115
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Psicologia Nível Mestrado RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL Adriana Raquel Binsfeld Bolsista CAPES Dissertação de Mestrado São Leopoldo, 2011

RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES …biblioteca.asav.org.br/vinculos/tede/AdrianaBinsfeldPsicologia.pdf · ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL Adriana Raquel Binsfeld

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Nível Mestrado

RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM

ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL

Adriana Raquel Binsfeld

Bolsista CAPES

Dissertação de Mestrado

São Leopoldo,

2011

RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM

ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL

ADRIANA RAQUEL BINSFELD

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Psicologia,

Área de Concentração Psicologia Clínica, da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos,

como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Psicologia.

Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke

São Leopoldo,

2011

Catalogação na publicação: Bibliotecário Flávio Nunes - CRB 10/1298

B614r Binsfeld, Adriana Raquel. Relações familiares e sintomas internalizantes em

adolescentes: um estudo longitudinal / Adriana Raquel Binsfeld. – 2011.

115 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos

Sinos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2011. “Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke.” 1. Adolescentes – Relações com a família. 2. Família –

Aspectos psicológicos. 3. Psicologia do adolescente. I. Título.

CDD 155.5 CDU 159.922.8

5

“A vida e a arte do encontro,

embora haja tanto desencontro pela vida”

Vinícius de Moraes

AGRADECIMENTOS

Após esta trajetória, permeada por desafios, aprendizados e crescimento - pessoal e

profissional - é impossível não agradecer às pessoas importantes que, cada uma a seu modo,

contribuíram para a concretização dessa conquista.

Agradeço aos meus pais, Pedro Paulo Binsfeld e Marlene Binsfeld, por todo amor,

confiança e apoio nos momentos mais difíceis. Por terem me ensinado a acreditar que meus

sonhos poderiam se tornar realidade. Pai e mãe: muito obrigada por tudo!

Aos meus irmãos, Vinicios e Gabriela Binsfeld, por toda ajuda ao longo desta

caminhada. Pela compreensão e torcida nos momentos mais difíceis.

Ao meu noivo, Estevão Hess, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo, em

todos os momentos, principalmente naqueles de maior ausência. Te amo!

À minha querida orientadora Profª Draª. Denise Falcke, pelo carinho com o qual me

acolheu em seu Núcleo de Pesquisa, e pelo empenho e atenção com que conduziu a orientação

deste trabalho, sempre acreditando em meu potencial! Deni, muito obrigada por todos os

ensinamentos de vida pessoal e acadêmica!!! Com certeza aprendi muito com você, e já sinto

saudades dos almoços, chimas e cafés, que com certeza foram momentos de intenso

aprendizado.

Ao professor Dr. Maycoln Teodoro, pela proposição do desafio da realização de um

estudo longitudinal, pelas orientações iniciais e por ter continuado compartilhado seus

conhecimentos, mesmo que à distância. Muito obrigada por todo auxílio durante a realização

deste trabalho.

7

Às bolsistas de iniciação científica Elisa Weber e Marcela Madalena, que auxiliaram

na coleta e tabulação dos dados com muita dedicação e carinho, cuja contribuição foi muito

importante para o desenvolvimento deste trabalho. Aos meus colegas do “Núcleo de Pesquisa

Família, Transgeracionalidade e Violência”, pelo convívio e por todo o aprendizado nos mais

diversos momentos desta trajetória.

Às minhas queridas colegas de Mestrado, Cristiane Blumm e Patrícia Sachet, com as

quais dividi momentos de angústias, dúvidas e estresses, bem como alegrias, felicidade,

viagens, Congressos. Sem dúvidas, a parceria de vocês – em momentos científicos e nos

demais - foi muito importante durante esta trajetória.

Às minhas super-friends, Danixa Ruas e Fernanda Soares Fernandes, pela

compreensão nos vários momentos de distanciamento. À minha amiga Maria Helena, por toda

luz e boas energias sempre transmitidas.

Às escolas, por possibilitarem a coleta dos dados. Aos adolescentes e pais que

participaram do estudo.

Às professoras da banca - Drª. Adriana Wagner (UFRGS), Drª Edwiges Silvares

(USP) e Dra. Elisa Kern de Castro (UNISINOS) - pela disponibilidade e contribuições.

Ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UNISINOS e todo o corpo docente

pela formação. Também a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior) pelo investimento em minha formação e pela oportunidade da realização deste

trabalho.

À Deus, pela saúde, fé e determinação, que me permitiram a conclusão deste

trabalho!!!

Muito Obrigada!!!

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................... 11

ABSTRACT ........................................................................................................................................... 12

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 13

1 SEÇÃO I - SINTOMAS INTERNALIZANTES NA ADOLESCÊNCIA E AS RELAÇÕES

FAMILIARES: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LIT ERATURA............................................... 15

1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 16

1.2 MÉTODO.................................................................................................................................... 18

1.3 RESULTADOS............................................................................................................................. 19

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 34

1.5 REFERÊNCIAS............................................................................................................................ 36

2 SEÇÃO II – RELAÇÕES FAMILIARES, EVENTOS ESTRESSORES E SINTOMAS

INTERNALIZANTES NA ADOLESCÊNCIA.................... ............................................................................. 49

2.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 50

2.2 MÉTODO.................................................................................................................................... 53

2.2.1 Delineamento .................................................................................................................. 53

2.2.2 Participantes ................................................................................................................... 53

2.2.3 Instrumentos.................................................................................................................... 54 2.2.3.1 Ficha de Dados Sócio-Demográficos.........................................................................................54 2.2.3.2 Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report) ...............54 2.2.3.3 Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report) ..............55 2.2.3.4 Familiograma (FG) ....................................................................................................................55 2.2.3.5 Inventário do Clima Familiar (ICF)...........................................................................................56 2.2.3.6 Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)......................................................57

2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS................................................................................. 58

2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS.................................................................................. 59

2.5 RESULTADOS............................................................................................................................. 59

2.6 DISCUSSÃO................................................................................................................................ 66

2.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 70

2.8 REFERÊNCIAS............................................................................................................................ 71

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO.................................................................. 76

4 ANEXOS ...................................................................................................................................... 78

ANEXO A – RELATÓRIO DE PESQUISA................................................................................................. 79

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ........................................ 106

ANEXO C – FICHA DE DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS....................................................................... 107

ANEXO D – FAMILIOGRAMA (FG) ..................................................................................................... 109

9

ANEXO E – INVENTÁRIO DO CLIMA FAMILIAR (ICF)......................................................................... 111

ANEXO F – INVENTÁRIO DE EVENTOS ESTRESSORES NA ADOLESCÊNCIA (IEEA)............................. 113

LISTA DE TABELAS

Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares: uma revisão sistemática da literatura

Tabela 1. Número de publicações de acordo com as bases de dados...................... 19

Tabela 2. Classificação metodológica dos estudos, de acordo com o ano de realização................................................................................................................. 20

Tabela 3. Categorização.......................................................................................... 21

Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na Adolescência

Tabela 1 – Porcentagens do YSR dos adolescentes, nos tempos 1 e 2..................... 60

Tabela 2. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2).................... 61

Tabela 3. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)..................... 62

Tabela 4. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os sintomas internalizantes no T2........................................................ 63

Tabela 5. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e sintomas internalizantes do adolescente no T2........................................... 64

Tabela 6 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e IEEA............................................................................................... 65

RESUMO

Os problemas emocionais e de comportamento na adolescência referem-se a padrões

sintomáticos, que podem ser divididos em dois tipos: externalizantes e internalizantes. Mais

especificamente, os sintomas internalizantes são os que se expressam em relação ao próprio

indivíduo, caracterizando-se pela tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Esta

dissertação pretende ampliar a compreensão sobre os sintomas internalizantes dos

adolescentes e sua relação com os aspectos familiares. A Seção I da dissertação abrange uma

revisão sistemática da literatura sobre os sintomas internalizantes dos adolescentes e as

relações familiares em bases de dados nacionais e internacionais, no período de 2005 a 2009.

Na Seção II, é apresentado um estudo empírico que teve por objetivo investigar o poder

preditivo dos problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, das

características dos relacionamentos familiares e dos eventos estressores na adolescência para

o aparecimento de sintomas internalizantes manifestados pelos adolescentes no intervalo de

um ano. Participaram deste estudo 139 adolescentes e seus pais. Os pais responderam os

seguintes instrumentos no Tempo 1 (T1): Familiograma (FG), Inventário de Clima familiar

(ICF) e Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (Adult Self-Report, ASR).

Os adolescentes responderam, no Tempo 1 (T1) e no Tempo 2 (T2), o FG, o ICF e o

Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (Youth Self-Report, YSR). No T2,

também responderam ao Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). A

análise dos dados, através de regressão linear, revelou que tiveram maior poder explicativo

dos sintomas internalizantes dos adolescentes no T2, os eventos de vida estressores na

adolescência e os próprios sintomas internalizantes dos adolescentes mensurados no T1. As

relações familiares não apresentaram poder preditivo significativo nesta amostra, o que pode

estar relacionado com a estabilidade dos sintomas internalizantes ao longo do tempo, com o

fato dos sintomas internalizantes abrangerem questões intrínsecas ao indivíduo e, ainda, ao

fato de na adolescência haver uma maior influência do grupo de pares.

Palavras-chave: Adolescência; Sintomas Internalizantes; Relações Familiares

ABSTRACT

The emotional and behavioral problems in adolescence relate to symptom patterns,

which can be divided into two types: internalizing and externalizing. More specifically,

internalizing symptoms that are expressed in relation to oneself, characterized by sadness,

withdrawal, somatic complaints and fear. This thesis attempts to broaden the understanding of

adolescents' internalizing symptoms and family relationships. The section I of this thesis

includes a systematic review of the literature on adolescents' internalizing symptoms and

family relationships in national and international databases, between 2005 to 2009. In Section

II, it presents an empirical study that aimed to investigate the predictive power of emotional

problems and behavior of parents and children, the characteristics of family relationships and

stressful events during adolescence to the onset of internalizing symptoms expressed by

adolescents in the interval of one year. The study included 139 adolescents and their

parents. The parents answered the following instruments at Time 1 (T1), Familiograma (FG),

Inventário de Clima Familiar (ICF) and Adult Self-Report (ASR). The adolescents answered

to the T1 and T2, FG, ICF and Youth Self-Report (YSR). In T2, also answered to the

Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). The data analysis, by linear

regression, revealed that had the greatest explanatory power of internalizing symptoms in

adolescents T2, stressful life events in adolescence and adolescents' own internalizing

symptoms measured at T1. Family relationships had low predictive power in this sample,

which may be related to the stability of internalizing symptoms over time, with the fact that

internalizing symptoms concerned issues intrinsic to the individual and also the fact that

during adolescence has a greater influence peer group, moreover, the fact that during

adolescence have a greater influence of peer groups.

Keywords: Adolescence, Internalizing Symptoms, Family Relations

Apresentação

A presente dissertação aborda as características dos relacionamentos familiares e os

problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, e foi desenvolvida no

Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

(UNISINOS). Os problemas emocionais e de comportamento são caracterizados por padrões

sintomáticos que, segundo Achenbach (1991), podem ser divididos em dois tipos:

externalizantes ou internalizantes. O foco deste estudo será os sintomas internalizantes dos

adolescentes, que abrangem os sintomas que se expressam em relação ao próprio indivíduo,

como tristeza, retraimento, medo e queixas somáticas.

Estudos nacionais e internacionais têm demonstrado uma prevalência clínica e

limítrofe de 10 a 24% com relação aos sintomas internalizantes em adolescentes (Anselmi,

Piccinini, Barros, & Lopes, 2004; Hackett, & Hackett, 1999; Wagner, & Predebon, 2005).

Como os problemas emocionais e de comportamento sofrem a influência de variáveis

biológicas, psicológicas e sociais, nesta dissertação, pretende-se verificar o quanto os

problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, as características dos

relacionamentos familiares e os eventos estressores na adolescência podem ser preditores dos

sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após um ano.

Os resultados da investigação foram organizados em dois artigos, um teórico e outro

empírico. Na Seção I, é apresentado o artigo teórico, que foi elaborado a partir de uma revisão

sistemática de literatura que investigou publicações nacionais e internacionais sobre os

sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Na Seção II consta o artigo

empírico, no qual são descritos e discutidos os resultados obtidos na investigação sobre o

poder preditivo das relações familiares, dos problemas emocionais e de comportamento de

14

pais e filhos e dos eventos estressores na adolescência nos sintomas internalizantes dos

adolescentes.

Finalmente, são apresentadas as considerações finais da dissertação e os anexos. Nos

anexos, conforme exigência do regimento interno deste Programa de Pós-Graduação, consta o

relatório de pesquisa, no qual é realizada uma descrição detalhada dos objetivos do estudo, da

amostra e dos procedimentos de coleta e análise dos dados. Também nesse relatório são

apresentados de forma mais abrangente os resultados encontrados no estudo.

1 Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares:

uma revisão sistemática da literatura

Resumo: Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática de literatura, nacional e internacional, no período de 2005 a 2009, sobre os sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Inicialmente, foi realizado um levantamento dos artigos indexados nas bases de dados Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE with Full Text e SciELO (Scientific Electronic Library Online), utilizando-se os descritores, em português, “problemas internalizantes” ou “sintomas internalizantes” e “adolescência ou adolescente ou jovem” e “família”; e, em inglês, “internalizing problems or internalizing symptoms” and “adolescence or adolescent or teenager” and “family”. Os artigos foram classificados de acordo com o ano de publicação, o país, a metodologia o instrumento de mensuração para comportamentos internalizantes e, ainda, quanto às temáticas relacionadas. Na literatura internacional, constatou-se um predomínio de estudos empíricos e de caráter quantitativo, realizados preponderantemente pelos Estados Unidos. No Brasil, observou-se uma grande escassez de estudos integrando as temáticas da sintomatologia internalizante na adolescência e as relações familiares. Foram encontrados somente dois artigos, o que indica a necessidade de realização de mais pesquisas nesta área em nosso país. Palavras-chave: Adolescência; Sintomas Internalizantes; Relações Familiares

Internalizing symptoms in adolescence and family relationships:

a systematic literature review

Abstract: This article aims to perform a systematic literature review, national and international, in the period from 2005 to 2009, on internalizing symptoms in adolescence and family relationships. Initially, a survey was conducted in indexed articles in the Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE databases with Full Text, and SciELO (Scientific Electronic Library Online), using the descriptors in Portuguese, "problemas internalizantes" or "sintomas internalizantes" and "adolescência ou adolescente ou jovem" and "família" and in English, "internalizing problems or internalizing symptoms" and "adolescence or adolescent or teenager" and "family". The articles were classified according to the publication year, country, the methodology, the measurement instrument for internalizing behaviors, and also about the issues related. In the international literature, we found a predominance of empirical studies and quantitative character, performed mainly by the United States. In Brazil, there was a paucity of studies integrating the themes of internalizing symptoms in adolescence and family relationships. We found only two articles, which indicates the need for more research in this area in our country.

Keywords: Adolescence, Internalizing Symptoms, Family Relations

1.1 Introdução

A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano que compreende mudanças

físicas, sociais e psicológicas. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº

8.069), compreende a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de idade.

Segundo Bessa (2004), a adolescência é marcada por transformações orgânicas e

emocionais. Este é um período de instabilidade, de busca da identidade, auto-afirmação e

independência individual (Silva & Mattos, 2004), no qual há um distanciamento da família de

origem e uma maior aproximação com o grupo de iguais (Wagner, Falcke, Silveira, &

Mosmann, 2002). Assim, face a estas mudanças, a adolescência pode ser considerada um

período de vulnerabilidade para o desenvolvimento de problemas emocionais e de

comportamento (Jacobs, Reinecke, Gollan, & Kane, 2008).

Diversas são as definições sobre Problemas Emocionais e de Comportamento (PEC)

na infância e adolescência, não havendo na literatura científica um consenso sobre este

conceito. Segundo Achenbach (1991), os problemas emocionais e de comportamento são

caracterizados por padrões sintomáticos, os quais podem ser divididos em dois tipos,

denominados por ele como externalizantes e internalizantes. Os transtornos externalizantes

são aqueles que se expressam em relação à outras pessoas. Referem-se a comportamentos

como dificuldade em controlar impulsos, hiperatividade, agressividade e presença de raiva e

delinqüência. Comumente estão ligados ao transtorno da conduta e ao transtorno desafiador

opositivo (Achenbach & Howell, 1993; APA, 2002). Os transtornos internalizantes são os que

se expressam em relação ao próprio indivíduo. Caracterizam-se pela tristeza, retraimento,

queixas somáticas e medo. Geralmente estão relacionados aos transtornos de humor

(depressão) e ansiedade (Achenbach & Howell, 1993; APA, 2002).

A nomenclatura dada por Achenbach às síndromes comportamentais não representa

classificações nosológicas e diagnósticos psiquiátricos tais como os realizados com base no

17

DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico - IV). No entanto, o DSM-IV constitui a base

clínica sob a qual foram elaboradas as Escalas ASEBA (Achenbach System of Empirically

Based Assessment), que são escalas desenvolvidas para verificar diversos aspectos de

funcionamento adaptativo, a partir da avaliação dos problemas comportamentais e

emocionais. Assim, destaca-se que a classificação realizada pelas Escalas ASEBA não é

idêntica às proveniente do DSM-IV, embora haja uma correlação significativa entre os

instrumentos. As Escalas ASEBA são compostas por diversos instrumentos, os quais são

utilizados de acordo com a faixa etária do participante. Dentre os instrumentos que compõe as

escalas ASEBA destaca-se, para o período da adolescência, o Youth Self-Report (YSR),

traduzido para o Português como Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos

(Rocha, Araújo, & Silvares, 2008). O YSR é utilizado para mensurar problemas emocionais e

de comportamento em adolescentes, de 11 a 18 anos de idade, na visão deles próprios.

A prevalência dos problemas emocionais e de comportamento varia de cultura para

cultura. Estudos em países em desenvolvimento sugerem uma taxa de 10% a 20% de

prevalência em crianças e adolescentes (Hackett, & Hackett, 1999), havendo um maior nível

de problemas externalizantes no sexo masculino e de internalizantes no sexo feminino

(Canino et al., 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Hackett, & Hackett, 1999; Silva &

Hutz, 2002; Sourander, Niemela, Santalahti, Helenius, & Piha, 2008).

No Brasil, um estudo epidemiológico com uma amostra de 634 crianças de quatro

anos, utilizando as Escalas ASEBA, revelou uma prevalência clínica e limítrofe de 24%, não

apontando diferenças de gênero (Anselmi, Piccinini, Barros, & Lopes, 2004). Também

usando as Escalas ASEBA, Wagner e Predebon (2005), realizaram um estudo com 523

adolescentes de 15 a 18 anos, da cidade de Porto Alegre (RS), e encontraram uma prevalência

clínica de 22%, mostrando altos níveis de problemas emocionais e de comportamento na

amostra investigada. Convém salientar que apesar das Escalas ASEBA serem amplamente

18

utilizadas no contexto brasileiro, algumas de suas escalas ainda estão em processo de

validação no Brasil, de modo que, estes resultados podem não demonstrar a real prevalência

dos problemas emocionais e de comportamentos nas amostras investigadas, pelos pontos de

corte terem sido estabelecidos por uma amostra americana.

Além das características individuais dos adolescentes, a estrutura familiar, os aspectos

relacionais e as características dos pais podem estar vinculados ao surgimento de problemas

emocionais e de comportamento (Avanci, Assis, & Oliveira, 2008; Cruvinel & Boruchovitch,

2009; Hackett, & Hackett, 1999; Sheeber et al., 1997; Stark, Humphrey, Crook, & Lewis,

1990; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009). Segundo Silvares e Souza (2008), a família em

situação de crise pode ser considerada um fator de risco para o surgimento de PEC nos(as)

filhos(as).

Tendo em vista a prevalência dos sintomas internalizantes na adolescência e a possível

associação destes com as relações familiares, este estudo teve por objetivo fazer uma revisão

da literatura nacional e internacional publicada no período de 2005 a 2009, através de uma

revisão sistemática da literatura. Estes artigos foram analisados em relação ao ano de

publicação, país, método e instrumentos utilizados para investigar os transtornos

internalizantes nesta faixa etária.

1.2 Método

Inicialmente foi realizado um levantamento de artigos publicados de 2005 a 2009,

indexados nas bases de dados do Academic Search Premier, Education Resources Information

Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE with Full Text e SciELO (Scientific

Electronic Library Online). Foram utilizados como descritores as palavras-chave em

português: “problemas internalizantes” ou “sintomas internalizantes” e “adolescência ou

19

adolescente ou jovem” e “família” e em inglês: “internalizing problems or internalizing

symptoms” and “adolescence or adolescent or teenager” and “family”

Os artigos foram examinados e selecionados conforme os seguintes critérios de

inclusão: disponibilidade do texto completo e estudos que abordem especificamente os

transtornos internalizantes no período da adolescência e que tenham alguma relação com o

aspecto familiar. Após este levantamento inicial foram encontradas 553 publicações.

Em seguida, foi realizada uma revisão minuciosa, sendo excluídos os artigos que não

satisfaziam os critérios de inclusão (n=336). Os artigos referidos em mais de uma base de

dados foram considerados apenas uma vez (n=63). Dessa forma, obteve-se um total de 154

publicações a serem analisadas. Os artigos foram classificados conforme o ano de publicação,

o país de realização do estudo, a metodologia utilizada, o instrumento de mensuração para

comportamentos internalizantes, e as temáticas mais abordadas.

1.3 Resultados

Na primeira etapa da revisão, foram encontradas 553 publicações nas bases

pesquisadas, conforme pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Número de publicações de acordo com as bases de dados

Base de Dados Publicações

Academic Search Premier 176

Education Resources Information Center (ERIC) 79

ISI Web of Knowledge 157

MEDLINE with Full Text 140

Lilacs 1

SciELO (Scientific Electronic Library Online) 0

Total 553

20

Como mencionado anteriormente, após a análise de acordo com os critérios de

inclusão e exclusão, restaram 154 artigos para análise. Com relação ao local de realização dos

estudos, observa-se a predominância de pesquisas realizadas nos Estados Unidos (95 artigos –

61,68% dos 154 estudos analisados). As demais foram desenvolvidas nos seguintes países:

Holanda (14), Canadá (8), Austrália (5), Finlândia (4), Inglaterra (4), Alemanha (3), Brasil

(2), Grécia (2), Noruega (2), Suécia (2), Bélgica (1), Espanha (1), Havaí (1), Hungria (1),

Israel (1), Itália (1), Islândia (1). Seis estudos foram caracterizados como transculturais por

abrangerem amostras de diferentes países.

No que tange à questão metodológica e ao ano de publicação, a totalidade dos estudos

empíricos são quantitativos, sendo 8 artigos teóricos, havendo uma distribuição praticamente

uniforme no número de artigos publicados ao longo dos últimos cinco anos, conforme mostra

a tabela 2.

Tabela 2. Classificação metodológica dos estudos, de acordo com o ano de realização

Ano Quantitativos Qualitativos Teóricos

2005 20 0 2

2006 32 0 0

2007 29 0 0

2008 30 0 4

2009 35 0 2

Total 146 0 8

Com relação aos instrumentos de mensuração dos problemas de comportamentos

internalizantes, os artigos foram categorizados de acordo com o uso ou não-uso das Escalas

ASEBA, por estas serem um dos instrumentos mais utilizados mundialmente para investigar

problemas emocionais e de comportamento. Para esta categorização não foram incluídos os

artigos teóricos. Constatou-se que 85 artigos (58,21%) utilizaram as escalas ASEBA para

21

mensurar os sintomas internalizantes, confirmando a ampla utilização destes instrumentos

como forma de acesso aos sintomas internalizantes dos adolescentes.

Por último, os 154 artigos foram categorizados de acordo com as temáticas mais

abordadas nas publicações (vide tabela 3). Devido à possibilidade dos artigos terem mais de

um objetivo, alguns deles abrangiam mais de uma categoria temática, o que faz com que o

somatório seja superior ao número de artigos examinados:

Tabela 3. Categorização

Categoria temática Número de artigos

Estrutura / contexto familiar 48

Parentalidade e Conjugalidade 45

Transtornos físicos e/ou mentais dos adolescentes 33

Característica de personalidade dos filhos 26

Eventos estressores de vida 25

Transtornos físicos e/ou mentais dos pais 14

Intervenção terapêutica 10

Instrumentos de avaliação 4

Estudo de prevalência 1

Total 206

Considerando estas categorias, serão apresentados a seguir alguns dos estudos

encontrados na revisão de literatura, conforme o conteúdo que abordaram. Alguns estudos

serão descritos mais detalhadamente pelo fato de melhor representarem a categoria. Além

disso, quando os estudos investigaram tanto os sintomas internalizantes quanto os

externalizantes os mesmos serão mencionados como problemas emocionais e de

comportamento (PEC).

1) Estrutura/contexto familiar: Uma grande parte dos artigos encontrados (48 dos 154

analisados no total) destinou-se a verificar associações entre a sintomatologia internalizante

22

na adolescência e diversas variáveis familiares, tais como: configuração familiar (Breivik &

Olweus, 2006; Spruijt & Duindam, 2005; VanderValk, Spruijt, Goede, Maas, & Meeus,

2005), suporte familiar (Oliva, Jiménez, & Parra, 2009; Wight, Botticello, & Aneshensel,

2006), conflito familiar (Davis & Epkins, 2009; Herrenkohl, Kosterman, Hawkins, & Mason,

2009; Santiago & Wadsworth, 2009; Skeer, McCormick, Normand, Buka, & Gilman, 2009),

violência familiar (Sternberg, Lamb, Guterman, & Abbott, 2006 ), estabilidade das rotinas

familiares (Ivanova & Israel, 2006), comportamento parental (Sentse, Veenstra, Lindenberg,

Verhulst, & Ormel, 2009; Steinhausen, Haslimeier, & Metzke, 2007) e nível sócio-econômico

das famílias (Amone-P’Olak, Burger, Ormel, Huisman, Verhulst, & Oldehinkel, 2009; Wight,

Botticello, & Aneshensel, 2006).

Um estudo longitudinal, realizado com 100 adolescentes espanhóis, por Oliva,

Jiménez e Parra (2009), demonstrou que a qualidade da relação entre pais e adolescentes

mostrou-se um fator protetivo para o desenvolvimento de sintomatologia externalizante, face

a experiência de eventos estressores de vida na adolescência. Contudo, este estudo não

apontou resultados significativos para os sintomas internalizantes, tendo os autores inferido

que isso possa ter acontecido pela estabilidade dos sintomas internalizantes entre o T1 e o T2

e porque os sintomas internalizantes podem depender de outros fatores, não tão relacionados

ao suporte social, como, por exemplo, as estratégias de regulação emocional que os

adolescentes utilizam para lidar com os eventos estressores.

Ainda considerando a relação entre pais e filhos, o clima emocional também tem sido

relacionado com os problemas emocionais e de comportamento. Um estudo realizado com

131 adolescentes e suas famílias, de Denver (Estados Unidos), apontou que a compreensão e a

empatia dos pais face às experiências dos filhos são fundamentais para o desenvolvimento dos

mesmos (Stocker, Richmond, & Rhoades, 2007), sendo que quando os pais são continentes às

expressões de experiências emocionais negativas pelos filhos, estes apresentam menos

23

sintomas internalizantes. Complementando estes achados, uma investigação desenvolvida por

Herrenkohl, Kosterman, Hawkins e Mason (2009), com 754 adolescentes de Seattle (Estados

Unidos), indicou o conflito familiar na adolescência como preditor de sintomas depressivos

no início da idade adulta.

Nesse sentido, o clima e o suporte familiar mostram-se relacionados com a diminuição

dos sintomas internalizantes. Corroborando com essa perspectiva, um estudo realizado por

Ozer (2005), com 73 adolescentes de Berkeley (Estados Unidos), demonstrou que a percepção

de suporte familiar materno diminuiu os sintomas depressivos dos filhos, assim como a

percepção de suporte dos irmãos teve efeito estabilizador dos sintomas depressivos nos

adolescentes. Não foram encontrados efeitos protetivos no que se refere ao suporte paterno,

indicando que o pai se manteve em posição mais periférica no sistema familiar.

Leve, Kim e Pears (2005) realizaram um estudo longitudinal, com 373 sujeitos (174

meninos e 163 meninas) de Eugene (Estados Unidos), e encontraram que os problemas

internalizantes aumentaram ao longo do tempo nas meninas, enquanto que nos meninos

permaneceram estáveis. As variáveis medo/timidez e depressão materna foram preditoras de

comportamentos internalizantes dos filhos. Disciplina severa foi preditora de sintomas

internalizantes somente para os meninos, enquanto que depressão materna e renda familiar

baixa foi preditora do aumento de internalizantes nas meninas. Além disso, o ajustamento

conjugal teve uma associação com os sintomas internalizantes de meninos e meninas, o que

evidencia a interação entre as variáveis do grupo familiar e os sintomas dos adolescentes.

A estabilidade familiar, considerada como a coerência das atividades e das rotinas

familiares, também teve uma associação com os baixos níveis de sintomas internalizantes em

crianças no estudo realizado por Ivanova e Israel (2006), com 70 famílias de Albany (Estados

Unidos). Os sintomas depressivos dos pais foram associados com problemas emocionais e de

comportamento somente em crianças com baixo nível de estabilidade familiar. Dessa forma,

24

os autores concluem que a estabilidade familiar funciona como atenuante entre os sintomas

depressivos dos pais e os sintomas internalizantes dos filhos.

Considerando o contexto em que as famílias estão inseridas, diversos estudos

apontaram correlações positivas entre o nível sócio-econômico baixo e os sintomas

depressivos (Amone-P’Olak, Burger, Ormel, Huisman, Verhulst, & Oldehinkel, 2009; Tonge,

Hughes, Pullen, Beaufoy, & Gold, 2008; Wight, Botticello, & Aneshensel, 2006). Além

desses, Karevold, Røysamb, Ystrom e Mathiesen (2009) identificaram, através de um estudo

longitudinal, realizado com 566 adolescentes e suas famílias, de 19 regiões da Noruéga, as

adversidades familiares da infância como preditoras dos sintomas ansiosos e depressivos.

Adicionalmente, a configuração familiar também tem sido relacionada ao surgimento

de problemas emocionais e de comportamento na adolescência. Nesse sentido, pesquisas

realizadas apontaram diferenças nos problemas de comportamento em adolescentes de

famílias intactas e divorciadas, sendo que os adolescentes de famílias divorciadas

apresentaram maiores níveis de sintomas internalizantes e externalizantes do que adolescentes

de famílias intactas (Breivik & Olweus, 2006; Spruijt & Duindam, 2005; VanderValk, Spruijt,

Goede, Maas & Meeus, 2005). Esses dados são corroborados pelo estudo de Schenck, Braver,

Wolchik, Saenz, Cookston e Fabricius (2009), com 133 adolescentes Mexicanos, residentes

no estado do Arizona (Estados Unidos), que demonstrou a importância de, nas famílias

reconstituídas, considerar-se não somente o relacionamento do adolescente com o padrasto,

mas também com o pai biológico não residente.

A análise dos artigos descritos neste tópico permite constatar que, de modo geral, as

relações familiares possuem impacto no surgimento de problemas emocionais e de

comportamento dos filhos. Assim apontam para a importância de as intervenções psicológicas

considerarem as relações familiares no tratamento de adolescentes.

25

2) Parentalidade e Conjugalidade: nessa categoria, foram agrupados os estudos que

correlacionam as dimensões da parentalidade e da conjugalidade com os sintomas

internalizantes dos adolescentes. Vários estudos têm apontado associações entre o conflito

marital, a qualidade das relações entre pais e filhos e o surgimento de problemas emocionais e

de comportamento nos filhos (Amato & Afifi, 2006; Leve, Kim, & Pears, 2005; Oliva,

Jiménez, & Parra, 2009). Shelton e Harold (2008) encontraram dados, em um estudo realizado

com 252 adolescentes de diferentes locais da Inglaterra, que apontam associações positivas

entre o conflito conjugal e a auto-culpabilização do adolescente, assim como com as

estratégias disfuncionais de enfrentamento dos filhos.

Analisando dados do National Survey of Families and Households, dos Estados

Unidos, com relação a 551 famílias de crianças com 5 a 11 anos, Gerard, Krishnakumar e

Buehler (2006) revelaram associação entre o conflito conjugal e os problemas internalizantes,

considerando ainda que estes são mediados parcialmente pelo conflito na relação pais-filhos.

Nesta mesma perspectiva, Cui, Donnellan e Conger (2007) investigaram associações entre o

ajustamento marital e os problemas internalizantes e externalizantes nos filhos adolescentes,

através de uma pesquisa realizada com 451 adolescentes e suas famílias, do estado de Iowa

(Estados Unidos). Os resultados apontam que o conflito parental amplia as chances dos filhos

desenvolverem sintomas depressivos e delinqüência, ao mesmo tempo em que estes

problemas dos adolescentes agravam o conflito parental ou, de forma mais abrangente, a

insatisfação conjugal. Os resultados desse estudo evidenciam a circularidade das variáveis do

sistema familiar, atestando que existem influências recíprocas entre elas.

Com o objetivo de verificar as associações entre o conflito conjugal, o estresse

materno e os problemas emocionais e de comportamento nos adolescentes, Salafia, Gondoli e

Grundy (2008) realizaram uma pesquisa com 136 mães e seus filhos, residentes em Oklahoma

(Estados Unidos). Na visão materna, os resultados indicaram que o conflito conjugal media a

26

relação entre o seu estresse e os PEC dos filhos, o que demonstra que as dimensões da

conjugalidade e da parentalidade podem ser consideradas indissociáveis.

Enfocando mais especificamente a parentalidade, um estudo realizado por Buehler

(2006), na Carolina do Norte (Estados Unidos), com 416 adolescentes e suas famílias,

constatou uma associação entre o controle parental inadequado, baixos níveis de bem-estar

dos pais e os sintomas internalizantes dos filhos. Na mesma direção, Anhalt e Morris (2008)

verificaram uma associação entre estilos parentais caracterizados por baixos níveis de cuidado

e altos níveis de proteção com altos níveis de sintomas internalizantes, em estudo realizado

com 434 estudantes de Morgantown (Estados Unidos). Bordin, Duarte, Peres, Nascimento,

Curto e Paula (2009), buscando examinar a relação entre a punição física e os problemas de

saúde mental infantil, realizaram um estudo com 480 crianças brasileiras. Dentre os principais

achados deste estudo, salienta-se a correlação positiva entre punição física e os problemas

emocionais e de comportamento dos filhos. Resultados semelhantes foram encontrados por

Bender, Allen, McElhaney, Antonishak, Moore, Kelly e Davis (2007), em investigação

realizada com 141 adolescentes de Glen Allen (Estados Unidos).

Ainda com relação aos estilos parentais, Lengua e Kovacs (2005) apontaram a

disciplina inconsistente como preditora de problemas emocionais e de comportamento dos

filhos. Estes estudos demonstram que o estilo e o controle parental são dimensões que podem

ser relacionadas aos sintomas internalizantes dos filhos.

Diversas variáveis têm sido apontadas como mediadoras entre a parentalidade e o

desenvolvimento de sintomas internalizantes nos adolescentes. Dentre estas, os estudos

encontrados apontaram: os sintomas depressivos maternos (Corona, Lefkowitz, Sigman, &

Romo, 2006), o conflito mãe-adolescente (Caples & Barrera, 2006), o conflito interparental

(Kim, Jackson, Conrad, & Hunter, 2008) e a idade materna (Dahinten, Shapka, & Willms,

2007; Pogarsky, Thornberry, & Lizotte, 2006).

27

Através das pesquisas descritas nesta categoria, pode-se perceber a interdependência

entre as variáveis da parentalidade, da conjugalidade e da psicopatologia na adolescência.

Dessa forma, se evidencia a complexidade do fenômeno e a necessidade de um olhar

abrangente aos profissionais que atuam com famílias com filhos adolescentes.

3) Característica de personalidade dos filhos: são descritos, nessa categoria, estudos que têm

assinalado a correlação entre o temperamento dos filhos, as relações familiares e os sintomas

internalizantes (Leve, Kim, & Pears, 2005; Muris & Ollendick, 2005).

Buscando associações longitudinais entre o temperamento dos filhos e a parentalidade,

Lengua e Kovacs (2005) realizaram um estudo com 92 crianças, de Seattle (Estados Unidos),

que apontou a bi-direcionalidade da relação entre o temperamento dos filhos e parentalidade.

De acordo com este estudo, a disciplina inconsistente pode elevar os níveis de emoções

negativas em crianças, bem como a irritabilidade da criança pode favorecer a disciplina

inconsistente pelos pais, mais uma vez, ficando evidente a circularidade nas relações

familiares.

Confirmando a associação entre as características de personalidade dos filhos e a

sintomatologia internalizante na adolescência, um estudo realizado por Nelson, Padilla-

Walker, Badger, Barry, Carroll e Madsen (2008), com 813 jovens de diferentes regiões dos

Estados Unidos, comparou jovens tímidos e jovens não-tímidos, e concluiu que jovens

tímidos possuíam maiores níveis de sintomas internalizantes, como ansiedade e depressão, do

que jovens não-tímidos. Estes dados são ainda corroborados pelo estudo longitudinal

desenvolvido por Karevold, Røysamb, Ystrom, & Mathiesen (2009), com 566 adolescentes e

suas famílias, de 19 diferentes regiões da Noruéga, que apontou a timidez como preditora de

sintomatologia internalizante e como um aspecto que deve ser considerado na análise da

relação pais-filhos.

28

4) Transtornos físicos e/ou mentais dos pais: alguns artigos encontrados buscaram investigar

relações entre a psicopatologia dos pais e os problemas emocionais e de comportamento dos

filhos. As psicopatologias estudadas foram: saúde mental dos pais (Self-Brown, LeBlanc,

Kelley, Hanson, Laslie, & Wingate, 2006), esclerose múltipla (Diareme, Tsiantis, Kolaitis,

Ferentinos, Tsalamanios, Paliokosta, et al., 2006; Steck, Amsler, Grether, Dillier, Baldus,

Haagen et al., 2007), psicopatologia materna (Spell, Kelley, Wang, Self-Brown, Davidson, et

al., 2008), sintomas depressivos maternos (Corona, Lefkowitz, Sigman, & Romo, 2005;

Foster et al., 2008a; Foster et al., 2008b), sintomas depressivos maternos e paternos (Elgar,

Mills, McGrath, Waschbusch, & Brownridge, 2007), estresse parental (Costa, Weems,

Pellerin, & Dalton, 2006) e comportamentos anti-sociais dos pais (Herndon & Iacono, 2005).

Em um estudo realizado por Corona, Lefkowitz, Sigman e Romo (2005), com 111

díades mãe-filho(a) (62 meninas e 49 meninos), os sintomas depressivos maternos estiveram

relacionados com os problemas internalizantes e externalizantes dos filhos. Este estudo foi

realizado com mães de origem latina, residentes nos Estados Unidos. Resultados semelhantes

foram encontrados por Foster et al. (2008b), em uma investigação realizada com 114 díades

mãe-filho(a), de Pittsburgh (Estados Unidos) cujos resultados apontaram correlações positivas

entre os episódios depressivos maternos e os níveis de sintomatologia internalizante e

externalizante dos filhos.

Investigando as relações entre a psicopatologia materna e a psicopatologia dos filhos,

Spell et al. (2008) encontraram, em um estudo realizado com 260 crianças e suas mães, de

Nova Orleans (Estados Unidos), associações entre os sintomas do transtorno de estresse pós-

traumático (TEPT) materno, com os sintomas internalizantes dos filhos, sendo o TEPT

apontado como um fator de risco para o surgimento de PEC nos filhos. Nesta mesma direção,

o comportamento anti-social dos pais foi apontado por Herndon e Iacono (2005), em uma

29

investigação longitudinal realizada com 1626 famílias do estado de Minnesota (Estados

Unidos), como um fator de risco para o surgimento de problemas externalizantes e

internalizantes nos filhos.

Os estudos analisados, em síntese, confirmam a perspectiva de transmissão

transgeracional. De modo geral, demonstram que quando os pais apresentam sintomas

emocionais e de comportamento, os filhos ficam mais suscetíveis a também apresentarem

alguma manifestação de problemas emocionais e de comportamento.

5) Transtornos físicos e/ou mentais dos adolescentes: Trinta e três artigos verificaram

associações entre os sintomas internalizantes dos adolescentes e outros transtornos sendo eles

de natureza física e/ou mentais, tais como: asma (Alati, O’Callaghan, Najman, Williams, Bor,

& Lawlor, 2005; Berz, Murdock, & Mitchell, 2005; Gupta, Crawford, & Mitchell, 2006),

comportamento suicida (Liu & Tein, 2005), problemas do sono (Reid, Hong, & Wade, 2009),

transplante hepático (Gritti, Sicca, Di Sarno, Di Cosmo, Vajro, & Vajro, 2006), diabetes

(Naar-King, Podolski, Ellis, Frey, & Templin, 2006), anemia/doença falciforme (Barakat,

Patterson, Daniel, & Dampier, 2008; Barakat, Schwartz, Simon, & Radcliffe, 2007), paralisia

cerebral (Schuengel, Voorman, Stolk, Dallmeijer, Vermeer, & Becher, 2006), transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade (Chen, Seipp, & Johnston, 2008; Edbom, Lichtenstein,

Granlund, & Larsson, 2006), transtorno bipolar (Zelkowitz, Paris, Guzder, Feldman, Roy, &

Rosval, 2007), síndrome de Tourette (Roessner, Becker, Banaschewski, Freeman, &

Rothenberger, 2007), transtorno obsessivo-compulsivo, (Storch et al., 2007), transtornos

alimentares (Thompson-Brenner, Eddy, Satir, Boisseau, & Westen, 2008), obesidade (Olsson,

Marild, Alm, Brodin, Rydelius, & Marcus, 2008), anorexia nervosa (Paulson-Karlsson,

Engström, & Nevonen, 2009) e o uso de álcool e drogas (Gavazzi, Lim, Yarcheck, Bostic, &

30

Scheer, 2008; Lansford, Erath, Yu, Pettit, Dodge, & Bates, 2008; Skeer, McCormick,

Normand, Buka, & Gilman, 2009).

Em um estudo realizado com 1421 adolescentes, de Chicago (Estados Unidos), Skeer,

McCormick, Normand, Buka e Gilman (2009) investigaram a relação entre o conflito familiar

na infância e o uso de substâncias na adolescência. O estudo apontou uma associação

significativa entre o conflito familiar e o uso de substancias na adolescência. Com o mesmo

intuito de investigar associações entre o uso de substâncias ilícitas, as relações familiares e o

desenvolvimento de ansiedade e depressão, os resultados encontrados por Lansford, Erath,

Yu, Pettit, Dodge e Bates (2008), em uma investigação realizada com 585 adolescentes das

cidades de Knoxville, Nashville e Bloomington (Estados Unidos), e seus pais, sugerem uma

co-morbidade entre o uso de substâncias e os sintomas internalizantes em jovens, de modo

que 66% dos jovens participantes que preencheram critérios diagnósticos para o uso de

substancias também apresentaram sintomas internalizantes ou desordens de comportamento,

estando elas mediadas pelas relações familiares.

6) Eventos estressores: nesta categoria são apresentados os estudos que foram realizados com

o intuito de verificar associações entre os eventos estressores, as relações familiares e o

surgimento de sintomas internalizantes nos adolescentes.

Em um estudo realizado com 1362 adolescentes chineses, da Província de Shandong,

Liu e Tein (2005) verificaram associações entre eventos negativos de vida, psicopatologia e

comportamento suicida. Os eventos de vida negativos foram associados com o aumento do

risco de problemas de externalização e internalização. Este estudo apontou, ainda, que o

estresse acadêmico e os conflitos familiares foram os estressores mais relacionados ao risco

de comportamento suicida nesta população, sendo que as meninas reportaram mais ideações

suicidas do que os meninos (22.0% vs. 17.5%).

31

Appleyard, Egeland, Dulmen e Sroufe (2005) sugerem, a partir de resultados de uma

pesquisa realizada com 171 adolescentes do estado de Minnesota (Estados Unidos), que

quanto maior o número de fatores de risco na infância, maior é a chance de predição de

problemas de comportamento na adolescência. Nesta mesma direção, os achados de um

estudo longitudinal realizado por Vegt, Ende, Ferdinand, Verhulst e Tiemeier (2009), com

1.984 crianças holandesas, apontam os maus-tratos infantis como eventos de vida que se

constituem em um fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de sintomas

internalizantes.

Verificando associações entre eventos de vida estressores e problemas emocionais e de

comportamento, Oliva, Jiménez e Parra (2009), em um estudo realizado com 100 adolescentes

de Sevilha (Espanha), apontaram a qualidade da relação entre pais e adolescentes como um

fator protetivo face a experiência de eventos estressores de vida e o desenvolvimento de

psicopatologias. Buscando uma influência cronológica entre as dimensões das relações

familiares, dos eventos estressores e da psicopatologia adolescente, Herrenkohl, Kosterman,

Hawkins e Mason (2009) constataram que altos níveis de conflito familiar na infância foram

preditores de eventos estressores, que por sua vez, predisseram sintomas depressivos na vida

adulta, em uma investigação realizada com 754 crianças e adolescentes de Seattle (Estados

Unidos). Ainda que fique difícil pensar em uma relação tão linear entre essas dimensões, a

maioria dos estudos analisados evidenciam o quanto são dimensões associadas e que devem

ser consideradas em conjunto.

7) Intervenção terapêutica: dez estudos discorreram sobre práticas e enfoques terapêuticos,

utilizados com famílias de adolescentes que apresentam sintomas internalizantes ou grupos de

adolescentes.

32

Ressaltando a eficácia da abordagem familiar, Paulson-Karlsson, Engström e Nevonen

(2009) realizaram um estudo piloto, na Suécia, que avaliou o tratamento familiar da anorexia

nervosa de adolescentes do sexo feminino. Trinta e duas pacientes e seus pais foram avaliados

antes do tratamento, aos 18 e aos 36 meses, quanto a sintomas de transtornos alimentares,

psicopatologia e clima familiar. Aos 36 meses, houve remissão total dos sintomas de

transtornos alimentares em 75% das pacientes e diminuição dos sintomas de internalização.

Com relação ao clima familiar, as participantes perceberam uma maior coesão familiar na

última avaliação.

A avaliação dos efeitos de um programa de intervenção baseado na família, para

adolescentes com sintomas internalizantes e uso álcool, cigarro e drogas ilícitas foi o foco de

um estudo desenvolvido por Trudeau, Spoth, Randall e Azevedo (2007), com 383

adolescentes e suas famílias, da região do Centro-Oeste dos Estados Unidos. Os resultados

deste estudo apontaram que o grupo experimental apresentou, ao final da intervenção,

menores índices de sintomas internalizantes e de uso de substâncias múltiplas.

A importância da aliança terapêutica na terapia individual e familiar de adolescentes

com problemas de comportamento foi destacada por Hogue, Dauber, Stambaugh, Cecero e

Liddle (2006), através de uma investigação realizada com 100 adolescentes e suas famílias, de

Nova Iorque (Estados Unidos). Segundo estes autores, a aliança forte com os pais em terapia

familiar auxiliou na diminuição do consumo de drogas e dos problemas de comportamento

dos adolescentes.

Na perspectiva da abordagem cognitivo-comportamental, Harrell, Mercer e DeRosier

(2009) avaliaram a eficácia de um treinamento de habilidades sociais em grupo para a

melhora do ajustamento social, emocional e comportamental, e das habilidades sociais de

adolescentes, realizado com 74 adolescentes da Carolina do Norte (Estados Unidos). O grupo

se mostrou eficaz, sendo que os participantes apresentaram melhoras no auto-conceito e

33

diminuição dos sintomas internalizantes. Ainda no que se refere ao tratamento em grupo,

Keiley (2007) avaliou a eficácia de um tratamento em grupo realizado com 73 adolescentes

do estado de Indiana (Estados Unidos), privados de liberdade. Os resultados demonstraram

uma redução dos sintomas de internalização, bem como do consumo de álcool e drogas.

Objetivando identificar mudanças no comportamento de crianças e pais/cuidadores

após programa de orientação em grupo para pais, Fernandes, Luiz, Miyazaki e Marques Filho

(2009), realizaram um estudo com oito pais ou cuidadores de crianças com transtornos

psiquiátricos atendidos no Ambulatório de Psiquiatria Infantil do Hospital de Base da

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (São Paulo). Os resultados mostraram uma

redução significativa de problemas internalizantes e externalizantes, nas crianças, após a

intervenção.

8) Instrumentos de avaliação: quatro estudos encontrados se dedicaram a análise e validação

de instrumentos psicométricos utilizados para avaliação do ajustamento psicossocial de

crianças e adolescentes. Gupta, Crawford e Mitchell (2006) desenvolveram um questionário

breve para investigação de problemas emocionais e de comportamento em crianças asmáticas.

Os autores realizaram um estudo piloto do Childhood Asthma Resiliency Questionnaire

(CARQ), com 173 crianças, de Calgary (Canadá), e seus pais, cujos resultados apontaram

correlações significativass (p < 0,001) entre os escores obtidos no CARQ e na sub-escala de

problemas internalizantes do CBCL (Child Behavior Checklist), respondido pelos pais. Este

estudo concluiu que o CARQ é um instrumento que pode auxiliar os clínicos a identificarem

riscos para o desenvolvimento de sintomas internalizantes em crianças asmáticas.

Partindo de evidências de que o CBCL pode não avaliar adequadamente problemas

clínicos em diversas populações, devido a diferenças culturais, Mano, Davies, Klein-Tasman

e Adesso (2009) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a equivalência do CBCL

34

entre 145 pais e adolescentes americanos de origem africana. Os índices de consistência

interna do CBCL obtidos no estudo variaram de 0,65 a 0,88, sendo um pouco mais baixos do

que os índices obtidos na amostra normativa. Ao final, ainda que os índices tenham sido

ligeiramente diferentes, considerou-se a equivalência das medidas.

Forman e Davies (2005) realizaram um estudo com 853 adolescentes, da região

metropolitana dos Estados Unidos, que investigou as propriedades psicométricas das escalas

de Segurança no Sistema Familiar (Security in the Family System-SIFS). As escalas

apresentaram boa consistência interna, sendo que os resultados do estudo demonstraram que a

SIFS é uma ferramenta psicométrica capaz de auxiliar no desenvolvimento de modelos de

análise dos processos familiares e que a segurança emocional na família é um construto válido

para identificar os padrões de apego das crianças em diferentes relacionamentos familiares.

9) Estudo de prevalência: estudos de prevalência são importantes para justificar e demonstrar

a importância da elaboração de intervenções destinadas a populações com características

específicas. Nesse sentido, um estudo encontrado, realizado por Furniss, Beyer e Guggenmos

(2006) investigou a prevalência dos problemas emocionais e de comportamento em 1.887

crianças em idade pré-escolar, do Norte da Alemanha. Os resultados mostraram que a

prevalência de sintomas emocionais de comportamento foi de 12,4%, sendo que os sintomas

internalizantes foram significativamente mais freqüentes do que os externalizantes.

1.4 Considerações Finais

Este artigo visou traçar um panorama dos estudos que foram realizados nos últimos

anos (2005 a 2009) e que estão disponíveis nas bases de dados nacionais e internacionais

(Academic Search Premmier, ISI Web of Knowledge, ERIC, MEDLINE with Full Text e

35

SciELO) que investigaram os sintomas internalizantes na adolescência e as relações

familiares.

Constatou-se uma unanimidade de estudos empíricos quantitativos, possivelmente pela

busca de associação entre as duas variáveis, sendo muitos deles longitudinais, realizados com

o objetivo de verificar como as associações entre as variáveis vão interagindo entre a infância

e a adolescência. O país que apresentou o maior número de investigações foi os Estados

Unidos, sendo que, do Brasil, foram encontrados somente dois estudos com essa temática, o

que assinala a necessidade de ampliação das investigações nessa área em nosso país. Os

instrumentos preponderantemente utilizados para a identificação de sintomas internalizantes

na adolescência foram os que compõem as escalas ASEBA, coerente com a definição desse

construto que foi proposta por Achenbach (1991). Por fim, uma análise dos conteúdos dos

artigos revelou que as dimensões das relações familiares estiveram evidentemente

relacionadas com a manifestação dos sintomas internalizantes dos adolescentes. Muitos

estudos ampliaram a complexidade da compreensão da interação entre essas dimensões,

analisando outras variáveis como mediadoras ou intervenientes, tais como a psicopatologia

dos pais e os eventos de vida estressores.

Ao final desse estudo, foi possível compreender a importância de se considerar o

adolescente inserido na família como foco de análise das intervenções psicológicas dedicadas

ao tratamento dos problemas emocionais e de comportamento manifestados por eles. Como,

sistemicamente, nada que acontece na família pode ser considerado como exclusivo de um

único membro, da mesma forma a psicopatologia do adolescente deveria ser considerada

como uma manifestação do sistema familiar como um todo.

1.5 Referências

Achenbach, T. M. (1991). Manual for the Child Behavior Checklist/4–18 e 1991

profile. Burlington, VT: University of Vermont.

Achenbach, T., & Howell, C. (1993). Are American children’s problems getting

worse? A 13-year comparison. Journal of American Academy on Child and Adolescent

Psychiatry, 32, 1145-1154.

Alati, R., O’Callaghan, M., Najman, J. M., Williams, G. M., Bor, W., & Lawlor, D. A.

(2005). Asthma and internalizing behavior problems in adolescence: A longitudinal study.

Psychosomatic Medicine, 67, 462–470.

Amato, P. R., & Afifi. T. D. (2006). Relations with parents and subjective well-being.

Journal of Marriage and Family, 68, 222–235.

Amone-P’Olak, K., Burger, H., Ormel, J., Huisman, M., Verhulst, F. C., &

Oldehinkel, A. J. (2009). Socioeconomic position and mental health problems in pre- and

early-adolescents. The Trails study. Social Psychiatry & Psychiatric Epidemiology, 44, 231–

238.

Anhalt, K., & Morris, T. L. (2008). Parenting characteristics associated with anxiety

and depression: A multivariate approach. Journal of Early and Intensive Behavior

Intervention, 5(3), 122-137.

Anselmi, L., Piccinini, C. A., Barros, F. C., & Lopes, R. S. (2004). Psychosocial

determinants of behaviour problems in Brazilian preschool children. Journal of Child

Psychology and Psychiatry, 45, 779–788.

Appleyard, K., Egeland, B., Dulmen, M. H. M., & Sroufe, L. A. (2005). When more is

not better: the role of cumulative risk in child behavior outcomes. Journal of Child

Psychology and Psychiatry, 46(3), 235–245.

37

Associação Americana de Psiquiatria (2002). Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais – IV. Porto Alegre: Editora ArtMed.

Avanci, J. Q., Assis, S. G., & Oliveira, R. V. C. (2008). Sintomas depressivos na

adolescência: estudo sobre fatores psicossociais em amostra de escolares de um município do

Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 24(10), 2334- 346.

Barakat, L. P., Patterson, C. A., Daniel, L. C., & Dampier, C. (2008). Quality of life

among adolescents with sickle cell disease: mediation of pain by internalizing symptoms and

parenting stress. Health and Quality of Life Outcomes, 6(60), 1-9.

Barakat, L. P., Schwartz, L. A., Simon, K., & Radcliffe, J. (2007). Negative thinking

as a coping strategy mediator of pain and internalizing symptoms in adolescents with sickle

cell disease. Journal of Behavioral Medicine, 30, 199–208.

Bender, H., Allen, J. P., Mcelhaney, K. B., Antonishak, J., Moore, C. M., Kelly, H. O.,

& Davise, S. M. (2007). Use of harsh physical discipline and developmental outcomes in

adolescence. Development and Psychopathology, 19, 227–242.

Berz, J. B., Murdock, K. K., & Mitchell, D. K. (2005). Children’s asthma,

internalizing problems, and social functioning: An urban perspective. Journal of Child and

Adolescent Psychiatric Nursing, 18(4), 181–197.

Bessa, M. (2004). Quando o uso de drogas ocorre junto com outros transtornos

psiquiátricos. Em L. Pinsky & M. A. Bessa (Orgs.), Adolescência e drogas. São Paulo:

Contexto.

Bordin, I. A., Duarte, C. S., Peres, C. A., Nascimento, R., Curtoa, B., & Paula, C. S.

(2009). Severe physical punishment: risk of mental health problems for poor urban children in

Brazil. Bulletin of World Health Organzation, 87, 336–344.

Brasil (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069, de 13 de

Julho de 1990, Diário Oficial da União. Brasília, DF.

38

Breivik, K., & Olweus, D. (2006). Adolescent’s adjustment in four post-divorce

family structures: Single mother, stepfather, joint physical custody and single father families.

Journal of Divorce & Remarriage, 44(3), 99-124.

Buehler, C. (2006). Parents and peers in relation to early adolescent problem behavior.

Journal of Marriage and Family, 68, 109–124.

Canino, G., Shrout, P. E, Rubio-Stipec, M., Bird, H. R., Bravo, M., Ramírez, R.,

Chaves, L., Alegría, M., Bauermeister, J. J., Hohmann, A., Ribera, J., García, P., & Martínez-

Taboas, A. (2004). The DSM-IV rates of child and adolescent disorders in Puerto Rico:

Prevalence, correlates, service use, and the effects of impairment. Archives of General

Psychiatry, 61, 85-93.

Caples, H. S., & Barrera Jr., M. (2006) Conflict, support and coping as mediators of

the relation between degrading parenting and adolescent adjustment. Journal of Youth and

Adolescence, 35(4), 603–615.

Chen, M., Seipp, C. M., & Johnston, C. (2008). Mothers’ and fathers’ attributions and

beliefs in families of girls and boys with Attention-Deficit/ Hyperactivity Disorder. Child

Psychiatry Human Development, 39, 85–99.

Corona, R., Lefkowitz, E. S., Sigman, M., & Romo, L. F. (2005). Latino adolescents’

adjustment, maternal depressive symptoms, and the mother-adolescent relationship. Family

Relations, 54, 386–399.

Costa, N. M., Weems, C. F., Pellerin, K., & Dalton, R. (2006). Parenting stress and

childhood psychopathology: An examination of specificity to internalizing and externalizing

symptoms. Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 28(2), 113-122.

Cruvinel, M., & Boruchovitch, E. (2009). Sintomas de depressão infantil e ambiente

familiar. Psicologia em Pesquisa-UFJF, 3, 87-100.

39

Cui, M., Donnellan, M. B., & Conger, R. D. (2007). Reciprocal influences between

parents’ marital problems and adolescent internalizing and externalizing behavior.

Developmental Psychology, 43(6), 1544–1552.

Dahinten, V. S., Shapka, J. D., & Willms, J. D. (2007). Adolescent children of

adolescent mothers: The impact of family functioning on trajectories of development. Journal

of Youth & Adolescence, 36, 195–212.

Davis, K. A., & Epkins, C. C. (2009). Do private religious practices moderate the

relation between family conflict and preadolescents’ depression and anxiety symptoms?

Journal of Early Adolescence, 29(5), 693-717.

Diareme, S., Tsiantis, J., Kolaitis, G., Ferentinos, S., Tsalamanios, E., Paliokosta, E.,

Anasontzi, S., Lympinaki, E., Anagnostopoulos, D. C., Voumvourakis, C., & Romer, G.

(2006). Emotional and behavioural difficulties in children of parents with multiple sclerosis.

A controlled study in Greece. European Child & Adolescent Psychiatry, 15(6), 309-318.

Edbom, T., Lichtenstein, P., Granlund, M., & Larsson, J. (2006). Long-term

relationships between symptoms of Attention Deficit Hyperactivity Disorder and self-esteem

in a prospective longitudinal study of twins. Acta Pediatrica, 95, 650-657.

Elgar, F. J., Mills, R. S. L., McGrath, P. J., Waschbusch, D. A., & Brownridge, D. A.

(2007). Maternal and paternal depressive symptoms and child maladjustment: The mediating

role of parental behavior. Journal of Abnorm Child Psychology, 35, 943–955.

Fernandes, L. F. B., Luiz, A. M. A. G., Miyazaki, M. C. O. S., & Marques Filho, A. B.

(2009). Efeitos de um programa de orientação em grupo para cuidadores de crianças com

transtornos psiquiátricos. Estudos de Psicologia (Campinas), 26(2), 147-158.

Fleitlich-Bilyk, B., & Goodman, R. (2004), Prevalence of child and adolescent

psychiatric disorders in southeast Brazil. Journal of American Academy Child and

Adolescence Psychiatry, 43(6), 727-734.

40

Forman, E. M., & Davies, P. T. (2005). Assessing children’s appraisals of security in

the family system: the development of the Security system: the development of the Security in

the Family System (SIFS) scales. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 46(8), 900–

916.

Foster, C. E., Webster, M. C., Weissman, M. M., Pilowsky, D. J., Wickramaratne, P.

J., Rush, A. J., Hughes, C. W., Garber, J., Malloy, E., Cerda, G., Kornstein, S. G., Alpert, J.

E., Wisniewski, S. R., Trivedi, M. H., Fava, M., & King, C. A. (2008a). Course and severity

of maternal depression: Associations with family functioning and child adjustment. Journal of

Youth & Adolescence, 37, 906–916

Foster, C. E., Webster, M. C., Weissman, M. M., Pilowsky, D. J., Wickramaratne, P.

J., Talati, A., Rush, A. J., Hughes, C. W., Garber, J., Malloy, E., Cerda, G., Kornstein, S. G.,

Alpert, J. E., Wisniewski, S. R., & Trivedi, M. H. (2008b). Remission of maternal depression:

Relations to family functioning and youth internalizing and externalizing symptoms. Journal

of Clinical Child & Adolescent Psychology, 37(4), 714-724.

Furniss, T., Beyer, T., & Guggenmos, J. (2006). Prevalence of behavioural and

emotional problems among six-years-old preschool children: Baseline results of a prospective

longitudinal study. Social Psychiatry & Psychiatric Epidemiology, 41, 394–399.

Gavazzi, S. M., Lim, J., Yarcheck, C. M., Bostic, J. M., & Scheer, S. D. (2008). The

impact of gender and family processes on mental health and substance use issues in a sample

of court-involved female and male adolescents. Journal of Youth & Adolescence, 37, 1071–

1084.

Gerard, J. M., Krishnakumar, A., & Buehler, C. (2006). Marital conflict, parent-child

relations, and youth maladjustment. A longitudinal investigation of spillover effects. Journal

of Family Issues, 27(7), 951-975.

Gritti, A., Sicca, F., Di Sarno, A. M., Di Cosmo, N., Vajro, S., & Vajro, P. (2006).

Emotional and behavioral problems after pediatric liver transplantation: A quantitative

assessment pediatric transplantation. Pediatric Transplantation, 10, 205–209.

41

Gupta, S., Crawford, S. G., & Mitchell, I. (2006). Screening children with asthma for

psychosocial adjustment problems: A tool for health care professionals. Journal of Asthma,

43, 543–548.

Hackett, R., & Hackett, L. (1999). Child psychiatry across cultures. International

Review of Psychiatry, 11, 225- 235.

Harrell, A. W., Mercer, S.H., & DeRosier, M. E. (2009) Improving the social-

behavioral adjustment of adolescents: The effectiveness of a social skills group intervention.

Journal of Child and Family Studies, 18, 378–387.

Herndon, R. W., & Iacono, W. G. (2005). Psychiatric disorder in the children of

antisocial parents. Psychological Medicine, 35, 1815–1824.

Herrenkohl, T. I., Kosterman, R., Hawkins, J. D., & Mason, W. A. (2009). Effects of

growth in family conflict in adolescence on adult depressive symptoms: Mediating and

moderating effects of stress and school bonding. Journal of Adolescent Health, 44, 146–152.

Hogue, A., Dauber, S., Stambaugh, L. F., Cecero, J. J., & Liddle, H. A. (2006). Early

therapeutic alliance and treatment outcome in individual and family therapy for adolescent

behavior problems. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 74(1), 121–129.

Ivanova, M. Y., & Israel, A. C. (2006). Family stability as a protective factor against

psychopathology for urban children receiving psychological services. Journal of Clinical

Child and Adolescent Psychology, 35(4), 564–570.

Jacobs, R. H., Reinecke, M. A., Gollan, J, K., & Kane, P. (2008). Empirical evidence

of cognitive vulnerability for depression among children and adolescents: A cognitive science

and developmental perspective. Clinical Psychology Review, 28, 759-782.

42

Karevold, E., Røysamb, E., Ystrom, E., & Mathiesen, K. S. Predictors and pathways

from infancy to symptoms of anxiety and depression in early adolescence. (2009).

Developmental Psychology, 45(4), 1051–1060

Keiley, M. K. (2007). Multiple-family group intervention for incarcerated adolescents

and their families: a pilot project. Journal of Marital and Family Therapy, 33(1), 106–124.

Kim, K. L., Jackson, Y., Conrad, S. M., & Hunter, H. L. (2008). Adolescent report of

interparental conflict: The role of threat and self-blame appraisal on adaptive outcome.

Journal of Child and Family Studies, 17, 735–751.

Lansford, J. E., Erath, S., Yu, T., Pettit, G. S., Dodge, K. A., & Bates, J. E. (2008).

The developmental course of illicit substance use from age 12 to 22: links with depressive,

anxiety, and behavior disorders at age 18. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 49(8),

877–885.

Lengua, L. J., & Kovacs, E. A. (2005). Bidirectional associations between

temperament and parenting and the prediction of adjustment problems in middle childhood.

Applied Developmental Psychology, 26, 21–38.

Leve, L. D., Kim, H. K., & Pears K. C. (2005). Childhood temperament and family

environment as predictors of internalizing and externalizing trajectories from ages 5 to 17.

Journal of Abnormal Child Psychology, 33(5), 505–520.

Liu, X., & Tein, J. (2005). Life events, psychopathology, and suicidal behavior in

Chinese adolescents. Journal of Affective Disorders, 86, 195–203

Mano, K. E. J., Davies, W. H., Klein-Tasman, B. P, & Adesso, V. J. (2009).

Measurement equivalence of the Child Behavior Checklist among parents of African

American Adolescents. Journal of Child and Family Studies, 18, 606–620.

43

Muris, T., & Ollendick, T. H. (2005). The role of temperament in the etiology of child

psychopathology. Clinical Child and Family Psychology Review, 8(4), 271-289.

Naar-King, S., Podolski, C., Ellis, D. A., Frey, M. A., & Templin, T. (2006). Social

ecological model of illness management in high-risk youths with type 1 diabetes. Journal of

Consulting and Clinical Psychology, 74(4), 785–789.

Nelson, L. J., Padilla-Walker, L. M., Badger, S., Barry, C. M., Carroll, J. S., &

Madsen, S. D. (2008). Associations between shyness and internalizing behaviors,

externalizing behaviors, and relationships during emerging adulthood. Journal of Youth &

Adolescence, 37, 605–615.

Oliva, A., Jiménez, J. M., & Parra, A. (2009). Protective effect of supportive family

relationships and the influence of stressful life events on adolescent adjustment. Anxiety,

Stress & Coping, 22(2), 137-152.

Olsson, G. M., Marild, S., Alm, J., Brodin, U., Rydelius, P., & Marcus, C. (2008). The

Adolescent Adjustment Profile (AAP) in comparisons of patients with obesity,

phenylketonuria or neurobehavioural disorders. Nordic Journal of Psychiatry, 62(1), 66-76.

Ozer, E. J. (2005). The impact of violence on urban adolescents: Longitudinal effects

of perceived school connection and family support. Journal of Adolescent Research, 20(2),

167-192.

Paulson-Karlsson, G., Engström, I., & Nevonen, L. (2009). A pilot study of a family-

based treatment for adolescent anorexia nervosa: 18- and 36-month follow-ups. Eating

Disorders, 17, 72–88.

Pogarsky, G., Thornberry, T. P., & Lizotte, A. J. (2006). Developmental outcomes for

children of young mothers. Journal of Marriage and Family, 68, 332–344.

44

Reid, G. J., Hong, R. Y., & Wade, T. J. (2009). The relation between common sleep

problems and emotional and behavioral problems among 2- and 3-year-olds in the context of

known risk factors for psychopathology. Journal of Sleep Research, 18, 49-59.

Rocha, M. M., Araújo, L. G. S., & Silvares, E. F. M. (2008). Um estudo comparativo

entre duas traduções brasileiras do Inventário de Auto-Avaliação para Jovens (YSR).

Psicologia: Teoria e Prática, 10, 14-24.

Roessner, V., Becker, A., Banaschewski, T., Freeman, R. D., & Rothenberger, A.

(2007). Developmental psychopathology of children and adolescents with Tourette syndrome

– impact of ADHD. European Child & Adolescent Psychiatry, 16, 24–35.

Salafia, E. H. B., Gondoli, D. M., & Grundy, A. M. (2008). Marital conflict as a

mediator of the longitudinal connections between maternal emotional distress and early

adolescent maladjustment. Journal of Child and Family Studies, 17, 928–950.

Santiago, C. D., & Wadsworth, M. E. (2009). Coping with family conflict: What’s

helpful and what’s not for low-income adolescents. Journal of Child and Family Studies, 18,

92–202.

Schenck, C. E., Braver, S., Wolchik, S. A., Saenz, D., Cookston, J. T., & Fabricius, W.

V. (2009). Relations between mattering to step- and non-residential fathers and adolescent

mental health. Fathering, 7(1), 70-90.

Schuengel, C., Voorman, J., Stolk, J., Dallmeijer, A., Vermeer, A., & Becher, J.

(2006). Self-worth, perceived competence, and behaviour problems in children with cerebral

palsy. Disability and Rehabilitation, 28(20), 1251–1258.

Self-Brown, S. R., LeBlanc, M., Kelley, M. L., Hanson, R., Laslie, K., & Wingate, A.

(2006). Effects of community violence exposure and parental mental health on the

internalizing problems of urban adolescents. Violence and Victims, 21(2), 183-198.

45

Sentse, M., Veenstra, R., Lindenberg, S., Verhulst, F. C., & Ormel, J. (2009). Buffers

and risks in temperament and family for early adolescent psychopathology: Generic,

conditional, or domain-specific effects? Developmental Psychology, 45(2), 419–430.

Sheeber, L., Hops, H., Alpert, A., Davis, B., & Andrews, J. (1997). Family support

and conflict: Prospective relations to adolescent depression. Journal of Child Psychology, 25,

333-344.

Shelton, K. H., & Harold, G. T., (2008). Pathways between interparental conflict and

adolescent psychological adjustment bridging links through children’s cognitive appraisals

and coping strategies. Journal of Early Adolescence, 28(4), 555-582.

Silva, D. F. M., & Hutz, C. S. (2002). Abuso infantil e comportamento delinqüente na

adolescência: `revenção e intervenção. Em: HUTZ, C. S. (org.). Situações de risco e

vulnerabilidade na infância e na adolescência: Aspectos teóricos e estratégias de intervenção

(pp. 151-185). São Paulo: Casa do Psicólogo.;

Silva, V. A., & Mattos, H. F. (2004). Os jovens são mais vulneráveis às drogas? Em: I.

Pinsky, & M. A. Bessa (Orgs.). Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto.

Silvares, E. F. M., & Souza, C. L. (2008). Discórdia conjugal: Distúrbios psicológicos

infantis e avaliação diagnóstica comportamental-cognitiva. Psicologia: Teoria e Prática, 10

(1), 200-213.

Skeer, M., McCormick, M. C., Normand, S. T., Buka, S. L., & Gilman, S. E. (2009) A

prospective study of familial conflict, psychological stress, and the development of substance

use disorders in adolescence. Drug and Alcohol Dependence, 104, 65–72.

Spell, A. W., Kelley, M. L., Wang, J., Self-Brown, S., Davidson, K. L., Pellegrin, A.,

Palcic, J. L., Meyer, K., Paasch, V., & Baumeister, A. (2008). The moderating effects of

maternal psychopathology on children’s adjustment post–Hurricane Katrina. Journal of

Clinical Child & Adolescent Psychology, 37(3), 553–563.

46

Spruijt, E., & Duindam, V. (2005). Problem Behavior of Boys and Young Men After

Parental Divorce in the Netherlands. Journal of Divorce & Remarriage, 43(3), 141-155.

Sourander, A., Niemela, S., Santalahti, I., Helenius, H., & Piha, J. (2008). Changes in

psychiatric problems and service use among 8-year-old children: A 16-year population-based

time-trend study. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry,

47(3),317-27.

Stark, K. D., Humphrey, L. L., Crook, K., & Lewis, K. (1990). Perceived family

environments of depressed and anxious children: Child's and maternal figure's perspectives.

Journal of Abnormal Child Psychology, 18, 527-547.

Steck, B., Amsler, F., Grether, A., Dillier, A. S., Baldus, C., Haagen, M., Diareme, L.,

Tsiantis, J., Kappos, L., Bu¨rgin, D., & Romer, G. (2007). Mental health problems in children

of somatically ill parents, e.g. multiple sclerosis. European Child & Adolescent Psychiatry,

16(3), 199-207.

Steinhausen, H., Haslimeier, C., & Metzke, C. W. (2007). Psychosocial factors in

adolescent and young adult self-reported depressive symptoms: Causal or correlational

associations? Journal of Youth & Adolescence, 36, 89–100.

Sternberg K. J., Lamb, M.E., Guterman, E., & Abbott, C.B. (2006). Effects of early

and later family violence on children's behavior problems and depression: A longitudinal,

multi-informant perspective. Child Abuse & Neglect, 30, 283-306.

Stocker, C. M., Richmond, M. K., & Rhoades, G. K. (2007). Family emotional

processes and adolescents’ adjustment. Social Development, 16(2), 310-325.

Storch, E. A., Geffken, G. R., Merlo, L. J., Jacob, M. L., Murphy, T. K., Goodman, W.

K., Larson, M. J., Fernandez, M., & Grabill, K. (2007). Family accommodation in pediatric

obsessive–compulsive disorder. Journal of Clinical Child and Adolescent Psychology, 36(2),

207–216.

47

Teodoro, M. L. M., Cardoso, B. M., & Freitas, A. C. H. (2009). Afetividade e conflito

familiar e sua relação com a depressão em crianças e adolescentes. Psicologia: Reflexão e

Crítica, 23(2), 324-333.

Thompson-Brenner, H., Eddy, K. T., Satir, D. A., Boisseau, C. L., & Westen, D.

(2008). Personality subtypes in adolescents with eating disorders: Validation of a

classification approach. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 49(2), 170–180.

Tonge, B. J., Hughes, G. C., Pullen, J. M., Beaufoy, J., & Gold, S. (2008).

Comprehensive description of adolescents admitted to a public psychiatric inpatient unit and

their families. Australian and New Zealand Journal of Psychiatry, 42, 627-635.

Trudeau, L., Spoth, R., Randall, G. K., & Azevedo, K. (2007). Longitudinal effects of

a universal family-focused intervention on growth patterns of adolescent internalizing

symptoms and polysubstance use: Gender comparisons. Journal of Youth & Adolescence, 36,

725–740.

VanderValk, I., Spruijt, E., Goede, M., Maas, C., & Meeus, W. (2005). Family

structure and problem behavior of adolescents and young adults: A growth-curve study.

Journal of Youth and Adolescence, 34(6), 533–546.

Vegt, E. J. M., Ende, J., Ferdinand, R. F., Verhulst, F. C., & Tiemeier H. (2009). Early

childhood adversities and trajectories of psychiatric problems in adoptees: Evidence for long

lasting effects. Journal of Abnorm Child Psycholy, 37, 239–249.

Wagner, A., & Predebon, J. C. (2005). Problemas de comportamento na adolescência:

configuração familiar e aspectos sóciodemográficos. Práxis, 2(2), s/n.

Wagner, A., Falcke, D., Silveira, L. M. B. O., & Mosmann, C. P. (2002). A

comunicação em famílias com filhos adolescentes. Psicologia em Estudo, 7, 75-80.

48

Wight, R. G., Botticello, A. L., & Aneshensel, C. S. (2006). Socioeconomic context,

social support, and adolescent mental health: A multilevel investigation. Journal of Youth and

Adolescence, 35(1), 115–126.

Zelkowitz, P., Paris, J., Guzder, J., Feldman, R., Roy, C., & Rosval, L. (2007). A five-

year follow-up of patients with borderline pathology of childhood. Journal of Personality

Disorders, 21(6), 664–674.

2 Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na

Adolescência

Resumo: Este trabalho teve como objetivo investigar a percepção sobre as relações familiares (afetividade, conflito e clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos filhos e os eventos estressores, no período de um ano, como preditores dos sintomas internalizantes dos filhos. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de caráter longitudinal, com um ano de intervalo entre a primeira e a segunda avaliação. Participaram do estudo 139 adolescentes, e seus pais. Os adolescentes eram provenientes de duas escolas públicas do interior do RS e as idades variaram entre 11 e 16 anos (Média=12,90 anos, DP=1,07). Os instrumentos utilizados foram: uma Ficha de Dados Sócio-Demográficos, o Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report), o Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report), Familiograma (FG), o Inventário do Clima Familiar (ICF) e o Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA). As associações entre variáveis foram analisadas por meio de Correlação de Pearson e as comparações entre grupos por meio de Teste t para amostras independentes. As análises longitudinais foram realizadas por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Os resultados obtidos indicaram que as relações familiares não tiveram um poder explicativo significativo com relação aos sintomas internalizantes do adolescente após um ano. Contudo, os eventos estressores vivenciados pelos adolescentes no último ano, apresentaram poder preditivo significativo (β=0,223; p=0,012) com relação aos sintomas internalizantes dos adolescentes. Palavras-chave: Eventos Estressores, Sintomas Internalizantes, Relações Familiares

Family Relations, Stressful Events and Adolescent Internalizing Symptoms Abstract: This study aimed to investigate the perception of family relations (affection, conflict and family climate), internalizing symptoms of parents and children, and stressful events in a period of one year, as predictors of internalizing symptoms of children. This is a quantitative research, with a longitudinal disposition, with one year interval between the first and second evaluation. The study included 139 adolescents and their parents. The adolescents were from two public schools from RS and ages ranged from 11 to 16 years (mean = 12,90 years, SD = 1,07). The instruments used were: a socio-demographic data form, the Youth Self-Report (YSR), the Adult Self-Report (ASR), the Familiograma (FG), the Inventário do Clima Familiar (ICF) and the Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). The associations between variables were analyzed using Pearson Correlation, and the comparisons between groups by t-test for independent samples. The longitudinal analyses were performed using multiple linear regression, and adolescents' internalizing symptoms at Time 2 as dependent variable. The results indicated that family relationships were not a significant explanatory power in relation to symptoms of internalizing adolescents after one year. However, stressful events experienced by adolescents in the last year, had significant predictive power (β=0,223; p=0.012) with respect to internalizing symptoms in adolescents. Keywords: Stressful Events, Internalizing Symptoms, Family Relations

2.1 Introdução

A adolescência é a fase do desenvolvimento humano na qual ocorre o processo de

maturação biopsicossocial. Assim, é um período de intensas mudanças físicas, emocionais e

sociais, de modo que, face a estas mudanças, o adolescente pode estar mais vulnerável ao

desenvolvimento de Problemas Emocionais e de Comportamento (PEC).

Não existe, na literatura científica, um consenso sobre a definição de problemas

emocionais e de comportamento na infância e adolescência. Assim, há autores que tratam o

assunto enfocando os sintomas, segundo um o modelo médico ou biológico (Kaplan, Sadock,

& Grebb, 1997), enquanto outros analisam mais os déficits e os excessos comportamentais

(Patterson, DeBaryshe, & Ramsey, 1989).

Segundo Achenbach (1991), os problemas emocionais e de comportamento são

caracterizados por padrões sintomáticos, os quais podem ser divididos em dois tipos:

externalizantes e internalizantes. Os transtornos externalizantes são aqueles que se expressam

em relação a outras pessoas. Referem-se a comportamentos como dificuldade em controlar

impulsos, hiperatividade, agressividade e presença de raiva e delinqüência. Comumente estão

ligados ao transtorno da conduta e ao transtorno desafiador opositivo. Os transtornos

internalizantes são os se que expressam em relação ao próprio indivíduo. Caracterizam-se pela

tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Geralmente estão relacionados aos

transtornos de humor (depressão) e ansiedade (Achenbach, & Howell, 1993).

Estudos recentes vêm apontando para a importância da família no desenvolvimento de

problemas emocionais e de comportamento em crianças e adolescentes (Althoff, 2008;

Silvares & Souza, 2008; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009). Contudo, em nosso contexto,

ainda são escassas as investigações longitudinais, que demonstram empiricamente quais são e

como interagem os fatores envolvidos nesta relação.

51

Os problemas emocionais e de comportamento sofrem a influência de variáveis

biopsicosociais. Além das características individuais dos adolescentes, a estrutura familiar, os

aspectos relacionais e as características dos pais podem estar vinculados ao surgimento de

problemas emocionais e de comportamento (Avanci, Assis, & Oliveira, 2008; Cruvinel, &

Boruchovitch, 2009; Hackett, & Hackett, 1999; Sheeber et al., 1997; Stark, Humphrey,

Crook, & Lewis, 1990; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009).

Pesquisas têm mostrado que níveis de suporte, apego e aprovação do comportamento

dos adolescentes na família apresentam correlações negativas com a depressão (Avison, &

McAlpine, 1992; Garrison, Jackson, Marsteller, McKeown, & Addy, 1990; Sheeber et al.,

1997). Adicionalmente, o relacionamento satisfatório entre os pais tem sido apontado como

importante para a qualidade de vida e bem-estar dos filhos (McFarlane, Bellissimo, &

Norman, 1995). Assim, famílias com relacionamentos saudáveis podem ser consideradas

protetivas com relação ao aparecimento de patologias infantis e adolescentes (Althoff, 2008;

Costello, Rose, Swendsen, & Dierker, 2008).

Por outro lado, as interações familiares de baixa qualidade podem contribuir para o

desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento, sendo consideradas um fator

de risco para o aparecimento destes transtornos (Silvares & Souza, 2008). Existem evidências,

por exemplo, de que o conflito familiar esteja associado a uma maior intensidade de depressão

em crianças e adolescentes (Stark, Humphrey, Crook, & Lewis, 1990; Teodoro, Cardoso, &

Freitas, 2009).

Em uma pesquisa que investigou a afetividade e o conflito familiar e suas relações

com os sintomas de depressão, na visão de 234 crianças e adolescentes, da região da grande

Porto Alegre (RS), Teodoro, Cardoso e Freitas (2009) encontraram correlações positivas entre

a depressão e o nível de conflito e correlações negativas para a afetividade. Este estudo

apontou ainda correlações negativas entre as relações familiares afetivas e os sintomas

52

depressivos. Contudo, o caráter transversal do estudo não permitiu o estabelecimento das

relações de predição entre estas variáveis.

Rohenkohl (2009), em uma pesquisa que investigou o nível de afetividade e conflito e

sua relação com os problemas de comportamento em 59 crianças em idade pré-escolar,

residentes na cidade de Erechim (RS), de famílias de nível socioeconômico baixo, constatou

que, nas famílias com alto conflito na díade mãe-pai, as crianças apresentaram mais

problemas emocionais e de comportamento do que nas famílias com baixo conflito. Este

estudo apontou, ainda, que em famílias com alto conflito na díade mãe-pai e baixa afetividade

na díade mãe-filho, as crianças apresentaram maiores escores em problemas internalizantes.

Tais achados revelam a importância do grau de afetividade e conflito entre os cônjuges e sua

relação com os problemas emocionais e de comportamento nos filhos pequenos.

A experiência de eventos estressores, tais como a morte de um familiar, a separação

dos pais, sofrer algum tipo de violência, pode também ser considerada como fator de risco

para o desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento. Masten e Garmezy

(1985) definem os eventos estressores como ocorrências de vida que alteram o ambiente e

provocam uma tensão, a qual interfere nas respostas emitidas pelos indivíduos. Além disso, o

impacto causado pelos eventos estressores é determinado não somente pela forma como estes

ocorrem, mas também pelo modo como são percebidos.

Objetivando investigar a ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de eventos de

vida estressores, Kristensen, Leon, D’Incao e Dell’Aglio (2004) realizaram um estudo com

330 adolescentes estudantes do Ensino Fundamental em escolas estaduais das cidades de

Porto Alegre (RS) e Novo Hamburgo (RS), utilizando uma adaptação do Inventário de

Eventos Estressores na Adolescência (IEEA). Os resultados apontaram uma elevada

ocorrência de problemas nas relações familiares e com os pares, bem como no contexto

escolar. Além disso, este estudo demonstrou que eventos como a violência, embora menos

53

freqüente, era considerado pelos adolescentes como um evento de forte impacto.

Corroborando tais achados, Sternberg, Lamb, Guterman e Abbott (2006) realizaram um

estudo longitudinal com 110 crianças de Jerusalém e Tel Aviv (Israel), e seus pais, que

apontou que as crianças que passaram por algum tipo de violência intrafamiliar possuíam

níveis mais elevados de problemas de comportamento ou sintomas depressivos na

adolescência, do que as crianças que não tinham sofrido violência.

Considerando a alta prevalência dos sintomas internalizantes na adolescência,

justifica-se a importância da realização de estudos que investiguem possíveis preditores

dessas sintomatologias. Assim, o presente estudo buscou investigar o poder preditivo dos

problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, das características dos

relacionamentos familiares e dos eventos de vida estressores nos sintomas internalizantes

manifestados pelos filhos após um ano. Além disso, foram investigadas a estabilidade

temporal dos sintomas internalizantes e da percepção das relações familiares, na perspectiva

do adolescente e verificadas correlações entre os sintomas internalizantes e a percepção das

relações familiares, no Tempo 2 (T2) e entre a percepção dos adolescentes, das mães e dos

pais sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2.

2.2 Método

2.2.1 Delineamento

Pesquisa de caráter longitudinal e explicativo.

2.2.2 Participantes

Participaram deste estudo 139 adolescentes, e seus pais, sendo 79 meninas (56,80%) e

60 meninos (43,20%), com idades variando entre 12 e 16 anos (Média=13,59 anos, DP=0,89),

provenientes de duas escolas públicas, uma do município de São Leopoldo (RS) e outra de

54

Sapucaia do Sul (RS). A média de idade das mães foi de 39,28 anos (DP=6,78) e dos pais de

42,41 anos (DP=9,36). A amostra foi escolhida por conveniência, sendo que todos os

adolescentes freqüentavam entre a 6ª e a 8ª série, e 8,3% dos adolescentes além de estudar

também trabalhavam.

2.2.3 Instrumentos

2.2.3.1 Ficha de Dados Sócio-Demográficos

Para obter informações dos pais (profissão, escolaridade etc.) e da estrutura familiar

(número de filhos, situação conjugal etc.). Esta ficha foi respondida pelos adolescentes.

2.2.3.2 Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report)

É um instrumento que faz parte do Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado

(Achenbach System of Empirically Based Assessment – ASEBA), desenvolvido por

Achenbach (Achenbach, 1991; Achenbach & Rescorla, 2001). O YSR é composto por oito

escalas de problemas de comportamento (Ansiedade/Depressão, Isolamento/Depressão,

Queixas Somáticas, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção,

Comportamento de Quebra Regra, Comportamento Agressivo) e pelo tópico denominado

“Outros Problemas”, que engloba itens que não se encaixaram em nenhuma das outras

escalas. Os Problemas Internalizantes incluem as três primeiras escalas. As questões do YSR

são respondidas através de uma escala Likert de três pontos (não é verdadeira, algumas vezes

verdadeira ou muito verdadeira/frequentemente verdadeira). Neste estudo, foi utilizada a

versão do YSR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, &

Silvares, 2008). O YSR foi respondido pelos adolescentes no T1 e no T2. Neste estudo,

obteve-se como alpha de Cronbach, para a escala total de 0,929, para a dimensão de sintomas

55

internalizantes (α=0,860) e para as subescalas que a compõe ansiedade/depressão (α=0,799),

isolamento/depressão (α=0,572) e queixas somáticas (α=0,657).

2.2.3.3 Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report)

Inventário de auto-avaliação que também faz parte do Sistema de Avaliação

Empiricamente Baseado, desenvolvido por Achenbach (Achenbach & Rescorla, 2001; 2003).

Consta de 168 itens subdivididos em escalas sobre os problemas de comportamento

internalizante, externalizante e total. As questões do ASR são respondidas através de uma

escala Likert de três pontos (falso/nunca, algumas vezes ou verdadeiro/frequentemente). Neste

estudo, foi utilizada uma versão de pesquisa do ASR que está sendo adaptada pela Profª. Drª.

Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, & Silvares, 2008). Este instrumento foi respondido pelos

pais, no T1 da pesquisa. Os alphas obtidos neste estudo foram: escore total (α=0,921),

sintomas internalizantes (α=0,881) e sintomas externalizantes (α=0,873).

2.2.3.4 Familiograma (FG)

O Familiograma (Teodoro, 2005, 2006, 2009) é um instrumento que avalia a

percepção da afetividade e do conflito familiar nas díades familiares (por exemplo, pai-mãe,

filho(a)-pai, filho(a)-mãe etc.). A afetividade é compreendida como um conjunto de emoções

positivas existentes no relacionamento interpessoal, enquanto que o conflito é definido como

uma gama de sentimentos negativos que podem ser tanto uma fonte geradora de estresse

como de agressividade dentro do sistema familiar. O participante é solicitado a informar, por

meio de uma lista de 22 adjetivos e uma escala Likert variando de um a cinco, como é o

relacionamento em cada uma das díades que se está avaliando. Compõem a lista do construto

afetividade os adjetivos: carinhoso, alegre, agradável, verdadeiro, afetivo, protetor, amoroso,

acolhedor, harmonioso, atencioso, precioso. Já o construto conflito é avaliado por meio dos

56

seguintes adjetivos: confuso, nervoso, estressante, baixo-astral, ruim, sufocante, tenso, frio,

difícil, agressivo, chato. A pontuação do Familiograma varia de 11 a 55 para cada construto,

sendo que quanto maior for o escore, maior será a percepção de afetividade e conflito. Este

instrumento permite a classificação das famílias em quatro diferentes categorias de acordo

com a intensidade da afetividade e do conflito familiar:

Tipo I

Alta afetividade

Baixo conflito

Tipo II

Alta afetividade

Alto conflito

Tipo III

Baixa afetividade

Baixo conflito

Tipo IV

Baixa afetividade

Alto conflito

Teodoro (2006) demonstrou a existência de uma estrutura bi-fatorial e alphas de

Cronbach variando de 0,87 até 0,97 para o Familiograma. Neste estudo, serão investigadas as

díades Filho(a)-Pai, Filho(a)-Mãe e Pai-Mãe na perspectiva do(a) filho(a). O FG foi

respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1, e somente pelos adolescentes no T2, e os

alphas variaram, neste estudo de 0,876 para o fator conflito pai-criança, na perspectiva do pai

e 0,966 para afetividade pai-mãe na perspectiva da mãe.

2.2.3.5 Inventário do Clima Familiar (ICF)

O ICF (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009) investiga, através de 22 itens em escala

Likert de cinco pontos (de “não concordo” até “concordo plenamente”), a coesão, o apoio, a

hierarquia e o conflito familiar. A coesão familiar é definida como o vínculo emocional entre

os membros da família (ex.: “As pessoas sentem-se felizes quando toda a família esta

reunida”; “As pessoas gostam de passear e fazer coisas juntas”). O apoio contém itens que

descrevem o suporte material e emocional dos membros, (ex.: “Procuramos ajudar as pessoas

57

da nossa família quando percebemos que estão com problemas”; “Quando alguém esta

doente, as outras cuidam dela”). A hierarquia está relacionada a uma diferenciação rígida de

poder dentro da família, na qual as pessoas mais velhas possuem uma influência impositiva

nas decisões familiares. (ex.: “É comum que algumas pessoas proíbam outras de fazer

determinadas coisas sem explicar o porquê”; “Uns mandam outros obedecem”). O conflito

familiar avalia a relação agressiva, crítica e conflituosa entre os membros da família (ex.: “Os

conflitos são comuns”; “As pessoas criticam umas as outras com freqüência”). Os resultados

psicométricos do ICF apontam para uma estrutura fatorial compatível com o modelo de quatro

fatores e alphas de Cronbach superiores a 0,80 (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009), o que

também foi observado neste estudo. Este instrumento foi respondido pelos pais e pelos

adolescentes no T1. No tempo 2 do estudo, somente os adolescentes responderam ao ICF.

2.2.3.6 Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)

O IEEA (Abreu et al., 2001; Kristensen, Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004) avalia a

ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de eventos estressores na adolescência. Este

instrumento é composto por 64 itens, na forma de eventos de vida estressores, de modo que,

para cada item o participante deve indicar em uma alternativa sim/não se o evento ocorreu. A

partir disso, em uma escala Likert de cinco pontos, onde “1” significa “baixo impacto” e “5”

“elevado impacto”, o participante deve informar o impacto atribuído a cada evento

experienciado. O IEEA apresentou elevada consistência interna (alpha de Cronbach = 0,92)

em estudo anterior (Kristensen, Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004), mostrando-se confiável

na avaliação de eventos de vida estressores em adolescentes. Neste estudo, o alpha obtido foi

de 0,815. Este instrumento foi respondido pelos adolescentes somente no T2 do estudo.

58

2.3 Procedimentos de Coleta dos Dados

Inicialmente, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Processo 06/032). Foi realizado

contato com a direção das escolas para apresentação do projeto. Após a autorização para a

realização do mesmo, os alunos receberam a visita do pesquisador em sala de aula,

oportunidade na qual foram informados sobre características gerais do projeto. Os alunos

interessados em participar da pesquisa receberam uma carta, a ser entregue aos pais, contendo

informações gerais sobre a pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE), que devia ser assinado por um dos pais ou responsáveis, autorizando o(a) filho(a) a

participar da pesquisa. Após o retorno dos TCLE, foi combinado com os professores um

horário para a aplicação dos instrumentos nos adolescentes, em pequenos grupos. Toda a

aplicação durou, aproximadamente, 60 minutos. Ao finalizar esta etapa, os adolescentes

receberam dois envelopes contendo os instrumentos a serem respondidos individualmente

pelos pais, em suas casas e os TCLE individuais. Os pais foram instruídos a, após

responderem os questionários, lacrarem o envelope e devolveram à escola, através dos

filhos(as). A escola repassou o material aos pesquisadores. Após um ano de intervalo, todos

os adolescentes que participaram do tempo 1 do estudo (n=187) foram convidados a participar

novamente da pesquisa. Destes, 48 adolescentes (25,67%) não foram encontrados, o que se

deve, provavelmente, ao fato de terem mudado de escola, ou até mesmo de cidade. Assim,

foram considerados para este estudo somente os adolescentes que participaram do T1 e do T2

da pesquisa. A coleta de dados dos adolescentes foi realizada nas escolas, em pequenos

grupos, em dois momentos distintos, tendo em vista a inclusão de mais um instrumento nesta

etapa da pesquisa. Os pais não participaram da segunda etapa da pesquisa.

59

2.4 Procedimentos de Análise de Dados

Após a coleta de dados, as informações foram tabuladas em um banco de dados no

SPSS 18.0® (Statistical Package for Social Science 18.0). Inicialmente, realizou-se uma

análise descritiva (médias, DP, porcentagens) dos resultados em geral. Para a estatística

inferencial, previamente se comprovaram os critérios de supostos paramétricos. As

associações entre variáveis foram analisadas por meio de Correlação de Pearson e as

comparações entre grupos por meio de Teste t para amostras independentes. As análises

preditivas foram realizadas por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas

internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Foram considerados

como significativos todos os resultados com p<0,05.

2.5 Resultados

Os sintomas internalizantes dos adolescentes, como dito anteriormente, foram

mensurados através do YSR, que possibilita, além da obtenção do escore bruto, uma

categorização a partir de pontos de corte definidos com base no Escore T (Achenbach, 1991).

Todavia, como os pontos de corte definidos por Achenbach (1991) foram obtidos com base

em amostra internacional, neste estudo, a classificação dos escores foi realizada, conforme

sugerem Melo e Silvares (2003), a partir dos percentis 75 para o grupo limítrofe e 90 para o

grupo clínico. Na tabela 1 é possível observar as porcentagens relativas aos níveis não-clínico,

limítrofe e clínico do YSR, dos adolescentes nos tempos 1 e 2, obtidos através dos percentis

75 e 90.

60

Tabela 1 – Porcentagens do YSR dos adolescentes, nos tempos 1 e 2

Categoria %

Internalizantes T1

Não-clínico Limítrofe Clínico

71,7 17,6 10,7

YSR

Internalizantes T2

Não-clínico Limítrofe Clínico

74,1 15,1 10,8

Achenbach (1991) propõe ainda que, para fins de discriminação entre grupos clínicos e

não clínicos, a categoria limítrofe seja incluída na categoria clínica. Dessa forma,

considerando os sintomas internalizantes no tempo 1, observa-se 71,7% de adolescentes não-

clínicos e 28,5% de clínicos, enquanto que, no tempo 2, foram 74,1% não clínicos e 25,9%

clínicos.

A estabilidade temporal dos sintomas internalizantes foi confirmada pela correlação do

escore bruto de sintomas internalizantes no T1 e no T2 (r=0,655, p<0,01). Além, da

estabilidade das medidas do YSR, também observou-se a estabilidade temporal das outras

variáveis do estudo, como das medidas do ICF – Apoio (r=0,534, p<0,01), Hierarquia

(r=0,427, p<0,01), Coesão (r=0,449, p<0,01) e Conflito (r=0,615, p<0,01) – e do FG –

Afetividade mãe-filho (r=0,538, p<0,01), Afetividade pai-filho (r=0,507, p<0,05),

Afetividade pai-mãe (r=0,619, p<0,01), Conflito mãe-filho (r=0,581, p<0,01), Conflito pai-

filho (r=0,531, p<0,01) e Conflito pai-mãe (r=0,656, p<0,01).A partir desses dados, constata-

se que a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares, bem como os sintomas

internalizantes manifestados por eles, mantiveram-se em níveis semelhantes no período de um

ano.

Como possíveis variáveis intervenientes entre as medidas longitudinais, foram

analisados os eventos estressores na adolescência. A média de ocorrência dos eventos

estressores foi de 8,65 (DP=5,06). Os eventos estressores mais citados pelos adolescentes

foram: “teve provas no colégio” (91,5%), “teve que obedecer às ordens de seus pais” (84,6%),

61

“discutiu com amigos(as)” (51,1 %), “foi impedido(a) de ir a festas ou passeios” (41,8%),

“teve familiares com ferimentos ou doenças (40,9%) e “morte de um familiar” (38,2%). Com

relação ao impacto dos eventos estressores, os considerados como de alto impacto foram: “foi

rejeitado(a) pelos familiares” (7%), “teve ou está esperando um filho(a)”(0,7%), “foi

tocado(a) sexualmente contra a vontade” (0,7%) e “você ou sua namorada fez um aborto”

(0,7%)..

Comparando os grupos clínico e não-clínico para sintomatologia internalizante com

relação à ocorrência de eventos estressores, constatou-se uma diferença significativa entre

eles (t=-4,962; p<0,01). O grupo clínico (M=13,04, DP=4,78) relatou um número bem maior

de estressores vivenciados no último ano quando comparado ao grupo não clínico (M=7,73,

DP=4,63).

Buscando investigar as possíveis relações entre a percepção dos adolescentes e de seus

pais sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2,

foram realizadas correlações de Pearson. Os resultados relativos à dimensão do clima familiar

podem ser observados na Tabela 2:

Tabela 2. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)

Internalizante T2 Apoio 0,013 ICF do Adolescente no T1 Hierarquia 0,167 Coesão -0,73 Conflito 0,237** Apoio -0,239** ICF da Mãe no T1 Hierarquia 0,282** Coesão -0,299** Conflito 0,433** Apoio -0,225 ICF do Pai no T1 Hierarquia 0,005 Coesão -0,185 Conflito 0,019

Nota: ** p<0.01

62

Conforme pode ser observado na Tabela 2, os resultados apontaram correlações

positivas entre a percepção de conflito pelo adolescente no T1 e a manifestação de sintomas

internalizantes por ele no T2. Outras correlações foram observadas entre os sintomas

internalizantes dos adolescentes no T2 e todas as dimensões do clima familiar na percepção

materna no T1, o que parece estar evidenciando a percepção aguçada das mães com relação

ao clima familiar.

Também foram calculadas as correlações entre a percepção dos relacionamentos

diádicos no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2. Os resultados podem ser

observados na Tabela 3:

Tabela 3. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)

Internalizante T2

Conflito mãe-filho(a) 0,218* Afetividade mãe-filho(a) -0,185* FG do Adolescente no T1 Conflito pai-filho(a) 0,205* Afetividade pai-filho(a) -0,129 Conflito pai-mãe 0,216* Afetividade pai-mãe -0,069 Conflito mãe-filho(a) 0,119 Afetividade mãe-filho(a) -0,022 FG da Mãe no T1 Conflito pai-filho(a) 0,120 Afetividade pai-filho(a) -0,137 Conflito pai-mãe 0,098 Afetividade pai-mãe -0,035 Conflito mãe-filho(a) 0,119 Afetividade mãe-filho(a) 0,000 FG do Pai no T1 Conflito pai-filho(a) 0,045 Afetividade pai-filho(a) 0,121 Conflito pai-mãe 0,068 Afetividade pai-mãe 0,034 Nota: *p<0.05

Observam-se, na tabela 3, correlações significativas somente entre a percepção do

próprio adolescente sobre os relacionamentos entre os membros da família no T1 e a

manifestação de sintomas internalizantes no T2.

63

Em seguida foram calculadas as correlações entre a percepção dos adolescentes sobre

as relações familiares (ICF e FG) e os sintomas os sintomas internalizantes deles próprios no

tempo 2. A tabela 4 mostra os resultados obtidos:

Tabela 4. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os

sintomas internalizantes no T2

Internalizante T2 Apoio -0,043 ICF Adolescente T2 Hierarquia 0,379** Coesão -0,162 Conflito 0,360** Conflito Mãe-Filho(a) 0,112 Conflito Pai-Filho(a) 0,207* Familiograma Conflito Pai-Mãe 0,256** Adolescente T2 Afetividade Mãe-Filho(a) 0,151 Afetividade Pai-Filho(a) -0,053 Afetividade Pai-Mãe -0,046

Nota: ** p<0.01, *p<0.05

Os resultados observados na tabela 4 revelaram que as principais correlações existiram

entre as dimensões de conflito e os sintomas internalizantes, especialmente os conflitos

observados pelos adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho.

A possibilidade de associação transgeracional dos sintomas internalizantes foi avaliada

a partir da correlação entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e os

sintomas internalizantes dos adolescentes. Verificaram-se correlações significativas e

positivas entre a sintomatologia materna (tanto internalizante como externalizante) com os

internalizantes do adolescente e entre os sintomas internalizantes paternos com as

manifestações do adolescente, conforme dados da tabela 5:

64

Tabela 5. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e

sintomas internalizantes do adolescente no T2

Internalizante T2

Internalizantes Mãe T1 0,307**

Externalizantes Mãe T1 0,318**

Internalizantes Pai T1 0,274*

Externalizantes Pai T1 0,179

Nota: ** p<0.01, *p<0.05

No intuito de identificar alguns preditores para os sintomas internalizantes dos

adolescentes no tempo 2, procedeu-se a realização de regressões lineares múltiplas com o

método Enter. Foram consideradas, inicialmente, como variáveis independentes os sintomas

internalizantes do filho(a), da mãe e do pai no T1. O principal preditor dos sintomas

internalizantes dos adolescentes no T2 foram os sintomas internalizantes deles próprios no T1

(ß=0,621; p<0,00), explicando 43% de variância. As demais variáveis não apresentaram poder

preditivo significativo, nesta amostra, para os sintomas internalizantes dos adolescentes.

Ao serem incluídas as variáveis referentes às relações familiares (Apoio, Hierarquia,

Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG), amplia-se o poder preditivo para

48,1%, mas segue só uma variável como preditora, que é o sintomas internalizantes dos

adolescentes no T1 (ß=0,691; p<0,00).

Por fim, além dos sintomas internalizantes no T1 e das variáveis das relações

familiares (Apoio, Hierarquia, Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG),

foram incluídos os dados dos eventos estressores. A tabela 6 apresenta os resultados obtidos:

65

Tabela 6 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas Internalizantes

dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e IEEA

Internalizantes

Adolescentes

T2

Coeficientes não

Padronizados

Coeficientes

Padronizados

Modelo B Erro

padrão

Beta t Sig

(Constante) -4,357 9,396 -0,464 0,644

Internalizante 0,561 0,081 0,609 6,913 0,000

Apoio 0,090 0,187 0,043 0,479 0,633

Hierarquia -0,018 0,174 -0,009 -0,101 0,920

Coesão 0,132 0,229 0,062 0,579 0,564

Conflito 0,082 0,217 0,043 0,379 0,706

Conflito mãe-criança -0,094 0,172 -0,061 -0,547 0,585

Afetividade mãe-criança 0,038 0,126 0,028 0,302 0,763

Conflito pai-criança -0,118 0,150 -0,096 -0,785 0,434

Afetividade pai-criança -0,062 0,107 -0,065 -0,575 0,566

Conflito pai-mãe 0,163 0,159 0,136 1,025 0,308

Afetividade pai-mãe 0,077 0,086 0,105 0,891 0,375

Eventos Estressores 0,362 0,142 0,223 2,554 0,012

Porcentagem de variância explicada: 51,4%

Como pode ser observado na Tabela 6, os eventos estressores, os dados familiares e os

sintomas internalizantes dos próprios adolescentes há um ano explicam juntos 51,4% da

variância. Adicionalmente, esta análise nos mostra que 3,3% da variância é explicada pelos

eventos estressores, tendo esses uma influência significativa (p=0,012) na sintomatologia

internalizante dos adolescentes.

66

2.6 Discussão

O objetivo principal dessa pesquisa foi examinar o quanto os problemas emocionais e

de comportamento dos pais e dos filhos e as características dos relacionamentos familiares

podem ser preditores dos sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após um ano.

Considerando esse objetivo geral, os resultados indicaram que as relações familiares não

tiveram um poder explicativo significativo com relação aos sintomas internalizantes do

adolescente no tempo 2. Esse resultado difere do encontrado em outros estudos com crianças

nos quais as relações familiares explicam, em grande parte, os sintomas infantis (Fleitlich-

Bilyk, & Goodman, 2001; Herrenkohl, Kosterman, Hawkins, & Mason, 2009). Por outro lado,

se aproxima dos achados de um estudo realizado com 100 adolescentes espanhóis, que

identificou um baixo poder preditivo das relações familiares com relação aos sintomas

internalizantes dos adolescentes (Oliva, Jiménez, & Parra, 2009).

Com bases nesses estudos prévios, pode-se pensar que a fase do ciclo evolutivo vital

pode ser um fator relevante, ao demonstrar que a família pode ter uma influência mais direta

na infância do que na adolescência. Durante a adolescência, há um afastamento da família de

origem e uma maior aproximação do grupo de iguais (Wagner, Falcke, Silveira, & Mosmann,

2002), podendo haver um aumento da influência do grupo de pares e do ambiente social, o

que leva, conseqüentemente, a uma diminuição do impacto da família.

A estabilidade dos sintomas internalizantes e das características do ambiente familiar,

observada no período de um ano, também pode ser uma demonstração de que a relação entre

essas variáveis já tenha se estabelecido desde a infância e mantenha-se estável no período da

adolescência. Na mesma direção, a correlação entre a sintomatologia dos pais e dos filhos

indica ainda um processo que parece ter se constituído no âmbito das relações familiares

desde a sua origem, pela forma como os filhos vão sendo modelados pelos pais.

67

A modelação parental é uma das formas pelas quais os pais podem contribuir para o

desenvolvimento de sintomatologia internalizante nos(as) filhos(as), principalmente quando

um dos pais possui um transtorno de ansiedade e verbaliza seus medos, modelando reações

ansiosas nos(as) filhos(as). Bandura (1969/1997) define a modelação como a aprendizagem

através da observação de modelos, na qual a criança desenvolve padrões de comportamentos

através da observação e imitação dos mesmos. Além de modelar o comportamento

internalizante dos(as) filhos(as), os pais podem reforçar este comportamento, contribuindo,

assim, para a manutenção da sintomatologia dos(as) filhos(as) (Shortt et al., 2001).

A partir de uma perspectiva sistêmica, este fato poderia ser compreendido como uma

possibilidade de transmissão transgeracional, por meio da qual os filhos se inserem em uma

história familiar já existente e recebem mandatos e legados das antigas gerações. Segundo

Falcke (2003), a transmissão transgeracional é o processo através do qual a identidade

familiar vai sendo perpetuada, através de seus mitos, crenças e legados.

A possibilidade de associação transgeracional dos sintomas internalizantes foi avaliada

a partir da correlação entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e os

sintomas internalizantes dos adolescentes. Verificaram-se correlações significativas e

positivas entre a sintomatologia materna (tanto internalizante como externalizante) com os

internalizantes do adolescente e entre os sintomas internalizantes paternos com as

manifestações do adolescente. Esses dados trazem à luz a possibilidade de transmissão

transgeracional dos problemas emocionais e de comportamento, ao se perceber que quando

aumentam os sintomas dos pais também aumentam os sintomas dos filhos.

Ao correlacionar a percepção dos adolescentes e de seus pais sobre as relações

familiares no tempo 1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes decorrido um ano,

encontrou-se correlações positivas entre a percepção de conflito pelo adolescente no tempo 1

68

e a manifestação de sintomas internalizantes por ele após um ano. Este dado revela que

quanto maior a percepção de conflito familiar pelo adolescente no tempo 1 maior o nível de

sintomatologia internalizante no tempo 2. Esse dado corrobora os achados do estudo

longitudinal realizado por Sheeber et al. (1997), cujos dados demonstraram que ambientes

familiares com mais conflito estavam associados a uma maior sintomatologia depressiva após

um período de um ano, sugerindo que a qualidade das interações familiares é relevante para a

compreensão da evolução dos sintomas depressivos em adolescentes. Mais do que a

afetividade, neste estudo a dimensão de conflito está correlacionada com a sintomatologia

internalizante dos adolescentes. De acordo com Silvares e Souza (2008), as interações

familiares de baixa qualidade podem contribuir para o desenvolvimento de problemas

emocionais e de comportamento, sendo consideradas um fator de risco para o aparecimento

destes transtornos.

Correlacionando-se as dimensões de conflito e afetividade, na perspectiva do

adolescente, da mãe e do pai, no tempo 1, com os sintomas internalizantes do adolescente no

tempo 2, os resultados mostraram que somente a percepção adolescente sobre os

relacionamentos entre os membros da família no T1 e a manifestação de sintomas

internalizantes no T2 apresentaram correlações significativas. Tais achados confirmam os

achados de Teodoro, Cardoso e Freitas (2009) que, ao investigarem as relações de afetividade

e conflito familiar e sua relação com os sintomas de depressão na visão de crianças e

adolescentes, encontraram correlações positivas da depressão com o nível de conflito e

negativas para a afetividade, reforçando a relação entre o sistema familiar e os sintomas

depressivos.

Observa-se, correlacionando a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares

e os sintomas os sintomas internalizantes deles próprios no tempo 2, que as principais

correlações existiram entre as dimensões de conflito e os sintomas internalizantes,

69

especialmente, os conflitos observados pelos adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho. Esse

dado demonstra o quanto a dimensão da conjugalidade dos pais repercute nos sintomas dos

adolescentes, ao mesmo tempo em que revela a importância da relação com o pai. Estes

resultados podem ser compreendidos a partir do que é descrito por El-Sheikh e Harger (2001)

e por Mosmann e Wagner (2008) que postularam que há uma interferência do conflito

conjugal nos sintomas dos adolescentes.

Neste estudo, o principal preditor dos sintomas internalizantes dos adolescentes no

tempo 2 foram os próprios sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo 1.

Adicionalmente, este estudo mostrou que os sintomas internalizantes dos adolescentes no

tempo 1, as variáveis das relações familiares e os eventos estressores explicaram juntos 51,4%

da variância dos sintomas internalizantes no tempo 2.

Desta forma, outro achado que confirma, neste estudo, o maior impacto dos ambientes

extrafamiliares na vida do adolescente, foi o fato dos eventos estressores vivenciados pelos

adolescentes no último ano, que incluem questões escolares, sociais e judiciais/institucionais,

além das familiares, pessoais e sexuais, terem apresentado poder preditivo significativo com

relação aos sintomas internalizantes dos adolescentes.

Apesar dos eventos estressores de alto impacto terem apresentado uma baixa

ocorrência (entre 0,7% e 7%) estes merecem ser considerados, tendo em vista,

principalmente, que os eventos citados como altamente estressores envolvem situações

graves. Dessa forma, estes eventos podem contribuir para que os adolescentes estejam mais

vulneráveis ao desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento, considerando

a fase do desenvolvimento que estão vivendo. Nesse sentido, os resultados deste estudo

apontam para a importância de mensurar não somente a experiência do evento estressor, mas

também a intensidade (experiência subjetiva) atribuída ao evento estressor pelo adolescente,

tendo em vista que existe uma variação na forma como as pessoas se relacionam com os

70

eventos estressores. Segundo Koller e De Antoni (2004), esta variação está relacionada à

diferente intensidade, freqüência e duração dos eventos.

Foi constatado que o grupo clínico referiu a ocorrência de eventos estressores em

número significativamente superior ao grupo não-clínico. Nesse sentido, pode-se pensar que

os eventos estressores estejam colaborando para o surgimento de sintomas internalizantes,

assim como, os problemas internalizantes apresentados pelos adolescentes possam favorecer

com que eles estejam mais expostos a alguns eventos estressores, como, por exemplo, rejeição

dos familiares, dificuldade em fazer amigos e baixo desempenho escolar.

Tendo em vista o exposto, entende-se que diversos fatores estão envolvidos no

surgimento dos sintomas internalizantes em adolescentes, tanto pelos dados apresentados

nesta pesquisa, como pela literatura vigente. Salienta-se, contudo, a necessidade de um maior

número de estudos empíricos no contexto brasileiro que envolvam as variáveis investigadas

neste estudo.

2.7 Considerações Finais

A família tem um importante papel no desenvolvimento dos seus membros. No

entanto, os dados deste estudo revelam a importância das relações entre pares na adolescência

e apontam a importância de investigações longitudinais como a presente, que permitem o

entendimento da interação entre variáveis ao longo do tempo.

Nesta pesquisa pode-se considerar como limitações o tamanho da amostra, bem como

a perda de participantes do tempo 1 para o tempo 2 (25, 67%), o que é, de certo modo

esperado, em uma investigação longitudinal. Essa pesquisa instiga a produção de futuros

estudos com essa temática tão ampla e complexa, e ainda pouco explorada no contexto

brasileiro, o que foi comprovado face à escassez de estudos nacionais.

71

A participação dos pais no tempo 2 também permitiria o acesso a mais informações.

Além disso, pesquisas qualitativas podem ser úteis na compreensão da percepção dos

adolescentes com relação aos eventos estressores que estes vivenciaram durante o período de

um ano, especialmente aqueles que mencionaram eventos de alto impacto.

Entende-se que os dados obtidos neste estudo contribuem para a compreensão da

dinâmica da adolescência e também das relações familiares. Por fim, salienta-se a necessidade

do desenvolvimento de políticas públicas e intervenções eficazes voltadas para a

adolescência, tendo em vista que, na presente pesquisa, o principal preditor dos sintomas

internalizantes dos adolescentes foi a própria sintomatologia internalizante mensurada um ano

antes.

2.8 Referências

Abreu, K. L.; Ramos, L. S.; Oliveira, A. S.; Silveira, A.; Stoll, I.; Lima, J. S.; Flores,

R. Z., & Kristensen, C. H. (2001). Avaliação do impacto de eventos de vida estressores em

adolescentes da região metropolitana de Porto Alegre: Desenvolvimento de uma escala. Em:

Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Resumo de Comunicações Científicas da XXXI

Reunião Anual de Psicologia (p. 245). Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Psicologia.

Achenbach, T., & Howell, C. (1993). Are American children’s problems getting

worse? A 13-year comparison. Journal of American Academy on Child and Adolescent

Psychiatry, 32, 1145-1154.

Achenbach, T. M. (1991). Manual for the Child Behavior Checklist/4–18 e 1991

profile. Burlington, VT: University of Vermont.

Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2003). Manual for the ASEBA Adult Forms &

Profiles. Burlington, VT: University of Vermont, Research Center for Children, Youth, &

Families.

72

Achenbach, T. M., & Rescorla, L. A. (2001). Manual for the ASEBA school-age forms

& profiles. Burlington: University of Vermont, Research Center for Children, Youth, &

Families.

Althoff, R. R. (2008). Diagnoses, neuropsychological functioning, and parental

depression affect the expression of internalizing and externalizing disorders in children.

Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 4, 358-358.

Avanci, J. Q., Assis, S. G., & Oliveira, R. V. C. (2008). Sintomas depressivos na

adolescência: estudo sobre fatores psicossociais em amostra de escolares de um município do

Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 24(10), 2334- 346.

Avison, W. R., & McAlpine, D. D. (1992). Gender differences in symptoms of

depression among adolescents. Journal of Health and Social Behavior, 33, 77-96.

Bandura, A. (1969/1997). Modificação do comportamento. Rio de Janeiro:

Interamericana.

Costello, D. M., Rose, S., Swendsen, J., & Dierker, L. C. (2008). Risk and protective

factors associated with trajectories of depressed mood from adolescence to early adulthood.

Journal of Consulting & Clinical Psychology, 76, 173-183.

Cruvinel, M., & Boruchovitch, E. (2009). Sintomas de depressão infantil e ambiente

familiar. Psicologia em Pesquisa-UFJF, 3, 87-100.

El-Sheikh, M., & Harger, J. (2001). Appraisals of marital conflict and children's

adjustment, health, and physiological reactivity. Developmental Psychology, 37, 875-885.

Falcke, D. (2003). Águas passadas não movem moinhos? As experiências na família

de origem como preditoras da satisfação conjugal. Tese de Doutorado não-publicada.

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

73

Fleitlich-Bilyk, B., & Goodman, R. (2001). Social factors associated with child mental

health problems in Brazil: Cross sectional survey. British Medical Journal, 323, 599-600.

Garrison, C. Z., Jackson, K. L., Marsteller, F., Mckeown, R., & Addy, C. (1990). A

longitudinal-study of depressive symptomatology in young adolescents. Journal of the

American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 29, 581-585.

Hackett, R., & Hackett, L. (1999). Child psychiatry across cultures. International

Review of Psychiatry, 11, 225- 235.

Herrenkohl, T. I., Kosterman, R., Hawkins, D., & Mason, A. (2009) Effects of growth

in family conflict in adolescence on adult depressive symptoms: Mediating and moderating

effects of stress and school bonding. Journal of Adolescent Health, 44, 146–152.

Kaplan, H. I., Sadock, B. J., & Grebb, J. A. (1997). Compêndio de psiquiatria:

Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7ªed. Porto Alegre: Artes Médicas.

Koller, S. H., & De Antoni, C. (2004). Violência intrafamiliar: Uma visão ecológica.

Em: Koller, S. H. (Org.). Ecologia do desenvolvimento humano: Pesquisa e intervenção no

Brasil. (pp. 293-310). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Kristensen, C. H., Leon, J. S., D’Incao, D. B., & Dell’Aglio, D. D. (2004). Análise da

freqüência e do impacto de eventos estressores em uma amostra de adolescentes. Interação

em Psicologia, 8(1), 45-55.

Masten, A. S., & Garmezy, N. (1985). Risk, vulnerability and protective factors in

developmental psychopathology. Em: Lahey, B. B., & Kazdin, A. E. (editors). Advances in

clinical child psychology. New York: Plenum Press.

McFarlane, A. H., Bellissimo, A., & Norman, G. R. (1995). Family structure, family

functioning and adolescent well-being: The transcendent influence of parental style. Jounal of

Child Psychology and Psychiatry, 36, 847-864.

74

Melo, M. H. S., & Silvares, E. F. M. (2003). Grupo cognitivo-comportamental com

famílias de crianças sem habilidades sociais e com déficits acadêmicos. Temas em Psicologia

da SBP, Ribeirão Preto, 11(2), 122-133.

Mosmann, C. P., & Wagner, A. (2008). Dimensiones de la conyugalidad y de la

parentalidad: un modelo correlacional. Revista Intercontinental de Psicología y Educación,

10, 79-103.

Oliva, A., Jiménez, J. M., & Parra, A. (2009). Protective effect of supportive family

relationships and the influence of stressful life events on adolescent adjustment. Anxiety,

Stress & Coping, 22(2), 137-152.

Patterson, G. R., DeBaryshe, B. D., & Ramsey, E. (1989). A developmental

perspective on antisocial behavior. American Psychologist, 44, 329-335.

Rocha, M. M., Araújo, L. G. S., & Silvares, E. F. M. (2008). Um estudo comparativo

entre duas traduções brasileiras do Inventário de Auto-Avaliação para Jovens (YSR).

Psicologia: Teoria e Prática, 10, 14-24.

Rohenkohl, L. M. I. A. (2009). Afetividade e conflito familiar: Sua relação com

problemas de comportamento em pré-escolares. Dissertação de mestrado não–publicada.

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS.

Sheeber, L., Hops, H., Alpert, A., Davis, B., & Andrews, J. (1997). Family support

and conflict: Prospective relations to adolescent depression. Journal of Child Psychology, 25,

333-344.

Shortt, A. L., Barrett, P. M., Dadds, M. R. & Fox, T. L. (2001). The influence of

family and experimental context on cognition in anxious children. Journal of Abnormal Child

Psychology, 29(6), 585-596.

75

Silvares, E. F. M., & Souza, C. L. (2008). Discórdia conjugal: distúrbios psicológicos

infantis e avaliação diagnóstica comportamental-cognitiva. Psicologia: Teoria e Prática, 10,

200-213.

Stark, K. D., Humphrey, L. L., Crook, K., & Lewis, K. (1990). Perceived family

environments of depressed and anxious children: Child's and maternal figure's perspectives.

Journal of Abnormal Child Psychology, 18, 527-547.

Sternberg K. J., Lamb, M. E., Guterman, E., & Abbott, C. B. (2006). Effects of early

and later family violence on children's behavior problems and depression: A longitudinal,

multi-informant perspective. Child Abuse & Neglect, 30, 283-306.

Teodoro, M. L. M. (2005). Kognitive Repräsentationen familiärer Beziehungen.

Methodenkritische Untersuchungen zu Kohäsion und Hierarchie innerhalb dês familiären

Systems. Hamburg: Ed. Kovacs.

Teodoro, M. L. M. (2006). Afetividade e conflito em díades familiares: avaliação com

o Familiograma. Interamerican Journal of Psychology, 40, 395-390.

Teodoro, M. L. M. (2009). Família, bem-estar e qualidade de vida de crianças e

adolescente. Em: Haase, V. G. , Ferreira, F. O., & Penna, F. J. (Orgs.). Aspectos

biopsicossociais da saúde na infância e adolescência. Belo Horizonte: Coopmed.

Teodoro, M. L. M., Cardoso, B. M., & Freitas, A. C. H. (2009). Afetividade e conflito

familiar e sua relação com a depressão em crianças e adolescentes. Psicologia: Reflexão e

Crítica, 23(2), 324-333.

Teodoro, M. L. M., Land, B. R., & Allgayer, M. (2009). Desenvolvimento e validade

fatorial do Inventário do Clima Familiar (ICF) para adolescentes. Psicologia: Teoria e

Prática, 11(3), 27-39.

Wagner, A., Falcke, D., Silveira, L. M. B. O., & Mosmann, C. (2002). A comunicação

em famílias com filhos adolescentes. Psicologia em Estudo, Maringá, 7(1), 75-80.

3 Considerações Finais da Dissertação

Este estudo foi desenvolvido com o intuito de investigar o quanto os problemas

emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, com foco nos sintomas internalizantes,

as características dos relacionamentos familiares e os eventos estressores na adolescência

podem predizer dos sintomas internalizantes manifestados pelos(as) filhos(as) após um ano. A

relevância deste estudo reside na alta prevalência de sintomatologia internalizante, no período

da adolescência, apontada por estudos nacionais e internacionais (Anselmi, Piccinini, Barros,

& Lopes, 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Hackett, & Hackett, 1999Wagner, &

Predebon, 2005).

Inicialmente, observou-se uma estabilidade temporal dos sintomas internalizantes dos

adolescentes, não havendo diferenças significativas nos níveis de sintomatologia do tempo 1

para o tempo 2. A estabilidade temporal também foi observada para as variáveis familiares

investigadas no presente estudo (Apoio, Hierarquia, Coesão, Conflito, Afetividade mãe-filho,

Afetividade pai-filho, Afetividade pai-mãe, Conflito mãe-filho, Conflito pai-filho e Conflito

pai-mãe).

Análises de regressões lineares múltiplas revelaram com principal preditor dos

sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo 2 os sintomas internalizantes dos próprios

adolescentes no tempo 1T1, explicando 43% de variância. Incluindo as variáveis referentes às

relações familiares o poder preditivo foi ampliado para 48,1%. Contudo, incluindo-se os

eventos estressores aos dados familiares e os sintomas internalizantes dos próprios

adolescentes no tempo 1, nota-se que eles explicam juntos 51,4% da variância.

Os resultados encontrados neste estudo podem estar relacionados ao afastamento

natural que ocorre nesta faixa etária, quando há uma maior aproximação do grupo de iguais e

77

um distanciamento da família de origem (Wagner, Falcke, Silveira, & Mosmann, 2002).

Desse modo, espera-se uma diminuição da influência da família neste período do ciclo vital.

Nesta pesquisa pode-se considerar como limitações o tamanho da amostra, bem como

a perda de participantes do tempo 1 para o tempo 2 (25, 67%), o que é, de certo modo

esperado, em uma investigação longitudinal. Essa pesquisa instiga a produção de futuros

estudos com essa temática tão ampla e complexa, e ainda pouco explorada no contexto

brasileiro, o que foi comprovado face à escassez de estudos nacionais.

4 ANEXOS

Anexo A – Relatório de Pesquisa

Introdução

O propósito deste estudo foi investigar a percepção sobre as relações familiares

(afetividade, conflito e clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos(as)

filhos(as) adolescentes e os eventos estressores, no período de um ano, como preditores dos

sintomas internalizantes dos(as) filhos(as). Os sintomas internalizantes caracterizam-se,

segundo Achenbach (1991), pela tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Comumente

estão relacionados aos transtornos de humor (depressão) e ansiedade (Achenbach & Howell,

1993).

Tal estudo justifica-se pela alta prevalência de sintomas internalizantes nesta faixa

etária. A literatura nacional e internacional têm apontado uma prevalência clínica e limítrofe

de 10 a 24% com relação a sintomatologia internalizante na faixa etária da adolescência

(Anselmi, Piccinini, Barros, & Lopes, 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Wagner, &

Predebon, 2005).

Desta forma, buscar-se-à investigar o poder preditor das relações familiares, dos

sintomas internalizantes dos pais e filhos(as) e dos eventos estressores nos sintomas

internalizantes dos filhos(as), após um ano.

Objetivos

Objetivo Geral

Verificar o poder preditivo dos problemas emocionais e de comportamento dos pais e

dos filhos, das características dos relacionamentos familiares e dos eventos de vida estressores

nos sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após o período de um ano.

80

Objetivos Específicos

a) Investigar a estabilidade temporal dos sintomas internalizantes e da percepção das

relações familiares na perspectiva dos adolescentes;

b) Investigar as correlações entre os sintomas internalizantes e a percepção das

relações familiares, no Tempo 2 (T2);

c) Investigar as correlações entre a percepção dos adolescentes, das mães e dos pais

sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2;

d) Investigar as correlações entre os sintomas internalizantes e externalizantes das

mães e dos pais no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2.

Método

Delineamento

Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo e explicativo, de delineamento

longitudinal, com um ano de intervalo entre a primeira e a segunda avaliação (Creswell,

2007).

Participantes

Participaram deste estudo 139 adolescentes, e seus pais, sendo 79 meninas

(56,80%) e 60 meninos (43,20%),, com idades variando entre 12 e 16 anos (Média=13,59

anos, DP=0,89), provenientes de duas escolas públicas, uma do município de São Leopoldo

(RS) e outra de Sapucaia do Sul (RS). A amostra foi escolhida por conveniência, sendo que

todos os adolescentes freqüentavam entre a 6ª e a 8ª série, e 8,3% dos adolescentes além de

estudar também trabalhavam. A média de idade das mães foi de 39,28 anos (DP=6,78) e dos

pais de 42,41 anos (DP=9,36). A escolaridade dos pais pode ser observada na tabela 1.

81

Tabela 1. Escolaridade dos pais

Escolaridade Pai Mãe

Ensino Fundamental Incompleto 23,4% 19,5%

Ensino fundamental Completo 19,0% 14,8%

Ensino médio incompleto 8,9% 9,5%

Ensino médio completo 32,3% 34,9%

Superior incompleto 5,1% 10,7%

Superior completo 10,8% 10,7%

Instrumentos

a) Ficha de Dados Sócio-Demográficos

No tempo 1 do estudo, os adolescentes responderam a uma Ficha de Dados Sócio-

Demográficos (vide Anexo B), cujo objetivo era a obtenção de informações sobre os pais

(profissão, escolaridade etc.) e sobre a estrutura familiar (número de filhos, situação conjugal

etc.). A mesma ficha foi respondida pelos adolescentes no tempo 2 (T2), com o intuito de

verificar possíveis alterações nas informações fornecidas no T1.

b) Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report)

O Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos faz parte do Sistema de

Avaliação Empiricamente Baseado (Achenbach System of Empirically Based Assessment –

ASEBA), desenvolvido por Achenbach (Achenbach, 1991; Achenbach & Rescorla, 2001). É

uma variação do Children Behavior Checklist – CBCL (Achenbach, 1991), na qual o

respondente é o próprio adolescente. O YSR é composto por oito escalas de problemas de

comportamento (Ansiedade/Depressão, Isolamento/Depressão, Queixas Somáticas, Problemas

Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento de Quebra Regra,

Comportamento Agressivo) e pelo tópico denominado “Outros Problemas”, o qual engloba

itens que não se encaixaram em nenhuma das outras escalas. As questões do YSR são

82

respondidas através de uma escala Likert de três pontos (não é verdadeira, algumas vezes

verdadeira ou muito verdadeira/frequentemente verdadeira). Este instrumento permite a

classificação em três níveis: Problemas Internalizantes (incluem as três primeiras escalas),

Problemas Externalizantes (incluem as duas últimas escalas) e Problemas Totais (inclui todas

as escalas analisadas e o tópico Outros Problemas). Neste estudo, foi utilizada a versão do

YSR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, & Silvares,

2008). O YSR foi respondido pelos adolescentes no T1 e no T2. Obteve-se como alpha de

Cronbach, para a escala total, 0,929, para a dimensão de sintomas internalizantes (α=0,860) e

para as subescalas que a compõe ansiedade/depressão (α=0,799), isolamento/depressão

(α=0,572) e queixas somáticas (α=0,657).

c) Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report)

O ASR é um inventário de auto-avaliação que também faz parte do Sistema de

Avaliação Empiricamente Baseado, desenvolvido por Achenbach (Achenbach & Rescorla,

2001; 2003) e avalia adultos de 18 a 59 anos de idade. No inventário, estão incluídos 168

itens, que são respondidos através de uma escala Likert de três pontos (falso/nunca, algumas

vezes ou verdadeiro/frequentemente), e são subdivididos em escalas sobre os problemas de

comportamento internalizante, externalizante e total. As respostas podem ainda serem

classificadas de acordo com as seguintes síndromes: ansiedade/depressão; isolamento; queixas

somáticas; problemas de pensamento; problemas de atenção; comportamento agressivo;

quebra de regras; e comportamento intrusivo. Neste estudo, foi utilizada uma versão de

pesquisa do ASR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares. Este instrumento

foi respondido pelos pais, no T1 da pesquisa. Os alphas obtidos foram: escore total (α=0,921),

sintomas internalizantes (α=0,881) e sintomas externalizantes (α=0,873).

83

d) Familiograma (FG)

O Familiograma (Teodoro, 2005, 2006, 2009) é um instrumento que avalia a

percepção da afetividade e do conflito familiar nas díades familiares (por exemplo, pai-mãe,

filho(a)-pai, filho(a)-mãe etc.). A afetividade é compreendida como um conjunto de emoções

positivas existentes no relacionamento interpessoal, enquanto que o conflito é definido como

uma gama de sentimentos negativos que podem ser tanto uma fonte geradora de estresse

como de agressividade dentro do sistema familiar. O participante é solicitado a informar, por

meio de uma lista de 22 adjetivos e uma escala Likert variando de um a cinco, como é o

relacionamento em cada uma das díades que se está avaliando. Compõem a lista do construto

afetividade os adjetivos: carinhoso, alegre, agradável, verdadeiro, afetivo, protetor, amoroso,

acolhedor, harmonioso, atencioso, precioso. Já o construto conflito é avaliado por meio dos

seguintes adjetivos: confuso, nervoso, estressante, baixo-astral, ruim, sufocante, tenso, frio,

difícil, agressivo, chato (vide Anexo C). A pontuação do Familiograma varia de 11 a 55 para

cada construto, sendo que quanto maior for o escore, maior será a percepção de afetividade e

conflito. Este instrumento permite a classificação das famílias em quatro diferentes categorias

de acordo com a intensidade da afetividade e do conflito familiar, conforme tabela a seguir:

Tabela 2. Classificação de Tipos de Família de Acordo com os Construtos Afetividade e

Conflito do Familiograma

Tipo I

Alta afetividade

Baixo conflito

Tipo II

Alta afetividade

Alto conflito

Tipo III

Baixa afetividade

Baixo conflito

Tipo IV

Baixa afetividade

Alto conflito

84

Teodoro (2006) demonstrou a existência de uma estrutura bi-fatorial e alphas de

Cronbach variando de 0,87 até 0,97 para o Familiograma. Neste estudo, foram investigadas as

díades Filho(a)-Pai, Filho(a)-Mãe e Pai-Mãe na perspectiva dos pais e do(a) filho(a). O FG foi

respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1, e somente pelos adolescentes no T2 e os

alphas variaram, neste estudo de 0,876 para o fator conflito pai-criança, na perspectiva do pai

e 0,966 para afetividade pai-mãe na perspectiva da mãe.

e) Inventário do Clima Familiar (ICF)

O Inventário do Clima Familiar (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009) investiga, através

de 22 itens em escala Likert de cinco pontos (de “não concordo” até “concordo plenamente”),

a coesão, o apoio, a hierarquia e o conflito familiar (vide Anexo D). A coesão familiar é

definida como o vínculo emocional entre os membros da família (ex.: “As pessoas sentem-se

felizes quando toda a família esta reunida”; “As pessoas gostam de passear e fazer coisas

juntas”). O apoio contém itens que descrevem o suporte material e emocional dos membros,

avaliando, assim, a existência de suporte emocional e material dado e recebido dentro da

família (ex.: “Procuramos ajudar as pessoas da nossa família quando percebemos que estão

com problemas”; “Quando alguém esta doente, as outras cuidam dela”). A hierarquia, neste

instrumento, está relacionada a uma diferenciação rígida de poder dentro da família, na qual

as pessoas mais velhas possuem influência impositiva nas decisões familiares (ex.: “É comum

que algumas pessoas proíbam outras de fazer determinadas coisas sem explicar o porquê”;

“Uns mandam outros obedecem”). O conflito familiar avalia a relação agressiva, crítica e

conflituosa entre os membros da família (ex.: “Os conflitos são comuns”; “As pessoas

criticam umas as outras com freqüência”). Os resultados psicométricos do ICF apontam para

uma estrutura fatorial compatível com o modelo de quatro fatores e alphas de Cronbach

superiores a 0,80 (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009), o que também foi observado neste

85

estudo. Este instrumento foi respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1. No tempo 2 do

estudo, somente os adolescentes responderam ao ICF.

f) Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)

O Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (Abreu et al., 2001; Kristensen,

Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004) avalia a ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de

eventos estressores na adolescência. Este instrumento é composto por 64 itens, na forma de

eventos de vida estressores, de modo que, para cada item o participante deve indicar em uma

alternativa sim/não se o evento ocorreu. A partir disso, em uma escala Likert de cinco pontos,

onde “1” significa “baixo impacto” e “5” “elevado impacto”, o participante deve informar o

impacto atribuído a cada evento experienciado (vide Anexo E). O IEEA apresentou elevada

consistência interna (alpha de Cronbach = 0,92) em estudo anteriore (Kristensen, Dell’Aglio,

Leon, & D’Incao, 2004), mostrando-se confiável na avaliação de eventos de vida estressores

em adolescentes. Neste estudo, o alpha obtido foi de 0,815. Este instrumento foi respondido

pelos adolescentes somente no T2 do estudo.

Procedimentos Éticos e de Pesquisa

Conforme a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e a resolução

016/2000, do Conselho Federal de Psicologia, que dispõem sobre a pesquisa em Psicologia,

com seres humanos, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Processo 06/032) (vide Anexo A). Em

seguida, foi realizado contato com a direção das escolas para apresentação do projeto. Após a

autorização para a realização do mesmo, os alunos receberam a visita do pesquisador em sala

de aula, oportunidade na qual foram informados sobre características gerais do projeto. Os

alunos interessados em participar da pesquisa receberam uma carta, a ser entregue aos pais,

86

contendo informações gerais sobre a pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), que devia ser assinado por um dos pais ou responsáveis, autorizando

o(a) filho(a) a participar da pesquisa.

Após o retorno dos TCLE, foi combinado com os professores um horário para a

aplicação dos instrumentos nos adolescentes, que foi realizada nas escolas, em pequenos

grupos. Toda a aplicação durou, aproximadamente, 60 minutos. A aplicação dos instrumentos,

na primeira etapa da pesquisa, iniciou-se pelo preenchimento da Ficha de Dados Sócio-

Demográficos, sendo aplicados em seguida o Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a

18 anos (YSR, Youth Self-Report), o Familiograma (FG) e o Inventário do Clima Familiar

(ICF).

Ao finalizar esta etapa, os adolescentes receberam dois envelopes contendo os

instrumentos a serem respondidos individualmente pelos pais, em suas casas e os TCLE

individuais. Os pais foram instruídos a, após responderem os questionários, lacrarem o

envelope e devolveram à escola, através dos filhos(as). A escola repassou o material aos

pesquisadores.

Durante o intervalo entre as coletas, o contato com as escolas foi mantido por meio de

reuniões com a direção das mesmas, e devoluções referentes aos dados transversais, com

vistas a facilitar o vínculo entre pesquisadores e instituições. Após um ano de intervalo, todos

os adolescentes que participaram do tempo 1 do estudo (n=187) foram convidados a participar

novamente da pesquisa. Destes, 48 adolescentes (25,67%) não foram encontrados, o que se

deve, provavelmente, ao fato de terem mudado de escola, ou até mesmo de cidade. Assim,

foram considerados para este estudo somente os adolescentes que participaram do T1 e do T2

da pesquisa. A coleta de dados dos adolescentes foi realizada nas escolas, em pequenos

grupos, em dois horários distintos, tendo em vista a inclusão de mais um instrumento nesta

etapa da pesquisa. No primeiro momento, foram aplicados a Ficha de Dados Sócio-

87

Demográficos, seguido do Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR,

Youth Self-Report), e do Familiograma (FG). Num segundo momento, os adolescentes

responderam ao Inventário do Clima Familiar (ICF) e ao Inventário de Eventos Estressores na

Adolescência (IEEA). Os pais não participaram da segunda etapa da pesquisa.

Procedimentos de Análise de Dados

Após a coleta de dados, as informações foram tabuladas em um banco de dados no

SPSS 18.0® (Statistical Package for Social Science 18.0). Inicialmente, realizou-se uma

análise descritiva (médias, DP, porcentagens) dos resultados em geral. Para a estatística

inferencial, previamente se comprovaram os critérios de supostos paramétricos (tipo de

variável, tamanho da amostra, normalidade). As associações entre variáveis foram analisadas

por meio de Correlação de Pearson e as comparações entre grupos por meio de Teste t para

amostras independentes. As análises preditivas foram realizadas por meio de regressão linear

múltipla, tendo os sintomas internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável

dependente. Foram considerados como significativos todos os resultados com p<0,05.

Apresentação e discussão dos resultados

Inicialmente, realizaram-se análises descritivas dos resultados do YSR, FG, ICF e

IEEA dos adolescentes no T1 e T2. A Tabela 3 apresenta média, desvio-padrão, mediana,

percentil e valores mínimo e máximo dos resultados desses instrumentos nos T1 e T2.

88

Tabela 3 Resultados Descritivos do YSR, FG, ICF e IEEA, dos adolescentes, no T1 e no T2

Instrumento Tempo Díade Média (DP)

Mediana 1º

Quartil 3º

Quartil Mín/Max

T1 - 15,91

(8,89) 14,00 21,00 29,20 1 – 41

YSR T2

- 14,04 (8,23)

12,00 20,00 27,00 0 – 42

T1 Mãe-

Filho(a) 47,75 (6,98)

50,00 44,00 53,00 22 – 55

FG Afetividade

T1 Pai-

Filho(a) 43,60 (9,71)

46,00 39,00 51,00 13 – 55

T1 Pai-Mãe 40,66

(11,34) 44,00 36,00 49,00 11 – 55

T2 Mãe-

Filho(a) 47,20 (7,57)

50,00 43,00 53,00 17 – 55

FG Afetividade

T2 Pai-

Filho(a) 42,55 (9,67)

44,00 37,00 51,00 11 – 55

T2 Pai-Mãe 39,66

(11,93) 42,00 33,00 49,00 11 – 55

T1 Mãe-

Filho(a) 16,57 (6,58)

14,00 11,00 20,00 11 – 42

FG Conflito

T1 Pai-

Filho(a) 17,18 (7,18)

14,50 12,00 20,00 11 – 46

T1 Pai-Mãe 18,55 (7,34)

17,00 13,00 23,00 11 – 50

T2 Mãe-

Filho(a) 16,73 (6,59)

15,00 12,00 20,00 11 – 41

FG Conflito

T2 Pai-

Filho(a) 17,24 (6,49)

15,00 12,00 21,00 11 – 44

T2 Pai-Mãe 19,32 (8,13)

16,00 13,00 23,00 11 – 51

ICF T1 - 13,17

(12,62) 16,00 7,00 23,00 -23 – 33

ICF T2 - 13,95

(11,39) 15,50 8,00 21,00 -30 – 35

IEEA T2 - 8,65

(5,06) 7,0 5,00 12,00 0 – 26

A partir dos dados da tabela, é possível ter uma noção geral sobre como as variáveis se

comportaram em termos de distribuição. Utilizando-se os pontos de corte definido por

Achenbach (1991), para a subescala de sintomas internalizantes, a partir dos Escores T

obtidos, no qual o adolescente é classificado como clínico (escore T superior a 63), limítrofe

89

(escore T de 60 a 63) ou não-clínico (escore T inferior a 60), obteve-se a classificação que

pode ser observada na tabela 4.

Tabela 4 – Classificação dos adolescentes nas categorias não-clínico, limítrofe e clínico, no

T1 e T2, para os sintomas internalizantes

Categoria %

Internalizantes

T1

Não-clínico

Limítrofe

Clínico

80,2

7,5

12,3

YSR

Internalizantes

T2

Não-clínico

Limítrofe

Clínico

82,7

4,3

12,9

Achenbach (1991) propõe ainda que, para fins de discriminação entre grupos clínicos

e não clínicos, a categoria limítrofe seja incluída na categoria clínica. Dessa forma

considerando os sintomas internalizantes no tempo 2, segundo os critérios propostos por

Achenbach (1991), observa-se 82,7% de adolescentes não-clínicos e 17,3% clínicos. Esse

índice se é compatível com os obtidos em outros estudos que indicam uma prevalência de

sintomas internalizantes entre 10% e 20% (Canino et al., 2004; Hackett, & Hackett, 1999).

Como os pontos de corte definidos por Achenbach (1991) foram obtidos com base em

amostra internacional, Melo e Silvares (2003) sugerem que os pontos de corte sejam

estabelecidos a partir dos percentis 75 para o grupo limítrofe e 90 para o grupo clínico. Para o

Familiograma, os pontos de corte utilizados para a classificação das famílias em alta e baixa

afetividades e conflito foram as medianas, conforme o estudo de Baptista, Teodoro, Cunha,

Santana e Carneiro (2009). Com relação ao ICF, foram calculados os valores de clima

positivo (somatório dos fatores apoio e coesão) e de clima negativo (pontos invertidos dos

fatores conflito e hierarquia), conforme Teodoro, Land e Algayer (2009).

90

Na tabela 5 então é possível observar as porcentagens relativas aos níveis normais,

limítrofes e clínicos do YSR, dos adolescentes nos tempos 1 e 2, obtidos através dos percentis

75 e 90; os níveis de conflito e afetividade familiar, na percepção do adolescente, de acordo

com o Familiograma (FG), nos dois tempos; e os níveis de clima familiar, na percepção do

adolescente, nos tempos 1 e 2, de acordo com o Inventário de Clima Familiar (ICF).

Tabela 5 – Porcentagens do YSR, FG, e ICF, dos adolescentes, nos tempos 1 e 2

Categoria %

Internalizantes T1

Não-clínico Limítrofe Clínico

71,7 17,6 10,7

YSR

Internalizantes T2

Não-clínico Limítrofe Clínico

74,1 15,1 10,8

Alta afetividade mãe-filho(a) 44,3 Díade Mãe-Filho(a) Baixa afetividade mãe-filho(a) 55,7 Alto conflito mãe-filho(a) 45,8 Baixo conflito mãe-filho(a) 54,2

Alta afetividade pai-filho(a) 45,4 Familiograma T1 Díade Pai-Filho(a) Baixa afetividade pai-filho(a) 54,6

Alto conflito pai-filho(a) 50,0 Baixo conflito pai-filho(a) 50,0 Alta afetividade pai-mãe 47,0 Díade Pai-Mãe Baixa afetividade pai-mãe 53,0 Alto conflito pai-mãe 45,8 Baixo conflito pai-mãe 54,2 Alta afetividade mãe-filho(a) 43,4 Díade Mãe-Filho(a) Baixa afetividade mãe-filho(a) 57,6 Alto conflito mãe-filho(a) 42,4 Baixo conflito mãe-filho(a) 57,6 Alta afetividade pai-filho(a) 46,6

Familiograma T2 Díade Pai-Filho(a) Baixa afetividade pai-filho(a) 53,4 Alto conflito pai-filho(a) 45,1 Baixo conflito pai-filho(a) 54,9 Alta afetividade pai-mãe 49,2 Díade Pai-Mãe Baixa afetividade pai-mãe 50,8 Alto conflito pai-mãe 46,0 Baixo conflito pai-mãe 54,0

ICF T1 Clima Positivo 88,8 Clima Negativo 11,2 ICF T2 Clima Positivo 94,9 Clima Negativo 5,1

91

Pode-se observar, na tabela, a preponderância de adolescentes não clínicos (T1= 71,7;

T2= 74,1), uma distribuição equiparada, mas com leve preponderância de baixa afetividade e

baixo conflito em todas as díades familiares, tanto no T1 como no T2 e uma avaliação

positiva do clima familiar como um todo.

A partir do Familiograma é possível que as famílias sejam classificadas em quatro

tipos diferentes, de acordo com o nível de afetividade e conflito. Assim, as famílias foram

categorizadas segundo nível de conflito e afetividade, na percepção do adolescente, para cada

díade estudada (mãe-filho(a), pai-filho(a) e pai-mãe). Os resultados podem ser observados na

tabela 6.

Tabela 6. Percentagem dos tipos familiares, de acordo com o FG, na percepção do

adolescente, para cada díade

Tipo familiar Díade

Mãe-Filho(a)

Díade

Pai-Filho(a)

Díade

Pai-Mãe I: alta afetividade e baixo conflito 31,7% 31,6% 34,9%

II: alta afetividade e alto conflito 10,8% 15,0% 14,3%

III: baixa afetividade e baixo conflito 25,9% 23,3% 19,0%

IV: baixa afetividade e alto conflito 31,7% 30,1% 31,7%

Os resultados da classificação das famílias segundo o nível de afetividade e conflito,

na percepção do adolescente, mostram que, em torno de 30% das famílias classificam-se

como sendo do Tipo I que caracteriza as famílias mais funcionais, ou seja, as que apresentam

alta afetividade e baixo conflito. Por outro lado, mais ou menos a mesma proporção

caracteriza as famílias mais disfuncionais, aquelas que apresentam baixa afetividade e alto

nível de conflito.

92

Os eventos estressores mensurados através do IEEA foram categorizados em

diferentes domínios, de acordo com o contexto de desenvolvimento do adolescente, conforme

critério utilizado por Dell’Aglio, Benetti, Deretti, D’Incao, e Leon (2005). O percentual de

ocorrência e o impacto dos eventos estressores em cada domínio são apresentados na tabela 7.

Tabela 7 - Percentual de ocorrência e impacto dos eventos estressores, nos diferentes

domínios (familiar, escolar, judicial/institucional, social, sexual e pessoal)

Domínio Evento Estressor Ocorrência Impacto (%)

(%) Baixo Médio Alto

Você teve que obedecer às ordens de seus pais

84,6 51,0 12,5 36,5

Você teve familiares com ferimentos ou doenças

40,9 55,5 17,9 26,8

Você brigou com irmãos(ãs) 40,7 41,8 21,8 36,4 Morreu um outro familiar 38,2 57,7 32,1 19,2 Você não recebeu cuidado e

atenção dos pais 24,1 39,4 12,1 48,5

Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros

21,3 75,9 6,9 17,2

Familiar Um dos seus pais ficou desempregado

19,6 70,4 7,4 22,2

Seus pais se divorciaram 13,1 38,9 11,1 50,0 Um dos seus pais se casou

novamente 11,7 81,3 6,3 12,5

Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais

8,0 27,3 45,5 27,3

Você foi rejeitado(a) pelos familiares

7,0 0,0 0,0 100,0

Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço

6,5 77,8 0,0 22,2

Morreu um de seus irmãos(ãs) 2,2 66,7 33,3 0,0 Morreu um dos seus pais 1,4 50,0 0,0 50,0 Você foi impedido(a) de ver os

seus pais 1,4 50,0 50,0 0,0

Você assumiu o sustento da sua família

0,7 100,0 0,0 0,0

Você foi adotado(a) 0,7 100,0 0,0 0,0 Você teve provas no colégio 91,5 31,9 10,1 58,0 Você teve problemas com

professores 35,0 56,3 27,1 16,7

Você rodou de ano na escola 18,4 60,0 12,0 28,0 Escolar Você foi expulso(a) da sala de 17,0 56,5 8,7 34,8

93

aula pela professora Você mudou de colégio 15,2 66,7 14,3 19,0 Você teve dificuldades de

adaptação na escola 7,9 45,5 9,1 45,5

Você se relacionou mal com colegas

7,3 40,0 20,0 40,0

Você foi suspenso(a) da escola 7,2 80,0 10,0 10,0 Você foi expulso(a) da escola 2,2 66,7 33,3 0,0 Você foi para o Conselho Tutelar 2,9 50,0 25,0 25,0 Judicial/ Institucional

Você teve problemas com a polícia

2,2 33,3 0,0 66,7

Você teve problemas com a justiça

0,7 100,0 0,0 0,0

Você foi preso 0,0 0,0 0,0 0,0 Você foi levado(a) para uma

instituição de abrigo 0,0 0,0 0,0 0,0

Você discutiu com amigos(as) 51,1 49,3 21,7 29,0 Você foi impedido(a) de ir a

festas ou passeios 41,8 33,9 23,2 42,9

Você terminou um namoro 25,4 58,8 14,7 26,5 Você foi xingado(a) ou

ameaçado(a) verbalmente 21,5 66,5 17,2 17,2

Social Você sofreu castigos e punições 21,3 62,1 17,2 20,7 Você teve amigos(as) com

ferimentos ou doenças 15,9 45,5 36,4 18,2

Você mudou de casa ou de cidade 14,7 75,0 15,0 10,0 Morreu algum amigo(a) 13,1 61,1 16,7 22,2 Você sentiu-se rejeitado(a) por

colegas e amigos(as) 13,0 38,9 27,8 33,3

Você envolveu-se em brigas com agressão física

8,0 45,5 18,2 36,4

Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a)

7,3 50,0 10,0 40,0

Você teve dificuldades em fazer amizades

5,8 62,5 25,0 12,5

Você ficou sem amigos(as) 5,8 37,5 25,0 37,5 Você teve problemas com

autoridades ou chefia 2,9 25,0 25,0 50,0

Você teve problemas com os outros pela sua raça

0,0 0,0 0,0 0,0

Você teve ou está esperando um filho(a)

0,7 0,0 0,0 100,0

Sexual Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade

0,7 0,0 0,0 100,0

Você ou sua namorada fez aborto 0,7 0,0 0,0 100,0 Você foi estuprado(a) 0,0 0,0 0,0 0,0 Você passou por dificuldades

financeiras 28,3 74,4 12,8 12,8

Você teve problemas e dúvidas 17,5 54,2 25,0 20,8

94

quanto às mudanças no corpo e aparência

Você foi assaltado(a) 16,9 52,2 21,7 26,1 Você teve crise nervosa 13,8 42,1 21,1 36,8 Pessoal Você teve doenças graves ou

lesões sérias 7,3 40,0 10,0 50,0

Você sofreu um acidente 6,6 55,6 0,0 44,4 Você não conseguiu emprego 6,6 77,8 0,0 22,2 Você teve perdas financeiras 6,6 55,6 22,2 22,2 Você sentiu-se pobre 6,5 11,1 33,3 55,6 Você usou drogas 5,1 71,4 14,3 14,3 Você teve problemas no trabalho 2,2 33,3 0,0 66,7 Você sofreu algum tipo de

violência 2,2 33,3 66,7 0,0

Você perdeu o emprego 1,4 100,0 0,0 0,0 Você dormiu na rua 0,0 0,0 0,0 0,0

A média de ocorrência dos eventos estressores foi de 8,65 (DP=5,06). Os eventos

estressores mais citados pelos adolescentes foram: “teve provas no colégio” (91,5%), “teve

que obedecer às ordens de seus pais” (84,6%), “discutiu com amigos(as)” (51,1 %), “foi

impedido(a) de ir a festas ou passeios” (41,8%), “teve familiares com ferimentos ou doenças

(40,9%) e “morte de um familiar” (38,2%). Com relação ao impacto dos eventos estressores,

os considerados como estressores de mais alto impacto foram “foi rejeitado(a) pelos

familiares”, “teve ou está esperando um filho(a)”, “foi tocado(a) sexualmente contra a

vontade” e “você ou sua namorada fez um aborto”.

Apesar dos estressores de alto impacto terem apresentado uma baixa ocorrência, estes

merecem ser considerados, tendo em vista, principalmente, que os eventos citados como

altamente estressores envolvem situações graves. Dessa forma, estes eventos podem

contribuir para que os adolescentes estejam mais vulneráveis ao desenvolvimento de

problemas emocionais e de comportamento, considerando a fase do desenvolvimento que

estão vivendo.

Com a finalidade de verificar diferenças no escore total do IEEA ao serem

comparados os grupos clínico e não-clínico, com relação aos sintomas internalizantes do YSR

95

foi realizado teste t. Os resultados revelaram uma diferença significativa (t=-4,962; p<0,01),

sendo que o grupo clínico (M=13,04, DP=4,78) relatou um número bem maior de estressores

vivenciados no último ano quando comparado ao grupo não clínico (M=7.73, DP=4,63).

Estabilidade Temporal das Medidas

Com o intuito de investigar a estabilidade temporal das medidas dos instrumentos

aplicados aos adolescentes no T1 e no T2, foram realizadas Correlações de Pearson. No que

diz respeito aos sintomas internalizantes dos adolescentes, mensurados através do YSR,

observou-se uma correlação significativa (r=0,655, p< 0,01) entre os índices obtidos no tempo

1 e tempo 2, indicando que houve uma estabilidade dessa medida no período investigado.

O mesmo ocorreu em relação as subescalas do YSR que compõem a dimensão dos

sintomas internalizantes, como se pode observar na tabela 8:

Tabela 8 – Subescalas de sintomas internalizantes do YSR T1 e T2

Isolamento/

Depressão

Queixas

Somáticas

Ansiedade/

Depressão

Isolamento/Depressão 2 0,458** 0,274** 0,363**

Queixas Somáticas 2 0,316** 0,563** 0,426**

Ansiedade/Depressão 2 0,448** 0,427** 0,633**

Nota: ** p<0.01

Considerando as dimensões do clima familiar, observa-se que houve estabilidade na

percepção do sistema familiar, na visão do adolescente, nas quatro dimensões do ICF: Apoio

(r=0,534, p<0,01), Hierarquia (r=0,427, p<0,01), Coesão (r=0,449, p<0,01) e Conflito

(r=0,615, p<0,01).

96

Tabela 9. Escores de Correlação de Pearson entre as variáveis do ICF, na percepção do

adolescente, no tempo 1 e tempo2

Apoio T1 Hierarquia T1 Coesão T1 Conflito T1

Apoio T2 0,534** -0,132 0,381** -0,232**

Hierarquia T2 -0,113 0,427** -0,086 0,392**

Coesão T2 0,364** -0,211* 0,449** -0,348**

Conflito T2 -0,106 0,390 -0,313** 0,615**

Nota: ** p<0.01

Adicionalmente, podem ser observadas na tabela 9, correlações positivas significativas

entre os fatores Coesão no T1 com Apoio no T2 (r=0,381, p< 0,01), Conflito no T1 com

Hierarquia no T2 (r=0,392, p< 0,01) e Hierarquia no T1 com Conflito no T2 (r=390, p< 0,01).

Correlações negativas foram verificadas entre o Conflito no T1 e a Coesão no T2 (r=-0,348,

p< 0,01) e Coesão no T1 e Conflito no T2 (r=-0,313, p< 0,01), evidenciando a interação entre

as dimensões que compõem o clima familiar.

A seguir, foram realizadas correlações entre a percepção de afetividade no tempo T1 e

no T2. Observa-se, na tabela 10, que foram encontradas correlações positivas em todas as

dimensões, indicando a estabilidade da medida no período investigado.

Tabela 10. Correlação entre Afetividade FG no T1 e T2, na percepção do adolescente

Afetividade

mãe-filho T1

Afetividade

pai-filho(a) T1

Afetividade

pai-mãe T1

Afetividade mãe-filho(a) T2 0,538** 0,145 0,283**

Afetividade pai-filho(a) T2 0,069 0,507* 0,349**

Afetividade pai-mãe T2 0,227* 0,285** 0,619**

Nota: ** p<0.01, *p<0.05

Também se observam correlações positivas entre as diferentes díades, especialmente

entre a afetividade observada na díade pai-mãe no tempo 1 e as demais díades, indicando que

97

a percepção do adolescente sobre a conjugalidade dos pais mostra-se diretamente relacionada

a percepção dele sobre a relação dos pais com ele.

As mesmas análises foram realizadas para verificar a estabilidade da dimensão de

conflito no tempo 1 e 2, na percepção do adolescente. Neste estudo, também observou-se uma

estabilidade na percepção dos adolescentes com relação ao conflito familiar, indicando que

aqueles que percebiam conflito no T1 também percebiam a sua presença no T2, como pode

ser observado na tabela 11:

Tabela 11. Correlação entre Conflito FG, na percepção do adolescente, no tempo T1 e no

tempo T2

Conflito

mãe-filho

Conflito

pai-filho(a)

Conflito

pai-mãe

Conflito mãe-filho(a) T2 0,581** 0,270** 0,372**

Conflito pai-filho(a) T2 0,290** 0,531** 0,428**

Conflito pai-mãe T2 0,368** 0,391** 0,656**

Nota: ** p<0.01

Nesta dimensão, ainda mais do que ocorre com relação à afetividade, observa-se

correlações significativas entre as díades, evidenciando o quanto o conflito transborda entre a

parentalidade e a conjugalidade.

Correlação entre a percepção das relações familiares no Tempo 1 e os sintomas

internalizantes dos adolescentes no Tempo 2

Foram realizadas correlações de Pearson entre as percepções do adolescente, de sua

mãe e do seu pai sobre o clima familiar no tempo 1 e os sintomas internalizantes no tempo 2.

Os resultados revelaram que:

98

Tabela 12. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)

Internalizante T2

Apoio 0,013

ICF do Adolescente no T1 Hierarquia 0,167

Coesão -0,73

Conflito 0,237**

Apoio -0,239**

ICF da Mãe no T1 Hierarquia 0,282**

Coesão -0,299**

Conflito 0,433**

Apoio -0,225

ICF do Pai no T1 Hierarquia 0,005

Coesão -0,185

Conflito 0,019

Nota: ** p<0.01

Os resultados apontaram correlações positivas entre a percepção de conflito pelo

adolescente no T1 e a manifestação de sintomas internalizantes por ele no T2. Outras

correlações foram observadas entre os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2 e todas

as dimensões do clima familiar na percepção materna no T1, o que parece estar evidenciando

a percepção aguçada das mães com relação ao clima familiar e o quanto podem afetar nos

sintomas dos filhos.

Também foram calculadas as correlações entre a percepção dos relacionamentos

diádicos no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2. Os resultados foram os

seguintes:

99

Tabela 13. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)

Internalizante T2

Conflito mãe-filho(a) 0,218*

Afetividade mãe-filho(a) -0,185*

FG do Adolescente no T1 Conflito pai-filho(a) 0,205*

Afetividade pai-filho(a) -0,129

Conflito pai-mãe 0,216*

Afetividade pai-mãe -0,069

Conflito mãe-filho(a) 0,119

Afetividade mãe-filho(a) -0,022

FG da Mãe no T1 Conflito pai-filho(a) 0,120

Afetividade pai-filho(a) -0,137

Conflito pai-mãe 0,098

Afetividade pai-mãe -0,035

Conflito mãe-filho(a) 0,119

Afetividade mãe-filho(a) 0,000

FG do Pai no T1 Conflito pai-filho(a) 0,045

Afetividade pai-filho(a) 0,121

Conflito pai-mãe 0,068

Afetividade pai-mãe 0,034

Nota: *p<0.05

Observam-se correlações significativas somente entre a percepção do próprio

adolescente sobre os relacionamentos entre os membros da família no T1 e a manifestação de

sintomas internalizantes no T2.

100

Correlação entre a percepção das relações familiares e os sintomas

internalizantes dos adolescentes no Tempo 2

Foram repetidos os cálculos das correlações anteriores, mas considerando a percepção

dos adolescentes sobre as relações familiares, mensuradas através do ICF e do Familiograma,

no tempo 2. A tabela 14 mostra os resultados obtidos:

Tabela 14. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os

sintomas internalizantes no T2

Internalizante T2

Apoio -0,043

ICF Adolescente T2 Hierarquia 0,379**

Coesão -0,162

Conflito 0,360**

Conflito Mãe-Filho(a) 0,112

Conflito Pai-Filho(a) 0,207*

Familiograma Conflito Pai-Mãe 0,256**

Adolescente T2 Afetividade Mãe-Filho(a) 0,151

Afetividade Pai-Filho(a) -0,053

Afetividade Pai-Mãe -0,046

Nota: ** p<0.01, *p<0.05

Os resultados revelam que as principais correlações existiram entre as dimensões de

conflito e os sintomas internalizantes, especialmente os conflitos observados pelos

adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho. Esse resultado reforça o quanto a dimensão da

conjugalidade dos pais repercute nos sintomas dos adolescentes, ao mesmo tempo em que

revela a importância da relação com o pai.

101

Correlações entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos

filhos

A análise de Correlação de Pearson entre os problemas emocionais e de

comportamento dos pais no tempo 1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo

2 mostraram correlações significativas e positivas entre a sintomatologia materna (tanto

internalizante como externalizante) e os sintomas internalizantes paternos com os

internalizantes do adolescente no tempo 2, conforme dados da tabela 15:

Tabela 15. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e

sintomas internalizantes do adolescente no T2

Internalizante T2

Internalizantes Mãe T1 0,307**

Externalizantes Mãe T1 0,318**

Internalizantes Pai T1 0,274*

Externalizantes Pai T1 0,179

Nota: ** p<0.01, *p<0.05

Esses dados trazem à luz a possibilidade de transmissão transgeracional de sintomas

psicopatológicos, ao se perceber que quando as mães apresentam problemas de

comportamento de qualquer natureza ou quando os pais apresentam sintomas internalizantes,

é maior a chance do filho também apresentar sintomatologia internalizante.

Preditores dos sintomas internalizantes dos adolescentes

No intuito de identificar alguns preditores para os sintomas internalizantes dos

adolescentes no tempo 2, procedeu-se a realização de regressões lineares múltiplas com o

102

método Enter. Foram consideradas, inicialmente, como variáveis independentes os sintomas

internalizantes do filho(a), da mãe e do pai no T1. Os resultados estão descritos na Tabela 16.

Tabela 16 - Análise de Regressão para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e

os Sintomas Internalizantes do Filho(a), da Mãe e do Pai

Internalizantes

Adolescentes

T2

Coeficientes não

Padronizados

Coeficientes

Padronizados

Modelo B Erro padrão Beta t Sig

(Constante) 3,007 2,04 0,146 0,146

Internalizantes (F) 0,564 0,094 0,621 5,975 0,000

Internalizantes (M) 0,043 0,089 0,055 0,484 0,630

Internalizantes (P) 0,073 0,073 0,111 0,999 0,322

Porcentagem de variância explicada: 43%

F = Filho(a); M = Mãe; P = Pai

Como pode ser observado na Tabela 15, o principal preditor dos sintomas

internalizantes dos adolescentes no T2 foram os sintomas internalizantes deles próprios no T1,

explicando 43% de variância. As demais variáveis não apresentaram poder preditivo

significativo, nesta amostra, para os sintomas internalizantes dos adolescentes.

Ao serem incluídas as variáveis referentes às relações familiares (Apoio, Hierarquia,

Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG), amplia-se o poder preditivo para

48,1%. Os resultados são mostrados na tabela 17.

103

Tabela 17 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas

Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a) e o ICF

Internalizantes

Adolescentes

T2

Coeficientes não

Padronizados

Coeficientes

Padronizados

Modelo B Erro padrão Beta t Sig

(Constante) -3,705 9,654 -0,384 0,702

Internalizantes 0,636 0,078 0,691 8,189 0,000

Apoio 0,077 0,193 0,037 0,401 0,689

Hierarquia -0,016 0,179 -0,008 -0,087 0,931

Coesão 0,084 0,234 0,039 0,358 0,721

Conflito 0,071 0,223 0,037 0,319 0,750

Conflito mãe-criança -0,062 0,176 -0,040 -0,354 0,724

Afetividade mãe-criança 0,040 0,130 0,029 0,304 0,761

Conflito pai-criança -0,024 0,150 -0,020 -0,161 0,873

Afetividade pai-criança -0,028 0,109 -0,029 -0,252 0,802

Conflito pai-mãe 0,144 0,164 0,119 0,880 0,381

Afetividade pai-mãe 0,060 0,088 0,081 0,674 0,502

Porcentagem de variância explicada: 48,1%

Conforme pode ser observado na tabela 16, houve um aumento do poder preditivo ao

incluir os dados das relações familiares, ainda que as variáveis familiares não exerçam

influência significativa por si só.

Por fim, além dos sintomas internalizantes no T1 e das variáveis das relações

familiares (Apoio, Hierarquia, Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG),

foram incluídos os dados dos eventos estressores. A tabela 18 apresenta os resultados obtidos:

104

Tabela 18 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas

Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e

IEEA

Internalizantes

Adolescentes

T2

Coeficientes não

Padronizados

Coeficientes

Padronizados

Modelo B Erro padrão Beta t Sig

(Constant) -4,357 9,396 -0,464 0,644

Internalizante 0,561 0,081 0,609 6,913 0,000

Apoio 0,090 0,187 0,043 0,479 0,633

Hierarquia -0,018 0,174 -0,009 -0,101 0,920

Coesão 0,132 0,229 0,062 0,579 0,564

Conflito 0,082 0,217 0,043 0,379 0,706

Conflito mãe-criança -0,094 0,172 -0,061 -0,547 0,585

Afetividade mãe-criança 0,038 0,126 0,028 0,302 0,763

Conflito pai-criança -0,118 0,150 -0,096 -0,785 0,434

Afetividade pai-criança -0,062 0,107 -0,065 -0,575 0,566

Conflito pai-mãe 0,163 0,159 0,136 1,025 0,308

Afetividade pai-mãe 0,077 0,086 0,105 0,891 0,375

Eventos Estressores 0,362 0,142 0,223 2,554 0,012

Porcentagem de variância explicada: 51,4%

Como pode ser observado na Tabela 18, os eventos estressores, os dados familiares e

os sintomas internalizantes dos próprios adolescentes há um ano explicam juntos 51,4% da

variância. Adicionalmente, esta análise nos mostra que 3,3% da variância é explicada pelos

105

eventos estressores, tendo esses uma influência significativa (p=0,012) na sintomatologia

internalizante dos adolescentes.

Considerações Finais

Buscando investigar a percepção sobre as relações familiares (afetividade, conflito e

clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos filhos e os eventos estressores, no

período de um ano, como preditores dos sintomas internalizantes dos filhos, foram realizadas

análises longitudinais, por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas

internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Os resultados obtidos

indicaram que as relações familiares não tiveram um poder explicativo significativo com

relação aos sintomas internalizantes do adolescente após um ano.

Contudo, os eventos estressores vivenciados pelos adolescentes no último ano,

apresentaram poder preditivo significativo (β=0,223; p=0,012) com relação aos sintomas

internalizantes dos adolescentes. Uma discussão mais abrangente sobre o os resultados

encontrados foi apresentada no artigo empírico.

Anexo B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Anexo C – Ficha de Dados Sócio-demográficos

Nome: .....................................................................................................................

Idade: ............................ Telefone para contato: .....................................................

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Quantos irmãos você tem?.......................................................................................

Atualmente, quem mora com você em sua casa? .................................................... ................................................................................................................................. .................................................................................................................................

Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não Qual sua profissão? ........................................

Você está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?

( ) Sim ( ) Não

Você tomou, durante o último ano, algum tipo de medicação de uso contínuo?

( ) Sim Não ( ) Qual? .......................................................................

Sobre seus pais, responda:

Atualmente seus pais: ( ) Vivem juntos ( ) Vivem Separados

Qual é a escolaridade de seu pai?

( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior

Seu pai está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?

( ) Sim Não ( )

No último ano, seu pai tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?

( ) Sim Não ( ) Qual?...............................................................................

Qual a escolaridade de sua mãe?

( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior

108

Sua mãe está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?

( ) Sim Não ( )

No último ano, sua mãe tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?

( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................

Sobre sua família, responda:

Alguém da sua família está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico?

( ) Sim Não ( )

No último ano, alguém de sua família tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?

( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................

Anexo D – Familiograma (FG)

Nome:__________________________________ Sexo:__________

Idade:__________ Escolaridade: __________ Data: __/__/____

Nas próximas páginas, pediremos a você que descreva como é o relacionamento entre algumas pessoas da sua família. Para isto, gostaríamos que você pensasse em cada membro de sua família e sobre os sentimentos que existem, geralmente, no dia-a-dia de cada relação. Em seguida, pediremos que você pense em apenas uma relação de cada vez. Para cada relação familiar, serão mostradas várias palavras que demonstram sentimentos e comportamentos. Você deverá marcar o quanto você acha que estas palavras refletem a relação. Os valores vão de 1 (a palavra não descreve a relação de jeito nenhum) até 5 (a palavra descreve a relação totalmente). Veja este exemplo sobre o relacionamento de João e Pedro:

João e Pedro têm um relacionamento:

De jeito nenhum

Pouco Mais ou menos

Muito Completa- mente

Tranqüilo 1 2 3 4 5

Neste exemplo, o relacionamento de João e Pedro foi descrito como sendo completamente tranqüilo (5). Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só queremos conhecer um pouco mais sobre a sua família.

Relação entre pai e mãe Meu pai e minha mãe têm um relacionamento: De jeito

nenhum Pouco Mais ou

menos Muito Comple-

tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5

110

Relação entre pai e filho

Meu pai e eu temos um relacionamento: De jeito

nenhum Pouco Mais ou

menos Muito Comple-

tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5

Relação entre mãe e filho Minha mãe e eu temos um relacionamento: De jeito

nenhum Pouco Mais ou

menos Muito Comple-

tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5

Anexo E – Inventário do Clima Familiar (ICF)

Nome:_______________________________________________ Sexo:__________

Idade:_________ Escolaridade: __________ Data: __/__/____

Este questionário trata de um tema sobre o qual todos nós temos muito a dizer: a nossa família. Gostaríamos de pedir que você pense sobre o(s) membro(s) de sua família e sobre como eles, geralmente, se relacionam. Abaixo estão algumas frases que descrevem situações e sentimentos que podem ou não ocorrer no dia-a-dia de qualquer família. Leia cada frase e responda se ela se aplica ou não à sua família, utilizando os seguintes números:

Não concordo de jeito nenhum

Concordo um pouco

Concordo mais ou menos

Concordo muito

Concordo completamente

1 2 3 4 5

Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só desejamos saber como as coisas têm estado em sua família ultimamente.

Em minha família... De jeito nenhum

Pouco Mais ou menos

Muito Completamente

1. Procuramos ajudar as pessoas da nossa família quando percebemos que estão com problemas.

1 2 3 4 5

2. As proibições são constantes. 1 2 3 4 5 3. Uns mandam e outros obedecem. 1 2 3 4 5 4. As pessoas zombam umas das outras. 1 2 3 4 5 5. Briga-se por qualquer coisa. 1 2 3 4 5 6. Algumas pessoas deixam de fazer as suas coisas para auxiliar as outras pessoas da família.

1 2 3 4 5

7. Não importa a vontade da maioria, a decisão final é sempre da mesma pessoa.

1 2 3 4 5

8. As pessoas irritam umas às outras. 1 2 3 4 5 9. As pessoas gostam de passear e de fazer coisas juntas. 1 2 3 4 5 10. As pessoas resolvem os problemas brigando. 1 2 3 4 5 11. As pessoas criticam umas às outras freqüentemente. 1 2 3 4 5 12. Resolver problemas significa discussão e brigas. 1 2 3 4 5 13. As pessoas tentam ajudar umas às outras quando as coisas não vão bem.

1 2 3 4 5

14. As pessoas gostam umas das outras. 1 2 3 4 5 15. Sinto que existe união entre os membros. 1 2 3 4 5 16. Os mais velhos mandam mais. 1 2 3 4 5 17. As pessoas se sentem próximas umas das outras. 1 2 3 4 5

112

Em minha família... De jeito nenhum

Pouco Mais ou menos

Muito Completamente

18. O(s) filho(s) têm pouco poder nas decisões familiares. 1 2 3 4 5 19. Temos prazer e alegria em passar o tempo juntos. 1 2 3 4 5 20. Algumas pessoas resolvem os problemas de maneira autoritária 1 2 3 4 5 21. Ajudamos financeiramente uns aos outros. 1 2 3 4 5 22. As pessoas me ajudam a fazer as coisas quando não tenho tempo.

1 2 3 4 5

Anexo F – Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)

Nome: _________________________________ Idade: ______ Data: ___ /___ / ______

Abaixo estão apresentados alguns eventos que podem ter acontecido na sua vida, no último ano, provocando uma reação de tensão que chamamos de estresse. Damos o nome de estresse a um conjunto de reações físicas e psicológicas que temos quando passamos por uma situação de vida difícil, que nos dá medo, incomoda ou irrita. Marque SIM para aqueles eventos de vida que ocorreram com você no último ano e atribua um valor entre 1 a 5, de forma que quanto maior for o valor, mais forte foi o estressor para você. Caso o evento não tenha acontecido com você, marque NÃO, e passe a afirmativa seguinte. Considere o seguinte exemplo:

Se SIM, o quanto foi estressante

NÃO SIM 1 2 3 4 5

No último ano... Nada Muito

0) Você teve problemas de saúde Não Sim 1 2 3 4 5

Nesse exemplo, o jovem realmente teve problemas de saúde (marcou SIM) e considerou isso um evento estressor muito forte, portanto, marcou o valor “5”. Se o jovem não tivesse passado por nenhum problema de saúde, ele assinalaria a alternativa “NÃO”, pois o mesmo não ocorreu. Leia com atenção às alternativas abaixo e trabalhe individualmente. Muito obrigado pela sua colaboração.

Se SIM, o quanto foi estressante

NÃO

SIM

1 2 3 4 5

No último ano... Nada Muito

1) Você teve problemas com professores Não Sim 1 2 3 4 5

2) Você teve problemas com a polícia Não Sim 1 2 3 4 5

3) Você passou por dificuldades financeiras Não Sim 1 2 3 4 5

4) Você teve problemas com a justiça Não Sim 1 2 3 4 5

5) Você rodou de ano na escola Não Sim 1 2 3 4 5

6) Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros Não Sim 1 2 3 4 5

7) Você perdeu o emprego Não Sim 1 2 3 4 5

8) Você teve problemas e dúvidas quanto às mudanças no corpo e aparência

Não Sim 1 2 3 4 5

9) Você ficou sem amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5

10) Você não conseguiu emprego Não Sim 1 2 3 4 5

11) Você mudou de colégio Não Sim 1 2 3 4 5

12) Você mudou de casa ou de cidade Não Sim 1 2 3 4 5

13) Você assumiu o sustento da sua família Não Sim 1 2 3 4 5

114

14) Você foi preso Não Sim 1 2 3 4 5

Se SIM, o quanto foi estressante

NÃO

SIM

1 2 3 4 5

No último ano... Nada Muito

15) Você foi para o conselho tutelar Não Sim 1 2 3 4 5

16) Morreu um dos seus pais Não Sim 1 2 3 4 5

17) Morreu um de seus irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5

18) Morreu um outro familiar Não Sim 1 2 3 4 5

19) Morreu algum amigo(a) Não Sim 1 2 3 4 5

20) Você discutiu com amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5

21) Você brigou com irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5

22) Você teve familiares com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5

23) Um dos seus pais ficou desempregado Não Sim 1 2 3 4 5

24) Você dormiu na rua Não Sim 1 2 3 4 5

25) Você teve amigos(as) com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5

26) Você não recebeu cuidado e atenção dos pais Não Sim 1 2 3 4 5

27) Você foi impedido(a) de ir a festas ou passeios Não Sim 1 2 3 4 5

28) Você teve que obedecer às ordens de seus pais Não Sim 1 2 3 4 5

29) Você teve crise nervosa Não Sim 1 2 3 4 5

30) você teve doenças graves ou lesões sérias Não Sim 1 2 3 4 5

31) Você teve problemas com os outros pela sua raça Não Sim 1 2 3 4 5

32) Você teve dificuldades de adaptação na escola Não Sim 1 2 3 4 5

33) Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a) Não Sim 1 2 3 4 5

34) Você sofreu castigos e punições Não Sim 1 2 3 4 5

35) Você teve dificuldades em fazer amizades Não Sim 1 2 3 4 5

36) Um dos seus pais se casou novamente Não Sim 1 2 3 4 5

37) Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais

Não Sim 1 2 3 4 5

38) Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade Não Sim 1 2 3 4 5

39) Você foi suspenso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5

40) Você foi adotado(a) Não Sim 1 2 3 4 5

41) Você teve ou está esperando um filho(a) Não Sim 1 2 3 4 5

42) Você ou sua namorada fez aborto Não Sim 1 2 3 4 5

43) Você foi levado(a) para uma instituição de abrigo Não Sim 1 2 3 4 5

44) Você teve problemas no trabalho Não Sim 1 2 3 4 5

45) Você teve provas no colégio Não Sim 1 2 3 4 5

46) Você teve perdas financeiras Não Sim 1 2 3 4 5

47) Você usou drogas Não Sim 1 2 3 4 5

115

48) Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço Não Sim 1 2 3 4 5

Se SIM, o quanto foi estressante

NÃO

SIM

1 2 3 4 5

No último ano... Nada Muito

49) Você envolveu-se em brigas com agressão física Não Sim 1 2 3 4 5

50) Você foi estuprado(a) Não Sim 1 2 3 4 5

51) Você foi rejeitado(a) pelos familiares Não Sim 1 2 3 4 5

52) Você foi assaltado(a) Não Sim 1 2 3 4 5

53) Você foi xingado(a) ou ameaçado(a) verbalmente Não Sim 1 2 3 4 5

54) Seus pais se divorciaram Não Sim 1 2 3 4 5

55) Você foi expulso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5

56) Você foi expulso(a) da sala de aula pela professora Não Sim 1 2 3 4 5

57) Você sofreu algum tipo de violência Não Sim 1 2 3 4 5

58) Você terminou um namoro Não Sim 1 2 3 4 5

59) Você sentiu-se rejeitado(a) por colegas e amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5

60) Você sofreu um acidente Não Sim 1 2 3 4 5

61) Você teve problemas com autoridades ou chefia Não Sim 1 2 3 4 5

62) Você se relacionou mal com colegas Não Sim 1 2 3 4 5

63) Você foi impedido(a) de ver os seus pais Não Sim 1 2 3 4 5

64) Você sentiu-se pobre Não Sim 1 2 3 4 5