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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE MEDICINA TUTORIA 02 SAÚDE DO ADULTO-II DISCENTES: Aline Ávilla Camila Gonzaga (Coordenadora) Igor Cardoso (Secretário) Letícia Possamai Michelle Martins Vanessa de Freitas TUTORA: Angeline Crivelatti CUIABÁ FEVEREIRO/2013

Relatório 02-Cefaléia

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Page 1: Relatório 02-Cefaléia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE MEDICINA

TUTORIA 02 – SAÚDE DO ADULTO-II

DISCENTES:

Aline Ávilla

Camila Gonzaga (Coordenadora)

Igor Cardoso (Secretário)

Letícia Possamai

Michelle Martins

Vanessa de Freitas

TUTORA:

Angeline Crivelatti

CUIABÁ – FEVEREIRO/2013

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Problema II

Cefaleia:

Rainha Noar procura UBS com queixa de cefaleia hemicraniana, pulsátil, associada à

náuseas e escotomas cintilantes, episódica, que surge após ingesta de determinados alimentos e/ou

bebidas. Vem para realizar exames e tratamento.

1. TERMOS DESCONHECIDOS: ausente.

2. PERGUNTAS:

2.1- Qual a relação entre os sintomas apresentados?

2.2- Qual a relação dos sintomas com a dieta alimentar?

2.3- Qual a etiologia da cefaleia?

2.4- Como realizar o diagnóstico diferencial de cefaleia?

3. HIPÓTESES

(Não há)

4. OBJETIVOS:

4.1- Determinar a etiologia da cefaleia.

4.2- Conhecer o diagnóstico diferencial da cefaleia.

5. DISCUSSÃO

A discussão foi norteada pela Sociedade Brasileira de Cefaleia, que divide as cefaleias em

dois grandes grupos. O primeiro compreende as cefaleias primárias, aquelas que constituem em si

mesmas a doença. O exemplo clássico é a migrânea sem aura, anteriormente denominada

enxaqueca comum, e que atinge aproximadamente 16% das mulheres (para ver detalhes, clique em

migrânea). O segundo grupo é formado pelas cefaleias secundárias, que fazem parte do cortejo

sintomatológico de uma doença qualquer, seja esta primária do sistema nervoso central ou sistêmica.

5.1. CEFALÉIAS PRIMÁRIAS

5.1.1. ENXAQUECA

Enxaqueca é uma doença neurovascular que se caracteriza por crises repetidas de dor de

cabeça que podem ocorrer com uma frequência bastante variável: enquanto alguns pacientes

apresentam poucas crises durante toda a vida, outros relatam diversos episódios a cada mês. Uma

crise típica de enxaqueca é reconhecida pela dor que envolve metade da cabeça, piora com qualquer

atividade física e está frequentemente associada à náusea, vômitos e desconforto com a exposição à

luz e sons altos, podendo durar até 72 h. Um conjunto de sintomas neurológicos, conhecido pelo

nome de aura, costuma acompanhar o quadro de dor. Portanto, não se trata de uma simples dor de

cabeça. Nem sempre o paciente apresenta todos os sintomas típicos de enxaqueca. Entretanto, o

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médico é capaz de reconhecer a enxaqueca pelo quadro clínico. De qualquer forma, a avaliação

médica é fundamental para excluir outras causas de dor de cabeça antes de dar início ao tratamento.

A cefaleia pode ser acompanhada de aura, que é o nome que se dá ao conjunto de sintomas

neurológicos que, nas crises de enxaqueca, se apresentam geralmente um pouco antes da dor de

cabeça. A aura visual é a mais comum. Pode se apresentar como flashes de luz, como falhas no

campo visual ou imagens brilhantes em zigue-zague. Outros sintomas neurológicos são mais raros.

Os fatores desencadeantes para a cefaleia são:

estresse;

sono prolongado;

jejum;

traumas cranianos;

ingestão de certos alimentos como chocolate, laranja, comidas gordurosas e lácteas;

privação da cafeína, nos indivíduos que consomem grandes quantidades de café durante a semana e

não repetem a ingestão durante o fim de semana; uso de medicamentos vasodilatadores;

exposição a ruídos altos, odores fortes ou temperaturas elevadas;

mudanças súbitas da pressão atmosférica, como as experimentadas nos voos em grandes altitudes;

alterações climáticas; exercícios intensos;

queda dos níveis hormonais que ocorre antes da menstruação.

5.1.2.CEFALÉIA DO TIPO TENSIONAL

Dentre as cefaleias primárias, a cefaleia do tipo tensional, em sua forma episódica, é a mais

frequente. Possui elevada prevalência no sexo feminino. Considera-se atualmente cefaleia do tipo

tensional episódica (CTTE) e cefaleia do tipo tensional crônica (CTTC). Algumas vezes, a CTTE

evolui para a forma crônica, mas, outras vezes, o quadro é contínuo desde o seu início. Uma única

etiologia e uma única fisiopatogenia não podem explicar a cefaleia do tipo tensional, que é complexa,

envolvendo diversos fatores e vários aspectos dos mecanismos geradores da dor. A associação entre

cefaleia do tipo tensional e ansiedade e/ou depressão é sugerida por diversos trabalhos. Alterações

emocionais, estresse psicossocial, tensão, ansiedade e depressão, são encontrados com frequência

nos pacientes que procuram o médico devido ao agravamento da cefaleia.

O diagnóstico é clínico e geralmente não requer exames complementares. O exame

neurológico é normal. A palpação dos músculos pericranianos deve ser feita rotineiramente. É

fundamental obter história clínica detalhada das características da cefaleia, seu tipo, intensidade,

localização, duração, periodicidade e etc. Em geral, os pacientes descrevem a dor

como uma sensação de aperto, pressão ou peso envolvendo a cabeça como uma faixa ou capacete.

A localização é bilateral, sendo a região occipital predominante, mas também as regiões frontal e

apical. De intensidade leve ou moderada não impedindo as atividades rotineiras diárias. Não raro

essa dor melhora com atividade física ou relaxamento. Normalmente não há sintomas associados

como náusea e osmofobia e vômito não acompanha essa dor.·.

Critérios diagnósticos de cefaleia do tipo tensional episódica:

1. Pelo menos dez episódios prévios preenchendo os critérios

2. Número de dias com cefaleia <180/ano (<15/mês).

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3. Cefaleia durando de 30 minutos a sete dias.

4. Pelo menos duas das seguintes características da dor:

Caráter de pressão/ aperto (não pulsátil);

Intensidade de fraca a moderada (pode inibir, mas não impedir as atividades);

Localização bilateral;

Não é agravada pelos esforços físicos de rotina como caminhar ou subir escadas

No que diz respeito ao diagnóstico diferencial o mais difícil é entre a migrânea sem aura e a

cefaleia do tipo tensional episódica. Com relação à localização, na migrânea predominam as dores

unilaterais, porém localizadas, mais frequentemente nas regiões frontal ou frontotemporal ou

apresentando distribuição hemicraniana. Num número substancial de pacientes a dor é localizada

bilateral predominando, também, a topografia frontal ou frontotemporal bilateral. Pode ser ainda

holocraniana. Na cefaleia do tipo tensional há uma predominância absoluta de dores bilaterais

localizadas ou difusas, mas em pequeno número de pacientes podemos evidenciar dores unilaterais.

As diferenças essenciais entre a cefaleia do tipo tensional crônica e a migrânea são a

ausência de uma história prévia de migrânea episódica e a ausência de exacerbações bem definidas

com características migranosas como unilateralidade predominante, qualidade pulsátil da dor, náusea

intensa e vômitos.

5.1.3. CEFALÉIA EM SALVAS

A cefaléia em salvas é responsável por 6% do total de casos de dor de cabeça. É mais

comum em homens, numa razão em torno de 3:1 e pode iniciar-se em qualquer idade, sendo mais

comum o início na segunda ou terceira décadas de vida. Ela é caracterizada por dor intensa,

unilateral, geralmente em torno da órbita, durando de 15 a 180 minutos, se não tratada. Pode ser

acompanhada de vermelhidão no olho, lacrimejamento, congestão nasal e queda da pálpebra do

mesmo lado da dor. O paciente refere sensação de inquietude ou agitação durante a crise. As crises

têm uma frequência de uma a cada dois dias a oito por dia. É caracterizada pela ritmicidade e por ser

frequentemente noturna, acordando o paciente no meio da noite. Acredita-se que esta dor

tenha sua origem no hipotálamo, estrutura cerebral responsável por alguns mecanismos muito

importantes para a regulação do corpo humano, incluindo controle temperatura, da regulação

hormonal e do sono.

5.2. OUTRAS CEFALÉIAS PRIMÁRIAS

1. Cefaleia primária em facada:

São cefaleias de curta duração (03 segundos ou menos), em pontadas, não estão associadas à

doenças orgânicas e são encontradas com muita frequência em pacientes portadores de

Migrânea (40%) ou Cefaleia em salvas (30%).

2. Cefaleia primária da tosse:

São cefaleias desencadeadas pela tosse ou esforço abdominal, são usualmente bilaterais e

ocorrem predominantemente após os 40 anos de idade. Em cerca de 40% dos pacientes que

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sofrem de cefaleia relacionada a tosse encontramos patologias associadas e é importante

nestes casos a avaliação com exames de imagem (Ex. Tomografia computadorizada do crânio)

3. Cefaleia primária do esforço físico:

São cefaleias precipitadas por qualquer forma de esforço físico e ocorrem predominantemente

em clima quente ou em altitude elevada.

4. Cefaleia primária associada à atividade sexual:

Cefaleias desencadeadas por atividade sexual, começando geralmente como uma dor bilateral

em peso enquanto a excitação sexual aumenta e subitamente tornando-se intensa no orgasmo.

Ela pode ser pré-orgástica (antes do orgasmo) ou orgástica (durante o orgasmo).

5. Cefaleia hípnica:

Crises de cefaleia que sempre acordam o paciente, antigamente chamada de cefaleia do

despertador. Ocorrem normalmente pela primeira vez após os 50 anos de idade.

6. Cefaleia trovoada primária:

Os pacientes descrevem normalmente esta cefaleia como se fosse um raio partindo sua

cabeça ao meio, daí o seu nome. É importante neste caso afastar a ruptura de aneurisma

intracraniano com exames apropriados.

7. Hemicrania contínua:

São cefaleias que ocorrem sempre do mesmo lado da cabeça, diárias e contínuas, sem

intervalos livres de dor.

8. Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI):

Este tipo de cefaleia apresenta quadro muito semelhante com a Cefaleia do tipo tensional,

porém, pode não ter melhora desde o momento em que surge ou evoluir muito rapidamente para

uma dor contínua e sem melhora. É interessante que os pacientes lembram claramente o dia

que ela começou.

5.3. CEFALÉIAS SECUNDÁRIAS

Embora as dores de cabeça na sua grande maioria sejam primárias, o risco representado por

algumas cefaleias secundárias justifica a preocupação de pacientes e médicos. Um dos mais

importantes estudos populacionais sobre dor de cabeça revelou que as cefaleias secundárias mais

frequentes foram as associadas à ressaca alcoólica e a processos febris comuns como as infecções

das vias aéreas superiores (rino-sinusites, faringites, amigdalites, etc.). Entre as patologias graves

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que determinam cefaleia secundária, incluem-se as hemorragias cerebro-meníngeas, as meningites,

os tumores cerebrais e os hematomas intracranianos.

As cefaleias podem ser referidas como:

1. dor for de instalação súbita, principalmente se acompanhada a vômitos, tonturas, alterações da

consciência, convulsão;

2. dor se associa a transtornos neurológicos, como rigidez de nuca, dificuldades para falar,

fraqueza ou alterações de sensibilidade em braço, perna ou face; a dor se associa à febre; trata-

se da “pior dor já experimentada pelo paciente”;

3. dor se iniciou após os 50 anos;

4. dor tem caráter progressivo, não respondendo mais a analgésicos; houver aparecimento de

uma dor de cabeça nova e diferente daquela já experimentada pelo paciente.

As cefaleias secundárias podem ser desencadeadas ainda quando:

1. O paciente faz tratamento de algum tipo câncer ou de síndrome de imunodeficiência adquirida

(SIDA);

2. há história de queda ou trauma de crânio recente;

3. quando houver abuso de analgésicos, mesmo naqueles pacientes sabidamente portadores de

cefaleia primária (uso de mais de 15 comprimidos de analgésicos por mês, nos últimos seis meses).

O uso abusivo de analgésicos é a causa mais comum da transformação de dores esporádicas (tipo

migrânea) em cefaleia crônica diária. Esta é uma cefaleia secundária de tratamento extremamente

difícil, que requer a suspensão de todo e qualquer medicamento sintomático (analgésico, anti-

inflamatório) além de orientação por profissional com experiência em cefaliatria.

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6. MAPA

Para fins didáticos,reproduzimos esse quadro de diagnóstico diferencial das

cefaléias,segundo(PORTO,2009).

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7. REFERÊNCIAS

-AUSIELLO, D., GOLDMAN, L. Cecil medicina interna. 23ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009;

-BRAUNWALD, E. et al. Medicina interna de Harrison. 18ª Edição. Rio de Janeiro: Artmed, 2013;

-MARIO LOPEZ & J. LAURENTYS-MEDEIROS. Semiologia Médica: as Bases do Diagnóstico

Clínico. 5ª ed. Revinter, 2004.

-OLIVEIRA MF & SPECIALI JG. Cefaleia crônica diária: Conceitos e tratamentos. Medicina,

Ribeirão Preto, 35: 455-463, out./dez. 2002.

-PORTO, C.C. Semiologia Médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

-ROCCO, JOSÉ RODOLFO. Semiologia Médica. Elsevier, 1ª ed. Rio de Janeiro, 2010.

- SPECIALI JG. Classificação das cefaleias. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 421-427, out./dez. 1997

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