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1 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA DISPUTA DO SABER E DO PODER NO TERRITÓRIO BRASILEIRO Andréa dos Santos Penha 1 Resumo Este artigo tem o objetivo de apresentar a influência das teorias das relações étnico-raciais na formação social e territorial da sociedade brasileira. Tendo-se em vista, que o processo histórico de formação social e territorial do Brasil construiu-se nas relações de diferentes grupos étnico-raciais, e com a negação de direitos para os povos “não-brancos” (indígenas, negros, asiáticos, entre outros), e entendendo o ser humano como principal ator do espaço. Viu-se a necessidade de se estudar as relações étnico-raciais estabelecidas nas relações sociais brasileiras, e sua influência nas práticas da produção social e espacial. Como metodologia serão apresentadas cinco perspectivas teóricas das relações raciais, ponderando que há a possibilidade de existir autores que podem estar compartilhando de mais de uma perspectiva teórica. Sendo a sociedade regida por leis e normas, e que o racismo se institucionaliza por estes campos burocráticos, se examinou também, obras que discutem políticas públicas e a igualdade de direitos entre brancos e negros no Brasil, e como isto se reflete nas leis educacionais, e nos ambientes escolares. O diálogo dos intelectuais e cientistas sociais, com o contexto histórico, social e político vivido no Brasil, geraram teorias que influenciaram a formação do pensamento social brasileiro e consequentemente das relações sócio-raciais e de produção territorial. Consideramos que tais dinâmicas se firmam na produção do conhecimento cientifico, e na disputa territorial se apresentam perspectivas teóricas numa relação de poder e jogo político. Palavras-chave: Relações raciais; Saber; Território. INTRODUÇÃO Tendo-se em vista, que o processo histórico de formação social e territorial do Brasil construiu-se nas relações de diferentes grupos étnico-raciais, e com a negação de direitos para os povos não-brancos(indígenas, negros, asiáticos, entre outros). E reconhecendo, que o principal ator do espaço é o ser humano. Viu-se a necessidade de se 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geografia, História e Documentação na Universidade Federal de Mato Grosso. Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso.

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA DISPUTA DO SABER E DO PODER … · (Companhia de Jesus), a igreja católica sustentará os valores morais e sociais da embrionária sociedade brasileira

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RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA DISPUTA DO SABER E DO PODER NO

TERRITÓRIO BRASILEIRO

Andréa dos Santos Penha1

Resumo

Este artigo tem o objetivo de apresentar a influência das teorias das relações étnico-raciais

na formação social e territorial da sociedade brasileira. Tendo-se em vista, que o processo

histórico de formação social e territorial do Brasil construiu-se nas relações de diferentes

grupos étnico-raciais, e com a negação de direitos para os povos “não-brancos”

(indígenas, negros, asiáticos, entre outros), e entendendo o ser humano como principal

ator do espaço. Viu-se a necessidade de se estudar as relações étnico-raciais estabelecidas

nas relações sociais brasileiras, e sua influência nas práticas da produção social e espacial.

Como metodologia serão apresentadas cinco perspectivas teóricas das relações raciais,

ponderando que há a possibilidade de existir autores que podem estar compartilhando de

mais de uma perspectiva teórica. Sendo a sociedade regida por leis e normas, e que o

racismo se institucionaliza por estes campos burocráticos, se examinou também, obras

que discutem políticas públicas e a igualdade de direitos entre brancos e negros no Brasil,

e como isto se reflete nas leis educacionais, e nos ambientes escolares. O diálogo dos

intelectuais e cientistas sociais, com o contexto histórico, social e político vivido no

Brasil, geraram teorias que influenciaram a formação do pensamento social brasileiro e

consequentemente das relações sócio-raciais e de produção territorial. Consideramos que

tais dinâmicas se firmam na produção do conhecimento cientifico, e na disputa territorial

se apresentam perspectivas teóricas numa relação de poder e jogo político.

Palavras-chave: Relações raciais; Saber; Território.

INTRODUÇÃO

Tendo-se em vista, que o processo histórico de formação social e territorial do

Brasil construiu-se nas relações de diferentes grupos étnico-raciais, e com a negação de

direitos para os povos “não-brancos” (indígenas, negros, asiáticos, entre outros). E

reconhecendo, que o principal ator do espaço é o ser humano. Viu-se a necessidade de se

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geografia, História e

Documentação na Universidade Federal de Mato Grosso. Licenciada em Geografia pela Universidade

Federal de Mato Grosso.

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estudar as relações étnico-raciais que se estabelecem nas relações sociais, e influenciam

na formação sócio-espacial. Pois, é através destas relações que ocorrem a ocupação, a

produção e o desenvolvimento territorial, sendo elas étnico-raciais e de classe. Considera-

se também, que tais dinâmicas sociais se constroem e se firmam na produção do

conhecimento cientifico, e na disputa territorial se apresentam perspectivas teóricas numa

relação de poder e jogo político.

O diálogo dos intelectuais e cientistas sociais, com o contexto histórico, social e

político vivido no Brasil, geraram teorias que influenciaram a formação do pensamento

social brasileiro e consequentemente das relações sócio-raciais e de produção territorial.

As perspectivas teóricas sobre o entendimento destas reações não devem ser entendidas

de forma linear, como sequência uma da outra. Mas sim como uma dinâmica de diálogos

entre os sujeitos produtores do conhecimento de cada momento histórico. Dito isto, será

realizada uma tentativa de construir cronologicamente o diálogo entre as teorias raciais,

que buscam em cada explicar a realidade das relações sócio-raciais no Brasil, que ainda

hoje se fundam na concepção de raça2. Mesmo que cientificamente se afirme a não

existência de raça, o seu estudo nas ciências sociais se faz necessário.

Como metodologia serão apresentadas cinco perspectivas3 teóricas das relações

étnico-raciais, ponderando que há a possibilidade de existir autores que podem estar

compartilhando de mais de uma perspectiva teórica. De início apresentar-se-á os teóricos

racialistas do século XVII ao XIX no contexto global, e em sequência qual a sua

influência na formação do pensamento cientifico e social brasileiro. Sendo a sociedade

regida por leis e normas, e que o racismo se institucionaliza por estes campos

burocráticos, se examinou também, obras que discutem políticas públicas e a igualdade

de direitos entre brancos e negros no Brasil. Para enfim se debater sobre como isto se

reflete nas leis educacionais, e nos ambientes escolares. Se buscará também, realizar um

debate sobre o conceito de raça e suas transformações terminológicas, no diálogo entre

as diferentes perspectivas teóricas. E sobre a possibilidade de mobilidade social da

2 O conceito de raça neste trabalho, quando não vinculado a uma perspectiva teórica em especifica, será

abordado de acordo com Hasenbalg (1982, 1992) em que raça é um atributo construído histórica e

socialmente “como um esquema classificatório e um princípio de seleção racial que está na base da

persistência e reprodução de desigualdades sociais e econômicas entre brasileiros brancos e não-brancos”

(HASENBALG, 1992, p. 11). 3 O conceito de “perspectiva” aqui é utilizado com a ideia de “olhar através”, enfatizando a existência da

disputa de ideais que em cada momento histórico serão olhados através daqueles que produzem o

conhecimento na sociedade (JAPIASSÚ, 2001, p. 150).

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população negra na disputa do poder e do saber científico. Considerando estes como

condicionantes para uma ascensão social e de domínio territorial.

RACISMO UMA JUSTIFICATIVA PARA EXPANSÃO ECONÔMICA E

TERRITORIAL EUROPEIA EM DIREÇÃO AO NOVO MUNDO

Em fins do século XV o contexto internacional era de expansão do território

europeu para o novo mundo das Américas, e outros continentes como África e Ásia4. Tal

expansão se dá pela justificativa do darwinismo social5, evolucionismo6, racismo

científico7 e missão civilizatória do homem branco (HASENBALG, 1982). A sociedade

em que vivemos de modelo/origem ocidental tem suas raízes nas sociedades greco-

romanas, com valores sócio-culturais pautados na ideia de domínio territorial. Na qual

aqueles que mais terras possuíam se consolidariam enquanto elite dominante do império.

E para se falar em valores sociais vinculados à ideia de raça e racismo, e à população

negra. É necessário entender histórico e cientificamente os fatores geográficos, físicos e

biológicos na definição das características fenotípicas da população negra, e também dos

brancos.

O racismo em si já existia nessas sociedades, mas teve sua especificação por cor

na sociedade árabe-muçulmana. Assim, é imprescindível que seja diferenciado os

conceitos de raça e racismo. A raça é uma construção sociopolítica de dominação e o

racismo como um fenômeno histórico ligado a conflitos reais da história dos povos, mas

que antecede a definição de raça (MOORE, 2007). A ideologia racial é entendida então,

como um mecanismo de dominação territorial para a expansão do imperialismo europeu.

O racismo enquanto política de estado que se institucionalizou no governo alemão

nazista, esteve naquele momento em disputa com muitas outras ideologias8 para ser aceito

publicamente (ARENDT, 1989). Pensando a organização social, enquanto disputa

territorial por dominação de uma ideologia, tem-se a disputa de duas ideologias na

sociedade, e também nas teorias das relações étnico-raciais com diferentes perspectivas.

4 Alguns autores que abordaram esta ideia: HASENBALG, 1982; ARENDT, 1989; TODOROV, 1993;

BANTON, 1979). 5 Ideia de que existem diferentes povos, em condição inata de superioridade e inferioridade, onde todo povo

inferior em presença do povo superior é condenado a desaparecer (TODOROV, 1993, p. 124). 6 A existência de “raças inferiores e superiores e a possibilidade de raças inferiores evoluírem para alcançar

o grau de civilidade dos superiores, fundamentam o evolucionismo e justificam as missões civilizatórias de

expansão do território europeu quanto da ideologia cristã. 7 Utilização da ciência para fundamentar e legitimar o racismo. 8 O conceito de “ideologia” aqui utilizado será fundamentado por Hanna Arendt como “sistemas baseados

em uma única opinião suficientemente forte para atrair e persuadir um grupo de pessoas e bastante ampla

para orientá-las nas experiências e situações da vida moderna” (Arendt, 1989, p. 189).

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A ideologia racial e a ideologia de classe, que se estabeleceram enquanto “doutrinas

nacionais oficiais” e perpassaram séculos.

Esta disputa ideológica, na teoria das relações sociais, tem um fenômeno em

debate, que é a mobilidade social ascendente da população negra. A existência ou não de

tal mobilidade, ditará o acesso dos negros9 aos espaços de poder, dando origem às

diversas perspectivas teóricas sobre as relações raciais na sociedade brasileira. Deste

modo, os conflitos e busca por novos territórios e exploração, atrairá os principais

navegantes do ocidente europeu em direção à América. Que juntamente consigo

trouxeram a ideia de raça e ideologia racial, influenciando o pensamento social do Brasil

colônia, império e república.

A EUROPA DOS TRÓPICOS – A FARSA DO 1º DE ABRIL10

No processo histórico de formação da sociedade ocidental, foram diversos os

sistemas imperialistas que se utilizaram da fé e religião para preservar e expandir o

império. E com Reinado Português não foi diferente. Desta forma, através dos jesuítas

(Companhia de Jesus), a igreja católica sustentará os valores morais e sociais da

embrionária sociedade brasileira em apoio ao reinado. Pregando uma ordem

hierarquizada de movimento e ascensão a Deus”, e que por providência divina cada ser

possuiria sua função e lugar natural na terra (HOFBAUER, 2006). Os valores de

humanidade construídos sob mores cristãos e situações econômicas, se relacionam às

características genéticas dos sujeitos ditando suas “capacidades” e seleção natural11.

A proposta de se criar uma “Europa Tropical” no Brasil através do branqueamento

e eugenia da população junto ao ideal de raça pura se fortalece12. Além disso, com a

primeira guerra mundial a Europa passa a ser vista em condições de degeneração

nacional, e a alternativa de salvação da raça humana vem em direção ao novo mundo

9 O termo “negro” empregado neste texto será utilizado para referenciar a população brasileira parda e preta

ou os afro-brasileiros. Este termo segundo Guimarães (2003, p. 103) foi incorporado às ciências sociais por

Nelson Valle e Carlos Hasenbalg conceitualizando analiticamente as práticas do Movimento Negro

Unificado. 10 1º de abril de 1822 foi declarada a “independência do Brasil”, entretanto, a independência é proclamada

pelos descendentes dos colonizadores portugueses que ainda defendem uma ideologia colonizadora e

eurocentrada, na busca de uma Europa na região tropical, e de um brasileiro europeizado fisicamente e

socialmente. 11 Nancy Stepan, Edwin Black e Thomas Skidmore abordaram sobre o reflexo da ideologia racista na

colonização da América Latina e em especial no Brasil 12 Francis Galton, fins do século XIX, cria um “método protocientífico”, chamado eugenia, justificando a

ciência como característica da raça humana, daqueles considerados da raça pura, os “bem nascidos”, e os

outros seriam raças subumanas (BANTON, 1979).

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(STEPAN, 2005). O “novo mundo” (América Latina) deveria ser o berço dessa raça pura,

a ser alcançada através da eugenia, ou seja, com o extermínio das raças consideradas

subumanas e inferiores. Esta é a visão da primeira perspectiva teórica13. Fundamentados

em pesquisas antropológicas, difundiam o racismo científico, a existência de raças

humanas e a busca por uma raça pura. A raça era entendida enquanto raça, propriamente

dita, do seu ponto de vista biológico e social, em que havia a continuidade entre aspectos

físicos e morais (TODOROV, 1993).

Deste modo, o Estado–nação14 no Brasil é construído em um cenário onde os

cientistas, em sua maioria, eram europeus ou norte-americanos, e a miscigenação que

ocorria entre os diferentes grupos raciais no Brasil (brancos/europeus, negros/africanos e

indígenas/nativos) era malvista, representando a degeneração da raça e atraso social15.

Considerando que “a base de uma nação civilizada é a ciência”16, à forma que estava

sendo desenvolvida começa a fundamentar o pensamento social brasileiro. Centrado em

busca de um ideal branco, proposital ao esquecimento histórico sobre os trabalhadores

nacionais, negros e mestiços colonos17, pensando a nação em seus aspectos raciais, antes

dos seus aspectos econômicos ou culturais (AMAURI, 2013).

Desde as décadas de 1850, o Brasil já era visto internacionalmente como um país

democrático racialmente por ter “pessoas de cor a cargos oficiais ou a posições de riqueza

ou prestígios” (GUIMARÃES, 2002, p. 139), e em 1822 já se tinha mais de 75% dos

mulatos e 12,5% dos negros puros livres da escravidão (PIERSON, 1971, p. 214). Um

novo sistema de sociedade estava se expandindo, a industrialização. E o ideal de branco

visto como sinônimo de “desenvolvimento”, estava sendo desejado para o povo

brasileiro. Além de que, havia possível receio da elite brasileira em perder o poder sobre

o território18. Neste cenário começa-se a se desenvolver políticas de branqueamento para

13 Terá grande evidência na ciência até começo do século XX, quando as pesquisas sociológicas ganham

força no cenário cientifico. 14 O Estado-nação é uma organização política que estaria a serviço da origem e destino comum de um povo,

em detrimento da subordinação de seu povo à “pátria amada”. Segundo Guimarães (2003, p. 97) Estado-

nação são “entidades que emitem passaporte, que erigem e controlam fronteiras, que garantem direitos a

seus cidadãos, mas às quais, ao mesmo tempo, esses cidadãos devem se identificar como filhos, devendo-

lhes amor e fidelidade; e que são, ao mesmo tempo, comunidades políticas e de destino”. 15 Ainda assim, existiam alguns poucos que defendiam a miscigenação abertamente, como alternativa

para a integração nacional e territorial (AMAURI, 2013). 16 TODOROV, 1993, p. 132 17 SEYFERTH (apud, AMAURI, 2013) 18 Neste momento a população negra compunha a maioria da população brasileira e caso ocorresse uma

revolta desta população, os afro-brasileiros tomariam o poder social, como ocorreu na Ilha de São

Domingos no Haiti em fins do século XVIII e começo do XIX.

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a população, como exemplo o projeto de imigração do Império que durou de 1871 a 1920

(HOFBAUER, 2006).

Simultâneo a isto, se legaliza a “abolição” da escravatura, e a nível nacional e

internacional se consolida a sociologia no campo das ciências. Na tentativa de se apagar

a injustiças raciais, as ciências sociais abandonam as explicações sobre o mundo social

baseadas em raça e clima (determinismo biológico e geográfico, respectivamente), em

favor de explicações baseadas na construção social e da cultura. Esta negação da

interpretação biológica de raça é feita primeiramente por Franz Boas19, mas pensada na

realidade brasileira, mais a fundo, por Gilberto Freyre20.

BRASIL LUSO-TROPICAL E UMA DEMOCRACIA RACIAL

O projeto de Estado-nação em defesa de “ordem e progresso” cobra a necessidade

de se criar uma identidade nacional para o Brasil. A ideia de se superar as características

desumanas e de atraso social do passado escravista, cobra a tentativa de se substituir o

conceito de “raça” por “cultura”. A consolidação das ciências sociais e algumas pesquisas

negando a existência da raça biológica, faz se desenvolver uma segunda perspectiva

teórica, o chamado “culturalismo”21. O maior defensor desta ideia no Brasil vem a ser

Gilberto Freyre22 trazendo a miscigenação como alternativa para o desenvolvimento de

uma identidade nacional do povo brasileiro. Sugerindo o mulato como a chave explicativa

para a não existência do racismo. A tática de “progresso social” agora passa a ser o

branqueamento e não mais a eugenia.

Para Freyre (2003), o Português possui uma plasticidade em sua sociabilidade,

possibilitando a miscigenação e uma harmonia racial, através da proximidade sexual com

as escravas negras. As relações de proximidades entre os dois grupos raciais, se davam

também no contato pela “ama de leite”, pelas brincadeiras de crianças, ou pelo fato de

dividirem o mesmo espaço social da Casa Grande. A teoria de Freyre reafirma a ideia de

que o Brasil seria uma sociedade democrática racialmente23, em que os diferentes grupos

19 Hasenbalg, 1982. 20 O negro no século XIX é visto como atraso para o país. Contudo, Manuel Querino (1918), em sua obra

“O colono preto”, é o primeiro a trazer para a história do Brasil o negro como colono e quem mais contribuiu

para a formação da nação brasileira. 21 Este termo é utilizado é utilizado por Marcelo Paixão, em sua obra “A lenda da modernidade encantada”

(2014), para explicar que Freyre propõe superar o caráter biológico do racismo, enfatizando as

características culturais de cada grupo étnico, preservando a hierarquização social. 22 Em suas obras “Casa Grande & Senzala” e “Sobrados e Mucambos”. 23 Mesmo de afirmando uma democracia racial, segundo Nascimento (1982, p. 69) no período pós-abolição

de meados do século XX “há um evidente retrocesso na participação do negro na direção da vida do país.

Raros, raríssimos, atualmente, os membros de cor de nosso Poder Legislativo”

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étnicos24 são livres para expressar-se culturalmente. O surgimento desta teoria fortalecia

o projeto do Estado Novo pensado no governo de Getúlio Vargas com a proposta de

fortalecimento da identidade nacional, período em que a democracia racial é amplamente

defendida.

Segundo Guimarães (2002), entre 1930 e 1964 vigorou no Brasil o período de

“pacto populista”, “pacto nacional-desenvolvimentista” ou também “pacto da democracia

racial”25 entre o governo brasileiro e o movimento negro da época, para se firmar nacional

e internacionalmente a ideia de democracia racial no Brasil. O autor afirma que, durante

este período, houve total integração da população negra à nação brasileira “em termos

simbólicos na adoção de uma cultura nacional mestiça e sincrética, e parcialmente em

termos materiais através da regulamentação do mercado de trabalho e da seguridade

social urbanos” (GUIMARÃES, 2002, p. 166), revertendo a situação de exclusão e

descompromisso da primeira república. O pacto foi consolidado, no período pós segunda

guerra mundial, momento em que as tragédias do racismo na Europa se viam como

desumanidades bárbaras.

Em 1938 se cria o Conselho Nacional de Imigração e Colonização26, promovendo

defesa aos imigrantes europeus. E o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é

fundado neste mesmo contexto político em 1934, para a contabilização populacional e

“organização” territorial. Oculta à ideia de miscigenação e ausência do racismo, estava a

ideia de branqueamento da população pela miscigenação. Suprimindo biológica e

culturalmente os não-brancos, dando forças e desenvolvendo uma persistente busca por

um "ideal branco". Pautado na teoria do "darwinismo social" a miscigenação ao longo do

tempo faria sucumbir os elementos étnicos mais fracos prevalecendo o mais forte, que

seria o branco europeu e verdadeiro brasileiro.

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA BRASILEIRA – DEMOCRACIA RACIAL POR

UMA SOCIEDADE DE CLASSES

24 A raça passa a ser entendida enquanto cultura e etnia. 25 Segundo Guimaraes (2002) esse foi um grande momento de “marketing governamental” em que foram

realizados vários investimentos na cultura afro-brasileira e no atendimento de suas reivindicações.

Entretanto, Nascimento (1982) vai apresentar vários momentos de censura, coisificação e branqueamento

da cultura negra neste momento histórico. 26 AMAURI, 2013.

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Ainda sob a assertiva da democracia racial e dos estudos sociológicos

internacionais, desenvolvidos pela Escola de Chicago27, na década de 1940, é dialogada

a terceira perspectiva teórica. Com ênfase nas questões socioeconômicas e na estrutura

de uma sociedade de classes, se discuti a existência das desigualdades sociais e a possível

existência de preconceito racial em seu caráter isolado. Contudo, por uma concepção

política ideológica do período, a partir de então, o termo raça passa a ser referenciado por

“cor”, defendendo na sociedade brasileira a democracia racial, e a ideia cor como um

“mero acidente”. A cor enquanto uma posição social de classe, dependendo da tonalidade

de pele estaria mais próximo da condição de escravidão e consequentemente menos

próximo de uma ascensão social.

Como resultados das relações “harmoniosas” entre patriarcas portugueses e

mulatas negras, as relações de apadrinhamento de alguns mestiços, e pela imigração

europeia, surge uma camada social denominada por “bacharéis mulatos”. Em virtude do

contato com a civilidade do branco, o mulato tende a “desenvolver certos traços

favoráveis à ascensão”28 (PIERSON, 1971, p. 214). O contexto do Brasil, era a passagem

de uma sociedade colonial de castas29 para uma sociedade liberal de classe. Nesta nova

sociedade de sistema econômico industrial, todos os indivíduos eram livres para se

ascender socialmente. Não haveria preconceito racial entre grupos raciais, mas sim a

existência de fatos isolados por ainda estar-se próximo do período escravista, e da recente

política de branqueamento30. Entretanto, seriam situações que se superariam com o

desenvolvimento econômico e a miscigenação intergeracional. Os negros escuros não

estariam inteiramente integrados à sociedade livre, pois de acordo com a “linha de cor”31

estavam mais próximos da condição de escravidão, e a posição social do mestiço teria sua

cor como comprovante de seu distanciamento da condição de escravo. Ou seja, a cor, ou

tonalidade de pele se associava à posição social. As afirmações de Pierson estavam sendo

generalizadas também ao Brasil rural32.

27 Escola de Sociologia dos Estados Unidos da América, país multi-racial “onde a questão racial tem

ocupado um lugar central no debate acadêmico e político” (HASENBALG, 1982). 28 Gilberto Freyre também afirma, isso em defesa de sua tese sobre o mulato como brasileiro ideal. 29 Segundo Guimarães (2003, p. 99) “boa parte da literatura sociológica brasileira afirma que a colônia

braasileria era uma sociedade de castas”. 30 Célia Maria de Azevedo (2004) em sua obra “Onda negra medo branco” trará diversos depoimentos e

registros de políticas com o objetivo de alcançar o branqueamento da população. 31 Octavio Ianni (2004) ao falar da ideologia racial do branco em sua obra “Raças e classes sociais no

Brasil”, discorre sobre a linha de cor associando-a à produção econômica do indivíduo. Afirmando assim,

a importância da “cor” da pele nas relações cotidianas entre brancos, negros e mulatos. 32 OSÓRIO, 2008.

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A tal democracia defendida até então, se assentava na complementação das partes

conflitantes, em que uma se suprimi para a realização da outra, afirmando a real

necessidade de uma hierarquia social e consequentemente racial. A ilusão de igualdade e

hierarquia dadas ao mesmo tempo, é pensada por Roberto Da Matta (1987) com fábula

das três raças. Ao qual, o regime de valores sociais da nossa sociedade seria harmonioso

até o momento em que cada grupo racial reconhecesse “qual o seu lugar” na pirâmide

social, ou seja, o branco tem o seu lugar no status social, assim como o negro e o indígena

também tem o seu lugar.

Devido à intensa miscigenação o preconceito é tido como inexiste ou é ameno,

entretanto, o ideário de inferioridade do negro se mantém, e a miscigenação é vista como

benéfica. Com a ascensão social do negro ou mestiço, se acentuam as tensões entre grupos

raciais, no pensamento social racista o negro enquanto classe superior é questionado33.

Subentende-se que no pensamento social e cientifico brasileiro o negro estava condenado

a estar em posições sociais na base da pirâmide socioeconômica.

Assim neste momento histórico, o movimento negro, organizado em Frente Negra

Brasileira e Teatro Experimental do Negro34, denunciava a existência do preconceito

racial e a coisificação e essencialização do negro nas ciências sociais brasileiras, e

consequentemente no pensamento social brasileiro. Realizando em 1950 o I Congresso

do Negro Brasileiro35, com a participação não só de intelectuais do meio cientifico mais

também a participação popular, em crítica à tematização do negro enquanto problema

social e coisa (Nascimento, 1982). Ocupar uma posição social de prestigio não

significaria para o negro a integração no espaço de vivência dos brancos presentes em

mesma posição.

DEMOCRACIA RACIAL – UM MITO A SER SUPERADO PELO

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

33 Abdias Nascimento (1982, p. 68) em sua obra “O negro Revoltado” apresentará situações de que pessoas

brancas se negam a ter como governante estatal um negro, mesmo depois de se ter aprovada a lei Afonso

Arinos em 1951. 34 O Teatro experimental do Negro – TEN foi fundado em 1944 com a pretensão de organizar ações que

tivessem significação cultural, valor artístico e função social aumentando o espaço de representação do

negro, e também criou “uma pedagogia para educar o branco de seus complexos, sentimentos disfarçados

de superioridade” (NASCIMENTO, 1982, p. 84). 35 Houveram também I e II Congresso Afro-Brasileiro, realizados em Recife (1934 e Bahia (1937)

respectivamente. Realizados pela elite intelectual que não via o negro enquanto ser social. “Foram

congressos acadêmicos. Descreveram o negro sob aspectos históricos, antropológicos, folclóricos,

etnográficos, usaram o negro como matéria-prima de pesquisas” (NASCIMENTO, 1982, p. 82).

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Nos anos de 1950 após Segunda Guerra Mundial, o cenário político e social

internacional se encontravam arrasados pelos conflitos étnico-raciais na Europa36. E o

Brasil sendo visto como um paraíso racial, em que os diferentes povos étnico-raciais

coexistiam em um mesmo espaço harmoniosamente com conflitos equilibrados. Neste

contexto, a UNESCO37 empreende um projeto no Brasil para investigar as relações

raciais38 e os principais pesquisadores foram Luiz de Aguiar Costa Pinto, Florestan

Fernandes e Roger Bastide. A quarta perspectiva teórica estará fundamentada nestes

estudos, sob a análise de determinados pesquisadores, formados pela escola paulista de

sociologia. Estes autores vão trazer para o mundo científico o que já estava sendo

reivindicado pelo movimento negro nos anos de 1930, afirmando a existência do

preconceito racial apesar de ser discursado nacionalmente o ideal de democracia racial.

Ponto de encontro entre esta perspectiva teórica e a anterior é de que ambas

compartilham da afirmação de que houve significativa mobilidade social na sociedade de

classes, entretanto, não significa a superação do preconceito racial39. Defende-se a

incompatibilidade da existência do preconceito racial no sistema industrial, entretanto,

pelo fato da sociedade brasileira estar em processo de transição, de um sistema de casta

para o sistema de classes, ainda se encontrava o preconceito racial estruturado. Podendo

ser associado posição social com origem racial como resquícios do período escravista40,

onde apenas em 1930 o negro é incorporado na sociedade em baixa posição social, que

seria superada com o desenvolvimento econômico no passar dos anos. (FERNANDES,

2007). Nesta perspectiva o contexto histórico das relações raciais começa a entrar no

cenário científico, onde “o preconceito racial existe e tem uma especificidade – só pode

ser entendido à luz da história e particularmente das relações raciais vigentes durante o

regime escravista” (OSÓRIO, 2008, p. 74).

36 Nas revisões de literaturas não se encontraram menções aos diversos conflitos étnico-raciais por invasão

territorial europeia. Percebe-se que o saber científico é direcionado e contado por uma única perspectiva

ideológica daqueles que criaram e dominam a ciência na sociedade ocidental. 37 United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, agência especializada da Organização

das Nações Unidas -ONU. 38 Acho pertinente um questionamento: este interesse internacional vem em função de realmente saber se

há uma harmonia racial ou para tentar buscar formas ainda de reafirmar a existência de grupos étnico-raciais

superiores e inferiores? 39 A escola paulista de sociologia afirmava que seria possível de existir preconceito apenas nas grandes

cidades de desenvolvimento capitalista, onde haveria uma ordem competitiva e desigualdades de

oportunidades como em São Paulo e Rio de Janeiro. Aqui “à medida que aumenta a competição social,

aparece o preconceito, ou seja, a ameaça do negro tomar o lugar do branco torna-se real” (GUIMARÃES,

2003, p. 102). 40 Luiz Aguiar Costa Pinto diverge de Florestan Fernandes teorizando que o preconceito racial teria surgido

com a sociedade de classes, e não como uma herança do sistema colonial (OSÓRIO, 2008).

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Realmente neste período histórico houve significativa mobilidade social da

população negra, entretanto, analisado pelo viés histórico das relações raciais desde o

período escravista isso não é suficiente para se afirmar a não existência de desigualdades

raciais. Então, através das pesquisas da UNESCO, principalmente por Florestan

Fernandes se desmistifica a existência da democracia racial. O mito da democracia racial

torna-se o “irreal na vida real”, com poder simbólico se materializando em atos de

preconceito e discriminação racial. Tais problemáticas seriam superadas, e a democracia

racial deixaria de ser mito, com o desenvolvimento socioeconômico da ordem

competitiva, uma abordagem estrutural-funcionalista41.

Neste modo, a posição social de classe se associa à raça, e o racismo se origina

pela posição social e não pela cor42. Esta situação possibilita duas atitudes para a

população negra, aceitar sua função social passivamente preservando a herança

tradicional ou aceitação ativa da nova ordem social de classe para nela tentar sua ascensão

social (FERNANES, 2008)43. Florestan Fernandes afirma que pela “ideologia racial

inculcada em ambos os grupos” raciais44 foram dadas maiores chances de trabalho da

modernidade aos europeus. Afirma-se a existência de barreiras raciais atuando com as

barreiras de classe, tendo a estrutura social permeável aos imigrantes europeus, e

impermeável aos trabalhadores nacionais negros (OSÓRIO, 2008). Havia-se então, tanto

no campo simbólico das leis e normas sociais como no campo material das relações

cotidianas maior aceitabilidade da mobilidade e ascensão social do branco europeu. E a

sociedade se estruturando com aparatos ideológicos de contenção da mobilidade e

ascensão social do negro, como exemplo, a polícia e a igreja (FERNANDES, 2008).

Segundo Osório (ano, p.) Fernando Henrique Cardoso afirmava em 1965, que as

desigualdades raciais persistiam entre brancos e negros, e que o preconceito racial não

era apenas uma herança do passado escravista na presente modernidade, mas que se

ressignificava, mudando de conteúdo e de função social. Então, pode-se dizer que o

racismo é incorporado no sistema da sociedade de classe como instrumento para a

manutenção da ideologia racista e dos privilégios da classe branca dominante. É no

governo do FHC que o Estado reconhece o racismo na sociedade brasileira.

41 Marcelo Paixão (2014) em sua obra “A Lenda da modernidade encantada” tra a a ideia de que Florestan

ainda faz reforçar a democracia racial enquanto um mito, por recriar o discurso “racial-democrático”. 42 se todos se mantivessem sempre na mesma posição social, como dizia Freyre, ocupando seu lugar de

origem e não se estabelecendo as relações raciais, de fato poderia não existir o preconceito racial. 43 Esta bibliografia é escrita por Roger Bastide e Florestan Fernandes, o texto citado aqui é redigido por

Bastide. 44 OSORIO, 2008.

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A modernidade produziu melhorias de vida para os negros, mas não reduziu o

distanciamento entre brancos e negros (IANNI, 2004). Mas que no pensamento social do

brasileiro estará atuando a negação de se ter preconceito, em que se reconhece o

preconceito existente, mas não há um sujeito da ação (FERNANDES, 2008). A leva de

imigrantes europeus serviu para que mulatos em ascensão social branqueassem a família,

e redução da população negra nas cidades45.

Neste momento histórico, começo da década de 1960, o contexto social e político

se representam com um grande fortalecimento do movimento negro, tanto nacional como

internacionalmente. Os países colonizados por portugueses se revoltando contra o

governo, e os ativistas negros cobrando posicionamento e apoio do Brasil a tais países46.

Nas ciências a fenomenologia como método, passa se considerar vários aspectos

psicológicos do indivíduo e consequentemente pesquisas sobre as condições psicológicas

dos sujeitos brancos e negros nas suas relações passam a ter visibilidade nas ciências

sociais47. Dentro deste contexto o movimento de ditadura militar se alastra pela América

latina, na tentativa de desmonte dos movimentos sociais e principalmente do negro48.

A RAÇA VIVE - NA VIDA MATERIAL E NO PENSAMENTO SOCIAL

BRASILEIRO

Na passagem do século XX para XXI novos métodos de pesquisa, para se

compreender as relações raciais e sua materialização na sociedade pela estrutura de

classes, vem sendo realizados por Carlos Hasenbalg e Nelson Valle. Utilizando-se de

novo método nas ciências sociais para a discussão das relações étnico-raciais. Com o uso

de dados estatísticos, estes realizam interpretação qualitativas incluindo-se aspectos

históricos, inter-subjetivos, culturais e simbólicos reconhecendo a presença do racismo

na sociedade moderna. Na qual a raça é reconhecida como uma variável social explicativa

e independente para se explicar a existência do racismo.

45 A população negra é reduzida com a imigração, e a ainda resiste se encontra a maioria pelas favelas

(regiões marginais da cidade) (Nascimento, 1982, p.79). É considerável dizer que essa desaparição da

população negra se deu pela miscigenação e também pelo descaso social, que não os incorporou

inteiramente na sociedade enquanto cidadãos, deixando-os sucumbir à margem da sociedade. 46 Autores como GUIMARÃES (2002) e NASCIMENTO (1982) vão falar um pouco sobre este movimento. 47 Autores como BICUDO (2010) falando sobre as atitudes de pretos e multados de acordo com a classes

social, e IANNI (2004) sobre as ideologias do branco e do negro, como reflexos de sobrevivência em um

mundo projetado por um ideal branco. 48 Observa-se que sempre em períodos de descontrole e revolta apresenta-se a troca de um sistema

econômico por parte daqueles que dominam a sociedade. Poderíamos afirmar que neste momento haveria

a possibilidade da revolta de uma "onda negra" nos países colonizados pelos europeus e um medo destes

de perder o domínio sobre tais territórios?

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Neste momento podemos fazer menção a uma quinta perspectiva teórica que

compartilha da existência do preconceito racial como sendo estrutural, mas não sendo

superados pelo desenvolvimento econômico, afirmando sua incorporação pela sociedade

de classe. Tal incorporação torna o preconceito racial um mecanismo de confinamento

ocupacional para a população negra, mantendo a estratificação social e sustentando o

sistema capitalista de produção. Volta-se a falar em “raça” enquanto explicativa de si

mesma, porém com uma construção social-histórica e interpretada como um mecanismo

que determina as posições raciais na estrutura de classes e no sistema de estratificação

social.

Afirma-se aqui a predominância do preconceito racial de “marca”49 no

Brasil, o qual que perpassa o status social, independente de suas condições econômicas o

negro será sempre negro, ou será um negro de alma branca. A essencialização do negro

ligado à pobreza, enfatizada pela obra de Gilberto Freyre, ainda carrega traços de um

determinismo biológico materializado no imaginário social. Em uma sociedade que o

projeto de nação é o branqueamento, e as marcas raciais não-brancas são preteridas, a

pessoa que nascer com cor branca e traços brancos mais acentuados já se privilegia

simbolicamente e psicologicamente em comparação ao não-branco50.

A urbanização e industrialização que vem como alternativas necessárias para a

modernização. E nesse contexto a “raça” afeta todas as fases da vida de um indivíduo, a

começar pela situação social da sua família de origem. Assim, se o negro está em sua

maioria representado na base socioeconômica da pirâmide, e a raça é transmitida

hereditariamente, então a probabilidade de um negro nascer pobre é muito maior do que

a de um branco nascer pobre51. Estabelecendo uma condição social hereditária. Deste

modo, a origem social da pessoa é influenciada pela raça e o sistema educacional é a única

forma que a população negra tem para superar as desigualdades sociais e alcançar uma

mobilidade ascendente. Tais pesquisadores relacionaram discriminação racial com o

49 Oracy Nogueira, ao realizar uma pesquisa comparativa das relações raciais que ocorriam nos EUA com

as que ocorriam no Brasil, irá conceituar “preconceito de marca” e “preconceito de origem”, onde

fundamentando-se na ideia de tipo ideal humano, o preconceito se dará através da identificação das marcas

raciais ou pela presença do sangue impuro na genealogia familiar. 50 Guerreiro Ramos vem traz em sua obra “Introdução crítica à sociologia brasileira” um debate sobre a

patologia social do branco, Considerando-se tanto ganhos materiais como ganhos simbólicos e

psicológicos. Para ele só há racismo, se há um grupo social que se beneficia dos privilégios alcançados pela

supressão e discriminação racial de outro grupo. 51 Além da variável raça há os mecanismos de controle social, escola, trabalho, família que fazem a

transmissão da visão negativa do negro (HASENBALG, 1982).

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acesso educacional da população negra, sua presença no mercado de trabalho, seu

posicionamento na estratificação social e sua atividade política52.

As divisões político regionais do Brasil mostram a permanência do que seria o

determinismo geográfico, e que os movimentos separatistas do sudeste e do sul não

estiveram pautados simplesmente em questões econômicas e culturais, se não também em

uma ideologia de superioridade social e racial53. No Brasil, foram dois séculos se

planejando a imigração europeia, um primeiro movimento legalizado e executado pelo

governo brasileiro de 1871 a 1920 para as regiões sul e sudeste, e um outro momento de

1952 a 1956. Estes fatos possibilitam afirmar que ainda no século XX a ideologia racial

impera enquanto política de Estado.

Segundo Osório os novos estudos sobre mobilidade social no Brasil, tem

demonstrado “uma sociedade extremamente rígida, onde o que as pessoas são é em larga

escala determinado pelo que foram seus pais” (OSORIO, 2008, p. 90). Não há como

desvincular a situação atual vivida pela população negra das condições iniciais sofridas

na formação da sociedade brasileira. A condição social da raça é uma persistência

intergeracional, e “acabar com a discriminação racial no processo de mobilidade é

necessária, mas não o suficiente para o alcance de uma igualdade social” (Ibidem, p. 91).

E isso faz das políticas de ações afirmativas uma reparação social necessária.

Aquele Brasil referência de igualdade entre povos e de oportunidades para todos

vai se revelando como algo utópico54. A ascensão social e progresso econômico da

população negra era reivindicação principal do movimento negro. A articulação e

resistência da população negra para conquista de direitos, tanto materiais quanto

simbólicos. As desigualdades raciais acentuadas na educação e mercado de trabalho são

evidenciadas e a necessidade de políticas públicas e ações afirmativas por uma reparação

histórico-social da população brasileira vão se confirmando pelas pesquisas55.

52 Os debates sobre as relações étnico-raciais no ambiente acadêmico estiveram sempre pautados na

apropriação de reivindicações já levantadas pelo movimento negro (Guimarães, 2002; Nascimento 1982). 53 AMAURI (2013) menciona sobre os movimentos separatistas ao citar a obra de Dante Moreira Leite –

“O caráter nacional brasileiro” datado de 1976. E HASENBALG (1982) relacionará a desigualdade

econômica e educacional com a segregação geográfica da população branca e não-branca. “A acentuada

polarização dos dois grupos raciais está indicada pelo fato de quase dois terços (64%) da população branca

residir no Sudeste (RJ, SP, PR, SC e RS), na região mais desenvolvida do país, enquanto uma porção similar

(69%) de pretos e pardos concentra-se no resto do país, principalmente nos Estados do nordeste e Minas

Gerais” (HASENBALG, 1982, p. 92). 54 George Andrews (1990) em sua obra “negros e brancos em São Paulo”, trará diversos fatos pautados nos

registros editoriais do movimento negro, afirmando a institucionalização do racismo e sua aceitação social. 55 Luciana Jaccoud e Nathalie Beghin (2002) farão a correlação entre os dados estatísticos, políticas

públicas e desigualdades raciais.

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A discriminação e desigualdade racial presentes tanto no mercado de trabalho

quanto na educação se sustenta também em uma educação, de estrutura e característica,

eurocêntrica. Tal ideologia racista que molda o imaginário social se reflete nas atitudes

de professores com relação à crianças não-brancas56. A teoria do capital humano que

naturaliza as relações raciais e a existência de uma hierarquia sociorracial, preterindo as

crianças negras no espaço escolar e confinando seus espaços de atuação profissional ao

subordinado57. A educação formal que em nossa sociedade é qualidade de “status quo” e

de ascensão social, afirmando que a discriminação educacional se ancora nas práticas

preconceituosas no ambiente escolar e na segregação espacial da população negra58.

Por desenvolver um ensino eurocêntrico e racista as escolas não dão conta da

demanda social de desigualdades e discriminações para a população não-branca. Isso se

reflete na presença e ausência de tal população na educação formal e consequentemente

no mercado de trabalho. Daí se explica a importância de se executar a lei 10.639 nos

currículos escolares e pesquisar a representatividade da população não-branca nos

materiais didáticos. Com a proposta de desmistificar a democracia racial, evidenciar o

racismo existente para se pensar em medidas de superá-lo e avançar nas relações

humanas.

CONSIDERAÇÕES

É importante perceber que o contexto social e político tanto nacional quanto

internacional influenciam no diálogo entre as diversas perspectivas teóricas das relações

étnico-raciais. E através destas, somos possíveis de realizar uma leitura aprofundada da

realidade social, no decorrer do histórico de formação e produção do pensamento social

e territorial brasileiro. Ao discorrer sobre tais perspectivas, identificou-se a

predominância de uma disputa ideológica sobre raça e classe, para a sustentação de um

domínio territorial fundamentado no saber científico. Há uma relação intrínseca entre as

56 Marcelo Paixão traz o conflito do que é ser um “bom aluno” negro na escola e na sociedade juntos aos

papéis sociais que são sustentados na democracia racial de Freyre e na posição social do negro “em seu

lugar” na pirâmide social. 57 O sistema educacional na sociedade moderna segundo Frigotto (1984) se dá propositalmente desigual

alienando o individuo e condicionando-o a uma determinada posição social. Sendo especificados dois tipos

de educação: uma para dirigentes da sociedade e outra para trabalhadores. Entretanto, se essa educação se

dá associada à atividade política e militante torna-se libertadora, pois é a junção da prática com a teoria

buscando uma coerência social e emancipação da consciência. 58 Analisada por Fluvia Rosemberg (1998) utilizando-se de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE.

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articulações políticas de construção do Estado Nacional, as ciências sociais e a questão

racial.

O termo “raça” na produção do conhecimento cientifico no Brasil passou por

diversas tentativas de substituições. Na primeira perspectiva teórica “raça” é entendida

enquanto raça, fundamentada na ciência biológica, em que a mobilidade social é

impossível, pois as capacidades, habilidades, valores morais e sociais são inatos ao ser.

Na segunda perspectiva teórica a raça passa a ser entendida enquanto etnia e cultura, a

plasticidade do português e a possibilidade de miscibilidade e branqueamento permite a

mobilidade social ascendente de mestiços. A miscigenação teve um papel central no

pensamento social brasileiro, entretanto, sua interpretação variou consideravelmente nas

várias perspectivas teóricas. Ora sendo vista como a degeneração racial e atraso social do

povo brasileiro, ora como a chave do desenvolvimento e de formação do povo brasileiro

e depois como um mecanismo de controle e extermínio de um grupo racial.

Na terceira perspectiva teórica raça é referenciada enquanto “cor” em uma

sociedade multirracializada e de classes. A mobilidade social ascendente é livre para

todos os indivíduos. Mesmo que se relacione a tonalidade da pele com a posição social,

esta será superada com o desenvolvimento econômico da sociedade de classe e pelo

branqueamento intergeracional. Não se reconhecendo a existência do preconceito racial

entre os diferentes grupos raciais, mas sim de casos isolados. Na quarta perspectiva

teórica a raça é compreendida enquanto “classe” como algo a ser superado pelo

desenvolvimento econômico que ampliará o acesso à mobilidade social ascendente da

população negra. A ideologia de classe se sobrepõe à ideologia de raça.

Na quinta perspectiva a raça reaparece nas ciências enquanto raça, porém em seu

sentido historicamente construído e não biológico. Estudiosos fundamentados em dados

estatísticos e em teorias raciais anteriores, afirmam a não alteração do quadro de

mobilidade social ascendente da população negra. Situação que mantém a posição social

de dominação econômica e privilégios do branco e da baixa posição social dos não-

brancos em condição de subordinação. Neste momento há a retomada da cultura nas

ciências sociais, diferenciada pelo contexto histórico. Talvez daqui surjam outras

perspectivas que se vincularam à ideia de “raça” enquanto cultura e ocorra uma

desconstrução a fundo da democracia racial.

As várias tentativas de substituição do conceito de “raça” não aconteceram nas

relações sociais e cotidianas, que seguiram de modo geral pautadas no sentido biológico

de “raça”. Pode-se afirmar que estiveram fortemente embasadas na primeira e segunda

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perspectiva. Houve uma falha histórica na construção do nosso pensamento social e

cientifico, e para revertermos isso necessitamos ocupar os espaços de poder da sociedade

em favor daqueles que não foram/são assistidos no direito à vida. Devemos enfrentar a

disputa territorial no mundo das ciências, transformando a produção do conhecimento,

que é utilizado como instrumentos de dominação por parte daqueles que sempre estiveram

no poder, em instrumento de resistência daqueles que sempre foram subordinados.

Superar o pensamento científico colonizador, é também superar as diferenças físicas e

culturais impostas. Enquanto houver um único grupo social em posição de dominante, o

saber cientifico será manipulado e a história será contada de uma única perspectiva.

Quem são aqueles que seguem no poder político do Brasil desde o começo de sua

colonização? Por quem e para quem é criado desenvolvida a ciência e o Estado? Quem

foram e/ou são os que realizam as pesquisas e desenvolvem o que temos como ciência

hoje? O Estado esteve e segue nas mãos de uma minoria burguesa, aristocrática, ruralista

e cristã. A disputa política dos conservadores e liberais da primeira República, citada por

Skidmore (1976), permanecem até hoje no poder territorial com outros nomes

representados por partidos políticos, como exemplos temos o DEM, PMDB e PSDC (os

democráticos). Desta maneira, o processo histórico de formação territorial e social do

Brasil esteve com a tentativa de manter e preservar o domínio do território e privilégios

de um determinado grupo racial. E a nova organização social liberal veio com o objetivo

de manter a colonização e suas características de dominação e escravidão. Onde se

perpetua as desigualdades sociais entre as raças.

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