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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Tecnologia Coordenação do Curso de Engenharia Ambiental RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO E AS DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Sandro Cristiano Pereira de Araujo Natal, junho 2018

RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ...€¦ · água, esgotamento sanitário, sistemas de drenagem de águas pluviais e sistema de limpeza urbana e manejo de resíduos

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Page 1: RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ...€¦ · água, esgotamento sanitário, sistemas de drenagem de águas pluviais e sistema de limpeza urbana e manejo de resíduos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Tecnologia

Coordenação do Curso de Engenharia Ambiental

RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS

ABASTECIMENTO DE ÁGUA E

ESGOTAMENTO SANITÁRIO E AS

DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE.

Sandro Cristiano Pereira de Araujo

Natal, junho

2018

Page 2: RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ...€¦ · água, esgotamento sanitário, sistemas de drenagem de águas pluviais e sistema de limpeza urbana e manejo de resíduos

Trabalho de conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro Ambiental.

Sandro Cristiano Pereira de Araujo

RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS

ABASTECIMENTO DE ÁGUA E

ESGOTAMENTO SANITÁRIO E AS

DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE.

Orientadora: Prof.ª Me. Larissa Caroline Saraiva Ferreira

Coorientadora: Prof.ª Dra. Grasiela Piuvezam

Natal, junho

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Araujo, Sandro Cristiano Pereira de.

Relação entre os sistemas abastecimento de água e esgotamento

sanitário e as doenças de veiculação hídrica no Estado do Rio Grande do Norte / Sandro Cristiano Pereira de Araujo. - 2018.

29 f.: il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental.

Natal, RN, 2018.

Orientadora: Prof.ª Ma. Larissa Caroline Saraiva Ferreira.

Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Grasiela Piuvezam.

1. Abastecimento de água - Monografia. 2. Esgotos -

Monografia. 3. Doenças infecciosas - Monografia. I. Ferreira,

Larissa Caroline Saraiva. II. Piuvezam, Grasiela. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 628.1:628.3

Elaborado por FERNANDA DE MEDEIROS FERREIRA AQUINO - CRB-15/316

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Sandro Cristiano Pereira de Araujo

Relação entre os sistemas abastecimento de água e

esgotamento sanitário e as doenças de veiculação hídrica

no Estado do Rio Grande do Norte.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Prof.ª Me. Larissa Caroline Saraiva Ferreira

Orientadora – UFRN

______________________________________________________

Prof.ª Dra. Grasiela Piuvezam

Coorientadora – UFRN

______________________________________________________

Eng. Me. Izabela Cristiane de Lima Silva

Avaliadora externa – FUNASA

______________________________________________________

Prof.ª Dra. Nilma Dias Leao Costa

Avaliadora interna – UFRN

Natal, junho

2018

Trabalho de conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro Ambiental.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Sandro Adriano de Araújo e Maria de Fátima Pereira pelo carinho,

ensinamentos e apoio nos meus estudos, não deixando me faltar nada.

A minha noiva Kelly Alves Garcia pelo amor, companheirismo e apoio nos momentos

mais difíceis.

Aos meus padrinhos José Arnaldo e Maria Lucia que também foram verdadeiros

pais.

A toda família que me apoiou nesta longa jornada.

A minha orientadora professora Larissa pelo apoio, paciência e contribuição nesse

trabalho.

A minha coorientadora Grasiela e toda equipe do Mestrado QUALISAÚDE por me

receber como um membro da família.

A Maria Thereza por consentir que eu trabalhasse com o projeto na bolsa.

A Secretaria de Engenharia Ambiental por sempre me atender, especialmente

Dacifran pela paciência e disposição para ajudar.

A professora Isabela que me orientou no projeto do trabalho, por aceitar participar da

banca.

A professora Nilma por estimular a construção do trabalho e aceitar participar da

banca.

Aos tantos colegas e amigos que se cruzaram nessa longa caminha como Eduardo

e Leandro em Ambiental.

Ao grupo do SANDRISMO: Allan, Amauri, Izak e Kelvin, no qual começou de uma

brincadeira e que se tornou um grupo de amigos que com muito bom humor

conseguiu superar as dificuldades enfrentadas no BCT.

Aos meus Avós Carlos Luciano e Otaciana que mesmo não estando mais presentes,

foram de grande importância para minha educação e desenvolvimento e que nunca

deixaram faltar nada.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CID-10 Código Internacional de Doenças

DATASUS Departamento de Informática do SUS

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do RN

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

OMS Organização Mundial de Saúde

RN Rio Grande do Norte

SIH Sistema de Informações Hospitalares

SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Prevalência de doenças infecciosas intestinais (por 1000 habitantes) no

Estado do RN, 2016. ................................................................................................. 16

Figura 2 – Índice de atendimento total de água (%) no Estado do RN, 2016. ........... 18

Figura 3 – Consumo per capita de água (L/hab/dia) no Estado do RN, 2016. .......... 19

Figura 4 – Índice de atendimento total de esgoto no Estado do RN, 2016. .............. 20

Figura 5 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o Índice

de atendimento total de água no Estado do RN, 2016. ............................................. 21

Figura 6 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o

Consumo médio per capita de água no Estado do RN, 2016.................................... 22

Figura 7 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o Índice

de atendimento total de esgoto no Estado do RN, 2016. .......................................... 23

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 7

ABSTRACT ................................................................................................................. 8

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 11

2.1 Área de estudo ................................................................................................. 11

2.2 Fontes de dados e seleção de indicadores ...................................................... 12

2.3 Análise dos Indicadores ................................................................................... 14

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 15

3.1 Doenças infecciosas intestinais ....................................................................... 15

3.2 Sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário ........................ 17

3.3 Correlações: Indicadores de Saneamento X Indicador de Saúde .................... 21

4. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 24

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 27

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta uma análise sobre a situação de cobertura de

abastecimento de água, consumo per capita de água, esgotamento sanitário e a

prevalência de doenças infecciosas intestinais nos municípios do Rio Grande do

Norte (RN). O estudo objetivou analisar as correlações entre indicadores de

saneamento e de saúde, bem como verificar se a cobertura do saneamento afeta na

ocorrência de doenças de veiculação hídrica. O trabalho foi construído a partir de um

estudo ecológico, em que a unidade de análise foi a população do RN. Utilizaram-se

dados provenientes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS)

e do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), nos quais se avaliou um

contexto ambiental que poderia afetar a saúde coletiva. As análises dos indicadores

foram desenvolvidas segundo um processo evolutivo, análise descritiva dos

indicadores e correlações através da análise de correlação de Pearson entre os

indicadores. Após análise dos indicadores se verificou que quase metade dos

municípios apresentou um baixo índice de atendimento em abastecimento de água,

além disso, foi observada uma preocupante informação na qual cerca de 80% dos

municípios não apresentaram dados de esgotamento sanitário ou tinha um

atendimento precário, já no indicador de saúde só alguns municípios apresentaram

alta prevalência de doenças. Na correlação dos indicadores avaliados, verificou-se a

ocorrência de relação inversamente proporcional entre alguns indicadores de

saneamento e prevalência de doenças infecciosas, sendo que a relação entre

doenças e consumo per capta apresentou melhor resultado.

PALAVRAS-CHAVE: Abastecimento de água; Esgotos; Doenças infecciosas;

Indicadores; Correlação.

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ABSTRACT

This research presents an analysis of the situation of coverage of water supply, water

consumption per person, sanitary sewage and the prevalence of intestinal infectious

diseases in the municipalities of Rio Grande do Norte (RN). The study aimed to

analyze the correlation between sanitation and health indicators and to verify if

sanitation coverage affected the occurrence of waterborne diseases. The study was

based on an ecological study in which the unit of analysis was the population of the

RN, using data from the Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS)

and the Departamento de Informática do SUS (DATASUS), in which an

environmental context that could affect collective health was evaluated. The analyzes

of the indicators were developed according to an evolutionary process, descriptive

analysis of the indicators and correlations through the Pearson correlation analysis

between the indicators. After analyzing the indicators, it was verified that almost half

of the municipalities presented a low rate of water supply, in addition, a worrying

information was observed in which about 80% of the municipalities did not present

sanitary sewage data or had a precarious service, already in the health indicator only

some municipalities presented high prevalence of diseases. In the correlation of the

indicators evaluated, there was an inversely proportional relationship between some

indicators of sanitation and the prevalence of infectious diseases, and the

relationship between diseases and per capita consumption presented a better result.

KEYWORDS: Water Supply; Sewage; infectious disease; Indicators; correlation.

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1. INTRODUÇÃO

A precariedade nos sistemas de saneamento básico e higiene inadequada

constitui risco para a saúde da população, sobretudo para as pessoas em situação

de vulnerabilidade social, que vivem em condições insalubres e têm sua dignidade

afetada. (BRASIL, 2015). Uma vez que não se tem uma cobertura de abastecimento

total no município, a população acaba consumindo água de baixa qualidade de

diversas fontes, que sem o tratamento adequado podem adquirir doenças de

veiculação como as gastroenterites infecciosas. A relevância no volume de consumo

adequado para a população está presente no próprio consumo, preparação e

cozimento de alimentos, para manter a higiene pessoal e da residência,

proporcionando um ambiente mais saudável. Já os sistemas de esgotamento

sanitário são importantes para afastar do ambiente de convívio o esgoto produzido,

e posteriormente tratar os resíduos do efluente uma vez que este pode contaminar o

meio ambiente e águas acarretando agravos à saúde.

Dentre as ações de saneamento básico, tais como abastecimento de água,

coleta e tratamento de esgoto, redes de drenagem e coleta e disposição final de

resíduos sólidos, a ausência desses serviços pode causar vários riscos à saúde

humana, como por exemplo, as doenças diarreicas de veiculação hídrica, na qual a

falta de abastecimento de água e a má qualidade afetam diretamente a saúde da

população (NASCIMENTO et al., 2013), uma vez que a água é de grande

importância para o consumo, limpeza e preparo de alimentos, higiene pessoal e

outros usos domésticos. A falta de esgotamento sanitário e tratamento adequado de

esgoto também resultam em problemas ambientais e de saúde pública, pois seu

contato pode causar contaminação do meio ambiente e doenças por meio de

organismos patogênicos tornando os locais de moradia e de acesso à água

insalubre. Entre outros elementos, essas situações de desequilíbrio atingem as

populações mais vulneráveis e fornecem o aumento de doenças de veiculação

hídrica, entre outras (BRASIL, 2015).

A ausência desses serviços de saneamento resulta em precárias condições

de saúde em parte significativa da população brasileira, em que há incidência e

prevalência de doenças, destacando-se as de veiculação hídrica, tais como as

doenças infecciosas intestinais como diarreias, hepatite, cólera, parasitoses

intestinais, febre tifoide, entre outras que podem resultar em óbitos, enfermidades ou

incapacitação, inclusive de atuação profissional (TEIXEIRA et al., 2006).

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Embora a mortalidade por doenças infecciosas tenha reduzido nas últimas

décadas, principalmente em crianças de até cinco anos, e ocorrido um aumento

médio na expectativa de vida, as doenças infecciosas e parasitárias ainda são

importante causa de agravos da saúde no Brasil e em outros países em

desenvolvimento, principalmente em áreas de risco, com precárias condições de

saneamento básico e baixo nível socioeconômico a incidência dessas doenças é

elevada e são mais frequentes na infância (WALDMAN et al., 1997; NASCIMENTO

et al., 2013).

No que se refere à regulamentação do setor de saneamento básico, a Política

Nacional de Saneamento Básico (PNSB) estabelece aspectos relevantes quanto aos

princípios fundamentais da prestação dos serviços públicos de saneamento básico,

como a universalização do acesso e integralidade dos serviços, compreendida como

o conjunto de todas as atividades e componentes dos serviços de abastecimento de

água, esgotamento sanitário, sistemas de drenagem de águas pluviais e sistema de

limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, garantindo assim disponibilidade dos

sistemas em todas as áreas urbanas e os meios adequados para atendimento das

populações rurais (BRASIL, 2007).

Além disso, a lei 11.445/2017 estabelece como um dos princípios o

atendimento das políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de

combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ao meio ambiente, de

promoção da saúde, e de qualquer outro fator de interesse social que permita a

segurança e a melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2007).

Embora a PNSB tenha sido implantada há 11 anos, ainda é uma política

recente se comparada às políticas ambientais de outros países desenvolvidos.

Assim, mesmo sem apresentar valores expressivos na evolução dos sistemas de

saneamento básico, no Brasil os indicadores mostram um incremento na cobertura

dos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta e manejo de

resíduos sólidos e sistemas de drenagem, proporcionando, de tal modo, uma melhor

qualidade na saúde da população (BRASIL, 2018).

No contexto atual, segundo o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos –

2016, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em relação

ao índice de atendimento em sistemas de abastecimento de água, são observados

valores bastante elevados nas áreas urbanas das cidades brasileiras, com uma

média nacional de 93,0%, e destaque para as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste,

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onde os índices médios são de 98,4%, 97,7% e 96,1%, respectivamente. Já a região

Nordeste apresenta o segundo pior índice, com 89,3% de atendimento, seguido pela

região norte com 67,7% (BRASIL, 2018).

Com relação ao atendimento por redes de esgotos, o índice médio de

atendimento urbano é de 59,7%, destacando-se a região Sudeste, com média de

83,2%, no entanto o Nordeste possui um índice de 34,7% de coleta de esgoto.

Quanto ao tratamento dos esgotos, observa-se que o índice médio do país chega a

44,9% para a estimativa dos esgotos gerados e 74,9% para os esgotos que são

coletados, e no Nordeste o índice médio de tratamento para esgotos gerados e

esgotos coletados são 36,2% e 79,7%, respectivamente (BRASIL, 2018).

Um aspecto negativo em relação ao saneamento básico no Brasil é a

desigualdade entre as regiões. Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam os

melhores Indicadores de Desenvolvimento Humano, as regiões norte e Nordeste

ainda apresentam indicadores de infraestrutura urbana e de educação precários,

onde são geradas situações de risco e que atinge a população mais vulnerável

(Brasil, 2015), contribuindo para a incidência de doenças de veiculação hídrica.

No estado do Rio Grande do Norte (RN), por exemplo, é possível observar,

conforme informações do SNIS, que a cobertura de abastecimento de água urbana é

de 92,1% e a coleta de esgoto 29,6%, onde os indicadores revelam-se menores,

comparados com a média nacional (BRASIL, 2018).

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo correlacionar

indicadores de saneamento e de saúde pública, avaliando, assim, o impacto da

cobertura do abastecimento de água, volume de consumo per capta de água e

esgotamento sanitário sobre a prevalência de doenças infecciosas e parasitarias nos

municípios do RN. Tendo como pergunta de pesquisa, testar se a hipótese de que a

universalidade dos serviços de saneamento e o volume de consumo per capta de

água estão relacionados com a redução das doenças de veiculação hídrica e

melhoria da saúde pública.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área de estudo

O estado do Rio Grande do Norte tem uma área de 52.811,107 km² e possui

167 (cento e sessenta e sete) municípios. A população total, segundo o censo 2010

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 3.168.027 habitantes,

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densidade demográfica de 59,99 hab./km² e o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) 0,684 (IBGE, 2010). Em 2016 a estimativa da população foi de 3.474.998

habitantes. Já a divisão da população entre os municípios é composta de forma

heterogênea, desde municípios como Viçosa com menos de dois mil habitantes até

Natal com população de 880.000 habitantes.

De acordo com os dados do Anuário Estatístico do RN 2016, o Estado possui

quatro tipos de clima, sendo ele árido, semiárido, subsumido seco e úmido, tendo

que mais de 70% (setenta por cento) da área do estado é representada pelos dois

primeiros, onde não apresentam praticamente excedente de água durante todo o

ano (IDEMA, 2018).

Em relação saneamento no RN foi um observado um incremento no índice de

atendimento nos sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário, em que 2003

o atendimento urbano estava entre 61 e 80 por cento e em 2013 apresentou um

índice de cobertura maior que 90%. Nos sistemas de esgotamento sanitário também

foi verificado um aumento no índice de cobertura, na qual em 2003 apresentava 11 a

20 por cento e em 2013 o indicador se revelou entre 20 e 40 por cento (SNIS, 2018).

No mesmo período foi verificada uma melhoria nas condições de saúde

pública no RN, uma vez que as doenças relacionadas ao saneamento inadequado

apresentaram uma diminuição entre os anos de 2003 e 2013, na qual a taxa de

internações por 100 mil habitantes foi de aproximadamente 800 mil e 400 mil,

respectivamente. Já as doenças diarreicas caíram de aproximadamente 600 mil para

300 mil internações no mesmo período. (BRASIL, 2015).

2.2 Fontes de dados e seleção de indicadores

A fim de obter as correlações entre os indicadores de saúde e saneamento

dos municípios do RN, foram necessárias informações secundárias provenientes de

banco de dados online de órgãos públicos.

As informações de saúde foram obtidas através do Sistema de Informações

Hospitalares (SIH) do Portal de Saúde do Departamento de Informática do Sistema

Único de Saúde (DATASUS), no qual foram utilizadas notificações de internações de

algumas doenças infecciosas e parasitárias de veiculação hídrica, transmitidas pelo

consumo de água e alimentos, e solos contaminados. Sendo essas doenças

relacionadas à baixa qualidade de água consumida pela população e ambiente de

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moradia impróprio, onde o abastecimento de agua e esgotamento sanitário são

inadequados.

Para a construção do indicador de prevalência de doenças foram utilizadas as

informações de notificações de internações do DATASUS, e para os dados da

população foram utilizadas estimativas feitas pelo IBGE para o ano de 2016 que

correspondem aos municípios estudados.

O trabalho utilizou as doenças infecciosas intestinais no estudo, e que estão

classificadas no Código Internacional de Doenças (CID-10), estabelecido pela

Organização Mundial de Saúde (OMS), onde possibilita a implantação de registros

de Morbidade Hospitalar e Ambulatorial em todo o território nacional (DATASUS,

2018).

Quadro 1 – Classificação CID-10: Doenças infecciosas intestinais.

CATEGORIA DISCRIÇÃO

A00 Cólera;

A01 Febre tifoide e paratifoide;

A02 Outras infecções por Salmonella;

A03 Shiguelose;

A04 Outras infecções intestinais bacterianas;

A05 Outras intoxicações alimentares bacterianas, não classificadas em outra

parte;

A06 Amebíase;

A07 Outras doenças intestinais por protozoários;

A08 Infecções intestinais virais, outras e as não especificadas;

A09 Diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível.

Os indicadores de saneamento utilizados foram obtidos através do Sistema

Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), sendo utilizada a série histórica

de informações e indicadores consolidados de 2016 dos municípios. Os indicadores

trabalhados (Quadro 2) representam informações dos munícipios em relação ao

abastecimento de água e o esgotamento sanitário.

FONTE: Ministério da Saúde/Datasus (Adaptado)

http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/a00_a09.htm

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Quadro 2 – Indicadores de Saneamento.

INDICADOR NOMENCLATURA

Índice de atendimento total de água

𝐴𝐺001

𝐺𝐸12𝑎∗ 100

AG001: População total atendida com abastecimento de água;

G12A*: População total residente do(s) município(s) com

abastecimento de água, segundo o IBGE.

Percentual (%)

Consumo médio per capita de água

𝐴𝐺010 − 𝐴𝐺0109

𝐴𝐺001−1.000.000

365

AG001: População total atendida com abastecimento de água;

AG010: Volume de água consumido;

AG019: Volume de água tratada exportado.

(L/hab/d)

Índice de atendimento total de esgoto

𝐸𝑆001

𝐺𝐸12𝑎∗ 100

ES001: População total atendida com esgotamento sanitário;

G12A*: População total residente do(s) município(s) com

abastecimento de água, segundo o IBGE.

Percentual (%)

*População total do município.

2.3 Análise dos Indicadores

Em relação às informações coletadas para o uso do indicador de saúde,

foram observadas algumas doenças infecciosas intestinais de veiculação hídrica,

onde o saneamento inadequado é fator determinante para o risco e agravo das

doenças.

A partir do sistema do DATASUS foi produzida uma tabela com a soma de

todas as notificações de doenças infecciosas intestinais para os municípios do RN

no ano de 2016. Depois da coleta dos dados foi calculada a prevalência das

doenças por mil habitantes de cada município com a ferramenta Excel, o calculo foi

baseado na população estimada pelo IBGE.

FONTE: Glossário de Indicadores - Água e Esgotos, SNIS, 2017. (Adaptado)

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15

Equação 1: Prevalência de doenças infecciosas intestinais por mil habitantes

𝑃 =𝑛 ∗ 1000

𝑃𝑜𝑝

𝑃: Prevalência de doenças infecciosas intestinais por mil habitantes;

𝑛: Número de notificações de internações por doenças infecciosas intestinais;

𝑃𝑜𝑝: População do município.

Para os indicadores de saneamento, foram utilizadas informações

quantitativas buscando a representação percentual da cobertura dos serviços de

abastecimento de água e esgotamento sanitário e índices de consumo per capta.

A pesquisa seguiu um estudo ecológico em que a unidade de análise foi a

população do RN, utilizando-se dados provenientes de diferentes fontes, onde se

avaliou um contexto ambiental que poderia afetar a saúde coletiva.

As análises dos indicadores foram desenvolvidas segundo um processo

evolutivo, onde as informações iniciais são expostas em mapas temáticos

(elaborados no software Quantum GIS, versão 3.0) para melhor visualização

espacial dos indicadores nos municípios do RN, em seguida, feita a análise

descritiva dos indicadores, e por fim foram obtidas as correlações através da análise

de Correlação de Pearson entre os indicadores (elaborados no software SPSS

Statistics). Para tanto, foram utilizados gráficos de dispersão, por serem

considerados mais adequados para verificação visual de correlação e

posteriormente o calculo estatístico para avaliar as correlações do nível de

significância entre os indicadores, considerando como significativos valores de

p<0,05.

Ademais, foi realizada a análise da correlação entre prevalência de doenças

infecciosas intestinais e indicadores dos sistemas de abastecimento de água, coleta

e tratamento de esgoto dos municípios do Rio Grande do Norte. Assim, o indicador

de saúde foi utilizado como variável dependente e os indicadores sanitários variáveis

independentes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Doenças infecciosas intestinais

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16

Após análise e correlação dos indicadores avaliados, foi possível verificar

ocorrência de relação inversamente proporcional entre indicadores de saneamento e

prevalência de doenças infecciosas no RN.

A análise dos indicadores gerou mapas que expressam a situação do RN, e

que como em outros indicadores, o de prevalência de doenças infecciosas intestinais

apresentou variabilidade entre os municípios (Figura 1). Foi observado que as

regiões do Alto Oeste e do Seridó apresentaram as maiores prevalências dessas

doenças e as regiões do litoral uma menor ocorrência. Percebe-se ainda que

59,28% dos municípios apresentaram até uma internação, por mil habitantes,

relacionada às doenças infecciosas, aproximadamente 21% registraram até cinco

internações, 11,37% entre cinco e dez casos e os últimos 8,38%, que representam

quatorze municípios, apresentaram mais de dez notificações, entre esses onze estão

na região do Alto Oeste.

Figura 1 – Prevalência de doenças infecciosas intestinais (por 1000 habitantes) no Estado do RN, 2016.

FONTE: elaborado com base nos dados do Ministério da Saúde/Datasus

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17

Foi observado no geral que o indicador de saúde no RN apresentou 1,41

casos por mil habitantes, sendo uma baixa prevalência de doenças infecciosas de

veiculação hídrica se comparado à prevalência da região Nordeste que é de 2,28 e

outros estados como Maranhão e Piauí que apresentaram os piores índices da

região em 2016 com uma prevalência de 6,70 e 4,62 respectivamente, (DATASUS,

2016).

Foi verificado que em municípios com menos de 20.000 (vinte mil) habitantes

a prevalência de doenças foi maior, com um total de 3,56 doenças por mil

habitantes, sabendo-se que esses municípios representam 83,2% do total enquanto

que em municípios com uma população maior foi observada uma prevalência de

1,56 das doenças.

Ainda é observado nos dados do DATASUS que a faixa etária mais afetada é

a infantil, na qual crianças de até quatro anos representam 35,5% dos casos de

prevalência de doenças infecciosas intestinais no RN. Para esse fato torna-se

importante mencionar o interesse e justificativa de vários trabalhos abordarem a

correlação entre saúde e saneamento através de indicadores de incidência de

morbidade e mortalidade infantil, como por exemplo, os casos de Waldman (1997) e

Lima (2017).

3.2 Sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário

No que se refere ao índice de atendimento total de água dos municípios do

RN (Figura 2), 11,37% não apresentaram as informações de abastecimento ou o

serviço de abastecimento era inexistente, 6% dos municípios apresentam apenas

30% de atendimento total, 18% possuem um atendimento de até 60% de

abastecimento, 46,7% têm entre 60% e 90% de atendimento, por fim apenas 18%

dos municípios possuem um atendimento de abastecimento acima de 90%.

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18

Figura 2 – Índice de atendimento total de água (%) no Estado do RN, 2016.

Foi verificado que quatro municípios não forneceram informações sobre o

atendimento de água, entre eles Brejinho, Extremoz, Galinhos e Itajá, e que outros

quinze municípios informaram atendimento total de zero por cento, observando que

treze deles estão na região do Alto Oeste. Também é observado para esses

municípios que apresentaram zero de índice atendimento de abastecimento, está

relacionada à escassez hídrica devido à seca prolongada, e que no momento

apresentavam estado de colapso no fornecimento de água (SEARH, 2016).

Visto que a ausência de abastecimento de água potável, ou seja, utilização de

mananciais fora dos padrões adequados ou águas poluídas para abastecimento

podem ter vários efeitos adversos sobre a saúde humana. É possível apontar uma

relação entre os mapas de prevalência de doenças infeciosas e de atendimento de

água sobre a região mais afetada.

Assim, as áreas mais afetadas com déficit hídrico e reservatórios com baixo

volume de água podem apresentar maior concentração de contaminantes

patogênicos, provocando doenças infecciosas intestinais para o indivíduo que

consumir água sem tratamento adequado. Do mesmo modo, o abastecimento

FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS

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19

reduzido sugere um risco à saúde da população, uma vez que a quantidade de água

para uso doméstico é um importante fator para manutenção da saúde.

Em relação ao consumo per capita de água (Figura 3), nota-se que treze dos

municípios, que correspondem a 7,78% do total do RN, não apresentaram

informações de consumo de água. Outros 4,2% correspondem aos municípios que

tem um consumo médio per capta de até 50 litros por dia, 7,78% consomem até 80

litros de água por dia, 31,73% dos municípios consomem entre 80 a 100 litros, e os

últimos 48,5% consomem em média acima de 100 litros por dia.

Figura 3 – Consumo per capita de água (L/hab/dia) no Estado do RN, 2016.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2010), são

necessários entre 50 a 100 litros de água per capta, por dia, para assegurar a

satisfação das necessidades mais básicas e a minimização dos problemas de

saúde, em locais de difícil acesso a água, e consumo per capita acima de 100 litros

por dia com rede de abastecimento. Deste modo, aproximadamente 51% dos

municípios do RN não atendem ao consumo mínimo adequado com fornecimento

por rede de abastecimento, visto que a água é importante para o consumo, preparo

FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS

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de alimentos e manutenção da higiene pessoal e do ambiente domestico para se

evitar a proliferação de patógenos.

Um possível fator que prejudica o consumo de água seria a intermitência nos

serviços abastecimento, uma vez que o baixo consumo de água em alguns

municípios do RN pode está relacionado à indisponibilidade de água em algumas

áreas do estado por estar inserida na região semiárida do Nordeste, que possui

irregularidade de chuvas e elevada taxa de evapotranspiração, mesmo com

reservatórios, pois ocorrem graves problemas com a qualidade e disponibilidade

hídricas (NASCIMENTO et al., 2013).

O índice de atendimento total de esgoto (figura 4) representou o pior indicador

testado, em que dos 167 municípios do RN 113 não têm informações de

esgotamento sanitário ou não possuem serviço de coleta de esgoto, ou seja, um

total de 67,66% dos municípios. Aproximadamente 15% dos municípios apontam

até 30% de esgotamento sanitário, 7,78% dos municípios compreendem entre trinta

e sessenta por cento, 9,0% estão entre 60% e 90% do atendimento total de esgoto,

e por fim apenas um município apresentou um atendimento total de esgoto acima de

90%.

Figura 4 – Índice de atendimento total de esgoto no Estado do RN, 2016. FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS

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Cerca de 100 municípios não oferecem os serviços de esgotamento sanitário

ou não apresentaram informações ao SNIS. Isso só mostra quanto o RN ainda tem

que desenvolver e investir no setor de saneamento, principalmente na área de

esgotamento sanitário, pois o efluente lançado de formar irregular pode causar

riscos e agravos à saúde da população e prejudicar o meio ambiente.

É argumentado que os municípios com menos de 20.000 habitantes

apresentam uma maior dificuldade em atender sua população com serviços de

saneamento adequados, principalmente nas regiões mais pobres do país, como é o

caso das regiões Norte e Nordeste do Brasil (SILVA & ALVES, 1999 apud

TEIXEIRA, 2006). Deste modo, explica-se a fragilidade no saneamento do RN, pois

que dos 167 municípios, 139 possuem menos de 20.000 habitantes.

3.3 Correlações: Indicadores de Saneamento X Indicador de Saúde

No teste de Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e

Índice de atendimento total de água nos municípios do RN foram utilizados 163

municípios, retirados quarto por não apresentar informações. No gráfico (Figura 5) é

observada uma tendência inversamente proporcional que se verificou correlação

com nível de significância P<0,05 e correlação negativa de (- 0,158), o que sugere

correlação fraca e relação inversamente proporcional, no qual significa que quanto

maior o índice de atendimento de água menor será a prevalência de doenças.

Figura 5 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o Índice de atendimento total de água no Estado do RN, 2016.

FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS E Ministério da Saúde/Datasus

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A correlação inversamente proporcional também é observada comparando a

média dos 18% municípios com índice de atendimento maior que 90% apresentando

2,14 Internações, já nos municípios com atendimento menor que 90% se verificou

uma média de 3,49 Internações por mil habitantes, sugerindo que municípios com

maior cobertura de abastecimento causa um menor risco a saúde.

Na Correlação entre Doenças infecciosas intestinais e o Consumo per capta

de água do RN (Figura 6) foram utilizados 161 municípios, sendo retirados os que

não forneceram dados ao SNIS ou que apresentou um índice de consumo per capta

acima de 250 litros o que na verdade pode indicar uma alta perda de água por

vazamentos.

No gráfico (Figura 6) possível observar uma tendência inversamente

proporcional mais forte que o anterior, no que se constatou uma correlação com

nível de significância de P<0,01 e negativa de (- 0,336), o que ainda indica uma

correlação fraca e relação inversamente proporcional, porém maior que a primeira, e

que igualmente significa que quanto maior o consumo per capto menor será a

prevalência de doenças infecciosas.

Figura 6 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o Consumo médio per capita de água no Estado do RN, 2016.

Foi observado no gráfico (Figura 6) que os pontos se concentram com

consumo per capta de 100 litros e que a maior parte dos municípios nesta área

FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS E Ministério da Saúde/Datasus

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apresentou menor prevalência de doenças. Foi verificado que dois municípios,

Almino Afonso e Alexandria, ambos do Alto Oeste com menos de cinquenta litros per

capta apresentaram alto índice de internações.

Quando comparado os municípios com consumo per capita maior que 100

litros são observados 1,6 internações por mil habitantes, já a média de internações

para municípios com consumo per capita menor que 100 litros foram de 3,8. Deste

modo o consumo médio adequado pode afetar positivamente a saúde pública.

Na Correlação entre Doenças infecciosas intestinais e o Índice de

atendimento total de esgoto no RN (Figura 7) foram usados apenas cinquenta e

cinco municípios, uma vez que quase 70% dos municípios não forneceram dados

sobre esgotamento sanitário. No gráfico (Figura 7) foi possível observar uma

tendência proporcional, com coeficiente de correlação positivo (0,186), mas que não

representou correlação estatística dentro dos valores considerados significativos em

que P > 0.05, apresentando-se como uma correlação nula.

Figura 7 – Correlação de Pearson entre Doenças infecciosas intestinais e o Índice de atendimento total de esgoto no Estado do RN, 2016.

Lima (2017), em estudo realizado com informações do RN não conseguiu

relação estatística entre esgotamento sanitário e mortalidade infantil, o que ele

assinalou como uma necessidade de novos estudos e mais aprofundados sobre o

assunto em questão.

FONTE: elaborado com base nos dados Ministério das Cidades/SNIS E Ministério da Saúde/Datasus

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Diante dos resultados expostos, foi encontrada correlação estatística nula a

fracas, no qual o primeiro (Figura 7) não apresentou significância, que foi o teste de

correlação de doenças por índice de esgotamento sanitário. No segundo caso estão

as correlações com índice de atendimento de água (Figura 5) e consumo per capta

(Figura 6).

A pesquisa conseguiu encontrar uma correlação estatística baixa entre o

indicador de saúde e os de saneamento. No entanto apresentou informações

importantes sobre a situação do estado do RN, na qual foram observados baixos

índices de abastecimento, principalmente na região do Alto Oeste. Já o índice de

esgotamento sanitário mostrou um quadro preocupante em todo o Estado.

Esses resultados encontrados no estudo podem ser explicados pela

inconsistência dos bancos de dados utilizados, o que sugere falta e inconsistência

de informações apresentadas pelos municípios aos órgãos que administram os

dados. Um problema recorrente, por exemplo, foi um numero significativo de

municípios com a apresentação de valores nulos, principalmente para o indicador de

esgotamento sanitário, o que prejudicou a análise.

Ressalte-se ainda que as informações do SIH representem apenas os casos

de internações hospitalares que foram autorizadas pelo SUS, que são

aproximadamente 80% do total de internações. Além disso, o indicador apresenta

outras limitações, como a subnotificação por ocorrência de problemas técnicos em

alguns lugares, casos onde as pessoas não procuram os postos de saúde ou

hospitais, fazem uso de automedicação e ou mesmo indo ao serviço de saúde não

necessitaram de internações.

4. CONCLUSÃO

Na análise de indicador de saúde, é observado que a região do litoral leste

apresentou um menor índice de doenças de veiculação hídrica. Aproximadamente

vinte por cento dos municípios apresentaram alta prevalência de doenças

infecciosas no estado do RN, sendo que a maior parte se concentrava na região do

Alto Oeste. Ainda na religião os indicadores de saneamento apresentaram baixo

índice de atendimento em abastecimento e esgotamento sanitário. Assim, mostra-se

necessária uma pesquisa mais detalhada na área, uma vez que a região se mostrou

com informações tão preocupantes.

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No geral, verificou-se que quase metade dos municípios apresentou um baixo

índice de atendimento em abastecimento de água, além disso, foi observada uma

preocupante informação na qual cerca de 80% dos municípios não ofereceram

dados de esgotamento sanitário ou tinha um atendimento precário.

Na correlação dos indicadores de saneamento e saúde avaliados, se verificou

certa relação entre os mapas, em que municípios com mais doenças também

apresentaram baixo índice de abastecimento e esgotamento sanitário. Já na

correlação estatística foi constatada uma relação inversamente proporcional entre

internações e abastecimento, e uma maior correlação com o consumo per capta.

Essa correlação inversamente proporcional indica que em municípios com melhor

índice de saneamento ocorre um menor numero de internações por doenças

infecciosas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como intuito correlacionar os indicadores de

saneamento e de saúde pública a fim de identificar o impacto da cobertura do

abastecimento de água e esgotamento sanitário sobre a prevalência de doenças

infecciosas e parasitarias nos municípios do estado do Rio Grande do Norte, e a

análise dos dados mostrou que essa correlação é muito frágil do ponto de vista

estatístico.

As hipóteses que podem justificar esses resultados estão presentes em

algumas limitações do estudo, como a utilização de dados provenientes de

diferentes fontes, o que pode ter significado uma qualidade variável das

informações, como por exemplo, sub-registro e subnotificações, causando

inconsistência entre os bancos de dados.

Outros fatores importantes que poderiam contribuir na análise e que não

estão presentes no trabalho são objetos de estudo em artigos citados, os quais além

das deficiências nos sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário, foram por

exemplo analises dos indicadores socioeconômicos, nos quais se verificaram os

níveis de educação, PIB, IDH e cobertura de atendimento à saúde.

Ainda que a pesquisa não apresente uma correlação forte entre os

indicadores, verifica-se a importância de ampliar o acesso ao saneamento

fundamental para melhoraria da qualidade de vida (BRASIL, 2015). Segundo Visser

(2011), além de avanços no saneamento básico, sabe-se que, para a erradicação

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destas doenças infecciosas e parasitarias também são necessárias melhores

condições socioeconômicas, educação ambiental e mudanças em hábitos culturais.

Deste modo, ainda existe a necessidade de se realizar estudos de campo

para que se possa verificar melhor essa hipótese, pois no modelo de estudo não é

possível associar exposição e doença no nível individual. Assim, o presente trabalho

abre caminho para que novos estudos possam identificar, de melhor maneira, as

relações entre saúde pública e saneamento nos municípios do RN, uma vez que

foram encontrados poucos trabalhos voltados para análise de correlação desses

indicadores, principalmente a importância do volume per capta consumido de água

para saúde pública e análise espacial entre os municípios.

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