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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA PROJETO DE PESQUISA GEOLOGIA, KIMBERLITOS E DEPÓSITOS DIAMANTÍFEROS DA REGIÃO DO RIO DOURADINHO, COROMANDEL/ABADIA DOS DOURADOS, MG (Mineração, Garimpo e Diamantes na Região de Coromandel) Relatório Final de Atividades de BIC Felipe Campolina Barbosa Coord.: Prof. Dr. Mario Luiz de Sá C. Chaves

Relat. Felipe

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

PROJETO DE PESQUISA

GEOLOGIA, KIMBERLITOS E DEPSITOS DIAMANTFEROS

DA REGIO DO RIO DOURADINHO,

COROMANDEL/ABADIA DOS DOURADOS, MG(Minerao, Garimpo e Diamantes na Regio de Coromandel)Relatrio Final de Atividades de BIC

Felipe Campolina Barbosa

Coord.: Prof. Dr. Mario Luiz de S C. Chaves

Belo Horizonte, Dezembro de 2008

SUMRIO1. Introduo, pg. 3

2. O Municpio de Coromandel, pg. 33. A Atividade de Extrao de Diamantes, pg. 154. Os Grandes diamantes da regio de Coromandel, p. 275. Descrio das Atividades Especficas Desenvolvidas no Projeto, pg. 296. Concluso, pg. 307. Bibliografia Consultada, pg. 311. INTRODUO

Este relatrio apresenta como principal objetivo a descrio das atividades em bolsa BIC, desenvolvidas dentro do projeto de pesquisa intitulado: GEOLOGIA, KIMBERLITOS E DEPSITOS DIAMANTFEROS DA REGIO DO RIO DOURADINHO, COROMANDEL/ ABADIA DOS DOURADOS, MG (Minerao, Garimpo e Diamantes na Regio de Coromandel). Tais atividades foram realizadas sob orientao direta do Prof. Dr. Mario Luiz de S Carneiro Chaves, coordenador do referido projeto.A regio de abrangncia do trabalho situa-se na poro oeste de Minas Gerais, compreendendo parte da bacia do Rio Douradinho, um afluente da bacia do Rio Paranaba. A rea estudada est localizada nas pores sul da Folha Coromandel e norte da Folha Monte Carmelo, ambas do Servio Geogrfico do Exrcito, envolvendo os municpios de Coromandel e Abadia dos Dourados.

Em termos geolgicos, esta regio est inteiramente inserida no Arco do Alto Paranaba, e neste contexto integra a Provncia Diamantfera do Alto Paranaba e seu Distrito Diamantfero de Coromandel, conhecido no mundo inteiro por achados excepcionais de grandes diamantes.

Este relatrio abrange um pouco da geologia do diamante, mas principalmente os mtodos de extrao, tanto do ponto de vista legal como informal, que ocorrem na referida rea. O garimpo a forma mais simples, barata e arcaica de extrao mineral, onde no so levados em conta o impacto visual e ambiental, nem mtodos de segurana contra acidentes; mas ainda representa a principal fonte de renda de muitas famlias coromandelenses. Foram ainda feitos alguns trabalhos de campo, ao longo de um ano, onde pode-se visitar garimpos e obter informaes diretamente dos garimpeiros.

2. O MUNICPIO DE COROMANDELA extrao de diamantes em Coromandel se d desde o incio do sculo XIX, com o descobrimento das primeiras ocorrncias. Sobre a origem do patrimnio, poucas e dispersas informaes. Sobre a origem do nome, consta um comentrio feito pelo General Cunha Matos (1836), viajante que visitou o lugar em 1819, e escreveu que O nome Carabandela, que se d geralmente a esta povoao teve origem no costume de um proprietrio da fazenda do Pouso Alegre, situado junto ao mesmo arraial, falar muitas vezes em um esprito maligno chamado-o por esse nome Carabandela. O professor Barbosa (1971) atribui a uma publicao da diocese de Uberaba a informao de que O Arraial de Santana do Pouso Alegre do Coromandel, segundo consta, foi fundado por portugueses que haviam estado na ndia, na Costa do Coromandel, e, por isso, deram este nome ao arraial. Entretanto, ao se procurar pela Costa do Coromandel nas ndias Orientais estas no aparecem, mas sim na costa ocidental da Nova Zelndia, como uma localidade atualmente voltada para o turismo e com suas origens na minerao de ouro.

A extrao de diamantes vem desde sua fundao, e a tradio do garimpo pertence ao municpio indelevelmente. Em todo esse perodo histrico no foram observados ou registrados perodos onde se intensificasse a extrao de diamantes de maneira notria. No perodo mais recente, entretanto, ficaram mais evidentes as conseqncias da atividade na regio, principalmente devido intensificao da extrao mecnica do cascalho diamantfero, e seu processamento atravs de jigues. Com a multiplicao desses equipamentos aumentaram conseqentemente os achados, despertando o interesse de empresas do setor que atuam no exterior.

Situado na regio oeste de Minas Gerais, o municpio de Coromandel com 3.310 km2 de territrio, insere-se na macro-regio de planejamento do Alto Paranaba, conforme a diviso adotada pela Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenao Geral de Minas Gerais. O Mapa 2.1 mostra a localizao do municpio em relao aos vizinhos, Guarda-Mor, Lagamar, Patos de Minas, Patrocnio, Monte Carmelo e Abadia dos Dourados, ao Estado de Gois e seu municpio de Catalo.

A extrao de diamantes marca profundamente a vida do municpio. de Coromandel. Seu surgimento e crescimento tiveram como ponto de referncia, para viajantes e imigrantes portugueses, a perspectiva de prosperidade e riqueza do lugar, com essa atividade. Destaca-se que Coromandel apresenta rica rede hidrogrfica, com os leitos dos rios Paranaba e Dourados e seus afluentes. Quanto ao extrativismo realizado na regio, destacam-se, em Coromandel, alm do garimpo de diamantes, a extrao de argila cermica, jazidas de calcrio e fosfato natural.

Com abundncia de leitos de rios, ribeires e crregos, o garimpo de diamantes atividade de destaque, que emprega uma boa parcela da populao estimada em torno de 3.000 garimpeiros atuando no mercado de trabalho informal. Segundo informaes da Prefeitura: No existe como realizar um levantamento de dados de produo desta atividade em razo de sua informalidade e da evaso de divisas. A venda de diamantes realizada sem controle. O reflexo dessa produo se v, em alguns casos, na aquisio de bens imveis e na construo civil. As pedras normalmente so vendidas para compradores de outras localidades e at do exterior. Muitas vezes, intermedirios ficam com boa parte do lucro.

2.1. Ambiente fsicoA regio de estudo situa-se a noroeste de Minas Gerais, no Alto Paranaba, com posio geogrfica determinada pelas coordenadas 18 2820 de latitude sul e 47 1205 de longitude oeste, inserido no bioma cerrado. drenada pelo Rio Paranaba, que nasce na parte ocidental da Serra da Mata da Corda, correndo na direo leste/oeste. Nela nascem ainda os rios Abaet, Borrachudo e Indai, na poro oriental, integrantes da bacia do Rio So Francisco.

As cotas altimtricas variam entre 700 m, no vale do rio Paranaba, e 1.100 m, nas altas superfcies planas, prximas ao Chapado dos Arajos. Geologicamente, trata-se de uma rea de transio, onde se encontram rochas pr-cambrianas e formaes mais recentes. Os rios que drenam o municpio so o Santo Antnio, o Santo Incio, o Douradinho e o Preto, que nascem a sudeste e correm para norte, escoando diretamente no Rio Paranaba.

A configurao do relevo marcada a sudeste por uma zona de chapadas, seguida por uma intermediria de dissecao e outra, nas regies central e noroeste, de plancie de acumulao. Os garimpos desenvolvem-se, na maioria, nas plancies aluvionares dos rios e crregos, atuais ou em antigos leitos.

Sob o aspecto da geologia regional, Coromandel insere-se na regio de dobramentos da borda ocidental do Crton do So Francisco, inserida no contexto da Faixa de Dobramentos e Cavalgamentos Braslia (PEREIRA, 1992). Como se pode observar no Mapa 2.2 a regio sustentada por um conjunto diversificado de rochas que se estende desde o sul, onde se localiza Coromandel, at o norte de Braslia.

Essa unidade geotectnica desenvolvida no Neoproterozico h cerca de 500 Ma o resultado de um esforo compressivo de fechamento da bacia sedimentar instalada na borda oeste do Crton do So Francisco, que provocou sua estruturao em forma de lascas empurradas de encontro ao mesmo.

Devido grande extenso regional ocupada pela Faixa Braslia, essa envolve em sua deformao diversas unidades geolgicas. Na sua poro setentrional esto envolvidos, alm do embasamento cristalino de idade Arqueana, os grupos Canastra e Parano e a formao Paracatu/Vazante do Mesoproterozico e os grupos Arax, Ibi e Bambu, do Neoproterozico (FREITAS-SILVA, 1991).

Uma estrutura mais recente, de 135 milhes de anos, resultante do soerguimento do Alto Paranaba, tambm observada na rea em estudo. Esto relacionadas a ela as intruses kimberlticas e os derrames ultrabsicos-alcalinos do Cretceo Superior que deram origem s unidades do Grupo Mata da Corda.

O municpio se insere, portanto, no contexto de rochas da formao Vazante, Grupo Canastra e Formao Mata da Corda.

A Formao Vazante, definida por DARDENNE (1978; 1979, in PEREIRA, 1992), engloba filitos, ardsias, quartzitos, metassiltitos, cherts, calcrios e abundantes dolomitos de origem algal. Muitas vezes essas litologias foram incorporadas ao Grupo Bambu. Porm, a seqncia litoestratigrfica da regio de Vazante mostra evoluo bastante distinta da estratigrafia clssica do Grupo Bambu. A Formao Vazante representa uma seqncia regressiva de ambiente marinho sub-litorneo, passando para ambiente recifal litorneo, ambiente de plancie de mar e ambiente deltico.

O Grupo Canastra constitudo por quartzitos e filitos intercalados que representam uma mega-sequncia regressiva depositada em plataforma continental de mar aberto, na qual se sucedem, da base para o topo, estratos tpicos de ambientes cada vez mais rasos (PEREIRA, 1992). Essas duas unidades mostram contemporaneidade sedimentar. Esto sempre sotopostas s seqncias glaciognicas do incio do Neoproterozico. Da mesma forma, mostram estruturas tectnicas semelhantes, indicando terem sido deformadas em um nico evento, de idade brasiliana (Neoproterozico).

O Grupo Mata da Corda, do perodo Cretceo, existe no planalto de Coromandel, representado por arenitos que recobrem as rochas proterozicas.

Depsitos detrticos correspondem aos aluvies dos rios, sendo constitudos por cascalhos, em geral diamantferos, com seixos de quartzo e quartzitos arredondados, envolvidos por abundante matriz argilosa, encontrados, normalmente, nos terraos e nas plancies de inundao dos rios, recobertos por pacotes de argila e areia (figura 2.1).

Figura 2.1: Cascalho diamantfero encontrado em colvio prximo ao Rio Douradinho.

Muitos autores consideram que a origem dos diamantes pode estar ligada a rochas kimberlticas e alcalinas do Cretceo, que seriam as fontes primrias locais. Outros acreditam que rochas rudites do Proterozico so as possveis fontes. Alm disso, muitas unidades geolgicas mapeadas nessa regio so consideradas diamantferas, incluindo metadiamictites surgidas no Proterozico, rochas alcalinas do perodo Cretceo, conglomerados do Cretceo Superior e depsitos aluviais recentes, o que leva a crer que as fontes no se relacionam a uma nica litologia, mas a vrias.

GONZAGA & TOMPKINS (1991) afirmam que trs eventos glaciais so os principais responsveis pela distribuio do diamante no Brasil, representando formas de transporte com capacidade de mobilizar diamantes com centenas de quilates, intactos, a longas distncias. Esses constituem as fontes secundrias dos diamantes no Tringulo Mineiro ou Provncia Kimberltica do Alto Paranaba.

Kimberlito uma rocha gnea, ultrabsica, potssica, rica em volteis, encontrada na forma de pipes, diques e soleiras e que apresenta matriz constituda por olivina e minerais primrios tais como flogopita, carbonato, serpentina, clinopiroxnio, monticellita, apatita, espinlio titanfero, perovskita, cromita e ilmenita. No se observa a presena de diamante na composio mineralgica da rocha. Em Coromandel h rochas kimberlticas, mas at hoje no foram comprovadas mineralizaes que justifiquem sua explorao sistemtica.

A regio alvo de grande atividade e prospeco garimpeira. Segundo CAMPOS et al. (2001), a maioria das reas onde se acham diamantes no Brasil sempre apresentou um perodo de aumento das atividades e declnio de interesse depois que a maior parte da rea foi explorada, fato no observado na regio de Coromandel. Permanentemente, l descobrem-se grandes gemas de alta qualidade e colorao. Tal fato, associado a controvrsias cientficas sobre as fontes primrias dos diamantes, coloca o municpio na pauta de trabalhos de pesquisa que buscam explicar as ocorrncias registradas.

Os minerais assessrios encontrados no cascalho diamantfero tambm evidenciam uma certa multiplicidade litolgica. So chamadas de formas, particulares e resultantes de aes fsicas em funo da natureza de cada uma delas. As formas podem indicar as diferenas quanto origem litolgica dos diamantes, visto que ambos se originam da mesma fonte e as formas so distintas em funo da litologia. As formas apresentadas nas figuras 2.10 a 2.15 foram recolhidas de um garimpo do rio Santo Incio.

Figura 2.10: Caboclo (rocha). Figura 2.11: Pistola de macaco (rocha).

Figura 2.12: Marumb (quartzo). Figura 2.13: Ferragem (ilmenita).

Figura 2.14: Chicria (piropo). Figura 2.15: Calcrio Silicificado.

2.2. Bacias hidrogrficasO municpio de Coromandel drenado pelos rios Douradinho, Santo Incio (figura 2.2), Santo Antnio do Bonito (figura 2.3), Preto, da Estiva, da Forca e Verde. Os primeiro, o sexto e o quarto so afluentes do rio Dourados, os demais, do Rio Paranaba, do qual o Rio Dourados tambm contribuinte. O Mapa 2.3 mostra a localizao das sub bacias de drenagem em relao ao municpio e a localizao dos garimpos abrangidos pela pesquisa.

Figura 2.2: Serra da Mesa, importante feio morfolgica do municpio, e divisora de guas

das sub-bacias dos Rios Douradinho e Santo Incio. Em primeiro plano a MG-

188, sentido Coromandel-Patrocnio e alta bacia do Rio Douradinho.

Figura 2.3: Rio Santo Antnio do Bonito prximo a um garimpo de diamantes.A tabela 2.1 traz informaes das localidades de uma pesquisa realizada pela Fundao Joo Pinheiro em Dezembro de 2001, com o nmero de entrevistas feitas em cada rea de garimpo e as coordenadas geogrficas, obtidas atravs de aparelho GPS Geographic Position System. O nmero de ordem que cada ponto de garimpo recebeu a referncia de localizao no Mapa 2.3.

Com relao rede hidrogrfica, as principais nascentes localizam-se em zona de chapadas, que domina a poro leste e central do municpio. Seu topo plano constitudo por latossolo vermelho escuro, ocupado naturalmente por cerrado, j quase completamente substitudo pela agropecuria. Nessa poro d-se a recarga dos aqferos pela infiltrao das guas pluviais. Seu uso e ocupao, caso favoream o escoamento em detrimento da infiltrao das guas de chuva, podem comprometer seriamente a manuteno do fluxo fluvial da rede de drenagem.

Na poro baixa, de confluncia da rede de drenagem com o Rio Paranaba, na zona de plancies aluvionares e de acumulao do material transportado - e onde se encontram os maiores garimpos - a topografia plana.

O Rio Douradinho tradicional na explorao de diamantes, guardando muitos garimpos ao longo do seu curso. Ao longo do eixo de drenagem do rio, notam-se, pontualmente, seguidos garimpos, especialmente em seu mdio e baixo cursos, onde se concentram os maiores garimpos da sub bacia, como os de Dr. Petrnio, Chagas, Douradinho, Vicente Borges, Z Marianinho, Z Caetano e Varjo.

Ao longo do Rio Santo Incio notvel a presena dos garimpos, que geram grandes reas brancas, que evidenciam o solo exposto resultante da atividade. Jigues e garimpos manuais convivem lado a lado, destacando-se no alto curso servios com jigues, que executam trabalhos de grande porte, com remoo de cascalho com equipamentos pesados, transporte at o jigue e apurao. Garimpos importantes do Rio Santo Incio so Charneca, Piranhas e Fbrica, que consistem em grandes reas de explorao.

Na sub-bacia do Rio Buriti existe um grande ponto de extrao de diamantes, com vrios tipos de servios, mecanizados, manuais e mistos, que expem grandes reas e geram bacias de rejeito. Na sub bacia do Rio Preto, existem garimpos manuais e jigues, assim como uma empresa de minerao. O garimpo do Aafro, artesanal, situa-se em ambas as margens do rio Preto, na margem direita do acesso rodovirio, em frente Dourada Minerao. No Rio da Forca so encontrados pequenos garimpos manuais, e transitrios, assim como garimpos maiores e servios implementados utilizando jigues.

No vale do Rio Paranaba os garimpos podem ser encontrados nas partes secas das encostas, aproveitando-se dos antigos terraos fluviais; sobre terraos atuais; e no canal fluvial. O garimpo na encosta utiliza ferramentas rudimentares para abrir catas rasas e o garimpo dentro do canal fluvial funciona sobre balsas, de modo a explorar barrancos marginais a partir do interior do canal.

O Rio Santo Antnio tem suas cabeceiras localizadas na Chapada dos Arajos, situada a Leste do municpio. Suas principais drenagens formadoras correspondem aos ribeires Santo Antnio das Minas Vermelhas, Santo Antnio e Lajes. Existem muitos garimpos e minas na bacia, famosa pela ocorrncia de grandes diamantes, como o Getlio Vargas, o maior de todos, com 712 ct. Os garimpos nessa bacia desenvolvem intervenes sobre grandes reas, de cascalho profundo, o que gera grandes mobilizaes de terra. O garimpo feito manualmente tanto como com o uso de jigues.

3. A ATIVIDADE DE EXTRAO DE DIAMANTES

A regio de Coromandel reconhecida por sua riqueza em ocorrncia de diamantes (Figura 3.1), que remonta h 250 anos e at hoje objeto de ampla atividade de busca para cerca de 3000 garimpeiros e algumas empresas de minerao.

Desde Ituiutaba at Patos de Minas, o Alto Paranaba e seus afluentes das margens esquerda e direita so garimpados procura de diamantes. Nesse distrito ainda so produtores de diamante, desde meados do sculo XVIII, alguns afluentes do rio So Francisco, como Abaet, Indai e Borrachudo. Essa vasta rea diamantfera forneceu, por mais de dois sculos, a maior quantidade dos grandes diamantes do Brasil, particularmente na rea dos atuais municpios de Estrela do Sul, Abadia dos Dourados, Coromandel e Tiros (CHAVES & CHAMBEL, 2005).

O valor comercial da gema depende da cor, pureza e formato, que iro influenciar o tipo de lapidao e seu tamanho. O brilho apresentado adamantino, as cores variam do incolor ao amarelo, azul, verde, rosa e mbar. Variedades impuras apresentam cor preta a preto-acinzentada (brow) e so opacas e frgeis. Quanto ao tipo de formato, o diamante cristaliza-se no sistema isomtrico, geralmente em cristais octadricos, s vezes achatados e elongados. Sua clivagem perfeita, a densidade de 3,51 a 3,55; dureza 10 na escala Mohs, que varia de 1 a 10.

Figura 3.1: Diamantes extrados na regio de Coromandel.O diamante carbono quimicamente puro, usado como gema, abrasivo e devido sua alta dureza em materiais de corte (discos diamantados para corte de rochas e brocas diamantadas para perfurao). Sua origem est relacionada cristalizao em ambientes de grande presso e temperatura, a grande profundidade.

Depois de sofrerem transporte so comumente encontrados, no entanto, nas areias e cascalhos, nos leitos e plancies aluvionares dos rios, preservados por suas propriedades qumicas e fsicas. Essas so consideradas fontes secundrias de diamantes, pois sofreram transporte, que permitiu sua chegada superfcie a partir das grandes profundidades nas quais foram gerados.

O Brasil se apresenta hoje como a meca para o setor de explorao de diamantes, concentrando em Minas Gerais o maior conjunto de reservas de diamantes de alta qualidade. Alm disso, contribui para o sucesso do pas o fato de grandes produtores mundiais apresentarem dificuldades de explorao. Os pases da frica sofrem com os ataques das guerrilhas internas. A Rssia vista pelo mercado de pedras como pouco atraente para explorao, devido a problemas de corrupo. Na Austrlia e na frica do Sul o problema do excesso de concorrncia, j que ambos os pases so muito explorados.

O Brasil continua pouco pesquisado, e os baixos ndices de sucesso dos ltimos anos se devem falta de objetividade e firme comprometimento exploratrio em cada regio, j que historicamente toda a produo brasileira de diamantes provm de depsitos aluvionares, e principalmente de atividade garimpeira de pequeno porte. Porm, essa situao vem se alterando com o boon mineral experimentado nos ltimos cinco anos e provavelmente em breve estaremos vendo uma minerao mais organizada e tambm sobre depsitos primrios (CHAVES & CHAMBEL, 2005).A atividade de explorao de diamantes em Minas Gerais concentra-se nas regies de Coromandel (Alto Paranaba), na Serra da Canastra e na regio do Rio Abaet e em Diamantina (Vale do Jequitinhonha). Para extrair diamantes legalmente, assim como outros minrios, faz-se necessrio cumprir as leis de explorao do sub-solo brasileiro: possuir concesso de direitos minerrios e as licenas ambientais que acompanham o processo. A lei distingue a explorao minerria da garimpeira, mas mineraes e garimpos esto sujeitos a regras parecidas para explorao do subsolo, em todos os seus componentes.A Constituio Brasileira atribui ao Ministrio das Minas e Energia a competncia de administrar a explorao do sub-solo atravs do DNPM criado pela lei no 8876, de 2 de maio de 1994, que faz valer o Cdigo de Minerao, criado pelo Decreto-lei 227, de 28 de fevereiro de 1967 e regulamentado pelo Decreto 62 934, de 2 de julho de 1968 que define as regras de explorao mineraria (Freire, 1997).Os regimes de aproveitamento das substncias minerais definidos no Captulo 1, art. 2, do Cdigo de Minerao so: regime de concesso; regime de autorizao, regime de licenciamento; regime de permisso de lavra garimpeira e regime de monopolizao. Cada regime sujeito burocracia especfica que depende do tipo de minrio a ser extrado e circunstncias da explorao. Segundo esse captulo, no artigo 3:

Art. 3 - A autarquia DNPM ter como finalidade promover o planejamento e o fomento da explorao e do aproveitamento dos recursos minerais, e superintender as pesquisas geolgicas, minerais e de tecnologia mineral, bem como assegurar, controlar e fiscalizar o exerccio das atividades de minerao em todo o territrio nacional, na forma do que dispe o Cdigo de Minerao, o Cdigo de guas Minerais, os respectivos regulamentos e a legislao que os complementa, competindo-lhe, em especial (entre outras):

I - promover a outorga, ou prop-la autoridade competente, quando for o caso, dos ttulos minerrios relativos explorao e ao aproveitamento dos recursos minerais, e expedir os demais atos referentes execuo da legislao minerria;

IX - baixar normas e exercer fiscalizao sobre a arrecadao da compensao financeira pela explorao de recursos minerais, de que trata o 1 do Art. 20 da Constituio Federal;

XI - estabelecer as reas e as condies para o exerccio da garimpagem em forma individual ou associativa.3.1. Regime de concesso: Outorga de direito minerrioCom relao outorga, pode ser requerida por brasileiros, pessoa natural, firma individual ou empresas legalmente habilitadas interessadas em explorar o sub solo e na concesso de direito minerrio.

3.2. Regime de lavra garimpeira: Concesso de permisso de lavraNo seu art. 175, a Constituio prioriza a concesso de lavra para cooperativas de garimpeiros sobre o interesse de empresas de minerao. O Cdigo de Minerao permite a lavra garimpeira e a conceitua, no Decreto 98 812, de 9 de janeiro de 1990, que regulamenta a lei 7805 de, 18 de julho de 1989.

Segundo o art. 1o do Decreto 98 812, de permisso de lavra garimpeira, tal regime aplica-se ao aproveitamento imediato de jazimento mineral que, por sua natureza, dimenso, localizao e utilizao econmica, possa ser lavrado, independentemente de prvios trabalhos de pesquisa. Tal permisso, segundo o Art. 2o, depende de licenas ambientais concedidas pelo Ibama ou o rgo definido pela legislao estadual, vigorando pelo prazo de cinco anos, sucessivamente renovvel. Ser outorgada a brasileiro ou a cooperativas de garimpeiros autorizadas a funcionar como empresas de minerao, em reas de at 50 hectares, salvo critrio do DNPM (Departamento Nacional de Produo Mineral).

O Decreto 98 812 de 9 de janeiro de 1990 aponta tambm os deveres do permissionrio de lavra garimpeira, entre os quais destaca-se o exerccio do trabalho segundo as normas tcnicas, a proteo do meio ambiente e obedincia s normas do Poder Pblico. Segundo o seu Art. 22:realizar trabalhos de extrao de substncias minerais sem a competente concesso, permisso ou licena constitui crime, sujeito a pena de recluso de trs meses a trs anos e multa.O artigo prev que em casos de explorao sem permisso, o DNPM comunicar o fato ao Departamento de Polcia Federal (DPF), para a instaurao do competente inqurito e demais providncias cabveis, bem como a apreenso do produto mineral, veculos, equipamentos e maquinrios utilizados.O garimpeiro, a cooperativa e a empresa de minerao devem estar legalizados, portanto, frente ao DNPM, apresentando ou requerimento de Permisso de Lavra Garimpeira nos dois primeiros casos ou o de Concesso de Direito Minerrio, no caso das empresas, em reas livres de explorao minerria ou pedidos anteriores. O DNPM publicar no Dirio Oficial da Unio e aguardar 60 dias para eventuais contestaes, para fins de exerccio do direito de prioridade.3.3. Extrao de diamantes em CoromandelEm Coromandel predominam os garimpos sobre o nmero de empresas, funcionando seja de maneira artesanal, com p e picareta, seja de maneira mecnica, com jigues e bicas canadenses.

A diferena entre a natureza dos servios ntida: enquanto o trabalho artesanal revolve e lava lentamente o cascalho, os servios mecnicos so tpicos de mineraes de mdio e grande porte. Mobilizam a terra em reas extensas, lavam grande quantidade de cascalho e conseqentemente, utilizam maiores volume dgua e lanam lama em bacias de rejeito. Nas balsas o servio tambm muito agressivo; h risco de acidentes ambientais e de trabalho.

O quadro 3.1 mostra os tipos de extrao diamantfera ocorrentes em Coromandel. A formalidade legal exigida em cada caso pelo DNPM, FEAM, IGAM e IEF; o tipo de equipamento usado; nmero de pessoas por tipo de servio e o tipo de relao formal de trabalho exigido por tipo de extrao.3.3.1. Garimpo manualO processo de trabalho do garimpeiro pode ser resumido nas seguintes etapas:

1) extrao de cascalho;

2) lavao e catao;

3) deposio de rejeitos;

4) recuperao das reas.

Para a extrao do cascalho, os garimpeiros utilizam ferramentas rudimentares e conhecidas: p, picareta, enxada, enxado e carrinho de mo. Para lavar o cascalho, utilizam lavadeiras, espcies de tanques fechados, com dimenses de 1m de largura, 1,50m de comprimento e 0,60m de profundidade, e peneira. Cada garimpeiro retira seu prprio cascalho, transporta-o at a lavadeira e o lava. A estimativa de produtividade calcada em capacidade mdia individual de lavar at 12 carrinhos/dia, que corresponde a, aproximadamente, 1m3 de cascalho.

QUADRO 3.1: CARACTERSTICAS GERAIS DOS TIPOS DE EXTRAO DE DIAMANTES EM COROMANDEL.

Tipo de Extrao/ CaractersticasGarimpo ManualExtrao Mecanizada (Jigues)Empresa MineradoraBalsa

Equipamentos utilizadosFerramentas manuais - eventual TratorTrator, p carregadeira, caminho, jigueTrator, p carregadeira, caminho, jigueBalsa, motor, draga, compressor, escafandro

Nmero de pessoa por unidade de produo1 a 23 a 510 e mais3 a 5

RequerentePessoa fsica ou Cooperativa de GarimpeirosPessoa fsica ou pessoa jurdica ou Cooperaiva de GarimpeirosPessoa jurdica

Tamanho da rea requeridaAt 50 hectaresVarivel. At 50ha para lavra garimpeira e mnimo de 1000ha para outorga de direita mineralMnimo de 1000 hectares

Licenas Necessrias

DNPMPermisso de Lavra GarimpeiraPermisso de Lavra Garimpeira ou outorga de direito minerrioOutorga de Direito Minerrio

FEAMLP; LI; LO; ou LOPLP; LI; LO; ou LOP*LP; LI; LO.

IGAMOutorga de guaOutorga de guaOutorga de gua

IEFLicena de desmateLicena de desmateLicena de desmate

IBAMALicena de desmate em APPLicena de desmate em APPLicena de desmate em APPLincenciamento

Notas: (a) DNPM= Departamento Nacional de Produo Mineral. (b) FEAM = Fundao Estadual do Meio Ambiente. (c) IGAM = Instituto Mineiro de Gesto das guas. (d) IEF = Instituto Estadual de Florestas. (e) IBAMA = Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis. (f) LP = Licena prvia. (g) LI = Licena de instalao. (h) LO = Licena de operao. (i) LOP = licena especial de operao para empreendimento de pequeno porte. (j) APP = rea de preservao permanente.As figuras 3.2 a 3.4 ilustram o trabalho de abertura de catas realizado nos garimpos de Coromandel, mostrando catas abertas com ferramentas rudimentares e outras, abertas mecanicamente, com auxlio de trator.

Figuras 3.2, 3.3 e 3.4: Tipos de catas de extrao de cascalho diamantfero. Notar a diferena

entre a espessura da camada superficial a ser removida at encontrar-se o

cascalho evidenciando graus de dificuldades distintos execuo do servio.Primeiramente a vegetao e o solo so removidos e estocados por perto. A camada de cascalho diamantfero retirada e estocada nas redondezas, para ser posteriormente transportada at a lavadeira. Na lavadeira encontra-se o cascalho no-lavado, reservado nas proximidades do tanque, e as pilhas de cascalho lavado lanadas por perto, muitas vezes dentro do prprio buraco aberto, resultante da extrao. As figuraS 3.5, 3.6 e 3.7 so exemplos das estruturas rudimentares e as lavadeiras.

O garimpeiro lava o cascalho na peneira dentro da lavadeira, onde fica o rejeito, constitudo por lama. Esse lanado de volta s catas junto com o cascalho, a cada vez que a lavadeira esvaziada e limpa, evitando sua chegada aos cursos hdricos. Nas figuras 3.8 e 3.9, mais exemplos de lavadeiras. Nas figuras 3.10 e 3.11 est exemplificado o momento final do processo, da virada da peneira e da apurao.

A recuperao das reas de interveno, com rarssimas excees, ocorre de maneira natural, sem interveno humana, com a sucesso vegetacional acontecendo de forma lenta, quase sempre iniciada pelo desenvolvimento de capins e lobeiras, sobre os montes de cascalho abandonados. Nas reas das catas, com o subsolo exposto, ainda mais lenta a colonizao espontnea, visto a ao erosiva. Os terrenos permanecem desnudos por longo tempo.

Figuras 3.5, 3.6 e 3.7: Diferentes tipos de lavadeiras encontradas nos garimpos locais. Figura 3.8 e 3.9: Lavadeira utilizada para lavar o cascalho em circuito fechado, sem

comprometer diretamente os cursos hdricos com lama e rejeito.3.3.2. Trabalhos com jiguesO jigue um equipamento mecnico de mdio ou grande porte, que precisa ser adequadamente instalado para funcionar segundo seu objetivo: lavagem de cascalho a baixo custo. O dimensionamento de sua produo funo dos equipamentos que extrairo e transportaro o material a ser lavado e, posteriormente, iro lev-lo de volta at local de deposio final. Figura 3.10 e 3.11: Aspecto do conjunto de pedras organizadas no fundo da peneira,

aps virada, onde o garimpeiro busca um possvel diamante.O transporte do equipamento oneroso, e sua instalao requer base slida para assentamento e energia eltrica para acionar o abastecimento de gua e as pulsaes. Demanda equipamentos de lavra movidos a leo diesel e um motor possante para movimentar a peneira.

O trabalho inicial de remover cascalho realizado por p mecnica, que extrai e carrega o material para transporte. Para que seja econmica, ela precisar de equipamentos: vrios caminhes, para acompanhar sua produo (transportando cascalho entre a mina e o jigue) e uma peneira vibratria.

Nota-se que a economicidade de um trabalho como esse impe interveno sobre grandes reas e disponibilidade do conjunto de equipamentos ou sua partilha. A mdia de lavagem dos jigues visitados em Coromandel de 30m3/dia de cascalho, inferior capacidade operacional da p carregadeira, por exemplo. Observa-se, no entanto, que mesmo com a produo inferior capacidade do equipamento, os depsitos de estril desenvolvidos nas proximidades dos rios, sem qualquer tcnica de deposio controlada, ameaam sua segurana no perodo chuvoso, visto no apresentarem condio de estabilidade nem drenagem pluvial. As bacias de conteno de lama so construdas sem projeto, fato irregular, frente ao seu porte. As catas permanecem abertas depois da extrao, sem recuperao de reas degradadas (figuras 3.12 a 3.24).

Figura 3.12, 3.13, e 3.14: Seqncia que mostra o servio de um jigue no Rio Douradinho: ...

lavra, jigue e praia. Figura 3.15 e 3.16: Jigue e bacia de lamas de extrao no Rio Santo Incio.

Figura 3.17, 3.18 e 3.19: Jigue em operao no Rio Santo Antnio, podendo-se observar o

porte do servio. Figura 3.20, 3.21 e 3.22: Jigue funcionando no Rio da Forca. Notar bacia de lama. Figura 3.23 e 3.24: Lavra e jigue da Charneca, garimpo tradicional de Coromandel.O que deve ser levado em conta , efetivamente, a distino entre garimpo e trabalho mecnico de extrao, cujos efeitos e abrangncia ambiental so distintos e como tal devem ser tratados. O garimpeiro atua sobre reas menores, trabalha com muitos companheiros, com baixos riscos ambientais e de acidentes do trabalho. Cada garimpeiro lava, em mdia, por dia, 12 carrinhos-de-mo de cascalho. Os equipamentos pesados chegam a lavar 17 caminhes/dia de cascalho, intervindo em grandes reas, rapidamente degradadas, com maiores riscos de acidentes e reduo efetiva da mo-de-obra, composta de dois operadores de mquinas e dois de jigue.

3.3.3. Balsa de GarimpoAs balsas (figura 3.25) de garimpo esto proibidas, mas ainda so encontradas no Rio Paranaba. Na extrao de diamantes no leito do rio, atravs de balsas, o cascalho removido de dentro do rio, por suco, com o uso de uma vlvula e de um mangote operado por um mergulhador escafandrista, que remove as pedras maiores que a boca da vlvula com as mos e conduz o mangote pela rea que deseja explorar. A operao de suco mobiliza muita terra dentro do canal do rio, provocando turbidez e comprometimento dos ecossistemas aquticos. Os efluentes da lavagem constitudos por cascalho lavado - so lanados no rio, assim como leo e graxa de motor, que contaminam a gua. Os acidentes com o mergulhador so grandes e comumente concretizam-se, quando pedras deslocadas inviabilizam movimentos, ou deslizamentos de terra o soterram. Tambm so correntes os acidentes envolvendo o escafandro e os tubos de oxignio.

Sobre a balsa instalada uma bica canadense, cuja capacidade mdia de lavagem de cascalho de 30m3/dia. Consiste numa calha de ferro dentro da qual so colocadas grades removveis. instalada com declividade de 10% a 40%, funcionando por gravidade. Na caixa de entrada chegam a gua e o cascalho, que descem ao longo da calha; o cascalho diamantfero retido nas grades. A calha canadense deixa dvidas quanto a capacidade de reteno, especialmente de pedras maiores, que no so retidas (figura 3.26).

Figura 3.25 e 3.26: Balsa no Rio Santo Incio e a calha canadense.3.3.4. MineraesSegundo o Cadastro Mineiro do DNPM emitido em 22 de dezembro de 2008, existem em Coromandel 381 processos minerrios, entre requerimentos e autorizaes de pesquisa, licenciamentos e lavra (Departamento Nacional de Produo Mineral, 2008).

Os minrios requisitados para outorga so o calcrio, fosfato, zinco, argila, areia, cascalho e o diamante. Cinco empresas detm concesso de lavra, duas para diamante, uma para calcrio, uma para gua mineral e uma para fosfato. Uma grande parte dos processos, no entanto, encontra-se em fase de autorizao de pesquisa, a mais antiga datada de 1971 sob regime de Concesso de Lavra.

O que ocorre que o processo de pesquisa no DNPM pode ser prorrogado em funo dos resultados obtidos, e o Cdigo de Minerao permite a amostragem de grande volume para pesquisa de minrios de baixa concentrao - entre os quais encontra-se o diamante.4. OS GRANDES DIAMANES DA REGIO DE COROMANDEL4.1. Presidente Vargas

O maior diamante monocristalino brasileiro, pesando 726,6 ct foi lavrado em um garimpo do Rio Santo Antnio em 1938 (o maior diamante brasileiro e tambm mundial o agregado policristalino - designado do Carbonado do Srgio - extrado na Chapada Diamantina baiana em 1906). Morfologicamente apresentava um aspecto irregular achatado, com as seguintes dimenses (mximas): 56,2 mm x 50,0 mm x 24,4 mm (LEINZ, 1939, in REIS, 1959). Este autor reconheceu no cristal uma face de rombododecaedro (110) e outra de clivagem. O diamante era perfeitamente incolor, reconhecendo-se tonalidades ligeiramente amareladas em duas de suas arestas. Sob a luz ultravioleta o cristal apresentou fluorescncia azul-arroxeada. Atualmente o Presidente Vargas considerado o oitavo maior diamante j encontrado no mundo.

4.2. Santo Antnio

Este grande diamante, encontrado em 1993, pesou 602 ct sendo assim o segundo maior diamante (monocristalino) brasileiro em peso. A sua descoberta por um grupo de garimpeiros se deu em um trecho do rio 5 km a jusante do local onde o Presidente Vargas foi encontrado. Da mesma forma que a maioria dos grandes diamantes da regio, o cristal possua um formato irregular, com dimenses de 54,0 x 38,0 x 35,0 mm. HARALYI et al. (1994) descrevem a presena de trs faces naturais, corrodas e com desenvolvimento de trgonos. Estas figuras aparecem exclusivamente nas faces do octaedro (111), conforme CHAVES (1997). As outras superfcies apresentadas provavelmente constituem sees de clivagem, permitindo HARALYI et al. (1994) considerarem um peso original do diamante em 850-1000 ct, alm de um hbito originalmente rombododecadrico (?). A cor apresentada pelo cristal era marrom-clara, que no mostrava fluorescncia sob luz ultravioleta de ondas curtas e longas, e tinha uma incluso escura ao longo de uma jaa interna longa que cortava a pedra em duas metades quase iguais (HARALYI et al., 1994).4.3. Darcy Vargas

Pesando 460 ct, o diamante Darcy Vargas o terceiro maior encontrado no Brasil. Ele foi extrado do Rio Santo Antnio em 1939, a 2 km (abaixo/acima) do local onde o Presidente Vargas foi achado. Possua uma forma ligeiramente achatada, com as dimenses: 53 mm x 39,0 mm x 26,6 mm, constituindo um hbito ocatdrico com forte deformao e acentuado bombeamento das faces (LEONARDOS & SALDANHA, 1939, in REIS, 1959). Esses autores observaram ainda a existncia de um concrescimento de indivduos paralelos, com inmeros sulcos e reentrncias, notando-se, entre uns e outros indivduos, faces de octaedro, de cubo, de rombododecaedro e tritetraedro. Essas caractersticas nos permitem considerar tal diamante como um agregado cristalino, no sentido de CHAVES (1997). LEONARDOS & SALDANHA (1939) relataram ainda uma tonalidade castanha relativamente acentuada, restringindo o valor comercial da pedra, e ausncia de fluorescncia.

4.4. Coromandel

Este grande diamante, pesando 400,65 ct, foi achado em 1940 no Riacho Santo Incio, afluente do Rio Santo Antnio. Segundo SALDANHA (1941, in REIS, 1959) este diamante apresentava hbito ocatadrico bastante acentuado, faltando apenas uma das oito faces, sendo duas naturais e as outras cinco, bastante planas, de clivagem recente no meio fluvial. Suas dimenses eram de 53,0 x 44,7 x 25,0 mm, atingindo a boa colorao gemolgica stremely-slight, com forte fluorescncia azul violcea (SALDANHA, 1941, in REIS, 1959). A presena de uma face de cubo bem desenvolvida (observada em foto fornecida pelo citado autor), permite que o cristal seja considerado uma combinao octaedro-cubo.

4.5. Dirio de Minas Gerais

Foi encontrado em 1941, em um dos garimpos do Rio Santo Antnio, pesando 375,10 ct. O seu nome foi dado em homenagem imprensa mineira, representada por um de seus matutinos. REIS (1959) descreveu este exemplar quanto a sua morfologia, destacando que excesso de um plano, todos os demais eram de clivagem, podendo assim o cristal ser classificado como um fragmento de clivagem. Suas dimenses eram: 43,6 mm x 34,8 mm x 29,2 mm; a colorao era castanha acentuada e sob a luz ultravioleta no apresentou qualquer luminescncia (REIS, 1959).4.6. Cruzeiro ou Vitria (I)

Descoberto em 1942 na Fazenda Taquara, s margens do Rio Santo Antnio, pesava 261 ct. Seu nome final foi dado com o fim de simbolizar o objetivo que animava as naes na Segunda Grande Guerra Mundial. Apresentava as seguintes dimenses: 42,5 mm x 40,0 mm x 22,5 mm. Era um cristal muito deformado de colorao clara e sem incluses, podendo, todavia, ser percebido o hbito octadrico; das oito faces deste hbito, quatro eram naturais e as outras de clivagem (REIS, 1959).

4.7. Minas Gerais

Descoberto em 1938, o diamante Minas Gerais pesou 172,5 ct. BARBOSA (1938, in REIS, 1959) descreveu a cor do cristal como branco fosco em quase toda a sua superfcie, exceto em duas faces de clivagem. Ainda segundo este autor o cristal possua forma achatada, constituindo parte de um octaedro com dimenses de 36,5 mm x 31,5 mm x 18,0 mm; pelas faces de clivagem percebia-se que o cristal havia perdido cerca de 20 % de seu volume no transporte fluvial, o que comum nos grandes diamantes. 5 DESCRIO DAS ATIVIDADES ESPECFICAS DESENVOLVIDAS NO PROJETO

O coordenador do projeto, Prof. Mario L. S. C. Chaves, dividiu as atividades dos bolsistas dentro do mesmo. No presente relatrio deu-se nfase Minerao, Garimpo e Diamantes na Regio de Coromandel (tendo em vista meu curso, Engenharia de Minas), enquanto o outro bolsista (K. W. Andrade) envolveu-se com a subtemtica Geologia e Evoluo no Tempo dos Depsitos Diamantferos, j que tal aluno do curso de graduao em Geologia.Com a orientao direta do coordenador e demais membros do projeto, foram desenvolvidas as seguintes atividades gerais durante o perodo da bolsa: (1) Levantamento de dados bibliogrficos abrangendo a geologia regional e econmica do Alto Paranaba, incluindo compararaes com a regio diamantfera da Serra do Espinhao; (2) Levantamento de dados bibliogrficos atualizados abrangendo a geologia, mineralogia, gemologia e produo econmica do diamante na regio do Alto Paranaba, em particuloar nos arredores de Coromandel; (3) Auxlio nos trabalhos preliminares de fotointerpretao bsica da rea a ser estudada, especialmente naquelas onde devero ser realizadas as sees geolgicas; (4) Acompanhamento eventual nos trabalhos de campo (sem nus para o projeto), auxiliando os servios de coleta de minerais pesados (trabalho de prospeco aluvionar); (5) Acompanhamento nos estudos laboratoriais das anlises com microscopia eletrnica de varredura (Escola de Engenharia).6 CONCLUSO

O histrico da atividade de extrao de cascalho diamantfero mostra uma mudana na forma de extra-lo do subsolo na regio de Coromandel, desde que a fora do Ibama, IEF e da Polcia Florestal, amparada pelo Ministrio Pblico, se tornou efetiva no local, para fazer cumprir leis ambientais em vigor no pas. Se, antigamente, os garimpeiros extraam o cascalho e lavavam-no beira do rio, hoje eles lavam o cascalho fora das reas de Preservao Permanente (APPs), definidas pelo Cdigo Florestal, estocam solo, trazem gua e lavam o cascalho nas lavadeiras, que, fechadas, seguram a lama da lavagem, evitando seu aporte direto aos rios. O cascalho estocado nas proximidades das lavadeiras e forma, junto com o solo extrado anteriormente, montes que se avolumam em torno dos servios, mas que podem ser utilizados para fechar as catas, na maioria das vezes mantidas abertas, mesmo as mais antigas.Ainda que a proibio de atuao na faixa das APPs no tenha resolvido os efeitos da atividade, como j explicado, o respeito a elas aumentou muito as condies dos cursos hdricos locais, que no recebem mais a lama da lavagem do cascalho, antes processada dentro do rio, nem o cascalho lavado, que ali mesmo era abandonado, entulhando o canal fluvial.

O problema que permanece a extrema pobreza da paisagem, resultante da ao garimpeira, alm do potencial de aporte aos cursos hdricos por ao pluvial, do material estocado ao redor das lavadeiras. No h recomposio induzida de reas afetadas pelos garimpos, o que retarda a reabilitao da rea degradada, obrigatria pela Constituio Federal.

Outro ponto de destaque a ilegalidade que cerca a atividade e que remonta ao garimpeiro manual, sem condies de cumprir o procedimento legal de acordo com o DNPM e a Feam. Sua legalizao dever ser alvo de um trabalho de ao social que os informe sobre as regras estabelecidas e facilite sua insero no processo de obteno de lavra garimpeira. Tal processo, como j explicado, demanda requerimentos ao DNPM, apresentao de mapas e textos explicativos sobre a atividade, bem como licenas ambientais, inacessveis a eles nas condies atuais. A simplificao de procedimentos necessria para que os garimpeiros possam cumprir as regras estabelecidas, deixando de exercer seu trabalho de forma ilegal.As atividades desenvolvidas no referido projeto foram de grande valia para o aprimoramento tcnico-cientfico dentro dos campos do conhecimento geolgico, mineralgico e gemolgico, bem como no sentido do aprendizado de softwares especficos para um melhor entendimento e planejamento dessas atividades.No que se refere ao conhecimento mineralgico houve um grande acrscimo nas informaes referentes ao grande potencial do estado de Minas Gerais como produtor de bens minerais, alm do conhecimento mais detalhado dos bens minerais analisados no mbito do projeto de pesquisa. Pelo fato de grande parte da produo dos minerais encontrados se desenvolver em pequenos servios de lavra (garimpos), esta integralizao dos dados foi de grande valia para se estabelecer um conhecimento mais amplo da produo nesta regio em toda sua cadeia desde a pesquisa, extrao e comercializao, bem como os fatores sociais e ambientais envolvidos.

As demais atividades tcnicas desenvolvidas se tornaram de grande valia para o aprimoramento do conhecimento de forma a serem utilizadas em outras atividades ao longo da vida profissional e no desenvolvimento de outros projetos.

7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADACHAVES, M.L.S.C. Geologia e mineralogia do diamante da Serra do Espinhao em Minas Gerais. Tese (Doutorado) Univ. de So Paulo, So Paulo, 1997, 289p.CHAVES, M.L.S.C. & CHAMBEL, L. Diamante: a pedra, a gema, a lenda. Editora Ofitexto, So Paulo, 2005, 278p.

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