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Daniela Silva Pádua de Azevedo Relatório de Estágio em Angiologia e Cirurgia Mestrado Integrado em Medicina Área: Angiologia e Cirurgia Vascular Trabalho efectuado sob a Orientação de: Prof. Doutor Roberto Roncon de Albuquerque Maio, 2010

Relatório de Estágio em Angiologia e Cirurgia Vascular · concedeu de o ajudar ao nível do Bloco Operatório. ... Especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular num contexto histórico

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  • Daniela Silva Pdua de Azevedo

    Relatrio de Estgio em Angiologia e Cirurgia

    Vascular

    Mestrado Integrado em Medicina

    rea: Angiologia e Cirurgia Vascular

    Trabalho efectuado sob a Orientao de:

    Prof. Doutor Roberto Roncon de Albuquerque

    Maio, 2010

  • 1

    AGRADECIMENTOS

    A elaborao deste relatrio no teria sido possvel sem o acolhimento, disponibilidade

    e apoio prestados pelo Prof. Doutor Roberto Roncon de Albuquerque, a quem agradeo.

    Gostaria tambm de agradecer a todo o corpo docente que integra o Servio de

    Angiologia e Cirurgia Vascular pela simpatia e colaborao, nomeadamente ao Dr.

    Rocha e Silva e ao Dr. Paulo Dias, pela orientao na elaborao da histria clnica.

    Um agradecimento especial Dra. Isabel Vilaa pelos conhecimentos transmitidos

    aquando da minha passagem pelo Servio de Urgncia, bem como pela disponibilidade

    manifestada. Agradeo igualmente ao Dr. Emlio Silva pelo acolhimento ao nvel da

    Consulta Externa e ao Prof. Doutor Armando Mansilha pela oportunidade que me

    concedeu de o ajudar ao nvel do Bloco Operatrio.

    Ao tcnico Albano Rodrigues agradeo os conhecimentos transmitidos a respeito dos

    aparelhos e exames realizados ao nvel do laboratrio de hemodinmica.

    Uma palavra de apreo s secretrias do servio Margarida Fernandes e Ana Oliveira,

    que sempre se mostraram disponveis para auxiliar no que fosse necessrio, bem como

    pela constante simpatia.

    Por fim, gostaria de agradecer aos colegas que partilharam comigo estas 2 semanas de

    estgio no Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular, o seu companheirismo e

    amizade.

  • 2

    TTULO: Relatrio de Estgio em Angiologia e Cirurgia Vascular

    RESUMO

    O interesse pela patologia vascular, bem como pelo seu tratamento motivaram a

    participao no estgio de 2 semanas em Angiologia e Cirurgia Vascular. O contacto

    com as vrias reas em que a Angiologia e Cirurgia Vascular opera (Internamento,

    Consulta Externa, Consulta Interna, Bloco Operatrio e Servio de Urgncia) permitiu a

    observao de doentes e a colheita de dados no s relativos aos mesmos, como tambm

    ao Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular.

    Este tem uma ainda breve mas rica histria no que toca a publicaes por parte dos seus

    elementos. Tambm so de destacar as inovaes ao nvel da tcnica cirrgica,

    nomeadamente na Cirurgia Endovascular e na Endarteriectomia Carotdea.

    Ao longo do estgio foram observados os doentes do internamento. 68% eram do sexo

    masculino e a mesma percentagem tinha idade superior a 70 anos. A Isquemia Crnica

    Grau IV foi a patologia mais observada e a Amputao a forma de tratamento mais

    utilizada.

    Na Consulta Externa foram observados 30 doentes, 70% dos quais eram do sexo

    masculino e 37% tinham idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos. As Varizes

    Primrias foram o principal motivo de recorrncia consulta.

    Das cirurgias que ocorreram ao longo das 2 semanas de estgio, o Shunt ou Bypass

    Vascular foi o procedimento mais realizado.

    O estgio em Angiologia e Cirurgia Vascular revelou-se muito enriquecedor graas

    sua excelente organizao e notvel disponibilidade dos elementos da equipa mdica

    do Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular.

  • 3

    ABSTRACT

    The interest for the vascular pathology, as well as for its treatment motivated the

    participation in the internship of 2 weeks in Angiology and Vascular Surgery. The

    contact with several areas where Angiology and Vascular Surgery operates (Internment,

    External Consultation, Internal Consultation, Operating Room and Emergency Room)

    allowed the observation of patients and the gathering of data not only relative to the

    same ones, as well as to the Angiology and Vascular Surgery Department.

    The Angiology and Vascular Surgery Department still has a brief but rich history in

    what concerns to publications by its elements. Also it must be highlighted innovations

    to the level of the surgical technique, namely in Endovascular Surgery and the Carotid

    Endarterectomy.

    Throughout the internship the internment patients had been observed. 68% were of the

    male sex and the same percentage was over 70 years-old. Chronic Ischemia (grade IV)

    was the most observed pathology and Amputation was the main form of treatment.

    In the External Consultation 30 patients were observed, 70% of which were male and

    37% had ages between 20 and 49 years-old. The Primary Varicose Veins were the main

    reason of recurrence to consultation.

    Of the surgeries that occurred throughout the 2 weeks of internship, Shunt or Vascular

    Bypass was the most used procedure.

    The internship in Angiology and Vascular Surgery was totally constructive thanks to its

    excellent organization and to the notable availability of the medical team elements.

  • 4

    NDICE

    ABREVIATURAS ........................................................................................................... 5

    NDICE DE FIGURAS .................................................................................................... 6

    INTRODUO ................................................................................................................ 7

    RESENHA HISTRICA ................................................................................................. 8

    ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO SACV .......................................................... 10

    RECURSOS HUMANOS .............................................................................................. 11

    SERVIO DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR ........................................ 12

    INTERNAMENTO ........................................................................................................ 13

    CONSULTA EXTERNA ............................................................................................... 17

    CONSULTA INTERNA ................................................................................................ 20

    BLOCO OPERATRIO ................................................................................................ 21

    SERVIO DE URGNCIA ........................................................................................... 22

    EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNSTICO .............................................. 23

    ESTUDO HEMODINMICO ................................................................................... 23

    ANGIOGRAFIA ......................................................................................................... 24

    REUNIES DE SERVIO ............................................................................................ 25

    CONCLUSES .............................................................................................................. 26

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 27

    APNDICE I .................................................................................................................. 28

    APNDICE II ................................................................................................................. 29

    APNDICE III ............................................................................................................... 31

  • 5

    ABREVIATURAS

    SACV- Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular

    ACV- Angiologia e Cirurgia Vascular

    HSJ- Hospital de S. Joo

    SNC- Sistema Nervoso Central

    DAOP- Doena Arterial Obstrutiva Perifrica

    AVC- Acidente Vascular Cerebral

    MIs- Membros Inferiores

    AA- Aneurisma da Aorta

    IA- Isquemia Aguda

    IC- Isquemia Crnica

    GIIa- Grau IIa

    GIIb- Grau IIb

    GIII- Grau III

    GIV- Grau IV

    TVP- Trombose Venosa Profunda

    AAA- Aneurisma da Aorta Abdominal

    FAV- Fstula arterio-venosa

    PTA- Angioplastia transluminal percutnea

    EVAR- Endovascular aneurysm repair

    NC- No coronrio

    C- Cabea

    P- Pescoo

    ITB- ndice Tornozelo Brao

  • 6

    NDICE DE FIGURAS

    Grfico 1 Distribuio por sexo dos doentes do internamento.13

    Grfico 2 Distribuio por faixa etria dos doentes no internamento..14

    Grfico 3 Frequncia de patologias dos 38 doentes estudados no internamento.14

    Grfico 4 Frequncia de factores de risco de acordo com as patologias apresentadas

    pelos doentes do internamento15

    Grfico 5 Frequncia de medidas teraputicas adoptadas no tratamento dos doentes do

    internamento15

    Grfico 6 Distribuio por sexo em amostra de 30 doentes observados na Consulta

    Externa.17

    Grfico 7 Distribuio por faixa etria de 30 doentes observados na Consulta

    Externa.18

    Grfico 8 Frequncia de patologias observada numa amostra de 30 doentes na

    Consulta Externa..18

    Grfico 9 Frequncia de Factores de Risco de acordo com as patologias apresentadas

    pelos doentes da Consulta Externa..19

    Grfico 10 Frequncia absoluta de cirurgias realizadas durante as 2 semanas do

    perodo de estgio21

  • 7

    INTRODUO

    O interesse pela patologia vascular bem como pelo seu tratamento foram fortes

    motivaes para a deciso de frequentar a Disciplina Opcional de Angiologia e Cirurgia

    Vascular. A realizao de um relatrio que explorasse todas as vertentes do estgio de 2

    semanas afirmou-se no s como um desafio, mas tambm como uma forma de

    sistematizao e organizao das actividades que o estgio proporcionou.

    Desta feita, este trabalho pretende abordar primeiramente e de forma sucinta a

    Especialidade de Angiologia e Cirurgia Vascular num contexto histrico. Explora

    tambm o enquadramento da Especialidade no HSJ.

    No que toca ao estgio propriamente dito, o relatrio comea por uma descrio do

    SACV. Seguidamente so abordadas as vrias reas em que a Especialidade de ACV

    opera, nomeadamente o internamento, a consulta externa, a consulta interna, o bloco

    operatrio e o servio de urgncia. Em cada uma delas so analisadas variveis

    relacionadas com os doentes observados.

    A pertinncia da meno aos Exames Complementares de Diagnstico prende-se com

    uma certa especificidade destes relativamente especialidade.

    Finalmente feito um breve apontamento s reunies de servio, prtica constante e

    muito valorizada pelo SACV.

    O Apndice I elucida para as actividades desempenhadas ao longo das 2 semanas de

    estgio.

  • 8

    RESENHA HISTRICA

    A Cirurgia Vascular uma especialidade que se foi afirmando ao longo dos tempos. A

    tcnica de controlo da hemorragia h mais de 2500 anos por Sushruta, um cirurgio

    Indiano, foi apenas o comeo de um longo perodo de evoluo e aperfeioamento

    tcnicos que conduziu Cirurgia Vascular dos dias de hoje. (1)

    Richard Lambert foi um dos primeiros a descrever a tcnica de reconstruo vascular

    por aproximao dos topos da leso, realizada por Hallowell em 1795. Mas foi em 1887

    que se realizou a primeira anastomose arterial bem-sucedida por John Murphy.(1)

    O incio da Cirurgia Vascular moderna h cerca de 100 anos fica marcado pelas

    publicaes de Alexis Carrel e Charles Guthrie acerca do uso da veia autloga na

    realizao de bypasses arteriais. Em 1912, Alexis Carrel recebeu o Prmio Nobel de

    Medicina em Fisiologia e Medicina. (1)

    O tratamento bem sucedido de aneurismas atribudo a Rudolph Matas em 1923,

    sobretudo pelo aperfeioamento da tcnica de aneurismorrafia. (1,3)

    Em 1930, Leriche reala a importncia da fisiologia associada s tcnicas cirrgicas.

    Nesse sentido, desenvolve o estudo do SNC e dos sndromes dolorosos, tendo

    desenvolvido a simpaticectomia no tratamento da DAOP. Tambm descreveu os

    benefcios da arteriectomia, nomeadamente na cicatrizao de lcera. (1)

    Um grande progresso nas arteriografias surgiu em Portugal em 1927, onde a tcnica de

    angiografia cerebral foi introduzida por Egas Moniz. Dois anos mais tarde Reynaldo

    Dos Santos introduziu a angiografia da aorta abdominal, seus ramos e extremidades

    inferiores. Tal procedimento facilitou um diagnstico preciso das leses vasculares.

    tambm em Portugal que realizada a primeira tromboendarteriectomia (artria femoral

    superficial e ilaca), em 1946 por Joo Cid Dos Santos. Foi tambm pioneiro na

    flebografia ascendente, destacando-se ainda a modificao da tcnica de

    simpaticectomia lombar de Leriche. Hernni Monteiro deu a sua contribuio ACV

    atravs do estudo do sistema linftico. (1,3)

    Os avanos na cirurgia cartida surgem com o desenvolvimento das tcnicas de imagem

    por Egas Moniz e com o estudo da autpsia por Miller Fisher. Michael DeBackey

  • 9

    afirmou ter realizado a primeira endarteriectomia carotdea em 1953. No entanto, a

    primeira Endarteriectomia efectuada como preveno do AVC, foi publicada em 1954

    por Flix Eastcott, no St. Marys Hospital de Londres. (1,2)

    Um dos inovadores mais importantes da Cirurgia Vascular foi Arthur Voorchees, que

    iniciou a utilizao de enxertos arteriais de vinyon-N, com base nas suas observaes de

    que estes criariam superfcies no trombognicas.(1)

    O tratamento da insuficincia venosa por compresso e exciso de varizes sugerido

    respectivamente por Scrates e Galeno, s sofreu alterao em 1916 com John Holmans

    ao reconhecer a importncia das veias perfurantes e com Robert Linton, em 1938, que

    sugeriu a sua interrupo. (1)

    De Palma realizou a primeira reconstruo por derivao no sistema venoso em 1952,

    sendo estas realizadas esporadicamente desde ento. (1)

    Em 1961 Thomas J. Fogarty introduziu a sonda de balo para desobstruo arterial. A

    relevncia desta inovao prende-se com o facto de as taxas de sucesso na remoo de

    mbolos arteriais se situarem nos 40-50% at ento.

    Em 1964 Charles Dotter utilizou cateteres com dimetro progressivamente menor para

    desobstruir artrias com placas aterosclerticas. Grtzing realiza a primeira angioplastia

    por balo em 1974.(2)

    A abordagem endovascular de aneurismas introduzida em 1990 por Juan Parodi.(1)

  • 10

    ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO SACV

    Em 1975 os mdicos do Servio de Clnica Cirrgica responsveis pela patologia

    vascular integraram-se num novo quadro do HSJ, com o Professor Doutor Antnio

    Braga como Chefe de Servio e os restantes como assistentes hospitalares. Porm, s a

    13 de Dezembro de 1977 teve origem o SACV no HSJ. Nessa altura, o Professor

    Antnio Braga acumulava as funes de Chefe e Director de Servio. Aps jubilao

    deste, a direco do Servio ficou a cargo da ento Chefe de Servio, a Dra. Fernanda

    Viana de 8 de Junho de 2000 a 23 de Maio de 2003.

    a 23 de Maio de 2003 que toma posse o actual Director de Servio, o Professor

    Doutor Roberto Roncon de Albuquerque, sendo que a 5 de Maro de 2004, aps provas

    pblicas, toma posse como Chefe de Servio do SACV.

    Mais recentemente, em Dezembro de 2008, o Dr. Jos Fernando Teixeira prestou provas

    pblicas para Chefe de Servio de ACV, vindo a constituir-se como tal em Janeiro de

    2009.

    O SACV destaca-se pelos inmeros trabalhos publicados por elementos do mesmo,

    nomeadamente o estudo clnico da Doena de Buerger (5, 6), as revises de doentes

    submetidos a Endarteriectomia Carotdea (7), o desenvolvimento de temas como a

    Revascularizao dos MIs (8), ou ainda a correco de AA (9).

    De sublinhar ainda elementos como o Dr. Augusto Rocha e Silva pela sua experincia

    na rea da Cirurgia Endovascular, nomeadamente na correco de AA. O Professor

    Doutor Armando Mansilha tambm se destaca por ter sido o precursor da utilizao de

    tcnicas de anestesia loco regional para Cirurgia Carotdea no HSJ.

  • 11

    RECURSOS HUMANOS

    Director de Servio

    Prof. Doutor Roncon de Albuquerque

    Chefe de Servio

    Dr. Jos Fernando Teixeira

    Assistente Hospitalar Graduado

    Dr. Emlio Silva

    Assistentes Hospitalares

    Dr. Rocha e Silva

    Prof. Doutor Armando Mansilha

    Prof. Doutor Srgio Sampaio

    Dr. Jorge Costa Lima

    Dr. Fernando Dourado Ramos

    Dr. Pedro Paz Dias

    Dr. Alfredo Cerqueira

    Dr. Eurico Norton

    Dr. Isabel Vilaa

    Internos Complementares

    Dr. Paulo Dias

    Dr. Joana Carvalho

    Dr. Pedro Afonso

    Dr. Jos Lopes

    Dr. Dalila Marques

    Dr. Ana Sofia Pinto Ferreira

    Dr. Mrio Jorge Vieira

  • 12

    SERVIO DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

    O Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular localiza-se no 5 piso da ala central do

    Hospital de S. Joo. Dispe de 6 enfermarias, uma com 8 camas, duas com 6 e duas

    com 4. Adicionalmente existe um quarto com duas camas e um outro quarto individual,

    usado para isolamento de doentes com quadros especiais, nomeadamente patologia

    infecciosa. Ao todo o servio alberga 31 camas. De notar a existncia de uma sala de

    pensos de fcil acesso aos doentes de todas as enfermarias. Nesta os doentes em que se

    justifique recebem cuidados de penso pela equipa de enfermagem, sendo esta prtica

    no raras vezes supervisionada pelo especialista para efeitos de deciso teraputica.

    O Servio dispe de um gabinete de enfermagem, local de acesso aos processos

    clnicos. Este est equipado com um quadro/grelha referente aos doentes presentes no

    internamento, computadores e uma impressora. Aqui realizam-se as reunies da equipa

    de enfermagem, nomeadamente a passagem de turno.

    A copa serve o refeitrio onde os doentes cujas patologias o permitam podem realizar as

    suas refeies. Este est equipado com vrias mesas e cadeiras, 2 sofs e uma televiso.

    Existem no Servio quartos de banho destinados higiene dos doentes e 1 reservado ao

    pessoal do servio. Tambm reservados ao pessoal do servio esto os vestirios.

    De referir a existncia do gabinete do Director de Servio e de dois gabinetes de

    secretariado. Na biblioteca decorrem as Reunies de Servio. Nesta esto disponveis

    livros e revistas cientficas para consulta. Imediatamente ao lado encontra-se uma sala

    equipada com 4 computadores, um deles pertencente faculdade e ainda 2 impressoras.

    usada sobretudo pelo corpo mdico para acesso ao material informatizado referente

    aos doentes, nomeadamente exames complementares de diagnstico.

    Finalmente o SACV dispe de 2 salas para realizao de estudos hemodinmicos.

    O Apndice II apresenta imagens relativas ao SACV.

  • 13

    INTERNAMENTO

    O internamento constitudo por 6 enfermarias e 2 quartos, albergando um total de 31

    camas, alvo de visita por parte da equipa mdica todos os dias teis, pelas 8h30. A

    esta associa-se pelo menos um elemento da equipa de enfermagem. Nesta visita

    pretende-se rever o caso de cada doente, realizando um ponto de situao no que toca a

    tratamento, evoluo e previso da data de alta. Desta feita, a colaborao da equipa que

    acompanha cada um (especialista e interno(s) complementar(es) da especialidade de

    ACV) crucial neste processo. comum que a realizao de cuidados de penso por

    parte da equipa de enfermagem coincida com a visita enfermaria. alis muitas vezes

    solicitada nessa altura pelo prprio especialista no sentido de verificar a evoluo de

    determinada leso. De realar que este procedimento permite sobretudo o contacto com

    o doente, dando-lhe a oportunidade de manifestar as suas dvidas e preocupaes no

    que toca sua doena e respectivo tratamento.

    Ao longo do estgio no SACV houve a oportunidade de acompanhar as visitas ao

    Servio e verificar a excelente colaborao entre equipas mdica e de enfermagem, bem

    como a ateno dada aos doentes e a preocupao em dar resposta em tempo til aos

    problemas por estes apresentados.

    Os grficos seguintes referem-se a dados relativos aos 38 doentes do internamento

    estudados.

    Homens

    68%

    Mulheres

    32%

    Distribuio por sexo

    Grfico 1 Distribuio por sexo dos doentes do internamento.

  • 14

    16%

    16%

    22%

    35%

    11%

    Distribuio por faixa etria

    40-49 50-59 60-69 70-79 80-89

    Grfico 2 Distribuio por faixa etria dos doentes no internamento.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    Patologias

    Nmero de doentes

    Grfico 3 Frequncia de patologias dos 38 doentes estudados no internamento.

  • 15

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    5

    Outros

    Tabagismo

    Obesidadde

    DM tipo II

    Dislipidemia

    HTA

    Sexo Masculino

    Grfico 4 Frequncia de factores de risco de acordo com as patologias apresentadas pelos doentes do internamento.

    A maior parte dos doentes internados foi submetida a estudos hemodinmicos e

    angiografias, antes da deciso teraputica.

    Grfico 5 Frequncia de medidas teraputicas adoptadas no tratamento dos doentes do internamento.

  • 16

    Aps tratamento e se apresentarem condies que o propiciem, os doentes tm alta para

    a Consulta Externa do HSJ, onde sero seguidos por um perodo e com uma frequncia

    adequada sua patologia. Caso os doentes ainda requeiram internamento, no

    necessitando porm dos cuidados da especialidade de Cirurgia Vascular, podem ser

    transferidos para Hospitais das suas reas de residncia.

    Durante as 2 semanas de estgio, para alm de um contacto geral com todos os doentes

    internados, houve um contacto mais exaustivo com um dos doentes, com o objectivo de

    realizar uma histria clnica detalhada do mesmo. Nesse sentido, para alm da recolha

    de dados e exame fsico, tambm foi possvel acompanhar os cuidados de penso a que

    foi submetido, bem como o tratamento realizado.

    O Apndice III apresenta a Histria Clnica realizada no contexto do estudo do doente

    referido.

  • 17

    CONSULTA EXTERNA

    No piso 2 do Hospital de S. Joo, encontram-se os gabinetes de consulta de Cirurgia

    Vascular. Existem 3, todos eles equipados com computador e impressora. Num deles

    possvel realizar estudos hemodinmicos. Em apoio aos gabinetes de consulta existem 2

    salas de penso.

    Os doentes seguidos em consulta externa de Cirurgia Vascular tm diversas

    provenincias, nomeadamente do internamento do SACV, com o objectivo de terem,

    por exemplo, acompanhamento ps-operatrio. Podem tambm ser enviados pelo

    mdico assistente da sua rea de residncia. De referir ainda que outras especialidades

    podem solicitar a avaliao por parte de especialistas de Cirurgia Vascular dos seus

    doentes.

    A presena na consulta externa realizou-se sob a orientao do Dr. Emlio. Os seguintes

    grficos resumem aspectos respeitantes aos 30 doentes observados:

    70%

    30%

    Distribuio por sexo

    Masculino Feminino

    Fig. 6 Distribuio por sexo em amostra de 30 doentes observados na Consulta Externa.

  • 18

    7%

    10%

    10%

    26%

    26%

    16%

    5%

    Distribuio por faixa etria

    20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89

    Grfico 7 Distribuio por faixa etria de 30 doentes observados na Consulta Externa.

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    Patologias

    Doentes

    Grfico 8 Frequncia de patologias observada numa amostra de 30 doentes na Consulta Externa.

  • 19

    0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

    lcera Varicosa

    Sndrome De Raynaud

    Estenose carotdea

    Ectasia venosa

    Hiperhidrose

    TVP

    Varizes primrias

    Isquemia Crnica GIV

    Isquemia Crnica GIIb

    Isquemia Crnica GIIa

    Isquemia Aguda

    Sexo Masculino

    HTA

    Dislipidemia

    DM tipo II

    Obesidade

    Tabagismo

    Outros

    Grfico 9 Frequncia de Factores de Risco de acordo com as patologias apresentadas pelos doentes da Consulta Externa.

    No que toca ao tratamento, os doentes com patologia venosa (varizes primrias)

    observados e que tinham indicao foram propostos para cirurgia. Os restantes doentes

    encontravam-se em follow-up de cirurgia prvia ou no tinham indicao cirrgica, pelo

    que para estes foi proposto o controlo teraputico dos factores de risco.

  • 20

    CONSULTA INTERNA

    Os especialistas do SACV podem ser solicitados a observar doentes internados em

    outros servios do HSJ, no sentido de diagnosticar e tratar manifestaes compatveis

    com patologia vascular. A importncia desta actividade prende-se sobretudo com

    apresentaes emergentes como o caso da TVP e da IA dos membros.

  • 21

    BLOCO OPERATRIO

    no Bloco Central, especificamente na Sala 10 que decorrem as cirurgias, todos os dias

    teis. Ao longo do estgio foi possvel estar presente em vrias cirurgias, tendo

    inclusivamente participado como ajudante em 2 delas (Endarteriectomia Carotdea e

    Amputao Transmetatrsica) sob a orientao do Prof. Doutor Armando Mansilha.

    O seguinte grfico apresenta a frequncia absoluta das cirurgias realizadas no perodo

    de estgio, dos doentes internados no SACV:

    Grfico 10 Frequncia absoluta de cirurgias realizadas durante as 2 semanas do perodo de estgio.

  • 22

    SERVIO DE URGNCIA

    O SACV faz-se representar ao nvel do Servio de Urgncia por dois especialistas que

    diariamente asseguram a observao de doentes com patologias do foro da Angiologia e

    Cirurgia Vascular, em regime de permanncia fsica das 8-20h e por chamada das 20-

    8h.

    As patologias que mais frequentemente requerem a chamada dos especialistas do SACV

    urgncia so:

    Complicaes de p diabtico;

    Doena isqumica dos MIs;

    TVP e superficial dos MIs;

    lcera crnica venosa ou arterial.

    Durante a presena no SU sob orientao da Dra. Isabel Vilaa foi possvel observar

    uma doente com suspeita de TVP, um doente com p diabtico, que recorreram no

    mesmo dia ao SU. Tambm foi requerida a presena de especialista de ACV na UCI

    para avaliao de um doente com arrefecimento e palidez sbitos do MI direito.

  • 23

    EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNSTICO

    ESTUDO HEMODINMICO

    O SACV est equipado com duas salas, uma de estudos hemodinmicos e outra de

    EcoDoppler. Diariamente um Tcnico atende os pedidos originrios dos mais variados

    servios. Do SU provm sobretudo doentes com suspeita de TVP ou Superficial. O

    diagnstico diferencial entre essas duas condies obtm-se com a realizao de

    ecoDoppler, quando o doente apresenta D-dmeros positivos no estudo analtico.

    Tambm do SU so provenientes as isquemias crticas GIII e IV. A sua confirmao

    faz-se atravs da Fluxometria Doppler arterial distal dos MIs ou Ss. Tambm se

    determina o ITB, caso a queixa seja relativa ao MI exclusivamente. Adicionalmente

    pode realizar-se a pletismografia. Esta ltima tambm usada para situaes de

    isquemia aguda ou lceras com dificuldade de cicatrizao, que igualmente so queixas

    comuns no SU.

    Os doentes com insuficincia venosa so enviados sobretudo pela Consulta Externa de

    ACV e realizam ecoDoppler venoso dos MIs. Tambm da Consulta Externa provm

    doentes com isquemia crnica GIIb-IV, sendo a fluxometria Doppler o exame efectuado

    nesta situao. O ecoDoppler carotdeo e vertebral requerido em doentes com doena

    cerebrovascular ou para estudo pr-operatrio.

    O estudo hemodinmico de doentes internados no SACV solicitado sobretudo em caso

    de atingimento da microcirculao: vasculite, Sndrome de Blue Toe, Doena de

    Buerger e p diabtico. Nestas situaes realiza-se Fluxometria Doppler arterial distal

    com a adicional medio do ITB. Os mesmos exames so efectuados em doentes do

    SACV ou de outros servios que necessitem de realizar estudo pr-operatrio para

    reavaliao do estado clnico.

  • 24

    ANGIOGRAFIA

    O estudo angiogrfico realiza-se no piso 1 do HSJ, na unidade de Angiorradiologia.

    Habitualmente a especialidade de ACV ocupa 2 tempos semanais deste exame, sendo

    que por semana so angiografados um total de 8 a 10 doentes. Os exames mais

    requisitados so aorto-arteriografias dos MIs.

    Em Junho de 2009 foi introduzido um novo modelo para realizao de angiografia

    denominado Allura FD20 (flat detector de 20 polegadas). um aparelho com as

    potencialidades dos aparelhos de TAC, apresentando um detector que capta a radiao,

    convertendo-a em imagem digital. Relativamente ao antigo modelo de angiografia

    destaca-se pela melhor qualidade de imagem. Para alm disso permite a aquisio de

    imagens em 3D, facilitando a observao de leses vasculares, bem como a sua melhor

    caracterizao. Adicionalmente apresenta a potencialidade de adquirir imagens do

    lmen dos vasos.

  • 25

    REUNIES DE SERVIO

    Decorrem na Biblioteca do Servio todas as 6 feiras s 8h as Reunies de Servio.

    Nestas, todos os elementos da equipa mdica marcam presena com o objectivo de

    discutir casos pertinentes de doentes do internamento, consulta externa, ou mesmo

    internados em outros servios e que necessitem da colaborao de ACV. Tambm so

    abordadas questes inerentes ao funcionamento do Servio e do Hospital.

    Eventualmente so feitas apresentaes relativas a frmacos e outro tipo de medidas

    teraputicas por meio de representantes do respectivo produto.

    Houve a oportunidade de comparecer a duas Reunies de Servio, sendo que para alm

    da discusso de casos em ambas, decorreu adicionalmente na reunio de 12/02/2010 o

    Journal Club. Neste o Dr. Paulo Dias abordou o seguinte estudo:

    Davenport LD, OKeeffe SD, Minion DJ, Sorial EE, Endean ED, Xenos ES: Thirty-day

    NSQIP database outcomes of open versus endoluminal repair of ruptured abdominal

    aortic aneurysms. J Vasc Surgery 2010 Feb; 51(2):305-9

  • 26

    CONCLUSES

    Ao longo do estgio houve a oportunidade de contactar com as diversas reas em que a

    especialidade de ACV opera.

    No que toca ao internamento foi possvel constatar, a partir dos dados colhidos durante

    as 2 semanas de estgio, que num total de 38 doentes analisados, houve um claro

    predomnio do sexo masculino (68%). Relativamente faixa etria, 68% dos doentes

    tinham idade superior a 60 anos. A Isquemia Crnica GIV foi a patologia mais

    prevalente, seguida da Isquemia Aguda e da Isquemia Crnica Agudizada.

    Relativamente prevalncia dos factores de risco so de destacar o sexo masculino, a

    HTA, a dislipidemia e o tabagismo. A cirurgia foi a forma de tratamento mais utilizada

    para solucionar as patologias dos doentes no internamento, com a amputao (sem

    especificao do nvel) seguida do Shunt ou Bypass Vascular a liderar.

    De notar, porm, que durante as 2 semanas de estgio o procedimento cirrgico mais

    realizado foi o shunt ou bypass vascular.

    Na Consulta Externa o predomnio do sexo masculino manteve-se (70%). No entanto,

    verificou-se uma maior homogeneidade no que toca distribuio por faixas etrias,

    com 37% dos doentes com idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos. 52% dos

    doentes estavam na faixa 50-79 anos. Esta distribuio pode ser explicada pelo principal

    motivo de admisso consulta verificado nesse perodo: varizes primrias, seguido da

    isquemia crnica GIV. semelhana dos doentes do internamento, os principais

    factores de risco observados foram sexo masculino, HTA, dislipidemia e tabagismo. O

    tratamento foi sobretudo mdico, pese embora a maior parte dos doentes com indicao

    j ter sido submetida a cirurgia.

    De referir que a colheita destes dados apenas foi possvel pela enorme disponibilidade

    de todos os elementos integrantes do SACV, nomeadamente equipa mdica. Tal tornou

    este estgio extremamente proveitoso, e no s pela disponibilidade, como tambm pela

    transmisso de conhecimentos por parte da equipa mdica nas diversas actividades.

  • 27

    BIBLIOGRAFIA

    1.Friedman S. Histria da Cirurgia vascular. 2edio. Revinter; 2006.

    2. Caeiro B. Nas Rotas do Sangue- Histria da Angiologia e Cirurgia Vascular. 1

    edio. Editora J.R.S Lda; 1994.

    3. Society for Vascular Surgery website

    4. Teixeira JF, Albuquerque RR. Gnese e Desenvolvimento do Servio de Angiologia e

    Cirurgia Vascular. 50 Anos de Pediatria 2009; 207-213.

    5. Roncon-Albuquerque R., Sampaio S. M., Vidoedo J.C., Cerqueira A. Buergers

    Disease: Current Approach. Angiologia e Cirurgia Vascular 2007 Mar; 3 (1): 31-34.

    6. Roncon-Albuquerque R. Avanos na Doena de Buerger. Angiologia e Cirurgia

    Vascular 2001 Dez; 1 (2): 23-28.

    7. Cerqueira A., Sampaio S., Carvalho J., Dias P., Toledo T., Vilaa I., et al.

    Endarteriectomia carotdea no Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital

    de S. Joo- A experincia de sete anos (1998-2005). Angiologia e Cirurgia Vascular

    2006; 2 (3): 15-18.

    8. Vidoedo J.C., Sampaio S., Cerqueira A., Vilaa I., Toledo T., Meira J., et al. Bypass

    Femoro-Poplteo Supra-Genicular: Anlise Retrospectiva de 5 anos. Revista

    Portuguesa de Cirurgia Torcica e Vascular 2006; 13 (1): 37-40.

    9. Sampaio S., Vidoedo J.C., Cerqueira A., Toledo T., Vilaa I., Dias P., et al.

    Previsibilidade das complicaes mdicas aps correco de aneurismas da aorta

    abdominal por cirurgia clssica. Angiologia e Cirurgia Vascular 2006; 2 (2): 33-38.

    10. Rutherford R. B. Vascular Surgery. 6th

    ed. Elsevier Saunders, 2005; 2 (101): 1461-

    1467.

  • 28

    APNDICE I

    Fig. 1- Plano de actividades realizadas ao longo das duas semanas de estgio.

  • 29

    APNDICE II

    Fig. 1- Entrada do SACV.

    Fig. 2- Perspectiva do SACV.

  • 30

    Fig. 3- Perspectiva da sala de pensos do SACV.

  • 31

    APNDICE III

    HISTRIA CLNICA

    A-INFORMAO:

    Data de recolha da informao: 02/01/2010: 28 dia de internamento;

    Data de internamento: 06/01/2010;

    Local: Servio de Angiologia e Cirurgia Vascular, cama 20;

    Fonte da informao: Doente e processo clnico;

    Fiabilidade: Fiveis.

    B- IDENTIFICAO:

    Nome: S.R.A.

    Idade: 75 anos

    Sexo: masculino

    Estado civil: casado

    Naturalidade: Vila Nova de Cerveira

    Residncia: Vila Nova de Cerveira

    Ocupao: Reformado (trabalhava como carpinteiro)

    Raa: caucasiana

    C-MOTIVO DE INTERNAMENTO: Dor e sinais inflamatrios de lcera pr-tibial

    esquerda.

  • 32

    D-HISTRIA DA DOENA ACTUAL: Doente de 75 anos, com HTA, dislipidemia,

    cardiopatia isqumica e DPOC, inicia h cerca de 4 anos um quadro de claudicao

    intermitente do MI esquerdo para cerca de 200 metros. Refere evoluo dos sintomas ao

    longo do tempo (cerca de 1 ano), com claudicao para distncias progressivamente

    mais curtas, culminando com dor em repouso. A dor surgia sobretudo na posio

    deitada, aliviando com a elevao da perna esquerda. Durante este perodo o doente

    sofreu um acidente de motorizada do qual resultou uma ferida da face antero-lateral da

    perna esquerda. Na sequncia deste acontecimento, e aps atendimento hospitalar,

    iniciou cuidados de penso no Hospital da sua rea de residncia: Hospital de Viana do

    Castelo. A dificuldade de cicatrizao da ferida do MI esquerdo, levou a que o seu

    mdico assistente pedisse a colaborao de Cirurgia Vascular, tendo enviado o doente

    para a Consulta Externa de Cirurgia Vascular do Hospital de S. Joo. Nesse sentido o

    doente realizou estudo hemodinmico: EcoDoppler arterial dos membros inferiores;

    bem como aortografia e angiografia dos membros inferiores. Estes revelaram estenose

    femoral esquerda e ainda uma dilatao da aorta abdominal infra-renal, com progresso

    para a artria ilaca comum direita. Face a este achado, foi pedida uma TAC que

    confirmou a existncia de um aneurisma da aorta abdominal, de recanalizao central e

    trombo perifrico, com atingimento da artria ilaca direita numa extenso de cerca de

    8,5 cm, sem significativas alteraes da artria ilaca esquerda. No que toca estenose

    femoral, o doente foi proposto para cirurgia, tendo realizado endarteriectomia femoral

    esquerda com plastia da artria femoral profunda (encerramento com patch de Dacron).

    Realizou concomitantemente plastia da lcera da face antero-lateral da perna com

    retalho cutneo da pele. O ps-operatrio decorreu sem intercorrncias, tendo sido dada

    alta ao doente para a consulta externa de Cirurgia Vascular. Durante o seguimento na

    consulta, foi sendo avaliada a evoluo ps-operatria do doente, bem como do

    aneurisma da aorta abdominal. Neste perodo, houve recidiva da leso ulcerosa, que

    voltou a demonstrar dificuldades na cicatrizao, bem como aparecimento de sinais

    inflamatrios e dor intensa. Tambm o aneurisma da aorta, nomeadamente no seu

    prolongamento para a artria ilaca comum direita sofreu um aumento com indicao

    cirrgica. Nesse sentido, foi proposto o internamento do doente no Servio de

    Angiologia e Cirurgia Vascular a 06/01/2010.

  • 33

    E-HISTORIA MDICA PRVIA:

    DOENAS ANTERIORES:

    2 EAM.

    DOENAS DE INFNCIA:

    No soube especificar.

    DOENAS CRNICAS:

    HTA desde h vrios anos, medicada;

    Dislipidemia;

    Cardiopatia isqumica;

    DPOC.

    CIRURGIAS:

    Cirurgia mo esquerda;

    Facoemulsificao direita;

    Facoemulsificao esquerda;

    Cateterismo cardaco h cerca de 3 anos com colocao de stent coronrio;

    Endarterectomia femoral esquerda e plastia de lcera da perna com retalho

    cutneo da pele em Maio de 2007.

    HOSPITALIZAES:

    Referentes s intervenes cirrgicas, sendo que estas ocorreram sem quaisquer

    intercorrncias;

    TRAUMATISMOS, ACIDENTES:

    Refere acidente de motorizada h cerca de 3 anos.

  • 34

    ALERGIAS:

    Nega.

    ANTECEDENTES TRANSFUSIONAIS:

    Nega.

    F- CUIDADOS DE SADE HABITUAIS:

    ALIMENTAO:

    Alimentao equilibrada, composta por 3 refeies dirias;

    Consumo preferencial de carne;

    Consumo moderado de sal.

    TABACO: Deixou de fumar h 10 anos, fumava 20 cigarros por dia.

    ALCOL: Bebe um copo de vinho s refeies.

    DROGAS: Nega consumo de drogas.

    ACTIVIDADE FSICA: Nenhuma.

    MEDICAO ACTUAL:

    Regular:

    Mononitrato de isossorbida;

    Bisoprolol;

    Lisinopril;

    Digoxina;

    Aspirina;

    Amlodipina;

    Furosemida;

    Zaldiar;

    Bactrim forte

  • 35

    VACINAS: PNV actualizado. Fez vacina da gripe sazonal e da gripe A.

    G-HISTRIA SOCIAL E PROFISSIONAL

    NVEL SOCIOECONMICO: mdio-baixo.

    HABITAO: vive em casa com luz, gua, gs e saneamento bsico;

    AGREGADO FAMILIAR: vive com esposa e filho;

    REFORMA/SALRIO: recebe reforma;

    PROFISSO ACTUAL: reformado;

    PROFISSES PRVIAS: trabalhou como carpinteiro;

    VIAGENS: sem histria de viagens recentes.

    H-HISTRIA MDICA E FAMILIAR (ANTECEDENTES FAMILIARES)

    PAI: Falecido aos 72 anos devido a patologia que no soube especificar;

    ME: Falecida aos 82 anos por patologia que no soube especificar;

    IRMOS: Tem 2:

    Irm falecida com 60 anos por AVC;

    Irm de 66 anos com a qual no tem convivncia;

    CNJUGE: Tem 76 anos e saudvel.

    FILHOS: Tem 3:

    , 52 anos, saudvel;

    , 44 anos, saudvel;

    , 42 anos, sofre de epilepsia.

    Nega a existncia de outros familiares com patologia semelhante sua.

  • 36

    I-REVISO POR APARELHOS E SISTEMAS

    GERAL: Refere alguma astenia e dispneia quando caminha. Nega mau estar geral,

    febre, arrepios, hipersudorese ou suores nocturnos.

    PELE E FANERAS: Alteraes cutneas ao nvel dos membros inferiores, com

    rarefaco pilosa e distrofia ungueal. No membro inferior esquerdo, mais precisamente

    na regio pr-tibial, apresenta uma leso ulcerada com odor ftido, exsudado abundante

    e ruborizada. Nega prurido, ictercia ou cianose.

    SISTEMA OCULAR: Usa lentes de correco aps facoemulsificao. Nega diplopia,

    fotofobia, lacrimejo, desconforto ocular, olho vermelho, bem como histria de

    traumatismo oftalmolgico.

    SISTEMA OTORRINOLARINGOLGICO: Refere obstruo nasal. Nega

    diminuio da acuidade auditiva, otalgia, otorreia, zumbidos, tonturas, vertigens,

    epistxis, patologia dentria ou gengival, odontalgia, gengivorragia, sialorreia,

    xerostomia, rouquido e episdios de faringite.

    SISTEMA ENDCRINO: Nega polidipsia, polifagia, intolerncia ao frio/calor,

    patologia tireidea, ou qualquer outro tipo de patologia hormonal.

    SISTEMA RESPIRATRIO: Refere dispneia quando caminha. Refere ainda tosse.

    Nega dor pleurtica, cianose, pieira e histria de tuberculose ou outras infeces

    respiratrias.

    SISTEMA CARDIOVASCULAR: Refere dispneia para pequenas distncias. Refere

    claudicao intermitente desde h 4 anos para distncias progressivamente mais curtas.

    Histria de EAM por provvel doena coronria, j que apresenta factores de risco:

    HTA e dislipidemia. Nega palpitaes, ortopneia, dispneia paroxstica nocturna, edemas

    perifricos e dor torcica.

    SISTEMA HEMATOLGICO: Nega histria de anemia, hemorragia, tromboses ou

    transfuses sanguneas.

  • 37

    SISTEMA GASTROINTESTINAL: Nega disfagia, nuseas, vmitos, regurgitao,

    diarreia, obstipao, alteraes da colorao e consistncia das fezes, hematemeses,

    melenas, hematoquzias, rectorragias, tenesmo. Nega patologia heptica e pancretica.

    SISTEMA GENITOURINRIO: Nega urgncia urinria, incontinncia, dor nos

    flancos/suprapbica aps urinar, histria de ITUs, histria de clicas renais, disria,

    polaquiria, noctria, hematria, leses genitais ou doena venrea.

    SISTEMA MSCULO-ESQUELTICO: Refere diminuio da fora muscular nos

    membros inferiores, bem como dor em repouso. Nega patologia osteoportica, rigidez

    articular e paresia.

    NEUROLGICO: Nega vertigens, cefaleias, desorientao, descoordenao motora,

    lipotmia, sncope, convulses, paresia/plegia e traumatismo crnio-enceflico.

    PSIQUITRICO: Refere tristeza e ansiedade. Nega insnias, irritabilidade e

    alteraes do humor.

    J-EXAME FSICO

    EXAME GERAL:

    Doente consciente, colaborante, orientado no tempo e no espao. Estado geral razovel,

    sendo a idade aparente igual idade real.

    SINAIS VITAIS:

    Temperatura: 36,20C;

    Frequncia cardaca: 60bpm;

    Frequncia respiratria: eupneica;

    Tenso arterial: 128/83mmHg.

  • 38

    PARMETROS ANTROPOMTRICOS:

    Peso: 70Kg

    Altura: 1,70m

    IMC: 24,2Kg/m2

    PELE E FANERAS:

    Pele e mucosas coradas e hidratadas. Leso cutnea ulcerada ao nvel do membro

    inferior esquerdo, com sinais inflamatrios: rubor e calor.

    CABEA:

    Ausncia de dismorfias, tumefaces e adenomegalias, bem como de pontos dolorosos

    palpao.Sem alterao da linha de implantao do cabelo. Conjuntivas de colorao e

    hidratao normais. Esclerticas anictricas. Plpebras simtricas. Sem ptose, retraco,

    sinais inflamatrios ou xantelasmas. Ausncia de exoftalmia/endoftalmia. Sem

    realizao de fundoscopia. Ausncia de alteraes da configurao e implantao dos

    pavilhes auriculares. Sem deteco de escorrncia ou sinais inflamatrios a nvel dos

    canais auditivos externos. Sem realizao de otoscopia. Sem alterao da configurao

    da pirmide nasal e alinhamento do septo. Fossas nasais permeveis. Ausncia de

    rinorreia ou epistxis. Sem realizao de rinoscopia. Cavidade oral corada e hidratada.

    Preservao das peas dentrias, com boa higiene oral. Artria temporal superficial com

    pulso palpvel, regular e simtrico. Sem dor palpao e/ou tortuosidades.

    PESCOO:

    Simetria. Sem cicatrizes, deformidades, tumefaces e/ou alteraes da colorao. Pulso

    venoso jugular visvel, sem turgescncia jugular ou refluxo hepatojugular. Sem queixas

    lgicas. palpao, pulsos carotdeos presentes, amplos e rtmicos, sem sopros

    auscultao. Glndulas salivares de dimenses e consistncia normais, sem ndulos e

    indolores palpao. Ausncia de adenomegalias ou massas palpveis. Tireide no

    palpvel.

    TORX:

  • 39

    Sem alteraes na configurao, sem cicatrizes, deformidades e ou alteraes da

    colorao. Expansvel com os movimentos respiratrios de forma simtrica.

    SISTEMA RESPIRATRIO:

    Inspeco: Ausncia de tiragem ou retraces.

    Palpao: Manuteno da expansibilidade torcica.

    Percusso: Trax ressonante.

    Auscultao: murmrio vesicular presente bilateralmente e simtrico, ausncia de rudos

    adventcios. Sem alterao da relao inspirao/expirao.

    SISTEMA CARDIOVASCULAR:

    Inspeco: Inexistncia de pulsatilidades pr-cordiais.

    Palpao: rea de impulso mximo ao nvel do 5 espao intercostal esquerdo, ao nvel

    da linha mdio-clavicular. Ausncia de frmitos palpveis.

    Auscultao: S1 e S2 presentes hipofonticos e rtmicos, sem sopros audveis.

    Tempo de preenchimento capilar sem alteraes.

    Ausncia de edemas.

    ABDMEN:

    Inspeco: Sem cicatrizes, deformidades e/ou alteraes da colorao. Ausncia de

    hrnias, tumefaces ou reas de pulsatilidade visveis, bem como circulao colateral

    ou distenso abdominal. Sem respirao paradoxal.

    Auscultao: Rudos hidro-areos presentes, de intensidade e frequncia normais.

    Ausncia de sopros.

    Percusso: Timpnico em toda a sua extenso.

    Palpao: Mole e depressvel. Indolor a palpao superficial e profunda. Ausncia de

    organomegalias ou massas palpveis. Sem sinais de irritao peritoneal. Sinal da onda

    asctico negativo.

  • 40

    MEMBROS SUPERIORES:

    Simetria e normoconfigurao. Adequada colorao, temperatura e hidratao cutnea.

    Diminuio da fora muscular. Massa muscular em conformidade com a faixa etria.

    Ausncia de sinais inflamatrios, deformidades, cicatrizes, ou alteraes cutneas.

    Pulsoa braquiais, radiais e cubitais presentes, amplos, rtmicos, regulares e simtricos

    em ambos os membros superiores. Sem edemas.

    MEMBROS INFERIORES:

    Simetria e normoconfigurao, diminuio da fora muscular, mais marcada esquerda.

    Presena de varizes em ambos os membros inferiores, sobretudo ao nvel das pernas.

    Perceptveis alteraes cutneas nomeadamente rarefaco pilosa e distrofia ungueal. A

    perna esquerda apresenta uma leso ulcerada na regio pr-tibial, com odor ftido e

    exsudao abundante, bem como sinais inflamatrios: rubor e calor. Ausncia de

    pulsatilidades, quer inspeco quer palpao. Membros sem arrefecimento. Ausncia

    de edemas. Pulsos femorais presentes bilateralmente, amplos e rtmicos. Ausncia de

    pulsos poplteo, tibial posterior e pedioso bilateralmente.

    EXAME DO DORSO:

    Sem alteraes posturais. Ausncia de contractura muscular e dor ou massas palpao.

    EXAME NEUROLGICO:

    Doente consciente pouco orientada no tempo. Discurso normal. Adequada capacidade

    de compreenso das questes colocadas. Sem disartria ou afasia. Sinais menngeos

    negativos. Diminuio da fora muscular.

    K-LISTA DE PROBLEMAS

    lcera da face pr-tibial da perna esquerda com dificuldades de cicatrizao,

    sinais inflamatrios e dor;

    Aneurisma da aorta abdominal infra-renal com progresso para artria ilaca

    direita;

    Cardiopatia isqumica;

    HTA;

  • 41

    Dislipidemia;

    Antecedentes de tabagismo;

    DPOC.

    L- DIAGNSTICOS DIFERENCIAIS

    Infeco de lcera isqumica por DAP aterosclertica;

    Infeco de lcera venosa.

    M-EPICRISE

    Doente com 75 anos, HTA, dislipidemia, antecedentes de hbitos tabgicos, cardiopatia

    isqumica, doena arterial perifrica aterosclertica (DAP) e insuficincia venosa, surge

    com lcera pr-tibial esquerda com algum tempo de evoluo e sinais inflamatrios

    marcados. Concomitantemente apresenta um aneurisma da aorta abdominal infra-renal

    com progresso para a artria ilaca comum direita.

    N- DISCUSSO

    Neste caso importante antes de mais perceber a etiologia da lcera da perna. 70% de

    todas as lceras da perna so de origem venosa, 10-20% de origem arterial e 10-15% de

    etiologia mista. A realizao do diagnstico diferencial assume uma importncia mpar

    e determinante no tratamento e prognstico da lcera de perna. Este realizado

    mediante uma avaliao do doente, tendo em ateno os antecedentes, sinais e sintomas

    e ndice de presso tornozelo/brao. No se exclui, no entanto a realizao de exames

    mais detalhados para avaliar o fluxo venoso e arterial nos membros inferiores: estudo

    hemodinmico.

    As lceras venosas surgem em indivduos com doena venosa, nomeadamente varizes.

    Os doentes habitualmente queixam-se de dor e inchao nas pernas. Os sintomas muitas

    vezes acentuam-se no final do dia, exacerbando-se quando a perna est pendente e

    aliviando com a elevao da mesma. O doente pode ter antecedentes de trombose

    venosa profunda ou traumatismo local. A maior parte das lceras venosas localizam-se

    na regio supra-maleolar, no 1/3 interno da perna. Os indivduos com lceras venosas

  • 42

    apresentam habitualmente leses com bordos encovados e arredondados, exsudado

    abundante, dor na perna, veias varicosas, hiperpigmentao e lipodermatoesclerose na

    pele adjacente. Para confirmar a doena venosa devem realizar-se exames como o

    rastreio com eco-Doppler venoso dos membros inferiores e a pletismografia.

    As lceras arteriais tm como doena subjacente maioritariamente a aterosclerose, que

    por sua vez causa DAP. Est associada ao tabagismo, hipertenso, dislipidemia e

    diabetes. Outras causas de lceras arteriais incluem embolismo arterial, doena de

    Raynaud, traumatismo ou frio.

    Os indivduos com lceras arteriais apresentam habitualmente histria de claudicao

    intermitente que evolui para isquemia crtica com o agravamento da doena. Ao

    contrrio dos indivduos com lceras resultantes de insuficincia venosa, estes referem

    dor nas pernas em repouso ou dor intensa na lcera. A dor pode acentuar-se quando

    elevada a perna e diminuir quando esta est pendente. As lceras arteriais surgem

    frequentemente em consequncia de um pequeno traumatismo e ocorrem sobre as

    proeminncias sseas. Nestas situaes frequente o leito da lcera encontrar-se bem

    demarcado com tecido necrosado. Achados associados incluem pulsos perifricos fracos

    ou ausentes, tempo de preenchimento capilar prolongado, palidez do membro aquando

    da elevao do mesmo, rubor, perda dos folculos pilosos e distrofia ungueal.

    A lcera arterial apresenta-se como uma ferida circular profunda habitualmente

    localizada no p. A doena arterial na perna pode ser clinicamente avaliada atravs da

    observao da perna, incluindo a palpao dos pulsos ou atravs da utilizao de uma

    medio objectiva do ndice de presso tornozelo/brao (IPTB).

    Aproximadamente 20% da populao apresenta doena arterial e venosa. As lceras

    mistas colocam um problema difcil dado que o edema necessita de ser controlado, mas

    a compresso forte est contra-indicada na presena de doena arterial grave.

    Neste caso, o doente tem DAP aterosclertica estabelecida, com antecedentes de

    endarteriectomia femoral esquerda. Sendo assim, pode bem tratar-se de uma lcera

    isqumica. No entanto, outros factores no so to consistentes com esta hiptese,

    nomeadamente a localizao da lcera, j que as lceras arteriais surgem sobretudo no

    p. Por outro lado, as presses no membro aps endarteriectomia femoral so

  • 43

    compatveis com presses de cicatrizao, o que no justifica o tempo de evoluo da

    leso.

    Tambm o facto de o doente ter patologia venosa (varizes) aponta para a possibilidade

    de se tratar de uma lcera venosa em doente com doena isqumica concomitante.

    De todas as complicaes passveis de interferirem com a cicatrizao das lceras de

    perna, aquela que tem maior impacto no s na lcera como na situao global do

    doente a infeco. Em muitos casos, a infeco pode ser prevenida mediante uma

    correcta identificao dos factores de risco e aplicao dos princpios de controlo de

    infeco. A chave para o apropriado tratamento da infeco na lcera de perna a

    correcta identificao dos sinais de infeco, mediante observao clnica. Pode-se

    verificar um aumento do nvel de exsudado, igualmente patente pelo aumento de sinais

    inflamatrios na pele adjacente ferida causada pela libertao de histamina. Existem

    critrios para identificao de infeco, nomeadamente:

    - Formao de abcesso, visvel atravs de tumefaco local avermelhada, que pode ou

    no libertar exsudado purulento.

    - Celulite pode ser observada como uma extenso da lcera ao longo da rede vascular e

    linftica. uma situao habitualmente muito dolorosa devido ao edema presente a

    tenso na pele.

    - Exsudado: as lceras infectadas podem apresentar aumento do nvel de exsudado.

    Importa no esquecer que a maior parte das lceras de perna apresentam uma certa

    quantidade de exsudado, particularmente as lceras venosas, e que este faz parte do

    processo inflamatrio normal. O exsudado infectado pode ser seroso (na presena de

    inflamao concomitante), hematopurulento ou seropurulento (causado pela liquefaco

    bacteriana dos tecidos) e purulento.

    - Dor. A infeco na lcera pode causar um aumento da dor ou alterao do padro da

    mesma.

    - Alteraes no tecido de granulao que pode apresentar-se mais escuro, frivel e

    sangrar facilmente.

  • 44

    O doente apresenta lcera com odor ftido, exsudado e sinais inflamatrios marcados,

    nomeadamente rubor. Para alm destes sinais, o doente refere ter dor muito intensa na

    perna esquerda. Estes dados apontam precisamente para a infeco da lcera.

    Adicionalmente leso ulcerada infectada, o doente apresenta um aneurisma da aorta

    abdominal infra-renal com progresso para a artria ilaca direita. Os aneurismas da

    aorta abdominal ocorrem mais frequentemente em homens e a sua incidncia aumenta

    com a idade. 90% deles esto relacionados com doena aterosclertica, e a maioria se

    situa abaixo das artrias renais. O risco de ruptura aumenta de acordo com o tamanho do

    aneurisma: para aneurismas menores do que 5cm, o risco em 5 anos de 1-2%,

    enquanto em aneurismas maiores que 5 cm de 20-40%. A maior parte das vezes o

    doente assintomtico, sendo o aneurisma detectado no exame fsico, como massa

    palpvel, pulstil expansvel e no dolorosa palpao, ou ento como um

    incidentaloma em exames complementares de diagnstico (Rx, ecografia, TAC,

    angiografia). A dor aneurismtica, em geral percursora de ruptura, tratando-se de uma

    emergncia mdica. O tratamento cirrgico est indicado nos aneurismas da aorta

    abdominal de qualquer tamanho que se estejam a expandir rapidamente ou que sejam

    sintomticos. Nos assintomticos, recomenda-se tratamento cirrgico para aqueles com

    dimetro superior a 5,5cm. (10)

    O envolvimento das artrias ilacas surge em 10-20% dos doentes com aneurismas da

    aorta abdominal. Tal como os aneurismas da aorta, eles surgem tendencialmente em

    homens (ratio homen:mulher- 5:1) com idade avanada e a sua causa principal a

    aterosclerose. Outras causas possveis para o aneurisma da artria ilaca so: trauma,

    infeco, disseco, esforo fsico excessivo (nomeadamente em desportos como o

    cycling) e doenas do tecido conjuntivo como as Sndromes de Marfan e de Ehlers-

    Danlos.Dada a sua localizao profunda na pelve, a sua deteco ao exame fsico

    praticamente impossvel. No entanto, possvel por vezes detect-los a partir do toque

    rectal. importante despistar sintomas neurolgicos (nomeadamente dos membros

    inferiores), genito-urinrios (obstruo ureteral, hematria) e gastrointestinais

    (obstruo intestinal), que possam sugerir compresso, j que o curso natural dos

    aneurismas da artria ilaca o crescimento e consequente ruptura. Est recomendado o

    tratamento cirrgico dos aneurismas da artria ilaca para dimenses iguais ou

    superiores a 3,0-4,0 cm de dimetro. (10)

  • 45

    Este caso trata de um doente com um aneurisma da aorta abdominal infra-renal com

    progresso para a artria ilaca comum direita, sendo a etiologia muito provavelmente

    aterosclertica. O doente assintomtico e o exame fsico abdomino-plvico no

    apresenta alteraes.

    O-DIAGNSTICO DEFINITIVO

    Infeco de lcera pr-tibial esquerda e Aneurisma da Aorta Abdominal com progresso

    para a Artria Ilaca Comum Direita.

    P-EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNSTICO

    Os exames complementares de diagnstico incluem os de follow-up do aneurisma da

    aorta abdominal e artria ilaca comum direita pedidos na consulta, bem como os

    referentes a este internamento por dificuldade de cicatrizao de lcera pr-tibial

    esquerda com sinais inflamatrios. Assim, e ainda no seguimento em consulta foram

    realizados:

    TAC abdomino-plvico:

  • 46

    Este revelou aneurisma da aorta abdominal, de recanalizao central e trombo

    perifrico, que se prolonga para a artria ilaca direita numa extenso de 8,5cm, sem

    significativas alteraes da artria ilaca esquerda considerando o grupo etrio.

    AngioTC abdomino-plvico:

    Confirma-se moderada ectasia difusa da aorta abdominal infra-renal, numa extenso

    de cerca de 78mm, atingindo a aorta num dimetro mximo da ordem dos 39mm no

    plano do bordo superior das cristas ilacas. Verifica-se extensa trombose parietal

    circunferencial. A ectasia aneurismtica estende-se para a artria ilaca primitiva

    direita, atingindo um dimetro mximo de cerca de 33mm, igualmente com trombose

    circunferencial.

  • 47

    Estes dados sugerem que o aneurisma da artria ilaca comum direita, tem indicao

    cirrgica, uma vez que apresenta dimetro superior a 3cm (3,29cm). O aneurisma da

    aorta abdominal no tem indicao cirrgica, j que tem um dimetro inferior a 5,5cm

    (3,9cm).

    Durante o internamento foram pedidos os seguintes exames complementares de

    diagnstico:

    Estudo analtico (Hemograma, bioqumica com glicose, funo renal, ionograma

    e estudo da coagulao):

    o Sem alteraes.

    EcoDoppler arterial dos Membros Inferiores:

  • 48

    ITB esq: 0,51;

    ITB dta: 0,54.

    Aortografia e Arteriografia dos Membros Inferiores, incluindo ilacas:

    Observa-se a tortuosidade arterial, que um padro muito tpico de aneurisma.

    possvel constatar a dilatao da aorta abdominal infra-renal, bem como da artria

    ilaca comum direita.

    Nota: Este exame no permite uma percepo exacta da dimenso do aneurisma, j que

    apenas evidencia a poro perfundida da artria.

  • 49

    possvel identificar a endarteriectomia femoral esquerda prvia. Observa-se tambm

    ocluso das femorais superficias, tendo porm colateralizao.

    EcoDoppler carotdeo.

    Foi pedida a colaborao de Cardiologia, uma vez tratar-se um doente com

    antecedentes de EAM e por isso mesmo com risco cirrgico aumentado. Nesse sentido

    foram pedidos os seguintes exames:

    Electrocardiografia:

    o Ritmo sinusal, FC mdia de 72bpm, hemibloqueio anterior esquerdo e

    bloqueio de ramo direito.

    Cintigrafia miocrdica de perfuso com tetrafosmina:

    o Moderado defeito de perfuso lateral com expanso ao pex (stress),

    com reversibilidade quase total no repouso. Dilatao do ventrculo

  • 50

    esquerdo (incluindo dilatao transitria no esforo). Alteraes da

    motilidade e espessamento mais marcadas no territrio do defeito.

    Compromisso ligeiro da funo sistlica global (FE esforo- 40%; FE

    repouso- 39%);

    Cateterismo esquerdo com coronariografia selectiva:

    o TC- Sem doena significativa; DA- Doena ligeira; Cx- Ocluda no

    segmento proximal, bom vaso distal; colateralizao homo e

    heterocoronria; CD- Stent no segmento mdio sem reestenose, estenose

    de 70% na DP; bom vaso distal.

    De notar que a avaliao por Cardiologia deve ser sempre pedida. Como j referido na

    discusso os doentes com aneurismas tm de uma maneira geral idade avanada e a

    etiologia do aneurisma a aterosclerose. Esta uma doena sistmica, que no

    selecciona territrios vasculares e tende a afect-los a todos. Desta forma,

    fundamental uma avaliao pr-operatria dos territrios vasculares mais afectados,

    sobretudo aqueles que irrigam rgos nobres: sistemas coronrio e carotdeo.

    NOTA: Os betabloqueadores reduzem as morbidade e mortalidade cardiovasculares e

    peri-operatrias. Por outro lado, uma avaliao cardaca pr-operatria cuidadosa e

    assistncia ps-operatria, reduz a taxa de mortalidade para 1-2%.

    Q-MEDIDAS TERAPUTICAS

    No que toca lcera pr-tibial, e na presena de sinais clnicos de infeco, deve ser

    feita uma colheita bacteriolgica e instituda teraputica antibacteriana. A colheita da

    amostra deve de preferncia ser feita mediante bipsia da ferida. A colheita por

    zaragatoa pode apenas identificar a colonizao superficial e no os organismos

    patognicos.

    Os agentes mais isolados so o Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa.

    Os antibiticos mais utilizados nas lceras crnicas podem ser includos em quatro

    principais grupos: penicilinas, cefalosporinas, aminoglicosidos e quinolonas.

  • 51

    Constituem ainda objectivos do tratamento eliminar ou minimizar os factores de risco

    conhecidos, assegurar uma drenagem adequada do exsudado; desbridar o tecido

    desvitalizado ou morto; melhorar a perfuso tecidular; controlar a dor e tratar a causa

    subjacente da lcera.

    Qualquer soluo de continuidade na pele adjacente funciona como porta de entrada

    para agentes patognicos pelo que a integridade dos dedos, unhas e pele deve ser

    monitorizada.

    Neste caso o doente realizou teraputica analgsica e antibitica, bem como cuidados de

    penso:

    Levobupivacana 12,5mg;

    Buprenorfina 35MCG;

    Imipenem 500mg + Cilastatina 500mg.

    O Imipenem, antibitico de largo espectro, foi institudo empiricamente antes dos

    resultados microbiolgicos da zaragatoa realizada. Esta revelou a presena de S.

    aureus. A teraputica foi mantida j que o doente apresentou uma boa resposta

    mesma.

    A restante teraputica efectuada est relacionada com a patologia de base do doente e

    com a preparao para a cirurgia:

    cido acetilsaliclico 100mg;

    Rosuvastatina 10mg;

    Amlodipina 10mg;

    Furosemida 40mg;

    Mononitrato de isossorbida 60mg;

    Lisinopril 10mg;

    Bisoprolol 2,5mg;

    Digoxina 0,125mg;

    Paracetamol 500mg;

    Enoxaparina 60mg;

    Ranitidina 300mg.

  • 52

    Como j referido, o aneurisma da artria ilaca interna comum direita tem indicao

    cirrgica. Quando h afeco concomitante da aorta abdominal, mesmo que sem

    indicao cirrgica, a abordagem deve contemplar ambas as estruturas, de forma a

    prevenir degenerescncia aneurismtica lateral da aorta. A opo pela tcnica

    endovascular (EVAR: endovascular aneurysm repair) tem vantagens sobre a cirurgia

    aberta, nomeadamente no que toca s morbi e mortalidade operatrias, bem como ao

    tempo de permanncia no hospital. O tempo de recuperao menor. No entanto esta

    tcnica parece no ter resultados to duradouros como com a cirurgia aberta. Por outro

    lado, parece haver um maior risco de ruptura na tcnica endovascular. Esta ltima

    preferida em pacientes cujo risco operatrio elevado para cirurgia aberta. (10) Neste

    caso e de acordo com os antecedentes do doente, nomeadamente cardiopatia isqumica,

    a escolha de colocao de endoprtese a mais adequada.

    Relato Cirrgico

    Implante endovascular de enxerto na aorta abdominal e insero de stent na artria

    ilaca externa direita.

    Abordagem das artrias femorais comuns (AFC) bilateralmente, com

    referenciao esquerda da AFC e artria femoral profunda (AFP)

    (identificao de patch de Dacron com extenso da AFC a AFP a encerrar a

    endarteriectomia prvia);

    Colocao de stent nitinol 8x4 (no revestido) na artria ilaca externa, poro

    distal;

    Colocao de endoprtese Zenith-Cook para excluso do Aneurisma da Aorta

    Abdominal e de extenses bilateralmente (dir 12x124 e esq 18x90mm) para

    excluso de aneurismas ilacos. Progresso do corpo principal da prtese pelo

    lado direito.

    Nota: No final da cirurgia o doente apresentava bom sinal Doppler distal bilateralmente.

    EcoDoppler Arterial dos Membros Inferiores no ps-operatrio:

  • 53

    ITB esq: 0,66;

    ITB dta: 0,62.

    R-PROGNSTICO

    O prognstico deste doente vai depender da forma de resoluo das vrias condies

    por ele apresentadas. Assim, e no que toca infeco da lcera, esta tem evoludo de

    forma favorvel com a teraputica instituda, mostrando reduo progressiva dos sinais

    inflamatrios. Desta forma, prev-se a debelao da infeco. Importa posteriormente

    manter cuidados de penso e uma higiene cuidada da leso no subsequente processo de

    resoluo da mesma. Poder eventualmente pedir-se a colaborao de Cirurgia Plstica

    no sentido de decidir a melhor conduta face ao problema apresentado.

  • 54

    Relativamente ao tratamento do aneurisma da artria ilaca comum direita, o

    prognstico vai depender da evoluo ps-cirrgica do doente. Existem algumas

    complicaes associadas a esta tcnica, nomeadamente complicaes sistmicas

    (enfarte do miocrdio, insuficincia cardaca congestiva, arritmias, insuficincias

    respiratria e renal), relacionadas com o procedimento (mau posicionamento da

    endoprtese, disseco, insuficincia renal, tromboembolismo, colite isqumica,

    hematoma, infeco), relacionadas com a endoprtese (migrao, ruptura, estenose) e

    endoleaks. O conhecimento destas complicaes bem como o seu controlo

    possibilitaro a sua deteco precoce no caso de ocorrerem. (10)

    Finalmente, no esquecer que o doente tem DAP que se manifesta sob a forma de dor

    em repouso (isquemia grau IV da classificao Leriche-Fontaine). Esta decorre da

    ocluso arterial aterosclertica progressiva. A aterosclerose um processo sistmico,

    sendo que se torna importante controlar outros territrios vasculares, nomeadamente os

    territrios carotdeo e coronrio. Assim, exames como o ecoDoppler carotdeo e a

    angiografia coronria so importantssimos no despiste e seguimento de leses nesses

    territrios arteriais.

    A manuteno da teraputica dirigida patologia de base fundamental no controlo da

    doena aterosclertica.

    O estudo analtico com nveis glicmicos e perfil lipdico, bem como a vigilncia da

    TA, podem em ltima anlise apontar para a necessidade de ajustes na medicao e

    permitir um melhor controlo das patologias de base prevenindo episdios isqumicos.