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FEVEREIRO DE 2015
COASTAL AND ENVIRONMENTAL SERVICES (CES)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE
IMPACTO SOCIAL PARA O
PROJECTO PROPOSTO DE
MINÉRIO DE FERRO DA BAOBAB,
TETE, MOÇAMBIQUE
FEVEREIRO DE 2015
COASTAL AND ENVIRONMENTAL SERVICES (CES)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE
IMPACTO SOCIAL PARA O
PROJECTO PROPOSTO DE
MINÉRIO DE FERRO DA BAOBAB,
TETE, MOÇAMBIQUE
PROJECTO Nº. 14002-A
DOCUMENTO Nº. 1
VERSÃO 4
DATA DE EMISSÃO 14/02/2015
ELABORADO POR IPCA
VERIFICADO POR CSCR/EFI
APROVAOO POR CSCR
MORADA COWI Lda.
Av. Zedequias
Manganhela, 95, 1º andar
C.P. 2242
Maputo
Moçambique
TEL +258 21 358 300
FAX +258 21 307 369
WWW cowi.co.mz
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
5
Índice
Sumário Executivo 10
1 INTRODUÇÃO 22
2 QUADRO INSTITUCIONAL, LEGAL E DE POLÍTICAS 25
2.1 Políticas e estratégias nacionais para os recursos naturais e energéticos 25
2.2 Legislação nacional relevante para a actividade mineira 29
2.3 Legislação nacional sobre Avaliação de Impacto Social e Consulta Pública 31
2.4 Directrizes Internacionais Aplicáveis à AIA 33
2.5 Legislação nacional relacionada com o Reassentamento 34
2.6 Directrizes internacionais aplicáveis ao Reassentamento 39
2.7 Governo e liderança local 40
3 METODOLOGIA 42
3.1 Identificação da área de estudo 42
3.2 Métodos de recolha de dados 45
3.3 Metodologia de avaliação de impacto 49
3.4 Pressupostos e Limitações 50
4 CONTEXTO DO PROJECTO 51
4.1 Perfil do País 51
4.2 Província de Tete 53
4.3 Distritos de Chiúta e de Moatize 55
5 POTENCIAIS IMPACTOS ASSOCIADOS AO PROJECTO 97
5.1 Introdução 97
5.2 Potenciais impactos identificados até à data 97
6 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
6 CONCLUSÃO 135
7 REFERÊNCIAS 137
Anexo A: Metodologia de Avaliação de Impacto 141
Anexo B: Metodologia para calcular os índices do estatuto socioeconómico –Índice de Posse 144
Anexo C: Ferramentas de Recolha de Dados Qualitativos 149
Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171
Anexo E: Inquérito ao Agregado Familiar 183
Anexo F: Mapas elaborados 184
Lista de Figuras
Figura 1: Localização do projecto na Província de Tete 23
Figura 2: Comunidades inquiridas na área do projecto 44
Figura 3: Grupo focal em Chianga 47
Figura 4: Serviços comunitários de Massamba e mapa de recursos 47
Figura 5: Constatações do inquérito sobre o número de esposas por Chefe de Agregado
57
Figura 6: Constatações do inquérito sobre esposas a viver no mesmo quintal 58
Figura 7: Constatações do inquérito sobre as línguas faladas 59
Figura 8: Igreja das Testemunhas de Jeová, Massamba 60
Figura 9: Mobilidade e Migração 61
Figura 10: Ocupações dos membros do Agregado 65
Figura 11: Banca informal, Muchena. 66
Figura 12: Constatações do inquérito sobre o rendimento mensal médio 66
Figura 13: Constatações do inquérito às despesas do agregado 67
Figura 14: Constatações do inquérito sobre bens duradouros 68
Figura 15: Machamba de milho, Muchena 65
Figura 16: Rio Revúbuè, com machambas cultivadas 68
Figura 17: Constatações do inquérito sobre o uso das árvores 69
Figura 18: Constatações do inquérito sobre o número médio de animais domésticos 69
Figura 19: Constatações do inquérito sobre o uso de animais criados 70
Figura 20: Constatações do inquérito sobre o tamanho das machambas 71
Figura 21: Constatações do inquérito sobre a propriedade das machambas 72
Figura 22: Quintil de riqueza para os distritos de Chiúta e Moatize. 73
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
7
Figura 23: Quintis de riqueza por género – área do projecto 74
Figura 24: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto75
Figura 25: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado – área do projecto
75
Figura 26: Quintis de riqueza por situação profissional do Chefe do Agregado 76
Figura 27: Casa típica de pau a pique, Chianga 78
Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale 80
Figura 30: Constatações do inquérito sobre doenças 81
Figura 31: Tratamento de doenças em Chiúta 82
Figura 32: Tratamento de doenças em Moatize 82
Figura 33: Constatações do inquérito sobre conhecimento da malária 83
Figura 34: Constatações do inquérito sobre razões para não usar uma rede mosquiteira
84
Figura 35: Constatações do inquérito sobre insegurança alimentar 84
Figura 36: Constatações do inquérito sobre recursos hídricos 86
Figura 37: Furo de água no leito seco de um rio, Mbuzi 88
Figura 38: Bomba manual, Muchena 86
Figura 39: Constatações do inquérito sobre tratamento da água 87
Figura 40: Constatações do inquérito sobre saneamento 87
Figura 41: Estradas e linhas férreas que atravessam os distritos de Chiúta e Moatize 89
Figura 42: Cemitério comunitário 88
Figura 43: Sepultura familiar no cemitério, Mbuzi 92
Figura 44: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo
não transferíveis 93
Figura 45: Mapa de empresas de exploração mineira na área do projecto 134
Figura 46: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize 145
Figura 47: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – área do projecto145
Figura 48: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto146
Figura 49: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado– área do projecto
146
Figura 50: Quintis de riqueza por situação profissional – área do projecto 146
Figura 51: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Chiúta 147
Figura 52: Quintis de riqueza por estado civil – Chiúta 147
Figura 53: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Chiúta 147
Figura 54: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Moatize 148
Figura 55: Quintis de riqueza por estado civil – Moatize 148
Figura 56: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Moatize 148
8 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Lista de Tabelas
Tabela 1: Legislação nacional relacionada com o quadro estratégico para a actividade
mineira. 28
Tabela 2: Legislação nacional sobre a actividade mineira. 30
Tabela 3: Legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto social. 32
Tabela 4: Directrizes internacionais para o processo de AIAS. 34
Tabela 5: Legislação nacional sobre reassentamento 35
Tabela 6: Legislação nacional relacionada com o reassentamento. 36
Tabela 7: Legislação nacional relacionada com o património cultural. 38
Tabela 8: Directrizes internacionais para reassentamento 39
Tabela 9: Comunidades afectadas pelo projecto 43
Tabela 10: Exercícios participativos aplicados e seus objectivos 47
Tabela 11: Postos administrativos e localidades do distrito de Chiúta. 55
Tabela 12: Postos administrativos e localidades do distrito de Moatize 56
Tabela 13: Constatações do inquérito sobre o emprego 64
Tabela 14: Resultados do inquérito sobre tipos de estradas utilizadas 90
Tabela 15: Resumo da classificação da importância dos impactos identificados 130
Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação 142
Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância ambiental 142
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
9
Lista de acrónimos AIA Avaliação de Impacto Ambiental AIAS Avaliação de Impacto Ambiental e Social AIS Avaliação de Impacto Social BM Banco Mundial CES Coastal and Environmental Services CTASR Comissão Técnica de Acompanhamento e Supervisão do
Reassentamento CdI Corredor de Impacto DTS Doença Sexualmente Transmissível DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra DGF Discussão de Grupo Focal HH Agregado Familiar IFC International Finance Corporation/ Corporação Financeira Internacional
(sigla em inglês) ITIE Iniciativa de Transparência da Indústria Extractiva M&A Monitoria e Avaliação MIREME Ministério dos Recursos Minerais e Energia MZM Metical Moçambicano OLC Oficial de Ligação com a Comunidade OP Norma Operacional PAC Comunidade Afectada pelo Projecto PAP Pessoa Afectada pelo Projecto PAR Plano de Acção para Reassentamento PERM Política e Estratégia de Recursos Minerais PGA Plano de Gestão Ambiental PIB Produto Interno Bruto PO Política Operacional PPP Processo de Participação Pública PD Padrão de Desempenho RSC Responsabilidade Social Corporativa SADC Southern African Development Community/ Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral (sigla em inglês) SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estruturas
10 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Sumário Executivo
Introdução
A Capitol Resources Limitada (Capitol Resources) pretende desenvolver um
Projecto de Minério de Ferro nos Distritos de Chiúta e de Moatize da Província de
Tete, na região Centro de Moçambique. O projecto abrange três áreas de licenças
de propriedade integral da Capitol Resources. A primeira fase da actividade de
exploração mineira terá lugar numa Área de Licença (Área de Prospecção 1035-L
Tenge-Ruoni), que faz fronteira com dois outros projectos de carvão das
companhias Vale e da Ncondezi.
O projecto tem o potencial de afectar a vida e meios de subsistência das
comunidades locais, como resultado da actividade de exploração mineira e da
construção da infra-estrutura necessária, tal como a estrada de transporte e linha
de energia eléctrica.
Conforme indicado acima, a área do projecto abrange os distritos contíguos de
Chiúta e Moatize e inclui oito assentamentos ou comunidades principais, dois dos
quais estão localizados no Distrito de Moatize e seis no Distrito de Chiúta.
Esta Avaliação de Impacto Social (AIS) foi elaborada de acordo com a legislação
Moçambicana para Avaliação de Impacto Social. A mesma identifica e analisa os
impactos principais associados ao projecto de exploração mineira e faz
recomendações para medidas de prevenção e mitigação, bem como medidas de
maximização, a aplicar na gestão de impactos do projecto.
Quadro Institucional e Legal
No virar do século 21, a exploração mineira de grande escala e a expansão da
rede eléctrica arrancaram em Moçambique com vários projectos de exploração da
indústria extractiva, nomeadamente de gás, areias pesadas e carvão. Existem
outros projectos de exploração e extracção de grande escala em curso, incluindo a
extracção de ferro na Província de Tete. Como resultado deste crescimento na
extracção de recursos, o número de investidores em Moçambique tem vindo a
aumentar ao longo da última década.
O crescimento da indústria de exploração mineira, bem como as descobertas
recentes de gás natural na Bacia do Rovuma representam uma oportunidade para
o desenvolvimento da economia do país e a melhoria das condições de vida dos
Moçambicanos. Todavia, a materialização desta oportunidade depende, em
grande parte, da capacidade do governo de responder aos desafios derivados
deste impulso no sector extractivo, tais como a existência de infra-estrutura de
apoio e a garantia de transparência e prestação de contas no âmbito dos
processos de desenvolvimento dos projectos de investimento.
A Estratégia e Política dos Recursos Minerais foi aprovada em 2013 para guiar
estes processos. Sob coordenação do Ministério dos Recursos Minerais, a
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
11
Estratégia tem como objectivo expandir o conhecimento sobre os recursos
minerais existentes; optimizar e valorizar a produção mineira; preservar o
ambiente; promover o quadro institucional nacional e o sector privado, promover o
investimento e transformar a indústria mineira no principal contribuinte para a
economia do país.
Além disso, num esforço para alinhar as políticas nacionais com as boas práticas
e normas internacionais, Moçambique tornou-se signatário da Iniciativa de
Transparência da Indústria Extractiva em 2009.
Por último, para além dos instrumentos mencionados acima, Moçambique tem a
sua própria legislação que governa as actividades mineiras, Avaliação de Impacto
Ambiental e Consulta Pública, Planeamento e Licenciamento do Uso da Terra,
bem como Planeamento de Compensações e Reassentamento. Esta legislação
procura alinhar-se com as boas práticas internacionais para Avaliação de Impacto
e Reassentamento dos principais doadores e credores, tais como o Banco Mundial
e a Corporação Financeira Internacional (IFC, sigla em inglês).
Metodologia
Na elaboração da AIS utilizaram-se métodos de recolha de dados qualitiativos e
quantitativos aliados a uma metodologia de avaliação de impacto específica.
Os métodos qualitativos utilizados incluíram uma análise da literatura,
observações no campo, entrevistas com informantes chave e discussões de grupo
focal com membros das oito comunidades na área do projecto. A componente
qualitativa focou temas tais como história da comunidade, a importância dos locais
sagrados, autoridade local/comunitária, acesso a serviços e recursos, uso da terra
e as preocupações e recomendações das comunidades com relação ao projecto.
O processo qualitativo de recolha de dados decorreu ao longo de um periódo de
10 dias, de 30 de Junho a 10 de Julho de 2014.
A componente quantitativa consistiu num inquérito socioeconómico aplicado a 324
agregados familiares localizados na zona tampão de 5 km ao redor da àrea de
mineração proposta, bem como numa zona tampão de 70 m de cada lado do
alinhamento indicativo da estrada de transporte. O inquérito tinha como objectivo
recolher dados sobre a demografia, educação, recursos hídricos, saneamento,
saúde, rendimento e despesas, habitação, agricultura, segurança alimentar,
mobilidade, disponibilidade e uso de serviços e resolução de conflitos a nível do
agregado. Esta componente foi implementada ao longo de 2 semanas, de 9 a 21
de Agosto de 2014.
Todos os questionários foram digitados e introduzidos numa base de dados no
pacote estatístico CSPro, que foi depois convertida para SPSS (outro software de
análise estatística) para a limpeza e análise dos dados.
Contexto do projecto
Moçambique
12 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Moçambique tem uma população de cerca de 24 milhões de pessoas com uma
baixa densidade populacional. Pouco mais de metade da população é constituída
por mulheres e vive num cenário rural. Cerca de 75% da população auto-emprega-
se informalmente na agricultura e comércio; e apenas cerca de 20% está
formalmente empregada (INE 2009b, 2012). Em 2007, 50% da população era
alfabetizada, embora 26% nunca tivesse frequentado a escola (INE 2009b, 2012).
Desde o final da guerra civil (1992), Moçambique tem feito progressos nos seus
esforços de desenvolvimento. Entre 2000-2010, o país registou uma taxa anual
média de crescimento económico de 6% e tem, actualmente (2014), uma taxa de
crescimento de 7,3%: o que torna Moçambique numa das economias com
crescimento mais rápido no mundo para este periódo (projecção da Economist
Intelligence Unit para Moçambique, 2014). Moçambique criou um clima
macroeconómico estável e tem mantido as taxas de inflação anuais abaixo dos
4,2%, o que tem contribuiído para o crescimento consistente da economia. Este
crescimento contínuo permitiu a Moçambique atrair investimento estrangeiro e
local, conforme demonstrado no sector da indústria extractiva.
Nos últimos anos, a tributação das mais valias na indústria extractiva tem sido em
parte responsável pela redução do défice do orçamento nacional, bem como a
redução da dependência do Orçamento do Estado da ajuda externa de 50% no
início de 2000 para cerca de 35% em 2010. Todavia, a indústria extractiva só
representa uns modestos 2% do PIB.
Apesar do potencial da indústria extractiva para impulsionar a economia
Moçambicana e diminuir a sua dependência da ajuda externa, a sua contribuição
para a economia de Moçambique não tem sido linear e depende de factores
estruturais tais como a estabilidade da política nacional, infra-estrutura (transporte,
energia) e preços do minério e produtos minerais no mercado internacional.
Província de Tete
A Província de Tete é a terceira maior província do país e apesar da sua baixa
densidade populacional, alberga 9% da população nacional e é terceira província
mais povoada do país. A actividade económica principal na província é a
agricultura, embora a província tenha uma base de recursos naturais com
potencial significativo, actualmente subexplorado. Apesar deste potencial, o
desenvolvimento da província é prejudicado pela falta de mão-de-obra qualificada,
investimento privado e infra-estrutura básica, bem como pela modernização lenta
das estruturas e capacidade do governo local. Ao longo da última década, a
actividade de exploração mineira tem sido um elemento chave da planificação do
desenvolvimento da província. A indústria extractiva representa metade do PIB
projectado da província para 2014.
Distritos de Chiúta e Moatize
Os perfis étnicos, linguísticos e culturais dos dois distritos são muito semelhantes.
Chiúta e Moatize têm uma população rural e jovem e a família alargada é a forma
predominante de organização social. A língua mais usada é ciNyungwè, sendo
que o Português é falado por menos de um terço da população. A religião
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
13
dominante é a Católica, frequentemente aliada a práticas religiosas tradicionais.
As estruturas/figuras dos líderes tradicionais tais como o n’fumo e nhankwava ou
nhankawa, e as cerimónias tradicionais tais como as cerimónias da chuva e os
rituais de iniciação ainda são praticados nos distritos, com diferentes intensidades.
A agricultura é a principal actividade económica nos dois distritos. O solo nestas
zonas é pouco fértil e tem uma baixa capacidade de retenção de humidade, o que
originam riscos elevados de perda de culturas e produção. Por conseguinte, as
áreas húmidas perto dos rios e riachos são procuradas para a prática da
agricultura. Outras actividades económicas complementares incluem comércio
(principalmente informal), criação de gado, pesca e mineração artesanal. A
actividade industrial tem uma presença modesta.
Para além da agricultura, a terra também é usada para habitação e outras
actividades económicas tais como exploração mineira, silvicultura e produção
industrial de madeira. A posse de terra para habitação e agricultura é
predominantemente consuetudinária, sem a posse de DUAT. O uso da terra para
habitação é caracterizado por um padrão de habitação disperso com planeamento
urbano deficiente. A estrutura de habitação predominante nos distritos e na área
do projecto é a palhota (casa de pau a pique com um telhado de colmo). Na área
do projecto surgiram conflitos entre duas comunidades, relacionados com os
benefícios do projecto. Houve também relatos de conflitos homem-animal. A
provisão de serviços sociais básicos na área do projecto ainda é insuficiente. Em
2013, ambos distritos tinham escolas primárias e secundárias apesar de Chiúta
não ter capacidade para oferecer a 11ª e 12ª classes. Em 2005, 80% da
população de Chiúta e 67% da população de Moatize era analfabeta. Em ambos
os distritos a taxa de analfabetismo é maior entre as mulheres. Apesar da
expansão da rede escolar, a cobertura dos serviços de educação ainda é
insuficiente, principalmente para o ensino secundário.
No que diz respeito à saude, em 2012 ambos distritos tinham serviços de saúde
que consistiam em hospitais rurais, centros de saúde e postos de saúde. Apesar
da expansão do sistema de saúde, os rácios unidade de saúde/residente e cama
na unidade de saúde/residente continuou alto. As doenças mais comuns nos
distritos são as associadas à água, nomeadamente malária e diarreira, e também
Doenças de Transmissão Sexual (DTS) e VIH/SIDA.
A provisão e disponibilidade de água potável e os sistemas de saneamento de
esgotos nos distritos e na área do projecto é baixa. Aproximadamente 67% da
população dos distritos recolhe e consome água de uma fonte insegura. Para além
disso, a manutenção das bombas de água é insuficiente em ambos distritos e
representa um desafio ao abastecimento de água. Com relação ao saneamento,
cerca de 75% da população pratica o fecalismo a céu aberto.
O transporte no Distrito de Chiúta é assegurado por estrada, sendo que em
Moatize o acesso é garantido por estrada e linha-férrea. A comunicação é
assegurada via rádio e telemóveis, embora a cobertura seja limitada na área do
projecto.
14 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
A fonte de energia principal nos distritos é a lenha (madeira para combustível). As
sedes de ambos os distritos, a Vila de Moatize em Moatize e a Vila de Manje em
Chiúta, estão ligadas à rede de energia nacional.
Constatações
Foram inquiridas oito comunidades localizadas na área do projecto, duas no
distrito de Moatize e seis no distrito de Chiúta.
A dimensão média do agregado familiar na área do projecto é 4,5 membros. O
sistema da família alargada é predominante na área do projecto, sob a forma de
pequenas unidades adjacentes umas às outras. Os agregados são liderados
principalmente por homens, com níveis de educação baixos.
A língua materna dos agregados é ou Chewa (falada por 60% dos agregados) ou
ciNyungwè (falada por 40% dos agregados). Nenhum agregado fala Português
como língua materna, o que não é surpreendente face aos baixos níveis de
educação dos agregados.
Os agregados inquiridos pertencem a dois grupos étnicos principais do Vale do
Zambeze, nomeadamente os Chewa-Nyanja e os ciNyungwè. Os Chewa-Nyanja
são um grupo étnico matrilinear da parte superior do Rio Zambeze que também
está presente no Malawi. Os ciNyungwè são um grupo étnico originário do Vale do
Zambeze que combina características matrilineares e patrilineares. Apesar das
comunidades inquiridas estarem cientes dos seus antecedentes étnicos, dentro da
comunidade não se fazem distinções étnicas no dia-a-dia ou em eventos
cerimoniais; a diferenciação social parece sim ter bases socioeconómicas e
religiosas. A etnicidade só parece ganhar significância para as comunidades
inquiridas quando se aborda a questão das expectativas em relação ao projecto,
particularmente a preocupação de que o projecto irá dar prioridade à contratação
de mão-de-obra ‘estrangeira’ em vez da local.
Os agregados mais pobres são liderados por mulheres com o seguinte perfil:
cerca de 50 anos de idade, viúvas ou separadas/divorciadas, desempregadas ou a
trabalhar na agricultura de subsistência. Estes agregados são considerados mais
vulneráveis porque têm menos acesso a insumos, menor capacidade de geração
de rendimento e estão mais dependentes das redes de apoio social existentes.
Assim, se estes agregados forem sujeitos a reassentamento físico ou deslocação
económica (ou seja, perda de terra e/ou habitação) podem ter mais dificuldades a
adaptar-se a novas estratégias de geração de rendimento ou subsistência –
principalmente a estratégias que não sejam baseadas na terra.
A tabela abaixo apresenta um resumo das características socioeconómicas e das
constatações sobre a área estudada.
Variável Constatações
Ocupação 83% dos membros do agregado não estão empregados
Dos 17% que estão empregados, as ocupações mais comuns são a agricultura (45% dos membros do
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
15
Variável Constatações
agregado) e mão-de-obra não qualificada remunerada (23% dos membros do agregado).
Rendimento,
Depesas e Bens
As fontes de rendimento são a agricultura; mão-de-obra não qualificada remunerada; venda de culturas de rendimento, comida e bebidas alcoólicas; e reforma. Com excepção da última, estas são todas estratégias de rendimento baseadas ou relacionadas com a terra.
Em média, os agregados em Chiúta ganham mais por mês (USD 181) do que os agregados em Moatize (USD 153). No entanto, os agregados em Chiúta também têm mais despesas (USD 60).
As despesas mais comuns são comida (produtos manufacturados como óleo e açúcar e produtos frescos como peixe, carne e cereais), produtos de higiene, roupa e saúde.
A grande maioria dos agregados não usa serviços financeiros.
O carácter rural dos agregados inquiridos é demonstrado pelos seus bens (machado e enxada).
Agricultura Quase metade da terra agrícola é irrigada pela chuva porque a cobertura dos sistemas de irrigação existentes é muito limitada. Existem também níveis baixos de mecanização da agricultura e por isso os agregados usam machados e enxadas.
Todos os agregados inquiridos têm pelo menos uma machamba, metade das quais está localizada no quintal do agregado ou perto do quintal.
A agricultura é praticada ao longo das margens dos rios e ribeiros perto das casas, devido à humidade do solo.
Mais de 33% das machambas tem até 0,5 ha mas 22% das machambas dos agregados inquiridos tem 3 ou mais ha.
As culturas mais comuns são o milho, feijão e hortícolas.
Todas as culturas são usadas para consumo do agregado e uma parte também destinada a venda. Os agregados em Chiúta estão mais orientados para a venda do que os agregados em Moatize.
Os agregados têm, em média, quatro árvores de fruto de subsistência (normalmente mangueira e bananeira). As árvores não são jovens e a sua produção é principalmente para consumo do agregado.
Metade dos agregados faz criação de animais (galinhas, cabras e porcos). Os animais são principalmente para venda e para consumo do agregado. As áreas para pasto são áreas comunitárias, separadas das machambas.
A terra também é importante para a extracção de recursos naturais para a subsistência das comunidades, tais como lenha para combustível e caniço e paus para construção.
Pobreza e
Vulnerabilidade
Os agregados inquiridos no distrito de Chiúta têm uma maior proporção de agregados de renda baixa ou muito baixa, do que os do distrito de Moatize e também têm mais disparidades económicas, ou seja, cerca de metade de população tem renda baixa/muito baixa e a outra metade tem renda alta/muito alta.
Os agregados inquiridos de renda mais baixa são
16 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Variável Constatações
liderados por mulheres solteiras (71% dos agregados) com cerca de 50 anos; viúvas ou separadas/divorciadas (mais de 75%) e desempregadas ou a trabalhar na agricultura de subsistência (45% e 68% respectivamente).
Cerca de 7% dos Chefes dos Agregados inquiridos são idosos, normalmente do sexo masculino.
Aproximadamente 3% dos membros dos agregados inquiridos têm alguma deficiência, normalmente física ou visual.
Existem redes de apoio social activas que ajudam a contrapor a vulnerabilidade temporária ou permanente dos membros da comunidade.
Habitação As habitações consistem normalmente numa casa principal de pau a pique com infra-estruturas adicionais (cozinha, celeiro, capoeira, curral, latrina, etc.) no quintal.
As paredes não são pintadas e o quintal não é vedado.
A casa é normalmente de auto-construção e pertence às pessoas que lá vivem.
Nenhuma das casas inquiridas tem água canalizada ou energia.
Educação Existem cinco escolas primárias, incluindo uma escola primária completa
1.
Três comunidades não têm nenhuma escola.
Para além das escolas primárias, não existem outras escolas na área.
A maioria das crianças em idade escolar frequente a escola, principalmente uma escola primária relativamente perto de casa (50% das crianças andam 30 minutos a pé para chegar à escola e 33% andam mais de 30 minutos).
Segurança
alimentar
A alimentação é assegurada através da agricultura de subsistência e da compra de alimentos.
Os meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março são os meses com menos comida disponível e maior probabilidade de períodos de fome.
A dieta tradicional dos agregados é baseada no milho, feijão e hortícolas.
Saúde Só há um posto de saúde na área do projecto, que fornece cuidados de saúde básicos. O centro de saúde mais próximo que fornece cuidados mais avançados é o Centro de Saúde de Kazula, a 70 km de distância.
As doenças mais comuns são a malária, a gripe e a diarreia.
Os agregados de Chiúta tendem mais a procurar tratamento numa unidade de saúde enquanto os de Moatize recorrem mais a remédios caseiros e a ervas medicionais.
Cerca de 3% dos agregados inquiridos têm um membro a sofrer duma doença crónica (normalmente asma e dores crónicas).
Em media as mulheres têm o primeiro filho aos 18 anos. Quase dois terços das mulheres não receberam
1 No sistema educativo Moçambicano, uma escola primária completa oferece todas as sete classes da
educação primária.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
17
Variável Constatações
cuidados pré-natais na última gravidez e apenas cerca de um terço deu à luz numa unidade sanitária.
Abastecimento de
Água e
Saneamento
Nenhum dos agregados inquiridos tem água canalizada em casa. Os agregados dependem de fontes externas de água, sendo a mais comum a água do rio.
Os agregados demoram, em média, 25 a 30 minutos a pé para ir buscar água.
A fonte de água mais próxima está a menos de 1 km e os agregados vão buscar água todos os dias.
Cerca de 90% dos agregados não tratam a água que consomem.
Metade dos agregados já ouviu falar de doenças transmitidas pela água.
A maioria dos agregados (95%) defeca a céu aberto.
A grande maioria dos agregados (96%) lava as mãos.
50% dos agregados elimina os seus resíduos num aterro público, 33% queima os resíduos no quintal e pouco mais de 10% enterra os resíduos no quintal.
Transportes e
Comunicações
As estradas de terra batida ou trilhos são a forma mais comum de acesso às comunidades inquiridas.
A maioria dos agregados (93%) desloca-se a pé.
A comunicação é feita através de telemóveis, apesar da cobertura ser limitada.
Locais Sagrados Um terço dos agregados tem pelo menos uma campa familiar, que costuma estar no próprio quintal.
Todas as comunidades inquiridas têm um ou dois cemitérios públicos que são usados por todos os membros da comunidade.
Todas as comunidades na área afectada pelo projecto têm locais sagrados que incluem árvores sagradas e locais para rituais de iniciação com florestas sagradas associadas, montanhas sagradas, cemitérios e igrejas.
A preparação e implementação das cerimónias sagradas é liderada pelo líder comunitário e envolve todos os membros da comunidade.
As comunidades têm sentimentos mistos sobre a deslocação dos locais sagrados.
Energia A principal fonte de energia dos agregados é a lanterna e madeira para combustível (madeira ou carvão).
Potenciais Impactos Associados ao Projecto
A tabela seguinte contém um resumo da classificação de significância dos
impactos identificados:
18 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Impacto/ Fase do projecto
Sem Mitigação Com Mitigação
Escala temporal
Escala espacial Probabilidade Gravidade Significância Gravidade Significância
Impacto 1.1: reassentamento dos agregados
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Provável MODERADA
Operação Longo prazo Área de estudo Muito Severa Provável MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 1.2: adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 2.1: perda de terra arável e de rendimento
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer MODERADA
Operação Permanente Regional Muito Severa Definitiva MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 2.2: menos acesso e mais competição pelos recursos naturais
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 2.3: perda de rendimento e segurança alimentar
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 3.1: perturbação da mobilidade e circulação de pessoas
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 4.1: influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego
Construção Curto prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
19
Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 4.2: abandono da agricultura a nível do agregado
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 4.3: contratação e formação de mão-de-obra local
Construção Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA Provável BAIXA
Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA
Impacto 4.4: procura por bens e fornecedores de serviços locais
Construção Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA
Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável ALTA
Impacto 4.5: melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial
Construção Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Provável MODERADA
Operação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Improvável MODERADA
Impacto 5.1: perturbação das relações e coesão sociais
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 5.2: conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 5.3: perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou acesso aos mesmos
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.1: perturbação das comunidades vizinhas como resultado do aumento dos níveis de ruído e vibração
20 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Área de estudo Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.2: segurança rodoviária
Construção Curto prazo Regional Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.3: poluição (ar, solo, água do rio)
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.4: maior incidência de doenças transmissíveis e não transmissíveis
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.5: aumento de doenças ocupacionais resultantes de actividades de construção
Construção Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Localizado Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.6: exploração da mão-de-obra
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Pode ocorrer BAIXA Improvável BAIXA
Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Improvável BAIXA
Impacto 7.1: elevadas expectativas sobre os benefícios do projecto
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 7.2: conflitos a nível comunitário devido a diferenças nos benefícios do projecto
Construção Curto prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
21
Conclusão
A conclusão global do estudo e da análise de AIS é que, se as medidas de mitigação propostas
forem implementadas de forma adequada, os impactos previstos do projecto justificam a
implementação do projecto. Isto deve-se ao facto dos impactos negativos identificados serem,
geralmente, de baixa magnitude, limitados e temporários e compensados pelos potenciais impactos
positivos. Todavia, para que isto aconteça, é necessário prestar atenção especial à mitigação dos
impactos mais significativos – o potencial reassentamento e a perda de terra agrícola. Devem ser
feitos todos os esforços para evitar estes dois impactos, incluindo a análise de um alinhamento
alternativo do projecto para assegurar que os agregados afectados pelo projecto pelo menos
mantêm, e não pioram, os padrões de vida que tinham antes da implementação do projecto.
O projecto será implementado numa área com baixos níveis de desenvolvimento socio-ecónomico.
As comunidades existentes dependem muito de estratégias de geração de rendimento baseadas na
terra ou relacionadas com a terra, e a terra é o seu bem mais importante. As comunidades existentes
também demonstram um forte sentimento de inserção e coesão social. Face ao ambiente
socioeconómico relativamente sereno vivido na área do projecto neste momento, o projecto tem o
potencial de trazer mudanças significativas às vidas das comunidades existentes.
Conforme indicado anteriormente, os impactos mais significativos são o reassentamento e a perda de
terra agrícola, que devem ser abordados de forma adequada através das medidas de mitigação
recomendadas, de forma a conseguir a aceitação do projecto por parte da população e do governo
local. Isto irá assegurar a sustentabilidade futura do projecto. A perda de terra agrícola e o
reassentamento podem obrigar os agregados afectados a adaptar-se a novas estratégias de geração
de rendimento com as quais não estão familiarizados, e pôr em risco a restauração do seu meio de
vida. O reassentamento pode isolar os agregados das suas redes de apoio social nas comunidades
de origem, o que pode também prejudicar a restauração dos meios de vida. Para além disso, a perda
de locais sagrados pode ter um impacto negativo no sentimento de equilíbrio e bem-estar das
comunidades, limitando a sua aceitação do projecto.
Minimizando o reassentamento na medida do possível, permitindo o acesso às machambas
existentes e evitando a exploração mineira em locais sagrados (ou, caso tal não seja possível, obter
autorização das líderanças locais para tal) são algumas das medidas que irão influenciar a recepção
positiva do projecto pelas comunidades; mais do que compensações monetárias pela perda de bens.
O projecto pode também trazer desenvolvimento socioeconómico à área e abordar algumas das
necessidades sociais prementes das comunidades existentes; transformando assim o projecto numa
oportunidade de desenvolvimento real.
Se se implementarem as medidas de mitigação adequadas para os impactos negativos e as medidas
adequadas para realçar os impactos positivos, o potencial do projecto de promover o
desenvolvimento socioeconómico sustentável na área irá materializar-se.
Por último, uma comunicação e consulta atempadas e regulares com as comunidades na área do
projecto são aspectos essenciais para a aceitação e apropriação local do projecto, que beneficiará as
comunidades e o proponente do projecto. É importante envolver as autoridades Distritais no
processo de comunicação e consulta com as comunidades, para assegurar o alinhamento da gestão
dos impactos do projecto com a gestão de outros projectos no distrito e, em termos mais gerais, na
província de Tete.
22 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
A Capitol Resources Limitada (Capitol Resources) pretende desenvolver um projecto de mineração
de minério de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize da Província de Tete, na região Centro de
Moçambique. O projecto abrange três áreas de licenças (1032L, 1033L e 1035L) de propriedade
integral da Capitol Resources. A primeira fase da actividade de exploração mineira terá lugar na área
da licença 1035L, que partilha fronteira com os projectos de carvão da Vale e da Ncondedzi. A
localização da área de estudo do projecto na Província de Tete está ilustrada na Figura 1 abaixo.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
23
Figura 1: Localização do projecto na Província de Tete
24 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
O projecto irá, inicialmente, focar a Área de Prospecção de Tenge-Ruoni (1035L) para a produção de
ferro gusa. Tenge-Ruoni é uma área de mineralização significativa que contém depósitos de
magnetite, titânio e e vanádio dentro dum conjunto de prospectos conhecido como Grupo Massamba.
O projecto de exploração mineira proposto tem o potencial de causar impacto sobre a vida e meios
de subsistência das comunidades locais que serão provavelmente afectadas pelas operações e infra-
estrutura associadas ao projecto. Do mesmo modo, este relatório de Avaliação do Impacto Social
(AIS) foi elaborado para identificar e analisar os impactos previstos e associados ao projecto e
recomendar medidas de prevenção (mitigação) para reduzir a significância dos impactos negativos
causados pelo projecto, bem como fornecer orientações sobre como maximizar os potenciais
benefícios para as comunidades afectadas.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
25
2 QUADRO INSTITUCIONAL, LEGAL E DE POLÍTICAS
Esta secção delineia o quadro institucional, legal e de políticas aplicável ao projecto. É também
enfatizada a legislação nacional que aborda a consideração dos impactos sociais e
responsabilidades do proponente tanto quanto é relevante para o projecto.
O capítulo está subdividido em subsecções que abordam i) estratégias nacionais para a energia e
recursos naturais, ii) legislação nacional para as actividades mineiras, iii) legislação nacional e
directrizes internacionais sobre a Avaliação do Impacto Social e Consulta Pública, iv) legislação
nacional e directrizes internacionais sobre Reassentamento e v) governo e liderança local.
2.1 Políticas e estratégias nacionais para os recursos naturais e
energéticos
Apesar do rico potencial geológico de Moçambique, até aos anos 90 a actividade mineira estava
limitada a projectos de pequena e média escala de carvão, ouro, pedras preciosas e mármore, entre
outros minerais. Na viragem do século XXI, contudo, a actividade da indústria mineira e extractiva de
grande escala já tinha começado com uma série de grandes projectos de extracção de recursos
como o gás (2004, província de Inhambane), areias pesadas (2007, província de Nampula) e carvão
(2011, província de Tete). Desde então, outros projectos de extracção e prospecção a larga escala já
estão em curso ao nível nacional, incluindo a extracção de ferro nas províncias de Nampula e Tete
(ITIE, 2014). O número de investidores estrangeiros e a escala de investimento têm estado a crescer
de forma estável desde a década passada: os investimentos aumentaram aproximadamente 14
vezes em 8 anos, de 184 milhões de USD em 2005 para 2,7 biliões de USD em 2013 (Política e
Estratégia de Recursos Minerais, 2013).
O crescimento da indústria mineira, bem como as recentes descobertas de gás natural na Bacia do
Rovuma, representam uma oportunidade de desenvolvimento para a economia do país e de
prosperidade para os Moçambicanos. Contudo, a materialização desta oportunidade depende
largamente da capacidade do governo de responder aos desafios que têm surgido devido ao
crescimento recente do sector extractivo – tais como o fornecimento de transporte adequado e um
grande volume de infra-estruturas de serviços para atender a esses investimentos – e da sua
habilidade para garantir a transparência, responsabilização e monitoramento de cumprimento
apropriado dessas indústrias extractivas. Há também a necessidade de promover o desenvolvimento
equitativo e sustentável destes recursos minerais não renováveis, assim como de proteger o
ambiente e o interesse de gerações futuras. À luz destes objectivos e princípios, o Governo de
Moçambique desenvolveu e aprovou a Política e Estratégia de Recursos Minerais.
A Política e Estratégia de Recursos Minerais (PERM) foi aprovada em Dezembro de 2013. O
Ministério de Recursos Minerais (MIREME) é responsável pela sua implementação, em coordenação
com outras instituições do governo, e entidades públicas e privadas. A PERM tem como objectivo
melhorar o conhecimento sobre a existência dos recursos minerais, optimizar e acrescentar valor à
produção mineral, preservar o ambiente, promover o quadro institucional nacional e o investimento
no sector privado e transformar a indústria mineira num grande contribuinte para a economia do País.
A política estipula que isto deve ser alcançado através de um mapeamento geológico detalhado do
território nacional, o estabelecimento dum enquadramento legal e fiscal competitivo, a transparência
26 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
e responsabilização do Governo e do Sector Privado no fornecimento de serviços de qualidade2 e a
monitoria das actividades de responsabilidade social corporativa das empresas de mineração. Isto
será também alcançado através da promoção da participação do Estado Moçambicano e do sector
privado na actividade mineira, promoção do investimento formal no sector, adopção de tecnologias
verdes (tais como a mitigação de poeiras e a selecção dos tractores para mineração a céu aberto),
implementação de melhores práticas de mineração de pequena escala, da preferência aplicada ao
processamento interno dos recursos minerais, pesquisa científica e desenvolvimento de capacidades
dos recursos humanos, e também o desenvolvimento a nível local. Enquanto as comunidades
estiverem a viver nessas áreas de mineração, elas devem t priorizadas na recepção de benefícios da
actividade mineira, e é também imperativo que os seus direitos e património cultural sejam
preservados.
Tal como recomendado pela PERM, o Estado Moçambicano é um participante obrigatório
(juntamente com os investidores privados) nos projectos ‘estratégicos’ da exploração de recursos
minerais tal como petróleo, gás e carvão. Para este propósito, duas companhias públicas foram
criadas, uma para a mineração e outra para o petróleo3. Adicionalmente, três associações foram
estabelecidas para os investidores privados, mais especificamente duas para a mineração e uma
para o petróleo 4
. Além disso, uma Câmara de Minas foi oficialmente criada em 2012, com o apoio do
MIREME, como uma associação privada sem fins lucrativos. A Câmara de Minas composta por
empresas a operar no sector mineiro a nível nacional e tem como objectivo defender os interesses
dos seus membros e promover o diálogo com o Governo Moçambicano para discutir as
preocupações da indústria mineira. Para além disto, há mais de sessenta associações de mineiros
artesanais e de pequena escala no país. Todas estas entidades são obrigadas a operar dentro das
diretrizes da PERM.
A PERM baseia-se noutras orientações políticas do sector mineiro, tais como a Estratégia de
Formação e Capacitação de Recursos Humanos para o Sector Mineiro (2010) e a Política de
Responsabilidade Social Corporativa na Indústria de Extracção de Recursos Minerais (2014).
A Estratégia de Formação e Capacitação de Recursos Humanos para o Sector Mineiro tem como
objectivo abordar o desafio do fornecimento de mão-de-obra capacitada e qualificada para a indústria
de mineração nacional. Particularmente, esta procura aumentar o número de profissionais
qualificados e reduzir a dependência de mão-de-obra estrangeira, promover instituições de formação
e capacitação em locais com actividade mineira/geológica intensa e estabelecer parcerias público-
privadas de forma a poder criar programas de formação e capacitação.
A Política de Responsabilidade Social Corporativa na Indústria de Extracção de Recursos Minerais
entrou em vigor em Agosto de 2014. Com esta, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) torna-
se obrigatória para todas as indústrias de extracção de recursos minerais em Moçambique. A política
é guiada pelo conceito de RSC da ISO 26000: a responsabilidade de uma organização pelo impacto
das suas decisões e actividades sobre a sociedade e o ambiente.
2O Governo é chamado a melhorar a transparência e a responsabilidade na divulgação pública das receitas da indústria
extractiva e as respectivas aplicações. Por outro lado, espera-se que o Sector Privado melhore a transparência na divulgação,
ao Governo, de dados sobre a actividade extractiva realizada, para a definição do regime tributário aplicável.
3Para o petróleo, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P. (ENH). Para a mineração, a Empresa Moçambicana de
Exploração Mineira, S.A. (EMEM).
4Para a mineração, a Associação Moçambicana para o Desenvolvimento do Carvão Mineral (AMDC), criada em 2009 e a
Associação Moçambicana de Mineração (AMOMINE), criada em 2007. Para o petróleo, a Associação Moçambicana dos
Operadores Petrolíferos Internacionais (AMOPI), criada em 2012.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
27
A política de RSC tem como objectivo garantir uma exploração sustentável de recursos minerais e
aumentar os seus benefícios para a população moçambicana. A política consiste em acções de
“investimento social” que terão de ser formalmente acordadas por escrito e “acordos para o
desenvolvimento local” assinados entre a empresa mineradora e o governo Moçambicano,
testemunhados por um representante da(s) comunidade(s) onde o projecto está a ser desenvolvido.
As acções de investimento social devem estar alinhadas com os planos de desenvolvimento a nível
local, regional e nacional. Todas as “partes interessadas”, incluindo o governo local e as
comunidades na área do projecto, devem estar envolvidas na tomada de decisões para a concepção,
bem como para a avaliação e monitoria, das acções de investimento social. Além disso, também
deve ocorrer a monitoria independente.
A política prevê que os Concelhos Consultivos Distritais existentes irão actuar como “grupos de
coordenação local” para facilitar a comunicação entre comunidades, o governo e a(s) empresa(s)
mineradora(s) no que diz respeito à tomada de decisões sobre as acções de investimento social. Os
acordos para o desenvolvimento local e a sua implementação, contudo, terão de ser aprovados e
supervisionados por Grupos de Coordenação Provincial.
Porém, de acordo com a política para RSC, o investimento social deve priorizar o desenvolvimento
de capital humano, a colaboração com empresários locais e a promoção do emprego produtivo. Os
acordos para o desenvolvimento local devem incluir financiamento para a implementação5,
monitoramento e avaliação das acções de investimento social, assim como o desenvolvimento da
capacidade das comunidades locais para negociar o investimento social e provedores de serviços
locais para fornecerem serviços em conformidade com as normas internacionais. Os acordos devem
também abordar as fases de construção, operação e desmantelamento do projecto.
A política exige transparência e responsabilização através da RSC que inclui o seguinte: o acordo
para o desenvolvimento local deve ser publicado e a sua implementação referida em relatórios de
progresso, devendo ser também publicados os relatórios de monitoria e avaliação. A frequência e
formato dos relatórios de progresso e dos relatórios de monitoria e avaliação ainda não foram
definidos.
Dito isto, a política de RSC não especifica claramente os papéis, responsabilidades, prazos e
financiamento para a sua implementação na prática. Também não é clara em relação às
responsabilidades do Estado Moçambicano e das comunidades hospedeiras (ou afectadas), ou às
implicações da não-produção, não-implementação e/ou não-elaboração de relatórios sobre os
acordos de desenvolvimento local. Estes aspectos ainda estão por ser regulamentados pelo governo
nacional.
A PERM está também estreitamente ligada a outros quadros legais e/ou orientadores, tais como a
Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva e a Lei de Minas.
Moçambique começou a aderir à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva (ITIE) em 2009, e
tornou-se em estado-membro da ITIE em Outubro de 20126. Foi criado o Comité de Coordenação
5As contribuições em espécie feitas pelas empresas mineiras também são consideradas como acções de investimento social e
podem ser incluídas no acordos para desenvolvimento local.
6A ITIE é uma iniciativa internacional para a melhoria da transparência na indústria extractiva, lançada em 2002 na Cimeira
Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. A ITIE compara e reconcilia anualmente os pagamentos feitos pelas
companhias de mineração, petróleo e gás ao Estado cujos recursos naturais elas exploram, em relação aos valores
declarados como recebidos pelo Estado. A adesão de um Estado-membro à ITIE é voluntária.
28 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Nacional da ITIE, composto por doze instituições representando o governo, empresas e sociedade
civil em porções iguais (quatro cada) e é dirigido pelo Ministério de Recursos Minerais (MIREME). A
revisão da Lei de Minas (ver Secção 2.2) vai completar a integração formal do país à ITIE.
Como parte do compromisso de Moçambique para com a ITIE, o acesso público aos registos da
actividade mineira a nível nacional está agora disponível, modelos de contratos-padrão para
concessões de mineração e de prospecção / produção de hidrocarbonetos foram criados, aos quais
foi adicionada uma cláusula anticorrupção obrigatória. Os relatórios anuais de conformidade à ITIE
mostram o progresso em termos de cobertura, com mais empresas e mais pagamentos incluídos,
tais como os fundos para a Capacitação Institucional e para Projectos Sociais.
No entanto, Moçambique ainda enfrenta uma série de desafios para estar plenamente de acordo com
as directrizes da ITIE. Estes incluem, entre outros, a baixa contribuição fiscal das empresas de
mineração/petróleo e gás para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional e o uso e gestão dos fundos da
Capacitação Institucional e Projectos Sociais (CIP, 2012).
A Tabela 1 abaixo resume o quadro estratégico para a actividade mineira em Moçambique:
Tabela 1: Legislação nacional relacionada com o quadro estratégico para a actividade mineira.
Legislação Breve Descrição Significância
Quadro de MIneração
Política e Estratégia de Recursos Minerais, de Dezembro de 2013
Orienta o desenvolvimento da actividade mineira no país.
Define os factores-chave de desenvolvimento da mineração:
1. Quadro legal e fiscal competitivo;
2. Transparência e Responsabilização na qualidade de prestação de serviços;
3. Monitoria das actividades de responsabilidade social corporativa das empresas de mineração;
4. Promoção da participação do sector privado e do Estado no sector de mineração;
5. Promoção do investimento formal e de tecnologias de mineração verdes;
6. Pesquisa científica e capacitação de recursos humanos; e,
7. Desenvolvimento local.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
29
Legislação Breve Descrição Significância
Política de Responsabilidade Social Corporativa para a Indústria Extractiva, Maio de 2014
Guiada pelo conceito de RSC da ISO 26000, visa assegurar a exploração sustentável dos recursos minerais e melhorar os seus benefícios para a população.
A RSC consiste em acções de “investimento social” e “acordos para um desenvolvimento local” estabelecidos por escrito.
Visa melhorar o conhecimento sobre os recursos minerais existentes, optimizar e adicionar valor à produção mineira, preservar o ambiente, promover o sector privado e o quadro institucional nacionais, e transformar a indústria mineira num contribuinte principal para a economia do país.
A RSC deve estar alinhada com os planos de desenvolvimento (locais, regionais e nacionais).
Todas as “partes interessadas” devem ser consultadas para a concepção de acordos, e para a monitoria e avaliação da sua implementação.
A RSC torna-se obrigatória para todas as indústrias extractivas de recursos minerais em Moçambique
Cada projecto de mineração deve definir acções de investimento social, a serem sistematizadas num “acordo para o desenvolvimento local”.
Cada projecto de mineração deve implementar, monitorar e avaliar cada acordo (incluindo a contratação de avaliadores independentes para M&A). Também deve apresentar relatórios sobre o progresso de tal implementação.
2.2 Legislação nacional relevante para a actividade mineira
Em Moçambique, a extracção de recursos minerais é regulada por duas leis principais,
nomeadamente a Lei de Petróleos e a Lei de Minas. Enquanto a Lei de Petróleos regula o uso e os
benefícios do petróleo, gás natural e metano, a Lei de Minas regula o uso e os benefícios de todos os
outros recursos minerais, incluindo o ferro. Assim, a Lei de Minas é relevante para o projecto
proposto.
De acordo com a Lei de Minas, actualmente em vigor, lei nº 14/2002 de 26 de Junho, e o
Regulamento da Lei de Minas do Decreto 28/2003 de 17 de Junho, todos os recursos minerais
localizados na superfície ou no subsolo, águas interiores, mares territoriais, plataforma continental e
“zona económica exclusiva” são propriedade do Estado Moçambicano. No entanto, pessoas
individuais ou colectivas têm o direito de usar e beneficiar de tais recursos através da obtenção de
um título mineiro. A lei prevê um número de títulos mineiros para prospecção, extracção
processamento e comercialização de recursos minerais, emitidos pelo MIREME ou, em condições
especiais, pelo Conselho de Ministros. A lei define, para cada título, os requisitos para a emissão,
bem como as suas condições, validade e obrigações do portador.
Além disso, a lei divide a categorização ambiental da actividade mineira em três níveis, baseando-se
no tipo de operação e maquinaria a ser usada. O nível 1 aplica-se ao reconhecimento da área,
prospecção e pesquisa, enquanto que o nível 2 aplica-se à operação e exploração com maquinaria
mecanizada e o nível 3 aplica-se a todas as actividades não incluídas nos níveis anteriores, com
maquinaria mecanizada.
A lei também regula a comercialização dos produtos de mineração e o regime fiscal aplicável à
indústria mineira em Moçambique. Esta também define os princípios de gestão ambiental para a
actividade mineira, em consonância com a legislação ambiental e melhores práticas moçambicanas
actualmente em vigor. Portanto, são aplicáveis à actividade mineira os seguintes instrumentos de
gestão ambiental sujeitos à legislação ambiental:
30 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA);
Plano de Gestão Ambiental (PGA);
Monitoria Ambiental;
Programa de Encerramento da Mina;
Auditoria Ambiental; e,
Programa de Controlo de Risco e Emergência.
O crescimento da indústria extractiva em Moçambique desencadeou a revisão da Lei de Minas, que
começou em 2011 e terminou em Agosto de 2014 com a aprovação da lei nº 20/2014 de 18 de
Agosto (Lei de Minas revista). Em vez de se fazer mudanças estruturais à Lei de Minas de 2002, a
Lei de Minas revista visa fortalecer o papel do Estado Moçambicano na actividade mineira e na sua
supervisão, com o objectivo de aumentar as receitas das actividades mineiras. A regulamentação da
lei revista está actualmente em curso.
Este instrumento legal prevê, 1) a aprovação, por parte do Estado Moçambicano, para a autorização
ou transferência de títulos mineiros (aos quais estão associadas taxas); 2) a comunicação obrigatória
sobre as descobertas de recursos minerais em áreas com títulos mineiros; 3) a participação do
Estado em projectos de mineração que são “estratégicos para o país”; e, 4) redução das cláusulas de
estabilização nos contratos já em vigor entre o Estados e as entidades mineiras. A lei também cria o
Instituto Nacional de Minas, liderada pelo Ministério dos Recursos Minerais, que é responsável por
regular a actividade mineira em Moçambique.
Além disso, a Lei de Minas revista coloca ênfase no fortalecimento da punição da mineração ilegal,
atraindo investimentos para aumentar a produção e o processamento de minerais, protegendo as
pequenas mineradoras nacionais, harmonizando as actividades mineiras e autorizando processos
com legislação ambiental existente, bem como adoptando uma série de melhores práticas de
mineração internacionais sobre transparência e responsabilização. A Tabela 2 abaixo resume a
legislação nacional relacionada com a actividade mineira:
Tabela 2: Legislação nacional sobre a actividade mineira.
Legislação Breve Descrição Significância
Actividade Mineira
Lei nº 20/2014 de 18 de Agosto (Lei de Minas revista)
Com base na Lei de Minas de 2002, a Lei de Minas revista reforça o papel do Estado Moçambicano nas actividades mineiras, particularmente na autorização/transferência de títulos mineiros, controlo das descobertas de recursos minerais e aumento da receita das actividades mineiras.
Cria o Instituto Nacional de Minas para regular a actividade mineira.
Reforça o papel do Estado Moçambicano na indústria mineira através de:
Aprovação da autorização ou transferência de títulos mineiros
Participação em projectos de mineração estratégicos
Redução das cláusulas de estabilização em contratos existentes
A divulgação das descobertas de recursos minerais em títulos mineiros torna-se obrigatória.
Lei nº 14/2002 de 26 de Junho (Lei de Minas)
Declara que todos os recursos minerais em território nacional são propriedade do Estado Moçambicano.
O MIREME emite títulos mineiros.
A classificação ambiental de
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
31
Introduz títulos mineiros para a prospecção, extracção, processamento e comercialização de recursos minerais.
Introduz a classificação ambiental e os princípios da gestão ambiental para actividades mineiras.
nível 2 aplica-se à operação e exploração com maquinaria mecanizada.
Ferramentas de gestão ambiental aplicam-se à actividade mineira:
1. AIA
2. PGA
3. Monitoria Ambiental,
4. Programa de Encerramento da Mina,
5. Auditoria Ambiental e
6. Programa de Controlo de Riscos e Emergências
Decreto 28/2003 de 17 de Junho (Regulamento da Lei de Minas)
Regula a comercialização de produtos de mineração e o regime fiscal da indústria mineira.
Aplica um regime fiscal específico à actividade mineira.
2.3 Legislação nacional sobre Avaliação de Impacto Social e Consulta
Pública
Em Moçambique, os estudos de Avaliação de Impacto Social (AIA) são considerados dentro do
enquadramento legislativo regente da AIA, no qual as características socioeconómicas da população
em volta do projecto têm de ser abordadas e os impactos do projecto analisados. Os instrumentos
legais que impõem o processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) são os Decretos Ministeriais
Nº 129 e 130/2006 de 19 de Julho, bem como o Decreto Ministerial Nº 45/2004 de 29 de Dezembro,
que estabelecem os princípios para a preparação de um estudo de AIA e a sua respectiva
componente de participação pública.
O Decreto Ministerial 129/2006 define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental. Este
também descreve os conteúdos de um estudo de AIA, incluindo o Plano de Gestão Ambiental (PGA)
e o Relatório do Processo de Participação Pública (PPP). Segundo este decreto, o estudo de AIA
deve incluir um estudo de base do contexto ambiental e social da área do projecto, uma análise
comparativa de locais alternativos para o projecto, a identificação e análise dos impactos esperados
negativos e positivos, bem como desenho de medidas de maximização dos impactos positivos e
mitigação dos impactos negativos.
O Decreto Ministerial 130/2006 estabelece o princípio da participação pública como uma componente
integral do processo de Avaliação de Impacto Ambiental e Social (AIAS), no qual as partes
interessadas e afectadas ou comunidades potencialmente afectadas devem contribuir para a
identificação e análise dos impactos esperados. Tem também a intenção de incentivar e promover a
aceitação do projecto desde uma fase inicial. O PPP requer a identificação das partes interessadas
do projecto, disseminação da informação relevante do projecto através de canais apropriados e
reuniões de consulta pública ou de divulgação para apresentação e discussão dos resultados do
estudo inicial de AIA.
O processo de AIA é, também, regulamentado pelo Decreto Ministerial 45/2004, que detalha o papel
do Comité Técnico de Avaliação na revisão dos relatórios de avaliação de impactos e na
coordenação geral do processo de AIA. Este também regula os procedimentos de AIA através da
32 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Análise, Pré-Viabilidade e Produção dos Termos de Referência para o processo de elaboração do
estudo de AIA, o estudo de AIA em si, e finalmente do Licenciamento Ambiental e Auditoria
Ambiental correspondentes.
Com base no Decreto 130/2006, o Decreto 45/2004 regula, ainda, o Processo de Participação
Pública, definindo o número mínimo de reuniões que devem ser conduzidas (uma para o Relatório de
Pré-Viabilidade e Definição de Âmbito, e outra para o estudo de AIA). Este estipula que as reuniões
devem ser anunciadas nos meios de comunicação, os documentos de projecto devem ser
disponibilizados para consulta pública 15 dias antes das reuniões, e que o relatório de consulta
pública deve estar disponível para o público após a sua divulgação. Este requer que sejam,
adicionalmente, preparados um Plano de Gestão de Emergências e um Estudo sobre Saúde e
Segurança como parte da AIA, para abordar os riscos do projecto para a saúde, e qualidade de vida
no geral, para as populações anfitriãs que acolhem o projecto.
A Tabela 3 abaixo resume a legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto ambiental e
social:
Tabela 3: Legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto social.
Legislação Breve Descrição Significância
Avaliação de Impacto Ambiental e Social
Decreto Ministerial nº 129 de 19 de Julho
Define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental e os conteúdos para um estudo de AIA, incluindo o PGA e o Relatório do PPP. A AIA deve apresentar um estudo de base da situação biofísica, económica e sociocultural da área do projecto, realizar uma análise comparativa dos locais alternativos para o projecto, identificar os impactos positivos e negativos do projecto sobre o ambiente e a população humana, analisar os riscos e apresentar medidas para reforçar os impactos positivos e mitigar os negativos.
Define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental e os conteúdos para um estudo de AIA, o PGA e o Relatório de PPP.
Decreto Ministerial nº 130/2006 de 19 de Julho
Define o princípio de participação pública como um procedimento da Avaliação de Impacto Ambiental, com o objectivo de produzir uma AIA precisa e promover a aceitação do projecto a partir de uma fase inicial. O Processo de Participação Pública (PPP) requer a identificação das partes interessadas do projecto, disseminação de informação relevante do projecto em locais adequados à consulta pública e realização de reuniões de consulta pública para apresentação e discussão dos resultados preliminates do estudo de AIA.
Regula os procedimentos da AIA
Define o princípio de participação pública como um procedimento para os processos de avaliação de impacto ambiental e social.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
33
2.4 Directrizes Internacionais Aplicáveis à AIA
Uma série de directrizes internacionais relacionadas com o processo de AIA fornecem orientações
para o projecto, particularmente as exigidas por financiadores internacionais, como o Banco Mundial
(BM) e a Corporação Financeira Internacional (IFC). No caso dos projectos do sector privado, estas
directrizes geralmente usam como norma os padrões de desempenho (PD) sociais e ambientais da
IFC, que se baseiam nas políticas operacionais (PO) do Banco Mundial. As directrizes internacionais
aplicáveis ao projecto são:
Padrões de Desempenho (PD) para Sustentabilidade Ambiental e Social da IFC (Janeiro de 2012), incluindo o PD 5 sobre aquisição de terras e reassentamento involuntário;
Políticas de Protecção Ambiental e Social do BM (revistas em Agosto de 2011);
Livro de consulta sobre reassentamento involuntário do BM (revisto em Fevereiro de 2011);
Directrizes sobre Ferramentas e Técnicas para Avaliação Social e de Participação (1998).
Estas directrizes orientam o processo de AIAS, incluindo a concepção e implementação de Planos de
Acção de Reassentamento (PAR) e outras ferramentas de gestão ambiental e social.
Adicionalmente, estas apresentam disposições específicas para o que é considerado um processo
de consulta pública sólido, juntamente com outros aspectos-chave tais como aquisição de terra,
poluição e impactos na saúde e segurança. Embora a legislação nacional sejam soberana em
relação a estas directrizes internacionais, as directrizes ajudam a ultrapassar eventuais lacunas e
falta de clareza na legislação nacional, tais como os critérios de compensação e procedimentos
aplicáveis na perda de vários tipos de bens, bens e serviços ecológicos, e, mais importante ainda,
estratégias de subsistência e segurança alimentar do agregado, que normalmente resultam dos
processos de reassentamento.
A OP 4.1 do BM sobre Avaliação Ambiental e o PD 1 da IFC sobre Avaliação e Gestão de Riscos e
Impactos Ambientais e Sociais estipulam que os resultados da avaliação informam a tomada de
decisão sobre o financiamento do projecto. A AIA é da responsabilidade do mutuário e inicia o mais
cedo possível durante a fase de planificação do projecto. A AIA considera tanto o ambiente natural
como o social (saúde e segurança humana, questões sociais como o reassentamento involuntário e
o património ou recursos culturais).
A PO 4.01 e o PD 1 fornecem várias ferramentas e processos que podem ser utilizados no processo
de AIA (estudos especializados, avaliação de riscos, sistemas de gestão ambiental e social, etc.). O
uso ou necessidade de ferramentas individuais baseia-se na análise ambiental do projecto proposto,
a qual resulta na categorização do projecto em uma de quatro categorias do BM.
A Categoria A inclui projectos que têm grande probabilidade de ter impactos ambientais adversos
significativos que afectam uma área mais ampla da que a que inclui os locais ou instalações sujeitas
a trabalhos físicos, tal como o projecto proposto.
A PO 4.0 e PD 1 também determinam o processo de consulta pública. Todos os projectos de
Categoria A requerem pelo menos duas consultas com grupos afectados pelo projecto e
organizações não-governamentais, sendo uma após a Análise Ambiental e outra para a
apresentação do relatório inicial da AIA. As reuniões devem incluir discussões sobre aspectos
ambientais do projecto com as pessoas ou comunidades afectadas e o relatório de AIA deve
incorporar os resultados e conclusões destas reuniões. Documentos relevantes para o projecto
devem ser tornados disponíveis para o acesso público antes de cada reunião.
34 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
A PO 4.01 e o PD 1 afirmam que durante a implantação do projecto, o mutuário deve reportar sobre,
(a) cumprimento com as medidas que foram acordadas, incluindo a implementação de qualquer PGA
conforme estabelecido nos documentos do projecto; (b) o estado das medidas de mitigação; e, (c) os
resultados dos programas de monitoramento. Os relatórios desenvolvidos para o projecto proposto,
incluindo este AIS, devem seguir estes padrões.
A Tabela 4 abaixo resume as directrizes internacionais para o processo de AIAS:
Tabela 4: Directrizes internacionais para o processo de AIAS.
Legislação Breve Descrição Significância
Avaliação de Impacto Ambiental e Social
PO 4.01 do Banco Mundial
Estipula que uma Avaliação Ambiental deve ser levada a cabo para uma tomada de decisão sobre o financiamento do projecto. Estabelece os princípios centrais e procedimentos para o processo de Avaliação Ambiental.
Estipula o princípio de Avaliação Ambiental para o financiamento do projecto.
PD 1 da IFC Apresenta uma série de ferramentas de Avaliação Ambiental a serem aplicadas de acordo com o projecto e contexto; a serem seleccionadas com base na Análise e Categorização do projecto.
Estabelece os procedimentos centrais para a participação pública das partes afectadas e interessadas no processo de AIA.
Define a necessidade de se conduzir uma AIAS para os projectos de Categoria “A”, tais como o projecto proposto de Minério de Ferro.
2.5 Legislação nacional relacionada com o Reassentamento
Durante a última década, Moçambique tem tido um aumento constante de investimentos na área da
extracção de recursos minerais e desenvolvimento de infra-estruturas. Isto tem, muitas vezes,
causado o reassentamento de agregados familiares e de comunidades inteiras, com diferentes
padrões e graus de sucesso durante a planificação, desenvolvimento e implementação do
reassentamento. Este cenário fez com que o Governo de Moçambique aprovasse o primeiro
instrumento legal para abordar especificamente a questão do reassentamento no país,
nomeadamente o Regulamento sobre o Processo de Reassentamento Resultante de Actividades
Económicas (Decreto 31/2012 de 8 de Agosto).
O Decreto 31/2012 estabelece os requisitos e princípios básicos que regem o processo de
reassentamento resultante de actividades económicas privadas ou públicas, com o objectivo de
assegurar um crescimento socioeconómico sustentável e equitativo e um padrão de vida melhor para
todas as pessoas afectadas pelo reassentamento.
Quando se confirma o impacto do reassentamento, o Decreto 31/2012 requer a preparação de um
Plano de Reassentamento e de um Plano para a Implementação do Plano de Reassentamento. Na
prática, o conteúdo combinado destes dois planos é equivalente ao conteúdo das directrizes
internacionais sobre reassentamento, ou seja, o Plano de Acção para o Reassentamento (PAR)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
35
segundo a PO 4.12 do Banco Mundial (explicada mais à frente na Secção 2.6). O PAR apresenta o
perfil socioeconómico da população afectada, avalia os bens tangíveis e intangíveis afectados, define
os critérios de compensação e apresenta as medidas técnicas para restaurar ou melhorar os padrões
de vida das Pessoas Afectadas pelo projecto (PAPs). O Plano para a Implementação do plano de
Reassentamento apresenta uma matriz institucional, orçamento e cronograma necessários para a
implementação.
Segundo o Decreto 31/2012, a concepção do PAR antecede a emissão da Licença Ambiental do
projecto, razão pela qual o PAR é uma componente do processo de AIA e é integrado no Estudo de
AIA, submetido ao Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA). O Plano de
Reassentamento é aprovado pelo governo distrital do local para onde projecto está a ser proposto,
com aconselhamento do MICOA.
Neste momento um PAR está a ser preparado para o projecto proposto, pela COWI Mozambique,
reflectindo os requisitos do Decreto 31/2012. Para mais informação sobre o Decreto 31/2012, por
favor consulte o PAR produzido para o projecto proposto7.
A Tabela 5 abaixo resume as questões-chave da legislação sobre reassentamento.
Tabela 5: Legislação nacional sobre reassentamento
Legislação Breve Descrição Significância
Reassentamento
Decreto 31/2012 de 8 de Agosto – Regulamento para o Processo de Reassentamento Resultante de Actividades Económicas
Estabelece as regras básicas que regem o processo de reassentamento em Moçambique
Cria uma Comissão Técnica para a Revisão dos Planos de Acção de Reassentamento (PAR) necessários devido a projectos económicos que causam reassentamento, e define as responsabilidades da Comissão e procedimentos para a aprovação do PAR bem como o seguimento para a sua implementação. A aprovação cabe ao Governo do Distrito.
Introduz procedimentos específicos para a concepção e implementação de PARs. Define os conteúdos do PAR e do Plano de Acção para a Implementação do Reassentamento, os direitos das PAPs, as responsabilidades dos proponentes do projecto e a implementação do processo de consulta pública.
Introduz procedimentos para a concepção e implementação do PAR
Define as responsabilidades do proponente do projecto
Define a implementação do processo de consulta pública.
2.5.1 Uso da Terra
Os seguintes instrumentos legais regulam a compensação e o uso da terra em Moçambique:
Uso da terra:
7COWI para Capitol Resources (2014). Resettlement Action Plan for the Iron Ore Project in Tete Province (Plano de Acção
para Reassentamento do Projecto de Minério de Ferro na província de Tete). Ainda a ser produzido na altura da submissão do relatório de AIS.
36 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
o Artigo 46 da Constituição; o Lei de Ordenamento do Território (Decreto 19/2007 de 18 de Julho) o Lei de Terras (Decreto 19/97 de 1 de Outubro) o Regulamento da Lei de Terras (Decreto 66/98 de 8 de Dezembro) o Regulamento do Solo Urbano (Decreto 60/2006 de 26 de Dezembro);
Compensação:
o Lei de Ordenamento do Território (Lei nº 19/2007 de 18 de Julho) o Regulamento da Lei de Ordenamento do Território (Decreto 23/2008 de 1 de Junho) o Directiva sobre o Processo de Expropriação para efeitos de Ordenamento Territorial
(Diploma Ministerial 181/2010 de 3 de Novembro); o Regulamento da Actividade Funerária (Decreto 42/90 de 29 de Dezembro).
O PAR inicial (COWI, 2014) apresenta uma discussão detalhada sobre estes instrumentos legais. Um
breve resumo destes instrumentos legais é apresentado na Tabela 6 abaixo:
Tabela 6: Legislação nacional relacionada com o reassentamento.
Legislação Breve Descrição Significância
Uso de Terra e Ordenamento Territorial
Decreto 19/2007 de 18 de Julho – Lei de Ordenamento de Território
Define as directrizes gerais e os instrumentos de ordenamento/gestão, com o objectivo de garantir o desenvolvimento sustentável através de i) planeamento de actividades realizadas no território local; e ii) preservação das reservas naturais e outras áreas protegidas.
O artigo 20 refere-se à expropriação de propriedade privada que pertence a, ou é usada por, comunidade tradicionais; devido a actividades de interesse e necessidade/utilidade pública. Nestes casos, uma compensação justa deve ser paga para cobrir, entre outras coisas, a perda de bens tangíveis e intangíveis, desagregação da coesão social e perda de bens produtivos.
Estabelece os princípios directivos dos instrumentos de Gestão Ambiental
Introduz a possibilidade de expropriação de propriedades privadas para actividades de interesse/necessidade pública, com uma compensação justa
Decreto 19/1997 de 1 de Outubro – Lei de Uso da Terra
Define as modalidades de uso da terra em Moçambique, segundo o princípio de que a terra pertence ao estado e ao povo Moçambicano, e deverá ser usado para o desenvolvimento sustentável cultural e socioeconómico e não para ser vendido como uma mercadoria.
Define os direitos das pessoas afectadas pelos projectos de desenvolvimento, com base no direito consuetudinário. Também define os procedimentos para aquisição de títulos para uso e aproveitamento da terra pelas comunidades e individuais.
Esta lei constitui a base para a Política de Ordenamento Territorial, com o objectivo de, i) promover o uso racional e sustentável dos recursos naturais; ii) preservar o equilíbrio ambiental; iii) promover a coesão nacional; iv) desenvolver as regiões e as vidas dos cidadãos;
Define os direitos sobre a terra das pessoas afectadas com base na lei consuetudinária, e os procedimentos para aquisição de títulos de uso e aproveitamento da terra por parte das comunidades e individuais.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
37
v) equilibrar a qualidade de vida em zonas rurais e urbanas; vi) melhoramento das condições de habitação, de infra-estrutura e do sistema urbano; e, vii) salvaguardar as comunidades vulneráveis contra os desastres naturais ou causados pelo homem.
Decreto 60/2006 de 26 de Dezembro – Regulamento do Solo Urbano
Fornece directrizes específicas para o uso da terra em centros urbanos, tais como cidades e vilas, com base na Lei de Terras.
Fornece directrizes para uso da terra em áreas urbanas
Áreas de domínio público/ Áreas de protecção
Decreto 19/1997 de 1 de Outubro – Lei de Uso da Terra
Estabelece áreas de protecção total ou parcial. Para aquedutos de abastecimento de água, a protecção parcial é estabelecida em 50 m de cada lado do aqueduto.
Nenhum direito de uso e aproveitamento de terra pode ser adquirido em zonas de protecção total ou parcial; no entanto, podem ser emitidas licenças especiais a Governadores Provinciais para actividades específicas nas zonas de protecção parcial.
Define a área de protecção parcial para aquedutos
Regulamento 66/1998 da Lei de Terras de 1 de Dezembro
Especifica que os procedimentos para o término de um título de terra no interesse público, tem de seguir os procedimentos de expropriação após o pagamento de uma compensação justa.
Define os procedimentos para o término de títulos de terra no caso de interesse público.
Decreto 19/2007 de 18 de Julho – Lei de Ordenamento de Território
Define que a expropriação para interesse público requer o pagamento de uma compensação calculada de forma justa pela perda de bens tangíveis e intangíveis, de bens produtivos e perturbação da coesão social.
Artigo 46 da Constituição de Moçambique
O Artigo 46 faz referência ao Direito de Domínio Eminente, o que estabelece que, no caso de expropriação de bens, os individuais e entidades têm o direito a i) compensação equitativa pelos bens expropriados; e, ii) um novo terreno equitativo.
Reconhece o direito a compensação devido à expropriação de bens
Decreto 23/2008 de 1 de Junho - Regulamento da Lei de Ordenamento do Território
Reconhece a expropriação para fins de ordenamento territorial (por exemplo, terras de domínio público) por interesse público (instalação de uma infra-estrutura económica ou social com grandes impactos sociais positivos).
Também estabelece que uma compensação justa tem de ser paga antes de ocorrer a transferência ou expropriação de propriedade ou bens, cobrindo o valor real dos bens expropriados, danos e perda de lucro.
Reconhece a expropriação para fins de ordenamento territorial de interesse público
Compensação
Decreto 181/2010 de 3 de Novembro
Apresenta directrizes e normas para o processo de expropriação para fins de planificação do uso da terra, devido ao desenvolvimento de actividades do interesse/necessidade pública.
Estabelece as directrizes e as normas para o processo de expropriação para fins de planificação do uso da terra
38 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Define, i) os contextos nos quais a expropriação pode ocorrer para fins de planificação da terra; e, ii) como conduzir o processo de expropriação. Este também estabelece o cálculo para os custos da compensação pela expropriação de infra-estruturas de habitação, comerciais, industriais, de prestação de serviços, à beira-mar e rurais.
Decreto 119/94 de 14 de Setembro
Define as directrizes para avaliar valores das casas, em caso de deslocação iminente. As directrizes são produzidas e actualizadas pelas Direcções Provinciais das Obras Públicas e Habitação.
Fornece directrizes para avaliar o valor das casas em caso de deslocação
Regulamento 66/1998 da Lei de Terras de 1 de Dezembro
Define as directrizes para a compensação pela perda de árvores e culturas por causa de projectos de desenvolvimento (que impliquem uma deslocação dos usuários da terra).
Juntamente com a Direcção Provincial de Agricultura (Ministério da Agricultura), este regulamento define o valor mínimo de várias árvores e culturas em Moçambique. As Direcções Provinciais actualizam as directrizes com tabelas de custo para uma variedade de árvores e culturas.
Define os custos mínimos para árvores e culturas, para o cálculo dos custos de compensação devido a processos de deslocação
2.5.2 Património Cultural
O relatório de Património Cultural preparado para o projecto proposto (COWI, 2014) apresenta uma
discussão detalhada das ferramentas legais aplicáveis. Um breve resumo pode ser encontrado na
Tabela 7 abaixo:
Tabela 7: Legislação nacional relacionada com o património cultural.
Legislação Breve Descrição Significância
Património Cultural
Resolução nº. 12/2010 (Política de Monumentos)
Aprova a Política aplicável a Monumentos em Moçambique para a sua salvaguarda, promoção e uso sustentável.
Estabelece limitações às actividades humanas nos locais dos monumentos, para protecção dos mesmos.
Lei nº 13/2009 de 25 de Fevereiro
Estabelece o enquadramento para a protecção dos bens relacionados com a Luta de Libertação Nacional, considerados como parte do património cultural de Moçambique.
Estabelece limitações às actividades humanas nos locais dos monumentos pertencentes à Luta de Libertação Nacional, para protecção dos mesmos.
Decreto 27/94 de 20 de Julho (Regulamento de Protecção de Património Arqueológico)
Estabelece o enquadramento para a projecção de duas categorias de património: bens materiais móveis e imóveis; que, pelo seu valor arqueológico, fazem parte do património cultural de Moçambique.
Estabelece limitações às actividades humanas nos locais de patrimónios móveis e imóveis, para protecção dos mesmos.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
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Decreto 42/90 de 29 de Dezembro (Regulamento da Actividade Funerária)
O enterro de corpos nas áreas rurais pode ser feito em cemitérios ou outros locais autorizados pelas autoridades.
Não há referência a transladação de corpos nas áreas rurais à qual os projectos de desenvolvimento devem aderir. Assume-se que os líderes tradicionais devem ser consultados para definir os locais apropriados para enterros e quais as tradições a seguir.
Declara que o enterro de corpos nas áreas rurais pode ser feito em cemitérios ou em outros locais autorizados pelas autoridades relevantes.
Os líderes tradicionais devem ser consultados para se definirem os locais apropriados para a realização de enterros e as tradições a seguir.
Lei 10/88 de 19 de
Dezembro (Lei sobre a Protecção do Património Nacional)
Protege os locais de património histórico e cultural nacional através da definição de ‘áreas protegidas’ em volta dos mesmos.
Define o processo para a identificação, registo, preservação e avaliação dos bens materiais e espirituais do Património Cultural Moçambicano.
Aplica-se aos bens de património cultural que pertencem ao estado, a entidades públicas, a pessoas individuais e legais.
Estabelece ‘áreas protegidas’ em volta dos locais de património histórico e cultural, a serem evitados por áreas de projecto.
2.6 Directrizes internacionais aplicáveis ao Reassentamento
Uma série de directrizes internacionais sobre reassentamentos fornecem uma orientação útil para o
projecto, particularmente aquelas exigidas pelos financiadores internacionais tal como o Banco
Mundial (BM) e a Cooperação Financeira Internacional (IFC). Uma vez mais, no caso dos projectos
do sector privado estas directrizes revertem para os Padrões de Desempenho sociais e ambientais,
da IFC que se baseiam nas Políticas Operacionais do BM. As directrizes internacionais aplicáveis ao
projecto e vastamente influenciadas umas pelas outras, são:
PD da IFC sobre Sustentabilidade Ambiental e Social (Janeiro de 2012), incluindo o PD 5
sobre aquisição de terras e reassentamento involuntário;
PO 4.12 do BM sobre reassentamento involuntário (revisto em Fevereiro de 2011).
A versão preliminar do PAR desenhado para o projecto proposto apresenta uma descrição detalhada
destas directrizes. A Tabela 8 abaixo, apresenta um resumo das mesmas.
Tabela 8: Directrizes internacionais para reassentamento
Legislação Breve Descrição Significância
Reassentamento
PO 4.12 do Banco Mundial
Define o reassentamento para além do reassentamento físico e introduz uma variedade de ferramentas para o planeamento do reassentamento, de acordo com o contexto e com o projecto
Define o reassentamento e apresenta ferramentas para o planeamento do reassentamento.
PD 5 da IFC Define os critérios de elegibilidade e os procedimentos básicos para a compensação e o apoio às pessoas afectadas pelo projecto devido ao reassentamento.
Estipula que todas as pessoas afectadas devem
40 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
ser apoiadas no processo do reassentamento, incluindo os proprietários das terras e os ocupantes ilegais na área do projecto (independentemente destes possuírem ou não um título formal para uso da terra)
2.7 Governo e liderança local
Sob a jurisdição do governo provincial, o governo distrital está estruturado em torno do Administrador
do Distrito e as suas autoridades de Serviços Distritais (saúde e acção social, educação, actividades
económicas, planificação e infra-estruturas, cartório e procuradoria, etc.). O Administrador do Distrito
dirige o governo local e supervisiona os chefes dos Postos Administrativos. Os Directores dos
Serviços Distritais supervisionam, similarmente, os seus respectivos representantes dos Postos
Administrativos.
Abaixo do nível do Posto Administratitvo estão os Chefes da Localidade que, com o apoio dos
Serviços Distritais, coordenam a prestação de serviços em todos os sectores (serviços de saúde,
educação, actividades económicas, justiça, segurança e infra-estruturas públicas) dentro das suas
localidades. O Chefe da Localidade faz a ligação entre o distrito e as comunidades ou
assentamentos.
O fluxo de informação dentro desta estrutura é hierárquico e vertical. O Chefe de Localidade recolhe
informação das comunidades, através dos líderes de comunidades e passa-a ao responsável do
Posto Administrativo que, por sua vez processa a informação de todas as localidades e envia-a para
o Administrador do Distrito. As seguintes lideranças locais e grupos sociais fornecem a base para a
organização social e política, e resolução de conflitos, a nível local:
1 Posto Administrativo: instituições governamentais que proporcionam serviços básicos de educação (escolas primárias), serviços de saúde (Postos de Saúde e Postos de Primeiros Socorros) e apoiam na produção pecuária (serviços veterinários);
2 Líderes locais: o Secretário de Bairro e os subordinados, o Chefe de Quarteirão e o Chefe de 10 casas;
3 Líderes tradicionais: n’fumo e seus subordinados nhankwava, agindo dentro da jurisdição da comunidade;
4 Chefe do Tribunal Comunitário, que resolve conflitos através do direito consuetudinário; e, 5 Anciãos no contexto da família alargada (rede de apoio social baseada em laços de
parentesco).
Apesar de em algumas comunidades os líderes tradicionais e os líderes locais serem pessoas
diferentes, é comum uma pessoa acumular os dois títulos de líder local e tradicional. Este é o caso
na maioria das comunidades da área do projecto, particularmente para os líderes de topo. As duas
categorias não se distinguem facilmente uma da outra, mas ambas são reconhecidas pelo governo
de acordo com a Lei 8/2003 de 19 de Maio8. Segundo as Discurssões de grupo focal (DGF)
realizadas para a AIS, as comunidades da área do projecto reconhecem ambas categorias de
liderança e usam-nas estrategicamente para atingir objectivos específicos, nomeadamente a
resolução de conflitos entre líderes tradicionais ou acesso à terra e meios de subsistência associados
auferidos a partir da mesma, por intermédio do secretariado de bairro.
8 Lei 8/2003 de 19 de Maio, que estabelece os princípios e normas para a organização, competência e funcionamento do
governo local estatal.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
41
As redes de apoio familiar são usadas como fonte de mão de obra e apoio material em tempos de
dificuldades (apoio em espécie, envio de familiares migrantes que trabalham na Cidade de Tete,
etc.). Apesar de haver igrejas presentes na área do projecto, as DGF revelaram que grupos
baseados em igrejas têm pouca influência na vida quotidiana das comunidades quando comparados
à família alargada, líderes tradicionais e líderes locais. Contudo, eles parecem ter uma influência
sobre os agregados familiares mais vulneráveis.
As DGF revelaram que, para questões que afectam a vida da comunidade – tal como a
implementação de um projecto de mineração e o reassentamento físico a este associado – as
comunidades dependem bastante dos seus líderes tradicionais e locais, dos quais esperam um
direccionamento e aconselhamento na tomada de decisões. Os membros da comunidade vêem-se
como actores no processo de tomada de decisão, mas deixam a tarefa da decisão final para os
líderes locais e tradicionais, os quais, eles acreditam, irão defender os seus interesses e tomar a
melhor decisão possível.
As DGF também revelaram conflitos sociais tal como conflitos maritais devido ao consumo excessivo
de álcool e comportamentos desrespeitosos entre membros da comunidade, que são resolvidos
pelos líderes locais e tradicionais.
Finalmente, estas discussões também indicaram que os canais de comunicação verbal
desempenham um papel importante na organização da comunidade. Uma rede mista de líderes
locais e tradicionais é usada para a difusão cara-a-cara de informação importante e anúncios de
encontros importantes por toda a população local. Esta rede social pode desempenhar um papel
importante na mobilização das comunidades locais para o processo de AIS, bem como a sua
aceitação futura e aceitação do projecto proposto.
42 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
3 METODOLOGIA
Para a preparação da AIS, foi usada uma combinação de métodos de colecta de dados qualitativos e
quantitativos para o levantamento de base e uma metodologia específica de avaliação de impactos
foi também aplicada para a classificação da significância dos impactos. Um levantamento de base
socioeconómico foi realizado em todas as populações/comunidades potencialmente afectadas pelo
projecto, cujos resultados alimentaram os processos de AIA, AIS e PAR. Este levantamento também
proporcionou a base para programas de monitoria contínua de desempenho que serão necessários
quando o projecto estiver operacional.
Esta secção fornece uma descrição detalhada da metodologia aplicada na identificação da área
estudo e da metodologia de colecta de dados usada para o processo de AIS. O Anexo A: apresenta
a metodologia aplicada para avaliação da significância dos impactos identificados.
3.1 Identificação da área de estudo
A fim de definir a área do projecto e identificar as comunidades afectadas pelo projecto a serem
incluídas no estudo, foram aplicadas três zonas de protecção ou zonas tampão.
Primeiro, foi estabelecida uma zona tampão de 10 km em volta da Área de Prospecção Tenge-Ruoni
1035-L, local onde ocorrerá a primeira fase da mineração, para identificar as comunidades a serem
incluídas no estudo.
Subsequentemente, foi estabelecida uma zona tampão de 5 km em torno da área de prospecção
1035L, com vista a identificar quaisquer recursos naturais e meios de subsistência existentes que
possam estar a ser actualmente usados pelas comunidades na área do projecto. Esta zona tampão
foi estabelecida com base no parecer dos Serviços Distritais de Actividades Económicas de Moatize9
que sugeriram esta distância como a mais adequada para salvaguardar as comunidades contra os
impactos das detonações e ruído derivado das actividades mineiras, tendo como base a experiência
do distrito com outras empresas de mineração. Para além disso, foi estabelecida uma outra zona
tampão com 140 m de largura (70 m de cada lado da linha central da estrada) ao longo da estrada de
transporte. A combinação destas duas zonas é chamada de “Corredor de Impacto”, uma área
directamente afectada pelo projecto em termos de impactos sócio-económicos.
Finalmente, foi estabelecida uma zona tampão de 1,020 m em volta da mina em si, para definir a
área directamente afectada pelo projecto em termos de reassentamento. Esta zona tampão é
referida no relatório como a área de explosão, ou seja, a área onde as operações de detonação da
actividade mineira podem afectar os assentamentos humanos e tornar o local inseguro para se viver
como consequência das rajadas de ar, pedras voadoras e vibração do solo, ou onde pode ser
inseguro desenvolver uma actividade (diferente de mineração)10
. Por causa disto, acredita-se que os
agregados e bens localizados dentro da área de explosão devem ser fisicamente retirados e
realocados fora da área de explosão (ver Secções 4.3.10 e 5.2.1 sobre o impacto do deslocamento
físico).
9 Entrevistados como parte da Avaliação de Impacto Social, em Julho de 2014.
10 Discussão com o Baobab Resources Technical Systems Department, com base no estudo Ground Vibration and Air Blast
Study (Estudo sobre Vibração do Solo e Rajadas de Ar) preparado pelo CES (2014).
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
43
Como resultado destas zonas tampão, foram estabelecidas áreas directa e indirectamente afectadas
pelo projecto:
A área directamente afectada pelo projecto, inclui:
o A área dentro do Corredor de Impacto (5 km em volta da área de prospecção junto
com os 70 m de cada lado da estrada de transporte), e,
o A Área de Explosão (zona de 1,020 m em volta da mina em si), que implica
reassentamento.
A área indirectamente afectada pelo projecto, inclui:
o A área fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.
Estas zonas tampão são consistentes com as zonas tampão aplicadas na Avaliação de Impacto na
Saúde e no Estudo de Património Cultural conduzidos durante a AIAS deste projecto, de modo a
garantir que o trabalho de campo da AIS fosse realizado nas mesmas comunidades alvo dos dois
outros estudos.
Após a delimitação das zonas tampão, foram identificadas oito comunidades dentro destas zonas
para o presente estudo com base em análises a fotografias aéreas e informação fornecida pelo
cliente. Sete destas comunidades localizam-se na Área de Prospecção Tenge-Ruoni 1035-L e uma
localiza-se ao longo da estrada de transporte. Assim, destas comunidades, sete são directamente
afectadas pelo projecto, ou seja, localizam-se dentro do Corredor de Impacto estabelecido para o
estudo, nomeadamente: Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga, Tenge e Mboza. A
comunidade restante, Massamba, é indirectamente afectada pelo projecto, ou seja, localiza-se
fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.
Visto que só há uma comunidade indirectamente afectada pelo projecto, Massamba, os dados
recolhidos nesta comunidade foram usados para informar o perfil socioeconómico da área do
projecto, mas não foram usados para fins de avaliação de impacto, pois a comunidade e os bens
socioeconómicos que utiliza estão localizados fora da zona tampão de 5 km.
A Tabela 9 abaixo apresenta as comunidades afectadas pelo projecto segundo a sua localização e
conforme estas estejam directa ou indirectamente afectadas pelo projecto:
Tabela 9: Comunidades afectadas pelo projecto
Componente do Projecto
Nr de comunidades
Directa/ Indirectamente Afectadas
Comunidades Distrito
Área de Prospecção Tenge-Ruoni (1035-L)
7 Indirectamente afectada
Massamba
Directamente afectadas
Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga e Tenge
Estrada de Transporte
1 Directamente afectadas
Mboza
A localização das comunidades afectadas pelo projecto e as zonas tampão incluídas no estudo são
apresentadas abaixo.
44 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 2: Comunidades inquiridas na área do projecto.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
45
3.2 Métodos de recolha de dados
Seguindo o delineamento da área do projecto, dois processos de recolha de dados decorreram
simultaneamente, sendo um quantitativo e outro qualificativo. Os dois processos reuniram dados
complementares de forma a definir o perfil das pessoas afectadas pelo projecto, bem como identificar
e avaliar os impactos do projecto.
A componente quantitativa consistiu num levantamento socioeconómico aplicado aos agregados
familiares que vivem no corredor de impacto da área do projecto, e ocorreu de 9 a 21 de Agosto de
2014. O objectivo do levantamento era de definir o perfil socioeconómico da população na área do
projecto. Assim, o levantamento focou-se em aspectos do agregado como demografia, educação,
água, saneamento, saúde, receitas e despesas, habitação, agricultura, segurança alimentar,
mobilidade, disponibilidade e acesso a serviços, e conflitos na comunidade. A ferramenta quantitativa
aplicada, o Inquérito ao Agregado Familiar, pode ser encontrada no Anexo E: Inquérito ao Agregado
Familiar.
A componente qualitativa usava três métodos: entrevistas semi-estruturadas com informadores-
chave, exercícios de mapeamento participativos dentro de discussões de grupo focal e observações
de campo. Os temas principais delineados nos exercícios participativos em grupo serviram para
orientar ainda mais as observações de campo subsequentes. Estes métodos foram aplicados às oito
comunidades localizadas dentro da área do projecto, mencionadas na Secção 3.1, e o processo de
recolha de dados ocorreu de 30 de Junho a 10 de Julho de 2014. A componente qualitativa tinha
como objectivo estabelecer um perfil social, económico e cultural das comunidades na área do
projecto, explorando as suas práticas, hábitos e tradições e identificando as suas expectativas,
necessidades e atitude em relação ao projecto. Os dados recolhidos complementaram o perfil de
base da população na área do projecto produzido pela componente quantitativa, e acrescentaram
informação ao exercício de avaliação do impacto.
A componente qualitativa focou-se em analisar histórias relevantes da comunidade, locais sagrados,
autoridade e hierarquia das estruturas de liderança locais, acesso aos serviços e recursos e a
relação perceptível das comunidades com o ambiente físico. Adicionalmente, esta componente
procurou estabelecer as preocupações, desassossegos ou recomendações que as comunidades
tinham e para as quais o proponente do projecto tinha de estar ciente, visto que se relacionavam com
potenciais impactos para as comunidades anfitriãs. Os dados qualitativos recolhidos durante esta
fase também contribuíram para o relatório do Estudo de Património Cultural.
As equipas de recolha de dados apresentaram-se primeiro à Administração do Distrito antes de
começarem com a recolha de dados e isto serviu como uma apresentação aos líderes locais com
quem a equipa colaborou no trabalho de campo. Discurssões de grupo focal (DGF) foram realizadas
e observações de campo foram registadas em cada uma das 8 comunidades. Tal como explicado
acima na Secção 3.1 acima, a vila de Massamba (uma comunidade indirectamente afectada pelo
projecto) contribui para o perfil socioeconómico da área do projecto mas não para o exercício de
avaliação de impacto. Os métodos qualitativos e quantitativos específicos aplicados são explicados
em maior detalhe mais abaixo.
3.2.1 Revisão bibliográfica
A literatura disponível sobre a área do projecto foi revista, de forma a poder contribuir para a
concepção de ferramentas de recolha de dados (guias semiestruturados para entrevistas, guias para
46 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
as discurssões de grupo focal e para os exercícios participativos e o inquérito aos agregados
familiares) e para a análise da AIS. As principais fontes literárias utilizadas foram as seguintes:
Perfil dos distritos de Chiúta e Moatize (Perfil do Distrito por MAE, 2005);
Estatísticas Territoriais para Chiúta e Moatize, datados de Março de 2013 (INE, 2013);
Plano de Desenvolvimento Estratégico para o Distrito de Chiúta 2012-2012;
Relatório de Actividades de 2013 do Distrito de Moatize;
Relatório de Património Cultural para o Projecto de Minério de Ferro (COWI para CES, 2014); e,
Melhores práticas internacionais de reassentamento e legislação moçambicana aplicáveis.
3.2.2 Entrevistas com informadores-chave
Foram conduzidas entrevistas com informadores-chave com o objectivo de recolher dados sobre a
província, o contexto de desenvolvimento socioeconómico dos distritos e as implicações do projecto
no local. Foram também recolhidos dados acerca das ligações entre planeamento a nível distrital e
implementação do projecto, desafios e oportunidades colocados pelo projecto às actividades locais e
serviços sociais e, finalmente as expectativas, preocupações e recomendações do governo local em
relação ao projecto. As seguintes instituições foram entrevistadas:
Direcção Provincial de Educação de Tete;
Serviços Distritais de Actividades Económicas de Moatize e Chiúta; e,
Serviços Distritais de Planificação e Infra-Estrutura de Moatize e Chiúta.
As entrevistas com informadores-chave e as discurssões de grupo focal decorreram em simultâneo
As entrevistas visavam a recolha de dados qualitativos para o levantamento de base, bem como
obter percepções sobre o projecto e aspectos a serem levados em consideração dos governos dos
distritos de Moatize e Chiúta.
3.2.3 Discussões de grupo focal com exercícios participativos
Discussões de grupo focal (DGF) ocorreram em oito comunidades dentro da área do projecto (tal
como referido na Secção 3.1 e ilustrado na Figura 2 acima). As discussões focaram-se na recolha de
dados para a definição do perfil socioeconómico e cultural da população na área do projecto, na
recolha de percepções sobre os impactos do projecto, expectativas e preocupações e na avaliação
da sua adesão ao projecto. A história de comunidades existentes foi explorada e as suas dinâmicas
sociais, culturais e económicas foram mapeadas, os locais sagrados e serviços sociais disponíveis e
aos quais as comunidades têm acesso também foram mapeados, a hierarquia da autoridade local foi
definida e foram recolhidos dados acerca da dinâmica de mobilidade e das experiências anteriores
com reassentamentos por parte da população na área do projecto.
Passou-se dois dias em cada uma das comunidades seleccionadas e, durante este tempo, foram
seleccionados e mobilizados os participantes do grupo focal com a ajuda dos líderes locais. Em cada
comunidade, uma DGF foi conduzida com membros da comunidade e líderes locais previamente
mobilizados pelo Secretário de Bairro, durante as quais todos os exercícios participativos foram
aplicados. A Figura 3: Grupo focal em Chianga e a Figura 4 abaixo ilustram exemplos dos
exercícios participativos aplicados.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
47
Figura 3: Grupo focal em Chianga Figura 4: Mapa de recursos e serviços da comunidade de Massamba
Tendo em consideração os níveis geralmente baixos de alfabetização da população nos distritos de
Chiúta e Moatize (INCE, 2013 e 2013 b), os exercícios DGF favoreceram métodos de expressão
visual para estimular a discussão. Foram concebidos exercícios participativos para recolher dados
necessários para atingir os objectivos das DGF mencionados acima. Guias de orientação de como
implementar cada exercício foram produzidos em Português e compilados num manual qualitativo
(ver Anexo C). Na Tabela 10 abaixo, os exercícios participativos aplicados nas DGF e os seus
objectivos principais são apresentados:
Tabela 10: Exercícios participativos aplicados e seus objectivos
Exercício Objectivo
Histograma Identificar as origens da sua comunidade e os eventos importantes que marcaram a história da comunidade
Mapeamento de locais sagrados/religiosos e culturais
Identificar e mapear os principais locais culturais, religiosos ou sagrados usados pela comunidade
Compreender a relevância de cada local identificado e os usos actuais a estes associados
Matriz de Liderança/Autoridade Definir os níveis de autoridade dentro da comunidade, a sua hierarquia, os seus papéis e inter-relações
Mapeamento de Mobilidade Compreender a dinâmica de mobilidade da comunidade, incluindo as causas e episódios de mobilidade, o perfil dos migrantes, questões de género e idade relacionados com a mobilidade, e a integração dos migrantes
Mapeamento de serviços Identificar e mapear os serviços sociais disponíveis para e aos quais a comunidade tem acesso
Compreender o uso e a importância desses serviços
Análise da árvore de problemas Identificar as principais questões ligadas ao projecto que do ponto de vista da comunidade, podem ser problemáticas ou motivos de preocupação
Compreender a relação entre os problemas e o projecto (causa-efeito)
Identificar medidas, papéis e responsabilidades para ultrapassar os problemas identificados, incluindo a pessoa focal da comunidade a ser envolvida
48 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Foram tiradas fotografias e notas em cada sessão de DGF. As DGF foram conduzidas por dois
antropólogos, um que agia como moderador e outro como anotador. As DGF foram moderadas em
Português, com tradução em simultâneo para a língua local falada pela comunidade através de um
tradutor local. Antes do trabalho de campo, os antropólogos foram treinados em Maputo de 24 a 26
de Junho de 2014 em relação à estratégia de trabalho de campo e como usar os exercícios
participativos.
Subsequentemente às DGF, foram feitas visitas aos locais sagrados identificados, foram tiradas
fotografias de cada local e foram registadas as coordenadas GPS. Com base nas coordenadas
retiradas no campo, foram produzidos mapas dos locais de patrimónios culturais significativos para o
estudo sobre o Património Cultural. Um mapa dos locais de património cultural potencialmente
afectados é apresentado na Figura 4411
.
3.2.4 Levantamento socioeconómico
Com o objectivo de reunir dados quantitativos para o estudo de base da área do projecto, foi
realizado um levantamento socioeconómico usando um questionário escrito que foi aplicado a
agregados que viviam no corredor de impacto (CdI) da área do projecto. Como foi referido
anteriormente, o CdI é composto pela área de prospecção 1035L com uma zona tampão de 5km12
e
pela estrada de transporte projectada com uma zona tampão de 70 m de cada lado (ver Figura 2).
Como parte do levantamento, 324 agregados que viviam no CdI foram entrevistados. O levantamento
socioeconómico também serviu como um censo das Pessoas Afectadas pelo Projecto (PAPs) para o
Plano de Acção para o Reassentamento13
, uma vez que uma lista dos agregados que vivem na zona
de explosão e que necessitam de ser reassentados foi obtida a partir da lista de agregados
inquiridos.
Após a conclusão do levantamento, o Cliente considerou um alinhamento alternativo para a estrada
de transporte. Até à data, o Cliente ainda está a analisar este alinhamento alternativo e ainda não foi
tomada uma decisão. Caso seja escolhido um alinhamento alternativo para a estrada de transporte
que atravesse uma área que não foi abrangida pelo censo PAR que já foi realizado, um novo censo
socioeconómico da população e bens deverá ser conduzido nesta nova área. No entanto, é
improvável que o alinhamento alternativo tenha implicações no presente relatório de AIS, devido à
sua proximidade ao alinhamento no CdI, e à homogeneidade relativa da população na área do
projecto.
A nível dos agregados, o questionário foi feito ao Chefe do Agregado ou ao seu cônjuge (feminino ou
masculino). A entrevista foi conduzida directamente em Chewa ou Nhúnguè por entrevistadores que
eram fluentes nestas línguas. Foram também tiradas fotografias e apontadas as coordenadas
geográficas de cada agregado que foi entrevistado.
11
Para um mapeamento visual dos restantes locais de património cultural, por favor veja o Estudo sobre Património Cultural
que faz parte do actual relatório de AIAS: COWI para CES (2014). Relatório de Património Cultural (Cultural Heritage Report.). 12
Esta foi definida com base em experiências anteriores em mineração na área, onde o impacto de uma explosão mineira, por
exemplo, pode ser sentido a 5km de distância.
13A ser elaborado aquando da entrega do relatório de AIS.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
49
3.2.5 Análise de dados
As conclusões do relatório derivam essencialmente da análise de dados qualitativos e quantitativos
adquiridos. No que diz respeito à análise de dados quantitativos, todos os questionários
socioeconómicos realizados para o censo PAR foram introduzidos numa base de dados no pacote
estatístico CSPro, que foi depois convertida para SPSS para posterior limpeza e lançamento dos
dados em tabelas. Depois disso, foram extraídas tabelas de frequências para um formato Microsoft
Office Excel e foram produzidos gráficos conforme necessário para a análise quantitativa da AIS.
Em relação à análise qualitativa dos dados, as notas feitas em todas DGF foram inseridas numa
matriz de análise produzida num formato Microsoft Office Excel. A matriz de análise foi estruturada
para os principais tópicos do exercício de participação, o que permitiu uma análise individual de cada
comunidade inquirida e, também, uma análise comparativa entre todas as comunidades inquiridas. A
matriz de análise qualitativa está disponível no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa.
Os quintis de riqueza foram gerados com base na posse de bens seleccionados de cada agregado a
partir do conjunto de dados do levantamento socioeconómico, a fim de identificar os grupos ou
agregados vulneráveis, e para alimentar as discussões em torno das questões de vulnerabilidade.
Através de um procedimento estatístico conhecido como Análise de Componentes Principais (PCA),
os agregados inquiridos foram colocados numa escala contínua de riqueza relativa e foram
classificados em cinco grupos socioeconómicos, definidos como quintis de riqueza, mais
especificamente: Mais Baixo (Q1), Segundo (Q2), Intermédio (Q3), Quarto (Q4) e Mais Alto (Q5),
provisoriamente designados como “renda baixa”, “renda média baixa”, “renda média”, “renda média
alta” e “renda alta”. Anexo B: explica em maior detalhe a metodologia usada para gerar os quintis de
riqueza.
3.3 Metodologia de avaliação de impacto
Para avaliar a significância dos potenciais impactos causados pelo projecto proposto, uma escala de
classificação padronizada foi adoptada para a fase da EIA, fornecida pela Costal Environment
Services (CES). A escala de classificação baseia-se em quatro factores chave:
1. Escala Temporal: Esta escala define a duração de qualquer impacto. Esta pode evoluir de curto
prazo (menos de 5 anos ou período de construção) a permanente. Geralmente, quanto mais tempo
dura o impacto, mais significativo o mesmo será;
2. Escala Espacial: Esta escala define a extensão espacial de qualquer impacto. Esta pode estender-
se de uma área local a um impacto que ulttraassa fronteiras internacionais. Quanto mais vasta a
extensão do impacto, mais significativo o mesmo deverá ser considerado;
3. Escala de Benefícios/Gravidade: Esta escala define o quão severos seriam os impactos negativos
ou o quão benéficos seriam os impactos positivos. Esta escala positiva/negativa é fundamental na
determinação da significância total do impacto. A Escala de Benefícios/Gravidade avalia a
significância potencial dos impactos antes e depois da mitigação de forma a poder determinar a
eficácia total de quaisquer medidas de mitigação.
4. Escala de Probabilidade: Esta escala define o risco ou a probabilidade de ocorrência de qualquer
impacto. Ainda que vários impactos geralmente ocorram, existe uma incerteza considerável em
50 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
relação a outros impactos. A escala varia de improvável a definitivo, com a significância do impacto
total a aumentar à medida que a probabilidade aumenta.
As quatro escalas são classificadas e às mesmas são atribuídos valores para determinar a
significância total do impacto de acordo com Anexo A: .
3.4 Pressupostos e Limitações
Tal como explicado na Secção 3.1, o relatório de AIS actual assume que a primeira fase de
mineração vai acontecer na Área de Prospecção de 1035-L Tenge-Ruoni. A AIS também assumiu
uma zona tampão de 10 km à volta da Área de Prospecção 1035-L, para identificar as comunidades
a serem incluídas no estudo. Posteriormente, foi identificado um Corredor de Impacto composto por
uma zona tampão de 5 km ao longo da Área de Prospecção 1035L e 140 m ao longo da estrada de
transporte, para definir a área directamente afectada pelo projecto. Baseando-se nesses
pressupostos, a AIS definiu a Área de Prospecção de 1035-L Tenge-Ruoni, o Corredor de Impacto e
uma zona tampão de 10 km como a área do projecto para o estudo. A AIS também definiu áreas
directa e indirectamente afectadas pelo projecto: a área directamente afectada pelo projecto
corresponde ao Corredor de Impacto, e a área indirectamente afectada pelo projecto corresponde à
área fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.
O estudo teve uma limitação relacionada com o alinhamento da estrada de tranporte. Tal como já foi
explicado na Secção 3.2.4, após o término da avaliação socioeconómica que informa a AIS, os
proponentes do projecto consideraram um alinhamento alternativo para a estrada de tranporte. Este
alinhamento alternativo passa por áreas não cobertas pelo processo de recolha de dados da AIS.
Contudo, é improvável que isto tenha implicações para o relatório actual da AIS dada a proximidade
do alinhamento alternativo ao alinhamento actual da estrada de tranporte no Col, e dada a relativa
homogeneidade da população na área do projecto.
Não obstante, terá implicações para o PAR no sentido de que será necessário um novo censo da
população e bens localizados no alinhamento alternativo em consideração.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
51
4 CONTEXTO DO PROJECTO
Esta secção apresenta um resumo do contexto socioeconómico no qual o projecto proposto será
desenvolvido. Primeiro, apresenta-se uma discussão sobre a indústria extractiva a nível nacional,
seguida de uma análise do contexto provincial (Tete), uma análise do contexto distrital (Chiúta e
Moatize) e uma apresentação das conclusões do levantamento feito na área do projecto.
As conclusões do levantamento providenciam uma linha de base sobre a população na área afectada
pelo projecto, baseada em dados reunidos durante o levantamento socioeconómico descrito na
Secção 3, no qual foram entrevistados 324 agregados que vivem no CdI. O perfil da população na
área afectada pelo projecto é comparado ao perfil distrital e/ou provincial onde for necessário e
aplicável.
Foram adicionadas às conclusões do levantamento, secções sobre pobreza e vulnerabilidade, locais
sagrados, indicações iniciais para o reassentamento e experiências anteriores com reassentamentos
por parte das comunidades a nível distrital no geral. Estas secções são relevantes para o exercício
de avaliação de impacto e são específicas à área do projecto, por esta razão, não estão
contextualizadas nas descrições nacional e provincial.
4.1 Perfil do País
Moçambique localiza-se na costa este da África Austral e é composto por 11 províncias. Projecções
do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2009b e INE, 2010) estimam que a população nacional
actual é de cerca de 24 milhões de pessoas (2014), com uma densidade populacional nacional de
cerca de 30 habitantes por km2. Um pouco mais que a metade da população é do sexo feminino
(52%) e quase três quartos da população vive em zonas rurais (72%). Três províncias constituem
quase metade (47%) da população nacional (Nampula, Zambézia e Tete). Durante a última década,
a taxa de crescimento populacional nacional tem sido 2,7% por ano, com o maior crescimento
populacional observado nas províncias de Maputo e Tete (INE, 2009b and INE, 2010).
Segundo o INE (2009b, 2012), o agregado familiar médio moçambicano é composto por 5 membros.
Em termos de ocupação, 75% da população está informalmente a trabalhar por conta própria na
agricultura e no comércio informal, com apenas 20% estando formalmente empregada. Oficialmente,
apenas 5% da população está desempregada. Em termos de educação, em 2007, 50% da população
era alfabetizada, embora outros 26% nunca tenham ido à escola. A compra de alimentos equivale a
metade das despesas dos agregados (51%), seguida de habitação e combustível (23%) e uma série
de despesas menores.
As diferenças baseadas no género são bastante evidentes nas estatísticas nacionais. No geral, há
menos agregados familiares chefiados por mulheres do que por homens, e a probabilidade de uma
mulher trabalhar por conta própria é mais elevada, enquanto é mais provável para os homens serem
formalmente empregados. Adicionalmente, as mulheres são mais propensas ao analfabetismo e à
inactividade económica, e os níveis de renda de agregados chefiados por mulheres são mais baixos
do que os chefiados por homens. Também se podem observar disparidades regionais entre o Norte,
Cento e Sul do país, bem como entre as áreas urbanas e rurais (INE, 2009).
Desde o início dos anos 90 e do fim da guerra pós-independência (1992), Moçambique tem feito
progresso nos seus esforços de desenvolvimento. Com um PIB per capita de US$650 em 2012 (FMI,
52 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
2010), Moçambique testemunhou um crescimento médio anual do PIB de 6% entre os anos 2000 e
2010 e uma taxa de crescimento actual de 7,3%, tornando-se numa das economias com crescimento
mais rápido do mundo para este período (previsão da Unidade de Informação Económica para
Moçambique, 201414
). Este crescimento contínuo permitiu que Moçambique atraísse investimentos
estrangeiros e locais.
Quatro principais tipos de projectos apoiam o crescimento económico nacional de Moçambique: i)
mega-indústrias extractivas como a Mozal, Sasol e Vale 15
; ii) produção em grande escala de
algodão, açúcar e tabaco; iii) reabilitação de infraestruturas; e iv) produção agrícola a nível local.
Durante a última década, o governo moçambicano focou-se, também, na reforma do sector público e
da estrutura fiscal e tributária, promovendo a boa governança e criando um ambiente favorável ao
desenvolvimento de pequenas e médias empresas. O crescimento tem sido parcialmente sustentado
pelo apoio de parceiros da Assistência Oficial ao Desenvolvimento e pela redução da Dívida
Multilateral (MPD, 2010b).
Como resultado, entre 1996 e 2008, a percentagem de pessoas que vivia abaixo da linha de pobreza
de menos de 1 USD por dia, diminuiu de 70% para 55% (MPD, 2010). No entanto, os benefícios do
crescimento económico não estão igualmente distribuídos pela população. A desigualdade
socioeconómica, bem como as disparidades regionais e urbanas/rurais, permanecem elevadas.
Segundo o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2010), metade da população nas
áreas urbanas vive abaixo da linha de pobreza nacional de 1 USD por dia16
. A agricultura continua a
ser mais praticada a nível dos agregados e, entre 2002 e 2008, a produtividade agrícola de culturas
alimentares permaneceu estagnada em pequenas e médias propriedades agrícolas.
Apesar disso, o país tem um rico potencial geológico, que atrai tanto investimentos estrangeiros
como locais. O número de investidores estrangeiros, e a escala de investimentos, tem estado a
aumentar constantemente durante a última década. Os investimentos aumentaram em cerca de 14
vezes em 8 anos, de USD$184 milhões em 2005 para USD$2.7 mil milhões em 2013 (Mineral
Resources Policy and Strategy, 2013 – Política e Estratégia para os Recursos Minerais, 2013).
Nos últimos anos, a tributação das mais valias da indústria extractiva tem sido parcialmente
responsável pela redução do défice orçamental nacional para os actuais 9%, e pela redução da
dependência do orçamento do estado de ajudas externas de 50% no início de 2000 (Castel-Branco,
2011) para 35% em 2010 (MPD, 2010b). Apesar disso, a contribuição da indústria extractiva para o
PIB ainda é muito modesta, sendo 2% (ITIE, 2014).
A partir de 2015, espera-se que o carvão ultrapasse o alumínio como o recurso mineral mais
exportado em Moçambique, assim que o proposto Corredor da Linha Férrea de Nacala se torne
14
A Unidade de Informação do jornal O Economista, ou, simplesmente, a Unidade de Inteligência Económica, é uma entidade
privada dedicada a pesquisas e análises económicas. Criada no Reino Unido em 1946, esta ajuda os negócios, firmas
financeiras e governos a entender como o mundo está a mudar e como isto cria oportunidades que devem ser agarradas e
riscos que devem ser geridos. Para mais informação, por favor visite www.eiu.com
A Mozal é a maior produtora de aluminio em Moçambique, uma empresa internacional baseada na província de Maputo. A
Sasol é uma empresa petrolífera sul-africana produtora de químicos, gás, combustíveis e óleos com investimento no sul de
Moçambique. A Vale é uma empresa mineradora brasileira que está a desenvolver actividades de mineração de carvão de
carvão no Norte de Moçambique. As empresas petrolíferas ENI e Anadarko são indústrias mega-extractivas que podem vir a
ganhar destaque no crescimento económico nacional a curto-médio prazo.
16 Ministério da Planificação e Desenvolvimento. 2010. Pobreza e bem-estar em Moçambique: Terceira Avaliação Nacional
2008-2009. A linha de pobreza de 1 USD por dia é um índice de pobreza conhecido.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
53
operacional. Também se espera que a economia nacional cresça em 7,8% entre 2016-2018, devido
aos investimentos em grande escala em infraestruturas e em exploração de recursos naturais,
particularmente no gás (previsão da Unidade de Inteligência Económica para Moçambique, 2014).
No entanto, segundo a mesma fonte, embora o défice orçamental possa reduzir para 7,1% durante
esse período, a dívida pública poderá chegar a 50% do PIB.
Apesar do forte potencial da indústria extractiva para impulsionar a economia moçambicana e reduzir
a sua dependência da ajuda externa, o crescimento da sua contribuição para a economia
moçambicana não tem sido linear e depende de factores estruturais como, por exemplo, a
estabilidade política nacional, infraestruturas (transporte e energia) e preços dos mercados
internacionais para minérios e produtos minerais beneficiados.
À luz disto, em Setembro de 2014, a empresa de mineração Rio Tinto vendeu as suas acções em
Moçambique devido às deficientes infraestruturas, entre outros factores. As limitações de
infraestruturas, aliadas aos preços baixos do carvão, também foram mencionadas pela empresa de
mineração Vale como sendo os principais desafios para a competitividade do carvão moçambicano
no mercado internacional.
Adicionalmente, nos últimos dois anos, ocorreram ataques armados no centro de Moçambique,
perpetrados por antigos combatentes militares associados ao movimento RENAMO (Resistência
Nacional de Moçambique). Os ataques armados tinham como alvo as principais rotas de transporte
ao longo da estrada nacional EN1, mas, também, chegaram à linha férrea de Sena, através do ramal
de Moatize. Movimentos de homens armados foram reportados na porção de Chiúta da área do
projecto. Em Setembro de 2014, o governo e a RENAMO chegaram a um acordo para cessar as
hostilidades e os transportes voltaram à normalidade na EN1 e na linha férrea de Sena.
Em Outubro de 2014, foram realizadas as eleições presidenciais nas quais a RENAMO participou.
Isto foi visto como um sinal de compromisso com a estabilidade. Este partido não ganhou as eleições
mas teve um aumento do número de votos (comparativamente às eleições anteriores em 2009),
incluindo na província de Tete. A RENAMO apresentou um recurso alegando fraude no processo de
votação, mas foi recusado. O novo governo (incluindo ministros e governadores provinciais) entrou
em vigor em Janeiro de 2015. A RENAMO, agora, exige a formação de um governo conjunto ou
autonomia das regiões Centro e Norte do país. Esta questão está, ainda, por ser abordada pelo novo
governo, e o compromisso da RENAMO com a estabilidade poderá ser posta à prova quando esta
receber uma resposta formal.
4.2 Província de Tete
A Província de Tete localiza-se no noroeste de Moçambique e é composta por 13 distritos, dos quais
Chiúta e Moatize são relevantes para o projecto. A Província ocupa uma área superficial total de
100,724 km² (INE, 2013), que perfaz 13% do total nacional. É a 3ª maior província do país, depois de
Niassa e Zambézia.
Em 2013, a província tinha um total de 2,228,527 habitantes, que correspondem a 9% da população
nacional; e uma densidade populacional de 22.1 habitantes por km2, que é mais baixa que a
densidade média nacional. A província também tem um balanço migratório negativo, o que significa
que há mais pessoas a sair da província para residir permanentemente noutros locais, do que
aqueles que entram na província para fazer o mesmo (INE, 2013). Isto pode estar ligado ao elevado
custo de vida e à falta de oportunidades de emprego para mão-de-obra não qualificada na Província
54 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
de Tete. Não obstante, Tete é a 3ª província mais populosa do país, logo após Nampula e Zambézia
(INE, 2012).
Como referido anteriormente, Tete é uma província particularmente rica em recursos minerais. Esta
tem depósitos de carvão, cobre, ferro, urânio, mármore e titânio, entre outros recursos em
quantidades variadas. Apenas alguns destes recursos já estão a ser comercialmente explorados,
como é o exemplo do carvão. As indústrias extractivas contabilizam metade do PIB total planeado
para a província em 2014. Durante a última década, o governo provincial priorizou a pesquisa de
recursos minerais, a promoção do investimento privado no sector, organização e modernização de
mineiros de pequena e média escala, e a promoção do processamento local dos bens extraídos. Em
2014, a província planeou actualizar os mapas geológicos de recursos de quatro distritos,
inspeccionar as áreas mineiras licenciadas e promover a prospecção de ouro17
.
De acordo com o Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Província de Tete 2007-201118
(desactualizado), a principal actividade económica na província é a agricultura, o que está em
conformidade com a tendência nacional. A produção agrícola é fortemente dependente de factores
climáticos variáveis, como as cheias e secas periódicas. A província tem uma base considerável de
recursos naturais (vastas áreas de conservação e concessões de caça, recursos minerais e hídricos)
que não estão, actualmente, a ser explorados. Apesar deste potencial, o desenvolvimento da
província é prejudicado pela falta de mão-de-obra qualificada, de investimento privado e de
infraestruturas básicas (estradas, abastecimento de água, educação e saúde, energia) e pela
modernização lenta do governo local.
Durante a última década, o planeamento do desenvolvimento da província tem-se baseado na
promoção de actividades produtivas (incluindo a mineração), na expansão de infraestruturas, no
melhoramento de transportes e acessos rodoviários, na qualidade e cobertura de serviços sociais
básicos, na cooperação regional para a promoção de investimento, na protecção da biodiversidade,
na modernização da administração pública para melhoramento da prestação de serviços, e na
descentralização e uso de alocações orçamentais do estado a nível distrital (Plano Estratégico para o
Desenvolvimento de Tete 2007-2011).
A dinâmica da pobreza na Província de Tete é complexa. Em 2002/2003, a renda média por
agregado na província era de cerca de 1.758Mt ou cerca de USD$85 por mês 19
, a 5ª mais elevada
do país e 13% mais elevada que a renda média mensal nacional por agregado. A renda média
mensal e as despesas médias a nível dos agregados familiares eram mais ou menos as mesmas
durante este período (INE, 2004). Segundo o INE (2010), no período de 2002-2008, a agricultura era
a principal ocupação da população desta província, o que vai de acordo com a tendência nacional
para o mesmo período. Quase metade da população da província trabalhava por conta própria
(46%), com outros 48% a trabalhar para um familiar sem remuneração, o que também está de acordo
com a tendência nacional.
Durante o período de 2002-2008, foi reportado que a província sofreu uma “redução substancial” da
pobreza (MDP, 2010). No entanto, durante este período, Tete (particularmente nas zonas rurais) foi
17
Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Província de Tete 2007-2011 e Plano Económico e Social para a Província de
Tete proposto para 2014.
18 O Governo da Província de Tete desenvolveu um Plano Económico e Social para 2014. No entanto, este plano ainda estava
a ser finalizado na altura em que o presente documento estava a ser escrito, e não estava disponível ao público. A equipa da
AIS teve acesso parcial ao Plano Económico e Social de 2014.
19 Esta é a fonte de dados official mais actualizada sobre a renda por agregado em Moçambique.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
55
uma das áreas sofreu maiores índices de inflação nacional em produtos alimentares e resultante
pobreza de consumo20
. Assim, uma renda média mais elevada não se traduziu, necessariamente, em
melhores condições de vida, devido ao aumento do custo de vida médio. Apesar disto, em 2008/09,
quase metade da população de Tete possuía bens duráveis, tais como um rádio (47%), uma bicicleta
(41.6%) e mais de um décimo tinha um telefone celular (11%) (INE, 2010)21
; o que constitui um perfil
ligeiramente mais modesto do que o da população que foi inquirida para a AIS.
4.3 Distritos de Chiúta e de Moatize
Como foi mencionado anteriormente, a área do projecto atravessa dois distritos vizinhos,
nomeadamente Chiúta e Moatize. Na área do projecto, há oito principais assentamentos ou
comunidades, dos quais dois localizam-se no distrito de Moatize (Mboza e Tenge-Makodwe) e os
restantes seis no distrito de Chiúta (Nhambia, Mbuzi, Muchena, Chianga, Matacale e Massamba).
Esta subsecção apresenta o perfil socioeconómico dos dois distritos e, que vão de acordo com as
conclusões da análise de dados feitas a partir do levantamento social realizado nas comunidades da
área do projecto.
4.3.1 Organização Administrativa
O Distrito de Chiúta localiza-se a 75 km da Cidade de Tete, a capital provincial. Este distrito ocupa
uma área total de 7,119 km², o que corresponde a 7.1% da área superficial da província (INE, 2013).
O distrito é composto por dois postos administrativos, nomeadamente Kazula e Manje, e oito
localidades, como se pode ver abaixo, na Tabela 11 abaixo. A capital distrital é a Vila de Manje
(MAE, 2005). O projecto proposto localiza-se no Posto Administrativo de Kazula.
Tabela 11: Postos administrativos e localidades do distrito de Chiúta.
Posto Administrativo Localidades
1. Kazula 1. Kasula-Sede
2. Chipiri
3. Matenje
4. Muchena
O Distrito de Moatize localiza-se no sudeste da Província de Tete, a 20km da Cidade de Tete, e
ocupa uma área total de 8,428km², o que corresponde a 8.4% da área superficial da província (INE,
2013b). É composto por três postos administrativos, nomeadamente Moatize-Sede, Zobue e
Kambulatsitsi, e nove localidades, como se pode ver na Tabela 12 abaixo. A capital distrital é a Vila
de Moatize (MAE, 2005). O projecto proposto também se localiza nos Postos Administrativos de
Moatize e Zobue.
20
O MPD (2010) emprega o conceito “pobreza de consumo” como pobreza em termos de consumo, calculado através do
consumo per capita dentro de um agregado.
21 Há um debate em curso sobre os resultados da 3ª Avaliação da Pobreza. Os indicadores da avaliação mudaram,
comparativamente com as avaliações da pobreza anteriores, e isso parece ter ‘beneficiado’ os resultados para a Província de
Tete.
56 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Tabela 12: Postos administrativos e localidades do distrito de Moatize
Posto Administrativo Localidades
Moatize 1. Moatize-Sede
2. Benga
3. N’Panzu
4. Msungo
Kambulatsitsi 5. Kambulatsitsi-Sede
6. Mecungas
Zobue 7. Zobue-Sede
8. Capiridzanje
9. Nkodeze
As comunidades na área do projecto estão organizadas em bairros e partilham um esquema de
autoridade comum: um Líder Comunitário que governa a comunidade, supervisionando uma
hierarquia dos Chefes de Quarteirão e Chefes de 10 Casas. A resolução de conflitos está sob a
responsabilidade do Chefe do Tribunal Comunitário, que, em alguns casos, pode ser tão poderoso
como o Líder Comunitário.
4.3.2 Demografia
O distrito de Chiúta tem uma população total de 89.595 habitantes e uma densidade populacional de
12,6 habitantes por km², que é quase metade da densidade populacional provincial. A população é
essencialmente rural (MAE, 2005) e jovem, 50% da população tem menos de 14 anos de idade e
44% encontram-se entre os 15 e os 64 anos de idade (INE, 2013). Isto indica a presença de
uma mão-de-obra jovem no distrito. Adicionalmente, as mulheres contabilizam mais de metade da
população (52%) (INE, 2013).
O distrito de Moatize é muito mais populado que Chiúta, com um total de 292.341 habitantes e uma
densidade populacional de 34,7 habitantes por km². Isto é consideravelmente superior à densidade
populacional provincial e ligeiramente superior à densidade populacional nacional. A população de
Moatize tem características rurais (MAE, 2005b), embora menos do que o perfil rural de Chiúta,
devido à sua proximidade à capital provincial e do estatuto da Vila de Moatize como municipalidade.
A população de Moatize é também relativamente jovem; 46% da população está abaixo dos 14 anos
de idade e 46% está compreendida entre os 15 e 64 anos de idade. Assim, apresenta também
uma mão-de-obra jovem. Finalmente, ligeiramente mais de metade da população é composta por
mulheres, (51%), o que está em linha com a média nacional (INE, 2013b.
De acordo com o Representante do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas (SDPI) para o
distrito de Chiúta, há cerca de 180 agregados familiares na porção de Chiúta da área do projecto,
com uma população estimada em 900 pessoas. Por sua vez, segundo o representante do distrito de
Moatize, há cerca de 500-800 agregados familiares na porção de Moatize da área do projecto para
uma população estimada entre 2,500-4,000 pessoas22
. Isto é um pouco mais elevado que as
indicações preliminares dos agregados afectados pelo projecto apresentadas pelo PAR, que está,
22
Considerando a composição média do agregado familiar moçambicano como cinco membros (INE, 2009b).
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
57
actualmente, a ser preparado para o projecto (consultar Secção 4.3.10), que identificou 324
agregados familiares (cerca de 1.600 pessoas23
) na área do projecto.
Apesar de haver mais comunidades na porção de Chiúta (6) do que na porção de Moatize (2), o
número mais elevado de famílias em Moatize pode ser explicado pelo facto da comunidade mais
populada na área do projecto (Tenge-Makodwe) estar localizada em Moatize. Adicionalmente, a
proximidade à Vila de Moatize e o factor da indústria do carvão, com as suas infraestruturas
melhoradas e oportunidades de emprego aumentadas, podem indicar uma maior população em
Moatize.
De acordo com o Ministério da Administração Estatal (MAE) (2005 e 2005b), a família estendida é a
forma mais comum de organização social em ambos distritos. É particularmente evidente em áreas
rurais, onde agregados familiares vizinho geralmente partilham laços de parentesco.
Os resultados do levantamento indicam que os agregados familiares na área do projecto são
compostos por, em média, 4.5 membros, o que está quase de acordo com as médias nacional e
provincial de 5 membros (INE, 2009b). Os agregados familiares, geralmente incluem um Chefe de
Agregado, o seu cônjuge (feminino ou masculino) e os seus parentes (2 a 3 crianças).
Como se vê na Figura 5 abaixo, a monogamia é predominante nos agregados inquiridos na porção
de Chiúta da área do projecto: 66% dos Chefes de Agregados têm um cônjuge (feminino ou
masculino), contra 19% que têm dois ou mais cônjuges. No entanto, na porção de Moatize da área
do projecto, a poligamia é mais amplamente praticada: 47% têm um cônjuge, mas 36% têm dois ou
mais cônjuges. A porção de Chefes de Agregados solteiros é similar em ambos distritos:15% em
Chiúta e 16% em Moatize.
Figura 5: Resultados do levantamento sobre número de cônjuges por Chefe de Agregado
Como se pode ver na Figura 6 abaixo, para a maioria dos Chefes de Agregado com dois ou mais
cônjuges, correspondendo a 93% da população inquirida em ambos distritos, cada cônjuge vive na
sua própria casa, constituindo, assim, um agregado familiar individual.
23
Ibidem.
15 66
16
3
0
16 47
24
10
2
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0 cônjuge 1 cônjuge 2 cônjuges 3 cônjuges 6 cônjuges
Chiúta Moatize
58 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 6: Resultados do levantamento sobre cônjuges que vivem no mesmo quintal
Estes resultados do levantamento parecem estar em conformidade com os dados recolhidos através
das DGF, o que indica que a família estendida é predominante na área do projecto, sob a forma de
pequenas unidades de agregados próximas umas das outras, como pode ser visto no Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa - casas e bairros.
Os agregados inquiridos são principalmente chefiados por homens (83%). Independentemente do
seu género, o Chefe do Agregado é um adulto com uma idade média de 40 anos porque 95% dos
Chefes de Agregados inquiridos caía na faixa etária dos 35 aos 45 anos. Idosos24
são Chefes de 7%
dos agregados inquiridos (5% em Chiúta e 9% em Moatize) e são mais comummente do sexo
masculino (cerca de dois terços em ambos distritos, contra um terço do sexo feminino). Não foram
encontrados agregados chefiados por crianças25
na área pesquisada.
O nível de educação dos Chefes de Agregados é baixo: quase 50% dos Chefes de Agregados
inquiridos são analfabetos (46% em Chiúta e 53% em Moatize) e 40% têm o ensino primário (45%
em Chiúta e 36% em Moatize), enquanto apenas 4% têm o ensino secundário.
4.3.3 Grupos étnicos, linguagem e religião
Os perfis étnicos, linguísticos e culturais dos distritos de Chiúta e Moatize são semelhantes. Em
Chiúta a língua mais vulgarmente utilizada é ciNyungwè, falada por 85% da população, enquanto o
Português é falado por menos de 15% da população do distrito. A religião dominante é o Catolicismo,
embora frequentemente combinado com práticas religiosas tradicionais. Igrejas sincréticas tais como
a de Zione26
, assim como a religião Muçulmana, também estão presentes, mas compostas por uma
base mais modesta de crentes (MAE, 2005).
24
Uma pessoa com 65 anos de idade ou mais. 25
Uma pessoa com idade até aos 18 anos.
26O termo igreja ‘sincrética’ refere-se a movimentos religiosos ou doutrinas em que elementos de uma religião são assimilados
por outra. A Zione é uma igreja sincrética que combina crenças espirituais de práticas religiosas tradicionais com o
Catolicismo.
7 7
93 93
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Chiúta Moatize
Cônjuges vivem na mesma casa Cada cônjuge vive na sua própria casa
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
59
Em Moatize, a língua mais utilizada é o ciNyungwè, falada por, pelo menos, dois terços da
população. O Chewa também é falado no Posto Administrativo de Zobue; e o ciSena, ciNdau e
ciTawara no Posto Administrativo de Kambulatsitsi, devido à proximidade do distrito ao Malawi e da
área de influência da linha férrea do Sena. O português é falado por apenas um terço da população
do distrito. A religião dominante é a religião sincrética de Zione (MAE, 2005b).
Lideranças tradicionais como o n'fumo e nhankwava ou nhankawa, e cerimónias tradicionais como a
cerimónia da chuva e ritos de iniciação de PARarigas/PARazes, ainda estão presentes nos
ambientes rurais e urbanos de ambos distritos de Chiúta e Moatize, embora com variados graus de
intensidade (MAE, 2005 e 2005b). Os líderes e as práticas culturais e religiosas tradicionais ainda
são uma parte importante da vida quotidiana das comunidades na área do projeto, e as comunidades
voltam-se para os líderes tradicionais para a tomada de decisão sobre as questões que afetam a vida
da comunidade (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os temas de coesão social e locais
históricos e sagrados).
Os resultados da pesquisa e o DGF revelaram que as comunidades na área do projeto falam
maioritariamente Chewa, e muito pouco Português; o que pode ser explicado pelos baixos níveis de
literacia dos agregados inquiridos. A língua materna dos agregados inquiridos 27
é ou Chewa, falado
por 60% dos agregados (64% dos agregados de Chiúta e 56% dos agregados de Moatize), ou
ciNyungwè, falado por 40% dos agregados (36% dos agregados de Chiúta e 43% dos agregados de
Moatize). Isto está representado na Figura 7 abaixo.
Este é um perfil linguístico diferente daquele mais amplo do distrito de Chiúta, como foi dito acima
ciNyungwè é a língua materna predominante. O mesmo se aplica para o alargado do distrito de
Moatize, onde ciNyungwè é falado por pelo menos 66% da população do distrito. Essa
predominância da linguagem Chewa pode ser explicada pela proximidade da área do projeto ao
vizinho Malawi. Nenhum agregado fala o Português como língua materna, o que não é
surpreendente considerando os baixos níveis de literacia dos agregados. Isso está de acordo com a
tendência de conhecimento da Língua Portuguesa de ambos os distritos.
Figura 7: Constatações do levantamento sobre línguas faladas
De acordo com os dados da pesquisa, as famílias na área do projeto pertencem a dois grandes
grupos étnicos do Vale do Zambeze, nomeadamente Chewa-Nyanja e ciNyungwè. O Chewa-Nyanja
é um grupo étnico matrilinear do Rio Zambeze, que também está presente no Malawi. O ciNyungwè é
um grupo étnico de Baixo Vale do Zambeze, que combina características matrilineares e
2727
Isto refere-se à língua materna do Chefe do agregado.
36
64
43
56
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Nhúngwe
Nyanja
Chiuta Moatize
60 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
patrilineares28
. Apesar disso, o DGF revelou que, embora as comunidades pesquisadas estejam
cientes da sua origem étnica, a nível da comunidade, não são feitas distinções étnicas no dia-a-dia
ou eventos cerimoniais; a diferenciação social parece ser socioeconómica e religiosa.
Em termos de religião, dos agregados inquiridos na porção de Chiúta da área do projeto, 43% são
católicos e 15% são protestantes, mas 37% declararam não ter qualquer crença religiosa. Isso
inverte-se na porção de Moatize da área do projeto, onde 75% dos agregados inquiridos não têm
religião, enquanto 22% são católicos e os restantes 3% seguem outras religiões ou credos. Contudo,
o DGF revelou que as práticas da religião tradicional animista, com base no culto espiritual dos
antepassados para o sucesso na vida cotidiana – assim como para projetos de extração de recursos
naturais 29
- ainda são uma peça central da vida da comunidade e da existência, e são muitas vezes
combinadas com outras religiões (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os temas de coesão
social e locais históricos e sagrados).
Para mais informações sobre as práticas religiosas, por favor consulte o Estudo do Património
Cultural. A Figura 8 abaixo mostra uma igreja na comunidade de Massamba (porção de Chiúta da
área do projeto).
Figura 8: Igreja das Testemunhas de Jeová, Massamba
28
Os sistemas de parentesco podem ser matrilineares ou patrilineares. Genericamente, a diferença entre os dois sistemas
está em como a descendência é reconhecida (ou seja, adquire estatuto social) e em como as heranças, incluindo os direitos
de uso da terra, são transmitidas: descendência matrilinear acontece através das mulheres e a herança é passada através de
uma mãe para a sua descendência; enquanto num sistema patrilinear é através dos homens e a herança é passada através
de um pai para seus parentes. Apesar disso, em ambos os sistemas, o poder oficial reside principalmente com os homens:
num sistema patrilinear, o pai; e num sistema matrilinear, o irmão da mãe (Barnard & Spencer, 2001).
29 Por exemplo, as empresas madeireiras que operam em algumas das comunidades inquiridas eram obrigadas a realizar
cerimónias rituais para obter a aprovação espiritual do seu projeto. Do ponto de vista das comunidades, isto é importante para
a sua adesão ao projeto económico em questão.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
61
4.3.4 Mobilidade
No que diz respeito à mobilidade social e migração, os dois distritos têm taxas de migração bastante
equilibradas quando avaliados em conjunto. O distrito de Chiúta tem um saldo migratório baixo
positivo 30
(em contraste com o saldo migratório provincial, que é negativo (INE, 2013). O distrito de
Moatize tem um saldo migratório baixo negativo em linha com a tendência provincial (INE, 2013b).
Os níveis de migração parecem ser baixos entre a população inquirida. Como mostrado na
Figura 9 abaixo, durante o inquérito, 96% dos membros dos agregados inquiridos eram moradores
dos agregados.
Figura 9: Mobilidade e Migração
Dos que estavam fora (4%), a maioria tinha viajado para estudos ou trabalho. Isto é corroborado pelo
DGF, que, em geral, mostra que a população das comunidades inquiridas não tende a emigrar, e
quando o faz, é normalmente um deslocamento temporário para trabalho ou casamento. Isto pode
ser visto no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ the mobility mapping theme.
30
De acordo com o INE (2013a e 2013b), o saldo migratório é positivo quando mais pessoas imigram (entram) do que aqueles
que emigram (saem). O oposto, saldo migratório negativo, significa que mais pessoas emigram (saem) do que aqueles que
imigram (entram).
97
1 1 1
96
1 1 2
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Vive em casa Ausente, trabalha
noutro local do país
Ausente, estuda
noutro local do país
Temporariamente
ausente por outrarazão
Chiúta Moatize
97
1 1 1
96
1 1 2
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Vive em casa Ausente, trabalhanoutro local do país
Ausente, estudanoutro local do país
Temporariamenteausente por outra
razão
Chiúta Moatize
62 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Os resultados do DGF sobre a migração estão em acordo com os resultados do inquérito (Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa, sob o tema de história da comunidade). Atualmente existe alguma
migração para a Cidade de Tete com o objetivo da procura de emprego. No entanto, estas
comunidades são historicamente de origem migratória, com as suas origens mitológicas comuns
baseadas em serem imigrantes de distritos vizinhos que se estabeleceram na região, bem como
descendentes de escravos trazidos pelos colonizadores portugueses. No passado mais recente,
essas comunidades sofreram deslocamentos temporários e realocações para os distritos e países
vizinhos, como resultado de conflitos armados (a luta de libertação dos anos 1970 e do conflito
armado pós-independência que continuou até o início de 1990), e ocasionais obrigações de
abandono da região devido a enchentes e surtos de doenças.
4.3.5 Economia
De acordo com o MAE (2005 e 2005b) e o SDAE de Chiúta e Moatize, a agricultura é a principal
atividade económica (ocupando 95% e 81% da população economicamente ativa, respetivamente) e
prevalecendo o uso do solo nos distritos, o que está de acordo com a tendência provincial. A
agricultura é predominantemente de rega pluvial com plantações intercalares entre os períodos das
estações de crescimento das culturas dominantes. É praticado em forma de subsistência a nível
familiar. Todos os membros do agregado familiar participam nas atividades agrícolas e a produção
destina-se principalmente para o consumo doméstico. As culturas mais comuns incluem milho, sorgo,
milho-miúdo (os três sendo alimentos dominantes), hortícolas, amendoim e feijão.
Em geral, o solo nos distritos de Chiúta e Moatize tem baixa fertilidade e baixa humidade/absorção
de humidade e capacidade de retenção (MAE, 2005 e 2005b), o que leva a altos riscos de perdas de
rendimento de plantações em determinado ano ou estação. Como resultado, as áreas húmidas (ou
pantanais) em torno de rios e ribeiros são procurados para a produção de culturas, e isso foi
enfatizado nas sessões DGF com as comunidades (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os
temas de uso da terra e de serviços e recursos de mapeamento). No entanto, é agricultura de
recessão 31
pois é afetada por inundações ocasionalmente; assim, a agricultura é afetada por
condições climáticas variáveis. Há pouco uso de variedades de sementes melhoradas ou
modificadas, pesticidas ou fertilizantes.
Além da agricultura de subsistência e de pequena escala, há algumas grandes fazendas individuais
principalmente de plantações alimentares. Em 2005, apenas 3% das terras aráveis de Chiúta estava
cultivada, predominantemente por agricultores de subsistência, praticamente sem infraestrutura de
irrigação a funcionar. Em 2013, havia 9 grandes campos de agricultura cobrindo uma área total de 32
ha. Em Moatize, em 2005 havia cerca de 184 ha de terras irrigadas em fase de produção, mas em
2013 havia apenas 12 grandes campos de agricultura cobrindo uma área irrigada total de 33 ha (INE,
2013b). Culturas comerciais, como o algodão (ambos distritos) e tabaco (Chiúta) também são
cultivadas, principalmente ao nível das famílias (MAE, 2005 e 2005b).
O DGF confirmou que a agricultura é a principal atividade económica nas comunidades da área do
projeto, e é principalmente usada para consumo doméstico. É de rega pluvial e praticada em torno de
rios e ribeiros, por todos os membros do agregado familiar. É complementado pela produção e venda
de carvão vegetal (que também é usado para o consumo das famílias), pela pesca e por algum
31
De acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, este termo técnico refere-se à
agricultura praticada ao longo dos rios, onde o cultivo ocorre em áreas expostas quando a água do rio recua (incluindo com as
cheias). Definição disponível em: http://www.fao.org/waicent/faoinfo/agricult/aquastat/defeng.htm
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
63
comércio informal. Assim, o acesso contínuo aos recursos naturais (terra, água, florestas, peixes e
lenha), assim como a utilização destes para complementar a segurança alimentar das famílias e
sustentar a sua estratégia global de subsistência familiar, é de importância crucial para estas
comunidades.
Como complemento à agricultura de subsistência, outras actividades económicas como o comércio,
pecuária, pesca e mineração artesanal são também praticadas pela população de ambos os distritos.
Em menor escala, a actividade industrial tem uma presença modesta (MAE, 2005 e 2005b).
Nos dois distritos, a pecuária não é uma atividade produtiva significativa, apesar da existência de
áreas de pastagem extensivas. Isto é em grande parte atribuído à baixa cobertura dos serviços de
extensão da parte do Estado. As cabras são na sua maioria criadas para consumo doméstico ou
familiar, enquanto bovinos, caprinos, suínos e ovinos são produzidos para venda (MAE, 2005 e
2005b e entrevistas com SDAE de Chiúta e Moatize).
A pesca artesanal em pequena escala ocorre nos rios e ribeiros de ambos os distritos, praticadas
pela população local (principalmente os homens). As capturas são usadas principalmente para o
consumo das famílias, embora uma pequena parcela também seja vendida nos mercados locais
(MAE, 2005 e 2005b).
Em Chiúta, o comércio é principalmente informal, incluindo a comercialização do excedente da
agricultura familiar, e tem lugar em bancas do mercado. A rede de comércio não abrange todo o
distrito e, em algumas áreas, a população viaja longas distâncias para comprar produtos básicos.
Divisões de género são de notar neste tipo de comércio: as mulheres vendem produtos agrícolas,
lenha e canas, enquanto os homens vendem peixe, carne e varas. O comércio ocupa 3% da
população economicamente ativa do distrito, sendo a segunda maior ocupação (MAE, 2005). Em
2013, Chiúta tinha 52 comerciantes e ofereceu alojamento e serviços de restauração limitados (sete
unidades) e nenhum banco (INE, 2013).
Em Moatize, o comércio também é mais informal, mas o comércio formal, é cada vez maior na vila
principal do distrito, fortemente impulsionado pela indústria de mineração de carvão existente. No
entanto, como para Chiúta, a rede de comércio não cobre toda a Moatize e, em algumas áreas, a
população viaja longas distâncias para comprar produtos básicos. Divisões de género são
igualmente evidentes no comércio de Moatize: as mulheres vendem produtos alimentares e os
homens vendem materiais de construção. O comércio ocupa 10% da população economicamente
ativa do distrito (MAE, 2005b). Em 2013, Moatize tinha 92 comerciantes, dos quais 3 eram
atacadistas, e ofereciam um vasto leque de serviços de hospedagem/restaurantes (47 unidades) e
três bancos (INE, 2013b).
De acordo com o MAE (2005 e 2005b) e apoiado pelos resultados do DGF, o comércio da área do
projeto é predominantemente informal e tem lugar nas bancas à beira da estrada e mercados locais.
Em Chiúta, a atividade industrial ocupa 2% da população economicamente ativa e é largamente da
afetação em 20 moinhos de farinha, 10 lojas de carpintaria e 3 unidades industriais de produção de
alimentos e roupas (INE, 2013 e MAE, 2005). Os moinhos de farinha são importantes para a
moagem dos produtos básicos da dieta da população local e são distribuídas de acordo com as
áreas agrícolas mais produtivas. No entanto, a capacidade de moagem ainda não é suficiente para
atender às necessidades do distrito (MAE, 2005).
64 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Em Moatize, a atividade industrial ocupa 6% da população economicamente ativa, com a atividade
industrial mais importante do distrito sendo a mineração de carvão. Moatize tem seis campos de
carvão (antracite) concentrados no sul do distrito, como parte da Bacia Carbonífera de Moatize-
Minjova, uma das bacias de carvão mais importantes do mundo com uma reserva estimada de 2,5
bilhões de toneladas (José & Sampaio, w / d). A mineração de carvão industrial vem acontecendo
desde os anos 1940; porém com maior intensidade desde os anos 1990 pós-guerra. Atualmente, a
mineração de carvão industrial em larga escala é conduzida usando tecnologias a céu aberto por
empresas multinacionais de mineração como a Vale SA, Coal India, Jindal, Ncondezi Coal Company
e Beacon Hill Resources (KPMG, 2013).
Para além disso, há uma estimativa de 101 moinhos de farinha (tal como para Chiúta, fornecendo
uma importante mas limitada cobertura das necessidades de moagem das comunidades), 22 lojas de
serralharia, 21 lojas de carpintaria e cerca de 30 pequenas indústrias dedicadas à alimentação,
vestuário, bens metálicos e mobiliário (INE, 2013b e MAE, 2005b). O comércio é baseado em
dinheiro e as mercadorias incluem bens colhidos e/ou produzidos localmente (alimentos, lenha,
carvão e materiais de construção), e ainda bens manufaturados externamente (roupas, utensílios
domésticos e eletrodomésticos).
Além do proposto projeto de mineração de ferro pela Capitol Resources, atualmente em fase de
prospeção nas comunidades de Tenge, Matacale e Massamba, não há nenhuma atividade industrial
a decorrer na área do projeto.
Dos membros dos agregados inquiridos, 83% não são empregados, isto inclui as pessoas que estão
à procura de emprego, que prosseguem estudos, que estão com idade inferior a 5 anos ou que estão
ocupadas com tarefas domésticas. Dos 17% que estão empregados, as formas mais comuns de
ocupação são semelhantes nas duas partes da área do projeto, mas com pesos diferentes. Em
Chiúta, o autoemprego assume um papel muito importante: 70% dos membros do agregado familiar
trabalhadores são trabalhadores por conta própria, 19% são trabalhadores informais ou têm
trabalhos sazonais, e 11% têm um emprego formal. Em Moatize, o autoemprego é menos importante:
41% dos membros do agregado familiar trabalhadores são trabalhadores por conta própria, mas 33%
são trabalhadores informais ou têm trabalhos sazonais e 25% têm um emprego formal. A Tabela 13
resume os resultados da pesquisa sobre o emprego nos agregados da área do projeto.
Tabela 13: Constatações do inquérito sobre o emprego
Situação Profissional Chiúta (%) Moatize (%)
Emprego formal (contrato, salário) 2 4
Emprego informal (sem contrato ou salário) 3 3
Trabalho Sazonal 0 2
Autoemprego 13 7
Desempregado (à procura de emprego) 10 8
Dona de casa / marido (não à procura de emprego) 13 24
Incapaz de trabalhar e desempregado 2 2
Criança (com idade inferior a 5 anos) 27 23
Estudante 30 27
Total 100 100
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
65
Em termos de atividades económicas, a agricultura (agricultura de subsistência) e o trabalho não-
qualificados (principalmente biscates) são as atividades mais comuns praticadas pelos membros dos
agregados inquiridos. A agricultura é praticada por 44% dos membros do agregado familiar de Chiúta
e 47% dos membros do agregado familiar de Moatize; o trabalho não qualificado é praticado por 22%
dos membros do agregado familiar de Chiúta e 27% dos membros do agregado familiar de Moatize.
A produção de artesanato artístico ocupa 13% e o comércio informal (com uma banca) ocupa 9% dos
membros do agregado familiar de Chiúta (mas apenas 2% e 3%, respetivamente, em Moatize). A
mão-de-obra qualificada formalmente empregada ocupa 9% dos membros do agregado familiar de
Moatize contra 3% em Chiúta. Isto é demonstrado na Figura 10 abaixo.
Figura 10: Ocupações do Agregado Familiar
As ocupações mais comuns são a agricultura, por quase metade dos membros do agregado de
trabalho (44% na parcela Chiúta da área do projeto e 48% na parcela Moatize), seguido por trabalho
remunerado não qualificado32
(20% em Chiúta e 26% em Moatize). A terceira ocupação mais comum
é a produção de artesanato artístico em Chiúta (para 13% dos membros da família que trabalham) e
em Moatize é o emprego qualificado formal 33
(9%). Embora a ocupação dos agregados inquiridos na
agricultura seja inferior à média do distrito, ainda replica a tendência de ocupação do distrito: a
agricultura de subsistência é a ocupação mais comum, complementado por atividades económicas
com autoemprego e de competências técnicas básicas.
Além destas formas de ocupação, os agregados familiares na área do inquérito obtêm rendimentos
de outras fontes. O mais proeminente na porção Chiúta da área do projeto é a venda de culturas de
rendimento (mencionado por 51% dos agregados inquiridos) e as pensões de reforma (20% dos
agregados inquiridos). Na parte de Moatize, as principais fontes de renda são a produção de
artesanato artístico (21% dos agregados), venda de produtos hortícolas (15% dos agregados) e
32
Tal como guarda, ir buscar água, limpar terrenos agrícolas e outras tarefas pesadas que não exigem habilidades
específicas.
33 Tal como professora, enfermeira, contabilista, etc. Isso inclui funcionários públicos e trabalhadores do setor privado.
44
13
1
3
5
9
5
20
47
2
1
2 3
9
6
3
26
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Chiúta Moatize
66 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
pensões de reforma ou a venda de bebidas alcoólicas caseiras (10% dos agregados,
respetivamente). Exceto para a pensão de reforma, estas são todas estratégias de rendimento
baseadas na terra ou ligadas à terra. A Figura 11 mostra uma banca de comércio informal na área do
projeto.
Figura 11: Banca informal, Muchena.
O rendimento médio mensal dos agregados inquiridos na porção Chiúta da área do projeto é um
pouco maior do que a renda média mensal das famílias de Moatize. Em média, a família Chiúta
ganha MZM 5,645 por mês (cerca de USD $ 181) contra MZM 4,767 (cerca de USD $ 153) ganhos
pelo agregado familiar de Moatize34
, como mostrado na Figura 12 abaixo.
Figura 12: Constatações do inquérito sobre rendimento médio mensal
No entanto, os agregados inquiridos na porção Chiúta da área do projeto também têm despesas
mais elevados do que os agregados na porção Moatize. Em média, a família Chiúta gasta MZM
1,880 / mês (cerca de USD $ 60), que representa um terço do seu rendimento (33%). A família
Moatize gasta MZM 1,780 (cerca de R $ 57), ligeiramente acima de um terço (37%) da sua renda. As
despesas mais comuns, como relatado pelos agregados inquiridos, são itens alimentares, tais como
itens manufaturados, como óleo e açúcar, bem como itens frescos como peixe, carne e cereais
34
O valor em USD foi calculado com base na taxa de câmbio oficial do Banco de Moçambique em 10/10/2014 (USD 1 = MZM
31.12). Este rendimento médio está bem acima do rendimento provincial (quase o triplo), afirmado pelo INE 2004, mas, a fim
de fazer uma comparação consistente seria necessário o uso de uma fonte mais atualizada para o rendimento provincial, que
não existe.
5 645
4 767
4200
4400
4600
4800
5000
5200
5400
5600
5800
Chiúta Moatize
Meti
cal
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
67
(75%), seguidos por produtos de higiene (61%), vestuário (44%) e saúde (23%). Isto está
representado na Figura 13 abaixo.
Figura 13: Constatações do inquérito sobre despesas dos agregados
Essas despesas provavelmente refletem o perfil rural das agregados inquiridos e a contribuição da
agricultura / áreas agrícolas para a sua subsistência, já que produzem uma parte do que comem, em
vez de ter que comprar tudo.
A grande maioria dos agregados inquiridos não usa serviços bancários, 94% não tem uma conta
bancária, o que pode ser explicado, em parte, pelo fato de não haver instalações bancárias no distrito
de Chiúta e das existentes em Moatize estarem limitadas à principal vila do distrito.
O caráter rural dos agregados inquiridos é ainda mostrado nos bens que possuem: 99% possui uma
enxada e 91% possui um machado. Também possuem outros ativos duradouros, mas em menor
proporção: 60% possuem um rádio, 50% possui uma bicicleta, 20% possuem um telefone celular
(27% na parcela Chiúta da área do projeto e 13% na parte de Moatize), e 15% possui uma cama. A
Figura 14 abaixo representa os bens duradouros de propriedade dos agregados inquiridos. A Figura
14 representa os bens duradouros, propriedade dos agregados inquiridos.
62
43
77
62
2
15
7
43
16
25
9
1
8
53
42
74
60
1
4
12
9
46
16
22
13
1
7
0 20 40 60 80 100
Carne/ peixe
Cereais (milho, arroz)
Produtos alimentares
Produtos de higiene
Água
Eletricidade
Telemóvel
Transporte
Roupa
Educação
Saúde
Mobília/ aparelho doméstico
Renda da casa
Insumos agrícolas
% Moatize Chiuta
68 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 14: Constatações do inquérito sobre bens duradouros
Quase metade da terra de cultivo (49%) é de rega pluvial, um terço (31%) é irrigado com um poço
aberto tradicional e cerca de 6% é irrigado com água do rio. Os restantes 15% são irrigados com
fontes alternativas de água, provavelmente pequenos sistemas de irrigação.
De acordo com os agregados inquiridos, em relação às suas parcelas agrícolas, as três culturas mais
comuns são o milho (72%), feijão (15%) e hortícolas (8%). Enquanto as hortícolas são geralmente
utilizadas apenas para o consumo das famílias, o feijão e o milho são vendidos cerca de 80% e 66%,
respetivamente, nas famílias agrícolas da porção Chiúta, contra 40% e 51%, respetivamente, na
parte de Moatize. Para além disso, o feijão e o milho são por vezes consumidos pela família agrícola,
especificamente em 52% e 32%, respetivamente, nas famílias agrícolas da porção Moatize, contra
19% e 21%, respetivamente, na porção Chiúta. Para a maior parte, todas as culturas cultivadas são
utilizadas para o consumo das famílias, embora em quantidades diferentes de rendimento; no
entanto, as famílias Chiúta são mais orientadas para a venda das culturas do que as famílias de
Moatize.
Figura 15: Cultivo do milho, Muchena Figura 16: Rio Revúbuè, com parcelas agrícolas cultivadas
Dos agregados inquiridos, 64% das pessoas na porção Chiúta da área do projeto e 36% das pessoas
na parte de Moatize têm pelo menos uma árvore de subsistência no seu quintal. Estas famílias têm,
em média, quatro árvores, todos de fruto, normalmente mangueiras e bananeiras. Além disso, 80%
57
3 3
27
13 13
3
99
92
3
45
62
13
6
15
2 1
98
90
54
3 1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100%
Chiúta Moatize
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
69
das árvores da família estão localizadas dentro do quintal doméstico. As árvores não são jovens:
43% são árvores adultas no pico produtivo e 38% são árvores antigas. Em 91% dos agregados
inquiridos, as culturas destas árvores de fruto são usadas principalmente para uso doméstico, como
mostra a Figura 17 abaixo.
Figura 17: Constatações do inquérito sobre o uso das árvores
Metade dos agregados inquiridos na porção Moatize da área do projeto (56%) também cria animais
domésticos, tal como 44% dos agregados da porção Chiúta. A grande maioria deles (97%) cria
animais de pequeno porte (galináceos, caprinos e suínos). O galináceo é o animal doméstico
geralmente criado em ambos os distritos, com uma média de 7 galinhas por família. Isto é seguido
por uma média de 3 porcos e 5 cabras por agregado familiar, como mostrado na Figura 18 abaixo.
Em geral, os agregados Chiúta inquiridos tendem a criar mais animais domésticos do que suas
contrapartes em Moatize.
Figura 18: Constatações do inquérito sobre o número médio de animais domésticos possuídos, em unidades
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Chiúta Moatize
92 90
8 10
% Consumo
Venda
6
3
6
7
1
3
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Galinha Porco Cabra
Un
idad
e
Chiúta Moatize
70 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Os animais domésticos mais frequentemente criados (galináceos, caprinos e suínos) são usados
principalmente para o consumo familiar e venda (70%), enquanto os restantes agregados que criam
animais fazem-no apenas com um único propósito de vender ou consumir (30%); como demonstrado
na Figura 19 abaixo.
Figura 19: Constatações do inquérito sobre o uso dos animais de criação
4.3.6 Uso da terra e dos Recursos Naturais
De acordo com os Serviços Distritais de Planificação e Infra-estrutura (SDPI) de Chiúta e Moatize, o
direito de uso e aproveitamento da terra para fins habitacionais e agrícolas é predominantemente
consuetudinária, em que uma grande parte dos habitantes ou das comunidades não possui um
Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).
A uso da terra para habitação urbana é caracterizada por um ordenamento do território espalhado ou
pouco planeado, o que reflecte um urbanismo fraco. Os DUATs para habitação são mais comuns nas
áreas urbanas, como sendo as aldeias que são sede de Distritos e de Postos Administrativos, onde é
mais provável haver áreas de expansão urbana/residencial designadas, em conformidade com
quaisquer planos ou instrumentos de ordenamento do território actualizados. O distrito de Moatize,
por exemplo, já elaborou um Projecto Urbanístico para a capital de Distrito, Vila de Moatize, e visa
elaborar um Projecto Urbanístico para a Vila de Benga, uma sede de Posto Administrativo importante
na área de extracção de carvão no Distrito de Moatize. Contudo, o Governo Distrital não dispõe de
fundos para a implementação dos projectos urbanísticos existentes, e é por esta razão que procura
celebrar acordos estratégicos com as organizações ou instituições investidoras, de forma a conseguir
o apoio para estas iniciativas.
Segundo os SDPI dos distritos de Chiúta e Moatize, existem DUATs agrícolas para os grandes
empreendimentos de agricultura comercial em grande escala e/ou os projectos de pecuária no
distrito; entretanto, a agricultura de pequena escala é praticada em terras herdadas pelas famílias
(sistema tradicional de posse de terra) e a pecuária em pequena escala é praticada em terras
comunitárias que são utilizadas por todos os membros da comunidade. Foi identificado, através dos
resultados da DGF, que a população da área de estudo usa áreas distintas para agricultura e para a
pastagem do gado, de forma a evitar que as culturas sejam comidas pelos animais. Os recursos
21
8 9
30 26
10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Consumo Chiúta
Consumo Moatize
2 4 4 7 9 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Venda Chiúta
Venda Moatize
78
88 87
63 66
81
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Consumo & Venda Chiúta
Consumo & Venda Moatize
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
71
naturais, como lenha e madeira para construção, são normalmente extraídos da terra desbastada
para agricultura, ou das florestas perto das povoações.
De acordo com os SDPI de Chiúta e Moatize, existem DUAT formais na área do projecto para outras
actividades económicas de grande escala, como sendo a mineração, silvicultura (plantação comercial
de árvores) e exploração florestal (corte comercial de árvores). Foi atribuído um DUAT, para uma
área de 37 hectares, a uma pessoa individual para a realização de actividades agro-pecuárias na
zona de Massamba (Chiúta) (DUAT a ser emitido aquando da elaboração do presente relatório); foi
autorizada uma outra área, de tamanho semelhante, para actividades pecuárias, também a um
criador individual. Mais ainda, existem concessões florestais nas redondezas de Massamba e
Matacale (também Chiúta).
Todas as famílias inquiridas têm pelo menos uma machamba. Mais de metade destas encontram-se
próximas de ou nos quintais das famílias (67% na parte do projecto em Chiúta e 52% na parte do
projecto em Moatize). Mais ainda, cerca de metade das machambas estão localizadas a até 60
minutos de distância do domicílio das famílias (38% na parte de Moatize e 21% na parte de Chiúta).
Apenas 10% estão localizadas a uma distância superior a 60 minutos do domicílio das famílias. Isto
coaduna-se com a constatação da DGF de que as comunidades na área do projecto praticam
actividades agrícolas ao longo das margens de rios e riachos existentes, próximos da localização das
aldeias, para tirar o máximo de proveito da terra húmida. Isto encontra-se descrito no Anexo D: Matriz
de Análise Qualitativa sob os temas de uso da terra e o mapeamento de serviços e recursos. As
figuras acima mostram duas machambas na área do projecto. Figura 15: Cultivo do milho, Muchena
Figura 16: Rio Revúbuè, com parcelas agrícolas cultivadas.
O tamanho das machambas varia. Mais de 33% das machambas têm até 0,5 hectares, cerca de 42%
na parte do projecto em Chiúta e 3% na parte em Moatize. Subsequentemente, 20% das machambas
têm entre 0,5 e 1 hectares, mais especificamente 17% em Chiúta e 26% em Moatize. Por último,
quase 20% das machambas têm entre 1 a 2 hectares, o que perfaz 18% da terra agrícola de todos
os agregados familiares inquiridos. É importante ressaltar que 22% das machambas dos agregados
familiares inquiridos tem 3 hectares ou mais, e que este tamanho é bastante grande se
considerarmos a cobertura muito limitada de sistemas de irrigação e o baixo nível de mecanização da
agricultura nos dois distritos (MAE, 2005 e 2005b). Os diferentes tamanhos das machambas
encontram-se representados na Figura 20 abaixo.
Figura 20: Resultados do inquérito sobre o tamanho das machambas
42
17 17 15
6 3
35
26
19
12
4 5
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
meio ha 1 ha 2 ha 3 ha 4 ha ≥5 ha
Chiúta Moatize
72 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
A grande maioria da terra agrícola declarada (95%) pertence ao chefe do agregado familiar inquirido,
como apresentado na Figura 21 abaixo.
Figura 21: Resultados do inquérito sobre propriedade das machambas
As galinhas e os porcos são criados nos quintais dos agregados familiares (onde existem galinheiros
e currais), sendo que os caprinos e bovinos de dois terços das famílias inquiridas pastam nas áreas
comunitárias perto dos agregrados, mas separado das machambas.
As DGF revelaram que, para além da agricultura, as comunidades na área do projecto também
utilizam a terra para pastagem de gado (separado das machambas) e para a extracção de recursos
naturais, que constituem importantes recursos de subsistência. Isto encontra-se descrito no Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa no âmbito dos temas sobre a uso da terra e o mapeamento de serviços
e recursos.
De acordo com a informação obtida dos agentes do distrito consultados, ainda não se registou
nenhum conflito de terra de importância na área do projecto; contudo, a DGF revelou um conflito
homem-animal importante nas povoações de Nhambia, Chianga e Mbuzi (todas na área do projecto
em Chiúta), sendo que ataques por parte de elefantes e hipopótamos são comuns. A MAE (2005 e
2005b) reportou a existência de conflitos de terra em Chiúta, no Posto Administrativo de Manje, onde
a aldeia sede está localizada fora da área do projecto. Também foram reportados conflitos de terra
em toda a Moatize, principalmente entre os refugiados de guerra e as pessoas deslocadas
internamente (MAE, 2005b). Este tipo de conflito tem o potencial de aumentar como resultado dos
empreendimentos de mineração existentes e propostos. Embora não confirmado através das DGF,
mas sim através da imprensa nacional, várias pessoas reassentadas têm vindo a expressar a sua
insatisfação com os processos de deslocação e reassentamento levados a cabo na área até à data
por outras entidades mineiras.
As DGF destacaram uma disputa entre duas comunidades, localizadas na área do projecto, sobre a
localização dos recursos mineiros e os benefícios do projecto resultantes de um projecto de
mineração da Capitol Resources (ver Secção Error! Reference source not found. para mais
etalhes). Apesar disto, não foram reportados outros conflitos na comunidade, e segundo os SDAE de
Chiúta e Moatize, existe muita terra desocupada disponível na área do projecto. Ver Anexo D: Matriz
97
2 0 1
93
7
0 0
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Chefe doAgregado
Outro membrodo agregado
Outro parente(fora do
agregado)
Outro (nãoparente)
Chiúta Moatize
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
73
de Análise Qualitativa/ tema de uso da terra para mais detalhes sobre os dados de utilização de terra
obtidos das FDGs.
4.3.7 Pobreza e vulnerabilidade
A família de nível médio nos distritos de Chiúta e Moatize parece ter um nível de vida modesto.
Embora não existam dados disponíveis relacionados com os níveis de rendimento ao nível do
distrito, Chiúta tem um perfil mais modesto que o de Moatize, se se olhar para a propriedade de bens
duradouros35
: quase metade da população de Chiúta (45%) não tinha tais bens, comparado com um
terço da população de Moatize (38%) (INE; 2013 e 2013b).
Foram preparados, com base nos dados obtidos dos resultados dos estudos socioeconómicas, os
quintis de riqueza para a população estudada (os quintis de riqueza encontram-se descritos no
Anexo B: para o projecto e para cada um dos distritos inquiridos, juntamente com uma explicação da
metodologia utilizada para gerar os quintis de riqueza).
De acordo com os quintis de riqueza, 43% das famílias inquiridas no distrito de Chiúta são “muito
pobres” (renda baixa) ou “pobres” (renda média baixa), em comparação com 41% de famílias
“endinheiradas” (renda média alta) ou “muito endinheiradas” (renda alta), e apenas 16% de famílias
“moderadamente pobres” (renda média). Entre as famílias inquiridas no distrito de Moatize, 38% são
“muito pobres” ou “pobres”, 33% são “endinheiradas” ou “muito endinheiradas” e 29% são
“moderadamente pobres”. Isto mostra que os agregados inquiridos no distrito de Chiúta têm uma
maior proporção de famílias “pobres” ou “muito pobres”, e também têm maior disparidades
económicas, ou seja, quase metade da população é pobre/muito pobre e quase a outra metade é
endinheirada/muito endinheirada. Em comparação, as famílias inquiridas no distrito de Moatize têm
menor proporção de famílias “pobres” ou “muito pobres” e disparidades económicas mais reduzidas.
Isto está ilustrado na Figura 22 abaixo:
Figura 22: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize.
Os quintis de riqueza também indicam as principais características das famílias inquiridas nos quintis
mais pobres (quintis “renda baixa” ou “renda média baixa”): estas famílias são chefiadas por
mulheres (71% das famílias), na casa dos 50 anos de idade, viúvas ou separadas/divorciadas (ou
seja, constituíram uma família e são presentemente a única pessoa responsável pela família – mais
de 75% dos agregados familiares) e desempregadas ou a trabalhar por conta própria na agricultura
de subsistência (45% a 68% dos agregados familiares, respectivamente).
35
Estes são: rádio, televisão, telefone, computador, carro, mota e bicicleta.
22
18
21
20
16
29
17
17
24
16
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Chiúta
Moatize Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
74 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Existem pequenas variações neste perfil em cada um dos distritos. Chiúta tem ligeiramente mais
famílias chefiadas por mulheres que se encontram nos quintis “renda baixa” e “renda média baixa”
(78% comparado com 69% das famílias em Moatize). Mais ainda, as famílias de “renda média baixa”
e “renda baixa” em Chiúta têm chefes de família ligeiramente mais jovens (uma média de 44 anos de
idade comparado com 48 anos de idade em Moatize). Em ambos os distritos, todas as famílias
chefiadas por uma pessoa separada/divorciada e 80% das famílias chefiadas por uma viúva com
“renda média baixa” ou “renda baixa”.
Das famílias inquiridas, as que são chefiadas por mulheres aparentam estar entre as mais
desfavorecidas. Quase 34% das famílias chefiadas por um homem encontram-se entre as famílias
inquiridas mais pobres, o que é menos que metade das famílias chefiadas por mulheres na mesma
situação. Por outro lado, a proporção de famílias mais favorecidas (endinheiradas/ muito
endinheiradas) chefiadas por um homem é mais do que o dobro que as famílias chefiadas por uma
mulher (41% e 16%, respectivamente). Isto está ilustrado na Figura 23 abaixo.
Figura 23: Quintis de riqueza por género – área do projecto
A idade do chefe do agregado também parece ter alguma influência no nível de riqueza da família:
chefes de família nos quintis mais pobres (novamente, “pobre” ou “muito pobre”) são normalmente
mais velhos, em média com idades entre os 42 e 50 anos de idade, respectivamente, o que contrasta
com as famílias mais favorecidas (novamente, “muito endinheiradas” e “endinheiradas”) em que o
chefe do agregado é mais jovem, numa faixa etária entre os 35 e 39 anos de idade. Por último, a
idade média dos chefes de família das famílias com rendimento médio é semelhante à das famílias
“endinheiradas”, com 40 anos de idade. Isto está ilustrado na Figura 24 abaixo.
14
51
20
20
25
12
19
8
22
8
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Homem
Mulher Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
50
42 40 40
35
0
10
20
30
40
50
60
Baixa Média baixa Média Média alta Alta
Idade d
o C
hefe
do A
gre
gado (a
nos)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
75
Figura 24: Quintis de riqueza com base na idade do Chefe do Agregado – área do projecto
O estado civil do chefe da família também parece influenciar o nível de riqueza da família: chefes de
família nos quintis mais pobres tendem ter constituído famílias para as quais são os únicos
responsáveis (78% enviuvaram e 76% são separados ou divorciados). No entanto, a proporção de
famílias pobres/muito pobres é menor quando o chefe da família é casado36
(ou seja,
responsabilidade partilhada pela família) ou solteiro/a (ou seja, ainda não constituiu família).
Aproximadamente 50% dos/das chefes de família são casados/casadas. Mais ainda, a proporção de
famílias endinheiradas/ muito endinheiradas é maior entre as famílias chefiadas por um casal (50%
das famílias) ou constituídas por uma pessoa solteira (38%). É menos frequente haver famílias de
renda média alta/ alta que são chefiadas por uma pessoa separada/divorciada (13%) ou viúva (7%).
Isto está representado na Figura 25 abaixo.
Figura 25: Quintis de riqueza de acordo com o estado civil do Chefe do agregado – área do projecto
A ocupação do chefe do agregado também parece ter alguma influência no nível de riqueza da
família. Entre as famílias chefiadas por uma pessoa desempregada (p.ex., doméstica), 68%
encontram-se nos quintis de renda média baixa/ baixa e apenas 16% nos quintis de renda média
alta/alta. Nas famílias chefiadas por uma pessoa a trabalhar por conta própria (agricultura de
subsistência), 45% são muito pobres/ pobres e 32% são endinheiradas/muito endinheiradas. As
famílias chefiadas por uma pessoa com emprego formal, apenas 15% são muito pobres/pobres e
56% são endinheiradas/ muito endinheiradas. Isto está ilustrado na Figura 26 abaixo.
36
Isto inclui casamento civil, tradicional, religioso e uniões de facto.
27
25
16
10
38
64
24
25
17
50
21
38
14
21
100
25
24
25
13
14
12
19
23
13
7
16
25
24
50
21
0% 50% 100%
Solteiro
Casamento civil
Casamento religioso
Casamento tradicional
Casamento misto
União de facto
Separado/divorciado
Viúvo
Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
76 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 26: Quintis de riqueza de acordo com o estado de emprego do Chefe do agregado – área do projecto
Conforme mencionado na Secção 4.3.2, 7% dos chefes de família inquiridos são pessoas de idade 37
(5% para Chiúta e 9% para Moatize), na maior parte das vezes um homem; em ambos os distritos é
aproximadamente 67% homens contra 33% mulheres.
Além disso, 3% dos membros das famílias inquiridas têm algum tipo de deficiência (com a deficiência
física ou visual sendo o mais comum), pelo qual é provável que contribuam menos (ou não
contribuem de todo) para o rendimento da família.
As DGF constataram que, de acordo com a percepção local, o grupo socialmente vulnerável mais
comum são os idosos (mencionado por todas as comunidades). Constataram que as famílias
chefiadas por idosos são particularmente vulneráveis porque têm menos membros com capacidade
produtiva e, como consequência, têm mais dificuldades do que as outras famílias em ganhar
rendimentos. Assim, presume-se que também será mais difícil para estas famílias se adaptarem às
novas estratégias de geração de rendimento, particularmente aquelas que não se baseiam na terra,
e que poderá ser, potencialmente, o caso do projecto proposto. Como consequência, as
comunidades inquiridas entendem que as famílias chefiadas por idosos são mais pobres e
dependem mais das redes de apoio social existentes (vizinhos, igreja e familiares). Isto simula o perfil
das famílias mais pobres, estabelecido pelos quintis de riqueza e pode ser observado no Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa/ sob o tema dos grupos vulneráveis.
Os outros grupos vulneráveis são, por frequência de ocorrência: pessoas portadoras de deficiências,
crianças órfãs, viúvas e jovens desempregados.
Os dados qualitativos e quantitativos obtidos do trabalho de campo estão em linha com a base
conceitual da Estratégia Nacional para Segurança Social Básica (2010-2014)38
, que estabelece uma
ligação entre a produtividade, dependência e vulnerabilidade a nível dos agregados familiares em
Moçambique. Esta estratégia nota que em Moçambique, é mais provável que as famílias com
“maiores níveis de dependência” ou com maior número de membros do agregado familiar que não
37
Uma pessoa com 65 anos de idade ou mais. 38
Governo de Moçambique. Estratégia Nacional para Segurança Social Básica 2010-2014.
9
4
29
13
36
33
6
36
14
16
21
32
29
24
43
24
20
16
33
15
8
14
12
30
10
33
41
28
29
20
17
6
0% 50% 100%
Emprego formal
Emprego informal
Trabalho sazonal
Auto-emprego
Desempregado (procurandotrabalho)
Doméstica (não procurandotrabalho)
Incapacitado e não empregado
Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
77
conseguem trabalhar se enquadrem nos quintis mais pobres da população. Também nota que as
famílias compostas maioritariamente ou exclusivamente por idosos, portadores de deficiência ou
pessoas com doença crónica, pessoas idosas e crianças, ou chefiadas por crianças, encontram-se
em situação de extrema dependência.
4.3.8 Infra-estrutura Social e Serviços
Os funcionários do SDPI entrevistado nos distritos de Chiúta e de Moatize afirmaram que a prestação
de serviços sociais essenciais continua a ser insuficiente na área do projecto. De acordo com os
mesmos, isto deve-se à falta de recursos, e um padrão de distribuição das populações e
aglomerações disperso, bem como às dificuldades no acesso a estas zonas, como resultado da fraca
cobertura ou do mau estado da rede rodoviária.
Habitação
De acordo com as DGF, os resultados do estudo socioeconómico de base das comunidades
afectadas e o SDPI de Chiúta e Moatize, as estruturas habitacionais predominantes nos distritos e na
área do projecto são palhotas de pau a pique, tapadas com caniço (colmo).
As construções feitas com materiais duráveis (tijolo, cimento e telhados de chapa de zinco) estão
concentradas nos capitais de Distrito/ Posto Administrativo. Contudo, comparado com Chiúta, o
distrito de Moatize tem maior percentagem de casas construídas com materiais duráveis, como
sendo blocos (22%, mais do que a média provincial) e cobertura de chapa de zinco (11%, menos do
que a média provincial) (INE, 2013 e INE, 2013b).
De acordo com as constatações do inquérito, uma casa normal na área do projecto é composta por
uma casa principal com infra-estruturas adicionais no quintal. A casa principal é composta por dois a
três divisões: uma sala de estar e um ou dois quartos de dormir, sendo, de acordo com os DGF, um
para adultos e o outro para crianças. No quintal da casa normalmente existem um ou dois celeiros e
por vezes galinheiros (presente em 41% das famílias inquiridas), corrais (35%), cozinhas (25%),
pocilgas (21%), uma latrina (15%) e uma área para tomar banho (10%). Isto está de acordo com a
descrição de uma casa típica feita pelos DGF, indicada no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/
sob o tema de habitação e bairros. As DGF também revelaram que as crianças com mais do que 9
anos de idade poderão dormir em quartos separados, construídos no quintal da casa, e que não é
feita nenhuma separação de idade/género para as latrinas e áreas de banho.
Ainda de acordo com as constatações do inquérito sobre habitação, as paredes de uma casa normal
na área do projecto não são pintadas (98% das casas inquiridas), poucas delas têm janelas e o
quintal não é vedado. A casa principal é, normalmente, rectangular (65% das casas inquiridas),
podendo também ser quadrada (34%) e, menos comum, redonda (1%).
Na grande maioria dos casos, a casa foi construída pelo próprio agregado familiar inquirido (90%).
Isto explica a razão por 96% dos agregados familiares inquiridos serem proprietários das casas em
que vivem, comparado com apenas 4% das famílias que pagam renda.
Em 95-97% dos casos, os materiais utilizados na construção da casa principal são extraídos
localmente, livre de custo, contra 3-5%, onde os materiais são comprados. O chão normalmente é de
terra, e as paredes são de pau a pique, com o telhado feito de pau e caniço. As estruturas
remanescentes são normalmente construídas com varas e/ou caniço.
78 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
As casas inquiridas não são novas – os agregados familiares vivem nas casas, em média, há 10
anos. Nenhuma das casas inquiridas tinha água canalizada ou energia eléctrica. A principal fonte de
iluminação nas casas inquiridas era por meio de lanternas (81%).
Conforme ilustrado no Anexo B: / sob o tema habitação e bairro, os limites de cada um dos quintais
são demarcados fisicamente, com vedações de sebes arbusticas ou árvores. As famílias vizinhas
normalmente têm laços de parentesco (família alargada) e desenvolvem relacionamentos estreitos. A
Figura 27 abaixo ilustra uma casa de pau a pique na área do projecto.
Figura 27: Casa de pau a pique típica, Chianga
Educação
Existem apenas escolas públicas no distrito de Chiúta, que consiste em 74 escolas primárias, das
quais 13 são escolas primárias do segundo grau 39
que leccionam as classes finais da escola
primária, a 6ª e 7ª classe, e seis escolas secundárias ou escolas secundárias do primeiro grau 40
onde leccionam da 7ª à 10ª classe. Não existe nenhuma escola secundária do segundo grau 41
que
oferece os dois anos finais da educação secundária, nomeadamente a 11ª e 12ª classe. O rácio
professor/aluno no distrito, em 2012, era de 1/55 nas escolas primárias e de 1/36 nas escolas
secundárias (INE, 2013).
Em 2013, havia 21,839 alunos matriculados nas escolas primárias em Chiúta. A taxa de matrícula
tem estado a aumentar, com um crescimento de 19% entre 2009 e 2013, onde 48% dos alunos nas
escolas primárias eram raparigas, o que está em linha com a tendência provincial. Contudo, as taxas
de aproveitamento escolar têm vindo a cair nos últimos 5 anos, em especial na 7ª classe, no final da
escola primária. A taxa de aproveitamento escolar caiu de 65% em 2009 para 59% em 2013 (INE,
2013). Isto é mais baixo que a tendência provincial, o que nos leva à questão da qualidade da
educação. Em 2013, havia apenas 1.806 alunos matriculados nas escolas secundárias, dos quais
38% eram raparigas (um número com tendência a aumentar nos últimos 5 anos), com uma taxa
global de aproveitamento de 50%, que também tem estado a cair nos últimos 5 anos. Finalmente, o
rácio de género e de taxa de aproveitamento escolar está ligeiramente abaixo da tendência
provincial.
39
Escola primária do segundo grau.
40 Escola secundária do primeiro grau
41 Escola secundária do segundo grau
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
79
A taxa de analfabetismo no distrito de Chiúta em 2005 era de 84%, maioritariamente mulheres; 93%
das mulheres eram analfabetas contra 74% de homens analfabetos. As taxas de analfabetismo
também eram elevadas em todas as idades escolares: 96% entre a população com 5-9 anos de
idade e 77% entre a população com 10-14 anos de idade. Apenas 19% da população com 5 anos de
idade ou mais está, ou foi, matriculada na escola, e apenas 6% da população com mais de 5 anos de
idade já concluiu algum nível escolar, do qual 90% a educação primária. Isto demonstra um nível
educacional geralmente baixo, que é ainda mais baixo entre as mulheres: em 2005 apenas 10% das
mulheres com mais de 5 anos de idade tinham frequentado a escola e apenas 3% tinha concluído a
escola primária. A taxa de escolarização de raparigas aumenta na faixa etária dos 10-14 anos de
idade (17%), o que demonstra que as raparigas também iniciam a escolarização tarde (MAE, 2005).
Em 2013, o distrito de Moatize também só tinha escolas públicas, com 157 escolas primárias, sendo
40 escolas primárias do segundo grau42
, a leccionar os últimos anos da escola primária, a 6ª e 7ª
classe, e 12 escolas secundárias, das quais três eram escolas secundárias do segundo grau 43
a
leccionar os últimos anos de escolaridade, a 11ª e 12ª classe. Em 2012, o rácio professor/aluno no
distrito era de 1/55 para as escolas primárias e 1/24 para as escolas secundárias (INE, 2013b).
Em 2013, havia 57.425 alunos matriculados na escola primária. A taxa de matricula nas escolas
primárias tem vindo a aumentar, com um aumento de 19% entre 2009 e 2013, onde, em 2013, as
raparigas constituíam 48% dos alunos das escolas primárias, que está em linha com a tendência
provincial. As taxas de aproveitamento escolar têm vindo a melhorar nos últimos 5 anos, em
particular para a 7ª classe no final da escola primária, tendo aumentado de 56% em 2009 para 61%
em 2013 (INE, 2013b). Isto continua a estar um pouco abaixo da tendência provincial. Em 2013,
havia 8.455 alunos matriculados nas escolas secundárias, dos quais 46% eram raparigas (um
número crescente nos últimos 5 anos), com uma taxa de aproveitamento global de 54%, que se tem
mantido estável nos últimos 5 anos. O rácio de género e da taxa de aproveitamento escolar está
ligeiramente abaixo da tendência provincial.
Em 200544
, 68% da população de Moatize era analfabeta, maioritariamente mulheres (79% mulheres
contra 59% homens). A taxa de analfabetismo também era elevada entres as crianças de idade
escolar: 92% da população na faixa etária dos 5-9 anos de idade e 61% da população com 10-14
anos de idade. Praticamente 40% da população com 5 anos de idade ou mais está, ou foi
matriculada na escola, e apenas 16% da população com mais do que 5 anos de idade já concluiu
algum nível de escolaridade, sendo que 90% a escola primária. O mesmo se aplica à taxa de
escolaridade das mulheres: em 2005, apenas 13% das mulheres com mais de 5 anos de idade tinha
frequentado a escola e apenas 9% tinha concluído a escola primária (comparado com 22% e 21%
para homens com mais de 5 anos de idade). As taxas de escolarização da rapariga aumentam na
faixa etária dos 10-14 anos de idade (40%), o que significa que existem menos raparigas a serem
matriculadas nas escolas (MAE, 2005b)45
.
MAE 2005 e 2005b notam que, apesar da expansão da rede escolar, a cobertura dos serviços
educacionais continua a ser insuficiente, particularmente para a escola secundária.
42
Escola primária do segundo grau
43 Escola secundária do segundo grau
44 Embora não actualizados, estas são as fontes de dados oficiais mais recentes sobre alfabetização nos distritos de Moatize e
Chiúta. 45
Contudo, MAE 2005 e 2005b indicam que em ambos os distritos, os rapazes também tendem iniciar a escolarização mais
tarde (faixa etária dos 10-14 anos de idade). A diferença principal é que existem mais rapazes matriculados do que raparigas,
em todas as idades escolares.
80 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Existem cinco escolas primárias na área do projecto, mais especificamente nas comunidades de
Tenge, Mbuzi, Nhambia, Massamba e Matacale. A escola primária de Massamba oferece todas as
sete classes da escolarização primária (escola primária completa), mas as outras escolas oferecem
apenas as primeiras três classes (escola primária do 1º grau). As comunidades de Mboza, Chianga e
Muchena não têm escolas. Não existem, para além destas escolas primárias, outras escolas na área
do projecto. Ver exemplo de uma das escolas na Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale
abaixo.
A maior parte das crianças com idade escolar46
dos agregados inquiridos frequentam a escola (88%).
As seguintes razões, entre outras, foram apresentadas para as crianças não frequentarem a escola:
“as crianças são demasiado jovens”, de acordo com a percepção local (38%) ou “a escola é
demasiado distante” (30% na parte do projecto em Chiúta e 15% na parte em Moatize). O argumento
relativamente à distância parece ser contraditória com a distância média caminhada declarada, mais
especificamente uma caminhada de 5-30 minutos para 51% das crianças que frequentam a escola,
mas poderá ser relevante nas comunidades em que não há escola (Mboza, Chianga e Muchena).
Das crianças em idade escolar, 96% frequentam a escola primária e apenas 4% frequentam a escola
secundária. Este baixo nível de escolaridade nas crianças de idade escolar poderá ser explicado pela
baixa cobertura da rede escolar, mencionada na Secção 4.3. No que diz respeito à escolaridade das
crianças, não existem diferenças significativas entre os dois distritos.
Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale
Das famílias inquiridas, 51% das crianças caminham entre 5 a 30 minutos para chegar à escola,
contra 34% que caminham mais do que 30 minutos e apenas 4% que caminham menos do que 5
minutos. Esta proximidade relativa à escola poderá se explicado pelo facto de que a grande maioria
das crianças inquiridas (96%) frequenta a escola primária, e que existe uma escola primária em cinco
das comunidades inquiridas. Novamente, no que diz respeito ao acesso aos estabelecimentos de
ensino, não existem diferenças significativas entre os dois distritos, mas poderão existir diferenças
entre comunidades específicas.
Tanto as DGF e o SDPI de Chiúta e Moatize consideram que a cobertura da rede escolar existente é
insuficiente para a população existente.
46
Isto refere-se à faixa etária dos 6-15 anos de idade.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
81
Saúde e Segurança Alimentar
Em 2012, o distrito de Chiúta era servido por 5 centros de saúde, com um total de 49 camas, das
quais 19 em maternidades (INE, 2013). Em 2005, existiam 25 técnicos e assistentes de saúde no
distrito, dos quais 90% tinham apenas formação básica/primária em saúde (MAE, 2005). Existiam
3.200 habitantes por técnico de saúde (MAE, 2005). Apesar da expansão do sistema de saúde entre
2009 e 2012, o rácio de unidade sanitária/residente e o rácio cama de unidade sanitária/residente
continuam elevados: em 2012 existiam 17.919 habitantes por unidade sanitária e 1.792 habitantes
por cama de unidade sanitária47
.
Em 2012, o distrito de Moatize era servido por 12 centros de saúde, com um total de 132 camas, das
quais 60 em maternidades (INE, 2013b). Em 2005, existiam 86 técnicos e assistentes de saúde no
distrito, dos quais 91% tinham apenas formação básica/primária em saúde (MAE, 2005b). Existiam
2.100 habitantes por técnico de saúde (MAE, 2005b). Semelhantemente à Chiúta, apesar da
expansão do sistema de saúde em Moatize entre 2009 e 2012, o rácio de unidade sanitária/habitante
e o rácio cama de unidade sanitária/ residente continuam elevados: em 2012 existiam 24.361
habitantes por unidade sanitária e 2.215 habitantes por cama de unidade sanitária48
.
A doença mais comum nos distritos de Chiúta e Moatize são, por ordem de prevalência, a malária,
diarreia (ambas doenças transmitidas pela água) e Doenças de Transmissão Sexual (DTS) – que
inclui HIV/SIDA. Estas doenças são responsáveis por quase a totalidade dos casos de doença
formalmente reportados nos distritos (MAE, 2005 e 2005b). MAE 2005 e 2005b notam que, apesar
da expansão da rede sanitária, a cobertura de serviços de saúde continua a ser insuficiente.
De acordo com as DGF, existe apenas um posto de saúde na área do projecto, em Muchena, que
presta cuidados básicos de saúde. A unidade sanitária mais próxima da área do projecto que presta
cuidados mais avançados de saúde é o Centro de Saúde de Kazula, a uma distância de 70
quilómetros das comunidades inquiridas (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/mapeamento de
serviços e recursos).
Conforme ilustrado na Figura 30 abaixo, as doenças mais comuns entre as famílias inquiridas eram a
malária (com 83% das famílias afectadas durante o último ano), gripe (70%) e diarreias (65%).
Figura 30: Constatações do levantamento sobre doenças
47
Cálculos feitos pelo Consultor com base nos dados do INE, 2013. Esta fonte não fornece dados para os técnicos de saúde. 48
Cálculos feitos pelo Consultor com base nos dados do INE, 2013b. Esta fonte não fornece dados para os técnicos de saúde.
69
87
74
1
1
42
15
3
62
79
66
1
3
33
25
6
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Diarreia
Malaria
Constipação/ Gripe
Sarampo
Tuberculose
Dor dente
Doença ouvidos/ nariz/ garganta
Doença pele
Moatize Chiúta
82 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
São variadas as medidas tomadas para procurar tratamento. As famílias inquiridas na parte do
projecto em Chiúta parecem mais propensas a procurar tratamento numa unidade sanitária, mais
especificamente 65% para casos de malária, 59% para casos de diarreia e 45% para casos de gripe.
Contrariamente, os agregados familiares de Moatize recorrem mais para os remédios caseiros. Em
47% dos casos de malária e diarreia e 28% dos casos de gripe as famílias recorreram a tratamento
numa unidade sanitária, comparado com os remédios caseiros utilizados para 31% dos casos de
malária e gripe e 37% dos casos de diarreia. Isto está ilustrado na Figura 31 e na Figura 32 abaixo.
Figura 31: Tratamento de doenças em Chiúta
Figura 32: Tratamento de doenças em Moatize
17
1
65
5 4 8
27
6
60
5 5
22
10
45
2
18
3
0102030405060708090
100
Muita c
om
ida e
água
Rem
édio
caseiro
Médic
o t
radic
ional
Unid
ade s
anitári
a(U
S)
Farm
ácia
Nenhum
a
Outr
o(e
specific
ar)
%
Chiúta
Malaria Diarreia Constipação/ gripe
1
31
5
47
7 5 4
37
9
48
4 1 1
30
15
28
4
23
1
0102030405060708090
100
Muita c
om
ida e
água
Rem
édio
caseiro
Médic
o t
radic
ional
Unid
ade s
anitári
a(U
S)
Farm
ácia
Nenhum
a
Outr
o (
especific
ar)
%
Moatize
Malaria Diarreia Constipação/ gripe
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
83
Uma pequena percentagem (3%) das famílias inquiridas declarou ter um membro da família com uma
doença crónica. A doença crónica mais comum são a asma e a dor crónica (permanente),
mencionadas por 65% das famílias com um membro da família com doença crónica.
As mulheres das famílias inquiridas têm o seu primeiro filho, em média, aos 18 anos de idade. Quase
dois terços (60%) destas mulheres não receberam cuidados pré-natais na sua última gravidez (55%
das famílias inquiridas na parte da área do projecto em Chiúta, comparado com 63% das famílias na
parte da área do projecto em Moatize). Das mulheres que receberam cuidados pré-natais, 97%
receberam profilaxia da malária e 88% fizeram o despiste do HIV/SIDA. A elevada proporção de
mulheres grávidas sem cuidados pré-natais está em linha com a proporção de mulheres que fizeram
o parto em casa: 64%, comparado com 36% de partos institucionais (39% em Chiúta comparado com
33% em Moatize).
Conforme ilustrado na Figura 33 abaixo, a grande maioria (92%) dos inquiridos já ouviram falar da
malária e sabem que é transmitida através da picada do mosquito (84% dos inquiridos na parte da
área do projecto em Chiúta comparado com 79% na parte da área do projecto em Moatize).
Figura 33: Resultados do inquérito sobre o conhecimento da malária
Embora 94% dos inquiridos em Chiúta tenham declarado dormir com redes mosquiteiras, este
número baixa para 66% nos agregados familiares em Moatize. Mais de um terço (37%) dos
agregados familiares em Moatize não dorme com uma rede mosquiteira. Como mostra a Figura 34
abaixo, a maior parte dos que não dormem com uma rede mosquiteira (82%), argumentam que não o
fazem porque não têm uma rede mosquiteira (89% das respostas entre as famílias em Chiúta e 75%
em Moatize) e uma minoria (17%) respondeu que era demasiado caro comprar uma rede mosquiteira
(11% das respostas das famílias em Chiúta e 24% em Moatize).
0102030405060708090
100 84
1 3 1 2 8
1
79
1 4 1 2
13
1
%
Chiúta Moatize
84 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 34: Resultados do inquérito para as razões da não utilização da rede mosquiteira
A maioria (81%) dos inquiridos na área do projecto já ouviu falar de HIV/SIDA e sabe que o HIV pode
ser transmitido da mãe para o seu bebé (88% dos inquiridos). Adicionalmente, 72% das pessoas
sabem que se podem proteger contra o HIV/SIDA ao usar preservativos e 70% sabem que isto
também é possível através de ter um único parceiro sexual, enquanto que apenas 43% sabiam que
isto era possível através da abstinência sexual.
Face a isto, e ao deficiente abastecimento de água e saneamento, os casos consistentes de surtos
de doenças propagadas pela água, tais como a malária, a cólera e a disenteria não são
surpreendentes nas comunidades afectadas pelo projecto. Nos últimos tempos, quando ocorrem
estes surtos, o Centro de Saúde de Kazula presta apoio a algumas comunidades com medicamentos
e cloro para o tratamento de água.
Em termos de segurança alimentar, os meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março trazem uma
maior escassez de alimentos da produção agrícola e a probabilidade das famílias inquiridas
passarem fome é maior. Isto está ilustrado na Figura 35 abaixo, que se refere aos meses em que os
agregados familiares passam fome:
Figura 35: Resultados do inquérito sobre insegurança alimentar (não ter comida suficiente)
89
11
75
24
2
0 20 40 60 80 100
Não tem rede
Não gosta de dormir com rede
Difícil comprar rede
Outro
%
Moatize Chiúta
0102030405060708090
100
%
Chiuta Moatize
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
85
Nos meses remanescentes, 91% das famílias garantem o seu alimento através das machambas da
família e a compra de produtos alimentares. O regime alimentar das famílias inquiridas é constituída
por farinha de milho, perfazendo 65% do regime alimentar, feijão (13%) e hortícolas (9%).
Será apresentada uma análise mais detalhada da segurança alimentar e situação de saúde no
estudo da Avaliação do Impacto na Saúde. Para mais detalhes sobre o assunto, por favor refira-se
ao relatório desse estudo.
Abastecimento de água e saneamento
De acordo com a informação fornecida nas DGF e do SDPI de Chiúta, a cobertura do abastecimento
de água e saneamento no distrito e na área do projecto é baixa. De acordo com o INE (2013), dois
terços da população do distrito (66%) usa uma fonte de água desprotegida, como os rios/lagos (35%)
ou um poço aberto sem bomba de água (31%), e apenas um terço da população (31%) utiliza poços
protegidos.
De acordo com o representante do SDPI entrevistado, na parte da área do projecto em Chiúta,
existem dois poços de furo que abastecem as comunidades na área do projecto, e 5 a 6 poços de
furo que abastecem apenas a área de concessão do projecto. Assim, as fontes de água não tratadas,
tais como águas da chuva, rios/riachos e poços a céu aberto abastecem água a uma parte
considerável da população na área do projecto. De acordo com as DGF em Chiúta, não existe uma
rede de saneamento na área do projecto, e a população recorre principalmente a latrinas tradicionais
(mais comum) ou defecação a céu aberto (menos comum). Mais ainda, recorrem à queima de lixo
nos quintais das casas.
O abastecimento de água e de saneamento em Moatize é ligeiramente melhor, quando comparado
com Chiúta. Embora dois terços (69%) da população obtêm a sua água de uma fonte desprotegida,
como um poço a céu aberto sem bomba de água ou do rio/lago, um terço (31%) tem acesso a uma
fonte de água protegida, como um poço protegido (14%), água canalizada no quintal/em casa (11%)
e uma bomba de água manual (6%). A percentagem da população que tem água canalizada é
consideravelmente mais elevada do que em Chiúta (11% contra 0,1%) e está concentrada nos
capitais de Distrito/Posto Administrativo (INE, 2013b). De acordo com o SDPI de Moatize, a cobertura
do abastecimento de água no distrito é de 70%49
.
MAE 2005 e 2005b reconhecem que a manutenção das bombas de água nos dois distritos é
insuficiente e é um desafio ao abastecimento de água.
De acordo com os resultados do inquérito, nenhuma família inquirida tem água canalizada em casa.
Assim, as famílias dependem de fontes de água externas. Como mostra a Figura 36 abaixo, a
principal fonte de água para consumo humano é a água do rio, que não é tratada (77% das famílias
inquiridas). Para além da água do rio, 10% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta
utilizam fontes de água não protegidas como poços a céu aberto (menos do que 1% das famílias em
Moatize). Menos do que um quarto das famílias inquiridas tem acesso a fontes de água protegidas,
como bombas de água ou poços de furo (24% das famílias na parte da área do projecto em Moatize,
comparado com 9% na parte em Chiúta).
49
O SDPI de Chiúta não conseguiu fornecer os mesmos dados para o distrito.
86 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 36: Resultado do levantamento sobre fontes de água
A Figura 37: Furo de água no leito seco do rio, Mbuzi. Figura 38: Bomba manual, Muchena
abaixo ilustram as duas fontes de água disponíveis na área do projecto.
Figura 37: Furo de água no leito seco do rio, Mbuzi. Figura 38: Bomba manual, Muchena
As famílias inquiridas gastam, em média, 25 a 30 minutos a cartar água, normalmente a pé (98% das
famílias). A fonte de água mais próxima fica a menos do que 1 quilómetro de distância (para 93% das
famílias parte da área do projecto em Chiúta e para 83% na parte da área do projecto em Moatize),
mas 12% das famílias inquiridas (8% na parte em Chiúta e 16% na parte em Moatize) têm que
caminhar até 2 quilómetros para cartar água. A água é cartada todos os dias (para 87% das famílias
inquiridas). A água é normalmente guardada num balde (em 61% das famílias inquiridas), que, de
acordo com as DGF, é arrumada na cozinha (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/habitação e
bairro).
Conforme ilustrado na Figura 39 abaixo, a grande maioria das famílias inquiridas não tratam a água
que bebem (90%). Dos 10% que tratam a água, metade usa produtos à base de cloro (Certeza) e a
outra metade ferve a água ou usa outros métodos não especificados. Esta questão é especialmente
3
3
8
7
80
7
24
75
0 20 40 60 80 100
Água canalizada (casa/ quintal)
Água canalizada (vizinho)
Tanque de água no quintal
Poço no quintal
Poço/ furo privado
Fontanária/ bomba manual pública
Rio
%
Moatize Chiúta
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
87
preocupante em termos da saúde da família, se se considerar que todas as famílias cartam a água
de uma fonte fora de casa.
Figura 39: Constatações do levantamento sobre tratamento da água
Metade das famílias inquiridas estão cientes do facto de que existem doenças propagadas pela água
(55% na parte da área do projecto em Chiúta e 48% na parte em Moatize). Também sabem que
estas doenças têm o seu pico em alturas específicas do ano (96% das famílias inquiridas).
No que diz respeito ao saneamento, mais de três quartos da população de Chiúta não tem latrinas e
pratica defecação a céu aberto (86%) e apenas 13% têm uma latrina tradicional ou melhorada.
Quase três quartos da população em Moatize não têm latrinas e praticam defecação a céu aberto
(70%) e quase um terço (29%) tem latrinas tradicionais (20%) ou melhoradas (9%) (INE, 2013b).
A maioria das famílias inquiridas (95%) praticam defecação a céu aberto e apenas 5% usam latrinas,
como mostra a Figura 40 abaixo. Isto está em linha com a baixa presença de latrinas nas casas;
como já mencionado, apenas 15% das famílias inquiridas têm latrinas.
Figura 40: Resultados do inquérito sobre saneamento
90
4
5
1
92
2
6
1
0 20 40 60 80 100
Não trata
Ferve
Certeza/ Cloro
Outro
%
Moatize Chiúta
4 1 1
94
2 1 1
96
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Latrina no quintal Latrina paranecessidades e
banho no quintal
Latrina do vizinho Fecalismo a céuaberto
%
Chiúta Moatize
88 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
No que diz respeito à higiene, 96% das famílias inquiridas lava as mãos (com sabão ou cinzas). No
que diz respeito ao lixo, é positivo notar-se que apenas 2% não tomam nenhuma medida de remoção
de lixo. Quase metade (49%) das famílias inquiridas removem o seu lixo para a lixeira, enquanto que
34% queimam o seu lixo e 14% enterra o lixo, em ambos os casos no quintal.
Face ao que foi descrito acima, pode-se concluir que o abastecimento de água e saneamento são
questões críticas para a população dos distritos e nas áreas do projecto.
Transporte e comunicação
O distrito de Chiúta é atravessado por três estradas nacionais (N9, N322 and N302) e três estradas
regionais (R603, R1050 e R1060). As trajectórias das estradas são como se segue:
A N9 liga a Cidade de Tete à Vila de Manje e também à Vila de Kazula (capital do Posto Administrativo de Kazula), pela N302.
A R603 sai da N9 e liga a Vila de Manje ao Distrito de Macanga
A N322 liga o Posto Administrativo de Kazula ao Distrito de Moopeia (Província de Zambézia), via N302 e N7.
A Vila de Mange e a Vila de Kazula estão ligadas pela R1050, via N9.
A Vila de Kazula também se liga com as áreas agrícolas no interior do seu posto administrativo através da R1060.
As estradas fazem parte do Corredor de Tete e ligam os países vizinhos (Zâmbia e Malawi), através
dos postos fronteiriços da província de Tete, aos portos Moçambicanos. As estradas ligam Chiúta à
Cidade de Tete e a alguns distritos vizinhos, incluindo Moatize. Estradas de terra batida ligam os dois
Postos Administrativos e ligam também as suas localidades. (MAE, 2005)
O transporte no Distrito de Moatize é garantido por meios rodoviários e ferroviários. Moatize é
atravessado por três estradas nacionais (N7, N322 e N304). Estas estradas também fazem parte do
Corredor de Tete. Moatize está ligado à Cidade de Tete pela N7, e aos seus distritos vizinhos pela
N9 (Chiúta), N304 (Angónia) e N322 (Mutarara). A N7 também liga a Vila de Moatize à capital do
Posto Administrativo de Zobue e à capital do Posto Administrativo de Kambulatsitsi. O transporte
entre os Postos Administrativos e as suas localidades é garantida por meio de estradas de terra
batida (MAE, 2005b).
A N322, que sai da N7, também liga Moatize ao Distrito de Mopeia, na Província de Zambézia. Está a
ser finalizada a construção de uma ponte sobre o Rio Zambéze (Ponte de Benga), que vai ligar a
Cidade de Tete e a Vila de Benga, com o objectivo de acomodar o tráfego de carga pesada. Também
está a ser reabilitada um troço de estrada de 260 quilómetros, como parte do projecto da Ponte de
Benga, para ligar a Cidade de Tete aos países vizinhos Zâmbia e Zimbabué, por meio de uma
concessão (INE, 2013b). A linha férrea de Sena, que atravessa Moatize por meio de um ramal
ferroviário, liga a Vila de Moatize com o distrito sul de Mutarara (MAE, 2005b).
A Figura 41 abaixo ilustra as estradas mencionadas acima, bem como a linha férrea que atravessa
os distritos de Chiúta e Moatize.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
89
Figura 41: Estradas e linha férrea que atravessam os distritos de Chiúta e Moatize
90 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Metade das famílias inquiridas (50%) tem uma bicicleta. Para 99% das famílias, os trilhos ou as
estradas são as vias mais utilizadas para se chegar às aldeias vizinhas às comunidades inquiridas –
o restante 1% utiliza uma estrada alcatroada e provavelmente estão localizados perto da estrada que
vai à Vila de Moatize (Tabela 14 abaixo).
Tabela 14: Resultados do inquérito sobre tipos de estradas utilizadas
Estradas para as aldeias vizinhas Chiúta Moatize
Estrada alcatroada 1.3% 0%
Estrada de terra batida/trilhos 98.7% 100%
Total 100% 100%
A grande maioria das famílias inquiridas (93%) de desloca a pé, comparado com 5% que utilizam
uma bicicleta e 2% que utilizam um carro. Esta forma de deslocação/ transporte ocorre numa base
diária (93% das famílias inquiridas). É provável que isto esteja ligado à fraca condição dos trilhos e
estradas existentes, bem como à capacidade financeira das famílias inquiridas em investir em meios
de transporte.
O MAE 2005 e 2005b, bem como o SDPI de Chiúta e de Moatize entrevistados, notam que as
estradas existentes nos distritos encontram-se em mau estado, devido a uma fraca manutenção. O
representante do SDPI entrevistado também notou que a cobertura da rede rodoviária existente é
insuficiente em ambos os distritos, incluindo para as zonas de produção.
A comunicação no Distrito de Chiúta se torna possível através da rádio e da telefonia móvel, com
uma cobertura limitada (MAE, 2005).
A comunicação no Distrito de Moatize se torna possível através da rádio, telefonia móvel e telefone
fixo (MAE, 2005b). Enquanto o terceiro dispositivo (telefone fixo) é tipicamente encontrado nas áreas
urbanizadas como a Vila de Moatize, o capital do distrito, os dois primeiros (rádio e telefonia móvel)
têm maior cobertura e chegam às zonas menos urbanizadas do distrito.
Um quinto das famílias inquiridas (20%) tem um telefone celular (27% das famílias na parte da área
do projecto em Chiúta e 13% das famílias na parte em Moatize). Contudo, como referido acima, a
cobertura do telefone celular na área do projecto é limitada (MAE, 2005).
Energia
A principal fonte de energia no distrito de Chiúta é a lenha (utilizada por 69% da população), seguido
de petróleo/ parafina/ querosene (23%) e velas (7%) (INE, 2013). Isto é diferente da tendência
provincial, onde o petróleo/ parafina/ querosene é a principal fonte de energia (53% da população),
seguido de lenha (34%). A população que usa alguma forma de energia eléctrica (da rede nacional
de electricidade, painel solar ou bateria) é mínima, menos do que 1% (INE, 2013). De acordo com o
Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Distrito de Chiúta 2012-2021 (Governo do Distrito de
Chiúta, 2011), a Vila de Manje, a capital do distrito, tem o único sistema de fornecimento de energia
eléctrica no distrito, proveniente da rede nacional de electricidade. Isto mostra que o acesso de
Chiúta aos serviços e produtos básicos é pior do que no resto da província.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
91
As principais fontes de energia no distrito de Moatize são petróleo/ parafina/ querosene (utilizado por
49% da população), seguido de lenha (34%), energia eléctrica (7%) e velas (5%). Isto está em linha
com as tendências provinciais, embora em termos comparativos existe uma menor percentagem da
população a utilizar o petróleo/ parafina/ querosene e uma maior percentagem da população a utilizar
lenha e energia eléctrica (INE, 2013b). Mais ainda, a Vila de Moatize está ligada à rede nacional de
electricidade (MAE, 2005b).
Os resultados do inquérito mostram que o perfil energético da população na área do projecto é
diferente do perfil do distrito. A maioria das famílias inquiridas (80% nos dois distritos) usam lanternas
para iluminar as suas casas e apenas 10% utilizam lenha (14% das famílias inquiridas na parte da
área do projecto em Moatize e 6% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta). Os restantes
10% utilizam energia de painéis solares (3,5%), petróleo (2%) e outras fontes.
De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/uso da terra), as principais fontes de
energia na área do projecto são lenha e carvão, que são obtidos e produzidos localmente. Não existe
energia eléctrica na área do projecto.
4.3.9 Locais sagrados
No que diz respeito aos locais sagrados, aproximadamente um terço (30%) das famílias inquiridas na
parte da área do projecto em Moatize e 21% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta têm
pelo menos uma campa familiar. As famílias inquiridas têm um total de 84 campas, das quais 50 na
parte da área do projecto em Moatize e 34 na parte da área do projecto em Chiúta. Três quartos das
campas familiares (79% na parte da área do projecto em Chiúta e 29% na parte da área do projecto
em Moatize) estão localizadas fora do quintal.
A grande proporção de famílias que não tem uma campa familiar (79% na parte da área do projecto
em Chiúta e 70% na parte da área do projecto em Moatize), não obstante o perfil rural das famílias
inquiridas, poderá ser explicado pelo facto de todas as comunidades inquiridas terem um ou dois
cemitérios que são utilizados por todos os membros da comunidade, incluindo para cerimónias
ancestrais (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/locais históricos e sagrados).
Para além das capas familiares, as DGF revelaram que existem locais sagrados em todas as oito
comunidades localizadas dentro da área afectada pelo projecto, que são referências importantes
para a sua existência colectiva (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob os temas locais históricos
e sagrados). Os locais sagrados incluem:
1. Montanha sagrada com árvore sagrada para a cerimónia de chuva Nsato, e a floresta
sagrada associada (presente em todas as comunidades);
2. Cemitérios para os membros das comunidades (normalmente localizado na montanha
sagrada, e presente em todas as comunidades);
3. Igreja (presente em todas as comunidades);
4. Árvores sagradas para outras cerimónias para além da cerimónia da chuva (p.ex.,
embondeiro em Mbuzi, árvore Ntalala em Chianga);
92 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
5. Montanhas sagradas para outras cerimónias para além da cerimónia da chuva (p.ex., monte
Leão e monte Muniamba em Mbuzi);
6. Locais para os ritos de iniciação dos rapazes e floresta sagrada associada (Muchena e
Massamba).
Existem normalmente cemitérios separados para os adultos e as crianças ou, dentro de um mesmo
cemitério, áreas distintas para os funerais de adultos e os de crianças. A Figura 42: Cemitério
comunitário, Mbuzi Figura 43: Campa familiar no cemitério, Mbuzi abaixo mostram um cemitério e uma
campa em Mbuzi.
Figura 42: Cemitério comunitário, Mbuzi Figura 43: Campa familiar no cemitério, Mbuzi
As DGF revelaram que as comunidades inquiridas têm uma opinião dividida em relação à deslocação
dos locais sagrados (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema locais históricos e sagrados).
Duas comunidades, a de Matacale e de Mbuzi (ambas directamente afectadas pelo projecto),
afirmaram que não é possível mudar os cemitérios ou as campas para outro local, visto que isso
afastaria os espíritos ancestrais – e a sua protecção para uma vida de sucesso. Contudo, as outras
comunidades afirmaram que poderia ser possível mudar as campas, mediante autorização da família
a que pertence, e com a prévia realização de cerimónias e rituais específicas, e mediante alguma
forma de compensação para a família afectada.
Além disso, duas comunidades – Matacale e Mboza (também directamente afectadas pelo projecto)
– também afirmaram que não é possível mudar para outra área os locais sagrados associados à
cerimónia de chuva Tsato, (árvore e montanha sagradas),visto que isto iria reduzir a força da
cerimónia em atrair a chuva.
A Figura 44 abaixo mostra a localização destes locais sagrados na área do projecto.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
93
Figura 44: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo não transferíveis
94 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Para uma descrição detalhada e um mapeamento visual dos locais sagrados, refira-se ao relatório
sobre o Património Cultural 50
, que é parte integrante do relatório de AIAS para o projecto, O relatório
sobre o Património Cultural também analisa os impactos do projecto nos locais de património cultural,
incluindo os locais acima mencionados, referidos como sendo não transferíveis para uma outra área.
4.3.10 Indicações iniciais de reassentamento
Uma análise preliminar do censo sobre as pessoas e bens afectados pelo projecto, realizada para o
Plano de Acção para o Reassentamento (PAR)51, indica que, devido à limpeza na área da
mineração52 e à utilização de uma estrada de escoamento e uma linha de alta tensão, o projecto
poderá requerer a deslocação de 54 famílias a viver em número igual de estruturas habitacionais, e
43 machambas. A área estimada das machambas afectadas é de 19 ha.
Uma análise preliminar do PAR indica que, por um lado, vai ser necessário reassentar, para um local
alternativo, as PAPs que serão fisicamente deslocadas pelo projecto (ou seja, aquelas cujas
estruturas habitacionais e machambas serão completamente afectadas). Por outro lado, as PAPs
que serão economicamente deslocadas pelo projecto (ou seja, aquelas cujas estruturas habitacionais
e/ou machambas são parcialmente deslocadas pelo projecto), não necessitarão de reassentamento,
mas serão compensadas pelas suas perdas.
Como já mencionado, o PAR estava a ser elaborado para o projecto proposto ao mesmo tempo que
o relatório da AIS estava a ser finalizado, com base no censo sobre as pessoas e bens afectados
pelo projecto, e consulta prévia com as autoridades Provinciais e Distritais. Estão a ser
presentemente analisados pelo Cliente os resultados do censo sobre as pessoas e bens afectados e
o orçamento de compensação por reassentamento.
De seguida, será levado a cabo a identificação de terras alternativas, em coordenação com as
autoridades distritais de Chiúta e Moatize. Enquanto isto ocorre, será realizada uma consulta pública
para apresentar os resultados do censo, os pacotes de compensação propostos e os locais de
reassentamento, com contratos de compensação a serem assinados com cada uma das PAPs. A
seguir a isto, o PAR será finalizado e apresentado numa última sessão de consulta pública, a ser
realizada na área do projecto, contudo, nos termos da implementação do PAR, o processo de
envolvimento das partes interessadas/PAPs continuará até ao fim.
4.3.11 Experiências de reassentamento prévias das comunidades na área do
projecto
De acordo com o SDPI de Moatize, a Vila de Moatize já teve experiências anteriores com o
reassentamento involuntário rural e urbano devido às actividades mineiras da Vale e do Rio Tinto.
Estas experiências e as estratégias de compensação incluíram a prestação de serviços sociais como
(no caso da Vale) a construção de uma escola primária completa, escola secundária, esquadra da
polícia e uma unidade sanitária. É compreensível que estas experiências influenciem a posição do
distrito em relação ao reassentamento, e as expectativas para futuras necessidades de
50
COWI para CES (2014). Relatorio do Património Cultural. Elaborado aquando da finalização da AIS.
51 Elaborado aquando da finalização da AIS.
52 Área de explosão com uma zona tampão de 1020 m.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
95
reassentamento. Em particular, o SDPI de Moatize enfatizou a necessidade dos Planos de Acção
para o Reassentamento estarem sujeitos à regulamentação urbanística e a prestação de serviços
sociais, tanto para as pessoas reassentadas e para a comunidade de acolhimento.
O distrito de Moatize já tem um Comité Distrital de Reassentamento estabelecido para a revisão dos
Planos de Acção para o Reassentamento, bem como para a supervisão da sua implementação53
.
Os representantes entrevistados do SDPI de Chiúta e de Moatize realçaram a importância do
planeamento urbanístico dos locais de reassentamento, com o objectivo de melhorar os serviços
sociais e estimular o desenvolvimento económico nestes locais. De acordo com o SDPI de Chiúta, o
distrito ainda não teve nenhuma experiência de reassentamento, contudo, espera-se que quando isto
ocorrer, as autoridades do distrito de Chiúta se orientem pelas outras experiências de
reassentamento na província (como aquelas no distrito de Moatize vizinho).
Conforme indicado no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema história comunitária, as
DGF revelaram que as comunidades na área do projecto não têm experiencias anteriores com o
reassentamento involuntário em resultado de actividades económicas. A única experiência que têm é
da deslocação interna temporária devido à guerra (luta de libertação 1964-1975 e a guerra pós-
independência), cheias e secas, mas as pessoas deslocadas tendem a retornar às suas zonas
depois da causa da deslocação ter sido resolvida. Das oito comunidades inquiridas, três têm
experiência das actividades de prospecção mineira levadas a cabo pela Capitol Resources (Tenge,
Matacale e Massamba) e outras três tiveram no passado experiências curtas com actividades de
prospecção mineira levadas a cabo por outras empresas de exploração mineira (Massamba, Chianga
e Mbuzi). Três das comunidades ainda não foram expostas a qualquer projecto de mineração. Para
além da presença da Capitol Resources, existem empresas madeireiras a operar em Tenge e
Matacale.
Embora a palavra “reassentamento” não tenha sido aplicada à partida durante o processo de recolha
de dados qualitativos e quantitativos, a questão relativa ao reassentamento foi levantada
espontaneamente durante as DGF. Em termos gerais, as comunidades inquiridas estão preocupadas
com o reassentamento permanente noutro local, por três razões principais:
1. Perda de terras agrícolas (como explicado anteriormente, estas encontram-se perto/nas
margens dos rios e riachos existentes, de forma a aproveitar o solo húmido e fértil);
2. Perda de redes sociais de apoio da comunidade;
3. Perturbações espirituais devido à perda/separação das campas familiares.
No que diz respeito à perda das terras agrícolas, as comunidades inquiridas se mostram cépticas
sobre a disponibilidade de terra com características agro-ecológicas semelhantes (ver Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema análise de problemas para obter mais detalhes sobre as
preocupações relacionadas com reassentamento). As DGF também revelaram que as comunidades
tratam com alguma cautela a questão de benefícios dos projectos económicos na área
(nomeadamente, emprego e infra-estruturas sociais). Dois pedidos eram comuns a todas as DGF:
53
Este Comité está previsto no Decreto 31/2012, de 8 de Agosto. Para mais informação sobre o quadro legal nacional de
reassentamento, ver Secção 2.5.
96 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
1. Comunicação prévia com a comunidade, desde o início do projecto, e mantida numa base
regular durante toda a vigência do projecto;
2. O projecto deverá priorizar o emprego de forças de trabalho locais e abordar a questão das
necessidades sociais das comunidades, de forma realista e no âmbito de um acordo
consultivo com a comunidade (líderes e membros).
As comunidades reconhecem que devem tomar parte activa e participar no projecto. Elas consideram
que esta participação poderá ser através do fornecimento de forças de trabalho locais, e na
qualidade de pessoal de segurança para salvaguardar os bens e os interesses do projecto.
De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema história comunitária e
análise de problemas), a Capitol Resources já iniciou as actividades de prospecção mineira nas
comunidades de Tenge-Makodwe e Massamba. Ambas as comunidades do primeiro consideram que
o impacto do projecto de mineração é positivo. Contudo, já surgiram conflitos entre a comunidade de
Massamba e os a comunidade vizinha de Matacale, devido às expectativas sobre os benefícios do
projecto, especificamente em relação a emprego e infra-estruturas sociais. Isto é uma disputa sobre a
propriedade administrativa do local da mina: a comunidade de Massamba reivindicou o local da mina
como pertencendo a esta comunidade e, consequentemente, esta comunidade deverá ser o
beneficiário principal dos benefícios do projecto, que está a ser implementado, de facto, em
Matacale. Por enquanto a disputa tem sido resolvida pelo Chefe do Posto Administrativo, que reuniu
todos os líderes comunitários para esclarecer que o local da mina pertence, de facto, a Matacale.
Não obstante, não se deve subestimar o potencial que este tipo de conflito tem para gerar um
impacto negativo em termos da aceitação do projecto e sua propriedade. O facto de este conflito ter
surgido antes da implementação plena do projecto é um sinal das tensões que existem entre as
comunidades locais relativamente à distribuição equitativa dos benefícios esperados do projecto.
À luz desta situação, as implicações de reassentamento pelo projecto devem ser reportadas e
discutidas com a comunidade (líderes e membros) logo à partida, para evitar que haja conflitos e
resistência ao reassentamento. É aconselhável incluir as autoridades distritais no processo de
envolvimento das comunidades, para dar alguma orientação no processo e apoiar a resolução de
conflitos, onde necessário, de acordo com as estruturas de liderança tradicionais ou com as
autoridades, normas e protocolos locais.
Para além da comunidade de Mboza, cuja oposição ao reassentamento ficou claramente registada
nas sessão da DGF, as comunidades da área do projecto vêem o projecto como uma oportunidade
para o desenvolvimento local e estão abertas a discussões sobre o seu impacto e possíveis medidas
de mitigação/melhoria. Um desejo comum expresso nas DGF foi que fossem reassentados dentro
das suas comunidades de origem ou tão próximo quanto possível, em terras desocupadas ainda
disponíveis.
As questões relacionadas com o reassentamento serão tratadas em detalhe no PAR para o projecto
proposto.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
97
5 POTENCIAIS IMPACTOS ASSOCIADOS AO PROJECTO
5.1 Introdução
Este capítulo apresenta uma avaliação dos potenciais impactos associados ao projecto, durante a
sua fase de construção e operação, com base nos dados do projecto disponibilizados para a AIS. O
capítulo também delineia as medidas de mitigação e optimização aplicáveis para cada um dos
impactos. Os impactos foram identificados e avaliados de acordo com critérios pré-estabelecidos de
natureza, tamanho, duração, intensidade e ocorrência, como descrito no Anexo A: .
Todas as mudanças ao contexto socioeconómico das comunidades beneficiárias, directa ou
indirectamente associadas à implementação do projecto proposto, são consideradas como sendo
impactos. A essência da avaliação do impacto é a preparação e comparação de cenários ambientais:
o contexto da comunidade beneficiária sem o projecto como linha de base, contra a qual os impactos
associados à implementação do projecto são comparados. A implementação do projecto poderá
resultar em vários impactos positivos e negativos, relacionados com:
1 Perda da infra-estrutura habitacional, como resultado do reassentamento;
2 Acesso reduzido à terra e aos recursos naturais;
3 Restrições na mobilidade e acesso;
4 Geração de emprego e crescimento socioeconómico;
5 Ruptura da coesão social e impactos no património cultural;
6 Saúde, segurança e protecção;
7 Aceitação do projecto.
Os impactos negativos identificados esperados incluem aqueles que resultam do reassentamento, da
perda de terras agrícolas produtivas, a concorrência na procura de recursos naturais como resultado
da perca de/ acesso mais limitado aos mesmos, perda de rendimentos, insegurança alimentar,
ruptura da coesão social, perda de património cultural, poluição e os riscos associados ao trânsito,
aumento nas doenças transmissíveis/ transmitidas por vectores/ profissionais e as elevadas
expectativas relativas aos benefícios do projecto, que poderão prejudicar a aceitação do projecto por
parte da população e do governo locais.
Os impactos positivos identificados esperados incluem melhores serviços sociais e ordenamento
territorial, oportunidades de emprego e de formação para a força de trabalho local, procura pela
prestação de serviços, promoção da economia local e aceitação do projecto.
5.2 Potenciais impactos identificados até à data
De acordo com os resultados dos estudos de campo, diferentes tipos de características
socioeconómicas poderão ser afectadas pela construção e operação do projecto. Nos parágrafos que
seguem, as questões chave apresentam os potenciais impactos do projecto:
98 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
5.2.1 Impactos negativos
Questão 1: Destruição da infra-estrutura e reassentamento
De acordo com o censo do PAR (ver Secção 4.3.10) e o Relatório sobre o Património Cultural, em
elaboração aquando da finalização da AIS, a construção e operação das componentes do projecto
poderão exigir a destruição de casas, terras agrícolas, estabelecimentos comerciais, infra-estruturas
sociais (escolas, bombas/furos de água e igrejas/mesquitas) e locais de património cultural
localizados dentro da área do projecto.
Nos parágrafos a seguir encontram-se detalhados os impactos relacionados com a perda de
habitações, terras agrícolas, estabelecimentos comerciais e infra-estruturas sociais. Os impactos
relacionados com a perda de locais de património cultural são tratados no Relatório sobre o
Património Cultural e, consequentemente, não foram incluídas no presente relatório da AIS.
Impacto 1.1: Deslocação física dos agregados familiares
Como já explicado anteriormente, é provável as fases de construção e operação do projecto afectem
as casas localizadas dentro da área do projecto. De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise
Qualitativa/ sob os temas história da comunidade e análise de problemas), as comunidades
localizadas na área do projecto receiam o reassentamento porque serão realocadas para longe das
suas machambas.
Na eventualidade de uma casa (família) ser afectada pelo projecto, terá que ser compensada com
um pacote de compensação, conforme o disposto no Decreto 31/2012 e demais legislação nacional
aplicável (ver Secção 2.5 para uma discussão mais detalhada). Além disso, dependendo do grau de
destruição e da extensão de terra ocupada pelo projecto, poderá ser necessário reassentar as
famílias que habitam a área actualmente.
Os impactos associados ao reassentamento exigem a preparação de um Plano de Acção para o
Reassentamento (PAR). O princípio geral do PAR é que o reassentamento promova um
desenvolvimento local que beneficie todos, ou seja, não apenas as pessoas e comunidades
afectadas, mas também as comunidades de acolhimento e as vizinhas. Este princípio foi enfatizado
pelo governo distrital e pelas comunidades onde o projecto da Capitol Resources já está presente,
nomeadamente em Massamba, Matacale e Tenge-Makodwe. Enquanto a Tenge-Makodwe tem tido,
até agora, uma experiência positiva com os benefícios do projecto, já surgiram conflitos entre as
comunidades de Massamba e Matacale, resultantes de uma disputa sobre o acesso aos benefícios
provenientes do projecto proposto. Embora o conflito Massamba-Matacale tenha sido resolvido pelas
autoridades locais, o desenho e a implementação do PAR devem tomar em consideração os
potenciais conflitos entre comunidades no futuro próximo como resultado dos diferentes benefícios
do projecto, visto que isto poderá prejudicar a aceitação do projecto por parte da população local.
A compensação pela perda de bens deverá ser garantida antes de serem afectadas pelo projecto, ou
seja, antes de iniciar as actividades de construção. Semelhantemente, as actividades de
reassentamento devem ser implementadas durante a fase de construção, com programas de
monitoria e avaliação a serem levados a cabo após a fase de construção, ou seja,, durante a
operação do projecto. É provável que os resultados de um processo de reassentamento mal
implementado, em particular as perturbações sociais causadas por um processo de reassentamento
mal gerido ou mal desenvolvido (atrasos na implementação, fraca coordenação ou comunicação com
as comunidades) tenham um impacto na aceitação do projecto e sua operação.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
99
De acordo com as comunidades e o governo local inquiridos, o conteúdo e os prazos de
implementação do PAR são factores chave para o apoio a aceitação do projecto. Um factor chave
para um processo de reassentamento positivo são as consultas regulares com as comunidades
locais e o governo distrital para o desenho e implementação do processo de reassentamento.
Sem mitigação
Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto
como sendo “negativo elevado”, visto que a deslocação física das famílias irá certamente ocorrer e
os efeitos da perda de habitações e de infra-estruturas sociais, bem como da deslocação física,
serão graves. Esta questão é especialmente preocupante para as famílias chefiadas por idosos,
mulheres e crianças, que são mais dependentes das redes sociais de apoio e poderão ter grandes
dificuldades em se adaptarem após o reassentamento, caso lhes sejam retiradas as referidas redes e
não receberem outro tipo de assistência.
Com mitigação
Caso sejam implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que o número de pessoas e agregados familiares reassentados
será menor e os efeitos da perda de habitações e da deslocação física serão moderados. Para isto, é
de particular importância que os limites do Col sejam reajustados para restringir o reassentamento a
um mínimo, com as compensações casa-por-casa previstas e os locais de reassentamento
escolhidos na vizinhança da comunidade afectada.
De acordo com as autoridades distritais e as comunidades locais, existem terras disponíveis na área
do projecto para a selecção de locais de reassentamento. Isto deve ser tomado em consideração e
analisado em mais detalhe pela equipa do PAR, em coordenação com as autoridades distritais de
Chiúta e Moatize, para a selecção de locais de reassentamento e de reposição de terras agrícolas.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Muito grave Certo ELEVADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Certo MODERADA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Área de estudo
Muito grave Provável MUITO ELEVADA
Com mitigação Longo prazo
Área de estudo
Grave Poderá ocorrer
MODERADA
Medidas de mitigação
Elaborar o PAR em conformidade com o Decreto 31/2012, IFC PS5 e a legislação nacional sobre
consultas públicas, e em coordenação com o governo distrital e as comunidades da área do
projecto, como parte do Plano de Envolvimento das Partes Interessadas a ser elaborado para o
projecto. O PAR também deve ser fundamentado pelo conflito que surgiu recentemente entre as
100 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
comunidades de Massamba e Matacale relacionado com os benefícios do projecto e a forma
como este foi resolvido, de forma a evitar o surgimento de conflitos no futuro na área do projecto
devido às diferenças nos benefícios do projecto, uma vez que estes podem prejudicar a
aceitação do projecto;
Implementar o PAR antes de iniciar a fase de construção, com o envolvimento do Comité Distrital
de Reassentamento e em consulta com o governo distrital e as comunidades da área do
projecto, como parte do Plano de Comunicação a ser elaborado para o projecto;
Favorecer as compensações casa-por-casa, terra-por-terra e outras estratégias de compensação
em espécie, em vez de compensações monetárias para apoiar a restauração dos meios de vida;
Minimizar a necessidade de reassentamento através de um ajustamento do Col, para que as
famílias localizadas dentro dos seus limites não sejam reassentadas, e para que seja necessário
pagar apenas uma compensação (pela perda de bens) e não a sua deslocação física;
Optar por terras e locais de reassentamento tão próximos quanto possível às zonas originais;
Nos casos em que o empreiteiro interfere acidentalmente nas infra-estruturas e bens, deverá
prestar a devida compensação em coordenação com as autoridades locais e o preponente de
projecto, e seguir a mesma base de cálculo que o PAR;
Nos casos em que a empreiteira precisa levar a cabo actividades em volta das casas e
machambas, utilizará, preferencialmente, meios manuais.
Impacto 1.2: Adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento
O reassentamento que vai ter lugar na área do projecto não se restringe apenas à deslocação física.
Também se vai reflectir na perda de redes sociais de apoio dos vizinhos, família alargada e líderes
locais, a perda de/acesso reduzido aos locais sagrados e um bem-estar espiritual alterado, a perda
de terras agrícolas e estratégias de geração de rendimentos bem como a perda de acesso a serviços
sociais.
Isto pode ser particularmente pertinente na área do projecto, onde as pequenas povoações têm um
forte sentido de coesão social e estratégias de geração de rendimento baseadas na terra. Conforme
mencionado nas DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ sob os tema locais históricos e
sagrados), para as comunidades na área do projecto a terra tem, para além do seu valor económico,
uma importância social e espiritual. Os agregados familiares reassentados terão que se adaptar ao
novo local/comunidade de acolhimento, através do estabelecimento de novas redes sociais de apoio,
reajustamento das suas crenças e práticas culturais e religiosas (cerimónias sagradas, ritos de
iniciação, equilíbrio espiritual com os antepassados) e adaptação das suas identidades pessoais e
sociais.
Os agregados familiares reassentados também terão que recuperar as suas formas de subsistência,
meios de vida, rendimento e condições de vida. A sua chegada poderá aumentar a pressão sobre os
serviços sociais disponíveis na comunidade de acolhimento (se os locais de reassentamento forem
habitados), que provavelmente já seriam limitados, conforme apresentado na Secção 4. Esta pressão
não terá lugar, certamente, se o local de reassentamento seleccionado não for habitado e os serviços
sociais forem concebidos apenas para a população reassentada.
Não obstante o facto de só estarem a ser realizadas actividades de prospecção na área do projecto
neste momento, já surgiu um conflito entre as comunidades de Massamba e Matacale, resultante de
uma disputa em relação ao acesso aos benefícios do Projecto Capitol Resources, nomeadamente
relativos a emprego e a infra-estruturas sociais (para mais informação sobre esta disputa, Secção
Error! Reference source not found.). As autoridades locais resolveram o conflito Massamba-
atacale, contudo, a ocorrência ressalta a importância das infra-estruturas sociais e dos serviços para
a população na área do projecto. De acordo com as autoridades distritais e as comunidades
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
101
entrevistadas, a prestação de infra-estruturas sociais e serviços é uma componente importante para
a aceitação do projecto (ver Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ sob o tema análise de
problemas).
Deverão ser estabelecidos novos serviços e infra-estruturas sociais pelo projecto proponente fora da
área do projecto para compensar a perda do acesso aos serviços sociais (idealmente nos locais de
reassentamento seleccionados), como parte o Plano de Desenvolvimento Comunitário. Como tal,
estas infra-estruturas sociais e serviços devem ser estabelecidos antes de se iniciar o processo de
reassentamento e ser concebidos para beneficiar tanto a população reassentada como a população
de acolhimento, tomando em consideração a demografia do local de reassentamento (a população
total e não apenas as famílias reassentadas).
Também é importante garantir a sustentabilidade do funcionamento desses serviços sociais. Assim, o
estabelecimento dessas infra-estruturas sociais deve ser realizado em coordenação com o governo
local, que será responsável pela afectação dos recursos humanos para a prestação dos serviços
(p.ex., professores). Também é importante consultar as comunidades afectadas pelo projecto (as
comunidades reassentadas e as de acolhimento, se for o caso) sobre as suas prioridades em termos
de infra-estruturas sociais e serviços, bem como monitorar a operação dos serviços durante toda a
fase de implementação do PAR para garantir a sua manutenção e sentido de propriedade.
As famílias vulneráveis54
têm maior probabilidade de sofrer mais com o reassentamento, devido à
perda das suas redes sociais de apoio, disponibilidade limitada de emprego e dificuldades
enfrentadas com a restauração de estratégias de geração de rendimento e de subsistência, bem
como com a sua adaptação geral aos contextos pós-reassentamento. De acordo com as
comunidades inquiridas e o governo local, a adaptação social e restauração económica das famílias
reassentadas também é um factor chave na aceitação do projecto. As actividades de restauração
dos meios de vida e actividades de geração de rendimento devem ser previstas no PAR antes do
reassentamento, de modo a implementar estas actividades nos locais de reassentamento
imediatamente após a efectivação do reassentamento. Prevê-se que os impactos ocorram tanto na
fase de construção como na fase de operação.
Sem mitigação
Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto
como sendo “negativo elevado”, visto que o reassentamento levado a cabo sem nenhuma medida de
mitigação, como descrito adiante, aumentará a vulnerabilidade socioeconómica das famílias na área
do projecto e terá, consequentemente, efeitos negativos sobre o desenvolvimento do distrito e
aumentará a pressão sobre os parcos recursos disponíveis ao governo distrital para o
desenvolvimento socioeconómico.
Com mitigação
Caso sejam implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, se os locais de reassentamento forem seleccionados nas proximidades da
comunidade afectada e se for concebido um plano de subsistência comunitária, que beneficie tanto a
PAP e as comunidades de acolhimento (se algumas), a ser incluído no PAR e implementado pelo
54
As stated in Section 4.3.7, in the project area these households are typically headed by a woman aged around 50 years,
widowed or separated/divorced and unemployed or self-employed in subsistence farming.
102 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
proponente do projecto.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Poderá ocorrer
MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Regional Grave Provável ELEVADA
Com mitigação Médio prazo
Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Medidas de mitigação
Reajustar o Col de modo a minimizar a necessidade de reassentamento, particularmente dentro
das delimitações do Col;
Incluir um Plano de Desenvolvimento Comunitário como parte integrante do PAR, para o local de
reassentamento, em conformidade com o Decreto 31/2012. O Plano deverá apoiar a restauração
dos meios de vida e rendimentos das PAPs e deverá beneficiar as necessidades
socioeconómicas das comunidades de acolhimento. Considerando que:
o O governo distrital deve ser consultado em relação ao esboço do plano, com o objectivo de
alinhar o plano com as prioridades para a área do projecto e garantir a afectação de recursos
humanos para a prestação de serviços sociais nas infra-estruturas a serem estabelecidas.
o As comunidades afectadas e as de acolhimento deverão também ser consultadas para que
as suas necessidades sejam reflectidas no plano.
o A concepção do Plano de Desenvolvimento Comunitário deverá tomar em consideração o
tamanho e perfil demográfico da população beneficiária após o reassentamento (população
reassentada e população de acolhimento, se for o caso), bem como os serviços existentes no
local de reassentamento a sua necessidade de expansão/melhoria;
Implementar o Plano de Desenvolvimento Comunitário antes do início da fase de construção,
com o envolvimento do Comité Distrital de Reassentamento e em coordenação com o governo
distrital e as comunidades da área do projecto, como parte do Plano de Envolvimento das Partes
Interessadas a ser elaborado para o projecto. A implementação do plano é da responsabilidade
do proponente do projecto;
Favorecer as compensações casa-por-casa, terra-por-terra e outras estratégias de compensação
em espécie;
Optar por terras e locais de reassentamento tão próximos quanto possível às zonas originais, e
no máximo a uma distância semelhante à dos locais sagrados (em particular campas familiares e
locais de cerimónias de chuva) e machambas;
Incluir as igrejas, grupos religiosos e organizações comunitárias/ não governamentais no PAR,
para apoiar as famílias reassentadas durante a sua adaptação pós-reassentamento, com
enfoque nas mais vulneráveis; e
Durante a fase de implementação do PAR, monitorar, em conformidade com o plano de M&A
definido no PAR, o seguinte:
o A adaptação e restauração económica das famílias reassentadas;
o A eficácia das infra-estruturas sociais e serviços estabelecidos, para garantir o
funcionamento das infra-estruturas sociais e a sua propriedade pelas autoridades locais e
comunidades. Isto pode ser feito pelo Comité Técnico Distrital para a Revisão de Planos de
Reassentamento;
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
103
Nos casos em que a empreiteira precisa levar a cabo actividades em volta das casas e
machambas, utilizará, preferencialmente, meios manuais.
A questão sobre a perda de terras agrícolas é abordada no Impacto 2.1: e a questão sobre a perda
de locais sagrados é abordada no Impacto 5.3: .
Questão 2: Acesso reduzido à terra e aos recursos naturais
Impacto 2.1: Perda de terrenos agrícolas e rendimento
Tal como acima referido, de acordo com as indicações preliminares de PAR, existem 43 machambas
a ser utilizadas neste momento em actividades de agricultura de subsistência, que serão afectadas
pelo projecto tanto na fase de construção como na fase de operação. Segundo as DGF, a perda de
terras agrícolas é o impacto mais temido pelas comunidades na área do projecto, uma vez que as
terras que utilizam ao longo das margens dos rios e riachos são invulgarmente húmidas (Anexo D:
Matriz de Análise Qualitativa sob os temas análise de problemas, uso da terra e história da
comunidade).
Conforme mencionado no estudo de base, a população da área do projecto é maioritariamente rural,
com a excepção da população na Vila de Moatize. Dependem principalmente de estratégias
baseadas na terra, ou seja, a prática de agricultura de de subsistência sequeiro, a nível do agregado
familiar, complementado com a pecuária e extracção de recursos naturais (lenha, peixe e materiais
de construção). As machambas estão localizadas perto das áreas residenciais. Todas as
comunidades inquiridas estão localizadas na proximidade de um rio ou riacho (veja-se a Figura 2),
praticam a agricultura nas margens dos rios o riachos e beneficiam da terra húmida, que compensa a
falta de irrigação. Esta terra húmida é invulgar, quando comparado com a terra normalmente
encontrada nos distritos de Chiúta e Moatize, que é de baixa fertilidade e com baixa capacidade de
retenção de humidade.
Na eventualidade de uma machamba ser afectada pelo projecto, deverá ser oferecido um pacote de
compensação pela perda de culturas e árvores, bem como de quaisquer infra-estruturas localizadas
na machamba; esta compensação deverá ser calculada com base nas taxas do governo ou, se
possível, com base nos preços de mercado, que normalmente estão mais actualizados. Dependendo
do tamanho da área agrícola ocupada, será necessário organizar terras agrícolas alternativas; se as
características agro-ecológicas da nova área disponibilizada para as actividades agrícolas forem
diferentes, poderá exigir uma mudança no tipo de culturas cultivadas e nos métodos agrícolas
utilizados. Considerando o baixo nível de escolaridade e os métodos agrícolas básicos utilizados pela
população da área do projecto55
, a mudança para novas culturas e/ou métodos agrícolas poderá
requerer um longo período de adaptação por parte das famílias afectadas.
Por esta razão, as novas áreas agrícolas devem ter características agro-ecológicas semelhantes
àquelas das áreas perdidas, e estar a uma distância igual/semelhante da casa para a machamba,
como recomendado pela PO 4.12 e PD 5. Isto é particularmente importante para as famílias
vulneráveis chefiadas por idosos, mulheres e crianças, que poderão ter mais dificuldade em arranjar
trabalho e em adaptar-se às novas técnicas agrícolas e aos novos tipos de solo.
55
De acordo com os resultados do inquérito nas Secções 4.3.5 e 4.3.6, a agricultura praticada na área do projecto é
principalmente agricultura de subsistência, de sequeiro e com baixos níveis de mecanização (principalmente machado e
enxada).
104 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
O PAR tomará em consideração a necessidade de substituir as terras agrícolas por outras com
características agro-ecológicas semelhantes, e a necessidade de estender os benefícios das
actividades de restauração dos meios de vida e rendimento baseados na terra às comunidades que
vivem na(s) área(s) onde as novas machambas serão implementadas. Se não houver terra
alternativa disponível com características agro-ecológicas semelhantes, as PAPs devem receber
formação, insumos e acompanhamento técnico para cultivar o tipo de terra seleccionada.
Sem mitigação
Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto
como sendo “negativo muito elevado”, considerando que as PAPs irão perder as suas principais
fontes de rendimento e estratégias de subsistência, e serão expostas a uma situação de
vulnerabilidade, o que vai sobrecarregar o desenvolvimento socioeconómico dos Postos
Administrativos onde vivem.
Com mitigação
Caso forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, uma vez que serão providenciadas as áreas agrícolas alternativas e os
insumos para as principais actividades económicas.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação
Curto prazo Área de estudo
Muito grave Definitiva MUITO ELEVADA
Com mitigação
Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação
Permanente Regional Muito grave Definitiva MUITO ELEVADA
Com mitigação
Médio prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Compensar pela perda de culturas e árvores, se possível ao preço de mercado;
Garantir terras agrícolas alternativas com características mais parecidas possíveis às da
terra perdida (tamanho, características agro-ecológicas e distância da casa do agregado
familiar);
Apoiar na preparação das terras agrícolas para a primeira sementeira, com insumos agro-
químicos ou mecânicos apropriados;
Fortalecer as capacidades agrícolas e pecuárias para as PAPs e a(s) comunidade(s) que vive(m)
na(s) área(s) onde as terras alternativas são localizadas, durante o primeiro ano pós-
reassentamento, com:
o Formação no uso de novas culturas e novos métodos agrícolas;
o Fornecimento de insumos agrícolas (sementes, ferramentas para plântulas/mudas);
o Provisão de acompanhamento técnico (extensionistas, campos de demonstração).
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
105
Considerar, no PAR, a restauração das estratégias de geração de rendimento baseadas na terra
como parte integrante do plano de desenvolvimento comunitário, para assegurar que os
benefícios sejam aproveitados tanto pelas PAPs como pela(s) comunidade(s) que vive(m) na(s)
área(s) onde a terra alternativa se localiza, e evitar a criação/deterioração de disputas
relacionadas com terra e/ou os recursos naturais aí contidos;
Se a agricultura se tornar inviável durante a fase pós-reassentamento, garantir apoio a longo
prazo para a criação de alternativas às estratégias de geração de rendimento. Isto inclui a
provisão de formação, insumos e acompanhamento técnico;
Deverá ser prestada assistência especial às famílias vulneráveis no que diz respeito à
restauração das estratégias de geração de rendimento baseadas na terra, e entre estas, deve
ser dada prioridade às famílias com um perfil de vulnerabilidade como descrito na Secção 4.3.7
(chefiadas por mulheres, com aproximadamente 50 anos de idade, viúvas ou
separadas/divorciadas e desempregadas ou a trabalhar por conta própria em agricultura de
subsistência).
Impacto 2.2: Acesso reduzido e concorrência acrescida sobre os recursos naturais, em particular terras agrícolas
Não foram observadas disputas de terra na área do projecto durante o trabalho de campo nem
mencionadas pelas autoridades distritais e as comunidades inquiridas, que também enfatizaram a
disponibilidade de terra para o projecto. Contudo, as comunidades inquiridas dependem de
estratégias de geração de rendimento baseadas na terra e a extracção de recursos naturais é uma
fonte importante de rendimento e de subsistência (água e peixe nos rios e riachos, materiais de
construção como varas e caniço, lenha e carvão para consumo e venda).
O projecto poderá adquirir terra na zona onde a população tem as suas machambas, os pastos ou
extrai os recursos naturais, ou a terra que dá acesso aos locais para a extracção de recursos
naturais. Mais ainda, existe já uma indústria madeireira na proximidade da área do projecto, o que
reduz o acesso às árvores utilizadas para a produção de lenha e de carvão. Como resultado deste
impacto cumulativo, poderá haver uma redução no acesso a terra, em particular à terra húmida onde
as comunidades afectadas praticam a sua agricultura, e no acesso aos recursos naturais, incluindo
aos rios e riachos. Esta redução poderá provocar disputas e conflitos dentro das comunidades
afectadas e entre comunidades vizinhas. Poderá também limitar a geração de rendimento, reduzir os
níveis de vida e criar dependência em ajuda externa (do governo ou do projecto).
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo elevado”, visto que o acesso a fontes chave de rendimento e de subsistência será
reduzido.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, uma vez que as PAPs poderão manter as suas estratégias de geração de
rendimento e de subsistência ou se adaptarem a novas estratégias.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
106 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Regional Grave Provável ELEVADA
Com mitigação Médio prazo
Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Em caso de reassentamento, o PAR deverá considerar o acesso (disponibilidade/proximidade)
às terras agrícolas e de pasto, rio e áreas para a extracção de recursos naturais na selecção dos
locais de reassentamento. Assim, é necessário haver ordenamento territorial nos locais de
reassentamento. Isto deverá ser abordado em colaboração com o governo local e as
comunidades afectadas. Se os locais de reassentamento forem distantes dos rios ou riachos,
poderão ser promovidos programas de aquacultura (mediante a provisão de formação e
insumos) no local de reassentamento, para o benefício das PAPs e da comunidade de
acolhimento;
Desenvolver programas de reflorestamento nas comunidades afectadas;
Criar zonas tampão em volta das áreas de conservação e locais chave para a extracção de
recursos naturais, gerido e supervisionado com a participação da população local;
Quaisquer actividades de desbravamento de terrenos deverão tomar em consideração o
potencial de utilização pela PAP. Por exemplo, as árvores derrubadas devem ser entregues às
aldeias para que sejam utilizadas para a produção de lenha e de carvão, enquanto o capim,
caniço e varas devem ser oferecidas às famílias para construção.
Impacto 2.3: Perda de rendimento e insegurança alimentar
Como já explicado acima, a aquisição de terra pelo projecto poderá afectar as machambas e culturas
associadas e árvores existentes na área do projecto. Poderá também reduzir o acesso à terra e a
outros recursos naturais (água, peixe, lenha e materiais de construção), dos quais dependem as
estratégias de geração de rendimento e de subsistência das comunidades.
Isto é particularmente significativo para as comunidades afectadas que praticam a sua agricultura
nas terras húmidas nas margens dos rios e riachos. De acordo com os resultados do inquérito, as
comunidades na área do projecto enfrentam três meses de insegurança alimentar por ano, e
garantem a sua alimentação principalmente por via da agricultura de subsistência e da compra de
produtos alimentares. Se estas famílias perderem o acesso à terra e aos recursos naturais dos quais
dependem, o seu rendimento e a segurança alimentar poderão reduzir significativamente, e a sua
vulnerabilidade económica poderá aumentar.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que as PAPs não serão capazes de restabelecer os seus níveis de
rendimento e se adaptarem a outras estratégias de geração de rendimento.
Com mitigação
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
107
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, uma vez que será dado apoio à restauração dos meios de vida.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Médio prazo
Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Medidas de mitigação
Providenciar terra agrícola alternativa às PAPs, com as características mais semelhantes
possíveis às da terra perdida (tamanho, características agro-ecológicas e distância da casa da
família);
Se a terra agrícola alternativa disponível tiver características diferentes, os agricultores deverão
ser apoiados na sua adaptação à nova terra mediante a provisão, durante o primeiro ano pós-
reassentamento, de:
o Formação em métodos agrícolas alternativos;
o Insumos;
o Acompanhamento técnico;
Elaborar um plano de restauração dos meios de vida, como parte integrante do PAR, em linha
com o plano de desenvolvimento comunitário. O plano de restauração dos meios de vida deverá
incluir estratégias de restauração dos meios de vida que inclui (mas não limitado a) actividades
agrícolas, pecuárias e pesca, que devem:
o Ser dirigidas às diferentes características das famílias afectadas;
o Beneficiar a população das comunidades de acolhimento;
o Ser elaboradas em coordenação com as comunidades afectadas e os agricultores locais.
Os agricultores locais devem ser incluídos na monitoria da implementação do plano de
restauração dos meios de vida e do plano de desenvolvimento comunitário, como parte do PAR.
Questão 3: Mobilidade
Impacto 3.1: Distúrbio da mobilidade e do trânsito de pessoas
A aquisição de terra para o projecto poderá limitar o acesso das populações locais às estradas de
areia, pequenas pontes e outras áreas de passagem dentro da área do projecto.
Considerando que presentemente a mobilidade das comunidades afectadas é proibida apenas para
os locais sagrados, mas não aos locais de actividades económicas, e que as famílias circulam
livremente para realizar as suas actividades agrícolas e para buscar recursos naturais, a mobilidade
das comunidades poderá ser interrompida.
Sem mitigação
108 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que é por um curto período de tempo e limitado à área de estudo.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, mas a um nível inferior, visto que o impacto é de médio prazo e está
limitado à área de estudo.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Medidas de mitigação
Sempre que são impostas restrições à circulação, sinalizar de forma apropriada e bem visível as
áreas de trabalho, com indicação de caminhos alternativos;
Mapear as estradas e vias de acesso utilizadas pelas comunidades na área do projecto, que
poderão ser atravessadas/ bloqueadas por um componente do projecto (p.ex., estrada de
transporte);
Permitir que a população local continue a utilizar as estradas e acessos existentes. Se não for
possível, ou seja,, um componente do projecto bloqueia o acesso normal a uma estrada
existente:
o Estabelecer pequenos corredores dentro das áreas afectadas pelo projecto para garantir a
passagem; ou
o Construir pontes para peões por cima das estradas mapeadas que são atravessadas ou
bloqueadas por um componente do projecto, para permitir a sua passagem;
Quaisquer estradas abertas para o projecto devem estar disponíveis para uso pela população
local.
Questão 4: Criação de emprego e crescimento socioeconómico
Impacto 4.1: Influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego
De acordo com as DGF e as entrevistas com as autoridades distritais, o emprego formal na área do
projecto e nos distritos é limitado, e existe uma migração da força de trabalho para a Vila de Moatize
e para a Cidade de Tete, embora seja aparentemente limitado
A criação deste projecto mineiro poderá trazer trabalhadores e pessoas à procura de trabalho de fora
com habilidades e níveis de educação variados, que estarão a concorrer com a população local para
as vagas de emprego e para as condições de vida. O influxo de trabalhadores de fora poderá
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
109
também trazer comportamentos, práticas e valores diferentes dos da comunidade local, e alterar a
sua estabilidade social a médio-longo prazo.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que as vagas de emprego disponíveis aos que procuram emprego
poderão ser limitadas.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, visto que, na medida do possível, a força de trabalho local será priorizada em
termos de emprego.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Regional Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Estabelecer medidas de contratação claras e formais, a serem cumpridas pelo empreiteiro
(contratante) e pelo operador do projecto;
Estabelecer uma ligação de recrutamento formal com os distritos e a comunidade local;
Os requisitos de contratação devem ser devidamente divulgadas antes do início do processo de
recrutamento e respeitados pelo empreiteiro (contratante) designado. Para melhor impacto nas
comunidades, este processo deverá ser realizado com o envolvimento dos líderes locais;
Divulgar, para cada uma das oportunidades de emprego:
o A habilidade exigida ou, nos casos em que não se aplica, explicar claramente que não são
necessárias qualificações (habilidades) especiais;
o O número exacto de vagas disponíveis, o período aplicável e a remuneração paga por cada
um dos tipos de trabalho;
Os princípios e procedimentos de contratação devem priorizar, tanto quanto possível, a
contratação de trabalhadores qualificados locais;
Tanto quanto possível, deverá ser dada formação aos locais para realizarem tarefas
semiespecializadas, de forma a reduzir o número de trabalhadores de fora para este objectivo;
Na eventualidade do projecto não poder cumprir as expectativas locais sobre o emprego, as
vagas disponíveis devem ser divulgadas às partes interessadas através das autoridades locais.
110 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Impacto 4.2: Abandono da agricultura a nível do agregado familiar
As expectativas de emprego e de trabalho remunerado do projecto, ou dos provedores de serviços a
ele associado, poderão levar a população local a abandonar a agricultura.
De acordo com os dados de base e qualitativos obtidos, a população da área do projecto é
maioritariamente rural, e a agricultura constitui a base da sua segurança alimentar, subsistência e
rendimento.
Se a população abandonar a agricultura a favor de emprego remunerado, e dependendo da
quantidade e estabilidade do pagamento, isto poderá resultar numa redução da segurança alimentar,
subsistência e rendimentos, fazendo com que a população da área do projecto ficasse numa
situação de vulnerabilidade e dependência da ajuda externa (provavelmente do governo distrital, que
levaria a uma sobrecarga sobre os seus parcos recursos).
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo elevado”, uma vez que a base da subsistência e segurança alimentar poderá estar
perdida.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, se for possível manter a prática da agricultura em conjugação com o
trabalho remunerado.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Muito grave Poderá ocorrer
ELEVADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Área de estudo
Muito grave Poderá ocorrer
ELEVADA
Com mitigação Médio prazo
Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
MODERADA
Medidas de mitigação
Fomentar o desenvolvimento de programas de agricultura e de pecuária na área do projecto, que
beneficiem toda a população (não apenas as PAPs), que possam incluir:
o Extensionistas, campos de demonstração, insumos e ferramentas;
o Compra da produção para abastecer os trabalhadores do projecto.
Se a terra agrícola for adquirida pelo projecto, dar às PAPs terra agrícola alternativa com
características tão semelhantes quanto possíveis e à mesma distância da residência do
agregado familiar);
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
111
Encorajar os agricultores a se organizarem em associações, em vez de interagir de forma
individual, de forma a facilitar a implementação de programas agrícolas e a compra da produção.
Questão 5: Ruptura da coesão social e património cultural
Impacto 5.1: Ruptura das relações e coesão social
As DGF mostram que as comunidades na área do projecto são pequenas, com coesão e relações
sociais fortes, e que isto é definido em termos característicos pelas suas redes sociais de apoio. Os
habitantes conhecem-se todos uns aos outros, os vizinhos interagem todos os dias e muitas vezes
partilham laços de família; os membros da comunidade juntam-se em momentos de celebração
(p.ex., colheitas, cerimónias de chuva) e de luto (p.ex., funerais), e a maior parte dos conflitos é
resolvida localmente com a mediação dos líderes locais.
Se a necessidade de reassentamento se confirmar, poderá haver uma ruptura nas relações sociais
afectando tanto os agregados familiares reassentados como a comunidade de origem. As famílias
reassentadas poderão perder as suas importantes redes sociais de apoio e o seu sentimento de
pertencer à comunidade, enquanto a força e coesão da comunidade de origem podem ficar
sobrecarregas. É provável que isto aconteça antes do início da fase de construção, aquando do
reassentamento, e continuar durante toda a fase de operação.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, se os locais de reassentamento forem distantes da comunidade de
origem das famílias reassentadas.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, se o reassentamento for implementado dentro ou perto da comunidade
afectada.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem miti gação
Longo prazo
Área de estudo
Grave Poderá ocorrer
MODERADA
Com mitigação Médio prazo
Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
112 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Medidas de mitigação
Reassentar as famílias afectadas dentro ou tão próximo quanto possível às suas comunidades
de origem;
Na zona de reassentamento, manter a mesma estrutura de vizinhos que a da comunidade
afectada;
Se não for possível garantir esta primeira medida, envolver as organizações religiosas e
comunitárias na integração das famílias reassentadas, com atenção particular para as famílias
vulneráveis.
Impacto 5.2: Conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local
O estudo de base indica baixos níveis de escolaridade entre a população da área do projecto. Como
tal, é provável que seja necessário recrutar mão-de-obra qualificada de outras partes, dentro e fora
do país, para a construção e operação do projecto.
A presença de trabalhadores de fora poderá provocar conflitos com a população local, como
resultado de diferenças em termos de riqueza, amenidades, acesso a serviços sociais, práticas
culturais e religiosas, e também a sensação de que estes estão a “roubar” o emprego dos
trabalhadores locais (contudo as DGF revelaram que, para a comunidade, os benefícios do projecto,
em termos de infra-estruturas e serviços sociais, são mais importantes do que o emprego). Os
trabalhadores de fora poderão ter comportamentos que, de acordo com as normas locais, são
socialmente inaceitáveis, nomeadamente embriaguez e desconsideração/ desrespeito pelos
costumes locais. Adicionalmente, a presença de homens solteiros poderá também provocar conflitos
relacionados com as mulheres locais.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que o impacto poderá causar tensões na estabilidade social.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, visto que o impacto será localizado.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Médio prazo
Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
113
Medidas de mitigação
Fazer com que as regras e oportunidades de recrutamento e de procurement sejam
transparentes e acessíveis ao público. A informação sobre as oportunidades de emprego deve
ser disponibilizada fora do acampamento da mina, possivelmente com o envolvimento de líderes
locais. O responsável pelos Recursos Humanos, juntamente com o Oficial de Ligação com a
Comunidade (CLO) a ser nomeado para o projecto, serão responsáveis por este assunto,
baseado no Plano de Procurement do projecto;
Concentrar os trabalhadores do projecto de fora da comunidade dentro do recinto do projecto, e
permitir que tragam as suas famílias (particularmente relevante para longas estadias durante a
fase de operação);
Explicar aos trabalhadores, durante a indução sobre Saúde e Segurança, a importância de se
manter uma boa relação com as comunidades locais;
Fazer com que o CLO seja responsável por tratar das queixas da população local acerca do
comportamento dos trabalhadores do projecto;
Conceber e implementar um Código de Conduta para os trabalhadores e fornecedores do
projecto. As normas devem incluir, inter alia, o respeito pelas comunidades locais e a proibição
do uso de mão-de-obra explorada e prostituição nos estaleiros.
Impacto 5.3: Perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou seu acesso
O relatório do Estudo sobre o Património Cultural, elaborado para este projecto, indica que vários dos
locais arqueológicos, sagrados e religiosos que são importantes para o bem-estar espiritual da
população local, serão afectados pelo projecto. A terra a ser adquirida para o projecto poderá
implicar a destruição, ou uma redução no acesso a estes locais sagrados durante a fase de
construção do projecto, e acesso reduzido/ nenhum acesso a estes locais durante a fase de
operação. Isto poderá ter um impacto negativo no sentido de bem-estar da comunidade e a sua
aceitação do projecto.
De acordo com as DGF, estes locais incluem locais de celebração das cerimónias de chuva e
florestas sagradas associadas, locais de ritos de iniciação e florestas sagradas associadas, campas
familiares e cemitérios comunitários. Estes locais encontram-se próximos das comunidades, com a
excepção dos locais de ritos de iniciação que são mais distantes, nas matas circundantes.
As DGF revelaram que os membros da comunidade acreditam que os antepassados das famílias
locais estão presentes nestes locais, e oferecem protecção e fortuna às famílias e comunidades, por
meio de cerimónias a serem celebrados nos locais sagrados, liderados pelos anciãos da
comunidade. Deste modo, uma relação harmoniosa com os ancestrais é um factor importante para o
bem-estar e sucesso na vida quotidiana dos membros da comunidade. As DGF também relevaram
que as comunidades da área do projecto continuam a realizar cerimónias regulares nos locais
sagrados, e dependem dos seus líderes locais, incluindo os anciãos e líderes tradicionais, para a
mediação com os espíritos ancestrais e fortuna na sua vida quotidiana (Anexo D: Matriz de Análise
Qualitativasob os temas coesão social e locais históricos e sagrados).
De acordo com as DGF, não existe nenhuma experiência com a transladação de locais sagrados,
incluindo campas, nas comunidades da área do projecto. No que diz respeito às campas e cemitérios
comunitários, todas as comunidades com a excepção de duas (Matacale e Mbuzi) concordam com a
114 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
possibilidade de transferir as campas, caso forem realizadas cerimónias de modo a obter autorização
do espírito da pessoa falecida e a campa for fisicamente transladada para outro local. As campas
transladadas devem permanecer próximas da casa da família da pessoa falecida.
Além disso, duas comunidades (Matacale e Mboza) declararam que as árvores sagradas (como as
que são utilizadas para a cerimónia da chuva) e as florestas associadas não podem ser transferidas.
Será importante realizar uma consulta comunitária sobre como lidar com o impacto que o projecto
terá sobre estes locais, antes de realizar qualquer actividade relacionado com o projecto. Com este
processo de consulta, será possível chegar a uma solução viável para as comunidades que
declararam não ser possível transferir os locais sagrados e cemitérios identificados na área do
projecto – assegurando que não haverá interferência nestes locais e que manter-se-á o acesso aos
mesmos durante a fase de operação, ou então negociando a transferência para outro local, sem
alterar as cerimónias sagradas aí realizadas.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que poderá alterar o bem-estar espiritual e a estabilidade das
comunidades, com impacto negativo na sua aceitação do projecto bem como na adaptação social
das famílias reassentadas.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, visto que as perturbações ao bem-estar espiritual e à estabilidade serão
mínimas.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo Área de estudo
Grave Poderá ocorrer
MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Limitar a transladação de campas (campas familiares/ cemitério comunitário) ao mínimo possível,
ajustando o Cdl como necessário;
No caso de transladação inevitável de campas, deverá ser feito o seguinte antes das campas
serem destruídas ou o seu acesso bloqueado:
Realizar uma consulta comunitária sobre como lidar com os impactos do projecto sobre os
locais sagrados, antes de realizar qualquer actividade relacionada com o projecto, com o
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
115
objectivo de chegar a consenso com as comunidades sobre os requisitos necessários em
termos de cerimónias e de compensação;
o Durante a implementação do Plano de Acção para o Reassentamento, chegar a acordo em
relação às transferências e organizar as mesmas com as famílias a quem pertencem, através
dos líderes tradicionais e as autoridades locais. No caso de haver apenas transladação de
campas sem o reassentamento das famílias, as campas devem ser transladadas para um
local acordado com as famílias, em coordenação com os líderes comunitários e, se possível,
próximo das famílias a que pertencem;
o No caso de haver reassentamento (transferência tanto das campas como dos agregados
familiares), definir uma área para o cemitério público no local de reassentamento, com a
capacidade para acomodar a população reassentada bem como as campas transladadas. As
campas afectadas devem ser transferidas para este cemitério, mediante acordo das famílias
reassentadas.
Realizar cerimónias e ritos para a transferência de campas, em conformidade com as crenças
religiosas a cultura local. Embora as autorizações para a transladação de campas devem ser
obtidas individualmente de cada uma das famílias a que pertencem, a negociação sobre como
conduzir o processo de exumação e transladação das campas tem que ser discutido e acordado
colectivamente entre todas as famílias afectadas e os líderes comunitários, para que seja
acordada e aplicada uma solução comum a todas as famílias (ex. as cerimónias e rituais que
devem ser realizadas). O proponente do projecto deverá custear todas as despesas relacionadas
com o processo acordado para transladação de campas.
Algumas famílias poderão não ser capazes de indicar as transladação dos seus antepassados
porque os mesmos desapareceram devido aos processos naturais de deposição. Contudo, serão
capazes de indicar em que cemitério os antepassados foram sepultados. Neste caso, as famílias
receberão o pacote de exumação e transladação de campas colectivamente acordado, mas será
possível entregarem as campas à responsabilidade do proponente do projecto;
Se for necessário reassentar a comunidade, a selecção do local de reassentamento deverá
tomar em consideração o acesso contínuo aos locais sagrados existentes (como cemitérios e
locais de cerimónias de chuva) a pé.
Para mais informação relacionada com os impactos do projecto sobre os locais sagrados e outros
locais de património cultural, refira-se ao Relatório sobre o Património Cultural elaborado para o
projecto pela COWI.
Questão 6: Saúde e segurança
Impacto 6.1: Perturbação das comunidades circundantes como resultado de níveis mais elevados de ruído e de vibração
Dependendo do número e das características do equipamento a ser utilizado para a sua construção
e operação, o projecto poderá provocar um aumento significativo nos níveis temporários e
permanentes de ruído e de vibração. O ruído produzido se enquadra no contexto da exposição
profissional no microclima do local de trabalho, e no contexto da poluição ambiental e distúrbio ao
bem-estar dos trabalhadores e dos transeuntes.
Espera-se ruídos tanto na fase de construção como na fase de operação, com as explosões das
minas. É provável que isto seja limitado à área de mineração, devido às seguintes actividades e
factores:
Explosão (detonação);
Movimentação de veículos de construção;
Operação de maquinaria pesada (compressores, martelos pneumáticos, perfuradores
pneumáticos);
116 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Vibrações como resultado da movimentação de terras e compactação das camadas de base
durante a fase de construção;
Trabalhos de construção em dias de ventos fortes;
Actividade de construção da área de mineração e do acampamento do projecto.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo elevado”, considerando os ruídos causados pelas explosões (detonações) nas
minas.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, visto que o impacto nas comunidades na vizinhança da área do projecto será
moderado.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Reduzido Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Área de estudo
Grave Provável ELEVADA
Com mitigação Médio prazo
Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Se houver reassentamento, devem ser seleccionados locais de reassentamento a uma distância
de pelo menos 1.02 km dos locais de explosão/detonação das minas, conforme recomendado no
Relatório de Avaliação da Indústria Mineira. Este assunto será discutido e acordado com as
Administrações Distritais de Chiúta e Moatize56
Concentrar todas as actividades de construção durante as horas do dia;
Inspeccionar os veículos e o equipamento regularmente para garantir o seu bom funcionamento
e reduzir a emissão de gases/ruídos;
Evitar trabalhos de construção em dias de ventos fortes;
Providenciar equipamento de protecção auditivo (abafadores auditivos) para o pessoal que
trabalha directamente com maquinaria que produz ruídos, e para as pessoas que frequentam
áreas em que há ruído excessivo;
Instalar silenciadores e mecanismos de controle de ruídos (isolamento) no equipamento e
maquinaria que geram elevados níveis de ruído;
56
Considerando que a Administração destes distritos recomendou anteriormente a selecção de locais de reassentamento a
uma distância de 5 km do local de explosão/detonação da mina.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
117
Transportar os materiais dentro dos limites de carga e de velocidade do equipamento. A
velocidade máxima em estradas não pavimentadas não deve exceder 20 km/h.
Impacto 6.2: Segurança Rodoviária
Os trabalhos de construção e as actividades de operação da mina envolverão um trânsito intensivo
de veículos e equipamento pesado a nível local, com um aumento significativo do tráfego na área do
projecto. Como resultado, e considerando o mau estado da rede rodoviária na área do projecto,
poderá haver um aumento no número de pessoas (principalmente crianças) e de animais
atropelados, uma vez que a população local está habituada a um trânsito muito lento. Esta questão e
especialmente preocupante para a comunidade de Mboza, localizada próxima da estrada de
transporte projectada.
Sem mitigação
Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo moderado”, visto que haverá um aumento de tráfego em toda a fase de operação.
Com mitigação
Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como
sendo “negativo baixo”, visto que o aumento de tráfego será sentido a médio prazo e a nível da área
de estudo.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Regional Moderado Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Regional Moderado Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderado Poderá ocorrer
BAIXA
Medidas de mitigação
Ao longo da estrada de transporte projectada:
o Construir bermas ao longo da estrada para limitar o acesso dos pedestres à estrada;
o Contratar e formar sinalizadores de bandeira para orientar os motoristas e pedestres nas
áreas com muito trânsito e nas zonas de travessia de estradas utilizadas pela população
local;
o Notificar as comunidades, via o CLO, sobre os períodos de grande movimentação nas vias
principais;
Instalar sinalização clara, direccionado a todos os motoristas, sobre rotas alternativas, restrições
de velocidade e desvios na estrada enquanto decorrem as obras;
Observar os limites de velocidade para os veículos de construção (20 km/h em estradas não
pavimentadas e reguladas por sinalização em vias pavimentadas);
118 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Durante a fase de construção, levar a cabo campanhas de sensibilização de trânsito em todas as
comunidades localizadas a pelo menos 1 km da estrada de transporte, para educar as
comunidades sobre o perigos e os procedimentos de segurança;
Durante a fase de construção, limitar a circulação de maquinaria pesada e de veículos pesados
durante as horas do dia (06H00 – 17H00).
Impacto 6.3: Poluição (resíduos e águas residuais)
Como já foi explicado, as comunidades na área do projecto dependem de estratégias de subsistência
e geração de rendimento baseadas na terra. Os recursos naturais disponíveis, bem como os rios e
ribeiros, são importantes para as comunidades. Para além disso, as comunidades praticam a
agricultura de subsistência de sequeiro nas margens dos rios e ribeiros, tirando partido do solo
húmido.
Durante as entrevistas e as DGF, tanto as autoridades distritais como as comunidades mostraram-se
preocupadas com o potencial do projecto de aumentar a produção de resíduos e poluir a água e os
solos. Não existem unidades para a remoção de resíduos para indústrias de grande escala na área,
mas já existem outros projectos de exploração mineira à volta da área do projecto (ver Figura 45: ).
Sem mitigação
Caso não se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “muito negativa”,
se a poluição afectar o solo para a agricultura e a água do rio para consume e pesca, que são
essenciais para a subsistência das comunidades locais.
Com mitigação
Caso se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “pouco negativa” pois a
poluição será mantida a níveis mínimos e não perturbará as actividades de subsistência das
comunidades.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Severa Pode ocorrer MODERDA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Regional Severa Pode ocorrer ALTA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Pode ocorrer BAIXA
Medidas de mitigação
Para resíduos sólidos:
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
119
Realizar sessões de consciencialização sobre gestão de resíduos para os trabalhadores do
projecto;
Definir e implementar procedimentos para a gestão de resíduos sólidos de forma a incluir, no
mínimo:
o Proibição da remoção de resíduos no ambiente exterior, aplicável a todos os trabalhadores;
o Manuseamento, armazenamento, tratamento, transporte e remoção de resíduos no
acampamento da construção e nos locais da construção;
Fazer inspecções e monitoria dos procedimentos de gestão de resíduos durante a
implementação do projecto;
Para águas residuais:
Realizar sessões de consciencialização sobre a qualidade da água e gestão de águas residuais
para os trabalhadores do projecto;
Definir e implementar procedimentos para a gestão de águas residuais de forma a incluir, no
mínimo:
o Durante a fase de construção, montar casas-de.banho móveis nas áreas de construção;
o Manuseamento, armazenamento, tratamento, transporte e remoção de águas residuais no
acampamento da construção e nos locais da construção;
Fazer inspecções e monitoria dos procedimentos das águas residuais tratadas antes da
descarga, durante a implementação do projecto.
Além disso:
O relatório do Programa de Gestão Ambiental (PGA) deve ser consultado, e devem-se tomar
medidas adequadas, em linha com as recomendações neste relatório, para implementação pelo
empreiteiro e operador do projecto (através de obrigações contratuais, se necessário);
É necessário monitorar, de forma regular, a qualidade da água dos rios e ribeiros, bem como a
qualidade do solo na área do projecto, usada pelas comunidades;
Permitir que os membros das comunidades apresentem qualquer reclamação sobre poluição
através do Mecanismo para Reclamações (desenhado como parte do PAR, caso se confirme o
reassentamento), ou através do CLO.
Impacto 6.4: Maior incidência de doenças transmissíveis (HIV/SIDA, STDs) e relacionadas com vectores
O DGF revelou surtos de cólera, disenteria e malária nas comunidades da área do projecto, datando
o mais recente até 2012. Estas doenças transmitidas por vectores estão ligadas a cheias e à época
chuvosa. É importante notar que as comunidades da área do projecto estão todas localizadas perto
de um leito de água, utilizam saneamento básico (latrinas e queima ou remoção de resíduos num
buraco no quintal) e são servidas por serviços de saúde básicos.
Face a isto, e à concentração de grandes números de trabalhadores e fornecedores de serviços
(principalmente camionistas) na área, pode haver um aumento de doenças transmissíveis tais como
HIV/SIDA e de outras doenças transmissão sexual (STD). Não só haverá uma grande concentração
de trabalhadores a viver ou a fazer a viagem para a área, mas estes podem gastar dinheiro em lazer
e entretenimento, estão longe da família e mais inclinados a ter comportamentos sociais negativos.
Assim, há uma grande probabilidade do projecto atrair trabalhadoras de sexo, de alguns membros da
comunidade se envolverem em sexo casual por dinheiro e de trabalhadores/fornecedores de serviços
do projecto terem sexo sem protecção. A conjugação destes factores irá, provavelmente, aumentar a
incidência do HIV/SIDA e de outras STD na área do projecto.
A concentração de um grande número de trabalhadores do projecto aos quais será necessário
fornecer serviços de água, saneamento e remoção de resíduos, aliados às águas estagnadas usadas
120 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
na actividade de exploração mineira, podem também causar um aumento nas doenças transmitidas
por vectores (cólera, disenteria e malaria) na área do projecto.
O aumento na incidência de doenças transmissíveis e transmitidas por vectores deverá começar na
fase de construção e continuar ao longo da fase de operação.
Sem mitigação
Caso não se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “muito negativa”,
tendo em conta a falta de serviços de água/saneamento/saúde na área.
Com mitigação
Caso se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “baixa”, se houver
serviços de saúde e medidas de controlo do comportamento dos trabalhadores.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Ligeira Pode ocorrer BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Regional Grave Provável ALTA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Pode ocorrer BAIXA
Medidas de mitigação
Recomendam-se as medidas de mitigação seguintes para doenças transmitidas por vectores:
Em coordenação com as autoridades Distritais de saúde:
o Construir unidades de saúde para as comunidades no projecto, a nível regional;
o Realizar campanhas de educação cívica para a população local sobre como evitar doenças
transmissíveis e doenças transmitidas por vectores;
o Realizar campanhas de educação cívica sobre a importância da utilização de água tratada e
o risco de usar água não tratada de poços ou ribeiros;
o Organizar programas para a distribuição em grande escala de purificadores de água;
Em linha com a necessidade das autoridades Distritais por infra-estrutura social, e como parte do
Plano de Subsistência das Comunidades, ou do próprio Plano de Responsabilidade Social do
proponente do projecto, construir infra-estrutura para melhorar os padrões de saúde locais tais
como bombas manuais, latrinas e aterros sanitários. Se necessário, esta infra-estrutura pode
também ser utilizada pelos trabalhadores.
Recomendam-se as medidas seguintes para doenças transmissíveis:
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
121
Realizar campanhas de consciencialização para os trabalhadores sobre a transmissão das STD
e HIV/SIDA, incluindo comportamentos de risco;
Distribuir preservatives gratuitos na área do projecto;
Recrutar uma organização especializada para implementar actividades de consciencialização
sobre STD e HIV/SIDA a nível da comunidade, com atenção especial às trabalhadoras de sexo,
mulheres e raparigas;
Encourajar os funcionários a fazerem testes de HIV (fora do âmbito do contrato de trabalho);
Encourajar os funcionários a tartar as STD na fase inicial de infecção/diagnóstico e criar
condições para este fim (incluindo autorizar licenças de curto prazo para tratamento no posto de
saúde e financiar os cuidados de saúde dos trabalhadores);
Encaminhar os trabalhadores para as clínicas para tratamento atempado e monitoria de
infecções secundárias/oportunistas tais como tuberculose, gripe e pneumonia.
Impacto 6.5: Aumento das doenças ocupacionais resultants das actividades de
construção
Durante as fases de construção e operação, os trabalhadores do projcto serão expostos a situações
de risco no decorrer das suas actividades. Existe a possibilidade de acidentes tais como quedas e
exposição a ruído e poeira que pode resultar em fatalidades ou em doenças ocupacionais,
dependendo do tipo de materiais usados na construção e da exposição a certos químicos.
Na abertura da mina e na construção das instalações do projecto, pode ser necessário trabalhar em
altura, o que pode resultar em ferimentos ou fatalidades, especialmente quando não existem
medidas de protecção adequadas, ou quando as mesmas não são respeitadas. Para além do risco
de quedas, podem ocorrer outros acidentes e fatalidades tais como colisões e incidêncios, e
acidentes com maquinaria e veículos.
Sem mitigação
Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative
moderada”, tendo em conta a sua duração de longo prazo (fase de operação).
Com mitigação
Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,
considerando que, se o impacto ocorrer, será localizado.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA
Com mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Longo prazo
Localizado Moderada Provável MODERADA
Com mitigação Médio prazo
Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA
122 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Medidas de mitigação
Avaliar a condição física e psicológica dos trabalhadores que trabalham em altura e atribuir
pessoas saudáveis para essas tarefas;
Todos os trabalhadores envolvidos na construção devem receber formação em saúde e
segurança ocupacional antes de entrar no projecto e participar em Diálogos Diários sobre Saúde
e Segurança (DHS); Consciencialização sobre saúde e segurança no local de trabalho é uma
component chave no cumprimento da legislação Moçambicana para a prevenção de acidentes.
Os trabalhadores devem receber formação para poderem identificar os riscos associados ao seu
trabalho e saberem como proceder em situações de emergência;
Disponibilizar equipamento de protecção pessoal e monitorar o seu uso;
Assegurar que os trabalhadores têm formação e estão preparados para lidar com acidentes;
Preparar um kit de primeiros socorros e dar formação a todos os trabalhadores sobre a sua
utilização;
Elaborar um manual com procedimentos de segurança para a construção e operação do
projecto, para divulgação através de formação em saúde e segurança ocupacional. Este manual
deve conter (mas não estar limitado) ao seguinte:
o Informação sobre a construção e materiais de trabalho (folhetos com resumos dos riscos,
especificações de segurança, manuseamento, transporte e armazenamento);
o Os riscos principais associados aos vários processos de construção e operação, com regras
de segurança no trabalho associadas; e,
o Sinalização a usar no trabalho e procedimentos a adopter em caso de acidentes.
Fazer inspecções regulares do equipamento de trabaho usado em altura ou espaços confinados.
Impacto 6.6: Exploração da mão-de-obra
Como já foi explicado, a construção e operação do projecto resultarão num influx de mão-de-obra e
de pessoas exteriores à área do projecto, em busca de trabalho e oportunidades de negócios na área
do projecto.
Isto pode atrair para a área do projecto elementos que viajam para realizar actividades ilegais
incluindo exploração laboral e sexual, particularmente de crianças, conforme observado em outros
grandes projectos de construção em Moçambique57
.
Sem mitigação
Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative
moderada”, tendo em conta o potencial efeito regional do impacto.
Com mitigação
Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,
considerando que é pouco provável que o impacto ocorra, e caso ocorra, o mesmo será confinado à
área do projecto.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
57
Save the Children UK e Norway. (2006). A bridge across the Zambezi.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
123
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Pode ocorrer BAIXA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Ligeira Improvável BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Ligeira Improvável BAIXA
Medidas de mitigação
Proibir todos os trabalhadores, sub-empreiteiros e fornecedores de serviços de se envolverem na
exploração laboral e sexual, através de disposições contratuais para a aplicação dessa proibição;
Fortalecer a presença da Inspecção de Actividades Económicas e da Polícia nas áreas com
maiores concentrações de pessoas;
Promover a colaboração entre a comunidade e a Polícia na denúncia de suspeitas ou de casos
de exploração;
Limitar o acesso das crianças às áreas de trabalho;
Sensibilizar os trabalhadores para a proibição de se envolverem na exploração laboral e sexual,
bem como sobre os riscos e consequências da exploração, e os passos a tomar na presença de
um tal caso;
Dar formação ao CLO para abordar casos de exploração laboral e sexual relacionados com o
projecto.
A Estratégia de Prevenção de Tráfico de Pessoas, adoptada pelo Millennium Challenge Account –
Moçambique, para grandes projectos de infra-estrutura pode fornecer orientações úteis.
Questão 7: Aceitação do projecto
Impacto 7.1: Elevadas expectativas de benefícios do projecto
Nuam área de baixo desenvolvimento socioeconómico como a área do projecto, podem haver
grandes expectativas sobre os benefícios do projecto (compensação pela perda de bens, melhoria da
infra-estrutua social e serviços, emprego). Embora a compensação pela perda de bens deva ocorrer
antes do início da fase de construção, as expectativas dos benefícios do projecto deverão continuar
ao longo da fase de operação.
As DGF com as comunidades na área do projecto e as entrevistas com funcionários do governo
revelaram que têm grandes expectativas sobre os benefícios do projecto em termos da melhoria de
infra-estrutura social e serviços. As comunidades têm uma boa percepção das prioridades e esperam
que o projecto as aborde a médio prazo. O governo distrital está preocupado que os benefícios de
infra-estrutura social/serviços afectem o desenvolvimento do distrito e não apenas a área do projecto,
e pediu para ser consultado com relação aos mesmos.
Confirma-se que o projecto resultará na perda de bens (infra-estrutura, machambas, culturas, árvores
e outros recursos naturais), e podem também haver grandes expectativas em termos da
compensação pela perda desses bens. Isto é particularmente verdadeiro para o Distrito de Moatize,
onde já decorreram outros processos de reassentamento e compensação e a população local pode
já ter expectativas antes do projecto começar. O governo Distrital de Moatize já indicou experiências
negativas com benefícios de projectos anteriores.
124 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Sem mitigação
Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negativa
moderada”, considerando que é provável que as elevadas expectativas criem conflitos e reduzam a
aceitação do projecto, mas apenas na área do projecto.
Com mitigação
Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,
considerando que é provável que as altas expectativas criem conflitos e reduzam a aceitação do
projecto a nível regional.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Ligeira Pode ocorrer BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Área de estudo
Grave Provável MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Pode ocorrer BAIXA
Medidas de mitigação
Por favour consulte as medidas de mitigação do Impacto 7.2: Conflitos ao nível da comunidade
devido às diferenças nos benefícios do projecto, que são aplicáveis aos dois impactos.
Impacto 7.2: Conflitos ao nível da comunidade devido às diferenças nos benefícios do projecto
Como já foi explicado, devido aos baixos níveis de desenvolvimento socioeconómico e ao
desemprego na área do projecto, podem haver grandes expectativas sobre os benefícios do projecto
(compensação pela perda de bens, melhoria de infra-estruturas sociais e serviços, emprego).
Benefícios diferentes podem criar conflitos entre os agregados e as comunidades na área do
projecto, o que pode ter um impacto negative na estabilidade social e na aceitação do projecto.
Assim, é preciso evitar diferenças nos benefícios do projecto e, quando tal não for possíve (por
exemplo, devido a perdas diferentes), é preciso explicar as razões para as diferenças de forma clara
à PAP e à comunidade desde o inicio. Na medida do possível, devem-se estender os benefícios da
infra-estrutura social e serviços melhorados a toda a comunidade, em vez de limitar à PAP.
Sem mitigação
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
125
Sem mitigação, a significância do projecto será “negativa alta”, considerando que o impacto pode ser
grave a nível regional, particularmente na fase de operação.
Com mitigação
Com mitigação, a significância do projecto será “negativa baixa”, tendo em conta que o impacto sõ
será sentido na área do projecto.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou probabilidade
Significância global
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Regional Grave Definitiva MODERADA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Moderada Pode ocorrer BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Médio prazo
Regional Grave Definitiva ALTA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Ligeira Pode ocorrer BAIXA
Medidas de mitigação
Fornecer compensação pela perda de bens antes do início da fase de construção;
Organizar os benefícios do projecto em consulta com o governo distrital, para os harmonizar com
as experiências passadas e presentes no distrito, de forma a evitar uma distribuição
desiquilibrada dos benefícios do projecto;
Conceber benefícios do projecto em termos de infra-estrutura social e serviços melhorados para
toda a comundiade e não só para as PAP;
Elaborar e implementar um Plano de Envolvimento das Partes Interessadas para abordar as
comunidades na área do projecto, observando as recomendações seguintes:
o Discutir a implementação de medidas de mitigação/melhoria com a comunidade de forma
honesta, aberta, flexível e respeitosa; isto é particularmente importante para as medidas
relacionadas com os impactos mais temidos pela comunidade: reassentamento, perda de
terreno agrícola e perda de locais sagrados. Evitar promessas irrealistas às famílias e
comunidades afectadas pelo projecto que serão difíceis de manter;
o Deve-se evitar uma interacção directa com as comunidades e pessoas afectadas pelo
projecto. Os líderes locais e, na medida do possível, as autoridades distritais, devem estar
sempre presentes nesta interacção. Isto limitará PAP ilegíveis, mal entendidos sobre as
perdas e benefícios e ajudará a melhorar a comunicação, favorecendo a aceitação do
projecto.
o Implementar medidas de mitigação/melhoria em coordenação com o governo distrital ou,
quando possível, permitir ao governo distrital implementar tais medidas (com recursos e
apoio fornecido pelo projecto);
o Instalar um mecanismo para reclamações acessível e eficaz, ao qual estará atribuído, a
tempo inteiro, um oficial do projecto para gerir os processos das reclamações e reporter
directamente ao Comité Técnico para a Análise de Planos de Reassentamento;
o Indicar um Oficial de Ligação com a Comunidade (CLO), responsável pela comunicação
regular com as comunidades e autoridades, bem como por abordar as necessidades das
comunidades em nome do projecto;
o Envolver as comunidades locais o mais possível na implementação das medidas de
mitigação/melhoria. Podem fornecer mão-de-obra e fiscalizar o trabalho de implementação.
126 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
5.2.2 Impactos Positivos
Questão 4: Criação de emprego e crescimento socioeconómico
Impacto 4.3: Contratação e formação de mão-de-obra local
De acordo com o DGF e o levantamento inicial, há uma geral falta de emprego formal na área do
projecto e os agregados são, principalmente, trabalhadores independentes na agricultura, pesca e
produção/venda de lenha e carvão.
A construção e operação do projecto pode criar oportunidades de emprego e formação de mão-de-
obra local, tanto de homens como mulheres. Devido à falta de anteriores projectos de mineração na
área, pode haver uma falta de mão-de-obra qualificada para atividades de mineração. É provável que
trabalhadores não qualificados estejam disponíveis para tarefas simples como limpeza de rota e
terrenos, deslocações de terra, abertura de valas e segurança. Com a oferta de formação técnica,
mão-de-obra qualificada pode estar disponível para tarefas técnicas mais simples e operação de
maquinaria. Se combinado com a agricultura, o trabalho pago pode levar ao aumento do rendimento
e melhorar os padrões de vida das famílias, e também ao fortalecimento da economia local.
Sem melhoria
Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva
baixa”, considerando que este impacto não será substancial ou sustentável.
Com melhoria
Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva moderada
", considerando que as oportunidades de trabalho também existem na fase de operação.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou
Probabilidade
Significância
Geral Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA
Com mitigação Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA
Fase de Operação
Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA
Com mitigação Médio
prazo
Regional Moderada Provável MODERADA
Medidas de melhoria
Ter regras de recrutamento e contratação e oportunidades transparentes e acessíveis ao público.
A informação sobre oportunidades de emprego deve ser disponibilizada fora do campo de
mineração, possivelmente com a participação da liderança local. O Director de Recursos
Humanos, em conjunto com o CLO, será responsável por isto com base no Plano de Aquisições
do projecto. A fim de evitar a concentração de quem procura emprego junto aos portões do
projecto, pode ser necessário contratar agentes de recursos humanos;
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
127
Priorizar a mão-de-obra local das comunidades na área do projecto e comunidades vizinhas, com
igualdade entre os sexos. Devido à falta de projectos de mineração anteriores na área, pode
haver falta de mão-de-obra qualificada. Mão-de-obra não qualificada poderá estar disponível
para tarefas simples como abertura de valas e segurança. Com a oferta de formação técnica,
mão-de-obra qualificada pode estar disponível para tarefas técnicas mais simples e operação de
maquinaria.
Impacto 4.4: Procura por bens e fornecedores de serviços locais
A construção e operação do projecto vai exigir materiais de construção e de bens que estão
disponíveis localmente e ir ao encontro dos padrões do projecto, como a madeira, areia, pedra, água
e comida.
Se for tomada a decisão de utilizar os bens disponíveis localmente, será necessário aumentar a
produção local para atender às necessidades e padrões do projecto, sem interferir com a
subsistência da população local (especialmente itens alimentícios). Isso pode estimular os
fornecedores de serviços locais, fortalecer a economia local e transformar a área do projecto num
pólo de desenvolvimento para o distrito. O rendimento obtido com a prestação de bens e serviços
para o projecto, ao longo da sua operação, também pode ajudar a melhorar os padrões de vida das
comunidades na área do projecto.
Sem melhoria
Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva
baixa", considerando que pode não haver mudanças significativas para a economia atual na área do
projecto.
Com melhoria
Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será " positiva alta",
considerando que o impacto pode impulsionar a economia regional.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou Probabilidade
Significância Geral
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Benéfica Provável MODERADA
Fase de Operação
Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA
Com mitigação Médio prazo
Regional Benéfica Provável ALTA
Medidas de melhoria
Tenha regras de contratos e oportunidades transparentes e acessíveis ao público. Esta será da
responsabilidade do CLO (ver Questão 7: Aceitação do projecto), como parte do Plano de
Aquisições do projecto;
128 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Contratantes e operadores mineiros devem preferir culturas locais, carnes e peixes produzidos
localmente para se alimentar e à sua equipe.
Contratantes e operadores mineiros devem preferir materiais locais para a construção dos seus
acampamentos de empresas ou indivíduos locais.
Contratantes e operadores mineiros devem preferir serviços locais tais como a preparação de
alimentos, limpeza de instalações e lavandaria;
Se necessário, e caso a população local mostre interesse, providenciar formação e contributos
para a produção de alimentos, materiais de construção e prestação de serviços localmente para
o projecto.
Impacto 4.5: Melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial
O Decreto 31/2012 estabelece que o reassentamento deve ser transformado numa oportunidade
para o desenvolvimento local. O decreto também define o padrão da casa e terreno residencial que
deve ser fornecido ao PAP, assim como a necessidade da oferta de infraestrutura social e serviços.
Estes devem estar todos estabelecidos antes da fase de construção do projecto começar. A área do
projecto sofre de uma falta clara de planeamento e capacidade de desenvolvimento a nível de
Distrito, com excepção da Vila de Moatize, próxima localmente à comunidade de Mboza.
A casa típica na área do projecto é feita de canas, lama-e-paus e telhados de colmo, e carece de
serviços sociais básicos, tais como estradas, saúde, escolas, abastecimento de água potável,
saneamento e eletricidade. Com base nisto, e caso a necessidade de reassentamento seja
confirmada, os PAP devem beneficiar de casas melhores, mais seguras e de infraestruturas/serviços
sociais. Estes últimos irão também beneficiar a comunidade em que vivem os PAP. A oferta de
habitação, serviços sociais e de planeamento territorial, beneficiando tanto os PAP como a
comunidade de hospedagem deverá ter lugar antes do início da fase de construção.
Sem melhoria
Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva
baixa", considerando que não haverá nenhuma mudança significativa em relação aos níveis actuais
de condições habitacionais e de oferta de serviços sociais.
Com melhoria
Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva alta",
considerando-se que pode haver uma melhoria regional na oferta de serviços sociais.
Declaração de significância
Impacto
Efeito Risco ou Probabilidade
Significância Geral
Temporal Espacial Gravidade
Fase de Construção
Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA
Com mitigação Curto prazo Área de estudo
Benéfica Provável MODERADA
Fase de Operação
Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA
Com mitigação Curto prazo Localizado Benéfica Improvável MODERADA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
129
Medidas de melhoria
Projetar o PAR em consonância com o Decreto 31/2012;
No projecto de casas reassentadas, considerar:
o O tamanho dos agregados familiares reassentados;
o A arquitetura de uma casa típica, incluindo quintal e vedação;
o A capacidade e disposição das PAP para pagar água, saneamento e eletricidade.
Sempre que possível, empregar pedreiros locais (PAP, membros da comunidade) para construir
as casas reassentadas, e comprar materiais de construção com fornecedores na área do
projecto. Esta última pode exigir a formação de pessoas na produção de melhores materiais de
construção, como tijolos queimados.
Faça o planeamento territorial para os locais de reassentamento, com o objetivo de beneficiar a
comunidade global de hospedagem em vez de apenas os PAP. O planeamento territorial deve
considerar as principais práticas de uso do solo da região, nomeadamente a agricultura, a
pecuária/pastagem e extração de recursos naturais;
Ao projetar as infraestruturas e serviços sociais, seja como parte do PAR (plano de
desenvolvimento da comunidade) ou separadamente, consulte a comunidade local e o governo
distrital sobre as prioridades em termos de infraestruturas e serviços sociais, assim como a
capacidade do governo de apoiar com recursos humanos para os serviços construídos (por
exemplo, professores, parteiras e técnicos de saúde);
Envolver a comunidade beneficiada na manutenção da infraestrutura social providenciada, para a
propriedade e sustentabilidade. Isto exige a prestação de apoio técnico (formação, ferramentas e
se possível um técnico da comunidade) e criação de comissões de gestão comunitária. Lições
valiosas podem ser aprendidas a partir de comités de gestão para bombas manuais, unidades de
saúde e escolas já em vigor na província de Tete.
Permitir que a população local use a estrada de transporte a ser construída para a Vila de
Moatize.
A Tabela 15 abaixo apresenta um resumo da classificação da importância dos impactos identificados.
130 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Tabela 15: Resumo da classificação da importância dos impactos identificados
Impacto/ Fase do projecto
Sem Mitigação Com Mitigação
Escala temporal
Escala espacial Gravidade Probabilidade Significância Gravidade Significância
Impacto 1.1: reassentamento dos agregados
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Provável MODERADA
Operação Longo prazo Área de estudo Muito Severa Provável MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 1.2: Adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 2.1: Perda de terra arável e de rendimento
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer MODERADA
Operação Permanente Regional Muito Severa Definitiva MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 2.2: Menos acesso e mais competição pelos recursos naturais
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 2.3: Perda de rendimento e segurança alimentar
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 3.1: Perturbação da mobilidade e circulação de pessoas
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA
Impacto 4.1: Influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego
Construção Curto prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 4.2: Abandono da agricultura a nível do agregado
Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer MODERADA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
131
Impacto 4.3: Contratação e formação de mão-de-obra local
Construção Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA Provável BAIXA
Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA
Impacto 4.4: Procura por bens e fornecedores de serviços locais
Construção Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA
Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável ALTA
Impacto 4.5: Melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial
Construção Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Provável MODERADA
Operação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Improvável MODERADA
Impacto 5.1: Perturbação das relações sociais e coesão
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 5.2: Conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 5.3: Perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou acesso aos mesmos
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.1: Perturbação das comunidades vizinhas como resultado do aumento dos níveis de ruído e vibração
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Área de estudo Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.2: Segurança rodoviária
Construção Curto prazo Regional Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.3: Poluição (ar, solo, água do rio)
Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.4: Maior incidência de doenças transmissíveis e relacionadas com vectores
132 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.5: Aumento de doenças ocupacionais resultantes de actividades de construção
Construção Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA Pode ocorrer BAIXA
Operação Longo prazo Localizado Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 6.6: Exploração da mão-de-obra
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Pode ocorrer BAIXA Improvável BAIXA
Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Improvável BAIXA
Impacto 7.1: Elevadas expectativas sobre os benefícios do projecto
Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA
Impacto 7.2: Conflitos a nível comunitário devido a diferenças nos benefícios do projecto
Construção Curto prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA
Operação Médio prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL
133
5.2.3 Impactos cumulativos
De acordo com as autoridades do Distrito, existem alguns projectos económicos activos nas
imediações da área do projecto, nomeadamente empresas madeireiras e mineradoras de carvão,
como Vale e Ncondezi. O projecto proposto deve coordenar as suas acções com os demais projectos
e agentes económicos presentes na área, tal como com o governo local, a fim de:
Criar sinergias, com o objetivo de maximizar os impactos positivos para as comunidades locais
(responsabilidade social, infraestruturas, empresas e serviços abertos às comunidades locais); e,
Evitar aumentar os impactos negativos sobre o meio ambiente biofísico, incluindo os recursos da
terra, da floresta e da água, que são importantes para a subsistência e economia das populações
locais.
A necessidade de sinergias foi sublinhada pelas autoridades distritais entrevistadas, que apontaram
que, em relação aos serviços sociais por exemplo, o governo pode ser capaz de fornecer os recursos
humanos para a infraestrutura social construída pelos proponentes do projecto (por exemplo,
professores de uma escola). Ambas as autoridades dos distritos de Moatize e Chiúta manifestaram
interesse em estabelecer parcerias com o projecto para o desenvolvimento de serviços sociais e de
infraestrutura; tal como já está a acontecer com outros projectos de desenvolvimento na área. Foi
enfatizado ainda que os benefícios dos projectos económicos deve beneficiar o distrito como um
todo, em vez de apenas a área do projecto. Este equilíbrio, entre distrito e área do projecto, terá que
ser alcançado na concepção das medidas de PAR e de compensação pelas perdas causadas pelo
projecto.
As autoridades distritais também mencionaram algumas experiências negativas resultantes de falta
de coordenação, resultando em tensos acessos aos recursos naturais e de seguida em agitação
social, o que na sua opinião poderia ter sido evitado. Estão também preocupados com a poluição e
desflorestação, com base em experiências com projectos de mineração anteriores.
Uma importante plataforma de coordenação para as atividades do projecto é a Comissão Técnica
para Acompanhamento e Supervisão dos Planos de Reassentamento (CTASR), que está prevista no
Decreto 31/2012. A CTASR é composta por técnicos distritais e provinciais, PAP e outros
intervenientes. O seu mandato é de rever o projecto dos PAR no distrito, com vista a harmonizá-los,
e supervisionar a implementação dos PAR, com o desenvolvimento regional e uma perspectiva de
equilíbrio de benefícios entre os diferentes projectos.
A Figura 45 abaixo mostra algumas das concessões de mineração nas proximidades da área do
projecto. Não foi possível representar as concessões de madeira, devido à falta de dados de
georreferências do governo distrital.
134 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
Figura 45: Mapa de empresas de mineração vizinhas à área do projecto
6 CONCLUSÃO
A conclusão geral do estudo e análise da AIS é que, se as medidas de mitigação
propostas forem devidamente aplicadas, os impactos esperados do projecto
justificam a implantação do projecto, porque os impactos negativos identificados
são geralmente de baixa magnitude, limitados e temporários, e compensados
pelos potenciais impactos positivos. No entanto, para que isso seja assim, deve
ser dada uma atenção especial à mitigação dos impactos mais significativos –
reassentamento e perda de terra agrícola. Devem ser feitos todos os esforços
para evitar estes dois impactos, incluindo a análise de um projecto de traçado
alternativo, para garantir que os agregados afetados pelo projecto pelo menos
mantêm, e não pioram, o padrão de vida que viviam antes da implementação do
projecto.
O projecto será implementado em uma área com baixos níveis de
desenvolvimento socioeconómico. As comunidades existentes dependem
fortemente de estratégias de geração de rendimento baseadas na terra ou
relacionadas com a terra, e a terra é o seu activo mais importante. As
comunidades existentes também apresentam um forte sentimento de pertença e
de coesão social. Dado o ambiente socioeconómico relativamente imperturbado
da área do projecto no momento, o projecto tem o potencial de trazer mudanças
perceptíveis para a vida das comunidades existentes.
Os impactos mais significativos são o reassentamento e a perda de terras de
produção agrícola, que devem ser devidamente tratados com as medidas de
mitigação recomendadas a fim de conquistar adesão ao projecto e aceitação da
população local e do governo, para garantir a futura sustentabilidade do projecto.
A perda de terras agrícolas e o reassentamento podem requerer que os
agregados afectados se adaptem a novas estratégias de criação de rendimento
com que não estão familiarizados, e pôr em risco a restauração do seu rendimento
e meios de vida. O reassentamento pode retirar às famílias as redes de apoio
social em que se apoiavam nas suas comunidades de origem, o que também pode
colocar em risco a restauração do seu rendimento e meios de vida. A perda de
locais sagrados pode afectar negativamente no sentimento de equilíbrio e bem-
estar da comunidade, o que limita a sua aceitação e adesão ao projecto.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
136
Minimizar o reassentamento, tanto quanto possível, permitindo o acesso à terra
agrícola existente e evitando a mineração em locais sagrados (ou, se não for
possível, minerar em locais sagrados com a autorização das chefias locais) são
algumas das medidas que irão influenciar bastante a recepção positiva do projecto
por parte das comunidades locais; mais do que uma compensação em dinheiro
pelos activos perdidos.
O projecto também pode trazer o desenvolvimento socioeconómico da região e
abordar algumas das muitas necessidades sociais prementes nas comunidades
existentes; sendo, portanto, uma real oportunidade para o desenvolvimento.
Se as adequadas medidas de mitigação do impacto negativo e as medidas de
melhoria de impacto positivo forem implementadas, o potencial do projecto para
promover o desenvolvimento sustentável socioeconómico da área será
materializado.
Finalmente, comunicar cedo e regularmente e consultar com as comunidades na
área do projecto é um aspecto vital para a aceitação e apropriação local do
projecto, o que beneficiará tanto as comunidades como o proponente do projecto.
É importante envolver as autoridades do Distrito no processo de comunicação e
de consulta com as comunidades, para garantir o alinhamento da gestão de
impacto do projecto com a de outros projectos no distrito e, mais amplamente, na
província de Tete.
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
137/189
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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
141/189
Anexo A: Metodologia de Avaliação de Impacto
Para garantir um modo equilibrado e justo de avaliar a significância dos potenciais impactos, foi adoptada uma escala de avaliação padronizada na fase da AIA, fornecida pela CES. A escala de classificação adopta quatro factores-chave que são geralmente recomendados como melhores práticas em vigor em todo o mundo, que incluem:
1. Escala temporal: Esta escala define a duração de qualquer impacto ao longo do tempo. Esta pode estender-se desde um curto prazo (menos de 5 anos ou o período da fase de construção) até permanente. Geralmente quanto maior for o tempo de ocorrência do impacto, maior é a sua significância.
2. Escala espacial: Esta escala define a extensão espacial de qualquer impacto. Esta pode se estender desde a área local até um impacto que atravessa fronteiras internacionais. Quanto maior for a extensão do impacto, maior será a sua significância.
3. Escala de Severidade/Benefícios: Esta escala define como seriam severos os
impactos negativos, ou como seriam benéficos os impactos positivos. Esta escala negativa/positiva é fundamental para determinar a significância geral dos impactos. A Escala de Severidade/Benefícios é utilizado para avaliar a potencial significância dos impactos, antes e depois da mitigação, a fim de determinar a eficácia geral das medidas de mitigação
4. Escala de Probabilidade: Esta escala define o risco ou a chance de qualquer
impacto ocorrer. Enquanto muitos impactos geralmente ocorrem, existe uma incerteza considerável em relação a outros. A escala varia de improvável a definitivo, com o aumento da significância geral dos impactos à medida que probabilidade aumenta.
Estas quatro escalas são classificadas e recebem pontuações, conforme
apresentado na Tabela 0-1, para determinar a significância geral dos impactos. A
pontuação total é combinada e considerada em comparação com a Tabela 0-2
abaixo para determinar a significância geral dos impactos.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
142
Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação
EF
EIT
O
Escala temporal Pontuação
Curto prazo Menos de 5 anos 1
Médio prazo 5 – 20 anos 2
Longo prazo 20-40 anos (uma geração), e quase permanente do ponto de vista humano
3
Permanente Mais de 40 anos, resultando numa mudança permanente e duradoura, que vai estar sempre presente
4
Escala espacial
Localizada Em escala localizada, com poucos hectares de extensão. 1
Área de estudo O local proposto e o meio ambiente imediato 2
Regional Nível distrital e provincial 3
Nacional País 3
Internacional Internacionalmente 4
* Severidade Beneficio
Ligeira Impacto ligeiro no sistema afectado (s) ou parte (s)
Ligeiramente benéfico no sistema afectado (s) ou parte (s)
1
Moderada Impacto moderado no sistema afectado (s) ou parte (s)
Um impacto com verdadeiro benefício para o sistema afectado (s) ou parte (s)
2
Severa/ benéfica Impacto severo no sistema afectado (s) ou parte (s)
Um benefício substancial para o sistema afectado (s) ou parte (s)
4
Muito severa/
muito benéfica
Mudança muito severa para o sistema afectado (s) ou parte (s)
Um benefício muito importante para o sistema afectado (s) ou parte (s)
8
Probabilidade
PR
OB
AB
ILI
DA
DE
Improvável A probabilidade destes impactos ocorrerem é ligeira 1
Pode ocorrer A probabilidade destes impactos ocorrerem é possível 2
Provável A probabilidade destes impactos ocorrerem é provável 3
Definitivo A probabilidade destes impactos vai ocorrer com certeza 4
* Em certos casos, pode não ser possível determinar a severidade do impacto,
portanto, pode ser determinado como: Não se sabe / Não é possível saber
Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância ambiental
Significância ambiental Positiva Negativa
Baixa Um impacto aceitável para o qual a mitigação é desejável, mas não essencial. O impacto por si só é insuficiente para evitar o desenvolvimento, mesmo em combinação com outros impactos baixos.
Esses impactos resultaram em efeitos tanto positivos ou negativos de médio a curto prazo sobre o ambiente social e /ou natural.
4-7 4-7
Moderada Um impacto importante, que requer mitigação. O impacto é insuficiente por si só para evitar a implementação do projecto, mas em conjunto com outros impactos pode impedir a sua execução.
Esses impactos normalmente resultaram em efeitos positivos ou negativos de médio a longo prazo sobre o ambiente social e /ou natural.
8-11 8-11
Alta Um impacto grave que, se não for mitigado, pode impedir a implementação do projecto.
Estes impactos seriam considerados pela sociedade como constituintes de uma grande mudança de longo
12-15 12-15
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
143/189
prazo para o ambiente natural e / ou social e resultariam em efeitos negativos ou benéficos graves.
Muito Alta Um impacto muito sério que pode ser suficiente por si só para prevenir a execução do projecto.
O impacto pode resultar numa mudança permanente. Muitas vezes, estes impactos não são mitigáveis e geralmente resultam em efeitos muito graves ou efeitos muito benéficos.
16-20 16-20
Pressupostos e Limitações
As seguintes limitações são inerentes à metodologia de classificação:
Componentes do projecto
A avaliação de impacto feita foi baseada nos detalhes do projecto fornecidos pela
CES. Diante da falta de informação sobre os componentes do projecto, assumiu-
se que todas as actividades de construção serão concluídas dentro de um prazo
de 5 a 20 anos.
Juízos de valor
Esta escala tenta fornecer um equilíbrio e um rigor para avaliar a significância dos
impactos. No entanto, a avaliação da significância dum impacto depende
fortemente dos valores da pessoa que faz o julgamento. Por esta razão, os
impactos de natureza social, em particular, precisam reflectir os valores da
sociedade afectada.
Impactos Cumulativos
Os impactos cumulativos afectam a classificação da significância dum impacto,
porque consideram o impacto de acordo com fontes locais e não locais. Isto é
particularmente problemático em termos de impactos que estão além do âmbito do
desenvolvimento proposto e da AIA. Por esta razão, é importante considerar os
impactos em termos da sua natureza cumulativa.
Sazonalidade
Alguns impactos irão variar em significância com base na mudança de estação,
portanto, é difícil fornecer uma avaliação estática. A sazonalidade precisará estar
implícita na escala temporal e, com as medidas de gestão a serem impostas em
conformidade (ou seja, medidas de supressão de poeiras sendo implementadas
durante a estação seca).
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
144
Anexo B: Metodologia para calcular os índices do estatuto socioeconómico –Índice de Posse
Em teoria, as medições da riqueza do agregado podem estar reflectidas na
informação sobre o rendimento, consumo ou despesa. Todavia, a recolha de
dados fiáveis sobre o rendimento e consumo requer recursos amplos para os
inquéritos aos agregados. Em alternativa, a medição baseada nos bens está a ser
cada vez mais usada nos países em desenvolvimento (Filmer &Pritchett, 1999). O
Índice de Posse (também designado de Índice de Riqueza), baseado no conceito
de Living Standard Measure (LSM), é amplamente usado em Inquéritos
Demográficos e de Saúde para medir o estatuto socioeconómico do agregado
(Carverton & Deaton, 2001 e Rutstein & Johson, 2004).
O Índice de Posse é uma medição composta do padrão de vida cumulative de um
agregado. É calculado com base em dados relacionados com a propriedade de
bens específicos por parte do agregado tais como, televisão, radio, bicicleta, gado,
material usado para construção, energia, tipo de acesso a água e saneamento,
entre outros.
Gerado através de um procedimento estatístico conhecido como Análise de
Componentes Principais (PCA), o Índice de Posse coloca os agregados numa
escala continua de riqueza relative. Assim os agregados podem ser classifcados
em grupos socioeconómicos gerais.
Calculou-se um índice de estatuto socioeconómico para a AIS do projecto, com
base nos dados socioeconómicos. O índice está dividido em pontos que definem
quintis de riqueza como Mais Baixo (Q1), Segundo (Q2), Intermédio (Q3), Quarto
(Q4) e Mais Alto (Q5). No âmbito deste estudo, os Quintis foram provisoriamente
designados como “renda baixa” (Q1), “renda média baixa” (Q2), “renda média”
(Q3), “renda média alta” (Q4) e “renda alta” (Q5). Estes quintis foram usados
para informar a análise da vulnerabilidade e de grupos vulneráveis na área do
projecto.
A PCA implica um processo matemático que transforma várias variáveis
possivelmente correlacionadas num número mais pequeno de variáveis não
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
145/189
relacionadas designadas components principais. A primeira componente principal
representa tanta variabilidade nos dados quanto possível, e cada componente
sucessiva representa tanto da variabilidade restante quanto possível. Muitas
variáveis de indicadores são categorizações. Para determiner os pesos e aplicá-
los para formar o índice, é necessário decompor estas variáveis em conjuntos de
variáveis dicotomas (variáveis binárias). Filmer & Pritchett (1999) recomendou
usar a PCA para atribuir o peso dos indicadores, o procedimento utilizado para o
índice de riqueza do Inquérito Demográfico e de Saúde (DHS). O DHS usa o
procedimento de análise do factor SPSS. Este procedimento começa por
padronizar as variáveis dos indicadores (calcular classificações); e em seguida
calculam-se as classificações do factor do coeficiente (peso do factor); e
finalmente, para cada agregado, os valores do indicador são multiplicados por
estes prazos e adicionados para produzir o valor do índice do agregado. Neste
processo, apenas o primeiro factor produzido é usado para representar o índice de
riqueza. A soma resultante é em si uma classificação padronizada com uma media
de zero e um desvio padrão de um.
Abaixo apresentamos os Quintis de Riqueza produzidos para toda a área do
projecto (ou seja, que abrange todos os agregados inquiridos) nas Figuras 19-23.
Nós também apresentamos quintis de riqueza em separado para o distrito de
Chiúta (Figuras 24 - 26) e para o distrito de Moatize (Figuras 27 - 29), ou seja,
abrangendo os agregados inquiridos em cada um destes distritos.
Quintis de Riqueza para a Área do Projecto
Figura 46: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize
Figura 47: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – área do projecto
22
18
21
20
16
29
17
17
24
16
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Chiúta
MoatizeBaixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
14
51
20
20
25
12
19
8
22
8
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Homem
Mulher Baixa
MédiabaixaMédia
Médiaalta
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
146
Figura 48: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto
Figura 49: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado– área do projecto
Figura 50: Quintis de riqueza por situação profissional – área do projecto
50
42 40 40
35
0
10
20
30
40
50
60
Baixa Média baixa Média Média alta Alta
Idade d
o C
hefe
do A
gre
gado
(anos)
27
25
16
10
38
64
24
25
17
50
21
38
14
21
100
25
24
25
13
14
12
19
23
13
7
16
25
24
50
21
0% 50% 100%
Solteiro
Casamento civil
Casamento religioso
Casamento tradicional
Casamento misto
União de facto
Separado/divorciado
Viúvo
Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
9
4
29
13
36
33
6
36
14
16
21
32
29
24
43
24
20
16
33
15
8
14
12
30
10
33
41
28
29
20
17
6
0% 50% 100%
Emprego formal
Emprego informal
Trabalho sazonal
Auto-emprego
Desempregado (procurando…
Doméstica (não procurando…
Incapacitado e não empregado
Baixa Média baixa Média Média alta Alta
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
147/189
Quintis de Riqueza para o Distrito de Chiúta
Figura 51: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Chiúta
Figura 52: Quintis de riqueza por estado civil – Chiúta
Figura 53: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Chiúta
15
57
22
17
18
4
19
9
26
13
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Homem
Mulher Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
37
17
14
50
60
16
100
16
26
50
20
16
17
19
26
16
19
20
5
33
100
23
0% 50% 100%
Solteiro
Casamento religioso
Casamento tradicional
Casamento misto
União de facto
Separado/ divorciado
Viúva
Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
48
40 38 37
36
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Baixa Média baixa Média Média alta Alta
%
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
148
Quintis de Riqueza para o distrito de Moatize
Figura 54: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Moatize
Figura 55: Quintis de riqueza por estado civil – Moatize
Figura 56: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Moatize
12
46
19
23
31
19
19
8
18
4
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Homem
Mulher Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
23
33
14
6
67
27
19
100
15
11
23
100
33
32
32
50
22
6
22
29
50
21
33
14
18
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Solteiro
Casamento civil
Casamento religioso
Casamento tradicional
Casamento misto
União de facto
Separado/divorciado
Viúvo
Baixa
Média baixa
Média
Média alta
Alta
53
43 41 41
34
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Baixa Média baixa Média Média alta Alta
%
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
149/189
Anexo C: Ferramentas de Recolha de Dados Qualitativos
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
150
Instrumentos Qualitativos para Estudo de Impacto Social
1 Introdução
A componente de pesquisa que se descreve no presente documento faz parte do
Estudo de Impacto Social e Ambiental (ESIA) para Projecto de Ferro-Guza58
a ser
implementado pela Capitol Resources nos Distritos de Chiúta e Moatize.
O estudo visa enriquecer a compreensão sobre a situação actual das
comunidades existentes na área do Projecto de Mineração de Ferro, bem como
identificar as suas expectativas, necessidades e posicionamentos perante o
projecto de modo a compreender o impacto que o projecto poderá ter sobre elas.
A componente social do ESIA pretende investigar:
O ambiente socio-economico local;
Os dados demográficos da população afectada pelo projecto;
As actividades económicas e de rendimento disponíveis na área;
As práticas de uso da terra;
Os modos de vida e posses materiais;
A mobilidade;
Os aspectos de género;
Os grupos vulneráveis;
A saúde, incluindo questões relacionadas com HIV/SIDA;
Os serviços sociais disponíveis (educação, transporte, água e
saneamento, etc.), bem como estruturas sociais (grupos comunitários,
locais de culto e congregações, etc.).
O estudo da componente social também terá em conta questões relacionadas com
a herança cultural. Por questões práticas a recolha de campo para as duas
components (social e herança cultural) decorrerá ao mesmo tempo e de forma
complementar.
A componente cultural visa os seguintes aspectos:
Revisão das políticas e estratégias de herança culturais nacionais e locais;
Revisão das estruturas de herança cultural na area do projecto e a sua
contextualização dentro do enquadramento legal nacional e local;
58
Gusa é uma liga de Ferro e Carbono.
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
151/189
Revião do perfil cultural da area do projecto, incluindo locais sagrados
para a população;
O mapeamento dos locais sagrados, a sua relevência e os usos
associados a eles;
Avaliação da sensibilidade e significado dos artefactos arqueológicos e
locais culturais;
Identificação e avaliação de questões do projecto que podem impactar na
área do projecto.
O estudo qualitativo (que combina a pesquisa social e de herança cultural) irá se
centrar na história e locais sagrados da comunidade, hierarquias de autoridade,
dinâmicas de mobilidade, acesso a serviços e recursos, relacionamento com o
espaço e impactos do projecto, nas comunidades alvo.
A parte quantitativa (inquérito social por questionário) complementará a
compnente qualitativa através de informação obtida pelo cadastro e pelo estudo
sócio-económico.
2 Área do Projecto
A área do projecto é composta por uma área de concessão mineira e uma estrada,
nos distritos de Chiúta e Moatize, província de Tete. Na área do projecto, onde o
padrão de povoamento é disperso, foram identificas dez (10) comunidades ou
assentamentos humanos para a recolha de dados qualitativos, nomeadamente:
concessão mineira: seis (6) comunidades: Tenge-Makodwe, Nhamidima,
Nhambia, Matacale, Nkakame e Tchissi
estrada: fuas (2) comunidades identificadas por análise de imagem aérea,
cujo nome ainda está por identificar com ajuda das autoridades
distritais
3 Métodos de recolha de dados
Serão aplicados os seguintes métodos de recolha de dados
qualitativos:
1. Levantamento bibliográfico e de arquivo de pesquisas anteriores:
principalmente para a componente de herança cultural, mas também para
a descrição socio-demográfica da área em estudo.
2. Análise Cartográfica: através de observação de imagens de satélites e as
fotografias aéreas para inventariar os recursos existentes e tentar
localizar áreas com possíveis existências de estações arqueológicas.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
152
3. Entrevistas individuais a autoridades governamentais: para recolha de
dados sobre o desenvolvimento sócio-económico do distrito, ligação entre
a planificação do distrito e o projecto, desafios e oportunidades do
projecto para o distrito, bem como expectativas, preocupações e
recomendações da província/ distrito em relação ao projecto. Deverão ser
entrevistados:
a. Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação de Tete;
b. Direcção Provinial de Cultura de Tete
c. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Chiúta;
d. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Moatize;
e. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Chiúta;
f. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Moatize;
g. Servicços de Educação e Cultura de Chiúta;
h. Serviços de Educação e Cultura de Moatize.
4. Discussões de grupo focal com líderes locais das nove comunidades da
área do projecto, havendo em cada comunidade um grupo focal com
líderes tradicionais (chingore, n’fumo) e um grupo focal com líderes
comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão):
a. grupo focal com líderes tradicionais: para recolha de dados sobre
1) a história e dinâmicas sócio-económicas e culturais das
comunidades, 2) recursos culturais e sagrados das comunidades
e 3) expectativas, preocupações e posicionamento face ao
projecto;
b. grupo focal com líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe
de Quarteirão): para recolha de dados locais sobre 1) a hierarquia
de autoridade, 2) serviços e recursos sócio-económicos
importantes, 3) mobilidade populacional e 4) expectativas,
preocupações e posicionamento face ao projecto.
Em resumo, com as entrevistas e grupos focais, pretende-se abordar os temas:
Líderes tradicionais Líderes comunitários Autoridades
governamentais
História e dinâmicas sócio-económicas e culturais das comunidades;
Recursos culturais e sagrados das comunidades;
Expectativas, preocupações e
Hierarquia da autoridade local;
Serviços e recursos sócio-económicos importantes;
Mobilidade da população local;
Expectativas, preocupações e
Desenvolvimento sócio-económico do distrito;
Desafios e oportunidades do projecto para o distrito;
Expectativas, preocupações e
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
153/189
posicionamento face ao projecto.
posicionamento face ao projecto.
recomendações para o projecto.
Todas as entrevistas serão semi-estruturadas e seguirão um guião para
orientação da exploração dos temas definidos.
Para as discussões de grupo focal, de modo a estimular participação activa na
discussão serão elaborados guiões para condução de exercícios participativos.
Para os grupos focais com líderes tradicionais serão aplicados os exercícios:
1. História da comunidade;
2. Mapeamento dos locais culturais e sagrados; e
3. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).
Para os grupos focais com líderes comunitários serão aplicados os exercícios:
1. Matriz da hierarquia de autoridade;
2. Mapeamento da mobilidade;
3. Mapeamento dos serviços e recursos importantes à comunidade;
4. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).
Cada discussão de grupo focal deverá ser feita com um número limitado de
participantes (idealmente 8-10), conduzida por um moderador com o apoio de um
tradutor local que deverá ser fluente na língua falada na comunidade. O
moderador deverá tomar notas escritas e fotografia de cada grupo focal.
Considerando o nível baixo de alfabetização da população da área do projecto,
vai-se privilegiar a expressão visual. Tendo em conta a divisão cultural de papéis e
tarefas dentro de agregado familiar, as opiniões e as necessidades podem diferir
entre homens e mulheres. Isto é particularmente importante no que toca às
questões culturais. Por isso, no exercício de mapeamento dos locais culturais e
sagrados, sempre que o número de participantes o permitir, serão feitas
discussões em separado com homens e com mulheres.
5. Acesso preliminar do potencial arqueológico na área de concessão. As
áreas serão prospectadas a pé. Como a área é muito extensa é
conveniente que o trabalho seja faseado, seguindo a progressão do
projecto. O presente levantamento refere-se apenas ao período anterior
aos trabalhos. Não contempla trabalhos adicionais necessários na fase de
construção, operação e encerramento do projecto.
6. Registo dos achados e das estações localizadas. Todas as estações
localizadas serão marcadas com o GPS usando o Sistema de
coordenadas geográficas de África do Sul (WGS 84) em cartesianas e
UTM compatível com o sistema de registo de base de dados, existente no
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
154
Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo
Mondlane.
7. Lavagem e processamento do material. Todo o material será lavado,
marcado e fotografado para o registo informático em preparação do
relatório e seguindo a base de dados de Departamento de Arqueologia e
Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane.
4 Documentos a recolher
No mínimo, aquando das visitas às instituições governamentais, os seguintes
documentos devem ser recolhidos: PESOP, PESOD, Relatório do Distrito,
Relatório de actividades dos serviços de educação e cultura, e Relatório de
actividades dos serviços de saúde.
Outros documentos que provem de relevância, podem ser recolhidos também.
A tabela que se segue apresenta o roteiro para a condução de discussões de
grupo focal:
Nr Método Objectivos Temas a serem abordados Duração Material
1. História da
comunidade
Relatar a história da comunidade;
Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;
Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas, doenças, conflitos);
Identificar possíveis experiências prévias da comunidade com projectos de mineração.
Origem (mítica) de comunidade
Dinâmica populacional e fluxos migratórios
Conflitos locais
Grandes crises
Experiência prévia com projectos de mineração
45 min.
Folhas de flipchart
Marcadores de várias
cores
Post-it
Caderno
Máquina fotográfica
2. Mapa da mobilidade Identificar as principais dinâmicas de mobilidade da população local (emi/ imigração, migração sazonal)
Origem da comunidade
Dinâmicas populacionais e fluxos migratórios
20 min.
3. Mapa dos serviços e
recursos importantes
à comunidade
Identificar e delimitar a área que corresponde à comunidade (bairro, aldeia)
Identificar as organizações, serviços e outros recursos importantes para a vida da comunidade
Identificar as principais formas de uso do espaço
Que organizações / serviços ou recursos são importantes para a vida da comunidade?
Onde se localizam os mesmos, na comunidade e arredores?
Porque são importantes?
Que recursos provocam conflito/ disputa na comunidade?
45 min. Folhas de flipchart
Marcadores de várias
cores
Caderno
Máquina fotográfica
GPS
4. Mapa dos locais
culturais e sagrados
Identificar os locais culturais e sagrados importantes para a comunidade (locais de cerimónia/ realização de eventos comunitários, locais de reunião, locais sagrados, cemitérios, etc.);
Identificar as práticas, rituais e actores associados a cada local;
Identificar a importância de cada local.
Mapeamento e definição da importância dos locais culturais e sagrados importantes para a comunidade
Práticas e actores associados aos locais culturais e sagrados
Momentos/ situações de realização dessas práticas/ rituais
20 min.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
156
5. Mapa da casa e
vizinhança
Definir a tipologia habitacional típica
Identificar os elementos importantes do quintal e vizinhança
Definir a relação com o espaço físico
Definir a relação com a vizinhança
Divisões e uso das divisões
Outras construções no quintal
Vedação
Relação com a vizinhança
Apoio a grupos vulneráveis
20 min
6. Matriz da hierarquia
de autoridade
Identificar os principais níveis de autoridade a nível local
Identificar a hierarquia entre os diferentes níveis de autoridade
Quem são os líderes na comunidade?
Dentre estes líderes, quem responde a quem?
Qual é a responsabilidade de cada nível/ tipo de líder?
20 min. Folhas de flipchart
Marcadores de várias
Cores
Caderno
Máquina fotográfica
7. Árvore de análise de
problemas
Identificar as expectativas e preocupações da comunidade em relação ao projecto
Compreender o impacto do acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes face ao cenário actual e face ao futuro
Identificar os campos de força que podem facilitar e também dificultar o acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes .
Expectativas, preocupações e recomendações da comunidade em relação ao projecto
Visão versus desejo do futuro da comunidade
Papel do projecto (de mineração) na projecção desse futuro
Materialização do futuro desejado?
Uma vez implementado o projecto: o que pode fazer com que tenha impactos positivos para a comunidade, e o que pode fazer com que tenha impactos negativos.
45 min. Folhas de flipchart
Marcadores
Pedrinhas (10+10)
Máquina fotográfica
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
157/189
157
A tabela abaixo sumariza as entrevistas e grupos focais que vão ser conduzidos no âmbito do estudo
qualitativo:
Actividade Localização Grupo-alvo
Entrevistas Cidade de Tete 1) Direcção Provincial de Obras Públicas e
Habitação (DPOPH) de Tete
2) Direcção Provincial da Cultura
Distrito de Chiúta,
Vila de Manje
3) Serviço Distrital de Planificação e Infra-
Estruturas (SDPI)
4) Serviço Distrital de Actividades Económicas
(SDAE)
5) Direcção Distrital de Cultura
Distrito de Moatize,
Vila de Moatize
6) Serviço Distrital de Planificação e Infra-
Estruturas (SDPI)
7) Serviço Distrital de Actividades Económicas
(SDAE)
8) Direcção Distrital de Cultura
Total de entrevistas 08
Discussões de Grupo
Focal (GF)
Área de Concessão de
Tenge-Ruoni (1035 L)
1) Comunidade 1 Massamba
2) Comunidade 2 Nkakame
3) Comunidade 3 Muchena
4) Comunidade 4 Pondandue
5) Comunidade 5 Matakale
6) Comunidade 6 Mbuzi
7) Comunidade 7 Tenge
8) Comunidade 8 Nambia
Estrada 9) Comunidade 9 (AD)
10) Comunidade 10 (AD)
Total discussões de grupo focal 20
O plano de visitas será feito consoante o mapa abaixo.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
158
158
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
159/189
159
5 GUIÃO DE ENTREVISTA: DPOPH E SDPI Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014
Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________
Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________
Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________
Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________
Introdução
Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,
uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela
empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa
Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-
económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.
Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes
nestas comunidades.
É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-
estruturas sociais neste Distrito.
A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não
sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
160
160
Prestação de serviços
1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são os tipos de infra-estruturas e serviços sociais existentes (educação, saúde, água, saneamento, electricidade) na área do projecto (Tenge-Ruoni, P.A.)?
2. Beneficiários: Quais são os indicadores chave de cobertura da população (rácio infra-estruturas; recursos humanos dos diferentes serviços /Pop.)? Quem utiliza os serviços? Quem não os utiliza?
3. Qualidade: como avalia a qualidade dos serviços prestados? Dificuldades/obstáculos encontrados
na prestação de serviços de qualidade? Para além desta Instituição, quem mais presta este tipo de serviço neste posto administrativo?
Planos para o futuro
4. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector ao nível do Posto
Administrativo de Kazula? Metas? Planos de aumento de cobertura? Novas infra-estruturas? Onde? Quando?
5. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?
Expectativas face ao projecto
6. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de
Tenge-Ruoni?
7. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?
8. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?
9. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?
10. Quais são as suas recomendações para o projecto?
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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6 GUIÃO DE ENTREVISTA: SDAE Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014
Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________
Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________
Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________
Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________
Introdução
Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,
uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela
empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa
Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-
económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.
Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes
nestas comunidades.
É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-
estruturas sociais neste Distrito.
A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não
sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Principais actividades económicas
1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são as actividades económicas principais da população no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)? Onde são praticadas? Percentagem da população envolvida?
2. Quais são as principais formas de uso da terra, no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)?
Planos para o futuro
3. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector (Actividades
Económicas) ao nível da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula e zona de Tenge-Ruoni)? Metas? Onde? Quando?
4. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?
Estrutura Administrativa
5. Qual é a estrutura administrativa da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula/ fronteira com
distrito de Moatize)?
6. Quantos regulados e quantos povoados existem na área do projecto? Quantos habitantes têm?
Percepções face ao projecto
7. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de
Tenge-Ruoni??
8. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?
9. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?
10. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?
11. Quais são as suas recomendações para o projecto?
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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7 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - HISTÓRIA DA COMUNIDADE
Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________
Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________
Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)
Objectivos:
Relatar a história da comunidade;
Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;
Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas,
doenças, conflitos);
Metodologia: O moderador inicia expondo os objectivos do exercício.
Para iniciar a “conversa” o moderador deverá dizer que está interessado em conhecer a história
da comunidade: em conhecer quando é que eles para ali vieram, por que razão, como ali se
instalaram; quais os acontecimentos que mais marcaram aquela comunidade, e de que forma
deixaram essa marca.
Essas questões servirão para lançar a conversa que o moderador deixará seguir, colocando
outras questões exploratórias, como por exemplo:
Origem (mítica) de comunidade:
Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?
De onde vieram? Porquê saíram de lá?
Porque se instalaram aqui?
Dinâmica populacional e fluxos migratórios:
Que tipo de grupos populacionais vivem aqui (homogeneidade)? Porque vieram para cá?
Como foram recebidos aqui?
As pessoas ainda se deslocam muito – vão para outros lugares? Vêm para aqui?
Conflitos locais:
Houve algum grande conflito na comunidade?
Que tipo de conflito era?
O que causou o conflito? Quais as razões para o conflito?
Quem esteve envolvido no conflito?
Como foi solucionado o conflito? Quem esteve envolvido na solução (pessoas, instituições)?
Hoje em dia, quando há conflitos na comunidade, como se resolvem?
Grandes crises:
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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A comunidade passou por alguma grande crise?
Que tipo de crise foi – doença grave, seca, fome, guerra…
O que esteve na origem da crise?
Quem esteve envolvido na crise?
Como foi ultrapassada a crise?
Que consequências deixou para a comunidade? No início do exercício o moderador desenha uma linha numa folha de flipchart, colocada na horizontal, e explica aos participantes que o início da linha marca o início da história da comunidade, e que o fim da linha marca o ano actual (2014). Explica também que vai querer mostrar ao longo da linha os principais acontecimentos que marcaram a vida da comunidade. À medida que os participantes vão narrando a história da comunidade (origem mítica, dinâmica populacional, conflitos, crises), o moderador escreve cada um dos episódios narrados num post-it e coloca-o o mais perto possível do período temporal mencionado pelos participantes. Se, no decurso da discussão, os participantes falarem de experiências com projectos de mineração, estas devem ser anotadas no post-it e colocadas na linha da história da comunidade. Se os participantes não falarem disto espontaneamente, no fim da discussão sobre a história da comunidade o moderador deve introduzir estes temas e tomar notas escritas, no caderno, sobre a discussão:
Mineração: o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que vieram praticar
mineração? o Quando foi isso? o Quem eram essas pessoas? o Como foi essa experiência (de mineração) para a comunidade (explorar
consequências positivas e negativas? o Essa experiência de mineração trouxe problemas à comunidade? Que tipo de
problemas? o Como foram resolvidos os problemas?
Deslocação (devido por exemplo a calamidades naturais): o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que tiveram de deixar as suas
casas para ir morar noutro sítio? o Porque (causas/ razões) tiveram de deixar as suas casas? o Quando foi isso? o Para onde foram? o Como isso aconteceu? o Como ficaram as pessoas, depois de terem ido para o novo sítio? (explorar se
os padrões de vida mantiveram-se, melhoraram ou deterioraram, e se mantiveram ou não os laços com o local ou a comunidade de origem)
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
165/189
165
8 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS LOCAIS CULTURAIS E SAGRADOS
Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________
Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________
Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)
Objectivos:
Identificar e delimitar a área que corresponde à aldeia/comunidade;
Identificar os locais religiosos e sagrados importantes para a comunidade;
Atribuir a importância de cada local identificado;
Identificar as práticas, actores e momentos associados a esses locais.
Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.
De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível a todos os
participantes. Pede aos participantes que imaginem que a folha seja a sua
comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade (onde termina a comunidade,
em cada direcção) e pede aos participantes para marcarem os limites nos extremos da folha. De
seguida, pergunta qual é o lugar mais importante da comunidade, onde fazem cerimónias ou
eventos da comunidade, e pede aos participantes que situem esse lugar no mapa. Em seguida,
pede-lhes que identifiquem outros lugares importantes e que os situem igualmente no mapa.
Após explorar os lugares cerimoniais da comunidade, faz o mesmo para os lugares onde só
algumas pessoas podem ir (ex. cemitérios, matas sagradas para curandeiros, ritos de iniciação)
ou lugares onde ninguém pode entrar. O moderador deixa o grupo fazer o exercício sem intervir.
Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o seguinte:
Quais são os limites de comunidade?
Por que razão cada um destes lugares é importante? O que se faz nesses lugares?
(explorar práticas e rituais)
o Quem organiza, participa ou orienta a cerimónia/ evento?
o A cerimónia/evento deve ser praticada apenas nesse local ou pode ser feito
noutro local?
Quem tem acesso (pode entrar) nesses lugares sagrados?
Quem não tem acesso (não pode entrar) nesses lugares sagrados? Porquê?
Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam
encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?
Cemitérios:
o Existem cemitérios formais (públicos/ geridos por um serviço local) e cemitérios
familiares? (tentar localizar alguns e georreferenciar)
o Os cemitérios são utilizados ou actualmente estão fechados?
o Quem controla o uso dos cemitérios?
o Quem usa os cemitérios?
o Se o cemitério ou uma campa tiver de sair desta zona, como isso deve ser feito?
9 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MATRIZ DA HIERARQUIA DE AUTORIDADE
Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:______________________________
Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________
Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe do Quarteirão)
Objectivos:
Identificar a organização administrativa da comunidade;
Identificar os líderes da comunidade, aos diferentes níveis, e como eles se
relacionam (quem responde a quem);
Compreender as responsabilidades gerais de cada nível de liderança.
Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.
De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart no chão, na vertical, no
meio dos participantes, e pergunta:
Organização administrativa:
o quantos bairros ou (se não houver bairros) zonas compõem a
aldeia?
o Quantas pessoas ou famílias moram em cada bairro ou zona?
Hierarquia da autoridade:
o Quem são os líderes que representam a população?
o Como estão organizados os líderes? (a quem responde cada um?
Explorar de baixo para o topo)
o Qual o papel/ responsabilidade de cada líder?
o Quando possível, diferenciar as autoridades políticas (ex. chefe
de célula, secretária da OMM) das autoridades locais (Secretário
de Bairro, Chefe de Quarteirão, Chefe de 10 Casas, etc)
À medida que a discussão avança, o moderador toma notas escritas sobre a
organização administrativa e desenha, no flipchart, a hierarquia da autoridade. No
final confirma com os participantes se a hierarquia desenhada está correcta, nível
por nível.
10 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS SERVIÇOS E RECURSOS DA COMUNIDADE
Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)
Objectivos:
1. Identificar e delimitar a área que corresponde ao bairro ou à aldeia;
2. Identificar os locais considerados importantes para a comunidade
(machambas, mercados, florestas, rios, locais sagrados, cemitérios, etc.) e
a razão da sua importância;
3. Identificar o tipo de relação que a comunidade tem com o espaço físico.
Metodologia:
O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.
De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível
a todos os participantes. O moderador pede aos participantes que imaginem que a
folha seja a sua comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade
(onde termina a comunidade, em cada direcção) e pede aos participantes para
marcarem os limites nos extremos da folha. De seguida, o moderador pergunta
qual é o lugar mais importante da comunidade e pede aos participantes que
situem esse lugar no mapa. Em seguida, pede-lhes que identifiquem outros
lugares importantes e que os situem igualmente no mapa. O moderador deve
deixar o grupo fazer o exercício sem intervir.
Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o
seguinte:
Por que razão os lugares apresentados são importantes? O que se faz nesses lugares?
Quando adequado, perguntar sobre os recursos associados a esses lugares (ex. o que se cultiva na machamba?)
Uso da terra: onde são as áreas residenciais? As áreas de cultivo (machamba)? As áreas de pastagem? As áreas de pesca? As áreas de extracção de recursos naturais (carvão, lenha, minas)?
Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?
Durante a discussão em plenária o moderador toma notas escritas da discussão..
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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11 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DA MOBILIDADE
Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)
Objectivos:
1. Identificar as dinâmicas populacionais e fluxos migratórios do passado e presente da
comunidade;
2. Identificar a atitude da comunidade perante a emigração e a imigração;
3. Identificar possíveis conflitos associados à migração, em particular experiências passadas
vividas pela comunidade/ membros desta com novos membros na comunidade ou em
comunidades para onde membros da comunidade tenham migrado.
Metodologia:
O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.
De seguida o moderador inicia uma discussão em plenária, da qual toma notas escritas. Explica que,
depois de mapear os serviços e recursos importantes para a comunidade, quer falar sobre as
pessoas que entram e saem da comunidade e de que modo isso afecta a comunidade.
O moderador pode usar perguntas exploratórias, como por exemplo:
Origem (mítica) da comunidade:
o Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?
o De onde vieram?
o Porque se instalaram aqui?
o Desde que a comunidade foi criada até hoje, houve momentos em que a
comunidade/ membros da comunidade teve de:
receber pessoas de fora? Que momentos? (ex. cheias, guerra pós-
indepedência)? Que pessoas? (de perto, de longe, de outros distritos, de
outras províncias)
sair para outra zona? Que momentos? Para onde foram? Ficaram lá para
sempre ou regressaram?
Dinâmica populacional e fluxos migratórios:
o Hoje em dia, a comunidade é composta basicamente por pessoas da zona ou há
pessoas que vieram de fora?
o (as pessoas que vieram de fora) Porque vieram para ali? Estão na comunidade há
muito tempo?
o Quando/como é que uma pessoa deixa de ser “de fora”?
o Hoje em dia, os membros da comunidade ainda saem muito para fora? Para onde
vão? O que vão fazer? Voltam?
o Como são recebidas as pessoas que vêm de fora, quando se instalam na
comunidade?
o O que deve fazer a pessoa que vem de fora, para ser bem recebida na comunidade?
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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12 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - ÁRVORE DE ANÁLISE DE PROBLEMAS
Grupo-alvo:
líderes locais locais (chingore, n’fumo, outros)
líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)
Objectivos: 1. Identificar os principais problemas vividos na comunidade;
2. Identificar as expectativas, preocupações e recomendações, do ponto de vista da
comunidade, em relação ao projecto;
3. identificar soluções/ medidas que podem mitigar os impactos negativos do projecto e
potenciar os seus impactos positivos, bem como o papel da comunidade no processo.
Metodologia:
O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.
De seguida o moderador explica que, após se falar a mobilidade na comunidade, gostaria de ter uma
última conversa sobre o projecto de mineração do ferro que se pretende implementar na zona.
O moderador coloca uma folha de flichart no chão, na horizontal, de modo visível aos participantes.
Divide-a em quatro colunas. Pede aos participantes que digam quais são os principais problemas
que afectam/ reduzem a qualidade de vida na comunidade, e lista-os na primeira coluna à esquerda
(“Problemas”).
Após completar a coluna “Problemas”, o moderador explica que a segunda coluna indica o número
de pessoas afectadas pelo problema (“Volume da população afectada”) e a terceira coluna a
gravidade do problema para a comunidade (“Gravidade do problema”). Os participantes devem
completar a 2ª e 3a colunas, para cada problema listado. Para tal, devem-lhe ser dadas 10 pedrinhas
e explicado que, para cada problema, devem marcar na coluna 2 com as pedrinhas o número de
pessoas afectadas pelo problema, numa escala de 1 a 10 em que 1 é “quase nenhuma pessoa da
comunidade” e 10 “muitas pessoas da comunidade”. Tendo completado a coluna 2, sempre no
mesmo problema, passam para a coluna 3: são-lhes dadas mais 10 pedrinhas e explicado que
devem marcar com as pedrinhas a gravidade do problema para a comunidade, numa escala de 1 a
10 em que 1 é “pouco grave” e 10 “muito grave”. Após completadas as colunas 2 e 3, o moderador
faz a soma das pedrinhas na coluna 2 e escreve o total dentro da célula, repete o mesmo para a
coluna 3. Após isto soma o total de 2 e 3 para obter a pontuação total do problema e anota-o na
respectiva célula da coluna 4.
O moderador repete estes passos para cada um dos problemas listados, sem interferir com o
processo de pontuação problema a problema pelos participantes.
No fim do exercício, obtém-se uma tabela como exemplificado abaixo. O moderador explica como
interpretar o resultado da tabela: as pontuações totais mais altas indicam que esses são os
problemas mais sérios, e as mais baixas os problemas menos sérios. De seguida o moderador
pergunta aos participantes se concordam com o resultado final da tabela. Caso não concordem com
algum resultado, o moderador deve explorar porquê e tomar notas escritas da discussão.
1.Problema 2.Volume da 3.Gravidade do 4.Pontuação
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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população afectada problema (2+3)
Furos de água estão
avariadas
13
Não há Posto de
Saúde
20
Quando chove a
estrada fica má e não
se passa
12
Desemprego
15
Posto isto o moderador pergunta de que maneira o projecto de mineração de ferro pode afectar cada
um dos problemas listados, de modo positivo (resolvendo-os ou mitigando-os) e de modo negativo
(aumentando-os).
Por fim o moderador pergunta e toma notas escritas das respostas:
O que deve ser feito para impedir que o projecto de mineração do ferro agrave os problemas
da comunidade? Quem é responsável por isso? Que papel a comunidade pode ter no
processo?
O que pode ser feito para garantir que o projecto de mineração de ferro ajuda a resolver os
problemas da comunidade? Quem é responsável por isso? Que papel a comunidade pode
ter no processo?
Quais são as principais preocupações da comunidade em relação ao projecto? (explorar
questões/ problemas não listados anteriormente)
Que recomendações a comunidade tem para o projecto, para que este seja bem-sucedido e
traga benefício à comunidade?
(perspectiva) Como é que vêm a comunidade daqui a 5-10 anos?
(desejo) Como é que gostariam que fosse a comunidade daqui a 5 – 10 anos?
O que é preciso para que estas mudanças se tornem reais?
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade
Mapeamento de Serviços e Recursos
Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados
Socialização
Mboza
Moatize
Estrada de transporte Directamente
- Origem: migrantes de Macanga, à procura de solo fértil. Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil. - Etnicamente diversificados Nhungwe, Sena, Malawiano, descendentes de colonos portugueses). - Crises: seca, fome, doenças. - Nenhuma experiência em mineração ou reassentamento.
- Passado e Presente da Imigração: Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil.
- Estrada para Moatize - rio (Revubue) e regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igreja católica - machamba - estábulo
- Principal: agricultura - separação de areas para a agricultura e para a pastagem de gado + extração de lenha
- Montanhas sagradas para cerimónia da chuva, cerimónia da agricultura e culto aos antepassados. Entrada proibida. - Locais sagrados não podem ser transferidos para outros locais (as cerimónias não irão funcionar). - cemetérios: apenas para membros da comunidade (montanha sagrada), outro público.
- Todos: local e ponto de encontro da comunidade - Mulheres: rio
Tenge-Makodwe
Área de Concessão Directamente
- Origem: trabalhadores migrantes de Manica, alojados e satisfetios com o solo fértil - crises: Guerra de 1976-1992 ('83), luta de libertação, doenças (malária, cólera, disenteria, unidade hospitalar distante), secas e cheias.
- Imigração faz parte da história da comunidade - presente: mais imigrações (agricultura) do
- Rio Revubue (consumo de água, terreno de irrigação agrícola, pesca) - montanha sagrada - área abastecimento de água
- Principal: agricultura - separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado +
- Árvore e Montanha sagrada (cerimónia de chuva com Tsato, cerimónia da madeira). Nova árvore cerimonial poderá ser escolhida se a árvore anterior for queimada.
- Mulheres: machamba, rio/fonte de abastecimento de água, moinho, floresta/ extração de
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade
Mapeamento de Serviços e Recursos
Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados
Socialização
- experiência temporária de desajolamento devido à Guerra, mas nenhum alojamento permanente. - experiência de mineração: Capitol 2011.
que a emigração (busca de emprego)
- floresta (terreno, caça, precipitação) - escola - moinho
extração de lenha
- cemitérios públicos (separação de áreas para adultos/ crianças). Sepulturas poderão ser transferidas com autorização do chefe comunitário. . - igreja
lenha. - homens: barracas
Mbuzi
Chiúta
Directamente
- Origem: migrantes de Chidzolomondo, à procura de solo fértil, área inabitada - crises: guerra (luta de libertação de '71, 1976-1992 guerra de '82), fome ('83), seca ('89), disenteria ('94), cheias (2005), ataques de elefantes (recentemente). - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem assentamento permanente.
- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92 - Actualmente: recebe imigrantes à procura de solo fértil.
- Escola primária (1a
e 2a classe)
- poço (actualmente quebrado) - moinho - machamba (comida e lenha) - rio (pesca, água para o gado, irrigação) - encontro da comunidade na árvore - igrejas
- Principal: agricultura. Terrenos agrícolas próximos ao rego. Comida e lenha. - conflito homem/animal, embora não haja disputa de terreno.
- Igrejas - cemitérios (2 para adultos e 2 para crianças). Cemitérios não poderão ser transferidos. - locais sagrados (rocha, baobá, monte dos leões, montanha Muniamba): cerimónia da chuva com Tsato, autorização concedida para os estrangeiros exercerem mineração.
- Na sua totalidade: grande árvore nteme, moinho - mulheres: machamba, rio, igreja - homens: machamba, momentos de celebração.
Chianga Directamente
- Origem: migrantes de Mbuzi à procura de solo fertile, satisfeitos com o solo e a proximidade com o rego de Chianga.O nome provém do rego. - Crises: guerra (1976-1992), fome ('83, '92, '05), disenteria ('93), malária (2012) e conflitos homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014), cheias (inundações às machambas 2008) - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem reassentamento permanente.
- As pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92
- Terrenos agrícolas (próximos aos regos) - rio (pesca, água para a irrigação) - floresta (consumo e venda de Madeira)
-Principal: agricultura. Terrenos agrícolas localizados junto aos quintais da casa e aos regos - conflito homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014).
- Igreja Abdulahamu - Montanha (cerimónia da chuva Tsato,relação da cobra com os antepassados) - árvore ceremonial Ntalala (também é ponto de encontro da comunidade) - cemitérios públicos de Massamba and Mbuzi (próximos)
- todos: árvore Ntalala - mulheres: terrenos agrícolas e na recolha de água ao rio - homens: nas barracas ou na casa do amigo
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade
Mapeamento de Serviços e Recursos
Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados
Socialização
Muchena Directamente
- Origem: migrantes de Zumbo/ Macanga, satisfeitos com a boa zona de habitação. - Presença Colonial, luta de libertação ('71), 1976-1992 guerra ('82). - crises: Guerra, cólera. Não há conflitos de terreno. - não há experiência de mineração - não há experiencia de reassentamento involuntário (desalojamento temporário devido à guerra mas sem reassentamento permanente)
- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido ao tratamento de doenças (regime colonial / ataques armados/ guerra). Retornando depois de '92 - imigração (trabalho/Tete) e emigração (agricultura) acontecendo ainda - Chewa (local) e Nhugue (viente)
- Próximos ao: regos de Revubuè - bomba manual de água - mercado - rio (água para consumo, irrigação, pesca) - posto de saúde (para além da casa do Chefe da Localidade) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção.
- separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado (proteção das plantações contra animais) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção - posse da terra: customizada
- Ruínas de prisões coloniais - carro à vapor - igrejas - árvores sagradas dentro do cemitério (cerimónia da chuva Tsato, culto aos antepassados, anualmente) - local de ritos de iniciação (entrada proibida na floresta) - lago (punição) - cemitérios (público, próximo ao rio e aos terrenos agrícolas) - sepulturas (antepassados):poderão ser transferidos, mas nunca terá acontecido. Deverão ser feitas cerimónias.
- todos: árvore (ntowe), encontros da comunidade - mulheres: terrenos agrícolas, bombas manuais de abastecimento de água - homens: locais de consumo de bebidas
Nhambia Diirectamente
- Origem: migrantes do Chipire, à procura de solo fértil. - Luta de libertação, 1976-1992 guerra ('85). - crises: guerra, seca - conflictos man/animal. Sem disputa de território. - experiência de desalojamento voluntário e forçado (seca e guerra) mas sempre retornado. - experiência prévia de prospecção mineral (2008). Qualidade fraca do carvão fez com que a mineração terminasse. Foi postivo devido a possibilidade de empregar mão-de-obra local. - nenhuma experiência de reassentamento permanente.
- '85: desalojamento forçado para Kazula. Ataques armados, as pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Imigração: solo fértil (passado e presente), seca, guerra (passada) provenientes de localidades próximas. - hoje em dia:
- Machamba - montanhas e árvores sagradas - cemitérios - Escola - rio, regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igrejas - área de pastagem - estábulos
- Terreno: agricultura, pastagem de gado, lenha - separação da área para agricultura e da área para pastagem + extração de lenha
- Montanhas e árvores sagradas para cerimónia da chuva Ndzingoe com Tsato. Locais cerimoniais não deverão ser transferidos. - cemitérios (2): um para adultos, um para crianças. Públicas. Sepulturas poderão ser removidas dependendo da concordância da família, culto aos antepassados e compensação financeira. - igrejas
- ponto de encontro das mulheres: machamba, rio/ recolha de água. - ponto de encontro dos homens: barracas
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade
Mapeamento de Serviços e Recursos
Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados
Socialização
emigração temporária (casamento)
Matacale Directamente
- Origem: migrantes de áreas próximas, à procura de solo fértil - Presença colonial, luta de libertação, guerra de1976-1992. Ataques armados: as pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Crises: guerra, cólera, fome, seca - conflito territorial devido ao projecto. Matacale proclamou ser proprietário do local mas não terá sido beneficiado, ao contrário de Massamba. O Chefe do Posto Administrativo verificou os limites territoriais e provou que o local pertencia ao Matacale, que agora está a beneficiar com o projecto. - 2009: Capitol inicia a mineração. Boa experiência, empregou-se mão-de-obra local (embora tenha havido conflitos com Massamba). - experiência temporária de desalojamento (guerra), sem reassentamento involuntário permanente.
- Parte de origem mítica - hoje-em-dia: maior imigração (trabalho) do que emigração (casamento, trabalho)
- Estrada para a cidade com pontes. - rio (consumo de água,pesca, água para o gado, irrigação) - escola - igreja (fonte de ajuda) - Posto de Saúde Kazula (medicação, cloro para surtos de cólera) - floresta (chuva, paus de madeira para construcção, lenha). - montanha com recursos minerais (atraem companhias mineiras que empregam mão-de-obra local) - mercado - bomba de água - cemitério público(1 para adultos, 1 crianças)
- Machambas nas margens dos rios, regos. - duas empresas activas de Madeira serrada na área. - Montanhas Chitongue: mineração (Capitol)
- Montanhas Chitongue com Tsato: cerimónia da chuva Colole (participação de toda a comunidade). - Locais cerimonias não podem ser transferidos. – cerimônias da chuva também são realizadas nos regos. -cemitérios: um para adultos e um para crianças. Públicas. - Sepulturas não devem ser transferidas.
- Ponto de encontro de mulheres: machamba e nas fontes de água. - ponto de encontro de homens: mercado, barracas. - todos: nas sombras das mangueiras.
Massamba Indirectamente
- Origem: migrantes Sena, satisfeitos com a fertilidade do solo e com os animais de caça - crises: cheias, fome, guerra (luta de libertação '63, guerra de 1976-1992), anemia - experiência de prospecção mineral: prospecção (Gondwana, 2009), exploração (Capitol, 2010) - não há experiência de reassentamento permanente
- Passado: emigração para fazendas Zimbabweanas, desalojamento devido à guerra civil - hoje-em-dia: procura de emprego na cidade de Tete, Malawi.
- Escola primária completa - Machamba - lagoa e regos (consumo de água, pesca e irrigação) - Floresta (lenha, paus de madeira)
- Principal: agricultura - separação do terreno para agricultura, pastagem de gado e extração de lenha. - Floresta: lenha e paus de madeira
- Cemitério público - cemitério familiar/ ritos de iniciação para rapazes. - árvores Mteme / ritos de iniciação para meninas - Rego Canditi / culto dos antepassados - É possível remover sepulturas após autorização, rituais e
Todos: sombra das magueiras/ Madgiga
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade
Mapeamento de Serviços e Recursos
Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados
Socialização
compensação monetária.
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas
Matriz de Hierarquia de Autoridade
Grupos Vulneráveis
Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas
Mboza
Moatize
Estrada de transporte Directamente
- Principal: agricultura (milho, amendoim, milho-miúdo, feijão-frade, batata doce, cassava) - criação de gado - pesca - produção e venda de carvão, lenha,esteiras
4 bairros - matriz de autoridade: 1. líder da comunidade nfumo (solucionador de problemas) 2. Vice-líder 3. Chefe da Zona (divulgação de informação) 4. Chefe de Quarteirão (resolve problemas diários) 5. Chefe da OMM Havia um juíz mas após a sua reforma, não foi substituído.
Crianças órfãs - 3 quartos (sala de estar + 2 quartos de dormir). Feitos com lama e paus de madeira. - quintal: cozinha, celeiro (parte dianteira), latrina, casa-de-banho, curral (galinha, goat, porco, vaca) (traseiras)Tudo feito de caniço excepto a cozinha (lama e paus de madeira) - vizinhos: parentes, boas relações
- Conflitos (domésticos, violência, embriaguez), resolvidos internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis
- Projecto deve comunicar e coordenar com a comunidade. - comunidade: preocupação acerca do reassentamento (querem proteção, não querem ser afastados). - projecto: prioritizar empregos para a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais. Evitar falsas promessas. - necessidades de infra-estruturas sociais: hospital, escola, fontes de abastecimento de água, mercado.
Tenge-Makodwe
Área de Concessão Directamente
- Principal: agricultura (cebola, tomate, milho, feijão, alface, cana de açúcar, banana, batata, batata doce, tabaco) - criação de gado - pesca
5 bairros 608 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário 2. Chefe do bairro 3. Chefe 10 casas 4. Secretário partido + Adjunto Secretário 5. Polícia comunitária (abaixo do líder comunitário) 6. Chefe da OMM & adjuntos.
Idosos, órfãos, deficientes
- 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das crianças, despensa). Feitos com paredes de lama e paus de madeira. - sem vedação, mas com árvores - vizinhos: parentes, membros comunitários. Boas relações.
- Conflitos e crises resolvidas internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis
- Abordar necessidades sociais da comunidade. - uma pessoa deverá tomar conta da outra (respeito mútuo) - Evitar falsas promessas - Mostrar uma attitude "Até aqui tudo bem" perante o projecto.
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas
Matriz de Hierarquia de Autoridade
Grupos Vulneráveis
Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas
Mbuzi
Chiúta
Directamente
- Principal: agricultura (milho, repolho, alho, tomate, cebola, feijão-frade, feijão manteiga, mandioca, amendoim, quiabos, alface, batata-doce, caphodza, tabaco) - Pesca - Produção e venda de carvão
5 bairros Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (governa). 2. Líder religioso/ vice-líder comunitário (resolve conflitos). 3. 1º Secretário Partido (propaganda) 4. Chefe da OJM (mobilizar os jovens) 5. Chefe do quarteirão (resolver problemas diários) 6. Chefe 10 casas (disseminar informação)
Idosos - 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das meninas, quarto dos meninos). Rapazes com mais de 9 anos vivem em quartos separados fora no quintal. Feitos com paus de madeira. Quintal: área de refeições, celeiro (frente), casa de banho c / latrina, curral (cercado com porcos, cabras, patos, frango, vaca), galinha (traseiras). - Vizinhos: parentes. Boas relações.
- Conflitos e crises resolvidos internamente. - Contribuição em espécie por familiares em momentos de dor.
- Respeito mútuo - Comunicação clara, regular e de antemão e consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Marcar uma reunião inicial com a comunidade, com agenda pré-definida - Empresa: priorizar a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais (posto de saúde, bomba de água) - Se surgirem problemas: identificar as causas e as soluções em conjunto
Chianga Directamente
- Agricultura (consume principal) - Criação de gado - Pesca (consumo) - Produção e venda de carvão
3 Bairros Matriz de autoridade vertical: - Chefe (n'fumo), - Líder com Vice-líder. - Chefe de Quarteirão - 10 Casas.
- Idosos, jovens desempregados
- 3 quartos, construídos com paredes feitas com lama e paus de madeira ( quarto dos pais, quarto das criança, sala de estar). Crianças com 9 anos ou mais velhas: quarto separado no quintal. - fora do quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, curral (com cabras, vacas, porcos) (traseiras), celeiro, galinha (frente). - Quintal não cercado (mas limitado por
- Funeral: apoio em espécie ou em dinheiro dos membros da comunidade - Cheias de 2008: membros da comunidade contribuíram e compraram milho juntos
- Respeito mútuo - Comunicação antecipada e realizar consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Respeitar as datas de início da actividade mineradora - Empresa deve resolver as necessidades da comunidade - Comunidade deve contribuir com o trabalho
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas
Matriz de Hierarquia de Autoridade
Grupos Vulneráveis
Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas
árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.
Muchena Directamente
- Principal: agricultura (homens, mulheres, crianças)
2 bairros, blocos(40 casas) Matriz de autoridade vertical: 26 Lideres locais: 1 nfumo/ 1º escalão 3 nhankawa/ 2º escalão 10 Nhankawa/ 3º escalão 1 chefe + 12 chefes de quarteirão
Idosos, deficientes, pessoas 'preguiçosas'
- Casa com 2 quartos (sala de estar + quarto), feitos com paredes de lama e paus de madeira com telhado de palha - Crianças +7 anos: casa separada (1 quarto), rapazes & raparigas separados - Fora do quintal: cozinha (c/armazenamento de água), latrina, casa de banho, celeiro, aterro sanitário, curral (tudo caniço) - Quintal cercado com plantas - Vizinhos: boas relações
- Comunidade unida, os vizinhos se reúnem para conversar à noite, e dar apoio nos momentos de tristeza - Seguir os líderes, contar com a sua orientação
- Projecto: responder as necessidades da comunidade (escola, hospital, pontes, rede de telefonia celular, furos, posto policial) - Governo deve contribuir com recursos humanos para construção de serviços sociais - Empregar mão-de-obra local - Respeito as tradições locais - Atribuir subsídios aos líderes (apoiam os interesses da empresa)
INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL
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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas
Matriz de Hierarquia de Autoridade
Grupos Vulneráveis
Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas
Nhambia Directamente
- Principal: agricultura (sorgo, milho, amendoim, feijão-frade, abóbora, quiabos, repolho, tabaco, batata, batata-doce). - criação de gado - pesca
4 Bairros 213 residentes Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário (Nhakwawa, governa) e chefe do tribunal (resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (vice-líder) 4. Chefe 10 casas (4): mobiliza a população
Idosos, crianças órfãs, deficientes.
- 3 Quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) - Quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, currais (com cabra, vaca, porco) (nas traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal não cercado (limitado por árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.
- Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos - Toda a comunidade participa e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)
- Projecto; priorizar o emprego de mão-de-obra local, fornecer infra-estruturas sociais (escolas, estradas, bombas de água, apoio a crianças órfãs e idosos) - Papel da comunidade: fornecer trabalho para a construção de infra-estrutura social. - Preocupação em relação ao reassentamento (há terra fértil, e o rio por perto - não querem deixar a menos que o novo local tenha as mesmas condições)
Matacale Directamente
- Principal: agricultura (sorgo, milho-miúdo, feijão manteiga, abóbora, piri-piri, pepino, mandioca, batata doce, amendoim). - Mas a seca: fome, crianças saíram das escolas; HH compra comida em Tete. - pesca
5 Bairros 582 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (Nhakwawa, recolhe/ dissemina informação) e chefe de tribunal (nkulo wa kote, resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (resolve problemas) 4. Chefe 10 casas: mobiliza a população
- Idosos, crianças órfãs, viúvas e deficientes
- 3 quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) com varanda - Fora do quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, curral (s) (com cabra, vaca, porco) (traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal com cerca (de caniço, e paus de madeira) - Vizinhos: membros da comunidade, não parentes. Boas relações.
- Membros da comunidade participam e contribuem para as cerimónias sagradas e celebrações - Celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio) - Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos
- Projecto: consultar a comunidade sobre 'coisas que eles precisam' - Preocupação com a falta de comunicação com a Capitol. Devem tratar os Matacale da mesma forma que tratam os Tenge e Massamba (emprego, infra-estrutura social) - Infra-estruturas sociais: escolas, bombas de água, hospital, estradas para mercado cobertura de telefonia celular, transporte, apoio aos idosos, banco - Papel da comunidade: fornecer mão-de-obra (pedreiros, carpinteiros disponíveis)
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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas
Matriz de Hierarquia de Autoridade
Grupos Vulneráveis
Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas
Massamba Indirectamente
- Principal: agricultura (milho, sorgo, milho-miúdo, amendoim, feijão-frade, cana-de-açúcar, feijão boer., cassava) - Criação de gado - Pesca - Produção e venda de carvão
4 bairros Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário 2. Polícia comunitária 3. Secretário do bairro 4. 1º Secretário partido 5. Chefe da OMM 6. Chefe do quarteirão 7. Chefe de 10 casas
Deficientes - 2 quartos (sala de estar + quarto) - Quintal: cozinha, celeiro (na frente), latrina, banheiro, curral (com porco, cabra, vaca), galinha (nas traseiras). - Sem vedação - Vizinhos: em sua maioria parentes, boas relações
- Conflitos são resolvidos internamente (fome, embriaguez, problemas domésticos) - Toda comunidade participa, e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)
- Consulta e coordenação - Projecto deve abordar as necessidades da comunidade (posto médico, estradas, cobertura de telefonia celular). - Evitar falsas promessas. - Respeitar as lideranças locais - A comunidade está preocupada com a ocupação das locais sagrados devido as actividades do projecto - Comunidade irá contribuir com trabalho
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Anexo E: Inquérito ao Agregado Familiar
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Anexo F: Mapas elaborados
1 – Localização do projecto
2 – Comunidades na área do projecto
3 – Companhias mineiras contíguas à área do projecto
4 – Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo intransferíveis
5 – Estradas e caminhos de ferreo da área do projecto.
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