os poderes públicos estiv erem por detrás, se existir uma rede pré estabelecida como eu tenho sempre o cuidado de pré-estabelecer, é uma coisa apetecív el. Obv iamente que isto depois é sujeito a um enorme criv o, anualmente é assim, são sujeitos à apresentação de projetos v ários, é sempre plural, para escolher a melhor solução e adequações div ersas e muitas reuniões. Eu também tiv e o chato das reuniões, passo a expressão, embora não abuse muito delas, como que cumprimento as pessoas a uma grande presencialidade. Isto é o meu enquadramento em relação à questão do Rejuv enescimento e o que é que ocorre, em que medida é útil para o espaço público aqui na zona do Chiado? É útil, penso eu, pelo f acto de por exemplo o chamado poder autárquico camarário como a própria Junta da Freguesia dos Mártires têm a possibilidade de desenv olv er a parceria connosco e tirar partido da criativ idade e da v ontade dos autores que são conv ocados. São sempre às dezenas, 20 ou 30, e é também útil para os autores pelo conf ronto que v ão ter pela primeira v ez com o espaço público. A maior parte das v ezes estes autores, dev o dizer, ainda não têm uma única exposição no currículo a não ser um quadro pendurado lá no caf é do bairro. Não sei se me estou a f azer entender. Subitamente são lançados para um grande desaf io, fazer arte pública não é como f azer pintura ou f azer desenho ou grav ura, ou outra modalidade artística qualquer, justamente porque a arte pública se caracteriza pela complementaridade no espaço público é necessário termos alguma preparação para perceber quais são os ritmos das instituições até nos darem as respostas necessárias para que essa complementaridade aconteça no terreno. Acho que estou a ser claro com isto. É claramente a modalidade artística que obriga a grandes consensos e a grandes compromissos. Já sabem que o discurso sobre os consensos é intermináv el, se há tensões nos consensos, se não há tensões nos consensos, essa

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questão está quase para mim esgotada mas obv iamente que tudo isto tem uma f orte inspiração à bremaziana. Nos textos que acompanham a minha prestação, na pasta que está conv osco, hão-de reparar que estão algumas af irmações de raiz tipicamente à bremaziana e até tem lá no f undo de tudo uma f rase de partido Half Clev er alemão, o iluminismo, e o próprio Kant f ala para nós a partir de 1784 com a célebre pergunta: “O que é o iluminismo?” E depois produz asserções muito poderosas que ainda hoje estão nas nossas cabeças a cintilar e que f azem com que estejamos aqui neste debate público, que é f azer o uso público da razão. A partir da grande questão de f azer o uso público da razão, obv iamente daí é f ácil f azer deriv ar linhas que nos permitem, a nós mas sobretudo aos estudantes que trabalham comigo, a conceção do que é o espaço público e a esf era pública e, dentro da esf era pública, só depois de instituirmos a ideia ou conceito de esf era pública, então sim é que podemos f alar em arte pública. Voltemos à questão dos estudantes, agora v ou v oltar a f alar de questões processuais que são minimamente saborosas. Obv iamente, quando f alo de jov ens temos que f alar da liberdade que lhes assiste, ainda por cima são jov ens com pretensões artísticas, algumas delas v êm-se a conf irmar no f uturo, logo eles gozam de dois planos de liberdade, liberdade tendencialmente radical, tendencialmente absoluta, que é o f ato de serem jov ens, quem é que domina a liberdade dos jov ens. É muito dif ícil, toda a gente sabe disso, ou porque já f oi, ou porque tem f ilhos, ou porque tem netos ou primos, há sempre esse caldo de ef erv escência que é a juv entude e como eles se enquadram ou não em questões de caracter institucional, que são aquelas que caracterizam o outro lado da arte pública e o outro lado da esf era pública, mas também a liberdade criativ a, que é outra coisa muito difícil de tratar com jov ens e daí eu ter dito que estou a f alar de pessoas que gozam de dois planos de liberdade.

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Nas primeiras reuniões f aço uma provocação aos estudantes que é a seguinte: não pensem que nos gabinetes da Câmara Municipal de Lisboa v ão estar muito preocupados em perceber ou em f ruir a v ossa prestação artística, o que eles v ão querer atender é a questões de segurança, questões de património, etc. Depois desmonto tudo isto e eles f icam a perceber que têm que ter nos seus dossiês duas coisas muito distintas, uma coisa é a expressão plástica e isso está lá para eu depois discutir com eles, outra coisa é a af erição de tudo isso e a planif icação de tudo isso com desenho mais técnico e mais rigoroso para Eng.º entender. Eles não precisam da v ossa arte para nada, e são outras instâncias de mediação. Obv iamente que é um abuso de linguagem, mas é só para perceberem que têm de atender ao tempo das instituições e depois f icamos ali à espera um mês, dois meses, três meses, com contatos diários com o Joaquim de Sousa e a Junta de Freguesia dos Mártires, até que comece a receber sinais e os sinais muitas v ezes são para ref ormulação dos projetos Os estudantes começam a ficar desesperados e vêm ter comigo, cada um com a sua narrativ a de queixume, obv iamente que aquilo por v ezes chega a alta tensão, porque uns av ançam muito, outros av ançam pouco, há departamentos que dão respostas imediatas, outros não conseguem dar por motiv os óbv ios, por causa dos tempos das instituições e os tempos de necessidade de criação artística. São duas coisas muito distintas que obrigam a uma grande mediação e f elizmente no f im, no dia marcado das inaugurações, está tudo aprov ado com a grande ajuda da Junta Freguesia dos Mártires e com a grande colaboração da Câmara Municipal de Lisboa. Portanto, neste sentido não tenho queixas nenhumas a f azer a todos os departamentos com que lido da Câmara Municipal de Lisboa, porque são-me sempre todos muito f av oráv eis e eu f ico muito contente com isso, obv iamente e também tiro partido disso. Bom, para concluir e eu já disse o essencial, há uma nota jocosa que eu queria lançar por causa da questão dos mov imentos dos indignados que se v ão replicando pelo mundo f ora, em todo lado, por todos os continentes. Eu por v ezes tenho a sensação que em cada reunião que tenho e cada combate que trav o com muitos daqueles estudantes, que estou ali à beira de uma promoção de um mov imento de

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indignado capaz de saltar para uma praça pública, ou o Rossio ou a Praça do Comércio. Muitos deles manif estam muita indignação e não percebem o tempo das instituições e chamam a isso burocracia muitas v ezes num modo estereotipado, porque há a boa e a má burocracia, é como o colesterol. Obv iamente que se uma decisão camarária não for tomada com o tempo que é necessário para acautelar todos os problemas, isso depois pode redundar num problema na v ia pública e nesse sentido é uma boa burocracia, é um tempo necessário. Só para concluir, se existe campo artístico em que este contato generoso e mutuamente crítico, instituições e criadores, neste caso os estudantes da Faculdade de Belas Artes que participam neste projeto de arte pública aqui no Chiado, é justamente na arte pública, área essa que aqui queremos enf atizar. Para uma perceção concreta do que estamos af irmar v erif ique se a experiencia f eliz de inter-reconhecimento estabelecida entre a coordenação dos projetos arte e espaço público, as instituições culturais do Chiado e a Câmara Municipal de Lisboa, f ocalizando a nossa atenção nas exposições, nas conf erências e nos ensaios incluídos nos ev entos do Chiado, na sua ef erv escência urbana, artística e literária, que também é f eita a partir dos contributos dos estudantes de Belas Artes para o atual Rejuv enescimento da Identidade Cultural de Lisboa. Para concluir, esta nota é justíssima porque sem esta instituição e esta super mediação eu não estav a aqui certamente a f alar convosco, uma nota muito especial para a Junta de Freguesia dos Mártires e acabo com este slide. As parcerias com a Junta de Freguesia dos Mártires na realização da arte pública e ref lexão sobre o nov o espaço público são a nosso v er uma demonstração possív el da atmosf era de inter-reconhecimento vivo, tenso e criativ o que se estabelece na atualidade entre a v ida das instituições aqui no Chiado e a f orça de penetração eticamente regulada dos projetos de arte pública, como contributo, obv iamente entre outros, para o Rejuv enescimento e Identidade Cultural de Lisboa.

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Dr. Miguel Tiago: Gostav a obv iamente de agradecer o conv ite que me f oi dirigido para poder participar nesta sessão. Gostav a de cumprimentar a Sra. Presidente da Assembleia Municipal, a Sra. Presidente da Comissão Permanente da Cultura Educação Juv entude e Desporto e também os eleitos da Assembleia Municipal que participam nesta sessão e que tiv eram a iniciativ a de promov er este debate. O tema sobre o qual eu escrev i alguns tópicos para poder hoje trazer-v os como um contributo é o Rejuv enescimento. Não tinha noção dos subtemas, muito embora sejam deveras interessantes, nomeadamente a cidade Erasmus, emprego criativ o e criatividade como motores do Rejuvenescimento da cidade. Julgo que são perf eitamente passív eis de serem enquadrados naquilo que eu puder v ir a dizer. O tema para o qual preparei este contributo, o Rejuv enescimento, sugeria, se não houv esse problema dessa parte, que pudesse deixar algumas palav ras e alguma ref lexão sobre política de juv entude, o papel da juv entude no rejuv enescimento da cidade e obv iamente o papel da cidade e o papel do poder central na garantia da qualidade de v ida dos jov ens. Nós, no artigo 70 da nossa Constituição da República Portuguesa, de epígraf e “Juventude”, coloca-se uma série de comandos constitucionais para o Estado, para a política de juv entude e não é por nada que a juv entude aparece consagrada na Constituição da República Portuguesa, não é porque os jov ens são mais engraçados ou são uma camada muito peculiar, ou têm os gostos muito próprios É porque os jov ens, sendo cidadãos iguais aos restantes, encontram-se numa f ase muito particular da v ida do ser humano, da vida do cidadão. Encontram-se na f ase em que a dependência da f amília se começa a quebrar e, portanto, se começa a construir uma certa autonomia e há uma f ragilidade inerente a essa condição de transição e essa f ragilidade obviamente tem a v er com o f ato de estarmos a abandonar a dependência direta de um conjunto de trabalhadores, a nossa f amília, que garantem o sustento para uma f ase de autonomia que não é

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garantida à partida, particularmente nos tempos em que nos encontramos. Todos identif icamos f acilmente essas instabilidades que af etam o jov em, particularmente nessa altura. O jov em e a juv entude em geral não é uma camada especial, a não ser por esta condição social a que está sujeito, a de uma certa instabilidade, de quebra de uma condição para a constituição de uma outra condição de autonomia. Por isso mesmo, gostav a muito de saudar a introdução do Rejuv enescimento neste tema e dos subtemas que são colocados, que está de f ato em contraciclo e ainda bem que está em contraciclo, porque numa altura em que os mais altos responsáv eis do nosso País apelam à juv entude para emigrar, apelam aos jov ens para abandonarem o País, apelam indiretamente inclusiv amente para que os jov ens licenciados busquem e saiam da sua zona de conf orto, são estas algumas v ezes as expressões, e busquem trabalho no exterior, é louv áv el obv iamente que a Assembleia Municipal de Lisboa promov a um debate que coloca o Rejuv enescimento como uma peça central e mais, e não só isso, como inclusivamente introduz como subtemas a cidade Erasmus. Ou seja, não só tem interesse em que os jov ens da cidade aqui permaneçam como inclusiv amente pretende gerar um debate em torno das f ormas como trazer outros jov ens à nossa cidade e coloca também uma outra questão, a da criativ idade e segundo percebi a do emprego criativ o. Essas duas também não são de somenos importância, particularmente a do emprego, porque se o que def ine a instabilidade e a f ragilidade da v ida do jov em é precisamente o f ato de se encontrar em transição entre a dependência f amiliar e a autonomia, então a questão do emprego é determinante, emprego criativ o ou qualquer f orma de emprego. Obv iamente que as politicas seguidas acabam ao longo dos últimos anos em Portugal de destruição ativ a de emprego, descentralização de emprego para as perif erias das cidades e com a agrav ante da descentralização da habitação para as coroas perif éricas das cidades, foi e tem v indo a ser um obstáculo à garantia da qualidade de v ida dos jov ens em

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meio urbano e julgo que Lisboa até pode ser utilizado como exemplo disso mesmo. Eu tinha por isso colocado alguns tópicos segundo alguns eixos que julgo ser meios de uma ref lexão para o que nos f alta f azer para garantir um Rejuv enescimento consolidado da cidade, contando com a juv entude para esse Rejuv enescimento, mas não apenas um Rejuv enescimento como este que agora por exemplo se perspetiv a, f ísico, material, de certa f orma populacional e que será a tendência natural, tendo em conta o esgotamento do mercado de construção, o esgotamento mercado da aquisição e a necessária e obrigatória concentração no mercado do arrendamento e da reabilitação urbana. Mas não apenas esse Rejuv enescimento baseado depois naquilo que será uma of erta de mercado em que quem pode comprar compra no centro, quem não pode comprar não compra no centro, mas um Rejuv enescimento consolidado que garanta também a qualidade de v ida e o respeito pelas expressões culturais e artísticas, pelas preocupações, pelos anseios, pelos direitos daqueles que já aqui v iv em, daqueles que já têm a sua v iv ência ligada aos bairros de Lisboa e que prov av elmente nunca pisaram sequer esta sala, prov av elmente não se rev eem em metade da of erta cultural dominante. Portanto, também tendo em conta a consolidação e a capacidade de captar o contributo que esses milhares e milhares de jov ens por essa cidade f ora têm para lhe entregar. E por isso mesmo coloquei aí nos tópicos a política de ordenamento, a pressão urbanística e depois também coloquei outras notas que julgo f undamentais, igualmente f undamentais para a dinamização de uma política de juv entude capaz de garantir um Rejuv enescimento que obedeça simultaneamente a essa capacidade de atrair nov as pessoas, de f azer da cidade uma cidade cada v ez mais cosmopolita e obedeça simultaneamente aos anseios e necessidades daqueles que cá v iv em. Por isso mesmo o associativ ismo juv enil, a of erta cultural e o apoio às manif estações artísticas, nomeadamente às manif estações artísticas populares de base.

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A participação política surge aí também como um dos itens identif icados, e eu espero que compreendam porquê, e depois uma política de transportes, de habitação e de emprego. Nós temos v indo a assistir a uma política do Estado Central que é de submissão a grandes interesses económicos e esses interesses económicos têm interesses obviamente nas cidades. Numa cidade com as características da Cidade de Lisboa, que para além de ser a capital do País, tem a maior concentração demográf ica e além disso tem também a centralidade que se conhece em todos os aspetos, particularmente na área do mercado de construção. Isso prov oca assimetrias e desequilíbrios na f orma como nos distribuímos pelo território e esse é o primeiro impacto na degradação da qualidade de v ida dos jov ens, mas não só dos jov ens. O f ato de durante décadas se ter af astado as populações dos centros urbanos da f ruição muitas v ezes do espaço público f ez com que as populações se deslocassem para as periferias e perdessem a ligação ao centro das cidades. Esta poderia ser a primeira preocupação até no planeamento da cidade, como trazer, como estimular o arrendamento sem ser única e exclusiv amente atrav és dos mecanismos do mercado. Inf elizmente isto é, obv iamente, uma política que cabe no ponto de v ista do planeamento à autarquia mas no ponto de v ista legislativo cabe ao Gov erno e à Assembleia da República, esta é pelo menos uma política onde não se v islumbram alterações. A degradação da qualidade de v ida, a degradação da of erta cultural e a destruição do trabalho, e aqui é dev ida uma saudação ao poder local, aos seus órgão deliberativ os e aos seus órgãos executiv os, porque é de f ato apesar muitas v ezes das dif erenças, como sabem o meu partido tem com as div ersas autarquias do País, tendo em conta o seu pendor político e partidário, apesar de tudo é justo af irmar-se que o poder local se constitui muitas v ezes como uma muralha de resistência à degradação que é imposta por v ia da política nacional. Não será menos justo dizê-lo em Lisboa. Muitas

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v ezes também é v erdade, o poder local assume-se como uma barreira a essa erosão dos direitos, por exemplo muitas vezes inclusiv amente entrando em áreas que a Constituição da República tão pouco lhe atribui, nomeadamente a juv entude, por exemplo. A juv entude é, de acordo com a Constituição da República Portuguesa, com a orgânica legislativ a Portuguesa, um trabalho de juv entude, a política de juv entude incumbe diretamente ao Estado, podendo o Estado para tal contar com o apoio das autarquias, transf erindo para isso os meios necessários. Como sabemos, os meios não são transf eridos porque não há nenhum protocolo de descentralização, não há nenhuma lei que atribua diretamente às autarquias, a não ser uma que saiu agora há muito pouco tempo dos concelhos municipais de juv entude, mas que é uma lei que apenas f az com que as autarquias estejam obrigadas por lei a ouv ir os anseios dos jov ens e das associações juv enis, mas não tem depois uma consequência pratica. Gostav a também de f azer uma dif erenciação entre o que é uma política cultural apenas de manutenção, de uma of erta de uma estrutura que os jov ens por v ezes entendem como alheia, ou aquilo que é dar meios à juv entude para que ela própria dinamize as suas expressões culturais, porque são duas coisas distintas. Uma coisa é garantir uma estrutura, neste caso autárquica, inf raestruturas de teatros, inf raestruturas para oferta cultural, cine teatros, outra coisa é dar os meios às associações juv enis para que elas próprias realizem e ef etuem as suas expressões culturais em ligação com aqueles que são os seus anseios mais diretos, com as suas preocupações mais diretas. Essa é uma dif erença, ou pelo menos pode marcar uma dif erença na f orma como a juv entude se identif ica com a cidade. Nós podemos ter uma of erta cultural para a juv entude colocada no plano do mercado, além da priv ada, até mesmo colocada no plano do mercado sendo of erta pública, ou podemos ter também uma política de disponibilidade de espaço, disponibilidade de sedes, disponibilidade de meios,

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para que as associações juv enis, tendo em conta que se encontram também a maior parte delas em períodos de dif iculdade, à semelhança aliás do mov imento associativ o popular por todo o País, carecem dessa infraestrutura, desse apoio, para realizar o seu papel. Isso é uma dif erença colossal entre a mera of erta que é muitas v ezes até entendida por um certo paternalismo, ou a disponibilidade dos meios para a constituição e consolidação do trabalho associativ o. A participação política que agora se gosta muito de dizer a participação cív ica, participação cidadã, participação de sociedade civ il, eu não hesito também em chamar-lhe a participação democrática, porque os jov ens também gostam de participar democraticamente, assim lhes sejam dados os meios e garantidas as condições de v ida e qualidades de v ida para que o possam f azer. É claro que um jov em que não dispõe de tempo liv re, ou que não dispõe de rendimentos, ou que não dispõe de capacidade de deslocação, está coartado na sua capacidade de participação. É claro que um jov em com um emprego minimamente estáv el, com algum rendimento e algum tempo livre, tem outra disponibilidade. Sem dúv ida que a autarquia tem um papel a desenv olv er e a protagonizar na garantia destes v etores, na qualidade de v ida deste jov em, mas há uma outra dimensão pela qual a autarquia é responsáv el em primeira linha, que é a proximidade da juv entude e das suas preocupações e a tomada de decisão. Assusta-me particularmente um pouco v er que há uma tendência generalizada em Lisboa, e por v ia legislativ a por todo o País, de af astamento das populações dos organismos executiv os e órgão deliberativ os das populações. A diminuição da representativ idade, a diminuição dos eleitos, o af astamento do poder executiv o particularmente, a presidencialização do poder executiv o, a menorização dos órgãos deliberativ os, tudo isso são f atores que contribuem não para aproximar a juv entude da participação democrática, mas para af astar porque muito mais f acilmente um jov em, e aqui independentemente da sua condição social, se dignará a

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participar democraticamente nas decisões que o tocam se as esf eras de decisão f orem próximas e se estiver representado nessas esf eras de decisão. Aqui ref erimo-nos desde a Assembleia Municipal até à Câmara Municipal, como é óbv io. Não hav endo para já em Portugal um poder intermédio e ao que tudo indica com estas ref ormas que estão previstas muito dif icilmente poderá existir um poder intermédio democraticamente eleito. É preocupante também o mov imento de af astamento dos órgãos democraticamente eleitos e daqueles que são os eleitores e os jov ens e aqueles que estão interessados no Rejuv enescimento da cidade também são eleitores e obv iamente que v ão cumprindo esse mov imento, porque o af astamento de um lado lev a ao af astamento do outro. Termino dizendo que a política de transportes, habitação, emprego, e é certo que as autarquias e particularmente a autarquia Lisboeta nesta matéria, com a exceção da habitação, não tem poder direto, tem apenas na criação das inf raestruturas para a garantia destes direitos da juv entude, mas também pode serv ir, e é um desaf io, todos os órgãos autárquicos, não só os executiv os como os deliberativ os ou aquele que hoje aqui reúne, também podem serv ir de meio para a pressão junto do poder central ou junto daqueles que decidem sobre estas matérias. Isso é um fator decisivo para a tomada de decisão no nosso País, mesmo na Assembleia da República ou no Gov erno, a pressão exercida pelas populações utilizando as autarquias, utilizando as assembleias, utilizando as câmaras municipais na reiv indicação dos seus direitos, é um f ator f undamental. Posso dar-v os nota por exemplo, que é um f ator de grande importância e muito enriquecedor do trabalho de um Deputado na Assembleia da República, como é o meu caso, como aqui me apresentaram pelo PCP, o f ato de inúmeras assembleias de f reguesia da Cidade de Lisboa env iarem moções apresentadas. Que expressão mais bela da nossa democracia, as pessoas reunirem e aprov arem moções e decisões e env iarem à Assembleia da República dizendo que aquela junta de f reguesia, aquela assembleia de f reguesia,

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não se rev ê no encerramento das carreiras por exemplo da Carris. Não pode f azer uma política de juv entude quando ao sábado e ao domingo os jov ens daquela f reguesia não podem ir a lado nenhum, os idosos então muito menos, mas f alando de Rejuv enescimento f az mais sentido f alar dos jov ens do que dos idosos. Mas esse trabalho, essa representatividade da população não pode ser perdida e essa preocupação com a inf raestrutura que possa garantir qualidade de v ida da juv entude também não pode ser perdida. Aqui f alei de transportes, mas podemos f alar do encerramento de empresas ou do potencial de geração e criação de emprego. Termino mesmo f azendo uma alusão curta a estes subtemas que nos f oram apresentados. É muito importante falarmos da cidade Erasmus, não tenho dúv ida nenhuma, é muito importante f alar do trabalho criativ o, menos dúv idas tenho e sobre a criativ idade para romper a crise e garantir a qualidade de v ida, não me restam quaisquer dúv idas sobre a importância desses três f atores, mas não hav endo a inf raestrutura para que a generalidade da população consiga elev ar a sua qualidade de v ida, para que os jov ens que v ivem na Cidade de Lisboa consigam elev ar a sua qualidade de v ida, nós podemos salpicar com condimentos o debate, f alar de pequenos atrativ os, de puxar os nossos picos de excelência para cima, mas as pessoas que já cá v ivem, todos os milhares de jov ens que não f azem ideia do que são as indústrias criativ as, a não ser o toque do telemóv el que compram na telev isão. Não f azem ideia do que é cultura, a não ser a expressão cultural do seu bairro, ou a of erta cultural dominante dos grandes cinemas. Como garantir a elev ação dessa estrutura cultural, não apenas puxando aquilo que há de excelência, aquilo que há de grande qualidade, para cima, porque de f ato dá nas v istas, mas garantindo que elev amos por igual toda a estrutura cultural da população, garantindo também a elev ação da sua qualidade de v ida e até a elev ação da sua consciência social e humana.

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Prof. António Pedro Dores: Bom dia a todos. Quero agradecer à Assembleia Municipal por me ter conv idado e quero f azer uma brev e apresentação, v isto que estamos num espaço público. Talvez duma maneira muito sintética dizer que estou muito preocupado com o estado da nossa democracia. Parece-me que há uma decadência muito ev idente. Eu nunca f iz parte de partidos, mas sempre tiv e muito interesse na política e sinto ao mesmo tempo, na minha v ida prof issional e pessoal que a seguir já explico melhor, sinto-me aprisionado. Estamos num momento em que é necessário f alar daquilo que nos aprisiona e uma das coisas que nos aprisiona, sem dúv ida nenhuma, é a f alta de juv entude, por uma razão demográf ica. Nós temos uma sociedade v elha na Cidade de Lisboa, mais do que noutros sítios, mas temos também uma cidade em transf ormação que nos traz nov as oportunidades importantes. Estou-me a lembrar do Erasmus, estou-me a lembrar dos nossos f ilhos, para os quais há oportunidades que não hav ia quando eu era jov em. Sair do País e ir estudar para outros países dá uma perspetiv a muito alargada de quais são as possibilidades e as potencialidades, nomeadamente das cidades. Há outro aspeto também aqui relev ante, que é a Lisboa de que estamos a f alar, se estamos a f alar do concelho ou se estamos a f alar da Área Metropolitana, em que o concelho é um dos centros. Ontem à noite disse ao meu f ilho que v inha aqui à Assembleia Municipal f alar do rejuv enescimento e ele disse-me, porque tem andado em Erasmus, que uma das coisas que o impressiona é o f acto de em Lisboa as pessoas que f azem arte de rua terem que pagar uma taxa à Câmara Municipal. Não f aço ideia se é v erdade ou mentira, mas ele dizia que passou por v árias cidades da Europa onde as pessoas na rua pura e simplesmente começam a tocar. Ciganos e populações excluídas, e situações de muita exclusão, como por exemplo na Europa de Leste, tocam e não há nenhum problema com isso. Em Lisboa não é possív el, aparentemente. Não f aço ideia se é v erdade ou mentira, mas f oi esta a impressão que

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ele trouxe de uma v iagem e que me parecia v ira propósito do que estamos aqui a dizer. Vem também a propósito daquilo que eu posso contribuir para esta discussão. O meu trabalho tem sido centrado f undamentalmente nas prisões. O encarceramento é um f enómeno urbano por excelência. Nas sociedades rurais hav ia outra f orma de punição e são as sociedades urbanas que v ão trazer as prisões e v ão criar os gulag, digamos assim, umas v ezes maiores e outras v ezes mais pequenos. No nosso caso temos um gulag suf icientemente grande, não tão grande como em outros países, mas suf icientemente grande para f icarmos preocupados com isso, até porque parte importante da nossa juv entude está lá. São jov ens que estão na prisão a maior parte dos tempos e são jov ens que f oram excluídos muitas v ezes desde tenra inf ância. Era importante f azer a história daquela gente que ali está para percebermos que são sempre os mesmos, desde pequeninos, que v ão sendo institucionalizados de v árias maneiras, entre as quais a prisão, até que desistem de existir. Pelo menos nós desistimos que eles existam. Este esf orço de encarceramento, que evidentemente não é a Cidade de Lisboa que tem responsabilidade nisso, é toda a sociedade em que estamos env olv idos, aquele encarceramento que eu f alav a no princípio tem também a v er com um certo suf oco. Este suf oco que muita gente f ala, de onde é que ele v em? Eu penso que é preciso talv ez tentar perceber um bocadinho nisso. No caso da Cidade de Lisboa, pensando no rejuv enescimento no sentido demográf ico, porque é que os jov ens não tomam a cidade para si? Eu acho que há razões e algumas delas já aqui aduzidas de uma maneira muito sintética e rápida, por exemplo a especulação urbana que expulsou as pessoas da cidade. As pessoas nasceram f ora da cidade, não são da cidade. Eu nasci em Lisboa, sempre v iv i em Lisboa, mas quantas pessoas o f izeram?

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Aliás costumamos brincar, “olha encontrei um lisboeta”, porque normalmente as pessoas que v iv em em Lisboa são imigrantes e os jov ens também são imigrantes em Lisboa, por razões que têm a v er com o modelo de sociedade que nós queremos replicar. Nós queremos ter automóv eis, com acessos rápidos a qualquer lado, e v iv er no campo. É o modelo americano que nós adotámos à nossa maneira e então temos um problema, é que os jov ens não têm automóv eis, ou melhor, os jov ens que não automóv eis têm que se juntar em magotes para ir curtir na sexta ou no sábado em sistemas culturais e de div ertimento que são pré-f abricados para eles próprios e f azendo uma coisa muito estranha. As pessoas que v iv eram a minha juv entude isto é um bocado estranho e até triste, porque é tudo pré-f abricado, a possibilidade de f azerem alguma coisa é muito reduzida e o esf orço que f azem para o f azer é contrariado por v árias ondas de algumas coisas. Uma delas a onda securitária, que eu gostav a de v os falar e que todos conhecemos de ouv ir f alar, mas ela passa-se também aqui em Lisboa. Polícias a perseguir a meio da noite nos bairros ditos problemáticos ou outros, não conheço as estratégias de Lisboa, mas conheço casos concretos julgados em tribunal em que é nítido até para os julgadores, para o ministério público e para o juiz, que há uma estratégia de policiamento agressiv o contra jov ens que andam com aquelas camisolas que usam muitos deles, a partir de certas horas da noite e em determinadas zonas da cidade. Andam polícias à caça e isto não é responsabilidade da Cidade de Lisboa, suponho que é o Ministério da Administração Interna, mas isto é uma política que está instalada. Há quatro anos num congresso de sociologia, um colega meu que trabalhav a nestas coisas, disse que tendo feito um estudo sobre a criminalidade em Lisboa, o grupo dele descobriu que a criminalidade em Lisboa passav a-se entre o Campo Grande e a Baixa e no canal principal de comunicação, a Av . da República, Saldanha, por aí f ora. O que lhe disseram politicamente f oi: “mas de onde é que v êm eles?” O problema não é de prev enir o crime no local do crime, o problema é ev itar que eles saiam de onde v êm para cá chegar.

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Estão a v er o problema, é que depois há bairros problemáticos em que nós ouv imos os habitantes dizer: “não somos todos criminosos”. Claro que não são, mas há uma política de impedimento dessas pessoas para chegar à cidade. Quem são essas pessoas? São jov ens, obv iamente. Quem são as pessoas que amedrontam as pessoas na rua, digamos assim? São jov ens. Portanto, há a ideia que se pode resolv er o problema desta irrequietude juv enil, que nem toda pode ev identemente ir para a univ ersidade, que é impedi-los de existirem, impedi-los de chegarem ao contacto com os outros. Esta política é contraditória com aquilo que suponho que estamos aqui a promov er, que é o rejuv enescimento da Cidade de Lisboa. Era esta a mensagem que eu v os queria deixar, basicamente, que me parece que as políticas em curso são globais, estou-me a lembrar por exemplo daquilo que aconteceu em Londres e que todos v imos com estupef ação e com f alta de explicação, como é que de repente uma metrópole v ê os seus jov ens entrarem pelas ruas a f azer selv ajarias e como é que é possível que não haja nenhuma explicação lógica para isto. São só bandidos que f azem aquilo? É capaz de não ser. É capaz de ser alguma coisa por trás daquilo que explique tanta perv ersidade. Deixem-me só dizer uma coisa que eu julgo ter percebido. Os polícias ingleses têm um apito que se torna ensurdecedor para os jov ens, mas que não é ouv ido pelos mais v elhos. É extraordinário. Eu não sei se as cidades querem receber os jov ens e esta é uma primeira pergunta que acho que dev emos colocar. Se querem receber os jov ens têm que encontrar condições para os receber. Parece-me que as condições são duas muito básicas. São precisos transportes grátis para os jov ens que querem aceder à cidade o possam f azer nas alturas em que se justif ica. Isto não é f alta de segurança, mas é preciso também que a insegurança não seja exposta de tal maneira que às duas por três v amos apanhar com ela, como aconteceu em Londres.

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Outra questão é que os jov ens possam f icar em Lisboa, que possam existir e sobrev iv er em Lisboa. Não tenho a certeza do que v ou dizer, mas tenho a impressão que Lisboa dev e ser das raras capitais europeias que não tem ocupas. As poucas experiências que eu conheço de gente que resolv eu ocupar um espaço que estav a liv re, não sei se era público ou priv ado, para f azer ativ idades culturais à maneira deles, como eles entendem, f oram simplesmente corridos e a f orça deles era tão pouca que puderam ser corridos. Não estou a dizer que os ocupas são pura e simplesmente abandonados à sua sorte e são alegremente recebidos pela câmara municipal, duv ido que seja assim, mas existem. Porquê? Era uma boa questão. Não sei dizer exatamente porquê. Será que os nossos jov ens são menos ativ os, como dizem alguns políticos? Outros dizendo a mesma coisa ao contrário, “é preciso que os jov ens interv enham politicamente”. Quando eles estão numa manifestação, como aconteceu no Rossio a propósito de umas assembleias populares ultra-pacíf icas, tanto quanto eu julgo saber, lá f oi a polícia dar umas traulitadas e toda a gente v eio perguntar porquê. Mas isto repete-se. Na manifestação da greve geral lá pareceram mais umas traulitadas a propósito de coisas que até dev iam ser tratadas de uma maneira séria, como a prov ocação policial, que pelos v istos não tem sido possív el tratar de uma maneira mais ef iciente. A cidade, se quer ser acolhedora do jov em, se quer ser acolhedora da arte, tem que dar espaço para que isso possa ocorrer. Esses espaços existem, é uma maneira de os poder organizar de f orma a que as pessoas possam v ir de onde v êm, possam por um lado ter os transportes e por outro lado, no caso de quererem f icar em Lisboa, porque ao f im de uma noite longa e pesada, bem bebida ou f umada, seja necessário estar num sítio qualquer e não ir para casa outra v ez em condições que muitas v ezes não existem, mas havendo sítios como os ocupas podem permitir que haja há a probabilidade das pessoas f icarem num conv ív io útil.

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Ultimamente ouv i o Charles Aznavour falar de Paris no tempo da ef erv escência cultural e o que ele f ala é de jov ens loucos pela v ida, esfomeados, sem dinheiro, mas todos convencidos que iam mudar o mundo, que é próprio dos jov ens. Para isso é preciso hav er liberdade, uma liberdade que inf elizmente nesta época parece que f alta. A Senhora Deputada Municipal Virgínia Estorninho: Agradeço a todos os oradores. Parece que f oram suf icientemente elucidativos nas suas interv enções, que só suscitam três interv enções da nossa plateia.

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Fernando Gonçalves: Bom dia. Eu gostaria de f azer três perguntas à Dra. Gabriela Canav ilhas: Quando ref ere na sua interv enção as “cidades criativas”, essa sua ref erência tem a v er com Richard Florida ou com os opositores de Richard Florida? Ref eriu igualmente o estudo para a estratégia da cultura em Lisboa, uma edição de 2009 do pelouro da cultura da CML. Se me permite, gostaria de lhe pedir que desenv olv esse um pouco mais a sua apreciação sobre este estudo e o que ele poderá signif icar de importância para a própria Cidade de Lisboa na sua caracterização. Por último uma dúv ida minha, uma má interpretação minha. Quando se ref eriu ao f estival de chocolate de Óbidos foi como exemplo negativ o ou positiv o de uma cidade criativ a? Vitor Agostinho: Muito obrigado, muito bom dia. As minhas questões têm a v er com o rejuvenescimento desta atuação cultural e eu penso que quando se f ala em rejuv enescimento não é apenas nas questões relacionadas com as idades. Tem a v er com como v amos nós colocar na cidade e criar condições para que realmente, desde logo dentro do ponto de v ista local, as populações possam usufruir desta of erta cultural, ou eles próprios v enham a criar essa mesma of erta cultural. As questões que se colocam já f oram aqui colocadas pelos oradores em algumas das áreas. Eu estou numa f reguesia v elha da cidade, estou em São Vicente de Fora. Como é que nós queremos que a população, sendo nov a ou v elha, v enha usuf ruir dos equipamentos culturais quando cada v ez mais se corta com essa possibilidade? Hoje, para sairmos destas zonas para locais culturais, das duas uma, ou as juntas de f reguesia f acultam os autocarros

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de aluguer e de transporte, ou as pessoas não podem sair de lá porque não há transporte. As pessoas estão presas em casa e não podem ir para esses locais. Há uma possibilidade de saída que era importante, que é saber o que o município está a f azer para que o mov imento associativ o possa dar o seu contributo importante para o rejuv enescimento cultural. Penso que isso só se pode f azer a partir de uma política cultural municipal que olhe para os locais residenciais das div ersas freguesias e que se v enham realmente a f azer programas de interv enção, em Lisboa eram protocolos, tal como hav ia noutras áreas, na área do desporto ou da educação, mas que se criem também nessa f rente cultural situações para que, particularmente o mov imento associativ o, possa v er de nov o os seus espaços ocupados com ativ idades culturais, que cada v ez desaparecem mais. Entramos numa coletiv idade e do ponto de v ista cultural ela está v azia. Tem alguma f orça do ponto de v ista desportiv o, mas eu penso que era importante pensarmos nesta questão da cultura. Por outro lado v ai ter que hav er, eu penso de nov o que é uma questão do País, que é a maneira como nós podemos rejuv enescer do ponto de v ista da presença cultural das populações quando a v ida está cada v ez mais cara para isso. Agora até se chegou à conclusão que na v ertente cultural o IVA pode ser aumentado e podemos estar aqui a criar uma perigosa situação, que é as pessoas da cultura irem usuf ruir dos espaços culturais e as pessoas que necessitam de crescer a caminho dessa cultura cada v ez v eem mais desinteresse, até do ponto de v ista f inanceiro. Ana Sara Brito: Primeiro um agradecimento à Assembleia Municipal na pessoa da Dra. Simonetta Luz Af onso e da comissão, por nos proporcionar mais um debate do exercício da cidadania, que a Câmara Municipal de Lisboa nos últimos mandatos tem exercido. Como transmontana a viv er em Lisboa agradeço à Cidade de Lisboa.

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Depois agradecer a todos os interv enientes, mas fiquei muito conf usa, como v elha que sou, na última interv enção do Deputado Tiago. O colóquio chama-se “Rejuv enescimento e identidade cultural”, será que o rejuv enescimento da cidade e da cultura tem a v er com as ideias e com as políticas culturais? Não terá mais a v er com isto do que organizar as políticas culturais de acordo com os grupos etários? Se eu entendi bem, o Senhor Deputado apenas entende que há rejuv enescimento se houver oferta cultural para os jov ens. Então, v amos organizar a cidade em of ertas culturais para a juv entude, para os v elhos, para os def icientes, para os gay s, para as lésbicas? Então div idimos por grupos etários e grupos sociais? Penso que isso não será o rejuv enescimento da cidade, porque há v elhos e v elhas que têm ideias jov ens para o rejuv enescimento da cidade e v ice-versa, há jov ens que têm ideias v elhas para o rejuv enescimento da cidade. Enquanto v elha a residir em Lisboa considero, da experiência que tenho da cidade, dos v elhos, dos jov ens e de todos os outros, que o rejuv enescimento da cidade se f az com a participação de todas e de todos e na audição em cidadania de todas as ideias, para que a cidade tenha of ertas culturais que sirv am a todas e todos.

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Dra. Gabriela Canavilhas: Muito obrigada pelas questões colocadas. Agradeço a todos. Gostav a de dar os parabéns ao primeiro interv eniente, relativ amente às questões que colocou. Foram muito precisas e prov ou que ouv iu com atenção o que eu disse, o que agradeço imenso. Nestas ocasiões nem sempre se consegue perceber e ouv ir todos os detalhes, sobretudo numa interv enção escrita, que às v ezes se pode tornar menos viva. Notei que estev e muito atento a cada pormenor. Queria dizer-lhe o seguinte: De f acto Florida é um dos teóricos que mais tem ref letido sobre este conceito das cidades criativ as. Não sei se f oi possív el intuir das minhas palav ras, mas a minha posição é de alguma desconf iança relativ amente a este conceito e inclusiv amente de alguma desconf iança em relação aos estudos de economia cultural que têm sido produzidos. Embora reconhecendo e def endendo a economia cultural como uma das f acetas da economia dos países e que, no caso dos países mais criativos e com mais tradição cultural, se torna uma f onte de f inanciamento importantíssima, do meu ponto de v ista dev e ser lido no contexto da economia e não tanto no contexto da cultura, porque tende a f azer perigar aquilo que é a f onte f undamental e seminal que irá alimentar a cadeia da economia cultural. É um pouco isso que nós já estamos a assistir em v ários países e neste momento em Portugal também. Esta predominância das cadeias de v alor só por si, justif icando, aplaudindo e incentiv ando aquelas que são f rutíf eras na sua capacidade reprodutiv a de v alor, de bem, esquecendo-se de uma coisa muito importante, a mais importante de todas e que nós nunca podemos esquecer, quer como consumidores de cultura, quer como pessoas responsáv eis pelas políticas culturais. A criativ idade e a capacidade de f azer da criativ idade um bem transformador do indiv íduo, a aquisição de saber e transmissão de saber não tem custo, não tem preço, não têm v alor.

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Quando se quer pôr um preço nesses bens, que são talv ez os mais importantes que o ser humano enquanto ser pensante e criativ o pode dispor, estamos a inquinar, digamos assim, um processo que dev e ser considerado f ora dos outros contextos de pura economia. É o que está a acontecer um pouco com as cidades criativ as e com o contexto das indústrias culturais e criativ as, que é, v olto a repetir, importante na economia dos países, sobretudo Inglaterra. Porque é que a Inglaterra f oi o primeiro país a trabalhar este tema, muito justamente? Com o beneplácito do Primeiro-Ministro, na altura Tony Blair. Porque a Inglaterra é um dos países que mais tem assente a sua economia precisamente nas indústrias criativ as. Basta pensar que a Inglaterra é os beatles recebem os direitos de autor. Só os direitos de autor dos beatles se calhar já dav am para pagar parte consideráv el da dív ida do nosso País. Há de f acto a partir de Inglaterra, com as indústrias também relacionadas com o software de computadores, que hoje é uma das principais receitas anuais do Reino Unido, que está incluído nas indústrias culturais e criativas. Para não f alar da telev isão, até a contrafação está incluída na contabilização do v alor das indústrias culturais e criativ as. O f utebol, os espetáculos de toda a f orma, espetáculos de rock para a juv entude, massif icados. Toda esta contabilização de tão largo espetro tende a desv irtuar e f azer esquecer o núcleo duro, aquele que é a semente para tudo o resto, são apenas 0,2% do PIB nacional e é também uma percentagem muito reduzida em termos europeus. No entanto, é pref erível que se analise as consequências de uma ativ idade cultural f orte e se incentiv e como é que elas podem ser transf ormadoras da economia, do que manter à margem desta discussão. Só peço que essa discussão seja f eita tendo em conta estes pormenores, que me parecem muito importantes. Em relação ao f estiv al de chocolate de Óbidos, adoro chocolate, como todos nós, f az-me é uma certa impressão que algumas iniciativ as desta natureza sejam englobadas neste projeto de cidades v oltadas para a criação, para a

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cultura. Uma cidade cultural e criativ a que de entre as suas manif estações mais importantes e proeminentes é o f estiv al do chocolate. É claramente uma manif estação cultural no sentido antropológico, que eu há pouco f alav a, ou sociológico. Não é claramente, do meu ponto de v ista, uma manif estação cultural no sentido da aquisição e transmissão de saber, que é aquilo que nos interessa. Também em relação ao estudo que f oi promov ido pela Câmara de Lisboa em 2009, dev o dizer que é um excelente estudo, que nos dá um retrato muito aprof undado sobre as dinâmicas culturais da cidade, sobre o parque cultural da cidade. Lança v árias questões para o f uturo, que a atual v ereação da Câmara está a dar continuidade e é uma base que dev e estar em cima da mesa todos os dias, porque ela de alguma maneira cobre todas as preocupações de projeção e dinamismo e também de correlação intersectorial entre todas as áreas culturais da nossa cidade. Aí mesmo se pode observ ar que se há algum problema que Lisboa não tem é a f alta de dinamismo na juv entude. Eu não sei se concordam comigo ou não, mas independentemente das políticas que possam ou não existir em relação à juv entude, ela tem um motor que lhe é próprio e que v inga muitas v ezes por si próprio, com uma capacidade de penetração que só a juv entude é capaz e que nós, nesta nossa prov etividade, continuamos a inv ejar e a tentar imitar. De f acto Lisboa é uma cidade também com gente jov em, embora v iv am muito hoje nas perif erias, como sabemos. Os esf orços feitos para atrair a juv entude para o centro, apesar de tudo têm dado algum resultado. Estou-me a lembrar da Trienal de Arquitetura, da Experimenta Design, da LX Factory, dos projetos em Alcântara e em Santos. Estamos a f alar de v ários projetos disseminados na Cidade de Lisboa, que têm v ingado sobretudo dev ido à juv entude educada academicamente, juventude profissionalizada com recurso a nov os processos de formação nesta área, de que Lisboa é já hoje em dia uma ref erência. Eu sou muito contra esta ideia permanente de acharmos que está sempre tudo mal. Não sei se é por ter lido este f im de

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semana “O Cândido” de Voltaire, que é o exemplo máximo de que não há desgraça maior que possa acontecer que abata aquele otimismo permanente. No f undo é o que nós hoje precisamos um pouco, de ler umas páginas de “O Cândido” de Voltaire para nos conv encermos que, apesar de todos os terramotos que Lisboa possa enf rentar, há sempre uma capacidade de v er positiv o e de dar a v olta. A juv entude é, sem dúv ida nenhuma, quem melhor consegue dar esse salto. Eu não acho que Lisboa seja uma cidade env elhecida. Lisboa tem gente com um dinamismo e uma graça que lhe é muito particular e eu gostav a que nós sobretudo, para além das análises políticas e intelectuais que temos que continuar a f azer, não deixemos de v alorizar aquilo que é v alorizáv el e temos que olhar para as nossas gerações mais nov as e ter esperança nelas, incentiv á-las e saber reconhecer nelas a capacidade de nos estimular, de ainda nos ensinar. É com essa esperança nas nossas camadas mais jov ens que nós temos que apoiar a nossa motiv ação no presente, porque o nosso presente é muito dif ícil. Eu gostav a de ref erir aqui relativ amente ao papel das associações e das coletiv idades, dando um bocadinho de resposta ao que o segundo interv eniente colocou. Eu dev o dizer que tenho uma admiração enorme pelo processo associativ o, pelas associações e coletiv idades. É o exemplo mais bonito que uma sociedade pode ter, a capacidade das pessoas se juntarem umas com as outras e produzirem algo para o benef ício comum, sem ter o Estado pelo meio, sem ter empresas pelo meio, apenas as pessoas. A ideia da associação sem f ins lucrativ os é uma ideia bonita, que inf elizmente f oi morrendo, porque cada v ez mais o sem f ins lucrativ os começou a precisar de contratos, de financiamento, de balancete. Essa ideia das associações sem f ins lucrativ os do passado, dos grémios, está a morrer aos poucos. Ainda subsiste em Lisboa graças aos bairros populares e ao dinamismo das suas populações. Nessas coletividades fervilha uma v ontade de criar, uma v ontade de f azer e uma v ontade de unir que f az com que, enquanto Lisboa conseguir manter essas

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associações v ivas e estimuladas, Lisboa nunca deixará de ser uma cidade de cultura e uma cidade de mov imento. Terminando, queria só agradecer a interv enção da Ana Sara Brito e dizer-lhe que concordo inteiramente consigo. Espero daqui a alguns anos continuar a pensar as matérias relativ as à juv entude com o mesmo dinamismo que um jov em hoje pode. Até digo mais, uma pessoa com outra experiência da v ida, com outras f ases na nossa v ida, se calhar sabemos mais para poder ajudar aqueles que estão a começar as suas v idas prof issionais e as gerações mais nov as. Eu acho que as políticas para a juv entude dev em ser pensadas por pessoas de todas as idades. Se temos que ter motiv ação e esperança, sobretudo se reconhecemos nas gerações mais nov as essa grande capacidade de continuar a nos estimular, a v erdade é que as gerações mais nov as também dev em ouvir os mais velhos, devem ter confiança na experiência dos outros e saber que esta relação intergeracional é f undamental para que todos consigamos marchar no mesmo sentido.

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Dr. Miguel Tiago: Só a título de curiosidade, porque a Senhora Deputada Gabriela Canav ilhas falou do Reino Unido, deixem-me só dar uma nota. Não é nenhum reparo, é só para nós termos mais um elemento. No Reino Unido o inv estimento em cultura só do Orçamento de Estado, não nos ref erimos ao inv estimento local nem regional, é de oito mil e setecentos milhões de euros, o dobro do que nós aqui gastámos no BPN. Em Portugal temos um orçamento de duzentos milhões de euros, que é qualquer coisa como um v inte e cinco av os do que gastámos no BPN. Isto só para nós v ermos a dif erença. Não signif ica que tudo v á bem na cultura em Inglaterra, mas dá para termos uma noção do quanto em Portugal não se inv este. Não quer dizer que lá seja perf eito, também não conheço o suf iciente, mas é para nós termos uma noção do quanto em Portugal não se inv este, porque nós estamos a f alar de um ministério, que agora já nem ministério há, que em Portugal f unciona com duzentos milhões de euros para o apoio à criação, à f ruição, à distribuição. Aliás, por isso é que não v ão abrir concursos este ano, nem para o apoio às artes, nem para o apoio à produção cinematográf ica. Ainda esta semana se f alou disso na Assembleia da República. Eu gostav a só de dizer, sobre as coletiv idades, as associações e a interv enção do Senhor Deputado Municipal Vitor Agostinho, que de f acto não há nenhuma de que é precisa uma estrutura para a criação artística e uma outra para a f ruição. Sem uma inf raestrutura de transportes, sem rendimentos e sem tempo liv re não há lazer, não há desporto e não há cultura. Ela até pode ser produzida, mas não é f ruída pela população. Se não houv er f orma de aceder, se não houv er maios para pagar, se não houv er meios para deslocar, não poderei usuf ruir. As coletiv idades e associações em Portugal, felizmente, estão longe se estar mortas. Nós temos em Portugal três milhões de associados em coletividades, é um mov imento sem paralelo em Portugal, com setecentos mil dirigentes v oluntários, sem

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ganharem nada, que dirigem coletiv idades, ateneus, grémios, associações e por aí f ora um pouco por todo o País. Obv iamente que em Lisboa isso se sente de uma f orma mais diluída, mas em muitas regiões do nosso País são a única f orma de of erta cultural que existe, assim como de dinamização desportiv a, etc. Quanto à pergunta que a Dra. Ana Sara Brito me colocou, eu queria pedir-lhe desculpa porque certamente não me f iz entender. Estiv e a v er as minhas notas e não consigo identif icar onde poderei ter dito que a of erta dev eria ser estratif icada por grupos de interesse. Ela já é, ao f im e ao cabo cada f aixa etária, cada grupo de interesse, produz uma of erta que acaba por ser para aqueles que se identif icam com esse grupo de interesse, mas a of erta oficial, do Estado ou da autarquia, ou mesmo a of erta comercial, isso não. Não identif ico aqui onde terei dito isso, peço imensa desculpa se me f iz compreender mal. O que eu disse e gostav a de sublinhar é que é dif erente garantir of erta cultural por meios próprios, por exemplo atrav és de uma rede de cineteatros, uma rede de teatros, por iniciativ a da Câmara ou dos teatros nacionais, ou mesmo atrav és da rede de of erta comercial, os eventos publicitários, os f estiv ais de v erão que enchem com milhares de jov ens. Outra coisa dif erente é nós entregarmos às populações a capacidade, os meios, o espaço, os materiais necessários para que elas consigam produzir e f ruir a sua própria cultura. Garantir a consolidação da sua própria cultura, das manif estações artísticas de um bairro, de uma população, de uma rua, de uma associação juv enil, d uma banda de garagem, de um grupo de teatro. Garantir que existe capacidade, porque caso contrário, se a capacidade de criação e f ruição cultural não f or v erdadeiramente democrática, nós estamos cada v ez mais condenados à monocultura e àquilo que nos é of erecido em grande escala nos cinemas, ou que entra pela telev isão dentro. Ficamos certamente muito mais condicionados. Sendo um f ator de emancipação do ser humano, na plenitude do que estas palav ras podem significar, nós não devemos de

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f orma alguma limitar a capacidade de criação e de f ruição cultural. Era só isto que eu queria dizer, ou seja, não apenas garantir uma of erta, que é útil e f az muita f alta a of erta que a Câmara garante atrav és dos seus meios, da contratação de companhias de teatro ou de películas, daquilo que f or, garantir uma of erta pública é muito importante e uma estrutura pública, mas igualmente importante é garantir que se f az chegar às associações. O caso das associações juv enis nem são da tutela da autarquia lisboeta, são da tutela do agora Instituto do Desporto e da Juv entude, que agora é tudo à mistura. Portanto, são da tutela do Gov erno Central. Garantir que a essas associações e às coletiv idades, essas também f inanciadas por v ia das autarquias, chegam os meios para que se possa criar e f ruir cultura. Se a associação é mov ida por um determinado grupo de interesses, ev entualmente produzirá cultura mais v irada para esse grupo de interesses, mas não estav a aqui a f alar que a autarquia f izesse espetáculos só a pensar em alguns públicos. Eu não v ejo mal nenhum em que pudesse acontecer. Aliás, muito sinceramente acho que já acontece. Mesmo um evento priv ado é dirigido sempre para um público. Por exemplo nos f estivais de verão não v ão para lá os autocarros das juntas de f reguesia transportar os idosos, mas ainda assim eu acho que o Estado dev e garantir, seja atrav és da autarquias, seja atrav és do Estado Central, os meios para que cada associação, cada artista, cada criador, cada pintor, cada grupo de teatro, cada realizador de cinema possa estar em pé de igualdade na capacidade de criação com as grandes estruturas e pelo menos na capacidade de distribuição. Isso não existe. Ainda pior era outra v ertente que se f alav a há pouco, depois não há a garantia da capacidade de f ruição, nem para os jov ens, nem para os idosos, nem para nenhum segmento da população. A única dif erença aí não é ser jov em ou ser v elho, é se tem dinheiro ou não tem. Isso para mim é muito mais errado do que ser jov em ou idoso.

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Hoje em dia há uma grande dif erença na of erta cultural, entre aquilo que Dra. Ana Sara Brito estav a a dizer que eu disse e eu acho que não disse e aquilo que se v erif ica. É que hoje há of erta cultural apenas para quem pode pagar. Esse é o pior de todos os grupos de interesse, produzir of erta cultural apenas para quem pode pagar. Dra. Teresa Craveiro: Eu gostav a de perguntar ao Prof essor António Pedro Dores se ef etiv amente a questão que colocou da Inglaterra, também aqui já colocada pela Ana Sara, se não temos que nos preocupar ef etiv amente na ligação da questão do rejuv enescimento com a questão do env elhecimento. Acho que há um def icit na transmissão e no saber na sociedade portuguesa. Vaise à América Latina e é completamente entendida de outra maneira. Parece-me que a cidade não pode só pensar no rejuv enescimento se não se interligar na identidade com o env elhecimento. Acho que há um def icit dessa ligação e, portanto, perguntav a como é que uma univ ersidade v ê esse problema, nomeadamente para contrapormos a esta modernidade líquida que neste momento f unciona e que também está ligada à decadência. Não se trata de públicos segmentados, mas trata-se de f acto da ligação para a identidade. Eu penso que há um def icit, nomeadamente até na Cidade de Lisboa, nessa matéria. Dra. Paula Marques: Eu queria só pôr duas questões. Não são tanto questões postas ao painel, mas é mais de ref lexão nossa. Independentemente da conceção que cada uma das pessoas que está aqui tem do que é a produção cultural e do que é o desenv olv imento cultural, a minha pergunta é como agentes públicos e como agentes de def inições políticas, seja da administração local, seja da administração central, dev emos

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ser produtores culturais ou se dev emos ser promotores de condições para o desenv olv imento e para a produção cultural. Eu tenho a minha posição, acho que se dev em encontrar as duas f ormas, mas acho que acima de tudo dev emos ser promotores de condições, sobretudo no que toca a estruturas e inf raestruturas, para que essa produção cultural possa ser desenv olv ida e possa ser ef etiv ada. Há outra coisa também que me preocupa. Quando somos produtores culturais, como agentes públicos, somos produtores culturais para os públicos e para as pessoas e muitas v ezes não somos com as pessoas e com os públicos. Eram estas as ref lexões que deixav a. Vereadora Catarina Vaz Pinto: Eu só queria talv ez esclarecer algumas questões que f oram aqui colocadas, nomeadamente na questão da dif usão cultural nas f reguesias, junto das associações. Também o papel das coletiv idades e das associações está em transf ormação e, portanto, não podemos parar no tempo. Se calhar muitas das associações também precisam de meios que corresponderam a uma determinada época, hoje há outro tipo de agrupamentos juv enis, jov ens bandas, culturas urbanas que têm outra conf iguração e que estão muito mais próximo das f reguesias, dos lugares onde v iv em, e é aí que se dev e dar condições para que eles possam criar e f ruir. Essa é uma preocupação nossa. Eu agora até v ou aqui tomar o pelouro do meu colega Manuel Brito, porque por exemplo ele tem um programa com o João Gil que se chama “Sol Maior” e que consiste precisamente em ter um conjunto de jov ens a aprender a tocar guitarra. Há um conjunto de jov ens que nas piscinas desocupadas de Lisboa neste momento aprendem a tocar guitarra, porque não querem aprender a tocar as v alsas de Chopin. Por outro lado, nós temos também em construção um programa na Direção Municipal de Cultura, que precisamente

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pretende criar estas oportunidades de lev ar a cultura dita erudita aos bairros de Lisboa, que começou na v ertente musical mas não se v ai esgotar nessa vertente, que se chama “Sons pela Cidade” e que é uma iniciativ a que estamos a f azer com a Orquestra Metropolitana. A Orquestra Metropolitana f az um circuito que v ai aos auditórios da cidade, já f ez em Carnide, no Beato, em Benf ica e fará por mais seis lugares f ora dos centros históricos. Por outro lado, estamos a tentar organizar de uma f orma sistemática aquilo que já e f ez no ano passado e que prov av elmente muitos de v ós aprov eitaram, que f oi por exemplo ir ao espetáculo do Filipe La Feria sobre o f ado no Casino do Estoril. No âmbito das contrapartidas às companhias que apoiamos, permitir que grupos jov ens ou não jov ens das f reguesias possam ter acesso gratuito a determinado tipo de espetáculos. Fazer isto de f orma sistemática e organizada e com isso colmatar, não totalmente, mas algumas carências de acesso á cultura que essas populações têm. Finalmente, as Festas da Cidade e a programação de v erão da EGEAC, que se tem preocupado em ir para esses sítios menos conhecidos da cidade. Por exemplo na área do cinema, “Fitas na Rua”, “Cine-Conchas”. “Cine-Lapa” que este ano também será integrado nas Festas da Cidade. Há uma preocupação cada v ez maior de uma programação próxima dos cidadãos e atrav és de programações gratuitas, porque as f estas são gratuitas e estes programas são gratuitos para as pessoas que os f requentam. Trata-se assim de organizar as sinergias entre os apoios e as condições que damos. Queria só esclarecer isto. Muito obrigado.

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Prof. António Pedro Dores: Muito obrigado pela pergunta que me f ez. Não sei se consigo responder alguma coisa de jeito, mas parece-me claro que a ligação entre os mais v elhos e os mais nov os seria uma coisa interessante. De resto, f az parte de algumas políticas de promoção social precisamente utilizar o tempo liv re dos mais v elhos e a sabedoria dos mais v elhos para acompanhar os mais nov os. Tipicamente, o ideal seria os av ós acompanharem os netos, mas isso não é possív el sempre e nem sempre é bom, porque muitas v ezes as pessoas já f ora do sistema produtiv o também têm problemas grav es, nomeadamente de acesso a recursos mínimos e a mobilidade. Eu não sei se essas políticas têm tido sucesso e tenho algumas dúv idas que isso tenha acontecido. No caso da univ ersidade, que f oi o que me perguntou, eu propus concretamente na minha univ ersidade que alguns créditos das licenciaturas, como dos mestrados, f ossem usados, como existe em Espanha e noutros países, para que as pessoas jov ens e menos jovens, porque nas univ ersidades aparece cada v ez mais gente de outras idades, que esses estudantes possam beneficiar desses créditos para frequentar a v ida pública da cidade, para irem a congressos, para irem a conf erências, para irem a ev entos culturais ou não, etc. e isso não f oi implementado. Não percebo porquê e também não há nenhuma discussão sobre isso, mas esta relação dos jov ens com a cidade, a univ ersidade f az espontaneamente, porque os jovens têm que estar aqui. O Erasmus também existe por aqui e as pessoas v ão circulando. Agora, que exista uma disponibilidade, uma v ontade, uma atenção especial para que a relação dos jov ens com a cidade se f aça, pode ser que exista, com certeza que existirá, eu tenho algumas dúv idas que seja f eito de uma maneira sistemática. Aliás, eu creio que há um problema mais global que nos pressiona muito, que não depende da Cidade de Lisboa nem dos autarcas e que é o f echamento da própria Europa sobre si própria, a chamada “f ortaleza europeia”, que

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é uma f ortaleza de gente cada v ez mais v elha e que pura e simplesmente recusa a existência dos jov ens. Eu estav a a dar o exemplo do que aconteceu em Inglaterra, mas podia dar o exemplo do que aconteceu em França em 2005. São conv ulsões que têm a v er com os jov ens e o grande problema é que não estão sequer identif icados e consensualizados, o que é que causa isso. Pura e simplesmente atira-se com isso para debaixo do tapete e isso tem alguma importância, porque quando a Europa se quer def ender daquilo que está a acontecer numa intransigência securitária, está a criar inseguranças terrív eis para todos, desde o ponto de v ista económico, mas também do ponto de v ista diretamente securitário, do ponto de v ista da instabilidade das sociedades. Creio que é o que estamos a assistir. O Agostinho da Silv a dizia há uns anos precisamente isso. Não sei se ele era prof eta, mas o que ele dizia era que, então comparado com o Brasil isso era muito ev idente, “as sociedades europeias estão a suicidar-se”. A prov a disso era v erem a tendência demográf ica. Ele falou muito antes da crise que estamos a v iv er hoje. O que é f acto é que a tendência é para o f echamento da Europa em si própria, por exemplo na criminalização dos imigrantes. Veja-se o que acontece na Hungria agora de uma maneira muito radical, é uma tendência que nós não podemos ignorar. Ev identemente que nós podemos ser cândidos e podemos ignorar isso, que é o que estamos a f azer, mas parece-me que há que chamar à atenção para que isso tenda a acontecer menos. De f acto existe uma dif erença entre os jov ens e os menos jov ens. Por exemplo, eu tenho alguns amigos que tocam rap, mas quando eles começam a tocar eu v ou-me embora, não tenho paciência para aquilo. Uma coisa é não ter paciência, outra coisa é criminalizar.

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Não é o primeiro caso que nós ouv imos de pessoas rappers que são mortas pela polícia em situações estranhíssimas em Portugal e eu estou a f alar disto não é por acaso, é porque precisamente há rappers que me contam que se sentem perseguidos pela polícia na sua v ida pessoal. Há rappers que v ão a tribunal e que me pedem para testemunhar que eles são pessoas normais. Isto são f actos e não v ale a pena ignorálos, eles existem. Esta intransigência também acho que é clara. Traduzam por f av or aquelas letras mais pesadas dos rappers norte-americanos, que também existem em Língua Portuguesa, e v ejam se é possível div ulgar. Eu creio que não, em Portugal não estamos nessas condições. Não é que os Estados Unidos sejam o centro da liberdade no mundo, é por uma razão simples, é porque eles transf ormam os rappers grotescos em rappers f inos e põem o problema cultural da discussão entre o que é o rap dentro do mundo rapper, que entretanto v ão discutindo se é possível aceitar ou não certos subsídios da indústria, etc. Eu creio que em Portugal era um pouco essa a estratégia inteligente, f azer da cultura alguma coisa como em Inglaterra, como nos Estados Unidos. Transformar a cultura em alguma coisa que, embora eu não goste, tenho que aceitar como nov ação, como capacidade de transf ormação do mundo. O que eu v ejo em Lisboa são clubes de rappers escondidos em alguns sítios onde alguns admiradores os podem v er de borla. Isso entristece-me, porque eu gostav a de uma sociedade mais liv re e a liberdade, inf elizmente, não é o mote do momento. Mais uma razão para que a partir de casos destes, muito v ernáculos, seja possível repensar o que é que a cidade, que é o centro da liberdade, pode f azer a este respeito. Francamente eu não sei o que é que pode f azer, mas deixo-v os aqui as minhas preocupações.

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Dr. José Quaresma: Há aqui uma pequena partida que acabou de cair à minha f rente, promovida pela Dra. Gabriela Canavilhas e no que diz respeito a uma questão lançada. Estav a relacionada com a questão de um promotor de produto cultural ou produção do mesmo, as dif erenças estabelecidas ou a harmonização possív el entre ambas. Eu dev o dizer já antecipadamente que a v oz, na minha perspetiv a que é singela, mais autorizada para produzir um discurso sobre esses problemas é a da própria Dra. Gabriela Canav ilhas, na medida em que tem uma experiência f orte nessa área. Degladiou-se com muitas instituições até para discutir esse problema sob outras f ormas, de f orma que a pessoa mais indicada para o f azer está aqui ao meu lado. Eu v ou produzir pequenos f ogachos sobre essa matéria, porque v ão todos deriv ar de uma experiência pessoal, que eu possa depois ou não transf ormar numa experiência generalizáv el com uma nota ou outra de partilha noutros campos. Eu v ou tentar resumir o que tento executar ano após ano e como é que as duas dimensões que ref eriu conf inam. A determinada altura perguntou-me se eu estav a do lado dos promotores ou do lado dos produtores e eu disse que estou exatamente ao meio, na linha de bissetriz e é exatamente como me sinto. Vou usar uma metáf ora que me acompanha desde criança e não me v ou deter nas memórias de inf ância, que seria uma coisa terrív el, mas é só para v os dar uma metáf ora f orte de como eu entendo as coisas, encaixada uma na outra. Toda a gente se lembra daquela metáf ora que se usav a na escola primária há 30 ou 40 anos sobre Monsanto, a aldeia mais portuguesa de Portugal, “não se sabe se as casas nascem das pedras ou se as pedras nascem das casas”. Em relação ao meu modelo de f uncionamento, que eu tento alargar a dezenas de pessoas que trabalham comigo, conf erencistas, ensaístas, especialistas disto e daquilo, também os artistas que às v ezes v ão para a esf era pública expor coisas muito dif íceis de apresentação das mesmas, eu tento conjugar as duas coisas. Quando v ou para reuniões

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com eles já pré-programadas a quatro ou cinco meses de distância, às v ezes até um ano ou ano e meio, nessa altura eu já tenho que ter um conjunto de condições pré-estabelecidas para que eles sintam algum conf orto e também já tenho que ter uma pré-garantia de que eles v ão ter direito a um catálogo. A v aidade da criação também tem que estar ali patenteada e também a garantia de que os canais estão abertos, sob pena de eu f alhar rotundamente. Eu tenho que f azer promessas, mas de coisas concretas que eu já tenho pré-estabelecidas com uma série de instituições e f elizmente que mais tarde ou mais cedo consigo ter tudo agregado. Com uma enorme ajuda da Junta de Freguesia dos Mártires, mas consigo sempre ter tudo agregado, bem cimentado. Depois, paulatinamente, com o andar dos meses, ou oscilo para o lado do promotor, ou oscilo para o lado do produtor. Para todos os ef eitos, eu como que criei um enclav e na programação em geral do “Chiado na Moda”, com a autonomia da produção artística na área da arte pública e também na ref lexão sobre a esf era pública. Esse enclav e permite-me alguma manobra. Nessa manobra, consentida nessa enseada aqui na Junta de Freguesia dos Mártires, que é a Freguesia que assiste à zona do Chiado, eu lá v ou desenv olv endo e criando uma rede cada v ez com mais coroas, cada v ez mais f orte, cada v ez mais densa e depois toda inf iltrada, até depois desmanchar o circo, quando acabam aqueles meses e meses de processo de trabalho. Isso na condição ora de promotor da ideia, porque todos os anos ela se renov a, ela se ref resca, regenera-se, assim como na condição de promotor das condições de possibilidade para que essa rede, f elizmente, se mantenha e perdure ano após ano. Já dura há quatro anos, é porque há a criação das condições. Não sei se a partir de uma experiência micro situada, que é a minha, consegui responder a alguma coisa. Como eu disse inicialmente, quem tem autoridade para f alar nessa matéria é a Dra. Gabriela Canav ilhas.

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Dra. Gabriela Canavilhas: Eu acho que a sua pergunta f oi a pergunta mais de enf oque político que hoje tiv emos aqui e é importante ref letirmos sobre ela. É isso que distingue de alguma maneira um pensamento mais à esquerda ou um pensamento mais à direita. Na v erdade, o discurso atual é de que o Estado não dev e ser produtor, dev e ser promotor e delegar na sociedade civ il a implementação das políticas culturais. Isto, no f undo, não é muito dif erente do que o Estado f az quando delega nos seus teatros nacionais, nos seus teatros municipais, nas suas instituições representativ as do poder, essa obrigação e essa missão de implementar as políticas culturais. Não é muito dif erente, mas é diferente no discurso. Hoje em dia e cada v ez mais, o simbolismo do discurso tem importância. Quando simbolicamente o Estado se retira da obrigação direta pelo menos no discurso, porque o ser promotor acaba indiretamente por f azer à mesma, mas enquanto que no seu discurso of icial se retiram, delegando essa produção para outrem, do meu ponto de v ista é um discurso perigoso da desresponsabilização do Estado. Dr. Miguel Tiago Gostav a apenas de ter oportunidade de responder a esta questão, porque realmente é importante. Eu não tenho dúv ida nenhuma que ao Estado competem, pelo menos na minha opinião, as duas v ertentes de intervenção, a garantia do apoio aos conteúdos e da compra dos conteúdos para disponibilizar à população, mas acima de tudo e eu julgo que esta perspetiv a, das duas taref as, é a única capaz de garantir a of erta cultural onde ela não pode chegar de outra f orma e simultaneamente a liberdade de criação, o apoio à produção. Não é nada que eu esteja a dizer da minha cabeça. A própria Constituição da República Portuguesa determina estas taref as para o Estado. Ao Estado incumbe a garantia de que chegam conteúdos culturais às populações e incumbe garantir que as populações têm capacidade para gerar os

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seus próprios bens culturais. Essa é a única v ia de garantir a liberdade criativ a. Como é que isso se f az? É não deixando nas mãos do mecenato cultural estritamente o apoio à cultura, é garantir que o Estado apoia indiscriminadamente apenas em f unção da v iabilidade dos projetos e da sua mais v alia cultural e não de qualquer outro tipo de critério, um pouco à semelhança do que é perspetiv ado pela Lei Portuguesa, atrav és de concursos transparentes, com júris, baseados em critérios objetiv os. Se depois f unciona sempre ou não, se há os meios ou não, é questionáv el e todos sabemos. Aliás, estamos a atrav essar um período negro nessa matéria. Esse edif ício legislativ o parece-me o adequado. O Estado dispõe de uma inf raestrutura cultural própria, em que processa uma of erta própria, com conteúdos que o Estado of erece, mas garante que jamais a of erta cultural f icará limitada ao que o Estado of erece ou ao que os priv ados of erecem no mercado. Caso contrário, v iv eríamos não numa democracia, mas em algo muito próximo de uma ditadura. Queria deixar uma última nota. Eu não sei s dados da Cidade de Lisboa, mas o desemprego juv enil no nosso País neste momento cif ra-se acima dos 20%. O desemprego juvenil entre raparigas cif ra-se acima dos 25%. Estamos a f alar de uma praga social com custos brutais para os jov ens portugueses e isto dev e-nos f azer ref letir sobre a destruição de emprego, sobre a destruição da qualidade de v ida dos jov ens, sobre a destruição dos rendimentos do trabalho. Nós podemos ter o discurso mais belo sobre a criativ idade, sobre a cultura, sobre os bens culturais e artísticos, mas se não forem garantidos às populações, nomeadamente às populações jovens, os meios materiais para a subsistência, para a produção e para a f ruição cultural, todo este discurso poderá não ter correspondência com a realidade, ou ter apenas correspondência com a realidade em determinados nichos da população.

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É um desaf io que f aço também aos Senhores Deputados Municipais, que ref litam sobre esta matéria, nomeadamente sobre este pacto em que o País se encontra, esta agressão e esta ocupação por f orças estrangeiras, que determina o empobrecimento diário e paulatino da esmagadora maioria da população portuguesa, para que a concentração da riqueza e da f ruição cultural se concentrem num punhado cada v ez mais reduzido de indiv íduos, que v ivem com um sorriso cada v ez maior à medida que os euros saem dos nossos bolsos para se concentrarem nos deles. É um desaf io que deixav a e que cabe a todos aqueles que lev am a cabo taref as públicas, neste caso diretamente eleitos pela população. Resgatarmos a soberania do nosso País e resgatarmos a capacidade de decidir em prol da juv entude e do rejuv enescimento das cidades, não apenas para garantir prédios bonitos nos centros urbanos e já comprados pela banca para poderem ser outra v ez dev olv idos ao mercado, para quem os possa pagar, mas para termos um rejuv enescimento ef etiv o das cidades, dos seus centros urbanos, dos seus bairros, consolidado e capaz de signif icar a elev ação e a melhoria da qualidade de v ida de todos os cidadãos. Neste caso de Lisboa, mas eu julgo que também podemos estender este apelo e esta preocupação a todos os jov ens e a todas as populações do nosso País. A Senhora Deputada Municipal Luisa Vicente Mendes, Presidente da Comissão Permanente de Educação, Cultura, Juv entude e Desporto: A Comissão quer só entregar umas certidões aos nossos oradores, porque é uma f orma de, para além das palav ras, nós agradecermos e f icarem também como recordação da participação e do enriquecimento que deram a este debate.

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2º Painel

“Rejuvenescimento da Cidade”

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SEGUNDO PAINEL “Identidade Cultural de Lisboa”

O Senhor Deputado Municipal Modesto Navarro: Boa tarde. Agradeço que tomem os v ossos lugares para darmos início ao colóquio promov ido pela Comissão de Cultura, Educação, Desporto e Juv entude da Assembleia Municipal. Queria saudar os participantes, os eleitos da Câmara Municipal, da Assembleia Municipal, das Juntas de Freguesia e Assembleias de Freguesia. Saudar as instituições presentes. Somos dois coordenadores desta sessão da tarde. A Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida irá apresentar a Mesa. Eu gostaria, em nome da Comissão e obv iamente da Assembleia Municipal, agradecer a participação dos oradores que estão na Mesa. Creio que tiv emos uma manhã muito estimulante, que nos deu pistas de trabalho para a nossa Comissão e para a própria Assembleia e com certeza que para a Câmara Municipal. Aguardemos que esta tarde corra também dentro do espírito de participação e interv enção. Iremos gerir os tempos em conf ormidade com as inscrições. Hav erá um tempo de interv enção inicial da Mesa. Nas pastas existem umas f ichas de inscrição para usarem da palav ra. Julgo que de manhã tiv emos cinco ou seis inscrições e esperemos que esta tarde tenhamos ainda mais participação, porque no f undo esta iniciativ a destina-se a ouv irmos a cidade, para realmente podermos dar resposta àquilo que são as linhas essenciais de desenv olv imento da v ida em Lisboa nas áreas da identidade, do rejuv enescimento, da cultura, em todas as áreas. Dou desde já a palav ra à Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida, que pertence à Comissão e que v ai apresentar a Mesa.

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Deputada Municipal Teresa Almeida: Boa tarde a todas e a todos e v ou começar, sem perder tempo, desde já a apresentar os oradores da tarde: Inês Pedrosa Penso que não precisa de apresentações, mas eu não v ou deixar de a apresentar. Escritora e atualmente diretora da Casa Fernando Pessoa José Manuel Amaral Lopes Atualmente perito nacional destacado na direção geral para a sociedade de inf ormação da Comissão Europeia. Foi Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, f oi Presidente do Conselho de Administração da EGEAC e f oi Secretário de Estado da Cultura, como também sabem, no gov erno do Dr. Durão Barroso. Manuel Gusmão Prof essor Catedrático, tradutor, ensaísta e crítico, foi também redator das rev istas “Letras e Artes” e “O Tempo e o Modo”. Margarida Bentes Penedo Arquiteta, já trabalhou na Div isão de Interv enção no Espaço Público na Câmara Municipal de Lisboa, executando projetos e obras de reabilitação. Pedro Soares Neves Tem uma f ormação académica multidisciplinar na área do design e da arquitetura. Atualmente desenv olv e ativ idade prof issional como designer na Ordem dos Arquitetos.

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Vereadora Catarina Vaz Pinto Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. como todos sabem.

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Dra. Inês Pedrosa: Muito boa tarde a todas e a todos. Queria começar por agradecer a iniciativ a e o conv ite para participar nela à Assembleia Municipal de Lisboa, na presença da sua Presidente, mulher sempre muito ativ a nestas coisas da cultura, e também da Presidente da Comissão de Cultura e Desporto e das outras áreas, mas enf im, o que aqui nos traz é a cultura essencialmente, a Dra. Luísa Vicente Mendes. Queria saudar a todos os presentes, naturalmente, a Sra. Vereadora da Cultura aqui presente nesta mesa e, se me permitem a particularidade, apraz-me muito v er aqui o ex Presidente da Junta de Santo Condestáv el, Campo de Ourique, onde se situa a casa Fernando Pessoa, Eng.º Graça Gonçalv es, bem como o atual Presidente da mesma Junta, Dr. Pedro Cegonho. Ambos têm tido, até porque o Dr. Pedro Cegonho já trabalhav a na equipa do Eng.º. Graça Gonçalv es, têm dado um apoio extraordinário à ação e à ativ idade quotidiana da Casa Fernando Pessoa e têm uma aprendizagem muito boa para quem lá trabalha, de como se pode partir do local para o global e v ice-v ersa e isso é um tema que irei abordar aqui. Fiquei grata por ter sido conv idada para a Mesa da Identidade e não do Rejuv enescimento. Já agora f aço esta pequena nota, porque hoje de manhã estiv e a ouv ir com muita atenção as interv enções e f iquei a pensar que de f uturo seria mais útil utilizar a palav rinha “rev italização”, que é mais inclusiv a, porque a mim particularmente parece-me que o problema de Lisboa ou de outras capitais, o problema cultural de f undo está muito nesta separação entre categorias etárias ou outras, além de que era útil que tiv éssemos consciência de que a sede pela juv entude eterna nos está a tornar um bocadinho aparv alhados em relação à juv entude. A juv entude é uma época de transição importante, sai-se da f amília, mas enfim, qual é a época da nossa v ida que não é de transição? Terão mais problemas os jov ens no seu acesso da casa pró-mundo do que os de meia idade que têm crianças a crescer e pais v elhos a começarem a ter problemas e que têm imensas dif iculdades e não são nem

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jov ens nem idosos consagrados? Que muitas v ezes têm dif iculdades económicas, sociais, culturais, de integração grav íssimas também. São ref lexões que eu gostaria de deixar, uma v ez que me pareceu esta manhã hav er uma preocupação que aliás não é da Camara Municipal de Lisboa, não é exclusiv a, atrav essa todos os setores, uma preocupação muito f orte com a juv entude. É bom que nos preocupemos com tudo, mas um endeusamento da juv entude. Pergunto-me se um dos problemas da juv entude essencialmente não é tudo ser posto em cima dos seus ombros, ser a grande deusa contemporânea e não ter pontos de ref erência e, portanto, não cuidarmos da memória. Por isso “rev italização” implica a memória, os mais v elhos, a aprendizagem que se traz do passado. Ontem à noite estiv e a ouv ir uma entrev ista com o Dr. Mário Soares e pensei muito na f alta que nos f az a memória, o saber de como é que as coisas aconteceram, como é que f oram, o que é que as pessoas f oram pensando, f azendo, agindo para melhorar o mundo. Talv ez dev êssemos ouv i-los mais, contar mais com eles talvez, não tivéssemos chegado à situação que chegámos hoje se nos tiv éssemos habituado a f azer isso. Eduardo Lourenço tem v indo a alertar-nos desde há muitas décadas para que o problema de Portugal não é de f alta de identidade mas de excesso dela, um excesso alimentado por uma história real e mítica de ascensão e decadência. Esse excesso tornou-se na modernidade um complexo de inf erioridade e sentimento de impotência. Fernando Pessoa pôs o dedo nestas f eridas de modo radicalmente prof undo e inov ador e por isso, como assinala Eduardo Lourenço e cito, f oi o desarrumador def initiv o do discurso cultural português.

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Mas o alcance da v isão do mundo de Pessoa ainda não encontrou eco na reorganização do pensamento e da ação em Portugal. Por alguma razão o impacto da obra Pessoana é muito maior noutros países que em Portugal, com destaque para o Brasil, esse país de Língua Portuguesa que passa agora para o palco principal da história. Pessoa sabia que o cultural não é uma dimensão estanque e decorativ a, antes decorre de instâncias sociais e económicas que por sua v ez resultam de escolhas f ilosóf icas e éticas essenciais. O Brasil conseguiu f azer da economia o motor do desenv olv imento cultural e social do país, numa empreitada coletiv a entusiasticamente democrática. Portugal continua a ter problemas subterrâneos com a democracia, mantém-se cultural e socialmente um país de castas. Com o f im da ditadura substituiu a injustiça of icial pela resignação of iciosa, a autoridade pelo paternalismo e uma culpabilização em v aga de preconceitos e def esas de classe. Como nação, interiormente, Portugal subestima-se e por isso tem tanta dif iculdade em se organizar e aliar esf orços para se af irmar. Ninguém tem dúv idas que a identidade cultural Portuguesa existe e é percebida como tal no exterior, sobretudo na literatura e depois na música, no cinema, na arquitetura. A identidade de Lisboa existe talv ez ainda com maior v isibilidade, mas ainda não é suf icientemente percetív el de um modo integrado e permanente. Portugal supera-se a si mesmo na exceção e desv aloriza sistematicamente a regra, o trabalho continuado de base que exige persistência, mas é esse que cria a mudança. É justo que se diga aqui que a of erta cultural de Lisboa tem crescido exponencialmente nos últimos anos e o esf orço para que essa mudança aconteça tem sido gigantesco. Mas para que esta alteração f enomenológica se torne ontológica é necessário insistir num trabalho continuado, muitas v ezes inv isív el, capaz de prov ocar uma mudança ef etiv a, mais do que nos hábitos culturais de superf ície, na perceção existencial das populações.

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A campanha de promoção do f ado, muitíssimo bem orquestrada, f oi mais uma das exceções em que o País revela temporariamente a sua excelência, campanha essa que na minha opinião pode e dev e ser agora potenciada de modo continuo e persistente, arrastando consigo a literatura, o cinema, a gastronomia de Portugal e outras áreas, ev identemente. Tal como Fernando Pessoa, hav endo v ontade política para isso poderá tornar-se mais do que um símbolo da Cidade de Lisboa, uma f igura magnética para criar uma torrente de turismo cultural na qual a cidade estranhamente, e ao contrário de que por exemplo f az Praga com Kaf ka, ainda não apostou a sério. Porque é que as cidades de maior explosão criativ a se encontram hoje na América? Nov a Iorque São Paulo ou Rio de Janeiro? Porque é que a Europa, à exceção de Berlim, unif icada, parece ter perdido o seu apelo de centro criativ o? Penso que é porque na cultura americana a nacionalidade, a cor da pele ou o estrato social de origem são muito menos importantes que na cultura europeia. A ideia de que cada um pode ser tudo aquilo de que f or capaz de sonhar é real, as discriminações e a v iolência existem mas podem ser ultrapassadas e são-no numa percentagem muito mais alta que no v elho continente, que criou a democracia. A família, o dinheiro, os grupos de inf luência de div ersa ordem, são ainda uma realidade castradora na Europa e em particular nos países do sul, onde os ef eitos combinados de uma cultura patriarcal f ortíssima e de uma burocracia bordada a ponto cruz por séculos e séculos produzem uma sociedade aristocrática, imobilista, elitista e autoprotetora, em recusa permanente de inov ação e av essa à competição leal e aberta. Como corrigir estas perv ersões socioculturais de f undo e f azer de Lisboa a cidade criativ a de ref erência internacional, que pelas suas qualidades únicas, clima, beleza monumentos, f orça histórica, marca literária, música, dev e ser? Em primeiro lugar atraindo as populações à participação na v ida da cidade.

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Temos comunidades de muitos países de Áf rica, da Europa, Ásia, América do Sul, que usamos como bandeira de cosmopolitismo mas que não convocamos verdadeiramente a não ser como público potencial. Uma política transcultural não pode ser f eita de cima e de f ora, contratando a massa critica reconhecida e mediatizada para criar ev entos ou exposições sobre essas comunidades, que por sua v ez são f eitas de indiv íduos. Há em Lisboa. e estav a a lembrar-me de um f ilme da Inês de Medeiros que retrata muito bem essa realidade dos jov ens nascidos nos subúrbios de Lisboa ou em Lisboa e que se dizem cabo-v erdianos ou angolanos, sem conhecerem esses países, porque aqui se sentem rejeitados enquanto lisboetas. Há toda uma geração de portugueses a que chamamos af ricana, porque é politicamente incorreto falar da cor da pele, e que se sente incorreta e concretamente discriminada porque nasceu nos subúrbios da cidade e nunca v iu Áf rica. Não serão sem abrigo mas são desterritorializados e parece-me que estarão cansados de se v erem celebrados em paredes de museu, f otografados ou f ilmados, ou analisados por artistas internacionais sem que v erdadeiramente alguém os v eja, oiça ou lhes dê uma oportunidade de dizerem alguma coisa. Poderiam aprov eitar-se v elhos barracões da linha do Tejo, ou o Pav ilhão de Portugal, enquanto não houv er dinheiro para o recuperar e para lhe dar o destino que escandalosamente lhe f alta desde há treze anos. Estou a olhar de nov o para a Simonetta Luz Af onso, que f oi um elemento essencial na construção daquele pav ilhão, que está abandonado desde o f im da Expo 98, mas poderia aprov eitar-se esse pavilhão para atelier de jov ens artistas ou de nov as indústrias culturais. Este gov erno municipal, entre os seus muitos méritos, tem o de ter aberto residências para projetos artísticos e ter aberto a rua às artes plásticas e musicais. Penso que podia criar-se num qualquer prédio desaprov eitado da cidade, ou na própria residência of icial do Presidente da Câmara em Monsanto que não está a ser utilizada, uma residência internacional para escritores, potenciando assim a

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atração de longa duração pela cidade. Os liv ros f icam e a cultura, conv ém não esquecer, é testemunho eterno. Lisboa tem o priv ilégio de ser uma das mais literárias cidades do mundo, uma cidade celebrada por Eça, Cesário Verde, Pessoa, José Saramago, José Cardoso Pires, para só citarmos alguns e portugueses, porque ela também f az parte de muitas outras obras de autores internacionais. É a cidade/país de Fernando Pessoa, um simples e ef icaz conjunto de placas bastaria para identif icar a Lisboa de Pessoa e criar na cidade um percurso Pessoano, que se tornaria uma f onte de receitas para a própria cidade. Lastimo dizer que há quatro anos me bato incessantemente por esta simples coisa, que é assinalar as marcas de Pessoa em Lisboa. Espero que esta ideia possa ser tornada real em brev e. Como Gabriela Canav ilhas sublinhou esta manhã, embora a of erta cultural tenha aumentado muito, o nosso problema é que a importação cultural é muito superior à exportação, como em todas as outras áreas económicas, e eu dou um exemplo: João Botelho realizou um f ilme inov ador, absolutamente deslumbrante em torno do liv ro do Desassossego de Pessoa e realizou-o com o apoio deste executiv o municipal. Este filme, estou convicta de que poderia ter tido uma div ulgação internacional f ortíssima a bem de Lisboa, porque é também e antes de tudo uma extraordinária declaração de amor a Lisboa, atrav és de um trabalho conjunto entre os gov ernos de Lisboa e do País. Se esse trabalho f osse possív el, o que não me parece. As escolas de artes poderiam ser chamadas a desenhar textos de Pessoa e de Cesário Verde, de Saramago e de outros autores no espaço público. Digo as escolas de arte porque seria com certeza mais v iáv el neste momento económico. Enf im, a autodesv alorização é um dos nossos mais mortais pecados, esse e a arrogância, já que só aparentemente, são opostos. Muito tem sido f eito mas muito mais poderia ser f eito

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se conseguíssemos de f acto desburocratizarmo-nos para conseguirmos ser mais úteis uns aos outros. A burocracia lev ou o Padre António Vieira a escrev er páginas sublimes de rev olta e impotência no século XVII, demasiadas dessas páginas continuam atuais, apesar do grande esf orço que António Costa tem v indo a empreender para as tornar datadas no que se ref ere à Câmara Municipal de Lisboa. Sugiro ainda que se disponibilize f ormação aos f uncionários municipais para f azer crescer os serv iços educativ os dos museus, à semelhança do que tem sido f eito nas bibliotecas, de modo a que possam agir de um modo permanente e ef icaz junto dos prof essores e das escolas, em particular as mais desf av orecidas. Os resultados deste trabalho, garanto-v os por experiencia própria porque a Casa Fernando Pessoa tem trabalhado com particular empenho nesta área, são extraordinariamente compensadores. É na inf ância e na juv entude que se cria o gosto pelas artes e que se estimula ou mata a coragem da imaginação. Reparem que não v os f alo de grandes inv estimentos ou projetos megalómanos, de mais f estejos nem de nov os museus, procuro não f alar de nada que of enda a sagrada troika nem que concorra com a f austosa dív ida da Madeira. Falo de uma v isão mais interativ a das potencialidades da cidade, de modo a que se possa contar com a energia e o ânimo dos cidadãos. Esta alteração, ao contrário do que querem f azer crer os prof etas da desgraça, não só é possív el apesar da crise, como é f undamental por causa da crise. Portugal, repito, é bom na exceção e péssimo na regra, excelente a acudir a mortos e a f eridos e a f azer f estas onde gasta o que tem e o que não tem e péssimo na prossecução de políticas continuadas. É isso que prof undamente precisamos de mudar. Há é pouca gente para dar por isso ainda, como diria Fernando Pessoa.

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Dr. José Manuel Amaral Lopes: Boa tarde. Começo por agradecer o conv ite e também por f elicitar a ideia à Comissão de Cultura da Assembleia Municipal, cumprimentar a Senhora Presidente da Assembleia Municipal, Simonetta Luz Af onso, e a Senhora Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e dizer que acho, perante a minha experiencia muito recente, esta ideia é uma ideia muito interessante, f alar de identidade num mundo em que todos nós caraterizamos e cada v ez mais exaustivamente como global, digital, economia do conhecimento, etc. Com tantas características parece quase descabido ou quase impróprio f alar de identidade, que está na raiz da div ersidade, daquilo que é dif erente, daquilo que nos distingue, daquilo que nos identif ica. Depois gostaria de v os dizer que a minha análise, ou a minha pobre participação, será baseada na minha mais recente experiência em relação à realidade local do Município de Lisboa e mesmo à situação do País. Embora não esteja alheado, não me sinto atualizado e tão competente como os meus colegas aqui de mesa para discutir, mas parece que, passe alguma v aidade, que essa abordagem prov eniente da minha recente experiência prof issional pode ser um contributo. Espero que seja v álido, até porque este tema é um tema que cada v ez mais tem merecido a atenção das grandes instituições, dos grandes decisores políticos à escala internacional. É v erdade que a nív el europeu essa realidade é já reconhecida há v árias décadas, pelo menos do ponto de v ista de estratégia politica, do ponto de v ista do discurso, do ponto de v ista das intenções. A Comissão Europeia, a União Europeia f oi para além de um f enómeno de coordenação económica, f oi também uma instituição de reconhecimento da div ersidade cultural. Está instituído desde a sua génese dos tratados que todos os estados têm que salv aguardar, preserv ar e promov er a div ersidade cultural, mas de boas intenções está o inf erno cheio e dev emos dizer com toda a clareza que estas políticas de promoção da div ersidade e de v alorização cultural começaram a ganhar alguma dimensão e

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algum peso graças a outros setores, nomeadamente ao setor económico. Recentemente, e quando f alamos na história é muito recentemente, são pouco mais de cinco anos, a dimensão cultural europeia v em ganhando peso e importância a nív el dos decisores políticos internacionais, mesmo do ponto de v ista económico e, apesar dos def eitos da burocracia e de algumas criticas que nós f azemos sempre, e porque não há uma instituição humana que seja perf eita, em relação à discussão europeia, à sua burocracia, à sua tecnocracia, há alguns elementos do seu f uncionamento que nos são muito úteis para quem com alguma preocupação e procurando aprof undar conhecimentos nesta matéria precisa com honestidade de as analisar. A Comissão Europeia, como sabem, no domínio cultural não tem competências próprias, não tem capacidades de decisão autónomas de iniciativ a própria, continua a ser salvaguardado o setor da cultura como algo que pertence ao poder dos estados membros. No entanto, apesar disso, a União Europeia tem v indo desde 2006 a dar passos decisiv os na adoção de políticas concretas e medidas que preconizem resultados concretos, como de outra qualquer medida se tratasse. Para que pudesse tomar esse tipo de decisões, percebendo-se que este tipo de instituições tem que gerir com realidades muito distintas, com f ormas da organização até política muito distintas, que são v inte e sete estados membros que desde a sua própria organização até ao seu próprio modo de f uncionamento e decisão são completamente div ersos e distintos. Basta ref erir que a maioria dos estados membros reserv a um papel muito mais importante que em Portugal às autoridades locais e regionais nos domínios da cultura. Em Portugal e por outras razões, muitas delas tradicionais, até de algum preconceito, diga-se em abono da v erdade, o papel das autarquias v em sendo reconhecido por mérito próprio e não por reconhecimento legal ou institucional prév io e, portanto, poderemos aprender alguma coisa, estamos sempre a aprender.

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Eles também não nos ensinam tudo, também podem aprender connosco com certeza e é nesta troca e nesta partilha que nós nos podemos sentir conf ortáv eis neste espaço que partilhamos e que nos identif icamos, a Europa. Nesse sentido, eu acho que a União Europeia pode-nos ajudar porque como é um domínio muito reconhecido, como próprio das identidades nacionais e acima de tudo das comunidades locais, cada v ez que pretende debruçar-se a aprof undar estas matérias a Comissão Europeia deita mão, por assim dizer, a um conjunto de especialistas, eles não têm grandes preconceitos em chamar-lhes sábios, ou a grandes e reconhecidos cientistas nas univ ersidades, no meio académico, nas empresas e v ai deitando mão a estudos sérios. Com certeza não serão completos, não serão a última palav ra nestas matérias, mas estudos muito sérios que nos ajudam pelo menos a identif icar os problemas, a reconhecer a div ersidade e a apontar soluções que são v istas como adequadas e, naturalmente, adaptadas a realidade local, a todos os estados membros. Esta metodologia que a União Europeia tem seguido encontra correspondência com outras grandes univ ersidades e com outros grandes centros de pensamento e criação de dinâmicas empresariais no mundo, nomeadamente nos Estados Unidos, na Austrália, na China e outros países do Médio Oriente. Têm v indo a abordar o setor cultural cada v ez com maior preocupação em termos de como setor f undamenta, essencial não só pela sua própria natureza. Os bens culturais são insubstituív eis, são bens que emanam e sustentam toda a criação humana, muitas vezes anteriores ou quase sempre anteriores a todas as outras ativ idades do homem, mas v em cada v ez mais reconhecendo o peso e a importância económica e para o desenv olv imento das comunidades deste setor. Até à Estratégia de Lisboa temos, que reconhecer que a Estratégia de Lisboa no ano dois mil já deu um passo importante para mudar esta maneira, esta f orma de analisar e encarar o setor da cultura do ponto de v ista das políticas europeias e nacionais, mas mais recentemente, a partir de dois mil e cinco, os estudos que eu queria ref erir v êm demonstrar com alguma clareza a importância e surpreender

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muita gente da importância económica de um setor que até certa altura era v isto como muito importante e insubstituív el, mas principalmente como utilizador de recursos e não gerador de recursos económicos. Ora, estes estudos recentes vêm precisamente demonstrar o contrário e v êm, digamos assim, cobertos, revestidos de uma f orça surpreendente porque f oram f eitos não pelos agentes culturais, não pelas pessoas que se podiam julgar ser juízes em causa própria, ou analisar o setor na sua própria perspetiv a, na def esa dos seus interesses legítimos com certeza mas muito particulares, mas f oi f eito pelas melhores ou mais prestigiadas e reconhecidas univ ersidades de economistas do mundo. Portanto, passou a ter uma v isão mais reconhecida pelos outros setores políticos como sector essencial e f undamental para o desenv olv imento das comunidades e para o desenv olv imento e crescimento económico da Europa e cada v ez mais conhecido como a solução, a saída para a crise e para o desenv olv imento económico da Europa, com certeza agregado a outros grandes conceitos como a criativ idade e a inov ação. Há inclusive um estudo que se chama “o impacto da cultura na criativ idade”, que reconhece que é o setor que mais contribui, que mais inf luencia o crescimento económico, o setor que mais dinâmico é e mais estimulante é para as chamadas dinâmicas de inov ação e competitiv idade atrav és da criativ idade. O primeiro estudo em relação ao qual eu gostaria de me ref erir f oi o que marcou decisiv amente uma v iragem na maneira como os políticos europeus, os mais importantes, desde os primeiros-ministros aos ministros da economia, começaram a olhar para o setor da cultura, f oi um estudo realizado ou pelo menos publicado em dois mil e seis pela Comissão Europeia, que demonstra que o setor cultural na Europa inteira, e depois dev o aqui f azer um parêntesis em Portugal, f oi conf irmado num estudo do Prof essor Augusto Mateus, que v em conf irmar ou quase reiterar os dados em relação ao peso económico da cultura em Portugal, estabelecendo muitas semelhanças com o que se passa na Europa.

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Só porque eu não sou economista e os números são muitas v ezes dif íceis de decorar, embora saiba que são f undamentais, porque apesar de tudo as políticas mesmo na cultura são f ormas de decisão para af etação de recursos, para def inição de estratégias, para aplicação de medidas. Os recursos são sempre essenciais, quer gostemos quer não da ideia e, portanto, é importante muitas vezes citar os números. Este estudo não só surpreendeu muita gente porque de f ato o v olume de negócios do setor cultural, e dev o aqui em nome da honestidade dizer que o setor cultural analisado é um setor cultural muito interligado a outros setores, não é um setor cultural tradicional em f alamos das artes, da música, da dança, do património, mas inclui já os setores criativ os e aí inclui alguns consoante a classif icação. Isto suscita algumas críticas de alguns autores, inclui o cinema, a arquitetura, o design, até o sof tware inf ormático, porque estabelece pontes e v erif ica e analisa as ligações que há entre os setores e na sua concorrência para o crescimento económico. Nesse sentido, além dos seiscentos e cinquenta e quatro mil duzentos e oitenta milhões de euros obtidos como resultado deste setor analisado por este estudo em dois mil e três, em relação à comparação com outros setores económicos é que a surpresa f oi maior. O setor dito cultural contribuiu para o PIB da União Europeia na última década em 2,6% do PIB. Se nós compararmos esta participação de 2,6% do PIB com os outros setores económicos considerados importantíssimos, enormes, gigantescos, v erif icamos o seguinte: setor cultural 2,6% do PIB; ativ idades imobiliárias e todo o setor, desde a construção à v enda, 2,1% do PIB, menor; alimento, bebidas e tabaco, 1,9% do PIB, muito menor ainda; indústria têxtil, 0,5% do PIB, menos dois terços; químicos, borracha e plásticos, pensav a eu que era um setor charneira da economia europeia, 2,3% do PIB. Ou seja, em comparação com todos os setores ditos dinâmicos, f ortes, da União Europeia, o setor cultural representa uma maior contribuição. Mesmo, e repito porque isto f oi uma surpresa, químicos, borracha e plásticos. Além disso, entre nov enta e nov e e dois mil e três, a comparação entre o crescimento económico no seu todo e

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esse crescimento quando analisado só na perspetiv a cultural é também surpreendente, para benef ício do setor cultural. Isto é, entre nov enta e nov e e dois mil e três o crescimento nominal da economia no seu todo da Europa f oi de cerca de 17,5%, o crescimento do setor cultural em termos de participação económica f oi de 19,7%. Apesar de tudo, fossem quais f ossem as análises, f ossem quais f ossem as perspetiv as levadas a efeito pelos diferentes especialistas que entraram nestes estudos, todos os indicadores revelavam que o setor cultural era dos setores mais dinâmicos e aquele que mais contribuía para o crescimento económico da Europa. Posteriormente outros estudos f oram f eitos, porque este estudo só por si não garantia e não pretendia ser a última palav ra, que era importante perceber como na micro economia, mesmo traduzindo da macro economia para a aplicação concreta no terreno, para a v ida das pessoas como é que o setor f uncionava, e sai outro estudo já em dois mil e dez que é f eito já numa perspetiv a de análise empresarial das políticas culturais a nível das empresas. São feitos estudos a nív el de dezenas de empresas Europeias, muitas delas insuspeitas f ace à sua capacidade de crescimento, à sua capacidade de interv enção no mercado mundial. Estamos a f alar da Philipps, da Nike, da L´oreal, da Peugeot, hospitais. Analisaram v ários domínios da ativ idade do homem empresarial, até hospitais em França f oram analisados e também esses estudos demonstraram que a mudança do paradigma da gestão das empresas, quando começaram a incorporar nos próprios órgão internos da administração, leia-se os diretores gerais das empresas, os presidentes dos conselhos da administração, quando começaram a incorporar setores que até então eram setores importantes mas estavam dissociados, estavam distantes do grande centro de decisão, nomeadamente o design, nomeadamente outros setores de criativ idade das empresas, o resultado prático em dois anos f oi surpreendente. Essas empresas que introduziram internamente, na sua própria cultura empresarial esse elemento, que elev aram o patamar desses setores, que sempre existiram nas empresas com certeza, mas quando lhes deram outra capacidade de interv enção os seus resultados f oram muito positiv os.

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Só v ou ref erir então o outro estudo que interessa mais para este contexto local, o último estudo deste ano ou do ano passado f az uma análise exaustiv a da aplicação dos f undos europeus estruturais em projetos locais, incluindo Portugal. Obv iamente inclui todos os projetos que têm uma cobertura europeia e analisa os resultados e analisa de f ato a capacidade que o setor tem para criar crescimento económico, sustentado e desenv olv er as ativ idades e promov er a melhoria de v ida das comunidades. Nesse sentido, o exemplo de Portugal para além da Grécia, não se f alav a ainda em crise porque eram os únicos países que tinham conseguido estabelecer um programa de cultura abrangente, setorial, todos os outros o f inanciamento v em de div ersos f undos estruturais, Portugal tinha no tempo do Ministro Carrilho f eito um programa, global que integrav a todo o setor como programa cultura, mas depois, posteriormente a isso, as mais recentes aplicações de determinados programas da União Europeia também demonstram que quando aplicados a determinadas ativ idades culturais para o desenv olv imento de comunidades locais, os resultados são muito mais positiv os do que noutros setores ditos pesados. Portanto, tudo isto para dizer que ao contrário do que em Portugal ainda se v ai pensando, que a cultura é um setor importante mas não é reconhecido como um setor f undamental para o crescimento económico, os estudos europeus, os documentos of iciais, leia-se a última agenda digital, a estratégia Europa 20/20, ou agora o nov o programa de apoio à inv estigação e inov ação, à portuguesa horizonte 20/20. Verif icaremos sem qualquer margem para dúvida, quer dizer, não há aqui uma v erdade absoluta, mas estas dúv idas que surgem em relação ao setor da cultura também são legítimas que surjam em relação a outros setores, os da agricultura, indústria nav al, etc. Portanto, com uma mesma perspetiv a, aliás, às v ezes analisado pelas mesmas pessoas, pelos mesmos economistas, todos v êm reconhecendo que este setor pode ser considerado f ace ao mundo em que v iv emos um setor f undamental para o crescimento económico, porque ele é aquele e todos os estudos repetem de uma f orma para que não hajam dúv idas que é um dos setores que mais

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promov e a inov ação, que mais promov e a criativ idade, mas todos eles salv aguardam um aspeto essencial: apesar desta leitura económica, alguns dirão economicista, é f undamental, todos esses estudos demonstram isso, que haja como húmus uma ativ idade cultural f orte, diversificada e um cada v ez maior acesso dos cidadãos à cultura e à f ruição artística e por isso todos eles v êm reconhecendo o papel das comunidades e por isso neste caso os municípios, no caso português, para desenv olv er este setor.

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Prof. Manuel Gusmão: Boa tarde a todos. Queria agradecer o conv ite que me f oi dirigido para f alar, nomeadamente na pessoa da Dra. Simonetta Luz Af onso, a quem agradeço, e gostaria então de começar por propor um pouco inf ormalmente, embora uma def inição de cultura, sobretudo para sabermos um pouco do que estamos a f alar quando f alamos de cultura. Ou por outra, aquilo que eu quero dizer quando f alo de cultura. Então eu diria que a cultura é o que nós chamamos a um conjunto aberto de ativ idades, de práticas, de meios e instrumentos, de artef actos, de apresentações, imagens atrav és das quais os nossos sentidos se v ão f ormando e atrav és dos quais nós v amos dando sentido aos outros, ao mundo e à v ida que v iv emos. É ev idente que eu, quando ponho esta def inição algo inf ormal, como eu disse, é sobretudo para controlar o que é que nós não f azemos quando não temos uma def inição com um horizonte de v isão antropológica como esta. Portanto, def endo que nós dev emos trabalhar sempre com uma def inição de cultura de características antropológicas, ou com o campo de aplicação antropológico, mesmo que não tenhamos os meios no sitio onde estamos a trabalhar para atuar em relação a essa realidade multif acética. Naquilo que eu disse é ev idente o campo destruturado de f ormas, ou de planos, a complexidade do mundo da cultura e nós podemos não ter que atender a todos quando estamos a decidir um projeto ou uma questão. Segundo aspeto, nos últimos anos e estes últimos anos já não são tão poucos assim porque de certo modo podemos datar da modernidade estética, ou do princípio da modernidade estética, na segunda metade do século XIX em França, que a cultura é premiada, atrav essada ou mediada pela economia. Entretanto isso gerou inclusiv amente no tratamento dessa modernidade estética posições de um f ilosof o Alemão como Theodor Adorno, que considerou a partir daquilo que v ia e que considerav a que o modernismo, por exemplo, teria sido estancado. Modernismo ele designava um período da arte ocidental europeia sobretudo que se processa no primeiro quartel do século XX, enquanto a

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modernidade estética poderia v ir para Walter Benjamim e para outros até mil oitocentos e setenta/mil oitocentos e oitenta, até Baudelair no f undo, mil oitocentos e cinquenta e seis. Ele dizia que o modernismo era ameaçado por v alores da economia que av assalav am e que ameaçav am a especif icidade da produção estética, coisa que outros f ilósof os contestaram, mas sempre f icou um resíduo e é o seguinte: enquanto nós não def inirmos a cultura e a arte de acordo com o seu perf il característico e que se tem mantido com explicações f ilosóf icas dif erentes, embora ao longo da história do mundo ocidental, se nós não v imos a arte designadamente como um v alor sem preço, como hoje dizia de manhã a Dra. Gabriela Canav ilhas, nós não resolv emos problema nenhum. Vou tentar andar um pouco para a f rente, para v os dizer que tendo em conta isto há v arias dilemas que nos são propostos e para mim são f alsos dilemas. Por exemplo, o Estado não se dev e meter nisso da arte, quando muito dev e promov er que os agentes culturais tomem iniciativ a de proceder a ev entos ou à produção de ev entos culturais. Como disse a Dra. Gabriela Canav ilhas, ela dizia que aqui se contrabatia uma polarização de direita e esquerda, em que a direita dizia que se o Estado se mete a produzir ele próprio ações culturais, com isso ele está se a imiscuir, está a interv ir, está a controlar, está a pesar na economia e está a saciar liberdade. Por outro lado pode-se argumentar se ele não o f izer, o que está a acontecer é que ele está se a desresponsabilizar de f unções que lhe f oram cometidas pelos cidadãos no momento em que aprov a leis, ou no momento, caso português, em que aprov aram a Constituição da República. Terceira zona de problemas, outro dilema, o dilema da def esa do património e o apoio à criação contemporânea. Vocês encontrarão muitas pessoas em Portugal que def endem este dilema, não se dev e apoiar a criação contemporânea. Por exemplo temos os jogos e as relações de f orça entre artistas, dev emos apenas cuidar do património. Não f az sentido tal dilema porquê? Porque o património só se estuda, só se

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reconhece, só se descobre e só se desenv olv e graças ao ensino e à inv estigação e à criação contemporânea. Portanto, se não houv er univ ersidades ou institutos do Estado ou priv adas, onde se ensine a história da arte, onde se ensine as técnicas de património, etc., não há desenv olv imento do património e como é que se pode f alar de desenv olvimento de uma coisa que está morta? O Património está v ivo na criação contemporânea justamente, na maneira como a criação contemporânea rev ê o património do passado e lhe dá nov o sentido. Outro dilema, a democratização reduzir-se-á a uma massif icação? Eu penso que não, mas aqui admito que a questão é mais delicada. A massif icação é a democratização do acesso à f ruição, mas nesse sentido ela está muito perto da massif icação, massif icação signif ica o aumento do conhecimento por parte da população. A ideia de democratização, de f ruição da arte, é uma ideia de direito univ ersal mas que não resolv e todos os problemas que se podem pôr. Qual é o problema que sobra? É o problema da participação dos cidadãos que usuf ruíram a obra de arte na própria criação e dirão que é um utopismo típico do século XIX, mas de f ato há uma promessa da criação artística e por isso há um problema sem preço, uma promessa que todo o cidadão que é capaz de compreender uma obra de arte será idealmente capaz de a produzir ele próprio. Isto na literatura v ê-se com grande f acilidade, por exemplo v ê se quem é capaz de ler um texto e o lê v erdadeiramente, é capaz de mais tarde produzir um texto, ou pelo menos mais rapidamente o produz como leitor. Portanto, a democratização não é apenas democratização de f ruição artística, mas dev e tender para o limite que é o limite antropológico para a democratização do acesso à produção artística. Os estudos que f oram f eitos desde dois mil e cinco, e o estudo do Prof . Augusto Mateus f oi já citado hoje de manhã pela Dra. Gabriela Canav ilhas, é um discurso que inclui no setor da cultura e aproxima-se disso, que inclui no setor da cultura, aquele que cresce em orçamento, em capacidade já

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de receitas e os jogos de computador O sof tware dos computadores de inf ormática em geral inclui os v ídeos, os cds, tudo isso e há disso mesmo a contraf ação. A ideia é generosa, nós agradecemos, que é a ideia de dizerem àqueles malandros mais (impercetív el) dos economistas “olhem que a cultura até dá dinheiro e então v amos lá apoiar a cultura, enquanto nós f uncionarmos assim não apoiaremos a cultura”. Não f oi preciso apoiar com esse argumento a cultura para países como os países nórdicos, ou a Alemanha, ou a Suíça, ou a França, ou a Inglaterra terem um nív el de educação musical que nós nem sonhamos, por exemplo, e estão por gastar dinheiro se dissermos assim. Por outro lado, a questão da identidade cultural. A cultura prega-nos v árias partidas porque é um domínio tão rico e tão cheio de mediações que torna dif ícil a sua perceção. Quanto à identidade cultural, pode-se dizer mas porquê essa obsessão com a cultura e a identidade em Portugal. Quando Eduardo Neto diz, ele está a f alar de um país que saiu de não sei quantos anos de guerra colonial, umas décadas, e de séculos de opressão colonial e de repente f ica um retângulo europeu sem saber o que f azer, ou para onde se v irar. Essa dif iculdade na identidade cultural é real e responde a problemas reais. Nós também podemos dizer que a identidade cultural portuguesa não está em causa e é muito clara, ela é multicultural. A cultura de Lisboa é uma identidade multicultural, multiaberta, multifacética, são v ários os gostos que v iv em nesta cidade e têm vivido desde o século XVI., não é de agora. Agora há aquelas f amílias todas que povoam zonas intensas de Lisboa, que são asiáticas, de acordo, mas antes, e temos testemunhos de literatura disso, hav ia cá outro também. É preciso assumir isso se queremos encontrar para a trabalhar, não para a destruir nem para escamotear, a identidade cultural de Lisboa. É ev idente que para trabalharmos em cultura num órgão que tem uma base territorial que tem uma autarquia como Lisboa, podemos e dev emos ter em conta os enlaces v ários dos setores da política do município e dos seus ef eitos culturais. Nesse sentido, por exemplo planear a cidade com o

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urbanismo seja ao mesmo tempo democrático, participado e transparente, garantir o desenv olv imento de reabilitação urbana do edif icado, o património edif icado, assegurando a manutenção de características dos bairros e ao mesmo tempo a criativ idade dos arquitetos que v ão desenhar, def inir políticas habitacionais, tudo isso implica e tem necessariamente consequências culturais. Como eu def ini, aquela def inição um pouco tosca e informe, estava a dar-v os a ideia de que a cultura pensada instintivamente em v alores, ideias e imagens de representações é produzida por determinados processos materiais. Por outro lado dev e env olv er os agentes culturais e isso é decisiv o, quer os artistas, quer de modo geral os agentes culturais.

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Arqtª. Margarida Bentes Penedo: Boa tarde, eu começo por agradecer também o conv ite e antecipadamente pedir desculpa porque estiv e a semana passada sem v oz absolutamente nenhuma e, portanto, é possív el que isto hoje também f alhe um bocadinho. As cidades são uma das primeiras expressões da identidade cultural e os centros históricos das cidades portuguesas têm v indo a morrer. Os sucessivos governos, tanto centrais como locais, não conseguiram resistir a duas tentações. A primeira f oi da promiscuidade com os grandes promotores imobiliários, a segunda f oi a tentação de deixar obra. Uma e outra conduziram ao desv io de massa construída para os subúrbios das cidades, onde hav ia espaço, não só hav ia espaço como este era relativ amente barato, comprav am-se terrenos agrícolas, f aziam-se uns truques com os Planos Diretores Municipais, alterav am-se as manchas de ocupação, convertia-se aquilo em zona urbana, subiam-se os índices permitidos de ocupação, de impermeabilização, por aí f ora, estav a encomendado mais um conjunto de f ogos. Eu não v ou f alar do mal que isso f ez à economia, que f oi muito, mas v ou f alar do mal que isso f ez aos centros históricos das cidades, que não f oi menos. O objetiv o de f azer política social de habitação à custa da banca arruinou o que sobrav a do mercado de arrendamento durante muito tempo. Em lugar de resolv er o problema eleitoralmente sensív el da legislação sobre as rendas, o Estado entendeu-se com a banca para of erecer toda a espécie de v antagens à concessão de crédito com juros muito baixos, com sobreav aliação de imóveis e com a ausência de cálculo dos riscos de incumprimento. Com isto o Estado conv enceu-se que não existia um problema de habitação em Portugal e conv enceu os cidadãos que era possível e normal que as f amílias fossem proprietárias das casas onde v iv iam, às v ezes até das casas de f érias. Levou à aquisição de casa própria a nív eis delirantes, hoje muita gente não consegue pagar as prestações e olhamos para um país repleto de trambolhos dev olutos.

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Enquanto isso acontecia os centros históricos f icaram quase exclusiv amente entregues à iniciativ a de particulares e aí o Estado atuou de outra maneira. Criou gabinetes técnicos, muitas v ezes as empresas municipais, as f amosas sociedades de reabilitação urbana, destinados à def esa de zonas sensív eis, mas pergunto defesa contra quê? Ou contra quem? Inv entou toda a espécie de entrav es ao licenciamento urbanístico, acrescentou a complexidade de regulamentação, a morosidade das respostas, os valores absurdos das taxas e impostos e o último recurso dos incompetentes, que é meter o nariz em tudo e colocar as decisões ao nív el do gosto. É aquela conv ersa que qualquer arquiteto conhece “arquiteto porque é que não f azemos antes estas trapeiras em bico? Ou porque é que não rev estimos antes com não sei quê? Ficav a melhor com a traça antiga …”. Este gosto f oi debatido por um lado da mesa por arquitetos municipais que nunca exerceram a prof issão e do outro lado por artistas saídos em tabuleiros das dezenas de f aculdades de arquitetura, que com a escassez de trabalho e def iciência de f ormação estav am desejosos de deixar marca. Assim nasceram uma série de híbridos negociados de f orma a garantir que o resultado f inal era caríssimo, ia contra a v ontade de todos e tinha o parecer f av oráv el das entidades competentes. Quem se meteu nisto uma v ez raramente repetiu. Na impossibilidade de rentabilizar o seu património, muitas v ezes env olv ido em processos complicados de natureza cadastral, as pessoas foram desistindo e o interesse público que o Estado dev ia def ender transf ormou-se em desinteresse generalizado. Importa que o Estado comece a reabilitar os seus imóv eis dev olutos. Em Lisboa, por exemplo, o Estado é o maior proprietário e para se dar ao respeito tem que reabilitar esses imóv eis no mais absoluto cumprimento da legislação que obriga os particulares a cumprir. Importa que o estado cumpra também os prazos legalmente estipulados para dar resposta a pedidos de licenciamento, que torne claros, públicos e razoáv eis os v alores que cobra pelas operações urbanísticas, que ref orme a legislação que regula a reabilitação de edif ícios, designadamente a das acessibilidades e do

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comportamento térmico, de modo a garantir que a mesma seja inteligív el, aplicáv el e sensata. O regulamento das características do comportamento térmico dos edif ícios, o RCCTE, é um dos mais exigentes da Europa, se não f or o mais exigente. O que é curioso num país com amplitudes térmicas relativamente reduzidas, porque estamos no sul e porque estamos ao pé do mar, e com uma construção tipicamente pesada em termos de inércia térmica. A inércia térmica de um edif ício é a capacidade de resistência a v ariações térmicas no seu interior prov ocadas por alterações térmicas no exterior, mede-se pelo peso mas o ref erido regulamento não permite sequer considerar o v alor real da inércia térmica dos elementos construtiv os. Estabelece v alores máximos de 150kg/m2 ou de 300kg/m2, consoante os elementos estejam ou não em contato com o exterior. A exigência deste regulamento obriga a cálculos complicadíssimos para as situações de inv erno e, da última v ez que me inf ormei, as doze entidades conhecidas que o consertaram e o elaboraram, porque ainda são ref eridas no parágraf o introdutório da legislação as associações representativ as do setor, cuja identidade não é rev elada, preparav am-se para aplicar o mesmo detalhe aos cálculos das situações de v erão. Independentemente da complexidade dos cálculos e das soluções construtivas que este regulamento exige, poder-se-ia pensar que os resultados eram bons, mas não são. A maior parte das v ezes o seu cumprimento resulta num gasto incomportáv el em consumos energéticos mensais. Com o regulamento das acessibilidades acontece a mesma coisa, as exigências são de tal ordem abrangentes que para conseguir cumprilo os promotores v êem-se obrigados a f azer obras caríssimas em locais muitas vezes incompatíveis com a própria morf ologia dos edif ícios, o que os torna absurdos, quando não os torna inabitáv eis. Seria bom que o Estado v alidasse as opções conjuntas dos proprietários e dos técnicos responsáv eis pelos projetos e

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pelas obras, retirando as trapalhadas do caminho e permitindo aos cidadãos criar e habitar as suas cidades de acordo com a sua identidade cultural. De outra f orma não chegaremos sequer a conhecê-la. Importa por isso que o Estado desista da ideia de se def ender dos cidadãos. O bom senso dos cidadãos tem-se mostrado em muitas situações infinitamente superior ao das entidades supostamente criadas para lhes dizer como dev em habitar, limitandolhes as opções em nome de uma escolha mais correta. É preciso arriscar e absorv er algumas escolhas erradas, não é nenhum drama nem é irrev ersív el, o drama é deixar morrer. As cidades mais interessantes, mais conf ortáv eis e mais civ ilizadas ev oluíram sempre de f orma orgânica, mais apoiadas na manutenção do que na construção. Responderam às necessidades de cada geração sem impedirem que as gerações seguintes pudessem responder às suas, isto def ine uma cultura.

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Arqtº. Pedro Soares Neves: Boa tarde. Antes de mais quero agradecer o conv ite seja a Senhora Luísa Mendes, a Senhora Presidente da Assembleia Municipal, Simonetta Af onso, a Senhora Vereadora Catarina Pinto porque acompanhou o processo que eu irei mais ou menos descrev er atrav és da Direção da Cultura, na pessoa de Francisco Mota Veiga, entre outros f uncionários também env olv idos naquilo que aqui v enho um pouco explicar, que é a arte urbana. Esse chav ão que se tem v indo a f alar tem f eito algum f uror, digamos assim. Eu v ou tentar div idir a minha prestação em três f ases: uma contextualização, uma descrição do presente e uma proposta para o f uturo. Tentarei ser cumpridor, apesar de não ter um texto para ler corrido. Antes de mais acho que é importante esclarecer uma questão, de qual é o meu papel nesta situação. Eu f ui responsáv el já nos anos nov enta por algumas interv enções do género graf f iti, f ui um dos iniciadores desse tipo de expressões numa v ertente muito altruísta. A minha ideia era contribuir e não v andalizar. Outros hav ia, do grupo de cinco ou seis miúdos que começaram a f azê-lo nos anos nov enta, que não tinham essa perspetiv a e eu a partir daí continuei o meu caminho e deixei de pintar perto dos anos dois mil. De qualquer f orma mantive-me sempre bastante atualizado sobre o desenv olvimento relativo a esta área, digamos assim, quer em termos teóricos quer em termos práticos, alimentando-me dos conhecimentos que existiam na academia e na sociedade em geral. Em Lisboa particularmente, o meu abordar desta questão aconteceu no Bairro Alto, a propósito de um conjunto muito intenso de tensões que existiam entre a utilização do Bairro Alto pelos seus habitantes, em grande maioria env elhecidos, e a v ida noturna que já se alongav a de exceção em exceção desde Lisboa Capital da Cultura até à EXPO, depois o Campeonato Europeu de Futebol. O horário dos bares era estendido sucessiv amente ao longo de anos e anos e f oi necessário ef etiv amente f azer uma reabilitação daquele espaço, estav a na cara, era notório e na altura eu tiv e uma

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iniciativ a digamos civ il de reunir as pessoas que eu achav a que estav am mais ligadas àquele f enómeno, para discutir durante um f im de semana. No caso f oi na galeria Zé dos Bois, qual seria o f uturo das paredes do Bairro Alto, porque sentia-se que algo teria de mudar. Nessa altura percebeu-se que já existia um plano a decorrer pelo lado da Câmara Municipal de reabilitação do Bairro Alto e o que nós conseguimos nesse debate f oi conseguir transmitir que para combater este f enómeno essencialmente tem que se af etar a f onte do problema e não jogar para cima do problema, neste caso tinta branca. Que isso não iria resolv er o problema porque ia estar sucessivamente a gastar-se dinheiro e recursos na introdução de tinta branca para pintar locais que estav am constantemente a ser pintados. Portanto, urgia um inv estimento de recursos no diálogo, em tentar entender do que se trata este f enómeno, num conjunto de posturas que não são propriamente só de def esa do património e de v igilância e de repressão. Esse desaf io f oi aceite em dois mil e oito e daí desenv olv eram-se uma série de ativ idades que inicialmente estav am a ser desenv olv idas atrav és da v ereação do urbanismo, que era quem tinha a responsabilidade da reabilitação urbana do Bairro Alto. Passado um certo momento transitou para a cultura e f ui eu que acompanhei essa ponte, f ui eu que f iz um bocado a introdução do tema, apesar de atualmente já me sentir e estar completamente af astado dessa questão. Há uma questão aqui importante, que é o Estado presente. O que aconteceu desde dois mil até esta parte f oi um caminhar a passos largos ao encontro do que acontece em muitas cidades europeias, que é o abraçar de um conjunto de ativ idades que se designam arte urbana ou street arte ou mesmo graf f iti, mas que são aceites e são elas próprias estimuladas pelas instituições. São desenvolvidas ativ idades de pintura de grandes f achadas e não só. Este tipo de ativ idades é importante porque de certa f orma rev italizam-se esteticamente locais que estão deprimidos esteticamente da cidade, com o contributo de pessoas que simplesmente querem um espaço para agir. É-lhes cedido esse espaço e

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algumas tintas e elas f azem-no, sem honorários, sem qualquer tipo de transação desse género, é uma entrega dessas pessoas com a sua arte, a sua intenção, mas existe sempre um lado mais complexo da questão, que é o lado glamoroso e de env olv imento de um conjunto de entidades comerciais que têm interesses por detrás desta dinâmica. Nomeadamente v enda de marcas de roupa desportiva, ou as próprias marcas de v enda de latas de spray . Ou seja, estamos a assistir a um f enómeno que era sub-cultural e que neste momento é de cultura de massas, apesar de prov av elmente para esta plateia continuar a ter aquele glamour de ser sub-cultural, mas na realidade é uma indústria e é algo que mov e bastantes recursos e f orças. Face a esta questão e f ace à tentação da Câmara Municipal se enredar pelo glamour destas ativ idades, principalmente na pintura de grandes empenas com autores sobejamente reconhecidos, que trazem os seus benef ícios que estão claramente patentes numas f olhas que anexei e que estão nos v ossos dossiês, que dão prov a que os jornais internacionais de maior tiragem como o “Guardien” ou o “Independent” ref erem como um aspeto extremamente positiv o de Lisboa, o f ato de ter abraçado estas atividades de arte urbana, já para não f alar dos artigos que saíram em três companhias aéreas sobre este mesmo tema, companhias aéreas de low cost e que trazem um mercado muito especial à cidade. Aqui estamos a f alar de uma área prática de ação criativ a, f eita pelos próprios cidadãos, em que a Câmara só tem que saber gerir essas intenções. Certo é que é muito complexo quando estamos a f alar de um leque que v ai desde o v andalismo a uma obra de arte que pode ser v endida por um preço enorme. É muito dif ícil f azer essa gestão, principalmente por uma instituição como uma autarquia, ou como um gov erno, ou qualquer tipo de estrutura f ormal, v isto estarmos em diálogo com estruturas informais que, digamos, o espectro de potenciais pessoas que podemos conseguir dialogar diminui substancialmente à medida que introduzimos parceiros comerciais, ou à medida em que institucionalizamos as medidas, que o Presidente da Câmara v ai inaugurar uma situação, etc.

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As pessoas com as quais conseguimos f alar reduzem substancialmente, porque estamos a f alar de rapazes nov os ou de pessoas que têm intenções de transgredir e de procurar as ilegalidades que possam passar a ser legais. Portanto, este tipo de f ormalização af ugenta. Eu passo então a dirigir-me ao f uturo, para tentar já f inalizar um bocado o meu discurso. Sugeria que a Câmara se articulasse para além da Cultura, estar exclusiv amente a Cultura a trabalhar este assunto. Que aprov eitem o f acto de estarem no Bairro Alto equipas de reabilitação a tratar o terreno para introduzir moradores, eles próprios também a desenv olv er atividades. Quando deixar de existir dinheiro para que estas equipas estejam no terreno, que os próprios moradores possam estar def endidos do que v irá a seguir. É uma situação que nós propomos, eu em nome de uma associação que promov eu o Projeto “Krono”, que é o que mais v isibilidade trouxe a Lisboa nesta matéria. Esta ideia encontrou num cidadão e os próprios cidadãos já nos abordam na perspetiv a de que nós os ajudemos a lidar com este f enómeno. Já estive num conjunto de reuniões com este cidadãos e no caso com a Presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina, por ser uma f reguesia limítrof e à reabilitação que está a decorrer no Bairro Alto. Faz particular sentido que os próprios cidadãos se organizem para complementar o trabalho da autarquia nesta medida. Não me interpretem mal, eu não quero simplesmente limpar graf ittis, eu quero utilizar a criativ idade dos cidadãos na gestão deste f enómeno. É um bocado combater o f ogo com o f ogo. Somos nós, com a nossa própria criatividade, a pôr um v aso com uma f lor à f rente da parede que está a ser constantemente pintada, ou nós próprios f azermos uma interv enção criativa, tentando obter o respeito pelos próprios v ândalos que introduzem essas interf erências. Certo é que existe sempre uma margem daqueles que v ão estar sempre a destruir, mas existem os canais próprios para isso, a polícia, a v igilância. Se os cidadãos estiverem envolvidos nessa medida já é meio caminho andado.

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A minha proposta v ai mais no sentido não tanto da continuação da pintura de grandes elementos de f achadas, porque na realidade isso já f oi um objetiv o atingido. Já f izemos as parangonas dos jornais internacionais e Lisboa é reconhecida por estar no mapa do circuito da arte urbana, ou da street art. É mais para inv estir e tentar canalizar esta intensidade dos momentos de exceção, que são estas empenas, para o quotidiano de qualquer cidadão, tentando transpor esta ideia que já f oi aqui ref erida de que a arte não é algo que se isola num espaço muito especial, mas sim o nosso quotidiano, são todos os nossos objetos, são todas as nossas ações. É isto que também está um pouco em jogo e o espaço público traz muito essa questão para cima da mesa. Outro aspeto que eu irei trabalhar pessoalmente, não sei se terei a colaboração da Câmara Municipal ou não, mas é algo a discutir mais para a f rente, é f azer uma conf erência internacional. Tentar manter a chama acesa da internacionalização de Lisboa relativ amente a estas matérias, mas transf ormar em algo relativ o à área do conhecimento, académico ou não, de agentes relacionados com o meio ou não, mas tentar centralizar em Lisboa algo que já acontece por todo o mundo e que é muito recente, que não se conhece muito bem, mas que f elizmente nós temos a capacidade para estar na linha da f rente desses desenv olv imentos, estando em consonância com as cidades criativ as, todos aqueles clusters que já f oram ref eridos e que bem sabem. Essencialmente são estas as minhas propostas. Espero que tenha sido claro. Estarei ao dispor para as v ossas questões.

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Vereadora Catarina Vaz Pinto: “Muito obrigada, Dr.ª Teresa Almeida, queria começar, naturalmente, por agradecer à Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Dr.ª Simonetta Luz Af onso e à Dr.ª Luísa Vicente Mendes pelo conv ite, queria também saudar os meus colegas de mesa, os moderadores, e saudar todos os presentes. Num mundo cada v ez mais complexo, confuso e ininteligív el que é o nosso, é a identidade que permite a cada um construir um sentimento de pertença, os seus ref erenciais de v ida, as suas opções e os seus desejos. Essa identidade constrói-se a partir da cultura na sua mais v asta aceção, como já aqui f oi dito. A partir dessa capacidade v ital de expressão e construção simbólica, característica única dos seres humanos e das comunidades que criam e desenv olv em, capacidade essa materializáv el atrav és das mais div ersas f ormas. Durante muito tempo sobretudo desde o f inal da segunda guerra mundial, e até alguns anos, quando se discutiam políticas e estratégias culturais discutiam-se sobretudo os critérios e objetiv os de apoios às artes, aos agentes e instituições, que as produziam e as dif undiam, as questões da preserv ação e v alorização do património, a democratização e o v alor civ ilizacional de acesso à cultura, a um determinado tipo de cultura, a participação cultural e a democracia cultural. Partia-se, também, do pressuposto específico de considerar a cultura como um setor específico embora div erso e plural da ativ idade humana, integrando nomeadamente o património, as artes do espetáculo, as bibliotecas e os arquiv os, o cinema e o audiov isual, quando hoje a tendência era de considerar a cultura a partir de uma v isão mais abrangente e mais ampla, de base antropológica a qual, ao v alorizar o conceito de recursos culturais engloba neles, não apenas os tradicionais subsetores desse domínio, mas também elementos muito div ersos que incorporam uma dimensão simbólica obv ia, como os usos, costumes, tradições, v alores, gastronomia, culturas urbanas, arte urbana, paisagem, etc.

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O mundo mudou, e está a mudar, ainda não acabou de mudar e não sabemos onde iremos parar, mas o que podemos observ ar são as interdependências crescentes e multidirecionais entre os div ersos f enómenos da natureza política, económica, social e cultural, a desregulação do sistema capitalista mas, também, a ev olução do sistema de produção económica do qual a criação, circulação e transf ormação de ideias, símbolos e imagens empenham uma f unção f undamental na produção de bens e serv iços transacionáv eis, a intensif icação e div ersif icação das migrações humanas. O séc. XXI é o século das pessoas em mov imento, pessoas em busca de trabalho e condições de sobrev ivência, pessoas em busca de conhecimento técnico e especializado, pessoas v iajando por prazer e curiosidade de conhecer outras culturas numa ativ idade, ela própria, também, muito específ ica que é do turismo mais ou menos massif icado. Assistimos, ainda, ao papel da tecnologia na criação e dif usão de obras imaginários artísticos, ao papel da tecnologia na reconf iguração da identidade e de sentidos de pertença, à reemergência ao lado dos Estados Nação, da relev ância das cidades, dos espaços urbanos como os lugares, territórios, em que a parte mais signif icativa do pensamento e ativ idade humana acontece. O trabalho, a inv estigação, a industria, o comércio, o lazer, a interação lúdica e social, a maioria das pessoas v ive nas cidades, e as Nações Unidas estimam que em 2030, cerca de 70% da população humana v iv a em cidades. E neste mundo em mutação, a cultura é esse espaço de memória, cidadania, expressão da div ersidade humana, no qual se constrói a nossa identidade, se estabelecem as ligações entre passado, o presente e o f uturo, se encontra o sentido da v ida de cada um e do dev er coletiv o. Assim, para além da questão da economia da cultura muito f alada, questão que eu também considero crucial mas que não é o tema do debate de hoje, neste atual contexto, uma política cultural de cidade não pode deixar de acrescentar a abordagem tradicional e subsetorial uma abordagem de natureza transv ersal, multif acetada e muito f ocada, permite

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criar as condições para a preserv ação, construção e reinv enção dessa identidade cultural de cidade, quer na dimensão coletiv a que ela comporta, quer no conjunto das identidades indiv iduais que a constituem, e por outro lado, entender essa identidade cultural, tanto na sua dimensão interna, como na sua dimensão externa, ou seja, importa preserv ar e v alorizar os elementos identitários tradicionais e reconhecidos constitutivos do código genético da cidade mas também esses nov os elementos identitários em construção e que resultam da condição de mutabilidade permanente do nosso tempo para ef eitos de coesão interna e criação de sentido de pertença de todos os lisboetas. Mas importa, por outro lado, v alorizar e promov er esses v ários elementos identitários na sua dimensão externa, permitindo af irmar um posicionamento específ ico da Cidade de Lisboa no mundo globalizado em que v iv emos através das suas características dif erenciadoras, específ icas e únicas, e que contribuem, também, para a sua v alorização económica. A identidade cultural de uma cidade é um f enómeno complexo e multif acetado e em permanente evolução, integra elementos de caracter patrimonial; património edif icado, móv el e imaterial, tem como elementos de natureza div ersa ligados aos v alores e tradições, aos imaginários coletiv os, literários, musicais, ou outros, as festiv idades e rituais num inv entário também ele móv el, flexível e nem sempre de óbvia def inição. Já aqui hoje se f alou de Fernando Pessoa e dispensa-se de f alar nov amente de como Fernando Pessoa é de f ato, também, um traço identitário de Lisboa, alguns desses traços são, e sempre f oram, inquestionáveis antes do nascimento de Fernando Pessoa já o posicionamento geoestratégico da cidade lhe ditav a a condição que sempre teve de encruzilhada entre a Europa, o Mediterrâneo e o Atlântico, ponto de chegadas e partidas, lugar de trocas e encontros de culturas, espaço de tolerância e de div ersidade. Já em 1147, o anónimo cruzado “R” dizia em carta a Osberto que a causa de tamanha aglomeração de homens na Cidade de Lisboa, que na altura tinha cerca de cem mil habitantes, século XII, era que não hav ia entre eles nenhuma religião obrigatória e como cada um tinha a religião que queria, por

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isso de todas as partes do mundo os homens aqui acorriam. Esta é uma situação que tirei da “Inv enção de Lisboa”, livro de José Sarmento de Matos, Lisboa, 2008. Esta v ocação natural da Cidade de Lisboa que nem sempre tev e o mesmo reconhecimento ao longo da história, é hoje amplamente v alorizada pelo atual executiv o nas suas dif erentes dimensões como foi aqui ref erido na intervenção do Senhor Presidente da Câmara. Neste âmbito, e no que respeita à área cultural, não podemos deixar de mencionar os seguintes projetos de iniciativ a camarária, ou por ele apoiados; o “Festiv al de Todos”, promov ido pelo Gabinete GLEC, Lisboa Encruzilhada de Culturas, e que deu já origem a um projeto de caráter mais continuados, “Orquestra de Todos”, que env olv e músicos de dif erentes etnias que habitam a zona da Mouraria. O projeto “Áf rica Conto”, projeto pluridisciplinar destinado a promov er e a div ulgar a ref lexão e a criação artísticas na Áf rica contemporânea nos domínios das artes v isuais, perf ormativ as e cinematográf icas. O projeto “Lisboa Mistura”, promov ido pela Associação Sons da Lusof onia. O “Festiv al Rotas e Rituais”, promov ido pela EGEAC, a programação da Casa América Latina, a recente abertura do Grupo Islâmico no Castelo de S. Jorge, a criação do Museu da Comunidade Judaica, a criação do centro Cultural de Cabo Verde, também prev ista para o próximo ano. No que se ref ere à área do património, monumentos e museus, está em curso um ambicioso projeto de reorganização deste setor de interv enção municipal que passa, não só pela modernização organizativ a e de gestão de alguns destes equipamentos de f orma a serem integrados na EGEAC, Empresa Municipal de Cultura, com v ista a dotá-los de instrumentos que permitam uma mais ampla ef icácia na interv enção, mas que passa também pela reabilitação de alguns destes edif ícios. No eixo que liga o Castelo de S. Jorge à Praça do Comércio, eixo de indiscutív el relev ância turística, estão em f ase de reabilitação o Museu do Teatro Romano, o Museu de Santo António, estando ainda prev ista a criação do Museu do Aljube, dedicado à memória da resistência e da liberdade, bem como a instalação na ala nascente do Terreiro do Paço,

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num projeto em colaboração com a Associação de Turismo de Lisboa, de um núcleo museológico centrado na história daquela magnif ica praça, da sua f unção pré-terramoto e da criação da nov a cidade que deu origem depois daquele trágico acontecimento. Nas palav ras do Prof essor José Augusto França, Lisboa f oi então a primeira das cidades modernas da Europa, para além, também, da abertura da Casa dos Bicos, prev ista para Abril, dedicada ao univ erso imaginário de José Saramago, Nobel português que escreveu tanto sobre Lisboa, a sua história e os seus protagonistas de todos os tempos. Na zona histórica de Belém está, também, prev ista a reabilitação do Padrão dos Descobrimentos, atualmente, um dos monumentos mais v isitados da nossa cidade. Ainda na área do património, gostaria de destacar a aprov ação recente, pelo executiv o camarário, do programa “PISAL”, Programa de Inv estigação e Salvaguarda do Azulejo de Lisboa, que v isa preserv ar o património azulejar, consensualmente reconhecido como um dos traços identitários mais f ortes, e singulares, da nossa cidade. As linhas programáticas do “PISAL” são inv estigar, registar e prev enir, regular, sensibilizar a população, os jov ens, f ormar e, naturalmente, reabilitar alguns dos painéis existentes na cidade e recriar alguns daqueles que já desapareceram. Não poderia deixar de ref erir, também, o recente reconhecimento atribuído pela UNESCO ao Fado como património imaterial da humanidade, reconhecimento, esse que exigiu longos anos de trabalho conjunto. O Fado, a canção de Lisboa, agora com reconhecimento univ ersal que continuará a exigir de todos nós; instituições, artistas e demais agentes culturais, um trabalho ainda mais exigente de salv aguarda, criação e dif usão. Também tinha prev isto ref erir aqui na minha interv enção o Projeto da Galeria de Arte Urbana aqui tão bem descrito pelo Pedro Soares de Nev es precisamente pelo carácter inov ador que tem, e pela f orma como é uma expressão da criativ idade da identidade juv enil, e como serv e, também, para transf ormar aquilo que era considerado registos de v andalismo, transformar esse potencial negativo em potencial

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criativ o e identitário de uma cidade porque, na v erdade, Lisboa está como o Pedro ref eriu, já nos mapas, nos circuitos internacionais deste tipo de expressão e certamente estaremos abertos à realização de um seminário sobre este assunto, aliás também queria dizer que este programa tem v indo a alargar-se a outros suportes, não só as f achadas, os v idrões, as camionetas do lixo, e portanto, é um programa que tem v indo e sempre em trabalho com as comunidades e, também, não se circunscreve ao Bairro Alto, mas também se tem alargado a outras zonas da cidade e em sintonia com outros Departamentos da Câmara porque na v erdade o que importa é que se trata de uma área que f az todo o sentido, como todas as áreas, trabalhar em conjunto. Uma outra abordagem para nós f undamental relacionada com a identidade cultural da cidade está na criação de condições para o surgimento e rev italização das micro-identidades seja à escala territorial, nomeadamente, atrav és da dinamização da v ida dos bairros e da promoção de projetos de proximidade, seja na atenção atrav és de f inanciamento de projetos de programação, cedência de espaços, apoio logístico, e outros, que se dá à mobilização das energias coletiv as de pequenas comunidades e grupos que no exercícios dos seus direitos de cidadania se constituem em f unção de interesses div ersif icados de natureza cultural, etária, prof issional, étnica. Género, orientação sexual, e que permitem construir af etiv idades v árias, laços de pertença e solidariedade, essenciais para partilharem essas identidades comuns e para ajudar a resolv er os problemas do quotidiano com que todos nos conf rontamos. Também tenho, recentemente, começado a participar em v árias reuniões que se realizam nos v ários grupos comunitários que existem nos vários bairros da cidade, alguns com mais dinâmica do que outros, como por exemplo Carnide que tem uma dinâmica cultural muito f orte. Na semana passada estiv e no grupo comunitário da Mouraria e de f ato muito interessante, aliás estiv e eu por iniciativ a própria e o próprio departamento, da Direção Municipal de Cultura que agora v iv e na Mouraria, no Palácio dos Machadinhos, aderiu também ao grupo comunitário, Madragoa, peço desculpa que me enganei. E portanto, o ritual simbólico de adesão ao grupo

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comunitário é precisamente pendurar um peixinho de cartolina numa rede que existe pendurada na parede, portanto, cada grupo que adere, que é constituído pela polícia, pelos bombeiros, pelas associações culturais e de apoio à terceira idade, portanto, todos eles f azem parte desse grupo comunitário e hoje Lisboa está também cheia desses agrupamentos que são os responsáv eis são eles que dão corpo e consubstanciam estas micro-identidades que são f undamentais para o quotidiano da cidade. No que se ref ere à v ida nos bairros temos, também, em curso um ambicioso plano de restruturação das Bibliotecas Municipais e da rede de leitura pública. A biblioteca pública, a par da escola, constitui um meio priv ilegiado pelo qual as autarquias possibilitam o acesso direto à inf ormação, f ormação e cultura a todos os cidadãos, sem distinção de idade, raça, género, religião, nacionalidade, língua, condição social. Para além das f unções tradicionais ligadas às coleções, as bibliotecas públicas dev em disponibilizar serv iços dirigidos aos dif erentes públicos nos domínios da promoção de leitura, mas também na f ormação e na aprendizagem ao longo da v ida atrav és da realização de ativ idades de promoção das literacias que hoje se rev elam necessárias, é o nov o conceito de biblioteca pública em contraponto com o conceito de biblioteca depósito de liv ros, atrav és do qual a biblioteca pública passou a ter uma f unção social que em muito supera a mera disponibilização da coleção e dos f undos documentais. Estão em curso projetos de reabilitação das bibliotecas de Belém, Camões, Galveias e Marv ila, esta sim que será uma nov a biblioteca totalmente pensada e estruturada em f unção desta nov a missão. As bibliotecas públicas tendem, assim, ser equipamentos híbridos, uns v erdadeiros centros culturais de proximidade, nos quais os utilizadores poderão, também, atrav és do acesso aos v ários tipos de conhecimento encontrar os meios para o seu crescimento indiv idual, para a criação e partilha de nov as sociabilidades e nov as aspirações, enf im, para a reconf iguração de nov as identidades. A programação dos nov os equipamentos culturais da autarquia, teatros, museus, galerias, f estiv ais de cinema, f estas da cidade, ref lete, desde já, em grande parte, esta

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abertura à div ersidade cultural e pluralidade de identidades, aos nov os criadores que uma cidade v iva, aberta, cosmopolita e atenta à contemporaneidade dev e promov er e com a qual se dev e comprometer, porque tal como diz Italo Calv ino na obra “As Cidades Inv isív eis”, não é entre cidades f elizes e inf elizes que f az sentido div idir a cidade mas em outras duas classif icações; as que continuam a dar f orma aos desejos e aquelas em que os desejos conseguem aniquilar a cidade, ou são eles aniquilados”.

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O Senhor Deputado Municipal Modesto Navarro: “Muito obrigado Senhora Vereadora por esta excelente interv enção. Gostaríamos de relembrar que v amos ter debate apesar de, até agora, só termos duas inscrições. O nosso propósito ao realizarmos este colóquio é exatamente para ouv ir a participação e a discussão e extrair daqui conclusões que em primeira nota a Presidente da Comissão Luísa Vicente Mendes irá aqui apresentar, na parte f inal, digamos, desta sessão. Nós temos agora duas inscrições e lembro que hav erá a seguir ao debate e às interv enções f inais dos oradores, eu peço que pensem em mais alguma coisa que obv iamente não terão tido ocasião de dizer mas que digam à v ontade, nesta sessão. E, com essas interv enções f inais passamos ao encerramento e depois a duas interv enções que têm a v er com Fado, Património Imaterial da Humanidade, de Gonçalo da Câmara Pereira e de Teresa Machado. Portanto, teremos aqui f ados acompanhados por Manuel Gomes e Fernando Gomes. Pedimos a v ossa participação no debate que v ai ser de seguida, e dou a palav ra ao Senhor Fernando Gonçalv es para perguntas aos conf erencistas”.

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Fernando Gonçalves: “Muito boa tarde, peço desculpa pelo tempo que v ou ocupar na f ormulação das perguntas as quais v ou dirigir a v ários interv enientes. A primeira pergunta dirijo à Dr.ª Inês Pedrosa, a quem agradeço pela interv enção que está a f azer na Casa Fernando Pessoa, e também pelo dinamismo que emprega, e gostaria de lhe perguntar de existe algum tipo, presumo que sim mas não sei qual, entre a Casa Fernando Pessoa e a Biblioteca Nacional de Portugal, detentora do espólio do escritor, se é por aí, algum tipo de ligação. Depois ao Dr. José Amaral Lopes, gostaria, ev entualmente, que ele comentasse esta minha af irmação: 2,6% do PIB Europeu prov ém do setor cultural, na minha ótica esta perspectiv a é uma perspectiva demasiado reduzida porque ao contrário de outros setores, o setor cultural, a meu v er, tem um outro v alor que os outros setores ev entualmente, não terão, é que atrav és da imagem que ele projeta na cultura europeia, toda essa imagem se ref lete na promoção de todos os outros setores. Eu recordo, por exemplo, que a Finlândia tev e um grande salto qualitativo na imagem que compete ao nív el da tecnologia atrav és da Empresa Nokia. Portanto, na minha ótica, 2,6% do PIB estatisticamente considerado acho que f ica aquém daquilo que realmente ref lete a importância do setor cultural europeu. Depois, ao Arquiteto Pedro Soares de Nev es, gostaria de lhe f azer algumas interrogações, e se bem percebi, prov av elmente percebi mal, terá af irmado que o graf iti terá começado a desenv olv er-se a partir dos anos nov enta. Permita-me que esteja em desacordo consigo, a interv enção no espaço público é muito anterior a isso, e para não ir mais longe, recordo-lhe que a seguir a setenta e quatro, f izeram-se interv enções brilhantes no espaço público que hoje em dia seriam considerados, ev entualmente, Street Art, algumas ligadas até ao MRPP e a um colega seu, espaços de interv enção de uma enorme qualidade estética que, inf elizmente, depois f oram pintados. Portanto, se me permite, eu recuaria mais no tempo e pelo menos até ai já v em muito anterior. Depois, e também se bem percebi, quis-me parecer que div idia o graf iti em dois grandes submundos; o mundo da

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grande arte e do grande v olume de interv enções, de grandes interesses f inanceiros aliados a isso, e de grandes promoções, e por outro lado o v andalismo puro e duro. Permita-me acrescentar um terceiro v etor, o graf iti mesmo hoje em dia é uma linguagem de rebelião, de expressão popular que não procura nem a grande exposição, nem o v andalismo, e dou-lhe dois exemplos; na Av enida v inte e quatro de Julho, por detrás da Biblioteca do Kremlin, existe um prédio abandonado totalmente em ruínas que tem interv enções belíssimas de graf iti. Não procura nem v isibilidade, nem comércio, nem v andalismos, o espaço já estav a v andalizado, e v isibilidade não a tem, é preciso ir especif icamente àquele local para v er aquela interv enção, belíssima. Uma outra interv enção, entre muitas outras que existem na Cidade de Lisboa, junto a um espaço que existe também por detrás da Av enida Vinte e Quatro de Julho, onde a Câmara tem a intenção de f azer um Polo cultural ligado a Áf rica, existe uma parede no edif ício camarário v irado para o público que também está abandonado, não há ali nenhum v andalismo, de um painel de graf iti de enorme qualidade e, depois, há imensas interv enções espalhadas pela cidade. Portanto, na minha ótica não se resume a uma coisa, nem a outra, e isso mais do que qualquer outra coisa, expressão mais autêntica, mais popular, e com outros objetiv os. Por f im, e peço desculpa em estar a alagar-me a minha última interv enção é para a Senhora Vereadora Catarina Vaz Pinto, dizendo desde já que percebo muito bem a enorme dif iculdade que é ser v ereador nesta autarquia, ou em qualquer outra, atrev o-me a sintetizar a minha opinião sobre o v osso trabalho, não só o seu como também o de outros colegas seus, numa coisa muito simples, naquilo que eu julgo entender do f uncionamento camarário os f uncionários pensam que estamos aqui e que continuamos, os v ereadores chegam e v ão-se embora, e a partir daqui é um mundo de dif iculdades. Mas gostaria de lhe perguntar até que ponto tem-lhe sido possív el, e v isto que f oi consultora do projeto estratégico para a cultura em Lisboa, se isso de alguma f orma lhe tem serv ido para v iabilizar o seu caminho no Pelouro da Cultura, e mais, e não v ou f alar de todos os outros aspetos do estudo, v ou-lhe só perguntar por mera curiosidade minha, das

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trinta medidas propostas no estudo se já conseguiu concretizar algumas e quais. Muito obrigado”. Ana Sara Brito: “Boa tarde a todas e todos, identidade cultural, este painel, Identidade Cultural de Lisboa, e começo por f azer uma af irmação, e em meu entender não hav erá mudança social na Cidade de Lisboa, ou no país, se não se inv estir na cultura e na educação são as duas que f azem a mudança. Falou-se na identidade cultural da Cidade de Lisboa e dirijo-me à Inês Pedrosa; ora bem, eu ando pelas ruas da cidade a pé para conhecer melhor a minha cidade de adoção, e v ejo sinalética sobre hotéis, pensões, empresas, mas não consigo, e tu na tua interv enção disseste nada se ref ere à Casa Fernando Pessoa e à Lisboa de Pessoa, porque será esta f alta de v isibilidade que dão a Pessoa, porquê este silenciar? Segunda pergunta, o Brasil, um país que gosto muito, até porque respeitam muito os v elhos, no Brasil não há condutor de v ã, condutor de táxi que, quando sabem que somos portugueses f alam de Fernando Pessoa e f alam com respeito e conhecimento. Porque será que no Brasil não há telenov ela da Globo em que não arranjem uma f orma no guião de meter Fernando Pessoa, f alam de Pessoa, citam Pessoa. Dilma, a Presidente, nas suas interv enções f ala de Pessoa e Zeca Afonso, arranjam maneira de f alar destes dois grandes homens. Porque será que o poder central e o poder local têm dif iculdade em colocar uma sinalética, uma coisa tão simples, para que estrangeiros e portugueses e as comunidades que v iv em na Cidade de Lisboa, pelo menos, não v ejam só o Pessoa ali no caf é junto da Brasileira, e que saibam como é que chegam à Casa Fernando Pessoa no célebre Elétrico 28. Portanto, gostav a que me dissesses o que pensas sobre isto. Sendo que, como disse, e permita-me que o trate assim Amaral Lopes uma v ez que trabalhamos em conjunto na Comissão Administrativ a, e eu não v ou por os Doutores e Engenheiros a quem conheço melhor e com todo o respeito, a outra questão que queria colocar é que se já se v iu que

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economicamente, a importância económica, neste caso da cultura e já se v iu que se nós inv estirmos em Pessoa podemos ter importância económica. Será que é agora que se v ê a importância económica que se irá dar mais v isibilidade? Será que ainda não conseguiram perceber que Pessoa é reconhecido mundialmente e outros não o são? Ali para o Arquiteto Pedro Nev es, Bairro Alto, v ândalos, pessoas env elhecidas, é v erdade, na década de oitenta, nov enta e dois mil, a população env elhecida do Bairro Alto é uma população respeitadora e tolerante e muito interv entiv a. Em oitenta, nov enta e até dois mil, os jov ens iam para o Bairro Alto, sentav am-se junto das casas, à beira das janelas, porque à beira da janela estav am as pessoas, conv ersav am com os v elhotes, com as v elhotas que lhes contav am as histórias de v ida, transmitiam a experiência e hav ia um conhecimento maior, quer para os v elhotes, quer para os jov ens. O que acontece é que a partir dessa altura há, ef etiv amente, um comportamento desrespeitoso das pessoas que iam ao Bairro Alto beber, e não estou a f alar dos que pintam, f alo dos que v ão beber o que mudou o grupo de jov ens, começaram a desrespeitar a população env elhecida, a deixar tudo nas janelas, a partirem v idros, sendo que a população começou, também, a não os querer lá, o que é natural pois se qualquer um de nós lá v iv esse também não queria isto. E começaram a pintar paredes e tudo o resto. Ainda bem que agora v ão organizadamente f azer as pinturas, mas f alem com a população e v ão ver que a população, e se os respeitarem, também, respeitam os jov ens. Os v elhos do Bairro Alto, a população de média idade do Bairro Alto é uma população das mais respeitadoras e das mais tolerantes, porque aceitam todos os comportamentos, “entre aspas”, desde que sejam respeitadores da população que lá reside”. Dr.ª Teresa Craveiro: “Eu gostaria de articular a questão colocada pela arquiteta e também pela Inês Pedrosa, ou seja, naquilo que é o modelo de insustentabilidade que explicou, e bem, relativ amente à expansão da cidade e ao decrépito do centro histórico. No

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f undo, aquilo que nós, neste momento, com a crise, que pode ser uma oportunidade, pensarmos aquilo que era o desperdício e até v oltarmos à essência da identidade portuguesa, no meu ponto de v ista, ser sóbrio, o fazer quando se tem, também há este desafio que nós temos que construir e lamento que os media e o discurso político não o f aça. Aquilo que coloco neste momento é, exatamente, o nov o paradigma é redes de proximidade, ou seja, o paradigma mesmo do próprio poder local, no meu ponto de v ista, é neste momento as redes de proximidade, é f omentar a cidadania e a v izinhança, e se calhar combateríamos ser o principal país que na Europa toma pastilhas para a depressão, se nós puséssemos essa cidadania. Eu não consigo perceber, há anos que v isitei Nova Iorque e chego ao Museu de Emigração e tem o mecenato todo que contribui, eu não consigo perceber na linha dos americanos e naquilo que eles têm de essência de uma burguesia que constrói e participa, como é que não se cria mecenato para pagar placas, pergunto, que f açam como Boston em que nós v amos até aos sítios que estão identif icados, e como não há gente. Eu estou conv encida que até a diáspora, os emigrantes, nós e os brasileiros, que contribuiríamos de encontrássemos um modelo económico que pudesse possibilitar o mecenato numa série de coisas. Isto todos os anos, de quatro em quatro anos se discute esta matéria quando nos encontramos e eu não a v ejo, e acho que era muito f ácil. Segundo aspeto, estando como está, desde noventa e quatro, no primeiro PDM os inv entários de património que, hoje, são cartas, porque é que não são esses guias que não são apropriados pela população de maneira que também o património de cada comunidade esteja identif icado e não seja apenas metido na luta quotidiana, de v ai abaixo, ou não v ai, no licenciamento, ou seja, a população das comunidades, f reguesias, deveria ter identificado o património que está nos instrumentos urbanísticos, os instrumentos urbanísticos não são apenas para f uncionarem nos guichets, são para ter medidas que se apropria a população e que ela toma conhecimento. Portanto, as cartas de património, e então não teríamos aqui o que tiv emos de nov enta e quatro até agora, que diminuiu claramente o inv entário do património exatamente porque a população não se apropriou, dev eria de

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lutar por ele como em Inglaterra se luta por uma árv ore que se v ai demolir. Portanto, eu deixav a aqui, no f undo, esta construção que não é dos políticos é nossa, e f alo aqui como cidadã, e disponíveis que estamos os cidadãos. Por último, encostada um pouco ao discurso dos funcionários públicos, e peço desculpa, há f uncionários públicos que v ieram para o poder local por opção política, não estando nos partidos, mas como cidadãos e deixando as univ ersidades. E, portanto, este discurso do anti f uncionário público, nomeadamente, de Lisboa, eu queria dizer que honro muito e acho que há um grande v alor de gente dentro de lisboa que internacionalmente é conv idado, muitas v ezes, e que damos peias aos outros”. A Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida: “Muito obrigado à Teresa Crav eiro pelas questões que nos colocou. Neste momento não há mais inscrições, o que não quer dizer que não v enha a hav er, mas para já eu v ou dar a palav ra à Inês Pedrosa que f oi a primeira pessoa que f oi questionada para responder às questões que lhe f oram colocadas e pedir-lhe três minutos se f or possív el”.

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Dr.ª Inês Pedrosa: “Vou tentar ser o mais suscita possív el e até abdicar, se f or preciso, de f alar no f im, porque, enf im, acho que é mais importante responder ás perguntas das pessoas. Quanto ao acordo, se há, ou não, entre a Casa Fernando Pessoa e a Biblioteca Nacional, esclareço que não há nenhum acordo, a Biblioteca Nacional pertence ao Estado Central. Quando cheguei à Casa Fernando Pessoa pedi à Biblioteca Nacional que f izesse uma análise da biblioteca porque penso que são os mais competentes para o f azer, e do Estado. O grande tesouro da Casa Fernando Pessoa é a biblioteca do próprio Fernando Pessoa, e que são cerca de mil cento e tal v olumes, ainda por cima manuscritos, portanto, densamente anotados pelo próprio Fernando Pessoa, além de ser uma biblioteca v asta, v aliosa em si mesma, e que está com problemas de conserv ação dada a sua antiguidade, que nem sempre estev e guardada nas melhores condições e não está ainda no armário mais adequado. E a resposta que tiv emos da Biblioteca Nacional para meu espanto, e acho que é um v erdadeiro exemplo de qualquer coisa que dev e ser alterada no f uncionamento, e por isso eu também f alei da relação entre o estado municipal e central, e penso que isto nem tem a v er com cores políticas, serem as mesmas, ou dif erentes, tem a v er com emperramento de f uncionamento do sistema. Demorei muito a conseguir uma resposta na época, em 2008, quando cheguei à Casa Fernando Pessoa, e depois consegui uma resposta oral, e depois quis que essa resposta f osse escrita e f oi ainda mais dif ícil torna-la escrita porque pedi que f izessem a av aliação e que me dissessem qual era o custo de recuperar essa biblioteca, e o custo não me f oi apresentado sendo-me dito que não tinham hipótese de o f azer, não tinham meios, enf im, não houv e cooperação nesse sentido o que lastimo.

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Temos sim protocolo com div ersas universidades da Católica à Clássica, a Nov a, enf im, com as quais temos promov ido inúmeras ativ idades a nível nacional, a nível municipal temos trabalhado ao nív el macro, micro, e procuramos criar todas as redes possív eis. Temos um acordo com a GEBALIS com um trabalho continuado nos bairros municipais, nas escolas mais desf av orecidas, que é das coisas mais importantes que este serv iço público pode f azer e eu sublinho isso por não é o que se v ê, não está na programação, mas é o que v ai criar o tal público, mais do que público, os tais criadores, outra maneira de estar nas coisas. E temos protocolos internacionais com a Lyrikline que é uma plataf orma de poesia ligada à Casa da Cultura de Berlim, e o Instituto Moreira Sales, no Brasil, que tem um acerv o marav ilhoso de exposições que nos cede e que realiza naturalmente ativ idades sobre Fernando Pessoa. E com isto pego na questão do Brasil, e de f ato o Brasil, tal como dizia a Ana Sara Brito, cita Pessoa nas nov elas, mas não cita só Pessoa, eu tenho acompanhado pouco o panorama das nov elas brasileiras e portuguesas, mas tenho acompanhado o suf iciente, e isso tem a v er com a tal cultura dif erente da nossa, a tal cabeça americana que Teresa Crav eiro também f alou, no mais simples meio de entretenimento põe outras coisas, põe apelo e outro tipo de consumos, também porque nós passamos para uma democratização, uma massificação, e nós, pelas razões que aqui f alei, nós temos muitas v ezes a parte da nossa inteligência e das nossas elites, uma certa repugnância com a democratização, temos uma elite que v iv e à muito tempo de ser elite e que não gosta muito da democratização, não v á de repente aparecer alguém de um bairro marginal mais inteligente do que os Einstein´s habituais, e eu acho que é por isso que temos poucos Einstein´s e temos mais na ciência onde a democratização é mais f ácil e também porque houv e muito mais apoio institucional nos últimos anos, apoio f inanceiro, mesmo, relativ amente à ciência do que ao desenv olv imento cultural e por isso há um f echamento, por isso os intelectuais gostam de criticar os produtos de grande

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consumo em geral, isto de uma f orma muito genérica. É que no Brasil, por exemplo, um intelectual académico e ao mesmo tempo músico popular, estou-me a lembrar do José Miguel Wisnik que tocou v árias v ezes aqui neste palco, ou f iguras como o Caetano Veloso que tem uma interv enção mais popular e mais dura na f ilosof ia do pensamento. Nós aqui temos dif iculdade em estabelecer essa ponte, temos as coisas ainda muito estanques, e penso que é isso que tem de ser alterado, conv ersando alteraremos mais depressa. A f alta de v isibilidade da sinalética, há quatro anos, de f acto, no primeiro gov erno municipal de António Costa, e no segundo, tenho andando a batalhar não só para Lisboa, e penso que aí não será tanto a questão das placas, quer dizer há coisas mais caras é uma questão de v er onde se pode tirar, para pôr umas placas que depois poderão ser rentabilizadas, não é uma questão de f alta de mecenato, embora o mecenato dev esse, e pudesse, ser muito mais proporcionado. Nós conseguimos o mecenato, nós, Casa Fernando Pessoa, da Fundação Vodaf one Portugal para, especif icamente, digitalizar a biblioteca toda que está on line para quem quiser lê-la, hoje, graças a esse mecenato temos procurado outros mas julgo que aí dev iam reunir esf orços, e sei que agora está a ser f eito isso, para criar essa cultura que ainda não existe em Portugal. Mas as placas não são uma questão de f alta de mecenato, acho que é uma questão de burocracia, pois não posso compreender o que é que se passa porque em relação, concretamente, à Casa Fernando Pessoa, e relativ amente à sinalização eu já env iei para v ários v ereadores, pois a responsabilidade do espaço público ultrapassa a cultura, e já me disseram para env iar para dif erentes sítios e por último disseram-me que o melhor era env iar a placa já f eita, e eu pedi a um designer e env iei a placa já f eita, e isto já se arrasta à quatro anos e é uma coisa tão simples como colocar uma placa ao lado da estátua do Pessoa na Brasileira onde todos os estrangeiros v ão aterrar, a dizer Casa Fernando Pessoa, elétrico 28, porque o elétrico 28 passa ali e é dos passeios mais bonitos que se pode f azer no centro histórico de Lisboa

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e v ai parar praticamente à porta da Casa Fernando Pessoa, era simples. Às v ezes, estas coisas mais simples tornam-se mais complicadas e por isso eu f alei tanto da burocracia, e apesar dos esf orços que há, são de f ato muito complicadas, e não quer isto dizer que o f uncionalismo público não f uncione, e eu tenho repetido isso muitas v ezes, em muitos lados. A minha experiência na Casa Fernando Pessoa, que v ai em quatro anos, temme prov ado, pela equipa que lá está e que é composta por f uncionários públicos, de uma versatilidade, de uma dedicação, de um empenhamento, de uma criativ idade, que esses lugares comuns são mesmos lugares comuns o que acontece é que “paga o justo pelo pecador”, e a f unção pública tem sido muito pouco analisada nas suas múltiplas v alências. Está agora, no caso de Lisboa, a ser trabalhada nem se sabia quem f azia o quê, se estav a no sítio certo, se podia f azer outra coisa, enf im”.

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Dr. José Manuel Amaral Lopes: “Muito obrigado, eu v ou ser rápido. E não podia estar mais de acordo, e eu comecei por dizer que os v alores culturais são aqueles v alores essenciais, insubstituíveis, que incorporam a própria dimensão univ ersal da pessoa, são v alores que até condicionam as ativ idades do homem. O problema é que por obrigação prof issional, e como eu procurei contribuir com alguma coisa que resultasse da minha experiência, estas matérias são discutidas na Europa inteira, no mundo inteiro, por essa obrigação já f ui a Dublin, a Milão, Cárceres e Lille, realidades distintas, todas elas, aliás, com f amílias políticas europeias distintas, portanto, não tinham nenhuma ligação entre si, e estas matérias são todas abordadas, hoje em dia, com uma grande preocupação de adotar estratégias concretas, isto é, no domínio da antropologia, da f ilosof ia, claro que as coisas estão muito discutidas e o problema é que quando as políticas têm de ser adotadas o que se passa hoje em dia é que há que demonstrar, e por isso eu f alei de estudos e não de posições concretas de grandes organizações políticas, mas são estudos, académicos, univ ersitários, esses estudos demonstram que é v antajoso, até do ponto de v ista das outras políticas, que não seja só uma perspetiv a cultural, e portanto as cidades, hoje em dia, quando se debatem sobre estas matérias, e há exemplos, e eu não tiv e tempo, também só dez minutos, porque depois também há estratégias que já chamam de “renascimento urbano”, cidades que já sof reram div ersas v icissitudes, algumas até empobrecimento por resultado de transf ormações industriais, ecológicas, etc., que hoje em dia são exemplos, porque o inv estimento na cultura e na educação, e a Ana Sara Brito tem toda a razão, demonstram hoje, e não é só o domínio do desejo numa perspectiv a intelectual, mas na prática demonstram hoje, e v ou dar alguns exemplos, Clev eland, Bilbao, Glasgow, Lille, demonstram hoje, já resultados que as outras ciências, as economias, engenharia, o que quiser, conseguem medir. Claro que os bens culturais são incomensuráv eis, insubstituív eis, mas se quisermos adotar estratégias concretas, de aumento da af erição da cultura aos cidadãos, proximidade, f omento, promoção da criatividade, preservação

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do património, enf im, e ultrapassando os setores tradicionais que é o turismo, toda a gente o conhece, o impacto da cultura no turismo, etc., temos que ter cada v ez uma maior consciência se é isso que se discute no mundo inteiro que o setor cultural também é importante para o desenv olv imento económico das sociedades. E o outro exemplo dado pela Ana Sara Brito é a educação e a cultura são cada v ez mais, ao nív el europeu, uma política interligada. E só para dar exemplo de uma cidade, estamos a f alar de uma capital, não é que seja uma capital política, mas Amsterdão, por exemplo, graças a estas grandes visões e até porque na Holanda há uma univ ersidade já criou a Faculdade da Economia e das Artes, não é a tradicional f aculdade de economia separada da escola das artes, e na Holanda, por exemplo, merecia f ruto destas ref lexões que têm uma pretensão multidisciplinar e não só v ocacionada no setor, ou tipicamente económico, ou tipicamente cultural, mas querem ter esta abrangência já criaram até uma f igura nov a em termos de gestão cultural e local, municipal, é claro que este municipal é relativ o porque as estruturas orgânicas nesses países são dif erentes, mas até foi criada há uns quatro, cinco anos, em algumas cidades holandesas a f igura do programador cultural inserido na escola, isto é, tendo como objetiv o aproximar desde a mais tenra idade a f ruição, o conhecimento do património, a v alorização dos cidadãos começasse na escola e então para além da ativ idade regular normal, está inserida na própria escola uma obrigatoriedade de promov er a f ruição cultural dos alunos. Este projeto está também muito desenv olv ido no Reino Unido que também passou a incluir no curriculum académico dos estudantes até ao ensino secundário a obrigatoriedade, e já não é extracurricular, de pelo menos uma v ez por semana hav er uma prov a de f ruição cultural, em que as comunidades locais, as escolas se organizem para que aos alunos seja integrado no curriculum das ativ idades normais das escolas para que os alunos, ou tenham que ir a um teatro, ou tenham que ir a um museu, ou tenham que ir v isitar um castelo, um património, ou tenham que f azer trabalhos direcionados precisamente para f ruição, para a v alorização da identidade cultural.”

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Arqtº. Pedro Soares das Neves: “Eu agradeço antes de mais ao Senhor Fernando Gonçalv es por me dar a oportunidade de esclarecer questões que f icaram para serem esclarecidas, especificamente, quando se ref ere aos graf itis iniciados nos anos nov enta estav a-me a ref erir à minha experiência pessoal e à de um grupo de jov ens que iniciou comigo utilizando uma técnica específ ica que usav a a lata de spray que na altura serv ia para pintar f rigoríf icos e automóveis, pintando as paredes com a lata de spray . Claro está que, obv iamente, estes f enómenos remontam à própria manif estação humana no espaço publico, no território, e da qual Lisboa tem cartas para dar, seja atrav és dos azulejos, o PISAL tem um projeto que está a abraçar, seja atrav és da própria pedra da calçada que é única e que transmite, precisamente, esse detalhe urbano tão particular de Lisboa e que por v ezes é esquecido. Outra questão, e passando já a essa, e sem esquecer o carinho que eu, pessoalmente, apesar de quando me deparei com eles os murais do PREC, já estav am num forte estado de decadência, tenho imenso carinho por esse património e daí alguns conselhos, digamos assim, para que f osse resgatado e inv entariado juntamente com os graf itis atuais, v alorizav a ambas as f rentes. Passando á outra questão que tinha a v er com a dicotomia entre a cúpula dos f amosíssimos e o v andalismo político quase dos desconhecidos e dos v ândalos, obv iamente que não é bem assim, é um pouco para cada cidadão existe uma f orma de ser e de agir graf iti, digamos assim, qualquer um dos nós pode chegar à rua e escrev er o que lhe apetecer. Portanto, isto é muito pouco generalizáv el, é muito complexo e na minha perspectiv a a única f orma que eu consegui de lidar com esse f enómeno é da parte de quem projeta a cidade, ou seja, o designer urbano, ou a pessoa que desenha o espaço público tem de incorporar este f ator como elemento existente.

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Agora se v ai proteger a parede contra ele, se v ai incorporar, isso já é outra questão. Acima de tudo é dar conhecimento que existe este f enómeno e não v amos esquecer que ele existe, não v amos continuar a projetar v iadutos com extensões de paredes enormes v iradas para grandes nós v iários sem esperar que eles f iquem cheios de cartazes do circo, não é, isto é uma certa incompreensão e introdução dentro do próprio ato de projetar por parte dos arquitetos, engenheiros, etc, e é essa a minha luta. E acima de tudo estas questões v ão beber a teorias que situadas mais ou menos em Maio de sessenta e oito, ideias situacionistas que se podem chamar de psicogeografia e que tem na sua base a exploração de territórios v azios que não f oram projetados para o homem o habitar, mas que acabam por conter em si uma poesia que os territórios mais projetados e mais intensamente projetados não têm. E é um pouco esta v iv ência intensa do quotidiano banal que o graf iti explora e o situacionismo e a psicogeograf ia também exploram. Também uma outra questão aqui af lorada relativ a ao Bairro Alto, eu acho que o Bairro Alto é o território mais indicado para que exista uma interv enção articulada. De f ato já existem equipas contratadas atrav és de um concurso público, portanto empresas de manutenção de pinturas de graf iti ganhou esse concurso e portanto está a manter o Bairro Alto limpo. A questão é que esta é uma situação insustentável em termos f inanceiros, portanto, não podemos estar a pagar internamente a empresas externas somas bastante av ultadas para manter aquelas paredes completamente intactas. Acho que na altura estav a a pedir aquela limpeza porque, ef etiv amente, a situação estav a deploráv el, mas neste momento o essencial é conseguir trabalhar com as populações e env olv e-las no processo para que quando existam menos recursos para pagar às tais empresas, isso aconteça. Esta experiência estou a tentar desenv olv êla na

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Junta de Freguesia de Santa Catarina em conjunto já com alguns moradores”.

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Vereadora Catarina Vaz Pinto: “ Muito obrigada. E respondendo à questão colocada pelo Senhor Fernando Gonçalv es é para lhe dizer que na v erdade o f ato de eu ter participado como perita nesse trabalho para a cultura em Lisboa, permitiu-me começar uma ref lexão prof unda, e de f ato quando f ui eleita e tomei posse, já tinha uma ideia mais concreta por onde começar e o que f azer. E na v erdade, e apesar de tudo, alguns projetos já estão em curso. Não me lembro das trinta medidas, nem tenho aqui o liv ro, o documento que f oi publicado, mas sei que estamos a f azer um trabalho muito prof undo de reorganização de todos os serv iços da cultura e que consiste basicamente, em v ocacionar a EGEAC, Empresa Municipal de Cultura, para a programação de todos os equipamentos culturais da Câmara à exceção das bibliotecas os que implica que alguns museus que antes estav am sob a tutela da Direção Municipal de Cultura v ão passar para a EGEAC, nomeadamente, o Museu da Cidade, o Bordalo Pinheiro, as Galerias Municipais, a Casa Fernando Pessoa, e isso tem a v er com o f ato de que por um lado hav ia uma dupla tutela que não f azia sentido, eram tutelados pela Câmara e pela EGEAC, e apesar da EGEAC ser totalmente propriedade da Câmara há sempre abordagens dif erentes e por outro lado ter também a natureza empresarial, permite que neste caso se possam agilizar recursos, criar-se energias, agilizar procedimentos que são muito importantes neste tipo de equipamentos e que, lá está, tem a v er com uma dinâmica também que não é só cultural mas também uma dinâmica económica que hoje em dia já existe neste tipo de equipamentos e que dif icilmente pode ser implementada no seio da Câmara Municipal, da autarquia, que tem procedimentos muito mais apertados, e lentos, e menos adequados a este tipo de equipamentos. A própria Direção Municipal de Cultura f oi ref ormulada, foi-lhe acrescentado o Departamento de Ação Cultural e que pretende estruturar todo o relacionamento com os agentes culturais, por um lado, e com as f reguesias, por outro, portanto é atrav és disso que se dão os apoios, e não atrav és da EGEAC, antigamente a EGEAC dav a por exemplo alguns

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apoios aos Festiv ais de Cinema. Portanto, estamos a clarificar todas essas f unções e eu acho que esse é um grande objetiv o que temos conseguido. Espero que agora, também, pelo f ato da Casa Fernando Pessoa estar na EGEAC, seja mais f ácil trabalhar esta questão da sinalética que é um problema não só da Casa Fernando Pessoa, mas que também é do Castelo de S. Jorge e de outros equipamentos culturais da Câmara e eu acho que dev erá hav er um projeto integrado de sinalética que é, de f ato, daqui até ao f inal do mandato. Também não me posso queixar do trabalho que tenho estado a desenv olv er com os f uncionários da Câmara, e eu acho sempre que tem a v er por um lado, por eu própria tentar sempre ir de encontro às pessoas que trabalham na Câmara, perceber quem f az o quê, e acho que é muito importante cada pessoa estar no sítio certo e f azer aquilo que gosta, chamando-os sempre para os projetos em que são especialistas e que conhecem bem, por outro lado, acho que na cultura as pessoas trabalham com uma motiv ação um pouco dif erente, e também como fui Secretária de Estado da Cultura não tiv e qualquer problema com o trabalho nem com as pessoas, e realmente esse cliché que existe que os f uncionários estão à espera que os políticos passem, eu sinceramente nunca senti isso na minha ativ idade, quer no Gov erno, quer agora aqui na Câmara, e acho que há um grande empenhamento e uma grande v ontade de todos, as condições é que são particularmente dif íceis no tempo em que corremos, e portanto os esf orços são muito grandes e estamos todos na mesma luta, e eu acho que esse é um sentimento que dá algum conf orto, de alguma f orma. Acho que não tenho nada de mais específ ico para dizer, acho que já f oram aqui abordadas as v arias questões todas elas bastante pertinentes, algumas com um pensamento bastante semelhante relativ amente à abordagem destes temas da identidade, e algumas mais dissonantes mas isso é essência dos debates e é para isso que os debates existem e portanto, acho que a Assembleia Municipal está de parabéns pela promoção desta discussão, e acho que dev ia de hav er mais discussões sobre temas culturais porque é v erdade que é um

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paradoxo que toda a gente f ala de cultura e de que esta é cada v ez mais importante e na v erdade os recursos para a cultura são cada v ez mais escassos, e nesse sentido acho muito importante esta iniciativ a da Comissão Europeia e espero que ela chegue a seu termo, tal como disse, está a ser pensada porque tem de passar pelos Estados membros e pelo Parlamento Europeu, mas é muito importante que alguém puxe o motor porque a cultura é hoje um f enómeno multidimensional, e quando eu dizia que esta questão da economia da cultura é também outra das questões transv ersais, cruciais em qualquer política cultural é porque acho que ela, muitas v ezes, e toda esta questão das economias criativ as, e acho que outro debate que dev ia de hav er dev eria de ser dedicado a este tema, porque de f acto há uma grande conf usão e há muitos conceitos que ainda não estão estabilizados e muitas v ezes a maior parte dos responsáv eis também não os sabe usar da maneira mais adequada em cada contexto, porque no f undo o campo cultural é muito div ersificado é feito de muita singularidade e, portanto, depois é muito dif ícil, a música é um terreno muito específ ico e dentro da música, a música popular e a música erudita são coisas completamente dif erentes. O cinema, o cinema f icção, ou documentários, ou cinema de animação, estamos a f alar de mundos completamente dif erentes, ciclos de v ida completamente dif erentes, com modos de produção completamente dif erentes, rentabilidades completamente dif erentes, e portanto, às v ezes e o que tem acontecido nestes últimos anos é este discurso da valorização do f ator económico, é sobrev alorizar o f ator económico em detrimento daquilo que é essencialmente cultural e eu acho que nunca podemos deixar de partir do cultural para o primitiv o para de seguida alargar a outros olhares, a outras abordagens”.

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A Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida: “A Assembleia municipal e a Comissão da Cultura tomaram a boa nota do desaf io que nos f oi colocado aqui pela Senhora Vereadora Catarina Vaz Pinto para a realização de mais colóquios sobre outros assuntos”.

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Dr.ª Margarida Bentes Penedo: “Eu penso que consigo dar uma resposta relativ amente curta à Senhora D. Teresa Crav eiro que, daquilo que entendi da pergunta que f ez, e div idi isto em duas partes, uma a Senhora D. Teresa Crav eiro pergunta porque é que a população não se apropriou do inv entário do património, e eu penso que a população não se apropriou porque a população se desinteressou e deixou de se interessar justamente a partir do momento em que se começou a aperceber que hav ia tanta gente a tomar conta da cidade e das decisões que dev iam de estar nas mãos dos cidadãos, quanto à f orma de habitar a sua cidade que a cidade deixou de ser deles, a cidade e os bairros deixaram de ser dos cidadãos, deixando estes de sentirem os seus bairros, as suas ruas, como sendo seus e dessa f orma deixaram de se interessar por aquilo que lá se passav a, e passa. Por outro lado, estou conv encida que os cidadãos têm medo de uma entidade e portanto, não v ão env iar um edif ício para uma lista de uma entidade, não se sabendo o que essa entidade irá f azer com ela, possiv elmente v ai proibir que se mexa mais. Portanto, isto é o sentimento que eu tenho percebido do que se passa nesses bairros, principalmente os mais antigos, os mais pobres, os mais sensív eis. Quanto ao discurso anti f uncionário público, f iz aqui uma menção a uma determinada atuação de f uncionários públicos numas circunstâncias muito especiais, e que repito são atuações incompetentes e, se calhar, nem sequer têm responsabilidade por isso: primeiro porque, de f acto, são pessoas colocadas a desempenhar lugares não tendo experiência do que é exercer a prof issão de arquiteto, e depois é que têm instruções para procederem assim, e isto é porque estou a f alar daqueles arquitetos, daquela conv ersa “se a trapeira é bicuda ou redonda, ou de que é que rev este”, e depois porque não é assim que se f az reabilitação, não é discutindo estas coisas que se f az reabilitação, f az-se reabilitação f acilitando a v ida às pessoas, aos promotores, aos particular e aos técnicos que eles escolhem para trabalhar, f acilitar-lhes a v ida para eles poderem f azer a sua manutenção e reabilitação de acordo com a f orma como

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entendem v iv er a cidade. E espero ter respondido às questões”.

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Prof. Manuel Gusmão: “Eu terminaria apenas acrescentando alguns dados a determinados problemas que aqui temos e que têm a v er com v erbas, com decisões, aproveitamento de recursos, etc., para chamar a atenção para uma coisa, há v ários anos que a UNESCO def iniu para países com o desenv olv imento semelhante ao nosso, um desenv olv imento médio, que as v erbas com a cultura, com a cultura artística basicamente, porque podemos f alar do que eu disse e da def inição que eu propunha de cultura, e podemos af irmar uma outra cultura que é a cultura científ ica, e uma outra que é a cultura f ilosóf ica que não é científ ica. Mas, portanto, as v erbas a gastar na cultura em países de desenv olv imento como o nosso, deveria de ser de 1% do PIB. Isto f oi adaptado por um português exigindo-se apenas 1% do Orçamento de Estado, ou nem isso, v amos v er o que é que isto quer dizer. Ora, 1% do Orçamento de Estado tem em relação ao PIB de alguns anos que v ou ref erir a seguir, é um v alor de 1 para 3,5. Concretamente as v erbas gastas com a cultura f oram superiores com o Ministro António Guterres, com o Ministro da Cultura de António Guterres, José Maria Carrilho, em que o orçamento f oi de 0,6%. Mas como v ocês sabem e se f izerem um esf orço de memória, Carrilho já não aceita f azer parte do segundo gov erno de António Guterres e supunhase, com alguma base de certeza, que o orçamento iria baixar, ele tinha prometido que 0,6% era apenas o patamar para atingir 1% do Orçamento de Estado. Depois v eio a descer, hoje não sei quanto estará, mas o último Gov erno perto do 0,2%, mas como é que era possív el, e agora a crise é a grande justif icação para não se dar dinheiro nenhum, se possív el. Ora, isto tem a v er com a inconsequência das f orças que nos gov ernam, e tem a v er com uma situação que é histórica, tem a v er com a f alta de continuidade histórica das instituições culturais do país o que é um f enómeno muito complicado, porque eu estou f arto da f alta de continuidade histórica num país que tem um Governo ditatorial, durante oito anos, mas as instituições eram extremamente f rágeis e em Portugal isto deu que, mesmo depois do 25 de Abril, quando hav ia uma cultura, tinha de

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implementar uma ressurreição política, e portanto, alterav a sistematicamente a estrutura orgânica do Ministério da Secretaria de Estado, mudav ase o pessoal por conv eniência e depois culpav am-se os f uncionários públicos. Ora, isto tem a v er com outras coisas, ainda, esta f alta de continuidade histórica das instituições culturais era acompanhada por um nív el muito baixo do desenv olv imento da educação e nós não podemos saf ar a educação presa num pacto de f azer mal à educação, presa no tempo. E nós chegamos ao século XXI, e sendo um país da Europa, e não tendo um sistema de ensino artístico integrado, isto é espantoso, mas não temos. E na segunda metade dos anos trinta, o ensino primário em Portugal f oi decapitado, e f oram atirados para lá os chamados agentes escolares que tinham como máxima f ormação a quarta classe. Ora, tudo isto pesa e dá esta inconsequência que nós não conseguimos manter sequer um orçamento de 0,6% para a cultura, e não podendo garantir isso, nós encontramos depois muitas desculpas, mas v ocês não f azem ideia do que são 0,6% na cultura em termos reais. Em termos absolutos são migalhas, e essas migalhas não conseguem ser juntas pelo senhor ministro, secretário-estado, seja quem f or, e isto não é possív el”.

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A Senhora Deputada Municipal Teresa Almeida: “Não há mais questões, e v amos assim passar ao f im do nosso colóquio mas antes queria agradecer aos oradores do painel, agradecer-lhes mais uma v ez as magnif icas contribuições que nos deram e as pistas que aqui nos deixaram para ref lexão f utura, e agora pedia à Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e à Senhora Presidente da Comissão da Cultura que v iessem até aqui que nós iremos para o lado de lá para encerrarem este debate. Mais uma v ez, muito obrigado. E a Comissão vai distribuir aos oradores uma pequeníssima lembrança pela participação no debate”. A Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Simonetta Luz Afonso: “Estamos a terminar a nossa sessão de hoje, e agradecia que não saíssem porque além da sessão de encerramento tem ainda aqui uma participação cultural ao v ivo e a cores, e acho que é muito interessante que todos possam assistir. E quero agradecer aos intérpretes que, hoje, aqui, quiseram v ir, principalmente ao nosso Deputado Municipal Gonçalo da Câmara Pereira que reuniu este grupo de artistas para f echarmos em beleza este dia dedicado à cultura. Dou a palav ra à Senhora Presidente da Comissão da Cultura, Educação, Juv entude e Desporto”.

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A Senhora Deputada Municipal Luísa Vicente Mendes: “Ref erindo que este colóquio f oi transmitido em direto e irá ser transcrito na íntegra, irei f azer uma síntese pondo em f oque alguns aspetos que os oradores, aqui connosco, partilharam. Começaria pelo painel da manhã, cujo tema era o rejuv enescimento da cidade, e a primeira oradora, Dr.ª Gabriela Canav ilhas, ref eriu muito concretamente a cidade das pessoas, a riqueza que numa cidade existe das div ersas culturas que se interligam, que se conjugam. Ref eriu, também, a importância do associativismo e colocou também uma tónica muito especial no ser necessário trav ar a descaracterização da identidade de Lisboa. O Prof essor José Quaresma f alou-nos no espaço público do Chiado que se estende, ou pelo menos, cujas f ranjas env olv em outras partes da cidade, f alando do rejuv enescimento na vertente da arte pública na v ertente do trabalho que é f eito com os jov ens, ref erindo a necessidade de existir uma parceria ef etiva entre a autarquia, e quando se ref eria à autarquia ref eria a Câmara e a Junta de Freguesia, mais propriamente a Junta de Freguesia dos Mártires, e os artistas. O Dr. Miguel Tiago Rosado f alou no rejuv enescimento da cidade na óptica dos jov ens, fazendo a caracterização social dos jov ens, f alou sobre a política do gov erno para os jov ens, f alou quase que no div órcio entre os jov ens e a política que atualmente está a ser seguida, ref eriu que uma of erta cultural terá que ser, paralelamente, também, seguida de uma of erta de trabalho, de uma of erta de habitação. Pediu que f ossem dados meios às associações juv enis para que estas se possam, não só constituir, como também consolidar de modo a que haja uma ef etiv a participação dos jov ens na política. O Dr. António Pedro Dores para além de manif estar a sua preocupação com o estado da democracia, ref eriu que a cidade está env elhecida, ref eriu div ersos problemas sociais relacionados com os jov ens que v iv em, principalmente, em

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bairros ditos problemáticos, e f oi o termo usado, e pediu que a cidade, para além de permitir o transporte grátis para os jov ens, a cidade desse mais espaço para que esses jovens se pudessem exprimir. Da parte da manhã f oram estes os oradores. Da parte da tarde, no segundo painel cujo tema era a identidade cultural de Lisboa, a Dr.ª Inês Pedrosa ref eriu a identidade de Lisboa em dif erentes áreas, sublinhou a necessidade da revitalização dessa mesma identidade e f ez uma menção à f alta de políticas continuadas. O Dr. Amaral Lopes deu-nos uma v isão vista de f ora, vista de quem v iv e fora de Lisboa e de Portugal, ref eriu a v isão que a União Europeia tem sobre como dev erá ser feita a abordagem das questões culturais, referiu um aspeto bem interessante e que f oi o peso cada v ez maior que o setor cultural tem para o desenv olv imento económico como gerador de recursos, e portanto, como gerador do desenv olvimento das populações. O Senhor Prof essor Dr. Manuel Gusmão f alou na complexidade do mundo da cultura, na arte como um v alor que não pode ser medido a qualquer preço, f alou no património v iv o, na criação contemporânea e na identidade cultural de Lisboa, considerando que Lisboa, como todos nós consideramos, é uma cidade multicultural. A Senhora Arquiteta Margarida Penedo ref eriu que os centros históricos estão a morrer, que f oram criados gabinetes técnicos que não dão resposta à def esa desses mesmos centros históricos, ref eriu a necessidade de reabilitação dos edif ícios devolutos e que a f orma dessa reabilitação dev erá ter em conta a f orma como cada um de nós v ê a cidade. O Arquiteto Pedro Soares Nev es ref eriu a arte urbana principalmente ref erindo a arte urbana com a sua expressão no bairro, mais propriamente começou por ref erir no Bairro Alto. A Senhora Vereadora Catarina Vaz Pinto para além de ref erir as políticas culturais para a cidade, ref eriu div ersos projetos que estão a ser desenv olv idos pela Câmara e ref eriu,

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também, alguns projetos e algumas ideias para que de f uturo também possam ser desenv olv idos nesta cidade. Eu concluiria dizendo que as pessoas que procuram Lisboa para v iv er procuram fundamentalmente qualidade de v ida, ou seja, essa qualidade de v ida obriga que sejam def inidas políticas ef etivas na área da cultura, mas também na área do urbanismo, na área da habitação, na área da mobilidade, ou seja, que Lisboa seja uma cidade das pessoas e para as pessoas, o que é dif erente de ser das pessoas e para as pessoas. Eu queria em nome da Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juv entude e Desporto, reiterar os meus agradecimentos a todos, mas a todos os que contribuíram para que ef etiv amente pudesse-mos, hoje, ref letir, por em comum, discutir a nossa cidade, muito obrigada”.

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ENCERRAMENTO A Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Simonetta Luz Afonso: “Eu gostav a de agradecer aos oradores, aos moderadores e ao público que assistiu e interv eio, enriquecendo o nosso debate. Queria f elicitar a Comissão de Cultura, Educação, Juv entude e Desporto pela iniciativ a e pelo trabalho continuado à v olta desta organização, e queria também, agradecer aos f uncionários da Assembleia Municipal e do São Luís, todos o apoio que deram a esta iniciativ a e o trabalho que têm tido com toda a boa v ontade e com todo o carinho e com todo o env olv imento. A identif icação das circunstâncias estruturantes de Lisboa é a condição necessária para a sua plena v alorização cultural e para o seu rejuv enescimento. De perf il urbano, marcadamente mediterrânico, com o património dif uso e uma importante serie de itinerários culturais identitários associados, a cidade dev e apostar hoje num desenv olv imento integrado que contemple não só uma política de interv enção no património monumental, mas também uma atenção especial às suas dinâmicas sociais, às pessoas, procurando o ponto de equilíbrio entre a continuação das v iv ências mais genuínas e a adaptação indispensáv el às necessidades e às tendências dos habitantes do século XXI. As cidades são organismos v iv os que nascem, crescem, adoecem, env elhecem e podem morrer. Lisboa perdeu nos últimos trinta anos trezentos mil habitantes. Lisboa não está só, a maior parte das cidades europeias queixam-se de env elhecimento. Que f enómeno é este, e quais as suas origens? Quais os erros cometidos? E quais as medidas que dev em ser tomadas para combater este f enómeno? É um tema transv ersal, de causas múltiplas, que v ão da má gestão urbanística, passando pela pressão imobiliária, à má

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qualidade dos transportes, à procura de melhor qualidade de v ida, ambiente, facilidades para a f amília, e para as crianças, jardins e parques, f acilidades de acesso ao lazer e à cultura, boas escolas, binómio qualidade/custo da habitação. Este f oi o sonho de milhares de jov ens que a partir dos anos sessenta partiram de Lisboa onde nasceram, e os seus pais, na maioria dos casos, continuaram a v iv er, e se instalaram nos redores da cidade, na grande Lisboa, continuando a trabalhar na cidade e tornando os acessos cada v ez mais dif íceis nas chamadas horas de ponta, obrigando a construir v ias rápidas sob v ias rápidas. A sua v ida, que sonharam um paraíso, com o tempo e o aumento do número de habitantes nos subúrbios, tornou-se pesada com muitas horas perdidas nos transportes, roubadas ao lazer e à f amília. O que f azer para rev erter a desertificação e o env elhecimento da cidade? Neste momento de crise é impensáv el trazer aqueles que saíram, nos anos sessenta, setenta, pois a maioria comprou casa e não tem como v endê-la. Temos pois de pensar numa geração mais nov a que v ai agora entrar no mercado de trabalho, se o houv er, e que dev ido á crise deixou de comprar casa e passou a alugá-la, até porque terá mais mobilidade, permitindo-lhe, também, mudar de emprego com mais f acilidade. Perante as circunstancias, o que podemos fazer para rev erter a situação sem ilusões apressadas, pois é um processo lento e que obriga a políticas concertadas e a uma continuidade de boas praticas que restabeleça a conf iança na cidade que v amos escolher para v iv er. O rejuv enescimento de uma cidade, ou antes, a rev italização como disse Inês Pedrosa, é uma operação cirúrgica que passa muito por não cometer os mesmos erros do passado que lev ou ao êxodo iniciado nos anos sessenta. Lisboa tem, neste momento, sento e v inte mil estudantes univ ersitários a quem é preciso dar a possibilidade de v iverem em Lisboa para aprenderem a gostar, a conhecer e a habituar-se a v iv er na cidade. A ideia de criar residências univ ersitárias em bairros antigos, não só recupera património degradado, como trás uma nov a v ida aos bairros, misturando

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de f orma saudável gerações e classes sociais, e habitantes nov os e antigos. Daria como exemplo aquilo que está a ser f eito no Intendente em que já há v árias residências univ ersitárias que têm trazido habitantes para aquela zona, onde eu assisti à três anos a um descontentamento das populações pela desertif icação da zona que era, depois, tomada por marginais, aumentando assim a segurança de todos. Associadas às nov as v iv ências v êm as industrias, as chamadas Industrias Criativ as, e as Centralidades Empresariais para as quais se têm de disponibilizar espaços. As Câmaras, ou o Estado, ou outras entidades públicas, têm de, na minha opinião, dar o exemplo, e criar condições para que depois a iniciativ a priv ada se encarregue do resto, mas é preciso dar um exemplo, dar um passo, e esse passo tem de v ir da parte da iniciativ a pública, não é f azer tudo, é começar. Este processo é uma espécie sem f im, que pode av ançar lentamente e dará os seus f rutos. Sem pretender entrar em pormenor com a nov a Lei do Arrendamento, nem em discussão sobre a sua bondade, penso que é necessário alterar a situação que se arrastav a desde o Estado Nov o, e que era pretexto para dif icultar a recuperação do património e a sua disponibilização no mercado de aluguer. Hoje, esse pretexto não existe. É óbv io que todas as mudanças desse tipo têm de ter em conta os mais v ulneráveis, e o Estado tem a obrigação de zelar por eles. Com os custos dos combustív eis a crescer dia-a-dia, e sem que os v eículos elétricos tenham, ainda, atingido o seu ponto alto, cada v ez mais as pessoas querem viver onde trabalham e usar os transportes públicos para as suas deslocações, ganhando em qualidade de v ida com mais tempo para a f amília e lazer. A cidade tem de se preparar para esta mudança de paradigma inv estindo num urbanismo de proximidade, em melhores transportes, melhores escolas, apoios à f amília, às crianças, aos jov ens e aos idosos, em espaços de lazer, parques e jardins, qualif icados, pequeno comércio, centralidades empresariais, dando especial atenção aos bairros e às suas conexões e às suas v iv ências.

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Curiosamente, e apesar de Lisboa ainda não ter conseguido recuperar os seus habitantes permanentes, é regularmente considerada e bem classif icada em div ersos ranckings internacionais entre as boas cidades do mundo para se v iv er. O estudo “Quality of Living”, de 2011, da Mercer, Consultora Internacional de Gestão e Inv estimento, que estabelece um rancking das cidades com maior nív el de qualidade de v ida, qualif ica Lisboa em quadragésimo primeiro lugar entre duzentas e v inte e uma cidades do mundo, tendo Nova Iorque como termo de comparação. Um outro estudo, também, Reptrak 2011, que é um estudo realizado pelo “Reputation Institute”, que tem por objetiv o apurar as cem cidades do mundo com melhor reputação, Lisboa f icou em v igésimo sétimo lugar em que os atributos mais v alorizados são ser uma cidade bonita, e aqui é a identidade cultural da cidade, obv iamente, está subjacente a esta designação cidade bonita, ter um ambiente seguro. Para uma cidade atingir um alto nível de reputação de acordo com o “Reptrak 2011”, dev e produzir, e passo a citar: “produtos e serv iços respeitados, possuir um ambiente cultural apelativ o, ser um centro internacional para os negócios, e ser uma cidade segura. O estudo assinala, ainda, que existe uma relação direta entre o nív el de reputação de uma cidade e a intenção de a v isitar ou de a habitar, de a recomendar a terceiros, ou instalar negócios nessa cidade. Lisboa encontra-se assim bem posicionada entre as cidades do mundo recomendadas muito tendo contribuído para esta posição a sua identidade cultural, o f acto de ser tida como uma cidade segura. Não desperdicemos pois, esta oportunidade, estejamos atentos e usemos esta plataf orma para ir mais longe e melhorar os setores mais f racos que temos. Para terminar, eu gostaria de retomar algumas das conclusões e recomendações do grupo que coordenei na Carta Estratégica de Lisboa, elaborada em 2009, e que f oi hoje aqui, de manhã, citada pela Senhora Deputada Gabriela Canav ilhas e dedicada à identidade cultural que se mantêm atuais.

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É preciso dar continuidade à implementação de estratégias para a promoção da cidade, e não dev em ser f eitas ao sabor dos ciclos de gestão autárquica, dev e-se fortalecer a imagem de marca da cidade, e essa imagem de marca é Lisboa, é a marca Lisboa, não se pode estar permanentemente a mudar logotipos e imagens, etc., porque as pessoas perdem-se. Ter um programa calendarizado e público de recuperação e requalif icação do património municipal. É importante que a cidade dê o exemplo começando a recuperar o seu próprio património e que disso dê conhecimento aos cidadãos e os f aça participantes. Criar políticas de incentiv o, nomeadamente, f iscais, junto de proprietários do património habitacional degradado que tenham f eito as melhores recuperações, isso pode ser um bom incentiv o para que os priv ados olhem de outra f orma para o seu património e não o deixem cair à espera, sempre, de ter a oportunidade de construir nov o. Conf erir o património cultural da cidade, material e imaterial, que é um f ator de identidade e de ref erência e que f az a dif erença na escolha de Lisboa como uma destas cidades dos rankings, a importância de v ida enquanto f ator de dif erenciação. Um bom exemplo f oi a candidatura bem-sucedida do Fado a património cultural e imaterial da humanidade. Aumentar a presença nas redes internacionais da criação contemporânea. Lisboa tem uma criação contemporânea e v imos aqui v árias intervenções que o prov am, e nós próprios o conhecemos, é preciso, também, internacionalizar essa criação contemporânea. Criar instrumentos de interpretação da cidade, parece-me que a cidade está carente dessa inf ormação pública, e não estou a f alar só de estrangeiros, estou a f alar de todos, estou a f alar do cidadão de Freixo de Espada à Cinta que v em a lisboa e tem o direito de perceber o que é que na sua capital é interessante e olha para um edif ício e quer saber do que é que se trata, portanto, a cidade precisa de ser contada a quem passa e não estou sequer a f alar dos estrangeiros, estou a f alar nos nacionais. Os estrangeiros lev am normalmente um guia e acabam por

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perceber. Mas como é obv io com o turismo que nós temos também f az sentido, mas, também, deveria de hav er placas, rotas organizadas, sinalética urbana, ef iciente e atenta às mudanças. Valorizar as dinâmicas da transculturalidade, e convivialidade, não permitindo que se percam pois são uma das mais-v alias da cidade e dos seus bairros, e uma das suas principais características identitárias que f azem a diferença com outras cidades e que podemos f azê-las remontar ao século XVI. Incrementar programas de v alorização da cidadania e v izinhança desde a inf ância. As escolas da Câmara f azem muito trabalho dev eras interessante, e esse trabalho tem de ter uma continuidade e não pode parar, porque é na mais tenra inf ância que se ganha o gosto pela cultura, pela cidade, pela cidadania, e que isso passa a f azer parte da educação normal de uma criança tão importante como saber ler, escrev er e contar. Utilizar as tecnologias de inf ormação e comunicação para maior env olv imento dos cidadãos de Lisboa nas políticas da cidade, e dou o exemplo do Orçamento Participativ o que de f acto utiliza as TIC’s, mas talvez pudéssemos ir um bocadinho mais longe nessa utilização. Já há, também, um canal para apresentar queixas de buracos nas ruas, f alta de luz, e coisas desse género, já há também um canal para esse tipo de coisas mas eu acho que se poderia ir um pouco mais longe. Agora com a abertura da Ribeira das Naus e que é um projeto interessantíssimo, abrir à cidade a antiga Ribeira das Naus, e com a prometida criação no Terreiro do Paço do Centro de Interpretação da Baixa, e a disponibilização das torres do Terreiro do Paço, f az cada v ez mais sentido, criar a partir daí percursos de v isita no eixo, e v ou dar-v os v ários exemplos, hav erá mais cinquenta, Janelas Verdes-Ajuda-Belém, que é a maior concentração de museus na cidade, no eixo Castelo, no eixo Mouraria, no eixo Av enidas Nov as-Quintas-Carnide, no eixo Santa Apolónia-Xabregas-Expo, criar um roteiro de lugares pessoanos, rotas do azulejo, rota do f ado, enf im, utilizar o v inte e oito, por exemplo, no seu percurso, permitindo que os seus passageiros desçam e v oltem ao

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elétrico e possam v isitar edif ícios e locais da cidade assinalando-os no próprio transporte, e assim a Casa Fernando Pessoa não teria dúv idas que seria v isitada com certeza como muitas outras coisas, o Museu do Design que f ica, também, no caminho, a Estrela, enfim, uma grande parte da cidade praticamente desde a Graça até Campo de Ourique e a Baixa, é percorrida pelo elétrico v inte e oito, o qual já tem uma dinâmica que é procurado por todos os estrangeiros que v êm a Lisboa e, portanto, é relativ amente f ácil atrav és dele promov er uma série de instituições culturais e de património da cidade que era interessante atrav és desta v isita, que as pessoas lev assem consigo. A imagem que Lisboa transmite para o exterior, como v imos, é relativ amente boa, enfim, os rankings v alem o que v alem, mas de qualquer f orma, os lugares que ocupa no imaginário de quem a conhece, e de quem a v isitou, são relativ amente bons. Há um “boca-orelha” f av oráv el, e nota-se no turismo que parece que se v ê, na Baixa, nas zonas mais importantes da cidade onde há muitos estrangeiros e gente nov a, digamos que o público estrangeiro que v isita a cidade mudou um bocadinho, talv ez também pelos transportes aéreos mais baratos, e aqui os nossos “graf iteiros” também têm os seus percursos, portanto há v árias coisas que atraem jov ens turistas à cidade e isso dev e incentivar-nos, eu acho, a f azer melhor pela nossa cidade de f orma continuada e pelos seus cidadãos e eu aqui estou a f alar naqueles que v iv em e habitam em Lisboa, a sua qualidade de v ida em primeiro lugar, e é de f acto a qualidade de v ida que as pessoas procuram. Tudo isto de que estiv emos a f alar é qualidade de v ida, e só assim conseguiremos rev italizar a cidade, um dos principais objetiv os de qualquer gov ernança. Muito obrigada.

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