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Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Nível Mestrado
RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM
ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL
Adriana Raquel Binsfeld
Bolsista CAPES
Dissertação de Mestrado
São Leopoldo,
2011
RELAÇÕES FAMILIARES E SINTOMAS INTERNALIZANTES EM
ADOLESCENTES: UM ESTUDO LONGITUDINAL
ADRIANA RAQUEL BINSFELD
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Área de Concentração Psicologia Clínica, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.
Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke
São Leopoldo,
2011
Catalogação na publicação: Bibliotecário Flávio Nunes - CRB 10/1298
B614r Binsfeld, Adriana Raquel. Relações familiares e sintomas internalizantes em
adolescentes: um estudo longitudinal / Adriana Raquel Binsfeld. – 2011.
115 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2011. “Orientadora Profª. Drª. Denise Falcke.” 1. Adolescentes – Relações com a família. 2. Família –
Aspectos psicológicos. 3. Psicologia do adolescente. I. Título.
CDD 155.5 CDU 159.922.8
AGRADECIMENTOS
Após esta trajetória, permeada por desafios, aprendizados e crescimento - pessoal e
profissional - é impossível não agradecer às pessoas importantes que, cada uma a seu modo,
contribuíram para a concretização dessa conquista.
Agradeço aos meus pais, Pedro Paulo Binsfeld e Marlene Binsfeld, por todo amor,
confiança e apoio nos momentos mais difíceis. Por terem me ensinado a acreditar que meus
sonhos poderiam se tornar realidade. Pai e mãe: muito obrigada por tudo!
Aos meus irmãos, Vinicios e Gabriela Binsfeld, por toda ajuda ao longo desta
caminhada. Pela compreensão e torcida nos momentos mais difíceis.
Ao meu noivo, Estevão Hess, pelo apoio, paciência, compreensão e incentivo, em
todos os momentos, principalmente naqueles de maior ausência. Te amo!
À minha querida orientadora Profª Draª. Denise Falcke, pelo carinho com o qual me
acolheu em seu Núcleo de Pesquisa, e pelo empenho e atenção com que conduziu a orientação
deste trabalho, sempre acreditando em meu potencial! Deni, muito obrigada por todos os
ensinamentos de vida pessoal e acadêmica!!! Com certeza aprendi muito com você, e já sinto
saudades dos almoços, chimas e cafés, que com certeza foram momentos de intenso
aprendizado.
Ao professor Dr. Maycoln Teodoro, pela proposição do desafio da realização de um
estudo longitudinal, pelas orientações iniciais e por ter continuado compartilhado seus
conhecimentos, mesmo que à distância. Muito obrigada por todo auxílio durante a realização
deste trabalho.
7
Às bolsistas de iniciação científica Elisa Weber e Marcela Madalena, que auxiliaram
na coleta e tabulação dos dados com muita dedicação e carinho, cuja contribuição foi muito
importante para o desenvolvimento deste trabalho. Aos meus colegas do “Núcleo de Pesquisa
Família, Transgeracionalidade e Violência”, pelo convívio e por todo o aprendizado nos mais
diversos momentos desta trajetória.
Às minhas queridas colegas de Mestrado, Cristiane Blumm e Patrícia Sachet, com as
quais dividi momentos de angústias, dúvidas e estresses, bem como alegrias, felicidade,
viagens, Congressos. Sem dúvidas, a parceria de vocês – em momentos científicos e nos
demais - foi muito importante durante esta trajetória.
Às minhas super-friends, Danixa Ruas e Fernanda Soares Fernandes, pela
compreensão nos vários momentos de distanciamento. À minha amiga Maria Helena, por toda
luz e boas energias sempre transmitidas.
Às escolas, por possibilitarem a coleta dos dados. Aos adolescentes e pais que
participaram do estudo.
Às professoras da banca - Drª. Adriana Wagner (UFRGS), Drª Edwiges Silvares
(USP) e Dra. Elisa Kern de Castro (UNISINOS) - pela disponibilidade e contribuições.
Ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UNISINOS e todo o corpo docente
pela formação. Também a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) pelo investimento em minha formação e pela oportunidade da realização deste
trabalho.
À Deus, pela saúde, fé e determinação, que me permitiram a conclusão deste
trabalho!!!
Muito Obrigada!!!
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................... 11
ABSTRACT ........................................................................................................................................... 12
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 13
1 SEÇÃO I - SINTOMAS INTERNALIZANTES NA ADOLESCÊNCIA E AS RELAÇÕES
FAMILIARES: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LIT ERATURA............................................... 15
1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 16
1.2 MÉTODO.................................................................................................................................... 18
1.3 RESULTADOS............................................................................................................................. 19
1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 34
1.5 REFERÊNCIAS............................................................................................................................ 36
2 SEÇÃO II – RELAÇÕES FAMILIARES, EVENTOS ESTRESSORES E SINTOMAS
INTERNALIZANTES NA ADOLESCÊNCIA.................... ............................................................................. 49
2.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 50
2.2 MÉTODO.................................................................................................................................... 53
2.2.1 Delineamento .................................................................................................................. 53
2.2.2 Participantes ................................................................................................................... 53
2.2.3 Instrumentos.................................................................................................................... 54 2.2.3.1 Ficha de Dados Sócio-Demográficos.........................................................................................54 2.2.3.2 Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report) ...............54 2.2.3.3 Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report) ..............55 2.2.3.4 Familiograma (FG) ....................................................................................................................55 2.2.3.5 Inventário do Clima Familiar (ICF)...........................................................................................56 2.2.3.6 Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)......................................................57
2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS................................................................................. 58
2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS.................................................................................. 59
2.5 RESULTADOS............................................................................................................................. 59
2.6 DISCUSSÃO................................................................................................................................ 66
2.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 70
2.8 REFERÊNCIAS............................................................................................................................ 71
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO.................................................................. 76
4 ANEXOS ...................................................................................................................................... 78
ANEXO A – RELATÓRIO DE PESQUISA................................................................................................. 79
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ........................................ 106
ANEXO C – FICHA DE DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS....................................................................... 107
ANEXO D – FAMILIOGRAMA (FG) ..................................................................................................... 109
9
ANEXO E – INVENTÁRIO DO CLIMA FAMILIAR (ICF)......................................................................... 111
ANEXO F – INVENTÁRIO DE EVENTOS ESTRESSORES NA ADOLESCÊNCIA (IEEA)............................. 113
LISTA DE TABELAS
Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares: uma revisão sistemática da literatura
Tabela 1. Número de publicações de acordo com as bases de dados...................... 19
Tabela 2. Classificação metodológica dos estudos, de acordo com o ano de realização................................................................................................................. 20
Tabela 3. Categorização.......................................................................................... 21
Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na Adolescência
Tabela 1 – Porcentagens do YSR dos adolescentes, nos tempos 1 e 2..................... 60
Tabela 2. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2).................... 61
Tabela 3. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)..................... 62
Tabela 4. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os sintomas internalizantes no T2........................................................ 63
Tabela 5. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e sintomas internalizantes do adolescente no T2........................................... 64
Tabela 6 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e IEEA............................................................................................... 65
RESUMO
Os problemas emocionais e de comportamento na adolescência referem-se a padrões
sintomáticos, que podem ser divididos em dois tipos: externalizantes e internalizantes. Mais
especificamente, os sintomas internalizantes são os que se expressam em relação ao próprio
indivíduo, caracterizando-se pela tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Esta
dissertação pretende ampliar a compreensão sobre os sintomas internalizantes dos
adolescentes e sua relação com os aspectos familiares. A Seção I da dissertação abrange uma
revisão sistemática da literatura sobre os sintomas internalizantes dos adolescentes e as
relações familiares em bases de dados nacionais e internacionais, no período de 2005 a 2009.
Na Seção II, é apresentado um estudo empírico que teve por objetivo investigar o poder
preditivo dos problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, das
características dos relacionamentos familiares e dos eventos estressores na adolescência para
o aparecimento de sintomas internalizantes manifestados pelos adolescentes no intervalo de
um ano. Participaram deste estudo 139 adolescentes e seus pais. Os pais responderam os
seguintes instrumentos no Tempo 1 (T1): Familiograma (FG), Inventário de Clima familiar
(ICF) e Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (Adult Self-Report, ASR).
Os adolescentes responderam, no Tempo 1 (T1) e no Tempo 2 (T2), o FG, o ICF e o
Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (Youth Self-Report, YSR). No T2,
também responderam ao Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). A
análise dos dados, através de regressão linear, revelou que tiveram maior poder explicativo
dos sintomas internalizantes dos adolescentes no T2, os eventos de vida estressores na
adolescência e os próprios sintomas internalizantes dos adolescentes mensurados no T1. As
relações familiares não apresentaram poder preditivo significativo nesta amostra, o que pode
estar relacionado com a estabilidade dos sintomas internalizantes ao longo do tempo, com o
fato dos sintomas internalizantes abrangerem questões intrínsecas ao indivíduo e, ainda, ao
fato de na adolescência haver uma maior influência do grupo de pares.
Palavras-chave: Adolescência; Sintomas Internalizantes; Relações Familiares
ABSTRACT
The emotional and behavioral problems in adolescence relate to symptom patterns,
which can be divided into two types: internalizing and externalizing. More specifically,
internalizing symptoms that are expressed in relation to oneself, characterized by sadness,
withdrawal, somatic complaints and fear. This thesis attempts to broaden the understanding of
adolescents' internalizing symptoms and family relationships. The section I of this thesis
includes a systematic review of the literature on adolescents' internalizing symptoms and
family relationships in national and international databases, between 2005 to 2009. In Section
II, it presents an empirical study that aimed to investigate the predictive power of emotional
problems and behavior of parents and children, the characteristics of family relationships and
stressful events during adolescence to the onset of internalizing symptoms expressed by
adolescents in the interval of one year. The study included 139 adolescents and their
parents. The parents answered the following instruments at Time 1 (T1), Familiograma (FG),
Inventário de Clima Familiar (ICF) and Adult Self-Report (ASR). The adolescents answered
to the T1 and T2, FG, ICF and Youth Self-Report (YSR). In T2, also answered to the
Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). The data analysis, by linear
regression, revealed that had the greatest explanatory power of internalizing symptoms in
adolescents T2, stressful life events in adolescence and adolescents' own internalizing
symptoms measured at T1. Family relationships had low predictive power in this sample,
which may be related to the stability of internalizing symptoms over time, with the fact that
internalizing symptoms concerned issues intrinsic to the individual and also the fact that
during adolescence has a greater influence peer group, moreover, the fact that during
adolescence have a greater influence of peer groups.
Keywords: Adolescence, Internalizing Symptoms, Family Relations
Apresentação
A presente dissertação aborda as características dos relacionamentos familiares e os
problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, e foi desenvolvida no
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS). Os problemas emocionais e de comportamento são caracterizados por padrões
sintomáticos que, segundo Achenbach (1991), podem ser divididos em dois tipos:
externalizantes ou internalizantes. O foco deste estudo será os sintomas internalizantes dos
adolescentes, que abrangem os sintomas que se expressam em relação ao próprio indivíduo,
como tristeza, retraimento, medo e queixas somáticas.
Estudos nacionais e internacionais têm demonstrado uma prevalência clínica e
limítrofe de 10 a 24% com relação aos sintomas internalizantes em adolescentes (Anselmi,
Piccinini, Barros, & Lopes, 2004; Hackett, & Hackett, 1999; Wagner, & Predebon, 2005).
Como os problemas emocionais e de comportamento sofrem a influência de variáveis
biológicas, psicológicas e sociais, nesta dissertação, pretende-se verificar o quanto os
problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, as características dos
relacionamentos familiares e os eventos estressores na adolescência podem ser preditores dos
sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após um ano.
Os resultados da investigação foram organizados em dois artigos, um teórico e outro
empírico. Na Seção I, é apresentado o artigo teórico, que foi elaborado a partir de uma revisão
sistemática de literatura que investigou publicações nacionais e internacionais sobre os
sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Na Seção II consta o artigo
empírico, no qual são descritos e discutidos os resultados obtidos na investigação sobre o
poder preditivo das relações familiares, dos problemas emocionais e de comportamento de
14
pais e filhos e dos eventos estressores na adolescência nos sintomas internalizantes dos
adolescentes.
Finalmente, são apresentadas as considerações finais da dissertação e os anexos. Nos
anexos, conforme exigência do regimento interno deste Programa de Pós-Graduação, consta o
relatório de pesquisa, no qual é realizada uma descrição detalhada dos objetivos do estudo, da
amostra e dos procedimentos de coleta e análise dos dados. Também nesse relatório são
apresentados de forma mais abrangente os resultados encontrados no estudo.
1 Seção I - Sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares:
uma revisão sistemática da literatura
Resumo: Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática de literatura, nacional e internacional, no período de 2005 a 2009, sobre os sintomas internalizantes na adolescência e as relações familiares. Inicialmente, foi realizado um levantamento dos artigos indexados nas bases de dados Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE with Full Text e SciELO (Scientific Electronic Library Online), utilizando-se os descritores, em português, “problemas internalizantes” ou “sintomas internalizantes” e “adolescência ou adolescente ou jovem” e “família”; e, em inglês, “internalizing problems or internalizing symptoms” and “adolescence or adolescent or teenager” and “family”. Os artigos foram classificados de acordo com o ano de publicação, o país, a metodologia o instrumento de mensuração para comportamentos internalizantes e, ainda, quanto às temáticas relacionadas. Na literatura internacional, constatou-se um predomínio de estudos empíricos e de caráter quantitativo, realizados preponderantemente pelos Estados Unidos. No Brasil, observou-se uma grande escassez de estudos integrando as temáticas da sintomatologia internalizante na adolescência e as relações familiares. Foram encontrados somente dois artigos, o que indica a necessidade de realização de mais pesquisas nesta área em nosso país. Palavras-chave: Adolescência; Sintomas Internalizantes; Relações Familiares
Internalizing symptoms in adolescence and family relationships:
a systematic literature review
Abstract: This article aims to perform a systematic literature review, national and international, in the period from 2005 to 2009, on internalizing symptoms in adolescence and family relationships. Initially, a survey was conducted in indexed articles in the Academic Search Premier, Education Resources Information Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE databases with Full Text, and SciELO (Scientific Electronic Library Online), using the descriptors in Portuguese, "problemas internalizantes" or "sintomas internalizantes" and "adolescência ou adolescente ou jovem" and "família" and in English, "internalizing problems or internalizing symptoms" and "adolescence or adolescent or teenager" and "family". The articles were classified according to the publication year, country, the methodology, the measurement instrument for internalizing behaviors, and also about the issues related. In the international literature, we found a predominance of empirical studies and quantitative character, performed mainly by the United States. In Brazil, there was a paucity of studies integrating the themes of internalizing symptoms in adolescence and family relationships. We found only two articles, which indicates the need for more research in this area in our country.
Keywords: Adolescence, Internalizing Symptoms, Family Relations
1.1 Introdução
A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano que compreende mudanças
físicas, sociais e psicológicas. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069), compreende a faixa etária que vai dos 12 aos 18 anos de idade.
Segundo Bessa (2004), a adolescência é marcada por transformações orgânicas e
emocionais. Este é um período de instabilidade, de busca da identidade, auto-afirmação e
independência individual (Silva & Mattos, 2004), no qual há um distanciamento da família de
origem e uma maior aproximação com o grupo de iguais (Wagner, Falcke, Silveira, &
Mosmann, 2002). Assim, face a estas mudanças, a adolescência pode ser considerada um
período de vulnerabilidade para o desenvolvimento de problemas emocionais e de
comportamento (Jacobs, Reinecke, Gollan, & Kane, 2008).
Diversas são as definições sobre Problemas Emocionais e de Comportamento (PEC)
na infância e adolescência, não havendo na literatura científica um consenso sobre este
conceito. Segundo Achenbach (1991), os problemas emocionais e de comportamento são
caracterizados por padrões sintomáticos, os quais podem ser divididos em dois tipos,
denominados por ele como externalizantes e internalizantes. Os transtornos externalizantes
são aqueles que se expressam em relação à outras pessoas. Referem-se a comportamentos
como dificuldade em controlar impulsos, hiperatividade, agressividade e presença de raiva e
delinqüência. Comumente estão ligados ao transtorno da conduta e ao transtorno desafiador
opositivo (Achenbach & Howell, 1993; APA, 2002). Os transtornos internalizantes são os que
se expressam em relação ao próprio indivíduo. Caracterizam-se pela tristeza, retraimento,
queixas somáticas e medo. Geralmente estão relacionados aos transtornos de humor
(depressão) e ansiedade (Achenbach & Howell, 1993; APA, 2002).
A nomenclatura dada por Achenbach às síndromes comportamentais não representa
classificações nosológicas e diagnósticos psiquiátricos tais como os realizados com base no
17
DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico - IV). No entanto, o DSM-IV constitui a base
clínica sob a qual foram elaboradas as Escalas ASEBA (Achenbach System of Empirically
Based Assessment), que são escalas desenvolvidas para verificar diversos aspectos de
funcionamento adaptativo, a partir da avaliação dos problemas comportamentais e
emocionais. Assim, destaca-se que a classificação realizada pelas Escalas ASEBA não é
idêntica às proveniente do DSM-IV, embora haja uma correlação significativa entre os
instrumentos. As Escalas ASEBA são compostas por diversos instrumentos, os quais são
utilizados de acordo com a faixa etária do participante. Dentre os instrumentos que compõe as
escalas ASEBA destaca-se, para o período da adolescência, o Youth Self-Report (YSR),
traduzido para o Português como Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos
(Rocha, Araújo, & Silvares, 2008). O YSR é utilizado para mensurar problemas emocionais e
de comportamento em adolescentes, de 11 a 18 anos de idade, na visão deles próprios.
A prevalência dos problemas emocionais e de comportamento varia de cultura para
cultura. Estudos em países em desenvolvimento sugerem uma taxa de 10% a 20% de
prevalência em crianças e adolescentes (Hackett, & Hackett, 1999), havendo um maior nível
de problemas externalizantes no sexo masculino e de internalizantes no sexo feminino
(Canino et al., 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Hackett, & Hackett, 1999; Silva &
Hutz, 2002; Sourander, Niemela, Santalahti, Helenius, & Piha, 2008).
No Brasil, um estudo epidemiológico com uma amostra de 634 crianças de quatro
anos, utilizando as Escalas ASEBA, revelou uma prevalência clínica e limítrofe de 24%, não
apontando diferenças de gênero (Anselmi, Piccinini, Barros, & Lopes, 2004). Também
usando as Escalas ASEBA, Wagner e Predebon (2005), realizaram um estudo com 523
adolescentes de 15 a 18 anos, da cidade de Porto Alegre (RS), e encontraram uma prevalência
clínica de 22%, mostrando altos níveis de problemas emocionais e de comportamento na
amostra investigada. Convém salientar que apesar das Escalas ASEBA serem amplamente
18
utilizadas no contexto brasileiro, algumas de suas escalas ainda estão em processo de
validação no Brasil, de modo que, estes resultados podem não demonstrar a real prevalência
dos problemas emocionais e de comportamentos nas amostras investigadas, pelos pontos de
corte terem sido estabelecidos por uma amostra americana.
Além das características individuais dos adolescentes, a estrutura familiar, os aspectos
relacionais e as características dos pais podem estar vinculados ao surgimento de problemas
emocionais e de comportamento (Avanci, Assis, & Oliveira, 2008; Cruvinel & Boruchovitch,
2009; Hackett, & Hackett, 1999; Sheeber et al., 1997; Stark, Humphrey, Crook, & Lewis,
1990; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009). Segundo Silvares e Souza (2008), a família em
situação de crise pode ser considerada um fator de risco para o surgimento de PEC nos(as)
filhos(as).
Tendo em vista a prevalência dos sintomas internalizantes na adolescência e a possível
associação destes com as relações familiares, este estudo teve por objetivo fazer uma revisão
da literatura nacional e internacional publicada no período de 2005 a 2009, através de uma
revisão sistemática da literatura. Estes artigos foram analisados em relação ao ano de
publicação, país, método e instrumentos utilizados para investigar os transtornos
internalizantes nesta faixa etária.
1.2 Método
Inicialmente foi realizado um levantamento de artigos publicados de 2005 a 2009,
indexados nas bases de dados do Academic Search Premier, Education Resources Information
Center (ERIC), ISI Web of Knowledge, MEDLINE with Full Text e SciELO (Scientific
Electronic Library Online). Foram utilizados como descritores as palavras-chave em
português: “problemas internalizantes” ou “sintomas internalizantes” e “adolescência ou
19
adolescente ou jovem” e “família” e em inglês: “internalizing problems or internalizing
symptoms” and “adolescence or adolescent or teenager” and “family”
Os artigos foram examinados e selecionados conforme os seguintes critérios de
inclusão: disponibilidade do texto completo e estudos que abordem especificamente os
transtornos internalizantes no período da adolescência e que tenham alguma relação com o
aspecto familiar. Após este levantamento inicial foram encontradas 553 publicações.
Em seguida, foi realizada uma revisão minuciosa, sendo excluídos os artigos que não
satisfaziam os critérios de inclusão (n=336). Os artigos referidos em mais de uma base de
dados foram considerados apenas uma vez (n=63). Dessa forma, obteve-se um total de 154
publicações a serem analisadas. Os artigos foram classificados conforme o ano de publicação,
o país de realização do estudo, a metodologia utilizada, o instrumento de mensuração para
comportamentos internalizantes, e as temáticas mais abordadas.
1.3 Resultados
Na primeira etapa da revisão, foram encontradas 553 publicações nas bases
pesquisadas, conforme pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 1. Número de publicações de acordo com as bases de dados
Base de Dados Publicações
Academic Search Premier 176
Education Resources Information Center (ERIC) 79
ISI Web of Knowledge 157
MEDLINE with Full Text 140
Lilacs 1
SciELO (Scientific Electronic Library Online) 0
Total 553
20
Como mencionado anteriormente, após a análise de acordo com os critérios de
inclusão e exclusão, restaram 154 artigos para análise. Com relação ao local de realização dos
estudos, observa-se a predominância de pesquisas realizadas nos Estados Unidos (95 artigos –
61,68% dos 154 estudos analisados). As demais foram desenvolvidas nos seguintes países:
Holanda (14), Canadá (8), Austrália (5), Finlândia (4), Inglaterra (4), Alemanha (3), Brasil
(2), Grécia (2), Noruega (2), Suécia (2), Bélgica (1), Espanha (1), Havaí (1), Hungria (1),
Israel (1), Itália (1), Islândia (1). Seis estudos foram caracterizados como transculturais por
abrangerem amostras de diferentes países.
No que tange à questão metodológica e ao ano de publicação, a totalidade dos estudos
empíricos são quantitativos, sendo 8 artigos teóricos, havendo uma distribuição praticamente
uniforme no número de artigos publicados ao longo dos últimos cinco anos, conforme mostra
a tabela 2.
Tabela 2. Classificação metodológica dos estudos, de acordo com o ano de realização
Ano Quantitativos Qualitativos Teóricos
2005 20 0 2
2006 32 0 0
2007 29 0 0
2008 30 0 4
2009 35 0 2
Total 146 0 8
Com relação aos instrumentos de mensuração dos problemas de comportamentos
internalizantes, os artigos foram categorizados de acordo com o uso ou não-uso das Escalas
ASEBA, por estas serem um dos instrumentos mais utilizados mundialmente para investigar
problemas emocionais e de comportamento. Para esta categorização não foram incluídos os
artigos teóricos. Constatou-se que 85 artigos (58,21%) utilizaram as escalas ASEBA para
21
mensurar os sintomas internalizantes, confirmando a ampla utilização destes instrumentos
como forma de acesso aos sintomas internalizantes dos adolescentes.
Por último, os 154 artigos foram categorizados de acordo com as temáticas mais
abordadas nas publicações (vide tabela 3). Devido à possibilidade dos artigos terem mais de
um objetivo, alguns deles abrangiam mais de uma categoria temática, o que faz com que o
somatório seja superior ao número de artigos examinados:
Tabela 3. Categorização
Categoria temática Número de artigos
Estrutura / contexto familiar 48
Parentalidade e Conjugalidade 45
Transtornos físicos e/ou mentais dos adolescentes 33
Característica de personalidade dos filhos 26
Eventos estressores de vida 25
Transtornos físicos e/ou mentais dos pais 14
Intervenção terapêutica 10
Instrumentos de avaliação 4
Estudo de prevalência 1
Total 206
Considerando estas categorias, serão apresentados a seguir alguns dos estudos
encontrados na revisão de literatura, conforme o conteúdo que abordaram. Alguns estudos
serão descritos mais detalhadamente pelo fato de melhor representarem a categoria. Além
disso, quando os estudos investigaram tanto os sintomas internalizantes quanto os
externalizantes os mesmos serão mencionados como problemas emocionais e de
comportamento (PEC).
1) Estrutura/contexto familiar: Uma grande parte dos artigos encontrados (48 dos 154
analisados no total) destinou-se a verificar associações entre a sintomatologia internalizante
22
na adolescência e diversas variáveis familiares, tais como: configuração familiar (Breivik &
Olweus, 2006; Spruijt & Duindam, 2005; VanderValk, Spruijt, Goede, Maas, & Meeus,
2005), suporte familiar (Oliva, Jiménez, & Parra, 2009; Wight, Botticello, & Aneshensel,
2006), conflito familiar (Davis & Epkins, 2009; Herrenkohl, Kosterman, Hawkins, & Mason,
2009; Santiago & Wadsworth, 2009; Skeer, McCormick, Normand, Buka, & Gilman, 2009),
violência familiar (Sternberg, Lamb, Guterman, & Abbott, 2006 ), estabilidade das rotinas
familiares (Ivanova & Israel, 2006), comportamento parental (Sentse, Veenstra, Lindenberg,
Verhulst, & Ormel, 2009; Steinhausen, Haslimeier, & Metzke, 2007) e nível sócio-econômico
das famílias (Amone-P’Olak, Burger, Ormel, Huisman, Verhulst, & Oldehinkel, 2009; Wight,
Botticello, & Aneshensel, 2006).
Um estudo longitudinal, realizado com 100 adolescentes espanhóis, por Oliva,
Jiménez e Parra (2009), demonstrou que a qualidade da relação entre pais e adolescentes
mostrou-se um fator protetivo para o desenvolvimento de sintomatologia externalizante, face
a experiência de eventos estressores de vida na adolescência. Contudo, este estudo não
apontou resultados significativos para os sintomas internalizantes, tendo os autores inferido
que isso possa ter acontecido pela estabilidade dos sintomas internalizantes entre o T1 e o T2
e porque os sintomas internalizantes podem depender de outros fatores, não tão relacionados
ao suporte social, como, por exemplo, as estratégias de regulação emocional que os
adolescentes utilizam para lidar com os eventos estressores.
Ainda considerando a relação entre pais e filhos, o clima emocional também tem sido
relacionado com os problemas emocionais e de comportamento. Um estudo realizado com
131 adolescentes e suas famílias, de Denver (Estados Unidos), apontou que a compreensão e a
empatia dos pais face às experiências dos filhos são fundamentais para o desenvolvimento dos
mesmos (Stocker, Richmond, & Rhoades, 2007), sendo que quando os pais são continentes às
expressões de experiências emocionais negativas pelos filhos, estes apresentam menos
23
sintomas internalizantes. Complementando estes achados, uma investigação desenvolvida por
Herrenkohl, Kosterman, Hawkins e Mason (2009), com 754 adolescentes de Seattle (Estados
Unidos), indicou o conflito familiar na adolescência como preditor de sintomas depressivos
no início da idade adulta.
Nesse sentido, o clima e o suporte familiar mostram-se relacionados com a diminuição
dos sintomas internalizantes. Corroborando com essa perspectiva, um estudo realizado por
Ozer (2005), com 73 adolescentes de Berkeley (Estados Unidos), demonstrou que a percepção
de suporte familiar materno diminuiu os sintomas depressivos dos filhos, assim como a
percepção de suporte dos irmãos teve efeito estabilizador dos sintomas depressivos nos
adolescentes. Não foram encontrados efeitos protetivos no que se refere ao suporte paterno,
indicando que o pai se manteve em posição mais periférica no sistema familiar.
Leve, Kim e Pears (2005) realizaram um estudo longitudinal, com 373 sujeitos (174
meninos e 163 meninas) de Eugene (Estados Unidos), e encontraram que os problemas
internalizantes aumentaram ao longo do tempo nas meninas, enquanto que nos meninos
permaneceram estáveis. As variáveis medo/timidez e depressão materna foram preditoras de
comportamentos internalizantes dos filhos. Disciplina severa foi preditora de sintomas
internalizantes somente para os meninos, enquanto que depressão materna e renda familiar
baixa foi preditora do aumento de internalizantes nas meninas. Além disso, o ajustamento
conjugal teve uma associação com os sintomas internalizantes de meninos e meninas, o que
evidencia a interação entre as variáveis do grupo familiar e os sintomas dos adolescentes.
A estabilidade familiar, considerada como a coerência das atividades e das rotinas
familiares, também teve uma associação com os baixos níveis de sintomas internalizantes em
crianças no estudo realizado por Ivanova e Israel (2006), com 70 famílias de Albany (Estados
Unidos). Os sintomas depressivos dos pais foram associados com problemas emocionais e de
comportamento somente em crianças com baixo nível de estabilidade familiar. Dessa forma,
24
os autores concluem que a estabilidade familiar funciona como atenuante entre os sintomas
depressivos dos pais e os sintomas internalizantes dos filhos.
Considerando o contexto em que as famílias estão inseridas, diversos estudos
apontaram correlações positivas entre o nível sócio-econômico baixo e os sintomas
depressivos (Amone-P’Olak, Burger, Ormel, Huisman, Verhulst, & Oldehinkel, 2009; Tonge,
Hughes, Pullen, Beaufoy, & Gold, 2008; Wight, Botticello, & Aneshensel, 2006). Além
desses, Karevold, Røysamb, Ystrom e Mathiesen (2009) identificaram, através de um estudo
longitudinal, realizado com 566 adolescentes e suas famílias, de 19 regiões da Noruéga, as
adversidades familiares da infância como preditoras dos sintomas ansiosos e depressivos.
Adicionalmente, a configuração familiar também tem sido relacionada ao surgimento
de problemas emocionais e de comportamento na adolescência. Nesse sentido, pesquisas
realizadas apontaram diferenças nos problemas de comportamento em adolescentes de
famílias intactas e divorciadas, sendo que os adolescentes de famílias divorciadas
apresentaram maiores níveis de sintomas internalizantes e externalizantes do que adolescentes
de famílias intactas (Breivik & Olweus, 2006; Spruijt & Duindam, 2005; VanderValk, Spruijt,
Goede, Maas & Meeus, 2005). Esses dados são corroborados pelo estudo de Schenck, Braver,
Wolchik, Saenz, Cookston e Fabricius (2009), com 133 adolescentes Mexicanos, residentes
no estado do Arizona (Estados Unidos), que demonstrou a importância de, nas famílias
reconstituídas, considerar-se não somente o relacionamento do adolescente com o padrasto,
mas também com o pai biológico não residente.
A análise dos artigos descritos neste tópico permite constatar que, de modo geral, as
relações familiares possuem impacto no surgimento de problemas emocionais e de
comportamento dos filhos. Assim apontam para a importância de as intervenções psicológicas
considerarem as relações familiares no tratamento de adolescentes.
25
2) Parentalidade e Conjugalidade: nessa categoria, foram agrupados os estudos que
correlacionam as dimensões da parentalidade e da conjugalidade com os sintomas
internalizantes dos adolescentes. Vários estudos têm apontado associações entre o conflito
marital, a qualidade das relações entre pais e filhos e o surgimento de problemas emocionais e
de comportamento nos filhos (Amato & Afifi, 2006; Leve, Kim, & Pears, 2005; Oliva,
Jiménez, & Parra, 2009). Shelton e Harold (2008) encontraram dados, em um estudo realizado
com 252 adolescentes de diferentes locais da Inglaterra, que apontam associações positivas
entre o conflito conjugal e a auto-culpabilização do adolescente, assim como com as
estratégias disfuncionais de enfrentamento dos filhos.
Analisando dados do National Survey of Families and Households, dos Estados
Unidos, com relação a 551 famílias de crianças com 5 a 11 anos, Gerard, Krishnakumar e
Buehler (2006) revelaram associação entre o conflito conjugal e os problemas internalizantes,
considerando ainda que estes são mediados parcialmente pelo conflito na relação pais-filhos.
Nesta mesma perspectiva, Cui, Donnellan e Conger (2007) investigaram associações entre o
ajustamento marital e os problemas internalizantes e externalizantes nos filhos adolescentes,
através de uma pesquisa realizada com 451 adolescentes e suas famílias, do estado de Iowa
(Estados Unidos). Os resultados apontam que o conflito parental amplia as chances dos filhos
desenvolverem sintomas depressivos e delinqüência, ao mesmo tempo em que estes
problemas dos adolescentes agravam o conflito parental ou, de forma mais abrangente, a
insatisfação conjugal. Os resultados desse estudo evidenciam a circularidade das variáveis do
sistema familiar, atestando que existem influências recíprocas entre elas.
Com o objetivo de verificar as associações entre o conflito conjugal, o estresse
materno e os problemas emocionais e de comportamento nos adolescentes, Salafia, Gondoli e
Grundy (2008) realizaram uma pesquisa com 136 mães e seus filhos, residentes em Oklahoma
(Estados Unidos). Na visão materna, os resultados indicaram que o conflito conjugal media a
26
relação entre o seu estresse e os PEC dos filhos, o que demonstra que as dimensões da
conjugalidade e da parentalidade podem ser consideradas indissociáveis.
Enfocando mais especificamente a parentalidade, um estudo realizado por Buehler
(2006), na Carolina do Norte (Estados Unidos), com 416 adolescentes e suas famílias,
constatou uma associação entre o controle parental inadequado, baixos níveis de bem-estar
dos pais e os sintomas internalizantes dos filhos. Na mesma direção, Anhalt e Morris (2008)
verificaram uma associação entre estilos parentais caracterizados por baixos níveis de cuidado
e altos níveis de proteção com altos níveis de sintomas internalizantes, em estudo realizado
com 434 estudantes de Morgantown (Estados Unidos). Bordin, Duarte, Peres, Nascimento,
Curto e Paula (2009), buscando examinar a relação entre a punição física e os problemas de
saúde mental infantil, realizaram um estudo com 480 crianças brasileiras. Dentre os principais
achados deste estudo, salienta-se a correlação positiva entre punição física e os problemas
emocionais e de comportamento dos filhos. Resultados semelhantes foram encontrados por
Bender, Allen, McElhaney, Antonishak, Moore, Kelly e Davis (2007), em investigação
realizada com 141 adolescentes de Glen Allen (Estados Unidos).
Ainda com relação aos estilos parentais, Lengua e Kovacs (2005) apontaram a
disciplina inconsistente como preditora de problemas emocionais e de comportamento dos
filhos. Estes estudos demonstram que o estilo e o controle parental são dimensões que podem
ser relacionadas aos sintomas internalizantes dos filhos.
Diversas variáveis têm sido apontadas como mediadoras entre a parentalidade e o
desenvolvimento de sintomas internalizantes nos adolescentes. Dentre estas, os estudos
encontrados apontaram: os sintomas depressivos maternos (Corona, Lefkowitz, Sigman, &
Romo, 2006), o conflito mãe-adolescente (Caples & Barrera, 2006), o conflito interparental
(Kim, Jackson, Conrad, & Hunter, 2008) e a idade materna (Dahinten, Shapka, & Willms,
2007; Pogarsky, Thornberry, & Lizotte, 2006).
27
Através das pesquisas descritas nesta categoria, pode-se perceber a interdependência
entre as variáveis da parentalidade, da conjugalidade e da psicopatologia na adolescência.
Dessa forma, se evidencia a complexidade do fenômeno e a necessidade de um olhar
abrangente aos profissionais que atuam com famílias com filhos adolescentes.
3) Característica de personalidade dos filhos: são descritos, nessa categoria, estudos que têm
assinalado a correlação entre o temperamento dos filhos, as relações familiares e os sintomas
internalizantes (Leve, Kim, & Pears, 2005; Muris & Ollendick, 2005).
Buscando associações longitudinais entre o temperamento dos filhos e a parentalidade,
Lengua e Kovacs (2005) realizaram um estudo com 92 crianças, de Seattle (Estados Unidos),
que apontou a bi-direcionalidade da relação entre o temperamento dos filhos e parentalidade.
De acordo com este estudo, a disciplina inconsistente pode elevar os níveis de emoções
negativas em crianças, bem como a irritabilidade da criança pode favorecer a disciplina
inconsistente pelos pais, mais uma vez, ficando evidente a circularidade nas relações
familiares.
Confirmando a associação entre as características de personalidade dos filhos e a
sintomatologia internalizante na adolescência, um estudo realizado por Nelson, Padilla-
Walker, Badger, Barry, Carroll e Madsen (2008), com 813 jovens de diferentes regiões dos
Estados Unidos, comparou jovens tímidos e jovens não-tímidos, e concluiu que jovens
tímidos possuíam maiores níveis de sintomas internalizantes, como ansiedade e depressão, do
que jovens não-tímidos. Estes dados são ainda corroborados pelo estudo longitudinal
desenvolvido por Karevold, Røysamb, Ystrom, & Mathiesen (2009), com 566 adolescentes e
suas famílias, de 19 diferentes regiões da Noruéga, que apontou a timidez como preditora de
sintomatologia internalizante e como um aspecto que deve ser considerado na análise da
relação pais-filhos.
28
4) Transtornos físicos e/ou mentais dos pais: alguns artigos encontrados buscaram investigar
relações entre a psicopatologia dos pais e os problemas emocionais e de comportamento dos
filhos. As psicopatologias estudadas foram: saúde mental dos pais (Self-Brown, LeBlanc,
Kelley, Hanson, Laslie, & Wingate, 2006), esclerose múltipla (Diareme, Tsiantis, Kolaitis,
Ferentinos, Tsalamanios, Paliokosta, et al., 2006; Steck, Amsler, Grether, Dillier, Baldus,
Haagen et al., 2007), psicopatologia materna (Spell, Kelley, Wang, Self-Brown, Davidson, et
al., 2008), sintomas depressivos maternos (Corona, Lefkowitz, Sigman, & Romo, 2005;
Foster et al., 2008a; Foster et al., 2008b), sintomas depressivos maternos e paternos (Elgar,
Mills, McGrath, Waschbusch, & Brownridge, 2007), estresse parental (Costa, Weems,
Pellerin, & Dalton, 2006) e comportamentos anti-sociais dos pais (Herndon & Iacono, 2005).
Em um estudo realizado por Corona, Lefkowitz, Sigman e Romo (2005), com 111
díades mãe-filho(a) (62 meninas e 49 meninos), os sintomas depressivos maternos estiveram
relacionados com os problemas internalizantes e externalizantes dos filhos. Este estudo foi
realizado com mães de origem latina, residentes nos Estados Unidos. Resultados semelhantes
foram encontrados por Foster et al. (2008b), em uma investigação realizada com 114 díades
mãe-filho(a), de Pittsburgh (Estados Unidos) cujos resultados apontaram correlações positivas
entre os episódios depressivos maternos e os níveis de sintomatologia internalizante e
externalizante dos filhos.
Investigando as relações entre a psicopatologia materna e a psicopatologia dos filhos,
Spell et al. (2008) encontraram, em um estudo realizado com 260 crianças e suas mães, de
Nova Orleans (Estados Unidos), associações entre os sintomas do transtorno de estresse pós-
traumático (TEPT) materno, com os sintomas internalizantes dos filhos, sendo o TEPT
apontado como um fator de risco para o surgimento de PEC nos filhos. Nesta mesma direção,
o comportamento anti-social dos pais foi apontado por Herndon e Iacono (2005), em uma
29
investigação longitudinal realizada com 1626 famílias do estado de Minnesota (Estados
Unidos), como um fator de risco para o surgimento de problemas externalizantes e
internalizantes nos filhos.
Os estudos analisados, em síntese, confirmam a perspectiva de transmissão
transgeracional. De modo geral, demonstram que quando os pais apresentam sintomas
emocionais e de comportamento, os filhos ficam mais suscetíveis a também apresentarem
alguma manifestação de problemas emocionais e de comportamento.
5) Transtornos físicos e/ou mentais dos adolescentes: Trinta e três artigos verificaram
associações entre os sintomas internalizantes dos adolescentes e outros transtornos sendo eles
de natureza física e/ou mentais, tais como: asma (Alati, O’Callaghan, Najman, Williams, Bor,
& Lawlor, 2005; Berz, Murdock, & Mitchell, 2005; Gupta, Crawford, & Mitchell, 2006),
comportamento suicida (Liu & Tein, 2005), problemas do sono (Reid, Hong, & Wade, 2009),
transplante hepático (Gritti, Sicca, Di Sarno, Di Cosmo, Vajro, & Vajro, 2006), diabetes
(Naar-King, Podolski, Ellis, Frey, & Templin, 2006), anemia/doença falciforme (Barakat,
Patterson, Daniel, & Dampier, 2008; Barakat, Schwartz, Simon, & Radcliffe, 2007), paralisia
cerebral (Schuengel, Voorman, Stolk, Dallmeijer, Vermeer, & Becher, 2006), transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade (Chen, Seipp, & Johnston, 2008; Edbom, Lichtenstein,
Granlund, & Larsson, 2006), transtorno bipolar (Zelkowitz, Paris, Guzder, Feldman, Roy, &
Rosval, 2007), síndrome de Tourette (Roessner, Becker, Banaschewski, Freeman, &
Rothenberger, 2007), transtorno obsessivo-compulsivo, (Storch et al., 2007), transtornos
alimentares (Thompson-Brenner, Eddy, Satir, Boisseau, & Westen, 2008), obesidade (Olsson,
Marild, Alm, Brodin, Rydelius, & Marcus, 2008), anorexia nervosa (Paulson-Karlsson,
Engström, & Nevonen, 2009) e o uso de álcool e drogas (Gavazzi, Lim, Yarcheck, Bostic, &
30
Scheer, 2008; Lansford, Erath, Yu, Pettit, Dodge, & Bates, 2008; Skeer, McCormick,
Normand, Buka, & Gilman, 2009).
Em um estudo realizado com 1421 adolescentes, de Chicago (Estados Unidos), Skeer,
McCormick, Normand, Buka e Gilman (2009) investigaram a relação entre o conflito familiar
na infância e o uso de substâncias na adolescência. O estudo apontou uma associação
significativa entre o conflito familiar e o uso de substancias na adolescência. Com o mesmo
intuito de investigar associações entre o uso de substâncias ilícitas, as relações familiares e o
desenvolvimento de ansiedade e depressão, os resultados encontrados por Lansford, Erath,
Yu, Pettit, Dodge e Bates (2008), em uma investigação realizada com 585 adolescentes das
cidades de Knoxville, Nashville e Bloomington (Estados Unidos), e seus pais, sugerem uma
co-morbidade entre o uso de substâncias e os sintomas internalizantes em jovens, de modo
que 66% dos jovens participantes que preencheram critérios diagnósticos para o uso de
substancias também apresentaram sintomas internalizantes ou desordens de comportamento,
estando elas mediadas pelas relações familiares.
6) Eventos estressores: nesta categoria são apresentados os estudos que foram realizados com
o intuito de verificar associações entre os eventos estressores, as relações familiares e o
surgimento de sintomas internalizantes nos adolescentes.
Em um estudo realizado com 1362 adolescentes chineses, da Província de Shandong,
Liu e Tein (2005) verificaram associações entre eventos negativos de vida, psicopatologia e
comportamento suicida. Os eventos de vida negativos foram associados com o aumento do
risco de problemas de externalização e internalização. Este estudo apontou, ainda, que o
estresse acadêmico e os conflitos familiares foram os estressores mais relacionados ao risco
de comportamento suicida nesta população, sendo que as meninas reportaram mais ideações
suicidas do que os meninos (22.0% vs. 17.5%).
31
Appleyard, Egeland, Dulmen e Sroufe (2005) sugerem, a partir de resultados de uma
pesquisa realizada com 171 adolescentes do estado de Minnesota (Estados Unidos), que
quanto maior o número de fatores de risco na infância, maior é a chance de predição de
problemas de comportamento na adolescência. Nesta mesma direção, os achados de um
estudo longitudinal realizado por Vegt, Ende, Ferdinand, Verhulst e Tiemeier (2009), com
1.984 crianças holandesas, apontam os maus-tratos infantis como eventos de vida que se
constituem em um fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de sintomas
internalizantes.
Verificando associações entre eventos de vida estressores e problemas emocionais e de
comportamento, Oliva, Jiménez e Parra (2009), em um estudo realizado com 100 adolescentes
de Sevilha (Espanha), apontaram a qualidade da relação entre pais e adolescentes como um
fator protetivo face a experiência de eventos estressores de vida e o desenvolvimento de
psicopatologias. Buscando uma influência cronológica entre as dimensões das relações
familiares, dos eventos estressores e da psicopatologia adolescente, Herrenkohl, Kosterman,
Hawkins e Mason (2009) constataram que altos níveis de conflito familiar na infância foram
preditores de eventos estressores, que por sua vez, predisseram sintomas depressivos na vida
adulta, em uma investigação realizada com 754 crianças e adolescentes de Seattle (Estados
Unidos). Ainda que fique difícil pensar em uma relação tão linear entre essas dimensões, a
maioria dos estudos analisados evidenciam o quanto são dimensões associadas e que devem
ser consideradas em conjunto.
7) Intervenção terapêutica: dez estudos discorreram sobre práticas e enfoques terapêuticos,
utilizados com famílias de adolescentes que apresentam sintomas internalizantes ou grupos de
adolescentes.
32
Ressaltando a eficácia da abordagem familiar, Paulson-Karlsson, Engström e Nevonen
(2009) realizaram um estudo piloto, na Suécia, que avaliou o tratamento familiar da anorexia
nervosa de adolescentes do sexo feminino. Trinta e duas pacientes e seus pais foram avaliados
antes do tratamento, aos 18 e aos 36 meses, quanto a sintomas de transtornos alimentares,
psicopatologia e clima familiar. Aos 36 meses, houve remissão total dos sintomas de
transtornos alimentares em 75% das pacientes e diminuição dos sintomas de internalização.
Com relação ao clima familiar, as participantes perceberam uma maior coesão familiar na
última avaliação.
A avaliação dos efeitos de um programa de intervenção baseado na família, para
adolescentes com sintomas internalizantes e uso álcool, cigarro e drogas ilícitas foi o foco de
um estudo desenvolvido por Trudeau, Spoth, Randall e Azevedo (2007), com 383
adolescentes e suas famílias, da região do Centro-Oeste dos Estados Unidos. Os resultados
deste estudo apontaram que o grupo experimental apresentou, ao final da intervenção,
menores índices de sintomas internalizantes e de uso de substâncias múltiplas.
A importância da aliança terapêutica na terapia individual e familiar de adolescentes
com problemas de comportamento foi destacada por Hogue, Dauber, Stambaugh, Cecero e
Liddle (2006), através de uma investigação realizada com 100 adolescentes e suas famílias, de
Nova Iorque (Estados Unidos). Segundo estes autores, a aliança forte com os pais em terapia
familiar auxiliou na diminuição do consumo de drogas e dos problemas de comportamento
dos adolescentes.
Na perspectiva da abordagem cognitivo-comportamental, Harrell, Mercer e DeRosier
(2009) avaliaram a eficácia de um treinamento de habilidades sociais em grupo para a
melhora do ajustamento social, emocional e comportamental, e das habilidades sociais de
adolescentes, realizado com 74 adolescentes da Carolina do Norte (Estados Unidos). O grupo
se mostrou eficaz, sendo que os participantes apresentaram melhoras no auto-conceito e
33
diminuição dos sintomas internalizantes. Ainda no que se refere ao tratamento em grupo,
Keiley (2007) avaliou a eficácia de um tratamento em grupo realizado com 73 adolescentes
do estado de Indiana (Estados Unidos), privados de liberdade. Os resultados demonstraram
uma redução dos sintomas de internalização, bem como do consumo de álcool e drogas.
Objetivando identificar mudanças no comportamento de crianças e pais/cuidadores
após programa de orientação em grupo para pais, Fernandes, Luiz, Miyazaki e Marques Filho
(2009), realizaram um estudo com oito pais ou cuidadores de crianças com transtornos
psiquiátricos atendidos no Ambulatório de Psiquiatria Infantil do Hospital de Base da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (São Paulo). Os resultados mostraram uma
redução significativa de problemas internalizantes e externalizantes, nas crianças, após a
intervenção.
8) Instrumentos de avaliação: quatro estudos encontrados se dedicaram a análise e validação
de instrumentos psicométricos utilizados para avaliação do ajustamento psicossocial de
crianças e adolescentes. Gupta, Crawford e Mitchell (2006) desenvolveram um questionário
breve para investigação de problemas emocionais e de comportamento em crianças asmáticas.
Os autores realizaram um estudo piloto do Childhood Asthma Resiliency Questionnaire
(CARQ), com 173 crianças, de Calgary (Canadá), e seus pais, cujos resultados apontaram
correlações significativass (p < 0,001) entre os escores obtidos no CARQ e na sub-escala de
problemas internalizantes do CBCL (Child Behavior Checklist), respondido pelos pais. Este
estudo concluiu que o CARQ é um instrumento que pode auxiliar os clínicos a identificarem
riscos para o desenvolvimento de sintomas internalizantes em crianças asmáticas.
Partindo de evidências de que o CBCL pode não avaliar adequadamente problemas
clínicos em diversas populações, devido a diferenças culturais, Mano, Davies, Klein-Tasman
e Adesso (2009) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a equivalência do CBCL
34
entre 145 pais e adolescentes americanos de origem africana. Os índices de consistência
interna do CBCL obtidos no estudo variaram de 0,65 a 0,88, sendo um pouco mais baixos do
que os índices obtidos na amostra normativa. Ao final, ainda que os índices tenham sido
ligeiramente diferentes, considerou-se a equivalência das medidas.
Forman e Davies (2005) realizaram um estudo com 853 adolescentes, da região
metropolitana dos Estados Unidos, que investigou as propriedades psicométricas das escalas
de Segurança no Sistema Familiar (Security in the Family System-SIFS). As escalas
apresentaram boa consistência interna, sendo que os resultados do estudo demonstraram que a
SIFS é uma ferramenta psicométrica capaz de auxiliar no desenvolvimento de modelos de
análise dos processos familiares e que a segurança emocional na família é um construto válido
para identificar os padrões de apego das crianças em diferentes relacionamentos familiares.
9) Estudo de prevalência: estudos de prevalência são importantes para justificar e demonstrar
a importância da elaboração de intervenções destinadas a populações com características
específicas. Nesse sentido, um estudo encontrado, realizado por Furniss, Beyer e Guggenmos
(2006) investigou a prevalência dos problemas emocionais e de comportamento em 1.887
crianças em idade pré-escolar, do Norte da Alemanha. Os resultados mostraram que a
prevalência de sintomas emocionais de comportamento foi de 12,4%, sendo que os sintomas
internalizantes foram significativamente mais freqüentes do que os externalizantes.
1.4 Considerações Finais
Este artigo visou traçar um panorama dos estudos que foram realizados nos últimos
anos (2005 a 2009) e que estão disponíveis nas bases de dados nacionais e internacionais
(Academic Search Premmier, ISI Web of Knowledge, ERIC, MEDLINE with Full Text e
35
SciELO) que investigaram os sintomas internalizantes na adolescência e as relações
familiares.
Constatou-se uma unanimidade de estudos empíricos quantitativos, possivelmente pela
busca de associação entre as duas variáveis, sendo muitos deles longitudinais, realizados com
o objetivo de verificar como as associações entre as variáveis vão interagindo entre a infância
e a adolescência. O país que apresentou o maior número de investigações foi os Estados
Unidos, sendo que, do Brasil, foram encontrados somente dois estudos com essa temática, o
que assinala a necessidade de ampliação das investigações nessa área em nosso país. Os
instrumentos preponderantemente utilizados para a identificação de sintomas internalizantes
na adolescência foram os que compõem as escalas ASEBA, coerente com a definição desse
construto que foi proposta por Achenbach (1991). Por fim, uma análise dos conteúdos dos
artigos revelou que as dimensões das relações familiares estiveram evidentemente
relacionadas com a manifestação dos sintomas internalizantes dos adolescentes. Muitos
estudos ampliaram a complexidade da compreensão da interação entre essas dimensões,
analisando outras variáveis como mediadoras ou intervenientes, tais como a psicopatologia
dos pais e os eventos de vida estressores.
Ao final desse estudo, foi possível compreender a importância de se considerar o
adolescente inserido na família como foco de análise das intervenções psicológicas dedicadas
ao tratamento dos problemas emocionais e de comportamento manifestados por eles. Como,
sistemicamente, nada que acontece na família pode ser considerado como exclusivo de um
único membro, da mesma forma a psicopatologia do adolescente deveria ser considerada
como uma manifestação do sistema familiar como um todo.
1.5 Referências
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2 Seção II – Relações Familiares, Eventos Estressores e Sintomas Internalizantes na
Adolescência
Resumo: Este trabalho teve como objetivo investigar a percepção sobre as relações familiares (afetividade, conflito e clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos filhos e os eventos estressores, no período de um ano, como preditores dos sintomas internalizantes dos filhos. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de caráter longitudinal, com um ano de intervalo entre a primeira e a segunda avaliação. Participaram do estudo 139 adolescentes, e seus pais. Os adolescentes eram provenientes de duas escolas públicas do interior do RS e as idades variaram entre 11 e 16 anos (Média=12,90 anos, DP=1,07). Os instrumentos utilizados foram: uma Ficha de Dados Sócio-Demográficos, o Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report), o Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report), Familiograma (FG), o Inventário do Clima Familiar (ICF) e o Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA). As associações entre variáveis foram analisadas por meio de Correlação de Pearson e as comparações entre grupos por meio de Teste t para amostras independentes. As análises longitudinais foram realizadas por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Os resultados obtidos indicaram que as relações familiares não tiveram um poder explicativo significativo com relação aos sintomas internalizantes do adolescente após um ano. Contudo, os eventos estressores vivenciados pelos adolescentes no último ano, apresentaram poder preditivo significativo (β=0,223; p=0,012) com relação aos sintomas internalizantes dos adolescentes. Palavras-chave: Eventos Estressores, Sintomas Internalizantes, Relações Familiares
Family Relations, Stressful Events and Adolescent Internalizing Symptoms Abstract: This study aimed to investigate the perception of family relations (affection, conflict and family climate), internalizing symptoms of parents and children, and stressful events in a period of one year, as predictors of internalizing symptoms of children. This is a quantitative research, with a longitudinal disposition, with one year interval between the first and second evaluation. The study included 139 adolescents and their parents. The adolescents were from two public schools from RS and ages ranged from 11 to 16 years (mean = 12,90 years, SD = 1,07). The instruments used were: a socio-demographic data form, the Youth Self-Report (YSR), the Adult Self-Report (ASR), the Familiograma (FG), the Inventário do Clima Familiar (ICF) and the Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEAA). The associations between variables were analyzed using Pearson Correlation, and the comparisons between groups by t-test for independent samples. The longitudinal analyses were performed using multiple linear regression, and adolescents' internalizing symptoms at Time 2 as dependent variable. The results indicated that family relationships were not a significant explanatory power in relation to symptoms of internalizing adolescents after one year. However, stressful events experienced by adolescents in the last year, had significant predictive power (β=0,223; p=0.012) with respect to internalizing symptoms in adolescents. Keywords: Stressful Events, Internalizing Symptoms, Family Relations
2.1 Introdução
A adolescência é a fase do desenvolvimento humano na qual ocorre o processo de
maturação biopsicossocial. Assim, é um período de intensas mudanças físicas, emocionais e
sociais, de modo que, face a estas mudanças, o adolescente pode estar mais vulnerável ao
desenvolvimento de Problemas Emocionais e de Comportamento (PEC).
Não existe, na literatura científica, um consenso sobre a definição de problemas
emocionais e de comportamento na infância e adolescência. Assim, há autores que tratam o
assunto enfocando os sintomas, segundo um o modelo médico ou biológico (Kaplan, Sadock,
& Grebb, 1997), enquanto outros analisam mais os déficits e os excessos comportamentais
(Patterson, DeBaryshe, & Ramsey, 1989).
Segundo Achenbach (1991), os problemas emocionais e de comportamento são
caracterizados por padrões sintomáticos, os quais podem ser divididos em dois tipos:
externalizantes e internalizantes. Os transtornos externalizantes são aqueles que se expressam
em relação a outras pessoas. Referem-se a comportamentos como dificuldade em controlar
impulsos, hiperatividade, agressividade e presença de raiva e delinqüência. Comumente estão
ligados ao transtorno da conduta e ao transtorno desafiador opositivo. Os transtornos
internalizantes são os se que expressam em relação ao próprio indivíduo. Caracterizam-se pela
tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Geralmente estão relacionados aos
transtornos de humor (depressão) e ansiedade (Achenbach, & Howell, 1993).
Estudos recentes vêm apontando para a importância da família no desenvolvimento de
problemas emocionais e de comportamento em crianças e adolescentes (Althoff, 2008;
Silvares & Souza, 2008; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009). Contudo, em nosso contexto,
ainda são escassas as investigações longitudinais, que demonstram empiricamente quais são e
como interagem os fatores envolvidos nesta relação.
51
Os problemas emocionais e de comportamento sofrem a influência de variáveis
biopsicosociais. Além das características individuais dos adolescentes, a estrutura familiar, os
aspectos relacionais e as características dos pais podem estar vinculados ao surgimento de
problemas emocionais e de comportamento (Avanci, Assis, & Oliveira, 2008; Cruvinel, &
Boruchovitch, 2009; Hackett, & Hackett, 1999; Sheeber et al., 1997; Stark, Humphrey,
Crook, & Lewis, 1990; Teodoro, Cardoso, & Freitas, 2009).
Pesquisas têm mostrado que níveis de suporte, apego e aprovação do comportamento
dos adolescentes na família apresentam correlações negativas com a depressão (Avison, &
McAlpine, 1992; Garrison, Jackson, Marsteller, McKeown, & Addy, 1990; Sheeber et al.,
1997). Adicionalmente, o relacionamento satisfatório entre os pais tem sido apontado como
importante para a qualidade de vida e bem-estar dos filhos (McFarlane, Bellissimo, &
Norman, 1995). Assim, famílias com relacionamentos saudáveis podem ser consideradas
protetivas com relação ao aparecimento de patologias infantis e adolescentes (Althoff, 2008;
Costello, Rose, Swendsen, & Dierker, 2008).
Por outro lado, as interações familiares de baixa qualidade podem contribuir para o
desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento, sendo consideradas um fator
de risco para o aparecimento destes transtornos (Silvares & Souza, 2008). Existem evidências,
por exemplo, de que o conflito familiar esteja associado a uma maior intensidade de depressão
em crianças e adolescentes (Stark, Humphrey, Crook, & Lewis, 1990; Teodoro, Cardoso, &
Freitas, 2009).
Em uma pesquisa que investigou a afetividade e o conflito familiar e suas relações
com os sintomas de depressão, na visão de 234 crianças e adolescentes, da região da grande
Porto Alegre (RS), Teodoro, Cardoso e Freitas (2009) encontraram correlações positivas entre
a depressão e o nível de conflito e correlações negativas para a afetividade. Este estudo
apontou ainda correlações negativas entre as relações familiares afetivas e os sintomas
52
depressivos. Contudo, o caráter transversal do estudo não permitiu o estabelecimento das
relações de predição entre estas variáveis.
Rohenkohl (2009), em uma pesquisa que investigou o nível de afetividade e conflito e
sua relação com os problemas de comportamento em 59 crianças em idade pré-escolar,
residentes na cidade de Erechim (RS), de famílias de nível socioeconômico baixo, constatou
que, nas famílias com alto conflito na díade mãe-pai, as crianças apresentaram mais
problemas emocionais e de comportamento do que nas famílias com baixo conflito. Este
estudo apontou, ainda, que em famílias com alto conflito na díade mãe-pai e baixa afetividade
na díade mãe-filho, as crianças apresentaram maiores escores em problemas internalizantes.
Tais achados revelam a importância do grau de afetividade e conflito entre os cônjuges e sua
relação com os problemas emocionais e de comportamento nos filhos pequenos.
A experiência de eventos estressores, tais como a morte de um familiar, a separação
dos pais, sofrer algum tipo de violência, pode também ser considerada como fator de risco
para o desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento. Masten e Garmezy
(1985) definem os eventos estressores como ocorrências de vida que alteram o ambiente e
provocam uma tensão, a qual interfere nas respostas emitidas pelos indivíduos. Além disso, o
impacto causado pelos eventos estressores é determinado não somente pela forma como estes
ocorrem, mas também pelo modo como são percebidos.
Objetivando investigar a ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de eventos de
vida estressores, Kristensen, Leon, D’Incao e Dell’Aglio (2004) realizaram um estudo com
330 adolescentes estudantes do Ensino Fundamental em escolas estaduais das cidades de
Porto Alegre (RS) e Novo Hamburgo (RS), utilizando uma adaptação do Inventário de
Eventos Estressores na Adolescência (IEEA). Os resultados apontaram uma elevada
ocorrência de problemas nas relações familiares e com os pares, bem como no contexto
escolar. Além disso, este estudo demonstrou que eventos como a violência, embora menos
53
freqüente, era considerado pelos adolescentes como um evento de forte impacto.
Corroborando tais achados, Sternberg, Lamb, Guterman e Abbott (2006) realizaram um
estudo longitudinal com 110 crianças de Jerusalém e Tel Aviv (Israel), e seus pais, que
apontou que as crianças que passaram por algum tipo de violência intrafamiliar possuíam
níveis mais elevados de problemas de comportamento ou sintomas depressivos na
adolescência, do que as crianças que não tinham sofrido violência.
Considerando a alta prevalência dos sintomas internalizantes na adolescência,
justifica-se a importância da realização de estudos que investiguem possíveis preditores
dessas sintomatologias. Assim, o presente estudo buscou investigar o poder preditivo dos
problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, das características dos
relacionamentos familiares e dos eventos de vida estressores nos sintomas internalizantes
manifestados pelos filhos após um ano. Além disso, foram investigadas a estabilidade
temporal dos sintomas internalizantes e da percepção das relações familiares, na perspectiva
do adolescente e verificadas correlações entre os sintomas internalizantes e a percepção das
relações familiares, no Tempo 2 (T2) e entre a percepção dos adolescentes, das mães e dos
pais sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2.
2.2 Método
2.2.1 Delineamento
Pesquisa de caráter longitudinal e explicativo.
2.2.2 Participantes
Participaram deste estudo 139 adolescentes, e seus pais, sendo 79 meninas (56,80%) e
60 meninos (43,20%), com idades variando entre 12 e 16 anos (Média=13,59 anos, DP=0,89),
provenientes de duas escolas públicas, uma do município de São Leopoldo (RS) e outra de
54
Sapucaia do Sul (RS). A média de idade das mães foi de 39,28 anos (DP=6,78) e dos pais de
42,41 anos (DP=9,36). A amostra foi escolhida por conveniência, sendo que todos os
adolescentes freqüentavam entre a 6ª e a 8ª série, e 8,3% dos adolescentes além de estudar
também trabalhavam.
2.2.3 Instrumentos
2.2.3.1 Ficha de Dados Sócio-Demográficos
Para obter informações dos pais (profissão, escolaridade etc.) e da estrutura familiar
(número de filhos, situação conjugal etc.). Esta ficha foi respondida pelos adolescentes.
2.2.3.2 Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report)
É um instrumento que faz parte do Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado
(Achenbach System of Empirically Based Assessment – ASEBA), desenvolvido por
Achenbach (Achenbach, 1991; Achenbach & Rescorla, 2001). O YSR é composto por oito
escalas de problemas de comportamento (Ansiedade/Depressão, Isolamento/Depressão,
Queixas Somáticas, Problemas Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção,
Comportamento de Quebra Regra, Comportamento Agressivo) e pelo tópico denominado
“Outros Problemas”, que engloba itens que não se encaixaram em nenhuma das outras
escalas. Os Problemas Internalizantes incluem as três primeiras escalas. As questões do YSR
são respondidas através de uma escala Likert de três pontos (não é verdadeira, algumas vezes
verdadeira ou muito verdadeira/frequentemente verdadeira). Neste estudo, foi utilizada a
versão do YSR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, &
Silvares, 2008). O YSR foi respondido pelos adolescentes no T1 e no T2. Neste estudo,
obteve-se como alpha de Cronbach, para a escala total de 0,929, para a dimensão de sintomas
55
internalizantes (α=0,860) e para as subescalas que a compõe ansiedade/depressão (α=0,799),
isolamento/depressão (α=0,572) e queixas somáticas (α=0,657).
2.2.3.3 Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report)
Inventário de auto-avaliação que também faz parte do Sistema de Avaliação
Empiricamente Baseado, desenvolvido por Achenbach (Achenbach & Rescorla, 2001; 2003).
Consta de 168 itens subdivididos em escalas sobre os problemas de comportamento
internalizante, externalizante e total. As questões do ASR são respondidas através de uma
escala Likert de três pontos (falso/nunca, algumas vezes ou verdadeiro/frequentemente). Neste
estudo, foi utilizada uma versão de pesquisa do ASR que está sendo adaptada pela Profª. Drª.
Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, & Silvares, 2008). Este instrumento foi respondido pelos
pais, no T1 da pesquisa. Os alphas obtidos neste estudo foram: escore total (α=0,921),
sintomas internalizantes (α=0,881) e sintomas externalizantes (α=0,873).
2.2.3.4 Familiograma (FG)
O Familiograma (Teodoro, 2005, 2006, 2009) é um instrumento que avalia a
percepção da afetividade e do conflito familiar nas díades familiares (por exemplo, pai-mãe,
filho(a)-pai, filho(a)-mãe etc.). A afetividade é compreendida como um conjunto de emoções
positivas existentes no relacionamento interpessoal, enquanto que o conflito é definido como
uma gama de sentimentos negativos que podem ser tanto uma fonte geradora de estresse
como de agressividade dentro do sistema familiar. O participante é solicitado a informar, por
meio de uma lista de 22 adjetivos e uma escala Likert variando de um a cinco, como é o
relacionamento em cada uma das díades que se está avaliando. Compõem a lista do construto
afetividade os adjetivos: carinhoso, alegre, agradável, verdadeiro, afetivo, protetor, amoroso,
acolhedor, harmonioso, atencioso, precioso. Já o construto conflito é avaliado por meio dos
56
seguintes adjetivos: confuso, nervoso, estressante, baixo-astral, ruim, sufocante, tenso, frio,
difícil, agressivo, chato. A pontuação do Familiograma varia de 11 a 55 para cada construto,
sendo que quanto maior for o escore, maior será a percepção de afetividade e conflito. Este
instrumento permite a classificação das famílias em quatro diferentes categorias de acordo
com a intensidade da afetividade e do conflito familiar:
Tipo I
Alta afetividade
Baixo conflito
Tipo II
Alta afetividade
Alto conflito
Tipo III
Baixa afetividade
Baixo conflito
Tipo IV
Baixa afetividade
Alto conflito
Teodoro (2006) demonstrou a existência de uma estrutura bi-fatorial e alphas de
Cronbach variando de 0,87 até 0,97 para o Familiograma. Neste estudo, serão investigadas as
díades Filho(a)-Pai, Filho(a)-Mãe e Pai-Mãe na perspectiva do(a) filho(a). O FG foi
respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1, e somente pelos adolescentes no T2, e os
alphas variaram, neste estudo de 0,876 para o fator conflito pai-criança, na perspectiva do pai
e 0,966 para afetividade pai-mãe na perspectiva da mãe.
2.2.3.5 Inventário do Clima Familiar (ICF)
O ICF (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009) investiga, através de 22 itens em escala
Likert de cinco pontos (de “não concordo” até “concordo plenamente”), a coesão, o apoio, a
hierarquia e o conflito familiar. A coesão familiar é definida como o vínculo emocional entre
os membros da família (ex.: “As pessoas sentem-se felizes quando toda a família esta
reunida”; “As pessoas gostam de passear e fazer coisas juntas”). O apoio contém itens que
descrevem o suporte material e emocional dos membros, (ex.: “Procuramos ajudar as pessoas
57
da nossa família quando percebemos que estão com problemas”; “Quando alguém esta
doente, as outras cuidam dela”). A hierarquia está relacionada a uma diferenciação rígida de
poder dentro da família, na qual as pessoas mais velhas possuem uma influência impositiva
nas decisões familiares. (ex.: “É comum que algumas pessoas proíbam outras de fazer
determinadas coisas sem explicar o porquê”; “Uns mandam outros obedecem”). O conflito
familiar avalia a relação agressiva, crítica e conflituosa entre os membros da família (ex.: “Os
conflitos são comuns”; “As pessoas criticam umas as outras com freqüência”). Os resultados
psicométricos do ICF apontam para uma estrutura fatorial compatível com o modelo de quatro
fatores e alphas de Cronbach superiores a 0,80 (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009), o que
também foi observado neste estudo. Este instrumento foi respondido pelos pais e pelos
adolescentes no T1. No tempo 2 do estudo, somente os adolescentes responderam ao ICF.
2.2.3.6 Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)
O IEEA (Abreu et al., 2001; Kristensen, Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004) avalia a
ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de eventos estressores na adolescência. Este
instrumento é composto por 64 itens, na forma de eventos de vida estressores, de modo que,
para cada item o participante deve indicar em uma alternativa sim/não se o evento ocorreu. A
partir disso, em uma escala Likert de cinco pontos, onde “1” significa “baixo impacto” e “5”
“elevado impacto”, o participante deve informar o impacto atribuído a cada evento
experienciado. O IEEA apresentou elevada consistência interna (alpha de Cronbach = 0,92)
em estudo anterior (Kristensen, Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004), mostrando-se confiável
na avaliação de eventos de vida estressores em adolescentes. Neste estudo, o alpha obtido foi
de 0,815. Este instrumento foi respondido pelos adolescentes somente no T2 do estudo.
58
2.3 Procedimentos de Coleta dos Dados
Inicialmente, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Processo 06/032). Foi realizado
contato com a direção das escolas para apresentação do projeto. Após a autorização para a
realização do mesmo, os alunos receberam a visita do pesquisador em sala de aula,
oportunidade na qual foram informados sobre características gerais do projeto. Os alunos
interessados em participar da pesquisa receberam uma carta, a ser entregue aos pais, contendo
informações gerais sobre a pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), que devia ser assinado por um dos pais ou responsáveis, autorizando o(a) filho(a) a
participar da pesquisa. Após o retorno dos TCLE, foi combinado com os professores um
horário para a aplicação dos instrumentos nos adolescentes, em pequenos grupos. Toda a
aplicação durou, aproximadamente, 60 minutos. Ao finalizar esta etapa, os adolescentes
receberam dois envelopes contendo os instrumentos a serem respondidos individualmente
pelos pais, em suas casas e os TCLE individuais. Os pais foram instruídos a, após
responderem os questionários, lacrarem o envelope e devolveram à escola, através dos
filhos(as). A escola repassou o material aos pesquisadores. Após um ano de intervalo, todos
os adolescentes que participaram do tempo 1 do estudo (n=187) foram convidados a participar
novamente da pesquisa. Destes, 48 adolescentes (25,67%) não foram encontrados, o que se
deve, provavelmente, ao fato de terem mudado de escola, ou até mesmo de cidade. Assim,
foram considerados para este estudo somente os adolescentes que participaram do T1 e do T2
da pesquisa. A coleta de dados dos adolescentes foi realizada nas escolas, em pequenos
grupos, em dois momentos distintos, tendo em vista a inclusão de mais um instrumento nesta
etapa da pesquisa. Os pais não participaram da segunda etapa da pesquisa.
59
2.4 Procedimentos de Análise de Dados
Após a coleta de dados, as informações foram tabuladas em um banco de dados no
SPSS 18.0® (Statistical Package for Social Science 18.0). Inicialmente, realizou-se uma
análise descritiva (médias, DP, porcentagens) dos resultados em geral. Para a estatística
inferencial, previamente se comprovaram os critérios de supostos paramétricos. As
associações entre variáveis foram analisadas por meio de Correlação de Pearson e as
comparações entre grupos por meio de Teste t para amostras independentes. As análises
preditivas foram realizadas por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Foram considerados
como significativos todos os resultados com p<0,05.
2.5 Resultados
Os sintomas internalizantes dos adolescentes, como dito anteriormente, foram
mensurados através do YSR, que possibilita, além da obtenção do escore bruto, uma
categorização a partir de pontos de corte definidos com base no Escore T (Achenbach, 1991).
Todavia, como os pontos de corte definidos por Achenbach (1991) foram obtidos com base
em amostra internacional, neste estudo, a classificação dos escores foi realizada, conforme
sugerem Melo e Silvares (2003), a partir dos percentis 75 para o grupo limítrofe e 90 para o
grupo clínico. Na tabela 1 é possível observar as porcentagens relativas aos níveis não-clínico,
limítrofe e clínico do YSR, dos adolescentes nos tempos 1 e 2, obtidos através dos percentis
75 e 90.
60
Tabela 1 – Porcentagens do YSR dos adolescentes, nos tempos 1 e 2
Categoria %
Internalizantes T1
Não-clínico Limítrofe Clínico
71,7 17,6 10,7
YSR
Internalizantes T2
Não-clínico Limítrofe Clínico
74,1 15,1 10,8
Achenbach (1991) propõe ainda que, para fins de discriminação entre grupos clínicos e
não clínicos, a categoria limítrofe seja incluída na categoria clínica. Dessa forma,
considerando os sintomas internalizantes no tempo 1, observa-se 71,7% de adolescentes não-
clínicos e 28,5% de clínicos, enquanto que, no tempo 2, foram 74,1% não clínicos e 25,9%
clínicos.
A estabilidade temporal dos sintomas internalizantes foi confirmada pela correlação do
escore bruto de sintomas internalizantes no T1 e no T2 (r=0,655, p<0,01). Além, da
estabilidade das medidas do YSR, também observou-se a estabilidade temporal das outras
variáveis do estudo, como das medidas do ICF – Apoio (r=0,534, p<0,01), Hierarquia
(r=0,427, p<0,01), Coesão (r=0,449, p<0,01) e Conflito (r=0,615, p<0,01) – e do FG –
Afetividade mãe-filho (r=0,538, p<0,01), Afetividade pai-filho (r=0,507, p<0,05),
Afetividade pai-mãe (r=0,619, p<0,01), Conflito mãe-filho (r=0,581, p<0,01), Conflito pai-
filho (r=0,531, p<0,01) e Conflito pai-mãe (r=0,656, p<0,01).A partir desses dados, constata-
se que a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares, bem como os sintomas
internalizantes manifestados por eles, mantiveram-se em níveis semelhantes no período de um
ano.
Como possíveis variáveis intervenientes entre as medidas longitudinais, foram
analisados os eventos estressores na adolescência. A média de ocorrência dos eventos
estressores foi de 8,65 (DP=5,06). Os eventos estressores mais citados pelos adolescentes
foram: “teve provas no colégio” (91,5%), “teve que obedecer às ordens de seus pais” (84,6%),
61
“discutiu com amigos(as)” (51,1 %), “foi impedido(a) de ir a festas ou passeios” (41,8%),
“teve familiares com ferimentos ou doenças (40,9%) e “morte de um familiar” (38,2%). Com
relação ao impacto dos eventos estressores, os considerados como de alto impacto foram: “foi
rejeitado(a) pelos familiares” (7%), “teve ou está esperando um filho(a)”(0,7%), “foi
tocado(a) sexualmente contra a vontade” (0,7%) e “você ou sua namorada fez um aborto”
(0,7%)..
Comparando os grupos clínico e não-clínico para sintomatologia internalizante com
relação à ocorrência de eventos estressores, constatou-se uma diferença significativa entre
eles (t=-4,962; p<0,01). O grupo clínico (M=13,04, DP=4,78) relatou um número bem maior
de estressores vivenciados no último ano quando comparado ao grupo não clínico (M=7,73,
DP=4,63).
Buscando investigar as possíveis relações entre a percepção dos adolescentes e de seus
pais sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2,
foram realizadas correlações de Pearson. Os resultados relativos à dimensão do clima familiar
podem ser observados na Tabela 2:
Tabela 2. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2 Apoio 0,013 ICF do Adolescente no T1 Hierarquia 0,167 Coesão -0,73 Conflito 0,237** Apoio -0,239** ICF da Mãe no T1 Hierarquia 0,282** Coesão -0,299** Conflito 0,433** Apoio -0,225 ICF do Pai no T1 Hierarquia 0,005 Coesão -0,185 Conflito 0,019
Nota: ** p<0.01
62
Conforme pode ser observado na Tabela 2, os resultados apontaram correlações
positivas entre a percepção de conflito pelo adolescente no T1 e a manifestação de sintomas
internalizantes por ele no T2. Outras correlações foram observadas entre os sintomas
internalizantes dos adolescentes no T2 e todas as dimensões do clima familiar na percepção
materna no T1, o que parece estar evidenciando a percepção aguçada das mães com relação
ao clima familiar.
Também foram calculadas as correlações entre a percepção dos relacionamentos
diádicos no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2. Os resultados podem ser
observados na Tabela 3:
Tabela 3. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2
Conflito mãe-filho(a) 0,218* Afetividade mãe-filho(a) -0,185* FG do Adolescente no T1 Conflito pai-filho(a) 0,205* Afetividade pai-filho(a) -0,129 Conflito pai-mãe 0,216* Afetividade pai-mãe -0,069 Conflito mãe-filho(a) 0,119 Afetividade mãe-filho(a) -0,022 FG da Mãe no T1 Conflito pai-filho(a) 0,120 Afetividade pai-filho(a) -0,137 Conflito pai-mãe 0,098 Afetividade pai-mãe -0,035 Conflito mãe-filho(a) 0,119 Afetividade mãe-filho(a) 0,000 FG do Pai no T1 Conflito pai-filho(a) 0,045 Afetividade pai-filho(a) 0,121 Conflito pai-mãe 0,068 Afetividade pai-mãe 0,034 Nota: *p<0.05
Observam-se, na tabela 3, correlações significativas somente entre a percepção do
próprio adolescente sobre os relacionamentos entre os membros da família no T1 e a
manifestação de sintomas internalizantes no T2.
63
Em seguida foram calculadas as correlações entre a percepção dos adolescentes sobre
as relações familiares (ICF e FG) e os sintomas os sintomas internalizantes deles próprios no
tempo 2. A tabela 4 mostra os resultados obtidos:
Tabela 4. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os
sintomas internalizantes no T2
Internalizante T2 Apoio -0,043 ICF Adolescente T2 Hierarquia 0,379** Coesão -0,162 Conflito 0,360** Conflito Mãe-Filho(a) 0,112 Conflito Pai-Filho(a) 0,207* Familiograma Conflito Pai-Mãe 0,256** Adolescente T2 Afetividade Mãe-Filho(a) 0,151 Afetividade Pai-Filho(a) -0,053 Afetividade Pai-Mãe -0,046
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Os resultados observados na tabela 4 revelaram que as principais correlações existiram
entre as dimensões de conflito e os sintomas internalizantes, especialmente os conflitos
observados pelos adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho.
A possibilidade de associação transgeracional dos sintomas internalizantes foi avaliada
a partir da correlação entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e os
sintomas internalizantes dos adolescentes. Verificaram-se correlações significativas e
positivas entre a sintomatologia materna (tanto internalizante como externalizante) com os
internalizantes do adolescente e entre os sintomas internalizantes paternos com as
manifestações do adolescente, conforme dados da tabela 5:
64
Tabela 5. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e
sintomas internalizantes do adolescente no T2
Internalizante T2
Internalizantes Mãe T1 0,307**
Externalizantes Mãe T1 0,318**
Internalizantes Pai T1 0,274*
Externalizantes Pai T1 0,179
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
No intuito de identificar alguns preditores para os sintomas internalizantes dos
adolescentes no tempo 2, procedeu-se a realização de regressões lineares múltiplas com o
método Enter. Foram consideradas, inicialmente, como variáveis independentes os sintomas
internalizantes do filho(a), da mãe e do pai no T1. O principal preditor dos sintomas
internalizantes dos adolescentes no T2 foram os sintomas internalizantes deles próprios no T1
(ß=0,621; p<0,00), explicando 43% de variância. As demais variáveis não apresentaram poder
preditivo significativo, nesta amostra, para os sintomas internalizantes dos adolescentes.
Ao serem incluídas as variáveis referentes às relações familiares (Apoio, Hierarquia,
Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG), amplia-se o poder preditivo para
48,1%, mas segue só uma variável como preditora, que é o sintomas internalizantes dos
adolescentes no T1 (ß=0,691; p<0,00).
Por fim, além dos sintomas internalizantes no T1 e das variáveis das relações
familiares (Apoio, Hierarquia, Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG),
foram incluídos os dados dos eventos estressores. A tabela 6 apresenta os resultados obtidos:
65
Tabela 6 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas Internalizantes
dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e IEEA
Internalizantes
Adolescentes
T2
Coeficientes não
Padronizados
Coeficientes
Padronizados
Modelo B Erro
padrão
Beta t Sig
(Constante) -4,357 9,396 -0,464 0,644
Internalizante 0,561 0,081 0,609 6,913 0,000
Apoio 0,090 0,187 0,043 0,479 0,633
Hierarquia -0,018 0,174 -0,009 -0,101 0,920
Coesão 0,132 0,229 0,062 0,579 0,564
Conflito 0,082 0,217 0,043 0,379 0,706
Conflito mãe-criança -0,094 0,172 -0,061 -0,547 0,585
Afetividade mãe-criança 0,038 0,126 0,028 0,302 0,763
Conflito pai-criança -0,118 0,150 -0,096 -0,785 0,434
Afetividade pai-criança -0,062 0,107 -0,065 -0,575 0,566
Conflito pai-mãe 0,163 0,159 0,136 1,025 0,308
Afetividade pai-mãe 0,077 0,086 0,105 0,891 0,375
Eventos Estressores 0,362 0,142 0,223 2,554 0,012
Porcentagem de variância explicada: 51,4%
Como pode ser observado na Tabela 6, os eventos estressores, os dados familiares e os
sintomas internalizantes dos próprios adolescentes há um ano explicam juntos 51,4% da
variância. Adicionalmente, esta análise nos mostra que 3,3% da variância é explicada pelos
eventos estressores, tendo esses uma influência significativa (p=0,012) na sintomatologia
internalizante dos adolescentes.
66
2.6 Discussão
O objetivo principal dessa pesquisa foi examinar o quanto os problemas emocionais e
de comportamento dos pais e dos filhos e as características dos relacionamentos familiares
podem ser preditores dos sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após um ano.
Considerando esse objetivo geral, os resultados indicaram que as relações familiares não
tiveram um poder explicativo significativo com relação aos sintomas internalizantes do
adolescente no tempo 2. Esse resultado difere do encontrado em outros estudos com crianças
nos quais as relações familiares explicam, em grande parte, os sintomas infantis (Fleitlich-
Bilyk, & Goodman, 2001; Herrenkohl, Kosterman, Hawkins, & Mason, 2009). Por outro lado,
se aproxima dos achados de um estudo realizado com 100 adolescentes espanhóis, que
identificou um baixo poder preditivo das relações familiares com relação aos sintomas
internalizantes dos adolescentes (Oliva, Jiménez, & Parra, 2009).
Com bases nesses estudos prévios, pode-se pensar que a fase do ciclo evolutivo vital
pode ser um fator relevante, ao demonstrar que a família pode ter uma influência mais direta
na infância do que na adolescência. Durante a adolescência, há um afastamento da família de
origem e uma maior aproximação do grupo de iguais (Wagner, Falcke, Silveira, & Mosmann,
2002), podendo haver um aumento da influência do grupo de pares e do ambiente social, o
que leva, conseqüentemente, a uma diminuição do impacto da família.
A estabilidade dos sintomas internalizantes e das características do ambiente familiar,
observada no período de um ano, também pode ser uma demonstração de que a relação entre
essas variáveis já tenha se estabelecido desde a infância e mantenha-se estável no período da
adolescência. Na mesma direção, a correlação entre a sintomatologia dos pais e dos filhos
indica ainda um processo que parece ter se constituído no âmbito das relações familiares
desde a sua origem, pela forma como os filhos vão sendo modelados pelos pais.
67
A modelação parental é uma das formas pelas quais os pais podem contribuir para o
desenvolvimento de sintomatologia internalizante nos(as) filhos(as), principalmente quando
um dos pais possui um transtorno de ansiedade e verbaliza seus medos, modelando reações
ansiosas nos(as) filhos(as). Bandura (1969/1997) define a modelação como a aprendizagem
através da observação de modelos, na qual a criança desenvolve padrões de comportamentos
através da observação e imitação dos mesmos. Além de modelar o comportamento
internalizante dos(as) filhos(as), os pais podem reforçar este comportamento, contribuindo,
assim, para a manutenção da sintomatologia dos(as) filhos(as) (Shortt et al., 2001).
A partir de uma perspectiva sistêmica, este fato poderia ser compreendido como uma
possibilidade de transmissão transgeracional, por meio da qual os filhos se inserem em uma
história familiar já existente e recebem mandatos e legados das antigas gerações. Segundo
Falcke (2003), a transmissão transgeracional é o processo através do qual a identidade
familiar vai sendo perpetuada, através de seus mitos, crenças e legados.
A possibilidade de associação transgeracional dos sintomas internalizantes foi avaliada
a partir da correlação entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e os
sintomas internalizantes dos adolescentes. Verificaram-se correlações significativas e
positivas entre a sintomatologia materna (tanto internalizante como externalizante) com os
internalizantes do adolescente e entre os sintomas internalizantes paternos com as
manifestações do adolescente. Esses dados trazem à luz a possibilidade de transmissão
transgeracional dos problemas emocionais e de comportamento, ao se perceber que quando
aumentam os sintomas dos pais também aumentam os sintomas dos filhos.
Ao correlacionar a percepção dos adolescentes e de seus pais sobre as relações
familiares no tempo 1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes decorrido um ano,
encontrou-se correlações positivas entre a percepção de conflito pelo adolescente no tempo 1
68
e a manifestação de sintomas internalizantes por ele após um ano. Este dado revela que
quanto maior a percepção de conflito familiar pelo adolescente no tempo 1 maior o nível de
sintomatologia internalizante no tempo 2. Esse dado corrobora os achados do estudo
longitudinal realizado por Sheeber et al. (1997), cujos dados demonstraram que ambientes
familiares com mais conflito estavam associados a uma maior sintomatologia depressiva após
um período de um ano, sugerindo que a qualidade das interações familiares é relevante para a
compreensão da evolução dos sintomas depressivos em adolescentes. Mais do que a
afetividade, neste estudo a dimensão de conflito está correlacionada com a sintomatologia
internalizante dos adolescentes. De acordo com Silvares e Souza (2008), as interações
familiares de baixa qualidade podem contribuir para o desenvolvimento de problemas
emocionais e de comportamento, sendo consideradas um fator de risco para o aparecimento
destes transtornos.
Correlacionando-se as dimensões de conflito e afetividade, na perspectiva do
adolescente, da mãe e do pai, no tempo 1, com os sintomas internalizantes do adolescente no
tempo 2, os resultados mostraram que somente a percepção adolescente sobre os
relacionamentos entre os membros da família no T1 e a manifestação de sintomas
internalizantes no T2 apresentaram correlações significativas. Tais achados confirmam os
achados de Teodoro, Cardoso e Freitas (2009) que, ao investigarem as relações de afetividade
e conflito familiar e sua relação com os sintomas de depressão na visão de crianças e
adolescentes, encontraram correlações positivas da depressão com o nível de conflito e
negativas para a afetividade, reforçando a relação entre o sistema familiar e os sintomas
depressivos.
Observa-se, correlacionando a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares
e os sintomas os sintomas internalizantes deles próprios no tempo 2, que as principais
correlações existiram entre as dimensões de conflito e os sintomas internalizantes,
69
especialmente, os conflitos observados pelos adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho. Esse
dado demonstra o quanto a dimensão da conjugalidade dos pais repercute nos sintomas dos
adolescentes, ao mesmo tempo em que revela a importância da relação com o pai. Estes
resultados podem ser compreendidos a partir do que é descrito por El-Sheikh e Harger (2001)
e por Mosmann e Wagner (2008) que postularam que há uma interferência do conflito
conjugal nos sintomas dos adolescentes.
Neste estudo, o principal preditor dos sintomas internalizantes dos adolescentes no
tempo 2 foram os próprios sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo 1.
Adicionalmente, este estudo mostrou que os sintomas internalizantes dos adolescentes no
tempo 1, as variáveis das relações familiares e os eventos estressores explicaram juntos 51,4%
da variância dos sintomas internalizantes no tempo 2.
Desta forma, outro achado que confirma, neste estudo, o maior impacto dos ambientes
extrafamiliares na vida do adolescente, foi o fato dos eventos estressores vivenciados pelos
adolescentes no último ano, que incluem questões escolares, sociais e judiciais/institucionais,
além das familiares, pessoais e sexuais, terem apresentado poder preditivo significativo com
relação aos sintomas internalizantes dos adolescentes.
Apesar dos eventos estressores de alto impacto terem apresentado uma baixa
ocorrência (entre 0,7% e 7%) estes merecem ser considerados, tendo em vista,
principalmente, que os eventos citados como altamente estressores envolvem situações
graves. Dessa forma, estes eventos podem contribuir para que os adolescentes estejam mais
vulneráveis ao desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento, considerando
a fase do desenvolvimento que estão vivendo. Nesse sentido, os resultados deste estudo
apontam para a importância de mensurar não somente a experiência do evento estressor, mas
também a intensidade (experiência subjetiva) atribuída ao evento estressor pelo adolescente,
tendo em vista que existe uma variação na forma como as pessoas se relacionam com os
70
eventos estressores. Segundo Koller e De Antoni (2004), esta variação está relacionada à
diferente intensidade, freqüência e duração dos eventos.
Foi constatado que o grupo clínico referiu a ocorrência de eventos estressores em
número significativamente superior ao grupo não-clínico. Nesse sentido, pode-se pensar que
os eventos estressores estejam colaborando para o surgimento de sintomas internalizantes,
assim como, os problemas internalizantes apresentados pelos adolescentes possam favorecer
com que eles estejam mais expostos a alguns eventos estressores, como, por exemplo, rejeição
dos familiares, dificuldade em fazer amigos e baixo desempenho escolar.
Tendo em vista o exposto, entende-se que diversos fatores estão envolvidos no
surgimento dos sintomas internalizantes em adolescentes, tanto pelos dados apresentados
nesta pesquisa, como pela literatura vigente. Salienta-se, contudo, a necessidade de um maior
número de estudos empíricos no contexto brasileiro que envolvam as variáveis investigadas
neste estudo.
2.7 Considerações Finais
A família tem um importante papel no desenvolvimento dos seus membros. No
entanto, os dados deste estudo revelam a importância das relações entre pares na adolescência
e apontam a importância de investigações longitudinais como a presente, que permitem o
entendimento da interação entre variáveis ao longo do tempo.
Nesta pesquisa pode-se considerar como limitações o tamanho da amostra, bem como
a perda de participantes do tempo 1 para o tempo 2 (25, 67%), o que é, de certo modo
esperado, em uma investigação longitudinal. Essa pesquisa instiga a produção de futuros
estudos com essa temática tão ampla e complexa, e ainda pouco explorada no contexto
brasileiro, o que foi comprovado face à escassez de estudos nacionais.
71
A participação dos pais no tempo 2 também permitiria o acesso a mais informações.
Além disso, pesquisas qualitativas podem ser úteis na compreensão da percepção dos
adolescentes com relação aos eventos estressores que estes vivenciaram durante o período de
um ano, especialmente aqueles que mencionaram eventos de alto impacto.
Entende-se que os dados obtidos neste estudo contribuem para a compreensão da
dinâmica da adolescência e também das relações familiares. Por fim, salienta-se a necessidade
do desenvolvimento de políticas públicas e intervenções eficazes voltadas para a
adolescência, tendo em vista que, na presente pesquisa, o principal preditor dos sintomas
internalizantes dos adolescentes foi a própria sintomatologia internalizante mensurada um ano
antes.
2.8 Referências
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3 Considerações Finais da Dissertação
Este estudo foi desenvolvido com o intuito de investigar o quanto os problemas
emocionais e de comportamento dos pais e dos filhos, com foco nos sintomas internalizantes,
as características dos relacionamentos familiares e os eventos estressores na adolescência
podem predizer dos sintomas internalizantes manifestados pelos(as) filhos(as) após um ano. A
relevância deste estudo reside na alta prevalência de sintomatologia internalizante, no período
da adolescência, apontada por estudos nacionais e internacionais (Anselmi, Piccinini, Barros,
& Lopes, 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Hackett, & Hackett, 1999Wagner, &
Predebon, 2005).
Inicialmente, observou-se uma estabilidade temporal dos sintomas internalizantes dos
adolescentes, não havendo diferenças significativas nos níveis de sintomatologia do tempo 1
para o tempo 2. A estabilidade temporal também foi observada para as variáveis familiares
investigadas no presente estudo (Apoio, Hierarquia, Coesão, Conflito, Afetividade mãe-filho,
Afetividade pai-filho, Afetividade pai-mãe, Conflito mãe-filho, Conflito pai-filho e Conflito
pai-mãe).
Análises de regressões lineares múltiplas revelaram com principal preditor dos
sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo 2 os sintomas internalizantes dos próprios
adolescentes no tempo 1T1, explicando 43% de variância. Incluindo as variáveis referentes às
relações familiares o poder preditivo foi ampliado para 48,1%. Contudo, incluindo-se os
eventos estressores aos dados familiares e os sintomas internalizantes dos próprios
adolescentes no tempo 1, nota-se que eles explicam juntos 51,4% da variância.
Os resultados encontrados neste estudo podem estar relacionados ao afastamento
natural que ocorre nesta faixa etária, quando há uma maior aproximação do grupo de iguais e
77
um distanciamento da família de origem (Wagner, Falcke, Silveira, & Mosmann, 2002).
Desse modo, espera-se uma diminuição da influência da família neste período do ciclo vital.
Nesta pesquisa pode-se considerar como limitações o tamanho da amostra, bem como
a perda de participantes do tempo 1 para o tempo 2 (25, 67%), o que é, de certo modo
esperado, em uma investigação longitudinal. Essa pesquisa instiga a produção de futuros
estudos com essa temática tão ampla e complexa, e ainda pouco explorada no contexto
brasileiro, o que foi comprovado face à escassez de estudos nacionais.
Anexo A – Relatório de Pesquisa
Introdução
O propósito deste estudo foi investigar a percepção sobre as relações familiares
(afetividade, conflito e clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos(as)
filhos(as) adolescentes e os eventos estressores, no período de um ano, como preditores dos
sintomas internalizantes dos(as) filhos(as). Os sintomas internalizantes caracterizam-se,
segundo Achenbach (1991), pela tristeza, retraimento, queixas somáticas e medo. Comumente
estão relacionados aos transtornos de humor (depressão) e ansiedade (Achenbach & Howell,
1993).
Tal estudo justifica-se pela alta prevalência de sintomas internalizantes nesta faixa
etária. A literatura nacional e internacional têm apontado uma prevalência clínica e limítrofe
de 10 a 24% com relação a sintomatologia internalizante na faixa etária da adolescência
(Anselmi, Piccinini, Barros, & Lopes, 2004; Fleitlich-Bilyk, & Goodman, 2004; Wagner, &
Predebon, 2005).
Desta forma, buscar-se-à investigar o poder preditor das relações familiares, dos
sintomas internalizantes dos pais e filhos(as) e dos eventos estressores nos sintomas
internalizantes dos filhos(as), após um ano.
Objetivos
Objetivo Geral
Verificar o poder preditivo dos problemas emocionais e de comportamento dos pais e
dos filhos, das características dos relacionamentos familiares e dos eventos de vida estressores
nos sintomas internalizantes manifestados pelos filhos após o período de um ano.
80
Objetivos Específicos
a) Investigar a estabilidade temporal dos sintomas internalizantes e da percepção das
relações familiares na perspectiva dos adolescentes;
b) Investigar as correlações entre os sintomas internalizantes e a percepção das
relações familiares, no Tempo 2 (T2);
c) Investigar as correlações entre a percepção dos adolescentes, das mães e dos pais
sobre as relações familiares no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2;
d) Investigar as correlações entre os sintomas internalizantes e externalizantes das
mães e dos pais no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2.
Método
Delineamento
Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo e explicativo, de delineamento
longitudinal, com um ano de intervalo entre a primeira e a segunda avaliação (Creswell,
2007).
Participantes
Participaram deste estudo 139 adolescentes, e seus pais, sendo 79 meninas
(56,80%) e 60 meninos (43,20%),, com idades variando entre 12 e 16 anos (Média=13,59
anos, DP=0,89), provenientes de duas escolas públicas, uma do município de São Leopoldo
(RS) e outra de Sapucaia do Sul (RS). A amostra foi escolhida por conveniência, sendo que
todos os adolescentes freqüentavam entre a 6ª e a 8ª série, e 8,3% dos adolescentes além de
estudar também trabalhavam. A média de idade das mães foi de 39,28 anos (DP=6,78) e dos
pais de 42,41 anos (DP=9,36). A escolaridade dos pais pode ser observada na tabela 1.
81
Tabela 1. Escolaridade dos pais
Escolaridade Pai Mãe
Ensino Fundamental Incompleto 23,4% 19,5%
Ensino fundamental Completo 19,0% 14,8%
Ensino médio incompleto 8,9% 9,5%
Ensino médio completo 32,3% 34,9%
Superior incompleto 5,1% 10,7%
Superior completo 10,8% 10,7%
Instrumentos
a) Ficha de Dados Sócio-Demográficos
No tempo 1 do estudo, os adolescentes responderam a uma Ficha de Dados Sócio-
Demográficos (vide Anexo B), cujo objetivo era a obtenção de informações sobre os pais
(profissão, escolaridade etc.) e sobre a estrutura familiar (número de filhos, situação conjugal
etc.). A mesma ficha foi respondida pelos adolescentes no tempo 2 (T2), com o intuito de
verificar possíveis alterações nas informações fornecidas no T1.
b) Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR, Youth Self-Report)
O Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos faz parte do Sistema de
Avaliação Empiricamente Baseado (Achenbach System of Empirically Based Assessment –
ASEBA), desenvolvido por Achenbach (Achenbach, 1991; Achenbach & Rescorla, 2001). É
uma variação do Children Behavior Checklist – CBCL (Achenbach, 1991), na qual o
respondente é o próprio adolescente. O YSR é composto por oito escalas de problemas de
comportamento (Ansiedade/Depressão, Isolamento/Depressão, Queixas Somáticas, Problemas
Sociais, Problemas de Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento de Quebra Regra,
Comportamento Agressivo) e pelo tópico denominado “Outros Problemas”, o qual engloba
itens que não se encaixaram em nenhuma das outras escalas. As questões do YSR são
82
respondidas através de uma escala Likert de três pontos (não é verdadeira, algumas vezes
verdadeira ou muito verdadeira/frequentemente verdadeira). Este instrumento permite a
classificação em três níveis: Problemas Internalizantes (incluem as três primeiras escalas),
Problemas Externalizantes (incluem as duas últimas escalas) e Problemas Totais (inclui todas
as escalas analisadas e o tópico Outros Problemas). Neste estudo, foi utilizada a versão do
YSR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares (Rocha, Araújo, & Silvares,
2008). O YSR foi respondido pelos adolescentes no T1 e no T2. Obteve-se como alpha de
Cronbach, para a escala total, 0,929, para a dimensão de sintomas internalizantes (α=0,860) e
para as subescalas que a compõe ansiedade/depressão (α=0,799), isolamento/depressão
(α=0,572) e queixas somáticas (α=0,657).
c) Inventário de Auto-Avaliação de Adultos de 18 a 59 anos (ASR, Adult Self-Report)
O ASR é um inventário de auto-avaliação que também faz parte do Sistema de
Avaliação Empiricamente Baseado, desenvolvido por Achenbach (Achenbach & Rescorla,
2001; 2003) e avalia adultos de 18 a 59 anos de idade. No inventário, estão incluídos 168
itens, que são respondidos através de uma escala Likert de três pontos (falso/nunca, algumas
vezes ou verdadeiro/frequentemente), e são subdivididos em escalas sobre os problemas de
comportamento internalizante, externalizante e total. As respostas podem ainda serem
classificadas de acordo com as seguintes síndromes: ansiedade/depressão; isolamento; queixas
somáticas; problemas de pensamento; problemas de atenção; comportamento agressivo;
quebra de regras; e comportamento intrusivo. Neste estudo, foi utilizada uma versão de
pesquisa do ASR que está sendo adaptada pela Profª. Drª. Edwiges Silvares. Este instrumento
foi respondido pelos pais, no T1 da pesquisa. Os alphas obtidos foram: escore total (α=0,921),
sintomas internalizantes (α=0,881) e sintomas externalizantes (α=0,873).
83
d) Familiograma (FG)
O Familiograma (Teodoro, 2005, 2006, 2009) é um instrumento que avalia a
percepção da afetividade e do conflito familiar nas díades familiares (por exemplo, pai-mãe,
filho(a)-pai, filho(a)-mãe etc.). A afetividade é compreendida como um conjunto de emoções
positivas existentes no relacionamento interpessoal, enquanto que o conflito é definido como
uma gama de sentimentos negativos que podem ser tanto uma fonte geradora de estresse
como de agressividade dentro do sistema familiar. O participante é solicitado a informar, por
meio de uma lista de 22 adjetivos e uma escala Likert variando de um a cinco, como é o
relacionamento em cada uma das díades que se está avaliando. Compõem a lista do construto
afetividade os adjetivos: carinhoso, alegre, agradável, verdadeiro, afetivo, protetor, amoroso,
acolhedor, harmonioso, atencioso, precioso. Já o construto conflito é avaliado por meio dos
seguintes adjetivos: confuso, nervoso, estressante, baixo-astral, ruim, sufocante, tenso, frio,
difícil, agressivo, chato (vide Anexo C). A pontuação do Familiograma varia de 11 a 55 para
cada construto, sendo que quanto maior for o escore, maior será a percepção de afetividade e
conflito. Este instrumento permite a classificação das famílias em quatro diferentes categorias
de acordo com a intensidade da afetividade e do conflito familiar, conforme tabela a seguir:
Tabela 2. Classificação de Tipos de Família de Acordo com os Construtos Afetividade e
Conflito do Familiograma
Tipo I
Alta afetividade
Baixo conflito
Tipo II
Alta afetividade
Alto conflito
Tipo III
Baixa afetividade
Baixo conflito
Tipo IV
Baixa afetividade
Alto conflito
84
Teodoro (2006) demonstrou a existência de uma estrutura bi-fatorial e alphas de
Cronbach variando de 0,87 até 0,97 para o Familiograma. Neste estudo, foram investigadas as
díades Filho(a)-Pai, Filho(a)-Mãe e Pai-Mãe na perspectiva dos pais e do(a) filho(a). O FG foi
respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1, e somente pelos adolescentes no T2 e os
alphas variaram, neste estudo de 0,876 para o fator conflito pai-criança, na perspectiva do pai
e 0,966 para afetividade pai-mãe na perspectiva da mãe.
e) Inventário do Clima Familiar (ICF)
O Inventário do Clima Familiar (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009) investiga, através
de 22 itens em escala Likert de cinco pontos (de “não concordo” até “concordo plenamente”),
a coesão, o apoio, a hierarquia e o conflito familiar (vide Anexo D). A coesão familiar é
definida como o vínculo emocional entre os membros da família (ex.: “As pessoas sentem-se
felizes quando toda a família esta reunida”; “As pessoas gostam de passear e fazer coisas
juntas”). O apoio contém itens que descrevem o suporte material e emocional dos membros,
avaliando, assim, a existência de suporte emocional e material dado e recebido dentro da
família (ex.: “Procuramos ajudar as pessoas da nossa família quando percebemos que estão
com problemas”; “Quando alguém esta doente, as outras cuidam dela”). A hierarquia, neste
instrumento, está relacionada a uma diferenciação rígida de poder dentro da família, na qual
as pessoas mais velhas possuem influência impositiva nas decisões familiares (ex.: “É comum
que algumas pessoas proíbam outras de fazer determinadas coisas sem explicar o porquê”;
“Uns mandam outros obedecem”). O conflito familiar avalia a relação agressiva, crítica e
conflituosa entre os membros da família (ex.: “Os conflitos são comuns”; “As pessoas
criticam umas as outras com freqüência”). Os resultados psicométricos do ICF apontam para
uma estrutura fatorial compatível com o modelo de quatro fatores e alphas de Cronbach
superiores a 0,80 (Teodoro, Land, & Allgayer, 2009), o que também foi observado neste
85
estudo. Este instrumento foi respondido pelos pais e pelos adolescentes no T1. No tempo 2 do
estudo, somente os adolescentes responderam ao ICF.
f) Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)
O Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (Abreu et al., 2001; Kristensen,
Leon, D’Incao, & Dell’Aglio, 2004) avalia a ocorrência e o impacto (baixo, médio ou alto) de
eventos estressores na adolescência. Este instrumento é composto por 64 itens, na forma de
eventos de vida estressores, de modo que, para cada item o participante deve indicar em uma
alternativa sim/não se o evento ocorreu. A partir disso, em uma escala Likert de cinco pontos,
onde “1” significa “baixo impacto” e “5” “elevado impacto”, o participante deve informar o
impacto atribuído a cada evento experienciado (vide Anexo E). O IEEA apresentou elevada
consistência interna (alpha de Cronbach = 0,92) em estudo anteriore (Kristensen, Dell’Aglio,
Leon, & D’Incao, 2004), mostrando-se confiável na avaliação de eventos de vida estressores
em adolescentes. Neste estudo, o alpha obtido foi de 0,815. Este instrumento foi respondido
pelos adolescentes somente no T2 do estudo.
Procedimentos Éticos e de Pesquisa
Conforme a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e a resolução
016/2000, do Conselho Federal de Psicologia, que dispõem sobre a pesquisa em Psicologia,
com seres humanos, o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) (Processo 06/032) (vide Anexo A). Em
seguida, foi realizado contato com a direção das escolas para apresentação do projeto. Após a
autorização para a realização do mesmo, os alunos receberam a visita do pesquisador em sala
de aula, oportunidade na qual foram informados sobre características gerais do projeto. Os
alunos interessados em participar da pesquisa receberam uma carta, a ser entregue aos pais,
86
contendo informações gerais sobre a pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), que devia ser assinado por um dos pais ou responsáveis, autorizando
o(a) filho(a) a participar da pesquisa.
Após o retorno dos TCLE, foi combinado com os professores um horário para a
aplicação dos instrumentos nos adolescentes, que foi realizada nas escolas, em pequenos
grupos. Toda a aplicação durou, aproximadamente, 60 minutos. A aplicação dos instrumentos,
na primeira etapa da pesquisa, iniciou-se pelo preenchimento da Ficha de Dados Sócio-
Demográficos, sendo aplicados em seguida o Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a
18 anos (YSR, Youth Self-Report), o Familiograma (FG) e o Inventário do Clima Familiar
(ICF).
Ao finalizar esta etapa, os adolescentes receberam dois envelopes contendo os
instrumentos a serem respondidos individualmente pelos pais, em suas casas e os TCLE
individuais. Os pais foram instruídos a, após responderem os questionários, lacrarem o
envelope e devolveram à escola, através dos filhos(as). A escola repassou o material aos
pesquisadores.
Durante o intervalo entre as coletas, o contato com as escolas foi mantido por meio de
reuniões com a direção das mesmas, e devoluções referentes aos dados transversais, com
vistas a facilitar o vínculo entre pesquisadores e instituições. Após um ano de intervalo, todos
os adolescentes que participaram do tempo 1 do estudo (n=187) foram convidados a participar
novamente da pesquisa. Destes, 48 adolescentes (25,67%) não foram encontrados, o que se
deve, provavelmente, ao fato de terem mudado de escola, ou até mesmo de cidade. Assim,
foram considerados para este estudo somente os adolescentes que participaram do T1 e do T2
da pesquisa. A coleta de dados dos adolescentes foi realizada nas escolas, em pequenos
grupos, em dois horários distintos, tendo em vista a inclusão de mais um instrumento nesta
etapa da pesquisa. No primeiro momento, foram aplicados a Ficha de Dados Sócio-
87
Demográficos, seguido do Inventário de Auto-Avaliação de Jovens de 11 a 18 anos (YSR,
Youth Self-Report), e do Familiograma (FG). Num segundo momento, os adolescentes
responderam ao Inventário do Clima Familiar (ICF) e ao Inventário de Eventos Estressores na
Adolescência (IEEA). Os pais não participaram da segunda etapa da pesquisa.
Procedimentos de Análise de Dados
Após a coleta de dados, as informações foram tabuladas em um banco de dados no
SPSS 18.0® (Statistical Package for Social Science 18.0). Inicialmente, realizou-se uma
análise descritiva (médias, DP, porcentagens) dos resultados em geral. Para a estatística
inferencial, previamente se comprovaram os critérios de supostos paramétricos (tipo de
variável, tamanho da amostra, normalidade). As associações entre variáveis foram analisadas
por meio de Correlação de Pearson e as comparações entre grupos por meio de Teste t para
amostras independentes. As análises preditivas foram realizadas por meio de regressão linear
múltipla, tendo os sintomas internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável
dependente. Foram considerados como significativos todos os resultados com p<0,05.
Apresentação e discussão dos resultados
Inicialmente, realizaram-se análises descritivas dos resultados do YSR, FG, ICF e
IEEA dos adolescentes no T1 e T2. A Tabela 3 apresenta média, desvio-padrão, mediana,
percentil e valores mínimo e máximo dos resultados desses instrumentos nos T1 e T2.
88
Tabela 3 Resultados Descritivos do YSR, FG, ICF e IEEA, dos adolescentes, no T1 e no T2
Instrumento Tempo Díade Média (DP)
Mediana 1º
Quartil 3º
Quartil Mín/Max
T1 - 15,91
(8,89) 14,00 21,00 29,20 1 – 41
YSR T2
- 14,04 (8,23)
12,00 20,00 27,00 0 – 42
T1 Mãe-
Filho(a) 47,75 (6,98)
50,00 44,00 53,00 22 – 55
FG Afetividade
T1 Pai-
Filho(a) 43,60 (9,71)
46,00 39,00 51,00 13 – 55
T1 Pai-Mãe 40,66
(11,34) 44,00 36,00 49,00 11 – 55
T2 Mãe-
Filho(a) 47,20 (7,57)
50,00 43,00 53,00 17 – 55
FG Afetividade
T2 Pai-
Filho(a) 42,55 (9,67)
44,00 37,00 51,00 11 – 55
T2 Pai-Mãe 39,66
(11,93) 42,00 33,00 49,00 11 – 55
T1 Mãe-
Filho(a) 16,57 (6,58)
14,00 11,00 20,00 11 – 42
FG Conflito
T1 Pai-
Filho(a) 17,18 (7,18)
14,50 12,00 20,00 11 – 46
T1 Pai-Mãe 18,55 (7,34)
17,00 13,00 23,00 11 – 50
T2 Mãe-
Filho(a) 16,73 (6,59)
15,00 12,00 20,00 11 – 41
FG Conflito
T2 Pai-
Filho(a) 17,24 (6,49)
15,00 12,00 21,00 11 – 44
T2 Pai-Mãe 19,32 (8,13)
16,00 13,00 23,00 11 – 51
ICF T1 - 13,17
(12,62) 16,00 7,00 23,00 -23 – 33
ICF T2 - 13,95
(11,39) 15,50 8,00 21,00 -30 – 35
IEEA T2 - 8,65
(5,06) 7,0 5,00 12,00 0 – 26
A partir dos dados da tabela, é possível ter uma noção geral sobre como as variáveis se
comportaram em termos de distribuição. Utilizando-se os pontos de corte definido por
Achenbach (1991), para a subescala de sintomas internalizantes, a partir dos Escores T
obtidos, no qual o adolescente é classificado como clínico (escore T superior a 63), limítrofe
89
(escore T de 60 a 63) ou não-clínico (escore T inferior a 60), obteve-se a classificação que
pode ser observada na tabela 4.
Tabela 4 – Classificação dos adolescentes nas categorias não-clínico, limítrofe e clínico, no
T1 e T2, para os sintomas internalizantes
Categoria %
Internalizantes
T1
Não-clínico
Limítrofe
Clínico
80,2
7,5
12,3
YSR
Internalizantes
T2
Não-clínico
Limítrofe
Clínico
82,7
4,3
12,9
Achenbach (1991) propõe ainda que, para fins de discriminação entre grupos clínicos
e não clínicos, a categoria limítrofe seja incluída na categoria clínica. Dessa forma
considerando os sintomas internalizantes no tempo 2, segundo os critérios propostos por
Achenbach (1991), observa-se 82,7% de adolescentes não-clínicos e 17,3% clínicos. Esse
índice se é compatível com os obtidos em outros estudos que indicam uma prevalência de
sintomas internalizantes entre 10% e 20% (Canino et al., 2004; Hackett, & Hackett, 1999).
Como os pontos de corte definidos por Achenbach (1991) foram obtidos com base em
amostra internacional, Melo e Silvares (2003) sugerem que os pontos de corte sejam
estabelecidos a partir dos percentis 75 para o grupo limítrofe e 90 para o grupo clínico. Para o
Familiograma, os pontos de corte utilizados para a classificação das famílias em alta e baixa
afetividades e conflito foram as medianas, conforme o estudo de Baptista, Teodoro, Cunha,
Santana e Carneiro (2009). Com relação ao ICF, foram calculados os valores de clima
positivo (somatório dos fatores apoio e coesão) e de clima negativo (pontos invertidos dos
fatores conflito e hierarquia), conforme Teodoro, Land e Algayer (2009).
90
Na tabela 5 então é possível observar as porcentagens relativas aos níveis normais,
limítrofes e clínicos do YSR, dos adolescentes nos tempos 1 e 2, obtidos através dos percentis
75 e 90; os níveis de conflito e afetividade familiar, na percepção do adolescente, de acordo
com o Familiograma (FG), nos dois tempos; e os níveis de clima familiar, na percepção do
adolescente, nos tempos 1 e 2, de acordo com o Inventário de Clima Familiar (ICF).
Tabela 5 – Porcentagens do YSR, FG, e ICF, dos adolescentes, nos tempos 1 e 2
Categoria %
Internalizantes T1
Não-clínico Limítrofe Clínico
71,7 17,6 10,7
YSR
Internalizantes T2
Não-clínico Limítrofe Clínico
74,1 15,1 10,8
Alta afetividade mãe-filho(a) 44,3 Díade Mãe-Filho(a) Baixa afetividade mãe-filho(a) 55,7 Alto conflito mãe-filho(a) 45,8 Baixo conflito mãe-filho(a) 54,2
Alta afetividade pai-filho(a) 45,4 Familiograma T1 Díade Pai-Filho(a) Baixa afetividade pai-filho(a) 54,6
Alto conflito pai-filho(a) 50,0 Baixo conflito pai-filho(a) 50,0 Alta afetividade pai-mãe 47,0 Díade Pai-Mãe Baixa afetividade pai-mãe 53,0 Alto conflito pai-mãe 45,8 Baixo conflito pai-mãe 54,2 Alta afetividade mãe-filho(a) 43,4 Díade Mãe-Filho(a) Baixa afetividade mãe-filho(a) 57,6 Alto conflito mãe-filho(a) 42,4 Baixo conflito mãe-filho(a) 57,6 Alta afetividade pai-filho(a) 46,6
Familiograma T2 Díade Pai-Filho(a) Baixa afetividade pai-filho(a) 53,4 Alto conflito pai-filho(a) 45,1 Baixo conflito pai-filho(a) 54,9 Alta afetividade pai-mãe 49,2 Díade Pai-Mãe Baixa afetividade pai-mãe 50,8 Alto conflito pai-mãe 46,0 Baixo conflito pai-mãe 54,0
ICF T1 Clima Positivo 88,8 Clima Negativo 11,2 ICF T2 Clima Positivo 94,9 Clima Negativo 5,1
91
Pode-se observar, na tabela, a preponderância de adolescentes não clínicos (T1= 71,7;
T2= 74,1), uma distribuição equiparada, mas com leve preponderância de baixa afetividade e
baixo conflito em todas as díades familiares, tanto no T1 como no T2 e uma avaliação
positiva do clima familiar como um todo.
A partir do Familiograma é possível que as famílias sejam classificadas em quatro
tipos diferentes, de acordo com o nível de afetividade e conflito. Assim, as famílias foram
categorizadas segundo nível de conflito e afetividade, na percepção do adolescente, para cada
díade estudada (mãe-filho(a), pai-filho(a) e pai-mãe). Os resultados podem ser observados na
tabela 6.
Tabela 6. Percentagem dos tipos familiares, de acordo com o FG, na percepção do
adolescente, para cada díade
Tipo familiar Díade
Mãe-Filho(a)
Díade
Pai-Filho(a)
Díade
Pai-Mãe I: alta afetividade e baixo conflito 31,7% 31,6% 34,9%
II: alta afetividade e alto conflito 10,8% 15,0% 14,3%
III: baixa afetividade e baixo conflito 25,9% 23,3% 19,0%
IV: baixa afetividade e alto conflito 31,7% 30,1% 31,7%
Os resultados da classificação das famílias segundo o nível de afetividade e conflito,
na percepção do adolescente, mostram que, em torno de 30% das famílias classificam-se
como sendo do Tipo I que caracteriza as famílias mais funcionais, ou seja, as que apresentam
alta afetividade e baixo conflito. Por outro lado, mais ou menos a mesma proporção
caracteriza as famílias mais disfuncionais, aquelas que apresentam baixa afetividade e alto
nível de conflito.
92
Os eventos estressores mensurados através do IEEA foram categorizados em
diferentes domínios, de acordo com o contexto de desenvolvimento do adolescente, conforme
critério utilizado por Dell’Aglio, Benetti, Deretti, D’Incao, e Leon (2005). O percentual de
ocorrência e o impacto dos eventos estressores em cada domínio são apresentados na tabela 7.
Tabela 7 - Percentual de ocorrência e impacto dos eventos estressores, nos diferentes
domínios (familiar, escolar, judicial/institucional, social, sexual e pessoal)
Domínio Evento Estressor Ocorrência Impacto (%)
(%) Baixo Médio Alto
Você teve que obedecer às ordens de seus pais
84,6 51,0 12,5 36,5
Você teve familiares com ferimentos ou doenças
40,9 55,5 17,9 26,8
Você brigou com irmãos(ãs) 40,7 41,8 21,8 36,4 Morreu um outro familiar 38,2 57,7 32,1 19,2 Você não recebeu cuidado e
atenção dos pais 24,1 39,4 12,1 48,5
Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros
21,3 75,9 6,9 17,2
Familiar Um dos seus pais ficou desempregado
19,6 70,4 7,4 22,2
Seus pais se divorciaram 13,1 38,9 11,1 50,0 Um dos seus pais se casou
novamente 11,7 81,3 6,3 12,5
Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais
8,0 27,3 45,5 27,3
Você foi rejeitado(a) pelos familiares
7,0 0,0 0,0 100,0
Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço
6,5 77,8 0,0 22,2
Morreu um de seus irmãos(ãs) 2,2 66,7 33,3 0,0 Morreu um dos seus pais 1,4 50,0 0,0 50,0 Você foi impedido(a) de ver os
seus pais 1,4 50,0 50,0 0,0
Você assumiu o sustento da sua família
0,7 100,0 0,0 0,0
Você foi adotado(a) 0,7 100,0 0,0 0,0 Você teve provas no colégio 91,5 31,9 10,1 58,0 Você teve problemas com
professores 35,0 56,3 27,1 16,7
Você rodou de ano na escola 18,4 60,0 12,0 28,0 Escolar Você foi expulso(a) da sala de 17,0 56,5 8,7 34,8
93
aula pela professora Você mudou de colégio 15,2 66,7 14,3 19,0 Você teve dificuldades de
adaptação na escola 7,9 45,5 9,1 45,5
Você se relacionou mal com colegas
7,3 40,0 20,0 40,0
Você foi suspenso(a) da escola 7,2 80,0 10,0 10,0 Você foi expulso(a) da escola 2,2 66,7 33,3 0,0 Você foi para o Conselho Tutelar 2,9 50,0 25,0 25,0 Judicial/ Institucional
Você teve problemas com a polícia
2,2 33,3 0,0 66,7
Você teve problemas com a justiça
0,7 100,0 0,0 0,0
Você foi preso 0,0 0,0 0,0 0,0 Você foi levado(a) para uma
instituição de abrigo 0,0 0,0 0,0 0,0
Você discutiu com amigos(as) 51,1 49,3 21,7 29,0 Você foi impedido(a) de ir a
festas ou passeios 41,8 33,9 23,2 42,9
Você terminou um namoro 25,4 58,8 14,7 26,5 Você foi xingado(a) ou
ameaçado(a) verbalmente 21,5 66,5 17,2 17,2
Social Você sofreu castigos e punições 21,3 62,1 17,2 20,7 Você teve amigos(as) com
ferimentos ou doenças 15,9 45,5 36,4 18,2
Você mudou de casa ou de cidade 14,7 75,0 15,0 10,0 Morreu algum amigo(a) 13,1 61,1 16,7 22,2 Você sentiu-se rejeitado(a) por
colegas e amigos(as) 13,0 38,9 27,8 33,3
Você envolveu-se em brigas com agressão física
8,0 45,5 18,2 36,4
Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a)
7,3 50,0 10,0 40,0
Você teve dificuldades em fazer amizades
5,8 62,5 25,0 12,5
Você ficou sem amigos(as) 5,8 37,5 25,0 37,5 Você teve problemas com
autoridades ou chefia 2,9 25,0 25,0 50,0
Você teve problemas com os outros pela sua raça
0,0 0,0 0,0 0,0
Você teve ou está esperando um filho(a)
0,7 0,0 0,0 100,0
Sexual Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade
0,7 0,0 0,0 100,0
Você ou sua namorada fez aborto 0,7 0,0 0,0 100,0 Você foi estuprado(a) 0,0 0,0 0,0 0,0 Você passou por dificuldades
financeiras 28,3 74,4 12,8 12,8
Você teve problemas e dúvidas 17,5 54,2 25,0 20,8
94
quanto às mudanças no corpo e aparência
Você foi assaltado(a) 16,9 52,2 21,7 26,1 Você teve crise nervosa 13,8 42,1 21,1 36,8 Pessoal Você teve doenças graves ou
lesões sérias 7,3 40,0 10,0 50,0
Você sofreu um acidente 6,6 55,6 0,0 44,4 Você não conseguiu emprego 6,6 77,8 0,0 22,2 Você teve perdas financeiras 6,6 55,6 22,2 22,2 Você sentiu-se pobre 6,5 11,1 33,3 55,6 Você usou drogas 5,1 71,4 14,3 14,3 Você teve problemas no trabalho 2,2 33,3 0,0 66,7 Você sofreu algum tipo de
violência 2,2 33,3 66,7 0,0
Você perdeu o emprego 1,4 100,0 0,0 0,0 Você dormiu na rua 0,0 0,0 0,0 0,0
A média de ocorrência dos eventos estressores foi de 8,65 (DP=5,06). Os eventos
estressores mais citados pelos adolescentes foram: “teve provas no colégio” (91,5%), “teve
que obedecer às ordens de seus pais” (84,6%), “discutiu com amigos(as)” (51,1 %), “foi
impedido(a) de ir a festas ou passeios” (41,8%), “teve familiares com ferimentos ou doenças
(40,9%) e “morte de um familiar” (38,2%). Com relação ao impacto dos eventos estressores,
os considerados como estressores de mais alto impacto foram “foi rejeitado(a) pelos
familiares”, “teve ou está esperando um filho(a)”, “foi tocado(a) sexualmente contra a
vontade” e “você ou sua namorada fez um aborto”.
Apesar dos estressores de alto impacto terem apresentado uma baixa ocorrência, estes
merecem ser considerados, tendo em vista, principalmente, que os eventos citados como
altamente estressores envolvem situações graves. Dessa forma, estes eventos podem
contribuir para que os adolescentes estejam mais vulneráveis ao desenvolvimento de
problemas emocionais e de comportamento, considerando a fase do desenvolvimento que
estão vivendo.
Com a finalidade de verificar diferenças no escore total do IEEA ao serem
comparados os grupos clínico e não-clínico, com relação aos sintomas internalizantes do YSR
95
foi realizado teste t. Os resultados revelaram uma diferença significativa (t=-4,962; p<0,01),
sendo que o grupo clínico (M=13,04, DP=4,78) relatou um número bem maior de estressores
vivenciados no último ano quando comparado ao grupo não clínico (M=7.73, DP=4,63).
Estabilidade Temporal das Medidas
Com o intuito de investigar a estabilidade temporal das medidas dos instrumentos
aplicados aos adolescentes no T1 e no T2, foram realizadas Correlações de Pearson. No que
diz respeito aos sintomas internalizantes dos adolescentes, mensurados através do YSR,
observou-se uma correlação significativa (r=0,655, p< 0,01) entre os índices obtidos no tempo
1 e tempo 2, indicando que houve uma estabilidade dessa medida no período investigado.
O mesmo ocorreu em relação as subescalas do YSR que compõem a dimensão dos
sintomas internalizantes, como se pode observar na tabela 8:
Tabela 8 – Subescalas de sintomas internalizantes do YSR T1 e T2
Isolamento/
Depressão
Queixas
Somáticas
Ansiedade/
Depressão
Isolamento/Depressão 2 0,458** 0,274** 0,363**
Queixas Somáticas 2 0,316** 0,563** 0,426**
Ansiedade/Depressão 2 0,448** 0,427** 0,633**
Nota: ** p<0.01
Considerando as dimensões do clima familiar, observa-se que houve estabilidade na
percepção do sistema familiar, na visão do adolescente, nas quatro dimensões do ICF: Apoio
(r=0,534, p<0,01), Hierarquia (r=0,427, p<0,01), Coesão (r=0,449, p<0,01) e Conflito
(r=0,615, p<0,01).
96
Tabela 9. Escores de Correlação de Pearson entre as variáveis do ICF, na percepção do
adolescente, no tempo 1 e tempo2
Apoio T1 Hierarquia T1 Coesão T1 Conflito T1
Apoio T2 0,534** -0,132 0,381** -0,232**
Hierarquia T2 -0,113 0,427** -0,086 0,392**
Coesão T2 0,364** -0,211* 0,449** -0,348**
Conflito T2 -0,106 0,390 -0,313** 0,615**
Nota: ** p<0.01
Adicionalmente, podem ser observadas na tabela 9, correlações positivas significativas
entre os fatores Coesão no T1 com Apoio no T2 (r=0,381, p< 0,01), Conflito no T1 com
Hierarquia no T2 (r=0,392, p< 0,01) e Hierarquia no T1 com Conflito no T2 (r=390, p< 0,01).
Correlações negativas foram verificadas entre o Conflito no T1 e a Coesão no T2 (r=-0,348,
p< 0,01) e Coesão no T1 e Conflito no T2 (r=-0,313, p< 0,01), evidenciando a interação entre
as dimensões que compõem o clima familiar.
A seguir, foram realizadas correlações entre a percepção de afetividade no tempo T1 e
no T2. Observa-se, na tabela 10, que foram encontradas correlações positivas em todas as
dimensões, indicando a estabilidade da medida no período investigado.
Tabela 10. Correlação entre Afetividade FG no T1 e T2, na percepção do adolescente
Afetividade
mãe-filho T1
Afetividade
pai-filho(a) T1
Afetividade
pai-mãe T1
Afetividade mãe-filho(a) T2 0,538** 0,145 0,283**
Afetividade pai-filho(a) T2 0,069 0,507* 0,349**
Afetividade pai-mãe T2 0,227* 0,285** 0,619**
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Também se observam correlações positivas entre as diferentes díades, especialmente
entre a afetividade observada na díade pai-mãe no tempo 1 e as demais díades, indicando que
97
a percepção do adolescente sobre a conjugalidade dos pais mostra-se diretamente relacionada
a percepção dele sobre a relação dos pais com ele.
As mesmas análises foram realizadas para verificar a estabilidade da dimensão de
conflito no tempo 1 e 2, na percepção do adolescente. Neste estudo, também observou-se uma
estabilidade na percepção dos adolescentes com relação ao conflito familiar, indicando que
aqueles que percebiam conflito no T1 também percebiam a sua presença no T2, como pode
ser observado na tabela 11:
Tabela 11. Correlação entre Conflito FG, na percepção do adolescente, no tempo T1 e no
tempo T2
Conflito
mãe-filho
Conflito
pai-filho(a)
Conflito
pai-mãe
Conflito mãe-filho(a) T2 0,581** 0,270** 0,372**
Conflito pai-filho(a) T2 0,290** 0,531** 0,428**
Conflito pai-mãe T2 0,368** 0,391** 0,656**
Nota: ** p<0.01
Nesta dimensão, ainda mais do que ocorre com relação à afetividade, observa-se
correlações significativas entre as díades, evidenciando o quanto o conflito transborda entre a
parentalidade e a conjugalidade.
Correlação entre a percepção das relações familiares no Tempo 1 e os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2
Foram realizadas correlações de Pearson entre as percepções do adolescente, de sua
mãe e do seu pai sobre o clima familiar no tempo 1 e os sintomas internalizantes no tempo 2.
Os resultados revelaram que:
98
Tabela 12. Correlação entre ICF (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2
Apoio 0,013
ICF do Adolescente no T1 Hierarquia 0,167
Coesão -0,73
Conflito 0,237**
Apoio -0,239**
ICF da Mãe no T1 Hierarquia 0,282**
Coesão -0,299**
Conflito 0,433**
Apoio -0,225
ICF do Pai no T1 Hierarquia 0,005
Coesão -0,185
Conflito 0,019
Nota: ** p<0.01
Os resultados apontaram correlações positivas entre a percepção de conflito pelo
adolescente no T1 e a manifestação de sintomas internalizantes por ele no T2. Outras
correlações foram observadas entre os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2 e todas
as dimensões do clima familiar na percepção materna no T1, o que parece estar evidenciando
a percepção aguçada das mães com relação ao clima familiar e o quanto podem afetar nos
sintomas dos filhos.
Também foram calculadas as correlações entre a percepção dos relacionamentos
diádicos no T1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no T2. Os resultados foram os
seguintes:
99
Tabela 13. Correlação entre FG (T1) e Sintomas Internalizantes (T2)
Internalizante T2
Conflito mãe-filho(a) 0,218*
Afetividade mãe-filho(a) -0,185*
FG do Adolescente no T1 Conflito pai-filho(a) 0,205*
Afetividade pai-filho(a) -0,129
Conflito pai-mãe 0,216*
Afetividade pai-mãe -0,069
Conflito mãe-filho(a) 0,119
Afetividade mãe-filho(a) -0,022
FG da Mãe no T1 Conflito pai-filho(a) 0,120
Afetividade pai-filho(a) -0,137
Conflito pai-mãe 0,098
Afetividade pai-mãe -0,035
Conflito mãe-filho(a) 0,119
Afetividade mãe-filho(a) 0,000
FG do Pai no T1 Conflito pai-filho(a) 0,045
Afetividade pai-filho(a) 0,121
Conflito pai-mãe 0,068
Afetividade pai-mãe 0,034
Nota: *p<0.05
Observam-se correlações significativas somente entre a percepção do próprio
adolescente sobre os relacionamentos entre os membros da família no T1 e a manifestação de
sintomas internalizantes no T2.
100
Correlação entre a percepção das relações familiares e os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2
Foram repetidos os cálculos das correlações anteriores, mas considerando a percepção
dos adolescentes sobre as relações familiares, mensuradas através do ICF e do Familiograma,
no tempo 2. A tabela 14 mostra os resultados obtidos:
Tabela 14. Correlação entre a percepção dos adolescentes sobre as relações familiares e os
sintomas internalizantes no T2
Internalizante T2
Apoio -0,043
ICF Adolescente T2 Hierarquia 0,379**
Coesão -0,162
Conflito 0,360**
Conflito Mãe-Filho(a) 0,112
Conflito Pai-Filho(a) 0,207*
Familiograma Conflito Pai-Mãe 0,256**
Adolescente T2 Afetividade Mãe-Filho(a) 0,151
Afetividade Pai-Filho(a) -0,053
Afetividade Pai-Mãe -0,046
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Os resultados revelam que as principais correlações existiram entre as dimensões de
conflito e os sintomas internalizantes, especialmente os conflitos observados pelos
adolescentes nas díades pai-mãe e pai-filho. Esse resultado reforça o quanto a dimensão da
conjugalidade dos pais repercute nos sintomas dos adolescentes, ao mesmo tempo em que
revela a importância da relação com o pai.
101
Correlações entre os problemas emocionais e de comportamento dos pais e dos
filhos
A análise de Correlação de Pearson entre os problemas emocionais e de
comportamento dos pais no tempo 1 e os sintomas internalizantes dos adolescentes no tempo
2 mostraram correlações significativas e positivas entre a sintomatologia materna (tanto
internalizante como externalizante) e os sintomas internalizantes paternos com os
internalizantes do adolescente no tempo 2, conforme dados da tabela 15:
Tabela 15. Correlação entre problemas emocionais e de comportamento dos pais no T1 e
sintomas internalizantes do adolescente no T2
Internalizante T2
Internalizantes Mãe T1 0,307**
Externalizantes Mãe T1 0,318**
Internalizantes Pai T1 0,274*
Externalizantes Pai T1 0,179
Nota: ** p<0.01, *p<0.05
Esses dados trazem à luz a possibilidade de transmissão transgeracional de sintomas
psicopatológicos, ao se perceber que quando as mães apresentam problemas de
comportamento de qualquer natureza ou quando os pais apresentam sintomas internalizantes,
é maior a chance do filho também apresentar sintomatologia internalizante.
Preditores dos sintomas internalizantes dos adolescentes
No intuito de identificar alguns preditores para os sintomas internalizantes dos
adolescentes no tempo 2, procedeu-se a realização de regressões lineares múltiplas com o
102
método Enter. Foram consideradas, inicialmente, como variáveis independentes os sintomas
internalizantes do filho(a), da mãe e do pai no T1. Os resultados estão descritos na Tabela 16.
Tabela 16 - Análise de Regressão para os Sintomas Internalizantes dos Adolescentes no T2 e
os Sintomas Internalizantes do Filho(a), da Mãe e do Pai
Internalizantes
Adolescentes
T2
Coeficientes não
Padronizados
Coeficientes
Padronizados
Modelo B Erro padrão Beta t Sig
(Constante) 3,007 2,04 0,146 0,146
Internalizantes (F) 0,564 0,094 0,621 5,975 0,000
Internalizantes (M) 0,043 0,089 0,055 0,484 0,630
Internalizantes (P) 0,073 0,073 0,111 0,999 0,322
Porcentagem de variância explicada: 43%
F = Filho(a); M = Mãe; P = Pai
Como pode ser observado na Tabela 15, o principal preditor dos sintomas
internalizantes dos adolescentes no T2 foram os sintomas internalizantes deles próprios no T1,
explicando 43% de variância. As demais variáveis não apresentaram poder preditivo
significativo, nesta amostra, para os sintomas internalizantes dos adolescentes.
Ao serem incluídas as variáveis referentes às relações familiares (Apoio, Hierarquia,
Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG), amplia-se o poder preditivo para
48,1%. Os resultados são mostrados na tabela 17.
103
Tabela 17 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas
Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a) e o ICF
Internalizantes
Adolescentes
T2
Coeficientes não
Padronizados
Coeficientes
Padronizados
Modelo B Erro padrão Beta t Sig
(Constante) -3,705 9,654 -0,384 0,702
Internalizantes 0,636 0,078 0,691 8,189 0,000
Apoio 0,077 0,193 0,037 0,401 0,689
Hierarquia -0,016 0,179 -0,008 -0,087 0,931
Coesão 0,084 0,234 0,039 0,358 0,721
Conflito 0,071 0,223 0,037 0,319 0,750
Conflito mãe-criança -0,062 0,176 -0,040 -0,354 0,724
Afetividade mãe-criança 0,040 0,130 0,029 0,304 0,761
Conflito pai-criança -0,024 0,150 -0,020 -0,161 0,873
Afetividade pai-criança -0,028 0,109 -0,029 -0,252 0,802
Conflito pai-mãe 0,144 0,164 0,119 0,880 0,381
Afetividade pai-mãe 0,060 0,088 0,081 0,674 0,502
Porcentagem de variância explicada: 48,1%
Conforme pode ser observado na tabela 16, houve um aumento do poder preditivo ao
incluir os dados das relações familiares, ainda que as variáveis familiares não exerçam
influência significativa por si só.
Por fim, além dos sintomas internalizantes no T1 e das variáveis das relações
familiares (Apoio, Hierarquia, Coesão e Conflito do ICF e Afetividade e Conflito do FG),
foram incluídos os dados dos eventos estressores. A tabela 18 apresenta os resultados obtidos:
104
Tabela 18 - Análise de Regressão Linear com o Método Enter para os Sintomas
Internalizantes dos Adolescentes no T2 e os Sintomas Internalizantes do Filho(a), ICF e
IEEA
Internalizantes
Adolescentes
T2
Coeficientes não
Padronizados
Coeficientes
Padronizados
Modelo B Erro padrão Beta t Sig
(Constant) -4,357 9,396 -0,464 0,644
Internalizante 0,561 0,081 0,609 6,913 0,000
Apoio 0,090 0,187 0,043 0,479 0,633
Hierarquia -0,018 0,174 -0,009 -0,101 0,920
Coesão 0,132 0,229 0,062 0,579 0,564
Conflito 0,082 0,217 0,043 0,379 0,706
Conflito mãe-criança -0,094 0,172 -0,061 -0,547 0,585
Afetividade mãe-criança 0,038 0,126 0,028 0,302 0,763
Conflito pai-criança -0,118 0,150 -0,096 -0,785 0,434
Afetividade pai-criança -0,062 0,107 -0,065 -0,575 0,566
Conflito pai-mãe 0,163 0,159 0,136 1,025 0,308
Afetividade pai-mãe 0,077 0,086 0,105 0,891 0,375
Eventos Estressores 0,362 0,142 0,223 2,554 0,012
Porcentagem de variância explicada: 51,4%
Como pode ser observado na Tabela 18, os eventos estressores, os dados familiares e
os sintomas internalizantes dos próprios adolescentes há um ano explicam juntos 51,4% da
variância. Adicionalmente, esta análise nos mostra que 3,3% da variância é explicada pelos
105
eventos estressores, tendo esses uma influência significativa (p=0,012) na sintomatologia
internalizante dos adolescentes.
Considerações Finais
Buscando investigar a percepção sobre as relações familiares (afetividade, conflito e
clima familiar), os sintomas internalizantes dos pais e dos filhos e os eventos estressores, no
período de um ano, como preditores dos sintomas internalizantes dos filhos, foram realizadas
análises longitudinais, por meio de regressão linear múltipla, tendo os sintomas
internalizantes dos adolescentes no Tempo 2 como variável dependente. Os resultados obtidos
indicaram que as relações familiares não tiveram um poder explicativo significativo com
relação aos sintomas internalizantes do adolescente após um ano.
Contudo, os eventos estressores vivenciados pelos adolescentes no último ano,
apresentaram poder preditivo significativo (β=0,223; p=0,012) com relação aos sintomas
internalizantes dos adolescentes. Uma discussão mais abrangente sobre o os resultados
encontrados foi apresentada no artigo empírico.
Anexo C – Ficha de Dados Sócio-demográficos
Nome: .....................................................................................................................
Idade: ............................ Telefone para contato: .....................................................
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Quantos irmãos você tem?.......................................................................................
Atualmente, quem mora com você em sua casa? .................................................... ................................................................................................................................. .................................................................................................................................
Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não Qual sua profissão? ........................................
Você está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim ( ) Não
Você tomou, durante o último ano, algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? .......................................................................
Sobre seus pais, responda:
Atualmente seus pais: ( ) Vivem juntos ( ) Vivem Separados
Qual é a escolaridade de seu pai?
( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior
Seu pai está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim Não ( )
No último ano, seu pai tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual?...............................................................................
Qual a escolaridade de sua mãe?
( ) Não estudou ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino Superior
108
Sua mãe está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico no último ano?
( ) Sim Não ( )
No último ano, sua mãe tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................
Sobre sua família, responda:
Alguém da sua família está ou esteve em atendimento psicológico ou psiquiátrico?
( ) Sim Não ( )
No último ano, alguém de sua família tomou algum tipo de medicação de uso contínuo?
( ) Sim Não ( ) Qual? ...............................................................................
Anexo D – Familiograma (FG)
Nome:__________________________________ Sexo:__________
Idade:__________ Escolaridade: __________ Data: __/__/____
Nas próximas páginas, pediremos a você que descreva como é o relacionamento entre algumas pessoas da sua família. Para isto, gostaríamos que você pensasse em cada membro de sua família e sobre os sentimentos que existem, geralmente, no dia-a-dia de cada relação. Em seguida, pediremos que você pense em apenas uma relação de cada vez. Para cada relação familiar, serão mostradas várias palavras que demonstram sentimentos e comportamentos. Você deverá marcar o quanto você acha que estas palavras refletem a relação. Os valores vão de 1 (a palavra não descreve a relação de jeito nenhum) até 5 (a palavra descreve a relação totalmente). Veja este exemplo sobre o relacionamento de João e Pedro:
João e Pedro têm um relacionamento:
De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completa- mente
Tranqüilo 1 2 3 4 5
Neste exemplo, o relacionamento de João e Pedro foi descrito como sendo completamente tranqüilo (5). Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só queremos conhecer um pouco mais sobre a sua família.
Relação entre pai e mãe Meu pai e minha mãe têm um relacionamento: De jeito
nenhum Pouco Mais ou
menos Muito Comple-
tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5
110
Relação entre pai e filho
Meu pai e eu temos um relacionamento: De jeito
nenhum Pouco Mais ou
menos Muito Comple-
tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5
Relação entre mãe e filho Minha mãe e eu temos um relacionamento: De jeito
nenhum Pouco Mais ou
menos Muito Comple-
tamente 1 Carinhoso 1 2 3 4 5 2 Alegre 1 2 3 4 5 3 Confuso 1 2 3 4 5 4 Nervoso 1 2 3 4 5 5 Estressante 1 2 3 4 5 6 Agradável 1 2 3 4 5 7 Verdadeiro 1 2 3 4 5 8 Afetivo 1 2 3 4 5 9 Protetor 1 2 3 4 5 10 Baixo-astral 1 2 3 4 5 11 Amoroso 1 2 3 4 5 12 Ruim 1 2 3 4 5 13 Sufocante 1 2 3 4 5 14 Acolhedor 1 2 3 4 5 15 Tenso 1 2 3 4 5 16 Harmonioso 1 2 3 4 5 17 Atencioso 1 2 3 4 5 18 Precioso 1 2 3 4 5 19 Frio 1 2 3 4 5 20 Difícil 1 2 3 4 5 21 Agressivo 1 2 3 4 5 22 Chato 1 2 3 4 5
Anexo E – Inventário do Clima Familiar (ICF)
Nome:_______________________________________________ Sexo:__________
Idade:_________ Escolaridade: __________ Data: __/__/____
Este questionário trata de um tema sobre o qual todos nós temos muito a dizer: a nossa família. Gostaríamos de pedir que você pense sobre o(s) membro(s) de sua família e sobre como eles, geralmente, se relacionam. Abaixo estão algumas frases que descrevem situações e sentimentos que podem ou não ocorrer no dia-a-dia de qualquer família. Leia cada frase e responda se ela se aplica ou não à sua família, utilizando os seguintes números:
Não concordo de jeito nenhum
Concordo um pouco
Concordo mais ou menos
Concordo muito
Concordo completamente
1 2 3 4 5
Lembre-se de que não existem respostas certas ou erradas. Nós só desejamos saber como as coisas têm estado em sua família ultimamente.
Em minha família... De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completamente
1. Procuramos ajudar as pessoas da nossa família quando percebemos que estão com problemas.
1 2 3 4 5
2. As proibições são constantes. 1 2 3 4 5 3. Uns mandam e outros obedecem. 1 2 3 4 5 4. As pessoas zombam umas das outras. 1 2 3 4 5 5. Briga-se por qualquer coisa. 1 2 3 4 5 6. Algumas pessoas deixam de fazer as suas coisas para auxiliar as outras pessoas da família.
1 2 3 4 5
7. Não importa a vontade da maioria, a decisão final é sempre da mesma pessoa.
1 2 3 4 5
8. As pessoas irritam umas às outras. 1 2 3 4 5 9. As pessoas gostam de passear e de fazer coisas juntas. 1 2 3 4 5 10. As pessoas resolvem os problemas brigando. 1 2 3 4 5 11. As pessoas criticam umas às outras freqüentemente. 1 2 3 4 5 12. Resolver problemas significa discussão e brigas. 1 2 3 4 5 13. As pessoas tentam ajudar umas às outras quando as coisas não vão bem.
1 2 3 4 5
14. As pessoas gostam umas das outras. 1 2 3 4 5 15. Sinto que existe união entre os membros. 1 2 3 4 5 16. Os mais velhos mandam mais. 1 2 3 4 5 17. As pessoas se sentem próximas umas das outras. 1 2 3 4 5
112
Em minha família... De jeito nenhum
Pouco Mais ou menos
Muito Completamente
18. O(s) filho(s) têm pouco poder nas decisões familiares. 1 2 3 4 5 19. Temos prazer e alegria em passar o tempo juntos. 1 2 3 4 5 20. Algumas pessoas resolvem os problemas de maneira autoritária 1 2 3 4 5 21. Ajudamos financeiramente uns aos outros. 1 2 3 4 5 22. As pessoas me ajudam a fazer as coisas quando não tenho tempo.
1 2 3 4 5
Anexo F – Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA)
Nome: _________________________________ Idade: ______ Data: ___ /___ / ______
Abaixo estão apresentados alguns eventos que podem ter acontecido na sua vida, no último ano, provocando uma reação de tensão que chamamos de estresse. Damos o nome de estresse a um conjunto de reações físicas e psicológicas que temos quando passamos por uma situação de vida difícil, que nos dá medo, incomoda ou irrita. Marque SIM para aqueles eventos de vida que ocorreram com você no último ano e atribua um valor entre 1 a 5, de forma que quanto maior for o valor, mais forte foi o estressor para você. Caso o evento não tenha acontecido com você, marque NÃO, e passe a afirmativa seguinte. Considere o seguinte exemplo:
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO SIM 1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
0) Você teve problemas de saúde Não Sim 1 2 3 4 5
Nesse exemplo, o jovem realmente teve problemas de saúde (marcou SIM) e considerou isso um evento estressor muito forte, portanto, marcou o valor “5”. Se o jovem não tivesse passado por nenhum problema de saúde, ele assinalaria a alternativa “NÃO”, pois o mesmo não ocorreu. Leia com atenção às alternativas abaixo e trabalhe individualmente. Muito obrigado pela sua colaboração.
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
1) Você teve problemas com professores Não Sim 1 2 3 4 5
2) Você teve problemas com a polícia Não Sim 1 2 3 4 5
3) Você passou por dificuldades financeiras Não Sim 1 2 3 4 5
4) Você teve problemas com a justiça Não Sim 1 2 3 4 5
5) Você rodou de ano na escola Não Sim 1 2 3 4 5
6) Um dos seus pais teve filhos com outros parceiros Não Sim 1 2 3 4 5
7) Você perdeu o emprego Não Sim 1 2 3 4 5
8) Você teve problemas e dúvidas quanto às mudanças no corpo e aparência
Não Sim 1 2 3 4 5
9) Você ficou sem amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
10) Você não conseguiu emprego Não Sim 1 2 3 4 5
11) Você mudou de colégio Não Sim 1 2 3 4 5
12) Você mudou de casa ou de cidade Não Sim 1 2 3 4 5
13) Você assumiu o sustento da sua família Não Sim 1 2 3 4 5
114
14) Você foi preso Não Sim 1 2 3 4 5
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
15) Você foi para o conselho tutelar Não Sim 1 2 3 4 5
16) Morreu um dos seus pais Não Sim 1 2 3 4 5
17) Morreu um de seus irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5
18) Morreu um outro familiar Não Sim 1 2 3 4 5
19) Morreu algum amigo(a) Não Sim 1 2 3 4 5
20) Você discutiu com amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
21) Você brigou com irmãos(ãs) Não Sim 1 2 3 4 5
22) Você teve familiares com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5
23) Um dos seus pais ficou desempregado Não Sim 1 2 3 4 5
24) Você dormiu na rua Não Sim 1 2 3 4 5
25) Você teve amigos(as) com ferimentos ou doenças Não Sim 1 2 3 4 5
26) Você não recebeu cuidado e atenção dos pais Não Sim 1 2 3 4 5
27) Você foi impedido(a) de ir a festas ou passeios Não Sim 1 2 3 4 5
28) Você teve que obedecer às ordens de seus pais Não Sim 1 2 3 4 5
29) Você teve crise nervosa Não Sim 1 2 3 4 5
30) você teve doenças graves ou lesões sérias Não Sim 1 2 3 4 5
31) Você teve problemas com os outros pela sua raça Não Sim 1 2 3 4 5
32) Você teve dificuldades de adaptação na escola Não Sim 1 2 3 4 5
33) Você sofreu humilhação ou foi desvalorizado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
34) Você sofreu castigos e punições Não Sim 1 2 3 4 5
35) Você teve dificuldades em fazer amizades Não Sim 1 2 3 4 5
36) Um dos seus pais se casou novamente Não Sim 1 2 3 4 5
37) Você sofreu agressão física ou ameaça de agressão por parte dos seus pais
Não Sim 1 2 3 4 5
38) Você foi tocado(a) sexualmente contra a vontade Não Sim 1 2 3 4 5
39) Você foi suspenso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5
40) Você foi adotado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
41) Você teve ou está esperando um filho(a) Não Sim 1 2 3 4 5
42) Você ou sua namorada fez aborto Não Sim 1 2 3 4 5
43) Você foi levado(a) para uma instituição de abrigo Não Sim 1 2 3 4 5
44) Você teve problemas no trabalho Não Sim 1 2 3 4 5
45) Você teve provas no colégio Não Sim 1 2 3 4 5
46) Você teve perdas financeiras Não Sim 1 2 3 4 5
47) Você usou drogas Não Sim 1 2 3 4 5
115
48) Um dos seus pais teve que morar longe por causa do serviço Não Sim 1 2 3 4 5
Se SIM, o quanto foi estressante
NÃO
SIM
1 2 3 4 5
No último ano... Nada Muito
49) Você envolveu-se em brigas com agressão física Não Sim 1 2 3 4 5
50) Você foi estuprado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
51) Você foi rejeitado(a) pelos familiares Não Sim 1 2 3 4 5
52) Você foi assaltado(a) Não Sim 1 2 3 4 5
53) Você foi xingado(a) ou ameaçado(a) verbalmente Não Sim 1 2 3 4 5
54) Seus pais se divorciaram Não Sim 1 2 3 4 5
55) Você foi expulso(a) da escola Não Sim 1 2 3 4 5
56) Você foi expulso(a) da sala de aula pela professora Não Sim 1 2 3 4 5
57) Você sofreu algum tipo de violência Não Sim 1 2 3 4 5
58) Você terminou um namoro Não Sim 1 2 3 4 5
59) Você sentiu-se rejeitado(a) por colegas e amigos(as) Não Sim 1 2 3 4 5
60) Você sofreu um acidente Não Sim 1 2 3 4 5
61) Você teve problemas com autoridades ou chefia Não Sim 1 2 3 4 5
62) Você se relacionou mal com colegas Não Sim 1 2 3 4 5
63) Você foi impedido(a) de ver os seus pais Não Sim 1 2 3 4 5
64) Você sentiu-se pobre Não Sim 1 2 3 4 5