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NILZA TOMIE NISHIMURA RELATO DE EXPERIÊNCIA IES: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL ORIENTADORA: Profª. Drª. REGINA LUZIA CORIO DE BURIASCO ÁREA CURRICULAR: MATEMÁTICA Fevereiro - 2008 - LONDRINA GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

RELATO DE EXPERIÊNCIA - Gestão Escolar · Na disciplina de Matemática, como em qualquer outra disciplina escolar, o envolvimento ativo do aluno é uma condição fundamental da

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NILZA TOMIE NISHIMURA

RELATO DE EXPERIÊNCIA

IES: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL

ORIENTADORA: Profª. Drª. REGINA LUZIA CORIO DE BURIASCO

ÁREA CURRICULAR: MATEMÁTICA

Fevereiro - 2008 - LONDRINA

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁSECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUEDPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

NILZA TOMIE NISHIMURA

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS – UM ESTUDO EM SALA

DE AULA

Relato de experiência apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional.Orientadora: Profª Drª Regina Luzia Corio de Buriasco.

UEL - LONDRINA – 2008

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SUMÁRIO

1. IDENTIFICAÇÃO 41.1. ÁREA 41.2. PROFESSORA PDE 41.3. PROFESSORA ORIENTADORA IES 4

2. TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO 43. TÍTULO 44. A PROPOSTA 45. AS INTENÇÕES 46. OS CONTEÚDOS 57. OS PROCEDIMENTOS 58. A JUSTIFICATIVA 69. OS ESTUDOS REALIZADOS 710. AS OFICINAS 13

10.1. O ENCONTRO COM OS ALUNOS 1310.2. A EXPERIÊNCIA REALIZADA COM OS ALUNOS 14

11. AS CONSIDERAÇÕES 4612. AS REFERÊNCIAS 50

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

1. IDENTIFICAÇÃO

1.1 ÁREA: Matemática1.2 PROFESSORA PDE: Nilza Tomie Nishimura1.3 PROFESSORA ORIENTADORA IES: Profª. Drª. Regina Luzia

Corio de Buriasco

2 TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO: Resolução de Problemas

3 TÍTULO: Resolução de problemas - um estudo em sala de aula

4 A PROPOSTA

Esta é uma proposta de ensino, elaborada a partir de

problemas a ser aplicada em uma turma de 5ª série de um Colégio

Estadual, localizado na cidade de Londrina, norte do Estado do Paraná,

que pretende oportunizar ao aluno o trabalho em pequenos grupos,

instigando-o a refletir, investigar e descobrir, incentivando-o a discutir e

buscar soluções, contribuindo com uma aprendizagem mais

significativa para que desenvolva o pensamento autônomo e crítico, por

meio da Resolução de Problemas. A tarefa de resolvê-los favorece a

reflexão exigindo paciência e perseverança do aluno.

5. AS INTENÇÕES

Possibilitar ao aluno estabelecer algumas relações entre situações contextualizadas e campos da matemática.

Explorar os caminhos possíveis para a resolução do problema. Promover integração entre alunos por meio de atividades em

grupo.

4

Desenvolver hábito de pesquisa. Estimular o desenvolvimento das habilidades de pensar e criar. Usar a Resolução de Problemas como meio e como meta. Desenvolver atitudes de cooperação. Incentivar a troca de idéias. Resolver problema que envolva o significado da adição e

multiplicação. Efetuar a multiplicação como abreviatura da soma de parcelas

iguais. Estabelecer relações entre aritmética e álgebra. Observar regularidades numéricas. Determinar padrões. Usar a linguagem algébrica para expressar padrões.

6. OS CONTEÚDOS

Na resolução dos problemas escolhidos para o

desenvolvimento da oficina aqui relatada, há a possibilidade de abordar

vários conteúdos matemáticos, tais como:

adição de números naturais; produto de números naturais; medida de tempo; medida de comprimento; sistema monetário; noções de álgebra.

7. OS PROCEDIMENTOS

Distribuir o problema para grupos de 3 alunos,

desafiando-os para que resolvam sem limite de tempo. Observar os

procedimentos de resolução que os alunos estão tomando, analisando

cada passo da tarefa. Se necessário, em vez de dar pistas, será

perguntado: Como? O quê? Para quê? Onde? Por quê? Mas se perceber

que encontraram algum obstáculo e esse está ligado a algum conteúdo

que eles desconhecem, aproveitar para apresentá-lo, discutindo a idéia

matemática presente para que, a partir dessa discussão, defina de que

forma podem utilizar esse conteúdo para a resolução do problema.

5

Após a resolução do problema, discutir coletivamente

todas as possíveis estratégias e procedimentos utilizados e as soluções

encontradas. Nesse sentido, é de bastante relevância:

coletar e discutir diferentes respostas; discutir as possibilidades de resposta; a tentativa de se chegar à resposta certa; a justificativa da resposta; a liberdade de mudanças no meio do caminho; a valorização dos procedimentos que os alunos utilizarem; a valorização da resposta encontrada.

8. A JUSTIFICATIVA

O fracasso escolar dos alunos representado por seu baixo

rendimento em matemática é um fenômeno bastante discutido. A maior

preocupação de todo professor de matemática é mediar a apropriação de

conceitos para ajudá-los, por meio da matemática, a compreender,

explicar ou organizar a sua realidade. Contudo, usualmente na sala de

aula, a matemática ensinada, com ênfase nas regras e símbolos,

rigorosamente cobrados, tem sido tomada como uma das responsáveis

pelo baixo rendimento, uma vez que parece não levar o aluno à

compreensão dos procedimentos utilizados. Será que a matemática

“ensinada” na escola corresponde àquela que pode ser utilizada também

em situações comuns da vida cotidiana? Existe a possibilidade de

mudanças na prática educacional para reverter esse quadro de fracasso

que gera tanta angústia em professores e alunos?

Uma possibilidade que se apresenta, e que ainda parece

ser um desafio, é trabalhar os conteúdos essenciais/relevantes em

matemática por meio da estratégia da Resolução de Problemas. Esta se

apresenta como uma alternativa promissora para que o aluno

construa/aproprie-se do conhecimento matemático, mediante

experiências próprias, incorporando algo mais em sua vivência, que

possa servir como ferramenta para transpor dificuldades com

competência.

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A Resolução de Problemas tomada aqui enquanto

aproximação ao “fazer matemático”, encarada numa perspectiva de

compreensão conceitual mais do que mero desenvolvimento mecânico

de ‘habilidades’, pode ajudar o estudante a se converter em aprendiz

independente, intérprete e usuário da matemática. Para cumprir essas

metas, as aulas devem se tornar espaço e contexto em que a

matemática adquira sentido no movimento contínuo de analisar e

compreender, de perceber estruturas e relações estruturais, de

expressar-se oralmente e por escrito com argumentos claros e

coerentes (Buriasco, 2006).

O trabalho, em princípio, apresentará um relato de uma

oficina desenvolvida em uma escola pública paranaense. As

informações nas quais pretendo basear este estudo poderão

compreender: registros em diários de campo ou gravações em áudio de

discussões, reflexões e intervenções, ora da professora-pesquisadora

com um grupo colaborativo de professores que ensina matemática, ora

em sala de aula. A partir dessas informações poderão ser elaboradas

narrativas reflexivas escritas que se constituem tanto no modo de

apresentação, organização e análise de informações, quanto em objeto

de estudo desse trabalho.

9. OS ESTUDOS REALIZADOS

Para entender o real significado ou função que

desempenha a matemática nas atividades do dia a dia é necessária a

participação dos alunos na apropriação/construção de idéias

matemáticas. É fundamental que o professor crie ambiente no qual eles

usem sua capacidade natural e insaciável de explicação e

conhecimento, possibilitando a buscarem informações desejadas,

investigando, superando dificuldades, desenvolvendo assim, a

capacidade humana de transformar a sociedade em que vivem. De

acordo com o Currículo Básico do Estado do Paraná:

[...] aprender matemática é muito mais do que manejar fórmulas, saber fazer contas ou marcar x na resposta

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correta: é interpretar, criar significados, construir seus próprios instrumentos para resolver problemas, estar preparado para perceber estes mesmos problemas, desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade de conceber, projetar e transcender o imediatamente sensível (PARANÁ, 1992, p.66).

Na Resolução de Problemas, enquanto estratégia

metodológica, o professor utiliza tarefas nas quais o aluno é estimulado

a investigar, a explorar, ou seja, é dada ao aluno a oportunidade de

aproximar-se do fazer matemática do mesmo modo que os

matemáticos fazem. Isto porque será primordialmente do aluno a

escolha das direções a seguir, não tendo apenas uma única maneira

correta ou errada de fazer. O aluno aborda o problema da maneira que

lhe parece mais apropriada e com a qual se sente mais à vontade,

podendo desenvolver a imaginação, organização, senso crítico e, tudo

isso, no tempo que seu próprio ritmo define. A satisfação de fazer um

bom trabalho pode se fazer presente no lidar com as situações, não

apenas por acertar em cheio a resposta de algum problema, mas

também por simplesmente sentir que está trabalhando sobre um tema

que lhe pareça importante. Assim é possível lidar com a Matemática de

modo criativo. Pois aprender

[...] matemática não é simplesmente compreender a Matemática já feita, mas ser capaz de fazer investigação de natureza matemática (ao nível adequado a cada grau de ensino). Só assim se pode verdadeiramente perceber o que é a Matemática e a sua utilidade na compreensão do mundo e na intervenção sobre o mundo. Só assim se pode realmente dominar os conhecimentos adquiridos. Só assim se pode ser inundado pela paixão “detetivesca” indispensável á verdadeira fruição da Matemática. Aprender Matemática sem forte intervenção da sua faceta investigativa é como tentar andar de bicicleta vendo os outros andar e recebendo informação sobre como o conseguem. Isso não chega. Para verdadeiramente aprender é preciso montar a bicicleta e andar, fazendo erros e aprendendo com eles (BRAUMANN, 2002,p.5 apud PONTE, 2006, p.19).

Ou então:

[...] o prazer em estudar Matemática é a alegria de resolver um problema, de sorte que, quanto maior a dificuldade na resolução, maior a satisfação (BURIASCO, 1995, p. 17).

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A realização de tarefas de Resolução de Problemas na

sala de aula proporciona o envolvimento dos alunos em processos

relevantes da atividade matemática como a observação, a identificação

de questões, a formulação e teste de conjecturas, a justificação ou

mesmo prova, a argumentação; a reflexão; a avaliação, com momentos

de descoberta, de retrocessos e de avanços, da elaboração de

conjecturas e da procura das suas provas. O aluno desenvolve uma

atitude positiva nas questões matemáticas, por meio de um trabalho

autônomo, com iniciativa, criatividade, espírito explorador.

Na disciplina de Matemática, como em qualquer outra disciplina escolar, o envolvimento ativo do aluno é uma condição fundamental da aprendizagem. O aluno aprende quando mobiliza os seus recursos cognitivos e afetivos com vista a atingir um objetivo. Esse é, precisamente, um dos aspectos fortes das investigações. Ao requerer a participação do aluno na formulação das questões a estudar, essa atividade tende a favorecer o seu envolvimento na aprendizagem(PONTE; BROCADO; OLIVEIRA, 2006, pág. 23).

Resolver um problema é encontrar um caminho onde nenhum outro é conhecido de antemão, encontrar um caminho a partir de uma dificuldade, encontrar um caminho que contorne um obstáculo, para alcançar um fim desejado, mas não alcançável imediatamente, por meios adequados (KRULIK,1997,pág.01).

A estratégia metodológica da Resolução de Problemas

pode ser desenvolvida em todas as partes do currículo, fornece

múltiplos pontos de entrada para os alunos com diferentes níveis de

competência, reforçando as aprendizagens mais elementares. Muitas

vezes, o processo da resolução de um problema pode implicar na

exploração do contexto além do que está posto no enunciado,

acarretando com isso, a formulação de questões alternativas, não raro,

uma atividade de investigação.

O ponto de partida no desenvolvimento de conteúdos é a

colocação de tarefas, numa situação de desafio, de reflexão, de

levantamento de hipóteses, de exercício de criatividade, de discussão e

de enfrentamento na busca de encontrar várias formas de resolvê-la,

cabendo ao aluno decidir a melhor maneira de encontrar o resultado e

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verificá-lo, buscando assim o desenvolvimento do raciocínio e da

consciência crítica, absolutamente necessário para que seja um agente

de mudanças capaz de participar da transformação da sociedade.

Os conteúdos matemáticos devem ter relevância social,

pois propiciam conhecimentos básicos necessários a qualquer

indivíduo.

Mais do que desenvolver a atividade intelectual do

indivíduo, a apropriação de conceitos e procedimentos matemáticos

propicia a leitura de mundo e o pensamento autônomo, o que significa

uma contribuição para o exercício pleno da cidadania e, para que isso

ocorra, é necessário saber contar, calcular, comparar, medir, analisar e

interpretar informações, resolver problemas.

As Diretrizes Curriculares para a Educação Básica da

Rede Pública Estadual coloca que é possível identificar alguns campos

do conhecimento matemático, denominados conteúdos estruturantes,

cuja seleção e abordagem são pontos imprescindíveis (Paraná, 2007).

Entende-se por conteúdos estruturantes os conhecimentos de grande amplitude, conceitos ou práticas que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreensão do objeto de ensino. Constituem-se historicamente e são legitimados nas relações sociais (p.18).

Os conteúdos estruturantes propostos são:

• Números e Álgebra;• Geometria;• Funções;• Tratamento da Informação.

A flexibilidade para o desenvolvimento de um conteúdo

dá possibilidade de tratar os temas de Matemática com mais

autonomia, respeitando ritmos individuais.

Somente o desempenho satisfatório de manter o

equilíbrio entre as necessidades práticas da matemática excedendo o

limite da experiência concreta, estabelece a continuidade entre a

escola e a vida no caminho para a construção de uma autonomia

intelectual.

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Apresentar o conteúdo mais de uma vez, utilizando

diferentes abordagens, integrando-o com outros conteúdos a serem

trabalhados, torna o primeiro um veículo para o desenvolvimento de

várias idéias fundamentais que conduzem o aluno à possibilidade de

raciocínio e ação.

No caso, por exemplo, da Álgebra, seu estudo deve

ocorrer desde as primeiras séries da Educação Básica de modo a dar

oportunidade para os alunos realizarem suas primeiras explorações que

propiciem o desenvolvimento de capacidades para reconhecer

regularidades, estabelecer padrões e fazer generalizações. A ênfase

pode ser colocada em situações significativas para o aluno, nas quais,

por exemplo, as regularidades possam ser percebidas, até porque é

possível desenvolver a idéia de relação, também essencial em

Matemática, por meio de regularidades e do trabalho com padrões

generalizados. É relevante que o processo de desenvolvimento da

álgebra seja um instrumento matemático oriundo do estabelecimento

de padrões e regularidades nas resoluções de problemas em processos

de generalizações, desenvolvidos a partir da geometria e da aritmética

(Viola, 2007).

As interpretações da Álgebra podem ser assim descritas:

Interpretação Função das letras Objetivo Exemplo

Generalização da Aritmética

Fazem parte de modelos que

permitem generalizar

propriedades.

Permite representar, para qualquer número, idéias ou relações que valem para números

específicos.

Complete:Medida do

lado do quadrado

Perímetro

1 4x12 4x23 4x34 4x45 4x5n 4xn

Estudo de procedimentos para resolver

certos problemas

Expressar um valor

desconhecido (incógnitas específicas)

Estabelecer relações matemáticas entre a incógnita e demais dados do problema

Um esquilo encontrou 50 nozes num período de 5 dias. Em cada dia encontrou 3 nozes a mais que no dia anterior. Quantas nozes o esquilo encontrou em cada dia?

(Usando a letra x para representar a quantidade inicial de nozes, temos a equação:

5012963 =++++++++ xxxxx

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Estudo das relações entre quantidades

Expressar variáveis

Descrever aspectos de um objeto ou um

fenômeno, possibilitando a compreensão de seu

funcionamento, ou mesmo dedução de novas propriedades.

Um encanador A cobra por cada serviço feito um valor fixo de R$60,00 mais R$18,00 por hora de trabalho. Um outro encanador B cobra um valor fixo de R$24,00 mais R$36,00 por hora de trabalho. Sendo t o tempo, medido em horas, para quais valores de t o encanador A fica mais barato que o B?Existindo noções de variável independente e variável dependente a relação entre elas pode ser uma função, comona expressão que representa o problema

t3624y{

t1860y{

+=+=

na qual o valor de ydepende de t .

Estudo das estruturas

Símbolos arbitrários de uma estrutura

estabelecida por certas

propriedades.

Ter em mente referenciais(geralmente números reais), quando

utilizar símbolos, e operar com eles sem ter

de voltar a esses referenciais.

Simplifique a expressão )²3(3 ++ xx .

Para resolver essa expressão, calcula-se primeiro ( )²3+x ,

considerando )3( +x um número.

Quadro1: Concepções da Álgebra

FONTE: MORI, Iracema e ONAGA, Dulce Satiko. Matemática: Idéias e Desafios. Manual do Professor, 5ª série, São Paulo: Saraiva, 2006

Uma intenção deste trabalho é proporcionar aos alunos, a

partir de problemas, a busca de regularidades (padrões) e a representá-

las matematicamente, uma vez que na álgebra o foco é estabelecer

procedimentos e relações e expressá-los numa forma simplificada geral

(COXFORD E SHULTE, 1995, pág.24).

10. AS OFICINAS

As oficinas foram desenvolvidas durante 3 sábados assim

distribuídas:

12

• 1º dia: 11/08/2007, das 8h às 12h• 2º dia: 18/08/2007, das 8h às 12h• 3º dia: 25/08/2007, das 8h às 12h

Os 32 alunos participantes dessa oficina são matriculados

regularmente na 5ª série de um colégio da rede estadual de ensino do

município de Londrina.

10.1. O ENCONTRO COM OS ALUNOS

Entrei na sala de aula e aguardei ansiosamente os

alunos. Começaram a chegar, aos poucos, alguns olhares desconfiados,

outros desafiadores, como quem diz “não somos fáceis, vai ter que nos

engolir”. Senti uma sensação estranha. Apesar da experiência no

magistério, algo dizia que dariam trabalho. Quando todos já estavam

sentados em suas carteiras, me apresentei: “sou Nilza, Professora em

um município aqui perto, mas durante três sábados, a partir de hoje,

trabalharei junto com vocês...”. Apontei um aluno e pedi que ele se

apresentasse e escrevesse seu nome no quadro-de-giz e depois disse a

ele que escolhesse um colega, colocasse o nome dele no quadro-de-giz

e fizesse a apresentação. Aquele que foi apresentado escolheu outro e

apresentou, e assim sucessivamente até que todos os nomes estavam

postos no quadro-de-giz. Para promover integração entre alunos formei,

9 grupos, enlaçando os nomes que estavam no quadro-de-giz, de três

em três. Alguns reclamaram, pois gostariam de estar com outros

colegas. Mas disse a eles que eles teriam oportunidade de formar

grupos em outro momento de trabalho. Verifiquei, então, que a turma

era formada por alunos de várias turmas de 5ª série do colégio.

Disseram que estavam ali porque foram convocados para

“Recuperação”. Muita conversa, chamei atenção e pareceu que deu

certo. Para desenvolver atitudes de cooperação negociei com eles as

regras que deveriam ser respeitadas na sala de aula durante o trabalho

nos três sábados. Pedi a eles que me ajudassem nas regras. Senti que

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gostaram da idéia. Então cada grupo foi indicando o que eles achavam

que deveria ser respeitado, fui escrevendo no quadro-de-giz,

respeitando exatamente aquilo que me disseram. Para os grupos é

importante:

• comunicar a professora quando for necessário se levantar da carteira;

• colocar o lixo no cesto;• não comer durante a aula;• respeitar os colegas e a professora;• não brincar durante a aula;• não fazer uso do celular;• não dar risada à toa;• falar em voz baixa quando estiver discutindo as questões do

grupo;• não riscar a parede;• não fazer ‘gracinha’;• não brigar com os colegas;• não sair da sala sem permissão da professora.

Fiquei feliz com a participação de todos, pois percebi que

a partir daí começaram a demonstrar o quanto é possível se

comprometer com o bom andamento da oficina.

10.2. A EXPERIÊNCIA REALIZADA COM OS ALUNOS

1º dia:

PROBLEMA 1

SISTEMA DE TRANSPORTE1

O diagrama abaixo mostra parte do sistema de transporte de uma cidade da Zedelândia, com três linhas de metrô. Ele dá a indicação de onde você está no momento e a indicação do lugar aonde você quer ir.

1 Problema retirado de prova do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, da OECD - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos.

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O preço da passagem é estabelecido em função do número de estações percorridas (sem contar a estação na qual você iniciou a viagem). Cada estação percorrida custa 1 zed.

O tempo de viagem entre duas estações adjacentes é de aproximadamente 2 minutos.

O tempo para mudar de uma linha para outra, na junção, é de aproximadamente 5 minutos.

O diagrama indica a estação em que você está no momento (“origem”) e a estação para onde você quer ir (“Destino”). Marque no diagrama o melhor itinerário em termos de custo e tempo, e indique, abaixo, o preço que você terá que pagar e o tempo aproximado da viagem.Preço: .................................................................................zeds

Tempo aproximado da viagem: .........................................minutos.

Distribuí o problema para cada grupo e dado ao grupo

um tempo para a sua leitura. O desafio é para que tentassem resolver,

cabendo ao grupo a definição da forma como resolveriam o problema.

Não foi dado limite de tempo.

Neste relato, para representar os diálogos são utilizadas

as notações:

15

P ─ Professora

T ─ Turma

G ─ Grupo

A ─ Aluno.

No momento de discussão sobre o problema observo

expressões comuns de ansiedade, expectativa e medo. Alguns ficam à

vontade para falar.

G:- Não estamos entendendo nada, Professora.

Peço que leiam novamente e discutam a forma de chegar

à resposta do problema.

A:- Professora, parece difícil porque eu nunca vi um problema parecido

com esse.

A:- O que é zed?

A:- Zed é a moeda de Zedelândia, né Professora? Mas Zedelândia não

existe, é um local de mentira, então não existe uma moeda zed.

P:- Isso mesmo. Zedelândia é um país fictício (é uma país de faz de

conta), então Zed é uma moeda de faz de conta.

A:- Ahhhh!!!!!

Insisto para que leiam com bastante atenção e observem

a figura do problema. Como não dei dicas pude observar um misto de

olhares desconfiados.

A1:- Já sei Professora, essa figura representa a linha do metrô. É como

se fosse o desenho do trajeto de ônibus que vai até o centro da cidade

de Londrina. A única diferença é que a gente paga um só valor, e no

caso do problema tem que pagar de estação em estação.

P:- Isso mesmo.

A1 é um menino esperto, com um olhar desconfiado e

uma cara de danado. Ao entrar na sala me olhou com indiferença e

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pensei que tinha vindo para “bagunçar”, porém mostrou-se um aluno

extremamente interessado.

A2:- Então Professora, essa estação do problema é como se fosse o

terminal de ônibus. Lá é possível trocar de ônibus.

P:- Gostei da comparação.

Notei que A2 é um menino que já reprovou algumas

vezes, aparenta ter mais idade que os colegas da sala. Aliás, muitos

demonstram já ter repetido alguma série. Notei que ele começou a se

interessar pelo problema e pela discussão em grupo.

Pela minha experiência profissional é possível concluir

que olhares desconfiados e de satisfação permeiam as atitudes dos

alunos. Talvez seja o desconfiar do novo e a satisfação de poderem

falar, discutir, dar opiniões, de serem ouvidos.

Preocupei-me com os alunos a serem atendidos, quem

são e quais dificuldades que eles demonstram, dando ênfase ao

trabalho de atendimento de grupo por grupo, ouvindo, perguntando,

orientando.

Confesso que eles encontraram bastante dificuldade em

entender o problema proposto e muitos não chegaram à resposta

esperada.

Percebi também que os grupos escrevem pouco.

Procuram discutir o problema e dar a solução diretamente. Ainda insisti,

pedindo que fizessem um relato escrito da forma como resolveram o

problema, ou seja, a estratégia e procedimento usado para a resolução

do problema.

Antes da primeira discussão dos resultados no quadro-de-

giz observo o que eles escreveram:

“Nós utilizamos a cabeça para fazer o trabalho do

Sistema de Transporte, o nosso grupo pensou na seguinte forma

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primeiramente olhando a linha de metrô e finalmente conseguimos

chegar ao resultado final do trabalho.”

Insisto novamente perguntando como eles utilizaram a

“cabeça”, o que eles pensaram, mas o que percebo é uma dificuldade

enorme em relatar o que ocorreu.

Outro grupo escreve:

“Nós lemos três vezes para saber o preço de cada

estação e quantos minutos de uma a outra.”

Pergunto a eles que após a leitura qual foi a forma que

eles encontraram para dar o resultado do problema e eles não

conseguem me dar uma explicação.

Outras explicações:

“É que para andar de uma estação para outra precisa

pagar um zed, então contamos da origem até o destino, trocando de

estação da linha B para a linha A, dava 8 zeds e como para ir de uma

estação para outra demora 2 minutos e precisa trocar de estação uma

vez então o tempo gasto é de 21 minutos”

“Nós somamos cada estação por 1 zed e 2 minutos para

chegar ao destino. Então o preço deu 9 zeds e o tempo aproximado de

18 minutos.” Nesse caso o grupo não considerou a mudança de estação

o que implicou em um tempo aquém do gasto.

Após a resolução do problema, para discutir

coletivamente todas as soluções encontradas, pedi que um aluno de

cada um dos 9 grupos escrevesse no quadro-de-giz os passos que

seguiram para resolver o problema e as soluções encontradas.

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Assim sete dos nove grupos foram ao quadro-de-giz, os

outros, ainda que eu tenha insistido não quiseram ir. Respeitei a

decisão deles.

• É de aproximadamente 7 minutos. O preço é de 8 zeds. Tempo

aproximado da viagem 7 minutos.

• O nosso grupo pensou na seguinte forma: olhando a indicação da

estação de metrô e contando os minutos que percorremos, 9 zeds e

26 minutos.

• É que um zed é para fazer a estação de metrô. Para ir de estação

em estação, demora 2 minutos e paga 2 zeds.

• Preço-7 zeds. Tempo aproximado da viagem 40 minutos.

• O preço da viagem era de R$ 1,00 cada zed.

• O preço é de 9 zeds e o tempo 17 minutos.

• Preço 9 zeds e o tempo de viagem aproximadamente 29 minutos.

Eu resolvi o meu problema pagando menos e viajando menos tempo.

Preço: 8 zeds. Tempo aproximado da viagem: 21 minutos.

Pedi que os grupos fossem até o quadro-de-giz para

explicar o que estava posto ali. Apenas alguns grupos se dispuseram a

falar. Não insisti com os outros porque eu tinha como objetivo não

obrigá-los a fazer do meu jeito, mas mostrar o quanto a explicação

deles era necessária. Um dos grupos disse que passou por sete

estações por isso sete zeds. Outro mostra o trajeto que escolheu e

responde vinte e seis minutos e oito zeds. O outro mudou a resposta,

pois perceberam seu erro e colocaram oito zeds e vinte e dois minutos.

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Não falo se os grupos acertaram ou erraram a resolução

do problema, mas percebo a necessidade de discutir o problema com

eles.

P:- Quantas linhas de metrô existem?

G:- São três linhas , Professora.

P:- Então observem com atenção a Origem e o Destino da viagem.

A:- Ah, Professora, é preciso mudar de linha, né?

P:- Claro.

A:- Têm dois trajetos para fazer a viagem.

A:- Não, tem três.

A:- É, mas nos três trajetos precisa mudar duas vezes de estação.

P:- Gostaria que todos prestassem atenção na figura. Vamos fazer o

seguinte: darei mais um tempo para vocês discutirem o problema e

tentarem refazê-lo.

Como um grupo havia colocado R$ 1,00 em vez de 1 zed,

aproveitei para provocar uma discussão sobre o Sistema Monetário. Os

alunos lembraram que, atualmente a unidade monetária brasileira é o

real e as unidades menores, os submúltiplos, são os centavos. Falei que

desde 1942, o Brasil adotou um sistema monetário centesimal, ou seja,

a unidade monetária tem como submúltiplo o centavo, que representa

um centésimo da unidade que é R$1,00. Questionados, os alunos

colocaram que os centavos são representados apenas por moedas e

que existe moeda de R$1,00, mas que também existem cédulas de R$

1,00; R$2,00; R$5,00; R$10,00; R$20,00; R$50,00 e R$100,00.

Perguntei se eles tinham conhecimento de outro tipo de moeda além do

real e eles citaram o dólar, a moeda japonesa (aproveitei para informá-

los que o nome dela é iene), o euro. Sugeri a eles que fizessem uma

pesquisa sobre as moedas de diferentes países.

Questionei os alunos sobre as medidas de tempo e de

comprimento, considerando que elas estavam presentes na tarefa. Eles

demonstraram conhecimento sobre o assunto. Então discutimos sobre a

20

unidade padrão da medida de comprimento, seus múltiplos e

submúltiplos. Foi citado que na figura do problema foi usado o

centímetro como medida, mas que estava representando uma medida

maior que é o quilômetro.

Para incentivar a troca de idéias, foi dada mais uma

oportunidade para que mudassem o que fosse preciso na resolução do

problema. Para isso, os elementos de um grupo puderam se comunicar

com os elementos de outros grupos.

Os grupos discutiram durante algum tempo e refizeram o

problema. Após refazerem o problema, corrigiram o que fizeram no

quadro. Todos corrigiram o preço e colocaram 8 zeds. Alguns chegaram

à conclusão do tempo em pouco mais de vinte minutos. Após a

explicação dada por um aluno, todos perceberam que a junção entre a

Linha B e a Linha C não interferia em mudança de estação se eles

quisessem seguir direto até a linha A para chegar ao destino.

Como alguns alunos falaram que foram somando 1 zed a

cada estação, coloquei no quadro-de-giz:

811111111 =+++++++

P:- Tem jeito de escrever essa soma de forma diferente?

A:- Pode juntar o um mais um, igual a dois quatro vezes, Professora.

A:- Então, nesse caso, pode somar dois mais dois duas vezes?

Continuo colocando no quadro-de-giz conforme eles vão

falando:

844

82222

811111111

=+=+++

=+++++++

Alguém diz:

A:- Pode multiplicar o um por oito que dá o mesmo resultado.

21

Outro aluno complementa:

A:- Ah, então pode multiplicar o dois por quatro e o quatro por dois.

Coloco no quadro-de-giz:

842

824

818

=×=×=×

Pedi que olhassem com bastante atenção e me

dissessem o que era possível observar. Fiquei aguardando um bom

tempo enquanto eles discutiam no grupo. Após esperar e não obter

nenhuma resposta, e considerando que esse era um obstáculo que eles

tinham que transpor para entenderem as outras questões a serem

discutidas, perguntei:

P:- Vocês perceberam que a multiplicação abrevia a soma de parcelas

iguais?

A:- A gente já viu isso com a nossa Professora, agora eu entendi mais

um pouco. Acho que não vou esquecer mais.

Neste caso minha intenção era que o aluno

estabelecesse relações entre a adição e a multiplicação.

O estudo das operações iniciado pela adição seguida da

multiplicação está fundamentada nos argumentos de que a adição está

ligada a idéia de “juntar” e a multiplicação pode ser apresentada como

um adição de parcelas iguais, sendo entendida como uma extensão da

adição.

P:- Vamos pensar mais um pouco. Se eu percorro oito estações eu

multiplico um zed por oito e encontro a resposta que é de oito zeds. O

que posso fazer se forem nove estações?

A:- Multiplica o um por nove.

22

P:- E se forem seis estações?

A: - Multiplica o um por seis.

Continuo perguntando para várias situações, escrevendo

no quadro-de-giz:

zedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszedzedsestaçõeszed

zedestaçãozed

991

881

771

661

551

441

331

221

111

=×=×=×=×=×=×=×=×

P:- E se fossem dez estações?

P:- E se fossem quinze estações?

P:- E se fossem “ene” estações?

Sistematizo, em seguida, aqui a fala de um aluno.

zedseneestaçõesenezed """"1 =×

Escrevo no quadro-de-giz e inicio a discussão sobre o que

é n. Os alunos chegaram à conclusão de que, nesse caso, o n

representa qualquer número de estações.

A observação das representações do mesmo padrão

ajuda os alunos na identificação de suas propriedades. O uso de

símbolos ao generalizar a descrição dessas propriedades, prepara-os

para o uso de incógnitas e variáveis futuramente.

O objetivo de propiciar aos alunos o estabelecimento de

relações entre aritmética e álgebra, desenvolvendo a percepção de

regularidade e a generalização da situação proposta, foi alcançado.

PROBLEMA 2

23

Observe a seqüência de triângulos abaixo:

Quantos ∆ são necessários para formar as figuras que fazem parte dessas posições?

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª6ª 7ª 8ª 9ª 10ª12ª 20ª 35ª 43ª 50ª

Ao entregar a tarefa para o grupo, percebi muito

interesse por parte da maioria dos grupos. Dos 9 grupos apenas 2 não

tinham entendido a tarefa. Pedi que lessem com atenção e

observassem as figuras. Outros grupos começaram a tarefa fazendo os

desenhos da seqüência. Enquanto isso:

G:- Professora, é preciso continuar desenhando?

P:- O grupo deve decidir como fará a tarefa.

Percebi, então, que um grupo conseguiu entender a

tarefa.

Outro continuava sem saber o que fazer.

P:- Observem a seqüência. A primeira figura tem quantos triângulos?

G:- Tem um. E a segunda tem quatro. A terceira tem nove. E como

vamos saber quanto tem a quarta?

P:- Pensem.

G:- Está aumentando triângulos. Mas de que lado?

P:- Observem atentamente. O triângulo tem quantos lados?

G:- Tem três. A gente pode começar desenhando tudo de novo para ver

se a gente consegue ver de que lado o triângulo está aumentando.

P:- Pode. Façam como vocês acharem que vai dar certo.

24

Assim o grupo começou desenhando desde a 1ª figura.

Desenhada a 3ª figura, começou a discussão. Um aluno dizia que

aumentava do lado direito. Outro dizia que aumentava do lado de

‘baixo’. Notei que a minha presença incomodava o grupo durante a

discussão, por isso saí de perto para deixá-los mais à vontade para

discutirem.

Um dos grupos fez até a 7ª figura e um dos membros

disse:

G:- Cansa ficar fazendo esses triângulos.

P:- Mas precisa ficar fazendo tantos triângulos?

G:- Acho que sim. Senão como a gente vai saber quantos triângulos

precisa em todas essas figuras do exercício?

P:- Será que não tem outro jeito de descobrir? Pensem na possibilidade

de resolver de forma mais simples?

G: - A gente vai ter que pensar.

P: - Ótimo.

A partir daí não interferi no encaminhamento que os

grupos estavam dando na resolução da tarefa. Como eles já tinham

uma estratégia de resolução e estavam no processo de busca por meio

de tentativas de encontrar a solução, a minha intervenção seria

desnecessária. Observei que discutiam muito. Pude perceber uma

grande tensão nas discussões, acredito que isso faz parte da

criatividade que carrega sentimentos de ansiedade, confiança,

entusiasmo e frustrações. E por meio disso é possível explorar os

caminhos possíveis para a resolução de problemas.

Terminada a tarefa iniciamos as discussões. Nesse caso,

os grupos concluíram que para encontrar qualquer figura bastava

multiplicar o número por ele mesmo.

Fiquei em dúvida quanto à compreensão dos alunos ao

me dar essa resposta e perguntei:

25

P:- E se fosse a nonagésima figura?

T:- Noventa vezes noventa.

P: - E a septuagésima segunda?

T:- Setenta e duas vezes setenta e dois.

P:- E se fosse n(enésima) figura?

T:- “Ene” vezes “ene”.

P:- E o que quer dizer o “ene”?

T:- A posição de qualquer figura.

Os alunos conseguiram chegar à generalização por meio

da observação da regularidade, por isso quis avançar para ajudar os

alunos a se envolverem com a álgebra.

Retomando a multiplicação, fiz a seguinte pergunta:

P:- É possível representar o cem vezes cem de outro jeito?

T:- Basta multiplicar e dar o resultado.

P:- Muito bem. E se não multiplicar?

A:- Nossa professora ensinou, mas não era com triângulo, era com o

quadrado.

P:- O que você aprendeu?

A:- Aprendi que cem vezes cem é igual a cem ao quadrado.

Coloquei no quadro-de-giz:2100100100 =×

P:- Essa representação cem ao quadrado (apontei no quadro) tem um

nome. Vocês se lembram desse nome?

T:- É potenciação.

Relembramos oralmente a potenciação trabalhando em

exemplos numéricos, levando em conta apenas o fato de que a

potenciação ser um produto de fatores iguais, retomando o papel do

expoente, da base e da potência.

26

Aproveitando que o aluno citou que 2100100100 =× e

considerando os resultados que eles chegaram na resolução da tarefa,

perguntei:

P:- Os resultados que vocês encontraram fazem parte de uma

seqüência. Vamos escrever essa seqüência no quadro-de-giz. Alguém

pode fazer isso?

Um aluno se levantou e escreveu:

1, 4, 9, 16, 25, 36, 49, 64, 81, 100, 225, 400

P:- O que representa cada um desses números?

T:- Representa o resultado de uma multiplicação.

P:- O resultado de uma multiplicação tem nome?

T:- Tem. É produto.

P:- Se eu fizer uma vez um, é um produto e se eu fizer um ao

quadrado?

T:- Aí é potência.

P:- Então se eu for colocando o quadrado dos números naturais a partir

do um eu obtenho a seqüência.

Eles observaram que aí a seqüência não teria fim,

portanto é infinita. Um aluno mostrou que faltavam alguns números

entre 100 e 225 e entre 225 e 400. Pedi que completassem na folha.

Assim que todos terminaram um aluno colocou no

quadro-de-giz o que tinha feito na folha:

27

Figura 1

A:- Professora, então todos esses números são quadrados?

P:- Sim. Então como podemos chamar essa seqüência?

T:- Seqüência dos números que são quadrados.

Continuamos discutindo e os alunos concluíram:

“Seqüência dos Números Quadrados”.

Percebi que conteúdos como potenciação e seqüência

numérica, que eu não havia previsto, estavam presentes na resolução

do problema.

As seqüências de figuras ou de números permitem

perceber padrões e desenvolver a habilidade de generalização.

2º dia:

Relembramos inicialmente o contrato didático. Os grupos

de 3 elementos foram formados respeitando a escolha dos próprios

alunos. Fiquei insegura. Achei que com isso os grupos poderiam

interferir no bom andamento da aula, visto que alguns alunos que

tinham dado trabalho no início da aula do sábado anterior estavam no

mesmo grupo.

Entreguei então como tarefa, a atividade abaixo:

Problema 3

Considere a seqüência de figuras:∆ ∆ο□ ο□

Qual é a figura das posições abaixo?

9ª 11ª 13ª 15ª

29ª 30ª 37ª 100ª

Os grupos leram atentamente o enunciado da tarefa.

Ficaram agitados, mas pude observar que o motivo era o entusiasmo ao

28

resolver o problema. Circulei entre os grupos, aguardando algum

questionamento. Não fizeram. Procurei não interferir.

Terminada a tarefa, negociamos como seria feita a

discussão das soluções encontradas. Os grupos preferiram colocar no

quadro.

Nessa tarefa, apenas um grupo não conseguiu chegar à

resposta correta. Comecei fazendo perguntas para esse grupo.

P:- Como chegaram à nona figura da seqüência?

G:- Contando de três em três. Aí contamos mais 1.

P:- Ótimo. E para saber qual era a trigésima sétima figura?

G:- Fomos somando doze mais doze até chegar perto do número trinta

e sete.

P:- E aí?

G:- O número que deu foi trinta e seis, que é um quadrado, daí

contamos trinta e sete, um triângulo. Ah, não contamos direito porque

colocamos um círculo.

Percebi então que o grupo entendeu a formação da

seqüência e o erro foi apenas distração.

Continuei questionando:

P:- Por que vocês começaram contando de três em três e depois de

doze em doze?

G:- Quando a gente descobriu o décimo segundo elemento que é um

quadrado, vimos que todo doze tinha que dar um quadrado. Então se

todo doze dá um quadrado, por exemplo, o vinte e quatro dá um

quadrado. Aí resolvemos contar de doze em doze. Porque no décimo

terceiro a gente contou o quadrado mais o elemento que vem depois.

Um aluno de outro grupo disse:

A:- O nosso grupo viu que o quadrado cai no número divisível por três.

P:- E o que é número divisível?

A:- Quando divide e não tem resto.

29

P:- E como vocês sabem quais são os números divisíveis por três?

G:- A gente foi vendo na tabuada do três. Chegou no trinta. Aí fomos

contando de três em três, até chegar no cento e dois.

P:- Por que no cento e dois?

G:- Porque a gente precisava do elemento de número cem.

P:- E o que vocês fizeram para saber qual era o elemento de número

cem?

G:- Como a gente foi até o cento e dois que é quadrado, voltamos dois

elementos que dá no triângulo.

P:- E o trigésimo oitavo elemento?

G:- Fomos até o número trinta e nove e voltamos um número que é o

círculo.

P:- Ao ver a tabuada do três e ir contando de três em três, vocês foram

obtendo resultados. Qual é o nome dado a esses resultados da

multiplicação?

A:- O resultado da multiplicação é produto.

P:- Todos esses produtos têm um nome e estão relacionados com o três.

A:- Então é produto de três.

P:- Esse “produto de três” tem um nome.

T:- A gente já viu isso. São múltiplos de três.

Provoquei uma discussão com a turma para que eles

pensassem no que um dos grupos havia feito: Para encontrar a 37ª

figura, “primeiro” chegaram no número 36, contaram mais um para o

37”. Disseram que é porque contaram de 3 em 3 até chegar ao 36 e

depois contaram mais 1 para chegar no 37. Questionei o que era esse

“mais 1”. Disseram que era o que estava faltando. Ficamos um bom

tempo falando a mesma coisa até que um aluno disse que se dividisse

o 37 por 3, dá 12 e sobra 1. Então o 1 era o resto. Para ver se dava

certo, fizeram, no quadro-de-giz, várias divisões e verificaram se o resto

tinha a ver com as figuras:

30

Figura 2

Chegando à seguinte conclusão: se o resto é 1, a figura é

um ∆; se o resto for 2, a figura é um o; então se o resto é 0, a figura é

um □.

As regularidades são importantes para a Matemática e

isso precisa ser “percebido” pelo aluno. Essa tarefa da seqüência de

figuras permite perceber padrões e desenvolver a habilidade de

generalização.

Concluí que os alunos conseguiram desenvolver relações

de grande importância para a percepção de regularidade o que facilitou

a estruturação e a generalização da situação proposta.

O maior destaque dessa atividade, além da percepção de

padrões, foi observar a abordagem de dois conteúdos: múltiplos e

divisores. Ainda que eles já tivessem domínio sobre eles, esse foi um

momento de usá-los com compreensão.

Problema 4

Siga os comandos e preencha o quadro abaixo:

31

Número NúmeroSoma dos números

Diferença dos

números

Soma dos resultados

Diferença dos

resultados

Alguma observação?

Essa atividade foi entregue aos grupos. Falo que não há

necessidade de completar todas as linhas se conseguir chegar a

alguma conclusão antes.

A tabela foi construída com 10 linhas porque com uma

única escolha de números não é possível enxergar alguma relação

entre os números escolhidos e os resultados obtidos e assim fazer a

generalização.

Dou um tempo para que se familiarizem com a tarefa.

G:- Não entendemos.

Outro grupo:

G:- É para completar de acordo com o que está escrito na linha de

cima?

P:- Sim. Observem os comandos.

G:- Que número eu preciso colocar?

Observo então que a questão não está bem formulada.

Em vez de apenas “número”, deveria ter colocado “um número

qualquer”. Então falo:

P:- Nas duas primeiras colunas coloquem um número que vocês

escolherem.

A:- Pode ser três e depois dez, Professora?

P:- Fiquem à vontade. Escolham o número que vocês quiserem.

G:- Na terceira coluna eu somo os dois números que a gente escolheu?

32

P:- Sim.

Fiquei aguardando para que fossem completando a

tabela. Apenas um grupo foi preenchendo uma linha de cada vez.

Nesse caso, o grupo me chama e diz:

G:- Tem que juntar esses dois números (apontam para os números

escolhidos na 1ª e na 2ª coluna). E aqui precisa ver a diferença desses

dois números (novamente apontam para os números). Depois tem que

somar os resultados das duas contas e ver a diferença das duas contas?

P:- Isso mesmo.

Outros grupos preencheram inicialmente as duas

primeiras colunas com os números escolhidos. Fiquei circulando entre

os grupos e notei que um grupo não entendeu o comando da terceira

coluna.

P:- O que é soma?

G:- É o resultado da conta de mais.

P:- O que diz o comando?

G:- Soma dos números. É para somar os dois números que escolhemos?

P:- É sim.

G:- Então a diferença de resultados é fazer a conta de menos com os

dois números?

Continuo circulando pelos grupos.

G:- Professora, aqui não tem jeito de fazer. Como a gente vai tirar sete

de um?

Vejo que há um outro erro no comando da quarta coluna.

Como eles têm idéia apenas dos números naturais seria necessário que

no comando “Diferença dos números” colocasse “Diferença do maior

33

pelo menor número”. Oriento a todos o que deve ser feito em relação a

esse comando. Que sempre tirem o menor número do maior.

G:- Então a gente precisa trocar o um e o sete de lugar.

P:- O que vocês acham?

A:- Acho que precisa porque senão não dá certo.

A:- E se a gente fizer sete menos um não vai ter problema, nem precisa

mudar de posição.

P:- Pensem sobre isso.

G:- Os resultados que estão nos comandos das duas últimas colunas é o

resultado das contas?

P:- É sim.

Certamente se os comandos estivessem mais claros não

haveria muita dúvida por parte dos grupos.

O grupo que foi preenchendo linha por linha me chamou

quando havia terminado a 6ª linha e concluíram:

G:- Professora, a gente já sabe o que acontece. O dobro do primeiro

número é a soma dos resultados e o dobro do segundo número é a

diferença dos resultados.

Nesse caso o grupo havia preenchido a primeira coluna

sempre com um número maior que o número da 2ª coluna. Sugiro

então que não sigam a ordem em que estavam escolhendo os números,

para ver se isso acontecia para o caso do 1º número ser menor que o 2º

número.

Alguns grupos completaram o quadro e não fizeram a

observação. Chamo atenção para isso e aguardo mais um pouco.

Concluída a tarefa por parte de todos os grupos,

iniciamos a discussão.

P:- Alguém tem algo a dizer sobre a tarefa?

34

G:- A gente viu que soma é o dobro do maior número e a diferença é o

dobro do menor número.

Fiquei surpresa com a rápida observação do grupo e

também porque outros grupos chegaram à mesma conclusão. Apenas

um grupo concluiu que somando o número maior com ele mesmo dá a

soma dos resultados e somando o menor número com ele mesmo dá a

diferença.

P:- Dê um exemplo.

G:- Dez mais dez dá vinte e trinta mais trinta dá sessenta.

P:- Expliquem.

G:- Os números que a gente escolheu foi dez e trinta. Somando dá

quarenta e diminuindo dá vinte. Se a gente somar os resultados

quarenta mais vinte dá sessenta e fazer quarenta menos vinte dá vinte.

Então dez mais dez dá vinte e trinta mais trinta dá sessenta.

P:- Tem um jeito diferente de representar dez mais dez e trinta mais

trinta.

G:- Acho que não.

P:- Pensem sobre isso.

Um grupo me chama e um aluno diz:

A:- É aquele negócio de abreviar a soma que a senhora falou outro dia?

A idéia de relação, importantíssimo para a Matemática,

pode ser desenvolvido por meio de regularidades executando

atividades que contemplem padrões generalizados.

A oficina desse dia me deixou muito feliz. A tarefa

pareceu quase que uma brincadeira, pois os alunos participaram

ativamente da resolução. A insegurança que eu tinha no início da aula

sobre a formação dos grupos foi desnecessária. Acho que a aula foi

“legal”, segundo a observação de um aluno, porque eles trabalharam

35

com colegas em que tinham afinidade e assim a discussão fluiu. Com

isso, decidi que no 3º dia de oficina eu não iria interferir na formação

dos grupos porque eles demonstraram o quanto sabem valorizar o

trabalho coletivo e cooperativo, respeitando o trabalho de cada

elemento do seu grupo e também dos outros. Também levei em conta

que, deixá-los à vontade foi a forma para incentivá-los a continuar

demonstrando esse fato.

3º dia

Iniciamos a aula retomando as regras (contrato didático).

Os grupos de 3 alunos foram formados a partir do

interesse deles.

Feito os grupos notei que eles já ficaram aguardando a

distribuição da tarefa.

Entrego o problema e peço que leiam com atenção.

Problema 5

Se quiser construir uma parede de tijolos, cujo comprimento é duas vezes maior que

a sua altura e se, a parede tiver que levar duas unidades de altura, poder-se-á fazer

um número diverso de formas, dependendo do comprimento que se queira:

Existe apenas uma forma de parede com o

comprimento 1, pondo o tijolo em pé.

Existem duas formas de construir uma parede

de comprimento 2. A primeira forma é colocá-

los lateralmente um no topo do outro. A

segunda é colocá-los longitudinalmente junto

um do outro.

Existem três formas de construção para

paredes de comprimento 3.

36

a) Quantas formas diferentes se consegue encontrar para uma parede de

comprimento 4?

b) Quantas formas diferentes se consegue encontrar para uma parede de

comprimento 5?

c) Repare então para o número de formas que encontrou, para uma parede de

comprimento 1, 2, 3, 4 e 5. Será que consegue descobrir alguma coisa que seja

familiar em todos estes casos?

Aguardo a leitura e as primeiras discussões acerca do

problema.

Observo alguma insegurança por parte de alguns grupos.

P:- Entenderam?

G:- Mais ou menos.

P:- O problema está falando sobre o que?

G:- Sobre parede e tijolos.

P:- Leiam novamente com bastante atenção.

Percebo que os alunos estavam querendo saber quantas

eram as possibilidades. Nem tinham começado a fazer(desenhar) e já

queriam a resposta.

A:- Professora, o que é lateralmente e longitudinalmente?

P:- Alguém pode me dizer o que quer dizer essas palavras?

Nenhum grupo ou aluno se manifestou. Pergunto quem

quer ir ao quadro-de-giz. Um aluno se levanta e vai.

P:- Desenhe dois tijolos na mesma posição.

O aluno desenha um tijolo e ao lado mais um tijolo

“deitado”.

37

Figura 3

P:- Desenhe dois tijolos na mesma posição, porém, ele não pode ficar

“deitado”.

O aluno desenha dois tijolos “em pé”.

Figura 4

P:- Agora junte os dois tijolos deitados um sobre o outro. Depois junte

os dois tijolos que estão “em pé” um ao lado do outro.

O aluno desenha. No quadro ficou assim:

Figura 5

P:- Quem pode me dizer quais tijolos estão colocados lateralmente?

Um aluno lembra que lateral no jogo de futebol é ao lado

então deduz que são os tijolos que ficam ao lado do outro.

Nesse caso não disse simplesmente o significado de cada

palavra, porque se o aluno busca caminhos para a compreensão

estabelecendo relações com o que se conhece, desenvolve,

especialmente a autonomia.

Aguardo um bom tempo para que eles discutam o

problema. Alguns alunos ficam só olhando e não conseguem interagir

com os seus respectivos grupos. Parece que a dificuldade foi a

38

interpretação do enunciado, talvez pelo fato de conter palavras

desconhecidas como “lateralmente” e “longitudinalmente”.

Depois de algum tempo, vejo que os grupos começam a

fazer os primeiros desenhos. Feito o primeiro desenho pelos grupos

olhei e verifiquei que estavam encaminhando corretamente. Apenas um

grupo desenhou dois tijolos “em pé” e dois tijolos nos extremos na

forma “triangular”, ou seja, alterando o formato.

P:- Existe tijolo triangular?

G:- Tem sim.

P:- No problema o formato do tijolo é assim?

G:- Não.

P:- Então porque o grupo está alterando o formato do tijolo? O problema

permite essas alterações?

O grupo não respondeu. Apagaram e desenharam

conforme o formato mostrado no enunciado do problema.

Percebi que, ao entenderem o enunciado do problema,

todos ficaram entusiasmados em resolvê-lo. Queriam ir ao quadro para

mostrar o que estavam conseguindo fazer. Pedi que aguardassem.

Assim que todos terminaram o item a, deixei que fossem fazer as

representações no quadro-de-giz.

Como muitos alunos queriam ir ao quadro-de-giz decidi

“sortear” pelo número da chamada quem iria fazer os desenhos.

Sorteado o 1º número o aluno foi até o quadro e fez a primeira

representação, depois foi o 2º, e assim sucessivamente até o 5º aluno.

Então eles mesmos disseram que não havia mais possibilidade.

Figura 6

Deixei-os à vontade fazendo o item b. Quando percebi

que tinham terminado, indaguei:

39

P:- É possível desenhar quantas formas com seis tijolos?G:- Muitas

formas.

P:- Então representem essas formas na folha.

Percebi que eles estavam ansiosos em ver quantas

formas era possível desenhar com 6 tijolos. Novamente os alunos

queriam ir ao quadro mostrar o que tinham feito. Combinamos que um

aluno de cada grupo iria fazer as representações no quadro-de-giz. E se

necessário, sortearíamos mais alunos para desenhar todas as

possibilidades.

E assim eles fizeram:

Figura 7

Terminado a tarefa no quadro-de-giz, orientei para que

fizessem o item c. Aguardei um bom tempo e o alunos não conseguiam

enxergar. Então eu disse:

P:- Vamos organizar esses dados num quadro?

G:- Como assim?

P:- Coloquem os dados que vocês já têm num quadro. Discutam em

grupo como podem fazer isso.

Uma das formas de comunicação matemática é o uso de

quadro para representar as conclusões de um determinado fato.

40

Eles já sabiam o que era um quadro, pois tinham

trabalhado com um na aula anterior.

Circulando entre os grupos, percebi que todos estavam

aproveitando o quadro do enunciado do problema, completando com os

dados que tinham.

Um grupo fez:

Figura 8

Preenchido o quadro não estavam conseguindo descobrir

nada. Eu intervi:

P:- Vocês podem melhorar esse quadro.

G:- Mas não tem mais jeito de fazer nada. A gente já colocou todos os

dados que a gente tinha.

P:- Pensem sobre isso.

41

Um grupo resolveu tirar as figuras e colocar no quadro-

de-giz o número de paredes.

Pedi para que um aluno colocasse no quadro-de-giz a

forma como o grupo preencheu o quadro.

Figura 9

Interpretando o quadro:

P:- Quantas paredes diferentes é possível fazer com um tijolo?

T:- Uma parede.

P:- E com dois tijolos?

T:- Duas paredes.

P:- E com três tijolos?

T:- Três paredes.

P:- Com quatro tijolos, quantas paredes foi possível desenhar?

T:- Cinco paredes.

P:- Quantas paredes vocês desenharam com cinco tijolos?

T:- Oito paredes.

P:- Quantas paredes diferentes vocês desenharam com seis tijolos?

T:- Treze paredes.

P:- O que há de familiar em todos os casos?

42

A1:- Até três tijolos aumenta de um em um, depois na quantidade de

quatro tijolos aumentou dois, depois aumentou três e por último

aumentou seis tijolos.

A2:- Até três tijolos aumentou de um em um, com quatro aumentou 2,

com cinco foi o dobro de quatro e com seis tijolos foi o dobro de seis

mais um.

P:- O que se pode concluir disso?

T:- Não dá para concluir mais nada.

Resolvi apagar a primeira coluna do quadro. Ficou assim:

Paredes1235813

Quadro 2: Número de paredes

Sugeri que a discussão ocorresse com a turma toda.

Ficaram bem animados, até que um aluno concluiu:

8513

538

325

213

112

+=+=+=+=+=

Outro aluno fez a seguinte colocação:

A:- Também pode ser assim:

123

235

358

5813

=−=−=−=−

43

O objetivo desse problema era que eles estabelecessem

relações e chegassem à generalização. Penso que se o tempo fosse

maior eu teria citado Fibonacci e motivando-os a pesquisar sobre quem

foi ele aproveitando a oportunidade de envolver a Matemática com

História. Mas acredito que quando tiverem oportunidade, em algum

momento da vida escolar, de discutirem a Seqüência de Fibonacci com

certeza irão se lembrar da generalização feita em sala de aula, já que a

participação foi bastante ativa. Nenhum aluno ficou fora das

discussões. Todos buscaram a resposta para a proposta, e nenhum

aluno se sentiu diminuído por não conseguir enxergar o que o colega

concluiu, porque todos estavam inseridos no processo de resolução,

portanto o mérito é da turma.

11. AS CONSIDERAÇÕES

Do resultado da Oficina de Resolução de Problemas, pude

verificar, num primeiro momento, alunos inseguros na resolução de

questões matemáticas. Fiquei surpresa em observar que alguns alunos

resistiam em aceitar desafios matemáticos, porém entendi que, para o

problema apresentado eles se preocupavam em aliar a um outro

problema já trabalhado em sala de aula, ou seja, encontrar um modelo

para a resolução do mesmo. Quando supostamente encontravam, não

verificavam os resultados e nem reconheciam quando a resposta não

era adequada à situação.

Então aproveitei esse diagnóstico para estudar os

caminhos percorridos pelos alunos no processo de resolução,

levantando elementos e dentro das possibilidades, corrigindo os

desvios observados.

Problemas diagnosticados Encaminhamento dado para a superação das dificuldades

44

•Individualismo•Procura de um único caminho para a resolução de problemas•Desânimo na primeira dificuldade encontrada•Busca apenas dos resultados•Desvalorização do enunciado como componente importante do problema

•Trabalho em grupo para o favorecimento de troca de idéias e aprendizagem mútua.•Observação da presença da matemática no dia-a-dia levando-os a perceber que existem problemas não rotineiros e que para essas situações os procedimentos matemáticos diferenciados são úteis para compreendê-la.•Incentivo aos alunos, por meio de questionamentos, animando-os a discutir e buscar soluções por meio de diferentes encaminhamentos.•Orientação aos alunos no reconhecimento de seus bloqueios e incentivo na superação dessas dificuldades levando-os a reconhecer a satisfação e o prazer que experimentam quando encontram um caminho para a solução.•Demonstração nas discussões com os grupos o valor dos encaminhamentos de resolução.•Ênfase dada à leitura, seja individual ou coletiva, levantando questionamentos com a turma para que cada aluno entenda a necessidade desse procedimento como uma das fases de resolução do problema.

Quadro 3: Diagnóstico e superação de problemas

Procurei fazer um trabalho em que os alunos foram

encorajados a exprimir suas idéias a respeito das coisas, partindo de

questões simples, idéias que muitas vezes pela minha lógica eram

erradas, porém consegui respeitá-las e com isso os alunos adquiriram

confiança em mim, o que facilitou o trabalho em sala de aula.

Analisando cada passo do aluno na resolução das tarefas,

perguntando como? O quê? Por quê? Para quê? Os alunos percebem a

atitude de curiosidade, de investigação, tornando possível proporcionar

a eles dentro desse contexto, a oportunidade de elaborar um plano de

ação para atingir determinados objetivos.

Todo o trabalho desenvolvido nas Oficinas ocorreu de

forma gradativa, exigindo tempo e paciência. Valeu à pena, pois percebi

o aflorar da criatividade dos alunos, percebendo detalhes, parecendo

sentir uma compulsão natural para encontrar a solução de outros

desafios apresentados.

A liberdade dada aos alunos na comunicação de idéias,

procurando estratégias e procedimentos para resolver problemas,

falando, escrevendo, desenhando, representando, completando ou

construindo tabelas, estabelecendo relações por meio de atividades em

grupos promoveu atitudes como a valorização do trabalho coletivo e a

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troca de experiências na aprendizagem e no desenvolvimento de

habilidades importantes. Além disso, ainda sonho com a aprendizagem

matemática de forma que eu interfira o mínimo possível no que os

alunos sejam capazes de fazer sozinhos, ou seja, que o meu papel seja

o de colaboração, orientação e de incentivo no ensino/aprendizagem da

matemática de forma significativa, buscando desenvolver a autonomia

dos alunos. Assim eles terão oportunidade de aprender importantes

idéias matemáticas a partir de descobertas, mostrando diferentes

talentos, capacidades, sucessos, necessidades e interesses em relação

à matemática, envolvendo-se afetivamente no processo de

investigação usando seu senso criativo, consolidando assim o seu

pensamento, explorando relações, emitindo opiniões com fundamento e

espírito crítico. Para isso, coloco no quadro a seguir alguns pontos que

considero fundamentais para as aulas de matemática na escola.

Nas aulas de matemática é necessário

Para proporcionar

•a promoção de um ambiente que estimule a comunicação de idéias matemáticas e tempo necessário para o cumprimento das tarefas propostas.

•o encorajamento para que os alunos apresentem e defendam suas idéias.

•o desenvolvimento de atividades que requeiram do aluno iniciativa e independência.

•o estímulo à curiosidade dos alunos por meio de tarefas diversificadas.

•o desenvolvimento de ações que promovam ajuda aos alunos a se libertarem do medo de cometer erros, respeitando suas idéias.

•a exposição dos alunos apenas a críticas construtivas.

•a incorporação de conhecimentos essenciais em sua atuação futura no meio social.

•o desenvolvimento da capacidade de argumentação e o estímulo à emissão de opiniões com fundamento e espírito crítico.

•o desenvolvimento da capacidade intelectual do aluno propiciando a leitura de mundo e pensamento autônomo.

•a valorização da Matemática como ferramenta para compreender o mundo à sua volta.

•o desenvolvimento da capacidade de analisar um problema em qualquer contexto que se apresente.

•a autonomia no enfrentamento de problemas no cotidiano buscando por meio de experiências próprias a maneira mais eficiente de se encontrar resultados;

•o desenvolvimento da capacidade de “fazer matemática” por mérito próprio.

•o aumento na auto-estima.

•o desenvolvimento da capacidade de tomar decisões respeitando e discutindo opiniões de outras pessoas, de troca construtiva de idéias

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e cooperação.

•a confiança nas próprias capacidades.

Quadro 4: Alguns pontos fundamentais para as aulas de matemática

na escola.

A participação dos alunos ocorreu de forma dinâmica e

criativa. Alunos que inicialmente me pareceram inseguros na resolução

de tarefas começaram a demonstrar interesse e até iniciativa no

trabalho em grupo. Foi prazeroso observar mudanças no

comportamento e a satisfação de poder discutir questões matemáticas

de forma bastante envolvente. A turma que eu conheci no 1º dia de

oficina, que me causou bastante preocupação pelo comportamento

duvidoso ou pelo desinteresse visível, já não existe mais, percebi no 3º

dia da Oficina uma turma de alunos compromissados e curiosos na

resolução de suas tarefas.

O uso da Resolução de Problemas possibilitou aos alunos

uma aprendizagem de atitudes, considerando que opiniões pessoais se

formaram e as várias estratégias utilizadas pelos alunos para chegar às

soluções de problemas sugeriram apreciações e comparações,

proporcionando uma mudança significativa no cotidiano da sala de

aula.

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O importante foi que os alunos começaram a se

interessar pelo porquê dos fatos, fazendo conjecturas, emitindo

opiniões com fundamento e espírito crítico. Mais do que a satisfação

dos alunos em participar das aulas ativamente está a minha satisfação

enquanto professora atuante há 29 anos em perceber que ainda é

possível mudanças na educação. Portanto, não abdico de meus sonhos

em relação à educação, pois uma vez que, cada dúvida por parte dos

alunos gerou uma aprendizagem nova para mim, pois me forçou a

desenvolver várias estratégias de ação, resolvendo um problema em

conjunto com a turma, trabalhando com discussões de interesse

individual, de pequenos grupos e da turma toda.

12. AS REFERÊNCIAS

BURIASCO, Regina L. C. de. Sobre a Resolução de Problemas (I). NOSSO FAZER, Ano 1, n.º5. Secretaria Municipal de Educação, Londrina, 1995. p. 1.

BURIASCO, Regina L. C. de. Sobre a Resolução de Problemas (II). NOSSO FAZER, Ano 1, n.º6. Secretaria Municipal de Educação, Londrina, 1995. p. 1.

GOLDENBERG, E. Paul. Quatro Funções da Investigação na Aula de Matemática. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/mem/textos/goldenberg.doc> Acesso em: 11 dez 2002.

KRULIK, S.; REYS, R.E. A Resolução de Problemas na Matemática Escolar. São Paulo: Atual, 1997.

MORI, Iracema e ONAGA, Dulce Satiko. Matemática: Idéias e Desafios. Manual do Professor, 5ª série, São Paulo: Saraiva, 2006.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná. Curitiba, SEED,1990.

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PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica. Curitiba, 2006.

PONTE, J. P.; BROCADO, J.; OLIVEIRA, H. Investigações Matemáticas na Sala de Aula. Belo horizonte: Editora Autêntica, 2005.

THE NATIONAL COUNCIL OF TEACHERS OF MATEMATICS. As Idéias da Álgebra/organizadores Arthur F. Coxford, Alberto P. Shulte; traduzido por Hygino H. Domingues. São Paulo, Atual ,1995.

VIOLA DOS SANTOS, João Ricardo. O que alunos da Escola Básica mostram saber por meio de sua produção escrita em matemática. 2007. 114 p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina, p. 31 a 43.

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