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Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras MÓDULO II - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - DA ERA MODERNA AO ENTRE-GUERRA Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Curso: Relações Internacionais: Teoria e História - Turma 04 Livro: Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras Impresso por: Claudio Cunha de Oliveira Data: sexta, 23 janeiro 2015, 08:57 Página 1 de 69 Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras 23/01/2015 http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=19943

Rel - Th - Módulo II

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  • Evoluo Histrica das Relaes Internacionais - Da Era Moderna ao

    Entre-Guerras

    MDULO II - EVOLUO HISTRICA DAS RELAES INTERNACIONAIS - DA ERA MODERNA AO ENTRE-GUERRA

    Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB

    Curso: Relaes Internacionais: Teoria e Histria - Turma 04

    Livro: Evoluo Histrica das Relaes Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

    Impresso por: Claudio Cunha de Oliveira

    Data: sexta, 23 janeiro 2015, 08:57

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  • Sumrio

    Mdulo II - Evoluo Histrica das Relaes Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

    Unidade 1 - As Relaes Internacionais na Era ModernaPg. 2 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 3 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 4 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 5 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 6 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 7 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 8 - A Sociedade Europeia da Era ModernaPg. 9 - A Sociedade Europeia na Era ModernaPg. 10 - A Sociedade Europeia na Era ModernaPg. 11 - A Sociedade Europeia na Era ModernaPg. 12 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)Pg. 13 - A Guerra dos Trinta Anos ( 1618-1648)Pg. 14 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)Pg. 15 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)Pg. 16 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)Pg. 17 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIXPg. 2 - A Nova Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 3 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 4 - A nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 5 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 6 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 7 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 8 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 9 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 10 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 11 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 12 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - AntecedentesPg. 13 - AntecedentesPg. 14 - AntecedentesPg. 15 - AntecedentesPg. 16 - AntecedentesPg. 17 - AntecedentesPg. 18 - AntecedentesPg. 19 - AntecedentesPg. 20 - AntecedentesPg. 21 - Concluso

    Unidade 3 - A I Guerra Mundial e os Entre-GuerrasPg. 2 - A I Guerra MundialPg. 3 - A I Guerra MundialPg. 4 - A I Guerra MundialPg. 5 - A I Guerra MundialPg. 6 - A I Guerra MundialPg. 7 - A I Guerra MundialPg. 8 - A I Guerra MundialPg. 9 - A I Guerra MundialPg. 10 - A I Guerra MundialPg. 11 - A I Guerra MundialPg. 12 - A I Guerra MundialPg. 13 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 14 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 15 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 16 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 17 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 18 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 19 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 20 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 21 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 22 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 23 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 24 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 25 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 26 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem InternacionalPg. 27 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

    Exerccios de Fixao - Mdulo II

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  • Mdulo II - Evoluo Histrica das Relaes Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

    Esta aula apresenta um panorama histrico das Relaes Internacionais. Assista com ateno!

    Durao: 9min13

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    Unidade 1 - As Relaes Internacionais na Era ModernaUnidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIXUnidade 3 - A Primeira Guerra Mundial e o Entre-Guerras

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  • Unidade 1 - As Relaes Internacionais na Era Moderna

    Ao trmino desta unidade, o aluno dever ser capaz de identificar os principaisaspectos da evoluo histrica da Sociedade Internacional, do incio da IdadeModerna (sculo XV) ao fim das Guerras Napolenicas (sculo XIX). Dever,portanto, estar apto a discorrer sobre: As grandes navegaes; As lutas entre catlicos e prostetantes; A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648); A paz de Westflia(1648) e Europa no sculo XVIII e a ascenso da Frana como Potncia hegemnica.

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  • Pg. 2 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    O perodo que vai do ano 1000 at 1800 corresponde transio do feudalismo para o capitalismo. Nesse perodo, a sociedade europeia feudal rural, fragmentada no nvel nacional, unida pela religio e marcada pelos vnculos de vassalagem transformou-se em outra completamente distinta, a sociedade capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana, influenciada pelas transaes comerciais efundada nas relaes de trabalho assalariado.

    O Renascimento

    Marvin Perry observa que o termo Renascimento foi cunhado em referncia tentativa de artistas e filsofos de recuperar e aplicar a antiga erudio e modelos da Grcia e de Roma. O movimento surgiu na Itlia, aproximadamente em 1350 e se estendeu at meados do sculo XVII. No surgiu na Itlia por acidente. No sculo XIV, ela era a regio mais dinmica da Europa: inmeros centros comerciais, como Gnova, Veneza, Florena e Milo se desenvolviam com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comrcio com o Oriente e, com isso, destacavam-se no contexto europeu como Potncias comerciais e, algumas vezes, militares.

    O perodo um ponto de inflexo. Os contemporneos tinham a percepo de que davam incio a um novo tempo. Tanto assim que, para se diferenciarem, criaram o termo Idade Mdia para se referirem aos seus predecessores.

    O Renascimento especialmente marcado pelas mudanas ocorridas nas artes destacadamente na pintura, escultura e arquitetura e nas cincias. Na Idade Mdia, as artes tinham o propsito fundamental de servir religio crist, vinculando-se, muitas vezes, sdeterminaes da Igreja. Na Renascena, o importante era a valorizao do ser humano: tinha-se o antropocentrismo renascentista se contrapondo ao teocentrismo da Igreja de Roma.

    Essa percepo antropocntrica de mundo no significa, todavia, que houvesse uma rejeio religio. Sem se afastarem da religio, os renascentistas admitiam considerar o homem, obra mxima da Criao divina, o centro de suas atenes.

    Quatro acontecimentos so especialmente importantes nesse processo: o Renascimento, as Grandes Navegaes, o advento dos Estados nacionais absolutistas e a Reforma.

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  • Pg. 3 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    O Renascimento (cont.)

    E o Renascimento no ocorreu apenas nas Artes. A Cincia, da mesma forma, foi afetada pelas investigaes de Coprnico, Kepler e Galileu. Coprnico, por exemplo, foi o criador da teoria heliocntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revoluo, porque tirava da Terra a primazia sobre os demais corpos celestes.

    O Mapa 1 ilustra o desenvolvimento do Humanismo na Europa e a expanso renascentista da Itlia para todo o continente.

    Mapa 1: O Humanismo e a Renascena na Europa(Sculos XV e XVII)

    Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html

    Interessante notar nos crculos vermelhos e verdes os principais pontos de florescimento do Renascimento na Itlia e em toda a Europa, respectivamente. O quadrado rosa marca o local do surgimento da imprensa, e os principais focos artsticos esto assinalados pelos pontos negros, de fato, importantes cidades europeias. J as setas representam a difuso do renascimento italiano.

    Sugerimos pesquisa mais aprofundada a respeito da importncia doRenascimento na formao da sociedade europeia. Uma fonte importante A

    Evoluo da Sociedade Internacional, de Adam Watson (Braslia: Editora UnB,2004).

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  • Pg. 4 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    As Grandes Navegaes

    As Grandes Navegaes, iniciadas no final do sculo XV, so um marco na evoluo histrica da Sociedade Internacional. Por meio delas, os europeus aventuram-se alm dos limites tradicionais de seu continente e, de maneira generalizada, lanam-se pelos oceanos e seguem para os quatro cantos do mundo, entrando em contato com as sociedades asitica, africana e americana como nunca ocorrera antes. Com as Grandes Navegaes, tem incio um processo que culminaria na hegemonia europeia no mundo e na supremacia da chamadacivilizao ocidental sobre outros povos muitas vezes, com resultados fatais para as civilizaes no europeias.

    As Grandes Navegaes podem ser consideradas o primeiro processo de globalizao da era moderna. Com elas, o comrcio internacional se desenvolveu e foram estabelecidos vnculos entre as diversas sociedades internacionais que existiam na poca. Ademais, graas ao estabelecimento dos vnculos mercantilistas com o Novo Mundo as Amricas , com a frica e com o Extremo Oriente, a Europa sedesenvolveu, o modelo capitalista se estruturou, e os Estados-naes europeus se tornaram Grandes Potncias. Chegou-se ao ponto em que os conflitos entre os Estados europeus repercutiam pelo planeta.

    Trs fatores levaram s Grandes Navegaes do sculo XV e seguintes. O primeiro foi o surgimento de um vvido interesse pelas vantagens que poderiam ser obtidas por meio do comrcio. Para alcanarem a Europa, os produtos do Oriente ou da frica subsaarianapassavam por uma quantidade significativa de intermedirios. Tal fato encarecia substancialmente os produtos to desejados pelos europeus, como cravo, canela, pimenta, gengibre, noz-moscada, seda ou porcelana. A Economia, como fora profunda, impulsionaria os europeus para as Grandes Navegaes.

    Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na Europa. Sem eles, era muito mais difcil a compra de bens da sia ou da frica. Isso tambm dificultava o desenvolvimento das relaes comerciais e, consequentemente, das relaes sociais e polticas entre as diversas regies da Europa.

    Em terceiro lugar, o sculo XV foi um momento de grandes melhorias na construo de navios, nos conhecimentos geogrficos e nas habilidades navais. Nesse sentido, a tecnologia passou a ser outra fora profunda a produzir mudanas na conduta dos Atores internacionais do perodo. Vale lembrar que o conhecimento, tanto de construo de embarcaes quanto de tcnicas de navegao, era considerado um bem de extremo valor e cuja proteo era questo de Estado, fundamental para pases como Portugal e Espanha.

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  • Pg. 5 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    As Grandes Navegaes (cont.)

    Foram os portugueses que primeiro se lanaram em busca de novas rotas de comrcio, desafiando no s a realidade do desconhecido oceano, mas tambm as ideias e temores do desconhecido gerados pelo imaginrio medieval. Apesar dos custos e dos riscos altssimos, as viagens compensavam pelos tambm altssimos lucros obtidos. As viagens geravam, muitas vezes, lucros de at 6.000%.

    Os lucros serviam, pois, de motor que levava s incurses no litoral da frica e posterior circum-navegao desse continente, bem como s viagens at a ndia e descoberta, pelos europeus, da Amrica. E no tardou para que os europeus primeiro, os portugueses e espanhis e, depois, holandeses, franceses e ingleses instalassem feitorias em locais da sia, frica e Amrica, que, posteriormente, se transformaram em colnias.

    O Mapa 2 ilustra os imprios coloniais portugus (em vermelho) e espanhol (em verde) em seu apogeu. Destaque-se a linha divisria do mundo estabelecida por Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual, com o assentimento do Papa, os dois Estados catlicos buscavam legitimar seus direitos sobre as terras descobertas. Claro que nem os povos que viviam nessas terras e nem os demais monarcas europeus foram consultados, de modo que rapidamente Inglaterra, Frana e Holanda questionariam essa hegemonia luso-espanhola, inclusive com a irnica requisio do testamento de Ado que garantira aos ibricos a herana do mundo.

    Mapa 2: Imprios Coloniais do Sculo XV (Portugal e Espanha)

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm36.html

    O fato que logo as principais potncias europeias se lanariam em busca de novas terras e novas rotas, e uma nova rota era se iniciaria nas relaes internacionais.

    Como observa Perry (1999, p. 280), num desenvolvimento sem precedentes, uma pequena parte do globo, a Europa ocidental, tornara-se a senhora das vias martimas, dona de muitas terras em todo o mundo e o banqueiro e recebedor de lucros numa economia mundial que comeava a despontar. O pequeno continente dava sinais de seu poder e da dominao que exerceria nos sculos seguintes sobre povos e imprios de todo o globo.

    Sugerimos a leitura da obra de Paul Kennedy, Ascenso e Queda das GrandesPotncias, em que o autor comenta, entre outras coisas, como os povos de um

    continente fragmentado, com sociedades atrasadas em relao a outrassociedades do planeta, conseguem se lanar nos oceanos e conquistar o mundo e

    as sociedades mais prsperas e desenvolvidas.

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  • Pg. 6 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    As Grandes Navegaes (cont.)

    Os efeitos para as outras regies do mundo foram profundos: populaes inteiras especialmente nas Amricas foram dizimadas; outras tantas, particularmente na frica, foram reduzidas condio de escravas; plantas, animais e doenas foram espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e, principalmente, dava-se incio a um tipo de economia global nunca antes visto. So foras profundas que merecem ateno: a tecnologia, dado o aprimoramento das capacidades blicas dos europeus e a religio, uma vez que, junto com os conquistadores, iam os catequizadores e a ideia de obrigao que tinham os europeus de difundir o cristianismo aos povos mais atrasados (misses).

    O Mapa 3 ilustra a poca das grandes navegaes e da expanso europeia. A partir das terras conhecidas pelos europeus na Idade Mdia (trecho em laranja), h a expanso por terra com as viagens de Marco Plo que apresentaram a Europa ao Imprio Chins e por mar graas a intrpidos navegadores como Cristvo Colombo (que descobriu a Amrica), Vasco da Gama (o qual, ao dobrar o

    Mapa 3: As Grandes Navegaes e as Descobertas Europias

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm34.html

    Cabo das Tormentas, passando a cham-lo de Cabo da Boa Esperana, estabeleceu a rota martima para as ndias, garantindo a Portugal a hegemonia no comrcio com a sia) e Fernando de Magalhes (primeira viagem ao redor do mundo apesar de ele mesmo ter morrido no caminho) , e um Novo Mundo surge diante do europeu renascentista. Cite-se ainda as viagens do ingls Jean Cabot, que em 1497 chega Nova Inglaterra, e do francs Jacques Cartier, que em 1534 chega foz do rio So Loureno e toma as terras do Canad para a Coroa Francesa. O mapa revela as terras conhecidas pelos europeus no fim do sculo XVI (em amarelo).

    Para melhor compreender o significado das grandes navegaes e seu impacto nas relaes internacionais dos sculos XV e XVI, um filme interessante 1492: A Conquista do Paraso, de Ridley Scott. Para saber mais sobre o filme, veja o resumo e o contexto histrico na internet.

    Leia tambm o texto As Grandes Navegaes .

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  • Pg. 7 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    O Advento do Estado Absolutista

    A partir do sculo XIII, ocorreu na Europa o fenmeno do fortalecimento do rei e da monarquia. Por intermdio de guerras, alianas e casamentos, os reis se fortaleceram e foram decisivos nos processos de construo dos Estados nacionais europeus. Os Estados nacionais se formaram, ento, como uma cunha entre o poder local da nobreza e das cidades e o poder universal da Igreja. Alguns, como Espanha, Frana e Inglaterra, foram bem sucedidos. Outros, como Itlia e Alemanha, no conseguiram constituir-se em unidades nacionais at a ltima metade do sculo XIX.

    O Mapa 4 revela a diviso da Europa no sculo XIII.

    Mapa 4: A Europa no Sculo XIII

    Fonte: http://perso.wanadoo.fr/alain.houot/index.html

    No processo de fortalecimento da monarquia, foi importante a criao de algumas instituies. A primeira delas foi a do imposto nacional, que se diferenciava da cobrana de tributos feita pelos senhores feudais. Enquanto esta se fundava nas relaes pessoais de vassalagem, o imposto moderno baseava-se na ideia de que a contribuio era feita para a construo de um bem comum.

    A segunda importante instituio foi a de exrcitos nacionais. Se, antes, os reis dependiam das relaes pessoais com a nobreza, pois precisavam dos senhores feudais e de seus exrcitos particulares, agora tinham uma fora militar prpria, mantida com os novos impostos arrecadados.

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  • Pg. 8 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

    O Advento do Estado Absolutista (cont.)

    O terceiro aspecto importante para o desenvolvimento do Estado absolutista foi a criao de uma administrao civil ligada ou ao rei ou ao Estado. Dessa forma, o soberano se desligava das relaes particulares com a nobreza para poder governar. Ademais, tinha-se a o embrio do que seria a burocracia estatal, essencial para o governo dos Estados modernos.

    Os Estados absolutistas eram, pois, Estados em que o poder se encontrava concentrado, em razo das instituies como o sistema tributrio, o exrcito nacional e a administrao pblica, nas mos do rei. A figura doEstado se fundia com a do soberano. Da as palavras atribudas a Lus XIV, soberano absolutista francs: LEtat cest moi! (o Estado sou eu!).

    Importante considerar, tambm, a preocupao dos Estados absolutistas com a economia nacional, especialmente com o comrcio. Essa preocupao se dava, porque visava arrecadao de fundos, especialmente sob a forma de metais preciosos e impostos. Nesse sentido, uma nova classe, cada vez mais prxima do soberano, seestruturou: a burguesia. Era formada pelos comerciantes e outros profissionais liberais das cidades que ganhavam fora frente nobreza ao contribuir para o financiamento do Estado moderno.

    Por fim, o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudana no sistema internacional. Hlio Jaguaribe (2001, p. 481) observa que o sculo XVII se caracterizou na Europa pela emergncia de grandespotncias, contrastando com o mundo do Renascimento, quando as cidades-estado da Itlia desempenhavam os principais papis na arena internacional, cercadas por pases potencialmente poderosos, como a Frana, a Espanha e a Inglaterra, que, no entanto, viviam em condies medievais. No princpio do sculo XVII, essespases tinham conseguido em grande parte alcanar sua integrao nacional, e comeavam a ter um papel internacional importante."

    Uma obra importante sobre o Absolutismo "Linhagens do EstadoAbsolutista", de Perry Anderson.

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  • Pg. 9 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

    A Reforma (cont.)

    No ano de 529, a Academia de Plato, em Atenas, fora fechada. Em um decreto desse ano, o imperador romano Justiniano manifestou-secontra a filosofia, iniciando uma acomodao do desenvolvimento cultural em direo Igreja. No mesmo ano, fundada a Ordem dos Beneditinos, a primeira grande ordem religiosa. Dali em diante, os mosteiros passariam a deter o monoplio da educao, da reflexo e da meditao. Na Idade Mdia, teve plena vigncia o clssico ensinamento de Agostinho: necessrio compreender para crer e crer para compreender.

    No sculo XVI, iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa, que marcou o fim do monoplio religioso da Igreja Catlica Romana sobre a Europa Ocidental. Esse movimento afetaria definitivamente a poltica, a economia, a cultura, a sociedade, enfim, as relaes de poder no cenrio europeu e mundial.

    At a Reforma, alm do monoplio sobre a f da cristandade, a Igreja Catlica tinha um domnio cultural, poltico, econmico e espiritual nico. Cada aspecto da vida era rigidamente controlado. A fora do Papa, o Bispo de Roma, tanto poltica quanto religiosa, sobre a Europa Ocidental era tamanha que, no sculo XIII, a Igreja podia proclamar que cada pessoa, praticamente em toda a Europa Ocidental, tinha f em Deus de acordo com sua doutrina e seus sacramentos.

    Esse controle, no entanto, acabou por se voltar contra a prpria instituio. Como observa Perry (1999, p. 231), obstrudo pela riqueza, viciado no poder internacional e protegendo seus prprios interesses, o clero, do papa abaixo, tornou-se alvo de um bombardeio decrticas.. De um lado, criticava-se a supremacia da Igreja sobre os reis. De outro, a corrupo, o nepotismo, a busca de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa, o relaxamento do cumprimento das obrigaes espirituais e a venda de indulgncias. Inmeros cristos passaram a criticar abertamente as prticas da Igreja e do clero. O mais famoso e mais importante crtico da Igreja foi o monge Martinho Lutero.

    A Reforma se iniciou em 1517, com as crticas de Lutero venda de indulgncias. Indulgncias eram obras que os cristos faziam, em vida, para reduzir o seu tempo, aps a morte, no purgatrio. A maior parte dessas obras era constituda de doaes Igreja. Lutero questionava a validade moral da venda de indulgncia e a possibilidade de que elas poderiam redimir o homem pecador. Lutero defendia que o homem, apesar de ser intrinsecamente condenado pelo pecado original, poderia obter a redeno por meio da f, do arrependimento pessoal, do arrependimento pelos pecados e pela confiana na piedade de Deus.

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  • Pg. 10 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

    A Reforma (cont.)Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge propunha, em ltima instncia, a dispensa da necessidade da prpria Igreja para que o homem tivesse sua religiosidade e seu contato com o Criador. As consequncias da doutrina luterana ultrapassavam a esfera religiosa, pois ameaavam a dominao poltico-ideolgica que a Igreja de Roma exercia sobre os reinos europeus e seus soberanos.

    Lutero, ao contrrio de outros que atacaram a Igreja, obteve proteo da aristocracia europeia. Mais especificamente, foi protegido por Frederico, prncipe da Saxnia, na Alemanha. Posteriormente, Lutero deixou claro que no desejava de forma alguma ser uma ameaa autoridade poltica dos prncipes alemes. Almdisso, declarou que o bom cristo era aquele que obedecia s leis e ordem.

    De fato, Martinho Lutero obteve a simpatia de prncipes e de cidades em toda a Alemanha. As razes foram simples. Ao se desqualificar a Igreja Catlica, abria-se a possibilidade de confisco das terras desta pelos prncipes e nobres e do fim dos pesados tributos que a ela eram pagos. Alm disso, os prncipes alemes sentiam-se livres para resistir ao Sacro Imprio Romano, do catlico Carlos V. Este, pressionado por ameaas externas a Frana, a oeste, e os turcos, a leste acabou por assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Esse acordo basicamente definiu que cada prncipe poderia determinar a religio de seus sditos.

    Filme indicado: Lutero, de Eric Till, conta a histria do monge alemo que se rebelou contra o abuso de poder na Igreja Catlica h 500 anos. Trata-se de filme interessante para auxiliar na compreenso da Reforma e da Contrarreforma.

    As 95 teses de Lutero que abalaram a Europa renascentista esto disponveis em um sitiointeressante: a Revista Espao Acadmico. Veja, tambm, a biografia do monge.

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  • Pg. 11 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

    Reforma (cont.)

    No Mapa 5, temos a Europa no sculo XVI, dividida entre os diferentes grupos de protestantes (em verde) calvinistas, luteranos e anglicanos , catlicos fiis a Roma (em rosa) e ortodoxos (em laranja). Cite-se ainda a constante presso do Imprio Otomano, baluarte do mundo islmico e um Ator muito relevante no cenrio europeu da poca. Claro que as disputas da cristandade centravam-se em catlicos x protestantes, mas alianas com Constantinopla muitas vezes eram consideradas.

    Mapa 5: A Europa poca da Reforma: a Diviso da Cristandade

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm32.html

    importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa parte da Europa. O protestantismo, no s da linha luterana, espalhou-se com muita rapidez por todo o norte do continente. A reao catlica, a Contrarreforma, deu-se sob diversas formas. A primeira delas foi no campo da atuao religiosa. Como observa Perry (1999, p. 242), a princpio, a energia para a reforma veio doclero comum, bem como de leigos como Incio de Loyola. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. Como fora treinado como soldado, ele organizou os jesutas de forma rgida e altamente disciplinada.

    A Contrarreforma tambm enfatizava a pregao, a reconverso dos que se afastaram da Igreja, a construo de templos, a censura, a perseguio a protestantes e a outros hereges. Tambm importante ressaltar que a Igreja, por intermdio do Conclio de Trento, de 1545 a1563, modificou ou eliminou muito dos pontos criticados pelos protestantes, como, por exemplo, a venda de indulgncias. Por outro lado, o Conclio no fez nenhuma concesso ao protestantismo.

    A Reforma significou o enfraquecimento da Igreja e o consequente fortalecimento dos Estados. Alm disso, a Europa se viu dividida em duas: uma protestante, no norte, e outra catlica, no sul do continente. Essa tenso permaneceria e seria especialmente sentida no sculo seguinte.

    De fato, as disputas entre catlicos e protestantes teriam um importante reflexo nas relaes internacionais europeias durante mais de dois sculos, em especial porque estavam associadas tambm s rivalidades entre as Potncias europeias. Do ponto de vista das relaes internacionais, os novos Estados protestantes aliavam-se para se contrapor dominao hegemnica da Igreja e de seu principal defensor poltico, a dinastia dos Habsburgos, o grandehegemon europeu, que tinha um imprio que englobava a Espanha e a ustria. Essas rivalidades religiosas e polticas culminariam na Guerra dos Trinta Anos.

    Os conflitos entre catlicos e protestantes marcaram a Europa por dois sculos, e seus efeitos alcanam nossos dias. Um filme muito interessante para se compreender o perodo A Rainha

    Margot, de Patrice Chreau. Veja o resumo e o contexto histrico do filme.

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  • Pg. 12 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    A Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, primeiro grande conflito armado dos tempos modernos, envolveu grande parte da Europa. Essa grande confrontao do sculo XVII poria termo ao perodo de um sculo de disputas entre catlicos e protestantes e daria incio a um novo sistema europeu de relaes internacionais cujos fundamentos alcanariam o sculo XXI.

    O sistema internacional no sculo XVII foi marcado inicialmente pela preponderncia da Espanha. Seus concorrentes, porm, no tardaram a ocupar o seu lugar de destaque. A Frana surgiu como um pas importante enquanto a Inglaterra preparou o terreno, especialmente nas ltimas dcadas do sculo, para se tornar hegemnica no sculo seguinte. A perda da hegemonia espanhola esteve ligada a vrios fatores. Jaguaribe (2001, p. 486) observa que a decadncia espanhola resultou da combinao de quatro causas principais: certas debilidades institucionais; estruturas sociais predatrias; compromissos ideolgicos utpicos; e a adoo de polticas equivocadas

    Importante lembrar que a Espanha, catlica, era a potncia hegemnica no incio do sculo XVII. O domnio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a Pennsula Ibrica, as colnias da Amrica, incluindo o Brasil, o sul da Itlia, Milo, ilhas no Mediterrneo, Filipinas e enclaves na frica.

    Especialmente equivocada foi a deciso espanhola de ser defensora da f catlica. Isso no apenas fez ressurgir, em grau muito maior, as guerras religiosas do sculo anterior, mas tambm levou a Espanha a perder a sua condio de principal potncia do continente europeu.

    O sculo XVII, ressalta Jaguaribe (2001, p. 485), "foi marcado pelos conflitos religiosos mais agudos j ocorrido no ocidente. Herdados do sculo precedente, eles culminaram na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)", que foi, pois a tentativa militar dos catlicos de conter o protestantismo.

    O Mapa 6 ilustra a Europa em 1600, dividida entre reinos catlicos e protestantes.

    Mapa 6: A Europa em 1600

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr7.html

    Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos, convm um rpido parntese. Em 1556, o Imperador Carlos V, aps ter assinado a Paz de Augsburgo, abdicou e dividiu em dois os seus domnios: de um lado, a Espanha, Pases Baixos, colnias americanas e Itlia ficaram para seu filho Felipe II (no mapa, em laranja); de outro, a ustria, que ficou com seu irmo Fernando (em amarelo). Com isso, a famlia Habsburgo ficou dividida em dois ramos, ambos catlicos e, frequentemente, aliados.

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  • Pg. 13 - A Guerra dos Trinta Anos ( 1618-1648)

    A Guerra

    A chamada Guerra dos Trinta Anos comeou em 1618 como conflito religioso entre catlicos e protestantes na Bomia e adquiriu carter poltico em torno das contradies entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, ustria, Hungria, Espanha, Holanda, Dinamarca, Frana e Sucia.

    Importante para o incio da Guerra dos Trinta Anos foi a ascenso de Fernando II ao trono austraco, em 1619. Na poca, Fernando II, imperador do Sacro Imprio Romano-Germnico era tambm rei da Bomia. Os rebeldes negaram-lhe esse ttulo e entronizaram o prncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado. Segundo Perry (1999, p. 266):

    A Guerra dos Trinta Anos comeou quando os bomios (...) tentaram colocar no seu trono um reiprotestante. Os Habsburgos austracos e espanhis reagiram, mandando um exrcito ao reino da Bomia; de sbito, todo o imprio foi forado a tomar partido dentro de linhas religiosas. A Bomia sofreu uma devastao quase inimaginvel: trs quartos de suas cidades foram saqueadas e queimadas e sua aristocracia foipraticamente exterminada.

    O resultado foi o envolvimento de outros prncipes protestantes. O mais importante deles na primeira fase da Guerra, que vai at 1632, foi o rei da Sucia, Gustavo Adolfo, morto em batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre Fernando II e os prncipes alemes leva cena um novo Ator, a Frana, preocupada com a excessiva fora que poderia ter a ustria.

    Sob o comando do cardeal Richelieu, a Frana, apesar de catlica como os austracos, posicionou-se contra estes. Primeiramente, de forma encoberta, depois de maneira ostensiva. Richelieu estava convencido de que a continuidade da Frana como grande poder internacional dependia da guerra contra os Habsburgos. Assim, a Frana financiava ou apoiava todos os que se opusessem ao domnio austraco ou espanhol, ou, quando necessrio, guerreavam diretamente contra eles. A Frana, alis, derrotou o at ento imbatvel exrcito espanhol na batalha de Rocroy, em 1643. Para a Espanha, o custo dessa derrota foi altssimo, pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exrcito e a vida de 15 mil soldados.

    A maneira como Richelieu se portou politicamente influenciaria o sistema internacional pelos prximos sculos. Richelieu criou ou ajudou a criar conceitos como o de razo de estado e equilbrio de poder. Henry Kissinger (1999, p. 60) analisa que de incio, ele [Richelieu] queria impedir a dominao dos Habsburgos sobre a Europa, mas ao final deixou um legado que por dois sculos provocou seussucessores a tentarem o primado francs na Europa. Do fracasso dessas tentativas, brotou o equilbrio de poder, primeiro como um fato da vida, depois como forma de organizar relaes internacionais (...). Quando a guerra terminou, em 1648, a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera quase um tero de sua populao. No tumulto desse conflito trgico, o cardeal Richelieu enxertou o princpio da raison dtat (razo de estado) na poltica externa francesa, princpio que os outros estados europeus adotaram nos cem anosseguintes.

    Convm reproduzir mais algumas das concluses de Kissinger (1999, p. 63): o objetivo de Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da Frana, exaurir os Habsburgos e impedir a emergncia de uma grande potncia nas fronteiras da Frana especialmente na fronteira alem. Seu nico critrio para alianas era que elas atendessem aos interesses da Frana, aplicado primeiramente aos estadosprotestantes, mais tarde at ao Imprio Otomano muulmano.

    Assim, a conduta da Frana reflete a maneira racional e pragmtica como as grandes Potncias atuam no cenrio internacional. Apesar de catlica, a Frana no hesitou em aliar-se aos protestantes para se contrapor hegemonia espanhola. Essa conduta garantiria o fortalecimento da Frana nos anos seguintes, de modo que, com o fim da guerra e o declnio do poder espanhol, o Estado francs assumiria o papel de nova Potncia hegemnica no continente.

    A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westflia (1648), e uma Nova Ordem seria estabelecida no cenrio europeu e, consequentemente, nas relaes internacionais da Era Moderna.

    Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o stio Vultos e episdios da pocaModerna.

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  • Pg. 14 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    A Paz de Westflia (1648)A paz foi alcanada porque a guerra, aps as suas vrias fases, se mostrou impossvel de ser vencida de maneira efetiva. SegundoJaguaribe (2001, p. 483), se foi possvel chegar finalmente a um acordo negociado, depois de disputas ferozes, isso se deveu incapacidade dos Atores em conflito de impor pela fora os seus respectivos dogmas.

    O primeiro dos tratados, assinado em janeiro de 1648, ps fim guerra entre Espanha e Holanda. Em outubro do mesmo ano, pressionada por seus aliados alemes, a Espanha tambm selou a paz com os franceses.

    Os tratados de Westflia significaram o fim das ambies dos Habsburgos austracos e espanhis e a vitria da poltica externa francesa, iniciada com Richelieu. Os franceses, alm de acabarem com as pretenses dos seus adversrios, ainda tiveram algumas importantes conquistas territoriais. O fantasma de uma Alemanha unificada, ameaa Frana pelo leste, manteve-se afastado por duzentos anos.

    Carpentier e Lebrun (1993, p. 229) anotam que a Europa era politicamente muito diferente da de 1560 ou 1600. A Casa da ustria j no era um perigo para a paz europeia. (...) A Espanha, enfraquecida e amputada, j se no contava entre as potncias de primeira plana. A Inglaterra, sada do isolamento em que havia ficado a seguir guerra civil (...), as Provncias Unidas [Holanda], independentes e aumentadas, a Sucia, dominadora do Bltico, eram j grandes potncias (...). O facto essencial era, todavia, a situao de preponderncia adquirida pela Frana. O reino (...) no s era mais vasto e mais bem defendido como tambm dispunha de uma clientela em que se contavam quase todos os pases europeus. De resto, o prestgio intelectual e artstico da Frana no cessava de crescer. Comeara a era da preponderncia francesa na Europa.

    No Mapa 7, pode-se perceber a nova configurao de poder no continente europeu, com destaque para as fronteiras nacionais e os limites assegurados pelo Tratado de Westflia. A maior parte dessas fronteiras acabaria modificada nos sculos seguintes.

    Mapa 7: A Europa em 1648

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr9.html

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  • Pg. 15 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    O Legado de Westflia

    Importante sublinhar que o Tratado de Westflia marca o fim de cento e cinquenta anos de conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das ambies dos Habsburgos. Nasce, ento, um novo tipo de Sistema Internacional, cujos Atores eram, essencialmente, osEstados. Alm disso, a histria posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princpio da anti-hegemonia, isto , os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a potncia hegemnica (balano de poder). O Tratado de Westflia, assim, foi responsvel por grandes mudanas no sistema internacional europeu. Ao contrrio de boa parte dos acordos e pactos que eram firmados anteriormente, ele no serviu apenas para pr fim a um conflito, mas tambm para tornar o Estado o principal Ator das relaes internacionais. Alm disso, os Estados, independentemente do tamanho, se viram como iguais e participantes de um mesmo Sistema Internacional.

    Trata-se de um momento histrico fundamental para as Relaes Internacionais. O Tratado de Westflia, de 1648, inaugurou uma nova fase na histria poltica daquele continente, propiciando o triunfo da igualdade jurdica dos Estados, com o que ficaram estabelecidas slidas bases para uma regulamentao internacional mnima. Essa igualdade jurdica elevou os Estados ao patamar de nicos Atores nas polticas internacionais, eliminando o poder da Igreja nas relaes entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de escolher seu prprio caminho econmico, poltico ou religioso. Ficou, ento, consagrado o modelo da soberania externa absoluta, tendo incio uma ordem internacional protagonizada por Atores com poder supremo dentro de fronteiras territoriais estabelecidas. Mais tarde, os contratualistas (Locke, Rousseau) e, em 1789, a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, trariam os elementos caracterizadores da soberania que seriam adotados por vrias Constituies: unidade, indivisibilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade.

    Importante tambm sublinhar que o primeiro ponto em que os diplomatas em Westflia acordaram foi que as trs confisses religiosas dominantes no Sacro Imprio (o catolicismo, o luteranismo e o calvinismo) seriam consideradas iguais. Revogava-se, assim, a disposio anterior nesse assunto, firmada pela Paz de Augsburgo, em 1555, que dizia que o povo tinha que seguir a religio do seu prncipe (cuius regios, eius religio). Isso no s abria uma brecha no despotismo como abria caminho para a concepo de tolerncia religiosa, que, nosculo seguinte, se tornaria bandeira dos iluministas, como John Locke e Voltaire. Alm disso, a nova doutrina da Razo de Estado, extrada das experincias provocadas pela Guerra dos Trinta Anos, exposta e defendida pelo Cardeal Richelieu, defendia que um reino tem interesses permanentes que o colocam acima das motivaes religiosas. O antigo sistema medieval, que depositava a autoridade suprema no Imprio e no Papado, dando-lhes direito de interveno nos assuntos internos dos reinos e principados, foi substitudo pelo conceito de soberania de Estado, inaugurando-se um novo sistema em que os Estados tm direitos iguais baseados numa ordem constituda por tratados e pela sujeio lei internacional.

    Essa situao poltico-jurdica perdura at os nossos dias, apesar de haver hoje, particularmente da parte dos EUA, um forte movimento supranacional intervencionista, com o objetivo de suspender as garantias de privacidade de qualquer Estado frente a uma situao de emergncia ou de flagrante violao dos direitos humanos.

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  • Pg. 16 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    A Nova Ordem Internacional a partir de Westflia

    A histria europeia aps o tratado de Westflia a contnua busca, por parte da Frana, de obteno da hegemonia europeia e a resistncia, por parte dos demais Atores europeus, a esse intento. Na busca desses objetivos, imperam as relaes pragmticas e as alianas de ocasio. No sculo que se seguiu Paz de Westflia, a raison dtat [razo de estado] passou a ser o princpio orientador da diplomacia europeia, registra Kissinger (1999, p. 66).

    O perodo pode ser divido em trs fases:

    A primeira vai de 1648 a 1740 e de preponderncia francesa. A ustria recuou de suas pretenses na Alemanha e conquistou, gradativamente, vastas regies ao longo do rio Danbio. A Espanha lentamente se retirava do papel de potncia de primeira ordem. A Inglaterra, a partir da Revoluo Gloriosa, de 1688, tornou-se uma monarquia em que o Parlamento tinha papel preponderante. A Frana, especialmente sob Lus XIV esforou-se (...) por reforar o absolutismo monrquico em Frana e por impor, mais ou menos diretamente, a sua lei Europa. Falhou, porm, nesta sua ltima pretenso perante a coligao dos Estados europeus enquanto, na Europa Central eOriental, a Prssia comeava a salientar-se, e Pedro, o Grande, procurava conseguir que a Rssia sasse do seu isolamento (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 233).

    Essa Europa do incio do sculo XVIII encontra-se no Mapa, veja:

    Mapa 8: A Europa no Incio do Sculo XVIII

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr11.html

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  • Pg. 17 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

    A Nova Ordem Internacional a partir de Westflia (cont.)A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderncia martima da Inglaterra e pelo equilbrio das potncias continentais. A luta, no mar e nas colnias, entre a Inglaterra onde, a despeito das tendncias de poder pessoal de Jorge III,prosseguia a evoluo para o regime parlamentar e a Frana onde o absolutismo de Lus XV e Lus XVI enfrentava dificuldades cada vez maiores veio a dar a vantagem Inglaterra, que se tornou a primeira potncia mundial graas sua superioridade martima e ao avano resultante dos comeos da revoluo industrial. Na Europa Central e Oriental, a Prssia de Frederico II, a ustria de Maria Teresa e Jos II e a Rssia de Isabel e de Catarina II eram concorrentes entre si, mas equilibravam-se e chegaram a acordo para crescer custa do Imprio Otomano e da Polnia, que foi totalmente desmembrada (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 247).

    O ltimo perodo vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do apogeu e do fracasso do projeto de uma Europa francesa.Entre 1789 e 1815, a Europa respirou ao ritmo da Frana. A Grande Nao imps-se, primeiro, pela fora das ideias e, depois, pela das armas. De 1792 at 1815, a guerra ops permanentemente a Frana s monarquias europeias. Napoleo Bonaparte, herdeiro dessa guerra, tentou construir uma Europa Continental francesa. Mas a obstinao britnica, que inspirava e financiava as diversas coligaes das coroas, acabaria por vencer o Grande Imprio. A Frana foi, ento, vtima no s dos reis como tambm dos povos, cujos sentimentos ajudara a despertar (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 277).

    Sob o prisma das Relaes Internacionais, convm observar a importncia da Potncia hegemnica em um sistema e o grau de influncia sobre os outros Atores. Na Nova Ordem estabelecida a partir de Westflia, a Frana ascendeu condio de Potncia hegemnica, que havia sido da Espanha sob os Habsburgos. O sculo que se seguiu Guerra dos Trinta Anos foi um sculo francs, no qual a sociedade internacional era influenciada pela sociedade francesa. Da a expanso do Iluminismo pela Europa e Amricas, os costumes e at o idioma francs influenciando outros povos ou gerando reaes nacionalistas, como ocorre hoje com a lngua inglesa e o american way of life.

    Assim, o sistema passou a gravitar em torno da Frana. Essa ordem comeou a ruir quando se modificou o equilbrio de poder no continente, em virtude de transformaes radicais no interior do hegemon. A maior dessas transformaes foi a Revoluo Francesa, que abalou a estrutura de poder no interior da Potncia hegemnica e acabou repercutindo em todo o continente chegando inclusive ao Novo Mundo com as guerras napolenicas.

    Mais um livro til como referncia sobre o perodo a partir de uma perspectiva deRelaes Internacionais, alm do j sugerido anteriormente - Ascenso e Quedadas Grandes Potncias", de Paul Kennedy -, "Diplomacia", de Henry Kissinger.

    Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o stio Vultos e episdios da pocaModerna.

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  • Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX

    Ao concluir o estudo desta Unidade, o aluno dever ser capaz de discorrer sobre osprincipais aspectos das relaes internacionais do sculo XIX, particularmentesobre: Os antecedentes da Nova Ordem do sculo XIX: a Revoluo Francesa e asGuerras Napolenicas; O congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu; As Revolues do sculo XIX; os nacionalismos e as unificaes da Itlia e da Alemanha; a ascenso da Alemanha unificada como Grande Potncia; o neocolonialismo; os novos atores entre as Grandes Potncias fora da Europa; Estado-nao.

    Bom estudo! No se esquea de fazer anotaes, de abordar comcomprometimento os exerccios de fixao oferecidos e de,

    sempre que possvel, realizar atividades propostas para tornar o curso maisdinmico: filmes, livros, links na Internet.

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  • Pg. 2 - A Nova Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    A Revoluo Francesa

    A Revoluo Francesa (1789) foi um evento que marcou profundamente a sociedade europeia. Inspirada pelos ideais iluministas e liderada pela burguesia com apoio popular, a Revoluo tinha por lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" e ressonou em todo o mundo, da Europa ao continente americano, pondo abaixo regimes absolutistas e ascendendo os valores burgueses. Foi marco e referncia para grandes transformaes sociais e polticas que aconteceriam pelo mundo nos sculos seguintes.

    O Mapa 9 apresenta a configurao poltica da Europa poca da Revoluo Francesa. Note-se como a Frana Revolucionria estava cercada pelas potncias absolutistas defensoras do Antigo Regime. Apesar disso, os ideais revolucionrios se expandiriam para muito alm das fronteiras do Reino da Frana.

    Mapa 9: A Europa poca da Revoluo Francesa

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr13.html

    Registre-se que essa ressonncia da Revoluo Francesa foi tanto prtica quanto simblica. A Revoluo foi marcante por ter atingido a principal monarquia europeia e o maior e mais populoso pas europeu (se excluda a Rssia). De fato, as transformaes que marcariam a Europa e a civilizao ocidental no sculo XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas mudanas ocorridas no mbito domsticoda Frana, ento a Potncia hegemnica no continente. Nesse sentido, podemos perceber como transformaes nas Grandes Potncias acabam afetando todo o sistema internacional, proporcionalmente ao grau de poder dessa Potncia.

    Exemplo disso so as mudanas ocorridas nos EUA aps o 11 de setembro de 2001 e seus efeitos em todo o globo.

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  • Pg. 3 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    Revoluo Francesa (cont.)

    No tardou, pois, a reao. As Potncias Europeias promoveram ataques contra o territrio francs na tentativa de restabelecer o trono de Lus XVI e o Antigo Regime (vide Mapa 10 em roxo, a ofensiva dos pases da coalizo). As cabeas coroadas da Europa no poderiam arriscar que um de seus membros maisimportantes fosse derrubado por um levante popular.

    Nesse contexto, Lus XVI tentou fugir para o exterior. Preso no meio do caminho, foi levado de volta a Paris e guilhotinado. A Repblica foi proclamada, e a Frana se viu, externamente, em um estado quase permanente de guerra. Internamente, a Revoluo mergulhou no Terror aproximadamente 40 mil pessoas morreram e na luta entre as diversas faces. Aps um perodo de contrarrevoluo e de agravamento dos conflitos internos, o poder passou para as mos dos generais. Um deles, Napoleo Bonaparte, assumiu o controle do governo em novembro de 1799.

    Mapa 10: A Revoluo Ameaada (1792-1794)

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/Rev_Emp/revemp3.html

    Assim, para os defensores da ordem, a Revoluo era perigosa, porque retirava os alicerces do Antigo Regime. A ttulo de exemplo, foi apenas em 1789 que, pela primeira vez na histria da Frana, uma Assembleia Nacional foi eleita e aboliu o feudalismo e seus privilgios. Alm disso, tambm naquele ano, a Bastilha, o smbolo do poder real, foi tomada de assalto, palcios foram saqueados e revoltas ocorreram no campo, com os camponeses se sublevando e questionando, de maneira praticamente indita no pas, o modelo de servido estabelecido pelo sistema feudal. Como se no bastasse, uma Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado foi proclamada como preparativo para uma Constituio, e a Igreja foi subordinada ao Estado. Eram mudanas que afetavam o cerne de uma ordem domstica tradicional e que acabariam afetando as estruturas da ordem internacional que tinha a Frana como principalprotagonista.

    Denominou-se Antigo Regime ordem estabelecida na Idade Moderna na qual a monarquia absolutista conjugou-se com as principais foras polticas da sociedade: por meio do Mercantilismo, a monarquia aliou-se burguesia e ao mesmo tempo manteve-se unida nobreza e ao alto clero, concedendo privilgios a esses dois ltimos grupos, muitas vezes em detrimento da burguesia e sempre s custas dos impostos cobrados do povo.

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  • Pg. 4 - A nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    Napoleo Bonaparte

    Napoleo, na verdade, pertencia tradio do despotismo esclarecido do sculo XVIII. Da mesma maneira que os dspotas reformadores, admirava a uniformidade e a eficincia administrativas, era avesso ao feudalismo, perseguio religiosa e desigualdade civil e defendia a regulamentao governamental na indstria e nocomrcio (PERRY, 1999, p. 339).

    Apesar de no se identificar com o republicanismo e com a democracia das fases maisradicais da Revoluo, Bonaparte era visto, pelos demais pases europeus como seu continuador. Isso se deu, em grande parte, porque o general corso estendeu, com diferentes graus de determinao e sucesso, (...) as reformas da Revoluo a outras terras. Seus funcionrios instituram o Cdigo Napolenico, organizaram um servio civil efetivo, abriram carreiras de talento e nivelaram os encargos tributrios. Alm de abolir a servido, os pagamentos senhoriais e as cortes da nobreza, eliminaram os tribunais clericais, fomentaram a liberdade religiosa,autorizaram o casamento civil, exigiram que se concedessem direitos civis aos judeus e combateram a interferncia do clero na autoridade secular. (...) Napoleo dera incio a uma revoluo social de amplitude europeia, que atacou os privilgios da aristocracia e do clero quese referiam a ele como o jacobino coroado e beneficiou a burguesia (PERRY, 1999, p. 344).

    Vejamos como se deu a influncia das ideias e das novas instituies, segundo Duroselle (1976, p. 8):

    - As zonas assimiladas, anexadas ao territrio do grande Imprio, ou efetivamente vassalas (reino da Itlia): a, os direitos feudais foram suprimidos, a igualdade estabelecida perante a lei, o cdigo napolenico adotado e a administrao calcada sobre a da Frana.

    - As zonas de influncia, onde a anexao foi indireta, mas o Antigo Regime foi eliminado pelas autoridades francesas. o caso da maior parte da Alemanha entre o Reno e o Elba, do Gro-Ducado de Varsvia, do Reino da Siclia e do Reino de Npoles.

    - As zonas de resistncia positiva, essencialmente a Prssia, onde os dirigentes (...) calcularam que o melhor meio de encerrar a luta contra a Frana era pr em prtica extensas reformas sociais (abolio da servido e dos direitos feudais).

    - As zonas de resistncia passiva, essencialmente a ustria e a Rssia, onde a luta contra a Frana no se fez acompanhar de nenhuma reforma profunda: o sistema senhorial foi mantido na ustria, a servido e o Tchin (nobreza ligada funo pblica) na Rssia.

    Enfim, a Inglaterra, depois de 1800 chamada de Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda, que, por um lado, jamais havia sido conquistada e, por outro, j possua um regime suficientemente liberal para que tivesse a tentao ardente de imitar a Frana.

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  • Pg. 5 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    Napoleo Bonaparte (cont.)

    Portanto, a Era Napolenica foi marcada por uma srie de conflitos armados ocorridos entre 1799 e 1815, quando a Frana enfrentou vrias alianas de Potncias europeias. O principal motivo das campanhas francesas, aps 1789, era defender e difundir os ideais da RevoluoFrancesa, mas, com a ascenso de Napoleo, o objetivo passou a ser a expanso da influncia e do territrio franceses. O imprio napolenico chegou a dominar parte significativa daEuropa. Napoleo sonhava com uma Europa em que, sob a hegemonia francesa, no houvesse mais espao para as estruturas absolutistas do Antigo Regime. Nessas regies, as sementes dos ideais revolucionrios de 1789 foram plantadas egerminariam nas dcadas seguintes. Para a conteno do expansionismo francs, foram necessrias vrias coalizes das Grandes Potncias.

    No Mapa, pode-se ter a ideia da dimenso do Imprio Napolenico em seu apogeu (em verde).

    Mapa 11: O Imprio Napolenico em seu Apogeu (1810-1811):

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  • Pg. 6 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    Napoleo Bonaparte (cont.)Em 1812, Napoleo conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando at Moscou. Entretanto, a vitria logo se converteu em grande derrota. Os russos simplesmente abandonaram Moscou, depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. Sem abrigo ou provises, o exrcito francs, enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar a Rssia sob o intenso fogo do exrcitorusso, perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 600 mil homens que participaram da desastrosa campanha.

    Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleo, ustria, Prssia, Rssia, Inglaterra e Sucia formaram a 6. Coalizo e declararam guerra Frana. Napoleo derrotou os exrcitos da Rssia e da Prssia, enquanto os exrcitos franceses estavam sendo derrotados na Pennsula Ibrica por foras espanholas e inglesas. Aps a Batalha de Leipzig, a Batalha das Naes, em 1813, os exrcitos de Napoleo abandonaram os principados alemes. A rebelio contra o imprio se estendeu Itlia, Blgica e Holanda.

    Em 1814, um grande exrcito da 6. Coalizo invadiu a Frana e ocupou Paris. Napoleo, obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (prxima da Crsega, sua terra natal), e a monarquia francesa restaurada com Lus XVIII, irmo de Lus XVI. Os membros da Coalizo reuniram-se, ento, no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa.

    No entanto, enquanto era traado o novo mapa europeu, em maro de 1815, Napoleo fugiu de Elba, voltou Frana, e iniciou a formao de um novo exrcito. O rei enviou uma guarnio de soldados para prend-lo, mas estes aderiram a Napoleo. Lus XVIII fugiu para a Blgica.

    Contra Napoleo foi rapidamente formada uma 7.a Coalizo, composta por Inglaterra, ustria, Prssia e Rssia. Sem tempo para preparar um exrcito, Bonaparte enfrentou novos combates, mas foi derrotado definitivamente naBatalha de Waterloo (18 de junho de 1815). Napoleo foi ento mantido prisioneiro na Ilha de Santa Helena, no Atlntico Sul, onde morreu em 1821. Lus XVIII reassumiu o trono francs com o apoio do Congresso de Viena. Chegaram ao fim as Guerras Napolenicas.

    Apesar da derrota definitiva em 1815, as aes de Napoleo e os ideais revolucionrios atingiram, de forma irreversvel, o Antigo Regime em boa parte da Europa e aceleraram o processo de modernizao do continente. Seus efeitos alcanaram o continente americano, repercutindo nos processos de independncia de toda a Amrica Latina e nos princpios jurdicos e polticos que regeriam os

    novos governos na regio. O mundo passou, portanto, por grandes transformaes em virtude da Era Napolenica. As relaes internacionais nunca mais seriam como antes.

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  • Pg. 7 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu

    O fim das guerras napolenicas marcou o incio de um sistema internacional baseado no equilbrio de poder entre as Potncias europeias que durou cem anos, at a Primeira Guerra Mundial. Foi o mais longo perodo de paz da histria da Europa ou, pelo menos, o perodo em que no houve nenhuma guerra que envolvesse, de forma generalizada, as Potncias europeias. Durante 40 anos, isto , entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia (1854), no houve uma guerra sequer entre as grandes Potncias e, nos 60 anos seguintes, exceto pela Guerra Franco-Prussiana de 1871, nenhum conflito importante ocorreu.

    O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranas trazidas pelos 25 anos anteriores. Os homens que reconstruram o mapa da Europa em 1815 o fizeram preocupados em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de todos os negociadores serem adversrios da Revoluo, estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 no poderia voltar a ser aquela de 1792. No obstante, estavam determinados a evitar novas catstrofes. Para isso, seriam utilizados dois princpios: o da legitimidade e o do equilbrio europeu. Nas palavras de Duroselle (1976, p. 4):

    Primeiro, restabelecer a legitimidade dos soberanos. Mas na ordem das combinaes legtimas, ligar-se de preferncia quelas que podem com maior eficcia concorrer para o estabelecimento e conservao de um verdadeiro equilbrio. Sero, ento, utilizados com flexibilidade e em proveito dos grandes Estados os dois princpios, um moral e jurdico, o da legitimidade, outro, puramente prtico, o do equilbrio europeu.

    Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa sofreu alteraes importantes que refletiam a nova configurao de poder estabelecida pelas Grandes Potncias. A Alemanha, por exemplo, passou de 300 Estados para 38 (comparar o Mapa 12 com o Mapa 11).

    Um fato, porm, no pode ser deixado de lado. Na conformao do novo sistema de equilbrio europeu, a Frana continuava a grandepreocupao. Sua condio hegemnica tinha sido excessivamente danosa para as outras Potncias europeias. O Congresso de Viena foi realizado sob o signo de se evitar que ela ameaasse novamente o resto do continente.

    Dois tratados ps-Congresso de Viena merecem destaque. O primeiro o Tratado da Santa Aliana,firmado entre o Czar da Rssia, o Imperador da ustria e o Rei da Prssia, em 26 de setembro de 1815. O segundo o tratado conhecido como o da Qudrupla Aliana, entre os Quatro Grandes (Inglaterra, Rssia, ustria e Prssia) em 20 de novembro de 1815.

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  • Pg. 8 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Congresso de Viena (1815) e o Concerto EuropeuO Tratado da Santa Aliana estabelecia a restaurao na Europa da ordem religiosa e monrquica, fundamento do Antigo Regime que a Revoluo Francesa quis derrubar. Fundando-se no mundo cristo, exclua o sulto otomano, apesar de o Czar desejar que o sistema abarcasse a Frana e a Espanha. Segundo Duroselle (1976, p. 5), a Santa Aliana, produto dos sonhos do Czar tinha pouca consistncia, e que a verdadeira realidade era a Qudrupla Aliana, assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rssia, a Inglaterra, austria e a Prssia, contra a Frana.

    Mapa 12: O Congresso de Viena (1815)

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix1.html

    At 1830, o equilbrio europeu foi assegurado graas aos entendimentos entre Inglaterra, Rssia, ustria e Prssia os Quatro Grandes e estabilizao poltica da Frana. Como resultado de habilidosa diplomacia, j em 1818 os franceses conseguiram associar-se poltica de garantia da ordem na Europa. Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio do qual as Grandes Potncias europeias conduziriam o continente por dcadas. O equilbrio de foras entre Inglaterra, Rssia, ustria, Prssia e Frana garantia a estabilidade, uma vez que nenhum desses Estados ou qualquer outro pas europeu era suficientemente poderoso para enfrentar sozinho uma coalizoformada pelos demais. Assim, estabelecia-se um verdadeiro consrcio entre as Grandes Potncias europeias, que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a Europa e pelo mundo. O sculo XIX seria o sculo da Paz na Europa e da hegemonia europeia sobre todo o planeta.

    A partir de 1815, a ao dos pases europeus intensificou-se em escala mundial. A Inglaterra, por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo poltico e econmico, e a expanso desses ideais liberais foi um dos objetivos da poltica externa inglesa no sculo XIX, pela qual os britnicos atuaram, direta ou indiretamente, na independncia das colnias espanholas e portuguesas na Amrica e na organizao dessas novas naes americanas. Da mesma forma, os russos cada vez mais se preocupavam com a decadncia e o fatiamento territorial do Imprio Otomano. Isso explica, em grande parte, a concorrncia e a inimizade que iriam marcar as relaes entre Inglaterra e Rssia em boa parte do sculo XIX.

    A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminao dos traos da Revoluo Francesa. Era uma Europa legitimista, clerical, desigual, aristocrtica e, principalmente, reacionria.

    Importante registrar, no entanto, que o fantasma de 1789 no desapareceu. Intelectuais, trabalhadores, liberais, democratas, burgueses estavam descontentes com o restabelecimento do Antigo Regime. Sob diversos matizes ideolgicos, o sculo XIX testemunhou um longo desenrolar de revolues.

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  • Pg. 9 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Sculo das Revolues

    A Europa ps-Congresso de Viena foi marcada pelo equilbrio de poder entre os Estados europeus, o que permitia certa estabilidade no cenrio internacional. Apesar desse quadro de tranquilidade, o sculo XIX foi tempo de revolues tanto polticas quanto econmicas.

    Politicamente, houve trs grandes ondas revolucionrias: 1820, 1830 e 1848. O perodo entre 1817 e 1850 foi poca de crise econmica e baixa de preos, ou seja, perodo de grande tenso. As grandes ondas revolucionrias de 1830 e 1848, bem como as investidascontrarrevolucionrias, esto indicadas nos Mapas 13 a 15.

    A onda revolucionria de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burgus na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Propagou-se o sistema parlamentar (com inspirao no modelo britnico) de qualificao por propriedade (voto censitrio) sob monarquias constitucionais.

    No Mapa 13, as estrelas em amarelo apontam as insurreies, as setas pretas a propagao da onda revolucionria, e as setas vermelhas os movimentos de represso dessa onda.

    Mapa 13: As revolues de 1830

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html

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  • Pg. 10 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Sculo das RevoluesA Frana era o ponto de irradiao, dada a classe mdia liberal e radical que se formara com o movimento jacobino na poca da Revoluo Francesa. Em 1830, tambm j era possvel notar o aparecimento de uma classe operria como uma fora poltica autoconsciente e independente, que comeava a reunir os jacobinos mais extremados. J em 1848, a agitao popular tornava-se contrria classe mdia liberal (o perigo vermelho).

    No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difuso da nova onda revolucionria francesa e, as setas verdes, a difuso da onda austraca. As estrelas vermelhas e verdes apontam os centros revolucionrios.

    Mapa 14: As Revolues de 1848

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix5.html

    Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em desempenhar o papel de libertadores internacionais. Esse desapontamento, junto com o crescente nacionalismo da dcada de 1830 e a nova conscincia das diferenas nos aspectos revolucionriosde cada pas, despedaou o internacionalismo unificado (centrado na Frana) a que os revolucionrios tinham aspirado durante a Restaurao (o ps-1815). Em 1848, as naes de fato se sublevaram separadamente.

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  • Pg. 11 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Sculo das RevoluesOs radicais, os republicanos e os novos movimentos proletrios se retiraram da aliana com os liberais, dado que o liberalismo moderado se tornara hostil em razo do seu maior medo, a repblica social e democrtica (em oposio monarquia constitucional), a qual era, nesse momento, o slogan da esquerda.

    No Mapa abaixo, os quadrados indicam os centros de contrarrevoluo e as setas o movimento da contrarrevoluo.

    Mapa 15: A Contrarrevoluo de 1848

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix6.html

    De uma forma geral, as revolues de 1848 foram revolues sociais de trabalhadores pobres. Quando se viram diante da revoluo vermelha (ameaa propriedade), os moderados liberais e os conservadores se uniram. Os trabalhadores ficaram isolados diante da unio de foras conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliana, os regimes conservadores restaurados estavampreparados para fazer concesses ao liberalismo econmico. A dcada de 1850 viria a ser, de fato, um perodo de liberalizao sistemtica: fim da legislao de guildas e liberdade para se praticar qualquer forma de comrcio; fim do severo controle estatal sobre a minerao; realizao de uma srie de tratados de livre-comrcio etc. Nesse momento, a burguesia deixava de ser uma forarevolucionria.

    Esses fatos abriram o caminho para a Revoluo Industrial a partir da segunda metade do sculo XIX (vrios autores se referem a ela como Segunda Revoluo Industrial, para distingui-la do avano industrial no sculo XVIII). Com a retirada da nobreza e a diversificao das formas de se fazer dinheiro (incio da chamada haute finance conjugao dos capitais comercial e financeiro), as dcadas de 1850 e 1860 foram prsperas e capazes de incorporar os cidados instrudos ao mercado de trabalho.

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  • Pg. 12 - A Nova Ordem Internacional do Sculo XIX - Antecedentes

    O Sculo das RevoluesDe 1850 at pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa Duroselle (1976, p. 21), a prosperidade, interrompida por alguns recessos, rompe o mpeto revolucionrio. Este s voltar a ressurgir na Frana em 1869 aproximadamente. Com um nvel de vida momentaneamente acrescido, as massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a impresso de que o poder favorece a expanso.

    Em termos gerais, em 1850, a ameaa revolucionria estavaencerrada. Os partidrios da ordem estabelecida saram vitoriosos. Em parte, o fracasso revolucionrio de 1848 se deveu ao perigo vermelho. Na Frana, NapoleoIII ascendeu ao poder, criando o II Imprio.

    A outra grande revoluo europeia foi de natureza econmica, como j referido, com a Revoluo Industrial. Aps 1850, aeconomia europeia se expandiu com rapidez. Novas mquinas e novas tecnologias apareceram por toda parte.

    Napoleo III (1808-1873) foi o criador do Segundo Imprio francs na metade do sculo XIX. Governou entre 1852 e 1870, at sua derrota na Guerra Franco-Prussiana. Carlos Lus Napoleo Bonaparte era sobrinho de Napoleo I. Eleito presidente da nova RepblicaFrancesa, deu um golpe de estado em 1851, que lhe permitiu assumir poderes ditatoriais e transformar a Segunda Repblica no Segundo Imprio. Entre as aes de poltica externa de Napoleo III esto a interveno na Guerra da Crimeia, o apoio ao Piemonte nas guerras que enfrentou como consequncia da unificao italiana e a promoo e instalao de um efmero Imprio noMxico, na pessoa de seu sobrinho, Maximiliano da ustria. Em 1870, por ocasio da Guerra Franco-Prussiana, a derrota do Exrcito francs na batalha de Sedan provocou o aprisionamento do Imperador, cujo regime foi derrotado.

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  • Pg. 13 - Antecedentes

    O Sculo das Revolues (cont.)

    A Revoluo Industrial modificou toda a sociedade europeia. Se na sociedade pr-industrial do sculo XVIII a agricultura ainda era o centro das atividades humanas, no sculo XIX a vida se deslocava progressivamente para as cidades e para as indstrias. Simultaneamente, o poder, a influncia e os valores da aristocracia perderam fora. Em seu lugar, ganharam importncia o dinheiro e a capacidade individual. A modernizao da sociedade colaborou, tambm, para a progressiva universalizao do voto e para a secularizao da sociedade. Por fim, a tecnologia ampliou a diferena entre o Ocidente e as demais regies do mundo.

    O Mapa 16 ilustra a Europa do sculo XIX sob plena efervescncia da revoluo industrial. O mapa destaca as minas de carvo (emmarrom), em torno das quais se desenvolveram centros siderrgicos (em vermelho) e industriais (em roxo). Tambm na base da revoluo industrial estava a indstria txtil, cujos centros so destacados em azul. O mapa registra, ainda, as principais cidades industriais e os centros financeiros (quadrados verdes).

    Mapa 16: A Europa Industrial no Sculo XIX

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix3.html

    Procure se informar mais sobre a Revoluo Industrial, processo que alterou definitivamente os rumos da Histria e a partir do qual as relaes internacionais seriam redefinidas, com o poder se

    concentrando cada vez mais nas naes ditas "industrializadas".

    Um livro interessante sobre o sculo XIX e a Revoluo Industrial Germinal, de mile Zola.Amplamente considerada a obra mxima de mile Zola, Germinal (1885) elevou a esttica ea descrio naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. O romance minucioso aodescrever as condies de vida subumanas de uma comunidade de trabalhadores de umamina de carvo na Frana. Aps ter contato com ideias socialistas que circulavam pelaclasse operria europeia, os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opresso eorganizam uma greve geral, exigindo condies de vida e trabalho mais favorveis. Amanifestao reprimida e neutralizada, entretanto permanece viva a esperana de luta econquista.

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  • Pg. 14 - Antecedentes

    Diviso da Europa Nacionalidade X Legitimidade

    A Europa de 1815 foi construda sobre o princpio de que era essencial preservar o continente de uma possvel ameaa francesa. Assim, no redesenho do mapa continental, o princpio da nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem por isso, no entanto, inexistia a afirmao da nacionalidade.

    O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionrias da primeira metade do sculo XIX. O nacionalismo se propagou a partir da classe mdia e teve nas escolas e nas universidades seus grandes defensores. Vrios movimentos nacionalistas jovens comearam a se espalhar a partir das revolues de 1830: a Jovem Itlia, a Jovem Polnia, a Jovem Sua, a Jovem Alemanha, a Jovem Frana e a Jovem Irlanda.

    No restante da Europa, no entanto, apenas a Blgica se tornou independente da Holanda, em 1830. Para isso, assumiu o carter de nao neutra, com aval das Grandes Potncias. A neutralidade belga, garantida pela Gr-Bretanha, seria violada em 1914 pelo avano alemo contra a Frana e contribuiria para que Londres declarasse guerra a Berlim.

    Outras tentativas de independncia no continente europeu fracassaram. A Polnia no conseguiu a autonomia diante da Rssia (1830), e a Hungria alcanou uma semi-independncia em relao ustria (1867). Dos movimentos nacionais de afirmao, os mais importantes foram os da Itlia e da Alemanha, pases que se unificaram a partir da segunda metade do sculo. De fato, a unificao da Itlia e,sobretudo, a da Alemanha, seriam acontecimentos importantes para alterar o equilbrio de poder na Europa estabelecido pelo Concerto Europeu, e afetariam diretamente as relaes internacionais do perodo, culminando nos processos que levaram I Guerra Mundial.

    Parte da onda nacionalista vinha dos escombros do Imprio Otomano, o qual, nas palavras do Czar, era o ancio enfermo da Europa.

    Progressivamente, o Imprio Otomano foi perdendo terras para austracos, russos e para naes que iam surgindo de suas fraquezas. A primeira delas foi a Grcia, cujaindependncia foi tema de preocupao durante toda a dcada de 1820. Finalmente independente em 1830, serviu como exemplo para muitos outros: a Srvia, alguns anos depois, conquistava autonomia, e, em 1856, Romnia eBulgria se tornaram independentes.

    O Imprio Otomano existiu aproximadamente de 1300 a 1922 e, no perodo de maior extenso territorial, abrangeu trs continentes: da Hungria, aonorte, at Aden, ao sul, e da Arglia, a oeste, at a fronteira iraniana, a leste, embora centrado na regio da atual Turquia. Por meio do Estado vassalo do janato da Crimeia, o poder otomano tambm se expandiu na Ucrnia e no sul da Rssia. Seu nome deriva de seu fundador, o guerreiromuulmano turco Osman (ou Utman I Gazi), que fundou a dinastia que governou o imprio durante sua histria.

    Os processos de unificao da Itlia e da Alemanha podem ser percebidos no Mapa 17 (a seguir).

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  • Pg. 15 - Antecedentes

    A Unificao da Itlia

    Mapa 17: Unificao da Itlia e da Alemanha no Sculo XIX

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix7.html

    Posteriormente, pequenos Estados italianos Parma, Mdena, Toscana e Romanha votaram pela unio com o Piemonte. Com as conquistas do sul da pennsula, foi proclamado o reino da Itlia, em 1861. Faltavam, porm, a cidade de Roma e o Vneto. S em 1866 La Vntie foi incorporada, como recompensa pelo apoio dos italianos aos prussianos durante a guerra contra a ustria. Roma, por fim, foi ocupada em 1870, quando os franceses retiraram os seus soldados da cidade em razo da Guerra Franco-Prussiana. Com a anexao de Roma e dos Estados Papais, estava consolidada a unificao da Pennsula Itlica sob uma nica autoridade: o Reino da Itlia.

    A unificao da Itlia foi resultado de uma habilidosa poltica externa e do aproveitamento das oportunidades quando elas surgiram. O artfice desse processo foi Cavour, primeiro-ministro do Estado do Piemonte (norte da pennsula itlica). Ele conseguiu, graas s alianas com Napoleo III, um aliado contra os austracos que ocupavam o norte da Itlia. A sua primeira vitria se deu em 1858. Em troca da cesso da cidade de Nice e da regio de Saboia, Cavour obteve a promessa deauxlio da Frana ao Piemonte em uma eventual guerra deste contra austria. Por ocasio do conflito, entretanto, a ajuda francesa seria menordo que o esperado, e Napoleo III, receoso das possveis implicaes que uma aliana contra a ustria poderia ter, acabou retirando seu apoio antes do esperado. Mesmo assim, o Piemonte se viu vencedor e aumentou seu territrio com a conquista da Lombardia.

    Camillo Benso, conde de Cavour (1810-1861),poltico italiano, foi Presidente do Conselho em 1852. Aliou-se a Napoleo III contra a ustria, porm este firmou a paz em 1859 sem consult-lo. Cavour demitiu-se quando Victor Emanuel II, Rei da Sardenha, aceitou ascondies do Imperador francs. No incio de 1860, ajudou Giuseppe Garibaldi na conquista do Reino das Duas Siclias. Conseguiu a proclamao do Reino da Itlia em17 de maro de 1861 e de Vtor Emanuel II como seu primeiro soberano.

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  • Pg. 16 - Antecedentes

    A Unificao da Alemanha

    No seria temerrio afirmar que a unificao da Alemanha, ocorrida em 1871, foi, aps o Congresso de Viena, o evento mais importante da poltica internacional do sculo XIX. A unificao alem provocou o desmoronamento dos fundamentos do equilbrio internacional surgidos em 1815 e levou a poltica internacional ao retorno s lutas irrestritas do sculo XVIII. Ademais, seus efeitos estariam diretamente relacionados com eventos marcantes do sculo seguinte, como a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a integrao europeia.

    O principal temor dos franceses do sculo XVII era a unificao alem. Richelieu, por exemplo, via na Alemanha unificada uma ameaa potencialmente mais perigosa para a Frana. A unificao, entretanto, somente foi possvel porque a Prssia conseguiu, ao longo de 150 anos, construir um Estado forte o bastante para que pudesse, no fim do sculo XIX, almejar a preponderncia entre os Estados alemes.

    Depois da unificao, a Alemanha desenvolveu-se de maneira significativa, sobretudo nas reas industrial e militar. Em trs dcadas, o pas j se mostrava a principal Potncia do continente em desenvolvimento industrial e tecnolgico, superando a Frana. Ademais, com uma intensa poltica de construo naval, logo as marinhas mercante e de guerra alems ameaavam a hegemonia britnica no mundo.

    Na virada do sculo, os alemes j deixavam claro que desejavam ocupar seu lugar de destaque entre as Grandes Potncias, sendo fundamental para isso o estabelecimento de um imprio colonial e a conquista de novos mercados pelo planeta. Entretanto, as pretensesdo Reich acabariam chocando-se com os interesses das Grandes Potncias tradicionais em especial, Gr-Bretanha e Frana , o que levaria a Europa Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914.

    Tambm no se pode esquecer a ao deBismarck, primeiro-ministro prussiano que soube, por meio de uma poltica interna autoritria e uma poltica externa cuidadosa e pragmtica, unificar a Alemanha. A maneira racional, pragmtica e calculada como Bismarck conduziu a poltica alem ficou conhecida como Realpolitik.

    Assim, externamente, o Chanceler prussiano foi bem-sucedido em trs guerras. Junto com a ustria, atacou e conquistou territrios da Dinamarca, em 1864. Dois anos depois, a luta pelos esplios dessa conquista fez com que os austracos declarassem guerra Prssia. Vencedores, os prussianos conseguiram afastar a ustria dos assuntos alemes. Continuando com a sua Realpolitik e derrotada a ustria, Bismarck conquistou territrios e forou os Estados alemes menores a se aliarem a ele.

    Em 1871, sabedor de sua vantagem militar, Bismarck provocou os franceses. Estes declararam guerra e foram rapidamente derrotados. Como vitria, Bismarck conseguiu o apoio suficiente de que necessitava para que os outros Estados alemes aceitassem integrar-se Prssia, formando o Imprio Alemo, ou Segundo Reich

    Otto von Bismarck (1815-1898), o Chancelerde Ferro, foi o grande artfice e primeiro chanceler do segundo imprio alemo. Seu pai era um latifundirio de origem nobre, e sua me pertencia burguesia. Em sua personalidade, fundiam-se a sutileza intelectual e o provincianismo da aristocracia conservadora. Entrou na poltica em 1847.Como delegado da primeira Dieta prussiana, destacou-se como um dos mais frreos conservadores. Quando eclodiu a Revoluo de 1848, foi para Berlim e pediu que o rei Frederico Guilherme IV reprimisse a sublevao. Seu conselho no foi levado em considerao, mas sua lealdade foi recompensada ao ser nomeado representante prussiano na Confederao Germnica, a ligados 39 estados alemes, em 1851. Passou a ser embaixador na Rssia em 1859 e foi designado para a Frana em 1862. Designado Chanceler prussiano no mesmo ano, procedeu com uma srie de reformas internas e deu incio suaRealpolitik, que garantiria a vitria sobre Grandes Potncias europeias, como a ustria e a Frana, e conduziria unificao alem. Em 1890, desentendeu-se com o Kaiser (ou Imperador) em virtude dodirecionamento da Poltica Externa do Reich, sendo demitido e deixando a vida pblica.

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  • Pg. 17 - Antecedentes

    Expanso colonial

    Outro aspecto importante da Sociedade Internacional do sculo XIX a nova expanso colonial. Durante todo o sculo, mas sobretudo em sua segunda metade, desenvolveu-se um processo de conquistas europeias sobre a frica e sia, denominado Neocolonialismo. Na virada do sculo, praticamente todo o continente africano, exceo da Etipia e da Libria, estava sob jugo das Potncias europeias como parte de seus imprios coloniais.

    O Neocolonialismo foi a principal expresso do Nacionalismo e do Imperialismo, este ltimo a forma assumida pelo capitalismo a partir da Segunda Revoluo Industrial, segundo os globalistas.

    Os defensores do Estado-nao entendiam o Estado como progressista (capaz de desenvolver uma economia, tecnologia, organizao burocrtica e fora militar viveis), ou seja, precisava ser pelo menos territorialmente grande. Para a sociedade burguesa moderna, liberal e progressista, a unidade estatal natural deveria ser extensa, da o decorrente expansionismo colonial. O padro de programa nacional do sculo XX seria diferente: Estado totalmente independente, homogneo territorial e linguisticamente, laico e provavelmente republicano/parlamentar.

    A concepo nacionalista de Estado do sculo XIX se casou perfeitamente com os objetivos capitalistas. O domnio das Potncias europeias sobre povos dos outros continentes no foi apenas econmico, mas tambm militar, poltico e social, impondo fora um novo modelo de organizao do trabalho que pudesse garantir, principalmente, a obteno de matria-prima para as indstrias europeias. violncia militar e explorao do trabalho somam-se as imposies sociais, incluindo a disseminao do cristianismo entre os povos nativos, num processo de aculturao, sob a justificativa de que se estaria levando os valores ocidentais da civilizao aos povos primitivos. Era o

    ideal civilizador do homem branco.

    Nesse processo mercantil-civilizador, a frica foi conquistada e dividida, o mesmo acontecendo com parte da sia. Imprios tradicionais como a China sucumbiram hegemonia europeia. O mundo nunca se mostrara to eurocntrico, e as naes europeias efetivamente eram as protagonistas das relaes internacionais. O planeta como um todo tornou-se o tabuleiro do jogo de poder entre as Potnciaseuropeias.

    O sionismo, que refundaria o Estado de Israel, seguiria esse padro: tomar o territrio, inventar uma lngua e laicizar as estruturas de um povo cuja unidade histrica havia sido apenas a prtica

    de uma religio comum.

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  • Pg. 18 - Antecedentes

    Expanso Colonial (cont.)Paralelamente ao fornecimento de matria-prima pelas colnias, os europeus buscavam mercados consumidores para seus produtos em outras partes do mundo, por exemplo, no continente americano. E esses mercados eram disputados pelas Grandes Potncias.

    A partir da segunda metade do sculo XIX, portanto, as preocupaes europeias se tornaram mundiais. As rivalidades se projetavam nos outros continentes. O sculo XIX extraordinariamente dinmico: vai assistir-se expanso da Europa pelo mundo, tanto pela ao poltica dos seus Estados, pelos fluxos migratrios, pelo escoamento das suas economias, como pela sua influncia civilizadora. (PELLISTRANDI, 2000, p. 115). As Grandes Potncias europeias cuidavam de estabelecer seus imprios coloniais subjugando os povos dos outros continentes, particularmente da sia e da frica. O quadro de 1914, conforme ilustra o Mapa 18, seria de um mundo partilhado entre as Potncias Europeias, com a Gr-Bretanha e Frana detentoras dos maiores imprios coloniais.

    Mapa 18: Imprios Coloniais em 1914

    Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix8.html

    Especialmente importante o Congresso de Berlim, em 1885. As razes polticas do imperialismo de final do sculo XIX eram to importantes quanto as razes econmicas. Para as naes recm-unificadas Itlia e Alemanha a obteno de territrios na frica e na sia significava prestgio e autorreconhecimento. Para a Frana, profundamente traumatizada aps a derrota de 1871 (na Guerra Franco-Prussiana), as conquistas coloniais eram um meio de readquirir respeito.

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  • Pg. 19 - Antecedentes

    As novas Potncias Estados Unidos da Amrica e Japo

    A segunda metade do sculo XIX v tambm o aparecimento de dois Atores importantes no jogo poltico internacional: Estados Unidos da Amrica (EUA) e Japo.

    Os EUA comearam a se projetar como Potncia aps a violenta Guerra Civil, travada para impedir a separao dos estados do sul do pas. Pouco antes, os norte-americanos haviam consolidado o seu processo de expanso colonial s expensas do Mxico. Alm disso,