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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE LETRAS Muraktama Rodrigues Lemos Relações entre texto escrito e imagem: Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos Belo Horizonte, MG UFMG/ FALE 2013

Relações entre texto escrito e imagem: Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

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Monografia apresentada ao curso de graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Letras. Orientadora: ProfªDrª Adriana Silvina Pagano

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE LETRAS

Muraktama Rodrigues Lemos

Relações entre texto escrito e imagem:

Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

Belo Horizonte, MG

UFMG/ FALE

2013

Muraktama Rodrigues Lemos

Relações entre texto escrito e imagem:

Um estudo do processo da leitura de tiras de quadrinhos

Monografia apresentada ao curso de graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal

de Minas Gerais, como requisito parcial à

obtenção do título de bacharel em Letras.

Orientadora: ProfªDrª Adriana Silvina Pagano

Belo Horizonte, MG

UFMG/ FALE

2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Adriana Pagano pelos ensinamentos e orientação durante

minha passagem por este curso, ao professor Giacomo Patrocinio que sugeriu a ideia

original deste trabalho com um “E se...”, aos alunos do curso de Letras que participaram

do experimento de leitura e aos demais professores, alunos, funcionários da FALE e

familiares que me auxiliaram com os mecanismos necessários para desenvolver esta

pesquisa.

RESUMO

Este trabalho é um estudo do processo de leitura de textos híbridos do tipo tira

de quadrinhos e apresenta uma análise das relações entre as duas partes do texto híbrido

(imagem e texto escrito) e do procedimento de leitura deste tipo de material. A base

para a pesquisa realizada foi o trabalho de Baptista et al (2011), em que os autores

analisam o processamento cognitivo da leitura de anúncios publicitários com legendas,

valendo-se da técnica de monitoramento da fixação ocular (Eye Tracking), que permite

a verificação dos pontos nos quais recai a fixação do leitor na tela de um computador

enquanto este lê um texto. Para o estudo foi montado um experimento em que nove

sujeitos fizeram a leitura de três tiras de quadrinhos. Os textos apresentados aos sujeitos

possuíam diferentes níveis de interação entre texto escrito e imagem, sendo que um dos

textos era composto apenas por imagens. Foram observadas as áreas de interesse em

cada texto apresentado aos leitores e como os leitores começavam a ler este texto.

Foram acompanhados ainda os relatos dos sujeitos que leram os textos para traçar um

paralelo entre o que os sujeitos observavam na tela e o que relatavam ser importante

naqueles textos. Os resultados evidenciaram que o processo de leitura varia de acordo

com diferentes níveis de interação entre texto escrito e imagem e que o processamento

do texto híbrido é resultado da soma do conteúdo da imagem e do conteúdo do texto

escrito, assim as diferentes interações que um texto híbrido possui entre texto escrito e

imagem influenciam a forma com que os leitores dividem sua atenção entre texto escrito

e imagem. O padrão comum a todas as leituras é que os sujeitos estabelecem em algum

momento uma orientação linear de leitura, lendo um quadro após o outro em ordem.

Palavras-chave: texto híbrido – tiras de quadrinhos –eye tracking – leitura linear –

leitura de imagens

ABSTRACT

This paper is a study on the process of reading hybrid texts. It presents an

analysis of the relation between both parts of a hybrid text – image and written text –

and of the reading path for this type of text. The texts chosen for this research are comic

strips. The study carried draws on Baptista et al (2011), who presented an analysis of

the cognitive processing regarding the reading of advertisements with pictures and

captions adopting the eye tracking technique to elicit data by monitoring the fixation of

a reader’s eyes on the computer screen. Their results revealed that the cognitive

processing of these texts is not an isolate process but a factorial result of the contents of

the image and the contents of the written text. A similar experiment was conducted, in

which nine subjects read three comic strips. Their reading path was recorded by Eye

Tracking and the data was used to analyze the reading process of the subjects of the

three texts presented. The texts had different levels of interaction between text and

image, and one of the texts was made up of images only. The reading patterns of these

texts were observed. The Verbal protocols of these subjects were used to compare what

the subjects observed on the screen and what they said to be important to understand

those texts. Results showed that the reading processes vary according to different levels

of interaction between written text and image and that the content presented by the

image in the analyzed cases may influence the reading process of the written text on

hybrid texts; therefore, different kinds of interaction between written text and images

influence the way readers divide their attention between images and written text. A

common pattern to all readings is that all subjects at some point established a linear

reading orientation, reading one frame after another sequentially.

Keywords: hybrid text – comic strips – eye tracking – linear reading – image reading

SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................... 7

2. Revisão Teórica ............................................................................................... 8

2.1 Leitura Linear ................................................................................................ 10

2.2 Elementos Visuais e Textuais ......................................................................... 11

3. Metodologia ................................................................................................... 14

4. Análise dos Dados .......................................................................................... 18

5. Discussão dos Resultados .............................................................................. 40

6. Conclusão ....................................................................................................... 44

7. Referências..................................................................................................... 45

8. Anexos ............................................................................................................ 46

7

1. INTRODUÇÃO

A História em Quadrinhos é uma arte bastante popular no mundo todo. De

acordo com a definição de Scott McCloud (1994) sua narrativa é construída por

“imagens pictóricas justapostas em sequencia deliberada que destinadas a transmitir

informações e/ou produzir uma resposta no espectador”. Normalmente esta narrativa é

construída por meio de um texto escrito e imagens, embora existam HQs que se utilizam

apenas de imagens. Scott McCloud define que as HQs não são um gênero de texto, mas

um formato em que se enquadram vários gêneros textuais. Dentre outras coisas, HQs

podem ser usadas para dar instruções de produtos ou procedimentos, narrar eventos

históricos ou jornalísticos, crítica política, protesto, ou para o entretenimento ao contar

histórias de forma paralela a livros e filmes. Há basicamente dois tipos de textos

envolvidos na narrativa em quadrinhos: O texto imagético, representado pelas imagens e

desenhos que aparecem nos quadros e o texto verbal representado pelas palavras escritas

nas páginas.

Este trabalho visa analisar o processo de leitura destes dois tipos de texto que

compõem a HQ em tiras de Jornal, tomando como base o estudo de Baptista et al (2011)

que analisa o processamento cognitivo de anúncios publicitários de revistas, textos

híbridos com imagem e legenda.O presente estudo foi feito montando um experimento

em que sujeitos leriam três tiras de jornal através de uma tela que permite o

monitoramento da fixação ocular.Nove sujeitos efetuaram a leitura dos textos

selecionados para o estudo.Os dados coletados foram analisados visando observar nos

processos de leitura dos sujeitos a primeira fixação na tela para averiguar se o leitor

enfoca o texto ou a imagem em um primeiro momento; examinar movimentos

recursivos de leitura entre texto e imagem; observar quais elementos os sujeitos

apontam como mais importantes para a interpretação do texto a partir de seu relato

sobre a tira; verificar se há alguma relação entre pontos específicos observados no texto

e a compreensão (ou não compreensão) dos textos e observar se a leitura é linear e se há

um padrão de fixação em elementos específicos da imagem.

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2. REVISÃO TEORICA

Como exposto na Introdução, o presente estudo enfoca a leitura de textos do tipo

textual História em Quadrinhos e toma como ponto de partida uma pesquisa realizada

por Baptista et al (2011) em que foi analisado o processo de leitura de um anúncio

publicitário composto de uma imagem com uma legenda.

Baptista et al (2011) definem basicamente três tipos de interações existentes

entre texto e imagem em textos híbridos: Há casos de redundância de sentido entre texto

e imagem, casos em que a imagem confronta ou contradiz os significados do texto

escrito e casos em que a imagem complementa o texto. Enquanto textos híbridos as

Histórias em Quadrinhos também se incluem nestes parâmetros.

A História em Quadrinhos em que há o uso de imagens e texto escrito é um texto

híbrido, termo que Baptista (2009) usa para classificar textos em que há a junção de

uma imagem e um texto escrito para compor a mensagem que está sendo veiculada. De

acordo com Baptista et al (2011) a leitura de textos híbridos passa pelo processamento

cognitivo dos dois sistemas semióticos que compõem o texto. O leitor tem que

reconhecer e interpretar as informações na imagem e no texto escrito e a partir da

confluência de ambos compreender o que está sendo comunicado:

Hoje em dia a leitura de materiais impressos (como textos visuais/verbais elaborados

retoricamente) implica com frequência no processamento visual de informações originadas

em dois sistemas semióticos distintos. Damos a estes o nome de textos híbridos quando o

output semântico da junção dos dois tipos de texto não é apenas uma adição das

propriedades semânticas, mas um produto fatorial (como ocorre em alguns exemplos de

textos ilustrados, propagandas e obras de arte). Para entender textos híbridos o leitor deve

processar cognitivamente a diferença ou similaridade semântica entre as imagens mentais

que o texto lhe permite criar e a imagem que ele de fato vê, e deve perceber o significado

da junção daquela imagem em particular com aquele texto em particular. (Baptista et al,

2011, p.30)1

1Minha tradução de: Nowadays the reading of printed materials (as visual/verbal rhetorical elaborated

texts) often implies the visual processing of information originated in two distinct semiotic systems. We

call those texts hybrid texts when the semantic output of the annexation of those two kinds of texts is not

a simple addition of their semantic properties, but a factorial product (as it happens, for instance, in some

examples of illustrated texts, some advertisements and works of art). In order to understand hybrid texts

the reader must cognitively process the semantic difference or similitude between the mental images the

9

Para tentar compreender estas relações entre texto e imagem Baptista et al

(2011) realizaram um experimento com auxílio da técnica de monitoramento da fixação

ocular (Eye Tracking) com um dispositivo que permite monitorar os pontos nos quais se

fixa o olhar de um leitor na tela de um monitor, visando observar o processamento

visual de textos híbridos. No experimento dos autores dezoito sujeitos foram divididos

em dois grupos para fazer a leitura de um texto: um anúncio publicitário que possuía

uma legenda abaixo da imagem. Dez sujeitos fariam a leitura da imagem com o texto e

oito sujeitos leriam apenas o texto com a imagem. Os autores acreditam que a ausência

do texto escrito influencia a leitura da imagem, por isto a leitura foi feita pelos dois

grupos para analisar as diferenças entre os resultados. Baptista et al partiram do

pressuposto de que a primeira fixação e a duração de cada fixação não são suficientes

para identificar como o processamento cognitivo da mensagem híbrida é feita. Por este

motivo propuseram que fosse observado também o número de transições entre texto e

imagem.

Através do monitoramento dos padrões de leitura dos sujeitos que participaram

do experimento, Baptista et al constataram que os leitores faziam movimentos

recursivos fixando alternadamente texto escrito e imagem, o que contraria estudos

anteriores que indicavam que a leitura era feita em momentos distintos, o texto escrito

era lido por completo antes de se visualizarem as imagens, incluindo o estudo de Carrol

et al (1992) que afirma que no caso da leitura de cartuns com legenda não há

movimentos repetitivos entre texto e imagem. A imagem, segundo estes autores seria

normalmente lida após o texto e o processamento de imagem e texto seriam “ações

isoladas”.

Com base em seus achados Baptista et al (2011) propõem a noção de que,

apesar de concorrerem pela atenção do leitor, texto escrito e imagem não atuam em

oposição em textos híbridos, mas estabelecem uma relação de parceria entre si para

elaborar o significado que está sendo construído.Ao contrário do que afirmam estudos

anteriores, o processamento deste tipo de texto é híbrido, e não individual, ou seja, o

leitor observa o texto e a imagem alternadamente para processar o texto ao invés de ler

primeiro apenas o texto ou apenas a imagem. As fixações dos leitores deste tipo de texto

geralmente ocorrem sobre elementos que se destacam dos demais atraindo a atenção do

text allows him to build and the image he is really seeing and he must realize the significance of the

annexation of that particular image to that particular text.

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leitor. Os resultados de seu experimento indicaram que sem um texto escrito como guia,

a fixação em elementos significantes do texto é mais difícil.

Scott McCloud (1994) adota uma posição similar sobre Histórias em

Quadrinhos “em quadrinhos as palavras e imagens são como parceiros de dança e cada

um assume sua vez conduzindo [a narrativa]” (McCloud 1994, p.156).Este autor traça

um paralelo entre imagem e texto onde os papéis que cada um exerce são de ações de

“mostrar e falar”. A imagem mostra dentre outras coisas personagens, cenários, a época,

emoções que são veiculadas nas expressões corporais das personagens e ações físicas. O

texto escrito por sua vez normalmente reproduz fala e pensamento, seja das personagens

ali presentes ou de um narrador em terceira pessoa. As Histórias em Quadrinhos são

organizadas de forma linear onde a leitura segue uma ordem específica que será

comentada a seguir.

2.1 LEITURA LINEAR

De acordo com Leffa (1999) a leitura linear de um texto escrito segue uma

ordem que vai do início do texto na primeira linha da página, da esquerda para a direita

até a última linha da página. Esta leitura não é sempre ininterrupta. A linearidade pode

ser quebrada e o leitor pode voltar ou saltar linhas, palavras e parágrafos durante este

processo, considerando textos em que a ordem de escrita é da esquerda para a direita,

seguindo a definição de Leffa (1999):

O que caracteriza a leitura é a linearidade, representada por um movimento uniforme dos

olhos, consumindo o texto da esquerda para a direita e de cima para baixo (em línguas

como o português e o inglês), sem recuos e sem saltos para frente. A capacidade de

reconhecer as letras e as palavras é considerada essencial, enfatizando-se assim o

processamento de baixo nível. Ler é basicamente decodificar, palavra que na teoria da

leitura significa passar do código escrito para o código oral. Uma vez feita essa

decodificação, chega-se supostamente sem problemas ao conteúdo. (Leffa,1999, p.7)

11

Goodman (1996) afirma que as narrativas em quadrinhos tem que levar o leitor

adiante pela história e uma das formas com que isto é feito é usando as convenções de

leitura de textos escritos: linearmente da esquerda para a direita (excetuando HQs

criados em línguas em que a ordem de leitura é diferente, como os mangás, quadrinhos

japoneses, que são lidos da direita para a esquerda).Há uma linearidade e uma

cronologia que é seguida pelo leitor. A leitura é comumente da esquerda para a direita,

tanto em textos escritos quanto em textos híbridos como histórias em quadrinhos. Na

linguagem dos quadrinhos, mesmo quando se insere em um mesmo quadro vários

desenhos há a ideia de uma cronologia e passagem de tempo que vai da esquerda para a

direita conforme o leitor passa os olhos pela imagem.2

As Histórias em Quadrinhos podem possuir elementos visuais e textuais como

exposto a seguir.

2.2 ELEMENTOS VISUAIS E TEXTUAIS

Para definir alguns elementos básicos das histórias em quadrinhos, a tira

reproduzida na Figura 1, extraída da Turma da Mônica será usada de exemplo:

FIGURA 1: Turma da Mônica – Fonte www.monica.com.br

2Scott McCloud também explora este conceito de forma mais abrangente no livro UnderstandingComics

(1994).

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Durante o processamento da informação contida nesta tira o leitor tem que tomar

conhecimento do balão de fala que aponta para o personagem que fala para

compreender aquele quadro que será complementado pelo quadro seguinte que dá

continuidade a história. Os balões de fala são normalmente representados com setas

apontando para a cabeça da personagem que fala, ou por um balão com vários círculos

pequenos indo em direção à cabeça da personagem, o que indica um pensamento do

personagem.

Nesta tira o texto representa as falas e pensamentos dos personagens, e as

imagens mostram informações como quem fala o quê (Cebolinha e Mônica); o que cada

personagem pode estar sentindo em um determinado momento por meio de suas

expressões faciais e representação de linguagem corporal como a expressão de dúvida

nos braços do Cebolinha no segundo quadro e a de raiva no rosto e mãos fechadas da

Mônica no quadro final; quem são eles; o que estão vestindo; características gerais

como idade, gênero, localização e assim por diante. Mesmo o balão de pensamento é

um dado visual altamente relevante. É ele quem indica que a Mônica não está

verbalizando sua resposta à pergunta do Cebolinha. Enquanto o leitor tem total acesso

ao que ela está pensando, o Cebolinha não faz ideia de que ela o responde mentalmente

no quadro 2. Logo, esta informação visual é vital para entender por que o Cebolinha se

irrita dizendo “Como é? Você vai ou não lesponder?”, e entender também na sequencia

porque a Mônica subitamente muda sua resposta de “acredito” como mostra nos balões

de pensamento para “não acredito” no balão de fala do último quadro da tira.

Além dos três tipos de interação entre texto escrito e imagem definidos por

Baptista et al (2011) há também as definições de Scott McCloud (1994) sobre as formas

com que palavras se somam a imagens nas Histórias em Quadrinhos para criar uma

narrativa:

1. “Temos a combinação específica de palavras onde as figuras ilustram, mas não

acrescentam quase nada a um texto.”

2. “Há combinações específicas de imagem onde as palavras só acrescentam uma trilha

sonora a sequencia visualmente falada.”

3. “Há também os quadros duo-específicos em que palavras e figuras transmitem a mesma

mensagem.”

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4. “Outro tipo de combinação é a aditiva onde as palavras ampliam ou elaboram sobre

uma mensagem.

5. Em combinações paralelas, as palavras e mensagens seguem cursos diferentes sem

intersecção.”

6. “Ainda uma outra opção é a montagem, onde as palavras são partes integrantes da

figura.”

7. “Talvez o tipo de combinação mais comum seja o interdependente onde palavras e

imagens se unem para transmitir uma ideia que nenhuma das duas pode exprimir

sozinha.” (McCloud, 1995, p. 153-155)

Em alguns pontos as definições de Scott McCloud se assemelham às de Baptista

et al. As definições 1, 3 e 4 acima se assemelham aos caso de redundância de

significado entre imagem e texto escrito. A definição 5 pode ser usada para construir

textos em que imagem e palavra se contradizem. O caso 7 se aproxima das definições de

Baptista em que a imagem e texto escrito se complementam. As imagens que foram

escolhidas para este trabalho se enquadram na terceira definição de Baptista em que as

imagens complementam o texto escrito, mas se dividem entre as definições de Scott

McCloud. A primeira tira a ser apresentada se enquadra na definição 1 acima as

imagens mostram o personagem que fala e o texto escrito mostra as falas do

personagem. A segunda se enquadra na definição 7, as imagens mostram informações

importantes para construir o significado, conforme será mostrado na análise destas tiras.

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3. METODOLOGIA

Para este trabalho foi elaborado um experimento em que nove sujeitos fizeram a

leitura de três tiras História em Quadrinhos, publicadas em jornal. As duas primeiras

tiras são textos híbridos em que a imagem é complementar ao texto enquanto a terceira

tira é composta apenas por imagens. As três tiras foram lidas pelos nove sujeitos. Como

foi exposto na Introdução os objetivos deste experimento foram:

Observar nos processos de leitura dos sujeitos a primeira fixação na tela para

averiguar se o leitor enfoca o texto ou a imagem em um primeiro momento;

Examinar movimentos recursivos de leitura entre texto e imagem;

Observar quais elementos os sujeitos apontam como mais importantes para a

interpretação do texto a partir de seu relato sobre a tira;

Verificar se há alguma relação entre pontos específicos observados no texto e a

compreensão (ou não compreensão) dos textos;

Observar se a leitura é linear e se há um padrão de fixação em elementos

específicos da imagem.

3.1 PROCEDIMENTO

Foram coletados dados de leitura de textos híbridos e não-híbridos. Os sujeitos

foram orientados a fazer a leitura de três tiras de jornal cientes de que teriam que fazer

em seguida uma segunda leitura das mesmas três tiras verbalizando sua compreensão do

texto.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Participaram do experimento nove sujeitos, todos estes alunos do curso de Letras

da UFMG em nível de Graduação ou Pós-Graduação. Todos afirmaram já ter

previamente com tiras de jornal.

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3.3 INTRUÇÕES

O experimento foi dividido em duas etapas e para cada etapa foi colocada uma

instrução. Na primeira etapa os sujeitos teriam que ler o texto apenas. Na segunda etapa

deveriam fazer uma segunda leitura comentando os elementos que consideravam mais

importantes para a compreensão da tira:

Instrução 1: Leia as tiras a seguir, ao terminar pressione uma tecla para ler a tira

seguinte.

Instrução 2: Agora aparecerão as mesmas tiras novamente. Explique com suas

palavras o que acontece em cada tira e tente apontar quais elementos do texto ou

da imagem foram importantes para a compreensão da tira.

Estas instruções foram exibidas na tela do computador antes das tiras que os

sujeitos teriam que ler. Após cada instrução as três tiras foram exibidas uma por vez na

tela do computador.

Os sujeitos tiveram a liberdade de passar para a próxima tira a qualquer

momento podendo levar o tempo que achassem necessário para a leitura da mesma. Não

houve nenhum limite de tempo.

Após a primeira leitura, os sujeitos foram instruídos a fazer uma segunda leitura

dos textos, desta vez explicando com suas palavras o que ocorria em cada tira e quais

aspectos do texto ou da imagem consideravam relevantes para a compreensão do

texto.Estas informações foram gravadas em áudio para serem consultadas

posteriormente.

3.4 EQUIPAMENTO

Para a realização do experimento foi utilizado o Tobii Eye Tracking Ver.

5.0.3.10. As instruções e textos foram exibidos em um monitor, e apresentados aos

leitores em slides que os próprios sujeitos controlavam apertando uma tecla do

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computador para passar a próxima página. O aparelho registrou cada fixação dos

sujeitos na tela do monitor.

O termo fixação é usado aqui para se referir a qualquer pausa que o sujeito que

está lendo o texto faça em um ponto específico deste texto. Movimentos dos olhos

também são registrados e mostrados como linhas entre uma fixação e outra.

As fixações são representadas por círculos nos pontos em que o sujeito olha na

tela. Variações entre o ponto que a imagem mostra que foi fixado pelo sujeito e o ponto

que ele realmente fixou podem existir. Alguns fatores influenciam na precisão do

aparelho durante o processo de calibragem do equipamento ao sujeito que lerá a tira.

Nesta etapa de calibragem o sujeito teve que olhar para pontos específicos da tela

(círculos que aparecem no monitor) e o sistema compara os pontos que o sujeito foi

solicitado a olhar aos pontos que o aparelho detecta que este olhou. A partir destes dois

dados o programa calcula os pontos de fixação que são exibidos e contabilizados

enquanto visualizações.

De acordo com uma pesquisa3 sobre a precisão do aparelho, a distância que o

sujeito está da tela, altura, qualidade da imagem e até mesmo a cor dos olhos do sujeito

podem interferir neste cálculo e por isso o ponto real focado pode ter sido deslocado

para a esquerda, direita, para cima ou para baixo do ponto que aparece na tela. Em

alguns resultados apresentados nesta pesquisa há indícios de imprecisão nos resultados

apresentados pelo aparelho que serão referenciados quando forem apresentados.

3.5 MATERIAIS

Como exposto para o experimento foram selecionadas três tiras considerando

diferentes graus de interação entre texto escrito e imagem. As tiras obedecem a um

padrão de estrutura narrativa típica deste tipo de texto: são compostas por três quadros.

Nos dois primeiros é desenvolvida uma narrativa e no terceiro quadro há um elemento

contrastante que quebra a expectativa do leitor construída pelos quadros anteriores,

sendo este o elemento que gera o humor neste tipo de texto. Na terceira tira não há texto

escrito. As duas primeiras tiras são textos híbridos em que há uma relação

complementar entre imagem e texto escrito. A terceira tira é um texto constituído

3Eyes on Mobile Eye Tracking: A Low Cost Alternative to high end commercial eye tracking units.

17

apenas de imagens. As três tiras e os resultados da coleta serão apresentados na seção

que se segue.

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4. ANÁLISE DE DADOS

ANÁLISE DA TIRA 1:

FIGURA 2 -Tira 1 – Os Malvados – André Dahmer – Fonte: www.malvados.com

A narrativa deste texto se desenrola ao longo dos três quadros seguindo um

modelo padrão de redação com introdução do tema, desenvolvimento e conclusão4. No

primeiro quadro, há uma oração na qual o grupo nominal que faz parte de uma frase

preposicionada “sem cigarro e suco de maça” foi desmembrado da frase e deslocado

para a posição temática, o que confere aos componentes desse grupo o status de serem o

ponto de partida da mensagem. A fala do segundo quadro apresenta um complexo

oracional, no qual há uma oração hipotática em posição temática “quando a idade

chegar”, a qual também ganha status de ponto de partida da mensagem e condiciona a

oração que segue, a qual é interrompida por reticências. As reticências geram a

necessidade de que o leitor busque ou pense no componente que complete essa oração.

Esse componente é apresentado no quadro 3. Como o grupo nominal apresentado no

quadro 1 está composto de um item lexical associado a vicio e um outro associado a

pratica saudável, uma possível interpretação do leitor ao final do segundo quadro e a de

que quando a condição afirmada se der, isto é, “quando a idade chegar”, seja

abandonado o vicio e não a pratica saudável. Esta expectativa é quebrada, pois “traqueia”

4 Esta estrutura é recomendada por vários manuais de redação como o Manual para Niteg e o PPGCI da

ECI-UFMG.

19

é um item lexical associado ao sistema respiratório, por sua vez associado ao câncer de

pulmão, principal consequência do cigarro.

Os desenhos da tira variam pouco de um quadro para outra havendo apenas uma

mudança na posição da boca (de fechada para aberta) do primeiro para o segundo

quadro, e um gesto com a mão (no terceiro quadro).Se isolarmos apenas as falas da tira

é possível chegar a conclusões próximas do que teríamos na tira completa com os

desenhos:

QUADRO 1: Texto escrito da tira 1.

Quadro 1 Quadro 2 Quadro 3

Cigarro e suco maçã: não

consigo viver sem.

Quando a idade chegar, tenho

certeza que ainda tomarei meu

bom e velho suquinho de maçã...

...pela traqueia.

Os significados realizados verbalmente nesta tira são mais numerosos que os

significados realizados não verbalmente, por isso pressupõe-se que a maior parte dos

significados necessários para compreensão da mensagem estão no texto escrito:

Significados realizados verbalmente:

Hábitos do personagem – viciado em cigarro e suco de maçã.

Adulto, mas não idoso – “quando a idade chegar”.

É ciente das consequências do fumo: “Tomarei meu bom e velho suquinho pela

traquéia”

Significados realizados não verbalmente:

Características físicas do personagem.

Enquanto o texto escrito mostra os hábitos, intenções e controvérsias do

personagem, as imagens mostram suas características físicas, denotando sua idade (ele

parece ter um princípio de calvície) e classe social (usa terno e óculos escuros). Estas

20

informações são complementares as do texto escrito. Seguindo as definições de Baptista

et al (2011) as relações entre imagem e texto híbrido podem ser contraditórias,

redundantes ou complementares. Nesta tira a relação entre texto e imagem é

complementar. Já de acordo com as definições sobre Scott McCloud (1994), esta tira

seria definida como a “combinação específica de palavras onde as figuras ilustram, mas

não acrescentam quase nada ao texto”.

PRIMEIRA FIXAÇÃO

Como exposto na seção de Metodologia o termo “fixação” é usado aqui para

definir qualquer intervalo de tempo que o leitor passa com o olhar focando um mesmo

ponto no texto. As fixações são representadas na imagem abaixo por círculos

numerados. Os números mostram a ordem em que os pontos foram fixados. Quanto

maior o tamanho do círculo, mais tempo o sujeito passou fixando o olhar sobre um

mesmo ponto. Os movimentos de transição dos olhos entre uma fixação e outra são

representados na figura acima como linhas entre uma e outra fixação.

FIGURA 3 – Primeiras fixações dos sujeitos na Tira 1. Cada cor representa um sujeito. Os círculos

indicam fixações e os números nos círculos indicam a ordem das fixações. As linhas entre os círculos indicam a direção do movimento dos olhos entre uma fixação e outra.

Na leitura da Tira 1 todos os sujeitos iniciaram a leitura a partir do texto escrito

como mostra a figura acima. Na imagem o que chamou a atenção dos leitores foi o

personagem. Todos iniciaram a leitura a partir do texto escrito do primeiro quadro.

21

Após a primeira fixação os sujeitos seguem a leitura e alternam entre texto escrito e

imagem.

PADRÕES DE LEITURA

A leitura desta tira foi em quase todos os casos linear, seguindo a própria

cronologia interna da tira: os sujeitos leem do primeiro ao último quadro. Leem

primeiro o texto escrito em cada quadro e depois a imagem (quando visualizam a

imagem). O método aplicado para qualificar este tipo de leitura enquanto linear foi

verificando uma imagem gerada pelo programa de computador usado para extração de

dados do Eye Tracking o Tobii Studio ver. 2.2.8. Esta imagem, chamada Gaze Plot,

mostra a ordem em que os sujeitos observaram cada ponto fixado no texto

cronologicamente. O Gaze Plot também pode ser observado em forma de vídeo.

As imagens abaixo foram extraídas do Gaze Plot da leitura de dois sujeitos e

exibem as leituras em dois momentos: Quando terminam de ler o terceiro quadro pela

primeira vez e quando terminam de ler a tira.

FIGURA 4 – Exemplo de leitura linear. Sujeito 8.

A primeira imagem acima mostra a leitura do texto pelo sujeito 8 até a fixação

número 30 quando o sujeito visualiza o desenho do quadro 3. A segunda imagem

22

mostra todas as fixações ao término da leitura. Não há movimentos de retorno entre os

quadros até a leitura do último quadro (primeira imagem). Após a leitura do ultimo

quadro, no entanto, houve fixações nos quadros anteriores (segunda imagem). O sujeito

observa novamente o segundo quadro e torna a fixar imagem e texto do terceiro quadro

antes de passar para a leitura da tira seguinte. As setas em vermelho indicam a direção

dos movimentos de transição do olhar entre as fixações (representadas pelos círculos)

para a direita. As setas em roxo indicam movimentos de transição para a esquerda.

FIGURA 5 – Outro exemplo de leitura linear.Sujeito 6. As setas indicam a direção dos movimentos de

transição do olhar.

As leituras dos sujeitos 2, 5, 7, e 9 seguem o padrão das figuras 3 e 4 acima. Os

sujeitos fixaram entre 1 e 4 vezes cada desenho.

As exceções são o sujeito 1 que não fixou o desenho do quadro 2:

23

FIGURA 6 – Fixações do sujeito 1.

O sujeito 3 que não fixou o desenho do quadro 1:

FIGURA 7 – Fixações do sujeito 3.

E o sujeito 4 que parece não ter fixado os desenhos nem no primeiro quadro nem

no segundo:

FIGURA 8 – Fixações do sujeito 4. Algumas fixações aparecem sobre as imagens nos quadros 1 e

2, mas estas fixações parecem ter ocorrido no texto. Como as fixações nesta imagem estão todas a

partir da segunda linha do texto escrito nos quadros estas provavelmente foram deslocadas para

baixo devido a alguma imprecisão do aparato.

Isto não significa que estes sujeitos não tenham visto estas imagens na tira.

Apesar de não telas fixado diretamente estes sujeitos, estas imagens podem ter sido

captadas pelos sujeitos por sua visão periférica.

Outra forma de visualizar as áreas que receberam fixaçõesé observando o mapa

de calor. Os mapas de calor mostram as fixações de todos os sujeitos que leram a tira

evidenciando as áreas mais visualizadas.

24

FIGURA 9 - Mapa de calor indicando áreas mais visualizadas por todos os participantes.

O mapa acima mostra a leitura dos sujeitos da primeira tira. Esta imagem é feita

com a sobreposição dos mapas de calor dos nove sujeitos juntos.As cores representam

as áreas que receberam maior ou menor foco sendo que vermelho (a camada mais

interna) é onde houve mais fixações por períodos mais longos de tempo, e as áreas em

verde (camadas externas) são onde houve um menor foco. É possível notar uma grande

diferença entre a atenção voltada ao texto e a imagem. A parte em que o texto escrito

está é marcada em vermelho, e a parte da imagem em verde e amarelo.

Após o término da leitura dos três quadros os sujeitos passam a observar os

elementos da tira de maneira livre, ou seja, sem se prender a cronologia do texto e sem

seguir um padrão específico. A única exceção a este padrão de leitura linear foi o sujeito

2 que ao terminar a leitura do segundo quadro fixa rapidamente seu olhar na imagem do

primeiro quadro para em seguida passar para o terceiro quadro:

FIGURA 10 – Representação do percurso de leitura do Sujeito 2 - A fixação número 28 (orelha do

personagem no primeiro quadro) é precedida pela fixação 27 (segundo quadro) e sucedida pela fixação 29

(texto do último quadro).

25

As leituras são feitas alternando entre texto e imagem, mas a imagem recebe

bem menos foco que o texto. Esta alternância entre texto e imagem na leitura não é

contínua: Os sujeitos leem o texto escrito, visualizam a imagem do quadro e então

passam ao quadro seguinte repetindo o processo até o fim da leitura do último quadro.

As exceções foram o caso do sujeito 2 mencionado anteriormente, e o sujeito 3 que

fugiu a este padrão ao ler o segundo quadro: visualizou o desenho do quadro antes do

texto escrito, ao contrário dos demais.

A imagem do segundo quadro foi visualizada menos vezes que as outras. O

segundo quadro é o que possui mais texto escrito, e a imagem é quase idêntica a do

primeiro quadro com uma alteração sutil (o movimento da boca) enquanto no terceiro

quadro há o movimento do braço (que é um elemento novo). A imagem dos quadros 1 e

2 foram visualizados em média uma vez por cada sujeito, já a imagem do terceiro

quadro onde há um elemento novo foi visualizada em média duas vezes o que sugere

que mudanças na imagem, mesmo que sutis, atraem a atenção dos leitores. O braço da

personagem que aparece no quadro final é a variação mais significativa nos desenhos

entre os quadros. Os sujeitos 1, 2 e 7 fixaram o olhar diretamente no braço.

PROTOCOLOS VERBAIS

A segunda etapa do experimento consistia da leitura comentada das tiras

conforme descrita na metodologia. As conclusões as quais os sujeitos chegaram através

da leitura deste texto foram bastante uniformes. Todos mencionaram que o que gera

humor era a relutância do personagem em abandonar o cigarro mesmo ciente dos

problemas de saúde consequentes do tabagismo. Os comentários a respeito do texto

foram em geral descritivos narrando os fatos que ocorrem na tira, mas quase nunca se

referindo a imagem em si. Apenas os sujeitos 2 e 4 comentaram sobre as relações

imagem/texto conforme havia sido solicitado na instrução. Ambos afirmaram que a

imagem não era tão relevante para o texto e que a imagem era mais importante. O

sujeito 2 disse que “na primeira tira o humor tá no texto (...) poucos elementos do

desenho que contribuíram pra entender”.O sujeito 4 fez uma afirmação similar “(...) a

26

imagem não é tão relevante... o último quadrinho eu acho que é o que mais dá o aspecto

cômico da tirinha”.

Seis dos sujeitos se referiram as falas do personagem ao descrever os eventos da

tira, parafraseando o que o personagem disse ou interpretando suas falas. Alguns destes

sujeitos fazem referencia a ações do personagem utilizando verbos relacionados a fala:

S1: “...o sujeito aqui fala que ele não consegue viver sem suco de maçã...”

S2: “...ele fala de duas coisas que ele não vive sem...”

S3: “...ele citou a traquéia no fim...”

S6: “...ele se vê... com problemas por causa do cigarro mas ele admite que não consegue

viver ... mas ele só pensa que não vai conseguir viver sem o suco de maçã...”

S9: “...ele começa construindo aqui a tira introduzindo coisas que ele acha que são

importantes...”

Os desenhos foram mencionados por apenas dois dos nove sujeitos, fator que

reafirma o pressuposto de que a maior parte da narrativa nesta tira é construída pelo

texto escrito. O sujeito 2 descreve o personagem como um burguês “cara de terno e tal

né burguês o oclinhos”e o sujeito 6 especula que ele seja cego.Os dois comentários

possivelmente motivados pelos óculos que o sujeito usa.

Cinco sujeitos tentaram definir fatores que vão além do texto apresentado, como

qual doença o personagem teria, e quais tipos de operações médicas impediriam o

personagem de beber suco de maçã da forma tradicional.

S1: (...) quando ele ficar velho vai querer tomar o suquinho de maçã que ele tanto gosta mas

pela traqueia por que ele não consegue mais respirar direito... sei lá...((risos)) vai ficar

entubado né, o hospital.

S2: (...) no final da vida quando a idade chegar que ele ainda vai tomar o suco de maçã pela

traquéia ou seja ((risos)) que ele vai fumar tanto que... ele vai usar a traquéia pra tomar o

suco de maçã.

27

S4: (...) depois que a idade chegar porque ele vai... sei lá ta doente por causa daquela...

daquela... aquela operação que faz a respiração...

S8: (...) pra continuar tomando suco de maçã por que um dia ele vai ter um câncer ou

alguma coisa... uma doença grave ele vai... estar no hospital... respirando pela traquéia e

não vai ter condições de tomar o suco...

S9: (...) a graça ta que ele vai continuar tomando suco pela traquéia por causa dos efeitos do

cigarro né... por ter problemas de saúde e tudo o mais... ficaria bem debilitado...

Estas impressões, no entanto, não desviam a interpretação destes sujeitos do

padrão: assim como os demais sujeitos ambos apontam a contradição do personagem da

tira em manter o vício de cigarro mesmo sabendo que este o prejudicará.

Como demonstrado por estes dados a leitura do texto foi bastante uniforme e o

único momento em que as explicações dos sujeitos divergem foi no caso em que se

referiram a imagem em que o sujeito 2 descreveu o personagem como um burguês e o

sujeito 6 apontou a possibilidade de ele ser cego.

28

ANÁLISE DA TIRA 2

FIGURA 11 - Tira 2 - “Janelas” por Ricardo Tokumoto –Fonte: www.ryotiras.com

A segunda tira escolhida para esse trabalho exibe uma quantidade maior de

informações nas imagens dos quadros. Embora a elaboração da mensagem veiculada

por meio de palavra e imagem também exista na tira anterior, aqui a interação entre as

duas partes do texto híbrido é maior. Se a compreensão da mensagem veiculada em

textos híbridos vem de um resultado fatorial entre texto escrito e imagem, segundo

afirmado por Baptista et al (2011), a parte atribuída a imagem na tira 2 é maior que a

parte atribuída a imagem na tira 1.

A estrutura da tira 2 é basicamente a mesma da primeira, três quadros e três

balões de fala. Os quadros, entretanto, não exibem um ângulo fixo, como a tira 1. O

primeiro enquadra um angulo de forma a mostrar a tela do computador, o segundo

mostra o personagem de um ângulo diferente, e o quadro 3 mostra um plano mais

afastado enquadrando os dois personagens, o computador e a janela ao fundo. Há

muitos elementos na imagem para serem visualizados neste texto o que pressupõe um

número alto de fixações nas imagens.

O autor constrói uma narrativa breve e uma conclusão que se desvia da

expectativa construída no quadro 3. As afirmações do personagem 1 nos quadros 1 e 2

de que a paisagem é “linda” e “bonita” além da própria paisagem que contem o sol e o

arco-íris faz com que o desfecho mais provável seja a concordância por parte do Carlos

de que a paisagem é bonita. Isto de fato acontece no quadro 3. Neste mesmo quadro há

29

um elemento que gera contradição no texto: a janela do último quadro em contraste com

a paisagem que os personagens elogiam e observam na tela do computador. Enquanto

admiram uma reprodução fotográfica de uma paisagem bonita perdem a oportunidade

de ver esta mesma paisagem no “mundo real”. Uma provável interpretação para este

texto é a crítica à alienação do mundo real pela tecnologia.

As afirmações do personagem 1 nos quadros 1 e 2 de que a paisagem é “linda” e

“bonita”, além da própria paisagem que contem o sol e o arco-íris faz com que o

desfecho mais provável seja a concordância por parte do Carlos de que a paisagem é

bonita o que acontece no quadro 3. O elemento contrastante responsável pela conclusão

final é um significado gerado pelas imagens. Ler o texto escrito sem as imagens

evidencia este fato:

QUADRO 2: Texto escrito da tira 2

Quadro 1 Quadro 2 Quadro 3

Personagem 1:

Que paisagem linda!!!

Personagem 1:

Ei Carlos! Venha ver que bonito!

Carlos:

Puxa vida bonito mesmo!

Sem os significados realizados não-verbalmente a mensagem veiculada pela tira

é alterada, diferentemente do que ocorre com a Tira 1.

Significados realizados verbalmente:

O personagem 1 acha a paisagem bonita.

O personagem 2 acha a paisagem bonita.

Significados realizados não verbalmente:

Paisagem no computador no quadro 1.

Paisagem na janela do quadro 3.

Personagens 1 e 2.

As diferentes relações entre imagem e texto escrito nos textos híbridos exercem

influência também no número de fixações que a imagem recebe. O número de

visualizações foi maior na imagem na tira 2. Esta tira também se enquadra na definição

30

de Baptista et al (2011) em que a imagem complementa o texto, chamada por Scott

McCloud (1994) de interdependente.

PRIMEIRA FIXAÇÃO:

A primeira fixação na tira 2 foi bem mais distribuída em comparação aos

resultados da tira 1 onde todos os sujeitos iniciaram e leitura do texto escrito do

primeiro quadro. A imagem abaixo exibe a primeira fixação dos sujeitos nesta tira:

FIGURA 12: Tira 2. Primeira fixação dos sujeitos. Cada cor representa um dos nove leitores da tira.

Como é possível observar nesta imagem, a maioria dos sujeitos fixa primeiro o

segundo quadro. As exceções foram apenas os sujeitos 1 (amarelo) e 10 (azul) que

fixaram primeiro a janela do quadro 3. Quatro sujeitos fixaram o balão de fala ou áreas

próximas a ele como os sujeitos 6 (roxo) e 7 (laranja) que aparentemente fixaram a seta

do balão de fala que aponta o personagem, resultado inesperado para a primeira fixação

já que esta parte específica do texto não mostra elemento incomum o bastante para

captar a primeira fixação do leitor. Por este motivo é possível que estas fixações não

tenham sido ponto mostrado pelos círculos e sim em um ponto próximo a eles e

interpretados de forma errônea pelo aparato. Estas posições da primeira fixação nos

quadros 2 e 3 pode ter sido influenciado pelo ponto de fixação final da tira anterior, já

que os sujeitos leram esta tira imediatamente após terminarem de ler a tira 1.

31

PADRÕES DE LEITURA

A ordem das fixações dos sujeitos variam bastante na leitura da tira 2. Após a

primeira fixação o movimento de leitura de todos os sujeitos foi em direção ao primeiro

quadro como mostra a imagem seguinte:

FIGURA 13 – movimento de leitura dos sujeitos após a primeira fixação. Todos eles se deslocam para a

esquerda em direção ao texto da primeira tira.

A princípio as leituras desta tira não seguiram uma ordem linear. A primeira

fixação foi feita em pontos distintos dos quadros 2 e 3, alguns fixando-se primeiro na

imagem e outros no texto. O sujeito 1 (amarelo) faz sua segunda fixação no segundo

quadro, enquanto o sujeito 10 (azul) faz sua segunda fixação diretamente no primeiro

quadro. Todos os sujeitos retornaram ao primeiro quadro para poder ler os quadros

posteriores. Os sujeitos 1, 2, 3, 4, 7 e 9 seguiram a leitura em ordem

(quadro1>quadro2>quadro3) a partir deste retorno, seguindo o modelo da FIG. 14:

32

1

FIGURA 14 – Sujeito 1 – Após fixar o quadro 1 (fixação 21) este sujeito passa ao quadro 2 (fixações 22,

23 e 24) e em seguida ao quadro 3 (fixação 25 em diante).

Os sujeitos 5, 6 e 8 observaram os três quadros da tira, mas sem seguir esta

ordem linear de leitura: ao terminarem de observar o quadro 2 retornam ao primeiro

quadro e então pulam imediatamente para o quadro final:

FIGURA 15 – Sujeito 5 – Após ler o quadro 2 (fixação 15) o sujeito volta ao quadro 1 (fixações 16 e 17)

e passa diretamente ao quadro 3 (fixações 18, 19 e 20).

As imagens desta tira receberam um número maior de fixações que a tira

anterior. Enquanto as fixações na primeira tira foram aproximadamente 10% nas

imagens e 90% no texto escrito, na segunda tira foram de 46% nas imagens e 54% no

texto escrito (contabilizando a média de visualizações de todos os leitores). Os sujeitos

3, 5 e 8 chegaram a fixar a imagem mais vezes que o texto escrito. O mapa de calor

abaixo ilustra como foram distribuídas estas visualizações.

33

FIGURA 16: Mapa de calor indicando áreas mais visualizadas por todos os participantes. As cores

representam as áreas que receberam maior ou menor foco sendo que vermelho (a camada mais interna) é

onde houve mais fixações por períodos mais longos de tempo. As áreas em verde (camadas externas)

mostram onde houve um menor foco.

Este mapa de calor mostra os elementos mais fixados pelos sujeitos na imagem

nos três quadros: a paisagem no computador no quadro 1 e a janela no quadro 3. É

possível notar também que, assim como na tira 1, a imagem do quadro 2 foi a menos

fixada, o que faz sentido considerando que os principais elementos nas imagens desta

tira são a janela e a tela do computador. Além das imagens, as áreas em que há texto

escrito (balões de fala) também receberam um número alto de fixações.

PROTOCOLOS VERBAIS:

As interpretações que os sujeitos fizeram da tira 2 também foram bastante

similares. Oito dos nove sujeitos fizeram a relação proposta pela tira entre a paisagem

do computador do primeiro quadro e a da janela do terceiro quadro. O único que se

desviou do padrão de interpretação da tira foi o sujeito 5 que parece não entender bem a

imagem: “talvez o que a foto ta refletindo no computador e ele ta vendo achando que

era o computador.” O sujeito 5 foi um dos sujeitos mencionados que fixou as imagens

mais do que o texto escrito (25 fixações na imagem e 17 no texto escrito) este

comportamento pode ter uma relação com o fato de este ter tido dificuldade em chegar a

uma conclusão parecida com as dos demais leitores e consequentemente observando a

34

imagem mais vezes para tentar compreender o texto. Os sujeitos 3 e 8 que também

visualizaram a imagem mais vezes interpretaram o texto de maneira similar aos outros

sujeitos. Os sujeitos normalmente apontam que há uma crítica no texto de que as

pessoas deveriam priorizar paisagens naturais e não reproduções fotográficas ou mesmo,

priorizar a natureza em detrimento da tecnologia.

S1: Bom... isso aqui é uma crítica... a...((risos)) a sociedade de hoje né que: fica olhando

paisagens lindas na internet... e comentando isso com outros mas esquecem de olhar... a natureza

que já existe e que tem a mesma paisagem bonita...fim.

S2: (...) a coisa ta girando tanto em torno né do computador e tal... que as pessoas esquecem de

olhar ao redor e eles ficam apreciando a imagem que tá lá no computador né vendo achando

bonito quando se eles olhassem para a janela do lado de fora eles iam ver que a imagem tava

logo ali (...)

S3: E e nesse daqui a questão do humor é por que a paisagem... pela janela é exatamente igual

((risos)) a paisagem da: do do computador... ele ele tá olhando pra paisagem do computado e não

pela janela.

S4: (...) e o principal aspecto do humor é a ironia eu acho que é dada pelo primeiro quadrinho em

contraste com o último... a mesma imagem mora na na tela do computador e outra hora fora da

janela né... real.

Os demais relatos, excetuando o sujeito 5, seguem uma linha similar e podem ser

consultados no anexo.

35

ANÁLISE DA TIRA 3:

FIGURA 17- Tira 3 - Garfield - Jim Davis. Fonte: www.tirinhasdogarfield.blogspot.com

A terceira tira analisada é de autoria de Jim Davis, cartunista estadunidense

criador de Garfield. Neste material há total ausência de texto escrito; a narrativa é

desenvolvida apenas por imagens. A mesma estrutura de três quadros vista nas tiras 1 e

2 se mantém na tira 3. Garfield observa uma aranha no primeiro quadro, sopra-a para

longe no segundo e no terceiro quadro é atingido pela aranha em seu rosto. A tira

originalmente possuía uma onomatopeia que reproduzia o som do sopro do Garfield no

segundo quadro. Esta onomatopeia foi removida para que a tira ficasse sem qualquer

texto escrito. Scott McCloud (1994) define este tipo de relação entre texto e imagem

como uma combinação de imagem e palavra onde a palavra seria a “trilha sonora” da

imagem em analogia ao cinema.

Como exposto na revisão teórica, Batista et al (2011) utilizaram em seu

experimento uma imagem que foi apresentada aos sujeitos que participaram de seu

experimentos, divididos em dois grupos. Um dos grupos teve acesso a imagem com

legenda e outro grupo veria a mesma imagem sem legenda. O objetivo foi analisar a

diferença nas duas situações em que a imagem foi lida. Como apontado na seção de

metodologia, a inserção de uma tira sem texto segue um propósito similar: analisar os

padrões estudados nas tiras anteriores em contraste com a tira sem texto escrito.

36

PRIMEIRA FIXAÇÃO

A fixação inicial dos sujeitos foi em quadros distintos da tira 3: Dos nove

sujeitos dois fixaram primeiro o quadro 1, quatro fixaram o quadro 2 e três sujeitos

fixaram o quadro 3 como mostra a figura 2. Nesta imagem, cada cor representa um

sujeito e cada círculo uma fixação. O número “1” nos círculos indica que aquela é a

primeira fixação neste texto. Houve também um movimento de leitura direcionado ao

primeiro quadro (segunda imagem da figura 15) a partir do qual os sujeitos

estabeleceram uma leitura linear da tira.

FIGURA 18 – A imagem acima mostra a primeira fixação de cada um dos sujeitos que leram a tira. Cada

sujeito é representado por um círculo diferente. A segunda imagem mostra um movimento de leitura para

a esquerda em direção ao quadro inicial.

Como houve um movimento em direção ao primeiro quadro, representado na

segunda imagem da FIG. 16 pelas linhas entre um círculo e outro, pode-se inferir pelo

número de fixações que neste primeiro momento a aranha no quadro 1 chama mais a

atenção do olhar dos leitores que o Garfield que é uma figura maior no quadro.

37

PADRÕES DE LEITURA

Analogamente ao observado na primeira fixação os sujeitos não visualizaram os

quadros seguintes em momentos similares, mas todos em algum momento retornaram

ao primeiro quadro para dar início a uma leitura linear e cronológica do primeiro ao

último quadro. Esta leitura linear foi representada nas análises das tiras anteriores com

imagens mostrando a ordem das fixações dos sujeitos, mas como há muitas

sobreposição de fixações na leitura da tira 3 fica difícil representar esta ordem aqui com

imagens estáticas por isto a ordem destas fixações foi transposta para o quadro que

segue.

QUADRO 3: Ordem dos quadros visualizados.

O número entre parênteses indica o número de fixações naquele quadro antes de passar ao próximo, assim

“Quadro 2 (3)” significa que no quadro 2 houveram três fixações antes do sujeito dirigir sua visão ao

quadro seguinte. Os dados em negrito mostram uma ordem linear de leitura entre os quadros (1→2→3).

*Os dados marcados com um asterisco no fim indicam que aquele foi o último quadro visualizado pelo

sujeito. Os sujeitos que não foram marcados com o asterisco visualizaram quadros além dos mostrados na

tabela.

Este quadro aponta uma similaridade entre os processos de leitura da Tira 1 e da

Tira 2 e da Tira 3. Assim como o texto escrito e o texto híbrido, as histórias em

Ordem 1 2 3 4 5 6 7

S1 Quadro 2 (2) Quadro 1 (2) Quadro 2 (2) Quadro 3 (3) Quadro 2 (2) Quadro 3 (1) Quadro 1 (2)

S2 Quadro 2 (1) Quadro 1 (2) Quadro 2 (2) Quadro 3 (1) Quadro 2 (3) Quadro 3 (3) Quadro 1 (1)*

S3 Quadro 3 (1) Quadro 2 (2) Quadro 1 (5) Quadro 2 (1) Quadro 3 (3) Quadro 2 (1) Quadro 3 (3)

S4 Quadro 2 (1) Quadro 1 (2) Quadro 2 (1) Quadro 1 (3) Quadro 2 (3) Quadro 2 (2) Quadro 2 (2)*

S5 Quadro 3 (1) Quadro 2 (1) Quadro 1 (7) Quadro 2 (3) Quadro 1 (1) Quadro 2 (2) Quadro 3 (3)

S6 Quadro 1 (7) Quadro 2 (3) Quadro 3 (2) Quadro 2 (3) Quadro 3 (4) Quadro 2 (1)*

S7 Quadro 2 (2) Quadro 1 (4) Quadro 2 (4) Quadro 3 (2) Quadro 2 (2) Quadro 3 (1) Quadro 1 (1)

S8 Quadro 3 (2) Quadro 1 (3) Quadro 2 (1) Quadro 3 (2) Quadro 2 (2) Quadro 3 (4) Quadro 2 (1)*

S9 Quadro 1 (4) Quadro 2 (2) Quadro 3 (3) Quadro 2 (4) Quadro 1 (4) Quadro 2 (3) Quadro 3 (1)*

38

quadrinhos construídas apenas com imagens também seguem uma ordem linear e

cronológica que se organiza neste texto da esquerda para a direita excetuando as

exceções comentadas na Análise da Tira 2.

A FIG. 19 mostra os principais elementos visualizados nesta tira. No primeiro

quadro a aranha foi o elemento sobre o qual se concentrou o maior número de fixações

pelos leitores se destacando dos demais. No primeiro quadro a aranha aparece de forma

inusitada pendurada por sua teia em frente ao rosto de Garfield e no último quadro se

choca contra o rosto do personagem. No segundo quadro é possível notar que os sujeitos

fixam seu olhar não só em Garfield soprando a aranha para longe de seu rosto como

também nas linhas que representam o movimento desta aranha se afastando e do sopro

que a carrega para longe. É possível observar também que houve fixações em pontos

vazios da tira, nas partes superiores dos quadros onde estaria normalmente o texto de

uma tirinha.

FIGURA 19 – mapa de calor da tira 3 mostrando os pontos mais visualizados pelos sujeitos.

PROTOCOLOS VERBAIS

As interpretações dos sujeitos dos eventos da tira foram bastante semelhantes.

Todos os sujeitos descreveram a tira relatando que o Garfield sopra a aranha para longe

de si e esta volta acertando seu rosto:

39

S1: lei da física... o Garfield foi soprar uma aranhinha... e ela por causa da lei da física

voltou... com a mesma intensidade... na direção oposta e acertou a cara dele.

S3: Garfield tentou espantar a aranha e a aranha foi justamente no olho dele ((risos)) a ação

deu o efeito oposto que ele queria.

S6: E:... é: sei lá algo de ação e reação aqui... ele sopra a aranha talvez para afastar mas a

reação do que ele fez é a aranha voltar e acertar ele na testa...

S8: Aqui o Garfield soprou e aí a aranha voltou por que sempre que a gente sopra pra... sei

lá... alguma coisa vai pra frente volta...

Os demais sujeitos fizeram comentários similares, havendo algumas observações

únicas como o sujeito 2 que comentou que a maioria das tiras do Garfield “tem muito

pouco texto ou não tem texto nenhum”, e o sujeito 9 que disse que a tira 3 “não tem

muita graça”. O único sujeito que aparenta ter tido problemas para interpretar esta tira

foi o Sujeito 5. O mesmo sujeito que teve dificuldades para ler a tira 2: “E... não sei...

ele sopra... e o bichinho volta... tá amarrado... não sei...” Como é conhecimento comum

que aranhas se penduram de lugares altos por suas teias e o sujeito usa o termo

“amarrado” e se refere à aranha como “bichinho” pode-se aventar a hipótese de que este

não tenha reconhecido o desenho enquanto uma aranha. Este também foi o comentário

mais breve sobre a tira 3, sendo que o sujeito 5 foi o que teve mais fixações registradas

pelo Eye Tracking nesta tira: 33, mais de dez fixações acima da média de 18 fixações

nesta tira.

40

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:

A primeira tira analisada era um texto híbrido em que a imagem complementava

o texto escrito, uma das três formas de interação entre texto e imagem definidas por

Baptista (2009). A tira mostra o personagem responsável pelas falas e opiniões emitidas.

Nesta tira os movimentos de leitura foram bastante regulares, os sujeitos começaram a

leitura pelo texto do quadro 1 e seguiam uma leitura linear até o fim do texto quando

passavam a observar os outros elementos do texto escrito e da imagem de forma livre.

As leituras foram centradas no texto escrito que recebeu 90% das fixações. Apenas dois

sujeitos mencionam a imagem ao descrever a tira. A Tira 2 também era um texto híbrido

em que a imagem complementa o texto escrito. As imagens mostram ao leitor que a

paisagem que os personagens observam no computador poderia ser vista se olhassem

pela janela da sala onde estão. Os sujeitos iniciam a leitura do texto por pontos

diferentes, alguns sujeitos fixando primeiro a imagem e outros o texto. As fixações

foram feitas nos quadros 2 e 3, ao contrário da tira 1 onde todos iniciam a leitura pelo

primeiro quadro. As fixações são mais distribuídas entre texto escrito e imagem:46%

nas imagens e 54% no texto escrito. As imagens são mencionadas por todos os sujeitos

para descrever os eventos da tira. A Tira 3 não era um texto híbrido, mas construída

apenas com imagens. Assim como a Tira 2 os leitores iniciam a leitura do texto por

pontos diferentes. Quatro dos nove sujeitos iniciam a leitura pelo quadro do meio

enquanto dois visualizam o primeiro quadro e três iniciam a leitura pelo último quadro.

Mesmo sem ter um texto para orientar a leitura, os sujeitos em algum momento leem os

quadros em sequencia.

Diferentes níveis de interação entre texto e imagem mostraram uma forma

diferente de leitura da tira nos casos analisados. Em comparação com a tira 1, a tira

2mostrou aos leitores uma quantidade maior de informações nas imagens dos quadros e

isto fez com que a forma de leitura fosse diferente. A elaboração da mensagem

veiculada por meio de palavra e imagem também existe na tira 1, porém na tira 2 a

interação entre as duas partes do texto híbrido é maior.

A média de fixações foi relativamente menor provavelmente por esta tira possuir

menos texto escrito (127 caracteres na Tira 1 e 66 caracteres na Tira 2). Por não possuir

texto escrito, a tira com menos visualizações foi a Tira 3.

41

GRAFICO 1: Média de fixações em cada uma das tiras.

TABELA 1: Média de visualizações de todos os sujeitos em cada uma das tiras.

O tempo médio de leitura de cada tira seguiu o padrão mais provável

considerando-se o volume de texto de cada tira. A tira 1 foi a que os sujeitos levaram

mais tempo para ler e a tira 3 a que levaram menos.

TABELA 2– tempo médio de leitura de cada tira

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Tira 1 Tira 2 Tira 3

Imagem

Texto

Total

Visualizações Imagem Texto Total

Tira 1 4,4 39 44,5

Tira 2 15,6 18,7 34,3

Tira 3 18 0 18

Tempo médio de leitura

Tira 1 Tira 2 Tira 3

11,7 10,1 6,6

42

O sujeito 5 que mostrou dificuldades na leitura da tira 3 levou o mesmo tempo

para ler as tiras 2 e 3 (12 segundos) e o dobro do tempo (24 segundos) para ler a tira 1.

O sujeito 6 levou mais tempo para ler a tira 2 que qualquer outra tira (24 segundos), mas

consultando seu relato sobre a tira 2 este não demonstra dificuldades para retratar os

eventos da tira:

S6: É:: tem a ver com tecnologia: ele tá vendo a mesma imagem que tá aparecendo na

janela... mas ao invés de olhar pra janela e ver o que ta bonito lá fora ele chama o amigo pra

ver o que tá bonito na tela do computador...

Os demais sujeitos levaram mais tempo na primeira tira e menos tempo na

última. Os sujeitos 5 e 7 levaram o mesmo tempo para ler as tiras 2 e 3. Mesmo

possuindo uma quantidade menor de texto o tempo médio para leitura da tira 2 foi

bastante próximo do da tira 1 o que pode indicar que a simples presença de texto na tira

torna a leitura mais demorada ou pode ser um indício de que quando as relações entre

texto e imagem são mais complexas como no caso da tira 2 a leitura leva mais tempo.

A primeira fixação da tira 1 foi a única que se incidiu sempre sobre o texto do

primeiro quadro. Na tira 2 as primeiras fixações se incidiram sobre os quadros 2 e 3 e

foram distribuídas entre texto e imagem. A princípio uma hipótese para este resultado é

o fato da posição do texto da tira 1 se iniciar na parte superior esquerda da imagem,

ponto de partida dos textos escritos em português o que torna mais provável começar a

leitura por aí. Na tira 2 o texto escrito aparece pela primeira vez no canto inferior

esquerdo, abaixo de um elemento importante daquele quadro (a imagem na tela do

computador). Isso não explicaria, entretanto, porque as fixações iniciais da tira 2 se

distribuíram entre os quadros 2 e 3. A ordem de leitura das tiras pode ter influenciado na

primeira fixação das tiras 2 e 3 já que esta pode ter coincidido com a fixação final da

leitura da tira anterior. Para confirmar se a ordem em que as tiras foram apresentadas

exerce influência sobre a primeira fixação seria necessário um novo experimento

alternando esta ordem para comparar os resultados ou um experimento em que as tiras

fossem apresentadas individualmente.

O caso de maior desvio de padrão em relação ao número de fixações no texto e

na imagem foi o sujeito 5 que demonstra ter tido alguma dificuldade na leitura das tiras

43

2 e 3. Mesmo na tira 1 este fixou o texto 67 vezes, número consideravelmente maior

que a média. Estes dados apontam para uma relação entre o número de fixações na tira e

a dificuldade de se compreender a mensagem veiculada. Segundo Baptista et al (2011)

na ausência de um texto escrito como guia a fixação em elementos significantes do texto

é mais difícil. Um novo experimento com tiras que partilhem características similares a

deste experimento seria útil para reforçar ou refutar os padrões de leitura que aparecem

aqui. O modo de leitura de textos híbridos está sujeito às relações entre as imagens e o

texto escrito que este texto híbrido contém, sendo mais diretas, isto é, lineares e com

baixo indício de movimentos recursivos entre imagem e texto escrito como nos casos de

leitura da tira 1, ou menos diretas como na leitura da tira 2.

No experimento de Baptista et al (2011) o autor constatou que os sujeitos

iniciavam sua leitura de forma diferente. Alguns fixavam antes a imagem e outros

fixavam antes o texto escrito. Durante este experimento isto aconteceu apenas com a

Tira 2, em que os leitores observaram pontos diferentes no texto e imagem em um

primeiro momento. Na tira 1 todos os sujeitos iniciam a leitura do texto escrito do

primeiro quadro. O texto

Baptista afirma ainda que durante a leitura de textos híbridos há movimentos

recursivos de leitura entre texto e imagem. Na leitura da Tira 1 os movimentos de

transação entre texto e imagem foram muito baixos. Os sujeitos leram o texto escrito

visualizavam a imagem e passavam para o quadro seguinte, excetuando algumas

exceções que foram comentadas durante a análise da Tira 1: sujeito 2 que ao terminar a

leitura do segundo quadro fixa rapidamente seu olhar na imagem do primeiro quadro

antes de prosseguir a leitura para quadro 3 e o sujeito 3 que fixa a imagem do segundo

quadro antes do texto escrito. No caso da Tira 2 há um número alto de movimentos

recursivos de leitura entre texto e imagem, mas nem sempre entre o mesmo texto e a

mesma imagem o que é uma variável que não havia nos casos analisados pelos autores

consultados anteriormente.

44

6. CONCLUSÃO

As informações que compõem cada parte dos textos híbridos e as relações que

estas exercem entre si influenciaram a leitura das tiras que foram apresentadas neste

trabalho. Os textos híbridos analisados por Baptista et al eram textos em que haviam

apenas uma imagem e um texto escrito. Nos textos híbridos analisados aqui há pelo

menos três imagens e três partes de texto escrito. Enquanto as leituras da primeira tira se

assemelharam mais aos autores mencionados por Baptista et al que diziam que a leitura

de quadrinhos era feita em momentos distintos, as leituras da segunda tira se

assemelham mais aos resultados de Baptista. Neste sentido, as definições que Scott

McCloud faz acerca das interações entre texto e imagem ao propor uma categoria em

que a imagem pouco influencia o texto (tira 1), e outra em que ambas constroem um

significado juntas (tira 2) parece se aplicar melhor aqui. Ainda que Scott McCloud não

fale nestes termos sobre textos híbridos, mas especificamente sobre quadrinhos estes

parecem se aplicar para outros textos híbridos. Com esta análise, concluo que os

próximos passos no processo de compreensão deste tipo de leitura apontam para novas

pesquisas considerando estas diferenças entre interações de texto escrito e imagem em

textos híbridos.

45

REFERÊNCIAS:

BAPTISTA, A.; FARIA, I.; LUEGI, P.Reading hybridtexts:

Remarksontext/imagetransitions Instituto Politécnico do Porto, 2011.

DAHMER, André. Malvados. Disponível em: <http://www.malvados.com.br>. Acesso

em 05 de maio de 2012.

DAVIS, Jim. Garfield. Kansas City: Universal Press Syndicate, 2008.

GOODMAN, Sharon; DAVID, Gradol. Redesigning English: New texts, new identities.

Londres e Nova Iorque: The Open University, 1996.

JACQUES, Tom. Eyes on Mobile Eye Tracking: A Low Cost Alternative to high end

commercial eye tracking units. Disponível em: <http://www.cs.cmu.edu>. Acesso em

12 de Abril de 2013.

LEFFA, Vilson J. Perspectivas no estudo da leitura; Texto, leitor e interação

social.Pelotas: Educat, 1999.

MACULAN, Benildes Coura M. S. Manual de Normalização para o NITEG e o PPGCI

da ECI-UFMG. Disponível em: <http://ppgci.eci.ufmg.br/normalizacao>. Acesso em 25

de abril de 2013.

MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. Tradução Helcio de Carvalho, Marisa

do Nascimento Paro. São Paulo: Makron Books, 1995.

Normas de transcrição. Disponível em <http://www.concordancia.letras.ufrj.br>.

Acesso em 03 de janeiro de 2013.

Tobii Eye Tracking: An introduction to eye tracking and Tobii Eye Trackers. Disponível

em: <http://www.tobii.com>. Acesso em 12 de março de 2013.

TOKUMOTO, Ricardo. Janelas.Disponível em: <http://ryotiras.com/?s=janelas>.

Acesso em 05 de maio de 2012.

46

ANEXO 1:

PROTOCOLOS VERBAIS

QUADRO: Convenções de transcrição adotadas

Situação Convenção

Qualquer pausa ...

Incompreensão de palavras

ou segmentos

( )

Comentários do transcritor ((ruído))

Alongamento de vogal e

consoante (como r, s)

: ou :: (se for muito longo)

Interrogação ?

.

TIRA 1:

Sujeito 1

Bom... o: sujeito aqui fala que ele não consegue viver sem suco de maçã e que quando

ele ficar velho vai querer tomar o suquinho de maçã que ele tanto gosta mas pela

traquéia por que ele não consegue mais respirar direito... sei lá...((risos)) vai ficar

entubado né, o hospital.

Sujeito 2

Oh na primeira tira o humor ta no texto mesmo...assim teve poucos elementos do

desenho que contribuíram né pra entender... e ele fala de duas coisas que ele não vive

sem do cigarro e do suco de maçã que: né no final da vida quando a idade chegar que

ele ainda vai tomar o suco de maçã pela traquéia ou seja ((risos)) que ele vai fumar tanto

que... ele vai usar a traquéia pra tomar o suco de maçã o humor eu achei que tá todo no

texto assim... não tem nada necessariamente né no cara de terno e tal né burguês o

oclinhos né mas não teve nada demais assim de muito relevante do desenho que faz né...

que compõe a tira... mais do texto mesmo...passar pro próximo...

47

Sujeito 3

Então... o principal elemento que que que ((gaguejando)) que deu a... que deu o humor

foi quando ele citou a traquéia no fim... por que foi... por que foi bem inesperado... não

se toma suco de maçã pela traquéia... então passa...

Sujeito 4

É: nessa aqui o... a imagem não é tão relevante... o último quadrinho é: eu acho que é o

que mais dá o aspecto cômico da da tirinha... sei lá: reticências... pode passar?

Sujeito 5

Bom eu entendi que... ele... o fato dele falar pela traquéia depois que a idade chegar

porque ele vai... sei lá ta doente por causa daquela... daquela... aquela operação que faz

a respiração... por aqui.

Sujeito 6

Uai... é ... eu achei meio confusa essa tirinha... eu acho que eu não entendi muito bem o

humor dela... é um senhor aparentemente... cego... não sei... é essa a impressão que eu

tive... não consegue viver sem cigarro e suco de maçã... ah sim... cigarro ta... é: que ele

vai tomar suco de maçã pela traquéia porque provavelmente pelos problemas gerados

pelo cigarro é:: engraçado por que ele ele se vê... com problemas por causa do cigarro

mas ele admite que não consegue viver ... mas ele só pensa que não vai conseguir viver

sem o suco de maçã... não sei... serve isso?

Sujeito 7

Bom eu entendi que mesmo quando ele tiver velho ele vai continuar tomando suco de

maçã mas ele já vai ter até um problema na traquéia por causa do cigarro...que é uma

outra paixão que ele tem...certo? posso passar pro próximo?

48

Sujeito 8

Tá esse aqui ele gosta de cigarro e suco de maçã só que fumando ele provavelmente não

vai chegar numa idade suficiente pra continuar tomando suco de maçã por que um dia

ele vai ter um câncer ou alguma coisa... uma doença grave ele vai... estar no hospital...

respirando pela traquéia e não vai ter condições de tomar o suco... que o cigarro vai:

prejudicar né... tudo... pronto...

Sujeito 9

Nesse primeiro aqui a:: ele começa construindo aqui ah:: a tira introduzindo coisas que

ele acha que são importantes e: a graça ta que ele vai continuar tomando suco pela

traquéia por causa dos efeitos do cigarro né... por ter problemas de saúde e tudo o mais...

ficaria bem debilitado... e a graça reside nesse fato né e na posição das duas coisas

também uma possivelmente saudável e a outra não.

TIRA 2:

Sujeito 1

Bom... isso aqui é uma crítica... a...((risos)) a sociedade de hoje né que: fica olhando

paisagens lindas na internet... e comentando isso com outros mas esquecem de olhar... a

natureza que já existe e que tem a mesma paisagem bonita...fim.

Sujeito 2

Eh::Agora da segunda... tira a imagem é mais importante né porque o amigo chamou o

outro pra ver a paisagem linda e a paisagem ta do lado de fora assim que a coisa ta

girando tanto em torno né do computador e tal... que as pessoas esquecem de olhar ao

redor e eles ficam apreciando a imagem que tá lá no computador né vendo achando

bonito quando se eles olhassem para a janela do lado de fora eles iam ver que a imagem

49

tava logo ali então ela é mais importante né e junto com o texto... passar pra próxima

agora...

Sujeito 3

E e nesse daqui a questão do humor é por que a paisagem... pela janela é exatamente

igual ((risos)) a paisagem da: do do computador... ele ele tá olhando pra paisagem do

computado e não pela janela... e o outro...

Sujeito 4

Nessa aqui a imagem já é: mais importante... e o principal aspecto do humor é a ironia

eu acho que é dada pelo primeiro quadrinho em contraste com o último... a mesma

imagem mora na na tela do computador e outra hora fora da janela né... real...

Sujeito 5

E a paisagem:...talvez o que a foto ta refletindo no computador e ele ta vendo achando

que era o computador.

Sujeito 6

É:: tem a ver com tecnologia: ele tá vendo a mesma imagem que tá aparecendo na

janela... mas ao invés de olhar pra janela e ver o que ta bonito lá fora ele chama o amigo

pra ver o que tá bonito na tela do computador...

Sujeito 7

Ah:: bom aqui eu entendo que eles tão olhando uma paisagem pela internet acham lindo

o computador... tão achando lindo só que a mesma paisagem ta lá fora. E ao invés de

ver a imagem real eles tão vendo a imagem do computador...

50

Sujeito 8

É: aqui é tipo a valorização do que tem no computador: só prestar atenção no que tem

na maquina tal e esquecer do mundo natural... apesar de ser muito mais bonito e muito

mais real... então a paisagem do computador foi importante e a paisagem de fora assim é

igual... pra poder fazer essa relação...

Sujeito 9

Ah: a a segunda... tira a pessoa tá tão concentrada no computador que não vê que o

ambiente externo que ela ta tem o mesmo... a mesma paisagem que ela acha bonito...

pode ser o tema crítico pra... das coisas que a gente vive hoje em dia de estar tão

conectado e essas coisas.

TIRA 3:

Sujeito 1

E aqui é o... sei lá ((risos)) lei da física... o Garfield foi soprar uma aranhinha... e ela por

causa da lei da física voltou... com a mesma intensidade... na direção oposta e acertou a

cara dele.

Sujeito 2

E a terceira é uma tirinha que não tem texto né é só da imagem... como a maioria das

tiras do Garfield é uma tira que tem muito pouco texto ou não tem texto nenhum e:: ele

tá incomodado com a aranha sopra a aranha e a aranha volta na cara dele ((risos)) é uma

tira que é construída só no que a imagem demonstra assim ele quer se livrar da coisa e a

coisa volta ali em cima dele... e é só isso...

51

Sujeito 3

E nessa o Garfield tentou espantar a aranha e a aranha foi justamente no olho dele

((risos)) a ação deu o efeito oposto que ele queria.

Sujeito 4

Nessa aqui a imagem tem um papel mais... importante das três... e: o humor se dá pelo

movimento que aranha faz de ida e volta...

Sujeito 5

E... não sei... ele sopra... e o bichinho volta... tá amarrado... não sei...

Sujeito 6

E:... é: sei lá algo de ação e reação aqui... ele sopra a aranha talvez para afastar mas a

reação do que ele fez é a aranha voltar e acertar ele na testa...

Sujeito 7

Bom aqui o Garfield tenta se livrar da aranha né: sopra ela pra longe mas ela volta e

acerta nele com a força do sopro dele...

Sujeito 8

Aqui o Garfield soprou e aí a aranha voltou por que sempre que a gente sopra pra... sei

lá... alguma coisa vai pra frente volta... quando tem uma corda: um fio... foi importante

ver o movimento do sopro e a ida... o movimento de ida da aranha assim... mais isso...

52

Sujeito 9

O terceiro não tem muita graça não ((risos)) ele só sopra e a aranha voltou na cara dele

por causa da teia onde devia ta presa pelo ponto onde que a teia tava só.

53

ANEXO 2:

Gaze Plots (mapas de leitura):

TIRA 1

Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:

54

Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:

Sujeito 7:

55

Sujeito 8:

Sujeito 9:

Todas as leituras:

56

Tira 2

Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:

57

Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:

58

Sujeito 7:

Sujeito 8:

Todos:

O arquivo de imagem da leitura do sujeito 9 foi corrompido e não pode ser exibido

separadamente aqui, mas tratam-se dos círculos em vermelho na imagem acima.

59

TIRA 3

Sujeito 1:

Sujeito 2:

Sujeito 3:

60

Sujeito 4:

Sujeito 5:

Sujeito 6:

Sujeito 7:

61

Sujeito 8:

Sujeito 9:

Todos os sujeitos: