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ANO XXVIII • Nº 224• SETEMBRO/2013 CFM conquista avanços e impede danos causados pela MP 621. Pág. 3 Ética médica e humanização No século XXI, o desafio do profissional é aliar os avanços tecnológicos à relação humanista, o que constitui ponto-chave para o estabelecimento de uma boa relação com os indivíduos e a sociedade. Págs. 6 e 7 Relação médico-paciente: alicerce para a construção de um bom atendimento Caravana da Seca Projeto denuncia problemas em PE Pág. 5 CPEP Normas de processo ético- profissional são atualizadas Pág. 11 Demografia médica Especialização ainda é sonho para 88 mil Pág. 12 Cremerj

Relação médico-paciente: alicerce para a construção de um ... · Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro,

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ANO XXVIII • Nº 224• SETEMBRO/2013

CFM conquista avanços e impede danos causados pela MP 621. Pág. 3

Ética médica e humanização

No século XXI, o desafio do profissional é aliar os avanços tecnológicos à relação humanista, o que constitui ponto-chave para o estabelecimento de uma boa relação com os indivíduos e a sociedade. Págs. 6 e 7

Relação médico-paciente: alicerce para a construção de um bom atendimento

Caravana da SecaProjeto denuncia problemas em PE

Pág. 5

CPEPNormas de processo ético-profissional são atualizadas

Pág. 11

Demografia médicaEspecialização ainda é

sonho para 88 milPág. 12

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2 EDITORIAL

jORnAL MEDICInA - SET/2013

Resgate da tradição humanista

Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina

* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo

O que muito se tem discuti-do nos últimos tempos é a necessidade de a medicina resgatar sua tradição hu-manista

Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM

pelo e-mail [email protected]

Os artigos e os comentários assinados são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não

re pre sen tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM

Diretoria

Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:

Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:

Tesoureiro:2º tesoureiro:

Corregedor:Vice-corregedor:

Roberto Luiz d’ AvilaCarlos Vital Tavares Corrêa LimaAloísio Tibiriçá MirandaEmmanuel Fortes Silveira CavalcantiHenrique Batista e SilvaDesiré Carlos CallegariGerson Zafalon Martins José Hiran da Silva GalloDalvélio de Paiva MadrugaJosé Fernando Maia VinagreJosé Albertino Souza

Diretor-executivo:Editor:

Editora-executiva:Redação:

Copidesque e revisor:Secretária:

Apoio:Fotos:

Impressão:

Projeto gráficoe diagramação:

Tiragem desta edição:Jornalista responsável:

Desiré Carlos CallegariPaulo Henrique de Souza Thaís DutraAna Isabel de Aquino CorrêaMilton de Souza JúniorNathália Siqueira Rejane MedeirosVevila Junqueira

Napoleão Marcos de AquinoAmanda FerreiraAmilton ItacarambyMárcio Arruda - MTb 530/04/58/DFEsdeva Indústria Gráfica S.A.

Mares Design & Comunicação

380.000 exemplaresPaulo Henrique de SouzaRP GO-0008609

Publicação oficial doConselho Federal de Medicina

SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231

http://www.portalmedico.org.br [email protected]

Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila

Conselho editorial

Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]

Conselheiros titulares

Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes da Silva (Piauí).

Conselheiros suplentes

Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aldemir Humberto Soares (AMB), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti (Alagoas), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará).

Em outubro, comemo-ramos o Dia do Médico. A data, efeméride que será a desculpa para inú-meros festejos, também é oportunidade para que lancemos um olhar pro-fundo e crítico sobre o nosso papel, como médi-cos, na sociedade, e como o temos desempenhado.

O que muito se tem discutido nos últimos tempos é a necessidade de a medicina resgatar sua tradição humanista. En-tenda-se que não falamos de humanização, mas de atuar e desenvolver com-petências e conhecimentos com foco no homem, no paciente.

Nesta edição, o jor-nal Medicina lança este debate tão oportuno em momento ímpar para a sociedade brasileira, no qual a profissão médica e os compromissos legais com a oferta de serviços de qualidade estão sendo ameaçados por medidas impositivas que carecem de fundamentação técnica e legal.

Como também mos-tramos, o Conselho Fe-deral de Medicina (CFM) tem desempenhado seu papel de forma íntegra e isenta.

A entidade não se do-brou aos interesses espe-cíficos, mas usou de suas prerrogativas para levar a base aliada a rever pon-tos que, em linhas gerais, representavam ameaças definitivas para o exercí-cio profissional e para o atendimento, como os co-nhecemos.

Idôneo e fiel aos seus compromissos institu-cionais, o CFM, com o apoio dos conselhos re-gionais de medicina, tem pela frente o desafio de acompanhar e fiscalizar as políticas publicas em saúde, conforme também apresentamos nesta edi-ção.

Com essas práticas regulares e permanentes continuaremos a defender profissionais e pacien-tes e a atacar os abusos antiéticos cometidos por alguns.

As novas normas de fiscalização, que estarão brevemente em prática, e que aqui tem alguns pontos anunciados, se-rão fundamentais nesta etapa.

Contudo, independen-temente de sua entrada em vigor, os CRMs não têm se omitido ajudar a colocar o trem dos servi-ços públicos em seus de-vidos trilhos.

Um dos projetos mais interessantes é o que está sendo desenvolvido no âmbito de recém-criada Comissão Nacional para Assistência Ética e Mé-dica do paciente médico- anestesiologista com de-pendência química.

Trata-se de uma im-portante iniciativa que ajudará inúmeros que en-frentam este problema a se reinserirem na socieda-de e nas atividades profis-sionais.

De fato, é preciso dizer não à improvisação. No entanto, como bem explicitado na ma-téria sobre o Amapá, no âmbito da saúde pública, nós, médicos, nos vemos frequente-mente forçados a ela: ou se improvisa ou o SUS para. Investimos em nossa capacitação, mas nos negam as mínimas condições para lhe darmos vazão.

Ana CarvalhoCRM-AC 1138

[email protected]

Estamos sendo vilipendiados, jogados na are-na como se fossemos culpados pela crise na saúde pública, a qual, sabemos, tem origem na falta de recursos e na má gestão. Somos ameaçados pela importação de médicos es-trangeiros, quando temos número suficiente de profissionais para atender às necessidades da população.

Antonio Foltran NetoCRM-SP 93356

[email protected]

Fico feliz por ver que finalmente nossa ca-tegoria vem se mobilizando em defesa de nossa profissão tão desvalorizada. Estou a postos para me colocar contra os maus ges-tores. Sugiro a formação de uma comissão para mapear, em todo o Brasil, as condições de atendimento para possíveis demandas e discussões futuras. Também que os médicos, em suas entrevistas, sempre que puderem, denunciem os problemas que enfrentam. Sou médico do esporte e traumatologista e sempre, ao falar para rádios, jornais e TVs, vou levantar o assunto.

Bernardino Santi CRM-SP 49407

[email protected]

Formado há 37 anos em ginecologia, há cinco me transferi para o interior de Minas Gerais para exercer a profissão e ter melhor condição de vida. Acho que o problema de médicos no interior é de fácil solução. Em minha opinião, o mais importante é que o go-verno informe o quanto um médico recebe do SUS por uma consulta ou cirurgia. No final, ficará claro que não existem condições para que nenhum profissional vá para o inte-

rior, e os que lá estão são verdadeiros heróis, bem como os hospitais que ainda mantêm convênio com o SUS.

Fábio GallucciCRM-MG 47778

[email protected]

O povo sofre, sim! É pela escassez de 400 mil médicos? Não! Presidenta, não coloque a culpa da calamidade do SUS nos nossos colos. Já atendi pacientes em que a dor de barriga era a fome, a dor no peito era angús-tia de não ter onde trabalhar, a dor de cabeça era a preocupação por não ter o que dar para os filhos. Então, pergunto, com sinceridade, o que lota as emergências é justificada pela falta de médicos? Somos nós que nos dividi-mos em dois e três empregos, que não vemos a família, que perdemos o crescimento dos nossos filhos. Por ganância? Não, mera so-brevivência.

Jayson Peixoto MachadoCRM-MG 58678

[email protected]

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3POLÍTICA E SAÚDE

jOrnAL MEDICInA - SET/2013

Após reunião com líde-res da base governista

e com o deputado Rogério Carvalho, relator da Medi-da Provisória 621/13, que criou o Programa Mais Médicos, o Conselho Fe-deral de Medicina (CFM) garantiu importantes alte-rações em pontos do tex-to aprovado pela Câmara dos Deputados, que agora segue para apreciação do Senado Federal. O presi-dente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, considerou que o diálogo com o Con-

gresso Nacional represen-tou importante avanço para a assistência médica brasileira, mas ressaltou que isso não implica em adesão ou apoio do CFM ao programa.

“Nossa preocupação foi assegurar ganhos para a medicina e preservar a competência da profissão médica”, destacou d’Avila após discutir com o relator, durante a reunião com as lideranças, questões que poderiam comprometer significativamente os ru-mos da profissão.

“Poucas pessoas viram, por exemplo, a gravidade da proposta de criação de um fórum de regulação das profissões de saúde que constava no capítulo V, que conseguimos eliminar na íntegra. Seria um ambien-te que poderia alterar se-riamente as competências das profissões. Embora consultivo e propositivo, a lei garantiria ao Ministério da Saúde que, por orien-tação do fórum, estabele-cesse protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas”, finalizou d’Avila.

De acordo com o CFM: “A aprovação da proposta apresentada pelo próprio partido Democratas, de que os registros provisó-rios do programa fossem emitidos pelo Ministério da Saúde, é questão me-ramente cartorial. O im-portante é que possamos continuar fiscalizando, o que faremos de maneira exemplar”. Confira ou-tros pontos discutidos no quadro abaixo.

Os conselhos de medicina foram criados pela Lei 3.268/57, com o papel de defender o bom exercício ético da profissão e, também, de atuar firmemente em favor da oferta de atendi-mento de qualidade para a sociedade. Estas missões consti-tuem o âmago de suas atuações, as quais vêm sendo exercidas por meio das resoluções emitidas, das ações de fiscalização, dos processos na esfera judicante e, ainda, pelo debate político.

Apesar de serem compostos por médicos eleitos por médi-cos, os conselhos de medicina não são instâncias voltadas para a luta corporativista, sindical, associativa ou para os interesses específicos da categoria, salvo quando os temas em discussão têm indiscutível repercussão na atuação profissional e nas con-dições de assistência como um todo.

Muito menos, têm ação política ideológica ou partidária. Os conselhos de medicina fazem política, sim, mas no que esse termo tem de mais nobre. Entendendo-o como a definição de estratégias, a participação em debates e a tomada de decisões em busca de ganhos efetivos para o coletivo.

Neste caso, a política perde sua conotação menor e se enquadra no terreno nobre do debate e do posicionamento baseados nos argumentos técnicos, legais e éticos. Com tais instrumentos, espera-se alcançar o nível de convencimento ne-cessário para corrigir equívocos e evitar danos. Isso constitui um processo contínuo, pois não há proposta ou ação perfeita.

O fato de corrigirmos um ponto específico não implica, de forma alguma, apoio ao conjunto da obra. Pelo contrário, significa que obtivemos avanços, consolidando ganhos para médicos e pacientes, mas sem abrir de mão de buscar novas melhorias. Ou seja, o ciclo do debate político se renova e parti-mos à conquista de novos territórios.

Assim, cabe aos conselhos de medicina trafegarem pelas vias do diálogo, do consenso, da busca da harmonização dos diferentes interesses existentes na sociedade em prol da Saú-de e da Medicina, sempre que possível. Não se pode jamais esquecer que essas entidades são autarquias públicas, ou seja, são braços do Estado no campo da atuação profissional, mas não governo.

Portanto, é exigível, mais que nunca, anular paixões e cren-ças individuais daqueles que os compõem, pois, como espaços públicos, não devem ser contaminados pelas ações açodadas ou tendenciosas. Sem essa isenção, correríamos o sério risco de aparelharmos o Estado, como outros já o fizeram, jogando por terra os compromissos éticos das instituições.

O episódio da votação da MP 621/2013, contra a qual o CFM e os CRMs mantêm sérias críticas e restrições, é exem-plo de tudo o que falamos. Não houve adesão ao Programa Mais Médicos, mas a percepção de que no debate consegui-mos impedir alguns e diminuir outros danos desastrosos para a Medicina e a Saúde Pública. Contudo, esses ganhos pontuais não anulam o dever dos conselhos de medicina de continuarem a ocupar seu papel de fiscais do Estado, agindo como críticos construtivos das políticas públicas em execução.

A Medicina e a Saúde passam por grande turbulência no Brasil. Porta-vozes de interesses específicos e até pessoais têm colocado em risco a excelência de nossos profissionais, a com-petência do sistema formador de médicos e a segurança dos pacientes. Em nenhum momento compactuamos com essas atitudes, as quais serão sempre atacadas com o peso dos argu-mentos e do posicionamento político e institucional capazes de gerar transformações que tragam, efetivamente, MAIS SAÚ-DE para todos os cidadãos. Este é o efetivo compromisso dos conselhos de medicina.

MP 621/2013

Roberto Luiz d’Avila

PALAVRA DO PRESIDENTE

Ação do CFM impede mais prejuízos pela medidaEntendimento com base aliada não significa apoio ao programa, mas afasta novas ameaças à Medicina

Votação: acordo evitou perdas para a Medicina e não impede críticas

1) Registro de intercambistas – O registro dos estrangeiros ficará a cargo do Ministério da Saúde. Pelo acordo, o governo informará aos conselhos regionais de medicina os dados dos intercambistas, inclusive local de trabalho e nomes dos tutores e supervisores. Eles poderão se inscrever nos CRMs após aprovação no Revalida. Até lá, ficarão sob a fiscalização dos CRMs, que vão apurar e julgar eventuais denúncias e irregularidades.

2) Permanência – Redução do período de permanência do intercambista de seis para três anos, com a necessidade de aprovação no Revalida ao final, para permanecer trabalhando.

3) Residência médica – Os egressos dos cursos de medicina terão um ano de atividade de residência médica na área de Atenção Básica, no SUS, ao invés de dois anos como inicialmente proposto.

4) Certificação de títulos – O reconhecimento da Associação Médica Brasileira (AMB) como instância legítima para expedir titulação de especialidades médicas, inicialmente excluída do relatório da MP 621, retornou após o entendimento.

5) Fórum de regulação – A retirada do capítulo V do relatório final da MP, com a consequente não instalação do fórum para estabelecer competências profissionais na área da saúde, se traduz na garantia dos direitos determinados em lei para a atividade médica.

6) Carreira de Estado para o médico – Foi disciplinada a necessidade de o Estado implementar, em até três anos, uma carreira médica nacional, com acesso por concurso e adequadas remuneração e condições de trabalho.

7) Financiamento do SUS - Compromisso das lideranças do governo de trabalhar pela aprovação do projeto que amplia o orçamento federal para a Saúde em R$ 25 bilhões até 2017. Esse entendimento não prejudica a luta empreendida pelo Movimento Saúde + 10, do qual o CFM faz parte.

Veja avanços alcançados no debate em plenário

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4 Política e Saúde

jornal Medicina - Set/2013

O Ministério Público Estadual da Paraíba enca-minhou ao conselho regio-nal de medicina local (CRM- PB) a Recomendação Administrativa n° 26/13, que estabelece a adoção de providências imediatas para o cumprimento da Lei Federal n° 12.732/13, que obriga o Sistema Público de Saúde (SUS) a iniciar o tratamento contra o cân-

cer, no máximo, em 60 dias após o diagnóstico.

A lei entrou em vigor no dia 22 de maio e o Ministé-rio Público quer que os ór-gãos competentes tomem as providências necessárias para que os pacientes não fiquem desassistidos. O CRM-PB notificou a três hospitais do estado – re-ferências em tratamento oncológico – e a secretaria

de Saúde estadual sobre a necessidade da tomada de providências imediatas.

De acordo com a lei, o paciente com câncer rece-berá no SUS todos os tra-tamentos necessários e terá o direito de se submeter ao primeiro no prazo de até 60 dias, com a realização de terapia cirúrgica, radio-terapia ou quimioterapia, conforme a necessidade terapêutica do caso.

Cenário – Dados do Ministério da Saúde mos-tram que o SUS conta, atualmente, com 277 servi-ços habilitados em oncolo-gia, sendo 134 no Sudeste, 63 no Sul, 48 no Nordes-te, 20 no Centro-Oeste e 12 no Norte. As unidades oferecem radioterapia, qui-mioterapia e cirurgia onco-lógica. O ministério estima que neste ano o país regis-tre 518 mil novos casos de câncer.Fonte: CRM-PB

4 POLíTICA E SAúDE

Saúde suplementar

Condições de trabalho e infraestrutura

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República aprovou por unanimidade aplicação de advertência e recomen-dação de demissão de Elano Rodrigues Figuei-redo, ex-diretor de ges-tão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por "graves e rei-teradas violações éticas".

Indicado pela presi-dente Dilma Roussef à diretoria da agência re-guladora e aprovado em sabatina na Comissão de Assuntos Sociais do Se-nado Federal em julho, Figueiredo renunciou ao cargo após denúncias.

A comissão da Pre-sidência investigou e en-tendeu que Figueiredo não teve conduta ética ao omitir de seu currícu-lo, enviado ao governo e ao Senado, que trabalhou

como advogado para em-presas privadas de planos de saúde.

A relação de Elano Fi-gueiredo com os planos de saúde foi alvo de denúncia do Conselho Federal de Medicina. Entidades mé-dicas alertaram ainda que, enquanto diretor de ope-radora de plano de saúde, ele moveu ações contrá-rias a direitos dos pacien-tes e buscou cer cear o direito de mobilização dos profissionais de saúde por honorários dignos.

Segundo o relator da Comissão de Ética, Mau-ro de Azevedo Menezes, a omissão no currículo "impediu o pleno acesso às informações neces-sárias para traçar o seu perfil profissional, a probi-dade de sua conduta e a integridade dos seus posi-cionamentos".

Fiscalização terá novas regras

A fiscalização de ser-viços médicos no

Brasil terá novo manual e será informatizada. O guia trará orientações so-bre toda a infraestrutura desses estabelecimentos, definindo normas gerais para seu funcionamento. Adicionalmente, as equi-pes dos conselhos regio-nais de medicina (CRMs) serão instrumentalizadas com tablets e a meta é uniformizar as inspeções e agilizar a produção de relatórios pelos CRMs, além de obter dados esta-tísticos sobre a atividade médica.

O manual de fiscaliza-ção atualizado trará o de-talhamento dos roteiros previstos pela resolução que disciplina a fiscaliza-ção da medicina no Brasil, aprovada pelo Conse-lho Federal de Medicina (CFM) na sessão plenária

de setembro. O guia con-templará estabelecimen-tos classificados como consultórios, ambulató-rios, postos da Estratégia Saúde da Família, hospi-tal-dia, hospitais gerais e de especialidades, institu-tos médico-legais, clínicas de fertilização e de genéti-ca humana e de meios de apoio diagnóstico.

O documento foi ela-borado por comissão es-pecialmente constituída para fazer a revisão e a consolidação de diversos textos, tanto do CFM quanto de legislação es-pecífica. O grupo foi in-tegrado por conselheiros federais, regionais, médi-cos fiscais e da Confede-ração Nacional de Saúde, que congrega hospitais no país. Sob a coordenação do diretor do Departa-mento de Fiscalização do CFM, Emmanuel For-

tes Silveira Cavalcanti, o grupo reuniu no manual os instrumentos de regu-lação do funcionamento das unidades de saúde já previstos, como portarias ministeriais, resoluções normativas do CFM e a Resolução de Diretoria Colegiada nº 50 da Agên-cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com Em-manuel Fortes, o objetivo da iniciativa é favorecer a qualidade da assistên-cia: “Estamos garantindo com essa medida que a assistência seja segura, porque vamos orientar os médicos e a população, sobretudo cobrar dos es-tabelecimentos onde se pratica medicina, quer se-jam públicos, privados ou filantrópicos”.

Kit fiscalização – Se-gundo Emmanuel Fortes, o manual de fiscalização

deverá ser lançado oficial-mente em dezembro, mas em novembro será apre-sentado aos presidentes dos CRMs.

Quando do lançamen-to, as equipes de fiscaliza-ção dos conselhos regio-nais receberão o material que em muito os ajudará a realizar as inspeções. O kit – a ser enviado pelo CFM para cada conselho regional – será composto por um tablet, impresso-ra e scanner portátil, me-didor a laser e máquina

fotográfica. Ressalte-se que, caso queira adquirir outros equipamentos, o CRM poderá fazê-lo.

Emmanuel Fortes des-taca que a licitação reali-zada pelo Federal permite a adesão dos CRMs para que também possam ad-quirir os equipamentos pelo menor preço obtido. Para a aquisição, o conse-lho deve fazer uma ade-são à ata de registro de preço, que estará disponí-vel no Portal Médico, no ícone Transparência.

Conselho disciplina funcionamento de serviços médico-assistenciais englobando normas de regulação das unidades de saúde

Agilidade: equipes farão a transmissão online de relatórios

Ação conjunta: MP encaminhou sua posição ao CRM da Paraíba

Após denúncias, diretor da ANS renuncia ao cargo

Cre

mep

e

Para Ministério Público, tratamento de câncer no SUS tem prazo para ser iniciado

Direito do paciente

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5POLÍTICA E SAÚDE

jOrnAL MEDICInA - SET/2013

Visitas apontam problemas em PECaravana da Seca

O Ministério Público de São Paulo instaurou inqué-ritos para apurar a denúncia de superlotação em leitos de unidade de terapia inten-siva (UTI) neonatal em três cidades do Estado de São Paulo. As investigações fo-ram realizadas em Indaia-tuba, Sumaré e Campinas, motivadas por um relatório do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) que apon-tou ocupação acima do li-mite em unidades de saúde desses municípios.

A fiscalização do Cre-mesp avaliou, entre os me-ses de março e novembro de 2012, os problemas e a capacidade instalada dos leitos de UTI neonatal de cinco unidades públicas e

privadas da região metro-politana de Campinas. A Maternidade de Campinas, o Hospital e Maternidade Celso Pierro, o Hospital Augusto de Oliveira Ca-margo, o Hospital Esta-dual de Sumaré e o Caism/Unicamp foram os objetos da ação do conselho.

Durante a fiscalização, o Cremesp constatou que os 82 leitos de UTI neona-tal das unidades vistoriadas possuíam 61 vagas disponí-veis para o Sistema Único de Saúde (SUS) e 21 para convênio. No entanto, os leitos particulares estavam ocupados por pacientes da rede pública devido à super-lotação.

Realizado a partir de de-núncias de óbitos de crian-ças em UTIs neonatais, o

levantamento identificou que, mesmo com infraes-trutura adequada, a super-lotação torna ineficientes os esforços das equipes mé-dica e de enfermagem.

A diretora da regional de Campinas do Cremesp, Sílvia Helena Mateus, afir-mou que se reuniu com representantes das secre-tarias, do Departamento Regional de Saúde (DRS) e com coordenadores das UTIs vistoriadas para apre-sentar os resultados da fiscalização antes de enca-minhar o material ao Mi-nistério Público. Para ela, os dados demonstravam a necessidade de dobrar a ca-pacidade de atendimento à população.Fonte: Cremesp

As entidades médi-cas de Pernambu-

co – conselho regional de medicina e Sindicato dos Médicos – divulgaram, em setembro, o resulta-do da Caravana da Seca, realizada no estado entre os dias 16 e 20 do mês de setembro. Foram visitadas nove cidades, das regiões do Agreste e do Sertão, inclusas entre as mais atin-gidas pela seca este ano.

O projeto, que nasceu em Pernambuco, serviu de inspiração para cara-vanas semelhantes, reali-zadas em vários estados em 2012. À época de sua realização, as diligências, orquestradas pela Comis-são de Ações Sociais do Conselho Federal de Me-dicina (CFM), chamaram a atenção da sociedade e da imprensa para diversos problemas que afetam a qualidade de vida e a saú-de de moradores dos mu-nicípios pobres.

Neste ano, em Per-nambuco, não foi dife-rente. A divulgação do relatório final das visitas

conquistou espaço no noticiário e foi apontado como exemplo de ação que deve ser realizada pe-los conselhos de medicina em todo o país. Vários mé-dicos entenderam na ativi-dade uma forma de con-tribuir para a melhora do sistema de atendimento e para a vida da população carente (ver depoimentos abaixo).

Diagnóstico – Se-gundo o relatório, a água, o foco da Caravana da Seca pernambucana, é um problema grave nos municípios, A maioria da população só a recebe a cada 15 dias ou mensal-mente. Muitos precisam comprar baldes e tonéis, que custam de R$ 5 a R$ 10, para armazenar o líqui-do, ou investir R$ 120 para ter o abastecimento de um carro pipa. Essa realidade atinge cerca de 60% dos entrevistados.

Adicionalmente, não se pode ignorar a qualida-de do líquido disponível, lembrou a então presiden-te do Cremepe, Helena

Carneiro Leão. Segundo ela, o material coletado nos hospitais e escolas pú-blicas foi enviado para aná-lise e o resultado será obti-do na próxima semana. A partir das análises bacte-riológicas das amostras da água será possível saber se há presença de bacilos ou coliformes fecais.

Também foram encon-trados diversos problemas nas unidades de saúde e hospitais, e na merenda escolar. "Em Serra Talha-da, por exemplo, a meren-da escolar é só angu e lei-te e ainda é dividida com o presídio. Precisamos sa-ber da prefeitura o porquê disso. Paralelamente, em Caetés e Bom Conselho as crianças comem arroz, feijão, carne, macarrão e frutas", questionou o pre-sidente do CFM, Roberto Luiz d'Avila, que partici-pou da apresentação dos resultados.

E n c a m i n h a m e n -tos – O relatório final da Caravana da Saúde de Pernambuco, bem como os resultados da análise

laboratorial da qualidade da água, serão enviados às autoridades responsáveis, como secretarias muni-cipais e estadual da Saú-de, Ministério da Saúde, Gabinete da Presidência da República, ministérios públicos estadual e federal e Tribunal de Contas do Estado (TCE).

De acordo com o 1º vice-presidente do CFM, o pernambucano Carlos Vital, durante as visitas foi constatada uma realidade preocupante, com quadro evidente de abandono do SUS. Na última década, no país, foram fechados 280 hospitais e 47 mil va-gas de unidades básicas de saúde deixaram de existir.

Desde 2010, outro proble-ma grave é a redução de 13 mil leitos para interna-ção nos vários estados, o que afeta tanto os profis-sionais como os pacientes.

Ainda há o fantasma da precarização do tra-balho, que prejudica o funcionamento do setor saúde. A Caravana de-tectou que nos municípios visitados os contratos são feitos de boca, sem ne-nhuma segurança para os profissionais. Adicio-nalmente, várias unidades de atendimento não pos-suíam equipes suficientes e/ou condições de funcio-nar plenamente, com falta de material e instalações adequadas.

Projeto foi a nove municípios de Pernambuco e levantou problemas que afetam a qualidade de vida e a saúde da população

Perigo: água com acentuado índice de coliforme, sem potabilidade

MP apura falta de leitos em São Paulo

Cre

mep

e

Desassistência em saúdeMédicos apoiam iniciativa

Os resultados da Caravana da Seca repercutiram entre médicos de todo o país. Ao serem informados sobre a ação, escreveram ao CFM expressando indignação com a situação e apoio à iniciativa. 

Esta medida deveria ser tomada por todos os conselhos de medicina do país. Vamos usar da arma mais letal que temos, que é mostrar como está desassistida a população brasileira

Cesar Barbosa Goncalves

Devemos diariamente mostrar o sofrimento de profis-sionais e da população, para ver se realmente vale a pena colocar a saúde como cabo eleitoral

Mario Timbo

Essas informações deveriam chegar à mídia para que a população fique ciente do descaso da administração pública

Satiko Arabori

Contra fatos não há argumentos. Não adianta nadar contra a correnteza: a saúde é precária em todo o país

Eduardo Jorge Coimbra Garcia

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Ética MÉdica6

jornal MEDICIna - SET/2013

Em 18 de outubro, o Dia do Médico

é celebrado na mesma data que a do patrono da profissão, São Lucas Evangelista.

Em homenagem ao pro-fissional da medicina, o Conselho Federal de Me-dicina (CFM) lança uma campanha publicitária que ressalta o compro-

misso do médico com pa-cientes e sociedade.

Em tempos de tec-nologias cada vez mais acessíveis e em maior número, o humanismo ressalta-se como impres-cindível às interações sociais. Na medicina, é a base estrutural da relação médico-paciente e aliar os benefícios da tecnolo-gia ao cuidado com o ser humano é papel do médi-co do século XXI.

Os progressos cientí-fico e tecnológico redire-cionaram a formação e, em determinadas áreas profissionais, minimiza-ram a importância das ciências humanas. Con-tudo, o bom desempenho da medicina não se abs-tém de priorizar a ética e valorizar a humanização

do atendimento, ainda que, muitas vezes, o am-biente apresente condi-ções adversas e o sistema seja precário. A respeito, o filósofo alemão Werner Jaeger afirmava que “de todas as ciências huma-nas então conhecidas, in-cluindo a matemática e a física, é a medicina a mais afim da ciência ética de Sócrates”.

Para Carlos Vital, 1º vice-presidente do CFM, “a relação médico-pacien-te deve ser pautada por diálogos francos e huma-namente paritários que fa-çam nascer relações fidu-ciárias, radicadas no denso valor ético-social da recí-proca confiança. A prática médica requer humildade, prudência, diligência, perí-cia, compaixão e justiça”.

Nessa prática, a for-mulação do diagnósti-co é importante etapa e nela deve-se respeitar protocolos que passam pela avaliação da queixa principal (QP) relatada pelo paciente ou por seu acompanhante, história da doença atual (HDA), antecedentes pessoais e hereditários, exames fí-sico e complementares, quando necessário. No entanto, o exercício da medicina vai além das regras existentes e ne-cessárias para que seja garantida a segurança do paciente.

“O médico é um espe-cialista em cuidado com a vida e necessariamente um humanista” afirma o presidente do CFM, Ro-berto Luiz d´Avila.

Atualmente, os 400 mil médicos brasileiros têm um grande desafio: reestabelecer com a sociedade em geral, especialmente com os pacientes, uma relação pautada pela confiança e pelo respeito. Para tanto, o resgate da visão humanista da prática médica pode ser fundamental. Em tempos modernos e acelerados, cabe ao profissional entender a importância e descobrir formas de aliar as facilidades da tecnologia com a sutileza do toque e do diálogo

ÉTICA MÉDICA6

CFM busca estimular a redescoberta da visão humanista da Medicina

18 de outubro - Dia do Médico

Diálogos: a conversa franca facilita o atendimento e alia médico e paciente

Valores: a prática médica pressupõe apego à compaixão e à justiça em qualquer circunstância Missão: no toque, o médico exerce seu compromisso

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7Ética mÉdica

jornal mEdicina - SEt/2013

ÉTICA MÉDICA

Faixa etária N° de médicos- até 25 10.502

- de 26 a 35 109.921- de 36 a 45 78.713- de 46 a 55 69.781- de 56 a 65 69.253- de 66 a 75 26.899

- a partir de 76 13.758Obs.: somente inscrição primária. 13 registros sem informação da data de nascimento.

7

Nesse sentido, a emis-são do diagnóstico não passa apenas pela análise de dados biológicos. Fa-tores culturais, ambien-tais, sociológicos e psi-cológicos fazem parte do trabalho médico, que não se restringe a curar en-fermidades – motivo pelo qual a medicina é tida, desde Hipócrates (460 a.C), não somente como ciência, mas como arte.

Diante dos limites da ciência, o médico tam-bém é aquele que acom-

panha e orienta tanto o paciente quanto os fami-liares na escolha de tra-tamentos, no sofrimento ante a doença e a morte e, até mesmo, em ques-tões familiares que per-passam a relação conju-gal e o desenvolvimento da sexualidade desde a adolescência.

“Ser médico é exercer a arte e a ciência ao mes-mo tempo. Receber as dores e as alegrias de seu semelhante ao mesmo tempo é privilégio  para

poucos. As dores na per-da e na dor e as alegrias nas vezes em que devol-vemos as esperanças ou aliviamos a dor. No mais, é agir com total despren-dimento, fazer e ter ale-gria pelo fazer”, afirma Emmanuel Fortes, 3º vice-presidente e diretor do Departamento de Fis-calização do CFM.

A atuação profissional deve ser simultaneamen-te humanista e ética e o Código de Ética Médica brasileiro oferece tanto

ao profissional quanto ao paciente indicações da boa conduta com base em princípios éticos da autonomia, dignidade, veracidade, beneficência, não maleficência, justiça e honestidade. O texto, em vigor desde 2010, re-sulta da análise de 2.575 propostas encaminhadas por profissionais, espe-cialistas e instituições du-rante dois anos.

“A ética, em verdade, permeia todos os cam-pos da atividade humana e assim, num contexto mais amplo, as relações na sociedade devem se pautar de forma mais so-lidária, menos desigual. Ser médico é enfrentar os desafios impostos pelas desigualdades, assumir seu papel na sociedade enquanto profissional e se emocionar com a gratidão dos seus pacientes”, pon-dera Aloísio Tibiriçá,  2º vice-presidente do CFM.

No Brasil, exis-tem cerca de 400 mil mé-dicos formados no país ou que aqui tiveram seus diplomas legalmente re-validados (confira dados atualizados do perfil de-mográfico da categoria nas figuras ao lado).

Há mais de dois sé-culos esses profissionais se dedicam à saúde dos cidadãos nas grandes e pequenas cidades, nas capitais e no interior. São milhões de consul-tas, exames e cirurgias realizados todos os dias e, para garantir o atendi-mento adequado a cada paciente, os médicos precisam ter disponíveis recursos, condições e infraestrutura para lutar pela vida e pela boa saú-de. Mas tudo isso sem esquecer de seus com-promissos éticos com a ciência e a arte médicas e, principalmente, com o ser humano.

Tecnologia: os equipamentos devem ser vistos apenas como auxiliares Binômio: na atuação diária, o médico deve saber conjugar ética e humanismo com os pacientes

Todos os dias, milhões de procedimentos são realizados por médicos

Gráficos de genêro e regiãoMédicos formados no país ou que tiveram seus diplomas legalmente revalidados

Masculino

Sem informação

Feminino

219.147

159.679

13

Tota

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Sude

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%

7,78

18.02431.586

60.81370.830

224.957

406.210

Total porregião

4,44 17,44 14,97 55,38 100

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Ética MÉdica8

jornal MEDICIna - SET/2013

X Congresso Brasileiro de Bioética

No dia 4 de outubro, radiologistas de todo o país participaram do Fó-rum de Telerradiologia em São Paulo. O impacto das novas tecnologias, prin-cipalmente as que permi-tem ao médico elaborar um laudo a quilômetros de distância do local do exame, foi o assunto cen-tral das discussões. Ao final, foi deliberado que até março de 2014 os ra-diologistas apresentarão propostas para atualizar a Resolução 1.890/09 do Conselho Federal de Me-dicina (CFM), que trata da telerradiologia.

“Não podemos dizer que o regramento atual será mudado, mas, se ava-liarmos que pode ser aper-feiçoado, vamos propor alternativas. O debate está aberto”, afirmou o conse-lheiro Aldemir Humberto Soares, representante da AMB no CFM, onde coor-dena a Câmara Técnica de Diagnóstico por Imagem. O fórum foi organizado pelo

CFM e pelo Colégio Brasi-leiro de Radiologia e Diag-nóstico por Imagem (CBR). Além da citada resolução, também foi debatida a Re-solução CFM 1.643/02, que trata da telemedicina.

O presidente do CBR, Henrique Carrete Júnior, ressaltou que poucos países têm uma norma tratando de telerradiologia, como o Brasil, mas defendeu mu-danças nas regras atuais: “Telerradiologia é uma ferramenta poderosa para levar assistência médica de qualidade aos rincões onde há pouco acesso, porém não podemos esquecer os elementos éticos”.

Alexandra Monteiro, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, defendeu que deve haver um médico na realização do exame e outro no diagnósti-co, sendo os dois responsá-veis pelo ato médico. Sobre a segurança de dados, afir-mou que “com o CRM digi-tal resolvemos a questão da autenticação do médico”.

Radiologistas debatem normatização da área

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e

As conquistas da bio-ética no Brasil e o

cenário da medicina no país foram lembrados du-rante a solenidade do X Congresso Brasileiro de Bioética, que aconteceu de 24 a 27 de setembro, em Florianópolis (SC).

Na solenidade de aber-tura, que reuniu médicos e autoridades no Centro de Convenções Centro- Sul, foram reverenciados os pioneiros para o cresci-mento e desenvolvimento desta área em nosso país. William Saad Hossne, primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), foi home-nageado e recebeu uma comenda das mãos de Bruno Schlemper Júnior, presidente do congresso, e Cláudio Lorenzo, atual presidente da SBB.

Cláudio Lorenzo desta-cou o crescimento da bio-ética brasileira e a impor-tância das discussões deste tema em suas diferentes perspectivas para o for-talecimento da área: "As palavras em bioética não buscam a verdade, buscam o verossímil. A discordân-cia é natural, só não pode-mos permitir a discordância com discórdia".

O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, destacou a grandeza da décima edição do evento, com quase 1.200 partici-pantes, o que o equipa-ra aos maiores eventos mundiais de bioética, como o promovido pela International Associa-tion of Bioethics (IAB), e também ressaltou a im-portância da discordância sem discórdia destacada por Lorenzo.

Roberto d’Avila lem-brou a atual crise vivida na saúde brasileira, "fruto da diferença entre o que os médicos querem para a população e o que o go-verno impõe", disse, em referência ao recente in-gresso de estrangeiros no país sem revalidação de diplomas sob a alegação

de que não há brasileiros para trabalhar em áreas de difícil provimento. "Temos a compreensão exata de que somos trabalhadores e temos que alimentar nossa família. Queremos, sim, trabalhar no SUS desde que sejamos respeitados e nos dêem condições dig-nas de trabalho", frisou.

O homenageado da noite, William Saad Hossne, propôs uma re-flexão: "Crepúsculo ou renascimento?". Segundo ele, a resposta vai depen-der de nós, do que fare-mos e do que faremos por nós, defendendo, ao final, que as pessoas se mobili-zem pelo renascimento.

Cenário atual da medicina em debateO congresso com 1.200 participantes se equipara aos maiores do mundo

Homenagem: pioneiros da bioética foram reverenciados pelo desenvolvimento da área, em Florianópolis

Será formada a Co-missão Nacional para Assistência Ética e Mé-dica do paciente médico- anestesiologista com de-pendência química.

O grupo – composto por representantes das câ-maras técnicas de Aneste-siologia e de Psiquiatria do Conselho Federal de Me-dicina (CFM), com apoio da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) – foi anunciado durante o I Simpósio Internacional de Saúde Ocupacional dos Anestesiologistas, realiza-do em Brasília no mês de setembro.

A comissão desenvol-verá um projeto de apoio a médicos anestesiologis-tas que tenham proble-mas de dependência quí-mica e queiram se tratar.

No país, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cre-mesp) também oferece este serviço para médicos

de todas as especialidades."Vamos começar na-

cionalmente com foco nos médicos anestesiolo-gistas, como um projeto piloto, pois é a especia-lidade que proporcional-mente concentra o maior número de médicos com dependência. Depois, es-tendermos essa assistên-cia a todos os médicos brasileiros", informou o 1º secretário e diretor de Comunicação do CFM,

Desiré Callegari, um dos coordenadores do evento.

De acordo com o psiquiatra Hammer Pa-lhares, a dependência de drogas tem sido descrita como o principal proble-ma relacionado à segu-rança e à saúde dos médi-cos anestesiologistas.

Entre as causas que levam à dependência es-tão o estresse profissional e a facilidade de acesso às drogas.

Anestesiologistas: esta especialidade será a primeira beneficiada

Dependência química entre médicos está na mira de comissão criada pelo CFM

Saúde ocupacional

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9Ética mÉdica

jornal mEdicina - SEt/2013

A plataforma desenvolvi-da pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para a emissão do CRM Digi-tal pode servir de inspi-ração para o registro dos militares do Exército. Du-rante reunião com a Di-retoria de Serviço Militar do Departamento-Geral do Pessoal (foto), técnicos do Setor de Informática do CFM apresentaram o funcionamento dos siste-mas de captura, valida-

ção, controle, acompa-nhamento e produção da cédula de policarbonato (material similar ao de cartões de crédito) ofere-cida aos médicos.

Para o representante do Exército, major João Batista Simão, além de significar economia de recursos, a parceria com o CFM também estreita as relações institucionais e dá maior celeridade na implantação do proje-

to. Apesar de possuírem uma base de dados cor-porativa centralizada, a Força ainda utiliza o pa-pel-moeda. “Isso nos dei-xa com ‘gap’ tecnológico em relação a instituições como os conselhos re-gionais de medicina e a Ordem dos Advogados do Brasil, por exemplo”, afirma o militar.

A partir do aplicativo cedido pelo CFM, o Exér-cito estuda agora a aplica-ção da certificação digital com os respectivos me-canismos de segurança e também a possibilidade de disponibilizar outros ser-viços agregados à cédula. “O Serviço de Identifi-cação do Exército é um dos mais antigos do país e sempre foi visto como eficiente e confiável”, res-saltou o major Simão, que vê na iniciativa do CFM a possibilidade de novas parcerias em áreas de in-teresse mútuo.

Desde que começou a ser confeccionada a nova cédula de identidade médica (CRM Digital), em maio de 2012, cerca de 90 mil uni-dades já foram solicitadas ou distribuídas aos médicos em todo o país. O docu-mento substitui a identida-de médica confeccionada em papel. Seu modelo é em cartão rígido, com chip crip-tográfico para certificação digital e avançado sistema antifraude.

Os que optarem pelo CRM digital podem decidir pela ativação ou não do chip (adesão ou não à tecnologia de certificação digital). Se habilitado o chip, a nova carteira permite o acesso aos sistemas de prontuário eletrônico do paciente, ser-viços do sistema de conse-lhos de medicina pela inter-net, além de outros recursos tecnológicos. O documento também traz vantagens pes-soais ao profissional, ao per-

mitir o envio de declarações de impostos pela internet, assinatura de contratos di-gitais, consulta da situação fiscal e cadastral na Receita Federal, dentre outras.

Para dar entrada, é pre-ciso comparecer no conselho ou nas delegacias regionais, munido de documentos pes-soais – RG, título de elei-tor, CPF, comprovante de residência, diploma, títulos de especialista, carteira pro-fissional, originais e cópias, foto 3x4 e comprovante de sociedade em empresa de serviços médicos, se for o caso. Se médico estrangei-ro, também apresentar um comprovante de legalidade de permanência no país.

Se não habilitado o chip, a carteira não contará com o recurso tecnológico da cer-tificação digital, mas funcio-nará como um documento de identidade profissional de alta resistência e mais segu-ro contra falsificações.

90 mil já foram emitidos

Grandes nomes da medicina serão ho-

menageados com o re-cebimento de comendas outorgadas pelo Conse-lho Federal de Medicina (CFM) por relevantes contribuições ao país ao longo de suas trajetórias pessoais e profissionais.

Em 2013, os home-nageados são o professor Nelson Grisard, que rece-berá a comenda Medicina e Ensino Médico, cujo pa-trono é Fernando Figueira; Wilson Oliveira Júnior, agraciado com a comenda Medicina e Humanidades, que leva o nome de Mário Rigatto; e João Manoel Cardoso Martins, reco-nhecido em Medicina, Li-teratura e Artes, que tem o nome de Moacyr Scliar.

O plenário do CFM também aprovou a entre-ga da comenda Medicina e Responsabilidade So-

cial, apadrinhada por Zilda Arns, para o médico José Osmar Medina de Abreu Pestana. E a de Medicina e Saúde Pública, batizada de Sérgio Arouca, para Ruy Laurenti.

A solenidade de entre-ga está prevista para ocor-rer durante o III Congresso Brasileiro de Humanidades em Medicina, na última semana de outubro, em Salvador (BA). A home-nagem ressalta o desempe-nho ético, a competência técnica e o compromisso desses médicos com a so-ciedade e com a medicina.

O reumatologista João Martins, agraciado com a comenda Medici-na, Literatura e Artes, é o idealizador e editor da revista Iátrico, publicação do CRM-PR voltada à re-flexão literária. A comenda Medicina e Ensino Médico será entregue ao pediatra

Nelson Grisard, professor da UFSC e pioneiro, na década de 1960, na vacina-ção em massa contra pólio e sarampo em crianças.

Já a comenda Medi-cina e Humanidades será entregue ao cardiologista pernambucano Wilson de Oliveira Júnior, um dos introdutores no Brasil da medicina psicossomáti-ca. O homenageado com a comenda Medicina e Responsabilidade Social é o nefrologista José Os-mar Medina.

O cardiologista e epi-demiologista Ruy Lau-renti receberá a comenda Medicina e Saúde Pú-blica. Professor da Uni-versidade de São Paulo (USP), contribui para a Organização Mundial da Saúde e tem livros pu-blicados sobre causas de mortalidade no Brasil.

Reconhecimento profissional

CFM homenageia destaques médicosProfissionais de diversas áreas médicas receberão comendas em reconhecimento pela contribuição que fizeram à sociedade

Referência: plataforma do CFM garante mais segurança e economia

História: médicos homenageados receberam comendas em 2011 e 2012

CRM Digital é modelo para exército brasileiro

O III Congresso Brasileiro de Humanidades em Medicina será realiza-do no período de 23 a 25 de outubro, em Salvador (BA), e abordará temas como “As humanidades e a humanização no ensino e na prá-tica médica” e “A judicialização da saúde”.A relação entre o avanço tecnológico e a humanização da medicina, ambivalências e potencialidades, também será debatida no congres-so – que está com inscrições abertas para 200 participantes pelo endereço eletrônico http://goo.gl/ei94mDLuis Eugenio Portela de Souza (presidente da Associação Brasilei-ra de Saúde Coletiva), Ricardo Perlingeiro (juiz federal do TRF da 2ª Região) e Dante Marcello Claramonte Gallian (diretor do Centro de História de Filosofia das Ciências da Saúde, da Escola Paulista de Medicina) são alguns dos conferencistas confirmados para o evento. Para conhecer o programa completo, acesse o site http://www.eventos.cfm.org.br

Humanidades em Medicina

Saiba mais sobre o CRM Digital em http://portal.cfm.org.br/crmdigital/

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PLENÁRIO E COMISSÕES 10

jornal MEDICIna - SET/2013

Os testes ergométricos, conhecidos como de

esforço físico, devem ser acompanhados por um médico, sendo considerada falta de ética a delegação do acompanhamento desse tipo de exame para outro profissional. É o que deter-mina a Resolução 2.021/13, do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada em 27 de setembro.

"O teste ergométrico deve ser realizado, em todas as suas etapas, por médi-co habilitado e capacitado para atender a emergências cardiovasculares, tornan-do imprescindível, para tal, sua presença física na sala", estabelece a resolução. O CFM deliberou pela medi-

da após constatar que em alguns lugares os testes er-gométricos estavam sendo aplicados sem a presença de um médico, o que apre-sentava riscos para a saúde dos pacientes, haja vista que nesses exames o coração do indivíduo é levado ao limite, podendo ocorrer um infarto.

“Uma complicação em um teste de esforço geral-mente é uma parada cardía-ca. Então, o médico deve estar presente, pois tem o domínio da reanimação car-diorrespiratória”, avalia o 1º secretário do CFM, Desiré Callegari.

Relator da resolução, o presidente do CFM, Rober-to Luiz d’Avila, argumenta que o teste possibilita ao

médico detectar isquemia miocárdica, reconhecer arritmias cardíacas e dis-túrbios homodinâmicos in-duzidos pelo esforço, entre outros sintomas clínicos. “A despeito do baixo risco ine-rente à realização do teste ergométrico (uma morte a cada 10 mil exames), ele é importantíssimo no diagnós-tico de algumas doenças, sendo imperativa a existên-cia de resolução específica regulamentando o assun-to”, afirma.

O teste tem o objetivo de avaliar as respostas clínica, hemodinâmica, autonômi-ca, eletrocardiográfica, me-tabólica e, eventualmente, ventilatória do paciente. Ele configura um método uni-

versalmente aceito para o diagnóstico de doenças car-diovasculares e é também útil na determinação prognóstica e na avaliação da resposta terapêutica, da tolerância ao esforço e de sintomas com-patíveis com arritmias.

Além da presença do médico, o CFM advoga que as condições do local

estejam de acordo com o Manual de Fiscalização do CFM, o que inclui a obri-gatoriedade de equipamen-tos, como o desfibrilador, e de medicamentos no local de realização do teste para viabilizar o atendimento de intercorrências – especial-mente de paradas cardior-respiratórias.

Médico deve acompanhar todas as etapasDurante o exame, o coração do paciente é levado ao limite e doenças cardiovasculares são diagnosticadas

Giro médicoUso de crachás - O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) emitiu orientação aos médicos para que, durante o horário de trabalho em unidades de saúde públicas e privadas, utilizem crachá de identificação contendo o nome, foto, função ou cargo e a especialidade médica. A recomendação está incluída na Resolução CRM-GO 89/13, aprovada em 12 de setembro.Para o Cremego, “o objetivo é garantir ao paciente o direito de saber a identificação e qualificação dos profissionais de saúde responsáveis, direta e indireta-mente, por sua assistência”. A entidade orienta que seja dado destaque à palavra 'médico' e não ao termo 'doutor', por considerar que esse título não identifica o médico, mas é designado a vários profissionais. A norma entrará em vigor em janeiro de 2014 e o CRM fornecerá um crachá a cada médico inscrito.

Revista Medicina - O CFM lançou a segunda edição da revista de humanidades médicas Medicina CFM, com o tema de capa “Vamos falar de corrupção?”. Na publicação, a reportagem especial fala sobre o escoamento e o esgotamento dos recursos públicos pelos ralos da corrupção e evoca um debate contem-porâneo sobre as facetas desse mal e as formas de enfrentamento. Estaria Jean Baudrillard correto ao afirmar que “o espetáculo da corrupção é uma fun-ção vital da democracia?”.Outros temas de destaque são o campo da história (por meio de entrevista com o historiador e editor Jaime Pinsky); os debates suscitados pelas novas regras do CNS para pesquisas envolvendo seres humanos, que inauguraram no Brasil a possibilidade de remunera-ção para o sujeito de pesquisa; e uma reflexão sobre como colocar em prática políticas e programas capa-zes de transformar estruturas e comportamentos no âmbito da Promoção da Saúde. Leia a publicação em http://goo.gl/UviSWm

Intercorrências: local de exame deve ter equipamentos e medicamentos

Teste ergométrico

“Nesses tempos difíceis, temos que nos lembrar que os médicos brasileiros construí-ram uma medicina dinâmica, honrada, de ponta, e que não pode ser achincalhada por pessoas mais interessadas em seus projetos políticos que no bem da população”, afirmou o presidente do CFM, Ro-berto Luiz d’Avila, na aber-tura do 68º Congresso Bra-sileiro de Cardiologia, no dia 28 de setembro, no Teatro Municipal do Rio de Janei-ro. Solenidade que também comemorou os 70 anos da Sociedade Brasileira de Car-diologia (SBC).

Aplaudido de pé, d’Avila reconheceu terem os médicos “perdido a batalha da comuni-cação, na qual o governo fede-

ral injetou dezenas de milhões de reais”, e conclamou cada médico brasileiro a explicar a situação a seus pacientes, a difundir a verdade de que a medicina não se improvisa e que formar um bom médico é trabalhoso, exige dedicação e atualização constantes, como estava ocorrendo naquele mo-mento, ressaltou, referindo-se ao Congresso Brasileiro de Cardiologia.

O presidente da SBC, Jadelson Andrade, destacou sua revolta contra a agressão que a classe médica vem so-frendo. “Sofremos uma ten-tativa de agressão sem pre-cedentes aos preceitos éticos da nossa categoria, mas os 7.745 inscritos [até aquele momento – e que chega-

riam a 8.000 no dia seguin-te] nesse congresso mostram que os médicos brasileiros es-tão empenhados em enfrentar o trágico perfil epidemiológico das doenças cardiovasculares no país”.

Congresso – O 68º Congresso Brasileiro de Cardiologia trouxe ao Brasil cerca de 30 dos maiores espe-cialistas dos Estados Unidos, Portugal, França, Grécia, Itália, Dinamarca, Argentina e Canadá. Eles apresentaram e debateram as mais recen-tes pesquisas, descobertas, medicamentos e inovações relacionadas a mortes por doenças cardiovasculares – uma epidemia que preocupa a Organização das Nações Unidas (ONU) e que, apenas no Brasil, é responsável por 344 mil mortes evitáveis a cada ano.

Mais de 500 dos mais importantes cardiologistas brasileiros também fizeram conferências para difundir o mais atual conhecimento sobre as diversas áreas da Cardiologia, num esforço de educação continuada que capacitará ainda mais os milhares de especialistas pre-sentes, de todos os estados brasileiros.

Cardiologistas criticam o “Mais Médicos”

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História: presidente do CFM lembrou os compromissos da medicina

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PLENÁRIO E COMISSÕES 11

jornal MEDICIna - SET/2013

O Conselho Federal de Medi-cina (CFM) acionará a Justiça contra a resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF), publicada no Diário Oficial da União no mês de setembro, que autoriza o farmacêutico a pres-crever medicamentos. O ques-tionamento do CFM se dará por meio de uma ação civil pública e está baseado na legislação que regulamenta a profissão do far-macêutico (Decreto 85.878/81), que não define como atribuição desse profissional a prescrição de medicamentos. Transtorno menor – No entendimento do CFM, doen-ças consideradas pela resolução do CFF como um “transtorno

menor” ou “nos limites da aten-ção básica à saúde” devem ser acompanhadas por um médico, que tem competência legal e pro-fissional para fazer o diagnóstico de doenças e a consequente pres-crição dos medicamentos.Receitas prescritas – Outro ponto questionado na reso-lução é o que autoriza o far-macêutico a renovar receitas prescritas anteriormente por um médico. Somente na anam-nese, em que é avaliado o his-tórico do doente e talvez solici-tados novos exames, é possível concluir se o remédio, conside-rado necessário num momento anterior, pode ser interrompido ou ter a dosagem alterada.

Rejeição popular – Pes-quisa realizada de 5 a 10 de agosto deste ano pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qua-lidade (ICTQ), com 2.650 entrevistados em todo o país, constatou que a população tem posição semelhante à do CFM: 61% dos entrevistados discordaram da possibilidade de farmacêuticos “receitarem” remédios. A pesquisa também mostra que 58% dos usuários não confiam em prescrições feitas por farmacêuticos e 65% acham que a medida não faci-litará o tratamento de doenças.A pesquisa objetivou apreen-der a percepção da população brasileira acerca da proposta

de regulamentação da prescri-ção farmacêutica. Foram en-trevistados mulheres (53%) e homens (47%), de 18 anos até mais de 60 anos, com o ensi-no fundamental (29%), médio (45%) ou superior (26%),

nas seguintes capitais: Araca-ju, Brasília, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Flo-rianópolis, Goiânia, João Pes-soa, Maceió, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Risco: prescrição de medicamento necessita de anamnese médica

O Conselho Federal de Medicina (CFM)

atualizou as normas pro-cessuais que regulamen-tam as sindicâncias, os processos ético-profis-sionais e o rito dos julga-mentos nos conselhos de medicina – o chamado código de processo ético--profissional (CPEP).

Para melhor normati-zar as questões judican-tes, a nova diretriz atua-liza uma norma de 2009. Segundo o corregedor do CFM, José Fernando Maia Vinagre, essa revi-são objetiva tornar mais ágil o andamento das sin-dicâncias e processos éti-cos que tramitam nos di-versos conselhos regionais de medicina e também no CFM – que atua em grau recursal.

Na reforma, a correge-doria trabalhou para pre-servar o direito de ampla defesa e do contraditório dos médicos investigados em processos. “Essa ga-rantia é propiciada desde a entrada de uma denúncia nos conselhos regionais de medicina e mantida durante todo o trâmite, incluindo o grau recursal. Qualquer fato novo que

surja durante a instrução processual pode influen-ciar seu trâmite”, explica Vinagre.

Vinagre relata que o processo de revisão do CPEP contou com a par-ticipação e contribuição de todos os conselhos regionais, que enviaram sugestões. Além disso, foram realizados dois fó-runs em Brasília (DF), com a presença de pre-sidentes, corregedores e assessores jurídicos dos conselhos, e todas as propostas foram discu-tidas. Para esses fóruns, foram também convida-dos os conselheiros fede-rais, que aprovaram pos-teriormente, em plenária, o texto apresentado.

A corregedoria do CFM prepara-se, agora, para apresentar ao cor-po de conselheiros re-gionais as mudanças que objetivam tornar mais uniformes os trâmites de sindicâncias e processos éticos. “Junto com a re-visão do CPEP, diversas resoluções estão sendo criadas no CFM para as questões judicantes, den-tre elas a que normatiza as atribuições e papel das

câmaras técnicas de es-pecialidade e a resolução sobre as comissões de éti-ca dos hospitais”, comple-

menta o corregedor.O novo código pode

ser acessado em www.portalmedico.org.br. Cli-

que no menu “Legisla-ção/Processo” e, depois, em “Código de Processo Ético-Profissional”.

Aprovadas novas normas processuaisCorregedoria trabalhou para preservar direito de ampla defesa e contraditório

Código de Processo Ético-Profissional

Segurança do paciente

COMO ERA (2009) COMO FICOU (2013)

Prazo da sindicância Prazo da sindicância

Instaurada a sindicância, o relatório conclusivo do sindi-cante teria prazo de até 30 dias, prorrogável a critério do presidente ou corregedor.

Instaurada a sindicância, o relatório conclusivo do sin-dicante terá prazo de até 60 dias, prorrogáveis por igual período.

Resultados do julgamento do relatório de sindicância Resultados do julgamento do relatório de sindicância

Do julgamento do relatório da sindicância poderia resultar:I - arquivamento fundamentado da denúncia ou baixa em diligência e/ou pedido de vista dos autos por 30 dias;II - homologação de procedimento de conciliação;III - instauração do processo ético-profissional.

O novo documento acrescentou entre os itens desse ar-tigo a possibilidade de termo de ajustamento de conduta (TAC), a interdição cautelar e o procedimento adminis-trativo para apurar doença incapacitante.

Citação Citação

A citação [dos envolvidos] deverá indicar os fatos con-siderados como possíveis infrações ao Código de Ética Médica e sua capitulação.

A nova norma determina que a citação seja acompanha-da do relatório conclusivo da sindicância.

Prazo para arrolar testemunhas Prazo para arrolar testemunhas

As partes poderão arrolar até cinco testemunhas, em até 30 dias após a apresentação da defesa prévia.

O prazo de 30 dias passa a contar a partir da juntada, aos autos, do aviso de recebimento da notificação da decisão de abertura do processo.

Presença das testemunhas Presença das testemunhas

Aos conselheiros corregedor, sindicante ou instrutor ca-beria prover todos os atos que julgassem necessários à conclusão e elucidação do fato, entre eles a citação e notificações às partes (inclusive as testemunhas) e aos seus advogados.

A nova diretriz estabelece que é obrigação da parte in-teressada, denunciante ou denunciada, a apresentação das testemunhas arroladas, para serem ouvidas nas da-tas designadas pelo conselheiro instrutor, independente-mente de intimação.

CFM questiona norma do CFF que prevê prescrição farmacêutica

Page 12: Relação médico-paciente: alicerce para a construção de um ... · Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro,

12 integração

jornal MeDiCina - Set/2013

A pediatria é a área com maior número de registros, reunindo 30.112 titulados ou 11,23% do total de especialistas. Somada à ginecologia e obstetrícia, que vem em segundo lugar, com 9,33%, as duas áreas representam um quinto de todos os profissionais com registro.Sete especialidades concentram mais da metade dos profissionais no Brasil, o que corresponde a 52,75% dos títu-los registrados. As quatro primeiras, que somam 37,03%, são áreas bá-sicas: pediatria, ginecologia e obste-trícia, cirurgia geral e clínica médica. Além dessas, também são considera-das básicas as áreas de medicina de família e comunidade e de medicina preventiva e social, que, somadas às outras quatro, chegam a 38,76%. A presença expressiva desses grupos em áreas básicas fragiliza a tese de que as novas gerações de médicos estariam concentradas ou procurando formação em especialidades consideradas mais rentáveis, embora possam ter maior proporção de candidatos por vaga nas provas de residência médica.As demais 47 especialidades englobam nove cirúrgicas, sem contar a cirurgia

geral. Também estão neste grupo as áreas de diagnóstico e de medicina es-pecializada (como trabalho, tráfego, legal e nuclear) e as especialidades clí-nicas, entre elas cardiologia, cancerolo-gia, geriatria e infectologia.As dez especialidades com menos ins-critos somam 5.937 profissionais, o que representa 2,21% do total. As três últimas, com menos de 0,20% cada, são a radioterapia, a cirurgia da mão e a genética médica. Idade – Outra constatação do es-tudo é que médicos mais jovens e mulheres – grupos que apresentam tendência de crescimento consistente – têm concentrado suas escolhas nas especialidades básicas. O estudo sugere, ainda, que o futuro número de especialistas poderá so-frer influência da oferta de postos de trabalho e de políticas de abertura de vagas de residência médica em deter-minadas especialidades. Esta tendên-cia revela um cenário desafiador para o governo: atrair esses profissionais para atuarem no sistema público de saúde e nas regiões de difícil provi-mento de profissionais.

Minha formação é de cirurgia plástica e sempre me inte-ressei pela cirurgia reparadora. Desde o primeiro contato com a cirurgia da mão, me apaixonei pela especialidade. Além de ser gratificante restabelecer a função de um órgão tão importan-te, o cirurgião de mão tem que dominar diversas técnicas para exercer completamente a especialidade, como microcirurgia, cirurgia vascular, ortopedia e plástica, o que torna nosso dia a dia variado e estimulanteAnita Lustosa, especialista em Cirurgia de Mão

Demografia médica

Especialização é inacessível a 88 milMédicos entre 30 e 60 anos são os mais prejudicados pelas deficiências no acesso à residência médica no Brasil

Quatro áreas básicas lideram Profissionais destacam a escolha

Ranking das especialidades

Cerca de 88 mil médicos com idades entre 30 e

60 anos são os mais preju-dicados pelas deficiências no acesso à residência mé-dica no Brasil. O dado é do estudo "Demografia médi-ca – volume 2, lançado em 2013 pelo Conselho Fede-ral de Medicina (CFM). A esses médicos somam-se outros 92.136 sem título de especialista emitido por sociedade de especialidade ou obtido após conclusão de residência – represen-tando 46,43% do total de médicos brasileiros. Nessa estatística enquadram-se os médicos mais jovens, que ainda não ingressaram ou não concluíram cursos de especialização, e os mais velhos, que desistiram de tentar vagas em residência ou não se submeteram aos atuais mecanismos de es-pecialização.

“Cabe ao governo pro-porcionar um sistema for-mador em condições de

atender essa demanda re-primida e os futuros egres-sos das escolas. Todos de-vem ter a possibilidade de aperfeiçoar sua formação, o que resultará em benefí-cios diretos para o paciente e a sociedade”, reforça o presidente do CFM, Ro-berto Luiz d’Avila.

Para d’Avila, não adian-ta apenas criar vagas em cursos de medicina, mas sim assegurar uma estru-tura de pós-graduação em número e qualidade sufi-cientes. “Ao terem acesso ao aprimoramento e atua-lização – por meio de uma política de educação conti-nuada dirigida a eles – ou mesmo à especialização tardia, estes profissionais poderiam suprir carências localizadas do sistema de saúde, inclusive na atenção primária”, revela o estudo. No cenário atual, sem va-gas de residência médica para todos, parte dos jo-

vens médicos poderá per-manecer por muito tempo ou por toda a vida profis-sional sem especialização.

Distribuição desi-gual – A distribuição de profissionais por grandes regiões do país, em nú-meros absolutos, mostra que há mais especialistas onde se concentram mais médicos em geral. Se-guindo a mesma lógica, as regiões com menor nú-mero de médicos também contam com menor quan-tidade de profissionais ti-tulados. No Sudeste, por exemplo, estão 56,04% dos médicos em geral e 54,51% dos titulados.

Em paralelo, o Norte do Brasil tem a menor por-centagem de médicos em geral – 4,26% – e a menor também de especialistas, 3,57%. No Sul, a por-centagem de médicos em geral em relação ao país é de 14,91%, enquanto a

dos profissionais titulados sobe para 18,06%.

Moradores de áreas com melhores indicadores socioeconômicos têm o maior número de médicos à disposição e também o maior número de espe-cialistas entre eles. O Rio Grande do Sul é o estado com maior proporção de especialistas: dos 25,5 mil médicos gaúchos em ati-vidade, 66,29% são titula-dos; seguido pelo Distrito Federal (com 65,82%) e pelo Espírito Santo (com 65,12%). Outros três esta-

dos (Santa Catarina, Para-ná e Mato Grosso do Sul) contam com 60% ou mais de especialistas.

Em contrapartida, a situação é menos favo-rável em alguns estados, a maioria localizada no Norte e no Nordeste, ha-vendo mais generalistas do que especialistas – caso do Rio Grande do Norte, Per-nambuco, Roraima, Acre e outros sete estados. No Maranhão, apenas 37,4% dos médicos em atividade possuem algum título de especialização.

Dados: 46,43% dos médicos brasileiros não têm título de especialista

Escolhi esta especialidade durante o quarto ano de medicina, após realizar estágio extracurricular. Me apaixonei pela possibilidade de momentos incríveis, como o nascimento de uma criança e a alegria da família, poderem fazer parte do meu cotidiano

Cristiane Navarro Pereira Colombo, ginecologista-obstetra

Escolhi fazer a residência em Genética Médica, pois sempre gostei de estudar biologia celular. Infelizmente, não tive contato com a parte ambulatorial da Genética Clínica durante a faculda-de. Porém, hoje não tenho dúvidas de que foi a melhor escolha que tomei. Sou apaixonada pela minha especialidade, pois me propor-ciona um olhar amplo do paciente desde seu fenótipo clínico até o mecanismo molecular responsável pela doença Michele Patricia Migliavacca, especialista em Genética Médica