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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir das contribuições de Paulo Freire Renata Paschoalino RA: 272078 São Carlos 2009

Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Page 1: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO

Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir das contribuições de Paulo Freire

Renata Paschoalino RA: 272078

São Carlos

2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO

Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula

a partir das contribuições de Paulo Freire

Renata Paschoalino RA: 272078

São Carlos

2009

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Licenciatura Plena em Pedagogia

pela Universidade Federal de São Carlos,

orientado pela Professora Dra. Maria Waldenez

de Oliveira.

Page 3: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Agradecimentos

Ao Daniel e ao Heitor, pelo carinho, apóio e incentivo.

À minha mãe Maria José, com carinho.

À minha professora orientadora Maria Waldenez de Oliveira, por ter

representado uma referência importante durante minha formação universitária.

Agradeço gentilmente a Fabiana e a Raquel, que muito contribuíram para a

realização deste trabalho.

Agradeço à Rosa e a Elenice, pela participação na banca.

Page 4: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

4

Resumo

Este trabalho teve como objetivo compreender a construção de relações

dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir da teoria da ação dialógica de

Paulo Freire.

Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos que tratam sobre o

tema e também entrevistas com duas professoras que tiveram formação e atuam na

perspectiva do referencial teórico da dialogicidade de Paulo Freire. Os resultados

mostram a dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferece

propostas para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a

transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo,

solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida.

Palavras chaves: relação professor-aluno, sala de aula, diálogo.

Page 5: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

5

Sumário

Apresentação.....................................................................................................

Trajetória da estudante..................................................................................

Quem foi Paulo Freire....................................................................................

Revisão bibliográfica (2007-2008/09)............................................................

Questão da pesquisa e objetivos.................................................................

6

6

7

8

13

Referencial teórico..................................................................................................

Ação dialógica.........................................................................................................

Ação anti-dialógica.................................................................................................

Relação professor aluno na sala de aula.................................................................

14 15 18 20

Metodologia......................................................................................................

24

Análise dos dados...............................................................................................

26

Considerações finais.......................................................................................................

36

Referências bibliográficas..............................................................................................

38

Anexos................................................................................................................

Resultados da revisão bibliográfica. ..............................................................

Modelo de Termo de consentimento das professoras..................................

Roteiro de Entrevista......................................................................................

40 41 44 45

Page 6: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

6

Apresentação

Este tema de pesquisa originou-se em experiências que vivenciei durante

estágios no curso de Pedagogia em escolas da rede municipal junto às crianças de

diferentes faixas etárias, podendo perceber a dificuldade de entendimento, de diálogo e

respeito que havia entre elas e seus professores.

Essas relações entre professores e alunos se mostravam conflituosas, nas quais

ambos eram desrespeitados enquanto seres humanos. Alguns professores verbalizavam

que para educar era necessário estabelecer uma prática autoritária, traduzido como falar

com as crianças em voz alta, brava, estabelecer uma hierarquia entre eles e os alunos.

Alguns profissionais lidavam com os alunos a partir de uma categorização das

crianças entre aquelas que já sabiam e eram consideradas capazes de aprender e aquelas

que eram excluídas. Ao comentarem sobre estas situações, os professores com os quais

pude conversar diziam que muitas crianças tinham “famílias desestruturadas”. Durante

uma conversa informal houve o seguinte relato: “fulano é repetente, já foi para o NAI

(Núcleo de Atendimento Integrado), a professora do ano passado não alfabetizou, agora

não dá mais tempo; tenho que ensinar as outras crianças e ele não vai conseguir

aprender mesmo”.

Esse quadro me inquietava por se tratar de relações conflituosas e me trazia a

questão sobre porque as crianças eram tratadas dessa forma? Seria por serem menos

favorecidas economicamente? Buscava interagir considerando o que já havia estudado

sobre a dialogicidade de Paulo Freire que traz considerações sobre relações mais

humanas, democráticas e dialógicas, podendo perceber a dificuldade de entendimento e

compreensão que estava sendo estabelecida na sala de aula. Qual o impacto de uma

prática pedagógica que corrobora com a negação do respeito, do diálogo? Quais as

conseqüências de uma relação professor-aluno em que há desqualificação, como se

algumas, crianças significassem menos que outras.

A partir dessas experiências o presente Trabalho de Conclusão de Curso tornou-

se uma oportunidade para estudar a dialogicidade baseada em Paulo Freire a fim de

aprofundar meus estudos acerca da construção de outros tipos de relações que valorizem

a humanização das pessoas. A escolha do referencial teórico de Paulo Freire está

atrelada às considerações que este autor oferece sobre a ação dialógica durante sua

carreira como educador, tornando-se uma referência muito importante, nacional e

internacionalmente, pelas suas grandes contribuições à educação em geral.

Page 7: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

7

A partir das informações obtidas no site1 do Instituto Paulo Freire torna-se

possível expor uma breve apresentação acerca do autor. Paulo Freire nasceu em Recife

no dia 19 de setembro de 1921. Destacou-se por seu trabalho na área da educação

popular, voltado tanto para a escolarização como para a tomada de consciência crítica

da realidade. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários

países.

Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em

Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores que se alfabetizaram em 45

dias. Suas atividades foram interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou

sua prisão. Exilou-se por 14 anos no Chile. Com sua participação, o Chile recebeu uma

distinção da UNESCO, por ser um dos países que mais contribuíu para a superação do

analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, cria o

IDAC (Instituto de Ação Cultural), que assessora diversos movimentos populares, em

vários locais do mundo.

Retornando do exílio, Paulo Freire continuou com suas atividades de escritor e

debatedor, assumiu cargos em universidades, como também ocupou o cargo de

secretário Municipal de Educação da prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza

Erundina, do Partido dos Trabalhadores (PT). Faleceu em 1997 deixando grandes

contribuições para a educação nacional e internacional.

1 Centro de referência Paulo Freire: http://www.paulofreire.org/Crpf/WebHome.

Page 8: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Revisão bibliográfica

Para buscar informações sobre outros trabalhos científicos que tratam sobre a

temática desta pesquisa, foi realizado um breve levantamento acerca da produção

científica sobre o tema: “A construção de relações dialógicas na relação professor-aluno

na sala de aula”, sobretudo na área da educação.

Este estudo recorreu às publicações de 2007 a 2008 disponíveis nas seguintes

fontes: RBE - Revista Brasileira de Educação, na ANPED - Associação Nacional de

Pesquisa em Educação a partir do Grupo de Trabalho GT/06 de Educação Popular e no

Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores e no banco de teses e

dissertações vinculado ao IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

Tecnologia.

A busca se orientou pelas seguintes palavras chaves: relação professor-aluno em

sala de aula, diálogo/dialogicidade e Paulo Freire, considerando o ensino infantil e as

séries iniciais do ensino fundamental na RBE, ANPED e IBICT.

Os artigos oferecem elementos para compreender o cotidiano escolar e a partir

deles refletir acerca da construção de relações dialógicas na sala de aula.

Na Revista Brasileira de Educação, considerando o ano de 2007, encontra-se um

total de 39 artigos publicados. Em dois destes, encontra-se o tema relação professor-

aluno em sala de aula. O primeiro artigo, de Sommer (2007) trata da relação professor

aluno visando problematizar conceitos que circulam na escola de ensino fundamental

nos últimos anos, a fim de identificar as implicações no ordenamento das salas e na

regulação das práticas docentes sendo fundamentado pelo discurso foucaultiano. Fischer

(2007) expõe a relação professor-aluno atrelada à mídia, às máquinas de imagens e

práticas pedagógicas na prática escolar, visando criar um saber fazer como ferramenta

diferenciadora para pensar de outro modo a realidade que vivemos. Um dos artigos

analisados refere-se ao diálogo, no qual Souza e Motta (2007) tratam sobre o espaço

destinado à oralidade na pedagogia da EJA - Educação de Jovens e Adultos; estudam

até que ponto o discurso pedagógico promove ou reprime o diálogo – interação.

Nas referências bibliográficas, Paulo Freire aparece em 4 dos 39 artigos

analisados e estão em anexo na página 42, que não tratam do tema desta pesquisa.

Considerando a RBE referente ao ano de 2008, há 34 artigos disponíveis. Entre

os 34 artigos pesquisados, há quatro que tratam sobre relação professor aluno em sala de

aula. O primeiro trabalho de Pais (2008) lança a hipótese sobre a violência

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protagonizada por alguns alunos nas escolas como sendo máscara, dado a ocultar

formas de violência a que esses jovens se encontram sujeitos cotidianamente,

oferecendo elementos para a reflexão da relação professor-aluno na sala de aula. O

artigo de Albuquerque, Morais e Ferreira (2008) trazem contribuições para reflexões

acerca da relação professor-aluno por analisar como as práticas de leitura e escrita se

concretizam atualmente na sala de aula, tendo como eixo a investigação da fabricação

do cotidiano escolar por professoras alfabetizadoras. Silva (2008) investiga a questão da

relação do professor-aluno acerca do saber matemático atrelado às práticas educativas e

da importância da didática na formação de professores do ensino fundamental de 1º a 4º

série.

Entre os 34 artigos, dois tratam sobre o diálogo: Fleuri (2008) ressalta o diálogo

de Freire. O autor retoma conceitos de Michel Foucault para indicar como os processos

de resistência podem se configurar como formas de rebeldia ou delinqüências. Trata da

construção da democracia na escola e indica, por fim, as propostas pedagógicas de

Freire e Freinet para a superação dos dispositivos disciplinares. Junior (2008) traz o

estudo acerca do cinema na conquista da América sobre um filme e seus diálogos com a

história, referindo ao diálogo, mas não baseado em Freire.

Paulo Freire aparece em 5 dos 34 trabalhos considerando as referências

bibliográficas que estão anexadas na página 42, já que não tratam sobre o tema desta

pesquisa.

Pode-se concluir através da pesquisa realizada na Revista Brasileira de Educação

durante o ano de 2007 e 2008, que dos 73 artigos analisados, seis tratam da relação

professor-aluno na sala de aula e três tratam sobre diálogo. Destes 73 artigos

analisados, nove utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas.

Na ANPED, a busca se orientou a partir da reunião anual do Grupo de Trabalho

GT/06 de Educação Popular e no Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de

Professores. No GT/06 de Educação Popular, na 30º reunião anual de 2007, de 19

artigos analisados, quatro tratam sobre o tema diálogo.

Brayner (2007) oferece apresentações de diferentes concepções do diálogo a

partir de diferentes autores, entre eles Paulo Freire. Em seguida faz uma breve avaliação

pedagógica em torno do diálogo. Kavaya (2007) aborda uma discussão mirando a

experiência de Freire com o mundo africano. Refere-se ao ato dialógico na busca de

caminhos que levem a tomada de consciência. Neves (2007) expõe uma experiência em

uma escola pública rural da cidade do Rio de Janeiro avaliada pelo seu bom

Page 10: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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desempenho das notas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Aponta

questionamentos sobre o ofício docente e conduz reflexões sobre a cultura escolar, nas

maneiras de ensinar de seus professores e de aprender de seus alunos visando

compreender o cotidiano escolar. Pinheiro (2007) trata da universidade e das camadas

populares como sendo um diálogo necessário, sem recorrer às contribuições de Freire.

Quatro entre os 19 trabalhos analisados, tratam da relação professor aluno em

sala de aula. Oliveira e Santos (2007), oferecem contribuições acerca da cultura

amazônica em práticas de educação popular. Neves (2007), que faz uma pesquisa

atrelada ao trabalho do professor em um contexto rural. Bedin (2007), que expõe a

escola como magia da criação ressaltando as éticas que sustentam a escola pública.

Menezes (2007), que levanta questionamentos sobre a interdição que fazem com nossas

crianças. Trata sobre o poder sobre as vidas e o discurso que dele nasce.

Entre os 19 trabalhos, dez usam Paulo Freire nas referências bibliográficas que

estão em anexo na página 43 já que não tratam do tema desta pesquisa.

No GT/06 de Educação Popular, na 31º reunião anual de 2008, de 10 artigos

analisados, um trata sobre a relação professor-aluno na sala de aula: Silva (2008) parte

de uma visão de educação numa perspectiva freireana articulando com o conceito de

cidadania. Visa compreender como educadores e educandos se educam para o

reconhecimento e respeito das diferenças e potencialidades.

Entre os 10 artigos, um trata sobre diálogo: Sampaio (2008) analisa as relações

de poder e a possibilidade de diálogo, visando trazer contribuições para a prática

pedagógica.

Seis entre os 10 artigos analisados, utilizam Paulo Freire nas referências

bibliográficas que estão disponíveis em anexo na página 43.

Pode-se concluir através da pesquisa realizada na ANPED durante o ano de 2007

e 2008 no GT-06 de Educação Popular, a qual soma-se um total de 29 artigos

analisados, temos entre eles, cinco que tratam diálogo. Cinco tratam da relação

professor-aluno em sala de aula. Entre os 29 trabalhos, 16 utilizam Paulo Freire nas

referências bibliográficas.

No Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores, a 30º reunião anual

de 2007, encontra-se um total de 24 artigos, sendo que 3 tratam o tema relação

professor-aluno na sala de aula que foram os seguintes: Araújo (2007) expõe discussões

acerca do corpo na condição docente, pelas interações entre docentes e discentes, nos

espaços da escola e da sala de aula. Albuquerque (2007) apresenta razões da

Page 11: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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(im)possibilidade de inovações na prática pedagógica de alfabetização em decorrência

da participação dos docentes em formação continuada. Araújo (2007) aponta para uma

investigação a fim de tornar evidente o processo do pensamento do professor atrelado a

ação pedagógica em sua atuação na sala de aula.

Entre os 24 artigos, um trata do diálogo, no qual Miranda (2007) investiga o mal

estar do professor frente à criança tida como problema. Ressalta que existe na realidade

escolar um conflito produtor do mal estar, o que induz as professoras a aprisionar alguns

alunos no estatuto das impossibilidades escolares nomeados pelos professores como os

desinteressados, indisciplinados, agressivos e sem limites. A autora indaga sobre as

competências destes mestres.

Entre os 24 artigos analisados, Paulo Freire aparece em quatro referências

bibliográficas que estão em anexo na página 43, porém, não tratam do tema desta

pesquisa.

No Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores, a 31º reunião anual

de 2008, encontra-se um total de 18 artigos, sendo que 2 tratam da relação professor-

aluno na sala de aula, no qual um entre esses dois também se refere ao diálogo: Chaluh

(2008) trata do processo de formação na escola de ensino fundamental, colaborando

com o trabalho pedagógico de duas professoras em sala de aula. Discute a complexidade

do cotidiano escolar. Pensa na formação do outro como desencadeador do processo

formativo pautado na importância do diálogo e da alteridade baseada em Bakhtin

(1992). Monteiro e Nunes (2008), analisam o trabalho docente em escola do campo em

classes multisseriadas.

Entre os 18 artigos analisados, dois utilizam Paulo Freire nas referências

bibliográficas que estão anexados na página 43 e não tratam do tema desta pesquisa.

Vale ressaltar através da pesquisa realizada no GT-08 de Formação de

Professores referentes ao ano de 2007 e 2008 as seguintes conclusões: soma-se um total

de 42 artigos analisados, quatro tratam da relação professor-aluno na sala de aula. Dois

tratam sobre o diálogo. Seis utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas.

Pode-se concluir que o índice de trabalhos que utilizam Paulo Freire nas

referências bibliográficas entre os anos de 2007 e 2008 no GT de educação popular é

maior que no GT de formação de professores, pois entre os 29 artigos analisado no GT

06, 16 usam Freire nas referências bibliográficas, enquanto no GT de formação de

professores Freire aparece em seis trabalhos entre os 42 trabalhos analisados.

Page 12: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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A pesquisa realizada no banco de teses e dissertações vinculado ao IBICT -

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia durante os anos de 2007 a

2009 oferece contribuições para o tema desta pesquisa. Sua realização guiou-se por

grupos temáticos contendo três palavras chaves em nível de pesquisa avançada que

foram as seguintes: Sala de aula (resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino

fundamental (resumo). Encontram-se 23 trabalhos disponíveis.

Entre eles, quatro tratam sobre sala de aula. Poffo (2007) refere-se à construção

de autorias acerca de olhares para os movimentos de produção textual em sala de aula.

Wilerich (2007) traz reflexões acerca da autoridade na sala de aula no ensino superior.

Machado (2007) oferece contribuições sobre a produção escrita na sala de aula. Pereira

(2007) trata sobre a interação na sala de aula a partir de conceitos baseados no

letramento e na alfabetização no primeiro ciclo do ensino fundamental.

Dois trabalhos tratam sobre a relação professor-aluno: Pacheco (2008) expõe o

processo de ensino-aprendizagem de matemática e a relação entre professores e alunos

no ensino fundamental. Medeiros (2008) trata sobre a afetividade na prática educativa

entre professores e alunos.

Entre os 23 trabalhos, 11 artigos utilizam Freire nas referências bibliográficas

que estão anexados na página 43 por que não trazem relações com o tema desta

pesquisa.

Outra pesquisa realizou-se pelas seguintes palavras chaves: Sala de aula

(resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino infantil (resumo).

Encontram-se dois trabalhos disponíveis sobre a busca e ambos tratam da sala de

aula. O primeiro refere-se a uma dissertação de mestrado de Luz (2008). Tal pesquisa

versa sobre a relação professor aluno em sala de aula e foi realizada em uma escola

particular de Goiás no contexto de duas turmas de jardim de infância. Teve por objetivo

obter indicadores das subjetividades envolvidas na relação professor-aluno vinculado ao

processo de ensino e aprendizagem como um todo. Tassoni (2008) visa identificar a

afetividade na dinâmica interativa da sala de aula, envolvendo alunos em quatro

diferentes momentos do processo de escolarização. A intenção é discutir o papel da

afetividade neste processo, identificando suas diferentes formas de manifestação,

demonstrando o processo de transformação pelo qual ela passa. Fundamenta-se na

abordagem histórico-cultural, discutindo a natureza social dos processos psíquicos, o

entrelaçamento entre processos afetivos e cognitivos, como também a perspectiva de

desenvolvimento que os acompanha.

Page 13: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

13

Entre os dois trabalhos encontrados, nenhum dos trabalhos analisados faz

referências a Paulo Freire.

O próximo grupo temático foi pesquisado a partir das seguintes palavras chaves:

Paulo Freire (Resumo), diálogo (resumo) e sala de aula (resumo).

Encontram-se sete trabalhos disponíveis. Entre eles, quatro tratam sobre o

diálogo: Lomar (2007) em sua dissertação de mestrado estuda o diálogo na prática

docente buscando conhecer como o diálogo situado na prática educativa em sala de aula

é compreendido por professoras de uma escola pública do município de São Paulo, na

qual está sendo implementado um projeto de educação em tempo integral, segundo a

perspectiva dialógica de ensino. Gicoreano (2008) faz um estudo acerca da

caracterização do diálogo significativo na sala de aula. Santos (2008) salienta o

dialogismo e o letramento para perspectivas para a leitura significativa na educação de

jovens e adultos. Batista (2008) ressalta a mediação do diálogo e da reflexão na prática

do supervisor pedagógico no município de São Bernardo do Campo.

Após a revisão bibliográfica, com o estudo na íntegra de artigos, dissertações e

teses selecionados que estavam mais relacionados à pesquisa, foi possível identificar

que há uma carência de estudos que tratam sobre a relação professor aluno em sala de

aula a partir da perspectiva dialógica pautada na perspectiva de Paulo Freire.

Considerando um total de 149 trabalhos analisados na RBE, ANPED e IBICT,

apenas 42 tratam acerca das palavras chaves vinculadas ao tema desta pesquisa.

Um entre os 149 trabalhos analisados refere-se ao tema de construções

dialógicas na sala da aula a partir das contribuições de Paulo Freire. O trabalho é de

Lomar (2007) que estuda o diálogo na sala de aula em uma escola pública.

Frente aos dados encontrados no decorrer da pesquisa, pode-se concluir que

Paulo Freire está citado em 49 referências bibliográficas considerado os 149 trabalhos

estudados.

Cabe ressaltar que os estudos de Paulo Freire oferecem uma aplicabilidade muito

grande acerca de diferentes temas, podendo perceber que o autor é muito citado em

diferentes trabalhos.

Espera-se que este estudo possa contribuir para a reflexão acerca da

dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferecer propostas

para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a

transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo,

solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida.

Page 14: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

14

Referencial teórico:

Este capítulo tem por finalidade oferecer contribuições teóricas para que se

possa compreender a construção do diálogo na relação entre professor e aluno na sala de

aula a partir de uma educação problematizadora, que visa à humanização das pessoas, a

transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo,

solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida.

Compreender como o diálogo pode ser construído na relação professor-aluno na

sala de aula implica ressaltar a concepção de educação para Freire. Para o autor (1987),

a finalidade da educação está atrelada ao desenvolvimento do processo de humanização

das pessoas, que se efetiva através do diálogo, já que este se constitui como elemento

fundamental para a humanização.

Para Freire (1987) o diálogo torna-se a essência de uma educação humanizadora2

e se constitui como um fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por

meio da palavra, a partir de duas dimensões: a ação, para a transformação e não

alienação e a reflexão, atrelada à conscientização crítica e não alienante. Assim, a

palavra não deve ser um privilégio de poucas pessoas, mas direito de todos os homens e

mulheres, já que como diz o autor: “Os homens se fazem pela palavra, no trabalho, na

ação-reflexão” (FREIRE, 1987, p.78).

A seguir, haverá a análise de duas possibilidades de relações: a dialógica e a

anti-dialógica.

2 Freire (1996) expõe duas viabilidades possíveis de estar no mundo: a humanização e a desumanização

como possibilidades do seres humanos, inconclusos e conscientes de sua inconclusão. A Humanização é a

vocação inata das pessoas como ser mais, às vezes negada pela injustiça, exploração, opressão e violência

dos opressores e a desumanização como a distorção da humanização, não como destino dado, mas como

resultado de uma ordem injusta que gera muitas desigualdades.

Page 15: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Ação Dialógica

Freire (1987, p.93) ressalta o diálogo como “o encontro entre os homens,

mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo”, Desenvolve uma pedagogia baseada no

processo de conscientização crítica da realidade.

Para o autor, a essência de uma educação problematizadora, humanista e crítica

pode ser construída pelo compromisso entre as pessoas, que se efetiva pelo amor, pela

humildade, pela fé nos homens, pela esperança, pelo pensar crítico, pela conscientização

crítica da realidade.

Dessa forma, Paulo Freire refere-se ao amor: ao próximo, à vida, ao mundo

como elemento fundamental para que haja o diálogo, essencialmente realizado na tarefa

entre os sujeitos, pautado por uma relação harmoniosa, livre de qualquer tipo de

dominação, opressão, injustiça e de manipulação.

Trata a humildade para aprender com os outros. Assim, valoriza os saberes

escolarizados e não escolarizados de todas as pessoas, já que todas sabem muitas coisas,

sendo necessário para isto, romper com valores estereotipados como de superioridade,

de dono de verdades e de saberes, que por vezes, se relaciona com as pessoas como ser

superior, auto-suficiente, de maneira anti-dialógica, dominadora e opressora.

Propõe uma relação horizontal entre companheiros para a pronúncia e

transformação do mundo. Trata da necessária fé nos homens, em seu poder de fazer e

refazer-se, em sua vocação para ser mais. Por isso salienta o diálogo como uma

ferramenta imprescindível nas relações humanas, que atrelada à esperança se pautam em

uma eterna busca de restaurar a humanidade esmagada pelas injustiças sociais,

econômicas, educativas, entre outras.

Significa participar e fazer a própria história como ser histórico, capaz de

reconhecer os condicionamentos que estão postos na realidade, buscando transformá-los

criticamente.

Refere-se ao ser humano - homem e mulher, dialógico, crítico, capaz de fazer,

criar, transformar como um poder dos homens, mesmo que por vezes negado em

situações concretas. O pensar crítico não aceita a dicotomia mundo/pessoas, pois capta a

realidade como processo em constante devenir e não como algo pré-estabelecido.

Opõe-se criticamente ao pensar ingênuo que vê o tempo histórico como um

peso, pré-dado pelo destino já escrito, pautado na acomodação e adaptação. Já o pensar

Page 16: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

16

crítico requer a transformação permanente da realidade para a permanente humanização

das pessoas.

Frente a isso, Freire (1996) expõe um grande desafio a tarefa humanista e

histórica: superar a contradição entre opressor-oprimido, já que muitas vezes, o

oprimido tende a hospedar em si a ideologia do opressor, de um dia se parecer com ele,

aderir seus costumes, gostos, etc.

Ressalta a necessidade de uma conscientização crítica da realidade, na qual o

oprimido precisa descobrir-se nessa relação e entender que o opressor é quem mantém

essa dicotomia de desumanização, de injustiças e exclusões, sendo necessário superá-las

a partir de uma relação humana, dialógica e democrática.

Essa conscientização permite colocar em discussão o status quo, abrindo o

caminho à expressão das insatisfações sociais, econômicas, culturais, das situações de

opressões, etc.

A teoria da ação dialógica supõe uma conscientização da realidade para combater

o naturalismo que desconhece a historicidade do ser humano como fazedor de sua

própria história. Implica a convicção de que a mudança é possível e necessária para a

transformação das inúmeras desigualdades que nos cercam.

“A construção de relações dialógicas sob os fundamentos da ética

universal dos seres humanos, enquanto prática especifica humana

implica a conscientização dos seres humanos, para que possam de

fato inserir-se no processo histórico como sujeitos fazedores de sua

própria história”. (FREIRE, 1996, p10.)

Com essa descoberta crítica da realidade torna-se viável reconhecer a

desumanização como realidade histórica.

“A conscientização é um compromisso histórico (...), implica que os

homens assumam seu papel de sujeitos que fazem e refazem o

mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material

que a vida lhes oferece (...), está baseada na relação consciência-

mundo,”. (FREIRE, 1996, p.12)

Como salienta Freire (1996, p19) “Só torna viável o homem novo pela superação

da contradição entre opressor-oprimido, que significa a libertação de todos”.

Page 17: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Dessa forma, uma relação dialógica entre professores e alunos na sala de aula

está vinculada à concepção de educação humanizadora que permite a tomada de

consciência crítica da realidade como seres históricos.

Para Freire, (1996), ser dialógico implica “tornar-se ético para uma verdadeira

dialogicidade”, faz parte da natureza humana e supõe uma escolha política entre as

pessoas, que unidas, compartilham de um mesmo sonho, de uma mesma utopia, de

interesse comum para que juntas possam construir uma sociedade justa e igualitária.

Implica a luta pela restauração dos direitos roubados, pela humanização, pelo trabalho

livre, pela desalienação.

Lomar (2007) a partir de seus estudos em Freire salienta que através do diálogo

o homem ultrapassa sua condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito crítico

frente aos condicionamentos sociais, culturais, econômicos, entre outros, porém,

consciente de suas possibilidades enquanto ser histórico, fazedor ativo de seu destino.

Assim, a teoria da ação dialógica mostra o papel fundamental do diálogo como

elemento norteador para uma educação que visa à humanização das pessoas.

Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas

pedagógicas de educação popular que desenvolveram na cultura amazônica. Está

associada ao contexto social e emerge da expressão oral e escrita dos educandos

apontando para a utilização do diálogo e da autonomia do sujeito na perspectiva

freireana que norteia a prática alfabetizadora dos educadores.

“O diálogo em Paulo Freire está relacionado à autonomia dos sujeitos. Ele tem

significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam

sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por

isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz ao

outro. Nem é tática manhosa, envolvente, que um usa para confundir o outro.

Implica, ao contrário, um respeito aos sujeitos nele engajados (Oliveira e Santos

2007, p. 118)”.

Page 18: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

18

Ação anti-dialógica

Para Freire (1996) a teoria da ação anti-dialógica está atrelada à concepção de

opressores que negam a humanização e a vocação ontológica de algumas pessoas Ser

Mais, mantendo um sistema manutenção de dominação e exploração entre dominadores

e dominados.

Freire parte da concepção de mundo considerando a existência de uma dicotomia

entre opressores e oprimidos, na qual uma minoria, ou seja, os opressores detêm o poder

econômico, cultural, social, etc. e também os meios para mantê-los intactos. E os

outros, os oprimidos, que se vêem obrigados a se submeterem aos opressores que não

valorizam seus trabalhos pagando-lhes misérias.

Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, nega o

acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida.

O autor critica a concepção bancária da educação que considera os educandos

meros receptores, sujeitos passivos de suas aprendizagens.

Essa realidade doutrina e adapta a realidade como algo dado, pré-determinado

que deva permanecer intocado, realizado por uma relação de opressor/oprimido, na qual

o aluno torna-se mero objeto de sua aprendizagem, na qual o professor é considerado o

detentor do conhecimento e os transfere aos seus alunos como um depósito.

O professor, nesta concepção é o detentor da palavra, é aquele que pensa e tudo

sabe para depositar nos alunos, os quais devem permanecer calados para tal recepção de

informações, que deve escutar docilmente a palavra sem contestar.

Esse professor não considera o conhecimento que os alunos trazem de suas

experiências já vividas, o que para Freire (1996) é fundamental já que aprendemos

muito por meio de nossas vivências, sendo que todas as pessoas, alunos ou professores

sabem muitas coisas, diferentes e juntos podem aprofundar maiores conhecimentos.

No diálogo, deve-se valorizar os conhecimentos dos educandos, considerar suas

visões de mundo e jamais opor-se como dono dos saberes.

A educação problematizadora fundamentada pelo diálogo tem por objetivo

superar a contradição da relação de opressor-oprimido entre aluno e professor já que é

chamado a conhecer e a participar da elaboração dos conhecimentos.

Assim, significa que não existe um saber acabado e definitivo, mas construído

junto, entre o professor e o aluno.

Page 19: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

19

A educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o

contexto em que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a libertação

consciente e crítica da realidade.

Segundo Freire (1983, p79) “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si

mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.

O autor considera o ser inacabado, que consciente de sua inconclusão busca

aprimorar-se para se tornar ser mais. Ser mais, nesta concepção só é possível quando

uma pessoa reconhece a outra como ser livre, responsável, ético, esperançoso, capaz de

inventar e recriar o cotidiano e não se adaptar a ele, mas se inserindo e intervindo

ativamente.

Page 20: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

20

Relação professor-aluno em sala de aula

Muitos fatores influenciam as relações entre os alunos e o professor no cotidiano

da sala de aula.

A visão sobre o papel da educação que o professor e os alunos possuem torna-se

uma orientação primordial para o trabalho desenvolvido na sala de aula. Para Freire

(1987), a educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já que a educação

é uma forma de intervenção no mundo.

“Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente

determinados nem tampouco livres de condicionamentos sociais,

econômicos, genéticos, culturais, históricos, de classe, gênero.”

(FREIRE, 1996, p.38).

Sommer (2007) salienta concepções postas no cotidiano escolar e traz reflexões

sobre o papel do professor, como sendo o responsável por organizar o ambiente de

aprendizagem, por administrar as aprendizagens dos alunos e garantir a produção da

aprendizagem.

Para Freire (1996), o papel do professor é de desafiador, capaz de promover a

educação como prática de liberdade tem como função combater um naturalismo

histórico que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria

história. O professor é aquele que possui uma prática progressista que tende a

desenvolver junto aos alunos uma capacidade crítica, a curiosidade para perguntar,

conhecer, atuar, reconhecer, estimular a insubmissão, a indocilidade.

Esse professor caminha por uma direção emancipadora, consciente de constituir-

se constantemente a partir de uma curiosidade epistemológica3 construída pela

superação de sua curiosidade ingênua4, capaz de compreender sua função e o mundo

criticamente, visando romper com “verdades” rotuladas socialmente que podem gerar

preconceitos, discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com

suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os outros, pelo

próprio exemplo.

3 Curiosidade epistemológica, para Freire (1996) é quando a curiosidade oriunda do senso comum se reconstrói tornando-se crítica. 4 Curiosidade ingênua, para Freire (1996) são as concepções de mundo oriundas do senso comum.

Page 21: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

21

O papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que

juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos

conhecimentos das experiências que vivenciaram durante a existência.

O papel do aluno, nesta perspectiva é assumir-se como ser histórico e social,

como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Cabe

reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que

representam na luta contra a negação da existência humana.

Juntos, professores e alunos podem perceber criticamente as razões que

condicionam as situações nas quais se encontram como caminho para decisões, escolhas

e intervenções.

Juntos, professor e alunos ensinam e aprendem simultaneamente, conhecem o

mundo em que vivem criticamente e constroem relações de respeito mútuo, de justiça,

constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a sala de aula

um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. “Quem ensina aprende ao

ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 1996, p.38).

A prática educativa na sala de aula está vinculada à afetividade, a alegrias, ao

domínio de conscientização acerca dos condicionamentos, assim como de suas possíveis

transformações.

Outro fator imprescindível é a comunicação dialógica na sala de aula: que

implica também no silêncio. Quem tem o que dizer deve saber que não é o único que

tem, de forma a sempre incentivar, questionar e desafiar o outro que digam, respondam,

participem. Implica disponibilidade para a escuta, com pleno direito de discordar, de se

opor, de se posicionar e debater por meio de argumentos.

O diálogo não reduz um ao outro, nem se torna um favor que um faz ao outro, ao

contrário, implica respeito fundamental dos sujeitos neles engajados. Para Freire (1992),

o diálogo, enquanto relação democrática é a possibilidade que dispomos de interagir ao

pensar dos outros, para não fenecer no isolamento, já que o diálogo tem significação

quando estamos juntos uns com os outros.

Durante a pesquisa bibliográfica realizada no IBICT, encontra-se uma tese de

Gicoreano (2008) que traz muitas contribuições para entender a relação professor-aluno

em sala de aula.

O autor expõe as dificuldades que encontrava enquanto professor de física no

ensino médio. Relata as dificuldades do dia a dia na sala de aula, como falta de

Page 22: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

22

interesse, indisciplina, falta de participação, alto índice de reprovação, etc., levando-o a

desenvolver sua tese intitulada “uma caracterização do diálogo significativo na sala de

aula”, a fim de trazer contribuições para essa relação dialógica entre professor aluno na

sala de aula.

Este autor tomou como base uma perspectiva de análise construtivista,

fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sócio-

histórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do

trabalho docente. Identificou em diferentes momentos a construção desse diálogo/não

diálogo, as dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao seu

trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores externos

intervenientes.

Gicoreano (2008), a partir de seus estudos sobre o dialógo, propõe a construção

de uma nova identidade ao professor na sala de aula: focaliza-o como sendo um alguém

em constante construção, alguém que aprende enquanto ensina, já que considera que a

docência vai além do diploma da graduação, como um processo continuo e eterno.

Precisa torna-se criterioso acerca do conteúdo, do que pretende ensinar, de sua

concepção sobre o assunto; deve criar condições para o diálogo, incentivar e valorizar

ações para a participação dos alunos.

O professor deve estar preparado para lidar com as idéias que trazem seus

alunos, coordená-las e ajudá-los na construção de uma linguagem comum, que, no caso,

é a da ciência.

Para Gicoreano (2008) o aluno também precisa reconstruir seu papel enquanto

estudante: o aluno, de receptor e passivo deve passar a ser sujeito ativo e consciente de

sua aprendizagem, que interage com seu professor na construção de seu saber.

Precisa ir, buscar, perceber e descobrir. Tende a assumir e ter um compromisso

com seu aprendizado e acreditar que a escola é importante para sua formação,

consciente que aprender demanda muito esforço e dedicação.

A compreensão de diálogo adotado pelo autor fundamenta-se nos pensamentos

de Paulo Freire e Martin Buber. Segundo estes dois autores, a educação, estando a

serviço do processo de humanização, não pode se fazer sem diálogo, já que este

consistiria na atitude essencial humanizadora, por meio da qual o homem ultrapassa a

condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito.

O trabalho de Lomar (2007) indica a necessidade de se aprofundar a concepção

de educação dialógica junto a professores, reafirmando seu caráter ao mesmo tempo

Page 23: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

23

libertário e calcado em uma autoridade responsável e responsabilizadora em relação aos

educandos. O trabalho está inserido num contexto de ensino-aprendizagem onde

sobressaem de início a falta de interesse, falta de participação e de motivação, a

indisciplina e, principalmente, a aprendizagem insuficiente por parte dos alunos.

Participando de um projeto de formação contínua de proposta construtivista há cerca de

seis anos, o autor pode acompanhar a evolução das professoras participantes e suas

dificuldades na sala de aula. Foi adotada uma perspectiva de análise construtivista,

fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sócio-

histórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do

trabalho docente. Assim, o autor identifica em diferentes momentos na construção desse

diálogo/não-diálogo, dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao

seu trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores

externos intervenientes. Suas conclusões apontam para uma instabilidade no

estabelecimento e manutenção do diálogo por parte das professoras, sendo que os

fatores sociais e organizacionais a que os protagonistas do processo de ensino-

aprendizagem estão sujeitos contribuem de forma decisiva para a manutenção ou a

quebra da dialogicidade na sala de aula.

Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas

pedagógicas. O diálogo com os educandos adquire uma dimensão metodológica no trato

pedagógico da cultura amazônica. O papel do educador é compartilhar o conhecimento

e a cultura de forma interdisciplinar, respeitando os saberes e as manifestações culturais

dos educandos. A metodologia utilizada pelos educadores está centrada no diálogo, no

incentivo às expressões orais e escritas dos educandos por meio de temas sociais e de

interesses dos educandos e, também, por meio de músicas, de dramatizações, poemas,

leituras de textos e passeios a pontos turísticos da cidade de Belém.

Cabe salientar através dos estudos em Paulo Freire e também das leituras

oriundas da revisão bibliográfica que tratam mais especificamente sobre o tema deste

trabalho, a contribuição que a construção de relações dialógicas oferecem para obter

melhorias na relação professor-aluno na sala de aula, como possibilidades de

participação acerca de uma relação mais humanizadora.

Page 24: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

24

Metodologia

O procedimento metodológico utilizado foi a entrevistas sendo realizadas com

duas professoras da rede de ensino publico a partir do referencial teórico de Paulo

Freire.

A entrevista esteve vinculada a um roteiro estruturado com 25 questões que

foram conversadas entre as professoras e a pesquisadora que está em anexo na página

46. O registro da entrevista deu-se pelo uso de um gravador. As entrevistas foram

transcritas pela pesquisadora para a análise dos dados tendo como base o referencial

teórico de Paulo Freire.

As professoras entrevistadas foram as seguintes: uma trabalha junto a uma turma

de terceiro ano do ensino fundamental, a outra professora trabalha com educação de

jovens e adultos, também equivalente ao primeiro e segundo ano do ensino

fundamental. As duas são professoras da rede de ensino de uma escola de periferia da

cidade de São Carlos.

O critério para a escolha das professoras guiou-se pelas que trabalhassem na

perspectiva da teoria da ação dialógica de Paulo Freire na sala de aula.

A primeira professora foi indicada por uma colega que trabalha com o

referencial teórico de Paulo Freire no NIASE - Núcleo de investigação social e

educativa, sendo um grupo de pesquisa vinculado a Universidade Federal de São Carlos

que trabalha, entre outros, com a teoria da ação dialógica de Freire. Contatei a

professora e expliquei sobre o trabalho que estou desenvolvendo, convidando-a para

participar de uma entrevista.

A segunda professora entrevistada foi indicada por minha professora orientadora

do trabalho de conclusão de curso vinculada ao grupo de pesquisa Praticas Sociais e

Processos Educativos, que tem entre outros autores de fundamentação teórica, a do

Paulo Freire. A professora entrevistada tem formação no referencial teórico de Paulo

Freire e o utiliza em sua dissertação de mestrado e também atualmente em sua pesquisa

de doutorado.

Para a realização da pesquisa foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido assinado em comum acordo entre cada uma das professoras e a

pesquisadora.

Page 25: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

25

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido prevê que medidas de proteção

e sigilo das informações coletadas, na medida em que as duas professoras terão as

informações que as identificam preservadas, sendo utilizados nomes fictícios de Daiana

e Janaina. O Termo explicita que as participantes são convidadas e aceitaram participar

da pesquisa, com direito a verificar a análise dos dados, a sinalizar se está de acordo ou

não, sendo possível modificá-lo.

As entrevistas foram realizadas no dia 19.10.2009 com a professora Janaina na

escola onde é professora em uma sala que estava disponível com duração de 1:30

minutos e no dia 21.10.2009 com a professora Daiana na Universidade de São Paulo –

USP, campus São Carlos, em frente à biblioteca com duração de 1:30 minutos.

Após a transcrição das entrevistas, as professoras leram as análises feitas pela

pesquisadora e as aceitaram. As duas professoras contribuíram na revisão do texto.

Page 26: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

26

Análise dos dados

A análise de dados foi feita com base em entrevistas realizadas com duas

professoras. Uma delas chamaremos pelo nome fictício de Janaina. Sua formação

escolar ocorreu sempre em escola pública desde o ensino fundamental, depois pelo

curso de magistério CEFAM - Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do

Magistério, graduação em Pedagogia e o mestrado.

Sua experiência como docente iniciou-se logo que terminou o CEFAM. Durante

o primeiro ano da faculdade fez estágio no primeiro e segundo ano do ensino

fundamental em uma escola pública de uma escola particular.

Durante a graduação, participou de atividades de contação de história na

biblioteca da UFSCar - Universidade Federal de São Carlos. Também desenvolveu

atividade de tertúlia dialógica. Foi onde começou a conhecer Freire e a buscar relações

mais dialógicas. No final do ano de 2005 começou a fazer estágio no NIASE – Núcleo

de Investigação Social e Educativa vinculado a UFSCar, onde aprofundou os estudos

em Paulo Freire. Em 2007 trabalhou como professora na educação de jovens e adultos.

Durante o mestrado trabalha com o tema da diversidade cultural e as práticas de ensino

e aprendizagem.

Desde o início de 2009, a professora Janaina trabalha com uma turma do terceiro

ano de uma escola pública de ensino fundamental. Atualmente é aluna do curso de

mestrado da UFSCar.

A outra professora entrevistada será identificada pelo nome fictício de Daiana.

Sua formação escolar ocorreu sempre em escola pública. Fez o ensino

fundamental em uma escola municipal na periferia de São Paulo e o ensino médio em

uma escola estadual bem próxima de São Paulo, em Itapecerica da Serra. Fez graduação

em pedagogia na UFSCar com formação na área das séries iniciais. Fez curso de

mestrado em educação no PPGE/UFSCar. Atualmente é aluna do curso de doutorado da

mesma universidade.

Suas experiências como docente iniciaram-se na graduação. Desenvolveu um

trabalho de extensão realizado em casas noturnas, no qual conversava com prostitutas

sobre educação, direitos humanos e direitos da mulher, sendo esse seu primeiro contato

com o referencial de educação dialógica para estudar essa temática da prostituição.

Page 27: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Daiana trabalhou na escola CAASO – Centro Acadêmico Armando Salles de

Oliveira, como professora de educação de jovens e adultos. Também trabalhou como

professora de língua portuguesa no cursinho popular chamado Palmares.

É professora efetiva de educação de jovens e adultos com uma turma em

processo de alfabetização. Atualmente está afastada da atividade docente por estar

cursando pós-graduação no curso de doutorado.

A partir da análise dos dados da pesquisa é possível ressaltar alguns fatores que

possibilitam a construção de relações dialógicas em sala de aula nas relações entre

professores e alunos.

Um fator importante que favorece a construção de uma prática dialógica na sala

de aula está vinculado com a visão que o professor atribui ao papel da educação.

Na perspectiva dialógica, segundo Freire (1987), o papel da educação deve estar

a serviço da humanização das pessoas, já que a educação é uma forma de intervenção no

mundo. O diálogo é a essência dessa educação humanizadora que se constitui como um

fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por meio da palavra. Essa

educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o contexto em

que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a conscientização crítica

da realidade para promover a libertação.

A professora Daiana ressalta sua visão de educação como sendo um processo

contínuo:

“a gente aprende ao longo da vida, a gente tá sempre ensinando e sempre

aprendendo, um com o outro. Então as histórias de vidas, as estratégias

que eles criam, para decodificar os números, como eles fazem para pegar

um ônibus se não sabem ler. Acho que a educação é isso, é a gente

aprender com o outro e você (a) se dispor a isso. É o que move o ser

humano, desde que a gente nasce”.

A visão que o professor atribui ao papel da educação como um processo em

constante formação e aprendizagens possibilita compreender a maneira de se relacionar

e desenvolver o trabalho em sala de aula junto com os alunos, implicando uma postura

dialógica.

A análise dos dados explicita que outro fato que se mostra importante para a

construção de uma prática dialógica está atrelado à concepção que o professor tem sobre

o papel político de ser docente.

Page 28: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

28

A professora Daiana relata:

“O que me motiva é buscar um pouco dessa idéia da transformação mesmo. Por que é tão difícil a gente tentar transformar o mundo, o país. A gente sempre pensa no macro, né. A gente acaba caindo na idéia da impotência mesmo. Ser professor é uma forma que tenho de tentar buscar essa minha transformação ali, na minha relação com os alunos mesmo. Quando eles começam a ler as primeiras palavras, isso é uma coisa que me motiva. De estar ali e auxiliar o aluno nesse processo de aprendizagem, de descoberta, da palavra, da escrita, dos números. Eu acho que então, ali, no dia a dia da escola, se a gente não consegue transformar o mundo, a gente consegue pelo menos transformar aquele micro. Aquele espaço que a gente tem ali. Se a gente se relaciona com o outro só tentando ensinar, ou, se propondo a aprender, por que isso é fundamental, quando você se coloca para aprender com o outro, você percebe que a relação melhora, se você ta ali só para ensinar, você percebe que o aluno se distancia, também. Estabelecer essas relações de uma forma mais tranqüila é uma coisa que me motiva. Na escola com os alunos do EJA eu tento estabelecer esse vínculo, de conhecer o outro e também se mostrar. Por que você também aprende muito com eles”.

A professora Janaina explicita sua visão política de ser educadora:

“Acho que é o sentido, gosto muito da profissão, de estar junto com as crianças, de poder trocar experiências, da gente poder construir algumas coisas juntos, poder estudar, rever, e acho que deslumbrar que um dia eles tenham elementos para sair dessa situação social desfavorável. Muitos têm dificuldades para sonhar, pensar o que quer ser quando crescer. É muito complicado pensar que uma criança de 7 e 8 anos não tem perspectiva de vida. Claro, eu acho que sozinhos eles não vão fazer nada… mas posso contribuir de alguma maneira e essa é uma forma como eu me realizo pessoalmente porque é uma profissão que eu gosto, e uma forma de estar ajudando eles, também um papel social que posso cumprir e fazer. Pensando que posso estar facilitando alguns caminhos”.

É possível refletir sobre o impacto da ação do professor enquanto mediador do

processo de ensino e aprendizagem, consciente de seu papel político responsável por

desenvolver uma prática dialógica e esperançosa capaz de promover transformações

como forma de intervenção no mundo. Significa optar pela luta (que é fundamental) em

exercer seu ofício, seu dever, consciente dos condicionantes sociais, econômicos, etc.,

mas esperançoso enquanto ser histórico fazedor de sua própria ação.

Paulo Freire nos alerta sobre isso: “Nem somos, mulheres e homens, seres

simplesmente determinados, nem tampouco livres dos condicionamentos genéticos,

culturais, sociais, históricos, de classe, gênero, etc” (1996, p.38).

Page 29: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Outra questão analisada refere-se à concepção que o professor atribui à função

de ser professor, sendo uma consideração relevante na construção de uma prática

dialógica na sala de aula.

Para Freire (1996) o papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar

não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa

reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos

trazem muitos conhecimentos das experiências escolares e não escolares que

vivenciaram durante a existência.

O papel do professor é de desafiador (Freire, 1996), capaz de promover a

educação como prática de liberdade, de combater o naturalismo histórico que

desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria história. O professor

é aquele que possui uma prática progressista que tende a desenvolver junto aos alunos

uma capacidade crítica, a curiosidade para: perguntar, conhecer, atuar, reconhecer,

estimular a insubmissão, a indocilidade.

A professora Janaina atribui um significado sobre esta perspectiva de sua visão

sobre o papel do professor:

“cabe a ele, apresentar, conduzir algumas coisas, como também tentar vincular com o que ela (criança) pensa. Por exemplo, vamos estudar mamífero, e pensar, o que vocês acham que seja? Conhecer o conhecimento das crianças. Não basta dizer se está certo ou errado, mas ver o porquê a criança acha aquilo, ver como está no livro, e no fim fazer uma própria definição do que entendeu, construir juntos o próprio conceito. Para que aprendam, dominem isso e ao mesmo tempo que a gente construa coisas novas. Eles precisam ter domínio do que foi construído historicamente, do domínio do cálculo, da leitura, da escrita… Assim, é um papel político, nas suas escolhas, nas prioridades. De pensar que preciso dar os conteúdos mais pensando na vida em que vivemos, de mundo, de vida”.

A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do professor:

“O papel do professor é do despertar a motivação no aluno para que esteja sempre buscando aprender e repassar. Na sala do EJA tem muito isso, eles se ajudam, cooperam bastante. Mas na sala de EJA o aluno que sabe sempre quer ensinar o outro. E como na sala tem níveis diferentes, o que tá mais adiantado ajuda o outro. Existe uma cooperação bem forte entre eles. Talvez por terem passado por momentos de preconceitos, exclusão. Acho que o papel do professor é isso, é criar essa cooperação na sala de aula e motivar os alunos pra que eles estejam sempre buscando mais conhecimento”.

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A visão sobre o papel que o professor tem de sua função favorece a construção

de uma prática dialógica, já que o professor se reconhece como parte do processo e não

como o detentor do saber. Nesta concepção professor é aquele que faz a mediação para

a construção do conhecimento.

Nesta perspectiva, tende a combater uma prática autoritária que perpassa pela

visão de que tudo sabe pautado pela crença de depositar o conhecimento aos seus

alunos, que devem permanecer calados sem contestar.

Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, pois nega o

acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida.

Outro fator preponderante na relação professor e aluno está atrelado à concepção

que o professor tem sobre o papel do aluno.

Para Freire (1996) o papel do aluno está em assumir-se como ser histórico e

social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias.

Capaz de reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que

representam na luta contra a negação da existência humana.

Na mesma perspectiva a professora Janaina reconhece o papel do aluno como

sendo:

“Um agente, não é passivo. Ele tem que estar ali o tempo todo. E esse estar ali não é de falar, por que tem crianças que são tímidas, que você vê que elas interagem de uma outra forma. Mas de sentir, de perceber que eles estão ali. Muitos só vão dizer dependendo da postura que a gente tem”. Eu procuro sempre me policiar para tentar compreender que ele é um ser muito amplo, do que ele traz, de suas experiências, da vida dele que podem ajudar na sala de aula. Claro, claro que eu os vejo como estudantes e como companheiros também, por que quando a gente fica junto, senta junto, quando pergunta, a gente percebe que eles sabem muitas coisas, muitas coisas“.

A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do aluno:

“O papel do aluno é dos dois lados. É também motivar o professor. Porque quando o professor prepara uma aula e chega à sala de aula e percebe que os alunos se envolvem, se motivam, ele também se sente motivado para continuar fazendo isso. Agora, quando o professor chega na sala de aula e os alunos não se envolvem, não participa, ai o professor vai desanimando também. Acho que o papel do professor e do aluno é um motivar o outro. Estarem junto procurando conhecer mais, um com o outro“.

Page 31: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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O papel do educando nesta perspectiva dialógica é assumir-se como sujeito ativo

de sua aprendizagem, consciente da possibilidade de inserir-se no processo histórico e

promover transformações.

A professora Daiana exemplificou uma situação que vivenciou com um aluno:

“Eu sempre tento dar esse apoio, para que eles possam expressar o que eles pensam. Acho que a idéia é fazer com que o aluno participe um pouco mais nas diferentes instituições, que consiga verbalizar seus sentimentos, sua relação dia-a-dia, com a família, com os amigos. Alguns retornam e falam, olha professora, foi bom falar daquele assunto, a minha mulher tava querendo trabalhar e eu achava que não era bom. Mas talvez seja bom sim. Acho que nesse diálogo eles vão conseguindo ver, e a transformação é isso, a gente não transforma o mundo, mas a gente transforma a relação na família, são essas pequenas coisas mesmo. Para além dos conteúdos de português, matemática, ciências, mas todos os conteúdos que a gente trabalha, são uma forma que a gente tem de melhorar o dia-a-dia deles. Por exemplo, muitas alunas que são empregadas domésticas, elas falam, olha professora vindo na escola e conversando a gente consegue até conversar e dialogar com a patroa, que as vezes oprime a empregada.”

O papel do aluno, nesta perspectiva, demonstra-se fundamental para a

construção de práticas dialógicas na sala de aula. Paulo Freire (1996) ressalta que é

possível que, juntos, professor e alunos ensinem e aprendam simultaneamente,

conheçam o mundo em que vivem criticamente e construam relações de respeito mútuo,

de justiça, constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a

sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos.

Outra questão analisada trata das dificuldades encontradas no cotidiano escolar.

A construção de práticas dialógicas é feita diariamente e perpassada por momentos de

tensões, dúvidas, já que se trata de um processo em contínua construção.

Para a professora Janaina, o mais difícil é a questão da disciplina.

“Com as crianças é pensar que agora eu sou o adulto da relação. Eles são muito pela forma que eu me comporto. Eles não são daquele jeito, mas é o jeito que eles estão sendo. Então eu tenho que me policiar, não posso me alterar, tenho que ser o menos contraditória possível. Por mais que eu pense em uma educação libertadora, às vezes eu tenho práticas que estão ligadas às práticas que as minhas professoras tiveram comigo. Então tenho que me desprender disso, é um exercício e quando me dou conta, já estou fazendo isso, e me pego falando e como se elas tivessem que só ficar ouvindo, caladas”.

Outro exemplo de dificuldade que a professora Janaina expõe é o seguinte:

Page 32: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

32

“Por que você só consegue fazer diálogo com quem quer fazer diálogo. Por exemplo, uma menina achou alguma coisa e o menino dizia que era dele. Ai ela falava que achou no chão e que achado não é roubado. Então, mas achado é quando você não encontrou o dono e ele ta dizendo que é dele e ela não queria devolver. E ela não tinha razão, mas não entendia. Ela disse, mas daqui a pouco você vai querer que eu de minhas coisas para os outros. Mas nossa, eu não disse isso”.

As dificuldades encontradas pela professora Daiana estão relacionadas com a

questão das faltas:

“Os alunos são pessoas com idade acima de 40 anos. E não tem problema de indisciplina. Eles são bem disciplinados, não tem aquela euforia, correria que tem com as crianças. Eles chegam sentam lá e ficam quietinhos. Quando terminam a atividade começam a contar contos da vivência, da infância. Acho que faz parte desse processo de estimular a verbalização, a participação. No geral sai muitas histórias que a gente dá risada. Alguns dizem que já viram o lobisomem, histórias fantásticas. Um começa a falar e o outro complementa e fala o que pensa. Acho que faz parte da aprendizagem deles e minha. Consigo perceber um tema que posso trabalhar a partir dessas histórias”. “Muitos alunos trabalham e muitas vezes eles têm que deixar a escola. Por exemplo, arrumam um bico e voltam depois de três meses. Existe muito essa mobilidade. Isso é uma dificuldade. Outra dificuldade é a diversidade de níveis. Preparar atividade quase que individualmente. O aluno da EJA não tá muito preocupado com o diploma, mas preocupado em aprender a ler e escrever, então, tudo bem, professora, eu já estourei de falta, mas vou continuar vindo”.

.

A construção de práticas dialógicas entre os professores e alunos na sala de aula

é feita no dia a dia, sempre frente a novos desafios e conflitos a serem resolvidos. Para

isso, a possibilidade de diálogo contribui significativamente para o entendimento ético

entre as pessoas envolvidas. O diálogo tem sua significação não apenas com sua

identidade, mas a defendem e aprendem um com o outro. Freire (1992) ressalta que o

diálogo por isso mesmo não nivela e não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz

para o outro, implica, ao contrário, um respeito fundamental dos sujeitos neles

envolvidos.

A professora Janaina expôs o seguinte ponto de vista:

“Então eu saio da classe, eu saio da sala, sabe… No começo eu tentei conversar com eles. Então no começo eu via quando não estava bem, eu entreva na relação e eles respondiam do jeito que eu entrava na relação. Eu me via assim, querendo impor, por que perdia a paciência. Não você vai devolver para o menino, dai as crianças choravam, fazem manha, se

Page 33: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

33

joga no chão, perde o controle da situação. Por que são 20 contra 1. Então, normalmente eu saio da sala”.

A professora Janaina relata que às vezes é difícil:

“Às vezes eu fico muito (tensa). Por exemplo, um menino que está bem atrasado em relação aos outros, ele me olhou e me disse, - to cansado de você, você só pega no meu pé. -Puxa vida, fiquei em casa um tempão, preparando, hoje ele vai sair (dessa situação) e ele me da uma dessa. Acho que nesse momento o mais importante é poder contar com minhas colegas de trabalho, de poder no intervalo sentar e conversar. Tem professores muito mais experientes. Dai elas dizem, não liga, é assim mesmo, ele fez isso pra te provocar. Ele já ta cansado”.

Nas práticas dialógicas, as dificuldades serão resolvidas por argumentos e não

por relações de opressão. Mesmo frente a situações conflituosas, de dificuldades, o

dialogo é a ferramenta que possibilita a busca pelo entendimento, pelo esclarecimento

dos pontos de vista, passa por reflexões, que se transformam em novas ações, em novos

conhecimentos, em novas formas de resolver as situações do cotidiano.

Outro fator relevante para a construção de práticas dialógicas entre professor e

alunos na sala de aula está atrelado aos impactos dos condicionantes sociais,

econômicos, culturais, entre outros, no cotidiano escolar.

A professora Janaina ressalta o impacto dos condicionamentos sociais,

econômicos, políticos, entre outros e salienta a necessidade do professor não focar a

atenção para essas dificuldades, mas trabalhar no sentido de promover transformações:

“Claro que eles passam por muitas dificuldades, mas eu não posso fazer com que isso seja minha maior preocupação. Mas essa minha maior preocupação tem que ser assim, que eu posso ajudar eles a superar isso se eu puder que eles tenham outras possibilidades, por exemplo, se eles tiverem domínio de leitura e escrita, eles podem optar por outras coisas, outros caminhos, outras profissões, outras saídas, do que ficar sem saída né. Por que às vezes a gente cai no discurso assim, a falta de carinho, do cuidado… nisso, não desenvolve outras coisas. Acho que é muito difícil assim, saber, acho que às vezes eles precisam de carinho, sim, que você passe a mão na cabeça, que ele sinta que eu estou do lado dele. E, acho que é importante ele saber dessa questão social mesmo, que eu também venho de uma classe baixa, que eu também passei por muitas dificuldades, que eu consegui superar muitas coisas e que eles também podem, por que às vezes eles não têm uma referencia. Existem médicos que saíram da classe baixa, trazer estudantes da universidade. Dizer que não influencia, influencia, não tem como, eles trazem isso para o cotidiano. Muitas das visões que eles têm, das interpretações que eles têm da coisa vêm do ambiente que eles vivem”.

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34

Pela análise dos dados, pode-se perceber que a professora Daiana reconhece os

condicionamentos e suas implicações na sala de aula. Atribui importância ao fato de

usar esses conhecimentos que eles trazem a partir de suas experiências para a

construção de uma prática que os aproxime.

“Desde o início eles já contam das histórias deles, das dificuldades que eles passaram. Então você conhece a história deles. Fica mais fácil você estabelecer uma proximidade. E uma coisa que eu acho importante nessa relação é a gente tentar se trazer próximo. Pelo fato de eu também ser migrante, filha de nordestinos, é uma coisa que me aproxima da vivência deles. O que ajuda a relação é buscar esses vínculos que nos aproximam. O que tem na minha experiência que também tem na vida desses alunos, que posso pegar como um fio condutor. Se você coloca muito o aluno como o outro, o aluno é o diferente, isso dificulta um pouco a relação, por que fica muito em pólo, eu tô do lado do professor e ele do lado do aluno. Eu sou daqui e ele é de fora, eu sou branco e ele é negro. Acho que tem que tentar buscar aproximações e não rotular o aluno como muito diferente da gente, por que ai fica difícil procurar essa esta aproximação”.

Os condicionamentos trazem implicações em nossa vida cotidiana, porém, a

maneira como lidamos com eles podem possibilitar transformações. Freire (1996) trata

sobre o conceito de conscientização como possibilidade de abrir caminhos para as

insatisfações sociais, da situação de opressão. Nesse sentido, o aluno passa a perceber

que não é o culpado pela sua situação de pobreza, de preconceito, de discriminação.

Começa a compreender os condicionamentos, porém, consciente de possíveis

modificações, com olhares críticos e não mais ingênuos.

Outra questão relevante para a construção de relações dialógicas na sala de aula

está relacionada com a questão do tempo.

A professora Janaina salienta sobre a organização do tempo e sobre o seu

impacto na sua prática pedagógica:

“Tem tanta coisa para passar, são tantas coisas, que nessa pressa, são tantas as coisas, os conteúdos, que às vezes a gente tenta fazer um caminho mais curto, né….e não é bem por ai. Um caminho que é mais duro, que leva um pouco mais de tempo em cima daquele conteúdo, o resultado é outro”.

Traz um exemplo para justificar seu ponto de vista:

“Por exemplo, uma coisa que me irritava… eles adoram bater figurinha... -Olha o que é que a gente vai fazer, a gente tem um problema. -Vocês adoram bater figurinha, por mim vocês poderiam, mas a gente tem que cumprir com algumas regras, alguns conteúdos, né. E ai fomos conversando e isso já tinha passado quase uma hora de aula, né. E se você pensar que ainda tem um aluno que não lê e que não

Page 35: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

35

escreve corretamente, não produz texto, é muito tempo perdido para quem ta precisando recuperar uma defasagem de aprendizagem. Mas depois da gente conversar muito e a gente fazer combinações, resolveu o problema. Por exemplo, eles já chegam e já vão guardar as figurinhas no armário. Quem não vai almoçar, tudo bem, pode ficar na sala e bater figurinha. Voltou, vai começar a aula, eles abrem o armário e guardam a figurinha. Eles mesmos sabem que se deixar a figurinha na mesa, eles não vão resistir, por exemplo, igual deixar um bombom em cima da mesa, a gente também não vai resistir. Então tem vários acordos que é no diálogo. E é assim, se eu for impor alguma coisa a eles, ai não dá certo mesmo. Então tem que ser na conversa mesmo, eu tento explicar por que estou fazendo aquilo, procurar deixar claro para que eles entendam, né”.

A construção de práticas dialógicas são feitas no cotidiano, por isso, trata-se de

um processo contínuo realizado dia após dia, no modo de se relacionar, de conversar, de

pensar, a prática deve ser coerente com o discurso, sem imposições, sem relações de

opressão. Muito rapidamente as pessoas envolvidas podem perceber mudanças que

colaboram para as relações na sala de aula.

Considerações finais

Page 36: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

36

É possível salientar como a fala das professoras Janaina e Daiana estão

relacionadas com a teoria da ação dialógica de Paulo Freire.

A partir dos dados analisados pode-se concluir sobre alguns fatores que

possibilitam práticas dialógicas na sala de aula, realizadas entre o professor e os alunos.

Entre eles é importante que o professor conheça e estude sobre a teoria da ação

dialógica de Paulo Freire, já que traz contribuições para a prática docente.

Entre os fatores que contribuem para a construção de relações dialógicas na sala

de aula pode-se ressaltar:

• A reflexão do professor sobre o papel da educação, já que na perspectiva

da teoria da ação dialógica, o professor caminha por uma direção

emancipadora, consciente de constituir-se constantemente, capaz de

compreender sua função e o mundo criticamente, visando romper com

“verdades” rotuladas socialmente que podem gerar preconceitos,

discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com

suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os

outros, pelo próprio exemplo.

• A visão sobre o papel do professor e do aluno na sua prática cotidiana, já

que essa visão terá conseqüências positivas ou negativas na maneira

como se relaciona com o outro.

• Outro fato está relacionado com a maneira que encontra para resolver os

conflitos e dificuldades do dia a dia na sala de aula, já que na perspectiva

dialógica, o diálogo é a ferramenta imprescindível nas relações humanas,

que atrelada à esperança pauta-se na eterna busca de restaurar a

humanidade esmagada e roubada.

• A maneira como o professor lida com os condicionamentos sociais,

econômicos, políticos, etc implica em sua prática, já que é capaz de

conceber esses condicionamentos como possibilidades para a

transformação da realidade. Dessa forma, como afirma a professora

Daiana, “os condicionamentos não devem ser percebidos como entrave

para o diálogo, como algo que distancia o professor do aluno, pois o

professor que almeja dialogar com o aluno, deve buscar uma

proximidade, uma maneira de pronunciar o mundo junto”.

Page 37: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

37

• Outra questão que interfere nessa construção é a organização do tempo,

já que a sala de aula exige muito diálogo, muita troca, respeito, ouvir o

outro, argumentar, participar.

A construção de relações dialógicas são alternativas viáveis que possibilitam

transformar as relações de opressão por relações dialógicas que visam à humanização

das pessoas na sala de aula, como alternativa possível para superar dificuldades do

cotidiano.

Assim, essa construção torna-se um desafio diante do contexto atual em que

vivemos, já que muitas relações na sala de aula são construídas por relações de

opressão, expressas por diferentes maneiras através de comportamentos, gestos,

maneiras de ver o aluno em sala de aula, sobre o papel que o professor atribui acerca da

educação, o papel do professor e suas responsabilidades enquanto um educador.

O professor junto com seus alunos são os responsáveis por modificar estas

relações de opressão no contexto diário da sala de aula, para um bem comum que

proporcione uma educação humanizadora.

Referências Bibliográficas

Page 38: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Page 41: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

41

Resultados da revisão bibliográfica

Na Revista Brasileira de Educação, considerando o ano de 2007, encontra-se um

total de 39 artigos publicados, sendo que nas referências bibliográficas, Paulo Freire

aparece em quatro dos 39 artigos analisados. Esses quatro artigos tratam

respectivamente sobre um curso de formação de professores oferecidos em uma

instituição de ensino em Belém do Pará, no qual Coelho (2007) tem por objetivo

compreender qual lugar ocupa a questão racial na formação de professores, visando

indicar os modos pelos quais a questão étnico racial se apresenta no sistema educacional

do estado do Pará.

O artigo de Souza (2007) tem como temática compreender os conhecimentos

educacionais construídos nas teses e dissertações que focalizam a educação e/no

movimento dos trabalhadores rurais – MST, durante o período de 1987 a 2007. O

trabalho de Souza e Motta (2007) trata da oralidade na pedagogia do EJA. E o quarto

trabalho de Araújo (2007), no qual a autora estuda os desafios emergentes para a

educação on-line.

Considerando a RBE referente ao ano de 2008, encontra-se 34 artigos

disponíveis. Paulo Freire aparece em cinco dos 34 trabalhos considerando as referências

bibliográficas. Entre os cinco estão os seguintes: Santos (2008) versa sobre a

transdiciplina em educação baseada em cinco princípios denunciando a insuficiência

dos princípios tácitos na estrutura organizacional. Loureiro (2008) faz uma análise no

norte de Portugal acerca de um estudo das organizações não governamentais de

desenvolvimento local atrelado à prática educacional de adultos. Ferreira (2008) trata

das reformas educacionais, a formação e subjetividade dos professores. O trabalho de

Fleuri (2008) trata da construção da democracia na escola e indica as propostas

pedagógicas de Freire e Freinet para a superação dos dispositivos disciplinares. O artigo

de Thiesen (2008) traz o estudo da interdisciplinaridade como movimento articulador no

processo de ensino-aprendizagem.

ANPED no GT/06 de Educação Popular, na 30º reunião anual de 2007, de 19

artigos analisados dez usam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Entre eles estão:

Brayner (2007) diferentes concepções sobre o diálogo a partir de diferentes autores,

entre eles, Paulo Freire. Backes (2007) analisa o lugar da cultura no GT de educação

popular da ANPED. Kavaya (2007) trata sobre uma experiência de Freire com o mundo

africano. Godinho (2007) trata das experiências formais e não formais na trajetória

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42

formativa da educação de jovens e adultos na perspectiva da educação popular. Streak

(2007) traz em pauta o pensamento de José Marti. Oliveira e Santos (2007) tratam sobre

a cultura amazônica em prática pedagógica de educação popular. Moita (2007) faz um

estudo sobre os jogos eletrônicos considerando o contexto cultural curricular juvenil de

saber de experiência feito. Paula (2007) estuda os dilemas e contradições de projetos de

educação não formal com a educação popular acerca de reflexões sobre a prática e os

saberes. Batista (2007) traz reflexões acerca da educação no campo junto à realidade

camponesa. Zucchetti e Moura (2007) tratam sobre a educação não escolar e a

universidade atrelada a necessárias interlocuções para novas questões.

No GT/06 de Educação Popular, na 31º reunião anual de 2008, de 10 artigos

analisados. Seis entre os 10 artigos analisados, utilizam Paulo Freire nas referências

bibliográficas. Entre eles pode-se destacar: Paiva (2008) traz reflexões acerca de

sobrevivências sendo crianças e adolescentes em situações de rua junto a educadores

sociais. Pavan (2008) analisa as contribuições de Paulo Freire para a educação popular a

partir de uma pesquisa realizada no GT de educação popular na ANPED. Sampaio

(2008) discute as relações de poder e as possibilidades de diálogo, visando oferecer

contribuições para a prática pedagógica. Paula (2008) estuda sobre a educação popular

em uma brinquedoteca hospitalar. Silva (2008) visa compreender como educadores e

educando se educam para o reconhecimento e respeito das diferenças e das

potencialidades e limites. Brayner (2008) traz reflexões a partir de Hannah Arent por

uma educação popular pela recuperação da ação e do senso comum.

Entre os 24 artigos analisados no GT-08 de 2007, Paulo Freire aparece em

quatro referências bibliográficas: Fontana (2007) analisa a prática da pesquisa e sua

relação teórica e prática no curso de Pedagogia. Santos e Mazzilli (2007) fazem

reflexões acerca da formação de educadores sem terra de um estudo de caso. Correia,

Bonifácio e Nunes (2007) refletem sobre o curso de capacitação de professores de

informática como possibilidades de mudança na prática docente. Delboni (2007) trata

sobre a formação continuada por áreas curriculares como possibilidades e limites de

constituírem-se como comunidades interpretativas.

Entre os 18 artigos analisados no GT-08 de 2008, dois utilizam Paulo Freire nas

referências bibliográficas. Entre eles, podemos destacar Brasileiro (2008) que versa

sobre a autobiografia e a formação docente em Rondônia visando à busca de uma

identidade profissional e Monteiro e Nunes (2008) que exploram os modelos formativos

Page 43: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

43

e as dificuldades vividas na formação continuada de professores de classes

multisseriadas no campo.

No IBICT, Urmersbach (2007) traz reflexões sobre a exclusão escolar.

Rodrigues (2008) versa sobre os jogos eletrônicos para consumo consciente. Poffo

(2007) refere-se à construção de autorias acerca de olhares para os movimentos de

produção textual em sala de aula. Wilerich (2007) traz reflexões acerca da autoridade na

sala de aula no ensino superior. Machado (2007) oferece contribuições sobre a produção

escrita na sala de aula. Barbosa (2007) salienta a educação planetária a partir de

reflexões sobre os saberes dos professores de escolas estaduais. Farias (2008) expõe seu

trabalho acerca da avaliação de aprendizagem na prática docente de professores de

história no ensino fundamental do sistema estadual de ensino. Silva (2009) expõe

estudos sobre a prática docente nos cursos pré-vestibulares. Pacheco (2008) expõe o

processo de ensino-aprendizagem de matemática e a relação entre professores e alunos

no ensino fundamental. Cury (2007) refere-se à mediação docente no ensino da leitura e

da escrita no primeiro ano do ensino fundamental. Pereira (2007) trata sobre a interação

na sala de aula a partir de conceitos baseados no letramento e na alfabetização no

primeiro ciclo do ensino fundamental.

Somam-se um total de quatro trabalhos que não tratam especificamente sobre os

temas selecionados nesta pesquisa, entre eles pode-se destacar:

Albuquerque (2008) traz estudos acerca de propostas do ensino de

eletromagnetismo no nível médio. Melo (2008) ressalta a prática do professor de

matemática permeada pela utilização da calculadora. Guimarães (2007) trata sobre a

representação social dos professores sobre o aprender sobre o uso de tecnologia digital.

Andrade (2008) refere-se ao estudo sobre o adoecimento dos professores e as

repercussões na prática docente.

Cabe salientar que três trabalhos de pesquisa não estavam disponíveis para

consulta on-line: Molina (2008), Pereira (2008) e Fumo (2009).

Os outros três textos utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas, porém,

não tratam especificamente sobre o tema desta pesquisa. São os seguintes: Freitas

(2009) refere-se à formação de professores acerca das relações interpessoais a partir de

um estudo em São Bernardo do campo. Antonelli (2009) versa sobre os saberes das

professoras bem sucedidas. Altenhofen (2008) refere-se a atividades contextualizadas

nas aulas de matemática para a formação de cidadãos críticos. Cabe ressaltar que dos

sete trabalhos analisados, todos utilizam Paulo Freire nas referências bibliográfica.

Page 44: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

1- Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Contribuições

de Paulo Freire: A construção de relações dialógicas entre professor-

aluno na sala de aula.”.

2- Você foi selecionado/a por conhecer o referencial teórico de Paulo Freire

e ser professora do ensino fundamental. Sua participação não é

obrigatória.

3- Os objetivos deste estudo são para contribuir para a reflexão acerca da

dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também

oferecer propostas para a construção de ações dialógicas que visam à

humanização das pessoas, a transformação de relações de opressão

em relações democráticas, de diálogo, solidariedade, de amor ao

próximo, ao mundo e a vida.

4- Sua participação nesta pesquisa consistirá em fazer uma entrevista com

cerca de uma hora a partir de um roteiro de questões para serem

refletidas a partir de suas experiências em sala de aula.

5- Você terá direito a esclarecimentos, antes, durante e após a entrevista.

6- Você terá direito de receber uma cópia prévia da análise da entrevista

para ver se esta de total acordo, podendo modificá-la se for o caso.

7- A qualquer momento você pode desistir de participar desta pesquisa.

8- As informações obtidas serão confidenciais e asseguramos o sigilo

sobre sua participação.

Nome e assinatura do pesquisador

Endereço e telefone

Assinatura do sujeito da pesquisa

Local e data

Page 45: Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir

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Entrevista TCC 1. Quem é o professor?

2. Qual é sua formação?

3. Qual é o tempo que atua?

4. Quais foram às experiências que teve na sua formação básica, na graduação, na

pós?

5. Como você vê o aluno na sala de aula?

6. Como o aluno vê você?

7. Como você se move na sala de aula?

8. O que você acha que condiciona a relação professor-aluno?

9. Por que é desse jeito?

10. O que te motiva? Por quê?

11. Quando você se relaciona com seu aluno, qual é sua perspectiva em relação a

ele?

12. Como os alunos se comportam com você na sala de aula?

13. E os casos específicos? Como se comportam?

14. Quando você prepara sua aula, o que você leva em consideração?

15. E as avaliações, como você planeja? Como você avalia os alunos?

16. Como você avalia o rendimento do aluno?

17. E o seu rendimento? Como você se avalia?

18. Está tudo bem, mas tem situações que você considera imatura? O que você faz?

19. Quais os momentos de tensões?

20. A utopia te coloca em cheque?

21. Como você supera as dificuldades?

22. Qual é o seu limite? Por que é limite e como você reage para superá-lo?

23. Você tem apóio da escola? De que forma?

24. Como no cotidiano você supera as contradições?

25. Na luta diária, o que é feito?

26. O que a gente pode concluir como sendo sua visão de educação?

27. E sua visão sobre o papel do professor?

28. E o papel do aluno?

29. Por favor, resuma para mim o que significa uma prática educativa?

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