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Relação disciplinar História, Sociologia, Filosofia · seleção de contos, crônicas e poemas que buscam interessar o aluno e instigar a reflexão, por meio da leitura, compreensão,

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Governo do Estado do

Paraná

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SEED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS –

DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título

Sala de aula: Laboratório de leitura

Autor

Vera Lúcia Vedan

Disciplina da área Língua Portuguesa

NRE

Ponta Grossa

Escola de implementação Colégio Estadual Júlia Wanderley

Carambeí- PR

IES Universidade Estadual de Ponta

Grossa

Professor orientador Profª Drª Silvana Oliveira

Relação disciplinar História, Sociologia, Filosofia

Resumo

A questão da leitura tem sido

alvo de intensas discussões no âmbito

do ensino, em geral. Percebe-se que

um dos grandes entraves enfrentados,

sobretudo pelo professor de Português

é o desinteresse por parte da maioria

dos alunos pelo ato de ler. O presente

trabalho terá como objetivo principal

despertar no aluno o gosto pela leitura

de textos literários. Considerando a

relevância que a leitura exerce no

processo ensino-aprendizagem, serão

desenvolvidas ações com os alunos

através da apresentação gradativa de

contos, crônicas e poemas, partindo

da crônica mais simples até aos

contos e poemas mais complexos.

Para a efetivação destas ações serão

propostas atividades diferenciadas,

tais como: leitura, compreensão,

interpretação, declamação,

dramatização, mudança de gênero por

meio da produção textual. Espera-se

que através deste trabalho possamos

despertar o interesse pelos educandos

no que tange à leitura, especialmente,

no tocante à leitura de textos literários,

devido a sua plurissignificação, que

possibilita vários níveis de

interpretação, em razão das suas

peculiaridades. O professor do Ensino

Médio deve levar o aluno a

compreender esse fato e assumir

como indispensável o hábito da leitura,

dando-lhe incentivo e buscando

transformá-lo em um leitor assíduo e

eficiente.

Palavras-chave Leitura - Literatura- Escola

Formato

Unidade Didático Pedagógica

Público alvo

Alunos do 1° ano do Ensino Médio

APRESENTAÇÃO

No mundo contemporâneo e globalizado em que ora vivemos é

imprescindível que o ser humano desenvolva suas habilidades de expressão e

comunicação por meio da palavra falada e escrita. Um cidadão que não tenha

tais habilidades está condenado ao fracasso escolar e à exclusão social.

Para que isso se efetive de fato, necessário se faz a prática constante da

leitura. Sabendo-se que esta é um processo ativo e dinâmico que tem o poder

de levar o indivíduo a uma conscientização, reflexão e percepção do mundo

que o cerca sob diversas perspectivas. Se, por um lado, tem o firme propósito

de formar leitores competentes, por outro, constitui a matéria-prima para o ato

de escrever.

Diante disso, e sentindo a precariedade e o desinteresse dos estudantes

em aulas de leitura foi planejada esta Unidade Didático Pedagógica com o

propósito de despertar no aluno o gosto pela leitura literária, de modo a se

estabelecer relações com outras áreas do saber para que se possa assim

alargar seus horizontes de expectativas e construir sua autonomia enquanto

leitor-sujeito eficiente. Esta proposta também tem o intuito de estimular o

desejo de ler por iniciativa própria, compreendendo a leitura em suas diferentes

dimensões: o dever de ler, a necessidade de ler e o prazer de ler.

Neste sentido, este trabalho busca auxiliar os alunos na compreensão e

interpretação de textos literários diversos, considerando os gêneros: crônica,

conto e poema, organizados de modo a facilitar o progresso dos alunos no que

tange ao estudo de textos, sobretudo do literário.

Esta Unidade Didático Pedagógica foi planejada com vistas à

implementação junto a alunos do 1º Ano do Colégio Estadual Júlia Wanderley_

Ensino Fundamental, Médio e Profissional, na cidade de Carambeí_ Paraná.

Esta proposta objetiva motivar o aluno para a leitura, especialmente de textos

literários, posto que, através desta atividade o educando pode descobrir outras

realidades, construir o seu próprio conhecimento, conhecer a cultura e fazer

questionamentos, refletir sobre os fatos e também sobre si mesmo, formar

opiniões e, além disso, aperfeiçoar a expressão oral e escrita.

Gostaríamos, ainda, de garantir que a necessidade de ler se

transformasse em nosso aluno o prazer de ler, através da descoberta de coisas

novas, de olhar a vida e o mundo com outros olhos. Será isso possível?

Esperamos que sim.

O grupo de alunos foi selecionado tendo em vista que o estudo da

literatura tem ainda um longo caminho a percorrer e estes estão sempre em

busca de desvendar novas perspectivas. Outro aspecto que deve ser levado

em conta é que via leitura, resgata-se o verdadeiro espaço educativo da

escola.

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

CAROS (AS) COLEGAS PROFESSORES (AS)

Ao longo do ano de 2012, elaboramos com muito carinho e dedicação

este material que servirá de suporte pedagógico aos professores de Língua

Portuguesa que quiserem usufruir dele.

Este material apresenta uma proposta que visa apoiá-los no

desenvolvimento do seu trabalho com o texto literário, tendo em vista que é

através do texto que o aluno desenvolve a sua capacidade de ler, escrever,

falar e ouvir. E é também por meio dele que o educando vai saber melhor o

funcionamento da linguagem, ―pois conhecer bem a língua materna significa

conhecer um pouco da essência da vida humana.‖ (Hermínio G. Sargentim,

p.2).

A estrutura básica é composta por nove seções perfazendo um total de

trinta e duas horas/aulas.

Na primeira seção, intitulada ―Conhecendo os Gêneros Textuais,‖

fizemos uma breve explanação dos gêneros que serão abordados neste

trabalho. As demais seções consistem em propostas de leitura de diversos

textos literários do gênero narrativo e constam de: compreensão. Interpretação,

intertextualidade (Os textos conversam entre si), ponto de vista (explorando a

oralidade), avaliação e produção textual.

Nesta Unidade Didático Pedagógica apresentamos uma cuidadosa

seleção de contos, crônicas e poemas que buscam interessar o aluno e instigar

a reflexão, por meio da leitura, compreensão, interpretação de textos literários.

Todavia, isso é ainda pouco diante das inúmeras complexidades que

envolvem a nossa Língua Portuguesa e, sobretudo, o texto literário. É

imprescindível que os nossos alunos desenvolvam sua capacidade de leitura

compreensiva e interpretativa. Por essa razão, além das atividades já

mencionadas, propomos nesta Unidade Didático Pedagógica a prática da

oralidade, em que se estimula o aluno a opinar sobre o texto estudado ou sobre

algum tema relacionado ao assunto em questão.

São ainda explorados nesta Unidade Didático Pedagógica a produção

textual dos gêneros aqui estudados, bem como a apresentação de jograis e

dramatizações, que com certeza, vão auxiliar nossos alunos no

aperfeiçoamento da expressão oral, assim como da escrita, habilidades de

extrema importância no mundo atual.

Este trabalho também contempla a intertextualidade (Os textos

conversam entre si), que leva o aluno a estabelecer relações entre os textos

lidos. E de quebra, faz sugestões de leituras, onde convida o aluno a ler nas

horas vagas obras de autores renomados da nossa literatura.

Lembramos todos os colegas que porventura venham a se interessar pelo uso deste material que cada um dos textos selecionados para leitura em cada seção precisa ser apresentado ao aluno à parte, no seu formato integral, de modo a garantir que o aluno possa ler o texto integralmente antes de desenvolver as atividades propostas.

Esperamos que esta Unidade Didático Pedagógica seja um instrumento

útil e agradável.

A Autora.

PRIMEIRA SEÇÃO

CONHECENDO OS GÊNEROS LITERÁRIOS

TEXTO LITERÁRIO E TEXTO NÃO-LITERÁRIO

Vocês sabem o que é texto literário e texto não

literário? Então vamos estabelecer as diferenças para que vocês

saibam. Que tal!

_Texto literário, é aquele onde a linguagem é pessoal e subjetiva,

plurissignificativa. Recria a partir da realidade, tendo como preocupação

evocar os sentimentos e sensações, dá ênfase no modo de dizer algo.

Podemos citar como exemplos de textos literários: o conto, o poema, a

crônica, novelas, o romance, peças de teatro, entre outras modalidades.

_Texto não-literário, é aquele cuja linguagem é impessoal e objetiva,

denotativa. Preocupa-se em informar sobre a realidade, dá ênfase no

conteúdo. É usada para a comunicação entre os usuários da língua.

Podemos citar como exemplos de textos-não literários: o bilhete, manual

de instruções, bulas, receitas, entre inúmeros outros.

Nesta Unidade Didático Pedagógica, vamos nos ater aos gêneros

literários, especificamente a modalidade narrativa. Nesta programação de

leitura trabalharemos a crônica: ―O jogo‖ de Luís Fernando Veríssimo; outra

crônica estudada será ―O homem nu‖ de Fernando Sabino; o poema ―Vou-me

embora pra Pasárgada‖; o poema ―José‖ de Carlos Drummond de Andrade; o

texto ―Um apólogo‖ de Machado de Assis, o conto ―A moça tecelã‖ de Marina

Colasanti, a crônica ―O padeiro‖ de Rubem Braga, a crônica Vista cansada de

Otto Lara Resende.

O QUE É CRÔNICA?

Você já leu uma crônica?

Você sabe o que é uma crônica?

Então vamos conhecer o que é uma

crônica.

De acordo com a revista Olimpíada de Língua Portuguesa (2010, p. 20),

a palavra ―crônica‖, em sua origem, está associada ao vocábulo ―Khrónos‖

(grego) ou ―chronos‖ (latim), que significa ―tempo‖. Portanto, é o registro dos

acontecimentos verídicos e históricos na ordem em que aconteciam. Temos

como exemplos os primeiros cronistas do Brasil.

O poeta Vinícius de Moraes (2008, p.28) dizia que a crônica é “uma

narrativa curta por excelência, uma conversa fiada”

A crônica é uma narrativa curta, leve, despretensiosa e, diferentemente

dos outros gêneros textuais, não se organiza ao redor de um ou mais conflitos.

A crônica , simplesmente falando, é o registro de uma impressão que nasce do

olhar atento do cronista sobre determinada situação banal do cotidiano, porém

com uma reflexão universal.

Muitos teóricos atribuem a crônica como pertencente à Literatura

Brasileira, posto que existem muitos cronistas em nosso país.Como exemplos

citamos: Machado de Assis, Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara

Resende, Ignácio de Loyola Brandão, entre tantos outros autores.

Conforme o assunto tratado a crônica pode receber diversas

classificações:

a lírica, em que o autor relata com nostalgia e sentimentalismo; temos

como exemplos as crônicas escritas por Paulo Mendes Campos

a humorística, em que o autor faz graça com o cotidiano, citamos como

exemplo Luís Fernando Veríssimo, Stanislaw Ponte Preta, entre outros.

a crônica-ensaio, em que o cronista, ironicamente, tece uma crítica ao

que acontece nas relações sociais e de poder; como as de Lima Barreto e

também Ivan Ângelo

a filosófica, reflexão a partir de um fato ou evento; podemos exemplificar

com Moacyr Scliar.

e jornalística, que apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos,

pode ser policial, esportiva, política, etc.

Disponível em: https://www.brasilescola.com/redação/a-cronica.htm.

Acesso em: 04/10/2012

SUGESTÕES DE LEITURA PARA O TEMPO LIVRE

Você gosta de ler crônicas? Então sugerimos alguns

cronistas:

_Machado de Assis;

_Rubem Braga;

_Raquel de Queirós;

_Fernando Sabino;

_Lya Luft;

_Stanislaw Ponte Preta;

_Carlos Drummond de Andrade;

Os paranaenses: Miguel Sanches Neto, Cristóvão Tezza, entre

outros.

O QUE É CONTO?

Você sabia que o conto é uma narrativa tão antiga quanto o

homem na terra?

Então vamos saber o que é um conto e as partes que o

compõem.

A palavra conto é derivada de contar. É uma narrativa falada ou escrita,

pouco extensa, concisa, e que contém uma unidade dramática, concentrando-

se a ação num único ponto de interesse, conforme o Dicionário Aurélio (1986,

p. 464).

A origem do conto é tão antiga quanto à humanidade. É um gênero

narrativo ficcional popular que é passado de geração a geração, onde são

transmitidos seus valores, crenças e conhecimentos, tendo como objetivo

entreter ou educar os ouvintes.

O ditado popular: “Quem conta um conto aumenta um ponto,” surgiu

devido à forma como eram contados, na maioria das vezes corrigindo ou

acrescentando um detalhe ou outro.

Os contos são classificados em: contos maravilhosos, fantásticos, de

terror, de mistério, policiais, de amor, de ficção científica, entre outros.

Uma das formas encontradas para se conhecer um conto por dentro é

formular as seguintes questões:

_Quais são os personagens principais?

_O que acontece na história?

_Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada?

_E algo bem importante: Quem narra? De que jeito? O narrador conta de fora

ou ele também é um dos personagens?

_O que você achou do conto?

Neste contexto, ainda vamos conhecer o apólogo que é uma modalidade

do conto.

De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2000, p. 145)

apólogo [do grego apólogos, pelo latim apologu.] Historieta mais ou menos

longa, que ilustra uma lição de sabedoria e cuja moralidade é expressa como

conclusão.Cabe aqui mencionar que os personagens são objetos ou seres

inanimados.

É importante destacar o grande mestre Machado de Assis com ―Um

apólogo‖, que trata sobre a soberba humana, através da história de uma agulha

e uma linha. Temos ainda como exemplos de apólogos: ―O sapato ferrado e a

sandália de veludo,‖ (pp. 85-87) Os que vivem nas alturas,‖ (pp.105-

107)―Fortes e fracos,‖(pp.125-127) os quais foram escritos pelo autor

maranhense Viriato Corrêa, em sua famosa obra Cazuza, em 1937.

Sugestões de leitura para o seu tempo livre

Que tal conhecer alguns contos? Temos aqui uma lista de famosos

contistas para você apreciar a leitura.

_ Machado de Assis;

_ Graciliano Ramos;

_Carlos Drummond de Andrade;

_Clarice Lispector;

_Lima Barreto; Moacyr Scliar;

_ Lygia Fagundes Telles;

_Luís Fernando Veríssimo; Marina Colasanti, etc.

E ainda especialmente destacamos os contistas paranaenses: Dalton

Trevisan, Alice Ruiz, Domingos Pellegrini, Paulo Venturelli, entre tantos outros.

O QUE É POESIA?

À luz do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986, p.1352), a

palavra poesia vem [do grego poíesis, ação de fazer algo, pelo latim poese +-

ia]. É uma composição em versos estruturados de forma harmoniosa, por

vezes carregada de subjetividade e de sentimentalismo.

Na poesia um aspecto bastante relevante é a forma, na maioria das

vezes, uma única palavra ou verso pode condensar grande efeito expressivo.

Como exemplos de textos em versos, podemos citar: poemas, letras de

canções, hinos (de times esportivos, religiosos), rimas infantis.

Vejamos agora alguns elementos básicos que fazem parte de um

poema: ritmo, estrofe, rima, versos brancos ou regulares, metrificação e

escansão.

Tradicionalmente, existem tipos de poemas que possuem um modelo fixo

de estrutura, é o caso das trovas, do haicai que é formado por três versos,

sendo dois pentassílabos e um hepatassílabos. Por sua vez, o soneto é

formado por duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas com três versos

(tercetos).

As estrofes recebem denominações conforme o número de sílabas que

possuem. Os mais comuns são:

Dissíliabos ou dístico_ dois versos

Trissílabos ou terceto_ três versos.

Tetrassílabos ou quadra_ quatro versos.

Os versos também recebem denominações de acordo com o número de

sílabas poéticas que possuem:

Pentassílabos ou redondilha menor_ cinco sílabas;

Hexassílabos_ seis sílabas;

Hepatassílabos ou redondilhas maior_ sete sílabas;

Octossílabos_ oito sílabas;

Eneassílabos_ nove sílabas;

Decassílabos_ dez sílabas;

Hendecassílabos_ onze sílabas;

Dodecassílabos ou alexandrinos_ doze sílabas.

(AMARAL, Emília et al, 2000, p.31)

É importante destacar que a divisão silábica poética nem sempre coincide

com a divisão silábica gramatical.

Sugestões de leitura para o seu tempo livre

Que tal se deleitar um pouco com a leitura de poesias?

Temos aqui uma listagem de alguns dos mais renomados poetas

brasileiros para a sua apreciação:

_Cecília Meireles;

_Castro Alves;

_Álvares de Azevedo;

_Manuel Bandeira;

_Carlos Drummond de Andrade;

_Ferreira Gullar, entre outros.

E ainda indicamos os famosos poetas paranaenses: Emílio de Meneses,

Paulo Leminski, Helena Kolody, Alice Ruiz, entre inúmeros outros.

Segunda seção

Pra início de conversa...

Prezados alunos, nesta seção vamos adentrar ao mundo do texto

literário, através da leitura da crônica “O jogo,” de Luís Fernando Veríssimo,

a qual trata da rivalidade entre dois meninos. Tudo começou no jogo de bolinha

de gude...

Agora vamos saber um pouco mais sobre a vida do autor do texto.

Luís Fernando Veríssimo, nasceu em Porto Alegre _ Rio Grande do Sul em

1936. É cronista, jornalista e publicitário. Em suas crônicas, explora

magistralmente a sátira. Atualmente escreve para jornais e revistas.

Principais livros: O analista de Bagé, Outras do analista de Bagé, A grande

mulher nua, O rei do rock, Amor brasileiro, A velhinha de Taubaté, O

popular, A mesa voadora, O gigolô das palavras, A mulher do Silva, As

cobras e outros bichos. (LUFT& Maria Helena, 1993, p.133).

Vocês conhecem o jogo de gude? Sabem jogar? Gude é um jogo, em

que os jogadores tentam acertar a bolinha no búrica (buraco). Quem chegar

primeiro ao buraco inicial vence a partida. É importante salientar que quem

bater (nicar) na bolinha do adversário, tem direito a continuar na brincadeira. Às

vezes é difícil saber se a bolinha nicou ou não nicou. A partir desse momento

começa a controvérsia...

Atenção classe, agora é chegada a hora de conhecer a famosa crônica

do nosso grande autor gaúcho, Luís Fernando Veríssimo!

Então vamos à leitura da crônica, que deverá ser lida silenciosamente,

pois é uma forma de todos se inteirarem do texto.

Todos leram, vamos agora ler em voz alta.

O JOGO

“A vida é uma guerra em que os sonhos são

nossos rivais e a realidade nossas armas.” Felipe Magister

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

_Nicou.

_Não nicou.

_Nicou!

_Não nicou!

Atracaram-se. Rolaram pelo chão. Eram vizinhos. Os dois com oito

anos. Xingavam-se ao gritos.

_Filho disto!

_Filho daquilo!

As duas mães citadas correram para ver o que estava acontecendo.

Separaram os dois, que choravam de dor e de raiva. As mães tiveram que

segurar os dois com força e levá-los, cada um para a sua casa. Senão a briga

recomeçava.

— Nicou!

— Não nicou!

Nunca mais jogaram bola de gude. Nunca mais brincaram juntos.

Quando um deles mudou de casa, botou a cabeça para fora do carro e gritou

para o que ficava.

— Nicou!

O outro não teve tempo de responder. Mas fez um gesto expressivo.

Nicou aqui, ó!

Reencontraram-se, anos depois, por coincidência, no ginásio.

Encararam-se, meio sem jeito. Mas não se falaram. No fim do ano, um tinha

tirado o primeiro lugar da turma e o outro, o segundo. No ano seguinte, foi o

contrario. Disputaram a presidência do grêmio estudantil. Foi uma campanha

violenta, com ataques pessoais. Entrou mãe no meio. Houve acusações

mútuas de desonestidade no jogo, o que ninguém entendeu. O derrotado

fundou um grêmio dissidente. Cada um entrou para um cursinho pré-vestibular.

Os cursinhos brigaram, pela imprensa, sobre qual dos dois fizera o melhor

vestibular na cidade. Entraram os dois para a Engenharia.

[...]

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. In Luft

e Maria Helena. A palavra é sua.

Língua Portuguesa. 8ª série. Editora

Scipione. 1993. pp.130-132)

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Vimos neste texto a rivalidade existente entre dois meninos que perdurou

durante toda a vida deles. Considerando a crônica lida, vamos aprofundar a

compreensão do texto.

Para que vocês realmente se inteirem do texto é preciso que conheçam o

seu vocabulário. Caso julguem necessário, consultem o dicionário.

1) Procurem no dicionário o significado das seguintes palavras e formem frases com cada uma delas:

a) mútuas

b) dissidente

c) espigões

d) concordata

e) adega

f) patrono

g) obelisco

h) engenhosidade

2) Identifiquem o tema da crônica lida?

II. Interpretação do texto

Depois que vocês compreenderam o texto, passemos para a outra fase

que é a interpretação. Aqui vamos buscar os sentidos mais profundos do texto.

1) A rivalidade entre os dois personagens começou quando?

2) O que se sucedeu a partir desse fato?

3) Como reagiram ao se reencontrarem?

4) Por que foram escolhidos aqueles nomes para os edifícios que eles construíram?

5) Após renunciarem à vida empresarial a que atividade profissional eles se dedicaram 6) Em sua opinião a rivalidade entre os dois só aumenta com o preparatório para o vestibular?

7) Como acabou essa confusão?

8 ) Em que este texto contribuiu para o conhecimento de vocês?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Vocês gostaram do texto ―O jogo‖? Consideraram exagerada a

rivalidade entre os dois meninos? Então leiam o texto abaixo e façam a

comparação.

A REALIDADE E A FICÇÃO

Yoshiaki Tsutsumi, que tem o privilégio de ser o homem mais rico do

mundo há quatro anos seguidos, é conhecido no Japão não por sua fabulosa

riqueza_ US$ 16 bilhões, no último levantamento_, mas pela rivalidade hostil

que tem com seu bilionário meio-irmão Seiji Tsutsumi.

Yoshiaki fruto de um dos muitos casos extraconjugais de seu

promíscuo pai, era o filho favorito e herdou o grosso da empresa ferroviária

Seibu e de uma companhia imobiliária. Ele transformou a companhia num

império que vale mais de US$ 400bilhões, conhecido como Seibu Railway

Group.

O filho legítimo de seu pai, Seiji, que recebeu no testamento apenas

uma pequena e obscura loja de departamentos, transformou sua herança no

Seibu-Saison Group, um dos mais atuantes conglomerados de distribuição de

mercadorias do Japão.

[...]

BUTTS, David. “A realidade e a ficção”.

Folha de São Paulo. Apud: LUFT & Maria Helena.

A palavra é sua. 8ª série. Editora Scipione. 1993.

p.p135-136.

Como podemos perceber vocês leram dois textos de gêneros

diferentes. O primeiro trata-se de uma crônica, já o outro é um texto jornalístico

.

1) Estabeleçam a diferença entre os textos

2) Apontem as semelhanças entre os dois textos.

3) Determinem a diferença entre os gêneros textuais.

IV. PONTO DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Sabendo do poder que a palavra exerce na sociedade em que

vivemos, exponham as suas opiniões a respeito da rivalidade existente entre as

pessoas, especialmente as do texto lido.

1) Vocês conhecem casos de rivalidade famosos na história da humanidade? Quais?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Avaliação é o momento do professor fazer a verificação do que o aluno

aprendeu acerca do texto.

Em duplas releiam o texto, depois discutam entre si e escrevam um

texto com o mesmo tema, mas com um final diferente.

Terceira seção

Pra início de conversa...

Queridos alunos, neste encontro vamos conhecer mais um texto do gênero

crônica, desta vez do renomado autor Fernando Sabino, que com muito

humor e criatividade narra a saga pela qual passou o personagem desta

história.

Querem saber qual foi o problema que o personagem enfrentou?

Então vamos à leitura do texto de forma silenciosa, só depois disso faremos

a leitura oral.

É muito importante para o leitor saber um pouco sobre a vida literária do

autor da obra. Portanto, é a hora de saber um pouco mais sobre Fernando

Sabino.

Seu nome completo é Fernando Tavares Sabino, mineiro de Belo

Horizonte, onde nasceu a 12 de outubro de 1923. Formou-se em Direito. Suas

crônicas, publicadas em inúmeros periódicos de grande circulação, têm como

característica marcante a alegria, a graça, a naturalidade.

Escreveu, entre outras obras: Os grilos não cantam mais, A marca, A cidade

vazia, O encontro marcado, O homem nu, A companheira de viagem, O

grande mentecapto, A falta que ela me faz, O menino e o espelho.

Disponível em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias

Acesso em: 20/10/2012

Então turma, neste momento que já conhecemos um pouco sobre o autor é

oportuno conhecer uma crônica deste importante cronista mineiro, Fernando

Sabino!

Imaginem uma pessoa nua em pleno corredor do prédio onde mora!

Que tal conhecerem a saga deste personagem?

Tomara que isso nunca aconteça com vocês!

Estão curiosos (as)? Então vamos mergulhar na leitura!

O HOMEM NU

“Precisamos mais da moda do que das roupas,

não para cobrir nossa nudez, mas para vestir

nossa autoestima!” Colin Mcdowell

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Ao acordar, disse para a mulher:

_Escuta minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem

aí o sujeito da conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe

dinheiro da cidade, estou a nenhum.

_Explique isso ao homem_ ponderou a mulher.

_Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir

rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica

quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem

ninguém.Deixa ele bater até cansar_ amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar

banho, mas a mulher já se trancara dentro. Enquanto esperava, resolveu tomar

um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.

Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para

outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo

padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia

aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si

fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

[...]

(SABINO, Fernando. O homem nu. In Reinaldo

Matias Ferreira. Português. 7ª série Editora Ática. 1986.

pp. 51-52)

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Após conhecer o terrível incidente pelo qual passou o protagonista,

resolvam estas questões, tendo como princípio o conhecimento do vocabulário.

Para esta atividade, caso vocês ―tropecem‖ em alguma palavra consultem o

dicionário:

1) Explique os significados das expressões a seguir:

a) estou a nenhum (linha 3)

b) daria com ele ali, em pelo (linha42)

c) pesadelo de Kafka (linha44)

d) regime de terror (linha45)

2) Completem as orações abaixo com as seguintes palavras do texto:

ponderou, vigarice, despir, estrondo, refugiado, insistir, fazendo as

adaptações necessárias

a) O filho.........................com o pai para comprar o brinquedo.

b) O homem nu......................... no lanço da escada.

c) Ele ouviu um .......................atrás de si..

d) É necessário se....................... para tomar banho.

e) Não pagar as contas é um ato de............................

f) A mulher..............................a questão.

3) Encontrem no texto de Fernando Sabino as palavras que tenham estes

significados:

a) pagamento a prazo para solver dívida ou encargo.

b) bailado executado por diversos bailarinos.

c) parte de uma escada compreendida entre dois patamares.

d) serviço de policiamento urbano, mediante um aparelho de comunicação

central com outras viaturas.

4) Qual é o tema do texto lido?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Nesta fase, vamos discutir as idéias contidas no texto. Não se esqueçam de

consultar o texto quantas vezes forem necessárias:

1).Qual o motivo do homem ter saído nu do apartamento?

2) Por que a porta se fechou quando o homem pegou o pão? Explique.

3) Explique por que o homem chamou a mulher em voz baixa.

4) A esposa do homem nu fechou o chuveiro quando percebeu que ele tocou

a campainha. Qual a razão dela ter procedido dessa forma?

5) O que causou a entrada do homem nu no elevador?

6) Passada a confusão, a campainha tocou. Por que então o homem foi abrir a

porta?

7) Expliquem qual foi a causa de toda essa confusão.

9) É possível que essa história seja um caso verídico?

10) Qual o tema do texto em questão?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Espero que vocês tenham gostado e se divertido com o texto ―O homem nu‖.

Agora é a vez de vocês lerem o texto abaixo e verem quais são as

semelhanças entre eles.

MORREU DE CONFUSÃO

Foi encontrada no bolso de um suicida, em Maceió, a seguinte carta:

―Ilmo. Sr. Delegado de Polícia:

Não culpe ninguém pela minha morte. Deixei esta vida porque, um dia mais

que eu vivesse, acabaria morrendo louco. Explico-lhe, Senhor Delegado: tive a

desdita de casar-me com uma viúva, a qual tinha uma filha. Se eu soubesse

disso, jamais teria me casado.

Meu pai, para maior desgraça, era viúvo, e quis a fatalidade que ele se

enamorasse e casasse com a filha de minha mulher. Resultou daí que minha

mulher tornou-se sogra de meu pai. Minha enteada ficou sendo minha mãe, e

meu pai era, ao mesmo tempo, meu genro. Após algum tempo, minha filha

trouxe ao mundo um menino, que veio a ser meu irmão, porém neto de minha

mulher, de maneira que fiquei sendo avô de meu irmão. Com o decorrer do

tempo, minha mulher também deu à luz um menino que, como irmão de minha

mãe, era cunhado de meu pai e tio de seu filho, passando minha mulher a ser

nora de sua própria filha.

[...]

(O impossível acontece. O Cruzeiro. Apud.

Reinaldo Mathias Ferreira. 7ª série. Editora Ática. 1986.p.

57).

1) Em que os textos são parecidos?

2) Quais as diferenças existentes entre eles?

3) Apontem as diferenças dos gêneros textuais: crônica e carta que envolvem

situações embaraçosas.

IV. PONTOS DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Neste momento, é a ocasião de vocês exporem a suas opiniões a respeito

das idéias contidas no texto:

1) Caso vocês fossem o homem do texto, como vocês agiriam naquela

situação?

2) Você sabe o que é um naturista?

3) Vocês teriam coragem de frequentar uma praia de naturistas ou de viver

em uma comunidade do mesmo tipo?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

A verificação da aprendizagem se dá em todos os momentos. Portanto, é

chegado o momento de vocês escreverem sobre o que aprenderam.

Agora é a sua vez de imaginar uma situação vexatória de uma personagem

passando a pé pelo centro da cidade. Narre essa aventura maluca no gênero

crônica e não se esqueçam de dar um final surpreendente.

Quarta seção

Pra início de conversa...

Prezados alunos, nesta fase do nosso trabalho, vamos abordar o gênero

poesia, a qual tem uma estrutura diferente e características próprias, bem

divergentes do texto narrativo. Neste encontro vamos trabalhar o poema “Vou-

me embora pra Pasárgada,” um dos mais conhecidos do Brasil, do grande

poeta de todos os tempos: Manuel Bandeira.

Quanto à criação desta obra, eis o que nos afirma o poeta:

VALE A PENA SABER

―Esse nome de Pasárgada, que significava campo dos persas ou tesouro dos

persas, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de

delícias... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da

Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação

de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-

me de súbito do subconsciente um grito estapafúrdio: Vou-me embora pra

Pasárgada. Senti [...] a primeira célula de um poema.‖

(FARACO & Moura, 1998, p.265)

É sempre recomendável conhecer a biografia do autor da obra a qual vamos ler.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nasceu em Recife_

Pernambuco (1886) e morreu no Rio de Janeiro (1968).

Estudou no Rio de Janeiro e em São Paulo, tendo abandonado o curso da

Escola Politécnica por causa da tuberculose que o acometeu. Viajou para a

Suíça, em busca de cura para a doença. Lá conheceu alguns importantes

poetas pós-simbolistas franceses. Suas principais obras são:

Poesia: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); O ritmo dissoluto

(1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã (1936); Lira dos

cinquent’anos (1940); Belo, belo e Mafuá do malungo (1948); Opus 10

(1952); Estrela da tarde (1963); Estrela da vida inteira (1966).

Poesia: Crônicas da província do Brasil ( 1937); Guia de Ouro Preto

(1938); Itinerário de Pasárgada (1954); Andorinha, andorinha ( 1966).

(Faraco & Moura, 1998, pp. 264-265)

E agora turma, chegou a ocasião de conhecer a obra do nosso famoso poeta,

pernambucano, Manuel Bandeira!

É possível existir tal lugar?

Leiam o poema para saber...

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

“A vida é um paraíso, mas os homens não o sabem e

não se preocupam em sabê-lo”

Fiodor Dostoievski

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

[...]

(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa.

Rio de Janeiro, Aguilar, 1967. pp. 264-265)

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Percebemos ao ler este poema que o poeta idealizou um lugar. Com base nas

informações contidas no texto respondam às questões:

1)Em sua opinião, Pasárgada é um lugar que realmente existe?

2) Expliquem o significado das expressões a seguir:

a) Lá sou amigo do rei, presente já na primeira estrofe do poema.

b) ―Vem a ser contraparente da nora que nunca tive.‖

c) O que significa ―processo seguro de impedir a concepção.‖

d) O que são alcaloides?

3) No poema existe a antítese nos advérbios aqui e lá. O que isso

representa?

4) Qual é o tema do poema: ‖Vou-me embora pra Pasárgada‖?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Sendo o texto poético caracterizado, sobretudo, pelas emoções, se

aprofundem nas ideias e sentimentos contidos no poema e façam a

interpretação:

Você sabe o que é eu - lírico?

1) No poema o eu - lírico se apresenta como uma pessoa solitária?

Comprovem com uma passagem do texto.

2) Por que as ações do cotidiano têm tanto valor para o poeta?

3) Quais as recompensas que aparecem no poema?

4) Em um trecho do poema as lembranças da infância vêm à tona. Em que

versos isso ocorre? Que sentimentos despertam no autor?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Vocês gostaram do gênero poesia? Observem como esse mesmo tema

pode ser tratado em forma de paródia pelo autor Millor Fernandes. O gênero

paródia se caracteriza pela imitação cômica de uma obra. Leiam o texto

seguinte e tirem as suas conclusões.

VOU-ME EMBORA DE PASÁRGADA

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Vou-me embora de Pasárgada

Sou inimigo do rei

Não tenho nada que eu quero

Não tenho e nunca terei

Vou-me embora de Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

A existência é tão dura

As elites tão senis

Que Joana, a louca da Espanha

Ainda é mais coerente

Do que os donos do país.

A gente só faz ginástica

Nos velhos trens da central

Se quer comer todo dia

A polícia baixa o pau

E como já estou cansado

Sem esperança num país

Em que tudo nos revolta

Já comprei ida sem volta

Pra outro qualquer lugar

Aqui não quero ficar,

Vou-me embora de Pasárgada.

[...]

Dou boiada pra ir embora

Pra ficar só dou um boi

Sou inimigo do rei

Não tenho nada na vida

Não tenho e nunca terei

Vou-me embora de Pasárgada.

FERNANDES, Millor. In: Jornal do Brasil, 18/03/2001

Disponível em: HTTPS://www.crv.educacao.mg.br

Acesso em: 03/11/2012

1) Observem os pontos comuns entre os dois textos.

2) Você percebeu a oposição entre os textos? Explique.

3) Citem a que gêneros textuais pertencem os textos

.

IV. PONTO DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

O célebre poema: “Vou-me embora pra Pasárgada” nos conduz a uma

reflexão a respeito da forma de viver a vida.

Prezados alunos agora é a vez de vocês expressarem as suas opiniões

acerca dos fatos.

1) O paraíso existe?

2) O Planeta Terra já foi um paraíso? Será que poderá sê-lo algum dia?

3) Quais as vantagens e desvantagens de se morar numa Pasárgada?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Caro aluno chegou o momento da apresentação do jogral do poema em

questão para efetivarmos nossa compreensão.

.Agora vocês vão inventar a sua própria Pasárgada.

Imaginem um local ideal para quem quer fugir dos problemas da vida. Redijam

um texto em dupla e entreguem-no à sua professora. Não se esqueçam de

discutir as ideias entre si, antes de colocá-las no papel. Este texto poderá ser

em verso ou prosa.

Quinta seção

Pra início de conversa...

E aí pessoal gostaram do gênero poesia?

Que tal conhecer outro poema, desta vez do célebre poeta mineiro Carlos

Drummond de Andrade?

Antes de ler um poema é sempre bom saber a biografia do autor, assim como o

contexto histórico em ele viveu.

VALE A PENA SABER

O poema foi escrito no período em que ocorria a Segunda Grande Guerra e,

como muitos outros de Drummond, revelam o desencanto e a falta de

perspectiva para o destino do homem comum. Passada a fase de ―inovação a

qualquer custo‖ que marcaram a primeira fase modernista e sob o influxo das

mais diversas desordens sociais_ internas e externas,_ a poesia brasileira

amadurece não só formal como tematicamente. Esse amadurecimento é a

principal marca de nossa poesia da segunda fase modernista. (FARACO &

Moura, 1998, p.289)

Carlos Drummond de Andrade, nasceu em Itabira (1902), Minas Gerais e

morreu no Rio de Janeiro (1987).

Passou a infância na cidade natal e fez estudos secundários em Friburgo e em

Belo Horizonte. Formou-se em Farmácia, mas dedicou-se ao jornalismo e à

literatura, além de ter sido funcionário público. Eis o conjunto de suas obras:

Poesia: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do

mundo (1940); José (1942); A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951);

Viola de bolso (1952); A vida passada a limpo (1959); Lição de coisas

(1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco ( 1973); A paixão medida

(1980); Corpo (1984); Amar se aprende amando ( 1985); O amor natural

(1992); Farwell (1996).

Prosa: (crônicas e ensaios): Confissões de Minas (1944); Contos de

Aprendiz (1951); Passeios na ilha (1952); Fala amendoeira ((1957); A bolsa

e a vida (1962); Cadeira de balanço (1970); Boca de Luar (1984).

(FARACO & MOURA, 1998, pp.292-293)

Neste momento, vamos fazer a leitura silenciosa do poema “José” do ilustre

poeta Carlos Drummond de Andrade, pois através desse tipo de leitura o

aluno poderá ler no seu ritmo normal, o qual permite maior penetração nas

ideias do texto:

José

“Não existe vento favorável para aquele que não

sabe para onde vai”- Arthur Schopenhauer

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

E agora José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?

E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio_ e agora?

[...]

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa.

Rio de Janeiro, Aguilar, 1967. p. 130.)

ENCONTRO COM O TEXTO

COMPREENSÃO DO TEXTO

Sabendo do abandono e da solidão do personagem, vamos responder às

questões levando-se em conta as informações inseridas no texto:

1) No poema, de acordo com o poeta, ―José‖ teria a oportunidade de mudar o

seu destino. Indique pelo menos quatro versos em que podemos perceber isso.

2) Você sabe como funciona a linguagem figurada? Cite algumas passagens

do texto em que ela aparece.

3) Caracterize o personagem José.

4) Por que podemos dizer que José é um desamparado pela sorte e pela vida?

5) Por que o verso: ―a noite esfriou‖ se repete várias vezes?

6) Por que José é considerado um ninguém?

7) Em que o eu - lírico exprime a ideia que José está sem rumo?

8) Qual é o tema do poema em questão?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Como vocês constataram até aqui o desamparo e a falta de esperança sofridos

pelo personagem José do poema, nos levam a refletir sobre algumas situações

existenciais. Tendo isso como premissa responda às questões abaixo:

1) Em sua opinião, por que o poeta escolheu o nome José para o personagem

do poema?

2) Existe uma incoerência no poema: se no oitavo verso da primeira estrofe o

eu - lírico afirma ―você que é sem nome‖, sendo que o interlocutor do texto é

José Por que isso acontece?

3) Quais as situações da vida de uma pessoa que podem levá-la a sentir-se

como José?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Nesta unidade vamos trabalhar com o poema: “Agora, ó José”, de

Adélia Prado, onde a autora estabelece uma relação com o poema “José” de

Drummond e presta-lhe uma homenagem. Observem o que os dois poemas

têm em comum.

Agora, ó José

É teu destino, ó José

a esta hora da tarde,

se encostar na parede,

as mãos para trás.

Teu paletó abotoado

de outro frio te guarda,

enfeita com três botões

tua paciência dura.

A mulher que tens, tão histérica,

tão histórica, desanima.

Mas, ó José, o que fazes?

Passeias no quarteirão

o teu passeio maneiro

e olhas assim e pensas,

o modo de olhar tão pálido

[...]

Resiste, ó José. Deita José,

dorme com tua mulher,

gira aldraba de ferro pesadíssima.

O reino do céu é semelhante a um homem

Como você, José.

(PRADO, Adélia. Poesia contemporânea. São

Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1997)

1) Apontem as semelhanças e as diferenças entre os dois poemas lidos.

IV. PONTOS DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Caros alunos chegou a vez de vocês exporem seus pensamentos e fazerem

seus comentários a respeito dos poemas aqui estudados:

1) Será que podemos comparar a vida do ―José‖ do poeta Drummond com a de um mendigo?

2) O que leva uma pessoa a se tornar um ―José‖ na vida, como no caso específico do primeiro poema?

IV. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Agora vamos produzir um texto para que possamos perceber os erros e

encaminhá-los na aquisição dos objetivos propostos.

Criem uma música (rap) ou poema onde o ―José‖ se livra de todos os seus

problemas existenciais.

Sexta seção

Pra início de conversa...

Neste encontro vamos estudar uma obra de um dos maiores escritores do

mundo: Machado de Assis.

A seguir vocês vão fazer uma leitura silenciosa de “Um apólogo”, que é um

tipo de história com objetos, neste caso específico de uma agulha e uma linha,

a qual ilustra uma lição de sabedoria e cuja moralidade é expressa como

conclusão.

Antes de adentrarmos ao mundo imaginativo da leitura, é sempre aconselhável

conhecer a vida literária do autor.

Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu em 1839, no Morro do

Livramento, Rio de Janeiro, e faleceu, também no Rio, em 1908, aos 69

anos. Filho de um pintor e uma lavadeira, ambos muito pobres, ficou órfão

muito cedo.

Mulato, tímido, gago e epilético, conseguiu, no entanto, sobreviver, fazendo

carreira como funcionário público e escritor. Aos 16 anos, trabalhou como

aprendiz de tipógrafo, em jornais da Imprensa Nacional. Dois anos depois,

tornou-se revisor de uma editora e em seguida do Correio Mercantil.

Em 1860 passou a trabalhar na redação do Diário do Rio de Janeiro,

colaborando na seção ―Semana Ilustrada.‖ Autodidata, foi conquistando

vasta cultura literária e, embora escrevesse críticas teatrais e literárias,

crônicas, artigos políticos, contos e peças de teatro, a princípio ganhou

nome como poeta.

Aos 30 anos, casou-se com Carolina Xavier de Novais e desde então fez

carreira burocrática, na qual ascendeu e permaneceu até a morte. Foi um

dos fundadores e presidente da Academia Brasileira de Letras; ao longo de

mais de 50 anos de vida literária colaborou em inúmeros jornais e revistas.

Considerado o maior escritor em prosa da literatura brasileira, Machado de

Assis é um autor múltiplo, inventivo, original.

Principais obras:

Poesia: Crisálidas; Falenas; Americanas; Poesias completas.

Romance

fase romântica: Ressurreição; A mão e a luva; Helena; Iaiá Garcia.

fase realista: Memórias póstumas de Brás Cubas; Quincas Borba; Dom

Casmurro; Esaú e Jacó; Memorial de Aires.

Conto: Contos fluminenses; Histórias da meia-noite; Papéis avulsos;

Histórias sem data; Várias Histórias; Páginas escolhidas; Relíquias da

casa velha.

Teatro: Queda que as mulheres têm pelos tolos; Desencanto; Quase

ministro; Os deuses de casaca; Tu, só tu, puro amor.

( AMARAL, et all,2000, p.171)

Neste texto vocês vão conhecer a disputa entre a agulha e a linha para

saber quem é a mais importante.

Existe um ser superior ao outro?

Vocês querem saber como termina essa história?

Então vamos à leitura...

UM APÓLOGO

“É o orgulho que leva a dizer não, e a fraqueza

sim. A modéstia pode dizer ambas as coisas sem

paixão.” Pierre Reverdy

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao

pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

(ASSIS, Machado. Para Gostar de Ler

Volume 9- Contos, Editora Ática – São Paulo, 1984, p.59.)

Após a leitura silenciosa vamos ler novamente com fluência, boa dicção e entonação com o intuito de despertar o interesse dos alunos pela leitura do texto.

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Através da leitura desse texto do grande mestre Machado de Assis, pudemos

perceber que é a retratação da soberba humana.

Caso vocês ―enrosquem‖ em alguma palavra, consultem o dicionário

1) Você sabe o que é soberba?

2) Como você caracterizaria uma pessoa soberba?

3) Neste texto objetos representam pessoas. Podemos associá-lo à fábula?

Comente.

4) ―Importe-se com sua vida e deixe a dos outros‖ o que ela quer dizer?

5) Na frase ―... Cada qual tem o ar que Deus lhe deu‖. O que pensou sobre a

outra?

6) Você sabe o que significa coser? Após verificar no dicionário elabore uma

frase para esse verbo.

7) Qual o tema do texto ―Um apólogo‖?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

A competitividade faz parte da sociedade em que vivemos. Partindo desse

pressuposto, penetrem no mundo das ideias do texto:

1) Por que razão a agulha e a linha discutem?

2) Na nossa sociedade atual existem papéis definidos. Quem faz o papel de linha e da agulha?

3) Percebemos através da leitura do texto várias passagens onde a linha se apresenta de forma arrogante. Apresente pontos em que as duas são importantes nas suas funções e responda: Uma poderia fazer o trabalho sem a ajuda da outra?

4) Qual a mundividência que o texto nos transmite?

5) Qual a explicação para a expressão: ― professor de melancolia‖?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Nesta etapa, é a hora de vocês compartilharem ideias e opiniões a respeito do

texto.

Vamos apresentar a vocês outro apólogo do escritor maranhense Viriato

Correia. Leiam e façam as devidas comparações.

O sapato ferrado e a sandália de veludo

Naquele mesmo dia, ao terminar o recreio, Dona Neném nos disse que

tinha um apólogo para nos contar.

E à hora do exercício de escrita, ditou para toda a classe:

Era uma vez um Sapato Ferrado, era uma vez uma Sandália de Veludo

que o destino reuniu, certa manhã, na vitrina de uma sapataria.

Ele, de couro grosso, feio, forte, pesadão. Ela, pequenina, mimosa

delicada com bordados de ouro, laçarotes de seda e fivelinha de prata.

A sina dele (via-se logo ao primeiro olhar) não podia ser outra senão

andar em pés grosseiros, sobre lama e sobre pedras. Ela (ao primeiro olhar se

via) tinha sido feita para viver em palácio, sobre ricos tapetes, nos pezinhos

delicados de uma mulher fidalga.

Se não se pareciam no corpo, muito menos na alma. A dele era simples,

lisa, complacente, bonachã. A dela, vaidosa, fútil, insaciável e complicada.

Quando o Sapato Ferrado entrou na vitrina já a Sandália de Veludo lá

estava desde a véspera.

E quando ele entrou, houve entre os calçados um visível mal-estar.

A Botina de Cano Alto tocou escandalizada no Sapato Raso. O

Borzeguim soltou uma exclamação de surpresa. A Bota de Montar, com toda a

sua elegância de maneiras, não pode esconder uma ruga de aborrecimento. O

Sapatinho de Criança fez uma careta. E até a Chinela de Trança mostrou-se

espantada.

Mas quem fez o escândalo foi a Sandália.

Ao vê-lo entrar, deu um ui! De espanto como se tivesse visto um bicho e,

chegando-se junto do Sapato de Entrada Baixa, disse sem a menor precaução:

_Que sujeito mal-amanhado. Quererá, por ventura, viver em nossa

companhia?

Quando, mais tarde, a sapataria abriu as portas e o povo começou a

parar diante da vitrina, cada calçado cuidou de colocar-se em posição de ser

visto da rua.

Ele, o Sapato Ferrado, deixou o cantinho a que estava recolhido e veio

para a frente.

_Chegue-se para lá! Gritou-lhe irritadamente a Sandália de Veludo. Faça

o favor de não ficar perto de mim.

_Mas eu preciso mostrar-me. Para isso é que me puseram na vitrina.

_Sim, mas para lá, muito para lá! O mais longe possível. Veja bem a

distância que nos separa.

Na rua um grupo de moças, que vinha passando, parou.

_Que mimo de Sandália!

_Que lindo Borzeguim!

_Que fina Bota de Montar!

_Oh! No meio de tanto calçado rico um Sapato Ferrado tão feio!

exclamou uma das moças.

O Sapatinho de Criança encheu o rosto com um riso inconveniente. A

Botinha de Cano Alto virou de banda para rir. O Sapato Raso imitou-a.

_Não acho graça nenhuma, disse a Sandália de Veludo. O que sinto é

vergonha. Vergonha de viver nesta vitrina em tão má companhia. À tarde, o

Sapato Ferrado desapareceu da vitrina. Um homem do campo comprara-o.

Passou-se.

Um dia, uma carroça de lixo atirou o Sapato Ferrado para cima de um

monturo.

Minutos depois ouviu ele uma voz dizer-lhe baixinho:

_Amigo, acabo de reconhecê-lo.

[...]

(CORRÊA, Viriato. Cazuza. Editora

Nacional. São Paulo, 1978, p.p 85-87)

1) Quais as semelhanças e diferenças podem ser estabelecidas entre os

textos?

2) Do qual apólogo você mais gostou?

IV. PONTOS DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE

Chegou a hora de vocês compartilharem as ideias com os seus colegas a

respeito do texto.

1) Com qual dos personagens vocês mais se identificaram? Expliquem.

2) Quanto à agulha e a linha, caracterizem estas personagens no aspecto comportamental e digam em que elas se assemelham com o ser humano?

3) Existe vencida ou vencedora na história?

4) Vocês acreditam que existe dominantes e dominados entre os profissionais

na vida real?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Nesta etapa iremos fazer a dramatização do apólogo.

1) Fazer a dramatização do apólogo.

Etapas da dramatização:

_Escolha das personagens para os papéis;

_Ensaiar em da sala e em casa (decorar os papéis de cada uma);

_Apresentação do apólogo, levando-se em conta: a postura, a voz, a roupa e

expressão facial das personagens.

2) Relacionar a história de ―Um apólogo‖ com uma experiência pessoal ou a uma

situação cotidiana e produzir um texto do mesmo gênero.

Como exemplos podemos citar a história de:

_O giz e o apagador;

_O livro e o caderno;

_O pente e a escova;

_ A bolsa e uma carteira, entre outros.

Sétima seção

Pra início de conversa...

Caros alunos, nesta seção vamos conhecer o conto: “A moça tecelã”,

escrito em 2004, de Marina Colasanti. Este gênero de texto é geralmente

considerado uma narrativa mais curta, por isso o clímax está sempre próximo

da situação inicial, o que provoca uma expectativa no leitor. Sendo que o seu

enredo deve conduzir o leitor ao desfecho esperado ou inesperado.

Conhecer a biografia do autor é muito importante antes de ler a obra, pois, na

maioria das vezes revela traços do seu estilo e do seu contexto histórico.

Marina Colasanti, nasceu em Asmara (Etiópia em 1937), chegou ao Brasil em

1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro.

Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já

participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte

Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos,

apresentadora de televisão e roteirista. Em 1968, foi lançado seu primeiro livro,

“Eu sozinha”; de lá para cá, publicaria mais de 30 obras, entre literatura

infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesias, “Cada bicho seu capricho”

saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por “Rota da

colisão” (1993) e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil por “Ana Z aonde vai

você?” Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais “Eu sei,

mas não devia” (1992). Nelas, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos,

sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros,

sempre com aguçada sensibilidade.

Disponível em: www.astormentas.com/PT/biografia/Marina Colasanti

Acesso em: 12/11/2012

Caros alunos, agora vocês irão ler silenciosamente o conto ―A moça tecelã,‖ de

Marina Colasanti, porque esta forma de leitura é a mais usada na vida prática

para efeito de compreensão.

Neste conto vocês vão conhecer os segredos de ―A moça tecelã‖.

Estão curiosos (as) para conhecer?

Então vamos viajar na imaginação da protagonista desta história...

A moça tecelã

“Escrever é tecer letras formando palavras em

torno das ideias.” Elanklever (contabilista e pensador brasileiro)

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das

beiradas da noite. E logo sentava- se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço de luz, que ela ia

passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã

desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes iam tecendo hora a hora, em longo

tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça

colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em

breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em

pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à

janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e

espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados,

para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os

grandes pentes do tear para a frente e para trás, a moça passava seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado

de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se

sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite,

depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu

sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.

[...]

(COLASANTI, Mariana. Doze reis e a moça labirinto do vento. Rio de Janeiro,1982. pp.

12-16 apud Faraco e Moura. Nórdica)

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

A tecelagem manual é provavelmente uma das artes mais antigas, onde o

papel da mulher foi fundamental. Baseando-se nessa afirmativa, respondam às

seguintes questões:

1) Você acha esse texto fantasioso? Por quê?

2)É possível uma pessoa fazer o que quer do seu destino?

3) Quais as cores usadas para representar as tarefas diárias da tecelã?

5) De que forma a tecelã realizou o seu maior sonho e como ela se desiludiu?

6) Qual foi à solução que ela encontrou?

7) Qual é o tema do conto ―A moça tecelã‖?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Caros alunos vamos fazer como Marina Colasanti que teceu um conto com

suas visões imaginárias. Agora é a vez de vocês se aprofundarem nas ideias

desse conto:

1) O que há de mágico no texto, tendo em vista que o conto faz uso de

elementos mágicos, fantásticos?

2) Qual a diferença entre as expressões abaixo, em diferentes momentos do

texto:

a) ―Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria‖.

3) Sentindo-se só a moça tecelã resolve tecer um companheiro para si.

Caracterize esse personagem e explique por que depois de algum tempo ela o

desteceu?

4) O homem construído pela moça tecelã revela-se um interesseiro. Por que

isso acontece?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Nesta fase do nosso trabalho é o momento de vocês fazerem a

intertextualidade, relacionando um texto ao outro. Para que vocês estabeleçam

essa relação, apresentamos o poema “A tecelã” de Mauro Mota.

A TECELÃ

Toca a sereia na fábrica

e o apito como um chicote

bate na manhã nascente

e bate na tua cama

no sono da madrugada.

Ternuras da áspera lona

pelo corpo adolescente.

É o trabalho que te chama.

Às pressas tomas o banho,

tomas teu café com pão,

tomas teu lugar no bote

no cais do Capibaribe

Deixas chorando na esteira

teu filho de mãe solteira.

Levas ao lado a marmita,

contendo a mesma ração

do meio de todo o dia,

a carne seca e o feijão.

De tudo quanto ele pede

dás só bom dia ao patrão,

e recomeças a luta

na engrenagem da fiação.

[...]

Teces tecendo a ti mesma

na imensa maquinaria,

como se entrasses inteira

na boca do tear e desses

a cor do rosto e dos olhos

e o teu sangue à estamparia.

Os fios dos teus cabelos

entrelaças nesses fios

e outros fios dolorosos

dos nervos de fibra longa.

[...]

Vestes as moças da tua

idade e dos teus anseios,

mas livres da maldição

do teu salário mensal,

com o desconto compulsório,

com os infalíveis cortes

de uma teórica assistência,

que não chega na doença

nem chega na tua morte.

Com essa policromia

de fazendas, todo dia,

iluminas os passeios,

brilhas nos corpos alheios

[...]

Toca a sereia da fábrica

e o apito como um chicote

bate neste fim de tarde,

bate no rosto da lua.

Vais de novo para o bote.

Navegam fome e cansaço

nas águas negras do rio.

Há muita gente na rua,

parada no meio-fio.

Nem liga importância à tua

blusa rota de operária.

Vestes o Recife e voltas

para casa, quase nua.

(MOTA, Mauro. Canto ao meio. Rio de Janeiro,

1984. In Sargentim, Hermínio G. Atividades de

Comunicação em Língua Portuguesa. 8ª série, Editora

IBEP. São Paulo. P.19)

Agora que vocês já leram e observaram os textos, responda:

1) Os textos se parecem? Em quê?

2) O que difere um texto do outro?

3) Qual o seu preferido?

IV. PONTO DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Caros alunos, agora é a hora de interagir, para isso discutam e analisem as

questões a seguir, levando-se em conta os dois textos estudados:

1) Vocês acham que ―A moça tecelã‖ de Marina Colasanti é diferente das outras moças que vocês conhecem?

2) Tendo em vista a realidade em que cada um vive, é possível afirmar que somos tecelões de nossas próprias escolhas, porém sem os poderes mágicos da personagem do conto. Como isso acontece?

3) No segundo texto, no poema ―A tecelã‖ de Mauro Mota a personagem é uma moça pobre e mãe solteira, tendo de arcar com todas as responsabilidades sozinha, com base nessa assertiva responda:

a) Como a sociedade encara a mãe solteira hoje? E antigamente?

b) Qual a diferença da mulher de hoje com a de antigamente?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Neste momento, vocês vão demonstrar o que aprenderam através de uma

produção textual a partir do conto “A moça tecelã” de Marina Colasanti.

Imagine que você é a moça tecelã e pode construir coisas e traçar o seu

destino. A partir dessa afirmação escreva um texto em verso ou prosa,

conforme a sua preferência sobre o tema em questão.

Oitava seção

Pra início de conversa...

Prezados alunos, nesta seção vamos estudar um texto do gênero crônica,

desta vez do cronista capixaba Rubem Braga, intitulada “O padeiro,” que

trata da desvalorização de algumas profissões.

VALE A PENA SABER

História do pão O pão presente em todos os lares é motivo de polêmica. Mas, de fato não se

sabe quando o pão começou a ser feito. Como era o pão de antigamente?

É estimado que o pão tenha surgido há 12 mil anos na Mesopotâmia

juntamente com o cultivo do trigo. Eram feitos de farinha misturada com o

fruto do carvalho. Os primeiros pães eram achatados, duros, secos e muitos

amargos. Para ser ingerido, o pão era lavado várias vezes em água fervente

e depois era assado sobre pedras ou embaixo de cinzas.

O primeiro pão assado em forno de barro foi a 7000 a.C. no Egito, que mais

tarde descobriram o fermento. O pão chegou à Europa em 250 a.C. sendo

preparado em padarias, mas com a queda do império romano, as padarias

fecharam e o pão teve que ser feito em casa. Somente a partir do século XII a

França começou a melhorar e então no século XVII o país se destacou como

centro mundial de fabricação de pães.

No Brasil, o pão começou a ser popular no século XIX, apesar de ser

conhecido desde os colonizadores. Os pães feitos no Brasil eram escuros

enquanto na França o pão era de miolo branco e casca dourada. O pão

francês que tanto é usado no Brasil não tem muito a ver com os verdadeiros

pães franceses, pois a receita do pão francês no Brasil só surgiu no início do

século XX e difere do pão europeu por conter um pouco de açúcar e gordura

na massa.

Disponível em: www.brasilescola.com. Acesso em: 02/11/2012

Agora é o momento de conhecer um pouco mais da vida do autor, através de

sua biografia.

Rubem Braga, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, em 1913, e

morreu no Rio de Janeiro, em 1990. Fez o curso secundário em Niterói e o de

Direito no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde se formou em 1932. Como

jornalista, trabalhou em Minas Gerais, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Rio de

Janeiro. Foi correspondente oficial da Força Expedicionária Brasileira (FEB),

durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1955, foi chefe do Escritório Comercial

do Brasil no Chile e, em 1961, embaixador no Marrocos. É considerado por

muitos o maior cronista brasileiro.

Obras:

Crônicas: O conde e o passarinho (1936); Um pé de milho (1948); O homem

rouco (1949); A borboleta amarela (1955); Ai de ti, Copacabana (1962).

Reportagem: Com a FEB na Itália (1945). (CADORE, 1998, p. 501)

Atenção turma, é chegado o momento de conhecer a tão famosa crônica

de um dos maiores cronistas do Brasil, Rubem Braga!

É possível alguém desvalorizar a sua profissão e a si mesmo?

Vamos ler a crônica para saber...

O PADEIRO

“Se o homem se considera um verme não deve

se queixar quando for pisado”. Kant

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer

café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No

mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera

sobre a ―greve do pão dormido‖. De resto não é bem uma greve, é um lock-out,

greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando

o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem

o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim

assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que

conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele

apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava

gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a

ideia de gritar aquilo? ‖Então você não é ninguém?‖ Ele abriu um sorriso

largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido.

[...]

(BRAGA, Rubem. In: Para gostar

de ler. v.1. Crônicas. 12ª ed. São Paulo: Ática, 1989, pp.63-64)

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Antigamente padeiro era o profissional que fazia o pão e que também o

entregava de porta em porta. Com base nessa assertiva vamos fazer a

compreensão. Caso vocês ―enrosquem‖ em alguma palavra, consultem o

dicionário.

1) O que significa: ―faço minhas abluções?

2) Qual fato corriqueiro veio chamar a atenção do narrador-personagem e

interromper os seus hábitos logo pela manhã?

3) Qual o motivo do pão não ter chegado?

4) Existe alguma semelhança entre o trabalho do narrador e do padeiro. Qual?

5) Por que o padeiro dizia a expressão: ―Não é ninguém é o padeiro‖?

6) O que significa a expressão: ―greve de pão dormido‖?

7) Qual é o tema do texto em questão?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Agora que você já conhece a história do padeiro, se aprofundem no mundo das

idéias do texto:

1)Havia alguma intenção quando o padeiro gritava que não era ninguém?

2) Qual a idéia que o texto nos passa com a expressão: ―Não é ninguém, é o

padeiro!‖

3) A idéia de dizer: ―Não é ninguém, é o padeiro‖ não partiu do personagem. De

quem foi à idéia? Por que isso ocorreu?

4) Existe algum constrangimento por parte do padeiro? Justifique com uma

passagem do texto.

5) Por que o narrador se compara ao padeiro?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Vocês gostaram do texto “O padeiro”? Acharam graça quando o

homem dizia que não era ninguém, era o padeiro? Então conheçam esta outra

história bastante engraçada de Monteiro Lobato e observem em que elas se

parecem.

O homem de consciência

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens.

Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si

próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João

Teodoro.

Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E

por muito tempo não quis nem sequer o que o que todos ali queriam: mudar-se

para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento

visível de sua Itaoca.

_Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons _agora

só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um

rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A

gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está

se acabando...

João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso

necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que

Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.

_É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido,

que Itaoca não vale mais nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora

daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para

delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no

crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser

nada, não se julgava capaz de nada...

[...]

(LOBATO, Monteiro. Cidades mortas. São Paulo,

Brasiliense, s.d.p. 110-111. Apud:NICOLA, José. Língua ,

literatura & redação, v.3. Editora Scipione.1993. p.26)

Como vocês perceberam, leram dois textos de autores diferentes.

1) Em que os textos são parecidos?

2) Existem diferenças entre os textos? Quais?

IV. PONTO DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Sabendo da importância da autoestiama na vida do ser humano, exponham

suas opiniões a respeito dos dois textos.

1) Por que motivo os homens dos dois textos não se valorizam?

2) Você se considera valorizado na sua família, na escola, na sociedade?

V.Avaliação e produção textual

Agora que vocês já conhecem os dois textos com a mesma temática, redijam

um texto em dupla sobre a importância do ser humano e das profissões que

exercem. Pode ser em prosa ou versos, como vocês preferirem

Nona seção

Pra início de conversa...

Caros alunos, nesta seção vamos abordar mais um texto do gênero

crônica do autor Otto Lara Resende, intitulada “Vista Cansada,” que nos fala

sobre o valor das pequenas coisas.

Querem saber mais sobre esse assunto?

Então vamos à leitura do texto!

Antes, porém, de fazermos a leitura de qualquer obra é sempre bom conhecer

um pouco da biografia do autor, pois ela muitas vezes nos revela fatos que o

influenciaram na construção de sua obra.

Otto Lara Resende, nasceu em 1º de maio de 1922, em São João del

Rei, Minas Gerais, seus pais eram Antônio de Lara Resende e Maria

Julieta de Oliveira. Otto Lara Resende era o quarto filho de uma fileira

de vinte filhos.

O seu pai, professor, era dono do próprio colégio, o Instituto Padre

Machado que foi transferido para Belo Horizonte em 1938, levando toda

a família. Otto começou a escrever no ―jornalzinho‖ do colégio que era

vistoriado pelo professor Benone.

Em 1938, aos 16 anos, quando já morava em Belo Horizonte, Otto

começou a ter maior contato com autores lançados na época, conhece

Fernando Sabino e entra para o escotismo, freqüenta o curso de inglês

com Paulo Mendes Campos e torna-se amigo de Hélio Pellegrino, com

quem lança o jornal ―liberdade‖ em oposição ao Estado Novo.

Nesta época, Otto já trabalhava como professor de Português e

Francês. Em 1939, é convidado para trabalhar no serviço do Imposto

Territorial da Secretaria de Finanças de Minas. Aos dezoito anos, iniciou

como jornalista no jornal ―O Diário‖, de Belo Horizonte, estreando com o

artigo ―Panelinhas Literárias‖.

No decorrer de sua vida trabalhou no ―Diário de Minas‖ e no Rio de

Janeiro, nos veículos ―Diário de Notícias,‖ ―O Globo‖, ―Diário Carioca,‖

―Correio da Manhã,‖ ―Última Hora,‖ ―Manchete,‖ ―TV Globo,‖ e no

paulista Folha de São Paulo. Em 1945, muda-se para o Rio de Janeiro,

já formado em Direito, trabalha como jornalista e funcionário público.

Em 1948, casa-se com Helena, neta do ex-governador de Minas, João

Pinheiro.

Em 1979, é eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando

a cadeira 39.

Depois de prestigiado sucesso como cronista da Folha de São Paulo,

no início da década de 90, em 1992, larga o jornalismo aos 70 anos de

Idade. Em 28 de dezembro de 1992, falece por embolia pulmonar e

infecção hospitalar.

OBRAS:

_ 0 lado humano (contos 1952)

_Boca do inferno (contos, 1957 e 1998)

_O retrato na gaveta (contos, 1962)

_O braço direito (romance, 1964)

_ A cilada (conto 1965, publicado em “Os sete pecados capitais”)

_As pompas do mundo (contos, 1975)

_ O elo partido e outras histórias (contos, 1991)

_ Bom dia para nascer (Crônica na Folha de São Paulo, 1993)

_ O príncipe e o sabiá e outros perfis (História, 1994)

_ A testemunha silenciosa (novelas, 1995)

(Disponível em: HTTP;// www.infoescola.com/escritores/otto-lara-

resende/

Acesso em: 08/11/2012)

E agora pessoal chegou a hora de conhecer a obra deste grande cronista

mineiro, Otto Lara Resende!

Será que isso é possível de acontecer?

É só ler a crônica para saber.

VISTA CANSADA

“As pequenas coisas às vezes têm um valor imensurável. Um

gesto, uma palavra apenas pode mudar todo o curso de uma

história e para sempre o destino de uma vida.”

Lou Witt

Ilustração de Jandir Barbosa Filho

Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua

volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela

primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez

tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida

continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu

enquanto pode do desespero que o roía_ e daquele tiro brutal.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um

poeta é só isto: certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente

banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você

vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é

familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como

um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe

perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver,

você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall

do prédio do seu escritório. Lá estava sempre pontualíssimo, o mesmo

porteiro. Dava-lha bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma

correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

[...]

(RESENDE, Otto Lara. “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992. In Faraco e Moura. Linguagem Nova. 8ª série. 2ª edição Editora Ática. 1994. p.144)

ENCONTRO COM O TEXTO

I. COMPREENSÃO DO TEXTO

Após ler a crônica, pudemos constatar que o protagonista era uma pessoa que

passava despercebido aos detalhes da vida. Com base nessa assertiva

responda às questões a seguir:

1) O que significa a expressão: ―Vê não-vendo‖?

2)De que forma Hemingway afirma que se deve ver as coisas?

3)Por que em geral as pessoas não veem o que estão a sua volta?

4)Explique a frase: ―O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem‖.

5)Quem são as pessoas que podem ver o mundo como se fosse pela primeira

vez?

6)Existem consequências para quem não vê as coisas que os cercam ? Quais?

7)Qual é a temática do texto lido?

II. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO

Depois que vocês compreenderam o texto, passemos para outra fase que é a

interpretação. Aqui vamos nos aprofundar nos sentidos do texto:

1) Explique o título da crônica?

2) Ernest Hemingway tinha um olhar sobre a vida sempre em forma de despedida.

Otto Lara Resende tem essa mesma opinião? Justifique.

3) ―A indiferença é a mãe da insensibilidade,‖ isso se aplica ao texto? Explique.

4) Em sua opinião o que seriam os olhos sujos, gastos, opacos? E os atentos e

limpos?

5) Como as pessoas ao seu redor veem o mundo? Com a vista cansada?

Explique.

6) É difícil ver as coisas que estão ao nosso redor como se fosse pela primeira

vez?

III. OS TEXTOS CONVERSAM ENTRE SI

Após lermos os dois textos pudemos constatar as opiniões diferentes de

Ernest Hemingway e Otto Lara Resende sobre o modo de ver a vida.

Agora vamos conhecer outro texto, do autor Oswaldo França Júnior e

estabeleçam as relações entre os dois textos.

EU NÃO O CONHECI

Meu filho foi embora e eu não o conheci. Acostumei-me com ele em

casa e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa, é que

vejo como era necessário tê-lo conhecido.

Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.

Um dia, na sala, ele me puxou bem a barra do paletó e me fez examinar

seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.

Uma outra vez me pediu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu

estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo. Na

noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete, dormindo

abraçado ao brinquedo velho. O novo estava a um canto.

[...]

(JÚNIOR, Oswaldo França. As laranjas

iguais. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985 p. 37.

Apud FARACO& Moura. Linguagem Nova. 8ª série.

2ª edição. Editora Ática. 1994. pp.147-148)

1)O que a leitura de cada um dos textos provocou em você?

2)Que semelhanças e diferenças podem ser estabelecidas entre eles?

IV. PONTO DE VISTA (EXPLORANDO A ORALIDADE)

Agora exponham suas opiniões a respeito das duas formas de ver o mundo e a

vida:

1) Em sua opinião como devemos olhar a vida?

2) A rotina gera a indiferença? Exponha a sua opinião a esse respeito.

3) Você acredita que no mundo existem pessoas que olham as coisas e o mundo

de forma diferente?

V. AVALIAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTO

Neste momento vocês vão expor a forma como veem a vida. Em dupla redijam

um texto falando sobre esse assunto. Este texto poderá ser em verso ou em

prosa.

REFERÊNCIAS

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metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

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São Paulo: FTD, 2000.

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1967, pp.264-265.

BRAGA, Rubem. Para gostar de ler. v. 9 _contos. São Paulo: Ática, 1984, p.

59.

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faz o escritor. São Paulo: Fundação Itaú Social e Ministério da Educação,

2010.

CADORE, Luís Agostinho. Curso prático de Português. 2º grau. São Paulo:

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CEREJA, W.R; MAGALHÃES, T.C. Português: linguagens.

Literatura_Produção de texto_ Gramática. V. 2. Ensino Médio. 5ª ed. São

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CHARMEUX, E. Aprender a ler: vencendo o fracasso. São Paulo: Cortez,

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CORRÊA, Viriato. Cazuza. 26ª edição. São Paulo: Companhia Editora

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FARACO & MOURA. Linguagem Nova. 8ª série. São Paulo: Ática, 1994.

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FERREIRA, A.B de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio

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FRANCO, J. L.; OLIVEIRA, S. Teoria Literária 1. Ponta Grossa. Ed. UEPG,

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