4
Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it escola? VAISIMI o borrachudo vai a escola. Esse inseto voa para dentro das salas de aula e freqiienta, com os estudan- tes, 0 recreio, a ginastica, a entrada e a saida das escolas. Nesse contato, as femeas do borrachudo pi- cam as pessoas para chupar 0 sangue, deixando na pele feridas que irritam e coc;;am muito. Como resolver esse problema? Durante muitos anos os 6rgaos de Saude Publica aplicaram inseticidas quimicos nos riachos para ma- tar as larvas de borrachudos. De inicio obtiveram exi- to. Mas, no decorrer do tempo, esses insetos desen- volveram resistencia aos inseticidas, grac;;as a selec;;ao dos que, ana ap6s ano, nascem imunes a esses pro- dutos quimicos. Hoje, a visao mais moderna para enfrentar pra- gas e a do Manejo Integra do. Essa pratica leva em conta nao s6 fatores ecol6gicos, mas tambem sociais, econ6micos, educacionais e outros que possam con- tribuir para 0 controle das pragas. 0 Manejo Integra do pressupoe a reduc;;ao da populac;;ao daninha a um nivel aceitavel e nao sua eliminac;;ao, 0 que alias, seria praticamente impossivel no caso dos borrachudos. Quando algum 6rgao publico ou alguma institui- c;;ao local, como umaFundac;;ao, implanta um progra- ma de manejo, deve contar com uma estrutura que permita nao s6 0 usa correto das tecnicas e dos pro- dutos para controle (biol6gico ou quimico), mas tam- bem 0 acompanhamento de sua eficiencia. A partici- pac;;aoda comunidade nesse programa e fundamental, envolvendo desde 0 financiamento de parte dos cus- tos, ate certas operac;;oes, como aplicac;;oes ou levan- tamentos. Para se obter tal participac;;ao, a populac;;ao envolvida, seja de moradores ou turistas, precisa ser educada. Um dos objetivos deste artigo e mostrar co- mo professores e alunos podem colaborar numa cam- panha de Manejo Integrado de uma especie de inseto de importancia epidemiol6gica. Os trabalhos que temos desenvolvido no Litoral Norte do Estado de Sao Paulo concentram-se mais nos aspectos ecol6gicos e de controle propriamente dito de uma especie de borrachudo, 0 Simulium pertinax. Sao bioensaios de avaliac;;ao de larvicidas quimicos e biol6gicos, bem como 0 !evantamento dos agentes na- turais de controle e seu potencial. Paralelamente a es- Armando Castello Branco Junior Carlos Fernando S. de Andrade Instituto de Biologia - UNICAMP- ses estudos, sabendo-se a importancia que a educa- C;;aoda populac;;ao tem no manejo, foi desenvolvido um projeto de ensino escolar sobre 0 borrachudo. o municipio de Ilhabeia foi escolhido por apre- sentar uma das situac;;oes mais criticas quanta aos borrachudos, alem de possuir uma rede escolar pe- quena e bem distribuida em relaC;;aoao problema. Para desenvolver 0 projeto, decidimos elaborar duas cartilhas. Uma, a nivel das primeiras series do primeiro grau, com linguagem simples e estruturada naforma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre- sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- dantes da 5" a 8 a serie do Primeiro Grau e os alunos do Segundo Grau; esta apresenta 0 assunto de forma mais detalhada, com linguagem e ilustrac;;oes mais tecnicas. (*) As cartilhas sobre 0 borrachudo foram distribui- das, com a ajuda dos professores, a praticamente me- tade da rede escolar do municipio. Houve reunioes com os professores para esclarecimentos sobre 0 projeto e foram apresentadas, em todas as series, pa- lestras e audiovisuais sobre a questao antes da entre- ga das cartilhas aos alunos Assim, 0 borrachudo foi para a escola. Desta vez sob a forma de tema de dis- cussao e nao como um mosquito inc6modo. A receptividade foi muito boa. Diretores e profes- sores foram unanimes em concordar com a importan- cia do problema e apoiar 0 projeto. Os alunos das pri- meiras series mostraram-se mais desinibidos, fize- ram perguntas e ficaram motivados pela possibilidade de uma melhora da situac;;ao. Os alunos das ultimas series, apesar de inicialmente calados, foram aos poucos se desinibindo ao longo das explicac;;oes. No- tou-se que a convivencia com os borrachudos Ihes da- va uma sensac;;ao de ja serem versados sobre 0 as- sunto, 0 que foi se modificando com 0 decorrer das expl icac;;oes. A seguir, reproduzimos 0 texto da cartilha desti- nada aos alunos de quinta serie em diante, pois acre- ditamos que as informac;;oes nela contidas poderao ser uteis aos professores leitores desta Revista. tJ Exemplares de cada cartilha podem ser solicitados aos autores no seguinte enderer;;o: Universidade Estadual de Campinas, Caixa Postal 6109,13081-970, Campinas, SP.

Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it ... · na forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- ... malaria,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it ... · na forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- ... malaria,

Relato de uma exper;enc;a de ens;no

o borrachudovai it escola?

VAISIMIo borrachudo vai a escola. Esse inseto voa para

dentro das salas de aula e freqiienta, com os estudan-tes, 0 recreio, a ginastica, a entrada e a saida dasescolas. Nesse contato, as femeas do borrachudo pi-cam as pessoas para chupar 0 sangue, deixando napele feridas que irritam e coc;;am muito.

Como resolver esse problema?Durante muitos anos os 6rgaos de Saude Publica

aplicaram inseticidas quimicos nos riachos para ma-tar as larvas de borrachudos. De inicio obtiveram exi-to. Mas, no decorrer do tempo, esses insetos desen-volveram resistencia aos inseticidas, grac;;as a selec;;aodos que, ana ap6s ano, nascem imunes a esses pro-dutos quimicos.

Hoje, a visao mais moderna para enfrentar pra-gas e a do Manejo Integra do. Essa pratica leva emconta nao s6 fatores ecol6gicos, mas tambem sociais,econ6micos, educacionais e outros que possam con-tribuir para 0 controle das pragas. 0 Manejo Integra dopressupoe a reduc;;ao da populac;;ao daninha a um nivelaceitavel e nao sua eliminac;;ao, 0 que alias, seriapraticamente impossivel no caso dos borrachudos.

Quando algum 6rgao publico ou alguma institui-c;;ao local, como uma Fundac;;ao, implanta um progra-ma de manejo, deve contar com uma estrutura quepermita nao s6 0 usa correto das tecnicas e dos pro-dutos para controle (biol6gico ou quimico), mas tam-bem 0 acompanhamento de sua eficiencia. A partici-pac;;aoda comunidade nesse programa e fundamental,envolvendo desde 0 financiamento de parte dos cus-tos, ate certas operac;;oes, como aplicac;;oes ou levan-tamentos. Para se obter tal participac;;ao, a populac;;aoenvolvida, seja de moradores ou turistas, precisa sereducada. Um dos objetivos deste artigo e mostrar co-mo professores e alunos podem colaborar numa cam-panha de Manejo Integrado de uma especie de insetode importancia epidemiol6gica.

Os trabalhos que temos desenvolvido no LitoralNorte do Estado de Sao Paulo concentram-se mais nosaspectos ecol6gicos e de controle propriamente ditode uma especie de borrachudo, 0 Simulium pertinax.Sao bioensaios de avaliac;;ao de larvicidas quimicos ebiol6gicos, bem como 0 !evantamento dos agentes na-turais de controle e seu potencial. Paralelamente a es-

Armando Castello Branco JuniorCarlos Fernando S. de Andrade

Instituto de Biologia- UNICAMP-

ses estudos, sabendo-se a importancia que a educa-C;;aoda populac;;ao tem no manejo, foi desenvolvido umprojeto de ensino escolar sobre 0 borrachudo.

o municipio de Ilhabeia foi escolhido por apre-sentar uma das situac;;oes mais criticas quanta aosborrachudos, alem de possuir uma rede escolar pe-quena e bem distribuida em relaC;;aoao problema.

Para desenvolver 0 projeto, decidimos elaborarduas cartilhas. Uma, a nivel das primeiras series doprimeiro grau, com linguagem simples e estruturadana forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu-dantes da 5" a 8a serie do Primeiro Grau e os alunosdo Segundo Grau; esta apresenta 0 assunto de formamais detalhada, com linguagem e ilustrac;;oes maistecnicas. (*)

As cartilhas sobre 0 borrachudo foram distribui-das, com a ajuda dos professores, a praticamente me-tade da rede escolar do municipio. Houve reunioescom os professores para esclarecimentos sobre 0

projeto e foram apresentadas, em todas as series, pa-lestras e audiovisuais sobre a questao antes da entre-ga das cartilhas aos alunos Assim, 0 borrachudo foipara a escola. Desta vez sob a forma de tema de dis-cussao e nao como um mosquito inc6modo.

A receptividade foi muito boa. Diretores e profes-sores foram unanimes em concordar com a importan-cia do problema e apoiar 0 projeto. Os alunos das pri-meiras series mostraram-se mais desinibidos, fize-ram perguntas e ficaram motivados pela possibilidadede uma melhora da situac;;ao. Os alunos das ultimasseries, apesar de inicialmente calados, foram aospoucos se desinibindo ao longo das explicac;;oes. No-tou-se que a convivencia com os borrachudos Ihes da-va uma sensac;;ao de ja serem versados sobre 0 as-sunto, 0 que foi se modificando com 0 decorrer dasexpl icac;;oes.

A seguir, reproduzimos 0 texto da cartilha desti-nada aos alunos de quinta serie em diante, pois acre-ditamos que as informac;;oes nela contidas poderao seruteis aos professores leitores desta Revista.

tJ Exemplares de cada cartilha podem ser solicitados aosautores no seguinte enderer;;o: Universidade Estadual deCampinas, Caixa Postal 6109,13081-970, Campinas, SP.

Page 2: Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it ... · na forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- ... malaria,

Na classificaC;;ao que se faz em Biologia, os borrachudos SaD INSETOS daOrdem OIPTERA (01 = duas, PTEROS = asas) a mesma Ordem das moscas e dospernilongos. Sao tambem da familia SIMULLIOAE.

as borrachudos SaD insetos pequenos, de corescura, pernas curtas, asas largas e aspecto corcun-da. No Norte e Nordeste do Brasil SaD conhecidos co-mo pium.

as borrachudos ocorrem no mundo inteiro, exis-tindo em praticamente todos os lugares onde existeagua corrente suficiente para permitir 0 desenvolvi-mento de suas larvas.

as bi610gos ja identificaram mais de 1.200 espe-cies de borrachudos, cad a uma com a sua ECOLOGIAtfpica. Oesse numero de especies, mais de 26% ocor-rem nos tr6picos.

No litoral do Estado de Sao Paulo, existem cercade 27 especies diferentes e, por sorte nossa, apenasuma especie e que nos incomoda mais. Seu nomecientifico e: Simulium pertinax.

Os borrachudos passam por quatro fases no seu desenvolvimento: ova,LARVA, PUPA e AOULTO. Para isso, fazem como todos os insetos: passam parmetamorfoses, ou seja, transformac;;oes.

as ovos SaD postos pelas femeas em riachos geralmente limpos e enca-choeirados. Elas se agarram em pedras ou folhas da beira do riacho e ai fazemsuas posturas. Cada femea poe entre 400 a 500 ovos, em media, em varias ovipo-sic;;oes, formando uma massa escura de ate um cent/metro.

A fase de ovo dura de 3 a 4 dias. Oentro do ovo, desenvolve-se um embriaa-zinho e dele nasce (eclode) uma pequena larva.

As larvas caem na agua, onde se desenvolvem. Elas tem uma forma cilindri-ca alongada. Possuem no final do corpo um disco com ganchinhos para ajudar ase fixarem nas pedras.

Na regiao do t6rax, possuem um s6 pe, que tem na sua extremidade umapequena ventosa. Pod em caminhar com a ajuda do disco de ganchinhos e do pe,fazendo os movimentos de mede-palmos.

As larvas produzem um fio de seda, como algumas lagartas e as aranhas.Podem, assim, se deslocar por distancias maiores. Prendem 0 fio de seda napedra em que estao, soltam-se e VaG "dando linha", ou melhor, produzindo 0 fio edescendo riacho abaixo. Quando tocam em outra pedra, param de produzir a sedae se fixam pelo disco de ganchinhos.

a corpo das larvas e mole, como 0 de um "bicho de goiaba", mas a cabec;;a emais dura. Na regiao da boca, possuem do is leques, que ficam agitando e trazen-do alimento para a boca. As larvas comem microrganismos, ou seja, bacterias ealgas microsc6picas. Outras especies raspam 0 limo das pedras e algumas co-mem pequenos insetos.

As larvas de S. pertinax SaD filtradoras tipicas de riachos caudalosos elimpos. No entanto, essa especie tambem tem se adaptado a riachos poluidos.Esse fato foi constatado por n6s em riachos do Guaruja, no Estado de Sao Paulo epor outros pesquisadores no Parana, onde riachos poluidos por esgoto ou aguade matadouro apresentavam numeros bastante elevados desse borrachudo.

As larvas vivem debaixo da agua e respiram como os peixes, por meio debranquias. Estas SaD pequenos ramos carnosos que saem da regiao do anus.

Oepois que saem dos ovos, ainda pequenas, crescem trocando de pele (fa-zendo mudas). Passam por esse processo varias vezes, ate atingirem 0 tamanhomais ou menos de um grao de arroz (5 mm). A especie que nos importa, troca depele 9 vezes e leva de uma semana a 10 dias para atingir seu maior tamanho.

Ao final do periodo de cresci mento, a larva constr6i um pequeno casulo comseu fio de seda. 0 casulo tem um formato triangular e e aberto na extremidade.

Page 3: Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it ... · na forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- ... malaria,

Dentro do casulo, a larva se transforma em pupa, fase em que ja se asseme-Iha bastante ao adulto, pois tem cabec;:a, torax e abdomem. Mas nao tem asas.Como esta debaixo d'agua, a pupa respira tambem por branquias, que SaG pe-quenos fios que saem das costas.

Nesta fase de pupa, 0 borrachudo nao se alimenta, e passa pelas transfor-mac;:6es que 0 tornam adulto. Esse periodo leva de 2 a 3 dias. Depois, disso, 0

adulto, sai do casulo para a agua e chega ate a superflcie dentro de uma pequenabolha de ar.

Na natureza, os barrachudos se alimentam denectar de flores e de sucos das frutas. APENAS ASFEMEAS atacam os animais para se alimentarem,pois, para amadurecer seus orgaos reprodutivos, pre-cisam de pequenas quantidades de algumas substan-cias que existem no sangue. Experimentos feitos nolaborat6rio mostram que as femeas que nao se ali-mentam de sangue, nao se reproduzem!!

Diferentes especies de borrachudos se especia-lizaram para sugar 0 sangue de diferentes animais.Assim, algumas especies atacam aves (ate 0 pin-guim!), outras preferem 0 sangue de cavalos, outrasainda atacam 0 gada e assim por diante. Felizmente,um numero muito pequeno de especies se adaptoupara atacar 0 homen.

As picadas dos borrachudos provocam coceiraintensa. Em alguns casos, as picadas infeccionamquando SaG coc;:adas com as unhas sujas, transfor-mando-se em feridas.

Os adultos desses insetos podem viver, em me-dia, cerca de 15 dias e nesse tempo se reproduzem edeixam seus filhotes em um riacho. Portanto, 0 tempode vida de um borrachudo chega a mais ou menos 30dias, pois leva cerca de 15 dias para chegar a faseadulta.

A especie de borrachudo do Sui do Brasil, naotransmite doenc;:as. Na Venezuela, Amazonia e Africa,outras especies transmitem uma doenc;:a causada porum pequeno verme. Essa doenc;:a e chamada oncocer-cose ou cegueira dos rios, pois, no estagio avanc;:ado,causa ceguei ra.

o estudo da ecologia dos borrachudos tem mos-trado que existem muitos inimigos naturais desses in-setos, tanto dos seus ovos, como das larvas e pupas.Esses inimigos naturais alimentam-se do borrachu-do. Por exemplo, peixes que comem larvas; libelulas,aranhas e borrachudos tambem sofrem doenc;:as e po-dem morrer por causa delas. Essas doenc;:as SaG cau-sadas por fungos, protozoarios, vermes e bacterias.

A descoberta de bacterias que causam morte emborrachudos e pernilongos (e s6 neles) permitiu a fa-bricac;:ao de um novo tipo de inseticida: 0 inseticadabiol6gico,semelhanteaos que jasaousados, ha muitosanos, contra as lagartas que atacam as plantac;:6es.

Infelizmente, os inimigos naturais dos borrachu-dos nao conseguem reduzir drasticamente a quantida-de desses insetos. Desse modo, os borrachudos aca-bam por prejudicar 0 trabalho, 0 estudo e 0 lazer daspessoas que com eles convivem.

Para acabar com esse flagelo, tem sido feito 0

controle desses insetos por meio de inseticidas, prin-cipalmente nas fases aquaticas, que SaG mais sensi-veis e ficam concentradas em determinados lugares.Devido ao curto periodo de tempo que 0 borrachudoleva para se desenvolver e reproduzir, as aplicac;:6esde inseticidas SaG feitas a cada 15 dias.

E muito dificil erradicar 0 borrachudo e qualqueresforc;:o nesse sentido s6 se justificaria se a especiefosse transmissora de doenc;:as graves, como aconte-ce com os mosquitos transmissores da febre amarela,malaria, etc. Quando naoe esse 0 caso, 0 ideal e im-plantar um programa de manejo em que as popula-c;:6esda especie daninha SaG reduzidas a um nivel su-portavel. Para se definir que nivel e esse, e necessariofazer um levantamento entre as pessoas atingidas pa-ra saber, por exemplo, quantas picadas suportam pordia. Nesses programas, tambem e importante esclare-cer as pessoas para que elas possam entender 0 pro-blema que as aflige.

Page 4: Relato de uma exper;enc;a de ens;no o borrachudo vai it ... · na forma de hist6ria em quadrinhos. Outra, que apre-sentamos neste artigo, foi elaborada visando os estu- ... malaria,

Relato de uma experiencia de ensinocomo suporte ao manejo integrado de pragas

PARTICIPA<;AO DA POPULA<;AO E AVALlA<;AO DO PROJETO

Todo bom estrategista sabe que e fundamental conhecer bem 0 inimigo.Nessa etapa do Manejo Integrado, 0 professor tem um papel primordial, sejaesclarecendo aspectos do "problema borrachudo" ou ajudando nos levantamen-tos epidemiol6gicos entre os escolares.

Na cartilha para os alunos de quinta serie em diante, colocamos, na ultimapcigina, um questionario cujo objetivo e ajudar na avaliac;;ao do projeto e na defi-nic;;aodos objetivos do controle, ao menos para esse segmento da sociedade.

Os questionarios foram preenchidos em sala de aula e enviados a n6s pelosprofessores.

o retorno dos questionarios, da ordem de 30 a 50%, dependendo da escola,foi menor do que 0 esperado. Deve-se considerar, no entanto, que 0 projeto foidesenvolvido nos ultimos dias letivos do segundo semestre.

Dos questioncirios recebidos, as questoes mais pertinentes em termos demanejo propriamente dito sac as que seguem. A partir delas pode-se ter umaideia da extensao do problema e um parametro para a definic;;ao do nivel desejadode contrale.

Obtivemos respostas variando entre 4 e 200000picadas. A grande maioria dos estudantes (87,2%)respondeu que recebia de 10 a 50 picadas por dia.Deve-se considerar que esse panorama e estimativo eque certamente seus extremos se devem a respostas

emotivas. E possivel ainda que, devido ao hcibito ad-quirido pela convivencia constante com esses insetospicadores, as medias estejam substimadas. As crian-c;;asmuitas vezes nem percebem mais algumas pica-das.

Uma vez informados que ha possibilidades deenfrentar 0 problema e controlar os borrachudos, essaquestao deveria refletir que nivel de picadas os estu-dantes tolerariam. Verificou-se, com surpresa, quemesmo depois de informados, alguns alunos (3,5%)aceitariam ate 100 picadas por dia.

De qualquer forma, observou-se que enquanto20,6% dos alunos haviam declarado levar menos de10 picadas por dia, agora uma maioria (50,8%) dese-java exatamente esse nivel. Nossa experiencia temdemonstrado que esta seria uma faixa bastante razoa-

vel a ser atingida no inicio de um bom programa decontra Ie.

Deve-se considerar ainda que a filosofia do ma-nejo envolve um processo educativo tambem nos ou-tros segmentos da sociedade que, em levantamentoscomo esse, iraQ declarar seus niveis aceitaveis de pi-cadas por dia. Se 0 processo educativo nao for bemfeito, 0 segmento "turistas", por exemplo, base eco-namica da regiao, pode assumir que deseja zero pica-das por dia, 0 que sabemos ser impraticavel.

As respostas confirmam a premissa de que 0

borrachudo, ao frequentar a escola, prejudica 0 rend i-mento dos alunos. Uma maioria (68,5%) dos estudan-tes declarou que esse incamodo inseto atrapalha osestudos.

Como foi mencionado, embora nao nos concen-tremos nessa area de ensino, e bastante clara a sua

relevancia e 0 apoio que os professores podem daraos programas de manejo desse tipo, podendo vir aser uma especializac;;ao para profissionais de ensino.

o borrachudo prejudica 0 estudo. No entanto, 0

seu estudo pode criar condic;;oes para uma melhoriado nivel de vida nas regioes infestadas.