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FEVEREIRO DE 2015 COASTAL AND ENVIRONMENTAL SERVICES (CES) RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE MINÉRIO DE FERRO DA BAOBAB, TETE, MOÇAMBIQUE

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FEVEREIRO DE 2015

COASTAL AND ENVIRONMENTAL SERVICES (CES)

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE

IMPACTO SOCIAL PARA O

PROJECTO PROPOSTO DE

MINÉRIO DE FERRO DA BAOBAB,

TETE, MOÇAMBIQUE

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FEVEREIRO DE 2015

COASTAL AND ENVIRONMENTAL SERVICES (CES)

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE

IMPACTO SOCIAL PARA O

PROJECTO PROPOSTO DE

MINÉRIO DE FERRO DA BAOBAB,

TETE, MOÇAMBIQUE

PROJECTO Nº. 14002-A

DOCUMENTO Nº. 1

VERSÃO 4

DATA DE EMISSÃO 14/02/2015

ELABORADO POR IPCA

VERIFICADO POR CSCR/EFI

APROVAOO POR CSCR

MORADA COWI Lda.

Av. Zedequias

Manganhela, 95, 1º andar

C.P. 2242

Maputo

Moçambique

TEL +258 21 358 300

FAX +258 21 307 369

WWW cowi.co.mz

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

5

Índice

Sumário Executivo 10

1 INTRODUÇÃO 22

2 QUADRO INSTITUCIONAL, LEGAL E DE POLÍTICAS 25

2.1 Políticas e estratégias nacionais para os recursos naturais e energéticos 25

2.2 Legislação nacional relevante para a actividade mineira 29

2.3 Legislação nacional sobre Avaliação de Impacto Social e Consulta Pública 31

2.4 Directrizes Internacionais Aplicáveis à AIA 33

2.5 Legislação nacional relacionada com o Reassentamento 34

2.6 Directrizes internacionais aplicáveis ao Reassentamento 39

2.7 Governo e liderança local 40

3 METODOLOGIA 42

3.1 Identificação da área de estudo 42

3.2 Métodos de recolha de dados 45

3.3 Metodologia de avaliação de impacto 49

3.4 Pressupostos e Limitações 50

4 CONTEXTO DO PROJECTO 51

4.1 Perfil do País 51

4.2 Província de Tete 53

4.3 Distritos de Chiúta e de Moatize 55

5 POTENCIAIS IMPACTOS ASSOCIADOS AO PROJECTO 97

5.1 Introdução 97

5.2 Potenciais impactos identificados até à data 97

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6 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

6 CONCLUSÃO 135

7 REFERÊNCIAS 137

Anexo A: Metodologia de Avaliação de Impacto 141

Anexo B: Metodologia para calcular os índices do estatuto socioeconómico –Índice de Posse 144

Anexo C: Ferramentas de Recolha de Dados Qualitativos 149

Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171

Anexo E: Inquérito ao Agregado Familiar 183

Anexo F: Mapas elaborados 184

Lista de Figuras

Figura 1: Localização do projecto na Província de Tete 23

Figura 2: Comunidades inquiridas na área do projecto 44

Figura 3: Grupo focal em Chianga 47

Figura 4: Serviços comunitários de Massamba e mapa de recursos 47

Figura 5: Constatações do inquérito sobre o número de esposas por Chefe de Agregado

57

Figura 6: Constatações do inquérito sobre esposas a viver no mesmo quintal 58

Figura 7: Constatações do inquérito sobre as línguas faladas 59

Figura 8: Igreja das Testemunhas de Jeová, Massamba 60

Figura 9: Mobilidade e Migração 61

Figura 10: Ocupações dos membros do Agregado 65

Figura 11: Banca informal, Muchena. 66

Figura 12: Constatações do inquérito sobre o rendimento mensal médio 66

Figura 13: Constatações do inquérito às despesas do agregado 67

Figura 14: Constatações do inquérito sobre bens duradouros 68

Figura 15: Machamba de milho, Muchena 65

Figura 16: Rio Revúbuè, com machambas cultivadas 68

Figura 17: Constatações do inquérito sobre o uso das árvores 69

Figura 18: Constatações do inquérito sobre o número médio de animais domésticos 69

Figura 19: Constatações do inquérito sobre o uso de animais criados 70

Figura 20: Constatações do inquérito sobre o tamanho das machambas 71

Figura 21: Constatações do inquérito sobre a propriedade das machambas 72

Figura 22: Quintil de riqueza para os distritos de Chiúta e Moatize. 73

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

7

Figura 23: Quintis de riqueza por género – área do projecto 74

Figura 24: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto75

Figura 25: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado – área do projecto

75

Figura 26: Quintis de riqueza por situação profissional do Chefe do Agregado 76

Figura 27: Casa típica de pau a pique, Chianga 78

Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale 80

Figura 30: Constatações do inquérito sobre doenças 81

Figura 31: Tratamento de doenças em Chiúta 82

Figura 32: Tratamento de doenças em Moatize 82

Figura 33: Constatações do inquérito sobre conhecimento da malária 83

Figura 34: Constatações do inquérito sobre razões para não usar uma rede mosquiteira

84

Figura 35: Constatações do inquérito sobre insegurança alimentar 84

Figura 36: Constatações do inquérito sobre recursos hídricos 86

Figura 37: Furo de água no leito seco de um rio, Mbuzi 88

Figura 38: Bomba manual, Muchena 86

Figura 39: Constatações do inquérito sobre tratamento da água 87

Figura 40: Constatações do inquérito sobre saneamento 87

Figura 41: Estradas e linhas férreas que atravessam os distritos de Chiúta e Moatize 89

Figura 42: Cemitério comunitário 88

Figura 43: Sepultura familiar no cemitério, Mbuzi 92

Figura 44: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo

não transferíveis 93

Figura 45: Mapa de empresas de exploração mineira na área do projecto 134

Figura 46: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize 145

Figura 47: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – área do projecto145

Figura 48: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto146

Figura 49: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado– área do projecto

146

Figura 50: Quintis de riqueza por situação profissional – área do projecto 146

Figura 51: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Chiúta 147

Figura 52: Quintis de riqueza por estado civil – Chiúta 147

Figura 53: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Chiúta 147

Figura 54: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Moatize 148

Figura 55: Quintis de riqueza por estado civil – Moatize 148

Figura 56: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Moatize 148

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8 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Lista de Tabelas

Tabela 1: Legislação nacional relacionada com o quadro estratégico para a actividade

mineira. 28

Tabela 2: Legislação nacional sobre a actividade mineira. 30

Tabela 3: Legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto social. 32

Tabela 4: Directrizes internacionais para o processo de AIAS. 34

Tabela 5: Legislação nacional sobre reassentamento 35

Tabela 6: Legislação nacional relacionada com o reassentamento. 36

Tabela 7: Legislação nacional relacionada com o património cultural. 38

Tabela 8: Directrizes internacionais para reassentamento 39

Tabela 9: Comunidades afectadas pelo projecto 43

Tabela 10: Exercícios participativos aplicados e seus objectivos 47

Tabela 11: Postos administrativos e localidades do distrito de Chiúta. 55

Tabela 12: Postos administrativos e localidades do distrito de Moatize 56

Tabela 13: Constatações do inquérito sobre o emprego 64

Tabela 14: Resultados do inquérito sobre tipos de estradas utilizadas 90

Tabela 15: Resumo da classificação da importância dos impactos identificados 130

Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação 142

Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância ambiental 142

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

9

Lista de acrónimos AIA Avaliação de Impacto Ambiental AIAS Avaliação de Impacto Ambiental e Social AIS Avaliação de Impacto Social BM Banco Mundial CES Coastal and Environmental Services CTASR Comissão Técnica de Acompanhamento e Supervisão do

Reassentamento CdI Corredor de Impacto DTS Doença Sexualmente Transmissível DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra DGF Discussão de Grupo Focal HH Agregado Familiar IFC International Finance Corporation/ Corporação Financeira Internacional

(sigla em inglês) ITIE Iniciativa de Transparência da Indústria Extractiva M&A Monitoria e Avaliação MIREME Ministério dos Recursos Minerais e Energia MZM Metical Moçambicano OLC Oficial de Ligação com a Comunidade OP Norma Operacional PAC Comunidade Afectada pelo Projecto PAP Pessoa Afectada pelo Projecto PAR Plano de Acção para Reassentamento PERM Política e Estratégia de Recursos Minerais PGA Plano de Gestão Ambiental PIB Produto Interno Bruto PO Política Operacional PPP Processo de Participação Pública PD Padrão de Desempenho RSC Responsabilidade Social Corporativa SADC Southern African Development Community/ Comunidade de

Desenvolvimento da África Austral (sigla em inglês) SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estruturas

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10 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Sumário Executivo

Introdução

A Capitol Resources Limitada (Capitol Resources) pretende desenvolver um

Projecto de Minério de Ferro nos Distritos de Chiúta e de Moatize da Província de

Tete, na região Centro de Moçambique. O projecto abrange três áreas de licenças

de propriedade integral da Capitol Resources. A primeira fase da actividade de

exploração mineira terá lugar numa Área de Licença (Área de Prospecção 1035-L

Tenge-Ruoni), que faz fronteira com dois outros projectos de carvão das

companhias Vale e da Ncondezi.

O projecto tem o potencial de afectar a vida e meios de subsistência das

comunidades locais, como resultado da actividade de exploração mineira e da

construção da infra-estrutura necessária, tal como a estrada de transporte e linha

de energia eléctrica.

Conforme indicado acima, a área do projecto abrange os distritos contíguos de

Chiúta e Moatize e inclui oito assentamentos ou comunidades principais, dois dos

quais estão localizados no Distrito de Moatize e seis no Distrito de Chiúta.

Esta Avaliação de Impacto Social (AIS) foi elaborada de acordo com a legislação

Moçambicana para Avaliação de Impacto Social. A mesma identifica e analisa os

impactos principais associados ao projecto de exploração mineira e faz

recomendações para medidas de prevenção e mitigação, bem como medidas de

maximização, a aplicar na gestão de impactos do projecto.

Quadro Institucional e Legal

No virar do século 21, a exploração mineira de grande escala e a expansão da

rede eléctrica arrancaram em Moçambique com vários projectos de exploração da

indústria extractiva, nomeadamente de gás, areias pesadas e carvão. Existem

outros projectos de exploração e extracção de grande escala em curso, incluindo a

extracção de ferro na Província de Tete. Como resultado deste crescimento na

extracção de recursos, o número de investidores em Moçambique tem vindo a

aumentar ao longo da última década.

O crescimento da indústria de exploração mineira, bem como as descobertas

recentes de gás natural na Bacia do Rovuma representam uma oportunidade para

o desenvolvimento da economia do país e a melhoria das condições de vida dos

Moçambicanos. Todavia, a materialização desta oportunidade depende, em

grande parte, da capacidade do governo de responder aos desafios derivados

deste impulso no sector extractivo, tais como a existência de infra-estrutura de

apoio e a garantia de transparência e prestação de contas no âmbito dos

processos de desenvolvimento dos projectos de investimento.

A Estratégia e Política dos Recursos Minerais foi aprovada em 2013 para guiar

estes processos. Sob coordenação do Ministério dos Recursos Minerais, a

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

11

Estratégia tem como objectivo expandir o conhecimento sobre os recursos

minerais existentes; optimizar e valorizar a produção mineira; preservar o

ambiente; promover o quadro institucional nacional e o sector privado, promover o

investimento e transformar a indústria mineira no principal contribuinte para a

economia do país.

Além disso, num esforço para alinhar as políticas nacionais com as boas práticas

e normas internacionais, Moçambique tornou-se signatário da Iniciativa de

Transparência da Indústria Extractiva em 2009.

Por último, para além dos instrumentos mencionados acima, Moçambique tem a

sua própria legislação que governa as actividades mineiras, Avaliação de Impacto

Ambiental e Consulta Pública, Planeamento e Licenciamento do Uso da Terra,

bem como Planeamento de Compensações e Reassentamento. Esta legislação

procura alinhar-se com as boas práticas internacionais para Avaliação de Impacto

e Reassentamento dos principais doadores e credores, tais como o Banco Mundial

e a Corporação Financeira Internacional (IFC, sigla em inglês).

Metodologia

Na elaboração da AIS utilizaram-se métodos de recolha de dados qualitiativos e

quantitativos aliados a uma metodologia de avaliação de impacto específica.

Os métodos qualitativos utilizados incluíram uma análise da literatura,

observações no campo, entrevistas com informantes chave e discussões de grupo

focal com membros das oito comunidades na área do projecto. A componente

qualitativa focou temas tais como história da comunidade, a importância dos locais

sagrados, autoridade local/comunitária, acesso a serviços e recursos, uso da terra

e as preocupações e recomendações das comunidades com relação ao projecto.

O processo qualitativo de recolha de dados decorreu ao longo de um periódo de

10 dias, de 30 de Junho a 10 de Julho de 2014.

A componente quantitativa consistiu num inquérito socioeconómico aplicado a 324

agregados familiares localizados na zona tampão de 5 km ao redor da àrea de

mineração proposta, bem como numa zona tampão de 70 m de cada lado do

alinhamento indicativo da estrada de transporte. O inquérito tinha como objectivo

recolher dados sobre a demografia, educação, recursos hídricos, saneamento,

saúde, rendimento e despesas, habitação, agricultura, segurança alimentar,

mobilidade, disponibilidade e uso de serviços e resolução de conflitos a nível do

agregado. Esta componente foi implementada ao longo de 2 semanas, de 9 a 21

de Agosto de 2014.

Todos os questionários foram digitados e introduzidos numa base de dados no

pacote estatístico CSPro, que foi depois convertida para SPSS (outro software de

análise estatística) para a limpeza e análise dos dados.

Contexto do projecto

Moçambique

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12 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Moçambique tem uma população de cerca de 24 milhões de pessoas com uma

baixa densidade populacional. Pouco mais de metade da população é constituída

por mulheres e vive num cenário rural. Cerca de 75% da população auto-emprega-

se informalmente na agricultura e comércio; e apenas cerca de 20% está

formalmente empregada (INE 2009b, 2012). Em 2007, 50% da população era

alfabetizada, embora 26% nunca tivesse frequentado a escola (INE 2009b, 2012).

Desde o final da guerra civil (1992), Moçambique tem feito progressos nos seus

esforços de desenvolvimento. Entre 2000-2010, o país registou uma taxa anual

média de crescimento económico de 6% e tem, actualmente (2014), uma taxa de

crescimento de 7,3%: o que torna Moçambique numa das economias com

crescimento mais rápido no mundo para este periódo (projecção da Economist

Intelligence Unit para Moçambique, 2014). Moçambique criou um clima

macroeconómico estável e tem mantido as taxas de inflação anuais abaixo dos

4,2%, o que tem contribuiído para o crescimento consistente da economia. Este

crescimento contínuo permitiu a Moçambique atrair investimento estrangeiro e

local, conforme demonstrado no sector da indústria extractiva.

Nos últimos anos, a tributação das mais valias na indústria extractiva tem sido em

parte responsável pela redução do défice do orçamento nacional, bem como a

redução da dependência do Orçamento do Estado da ajuda externa de 50% no

início de 2000 para cerca de 35% em 2010. Todavia, a indústria extractiva só

representa uns modestos 2% do PIB.

Apesar do potencial da indústria extractiva para impulsionar a economia

Moçambicana e diminuir a sua dependência da ajuda externa, a sua contribuição

para a economia de Moçambique não tem sido linear e depende de factores

estruturais tais como a estabilidade da política nacional, infra-estrutura (transporte,

energia) e preços do minério e produtos minerais no mercado internacional.

Província de Tete

A Província de Tete é a terceira maior província do país e apesar da sua baixa

densidade populacional, alberga 9% da população nacional e é terceira província

mais povoada do país. A actividade económica principal na província é a

agricultura, embora a província tenha uma base de recursos naturais com

potencial significativo, actualmente subexplorado. Apesar deste potencial, o

desenvolvimento da província é prejudicado pela falta de mão-de-obra qualificada,

investimento privado e infra-estrutura básica, bem como pela modernização lenta

das estruturas e capacidade do governo local. Ao longo da última década, a

actividade de exploração mineira tem sido um elemento chave da planificação do

desenvolvimento da província. A indústria extractiva representa metade do PIB

projectado da província para 2014.

Distritos de Chiúta e Moatize

Os perfis étnicos, linguísticos e culturais dos dois distritos são muito semelhantes.

Chiúta e Moatize têm uma população rural e jovem e a família alargada é a forma

predominante de organização social. A língua mais usada é ciNyungwè, sendo

que o Português é falado por menos de um terço da população. A religião

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

13

dominante é a Católica, frequentemente aliada a práticas religiosas tradicionais.

As estruturas/figuras dos líderes tradicionais tais como o n’fumo e nhankwava ou

nhankawa, e as cerimónias tradicionais tais como as cerimónias da chuva e os

rituais de iniciação ainda são praticados nos distritos, com diferentes intensidades.

A agricultura é a principal actividade económica nos dois distritos. O solo nestas

zonas é pouco fértil e tem uma baixa capacidade de retenção de humidade, o que

originam riscos elevados de perda de culturas e produção. Por conseguinte, as

áreas húmidas perto dos rios e riachos são procuradas para a prática da

agricultura. Outras actividades económicas complementares incluem comércio

(principalmente informal), criação de gado, pesca e mineração artesanal. A

actividade industrial tem uma presença modesta.

Para além da agricultura, a terra também é usada para habitação e outras

actividades económicas tais como exploração mineira, silvicultura e produção

industrial de madeira. A posse de terra para habitação e agricultura é

predominantemente consuetudinária, sem a posse de DUAT. O uso da terra para

habitação é caracterizado por um padrão de habitação disperso com planeamento

urbano deficiente. A estrutura de habitação predominante nos distritos e na área

do projecto é a palhota (casa de pau a pique com um telhado de colmo). Na área

do projecto surgiram conflitos entre duas comunidades, relacionados com os

benefícios do projecto. Houve também relatos de conflitos homem-animal. A

provisão de serviços sociais básicos na área do projecto ainda é insuficiente. Em

2013, ambos distritos tinham escolas primárias e secundárias apesar de Chiúta

não ter capacidade para oferecer a 11ª e 12ª classes. Em 2005, 80% da

população de Chiúta e 67% da população de Moatize era analfabeta. Em ambos

os distritos a taxa de analfabetismo é maior entre as mulheres. Apesar da

expansão da rede escolar, a cobertura dos serviços de educação ainda é

insuficiente, principalmente para o ensino secundário.

No que diz respeito à saude, em 2012 ambos distritos tinham serviços de saúde

que consistiam em hospitais rurais, centros de saúde e postos de saúde. Apesar

da expansão do sistema de saúde, os rácios unidade de saúde/residente e cama

na unidade de saúde/residente continuou alto. As doenças mais comuns nos

distritos são as associadas à água, nomeadamente malária e diarreira, e também

Doenças de Transmissão Sexual (DTS) e VIH/SIDA.

A provisão e disponibilidade de água potável e os sistemas de saneamento de

esgotos nos distritos e na área do projecto é baixa. Aproximadamente 67% da

população dos distritos recolhe e consome água de uma fonte insegura. Para além

disso, a manutenção das bombas de água é insuficiente em ambos distritos e

representa um desafio ao abastecimento de água. Com relação ao saneamento,

cerca de 75% da população pratica o fecalismo a céu aberto.

O transporte no Distrito de Chiúta é assegurado por estrada, sendo que em

Moatize o acesso é garantido por estrada e linha-férrea. A comunicação é

assegurada via rádio e telemóveis, embora a cobertura seja limitada na área do

projecto.

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14 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

A fonte de energia principal nos distritos é a lenha (madeira para combustível). As

sedes de ambos os distritos, a Vila de Moatize em Moatize e a Vila de Manje em

Chiúta, estão ligadas à rede de energia nacional.

Constatações

Foram inquiridas oito comunidades localizadas na área do projecto, duas no

distrito de Moatize e seis no distrito de Chiúta.

A dimensão média do agregado familiar na área do projecto é 4,5 membros. O

sistema da família alargada é predominante na área do projecto, sob a forma de

pequenas unidades adjacentes umas às outras. Os agregados são liderados

principalmente por homens, com níveis de educação baixos.

A língua materna dos agregados é ou Chewa (falada por 60% dos agregados) ou

ciNyungwè (falada por 40% dos agregados). Nenhum agregado fala Português

como língua materna, o que não é surpreendente face aos baixos níveis de

educação dos agregados.

Os agregados inquiridos pertencem a dois grupos étnicos principais do Vale do

Zambeze, nomeadamente os Chewa-Nyanja e os ciNyungwè. Os Chewa-Nyanja

são um grupo étnico matrilinear da parte superior do Rio Zambeze que também

está presente no Malawi. Os ciNyungwè são um grupo étnico originário do Vale do

Zambeze que combina características matrilineares e patrilineares. Apesar das

comunidades inquiridas estarem cientes dos seus antecedentes étnicos, dentro da

comunidade não se fazem distinções étnicas no dia-a-dia ou em eventos

cerimoniais; a diferenciação social parece sim ter bases socioeconómicas e

religiosas. A etnicidade só parece ganhar significância para as comunidades

inquiridas quando se aborda a questão das expectativas em relação ao projecto,

particularmente a preocupação de que o projecto irá dar prioridade à contratação

de mão-de-obra ‘estrangeira’ em vez da local.

Os agregados mais pobres são liderados por mulheres com o seguinte perfil:

cerca de 50 anos de idade, viúvas ou separadas/divorciadas, desempregadas ou a

trabalhar na agricultura de subsistência. Estes agregados são considerados mais

vulneráveis porque têm menos acesso a insumos, menor capacidade de geração

de rendimento e estão mais dependentes das redes de apoio social existentes.

Assim, se estes agregados forem sujeitos a reassentamento físico ou deslocação

económica (ou seja, perda de terra e/ou habitação) podem ter mais dificuldades a

adaptar-se a novas estratégias de geração de rendimento ou subsistência –

principalmente a estratégias que não sejam baseadas na terra.

A tabela abaixo apresenta um resumo das características socioeconómicas e das

constatações sobre a área estudada.

Variável Constatações

Ocupação 83% dos membros do agregado não estão empregados

Dos 17% que estão empregados, as ocupações mais comuns são a agricultura (45% dos membros do

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

15

Variável Constatações

agregado) e mão-de-obra não qualificada remunerada (23% dos membros do agregado).

Rendimento,

Depesas e Bens

As fontes de rendimento são a agricultura; mão-de-obra não qualificada remunerada; venda de culturas de rendimento, comida e bebidas alcoólicas; e reforma. Com excepção da última, estas são todas estratégias de rendimento baseadas ou relacionadas com a terra.

Em média, os agregados em Chiúta ganham mais por mês (USD 181) do que os agregados em Moatize (USD 153). No entanto, os agregados em Chiúta também têm mais despesas (USD 60).

As despesas mais comuns são comida (produtos manufacturados como óleo e açúcar e produtos frescos como peixe, carne e cereais), produtos de higiene, roupa e saúde.

A grande maioria dos agregados não usa serviços financeiros.

O carácter rural dos agregados inquiridos é demonstrado pelos seus bens (machado e enxada).

Agricultura Quase metade da terra agrícola é irrigada pela chuva porque a cobertura dos sistemas de irrigação existentes é muito limitada. Existem também níveis baixos de mecanização da agricultura e por isso os agregados usam machados e enxadas.

Todos os agregados inquiridos têm pelo menos uma machamba, metade das quais está localizada no quintal do agregado ou perto do quintal.

A agricultura é praticada ao longo das margens dos rios e ribeiros perto das casas, devido à humidade do solo.

Mais de 33% das machambas tem até 0,5 ha mas 22% das machambas dos agregados inquiridos tem 3 ou mais ha.

As culturas mais comuns são o milho, feijão e hortícolas.

Todas as culturas são usadas para consumo do agregado e uma parte também destinada a venda. Os agregados em Chiúta estão mais orientados para a venda do que os agregados em Moatize.

Os agregados têm, em média, quatro árvores de fruto de subsistência (normalmente mangueira e bananeira). As árvores não são jovens e a sua produção é principalmente para consumo do agregado.

Metade dos agregados faz criação de animais (galinhas, cabras e porcos). Os animais são principalmente para venda e para consumo do agregado. As áreas para pasto são áreas comunitárias, separadas das machambas.

A terra também é importante para a extracção de recursos naturais para a subsistência das comunidades, tais como lenha para combustível e caniço e paus para construção.

Pobreza e

Vulnerabilidade

Os agregados inquiridos no distrito de Chiúta têm uma maior proporção de agregados de renda baixa ou muito baixa, do que os do distrito de Moatize e também têm mais disparidades económicas, ou seja, cerca de metade de população tem renda baixa/muito baixa e a outra metade tem renda alta/muito alta.

Os agregados inquiridos de renda mais baixa são

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16 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Variável Constatações

liderados por mulheres solteiras (71% dos agregados) com cerca de 50 anos; viúvas ou separadas/divorciadas (mais de 75%) e desempregadas ou a trabalhar na agricultura de subsistência (45% e 68% respectivamente).

Cerca de 7% dos Chefes dos Agregados inquiridos são idosos, normalmente do sexo masculino.

Aproximadamente 3% dos membros dos agregados inquiridos têm alguma deficiência, normalmente física ou visual.

Existem redes de apoio social activas que ajudam a contrapor a vulnerabilidade temporária ou permanente dos membros da comunidade.

Habitação As habitações consistem normalmente numa casa principal de pau a pique com infra-estruturas adicionais (cozinha, celeiro, capoeira, curral, latrina, etc.) no quintal.

As paredes não são pintadas e o quintal não é vedado.

A casa é normalmente de auto-construção e pertence às pessoas que lá vivem.

Nenhuma das casas inquiridas tem água canalizada ou energia.

Educação Existem cinco escolas primárias, incluindo uma escola primária completa

1.

Três comunidades não têm nenhuma escola.

Para além das escolas primárias, não existem outras escolas na área.

A maioria das crianças em idade escolar frequente a escola, principalmente uma escola primária relativamente perto de casa (50% das crianças andam 30 minutos a pé para chegar à escola e 33% andam mais de 30 minutos).

Segurança

alimentar

A alimentação é assegurada através da agricultura de subsistência e da compra de alimentos.

Os meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março são os meses com menos comida disponível e maior probabilidade de períodos de fome.

A dieta tradicional dos agregados é baseada no milho, feijão e hortícolas.

Saúde Só há um posto de saúde na área do projecto, que fornece cuidados de saúde básicos. O centro de saúde mais próximo que fornece cuidados mais avançados é o Centro de Saúde de Kazula, a 70 km de distância.

As doenças mais comuns são a malária, a gripe e a diarreia.

Os agregados de Chiúta tendem mais a procurar tratamento numa unidade de saúde enquanto os de Moatize recorrem mais a remédios caseiros e a ervas medicionais.

Cerca de 3% dos agregados inquiridos têm um membro a sofrer duma doença crónica (normalmente asma e dores crónicas).

Em media as mulheres têm o primeiro filho aos 18 anos. Quase dois terços das mulheres não receberam

1 No sistema educativo Moçambicano, uma escola primária completa oferece todas as sete classes da

educação primária.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

17

Variável Constatações

cuidados pré-natais na última gravidez e apenas cerca de um terço deu à luz numa unidade sanitária.

Abastecimento de

Água e

Saneamento

Nenhum dos agregados inquiridos tem água canalizada em casa. Os agregados dependem de fontes externas de água, sendo a mais comum a água do rio.

Os agregados demoram, em média, 25 a 30 minutos a pé para ir buscar água.

A fonte de água mais próxima está a menos de 1 km e os agregados vão buscar água todos os dias.

Cerca de 90% dos agregados não tratam a água que consomem.

Metade dos agregados já ouviu falar de doenças transmitidas pela água.

A maioria dos agregados (95%) defeca a céu aberto.

A grande maioria dos agregados (96%) lava as mãos.

50% dos agregados elimina os seus resíduos num aterro público, 33% queima os resíduos no quintal e pouco mais de 10% enterra os resíduos no quintal.

Transportes e

Comunicações

As estradas de terra batida ou trilhos são a forma mais comum de acesso às comunidades inquiridas.

A maioria dos agregados (93%) desloca-se a pé.

A comunicação é feita através de telemóveis, apesar da cobertura ser limitada.

Locais Sagrados Um terço dos agregados tem pelo menos uma campa familiar, que costuma estar no próprio quintal.

Todas as comunidades inquiridas têm um ou dois cemitérios públicos que são usados por todos os membros da comunidade.

Todas as comunidades na área afectada pelo projecto têm locais sagrados que incluem árvores sagradas e locais para rituais de iniciação com florestas sagradas associadas, montanhas sagradas, cemitérios e igrejas.

A preparação e implementação das cerimónias sagradas é liderada pelo líder comunitário e envolve todos os membros da comunidade.

As comunidades têm sentimentos mistos sobre a deslocação dos locais sagrados.

Energia A principal fonte de energia dos agregados é a lanterna e madeira para combustível (madeira ou carvão).

Potenciais Impactos Associados ao Projecto

A tabela seguinte contém um resumo da classificação de significância dos

impactos identificados:

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18 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Impacto/ Fase do projecto

Sem Mitigação Com Mitigação

Escala temporal

Escala espacial Probabilidade Gravidade Significância Gravidade Significância

Impacto 1.1: reassentamento dos agregados

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Provável MODERADA

Operação Longo prazo Área de estudo Muito Severa Provável MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 1.2: adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 2.1: perda de terra arável e de rendimento

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer MODERADA

Operação Permanente Regional Muito Severa Definitiva MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 2.2: menos acesso e mais competição pelos recursos naturais

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 2.3: perda de rendimento e segurança alimentar

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 3.1: perturbação da mobilidade e circulação de pessoas

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 4.1: influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego

Construção Curto prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

19

Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 4.2: abandono da agricultura a nível do agregado

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 4.3: contratação e formação de mão-de-obra local

Construção Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA Provável BAIXA

Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA

Impacto 4.4: procura por bens e fornecedores de serviços locais

Construção Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA

Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável ALTA

Impacto 4.5: melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial

Construção Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Provável MODERADA

Operação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Improvável MODERADA

Impacto 5.1: perturbação das relações e coesão sociais

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 5.2: conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 5.3: perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou acesso aos mesmos

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.1: perturbação das comunidades vizinhas como resultado do aumento dos níveis de ruído e vibração

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20 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Área de estudo Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.2: segurança rodoviária

Construção Curto prazo Regional Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.3: poluição (ar, solo, água do rio)

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.4: maior incidência de doenças transmissíveis e não transmissíveis

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.5: aumento de doenças ocupacionais resultantes de actividades de construção

Construção Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Localizado Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.6: exploração da mão-de-obra

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Pode ocorrer BAIXA Improvável BAIXA

Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Improvável BAIXA

Impacto 7.1: elevadas expectativas sobre os benefícios do projecto

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 7.2: conflitos a nível comunitário devido a diferenças nos benefícios do projecto

Construção Curto prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

21

Conclusão

A conclusão global do estudo e da análise de AIS é que, se as medidas de mitigação propostas

forem implementadas de forma adequada, os impactos previstos do projecto justificam a

implementação do projecto. Isto deve-se ao facto dos impactos negativos identificados serem,

geralmente, de baixa magnitude, limitados e temporários e compensados pelos potenciais impactos

positivos. Todavia, para que isto aconteça, é necessário prestar atenção especial à mitigação dos

impactos mais significativos – o potencial reassentamento e a perda de terra agrícola. Devem ser

feitos todos os esforços para evitar estes dois impactos, incluindo a análise de um alinhamento

alternativo do projecto para assegurar que os agregados afectados pelo projecto pelo menos

mantêm, e não pioram, os padrões de vida que tinham antes da implementação do projecto.

O projecto será implementado numa área com baixos níveis de desenvolvimento socio-ecónomico.

As comunidades existentes dependem muito de estratégias de geração de rendimento baseadas na

terra ou relacionadas com a terra, e a terra é o seu bem mais importante. As comunidades existentes

também demonstram um forte sentimento de inserção e coesão social. Face ao ambiente

socioeconómico relativamente sereno vivido na área do projecto neste momento, o projecto tem o

potencial de trazer mudanças significativas às vidas das comunidades existentes.

Conforme indicado anteriormente, os impactos mais significativos são o reassentamento e a perda de

terra agrícola, que devem ser abordados de forma adequada através das medidas de mitigação

recomendadas, de forma a conseguir a aceitação do projecto por parte da população e do governo

local. Isto irá assegurar a sustentabilidade futura do projecto. A perda de terra agrícola e o

reassentamento podem obrigar os agregados afectados a adaptar-se a novas estratégias de geração

de rendimento com as quais não estão familiarizados, e pôr em risco a restauração do seu meio de

vida. O reassentamento pode isolar os agregados das suas redes de apoio social nas comunidades

de origem, o que pode também prejudicar a restauração dos meios de vida. Para além disso, a perda

de locais sagrados pode ter um impacto negativo no sentimento de equilíbrio e bem-estar das

comunidades, limitando a sua aceitação do projecto.

Minimizando o reassentamento na medida do possível, permitindo o acesso às machambas

existentes e evitando a exploração mineira em locais sagrados (ou, caso tal não seja possível, obter

autorização das líderanças locais para tal) são algumas das medidas que irão influenciar a recepção

positiva do projecto pelas comunidades; mais do que compensações monetárias pela perda de bens.

O projecto pode também trazer desenvolvimento socioeconómico à área e abordar algumas das

necessidades sociais prementes das comunidades existentes; transformando assim o projecto numa

oportunidade de desenvolvimento real.

Se se implementarem as medidas de mitigação adequadas para os impactos negativos e as medidas

adequadas para realçar os impactos positivos, o potencial do projecto de promover o

desenvolvimento socioeconómico sustentável na área irá materializar-se.

Por último, uma comunicação e consulta atempadas e regulares com as comunidades na área do

projecto são aspectos essenciais para a aceitação e apropriação local do projecto, que beneficiará as

comunidades e o proponente do projecto. É importante envolver as autoridades Distritais no

processo de comunicação e consulta com as comunidades, para assegurar o alinhamento da gestão

dos impactos do projecto com a gestão de outros projectos no distrito e, em termos mais gerais, na

província de Tete.

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22 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO

A Capitol Resources Limitada (Capitol Resources) pretende desenvolver um projecto de mineração

de minério de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize da Província de Tete, na região Centro de

Moçambique. O projecto abrange três áreas de licenças (1032L, 1033L e 1035L) de propriedade

integral da Capitol Resources. A primeira fase da actividade de exploração mineira terá lugar na área

da licença 1035L, que partilha fronteira com os projectos de carvão da Vale e da Ncondedzi. A

localização da área de estudo do projecto na Província de Tete está ilustrada na Figura 1 abaixo.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

23

Figura 1: Localização do projecto na Província de Tete

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24 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

O projecto irá, inicialmente, focar a Área de Prospecção de Tenge-Ruoni (1035L) para a produção de

ferro gusa. Tenge-Ruoni é uma área de mineralização significativa que contém depósitos de

magnetite, titânio e e vanádio dentro dum conjunto de prospectos conhecido como Grupo Massamba.

O projecto de exploração mineira proposto tem o potencial de causar impacto sobre a vida e meios

de subsistência das comunidades locais que serão provavelmente afectadas pelas operações e infra-

estrutura associadas ao projecto. Do mesmo modo, este relatório de Avaliação do Impacto Social

(AIS) foi elaborado para identificar e analisar os impactos previstos e associados ao projecto e

recomendar medidas de prevenção (mitigação) para reduzir a significância dos impactos negativos

causados pelo projecto, bem como fornecer orientações sobre como maximizar os potenciais

benefícios para as comunidades afectadas.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

25

2 QUADRO INSTITUCIONAL, LEGAL E DE POLÍTICAS

Esta secção delineia o quadro institucional, legal e de políticas aplicável ao projecto. É também

enfatizada a legislação nacional que aborda a consideração dos impactos sociais e

responsabilidades do proponente tanto quanto é relevante para o projecto.

O capítulo está subdividido em subsecções que abordam i) estratégias nacionais para a energia e

recursos naturais, ii) legislação nacional para as actividades mineiras, iii) legislação nacional e

directrizes internacionais sobre a Avaliação do Impacto Social e Consulta Pública, iv) legislação

nacional e directrizes internacionais sobre Reassentamento e v) governo e liderança local.

2.1 Políticas e estratégias nacionais para os recursos naturais e

energéticos

Apesar do rico potencial geológico de Moçambique, até aos anos 90 a actividade mineira estava

limitada a projectos de pequena e média escala de carvão, ouro, pedras preciosas e mármore, entre

outros minerais. Na viragem do século XXI, contudo, a actividade da indústria mineira e extractiva de

grande escala já tinha começado com uma série de grandes projectos de extracção de recursos

como o gás (2004, província de Inhambane), areias pesadas (2007, província de Nampula) e carvão

(2011, província de Tete). Desde então, outros projectos de extracção e prospecção a larga escala já

estão em curso ao nível nacional, incluindo a extracção de ferro nas províncias de Nampula e Tete

(ITIE, 2014). O número de investidores estrangeiros e a escala de investimento têm estado a crescer

de forma estável desde a década passada: os investimentos aumentaram aproximadamente 14

vezes em 8 anos, de 184 milhões de USD em 2005 para 2,7 biliões de USD em 2013 (Política e

Estratégia de Recursos Minerais, 2013).

O crescimento da indústria mineira, bem como as recentes descobertas de gás natural na Bacia do

Rovuma, representam uma oportunidade de desenvolvimento para a economia do país e de

prosperidade para os Moçambicanos. Contudo, a materialização desta oportunidade depende

largamente da capacidade do governo de responder aos desafios que têm surgido devido ao

crescimento recente do sector extractivo – tais como o fornecimento de transporte adequado e um

grande volume de infra-estruturas de serviços para atender a esses investimentos – e da sua

habilidade para garantir a transparência, responsabilização e monitoramento de cumprimento

apropriado dessas indústrias extractivas. Há também a necessidade de promover o desenvolvimento

equitativo e sustentável destes recursos minerais não renováveis, assim como de proteger o

ambiente e o interesse de gerações futuras. À luz destes objectivos e princípios, o Governo de

Moçambique desenvolveu e aprovou a Política e Estratégia de Recursos Minerais.

A Política e Estratégia de Recursos Minerais (PERM) foi aprovada em Dezembro de 2013. O

Ministério de Recursos Minerais (MIREME) é responsável pela sua implementação, em coordenação

com outras instituições do governo, e entidades públicas e privadas. A PERM tem como objectivo

melhorar o conhecimento sobre a existência dos recursos minerais, optimizar e acrescentar valor à

produção mineral, preservar o ambiente, promover o quadro institucional nacional e o investimento

no sector privado e transformar a indústria mineira num grande contribuinte para a economia do País.

A política estipula que isto deve ser alcançado através de um mapeamento geológico detalhado do

território nacional, o estabelecimento dum enquadramento legal e fiscal competitivo, a transparência

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26 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

e responsabilização do Governo e do Sector Privado no fornecimento de serviços de qualidade2 e a

monitoria das actividades de responsabilidade social corporativa das empresas de mineração. Isto

será também alcançado através da promoção da participação do Estado Moçambicano e do sector

privado na actividade mineira, promoção do investimento formal no sector, adopção de tecnologias

verdes (tais como a mitigação de poeiras e a selecção dos tractores para mineração a céu aberto),

implementação de melhores práticas de mineração de pequena escala, da preferência aplicada ao

processamento interno dos recursos minerais, pesquisa científica e desenvolvimento de capacidades

dos recursos humanos, e também o desenvolvimento a nível local. Enquanto as comunidades

estiverem a viver nessas áreas de mineração, elas devem t priorizadas na recepção de benefícios da

actividade mineira, e é também imperativo que os seus direitos e património cultural sejam

preservados.

Tal como recomendado pela PERM, o Estado Moçambicano é um participante obrigatório

(juntamente com os investidores privados) nos projectos ‘estratégicos’ da exploração de recursos

minerais tal como petróleo, gás e carvão. Para este propósito, duas companhias públicas foram

criadas, uma para a mineração e outra para o petróleo3. Adicionalmente, três associações foram

estabelecidas para os investidores privados, mais especificamente duas para a mineração e uma

para o petróleo 4

. Além disso, uma Câmara de Minas foi oficialmente criada em 2012, com o apoio do

MIREME, como uma associação privada sem fins lucrativos. A Câmara de Minas composta por

empresas a operar no sector mineiro a nível nacional e tem como objectivo defender os interesses

dos seus membros e promover o diálogo com o Governo Moçambicano para discutir as

preocupações da indústria mineira. Para além disto, há mais de sessenta associações de mineiros

artesanais e de pequena escala no país. Todas estas entidades são obrigadas a operar dentro das

diretrizes da PERM.

A PERM baseia-se noutras orientações políticas do sector mineiro, tais como a Estratégia de

Formação e Capacitação de Recursos Humanos para o Sector Mineiro (2010) e a Política de

Responsabilidade Social Corporativa na Indústria de Extracção de Recursos Minerais (2014).

A Estratégia de Formação e Capacitação de Recursos Humanos para o Sector Mineiro tem como

objectivo abordar o desafio do fornecimento de mão-de-obra capacitada e qualificada para a indústria

de mineração nacional. Particularmente, esta procura aumentar o número de profissionais

qualificados e reduzir a dependência de mão-de-obra estrangeira, promover instituições de formação

e capacitação em locais com actividade mineira/geológica intensa e estabelecer parcerias público-

privadas de forma a poder criar programas de formação e capacitação.

A Política de Responsabilidade Social Corporativa na Indústria de Extracção de Recursos Minerais

entrou em vigor em Agosto de 2014. Com esta, a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) torna-

se obrigatória para todas as indústrias de extracção de recursos minerais em Moçambique. A política

é guiada pelo conceito de RSC da ISO 26000: a responsabilidade de uma organização pelo impacto

das suas decisões e actividades sobre a sociedade e o ambiente.

2O Governo é chamado a melhorar a transparência e a responsabilidade na divulgação pública das receitas da indústria

extractiva e as respectivas aplicações. Por outro lado, espera-se que o Sector Privado melhore a transparência na divulgação,

ao Governo, de dados sobre a actividade extractiva realizada, para a definição do regime tributário aplicável.

3Para o petróleo, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P. (ENH). Para a mineração, a Empresa Moçambicana de

Exploração Mineira, S.A. (EMEM).

4Para a mineração, a Associação Moçambicana para o Desenvolvimento do Carvão Mineral (AMDC), criada em 2009 e a

Associação Moçambicana de Mineração (AMOMINE), criada em 2007. Para o petróleo, a Associação Moçambicana dos

Operadores Petrolíferos Internacionais (AMOPI), criada em 2012.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

27

A política de RSC tem como objectivo garantir uma exploração sustentável de recursos minerais e

aumentar os seus benefícios para a população moçambicana. A política consiste em acções de

“investimento social” que terão de ser formalmente acordadas por escrito e “acordos para o

desenvolvimento local” assinados entre a empresa mineradora e o governo Moçambicano,

testemunhados por um representante da(s) comunidade(s) onde o projecto está a ser desenvolvido.

As acções de investimento social devem estar alinhadas com os planos de desenvolvimento a nível

local, regional e nacional. Todas as “partes interessadas”, incluindo o governo local e as

comunidades na área do projecto, devem estar envolvidas na tomada de decisões para a concepção,

bem como para a avaliação e monitoria, das acções de investimento social. Além disso, também

deve ocorrer a monitoria independente.

A política prevê que os Concelhos Consultivos Distritais existentes irão actuar como “grupos de

coordenação local” para facilitar a comunicação entre comunidades, o governo e a(s) empresa(s)

mineradora(s) no que diz respeito à tomada de decisões sobre as acções de investimento social. Os

acordos para o desenvolvimento local e a sua implementação, contudo, terão de ser aprovados e

supervisionados por Grupos de Coordenação Provincial.

Porém, de acordo com a política para RSC, o investimento social deve priorizar o desenvolvimento

de capital humano, a colaboração com empresários locais e a promoção do emprego produtivo. Os

acordos para o desenvolvimento local devem incluir financiamento para a implementação5,

monitoramento e avaliação das acções de investimento social, assim como o desenvolvimento da

capacidade das comunidades locais para negociar o investimento social e provedores de serviços

locais para fornecerem serviços em conformidade com as normas internacionais. Os acordos devem

também abordar as fases de construção, operação e desmantelamento do projecto.

A política exige transparência e responsabilização através da RSC que inclui o seguinte: o acordo

para o desenvolvimento local deve ser publicado e a sua implementação referida em relatórios de

progresso, devendo ser também publicados os relatórios de monitoria e avaliação. A frequência e

formato dos relatórios de progresso e dos relatórios de monitoria e avaliação ainda não foram

definidos.

Dito isto, a política de RSC não especifica claramente os papéis, responsabilidades, prazos e

financiamento para a sua implementação na prática. Também não é clara em relação às

responsabilidades do Estado Moçambicano e das comunidades hospedeiras (ou afectadas), ou às

implicações da não-produção, não-implementação e/ou não-elaboração de relatórios sobre os

acordos de desenvolvimento local. Estes aspectos ainda estão por ser regulamentados pelo governo

nacional.

A PERM está também estreitamente ligada a outros quadros legais e/ou orientadores, tais como a

Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva e a Lei de Minas.

Moçambique começou a aderir à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva (ITIE) em 2009, e

tornou-se em estado-membro da ITIE em Outubro de 20126. Foi criado o Comité de Coordenação

5As contribuições em espécie feitas pelas empresas mineiras também são consideradas como acções de investimento social e

podem ser incluídas no acordos para desenvolvimento local.

6A ITIE é uma iniciativa internacional para a melhoria da transparência na indústria extractiva, lançada em 2002 na Cimeira

Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. A ITIE compara e reconcilia anualmente os pagamentos feitos pelas

companhias de mineração, petróleo e gás ao Estado cujos recursos naturais elas exploram, em relação aos valores

declarados como recebidos pelo Estado. A adesão de um Estado-membro à ITIE é voluntária.

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28 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Nacional da ITIE, composto por doze instituições representando o governo, empresas e sociedade

civil em porções iguais (quatro cada) e é dirigido pelo Ministério de Recursos Minerais (MIREME). A

revisão da Lei de Minas (ver Secção 2.2) vai completar a integração formal do país à ITIE.

Como parte do compromisso de Moçambique para com a ITIE, o acesso público aos registos da

actividade mineira a nível nacional está agora disponível, modelos de contratos-padrão para

concessões de mineração e de prospecção / produção de hidrocarbonetos foram criados, aos quais

foi adicionada uma cláusula anticorrupção obrigatória. Os relatórios anuais de conformidade à ITIE

mostram o progresso em termos de cobertura, com mais empresas e mais pagamentos incluídos,

tais como os fundos para a Capacitação Institucional e para Projectos Sociais.

No entanto, Moçambique ainda enfrenta uma série de desafios para estar plenamente de acordo com

as directrizes da ITIE. Estes incluem, entre outros, a baixa contribuição fiscal das empresas de

mineração/petróleo e gás para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional e o uso e gestão dos fundos da

Capacitação Institucional e Projectos Sociais (CIP, 2012).

A Tabela 1 abaixo resume o quadro estratégico para a actividade mineira em Moçambique:

Tabela 1: Legislação nacional relacionada com o quadro estratégico para a actividade mineira.

Legislação Breve Descrição Significância

Quadro de MIneração

Política e Estratégia de Recursos Minerais, de Dezembro de 2013

Orienta o desenvolvimento da actividade mineira no país.

Define os factores-chave de desenvolvimento da mineração:

1. Quadro legal e fiscal competitivo;

2. Transparência e Responsabilização na qualidade de prestação de serviços;

3. Monitoria das actividades de responsabilidade social corporativa das empresas de mineração;

4. Promoção da participação do sector privado e do Estado no sector de mineração;

5. Promoção do investimento formal e de tecnologias de mineração verdes;

6. Pesquisa científica e capacitação de recursos humanos; e,

7. Desenvolvimento local.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

29

Legislação Breve Descrição Significância

Política de Responsabilidade Social Corporativa para a Indústria Extractiva, Maio de 2014

Guiada pelo conceito de RSC da ISO 26000, visa assegurar a exploração sustentável dos recursos minerais e melhorar os seus benefícios para a população.

A RSC consiste em acções de “investimento social” e “acordos para um desenvolvimento local” estabelecidos por escrito.

Visa melhorar o conhecimento sobre os recursos minerais existentes, optimizar e adicionar valor à produção mineira, preservar o ambiente, promover o sector privado e o quadro institucional nacionais, e transformar a indústria mineira num contribuinte principal para a economia do país.

A RSC deve estar alinhada com os planos de desenvolvimento (locais, regionais e nacionais).

Todas as “partes interessadas” devem ser consultadas para a concepção de acordos, e para a monitoria e avaliação da sua implementação.

A RSC torna-se obrigatória para todas as indústrias extractivas de recursos minerais em Moçambique

Cada projecto de mineração deve definir acções de investimento social, a serem sistematizadas num “acordo para o desenvolvimento local”.

Cada projecto de mineração deve implementar, monitorar e avaliar cada acordo (incluindo a contratação de avaliadores independentes para M&A). Também deve apresentar relatórios sobre o progresso de tal implementação.

2.2 Legislação nacional relevante para a actividade mineira

Em Moçambique, a extracção de recursos minerais é regulada por duas leis principais,

nomeadamente a Lei de Petróleos e a Lei de Minas. Enquanto a Lei de Petróleos regula o uso e os

benefícios do petróleo, gás natural e metano, a Lei de Minas regula o uso e os benefícios de todos os

outros recursos minerais, incluindo o ferro. Assim, a Lei de Minas é relevante para o projecto

proposto.

De acordo com a Lei de Minas, actualmente em vigor, lei nº 14/2002 de 26 de Junho, e o

Regulamento da Lei de Minas do Decreto 28/2003 de 17 de Junho, todos os recursos minerais

localizados na superfície ou no subsolo, águas interiores, mares territoriais, plataforma continental e

“zona económica exclusiva” são propriedade do Estado Moçambicano. No entanto, pessoas

individuais ou colectivas têm o direito de usar e beneficiar de tais recursos através da obtenção de

um título mineiro. A lei prevê um número de títulos mineiros para prospecção, extracção

processamento e comercialização de recursos minerais, emitidos pelo MIREME ou, em condições

especiais, pelo Conselho de Ministros. A lei define, para cada título, os requisitos para a emissão,

bem como as suas condições, validade e obrigações do portador.

Além disso, a lei divide a categorização ambiental da actividade mineira em três níveis, baseando-se

no tipo de operação e maquinaria a ser usada. O nível 1 aplica-se ao reconhecimento da área,

prospecção e pesquisa, enquanto que o nível 2 aplica-se à operação e exploração com maquinaria

mecanizada e o nível 3 aplica-se a todas as actividades não incluídas nos níveis anteriores, com

maquinaria mecanizada.

A lei também regula a comercialização dos produtos de mineração e o regime fiscal aplicável à

indústria mineira em Moçambique. Esta também define os princípios de gestão ambiental para a

actividade mineira, em consonância com a legislação ambiental e melhores práticas moçambicanas

actualmente em vigor. Portanto, são aplicáveis à actividade mineira os seguintes instrumentos de

gestão ambiental sujeitos à legislação ambiental:

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30 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA);

Plano de Gestão Ambiental (PGA);

Monitoria Ambiental;

Programa de Encerramento da Mina;

Auditoria Ambiental; e,

Programa de Controlo de Risco e Emergência.

O crescimento da indústria extractiva em Moçambique desencadeou a revisão da Lei de Minas, que

começou em 2011 e terminou em Agosto de 2014 com a aprovação da lei nº 20/2014 de 18 de

Agosto (Lei de Minas revista). Em vez de se fazer mudanças estruturais à Lei de Minas de 2002, a

Lei de Minas revista visa fortalecer o papel do Estado Moçambicano na actividade mineira e na sua

supervisão, com o objectivo de aumentar as receitas das actividades mineiras. A regulamentação da

lei revista está actualmente em curso.

Este instrumento legal prevê, 1) a aprovação, por parte do Estado Moçambicano, para a autorização

ou transferência de títulos mineiros (aos quais estão associadas taxas); 2) a comunicação obrigatória

sobre as descobertas de recursos minerais em áreas com títulos mineiros; 3) a participação do

Estado em projectos de mineração que são “estratégicos para o país”; e, 4) redução das cláusulas de

estabilização nos contratos já em vigor entre o Estados e as entidades mineiras. A lei também cria o

Instituto Nacional de Minas, liderada pelo Ministério dos Recursos Minerais, que é responsável por

regular a actividade mineira em Moçambique.

Além disso, a Lei de Minas revista coloca ênfase no fortalecimento da punição da mineração ilegal,

atraindo investimentos para aumentar a produção e o processamento de minerais, protegendo as

pequenas mineradoras nacionais, harmonizando as actividades mineiras e autorizando processos

com legislação ambiental existente, bem como adoptando uma série de melhores práticas de

mineração internacionais sobre transparência e responsabilização. A Tabela 2 abaixo resume a

legislação nacional relacionada com a actividade mineira:

Tabela 2: Legislação nacional sobre a actividade mineira.

Legislação Breve Descrição Significância

Actividade Mineira

Lei nº 20/2014 de 18 de Agosto (Lei de Minas revista)

Com base na Lei de Minas de 2002, a Lei de Minas revista reforça o papel do Estado Moçambicano nas actividades mineiras, particularmente na autorização/transferência de títulos mineiros, controlo das descobertas de recursos minerais e aumento da receita das actividades mineiras.

Cria o Instituto Nacional de Minas para regular a actividade mineira.

Reforça o papel do Estado Moçambicano na indústria mineira através de:

Aprovação da autorização ou transferência de títulos mineiros

Participação em projectos de mineração estratégicos

Redução das cláusulas de estabilização em contratos existentes

A divulgação das descobertas de recursos minerais em títulos mineiros torna-se obrigatória.

Lei nº 14/2002 de 26 de Junho (Lei de Minas)

Declara que todos os recursos minerais em território nacional são propriedade do Estado Moçambicano.

O MIREME emite títulos mineiros.

A classificação ambiental de

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

31

Introduz títulos mineiros para a prospecção, extracção, processamento e comercialização de recursos minerais.

Introduz a classificação ambiental e os princípios da gestão ambiental para actividades mineiras.

nível 2 aplica-se à operação e exploração com maquinaria mecanizada.

Ferramentas de gestão ambiental aplicam-se à actividade mineira:

1. AIA

2. PGA

3. Monitoria Ambiental,

4. Programa de Encerramento da Mina,

5. Auditoria Ambiental e

6. Programa de Controlo de Riscos e Emergências

Decreto 28/2003 de 17 de Junho (Regulamento da Lei de Minas)

Regula a comercialização de produtos de mineração e o regime fiscal da indústria mineira.

Aplica um regime fiscal específico à actividade mineira.

2.3 Legislação nacional sobre Avaliação de Impacto Social e Consulta

Pública

Em Moçambique, os estudos de Avaliação de Impacto Social (AIA) são considerados dentro do

enquadramento legislativo regente da AIA, no qual as características socioeconómicas da população

em volta do projecto têm de ser abordadas e os impactos do projecto analisados. Os instrumentos

legais que impõem o processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) são os Decretos Ministeriais

Nº 129 e 130/2006 de 19 de Julho, bem como o Decreto Ministerial Nº 45/2004 de 29 de Dezembro,

que estabelecem os princípios para a preparação de um estudo de AIA e a sua respectiva

componente de participação pública.

O Decreto Ministerial 129/2006 define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental. Este

também descreve os conteúdos de um estudo de AIA, incluindo o Plano de Gestão Ambiental (PGA)

e o Relatório do Processo de Participação Pública (PPP). Segundo este decreto, o estudo de AIA

deve incluir um estudo de base do contexto ambiental e social da área do projecto, uma análise

comparativa de locais alternativos para o projecto, a identificação e análise dos impactos esperados

negativos e positivos, bem como desenho de medidas de maximização dos impactos positivos e

mitigação dos impactos negativos.

O Decreto Ministerial 130/2006 estabelece o princípio da participação pública como uma componente

integral do processo de Avaliação de Impacto Ambiental e Social (AIAS), no qual as partes

interessadas e afectadas ou comunidades potencialmente afectadas devem contribuir para a

identificação e análise dos impactos esperados. Tem também a intenção de incentivar e promover a

aceitação do projecto desde uma fase inicial. O PPP requer a identificação das partes interessadas

do projecto, disseminação da informação relevante do projecto através de canais apropriados e

reuniões de consulta pública ou de divulgação para apresentação e discussão dos resultados do

estudo inicial de AIA.

O processo de AIA é, também, regulamentado pelo Decreto Ministerial 45/2004, que detalha o papel

do Comité Técnico de Avaliação na revisão dos relatórios de avaliação de impactos e na

coordenação geral do processo de AIA. Este também regula os procedimentos de AIA através da

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32 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Análise, Pré-Viabilidade e Produção dos Termos de Referência para o processo de elaboração do

estudo de AIA, o estudo de AIA em si, e finalmente do Licenciamento Ambiental e Auditoria

Ambiental correspondentes.

Com base no Decreto 130/2006, o Decreto 45/2004 regula, ainda, o Processo de Participação

Pública, definindo o número mínimo de reuniões que devem ser conduzidas (uma para o Relatório de

Pré-Viabilidade e Definição de Âmbito, e outra para o estudo de AIA). Este estipula que as reuniões

devem ser anunciadas nos meios de comunicação, os documentos de projecto devem ser

disponibilizados para consulta pública 15 dias antes das reuniões, e que o relatório de consulta

pública deve estar disponível para o público após a sua divulgação. Este requer que sejam,

adicionalmente, preparados um Plano de Gestão de Emergências e um Estudo sobre Saúde e

Segurança como parte da AIA, para abordar os riscos do projecto para a saúde, e qualidade de vida

no geral, para as populações anfitriãs que acolhem o projecto.

A Tabela 3 abaixo resume a legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto ambiental e

social:

Tabela 3: Legislação nacional relacionada com a avaliação de impacto social.

Legislação Breve Descrição Significância

Avaliação de Impacto Ambiental e Social

Decreto Ministerial nº 129 de 19 de Julho

Define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental e os conteúdos para um estudo de AIA, incluindo o PGA e o Relatório do PPP. A AIA deve apresentar um estudo de base da situação biofísica, económica e sociocultural da área do projecto, realizar uma análise comparativa dos locais alternativos para o projecto, identificar os impactos positivos e negativos do projecto sobre o ambiente e a população humana, analisar os riscos e apresentar medidas para reforçar os impactos positivos e mitigar os negativos.

Define os procedimentos para o Licenciamento Ambiental e os conteúdos para um estudo de AIA, o PGA e o Relatório de PPP.

Decreto Ministerial nº 130/2006 de 19 de Julho

Define o princípio de participação pública como um procedimento da Avaliação de Impacto Ambiental, com o objectivo de produzir uma AIA precisa e promover a aceitação do projecto a partir de uma fase inicial. O Processo de Participação Pública (PPP) requer a identificação das partes interessadas do projecto, disseminação de informação relevante do projecto em locais adequados à consulta pública e realização de reuniões de consulta pública para apresentação e discussão dos resultados preliminates do estudo de AIA.

Regula os procedimentos da AIA

Define o princípio de participação pública como um procedimento para os processos de avaliação de impacto ambiental e social.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

33

2.4 Directrizes Internacionais Aplicáveis à AIA

Uma série de directrizes internacionais relacionadas com o processo de AIA fornecem orientações

para o projecto, particularmente as exigidas por financiadores internacionais, como o Banco Mundial

(BM) e a Corporação Financeira Internacional (IFC). No caso dos projectos do sector privado, estas

directrizes geralmente usam como norma os padrões de desempenho (PD) sociais e ambientais da

IFC, que se baseiam nas políticas operacionais (PO) do Banco Mundial. As directrizes internacionais

aplicáveis ao projecto são:

Padrões de Desempenho (PD) para Sustentabilidade Ambiental e Social da IFC (Janeiro de 2012), incluindo o PD 5 sobre aquisição de terras e reassentamento involuntário;

Políticas de Protecção Ambiental e Social do BM (revistas em Agosto de 2011);

Livro de consulta sobre reassentamento involuntário do BM (revisto em Fevereiro de 2011);

Directrizes sobre Ferramentas e Técnicas para Avaliação Social e de Participação (1998).

Estas directrizes orientam o processo de AIAS, incluindo a concepção e implementação de Planos de

Acção de Reassentamento (PAR) e outras ferramentas de gestão ambiental e social.

Adicionalmente, estas apresentam disposições específicas para o que é considerado um processo

de consulta pública sólido, juntamente com outros aspectos-chave tais como aquisição de terra,

poluição e impactos na saúde e segurança. Embora a legislação nacional sejam soberana em

relação a estas directrizes internacionais, as directrizes ajudam a ultrapassar eventuais lacunas e

falta de clareza na legislação nacional, tais como os critérios de compensação e procedimentos

aplicáveis na perda de vários tipos de bens, bens e serviços ecológicos, e, mais importante ainda,

estratégias de subsistência e segurança alimentar do agregado, que normalmente resultam dos

processos de reassentamento.

A OP 4.1 do BM sobre Avaliação Ambiental e o PD 1 da IFC sobre Avaliação e Gestão de Riscos e

Impactos Ambientais e Sociais estipulam que os resultados da avaliação informam a tomada de

decisão sobre o financiamento do projecto. A AIA é da responsabilidade do mutuário e inicia o mais

cedo possível durante a fase de planificação do projecto. A AIA considera tanto o ambiente natural

como o social (saúde e segurança humana, questões sociais como o reassentamento involuntário e

o património ou recursos culturais).

A PO 4.01 e o PD 1 fornecem várias ferramentas e processos que podem ser utilizados no processo

de AIA (estudos especializados, avaliação de riscos, sistemas de gestão ambiental e social, etc.). O

uso ou necessidade de ferramentas individuais baseia-se na análise ambiental do projecto proposto,

a qual resulta na categorização do projecto em uma de quatro categorias do BM.

A Categoria A inclui projectos que têm grande probabilidade de ter impactos ambientais adversos

significativos que afectam uma área mais ampla da que a que inclui os locais ou instalações sujeitas

a trabalhos físicos, tal como o projecto proposto.

A PO 4.0 e PD 1 também determinam o processo de consulta pública. Todos os projectos de

Categoria A requerem pelo menos duas consultas com grupos afectados pelo projecto e

organizações não-governamentais, sendo uma após a Análise Ambiental e outra para a

apresentação do relatório inicial da AIA. As reuniões devem incluir discussões sobre aspectos

ambientais do projecto com as pessoas ou comunidades afectadas e o relatório de AIA deve

incorporar os resultados e conclusões destas reuniões. Documentos relevantes para o projecto

devem ser tornados disponíveis para o acesso público antes de cada reunião.

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34 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

A PO 4.01 e o PD 1 afirmam que durante a implantação do projecto, o mutuário deve reportar sobre,

(a) cumprimento com as medidas que foram acordadas, incluindo a implementação de qualquer PGA

conforme estabelecido nos documentos do projecto; (b) o estado das medidas de mitigação; e, (c) os

resultados dos programas de monitoramento. Os relatórios desenvolvidos para o projecto proposto,

incluindo este AIS, devem seguir estes padrões.

A Tabela 4 abaixo resume as directrizes internacionais para o processo de AIAS:

Tabela 4: Directrizes internacionais para o processo de AIAS.

Legislação Breve Descrição Significância

Avaliação de Impacto Ambiental e Social

PO 4.01 do Banco Mundial

Estipula que uma Avaliação Ambiental deve ser levada a cabo para uma tomada de decisão sobre o financiamento do projecto. Estabelece os princípios centrais e procedimentos para o processo de Avaliação Ambiental.

Estipula o princípio de Avaliação Ambiental para o financiamento do projecto.

PD 1 da IFC Apresenta uma série de ferramentas de Avaliação Ambiental a serem aplicadas de acordo com o projecto e contexto; a serem seleccionadas com base na Análise e Categorização do projecto.

Estabelece os procedimentos centrais para a participação pública das partes afectadas e interessadas no processo de AIA.

Define a necessidade de se conduzir uma AIAS para os projectos de Categoria “A”, tais como o projecto proposto de Minério de Ferro.

2.5 Legislação nacional relacionada com o Reassentamento

Durante a última década, Moçambique tem tido um aumento constante de investimentos na área da

extracção de recursos minerais e desenvolvimento de infra-estruturas. Isto tem, muitas vezes,

causado o reassentamento de agregados familiares e de comunidades inteiras, com diferentes

padrões e graus de sucesso durante a planificação, desenvolvimento e implementação do

reassentamento. Este cenário fez com que o Governo de Moçambique aprovasse o primeiro

instrumento legal para abordar especificamente a questão do reassentamento no país,

nomeadamente o Regulamento sobre o Processo de Reassentamento Resultante de Actividades

Económicas (Decreto 31/2012 de 8 de Agosto).

O Decreto 31/2012 estabelece os requisitos e princípios básicos que regem o processo de

reassentamento resultante de actividades económicas privadas ou públicas, com o objectivo de

assegurar um crescimento socioeconómico sustentável e equitativo e um padrão de vida melhor para

todas as pessoas afectadas pelo reassentamento.

Quando se confirma o impacto do reassentamento, o Decreto 31/2012 requer a preparação de um

Plano de Reassentamento e de um Plano para a Implementação do Plano de Reassentamento. Na

prática, o conteúdo combinado destes dois planos é equivalente ao conteúdo das directrizes

internacionais sobre reassentamento, ou seja, o Plano de Acção para o Reassentamento (PAR)

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

35

segundo a PO 4.12 do Banco Mundial (explicada mais à frente na Secção 2.6). O PAR apresenta o

perfil socioeconómico da população afectada, avalia os bens tangíveis e intangíveis afectados, define

os critérios de compensação e apresenta as medidas técnicas para restaurar ou melhorar os padrões

de vida das Pessoas Afectadas pelo projecto (PAPs). O Plano para a Implementação do plano de

Reassentamento apresenta uma matriz institucional, orçamento e cronograma necessários para a

implementação.

Segundo o Decreto 31/2012, a concepção do PAR antecede a emissão da Licença Ambiental do

projecto, razão pela qual o PAR é uma componente do processo de AIA e é integrado no Estudo de

AIA, submetido ao Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA). O Plano de

Reassentamento é aprovado pelo governo distrital do local para onde projecto está a ser proposto,

com aconselhamento do MICOA.

Neste momento um PAR está a ser preparado para o projecto proposto, pela COWI Mozambique,

reflectindo os requisitos do Decreto 31/2012. Para mais informação sobre o Decreto 31/2012, por

favor consulte o PAR produzido para o projecto proposto7.

A Tabela 5 abaixo resume as questões-chave da legislação sobre reassentamento.

Tabela 5: Legislação nacional sobre reassentamento

Legislação Breve Descrição Significância

Reassentamento

Decreto 31/2012 de 8 de Agosto – Regulamento para o Processo de Reassentamento Resultante de Actividades Económicas

Estabelece as regras básicas que regem o processo de reassentamento em Moçambique

Cria uma Comissão Técnica para a Revisão dos Planos de Acção de Reassentamento (PAR) necessários devido a projectos económicos que causam reassentamento, e define as responsabilidades da Comissão e procedimentos para a aprovação do PAR bem como o seguimento para a sua implementação. A aprovação cabe ao Governo do Distrito.

Introduz procedimentos específicos para a concepção e implementação de PARs. Define os conteúdos do PAR e do Plano de Acção para a Implementação do Reassentamento, os direitos das PAPs, as responsabilidades dos proponentes do projecto e a implementação do processo de consulta pública.

Introduz procedimentos para a concepção e implementação do PAR

Define as responsabilidades do proponente do projecto

Define a implementação do processo de consulta pública.

2.5.1 Uso da Terra

Os seguintes instrumentos legais regulam a compensação e o uso da terra em Moçambique:

Uso da terra:

7COWI para Capitol Resources (2014). Resettlement Action Plan for the Iron Ore Project in Tete Province (Plano de Acção

para Reassentamento do Projecto de Minério de Ferro na província de Tete). Ainda a ser produzido na altura da submissão do relatório de AIS.

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36 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

o Artigo 46 da Constituição; o Lei de Ordenamento do Território (Decreto 19/2007 de 18 de Julho) o Lei de Terras (Decreto 19/97 de 1 de Outubro) o Regulamento da Lei de Terras (Decreto 66/98 de 8 de Dezembro) o Regulamento do Solo Urbano (Decreto 60/2006 de 26 de Dezembro);

Compensação:

o Lei de Ordenamento do Território (Lei nº 19/2007 de 18 de Julho) o Regulamento da Lei de Ordenamento do Território (Decreto 23/2008 de 1 de Junho) o Directiva sobre o Processo de Expropriação para efeitos de Ordenamento Territorial

(Diploma Ministerial 181/2010 de 3 de Novembro); o Regulamento da Actividade Funerária (Decreto 42/90 de 29 de Dezembro).

O PAR inicial (COWI, 2014) apresenta uma discussão detalhada sobre estes instrumentos legais. Um

breve resumo destes instrumentos legais é apresentado na Tabela 6 abaixo:

Tabela 6: Legislação nacional relacionada com o reassentamento.

Legislação Breve Descrição Significância

Uso de Terra e Ordenamento Territorial

Decreto 19/2007 de 18 de Julho – Lei de Ordenamento de Território

Define as directrizes gerais e os instrumentos de ordenamento/gestão, com o objectivo de garantir o desenvolvimento sustentável através de i) planeamento de actividades realizadas no território local; e ii) preservação das reservas naturais e outras áreas protegidas.

O artigo 20 refere-se à expropriação de propriedade privada que pertence a, ou é usada por, comunidade tradicionais; devido a actividades de interesse e necessidade/utilidade pública. Nestes casos, uma compensação justa deve ser paga para cobrir, entre outras coisas, a perda de bens tangíveis e intangíveis, desagregação da coesão social e perda de bens produtivos.

Estabelece os princípios directivos dos instrumentos de Gestão Ambiental

Introduz a possibilidade de expropriação de propriedades privadas para actividades de interesse/necessidade pública, com uma compensação justa

Decreto 19/1997 de 1 de Outubro – Lei de Uso da Terra

Define as modalidades de uso da terra em Moçambique, segundo o princípio de que a terra pertence ao estado e ao povo Moçambicano, e deverá ser usado para o desenvolvimento sustentável cultural e socioeconómico e não para ser vendido como uma mercadoria.

Define os direitos das pessoas afectadas pelos projectos de desenvolvimento, com base no direito consuetudinário. Também define os procedimentos para aquisição de títulos para uso e aproveitamento da terra pelas comunidades e individuais.

Esta lei constitui a base para a Política de Ordenamento Territorial, com o objectivo de, i) promover o uso racional e sustentável dos recursos naturais; ii) preservar o equilíbrio ambiental; iii) promover a coesão nacional; iv) desenvolver as regiões e as vidas dos cidadãos;

Define os direitos sobre a terra das pessoas afectadas com base na lei consuetudinária, e os procedimentos para aquisição de títulos de uso e aproveitamento da terra por parte das comunidades e individuais.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

37

v) equilibrar a qualidade de vida em zonas rurais e urbanas; vi) melhoramento das condições de habitação, de infra-estrutura e do sistema urbano; e, vii) salvaguardar as comunidades vulneráveis contra os desastres naturais ou causados pelo homem.

Decreto 60/2006 de 26 de Dezembro – Regulamento do Solo Urbano

Fornece directrizes específicas para o uso da terra em centros urbanos, tais como cidades e vilas, com base na Lei de Terras.

Fornece directrizes para uso da terra em áreas urbanas

Áreas de domínio público/ Áreas de protecção

Decreto 19/1997 de 1 de Outubro – Lei de Uso da Terra

Estabelece áreas de protecção total ou parcial. Para aquedutos de abastecimento de água, a protecção parcial é estabelecida em 50 m de cada lado do aqueduto.

Nenhum direito de uso e aproveitamento de terra pode ser adquirido em zonas de protecção total ou parcial; no entanto, podem ser emitidas licenças especiais a Governadores Provinciais para actividades específicas nas zonas de protecção parcial.

Define a área de protecção parcial para aquedutos

Regulamento 66/1998 da Lei de Terras de 1 de Dezembro

Especifica que os procedimentos para o término de um título de terra no interesse público, tem de seguir os procedimentos de expropriação após o pagamento de uma compensação justa.

Define os procedimentos para o término de títulos de terra no caso de interesse público.

Decreto 19/2007 de 18 de Julho – Lei de Ordenamento de Território

Define que a expropriação para interesse público requer o pagamento de uma compensação calculada de forma justa pela perda de bens tangíveis e intangíveis, de bens produtivos e perturbação da coesão social.

Artigo 46 da Constituição de Moçambique

O Artigo 46 faz referência ao Direito de Domínio Eminente, o que estabelece que, no caso de expropriação de bens, os individuais e entidades têm o direito a i) compensação equitativa pelos bens expropriados; e, ii) um novo terreno equitativo.

Reconhece o direito a compensação devido à expropriação de bens

Decreto 23/2008 de 1 de Junho - Regulamento da Lei de Ordenamento do Território

Reconhece a expropriação para fins de ordenamento territorial (por exemplo, terras de domínio público) por interesse público (instalação de uma infra-estrutura económica ou social com grandes impactos sociais positivos).

Também estabelece que uma compensação justa tem de ser paga antes de ocorrer a transferência ou expropriação de propriedade ou bens, cobrindo o valor real dos bens expropriados, danos e perda de lucro.

Reconhece a expropriação para fins de ordenamento territorial de interesse público

Compensação

Decreto 181/2010 de 3 de Novembro

Apresenta directrizes e normas para o processo de expropriação para fins de planificação do uso da terra, devido ao desenvolvimento de actividades do interesse/necessidade pública.

Estabelece as directrizes e as normas para o processo de expropriação para fins de planificação do uso da terra

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38 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Define, i) os contextos nos quais a expropriação pode ocorrer para fins de planificação da terra; e, ii) como conduzir o processo de expropriação. Este também estabelece o cálculo para os custos da compensação pela expropriação de infra-estruturas de habitação, comerciais, industriais, de prestação de serviços, à beira-mar e rurais.

Decreto 119/94 de 14 de Setembro

Define as directrizes para avaliar valores das casas, em caso de deslocação iminente. As directrizes são produzidas e actualizadas pelas Direcções Provinciais das Obras Públicas e Habitação.

Fornece directrizes para avaliar o valor das casas em caso de deslocação

Regulamento 66/1998 da Lei de Terras de 1 de Dezembro

Define as directrizes para a compensação pela perda de árvores e culturas por causa de projectos de desenvolvimento (que impliquem uma deslocação dos usuários da terra).

Juntamente com a Direcção Provincial de Agricultura (Ministério da Agricultura), este regulamento define o valor mínimo de várias árvores e culturas em Moçambique. As Direcções Provinciais actualizam as directrizes com tabelas de custo para uma variedade de árvores e culturas.

Define os custos mínimos para árvores e culturas, para o cálculo dos custos de compensação devido a processos de deslocação

2.5.2 Património Cultural

O relatório de Património Cultural preparado para o projecto proposto (COWI, 2014) apresenta uma

discussão detalhada das ferramentas legais aplicáveis. Um breve resumo pode ser encontrado na

Tabela 7 abaixo:

Tabela 7: Legislação nacional relacionada com o património cultural.

Legislação Breve Descrição Significância

Património Cultural

Resolução nº. 12/2010 (Política de Monumentos)

Aprova a Política aplicável a Monumentos em Moçambique para a sua salvaguarda, promoção e uso sustentável.

Estabelece limitações às actividades humanas nos locais dos monumentos, para protecção dos mesmos.

Lei nº 13/2009 de 25 de Fevereiro

Estabelece o enquadramento para a protecção dos bens relacionados com a Luta de Libertação Nacional, considerados como parte do património cultural de Moçambique.

Estabelece limitações às actividades humanas nos locais dos monumentos pertencentes à Luta de Libertação Nacional, para protecção dos mesmos.

Decreto 27/94 de 20 de Julho (Regulamento de Protecção de Património Arqueológico)

Estabelece o enquadramento para a projecção de duas categorias de património: bens materiais móveis e imóveis; que, pelo seu valor arqueológico, fazem parte do património cultural de Moçambique.

Estabelece limitações às actividades humanas nos locais de patrimónios móveis e imóveis, para protecção dos mesmos.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

39

Decreto 42/90 de 29 de Dezembro (Regulamento da Actividade Funerária)

O enterro de corpos nas áreas rurais pode ser feito em cemitérios ou outros locais autorizados pelas autoridades.

Não há referência a transladação de corpos nas áreas rurais à qual os projectos de desenvolvimento devem aderir. Assume-se que os líderes tradicionais devem ser consultados para definir os locais apropriados para enterros e quais as tradições a seguir.

Declara que o enterro de corpos nas áreas rurais pode ser feito em cemitérios ou em outros locais autorizados pelas autoridades relevantes.

Os líderes tradicionais devem ser consultados para se definirem os locais apropriados para a realização de enterros e as tradições a seguir.

Lei 10/88 de 19 de

Dezembro (Lei sobre a Protecção do Património Nacional)

Protege os locais de património histórico e cultural nacional através da definição de ‘áreas protegidas’ em volta dos mesmos.

Define o processo para a identificação, registo, preservação e avaliação dos bens materiais e espirituais do Património Cultural Moçambicano.

Aplica-se aos bens de património cultural que pertencem ao estado, a entidades públicas, a pessoas individuais e legais.

Estabelece ‘áreas protegidas’ em volta dos locais de património histórico e cultural, a serem evitados por áreas de projecto.

2.6 Directrizes internacionais aplicáveis ao Reassentamento

Uma série de directrizes internacionais sobre reassentamentos fornecem uma orientação útil para o

projecto, particularmente aquelas exigidas pelos financiadores internacionais tal como o Banco

Mundial (BM) e a Cooperação Financeira Internacional (IFC). Uma vez mais, no caso dos projectos

do sector privado estas directrizes revertem para os Padrões de Desempenho sociais e ambientais,

da IFC que se baseiam nas Políticas Operacionais do BM. As directrizes internacionais aplicáveis ao

projecto e vastamente influenciadas umas pelas outras, são:

PD da IFC sobre Sustentabilidade Ambiental e Social (Janeiro de 2012), incluindo o PD 5

sobre aquisição de terras e reassentamento involuntário;

PO 4.12 do BM sobre reassentamento involuntário (revisto em Fevereiro de 2011).

A versão preliminar do PAR desenhado para o projecto proposto apresenta uma descrição detalhada

destas directrizes. A Tabela 8 abaixo, apresenta um resumo das mesmas.

Tabela 8: Directrizes internacionais para reassentamento

Legislação Breve Descrição Significância

Reassentamento

PO 4.12 do Banco Mundial

Define o reassentamento para além do reassentamento físico e introduz uma variedade de ferramentas para o planeamento do reassentamento, de acordo com o contexto e com o projecto

Define o reassentamento e apresenta ferramentas para o planeamento do reassentamento.

PD 5 da IFC Define os critérios de elegibilidade e os procedimentos básicos para a compensação e o apoio às pessoas afectadas pelo projecto devido ao reassentamento.

Estipula que todas as pessoas afectadas devem

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40 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

ser apoiadas no processo do reassentamento, incluindo os proprietários das terras e os ocupantes ilegais na área do projecto (independentemente destes possuírem ou não um título formal para uso da terra)

2.7 Governo e liderança local

Sob a jurisdição do governo provincial, o governo distrital está estruturado em torno do Administrador

do Distrito e as suas autoridades de Serviços Distritais (saúde e acção social, educação, actividades

económicas, planificação e infra-estruturas, cartório e procuradoria, etc.). O Administrador do Distrito

dirige o governo local e supervisiona os chefes dos Postos Administrativos. Os Directores dos

Serviços Distritais supervisionam, similarmente, os seus respectivos representantes dos Postos

Administrativos.

Abaixo do nível do Posto Administratitvo estão os Chefes da Localidade que, com o apoio dos

Serviços Distritais, coordenam a prestação de serviços em todos os sectores (serviços de saúde,

educação, actividades económicas, justiça, segurança e infra-estruturas públicas) dentro das suas

localidades. O Chefe da Localidade faz a ligação entre o distrito e as comunidades ou

assentamentos.

O fluxo de informação dentro desta estrutura é hierárquico e vertical. O Chefe de Localidade recolhe

informação das comunidades, através dos líderes de comunidades e passa-a ao responsável do

Posto Administrativo que, por sua vez processa a informação de todas as localidades e envia-a para

o Administrador do Distrito. As seguintes lideranças locais e grupos sociais fornecem a base para a

organização social e política, e resolução de conflitos, a nível local:

1 Posto Administrativo: instituições governamentais que proporcionam serviços básicos de educação (escolas primárias), serviços de saúde (Postos de Saúde e Postos de Primeiros Socorros) e apoiam na produção pecuária (serviços veterinários);

2 Líderes locais: o Secretário de Bairro e os subordinados, o Chefe de Quarteirão e o Chefe de 10 casas;

3 Líderes tradicionais: n’fumo e seus subordinados nhankwava, agindo dentro da jurisdição da comunidade;

4 Chefe do Tribunal Comunitário, que resolve conflitos através do direito consuetudinário; e, 5 Anciãos no contexto da família alargada (rede de apoio social baseada em laços de

parentesco).

Apesar de em algumas comunidades os líderes tradicionais e os líderes locais serem pessoas

diferentes, é comum uma pessoa acumular os dois títulos de líder local e tradicional. Este é o caso

na maioria das comunidades da área do projecto, particularmente para os líderes de topo. As duas

categorias não se distinguem facilmente uma da outra, mas ambas são reconhecidas pelo governo

de acordo com a Lei 8/2003 de 19 de Maio8. Segundo as Discurssões de grupo focal (DGF)

realizadas para a AIS, as comunidades da área do projecto reconhecem ambas categorias de

liderança e usam-nas estrategicamente para atingir objectivos específicos, nomeadamente a

resolução de conflitos entre líderes tradicionais ou acesso à terra e meios de subsistência associados

auferidos a partir da mesma, por intermédio do secretariado de bairro.

8 Lei 8/2003 de 19 de Maio, que estabelece os princípios e normas para a organização, competência e funcionamento do

governo local estatal.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

41

As redes de apoio familiar são usadas como fonte de mão de obra e apoio material em tempos de

dificuldades (apoio em espécie, envio de familiares migrantes que trabalham na Cidade de Tete,

etc.). Apesar de haver igrejas presentes na área do projecto, as DGF revelaram que grupos

baseados em igrejas têm pouca influência na vida quotidiana das comunidades quando comparados

à família alargada, líderes tradicionais e líderes locais. Contudo, eles parecem ter uma influência

sobre os agregados familiares mais vulneráveis.

As DGF revelaram que, para questões que afectam a vida da comunidade – tal como a

implementação de um projecto de mineração e o reassentamento físico a este associado – as

comunidades dependem bastante dos seus líderes tradicionais e locais, dos quais esperam um

direccionamento e aconselhamento na tomada de decisões. Os membros da comunidade vêem-se

como actores no processo de tomada de decisão, mas deixam a tarefa da decisão final para os

líderes locais e tradicionais, os quais, eles acreditam, irão defender os seus interesses e tomar a

melhor decisão possível.

As DGF também revelaram conflitos sociais tal como conflitos maritais devido ao consumo excessivo

de álcool e comportamentos desrespeitosos entre membros da comunidade, que são resolvidos

pelos líderes locais e tradicionais.

Finalmente, estas discussões também indicaram que os canais de comunicação verbal

desempenham um papel importante na organização da comunidade. Uma rede mista de líderes

locais e tradicionais é usada para a difusão cara-a-cara de informação importante e anúncios de

encontros importantes por toda a população local. Esta rede social pode desempenhar um papel

importante na mobilização das comunidades locais para o processo de AIS, bem como a sua

aceitação futura e aceitação do projecto proposto.

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42 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

3 METODOLOGIA

Para a preparação da AIS, foi usada uma combinação de métodos de colecta de dados qualitativos e

quantitativos para o levantamento de base e uma metodologia específica de avaliação de impactos

foi também aplicada para a classificação da significância dos impactos. Um levantamento de base

socioeconómico foi realizado em todas as populações/comunidades potencialmente afectadas pelo

projecto, cujos resultados alimentaram os processos de AIA, AIS e PAR. Este levantamento também

proporcionou a base para programas de monitoria contínua de desempenho que serão necessários

quando o projecto estiver operacional.

Esta secção fornece uma descrição detalhada da metodologia aplicada na identificação da área

estudo e da metodologia de colecta de dados usada para o processo de AIS. O Anexo A: apresenta

a metodologia aplicada para avaliação da significância dos impactos identificados.

3.1 Identificação da área de estudo

A fim de definir a área do projecto e identificar as comunidades afectadas pelo projecto a serem

incluídas no estudo, foram aplicadas três zonas de protecção ou zonas tampão.

Primeiro, foi estabelecida uma zona tampão de 10 km em volta da Área de Prospecção Tenge-Ruoni

1035-L, local onde ocorrerá a primeira fase da mineração, para identificar as comunidades a serem

incluídas no estudo.

Subsequentemente, foi estabelecida uma zona tampão de 5 km em torno da área de prospecção

1035L, com vista a identificar quaisquer recursos naturais e meios de subsistência existentes que

possam estar a ser actualmente usados pelas comunidades na área do projecto. Esta zona tampão

foi estabelecida com base no parecer dos Serviços Distritais de Actividades Económicas de Moatize9

que sugeriram esta distância como a mais adequada para salvaguardar as comunidades contra os

impactos das detonações e ruído derivado das actividades mineiras, tendo como base a experiência

do distrito com outras empresas de mineração. Para além disso, foi estabelecida uma outra zona

tampão com 140 m de largura (70 m de cada lado da linha central da estrada) ao longo da estrada de

transporte. A combinação destas duas zonas é chamada de “Corredor de Impacto”, uma área

directamente afectada pelo projecto em termos de impactos sócio-económicos.

Finalmente, foi estabelecida uma zona tampão de 1,020 m em volta da mina em si, para definir a

área directamente afectada pelo projecto em termos de reassentamento. Esta zona tampão é

referida no relatório como a área de explosão, ou seja, a área onde as operações de detonação da

actividade mineira podem afectar os assentamentos humanos e tornar o local inseguro para se viver

como consequência das rajadas de ar, pedras voadoras e vibração do solo, ou onde pode ser

inseguro desenvolver uma actividade (diferente de mineração)10

. Por causa disto, acredita-se que os

agregados e bens localizados dentro da área de explosão devem ser fisicamente retirados e

realocados fora da área de explosão (ver Secções 4.3.10 e 5.2.1 sobre o impacto do deslocamento

físico).

9 Entrevistados como parte da Avaliação de Impacto Social, em Julho de 2014.

10 Discussão com o Baobab Resources Technical Systems Department, com base no estudo Ground Vibration and Air Blast

Study (Estudo sobre Vibração do Solo e Rajadas de Ar) preparado pelo CES (2014).

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

43

Como resultado destas zonas tampão, foram estabelecidas áreas directa e indirectamente afectadas

pelo projecto:

A área directamente afectada pelo projecto, inclui:

o A área dentro do Corredor de Impacto (5 km em volta da área de prospecção junto

com os 70 m de cada lado da estrada de transporte), e,

o A Área de Explosão (zona de 1,020 m em volta da mina em si), que implica

reassentamento.

A área indirectamente afectada pelo projecto, inclui:

o A área fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.

Estas zonas tampão são consistentes com as zonas tampão aplicadas na Avaliação de Impacto na

Saúde e no Estudo de Património Cultural conduzidos durante a AIAS deste projecto, de modo a

garantir que o trabalho de campo da AIS fosse realizado nas mesmas comunidades alvo dos dois

outros estudos.

Após a delimitação das zonas tampão, foram identificadas oito comunidades dentro destas zonas

para o presente estudo com base em análises a fotografias aéreas e informação fornecida pelo

cliente. Sete destas comunidades localizam-se na Área de Prospecção Tenge-Ruoni 1035-L e uma

localiza-se ao longo da estrada de transporte. Assim, destas comunidades, sete são directamente

afectadas pelo projecto, ou seja, localizam-se dentro do Corredor de Impacto estabelecido para o

estudo, nomeadamente: Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga, Tenge e Mboza. A

comunidade restante, Massamba, é indirectamente afectada pelo projecto, ou seja, localiza-se

fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.

Visto que só há uma comunidade indirectamente afectada pelo projecto, Massamba, os dados

recolhidos nesta comunidade foram usados para informar o perfil socioeconómico da área do

projecto, mas não foram usados para fins de avaliação de impacto, pois a comunidade e os bens

socioeconómicos que utiliza estão localizados fora da zona tampão de 5 km.

A Tabela 9 abaixo apresenta as comunidades afectadas pelo projecto segundo a sua localização e

conforme estas estejam directa ou indirectamente afectadas pelo projecto:

Tabela 9: Comunidades afectadas pelo projecto

Componente do Projecto

Nr de comunidades

Directa/ Indirectamente Afectadas

Comunidades Distrito

Área de Prospecção Tenge-Ruoni (1035-L)

7 Indirectamente afectada

Massamba

Directamente afectadas

Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga e Tenge

Estrada de Transporte

1 Directamente afectadas

Mboza

A localização das comunidades afectadas pelo projecto e as zonas tampão incluídas no estudo são

apresentadas abaixo.

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44 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 2: Comunidades inquiridas na área do projecto.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

45

3.2 Métodos de recolha de dados

Seguindo o delineamento da área do projecto, dois processos de recolha de dados decorreram

simultaneamente, sendo um quantitativo e outro qualificativo. Os dois processos reuniram dados

complementares de forma a definir o perfil das pessoas afectadas pelo projecto, bem como identificar

e avaliar os impactos do projecto.

A componente quantitativa consistiu num levantamento socioeconómico aplicado aos agregados

familiares que vivem no corredor de impacto da área do projecto, e ocorreu de 9 a 21 de Agosto de

2014. O objectivo do levantamento era de definir o perfil socioeconómico da população na área do

projecto. Assim, o levantamento focou-se em aspectos do agregado como demografia, educação,

água, saneamento, saúde, receitas e despesas, habitação, agricultura, segurança alimentar,

mobilidade, disponibilidade e acesso a serviços, e conflitos na comunidade. A ferramenta quantitativa

aplicada, o Inquérito ao Agregado Familiar, pode ser encontrada no Anexo E: Inquérito ao Agregado

Familiar.

A componente qualitativa usava três métodos: entrevistas semi-estruturadas com informadores-

chave, exercícios de mapeamento participativos dentro de discussões de grupo focal e observações

de campo. Os temas principais delineados nos exercícios participativos em grupo serviram para

orientar ainda mais as observações de campo subsequentes. Estes métodos foram aplicados às oito

comunidades localizadas dentro da área do projecto, mencionadas na Secção 3.1, e o processo de

recolha de dados ocorreu de 30 de Junho a 10 de Julho de 2014. A componente qualitativa tinha

como objectivo estabelecer um perfil social, económico e cultural das comunidades na área do

projecto, explorando as suas práticas, hábitos e tradições e identificando as suas expectativas,

necessidades e atitude em relação ao projecto. Os dados recolhidos complementaram o perfil de

base da população na área do projecto produzido pela componente quantitativa, e acrescentaram

informação ao exercício de avaliação do impacto.

A componente qualitativa focou-se em analisar histórias relevantes da comunidade, locais sagrados,

autoridade e hierarquia das estruturas de liderança locais, acesso aos serviços e recursos e a

relação perceptível das comunidades com o ambiente físico. Adicionalmente, esta componente

procurou estabelecer as preocupações, desassossegos ou recomendações que as comunidades

tinham e para as quais o proponente do projecto tinha de estar ciente, visto que se relacionavam com

potenciais impactos para as comunidades anfitriãs. Os dados qualitativos recolhidos durante esta

fase também contribuíram para o relatório do Estudo de Património Cultural.

As equipas de recolha de dados apresentaram-se primeiro à Administração do Distrito antes de

começarem com a recolha de dados e isto serviu como uma apresentação aos líderes locais com

quem a equipa colaborou no trabalho de campo. Discurssões de grupo focal (DGF) foram realizadas

e observações de campo foram registadas em cada uma das 8 comunidades. Tal como explicado

acima na Secção 3.1 acima, a vila de Massamba (uma comunidade indirectamente afectada pelo

projecto) contribui para o perfil socioeconómico da área do projecto mas não para o exercício de

avaliação de impacto. Os métodos qualitativos e quantitativos específicos aplicados são explicados

em maior detalhe mais abaixo.

3.2.1 Revisão bibliográfica

A literatura disponível sobre a área do projecto foi revista, de forma a poder contribuir para a

concepção de ferramentas de recolha de dados (guias semiestruturados para entrevistas, guias para

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46 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

as discurssões de grupo focal e para os exercícios participativos e o inquérito aos agregados

familiares) e para a análise da AIS. As principais fontes literárias utilizadas foram as seguintes:

Perfil dos distritos de Chiúta e Moatize (Perfil do Distrito por MAE, 2005);

Estatísticas Territoriais para Chiúta e Moatize, datados de Março de 2013 (INE, 2013);

Plano de Desenvolvimento Estratégico para o Distrito de Chiúta 2012-2012;

Relatório de Actividades de 2013 do Distrito de Moatize;

Relatório de Património Cultural para o Projecto de Minério de Ferro (COWI para CES, 2014); e,

Melhores práticas internacionais de reassentamento e legislação moçambicana aplicáveis.

3.2.2 Entrevistas com informadores-chave

Foram conduzidas entrevistas com informadores-chave com o objectivo de recolher dados sobre a

província, o contexto de desenvolvimento socioeconómico dos distritos e as implicações do projecto

no local. Foram também recolhidos dados acerca das ligações entre planeamento a nível distrital e

implementação do projecto, desafios e oportunidades colocados pelo projecto às actividades locais e

serviços sociais e, finalmente as expectativas, preocupações e recomendações do governo local em

relação ao projecto. As seguintes instituições foram entrevistadas:

Direcção Provincial de Educação de Tete;

Serviços Distritais de Actividades Económicas de Moatize e Chiúta; e,

Serviços Distritais de Planificação e Infra-Estrutura de Moatize e Chiúta.

As entrevistas com informadores-chave e as discurssões de grupo focal decorreram em simultâneo

As entrevistas visavam a recolha de dados qualitativos para o levantamento de base, bem como

obter percepções sobre o projecto e aspectos a serem levados em consideração dos governos dos

distritos de Moatize e Chiúta.

3.2.3 Discussões de grupo focal com exercícios participativos

Discussões de grupo focal (DGF) ocorreram em oito comunidades dentro da área do projecto (tal

como referido na Secção 3.1 e ilustrado na Figura 2 acima). As discussões focaram-se na recolha de

dados para a definição do perfil socioeconómico e cultural da população na área do projecto, na

recolha de percepções sobre os impactos do projecto, expectativas e preocupações e na avaliação

da sua adesão ao projecto. A história de comunidades existentes foi explorada e as suas dinâmicas

sociais, culturais e económicas foram mapeadas, os locais sagrados e serviços sociais disponíveis e

aos quais as comunidades têm acesso também foram mapeados, a hierarquia da autoridade local foi

definida e foram recolhidos dados acerca da dinâmica de mobilidade e das experiências anteriores

com reassentamentos por parte da população na área do projecto.

Passou-se dois dias em cada uma das comunidades seleccionadas e, durante este tempo, foram

seleccionados e mobilizados os participantes do grupo focal com a ajuda dos líderes locais. Em cada

comunidade, uma DGF foi conduzida com membros da comunidade e líderes locais previamente

mobilizados pelo Secretário de Bairro, durante as quais todos os exercícios participativos foram

aplicados. A Figura 3: Grupo focal em Chianga e a Figura 4 abaixo ilustram exemplos dos

exercícios participativos aplicados.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

47

Figura 3: Grupo focal em Chianga Figura 4: Mapa de recursos e serviços da comunidade de Massamba

Tendo em consideração os níveis geralmente baixos de alfabetização da população nos distritos de

Chiúta e Moatize (INCE, 2013 e 2013 b), os exercícios DGF favoreceram métodos de expressão

visual para estimular a discussão. Foram concebidos exercícios participativos para recolher dados

necessários para atingir os objectivos das DGF mencionados acima. Guias de orientação de como

implementar cada exercício foram produzidos em Português e compilados num manual qualitativo

(ver Anexo C). Na Tabela 10 abaixo, os exercícios participativos aplicados nas DGF e os seus

objectivos principais são apresentados:

Tabela 10: Exercícios participativos aplicados e seus objectivos

Exercício Objectivo

Histograma Identificar as origens da sua comunidade e os eventos importantes que marcaram a história da comunidade

Mapeamento de locais sagrados/religiosos e culturais

Identificar e mapear os principais locais culturais, religiosos ou sagrados usados pela comunidade

Compreender a relevância de cada local identificado e os usos actuais a estes associados

Matriz de Liderança/Autoridade Definir os níveis de autoridade dentro da comunidade, a sua hierarquia, os seus papéis e inter-relações

Mapeamento de Mobilidade Compreender a dinâmica de mobilidade da comunidade, incluindo as causas e episódios de mobilidade, o perfil dos migrantes, questões de género e idade relacionados com a mobilidade, e a integração dos migrantes

Mapeamento de serviços Identificar e mapear os serviços sociais disponíveis para e aos quais a comunidade tem acesso

Compreender o uso e a importância desses serviços

Análise da árvore de problemas Identificar as principais questões ligadas ao projecto que do ponto de vista da comunidade, podem ser problemáticas ou motivos de preocupação

Compreender a relação entre os problemas e o projecto (causa-efeito)

Identificar medidas, papéis e responsabilidades para ultrapassar os problemas identificados, incluindo a pessoa focal da comunidade a ser envolvida

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48 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Foram tiradas fotografias e notas em cada sessão de DGF. As DGF foram conduzidas por dois

antropólogos, um que agia como moderador e outro como anotador. As DGF foram moderadas em

Português, com tradução em simultâneo para a língua local falada pela comunidade através de um

tradutor local. Antes do trabalho de campo, os antropólogos foram treinados em Maputo de 24 a 26

de Junho de 2014 em relação à estratégia de trabalho de campo e como usar os exercícios

participativos.

Subsequentemente às DGF, foram feitas visitas aos locais sagrados identificados, foram tiradas

fotografias de cada local e foram registadas as coordenadas GPS. Com base nas coordenadas

retiradas no campo, foram produzidos mapas dos locais de patrimónios culturais significativos para o

estudo sobre o Património Cultural. Um mapa dos locais de património cultural potencialmente

afectados é apresentado na Figura 4411

.

3.2.4 Levantamento socioeconómico

Com o objectivo de reunir dados quantitativos para o estudo de base da área do projecto, foi

realizado um levantamento socioeconómico usando um questionário escrito que foi aplicado a

agregados que viviam no corredor de impacto (CdI) da área do projecto. Como foi referido

anteriormente, o CdI é composto pela área de prospecção 1035L com uma zona tampão de 5km12

e

pela estrada de transporte projectada com uma zona tampão de 70 m de cada lado (ver Figura 2).

Como parte do levantamento, 324 agregados que viviam no CdI foram entrevistados. O levantamento

socioeconómico também serviu como um censo das Pessoas Afectadas pelo Projecto (PAPs) para o

Plano de Acção para o Reassentamento13

, uma vez que uma lista dos agregados que vivem na zona

de explosão e que necessitam de ser reassentados foi obtida a partir da lista de agregados

inquiridos.

Após a conclusão do levantamento, o Cliente considerou um alinhamento alternativo para a estrada

de transporte. Até à data, o Cliente ainda está a analisar este alinhamento alternativo e ainda não foi

tomada uma decisão. Caso seja escolhido um alinhamento alternativo para a estrada de transporte

que atravesse uma área que não foi abrangida pelo censo PAR que já foi realizado, um novo censo

socioeconómico da população e bens deverá ser conduzido nesta nova área. No entanto, é

improvável que o alinhamento alternativo tenha implicações no presente relatório de AIS, devido à

sua proximidade ao alinhamento no CdI, e à homogeneidade relativa da população na área do

projecto.

A nível dos agregados, o questionário foi feito ao Chefe do Agregado ou ao seu cônjuge (feminino ou

masculino). A entrevista foi conduzida directamente em Chewa ou Nhúnguè por entrevistadores que

eram fluentes nestas línguas. Foram também tiradas fotografias e apontadas as coordenadas

geográficas de cada agregado que foi entrevistado.

11

Para um mapeamento visual dos restantes locais de património cultural, por favor veja o Estudo sobre Património Cultural

que faz parte do actual relatório de AIAS: COWI para CES (2014). Relatório de Património Cultural (Cultural Heritage Report.). 12

Esta foi definida com base em experiências anteriores em mineração na área, onde o impacto de uma explosão mineira, por

exemplo, pode ser sentido a 5km de distância.

13A ser elaborado aquando da entrega do relatório de AIS.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

49

3.2.5 Análise de dados

As conclusões do relatório derivam essencialmente da análise de dados qualitativos e quantitativos

adquiridos. No que diz respeito à análise de dados quantitativos, todos os questionários

socioeconómicos realizados para o censo PAR foram introduzidos numa base de dados no pacote

estatístico CSPro, que foi depois convertida para SPSS para posterior limpeza e lançamento dos

dados em tabelas. Depois disso, foram extraídas tabelas de frequências para um formato Microsoft

Office Excel e foram produzidos gráficos conforme necessário para a análise quantitativa da AIS.

Em relação à análise qualitativa dos dados, as notas feitas em todas DGF foram inseridas numa

matriz de análise produzida num formato Microsoft Office Excel. A matriz de análise foi estruturada

para os principais tópicos do exercício de participação, o que permitiu uma análise individual de cada

comunidade inquirida e, também, uma análise comparativa entre todas as comunidades inquiridas. A

matriz de análise qualitativa está disponível no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa.

Os quintis de riqueza foram gerados com base na posse de bens seleccionados de cada agregado a

partir do conjunto de dados do levantamento socioeconómico, a fim de identificar os grupos ou

agregados vulneráveis, e para alimentar as discussões em torno das questões de vulnerabilidade.

Através de um procedimento estatístico conhecido como Análise de Componentes Principais (PCA),

os agregados inquiridos foram colocados numa escala contínua de riqueza relativa e foram

classificados em cinco grupos socioeconómicos, definidos como quintis de riqueza, mais

especificamente: Mais Baixo (Q1), Segundo (Q2), Intermédio (Q3), Quarto (Q4) e Mais Alto (Q5),

provisoriamente designados como “renda baixa”, “renda média baixa”, “renda média”, “renda média

alta” e “renda alta”. Anexo B: explica em maior detalhe a metodologia usada para gerar os quintis de

riqueza.

3.3 Metodologia de avaliação de impacto

Para avaliar a significância dos potenciais impactos causados pelo projecto proposto, uma escala de

classificação padronizada foi adoptada para a fase da EIA, fornecida pela Costal Environment

Services (CES). A escala de classificação baseia-se em quatro factores chave:

1. Escala Temporal: Esta escala define a duração de qualquer impacto. Esta pode evoluir de curto

prazo (menos de 5 anos ou período de construção) a permanente. Geralmente, quanto mais tempo

dura o impacto, mais significativo o mesmo será;

2. Escala Espacial: Esta escala define a extensão espacial de qualquer impacto. Esta pode estender-

se de uma área local a um impacto que ulttraassa fronteiras internacionais. Quanto mais vasta a

extensão do impacto, mais significativo o mesmo deverá ser considerado;

3. Escala de Benefícios/Gravidade: Esta escala define o quão severos seriam os impactos negativos

ou o quão benéficos seriam os impactos positivos. Esta escala positiva/negativa é fundamental na

determinação da significância total do impacto. A Escala de Benefícios/Gravidade avalia a

significância potencial dos impactos antes e depois da mitigação de forma a poder determinar a

eficácia total de quaisquer medidas de mitigação.

4. Escala de Probabilidade: Esta escala define o risco ou a probabilidade de ocorrência de qualquer

impacto. Ainda que vários impactos geralmente ocorram, existe uma incerteza considerável em

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50 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

relação a outros impactos. A escala varia de improvável a definitivo, com a significância do impacto

total a aumentar à medida que a probabilidade aumenta.

As quatro escalas são classificadas e às mesmas são atribuídos valores para determinar a

significância total do impacto de acordo com Anexo A: .

3.4 Pressupostos e Limitações

Tal como explicado na Secção 3.1, o relatório de AIS actual assume que a primeira fase de

mineração vai acontecer na Área de Prospecção de 1035-L Tenge-Ruoni. A AIS também assumiu

uma zona tampão de 10 km à volta da Área de Prospecção 1035-L, para identificar as comunidades

a serem incluídas no estudo. Posteriormente, foi identificado um Corredor de Impacto composto por

uma zona tampão de 5 km ao longo da Área de Prospecção 1035L e 140 m ao longo da estrada de

transporte, para definir a área directamente afectada pelo projecto. Baseando-se nesses

pressupostos, a AIS definiu a Área de Prospecção de 1035-L Tenge-Ruoni, o Corredor de Impacto e

uma zona tampão de 10 km como a área do projecto para o estudo. A AIS também definiu áreas

directa e indirectamente afectadas pelo projecto: a área directamente afectada pelo projecto

corresponde ao Corredor de Impacto, e a área indirectamente afectada pelo projecto corresponde à

área fora do Corredor de Impacto mas dentro da zona tampão de 10 km.

O estudo teve uma limitação relacionada com o alinhamento da estrada de tranporte. Tal como já foi

explicado na Secção 3.2.4, após o término da avaliação socioeconómica que informa a AIS, os

proponentes do projecto consideraram um alinhamento alternativo para a estrada de tranporte. Este

alinhamento alternativo passa por áreas não cobertas pelo processo de recolha de dados da AIS.

Contudo, é improvável que isto tenha implicações para o relatório actual da AIS dada a proximidade

do alinhamento alternativo ao alinhamento actual da estrada de tranporte no Col, e dada a relativa

homogeneidade da população na área do projecto.

Não obstante, terá implicações para o PAR no sentido de que será necessário um novo censo da

população e bens localizados no alinhamento alternativo em consideração.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

51

4 CONTEXTO DO PROJECTO

Esta secção apresenta um resumo do contexto socioeconómico no qual o projecto proposto será

desenvolvido. Primeiro, apresenta-se uma discussão sobre a indústria extractiva a nível nacional,

seguida de uma análise do contexto provincial (Tete), uma análise do contexto distrital (Chiúta e

Moatize) e uma apresentação das conclusões do levantamento feito na área do projecto.

As conclusões do levantamento providenciam uma linha de base sobre a população na área afectada

pelo projecto, baseada em dados reunidos durante o levantamento socioeconómico descrito na

Secção 3, no qual foram entrevistados 324 agregados que vivem no CdI. O perfil da população na

área afectada pelo projecto é comparado ao perfil distrital e/ou provincial onde for necessário e

aplicável.

Foram adicionadas às conclusões do levantamento, secções sobre pobreza e vulnerabilidade, locais

sagrados, indicações iniciais para o reassentamento e experiências anteriores com reassentamentos

por parte das comunidades a nível distrital no geral. Estas secções são relevantes para o exercício

de avaliação de impacto e são específicas à área do projecto, por esta razão, não estão

contextualizadas nas descrições nacional e provincial.

4.1 Perfil do País

Moçambique localiza-se na costa este da África Austral e é composto por 11 províncias. Projecções

do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2009b e INE, 2010) estimam que a população nacional

actual é de cerca de 24 milhões de pessoas (2014), com uma densidade populacional nacional de

cerca de 30 habitantes por km2. Um pouco mais que a metade da população é do sexo feminino

(52%) e quase três quartos da população vive em zonas rurais (72%). Três províncias constituem

quase metade (47%) da população nacional (Nampula, Zambézia e Tete). Durante a última década,

a taxa de crescimento populacional nacional tem sido 2,7% por ano, com o maior crescimento

populacional observado nas províncias de Maputo e Tete (INE, 2009b and INE, 2010).

Segundo o INE (2009b, 2012), o agregado familiar médio moçambicano é composto por 5 membros.

Em termos de ocupação, 75% da população está informalmente a trabalhar por conta própria na

agricultura e no comércio informal, com apenas 20% estando formalmente empregada. Oficialmente,

apenas 5% da população está desempregada. Em termos de educação, em 2007, 50% da população

era alfabetizada, embora outros 26% nunca tenham ido à escola. A compra de alimentos equivale a

metade das despesas dos agregados (51%), seguida de habitação e combustível (23%) e uma série

de despesas menores.

As diferenças baseadas no género são bastante evidentes nas estatísticas nacionais. No geral, há

menos agregados familiares chefiados por mulheres do que por homens, e a probabilidade de uma

mulher trabalhar por conta própria é mais elevada, enquanto é mais provável para os homens serem

formalmente empregados. Adicionalmente, as mulheres são mais propensas ao analfabetismo e à

inactividade económica, e os níveis de renda de agregados chefiados por mulheres são mais baixos

do que os chefiados por homens. Também se podem observar disparidades regionais entre o Norte,

Cento e Sul do país, bem como entre as áreas urbanas e rurais (INE, 2009).

Desde o início dos anos 90 e do fim da guerra pós-independência (1992), Moçambique tem feito

progresso nos seus esforços de desenvolvimento. Com um PIB per capita de US$650 em 2012 (FMI,

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52 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

2010), Moçambique testemunhou um crescimento médio anual do PIB de 6% entre os anos 2000 e

2010 e uma taxa de crescimento actual de 7,3%, tornando-se numa das economias com crescimento

mais rápido do mundo para este período (previsão da Unidade de Informação Económica para

Moçambique, 201414

). Este crescimento contínuo permitiu que Moçambique atraísse investimentos

estrangeiros e locais.

Quatro principais tipos de projectos apoiam o crescimento económico nacional de Moçambique: i)

mega-indústrias extractivas como a Mozal, Sasol e Vale 15

; ii) produção em grande escala de

algodão, açúcar e tabaco; iii) reabilitação de infraestruturas; e iv) produção agrícola a nível local.

Durante a última década, o governo moçambicano focou-se, também, na reforma do sector público e

da estrutura fiscal e tributária, promovendo a boa governança e criando um ambiente favorável ao

desenvolvimento de pequenas e médias empresas. O crescimento tem sido parcialmente sustentado

pelo apoio de parceiros da Assistência Oficial ao Desenvolvimento e pela redução da Dívida

Multilateral (MPD, 2010b).

Como resultado, entre 1996 e 2008, a percentagem de pessoas que vivia abaixo da linha de pobreza

de menos de 1 USD por dia, diminuiu de 70% para 55% (MPD, 2010). No entanto, os benefícios do

crescimento económico não estão igualmente distribuídos pela população. A desigualdade

socioeconómica, bem como as disparidades regionais e urbanas/rurais, permanecem elevadas.

Segundo o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2010), metade da população nas

áreas urbanas vive abaixo da linha de pobreza nacional de 1 USD por dia16

. A agricultura continua a

ser mais praticada a nível dos agregados e, entre 2002 e 2008, a produtividade agrícola de culturas

alimentares permaneceu estagnada em pequenas e médias propriedades agrícolas.

Apesar disso, o país tem um rico potencial geológico, que atrai tanto investimentos estrangeiros

como locais. O número de investidores estrangeiros, e a escala de investimentos, tem estado a

aumentar constantemente durante a última década. Os investimentos aumentaram em cerca de 14

vezes em 8 anos, de USD$184 milhões em 2005 para USD$2.7 mil milhões em 2013 (Mineral

Resources Policy and Strategy, 2013 – Política e Estratégia para os Recursos Minerais, 2013).

Nos últimos anos, a tributação das mais valias da indústria extractiva tem sido parcialmente

responsável pela redução do défice orçamental nacional para os actuais 9%, e pela redução da

dependência do orçamento do estado de ajudas externas de 50% no início de 2000 (Castel-Branco,

2011) para 35% em 2010 (MPD, 2010b). Apesar disso, a contribuição da indústria extractiva para o

PIB ainda é muito modesta, sendo 2% (ITIE, 2014).

A partir de 2015, espera-se que o carvão ultrapasse o alumínio como o recurso mineral mais

exportado em Moçambique, assim que o proposto Corredor da Linha Férrea de Nacala se torne

14

A Unidade de Informação do jornal O Economista, ou, simplesmente, a Unidade de Inteligência Económica, é uma entidade

privada dedicada a pesquisas e análises económicas. Criada no Reino Unido em 1946, esta ajuda os negócios, firmas

financeiras e governos a entender como o mundo está a mudar e como isto cria oportunidades que devem ser agarradas e

riscos que devem ser geridos. Para mais informação, por favor visite www.eiu.com

A Mozal é a maior produtora de aluminio em Moçambique, uma empresa internacional baseada na província de Maputo. A

Sasol é uma empresa petrolífera sul-africana produtora de químicos, gás, combustíveis e óleos com investimento no sul de

Moçambique. A Vale é uma empresa mineradora brasileira que está a desenvolver actividades de mineração de carvão de

carvão no Norte de Moçambique. As empresas petrolíferas ENI e Anadarko são indústrias mega-extractivas que podem vir a

ganhar destaque no crescimento económico nacional a curto-médio prazo.

16 Ministério da Planificação e Desenvolvimento. 2010. Pobreza e bem-estar em Moçambique: Terceira Avaliação Nacional

2008-2009. A linha de pobreza de 1 USD por dia é um índice de pobreza conhecido.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

53

operacional. Também se espera que a economia nacional cresça em 7,8% entre 2016-2018, devido

aos investimentos em grande escala em infraestruturas e em exploração de recursos naturais,

particularmente no gás (previsão da Unidade de Inteligência Económica para Moçambique, 2014).

No entanto, segundo a mesma fonte, embora o défice orçamental possa reduzir para 7,1% durante

esse período, a dívida pública poderá chegar a 50% do PIB.

Apesar do forte potencial da indústria extractiva para impulsionar a economia moçambicana e reduzir

a sua dependência da ajuda externa, o crescimento da sua contribuição para a economia

moçambicana não tem sido linear e depende de factores estruturais como, por exemplo, a

estabilidade política nacional, infraestruturas (transporte e energia) e preços dos mercados

internacionais para minérios e produtos minerais beneficiados.

À luz disto, em Setembro de 2014, a empresa de mineração Rio Tinto vendeu as suas acções em

Moçambique devido às deficientes infraestruturas, entre outros factores. As limitações de

infraestruturas, aliadas aos preços baixos do carvão, também foram mencionadas pela empresa de

mineração Vale como sendo os principais desafios para a competitividade do carvão moçambicano

no mercado internacional.

Adicionalmente, nos últimos dois anos, ocorreram ataques armados no centro de Moçambique,

perpetrados por antigos combatentes militares associados ao movimento RENAMO (Resistência

Nacional de Moçambique). Os ataques armados tinham como alvo as principais rotas de transporte

ao longo da estrada nacional EN1, mas, também, chegaram à linha férrea de Sena, através do ramal

de Moatize. Movimentos de homens armados foram reportados na porção de Chiúta da área do

projecto. Em Setembro de 2014, o governo e a RENAMO chegaram a um acordo para cessar as

hostilidades e os transportes voltaram à normalidade na EN1 e na linha férrea de Sena.

Em Outubro de 2014, foram realizadas as eleições presidenciais nas quais a RENAMO participou.

Isto foi visto como um sinal de compromisso com a estabilidade. Este partido não ganhou as eleições

mas teve um aumento do número de votos (comparativamente às eleições anteriores em 2009),

incluindo na província de Tete. A RENAMO apresentou um recurso alegando fraude no processo de

votação, mas foi recusado. O novo governo (incluindo ministros e governadores provinciais) entrou

em vigor em Janeiro de 2015. A RENAMO, agora, exige a formação de um governo conjunto ou

autonomia das regiões Centro e Norte do país. Esta questão está, ainda, por ser abordada pelo novo

governo, e o compromisso da RENAMO com a estabilidade poderá ser posta à prova quando esta

receber uma resposta formal.

4.2 Província de Tete

A Província de Tete localiza-se no noroeste de Moçambique e é composta por 13 distritos, dos quais

Chiúta e Moatize são relevantes para o projecto. A Província ocupa uma área superficial total de

100,724 km² (INE, 2013), que perfaz 13% do total nacional. É a 3ª maior província do país, depois de

Niassa e Zambézia.

Em 2013, a província tinha um total de 2,228,527 habitantes, que correspondem a 9% da população

nacional; e uma densidade populacional de 22.1 habitantes por km2, que é mais baixa que a

densidade média nacional. A província também tem um balanço migratório negativo, o que significa

que há mais pessoas a sair da província para residir permanentemente noutros locais, do que

aqueles que entram na província para fazer o mesmo (INE, 2013). Isto pode estar ligado ao elevado

custo de vida e à falta de oportunidades de emprego para mão-de-obra não qualificada na Província

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54 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

de Tete. Não obstante, Tete é a 3ª província mais populosa do país, logo após Nampula e Zambézia

(INE, 2012).

Como referido anteriormente, Tete é uma província particularmente rica em recursos minerais. Esta

tem depósitos de carvão, cobre, ferro, urânio, mármore e titânio, entre outros recursos em

quantidades variadas. Apenas alguns destes recursos já estão a ser comercialmente explorados,

como é o exemplo do carvão. As indústrias extractivas contabilizam metade do PIB total planeado

para a província em 2014. Durante a última década, o governo provincial priorizou a pesquisa de

recursos minerais, a promoção do investimento privado no sector, organização e modernização de

mineiros de pequena e média escala, e a promoção do processamento local dos bens extraídos. Em

2014, a província planeou actualizar os mapas geológicos de recursos de quatro distritos,

inspeccionar as áreas mineiras licenciadas e promover a prospecção de ouro17

.

De acordo com o Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Província de Tete 2007-201118

(desactualizado), a principal actividade económica na província é a agricultura, o que está em

conformidade com a tendência nacional. A produção agrícola é fortemente dependente de factores

climáticos variáveis, como as cheias e secas periódicas. A província tem uma base considerável de

recursos naturais (vastas áreas de conservação e concessões de caça, recursos minerais e hídricos)

que não estão, actualmente, a ser explorados. Apesar deste potencial, o desenvolvimento da

província é prejudicado pela falta de mão-de-obra qualificada, de investimento privado e de

infraestruturas básicas (estradas, abastecimento de água, educação e saúde, energia) e pela

modernização lenta do governo local.

Durante a última década, o planeamento do desenvolvimento da província tem-se baseado na

promoção de actividades produtivas (incluindo a mineração), na expansão de infraestruturas, no

melhoramento de transportes e acessos rodoviários, na qualidade e cobertura de serviços sociais

básicos, na cooperação regional para a promoção de investimento, na protecção da biodiversidade,

na modernização da administração pública para melhoramento da prestação de serviços, e na

descentralização e uso de alocações orçamentais do estado a nível distrital (Plano Estratégico para o

Desenvolvimento de Tete 2007-2011).

A dinâmica da pobreza na Província de Tete é complexa. Em 2002/2003, a renda média por

agregado na província era de cerca de 1.758Mt ou cerca de USD$85 por mês 19

, a 5ª mais elevada

do país e 13% mais elevada que a renda média mensal nacional por agregado. A renda média

mensal e as despesas médias a nível dos agregados familiares eram mais ou menos as mesmas

durante este período (INE, 2004). Segundo o INE (2010), no período de 2002-2008, a agricultura era

a principal ocupação da população desta província, o que vai de acordo com a tendência nacional

para o mesmo período. Quase metade da população da província trabalhava por conta própria

(46%), com outros 48% a trabalhar para um familiar sem remuneração, o que também está de acordo

com a tendência nacional.

Durante o período de 2002-2008, foi reportado que a província sofreu uma “redução substancial” da

pobreza (MDP, 2010). No entanto, durante este período, Tete (particularmente nas zonas rurais) foi

17

Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Província de Tete 2007-2011 e Plano Económico e Social para a Província de

Tete proposto para 2014.

18 O Governo da Província de Tete desenvolveu um Plano Económico e Social para 2014. No entanto, este plano ainda estava

a ser finalizado na altura em que o presente documento estava a ser escrito, e não estava disponível ao público. A equipa da

AIS teve acesso parcial ao Plano Económico e Social de 2014.

19 Esta é a fonte de dados official mais actualizada sobre a renda por agregado em Moçambique.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

55

uma das áreas sofreu maiores índices de inflação nacional em produtos alimentares e resultante

pobreza de consumo20

. Assim, uma renda média mais elevada não se traduziu, necessariamente, em

melhores condições de vida, devido ao aumento do custo de vida médio. Apesar disto, em 2008/09,

quase metade da população de Tete possuía bens duráveis, tais como um rádio (47%), uma bicicleta

(41.6%) e mais de um décimo tinha um telefone celular (11%) (INE, 2010)21

; o que constitui um perfil

ligeiramente mais modesto do que o da população que foi inquirida para a AIS.

4.3 Distritos de Chiúta e de Moatize

Como foi mencionado anteriormente, a área do projecto atravessa dois distritos vizinhos,

nomeadamente Chiúta e Moatize. Na área do projecto, há oito principais assentamentos ou

comunidades, dos quais dois localizam-se no distrito de Moatize (Mboza e Tenge-Makodwe) e os

restantes seis no distrito de Chiúta (Nhambia, Mbuzi, Muchena, Chianga, Matacale e Massamba).

Esta subsecção apresenta o perfil socioeconómico dos dois distritos e, que vão de acordo com as

conclusões da análise de dados feitas a partir do levantamento social realizado nas comunidades da

área do projecto.

4.3.1 Organização Administrativa

O Distrito de Chiúta localiza-se a 75 km da Cidade de Tete, a capital provincial. Este distrito ocupa

uma área total de 7,119 km², o que corresponde a 7.1% da área superficial da província (INE, 2013).

O distrito é composto por dois postos administrativos, nomeadamente Kazula e Manje, e oito

localidades, como se pode ver abaixo, na Tabela 11 abaixo. A capital distrital é a Vila de Manje

(MAE, 2005). O projecto proposto localiza-se no Posto Administrativo de Kazula.

Tabela 11: Postos administrativos e localidades do distrito de Chiúta.

Posto Administrativo Localidades

1. Kazula 1. Kasula-Sede

2. Chipiri

3. Matenje

4. Muchena

O Distrito de Moatize localiza-se no sudeste da Província de Tete, a 20km da Cidade de Tete, e

ocupa uma área total de 8,428km², o que corresponde a 8.4% da área superficial da província (INE,

2013b). É composto por três postos administrativos, nomeadamente Moatize-Sede, Zobue e

Kambulatsitsi, e nove localidades, como se pode ver na Tabela 12 abaixo. A capital distrital é a Vila

de Moatize (MAE, 2005). O projecto proposto também se localiza nos Postos Administrativos de

Moatize e Zobue.

20

O MPD (2010) emprega o conceito “pobreza de consumo” como pobreza em termos de consumo, calculado através do

consumo per capita dentro de um agregado.

21 Há um debate em curso sobre os resultados da 3ª Avaliação da Pobreza. Os indicadores da avaliação mudaram,

comparativamente com as avaliações da pobreza anteriores, e isso parece ter ‘beneficiado’ os resultados para a Província de

Tete.

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56 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Tabela 12: Postos administrativos e localidades do distrito de Moatize

Posto Administrativo Localidades

Moatize 1. Moatize-Sede

2. Benga

3. N’Panzu

4. Msungo

Kambulatsitsi 5. Kambulatsitsi-Sede

6. Mecungas

Zobue 7. Zobue-Sede

8. Capiridzanje

9. Nkodeze

As comunidades na área do projecto estão organizadas em bairros e partilham um esquema de

autoridade comum: um Líder Comunitário que governa a comunidade, supervisionando uma

hierarquia dos Chefes de Quarteirão e Chefes de 10 Casas. A resolução de conflitos está sob a

responsabilidade do Chefe do Tribunal Comunitário, que, em alguns casos, pode ser tão poderoso

como o Líder Comunitário.

4.3.2 Demografia

O distrito de Chiúta tem uma população total de 89.595 habitantes e uma densidade populacional de

12,6 habitantes por km², que é quase metade da densidade populacional provincial. A população é

essencialmente rural (MAE, 2005) e jovem, 50% da população tem menos de 14 anos de idade e

44% encontram-se entre os 15 e os 64 anos de idade (INE, 2013). Isto indica a presença de

uma mão-de-obra jovem no distrito. Adicionalmente, as mulheres contabilizam mais de metade da

população (52%) (INE, 2013).

O distrito de Moatize é muito mais populado que Chiúta, com um total de 292.341 habitantes e uma

densidade populacional de 34,7 habitantes por km². Isto é consideravelmente superior à densidade

populacional provincial e ligeiramente superior à densidade populacional nacional. A população de

Moatize tem características rurais (MAE, 2005b), embora menos do que o perfil rural de Chiúta,

devido à sua proximidade à capital provincial e do estatuto da Vila de Moatize como municipalidade.

A população de Moatize é também relativamente jovem; 46% da população está abaixo dos 14 anos

de idade e 46% está compreendida entre os 15 e 64 anos de idade. Assim, apresenta também

uma mão-de-obra jovem. Finalmente, ligeiramente mais de metade da população é composta por

mulheres, (51%), o que está em linha com a média nacional (INE, 2013b.

De acordo com o Representante do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas (SDPI) para o

distrito de Chiúta, há cerca de 180 agregados familiares na porção de Chiúta da área do projecto,

com uma população estimada em 900 pessoas. Por sua vez, segundo o representante do distrito de

Moatize, há cerca de 500-800 agregados familiares na porção de Moatize da área do projecto para

uma população estimada entre 2,500-4,000 pessoas22

. Isto é um pouco mais elevado que as

indicações preliminares dos agregados afectados pelo projecto apresentadas pelo PAR, que está,

22

Considerando a composição média do agregado familiar moçambicano como cinco membros (INE, 2009b).

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

57

actualmente, a ser preparado para o projecto (consultar Secção 4.3.10), que identificou 324

agregados familiares (cerca de 1.600 pessoas23

) na área do projecto.

Apesar de haver mais comunidades na porção de Chiúta (6) do que na porção de Moatize (2), o

número mais elevado de famílias em Moatize pode ser explicado pelo facto da comunidade mais

populada na área do projecto (Tenge-Makodwe) estar localizada em Moatize. Adicionalmente, a

proximidade à Vila de Moatize e o factor da indústria do carvão, com as suas infraestruturas

melhoradas e oportunidades de emprego aumentadas, podem indicar uma maior população em

Moatize.

De acordo com o Ministério da Administração Estatal (MAE) (2005 e 2005b), a família estendida é a

forma mais comum de organização social em ambos distritos. É particularmente evidente em áreas

rurais, onde agregados familiares vizinho geralmente partilham laços de parentesco.

Os resultados do levantamento indicam que os agregados familiares na área do projecto são

compostos por, em média, 4.5 membros, o que está quase de acordo com as médias nacional e

provincial de 5 membros (INE, 2009b). Os agregados familiares, geralmente incluem um Chefe de

Agregado, o seu cônjuge (feminino ou masculino) e os seus parentes (2 a 3 crianças).

Como se vê na Figura 5 abaixo, a monogamia é predominante nos agregados inquiridos na porção

de Chiúta da área do projecto: 66% dos Chefes de Agregados têm um cônjuge (feminino ou

masculino), contra 19% que têm dois ou mais cônjuges. No entanto, na porção de Moatize da área

do projecto, a poligamia é mais amplamente praticada: 47% têm um cônjuge, mas 36% têm dois ou

mais cônjuges. A porção de Chefes de Agregados solteiros é similar em ambos distritos:15% em

Chiúta e 16% em Moatize.

Figura 5: Resultados do levantamento sobre número de cônjuges por Chefe de Agregado

Como se pode ver na Figura 6 abaixo, para a maioria dos Chefes de Agregado com dois ou mais

cônjuges, correspondendo a 93% da população inquirida em ambos distritos, cada cônjuge vive na

sua própria casa, constituindo, assim, um agregado familiar individual.

23

Ibidem.

15 66

16

3

0

16 47

24

10

2

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0 cônjuge 1 cônjuge 2 cônjuges 3 cônjuges 6 cônjuges

Chiúta Moatize

Page 58: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

58 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 6: Resultados do levantamento sobre cônjuges que vivem no mesmo quintal

Estes resultados do levantamento parecem estar em conformidade com os dados recolhidos através

das DGF, o que indica que a família estendida é predominante na área do projecto, sob a forma de

pequenas unidades de agregados próximas umas das outras, como pode ser visto no Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa - casas e bairros.

Os agregados inquiridos são principalmente chefiados por homens (83%). Independentemente do

seu género, o Chefe do Agregado é um adulto com uma idade média de 40 anos porque 95% dos

Chefes de Agregados inquiridos caía na faixa etária dos 35 aos 45 anos. Idosos24

são Chefes de 7%

dos agregados inquiridos (5% em Chiúta e 9% em Moatize) e são mais comummente do sexo

masculino (cerca de dois terços em ambos distritos, contra um terço do sexo feminino). Não foram

encontrados agregados chefiados por crianças25

na área pesquisada.

O nível de educação dos Chefes de Agregados é baixo: quase 50% dos Chefes de Agregados

inquiridos são analfabetos (46% em Chiúta e 53% em Moatize) e 40% têm o ensino primário (45%

em Chiúta e 36% em Moatize), enquanto apenas 4% têm o ensino secundário.

4.3.3 Grupos étnicos, linguagem e religião

Os perfis étnicos, linguísticos e culturais dos distritos de Chiúta e Moatize são semelhantes. Em

Chiúta a língua mais vulgarmente utilizada é ciNyungwè, falada por 85% da população, enquanto o

Português é falado por menos de 15% da população do distrito. A religião dominante é o Catolicismo,

embora frequentemente combinado com práticas religiosas tradicionais. Igrejas sincréticas tais como

a de Zione26

, assim como a religião Muçulmana, também estão presentes, mas compostas por uma

base mais modesta de crentes (MAE, 2005).

24

Uma pessoa com 65 anos de idade ou mais. 25

Uma pessoa com idade até aos 18 anos.

26O termo igreja ‘sincrética’ refere-se a movimentos religiosos ou doutrinas em que elementos de uma religião são assimilados

por outra. A Zione é uma igreja sincrética que combina crenças espirituais de práticas religiosas tradicionais com o

Catolicismo.

7 7

93 93

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Chiúta Moatize

Cônjuges vivem na mesma casa Cada cônjuge vive na sua própria casa

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

59

Em Moatize, a língua mais utilizada é o ciNyungwè, falada por, pelo menos, dois terços da

população. O Chewa também é falado no Posto Administrativo de Zobue; e o ciSena, ciNdau e

ciTawara no Posto Administrativo de Kambulatsitsi, devido à proximidade do distrito ao Malawi e da

área de influência da linha férrea do Sena. O português é falado por apenas um terço da população

do distrito. A religião dominante é a religião sincrética de Zione (MAE, 2005b).

Lideranças tradicionais como o n'fumo e nhankwava ou nhankawa, e cerimónias tradicionais como a

cerimónia da chuva e ritos de iniciação de PARarigas/PARazes, ainda estão presentes nos

ambientes rurais e urbanos de ambos distritos de Chiúta e Moatize, embora com variados graus de

intensidade (MAE, 2005 e 2005b). Os líderes e as práticas culturais e religiosas tradicionais ainda

são uma parte importante da vida quotidiana das comunidades na área do projeto, e as comunidades

voltam-se para os líderes tradicionais para a tomada de decisão sobre as questões que afetam a vida

da comunidade (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os temas de coesão social e locais

históricos e sagrados).

Os resultados da pesquisa e o DGF revelaram que as comunidades na área do projeto falam

maioritariamente Chewa, e muito pouco Português; o que pode ser explicado pelos baixos níveis de

literacia dos agregados inquiridos. A língua materna dos agregados inquiridos 27

é ou Chewa, falado

por 60% dos agregados (64% dos agregados de Chiúta e 56% dos agregados de Moatize), ou

ciNyungwè, falado por 40% dos agregados (36% dos agregados de Chiúta e 43% dos agregados de

Moatize). Isto está representado na Figura 7 abaixo.

Este é um perfil linguístico diferente daquele mais amplo do distrito de Chiúta, como foi dito acima

ciNyungwè é a língua materna predominante. O mesmo se aplica para o alargado do distrito de

Moatize, onde ciNyungwè é falado por pelo menos 66% da população do distrito. Essa

predominância da linguagem Chewa pode ser explicada pela proximidade da área do projeto ao

vizinho Malawi. Nenhum agregado fala o Português como língua materna, o que não é

surpreendente considerando os baixos níveis de literacia dos agregados. Isso está de acordo com a

tendência de conhecimento da Língua Portuguesa de ambos os distritos.

Figura 7: Constatações do levantamento sobre línguas faladas

De acordo com os dados da pesquisa, as famílias na área do projeto pertencem a dois grandes

grupos étnicos do Vale do Zambeze, nomeadamente Chewa-Nyanja e ciNyungwè. O Chewa-Nyanja

é um grupo étnico matrilinear do Rio Zambeze, que também está presente no Malawi. O ciNyungwè é

um grupo étnico de Baixo Vale do Zambeze, que combina características matrilineares e

2727

Isto refere-se à língua materna do Chefe do agregado.

36

64

43

56

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Nhúngwe

Nyanja

Chiuta Moatize

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60 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

patrilineares28

. Apesar disso, o DGF revelou que, embora as comunidades pesquisadas estejam

cientes da sua origem étnica, a nível da comunidade, não são feitas distinções étnicas no dia-a-dia

ou eventos cerimoniais; a diferenciação social parece ser socioeconómica e religiosa.

Em termos de religião, dos agregados inquiridos na porção de Chiúta da área do projeto, 43% são

católicos e 15% são protestantes, mas 37% declararam não ter qualquer crença religiosa. Isso

inverte-se na porção de Moatize da área do projeto, onde 75% dos agregados inquiridos não têm

religião, enquanto 22% são católicos e os restantes 3% seguem outras religiões ou credos. Contudo,

o DGF revelou que as práticas da religião tradicional animista, com base no culto espiritual dos

antepassados para o sucesso na vida cotidiana – assim como para projetos de extração de recursos

naturais 29

- ainda são uma peça central da vida da comunidade e da existência, e são muitas vezes

combinadas com outras religiões (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os temas de coesão

social e locais históricos e sagrados).

Para mais informações sobre as práticas religiosas, por favor consulte o Estudo do Património

Cultural. A Figura 8 abaixo mostra uma igreja na comunidade de Massamba (porção de Chiúta da

área do projeto).

Figura 8: Igreja das Testemunhas de Jeová, Massamba

28

Os sistemas de parentesco podem ser matrilineares ou patrilineares. Genericamente, a diferença entre os dois sistemas

está em como a descendência é reconhecida (ou seja, adquire estatuto social) e em como as heranças, incluindo os direitos

de uso da terra, são transmitidas: descendência matrilinear acontece através das mulheres e a herança é passada através de

uma mãe para a sua descendência; enquanto num sistema patrilinear é através dos homens e a herança é passada através

de um pai para seus parentes. Apesar disso, em ambos os sistemas, o poder oficial reside principalmente com os homens:

num sistema patrilinear, o pai; e num sistema matrilinear, o irmão da mãe (Barnard & Spencer, 2001).

29 Por exemplo, as empresas madeireiras que operam em algumas das comunidades inquiridas eram obrigadas a realizar

cerimónias rituais para obter a aprovação espiritual do seu projeto. Do ponto de vista das comunidades, isto é importante para

a sua adesão ao projeto económico em questão.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

61

4.3.4 Mobilidade

No que diz respeito à mobilidade social e migração, os dois distritos têm taxas de migração bastante

equilibradas quando avaliados em conjunto. O distrito de Chiúta tem um saldo migratório baixo

positivo 30

(em contraste com o saldo migratório provincial, que é negativo (INE, 2013). O distrito de

Moatize tem um saldo migratório baixo negativo em linha com a tendência provincial (INE, 2013b).

Os níveis de migração parecem ser baixos entre a população inquirida. Como mostrado na

Figura 9 abaixo, durante o inquérito, 96% dos membros dos agregados inquiridos eram moradores

dos agregados.

Figura 9: Mobilidade e Migração

Dos que estavam fora (4%), a maioria tinha viajado para estudos ou trabalho. Isto é corroborado pelo

DGF, que, em geral, mostra que a população das comunidades inquiridas não tende a emigrar, e

quando o faz, é normalmente um deslocamento temporário para trabalho ou casamento. Isto pode

ser visto no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ the mobility mapping theme.

30

De acordo com o INE (2013a e 2013b), o saldo migratório é positivo quando mais pessoas imigram (entram) do que aqueles

que emigram (saem). O oposto, saldo migratório negativo, significa que mais pessoas emigram (saem) do que aqueles que

imigram (entram).

97

1 1 1

96

1 1 2

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Vive em casa Ausente, trabalha

noutro local do país

Ausente, estuda

noutro local do país

Temporariamente

ausente por outrarazão

Chiúta Moatize

97

1 1 1

96

1 1 2

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Vive em casa Ausente, trabalhanoutro local do país

Ausente, estudanoutro local do país

Temporariamenteausente por outra

razão

Chiúta Moatize

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62 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Os resultados do DGF sobre a migração estão em acordo com os resultados do inquérito (Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa, sob o tema de história da comunidade). Atualmente existe alguma

migração para a Cidade de Tete com o objetivo da procura de emprego. No entanto, estas

comunidades são historicamente de origem migratória, com as suas origens mitológicas comuns

baseadas em serem imigrantes de distritos vizinhos que se estabeleceram na região, bem como

descendentes de escravos trazidos pelos colonizadores portugueses. No passado mais recente,

essas comunidades sofreram deslocamentos temporários e realocações para os distritos e países

vizinhos, como resultado de conflitos armados (a luta de libertação dos anos 1970 e do conflito

armado pós-independência que continuou até o início de 1990), e ocasionais obrigações de

abandono da região devido a enchentes e surtos de doenças.

4.3.5 Economia

De acordo com o MAE (2005 e 2005b) e o SDAE de Chiúta e Moatize, a agricultura é a principal

atividade económica (ocupando 95% e 81% da população economicamente ativa, respetivamente) e

prevalecendo o uso do solo nos distritos, o que está de acordo com a tendência provincial. A

agricultura é predominantemente de rega pluvial com plantações intercalares entre os períodos das

estações de crescimento das culturas dominantes. É praticado em forma de subsistência a nível

familiar. Todos os membros do agregado familiar participam nas atividades agrícolas e a produção

destina-se principalmente para o consumo doméstico. As culturas mais comuns incluem milho, sorgo,

milho-miúdo (os três sendo alimentos dominantes), hortícolas, amendoim e feijão.

Em geral, o solo nos distritos de Chiúta e Moatize tem baixa fertilidade e baixa humidade/absorção

de humidade e capacidade de retenção (MAE, 2005 e 2005b), o que leva a altos riscos de perdas de

rendimento de plantações em determinado ano ou estação. Como resultado, as áreas húmidas (ou

pantanais) em torno de rios e ribeiros são procurados para a produção de culturas, e isso foi

enfatizado nas sessões DGF com as comunidades (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa, sob os

temas de uso da terra e de serviços e recursos de mapeamento). No entanto, é agricultura de

recessão 31

pois é afetada por inundações ocasionalmente; assim, a agricultura é afetada por

condições climáticas variáveis. Há pouco uso de variedades de sementes melhoradas ou

modificadas, pesticidas ou fertilizantes.

Além da agricultura de subsistência e de pequena escala, há algumas grandes fazendas individuais

principalmente de plantações alimentares. Em 2005, apenas 3% das terras aráveis de Chiúta estava

cultivada, predominantemente por agricultores de subsistência, praticamente sem infraestrutura de

irrigação a funcionar. Em 2013, havia 9 grandes campos de agricultura cobrindo uma área total de 32

ha. Em Moatize, em 2005 havia cerca de 184 ha de terras irrigadas em fase de produção, mas em

2013 havia apenas 12 grandes campos de agricultura cobrindo uma área irrigada total de 33 ha (INE,

2013b). Culturas comerciais, como o algodão (ambos distritos) e tabaco (Chiúta) também são

cultivadas, principalmente ao nível das famílias (MAE, 2005 e 2005b).

O DGF confirmou que a agricultura é a principal atividade económica nas comunidades da área do

projeto, e é principalmente usada para consumo doméstico. É de rega pluvial e praticada em torno de

rios e ribeiros, por todos os membros do agregado familiar. É complementado pela produção e venda

de carvão vegetal (que também é usado para o consumo das famílias), pela pesca e por algum

31

De acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, este termo técnico refere-se à

agricultura praticada ao longo dos rios, onde o cultivo ocorre em áreas expostas quando a água do rio recua (incluindo com as

cheias). Definição disponível em: http://www.fao.org/waicent/faoinfo/agricult/aquastat/defeng.htm

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

63

comércio informal. Assim, o acesso contínuo aos recursos naturais (terra, água, florestas, peixes e

lenha), assim como a utilização destes para complementar a segurança alimentar das famílias e

sustentar a sua estratégia global de subsistência familiar, é de importância crucial para estas

comunidades.

Como complemento à agricultura de subsistência, outras actividades económicas como o comércio,

pecuária, pesca e mineração artesanal são também praticadas pela população de ambos os distritos.

Em menor escala, a actividade industrial tem uma presença modesta (MAE, 2005 e 2005b).

Nos dois distritos, a pecuária não é uma atividade produtiva significativa, apesar da existência de

áreas de pastagem extensivas. Isto é em grande parte atribuído à baixa cobertura dos serviços de

extensão da parte do Estado. As cabras são na sua maioria criadas para consumo doméstico ou

familiar, enquanto bovinos, caprinos, suínos e ovinos são produzidos para venda (MAE, 2005 e

2005b e entrevistas com SDAE de Chiúta e Moatize).

A pesca artesanal em pequena escala ocorre nos rios e ribeiros de ambos os distritos, praticadas

pela população local (principalmente os homens). As capturas são usadas principalmente para o

consumo das famílias, embora uma pequena parcela também seja vendida nos mercados locais

(MAE, 2005 e 2005b).

Em Chiúta, o comércio é principalmente informal, incluindo a comercialização do excedente da

agricultura familiar, e tem lugar em bancas do mercado. A rede de comércio não abrange todo o

distrito e, em algumas áreas, a população viaja longas distâncias para comprar produtos básicos.

Divisões de género são de notar neste tipo de comércio: as mulheres vendem produtos agrícolas,

lenha e canas, enquanto os homens vendem peixe, carne e varas. O comércio ocupa 3% da

população economicamente ativa do distrito, sendo a segunda maior ocupação (MAE, 2005). Em

2013, Chiúta tinha 52 comerciantes e ofereceu alojamento e serviços de restauração limitados (sete

unidades) e nenhum banco (INE, 2013).

Em Moatize, o comércio também é mais informal, mas o comércio formal, é cada vez maior na vila

principal do distrito, fortemente impulsionado pela indústria de mineração de carvão existente. No

entanto, como para Chiúta, a rede de comércio não cobre toda a Moatize e, em algumas áreas, a

população viaja longas distâncias para comprar produtos básicos. Divisões de género são

igualmente evidentes no comércio de Moatize: as mulheres vendem produtos alimentares e os

homens vendem materiais de construção. O comércio ocupa 10% da população economicamente

ativa do distrito (MAE, 2005b). Em 2013, Moatize tinha 92 comerciantes, dos quais 3 eram

atacadistas, e ofereciam um vasto leque de serviços de hospedagem/restaurantes (47 unidades) e

três bancos (INE, 2013b).

De acordo com o MAE (2005 e 2005b) e apoiado pelos resultados do DGF, o comércio da área do

projeto é predominantemente informal e tem lugar nas bancas à beira da estrada e mercados locais.

Em Chiúta, a atividade industrial ocupa 2% da população economicamente ativa e é largamente da

afetação em 20 moinhos de farinha, 10 lojas de carpintaria e 3 unidades industriais de produção de

alimentos e roupas (INE, 2013 e MAE, 2005). Os moinhos de farinha são importantes para a

moagem dos produtos básicos da dieta da população local e são distribuídas de acordo com as

áreas agrícolas mais produtivas. No entanto, a capacidade de moagem ainda não é suficiente para

atender às necessidades do distrito (MAE, 2005).

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64 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Em Moatize, a atividade industrial ocupa 6% da população economicamente ativa, com a atividade

industrial mais importante do distrito sendo a mineração de carvão. Moatize tem seis campos de

carvão (antracite) concentrados no sul do distrito, como parte da Bacia Carbonífera de Moatize-

Minjova, uma das bacias de carvão mais importantes do mundo com uma reserva estimada de 2,5

bilhões de toneladas (José & Sampaio, w / d). A mineração de carvão industrial vem acontecendo

desde os anos 1940; porém com maior intensidade desde os anos 1990 pós-guerra. Atualmente, a

mineração de carvão industrial em larga escala é conduzida usando tecnologias a céu aberto por

empresas multinacionais de mineração como a Vale SA, Coal India, Jindal, Ncondezi Coal Company

e Beacon Hill Resources (KPMG, 2013).

Para além disso, há uma estimativa de 101 moinhos de farinha (tal como para Chiúta, fornecendo

uma importante mas limitada cobertura das necessidades de moagem das comunidades), 22 lojas de

serralharia, 21 lojas de carpintaria e cerca de 30 pequenas indústrias dedicadas à alimentação,

vestuário, bens metálicos e mobiliário (INE, 2013b e MAE, 2005b). O comércio é baseado em

dinheiro e as mercadorias incluem bens colhidos e/ou produzidos localmente (alimentos, lenha,

carvão e materiais de construção), e ainda bens manufaturados externamente (roupas, utensílios

domésticos e eletrodomésticos).

Além do proposto projeto de mineração de ferro pela Capitol Resources, atualmente em fase de

prospeção nas comunidades de Tenge, Matacale e Massamba, não há nenhuma atividade industrial

a decorrer na área do projeto.

Dos membros dos agregados inquiridos, 83% não são empregados, isto inclui as pessoas que estão

à procura de emprego, que prosseguem estudos, que estão com idade inferior a 5 anos ou que estão

ocupadas com tarefas domésticas. Dos 17% que estão empregados, as formas mais comuns de

ocupação são semelhantes nas duas partes da área do projeto, mas com pesos diferentes. Em

Chiúta, o autoemprego assume um papel muito importante: 70% dos membros do agregado familiar

trabalhadores são trabalhadores por conta própria, 19% são trabalhadores informais ou têm

trabalhos sazonais, e 11% têm um emprego formal. Em Moatize, o autoemprego é menos importante:

41% dos membros do agregado familiar trabalhadores são trabalhadores por conta própria, mas 33%

são trabalhadores informais ou têm trabalhos sazonais e 25% têm um emprego formal. A Tabela 13

resume os resultados da pesquisa sobre o emprego nos agregados da área do projeto.

Tabela 13: Constatações do inquérito sobre o emprego

Situação Profissional Chiúta (%) Moatize (%)

Emprego formal (contrato, salário) 2 4

Emprego informal (sem contrato ou salário) 3 3

Trabalho Sazonal 0 2

Autoemprego 13 7

Desempregado (à procura de emprego) 10 8

Dona de casa / marido (não à procura de emprego) 13 24

Incapaz de trabalhar e desempregado 2 2

Criança (com idade inferior a 5 anos) 27 23

Estudante 30 27

Total 100 100

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

65

Em termos de atividades económicas, a agricultura (agricultura de subsistência) e o trabalho não-

qualificados (principalmente biscates) são as atividades mais comuns praticadas pelos membros dos

agregados inquiridos. A agricultura é praticada por 44% dos membros do agregado familiar de Chiúta

e 47% dos membros do agregado familiar de Moatize; o trabalho não qualificado é praticado por 22%

dos membros do agregado familiar de Chiúta e 27% dos membros do agregado familiar de Moatize.

A produção de artesanato artístico ocupa 13% e o comércio informal (com uma banca) ocupa 9% dos

membros do agregado familiar de Chiúta (mas apenas 2% e 3%, respetivamente, em Moatize). A

mão-de-obra qualificada formalmente empregada ocupa 9% dos membros do agregado familiar de

Moatize contra 3% em Chiúta. Isto é demonstrado na Figura 10 abaixo.

Figura 10: Ocupações do Agregado Familiar

As ocupações mais comuns são a agricultura, por quase metade dos membros do agregado de

trabalho (44% na parcela Chiúta da área do projeto e 48% na parcela Moatize), seguido por trabalho

remunerado não qualificado32

(20% em Chiúta e 26% em Moatize). A terceira ocupação mais comum

é a produção de artesanato artístico em Chiúta (para 13% dos membros da família que trabalham) e

em Moatize é o emprego qualificado formal 33

(9%). Embora a ocupação dos agregados inquiridos na

agricultura seja inferior à média do distrito, ainda replica a tendência de ocupação do distrito: a

agricultura de subsistência é a ocupação mais comum, complementado por atividades económicas

com autoemprego e de competências técnicas básicas.

Além destas formas de ocupação, os agregados familiares na área do inquérito obtêm rendimentos

de outras fontes. O mais proeminente na porção Chiúta da área do projeto é a venda de culturas de

rendimento (mencionado por 51% dos agregados inquiridos) e as pensões de reforma (20% dos

agregados inquiridos). Na parte de Moatize, as principais fontes de renda são a produção de

artesanato artístico (21% dos agregados), venda de produtos hortícolas (15% dos agregados) e

32

Tal como guarda, ir buscar água, limpar terrenos agrícolas e outras tarefas pesadas que não exigem habilidades

específicas.

33 Tal como professora, enfermeira, contabilista, etc. Isso inclui funcionários públicos e trabalhadores do setor privado.

44

13

1

3

5

9

5

20

47

2

1

2 3

9

6

3

26

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Chiúta Moatize

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66 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

pensões de reforma ou a venda de bebidas alcoólicas caseiras (10% dos agregados,

respetivamente). Exceto para a pensão de reforma, estas são todas estratégias de rendimento

baseadas na terra ou ligadas à terra. A Figura 11 mostra uma banca de comércio informal na área do

projeto.

Figura 11: Banca informal, Muchena.

O rendimento médio mensal dos agregados inquiridos na porção Chiúta da área do projeto é um

pouco maior do que a renda média mensal das famílias de Moatize. Em média, a família Chiúta

ganha MZM 5,645 por mês (cerca de USD $ 181) contra MZM 4,767 (cerca de USD $ 153) ganhos

pelo agregado familiar de Moatize34

, como mostrado na Figura 12 abaixo.

Figura 12: Constatações do inquérito sobre rendimento médio mensal

No entanto, os agregados inquiridos na porção Chiúta da área do projeto também têm despesas

mais elevados do que os agregados na porção Moatize. Em média, a família Chiúta gasta MZM

1,880 / mês (cerca de USD $ 60), que representa um terço do seu rendimento (33%). A família

Moatize gasta MZM 1,780 (cerca de R $ 57), ligeiramente acima de um terço (37%) da sua renda. As

despesas mais comuns, como relatado pelos agregados inquiridos, são itens alimentares, tais como

itens manufaturados, como óleo e açúcar, bem como itens frescos como peixe, carne e cereais

34

O valor em USD foi calculado com base na taxa de câmbio oficial do Banco de Moçambique em 10/10/2014 (USD 1 = MZM

31.12). Este rendimento médio está bem acima do rendimento provincial (quase o triplo), afirmado pelo INE 2004, mas, a fim

de fazer uma comparação consistente seria necessário o uso de uma fonte mais atualizada para o rendimento provincial, que

não existe.

5 645

4 767

4200

4400

4600

4800

5000

5200

5400

5600

5800

Chiúta Moatize

Meti

cal

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

67

(75%), seguidos por produtos de higiene (61%), vestuário (44%) e saúde (23%). Isto está

representado na Figura 13 abaixo.

Figura 13: Constatações do inquérito sobre despesas dos agregados

Essas despesas provavelmente refletem o perfil rural das agregados inquiridos e a contribuição da

agricultura / áreas agrícolas para a sua subsistência, já que produzem uma parte do que comem, em

vez de ter que comprar tudo.

A grande maioria dos agregados inquiridos não usa serviços bancários, 94% não tem uma conta

bancária, o que pode ser explicado, em parte, pelo fato de não haver instalações bancárias no distrito

de Chiúta e das existentes em Moatize estarem limitadas à principal vila do distrito.

O caráter rural dos agregados inquiridos é ainda mostrado nos bens que possuem: 99% possui uma

enxada e 91% possui um machado. Também possuem outros ativos duradouros, mas em menor

proporção: 60% possuem um rádio, 50% possui uma bicicleta, 20% possuem um telefone celular

(27% na parcela Chiúta da área do projeto e 13% na parte de Moatize), e 15% possui uma cama. A

Figura 14 abaixo representa os bens duradouros de propriedade dos agregados inquiridos. A Figura

14 representa os bens duradouros, propriedade dos agregados inquiridos.

62

43

77

62

2

15

7

43

16

25

9

1

8

53

42

74

60

1

4

12

9

46

16

22

13

1

7

0 20 40 60 80 100

Carne/ peixe

Cereais (milho, arroz)

Produtos alimentares

Produtos de higiene

Água

Eletricidade

Telemóvel

Transporte

Roupa

Educação

Saúde

Mobília/ aparelho doméstico

Renda da casa

Insumos agrícolas

% Moatize Chiuta

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68 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 14: Constatações do inquérito sobre bens duradouros

Quase metade da terra de cultivo (49%) é de rega pluvial, um terço (31%) é irrigado com um poço

aberto tradicional e cerca de 6% é irrigado com água do rio. Os restantes 15% são irrigados com

fontes alternativas de água, provavelmente pequenos sistemas de irrigação.

De acordo com os agregados inquiridos, em relação às suas parcelas agrícolas, as três culturas mais

comuns são o milho (72%), feijão (15%) e hortícolas (8%). Enquanto as hortícolas são geralmente

utilizadas apenas para o consumo das famílias, o feijão e o milho são vendidos cerca de 80% e 66%,

respetivamente, nas famílias agrícolas da porção Chiúta, contra 40% e 51%, respetivamente, na

parte de Moatize. Para além disso, o feijão e o milho são por vezes consumidos pela família agrícola,

especificamente em 52% e 32%, respetivamente, nas famílias agrícolas da porção Moatize, contra

19% e 21%, respetivamente, na porção Chiúta. Para a maior parte, todas as culturas cultivadas são

utilizadas para o consumo das famílias, embora em quantidades diferentes de rendimento; no

entanto, as famílias Chiúta são mais orientadas para a venda das culturas do que as famílias de

Moatize.

Figura 15: Cultivo do milho, Muchena Figura 16: Rio Revúbuè, com parcelas agrícolas cultivadas

Dos agregados inquiridos, 64% das pessoas na porção Chiúta da área do projeto e 36% das pessoas

na parte de Moatize têm pelo menos uma árvore de subsistência no seu quintal. Estas famílias têm,

em média, quatro árvores, todos de fruto, normalmente mangueiras e bananeiras. Além disso, 80%

57

3 3

27

13 13

3

99

92

3

45

62

13

6

15

2 1

98

90

54

3 1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100%

Chiúta Moatize

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

69

das árvores da família estão localizadas dentro do quintal doméstico. As árvores não são jovens:

43% são árvores adultas no pico produtivo e 38% são árvores antigas. Em 91% dos agregados

inquiridos, as culturas destas árvores de fruto são usadas principalmente para uso doméstico, como

mostra a Figura 17 abaixo.

Figura 17: Constatações do inquérito sobre o uso das árvores

Metade dos agregados inquiridos na porção Moatize da área do projeto (56%) também cria animais

domésticos, tal como 44% dos agregados da porção Chiúta. A grande maioria deles (97%) cria

animais de pequeno porte (galináceos, caprinos e suínos). O galináceo é o animal doméstico

geralmente criado em ambos os distritos, com uma média de 7 galinhas por família. Isto é seguido

por uma média de 3 porcos e 5 cabras por agregado familiar, como mostrado na Figura 18 abaixo.

Em geral, os agregados Chiúta inquiridos tendem a criar mais animais domésticos do que suas

contrapartes em Moatize.

Figura 18: Constatações do inquérito sobre o número médio de animais domésticos possuídos, em unidades

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Chiúta Moatize

92 90

8 10

% Consumo

Venda

6

3

6

7

1

3

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Galinha Porco Cabra

Un

idad

e

Chiúta Moatize

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70 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Os animais domésticos mais frequentemente criados (galináceos, caprinos e suínos) são usados

principalmente para o consumo familiar e venda (70%), enquanto os restantes agregados que criam

animais fazem-no apenas com um único propósito de vender ou consumir (30%); como demonstrado

na Figura 19 abaixo.

Figura 19: Constatações do inquérito sobre o uso dos animais de criação

4.3.6 Uso da terra e dos Recursos Naturais

De acordo com os Serviços Distritais de Planificação e Infra-estrutura (SDPI) de Chiúta e Moatize, o

direito de uso e aproveitamento da terra para fins habitacionais e agrícolas é predominantemente

consuetudinária, em que uma grande parte dos habitantes ou das comunidades não possui um

Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).

A uso da terra para habitação urbana é caracterizada por um ordenamento do território espalhado ou

pouco planeado, o que reflecte um urbanismo fraco. Os DUATs para habitação são mais comuns nas

áreas urbanas, como sendo as aldeias que são sede de Distritos e de Postos Administrativos, onde é

mais provável haver áreas de expansão urbana/residencial designadas, em conformidade com

quaisquer planos ou instrumentos de ordenamento do território actualizados. O distrito de Moatize,

por exemplo, já elaborou um Projecto Urbanístico para a capital de Distrito, Vila de Moatize, e visa

elaborar um Projecto Urbanístico para a Vila de Benga, uma sede de Posto Administrativo importante

na área de extracção de carvão no Distrito de Moatize. Contudo, o Governo Distrital não dispõe de

fundos para a implementação dos projectos urbanísticos existentes, e é por esta razão que procura

celebrar acordos estratégicos com as organizações ou instituições investidoras, de forma a conseguir

o apoio para estas iniciativas.

Segundo os SDPI dos distritos de Chiúta e Moatize, existem DUATs agrícolas para os grandes

empreendimentos de agricultura comercial em grande escala e/ou os projectos de pecuária no

distrito; entretanto, a agricultura de pequena escala é praticada em terras herdadas pelas famílias

(sistema tradicional de posse de terra) e a pecuária em pequena escala é praticada em terras

comunitárias que são utilizadas por todos os membros da comunidade. Foi identificado, através dos

resultados da DGF, que a população da área de estudo usa áreas distintas para agricultura e para a

pastagem do gado, de forma a evitar que as culturas sejam comidas pelos animais. Os recursos

21

8 9

30 26

10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

%

Consumo Chiúta

Consumo Moatize

2 4 4 7 9 10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

%

Venda Chiúta

Venda Moatize

78

88 87

63 66

81

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

%

Consumo & Venda Chiúta

Consumo & Venda Moatize

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

71

naturais, como lenha e madeira para construção, são normalmente extraídos da terra desbastada

para agricultura, ou das florestas perto das povoações.

De acordo com os SDPI de Chiúta e Moatize, existem DUAT formais na área do projecto para outras

actividades económicas de grande escala, como sendo a mineração, silvicultura (plantação comercial

de árvores) e exploração florestal (corte comercial de árvores). Foi atribuído um DUAT, para uma

área de 37 hectares, a uma pessoa individual para a realização de actividades agro-pecuárias na

zona de Massamba (Chiúta) (DUAT a ser emitido aquando da elaboração do presente relatório); foi

autorizada uma outra área, de tamanho semelhante, para actividades pecuárias, também a um

criador individual. Mais ainda, existem concessões florestais nas redondezas de Massamba e

Matacale (também Chiúta).

Todas as famílias inquiridas têm pelo menos uma machamba. Mais de metade destas encontram-se

próximas de ou nos quintais das famílias (67% na parte do projecto em Chiúta e 52% na parte do

projecto em Moatize). Mais ainda, cerca de metade das machambas estão localizadas a até 60

minutos de distância do domicílio das famílias (38% na parte de Moatize e 21% na parte de Chiúta).

Apenas 10% estão localizadas a uma distância superior a 60 minutos do domicílio das famílias. Isto

coaduna-se com a constatação da DGF de que as comunidades na área do projecto praticam

actividades agrícolas ao longo das margens de rios e riachos existentes, próximos da localização das

aldeias, para tirar o máximo de proveito da terra húmida. Isto encontra-se descrito no Anexo D: Matriz

de Análise Qualitativa sob os temas de uso da terra e o mapeamento de serviços e recursos. As

figuras acima mostram duas machambas na área do projecto. Figura 15: Cultivo do milho, Muchena

Figura 16: Rio Revúbuè, com parcelas agrícolas cultivadas.

O tamanho das machambas varia. Mais de 33% das machambas têm até 0,5 hectares, cerca de 42%

na parte do projecto em Chiúta e 3% na parte em Moatize. Subsequentemente, 20% das machambas

têm entre 0,5 e 1 hectares, mais especificamente 17% em Chiúta e 26% em Moatize. Por último,

quase 20% das machambas têm entre 1 a 2 hectares, o que perfaz 18% da terra agrícola de todos

os agregados familiares inquiridos. É importante ressaltar que 22% das machambas dos agregados

familiares inquiridos tem 3 hectares ou mais, e que este tamanho é bastante grande se

considerarmos a cobertura muito limitada de sistemas de irrigação e o baixo nível de mecanização da

agricultura nos dois distritos (MAE, 2005 e 2005b). Os diferentes tamanhos das machambas

encontram-se representados na Figura 20 abaixo.

Figura 20: Resultados do inquérito sobre o tamanho das machambas

42

17 17 15

6 3

35

26

19

12

4 5

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

meio ha 1 ha 2 ha 3 ha 4 ha ≥5 ha

Chiúta Moatize

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72 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

A grande maioria da terra agrícola declarada (95%) pertence ao chefe do agregado familiar inquirido,

como apresentado na Figura 21 abaixo.

Figura 21: Resultados do inquérito sobre propriedade das machambas

As galinhas e os porcos são criados nos quintais dos agregados familiares (onde existem galinheiros

e currais), sendo que os caprinos e bovinos de dois terços das famílias inquiridas pastam nas áreas

comunitárias perto dos agregrados, mas separado das machambas.

As DGF revelaram que, para além da agricultura, as comunidades na área do projecto também

utilizam a terra para pastagem de gado (separado das machambas) e para a extracção de recursos

naturais, que constituem importantes recursos de subsistência. Isto encontra-se descrito no Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa no âmbito dos temas sobre a uso da terra e o mapeamento de serviços

e recursos.

De acordo com a informação obtida dos agentes do distrito consultados, ainda não se registou

nenhum conflito de terra de importância na área do projecto; contudo, a DGF revelou um conflito

homem-animal importante nas povoações de Nhambia, Chianga e Mbuzi (todas na área do projecto

em Chiúta), sendo que ataques por parte de elefantes e hipopótamos são comuns. A MAE (2005 e

2005b) reportou a existência de conflitos de terra em Chiúta, no Posto Administrativo de Manje, onde

a aldeia sede está localizada fora da área do projecto. Também foram reportados conflitos de terra

em toda a Moatize, principalmente entre os refugiados de guerra e as pessoas deslocadas

internamente (MAE, 2005b). Este tipo de conflito tem o potencial de aumentar como resultado dos

empreendimentos de mineração existentes e propostos. Embora não confirmado através das DGF,

mas sim através da imprensa nacional, várias pessoas reassentadas têm vindo a expressar a sua

insatisfação com os processos de deslocação e reassentamento levados a cabo na área até à data

por outras entidades mineiras.

As DGF destacaram uma disputa entre duas comunidades, localizadas na área do projecto, sobre a

localização dos recursos mineiros e os benefícios do projecto resultantes de um projecto de

mineração da Capitol Resources (ver Secção Error! Reference source not found. para mais

etalhes). Apesar disto, não foram reportados outros conflitos na comunidade, e segundo os SDAE de

Chiúta e Moatize, existe muita terra desocupada disponível na área do projecto. Ver Anexo D: Matriz

97

2 0 1

93

7

0 0

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Chefe doAgregado

Outro membrodo agregado

Outro parente(fora do

agregado)

Outro (nãoparente)

Chiúta Moatize

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

73

de Análise Qualitativa/ tema de uso da terra para mais detalhes sobre os dados de utilização de terra

obtidos das FDGs.

4.3.7 Pobreza e vulnerabilidade

A família de nível médio nos distritos de Chiúta e Moatize parece ter um nível de vida modesto.

Embora não existam dados disponíveis relacionados com os níveis de rendimento ao nível do

distrito, Chiúta tem um perfil mais modesto que o de Moatize, se se olhar para a propriedade de bens

duradouros35

: quase metade da população de Chiúta (45%) não tinha tais bens, comparado com um

terço da população de Moatize (38%) (INE; 2013 e 2013b).

Foram preparados, com base nos dados obtidos dos resultados dos estudos socioeconómicas, os

quintis de riqueza para a população estudada (os quintis de riqueza encontram-se descritos no

Anexo B: para o projecto e para cada um dos distritos inquiridos, juntamente com uma explicação da

metodologia utilizada para gerar os quintis de riqueza).

De acordo com os quintis de riqueza, 43% das famílias inquiridas no distrito de Chiúta são “muito

pobres” (renda baixa) ou “pobres” (renda média baixa), em comparação com 41% de famílias

“endinheiradas” (renda média alta) ou “muito endinheiradas” (renda alta), e apenas 16% de famílias

“moderadamente pobres” (renda média). Entre as famílias inquiridas no distrito de Moatize, 38% são

“muito pobres” ou “pobres”, 33% são “endinheiradas” ou “muito endinheiradas” e 29% são

“moderadamente pobres”. Isto mostra que os agregados inquiridos no distrito de Chiúta têm uma

maior proporção de famílias “pobres” ou “muito pobres”, e também têm maior disparidades

económicas, ou seja, quase metade da população é pobre/muito pobre e quase a outra metade é

endinheirada/muito endinheirada. Em comparação, as famílias inquiridas no distrito de Moatize têm

menor proporção de famílias “pobres” ou “muito pobres” e disparidades económicas mais reduzidas.

Isto está ilustrado na Figura 22 abaixo:

Figura 22: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize.

Os quintis de riqueza também indicam as principais características das famílias inquiridas nos quintis

mais pobres (quintis “renda baixa” ou “renda média baixa”): estas famílias são chefiadas por

mulheres (71% das famílias), na casa dos 50 anos de idade, viúvas ou separadas/divorciadas (ou

seja, constituíram uma família e são presentemente a única pessoa responsável pela família – mais

de 75% dos agregados familiares) e desempregadas ou a trabalhar por conta própria na agricultura

de subsistência (45% a 68% dos agregados familiares, respectivamente).

35

Estes são: rádio, televisão, telefone, computador, carro, mota e bicicleta.

22

18

21

20

16

29

17

17

24

16

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Chiúta

Moatize Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

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74 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Existem pequenas variações neste perfil em cada um dos distritos. Chiúta tem ligeiramente mais

famílias chefiadas por mulheres que se encontram nos quintis “renda baixa” e “renda média baixa”

(78% comparado com 69% das famílias em Moatize). Mais ainda, as famílias de “renda média baixa”

e “renda baixa” em Chiúta têm chefes de família ligeiramente mais jovens (uma média de 44 anos de

idade comparado com 48 anos de idade em Moatize). Em ambos os distritos, todas as famílias

chefiadas por uma pessoa separada/divorciada e 80% das famílias chefiadas por uma viúva com

“renda média baixa” ou “renda baixa”.

Das famílias inquiridas, as que são chefiadas por mulheres aparentam estar entre as mais

desfavorecidas. Quase 34% das famílias chefiadas por um homem encontram-se entre as famílias

inquiridas mais pobres, o que é menos que metade das famílias chefiadas por mulheres na mesma

situação. Por outro lado, a proporção de famílias mais favorecidas (endinheiradas/ muito

endinheiradas) chefiadas por um homem é mais do que o dobro que as famílias chefiadas por uma

mulher (41% e 16%, respectivamente). Isto está ilustrado na Figura 23 abaixo.

Figura 23: Quintis de riqueza por género – área do projecto

A idade do chefe do agregado também parece ter alguma influência no nível de riqueza da família:

chefes de família nos quintis mais pobres (novamente, “pobre” ou “muito pobre”) são normalmente

mais velhos, em média com idades entre os 42 e 50 anos de idade, respectivamente, o que contrasta

com as famílias mais favorecidas (novamente, “muito endinheiradas” e “endinheiradas”) em que o

chefe do agregado é mais jovem, numa faixa etária entre os 35 e 39 anos de idade. Por último, a

idade média dos chefes de família das famílias com rendimento médio é semelhante à das famílias

“endinheiradas”, com 40 anos de idade. Isto está ilustrado na Figura 24 abaixo.

14

51

20

20

25

12

19

8

22

8

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Homem

Mulher Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

50

42 40 40

35

0

10

20

30

40

50

60

Baixa Média baixa Média Média alta Alta

Idade d

o C

hefe

do A

gre

gado (a

nos)

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

75

Figura 24: Quintis de riqueza com base na idade do Chefe do Agregado – área do projecto

O estado civil do chefe da família também parece influenciar o nível de riqueza da família: chefes de

família nos quintis mais pobres tendem ter constituído famílias para as quais são os únicos

responsáveis (78% enviuvaram e 76% são separados ou divorciados). No entanto, a proporção de

famílias pobres/muito pobres é menor quando o chefe da família é casado36

(ou seja,

responsabilidade partilhada pela família) ou solteiro/a (ou seja, ainda não constituiu família).

Aproximadamente 50% dos/das chefes de família são casados/casadas. Mais ainda, a proporção de

famílias endinheiradas/ muito endinheiradas é maior entre as famílias chefiadas por um casal (50%

das famílias) ou constituídas por uma pessoa solteira (38%). É menos frequente haver famílias de

renda média alta/ alta que são chefiadas por uma pessoa separada/divorciada (13%) ou viúva (7%).

Isto está representado na Figura 25 abaixo.

Figura 25: Quintis de riqueza de acordo com o estado civil do Chefe do agregado – área do projecto

A ocupação do chefe do agregado também parece ter alguma influência no nível de riqueza da

família. Entre as famílias chefiadas por uma pessoa desempregada (p.ex., doméstica), 68%

encontram-se nos quintis de renda média baixa/ baixa e apenas 16% nos quintis de renda média

alta/alta. Nas famílias chefiadas por uma pessoa a trabalhar por conta própria (agricultura de

subsistência), 45% são muito pobres/ pobres e 32% são endinheiradas/muito endinheiradas. As

famílias chefiadas por uma pessoa com emprego formal, apenas 15% são muito pobres/pobres e

56% são endinheiradas/ muito endinheiradas. Isto está ilustrado na Figura 26 abaixo.

36

Isto inclui casamento civil, tradicional, religioso e uniões de facto.

27

25

16

10

38

64

24

25

17

50

21

38

14

21

100

25

24

25

13

14

12

19

23

13

7

16

25

24

50

21

0% 50% 100%

Solteiro

Casamento civil

Casamento religioso

Casamento tradicional

Casamento misto

União de facto

Separado/divorciado

Viúvo

Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

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76 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 26: Quintis de riqueza de acordo com o estado de emprego do Chefe do agregado – área do projecto

Conforme mencionado na Secção 4.3.2, 7% dos chefes de família inquiridos são pessoas de idade 37

(5% para Chiúta e 9% para Moatize), na maior parte das vezes um homem; em ambos os distritos é

aproximadamente 67% homens contra 33% mulheres.

Além disso, 3% dos membros das famílias inquiridas têm algum tipo de deficiência (com a deficiência

física ou visual sendo o mais comum), pelo qual é provável que contribuam menos (ou não

contribuem de todo) para o rendimento da família.

As DGF constataram que, de acordo com a percepção local, o grupo socialmente vulnerável mais

comum são os idosos (mencionado por todas as comunidades). Constataram que as famílias

chefiadas por idosos são particularmente vulneráveis porque têm menos membros com capacidade

produtiva e, como consequência, têm mais dificuldades do que as outras famílias em ganhar

rendimentos. Assim, presume-se que também será mais difícil para estas famílias se adaptarem às

novas estratégias de geração de rendimento, particularmente aquelas que não se baseiam na terra,

e que poderá ser, potencialmente, o caso do projecto proposto. Como consequência, as

comunidades inquiridas entendem que as famílias chefiadas por idosos são mais pobres e

dependem mais das redes de apoio social existentes (vizinhos, igreja e familiares). Isto simula o perfil

das famílias mais pobres, estabelecido pelos quintis de riqueza e pode ser observado no Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa/ sob o tema dos grupos vulneráveis.

Os outros grupos vulneráveis são, por frequência de ocorrência: pessoas portadoras de deficiências,

crianças órfãs, viúvas e jovens desempregados.

Os dados qualitativos e quantitativos obtidos do trabalho de campo estão em linha com a base

conceitual da Estratégia Nacional para Segurança Social Básica (2010-2014)38

, que estabelece uma

ligação entre a produtividade, dependência e vulnerabilidade a nível dos agregados familiares em

Moçambique. Esta estratégia nota que em Moçambique, é mais provável que as famílias com

“maiores níveis de dependência” ou com maior número de membros do agregado familiar que não

37

Uma pessoa com 65 anos de idade ou mais. 38

Governo de Moçambique. Estratégia Nacional para Segurança Social Básica 2010-2014.

9

4

29

13

36

33

6

36

14

16

21

32

29

24

43

24

20

16

33

15

8

14

12

30

10

33

41

28

29

20

17

6

0% 50% 100%

Emprego formal

Emprego informal

Trabalho sazonal

Auto-emprego

Desempregado (procurandotrabalho)

Doméstica (não procurandotrabalho)

Incapacitado e não empregado

Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

Page 77: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

77

conseguem trabalhar se enquadrem nos quintis mais pobres da população. Também nota que as

famílias compostas maioritariamente ou exclusivamente por idosos, portadores de deficiência ou

pessoas com doença crónica, pessoas idosas e crianças, ou chefiadas por crianças, encontram-se

em situação de extrema dependência.

4.3.8 Infra-estrutura Social e Serviços

Os funcionários do SDPI entrevistado nos distritos de Chiúta e de Moatize afirmaram que a prestação

de serviços sociais essenciais continua a ser insuficiente na área do projecto. De acordo com os

mesmos, isto deve-se à falta de recursos, e um padrão de distribuição das populações e

aglomerações disperso, bem como às dificuldades no acesso a estas zonas, como resultado da fraca

cobertura ou do mau estado da rede rodoviária.

Habitação

De acordo com as DGF, os resultados do estudo socioeconómico de base das comunidades

afectadas e o SDPI de Chiúta e Moatize, as estruturas habitacionais predominantes nos distritos e na

área do projecto são palhotas de pau a pique, tapadas com caniço (colmo).

As construções feitas com materiais duráveis (tijolo, cimento e telhados de chapa de zinco) estão

concentradas nos capitais de Distrito/ Posto Administrativo. Contudo, comparado com Chiúta, o

distrito de Moatize tem maior percentagem de casas construídas com materiais duráveis, como

sendo blocos (22%, mais do que a média provincial) e cobertura de chapa de zinco (11%, menos do

que a média provincial) (INE, 2013 e INE, 2013b).

De acordo com as constatações do inquérito, uma casa normal na área do projecto é composta por

uma casa principal com infra-estruturas adicionais no quintal. A casa principal é composta por dois a

três divisões: uma sala de estar e um ou dois quartos de dormir, sendo, de acordo com os DGF, um

para adultos e o outro para crianças. No quintal da casa normalmente existem um ou dois celeiros e

por vezes galinheiros (presente em 41% das famílias inquiridas), corrais (35%), cozinhas (25%),

pocilgas (21%), uma latrina (15%) e uma área para tomar banho (10%). Isto está de acordo com a

descrição de uma casa típica feita pelos DGF, indicada no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/

sob o tema de habitação e bairros. As DGF também revelaram que as crianças com mais do que 9

anos de idade poderão dormir em quartos separados, construídos no quintal da casa, e que não é

feita nenhuma separação de idade/género para as latrinas e áreas de banho.

Ainda de acordo com as constatações do inquérito sobre habitação, as paredes de uma casa normal

na área do projecto não são pintadas (98% das casas inquiridas), poucas delas têm janelas e o

quintal não é vedado. A casa principal é, normalmente, rectangular (65% das casas inquiridas),

podendo também ser quadrada (34%) e, menos comum, redonda (1%).

Na grande maioria dos casos, a casa foi construída pelo próprio agregado familiar inquirido (90%).

Isto explica a razão por 96% dos agregados familiares inquiridos serem proprietários das casas em

que vivem, comparado com apenas 4% das famílias que pagam renda.

Em 95-97% dos casos, os materiais utilizados na construção da casa principal são extraídos

localmente, livre de custo, contra 3-5%, onde os materiais são comprados. O chão normalmente é de

terra, e as paredes são de pau a pique, com o telhado feito de pau e caniço. As estruturas

remanescentes são normalmente construídas com varas e/ou caniço.

Page 78: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

78 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

As casas inquiridas não são novas – os agregados familiares vivem nas casas, em média, há 10

anos. Nenhuma das casas inquiridas tinha água canalizada ou energia eléctrica. A principal fonte de

iluminação nas casas inquiridas era por meio de lanternas (81%).

Conforme ilustrado no Anexo B: / sob o tema habitação e bairro, os limites de cada um dos quintais

são demarcados fisicamente, com vedações de sebes arbusticas ou árvores. As famílias vizinhas

normalmente têm laços de parentesco (família alargada) e desenvolvem relacionamentos estreitos. A

Figura 27 abaixo ilustra uma casa de pau a pique na área do projecto.

Figura 27: Casa de pau a pique típica, Chianga

Educação

Existem apenas escolas públicas no distrito de Chiúta, que consiste em 74 escolas primárias, das

quais 13 são escolas primárias do segundo grau 39

que leccionam as classes finais da escola

primária, a 6ª e 7ª classe, e seis escolas secundárias ou escolas secundárias do primeiro grau 40

onde leccionam da 7ª à 10ª classe. Não existe nenhuma escola secundária do segundo grau 41

que

oferece os dois anos finais da educação secundária, nomeadamente a 11ª e 12ª classe. O rácio

professor/aluno no distrito, em 2012, era de 1/55 nas escolas primárias e de 1/36 nas escolas

secundárias (INE, 2013).

Em 2013, havia 21,839 alunos matriculados nas escolas primárias em Chiúta. A taxa de matrícula

tem estado a aumentar, com um crescimento de 19% entre 2009 e 2013, onde 48% dos alunos nas

escolas primárias eram raparigas, o que está em linha com a tendência provincial. Contudo, as taxas

de aproveitamento escolar têm vindo a cair nos últimos 5 anos, em especial na 7ª classe, no final da

escola primária. A taxa de aproveitamento escolar caiu de 65% em 2009 para 59% em 2013 (INE,

2013). Isto é mais baixo que a tendência provincial, o que nos leva à questão da qualidade da

educação. Em 2013, havia apenas 1.806 alunos matriculados nas escolas secundárias, dos quais

38% eram raparigas (um número com tendência a aumentar nos últimos 5 anos), com uma taxa

global de aproveitamento de 50%, que também tem estado a cair nos últimos 5 anos. Finalmente, o

rácio de género e de taxa de aproveitamento escolar está ligeiramente abaixo da tendência

provincial.

39

Escola primária do segundo grau.

40 Escola secundária do primeiro grau

41 Escola secundária do segundo grau

Page 79: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

79

A taxa de analfabetismo no distrito de Chiúta em 2005 era de 84%, maioritariamente mulheres; 93%

das mulheres eram analfabetas contra 74% de homens analfabetos. As taxas de analfabetismo

também eram elevadas em todas as idades escolares: 96% entre a população com 5-9 anos de

idade e 77% entre a população com 10-14 anos de idade. Apenas 19% da população com 5 anos de

idade ou mais está, ou foi, matriculada na escola, e apenas 6% da população com mais de 5 anos de

idade já concluiu algum nível escolar, do qual 90% a educação primária. Isto demonstra um nível

educacional geralmente baixo, que é ainda mais baixo entre as mulheres: em 2005 apenas 10% das

mulheres com mais de 5 anos de idade tinham frequentado a escola e apenas 3% tinha concluído a

escola primária. A taxa de escolarização de raparigas aumenta na faixa etária dos 10-14 anos de

idade (17%), o que demonstra que as raparigas também iniciam a escolarização tarde (MAE, 2005).

Em 2013, o distrito de Moatize também só tinha escolas públicas, com 157 escolas primárias, sendo

40 escolas primárias do segundo grau42

, a leccionar os últimos anos da escola primária, a 6ª e 7ª

classe, e 12 escolas secundárias, das quais três eram escolas secundárias do segundo grau 43

a

leccionar os últimos anos de escolaridade, a 11ª e 12ª classe. Em 2012, o rácio professor/aluno no

distrito era de 1/55 para as escolas primárias e 1/24 para as escolas secundárias (INE, 2013b).

Em 2013, havia 57.425 alunos matriculados na escola primária. A taxa de matricula nas escolas

primárias tem vindo a aumentar, com um aumento de 19% entre 2009 e 2013, onde, em 2013, as

raparigas constituíam 48% dos alunos das escolas primárias, que está em linha com a tendência

provincial. As taxas de aproveitamento escolar têm vindo a melhorar nos últimos 5 anos, em

particular para a 7ª classe no final da escola primária, tendo aumentado de 56% em 2009 para 61%

em 2013 (INE, 2013b). Isto continua a estar um pouco abaixo da tendência provincial. Em 2013,

havia 8.455 alunos matriculados nas escolas secundárias, dos quais 46% eram raparigas (um

número crescente nos últimos 5 anos), com uma taxa de aproveitamento global de 54%, que se tem

mantido estável nos últimos 5 anos. O rácio de género e da taxa de aproveitamento escolar está

ligeiramente abaixo da tendência provincial.

Em 200544

, 68% da população de Moatize era analfabeta, maioritariamente mulheres (79% mulheres

contra 59% homens). A taxa de analfabetismo também era elevada entres as crianças de idade

escolar: 92% da população na faixa etária dos 5-9 anos de idade e 61% da população com 10-14

anos de idade. Praticamente 40% da população com 5 anos de idade ou mais está, ou foi

matriculada na escola, e apenas 16% da população com mais do que 5 anos de idade já concluiu

algum nível de escolaridade, sendo que 90% a escola primária. O mesmo se aplica à taxa de

escolaridade das mulheres: em 2005, apenas 13% das mulheres com mais de 5 anos de idade tinha

frequentado a escola e apenas 9% tinha concluído a escola primária (comparado com 22% e 21%

para homens com mais de 5 anos de idade). As taxas de escolarização da rapariga aumentam na

faixa etária dos 10-14 anos de idade (40%), o que significa que existem menos raparigas a serem

matriculadas nas escolas (MAE, 2005b)45

.

MAE 2005 e 2005b notam que, apesar da expansão da rede escolar, a cobertura dos serviços

educacionais continua a ser insuficiente, particularmente para a escola secundária.

42

Escola primária do segundo grau

43 Escola secundária do segundo grau

44 Embora não actualizados, estas são as fontes de dados oficiais mais recentes sobre alfabetização nos distritos de Moatize e

Chiúta. 45

Contudo, MAE 2005 e 2005b indicam que em ambos os distritos, os rapazes também tendem iniciar a escolarização mais

tarde (faixa etária dos 10-14 anos de idade). A diferença principal é que existem mais rapazes matriculados do que raparigas,

em todas as idades escolares.

Page 80: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

80 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Existem cinco escolas primárias na área do projecto, mais especificamente nas comunidades de

Tenge, Mbuzi, Nhambia, Massamba e Matacale. A escola primária de Massamba oferece todas as

sete classes da escolarização primária (escola primária completa), mas as outras escolas oferecem

apenas as primeiras três classes (escola primária do 1º grau). As comunidades de Mboza, Chianga e

Muchena não têm escolas. Não existem, para além destas escolas primárias, outras escolas na área

do projecto. Ver exemplo de uma das escolas na Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale

abaixo.

A maior parte das crianças com idade escolar46

dos agregados inquiridos frequentam a escola (88%).

As seguintes razões, entre outras, foram apresentadas para as crianças não frequentarem a escola:

“as crianças são demasiado jovens”, de acordo com a percepção local (38%) ou “a escola é

demasiado distante” (30% na parte do projecto em Chiúta e 15% na parte em Moatize). O argumento

relativamente à distância parece ser contraditória com a distância média caminhada declarada, mais

especificamente uma caminhada de 5-30 minutos para 51% das crianças que frequentam a escola,

mas poderá ser relevante nas comunidades em que não há escola (Mboza, Chianga e Muchena).

Das crianças em idade escolar, 96% frequentam a escola primária e apenas 4% frequentam a escola

secundária. Este baixo nível de escolaridade nas crianças de idade escolar poderá ser explicado pela

baixa cobertura da rede escolar, mencionada na Secção 4.3. No que diz respeito à escolaridade das

crianças, não existem diferenças significativas entre os dois distritos.

Figura 28 e Figura 29: Escola Primária de Matacale

Das famílias inquiridas, 51% das crianças caminham entre 5 a 30 minutos para chegar à escola,

contra 34% que caminham mais do que 30 minutos e apenas 4% que caminham menos do que 5

minutos. Esta proximidade relativa à escola poderá se explicado pelo facto de que a grande maioria

das crianças inquiridas (96%) frequenta a escola primária, e que existe uma escola primária em cinco

das comunidades inquiridas. Novamente, no que diz respeito ao acesso aos estabelecimentos de

ensino, não existem diferenças significativas entre os dois distritos, mas poderão existir diferenças

entre comunidades específicas.

Tanto as DGF e o SDPI de Chiúta e Moatize consideram que a cobertura da rede escolar existente é

insuficiente para a população existente.

46

Isto refere-se à faixa etária dos 6-15 anos de idade.

Page 81: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

81

Saúde e Segurança Alimentar

Em 2012, o distrito de Chiúta era servido por 5 centros de saúde, com um total de 49 camas, das

quais 19 em maternidades (INE, 2013). Em 2005, existiam 25 técnicos e assistentes de saúde no

distrito, dos quais 90% tinham apenas formação básica/primária em saúde (MAE, 2005). Existiam

3.200 habitantes por técnico de saúde (MAE, 2005). Apesar da expansão do sistema de saúde entre

2009 e 2012, o rácio de unidade sanitária/residente e o rácio cama de unidade sanitária/residente

continuam elevados: em 2012 existiam 17.919 habitantes por unidade sanitária e 1.792 habitantes

por cama de unidade sanitária47

.

Em 2012, o distrito de Moatize era servido por 12 centros de saúde, com um total de 132 camas, das

quais 60 em maternidades (INE, 2013b). Em 2005, existiam 86 técnicos e assistentes de saúde no

distrito, dos quais 91% tinham apenas formação básica/primária em saúde (MAE, 2005b). Existiam

2.100 habitantes por técnico de saúde (MAE, 2005b). Semelhantemente à Chiúta, apesar da

expansão do sistema de saúde em Moatize entre 2009 e 2012, o rácio de unidade sanitária/habitante

e o rácio cama de unidade sanitária/ residente continuam elevados: em 2012 existiam 24.361

habitantes por unidade sanitária e 2.215 habitantes por cama de unidade sanitária48

.

A doença mais comum nos distritos de Chiúta e Moatize são, por ordem de prevalência, a malária,

diarreia (ambas doenças transmitidas pela água) e Doenças de Transmissão Sexual (DTS) – que

inclui HIV/SIDA. Estas doenças são responsáveis por quase a totalidade dos casos de doença

formalmente reportados nos distritos (MAE, 2005 e 2005b). MAE 2005 e 2005b notam que, apesar

da expansão da rede sanitária, a cobertura de serviços de saúde continua a ser insuficiente.

De acordo com as DGF, existe apenas um posto de saúde na área do projecto, em Muchena, que

presta cuidados básicos de saúde. A unidade sanitária mais próxima da área do projecto que presta

cuidados mais avançados de saúde é o Centro de Saúde de Kazula, a uma distância de 70

quilómetros das comunidades inquiridas (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/mapeamento de

serviços e recursos).

Conforme ilustrado na Figura 30 abaixo, as doenças mais comuns entre as famílias inquiridas eram a

malária (com 83% das famílias afectadas durante o último ano), gripe (70%) e diarreias (65%).

Figura 30: Constatações do levantamento sobre doenças

47

Cálculos feitos pelo Consultor com base nos dados do INE, 2013. Esta fonte não fornece dados para os técnicos de saúde. 48

Cálculos feitos pelo Consultor com base nos dados do INE, 2013b. Esta fonte não fornece dados para os técnicos de saúde.

69

87

74

1

1

42

15

3

62

79

66

1

3

33

25

6

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Diarreia

Malaria

Constipação/ Gripe

Sarampo

Tuberculose

Dor dente

Doença ouvidos/ nariz/ garganta

Doença pele

Moatize Chiúta

Page 82: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

82 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

São variadas as medidas tomadas para procurar tratamento. As famílias inquiridas na parte do

projecto em Chiúta parecem mais propensas a procurar tratamento numa unidade sanitária, mais

especificamente 65% para casos de malária, 59% para casos de diarreia e 45% para casos de gripe.

Contrariamente, os agregados familiares de Moatize recorrem mais para os remédios caseiros. Em

47% dos casos de malária e diarreia e 28% dos casos de gripe as famílias recorreram a tratamento

numa unidade sanitária, comparado com os remédios caseiros utilizados para 31% dos casos de

malária e gripe e 37% dos casos de diarreia. Isto está ilustrado na Figura 31 e na Figura 32 abaixo.

Figura 31: Tratamento de doenças em Chiúta

Figura 32: Tratamento de doenças em Moatize

17

1

65

5 4 8

27

6

60

5 5

22

10

45

2

18

3

0102030405060708090

100

Muita c

om

ida e

água

Rem

édio

caseiro

Médic

o t

radic

ional

Unid

ade s

anitári

a(U

S)

Farm

ácia

Nenhum

a

Outr

o(e

specific

ar)

%

Chiúta

Malaria Diarreia Constipação/ gripe

1

31

5

47

7 5 4

37

9

48

4 1 1

30

15

28

4

23

1

0102030405060708090

100

Muita c

om

ida e

água

Rem

édio

caseiro

Médic

o t

radic

ional

Unid

ade s

anitári

a(U

S)

Farm

ácia

Nenhum

a

Outr

o (

especific

ar)

%

Moatize

Malaria Diarreia Constipação/ gripe

Page 83: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

83

Uma pequena percentagem (3%) das famílias inquiridas declarou ter um membro da família com uma

doença crónica. A doença crónica mais comum são a asma e a dor crónica (permanente),

mencionadas por 65% das famílias com um membro da família com doença crónica.

As mulheres das famílias inquiridas têm o seu primeiro filho, em média, aos 18 anos de idade. Quase

dois terços (60%) destas mulheres não receberam cuidados pré-natais na sua última gravidez (55%

das famílias inquiridas na parte da área do projecto em Chiúta, comparado com 63% das famílias na

parte da área do projecto em Moatize). Das mulheres que receberam cuidados pré-natais, 97%

receberam profilaxia da malária e 88% fizeram o despiste do HIV/SIDA. A elevada proporção de

mulheres grávidas sem cuidados pré-natais está em linha com a proporção de mulheres que fizeram

o parto em casa: 64%, comparado com 36% de partos institucionais (39% em Chiúta comparado com

33% em Moatize).

Conforme ilustrado na Figura 33 abaixo, a grande maioria (92%) dos inquiridos já ouviram falar da

malária e sabem que é transmitida através da picada do mosquito (84% dos inquiridos na parte da

área do projecto em Chiúta comparado com 79% na parte da área do projecto em Moatize).

Figura 33: Resultados do inquérito sobre o conhecimento da malária

Embora 94% dos inquiridos em Chiúta tenham declarado dormir com redes mosquiteiras, este

número baixa para 66% nos agregados familiares em Moatize. Mais de um terço (37%) dos

agregados familiares em Moatize não dorme com uma rede mosquiteira. Como mostra a Figura 34

abaixo, a maior parte dos que não dormem com uma rede mosquiteira (82%), argumentam que não o

fazem porque não têm uma rede mosquiteira (89% das respostas entre as famílias em Chiúta e 75%

em Moatize) e uma minoria (17%) respondeu que era demasiado caro comprar uma rede mosquiteira

(11% das respostas das famílias em Chiúta e 24% em Moatize).

0102030405060708090

100 84

1 3 1 2 8

1

79

1 4 1 2

13

1

%

Chiúta Moatize

Page 84: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

84 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 34: Resultados do inquérito para as razões da não utilização da rede mosquiteira

A maioria (81%) dos inquiridos na área do projecto já ouviu falar de HIV/SIDA e sabe que o HIV pode

ser transmitido da mãe para o seu bebé (88% dos inquiridos). Adicionalmente, 72% das pessoas

sabem que se podem proteger contra o HIV/SIDA ao usar preservativos e 70% sabem que isto

também é possível através de ter um único parceiro sexual, enquanto que apenas 43% sabiam que

isto era possível através da abstinência sexual.

Face a isto, e ao deficiente abastecimento de água e saneamento, os casos consistentes de surtos

de doenças propagadas pela água, tais como a malária, a cólera e a disenteria não são

surpreendentes nas comunidades afectadas pelo projecto. Nos últimos tempos, quando ocorrem

estes surtos, o Centro de Saúde de Kazula presta apoio a algumas comunidades com medicamentos

e cloro para o tratamento de água.

Em termos de segurança alimentar, os meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março trazem uma

maior escassez de alimentos da produção agrícola e a probabilidade das famílias inquiridas

passarem fome é maior. Isto está ilustrado na Figura 35 abaixo, que se refere aos meses em que os

agregados familiares passam fome:

Figura 35: Resultados do inquérito sobre insegurança alimentar (não ter comida suficiente)

89

11

75

24

2

0 20 40 60 80 100

Não tem rede

Não gosta de dormir com rede

Difícil comprar rede

Outro

%

Moatize Chiúta

0102030405060708090

100

%

Chiuta Moatize

Page 85: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

85

Nos meses remanescentes, 91% das famílias garantem o seu alimento através das machambas da

família e a compra de produtos alimentares. O regime alimentar das famílias inquiridas é constituída

por farinha de milho, perfazendo 65% do regime alimentar, feijão (13%) e hortícolas (9%).

Será apresentada uma análise mais detalhada da segurança alimentar e situação de saúde no

estudo da Avaliação do Impacto na Saúde. Para mais detalhes sobre o assunto, por favor refira-se

ao relatório desse estudo.

Abastecimento de água e saneamento

De acordo com a informação fornecida nas DGF e do SDPI de Chiúta, a cobertura do abastecimento

de água e saneamento no distrito e na área do projecto é baixa. De acordo com o INE (2013), dois

terços da população do distrito (66%) usa uma fonte de água desprotegida, como os rios/lagos (35%)

ou um poço aberto sem bomba de água (31%), e apenas um terço da população (31%) utiliza poços

protegidos.

De acordo com o representante do SDPI entrevistado, na parte da área do projecto em Chiúta,

existem dois poços de furo que abastecem as comunidades na área do projecto, e 5 a 6 poços de

furo que abastecem apenas a área de concessão do projecto. Assim, as fontes de água não tratadas,

tais como águas da chuva, rios/riachos e poços a céu aberto abastecem água a uma parte

considerável da população na área do projecto. De acordo com as DGF em Chiúta, não existe uma

rede de saneamento na área do projecto, e a população recorre principalmente a latrinas tradicionais

(mais comum) ou defecação a céu aberto (menos comum). Mais ainda, recorrem à queima de lixo

nos quintais das casas.

O abastecimento de água e de saneamento em Moatize é ligeiramente melhor, quando comparado

com Chiúta. Embora dois terços (69%) da população obtêm a sua água de uma fonte desprotegida,

como um poço a céu aberto sem bomba de água ou do rio/lago, um terço (31%) tem acesso a uma

fonte de água protegida, como um poço protegido (14%), água canalizada no quintal/em casa (11%)

e uma bomba de água manual (6%). A percentagem da população que tem água canalizada é

consideravelmente mais elevada do que em Chiúta (11% contra 0,1%) e está concentrada nos

capitais de Distrito/Posto Administrativo (INE, 2013b). De acordo com o SDPI de Moatize, a cobertura

do abastecimento de água no distrito é de 70%49

.

MAE 2005 e 2005b reconhecem que a manutenção das bombas de água nos dois distritos é

insuficiente e é um desafio ao abastecimento de água.

De acordo com os resultados do inquérito, nenhuma família inquirida tem água canalizada em casa.

Assim, as famílias dependem de fontes de água externas. Como mostra a Figura 36 abaixo, a

principal fonte de água para consumo humano é a água do rio, que não é tratada (77% das famílias

inquiridas). Para além da água do rio, 10% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta

utilizam fontes de água não protegidas como poços a céu aberto (menos do que 1% das famílias em

Moatize). Menos do que um quarto das famílias inquiridas tem acesso a fontes de água protegidas,

como bombas de água ou poços de furo (24% das famílias na parte da área do projecto em Moatize,

comparado com 9% na parte em Chiúta).

49

O SDPI de Chiúta não conseguiu fornecer os mesmos dados para o distrito.

Page 86: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

86 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 36: Resultado do levantamento sobre fontes de água

A Figura 37: Furo de água no leito seco do rio, Mbuzi. Figura 38: Bomba manual, Muchena

abaixo ilustram as duas fontes de água disponíveis na área do projecto.

Figura 37: Furo de água no leito seco do rio, Mbuzi. Figura 38: Bomba manual, Muchena

As famílias inquiridas gastam, em média, 25 a 30 minutos a cartar água, normalmente a pé (98% das

famílias). A fonte de água mais próxima fica a menos do que 1 quilómetro de distância (para 93% das

famílias parte da área do projecto em Chiúta e para 83% na parte da área do projecto em Moatize),

mas 12% das famílias inquiridas (8% na parte em Chiúta e 16% na parte em Moatize) têm que

caminhar até 2 quilómetros para cartar água. A água é cartada todos os dias (para 87% das famílias

inquiridas). A água é normalmente guardada num balde (em 61% das famílias inquiridas), que, de

acordo com as DGF, é arrumada na cozinha (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/habitação e

bairro).

Conforme ilustrado na Figura 39 abaixo, a grande maioria das famílias inquiridas não tratam a água

que bebem (90%). Dos 10% que tratam a água, metade usa produtos à base de cloro (Certeza) e a

outra metade ferve a água ou usa outros métodos não especificados. Esta questão é especialmente

3

3

8

7

80

7

24

75

0 20 40 60 80 100

Água canalizada (casa/ quintal)

Água canalizada (vizinho)

Tanque de água no quintal

Poço no quintal

Poço/ furo privado

Fontanária/ bomba manual pública

Rio

%

Moatize Chiúta

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

87

preocupante em termos da saúde da família, se se considerar que todas as famílias cartam a água

de uma fonte fora de casa.

Figura 39: Constatações do levantamento sobre tratamento da água

Metade das famílias inquiridas estão cientes do facto de que existem doenças propagadas pela água

(55% na parte da área do projecto em Chiúta e 48% na parte em Moatize). Também sabem que

estas doenças têm o seu pico em alturas específicas do ano (96% das famílias inquiridas).

No que diz respeito ao saneamento, mais de três quartos da população de Chiúta não tem latrinas e

pratica defecação a céu aberto (86%) e apenas 13% têm uma latrina tradicional ou melhorada.

Quase três quartos da população em Moatize não têm latrinas e praticam defecação a céu aberto

(70%) e quase um terço (29%) tem latrinas tradicionais (20%) ou melhoradas (9%) (INE, 2013b).

A maioria das famílias inquiridas (95%) praticam defecação a céu aberto e apenas 5% usam latrinas,

como mostra a Figura 40 abaixo. Isto está em linha com a baixa presença de latrinas nas casas;

como já mencionado, apenas 15% das famílias inquiridas têm latrinas.

Figura 40: Resultados do inquérito sobre saneamento

90

4

5

1

92

2

6

1

0 20 40 60 80 100

Não trata

Ferve

Certeza/ Cloro

Outro

%

Moatize Chiúta

4 1 1

94

2 1 1

96

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Latrina no quintal Latrina paranecessidades e

banho no quintal

Latrina do vizinho Fecalismo a céuaberto

%

Chiúta Moatize

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88 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

No que diz respeito à higiene, 96% das famílias inquiridas lava as mãos (com sabão ou cinzas). No

que diz respeito ao lixo, é positivo notar-se que apenas 2% não tomam nenhuma medida de remoção

de lixo. Quase metade (49%) das famílias inquiridas removem o seu lixo para a lixeira, enquanto que

34% queimam o seu lixo e 14% enterra o lixo, em ambos os casos no quintal.

Face ao que foi descrito acima, pode-se concluir que o abastecimento de água e saneamento são

questões críticas para a população dos distritos e nas áreas do projecto.

Transporte e comunicação

O distrito de Chiúta é atravessado por três estradas nacionais (N9, N322 and N302) e três estradas

regionais (R603, R1050 e R1060). As trajectórias das estradas são como se segue:

A N9 liga a Cidade de Tete à Vila de Manje e também à Vila de Kazula (capital do Posto Administrativo de Kazula), pela N302.

A R603 sai da N9 e liga a Vila de Manje ao Distrito de Macanga

A N322 liga o Posto Administrativo de Kazula ao Distrito de Moopeia (Província de Zambézia), via N302 e N7.

A Vila de Mange e a Vila de Kazula estão ligadas pela R1050, via N9.

A Vila de Kazula também se liga com as áreas agrícolas no interior do seu posto administrativo através da R1060.

As estradas fazem parte do Corredor de Tete e ligam os países vizinhos (Zâmbia e Malawi), através

dos postos fronteiriços da província de Tete, aos portos Moçambicanos. As estradas ligam Chiúta à

Cidade de Tete e a alguns distritos vizinhos, incluindo Moatize. Estradas de terra batida ligam os dois

Postos Administrativos e ligam também as suas localidades. (MAE, 2005)

O transporte no Distrito de Moatize é garantido por meios rodoviários e ferroviários. Moatize é

atravessado por três estradas nacionais (N7, N322 e N304). Estas estradas também fazem parte do

Corredor de Tete. Moatize está ligado à Cidade de Tete pela N7, e aos seus distritos vizinhos pela

N9 (Chiúta), N304 (Angónia) e N322 (Mutarara). A N7 também liga a Vila de Moatize à capital do

Posto Administrativo de Zobue e à capital do Posto Administrativo de Kambulatsitsi. O transporte

entre os Postos Administrativos e as suas localidades é garantida por meio de estradas de terra

batida (MAE, 2005b).

A N322, que sai da N7, também liga Moatize ao Distrito de Mopeia, na Província de Zambézia. Está a

ser finalizada a construção de uma ponte sobre o Rio Zambéze (Ponte de Benga), que vai ligar a

Cidade de Tete e a Vila de Benga, com o objectivo de acomodar o tráfego de carga pesada. Também

está a ser reabilitada um troço de estrada de 260 quilómetros, como parte do projecto da Ponte de

Benga, para ligar a Cidade de Tete aos países vizinhos Zâmbia e Zimbabué, por meio de uma

concessão (INE, 2013b). A linha férrea de Sena, que atravessa Moatize por meio de um ramal

ferroviário, liga a Vila de Moatize com o distrito sul de Mutarara (MAE, 2005b).

A Figura 41 abaixo ilustra as estradas mencionadas acima, bem como a linha férrea que atravessa

os distritos de Chiúta e Moatize.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

89

Figura 41: Estradas e linha férrea que atravessam os distritos de Chiúta e Moatize

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90 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Metade das famílias inquiridas (50%) tem uma bicicleta. Para 99% das famílias, os trilhos ou as

estradas são as vias mais utilizadas para se chegar às aldeias vizinhas às comunidades inquiridas –

o restante 1% utiliza uma estrada alcatroada e provavelmente estão localizados perto da estrada que

vai à Vila de Moatize (Tabela 14 abaixo).

Tabela 14: Resultados do inquérito sobre tipos de estradas utilizadas

Estradas para as aldeias vizinhas Chiúta Moatize

Estrada alcatroada 1.3% 0%

Estrada de terra batida/trilhos 98.7% 100%

Total 100% 100%

A grande maioria das famílias inquiridas (93%) de desloca a pé, comparado com 5% que utilizam

uma bicicleta e 2% que utilizam um carro. Esta forma de deslocação/ transporte ocorre numa base

diária (93% das famílias inquiridas). É provável que isto esteja ligado à fraca condição dos trilhos e

estradas existentes, bem como à capacidade financeira das famílias inquiridas em investir em meios

de transporte.

O MAE 2005 e 2005b, bem como o SDPI de Chiúta e de Moatize entrevistados, notam que as

estradas existentes nos distritos encontram-se em mau estado, devido a uma fraca manutenção. O

representante do SDPI entrevistado também notou que a cobertura da rede rodoviária existente é

insuficiente em ambos os distritos, incluindo para as zonas de produção.

A comunicação no Distrito de Chiúta se torna possível através da rádio e da telefonia móvel, com

uma cobertura limitada (MAE, 2005).

A comunicação no Distrito de Moatize se torna possível através da rádio, telefonia móvel e telefone

fixo (MAE, 2005b). Enquanto o terceiro dispositivo (telefone fixo) é tipicamente encontrado nas áreas

urbanizadas como a Vila de Moatize, o capital do distrito, os dois primeiros (rádio e telefonia móvel)

têm maior cobertura e chegam às zonas menos urbanizadas do distrito.

Um quinto das famílias inquiridas (20%) tem um telefone celular (27% das famílias na parte da área

do projecto em Chiúta e 13% das famílias na parte em Moatize). Contudo, como referido acima, a

cobertura do telefone celular na área do projecto é limitada (MAE, 2005).

Energia

A principal fonte de energia no distrito de Chiúta é a lenha (utilizada por 69% da população), seguido

de petróleo/ parafina/ querosene (23%) e velas (7%) (INE, 2013). Isto é diferente da tendência

provincial, onde o petróleo/ parafina/ querosene é a principal fonte de energia (53% da população),

seguido de lenha (34%). A população que usa alguma forma de energia eléctrica (da rede nacional

de electricidade, painel solar ou bateria) é mínima, menos do que 1% (INE, 2013). De acordo com o

Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Distrito de Chiúta 2012-2021 (Governo do Distrito de

Chiúta, 2011), a Vila de Manje, a capital do distrito, tem o único sistema de fornecimento de energia

eléctrica no distrito, proveniente da rede nacional de electricidade. Isto mostra que o acesso de

Chiúta aos serviços e produtos básicos é pior do que no resto da província.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

91

As principais fontes de energia no distrito de Moatize são petróleo/ parafina/ querosene (utilizado por

49% da população), seguido de lenha (34%), energia eléctrica (7%) e velas (5%). Isto está em linha

com as tendências provinciais, embora em termos comparativos existe uma menor percentagem da

população a utilizar o petróleo/ parafina/ querosene e uma maior percentagem da população a utilizar

lenha e energia eléctrica (INE, 2013b). Mais ainda, a Vila de Moatize está ligada à rede nacional de

electricidade (MAE, 2005b).

Os resultados do inquérito mostram que o perfil energético da população na área do projecto é

diferente do perfil do distrito. A maioria das famílias inquiridas (80% nos dois distritos) usam lanternas

para iluminar as suas casas e apenas 10% utilizam lenha (14% das famílias inquiridas na parte da

área do projecto em Moatize e 6% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta). Os restantes

10% utilizam energia de painéis solares (3,5%), petróleo (2%) e outras fontes.

De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/uso da terra), as principais fontes de

energia na área do projecto são lenha e carvão, que são obtidos e produzidos localmente. Não existe

energia eléctrica na área do projecto.

4.3.9 Locais sagrados

No que diz respeito aos locais sagrados, aproximadamente um terço (30%) das famílias inquiridas na

parte da área do projecto em Moatize e 21% das famílias na parte da área do projecto em Chiúta têm

pelo menos uma campa familiar. As famílias inquiridas têm um total de 84 campas, das quais 50 na

parte da área do projecto em Moatize e 34 na parte da área do projecto em Chiúta. Três quartos das

campas familiares (79% na parte da área do projecto em Chiúta e 29% na parte da área do projecto

em Moatize) estão localizadas fora do quintal.

A grande proporção de famílias que não tem uma campa familiar (79% na parte da área do projecto

em Chiúta e 70% na parte da área do projecto em Moatize), não obstante o perfil rural das famílias

inquiridas, poderá ser explicado pelo facto de todas as comunidades inquiridas terem um ou dois

cemitérios que são utilizados por todos os membros da comunidade, incluindo para cerimónias

ancestrais (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/locais históricos e sagrados).

Para além das capas familiares, as DGF revelaram que existem locais sagrados em todas as oito

comunidades localizadas dentro da área afectada pelo projecto, que são referências importantes

para a sua existência colectiva (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob os temas locais históricos

e sagrados). Os locais sagrados incluem:

1. Montanha sagrada com árvore sagrada para a cerimónia de chuva Nsato, e a floresta

sagrada associada (presente em todas as comunidades);

2. Cemitérios para os membros das comunidades (normalmente localizado na montanha

sagrada, e presente em todas as comunidades);

3. Igreja (presente em todas as comunidades);

4. Árvores sagradas para outras cerimónias para além da cerimónia da chuva (p.ex.,

embondeiro em Mbuzi, árvore Ntalala em Chianga);

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92 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

5. Montanhas sagradas para outras cerimónias para além da cerimónia da chuva (p.ex., monte

Leão e monte Muniamba em Mbuzi);

6. Locais para os ritos de iniciação dos rapazes e floresta sagrada associada (Muchena e

Massamba).

Existem normalmente cemitérios separados para os adultos e as crianças ou, dentro de um mesmo

cemitério, áreas distintas para os funerais de adultos e os de crianças. A Figura 42: Cemitério

comunitário, Mbuzi Figura 43: Campa familiar no cemitério, Mbuzi abaixo mostram um cemitério e uma

campa em Mbuzi.

Figura 42: Cemitério comunitário, Mbuzi Figura 43: Campa familiar no cemitério, Mbuzi

As DGF revelaram que as comunidades inquiridas têm uma opinião dividida em relação à deslocação

dos locais sagrados (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema locais históricos e sagrados).

Duas comunidades, a de Matacale e de Mbuzi (ambas directamente afectadas pelo projecto),

afirmaram que não é possível mudar os cemitérios ou as campas para outro local, visto que isso

afastaria os espíritos ancestrais – e a sua protecção para uma vida de sucesso. Contudo, as outras

comunidades afirmaram que poderia ser possível mudar as campas, mediante autorização da família

a que pertence, e com a prévia realização de cerimónias e rituais específicas, e mediante alguma

forma de compensação para a família afectada.

Além disso, duas comunidades – Matacale e Mboza (também directamente afectadas pelo projecto)

– também afirmaram que não é possível mudar para outra área os locais sagrados associados à

cerimónia de chuva Tsato, (árvore e montanha sagradas),visto que isto iria reduzir a força da

cerimónia em atrair a chuva.

A Figura 44 abaixo mostra a localização destes locais sagrados na área do projecto.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

93

Figura 44: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo não transferíveis

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94 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Para uma descrição detalhada e um mapeamento visual dos locais sagrados, refira-se ao relatório

sobre o Património Cultural 50

, que é parte integrante do relatório de AIAS para o projecto, O relatório

sobre o Património Cultural também analisa os impactos do projecto nos locais de património cultural,

incluindo os locais acima mencionados, referidos como sendo não transferíveis para uma outra área.

4.3.10 Indicações iniciais de reassentamento

Uma análise preliminar do censo sobre as pessoas e bens afectados pelo projecto, realizada para o

Plano de Acção para o Reassentamento (PAR)51, indica que, devido à limpeza na área da

mineração52 e à utilização de uma estrada de escoamento e uma linha de alta tensão, o projecto

poderá requerer a deslocação de 54 famílias a viver em número igual de estruturas habitacionais, e

43 machambas. A área estimada das machambas afectadas é de 19 ha.

Uma análise preliminar do PAR indica que, por um lado, vai ser necessário reassentar, para um local

alternativo, as PAPs que serão fisicamente deslocadas pelo projecto (ou seja, aquelas cujas

estruturas habitacionais e machambas serão completamente afectadas). Por outro lado, as PAPs

que serão economicamente deslocadas pelo projecto (ou seja, aquelas cujas estruturas habitacionais

e/ou machambas são parcialmente deslocadas pelo projecto), não necessitarão de reassentamento,

mas serão compensadas pelas suas perdas.

Como já mencionado, o PAR estava a ser elaborado para o projecto proposto ao mesmo tempo que

o relatório da AIS estava a ser finalizado, com base no censo sobre as pessoas e bens afectados

pelo projecto, e consulta prévia com as autoridades Provinciais e Distritais. Estão a ser

presentemente analisados pelo Cliente os resultados do censo sobre as pessoas e bens afectados e

o orçamento de compensação por reassentamento.

De seguida, será levado a cabo a identificação de terras alternativas, em coordenação com as

autoridades distritais de Chiúta e Moatize. Enquanto isto ocorre, será realizada uma consulta pública

para apresentar os resultados do censo, os pacotes de compensação propostos e os locais de

reassentamento, com contratos de compensação a serem assinados com cada uma das PAPs. A

seguir a isto, o PAR será finalizado e apresentado numa última sessão de consulta pública, a ser

realizada na área do projecto, contudo, nos termos da implementação do PAR, o processo de

envolvimento das partes interessadas/PAPs continuará até ao fim.

4.3.11 Experiências de reassentamento prévias das comunidades na área do

projecto

De acordo com o SDPI de Moatize, a Vila de Moatize já teve experiências anteriores com o

reassentamento involuntário rural e urbano devido às actividades mineiras da Vale e do Rio Tinto.

Estas experiências e as estratégias de compensação incluíram a prestação de serviços sociais como

(no caso da Vale) a construção de uma escola primária completa, escola secundária, esquadra da

polícia e uma unidade sanitária. É compreensível que estas experiências influenciem a posição do

distrito em relação ao reassentamento, e as expectativas para futuras necessidades de

50

COWI para CES (2014). Relatorio do Património Cultural. Elaborado aquando da finalização da AIS.

51 Elaborado aquando da finalização da AIS.

52 Área de explosão com uma zona tampão de 1020 m.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

95

reassentamento. Em particular, o SDPI de Moatize enfatizou a necessidade dos Planos de Acção

para o Reassentamento estarem sujeitos à regulamentação urbanística e a prestação de serviços

sociais, tanto para as pessoas reassentadas e para a comunidade de acolhimento.

O distrito de Moatize já tem um Comité Distrital de Reassentamento estabelecido para a revisão dos

Planos de Acção para o Reassentamento, bem como para a supervisão da sua implementação53

.

Os representantes entrevistados do SDPI de Chiúta e de Moatize realçaram a importância do

planeamento urbanístico dos locais de reassentamento, com o objectivo de melhorar os serviços

sociais e estimular o desenvolvimento económico nestes locais. De acordo com o SDPI de Chiúta, o

distrito ainda não teve nenhuma experiência de reassentamento, contudo, espera-se que quando isto

ocorrer, as autoridades do distrito de Chiúta se orientem pelas outras experiências de

reassentamento na província (como aquelas no distrito de Moatize vizinho).

Conforme indicado no Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema história comunitária, as

DGF revelaram que as comunidades na área do projecto não têm experiencias anteriores com o

reassentamento involuntário em resultado de actividades económicas. A única experiência que têm é

da deslocação interna temporária devido à guerra (luta de libertação 1964-1975 e a guerra pós-

independência), cheias e secas, mas as pessoas deslocadas tendem a retornar às suas zonas

depois da causa da deslocação ter sido resolvida. Das oito comunidades inquiridas, três têm

experiência das actividades de prospecção mineira levadas a cabo pela Capitol Resources (Tenge,

Matacale e Massamba) e outras três tiveram no passado experiências curtas com actividades de

prospecção mineira levadas a cabo por outras empresas de exploração mineira (Massamba, Chianga

e Mbuzi). Três das comunidades ainda não foram expostas a qualquer projecto de mineração. Para

além da presença da Capitol Resources, existem empresas madeireiras a operar em Tenge e

Matacale.

Embora a palavra “reassentamento” não tenha sido aplicada à partida durante o processo de recolha

de dados qualitativos e quantitativos, a questão relativa ao reassentamento foi levantada

espontaneamente durante as DGF. Em termos gerais, as comunidades inquiridas estão preocupadas

com o reassentamento permanente noutro local, por três razões principais:

1. Perda de terras agrícolas (como explicado anteriormente, estas encontram-se perto/nas

margens dos rios e riachos existentes, de forma a aproveitar o solo húmido e fértil);

2. Perda de redes sociais de apoio da comunidade;

3. Perturbações espirituais devido à perda/separação das campas familiares.

No que diz respeito à perda das terras agrícolas, as comunidades inquiridas se mostram cépticas

sobre a disponibilidade de terra com características agro-ecológicas semelhantes (ver Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema análise de problemas para obter mais detalhes sobre as

preocupações relacionadas com reassentamento). As DGF também revelaram que as comunidades

tratam com alguma cautela a questão de benefícios dos projectos económicos na área

(nomeadamente, emprego e infra-estruturas sociais). Dois pedidos eram comuns a todas as DGF:

53

Este Comité está previsto no Decreto 31/2012, de 8 de Agosto. Para mais informação sobre o quadro legal nacional de

reassentamento, ver Secção 2.5.

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96 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

1. Comunicação prévia com a comunidade, desde o início do projecto, e mantida numa base

regular durante toda a vigência do projecto;

2. O projecto deverá priorizar o emprego de forças de trabalho locais e abordar a questão das

necessidades sociais das comunidades, de forma realista e no âmbito de um acordo

consultivo com a comunidade (líderes e membros).

As comunidades reconhecem que devem tomar parte activa e participar no projecto. Elas consideram

que esta participação poderá ser através do fornecimento de forças de trabalho locais, e na

qualidade de pessoal de segurança para salvaguardar os bens e os interesses do projecto.

De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/sob o tema história comunitária e

análise de problemas), a Capitol Resources já iniciou as actividades de prospecção mineira nas

comunidades de Tenge-Makodwe e Massamba. Ambas as comunidades do primeiro consideram que

o impacto do projecto de mineração é positivo. Contudo, já surgiram conflitos entre a comunidade de

Massamba e os a comunidade vizinha de Matacale, devido às expectativas sobre os benefícios do

projecto, especificamente em relação a emprego e infra-estruturas sociais. Isto é uma disputa sobre a

propriedade administrativa do local da mina: a comunidade de Massamba reivindicou o local da mina

como pertencendo a esta comunidade e, consequentemente, esta comunidade deverá ser o

beneficiário principal dos benefícios do projecto, que está a ser implementado, de facto, em

Matacale. Por enquanto a disputa tem sido resolvida pelo Chefe do Posto Administrativo, que reuniu

todos os líderes comunitários para esclarecer que o local da mina pertence, de facto, a Matacale.

Não obstante, não se deve subestimar o potencial que este tipo de conflito tem para gerar um

impacto negativo em termos da aceitação do projecto e sua propriedade. O facto de este conflito ter

surgido antes da implementação plena do projecto é um sinal das tensões que existem entre as

comunidades locais relativamente à distribuição equitativa dos benefícios esperados do projecto.

À luz desta situação, as implicações de reassentamento pelo projecto devem ser reportadas e

discutidas com a comunidade (líderes e membros) logo à partida, para evitar que haja conflitos e

resistência ao reassentamento. É aconselhável incluir as autoridades distritais no processo de

envolvimento das comunidades, para dar alguma orientação no processo e apoiar a resolução de

conflitos, onde necessário, de acordo com as estruturas de liderança tradicionais ou com as

autoridades, normas e protocolos locais.

Para além da comunidade de Mboza, cuja oposição ao reassentamento ficou claramente registada

nas sessão da DGF, as comunidades da área do projecto vêem o projecto como uma oportunidade

para o desenvolvimento local e estão abertas a discussões sobre o seu impacto e possíveis medidas

de mitigação/melhoria. Um desejo comum expresso nas DGF foi que fossem reassentados dentro

das suas comunidades de origem ou tão próximo quanto possível, em terras desocupadas ainda

disponíveis.

As questões relacionadas com o reassentamento serão tratadas em detalhe no PAR para o projecto

proposto.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

97

5 POTENCIAIS IMPACTOS ASSOCIADOS AO PROJECTO

5.1 Introdução

Este capítulo apresenta uma avaliação dos potenciais impactos associados ao projecto, durante a

sua fase de construção e operação, com base nos dados do projecto disponibilizados para a AIS. O

capítulo também delineia as medidas de mitigação e optimização aplicáveis para cada um dos

impactos. Os impactos foram identificados e avaliados de acordo com critérios pré-estabelecidos de

natureza, tamanho, duração, intensidade e ocorrência, como descrito no Anexo A: .

Todas as mudanças ao contexto socioeconómico das comunidades beneficiárias, directa ou

indirectamente associadas à implementação do projecto proposto, são consideradas como sendo

impactos. A essência da avaliação do impacto é a preparação e comparação de cenários ambientais:

o contexto da comunidade beneficiária sem o projecto como linha de base, contra a qual os impactos

associados à implementação do projecto são comparados. A implementação do projecto poderá

resultar em vários impactos positivos e negativos, relacionados com:

1 Perda da infra-estrutura habitacional, como resultado do reassentamento;

2 Acesso reduzido à terra e aos recursos naturais;

3 Restrições na mobilidade e acesso;

4 Geração de emprego e crescimento socioeconómico;

5 Ruptura da coesão social e impactos no património cultural;

6 Saúde, segurança e protecção;

7 Aceitação do projecto.

Os impactos negativos identificados esperados incluem aqueles que resultam do reassentamento, da

perda de terras agrícolas produtivas, a concorrência na procura de recursos naturais como resultado

da perca de/ acesso mais limitado aos mesmos, perda de rendimentos, insegurança alimentar,

ruptura da coesão social, perda de património cultural, poluição e os riscos associados ao trânsito,

aumento nas doenças transmissíveis/ transmitidas por vectores/ profissionais e as elevadas

expectativas relativas aos benefícios do projecto, que poderão prejudicar a aceitação do projecto por

parte da população e do governo locais.

Os impactos positivos identificados esperados incluem melhores serviços sociais e ordenamento

territorial, oportunidades de emprego e de formação para a força de trabalho local, procura pela

prestação de serviços, promoção da economia local e aceitação do projecto.

5.2 Potenciais impactos identificados até à data

De acordo com os resultados dos estudos de campo, diferentes tipos de características

socioeconómicas poderão ser afectadas pela construção e operação do projecto. Nos parágrafos que

seguem, as questões chave apresentam os potenciais impactos do projecto:

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98 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

5.2.1 Impactos negativos

Questão 1: Destruição da infra-estrutura e reassentamento

De acordo com o censo do PAR (ver Secção 4.3.10) e o Relatório sobre o Património Cultural, em

elaboração aquando da finalização da AIS, a construção e operação das componentes do projecto

poderão exigir a destruição de casas, terras agrícolas, estabelecimentos comerciais, infra-estruturas

sociais (escolas, bombas/furos de água e igrejas/mesquitas) e locais de património cultural

localizados dentro da área do projecto.

Nos parágrafos a seguir encontram-se detalhados os impactos relacionados com a perda de

habitações, terras agrícolas, estabelecimentos comerciais e infra-estruturas sociais. Os impactos

relacionados com a perda de locais de património cultural são tratados no Relatório sobre o

Património Cultural e, consequentemente, não foram incluídas no presente relatório da AIS.

Impacto 1.1: Deslocação física dos agregados familiares

Como já explicado anteriormente, é provável as fases de construção e operação do projecto afectem

as casas localizadas dentro da área do projecto. De acordo com as DGF (Anexo D: Matriz de Análise

Qualitativa/ sob os temas história da comunidade e análise de problemas), as comunidades

localizadas na área do projecto receiam o reassentamento porque serão realocadas para longe das

suas machambas.

Na eventualidade de uma casa (família) ser afectada pelo projecto, terá que ser compensada com

um pacote de compensação, conforme o disposto no Decreto 31/2012 e demais legislação nacional

aplicável (ver Secção 2.5 para uma discussão mais detalhada). Além disso, dependendo do grau de

destruição e da extensão de terra ocupada pelo projecto, poderá ser necessário reassentar as

famílias que habitam a área actualmente.

Os impactos associados ao reassentamento exigem a preparação de um Plano de Acção para o

Reassentamento (PAR). O princípio geral do PAR é que o reassentamento promova um

desenvolvimento local que beneficie todos, ou seja, não apenas as pessoas e comunidades

afectadas, mas também as comunidades de acolhimento e as vizinhas. Este princípio foi enfatizado

pelo governo distrital e pelas comunidades onde o projecto da Capitol Resources já está presente,

nomeadamente em Massamba, Matacale e Tenge-Makodwe. Enquanto a Tenge-Makodwe tem tido,

até agora, uma experiência positiva com os benefícios do projecto, já surgiram conflitos entre as

comunidades de Massamba e Matacale, resultantes de uma disputa sobre o acesso aos benefícios

provenientes do projecto proposto. Embora o conflito Massamba-Matacale tenha sido resolvido pelas

autoridades locais, o desenho e a implementação do PAR devem tomar em consideração os

potenciais conflitos entre comunidades no futuro próximo como resultado dos diferentes benefícios

do projecto, visto que isto poderá prejudicar a aceitação do projecto por parte da população local.

A compensação pela perda de bens deverá ser garantida antes de serem afectadas pelo projecto, ou

seja, antes de iniciar as actividades de construção. Semelhantemente, as actividades de

reassentamento devem ser implementadas durante a fase de construção, com programas de

monitoria e avaliação a serem levados a cabo após a fase de construção, ou seja,, durante a

operação do projecto. É provável que os resultados de um processo de reassentamento mal

implementado, em particular as perturbações sociais causadas por um processo de reassentamento

mal gerido ou mal desenvolvido (atrasos na implementação, fraca coordenação ou comunicação com

as comunidades) tenham um impacto na aceitação do projecto e sua operação.

Page 99: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

99

De acordo com as comunidades e o governo local inquiridos, o conteúdo e os prazos de

implementação do PAR são factores chave para o apoio a aceitação do projecto. Um factor chave

para um processo de reassentamento positivo são as consultas regulares com as comunidades

locais e o governo distrital para o desenho e implementação do processo de reassentamento.

Sem mitigação

Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto

como sendo “negativo elevado”, visto que a deslocação física das famílias irá certamente ocorrer e

os efeitos da perda de habitações e de infra-estruturas sociais, bem como da deslocação física,

serão graves. Esta questão é especialmente preocupante para as famílias chefiadas por idosos,

mulheres e crianças, que são mais dependentes das redes sociais de apoio e poderão ter grandes

dificuldades em se adaptarem após o reassentamento, caso lhes sejam retiradas as referidas redes e

não receberem outro tipo de assistência.

Com mitigação

Caso sejam implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que o número de pessoas e agregados familiares reassentados

será menor e os efeitos da perda de habitações e da deslocação física serão moderados. Para isto, é

de particular importância que os limites do Col sejam reajustados para restringir o reassentamento a

um mínimo, com as compensações casa-por-casa previstas e os locais de reassentamento

escolhidos na vizinhança da comunidade afectada.

De acordo com as autoridades distritais e as comunidades locais, existem terras disponíveis na área

do projecto para a selecção de locais de reassentamento. Isto deve ser tomado em consideração e

analisado em mais detalhe pela equipa do PAR, em coordenação com as autoridades distritais de

Chiúta e Moatize, para a selecção de locais de reassentamento e de reposição de terras agrícolas.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Muito grave Certo ELEVADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Certo MODERADA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Área de estudo

Muito grave Provável MUITO ELEVADA

Com mitigação Longo prazo

Área de estudo

Grave Poderá ocorrer

MODERADA

Medidas de mitigação

Elaborar o PAR em conformidade com o Decreto 31/2012, IFC PS5 e a legislação nacional sobre

consultas públicas, e em coordenação com o governo distrital e as comunidades da área do

projecto, como parte do Plano de Envolvimento das Partes Interessadas a ser elaborado para o

projecto. O PAR também deve ser fundamentado pelo conflito que surgiu recentemente entre as

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100 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

comunidades de Massamba e Matacale relacionado com os benefícios do projecto e a forma

como este foi resolvido, de forma a evitar o surgimento de conflitos no futuro na área do projecto

devido às diferenças nos benefícios do projecto, uma vez que estes podem prejudicar a

aceitação do projecto;

Implementar o PAR antes de iniciar a fase de construção, com o envolvimento do Comité Distrital

de Reassentamento e em consulta com o governo distrital e as comunidades da área do

projecto, como parte do Plano de Comunicação a ser elaborado para o projecto;

Favorecer as compensações casa-por-casa, terra-por-terra e outras estratégias de compensação

em espécie, em vez de compensações monetárias para apoiar a restauração dos meios de vida;

Minimizar a necessidade de reassentamento através de um ajustamento do Col, para que as

famílias localizadas dentro dos seus limites não sejam reassentadas, e para que seja necessário

pagar apenas uma compensação (pela perda de bens) e não a sua deslocação física;

Optar por terras e locais de reassentamento tão próximos quanto possível às zonas originais;

Nos casos em que o empreiteiro interfere acidentalmente nas infra-estruturas e bens, deverá

prestar a devida compensação em coordenação com as autoridades locais e o preponente de

projecto, e seguir a mesma base de cálculo que o PAR;

Nos casos em que a empreiteira precisa levar a cabo actividades em volta das casas e

machambas, utilizará, preferencialmente, meios manuais.

Impacto 1.2: Adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento

O reassentamento que vai ter lugar na área do projecto não se restringe apenas à deslocação física.

Também se vai reflectir na perda de redes sociais de apoio dos vizinhos, família alargada e líderes

locais, a perda de/acesso reduzido aos locais sagrados e um bem-estar espiritual alterado, a perda

de terras agrícolas e estratégias de geração de rendimentos bem como a perda de acesso a serviços

sociais.

Isto pode ser particularmente pertinente na área do projecto, onde as pequenas povoações têm um

forte sentido de coesão social e estratégias de geração de rendimento baseadas na terra. Conforme

mencionado nas DGF (Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ sob os tema locais históricos e

sagrados), para as comunidades na área do projecto a terra tem, para além do seu valor económico,

uma importância social e espiritual. Os agregados familiares reassentados terão que se adaptar ao

novo local/comunidade de acolhimento, através do estabelecimento de novas redes sociais de apoio,

reajustamento das suas crenças e práticas culturais e religiosas (cerimónias sagradas, ritos de

iniciação, equilíbrio espiritual com os antepassados) e adaptação das suas identidades pessoais e

sociais.

Os agregados familiares reassentados também terão que recuperar as suas formas de subsistência,

meios de vida, rendimento e condições de vida. A sua chegada poderá aumentar a pressão sobre os

serviços sociais disponíveis na comunidade de acolhimento (se os locais de reassentamento forem

habitados), que provavelmente já seriam limitados, conforme apresentado na Secção 4. Esta pressão

não terá lugar, certamente, se o local de reassentamento seleccionado não for habitado e os serviços

sociais forem concebidos apenas para a população reassentada.

Não obstante o facto de só estarem a ser realizadas actividades de prospecção na área do projecto

neste momento, já surgiu um conflito entre as comunidades de Massamba e Matacale, resultante de

uma disputa em relação ao acesso aos benefícios do Projecto Capitol Resources, nomeadamente

relativos a emprego e a infra-estruturas sociais (para mais informação sobre esta disputa, Secção

Error! Reference source not found.). As autoridades locais resolveram o conflito Massamba-

atacale, contudo, a ocorrência ressalta a importância das infra-estruturas sociais e dos serviços para

a população na área do projecto. De acordo com as autoridades distritais e as comunidades

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

101

entrevistadas, a prestação de infra-estruturas sociais e serviços é uma componente importante para

a aceitação do projecto (ver Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa/ sob o tema análise de

problemas).

Deverão ser estabelecidos novos serviços e infra-estruturas sociais pelo projecto proponente fora da

área do projecto para compensar a perda do acesso aos serviços sociais (idealmente nos locais de

reassentamento seleccionados), como parte o Plano de Desenvolvimento Comunitário. Como tal,

estas infra-estruturas sociais e serviços devem ser estabelecidos antes de se iniciar o processo de

reassentamento e ser concebidos para beneficiar tanto a população reassentada como a população

de acolhimento, tomando em consideração a demografia do local de reassentamento (a população

total e não apenas as famílias reassentadas).

Também é importante garantir a sustentabilidade do funcionamento desses serviços sociais. Assim, o

estabelecimento dessas infra-estruturas sociais deve ser realizado em coordenação com o governo

local, que será responsável pela afectação dos recursos humanos para a prestação dos serviços

(p.ex., professores). Também é importante consultar as comunidades afectadas pelo projecto (as

comunidades reassentadas e as de acolhimento, se for o caso) sobre as suas prioridades em termos

de infra-estruturas sociais e serviços, bem como monitorar a operação dos serviços durante toda a

fase de implementação do PAR para garantir a sua manutenção e sentido de propriedade.

As famílias vulneráveis54

têm maior probabilidade de sofrer mais com o reassentamento, devido à

perda das suas redes sociais de apoio, disponibilidade limitada de emprego e dificuldades

enfrentadas com a restauração de estratégias de geração de rendimento e de subsistência, bem

como com a sua adaptação geral aos contextos pós-reassentamento. De acordo com as

comunidades inquiridas e o governo local, a adaptação social e restauração económica das famílias

reassentadas também é um factor chave na aceitação do projecto. As actividades de restauração

dos meios de vida e actividades de geração de rendimento devem ser previstas no PAR antes do

reassentamento, de modo a implementar estas actividades nos locais de reassentamento

imediatamente após a efectivação do reassentamento. Prevê-se que os impactos ocorram tanto na

fase de construção como na fase de operação.

Sem mitigação

Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto

como sendo “negativo elevado”, visto que o reassentamento levado a cabo sem nenhuma medida de

mitigação, como descrito adiante, aumentará a vulnerabilidade socioeconómica das famílias na área

do projecto e terá, consequentemente, efeitos negativos sobre o desenvolvimento do distrito e

aumentará a pressão sobre os parcos recursos disponíveis ao governo distrital para o

desenvolvimento socioeconómico.

Com mitigação

Caso sejam implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, se os locais de reassentamento forem seleccionados nas proximidades da

comunidade afectada e se for concebido um plano de subsistência comunitária, que beneficie tanto a

PAP e as comunidades de acolhimento (se algumas), a ser incluído no PAR e implementado pelo

54

As stated in Section 4.3.7, in the project area these households are typically headed by a woman aged around 50 years,

widowed or separated/divorced and unemployed or self-employed in subsistence farming.

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102 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

proponente do projecto.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Poderá ocorrer

MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Regional Grave Provável ELEVADA

Com mitigação Médio prazo

Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Medidas de mitigação

Reajustar o Col de modo a minimizar a necessidade de reassentamento, particularmente dentro

das delimitações do Col;

Incluir um Plano de Desenvolvimento Comunitário como parte integrante do PAR, para o local de

reassentamento, em conformidade com o Decreto 31/2012. O Plano deverá apoiar a restauração

dos meios de vida e rendimentos das PAPs e deverá beneficiar as necessidades

socioeconómicas das comunidades de acolhimento. Considerando que:

o O governo distrital deve ser consultado em relação ao esboço do plano, com o objectivo de

alinhar o plano com as prioridades para a área do projecto e garantir a afectação de recursos

humanos para a prestação de serviços sociais nas infra-estruturas a serem estabelecidas.

o As comunidades afectadas e as de acolhimento deverão também ser consultadas para que

as suas necessidades sejam reflectidas no plano.

o A concepção do Plano de Desenvolvimento Comunitário deverá tomar em consideração o

tamanho e perfil demográfico da população beneficiária após o reassentamento (população

reassentada e população de acolhimento, se for o caso), bem como os serviços existentes no

local de reassentamento a sua necessidade de expansão/melhoria;

Implementar o Plano de Desenvolvimento Comunitário antes do início da fase de construção,

com o envolvimento do Comité Distrital de Reassentamento e em coordenação com o governo

distrital e as comunidades da área do projecto, como parte do Plano de Envolvimento das Partes

Interessadas a ser elaborado para o projecto. A implementação do plano é da responsabilidade

do proponente do projecto;

Favorecer as compensações casa-por-casa, terra-por-terra e outras estratégias de compensação

em espécie;

Optar por terras e locais de reassentamento tão próximos quanto possível às zonas originais, e

no máximo a uma distância semelhante à dos locais sagrados (em particular campas familiares e

locais de cerimónias de chuva) e machambas;

Incluir as igrejas, grupos religiosos e organizações comunitárias/ não governamentais no PAR,

para apoiar as famílias reassentadas durante a sua adaptação pós-reassentamento, com

enfoque nas mais vulneráveis; e

Durante a fase de implementação do PAR, monitorar, em conformidade com o plano de M&A

definido no PAR, o seguinte:

o A adaptação e restauração económica das famílias reassentadas;

o A eficácia das infra-estruturas sociais e serviços estabelecidos, para garantir o

funcionamento das infra-estruturas sociais e a sua propriedade pelas autoridades locais e

comunidades. Isto pode ser feito pelo Comité Técnico Distrital para a Revisão de Planos de

Reassentamento;

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

103

Nos casos em que a empreiteira precisa levar a cabo actividades em volta das casas e

machambas, utilizará, preferencialmente, meios manuais.

A questão sobre a perda de terras agrícolas é abordada no Impacto 2.1: e a questão sobre a perda

de locais sagrados é abordada no Impacto 5.3: .

Questão 2: Acesso reduzido à terra e aos recursos naturais

Impacto 2.1: Perda de terrenos agrícolas e rendimento

Tal como acima referido, de acordo com as indicações preliminares de PAR, existem 43 machambas

a ser utilizadas neste momento em actividades de agricultura de subsistência, que serão afectadas

pelo projecto tanto na fase de construção como na fase de operação. Segundo as DGF, a perda de

terras agrícolas é o impacto mais temido pelas comunidades na área do projecto, uma vez que as

terras que utilizam ao longo das margens dos rios e riachos são invulgarmente húmidas (Anexo D:

Matriz de Análise Qualitativa sob os temas análise de problemas, uso da terra e história da

comunidade).

Conforme mencionado no estudo de base, a população da área do projecto é maioritariamente rural,

com a excepção da população na Vila de Moatize. Dependem principalmente de estratégias

baseadas na terra, ou seja, a prática de agricultura de de subsistência sequeiro, a nível do agregado

familiar, complementado com a pecuária e extracção de recursos naturais (lenha, peixe e materiais

de construção). As machambas estão localizadas perto das áreas residenciais. Todas as

comunidades inquiridas estão localizadas na proximidade de um rio ou riacho (veja-se a Figura 2),

praticam a agricultura nas margens dos rios o riachos e beneficiam da terra húmida, que compensa a

falta de irrigação. Esta terra húmida é invulgar, quando comparado com a terra normalmente

encontrada nos distritos de Chiúta e Moatize, que é de baixa fertilidade e com baixa capacidade de

retenção de humidade.

Na eventualidade de uma machamba ser afectada pelo projecto, deverá ser oferecido um pacote de

compensação pela perda de culturas e árvores, bem como de quaisquer infra-estruturas localizadas

na machamba; esta compensação deverá ser calculada com base nas taxas do governo ou, se

possível, com base nos preços de mercado, que normalmente estão mais actualizados. Dependendo

do tamanho da área agrícola ocupada, será necessário organizar terras agrícolas alternativas; se as

características agro-ecológicas da nova área disponibilizada para as actividades agrícolas forem

diferentes, poderá exigir uma mudança no tipo de culturas cultivadas e nos métodos agrícolas

utilizados. Considerando o baixo nível de escolaridade e os métodos agrícolas básicos utilizados pela

população da área do projecto55

, a mudança para novas culturas e/ou métodos agrícolas poderá

requerer um longo período de adaptação por parte das famílias afectadas.

Por esta razão, as novas áreas agrícolas devem ter características agro-ecológicas semelhantes

àquelas das áreas perdidas, e estar a uma distância igual/semelhante da casa para a machamba,

como recomendado pela PO 4.12 e PD 5. Isto é particularmente importante para as famílias

vulneráveis chefiadas por idosos, mulheres e crianças, que poderão ter mais dificuldade em arranjar

trabalho e em adaptar-se às novas técnicas agrícolas e aos novos tipos de solo.

55

De acordo com os resultados do inquérito nas Secções 4.3.5 e 4.3.6, a agricultura praticada na área do projecto é

principalmente agricultura de subsistência, de sequeiro e com baixos níveis de mecanização (principalmente machado e

enxada).

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104 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

O PAR tomará em consideração a necessidade de substituir as terras agrícolas por outras com

características agro-ecológicas semelhantes, e a necessidade de estender os benefícios das

actividades de restauração dos meios de vida e rendimento baseados na terra às comunidades que

vivem na(s) área(s) onde as novas machambas serão implementadas. Se não houver terra

alternativa disponível com características agro-ecológicas semelhantes, as PAPs devem receber

formação, insumos e acompanhamento técnico para cultivar o tipo de terra seleccionada.

Sem mitigação

Caso não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto

como sendo “negativo muito elevado”, considerando que as PAPs irão perder as suas principais

fontes de rendimento e estratégias de subsistência, e serão expostas a uma situação de

vulnerabilidade, o que vai sobrecarregar o desenvolvimento socioeconómico dos Postos

Administrativos onde vivem.

Com mitigação

Caso forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, uma vez que serão providenciadas as áreas agrícolas alternativas e os

insumos para as principais actividades económicas.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação

Curto prazo Área de estudo

Muito grave Definitiva MUITO ELEVADA

Com mitigação

Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação

Permanente Regional Muito grave Definitiva MUITO ELEVADA

Com mitigação

Médio prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Compensar pela perda de culturas e árvores, se possível ao preço de mercado;

Garantir terras agrícolas alternativas com características mais parecidas possíveis às da

terra perdida (tamanho, características agro-ecológicas e distância da casa do agregado

familiar);

Apoiar na preparação das terras agrícolas para a primeira sementeira, com insumos agro-

químicos ou mecânicos apropriados;

Fortalecer as capacidades agrícolas e pecuárias para as PAPs e a(s) comunidade(s) que vive(m)

na(s) área(s) onde as terras alternativas são localizadas, durante o primeiro ano pós-

reassentamento, com:

o Formação no uso de novas culturas e novos métodos agrícolas;

o Fornecimento de insumos agrícolas (sementes, ferramentas para plântulas/mudas);

o Provisão de acompanhamento técnico (extensionistas, campos de demonstração).

Page 105: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

105

Considerar, no PAR, a restauração das estratégias de geração de rendimento baseadas na terra

como parte integrante do plano de desenvolvimento comunitário, para assegurar que os

benefícios sejam aproveitados tanto pelas PAPs como pela(s) comunidade(s) que vive(m) na(s)

área(s) onde a terra alternativa se localiza, e evitar a criação/deterioração de disputas

relacionadas com terra e/ou os recursos naturais aí contidos;

Se a agricultura se tornar inviável durante a fase pós-reassentamento, garantir apoio a longo

prazo para a criação de alternativas às estratégias de geração de rendimento. Isto inclui a

provisão de formação, insumos e acompanhamento técnico;

Deverá ser prestada assistência especial às famílias vulneráveis no que diz respeito à

restauração das estratégias de geração de rendimento baseadas na terra, e entre estas, deve

ser dada prioridade às famílias com um perfil de vulnerabilidade como descrito na Secção 4.3.7

(chefiadas por mulheres, com aproximadamente 50 anos de idade, viúvas ou

separadas/divorciadas e desempregadas ou a trabalhar por conta própria em agricultura de

subsistência).

Impacto 2.2: Acesso reduzido e concorrência acrescida sobre os recursos naturais, em particular terras agrícolas

Não foram observadas disputas de terra na área do projecto durante o trabalho de campo nem

mencionadas pelas autoridades distritais e as comunidades inquiridas, que também enfatizaram a

disponibilidade de terra para o projecto. Contudo, as comunidades inquiridas dependem de

estratégias de geração de rendimento baseadas na terra e a extracção de recursos naturais é uma

fonte importante de rendimento e de subsistência (água e peixe nos rios e riachos, materiais de

construção como varas e caniço, lenha e carvão para consumo e venda).

O projecto poderá adquirir terra na zona onde a população tem as suas machambas, os pastos ou

extrai os recursos naturais, ou a terra que dá acesso aos locais para a extracção de recursos

naturais. Mais ainda, existe já uma indústria madeireira na proximidade da área do projecto, o que

reduz o acesso às árvores utilizadas para a produção de lenha e de carvão. Como resultado deste

impacto cumulativo, poderá haver uma redução no acesso a terra, em particular à terra húmida onde

as comunidades afectadas praticam a sua agricultura, e no acesso aos recursos naturais, incluindo

aos rios e riachos. Esta redução poderá provocar disputas e conflitos dentro das comunidades

afectadas e entre comunidades vizinhas. Poderá também limitar a geração de rendimento, reduzir os

níveis de vida e criar dependência em ajuda externa (do governo ou do projecto).

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo elevado”, visto que o acesso a fontes chave de rendimento e de subsistência será

reduzido.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, uma vez que as PAPs poderão manter as suas estratégias de geração de

rendimento e de subsistência ou se adaptarem a novas estratégias.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Page 106: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

106 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Regional Grave Provável ELEVADA

Com mitigação Médio prazo

Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Em caso de reassentamento, o PAR deverá considerar o acesso (disponibilidade/proximidade)

às terras agrícolas e de pasto, rio e áreas para a extracção de recursos naturais na selecção dos

locais de reassentamento. Assim, é necessário haver ordenamento territorial nos locais de

reassentamento. Isto deverá ser abordado em colaboração com o governo local e as

comunidades afectadas. Se os locais de reassentamento forem distantes dos rios ou riachos,

poderão ser promovidos programas de aquacultura (mediante a provisão de formação e

insumos) no local de reassentamento, para o benefício das PAPs e da comunidade de

acolhimento;

Desenvolver programas de reflorestamento nas comunidades afectadas;

Criar zonas tampão em volta das áreas de conservação e locais chave para a extracção de

recursos naturais, gerido e supervisionado com a participação da população local;

Quaisquer actividades de desbravamento de terrenos deverão tomar em consideração o

potencial de utilização pela PAP. Por exemplo, as árvores derrubadas devem ser entregues às

aldeias para que sejam utilizadas para a produção de lenha e de carvão, enquanto o capim,

caniço e varas devem ser oferecidas às famílias para construção.

Impacto 2.3: Perda de rendimento e insegurança alimentar

Como já explicado acima, a aquisição de terra pelo projecto poderá afectar as machambas e culturas

associadas e árvores existentes na área do projecto. Poderá também reduzir o acesso à terra e a

outros recursos naturais (água, peixe, lenha e materiais de construção), dos quais dependem as

estratégias de geração de rendimento e de subsistência das comunidades.

Isto é particularmente significativo para as comunidades afectadas que praticam a sua agricultura

nas terras húmidas nas margens dos rios e riachos. De acordo com os resultados do inquérito, as

comunidades na área do projecto enfrentam três meses de insegurança alimentar por ano, e

garantem a sua alimentação principalmente por via da agricultura de subsistência e da compra de

produtos alimentares. Se estas famílias perderem o acesso à terra e aos recursos naturais dos quais

dependem, o seu rendimento e a segurança alimentar poderão reduzir significativamente, e a sua

vulnerabilidade económica poderá aumentar.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que as PAPs não serão capazes de restabelecer os seus níveis de

rendimento e se adaptarem a outras estratégias de geração de rendimento.

Com mitigação

Page 107: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

107

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, uma vez que será dado apoio à restauração dos meios de vida.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Médio prazo

Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Medidas de mitigação

Providenciar terra agrícola alternativa às PAPs, com as características mais semelhantes

possíveis às da terra perdida (tamanho, características agro-ecológicas e distância da casa da

família);

Se a terra agrícola alternativa disponível tiver características diferentes, os agricultores deverão

ser apoiados na sua adaptação à nova terra mediante a provisão, durante o primeiro ano pós-

reassentamento, de:

o Formação em métodos agrícolas alternativos;

o Insumos;

o Acompanhamento técnico;

Elaborar um plano de restauração dos meios de vida, como parte integrante do PAR, em linha

com o plano de desenvolvimento comunitário. O plano de restauração dos meios de vida deverá

incluir estratégias de restauração dos meios de vida que inclui (mas não limitado a) actividades

agrícolas, pecuárias e pesca, que devem:

o Ser dirigidas às diferentes características das famílias afectadas;

o Beneficiar a população das comunidades de acolhimento;

o Ser elaboradas em coordenação com as comunidades afectadas e os agricultores locais.

Os agricultores locais devem ser incluídos na monitoria da implementação do plano de

restauração dos meios de vida e do plano de desenvolvimento comunitário, como parte do PAR.

Questão 3: Mobilidade

Impacto 3.1: Distúrbio da mobilidade e do trânsito de pessoas

A aquisição de terra para o projecto poderá limitar o acesso das populações locais às estradas de

areia, pequenas pontes e outras áreas de passagem dentro da área do projecto.

Considerando que presentemente a mobilidade das comunidades afectadas é proibida apenas para

os locais sagrados, mas não aos locais de actividades económicas, e que as famílias circulam

livremente para realizar as suas actividades agrícolas e para buscar recursos naturais, a mobilidade

das comunidades poderá ser interrompida.

Sem mitigação

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108 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que é por um curto período de tempo e limitado à área de estudo.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, mas a um nível inferior, visto que o impacto é de médio prazo e está

limitado à área de estudo.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Medidas de mitigação

Sempre que são impostas restrições à circulação, sinalizar de forma apropriada e bem visível as

áreas de trabalho, com indicação de caminhos alternativos;

Mapear as estradas e vias de acesso utilizadas pelas comunidades na área do projecto, que

poderão ser atravessadas/ bloqueadas por um componente do projecto (p.ex., estrada de

transporte);

Permitir que a população local continue a utilizar as estradas e acessos existentes. Se não for

possível, ou seja,, um componente do projecto bloqueia o acesso normal a uma estrada

existente:

o Estabelecer pequenos corredores dentro das áreas afectadas pelo projecto para garantir a

passagem; ou

o Construir pontes para peões por cima das estradas mapeadas que são atravessadas ou

bloqueadas por um componente do projecto, para permitir a sua passagem;

Quaisquer estradas abertas para o projecto devem estar disponíveis para uso pela população

local.

Questão 4: Criação de emprego e crescimento socioeconómico

Impacto 4.1: Influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego

De acordo com as DGF e as entrevistas com as autoridades distritais, o emprego formal na área do

projecto e nos distritos é limitado, e existe uma migração da força de trabalho para a Vila de Moatize

e para a Cidade de Tete, embora seja aparentemente limitado

A criação deste projecto mineiro poderá trazer trabalhadores e pessoas à procura de trabalho de fora

com habilidades e níveis de educação variados, que estarão a concorrer com a população local para

as vagas de emprego e para as condições de vida. O influxo de trabalhadores de fora poderá

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

109

também trazer comportamentos, práticas e valores diferentes dos da comunidade local, e alterar a

sua estabilidade social a médio-longo prazo.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que as vagas de emprego disponíveis aos que procuram emprego

poderão ser limitadas.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, visto que, na medida do possível, a força de trabalho local será priorizada em

termos de emprego.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Regional Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Regional Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Estabelecer medidas de contratação claras e formais, a serem cumpridas pelo empreiteiro

(contratante) e pelo operador do projecto;

Estabelecer uma ligação de recrutamento formal com os distritos e a comunidade local;

Os requisitos de contratação devem ser devidamente divulgadas antes do início do processo de

recrutamento e respeitados pelo empreiteiro (contratante) designado. Para melhor impacto nas

comunidades, este processo deverá ser realizado com o envolvimento dos líderes locais;

Divulgar, para cada uma das oportunidades de emprego:

o A habilidade exigida ou, nos casos em que não se aplica, explicar claramente que não são

necessárias qualificações (habilidades) especiais;

o O número exacto de vagas disponíveis, o período aplicável e a remuneração paga por cada

um dos tipos de trabalho;

Os princípios e procedimentos de contratação devem priorizar, tanto quanto possível, a

contratação de trabalhadores qualificados locais;

Tanto quanto possível, deverá ser dada formação aos locais para realizarem tarefas

semiespecializadas, de forma a reduzir o número de trabalhadores de fora para este objectivo;

Na eventualidade do projecto não poder cumprir as expectativas locais sobre o emprego, as

vagas disponíveis devem ser divulgadas às partes interessadas através das autoridades locais.

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110 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Impacto 4.2: Abandono da agricultura a nível do agregado familiar

As expectativas de emprego e de trabalho remunerado do projecto, ou dos provedores de serviços a

ele associado, poderão levar a população local a abandonar a agricultura.

De acordo com os dados de base e qualitativos obtidos, a população da área do projecto é

maioritariamente rural, e a agricultura constitui a base da sua segurança alimentar, subsistência e

rendimento.

Se a população abandonar a agricultura a favor de emprego remunerado, e dependendo da

quantidade e estabilidade do pagamento, isto poderá resultar numa redução da segurança alimentar,

subsistência e rendimentos, fazendo com que a população da área do projecto ficasse numa

situação de vulnerabilidade e dependência da ajuda externa (provavelmente do governo distrital, que

levaria a uma sobrecarga sobre os seus parcos recursos).

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo elevado”, uma vez que a base da subsistência e segurança alimentar poderá estar

perdida.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, se for possível manter a prática da agricultura em conjugação com o

trabalho remunerado.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Muito grave Poderá ocorrer

ELEVADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Área de estudo

Muito grave Poderá ocorrer

ELEVADA

Com mitigação Médio prazo

Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

MODERADA

Medidas de mitigação

Fomentar o desenvolvimento de programas de agricultura e de pecuária na área do projecto, que

beneficiem toda a população (não apenas as PAPs), que possam incluir:

o Extensionistas, campos de demonstração, insumos e ferramentas;

o Compra da produção para abastecer os trabalhadores do projecto.

Se a terra agrícola for adquirida pelo projecto, dar às PAPs terra agrícola alternativa com

características tão semelhantes quanto possíveis e à mesma distância da residência do

agregado familiar);

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

111

Encorajar os agricultores a se organizarem em associações, em vez de interagir de forma

individual, de forma a facilitar a implementação de programas agrícolas e a compra da produção.

Questão 5: Ruptura da coesão social e património cultural

Impacto 5.1: Ruptura das relações e coesão social

As DGF mostram que as comunidades na área do projecto são pequenas, com coesão e relações

sociais fortes, e que isto é definido em termos característicos pelas suas redes sociais de apoio. Os

habitantes conhecem-se todos uns aos outros, os vizinhos interagem todos os dias e muitas vezes

partilham laços de família; os membros da comunidade juntam-se em momentos de celebração

(p.ex., colheitas, cerimónias de chuva) e de luto (p.ex., funerais), e a maior parte dos conflitos é

resolvida localmente com a mediação dos líderes locais.

Se a necessidade de reassentamento se confirmar, poderá haver uma ruptura nas relações sociais

afectando tanto os agregados familiares reassentados como a comunidade de origem. As famílias

reassentadas poderão perder as suas importantes redes sociais de apoio e o seu sentimento de

pertencer à comunidade, enquanto a força e coesão da comunidade de origem podem ficar

sobrecarregas. É provável que isto aconteça antes do início da fase de construção, aquando do

reassentamento, e continuar durante toda a fase de operação.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, se os locais de reassentamento forem distantes da comunidade de

origem das famílias reassentadas.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, se o reassentamento for implementado dentro ou perto da comunidade

afectada.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem miti gação

Longo prazo

Área de estudo

Grave Poderá ocorrer

MODERADA

Com mitigação Médio prazo

Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

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112 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Medidas de mitigação

Reassentar as famílias afectadas dentro ou tão próximo quanto possível às suas comunidades

de origem;

Na zona de reassentamento, manter a mesma estrutura de vizinhos que a da comunidade

afectada;

Se não for possível garantir esta primeira medida, envolver as organizações religiosas e

comunitárias na integração das famílias reassentadas, com atenção particular para as famílias

vulneráveis.

Impacto 5.2: Conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local

O estudo de base indica baixos níveis de escolaridade entre a população da área do projecto. Como

tal, é provável que seja necessário recrutar mão-de-obra qualificada de outras partes, dentro e fora

do país, para a construção e operação do projecto.

A presença de trabalhadores de fora poderá provocar conflitos com a população local, como

resultado de diferenças em termos de riqueza, amenidades, acesso a serviços sociais, práticas

culturais e religiosas, e também a sensação de que estes estão a “roubar” o emprego dos

trabalhadores locais (contudo as DGF revelaram que, para a comunidade, os benefícios do projecto,

em termos de infra-estruturas e serviços sociais, são mais importantes do que o emprego). Os

trabalhadores de fora poderão ter comportamentos que, de acordo com as normas locais, são

socialmente inaceitáveis, nomeadamente embriaguez e desconsideração/ desrespeito pelos

costumes locais. Adicionalmente, a presença de homens solteiros poderá também provocar conflitos

relacionados com as mulheres locais.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que o impacto poderá causar tensões na estabilidade social.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, visto que o impacto será localizado.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Médio prazo

Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

113

Medidas de mitigação

Fazer com que as regras e oportunidades de recrutamento e de procurement sejam

transparentes e acessíveis ao público. A informação sobre as oportunidades de emprego deve

ser disponibilizada fora do acampamento da mina, possivelmente com o envolvimento de líderes

locais. O responsável pelos Recursos Humanos, juntamente com o Oficial de Ligação com a

Comunidade (CLO) a ser nomeado para o projecto, serão responsáveis por este assunto,

baseado no Plano de Procurement do projecto;

Concentrar os trabalhadores do projecto de fora da comunidade dentro do recinto do projecto, e

permitir que tragam as suas famílias (particularmente relevante para longas estadias durante a

fase de operação);

Explicar aos trabalhadores, durante a indução sobre Saúde e Segurança, a importância de se

manter uma boa relação com as comunidades locais;

Fazer com que o CLO seja responsável por tratar das queixas da população local acerca do

comportamento dos trabalhadores do projecto;

Conceber e implementar um Código de Conduta para os trabalhadores e fornecedores do

projecto. As normas devem incluir, inter alia, o respeito pelas comunidades locais e a proibição

do uso de mão-de-obra explorada e prostituição nos estaleiros.

Impacto 5.3: Perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou seu acesso

O relatório do Estudo sobre o Património Cultural, elaborado para este projecto, indica que vários dos

locais arqueológicos, sagrados e religiosos que são importantes para o bem-estar espiritual da

população local, serão afectados pelo projecto. A terra a ser adquirida para o projecto poderá

implicar a destruição, ou uma redução no acesso a estes locais sagrados durante a fase de

construção do projecto, e acesso reduzido/ nenhum acesso a estes locais durante a fase de

operação. Isto poderá ter um impacto negativo no sentido de bem-estar da comunidade e a sua

aceitação do projecto.

De acordo com as DGF, estes locais incluem locais de celebração das cerimónias de chuva e

florestas sagradas associadas, locais de ritos de iniciação e florestas sagradas associadas, campas

familiares e cemitérios comunitários. Estes locais encontram-se próximos das comunidades, com a

excepção dos locais de ritos de iniciação que são mais distantes, nas matas circundantes.

As DGF revelaram que os membros da comunidade acreditam que os antepassados das famílias

locais estão presentes nestes locais, e oferecem protecção e fortuna às famílias e comunidades, por

meio de cerimónias a serem celebrados nos locais sagrados, liderados pelos anciãos da

comunidade. Deste modo, uma relação harmoniosa com os ancestrais é um factor importante para o

bem-estar e sucesso na vida quotidiana dos membros da comunidade. As DGF também relevaram

que as comunidades da área do projecto continuam a realizar cerimónias regulares nos locais

sagrados, e dependem dos seus líderes locais, incluindo os anciãos e líderes tradicionais, para a

mediação com os espíritos ancestrais e fortuna na sua vida quotidiana (Anexo D: Matriz de Análise

Qualitativasob os temas coesão social e locais históricos e sagrados).

De acordo com as DGF, não existe nenhuma experiência com a transladação de locais sagrados,

incluindo campas, nas comunidades da área do projecto. No que diz respeito às campas e cemitérios

comunitários, todas as comunidades com a excepção de duas (Matacale e Mbuzi) concordam com a

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114 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

possibilidade de transferir as campas, caso forem realizadas cerimónias de modo a obter autorização

do espírito da pessoa falecida e a campa for fisicamente transladada para outro local. As campas

transladadas devem permanecer próximas da casa da família da pessoa falecida.

Além disso, duas comunidades (Matacale e Mboza) declararam que as árvores sagradas (como as

que são utilizadas para a cerimónia da chuva) e as florestas associadas não podem ser transferidas.

Será importante realizar uma consulta comunitária sobre como lidar com o impacto que o projecto

terá sobre estes locais, antes de realizar qualquer actividade relacionado com o projecto. Com este

processo de consulta, será possível chegar a uma solução viável para as comunidades que

declararam não ser possível transferir os locais sagrados e cemitérios identificados na área do

projecto – assegurando que não haverá interferência nestes locais e que manter-se-á o acesso aos

mesmos durante a fase de operação, ou então negociando a transferência para outro local, sem

alterar as cerimónias sagradas aí realizadas.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que poderá alterar o bem-estar espiritual e a estabilidade das

comunidades, com impacto negativo na sua aceitação do projecto bem como na adaptação social

das famílias reassentadas.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, visto que as perturbações ao bem-estar espiritual e à estabilidade serão

mínimas.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo Área de estudo

Grave Poderá ocorrer

MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Limitar a transladação de campas (campas familiares/ cemitério comunitário) ao mínimo possível,

ajustando o Cdl como necessário;

No caso de transladação inevitável de campas, deverá ser feito o seguinte antes das campas

serem destruídas ou o seu acesso bloqueado:

Realizar uma consulta comunitária sobre como lidar com os impactos do projecto sobre os

locais sagrados, antes de realizar qualquer actividade relacionada com o projecto, com o

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

115

objectivo de chegar a consenso com as comunidades sobre os requisitos necessários em

termos de cerimónias e de compensação;

o Durante a implementação do Plano de Acção para o Reassentamento, chegar a acordo em

relação às transferências e organizar as mesmas com as famílias a quem pertencem, através

dos líderes tradicionais e as autoridades locais. No caso de haver apenas transladação de

campas sem o reassentamento das famílias, as campas devem ser transladadas para um

local acordado com as famílias, em coordenação com os líderes comunitários e, se possível,

próximo das famílias a que pertencem;

o No caso de haver reassentamento (transferência tanto das campas como dos agregados

familiares), definir uma área para o cemitério público no local de reassentamento, com a

capacidade para acomodar a população reassentada bem como as campas transladadas. As

campas afectadas devem ser transferidas para este cemitério, mediante acordo das famílias

reassentadas.

Realizar cerimónias e ritos para a transferência de campas, em conformidade com as crenças

religiosas a cultura local. Embora as autorizações para a transladação de campas devem ser

obtidas individualmente de cada uma das famílias a que pertencem, a negociação sobre como

conduzir o processo de exumação e transladação das campas tem que ser discutido e acordado

colectivamente entre todas as famílias afectadas e os líderes comunitários, para que seja

acordada e aplicada uma solução comum a todas as famílias (ex. as cerimónias e rituais que

devem ser realizadas). O proponente do projecto deverá custear todas as despesas relacionadas

com o processo acordado para transladação de campas.

Algumas famílias poderão não ser capazes de indicar as transladação dos seus antepassados

porque os mesmos desapareceram devido aos processos naturais de deposição. Contudo, serão

capazes de indicar em que cemitério os antepassados foram sepultados. Neste caso, as famílias

receberão o pacote de exumação e transladação de campas colectivamente acordado, mas será

possível entregarem as campas à responsabilidade do proponente do projecto;

Se for necessário reassentar a comunidade, a selecção do local de reassentamento deverá

tomar em consideração o acesso contínuo aos locais sagrados existentes (como cemitérios e

locais de cerimónias de chuva) a pé.

Para mais informação relacionada com os impactos do projecto sobre os locais sagrados e outros

locais de património cultural, refira-se ao Relatório sobre o Património Cultural elaborado para o

projecto pela COWI.

Questão 6: Saúde e segurança

Impacto 6.1: Perturbação das comunidades circundantes como resultado de níveis mais elevados de ruído e de vibração

Dependendo do número e das características do equipamento a ser utilizado para a sua construção

e operação, o projecto poderá provocar um aumento significativo nos níveis temporários e

permanentes de ruído e de vibração. O ruído produzido se enquadra no contexto da exposição

profissional no microclima do local de trabalho, e no contexto da poluição ambiental e distúrbio ao

bem-estar dos trabalhadores e dos transeuntes.

Espera-se ruídos tanto na fase de construção como na fase de operação, com as explosões das

minas. É provável que isto seja limitado à área de mineração, devido às seguintes actividades e

factores:

Explosão (detonação);

Movimentação de veículos de construção;

Operação de maquinaria pesada (compressores, martelos pneumáticos, perfuradores

pneumáticos);

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116 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Vibrações como resultado da movimentação de terras e compactação das camadas de base

durante a fase de construção;

Trabalhos de construção em dias de ventos fortes;

Actividade de construção da área de mineração e do acampamento do projecto.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo elevado”, considerando os ruídos causados pelas explosões (detonações) nas

minas.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, visto que o impacto nas comunidades na vizinhança da área do projecto será

moderado.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Reduzido Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Área de estudo

Grave Provável ELEVADA

Com mitigação Médio prazo

Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Se houver reassentamento, devem ser seleccionados locais de reassentamento a uma distância

de pelo menos 1.02 km dos locais de explosão/detonação das minas, conforme recomendado no

Relatório de Avaliação da Indústria Mineira. Este assunto será discutido e acordado com as

Administrações Distritais de Chiúta e Moatize56

Concentrar todas as actividades de construção durante as horas do dia;

Inspeccionar os veículos e o equipamento regularmente para garantir o seu bom funcionamento

e reduzir a emissão de gases/ruídos;

Evitar trabalhos de construção em dias de ventos fortes;

Providenciar equipamento de protecção auditivo (abafadores auditivos) para o pessoal que

trabalha directamente com maquinaria que produz ruídos, e para as pessoas que frequentam

áreas em que há ruído excessivo;

Instalar silenciadores e mecanismos de controle de ruídos (isolamento) no equipamento e

maquinaria que geram elevados níveis de ruído;

56

Considerando que a Administração destes distritos recomendou anteriormente a selecção de locais de reassentamento a

uma distância de 5 km do local de explosão/detonação da mina.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

117

Transportar os materiais dentro dos limites de carga e de velocidade do equipamento. A

velocidade máxima em estradas não pavimentadas não deve exceder 20 km/h.

Impacto 6.2: Segurança Rodoviária

Os trabalhos de construção e as actividades de operação da mina envolverão um trânsito intensivo

de veículos e equipamento pesado a nível local, com um aumento significativo do tráfego na área do

projecto. Como resultado, e considerando o mau estado da rede rodoviária na área do projecto,

poderá haver um aumento no número de pessoas (principalmente crianças) e de animais

atropelados, uma vez que a população local está habituada a um trânsito muito lento. Esta questão e

especialmente preocupante para a comunidade de Mboza, localizada próxima da estrada de

transporte projectada.

Sem mitigação

Se não forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo moderado”, visto que haverá um aumento de tráfego em toda a fase de operação.

Com mitigação

Se forem implementadas medidas de mitigação, considerar-se-á a significância do projecto como

sendo “negativo baixo”, visto que o aumento de tráfego será sentido a médio prazo e a nível da área

de estudo.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Regional Moderado Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Regional Moderado Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderado Poderá ocorrer

BAIXA

Medidas de mitigação

Ao longo da estrada de transporte projectada:

o Construir bermas ao longo da estrada para limitar o acesso dos pedestres à estrada;

o Contratar e formar sinalizadores de bandeira para orientar os motoristas e pedestres nas

áreas com muito trânsito e nas zonas de travessia de estradas utilizadas pela população

local;

o Notificar as comunidades, via o CLO, sobre os períodos de grande movimentação nas vias

principais;

Instalar sinalização clara, direccionado a todos os motoristas, sobre rotas alternativas, restrições

de velocidade e desvios na estrada enquanto decorrem as obras;

Observar os limites de velocidade para os veículos de construção (20 km/h em estradas não

pavimentadas e reguladas por sinalização em vias pavimentadas);

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118 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Durante a fase de construção, levar a cabo campanhas de sensibilização de trânsito em todas as

comunidades localizadas a pelo menos 1 km da estrada de transporte, para educar as

comunidades sobre o perigos e os procedimentos de segurança;

Durante a fase de construção, limitar a circulação de maquinaria pesada e de veículos pesados

durante as horas do dia (06H00 – 17H00).

Impacto 6.3: Poluição (resíduos e águas residuais)

Como já foi explicado, as comunidades na área do projecto dependem de estratégias de subsistência

e geração de rendimento baseadas na terra. Os recursos naturais disponíveis, bem como os rios e

ribeiros, são importantes para as comunidades. Para além disso, as comunidades praticam a

agricultura de subsistência de sequeiro nas margens dos rios e ribeiros, tirando partido do solo

húmido.

Durante as entrevistas e as DGF, tanto as autoridades distritais como as comunidades mostraram-se

preocupadas com o potencial do projecto de aumentar a produção de resíduos e poluir a água e os

solos. Não existem unidades para a remoção de resíduos para indústrias de grande escala na área,

mas já existem outros projectos de exploração mineira à volta da área do projecto (ver Figura 45: ).

Sem mitigação

Caso não se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “muito negativa”,

se a poluição afectar o solo para a agricultura e a água do rio para consume e pesca, que são

essenciais para a subsistência das comunidades locais.

Com mitigação

Caso se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “pouco negativa” pois a

poluição será mantida a níveis mínimos e não perturbará as actividades de subsistência das

comunidades.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Severa Pode ocorrer MODERDA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Regional Severa Pode ocorrer ALTA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Pode ocorrer BAIXA

Medidas de mitigação

Para resíduos sólidos:

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

119

Realizar sessões de consciencialização sobre gestão de resíduos para os trabalhadores do

projecto;

Definir e implementar procedimentos para a gestão de resíduos sólidos de forma a incluir, no

mínimo:

o Proibição da remoção de resíduos no ambiente exterior, aplicável a todos os trabalhadores;

o Manuseamento, armazenamento, tratamento, transporte e remoção de resíduos no

acampamento da construção e nos locais da construção;

Fazer inspecções e monitoria dos procedimentos de gestão de resíduos durante a

implementação do projecto;

Para águas residuais:

Realizar sessões de consciencialização sobre a qualidade da água e gestão de águas residuais

para os trabalhadores do projecto;

Definir e implementar procedimentos para a gestão de águas residuais de forma a incluir, no

mínimo:

o Durante a fase de construção, montar casas-de.banho móveis nas áreas de construção;

o Manuseamento, armazenamento, tratamento, transporte e remoção de águas residuais no

acampamento da construção e nos locais da construção;

Fazer inspecções e monitoria dos procedimentos das águas residuais tratadas antes da

descarga, durante a implementação do projecto.

Além disso:

O relatório do Programa de Gestão Ambiental (PGA) deve ser consultado, e devem-se tomar

medidas adequadas, em linha com as recomendações neste relatório, para implementação pelo

empreiteiro e operador do projecto (através de obrigações contratuais, se necessário);

É necessário monitorar, de forma regular, a qualidade da água dos rios e ribeiros, bem como a

qualidade do solo na área do projecto, usada pelas comunidades;

Permitir que os membros das comunidades apresentem qualquer reclamação sobre poluição

através do Mecanismo para Reclamações (desenhado como parte do PAR, caso se confirme o

reassentamento), ou através do CLO.

Impacto 6.4: Maior incidência de doenças transmissíveis (HIV/SIDA, STDs) e relacionadas com vectores

O DGF revelou surtos de cólera, disenteria e malária nas comunidades da área do projecto, datando

o mais recente até 2012. Estas doenças transmitidas por vectores estão ligadas a cheias e à época

chuvosa. É importante notar que as comunidades da área do projecto estão todas localizadas perto

de um leito de água, utilizam saneamento básico (latrinas e queima ou remoção de resíduos num

buraco no quintal) e são servidas por serviços de saúde básicos.

Face a isto, e à concentração de grandes números de trabalhadores e fornecedores de serviços

(principalmente camionistas) na área, pode haver um aumento de doenças transmissíveis tais como

HIV/SIDA e de outras doenças transmissão sexual (STD). Não só haverá uma grande concentração

de trabalhadores a viver ou a fazer a viagem para a área, mas estes podem gastar dinheiro em lazer

e entretenimento, estão longe da família e mais inclinados a ter comportamentos sociais negativos.

Assim, há uma grande probabilidade do projecto atrair trabalhadoras de sexo, de alguns membros da

comunidade se envolverem em sexo casual por dinheiro e de trabalhadores/fornecedores de serviços

do projecto terem sexo sem protecção. A conjugação destes factores irá, provavelmente, aumentar a

incidência do HIV/SIDA e de outras STD na área do projecto.

A concentração de um grande número de trabalhadores do projecto aos quais será necessário

fornecer serviços de água, saneamento e remoção de resíduos, aliados às águas estagnadas usadas

Page 120: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

120 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

na actividade de exploração mineira, podem também causar um aumento nas doenças transmitidas

por vectores (cólera, disenteria e malaria) na área do projecto.

O aumento na incidência de doenças transmissíveis e transmitidas por vectores deverá começar na

fase de construção e continuar ao longo da fase de operação.

Sem mitigação

Caso não se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “muito negativa”,

tendo em conta a falta de serviços de água/saneamento/saúde na área.

Com mitigação

Caso se implementem medidas de mitigação, a significância do projecto será “baixa”, se houver

serviços de saúde e medidas de controlo do comportamento dos trabalhadores.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Regional Grave Provável ALTA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Pode ocorrer BAIXA

Medidas de mitigação

Recomendam-se as medidas de mitigação seguintes para doenças transmitidas por vectores:

Em coordenação com as autoridades Distritais de saúde:

o Construir unidades de saúde para as comunidades no projecto, a nível regional;

o Realizar campanhas de educação cívica para a população local sobre como evitar doenças

transmissíveis e doenças transmitidas por vectores;

o Realizar campanhas de educação cívica sobre a importância da utilização de água tratada e

o risco de usar água não tratada de poços ou ribeiros;

o Organizar programas para a distribuição em grande escala de purificadores de água;

Em linha com a necessidade das autoridades Distritais por infra-estrutura social, e como parte do

Plano de Subsistência das Comunidades, ou do próprio Plano de Responsabilidade Social do

proponente do projecto, construir infra-estrutura para melhorar os padrões de saúde locais tais

como bombas manuais, latrinas e aterros sanitários. Se necessário, esta infra-estrutura pode

também ser utilizada pelos trabalhadores.

Recomendam-se as medidas seguintes para doenças transmissíveis:

Page 121: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

121

Realizar campanhas de consciencialização para os trabalhadores sobre a transmissão das STD

e HIV/SIDA, incluindo comportamentos de risco;

Distribuir preservatives gratuitos na área do projecto;

Recrutar uma organização especializada para implementar actividades de consciencialização

sobre STD e HIV/SIDA a nível da comunidade, com atenção especial às trabalhadoras de sexo,

mulheres e raparigas;

Encourajar os funcionários a fazerem testes de HIV (fora do âmbito do contrato de trabalho);

Encourajar os funcionários a tartar as STD na fase inicial de infecção/diagnóstico e criar

condições para este fim (incluindo autorizar licenças de curto prazo para tratamento no posto de

saúde e financiar os cuidados de saúde dos trabalhadores);

Encaminhar os trabalhadores para as clínicas para tratamento atempado e monitoria de

infecções secundárias/oportunistas tais como tuberculose, gripe e pneumonia.

Impacto 6.5: Aumento das doenças ocupacionais resultants das actividades de

construção

Durante as fases de construção e operação, os trabalhadores do projcto serão expostos a situações

de risco no decorrer das suas actividades. Existe a possibilidade de acidentes tais como quedas e

exposição a ruído e poeira que pode resultar em fatalidades ou em doenças ocupacionais,

dependendo do tipo de materiais usados na construção e da exposição a certos químicos.

Na abertura da mina e na construção das instalações do projecto, pode ser necessário trabalhar em

altura, o que pode resultar em ferimentos ou fatalidades, especialmente quando não existem

medidas de protecção adequadas, ou quando as mesmas não são respeitadas. Para além do risco

de quedas, podem ocorrer outros acidentes e fatalidades tais como colisões e incidêncios, e

acidentes com maquinaria e veículos.

Sem mitigação

Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative

moderada”, tendo em conta a sua duração de longo prazo (fase de operação).

Com mitigação

Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,

considerando que, se o impacto ocorrer, será localizado.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA

Com mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo prazo

Localizado Moderada Provável MODERADA

Com mitigação Médio prazo

Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Page 122: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

122 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Medidas de mitigação

Avaliar a condição física e psicológica dos trabalhadores que trabalham em altura e atribuir

pessoas saudáveis para essas tarefas;

Todos os trabalhadores envolvidos na construção devem receber formação em saúde e

segurança ocupacional antes de entrar no projecto e participar em Diálogos Diários sobre Saúde

e Segurança (DHS); Consciencialização sobre saúde e segurança no local de trabalho é uma

component chave no cumprimento da legislação Moçambicana para a prevenção de acidentes.

Os trabalhadores devem receber formação para poderem identificar os riscos associados ao seu

trabalho e saberem como proceder em situações de emergência;

Disponibilizar equipamento de protecção pessoal e monitorar o seu uso;

Assegurar que os trabalhadores têm formação e estão preparados para lidar com acidentes;

Preparar um kit de primeiros socorros e dar formação a todos os trabalhadores sobre a sua

utilização;

Elaborar um manual com procedimentos de segurança para a construção e operação do

projecto, para divulgação através de formação em saúde e segurança ocupacional. Este manual

deve conter (mas não estar limitado) ao seguinte:

o Informação sobre a construção e materiais de trabalho (folhetos com resumos dos riscos,

especificações de segurança, manuseamento, transporte e armazenamento);

o Os riscos principais associados aos vários processos de construção e operação, com regras

de segurança no trabalho associadas; e,

o Sinalização a usar no trabalho e procedimentos a adopter em caso de acidentes.

Fazer inspecções regulares do equipamento de trabaho usado em altura ou espaços confinados.

Impacto 6.6: Exploração da mão-de-obra

Como já foi explicado, a construção e operação do projecto resultarão num influx de mão-de-obra e

de pessoas exteriores à área do projecto, em busca de trabalho e oportunidades de negócios na área

do projecto.

Isto pode atrair para a área do projecto elementos que viajam para realizar actividades ilegais

incluindo exploração laboral e sexual, particularmente de crianças, conforme observado em outros

grandes projectos de construção em Moçambique57

.

Sem mitigação

Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative

moderada”, tendo em conta o potencial efeito regional do impacto.

Com mitigação

Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,

considerando que é pouco provável que o impacto ocorra, e caso ocorra, o mesmo será confinado à

área do projecto.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

57

Save the Children UK e Norway. (2006). A bridge across the Zambezi.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

123

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Pode ocorrer BAIXA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Ligeira Improvável BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Ligeira Improvável BAIXA

Medidas de mitigação

Proibir todos os trabalhadores, sub-empreiteiros e fornecedores de serviços de se envolverem na

exploração laboral e sexual, através de disposições contratuais para a aplicação dessa proibição;

Fortalecer a presença da Inspecção de Actividades Económicas e da Polícia nas áreas com

maiores concentrações de pessoas;

Promover a colaboração entre a comunidade e a Polícia na denúncia de suspeitas ou de casos

de exploração;

Limitar o acesso das crianças às áreas de trabalho;

Sensibilizar os trabalhadores para a proibição de se envolverem na exploração laboral e sexual,

bem como sobre os riscos e consequências da exploração, e os passos a tomar na presença de

um tal caso;

Dar formação ao CLO para abordar casos de exploração laboral e sexual relacionados com o

projecto.

A Estratégia de Prevenção de Tráfico de Pessoas, adoptada pelo Millennium Challenge Account –

Moçambique, para grandes projectos de infra-estrutura pode fornecer orientações úteis.

Questão 7: Aceitação do projecto

Impacto 7.1: Elevadas expectativas de benefícios do projecto

Nuam área de baixo desenvolvimento socioeconómico como a área do projecto, podem haver

grandes expectativas sobre os benefícios do projecto (compensação pela perda de bens, melhoria da

infra-estrutua social e serviços, emprego). Embora a compensação pela perda de bens deva ocorrer

antes do início da fase de construção, as expectativas dos benefícios do projecto deverão continuar

ao longo da fase de operação.

As DGF com as comunidades na área do projecto e as entrevistas com funcionários do governo

revelaram que têm grandes expectativas sobre os benefícios do projecto em termos da melhoria de

infra-estrutura social e serviços. As comunidades têm uma boa percepção das prioridades e esperam

que o projecto as aborde a médio prazo. O governo distrital está preocupado que os benefícios de

infra-estrutura social/serviços afectem o desenvolvimento do distrito e não apenas a área do projecto,

e pediu para ser consultado com relação aos mesmos.

Confirma-se que o projecto resultará na perda de bens (infra-estrutura, machambas, culturas, árvores

e outros recursos naturais), e podem também haver grandes expectativas em termos da

compensação pela perda desses bens. Isto é particularmente verdadeiro para o Distrito de Moatize,

onde já decorreram outros processos de reassentamento e compensação e a população local pode

já ter expectativas antes do projecto começar. O governo Distrital de Moatize já indicou experiências

negativas com benefícios de projectos anteriores.

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124 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Sem mitigação

Sem a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negativa

moderada”, considerando que é provável que as elevadas expectativas criem conflitos e reduzam a

aceitação do projecto, mas apenas na área do projecto.

Com mitigação

Com a implementação de medidas de mitigação, a significância do projecto será “negative baixa”,

considerando que é provável que as altas expectativas criem conflitos e reduzam a aceitação do

projecto a nível regional.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Área de estudo

Grave Provável MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Pode ocorrer BAIXA

Medidas de mitigação

Por favour consulte as medidas de mitigação do Impacto 7.2: Conflitos ao nível da comunidade

devido às diferenças nos benefícios do projecto, que são aplicáveis aos dois impactos.

Impacto 7.2: Conflitos ao nível da comunidade devido às diferenças nos benefícios do projecto

Como já foi explicado, devido aos baixos níveis de desenvolvimento socioeconómico e ao

desemprego na área do projecto, podem haver grandes expectativas sobre os benefícios do projecto

(compensação pela perda de bens, melhoria de infra-estruturas sociais e serviços, emprego).

Benefícios diferentes podem criar conflitos entre os agregados e as comunidades na área do

projecto, o que pode ter um impacto negative na estabilidade social e na aceitação do projecto.

Assim, é preciso evitar diferenças nos benefícios do projecto e, quando tal não for possíve (por

exemplo, devido a perdas diferentes), é preciso explicar as razões para as diferenças de forma clara

à PAP e à comunidade desde o inicio. Na medida do possível, devem-se estender os benefícios da

infra-estrutura social e serviços melhorados a toda a comunidade, em vez de limitar à PAP.

Sem mitigação

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

125

Sem mitigação, a significância do projecto será “negativa alta”, considerando que o impacto pode ser

grave a nível regional, particularmente na fase de operação.

Com mitigação

Com mitigação, a significância do projecto será “negativa baixa”, tendo em conta que o impacto sõ

será sentido na área do projecto.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou probabilidade

Significância global

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Regional Grave Definitiva MODERADA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Moderada Pode ocorrer BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Médio prazo

Regional Grave Definitiva ALTA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Medidas de mitigação

Fornecer compensação pela perda de bens antes do início da fase de construção;

Organizar os benefícios do projecto em consulta com o governo distrital, para os harmonizar com

as experiências passadas e presentes no distrito, de forma a evitar uma distribuição

desiquilibrada dos benefícios do projecto;

Conceber benefícios do projecto em termos de infra-estrutura social e serviços melhorados para

toda a comundiade e não só para as PAP;

Elaborar e implementar um Plano de Envolvimento das Partes Interessadas para abordar as

comunidades na área do projecto, observando as recomendações seguintes:

o Discutir a implementação de medidas de mitigação/melhoria com a comunidade de forma

honesta, aberta, flexível e respeitosa; isto é particularmente importante para as medidas

relacionadas com os impactos mais temidos pela comunidade: reassentamento, perda de

terreno agrícola e perda de locais sagrados. Evitar promessas irrealistas às famílias e

comunidades afectadas pelo projecto que serão difíceis de manter;

o Deve-se evitar uma interacção directa com as comunidades e pessoas afectadas pelo

projecto. Os líderes locais e, na medida do possível, as autoridades distritais, devem estar

sempre presentes nesta interacção. Isto limitará PAP ilegíveis, mal entendidos sobre as

perdas e benefícios e ajudará a melhorar a comunicação, favorecendo a aceitação do

projecto.

o Implementar medidas de mitigação/melhoria em coordenação com o governo distrital ou,

quando possível, permitir ao governo distrital implementar tais medidas (com recursos e

apoio fornecido pelo projecto);

o Instalar um mecanismo para reclamações acessível e eficaz, ao qual estará atribuído, a

tempo inteiro, um oficial do projecto para gerir os processos das reclamações e reporter

directamente ao Comité Técnico para a Análise de Planos de Reassentamento;

o Indicar um Oficial de Ligação com a Comunidade (CLO), responsável pela comunicação

regular com as comunidades e autoridades, bem como por abordar as necessidades das

comunidades em nome do projecto;

o Envolver as comunidades locais o mais possível na implementação das medidas de

mitigação/melhoria. Podem fornecer mão-de-obra e fiscalizar o trabalho de implementação.

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126 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

5.2.2 Impactos Positivos

Questão 4: Criação de emprego e crescimento socioeconómico

Impacto 4.3: Contratação e formação de mão-de-obra local

De acordo com o DGF e o levantamento inicial, há uma geral falta de emprego formal na área do

projecto e os agregados são, principalmente, trabalhadores independentes na agricultura, pesca e

produção/venda de lenha e carvão.

A construção e operação do projecto pode criar oportunidades de emprego e formação de mão-de-

obra local, tanto de homens como mulheres. Devido à falta de anteriores projectos de mineração na

área, pode haver uma falta de mão-de-obra qualificada para atividades de mineração. É provável que

trabalhadores não qualificados estejam disponíveis para tarefas simples como limpeza de rota e

terrenos, deslocações de terra, abertura de valas e segurança. Com a oferta de formação técnica,

mão-de-obra qualificada pode estar disponível para tarefas técnicas mais simples e operação de

maquinaria. Se combinado com a agricultura, o trabalho pago pode levar ao aumento do rendimento

e melhorar os padrões de vida das famílias, e também ao fortalecimento da economia local.

Sem melhoria

Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva

baixa”, considerando que este impacto não será substancial ou sustentável.

Com melhoria

Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva moderada

", considerando que as oportunidades de trabalho também existem na fase de operação.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou

Probabilidade

Significância

Geral Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA

Com mitigação Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA

Com mitigação Médio

prazo

Regional Moderada Provável MODERADA

Medidas de melhoria

Ter regras de recrutamento e contratação e oportunidades transparentes e acessíveis ao público.

A informação sobre oportunidades de emprego deve ser disponibilizada fora do campo de

mineração, possivelmente com a participação da liderança local. O Director de Recursos

Humanos, em conjunto com o CLO, será responsável por isto com base no Plano de Aquisições

do projecto. A fim de evitar a concentração de quem procura emprego junto aos portões do

projecto, pode ser necessário contratar agentes de recursos humanos;

Page 127: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

127

Priorizar a mão-de-obra local das comunidades na área do projecto e comunidades vizinhas, com

igualdade entre os sexos. Devido à falta de projectos de mineração anteriores na área, pode

haver falta de mão-de-obra qualificada. Mão-de-obra não qualificada poderá estar disponível

para tarefas simples como abertura de valas e segurança. Com a oferta de formação técnica,

mão-de-obra qualificada pode estar disponível para tarefas técnicas mais simples e operação de

maquinaria.

Impacto 4.4: Procura por bens e fornecedores de serviços locais

A construção e operação do projecto vai exigir materiais de construção e de bens que estão

disponíveis localmente e ir ao encontro dos padrões do projecto, como a madeira, areia, pedra, água

e comida.

Se for tomada a decisão de utilizar os bens disponíveis localmente, será necessário aumentar a

produção local para atender às necessidades e padrões do projecto, sem interferir com a

subsistência da população local (especialmente itens alimentícios). Isso pode estimular os

fornecedores de serviços locais, fortalecer a economia local e transformar a área do projecto num

pólo de desenvolvimento para o distrito. O rendimento obtido com a prestação de bens e serviços

para o projecto, ao longo da sua operação, também pode ajudar a melhorar os padrões de vida das

comunidades na área do projecto.

Sem melhoria

Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva

baixa", considerando que pode não haver mudanças significativas para a economia atual na área do

projecto.

Com melhoria

Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será " positiva alta",

considerando que o impacto pode impulsionar a economia regional.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou Probabilidade

Significância Geral

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Benéfica Provável MODERADA

Fase de Operação

Sem mitigação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA

Com mitigação Médio prazo

Regional Benéfica Provável ALTA

Medidas de melhoria

Tenha regras de contratos e oportunidades transparentes e acessíveis ao público. Esta será da

responsabilidade do CLO (ver Questão 7: Aceitação do projecto), como parte do Plano de

Aquisições do projecto;

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128 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Contratantes e operadores mineiros devem preferir culturas locais, carnes e peixes produzidos

localmente para se alimentar e à sua equipe.

Contratantes e operadores mineiros devem preferir materiais locais para a construção dos seus

acampamentos de empresas ou indivíduos locais.

Contratantes e operadores mineiros devem preferir serviços locais tais como a preparação de

alimentos, limpeza de instalações e lavandaria;

Se necessário, e caso a população local mostre interesse, providenciar formação e contributos

para a produção de alimentos, materiais de construção e prestação de serviços localmente para

o projecto.

Impacto 4.5: Melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial

O Decreto 31/2012 estabelece que o reassentamento deve ser transformado numa oportunidade

para o desenvolvimento local. O decreto também define o padrão da casa e terreno residencial que

deve ser fornecido ao PAP, assim como a necessidade da oferta de infraestrutura social e serviços.

Estes devem estar todos estabelecidos antes da fase de construção do projecto começar. A área do

projecto sofre de uma falta clara de planeamento e capacidade de desenvolvimento a nível de

Distrito, com excepção da Vila de Moatize, próxima localmente à comunidade de Mboza.

A casa típica na área do projecto é feita de canas, lama-e-paus e telhados de colmo, e carece de

serviços sociais básicos, tais como estradas, saúde, escolas, abastecimento de água potável,

saneamento e eletricidade. Com base nisto, e caso a necessidade de reassentamento seja

confirmada, os PAP devem beneficiar de casas melhores, mais seguras e de infraestruturas/serviços

sociais. Estes últimos irão também beneficiar a comunidade em que vivem os PAP. A oferta de

habitação, serviços sociais e de planeamento territorial, beneficiando tanto os PAP como a

comunidade de hospedagem deverá ter lugar antes do início da fase de construção.

Sem melhoria

Caso medidas de melhoria não sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva

baixa", considerando que não haverá nenhuma mudança significativa em relação aos níveis actuais

de condições habitacionais e de oferta de serviços sociais.

Com melhoria

Caso medidas de melhoria sejam implementadas, a importância do projecto será "positiva alta",

considerando-se que pode haver uma melhoria regional na oferta de serviços sociais.

Declaração de significância

Impacto

Efeito Risco ou Probabilidade

Significância Geral

Temporal Espacial Gravidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA

Com mitigação Curto prazo Área de estudo

Benéfica Provável MODERADA

Fase de Operação

Sem mitigação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA

Com mitigação Curto prazo Localizado Benéfica Improvável MODERADA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

129

Medidas de melhoria

Projetar o PAR em consonância com o Decreto 31/2012;

No projecto de casas reassentadas, considerar:

o O tamanho dos agregados familiares reassentados;

o A arquitetura de uma casa típica, incluindo quintal e vedação;

o A capacidade e disposição das PAP para pagar água, saneamento e eletricidade.

Sempre que possível, empregar pedreiros locais (PAP, membros da comunidade) para construir

as casas reassentadas, e comprar materiais de construção com fornecedores na área do

projecto. Esta última pode exigir a formação de pessoas na produção de melhores materiais de

construção, como tijolos queimados.

Faça o planeamento territorial para os locais de reassentamento, com o objetivo de beneficiar a

comunidade global de hospedagem em vez de apenas os PAP. O planeamento territorial deve

considerar as principais práticas de uso do solo da região, nomeadamente a agricultura, a

pecuária/pastagem e extração de recursos naturais;

Ao projetar as infraestruturas e serviços sociais, seja como parte do PAR (plano de

desenvolvimento da comunidade) ou separadamente, consulte a comunidade local e o governo

distrital sobre as prioridades em termos de infraestruturas e serviços sociais, assim como a

capacidade do governo de apoiar com recursos humanos para os serviços construídos (por

exemplo, professores, parteiras e técnicos de saúde);

Envolver a comunidade beneficiada na manutenção da infraestrutura social providenciada, para a

propriedade e sustentabilidade. Isto exige a prestação de apoio técnico (formação, ferramentas e

se possível um técnico da comunidade) e criação de comissões de gestão comunitária. Lições

valiosas podem ser aprendidas a partir de comités de gestão para bombas manuais, unidades de

saúde e escolas já em vigor na província de Tete.

Permitir que a população local use a estrada de transporte a ser construída para a Vila de

Moatize.

A Tabela 15 abaixo apresenta um resumo da classificação da importância dos impactos identificados.

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130 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Tabela 15: Resumo da classificação da importância dos impactos identificados

Impacto/ Fase do projecto

Sem Mitigação Com Mitigação

Escala temporal

Escala espacial Gravidade Probabilidade Significância Gravidade Significância

Impacto 1.1: reassentamento dos agregados

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Provável MODERADA

Operação Longo prazo Área de estudo Muito Severa Provável MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 1.2: Adaptação social e restauração dos meios de vida no pós-reassentamento

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 2.1: Perda de terra arável e de rendimento

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer MODERADA

Operação Permanente Regional Muito Severa Definitiva MUITO ALTA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 2.2: Menos acesso e mais competição pelos recursos naturais

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 2.3: Perda de rendimento e segurança alimentar

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 3.1: Perturbação da mobilidade e circulação de pessoas

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer MODERADA

Impacto 4.1: Influxo de trabalhadores externos e de pessoas à procura de emprego

Construção Curto prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 4.2: Abandono da agricultura a nível do agregado

Construção Curto prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Muito Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer MODERADA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

131

Impacto 4.3: Contratação e formação de mão-de-obra local

Construção Curto prazo Localizado Ligeira Pode ocorrer BAIXA Provável BAIXA

Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA

Impacto 4.4: Procura por bens e fornecedores de serviços locais

Construção Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável MODERADA

Operação Curto prazo Localizado Moderada Pode ocorrer BAIXA Provável ALTA

Impacto 4.5: Melhor habitação, serviços sociais e planeamento territorial

Construção Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Provável MODERADA

Operação Curto prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA Improvável MODERADA

Impacto 5.1: Perturbação das relações sociais e coesão

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 5.2: Conflitos entre trabalhadores do projecto e a população local

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 5.3: Perda de campas familiares, locais sagrados comunitários e/ou acesso aos mesmos

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.1: Perturbação das comunidades vizinhas como resultado do aumento dos níveis de ruído e vibração

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Área de estudo Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.2: Segurança rodoviária

Construção Curto prazo Regional Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.3: Poluição (ar, solo, água do rio)

Construção Curto prazo Área de estudo Severa Pode ocorrer MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Pode ocorrer ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.4: Maior incidência de doenças transmissíveis e relacionadas com vectores

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132 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Regional Severa Provável ALTA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.5: Aumento de doenças ocupacionais resultantes de actividades de construção

Construção Curto prazo Localizado Moderada Provável BAIXA Pode ocorrer BAIXA

Operação Longo prazo Localizado Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 6.6: Exploração da mão-de-obra

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Pode ocorrer BAIXA Improvável BAIXA

Operação Médio prazo Regional Moderada Pode ocorrer MODERADA Improvável BAIXA

Impacto 7.1: Elevadas expectativas sobre os benefícios do projecto

Construção Curto prazo Área de estudo Moderada Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Área de estudo Severa Provável MODERADA Pode ocorrer BAIXA

Impacto 7.2: Conflitos a nível comunitário devido a diferenças nos benefícios do projecto

Construção Curto prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA

Operação Médio prazo Regional Severa Definitiva ALTA Pode ocorrer BAIXA

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL

133

5.2.3 Impactos cumulativos

De acordo com as autoridades do Distrito, existem alguns projectos económicos activos nas

imediações da área do projecto, nomeadamente empresas madeireiras e mineradoras de carvão,

como Vale e Ncondezi. O projecto proposto deve coordenar as suas acções com os demais projectos

e agentes económicos presentes na área, tal como com o governo local, a fim de:

Criar sinergias, com o objetivo de maximizar os impactos positivos para as comunidades locais

(responsabilidade social, infraestruturas, empresas e serviços abertos às comunidades locais); e,

Evitar aumentar os impactos negativos sobre o meio ambiente biofísico, incluindo os recursos da

terra, da floresta e da água, que são importantes para a subsistência e economia das populações

locais.

A necessidade de sinergias foi sublinhada pelas autoridades distritais entrevistadas, que apontaram

que, em relação aos serviços sociais por exemplo, o governo pode ser capaz de fornecer os recursos

humanos para a infraestrutura social construída pelos proponentes do projecto (por exemplo,

professores de uma escola). Ambas as autoridades dos distritos de Moatize e Chiúta manifestaram

interesse em estabelecer parcerias com o projecto para o desenvolvimento de serviços sociais e de

infraestrutura; tal como já está a acontecer com outros projectos de desenvolvimento na área. Foi

enfatizado ainda que os benefícios dos projectos económicos deve beneficiar o distrito como um

todo, em vez de apenas a área do projecto. Este equilíbrio, entre distrito e área do projecto, terá que

ser alcançado na concepção das medidas de PAR e de compensação pelas perdas causadas pelo

projecto.

As autoridades distritais também mencionaram algumas experiências negativas resultantes de falta

de coordenação, resultando em tensos acessos aos recursos naturais e de seguida em agitação

social, o que na sua opinião poderia ter sido evitado. Estão também preocupados com a poluição e

desflorestação, com base em experiências com projectos de mineração anteriores.

Uma importante plataforma de coordenação para as atividades do projecto é a Comissão Técnica

para Acompanhamento e Supervisão dos Planos de Reassentamento (CTASR), que está prevista no

Decreto 31/2012. A CTASR é composta por técnicos distritais e provinciais, PAP e outros

intervenientes. O seu mandato é de rever o projecto dos PAR no distrito, com vista a harmonizá-los,

e supervisionar a implementação dos PAR, com o desenvolvimento regional e uma perspectiva de

equilíbrio de benefícios entre os diferentes projectos.

A Figura 45 abaixo mostra algumas das concessões de mineração nas proximidades da área do

projecto. Não foi possível representar as concessões de madeira, devido à falta de dados de

georreferências do governo distrital.

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134 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

Figura 45: Mapa de empresas de mineração vizinhas à área do projecto

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6 CONCLUSÃO

A conclusão geral do estudo e análise da AIS é que, se as medidas de mitigação

propostas forem devidamente aplicadas, os impactos esperados do projecto

justificam a implantação do projecto, porque os impactos negativos identificados

são geralmente de baixa magnitude, limitados e temporários, e compensados

pelos potenciais impactos positivos. No entanto, para que isso seja assim, deve

ser dada uma atenção especial à mitigação dos impactos mais significativos –

reassentamento e perda de terra agrícola. Devem ser feitos todos os esforços

para evitar estes dois impactos, incluindo a análise de um projecto de traçado

alternativo, para garantir que os agregados afetados pelo projecto pelo menos

mantêm, e não pioram, o padrão de vida que viviam antes da implementação do

projecto.

O projecto será implementado em uma área com baixos níveis de

desenvolvimento socioeconómico. As comunidades existentes dependem

fortemente de estratégias de geração de rendimento baseadas na terra ou

relacionadas com a terra, e a terra é o seu activo mais importante. As

comunidades existentes também apresentam um forte sentimento de pertença e

de coesão social. Dado o ambiente socioeconómico relativamente imperturbado

da área do projecto no momento, o projecto tem o potencial de trazer mudanças

perceptíveis para a vida das comunidades existentes.

Os impactos mais significativos são o reassentamento e a perda de terras de

produção agrícola, que devem ser devidamente tratados com as medidas de

mitigação recomendadas a fim de conquistar adesão ao projecto e aceitação da

população local e do governo, para garantir a futura sustentabilidade do projecto.

A perda de terras agrícolas e o reassentamento podem requerer que os

agregados afectados se adaptem a novas estratégias de criação de rendimento

com que não estão familiarizados, e pôr em risco a restauração do seu rendimento

e meios de vida. O reassentamento pode retirar às famílias as redes de apoio

social em que se apoiavam nas suas comunidades de origem, o que também pode

colocar em risco a restauração do seu rendimento e meios de vida. A perda de

locais sagrados pode afectar negativamente no sentimento de equilíbrio e bem-

estar da comunidade, o que limita a sua aceitação e adesão ao projecto.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

136

Minimizar o reassentamento, tanto quanto possível, permitindo o acesso à terra

agrícola existente e evitando a mineração em locais sagrados (ou, se não for

possível, minerar em locais sagrados com a autorização das chefias locais) são

algumas das medidas que irão influenciar bastante a recepção positiva do projecto

por parte das comunidades locais; mais do que uma compensação em dinheiro

pelos activos perdidos.

O projecto também pode trazer o desenvolvimento socioeconómico da região e

abordar algumas das muitas necessidades sociais prementes nas comunidades

existentes; sendo, portanto, uma real oportunidade para o desenvolvimento.

Se as adequadas medidas de mitigação do impacto negativo e as medidas de

melhoria de impacto positivo forem implementadas, o potencial do projecto para

promover o desenvolvimento sustentável socioeconómico da área será

materializado.

Finalmente, comunicar cedo e regularmente e consultar com as comunidades na

área do projecto é um aspecto vital para a aceitação e apropriação local do

projecto, o que beneficiará tanto as comunidades como o proponente do projecto.

É importante envolver as autoridades do Distrito no processo de comunicação e

de consulta com as comunidades, para garantir o alinhamento da gestão de

impacto do projecto com a de outros projectos no distrito e, mais amplamente, na

província de Tete.

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

137/189

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

138

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

140

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

141/189

Anexo A: Metodologia de Avaliação de Impacto

Para garantir um modo equilibrado e justo de avaliar a significância dos potenciais impactos, foi adoptada uma escala de avaliação padronizada na fase da AIA, fornecida pela CES. A escala de classificação adopta quatro factores-chave que são geralmente recomendados como melhores práticas em vigor em todo o mundo, que incluem:

1. Escala temporal: Esta escala define a duração de qualquer impacto ao longo do tempo. Esta pode estender-se desde um curto prazo (menos de 5 anos ou o período da fase de construção) até permanente. Geralmente quanto maior for o tempo de ocorrência do impacto, maior é a sua significância.

2. Escala espacial: Esta escala define a extensão espacial de qualquer impacto. Esta pode se estender desde a área local até um impacto que atravessa fronteiras internacionais. Quanto maior for a extensão do impacto, maior será a sua significância.

3. Escala de Severidade/Benefícios: Esta escala define como seriam severos os

impactos negativos, ou como seriam benéficos os impactos positivos. Esta escala negativa/positiva é fundamental para determinar a significância geral dos impactos. A Escala de Severidade/Benefícios é utilizado para avaliar a potencial significância dos impactos, antes e depois da mitigação, a fim de determinar a eficácia geral das medidas de mitigação

4. Escala de Probabilidade: Esta escala define o risco ou a chance de qualquer

impacto ocorrer. Enquanto muitos impactos geralmente ocorrem, existe uma incerteza considerável em relação a outros. A escala varia de improvável a definitivo, com o aumento da significância geral dos impactos à medida que probabilidade aumenta.

Estas quatro escalas são classificadas e recebem pontuações, conforme

apresentado na Tabela 0-1, para determinar a significância geral dos impactos. A

pontuação total é combinada e considerada em comparação com a Tabela 0-2

abaixo para determinar a significância geral dos impactos.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

142

Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação

EF

EIT

O

Escala temporal Pontuação

Curto prazo Menos de 5 anos 1

Médio prazo 5 – 20 anos 2

Longo prazo 20-40 anos (uma geração), e quase permanente do ponto de vista humano

3

Permanente Mais de 40 anos, resultando numa mudança permanente e duradoura, que vai estar sempre presente

4

Escala espacial

Localizada Em escala localizada, com poucos hectares de extensão. 1

Área de estudo O local proposto e o meio ambiente imediato 2

Regional Nível distrital e provincial 3

Nacional País 3

Internacional Internacionalmente 4

* Severidade Beneficio

Ligeira Impacto ligeiro no sistema afectado (s) ou parte (s)

Ligeiramente benéfico no sistema afectado (s) ou parte (s)

1

Moderada Impacto moderado no sistema afectado (s) ou parte (s)

Um impacto com verdadeiro benefício para o sistema afectado (s) ou parte (s)

2

Severa/ benéfica Impacto severo no sistema afectado (s) ou parte (s)

Um benefício substancial para o sistema afectado (s) ou parte (s)

4

Muito severa/

muito benéfica

Mudança muito severa para o sistema afectado (s) ou parte (s)

Um benefício muito importante para o sistema afectado (s) ou parte (s)

8

Probabilidade

PR

OB

AB

ILI

DA

DE

Improvável A probabilidade destes impactos ocorrerem é ligeira 1

Pode ocorrer A probabilidade destes impactos ocorrerem é possível 2

Provável A probabilidade destes impactos ocorrerem é provável 3

Definitivo A probabilidade destes impactos vai ocorrer com certeza 4

* Em certos casos, pode não ser possível determinar a severidade do impacto,

portanto, pode ser determinado como: Não se sabe / Não é possível saber

Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância ambiental

Significância ambiental Positiva Negativa

Baixa Um impacto aceitável para o qual a mitigação é desejável, mas não essencial. O impacto por si só é insuficiente para evitar o desenvolvimento, mesmo em combinação com outros impactos baixos.

Esses impactos resultaram em efeitos tanto positivos ou negativos de médio a curto prazo sobre o ambiente social e /ou natural.

4-7 4-7

Moderada Um impacto importante, que requer mitigação. O impacto é insuficiente por si só para evitar a implementação do projecto, mas em conjunto com outros impactos pode impedir a sua execução.

Esses impactos normalmente resultaram em efeitos positivos ou negativos de médio a longo prazo sobre o ambiente social e /ou natural.

8-11 8-11

Alta Um impacto grave que, se não for mitigado, pode impedir a implementação do projecto.

Estes impactos seriam considerados pela sociedade como constituintes de uma grande mudança de longo

12-15 12-15

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

143/189

prazo para o ambiente natural e / ou social e resultariam em efeitos negativos ou benéficos graves.

Muito Alta Um impacto muito sério que pode ser suficiente por si só para prevenir a execução do projecto.

O impacto pode resultar numa mudança permanente. Muitas vezes, estes impactos não são mitigáveis e geralmente resultam em efeitos muito graves ou efeitos muito benéficos.

16-20 16-20

Pressupostos e Limitações

As seguintes limitações são inerentes à metodologia de classificação:

Componentes do projecto

A avaliação de impacto feita foi baseada nos detalhes do projecto fornecidos pela

CES. Diante da falta de informação sobre os componentes do projecto, assumiu-

se que todas as actividades de construção serão concluídas dentro de um prazo

de 5 a 20 anos.

Juízos de valor

Esta escala tenta fornecer um equilíbrio e um rigor para avaliar a significância dos

impactos. No entanto, a avaliação da significância dum impacto depende

fortemente dos valores da pessoa que faz o julgamento. Por esta razão, os

impactos de natureza social, em particular, precisam reflectir os valores da

sociedade afectada.

Impactos Cumulativos

Os impactos cumulativos afectam a classificação da significância dum impacto,

porque consideram o impacto de acordo com fontes locais e não locais. Isto é

particularmente problemático em termos de impactos que estão além do âmbito do

desenvolvimento proposto e da AIA. Por esta razão, é importante considerar os

impactos em termos da sua natureza cumulativa.

Sazonalidade

Alguns impactos irão variar em significância com base na mudança de estação,

portanto, é difícil fornecer uma avaliação estática. A sazonalidade precisará estar

implícita na escala temporal e, com as medidas de gestão a serem impostas em

conformidade (ou seja, medidas de supressão de poeiras sendo implementadas

durante a estação seca).

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

144

Anexo B: Metodologia para calcular os índices do estatuto socioeconómico –Índice de Posse

Em teoria, as medições da riqueza do agregado podem estar reflectidas na

informação sobre o rendimento, consumo ou despesa. Todavia, a recolha de

dados fiáveis sobre o rendimento e consumo requer recursos amplos para os

inquéritos aos agregados. Em alternativa, a medição baseada nos bens está a ser

cada vez mais usada nos países em desenvolvimento (Filmer &Pritchett, 1999). O

Índice de Posse (também designado de Índice de Riqueza), baseado no conceito

de Living Standard Measure (LSM), é amplamente usado em Inquéritos

Demográficos e de Saúde para medir o estatuto socioeconómico do agregado

(Carverton & Deaton, 2001 e Rutstein & Johson, 2004).

O Índice de Posse é uma medição composta do padrão de vida cumulative de um

agregado. É calculado com base em dados relacionados com a propriedade de

bens específicos por parte do agregado tais como, televisão, radio, bicicleta, gado,

material usado para construção, energia, tipo de acesso a água e saneamento,

entre outros.

Gerado através de um procedimento estatístico conhecido como Análise de

Componentes Principais (PCA), o Índice de Posse coloca os agregados numa

escala continua de riqueza relative. Assim os agregados podem ser classifcados

em grupos socioeconómicos gerais.

Calculou-se um índice de estatuto socioeconómico para a AIS do projecto, com

base nos dados socioeconómicos. O índice está dividido em pontos que definem

quintis de riqueza como Mais Baixo (Q1), Segundo (Q2), Intermédio (Q3), Quarto

(Q4) e Mais Alto (Q5). No âmbito deste estudo, os Quintis foram provisoriamente

designados como “renda baixa” (Q1), “renda média baixa” (Q2), “renda média”

(Q3), “renda média alta” (Q4) e “renda alta” (Q5). Estes quintis foram usados

para informar a análise da vulnerabilidade e de grupos vulneráveis na área do

projecto.

A PCA implica um processo matemático que transforma várias variáveis

possivelmente correlacionadas num número mais pequeno de variáveis não

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

145/189

relacionadas designadas components principais. A primeira componente principal

representa tanta variabilidade nos dados quanto possível, e cada componente

sucessiva representa tanto da variabilidade restante quanto possível. Muitas

variáveis de indicadores são categorizações. Para determiner os pesos e aplicá-

los para formar o índice, é necessário decompor estas variáveis em conjuntos de

variáveis dicotomas (variáveis binárias). Filmer & Pritchett (1999) recomendou

usar a PCA para atribuir o peso dos indicadores, o procedimento utilizado para o

índice de riqueza do Inquérito Demográfico e de Saúde (DHS). O DHS usa o

procedimento de análise do factor SPSS. Este procedimento começa por

padronizar as variáveis dos indicadores (calcular classificações); e em seguida

calculam-se as classificações do factor do coeficiente (peso do factor); e

finalmente, para cada agregado, os valores do indicador são multiplicados por

estes prazos e adicionados para produzir o valor do índice do agregado. Neste

processo, apenas o primeiro factor produzido é usado para representar o índice de

riqueza. A soma resultante é em si uma classificação padronizada com uma media

de zero e um desvio padrão de um.

Abaixo apresentamos os Quintis de Riqueza produzidos para toda a área do

projecto (ou seja, que abrange todos os agregados inquiridos) nas Figuras 19-23.

Nós também apresentamos quintis de riqueza em separado para o distrito de

Chiúta (Figuras 24 - 26) e para o distrito de Moatize (Figuras 27 - 29), ou seja,

abrangendo os agregados inquiridos em cada um destes distritos.

Quintis de Riqueza para a Área do Projecto

Figura 46: Quintis de riqueza para os distritos de Chiúta e de Moatize

Figura 47: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – área do projecto

22

18

21

20

16

29

17

17

24

16

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Chiúta

MoatizeBaixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

14

51

20

20

25

12

19

8

22

8

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Homem

Mulher Baixa

MédiabaixaMédia

Médiaalta

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

146

Figura 48: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – área do projecto

Figura 49: Quintis de riqueza por estado civil do Chefe do Agregado– área do projecto

Figura 50: Quintis de riqueza por situação profissional – área do projecto

50

42 40 40

35

0

10

20

30

40

50

60

Baixa Média baixa Média Média alta Alta

Idade d

o C

hefe

do A

gre

gado

(anos)

27

25

16

10

38

64

24

25

17

50

21

38

14

21

100

25

24

25

13

14

12

19

23

13

7

16

25

24

50

21

0% 50% 100%

Solteiro

Casamento civil

Casamento religioso

Casamento tradicional

Casamento misto

União de facto

Separado/divorciado

Viúvo

Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

9

4

29

13

36

33

6

36

14

16

21

32

29

24

43

24

20

16

33

15

8

14

12

30

10

33

41

28

29

20

17

6

0% 50% 100%

Emprego formal

Emprego informal

Trabalho sazonal

Auto-emprego

Desempregado (procurando…

Doméstica (não procurando…

Incapacitado e não empregado

Baixa Média baixa Média Média alta Alta

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

147/189

Quintis de Riqueza para o Distrito de Chiúta

Figura 51: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Chiúta

Figura 52: Quintis de riqueza por estado civil – Chiúta

Figura 53: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Chiúta

15

57

22

17

18

4

19

9

26

13

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Homem

Mulher Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

37

17

14

50

60

16

100

16

26

50

20

16

17

19

26

16

19

20

5

33

100

23

0% 50% 100%

Solteiro

Casamento religioso

Casamento tradicional

Casamento misto

União de facto

Separado/ divorciado

Viúva

Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

48

40 38 37

36

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Baixa Média baixa Média Média alta Alta

%

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

148

Quintis de Riqueza para o distrito de Moatize

Figura 54: Quintis de riqueza por género do Chefe do Agregado – Moatize

Figura 55: Quintis de riqueza por estado civil – Moatize

Figura 56: Quintis de riqueza por idade do Chefe do Agregado – Moatize

12

46

19

23

31

19

19

8

18

4

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Homem

Mulher Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

23

33

14

6

67

27

19

100

15

11

23

100

33

32

32

50

22

6

22

29

50

21

33

14

18

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Solteiro

Casamento civil

Casamento religioso

Casamento tradicional

Casamento misto

União de facto

Separado/divorciado

Viúvo

Baixa

Média baixa

Média

Média alta

Alta

53

43 41 41

34

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Baixa Média baixa Média Média alta Alta

%

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

149/189

Anexo C: Ferramentas de Recolha de Dados Qualitativos

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

150

Instrumentos Qualitativos para Estudo de Impacto Social

1 Introdução

A componente de pesquisa que se descreve no presente documento faz parte do

Estudo de Impacto Social e Ambiental (ESIA) para Projecto de Ferro-Guza58

a ser

implementado pela Capitol Resources nos Distritos de Chiúta e Moatize.

O estudo visa enriquecer a compreensão sobre a situação actual das

comunidades existentes na área do Projecto de Mineração de Ferro, bem como

identificar as suas expectativas, necessidades e posicionamentos perante o

projecto de modo a compreender o impacto que o projecto poderá ter sobre elas.

A componente social do ESIA pretende investigar:

O ambiente socio-economico local;

Os dados demográficos da população afectada pelo projecto;

As actividades económicas e de rendimento disponíveis na área;

As práticas de uso da terra;

Os modos de vida e posses materiais;

A mobilidade;

Os aspectos de género;

Os grupos vulneráveis;

A saúde, incluindo questões relacionadas com HIV/SIDA;

Os serviços sociais disponíveis (educação, transporte, água e

saneamento, etc.), bem como estruturas sociais (grupos comunitários,

locais de culto e congregações, etc.).

O estudo da componente social também terá em conta questões relacionadas com

a herança cultural. Por questões práticas a recolha de campo para as duas

components (social e herança cultural) decorrerá ao mesmo tempo e de forma

complementar.

A componente cultural visa os seguintes aspectos:

Revisão das políticas e estratégias de herança culturais nacionais e locais;

Revisão das estruturas de herança cultural na area do projecto e a sua

contextualização dentro do enquadramento legal nacional e local;

58

Gusa é uma liga de Ferro e Carbono.

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

151/189

Revião do perfil cultural da area do projecto, incluindo locais sagrados

para a população;

O mapeamento dos locais sagrados, a sua relevência e os usos

associados a eles;

Avaliação da sensibilidade e significado dos artefactos arqueológicos e

locais culturais;

Identificação e avaliação de questões do projecto que podem impactar na

área do projecto.

O estudo qualitativo (que combina a pesquisa social e de herança cultural) irá se

centrar na história e locais sagrados da comunidade, hierarquias de autoridade,

dinâmicas de mobilidade, acesso a serviços e recursos, relacionamento com o

espaço e impactos do projecto, nas comunidades alvo.

A parte quantitativa (inquérito social por questionário) complementará a

compnente qualitativa através de informação obtida pelo cadastro e pelo estudo

sócio-económico.

2 Área do Projecto

A área do projecto é composta por uma área de concessão mineira e uma estrada,

nos distritos de Chiúta e Moatize, província de Tete. Na área do projecto, onde o

padrão de povoamento é disperso, foram identificas dez (10) comunidades ou

assentamentos humanos para a recolha de dados qualitativos, nomeadamente:

concessão mineira: seis (6) comunidades: Tenge-Makodwe, Nhamidima,

Nhambia, Matacale, Nkakame e Tchissi

estrada: fuas (2) comunidades identificadas por análise de imagem aérea,

cujo nome ainda está por identificar com ajuda das autoridades

distritais

3 Métodos de recolha de dados

Serão aplicados os seguintes métodos de recolha de dados

qualitativos:

1. Levantamento bibliográfico e de arquivo de pesquisas anteriores:

principalmente para a componente de herança cultural, mas também para

a descrição socio-demográfica da área em estudo.

2. Análise Cartográfica: através de observação de imagens de satélites e as

fotografias aéreas para inventariar os recursos existentes e tentar

localizar áreas com possíveis existências de estações arqueológicas.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

152

3. Entrevistas individuais a autoridades governamentais: para recolha de

dados sobre o desenvolvimento sócio-económico do distrito, ligação entre

a planificação do distrito e o projecto, desafios e oportunidades do

projecto para o distrito, bem como expectativas, preocupações e

recomendações da província/ distrito em relação ao projecto. Deverão ser

entrevistados:

a. Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação de Tete;

b. Direcção Provinial de Cultura de Tete

c. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Chiúta;

d. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Moatize;

e. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Chiúta;

f. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Moatize;

g. Servicços de Educação e Cultura de Chiúta;

h. Serviços de Educação e Cultura de Moatize.

4. Discussões de grupo focal com líderes locais das nove comunidades da

área do projecto, havendo em cada comunidade um grupo focal com

líderes tradicionais (chingore, n’fumo) e um grupo focal com líderes

comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão):

a. grupo focal com líderes tradicionais: para recolha de dados sobre

1) a história e dinâmicas sócio-económicas e culturais das

comunidades, 2) recursos culturais e sagrados das comunidades

e 3) expectativas, preocupações e posicionamento face ao

projecto;

b. grupo focal com líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe

de Quarteirão): para recolha de dados locais sobre 1) a hierarquia

de autoridade, 2) serviços e recursos sócio-económicos

importantes, 3) mobilidade populacional e 4) expectativas,

preocupações e posicionamento face ao projecto.

Em resumo, com as entrevistas e grupos focais, pretende-se abordar os temas:

Líderes tradicionais Líderes comunitários Autoridades

governamentais

História e dinâmicas sócio-económicas e culturais das comunidades;

Recursos culturais e sagrados das comunidades;

Expectativas, preocupações e

Hierarquia da autoridade local;

Serviços e recursos sócio-económicos importantes;

Mobilidade da população local;

Expectativas, preocupações e

Desenvolvimento sócio-económico do distrito;

Desafios e oportunidades do projecto para o distrito;

Expectativas, preocupações e

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

153/189

posicionamento face ao projecto.

posicionamento face ao projecto.

recomendações para o projecto.

Todas as entrevistas serão semi-estruturadas e seguirão um guião para

orientação da exploração dos temas definidos.

Para as discussões de grupo focal, de modo a estimular participação activa na

discussão serão elaborados guiões para condução de exercícios participativos.

Para os grupos focais com líderes tradicionais serão aplicados os exercícios:

1. História da comunidade;

2. Mapeamento dos locais culturais e sagrados; e

3. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).

Para os grupos focais com líderes comunitários serão aplicados os exercícios:

1. Matriz da hierarquia de autoridade;

2. Mapeamento da mobilidade;

3. Mapeamento dos serviços e recursos importantes à comunidade;

4. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).

Cada discussão de grupo focal deverá ser feita com um número limitado de

participantes (idealmente 8-10), conduzida por um moderador com o apoio de um

tradutor local que deverá ser fluente na língua falada na comunidade. O

moderador deverá tomar notas escritas e fotografia de cada grupo focal.

Considerando o nível baixo de alfabetização da população da área do projecto,

vai-se privilegiar a expressão visual. Tendo em conta a divisão cultural de papéis e

tarefas dentro de agregado familiar, as opiniões e as necessidades podem diferir

entre homens e mulheres. Isto é particularmente importante no que toca às

questões culturais. Por isso, no exercício de mapeamento dos locais culturais e

sagrados, sempre que o número de participantes o permitir, serão feitas

discussões em separado com homens e com mulheres.

5. Acesso preliminar do potencial arqueológico na área de concessão. As

áreas serão prospectadas a pé. Como a área é muito extensa é

conveniente que o trabalho seja faseado, seguindo a progressão do

projecto. O presente levantamento refere-se apenas ao período anterior

aos trabalhos. Não contempla trabalhos adicionais necessários na fase de

construção, operação e encerramento do projecto.

6. Registo dos achados e das estações localizadas. Todas as estações

localizadas serão marcadas com o GPS usando o Sistema de

coordenadas geográficas de África do Sul (WGS 84) em cartesianas e

UTM compatível com o sistema de registo de base de dados, existente no

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

154

Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo

Mondlane.

7. Lavagem e processamento do material. Todo o material será lavado,

marcado e fotografado para o registo informático em preparação do

relatório e seguindo a base de dados de Departamento de Arqueologia e

Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane.

4 Documentos a recolher

No mínimo, aquando das visitas às instituições governamentais, os seguintes

documentos devem ser recolhidos: PESOP, PESOD, Relatório do Distrito,

Relatório de actividades dos serviços de educação e cultura, e Relatório de

actividades dos serviços de saúde.

Outros documentos que provem de relevância, podem ser recolhidos também.

A tabela que se segue apresenta o roteiro para a condução de discussões de

grupo focal:

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Nr Método Objectivos Temas a serem abordados Duração Material

1. História da

comunidade

Relatar a história da comunidade;

Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;

Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas, doenças, conflitos);

Identificar possíveis experiências prévias da comunidade com projectos de mineração.

Origem (mítica) de comunidade

Dinâmica populacional e fluxos migratórios

Conflitos locais

Grandes crises

Experiência prévia com projectos de mineração

45 min.

Folhas de flipchart

Marcadores de várias

cores

Post-it

Caderno

Máquina fotográfica

2. Mapa da mobilidade Identificar as principais dinâmicas de mobilidade da população local (emi/ imigração, migração sazonal)

Origem da comunidade

Dinâmicas populacionais e fluxos migratórios

20 min.

3. Mapa dos serviços e

recursos importantes

à comunidade

Identificar e delimitar a área que corresponde à comunidade (bairro, aldeia)

Identificar as organizações, serviços e outros recursos importantes para a vida da comunidade

Identificar as principais formas de uso do espaço

Que organizações / serviços ou recursos são importantes para a vida da comunidade?

Onde se localizam os mesmos, na comunidade e arredores?

Porque são importantes?

Que recursos provocam conflito/ disputa na comunidade?

45 min. Folhas de flipchart

Marcadores de várias

cores

Caderno

Máquina fotográfica

GPS

4. Mapa dos locais

culturais e sagrados

Identificar os locais culturais e sagrados importantes para a comunidade (locais de cerimónia/ realização de eventos comunitários, locais de reunião, locais sagrados, cemitérios, etc.);

Identificar as práticas, rituais e actores associados a cada local;

Identificar a importância de cada local.

Mapeamento e definição da importância dos locais culturais e sagrados importantes para a comunidade

Práticas e actores associados aos locais culturais e sagrados

Momentos/ situações de realização dessas práticas/ rituais

20 min.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

156

5. Mapa da casa e

vizinhança

Definir a tipologia habitacional típica

Identificar os elementos importantes do quintal e vizinhança

Definir a relação com o espaço físico

Definir a relação com a vizinhança

Divisões e uso das divisões

Outras construções no quintal

Vedação

Relação com a vizinhança

Apoio a grupos vulneráveis

20 min

6. Matriz da hierarquia

de autoridade

Identificar os principais níveis de autoridade a nível local

Identificar a hierarquia entre os diferentes níveis de autoridade

Quem são os líderes na comunidade?

Dentre estes líderes, quem responde a quem?

Qual é a responsabilidade de cada nível/ tipo de líder?

20 min. Folhas de flipchart

Marcadores de várias

Cores

Caderno

Máquina fotográfica

7. Árvore de análise de

problemas

Identificar as expectativas e preocupações da comunidade em relação ao projecto

Compreender o impacto do acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes face ao cenário actual e face ao futuro

Identificar os campos de força que podem facilitar e também dificultar o acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes .

Expectativas, preocupações e recomendações da comunidade em relação ao projecto

Visão versus desejo do futuro da comunidade

Papel do projecto (de mineração) na projecção desse futuro

Materialização do futuro desejado?

Uma vez implementado o projecto: o que pode fazer com que tenha impactos positivos para a comunidade, e o que pode fazer com que tenha impactos negativos.

45 min. Folhas de flipchart

Marcadores

Pedrinhas (10+10)

Máquina fotográfica

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

157/189

157

A tabela abaixo sumariza as entrevistas e grupos focais que vão ser conduzidos no âmbito do estudo

qualitativo:

Actividade Localização Grupo-alvo

Entrevistas Cidade de Tete 1) Direcção Provincial de Obras Públicas e

Habitação (DPOPH) de Tete

2) Direcção Provincial da Cultura

Distrito de Chiúta,

Vila de Manje

3) Serviço Distrital de Planificação e Infra-

Estruturas (SDPI)

4) Serviço Distrital de Actividades Económicas

(SDAE)

5) Direcção Distrital de Cultura

Distrito de Moatize,

Vila de Moatize

6) Serviço Distrital de Planificação e Infra-

Estruturas (SDPI)

7) Serviço Distrital de Actividades Económicas

(SDAE)

8) Direcção Distrital de Cultura

Total de entrevistas 08

Discussões de Grupo

Focal (GF)

Área de Concessão de

Tenge-Ruoni (1035 L)

1) Comunidade 1 Massamba

2) Comunidade 2 Nkakame

3) Comunidade 3 Muchena

4) Comunidade 4 Pondandue

5) Comunidade 5 Matakale

6) Comunidade 6 Mbuzi

7) Comunidade 7 Tenge

8) Comunidade 8 Nambia

Estrada 9) Comunidade 9 (AD)

10) Comunidade 10 (AD)

Total discussões de grupo focal 20

O plano de visitas será feito consoante o mapa abaixo.

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

158

158

Page 159: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

159/189

159

5 GUIÃO DE ENTREVISTA: DPOPH E SDPI Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014

Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________

Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________

Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________

Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________

Introdução

Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,

uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela

empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa

Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-

económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.

Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes

nestas comunidades.

É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-

estruturas sociais neste Distrito.

A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não

sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.

Page 160: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

160

160

Prestação de serviços

1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são os tipos de infra-estruturas e serviços sociais existentes (educação, saúde, água, saneamento, electricidade) na área do projecto (Tenge-Ruoni, P.A.)?

2. Beneficiários: Quais são os indicadores chave de cobertura da população (rácio infra-estruturas; recursos humanos dos diferentes serviços /Pop.)? Quem utiliza os serviços? Quem não os utiliza?

3. Qualidade: como avalia a qualidade dos serviços prestados? Dificuldades/obstáculos encontrados

na prestação de serviços de qualidade? Para além desta Instituição, quem mais presta este tipo de serviço neste posto administrativo?

Planos para o futuro

4. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector ao nível do Posto

Administrativo de Kazula? Metas? Planos de aumento de cobertura? Novas infra-estruturas? Onde? Quando?

5. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?

Expectativas face ao projecto

6. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de

Tenge-Ruoni?

7. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?

8. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?

9. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?

10. Quais são as suas recomendações para o projecto?

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

161/189

161

6 GUIÃO DE ENTREVISTA: SDAE Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014

Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________

Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________

Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________

Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________

Introdução

Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,

uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela

empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa

Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-

económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.

Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes

nestas comunidades.

É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-

estruturas sociais neste Distrito.

A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não

sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.

Page 162: RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL PARA O PROJECTO PROPOSTO DE … Tete Iron Ore Portuguese CB127... · Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa 171 Anexo E: Inquérito ao

RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

162

162

Principais actividades económicas

1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são as actividades económicas principais da população no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)? Onde são praticadas? Percentagem da população envolvida?

2. Quais são as principais formas de uso da terra, no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)?

Planos para o futuro

3. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector (Actividades

Económicas) ao nível da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula e zona de Tenge-Ruoni)? Metas? Onde? Quando?

4. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?

Estrutura Administrativa

5. Qual é a estrutura administrativa da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula/ fronteira com

distrito de Moatize)?

6. Quantos regulados e quantos povoados existem na área do projecto? Quantos habitantes têm?

Percepções face ao projecto

7. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de

Tenge-Ruoni??

8. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?

9. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?

10. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?

11. Quais são as suas recomendações para o projecto?

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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7 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - HISTÓRIA DA COMUNIDADE

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)

Objectivos:

Relatar a história da comunidade;

Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;

Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas,

doenças, conflitos);

Metodologia: O moderador inicia expondo os objectivos do exercício.

Para iniciar a “conversa” o moderador deverá dizer que está interessado em conhecer a história

da comunidade: em conhecer quando é que eles para ali vieram, por que razão, como ali se

instalaram; quais os acontecimentos que mais marcaram aquela comunidade, e de que forma

deixaram essa marca.

Essas questões servirão para lançar a conversa que o moderador deixará seguir, colocando

outras questões exploratórias, como por exemplo:

Origem (mítica) de comunidade:

Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?

De onde vieram? Porquê saíram de lá?

Porque se instalaram aqui?

Dinâmica populacional e fluxos migratórios:

Que tipo de grupos populacionais vivem aqui (homogeneidade)? Porque vieram para cá?

Como foram recebidos aqui?

As pessoas ainda se deslocam muito – vão para outros lugares? Vêm para aqui?

Conflitos locais:

Houve algum grande conflito na comunidade?

Que tipo de conflito era?

O que causou o conflito? Quais as razões para o conflito?

Quem esteve envolvido no conflito?

Como foi solucionado o conflito? Quem esteve envolvido na solução (pessoas, instituições)?

Hoje em dia, quando há conflitos na comunidade, como se resolvem?

Grandes crises:

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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164

A comunidade passou por alguma grande crise?

Que tipo de crise foi – doença grave, seca, fome, guerra…

O que esteve na origem da crise?

Quem esteve envolvido na crise?

Como foi ultrapassada a crise?

Que consequências deixou para a comunidade? No início do exercício o moderador desenha uma linha numa folha de flipchart, colocada na horizontal, e explica aos participantes que o início da linha marca o início da história da comunidade, e que o fim da linha marca o ano actual (2014). Explica também que vai querer mostrar ao longo da linha os principais acontecimentos que marcaram a vida da comunidade. À medida que os participantes vão narrando a história da comunidade (origem mítica, dinâmica populacional, conflitos, crises), o moderador escreve cada um dos episódios narrados num post-it e coloca-o o mais perto possível do período temporal mencionado pelos participantes. Se, no decurso da discussão, os participantes falarem de experiências com projectos de mineração, estas devem ser anotadas no post-it e colocadas na linha da história da comunidade. Se os participantes não falarem disto espontaneamente, no fim da discussão sobre a história da comunidade o moderador deve introduzir estes temas e tomar notas escritas, no caderno, sobre a discussão:

Mineração: o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que vieram praticar

mineração? o Quando foi isso? o Quem eram essas pessoas? o Como foi essa experiência (de mineração) para a comunidade (explorar

consequências positivas e negativas? o Essa experiência de mineração trouxe problemas à comunidade? Que tipo de

problemas? o Como foram resolvidos os problemas?

Deslocação (devido por exemplo a calamidades naturais): o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que tiveram de deixar as suas

casas para ir morar noutro sítio? o Porque (causas/ razões) tiveram de deixar as suas casas? o Quando foi isso? o Para onde foram? o Como isso aconteceu? o Como ficaram as pessoas, depois de terem ido para o novo sítio? (explorar se

os padrões de vida mantiveram-se, melhoraram ou deterioraram, e se mantiveram ou não os laços com o local ou a comunidade de origem)

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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8 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS LOCAIS CULTURAIS E SAGRADOS

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)

Objectivos:

Identificar e delimitar a área que corresponde à aldeia/comunidade;

Identificar os locais religiosos e sagrados importantes para a comunidade;

Atribuir a importância de cada local identificado;

Identificar as práticas, actores e momentos associados a esses locais.

Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível a todos os

participantes. Pede aos participantes que imaginem que a folha seja a sua

comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade (onde termina a comunidade,

em cada direcção) e pede aos participantes para marcarem os limites nos extremos da folha. De

seguida, pergunta qual é o lugar mais importante da comunidade, onde fazem cerimónias ou

eventos da comunidade, e pede aos participantes que situem esse lugar no mapa. Em seguida,

pede-lhes que identifiquem outros lugares importantes e que os situem igualmente no mapa.

Após explorar os lugares cerimoniais da comunidade, faz o mesmo para os lugares onde só

algumas pessoas podem ir (ex. cemitérios, matas sagradas para curandeiros, ritos de iniciação)

ou lugares onde ninguém pode entrar. O moderador deixa o grupo fazer o exercício sem intervir.

Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o seguinte:

Quais são os limites de comunidade?

Por que razão cada um destes lugares é importante? O que se faz nesses lugares?

(explorar práticas e rituais)

o Quem organiza, participa ou orienta a cerimónia/ evento?

o A cerimónia/evento deve ser praticada apenas nesse local ou pode ser feito

noutro local?

Quem tem acesso (pode entrar) nesses lugares sagrados?

Quem não tem acesso (não pode entrar) nesses lugares sagrados? Porquê?

Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam

encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?

Cemitérios:

o Existem cemitérios formais (públicos/ geridos por um serviço local) e cemitérios

familiares? (tentar localizar alguns e georreferenciar)

o Os cemitérios são utilizados ou actualmente estão fechados?

o Quem controla o uso dos cemitérios?

o Quem usa os cemitérios?

o Se o cemitério ou uma campa tiver de sair desta zona, como isso deve ser feito?

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9 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MATRIZ DA HIERARQUIA DE AUTORIDADE

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:______________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe do Quarteirão)

Objectivos:

Identificar a organização administrativa da comunidade;

Identificar os líderes da comunidade, aos diferentes níveis, e como eles se

relacionam (quem responde a quem);

Compreender as responsabilidades gerais de cada nível de liderança.

Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart no chão, na vertical, no

meio dos participantes, e pergunta:

Organização administrativa:

o quantos bairros ou (se não houver bairros) zonas compõem a

aldeia?

o Quantas pessoas ou famílias moram em cada bairro ou zona?

Hierarquia da autoridade:

o Quem são os líderes que representam a população?

o Como estão organizados os líderes? (a quem responde cada um?

Explorar de baixo para o topo)

o Qual o papel/ responsabilidade de cada líder?

o Quando possível, diferenciar as autoridades políticas (ex. chefe

de célula, secretária da OMM) das autoridades locais (Secretário

de Bairro, Chefe de Quarteirão, Chefe de 10 Casas, etc)

À medida que a discussão avança, o moderador toma notas escritas sobre a

organização administrativa e desenha, no flipchart, a hierarquia da autoridade. No

final confirma com os participantes se a hierarquia desenhada está correcta, nível

por nível.

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10 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS SERVIÇOS E RECURSOS DA COMUNIDADE

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos:

1. Identificar e delimitar a área que corresponde ao bairro ou à aldeia;

2. Identificar os locais considerados importantes para a comunidade

(machambas, mercados, florestas, rios, locais sagrados, cemitérios, etc.) e

a razão da sua importância;

3. Identificar o tipo de relação que a comunidade tem com o espaço físico.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível

a todos os participantes. O moderador pede aos participantes que imaginem que a

folha seja a sua comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade

(onde termina a comunidade, em cada direcção) e pede aos participantes para

marcarem os limites nos extremos da folha. De seguida, o moderador pergunta

qual é o lugar mais importante da comunidade e pede aos participantes que

situem esse lugar no mapa. Em seguida, pede-lhes que identifiquem outros

lugares importantes e que os situem igualmente no mapa. O moderador deve

deixar o grupo fazer o exercício sem intervir.

Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o

seguinte:

Por que razão os lugares apresentados são importantes? O que se faz nesses lugares?

Quando adequado, perguntar sobre os recursos associados a esses lugares (ex. o que se cultiva na machamba?)

Uso da terra: onde são as áreas residenciais? As áreas de cultivo (machamba)? As áreas de pastagem? As áreas de pesca? As áreas de extracção de recursos naturais (carvão, lenha, minas)?

Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?

Durante a discussão em plenária o moderador toma notas escritas da discussão..

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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11 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DA MOBILIDADE

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos:

1. Identificar as dinâmicas populacionais e fluxos migratórios do passado e presente da

comunidade;

2. Identificar a atitude da comunidade perante a emigração e a imigração;

3. Identificar possíveis conflitos associados à migração, em particular experiências passadas

vividas pela comunidade/ membros desta com novos membros na comunidade ou em

comunidades para onde membros da comunidade tenham migrado.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador inicia uma discussão em plenária, da qual toma notas escritas. Explica que,

depois de mapear os serviços e recursos importantes para a comunidade, quer falar sobre as

pessoas que entram e saem da comunidade e de que modo isso afecta a comunidade.

O moderador pode usar perguntas exploratórias, como por exemplo:

Origem (mítica) da comunidade:

o Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?

o De onde vieram?

o Porque se instalaram aqui?

o Desde que a comunidade foi criada até hoje, houve momentos em que a

comunidade/ membros da comunidade teve de:

receber pessoas de fora? Que momentos? (ex. cheias, guerra pós-

indepedência)? Que pessoas? (de perto, de longe, de outros distritos, de

outras províncias)

sair para outra zona? Que momentos? Para onde foram? Ficaram lá para

sempre ou regressaram?

Dinâmica populacional e fluxos migratórios:

o Hoje em dia, a comunidade é composta basicamente por pessoas da zona ou há

pessoas que vieram de fora?

o (as pessoas que vieram de fora) Porque vieram para ali? Estão na comunidade há

muito tempo?

o Quando/como é que uma pessoa deixa de ser “de fora”?

o Hoje em dia, os membros da comunidade ainda saem muito para fora? Para onde

vão? O que vão fazer? Voltam?

o Como são recebidas as pessoas que vêm de fora, quando se instalam na

comunidade?

o O que deve fazer a pessoa que vem de fora, para ser bem recebida na comunidade?

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

169/189

169

12 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - ÁRVORE DE ANÁLISE DE PROBLEMAS

Grupo-alvo:

líderes locais locais (chingore, n’fumo, outros)

líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos: 1. Identificar os principais problemas vividos na comunidade;

2. Identificar as expectativas, preocupações e recomendações, do ponto de vista da

comunidade, em relação ao projecto;

3. identificar soluções/ medidas que podem mitigar os impactos negativos do projecto e

potenciar os seus impactos positivos, bem como o papel da comunidade no processo.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador explica que, após se falar a mobilidade na comunidade, gostaria de ter uma

última conversa sobre o projecto de mineração do ferro que se pretende implementar na zona.

O moderador coloca uma folha de flichart no chão, na horizontal, de modo visível aos participantes.

Divide-a em quatro colunas. Pede aos participantes que digam quais são os principais problemas

que afectam/ reduzem a qualidade de vida na comunidade, e lista-os na primeira coluna à esquerda

(“Problemas”).

Após completar a coluna “Problemas”, o moderador explica que a segunda coluna indica o número

de pessoas afectadas pelo problema (“Volume da população afectada”) e a terceira coluna a

gravidade do problema para a comunidade (“Gravidade do problema”). Os participantes devem

completar a 2ª e 3a colunas, para cada problema listado. Para tal, devem-lhe ser dadas 10 pedrinhas

e explicado que, para cada problema, devem marcar na coluna 2 com as pedrinhas o número de

pessoas afectadas pelo problema, numa escala de 1 a 10 em que 1 é “quase nenhuma pessoa da

comunidade” e 10 “muitas pessoas da comunidade”. Tendo completado a coluna 2, sempre no

mesmo problema, passam para a coluna 3: são-lhes dadas mais 10 pedrinhas e explicado que

devem marcar com as pedrinhas a gravidade do problema para a comunidade, numa escala de 1 a

10 em que 1 é “pouco grave” e 10 “muito grave”. Após completadas as colunas 2 e 3, o moderador

faz a soma das pedrinhas na coluna 2 e escreve o total dentro da célula, repete o mesmo para a

coluna 3. Após isto soma o total de 2 e 3 para obter a pontuação total do problema e anota-o na

respectiva célula da coluna 4.

O moderador repete estes passos para cada um dos problemas listados, sem interferir com o

processo de pontuação problema a problema pelos participantes.

No fim do exercício, obtém-se uma tabela como exemplificado abaixo. O moderador explica como

interpretar o resultado da tabela: as pontuações totais mais altas indicam que esses são os

problemas mais sérios, e as mais baixas os problemas menos sérios. De seguida o moderador

pergunta aos participantes se concordam com o resultado final da tabela. Caso não concordem com

algum resultado, o moderador deve explorar porquê e tomar notas escritas da discussão.

1.Problema 2.Volume da 3.Gravidade do 4.Pontuação

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

170

170

população afectada problema (2+3)

Furos de água estão

avariadas

13

Não há Posto de

Saúde

20

Quando chove a

estrada fica má e não

se passa

12

Desemprego

15

Posto isto o moderador pergunta de que maneira o projecto de mineração de ferro pode afectar cada

um dos problemas listados, de modo positivo (resolvendo-os ou mitigando-os) e de modo negativo

(aumentando-os).

Por fim o moderador pergunta e toma notas escritas das respostas:

O que deve ser feito para impedir que o projecto de mineração do ferro agrave os problemas

da comunidade? Quem é responsável por isso? Que papel a comunidade pode ter no

processo?

O que pode ser feito para garantir que o projecto de mineração de ferro ajuda a resolver os

problemas da comunidade? Quem é responsável por isso? Que papel a comunidade pode

ter no processo?

Quais são as principais preocupações da comunidade em relação ao projecto? (explorar

questões/ problemas não listados anteriormente)

Que recomendações a comunidade tem para o projecto, para que este seja bem-sucedido e

traga benefício à comunidade?

(perspectiva) Como é que vêm a comunidade daqui a 5-10 anos?

(desejo) Como é que gostariam que fosse a comunidade daqui a 5 – 10 anos?

O que é preciso para que estas mudanças se tornem reais?

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

171/189

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Anexo D: Matriz de Análise Qualitativa

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

172

172

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

Mboza

Moatize

Estrada de transporte Directamente

- Origem: migrantes de Macanga, à procura de solo fértil. Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil. - Etnicamente diversificados Nhungwe, Sena, Malawiano, descendentes de colonos portugueses). - Crises: seca, fome, doenças. - Nenhuma experiência em mineração ou reassentamento.

- Passado e Presente da Imigração: Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil.

- Estrada para Moatize - rio (Revubue) e regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igreja católica - machamba - estábulo

- Principal: agricultura - separação de areas para a agricultura e para a pastagem de gado + extração de lenha

- Montanhas sagradas para cerimónia da chuva, cerimónia da agricultura e culto aos antepassados. Entrada proibida. - Locais sagrados não podem ser transferidos para outros locais (as cerimónias não irão funcionar). - cemetérios: apenas para membros da comunidade (montanha sagrada), outro público.

- Todos: local e ponto de encontro da comunidade - Mulheres: rio

Tenge-Makodwe

Área de Concessão Directamente

- Origem: trabalhadores migrantes de Manica, alojados e satisfetios com o solo fértil - crises: Guerra de 1976-1992 ('83), luta de libertação, doenças (malária, cólera, disenteria, unidade hospitalar distante), secas e cheias.

- Imigração faz parte da história da comunidade - presente: mais imigrações (agricultura) do

- Rio Revubue (consumo de água, terreno de irrigação agrícola, pesca) - montanha sagrada - área abastecimento de água

- Principal: agricultura - separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado +

- Árvore e Montanha sagrada (cerimónia de chuva com Tsato, cerimónia da madeira). Nova árvore cerimonial poderá ser escolhida se a árvore anterior for queimada.

- Mulheres: machamba, rio/fonte de abastecimento de água, moinho, floresta/ extração de

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

- experiência temporária de desajolamento devido à Guerra, mas nenhum alojamento permanente. - experiência de mineração: Capitol 2011.

que a emigração (busca de emprego)

- floresta (terreno, caça, precipitação) - escola - moinho

extração de lenha

- cemitérios públicos (separação de áreas para adultos/ crianças). Sepulturas poderão ser transferidas com autorização do chefe comunitário. . - igreja

lenha. - homens: barracas

Mbuzi

Chiúta

Directamente

- Origem: migrantes de Chidzolomondo, à procura de solo fértil, área inabitada - crises: guerra (luta de libertação de '71, 1976-1992 guerra de '82), fome ('83), seca ('89), disenteria ('94), cheias (2005), ataques de elefantes (recentemente). - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem assentamento permanente.

- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92 - Actualmente: recebe imigrantes à procura de solo fértil.

- Escola primária (1a

e 2a classe)

- poço (actualmente quebrado) - moinho - machamba (comida e lenha) - rio (pesca, água para o gado, irrigação) - encontro da comunidade na árvore - igrejas

- Principal: agricultura. Terrenos agrícolas próximos ao rego. Comida e lenha. - conflito homem/animal, embora não haja disputa de terreno.

- Igrejas - cemitérios (2 para adultos e 2 para crianças). Cemitérios não poderão ser transferidos. - locais sagrados (rocha, baobá, monte dos leões, montanha Muniamba): cerimónia da chuva com Tsato, autorização concedida para os estrangeiros exercerem mineração.

- Na sua totalidade: grande árvore nteme, moinho - mulheres: machamba, rio, igreja - homens: machamba, momentos de celebração.

Chianga Directamente

- Origem: migrantes de Mbuzi à procura de solo fertile, satisfeitos com o solo e a proximidade com o rego de Chianga.O nome provém do rego. - Crises: guerra (1976-1992), fome ('83, '92, '05), disenteria ('93), malária (2012) e conflitos homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014), cheias (inundações às machambas 2008) - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem reassentamento permanente.

- As pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92

- Terrenos agrícolas (próximos aos regos) - rio (pesca, água para a irrigação) - floresta (consumo e venda de Madeira)

-Principal: agricultura. Terrenos agrícolas localizados junto aos quintais da casa e aos regos - conflito homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014).

- Igreja Abdulahamu - Montanha (cerimónia da chuva Tsato,relação da cobra com os antepassados) - árvore ceremonial Ntalala (também é ponto de encontro da comunidade) - cemitérios públicos de Massamba and Mbuzi (próximos)

- todos: árvore Ntalala - mulheres: terrenos agrícolas e na recolha de água ao rio - homens: nas barracas ou na casa do amigo

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

Muchena Directamente

- Origem: migrantes de Zumbo/ Macanga, satisfeitos com a boa zona de habitação. - Presença Colonial, luta de libertação ('71), 1976-1992 guerra ('82). - crises: Guerra, cólera. Não há conflitos de terreno. - não há experiência de mineração - não há experiencia de reassentamento involuntário (desalojamento temporário devido à guerra mas sem reassentamento permanente)

- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido ao tratamento de doenças (regime colonial / ataques armados/ guerra). Retornando depois de '92 - imigração (trabalho/Tete) e emigração (agricultura) acontecendo ainda - Chewa (local) e Nhugue (viente)

- Próximos ao: regos de Revubuè - bomba manual de água - mercado - rio (água para consumo, irrigação, pesca) - posto de saúde (para além da casa do Chefe da Localidade) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção.

- separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado (proteção das plantações contra animais) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção - posse da terra: customizada

- Ruínas de prisões coloniais - carro à vapor - igrejas - árvores sagradas dentro do cemitério (cerimónia da chuva Tsato, culto aos antepassados, anualmente) - local de ritos de iniciação (entrada proibida na floresta) - lago (punição) - cemitérios (público, próximo ao rio e aos terrenos agrícolas) - sepulturas (antepassados):poderão ser transferidos, mas nunca terá acontecido. Deverão ser feitas cerimónias.

- todos: árvore (ntowe), encontros da comunidade - mulheres: terrenos agrícolas, bombas manuais de abastecimento de água - homens: locais de consumo de bebidas

Nhambia Diirectamente

- Origem: migrantes do Chipire, à procura de solo fértil. - Luta de libertação, 1976-1992 guerra ('85). - crises: guerra, seca - conflictos man/animal. Sem disputa de território. - experiência de desalojamento voluntário e forçado (seca e guerra) mas sempre retornado. - experiência prévia de prospecção mineral (2008). Qualidade fraca do carvão fez com que a mineração terminasse. Foi postivo devido a possibilidade de empregar mão-de-obra local. - nenhuma experiência de reassentamento permanente.

- '85: desalojamento forçado para Kazula. Ataques armados, as pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Imigração: solo fértil (passado e presente), seca, guerra (passada) provenientes de localidades próximas. - hoje em dia:

- Machamba - montanhas e árvores sagradas - cemitérios - Escola - rio, regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igrejas - área de pastagem - estábulos

- Terreno: agricultura, pastagem de gado, lenha - separação da área para agricultura e da área para pastagem + extração de lenha

- Montanhas e árvores sagradas para cerimónia da chuva Ndzingoe com Tsato. Locais cerimoniais não deverão ser transferidos. - cemitérios (2): um para adultos, um para crianças. Públicas. Sepulturas poderão ser removidas dependendo da concordância da família, culto aos antepassados e compensação financeira. - igrejas

- ponto de encontro das mulheres: machamba, rio/ recolha de água. - ponto de encontro dos homens: barracas

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

175/189

175

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

emigração temporária (casamento)

Matacale Directamente

- Origem: migrantes de áreas próximas, à procura de solo fértil - Presença colonial, luta de libertação, guerra de1976-1992. Ataques armados: as pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Crises: guerra, cólera, fome, seca - conflito territorial devido ao projecto. Matacale proclamou ser proprietário do local mas não terá sido beneficiado, ao contrário de Massamba. O Chefe do Posto Administrativo verificou os limites territoriais e provou que o local pertencia ao Matacale, que agora está a beneficiar com o projecto. - 2009: Capitol inicia a mineração. Boa experiência, empregou-se mão-de-obra local (embora tenha havido conflitos com Massamba). - experiência temporária de desalojamento (guerra), sem reassentamento involuntário permanente.

- Parte de origem mítica - hoje-em-dia: maior imigração (trabalho) do que emigração (casamento, trabalho)

- Estrada para a cidade com pontes. - rio (consumo de água,pesca, água para o gado, irrigação) - escola - igreja (fonte de ajuda) - Posto de Saúde Kazula (medicação, cloro para surtos de cólera) - floresta (chuva, paus de madeira para construcção, lenha). - montanha com recursos minerais (atraem companhias mineiras que empregam mão-de-obra local) - mercado - bomba de água - cemitério público(1 para adultos, 1 crianças)

- Machambas nas margens dos rios, regos. - duas empresas activas de Madeira serrada na área. - Montanhas Chitongue: mineração (Capitol)

- Montanhas Chitongue com Tsato: cerimónia da chuva Colole (participação de toda a comunidade). - Locais cerimonias não podem ser transferidos. – cerimônias da chuva também são realizadas nos regos. -cemitérios: um para adultos e um para crianças. Públicas. - Sepulturas não devem ser transferidas.

- Ponto de encontro de mulheres: machamba e nas fontes de água. - ponto de encontro de homens: mercado, barracas. - todos: nas sombras das mangueiras.

Massamba Indirectamente

- Origem: migrantes Sena, satisfeitos com a fertilidade do solo e com os animais de caça - crises: cheias, fome, guerra (luta de libertação '63, guerra de 1976-1992), anemia - experiência de prospecção mineral: prospecção (Gondwana, 2009), exploração (Capitol, 2010) - não há experiência de reassentamento permanente

- Passado: emigração para fazendas Zimbabweanas, desalojamento devido à guerra civil - hoje-em-dia: procura de emprego na cidade de Tete, Malawi.

- Escola primária completa - Machamba - lagoa e regos (consumo de água, pesca e irrigação) - Floresta (lenha, paus de madeira)

- Principal: agricultura - separação do terreno para agricultura, pastagem de gado e extração de lenha. - Floresta: lenha e paus de madeira

- Cemitério público - cemitério familiar/ ritos de iniciação para rapazes. - árvores Mteme / ritos de iniciação para meninas - Rego Canditi / culto dos antepassados - É possível remover sepulturas após autorização, rituais e

Todos: sombra das magueiras/ Madgiga

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

compensação monetária.

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Mboza

Moatize

Estrada de transporte Directamente

- Principal: agricultura (milho, amendoim, milho-miúdo, feijão-frade, batata doce, cassava) - criação de gado - pesca - produção e venda de carvão, lenha,esteiras

4 bairros - matriz de autoridade: 1. líder da comunidade nfumo (solucionador de problemas) 2. Vice-líder 3. Chefe da Zona (divulgação de informação) 4. Chefe de Quarteirão (resolve problemas diários) 5. Chefe da OMM Havia um juíz mas após a sua reforma, não foi substituído.

Crianças órfãs - 3 quartos (sala de estar + 2 quartos de dormir). Feitos com lama e paus de madeira. - quintal: cozinha, celeiro (parte dianteira), latrina, casa-de-banho, curral (galinha, goat, porco, vaca) (traseiras)Tudo feito de caniço excepto a cozinha (lama e paus de madeira) - vizinhos: parentes, boas relações

- Conflitos (domésticos, violência, embriaguez), resolvidos internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis

- Projecto deve comunicar e coordenar com a comunidade. - comunidade: preocupação acerca do reassentamento (querem proteção, não querem ser afastados). - projecto: prioritizar empregos para a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais. Evitar falsas promessas. - necessidades de infra-estruturas sociais: hospital, escola, fontes de abastecimento de água, mercado.

Tenge-Makodwe

Área de Concessão Directamente

- Principal: agricultura (cebola, tomate, milho, feijão, alface, cana de açúcar, banana, batata, batata doce, tabaco) - criação de gado - pesca

5 bairros 608 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário 2. Chefe do bairro 3. Chefe 10 casas 4. Secretário partido + Adjunto Secretário 5. Polícia comunitária (abaixo do líder comunitário) 6. Chefe da OMM & adjuntos.

Idosos, órfãos, deficientes

- 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das crianças, despensa). Feitos com paredes de lama e paus de madeira. - sem vedação, mas com árvores - vizinhos: parentes, membros comunitários. Boas relações.

- Conflitos e crises resolvidas internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis

- Abordar necessidades sociais da comunidade. - uma pessoa deverá tomar conta da outra (respeito mútuo) - Evitar falsas promessas - Mostrar uma attitude "Até aqui tudo bem" perante o projecto.

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Mbuzi

Chiúta

Directamente

- Principal: agricultura (milho, repolho, alho, tomate, cebola, feijão-frade, feijão manteiga, mandioca, amendoim, quiabos, alface, batata-doce, caphodza, tabaco) - Pesca - Produção e venda de carvão

5 bairros Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (governa). 2. Líder religioso/ vice-líder comunitário (resolve conflitos). 3. 1º Secretário Partido (propaganda) 4. Chefe da OJM (mobilizar os jovens) 5. Chefe do quarteirão (resolver problemas diários) 6. Chefe 10 casas (disseminar informação)

Idosos - 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das meninas, quarto dos meninos). Rapazes com mais de 9 anos vivem em quartos separados fora no quintal. Feitos com paus de madeira. Quintal: área de refeições, celeiro (frente), casa de banho c / latrina, curral (cercado com porcos, cabras, patos, frango, vaca), galinha (traseiras). - Vizinhos: parentes. Boas relações.

- Conflitos e crises resolvidos internamente. - Contribuição em espécie por familiares em momentos de dor.

- Respeito mútuo - Comunicação clara, regular e de antemão e consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Marcar uma reunião inicial com a comunidade, com agenda pré-definida - Empresa: priorizar a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais (posto de saúde, bomba de água) - Se surgirem problemas: identificar as causas e as soluções em conjunto

Chianga Directamente

- Agricultura (consume principal) - Criação de gado - Pesca (consumo) - Produção e venda de carvão

3 Bairros Matriz de autoridade vertical: - Chefe (n'fumo), - Líder com Vice-líder. - Chefe de Quarteirão - 10 Casas.

- Idosos, jovens desempregados

- 3 quartos, construídos com paredes feitas com lama e paus de madeira ( quarto dos pais, quarto das criança, sala de estar). Crianças com 9 anos ou mais velhas: quarto separado no quintal. - fora do quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, curral (com cabras, vacas, porcos) (traseiras), celeiro, galinha (frente). - Quintal não cercado (mas limitado por

- Funeral: apoio em espécie ou em dinheiro dos membros da comunidade - Cheias de 2008: membros da comunidade contribuíram e compraram milho juntos

- Respeito mútuo - Comunicação antecipada e realizar consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Respeitar as datas de início da actividade mineradora - Empresa deve resolver as necessidades da comunidade - Comunidade deve contribuir com o trabalho

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.

Muchena Directamente

- Principal: agricultura (homens, mulheres, crianças)

2 bairros, blocos(40 casas) Matriz de autoridade vertical: 26 Lideres locais: 1 nfumo/ 1º escalão 3 nhankawa/ 2º escalão 10 Nhankawa/ 3º escalão 1 chefe + 12 chefes de quarteirão

Idosos, deficientes, pessoas 'preguiçosas'

- Casa com 2 quartos (sala de estar + quarto), feitos com paredes de lama e paus de madeira com telhado de palha - Crianças +7 anos: casa separada (1 quarto), rapazes & raparigas separados - Fora do quintal: cozinha (c/armazenamento de água), latrina, casa de banho, celeiro, aterro sanitário, curral (tudo caniço) - Quintal cercado com plantas - Vizinhos: boas relações

- Comunidade unida, os vizinhos se reúnem para conversar à noite, e dar apoio nos momentos de tristeza - Seguir os líderes, contar com a sua orientação

- Projecto: responder as necessidades da comunidade (escola, hospital, pontes, rede de telefonia celular, furos, posto policial) - Governo deve contribuir com recursos humanos para construção de serviços sociais - Empregar mão-de-obra local - Respeito as tradições locais - Atribuir subsídios aos líderes (apoiam os interesses da empresa)

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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181

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Nhambia Directamente

- Principal: agricultura (sorgo, milho, amendoim, feijão-frade, abóbora, quiabos, repolho, tabaco, batata, batata-doce). - criação de gado - pesca

4 Bairros 213 residentes Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário (Nhakwawa, governa) e chefe do tribunal (resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (vice-líder) 4. Chefe 10 casas (4): mobiliza a população

Idosos, crianças órfãs, deficientes.

- 3 Quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) - Quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, currais (com cabra, vaca, porco) (nas traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal não cercado (limitado por árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.

- Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos - Toda a comunidade participa e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)

- Projecto; priorizar o emprego de mão-de-obra local, fornecer infra-estruturas sociais (escolas, estradas, bombas de água, apoio a crianças órfãs e idosos) - Papel da comunidade: fornecer trabalho para a construção de infra-estrutura social. - Preocupação em relação ao reassentamento (há terra fértil, e o rio por perto - não querem deixar a menos que o novo local tenha as mesmas condições)

Matacale Directamente

- Principal: agricultura (sorgo, milho-miúdo, feijão manteiga, abóbora, piri-piri, pepino, mandioca, batata doce, amendoim). - Mas a seca: fome, crianças saíram das escolas; HH compra comida em Tete. - pesca

5 Bairros 582 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (Nhakwawa, recolhe/ dissemina informação) e chefe de tribunal (nkulo wa kote, resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (resolve problemas) 4. Chefe 10 casas: mobiliza a população

- Idosos, crianças órfãs, viúvas e deficientes

- 3 quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) com varanda - Fora do quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, curral (s) (com cabra, vaca, porco) (traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal com cerca (de caniço, e paus de madeira) - Vizinhos: membros da comunidade, não parentes. Boas relações.

- Membros da comunidade participam e contribuem para as cerimónias sagradas e celebrações - Celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio) - Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos

- Projecto: consultar a comunidade sobre 'coisas que eles precisam' - Preocupação com a falta de comunicação com a Capitol. Devem tratar os Matacale da mesma forma que tratam os Tenge e Massamba (emprego, infra-estrutura social) - Infra-estruturas sociais: escolas, bombas de água, hospital, estradas para mercado cobertura de telefonia celular, transporte, apoio aos idosos, banco - Papel da comunidade: fornecer mão-de-obra (pedreiros, carpinteiros disponíveis)

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Massamba Indirectamente

- Principal: agricultura (milho, sorgo, milho-miúdo, amendoim, feijão-frade, cana-de-açúcar, feijão boer., cassava) - Criação de gado - Pesca - Produção e venda de carvão

4 bairros Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário 2. Polícia comunitária 3. Secretário do bairro 4. 1º Secretário partido 5. Chefe da OMM 6. Chefe do quarteirão 7. Chefe de 10 casas

Deficientes - 2 quartos (sala de estar + quarto) - Quintal: cozinha, celeiro (na frente), latrina, banheiro, curral (com porco, cabra, vaca), galinha (nas traseiras). - Sem vedação - Vizinhos: em sua maioria parentes, boas relações

- Conflitos são resolvidos internamente (fome, embriaguez, problemas domésticos) - Toda comunidade participa, e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)

- Consulta e coordenação - Projecto deve abordar as necessidades da comunidade (posto médico, estradas, cobertura de telefonia celular). - Evitar falsas promessas. - Respeitar as lideranças locais - A comunidade está preocupada com a ocupação das locais sagrados devido as actividades do projecto - Comunidade irá contribuir com trabalho

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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Anexo E: Inquérito ao Agregado Familiar

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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Anexo F: Mapas elaborados

1 – Localização do projecto

2 – Comunidades na área do projecto

3 – Companhias mineiras contíguas à área do projecto

4 – Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como sendo intransferíveis

5 – Estradas e caminhos de ferreo da área do projecto.

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL

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INSTRUMENTOS QUALITATIVOS PARA ESTUDO DE IMPACTO SOCIAL

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