Relacoes Civis-Militares

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    RELAES CIVIS-MILITARES UMA REFLEXO

    Samuel Huntington afirma que as relaes civis-militares envolvem uma

    multiplicidade de relaes entre a fora de trabalho, instituies e interessesmilitares, por um lado, e as diversas e muitas vezes conflitantes pessoas,

    instituies e interesses no militares, por outro lado.

    Inicialmente, cabe ressaltar que as relaes civis-militares se enquadram no

    contexto dos princpios da democracia. Ou seja, essas relaes so objeto de

    ateno especial para a democracia, pois as questes de paz e de guerra ou outras

    ameaas segurana nacional so as mais importantes que a sociedade enfrenta e

    assim tm de ser decididas pelo povo, agindo atravs dos seus representantes

    eleitos.1

    Como parte do ambiente democrtico, conforme Huntington, "as relaes

    civis-militares em qualquer sociedade refletem a natureza geral e o nvel de

    desenvolvimento da sociedade e do seu sistema poltico. Portanto, a democracia e

    as relaes civis-militares esto intimamente ligadas e indicam o nvel dessa

    relao, cuja melhoria aprimora a democracia em um pas. Assim, fundamental o

    melhoramento dessas relaes para o aperfeioamento da democracia e vice-versa.

    Nesse contexto, a ideia de controle civil e de autoridade sobre os militares

    fundamental para a democracia.2 E, como os militares existem para proteger a

    nao, a sua lealdade manifesta-se em relao aos maiores ideais do pas, ao

    Estado de Direito e ao princpio da prpria democracia.3 Portanto, a exata

    compreenso do papel das foras armadas4 uma noo essencial para a definio

    do que representam.

    Assim, as relaes civis-militares, em um ambiente democrtico, passam

    pela definio dos papis que cada um representa, tanto civis, como militares. Esse

    entendimento do que so para o seu pas ajuda a compreenso mtua desses

    atores, melhorando suas mltiplas relaes.

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    Por sua vez, ressaltar os valores democrticos um ingrediente importante,

    particularmente nos pases que esto, ainda, consolidando a democracia.5Ento, a

    busca por melhores relaes civis-militares envolvem atitudes de mtua confiana

    em um sentido mais amplo. Por exemplo, a Estratgia Nacional de Defesa do Brasil

    estabelece que a subordinao das Foras Armadas ao poder poltico

    constitucional pressuposto do regime republicano e garantia da integridade da

    Nao.

    Fortalecer as relaes civis-militares implica em realizar aperfeioamentos

    nas atividades conjuntas das foras armadas, ou seja, fazer com que as diferentes

    foras singulares trabalhem juntas. O adestramento, a interoperabilidade, os

    procedimentos padronizados e uma mentalidade de emprego conjunto

    proporcionam a necessria eficcia das foras militares, respaldando o emprego

    judicioso dos meios e aprimorando as relaes civis-militares.

    Os cursos ministrados nas foras armadas so um poderoso vetor de

    integrao entre as instituies militares e a sociedade civil. Tomemos o caso do

    Brasil onde alguns estabelecimentos de ensino militares so excelentes exemplos

    de fortalecimento das relaes civis-militares, como: a Escola Superior de Guerra;

    os Colgios Militares; as Escolas Preparatrias de Cadetes; os Institutos de

    Engenharia; e, os Centros de Preparao de Oficiais da Reserva. Portanto, a efetiva

    participao das escolas militares pode melhorar cada vez mais os vnculos dessa

    relao.

    Outra atividade que amplia e fortalece a confiana mtua entre segmentos

    importantes da sociedade a participao eficiente e eficaz dos meios militares e osrgos encarregados da segurana pblica, sendo fundamental a conjugao de

    esforos desse binmio foras militares e policiais. Para a melhoria das relaes

    civis-militares primordial criar vnculos de confiana entre as foras policiais e as

    foras armadas.

    Um aspecto de crescente importncia a cooperao entre as agncias

    governamentais e no governamentais, em razo da necessidades de respostaseficazes, como, por exemplo, em desastres naturais. Para evitar o conflito entre

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    esses atores importante aumentar a participao integrada entre estas agncias,

    as foras armadas e as foras policiais. Os procedimentos decorrentes dessas

    atividades interagncias contribuem para a melhoria das relaes entre os atores

    civis e militares envolvidos.

    O relacionamento com a mdia outra faceta importante das relaes civis-

    militares. Algumas providncias podem ser implementadas para aumentar essa

    relao como ampliar as oportunidades de contato social com a mdia, programar

    cursos de relaes entre a mdia e as foras armadas e, ainda, divulgar as variadas

    funes exercidas pelos militares. Em suma, diversas possibilidades que visem

    estreitar os laos entre foras armadas e a mdia, com o intuito de aperfeioar essas

    relaes e aumentar o mtuo conhecimento.

    Por sua vez, crucial a implantao de um marco legal que possibilite uma

    associao eficaz entre a administrao civil e militar. Sobre isso, Thomas Bruneau

    comenta que a chave formar uma associao efetiva entre as autoridades civis e

    militares dentro do marco democrtico institucional. E, acrescenta que essas

    relaes institucionais incluem o controle e a poltica oramentria das foras

    armadas, as atribuies dos civis e militares na formulao da estratgia da defesa,

    o controle dos instrumentos de inteligncia e os mecanismos por meio do qual as

    foras armadas so relacionadas economia e sociedade civil. Assim, todas

    essas aes contribuem com o aperfeioamento das relaes civis-militares sob o

    enfoque institucional.

    Nesse contexto, a implementao de uma equipe mista que integra pessoal

    civil e militar no Ministrio da Defesa amplia a confiana mtua e aprimora asrelaes civis-militares nos sistemas democrticos. Tomemos, novamente, o caso

    do Brasil em que a Estratgia Nacional de Defesa assinala as iniciativas destinadas

    a formar quadros de especialistas civis em defesa permitiro, no futuro, aumentar a

    presena de civis em postos dirigentes no Ministrio da Defesa.

    Por fim, as relaes entre as instituies militares e as demais instituies da

    sociedade so passveis de constante melhoria. As diversas maneiras que

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    viabilizam a assertiva asseguram que o aperfeioamento das relaes entre civis e

    militares contribuir efetivamente para a consolidao da democracia.

    Renan Bolfonida Cunha Cel

    Notas de Fim de Texto

    1 Princpios da Democracia: publicaes dos Programas Internacionais de Informao do

    Departamento de Estado dos Estados Unidos da Amrica. Disponvel em http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/civil.htm.2Ibid.3Ibid.4 O propsito das foras armadas defender a sociedade e no defini-la. Disponvel emhttp://www.embaixada-americana.org.br/democracia/civil.htm.5Caso de muitos pases latino-americanos que estavam sob uma ditadura militar e encontraram ocaminho da redemocratizao. Vale destacar a assertiva de Samuel Huntington: o controle civildiminui medida que as foras armadas tornam-se gradualmente envolvidas na poltica institucional,de classe e constitucional.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Bruneau, Thomas e Tollefson, Scott. Who Guards the Guardians and How:democratic civil-military relations (Quem guarda os guardies e como: relaescivis-militares democrticas). http://books.google.com/books.

    Departamento de Estado dos Estados Unidos da Amrica. Relaes Civis-Militares. http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/civil.htm.

    Hctor Luis Saint-Pierre. As relaes civis-militares no Brasil depois do atentado de11 de setembro.http://www.resdal.org/Archivo/d000019b.htm.

    Huntington, P. Samuel The soldier and the state: the theory and politics of civil-military relations (O Soldado e o Estado: teoria e poltica das relaes civis-militares). http://books.google.com/books.

    Ministrio da Defesa do Brasil. Estratgia Nacional de Defesa. 2008.https://www.defesa.gov.br.

    Pion-Berlin, David. "Administrao Poltica das Foras Armadas na Amrica Latina."Military Review, maro-abril, 2005, 25-39.