relação pais e professores

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Doutoramento em Educao Infantil e Familiar Investigao e Interveno Psicopedaggica Universidade de Mlaga e E.S.E. Joo de Deus

A RELAO ENTRE PAIS E PROFESSORES: Uma construo de proximidade para uma escola de sucesso

Tese de Doutoramento:

Maria Paula Ivens Ferraz Colares Pereira dos ReisLicenciatura em Educao de Infncia e Professora do 1 Ciclo

Director: ngeles Gervilla Castillo Catedrtica de Didctica y Organizacin Escolar Facultad de Ciencias de la Educacin

DEPARTAMENTO DE DIDCTICA DE LA LENGUA Y LA LITERATURA UNIVERSIDADE DE MLAGA2008

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A todos os que acreditam na importncia das relaes humanas!

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NDICE GERAL ndice Agradecimentos Resumo Resumen Abstract Introduo 1. Origem e contextualizao do estudo 2. Formulao do problema 3. Objectivos e hipteses de trabalho 4. Significncia do estudo 5. Organizao da investigao1 PARTE: REVISO DE LITERATURA CAPTULO 1 A IMPORTNCIA DA FAMLIA

11 15 17 19 21 21 22 23 26 30 33 35 37 37 40 43 43 45 48 54 54 54 57 58 63 65 69 74 77 83 85 85

1. Introduo 2. Famlia e Educao 2.1. A importncia da terminologia 2.2. A estrutura da Famlia 2.2.1. Breve Percurso Evolutivo 2.2.2. A Famlia em Mudana 2.2.3. Tipos de Famlias 3. Relao Escola-Famlia 3.1. Relao Escola-Famlia na Legislao Portuguesa 3.1.1. Breve Abordagem 3.1.2.Transformaes da ltima Dcada 3.2. Escola-Famlia Interaces possveis 4. Contributos do ambiente familiar para a educao 5. Modos de Educao 6. O envolvimento parental na educao 7. Estratgias de aproximao s famlias 8. Iniciativas de Associaes de PaisCAPTULO 2 O CONTRIBUTO DOS PROFESSORES E O PAPEL DAS ESCOLAS DE FORMAO

1. Introduo 2. Breve resumo histrico do Ensino em Portugal______________________________________________________________________ Paula Colares Pereira dos Reis

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3. Breve histria da formao inicial de educadores e de professores 4. Situao actual da formao inicial 5. A importncia da formao inicial 6. Inferncias sobre o papel dos educadores/professores 7. Perfis e competncias de formao 8. Perfis para o exerccio profissional 9. Os professores e a sua actuao 10. Conhecimento profissional 11. A importncia de professores/mediadores 12. Envolvimento Parental percepcionado pelos professores 13. O papel da criatividade na construo da proximidade2 PARTE ESTUDO EMPRICO CAPTULO 3 CONCEPTUALIZAO DA INVESTIGAO EMPRICA

94 104 108 110 113 113 114 118 125 130141

149 151 153 153 154 158 163 163 163 164 164 173 174 175 179 180 180 180 181 181 207

1. Fundamentao do estudo, delimitao do problema, definio das variveis e dos objectivos 1.1. Delimitao dos contextos de envolvimento 1.2. Diagnstico do envolvimento parental em escolas portuguesas 1.3.Evoluo do envolvimento parental do 1 para o 2 ciclo e outros dados da transio para o 2 ciclo do ensino bsico 1.4. Estudo e caracterizao do projecto de investigao 2. Metodologia 2.1. Desenho da Investigao 2.2. Amostra 2.3. Procedimento de recolha de dados 2.4. Fontes de informao e instrumentos 2.5. Justificao 2.6. Entrevistas 2.7. Metodologia de Anlise 2.8. Anlise Estatstica 2.9 Anlise das entrevistas 2.9.1. Condies reais de aplicao s famlias 2.9.2. Condies reais de aplicao aos educadores e professores 2.9.3. Anlise das entrevistas s famlias 2.9.4. Anlise das entrevistas aos educadores/professores

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SALIRA Relao entre Pais e Professores: uma construo de proximidade para uma escola de sucesso CAPTULO 4 APRESENTAO DE RESULTADOS

225 227 227 229 230 231 237 242 247 249 249 254 261 262 269 280 285

1. Introduo 2. A relao da famlia com a escola 3. A comunicao entre a escola e famlia 4. O papel do professor 5. Prticas educativas 6. Anlise do papel dos educadores e professores 7. Verificao das hiptesesCAPTULO 5 - CONCLUSES

1. Introduo 2. Sntese de resultados 3. Ideias para o futuro 4. Limitaes do estudo 5. Recomendaes finaisREFERNCIAS BIBLIOGRFICAS REFERNCIAS ELECTRNICAS

ANEXOS Anexo I Exemplares do Protocolo do Projecto de Investigao Anexo II Questionrio do Envolvimento Parental verso para Pais Anexo III Questionrio de Envolvimento Parental verso para Professores (QEPVPROF.) Anexo IV EMBU-PAIS verso original de Castro (1993) Anexo V - EMBU-CRIANAS verso original de Castro (1993) Anexo VI - Questionrio de Identificao da criana e da famlia Anexo VII - Questionrio de Identificao do Professor e caracterizao da Turma e da Escola Anexo VIII - Guio das entrevistas s Famlias Anexo IX - Guio das entrevistas dos Educadores e Professores Anexo X - Exemplares de respostas de alguns questionrios Anexo XI Livro das Frias Anexo XII Fotografias da sesso Conversas com pais Anexo XIII Curriculum Vitae

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NDICE DE QUADROS

Quadro 1: Escala descritiva para os valores da verso para pais e para professores do QEPE Quadro 2: Caracterizao dos alunos cujos pais participaram na avaliao do envolvimento parental na escola (n = 591) Quadro 3: Envolvimento parental das famlias, de acordo com a opinio dos professores e dos pais, segundo o nvel scio econmico Quadro 4: Caractersticas scio-demogrficas da famlia e histria escolar da criana

166 168 169 170 172 184 206 207 207 207 208 208 209 209 210 211 212 214 214 215 216 218 219 220 221 235 238

Quadro 5: Caracterizao dos alunos das famlias de nvel scio-econmico baixo com elevado envolvimento parental (n=24)Quadro 6: Identificao e caracterizao do agregado familiar Quadro 7: Sntese comparativa das entrevistas Quadro 8 : Caracterizao do sexo dos entrevistados (n=50) Quadro 9: Distribuio das idades Quadro 10: Licenciatura dos entrevistados Quadro 11: Associao do curso com o sexo Quadro 12: Distribuio dos entrevistados pelas instituies onde trabalham Quadro 13: Apresentao do nmero total de crianas por sala Quadro 14: Associao dos docentes ao grupo etrio de que responsvel Quadro 15: Relao do curso com os pais que tomam a iniciativa de o procurar Quadro 16: Comparao e conhecimento das normas aos pais nas diferentes instituies Quadro 17: Associao da participao em reunies com os docentes Quadro 18: Apresentao da participao dos pais Quadro 19: Comparao da comunicao dos pais por escolas Quadro 20: Associao da frequncia com que os professores vem os pais por cursos Quadro 21: Associao da comunicao com os respectivos profissionais Quadro 22: Percepo das dificuldades em conversar com os pais por cursos Quadro 23: Percepo dos entrevistados sobre o envolvimento dos colegas com os pais Quadro 24: Associao entre a formao inicial e o apoio que a mesma d. Quadro 25: Classificao das situaes mais referidas. Quadro 26: Caracterizao e apresentao dos factores que promovem o envolvimento parental em famlias de nvel scio-econmico baixo Quadro 27: Diferentes abordagens dos educadores e professores para a promoo do envolvimento parental na escola Quadro 28: Caractersticas do Bom Encarregado de Educao Quadro 29: Actividades/estratgias das escolas para promoverem a integrao dos alunos que transitam do 1 para o 2 ciclo do ensino bsico (% de escolas, n= 59 escolas)

239 250

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NDICE DE FIGURAS

Figura 1: Envolvimento parental na escola percebido pelos professores no 4 e no 5 ano de escolaridade. Figura 2: Envolvimento parental na escola percebido pelos pais no 4 e no 5 ano de escolaridade Figura 3: Diferena entre o envolvimento parental percebido pelos professores no 4 e no 5 ano de escolaridade Figura 4: Diferena entre o envolvimento parental percebido pelos pais no 4 e no 5 ano de escolaridade Figura 5: Problemas emocionais/comportamentais percebidos pelos pais e pelos professores no 4 e 5 ano de escolaridade Figura 6: Competncia acadmica percebida pelos professores e auto-conceito acadmico percebido pela criana no 4 e 5 ano de escolaridade Figura 7: Mdia do stress escolar em trs domnios: acadmico, regras/professor e social Figura 8: Procedimento de recolha de dados no primeiro momento de avaliao

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AGRADECIMENTOS

O presente trabalho no teria sido possvel sem a colaborao de outras pessoas ao longo de cinco anos. Por esse motivo, gostaria de manifestar, desde j, os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contriburam directa ou indirectamente para a sua concretizao.

Em primeiro lugar, agradeo aos meus professores que ao longo da vida me acompanharam, e em particular Professora Doutora Helena Salema, que desde o primeiro dia demonstrou amizade, entusiasmo, disponibilidade e dedicao para que este trabalho fosse um contributo decisivo para o enriquecimento dos meus conhecimentos, aqui fica expresso o meu sincero reconhecimento.

Professora Doutora Ana Isabel Pereira, pelo apoio permanente e excelente coordenao, o meu sincero agradecimento. Como grande responsvel e dinamizadora do projecto de investigao que esteve na origem deste trabalho, foi motivo de aquisio de inmeros ensinamentos, que nem sempre seguiam de acordo com as minhas expectativas, pois incluam caminhos, para mim, completamente novos. Por isso, tive de enfrentar o desafio de a seguir no seu processo de evoluo permanente, focando-me na tarefa e no indo atrs da impulsividade ou da imaginao.

Ao Professor Doutor Jos Manuel Canavarro o meu enorme obrigada pela orientao cientfica, pelo apoio, confiana e amizade que sempre demonstrou desde o primeiro momento.

Ao Dr. Antnio Ponces de Carvalho a confiana demonstrada ao convidar-me para docente na Escola Superior de Educao Joo de Deus e, posteriormente, para integrar uma excelente equipa de investigao.

Professora Doutora Angeles Gervilla quero agradecer a orientao cientfica de qualidade e o apoio amigo com quem tenho sempre contado. Desde o primeiro11

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momento que as suas sugestes de leituras bem como a leitura dos seus livros, e ainda, as orientaes atentas se fazem sentir atravs de e-mails e encontros, tornando a distncia geogrfica que nos separa um pormenor irrelevante. A generosidade desta orientadora est presente na forma com partilha os seus saberes, o seu tempo e a sua amizade.

Aos restantes professores espanhis da componente curricular do doutoramento, em especial, Professora Doutora Maria Dolores Vivar, Professora Doutora Rosa Prado, Professora Doutora Maria Jos Mayorga, ao Professor Doutor Antnio Marmolejo, Professora Doutora Emelina Lopez, ao Professor Alfredo Garcia ,e por ltimo, Professora Doutora Milagros que j mesmo no final tive o enorme prazer de conhecer e de ser aconselhada para realizar algumas alteraes, e no caso dos professores portugueses, no posso deixar de referir e de destacar, o Professor Doutor Horcio Saraiva, a todos o meu reconhecido agradecimento por me ajudarem a conhecer e a entender a educao numa perspectiva investigacional, alm dos conhecimentos terico-prticos que comigo partilharam.

minha primeira colega e amiga educadora Filomena Caldeira agradeo a sincera amizade, o apoio, a energia e alegria nesta etapa da nossa vida onde voltmos a estar juntas.

Aos colegas de doutoramento em geral, e em especial, Andreia Mendes, Beatriz Vaudano, Carmen Pinheiro e Ivo Costa, que, com amizade e apoio, me deram nimo (tantas vezes) para prosseguir este trabalho.

Filipa Garrido, uma ex-aluna e agora uma querida colega, que me apoiou na recta final deste trabalho com a sua preciosa e rigorosa ajuda quero agradecer a sua amizade, disponibilidade e profissionalismo.

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Judite Marote, agradeo a disponibilidade que sempre manifestou ao facilitar todas as informaes e solicitaes de apoio e de ajuda que foram essenciais realizao deste trabalho.

Sofia Falco que todos os dias nos ajudava a realizar pesquisas e a procurar novas referncias bibliogrficas sem nunca deixar de nos dar alento e o seu simptico sorriso.

s mes, que tive o prazer de conhecer e entrevistar, agradeo as lies de vida, de amor e de coragem que to bem me souberam demonstrar.

Aos meus alunos mais pequenos e aos da formao inicial o meu muito, muito obrigada por tudo o que me ensinaram ao longo da minha vida profissional.

A todos os pais/encarregados de educao agradeo a confiana e o apoio que sempre me souberam dar.

Aos meus pais, pelo excelente exemplo do que deve ser a vida em famlia e por tudo o que me transmitiram ao longo da vida.

Aos meus irmos e irms, em particular, Teresa e Margarida, agradeo o constante interesse, disponibilidade e apoio manifestados bem como as palavras de esperana e de fora que foram dando ao longo do mesmo.

Finalmente, Teresa, Marta e Afonso, que diariamente souberam ser os filhos que sempre desejei, dando-me o alento necessrio para continuar nas horas difceis, com a sua grande ternura, disponibilidade e cooperao.

Ao meu marido quero agradecer todo o carinho, ajuda e compreenso em mais esta etapa da minha carreira profissional.

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com a famlia, e dela, que obtemos o suporte para o que pretendemos na vida.

A todos, muito obrigada!

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ResumoO nvel scio-econmico tem sido apontado na literatura como um dos melhores preditores do envolvimento parental na escola. Na medida em que os alunos provenientes de famlias desfavorecidas tm mais riscos de insucesso acadmico, o maior afastamento das respectivas famlias, relativamente escola, um importante factor perpetuador de desigualdades sociais. So objectivos do presente trabalho identificar os factores que promovem o envolvimento parental das famlias de nvel scio-econmico baixo na escola, e propor estratgias de envolvimento parental junto das escolas e dos professores, especialmente com os que esto a iniciar a sua formao, tendo em vista minorar as dificuldades e os insucessos que as crianas manifestam, e por consequncia, evitar o abandono escolar. De forma a avaliar as trs das dimenses do envolvimento parental em escolas portuguesas, designadamente, a comunicao entre a escola e a famlia, o envolvimento da famlia em actividades na escola, e o envolvimento da famlia em actividades de aprendizagem em casa, aplicaram-se dois questionrios em duas verses distintas, uma para pais e outra para professores, a uma amostra de 591 sujeitos resultante de uma investigao longitudinal integrada, em escolas portuguesas do 1 ciclo. A anlise dos resultados permitiu identificar um grupo de 24 famlias de nvel scio-econmico baixo, que apresentava, ao contrrio do que era esperado, um nvel alto de envolvimento parental na escola e em casa. Atravs da realizao de entrevistas a famlias deste grupo, procedeu-se identificao de factores que estavam associados a um alto envolvimento parental tendo-se apurado como significativos: i) o modelo de proximidade que o professor estabelece com os pais, baseado num conhecimento real de cada aluno e de cada famlia; ii) a partilha de informao e a forma como a comunicao se processa, o que permite aos pais minimizarem os anseios, as preocupaes e dificuldades, bem como, uma participao mais activa na escola, face a um maior apoio pedaggico; e, por ltimo, iii) um acompanhamento mais efectivo das actividades de aprendizagem em casa e nos tempos livres. Paralelamente, de salientar que o bom aproveitamento escolar, associado a expectativas positivas que os pais tm relativamente aos filhos, facilitou e promoveu o envolvimento parental.15

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Foi igualmente possvel confirmar que os pais, apesar de continuarem interessados e envolvidos, sentiam que na transio para o 2 ciclo o afastamento acontecia e que a partilha se tornava mais complicada. De facto, foi bem evidente a referncia a um nmero crescente de dificuldades, quer na comunicao com a escola e o professor, quer na compreenso de certas reas de ensino, decorrentes de uma insuficiente formao acadmica. Nestas circunstncias, justifica-se na formao inicial dos educadores e dos professores uma sensibilizao e abordagem mais adequadas e vocacionadas para esta temtica (principalmente para os do 2 ciclo), dando especial ateno s reas comunicacionais e pedaggicas, encorajando-os na criao de estratgias criativas que forneam s famlias condies de apoio em todo o processo educativo, com base nos seus interesses e empenho.

Palavras chave: Envolvimento parental; famlias desfavorecidas; sucesso acadmico; prticas criativas e parcerias educativas; comunicao; formao de professores.

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Resumen

El nivel socio-econmico ha sido apuntado en la literatura como uno de los mejores predictores de la relacion parental en la escuela. En la medida en que los alumnos provenientes de familias desfavorecidas tienen ms riesgos de fracaso acadmico, el mayor alejamiento de las respectivas familias, relativamente escuela, es un factor importante y que perpeta las desigualdades sociales. Son objetivos del presente trabajo identificar los factores que promueven la relacion parental en la escuela de las familias de nivel socio-econmico bajo, y proponer estrategias inovadoras de relacion parental en conjunto con las escuelas y con los profesores, especialmente con los que estn iniciando su educacin, teniendo en vista aminorar las dificultades y los fracasos que los nios manifiestan, y como consecuencia, evitar el abandono escolar. . a la

Con el objetivo de evaluar las tres formas de relacion parental en las escuelas portuguesas, principalmente, la comunicacin entre la escuela y la familia, el envolvimiento de la familia en actividades en la escuela, y el envolvimiento de la familia en actividades de aprendizaje en casa, se aplicaron dos cuestionarios de dos versiones diferentes, una para padres y otra para profesores, a una muestra de 591 sujetos resultado de una investigacin longitudinal integrada, en escuelas portuguesas del 1 ciclo. El anlisis de los resultados permiti identificar un grupo de 24 familias de nivel socio-econmico bajo, que presentaba, al contrario de lo que se esperaba, un nivel alto de envolvimiento paternal en la escuela y en casa. A travs de la realizacin de entrevistas a las familias de este grupo, se procedi a la identificacin de los factores que estaban asociados a este alto envolvimiento paternal, definindose como significativos: i) el modelo de proximidad que el profesor establece con los padres, basado en un conocimiento real de cada alumno y de cada familia; ii) la forma de compartir informacin y la forma como la comunicacin se procesa, lo que permite a los padres minimicen sus ansias, sus preocupaciones y dificultades, bien como, una participacin ms activa en la escuela, frente a un mayor apoyo pedaggico; y, por17

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ltimo, iii) un acompaamiento ms efectivo de las actividades de aprendizaje en casa y en los tiempos libres.

Paralelamente, cabe resaltar que el buen aprovechamiento escolar, asociado a las expectativas positivas que tienen los padres en relacin a sus hijos, facilit y promovi el envolvimiento paternal. Fue igualmente posible confirmar que los padres, a pesar de continuar interesados y envueltos, sentan que en la transicin para el 2 ciclo el alejamiento aconteca y que el compartir se volva ms complicado. De facto, fue bien evidente la referencia a un nmero creciente de dificultades, ya sea en la comunicacin con la escuela y el profesor, como en la comprensin de ciertas reas de enseanza, consecuencia de una insuficiente formacin acadmica. En estas circunstancias, se justifica al inicio de la formacin de los profesores una sensibilizacin y abordaje ms adecuado abocado a esta temtica (sobre todo para los del 2 ciclo), dando especial atencin a las reas de comunicacin y pedagoga, encorajndolos para la creacin de estrategias creativas que suministren a las familias condiciones de apoyo en todo el proceso educativo, en base a sus intereses y empeos.

Palabras clave: relacin paternal; familias desfavorecidas; xito acadmico; prcticas creativas y aparceras educativas; comunicacin; formacin de profesores.

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Abstract

Social/economical status has been pointed out in the literature has one of the best tools to predict parental involvement in school. In as much as the students from lower income families run a higher risk of academic failure, the fact that their families are further away from their school, is an important factor for perpetuation of social inequalities. The present work intends to identify the factors that promote parental involvement in school for low income families and to propose strategies for schools and staff, in particular for those students at the start of their learning years, having in view the minimization of the difficulties and failures encountered by the children, and consequently, the avoidance of school drop out. The three main dimensions of Parental involvement in Portuguese schools can be evaluated along three main directions. These are: communication between school and family , family involvement in school activity and family involvement in school activities at home. To evaluate them two questionnaires were applied, in two distinct versions , one for the parents another for the teachers, to a sample of 591 subjects,

resulting in an integrated cross section of several first cycle Portuguese schools. The analysis of the results allowed for the identification of a group of 24 low income families , exhibiting, against all odds, a high level of parental involvement in school and at home. Using direct interviews to families of this group an identification was made of the factors associated to the high parental involvement observed. The most significant were seen to be: i) the model of proximity to the parents established by the teacher, based on real knowledge of each student and respective family (ii) sharing information and the way communication occurs, allowing the parents to minimize their angst, worries and difficulties, as well as a more active participation in school, given the larger pedagogical support; and lastly, iii) a more effective follow up of the learning activities at home and during free times. In parallel, it is worth mentioning that good grades associated with positive parental expectations for their children, were facilitators of that very parental involvement.19

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It was equally possible to confirm that parents, in spite the fact that they were interested and involved, felt that moving on to the 2nd school cycle, separation happened and that sharing was more difficult. In fact the reference to a growing number of difficulties, both in the communication with the teacher and with the school, was very clear and resulting from insufficient academic education. Under these circumstances it is totally justified to provide from the start to educators and to teachers an awareness of this topic and tools for an adequate approach ( mainly in the snd cycle), with special emphasis in the areas of communication and pedagogy, encouraging them to conceive and create new strategies able to give the families support conditions for all the education process, according to their interests and involvement.

Key Words: Parental involvement, low income families, academic success; educational practices and partnerships, communication, teachers education and training.

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INTRODUO1. ORIGEM E CONTEXTUALIZAO DO ESTUDO Este trabalho de investigao decorre de dois aspectos fundamentais da nossa vida profissional. O primeiro resulta de vrias reflexes sobre a tomada de conscincia de um percurso profissional simultaneamente como educadora de infncia e professora do 1 ciclo do Ensino Bsico ao longo de dezanove anos, e de formadora na Escola Superior de Educao de Joo de Deus nos ltimos nove anos, nas Licenciaturas em Educao de Infncia e Professores do 1 Ciclo do Ensino Bsico. O segundo aspecto, consequente da nossa funo docente, resultou na aceitao de um desafio da Escola Superior de Educao Joo de Deus na pessoa do seu director, Dr. Antnio Ponces de Carvalho, para integrarmos e colaborarmos num Projecto de Investigao Envolvimento Parental na Escola e Ajustamento Emocional e Acadmico na Infncia um estudo longitudinal com crianas do ensino bsico. Todo este percurso profissional pautado pelo nosso interesse na temtica que envolve as famlias, numa primeira fase trabalhando directamente com elas e envolvendo-as sempre que era possvel. Numa segunda fase transmitindo aos futuros profissionais a importncia do seu papel para envolverem as famlias no processo educativo e na relao destas com a escola. Esta necessidade de envolver as famlias e ajud-las a ultrapassar as dificuldades e a melhorar o sucesso educativo e escolar dos seus educandos, leva-nos a reflectir sobre a pertinncia e importncia da elaborao de um estudo acerca da temtica abordada nesta investigao. Como motivao para concretizar este trabalho acresce ainda o gosto pela vertente humana, fonte de afectos e partilhas baseados na realidade do nosso dia a dia e que do sentido ao exerccio do nosso trabalho. com a famlia e com a escola que a criana cresce, desperta a sua curiosidade e o desejo de aprender. Muitos so os investigadores que, ao longo do tempo, tm feito referncias necessidade de uma boa relao entre a escola, os pais/encarregados de educao e os professores.

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Num mundo em constante mudana nossa obrigao promover a transformao como cidados activos, permitindo que haja descoberta, criatividade e aprendizagens construtivas e significativas, que permitam a realizao da pessoa. As diversas realidades encontradas nestas situaes sempre nos preocuparam e apaixonaram pela sua complexidade, levando-nos a procurar novas estratgias ou actividades, susceptveis de uma maior articulao, no s entre famlias e crianas, como entre educadores/professores, de forma a contribuir para um desenvolvimento pleno e harmonioso da criana, independentemente da sua origem social e econmica. Este estudo tem como ttulo A relao entre Pais e Professores: uma dinmica de aproximao para uma escola de sucesso. e, insere-se na rea da Educao em educao infantil e no primeiro ciclo do Ensino Bsico, ciclo fundamental para o desenvolvimento e para o processo de aprendizagem da criana na vida, e na relao educativa complementar constituda pela aco educativa da famlia e/ou de outros agentes educativos. A escola no entender de vrios autores, dos quais destacamos Stoer (2005), parece ser um elemento de certo modo indispensvel para os pais, que encontram nela um tipo de apoio para as suas vidas quotidianas que no descobrem em qualquer outro stio da comunidade. Na escola encontramos os educadores/professores, profissionais de excelncia preparados para o ensino e formao das crianas, que devem ser os agentes principais desta realidade sendo que a sua formao inicial se torna primordial para uma adequada promoo do envolvimento parental. A escolha dos alunos da formao inicial relaciona-se com a incluso destes na prtica da investigadora e com o facto de acreditarmos na construo de uma proximidade que tem potencialidades para promover uma educao em parceria com as famlias e com as escolas.

2. FORMULAO DO PROBLEMAPartindo da Constituio Portuguesa que refere que a educao obrigatria, tendencialmente gratuita, para todos, independentemente do nvel social, cor ou sexo, e que a mesma importante, intuito deste trabalho abordar de que forma se expressam as relaes entre a escola, os encarregados de educao e os professores. Pretende-se analisar a relao entre a escola e as famlias e a importncia da formao inicial para o desenvolvimento desta temtica.

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Uma anlise diacrnica da legislao portuguesa sobre o relacionamento entre escolas e famlias mostra-nos como se tem vindo a caminhar para uma situao de crescente apoio ao envolvimento e participao parentais (cf; por exemplo, Silva 2003, e Lima e S 2002, p.15) Em pocas de mudanas, de abandono e de insucesso escolar, urge, como refere Ponte (2002), valorizar cada vez mais as competncias profissionais que so necessrias ao desempenho de um futuro Educador/Professor. Para Canavarro (2007: p.66-68) e, apesar dos esforos que j foram feitos, necessrio apoiar o desenvolvimento da formao de professores (); o envolvimento dos pais na escola deve ser mais efectivo (); a generalizao da educao pr-escolar deve constituir objectivo prioritrio (); a existncia de figuras de vinculao ao longo do ciclo, onde o sistema tutorial pode ser uma soluo (); a diminuio do nmero de professores por ciclo de escolaridade, a estabilidade do corpo docente bem como a possibilidade de acompanhamento pelos pares, designadamente por alunos mais velhos e bem sucedidos, quando estivermos a lidar com populao estudantil oriunda de meios adversos; a Escola dever proporcionar espaos de valorizao de outros saberes, reforar as actividades e diversificar as formas de informao e orientao escolar e profissional, torna-se imperioso revitalizar a autonomia das Escolas para compreender e combater o abandono escolar. Incluir a promoo de Escolas de Pais, voluntariado parental na escola, formao de pais e tambm responsabilizao parental pelo no cumprimento da escolaridade dos filhos, no entender do autor atrs referido, uma das linhas gerais de um modelo integrado de interveno preventiva sobre abandono escolar.

3. OBJECTIVOS E HIPTESES DE TRABALHO objectivo deste estudo responder s seguintes questes, sem, contudo, querer afastar a hiptese de abordar outras que podero surgir neste percurso: Num processo de ensino aprendizagem, o que valorizar: contedos, relao com as famlias ou a relao entre eles? Qual a pertinncia da contribuio das escolas de formao inicial na construo de uma relao mais prxima entre a escola-famlia?

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Como feita a ponte entre o que se aprende na formao inicial e o que se faz na vida activa? Como que as famlias podem contribuir para uma relao mais efectiva com o professor? De que forma o professor pode ajudar na construo de uma maior proximidade?

A partir destas questes elabormos este trabalho com uma finalidade principal: conhecer, descobrir, analisar e compreender os ambientes familiares e identificar estes ou outros factores, tais como o papel atribudo ao professor, escola e relao que esta estabelece ou promove, s experincias escolares dos pais/encarregados de educao, que podem explicar as diferenas de aprendizagem dos seus filhos e identificar possveis situaes de risco originados pela ocorrncia de fracasso escolar em determinadas famlias. O ambiente familiar, a relao com a escola e a descontinuidade entre ambas so aspectos fundamentais para a problemtica da participao dos pais na escola. Para a consecuo desta finalidade importa perceber de que forma a formao inicial de educadores e professores, poder contribuir para uma maior construo de proximidade entre os pais e as escolas. Com base nesta finalidade apresentamos os seguintes objectivos: Identificar os factores que explicam o envolvimento parental, utilizando distintos instrumentos: questionrios e entrevistas. Conhecer qual o valor que as famlias atribuem aprendizagem, escola e ao professor. Relacionar a disponibilidade que tem para a aprendizagem dos filhos em casa e dos tempos livres com o aproveitamento escolar. Avaliar no processo de ensino-aprendizagem o que valorizam mais, os contedos, a relao com a escola ou a relao entre eles. Entender de que forma as famlias podem contribuir para uma relao mais efectiva com o professor e a escola. Reflectir a pertinncia da contribuio das escolas de formao inicial na relao famlia-escola. Estabelecer relaes entre o que se aprende na formao inicial com uma metodologia mais criativa que permita uma melhor entrada na vida activa. Valorizar o papel do professor nesta temtica.

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Elaborar um livro que permita promover uma maior proximidade na relao entre o professor e as famlias. Estes objectivos tm, assim, como finalidade descrever e compreender o contexto

familiar, os respectivos valores, expectativas e experincias em relao educao dos filhos, escola, aos professores e ao percurso escolar. Os mesmos permitiram a formulao das seguintes hipteses: HIPTESE 1: Os factores que figuram nos questionrios elaborados por Pereira (2003) (anexo 1) so componentes do constructo do envolvimento parental: Idade Sexo Nvel scio econmico Formao Acadmica dos pais/encarregados de educao Experincias escolares Frateria Sensibilidade aos problemas Ambiente escolar Expectativas Interesses mltiplos

HIPTESE 2: Existe correlao positiva entre as duas variveis que representam importantes contextos do desenvolvimento: as relaes que os pais estabelecem com a escola e as relaes que os professores estabelecem com os pais, operacionalizadas atravs de uma comunicao e participao efectiva. HIPTESE 3: A percepo do envolvimento parental percebida pelos pais, professores e pelos prprios filhos est correlacionada de forma significativa com o sucesso acadmico dos filhos/alunos. HIPTESE 4: A relao familiar na escola entendida da mesma forma pelos pais e professores no que diz respeito s prticas educativas.

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HIPTESE 5: Os factores que promovem o envolvimento parental nas famlias de nvel scioeconmico baixo correlaciona de forma significativa com a percepo do professor. HIPTESE 6: A formao dos professores correlaciona positivamente sobre a forma como avaliam o envolvimento parental. HIPTESE 7: A formao inicial poder contribuir de forma positiva e inovadora para uma maior proximidade e melhor envolvimento parental. HIPTESE 8: O papel do professor correlaciona positivamente com a utilizao de metodologias mais criativas. O campo de estudo, as famlias e a formao inicial de educadores/professores e a natureza do problema em anlise, as concepes e as competncias de orientao, condicionam as opes tomadas em termos de metodologia de investigao. Neste sentido, a presente investigao tem uma forma fundamentalmente interpretativa e descritiva, permitindo proporcionar a anlise e a discusso desta temtica. Nesta perspectiva, privilegiaram-se as aces dos sujeitos e a sua diversidade expressa atravs das interaces sociais e os significados que os actores lhes atribuem e a experincia subjectiva que conduz os sujeitos a empreenderem determinadas aces e a construrem conhecimento (Erikson, 1986).

4. SIGNIFICNCIA DO ESTUDOA viso longnqua e utpica de uma sociedade plena de cidado activos e participantes, empreendedores, investigativos e confiantes nas suas capacidades, poder constituir, para ns, o impulso inicial que nos aproxima da necessidade de tornar a relao entre a famlia, a escola e os professores um motivo de prazer e significado. A referida integrao permitiu-nos acompanhar de uma forma dedicada e sempre interessada, alguns dos aspectos da problemtica do envolvimento parental na escola e dos factores que o podem promover / afectar, cuja essncia urge compreender. Na medida em que os objectivos do presente trabalho decorrem de conhecimentos obtidos no mbito do projecto

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acima mencionado, apresentamos em seguida uma descrio breve do mesmo, para um melhor entendimento da forma como obtivemos dados que vamos analisar. H vrios estudos realizados na rea do envolvimento parental (Epstein, 1992; Grohlnick & Stowiaczek, 1994; Khol et al. 2000), que reconhecem o facto de as famlias de meio scio-econmico baixo revelarem um deficiente envolvimento parental, igualmente referido por Pereira, em 2003. No entanto, e de acordo com outros autores (Bloom, 1982 e Colgan, 1997), surge a noo de que o ambiente familiar pode ser favorvel ou desfavorvel ao desenvolvimento da capacidade geral para aprender. Com efeito, para que um ambiente familiar fosse favorvel aprendizagem, o que era importante era o tipo de actividades e atitudes dos pais, e no o seu estatuto scio-econmico ou os seus conhecimentos, ou seja, aquilo que os pais faziam com os seus filhos e no necessariamente aquilo que eram ou sabiam. Esta noo veio abrir novas perspectivas a toda uma rea de interveno junto da famlia, uma vez que ao contrrio de outras teses no vinha responsabilizar ad eternum o nvel scio-econmico do agregado familiar pelo insucesso escolar das crianas e dos jovens. Este, por sua vez, depende de determinados factores que so, na sua maioria, possveis modificadores e/ou limitadores da aprendizagem, nomeadamente: (a) hbitos de trabalho e de lazer da famlia; (b) estmulo aprendizagem informal, tais como explorao de ideias e acontecimentos; e (c) aspiraes e expectativas acadmicas. Surge, pois, a questo de descrever e compreender ambientes familiares e identificar estes e outros factores, tais como, o papel atribudo ao professor, escola e ao envolvimento com esta, s experincias escolares passadas, que podem explicar as diferenas na aprendizagem dos seus filhos e identificar possveis riscos acrescidos para a ocorrncia de insucessos na aprendizagem em determinadas famlias. O ambiente familiar, a relao com a escola e a diminuio da descontinuidade do relacionamento entre a escola e a famlia so aspectos fundamentais para a problemtica do envolvimento parental, e para a identificao dos factores que o podem promover ou diminuir. Para melhor entender esta problemtica consideramos importante enquadrar teoricamente a evoluo da educao em Portugal, por forma, a conhecermos melhor o que a gerao dos pais/encarregados de educao viveu nessa realidade e como no seu dia a dia a manifestam e sentem. Pensamos importante referir ainda os perodos conturbados da educao em geral e no ensino da formao de professores para fazermos a ponte com a nova realidade.

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Na temtica da relao Escola-Famlia, destacamos num primeiro plano a famlia e a escola, e em seguida, so referidos alguns modelos propostos por diversos autores, como por exemplo, Epstein (1989) e Davies (1997), tentando responder s questes que se seguem:

Quais os factores que explicam o envolvimento parental? Qual o valor que as famlias atribuem aprendizagem, escola e ao professor? Qual a disponibilidade que tm para as aprendizagens dos filhos em casa e nos tempos livres? Que factores podero favorecer o alto envolvimento parental? Estas questes tm, assim, como finalidade, descrever e compreender o contexto familiar, os respectivos valores, expectativas e experincias em relao educao dos filhos, escola e ao percurso escolar. A natureza das questes justifica a metodologia utilizada a entrevista - estruturada de acordo com as questes. Seleccionaram-se seis do grupo das 24 famlias, de nvel scio-econmico baixo, que revelaram um envolvimento parental acima da mdia, segundo a percepo dos pais e dos professores. Na opinio de Davies et. al. (1997), entender as famlias e a criana como parte de um sistema organizado com elementos que interagem entre si, influenciando cada parte e sendo por ela influenciado, traz uma nova compreenso acerca do desenvolvimento humano. Alm disso, contribui para a reflexo sobre os contextos familiar e escolar, que tanto podem ser elementos de incluso e segurana como fonte de conflitos, com nfase nas perdas que se podem apresentar no percurso escolar e social. Para o mesmo autor, quer a famlia quer a escola funcionam como pontos de apoio e sustentao do ser humano, sendo marcos de referncia existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais positivos e significativos sero os resultados na formao. A participao dos pais na educao dos filhos deve ser constante e consciente. Vida familiar e vida escolar so simultneas e complementares. importante que pais, professores, filhos/alunos partilhem experincias, entendam e trabalhem as questes prprias do seu dia a dia, de forma a compreendermos as variveis de cada situao, sem cairmos na tentao de dizer que uns so mais culpados e outros mais inocentes. 28

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Entre outros autores, Stoer (1995), Epstein (1997b) e Villas-Boas (2001) remetem para os pais e para a escola a preciosa misso de educar as crianas, destacando-se a tarefa de transformar a criana imatura e inexperiente em cidado maduro, participativo, actuante e consciente dos seus deveres e direitos, possibilidades e atribuies Carvalho (2004) refere que a criana chega escola com os seus modelos, os seus medos, as suas dificuldades e desejos e tem que aprender os valores da instituio, conviver com diferentes vises da vida e do mundo. um momento delicado para ela, para a sua famlia e para a escola. Pensar e escrever sobre este tema rever a nossa trajectria profissional. A relao entre a Escola e a Famlia tem vindo a ser alvo de todo um conjunto de atenes: atravs de notcias nos meios de comunicao, de discursos de polticos, da divulgao de projectos de investigao e de nova legislao. Segundo Pereira (2007) o desenvolvimento da criana deve ser compreendido de forma holstica e a compreenso das diferenas individuais no desenvolvimento saudvel e patolgico implica a considerao das transaces que ocorrem ao longo do tempo entre indivduo e contextos sociais e ecolgicos. Segundo esta autora o contexto constitudo por diferentes nveis, uns mais prximos e outros mais distantes, que sofrem influncias mltiplas entre si (p.27). Para esta investigadora os diferentes contextos podem dar origem a influncias que podem ser positivas ou negativas, e que em conjunto com o nvel prvio de adaptao da criana influenciam o desenvolvimento. Deste modo, a Psicologia do desenvolvimento privilegia o estudo do desenvolvimento no contexto sendo dada uma ateno especial aos contextos relacionais e sociais. A recolha de informaes e a avaliao das relaes que se estabelecem feita em funo da percepo de diferentes informadores que pertencem a diferentes contextos: pais e professores. Espera-se que este trabalho possa contribuir com recomendaes que visem melhorar e enriquecer o desenvolvimento global e equilibrado das crianas, no sentido de promover um maior sucesso acadmico e pessoal de cada aluno, integrado num sistema de ensino que precisa de ser renovado, mais criativo e pensado para o mundo de hoje. Da mesma forma, espera-se que os resultados obtidos possam contribuir para a pertinncia da incluso desta temtica na formao inicial de professores, indispensvel para uma relao pedaggica que prepare os futuros profissionais, com vista a uma integrao mais

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eficaz na vida activa, quando deixam de ser alunos e passam a ser professores, pais, cidados, sem nunca deixarem de ser pessoas! Citando Garcia (1995): Ensinar algo que qualquer um faz em qualquer momento, mas isso no o mesmo que ser professor () o professor eficaz um ser humano nico que aprendeu a fazer uso de si prprio eficazmente, e a realizar os seus propsitos e os da sociedade na educao de outras pessoas. A escolha desta temtica, prende-se com o facto de sentirmos, cada vez mais, transformaes na estrutura das famlias e, consequentemente, o impacto que essas mudanas esto a provocar no processo de reestruturao das escolas. Ajudar as famlias a aproximarem-se sem receios poder ajudar a melhorar esta situao comeando pela sua revitalizao no espao familiar. Acreditamos que os educadores/professores sero os elementos chave para estabelecer esta ponte e melhorar a relao Famlia-Escola. urgente que se criem vrios projectos de inovao educativa preocupados com a adequao da escola s necessidades das famlias, dos alunos e da comunidade local. Tudo isto, no sentido de tornar as escolas mais eficazes e adequadas nova realidade e, desta forma combater o insucesso escolar e o consequente abandono escolar.

5. ORGANIZAO DA INVESTIGAOEste trabalho est organizado em duas partes: Reviso da Literatura e Estudo Emprico. A Reviso de Literatura pretende integrar os principais contributos tericos e empricos para o estudo da compreenso das relaes que se estabelecem entre a escola, os encarregados de educao e os professores bem como a forma como a formao inicial os prepara para a realidade. O Marco Metodolgico descreve a contribuio pessoal realizada para a compreenso destes contextos e para o esclarecimento da relao entre envolvimento parental, escolas e professores. No mbito da reviso da literatura, o primeiro captulo dedicado Famlia, onde se enfatiza a sua importncia atravs de uma abordagem dos diferentes trabalhos j realizados na rea da educao; noo de famlia e sua terminologia; modos de educao de acordo com os estilos parentais educativos; relao Famlia-Escola na Legislao Portuguesa. Centra-se

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tambm nos contributos do envolvimento parental e na questo das relaes afectivas entre pais e filhos e so referidas estratgias de aproximao s famlias. No segundo captulo apresenta-se um pouco da histria do ensino em Portugal, a formao inicial de educadores e professores, as estruturas formativas, a importncia do papel dos professores/mediadores, a pertinncia da criatividade para a construo de uma relao de proximidade entre a famlia, a escola e o professor A segunda parte deste trabalho correspondente ao Marco Metodolgico, comea no terceiro captulo, que aborda diferentes aspectos da conceptualizao da investigao emprica. Num primeiro momento, realizada a fundamentao do estudo, definidas as principais variveis e identificados os seus objectivos, gerais e especficos. A metodologia do estudo descrita nos diferentes aspectos: desenho da investigao, amostra, procedimento da recolha de dados, instrumentos de avaliao e procedimentos de anlise estatstica utilizados. Este captulo iniciar-se- com algumas consideraes sobre investigao em educao e a justificao da pertinncia em abordar o estudo por via de uma metodologia qualitativa. Delinear-se- atravs da aplicao de entrevistas semi-estruturadas s famlias de nvel scio econmico baixo, e de entrevistas pelo telefone a 26 educadores e 24 professores, ambos os grupos com dois anos de servio. Sero ainda delineadas as opes metodolgicas e apontados os procedimentos a ter em conta no decurso da investigao. O quarto captulo dedicado anlise das entrevistas realizadas quer aos pais quer aos educadores/professores. No quinto captulo faz-se a apresentao de resultados e est dividido em sete seces. Na introduo de cada uma delas so identificados os objectivos do estudo e detalhados os procedimentos estatsticos utilizados. Uma primeira seco deste captulo incide sobre os resultados das entrevistas s famlias. A segunda seco descreve os principais resultados acerca das percepes dos educadores/professores entrevistados. A quarta e quinta seco apresentam os resultados que dizem respeito s associaes entre os diferentes nveis de ensino e importncia da formao inicial para o desempenho profissional assente na percepo de satisfao e de preocupao dos mesmos. Na sexta seco apresenta-se uma anlise ao papel dos professores, e por ltimo, procedeu-se verificao das hipteses. Por fim, o ltimo captulo inclui a discusso dos resultados e as concluses. So apresentados os principais resultados do estudo de modo a poderem serem comparados e realizada a integrao desses mesmos resultados na reviso da literatura efectuada. Ao longo da discusso, so apontadas algumas das limitaes do trabalho emprico e sugeridas pistas

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para investigaes futuras. Finalmente, feita uma sntese dos aspectos e contribuies mais relevantes do trabalho que desejamos enunciem implicaes que contribuam para melhorar a relao escola-famlia, em que seja dado ao professor o papel importante que tem. A investigao decorreu num perodo cronolgico situado entre Outubro de 2002 e Dezembro de 2007. Num primeiro momento e como consequncia da nossa participao no Projecto de Investigao Envolvimento Parental na Escola e Ajustamento Emocional e Acadmico na Infncia um estudo longitudinal com crianas do ensino bsico, o nosso estudo incidiu no envolvimento parental de famlias de nvel scio econmico baixo, e na forma como essa relao de proximidade foi construda. Num segundo momento pretendeu-se entender qual a importncia da formao inicial para a promoo do envolvimento parental nas escolas. Aps uma sensibilizao e formao especfica sobre a importncia de uma boa relao com os encarregados de educao baseada numa comunicao acessvel e adequada a cada famlia por parte de cada professor, tornandoos mais conscientes, receptivos e criativos.

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1 PARTE REVISO DA LITERATURA

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Captulo 1A importncia da Famlia

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1. IntroduoNeste captulo, faz-se a fundamentao dos temas e das questes deste trabalho intitulado A relao entre Pais e Professores: uma dinmica de aproximao para uma escola de sucesso.: um conjunto de ideias para ajudar a melhorar e promover o papel dos pais e dos professores na educao em geral, e, em particular, contribuir para a formao da criana quer como cidado quer como aluno. Da problemtica apresentada fazem parte os seguintes temas: famlia e educao; noo de famlia e sua terminologia; a estrutura da famlia, a famlia em mudana, tipos de famlia, modos de educao; o envolvimento parental; estratgias de aproximao s famlias. Entender e conhecer melhor as famlias e a forma como se processam e se estabelecem as relaes interpessoais e as relaes destas com: a escola e os diferentes agentes educativos atravs da sua aproximao e participao; a maneira como a famlia ocupa o seu tempo livre; as problemticas familiares; o nvel scio-econmico; a formao acadmica dos pais e as suas experincias escolares o nosso principal objectivo deste estudo. Em suma, no que pode promover ou no o envolvimento parental Como nos refere Pereira (2007) as condies sociais actuais, como por exemplo, a pobreza crnica, o stress associado vida nas cidades, a ausncia de redes de suporte na comunidade e as rupturas familiares acarretam um maior risco para o desenvolvimento de psicopatologia nas crianas (p.39). Atravs dos estudos j realizados nesta rea podemos afirmar que uma parte considervel dos problemas na infncia tem consequncias a longo prazo, implicando no s custos para as crianas e para as suas famlias, mas tambm para a sociedade em geral.

2. Famlia e EducaoEducao, Famlia, Escola, Sociedade, Ambiente e Formao so reas que aparecem associadas e vinculadas sempre que a elas nos referimos. No possvel uma Educao adequada e completa sem a existncia da Famlia. Por isso, se devem fazer estudos e aprofundar o conhecimento, consciencializar a opinio pblica de que os problemas familiares so problemas sociais e procurar comear a Educao Familiar desde a infncia, j que a criana ir chegar fase adulta e formar, por sua vez, uma nova famlia.

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Gervilla (2001), no seu livro sobre Educao e Famlia, refere e refora que a famlia o pilar fundamental para o crescimento da criana, e, se queremos realmente educar, h que proporcionar ajuda e apoios aos que dela necessitam e, assumirmos responsabilidades visto que uma pequena Educao dos pais proporciona benefcios significativos: progresso das aprendizagens, desenvolvimento mental, afectivo e emocional. A literatura sobre esta temtica, bem como a experincia de vida que vamos acumulando, lembra-nos que o ser humano est sempre a aprender nas mais diversas situaes que a vida lhe apresenta, por isso, o papel da famlia fundamental, sendo ela que decide, desde cedo, o que os seus filhos/filhas precisam de aprender e quais as instituies que devem frequentar e, o que necessrio saberem para tomarem as decises que os iro beneficiar no futuro. O envolvimento parental na educao exige a compreenso das interaces complexas entre as estratgias de interveno, a motivao dos pais, a interaco familiar, a aprendizagem dos alunos, a metodologia seguida pelos professores e o prprio clima da escola, como nos refere Colgan (1997), num estudo, em que fez a sntese de mais de dez anos de investigao sobre o envolvimento parental e a influncia da famlia na escola, tendo dado particular nfase aos trabalhos desenvolvidos por Conner (1990); Davies (1994); Davies e Johnson (1996b); Epstein (1994); Moles (1982), e Seeley (1989), pretendendo deste modo incentivar todas as escolas a seguirem uma poltica de aproximao s famlias. A oportunidade e actualidade desta noo so apoiadas por Swap (1997), que considera ser necessrio que os pais e os professores se ajudem mutuamente: por um lado, os professores pelas dificuldades acrescidas com o ensino de massas e com o aumento do ensino obrigatrio, e por verem pouco reconhecido o seu estatuto profissional bem como o apoio da comunidade e, por outro lado, os pais por se confrontarem, cada vez mais, com situaes de divrcio, desemprego, isolamento e problemas com os filhos. Para Gervilla (2001), as funes da famlia que mais fora tm no mundo de hoje, mais que no passado, so a econmica, a afectiva, a de apoio, e para alguns, a sexual. E de todas elas, a mais significativa para o bem-estar e futuro desenvolvimento da criana, a sua capacidade para gerar uma rede de relaes baseadas nos afectos e no apoio. Se a convivncia e o relacionamento familiar so factores fundamentais para o desenvolvimento individual, a integrao da criana no universo colectivo, a mediao entre ela e o mundo, entre ela e o conhecimento, a sua adaptao ao meio escolar, o relacionamento

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com todos os agentes educativos, a relao com os colegas, so factores decisivos para o seu desenvolvimento social. Perrenoud (2002), refere que a educao precisa de mudar e que as mudanas podem ser negociadas entre os diferentes agentes educativos, cabendo escola o papel de as tornar mais visveis e reais, ficando as famlias mais interessadas, prximas e conscientes da sua importncia. Quando os pais e as mes tm que escolher a escola que consideram a mais adequada s suas expectativas e, que ao mesmo tempo seja do agrado do filho, no uma tarefa fcil e o seu sucesso, depende, em grande parte, da perspiccia e habilidade dos pais para avaliarem as diferentes propostas. Carvalho (2004), recomenda aos pais que estejam atentos ao projecto educativo e ao perfil disciplinar da instituio, pois isso, ajuda-os a optar por aqueles cujos valores e fundamentos so mais parecidos com os seus, em termos de exigncias, posturas e viso do mundo, e a conhecerem o espao da escola, as suas possibilidades, os seus objectivos bem como os profissionais que estaro com os seus educandos. Entender o indivduo como parte de um sistema organizado com elementos que interagem entre si, influenciando cada parte e sendo por ela influenciado, para Sall e Ketelle (1996), trazer uma nova luz compreenso acerca do desenvolvimento humano, contribuindo para a reflexo sobre os contextos familiar e escolar, que tanto podem ser elementos de incluso e segurana, como fonte de conflitos, onde as perdas que se podem apresentar no percurso escolar e social sero significativas. A tarefa que a famlia chamada a desempenhar no s no nada fcil como deve ser exigida a responsabilidade a todos os que convivem com a criana, desde os pais, irmos mais velhos, outros familiares aos adultos que a rodeiam, papel esse que muitas vezes, as famlias no esto preparadas para o exercer. Nunes (2004) refora a necessidade e a premncia de que as famlias deviam receber ajuda de instituies adequadas, atravs de programas de informao e de formao, para as ajudar na formao de hbitos, no desenvolvimento de atitudes que preparem favoravelmente a criana para a aprendizagem escolar e a apoiem ao longo da sua escolaridade. Para este autor, o envolvimento parental na educao no se limita ao ensino em casa, das matrias escolares, quer directamente quer indirectamente atravs de perguntas ou da resoluo de exerccios, mas tambm atravs da criao de outras situaes. Um ambiente, em que os pais passam mais tempo com os filhos, falam com eles, discutem os problemas da

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escola e do trabalho de casa e lhes transmitem expectativas positivas, aumenta as ligaes emocionais e a confiana entre pais e filhos. Lighfoot (1987) bastante convincente quando atribui famlia um papel muito importante dizendo: Se ns reconhecermos que cabe famlia o primeiro papel na educao das crianas, ento a escola ter de incorporar no currculo os valores e as culturas das famlias e das comunidades. Parece urgente que, para promover o sucesso escolar, a escola e a comunidade se desenvolvam esforos no sentido de reconhecer e valorizar o poder educativo dos pais, recorrendo a estratgias, de acordo com a realidade escolar e familiar. Cabe ento escola e aos professores, desenvolverem estratgias no sentido de aumentar o envolvimento individual de todos os pais, no dia a dia da vida escolar dos filhos. Esse envolvimento implica, segundo Wang et al. (1993), apoiar o trabalho de casa, controlar o visionamento da televiso, ler histrias s crianas, dar-lhes afectos, dialogar e exprimir as suas expectativas relativamente ao sucesso escolar. A interveno e, por conseguinte, os modelos que se pretendem implementar e os modelos de formao deveriam ser avaliados de uma forma contnua para que desta forma se detectasse a sua eficcia. Para alm deste aspecto, o conhecimento dos factores que promovem um maior envolvimento parental permite uma abordagem eficaz junto daqueles que esto em situaes de risco quer na rea da Educao quer na rea da Formao Pessoal e Social.

2.1. A importncia da terminologiaNo decorrer da pesquisa bibliogrfica deparmo-nos com uma infinidade de trabalhos de investigao, independentemente da lngua em que eram escritos, do uso de expresses como: parceria, participao, ligao, relao, envolvimento, cooperao, colaborao, entre outras, que eram utilizadas de forma um pouco confusa e, de certo modo, pouco rigorosa nesta terminologia que pretendia traduzir a aproximao entre a escola, a famlia e a comunidade, podendo variar a sua utilizao de autor para autor, ou de acordo, com a data da investigao. No entanto, nota-se cada vez mais a procura de maior rigor conceptual, e verifica-se a tendncia crescente de se utilizar a expresso envolvimento parental dos pais /da famlia,

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por exemplo, nas publicaes de Joyce Epstein (1987;1992;1997), quando pretende referir actividades relacionadas com a comunicao escola-casa e ajuda nas actividades de aprendizagem em casa. A expresso participao dos pais /da famlia referida por Davies et. al. (1997) para indicar as actividades que pressupem a tomada de decises, o exerccio do poder deliberativo. Mais recentemente, a maioria dos autores prefere manter o termo envolvimento, utilizando a expresso envolvimento individual e envolvimento colectivo para explicar as duas situaes apontadas por Joyce Epstein (1997). A palavra parceria comea a ser utilizada por quase todos os autores. Este conceito esclarecido pelo socilogo Steven Stoer (1995) na anlise que fez dos sete estudos de caso que fizeram parte de um estudo multinacional, trs dos quais realizados em Portugal, onde faz a distino entre o termo partenariado, aplicado a uma equipa formal e introduzido graas a programas de ndole social e econmica, e parceria, aplicado a um trabalho informal entre pessoas ou entidades com interesses comuns. Segundo Davies (1989, p.24): Pais e famlia estes termos apresentam neste estudo uma grande proximidade. O termo, Pais, no plural, refere-se aos adultos que tm responsabilidade legal sobre a criana, e o termo, Famlia, refere-se ao grupo de adultos e crianas no qual a criana se insere e a que est ligada por laos de parentesco ou adopo. Envolvimento dos pais esta designao cobre todas as formas de actividade dos pais na educao dos seus filhos em casa, na comunidade ou na escola. Por vezes, usada a expresso participao dos pais exclusivamente para referir aquelas actividades dos pais que supem algum poder ou influncia em campos como os do planeamento, gesto e tomada de decises nas escolas.

No que diz respeito relao escola-famlia os dois aspectos devem ser considerados. Seeley (1989) refere, sem querer invalidar uma perspectiva interactiva, que a utilizao do termo parceria implica certamente uma maior responsabilizao dos parceiroscom iguais direitos e deveres perante um objectivo comum, o da aprendizagem. A preferncia desse termo em relao ao tradicional, envolvimento parental, deve-se ainda, segundo Davies e Johnson (1996b), necessidade de assinalar uma relao tripartida com a escola e a comunidade. 41

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Independentemente da terminologia adoptada, parece importante salientar que a influncia da famlia, da comunidade e da escola na aprendizagem das crianas universal e aceite por todos. Para alm deste aspecto, h que juntar a influncia de teorias ecologistas na Educao que nos levam a falar na diminuio das descontinuidades entre as instituies, explicando a importncia de todos os ambientes que envolvem as crianas. A ligao da famlia com o ambiente foi apresentada por Bronfenbrenner (1987), que defende na sua obra intitulada The ecology of Human Development um modelo ecolgico, considerando o ambiente em que a criana se desenvolve como um macro sistema com quatro nveis distintos entre si: i) num primeiro nvel so consideradas as situaes primrias (Microssistemas) de que fazem parte a famlia e a escola; ii) num segundo nveis so consideradas as interaces entre essas estruturas (Mesossistema); iii) as estruturas do terceiro nvel (Ecossistema) so constitudas pelas situaes que esto para aqum da criana, mas que a afectam, tais como o tipo de emprego dos pais, tempo disponvel, desemprego; iv) no quarto e ltimo nvel, so consideradas outras situaes que afectam a famlia, tais como guerras, crises econmicas, migrao (Macrossistemas). Desta forma poderemos dizer que para alm da maturao biolgica, o ambiente, considerado relevante para o processo de desenvolvimento humano, no se limita ao contexto imediato em que se encontra o sujeito, mas engloba uma srie de estruturas de nveis diferentes, interligadas entre si. Alm da importncia que tem uma situao de aprendizagem, h que entender que em cada mudana de nvel existe a oportunidade de desenvolvimento e o risco desse desenvolvimento no se fazer. Convm notar no mbito deste trabalho, a relevncia do Mesossistema, descrito como as interaces entre a famlia e a escola. Deste modo, e referindo Sall e Ketelle (1996), situaes como a no existncia de relaes, ou no caso destas no serem aliceradas numa base de respeito mtuo e num empenhamento partilhado relativamente criana, afectaro o desenvolvimento da criana, ou do jovem, que corre o risco de no se tornar o cidado informado e responsvel que a sociedade pretende. O desenvolvimento do indivduo ento visto como funo da relao entre a forma como esse desenvolvimento se processa no ambiente familiar e a forma como ele vai ser promovido na escola. Para as duas autoras, atrs referidas, o desenvolvimento do indivduo depende da continuidade que for estabelecida entre as duas situaes primrias (contextos imediatos) e implica, necessariamente, para alm duma comunicao efectiva, o conhecimento da criana e

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da cultura em que est inserida e, ainda a sua integrao progressiva na ordem social. No seguimento dum estudo longitudinal que acompanhou crianas desde o momento que precedeu ao seu nascimento at ao final dos quatro anos de escolaridade, Heath (1992b) refere o peso da descontinuidade cultural no insucesso escolar e a consequente necessidade de se fazer a aproximao entre a cultura da escola e a da famlia. Segundo Bernstein, citado por Domingos et. al. (1986), a socializao o processo pelo qual um indivduo se torna membro de um grupo social, adquire uma identidade cultural especfica e responde em funo dessa identidade, tornando-se membro dum determinado grupo social. Em virtude do que foi apresentado, envolvimento, ambiente, parceria e socializao so conceitos importantes e devem estar suficientemente claros e definidos, pois, complementam-se e esto directamente relacionados uns com os outros. A abordagem dos mesmos deve ter presente a ideia de que devem ser vistos em conjunto e que uns afectam ou facilitam o desenvolvimento da criana.

2. 2. A Estrutura da Famlia2.2.1. Breve Percurso EvolutivoPara diversos autores no existe nenhum povo, por diferente que seja a sua civilizao e cultura, sem Famlia. Desta forma, a Famlia considerada a instituio social bsica a partir da qual todas as outras se desenvolvem, a mais antiga e com um carcter universal, pois aparece em todas as sociedades, embora as formas de vida familiar variem de sociedade para sociedade. A Organizao das Naes Unidas (ONU) em 1984, refere a Famlia como o elemento de base da sociedade e o meio natural para o crescimento e o bem-estar de todos os seus membros. A Famlia seguramente a primeira unidade social onde o indivduo se insere e a primeira instituio que contribui para o seu desenvolvimento, para a sua socializao e para a formao da sua personalidade. a instituio de base para a satisfao das necessidades dos indivduos e a organizao de toda a sociedade. uma instituio que reflecte a transformao das sociedades e que contribui tambm para a mudana social. (Lousada, 1998, citado por Caracis, 2001).

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Assim sendo, a Famlia surge como um dos grupos mais importantes de aprendizagem e assimilao de conhecimentos pois no s o primeiro grupo com o qual um indivduo contacta mas porque nos primeiros anos de vida se encontra mais permevel reproduo social. A estrutura e funes familiares foram-se alterando ao longo dos tempos, pois a Famlia e a Sociedade encontram-se interligadas. Logo, as mudanas nas estruturas e funes da instituio familiar reflectem as mudanas nas outras instituies com as quais esto relacionadas. Exemplo disso, a passagem de uma sociedade ligada vida no campo - sociedade agrria sociedade industrial que conduziu a uma transformao da instituio familiar. Lousada (1998, citado por Caracis, 2001) refere que na poca medieval, a Famlia vivia quase exclusivamente da agricultura e era formada em funo dessa actividade econmica. A Famlia era alargada, coabitando filhos, pais, criados, filhos casados com as mulheres, os filhos destes, tios, sendo ainda possvel, outro tipo de parentesco a viver na mesma habitao. A necessidade da fora de trabalho na poca e no perodo das colheitas faziam com que todos colaborassem nas actividades de subsistncia familiar, independentemente da idade ou do grau de parentesco. Os criados, filhos de famlias que no possuam terra, viviam desde muito novos fora da casa de origem. Mudavam todos os anos de patro e constituam a fora de trabalho fora da Famlia. Passando de um mundo campons patriarcal para a sociedade industrial, a Famlia extensa, adequada sociedade tradicional, transforma-se na Famlia nuclear, que melhor corresponde s caractersticas scio-econmicas e culturais da sociedade industrial e urbana. A Famlia j no se encontra unida pelo trabalho em conjunto, uma vez que os seus membros especializam-se e trabalham separadamente e j no uma unidade de produo econmica mas sim uma unidade consumidora dos bens e servios produzidos no exterior. As famlias numerosas que eram teis para o sustento do lar passam a diminuir na sociedade moderna pois as crianas deixam de constituir um bem econmico para se tornar num encargo dispendioso. Em virtude da industrializao acelerada e da urbanizao desregrada, a grande Famlia, entendida como a unidade de integrao e de sucesso no plano trigeracional, nucleariza-se sendo substituda, gradualmente, pela Famlia conjugal comportando no mximo duas geraes, tornando-se at cada vez mais frequentes as situaes de solido de

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famlias constitudas por uma s pessoa. Na verdade, as famlias monoparentais e a mera coabitao so representativas da sociedade actual (Flix, 1994). Nesse sentido, ou seja, tendo em considerao as referidas alteraes, Ribeiro (1994) afirma que a Famlia desempenha essencialmente dois tipos de funes: assegurar a continuidade do ser humano no sentido da Famlia ser uma comunidade que nasce, cresce, procria, decresce e morre, continuando-se ao longo das geraes transmitindo a vida; e, estabelecer a articulao entre o indivduo e a sociedade, conseguindo com equilbrio o estar bem consigo prprio e o estar bem com os outros, ou seja adequar a individuao (nas dimenses afectiva, cognitiva e comportamental) e socializao.

2.2.2. A Famlia em MudanaPara (Flix, 1994), a Famlia , como j referimos anteriormente, o primeiro e o mais marcante espao de realizao, desenvolvimento e consolidao da personalidade humana, onde o indivduo se afirma como pessoa, o habitat natural de convivncia solidria e desinteressada entre diferentes geraes, o veculo mais estvel de transmisso e aprofundamento de princpios ticos, sociais, espirituais, cvicos e educacionais, o elo de ligao entre a consistncia da tradio e as exigncias da modernidade. No entanto, no est isolada ou imune s transformaes que se vo verificando necessitando de ajustamentos e adaptaes na sua estrutura. O fim da Famlia como unidade de produo econmica, a baixa da taxa de natalidade, o divrcio, a unio livre, a mulher que trabalha fora de casa, os filhos entregues no aos cuidados maternos, mas a Jardins de Infncia e Escola, so alguns dos aspectos reveladores das mudanas ocorridas na Famlia. Flix (1994) aponta alguns factores que actualmente atingem e condicionam a estrutura familiar: A horizontalizao da comunicao entre as pessoas, que hoje caracteriza as sociedades modernas favorecendo a relao entre membros da mesma gerao e desfavorecendo a produzida verticalmente de uma gerao para a seguinte; A administrao do tempo que jamais se far do mesmo modo das geraes que nos antecederam, pois o tempo familiar alternado no s com o tempo de trabalho como tambm com os tempos de lazer e formao; O trabalho e a consagrao de igualdade entre o homem e a mulher que origina grandes transformaes na existncia, formao, vivncia e at dissoluo familiares passando a 45

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existir uma maior partilha das responsabilidades familiares, designadamente no que se refere educao dos filhos e orientao e desempenho das actividades domsticas; Os factores demogrficos como a queda da nupcialidade, fecundidade e crescimento natural, o aumento dos nascimentos fora do casamento, o retardamento do nascimento do primeiro filho e diminuio da dimenso mdia das famlias, o aumento da esperana de vida e da taxa de dependncia dos idosos, tm vindo a provocar adaptaes importantes no desenvolvimento da instituio familiar.

Todas estas situaes acarretam consequncias para o bem-estar material e psicolgico das crianas. Em todas as pocas, pais e filhos sempre aprenderam uns com os outros mas, hoje em dia, os campos experincias de interaco e de aprendizagem recproca tm progressivamente diminudo (Diogo, 1998). Por exemplo, o vnculo que o beb estabelece com a me ou substituta nos primeiros tempos de vida vai determinar todos os outros que se estabelecem entre a criana e o meio. Se for um vnculo frgil e superficial os outros tambm sero (Caracis, 2001). Assim, o pouco tempo que a me actualmente dedica ao seu filho devido sua carga horria no campo profissional no permite criar, por vezes, uma ligao profunda e harmoniosa podendo ento concluir que esta dificuldade poder originar uma inadaptao e incapacidade de estabelecer relaes afectivas com os outros por parte da criana. A m vinculao leva a crianas inadaptadas, ansiosas e inseguras. Segundo Bronfenbrenner (1998) uma criana para se desenvolver necessita de um envolvimento estvel de um ou mais adultos, implicando ateno e actividades conjuntas care and joint activity - com a criana. Neste sentido, as crianas precisam de ter actividades conjuntas que lhes proporcionem um desenvolvimento equilibrado atravs do estabelecimento de uma forte relao afectiva. Para a realizao destas actividades necessrio que as actuais famlias as promovam e tenham tempo para as concretizar, o que nem sempre fcil. Desta forma, a Famlia que precariamente exerce as suas funes, passa a concorrer com outros meios institucionais ou informais de educao e formao. Segundo Flix (1994), a Famlia perdeu o monoplio da informao e formao dos seus membros. A funo de transmisso de informao, valores e comportamentos passa a ser repartida com a Escola. E comea a enfrentar uma outra forma de interesses, ideias e valores no necessariamente familiares. 46

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A Escola surge ento como o segundo grupo onde a criana se v forada a inserir. No incio a Famlia esperava apenas que a Escola lhes ensinasse a ser algum, servia apenas para ministrar os conhecimentos necessrios transformao da criana num ser til sociedade. A escolaridade obrigatria concede escola uma importncia que a Famlia tende a considerar como substituio das suas funes, levando-a a no saber como agir e a sentirse de certa forma invadida, o que leva a uma maior ausncia. Segundo Lousada (1998, citado por Caracis, 2001) as duas instituies preocupam-se com a formao integral dos alunos e torna-se necessrio conjugar esforos e desenvolver as interaces professor/pais para poder facilitar a tarefa que ambos tm - a da formao dos alunos/filhos mas na realidade o que acontece uma ambivalncia de atitudes e comportamentos dos dois grupos perante a criana. O mesmo autor, afirma que os professores desejam que as suas orientaes tenham continuidade em casa, mas por vezes no gostam nem permitem que os pais interfiram nas suas salas de aula. Por outro lado, os pais nem sempre apoiam os professores, pois raramente esto presentes aquando das solicitaes da Escola. Na verdade, vemos muitas vezes os pais a livrarem-se da sua responsabilidade, a coberto de mtodos educativos utilizados pelos professores e, por outro, lado os professores oferecem aos pais receitas educativas que criam uma certa ansiedade no acto educativo tornando toda esta relao pouco natural. Existe uma sentimentalizao do instrumental e uma instrumentalizao da afectividade, que Montandon (1987, citado por Diogo, 1998) descreve do modo seguinte: Nas famlias actuais os pais so, por um lado, impelidos a considerar as relaes afectivas com as crianas numa ptica quase profissionalizada, seguindo letra os conselhos dos pediatras e de outros especialistas da infncia e, por outro, so impelidos a encarar tudo o que instrumental, por exemplo, a escolarizao, a integrao profissional ou o futuro, com a ansiedade tpica de um investimento afectivoas relaes entre pais e filhos tm sido psicologizadas mais do que sentimentalizadas (p.47). Entende-se que o desenvolvimento da criana fortemente condicionado pelos dois principais contextos em que esta cresce e se desenvolve - a Famlia e a Escola. Desta forma importante que os dois grupos se consciencializem de que o trabalho em comum, desenvolvido adequadamente, pode conduzir a resultados positivos para a Famlia, para os professores e principalmente para os alunos.

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Segundo Caracis (2001) a Escola poder ser um meio de comunicao e intercmbio de conhecimentos e experincias. No mesmo sentido Flix (1994) afirma que a disponibilidade e entrega da Famlia no devero ser apenas de carcter fsico e temporal, mas afectivo e intelectual. O acompanhamento da vida escolar, pode, em muitos casos, fazer-se a um nvel no necessariamente tcnico. O interesse pelo quotidiano dos filhos, a compreenso dos seus anseios, aspiraes, dificuldades e angstias constituem poderosos estmulos para os motivar no desenvolvimento dos estudos.

2.2.3. Tipos de Famlias

Quando se utiliza o termo famlia, todos ns temos uma ideia ou definio na cabea mais ou menos comum, que a seguinte: famlia o conjunto de pessoas com quem vivemos o marido, a mulher e os filhos - e que tm o mesmo tipo de sangue. Esta ser, por ventura, uma definio rudimentar no deixando, no entanto, de ter um fundo cientfico. Em educao, o conceito de famlia diverge de autor para autor e todos tentam definilo sob determinado ponto de vista, e, de acordo com o trabalho que esto a realizar. Nas ltimas dcadas a famlia sofreu transformaes que tm implicaes para a sua definio. Segundo Canavarro et.al. (2001) no ltimo sculo, as formas de co-habitao e a estrutura familiar tm vindo a mudar, consequncia da industrializao e da urbanizao da sociedade e de alteraes culturais, econmicas, tecnolgicas; profissionais, urbansticas e sociais. Entre estas mudanas, os autores referem que podemos encontrar: a) Maior urbanizao e isolamento da famlia nuclear; b) Emancipao da mulher e o seu acesso ao mundo do trabalho, que veio provocar mudanas nos papis tradicionais e no funcionamento da famlia; c) Adiamento do casamento e do primeiro filho; d) Maior esperana de vida e maior nmero de idosos; e) Maior nmero de divrcios; Possibilidade de escolha com quem casar, onde viver, quantas crianas ter, etc. Para alguns autores, e destacamos Marujo (1997), a famlia perdeu as suas funes tradicionais reproduo, socializao/educao, atribuio de papis sociais, apoio econmico e apoio emocional. Outros defendem que estas funes no desapareceram, mas esto alteradas. Assim, e numa perspectiva actual, a funo reprodutiva da famlia no central. H famlias que optam por no ter filhos. A famlia continua a ter um importante

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papel na socializao e educao dos seus filhos. No entanto, a educao formal, cada vez mais, assume maior importncia e os pais vem reduzido o tempo que passam com eles. A famlia continua a ser uma importante fonte de identidade para os seus membros e a funo econmica permanece no pela capacidade produtiva do ncleo, mas pelas funes de consumo. Por ltimo, a funo afectiva considerada um vector fundamental. Face diversidade e permanente mutao das formas familiares, torna-se difcil chegar a uma definio consensual de famlia. Parece oportuno apresentar alguns dos conceitos encontrados ao longo das diferentes leituras, por parecerem pertinentes. Assim, e para Davies e Johnson (1996b), o que caracteriza a famlia so os pais biolgicos, e todos os outros familiares, os avs, irmos mais velhos, tios, primos, padrastos e madrastas. Uma outra definio de famlia, referida no The New Consensus on Family and Welfare, citada por Espada et.al. (2004), diz-nos que A famlia a matriz dentro da qual o cidado bem ou mal formado. Nenhuma instituio to importante e no entanto to facilmente negligenciada. No entender de Fernandez (2001), famlia um termo que no possvel definir, sendo apenas possvel a sua descriopara esta autora, famlia um conjunto de pessoas que gostam umas das outras, o que vem reforar a importncia das relaes afectivas que se estabelecem entre as pessoas que acompanham o dia a dia da criana contribuindo de forma decisiva para o seu desenvolvimento. Numa Exortao Apostlica de Joo Paulo II, sobre o tema famlia retirou-se a seguinte frase, que mostra uma outra perspectiva: A famlia possui vnculos vitais e orgnicos com a sociedade porque constitui o seu fundamento e alimento contnuo mediante o dever de servir a vida: de facto, da famlia que saem os cidados e na famlia que encontram a primeira escola daquelas virtudes sociais que so a alma da vida e desenvolvimento da mesma sociedade. Um outro autor, psiclogo estrangeiro, cujo nome no recordamos, mas sim a sua definio pela sua peculiaridade, diz -nos que chamamos famlia, a um homem, uma mulher e um co. Esta definio demonstra bem o quanto difcil chegar a um entendimento sobre este conceito, e o quo importante clarific-lo, ou pelo menos, apetrech-lo de uma forma mais enriquecedora, e por conseguinte, mais criativa e dinmica. Exemplo disso o que nos diz Gervilla (2001), quando apresenta a metfora do comboio ferrovirio para explicar o que entende por famlia. Segundo esta metfora, a

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nossa famlia forma-se ao longo da vida, assemelhando-se a uma viagem num comboio, onde se partilha o espao com diversas pessoas nas diferentes carruagens. Nos primeiros anos viajamos ao lado dos nossos pais e mais frente juntam-se os nossos amigos e familiares prximos. medida que o comboio alcana outras estaes (fim da escola, fim do liceu, primeiro emprego, casamento, etc.) as pessoas que nos acompanham vo mudando. Umas saem e outras entram, e como consequncia disso mudam as pessoas que nos proporcionam apoio; nem todas as pessoas que nos acompanham nessa viagem tm igual importncia para a nossa vida, ou seja, o tipo de pessoas que esto na carruagem e a sua proximidade connosco nem sempre igual. Especificando, no comboio existe um grupo de pessoas a quem estamos ligados, e pelo facto, de termos a capacidade de podermos estabelecer uma srie de relaes baseadas nos afectos, na nossa valorizao pessoal e na expresso livre dos nossos sentimentos, que vamos sendo influenciados e construindo a nossa personalidade, e a nossa maneira de ser. A ideia que se pretende defender que a rede familiar de parentescos que desenvolvemos ao longo da vida, e principalmente, nos tempos que correm, a que dar o suporte afectivo que se necessita para encontrar o bem-estar presente e futuro. A Famlia , sem dvida, considerada como o espao educativo por excelncia e que Diogo (1998) descreve da seguinte forma: Ela vulgarmente considerada o ncleo central do desenvolvimento moral, cognitivo e afectivo, no qual se criam e educam as crianas ao proporcionar os contextos indispensveis para cimentar a tarefa de construo de uma existncia prpria. Lugar onde as pessoas se encontram e convivem, a famlia tambm um espao histrico e simblico no qual e a partir do qual se desenvolve a diviso de trabalho, dos espaos das competncias, dos valores, dos destinos pessoais de homens e mulheres. A famlia revela-se, portanto um espao privilegiado de construo social da realidade em que, atravs das relaes entre os seus membros, os factos do quotidiano individual recebem o seu significado. (p.37). O mesmo autor afirma que, a Famlia surge como o primeiro e o principal habitat socializante transmitindo e emprestando criana toda a grande variedade de contedos, hbitos, normas e estruturas racionais. A viso de famlia remetida para um sistema complexo de mltiplos processos interactivos entre os elementos que a compem e o supra sistema (famlia alargada e comunidade) que a engloba sofrendo diferentes metamorfoses ao longo da vida, no entender 50

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de Canavarro et al. (2001), ela, composta por diferentes sub-sistemas (conjugal, parental, fraternal e filial) que devem estar diferenciados e delimitados de forma clara, nem demasiado rgida, nem demasiado flexvel, para que possam cumprir as suas funes. Tambm a definio apresentada por Relvas e Alarco (1989) abrangente e ao mesmo tempo delimitadora, para estas autoras, a famlia um sistema social natural e, por isso, aberto e auto-regulado; por outras palavras um conjunto de pessoas, unidas por laos sanguneos e/ou afectivos, em interaco contnua, e, lembram que a teoria sistmica da famlia se baseia na teoria geral dos sistemas que foi criada por um bilogo, Ludvig von Bertalanffy, para responder necessidade de compreender a complexidade dos organismos vivos, e defender de uma forma global a organizao complexa dos seres vivos. O conceito central desta teoria o de sistema: O sistema a unidade global organizada por inter-relaes entre elementos, processos ou indivduos que est, ela tambm, em constante interaco com aquilo que a rodeia (Chambel e Curral, 1995, pp.126). Seja qual for o motivo que est na base da constituio da famlia, na maior parte das vezes so os laos de consanguinidade que esto na sua origem mas seja qual for essa origem, o que realmente interessa que existam afectos, interesses, valores comuns a todos os elementos que a compem e que as relaes que estabelecem entre si sejam fortes e verdadeiras, permitindo um bom ambiente familiar. Diferentes formas de famlia que podem ser adaptativas sendo os processos mais importantes do que as formas. Neste contexto o conceito de famlia normal substitudo pelo de famlia s, uma vez que se assume no existir uma nica forma de sade. Segundo Canavarro et al (2001), um modelo integrador que se enquadra nesta perspectiva o Modelo de Ciclo de Vida Familiar de Carter e McGoldrick (1989), tambm citado por (Relvas, 1996, pp. 16): O Ciclo Vital da Famlia pode ser definido como uma sequncia previsvel de transformaes na organizao familiar, em funo do cumprimento de tarefas bem definidas. A famlia progride ao longo de diferentes estdios do desenvolvimento caracterizados por acontecimentos familiares importantes e por diferentes tarefas desenvolvimentais. Para um desenvolvimento bem sucedido necessrio realizar as tarefas de desenvolvimento das fases precedentes. Normalmente, as transies de ciclo de vida criam perturbao e disfuno, principalmente quando ocorre mais do que uma transio em simultneo. Este modelo de Ciclo de Vida de Carter e McGoldrick (1989) procura descrever a forma como a famlia vai sofrendo transformaes, fornecendo, simultaneamente, uma perspectiva intergeracional da

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