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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o Capitalismo Consciente José Fernando Abdon Silva Orientador: Prof. Dr. Fernando César Almada Santos São Carlos 2018

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o Capitalismo

Consciente

José Fernando Abdon Silva

Orientador: Prof. Dr. Fernando César Almada Santos

São Carlos

2018

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José Fernando Abdon Silva

Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o Capitalismo

Consciente

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Escola de Engenharia de

São Carlos da Universidade

de São Paulo para a obtenção do título

de Engenheiro de Produção

Orientador: Prof. Dr. Fernando César Almada Santos

São Carlos

2018

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Resumo

SILVA, José Fernando Abdon. Relações entre as dimensões culturais de Hofstede

e o Capitalismo Consciente. 2018. 46 p. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola

de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2018.

Este trabalho visa estudar e determinar as relações entre as dimensões culturais de

Hofstede e a cultura organizacional presente na filosofia do Capitalismo Consciente.

As dimensões culturais de Hofstede que serão analisadas são a Distância ao Poder,

Individualismo versus Coletivismo, Masculinidade versus Feminilidade, Aversão à

Incerteza e Orientação de Curto versus Longo Prazo. Por outro lado, o Capitalismo

Consciente é um modelo em desenvolvimento para os negócios que, ao mesmo

tempo, fomenta a criação de valor e bem-estar para todas as partes interessadas. Foi

realizada uma revisão bibliográfica sobre os temas e suas peculiaridades no ambiente

de trabalho, possibilitando a comparação das características da cultura organizacional

do Capitalismo Consciente e as dimensões culturais de Hofstede. Por fim, através da

análise da bibliografia e das relações entre os temas, chegou-se à conclusão sobre

qual o nível que os modelos de negócio conscientes se encontram nas dimensões

culturais de Hofstede.

Palavras-Chave: Dimensões Culturais de Hofstede. Cultura Organizacional.

Capitalismo Consciente.

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Abstract

SILVA, José Fernando Abdon. Relations between the cultural dimensions of

Hofstede and Conscious Capitalism. 2018. 46 p. Graduation Thesis - São Carlos

School of Engineering, University of São Paulo, São Carlos, 2018.

This thesis aims to study and determine the relations between the cultural dimensions

of Hofstede and the organizational culture present in the philosophy of Conscious

Capitalism. The cultural dimensions of Hofstede, that will be analyzed, are Power

Distance, Individualism versus Collectivism, Masculinity versus Femininity,

Uncertainty Avoidance, and Short versus Long-term Orientation. On the other hand,

Conscious Capitalism is a developing business model that, at the same time, fosters

the creation of value and well-being for all stakeholders. A literature review was carried

out on the themes and their peculiarities in the work environment, allowing the

comparison of the characteristics of the organizational culture of Conscious Capitalism

and the cultural dimensions of Hofstede. Finally, through the analysis of the

bibliography and the relations between the themes, the conclusion was reached, about

the level that the conscious business models are found in the cultural dimensions of

Hofstede.

Keywords: Hofstede’s Cultural Dimensions. Organizational Culture. Conscious

Capitalism.

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Lista de tabelas

Tabela 1 - Índice de Distância do Poder para 50 países e 3 regiões 33

Tabela 2 - Índice de Aversão à Incerteza para 50 países e 3 regiões 35

Tabela 3 - Índice de Individualismo para 50 países e 3 regiões 37

Tabela 4 - Índice de Masculinidade para 50 países e 3 regiões 39

Tabela 5 - Índice de Orientação de Longo Prazo para 23 países 40

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Lista de Quadros

Quadro 1 - Principais diferenças entre culturas com baixa e alta distância do poder

dentro da organização do trabalho 16

Quadro 2 - Principais diferenças entre culturas com baixa e alta aversão à incerteza

dentro de situações de trabalho 18

Quadro 3 - Principais diferenças entre culturas voltadas para Individualismo e

Coletivismo em situações de trabalho 20

Quadro 4 - Principais diferenças entre culturas de Masculinidade e Feminilidade no

ambiente de trabalho 21

Quadro 5 - Principais diferenças entre culturas de Orientação de Longo Prazo e

Orientação de Curto prazo no ambiente de trabalho 23

Quadro 6 – Conclusões sobre as relações entre as dimensões culturais de Hofstede

e o Capitalismo Consciente 42

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Sumário

1. Introdução 9

1.1. Contextualização 9

1.2. Objetivos 11

1.3 Métodos de Pesquisa 11

2. Capitalismo Consciente e Dimensões Culturais de Hofstede: Revisão

Bibliográfica 12

2.1. Cultura e Cultura Organizacional 12

2.2. Dimensões Culturais de Hofstede 14

2.2.1. Alta versus Baixa Distância do Poder 15

2.2.2. Alta versus Baixa Aversão à Incerteza 17

2.2.3. Individualismo versus Coletivismo 19

2.2.4. Masculinidade versus Feminilidade 21

2.2.5. Orientação a Curto versus Longo Prazo 22

2.3 Capitalismo Consciente 23

2.3.1 Propósito Maior 26

2.3.2 Integração de Stakeholders 26

2.3.3 Liderança Consciente 27

2.3.4 Cultura e Gestão Conscientes 28

3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

Hofstede 32

3.1.Capitalismo Consciente versus Distância do Poder 32

3.2.Capitalismo Consciente versus Aversão à Incerteza 34

3.3.Capitalismo Consciente versus Individualismo e Coletivismo 35

3.4.Capitalismo Consciente versus Masculinidade versus Feminilidade 37

3.5.Capitalismo Consciente versus Orientação de Longo e Curto prazo 39

4. Considerações Finais 42

Referências 44

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1. Introdução

1.1. Contextualização

Atualmente, a credibilidade e confiança nas grandes corporações está

em baixa, mesmo fazendo parte das instituições mais influentes e relevantes

do mundo. A população e os investidores, cada vez mais, veem essas

organizações como locais gerenciados por executivos que possuem ética e

valores questionáveis, sendo que o interesse é majoritariamente a

maximização do lucro (LEGAULT, 2012).

Dessa forma, novos modelos de negócio e filosofias estão surgindo para

se adaptar às necessidades do mercado de trabalho atual. Um relevante

exemplo se trata de uma nova uma filosofia emergente, que se baseia na

crença de que as empresas podem otimizar seu desempenho, ao mesmo

tempo que a qualidade de vida de todas as partes interessadas também

aumenta, o chamado Capitalismo Consciente. Além disso, para Porter e

Kramer, o Capitalismo Consciente torna as necessidades e anseios da

sociedade prioridade para o alcance de seus objetivos e para a própria

existência da empresa, o que vai além da responsabilidade social (LEGAULT,

2012).

Dentro do Capitalismo Consciente existe uma impactante presença da

cultura organizacional, relevante e presente nas corporações que atuam no

mundo todo. Ela se trata de um padrão de pressupostos, desenvolvido para

que determinado grupo pudesse se adaptar e integrar internamente a essas

instituições, e que seriam ensinados aos novos membros como a maneira

correta de agir, pensar e solucionar seus problemas (SCHEIN, 1984).

É amplamente defendido que o desempenho corporativo é influenciado

pela cultura organizacional da empresa e a intensidade com que ela é

trabalhada (SANTOS, 1998), além disso ela acaba se tornando fator de

importância para a geração de vantagem competitiva (HIROTA; KUBO;

MIYAJIMA, 2007).

“Aparentemente, as corporações bem administradas do mundo têm

culturas distintas que são de alguma forma responsáveis pela sua capacidade

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para criar, implementar e manter suas posições de liderança mundial”

(SCHWARTZ; DAVIS, 1981).

Já para Kotter e Heskett (1992), em um ambiente, corporativo e

competitivo, culturas organizacionais fortes possuem alta influência na

performance empresarial e nos indivíduos, que pode até superar o impacto da

própria estratégia e do gerenciamento.

A teoria da cultura de Geert Hofstede (2001) baseia-se num dos maiores

estudos empíricos desenvolvido sobre cultura. Hofstede buscou encontrar

divergências no funcionamento de corporações, concluindo que as essas

diferenças estariam relacionadas à cultura dos funcionários, empregados e do

país em que a empresa atuasse. Para o autor, a cultura organizacional possui

características distintas da cultura nacional, sendo que a segunda possui

valores, principalmente aqueles adquiridos por meio da família e dos meios

sociais onde se vive, como atribuições centrais.

Por outro lado, culturas organizacionais se relacionam diretamente com

práticas e atitudes utilizadas e aprendidas durante a vivência em um ambiente

de trabalho. Dessa forma, para melhor analisar os dois tipos de cultura, foi

criado o modelo das dimensões culturais de Geert Hofstede. Esse modelo se

trata de um quadro-referência que descreve cinco tipos de aspectos de valores

dentro de culturas nacionais: distância ao poder, individualismo versus

coletivismo, masculinidade versus feminilidade, aversão à Incerteza e

orientação de curto prazo versus longo prazo (HOSTEDE, 2001)

Para que se possa compreender culturalmente países diversos, é

preciso assimilar conhecimentos de sociedade e cultura nacionais, como são

as relações, vidas e valores de um determinado conjunto de pessoas.

Por esse motivo, diante das contemporâneas mudanças econômicas,

sociais e corporativas, é importante analisar como as dimensões de Hofstede

se aplicam no contexto e no Capitalismo Consciente.

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1.2 Objetivos

Este trabalho tem como principal objetivo determinar as relações entre

as dimensões culturais de Hofstede e a cultura organizacional presente dentro

da filosofia do Capitalismo Consciente.

1.3 Métodos de Pesquisa

Como principal método de pesquisa, tem-se que foi feita uma revisão

bibliográfica com dados primários e secundários sobre o comportamento das

dimensões culturais de Hofstede e do Capitalismo Consciente, dentro de

organizações de trabalho e de negócio, utilizando as palavras-chave

Dimensões Culturais de Hofstede; Cultura Organizacional e Capitalismo

Consciente.

Essa revisão teve como base de dados, livros acadêmicos e não

acadêmicos, artigos, além da internet, através de bases como o google

acadêmico, Periódicos da Capes e Web of Science. Nenhuma obra que

relacionasse ambos os assuntos foi encontrada, mas com base nos artigos,

livros e seus insumos, foram realizadas comparações qualitativas entre o

Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de Hofstede, encontrando

assim sua relação.

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2 Capitalismo Consciente e Dimensões Culturais de Hofstede: Revisão

Bibliográfica

Esta seção tem como objetivo apresentar a revisão bibliográfica referente aos

temas de Cultura, Capitalismo Consciente e as cinco Dimensões Culturais de

Hofstede.

2.1. Cultura e Cultura Organizacional

Muitos estudiosos definem cultura de diversas maneiras diferentes. O conceito

de cultura é de ampla utilização e necessidade, já que acaba atendendo interesses

da sociedade e da pesquisa. Ela implica estabilidade e padronização, além de servir

como fator de agrupamento, que leva membros diversos em sentido do consenso. Em

muitas línguas ocidentais, o significado possui vínculo com civilização e o

aprimoramento da mente e, principalmente, com fatores como educação, arte e

literatura. Quando ocorre uma reunião ou agrupamento de pessoas para desenvolver

determinada ação, esse grupo dá início à construção de ideologias, hábitos e até sua

linguagem. A cultura em si, está intimamente relacionada com a adaptação de um

indivíduo ao meio em que está inserido e sua realidade, além de manifestar valores e

crenças que os mesmos indivíduos possam partilhar, como rituais, histórias, lendas,

linguagem e a própria forma de agir. Dessa forma, a cultura faz com que seja factível

a alteração da natureza e ainda torna a diferenciação entre grupos e civilizações

possível (PIRES; MACÊDO, 2006).

Já para Schein (1984), a cultura se trata de um padrão de pressupostos,

desenvolvido para que determinado grupo pudesse se adaptar e se integrar entre os

próprios indivíduos que o compõem, e que seriam ensinados aos novos membros

como a maneira considerada correta de agir, pensar e solucionar seus problemas.

Hall (1978; p.80) ainda propõem que existam três características para cultura.

Primeiramente, suas diferentes peculiaridades se relacionam, ela é aprendida, logo

não é inata e é compartilhada com outros membros do grupo, sejam externos ou

internos, determinando limites para cada um desses conjuntos de pessoas (PIRES;

MACÊDO, 2006).

Para Neves (2000, p. 169 apud RIBEIRO, 2006), o termo “cultura” teve sua

definição inicial como um “componente do sistema social, o qual se manifesta pelo

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modo de vida e pelos artefatos, onde se incluem o saber, a crença, a arte, a moral, a

lei, os costumes, hábitos, assumidos pelo homem como membro da sociedade. ”

Tal concepção de cultura se manteve de 1900 a 1950, fragmentando-se em

duas vertentes. A primeira, como uma criação dos indivíduos que interagem, um

conjunto de padrões culturais, acentuada por estruturas de cultura padrões, que são

refletidas em objetos e, também, fatores comportamentais. Já, como segunda

corrente, tem-se aquela cultura associada a organizações econômicas, políticas e

sociais, incluindo também sistemas de religião. Alguns elementos pertencentes a

essa vertente de concepção cultural são o tipo de linguagem, jurisdição, filosofias e

arte. Esta segunda definição leva em conta a cultura como “um conjunto de estruturas

sociais, integrada numa rede ou sistema de relações sociais, sendo cada sistema

estrutural, uma unidade funcional, que contribui de modo harmonioso para a sua

existência e continuidade” (RIBEIRO, 2006, p. 169).

A cultura é compreendida como um conjunto de valores e pressupostos

básicos, que se traduzem através de fatores simbólicos, que podem se mostrar como

recursos de comunicação e conformidade ou forma de esconder, aparelhar e

operacionalizar relações de dominação. Logo, uma concepção lógica para cultura se

trata de conjunto complexo e multidimensional de tudo o que forma a vida em comum

nos grupos sociais. Após o aprendizado e a partilha com uma multiplicidade de

pessoas, pode-se considerar cultura como conjunto de meios de sentir, pensar e agir,

os quais, são utilizados de forma objetiva ou simbólica e podem passar a unir pessoas

em uma coletividade diferente de outras (FLEURY; FISCHER, 1989 p.117 apud

PIRES; MACÊDO, 2006).

Outra definição para o termo, criada em 1951, é de Clyde Kluckhohn, em que:

a cultura consiste em modos padronizados de pensar, sentir e reagir,

adquiridos e transmitidos principalmente por símbolos, constituindo as

realizações distintivas de grupos humanos, incluindo suas formas de

realização em artefatos; o núcleo essencial da cultura consiste em idéias

tradicionais (isto é, historicamente derivadas e selecionadas) e

especialmente seus valores anexados (KLUCKHOHN , 1951, p. 86 apud

HOFSTEDE, 2001, p. 9).

Para Kroeber e Parsons (1958, p. 583 apud HOFSTEDE, 2001, p. 9), cultura é

o “conteúdo e padrões de valores, idéias e outros sistemas simbólicos transmitidos e

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criados como fatores na formação do comportamento humano e dos artefatos

produzidos pelo comportamento”.

Já Hofstede (2001, p. 9) definiu a cultura como “a programação coletiva da

mente que distingue os membros de um grupo ou categoria de pessoas de outro”.

Tem-se, especificamente, a cultura organizacional, estabelecida por Santos

(2000) como valores e crenças que são pertencentes a uma determinada organização

e são seguidos e compartilhados pelo seus membros. Este modelo de cultura tem seu

funcionamento relacionado com controle organizacional, o que acarreta em

aprovações o proibições de comportamentos e atitudes, além de direcionar e

mobilizar seus funcionários.

Morgan (1996, p.36) afirma que:

A estrutura organizacional, regras, políticas, objetivos, missões, descrições

de cargos e procedimentos operacionais padronizados desempenham uma

função interpretativa... atuam como pontos primários de referência para o

modo pelo qual as pessoas pensam e dão sentido aos contextos nos quais

trabalham.

Por fim, para Mintzberg e colaboradores (2000 apud PIRES; MACÊDO, 2006,

p. 88), a cultura organizacional é a base da organização. Ela é composta por crenças

comuns aos integrantes desse meio, que se refletem nas tradições e nos hábitos, e

também em fatores tangíveis. Dentre os elementos que compõem uma cultura

organizacional, podem-se citar histórias, símbolos e produtos.

2.2. Dimensões Culturais de Hofstede

O psicólogo Geert Hofstede usou informações coletadas de duas

grandes pesquisas que conduziu durante 1967-69 e 1971-73 com membros de

subsidiárias da IBM em 72 países (com 20 línguas) para entender as

diferenças entre culturas nacionais. Na primeira fase, os resultados foram

obtidos com base em informação recolhida em 40 países, mais tarde este

número aumentou para 50 países e três regiões. Das respostas individuais

para cada pergunta, valores médios foram obtidos para cada país, resultando

em quatro dimensões, cada uma se referindo a um problema básico enfrentado

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em toda sociedade, porém que geram soluções diferentes (HOFSTEDE, 2001).

Com o tempo, surgiu uma quinta dimensão, independente das outras quatro.

2.2.1. Alta versus Baixa Distância do Poder

A relação entre um chefe e um subordinado em uma hierarquia,

incluindo seus conjuntos de valores, é mais inteligível se introduzir-se o

conceito de distância do poder, ou seja, a medida do poder interpessoal ou

influência entre ambos, mais percebida por aquele situado em menor condição

de poder. O termo distância de poder é advindo do trabalho do holandês e

psicólogo social, Mauk Mulder (1976, 1977; MULDER et al., 1971), que baseou

sua teoria da distância do poder em experimentos de laboratório e campo com

estruturas sociais simples (HOFSTEDE, 2001).

Mulder (1977, apud HOFSTEDE, 2001, p.83) define o poder como "o

potencial para determinar (em certa medida) o comportamento de outra pessoa

ou de outras pessoas mais do que o contrário", e a distância do poder como "o

grau de desigualdade de poder entre um indivíduo menos poderoso e outro

mais poderoso, no qual ambos pertencem ao mesmo sistema social “. Cerca

de 20 hipóteses foram provadas por Mulder, entre elas, as mais relevantes são:

o mero exercício do poder dará satisfação, o indivíduo mais poderoso se

esforçará para manter ou aumentar a distância do poder para a pessoa menos

poderosa, quanto maior essa distância da pessoa menos poderosa, mais forte

será o esforço para aumentá-la, os indivíduos se esforçarão para reduzir a

distância de energia entre eles e pessoas mais poderosas e quanto menor

essa distância da pessoa mais poderosa, mais forte será a tendência de reduzi-

la (HOFSTEDE, 2001).

O Quadro 1 apresenta as principais diferenças na organização de

trabalho que apresentam alta distância do poder e baixa distância do poder.

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Quadro 1 - Principais diferenças entre culturas com baixa e alta

distância do poder dentro da organização do trabalho

Baixa distância do poder Alta distância do poder

Estrutura de decisão descentralizadas, pouca concentração de autoridade.

Estruturas de decisão centralizadas, alta concentração de autoridade.

Organizações Horizontais Organizações com muitos níveis hierárquicos

Pequena proporção de pessoal de supervisão Grande proporção de pessoal de supervisão

A hierarquia nas organizações significa uma desigualdade de papéis, estabelecida por conveniência

A hierarquia nas organizações reflete a desigualdade existente entre níveis hierárquicos altos e baixos

O chefe ideal é um democrata com muitos conhecimentos; vê-se como prático, ordenado e confiando no apoio

O chefe ideal é um autocrata bem intencionado ou bom pai; vê-se como tomador de decisões benevolente

Os gerentes contam com a experiência pessoal e com os subordinados

Os gerentes dependem das regras formais

Os subordinados geralmente são consultados Os subordinados apenas recebem ordens do que fazer

A liderança consultiva leva à satisfação, desempenho e produtividade

A liderança autoritária e a supervisão rigorosa levam à satisfação, desempenho e produtividade

Canais de queixa institucionalizados em caso de abuso de poder por superiores

Não há defesa contra o abuso de poder por superior

Inovações precisam de grandes campeões Inovações precisam de apoio da hierarquia

Gerentes são envolvidos em decisões de compra importantes

Gerentes não são envolvidos em decisões de compra importantes

Privilégios e símbolos de status para gerentes são desaprovados

Privilégios e símbolos de status para gerentes são esperados e populares

Pequena diferença de salário entre os níveis hierárquicos altos e baixos da organização

Grande diferença de salário entre níveis hierárquicos altos e baixos da organização

Gerentes cada vez mais satisfeitos com a carreira

Gerentes Insatisfeitos com a carreira

Abertura para informações também para não-superiores

Informações limitadas pela hierarquia

O trabalho manual tem o mesmo status do trabalho administrativo

O trabalho administrativo é mais valorizado que o trabalho manual

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 107-108)

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2.2.2 Alta versus Baixa Aversão à Incerteza

O termo aversão à incerteza deriva dos teóricos da organização norte-

americana Richard M. Cyert e James G. March, que fazem utilização do termo

em seu livro A Behavioral Theory of the Firm (1963). Eles argumentam que

existem dois modos principais pelos quais as organizações evitam a incerteza

em seus ambientes de trabalho e convivência (HOFSTEDE, 2001).

Primeiramente:

Eles evitam a exigência de antecipar corretamente os eventos em um futuro

distante usando regras de decisão que enfatizam a reação de curto prazo ao

feedback de curto prazo, em vez da antecipação de eventos incertos de longo

prazo. Eles resolvem problemas urgentes em vez de desenvolver estratégias

de longo prazo. Segundo, eles evitam a exigência de antecipar reações

futuras de outras partes do ambiente. Eles impõem planos, procedimentos

operacionais padrão, tradição industrial e contratos de absorção de incerteza

nessa situação, evitando planejar onde os planos dependem da previsão de

eventos futuros incertos e enfatizando o planejamento onde os planos podem

ser confirmados por algum dispositivo de controle (CYERT; MARCH, 1963,

p.119, apud HOFSTEDE, 2001, p.147).

Pode-se comparar as sociedades humanas com as organizações, no

ponto em que, ao mesmo tempo que as sociedades utilizam tecnologia, lei e

religião para lidar com incertezas, as organizações também utilizam

tecnologias, além de regras e rituais. A tecnologia (como a substituição de

mão-de-obra humana) cria uma previsibilidade a curto prazo quanto aos

resultados, mesmo que possa negligenciar o custo dos riscos de longo prazo

de sua quebra completa. A utilização da tecnologia, de certa forma, parece

extremamente racional, porém esconde escolhas implícitas de valor não

racional (HOFSTEDE, 2001).

O modo com as organizações reduzem a incerteza interna e

imprevisibilidade do comportamento de seus membros e stakeholders são as

regras. Como Perrow (1972, apud HOFSTEDE, 2001, p.147) observou: “As

regras se originam de ajustes passados e procuram estabilizar o passado e o

futuro” e uma multiplicidade de regulamentos são a própria essência da

burocracia.; "As regras são os bodes expiatórios para uma variedade de

problemas organizacionais".

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Em função das regras ruins serem mais notadas do que regras boas, a

burocracia acabou se tornando uma péssima palavra a se referir, mesmo que

regras possam manter as organizações em união. Regras são semi racionais:

elas tentam tornar previsível o comportamento das pessoas e, como as

pessoas não são inteiramente racionais, as regras devem levar em conta

aspectos que sejam também não-racionais. Observa-se o resultado desejado

se as boas regras forem obedecidas e concordarem com os valores das

pessoas cujo comportamento elas tentam influenciar, o que torna mais fácil a

aceitação. Regras ruins falham em um ou ambos os critérios (HOFSTEDE,

2001).

O Quadro 2 apresenta as principais diferenças em situações de trabalho

que apresentam alta aversão à incerteza do poder e baixa aversão à incerteza.

Quadro 2 - Principais diferenças entre culturas com baixa e alta

aversão à incerteza dentro de situações de trabalho

Baixa Aversão à Incerteza Alta Aversão à Incerteza

Fraca lealdade ao empregador; curta-média duração do emprego

Forte lealdade ao empregador; longa-média duração do emprego

Preferência por tarefas com resultados incertos, riscos calculados e que exigem solução de problemas

Preferência por tarefas com resultados garantidos, sem riscos e que devem seguir instruções

Ceticismo em relação às soluções tecnológicas

Soluções tecnológicas têm forte apelo

Menor resistência à mudança Maior resistência à mudança

Preferência por organizações pequenas, mas pouco trabalho autônomo

Preferência por organizações grandes, mas ao mesmo tempo, muito trabalho autônomo

Inovadores se sentem independentes de regras

Inovadores se sentem restringidos pelas regras

Alta administração envolvida na estratégia Alta administração envolvida nas operações

O poder dos superiores depende da posição e das relações

O poder dos superiores depende do controle das incertezas

Tolerância com ambiguidade em estruturas e processos

Concepção de administração altamente formalizada

Destaque do papel de líder transformador Destaque do papel de controle hierárquico

Muitas novas marcas comerciais Poucas novas marcas comerciais

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concedidas concedidas

As inovações são bem-vindas mas não necessariamente levadas a sério

As inovações enfrentam resistências mas, se aceitas, são aplicadas consistentemente

Precisão e pontualidade têm que ser aprendidas e administradas

Precisão e pontualidade vêm naturalmente

Orientação voltada para as relações Orientação voltada para as tarefas

Horário de trabalho flexível não é atraente Horário de trabalho flexível é popular

Crença em generalistas e no senso comum Crença em especialistas e no conhecimento

Os superiores são otimistas quanto à ambição e capacidade de liderança dos empregados

Os superiores são pessimistas quanto à ambição e capacidade de liderança dos empregados

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 169-170)

2.2.3 Individualismo versus Coletivismo

A terceira dimensão da cultura nacional é chamada individualismo, em

oposição ao coletivismo. Ela descreve a relação entre o indivíduo e a

coletividade que predomina determinada sociedade. Isso se reflete na maneira

como as pessoas vivem juntas - por exemplo, em famílias ou tribos - o que

acaba tendo muitas implicações nos valores e comportamentos (HOFSTEDE,

2001).

Os aspectos de uma determinada sociedade quanto ao grau de

individualismo ou coletivismo esperado de seus membros impactará em

grande escala a natureza da relação entre uma pessoa e a organização à qual

ela pertence. Nas sociedades coletivistas, existe maior dependência emocional

dos membros em suas organizações, já em uma sociedade em equilíbrio, as

organizações devem assumir uma ampla responsabilidade por seus membros.

Empregados em uma cultura mais voltada para o individualismo são mais

racionais de acordo com seus próprios interesses e buscam a intersecção dos

seus próprios interesses com de seu chefe (HOFSTEDE, 2001).

O nível de Individualismo ou Coletivismo na sociedade impactará as

razões pelas quais os membros da organização cumprem os requisitos

organizacionais. Seguindo uma terminologia introduzida por Etzioni (1975,

apud HOFSTEDE, 2001, p.212), podemos assumir um envolvimento mais

“moral” com a organização baseada em valores coletivistas e um envolvimento

Page 20: Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o ... · 2.3.4 Cultura e Gestão Conscientes 28 3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

20

mais “calculista”, naquelas organizações com valores individualistas

predominantes (HOFSTEDE, 2001).

O Quadro 3 apresenta as principais diferenças em situações de trabalho

que apresentam Individualismo versus Coletivismo.

Quadro 3 - Principais diferenças entre culturas voltadas para

Individualismo e Coletivismo em situações de trabalho

Coletivismo Individualismo

Os funcionários agem conforme o interesse do seu grupo, não necessariamente de si mesmos

Os funcionários agem como “homens econômicos”

Decisões de contratação e promoção levam em consideração a capacidade de trabalhar em grupo

Decisões de contratação e promoção são baseadas apenas em habilidades e regras

Parentes de empregadores e empregados são preferíveis na contratação

Relações familiares são vistas como uma desvantagem na contratação

A relação empregador-empregado é basicamente moral , como um vínculo familiar

A relação empregador-empregado é um desafio de negócios em mercado de trabalho

Performance ruim é razão para realizar outras tarefas

Performance ruim é razão para demissão

Baixo compromisso dos funcionários com a organização

Alto compromisso dos funcionários com a organização

Os empregados têm melhor desempenho em grupo

Os empregados têm melhor desempenho como indivíduos

O treinamento é mais efetivo quando focado no nível grupo

O treinamento é mais efetivo quando focado no nível individual

Tratar amigos melhor do que os outros é normal e ético

Tratar amigos melhor do que os outros é nepotismo e antiético

Relações pessoais prevalecem sobre tarefas e a empresa

Tarefas e a empresa prevalecem sobre relações pessoais

Crença em decisões coletivas Crença em decisões individuais

Poucas patentes de invenção concedidas Muitas patentes de invenção concedidas

O sucesso organizacional é atribuído ao compartilhamento de informação, ao comprometimento declarado dos funcionários e às alianças políticas

O sucesso organizacional é atribuído à retenção de informação, ao não comprometimento dos funcionários e evitando alianças

A cooperação dos funcionários é estimulada A cooperação dos funcionários não é estimulada

Page 21: Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o ... · 2.3.4 Cultura e Gestão Conscientes 28 3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

21

Menor mobilidade social entre ocupações Maior mobilidade social entre ocupações

Gestão é gestão em grupos Incentivos são dados a indivíduos

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 24)

2.2.4 Masculinidade versus Feminilidade

A quarta dimensão na qual as culturas nacionais diferem

sistematicamente é designada como masculinidade, com seu pólo oposto

sendo feminilidade. A dualidade dos sexos é um fato fundamental que é

encarada de formas diversas nas sociedades. Os principais pontos são, quais

são as implicações que as diferenças biológicas entre os sexos devem ter para

os papéis emocionais e sociais dos gêneros (HOFSTEDE, 2001).

O Quadro 4 representa a diferença entre essas características para um

ambiente de trabalho voltado para masculinidade e feminilidade.

Quadro 4 - Principais diferenças entre culturas de Masculinidade e

Feminilidade no ambiente de trabalho

Feminilidade Masculinidade

Trabalhe para viver Viva para trabalhar

O significado do trabalho para os trabalhadores são as relações e condições de trabalho

O significado do trabalho para os trabalhadores é segurança, remuneração e trabalho interessante

Preocupação com maior igualdade, solidariedade e qualidade de vida no trabalho

Preocupação maior com equidade, competição mútua e desempenho

Gerentes são trabalhadores como todos os outros

Gerentes são heróis

Os gerentes usam a intuição, lidam com os sentimentos e buscam o consenso

Os gerentes são decisivos, firmes, assertivos, agressivos, competitivos e justos

Gerentes de sucesso são aqueles que têm características tanto masculinas quanto femininas

Gerentes de sucesso são aqueles que têm características apenas masculinas

Mais mulheres na gerência Menos mulheres na gerência

Menor diferença salarial entre os sexos Maior diferença salarial entre os sexos

Page 22: Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o ... · 2.3.4 Cultura e Gestão Conscientes 28 3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

22

Mulheres escolhem chefes mulheres Homens escolhem chefes homens

As ambições de carreira são opcionais para homens e mulheres

As ambições de carreira são obrigatórias para homens e opcionais para mulheres

Os gerentes têm objetivos de carreira modestos

Os gerentes têm objetivos de carreira ambiciosos

Os gerentes são menos preparados para se afastar de suas famílias por motivos de trabalho

Os gerentes são mais preparados para se afastar da família por motivos de trabalho

As mulheres gestoras dão preferência a sua família e adaptam suas carreiras

As mulheres gestoras dão preferência a sua carreira e adaptam suas famílias

Humanização do trabalho através da criação de grupos

Humanização do trabalho através do oferecimento de desafios

Resolução de conflitos através de acordos e negociação

Resolução de conflitos negando-os ou deixando que a melhor pessoa vença

Menor estresse no trabalho Maior estresse no trabalho

Preferência por organizações menores Preferência por organizações maiores

Preferência por menos horas de trabalho Preferência por maior remuneração

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 318)

2.2.5 Orientação a Curto versus Longo Prazo

A quinta dimensão, orientação de longo versus curto prazo, adicionada

recentemente, é independente das outras quatro. Ela foi encontrada através

respostas de amostras de estudantes de 23 países ao Chinese Value Survey

(CVS), um instrumento desenvolvido por Michael Harris Bond (HOFSTEDE,

2001).

A dimensão de orientação de longo versus curto prazo parece ser

baseada em itens remanescentes dos ensinamentos de Confúcio, em ambos

os seus pólos. Aspectos de longo e curto prazo se opõe no pensamento

confucionista: persistência e parcimônia à estabilidade pessoal e respeito à

tradição (HOFSTEDE, 2001).

O Quadro 5 a seguir mostra as diferenças, no meio da organização do

trabalho, relacionados à orientação a curto e a longo prazo.

Page 23: Relações entre as dimensões culturais de Hofstede e o ... · 2.3.4 Cultura e Gestão Conscientes 28 3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

23

Quadro 5 - Principais diferenças entre culturas de Orientação de

Longo Prazo e Orientação de Curto prazo no ambiente de trabalho

Orientação a curto prazo Orientação a longo prazo

Expectativa de resultados rápidos Persistência e perseverança

O mais importante são os resultados a curto prazo

O mais importante é a construção de relacionamentos e a posição de mercado

Persistência não é considerada um traço de personalidade

Persistência é considerada um traço de personalidade importante

Respeito por tradições Adaptação de tradições e novas circunstâncias

A maioria dos eventos importantes aconteceu no passado ou está acontecendo no presente

A maioria dos eventos importantes acontecerá no futuro

Uma pequena parte da renda adicional é economizada

Uma grande parte da renda adicional é economizada

Ensinam-se virtudes de curto prazo Ensinam-se virtudes de longo prazo

Pensamento analítico Pensamento sintético

Reciprocidade de saudações, favores e presentes

Considerações de reciprocidade são problemáticas, risco de gastos excessivos

Investimento em fundos mútuos Investimento em mercado imobiliário

Estabilidade pessoal Adaptabilidade pessoal

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 360)

2.3 Capitalismo Consciente

Primeiramente, é necessário entender o que é o Capitalismo, deixando

clara suas diferenças com o Capitalismo Consciente. Para Milton Friedman

(1977), o capitalismo se trata de um sistema de liberdade econômica e

condição necessária à liberdade política, com relevante atuação de empresas

privadas operando num mercado livre.

Das teorias que procuram explicar o que é o capitalismo, destacam-se

duas grandes correntes, representadas por Max Weber (1864–1920) e por Karl

Marx (1818-1883). Na primeira teoria, o capitalismo se constitui à partir da

herança de um modo de pensar acerca das relações sociais, principalmente

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24

advindas do movimento da Reforma na Europa, como o Protestantismo e o

Calvinismo. A ideia central neste modo de pensar é a extrema valorização do

trabalho e a prática de uma profissão na busca da salvação individual

(CATANI, 2017).

A segunda corrente trata o capitalismo como sendo um modo de

produção de mercadorias, gerado desde o início da Idade Moderna e se

consolidando durante a Revolução Industrial. Além disso, também pode-se

definir como um “sistema no qual a força de trabalho se transforma em

mercadoria e se coloca no Mercado como qualquer objeto de troca” (CATANI,

2017).

Dentro deste contexto socioeconômico capitalista, “organizações

empresariais têm sido frequentemente acusadas de foco descomprometido na

busca de lucro e obscurecendo as dimensões sociais e espirituais de seus

membros que procuram participar de uma comunidade e dar significado para

suas ações” (SANDELANDS, 2009 apud FRÉMEAUX; MICHELSON, 2017, p.

701).

Em contraponto às organizações com o ideal acima, existem empresas

e movimentos em que seu propósito e objetivo não se atém apenas ao lucro e

fatores econômicos (ABELA 2001; ARGANDONA 1998; O'BRIEN 2009;

SISON 2007 apud FRÉMEAUX; MICHELSON, 2017).

Pode-se utilizar termos como Negócios e Capitalismo Consciente para

se referir a essas organizações, que se baseiam em valores e transformação

gerencial. Essas instituições possuem orientações muito diferentes

relacionadas aos seus valores e história, em grande parte, por que seus líderes

expandem o foco e propósito além do objetivo puramente econômico,

incluindo, também, a dignidade do indivíduo acima de todos os outros valores

(FRÉMEAUX; MICHELSON, 2017).

O Capitalismo Consciente é um modelo em desenvolvimento para os

negócios que, ao mesmo tempo, fomenta a criação de valor e bem-estar para

todas as partes interessadas, tendo como principais exemplos os parceiros

financeiros, intelectuais, físicos, ecológicos, sociais, culturais e até emocionais

(MACKEY; SISODIA, 2013).

O Capitalismo Consciente serve como base e alvo do desenvolvimento

do líder. Tem-se, que dentro dessa filosofia, questões éticas de negócios são

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25

melhor resolvidas através do aumento da consciência, iniciando com os líderes

e ampliando para o sistema e organização como um todo. Para Brown e

Treviño (2006, apud FYKE; BUZZANELL, 2013), líderes autorreflexivos e

moralmente responsáveis são éticos com reflexão auxiliando a

autoconsciência e o comportamento ético.

Não se pode resumir a prática do Capitalismo Consciente apenas a ser

virtuosa ou seu trabalho gerar o bem, porém ele se refere também a uma nova

forma de pensar em um negócio, por meio de um propósito maior e seus

impactos sobre aqueles envolvidos e o mundo a sua volta, trazendo assim uma

noção mais profunda da razão da existência de uma empresa (MACKEY;

SISODIA, 2013).

As organizações conscientes confiam nos membros para agirem de

maneira inteligente, dando importância para o propósito da empresa e seus

stakeholders. Para o ex-presidente da Starbucks, Howard Behar, “a pessoa

que varre o chão deve escolher a vassoura [...] Precisamos nos livrar das

regras reais e imaginárias e incentivar o pensamento independente”. Quando

a empresa em questão é uma companhia de serviços, é essencial capacitar as

pessoas a fazer aquilo que agrada os clientes (MACKEY;SISODIA, 2013).

Um exemplo que pode ser citado de empresa com práticas conscientes

é a Amazon.com. Seu fundador, Jeff Bezos, diz que “em uma empresa típica,

se você tem uma reunião, não importa de qual importância, sempre haverá

uma parte não representada: o cliente.” Logo, para que todos se lembrem

dessa ausência, Bezos sempre mantém uma cadeira vazia à mesa de

reuniões, demonstrando a boa relação que busca com todos os stakeholders

(MACKEY;SISODIA, 2013).

Existem quatro principais princípios dentro do modelo do Capitalismo

Consciente: propósito maior; integração de stakeholders; liderança consciente;

e cultura e gestão conscientes. Cada um desses princípios é fundamental

dentro da filosofia do capitalismo consciente e estão mutuamente interligados

e reforçados. São elementos primordiais de um modelo empresarial integrado

e devem ser vistos e analisados de forma holística para se manifestarem de

forma efetiva.

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26

2.3.1 Propósito maior

Ao contrário das noções capitalistas tradicionais, que focam seus

objetivos principais na maximização do lucro, o Capitalismo Consciente prevê

negócios operando por meio de duas vias. As empresas não devem apenas

maximizar os lucros, mas também devem servir a algum tipo de propósito

maior (WADDOCK; MCINTOSH, 2011 apud SIMPSON; FISCHER; ROHDE,

2013).

Um propósito maior faz com que as empresas não possuam apenas

objetivos de gerar lucro e criar valor para os acionistas, dessa forma, produzem

um impacto positivo maior. “Propósito é a razão da existência de uma empresa.

O senso de propósito maior é mobilizador: cria um extraordinário grau de

engajamento entre todos os públicos de interesse e catalisa a criatividade, a

inovação e o comprometimento organizacional” (MACKEY; SISODIA, 2013).

Para O’Toole e Vogel (2011), os lucros são vistos como os meios para

um fim maior, mas não como objetivo principal de um negócio. Mesmo que

rentabilidade a longo prazo seja um fator relevante para uma empresa, lucros

de curto prazo não são adquiridos em detrimento de questões éticas e

ambientais e valores humanos e o respeito são sempre levados em conta.

Existem muitas questões que as empresas com propósitos maiores se

perguntam e tentam responder, por que o negócio existe? Por que precisa

existir? Quais valores centrais movem a empresa e unem todos os nosso

stakeholders? Níveis de motivação, desempenho e ética são elevados por

meio de um propósito maior e valores compartilhados, juntamente de aumento

na unificação da empresa (MACKEY; SISODIA, 2013).

2.3.2 Integração de Stakeholders

Stakeholders fazem referência a todas as partes interessadas, ou seja,

que são impactadas ou impactam determinada organização ou instituição. Um

fator de relevância, em empresas que fazem parte dessa ideologia, é que para

elas, cada um dos envolvidos no negócio é importante e se conecta mesmo

que sejam independentes. Stakeholders envolvidos no capitalismo consciente

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27

são incentivados e motivados pelo mesmo propósito da empresa, além de

compartilhar valores centrais e essenciais da organização (MACKEY;

SISODIA, 2013).

Concentrar-se em clientes e funcionários é parte integrante do

Capitalismo Consciente, mas estes constituintes não são o único foco da

filosofia. Nela, também é defendido que as empresas e líderes devem olhar

para todas as partes interessadas (clientes, funcionários, fornecedores,

investidores, sociedade e até o ambiente em que estão inseridos) de uma

forma abrangente. Enquanto isso, observa-se no capitalismo tradicional, uma

forma de pensar em que apenas alguns interesses são atendidos em

detrimento de outros (LEGAULT, 2012 apud SIMPSON; FISCHER; ROHDE,

2013).

Empresas conscientes buscam criar relações em que ambos os lados

da relação são beneficiados, recorrendo a criatividade humana para criar

soluções eficientes e que superam modelos em que existem conflitos ou trade-

offs (momento em que uma parte interessada se beneficia em detrimento de

outra) (MACKEY; SISODIA, 2013).

Integração de Stakeholders faz menção à prática das empresas que se

comprometem a atender às necessidades legítimas de todas as partes

interessadas de suas organizações - incluindo funcionários, acionistas,

fornecedores, distribuidores, comunidades anfitriãs e o ambiente físico em que

a empresa está inserida ou que influencia (O’TOOLE ; VOGEL, 2011).

2.3.3 Liderança consciente

A liderança consciente é também uma característica dos negócios

conscientes e fundamental para o Capitalismo Consciente. Já que o público

não possui confiança em organizações e seus líderes, acaba-se por imaginar

“quem são esses líderes conscientes que trabalham em um lugar de propósito

mais elevado, assumem uma visão expandida para gerar valor para todos

partes interessadas e criar culturas conscientes?” (Legault, 2012, p. 3).

Todo negócio consciente necessita de um líder consciente. Estes

líderes trabalham em função de atingir um propósito maior e criar valores para

todos os stakeholders, sejam eles impactados ou impactantes na corporação.

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28

Uma visão voltada para trade-offs, termo esse já especificado neste trabalho,

não faz parte do que um líder consciente busca em sua gestão, mas sim ele

busca uma forma de criar sinergias entre os diferentes negócios e

stakeholders, gerando benefícios bilaterais (MACKEY; SISODIA, 2013).

Os principais executivos de empresas conscientes geralmente são

“funcionários líderes”. Eles são pagos de forma modesta e simples, quando

comparadas aos seus pares em outras empresas, e sua compensação

geralmente vem de sua posição de propriedade de longo prazo. Estes

executivos lideram e motivam as pessoas pela atração de valores

compartilhados, e não pelo impulso de comando (O’TOOLE; VOGEL, 2011).

Algumas características e habilidades são necessárias para um líder

consciente dentro desse contexto e modelo de negócio, o que pode incluir altos

níveis de inteligência analítica, emocional e espiritual. Ainda, pode-se elencar

a inteligência sistêmica mais apurada, compreendendo a importância não

apenas de eficiência de processos, mas também das relações entre todos os

stakeholders. Eles tendem a pensar de um modo complexo e sofisticado, indo

além de questões analíticas e atribuindo valor a fatores com a diferença entre

os envolvidos na corporação, conflitos e trade-offs (MACKEY; SISODIA, 2013).

2.3.4.Cultura e gestão conscientes

Como quarto princípio, tem-se a cultura e gestão conscientes. A cultura

da empresa consciente garante força e estabilidade para a organização como

um todo. A cultura torna possível e assegura que o propósito e os valores

essenciais da instituição irão se manter, apesar das alterações estruturais e de

liderança. Por meio de um propósito maior, aspecto esse relevante na filosofia

do capitalismo consciente, da interdependência dos stakeholders e da

liderança consciente, as culturas conscientes alinhadas percorrem uma

evolução natural, mesmo que variem de uma organização para outra. Porém,

existem características comumente compartilhadas por todas essas culturas,

sendo elas a confiança, responsabilidade, transparência, integridade, lealdade,

igualitarismo, justiça e crescimento pessoal (MACKEY; SISODIA, 2013).

Uma cultura consciente inclui qualidades como confiança,

autenticidade, cuidado, transparência, integridade, aprendizado e

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fortalecimento. Essas qualidades se combinam para criar um ambiente de

negócios diferente das empresas tradicionais que se baseiam na maximização

do lucro (SISODIA, 2011 apud SIMPSON; FISCHER; ROHDE, 2013). Culturas

corporativas delineadas por meio dessas qualidades não apenas criam boa

vontade com os funcionários, mas também aumentam a lucratividade. Uma

cultura baseada em medo e ansiedade pode debilitar os funcionários quando

se trata de intuição econômica, colocando assim em risco o sucesso financeiro

da empresa (PILLAV ; SISODIA, 2011 apud SIMPSON; FISCHER; ROHDE,

2013).

O modelo de gestão das empresas adeptas ao Capitalismo Consciente

deve ser compatível com sua cultura organizacional. Isso deixa em evidência

alguns elementos que estão entre aqueles compartilhados por todas as

empresas conscientes, sendo aqueles em destaque, a descentralização e foco

na colaboração entre os indivíduos envolvidos, o que implica em maior

capacidade de inovação e criação de valores para todos os stakeholders,

incluindo os funcionários internos. Além disso, fundamentos éticos tem sido

negligenciado por grande parte das empresas, já o Capitalismo Consciente

acredita que a ética deve estar presente em todas as instâncias da empresa,

para “liderar o caminho para elevar a consciência do mundo” (MACKEY ;

SISODIA, 2013).

Mackey e Sisodia (2013) declaram:

Eis um fato um tanto deprimente sobre a realidade laboral moderna: o índice

de de ataques cardíacos sobe de maneira drástica na segunda-feira pela

manhã em todo mundo. A triste verdade é que muitos odeiam o que fazem e

estão estressados com suas tarefas. O ambiente de trabalho é, com

frequência, uma panela de pressão, em que condições precárias se somam

com uma cultura na qual funcionários não são seres humanos valorizados e

em que colegas veem uns aos outros como rivais ameaçadores.

A cultura consciente é alinhada aos interesses de seus stakeholders e

gera benefícios para os funcionários, em um ambiente positivo e estimulante,

fundamentado em valores e confiança. Por outro lado, também é possível gerar

benefícios financeiros para a empresa. Por ter uma cultura relacionada com

confiança, solidariedade e transparência, interligada ao propósito, os

funcionários permanecem nessas organizações para diminuir o seu nível de

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ansiedade e obter maiores recompensas pessoais do seu próprio trabalho.

Com o aumento de sua satisfação, os funcionários agem melhor como

defensores do próprio negócio, além de resultar em maior satisfação do cliente,

criando assim um ciclo auto-realizável (SIMPSON; FISCHER; ROHDE, 2013).

Empresas conscientes organizam seus funcionários em equipes, isso

produz maior familiaridade e também confiança, que é adquirida de forma

natural entre as pessoas pertencentes ao grupo. Durante a história da

humanidade, os seres humanos sempre viveram em pequenos grupos ou

tribos, evoluindo dessa forma. Quando se faz parte de um time, em que os

membros consideram e avaliam suas contribuições, é extremamente

gratificante, além disso estes fatores encorajam o membro em questão a ser

mais criativo e participativo nas atividades e na gestão da organização. A

cultura de compartilhamento e colaboração está intimamente conectada à

natureza humana e é essencial para a melhoria e excelência dentro do

ambiente laboral (MACKEY; SISODIA, 2013).

Uma das analogias que pode ser feita sobre uma instituição com

funcionamento harmônico é com uma orquestra sinfônica, em que cada um

dos membros é responsável por uma determinada atividade ou função

específica. Dessa forma, as pessoas são passíveis de executar suas tarefas

individuais com excelência, porém ficam restritas às demarcações da estrutura

principal, a sinfonia. Por outro lado, observa-se que no meio corporativo é

necessário que a inovação, a habilidade e a criatividade individual, sejam

combinadas com um senso colaborativo e de compartilhamento de ideias,

existindo harmonia (MACKEY; SISODIA, 2013).

Negócios conscientes são motivados por um propósito maior, o que

transcende o lucro e envolve todas as partes interessadas, sendo internas ou

externas à empresa. Um exemplo é a empresa Whole Foods, em que o

propósito maior no Mercado é "alimentos integrais, pessoas inteiras, planeta

inteiro". O termo "alimentos integrais" leva a empresa a oferecer a mais alta

qualidade, com alimentos pouco processados, mais naturais e saborosos;

“Pessoas inteiras” representa aqueles funcionários apaixonados por alimentos

saudáveis e que almejam um planeta saudável. "Planeta inteiro" se trata do

compromisso da empresa em ajudar a cuidar das comunidades e do planeta,

ou seja, o ambiente a sua volta (LEGAULT, 2012, p. 2).

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Para um dos principais expoentes da Escola Austríaca, Friedrich Hayek,

durante o século 20, uma das razões que torna o capitalismo de livre-iniciativa

mais bem estruturado e com melhor desempenho do que qualquer outro

sistema, em especial comparando com burocracias estatais de modelos

baseados em controle, é a adesão à ideia de que a inteligência e o

conhecimento coletivos devem ser utilizados e propagados na organização.

Quando se analisa o aspecto empresarial, tem-se que as corporações mais

dinâmicas e bem-sucedidas são as que mais liberam e incentivam a expressão

da inteligência, do trabalho e do conhecimento descentralizados (MACKEY;

SISODIA, 2013).

Em países e organizações planejadoras, centralizadas e burocráticas,

onde não há preocupação com o que os membros pensam, criam ou almejam

executar, as funções são exercidas de acordo com o jeito delegado pelos

superiores executivos. Isso acarreta na diminuição da chance de uma inovação

real. A descentralização “delega poderes para os colaboradores que interagem

com os clientes e conseguem compreender bem suas necessidades, além de

facilitar a experimentação generalizada em todos os níveis da organização”

(MACKEY; SISODIA, 2013).

O Capitalismo Consciente acredita na descentralização, a partir do

momento em que conduza a organização a um caminho de maior inovação e

comprometimento com os valores fundamentais e a ética. Um fator essencial

para o Capitalismo Consciente é que a tomada de decisão chegue aos níveis

mais básicos da hierarquia, tirando situações em que existam evidências

indiscutíveis de que o caminho mais eficaz seria a tomada de decisão por parte

dos níveis superiores (MACKEY; SISODIA, 2013).

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3. Relações entre Capitalismo Consciente e as Dimensões Culturais de

Hofstede

Essa seção visa trazer os resultados da comparação entre as

características das cinco Dimensões Culturais de Hofstede e o Capitalismo

Consciente dentro de empresas e o ambiente de trabalho. Essas dimensões

são a Distância ao Poder, Individualismo versus Coletivismo, Masculinidade

versus Feminilidade, Aversão à Incerteza e Orientação de Curto versus Longo

Prazo.

3.1 Capitalismo Consciente versus Distância do Poder

Pode-se observar que os modelos de negócio que fazem parte do

capitalismo consciente possuem características com maior sinergia com a

baixa distância do poder.

Tem-se que a estrutura de decisão em empresas conscientes é

descentralizada e com pouca concentração de autoridade, sendo que as

mesmas são organizações de hierarquias horizontais (MACKEY; SISODIA,

2013).

Essas organizações acreditam que esse modelo gera melhor

desempenho, produtividade e eficiência nos processos, diminuindo a

burocracia e modelos de controle, dando importância para a inteligência e o

conhecimento coletivo. Dessa forma, as empresas buscam ser mais dinâmicas

e bem-sucedidas, além de existir um incentivo maior para a inovação e

expressão da inteligência, descentralizando o trabalho, tomada de decisão e

conhecimento (MACKEY; SISODIA, 2013).

Outros aspetos que podem ser citados, e que fortalecem a aproximação

com a baixa distância do poder, são alguns fatores relacionados à gestão das

empresas conscientes. Em geral, os subordinados são consultados em

decisões, além de que os resultados coletivos são extremamente valorizados.

Os chefes e gestores possuem alto nível intelectual e de conhecimento,

juntamente da confiança daqueles que estão sendo gerenciados, incentivando

uma relação de longo prazo e facilitando a gestão de pessoas (HOFSTEDE,

2001).

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33

Observa-se também que os funcionários e gerentes estão cada vez

mais satisfeitos, fator esse influenciado diretamente pelo clima organizacional,

pela importância dada para a coletividade e o propósito da empresa, o que dá

significado para aquilo que o trabalhador está executando (FRÉMEAUX;

MICHELSON, 2017 e SIMPSON; FISCHER; ROHDE, 2013).

A seguir, tem-se a Tabela 1, referente ao ranking de valores dos índices

de distância do poder de mais de 50 países estudados por Geert Hofstede:

Tabela 1 - Índice de Distância do Poder para 50 países e 3 regiões

Fonte: Hofstede (2001, p. 87)

Como já elencado, a cultura nacional de um país se relaciona de forma

intensa com a cultura organizacional presente nas organizações. Dessa forma,

vê-se que os países com menor índice de distância do poder são a Áustria,

Israel, Dinamarca, Nova Zelândia, Irlanda e Suécia. Esses países possuem

aspectos mais conexos com o Capitalismo Consciente, o que favorece a

adoção desse modelo.

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34

3.2 Capitalismo Consciente versus Aversão à Incerteza

O Capitalismo Consciente possui características que se relacionam

tanto com a Alta quanto com a Baixa Aversão à Incerteza. Porém, por meio de

uma comparação qualitativa, observa-se que a tendência de instituições

conscientes é possuir aspectos de Baixa Aversão à Incerteza.

Para Hofstede (2001), pode-se elencar a questão da existência de forte

lealdade ao empregador em um longo e médio prazo. Isso é fomentado pela

busca de ótimas relações com todos os stakeholders, tanto internos quanto

externos às empresas, gerando relações de confiança e que perduram, não

apenas em situações de desenvolvimento e crescimento, mas também durante

crises (O’TOOLE; VOGEL, 2011). Aspecto esse que faz parte da Alta Aversão

à Incerteza.

Fatores de Baixa Aversão à Incerteza são muito mais presentes em

empresas conscientes, nas quais existe uma baixa resistência à mudança e

inovações constantes, muito devido à sua cultura organizacional, senso de

coletividade e busca de propósito, o que torna mais factível unificar

pensamentos, ideais e criar modelos estratégicos que tragam benefícios não

individuais (MACKEY; SISODIA, 2013).

Ainda, tem-se que o poder dos superiores depende da posição e das

relações com os funcionários, não apenas do controle de incertezas, tornando

a gestão mais humanizada, gerando maior aproximação dos funcionários com

seus gestores e diminuindo incertezas de insubordinação, falta de respeito e

perda de produtividade (HOFSTEDE, 2001).

Entrando no aspecto da liderança, o líder de organizações conscientes

são transformadores e alinhados com o propósito da empresa, eles não focam

no controle hierárquico, mas sim em inspirar, transformar o meio em que está

inserido, buscando sempre uma orientação voltada para relações, criando

laços com seus stakeholders (O’TOOLE; VOGEL, 2011).

A seguir, tem-se a Tabela 2, referente ao ranking de valores dos índices

de aversão à incerteza de mais de 50 países estudados por Geert Hofstede:

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Tabela 2- Índice de Aversão à Incerteza para 50 países e 3 regiões

UAI UAI

Controlling for Age

Controlling for Age Rank Country Actual Rank Country Actual

1 Greece 112 98 28 Ecuador 67

2 Portugal 104 102 29 Germany (F.R.)

65 53

3 Guatemala 101 30 Thailand 64 73

4 Uruguay 100 31/32 Iran 59 59

5/6 Belgium 94 80 31/32 Finland 59 54

5/6 Salvador 94 33 Switzerland 58 62

7 Japan 92 112 34 West Africa 54

8 Yugoslavia 88 77 35 Netherlands 53 45

9 Peru 87 91 36 East Africa 52

10/15 Spain 86 89 37 Australia 51 47

10/15 Argentina 86 74 38 Norway 50 38

10/15 Panama 86 39/40 South Africa

49 62

10/15 France 86 73 39/40 New zeland 49 60

10/15 Chile 86 66 41/42 Indonesia 48

10/15 Costa Rica 86 41/42 Canada 48 55

16/17 Turkey 85 61 43 United States

46 36

16/17 South Korea

85 44 Philippines 44 45

18 Mexico 82 86 45 Índia 40 48

19 Israel 81 73 46 Malasya 36

20 Colombia 80 77 47/48 Great Britain

35 43

21/22 Venezuela 76 78 47/48 Ireland 35 54

21/22 Brasil 76 74 49/50 Hong Kong 29 61

23 Italy 75 58 49/50 Sweden 29 23

24/25 Pakistan 70 82 51 Denmark 23 32

24/25 Austria 70 77 52 Jamaica 13

26 Taiwan 69 73 53 Singapore 8 31

27 Arab countries

68

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 151)

Pode-se concluir então, que os países que mais se aproximam da baixa

aversão à incerteza são Singapura, Dinamarca, Suécia e Hong Kong, portanto,

qualitativamente, são os locais que mais favorecem a adoção aos modelos do

Capitalismo Consciente.

3.3 Capitalismo Consciente versus Individualismo e Coletivismo

Quando se analisa um negócio consciente, entende-se que o

Coletivismo é muito mais significativo e impactante do que o Individualismo

dentro dessas organizações. Dentre os principais traços de Coletivismo,

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aqueles em comum para Hofstede (2001) e Mackey e Sisodia (2013), observa-

se que os funcionários agem conforme o interesse do seu grupo e não

necessariamente de si mesmos, sendo que a produtividade, geração de

valores e resultados são todos relacionados com os atingimentos do grupo, e

não do indivíduo. Os funcionários que as empresas buscam são aqueles que

possuem maior capacidade de trabalhar em grupo, o que traz também um

melhor desempenho do que aquele adquirido apenas individualmente. Além

disso, o sucesso organizacional possui forte relação com o compartilhamento

de informação e ao comprometimento dos funcionários.

O foco dessas organizações em trabalho em grupo ajuda a produzir

maior familiaridade e confiança. Quando se é parte de um grupo, existe muita

gratificação quando seus pares consideram e avaliam suas contribuições, o

que estimula a cooperação, a inovação, excelência, criatividade a participação

de cada membro na gestão e nas atividades diárias (MACKEY; SISODIA,

2013).

Por outro lado, algumas características de empresas conscientes vão

contra o que foi elencado por Hofstede (2001) em Coletivismo, como o baixo

compromisso dos funcionários com a organização e a soberania das relações

pessoais sobre tarefas e a empresa.

Devido à presença relevante do propósito dentro das organizações e de

líderes que motivam e inspiram pessoas, os funcionários acreditam naquilo em

que estão trabalhando, tendo maior vínculo com a empresa e se

comprometendo com cada atividade executada (SIMPSON; FISCHER;

ROHDE, 2013).

A seguir, tem-se a tabela 3, referente ao ranking de valores dos índices

de Individualismo de mais de 50 países estudados por Geert Hofstede:

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Tabela 3- Índice de Individualismo para 50 países e 3 regiões

IDV IDV

Rank Country Actual Predicted Rank Country Actual Predicted

1 United States

91 90

2 Australia 90 64 28 Turkey 37 36

3 Great Britain

89 66 29 Uruguay 36 39

4/5 Canada 80 80 30 Greece 35 44

4/5 Netherlands 80 68 31 Philippines 32 20

6 New Zealand

79 65 32 Mexico 30 28

7 Italy 76 54 33/35 Yugoslavia 27 43

8 Belgium 75 71 33/35 Portugal 27 39

9 Denmark 74 80 33/35 East Africa 27

10/11 Sweden 71 92 36 Malaysia 26 15

10/11 France 71 75 37 Hong kong 25 33

12 Ireland 70 56 38 Chile 23 37

13 Norway 69 78 39/41 Singapore 20 21

14 Switzerland 68 76 39/41 Thailand 20 19

15 Germany (F.R.)

67 74 39/41 West Africa

20

16 South Africa

65 33 42 Salvador 19 21

17 Finland 63 72 43 South Korea

18 34

18 Austria 55 61 44 Taiwan 17 28

19 Israel 54 51 45 Peru 16 21

20 Spain 51 44 46 Costa Rica 15 21

21 Índia 48 27 47/48 Pakistan 14 24

22/23 Japan 46 53 47/48 Indonesia 14 13

22/23 Argentina 46 43 49 Colombia 13 16

24 Iran 41 34 50 Venezuela 12 26

25 Jamaica 39 27 51 Panamá 11 23

26/27 Brazil 38 27 52 Ecuador 8 12

26/27 Arab Countries

38 53 Guatemala 6 22

Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 215)

Pode-se concluir então, que os países que mais se aproximam do

Coletivismo são Guatemala, Equador, Panamá, Venezuela e Colômbia,

portanto, qualitativamente, são os locais mais propícios para a adesão aos

modelos do Capitalismo Consciente.

3.4 Capitalismo Consciente versus Masculinidade versus Feminilidade

O Capitalismo Consciente possui aspectos de Feminilidade mais

presentes do que de Masculinidade quando se trata do ambiente de trabalho e

gestão. De acordo com Hofstede (2001), o significado do trabalho, para os

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38

trabalhadores, são as relações e condições de trabalho. Isso têm forte ligação

com as organizações conscientes que, de acordo com Simpson, Fischer e

Rohde (2013), prezam por um bom ambiente de trabalho, que fomente as

atividades em grupo e a colaboração em sua execução, fazendo com que os

funcionários cumpram sua função não apenas como um meio de se sustentar

financeiramente, mas também se sintam motivados com suas relações na

empresa e o clima organizacional e diminuam sua ansiedade.

Outras características estudadas por Hofstede (2001) que podem ser

citadas acerca de Feminilidade em empresas conscientes são a preocupação

com maior igualdade, solidariedade e qualidade de vida no trabalho, fatores

esses, de relevante importância para a gestão de empresas e cultura

organizacional para Mackey e Sisodia (2013).

Por fim, dentre as relações de Feminilidade que ocorrem dentro das

organizações, pode-se afirmar que os gerentes são considerados

trabalhadores como todos os outros e são pessoas que devem saber lidar com

os sentimentos e a empatia, buscando consenso e trazendo a resolução de

conflitos de forma humanizada entre aqueles abaixo na hierarquia empresarial,

aspectos esses, julgados de suma relevância por Mackey e Sisodia (2013).

A seguir, tem-se a tabela 4, referente ao ranking de valores dos índices

de Masculinidade de mais de 50 países estudados por Geert Hofstede:

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39

Tabela 4- Índice de Masculinidade para 50 países e 3 regiões

Fonte: Hofstede (2001, p. 286)

Pode-se concluir então, que os países que mais se aproximam da

Feminilidade são a Suécia, Noruega, Holanda, Dinamarca e Costa Rica,

portanto, qualitativamente, são os locais mais propícios para a adesão aos

modelos do Capitalismo Consciente.

3.5 Capitalismo Consciente versus Orientação de Longo e Curto

Prazo

Observa-se que o Capitalismo Consciente preza por uma visão de longo

prazo, tanto em suas relações com stakeholders, quanto em seus resultados.

Isso demonstra que é necessário ter persistência e perseverança para se

executar as funções em uma empresa consciente, além de existir grande

importância em relacionamentos e posicionamento de mercado da

organização, propagando seus produtos, serviços, mas principalmente o

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40

propósito da empresa em tornar algo melhor no meio onde ela atua (O’TOOLE;

VOGEL, 2011 e HOFSTEDE, 2001).

Do ponto de vista da forma como um funcionário trabalha em uma

empresa consciente, tem-se que sua visão de longo prazo e sistêmica é

baseada em um pensamento sintético, ou seja, que busca entender um

fenômeno ou sistema como um todo, ao contrário de uma forma analítica,

utilizada em instituições que visam resultados a curto prazo, que tende a

fragmentar problemas em partes menores para obter os resultados esperados

(HOFSTEDE, 2001).

Isso demonstra uma maneira mais coletiva de pensar e solucionar

problemas, pensando nas necessidades, emoções e dificuldades de cada

stakeholder, gerando assim resultados de longo prazo em relações

mutuamente benéficas.

A seguir, tem-se a tabela 5, referente ao ranking de valores dos índices

de Orientação de Longo Prazo de mais de 20 países estudados por Geert

Hofstede:

Tabela 5- Índice de Orientação de Longo Prazo para 23 países

Score Rank

Country or Region

LTO Score

1 China 118

2 Hong Kong 96

3 Taiwan 87

4 Japan 80

5 South Korea 75

6 Brazil 65

7 India 61

8 Thailand 56

9 Singapore 48

10 Netherlands 44

11 Bangladesh 40

12 Sweden 33

13 Poland 32

14 Germany (F.R.) 31

15 Australia 31

16 New Zealand 30

17 United States 29

18 Great Britain 25

19 Zimbabwe 25

20 Canada 23

21 Philippines 19

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41

22 Nigeria 16

23 Pakistan 00 Fonte: Adaptado de Hofstede (2001, p. 356)

Pode-se concluir então, que os países que mais se aproximam da

Orientação de Longo Prazo são a China, Hong Kong, Taiwan e Japão,

portanto, qualitativamente, são os locais mais propícios para a adesão aos

modelos do Capitalismo Consciente.

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42

4. Considerações Finais

Esse Trabalho de Conclusão de Curso teve como principal objetivo

determinar as relações entre as Dimensões Culturais de Hofstede e a cultura

organizacional presente na filosofia do Capitalismo Consciente. Como objetivo

secundário, foi feita uma análise de quais países possuem maior

susceptibilidade para aderir à essa filosofia em função dos valores que medem

os índices das dimensões culturais de Hofstede.

Por meio de uma análise qualitativa e comparativa entre características

do Capitalismo Consciente e das dimensões culturais de Hofstede, no âmbito

de pessoas, gestão e ambiente de trabalho, pôde-se observar que essa

filosofia se encaixa no padrão de Baixa Aversão à Incerteza, Alta Feminilidade,

Baixa Distância do Poder, Orientação voltada para o Longo Prazo e Baixo

Individualismo, como demarcado no quadro 6, abaixo:

Quadro 6 – Conclusões sobre as relações entre as dimensões

culturais de Hofstede e o Capitalismo Consciente

Dimensões Culturais Capitalismo Consciente

Aversão à Incerteza Baixa

Masculinidade versus Feminilidade Feminilidade

Distância do Poder Baixa

Individualismo versus Coletivismo Coletivismo

Orientação de Longo versus Curto

Prazo Orientação de Longo Prazo

Ainda, conclui-se que os países que mais se aproximam desses

aspectos são a Dinamarca e a Suécia, apesar de obterem altos níveis de

individualismo, sendo assim cada país possui sua peculiaridade cultural em

que mais se relaciona com os índices das dimensões culturais em empresas

conscientes, como observado nos resultados do trabalho.

Complementando, cada vez mais se torna importante estudar novos

modelos de negócio e filosofias relacionadas com o ambiente organizacional,

sendo que as empresas estão tendendo a possuir uma visão voltada para o

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43

bom relacionamento com seus stakeholders, de forma a conduzir suas

relações e resultados em um longo prazo. Com o passar do tempo, houve

também um desenvolvimento na mediação entre a corporação e a vida social,

prezando por melhores condições e bem-estar. Além disso, a alta coletividade,

o incentivo ao trabalho em grupo, a descentralização do poder, a diminuição

da hierarquia estrutural de empresas e a valorização de líderes que são

inspiradores, fazem com que o propósito das organizações seja algo a ser

seguido para que exista impacto positivo internamente e para o ambiente e

pessoas externas à sua volta.

Dessa forma, é de suma importância, que futuramente haja continuação

da realização de pesquisas sobre o assunto deste trabalho, passando também

por análises sobre a distribuição de negócios conscientes por região, junto com

suas características organizacionais, estudos práticos e estudos de caso,

dentro de empresas e países diversos, além de diferentes setores.

Por fim, este Trabalho de Conclusão de Curso contribuiu em diversos

fatores minha vida pessoal, tendo destaque para melhoria da capacidade de

investigação da realidade, maior percepção da importância da pesquisa e o

aumento da visão de mundo, entendendo os assuntos presentes no trabalho e

suas relações entre si e com o ambiente à sua volta.

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