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Relato professora rosemeri krumenaur

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Page 1: Relato professora rosemeri krumenaur

Leitura & escrita: construindo palavras e conceitos

Durante muitos anos desenvolvi projetos

voltados para a área de literatura, com os quais pude

constatar que a leitura é um mundo sem limites, e que

os alunos são protagonistas dessa história, revelando

talentos e habilidades que em meio a tantas tarefas e

rotinas de sala de aula, ficam no anonimato. No entanto

eu sentia necessidade de ir além e fazer com que eles descobrissem que a

escrita é parte integrante e fundamental desse processo de aprendizagem.

Quando comuniquei aos alunos que estávamos participando da

Olimpíada de Língua Portuguesa, percebi certa insegurança, talvez por

pensarem não ser possível produzir textos tão bem elaborados, como se exige

no concurso. Alguns até comentaram que viram na televisão os ganhadores da

última edição da Olimpíada, lendo suas produções, mas ter um texto

selecionado em nossa escola, para eles parecia algo muito distante. Além do

fato de morarmos em uma região do país que para muitos, não há educação de

qualidade, ou que isso só é possível vindo de escolas particulares. No entanto,

sempre acreditei no potencial dos meus alunos, e a cada atividade desenvolvida

percebia a vontade que sentiam em expor suas ideias e aprimorar suas

produções. Então começariam os primeiros artigos de opinião.

Um dos problemas enfrentados foi o fato de que a maioria dos alunos não

tinha o hábito de ler jornais ou revistas, muitos relatavam que também não

tinham paciência para assistir ao um telejornal. Em conjunto com as professoras

de língua portuguesa da escola, elaboramos um projeto e implantamos uma sala

de leitura. Local agradável e apropriado, frequentado pelos alunos para leituras

específicas, conforme o planejamento de cada professor. Durante as oficinas os

alunos tiveram contato com textos variados, sendo reportagens de revistas,

jornais e artigos de opinião. Percebi neles um amadurecimento e a consciência

de que a leitura é imprescindível para a construção do conhecimento, e

consequentemente, a qualidade de suas produções escritas estaria vinculada à

prática da leitura.

Além da coletânea de textos propostos, outros textos interessantes

também foram lidos e discutidos em sala de aula durante as oficinas, a exemplo

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dos artigos de opinião sobre a redução da maioridade penal e o sistema de

cotas nas universidades. Ambos os textos geraram muita polêmica e dividiram

opiniões. Mas observei que os alunos já possuíam argumentações mais

fundamentadas e não apenas a exposição de seu ponto de vista sobre os

assuntos apresentados. Em conjunto com as discussões dos temas principais,

também foram abordadas questões relacionadas à Educação pública e privada,

política, estrutura familiar e o sistema penitenciário do Brasil.

Durante a realização das oficinas abordamos vários aspectos relativos à

nossa cidade, mas quando trabalhamos o texto “Corrupção cultural ou

organizada?”, o qual a leitura foi acompanhada pelo áudio, percebi uma

mudança de comportamento nos alunos, pois todos ficaram bem atentos,

acredito que pela intensidade da narração e o efeito que ela causou ao texto.

Após a leitura, os mesmos sentiram certa indignação pelo fato de nos

preocuparmos mais com as microcorrupções “culturais”, as quais nos fazem

esquecer a grande corrupção. Dessa forma surgiu um interessante debate em

que foram apresentados exemplos de corrupção, não somente no que diz

respeito à nossa cidade, como também ao cenário nacional. Tal discussão

proporcionou a socialização de informações, assim como o aprimoramento do

senso crítico dos alunos, os quais queriam provar a todo custo que sua opinião

era a mais convincente. Senti nesse momento que poderiam construir

argumentos bem fundamentados.

Uma atividade que considerei bem significativa foi o estudo do texto “O

lugar onde eu vivo” (página 134 do Caderno do Professor). Seguindo as

orientações para execução dessa etapa, os alunos foram percebendo as

inadequações do texto e identificando facilmente as falhas na construção do

mesmo. O que ficou mais evidente quando comparado ao texto reformulado.

Os alunos já estavam adaptados a produzir textos do tipo dissertativo-

argumentativo, mas com o artigo de opinião perceberam a necessidade de

buscar elementos mais estruturados para fundamentar o texto. Identificar a

questão polêmica foi mais fácil após os debates e as atividades em grupo, pois

puderam observar aspectos relevantes de nossa cidade, principalmente no que

diz respeito à violência e ao trânsito caótico, que infelizmente fazem muitas

vítimas a cada ano, Então, seria necessário ter uma visão mais critica do

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assunto, pois essas questões de causa e consequência já não passariam

despercebidas no dia a dia.

O processo de reescrita dos textos, foi um pouco mais difícil, pois os

alunos tiveram que rever além dos aspectos linguísticos e estruturais habituais,

certas afirmações e generalizações utilizadas como sendo verdades absolutas,

em relação aos problemas encontrados em nossa cidade, tais como: violência,

trânsito, infraestrutura urbana, saneamento básico, economia e corrupção. Outra

dificuldade encontrada por alguns foi a de formular os contra-argumentos, mas

no decorrer das atividades naturalmente foi suprida.

Como forma de agradecimento a todos os alunos que participaram das

oficinas, solicitei à rede de televisão local, uma entrevista com nossa aluna

semifinalista e seus colegas de classe. Foi um momento muito especial, pois

eles entenderam que não estava sendo celebrado apenas o mérito da Giulia

pela sua classificação, mas principalmente a experiência que cada um obteve

durante a realização desse projeto. Recentemente recebi dessa mesma turma

uma homenagem em que os alunos escreveram: “Professora! Obrigado por

fazer do aprendizado não só um trabalho, mas um contentamento. Por fazer com

que nos sentíssemos pessoas de valor; por nos ajudar a descobrir o que fazer

de melhor e, assim, fazê-lo cada vez melhor. Por resolver o que achávamos

complicado. Obrigado por nos convencer de que éramos melhores do que

suspeitávamos.” Assim percebi que mesmo diante de tantas adversidades,

tantas diferenças, toda a experiência vale a pena e nos traz um grande

aprendizado que será útil para toda nossa vida.

As expectativas são grandes quanto à participação na Oficina Regional da

Olimpíada, sabemos que será um momento muito especial, não só pela troca de

experiências e aprimoramento, mas também pelo fato de termos acreditado

nesse sonho, pois chegarmos à etapa semifinal, já é um prêmio! É o

reconhecimento de um trabalho de muito esforço e dedicação. Escrever não é

uma tarefa fácil. “Torce, aprimora, alteia, lima”. Enfim, estamos diante de mais

um desafio: a classificação para a etapa final. Um momento de extrema

importância para nós, pois sabemos que há muitas pessoas que estão torcendo

e acreditando que isso será possível.