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Rafael Jesus Leite Fernandes
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
Relatório de Estágio realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientado pelaDr.ª Cláudia Afonso e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
Julho 2016
Rafael Jesus Leite Fernandes
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
Relatório de Estágio realizado no âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientado pela
Dr.ª Cláudia Afonso e apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
Julho 2016
Eu, Rafael Jesus Leite Fernandes, estudante do Mestrado Integrado em Ciências
Farmacêuticas, com o nº 2009129297, declaro assumir toda a responsabilidade pelo
conteúdo do Relatório de Estágio apresentado à Faculdade de Farmácia da Universidade de
Coimbra, no âmbito da unidade de Estágio Curricular. Mais declaro que este é um trabalho
original e que toda e qualquer afirmação ou expressão, por mim utilizada, está referenciada
na Bibliografia deste Relatório de Estágio, segundo os critérios bibliográficos legalmente
estabelecidos, salvaguardando sempre os Direitos de Autor, à exceção das minhas opiniões
pessoais.
Coimbra, 4 de julho de 2016.
_______________________________
Agradecimentos
Em primeiro lugar deixo o meu agradecimento à Dra. Alexandra Lello, Proprietária da
farmácia Hórus, por se ter mostrado recetiva desde o início, e por ter feito todo o esforço
para tornar este estágio possível.
À Dra. Cláudia Afonso, Diretora técnica da farmácia e minha orientadora de estágio, bem
como à Dra. Manuela Machado, ao Dr. Luís Soares e Sr. Manuel Fernandes um grande
Obrigado por terem sido o meu pilar. Por me ter feito sentir parte integrante da equipa logo
desde o início, e pelo conhecimento imenso que me transmitiram. Agradeço por toda a
disponibilidade que mostraram para esclarecer as minhas dúvidas, por toda a paciência e
esforço que tiveram para que me tornasse num melhor profissional. Agradeço ainda a ótima
companhia que foram durante estes quatro meses.
Aos meus colegas estagiários Ângela, Vítor e Joana pelo apoio mútuo durante esta grande
experiência.
Abreviaturas
SA – Substância Ativa
MNSRM – Medicamentos não sujeitos a receita médica
MICF – Mestrado integrado em ciências farmacêuticas
FH – Farmácia Hórus
IFACS – Intervenção farmacêutica e auto-cuidados de saúde
Índice
Introdução …………………………………………………………………………………… 1
A Farmácia ……………………………………………………………………………………. 2
Analise SWOT ……………………………………………………………………………….. 3
Pontos Fortes ………………………………………………………………………………… 3
Pontos Fracos …………………………………………………………………………………7
Oportunidades ……………………………………………………………………………….. 9
Ameaças …………………………………………………………………………………….. 10
Casos Clínicos ………………………………………………………………………………..12
Conclusão ………………………………………………………………………………….... 16
1
Introdução
Serve o presente relatório para descrever e sumarizar todo o meu percurso durante o
estágio curricular em farmácia comunitária, que faz parte do plano de estudos do mestrado
integrado em ciências farmacêuticas.
O estágio curricular corresponde ao culminar de uma etapa, onde há a aplicação prática dos
conhecimentos adquiridos ao longo de quatro anos e meio de aprendizagem. Considero uma
etapa imprescindível e de enorme importância neste percurso, uma vez que é aqui que
temos um contacto mais próximo com a realidade do trabalho e conseguimos aperfeiçoar e
consolidar os nossos conhecimentos de forma a nos tornarmos melhores profissionais de
saúde.
Uma vez que o mercado se encontra neste momento competitivo, ao longo deste estágio
espero tornar-me num farmacêutico adaptado às necessidades presentes e futuras, focando-
me sempre no principal alvo – o utente. Espero tornar-me um profissional especializado no
medicamento, apto a servir na cedência do mesmo e no aconselhamento.
Este relatório vai então resumir todo o meu percurso durante o estágio, em forma de
análise de SWOT, onde vou apresentar os pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e
ameaças com que me deparei durante o mesmo.
2
A Farmácia
A Farmácia Hórus foi inaugurada em 1936 por Manuel Jesus Sousa, avô da atual proprietária.
Está localizada em Guimarães no largo do toural, no centro da cidade, onde atualmente
existem mais três farmácias muito próximas, o que não acontecia nos primeiros tempos da
sua existência uma vez que foi uma das primeiras farmácias a surgir na zona.
O estabelecimento está aberto de segunda a sexta das 9h00 às 19h30, e ao sábado das 9h00
às 13h00. Para além deste horário normal, presta serviço permanente de cerca de 10 em 10
dias.
A farmácia sofreu uma certa restruturação com o passar do tempo. Era um local onde todos
os dias eram feitos manipulados, e assim sendo tinha as zonas adequadas para todos os
procedimentos. Muitos destes manipulados eram enviados para as ilhas de Portugal e para
Angola. Porém com a crescente industrialização do medicamento, a produção de
manipulados diminuiu consideravelmente e o espaço foi adaptado para receber e armazenar
mais medicamentos industrializados. Grande parte do material, como frascos de reagentes,
foram guardados e servem atualmente como material decorativo na zona de atendimento.
3
Análise SWOT
A análise SWOT (ou análise FOFA) corresponde a uma ferramenta que vai ser usada para
descrever o meu estágio curricular em farmácia comunitária. Com esta técnica consigo
desenvolver uma análise critica que me permite avaliar o que correu bem e o que correu
mal ao longo do mesmo, e permite desenvolver estratégias de forma a melhorar. Estará
dividida em quatro aspetos: Pontos Fortes, Pontos Fracos, Oportunidades e Ameaças.
1 Pontos Fortes (1)
1.1 A equipa
A equipa de trabalhadores da Farmácia Hórus corresponde a uma equipa extremamente
bem preparada e apta a responder às necessidades dos utentes. É constituída por três
farmacêuticos e um técnico com quarenta anos de serviço nesta mesma instituição, e assim
sendo com pleno conhecimento da “casa” e dos utentes, e um imenso conhecimento sobre
farmácia. Todos os funcionários têm formação sólida e um grande espirito de sacrifício para
que tudo funcione da melhor forma, e para que todo o utente fique completamente
satisfeito.
Sempre fui incentivado a estar atento e observar tudo o que se passa ao meu redor, de
forma a uma mais rápida e fácil aprendizagem. Através desta observação senti que a minha
responsabilidade enquanto farmacêutico era manter a saúde e o bem-estar do doente,
promovendo o direito a um tratamento com qualidade, segurança e eficácia. Reforcei a ideia
de que a atividade farmacêutica não se cingia ao aviamento de receitas médicas, e para uma
correta atuação devemos ler as receitas com atenção, de forma a avaliar a situação que
temos à nossa frente para podermos informar e aconselhar da melhor forma. É importante o
incentivo para o uso racional do medicamento, monitorização dos doentes e a prestação de
muitos outros cuidados.
Apercebi-me que uma das atividades de extrema importância é a companhia e confidência
prestada aos utentes. Muitos deles solitários, que procuram na farmácia a companhia que
não têm em casa. Do ponto de vista do negócio não podemos ignorar esta vertente, uma
vez que se estes forem ouvidos e bem tratados vão voltar e ficar fidelizados à farmácia.
A farmácia tem por hábito receber estagiários todos os semestres, e por isso um dos
objetivos de toda a equipa é formar futuros profissionais com competências acrescidas.
4
Acho que este fator foi uma mais-valia, uma vez que senti todos os membros recetivos a
transmitir os seus conhecimentos, e senti que todo o estágio foi bem estruturado e
planeado.
1.2 Planeamento do estágio
Como referido anteriormente, a farmácia hórus recebe frequentemente estagiários, e devido
à enorme experiência considero que têm planos de estágio adequados para uma correta
preparação dos estagiários.
Inicialmente foram-me atribuídas várias funções no back office, como aprovisionamento,
receção de encomendas e gestão de stocks. Por mais insignificantes que nos pareçam estas
funções no início do estágio, rapidamente percebi que são tarefas de extrema importância
para uma maior rentabilidade e uma correta cedência do medicamento. É uma fase onde são
detetados, e consequentemente evitados alguns erros de cedência, como erros no PVP e
prazos de validade. Na receção das encomendas é então precisa especial atenção aos prazos
de validade, PVP nas caixas dos medicamentos e eventuais danos das mesmas. É também a
fase onde verificamos se os produtos enviados foram realmente encomendados e se estão
nas quantidades certas. Em caso de inconformidades nalgum destes aspetos é necessário
proceder à devolução do produto ao fornecedor. Durante a receção das encomendas tive
um grande contacto com os medicamentos, e aproveitei este facto para me familiarizar com
os diferentes fármacos e informar-me sobre os que desconhecia, de forma a estar melhor
preparado no momento de ir para o balcão. Durante cerca de duas semanas permaneci
exclusivamente com estas funções.
Durante este tempo fui percebendo (por observação) do funcionamento geral de uma
farmácia, bem como a distribuição das diferentes tarefas pelos elementos da equipa.
Desde o início do estágio fui também tendo um contacto direto com o utente através da
medição da tensão arterial e de parâmetros bioquímicos. O que considero ter sido benéfico
para me ambientar com a interação com o utente, e dar os primeiros passos no
aconselhamento.
Cedo me foi dada uma certa autonomia e comecei a atender ao publico, o que acredito ter
sido benéfico. Inicialmente sempre com alguma supervisão e com alguém disponível para me
tirar eventuais dúvidas e dificuldades, que como considero natural foram surgindo, tanto a
nível do sistema informático como de aconselhamento.
5
1.3 Noções de gestão
Apesar de considerar que a unidade curricular de Organização e Gestão Farmacêutica foi
bastante útil, durante o curso não fiquei com a noção do nível de importância que a gestão
tem para a farmácia. Durante o estágio foram-me transmitidas noções e técnicas de gestão
para uma maior rentabilidade. Aprendi que a gestão passa pela avaliação e análise de vários
parâmetros e aplicação de determinadas técnicas, como:
1.3.1 Controlo dos prazos de validade e técnica de “first in, first out”
De forma a perder o menor número de produtos que se aproximam do prazo de validade,
mensalmente é tirada uma listagem destes produtos, que são sinalizados de forma a tentar
dar-lhes mais atenção e dispensa-los antes que o prazo expire. Outra técnica que me
incentivaram a usar foi a de first in, first out, que era uma técnica por mim conhecida uma vez
que me foi apresentada durante o MICF. A aplicação desta técnica acontece durante a
arrumação dos produtos, onde colocamos os produtos mais recentes (e caso tenham uma
validade superior) numa disposição que dê primazia de aviamento aos mais antigos.
1.3.2 Monstras e exposição dos produtos
Considero um ponto positivo terem-me posto a par de como deve ser gerida a montra e a
exposição dos produtos, uma vez que estes parâmetros são bastante determinantes para a
venda dos mesmos. A montra da farmácia é um local onde os produtos vão ter um especial
destaque, e assim sendo devem ser colocados produtos que interessam vender. É o local
ideal para colocar produtos indicados para doenças sazonais nas épocas em questão, como
gripes e constipações.
1.3.3 Encomendas e stocks
Apesar de nunca ter ficado responsável por fazer encomendas durante o estágio, foram-me
transmitidos os passos orientadores para fazer encomendas da forma mais correta e
rentável. É importante ter em atenção aquando da realização de uma encomenda o histórico
de vendas dos produtos, bem como condições e descontos oferecidos pelos fornecedores e
laboratórios.
1.4 Conhecimento das substâncias ativas
Logo desde o início do estágio tive um grande contacto com o medicamento, e logo me
apercebi que, apesar de não conhecer todas as substâncias ativas, conseguia associar grande
6
parte delas a um grupo terapêutico e a determinadas patologias. Desta forma penso que o
plano de estudos está bem conseguido neste ramo.
1.5 Sistema informático e acompanhamento farmacoterapêutico
O sistema operativo usado na farmácia hórus é o Sifarma2000®, o que considero um ponto
forte uma vez que é um sistema usado na grande maioria das farmácias portuguesas. É um
sistema adaptado às necessidades de trabalho do farmacêutico, onde constam muitas
informações sobre os medicamentos, como posologias, interações, indicações terapêuticas,
etc. É um sistema que permite fazer o acompanhamento local do utente, onde há um registo
de toda a medicação feita pelo menos. Desta forma conseguimos assegurar que a terapêutica
feita pelo doente é a mais eficaz e segura possível. Para além disto, consultando o histórico,
conseguimos facilmente saber se o utente tem por hábito levar medicamentos genéricos ou
de marca, e no caso de serem genéricos identificamos rapidamente o laboratório.
1.6 Rastreios e Controlo de parâmetros bioquímicos e fisiológicos
Uma das primeiras tarefas que tive foi ficar encarregue de avaliar tensão arterial, diabetes e
colesterol aos utentes. Para este serviço aparecem essencialmente dois tipos de utentes,
aqueles que tomam medicação e medem os valores para verificar se estes estão controlados,
e aqueles que estão a descobrir ter algum dos valores fora dos parâmetros normais. Foi
nesta fase que tive o primeiro contacto com os utentes e comecei a por em prática o
aconselhamento farmacêutico. É sempre importante aconselhar estilos de vida saudáveis,
com prática de exercícios físico regular e alimentação equilibrada, uma vez que estas são
importantes medidas não farmacológicas.
Durante o meu estágio decorreu na farmácia Hórus um rastreio da diabetes, onde medimos
gratuitamente a glicémia e demos os conselhos necessários para a saúde e bem-estar do
doente.
1.7 Sábados e Domingos de serviço
No meu horário de trabalho estavam incluídos dias como sábados e domingos em que a
farmácia estava de serviço, o que considero ter sido uma oportunidade de aprendizagem
uma vez que estive em contacto com um alargado tipo de utentes.
O cliente principal da farmácia Hórus é aquele cliente habitual que conhece toda a equipa,
que passa só para cumprimentar ou mesmo só para dar o feedback de um aconselhamento
que lhe tenha sido prestado. Ao contrário do que acontece nos dias em que a farmácia se
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encontra de serviço, onde o público maioritário é aquele que procura aconselhamento para
alguma situação em particular, ou aquele que vem buscar medicação após uma consulta de
urgência. Nestes casos é importante estar preparado para responder às inúmeras dúvidas
que podem surgir aos utentes sobre a medicação, e ser capaz de dar sempre o conselho
mais adequado.
1.8 Debate de casos clínicos
Pontualmente, eu, juntamente com os meus colegas de estágio, juntávamos com a nossa
orientadora que nos apresentava casos clínicos e nos pedia para os solucionar. Em conjunto
debatíamos os casos e discutíamos qual seria a melhor forma de atuar. Considero um ponto
forte do estágio uma vez que uma das maiores dificuldades que senti inicialmente foi atuar
rápida e corretamente perante uma situação nova de pedido de aconselhamento por parte
dos utentes. Penso que o aperfeiçoamento nestas situações se adquire com a experiência, e
a resolução destes casos me ajudou na forma de atuar em posteriores aconselhamentos ao
público.
2. Pontos Fracos
2.1 Aconselhamento na área da dermocosmética
A dermocosmética corresponde a uma área de extrema importância para a rentabilidade de
uma farmácia. É muito importante estar preparado para fazer um correto aconselhamento
para a pessoa em questão, tendo em conta o seu tipo de pele e as suas necessidades. Devido
à grande variabilidade de produtos existentes no mercado e à reduzida formação que
considero ter tido no MICF sobre esta área, penso que este foi um ponto negativo no meu
estágio. Inicialmente foi uma das áreas que me senti mais frágil e incapaz de aconselhar. Para
melhorar tive que fazer uma grande pesquisa e treinar métodos de aconselhamento.
Considero que a dermocosmética devido ao constante crescimento da indústria cosmética,
reflete uma área onde é necessário estar em constante formação para ficarmos a par de
todos os desenvolvimentos.
2.2 Aconselhamento de MNSRM
Revelou-se um ponto fraco para mim o deparar-me com novos casos clínicos no
atendimento ao público, havendo incerteza nos produtos mais adequados a recomendar,
muitas vezes por desconhecimento dos mesmos. Inicialmente era difícil ser metódico e ter
8
uma forma de atuar com finalidade de escutar as necessidades dos doentes e colocar as
questões mais pertinentes. Percebi que estas dificuldades se deveram à inexperiência, sendo
que com o passar do tempo me senti cada vez mais à vontade no atendimento e na
interação com o público, e também fui adquirindo um maior domínio dos MNSRM.
2.3 Associação entre SA e nome comercial
Inicialmente senti dificuldade em associar medicamentos genéricos ao seu medicamento de
nome comercial. Isto trouxe dificuldade quando os utentes me perguntavam alguma
informação sobre um medicamento e eu tinha de consultar qual era a SA para poder dar a
informação. Apesar de entender e achar impossível contornar a situação, penso que o MICF
não nos prepara para este tipo situações, sendo algo que se aprende com a prática.
2.4 Alteração no plano de estudos
Recentemente foi alterado o plano de estudos do MICF, e apesar de ter visto algumas
alterações positivas, penso que houve um erro crasso, sendo esse a junção da unidade
curricular de intervenção farmacêutica em auto-cuidados de saúde com fitoterapia. Penso
que IFACS corresponde a uma unidade curricular fundamental para quem vai fazer estágio
em farmácia comunitária, uma vez que nos apresenta situações que certamente vamos
encontrar durante o mesmo. Com a junção entre estas unidades curriculares houve a
necessidade de encurtar o plano e o tempo em que os temas são abordados. Senti que o
conteúdo programático poderia ser mais abrangente, e os temas abordados com mais calma
caso esta junção não tivesse acontecido.
2.5 Preparação de manipulados
Apesar da Farmácia Hórus ter um passado muito ligado à preparação de manipulados, com a
crescente industrialização do medicamento, estes caíram em desuso. Assim sendo, também
se deixaram de fazer nesta farmácia, uma vez que as matérias-primas expiravam o prazo de
validade devido à escassez de pedidos. Atualmente só se fazem soluções simples, como
solução alcoólica saturada em ácido bórico, por exemplo, a qual tive oportunidade de assistir
à sua preparação. Quando surgem pedidos de manipulados que não sejam exequíveis na FH,
estes são pedidos a outras farmácias que os fazem e posteriormente nos enviam. Desta
forma, durante o estágio não pude explorar a área de preparação de manipulados.
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2.6 Receitas médicas
Um aspeto limitante no início do meu estágio, e que me fazia questionar diversas vezes os
meus colegas eram assuntos relacionados com receitas médicas. Apesar de haver uma breve
abordagem sobre a temática nas aulas teórico-práticas da unidade curricular de farmacologia
geral (2º ano), penso que no início não estamos sensibilizados para que aspetos analisar
numa receita médica, como informações sobre o utente, vinhetas, validade da receita,
assinatura do médico prescritor, etc. Para além disto, não temos qualquer conhecimento
sobre os diversos planos de comparticipação existentes, bem como a forma de proceder
perante os mesmos. Penso que uma forma de minimizar estas dificuldades era incluir uma
palestra na semana do Pharmcareer, onde um farmacêutico comunitário fosse abordar estes
aspetos, e o fornecimento de uma espécie de glossário com informações importantes sobre
receitas médicas, e que incluíssem os planos que aparecem mais frequentemente durante o
atendimento, que desta forma acompanharia o estagiário para consulta quando necessário.
3. Oportunidades
3.1 Estágio na Farmácia Hórus
A Farmácia Hórus distingue-se pela competência técnica dos seus profissionais, os quais têm
formação específica para melhor servir, pela simpatia e boa disposição para com todos os
seus utentes e por todos os serviços que presta junto da comunidade.
Penso que estagiar neste estabelecimento foi só por si uma grande oportunidade, uma vez
que serviu para eu desenvolver competências profissionais, que até então não possuía. O
estágio permitiu-me a aquisição de conhecimentos sobre os aspetos práticos do que é ser-se
farmacêutico, que só se adquirem com a prática.
3.2 Desenvolvimento da vertente social da profissão
O meu estágio em farmácia comunitária trouxe-me a oportunidade de enriquecer tanto a
nível profissional como a nível pessoal. Considero que, o farmacêutico, devido ao
privilegiado contacto com o público, tem um papel social de extrema importância. Desta
forma foi-me possível desenvolver esta mesma vertente social, e melhorar a minha
comunicação interpessoal, bem como desenvolver técnicas de abordagem ao utente, e desta
forma contribuir para que este fique o mais satisfeito possível com os serviços prestados.
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3.2 Formação continua
De forma a assegurar um correto e seguro aconselhamento ao utente é importante manter
todos os funcionários em contínua formação. Esta formação deve incluir a frequência de
cursos de formação científica e técnica, simpósios, congressos, encontros profissionais e
científicos, sessões clinicas internas da farmácia, e ainda a leitura de publicações que
contribuem para a sua atualização profissional e reforço das suas competências. Durante os
quatro meses que estive na farmácia hórus, tive a oportunidade de fazer duas formações
presenciais, uma sobre “Técnicas de venda” e outra sobre uma gama de produtos naturais
existentes na farmácia. Tive ainda acesso a uma formação online sobre “doença
hemorroidária”. Considero que estas formações foram uma mais-valia uma vez que adquiri
informação útil de aplicação imprescindível no dia-a-dia da farmácia.
4. Ameaças
4.1 Localização
Embora a localização da Farmácia seja um local privilegiado, no centro da cidade, tem alguns
aspetos menos favoráveis como a falta de estacionamentos próximos e muitas farmácias
vizinhas. Penso que isto constitui uma ameaça uma vez que, desta forma o utente tem uma
grande opção de escolha do local onde compra os meus medicamentos. Desta forma penso
que é de extrema importância arranjar estratégias para marcar a diferença e inovar, com a
finalidade de chamar clientes novos e manter os clientes habituais.
4.2 Estabelecimentos de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica e herbanários
Devido à crescente competitividade de mercado e ao aparecimento de novos
estabelecimentos de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, o negócio das
farmácias encontra-se sob ameaça. É importante marcar a diferença no atendimento e no
aconselhamento ao doente de forma a dirigir os utentes para as farmácias, e para isto é
fundamental manter uma formação continua. Para além destes estabelecimentos, existem os
herbanários, onde por vezes os utentes se socorrem. Uma vez que estes locais por vezes
carecem de formação, é importante enquanto farmacêuticos estarmos atentos para avaliar
se o doente é consumidor deste tipo de produtos, e eventuais interações que possam
ocorrer com os seus medicamentos.
11
4.3 Desvalorização pela profissão
O ato farmacêutico é exercido de forma discreta, e desta forma a eficácia e o
profissionalismo da área é muitas vezes mascarada. Sinto que por vezes a população em geral
desvaloriza a profissão e não lhe dá o reconhecimento merecido. Penso que cabe ao
farmacêutico dar a conhecer o seu papel, e torna-lo cada vez mais visível, desempenhando
um papel mais ativo na sociedade, enquanto especialista do medicamento, tanto na terapia
humana como em terapia animal.
4.4 Estado atual do mercado
Devido às desfavoráveis condições do mercado, o negócio encontra-se ameaçado para
muitas farmácias do país. Isto leva a um reduzido número de oportunidades e muitas vezes
com condições precárias de trabalho, o que me faz recear esta nova etapa em que estou
prestes a entrar. Atualmente para a farmácia ser economicamente viável é importante a
criação de novas estratégias de gestão, e a inovação nos serviços prestados.
12
Casos Clínicos
Irei nesta secção apresentar alguns casos clínicos e situações com que me deparei durante o
estágio e que tive que resolver.
Caso 1
Doente X, do sexo feminino, dirige-se à farmácia com queixas de espirros, congestão e
prurido nasais, e pede ajuda para resolver a situação.
Perante este quadro clinico questionei a doente sobre os seguintes aspetos:
Quando iniciaram os sintomas?
Há algum fator que desencadeia ou agrava a situação?
Já tomou, ou encontra-se a tomar alguma medicação?
As respostas obtidas foram que os sintomas iniciaram no dia anterior, e que não se consegue
lembrar de nenhum fator de desencadeamento ou agravamento. Refere também que não
esta a tomar qualquer medicação.
Iniciei o aconselhamento por referir que a hipótese mais provável era ela ter estado em
contacto com algum agente que desencadeou uma reação alérgica, e desta forma iria fazer
um anti-histamínico para aliviar os sintomas.
À conversa referiu que também sente um ligeiro desconforto e dor de cabeça, e questionou
se poderia estar relacionado, ao que respondi que é possível devido à obstrução nasal.
Desta forma aconselhei como medidas não farmacológicas uma água do mar, para uma
correta higienização das vias respiratórias, e uma constante hidratação com bastantes
líquidos como chá e água.
Como medidas farmacológicas aconselhei um Telfast® (fexofenadina) 120 mg, uma toma por
dia.
Terminei o atendimento por desejar as melhoras, e solicitei que passasse lá passado uns dias
para dar um feedback do seu estado.
13
Caso II
Cliente Y, do sexo masculino, chega a farmácia e queixa-se de diarreia e mau estar, pede
ajuda para resolver a situação.
Perante a situação fiz as seguintes questões:
Desde quando se encontra nesse estado?
Se tem febre?
A diarreia é muito liquida? Qual o número de dejeções por dia?
Refere que se encontra naquele estado há dois dias, e que desde a noite anterior se sente
ligeiramente febril.
Desta forma aconselhei uma ida ao médico uma vez que, como se encontra febril pode estar
a desenvolver uma infeção, e assim sendo está desaconselhado o uso de um antidiarreico.
Como estava naquele estado há dois dias, e de forma a evitar desidratação e a repor a flora
intestinal, aconselhei uns sais de reidratação e UL-250® (Saccharomyces boulardii) até ida ao
médico.
14
Caso III
Cliente Z, do sexo feminino, refere que está com infeção urinária e pede ajuda para resolver
a situação.
As questões colocadas por mim foram:
Quando começaram os sintomas?
Sente vontade de ir à casa de banho com muita frequência?
Tem dor ou ardor ao urinar?
Toma ou já tomou alguma coisa?
A cliente referiu que começou a ter os sintomas no dia anterior, e que tem vindo a
aumentar a frequência de ida à casa de banho. Esclarece que não sente qualquer dor ao
urinar, mas sente um certo desconforto. Refere que mal começou a ter os sintomas
começou a fazer lavagem íntima com solução vaginal Betadine®.
Ouvi atentamente e expliquei que as infeções urinárias eram causadas por bactérias, e
tratadas com antibióticos, e desta forma não lhe poderia dispensar nenhum. Ao que a
doente me informa que de momento não tem disponibilidade nenhuma para ir ao médico.
Informei que como não sentia dor ao urinar, e a vontade de ir a casa de banho não era
excessiva, poderíamos tentar reverter a situação com o suplemento alimentar Monurelle
Cranberry®, que está indicado no tratamento de cistites. Aconselhei também que
continuasse a fazer lavagem com a solução vaginal Betadine®, e que ingerisse uma adequada
quantidade de líquidos.
Incentivei a cliente a voltar à farmácia dentro de dias para informar se conseguimos resolver
a situação ou se teve mesmo que se dirigir ao médico.
15
Caso IV
Cliente dirige-se à farmácia e pretende um creme para uma zona áspera que tinha na perna.
Após observação do local, constatei que se tratava de uma zona de pele espessa e
descamativa. Perante a situação aconselhei o produto da Uriage® KÉRATOSANE 15, que se
trata de um produto que contem ureia a 15% e portanto com propriedades hidratantes e
queratolíticas.
16
Conclusão
Após estes quatro meses de estágio em farmácia comunitária posso dizer que atingi a maior
parte dos meus objetivos, penso ter crescido tanto a nível profissional como a nível pessoal,
e ter desenvolvido novas competências técnicas. Tentei tirar o máximo de partido de toda
esta experiência e absorver todo o conhecimento possível, para exercer o meu papel de
forma a dar o melhor contributo à farmácia Hórus, que com tanta dedicação me acolheu. O
estágio em farmácia comunitária permitiu-me perceber como é no dia-a-dia a prática
farmacêutica, e assim sendo considero ter sido uma parte fundamental de todo o percurso
enquanto estudante do MICF.
Senti com o estágio que todos os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso são
de extrema importância, porém é necessário muito mais que isso para se ser bem-sucedido.
É importante ter uma postura adequada e comunicar de forma a chegar facilmente ao
público-alvo, com finalidade de estabelecer empatia.
Concluo este percurso com satisfação uma vez que neste momento me sinto capaz de
integrar numa equipa de trabalho em farmácia comunitária, de forma a aplicar da melhor
forma todo o conhecimento adquirido até então, e assim servir na cedência do mesmo e no
aconselhamento, contribuindo para a saúde e o bem-estar do doente.
Bibliografia
1 – Faria, E. M. – Farmácia Comunitária. Lisboa. [acedido a 5/01/2016]. Disponível na
internet:
http://www.ordemfarmaceuticos.pt/scid//ofWebInst_09/defaultCategoryViewOne.asp?catego
ryId=1909
2 – Unidades curriculares do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas