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Escola de Novos Empreendedores RELAÇÕES ENTRE EMPREGABILIDADE E ATITUDE EMPREENDEDORA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Renato Fonseca de Andrade * Ana Lúcia Vitale Torkomian, Dra ** *Aluno do curso de pós-graduação (mestrado) em Engenharia de Produção UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos Endereço: Rua São Sebastião 1442 ap. 31 CEP 14015-040 – Ribeirão Preto – SP Email: [email protected] **Departamento de Engenharia de Produção UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos Endereço: Via Washington Luiz, Km 235 – Caixa Postal 676 CEP 13565-905 - São Carlos – SP Email: [email protected] RESUMO As relações do trabalho, no final do século XX, recebem uma forte influência das transformações que caracterizam a época. É nesse cenário que os profissionais contemporâneos atuam e vários fatores exercem pressões sobre eles desde o início da carreira, principalmente o desemprego.A criação do estado de empregabilidade pode ser uma solução para minimizar o impacto psicológico que o desemprego pode gerar em uma carreira profissional, seja ela corporativa ou empreendedora. Analisando-se as características de comportamento dos empreendedores, podem ser encontrados vários aspectos que mostram-se determinantes para a geração do estado de empregabilidade. A atitude empreendedora pode ser desenvolvida. Existem programas que tem esse objetivo e, no Brasil, o nascente estabelecimento de atividades para o desenvolvimento do empreendedorismo em universidades proporciona ao futuro profissional melhores condições para se posicionar no mercado de trabalho, inclusive considerando desde cedo a opção da carreira empreendedora, um caminho que pode ser muito interessante, atrativo e repleto de desafios e realizações profissionais. PALAVRAS-CHAVE: Empregabilidade, empreendedorismo, pós-industrial. INTRODUÇÃO Novos valores em um mundo de mudanças O período industrial, identificado entre a metade do século XVIII e a metade do século XX, e caracterizado, entre outros itens, por um “aumento da produção de massa e crescimento do consumismo, por uma separação entre o sistema familiar e o sistema profissional, por um predomínio numérico dos trabalhadores no setor secundário em comparação aos dos setores

Relações entre empregabilidade e atitude empreendedora no início do século XXI

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ANDRADE, R. F. ; TORKOMIAN, A. L. V. . Relações entre empregabilidade e atitude empreendedora no início do século XXI. In: 2o ENEMPRE - Encontro Nacional de Empreendedorismo, 2000, Florianópolis SC. Anais 2o ENEMPRE - Encontro Nacional de Empreendedorismo. Florianópolis : CliCData Multimídia Ltda, 2000.

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Page 1: Relações entre empregabilidade e atitude empreendedora no início do século XXI

Escola de Novos Empreendedores

RELAÇÕES ENTRE EMPREGABILIDADE E ATITUDE EMPREENDEDORA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

Renato Fonseca de Andrade * Ana Lúcia Vitale Torkomian, Dra **

*Aluno do curso de pós-graduação (mestrado) em Engenharia de Produção UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos

Endereço: Rua São Sebastião 1442 ap. 31 CEP 14015-040 – Ribeirão Preto – SP

Email: [email protected] **Departamento de Engenharia de Produção

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos Endereço: Via Washington Luiz, Km 235 – Caixa Postal 676

CEP 13565-905 - São Carlos – SP Email: [email protected]

RESUMO

As relações do trabalho, no final do século XX, recebem uma forte influência das transformações que caracterizam a época. É nesse cenário que os profissionais contemporâneos atuam e vários fatores exercem pressões sobre eles desde o início da carreira, principalmente o desemprego.A criação do estado de empregabilidade pode ser uma solução para minimizar o impacto psicológico que o desemprego pode gerar em uma carreira profissional, seja ela corporativa ou empreendedora. Analisando-se as características de comportamento dos empreendedores, podem ser encontrados vários aspectos que mostram-se determinantes para a geração do estado de empregabilidade. A atitude empreendedora pode ser desenvolvida. Existem programas que tem esse objetivo e, no Brasil, o nascente estabelecimento de atividades para o desenvolvimento do empreendedorismo em universidades proporciona ao futuro profissional melhores condições para se posicionar no mercado de trabalho, inclusive considerando desde cedo a opção da carreira empreendedora, um caminho que pode ser muito interessante, atrativo e repleto de desafios e realizações profissionais.

PALAVRAS-CHAVE: Empregabilidade, empreendedorismo, pós-industrial.

INTRODUÇÃO

Novos valores em um mundo de mudanças

O período industrial, identificado entre a metade do século XVIII e a metade do século XX, e caracterizado, entre outros itens, por um “aumento da produção de massa e crescimento do consumismo, por uma separação entre o sistema familiar e o sistema profissional, por um predomínio numérico dos trabalhadores no setor secundário em comparação aos dos setores

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primário e terciário e por uma concentração de grandes massas de trabalhadores assalariados na fábricas e nas empresas financiadas e organizadas pelos capitalistas de acordo com o modo de produção industrial” (Masi, 1999), apresentou relações de trabalho baseadas no emprego duradouro, na autoridade hierárquica e na segurança, o que acabou criando uma cultura coerente com a busca atávica do ser humano que é de garantir sua sobrevivência. Várias gerações foram educadas e treinadas para viverem dentro desse conjunto de valores.

O início do século XXI apresenta transformações decorrentes de um processo histórico que culminou com a chamada sociedade pós-industrial, caracterizada pela alta flexibilidade, pela customização e pela inovação (Doll,1991).

Por outro lado, avanços na tecnologia da informação criam novas relações de negócios e de trabalho. Nunca em toda história o denominador H esteve tão próximo de ser zerado na antiga fórmula Taylorista P/H (produtos e serviços produzidos/homem) (Masi, 1999b). Em decorrência do próprio avanço tecnológico, são criadas novas áreas de trabalho que, por serem baseadas no conhecimento, não absorvem os antigos fornecedores de trabalho mecânico, gerando problemas sociais em vários países do mundo.

A era do conhecimento

As empresas pós-industriais tem sua competitividade diretamente relacionada com a capacidade de identificar necessidades e valores do mercado e de responder rapidamente através de produtos e serviços coerentes com essa percepção.

Dessa forma, sua força competitiva é baseada na evolução e aplicação do conhecimento dos seres humanos que a compõem, direcionado para a inovação.

Nesse sentido, Savoia (1999) cita que “no novo sistema econômico, a riqueza é o know-how, isto é, aquele conjunto de conhecimentos que permitem criar valor agregado em bases competitivas, e a mais valia não é mais determinada pelo esforço físico e pelo trabalho mecânico, mas pelo esforço mental e criativo.” O cenário competitivo é mundial, surgem novas oportunidades e o avanço das tecnologias de informação viabilizam uma integração global tornando todo o sistema mais sensível às influências de variáveis antes desconectadas.

Essa sensibilidade pode ser traduzida como uma instabilidade nas organizações, que acaba refletindo-se nas relações de trabalho.

O profissional pós-industrial deve, portanto, aprender a lidar com um novo conjunto de variáveis, em um período de velozes transformações.

Ocorre que mudanças são graduais e existem heranças anteriores ocorrendo simultaneamente. Se por um lado florescem empresas que se diferenciam no mercado por ações decorrentes do conhecimento de seus recursos humanos, de outro ainda existem estruturas rígidas e verticalizadas, parecidas com estruturas organizacionais comumente encontradas no início do século.

Essa mistura de valores acaba gerando uma situação de pressão para o profissional que tem que lidar com novas realidades, muitas vezes sem o preparo técnico e emocional suficientes. Alguns resultados dessa pressão são a insegurança, a baixa estima, a sensação de impotência, o medo do fracasso e do desemprego, o stress, e a desconfiança, entre outros.

O objetivo desse artigo é de relacionar a atitude empreendedora com a geração do estado de empregabilidade em um cenário de mudanças no início do século XXI.

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EMPREGABILIDADE E ATITUDE EMPREENDEDORA

(Minarelli,1995), conceitua empregabilidade como “a capacidade de prestar serviços e de obter trabalho.”

Desta forma, “segurança no período pós-industrial” pode ser entendida como consequência direta das ações do profissional no sentido da criação do seu “estado de empregabilidade”.

E isso pode ser feito de várias maneiras, por exemplo, através da criação da própria empresa, optando pela carreira empreendedora ou do trabalho como funcionário de uma empresa, exercendo a opção pela carreira corporativa ou até de uma combinação dessas formas, sempre com o objetivo de obter um valor monetário pela venda de uma habilidade desenvolvida.

O estado de empregabilidade pode ser, metaforicamente, comparado a uma empresa que em determinado momento tem um produto coerente com as necessidades do mercado e, em função disso, recebe uma oferta de valor, ou pode, estrategicamente, escolher qual cliente ou mercado será atendido.

Assim sendo, o profissional pós-industrial é então responsável por arquitetar e empreender sua própria carreira, agindo como se estivesse no comando de uma verdadeira empresa.

Para o desenvolvimento desse perfil adaptado às características contemporâneas, a chamada atitude empreendedora fornece um modelo interessante para ser analisado e experienciado.

A atitude empreendedora

O termo empreendedorismo apresenta muitos significados na literatura. Segundo Dolabella (1999), o termo vem de entrepreneur, palavra francesa que era usada no século 12 para designar aquele que incentivava brigas. No final do século 18, passou a indicar a pessoa que criava e conduzia projetos e empreendimentos.”

Em tempos mais recentes, o termo foi difundido pelo economista Joseph Schumpeter que argumentou que empreendedores são aqueles que desenvolvem novas formas para a geração de novos mercados, novos produtos, novos serviços e novos métodos de produção e distribuição (Dyer, 1992).

Entre vários trabalhos desenvolvidos no sentido de estabelecer as características que compõem o perfil de um empreendedor e geram a atitude empreendedora, destaca-se o Programa EMPRETEC, que é operacionalizado no Brasil pelo SEBRAE desde 1993, através de uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores - ABC/MRE. Seu objetivo é o fortalecimento dos negócios e estímulo ao desenvolvimento de pequenos negócios, através do reconhecimento, prática e reforço das competências características dos empreendedores de sucesso (Sebrae,2000).

O Programa EMPRETEC apresenta as seguintes características do comportamento empreendedor:

• Busca de oportunidades e iniciativa

• Correr riscos calculados

• Exigência de qualidade e eficiência

• Persistência

• Comprometimento

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• Busca de informações

• Estabelecimento de metas

• Planejamento e monitoramento sistemáticos

• Persuasão e rede de contatos

• Independência e autoconfiança

Segundo Dolabella (1999), “embora não haja certeza sobre ser ou não ser possível ensinar empreendedorismo, existe um ponto em que os estudiosos concordam: é possível aprender a ser empreendedor”, e o desenvolvimento dessas características transforma-se em uma questão de sobrevivência na sociedade pós-industrial. Isso não significa que todos serão empresários, mas que podem empreender suas carreiras como se elas fossem uma empresa.

Relações entre empregabilidade e atitude empreendedora

O profissional pós-industrial pode então desenvolver a atitude empreendedora, com o objetivo de gerar e manter seu estado de empregabilidade.

Profissionais que estão entrando no mercado ou ainda em preparação nas universidades devem ser orientados para buscarem uma atitude coerente com a realidade pós-industrial. Do contrário estarão ainda sujeitos às influências do modelo anterior e cultivando valores desalinhados com o mundo para o qual estão sendo preparados.

Através da prática da atitude empreendedora, algumas questões, muitas vezes desconsideradas no modelo industrial, adquirem uma grande relevância e contribuem para o estado de empregabilidade, por exemplo, o estabelecimento de redes pessoais de contato, o desenvolvimento, a educação e a reciclagem constantes compreendidos como um item prioritário, o estabelecimento de metas, o planejamento da carreira, a formação de uma reserva financeira para minimizar impactos decorrentes de riscos corridos, o desenvolvimento de uma visão de futuro, a atenção para oportunidades não aproveitadas, o autoconhecimento, a comunicação interpessoal, a autoconfiança, o aprendizado pelo erro, entre outras.

Vários países do mundo, como por exemplo o Canadá, investem no desenvolvimento da atitude empreendedora em suas populações, através de programas específicos desenvolvidos principalmente em universidades.

Nas universidades brasileiras existem também iniciativas nesse sentido.

A primeira referência data de 1981, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, que inseriu o curso “Novos Negócios” como uma disciplina do CEAG – Curso de Especialização em Administração para Graduados. Desta época, até os dias de hoje, vários outros programas foram iniciados por universidades, destacando-se, em 1992, a criação da ENE – Escola de Novos Empreendedores, pela Universidade Federal de Santa Catarina (Dolabela,1999).

No entanto, é ainda necessária uma atuação de maiores dimensões no país, principalmente objetivando uma mudança cultural nas próximas gerações, saindo da cultura do velho contrato psicológico para uma cultura de oportunidades, descobertas e riquezas.

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CONCLUSÕES

A atitude empreendedora potencializa o estado de empregabilidade.

O profissional empreendedor é naturalmente dinâmico, flexível, disposto a correr riscos, criativo e inovador e esse perfil vem de encontro ao procurado pelas organizações contemporâneas.

A adoção da atitude empreendedora, direcionada para a criação de novas empresas, pode também ser apontada como uma das soluções para questões de falta de emprego e para minimizar aspectos de uma eventual perda de emprego, emocionalmente catastróficos no paradigma industrial.

Em uma primeira impressão, pode parecer que a vida do profissional pós-industrial, em função de sua convivência com a instabilidade, seja menos atrativa do que no modelo anterior. Essa interpretação é plausível no momento de transição atual, entretanto essa afirmação parte de pressupostos existentes no modelo industrial.

É necessária uma transformação na maneira de pensar e, consequentemente, de agir do profissional para que novos valores sejam introjetados no dia-a-dia.

Desta forma, paradoxalmente, quanto maior o dinamismo do profissional e sua abertura para o novo e para as mudanças, maior a garantia de que ele permaneça em seu emprego ou em sua própria empresa por um longo período de tempo. Neste momento, é provável que tenha início então, um novo conjunto de relações de trabalho, uma nova era.

É importante também que estudos e pesquisas sejam realizados neste campo e que a difusão das informações e o estímulo à cultura empreendedora atinjam proporções nacionais. As universidades e escolas técnicas brasileiras têm um importante papel nesse processo, em função de sua capilaridade e poder de transformação. Como decorrência, as novas gerações receberão referenciais a partir dos quais estarão criando novas opções de atuação e estímulo. Esses fatores combinados, e em grande volume, contribuirão para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOLABELLA, Fernando. Oficina do empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999.

DOLL, W.J. e VONDEREMBSE,M.A.. The evolution of manufacturing systems: towards the post-industrial enterprise. OMEGA, International Journal of Management Science, v19, n.5, 1991.

DYER, W. Gibb. The entrepreneurial experience. USA: Jossey-Bass, Inc, 1992

MASI, Domenico de. A sociedade pós-industrial in MASI, Domenico de (Org.). A sociedade pós-industrial. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1999.

MASI, Domenico de. Desenvolvimento sem trabalho. São Paulo: Editora Esfera, 1999b.

MINARELLI, José Augusto. Empregabilidade: o caminho das pedras . São Paulo: Editora Gente, 1995.

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SAVOIA, Rita. Naisbitt: As Megatendências in MASI, Domenico de (Org.). A sociedade pós-industrial. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1999.

SEBRAE – PROGRAMA EMPRETEC – Disponível em URL: http://www.al.sebrae.com.br/cursos/ empretec.html (Maio 10,2000)