Relações entre o histórico de ocupação e as características socioambientais da região da Serra da Misericórdia, subúrbio do rio de janeiro

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    1 INTRODUO

    A partir da ltima dcada a maior parte da populao mundial vive em cidades,

    que passaram a abrigar tambm a maior proporo de pessoas em situao de pobreza.

    Os espaos urbanos refletem caractersticas das diferentes sociedades que osconstituram, entretanto existem caractersticas que les so comuns, pois, em geral,

    imp!e"se modifica!es radicais ao meio natural. #sso faz com que estes espaos se$am

    considerados a negao da natureza %&A'(#)*, +-+.

    O desenvolvimento urbano se faz atravs dos sistemas tcnicos, que ob$etivam

    instrumentalizar o espao a fim de adapt/"lo 0s exig1ncias de reproduo do modelo

    egem2nico de sociedade. 3eriva da a expresso meio tcnico"cientfico"

    informacional, que se refere 0 m/xima artificializao do espao, ou se$a, a

    transformao do que era primitivo ou natural pela ci1ncia e pela tcnica, que permite,

    sobretudo, a reproduo do capital em escala global %*A)(O*, -445. 6arve7 % apud

    68)'#9:8, +4 afirma que a cidade a negao da natureza, pois nela tudo

    produzido pelo omem, ou se$a, a expanso do tecido urbano se faz com a destruio

    dos ecossistemas pr"existentes, gerando consequ1ncias que afetam diretamente a

    qualidade de vida de seus abitantes. 8ssa expanso se faz com um alto custo, a$a vista

    o desequilbrio nos fluxos de energia do sistema produo"consumo, que rompe a

    delicada armonia dos ciclos naturais. #sso confere 0s cidades uma grande capacidade

    de causar impactos ambientais, se$am eles difusos, como a poluio do ar e o efeito

    estufa, ou catastr;ficos, a exemplo das encentes e deslizamentos de terra. 8 quanto

    maior o tamano e a complexidade da urbe, maiores sero as altera!es provocadas

    %*O:

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    As cidades modernas se revelam como a expresso espacial do modo de

    produo capitalista, onde o seu car/ter excludente e concentrador de poder e recursos

    se revela com a m/xima magnitude. )uma realidade semi"perifrica do sistema

    econ2mico global, como a brasileira, a evoluo urbana foi comandada por interesses

    das elites econ2micas nacionais e internacionais. >omo o crescimento das cidades no

    foi acompanado por uma distribuio equitativa dos investimentos em infraestrutura e

    oferta de servios coletivos, as principais conseq?1ncias se relacionam 0s grandes

    disparidades socioespaciais encontradas nas metr;poles brasileiras %>O8@6O, +-.

    (alvez a principal manifestao da estratificao social urbana se$a o fen2meno

    da segregao residencial, definida como a apropriao das diferentes /reas da cidade

    pelas classes sociais. )esse processo, as de maior poder aquisitivo residem em /reasmai bem servidas por infraestruturas e servios coletivos essenciais " o que les

    proporciona uma melor qualidade de vida " enquanto aos pobres so destinados os

    bairros mais distantes e prec/rios, identificados como subrbios %>O''A, -44-.

    8ntre as caractersticas que diferenciam /reas ocupadas pelas distintas classes

    sociais est/ a densidade demogr/fica. 8nquanto as classes abastadas disp!em de grandes

    /reas para uma quantidade muito menor de pessoas, os pobres se aglomeram em

    menores espaos %>O8@6O, +-. 8stes por sua vez, alm de serem prec/rios em

    termos de oferta de infraestrutura e oferta de servios, t1m nesse adensamento um fator

    a mais para a sua desvalorizao.

    A qualidade ambiental das /reas ocupadas pelas camadas empobrecidas tambm

    comprometida pelo fato de que boa parte da ocupao do solo nos subrbios se deu

    sobre /reas naturais fr/geis, sem nenum processo de ordenamento, o que levou a uma

    significativa reduo de disponibilidade dessas /reas para a populao.

    Ao menos desde o sculo B#B existe a preocupao de se criar ou manter

    parques pblicos arborizados, para valorizar os im;veis e amenizar a poluio

    atmosfrica, sendo um dos principais exemplos os das cidades"$ardim, na #nglaterra.

    Apesar disso, os bairros oper/rios sempre foram desprovidos dos mesmos

    %68)'#9:8, +4.

    Os espaos livres cobertos por algum tipo de vegetao nas cidades so

    caracterizados como Creas Derdes, e cumprem um papel importante na vida dos

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    citadinos, sendo considerado um indicador da qualidade ambiental urbana. As fun!es

    dessas /reas podem ser sintetizadas segundo os critrios social, ecol;gico, esttico e

    econ2mico. Ob$etivamente, incluem desde a promoo do lazer e da educao

    ambiental, a amenizao do microclima, a regulao do regime drico, o aumento da

    superfcie perme/vel para /guas pluviais e fluviais %reduzindo encentes, o refgio para

    espcies animais e vegetais, a conteno de processos erosivos, a oferta de /gua de

    nascentes, a amenizao da poluio atmosfrica e sonora, a disponibilidade de /reas

    para a produo agrcola e extrativista, ecoturismo, entre outros %E8*:* 8 F'AGA,

    +=.

    )as cidades, stios com topografia ngreme so definidos como /reas de risco, e

    so consideradas inapropriadas para a instalao de assentamentos residenciais. 8stefator limita, em tese, a expanso da /rea construda. 8m geral, a que se concentram

    parcelas expressivas da vegetao urbana, composta por diferentes fisionomias,

    estruturas e fun!es, indo desde campos gramneo"erb/ceos, at florestas em diferentes

    est/gios regenerativos, parques, praas e $ardins, :nidades de >onservao da )atureza

    %:>s, alm das /reas agrcolas.

    8ntretanto, a presena dessas no se deve apenas 0 vari/vel topogr/fica, pois a

    ocupao do territ;rio se d/, sobretudo, em virtude de condicionantes socioecon2micas.

    )a ist;ria da cidade do 'io de Eaneiro, inicialmente foram as classes abastadas que

    buscaram se instalar nas encostas, atradas pela HsalubridadeI associado ao ambiente

    are$ado que se encontrava nelas. Josteriormente, no final do sculo B#B, so os pobres

    urbanos que adotam como estratgia de sobreviv1ncia a ocupao desses stios,

    $ustamente por terem sido praticamente os nicos que restaram pr;ximo aos locais que

    ofereciam oportunidades de trabalo %>O''A, -44-K >O&JA)*, +LK AF'8:,

    +M.

    )as dcadas recentes, a instalao de resid1ncias de luxo pr;ximas 0 /reas

    florestadas um mecanismo da camada Hauto"segregaroI, ou se$a, a busca por locais

    restritos, acessveis apenas ao grupo social que ali reside, em geral com carro particular.

    Alm do isolamento, busca"se tambm uma proximidade com a natureza e os benefcios

    por ela proporcionados.

    *e configurou assim uma dicotomia, $/ que, se para as classes abastadas,residentes principalmente na camada Hzona sulI da cidade, a presena de encostas

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    florestadas se constitui como amenidade, para os mais pobres a situao se inverte,

    sendo esta interao marcada pelo iminente risco de desastres como deslizamentos e

    encentes %*O:

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    inteno " velada " o controle da reproduo s;cio"espacial dessa parcela da populao

    e 0 manuteno ou promoo da segregao s;cio"espacial %>O&JA)*, +L.

    A partir da percepo da inefic/cia dessa rigidez, o *):>-%*istema )acional de

    :nidades de >onservao, incluiu, entre seus ob$etivos e diretrizes, a promoo daparticipao social na gesto das unidades, atravs de conselos e da articulao com as

    polticas e dinQmicas de desenvolvimento social e econ2mico %@O:'8#'O et al, +M.

    8ntretanto, indaga"seR como esperar HparticipaoI e Hco"responsabilizaoI de

    membros das camadas menos favorecidas da sociedade, que so priorialvo de a!es e

    polticas coercitivas dos ;rgos governamentaisS >omo esperar que cidados que lutam

    diariamente pela sobreviv1ncia em meio ao controle territorial por parte de organiza!es

    criminosas, atividades nocivas de empresas, sem acesso 0 moradia digna, servios desade, educao, oferta de emprego e renda adequados se preocupe em participar de

    reuni!es que, no raro, so verdadeiras palestras, em linguagem tcnica e or/rios

    inadequadosS &uitas audi1ncias e reuni!es de conselos que deveriam ser deliberativas

    acontecem com as decis!es $/ tomadas pelos tcnicos e gestores dos governos +. 3e

    praxe, a participao da populao requerida apenas para cumprir burocraciasN, no

    tendo efetivamente poder decis;rio %F'A)G*>6, +T.

    #FA*8 %+= elenca que a incluso social deve envolver destacadamente

    aspectos comoR gerao de empregos, acesso 0 informao e mecanismos efetivos de

    participao nos processos decis;rios, de modo que a gesto de /reas protegidas v/ alm

    do car/ter meramente repressor, como tem sido em sua curta ist;ria.

    Outra forma de se gerir as /reas verdes das cidades atravs da implementao

    de Jarques :rbanos, que no so :>s, mas desempenam relevantes fun!es

    ambientais. 6enrique %+4, ao analis/"los, reconece que / uma HnaturezaI que

    socialmente produzida na cidade, que serve ao capital imobili/rio, na medida em quevaloriza os empreendimentos do seu entorno. O mesmo autor comenta que, alm disso,

    1@ei federal 4.4M=U+, que regulamenta as :nidades de >onservao da )atureza no pas.

    2:m exemplo disso foi observado durante o evento Hconsulta pblica para a criao do Jarque8stadual do &endanaI, realizado pelo #)8A em duas reuni!es, uma das quais com a nossaparticipao, no dia 5UNU+-N, em )ova #guauU'E.

    3Jor exemplo com o preencimento de listas de presena e a realizao de fotografias.

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    o acesso e a distribuio espacial so desiguais, estando comumente associados 0

    presena de segmentos sociais abastados.

    8m oposio a isso, o autor, citando 6arve7, defende uma apropriao da

    natureza dentro de um pro$eto de Hemancipao coletivaI ao invs da HexploraoI%pelo mercado ou Hsatisfao pessoalI. 'emete"se ento a importQncia dessas /reas

    para alm do seu valor esttico, incitando"nos a refletir sobre sua funo social. )esse

    sentido, defende"se a possibilidade de estasassumirem um importante papel na luta por

    uma sociedade mais $usta e ecol;gica, por exemplo, a partir da gerao de

    oportunidades de ocupao econ2mica articulada com o equilbrio ambiental dos

    espaos destinados 0s camadas de baixa renda da populao.

    A cidade do 'io de Eaneiro possui cerca 5,N mil!es de abitantes %#FG8, +-,

    concentrando mais da metade da populao da regio metropolitana do estado, da qual

    ncleo. marcada pela presena de tr1s grandes macios rocosos costeiros TR (i$uca,

    Jedra Franca e &endana. )eles se encontram as maiores parcelas de /reas vegetadas

    do municpio, mas como eles esto distribudos de modo desigual pelo territ;rio,

    encravados nas HzonasI oeste e sul, acabam por influenciar na diferena de

    disponibilidade de /reas verdes entre os espaos ocupados pelas diferentes classes

    sociais.

    )a poro suburbana da camada Hzona norteI dessa cidade, se desenvolveu a

    mais antiga /rea da metr;pole exclusivamente destinada 0 populao de baixa renda.

    )o por acaso, ela marcada pela escassez de /reas livres e vegetadas, alm de diversos

    problemas sociais. 8stes aspectos esto intimamente relacionados, pois ambos so

    consequ1ncias da instalao do modelo de sociedade urbano"industrial, que se

    consolidou em meados do sculo BB em toda a /rea metropolitana do 'io de Eaneiro e

    no pas como um todo.

    3iante disso, este trabalo se prop!e a analisar a regio sob influ1ncia do macio

    da *erra da &iseric;rdia, o quarto maior em extenso da cidade do 'io de Eaneiro.

    (rata"se de uma importante unidade de relevo que muito pouco mencionada na

    literatura cientfica, na mdia, bem como nas polticas pblicas.

    4:m macio rocoso um con$unto de montanas que circundam um ponto culminante. 8ncontramosessa definio em Jrado %+-+. O mesmo autor lembra que o Jarque 8stadual da Jedra branca abriga a

    maior reserva florestal localizada em /rea urbana do mundo, com -+.= ectares de extenso.

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    1.1 Apresentao da rea de estudo

    A *erra da &iseric;rdia divide os antigos subrbios servidos pelas estradas de

    ferro dos ramais >entral do Frasil e @eopoldina. 3e natureza predominantemente

    grantica, se estende por aproximadamente N= VmW, ao longo de +L bairros, inseridos em

    seis regi!es administrativas da AJN %Crea Jlane$amento N " zona norte, segundo a

    regionalizao da Jrefeitura da >idade do 'io de Eaneiro %J>'E.

    REGIESADMINISTRATIAS

    !AIRROS

    'A&O*Fonsucesso

    'amos

    OlariaJ8)6A Jena

    Jena >ircular>O&J@8BO 3O A@8&XO >omplexo do Alemo

    'Jiedade

    8ncantadoAbolioJilares

    #)6AY&A#nama

    8ngeno da 'aina(om/s >oelo6igien;polis

    #'AEC

    Dila ZosmosDicente de >arvaloDila da Jena

    >olgio#ra$/

    &A3:'8#'A

    9uintino Focaiva>avalcanti

    8ngeneiro @eal>ascadura&adureiraDaz @obo(uriau

    'oca &iranda9uadro -R 'egi!es Administrativas e Fairros da *erra da &iseric;rdia.

    A AJN corresponde 0 totalidade da parte suburbana da zona norte da cidade.

    )ela se incluem, no total, M bairros, agrupados em -N regi!es administrativas, que

    ocupam -5,5P do territ;rio municipal e abrigam T,+P do total de sua populao

    %J>'E, +-+.

    :ma das consequ1ncias do papel que le coube na ist;ria da metr;pole o fatode a AJN possuir a maior densidade demogr/fica do municpio, abrigando tambm a

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    maior parcela de populao residente em favelas, T4,4P %J>'E, +-+. Foa parte desta

    instalada nas encostas do macio em questo, como os >omplexos da Jena, Alemo,

    *ap1 e Euramento.

    [igura -R #magem area do 'io de Eaneiro com destaque para os macios montanosos. [onteRGoogle 8art.

    *egundo o #nstituto Jereira Jassos %#JJ, +-+, a cidade do 'io de Eaneiro possui

    um ndice de cobertura vegetalper capita de== mWUab, enquanto na AJN este se reduz

    para apenas N,= mWUab. O mnimo recomendado pela O): %Organizao das )a!es

    :nidas, atravs dos seus diferentes programas, detectado por FrucV et al %apudE8*:*

    8 F'AGA, += de MmWUab.

    8m relao 0 regio idrogr/fica, o macio divisor de quatro sub"Facias daFaa de GuanabaraR dos rios Javuna e AcariK do rio #ra$/K do >anal do >unaK e do rio

    'amos. >omo decorr1ncia principalmente da falta de saneamento ambiental, estes rios

    esto em est/gio avanado de contaminao e assoreamento %*A)(O* apud

    >A'DA@6O, +--. O esgoto, o ;leo e o lixo so os principais poluentes da Faa de

    Guanabara, sendo na desembocadura do >anal da &ar %sub"bacia do rio 'amos

    encontrados os maiores valores quanto ao assoreamento dessa Faa %A&A3O', -44L.

    8

    Serra da

    Mendanh

    PedraTijuc

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    [igura +R *ub"bacias idrogr/ficas da *erra da &iseric;rdia. Adaptado de >arvalo %+--.

    8m relao 0 poluio atmosfrica, >arvalo %+-- apresenta dados da antiga

    [88&A %[undao 8stadual de 8ngenaria do &eio Ambiente, relativos 0 Facia Area

    N, que a mais poluda da '&'E %'egio &etropolitana do 'io de Eaneiro, onde est/

    inserida a *erra da &iseric;rdia. E/ em J>'E %+= / uma diviso por bacias areas

    na escala municipal. *egundo este documento, a AJN est/ na Facia Area N, na qual

    existem + esta!es de monitoramento bem pr;ximas 0 *erra da &iseric;rdia, emFonsucesso e #nama, ambas so responsabilidade do #)8A %#nstituto 8stadual do

    Ambiente. *egundo o relat;rio de poluio do ar realizado para o ano de +4, a

    estao de Fonsucesso apresentou uma concentrao mdia anual de Jartculas

    #nal/veis acima do recomendado pela resoluo >O)A&A %>onselo )acional do

    &eio Ambiente NU4, que regulamenta este ndice, sendo o quarto da '&'E e o maior

    da capital %#)8A, +4R5L,54. A curiosidade reside no fato de que a estao de

    #nama no listada, sugerindo que tena sido desativada.

    9

    Limites das sub-

    Limite da Bacia daBaa de Guanabara

    Limite do macio daSerra da Misericrdia

    Legenda

    10 Sub-Bacia do !io "cari

    11 Sub-Bacia do !io #ra$%

    12Sub-Bacia do &ana' do&un(a

    13Sub-Bacia do !io !amos

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    [igura NR &apa das bacias areas da cidade do 'io de Eaneiro. 'etirado de J>'E, +=.

    A partir das informa!es levantadas, verifica"se ao menos tr1s possveis escalaspara a an/lise da /reaR considerando a regio idrogr/fica " Facia da Faa de Guanabara

    ou sub"bacia do >anal do >una, comum em estudos ambientais "K a AJN "

    principalmente dados oficiais e estudos de ;rgos da J>'E "K ou, ainda, considerando os

    subrbios formados a partir das 8stradas de [erro " como focam os estudos ist;ricos ",

    como o da @eopoldina e >entral do Frasil.

    8ntretanto, so raros os trabalos cu$o recorte espacial englobe todo o macio da

    *erra da &iseric;rdia. Apenas em *imas %+L e >arvalo %+-- isso ocorreu. Oprimeiro foca sua an/lise na tra$et;ria da O)G %Organizao )o"Governamental

    Derde$ar *ocioambiental, principal entidade ambientalista local, e o segundo sobre os

    desafios para se efetivar as determina!es das :>s decretadas na regio.

    1)

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    Os limites do macio foram definidos na dcada de 4 pelo movimento

    socioambiental local, denominado HGrupo da *erra da &iseric;rdiaI =. 8ste grupo e

    sua proposta incidiram diretamente na criao da primeira e mais abrangente :> na

    /rea, a AJA': %Crea de Jroteo Ambiental e 'ecuperao :rbana da *erra da

    &iseric;rdia %3ecreto -4.-TTU+. )as palavras de 3iogo &auro, ex"membro do

    Derde$ar, entrevistado por *imas %+LR-LR

    H\...] foi no I Seminrio da Serra da Misericrdia, realizado em 1999pelas organizaes j citadas ue !iriam a formar o "#SM %[;rumAmbiental da *erra da &iseric;rdia, ue se $definiu% o ue era aSerra, uais eram a sua e&tens'o, seus pontos culminantes, sua (istriae a sua import)ncia econ*mica e social. +u seja, foi neste seminrioue se construiu uma certa $imagem% da Serra da Misericrdia. 'oualuer imagem, mas auela ue estaria presente no discurso do

    $mo!imento am-ientalista misericordianoI. %Jar1nteses nosso

    3essa forma, se denominar/ regio da *erra da &iseric;rdia o territ;rio da

    AJA':, ou se$a, os limites que definem a /rea de interesse para a proteo ambiental,

    por ser o nico recorte que considera o macio em sua totalidade, abrangendo toda /rea

    verde e trecos dos bairros contguos a ela.

    5O HGrupoI da *erra da &iseric;rdia era formado pelos gruposR*erde$arK AssembleiaJermanente de 8ntidades em 3efesa do &eio Ambiente %AJ838&AK >onselo &unicipal%>O)*:, O)G Os DerdesK O)G Ficuda 8col;gicaK >entro de 8studos e Jesquisa da

    @eopoldina %>8J8@U[iocruzK >entro de *ade da &uler da Jena %>'8*A) e algunspresidentes de Associa!es e moradores dos >omplexos do Alemo e da Jena %*#&A*, +L.

    11

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    [igura TR #magem area com os bairros da *erra da &iseric;rdia. [onteR #JJ, +L,elaborado pelo autor na interface arcgis online.

    Jara que a regio apresente as atuais caractersticas socioambientais, foi

    determinante o processo de ocupao do territ;rio, pois, desde o incio do sculo BB,

    ela se consolida como subrbio industrial. O estmulo do poder pblico atravs de atos

    legislativos definindo este uso, a proximidade com o centro e o f/cil acesso

    proporcionado pelo transporte ferrovi/rio, fizeram com que rapidamente esta se tornasse

    a /rea mais populosa da cidade, com perfil oper/rio %AF'8:, +M. )o perodo

    colonial, suas terras foram exauridas pelo uso agrcola predat;rio, se$a pelos ciclos de

    monocultivos para exportao ou pela produo de g1neros alimentcios para abastecer

    o mercado interno %*A)(O*, -4ML.

    )esse contexto, este trabalo de concluso de curso tem como tem/tica a relao

    entre o processo de ocupao da regio da *erra da &iseric;rdia e suas caractersticas

    socioambientais, centrando a discusso sobre as /reas verdes remanescentes, a partir de

    uma leitura crtica da estruturao socioespacial da metr;pole carioca.

    " O!#ETIOS

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    Analisar as conseq?1ncias socioambientais do processo de ocupao da regio

    do macio da *erra da &iseric;rdia.

    "." O$%et&'os Espe)*+&)os,

    " @evantar o ist;rico de ocupao da regio no contexto da formao

    socioespacial da cidade do 'io de EaneiroK

    " (raar um panorama das princiapais a!es e pro$etos em curso na regioK

    " #dentificar o papel dos diferentes agentes na estruturao socioespacial e na

    dinQmica ambiental da /reaK

    " @evantar a legislao pertinente ao uso e ocupao do solo e 0 proteo

    ambiental.

    - A!ORDAGEM TERI/O0METODOGI/A

    8m primeiro lugar, faz"se necess/rio delimitar a orientao metodol;gica,

    conceitual e poltica do trabalo. Jarte"se de uma crtica 0 abordagem identificada por

    Acselrad et al %+4 como H&odernizao 8col;gicaI, e por *ouza %+= como

    H3esenvolvimento :rbano *ustent/velI, por entendermos que ela endossa explica!es e

    argumentos simplistas " quando no so falaciosos " sobre a Hquesto ambientalI. 8ssas

    correntes se inserem na proposta neoliberal de superao dos problemas ambientais a

    partir de solu!es exclusivamente tcnicas e mercadol;gicas, que muitas vezes se

    restringem ao combate do desperdcio de recursos.

    3esse modo, tal viso nega o fato de que, em ltima an/lise, o modelo

    civilizat;rio capitalista que provoca, ao mesmo tempo, a destruio ambiental e a

    crescente misria de expressivas parcelas da populao, em escala global. Jara uma

    crtica radical a esse ponto de vista, nos apoiamos nas an/lises de autores e movimentos

    sociais consonantes com a perspectiva da Eustia Ambiental e do 3ireito 0 >idade.

    O atual paradigma que domina e difundido pelos governos, mdia, escolas,

    entidades no governamentais e ;rgos multilaterais, afirma que todos os abitantes do

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    planeta so causadores e afetados igualmente pela crise ambiental que se verifica

    %A>*8@'A3 et al, +4. :m exemplo comum desse equvoco o frequente uso do

    termo Ha'o antrpicaI, sobretudo nas ci1ncias naturais. O problema que se considera

    a umanidade na sua condio puramente biol;gica, centrando"se a discusso na relao

    sociedade e natureza. >om isso, negada a caracterstica extremamente eter2noma e

    desigual da sociedade, que determina assimtricas possibilidades de agir e decidir sobre

    o modo de produo e, consequentemente, causar, sofrer e at mesmo se beneficiar com

    os camados impactos ambientais %*O:

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    8m ltima an/lise, so as classes ricas que mais se beneficiam dos impactos

    ambientais, pois possuem maior acesso aos lucros e benefcios na forma de produtos e

    servios produzidos pelos empreendimentos causadores. >onstituem tambm o grupo

    social que menos sofre com eles, por possuir meios para se proteger ou mesmo migrar

    para locais menos suscetveis 0s perturba!es %>O8@6O, +-K *O:*8@'A3 et al,

    +4.

    3iante disso, a discusso sobre o ambiente no deve se restringir 0s dinQmicas eprocessos naturais, mas, sobretudo, articular estes com os processos sociais %&A'(#)*,

    +-+. A partir dessa proposio que os camados Himpactos ambientaisI devem ser

    apreendidos como altera!es no ambiente natural e construdo, que afetam diretamente

    a qualidade de vida da populao. Jode"se diferenci/"los entre HdifusosI, como o

    agravamento do efeito estufa, e os ligados 0 pobreza e 0 segregao, que se manifestam

    mais decisivamente sobre os pobres urbanos, como deslizamentos, encentes e doenas

    %*O:

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    identifica o problema do isolamento entre os ob$etivos parciais de desenvolvimento

    Hsustent/velI, Hecol;gicoI e HsocialI, sobretudo nas polticas pblicas.

    Ao omitir a diviso da sociedade em classes, transforma"se em culpados as

    vtimas dos impactos ambientais %>O8@6O, +-, notadamente os residentes emfavelas. 8 como essa a Hviso oficialI, tal interpretao incorporada 0s leis,

    criminaliza"se a pobreza. Assim, frequentemente se utiliza o argumento de proteo 0

    natureza para $ustificar remo!es de comunidades pobres, sobretudo nas /reas centrais,

    acusando"as de depredao do ambiente natural. Jor exemplo, #FA*8 %+= e a

    pr;pria Jrefeitura do 'io de Eaneiro %J@A)O 8*('A(G#O '#O +-5, ao

    comentarem sobre as causas do desmatamento no 'io de Eaneiro, apontam como causa

    principal as a!es empreendidas pelas comunidades de baixa renda. 8ntretanto, sabe"seque as classes mdia e alta tambm ocupam /reas de encosta florestada na cidade, com

    as mesmas pr/ticas nocivas5. )este caso, no s; a HvisoI, mas a atuao dos ;rgos

    fiscalizadores diversa, pois, como exp2s >ompans %+L, em muitos casos o ob$etivo

    real promover a elitizao do espao, por exemplo, atravs da liberao de stios para

    a construo ou a valorizao de condomnios exclusivos para as classes mdia e alta.

    O fato de as favelas ocuparem /reas fr/geis em termos ambientais se deve ao

    fato de estas serem as nicas que restaram pr;ximas aos locais de trabalo, e que no

    interessavam ao mercado imobili/rio pelas restri!es que oferecem 0 construo. )esse

    sentido, elas podem ser consideradas como uma estratgia de resist1ncia e sobreviv1ncia

    dos pobres urbanos para o enfrentamento da falta de moradia e da acessibilidade ao

    local de trabalo. 8m boa parte dos casos, trata"se de uma populao que foi expulsa de

    /reas submetidas a opera!es de renovao urbana %>O''A, -44-. *egundo *ilva

    %+=, a maioria delas se instalou de forma legal, com autorizao dos propriet/rios,

    que alugavam ou cediam terrenos por interesses polticos, e s; com o passar do tempose tornariam irregulares Hante o poder pblicoI.

    *obre sua relao com o meio ambiente, *ouza %+= reconece que no /

    como negar que as favelas potencializam alguns impactos ambientais, como a remoo

    da vegetao e o bloqueio da drenagem. &esmo assim, para o autor, a responsabilidade

    dos moradores meramente imediata, pois, em ltima an/lise, so as l;gicas do modelo

    6+esmatamento, impermeabilizao do solo, e, em alguns casos, lanando lixo e esgoto emcorpos dricos e /reas de mata.

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    capitalista que induzem essa forma de ocupao. 8lencamos algumas manifesta!es

    dessa l;gicaR insufici1ncia da oferta de abitao popular e o alto custo das resid1ncias

    nas /reas centrais, onde se concentram as oportunidades de trabaloK alto custo e

    precariedade do sistema de transporte pblicoK reduzida oferta de empregos nos bairros

    perifricos " onde / moradias com custos menores " alm da precariedade da

    infraestrutura e aus1ncia de servios essenciais nos mesmos.

    Jortanto, nunca ser/ suficiente HinformarI os moradores sobre os riscos, pois

    no cabe a eles a deciso sobre seus destinos, incluindo a o seu local de moradia

    %*O:

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    cidade. Alm disso, tambm est/ ligada 0 discusso da preservao ambiental e do

    desenvolvimento sustent/velM%J'A3O, +-+.

    )o 'io de Eaneiro, as /reas agrcolas se concentram nas camadas H

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    reciclagem de materiais como recipientes para o plantio, a meloria esttica e a

    recuperao de espaos urbanos degradados, a manuteno de /reas perme/veis, entre

    outras.

    Dale ressaltar que boa parte desses aspectos podem ser observados na rotina dasinstitui!es atuantes na *erra da &iseric;rdia, e em sua militQncia em redes, f;runs e

    eventos com pblicos diversos.

    -." Etapas do Tra$a(3o

    #nicialmente examinou"se uma srie de dados e publica!es oficiais, alm da

    bibliografia, que trouxessem 0 tona a relao %ou rela!es possveis entre o uso e

    ocupao do solo e as caractersticas ambientais, valorizando a funo econ2mica da

    regio no processo de urbanizao do 'io de Eaneiro. Os dados oficiais foram extrados,

    em sua maioria, do site Armazm de 3ados, do #nstituto Jereira Jassos %#JJ, ;rgo

    municipal que possui talvez o maior e mais confi/vel acervo de informa!es sobre a

    cidade, largamente utilizados, pelas mais diferentes abordagens.

    Derificou"se que / uma escassez de dados e informa!es oficiais e cientficas

    que tratem o macio da *erra da &iseric;rdia enquanto :nidade de >onservao %:> e

    /rea verde, com caractersticas ecol;gicas e sociais especficas, o que a posiciona como

    importante laborat;rio de investigao e locus para a execuo de polticas de

    desenvolvimento urbano e ambiental. 8sta perspectiva pautada to somente pelas

    institui!es socioambientais atuantes no local, que se constituram em fontes valiosas de

    informa!es utilizadas neste trabalo.

    Os cerca de sete anos de militQncia na O)G Derde$ar se mostraramfundamentais, pois possibilitaram uma indispens/vel viv1ncia no local, em constante

    contato com os moradores, agentes pblicos e membros da sociedade civil, alm da

    observao in loco de algumas quest!es levantadas no trabalo. )esse perodo,

    participamos de uma srie de atividades de car/ter educativo, cultural, cientfico e

    ecol;gico, visando p2r em pr/tica formas de enfrentamento comunit/rio dos diversos

    problemas socioambientais locais, tais como mutir!es agroecol;gicos para plantio e

    limpeza da /rea verde, caminadas ecol;gicas, oficinas e exibi!es de vdeos,

    19

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    participao de reuni!es e diversas atividades em redes de cooperao com movimentos

    sociais, entre outros.

    )esses e em outros momentos realizou"se conversas informais com membros de

    entidades e movimentos sociais, alm de parceiros com reconecida experi1ncia natem/tica socioambiental, envolvendo desde a atuao dos diferentes agentes que

    interferem na realidade local, at expectativas e opini!es sobre pro$etos em curso na

    regio.

    3iante da impossibilidade de se ter uma total HneutralidadeI, buscou"se

    explicitar nosso posicionamento crtico, respaldando"o com os dados e a bibliografia

    consultados.

    :m emblem/tico exemplo que refora nossa crtica o fato de v/rios

    documentos publicados pela prefeitura do 'io de Eaneiro, por exemplo J>'E %+=,

    desconsiderarem a *erra da &iseric;rdia como uma :>. (al neglig1ncia por n;s

    entendida como algo que respalda a percepo de que a /rea sofre istoricamente com o

    descaso dos agentes governamentais, que pode ser caracterizado na expresso Hracismo

    ambientalI.

    A opo por autores que desenvolvem crticas contundentes ao modelo

    capitalista de produo se fez necess/ria, pelo foco dado neste trabalo aos aspectos

    ambientais relacionados 0 desigualdade social. Alm disso, / a inteno de contribuir

    para o debate sobre esse tema, de modo a superar explica!es evasivas sobre a

    degradao ambiental, como o Hcrescimento desordenadoI, cotidianamente

    reproduzidos nos meios de comunicao de massa e mesmo trabalos acad1micos

    vinculados 0s ci1ncias naturais %A&A3O', -44LK *O:O)*8&A> %>onselo &unicipal de &eio Ambiente da cidade do 'io de Eaneiro.

    8sses momentos foram mpares pela possibilidade de di/logo e contato com as vis!es

    dos agentes pblicos envolvidos com polticas e a!es em curso na regio.

    Outras fontes indispens/veis foram p/ginas de redes sociais, sites de institui!es

    locais e da mdia, que contriburam para o levantamento de a!es e fatos pertinentes,alm dos discursos e boa parte do material fotogr/fico utilizado.

    2)

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    4 RESUTADOS E DIS/USSO

    4.1 5&st6r&)o da O)upao

    Jara o perodo colonial, o recorte espacial possvel foi o que levasse em conta as

    [reguesias 'urais, que eram baseadas na diviso eclesi/stica feita na poca. A atual AJNdo municpio do 'io de Eaneiro foi, at fins do sculo B#B, parte das antigas freguesias

    rurais de #nama e #ra$/. 8ntre os sculos BD## e B#B, cegaram a ocupar o posto de

    maiores produtoras de cana"de"acar da cidade, cu$a estrutura fundi/ria era dominada

    por grandes fazendas escravistas. #sso permaneceria at meados do sculo B#B.

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    [igura =R H&apaI com as [reguesias 'urais do 'io de Eaneiro no perodo colonial. 'etirado de&ota, +4.

    *egundo Amador %-44L, durante esse perodo, a cultura da cana"de"acar se

    alastrou pelos terrenos planos e colinosos da cidade, propcios 0 instalao de grandes

    monoculturas. A regio da *erra da &iseric;rdia no foi exceo. Ao ciclo dessa culturas; teriam sobrevivido as matas das maiores eleva!es no interior do municpio e as mais

    afastadas, como as da *erra do &ar. A partir dessa constatao, deduz"se que a *erra da

    &iseric;rdia $/ teria perdido a maior parte de sua cobertura vegetal original " mata

    atlQntica " ainda no sculo BD##.

    >om a decad1ncia da produo aucareira e posterior ascenso do ciclo do ouro,

    #nama4e #ra$/ se tornaram rotas de acesso para o escoamento dessa produo rumo ao

    importante porto do 'io de Eaneiro, condio que promoveria uma dinamizao

    econ2mica ao longo das vias que utilizadas na poca. )o entanto, sua funo agrcola

    permaneceria, produzindo alimentos para o abastecimento das freguesias centrais e

    /reas de minerao %*A)(O*, -4ML.

    O esgotamento das $azidas de minrios e a crise do acar antilano reativariam

    o sistema agroexportador no pas durante a virada do sculo BD### para o B#B. 6/,

    9 8m -LTN, o ento curato de #nama elevado 0 condio de freguesia, sendo desmembradode #ra$/ %*A)(O*, -4ML.

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    ento, uma retomada das lavouras de cana"de"acar concomitante 0 produo de

    g1neros alimentcios como fei$o, arroz, farina, milo e caf para exportao e tambm

    para o crescente mercado interno da /rea urbana %@#&A, +--. O transporte desses

    produtos era realizado pelos carros de boi, tropas de burro, alm dos diversos rios

    naveg/veis da Facia da Faa de Guanabara, a partir de pequenos portos, como os de

    #nama, &aria Ang, Fr/s de Jina e Javuna %AF'8:, +M.

    )a cidade do 'io de Eaneiro, o caf era plantado ma$oritariamente nas encostas

    dos morros e serras, com a mata que os ocupava sendo indiscriminadamente derrubada e

    usada como lena e constru!es. *ubstituindo a floresta, o caf se adaptou muito bem 0s

    condi!es de clima amenas encontradas principalmente no macio da (i$uca. O

    desmatamento e o sistema de cultivo adotado " monocultura com solo exposto, na qualno avia a menor preocupao com a conservao do solo " levou ao r/pido

    comprometimento dos mananciais que abasteciam a cidade no sculo B#B %op. cit..

    Ao que parece, essa cultura teve pouca expresso na *erra da &iseric;rdia, que

    manteve suas terras ocupadas principalmente pelos g1neros alimentcios, alm da cana,

    que continuava com importQncia relativa nesse perodo %@#&A, +--.

    Apesar de rurais, como toda a periferia do distrito federal, com baixa densidadedemogr/fica, #ra$/ e #nama apresentavam, antes de -ML, intensa atividade

    econ2mica, em virtude da instalao de olarias, caieiras, pedreiras, curtumes, alm de

    atividades terci/rias. >om esses empreendimentos, a regio passou a fornecer tambm

    materiais de construo, como pedras, cal, ti$olos e manilas de barro para obras como

    dutos, aquedutos e cafarizes nas freguesias urbanas %AF'8:, +MK &A'(#)*,

    +-+.

    8ssa diversificao econ2mica assim expressa por @ima %+--R-MR

    H# dita conjuntura ocasionou tam-m uma modifica'o do perfilecon*mico na "reguesia de In(a/ma. +correu o desen!ol!imento deati!idades comerciais paralelas ati!idade agr0cola, tais como acria'o de f-ricas, !endas, (ospedarias na regi'o, le!andonos a crerue as produes agr0colas para o a-astecimento alimentar e as

    produes fa-ris formaram um no!o perfil de proprietrio ao longo dosculo2 o $empresrio%, ou mel(or, o $(omem de negcios%. 3steproprietrio mais do ue um fazendeiro e utiliza suas terras paraati!idades de la!oura e para ati!idades manufatureiras. 4odese dizer,

    tam-m, ue ( uma di!ersifica'o da produ'o, pois (a!iapropriedades ue possu0am f-ricas, cria!am gado e possu0amplantaes di!ersasI.

    23

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    )esse momento, as rela!es sociais e econ2micas com o centro se intensificam,

    e as freguesias em questo ganam importQncia, em parte, por serem mais pr;ximas do

    centro urbano, que, em constante expanso, demandava crescentes quantidades dediversos produtos e matrias"primas.

    >oncomitantemente, tem incio o processo de loteamento das antigas fazendas

    de cana em c/caras menores, com a sua consequente venda ou erana %@#&A, +--.

    Os terrenos maiores e com menores preos, a acessibilidade ao centro-e at o seu

    car/ter Hbuc;licoI se constituem em atrativos para o adensamento populacional

    %>A'DA@6O, +--K ^A*AZA, +--.

    At o incio do sculo B#B, residiam pr;ximos senores e escravos,

    trabaladores livres pobres e membros das elites, como os ricos comerciantes ingleses e

    a aristocracia do caf. #sso se dava em virtude da falta de meios de transporte e 0

    necessidade de defesa do territ;rio %A&A3O', -44L. Fernardes %-44+R =-, descreve o

    padro de ocupao da seguinte formaR

    H%... a estrutura fundiria era (eterog5nea, com as casas operrias

    trreas grudadas umas s outras ao longo das ruas, intercaladas poruarteires com !erdadeiros palacetes e lu&uosas manses, alm dasprimeiras grandes ind/striasI.

    *; a partir de meados desse sculo que se estabelece uma estratificao

    socioespacial no 'io de Eaneiro %AF'8:, +M. 8, nas palavras do autor %ibid., isso

    Hs foi poss0!el com a introdu'o do -onde de -urro e do trem a !apor, ue, a partir de

    1678, constitu0ramse nos grandes impulsionadores do crescimento f0sico da cidadeI %p.

    N5. 8nquanto os HusosI e classes nobres se instalaram na zona sul %at Fotafogo, *o>rist;vo, (i$uca e Dila #sabel, servidos pelos bondes, os Husos su$osI e as camadas de

    baixa renda foram para os subrbios, seguindo a instalao das novas esta!es das

    linas frreas %AF'8:, +M.

    O pape( das estradas de +erro

    1)3evido 0 instalao da estrada de ferro 3om Jedro ##, em -M=M.

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    #nicialmente pro$etadas para o transporte de cargas, / um consenso de que as

    estradas de ferro tiveram um papel fundamental na ocupao do territ;rio suburbano

    carioca. *eus registros, como fluxo de passageiros, nmero de viagens di/rias e a

    criao de esta!es, evidenciam o crescimento populacional e a importQncia dessas

    /reas para a economia da cidade, no sentido de abrigar a fora de trabalo.

    *obre isso afirma @ima FarretoR

    $a !ida dos su-/r-ios, a esta'o da estrada de ferro representa umgrande papel2 o centro, o ei&o dessa !ida. %...e resto, em tornoda :esta'o; ue se aglomeram as principais casas de comrcio dorespecti!o su-/r-io. as suas pro&imidades, a-remse os armazns decomest0!eis mais sortidos, os armarin(os, as farmcias, os aougues e

    < preciso n'o esuecer < a caracter0stica e inol!id!el uitanda

    %FA''8(O apud ^A*AZA, +--RN5.

    8m -M5-, foi construda a estao de >ascadura %da estrada 3om Jedro ##, uma

    das mais movimentadas da freguesia de #nama, seguidas pelas de 9uintino e Jiedade,

    ambas de -MM. (r1s anos depois, era criada a estrada 'io d_Ouro, com menor fora de

    induo da ocupao, pois se iniciava no >a$u e no no centro %indo at a Faixada

    [luminense. &esmo assim, foi respons/vel pela instalao de importantes ncleos,

    como os de #nama, Dicente de >arvalo e #ra$/ %AF'8:, +M.

    8m -MM5, surge a ltima lina que cruzava a regio, a =io de >aneiro ort(en

    =ail?a@ %futura Aeopoldina =ail?a@, ou @eopoldina, cu$o papel seria muito mais

    importante que a 'io d_Ouro. #nterligava ncleos suburbanos das terras mais baixas

    pr;ximas 0 Faa de Guanabara " su$eitas 0 inundao " de *o [rancisco Bavier at

    &irit7 %atual 3uque de >axias, passando por importantes %sub centros como

    Fonsucesso %criada em -MM5 e Jena %op. cit.

    A partir da dcada de -M4, foi ao longo dessas esta!es que as resid1ncias

    foram se instalando, pois seus abitantes dependiam delas para o translado di/rio at os

    locais de trabalo, ainda limitadas ao centro da cidade. Gradativamente, ruas

    secund/rias perpendiculares eram abertas, por propriet/rios de terras ou companias

    loteadoras, que emergiam no perodo como novos agentes econ2micos modeladores do

    espao, promovendo a expanso do tecido %sub urbano %AF'8:, +MK &838#'O*,

    +--.

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    )orona dos *antos descreve esse processo da seguinte formaR

    HBuatro trens de su-/r-ios trafega!am diariamente, antes de 1697, na/nica lin(a ue e&istia at Mirit@, com des!ios em Consucesso, 4en(a ena 4arada de Aucas. + primeiro n/cleo ue prosperou foi Consucesso.

    3sta localidade e as de =amos, +laria e 4en(a, em pouco tempo ontribuindo com essa proposta do capital privado %sobretudo internacional,

    estava o governo, que realizava, atravs do 3)O* %3epartamento )acional de Obras e

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    *aneamento, uma srie de obras, como canaliza!es, aterros e drenagens de v/rzeas de

    rios, construo de estradas e destruio de morros, de modo a oferecer as novas terras a

    serem vendidas. )o entanto, essas obras provocariam nefastas consequ1ncias

    socioambientais, como as recorrentes encentes, fen2meno inerente 0s /reas inund/veis

    %A&A3O', -44LK AF'8:, +M.

    8nquanto isso, diversos servios pblicos ficavam a cargo do capital estrangeiro,

    o que sugerido pelos nomes em ingl1s das companias respons/veis por eles. A oferta

    de /gua, energia eltrica, g/s, esgoto, trens e bondes eram importantes fontes de lucros

    e, desde o seu surgimento, eram distribudos desigualmente pela cidade, comandando o

    crescimento das classes abastadas nas zonas norte %(i$uca e sul %AF'8:, +M.

    E/ no sculo B#B, existiam documentos registrando a indignao da populao

    suburbana quanto 0 precariedade dos servios que les eram ofertados, apesar dos altos

    impostos cobrados pelo governo %AF'8:, +M. O lixo, por exemplo, que passou a ser

    coletado regularmente na segunda metade do sculo B#B, era depositado nos mangues,

    como o do at ento belo estu/rio de #nama, iniciando o seu processo de aterramento

    e contaminao %A&A3O', -44L.

    @ogo no incio do sculo BB, como expresso m/xima das inten!essegregacionistas das elites sobre o espao urbano da cidade, ocorre em -45, na gesto

    do prefeito Jereira Jassos, a mais radical alterao da forma %e contedo urbana $/

    promovida at entoR a H'eforma JassosI. *eus ob$etivos eram clarosR atender 0s

    demandas de reproduo do capital atravs da promoo de uma circulao mais eficaz

    de mercadorias e do embelezamento %travestido de HigienizaoI ou HmodernizaoI

    do centro do 'io de Eaneiro. 8ra necess/rio, pois, atender ao novo modo de vida

    inspirado na -elle poue, extirpando as prec/rias condi!es de saneamento que

    desencadeavam enfermidades, como a febre amarela.

    Jara tanto, realizou"se uma srie de obras urbansticas, como o alargamento e a

    criao de avenidas e a construo do novo porto, que serviam de argumento para a

    destruio das moradias populares do centro %AF'8:, +M.

    8nquanto quase nada se realizava nas /reas suburbanas, o centro e a zona sul

    eram agraciados com melorias urbansticas e embelezamento. Os pobres, por sua vez,

    expulsos do centro, s; tinam tr1s op!esR procurar as cada vez mais escassas e caras

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    abita!es coletivas restantes, se instalar nos morros, ou migrar para os subrbios. A

    conseq?1ncia direta dessa migrao foi o acrscimo populacional de +4NP em #nama

    e de -4P em #ra$/, entre os anos de -M4 e -45 %op. cit..

    8ssa poltica permaneceria at -4N, nos governos municipais que se sucederamno perodo. A HnovidadeI que ocorre um consider/vel crescimento da atividade

    industrial brasileira, sobretudo durante a Jrimeira Guerra &undial. )esse perodo, se

    intensifica a migrao de diversas unidades fabris para os subrbios, atradas pelos

    terrenos amplos e baratos pr;ximos 0s estradas de ferro, que promoviam o acesso 0

    mercados e 0 proximidade da fora de trabalo %>O''A, -44-. >om essa expanso,

    o poder pblico no contribuiu, $/ que, nas palavras de AF'8: %+M cabia 0s pr;prias

    indstrias a criao de Hno!as reas, dotandoas de infraestrutura e, principalmente,gerando empregosI %op. cit..

    O dinamismo econ2mico provocado pela atividade industrial em #ra$/ e #nama

    provocou profundas transforma!es no perfil destes distritos, que tiveram os maiores

    ndices de crescimento populacional do 8stado da Guanabara entre -45 e -4N %+5NP

    e 4+P, respectivamente. (ornaram"se as mais populosas e com os maiores percentuais

    de pessoas empregadas no setor industrial da cidade, conforme dados dos censos da

    poca. >om esse processo contriburam a eletrificao da via frrea, que possibilitou a

    instaurao da tarifa nica nas linas suburbanas, a construo das Avenidas Su-ur-ana

    e #utom!el Elu-, alm do ingresso das primeiras levas de migrantes, oriundos do

    antigo estado do 'io de Eaneiro %op. cit.. A regio agora consolida uma nova funoR

    servir de local de moradia para a fora de trabalo oper/ria.

    9uanto aos aspectos socioambientais, segundo Amador %-44LRN+4, o estu/rio de

    #nama foi todo destrudo nesse perodo, pelos sucessivos aterros que eram realizados

    para se atender a demanda por novos terrenos. E/ *antos %-4ML comenta que as

    abita!es surgidas nos arredores das indstrias eram prec/rias, sem infraestrutura de

    coleta de esgotos e distribuio de /gua.

    Sur2&7ento das +a'e(as

    28

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    [igura 5R &apa das favelas da cidade do 'io de Eaneiro em -4+M. 'etirado deR *ilva %+=.

    O intenso crescimento populacional das tr1s primeiras dcadas do sculo BB

    amplia consideravelmente a demanda por moradia popular em toda cidade, pois, alm

    dos migrantes, / os retornados da guerra e antigos moradores dos cortios, que foram

    em sua maioria demolidos. Jor outro lado, avia uma srie de restri!es 0 construo

    pela legislao urbanstica, que instituiu rgidos padr!es arquitet2nicos. 8sses fatores,

    aliados 0 ao elitizadora do mercado imobili/rio, tornam os preos dos novos im;veis

    inacessveis 0s camadas menos favorecidas da populao. 8, como ainda eram

    constantes as destrui!es de abita!es populares do centro, pode"se afirmar que, ao

    invs de atender 0 demanda por moradia que se configurou, os produtores do espao

    urbano acabam por promover as prec/rias formas de abitao que visavam erradicar,

    s; que agora nas encostas dos morros, com a disseminao das favelas %AF'8:, +MK

    *#@DA, +-.

    8las rapidamente se espalam por toda cidade, tanto na /rea urbana central

    consolidada como nos vetores de expanso, das classes mdia e alta, quanto nos

    subrbios, acompanando a oferta de emprego nas indstrias %AF'8:, +MK *#@DA,+=.

    29

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    8m -4-L surge a do Eacarezino %AF'8:, +M e entre o final da dcada de +

    e o incio de -4N a Eoaquim de 9ueiroz, Dila >ruzeiro, >amino da Grota e (ravessa

    @aurinda %*#@DA, +=. )as palavras da autora, Ho ue se pode perce-er um padr'o

    de dissemina'o de case-res, com poucas nucleaesI, se referindo 0s tr1s ltimas %op.

    cit., +=R-MT, que foram as primeiras das encostas da *erra da &iseric;rdia. A essas se

    seguiram v/rias outras nas dcadas seguintes, como mostra a tabela abaixoR

    8AEAS ANO

    /OM9E:O DO

    AEMO

    Eoaquim de 9ueiroz %Grota -4+M&orro do Adeus -4T-)ova Fraslia -4T+

    #tarar %Alvorada -4T5&orro do Adeus -4=-

    &orro do Alemo -4=-

    'elic/rio -4=-&orro da Faiana -45-8strada do #tarar entre -4L5U-4M=

    &orro das palmeiras -4LL&ouro [ilo -4L4

    /OM9E:O DA9EN5A

    &orro da >aixa d_/gua -4N-Dila >ruzeiro -4T-

    Jarque Jrolet/rio da Jena -4T-&orro do >aririUJena -4TT

    @audelino [reireU&arrom Glace -455Jarque Jrolet/rio do Groto -4L4

    /OM9E:O DO#URAMENTO

    &orro do Euramento -4T=Dila Jrimavera %>avalcanti -4=5

    'ua Frcio de &oraes -4=LJarque *ilva Dale %(om/s >oelo -45=

    'ua *rgio *ilva -4L-Jarque )ova &arac/ -44=

    MADUREIRA &orro da *errina -4+-&orro do *ap1 -4N-

    9uadro +R Ano de surgimento das principais favelas na *erra da &iseric;rdia. [onteR*AF'8), #JJ, +-+.

    /onso(&dao da re2&o )o7o su$;r$&o &ndustr&a(

    6/ de se ressaltar que, no entanto, at esse momento a ocupao de #ra$/ e

    #nama no se dera de modo uniforme por toda vasta extenso de seus territ;rios. >om

    exceo da lina tronco da estrada >entral do Frasil %&ier e &adureira, o povoamento

    ainda era esparso, concentrado nas imedia!es das vias frreas. 6avia poucas indstrias,

    que, como dito, se instalaram sem o apoio do 8stado, em terrenos no inund/veis pelas

    ceias dos rios Eacar e [aria"timb;. O autor mostra isso com dados de densidade

    3)

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    demogr/fica e quantidade de passageiros transportados pelos trens. A tabela abaixo

    exp!e a comparao de #nama e #ra$/ com as freguesias mais adensadas, localizadas

    no centro da cidade.

    8re2ues&as 5a$(O [838'A@ apud AF'8:,+MRML.

    8ssa poltica prop!e a construo %e a meloria de abita!es a preos baixos,

    com o interesse principal de segregar e controlar a reproduo da fora de trabalo. Jara

    as favelas, no entanto, prop!e que se$am erradicadas, reconecendo a necessidade de

    oferecer alternativas aos seus abitantes %AF'8:, +M.

    8ntre -4N e -4=, continua o deslocamento industrial para os subrbios,sustentado pelas obras de aterros e HsaneamentoI %drenagem das v/rzeas realizadas

    31

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    pelo 3)O*, como as dos rios Eacar e [aria"timb; %entre a Avenida #ta;ca e a 8strada

    Dela da Javuna, em -4T+, permitindo novas instala!es %op. cit..

    Alm das referidas obras, que passam a ocorrer de forma mais sistem/tica na

    /rea, promulgado, em -4NL, o decreto 5, definindo as zonas industriais do 8stadoda Guanabara. 8le exclui toda a

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    8ntretanto, essas a!es so consideradas pontuais, restritas 0s localidades

    pr;ximas de indstrias. )esse esteio, o governo vai tentar implementar um controle

    mais rgido sobre o espao urbano, removendo favelas de /reas nobres para instalar suas

    popula!es nessas novas abita!es. )o entanto, essa proposta no obteve grande 1xito,

    pois novas favelas se instalavam em ritmo mais acelerado %op. cit..

    A construo da Avenida Frasil em -4T5 estabelece mais um eixo industrial na

    regio, $unto 0 orla da Faa de Guanabara. 8ste eixo, por sua vez, s; viria a se

    materializar nos anos =. 8nquanto isso, a disponibilidade de stios sobre aterro

    pr;ximos a esta importante via leva ao surgimento de v/rias comunidades, como as da

    &ar, atradas pelas possibilidades de emprego nas futuras f/bricas %op. cit..

    Apesar de serem necess/rias como Hm'oo-ra farta, -arata e espacialmente

    concentradaI, esta forma de abitao, quando instalada na zona sul, era motivo de

    severas crticas 0 prefeitura por parte da imprensa, incitando a prefeitura a seguir com a

    poltica de remo!es %AF'8:, +MK *#@DA, +=.

    >om isso, assiste"se a mais um perodo de intenso crescimento demogr/fico em

    todo entorno da *erra da &iseric;rdia, sobretudo nas favelas, na medida em que os

    terrenos HformaisI se tornavam cada vez mais escassos e caros %devido ao congelamentodos aluguis e a oferta de abitao popular ` atravs dos con$untos abitacionais `

    distante dos locais de trabalo e em quantidade insuficiente. Abreu %+M apresenta

    dados censit/rios da poca que mostram que mais da metade dos residentes em favelas

    surgidas entre -4TM e -45 na capital esto no distrito da Jena. E/ a regio da

    @eopoldina como um todo passa a abrigar o maior percentual de populao favelada da

    cidade em -45, crescendo -=P, notadamente nas proximidades da Avenida Frasil

    %op. cit..

    33

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    [igura LRFairro da Jena com a *erra da &iseric;rdia ao fundo, em -4=M. [onteR 'onaldo @uiz&artins.

    8sses dados evidenciam o progressivo deslocamento dessa forma de abitao,

    que anteriormente se concentrava nas /reas mais centrais %centro, zona sul e subrbio dacentral do Frasil, devido a oferta de emprego, para o entorno mais imediato da *erra da

    &iseric;rdia, ou se$a, os subrbios servidos pelas linas de trem @eopoldina, 'io d_ouro

    e @ina Auxiliar.

    #sso se deve 0s constantes remo!es de comunidades da zona sul, seguida pela

    ocupao das margens da Av. Frasil, 0 formao dos complexos %de favelas, 0

    precarizao %HfavelizaoI dos con$untos abitacionais, alm da constante cegada de

    migrantes %*#@DA, +=K AF'8:, +M.

    )o perodo da ditadura militar, suspendem"se quaisquer perspectivas de uma

    reforma urbana, e foco das polticas e programas pblicos em HcirurgiasI do espao

    urbano, que privilegiavam como nunca as /reas ocupadas pelas classes mdia e alta. O

    seu maior exemplo uma srie de obras vi/rias e melorias urbansticas da zona sul e $/

    em direo 0 Farra da (i$uca. 8sses investimentos contribuem decisivamente com a

    empresa imobili/ria em detrimento de uma melor oferta de infraestrutura nos

    subrbios %AF'8:, +M.

    34

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    3iante dessa desigualdade de investimentos nas diferentes /reas da cidade que

    se torna pertinente mencionar a crtica feita por [ernandes %-44= em sua obra H+ rapto

    ideolgico da categoria de su-/r-ioI. 8ste conceito, que originalmente se refere 0s

    /reas perifricas da metr;pole, gana uma conotao pe$orativa no 'io de Eaneiro,

    passando a se referir exclusivamente 0s /reas servidas pelas estradas de ferro e ocupadas

    pelas classes populares, mesmo que essas /reas apresentassem consider/vel dinamismo

    econ2mico. Ou se$a, a expresso passa a refletir e reforar, ao mesmo tempo, o

    abandono pelo poder pblico, fato que as levou a um progressivo esvaziamento

    econ2mico e sucateamento da infraestrutura.

    )esse perodo, facilitada pela suspenso dos direitos civis, intensificam"se as

    remo!es de favelas das /reas nobres para darem lugar 0s resid1ncias de luxo e suas/reas verdes, enviando a populao pobre para con$untos abitacionais em bairros cada

    vez mais distantes do ncleo metropolitano %[8''8#'A, +4. Jor sua vez, bairros

    residenciais de classe mdia baixa, como a @apa e o >atumbi, so remodelados,

    substituindo seus antigos abitantes por mais vias de ligao do centro com a zona sul, e

    desta com a Farra da (i$uca %AF'8:, +M.

    Alm da grande discrepQncia dos investimentos governamentais e do privilgio

    de interven!es adequadas ao transporte particular, o camado Harroco salarialI outro

    fator que contribui para a grande concentrao de renda que marca o perodo.

    *egundo Amador %-44L, o intenso 1xodo rural na dcada de L fez com que os

    migrantes correspondessem a LN,LP do incremento populacional da cidade, somando

    cerca de -,= milo de pessoas. Foa parte se instalando nos bairros oper/rios e favelas.

    As regi!es administrativas da Jena, 'amos e &ier apresentam taxas de crescimento

    em torno de TP entre os anos de -45 e -4L %AF'8:, +M.

    O per*odo da des&ndustr&a(&@ao

    35

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    8m fins dos anos L comeam a surgir os primeiros sinais da decad1ncia do

    modelo industrial fordista que comandou o crescimento econ2mico durante o Hmilagre

    brasileiroI. #sso se deu no incio do processo de globalizao dos mercados e crise fiscal

    dos 8stados, em escala global %'O@)#Z, +-+K &A'(#)*, +-+.

    >omo resposta 0 crise, o governo brasileiro p!e em pauta uma agenda de

    reformas econ2micas de a$uste estrutural, com car/ter neoliberal, que p!em fim ao

    modelo de estado provedor, gerando desemprego e reduzindo a abrang1ncia das

    polticas sociais, a includos os financiamentos abitacionais %'O@)#Z, +-+.

    6/ uma consider/vel reduo da oferta de moradia popular em toda regio

    metropolitana, devido ao fim do *[6 %*ervio [ederal de 6abitao e 0 reduo da

    atuao da >86AF %>ompania 8stadual de 6abitao, decretando o fim da $era dos

    grandes conjuntos popularesI. Jaralelamente, no plano poltico, durante o governo de

    @eonel Frizola %-4M+"M5, ocorre uma maior legitimao das favelas. >omo

    conseq?1ncia desses dois processos, /, novamente, um intenso crescimento

    populacional e espacial das favelas em toda cidade, inclusive nas encostas da *erra da

    &iseric;rdia %AF'8:, +MK FA''O*, +-+.

    )a cidade do 'io de Eaneiro, desde o incio da gesto de >sar &aia, em -44N, a

    prefeitura adota o HJlane$amento 8stratgicoI, cu$a proposta de desenvolvimento

    urbano comandada pelo imperativo do crescimento econ2mico. Jara isso, o poder

    pblico esquematiza um consenso, se utilizando de um portf;lio de pro$etos pontuais de

    interveno urbana, que contribui para neutralizar crticas e opositores. Afasta"se, desse

    modo, dos princpios redistributivos que orientaram a agenda da reforma urbana, e

    subordinando"se aos interesses dos agentes econ2micos globais %>O&JA)*, +T. O

    maior exemplo desse modelo de gesto empresarial competitiva %cit@marKeting so os

    investimentos visando 0 candidatura aos $ogos olmpicos de +T e mais recentemente

    para a realizao da >opa do &undo de +-T e Olimpadas de +-5.8m relao 0 dinQmica demogr/fica, nos anos 4 o crescimento populacional

    continua reduzido em toda cidade, mas ouve significativa variao entre as /reas

    ocupadas pelas diferentes classes sociais. 3esde a dcada de M que as maiores taxas

    so encontradas na Hzona oesteI, vetor principal de crescimento. 8ntre -44- e +, a

    populao da cidade como um todo cresceu a uma taxa geomtrica mdia anual de

    ,LTP ao ano. >onsiderando somente a populao residente em favelas, esse ndice foi

    de +,TP, enquanto na camada Hcidade formalI ficou em ,TP %F8**8'&A) 8>ADA@#8'#, +T.

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    >om a redemocratizao, a constituio de MM determinou que toda cidade com

    populao acima de +. abitantes deveria formular um Jlano 3iretor para orientar a

    poltica urbana local. 3iante disso, ganam corpo polticas pontuais de urbanizao e

    dotao de infraestrutura em assentamentos informais e favelas. A partir do enga$amento

    de diversos movimentos sociais e populares, o novo arcabouo legal surgido nesse

    perodo " Jlano 3iretor de -44+ e o 8statuto da >idade %+- " recomenda que a

    prioridade se$a a regularizao e a urbanizao, ao invs da remoo de favelas. (ais

    investimentos visam principalmente o controle poltico dessa populao no $ogo

    eleitoral, e no o fortalecimento de espaos participativos de gesto e plane$amento

    previstos na lei %>O&JA)*, +LK 'O@)#Z, +-+.

    )o entanto, isso no impede que os sucessivos governos municipais %&aia,>onde e Jaes garantam /reas privilegiadas em termos de localizao e infraestrutura

    para a iniciativa privada, atravs da remoo de comunidades pobres das /reas centrais.

    8stas a!es se amparam no discurso ambiental, que gana fora na cena poltica

    marcada por gest!es tecnocr/ticas, reforadas por uma viso HecologizadaI e

    conservadora dos meios acad1micos e da mdia, cada vez mais distantes das premissas

    do direito 0 cidade %A>*8@'A3, +-+K >O&JA)*, +LK 'O@)#Z, +-+.

    )esse contexto, se inserem os pro$etos de HrevitalizaoI, HrequalificaoI, e

    HreabilitaoI do espao urbano, consonantes com o ide/rio internacional da cidade"

    global, elitizada, adequada aos processos de acumulao, reproduo e fluidez do

    grande capital. O foco da poltica urbana em grandes pro$etos pontuais ` de transporte,

    como a lina amarela, renovao dos atributos urbansticos, como o 'io"cidade e o

    favela"bairro, de urbanizao de favelas. %>O&JA)*, +T.

    Jara a regio da *erra da &iseric;rdia, a crise significou o esvaziamento da

    atividade econ2mica, que era predominantemente vinculada 0 indstria. (rata"se de umperodo de transio, no qual a sua funo passa a ser quase que exclusivamente

    residencial, com pequeno comrcio e servios para atender a populao local

    %&838#'O*, +5.

    [ernandes %+M identifica dois casos de transformao das antigas zonas

    industriais, curiosamente, um em cada HladoI da *erra da &iseric;rdia. )o primeiro,

    esto /reas HrecicladasI, voltadas ao comrcio e servios, onde se instalam S(oppings

    Eenters, redes de supermercados, empreendimentos esportivos e resid1ncias destinadas0 classe mdia, em virtude da elitizao do mercado imobili/rio em toda a cidade.

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    HSeu mel(or e&emplo a grande rea formada junto Ain(a #marela ena interse'o com o antigo ei&o industrial e residencial fordista da

    #!enida Su-ur-ana. Lal tend5ncia comeou a se manifestar nos anos68, uando em terrenos da f-rica la-in foi constru0do o orte

    S(opping, o ue depois foi seguido tam-m pela recon!ers'o dosedif0cios da Lecelagem o!a #mrica, no -airro de el Eastillo, por

    sinal junto a um conjunto residencial da era Nargas ue foi implantadoseguindo o modelo de cidadejardim. Supermercados e grandes cadeiasinternacionais, como Aero@Merlin e OallMart, tam-m se instalaramem outros espaos industriais a-andonados% %[8')A)38*, +M.

    )o outro eixo, @eopoldina, a precarizao do trabalo e o abandono pela

    iniciativa privada e pelo 8stado levam ao sucateamento das condi!es de vida, com o

    crescimento expressivo das favelas e a deteriorao dos aspectos urbansticos. )esse

    contexto, gerou"se um terreno propcio para o controle territorial e a viol1ncia

    perpetrada por organiza!es criminosas do narcotr/fico vare$ista %op. cit..

    Derifica"se assim a superao do modelo de cidade polarizada, dual, segregada a

    partir da dicotomia centro e periferia. O tecido urbano da metr;pole se torna mais

    complexo, em forma e contedo. *e multiplicam as formas de produo e apropriao

    do espao urbano, cu$a consequ1ncia um intenso processo de fragmentao

    socioespacial %@A>8'3A, +-+. 6/ uma $ustaposio de /reas HisoladasI entre siRfragmentos onde a classe mdia se enclausura, atravs de um crescente nmero de

    condomnios exclusivos, e outras que [ernandes %op. cit. classifica como

    Henferru$adasI, devido 0 sua deteriorao em termos econ2micos e sociais, notadamente

    nas favelas e suas ad$ac1ncias.

    As consequ1ncias do pro$eto HempreendedorI de Hcidade empresarial

    competitivaI so, segundo Frand e Jrada %apudFA''O*, +-+R concentrao de

    renda, aumento da pobreza, fragmentao, alm da polarizao socioespacial. )o 'io deEaneiro, em virtude da prioridade dada aos camados HmegaeventosI, se observa uma

    descaracterizao do interesse pblico em favor do privado, na forma de uma

    privatizao das polticas pblicas. )esse processo se inclui a flexibilizao ou mesmo

    mudana da legislao, de modo a permitir melores fluxos de capitais e colocao da

    cidade na disputa pelos investimentos internacionais %>O&JA)*, +TK 'O@)#Z,

    +-+.

    )a contrapartida dessa forma de atuao estatal, que tem dominado a cena

    poltica carioca, &aricato %*8& A)O cama ateno para o fato de que a aprovao

    38

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    do estatuto da cidade em +- significou uma importante vit;ria dos movimentos pela

    reforma urbana, sendo considerada uma legislao avanada, 0 qual se seguiram planos

    e leis com propostas tcnicas e economicamente vi/veis e socialmente necess/rias,

    porm bloqueadas no plano poltico. Ou se$a, existe um arcabouo $urdico capaz de

    promover uma democratizao e reduo das desigualdades que se materializam no

    espao urbano. 8ntretanto, permanece o importante desafio de torn/"los factveis.

    Acreditamos que isso s; acontecer/ com a mobilizao de amplos setores da sociedade

    comprometidos com a $ustia social %e ambiental.

    4." /onte?to Atua(

    39

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    )a ltima dcada %entre + e +- ouve um crescimento populacional de

    -,4P em toda AJN, mas esse aumento s; ocorreu de fato nas favelas, atingindo --P

    nelas. Jor outro lado, se considerarmos apenas os Hbairros formaisI, ouve uma reduo

    da ordem de -P, no mesmo perodo %>ADA@@#8'# e D#A@, +-+.

    Apesar do esvaziamento econ2mico das ltimas dcadas, a zona norte da cidade

    ainda concentra a maior parte das indstrias poluentes, como mostra o gr/fico abaixo.

    [igura MR Gr/fico de quantidade de indstrias potencialmente poluidoras, por AJ.'etirado deR J>'E, +=.

    T.+.- Jedreiras

    Derifica"se que / uma consider/vel concentrao de estabelecimentos

    mineradores na *erra da &iseric;rdia. Alguns deles em funcionamento desde a dcada

    de T %*#&A*, +L. *endo provavelmente o mais agressivo impacto ambiental no

    macio, a /rea ocupada pela minerao na *erra, segundo o #JJ, era de L= a, em +-.

    4)

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    [igura 4R &apa dos estabelecimentos que exercem atividades de extrao mineral no'io de Eaneiro. 'etirado de J>'E %+=.

    Atualmente existem pelo menos tr1s empresas atuantes neste ramo na *erra da

    &iseric;rdiaR *ociedade )acional, com aproximadamente - a, Ananguera %-= a e

    @afarge %== a %D8'38EA', +-N. *imas %+L comenta que elas fornecem

    significativas quantidades de materiais para a indstria da construo civil do

    municpio, sobretudo em ocasi!es dos &egaeventos--. >abe ressaltar que todos os

    decretos que instituem :>s na regio mostram a necessidade da desativao desta

    atividade, se estabelecendo condi!es para o seu uso futuro como /rea pblica de lazer.

    &esmo assim, recentemente as licenas destas tr1s empresas foram renovadas pelo

    #)8A, dando continuidade 0 explorao, sem qualquer procedimento de participao e

    controle social, como audi1ncias pblicas. A da empresa *ociedade )acional autoriza o

    grupo a realizar o J'A3 %Jrograma de 'ecuperao de Creas 3egradadas com a

    construo de um aterro de resduos da construo civil da cidade, que em nada

    beneficia a populao local, muito menos o ambiente natural %>A'DA@6O, +--.

    11O autor se refere 0s obras para os $ogos Jan"Americanos de +L, que, segundo um

    funcion/rio de uma das empresas, fizeram com que a produo de brita e outros materiaisaumentassem consideravelmente %*#&A*, +L.

    41

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    Alm disso, / dificuldades de acesso 0s informa!es dos processos de licenciamento

    ambiental destas empresas.

    [igura -R #magem area com delimitao das /reas ocupadas pelas Jedreiras na *erra da&iseric;rdia. 8laborado porR @o7ola [ilo %+-N.

    8xistem evid1ncias de que as estruturas de diversas resid1ncias de loteamentos

    pr;ximos 0s pedreiras esto comprometidas pelas detona!es di/rias realizadas,

    apresentando grandes racaduras. Alm disso, / problemas relacionados 0 salubridade,

    $/ que existem diversos casos de problemas respirat;rios atingindo moradores locais

    %op. cit..

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    [igura --R [oto de /rea lavrada na *erra da &iseric;rdia. [onteR Derde$ar *ocioambiental.

    Jor fim, a lei municipal -N++UMM %J>'E, -4MM probe o funcionamento de

    pedreiras a menos de - Vm de distQncia de resid1ncias. 8ntretanto, no pr;prio texto do

    processo de licenciamento da empresa Ananguera, afirma"se que existe um ncleo

    residencial a -4 metros, o loteamento Jarque &aria Alice.

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    4."." 8a'e(as

    [igura -+R#magem area com as /reas das favelas da *erra da &iseric;rdia delimitadas emvermelo. [onteR #JJ.

    A partir da an/lise de imagens areas, no *AF'8) %*istema de Assentamentos

    de baixa renda, do #JJ, / a informao de que no ouve crescimento orizontal da

    /rea da maioria das favelas na *erra da &iseric;rdia, tendo inclusive algumas reduzidosua /rea. Aponta"se as obras de urbanizao como principal respons/vel por isso. Ou

    se$a, o momento atual marcado pelos esforos por parte do 8stado no sentido de

    controlar a reproduo social das comunidades, vide as recentes instala!es de :JJs e

    obras de urbanizao %JA> favelas e programa &orar >arioca.

    8a'e(a rea B7C"F " "1

    Dila >ruzeiro +TT +4 +TT +4 +TT +4

    &orro da >aixa dCgua MT M=T MT M=T MT M=T&orro da [ M+ 4TM M+ 4TM M+ L-M&orro do *ereno T- NL T- T5M T- T5MJarque Jrolet/rio do Groto -N N=+ -N N=+ -N N4-Dila Jrolet/ria da Jena N- T=5 N- T=5 N- =M4&orro do 8ngeno da 'aina L + L + L +'elic/rio TN 4N+ TN 4N+ TN 4N+'ua *rgio *ilva ++ NN= ++ NN= ++ NN=Jarque )ova &arac/ -+N -++ -+N -++ -+N -++Dila dos &ineiros N M5L N M5L N M5L*errina MN MTL MN MTL MN MTL&orro do *ap1 4+ 4=T 4N +M4 4N 5T>omplexo do Alemo - M5+ MTN - M-- =T= - LLL +L

    9uadro =R Crea ocupada pelas principais favelas da *erra da &iseric;rdia.[onteR*AF'8), #JJ, +--.

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    Com,le.oda Penha

    Com,le.o do

    Com,le.o do'lem(o

    Com,le.odo Sa,

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    O fato de essa populao continuar a apresentar expressivo crescimento indica a

    demanda que se tem pelo desenvolvimento de estratgias e polticas especficas para a

    oferta de empregos, abitao, regularizao fundi/ria e demais servios urbanos para

    essas comunidades, alm de se promover uma compatibilizao da sua presena com as

    /reas verdes. )esse caso, ao invs de a!es que se restringem ao controle da sua

    expanso, importante promover outras op!es, como, por exemplo, a criao de

    ncleos residenciais em im;veis vazios, tanto no centro, como prop!e &artins %+-+,

    como na AJN, ambas em processo de esvaziamento populacional. 8ssa proposta se

    baseia na grande quantidade de im;veis vazios e subutilizados, seguindo a dinQmica da

    especulao imobili/ria, que se encontram nessas regi!es. claro que esse adensamento

    deve ser acompanado de uma melor oferta infraestrutura e servios coletivos

    essenciais.

    O quadro abaixo apresenta a evoluo das /reas ocupadas em encostas dos

    morros e macios do municpio do 'io de Eaneiro. A *erra da &iseric;rdia foi a que

    apresentou a segunda maior taxa de ocupao das encostas acima de - metros, como

    se pode observar. Dale notar que, nessa *erra, essa ocupao se resume 0s favelas.

    :nidade de 'elevo %- Crea total%a

    Crea urbana %+

    -4MT +- >rescimento %N(otal %a P (otal

    %aP (otal

    %aP

    &acio da Jedra Franca -N NT,ML +M,N+ ,++ --=,-M ,MM M5,M5 ,5L

    &acio da (i$uca 4 NT+,T =+,M =,NM L=-,55 M,= +TM,M5 +,55

    &acio do &endana N -N+,T4 ,T= ,- ,T= ,- , ,

    &orros da apoeira Grande =L,NL =,-L 4,+ 5,+5 -,4-

    -,4 -,4

    Serra da M&ser&)6rd&a -4FHF FH44 "H4" 4H" 11HJ -"H"F H"J

    *erra da Josse 54,N , " ,-= ,+- ,-= ,+-

    *erra do>antagaloU#noaba

    L=,=- ... ... -,T4 ,+- -,T4 ,+-

    *erra do 8ngeno )ovo 4=,NM T,4M =,++ -L,-= -L,44

    -+,-M -+,LL

    %- " [oram consideradas as /reas acima da cota - dasprincipais serras e morros.

    9uadro 5RDariao da /rea das principais unidades de relevo e nmeros absolutos e relativos daocupao urbana entre -4MT ` +-. 'etirado de #JJ.

    A mesma autora %&A'(#)*, +-+ coloca que o maior controle por parte do

    8stado sobre a ampliao da /rea das favelas leva a uma expanso vertical das mesmas,

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    sem estrutura adequada, com um consequente aumento do nmero de pessoas por

    resid1ncia, o que compromete ainda mais a qualidade de vida de sua populao.

    O problema do saneamento est/ entre os principais em todas as favelas do 'io

    de Eaneiro ao longo da ist;ria de exist1ncia desses assentamentos populares. Apesardos dados oficiais indicarem a exist1ncia da rede geral de /gua e esgoto, e afirmarem

    aver coleta de lixo em cerca de 4P dos domiclios %#FG8, +-+ apud #JJ, +-+, um

    exame pormenorizado evidencia que ainda / muito a ser feito nesse sentido.

    #nforma!es levantadas pelo J3*A %Jlano de 3esenvolvimento *ocial do Alemo

    revelaram que o esgotamento sanit/rio, a coleta de lixo e a distribuio de /gua so

    insuficientes e prec/rios. 8m algumas comunidades, como a Dila"&atina o

    abastecimento d_/gua da rede geral cobre apenas 4P das casas. A coleta de lixo s;beneficia TP de moradores de todo o >omplexo do Alemo. Outros problemas

    recorrentes so a presena de valas negras e lix!es em v/rias comunidades, alguns na

    *erra da &iseric;rdia. O da [azendina, por exemplo, possui + anos e T toneladas

    %'8@A('#O J3*A apud FA''O*, +-+.

    >onsideramos esses servios, associados 0 moradia, emprego e renda, transporte,

    educao e sade como indispens/veis para qualquer poltica pblica que vise promover

    uma relao arm2nica entre os moradores das comunidades ad$acentes e a *erra da&iseric;rdia.

    3iante desse quadro, imp!e"se ento o desafioR onde e como acomodar esse

    crescimento populacional %ibid., cu$a tend1ncia permanecer sob altas taxas nas

    pr;ximas dcadasS

    Morar Carioca

    8m +- a Jrefeitura lanou o Jrograma H&orar >ariocaI, que prev1 obras de

    urbanizao de favelas, de modo a melorar os servios de saneamento, pavimentao,

    iluminao pblica, oferta de /reas verdes, quadras esportivas, /reas de lazer, e a

    construo de equipamentos sociais, de sade e educao, alm da regularizao

    fundi/ria. Jrev1 ainda a reduzir a /rea ocupada pelas favelas na cidade em =P,

    removendo im;veis de H/reas de riscoI e realizar o zoneamento, com implantao das

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    6,

    +-NK :JJ *O>#A@, +-N.

    8ntretanto, segundo levantamento feito pelo site=io on Oatc(, no programa /

    remo!es foradas, falta de participao social, atrasos e suspens!es de obras %no

    >omplexo da Jena, por exemplo. O mesmo veculo aponta que a maioria das obras

    no cegou a se iniciar-T. &esmo assim, somadas 0 outras polticas implantadas nas

    comunidades, o programa contribuiu para promover um grande aumento dos preos de

    im;veis e aluguis, cegando a NP no >omplexo do Alemo, onde um presidente de

    Associao de &oradores e mais T-5 famlias tiveram que deixar suas casas %'#O O)

    A(>6, +-N.

    T.+.N (ranscarioca

    &edeiros %+-- e #JJ %+-+ comentam que a construo das linas amarela e

    vermela contribuiu para a segmentao dos bairros, com a ruptura de vnculos sociais e

    identidades locais. O se$a, essas obras potencializaram os efeitos da fragmentao

    socioespacial.

    3esde maro de +-- est/ em construo o corredor exclusivo para 2nibus F'(

    %Cus =apid Lransit H(ranscariocaI, que ligar/ o aeroporto internacional (om Eobim, na

    #la do Governador, at a Farra da (i$uca, ao longo de N4 Vm. Atravessar/ diversos

    bairros da *erra da &iseric;rdia, tais como 'amos, Jena e &adureira. O investimento,

    12Os complexos da Jena e do Alemo $/ contam com leis municipais que decretam omplexos da Jena e do Alemo, que estoincludos no site=io on Oatc(e :JJ *ocial, respectivamente. :ma matria $onalsticaveiculada recentemente diz que v/rias obras da prefeitura em favelas so associadas aoprograma atravs de placas, sem de fato serem.

    14At maio de +-N %op. cit.

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    nica de mobilidade urbana para a >opa com recursos do F)38* %Fanco )acional do

    3esenvolvimento 8con2mico e *ocial, da ordem de ' -,M bilo %>O(

    JOJ:@A' 3A >OJA, +-NK ('#F:)A@ 38 >O)(A* 3A :)#XO, +-N.

    *egundo o dossi1 elaborado pelo >omit1 Jopular da >opa %+-N, calcula"se quea obra desapropriar/ em torno de N5 im;veis. Alm disso, existem conflitos

    instalados devido aos impactos ambientais, $/ que o licenciamento ambiental " feito pelo

    #)8A " foi fracionado %feito por trecos e simplificado. 3urante a obra, so observados

    diversos transtornos no cotidiano dos abitantes, como as provocadas pela grande

    quantidade de poeira em suspenso, congestionamentos e, principalmente,

    desapropria!es de resid1ncias e estabelecimentos comerciais %op. cit..

    :ma das reivindica!es do Derde$ar que recursos financeiros provenientes de

    autua!es e compensa!es ambientais de empreendimentos no seu entorno se$am

    revertidas para a recomposio do ecossistema da *erra, sobretudo com o argumento de

    que o macio fornece grande quantidade de matrias"primas para a aquecida indstria

    da construo civil carioca, sobretudo em virtude das diversas obras em curso para os

    camados H&egaeventosI -=. Outro argumento utilizado que ela est/ sob influ1ncia

    direta de v/rias obras, que devero alterar consideravelmente a dinQmica social do seu

    entorno, levando a uma maior presso sobre os seus atributos naturais.

    T.+.T &ercado imobili/rio

    *eguindo a HorientaoI dos dispositivos legais referentes ao uso e ocupao do

    solo, que estimulam o seu adensamento, nos ltimos anos multiplicaram"se os

    lanamentos imobili/rios em toda zona norte, avendo pelo menos -+

    empreendimentos-5 s; do programa H&ina >asa &ina DidaI -L, que devem oferecer

    15*obretudo a >opa do &undo +-T e as Olimpadas +-5.

    16 8ntre construdos e em construo.

    17>abe ressaltar que existem uma srie de outros empreendimentos imobili/rios decondomnios exclusivos em curso na regio que no so ligados ao Jrograma H&ina >asa

    &ina DidaI, como, por exemplo, o HDiva JenaI, na /rea do antigo >urtume >arioca, naJena, destinado 0 classe mdia, cu$as unidades no custam menos de '+= mil.

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    +NLM unidades abitacionais, segundo informa!es do &inistrio das >idades %+-N.

    Atualmente a populao local $/ sofre com problemas cotidianos como os intensos

    congestionamentos, encentes e a precariedade dos servios pblicos coletivos, e com a

    retomada do crescimento populacional nesta /rea $/ densamente ocupada, / uma

    tend1ncia de aumento da demanda, que at o momento no acompanada pelos

    investimentos necess/rios.

    Outro aspecto a ser problematizado diz respeito ao perfil social do pblico

    atendido por esses novos empreendimentos. [inanciado pela >aixa 8con2mica [ederal,

    o HsloganI do programa H&ina >asa &ina DidaI diz que ele visa aumentar a oferta de

    abitao popular, mas na realidade / uma crescente elitizao do mercado imobili/rio

    %&A'(#)*, +-+. As op!es para pessoas cu$a renda est/ na HfaixaI de at N sal/riosmnimos %a menor do programa, se concentram na periferia urbana, sobretudo na

    Faixada [luminense, /reas denominadas por 'olniV %+-+ como Hsem cidade e fora

    das normasI, dada a sua precariedade. >omo a localizao dos empreendimentos segue

    a l;gica do mercado e no a da sociedade, a especulao imobili/ria acaba por provocar

    a expanso perifrica da metr;pole, gerando mais gastos com a expanso da

    infraestrutura, ao invs de aproveitar e readequar os espaos subutilizados da /rea

    urbana consolidada %'O@)#Z, +-+, &A'(#)*, +-+.

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    T.+.= Crea Derde

    [igura -NR [otografia area da *erra da &iseric;rdia ` vertente 8ngeno da 'aina. AutorR'afael >arvalo.

    A /rea verde da *erra da &iseric;rdia em grande parte marcada pelo abandono

    generalizado por parte do poder pblico e desconecimento de sua exist1ncia e

    potencial por parte da maioria da populao local. >arvalo %+-- sintetizou osprincipais impactos ambientais na *erra, sendo eles recorrentes em outras :>s do 'io

    de EaneiroR presso por ocupa!es HdesordenadasI das comunidades de baixa renda,

    inc1ndios provocados por oferendas religiosas, usu/rios das trilas %como forma de

    Hmane$oI da vegetao, criadores de animais e incinerao do lixo, acumulado em

    v/rios pontos nos limites das favelas.

    #nexistem a!es de fiscalizao ou que ofeream alternativas a essas agress!es

    ambientais, tendo as institui!es locais grandes dificuldades para enfrent/"las. Outro

    problema que como no / um sistema de comunicao social pblico que informe

    sobre as :>s e sua importQncia, a /rea verde se apresenta como uma grande /rea

    abandonada, uma espcie de grande Hterreno baldioI %>A'DA@6O, +--. Acredita"se

    que essas situa!es se devem, em parte, ao fato de que praticamente no / uma opo

    de uso para os moradores que compatibilize a preservao ambiental com o

    desenvolvimento local. As nicas alternativas nesse sentido so propostas por O)Gs

    locais, cu$a atuao localizada e no incentivada pelo poder pblico.

    5)

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    [igura -TR Acmulo de lixo e entulo nas imedia!es da /rea verde, em Olaria. 8m vermelo,um ecolimite. [oto do autor.

    O desinteresse do poder pblico pela /rea , em parte, devido ao seu estado

    degradao ambiental-M. A despeito disso, a /rea da AJA': ainda apresenta mais de 5

    ectares de /reas de floresta, que cumprem importantes fun!es sociais e ambientaispara os moradores do