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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES E EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS ITCPES/ICSA GRUPO DE PESQUISA TRABALHO E DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais no Estado do Pará BELÉM-PA 2011

Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

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Page 1: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS

POPULARES E EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS – ITCPES/ICSA

GRUPO DE PESQUISA TRABALHO E DESENVOLVIMENTO DA

AMAZÔNIA

Relatório Analítico

TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos

Territórios Rurais no Estado do Pará

BELÉM-PA

2011

Page 2: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS

POPULARES E EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS – ITCPES/ICSA

DIRETÓRIO DE PESQUISA TRABALHO E DESENVOLVIMENTO DA

AMAZÔNIA

Equipe de Pesquisa e Extensão

do Território Nordeste Paraense

Maria José de Souza Barbosa

Coordenadora Geral do projeto

Adebaro Alves dos Reis

Wanderlino Demetrio Castro de Andrade

Professores Colaboradores

Alanne Barbosa Maciel

Técnica da Célula de Acompanhamento e Informação

Valéria Farias de Almeida

William Costa Silva

Apoio Técnico da Célula de Acompanhamento e Informação

Géssica Rafaela Guimarães Nunes

Wilk Cardoso Cruz

Bolsistas de Iniciação Científica CNPq

Page 3: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

3

SUMÁRIO

Apresentação .................................................................................................................. 4

1. Território Nordeste Paraense ..................................................................................... 8

1.1 História e Demografia .............................................................................................. 8

1.2 Infraestrutura, Economia e Estrutura Fundiária ..................................................... 13

1.3 Situação Fundiária e Ambiental ............................................................................. 17

1.4 Político-Institucional .............................................................................................. 19

1.5 Cultura .................................................................................................................... 20

2. Identidade ................................................................................................................. 21

3. Capacidades Institucionais ....................................................................................... 30

4. Gestão do Colegiado ................................................................................................ 32

5. Avaliação de Projetos .............................................................................................. 44

6. Índice de Condições de Vida – ICV ........................................................................ 45

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto ....................................................... 52

8. Pospostas e Ações para o Território ......................................................................... 62

Referências Bibliográficas ............................................................................................ 64

ANEXO: Validação de Instrumentos e Procedimentos ................................................ 65

Page 4: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

4

APRESENTAÇÃO

O presente relatório traz uma análise das atividades de pesquisa e extensão com

foco nos processos demandados pela implantação da Célula de Acompanhamento e

Informação, tendo em vista apoiar o Programa Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais – PDSTR, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT do

Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. Neste sentido, as ações de

acompanhamento e levantamento de dados tiveram como perspectiva o conhecimento

da realidade do Território Nordeste Paraense, com base na percepção dos sujeitos, mas

também com observações sobre as possibilidades de promoção de programas e projetos

voltados ao desenvolvimento rural e à gestão estratégica dos territórios rurais.

O Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais tem

por objetivo promover o planejamento, a implementação e a autogestão do processo de

desenvolvimento sustentável dos territórios rurais, o fortalecimento e a dinamização da

sua economia, a partir dos eixos estratégicos: gestão social dos territórios;

fortalecimento do capital social; dinamização das economias; e articulação

interinstitucional.

Neste sentido, o Colegiado de Desenvolvimento Territorial visa atender

demandas de uma gestão dos territórios a fim de constituir processos coordenados de

uma agenda pública de desenvolvimento territorial, cujos elementos centrais estão na

participação dos sujeitos protagonistas e a proposição de um conjunto de infraestruturas

e de serviços coletivos de uso comum. Assim, as redes técnicas, políticas, econômicas e

institucionais podem potencializar as ações necessárias ao desenvolvimento territorial.

Nos espaços de compartilhamento do poder e de responsabilidade das entidades

e sujeitos para a execução das ações a partir das capacidades locais com base nas

identidades e no controle social para a gestão do Plano Territorial de Desenvolvimento

Rural Sustentável – PTDRS. O Território do Nordeste Paraense1 possui 734.545

habitantes, sendo 381.193 residentes na zona urbana e 353.352 na zona rural (Cf.

TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2009), o qual tem passado por um intenso processo

de substituição da agricultura familiar pela produção mecanizada para a implantação de

1 O Território do Nordeste Paraense é composto pelos municípios: Abel Figueiredo, Aurora do Pará,

Bujaru, Cachoeira do Piriá, Capitão Poço, Concórdia do Pará, Dom Eliseu, Garrafão do Norte, Ipixuna do

Pará, Irituia, Mãe do Rio, Nova Esperança do Piriá, Ourém, Paragominas, Rondon do Pará, Santa Luzia

do Pará, São Domingos do Capim, São Miguel do Guamá, Tomé-Açu e Ulianópolis.

Page 5: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

5

pastagens de gado (bovino, caprino, ovino, soja, equino, muares e extração de

minérios).

O perfil do território é heterogêneo e guarda relação com os diferentes

movimentos históricos dos fluxos migratórios, cuja origem está na colonização do

século XVI, mas que se alterou profundamente dos anos 60 aos anos 80 do século

passado, em face aos processos recentes e diferenciados de penetração do capital, os

quais impactaram as relações sócio-ambientais, particularmente, relacionados às

estruturas agrícolas e extrativistas modernas, frontalmente opostas às formas

rudimentares de um modo de vida articulado ao mundo rural.

A produção mecanizada e os grandes projetos de extração mínero-metalúrgica e

agro-pastoris, incentivadas pelo estado autoritário, faz parte desse movimento de

substituição das práticas socioeconômicas endógenas, por àquelas da agricultura

mecanizada. As bases exógenas desses projetos levaram à expulsão de populações

tradicionais, os quais passaram a não ter mais acesso aos recursos naturais

superabundantes, potencializadores de suas dinâmicas de valorização da vida,

ocasionando ainda um intenso êxodo rural e a devastação de recursos naturais

biodiversos.

Hoje um dos maiores problemas deste território é o desmatamento devido às

áreas de pastagens que se concentram nesta região. Os programas governamentais de

desenvolvimento executados nos últimos 40 anos são os determinantes centrais desse

processo. O lastro desse movimento paradoxal é a fome e outras consequências, como a

violência no campo, devido à grilagem de terra, a pobreza e a miséria. Portanto, o

enfrentamento das questões ensejadas por esse movimento exige o redirecionamento das

políticas públicas voltadas ao uso da terra e a readequação nas áreas já exploradas.

Neste contexto, os instrumentos do desenvolvimento territorial associados à

gestão estratégica buscam estruturar o reordenamento desses espaços, a partir de uma

concepção articulada aos sujeitos protagonistas locais, a fim de que possam indicar

estratégias de desenvolvimento articuladas à produção agrícola, à pecuária, ao

comércio, aos serviços, às indústrias e as reservas ambientais sob complexas redes de

relação articuladas à interdependência dos sistemas de uso da terra como condição

essencial ao desenvolvimento territorial.

Os movimentos sociais, particularmente, aqueles da agricultura familiar têm se

organizado para reduzir os efeitos dos movimentos centrípetos de desordem e de

catástrofes ambientais que demandam o redirecionamento das políticas públicas, do

Page 6: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

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crédito articulado, particularmente, ao processo produtivo no meio rural. Nesta direção,

o debate e as ações concretas sobre o desenvolvimento territorial rural têm se mostrado

como uma perspectiva em face da crise do padrão histórico de financiamento do Estado.

No entanto, a demanda por um conjunto de infraestrutura e de serviços coletivos

mostra que esta é uma realidade que se traduz nos baixos índices das potencialidades de

uma ação mais efetiva nas localidades, pois a falta destes reflete nas condições de vida

nas culturas e modos de vida endógenos. Torna-se, portanto, um desafio a implantação

das políticas sob a abordagem territorial em face dos privilégios de determinadas forças

no espaço de decisão intrínseco à lógica das vantagens comparativas e de diferenciais de

produtividade, os quais geram uma hierarquia na oferta de investimentos, acelerando

processos de desigualdades regionais e territoriais.

Essa problemática ganha maiores dimensões no regime de acumulação flexível

que insere essa realidade a uma dinâmica divisão nacional e internacional do trabalho,

de modo paradoxal: de um lado, o território é estratégico para o fornecimento de

matérias-primas, como uma fronteira aberta a ser explorada e, por outro, como reserva

da biodiversidade.

Neste sentido, o debate em torno do desenvolvimento territorial tem sido

articulado à gestão estratégica apoiada nas experiências concretas do protagonismo dos

sujeitos locais, na negociação com os formuladores e gestores de políticas públicas sob

proposições que passam a incorporar o conceito de território como estratégia, de

promoção de políticas públicas de múltiplas dimensões, em face da crítica do modelo e

da noção de desenvolvimento centrado nas dinâmicas exógenas.

A emergência do debate sobre o desenvolvimento territorial no âmbito da

pesquisa acadêmica e nas formulações de diretrizes de organismos governamentais e

não governamentais parecem se coadunar com a necessidade de enfrentamento das

realidades objetivas e subjetivas, estabelecidas a partir de critérios acadêmicas, quando

se trata da pesquisa científica, a fim de analisar, em primeira escala, a concepção de

políticas para a promoção do território, tendo em vista abranger aspectos econômicos,

sociais, culturais e ambientais.

Com base nesses pressupostos o relatório é constituído em duas partes: a

primeira foi realizada com base em dados secundários, obtidos em órgãos estatísticos

oficiais IBGE, CNM, FAMEP, IDESP, MDA, SEIR, MIRPAS, CNPM, AMUNEPE,

EMBRAPA, dentre outros, e; informações primárias coletadas a partir dos seguintes

questionários: Q1, Q2, Q3 e Q4, os quais buscaram apreender as capacidades

Page 7: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

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institucionais, identidade territorial, acompanhamento da gestão dos colegiados e os

índices de condições de vida, bem como, os indicadores do desenvolvimento

sustentável, sob a orientação da SDT.

Na primeira seção procurou-se sintetizar os principais aspectos relacionados à

história, a cultura e a sociedade local dos municípios que compõem o Território do

Nordeste Paraense, a partir de um cenário que possa identificar um panorama geral

sobre dados demográficos (área geográfica, população total, densidade demográfica,

índice de urbanização), socioeconômicos e culturais, a fim de contextualizar a realidade

dos municípios, e ainda seus recursos naturais, vegetação, solo, clima, ecossistemas,

recursos hídricos e minerais, os passivos ambientais e os projetos em andamento para

minimizá-los.

Na segunda analisam-se os dados obtidos com base nos questionários aplicados,

no entanto, trata-se de um relatório preliminar, na medida em que será complementado

com dados da próxima pesquisa, a fim de se realizar um comparativo com os dados e

informações coletadas.

Page 8: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

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1. O Território Nordeste Paraense

Fonte: SIT/MDA, 2012.

Nesta seção procurou-se sintetizar os principais aspectos identitários do

Território Nordeste Paraense, relacionados à história, à cultura e aos dados

demográficos (área geográfica, população total e densidade demográfica), que

caracterizam a sociedade local dos municípios que o compõem, a fim de contextualizar

suas realidades específicas e do conjunto dos municípios, seus recursos naturais,

vegetação, solo, clima, ecossistemas, recursos hídricos e minerais, os passivos

ambientais e os projetos em andamento.

1. História e Demografia

Nos vinte municípios que integram o Território Nordeste Paraense, citamos

como mais antigos e de grande destaque os municípios de Ourém, fundado em 1727, e

de São Domingos do Capim, criado em 1755, a partir do desmembramento destas duas

municipalidades que passaram a surgir outros municípios que hoje compõem o

Território.

Page 9: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

9

Podemos, portanto, identificar dois grandes ciclos de ocupação territorial, um

que remonta aos tempos de colonização portuguesa, quando surgiram os primeiros

municípios, os quais decorreram das expedições dos portugueses ao longo dos Rios

Guamá e Capim, com situados nas regiões de integração estaduais Rio Caeté e Guamá,

e na região de integração do Rio Capim, com expedições ao Rio Acará; o segundo ciclo

de ocupação ocorreu com a construção das grandes rodovias que cortaram o Território

nas décadas de 60 e 70, como a BR-010 (Belém-Brasília), a BR-316 (Pará-Maranhão) e

a BR-222 (que liga a BR-010 a Marabá), pois com essas grandes obras, houve um fluxo

migratório de outros Estados ao longo das rodovias, onde acabaram surgindo pequenas

vilas que deram origem aos atuais municípios.

Nesse sentido, ainda em decorrência do primeiro fluxo migratório, apontamos o

surgimento das cidades de São Miguel do Guamá, no ano de 1833, Irituia, em 1867 que

se originaram do desmembramento da cidade de Ourém, Bujaru em 1943 e Tomé-Açu

em 1959, ambas desmembradas do município de Acará.

Já no segundo fluxo migratório, temos a fundação das cidades de Capitão Poço

em 1961, do desmembramento de Ourém, Paragominas em 1965 a partir da construção

da BR-010 e do desmembramento dos municípios de São Domingos do Capim e Viseu;

em 1982 surge a cidade de Rondon do Pará, desmembrada do município de São

Domingos do Capim; Concórdia do Pará, fundada em 1988, assim como Garrafão do

Norte e Mãe do Rio, porém o primeiro surgiu a partir do desmembramento do

município de Bujaru, o segundo do parcelamento de Ourém e o terceiro a partir do

desmembramento de Irituia. Ainda na década de 80, no ano de 1989, é reconhecido

como município Dom Eliseu, que na verdade surgiu ainda em decorrência da Rodovia

Belém-Brasília, na década de 60, e da que hoje denomina-se BR-222, que liga a BR-010

a Marabá.

Na década de 90 surgiram os demais municípios que compõem o Território

Nordeste Paraense como: Abel Figueiredo, Aurora do Pará, Ipixuna do Pará, Nova

Esperançado Piriá, Santa Luzia do Pará e Ulianópolis, todos em 1991, e o município de

Cachoeira do Piriá que consegue sua emancipação, no ano de 1995, após a realização de

um plebiscito, em onde a população decidiu que a sede ficaria no antigo assentamento

de Cachoeira do Piriá, fundado ao longo da BR-316.

Portanto esses dois grandes movimentos de constituição do Território Nordeste

do Pará estão implicados por processos distintos, o primeiro com a expansão territorial

europeia para a "constituição do Novo Mundo" e, o segundo, devido à implantação dos

Page 10: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

10

projetos desenvolvimentistas iniciados na década de 50 e 60 e continuados na década de

70 e 80 do século passado, sob a matriz da ideologia da integração nacional.

Quadro 1: Síntese dos Dados Demográficos dos Municípios do Território do Nordeste Paraense

Fonte: Elaboração da Equipe com base nos dados do IBGE, 2010.

Os dados demográficos do Território Nordeste Paraense, de acordo com o Censo

2010, do IBGE, mostram que este hoje conta com uma população total de 734.545

habitantes, distribuídos em uma extensão geográfica de 86.753,492 Km², aglutinando

municípios de três principais regiões de integração do Estado do Pará: parte da região

Guamá, toda a região Rio Capim e parte da região Rio Caeté.

Municípios Homens Mulheres

Total da

População

Urbana

Total da

População

Rural

Total da

População 2010

Área

Territorial

(Km²)

Densidade

Demográfica

(hab/ Km²)

Abel

Figueiredo 3.542 3.250 6.046 746 6.792

614,269 11,04

Aurora do Pará 13.630 12.949 8.174 18.405 26.579 1811,820 14,65

Bujaru 13.338 12.362 8.099 17.601 25.700 1005,163 25,56

Cachoeira do

Piriá

13.710 12.766 5.523 20.953 26.476 20461,961 10,77

Capitão Poço 26.618 25.281 21.447 30.452 51.899 2899,540 17,90

Concórdia do

Pará 14.591 13.630 15.091 13.130 28.221

690,944 40,84

Dom Eliseu 26.629 24.689 32.517 18.801 51.318 5268,794 9,74

Garrafão do

Norte

13.112 11.939 8.614 16.437 25.051 1599,021 15,66

Ipixuna do

Pará

26.944 24.439 12.228 39.155 51.383 5215,533 9,84

Irituia 16.288 15.094 6.509 24.873 31.382 1379,356 22,74

Mãe do Rio 13.741 14.151 23.036 4.856 27.892 469,489 59,43

Nova

Esperança do

Piriá

10.645 9.514 7.972 12.187 20.159 2809,610 7,17

Ourém 8.440 7.856 7.438 8.858 16.296 562,385 29

Paragominas 49.263 48.525 76.478 21.310 97.788 19341,858 5,06

Rondon do

Pará 24.276 22.698 34.704 12.270 46.974

8246,426 5,70

Santa Luzia do

Pará

9.882 9.540 8.691 10.731 19.422 1356,118 14,32

São Domingos

do Capim 15.738 14.089 6.599 23.228 29.827

1677,252 17,79

São Miguel do

Guamá 25.996 25.531 31.852 19.675 51.527

1110,168 46,45

Tomé-Açu 29.327 27.187 31.646 24.868 56.514 5145,338 10,98

Ulianópolis 22.208 21.137 28.529 14.816 43.345 5088,447 8,52

Pará 377.918 356.627 381.193 353.352 734.545 86753,492

383,16

Page 11: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

11

Assim, o TENEPA é habitado principalmente por agricultores, de acordo com o

PTDRS, do TENEPA de 2006, sejam eles descapitalizados, em transição ou

consolidados. São eles:

agricultores (as) familiares, agroextrativistas, pescadores artesanais, artesãos,

assalariados rurais, quilombolas, grupos indígenas; localizados a maioria em

lotes individuais, em lotes familiares ou arrendados, em projetos de

assentamentos; estabelecimentos de pequeno e médio porte (agricultura

familiar), com uma produção destinada, primordialmente, aos mercados

locais, regionais e nacionais. (PTDRS, 2006)

Com base nestes elementos, busca-se entender as problemáticas da agricultura

familiar no Território, destacando-se os problemas decorrentes da estrutura agrária, dos

projetos de assentamento de reforma agrária e das políticas públicas desenvolvidas no

território.

IDH do Território Nordeste Paraense

Municípios

IDH

Municipal

IDH

Longevidade

IDH

Educação

IDH

Renda

Abel Figueiredo 0,703 0,709 0,749 0,653

Aurora do Pará 0,618 0,707 0,631 0,516

Bujaru 0,659 0,732 0,761 0,483

Cachoeira do Piriá 0,551 0,661 0,558 0,433

Capitão Poço 0,615 0,655 0,662 0,529

Concórdia do Pará 0,659 0,744 0,732 0,502

Dom Eliseu 0,665 0,664 0,726 0,604

Garrafão do Norte 0,578 0,637 0,613 0,485

Ipixuna do Pará 0,622 0,743 0,633 0,490

Irituia 0,674 0,689 0,768 0,565

Mãe do Rio 0,697 0,750 0,769 0,573

Nova Esperança do Piriá 0,598 0,684 0,595 0,516

Ourém 0,668 0,738 0,744 0,524

Paragominas 0,690 0,679 0,766 0,626

Rondon do Pará 0,685 0,696 0,743 0,617

Santa Luzia do Pará 0,594 0,637 0,675 0,469

São Domingos do Capim 0,625 0,707 0,684 0,483

São Miguel do Guamá 0,670 0,669 0,766 0,576

Tomé-Açu 0,676 0,684 0,743 0,600

Ulianópolis 0,688 0,676 0,709 0,679

Pará

Page 12: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

12

Fonte: Elaboração da equipe a partir de dados do IDESP, 2000.

Os programas de transferência de renda, principalmente, o Programa Bolsa

Família, e as estruturas de apoio social à população têm sido importantes no contexto

territorial, uma vez que possibilitou às famílias do Território perceberem uma melhoria

em suas condições de renda e, consequentemente, de vida.

Transferência de Renda através do Bolsa Família e Sistema de Assistência Social

Municípios

Bolsa

Família –

Número de

Famílias

atendidas

Estimativa

de Famílias

Pobres –

Bolsa

Família

(PNAD -

2006)

Estimativa

de Famílias

Pobres –

CadUnico

(PNAD -

2006)

Índice de

Desenvolvimento

Familiar ( IDF)

CRAS

CREAS

Abel Figueiredo 715 611 1030 0,54 1

Aurora do Pará 2849

2420 3555 0,49 1 1

Bujaru 3200 2679 3841 0,50 1 1

Cachoeira do Piriá 2530 2188 3079 0,47 1 1

Capitão Poço 7624 6393 9075 0,51 1 1

Concórdia do Pará 2833 2474 3599 0,50 1 1

Dom Eliseu 4236 3676 5977 0,54 2 1

Garrafão do Norte 3381 2898 4168 0,46 1

Ipixuna do Pará 4173 4097 6057 0,51 1 1

Irituia 3480 2928 4547 0,49 2 1

Mãe do Rio 2911 2504 4094 0,52 1 1

Nova Esperança do Piriá 2933 3010 4074 0,48 1 1

Ourém 1970 1675 2555 0,52 2

Paragominas 10117 9917 15312 0,54 2 1

Rondon do Pará 4618 4318 6851 0,55 2

Santa Luzia do Pará 2548 1966 2967 0,49 1

São Domingos do Capim 3462 2914 4170 0,48 1 1

São Miguel do Guamá 5582 4762 7333 0,49 2 1

Tomé-Açu 6197 5311 7835 0,50 1 1

Ulianópolis 3337 3625 5394 0,50 1 1

Pará

Fonte: Elaboração da equipe a partir de dados da PNAD, 2006 e do Programa Bolsa Família, 2010.

A formação étnica predominante no Território tem caracterização indígena e

portuguesa, com forte influência da cultura nordestina e ainda alguns remanescentes de

quilombolas, em decorrência do fluxo migratório na década de setenta a partir da

construção das rodovias Belém-Brasília (BR 010) e da Pará-Maranhão (BR 316), as

quais se tornaram as principais rodovias que atravessam os municípios da região e que

Page 13: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

13

contribuíram para o surgimento de uma nova dinâmica espacial, com novas atividades

econômicas, e para o deslocamento da população e a implantação de serviços, bem

como, de melhoria na infraestrutura e logística.

2. Infraestrutura, Economia e Estrutura Fundiária

O Território Nordeste Paraense apresenta uma densa malha rodoviária, tendo

como eixos principais as rodovias BR-316 (Pará – Maranhão), BR-010 (Belém-Brasília)

e a BR-222, e eixos secundários, com várias rodovias estaduais, como a PA-252, PA-

253, PA-140, entre outras. Com relação aos serviços básicos existentes no Território,

temos a situação apresentada na tabela a seguir:

Saneamento Básico no Território – Abastecimento por Água

Municípios Rede Pública Poço Outros

Abel Figueiredo 77,51% 20,24% 2,25%

Aurora do Pará 47,01% 50,56% 2,44%

Bujaru 34,27% 52,49% 13,24%

Cachoeira do Piriá 21,26% 76,68% 2,05%

Capitão Poço 60,27% 36,65% 3,08%

Concórdia do Pará 10,37% 85,67% 3,96%

Dom Eliseu 76,23% 17,26% 6,51%

Garrafão do Norte 16,21% 81,96% 1,83%

Ipixuna do Pará 60,95% 33,20% 5,85%

Irituia 42,89% 50,81% 6,30%

Mãe do Rio 10,39% 86,85% 2,76%

Nova Esperança do Piriá 0,74% 94,11% 5,15%

Ourém 33,26% 64,15% 2,59%

Paragominas 47,59% 49,45% 2,96%

Rondon do Pará 49,39% 34,40% 16,21%

Santa Luzia do Pará 10,20% 87,65% 2,15%

São Domingos do Capim 43,27% 47,43% 9,30%

São Miguel do Guamá 36,16% 55,44% 8,40%

Tomé-Açu 50,98% 43,78% 5,23%

Ulianópolis 26,40% 71,68% 1,90%

Pará 42,04% 52,52% 5,44%

Fonte: Elaboração da equipe a partir de dados do Ministério da Saúde

- Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB, 2010.

Page 14: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

14

Saneamento Básico – Instalação Sanitária

Municípios

Rede de

Esgoto Fossa Céu Aberto

Abel Figueiredo 0,16% 93,02% 6,82%

Aurora do Pará 0,10% 82,02% 17,88%

Bujaru 1,73% 64,30% 33,97%

Cachoeira do Piriá 0,24% 53,18% 46,58%

Capitão Poço 4,42% 77,59% 17,99%

Concórdia do Pará 0,63% 43,23% 56,14%

Dom Eliseu 7,59% 85,37% 7,05%

Garrafão do Norte 0,46% 91,33% 8,20%

Ipixuna do Pará 17,84% 67,33% 14,83%

Irituia 0,94% 78,83% 20,23%

Mãe do Rio 89,24% 10,76%

Nova Esperança do Piriá 0,47% 64,24% 35,30%

Ourém 3,75% 90,78% 5,46%

Paragominas 2,88% 89,58% 7,53%

Rondon do Pará 3,05% 72,85% 24,10%

Santa Luzia do Pará 1,12% 74,32% 24,57%

São Domingos do Capim 0,94% 52,84% 46,22%

São Miguel do Guamá 4,23% 67,17% 28,60%

Tomé-Açu 0,95% 80,71% 18,34%

Ulianópolis 1,44% 93,85% 4,69%

Pará 3,07% 77,44% 19,48%

Fonte: Elaboração da equipe com base nos dados do Ministério da Saúde -

Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB, 2010.

A infraestrutura existente no TR, principalmente com relação à sua malha

rodoviária e sua bacia hidroviária, facilita o escoamento dos produtos do TR, dá-se

destaque, com base em dados fornecidos pela SEIR, às seguintes atividades

econômicas: pesca, agricultura, fruticultura, cadeia produtiva da mandioca, feijão-caupi,

mineração, turismo, pecuária, produção de leite e derivados, assim como, chamado

cultivo florestal e indústria cerâmica (SEIR, 2011).

Page 15: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

15

Dados sobre mineração.

Municípios

Ouro

Bauxita

Caulim

Abel Figueiredo

Aurora do Pará

Bujaru

Cachoeira do Piriá X

Capitão Poço

Concórdia do Pará

Dom Eliseu

Garrafão do Norte

Ipixuna do Pará x

Irituia x

Mãe do Rio

Nova Esperança do Piriá

Ourém x

Paragominas x

Rondon do Pará

Santa Luzia do Pará

São Domingos do Capim x

São Miguel do Guamá

Tomé-Açu

Ulianópolis x

Pará

Fonte: Elaboração da equipe a partir de dados do Zoneamento Ecológico Econômico –

Diagnóstico Socioeconômico – Pará Rural – Governo do Pará – 2010

É válido ressaltar que além dos programas de transferência de renda como o

Bolsa Família, há outros programas que vêm atuando na região de maneira significativa,

com a finalidade de potencializar suas capacidades, como, por exemplo, o Programa de

Aceleração do Crescimento – PAC, uma parceria entre o governo federal e o governo

do Pará, que tem como objetivo atender alguns dos municípios do TENEPA, nas áreas

de saneamento, esgotamento sanitário, abastecimento de água, habitação e melhoria

sanitárias em domicílios.

Outro programa que também têm trazido muitos benefícios à população do

Território é o Programa Luz para Todos, que leva energia elétrica a diversas

comunidades ao longo de toda região, conforme demonstram os dados da tabela a

seguir:

Page 16: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

16

Municípios

Energia

Elétrica

(ligações)

Abel Figueiredo 2042

Aurora do Pará 2550

Bujaru 1933

Cachoeira do Piriá 3111

Capitão Poço 12855

Concórdia do Pará 6370

Dom Eliseu 10834

Garrafão do Norte 5325

Ipixuna do Pará 5123

Irituia 7612

Mãe do Rio 9049

Nova Esperança do Piriá 2243

Ourém 4972

Paragominas 28895

Rondon do Pará 11633

Santa Luzia do Pará 4984

São Domingos do Capim 4307

São Miguel do Guamá 12083

Tomé-Açu 14092

Ulianópolis 4969

Pará

Fonte: Elaboração da equipe a partir de dados da Rede Celpa, 2010.

O Programa Territórios da Cidadania, o qual está intimamente ligado ao trabalho

das Células de Acompanhamento e Informação dos Territórios, como, muitas vezes,

desconhecida pelo Colegiado de Desenvolvimento Territorial, mas sempre que se fala

em Território da Cidadania Nordeste Paraense, há a vinculação com a estrutura

colegiada que ora acompanhamos. É um grande pacto que une ações de diferentes

ministérios do governo federal, integrando ainda os governos estadual e municipais do

Território, no sentido de promover o desenvolvimento territorial, através de uma

organização sustentável da produção, da promoção da regularização fundiária, dos

direitos sociais e de inclusão social, além de ações que visam desenvolver a

infraestrutura, a saúde, a educação e a cultura.

Nesse sentido, os Planos Territoriais de Desenvolvimento Regional Sustentável

(PDRS), um pacto entre governos (federal, estadual e municipal) e representantes da

sociedade civil (associações, sindicatos, universidades e ONG’s principalmente) no

Page 17: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

17

Território assume importância, uma vez que, através desse acordo, ficam definidas quais

ações de desenvolvimento territorial serão empreendidas de maneira articulada, a fim de

atender às perspectivas dos entes pactuantes em curto, médio e longo prazo, a partir de

temas como: ordenamento territorial, regularização fundiária e gestão ambiental;

fomento às atividades produtivas sustentáveis; inclusão social e cidadania e

infraestrutura para o desenvolvimento (SEIR, 2011).

Há que se citar ainda o Programa “Pará Terra de Direitos” iniciado na gestão

estadual de 2007-2010 e continuado na atual gestão do estado, o que promove ações de

incentivo à justiça social, educação, cultura, saúde, segurança pública, desenvolvimento

sustentável, assentamentos rurais e inovação tecnológica.

De acordo com o PTDRS do TENEPA, elaborado no ano de 2006, quando este

ainda contava com apenas quinze municípios, economicamente, estes entes

governamentais dependiam principalmente do repasse de verbas, pelos governos

estadual e federal, com poucos conseguindo sobreviver de arrecadações próprias, como

os municípios de Ipixuna do Pará e Paragominas que recebem royalties por conta da

exploração de minérios em seu subsolo. Mesmo na atualidade, com os demais cinco

municípios que passaram a compor o Território, a dependência do repasse dos entes

maiores continua.

1.3 Situação Fundiária e Ambiental

A situação fundiária do TENEPA é um dos principais motivos dos conflitos

existentes na região. Assim, na atualidade, de acordo com a relação de projetos de

assentamento disponibilizadas no site do Incra em 29.09.2011 (de acordo com o site a

lista de projetos é alimentada quinzenalmente), o território conta com mais de sessenta

projetos de assentamento, em quatro modalidades definidas pelo INCRA: sessenta PA –

Projeto de Assentamento Federal distribuídos nas cidades de Aurora do Pará, Bujaru,

Cachoeira do Piriá, Capitão Poço, Concórdia do Pará, Dom Eliseu, Ipixuna do Pará,

Nova Esperança do Piriá, Paragominas, Santa Luzia do Pará, São Domingos do Capim,

Tomé-Açu e Ulianópolis; um PCA – Projeto de Assentamento Casulo no município de

Dom Eliseu; um PAE – Projeto de Assentamento Agroextrativista Federal em Bujaru; e

três Projetos de Assentamento Estadual na cidade de Bujaru.

Page 18: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

18

O desmatamento na região é outra questão preocupante, posto que em março de

2010 do desmatamento ocorrido em toda Amazônia Legal, 45% se deu no Pará, dentre

os quais o município de Rondon do Pará ocupa o 8º lugar e Tomé-Açu o 9º lugar no

ranking de municípios que mais desmataram, de acordo com relatórios divulgados pelo

Imazon, conforme figura abaixo:

Em março de 2010, as florestas degradadas, ou seja, as florestas intensamente

exploradas pela atividade madeireira e/ou atingidas por queimadas na Amazônia Legal

somaram 220 quilômetros quadrados. Desse total, (87%) ocorreu no Pará.

Participação (%) dos Estados da Amazônia Legal no desmatamento e na degradação de março

de 2010

Fonte: Imazon/SAD, março de 2010.

Page 19: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

19

1.4 Político-Institucional

A organização político-institucional do Território é constituída tanto pelos

representantes dos governos federais, quanto estaduais, municipais por representantes

de instituições da sociedade civil que atuam na região.

Três dos vinte municípios são geridos por mulheres (Capitão Poço, Rondon do

Pará e São Miguel do Guamá), onde duas (Rondon do Pará e São Miguel do Guamá)

chegaram à administração municipal apenas no segundo semestre de 2010, porque seus

antecessores tiveram seus mandatos cassados.

Destacamos aqui o trabalho desenvolvido por algumas prefeituras do Nordeste

Paraense, através, principalmente, de suas secretarias municipais de agricultura e meio

ambiente que, em alguns casos, têm envidado esforços no apoio direto e até fomentando

as ações dos agricultores, por exemplo, Concórdia do Pará, Tomé-Açu e Paragominas,

dentre outras, além da atuação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

Sustentável. Temos ainda a atuação da Secretaria de Estado de Agricultura – SAGRI,

inclusive com relação à captação de recursos para o Território, uma vez que muitos

municípios estão em situação de inadimplência e ficam impedidos de receber recursos

advindos do governo federal.

Outras grandes parceiras estatais dentro do Território são a Empresa Estadual de

Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará – EMATER, o Instituto de Terras do Pará

– ITERPA, a Agência de Defesa Agropecuária do Pará – ADEPARÁ. Já com relação às

organizações da sociedade civil, destacamos a atuação do Instituto Popular Amazônico

– IPA, Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural Sustentável da Amazônia –

IDAM, Instituto de Desenvolvimento e Assistência Técnica da Amazônia – IDATAM,

Cooperativa de Prestação de Serviços em Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável

– COODERSUS, Federação dos Trabalhadores na Agricultura – FETAGRI, Federação

dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – FETRAF, Rede Capim de Economia

Solidária, bem como, os – Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais –

STTR’s de todos os municípios, movimentos sociais, aos quais damos destaque ao

Movimento de Articulação Rural e Urbana – MARU e ao Movimento de Mulheres do

Nordeste Paraense – MMNEPA, e ainda as associações das comunidades indígenas,

quilombolas e ainda das pequenas comunidades de agricultores de algumas localidades

pertencentes a municípios do território.

Page 20: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

20

Entretanto, podemos perceber ao longo desse primeiro ano de pesquisa que

embora o Território conte com essas instituições, muitas vezes estas, não participam dos

eventos agendados pelo Colegiado ou mesmo os representantes que comparecem às

reuniões não são os mesmos que começaram o acompanhamento do trabalho, o que

dificulta que se faça um trabalho mais consistente na região.

1.5 Cultura

Podemos apontar que os festejos vinculados à religiosidade local ainda têm

grande predominância e importância no TENEPA. Destes, destacamos os Círios em

homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, que acontecem a partir da segunda quinzena de

outubro, após o Círio de Nazaré, na Capital do Pará, bem como, as festas dos padroeiros

de cada município. Como exemplos dessas festas religiosas, citamos a festa de São

Miguel Arcanjo, no mês de setembro em São Miguel do Guamá, a festa de Santo

Antônio Maria Zacarias, em Capitão Poço, a de São Pedro, em Concórdia do Pará,

dentre outras.

Além das festas religiosas, há ainda municípios que preparam grandes festas

durante o carnaval e a quadra junina, tendo como tradição no primeiro às festas nos

blocos carnavalescos e em algumas cidades os desfiles de fantasias; e no segundo a

tradição das quadrilhas, dos bois-bumbás e dos cordões de pássaros, como nos

municípios de Capitão Poço, Ourém, São Miguel do Guamá, Mãe do Rio, Tomé-Açu,

entre outros. Em Irituia, merecem destaque as danças de carimbó, o cordão da bicharada

e a folia dos santos. Em Tomé-Açu, além da tradicional quadra junina, no mês de junho

também ocorre a Undokai, uma espécie de gincana com várias modalidades que foi

trazida pelos imigrantes japoneses que ocuparam a região.

É válido lembrar que no município de São Domingos do Capim ocorre o Surf da

Pororoca, um fenômeno natural que acontece nos rios da Amazônia e que a cada ano

atrai mais surfistas, vindos de vários estados brasileiros e até de outros países para tal

competição.

Alguns municípios têm feiras culturais que movimentam as cidades. Nessas

oportunidades, muitas vezes, são realizados concursos e exposição de poesias e de

músicas locais, como em Irituia, Capitão Poço, Ourém, Mãe do Rio e Concórdia do

Pará. Sem deixar de mencionar que municípios como Paragominas, Tomé-Açu, Dom

Page 21: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

21

Eliseu, Ipixuna do Pará e Mãe do Rio já possuem tradicionais Feiras de Exposição

Agropecuária, que movimentam negócios com outros municípios do Território, do

Estado e até de outros Estados da federação. Em Ulianópolis, ganha destaque a Agrofest

Milho, uma festividade que vem se tornando um grande evento a cada ano, desde que

foi iniciada em 2001.

O artesanato regional é outro fator interessante, como os quadros esculpidos em

madeira, em Capitão Poço; as taças e copos produzidos através do aproveitamento de

garrafas, em Irituia; o artesanato de utilitários como tijolos, telhas, bolsas, esteiras, redes

de pesca, cortinas, almofadas, tapetes e camisas de pagão (recém-nascidos) em Ourém;

já os artesãos de Paragominas se utilizam da madeira, da linha e do sisal, como

matérias-primas na produção de móveis rústicos, entalhes e vasilhas utilitárias; o

artesanato decorativo de São Domingos do Capim, representado por peças como árvores

de Natal, bordados, crochê, tricô, tecelagem, confecções de flores vasos e pinturas; em

São Miguel do Guamá, o artesanato se caracteriza pela produção de cerâmica, abanos,

peneiras e tipitis; e em Tomé-Açu o artesanato que se destaca é a produção de chapéus e

balaios de palha, estátuas e jarros de madeira.

2. Identidade

Imagem: Aplicação do Q4 – ICV em São Miguel do Guamá.

Page 22: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

22

Para compreender os dados relativos aos indicadores sobre a identidade do

Território do Nordeste Paraense, é preciso voltar-se a antigos dilemas da Amazônia e a

seus novos desafios. Uma região pautada por contínuos processos de expansão da

economia capitalista, na medida em que é considerada como fronteira de recursos a ser

explorada em face de suas riquezas naturais.

A partir da década de 60, com a construção da rodovia federal BR-310, Belém-

Brasília, que corta o território e lhe caracteriza de modo hegemônico, a partir de um

intenso movimento migratório de penetração comparável ao da economia da borracha

dos anos 40, quando houve um grande êxodo rural das chamadas populações

tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhas), destituídas da posse da terra, na

medida em se estendia o eixo rodoviário, cuja dimensão e repercussão desse processo

foi a expropriação e destituição da propriedade natural fato este ainda pouco estudado.

Hoje, esse território passa a ser novamente impactado pela expansão do

agronegócio representado pela soja, pela extensão das pastagens de gado, pela

agricultura mecanizada e pela extração de minério, a partir de um contraditório

movimento de expansão de políticas neodesenvolvimentistas, em pleno processo de

democratização e de territorialização das políticas sociais. Um paradoxo que mostra sua

face no ressurgimento de grandes infraestruturas que ameaçam novamente as culturas

endógenas, como as da agricultura familiar, sob as vestes de um governo popular,

quando há abertura histórica propícia à construção de instrumentos de planejamento de

desenvolvimento local/regional em busca de possíveis soluções para as problemáticas

decorrentes das desigualdades regionais e subregionais.

Quando os instrumentos do planejamento são formulados com base em

mecanismos de consultas públicas, a exemplo, do Desenvolvimento Territorial Rural

Sustentável, do Zoneamento Ecológico-Econômico, do Desenvolvimento Sustentável,

dentre outros, que tem como retórica dar conta de demandas historicamente postergadas

à promessa de um progresso vindouro, um devir de modernização em regiões

consideradas atrasadas.

Na realidade, as estruturas locais são centradas na economia de subsistência, de

base familiar eou comunitária, onde a produção de excedente ou mesmo a monocultura

não tem espaço, mas que exigem acesso a condições reais para o desenvolvimento de

suas realidades locais sob as centralidades de seus sujeitos protagonistas.

Page 23: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

23

Neste sentido, o que se reivindica hoje, diferentemente do planejamento

centralizado e de decisões tomadas em gabinetes fechados da burocracia autoritária do

governo central, é o desenvolvimento com base nas atividades já existentes, na medida

em que as populações locais passam a demandar estratégias em relação ao uso do solo

diversificado (espaço de produção e reprodução), a fim de fixar suas identidades

culturais. Seus diversos usos exigem decisão daqueles que são impactados e não

somente a participação formal em relação aos recursos predeterminados, com ações

pensadas de formas exógenas para resolver problemas supostamente regional, o que é

tomado como algo não desejável.

Portanto, há a reivindicação da cidadania produtiva (de coisas e de sentido) e não

da cidadania participativa, em que os locais cumprem formalidades dos novos

instrumentos dos métodos de planejamentos, ou seja, se exige serviços de uso comum

em sinergia com seus modos de vida (educação do campo, da floresta das águas etc.),

diferentemente dos que foram e são historicamente centrados nas dinâmicas urbanas,

base territorial do desenvolvimento industrial, na medida em que são implantados nas

metrópoles e grandes cidades, ou mesmo, com referência a estes espaços.

Neste sentido, se observa três grandes movimentos que estão interligados por

dinâmicas essenciais, as quais precisam ser consideradas na redefinição das políticas

públicas pensadas sob a percepção das sociedades locais, em contexto amazônico, a fim

de mitigar, no mínimo, os impactos das intervenções desenvolvimentistas do passado e

das novas políticas traçadas pela aceleração do crescimento:

1) As ondas desenvolvimentistas, do passado, são reconfiguradas pelo

neodesenvolvimentismo, do presente, na medida em que antigas práticas passam a ser

revestidas de novas modelagens cuja dinâmica de constituição dos espaços rurais e

urbanos, no estado do Pará, 13 PIB do Brasil, tem problemas de primeira ordem, como

os ambientais e territoriais, que repercutem em reivindicações como a constituição de

dois novos estados (Tapajós e Carajás), em que seus sujeitos principais são as

oligarquias locais e novos atores como os sojeiros, os madeireiros, os fazendeiros, entre

outros.

O Território do Nordeste Paraense é o mais antigo e o mais devastado, na medida

em que está situado no arco do suposto desenvolvimento, iniciado com as

transformações dos anos 60. Sua antropização pode ser observada, a partir do

desmatamento para a construção da rodovia Belém-Brasília, mas que abriu espaço para

grandes áreas de pastagens e de produção de gado. Mas recente nos anos 2000, a

Page 24: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

24

penetração da soja e do minério, concentradas em municípios mais próximos ao

sudoeste do Pará como Paragominas e Dom Eliseu, mas também no município mais

antigo deste Território, ou seja, Ourém (com a extração de minério).

Uma realidade cuja origem está nas políticas de incentivos e isenções fiscais.

Neste sentido, a retomada dos grandes projetos econômicos vem re-escalonando o uso

do solo, na perspectiva desse suposto desenvolvimento que, ao invés de desconcentrar

os serviços de uso comum, estão irradiando e difundindo vetores econômicos

ultrapassados, com a reconcentração de serviços nas cidades médias, como

Paragominas, no Nordeste do Pará; Marabá, no Sudoeste, e; Santarém, no Oeste do

Pará.

O processo de urbanização acelerada para dar suporte aos enclaves econômicos

não promoveu melhoria de condições de vida das populações locais, ao contrário,

passou a existir a pobreza lá onde ela não existia. As populações tradicionais que tinham

seus modos de vida articulados à floresta, sob outra lógica econômica e outros padrões

de sociabilidade foram expropriadas de seus territórios para serem reterritorializadas nas

periferias das cidades, agora sob processos de risco e vulnerabilidades sociais devido à

quebra de seus vínculos identitários, que foram completamente desmontados.

Imagem: Domicílio onde foi aplicado o Q4 – ICV em zona periurbana do município de

Garrafão do Norte, demonstrando as condições de vida de pessoas que vivem próximas

(menos de 2km) do centro urbano.

Page 25: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

25

2) A cidade de Belém, capital do estado, ainda hoje sobredetermina os processos

de controle e centralização das decisões que pesam sobre essas localidades em estreita

relação com os "novos sujeitos" do neodesenvolvimentismo. Portanto, os esforços para

a descentralização e a territorialização das políticas públicas, particularmente, pela

estruturação de territórios da cidadania, não são estruturados na mesma proporção dos

impactos sociais da retomada dessa nova onda de crescimento sob a base do Programa

de Aceleração do Crescimento, que tampouco dá respostas aos questionamentos das

problemáticas locais e, ao mesmo tempo, globais, como os danos do

neodesenvolvimentismo.

A desconcentração de bens e serviços coletivos de Belém é extremamente lenta e

não chega as mais longínquas localidades, portanto, não garante a universalização, em

curto prazo, tornando dramática a vida nessas comunidades que são novamente

pressionadas por processos e demandas dos novos eixos e setores nacionais estratégicos,

e que se tratam de setores muito específicos, como das mineradoras e do agronegócio,

na contra face das demandas da agricultura familiar, esta última com baixa capacidade

de penetração nas estruturas de decisão, seja em âmbito local, regional e federal.

3) O terceiro decorre do fato das pequenas e médias cidades estarem no centro de

uma nova urbanização acelerada devido aos impactos da retomada dos grandes projetos

em seus territórios. A opção pelos grandes investimentos (minerais, agroextativistas,

portos, ferrovias etc.) busca atender setores que historicamente geraram acumulação de

riqueza e concentração de renda em poucas mãos. Neste campo, a justificativa para o

tão propalado emprego em torno dos mesmos mostra-se bastante fragilizada, à medida

que os empregos são temporários e não se traduzem em melhoria de condições de vida

para todos, particularmente, quando a mão-obra permanente é circunscrita por

dinâmicas específicas do terciário avançado e não mais do terciário tradicional.

No lugar do assalariamento canônico vê-se proliferar às margens dos grandes

empreendimentos e dos centros urbanos, o trabalho informal, a mendicância, a

prostituição de jovens, dentre outros fenômenos que se restringiam aos grandes centros

urbanos, pois as formas de remuneração quando existentes se dão por empreitadas ou

produção ou mesmo por formas de “trabalho escravo”, além de contratos de trabalho

precarizados.

Page 26: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

26

Imagem: Casa construída por/para trabalhadores temporários de uma serraria dentro de

uma área de assentamento no município de Paragominas.

O novo regime de acumulação flexível é cada vez mais presente, cuja

característica é difícil separar a prestação do serviço do indivíduo que a executa, uma

nova exigência de qualificação profissional, vinculada as qualidades sociais das pessoas.

Um atributo que mostra a fragilidade dos territórios rurais, onde a condição de vida têm

traços vinculados à economia de subsistência, distanciadas do acesso dos novos

suportes do desenvolvimento (BOUTANG, 1998; LAZZARATO, 1994).

É sob esta nova determinação do trabalho que se precisa modelar as ações de

políticas públicas em consonância com as potencialidade locais, seus atores sociais. O

que significa elevar as capacidades e habilidades de trabalho para redimensionar as

práticas sócio-produtivas locais sem a perda de seus laços identitários, isto é, a relação

com a natureza, sua base de produção.

A relação estreita da cidade com o seu campo é outra coisa que precisa ser

redimensionada, a fim de estruturar políticas públicas de educação do campo e de

geração de trabalho e renda ancorada nas dinâmicas produtivas locais associadas a

serviços públicos essenciais (educação, saúde, saneamento, habitação), na medida em

que a concorrência, no lugar da complementaridade, entre estes dois espaços.

Page 27: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

27

No quadro de incertezas, é necessário adotar medidas em estreita relação com as

experiências concretas de vida nas localidades; qualquer outra opção mostra-se em si

uma tomada de decisão exógena, cujos danos já se conhece bem. Neste âmbito, a crise

das instituições financeiras mostra o grau de insegurança do sistema do capitalista e de

suas soluções que repercutem na precarização das formas de vida conquistadas na longa

luta da classe trabalhadora, portanto, a crise não é do emprego em si e nem do trabalho,

mas de um modo de inclusão que se caracterizava por uma integração social de tipo

“pleno emprego fordista”. Assim, por mais que se obtenha níveis de crescimento e de

emprego não se alcançará maior patamar de integração social COCCO; BARBOSA,

2007).

Hoje, a mão-de-obra complexa tem sua composição técnica e político-subjetiva

expressa pelo trabalho imaterial, isto é, o trabalho que produz o conteúdo informacional

e cultural das mercadorias (LAZARRATO, 1994). Neste contexto, o trabalho está

relacionado a dois aspectos distintos: de um lado, mostra-se a partir do “conteúdo

informacional” da mercadoria, seja nas indústrias, seja nos setores terciários. As

habilidades são direta e crescentemente determinadas pela cibernética e controle

computacional, sob níveis de comunicação horizontal e vertical; de outro lado, as

atividades relacionadas ao trabalho imaterial que produz o “conteúdo cultural” das

mercadorias é realizado pelo envolvimento de uma série de atividades até recentemente

não reconhecidas como “trabalho”, mas sim como padrões culturais e artísticos (modas,

preferências, normas de consumo) e, mais estrategicamente, opinião pública (Idem,

1994).

A mão-de-obra do trabalhado simples, atraída para as novas fronteiras do

“desenvolvimento”, é quase incapaz de alavancar processos independentes de

organização e de melhoria de condições de vida a patamar aceitável, a não ser quando

há uma mobilização dos territórios produtivos dos quais fazem parte, devido à elevação

de níveis de cidadania.

Na esteira das cadeias produtivas das commodities, num primeiro momento, ou

seja, na implantação de grandes obras de infraestrutura há formas de trabalho por

contratos temporários, precarizados, terceirizados e mais tarde há formas de trabalho

compulsório e de “trabalho escravo”. Assim, quando se consegue fugir destas teias

migram para as periferias urbanas e passam a pressionar o conjunto da sociedade local,

haja vista não terem mais a promessa das oportunidades de emprego nos serviços do

comércio e nas repartições públicas, cada vez mais estruturadas sob a lógica

Page 28: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

28

informacional, restando-lhes condições de vida submetidas a situações de

vulnerabilidades e de violência.

Nestes espaços crescem o trabalho informal sob diversas configurações, além da

formação de coletivos de trabalho, cujo código tem se constituído na trajetória da

economia solidária, a contra face de uma travessia de crise que desemboca na

necessidade de constituir nova organização jurídica do trabalho, a fim de dar conta de

processos de emancipação, mas também da flexibilização sob a lógica do mercado.

Aparecem ainda concepções conservadoras em torno do controle dos fluxos

migratórios, ou seja, das entradas e saídas de pessoas nas novas fronteiras determinadas

pelos grandes investimentos, ao invés de se valorizar esse segmento social que trás na

“bagagem”, sonhos de vida melhores, um forte mobilizador de condições inovadoras,

mas também de aventura, uma potencialidade dinâmica para o desenvolvimento local

sob a base da economia difusa. Alterar o trajeto das “novas formas” de trabalho e de

assalariamento, cada vez mais integradas a processos aviltantes, torna-se essencial nas

zonas de fronteiras, por se constituir como fonte essencial da riqueza e centro nevrálgico

do poder, sob a mais valia absoluta.

Assim, é necessário entender as profundas mudanças na relação entre trabalho e

capital para enxergar as novas contradições no centro da sociedade atual e,

consequentemente, da Amazônia, a fim de criar estratégias de democratização das

condições do desenvolvimento, em que a cidadania é o núcleo central da produção de

novas realidades, porque potencializa não somente a composição, mas também a própria

condição de organização da produção.

Para pensar e propor alternativas à sustentabilidade das municipalidades do

Território do Nordeste do Pará, ou seja, seus espaços rurais e urbanos é preciso sair das

clivagens trabalho/emprego, particularmente, onde nunca houve o desenvolvimento da

relação salarial, é preciso ainda ir além dos enigmas do subdesenvolvimento e do

crescimento que caracterizam o Brasil e, em particular, a Amazônia (COCCO;

BARBOSA, 2007).

Hoje a mobilização produtiva dos territórios insere o Brasil e a Amazônia no front

das tendências mais avançadas, ou seja, no deslocamento paradigmático que não

respeita nenhum estágio “progressivo”, nenhuma linearidade (Idem, 2007). A Amazônia

é um território atravessado por temas locais e globais, visto que na virada da sociedade

pós-industrial o capitalismo das redes possibilita novos desafios e novas oportunidades,

para além da destruição e devastação da natureza e sua gente. No dizer de Viveiros de

Page 29: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

29

Castro, para o bem ou para o mal o futuro virou Brasil e o Brasil virou Amazônia, o que

a coloca no epicentro do planeta, como já afirmava Euclides da Cunha em 1904, mais

cedo ou mais tarde na Amazônia se concentrará a civilização do globo (Idem, 2007).

Esses eixos precisam ser observados para superar os índices de pobreza e caos na

trajetória do desenvolvimento da Amazônia. Os quais exigem uma intensa oferta de um

conjunto de políticas públicas voltadas à formação da bacia de trabalho local, em

primeiro lugar a universalização da educação (nos três níveis: fundamental, médio e

superior) associados à pesquisa aplicada às dinâmicas produtivas locais, tendo em vista

que esse é o maior bloqueio ao próprio desenvolvimento da região.

Hoje é a cidadania, ou seja, o acesso aos serviços coletivos que possibilitam a

própria inserção sócio-produtiva. Assim, apontamos algumas lacunas que implicam na

fragilidade para a constituição do desenvolvimento dos Territórios do Pará, como

podemos identificar abaixo:

Analisar a identidade como fator de coesão social no território exige a

investigação dos elementos que o aglutinam a fim de saber se de fato determinam sua

fronteira. Neste território observa-se que há uma heterogeneidade marcada por micro-

espaços completamente diferenciados, econômica, política e culturalmente, como

aquelas relacionadas às dinâmicas da agricultura familiar, o agronegócio e a indústria do

minério que tem se expandido na região do Nordeste Paraense.

Fonte: SGE, 2011.

O indicador identitário de caracterização do TENEPA, segundo a percepção

dos entrevistados é a agricultura familiar, no entanto, esses traços vêm se alterando

fundamentalmente pelo agronegócio, como dito anteriormente e pela expansão da

indústria mineral. Os dados gerados pelo sistema mostram que os membros da Plenária

Page 30: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

30

do CODETER do TR percebem a agricultura familiar com (87%), seguido por fortes

características ambientais (79,7%), outro indicador médio alto, que diz respeito à

participação política (77,8%) e a influência da economia da região (76,5%), ao mesmo

tempo em que caracterizam a pobreza, problemas e conflitos sociais (75,2%) como

outros fatores que destacam a identidade, segundo a percepção dos habitantes

entrevistados no TR.

Os fatores colonização/ocupação (73,9%) e etnia (73,6%), embora apresentem

um nível médio alto, como os demais, ficam nos últimos lugares enquanto fatores

identitários, o que pode demonstrar um desconhecimento da história local por parte dos

entrevistados, ou mesmo uma falta de entendimento do que sejam estes fatores, uma vez

que, conforme expusemos anteriormente, a forma de colonização e ocupação do TR

deu-se por dois momentos de colonização/ocupação da região: à época das expedições

colonizadoras pelo circuito dos principais rios da região desde o século XVII e, no

século XX, com a construção das grandes rodovias que cortam o TR e de projetos

minerais e agropecuários.

3. Capacidades Institucionais

Imagem: Aplicação do Q1 – Capacidades Institucionais junto à Prefeitura de Mãe do Rio (PA).

Page 31: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

31

O Índice de Capacidades Institucionais, construído a partir de dados

provenientes das estruturas mencionadas pelas prefeituras municipais, combinadas com

uma análise das entidades-membros do Colegiado Territorial, a respeito do trabalho que

este vem realizando ao longo de seus anos de atuação no Nordeste Paraense, mostrando

que, na visão de ambos entrevistados, a gestão é considerada médio alta. Isto indica que

segundo os sujeitos entrevistados a organização político-institucional existente na região

e os recursos de suporte para o desenvolvimento estão colocados à disposição das

estruturas organizacionais, para a gestão das políticas públicas e da execução dos

projetos de desenvolvimento voltados para o território. A gestão é mostrada de maneira

mediana (cerca de 67%). Esta percepção não corresponde aos indicadores

socioeconômicos, do IDH e dos resultados no que tange à política de desenvolvimento

rural sustentável pensada e planejada para o TR.

Fonte: SGE, 2011.

Os indicadores apontam a infraestrutura institucional com um nível médio alto

(62,5%) existente no TR, bem como, dos mecanismos de solução de conflitos vêm se

mostrando de forma mediana (55%), o que poderia indicar que, embora os serviços

institucionais disponíveis estejam em um nível médio baixo (29,4%), a articulação entre

os instrumentos de gestão municipais (43,8%) e os mencionados mecanismos de

solução de conflitos tem se mostrado eficientes na construção de espaços de diálogo no

TR, apoiando as iniciativas comunitárias nas diversas dimensões pesquisadas

(ambiental, social, cultural, produtiva etc.). Isto pode indicar que, pelo fato de ser uma

das regiões de colonização mais antigas, onde os conflitos fundiários, de certa forma,

estão “assentados”.

Page 32: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

32

4. Gestão do Colegiado

Imagem: Plenária de construção do PTDRS do TENEPA realizada em Ipixuna do Pará

Os dados referentes ao Acompanhamento da Gestão dos Colegiados Territoriais

foram obtidos a partir dos questionários aplicados a 35 entidades-membros da Plenária

do CODETER. É válido ressaltar que atualmente existem 43 entidades-membros

cadastradas no SGE, embora haja uma lista no TENEPA que indica uma Plenária

composta por 157 entidades. Ao longo deste ano de pesquisa, acompanhamos o esforço

do Núcleo Diretivo para o recadastramento das entidades-membros, a fim de que

possam regularizar a participação de seus representantes, titular e suplente, nas

Plenárias.

Entretanto, poucos foram os que cumpriram a chamada, embora continuassem

participando das mesmas, o que indica a informalidade neste território, portanto, das

votações e decisões tomadas nas reuniões, uma vez que muitas entidades podem levar

mais de dois representantes e ter sua proposta votada e aprovada em detrimento de uma

que está oficialmente cadastrada e com os seus dois representantes presentes, na medida

em que não há o controle do processo de participação.

Page 33: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

33

Ante os dados divergentes entre as informações constantes no SGE e na lista

repassada à equipe da CAI, pelo Núcleo Diretivo do CODETER, o Comitê de

Acompanhamento e Avaliação do Projeto, formado por representantes das três

entidades envolvidas no processo, quais sejam UFPA, TENEPA e SDT/MDA, decidiu-

se que a equipe deveria entrevistar as entidades indicadas no sistema e no decorrer da

pesquisa, as demais que estivessem na lista do CODETER. Assim, foram entrevistadas

somente as 35 entidades. Algumas que estão no SGE e outras que fazem parte da lista

do CODETER, que segue em anexo.

Fonte: SGE, 2011.

No gráfico acima, pode-se observar que a maioria dos entrevistados (51,43%)

sabe da existência da figura do assessor técnico do Colegiado, entretanto, um grande

número de entrevistados, ou seja, (49,57%) desconhece o trabalho do assessor técnico

ou a existência deste cargo de apoio ao trabalho do Colegiado. Embora o técnico que

auxilia o CODETER, na mobilização e articulação das entidades-membros que

compõem a Plenária serve de elo e animador do processo de funcionamento das ações

que perpassam pelo CODETER.

Destaca-se que no TENEPA o fato do assessor técnico ter pedido demissão no

mês de janeiro e não ter sido contratado um substituto, pode ter contribuído na resposta

de que não existia um assessor técnico que apoiasse de forma permanente, uma vez que

o cargo não está ocupado, o que aparece na resposta dos entrevistados.

Page 34: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

34

Fonte: SGE, 2011.

O gráfico aponta que embora a maioria dos entrevistados tenha afirmado existir

um assessor técnico no Território (não se aplica a 57,14%), os que afirmaram que esse

assessor não existe, em sua maioria, desconhece que haver outro técnico presta

assessoramento ao CODETER (28,57%).

Já (5,71%) afirmaram que na falta desse assessor técnico do Território, há o

apoio de um técnico do governo federal, estadual ou de outra instituição (talvez algum

técnico pertencente às entidades da sociedade civil que participam do CODETER), e

apenas (2,86%) afirma que esse apoio técnico é exercido por um técnico do governo

municipal.

Fonte: SGE, 2011.

No gráfico acima destacamos que o meio mais utilizado para selecionar e eleger

membros para participar do TENEPA é o convite direto às organizações selecionadas

Page 35: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

35

(82,86%), sendo seguido pelo convite pessoal (54,29%) e pela convocatória aberta para

eleição de representantes (51,43%).

O destaque que se faz aqui diz respeito ao percentual indicado pela resposta

Outros (5,71%), pois os comentários realizados pelas entidades que responderam tal

item indicava que, em alguns casos, o Núcleo Diretivo do TENEPA é quem escolhe as

entidades que fazem parte da Plenária, sem aprovação desta, indicando haver uma

minoria que decide pela maioria. Entretanto, analisando o Regimento Interno do

TENEPA vê-se que a forma de seleção e eleição das entidades-membros para compor a

Plenária não é esclarecida.

Fonte: SGE, 2011.

No gráfico acima podemos observar que a maioria das pessoas entrevistadas

(31,43%) não sabe quantas reuniões formais o CODETER realizou desde a sua

constituição no ano de 2003, enquanto (25,71%) das entidades que afirmam que o

Colegiado já realizou mais de vinte reuniões, desde a sua fundação. Tal divergência de

informações faz-nos refletir a respeito da participação efetiva das entidades-membros

entrevistadas nos trabalhos ordinários do CODETER, dados os altos percentuais de

respostas com situações extremas em termos das hipóteses de resposta: o não saber

quantas reuniões ocorreu e a afirmação de que houve mais de vinte reuniões desde a

constituição.

O que observamos durante as entrevistas foi que para conseguir responder a

questão em comento, os entrevistados acabam por vinculá-la com perguntas seguintes

como: com que frequência a Plenária se reúne e em que ano o Colegiado foi criado.

Segundo eles, após responder as mencionadas perguntas, ficava mais fácil calcular

quantas reuniões ocorreram ao longo dos oito anos de trabalho do CODETER.

Page 36: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

36

Fonte: SGE, 2011.

Nesse contexto, tem-se que a maioria dos entrevistados do CODETER se reúne

num intervalo entre três a quatro meses (37,14%), seguido daqueles que identificam

uma frequência com intervalos superiores há seis meses (28,57%), significando que a

Plenária se reúne uma vez ao ano.

Neste item é válido destacar que alguns representantes das entidades

entrevistadas não participaram das plenárias de construção, discussão e revisão do

PTDRS, ocorridas em 2011. Eles reclamaram que a distância entre os municípios do

Território, a logística para o deslocamento, a falta de antecedência dos convites para as

reuniões e a falta de recursos para deslocamento e hospedagem acabam interferindo no

andamento dos trabalhos e na participação dos representantes das entidades em todas as

reuniões, principalmente dos municípios mais distantes.

Aqui se recorda que no tocante à realização das plenárias do PTDRS, de início, e

com vistas a aumentar a participação das entidades-membros nas discussões para a

revisão do Plano, o Território foi dividido em 4 regionais para facilitar o deslocamento

dos representantes dos municípios mais próximos às cidades-sede de cada regional.

No entanto, por conta do alto custo que estas oficinas teriam e do prazo para

entrega do Plano, a redução das oficinas apenas a duas cidades-sede apresentou-se como

melhor solução para as entidades organizadoras e alguns municípios questionaram a

logística dos municípios escolhidos para cada reunião, tendo em vista a dinâmica de

deslocamento para as cidades-sede dos eventos.

Page 37: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

37

Fonte: SGE, 2011.

Com base nos dados observa-se que os governos municipais são os que possuem

menor capacidade de decisão no CODETER (cerca de 2,52 na escala de 1 a 5) e tal fato

pode ocorrer devido a estes entes, na grande maioria das reuniões, não enviar

representantes. O gráfico demonstra ainda que os entes com maior poder de decisão no

CODETER são as associações e sindicatos (cerca de 4,15 na escala), seguidos pelos

movimentos sociais (4 pontos na escala) e pelos representantes da agricultura familiar e

governo federal (cerca de 3,8 na escala).

Um fato interessante apontado no gráfico consiste na alta capacidade de decisão

dos entrevistados com relação aos representantes do governo federal, pois o

representante mais ativo deste ente seria a Embrapa, que em um quadro comparativo, na

opinião dos entrevistados, acaba por ter um peso igual ao de todos os representantes de

agricultores familiares.

Cabe analisar o entendimento das entidades-membros com relação à atuação dos

Articuladores Territoriais, representantes da SDT/MDA, no processo de discussão das

políticas territoriais, pois o alto poder de decisão indicado pelos entrevistados pode estar

vinculando às orientações destes sujeitos que são interpretadas como decisões a serem

tomadas pela Plenária.

Outro dado interessante e ser ressaltado é poder de decisão que os representantes

de universidades têm na Plenária Territorial, a partir da visão dos entrevistados (3 na

escala), na medida que estes têm uma participação maior que a dos governos

municipais, quando, na verdade, atualmente, não existem universidades participando

como entidades-membros do TENEPA. Mais uma vez, como o ocorrido em relação à

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38

participação do Articulador Territorial, o resultado obtido mostra que há uma confusão

no entendimento da participação da Célula, nas discussões da política territorial, sendo

esta vista como entidade-membro, quando é apenas parceira com o objetivo de apoiar as

discussões no âmbito do Território.

Fonte: SGE, 2011.

Deve-se entender o sentido que foi atribuído ao termo comunidade na questão

levantada: o sentido de comunidade leva em consideração a sociedade como um todo ou

apenas as comunidades que têm representantes no CODETER? Superada essa dúvida

temos que a comunicação pessoal foi indicada como o meio mais utilizado pelo

TENEPA para informar suas ações e decisões à comunidade (82,86%), seguido pela

comunicação através de parceiros da sociedade civil (80%) e pelos parceiros de

entidades governamentais (68,57%).

Nos dados gerados pelo sistema, a partir da visão dos entrevistados,

surpreendeu-nos a importância dada à internet (60%) uma vez que o acesso à internet

em alguns municípios é difícil e poucas pessoas conseguem ter acesso a este tipo de

comunicação. Entretanto, este meio tomou grande proporção por ser considerado mais

acessível aos representantes das comunidades, que acabam por repassar através da

comunicação pessoal às informações que recebem virtualmente.

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39

Fonte: SGE, 2011.

As temáticas mais comentadas no âmbito do CODETER são projetos (4,70 na

escala), seguidos por reforma agrária (4,3) e planejamento (cerca de 4,2). As outras

temáticas mais comentadas obedecem à seguinte ordem: meio ambiente e gênero, raça e

etnia, ambas com (4,15); infraestrutura e cidadania; educação; desenvolvimento

agropecuário e assuntos políticos; controle social; cultura; saúde; justiça; segurança; e

lazer.

Fonte: SGE, 2011.

O gráfico acima indica que os entrevistados avaliam que a baixa participação

dos produtores (4,65 na escala) no CODETER é prejudicial ao desempenho deste que a

pouca participação dos gestores públicos no processo e a baixa capacidade técnica de

avaliação de projetos (ambos com 4,5 na escala). A alta rotatividade dos membros do

Colegiado também prejudica quando o mesmo não é escutado em outras instâncias

(ambos com 4,4 na escala).

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40

Já a influência política no trabalho do Colegiado (cerca de 4,35) fica quase no

mesmo patamar dos membros do CODETER, quando estes não representam os

interesses das entidades às quais representam (4,3). Pode-se perceber que os gestores

públicos raramente se fazem presentes (com exceção dos escritórios locais da EMATER

e da EMBRAPA), o está refletido nos dados sobre o não acompanhamento destes aos

trabalhos do Colegiado, ao longo deste primeiro ciclo de pesquisas, ou seja, tanto

durante as Plenárias do Colegiado, quanto nas reuniões dos Núcleos Técnico e Diretivo,

nas discussões do Território e por isso os produtores acabam por ter uma importância

maior no contexto do Colegiado.

Fonte: SGE, 2011.

Do gráfico, no que tange à elaboração do diagnóstico territorial, o Colegiado é

percebido como tendo participado mais da concepção e elaboração (77,14%) e das

oficinas de discussão para a formação deste (71,43%), que propriamente na revisão dos

dados (62,86%). É válido destacar que 17,14% dos entrevistados não têm conhecimento

dos diagnósticos que foram realizados na região, em 2006 e 2011, o que mais uma vez

nos remete a verificar se essas entidades realmente participam da gestão do Colegiado e,

no caso negativo, quais fatores têm sido determinantes para a sua não participação.

Page 41: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

41

Fonte: SGE, 2011.

Embora a maioria dos entrevistados tenha conhecimento a respeito da

construção de uma visão de futuro para o Território (77,14%) surpreende-nos quando se

constata que (22,86%) desconhece a existência (11,43%) que responde não saber se há e

(11,43%) que afirmou que o território não possui visão de futuro, quando na verdade,

essa foi elaborada desde o PTDRS de 2006.

A maioria dos entrevistados tem conhecimento sobre a visão de futuro para o

Território, afirmando que o Colegiado participou mais de duas oficinas de discussão

para a formação dessa visão de longo prazo (74,29%) e da sua concepção e elaboração

(71,43%), que na sua revisão (57,14%) neste ano de 2011. Conforme indica o gráfico

abaixo:

Fonte: SGE, 2011.

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42

Fonte: SGE, 2011.

Com relação ao PTDRS os entrevistados perceberam que o Colegiado mais

participou das oficinas de discussão para a formação deste (71,43%) que propriamente

na sua concepção e elaboração (68,57%) e na sua revisão em 2011 (65,71%).

Fonte: SGE, 2011.

Pode-se verificar no gráfico acima que a grande maioria dos entrevistados

aponta que as decisões tomadas no Colegiado levam em consideração a opinião da

maioria das pessoas presentes, seja utilizando instrumentos de votação por maioria

simples (94,29%), seja através de acordos por consenso (77,14%).

Entretanto, um grande percentual aponta que há ainda uma articulação entre

grupos ou blocos de interesse (80%) e um percentual significativo destaca que os

membros do colegiado defendem seus próprios projetos e iniciativas (65,71%) sem

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43

pensar no TR como um todo. Destaca-se ainda que (51,43%) avalia, opina mas não

decide.

Fonte: SGE, 2011.

Com relação aos projetos que são aprovados no Território, temos que (88,57%)

dos entrevistados afirma serem selecionados e priorizados com base em critérios

estabelecidos, enquanto para (80%) os projetos de desenvolvimento territorial são

realizados a partir de uma análise de viabilidade técnica e de uma avaliação interna de

mérito feita pelo Colegiado.

Destaca-se que (51,43%) dos entrevistados afirmam que ao se elaborar um

projeto para o território, há uma disponibilização de técnicos das áreas envolvidas com

o mesmo, sem, entretanto, dizer quem disponibiliza estes técnicos.

Fonte: SGE, 2011.

Com relação à formação recebida pelos membros do Colegiado ao longo deste

oito anos de atuação no Território, e de acordo com a história de participação de cada

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44

entidade entrevistada, tem-se que as temáticas mais trabalhadas em capacitações com os

membros foram, na ordem seguinte: desenvolvimento territorial e planejamento

participativo; elaboração de projeto e organização; elaboração de planos de

desenvolvimento; planejamento estratégico e controle social. Também foram

trabalhados temas como monitoramento e avaliação, enquanto gestão de conflitos, pois

(50%) dos entrevistados tem passado por este tipo de capacitação, indicando que essas

temáticas têm sido mais trabalhadas. Destaca-se ainda que (20%) dos entrevistados

afirmou não saber em que áreas os membros do colegiado tiveram treinamento.

5. Avaliação de Projetos

A avaliação de projetos não foi realizada no Território, uma vez que o único

projeto de investimento a ser avaliado foi a compra de um caminhão com o objetivo de

contribuir na produção indígena, com a implantação de uma unidade de beneficiamento

de açaí e duas beneficiadoras de farinha de mandioca, nas aldeias Cajueiro e Tecorral,

entretanto, conforme contato com o senhor Marcos Amaral, Secretário de Agricultura

de Paragominas, embora as obras dos mencionados empreendimentos econômicos

estivessem concluídas e todo o equipamento comprado e no local, os mesmos ainda não

estão funcionando por falta de energia elétrica nos locais.

A solicitação para o fornecimento de energia elétrica, mas até o momento não

foi implantada. No último contato com a Secretaria de Agricultura, na terceira semana

de agosto, a Rede Celpa ainda não havia realizado a ligação da mesma. O Manual de

Avaliação de Projetos do SGE, na página 2, parágrafo 3º determina:

Ressalta-se, que para efeito de Avaliação de Projetos, são analisados

os empreendimentos econômicos (casa de farinha, casa de mel, entre

outros) e ou sócio-culturais (centro comunitário, escola família rural,

entre outros) previstos como metas dos projetos que já foram

concluídos. Outras metas podem prever obras de infraestrutura,

máquina e equipamentos, porém não são objetos de avaliação no

questionário apresentado neste manual.

Portanto, como o mencionado projeto de compra do caminhão constitui uma

meta complementar dos empreendimentos econômicos que ainda não estão concluídos

nem funcionando, entendemos que o Q5 - Avaliação de Projetos de Desenvolvimento

não devia ser aplicada neste primeiro ciclo de pesquisas.

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45

6. Índice de Condições de Vida – ICV

A pesquisa do Índice de Condições de Vida – ICV, que se passa a analisar, foi

realizada nos meses de janeiro e de junho a agosto de 2011, com objetivo de identificar

a percepção de pescadores, ribeirinhos, quilombolas, agricultores familiares entre outros

agentes sobre suas condições de vida, nas amostras sorteadas pela SDT/MDA, em dez

dos vinte municípios que compõem o TR, quais sejam: Aurora do Pará, Capitão Poço,

Garrafão do Norte, Ipixuna do Pará, Irituia, Mãe do Rio, Paragominas, Santa Luzia do

Pará, São Domingos do Capim e São Miguel do Guamá.

Nos municípios de Ipixuna do Pará e Santa Luzia do Pará, a equipe não

conseguiu concluir a pesquisa apenas na amostra por conta da escassez de domicílios

para atingir a cota obrigatória de famílias de agricultores familiares, por isso,

continuamos a aplicação dos questionários nas áreas de substituição até a conclusão da

mesma, ainda obedecendo ao espaçamento entre domicílios obrigatório.

Dos 270 entrevistados, (60%) eram agricultores familiares, (12,6%)

representantes de produtores não familiar, o que representou (68,5%) da amostra com

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46

agentes que possuíam algum tipo de produção e, 31,5% da amostra apresenta-se como

indivíduos sem qualquer produção.

Amostra Freq. %

Agricultura Familiar 151 55,9

Produção não Familiar 34 12,6

Com Produção 185 68,5

Sem Produção 85 31,5

Total 270 100,0

Fonte: Elaboração da equipe com base nos dados SGE, 2011.

Fonte: SGE, 2011.

O Índice de Condições de Vida (ICV) do público rural, para o Nordeste

Paraense, considerando as percepções dos 270 entrevistados, apresentou mensuração de

0,527, caracterizado como nível médio (entre 0,40 e 0,60), segundo a escala definida

pelo SGE/CAI, do Território Nordeste Paraense – PA.

Na composição do ICV, seguindo a metodologia aplicada, as instâncias de

agrupamento dos dados representaram dimensões definidas como: os Fatores de

Desenvolvimento, que atingiram o índice de 0,476 (Médio); as Características do

Desenvolvimento com 0,501 (também Médio), sendo que para essas duas dimensões

compreende-se o conjunto da amostra Com Produção familiar e não familiar; e os

Efeitos do Desenvolvimento, com índice de 0,629 (médio alto), dos quais se agregam as

informações do conjunto da amostra dos Sem Produção.

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47

Fonte: SGE, 2011.

Dentre os componentes do Índice relacionado com os Fatores de

Desenvolvimento, destaca-se positivamente o componente de Condições de Moradia,

com índice de 0,616 considerado Médio Alto (na escala de 0,60 a 0,80), em que

(11,4%) dos entrevistados, os quais declararam condição ótima, (37,8%) condição boa e

(41,1%) condição regular. Na realidade, o geral é uma condição de moradia regular, em

que muitas habitações são constituídas com piso de “chão batido”, contudo, as

indicações para a existência de infraestrutura básica (energia elétrica, água nas casas,

fogão à gás, geladeira e telefone) foram boas, com aproximadamente (50% a 90%) das

respostas, apenas os itens de banheiro e computador tiveram baixíssima representação,

(35% e 1,08%) respectivamente.

Também positivamente, porém numa condição de índice médio (na escala de

0,40 a 0,60), dispuseram-se os fatores de Números de Famílias Trabalhando, Mão de

Obra Familiar, Área Utilizada, Escolaridade e Acesso aos Mercados. Basicamente estes

são fatores de produção ligados diretamente ao trabalho e que foram consideradas como

adequadas para o Território, numa percepção de regular para boa.

Como percepções negativas estão o Acesso à Assistência Técnica com 0,216, o

Acesso ao Crédito com 0,284, a Presença de Instituições com 0,355 e os Programas do

Governo com 0,373, todos em níveis de indicadores médio baixo na escala de 0,2 a 0,4.

De (50% a 70%) dos entrevistados consideram que esses fatores estão em posição

péssima ou ruim de desempenho.

Tanto o Acesso à Assistência Técnica e ao Crédito, quanto a Presença de

Instituições e de Programas de Governo os entrevistados se referem às dimensões da

atuação das políticas públicas, de suas aplicações, e, especificamente, a fatores

relacionados à criação de um campo institucional que pode favorecer a competitividade

(por exemplo, a redução dos custos de transação e produção), a inovação, a agregação

de valor, o direcionamento e regulação da produção, a mercados e etc. Contudo, é

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48

evidente que há uma percepção geral dos entrevistados de que as políticas públicas

ligadas à promoção dos fatores do desenvolvimento (significativamente os inquiridos na

pesquisa) ainda têm pouca eficácia.

Levanta-se para aprofundamento em novos estudos a questão da baixa

integração das políticas públicas no Território. Entre as diversas esferas de governo e

instituições governamentais presentes, como também, e em consequência, do pouco

poder deliberativo do colegiado do Território, ou de suas ações deslocadas dos

interesses de suas bases sociais, afetando a governabilidade, na medida em que as suas

decisões se transformem em decisões resolutivas reais. A determinação das políticas

públicas relacionada aos fatores pesquisados, a fim de que possam ser executadas

efetivamente de forma integrada e interrelacionada àquelas decisões (COSTA e

ANDRADE, 2008).

Fonte: SGE, 2011.

Dentre os componentes do Índice relacionados com as Características do

Desenvolvimento, destacam-se de forma positiva os índices de Conservação das Fontes

de Água, com classificação médio alto de 0,666; bem como, os índices de Preservação

da Vegetação Nativa e Conservação da Área de Produção: Solo, com avaliação média

de 0,600 e 0,588, respectivamente. Essa mesma avaliação também se deu para os fatores

de Produtividade do Trabalho, da Terra e Diversificação da Produção Agrícola, com

índices médios de 0,461, 0,536, 0,405.

Estas características do desenvolvimento se devem principalmente pela forte

presença da agricultura familiar na região e por suas especificidades de produção e

utilização dos recursos naturais disponíveis e de forma diversa, bem como, de sua

racionalidade expressa na relação de produção e consumo desenvolvidas ainda com

grande capacidade de endogenização da renda, de acordo com seus índices de

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49

aglomeração em que as retenções da renda são maiores que os transbordamentos para

outras regiões (ANDRADE, 2009).

As análises de Costa (2004) e Andrade (2009), para o Nordeste Paraense,

também corroboram as características referidas acima. De acordo com dados do Censo

Demográfico do IBGE (1996), dos 82.269 estabelecimentos rurais existentes na região

geopolítica do Nordeste Paraense, (99%) eram estabelecimentos rurais pertencentes à

forma de produção da agricultura familiar e apenas (1%) representava os

estabelecimentos patronais, sendo que o Valor Bruto da Produção (VBP) de base

agrária, por Contas Sociais Ascendentes, na matriz de insumo-produto, de R$ 3,6

bilhões de reais, em 2005, (23%) constitui-se pelo VBP da Agricultura Familiar e (11%)

pelo VBP da Produção Patronal.

O VBP da agricultura familiar, que foi de R$ 832,52 milhões, apresentou uma

relação com sua Demanda Intermediária (DI) em torno de (17%), frente a uma relação

de (54%) da Produção Patronal, o que significa, a favor da agricultura familiar uma

menor pressão por utilização de insumos, em especial químicos e agrotóxicos; e, por

outro lado, pela forma de incorporação dos recursos naturais das capoeiras e florestas

como meios integrados aos seus sistemas de produção, que permitem redirecionar ou

contrabalançar os impactos degradantes da atividade agrícola, caracteristicamente, como

definido por Costa (2004) na utilização da capoeira valor e da capoeira reserva (ou em

repouso), no sentido de rotação das áreas de mata secundária e pela diversidade com

que é empregada na produção enquanto capital ou matéria prima.

No conjunto, os índices de Conservação dos recursos naturais sugerem grande

oportunidade para o desenvolvimento de um padrão de produção agrária com

sustentabilidade socioambiental, baseada na pequena produção familiar; o que tenciona

pela proposição de novos estudos que permitam a continuidade dessas avaliações em

suas dimensões micro e macro e das formas de evolução dessas oportunidades.

Tabela de Valores Absolutos do VBP, do VA e da DI, da Forma de Produção Camponesa, 1995-2005, a Preços

Constantes de 2005, em R$ 1.000.000.

Preços de 2005 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VBP Camponês 710,41 805,00 583,25 635,59 655,72 666,76 791,15 809,25 835,48 768,30 832,52

VA Camponês 613,79 680,65 487,28 534,65 544,12 551,05 655,34 671,30 683,31 620,70 677,17

DI 96,62 124,35 95,97 100,93 111,60 115,71 135,81 137,95 152,17 147,60 155,35

Fonte: (ANDRADE, 2009). Dados do IBGE, Censo Agropecuário (1995/1996), Pesquisa Agrícola Municipal – PAM,

(1995/2005), Pesquisa de Campo. IGPM-FGV como deflator dos valores absolutos entre 2005/1995.

Page 50: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

50

Gráfico da Relação do VBP VA e da DI Camponês, 1995-2005, do Nordeste Paraense, a Preços Constantes de 2005

(ANDRADE, 2009).

Os índices de percepção das características do desenvolvimento para a Renda

Familiar e para a Diversificação nas Fontes da Renda apresentaram considerações em

nível Médio Baixo, com indicações de 0,382 e 0,365, respectivamente.

Aproximadamente (80%) dos entrevistados declararam percepções de regular a

condições péssimas de renda. Para os agentes representantes do conjunto Com

Produção, isso significa, ainda, baixos níveis de geração de renda, em especial, pela

grande predominância da agricultura familiar (56% da amostra) que, geralmente,

apresentam cadeias produtivas de seus produtos de forma incompleta, com baixos níveis

de agregação de valor, além de perder a oportunidade de geração de novos empregos

locais para os setores da indústria e comércio, em especial, para o conjunto dos Sem

Produção que, na amostra, representou (31,48%) dos entrevistados e que

necessariamente dependem de novos postos de ocupação local.

Esses indicadores são corroborados pelas avaliações do Comércio no Território

que, para a Intervenção dos Intermediários, das Condições para Compra de Insumos e

de Venda dos Produtos, em que os maiores percentuais de percepção representaram

indicações de condições Mais para Ruim. Fica ainda perceptível, pelas indicações que a

agricultura familiar, no Território, ainda apresenta subordinação real à ação dos

intermediários, do capital mercantil, em que os produtores ainda se apresentam como

tomadores de preço, em circunstâncias de dependência para o próprio financiamento da

produção, em muitos casos.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

VBP VA/VBP - Mark-up DI/VBP

Page 51: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

51

Fonte: SGE, 2011.

Neste conjunto de índices incorporam-se, além das respostas dos Com Produção,

as indicações dos Sem produção, parte da amostra dos que vivem de outras rendas. O

Índice geral dos Efeitos do Desenvolvimento ficou em 0,629, considerado Médio Alto.

Dentre os componentes do Índice relacionados com os Efeitos do

Desenvolvimento, destaca-se a Permanência dos Familiares no Domicílio com 0,874,

considerado índice Alto (na escala de 0,80 a 1,00), com (92,6%) dos entrevistados que

consideram Ótimo ou Bom para a condição de permanência. A Participação em

Organizações Comunitárias (0,658), em Atividades Culturais (0,627), as Condições de

Alimentação e Nutrição (0,611) e a Situação Econômica (0,639) foram consideradas em

nível Médio Alto. Em torno de (60%) das respostas percebem as situações entre Ótimo

e Bom, contudo, considerou-se regular, com (43,7% e 41,8%) das respostas, para as

Condições de Alimentação e de Saúde; e (30% e 30,7%), para a Participação Política e

Situação Ambiental.

Observa-se que, mesmo com a inclusão dos que vivem de outras rendas, sem

produção, não se alterou os resultados do ICV representados exclusivamente daqueles

com produção agrícola familiar e não familiar, ou seja, daqueles que vivem o dilema

entre a decisão de ampliação da potência e sacrifício do trabalho para ampliação ou não

de sua condição de consumo, ou mudança de seu sistema de produção (novos

investimentos), ou incremento de novas demandas, como é o caso do agricultor familiar

quando decide investir na educação dos filhos em regiões metropolitanas, por exemplo.

Dessa forma, estariam as percepções dos efeitos do desenvolvimento

desassociadas das percepções de seus fatores de promoção, do que seria esperado como

ideal para um processo de desenvolvimento com sustentabilidade? Estariam ainda

dissociados dos fatores de mão de obra familiar e número de famílias trabalhando, ou

das baixas percepções do campo institucional em relação a aplicação de políticas

Page 52: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

52

públicas de crédito e assistência técnica? Questões que requerem aprofundamento das

pesquisas.

Um dos elementos indicativos desta aparente dissociação estaria na Permanência

dos Familiares no Domicílio (com indicação alta entre 0,8 e 1,0) sob as percepções dos

efeitos do desenvolvimento em níveis médio alto, aparentemente sem correspondência

aos fatores que o promove - este estabelecido em nível médio (0,476)?

Há a evidência de que as populações rurais do Território apresentam baixos

níveis de migração urbana, mesmo em condições de crise econômica como a

apresentada pelo Nordeste Paraense em anos passados (no período de 1995 a 2004)

(ANDRADE, 2009). Nesse sentido, é possível que prevaleça a tradição pelo sentido de

natividade? Ou que as disposições em recursos naturais do território têm acomodado

qualquer que sejam as dinâmicas demográficas de crescimento da população frente às

condições restritivas de crise econômica passada ou mesmo frente à expansão recente

do emprego na Região Metropolitana de Belém, em especial na construção civil e nos

serviços? Tais disposições estariam garantidas pelo autoconsumo dadas às reservas

disponíveis ao extrativismo? Ou ainda, estariam as transferências de renda dos

programas de governo (tipo bolsa família) reforçando tal permanência, acomodando as

migrações, influenciando os efeitos do desenvolvimento para além do que seria

esperado ou como consequência de seus fatores de promoção, portanto, reforçando a

dissociação entre fatores e efeitos do desenvolvimento? São questões que propõem

novos estudos.

Quando se observou de forma destacada cada conjunto da amostra, tanto os Com

Produção, quanto especificamente a Agricultura Familiar ou o conjunto dos Sem

Produção, o comportamento dos índices nas três dimensões foram praticamente o

mesmo do conjunto geral da amostra, conforme analisado acima, ressalvadas pequenas

variações, mas que sempre estão próximo ao limite dos intervalos das escalas.

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto

Percebe-se que os indicadores de desenvolvimento sustentável são considerados

críticos no Território do Nordeste Paraense e, para não nos perdermos no labirinto dos

dados exclusivos da percepção dos entrevistados, foi necessário estabelecer alguns fios

condutores. Teria sido mais fácil reduzir esses fios a princípios oriundos dos próprios

Page 53: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

53

dados, independentemente da subjetividade dos pesquisadores, que assim ficariam

menos expostos às críticas dos leitores. No entanto, é válido destacar que a própria

definição dos fios condutores da análise integradora representa uma combinação de

forte empatia com as análises heterodoxas em oposição a uma ortodoxia que

frequentemente se satisfaz com uma moldura distanciada da análise do cotidiano, dos

sujeitos reais, para colocar, de modo maravilhado, a segurança de uma armadura

intermediária entre um objeto e um método.

Os dados do Território Nordeste do Pará mostram que há a necessidade de se

distanciar das ações do desenvolvimento enquanto articuladoras das potencialidades

sócio-produtivas e político-culturais das populações locais implicadas ao território; até

mesmo porque as delimitações das fronteiras que constituem o referido Território

trazem em si complicações implícitas à heterogeneidade das dinâmicas dos diferentes

municípios.

As microrregiões têm contradições e conflitos colocados por atores como

fazendeiros, madeireiros, agricultores familiares, populações indígenas, populações

quilombolas e mineradoras. Assim, para fortalecer as relações da agricultura familiar,

combinada aos sujeitos das populações tradicionais há a necessidade de um intenso

processo de difusão da agroecologia, do manejo florestal madeireiro e não madeireiro, a

fim de desenvolver as cadeias produtivas da fruticultura, da apicultura, do

aproveitamento das reservas extrativistas, entre outras que possam favorecer esses

sujeitos na contraface do processo de expansão do agronegócio e da indústria

mineradora. Para tanto, a introdução de escolas profissionalizantes no nível técnico e no

nível superior é essencial.

Outro elemento importante para a compreensão do Território, do ponto de vista

de sua integração diz respeito ao aprofundamento da análise sobre as políticas de

transferências de renda e dos programas de governo (tipo Bolsa Família, BPC, PAA),

tendo em vista conhecer se estes têm reforçado a permanência no campo, acomodando

as migrações ou influenciando nos efeitos do desenvolvimento. Também é importante

saber se suas consequências, em termos de promoção, tem reforçado a dissociação entre

os fatores e efeitos do desenvolvimento.

Portanto, o conhecimento das políticas públicas relacionadas aos fatores

pesquisados podem efetivamente favorecer uma ação integradora e interrelacionada às

decisões com perspectivas de transformação das situações de vulnerabilidades sociais

Page 54: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

54

identificadas no Território. Assim, suscitamos algumas questões que podem contribuir

para a compreensão do Território, mas que exigem estudos mais aprofundados:

A pesquisa realizada mostra uma baixa integração entre as diversas

esferas de governo, suas redes técnicas e institucionais nos processos de

implantação ou implementação das políticas públicas no Território.

O Colegiado do Território tem pouco poder deliberativo e baixa

capilaridade, além da questão da legitimidade e da confiança, para ser

efetivamente um instrumento de referência na execução das ações de

transformação. Paradoxalmente esse descrédito está relacionado à falta

de efetividades das ações e à baixa capacidade de execução, à

burocratização, para a consolidação das políticas de cunho territoriais,

tendo em vista que suas ações são deslocadas dos interesses de suas bases

sociais, e ações essas que contribuem para sua própria governabilidade.

No conjunto, os índices de Conservação dos recursos naturais sugerem

grande oportunidade para o desenvolvimento de um padrão de produção

agrária com sustentabilidade socioambiental, baseada na pequena

produção familiar, o que tenciona pela proposição de novos estudos que

permitam a continuidade dessas avaliações em suas dimensões micro e

macro e das formas de evolução dessas oportunidades. No entanto, o que

se observa para além dos índices relacionados à percepção dos

entrevistados, é uma transformação da identidade deste Território, dada a

ampliação dos interesses do agronegócio.

Há evidência de que as populações rurais do Território apresentam

baixos níveis de migração urbana, mesmo em condições de crise

econômica como a apresentada pelo Nordeste Paraense em anos passados

(no período de 1995 a 2004) (ANDRADE, 2009).

A disposição de recursos naturais do território parece ter acomodado as

dinâmicas demográficas de crescimento da população frente às condições

restritivas de crise econômica passada ou mesmo frente à expansão

recente do emprego na Região Metropolitana de Belém.

Nosso segundo “fio de Ariadne” refere-se à necessidade de uma análise mais

rigorosa das condições de desenvolvimento do Território, e de como se constitui o

engajamento do trabalho no território, não basta ter a posse da terra, mesmo que sob

Page 55: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

55

formas precárias, é necessário colocar um termo em relação às próprias políticas sociais,

que hoje são essenciais a própria condição do desenvolvimento; sem educação de

qualidade não há qualquer proposição capaz de elevar as condições de vida relacionadas

a bacia do trabalho e, em consequência, a melhoria das condições de vida e de inserção

sócio-produtiva; é necessário cercar os termos que entram nesta relação e que dão

origem à elevação dos indicadores socioeconômicos e, mais ainda, os termos que tem

gerado os conflitos aí situados.

O terceiro fio condutor é metodológico: consiste mais em possibilitar a inserção

mais efetiva, em face das tarefas e atividades em que estão envolvidos os pesquisadores

e que tem a ver com a “produtividade” desde a perspectiva do trabalho de campo até o

tempo para as análises da base de dados obtidas sobre a realidade do que habitualmente

acontece no Território. Esta última visão parece ser retro-teleológica e falsamente

dinâmica, na medida em que os recursos necessários para a permanência no Território

não corresponde o orçamento do projeto. Apresenta, sobretudo, o inconveniente de

privilegiar de modo sistêmico o ponto de vista dos dados secundários, estabelecidos por

critérios muitas vezes extremamente abstratos.

Desta visada de perspectiva surgem subsídios que possibilitam a renovação de

alguns elementos vistos de forma acessória sobre a dinâmica territorial, e a introdução

da política sob o paradigma da abordagem do território, sob esses princípios, que ainda

está em condição embrionária.

Qual a utilidade da concepção de território para à política de desenvolvimento na

contenção do movimento neodesenvolvimentista que se articula fortemente à trajetória

já percorrida da acumulação capitalista sob a base da grande fábrica? Não haveria aí

uma exasperação romântica, a antítese de uma relação dialética do território, no seio da

qual persiste técnicas de planejamento de submissão ao externo e ao exógeno,

subsumido ao movimento de desenvolvimento industrial ao invés da política territorial,

suas técnicas e suas forças produtivas em contraposição à industrialização pelo alto? É

certo que para Zenão, a aprendizagem se faz no movimento do próprio fazer, fazendo.

No término das descobertas, os pesquisadores podem contribuir para a validação ou não

de nossas conclusões.

Mas é certo que a “aventura” de introduzir a política da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial é uma passagem que precisa ser experimentada e

sistematizada em seu percurso, a fim de avaliar os fios invisíveis das amarras que

encontramos para construir um mapa capaz de, no mínimo, contribuir para uma chegada

Page 56: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

56

distinta da trajetória encontrada. Então, abatamos de vez nossos postulados e certezas

com base nos parcos resultados até agora analisados.

A análise de longa duração exige a retomada da via exit (a resposta por

defecção), que não pode ser entendida apenas pela regra prioritária da via voice (tomada

da palavra), como se refere O. Hirschman isto porque a reforma agrária e associada às

políticas de formação e fomento à agricultura familiar constitui um problema histórico

central na longa trajetória histórica do desenvolvimento, particularmente quando se

refere a uma inovação dada pela política territorial, em contraposição ao processo de

acumulação capitalista em regiões de fronteira. Toda a história da constituição da

agricultura familiar está relacionada ao processo de fuga e posse precária, o que precisa

ser relida sob uma difícil análise que procura entender a ruptura desta constituição

material central no grande capital.

As ações do desenvolvimento territorial precisam ser encontradas a partir do

conhecimento das redes técnicas, políticas, econômicas, sociais e culturais na

constituição das dinâmicas territoriais e do trabalho livre, apoiadas nas pequenas

estruturas fundiárias e nas formas de associação dos trabalhadores, um domínio ainda

amplamente virgem, portanto, um território a ser conquistado contínua e

sistematicamente. Um aspecto de caráter crucial do subdesenvolvimento depende do

fato de que as políticas sociais de valorização do trabalho vivo estiveram historicamente

localizadas nas cidades, portanto, um caminho que precisa ser ultrapassado. E nesse

sentido as políticas territoriais são um grande contributo.

As formas autoritárias do passado (recente no Brasil) têm ressonância e ecoam

essencialmente nas políticas econômicas, sejam as de caráter neodesenvolvimentistas,

sejam as de caráter monetaristas, em que o tratamento das externalidades negativas são

constantemente postergadas, na medida em que os custos de instalação das grandes

infraestruturas são efetivados de forma prioritária, em detrimento da qualificação da

força de trabalho humana, gerando o chamado “apagão” de mão-de-obra, hoje tão

propagada como uma externalidade negativa para a ancoragem de uma possível

ampliação da escala de produção e melhoria, um mecanismo condicionado por relações

extremamente complexas.

As instituições, regras e agentes desses processos são claramente identificáveis e

suas relações são definidas sob uma economia de escala em contraposição a economia

da agricultura familiar efetivada sob a ausência de bens e serviços, como custos de

produção, reprodução, crédito, armazenamento e de reposição.

Page 57: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

57

Neste sentido, a pesquisa das relações e redes de constituição das dinâmicas

territoriais exige um alargamento sistemático com fulcro na produção material, portanto,

como “fato social total” a là Mauss, transbordando a esfera monetária e mercantil, para

atingir as relações de reciprocidade, intercâmbio entre os sujeitos em interação ou

mesmo em confronto.

Trata-se, portanto da complexidade material dos eventos e acontecimentos

revestidos das estruturas e conjunturas imbricadas no tempo e no espaço. As

transformações que tocam a produção material (implicadas pelas relações de trabalho,

educação, produção, comercialização, financiamento dentre outros), que operam em

todas as dobras e nervuras desta complexidade.

A análise dos processos e das relações socioeconômicas sob o paradigma da

grande indústria não empreende nem na história nem na economia um único modelo de

desenvolvimento e nem uma única racionalidade. Nestes termos as noções de

externalidade e de oportunismo ex post dos sujeitos podem ser resignificadas para além

daquelas compreendidas por Marshall. Por exemplo, a chamada Escola Sociológica

Francesa (Lefebvre, Topalov, Lojikine, Preteceille, embora tratando do urbano) parece

contribuir para a explicação do paradoxo da análise econômica sob múltiplas

determinações e interações, particularmente, com ênfase nas contradições entre capital e

trabalho, a qual tratava das totalidades sociais.

Embora, sob outra perspectiva, a análise das externalidades positivas ou

negativas pode contribuir para a identificação das infraestruturas e serviços de uso

comum, além das relações de interação entre os sujeitos que agem na diversidade dos

efeitos e que produzem novos efeitos não remunerados monetariamente. Neste termo, os

indicadores quanto à necessidade de uma Gestão Estratégica e integradora do Território

precisa enfrentar uma complexa e densa estrutura amalgamada na riqueza das relações

múltiplas que constituem e podem ou não potencializar as externalidades positivas e/ou

negativas. Assim, a análise fechada não dá conta dessas relações reais.

A penúria das ações fragmentadas e pontuais que se dão ainda de forma

setorizada sob a desordem das políticas sociais nos territórios rurais geram processos de

pauperização e proletarização, bem como, a evidência do “trabalho escravo” como

mecanismo de ligação entre o Território do Nordeste Paraense na estruturação das

empresas-rede conectadas pela economia-mundo.

Nestes termos, a noção de externalidade resignificada recupera os elos da

economia naquilo que uma visão muito estreitamente monetária e mercantil obscurece

Page 58: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

58

em face da complexidade de sua constituição real. A qual é impregnada pela

interdependência entre os fenômenos e as estruturas estendidas no âmbito maior e

abstrato da luta de classes em nível transecular operadas na sociedade global.

As noções de O. Williamson sobre o oportunismo ex post dos agentes e da

especificidade dos ativos são ampliadas na medida em que apontam, de um lado, que os

agentes não se limitam as formas de troca e nem e de contratos que somente lhes sejam

mais favorável. As relações decorrem de formas de transação, modificação de regras,

procedimentos e outras incitadas pelos problemas espaço-temporais.

Pode-se, portanto, depreender do exame histórico do Território, ainda que de

forma rudimentar, a necessidade de operação de ações de curto e de longo prazo, em

relação à implantação de bens e serviços coletivos de uso comum é, certamente, uma via

a fim de potencializar os elementos estratégicos sob as novas estruturas civis e

institucionais dadas pela política territorial, a qual ainda precisa ser consolidada.

Neste sentido, pode-se efetivamente alterar o IDS que é considerado um Nível

Crítico com 0,360 (entre 0,20 e 0,40). Quanto à sua composição, o Indicador

Ambiental é o mais elevado com 0,614, considerado Nível Estável na escala de 0,60 a

0,80, e, em seguida, o Indicador Político-Institucional com 0,435, os índices Cultural

e Social ambos com 0,403, considerados de Nível Instável (entre 0,40 e 0,60), enquanto

o Demográfico com 0,294 e o Econômico com 0,228 são considerados de Nível

Crítico.

Fonte: SGE, 2011.

Page 59: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

59

Fonte: SGE, 2011.

Os Indicadores que mais influenciam o índice Político-Institucional observa-

se a partir de uma elevada dependência de transferências intergovernamentais da União

com 0,672 caracterizando-o em Nível Estável (entre 0,60 e 0,80) e do reduzido número

médio de Conselhos Municipais com 0,262, Nível Crítico.

Fonte: SGE, 2011.

Quanto aos Indicadores que mais influenciam os índices Culturais, destaca-se o

Nível Instável da Gestão Municipal e do Fortalecimento Institucional para cultura e

Nível Crítico para InfraEstrutura de Recursos Humanos e da Ação Cultural.

Fonte: SGE, 2011.

No caso dos indicadores Sociais, os índices que mais influenciam para sua

instabilidade foram o reduzido número de leitos hospitalares com 0,011 (condição de

colapso da saúde), situação que é contraditória às percepções quanto aos efeitos do

desenvolvimento apresentados na amostra pesquisa.

Page 60: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

60

Também o nível instável dos homicídios com 0,480 em que a situação de

elevada violência, além de serem instáveis as condições de longevidade, educação, e das

famílias atendidas por transferência de benefícios sociais, sendo nesse caso, a melhor

condição dentre todos, com 0,593, demonstra dependência de repasse de recursos de

programas governamentais quase estável, por sentido do desenvolvimento, aumentar o

número da população que potencialmente escapa da linha de pobreza. O benéfico porém

é aumentar o número da população que apenas se torna dependente dessa transferência

não contribui para sua sustentabilidade.

Fonte: SGE, 2011.

Quanto aos Indicadores que mais influenciam o índice Econômico, o Gini

Renda de 0,005, apresenta relação positiva para o desenvolvimento indicando baixa

concentração, favorecendo a sustentabilidade; contudo, as exportações, o rendimento

agrícola e a agricultura familiar apresentam condição desfavorável a sustentabilidade,

com níveis de colapso. Entretanto, supõe-se questionável o índice para a relação entre o

número de estabelecimentos da agricultura familiar em razão ao número dos

estabelecimentos patronais.

O índice Agricultura Familiar por ser, geralmente, uma relação favorável ao

número de estabelecimentos familiar em detrimento dos patronais. Todavia, o IDH

renda e a Participação da Agricultura no PIB têm relações desfavoráveis ao sistema do

território.

Fonte: SGE, 2011.

Page 61: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

61

Dos Indicadores que mais influenciam o índice Ambiental destaca-se a área

utilizada com 0,925 uma condição excessivamente desfavorável à sustentabilidade

segundo a metodologia, por outro lado, a área de matas e florestas com 0,303 tem

contribuição favorável em pequena proporção, mas com capacidade para garantir

que o indicador de sustentabilidade seja de 0,614, já que o indicador área de unidade

de conservação é nulo.

Fonte: SGE, 2011.

Quanto aos Indicadores que mais influenciam o índice Demográfico, a taxa de

urbanização é de 0,331, ou seja, cerca de aproximadamente (67%) da população vice em

áreas rurais, a razão entre população masculina e feminina com 0,542. Assim, fortalecer

as políticas dos territórios rurais é uma exigência a partir de diferentes dimensões, sob

processos de constituição de ações intersetoriais, na medida em que, apesar dos

discursos, estas ainda ocorrem de forma isolada e dispersa.

A possibilidade de ruptura dessa cultura política com a difusão da política

territorial, fazendo emergir, no plano socioeconômico, a inclusão dos processos de

mobilização das dinâmicas locais, a fim de romper com as formas de organização

centralizada.

Assim, observa-se que há uma resistência de determinadas organizações e das

estruturas dos governos (em suas três esferas), contraditoriamente, por entenderem que

há uma redução de suas funções executivas. Portanto, é necessário implementar

políticas sociais para a melhoria das condições efetivas da bacia de trabalho em

articulação com a reorganização das políticas públicas de assistência associada à

transferência de renda, como já fora utilizada pela Inglaterra na transição da economia

agrária para a economia industrial (em que as instituições de caridade privadas ou

públicas evoluem com diversas leis sobre os pobres na Inglaterra até 1836, e, em

particular, a Speenhamland), que ilustra bem essa discussão, visando atender

determinadas funções, com possibilidade de valorização do trabalho da agricultura

familiar e suas ramificações.

Page 62: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

62

8. Propostas e Ações para o Território

Para que haja a potencialização das ações no TENEPA, é necessário o

estabelecimento de fluxos contínuos associados à intersetorialização das políticas

públicas no Território como condição necessária e vital para a ampliação da sua

mobilidade produtiva, uma dificuldade, particular, devido à execução de ações

desarticuladas, burocráticas e postergadas nas três esferas de governo. No entanto, a

sociedade do conhecimento e o capitalismo de redes exigem a rapidez dos fluxos

operados on line e a flexibilidade a fim de atender as dinâmicas particulares.

Assim, cada vez que se refreiam os processos de implantação das ações e

projetos nos Territórios desmobilizam-se as forças sociais imbrincadas ao tecido

construído pelos diferentes sujeitos que constroem o desenvolvimento territorial,

freando-se ainda a capacidade de constituição de formas de vida cívica e potencialmente

democráticas. O acesso a políticas públicas é condição da cidadania produtiva, que se

constitui para além da participação, na medida em que se produzem coisas e sentidos da

própria vida.

A institucionalização das políticas públicas e o domínio dos papéis que

possibilitam a consolidação dos efeitos de sua alocação garantem a realocação dos eixos

norteadores do desenvolvimento rural, organizados sob a reconversão das

externalidades negativas, fazendo gerar um conjunto de externalidades positivas para o

conjunto de agentes que operam as transformações sociais do Território.

Os diversos investimentos institucionais na contracorrente do pensamento único,

do mercado como regulador da sociedade e da constituição permanente de um sistema

de regras – para a consolidação do Território. Os investimentos em ações dos agentes,

evitando as incertezas inerentes à relação de internalização dos resultados incontestáveis

de um quadro constitucional que garanta a redução das desigualdades, a partir da

mobilidade das forças que operam a oposição ao poder centralizado do Estado.

Analisando os indicadores e índices que evidenciam o limite das ações de

desenvolvimento do Território as quais precisam alinhavar os fios condutores a fim de

se buscar saídas do circuito tautológico das ações de desenvolvimento desconectada da

constituição real da bacia de trabalho da agricultura familiar, a qual se encontra com

baixa capacidade de internalização das externalidades positivas em face da conjuntura

político-econômica do estado brasileiro.

Page 63: Relatório Analítico TERRITÓRIO NORDESTE PARAENSE

63

Segundo, poderíamos perguntar Mutatis mutandis, como superar as formas de

vida gestada na contramão nas políticas de valorização do trabalho vivo. A invenção das

políticas públicas via exit é mais potente do que a via voice, dada à necessidade de

redefinição das políticas territoriais, as quais correspondem a um movimento profundo

que exige cooperação entre os sujeitos coletivos e o trabalho da pesquisa engajada, a

fim de garantir a reinvenção da política ante a constatação das limitações efetivas das

ações de políticas públicas fragmentadas e dispersas.

Os mecanismos de representação, muitas vezes, recusam a cooperação social em

nível amplo na contra face da competição que despotencializam a palavra (voice),

fundada em uma igualdade não existente pela formalização constitucional. Mais do que

uma regra ou conjunto de regras trata-se de construir uma meta-regra, isto é, a produção

de uma regra que possibilite a defecção das práticas formalistas, pois na dissidência

pode se encontrar a passagem de ações fragmentadas a novas formas de cooperação

social sob a dinâmica intersetorialização das políticas, uma fronteira já pensada sob a

abertura democrática, mas ainda não estruturadora de novas institucionalidades, como

mecanismo de mudança dos processos de implementação de políticas públicas de corte

territorial.

A mobilidade produtiva dos territórios é essencial e o Colegiado do Território

pode se constituir como um mecanismo de operação das mudanças de regras para a

valorização da bacia do trabalho vivo existente no Território.

A terra, o trabalho, o emprego, dentre outros, são peças centrais do dispositivo

que pode potencializar a política do desenvolvimento territorial. A nossa surpresa não

foi descobrir que as fronteiras estão abertas, mas que é necessário aprofundar o

conhecimento sobre as redes sociais, econômicas e culturais como suporte da

mobilização produtiva para a constituição dessa nova institucionalidade sob processos

formais e informais inscritos no Território, a fim de operar sob o chamado

“oportunismo” dos sujeitos agentes da agricultura familiar em todas as suas formas (ex

ante, ex post), a fim de endogeneizar suas potencialidades em face das externalidades

negativas e alterar a dinâmica dos sujeitos e do poder público para fazer avançar as

externalidades positivas sob proposição do desenvolvimento territorial e contrabalançar

os efeitos destes no conjunto do Território do Nordeste Paraense. Neste sentido, os itens

seguintes precisam ser priorizados:

Garantir a ampliação das metas de qualificação da força de trabalho

humana em nível técnico e superior;

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Aprofundar as pesquisas em relação aos efeitos das políticas e projetos

de cunho territorial e de transferência de renda;

Garantir a continuidade das ações sem interrupção, como condição de

legitimidade e confiança relativas às ações do Colegiado e, ao mesmo

tempo, potencializar as ações do desenvolvimento Territorial;

Garantir ainda a intersetorialização das políticas públicas desenvolvidas

no Território.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, F. de A. Path dependency e a transformação agrária do bioma amazônico: o

sentido econômico das capoeiras para o desenvolvimento sustentável. Novos Cadernos

do NAEA. Belém: NAEA; UFPA, v.7, n. 2, dez. 2004.

COSTA, F. de A.; ANDRADE, W. D. C. As Políticas para a Promoção de Arranjos

Produtivos Locais no Brasil: o caso do Estado do Pará. Rio de Janeiro. UFRJ, 2006.

ANDRADE, W. D. C de. Evolução Agrária do Nordeste Paraense por Contas

Sociais Ascendentes: a inclusão das redes mercantis de insumos nos processos

metodológicos e o cálculo dos níveis de endogenização. 2009. Belém: UFPANAEA.

(Tese Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido)

BRASIL, Governo do. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável –

PTDRS do Território Nordeste Paraense. Ministério do Desenvolvimento Agrário –

MDA, 2006.

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65

ANEXO: Validação de Instrumentos e Procedimentos

Com o objetivo de ajudar na aplicação dos instrumentos nos próximos ciclos de

pesquisa e pelas próximas Células de Acompanhamento e Informação, fazemos as

seguintes sugestões em cada um dos instrumentos utilizados pela equipe.

1. Sistema de Gestão Estratégica

De maneira geral, pedimos que, por mais que, dos dados preenchidos no Sistema

de Gestão Estratégica não sejam utilizados nos cálculos dos índices ou na configuração

dos gráficos do Q3 – Acompanhamento da Gestão dos Colegiados Territoriais, todas as

perguntas foram preenchidas ou as anotações feitas na opção de resposta Outros, sejam

disponibilizadas pel SGE para comentários das Universidades, para que todos os dados

sejam disponibilizados e não apenas que influenciaram nos cálculos, pois para os

pesquisadores, todos os dados merecem ser divulgados e objeto de análise.

As ferramentas Cronograma de Atividades e Sair do Sistema continuam dando

problema, a primeira na hora de exclusão de dados alimentados de maneira incorreta e a

segunda porque o sistema fica carregando por muitos minutos e a saída do sistema

nunca se dá, só quando fechamos a janela que estava sendo utilizada.

2. Questionário de Capacidades Institucionais – Q1

P8 – A opção de resposta “Outro” não aparece alimentada no sistema quando

visualizamos o questionário antes de confirmar o envio para a base de dados.

Entendemos que é muito interessante a análise das respostas dadas pelos

entrevistados, embora não tenham tanta aplicabilidade no cálculo dos índices.

Assim, as universidades não teriam que montar suas próprias bases de dados e

todos teriam acesso à completude da pesquisa.

P12 – Ficou duvidoso o sentido de quais tipos de organizações são consideradas

públicas e/ou privadas.

P14 – A expressão “sistema de informação digital” na pergunta poderia ser

simplificado para algo como banco de dados ou planilhas com as informações,

que têm a mesma finalidade.

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P15 – Não nas opções de resposta a opção de não haver meio de divulgação das

informações.

P17 – Geralmente quem detinha as informações referentes a essa questão eram

as secretarias municipais de meio ambiente e nem sempre era possível à equipe

conversar com uma equipe multidisciplinar para responder a todas as questões.

P19 – Os entrevistados comumente ficavam em dúvida se os conflitos suscitados

na questão são de natureza agrária ou em geral? Seria interessante ainda incluir o

Ministério Público como um dos entes acionados em momentos de conflitos,

pois no TENEPA é muito frequente que ele participe na gestão dos momentos de

crise.

P21 – Fora muito citados como opção de lazer nas cidades as orlas municipais,

as praças centrais e os ginásios municipais. Talvez fosse interessante adicioná-

los como estruturas utilizadas para as atividades culturais das cidades. E no

tocante à opção de respostas “parques”, estes abarcam todo e qualquer tipo de

parque? Como o de diversões, os de exposições e os ambientais?

P26 – Nas opções de resposta, os produtores aparecem de maneira geral, sem

divisão sobre que modalidade de produção representam, seja de base familiar ou

o consolidado de altos vultos financeiros.

P27 – Na resposta sim admitia-se as secretarias apenas com a nomenclatura e

finalidade única de planejamento? Pois houve casos de secretarias de

administração e planejamento e consideramos a resposta como sim.

3. Questionário de Identidade Territorial – Q2

Metodologia do questionário muito cansativa. A todo momento tínhamos que

ficar repetindo a questão para cada fator a ser pontuado na escala de 1 a 5 e os

entrevistados tinham a impressão de estar respondendo às mesmas perguntas, embora o

objetivo de cada pergunta, o seu referencial, fosse diverso. Daí, percebemos que muitas

respostas (notas) se repetiram para assuntos ou termos de referência diferentes.

P9 – Pergunta ambígua. O que se entende é que a resposta pode ser válida tanto

para uma situação real de como as entidades vem participando do Colegiado

quanto para uma situação ideal de participação de cada uma das entidades

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pesquisadas, da importância destas no debate, embora elas efetivamente não

participem.

P10 e P11 – Para pessoas que não lidam com projetos, parece que ambas são a

mesma pergunta.

P13 – Muitos tinham conhecimento a respeito de seu município ou micro-região,

então enfrentaram dificuldade para ver o território como um todo e responder a

pergunta.