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Relatório de Estágio da Prática de Ensino Supervisionada Bruno Alexandre do Amaral Monteiro Mestrado em Ensino do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico Outubro de 2011

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  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 1

    Relatrio de Estgio da Prtica de

    Ensino Supervisionada

    Bruno Alexandre do Amaral Monteiro

    Mestrado em Ensino do 1. e do 2. Ciclo do Ensino Bsico

    Outubro de 2011

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    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 2

    Relatrio de Estgio da Prtica de

    Ensino Supervisionada

    Bruno Alexandre do Amaral Monteiro

    Mestrado em Ensino do 1. e do 2. Ciclo do Ensino Bsico

    Prof Orientadora

    Professora Doutora Ana Margarida Fonseca

    Outubro de 2011

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    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 3

    Resumo

    O estudo que aqui se apresenta est organizado em trs partes: a primeira

    incide no enquadramento institucional, ou seja, na descrio da organizao e

    administrao escolar do Agrupamento de Gouveia, no ano lectivo 2010/2011; a

    segunda patenteia uma breve descrio e reflexo do processo de Prtica de Ensino

    Supervisionada no referido Agrupamento, reflectindo-se sobre aspectos relativos s

    observaes e regncias de vrias aulas; e a terceira parte recai numa investigao

    acerca das concepes que os professores tm acerca da importncia de hbitos de

    leitura.

    Os discursos sobre as baixas competncias de literacia dos alunos motivaram-

    nos a realizar o presente estudo, no intuito de compreender a forma como os

    professores se posicionam face prtica da leitura. O sucesso que podemos alcanar,

    tanto a nvel social como pessoal e profissional, depende muito da compreenso que

    advm da leitura e da importncia que lhe atribumos. Assim, torna-se pertinente que

    a leitura seja feita de forma a que nos consigamos tornar leitores fluentes e crticos,

    capazes de compreender o verdadeiro significado da mensagem transmitida pelo

    texto.

    Neste contexto, a famlia e a escola possuem uma funo primordial na

    transmisso do gosto pela leitura. No entanto, apesar da importncia da leitura, os

    estudos mostram que a situao de Portugal, no que concerne literacia,

    preocupante. Para ajudar a combater este facto criou-se o Plano Nacional de Leitura, o

    qual apresenta programas, estratgias e actividades para promover os hbitos de

    leitura. Pretende-se, assim, assegurar que todas as crianas tenham acesso a livros e,

    desta forma, aumentem os nveis de literacia. , portanto necessrio, que se

    promovam actividades que motivem as crianas leitura e que tenham uma

    abordagem ldica, principalmente para crianas que tenham alguma reticncia

    relativamente a esta prtica. Torna-se, ento, importante reflectir profunda e

    criticamente sobre os hbitos de leitura nas nossas escolas.

    Palavras-Chave: Leitura, Plano Nacional de Leitura, Escola e Professores.

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    Abstrac

    This following study is organized in three parts: in the first part, it will be given

    the institutional framing, e.g., the description of the school organization and

    administration system in Agrupamento de Gouveia, in the school year 2010/11; the

    second part will be a short description and reflexion of the Supervised Teaching

    Practice process in the Agrupamento emphasizing aspects related with the supervision

    and conduction in several classes; the third and last part, will be an investigation on

    the conceptions that teachers have on the importance of reading habits.

    The speeches on the low literacy skills of the students have led us to focus on

    this matter, so that we could understand how a group of teachers will put the reading

    into practice.

    The success we can achieve at social, personal and professional level depends

    greatly on the understanding that comes with ability and importance we give to the

    ability of reading. Therefore, it is important that the reading is done in a way we can

    become fluent, critical readers and able to understand the true meaning of the

    message conveyed by the text.

    In this context, family and school have the main responsibility to transmit good

    reading habits to their children. However, despite the importance of reading, recent

    studies show that, in what concerns literacy, Portugals situation is worrying. To go

    against this tendency, the Plano Nacional de Leitura (National Reading Plan) was

    created .

    The National Reading Plan consists of programmes, strategies and activities

    which aim to promote reading habits. In this way, assure that all children have access

    to books and increase childrens literacy level. Therefore, it is necessary to promote

    activities that motivate children to read in a funny way, especially for children who

    dont like reading very much.

    It is important to reflect deep and critically on the reading habits in our schools.

    Key words: Reading, National Reading Plan, school and teachers.

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    Agradecimentos

    A formulao do presente projecto, bem como a investigao bibliogrfica que

    pressupe, foram alcanados em merc do incentivo recebido, ao longo de algum

    tempo de trabalho, por vrias pessoas e instituies.

    Neste sentido, quero agradecer a todos os docentes, das distintas

    componentes curriculares, a atitude e o estmulo que despertaram em mim, com

    particular destaque para:

    - A Professora Doutora Ana Margarida Fonseca, orientadora do presente

    trabalho, pela disponibilidade, estmulo e apoio que sempre me deu.

    - Os meus agradecimentos ao Professor Doutor Carlos Francisco de Sousa Reis,

    pela sua orientao cientfica valiosa em todos os momentos, aos seus conhecimentos

    e sua disponibilidade se devem, em grande parte, os aspectos positivos deste estudo.

    - Professora Isabel Saraiva e Francisca Reis, professoras do Agrupamento de

    Gouveia, agradeo o encorajamento e o apoio emocional.

    Agradeo a todos os meus colegas da Escola Superior de Educao,

    Comunicao e Desporto pela compreenso, companheirismo e aprendizagem ao

    longo deste trajecto. Obrigado, por comprovarem que qualquer momento da vida

    uma oportunidade para construir amizades vitalcias.

    Zita, ngela, Isabel, Sandra, ao Lus, pela companhia em todas as horas

    desta viagem e, principalmente, por acreditar que chegaramos ao destino.

    Essencialmente, pelos dias que marcam a alma e a vida da gente, ao longo de centenas

    de viagens em grupo, at cidade da Guarda.

    minha famlia e em especial Rita, que ao longo da nossa histria resistiram

    a todas contrariedades e me fizeram acreditar.

    A todos os meus alunos, dos concelhos de Gouveia e Seia, pelo carinho, pelo

    apoio e amor incondicional.

    A todos os que, directa ou indirectamente, contriburam para este trabalho e

    que fariam uma longa lista.

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    ndice Geral

    Resumo 3

    Abstract 4

    Agradecimentos 5

    ndice Geral 6

    ndice de Figuras, Mapas e Grficos 8

    Siglrio 9

    Introduo 10

    Captulo I

    1. Enquadramento Institucional 13

    2. Caracterizaes Socioeconmicas e Psicopedaggicas das Turmas 20

    Captulo II

    1. Descrio do Processo de Prtica de Ensino Supervisionada 26

    Captulo III

    PRIMEIRA PARTE A LEITURA: UMA COMPETNCIA FUNDAMENTAL

    1. O Prazer de Ler 40

    2. O que Ler 43

    2.1 O que a Literacia 45

    2.2 A Criana e a Leitura 47

    2.3 A Leitura no Programa do 1. Ciclo do Ensino Bsico 48

    2.3.1 Compreenso Leitora 51

    2.3.2 A Leitura nos Manuais 52

    3. O Plano Nacional de Leitura 54

    3.1 O Papel da Escola na Promoo da Leitura 57

    3.2 O Plano e as Bibliotecas como Incentivo Leitura 58

    3.3 O Plano e a Famlia 59

    3.4 O Plano e a Escola 61

    SEGUNDA PARTE ESTUDO EMPRICO

    1. Problemtica 63

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    1.2 Objecto 64

    1.3 Metodologias 65

    1.4 Anlise dos Inquritos aos Professores 66

    Consideraes Finais 79

    Referncias Bibliogrficas 82

    Webgrafia/Legislao 85

    Anexos

    Anexo I Materiais utilizados na UC de Matemtica 87

    Anexo II Materiais utilizados na UC de Lngua Portuguesa 88

    Anexo III Materiais utilizados na UC das Cincias da Natureza 89

    Anexo IV Materiais utilizados na UC de Histria e Geografia 90

    Anexo V Actividades Intrnsecas Competncia da Leitura 91

    Anexo VI Inqurito por Questionrio 98

    Anexo VII Conjunto de modalidades de leitura. 100

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    ndice de Figuras

    ndice de Mapas

    Mapa 1 Distrito da Guarda 13

    Mapa 2 Freguesias do Concelho de Gouveia 15

    ndice de Grficos

    Grfico 1 Sexo (masculino/feminino) dos docentes 66

    Grfico 2 Conhece o Plano Nacional de Leitura? 67

    Grfico 3 Indique desde quando tomou conhecimento do PNL. 67

    Grfico 4 Considera o Plano importante para incutir aos alunos o gosto pela leitura?

    68

    Grfico 5 No decorrente ano j iniciou a(s) leitura(s) de alguma(s) obra(s) do PNL?

    69

    Grfico 6 Como foram adquiridas as obras para trabalhar na sala de aula?

    70

    Grfico 7 Quanto tempo dedica, por semana, a essa modalidade? 71

    Grfico 8 J sugeriu alguma obra de leitura autnoma aos alunos? 72

    Grfico 9 Que modalidades de leitura efectua? 73

    Grfico 10 Considera adequadas as obras recomendadas pelo PNL? 74

    Grfico 11 A sua escola tem biblioteca? 76

    Grfico 12 A biblioteca possui livros recomendados pelo PNL? 76

    Grfico 13 Considera esta medida importante? 77

    Pginas

    Figura n. 1 Resultados Preliminares do Censos 2011 Regio Centro 14

    Figura n. 2 Cidade de Gouveia 16

    Figura n. 3 Rede Escolar do Agrupamento 17

    Figura n. 4 Escola Sede do Agrupamento 18

    Figura n. 5 Vista Lateral do Agrupamento de Escolas de Gouveia 26

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    Siglrio

    AEG Agrupamento de Escolas de Gouveia

    CAP Comisso Administrativa Provisria

    CEB Ciclo do Ensino Bsico

    CET Curso de Especializao Tecnolgica

    EFA Educao e Formao de Adultos

    ESECD Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto

    IPG Instituto Politcnico da Guarda

    PES Prtica de Ensino Supervisionada

    PNL Plano Nacional de Leitura

    TIC Tecnologias da Informao e Comunicao

    UC Unidade Curricular

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    Introduo

    O presente trabalho foi realizado no mbito do Mestrado em Educao - 1. e

    2. Ciclo do Ensino Bsico, na Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto

    do Instituto Politcnico da Guarda. Pretende descrever e analisar os resultados obtidos

    nos inquritos por questionrio sobre os hbitos de leitura no 1. CEB e a estrita

    relao com o PNL, projecto desenvolvido no AEG.

    O relatrio encontra-se dividido em trs captulos. No primeiro fazemos

    referncia ao enquadramento institucional organizao e administrao escolar, e

    ainda caracterizao socioeconmica e psicopedaggica das turmas de estgio,

    nomeadamente as do Agrupamento de Escolas de Gouveia (AEG), onde

    desenvolvemos o estgio.

    No segundo captulo descrevemos o processo de prtica de ensino

    supervisionada, desenvolvido no AEG. Neste referimos, de forma global, o processo da

    prtica de ensino enquanto professores estagirios, pormenorizando alguns

    acontecimentos e actividades das nossas experincias docentes.

    E finalmente, no que se refere ao ltimo captulo, pretendemos tratar a

    problemtica dos hbitos de leitura dos alunos no 1. CEB. Este terceiro captulo surge

    com o intuito de aprofundarmos o nosso conhecimento acerca da temtica da leitura e

    dos hbitos dos alunos, reflectindo criticamente sobre o papel que ocupa no meio

    escolar, familiar e social.

    Foi com o objectivo de realizar este trabalho que nos propusemos a uma vasta

    pesquisa bibliogrfica, de forma a darmos respostas a algumas questes intrnsecas

    leitura: Ser que nas escolas do 1. ciclo a leitura uma prtica assdua? Como feita a

    leitura? Que modalidade de leitura usam? At que ponto o Plano Nacional de Leitura

    poder ter influenciado hbitos de leitura e competncia de leitura? Nas escolas lem-

    se livros recomendados pelo Plano?

    Apesar de conscientes das dificuldades que as mais diversas questes possam

    levantar, esperamos dar a nossa contribuio. Para uma maior eficcia no tratamento

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    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 11

    da temtica, realizmos um inqurito por questionrio de perguntas abertas e

    fechadas, possibilitando maior profundidade e diversidade da informao, contando

    com a participao de um grupo de docentes do AEG. Deste modo, desejamos que o

    nosso contributo ajude a despertar para a importncia da leitura e, posteriormente,

    para a criao de hbitos da mesma, sendo que uma problemtica que tanto nos

    inquieta.

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    Captulo I

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    1. - Enquadramento Institucional

    Brofenbrenner ensinou-nos que o desenvolvimento da criana o

    resultado de interaces complexas entre os diferentes sistemas

    ecolgicos de que a criana parte, quer seja a famlia, a vizinhana,

    a escola ou as instituies comunitrias (Marques, 1994:54).

    O concelho de Gouveia, situado no centro do pas, tem cerca de 302,49 km de

    rea, encontrando-se subdividido em 22 freguesias e 14 089 habitantes. O municpio

    limitado a norte por Fornos de Algodres, a nordeste por Celorico da Beira, a leste pela

    Guarda, a sueste por Manteigas e a sudoeste por Seia.

    Mapa n. 1 Distrito da Guarda Fonte: http://mapas.owje.com/5948_guarda-district-map-portugal.html

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    Diz-se que Gouveia ter sido povoada pelos Trdulos no sculo VI a.C. e

    posteriormente pelos Luso-Romanos. A rainha D. Teresa doou-a em couto, no ano de

    1125, aos freires da Ordem de So Joo de Jerusalm, radicados no Mosteiro de guas

    Santas, na Maia. D. Sancho, ao v-la abandonada, outorgou-lhe foral em 1186,

    enchendo de privilgios os seus moradores e tentando, desta forma, assegurar o seu

    repovoamento. D. Afonso II renovou-lhe o foral em 1217, aumentando-lhe ainda mais

    as suas regalias. Recebeu o foral novo manuelino em 1510.

    A cidade foi conhecida por Tear da Beira, tendo recebido a primeira mquina

    industrializada para a indstria de lanifcios. Foi, at meados dos anos 80, uma das

    mais importantes cidades da regio na indstria de lanifcios. Esta zona caracteriza-se

    pela sua natureza, onde as indstrias so escassas e pouco diversificadas. Muita da

    populao vive do sector primrio - agricultura - sendo complementado por ainda

    alguma actividade industrial e comercial existente no concelho.

    Como todas as regies do interior, Gouveia sofreu um declnio demogrfico nos

    ltimos anos. As principais causas desta desertificao so as migraes e a reduo da

    taxa de natalidade.

    Actualmente, considerada a Cidade Jardim, devido aos seus espaos verdes e

    jardins cuidados.

    Figura n. 1 Resultados Preliminares do Censos 2011 - Regio Centro Fonte: www.ine.pt em Censos2011_R.Preliminares_Parte1_cor2

    http://www.ine.pt/

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    A cidade de Gouveia conta com duas freguesias, So Julio e So Pedro, como

    se pode observar, seguidamente, no Mapa n 2.

    So Pedro uma das freguesias urbanas da cidade. As principais actividades

    econmicas so o comrcio, a indstria e os servios.

    Esta freguesia possui um vasto patrimnio arquitectnico edificado, que

    testemunha a importncia histrica deste local. importante destacar a Casa da Torre,

    um edifcio quinhentista, com uma janela manuelina que monumento nacional; o

    Colgio dos Jesutas, actual Cmara Municipal, este um imponente edifcio do sculo

    XVIII, construdo como colgio para a Companhia de Jesus; o Solar dos Serpa

    Pimentis, Marqueses de Gouveia, tambm com caractersticas barrocas, que torna

    majestosa a praa onde se situa; o Pao dos Condes de Vinh, onde actualmente se

    situa o museu Abel Manta, com uma magnfica coleco de arte contempornea; a

    igreja de So Pedro, que possui inmeros detalhes com caractersticas barrocas em

    granito na sua parte frontal. Esta freguesia presenteia a cidade com dois mirantes: o

    Paixoto e o do Senhor do Calvrio, que oferecem uma vista magnfica de toda a

    regio. Esta freguesia encontra-se ainda repleta de uma oferta de numerosas

    Mapa n. 2 Freguesias do Concelho de Gouveia Fonte: www.ine.pt em Censos2011_R.Preliminares_Parte1_cor2

    http://www.ine.pt/

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    colectividades e associaes, que enriquecem a localidade com uma oferta notvel de

    bens desportivos e culturais.

    So Julio possui um aglomerado de bairros operrios. Desta freguesia era

    originria a maior arte da mo-de-obra txtil, que fez de Gouveia um importante

    ncleo fabril da regio nos sculos XIX e XX. Esta freguesia apresenta-se com

    caractersticas mais rurais, ligadas pastorcia e agricultura, devido qualidade e

    pureza dos seus terrenos, fertilizados pela ribeira Ajax.

    Entre o patrimnio cultural e edificado desta freguesia, destaca-se o Convento

    de So Francisco, magnfica obra arquitectnica mandada edificar pela Ordem dos

    Templrios, desconhecendo-se em concreto a data da sua construo, e a Capela de

    So Miguel, um templo simples, todo ele construdo em pedra grantica da regio.

    Como locais de interesse turstico apresenta-se a Avenida Botto Machado, com um

    mirante com o mesmo nome, onde se encontra o busto de Pedro Amaral Botto

    Machado, grande lutador e benemrito republicano, natural de Gouveia. Esta

    freguesia centraliza uma grande parte do equipamento cultural e desportivo municipal

    de Gouveia, como as piscinas, o estdio de futebol o Farvo, o pavilho

    polidesportivo, uma das escolas de 1 ciclo, as escolas do 2, 3CEB e Secundria. Aqui

    tambm se encontra a sede da Associao de Beneficncia Popular de Gouveia com o

    seu jardim-de-infncia e a clnica de reabilitao, que oferece apoio teraputico a toda

    a populao no s do concelho, mas tambm do distrito.

    Figura n. 2 Cidade de Gouveia Fonte: www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1166243

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    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 17

    No que concerne Escola Bsica do 2 Ciclo do Agrupamento de Escolas de

    Gouveia, est localizada na freguesia de So Julio, concelho de Gouveia, na Rua

    Verglio Ferreira.

    A maior parte dos alunos que frequentam este estabelecimento de ensino so

    residentes nesta cidade e nas restantes freguesias do concelho.

    O agrupamento de escolas est dividido por diversas turmas, desde o Jardim

    Infantil at ao 12. ano. Estas encontram-se distribudas por todo o edifcio escolar e

    escolas das freguesias limtrofes.

    No ano lectivo 2010/2011, o agrupamento de escolas, face s reestruturaes

    do Ministrio da Educao no que respeita rede escolar, passou a administrar as

    seguintes turmas:

    Nmero de Turmas Valncias

    13 Jardins de Infncia

    15 Escolas do 1. CEB

    17 Turmas do 2. CEB

    20 Turmas do 3 CEB

    12 Turmas do Secundrio

    5 Turmas - CET

    4 Turmas - EFA

    No que concerne ao pessoal docente do agrupamento de escolas,

    constitudo, no ano lectivo de 2010/2011, por 180 professores, com uma mdia de

    idades que ronda os 50 anos e uma mdia de anos de servio de 24. , assim, um

    corpo docente que apresenta uma larga experincia e uma considervel estabilidade.

    Relativamente ao pessoal no docente, a Escola dispe de uma psicloga, de

    assistentes tcnicos (funcionrios administrativos) e de assistentes operacionais

    (funcionrios auxiliares de aco educativa), num total de 75 elementos.

    Em termos de estrutura organizacional, a Escola possui os seguintes rgos:

    Figura n. 3 Rede Escolar do Agrupamento Fonte: Prpria

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    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 18

    o Comisso Administrativa Provisria (CAP) - o rgo provisrio da

    administrao e gesto nas reas pedaggica, cultural, administrativa,

    financeira e patrimonial, constituda por: Conselho Geral, Director,

    Conselho Pedaggico e Conselho Administrativo;

    o Estruturas de Organizao Pedaggica - constitudas pelas:

    o Estruturas de coordenao e superviso - responsveis pelos

    Departamentos Curriculares e Conselho de Orientadores de

    Estgio;

    o Estruturas de organizao das actividades da turma compostas

    pelo Conselho de Turma, Director de Turma, Conselho de

    Directores de Turma e Coordenador dos Directores de Turma.

    O actual edifcio escolar tem uma disposio harmoniosa que permite a boa

    circulao dos utentes nos seus espaos. Dispe de salas, gabinetes de trabalho e

    espaos de convvio em nmero diversificado e adequado ao desenvolvimento das

    actividades. O estado de conservao bom, embora j se verifique algum desgaste

    das estruturas, tem sofrido algumas remodelaes ao longo dos anos e recentemente

    foi equipada com um leque diversificado de novas tecnologias, contribuindo assim

    para uma aprendizagem eficaz. A este respeito, Pato (1997) preconiza que a Escola,

    para realizar aco eficaz, necessita de contar com meios tcnicos e cientficos que se

    devem englobar num organismo prprio do saber pedaggico.

    Figura n. 4 Escola Sede do Agrupamento Fonte: www.rbgouveia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=47&Itemid=54

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    O edifcio onde realizmos as nossas regncias constitudo por trs pisos: o

    rs-do-cho, constitudo no s pelas salas de aula, mas tambm pela parte

    administrativa da escola; o primeiro piso, totalmente constitudo por salas de aulas e

    salas dos professores; e o segundo piso, onde se situam salas de aulas e bibliotecas.

    Alm do edifcio central, a escola possui ainda vrios pavilhes, onde se encontram

    salas de aula, casas de banho e salas de actividades. Um dos pavilhes comporta ainda

    o ginsio e a cantina escolar.

    O espao exterior est devidamente vedado com um gradeamento metlico.

    Este um espao amplo que possui alguma vegetao e outras zonas trreas

    suficientes para os alunos poderem desenvolver outro tipo de actividades, desde os

    jogos tradicionais s brincadeiras livres. Neste espao existe ainda um campo de

    futebol e um espao para a prtica de basquetebol.

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    2. Caracterizaes Socioeconmicas e Psicopedaggicas das Turmas

    No que concerne caracterizao socioeconmica e psicopedaggica das

    turmas, ser feita resumidamente, devido no disponibilizao da informao por

    parte dos directores das turmas da escola onde regemos. Estas caracterizaes

    assentam apenas nas informaes orais que nos foram facultadas pelos professores

    das turmas e nas observaes realizadas durante as regncias, pois existe um rigoroso

    regime relativamente confidencialidade dos processos dos alunos

    As Turmas de Lngua Portuguesa

    No que respeita ao estgio, nomeadamente disciplina de Lngua Portuguesa,

    foi realizado em duas turmas, 5. Azul e 5. Verde, que se demonstraram muito

    distintas. A turma do 5 Azul constituda por 24 alunos, com idades compreendidas

    entre os onze e os treze anos, sendo oito alunos do sexo masculino e dezasseis do sexo

    feminino.

    Nesta turma um dos alunos encontra-se integrado no Decreto-Lei 3 de 2008, de

    7 de Janeiro, tendo por isso apoio individualizado, com o objectivo de responder s

    necessidades especiais, requeridas no seu projecto individual.

    O grupo apresenta alguns problemas comportamentais, o que por vezes leva

    destabilizao. Estes problemas reflectem-se no s em termos de agitao motora,

    mas tambm em termos verbais.

    No que respeita ao ritmo das aprendizagens, podemos afirmar que um grupo

    muito heterogneo. Apesar de alguns problemas que a turma apresenta, h alunos

    interessados, muito dinmicos e bastante participativos.

    Os alunos so assduos e pontuais e s costumam faltar por motivos de doena.

    A grande maioria destes alunos vive nas aldeias limtrofes do concelho. Os alunos

    pertencem a um meio socioeconmico mdio, sendo a maior parte dos encarregados

    de educao empregados de servios, possuindo, maioritariamente, o 3 ciclo como

    habilitaes acadmicas, apesar de haver tambm um nmero reduzido de

    encarregados de educao licenciados.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 21

    importante referir que na turma se verifica uma certa interculturalidade, uma

    vez que existem alunos cujas famlias so de etnia cigana. Nestes casos as habilitaes

    acadmicas dos encarregados de educao so muito reduzidas, indo desde o

    analfabetismo at ao primeiro ciclo.

    Pudemos observar que esta turma apresenta algumas necessidades, no que se

    refere autonomia, sendo muito dependentes dos adultos na realizao das

    actividades.

    De uma forma geral, esta turma apresenta um nvel de aproveitamento escolar

    satisfatrio.

    Quanto turma do 5 Verde, esta constituda por 19 alunos, com idades

    compreendidas entre os onze e os treze anos; seis alunos so do sexo masculino e

    treze do sexo feminino.

    Esta turma mostra-se diferenciada da anterior porque, no que concerne s

    aprendizagens, homognea, de acordo com o interesse e nvel de aprendizagem,

    sendo possvel realizar bons trabalhos e desenvolver assuntos de forma um pouco

    mais aprofundada. H a excepo de dois alunos que esto integrados no Decreto-Lei

    3/200 e, devido a este aspecto, a turma reduzida. Porm, durante as regncias os

    mesmos encontraram-se ausentes da respectiva turma, mas presentes no

    estabelecimento de ensino, acompanhados pela professora de Ensino Especial, que lhe

    prestava apoio individualizado.

    No que respeita residncia, muitos destes alunos vivem na cidade de Gouveia,

    havendo alguns que habitam as aldeias limtrofes.

    Os alunos pertencem a um meio socioeconmico mdio-alto, sendo que existe

    um nmero reduzido de agregados familiares em que um dos cnjuges domstico, e

    h mesmo um caso onde o agregado familiar no aufere rendimentos, sendo auxiliado

    pelo Servio de Segurana Social, atravs do Rendimento Social de Insero.

    Relativamente s habilitaes acadmicas, estas so significativas na maioria dos

    encarregados de educao, com excepo dos casos referidos anteriormente.

    O grupo bastante coeso, participativo e dinmico nas aprendizagens. A

    grande maioria dos alunos no necessita de apoio individualizado, para que se

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 22

    verifique o sucesso desejado nas aprendizagens. um grupo de alunos com um

    percurso escolar normal e bastante autnomo.

    A nvel de comportamentos desviantes no h qualquer caso a registar,

    normalmente so crianas educadas, meigas, atenciosas e simpticas. Os alunos

    apresentam um comportamento bom, obedecendo sempre s regras estipuladas. Por

    esta razo, muito fcil realizar com estes alunos aprendizagens activas, significativas,

    diversificadas, integradoras e socializadoras. Esta turma no apresenta problemas de

    ateno e/ou concentrao que prejudiquem a assimilao de contedos e o

    desenvolvimento de competncias.

    Esta turma demonstrou uma auto-estima muito elevada, que se reflectiu na

    relao com os professores e no aproveitamento das actividades realizadas durante o

    estgio.

    A maioria dos alunos tem expectativas moderadas em relao escola e ao seu

    futuro profissional. De uma forma geral, este grupo apresenta um nvel de

    aproveitamento escolar muito satisfatrio.

    A Turma de Cincias da Natureza e de Histria e Geografia

    No que diz respeito turma de Cincias da Natureza, consideramos importante

    referir que esta se encontra dividida em dois grupos, devido realizao das

    actividades experimentais. Esta diviso torna-se profcua, permitindo uma maior

    participao nas actividades realizadas, tal como preconiza o despacho 14027/2007 de

    3 de Julho.

    A turma do 5 Castanho uma turma homognea, no s em termos etrios,

    mas tambm em termos comportamentais e de aprendizagem. de salientar que,

    relativamente s aprendizagens e ao comportamento, o facto de a turma se encontrar

    dividida se torna benfico para o seu desenvolvimento e para a sua progresso nas

    aprendizagens.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 23

    ainda importante realar que nesta turma no se encontram alunos

    integrados no Decreto-Lei 3 /2008.

    um grupo bastante autnomo, que no necessita de forma frequente de

    ensino individualizado, para que se verifique o sucesso desejado nas aprendizagens.

    Demonstrou, ao longo das regncias, ser uma turma bastante coesa,

    participativa, dinmica e criativa, ajudando-se mutuamente ao longo das

    aprendizagens. um grupo de alunos com um percurso escolar normal e bastante

    autnomo.

    Por norma, os alunos so assduos e pontuais, no tendo faltas injustificadas,

    faltando apenas por motivos maiores, como por exemplo doena.

    Quanto ao nvel socioeconmico destes alunos, pode-se mencionar que este

    muito diversificado, uma vez que os encarregados de educao possuem tambm

    habilitaes acadmicas muito distintas. Constata-se que h um nmero reduzido de

    encarregados de educao com grau de licenciatura, no entanto, a maioria possui o

    ensino secundrio.

    Quanto origem destes alunos, so oriundos das mais diversas zonas da

    cidade, tal como das aldeias limtrofes, cuja maioria dos pais/encarregados de

    educao tm o seu local de trabalho situado na cidade de Gouveia.

    A Turma de Matemtica

    Os alunos com os quais realizei a minha prtica pedaggica integravam-se na

    turma do 6 Dourado. Esta uma turma relativamente homognea em termos

    etrios e comportamentais. De um modo geral, o grupo apresenta um comportamento

    bastante satisfatrio. So alunos que possuem um desempenho considervel, no que

    diz respeito realizao de tarefas, existindo uma ou duas excepes que demonstram

    algumas necessidades no que se refere sua autonomia.

    No que concerne ao nvel do ritmo das aprendizagens, a turma apresenta um

    nvel bastante considervel, com a excepo de um aluno que est integrado no

    Decreto-Lei 3/2008. Devido a este aspecto a turma reduzida, no que respeita ao

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 24

    nmero total de alunos. Este aluno possui um acompanhamento especializado e

    individualizado, de forma a adquirir um maior desenvolvimento nas suas

    aprendizagens.

    Relativamente participao do grupo, este bastante participativo e

    dinmico. So, de uma forma geral, assduos e pontuais e s costumam faltar por

    motivo de doena. O seu aproveitamento ao longo das aulas demonstrou-se positivo,

    uma vez que interiorizavam com relativa facilidade os contedos que eram

    transmitidos.

    A grande maioria destes alunos vive na cidade de Gouveia, havendo poucos

    alunos residentes nas aldeias limtrofes. Os alunos pertencem a um meio

    socioeconmico mdio, onde a maior parte dos encarregados de educao so

    empregados de servios e tm, maioritariamente, o 3 ciclo do ensino bsico como

    habilitaes acadmicas. No entanto, h tambm um nmero reduzido de

    encarregados de educao com o grau de licenciatura.

    No que concerne aos comportamentos desviantes no h qualquer caso a

    registar, pois so alunos educados, atenciosos e simpticos. Os discentes mostram um

    comportamento bom, pois obedecem s regras estipuladas pelo professor da turma.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 25

    Captulo II

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 26

    1. Descrio do Processo de Prtica de Ensino Supervisionada

    O que fomos, como nos desenvolvemos e nos convertemos no que

    somos, aprendemos pela forma como actuamos, pelos planos que

    seguimos, pela forma como sentimos a nossa vocao, pelos nossos

    conhecimentos anteriores, pelos juzos que antes se iniciaram...Ns

    compreendemos os outros, quando transmitimos as nossas

    experincias vividas a todo tipo de expresso prpria e vida dos

    demais.

    Richman (2008:41)

    A Prtica de Ensino Supervisionada (PES), tal como referido no captulo

    anterior, foi realizada na Escola Bsica do 2 Ciclo do Agrupamento de Escolas de

    Gouveia. Como descrevemos anteriormente, a sede do agrupamento um edifcio que

    acolhe discentes residentes na cidade de Gouveia e nas restantes freguesias do

    concelho.

    A PES foi realizada tendo em conta a assinatura de um protocolo entre a Escola

    Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda e o Agrupamento de

    Figura n. 5 Vista Lateral do Agrupamento de Escolas de Gouveia Fonte: http://wikimapia.org/3471892/pt/Escola-Secund%C3%A1ria-C-3%C2%BACEB-de-Gouveia

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 27

    Escolas de Gouveia (AEG). importante referirmos que a PES fixa as normas

    regulamentares dos ciclos de estudos conducentes ao grau de mestre dos cursos

    previstos no Decreto-Lei 43/2007 de 22 de Fevereiro, a funcionar na ESECD, de acordo

    com o disposto no artigo 26 do Decreto-Lei n 74/2006, de 24 de Maro.

    Esta etapa final concretizou-se atravs da leccionao no 2. Ciclo do Ensino

    Bsico, nomeadamente nas reas de Lngua Portuguesa, de Histria e Geografia, das

    Cincias da Natureza e da Matemtica. O estgio foi realizado tendo em conta o

    Regulamento da Prtica de Ensino Supervisionada dos Cursos de Mestrado

    Habilitadores para a Docncia, aprovado em reunio do Conselho Tcnico-cientfico da

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto (ESECD) do Instituto Politcnico

    da Guarda (IPG).

    O mesmo regulamento, no artigo 5, preconiza a elaborao de um dossier de

    estgio pedaggico (entregue aos professores cooperantes e supervisores), onde

    descrevemos o percurso como professor estagirio, atravs de reflexes, de

    planificaes e de materiais usados durante a realizao das respectivas aulas, na

    perspectiva de suporte ao relatrio final, nomeadamente a este 2. Captulo.

    Torna-se importante referimos que, de acordo com Regulamento da Prtica de

    Ensino Supervisionada, nomeadamente no artigo 4, o grupo de PES ficou constitudo

    por trs elementos com o mesmo objectivo, ou seja, a realizao do estgio, no AEG

    Estabelecimento de Ensino Cooperante Protocolado.

    Neste contexto, sentimos que cada estgio que realizmos se constituiu como

    um contributo para a nossa aprendizagem profissional. Nesta formao adquirimos

    novos conhecimentos, e compreendemos com maior maturidade o processo educativo

    como algo vivo, palpitante e tambm em constante mudana e evoluo.

    Foi-nos proposto que, antes de qualquer regncia, fossemos assistir s aulas

    dadas pelos professores cooperantes, de forma a obtermos um conhecimento prvio

    das respectivas turmas. Este conhecimento, ainda que superficial, obtivemo-lo atravs

    das aulas de observao no incio da nossa Prtica de Ensino Supervisionada. Nestas

    aulas foi-nos permitido estabelecer um primeiro contacto, de apresentao, com os

    discentes e observar as caractersticas globais das respectivas turmas. Ao mesmo

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 28

    tempo, foram-nos fornecidas informaes verbais pelos professores cooperantes, uma

    vez que estes conheciam os alunos desde o incio do ano lectivo.

    Houve ainda a necessidade de conhecer o meio onde estvamos inseridos. As

    reunies iniciais de professores foram importantes, pois forneceram informaes

    essenciais e ajudaram a compreender um pouco as ideias iniciais que existiam sobre os

    nossos alunos.

    Alguns professores revelaram os conhecimentos que tinham dos alunos,

    obtidos em anos anteriores. Aqui fizeram-se alguns rtulos: os alunos bons, maus,

    trabalhadores ou mesmo desinteressados. Pareceu-nos importante no querer

    criar opinies sobre os alunos sem os conhecer, mas ao mesmo tempo no

    desvalorizar completamente a informao a partilhada. A razo pela qual os alunos

    teriam tais rtulos era evidentemente uma questo de perspectiva subjectiva, uma vez

    que nem sempre geravam consenso por parte dos professores, e a opinio por eles

    emitida no seria necessariamente a nossa opinio.

    No decorrer das observaes realizadas nas diferentes reas curriculares

    apercebemo-nos tambm das estratgias de ensino implementadas pelos professores

    cooperantes nas suas aulas. A realizao deste trabalho serviu-nos como diagnstico,

    onde detectmos os conhecimentos que os alunos possuam e quais os que tinham

    mais dificuldades.

    Para tentarmos dar respostas e colmatar as dificuldades existentes, tentmos

    realizar com os professores cooperantes um conjunto de planificaes e actividades

    diferenciadas, com a utilizao de um mtodo de trabalho que permitisse uma

    execuo plena, e de forma particular equiparasse os alunos rotulados de menos bons.

    Consideramos que no processo de ensino aprendizagem a planificao das

    actividades reveste-se de extrema importncia, uma vez que pode condicionar a forma

    como os alunos assimilam os conhecimentos a transmitir. Tambm na nossa Prtica de

    Ensino Supervisionada lhe reconhecemos essa relevncia.

    De acordo com Vasconcelos (1999), planificar e pensar andam de mos dadas.

    Ao comear o dia, o homem pensa e distribui as suas actividades no tempo: o que ir

    fazer, como fazer, para que fazer, com que fazer, etc. Segundo o autor anteriormente

    referido, nas mais simples e corriqueiras aces humanas, quando o homem pensa de

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 29

    forma a atender os seus objectivos, ele est a planear, sem necessariamente criar um

    instrumento tcnico que norteie as suas aces. Tomando como referncia a definio

    de Padilha (2001:30), assumimos que planificar o processo de busca de equilbrio

    entre meios e fins, entre recursos e objectivos. O acto de planificar sempre um

    processo de reflexo, de tomada de deciso sobre a aco; processo de previso de

    necessidades e racionalizao de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos)

    disponveis, visando concretizao de objectivos, em prazos determinados e etapas

    definidas, a partir dos resultados das avaliaes.

    Neste sentido, podemos considerar que o processo de planificao exige uma

    antecipao da aco educativa que se pretende desenvolver. No entanto, as nossas

    planificaes nunca foram um esquema rgido, elas permitiam sempre um

    reajustamento decorrente do normal funcionamento das aulas e do nvel de aquisio

    dos alunos.

    Na elaborao das planificaes, tivemos sempre conscincia que conhecer o

    programa era fundamental. Assim, concebemos as planificaes de acordo com os

    respectivos programas e tambm considerando as planificaes anuais e a mdio

    prazo de cada disciplina, concebidas previamente pelos professores cooperantes das

    turmas. Neste mbito, foi atravs de uma reunio, realizada no agrupamento de

    escolas com cada cooperante, que nos foi facultada toda a informao acerca dos

    contedos que devamos abordar.

    Com a realizao prvia das reunies, coube-nos interiorizar que ao professor

    no basta transmitir conceitos, deve saber o que se pretende para o aluno no nvel de

    escolaridade que frequenta, ou seja, quais as competncias que deve dominar no final

    da unidade de trabalho.

    Na fase final das reunies, fiquei com a percepo de que, na disciplina de

    Histria e Geografia, o professor cooperante no tinha tido em conta a excessiva

    quantidade de contedos que distribuiu para cada uma das regncias. Facto esse que

    se veio a reflectir como negativo, pois no cumpri nenhuma das planificaes desta

    unidade curricular, tendo efectivamente a noo que foi a disciplina que correu menos

    bem ao longo do referido estgio. No entanto, a rea que mais me cativa no dia-a-

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 30

    dia, mesmo a nvel da docncia das aulas do 1. CEB, nomeadamente na rea

    curricular do Estudo do Meio.

    importante referir que a chegada ao agrupamento de escolas foi, de facto, um

    misturar de emoes. Foi sentido como um regresso ao local onde muitos anos foram

    passados como aluno. Mas, simultaneamente, tive a noo de que as

    responsabilidades seriam completamente diferentes.

    Durante as regncias procurmos estabelecer um clima harmonioso, no qual os

    alunos tinham parte activa na construo do seu prprio conhecimento, uma vez que

    privilegimos o saber fazer, a aco. Podemos afirmar que os alunos se manifestaram

    sempre perante as estratgias apresentadas com uma interveno muito participativa.

    Paralelamente, durante as aulas, usmos uma linguagem que considermos

    acessvel ao grau de escolaridade dos alunos e aos seus conhecimentos, se bem que

    reflectindo sempre uma correco cientfica. As estratgias foram seleccionadas

    depois de definir os objectivos e as competncias a desenvolver pelos alunos,

    preconizadas nas reunies com os cooperantes.

    Foram elaboradas planificaes para cada unidade curricular - planificaes

    aula a aula. Existem vrios modelos de grelha de planificao de aula; todavia, a

    estrutura modelo utilizada por ns foi desenvolvida durante as unidades curriculares

    das didcticas do mestrado do 1. e do 2. CEB, da Escola Superior de Educao e

    Comunicao da Guarda. Estas planificaes foram apresentadas no dossier da

    unidade curricular de Prtica de Ensino Supervisionada e possuem uma descrio

    detalhada da orgnica das diferentes aulas.

    Procurmos que as nossas aulas se revestissem dum carcter interactivo,

    recorrendo ao uso das tecnologias de informao e comunicao (TIC). Utilizmos a

    Internet para a pesquisa sobre os contedos e sobre os temas. Conscientes de que a

    motivao um elemento fundamental para captar a ateno dos alunos para o

    processo de ensino aprendizagem, utilizmos as TIC, no decorrer das aulas.

    Desta forma, foram-lhes apresentados powerpoints, construdos de acordo com

    informao recolhida na internet e baseados em livros intrnsecos s unidades

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 31

    curriculares. Recorremos igualmente ao stio da Escola Virtual1, por ser bastante rico,

    actualizado e motivador no que concerne aprendizagem das diferentes temticas.

    Seguidamente sero referenciadas algumas das actividades desenvolvidas nas

    diferentes reas curriculares.

    Unidade Curricular de Matemtica

    Nesta rea curricular os alunos puderam visualizar pequenos filmes

    ldicos sobre a temtica em estudo, da Escola Virtual; realizaram o

    preenchimento de lacunas2 e realizaram registos no caderno dirio. Foi uma

    das unidades onde mais se fomentou o dilogo, de forma a serem discutidos

    contedos patentes no manual de Matemtica. Realizaram-se leituras

    intrnsecas aos contedos, assim como exerccios de memorizao, estando

    subjacentes as transferncias de aprendizagem, em que o aluno depois de

    compreender, memoriza e aplica os conhecimentos em novas situaes.

    importante frisar que nesta aula, medida que os alunos iam realizando os

    exerccios, tive o cuidado de ir passando pelos lugares, ajudando-os na

    realizao dos mesmos e efectuando a correco. Durante esta ltima, pude

    aperceber-me que os alunos se encontravam bastante motivados e vontade,

    no que respeita s aprendizagens.

    Neste sentido houve, portanto, que fortalecer as bases dos alunos;

    partir daquilo que eles sabem, da sua experincia, apoiando-os em actividades

    significativas, e ajud-los a construir aos poucos os conceitos para que, atravs

    da repetio, manipulao e experimentao avancem confiantes para nveis

    mais complexos e abstractos.

    1 www.escolavirtual.pt

    2 Encontram-se no Anexo I alguns dos materiais utilizados no decorrer desta UC.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 32

    Unidade Curricular de Lngua Portuguesa

    Esta foi, sem dvida, a rea curricular que mais gosto tive em leccionar,

    No apenas pelas actividades, mas sobretudo pela disponibilidade revelada

    pela professora cooperante, a qual nos facultou a possibilidade de podermos

    planificar as nossas aulas com originalidade. Foram aulas enriquecedoras para

    os alunos, mas principalmente para o professor estagirio que verificava, aula

    aps aula, uma forte motivao dos discentes no que concerne s

    aprendizagens.

    Durante as aulas, os alunos puderam realizar leituras imagticas3.

    Torna-se importante referir a importncia das imagens, pois por si s elas

    constituem uma aprendizagem. Tambm proporcionmos o dilogo, o qual

    um mtodo de aprendizagem por descoberta.

    Realizaram-se audies de poemas: actividade que facilitou a

    concentrao, permitiu a reflexo e a assimilao pela tomada de conscincia

    de ideias, aguando-lhes o pensamento crtico. Tambm se efectuaram

    construes de poemas diferentes, atravs do Jogo que abaixo descrevemos.

    Ora, com esta actividade propiciou-se a interdisciplinaridade,

    preconizada por Jos Morgado, que afirma que (...) a interdisciplinaridade

    ultrapassa a simples coordenao entre disciplinas, caracterizando-se, antes

    por combinaes dos saberes convocados, para o estudo de um determinado

    assunto ou objecto, sem que (...) se exija a fuso ou dissoluo das fronteiras

    disciplinares (1997: 37). Esta interdisciplinaridade concretizou-se com a

    realizao de um jogo ldico, no qual utilizmos os sentidos do sujeito humano

    (a viso, o paladar, o tacto e o olfacto).

    Descrio do Jogo

    Nesta aula formaram-se duas equipas e elaborou-se o jogo, com a diviso da turma em

    dois grupos: o grupo A e o grupo B. Cada grupo nomeou um representante, um

    chefe. As regras foram bem explcitas, ou seja, caso o grupo se antecipasse e fizesse

    3 Encontram-se no Anexo II alguns dos materiais utilizados no decorrer desta UC.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 33

    batota, referindo verbalmente algo em voz baixa, perdia o ponto, ganhando no final a

    equipa que reunisse mais pontos.

    Descrio das actividades (Grupo A + Grupo B): 1

    F

    ase

    Para construo do 1. verso - (trs + trs frutos Paladar);

    Como este poema (Os Frutos- de Eugnio de Andrade4) se referia aos

    sentidos -sensaes gustativas, tacto, viso-, o professor levou frutos,

    iguais e/ou diferentes dos do texto e os representantes dos alunos

    provaram-nos. Estes tinham quinze segundos para adivinhar qual era o

    fruto, sem ajuda do grupo. Houve um cronmetro on-line (utilizao

    das TIC), que marcou o tempo previamente determinado.

    2

    Fas

    e

    Para construo do 2. verso - (trs + mais trs frutos Tacto);

    O professor levou outros frutos, iguais e/ou diferentes dos do texto e os

    representantes, atravs do tacto, tentaram adivinhar qual era o fruto,

    sem ajuda do grupo.

    3

    Fas

    e

    Para construo do 3. verso - (trs + mais trs frutos Viso);

    O professor levou outros frutos, iguais e/ou diferentes dos do texto.

    Desta vez colocou as imagens dos frutos duas a duas, na parede do

    fundo da sala, e os representantes, aps o professor ordenar, retiravam

    a venda dos olhos e escreviam o nome dos frutos, no quadro. Ganhava

    o grupo que realizasse a tarefa mais rapidamente. Caso houvesse algum

    erro ortogrfico no nome que escreviam, perdiam o ponto.

    Deste modo, e tal como refere Abreu observa-se que () as crianas

    aprendem melhor a Lngua Portuguesa quando esta trabalhada a partir de

    experincias reais (1990: 19), tendo sido este o meu objectivo, atravs do jogo.

    Em suma, considero que as aulas de Lngua Portuguesa correram muito

    bem e que todos os aspectos da planificao foram cumpridos.

    4 Poema retirado do manual: COSTA, Fernando e MENDONA, Lusa. (2004). Lngua Portuguesa. Porto:

    Porto Editora.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 34

    O estgio nesta rea curricular de Cincias da Natureza permitiu que se

    superassem vrios medos inicialmente imaginados. O confronto com os

    receios e a superao de obstculos quase intransponveis constituram uma

    surpresa agradvel, pois aqueles rapidamente se esvaram, durante a aula, sem

    que os alunos dessem conta.

    Um dos aspectos favorveis foi a diviso da turma em dois grupos

    devido realizao das actividades experimentais. Neste sentido, e tendo em

    conta o preconizado no Despacho 14027/2007 de 3 de Julho, as aulas

    tornaram-se mais profcuas, havendo uma maior participao nas actividades

    realizadas, devido ao reduzido nmero de alunos.

    Numa das aulas leccionadas a temtica principal foi a clula unidade

    na constituio dos seres vivos , bem como as partes constituintes do

    microscpio, patentes na parte III do manual de Cincias da Natureza - Unidade

    na Diversidade dos Seres Vivos, atravs da utilizao do microscpio ptico.

    Esta temtica teve grande significado para os alunos, pois todos

    quiseram mexer no microscpico. Desde logo foi essencial explicitar as regras

    de utilizao e funcionamento do laboratrio, em conjugao com as regras de

    sala de aula.

    importante frisar que as actividades laboratoriais permitem colocar

    em prtica e alargar os conhecimentos assimilados no decorrer das aulas,

    tornando-se mais motivadoras. As actividades desenvolvidas nas aulas de

    cincias5 foram um meio privilegiado para o desenvolvimento pessoal e

    interpessoal. Os alunos puderam realizar a manipulao de material, aprender

    tcnicas e experimentar a sensao de ver como as coisas acontecem.

    Durante a realizao deste tipo de actividade prtica laboratorial coube-

    me o papel de guia, orientador dos alunos, segundo as regras e contedos da

    disciplina de Cincias da Natureza.

    5 Encontram-se no Anexo III alguns dos materiais utilizados no decorrer desta UC.

    Unidade Curricular das Cincias da Natureza

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 35

    Um aspecto bastante positivo foi a relao que consegui estabelecer

    com alunos e professora. A cooperao, fruto de um relacionamento

    constante, ajudou-me a encarar o estgio como uma experincia positiva.

    Unidade Curricular de Histria e Geografia

    Numa das regncias, o tema principal foram as razes que levaram

    crise de sucesso do trono portugus, em 1383/85, com a subida ao poder de

    D. Joo I (incio da segunda Dinastia).

    Como forma de motivao, autonomia e facilidade de aprendizagem,

    utilizei um recurso inovador a Escola Virtual. Este um sistema de ensino

    online que permite revolucionar o estudo na escola e/ou em casa. Denotei que

    a actividade promovida foi um sucesso entre alunos, pois os contedos das

    disciplinas foram apresentados a partir do computador, graas a animaes e

    aos vdeos interactivos, que permitiram uma aprendizagem mais intuitiva,

    dinmica e envolvente6.

    No decorrer das aulas, os alunos utilizaram o manual escolar de Histria

    e Geografia para contextualizarem a matria.

    Atravs da interdisciplinaridade com as TIC, os alunos utilizaram um

    software Google Earth de forma a situarem locais; tiveram oportunidade de

    visualizarem imagens fazendo a leitura imagtica e ainda identificaram

    personagens histricas e monumentos.

    Esta aula foi uma das mais bem conseguidas, visto que, devido

    escassez de tempo, no consegui terminar as planificaes. No entanto,

    estiveram sempre presente as competncias: tratamento de

    informao/utilizao de fontes; compreenso histrica (temporalidade;

    espacialidade e a contextualizao); comunicao em Histria.

    6 Encontram-se no Anexo IV alguns dos materiais utilizados no decorrer desta UC.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 36

    No decorrer das regncias, procurmos dialogar com os professores

    cooperantes para o esclarecimento de dvidas cientficas e pedaggicas. Reenvimos

    todo o material didctico e os recursos necessrios (planificaes, actividades a

    desenvolver, fichas de trabalho) que seleccionmos e preparmos com bastante

    antecedncia, via e-mail, ou ento reunimos pessoalmente.

    No que concerne s planificaes, consideramos que devem ter sempre um

    objectivo bem definido. No entanto, este objectivo no tem obrigatoriamente de ter

    somente em conta a quantidade de conhecimento que transmitido aos alunos em tal

    planificao. O ensino muito mais do que quantidade e, por vezes, gerar uma

    discusso dentro da sala de aula pode ser muito importante, no s para os alunos

    reflectirem como tambm para a sua predisposio para as aulas futuras.

    Um dos aspectos problemticos no estgio e muitas vezes levantado o factor

    tempo, que uma varivel difcil de controlar. Surge frequentemente a noo que

    escasso e a planificao pressiona-nos para avanar. Este aspecto foi, sem dvida, o

    factor mais negativo que me influenciou e que muitas vezes fez com que as aulas

    resultassem de uma maneira menos favorvel.

    Os passos na construo das planificaes foram comuns preparao das

    aulas, nas quatro disciplinas, sempre com o objectivo de motivar os alunos com

    material diversificado, e conseguir transmitir de forma cientificamente correcta os

    contedos propostos, obtendo um feedback positivo das turmas.

    Procurmos seleccionar estratgias e actividades que nos permitissem ir ao

    encontro dos objectivos que estabelecamos nas planificaes e s necessidades dos

    alunos. No desenvolvimento das nossas actividades, utilizmos sempre a pesquisa,

    discusso, reflexo e explorao.

    Parece-nos claro que as diferentes unidades curriculares que leccionmos tm

    um papel muito importante, para alm da aquisio de conhecimento. Os alunos

    devem ganhar competncias no campo crtico. A melhor forma de o fazer

    proporcionando aos alunos a discusso para que gere conhecimento, lhes d confiana

    e os motive para eles prprios tomarem decises.

    Relativamente aos materiais a considerar quando se efectuam as planificaes,

    pensamos que estes devem ser sempre escolhidos para que permitam aos alunos

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 37

    adquirir as competncias. Embora, a meu ver, no haja nenhum material ideal, existe

    ao dispor uma vasta gama de materiais, que utilizando ou no as TIC, permitem

    motivar os alunos para as aulas.

    Consideramos que a dimenso de uma turma pode ser preponderante na

    forma como se consegue gerir uma aula, pois este factor mesmo um dos mais difceis

    de superar. Ora, numa turma numerosa, conseguir que todos os alunos sejam

    participativos requer um esforo muito superior do que numa turma mais reduzida.

    Este foi um dos aspectos que mais preocupao me causou. O excesso de alunos por

    turma, nesta faixa etria onde todos necessitam de apoio, era preocupante, pois no

    consegui oferecer um atendimento mais individualizado a cada um dos alunos. No

    entanto, tentmos fazer o melhor que sabamos, reconhecendo que este aspecto

    compromete a qualidade das actividades docentes e consequentemente a qualidade

    da educao.

    Consequncia das turmas numerosas e da imaturidade dos alunos, a

    indisciplina foi um problema subjacente na prtica de ensino. Desde logo este foi um

    dos problemas que nos preocupou; porm, a melhor forma de superao foi a

    utilizao de estratgias diferentes, cativantes, motivadoras. O cumprimento e o

    respeito pelas regras implcitas de sala de aula foram fundamentais para prevenir

    comportamentos indesejveis. Mantivemos um bom ritmo de aula e suavidade na

    transio entre tarefas, utilizmos uma linguagem e um discurso adequados, evitmos

    comentrios desnecessrios entre alunos, diferencimos as aulas, indo ao encontro

    das necessidades dos alunos, ou seja, utilizmos estratgias adequadas a cada aluno e

    a cada situao, de forma a suprimirmos a indisciplina nas regncias.

    Necessariamente pudemos verificar que as turmas so heterogneas no que

    concerne aos comportamentos e aprendizagens. No entanto, esta diversidade foi vista

    como fonte de enriquecimento da aco pedaggica. Ora, uma das estratgias

    utilizadas foi colocarmos os alunos que aprendem mais rpido a ajudar os outros

    alunos. Isto porque favorece a aquisio de competncias sociais de entreajuda, para

    alm dos valores, da partilha, da responsabilidade e da solidariedade. Esta foi uma

    vantagem no que respeita s turmas com um maior nmero de alunos, onde o

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 38

    professor no capaz de individualizar o ensino. Na nossa perspectiva, foi uma

    estratgia bem aplicada que salvaguardou os ndices motivacionais dos alunos.

    No que concerne avaliao pautmo-nos sempre pelos critrios previamente

    estabelecidos e, atendendo s caractersticas dos alunos, valorizmos a assiduidade e

    pontualidade, a participao empenhada respeitando as normas estabelecidas, o

    interesse, a perseverana, a responsabilidade perante si e perante os outros, a

    autonomia, a iniciativa e a criatividade.

    Durante este tempo, apraz-nos referir que valorizamos hoje mais do que ontem

    o trabalho do professor, pois ele tem um papel preponderante em todo o processo

    educativo e de ensino aprendizagem. Ele exerce influncias educativas, lder formal

    do processo escolar e ainda o delegado da sociedade para garantir nela a

    incorporao ordenada das futuras geraes. Ele, como pessoa formada, actua

    constantemente junto do grupo em formao. S a sua presena j exerce uma funo

    paradigmtica, acrescentada do facto de ter de propor, ordenar, motivar e avaliar, etc.

    Reiteramos que foi muito gratificante o estgio. Salientamos que o resultado foi

    positivo, visto que adquirimos mais experincia, tanto a nvel pessoal como a nvel

    profissional, tendo em conta que o factor mais significativo foi ter a oportunidade de

    estar em contacto com as crianas, e passar por esta experincia maravilhosa que ser

    Professor.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 39

    Captulo III

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 40

    PRIMEIRA PARTE

    A LEITURA: UMA COMPETNCIA FUNDAMENTAL

    Neste terceiro captulo, sero abordados alguns temas de carcter mais

    terico relacionados com a Leitura. Realizmos uma pesquisa

    bibliogrfica, o que implicou uma seleco ponderada da informao

    recolhida. Desenvolvemos a parte prtica do trabalho onde sero

    abordados questes importantes intrnsecas aos hbitos de leitura, nas

    Escolas do 1. Ciclo do Ensino Bsico.

    1 O Prazer de Ler

    As oportunidades culturais que a famlia oferece criana, atravs do contacto

    com livros, revistas, jornais e espaos, despertam na criana o interesse para a leitura.

    Os pais que lem respondem a perguntas, estimulam a resoluo de problemas, do

    sugestes, apreciam as discusses, proporcionam aos filhos um ambiente ideal para a

    imerso no livro e para a criao de hbitos de leitura.

    A famlia , por esse motivo, o seu primeiro ponto de referncia onde a criana

    pode obter informaes acerca da lngua, atravs de hipteses que formula,

    permitindo-lhe integrar-se na conversao, ajudando-lhe a discriminar e especificar

    palavras e ideias atravs da expanso lexical e sintctica (Balancho, 1996).

    A capacidade de interesse pela leitura o resultado de um longo trabalho, no

    qual o meio em que a criana vive desempenha um papel muito importante e decisivo.

    Deste modo, necessrio que desde tenra idade se criem meios para que a criana

    tome contacto com o registo escrito, pois () o contacto com os livros deve ser iniciado

    o mais cedo possvel () no s pelo manuseio como tambm pela histria contada,

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 41

    pela conversa ou pelos jogos rtmicos, no sentido de fazer gostar da leitura para que o

    leitor se sinta o protagonista do seu aprendizado (Mesquita, 2002:43).

    O livro traz o conhecimento do mundo, do homem, das coisas, da natureza,

    formando o leitor e possibilitando-lhe escolhas fundamentais na vida adulta. A

    literatura infantil desempenha um papel importante na aquisio do prazer da leitura,

    exercendo um fascnio e promovendo () na criana, o gosto pela beleza da palavra, o

    deleite perante a criao de mundos de fico. Tem ainda () a funo de arreigar as

    palavras no mundo mgico da criana, permitindo-lhe no s entend-las e us-las

    como tambm goz-las e desfrut-las no contexto da imaginao (idem).

    Para serem eficazes, as histrias e as leituras devem constituir uma

    materializao da angstia da criana, o que lhe permite domin-la melhor, devem

    proporcionar prazer e ser repetitivas, sabendo-se a importncia que a repetio tem

    para as crianas, dia aps dia, da mesma histria, dos mesmos termos.

    Segundo Pennac (1997), h grandes hipteses de a criana querer ouvir a

    mesma histria, para se certificar que na vspera no estava a sonhar, e que nos faa

    as mesmas perguntas, nas mesmas alturas, s pelo prazer de nos ouvir dar as mesmas

    respostas. Reler no repetir, renovar constantemente um incansvel amor. Ao

    relermos a histria, desenvolve-se na criana o gosto pela lngua narrativa, que se

    refere a uma aco imaginria e para a qual a criana transporta toda a sua emoo e

    o prazer de ouvir ler.

    Quando estas actividades ldicas fazem parte do seu funcionamento mental, a

    criana aprende a ler. Aprende a ler tanto mais facilmente quanto a lngua escrita lhe

    permite reencontrar esta narrao que se refere ao imaginrio. Por outro lado, a

    dimenso imaginria a fonte de prazer e base de uma melhor elaborao da

    realidade, permitindo um domnio da angstia e ocasionando um particular prazer de

    funcionamento mental; por outro lado, a linguagem do conto ou da histria imaginria

    arrasta o interesse da criana para o aspecto formal desta fonte de prazer (Prata,

    2005).

    Alimentar o prazer e o gosto pela leitura depende, pois, em grande parte, da

    atitude daqueles que rodeiam a criana e referimos a famlia, seguida da escola, como

    os principais agentes para a formao de hbitos de leitura. Conforme gostam ou no

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 42

    de ler, conforme consideram a leitura uma actividade interessante ou, pelo contrrio,

    uma perda de tempo e montona, conforme o livro ou no para eles um amigo

    familiar que pode manusear livremente, assim a criana sentir ou no esse prazer e

    motivao.

    A leitura de histrias por parte do adulto cria ou refora laos afectivos entre a

    criana e o adulto que as l. Nesta perspectiva, o livro s pode ser benfico, visto que

    o intermedirio que torna possvel e agradvel essa relao entre aqueles que

    partilham as leituras.

    O livro pode ser considerado, assim, em simultneo, um objecto privilegiado,

    quer de trocas afectivas quer intelectuais. Na escola, tal como preconiza Pennac

    (1997), o papel do professor que l em voz alta para os seus alunos tambm o de

    intermedirio, ajudando-os na reconciliao com o prazer de ler, muitas vezes

    obstrudo pelo medo de no compreenderem o que est a ser lido. que a voz do

    professor auxilia os alunos com a escrita, adianta a inteno do autor, revela um

    subentendido, desvenda uma aluso dissipando a iluso de muitos daqueles que

    julgam que no gostam de ler. Deste modo, as crianas compreendem o texto,

    reconciliam-se com a leitura, desfrutam, entram no imaginrio e adquirem o gosto

    pela leitura.

    Porm, muitas vezes o que acontece que as crianas so () frequentemente

    ligadas a obrigaes, a actividades meramente utilitrias (Postaniec, 2006:12). Isto

    porque tudo depende da forma como o docente aborda a actividade ou o objectivo

    que se quer alcanar, ou seja, preciso que o professor intervenha no processo,

    estimulando, orientando e criando um ambiente propcio ao desenvolvimento

    educativo e formao do aluno enquanto cidado.

    Realmente, o que importante modelar as crianas para que, no meio social

    e educativo, adquiram hbitos de leitura, se tornem leitores fluentes com capacidade

    para interpretar todas as leituras que tenham de realizar, pois os estudos efectuados

    revelam que Portugal apresenta baixos nveis de literacia7. Devido a estes fracos

    7 Referimo-nos a estudos internacionais, como o TIMSS - Third International Study of Mathematics and

    Science - (Ramalho, 1994) e o PISA (Programme International Students Assessment) lanado pela OCDE em 1997. Os desempenhos obtidos pelos adultos portugueses e pelos nossos alunos revelam os baixos nveis de literacia.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 43

    resultados, o Governo decidiu implementar uma medida para desenvolver nos alunos

    e populao em geral hbitos de leitura.

    Porm, ir o Plano Nacional de Leitura8, to em voga actualmente, atravs das

    obras seleccionadas, modalidades de leitura e actividades propostas, alterar os hbitos

    de leitura e incutir nas crianas o gosto pela mesma?

    Neste contexto, realmente importante que a criana seja sistematicamente

    encorajada a utilizar as suas capacidades nas aprendizagens da leitura; que utilize a

    leitura como instrumento de aprendizagem e de descoberta; e que seja estimulada a

    adoptar uma postura personalizada face leitura e ao prazer de ler.

    2 O que ler

    Ao longo do sculo XX, o conceito de leitura foi-se alterando, como

    consequncia das transformaes observadas na sociedade. Estas alteraes foram

    provocadas por factores como o avano verificado a nvel cientfico e tecnolgico, os

    desafios profissionais num mundo cada vez mais competitivo e a ideia de que todo o

    homem tem direito ao saber e cultura bsica, como definido na Declarao

    Mundial sobre Educao para Todos: Todas as pessoas crianas, jovens e adultos

    devem poder beneficiar de oportunidades educativas, orientadas para responder s

    suas necessidades educativas bsicas. Estas necessidades compreendem os

    instrumentos de aprendizagem essenciais (como a leitura, a escrita, a expresso oral, o

    clculo e a resoluo de problemas (Sim-Sim et al, 1997:11).

    Mas, ento, o que ler?

    Primeiramente, a leitura era concebida como uma prtica passiva, incluindo

    apenas os actos de reconhecimento e decifrao dos cdigos, ou seja, a traduo letra-

    som. Depois, verificou-se que alm da traduo letra-som, a leitura tem de passar pela

    extraco e compreenso da mensagem que o autor transmite e que posteriormente

    aplica em situaes diversificadas. Para outros autores que a seguir apresentamos, a

    8 O Plano Nacional de Leitura ser abordado no ponto 3, deste captulo.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 44

    leitura tem de ser um processo que permite interpretar e compreender a mensagem

    do texto transmitida pelo autor, devendo tambm permitir outras funes, como a

    apreciao esttica e a descoberta do prazer da leitura.

    Emlia Amor explicita e enriquece esta questo, afirmando que a leitura

    essencialmente, um fazer interpretativo, uma produo, relevando

    tanto do escrito como do no escrito, do texto quanto do leitor e do

    contexto, do processo de leitura em si, quanto de outras leituras

    anteriores, do domnio da percepo, quanto de processos cognitivos ou

    de pulses afectivas, mais complexas e profundas (2001:82).

    J Sim-Sim preconiza que por leitura entende-se o processo interactivo

    entre o leitor e o texto, atravs do qual o primeiro reconstri o

    significado do segundo. A extraco do significado e a consequente

    apropriao da informao veiculada pela escrita so os objectivos

    fundamentais da leitura, dependendo o nvel de compreenso atingido

    do conhecimento prvio que o leitor tem sobre o assunto e do tipo de

    texto em presena (1997:27).

    Para Mialaret, saber ler equivale a ser capaz de transformar uma

    mensagem escrita noutra sonora em conformidade com determinadas

    leis bem definidas, equivale a ser capaz de a conhecer e de apreciar o

    seu valor esttico (1974:15).

    Na perspectiva de Pestana, ler no poder entender-se de outro modo

    que no seja o de compreender uma mensagem escrita, assimilar o seu

    contedo e interpret-lo (1973:15).

    Gonalves, na Didctica da Lngua Nacional, define o acto de ler como

    sendo interpretar o pensamento expresso por meio de smbolos (leitura

    silenciosa) e ainda traduzi-lo, se a leitura oral, por sons articulados

    (1977:39).

    Perante esta variedade de definies, podemos verificar a existncia de

    elementos em comum: a leitura como descodificao de signos lingusticos grficos, a

    extraco de sentido e o aspecto da fruio da leitura.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 45

    Verificamos, assim, que saber ler no apenas saber decifrar, embora esta

    condio seja necessria, e essencialmente () compreender o que se decifra,

    traduzir em pensamentos, ideias, emoes e sentimentos (). Por outras palavras:

    saber ler dispor de um novo meio de comunicao com o prximo () e em virtude

    disso, particular na vida intelectual de toda a humanidade (Mialaret, 1974:16-17).

    Com efeito, saber ler tambm ser capaz de apreciar esteticamente o que se l

    e que, finalmente, resulta de uma educao que nunca pode ser dada como concluda.

    Mialaret afirma, ainda, que saber ler tambm conseguir julgar, pois a

    aprendizagem da leitura inseparvel da formao do pensamento e do

    desenvolvimento do esprito crtico (idem).

    Em suma, saber ler, num ponto de vista mais abrangente, integrador, no s

    decifrar, tambm compreender, julgar, criticar, apreciar e criar.

    No entanto, ser que os nossos alunos ao terminarem o 1. ciclo conseguem

    extrair o verdadeiro significado, realizar uma apreciao crtica do que lem ou se

    limitam apenas, na maior parte dos casos, a transformar grafemas em fonemas?

    Cabe ao professor o papel de desenvolver nos alunos a capacidade de

    interpretarem e compreenderem o que lem, atravs de leituras significativas e das

    quais possam fazer uma anlise crtica, relacionando-as com outras j efectuadas.

    2.1 O que a literacia

    Muito se fala, actualmente, no combate aos baixos nveis de literacia dos

    portugueses. Com efeito, muitos so os portugueses que sofrem de iliteracia, ou seja,

    no conseguem entender informao bsica num artigo de um jornal, ver um mapa,

    interpretar um texto, etc. Esta situao torna-se marcante quando uma dificuldade

    na prpria lngua materna, que dificulta a compreenso de informao bsica e pode

    contribuir para o insucesso escolar.

    Mas ser que todos sabem o que a literacia?

    Benavente define-a como () as capacidades de processamento de informao

    escrita na vida quotidiana. Trata-se das capacidades de leitura, escrita e clculo, com

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 46

    base em diversos materiais escritos (textos, documentos, grficos), de uso corrente na

    vida quotidiana (Benavente apud Salgado, 1997:15).

    Segundo Sim-Sim (1993:7), o conceito de literacia entendido como a

    capacidade de compreender e usar todas as formas e tipos de material escrito

    requeridos pela sociedade e usados pelos indivduos que a integram, ultrapassando de

    longe a mera capacidade de descodificao.

    Assim, para educar para a literacia necessrio estimular os alunos a

    desenvolver competncias que lhes possibilitem a aprendizagem () do saber agir na

    lngua e pela lngua e que lhes permitam, em funo dos contextos de uso e dos

    objectivos perlocutivos () construir textos discursivamente adequados s mltiplas

    finalidades especficas dos jogos de actuao comunicativa nos quais eles se

    movimentam e intervm (Azevedo, 2006:3-4).

    Como j referimos anteriormente, as competncias, nomeadamente da leitura,

    escrita e clculo, acompanharo o indivduo por todo o seu percurso escolar e social.

    Este conceito procura na pessoa competncias contnuas que a vo ajudar a funcionar

    na vida em sociedade, alcanar objectivos pessoais e desenvolver potenciais prprios,

    evitando a excluso social.

    Assim, no percurso da leitura imprescindvel a traduo letra-som

    (descodificao), mas este processo no pode terminar aqui, necessrio que a

    aprendizagem da leitura tenha () como meta primordial a fluncia, que implica

    rapidez de decifrao, preciso e eficincia na extraco de significado do material lido

    (Sim-Sim et al, 1997:27). A fluncia exige que o leitor descodifique automaticamente,

    centrando toda a sua ateno na compreenso do texto. Evidencia-se, desta forma, a

    necessidade de treino sistematizado de tcnicas de automatizao que permitam

    ultrapassar o processo moroso de traduo letra-som, conduzindo ao imediato

    reconhecimento visual das palavras e levando rpida compreenso de textos.

    Desta forma, funo da escola que nos primeiros anos faa () de cada aluno

    um leitor fluente e crtico, capaz de usar a leitura para obter informao, organizar o

    conhecimento e usufruir o prazer recreativo que a mesma pode proporcionar (Sim-Sim

    et al, 1997:28). Poder-se- referir que a leitura abre as portas para um mundo

    misterioso, cheio de emoes desconhecidas, onde muitas vezes nos encontramos,

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

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    nos reconhecemos, identificamos sentimentos ou vivncias pelas quais j passamos ou

    que imaginamos acordados ou nos nossos sonhos.

    2.2 A Criana e a Leitura

    sabido que qualquer criana, independentemente da sua origem tnica ou

    cultural, desde que imersa num ambiente lingustico, aprende a falar, e quando esta

    entra para a escola j percorreu um longo caminho, adquiriu conhecimentos

    lingusticos que lhe permitem perceber e produzir frases, que lhe possibilitam interagir

    com o meio e extrair significado de informaes dadas pelo prprio meio.

    O mesmo no acontece com o domnio escrito, pois este s aprendido com

    base num trabalho e esforo consciente, exigindo, por isso, um ensino explcito e

    sistematizado (Sim-Sim et al, 1997).

    A leitura no se reduz apenas decifrao dos grafemas, sendo necessria uma

    real descodificao do significado, da mensagem que o autor pretende transmitir. Para

    que uma total e efectiva descodificao seja conseguida () para alm do

    conhecimento implcito que a criana, ao chegar escola, tem da sua lngua nativa,

    necessrio () apelar para as suas capacidades metalingusticas, ou seja, a criana

    dever ser estimulada a conhecer a pluralidade da sua lngua materna (Sequeira &

    Sim-Sim, 1989:2).

    A experincia cultural e lingustica do leitor permite-lhe antecipar, ou no, o

    texto do ponto de vista fonolgico, lexical e semntico. claro que, quanto maior for o

    seu domnio da lngua falada, o interesse e conhecimento do texto, mais possibilidades

    ter em adiantar significados das palavras ou frases, para uma leitura mais rpida e

    compreensiva. Neste mecanismo de pr-decifrao do significado, o leitor pode

    experimentar dificuldades e obstculos que tentar resolver formulando e

    reformulando hipteses sobre o contedo do texto, podendo estas ser confirmadas ou

    rejeitadas.

    A compreenso requer, da parte do leitor, uma relao activa entre a

    informao nova e aquela que j possui, sendo certo que esta relao ser feita

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

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    dependendo das estratgias utilizadas pelo leitor, as quais variam de indivduo para

    indivduo. Desta forma, o processo de leitura engloba uma aco que envolve o leitor e

    que vai influenciar o seu comportamento em relao leitura e em relao a outros

    conhecimentos.

    Com efeito, sabe-se como a leitura de um livro s inteiramente conseguida

    quando se entra na leitura do segundo nvel, ou seja, a passagem directa do grafema

    ao significado, sem interveno do fonema (soletrar), ou seja, o aluno l fluentemente,

    extraindo o seu significado e compreendendo o texto lido.

    2.3 A Leitura no Programa do 1 Ciclo do Ensino Bsico

    A Lngua Portuguesa, atravs do desenvolvimento das suas competncias

    essenciais, desempenha um papel de relevo na aquisio de saberes nas diversas

    disciplinas. de destacar o indiscutvel contributo desta disciplina para a integrao

    dos saberes em todas as reas, desempenhando, assim, uma funo de destaque na

    luta contra a fragmentao curricular e auxiliando o sucesso escolar do aluno. Para que

    este sucesso ocorra da melhor forma, necessrio que se desenvolvam as cinco

    competncias nucleares na rea da Lngua Materna: a compreenso do oral, a leitura,

    a expresso oral, a expresso escrita, e o conhecimento explcito.

    Em relao competncia de leitura, o 1. Ciclo tem como objectivo de

    desenvolvimento a aprendizagem dos mecanismos bsicos de extraco de significado

    do material escrito, com a finalidade de se tornar um leitor fluente e crtico (Sim-Sim et

    al, 1997).

    Para que tal acontea, as crianas no final desta etapa devem ter atingido os

    seguintes nveis de desempenho: ser capazes de executar leitura silenciosa; ler com

    clareza em voz alta; identificar as ideias principais de um texto; localizar no texto a

    informao pretendida; antecipar contedos a partir de capas, gravuras, ttulos e

    primeiras linhas; tomar a iniciativa de ler (Idem).

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

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    Atravs do desenvolvimento destes nveis de desempenho na leitura, os alunos

    estaro aptos a construir a sua aprendizagem, em processos significativos, noutras

    reas, e a alcanar o sucesso escolar e social. O alcance destes nveis de desempenho

    permite mais facilmente compreender e interpretar a informao que os rodeia e

    combater a iliteracia.

    assim necessrio que, em contexto de sala de aula, se propiciem mltiplas

    ocasies de convvio com a escrita e com a leitura, realizando percursos integradores

    com as experincias e os saberes anteriormente adquiridos atravs das novas

    descobertas (O.C.P., 2004).

    indispensvel que os alunos leiam sem receio, que possam contar com o

    apoio necessrio ao seu aperfeioamento e que todas as produes de leitura tenham

    sentido, que possam ser analisadas, formuladas e reformuladas e se aliem a momentos

    de verdadeiro conhecimento de prazer. S assim os alunos conseguem fazer um uso

    correcto do que lem, expondo a sua opinio, desenvolvendo uma personalidade

    crtica que posteriormente lhes permitir serem cidados intervenientes e autnomos

    na sociedade.

    Por este motivo, o Programa do 1. Ciclo de Ensino Bsico, referente rea

    Curricular de Lngua Portuguesa, no Bloco Comunicao Escrita, prope um

    conjunto de actividades que permitem desenvolver a competncia da leitura9.

    Est ainda proposto, com frequncia, a leitura de textos produzidos por

    iniciativa prpria e produzidos pelos companheiros, pois este tipo de leitura tambm

    uma forma de os motivar para as suas criaes e para a prpria leitura.

    Como actividade de leitura para o 1. ano, aponta-se ainda a leitura de livros

    adequados sua idade e nvel de competncia de leitura. No 2. ano j se sugere a

    leitura na verso integral de histrias, livros, poemas, de extenso e complexidade

    progressivamente alargadas, ou seja, em ambos os casos tm de ser adequadas ao seu

    nvel de competncia de leitura.

    Assim, como j referimos anteriormente, o programa prope nos dois

    primeiros anos o contacto do aluno com diversos registos escritos e com diferentes

    funes da leitura, que lhe permitam desenvolver o gosto por esta. Porm, ser

    9 No Anexo V podemos verificar alguns exemplos.

  • Relatrio de Estgio da Prtica de Ensino Supervisionada

    Escola Superior de Educao, Comunicao e Desporto da Guarda 50

    necessrio que a criana considere a leitura como algo que lhe possa ser til no seu

    dia-a-dia e retire prazer nas actividades de leitura em que participa, nos primeiros

    anos, com o objectivo de se tornar um leitor motivado e que consiga extrair o

    verdadeiro significado da leitura.

    Aparece referenciado no 3. e 4. anos a prtica de leitura por prazer,

    relacionando-a com actividades de biblioteca de turma, de escola, municipais e

    itinerantes. A prtica de leitura no deve ter apenas como finalidade o prazer, mas

    tambm a extraco de novos conhecimentos.

    Quando abordamos as funes da leitura remetemos para Sim-Sim, que refere

    que a leitura recreativa tem como objectivo () a aprendizagem da extraco de

    significado de diferentes tipos de textos que promovam o desenvolvimento do

    imaginrio, do esprito criativo e do pensamento divergente, enquanto que a leitura

    para fins informativos tem como objectivo a aprendizagem da extraco de significado

    () com o objectivo de transformar a informao em conhecimento (1997:60).

    Corroboramos opinio de Sim-Sim (idem), quando refere a importncia da

    leitura recreativa e que esta deve partir de diferentes tipos de texto, uma vez que a

    diversificao dos registos permite aos alunos uma abertura diferente, apelando para

    o desenvolvimento da sua opinio crtica e para a sua imaginao. Este contacto

    permitir-lhes- tambm a extraco de outros significados que passam para alm do

    reconhecimento dos acontecimentos e personagens principais do texto.

    A leitura para fins informativos deve facilitar aos alunos no