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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA GILMAR DE SOUZA BARBOSA VASCONCELOS RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FILOSOFIA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIAGILMAR DE SOUZA BARBOSA VASCONCELOSRELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FILOSOFIACAMPINA GRANDE 2011GILMAR DE SOUZA BARBOSA VASCONCELOSRELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FILOSOFIARelatório Final apresentado como requisito parcial para avaliação da disciplina de EstágioSupervisionado de Filosofia II do Curso de Graduação em Filosofia – Licen

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Page 1: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FILOSOFIA

GILMAR DE SOUZA BARBOSA VASCONCELOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FILOSOFIA

CAMPINA GRANDE

2011

Page 2: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

GILMAR DE SOUZA BARBOSA VASCONCELOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FILOSOFIA

Relatório Final apresentado como requisito parcial

para avaliação da disciplina de Estágio

Supervisionado de Filosofia II do Curso de

Graduação em Filosofia – Licenciatura da UEPB/

Campus de Campina Grande

Orientadora: Profa. Ms. Rosemary Marinho da

Silva

CAMPINA GRANDE

2011

Page 3: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

AGRADECIMENTOS

Em tudo dando sempre graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo e por sua fidelidade,

ainda que sejamos infiéis, por ter sempre nos abençoados no desenvolvimento das atividades

propostas. Agradeço também a minha orientadora Professora Rosemary Marinho que não

poupou esforços e sempre me incentivou nos momentos difíceis. Ao professor Ayice Chaves

que nos recebeu muito bem, cedendo espaço em suas turmas para o desenvolvimento do nosso

trabalho e não somente isso nos orientou e nos incentivou a prática do ensino; mas que um

orientador tornou-se um amigo. Meus agradecimentos também se estendem a turma do 3° ano

C do Estadual da Prata, que foram importantíssimos para a realização desse estágio. Por fim

meus agradecimentos a todos os meus colegas estagiários e amigos que de alguma forma

contribuíram para a melhoria de meus conhecimentos teóricos e práticos durante minha vida

acadêmica.

Page 4: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................................05

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................06

1. CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO PEDAGÓGICO.....................................................07

1.1. ORGANIZAÇÃO GERAL.............................................................................................07

1.2. ESTRUTURA ADMINISTRATIVA PEDAGÓGICA...................................................09

1.3. PROPOSTA PEDAGÓGICA DA ESCOLA..................................................................09

1.4. HISTÓRICO DA ESCOLA............................................................................................10

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................11

2.1. O CENÁRIO DAS LEIS QUE REGEM A EDUCAÇÃO BRASILEIRA..................12

2.2. PRESENÇA/AUSÊNCIA DA FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO NAS

DÉCADAS DE 60 E 70.........................................................................................................13

2.3. O PAPEL DA FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO........................................................15

3. REFLEXÕES FILOSÓFICAS ACERCA DO ENSINO DE FILOSOFIA........................18

3.1 FILOSOFIA E “SER CIDADÃO” ..................................................................................18

3.2. A IMPORTÂNCIA DA CONCEITUALIZAÇÃO FILOSÓFICA PARA O ENSINO DE

FILOSOFIA ....................................................................................................................21

4. RECOMENDAÇÕES METODOLÓGICAS ....................................................................23

4.1. O INÍCIO DE “TUDO”..................................................................................................23

4.2. OS DESAFIOS E A SUPERAÇÃO................................................................................23

CONCLUSÃO ....................................................................................................................26

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................27

ANEXOS ....................................................................................................................28

Page 5: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

RESUMO

O presente relatório de Estágio Supervisionado II em Filosofia descreve em seu

conteúdo os eventos e atividades relacionadas às experiências vividas durante o período

de atividade prática que aconteceu na E.E.E.M.E.P. Dr. Elpídio de Almeida, no bairro

da Prata, Campina Grande. E faz também uma abordagem teórico-filosófica acerca da

importância do ensino de filosofia para a formação do cidadão, trás para a discussão

filósofos da educação, como Platão, Deleuze e outros. E através do que tais filósofos

pensaram desenvolve-se no texto argumentos que põe em evidência a atual situação do

ensino de filosofia e ainda põe sugestões que apontariam para uma atividade filosófica

que estivesse apoiada naquilo que a filosofia de fato é especialista, que seja, criar

conceitos, uma proposta de um ensino de filosofia que trabalhe conceituação como

forma de colaborar para a educação real do cidadão. Pois, A Filosofia como matéria de

ensino, sua história e questões metodológicas, refere-se a uma abordagem que visa tratar

de modo panorâmico sobre como se realizou.

E tem se realizado o ensino de filosofia nas escolas de nível médio no Brasil.

Palavras-Chave: Ensino, Filosofia, Educação, Conceitos.

Page 6: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

INTRODUÇÃO

A presente atividade propõe-se entre outros objetivos tratar dos assuntos que

dizem respeito ao espaço pedagógico onde se desenvolveu o Estágio Supervisionado II

do Ensino de Filosofia. Bem como se propõe a discutir algo que se mostra de uma

grande relevância diante das atuais necessidades de justificativas para a presença da

filosofia no Ensino Médio, pois o mesmo trás em seu cerne a discussão a cerca da

importância que a filosofia tem no âmbito da formação do cidadão e qual o seu papel

nesse processo.

Para isso aborda-se na sua fundamentação teórica o processo de formação das

Leis que determinaram sua saída e seu regresso como disciplina aos currículos escolares

nos estabelecimentos de ensino no País, bem como a sua presença nas décadas de 60 e

70. Também revela-nos o papel que está teve e tem no processo de educação no Ensino

Médio.

No que diz respeito à fundamentação filosófica essa atividade aborda as questões

referentes ao “SER CIDADÃO”, e num segundo momento mostra-nos a importância da

conceitualização como objeto da filosofia no ensino e seu papel inerente a essa.

Page 7: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

1. CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO PEDAGÓGICO

1.1 ORGANIZAÇÃO GERAL

1.1.1. Identificação da Unidade Escolar

Escola Estadual de Ensino Médio E Educação Profissionalizante Dr.

Elpídio de Almeida – Estadual da Prata.

Entidade mantenedora: Governo do Estado da Paraíba.

CNPJ: 05.304.698/0001-52

Localização: R. Duque de Caxias N° 235, Prata, CEP 58400-506, Fone: 3321-3265 Campina Grande – PB, http://www.colegiodaprata.xpg.com.br/.

1.1.2. Caracterização da Estrutura Funcional da Escola

Níveis de ensino: Ensino Médio e Profissionalizante.

Modalidades Especiais: Ensino Médio integrado ao Profissionalizante.

Quantidade de alunos por turma e turno: com 28 turmas no horário da manha, 22 à tarde e 15 no período da noite, o corpo discente tem em média com 40 alunos por sala de aula.

Horário de funcionamento da escola: 07h00min às 12h00min horas, 13h00min às 17h00min, e 18h00min às 22h00min.

1.1.3. Caracterização do Público Participante Escola

Perfil geral dos alunos e familiares: com uma faixa etária entre 14 e 18 anos, o nível socioeconômico desses alunos é médio, com algumas exceções ao nível baixo.

1.1.4. Caracterização dos recursos: humanos, administrativos, didáticos e outros.

Espaço físico da escola: com uma ótima estrutura física e acessibilidade à

cadeirantes e pessoas com outras necessidades especiais, a escola oferece

um número grande de salas de aulas. Salas essas que são amplas e

arejadas, iluminadas, mas carecia de estruturas antirruídos. Os alunos

podem estudar na biblioteca que tem um acervo razoável, com ambiente

adequado as necessidades mais urgentes. Há também um laboratório de

informática e uma área para esportes com quadra e campo de futebol.

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Departamentos: há um conselho escolar formado por presidente, vice-

presidente, tesoureiro, secretário representante dos professores,

representantes dos funcionários, representantes dos alunos e representantes

dos pais. Todo o conselho se volta para determinar às datas de reuniões

com os pais, comunicação do desempenho dos alunos por meio de boletim

escolar, a comunicação das supostas faltas dos alunos e principalmente o

desenvolvimento do diálogo com a família e acima de tudo, o acolhimento

para a participação nas atividades da escola.

Recursos Humanos: o corpo administrativo é formado por uma diretora

geral, duas diretoras adjuntas, um secretário geral e coordenadores que são

designados pelos professores de cada área (conjunto de disciplinas afins).

Com um corpo de funcionário de: cinco inspetores, três bibliotecárias,

quatro merendeiras, cinco porteiros, cinco auxiliares de serviços gerais,

cinco zeladores e dois vigilantes. A equipe de especialistas da escola é

forma por dois orientadores educacionais, dois supervisores educacionais,

um psicólogo escola, um assistente social e um nutricionista que trabalha

no nível técnico.

Recursos didáticos: a escola dispõe de laboratório de informática, sala de vídeo, biblioteca e ambientes para jogos.

1.1.5. Articulação da instituição com a Comunidade

Caracterização geral da comunidade: localizado num bairro nobre da

cidade, o bairro da prata, a escola serve como ponto de referência a todos

que desejam se locomover entre as várias clínicas e hospitais situados no

seu entorno. Com um fácil acesso e trânsito intenso, as ruas no período da

noite são bem iluminadas facilitando o desenvolvimento do transporte

público nas imediações.

Convênios: O PDDE- Plano Dinheiro Direto na Escola (do Governo) é a

principal fonte de recurso para manutenção da mesma. Uma das políticas

da instituição está voltada ao incentivo à capacitação dos professores,

Page 9: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

atendendo às determinações do PDDE. A administração tem procurado

manter sempre, uma boa abertura aos alunos. Sua coordenação também se

disposições ao diálogo com a 3ª região de ensino e SEC (estadual).

1.2 ESTRUTURA ADMINISTRATIVA – PEDAGÓGICA

1.2.1 Regimento Escolar e Regulamento Interno: a escola oferece uma proposta

pedagógica curricular onde o aluno é inserido diretamente nela, para que a construção

do projeto político pedagógico se dê dentro da própria escola com a participação de

todos. A escola ainda conta com um regimento escolar de normas e regras direitas com

os deveres dos alunos e dos demais profissionais.

1.2.1.1. Calendário escolar: o calendário escolar que vai de fevereiro a dezembro e

com um sistema de avaliação bimestral. No total, os dias letivos são 208.

1.2.2 Planejamento

Plano escolar: Os eventos que a escola promove estão de acordo com o

planejamento que, por sua vez, está em comunicação direta com os alunos,

professores, pais e funcionários.

1.2.3 Reuniões

De pais e professores: As reuniões com os pais acontecem uma vez a cada

semestre.

1.3. PROPOSTA PEDAGÓGICA DA ESCOLA

1.3.1. Projeto Político pedagógico da Unidade de Ensino: Atualmente o ensino

vem tomando uma dimensão mais significativa no universo do aluno, onde suas

experiências e seu conhecimento de mundo têm maior importância.

A importância da conscientização do individuo e o seu crescimento como

sujeito político, social e transformador, o que supõe a democratização dos conteúdos

nos levando a necessidades de um planejamento participativo, visando a realização e

a transformação da comunidade na qual está inserida.

Page 10: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

Esta proposta de propões a compreender alguns fatores que afetam a

aprendizagem do aluno, de modo a encontrar novas alternativas para diminuir ou até

mesmo contribuir para a extinção de evasão escolar, partindo do princípio de que se

faz necessário uma mudança efetiva na prática pedagógica, tornando uma educação

escolar mais humana e mais participativa, determinando metas, ações, prazos e

responsáveis. (mais informações em anexo)

1.4. HISTÓRIA DA ESCOLA

1.4.1. Data da Fundação: no dia 31 de janeiro de 1953, que o atual governador o

Dr. José Américo de Almeida veio pessoalmente e inaugurou em Campina Grande o

estadual da prata com o decreto Nº 456 de 18/07/1952, que autorizava o seu

funcionamento e com a Resolução Nº 145/95 do CEE que reconheceria o

funcionamento da E.E.E.M Dr. Elpídio de Almeida.

O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A FORMAÇÃO DO

CIDADÃO

Page 11: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para que possamos abordar esse tema com maior precisão devemos partir da

analise do que está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, ou das Leis

de Diretrizes e Bases - LDB. Esses documentos foram desenvolvidos com a proposta de

facilitar e melhorar a qualidade da educação no ensino fundamental e médio.

2.1. O CENÁRIO DAS LEIS QUE REGEM A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Os PCNs Elaborados a partir da análise das sugestões de docentes de

universidades públicas e particulares, técnicos de Secretarias Estaduais e Municipais de

Educação, bem como de instituições representativas de diferentes áreas do

conhecimento, especialistas e educadores, estendidos ainda em encontros regionais

organizados pelas delegacias do Ministério da Educação - MEC nos Estados da

Federação onde também tiveram participação professores, técnicos de Secretarias

municipais e Estaduais e representantes de entidades ligadas ao ensino. São resultado de

todas as discussões e propostas que contribuíram para a reelaboração do currículo

escolar que já não atendia as necessidades da realidade técnico - científica atual e da

condição social do cidadão.

Então, partindo-se do entendimento de que as constatações sobre as mudanças e

evoluções que ocorreram no conhecimento no que diz respeito às produções e relações

sociais em geral, demandavam uma renovação no currículo das escolas brasileiras, pois

se percebeu que o modelo tecnicista vigente de educação não mais satisfazia as

necessidades para a sociedade atual, qual seja, da década de 90 que foi quando

efetivamente se revelou essa nova necessidade que surge por conta das novas

tecnologias que eram e são constantemente superadas, e exigem não mais uma formação

especializada que acumule conhecimentos em determinada área do saber, mas uma

formação que permita ao cidadão dialogar, utilizar e refletir sobre as diferentes áreas do

saber. Daí então surge à proposta de uma formação geral do cidadão, não mais

específica como foi nas décadas anteriores. Pois como podemos constatar ao fazermos

uma consulta a LDB, encontramos na Lei n° 5.692/71 que o 2° grau caracterizava-se

basicamente por duas finalidades “preparar para o prosseguimento dos estudos e

Page 12: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

habilitar para o exercício de uma profissão técnica”. Foi essa a base para o ensino por

décadas.

Diante da necessidade evidente de uma reforma nos Parâmetros Curriculares

Nacionais, tendo-se depois de muitos debates acerca desse assunto elaborando-se as

reformas necessárias. Em 1996 entrou em vigor a Lei n° 9.394/96, que trouxe em seu

escopo mudanças significativas, pois “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo

do trabalho e a prática social” (Art. 1° inciso 2°)

Observadas essas mudanças no cenário das Leis da educação brasileira, podemos

então partir para o desenvolvimento do tema proposto, qual seja, “O Papel da Filosofia e

sua importância na formação do cidadão”. Uma vez iniciado o processo de mudança,

por meio da Lei supracitada o cenário da educação no Brasil nunca mais seria o mesmo,

pois diante da necessidade de uma formação cidadã que permitisse uma leitura crítica

do mundo e suas mudanças por parte do cidadão fez-se necessário à reintrodução de

disciplinas como filosofia e sociologia que já apresentavam sua importância na LDB de

96. Vejamos como o conhecimento desses saberes já aparece como necessárias na

formação do cidadão que deveria ter “domínio dos conhecimentos de Filosofia e

Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (Lei n° 9.394/96 Art. 36. inciso 1°.

Item. III). E introduzidas definitivamente em 2008, através da Lei n° 11.684/08 que no

Art. 1° do Item I, altera o Art. 36 da Lei n° 9.394/96, as quais passam a vigorar da

seguinte maneira: “serão incluídas a filosofia e a Sociologia como disciplinas

obrigatórias em todas as séries do ensino médio” (Art. 1°, Item IV).

Vimos então que diante do panorama da educação pragmática e tecnicista vividos

no Brasil, o ensino de filosofia tem sua importância evidenciada pela obrigatoriedade de

sua presença no currículo do ensino médio.

2.2. PRESENÇA/AUSÊNCIA DA FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO

NAS DÉCADAS DE 60 E 70

Muito se têm especulado sobre a retirada da filosofia dos currículos de ensino

durante o período militar, os argumentos de que a causa de sua retirada esteja ligada a

sua prática crítica e opinativa que teria sido considerada segundo acreditam subversiva

são as mais frequentes como encontramos na maioria das literaturas que tratam do tema,

como por exemplo, no livro: A filosofia e seu ensino Caminhos e sentidos, o professor

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Renê José Trentin Silveira faz uma citação do professor Álvaro Valls, da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul que evidencia o exposto, veja:

Na época da ditadura e da ideologia profissionalizante do capital

humano, a filosofia foi considerada subversiva e inútil. Não se

desejava um pensamento crítico para a juventude [...] Os

melhores professores foram cassados, a filosofia desapareceu

dos vestibulares, as disciplinas dogmáticas e ideológicas

trataram de preencher o espaço antes aberto à discussão crítica

(apud CEPERGS 1987).

Esse pensamento é defendido quase por unanimidade, mas, existem estudiosos

que discordam quanto à verdade dessa justificativa, apelando para outras que não

estariam ligadas necessariamente a postura subversiva da filosofia, qual seja, o

argumento de que a filosofia teria sido removida do ensino médio por não atender as

demandas da política econômica estabelecida no País. Nessa linha de pensamentos

encontramos uma citação feita pelo professor Renê na mesma Obra supracitada da

professora Maria Célia Simon, da Universidade Santa Úrsula do Rio de Janeiro:

Muito já se discutiu sobre as razões que teriam levado ao afastamento do ensino da filosofia do 2° grau. Na opinião de alguns, seria a “ameaça” que o ensino da filosofia passou a significar dentro do nosso contexto sociopolítico vigente a partir de 1964. Mas será que, realmente, esse ensino, tal como era ministrado nas escolas de 2° grau no Brasil, significava uma ameaça? É pouco provável. Talvez. Essas pessoas tenham se esquecido do papel submisso que, de modo geral, a filosofia desempenhou no Brasil e lembram-se apenas de privilegiar o seu lado crítico e libertador (SIMON 1986, p.19).

Porém, deixando as questões que dizem respeito à retirada da filosofia do Ensino

Médio voltamo-nos para o real, para o que tivemos de concreto em toda essa discussão:

a retirada da filosofia dos currículos independentemente dos porquês.

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Possivelmente encontremos uma justificativa para o afastamento da disciplina de

filosofia, bem como de outras das conhecidas ciências humanas; no plano desenvolvido

pelo País para assegurar o desenvolvimento e a segurança, conhecido como Doutrina de

Segurança Nacional e Desenvolvimento (DSND), que se baseava na tese de que,

segurança interna e desenvolvimento econômico de um país não podem ser concebíveis

separadamente.

Para que desenvolvessem seus projetos trabalhavam regidos por conceitos e

princípios doutrinários, vejamos alguns dos principais:

a) “Guerra subversiva” ou “guerra revolucionária”- trata-se de um conflito interno

onde parte da população busca a queda do governo. Era a que mais preocupava os

militares brasileiros. É aqui que planejam a segurança das fronteiras ideológicas, as

quais sentiam ameaçadas pelo pensamento comunista. A radicalidade é evidenciada,

pois, cada cidadão era visto como um revolucionário em potencial, ou seja, um inimigo

interno. É regido por esse princípio que estabelecem a implantação de reformas no

ensino de 1° e 2° graus, em resposta a uma suposta propaganda marxista infiltrada no

País.

b) “Segurança interna” ou “Segurança Nacional”- segurança interna como

neutralização de oposição de qualquer natureza. Qualquer atividade que viesse a

contestar a política nacional.

c) “Desenvolvimento econômico”- com o pensamento de que a segurança interna

dependia também do desenvolvimento econômico do País, buscou-se implantar as

condições necessárias para isso, para uma promoção da chamada “paz social”, pois

indivíduos insatisfeitos com a economia seriam presas fáceis para o comunismo. O

processo de industrialização, aproveitamento de recursos naturais e extensão de rede de

transporte e comunicação têm grande desenvolvimento nesse período bem como

“treinamento de força de trabalho especializada” o que levou o País a adotar um sistema

de ensino voltado basicamente para a profissionalização do cidadão, retirando dos

currículos disciplinas humanísticas como filosofia, que por conta do processo instaurado

no País e a vigente intensificação de acumulação de capital parecia sem utilidade.

Diante do exposto fica evidenciado que embora a retirada da disciplina de

filosofia do ensino médio brasileiro não esteja ligado ao seu caráter subversivo, tendo

em vista que o ensino de filosofia no Brasil deixava muito a desejar, o fato é que de

alguma maneira incomodava e parecia empecilho aos planos do governo militar. Isto

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vimos claramente quando de sua retirada para implantação de disciplinas mais

habilitadas para realizar a contraofensiva do governo a suposta estratégia comunista.

2.3 O PAPEL DA FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

A filosofia ressurge depois de décadas com a tarefa de colaborar com a formação

do cidadão e desenvolver nele a criticidade e o pensamento próprio, vejamos o que nos

diz Silvio Gallo, um dos conhecidos filósofos da educação, ao falar sobre o papel da

filosofia, ele nos mostra sua importância, pois “oferece aos jovens a oportunidade de

desenvolver um pensamento crítico e autônomo. Em outras palavras, a Filosofia permite

experimentar um ‘pensar por si mesmo’” (GALLO, 2007) 1. Assim cumprindo, o que

seria determinado para os alunos do ensino médio pela LDB que diz que ao concluir o

ensino médio o jovem deve ter conhecimentos que sejam capazes de lhes possibilitarem

“o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o

desenvolvimento da autonomia intelectual, e o pensamento crítico” (Sec. IV. Art. 35.

Item III).

Embora como o próprio Gallo comente na obra: FILOSOFIA no ensino médio:

temas, problemas e proposta.

Quando tratamos do tema do ensino da filosofia na educação média, somo sempre chamados a justificar sua razão [...] tem sido lugar comum justificar a presença da filosofia no ensino médio por dois vieses [...] para garantir o desenvolvimento da criticidade do estudante [...] para garantir uma interlocução entre as diversas disciplinas (GALLO, 2003, p19).

Para satisfazer ao pragmatismo presente na educação brasileira e em seus

parâmetros esses dois vieses parecem ser suficientes. No entanto, podemos observar

ainda na mesma obra Gallo dizer: “penso que essas duas justificativas tomadas em

conjunto, são complicadas e, mesmo perigosas” (p.19). Observando que a criticidade

possivelmente não é exclusividade da filosofia e, portanto não pode ser o argumento que

1 Como o artigo não tem paginação, indico que a citação encontra-se no site:

HTTP://www.cartanaescola.com.br/edicoes/20/a-filosofia-noensino-medio

Page 16: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

justifique seu retorno para o ensino médio, embora seja evidente que a crítica é uma das

principais características da filosofia. Portanto, esses vieses são aceitáveis enquanto

justificativas legais, mas devem ser refletidas por professores e alunos se, de fato,

correspondem ao papel e a importância da filosofia para a formação do cidadão.

Gallo ainda levanta outro problema ao lembrar que a Lei n° 9.394/96 (LDB) tenta

instrumentalizar a filosofia com o fim de estabelecer a cidadania. Ele argumenta que

“instrumentalizá-la numa política educacional pode significar, pois, sua própria morte”

(p.20).

Como poderíamos então justificar a presença da filosofia no ensino médio? Para

ele “pela própria caracterização desse nível de ensino”, pois:

sabemos que o ensino médio é conhecido como a etapa terminal da formação abrangente do educando. Ora podemos falar em três grandes áreas do conhecimento humano, fundamentais em todo processo educativo, constituído pelas ciências, pelas artes e pelas filosofias (GALLO, 2003, p.20).

Aqui Gallo cita o pensamento de dois grandes filósofos: Gilles Deleuze e Félix

Guattari em “O que é a filosofia?” no qual afirmam que “arte, ciência e filosofia são as

três potências do pensamento à medida que permitem o exercício da criatividade”

(GALLO, 2007, p.20).

Como podemos observar somente uma educação que enfatize essas três potências

do conhecimento é capaz de permitir experiências distintas de pensamento criativo, pois

só assim teremos condições de fugir do nosso currículo de ensino médio absolutamente

científico. Precisamos fugir do conteudismo e do ensino instrumentalizado. Os jovens

estudantes do ensino médio precisam conhecer e manter equilíbrio entre os

conhecimentos científicos, aprendendo a pensar por meio de suas funções, da arte, por

meio da percepção e afetividades e da filosofia, por seus conceitos.

Uma vez que possamos oferecer a oportunidade aos estudantes de conhecer essas

três potências do saber e desenvolver um equilíbrio entre elas significa proporcionar-lhe

talvez a única oportunidade de encontro com essas experiências. “Daí a importância da

presença da filosofia no ensino médio, ela se constitui numa experiência singular de

pensamento”. (GALLO, 2003, p.21)

Podemos perceber que embora Gallo afirme que as justificativas para o ensino de

filosofia como previstas pela Lei sejam perigosas, pois parecem querer instrumentalizá-

Page 17: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

la - o que seria a própria morte da filosofia- não reprova a valorização da filosofia na

formação do cidadão. O que ele tenta ao fazer algumas críticas é mostrar que quanto a

isto a filosofia não é um instrumento de formação, mas uma área do conhecimento

humano produzido para juntamente com os conhecimentos das ciências e das artes

possibilitar experiências singulares de pensamento criativo. Pois o ensino da filosofia

tem seu papel importante enquanto criadora de conceitos, vejamos:

assim, o conceito não deve ser procurado, pois não está aí para ser encontrado. O conceito não é uma ‘entidade metafísica’ ou um ‘operador lógico’, ou uma ‘representação mental’. O conceito é um dispositivo, uma ferramenta, algo que opera no âmbito mesmo dessas condições. O conceito é um dispositivo que faz pensar, que permite, de novo, pensar. O que significa dizer que o conceito não indica, não aponta uma suposta verdade, o que paralisaria o pensamento; ao contrário, o conceito é justamente aquilo que nos põe a pensar. Se o conceito é o produto, ele é também produtor: produtor de novos pensamentos, produtor de novos conceitos; e, sobretudo, produtor de acontecimentos, na medida em que é o conceito que recorta o acontecimento, que o torna possível (GALLO, 2003, p.51-52).

Assim na defesa de um ensino de filosofia voltado para a formação de conceitos

Gallo acredita que poderá essa mesma filosofia, de maneira efetiva, contribuir para a

formação do cidadão.

3. REFLEXÕES FILOSÓFICAS A CERCA DO ENSINO DE FILOSOFIA

Para uma análise a cerca do ensino de filosofia, e sua importância para a educação

do cidadão é interessante partimos de alguns pensamentos que filósofos preconizadores

do tema tiveram, os quais ainda nos dias de hoje nos oferecem parâmetros norteadores

no que diz respeito à educação filosófica e o seu papel fundamental para uma vida

produtiva em sociedade.

3.1. FILOSOFIA E “SER CIDADÃO”

Durante todo esse texto vimos analisando sobre a importância da filosofia para a

formação do cidadão, interessa-nos então conhecer um pouco do que vem a ser isso que

conceituamos com titulo de cidadão. Partindo da definição mais simples encontrada em

Page 18: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

nossos dicionários podemos sinteticamente falar que, “cidadão é o indivíduo no gozo de

seus direitos civis e políticos”. Essa definição não parece ser a mais adequada

filosoficamente falando, pois se fossemos tratar o termo sob o olhar da filosofia

teríamos certamente outros problemas filosóficos. No entanto, parece satisfazer ao que

sugere a LDB quando diz que:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (Lei 9.394, 1996, Art. 1°).

Sendo assim, podemos entender que a educação forma cidadãos capazes e atuantes

em sua sociedade, daí a importância do conhecimento filosófico que o ajudará na

tomada de decisões a partir de princípios éticos e morais que possibilitarão então o gozo

completo de sua cidadania, (ao menos teoricamente). Como aparece na LDB seção IV

Art. 36 inciso 1° Item III que sugere “domínio dos conhecimentos de Filosofia e

Sociologia necessários ao exercício da cidadania”.

Podemos perceber o caráter formador da filosofia desde os tempos mais antigos.

Começando pela Republica idealizada por Platão na Grécia Antiga onde podemos ver

com clara evidência a valorização da educação e em especial do ensino de filosofia para

aqueles que governariam a cidade tendo seus estudos principiados na mais tenra idade

passando pelos estágios infanto-juvenis na educação musical e física, bem como de

matemática, astronomia, geometria e estereometria as quais precederiam então o

conhecimento dialético. Pois, como acreditava uma cidade ou um cidadão que não

tivesse conhecimento filosófico, não poderiam governar o Estado, o que poríamos

contextualizar como não teriam condições de exercerem sua cidadania, pois lhes faltaria

o conhecimento conceitual mesmo do que seria isso. Vimos ainda, a importância que o

mesmo atribuiu à filosofia em todas as suas obras, mas, aqui queremos remeter-nos à

apenas uma em especial, intitulada A REPÚBLICA, onde trata de assuntos pertinentes à

formação de uma cidade justa e da formação dos cidadãos dessa cidade. Nesse sentido

ele desenvolve suas ideias acreditando que uma das principais atitudes a serem

consideradas seria justamente a instituição de um sistema educacional diferente do que

vigorava em seus dias, vejamos o que ele mesmo nos diz: “Quando são adolescentes e

crianças, devem empreender-se uma educação filosófica juvenil, cuidando muito bem

Page 19: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

dos corpos, em que desenvolvam e adquiram virilidade, pois eles estão destinados a

servir a filosofia” (REP. VI. 498b).

Portanto como percebemos claramente a filosofia desde os tempos mais antigos já

figurava como uma das bases da educação do cidadão, digo uma das bases por que

como podemos observar na obra supracitada não é exclusividade da filosofia a

interdisciplinaridade, pois o cidadão precisava ter conhecimentos de outras disciplinas,

vejamos “[...] desde criança que devem aplicar-se a ciência do cálculo, geometria e a

todos os estudos que hão de preceder a dialética” (REP. VII. 536d). Pois só depois de

cumprir esse currículo ele poderia alcançar conhecimento dialético, que propriamente

falando em Platão é a arte de discutir, dialogar com os outros, e consigo mesmo.

A função da filosofia e dos outros conhecimentos nos dias de Platão parece em

sua essência, com os da filosofia, arte e ciências nos dias atuais, pois quanto ao objetivo

de tornar o cidadão dialético possibilitando o conhecimento do sumo bem e, portanto de

uma vida justa, pode ser comparado àquilo que é proposto ao ensino médio através do

ensino de filosofia na atualidade. Pois, que é preparar o jovem para a autonomia

intelectual e pensamento crítico, bem como para o exercício da cidadania se não

dialética? O processo do conhecimento estabelecido através do diálogo entre todas as

disciplinas, potencializando o educando ao exercício da cidadania por meio da aplicação

coerente dos métodos e conhecimentos apreendidos e desenvolvidos durante sua

formação possibilitando que viva em sociedade, compreendendo e fazendo-se

compreender, interagindo e estabelecendo relações harmoniosas que o permitam o pleno

exercício de sua cidadania.

Podemos perceber claramente que a filosofia fora e sempre será importante para a

formação do cidadão, resta-nos apenas refletir se a forma como tem sido ensinada

corresponde a sua história, pois como nos diz Horn “a filosofia está visceralmente

ligada ao seu passado”.

Abordando o pensamento de Hegel a cerca do ensino da filosofia, Horn salienta

que para Hegel só podemos ter algum conhecimento de filosofia quando estudamos a

história da filosofia, pois como Hegel diz: “[...] não se pode aprender a filosofar sem

aprender a filosofia, do mesmo modo como só se aprende a pensar quando se aprende os

conteúdos do pensamento” (HORN, 2000, p.9). Diante do exposto por Horn sobre a

posição de Hegel quanto ao ensino de filosofia percebemos que os conteúdos de

filosofia bem como de todas as demais disciplinas devem ser considerados importantes

no processo de formação, pois não se pode em nome de uma “educação moderna”

Page 20: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

desprezar a história do pensamento e as ideias produzidas durante séculos. Precisamos

aprender a estudá-las de forma crítica, com um olhar investigativo e procurar

desenvolver novos pensamentos e ideias a partir dessas, pois que é este o processo que a

filosofia nos permite através do dialogo com os outros e consigo mesmo (aprimorar e

desenvolver nossas ideias). Pois:

as ciências filosóficas contêm os verdadeiros pensamentos universais dos seus objetos, são o produto resultante do trabalho do gênio pensante de todas as épocas; [...] uma vez cheia a cabeça de pensamentos, terá então também a possibilidade de ela própria fazer avançar a ciência e lhe conquistar uma verdadeira originalidade. (HEGEL, 2005, p.12)

O pensamento hegeliano quanto ao ensino de filosofia centra-se, pois no estudo da

própria história da filosofia, contudo, estudar filosofia e seus conteúdos não implica em

estagnação do pensamento, nem improdutividade intelectual, pois como vimos à

preocupação que ele tem é justamente que o jovem possa pensar filosoficamente e

desenvolver sua própria originalidade não desvalorizando, contudo as ideias e

pensamentos desenvolvidos no passado, mas que trabalhe - mesmo que dando outros

aspectos de entendimento e compreensão dessas – a partir de determinados pressupostos

estabelecidos filosoficamente.

3.2 A IMPORTÂNCIA DA CONCEITUALIZAÇÃO FILOSÓFICA PARA O ENSINO

DE FILOSOFIA:

Podemos chamar então para esse diálogo dois outros filósofos muito importantes

da contemporaneidade, que também escreveram sobre o papel da filosofia e a

importância dessa disciplina para a formação do cidadão, Deleuze e Guattari, tentando

estabelecer uma possível relação entre o pensamento destes com o de Hegel e até

mesmo com o de Platão, pois se a filosofia é fundamental para a formação do cidadão

como vimos em Platão e para aprendermos ela devemos levar em consideração toda a

sua história como em Hegel, podemos então colocar em questão a principal

característica da filosofia apresentada por Deleuze e Guattari, que segundo dizem é o

conceito. Pois como observam a filosofia traz em suas características em primeiro lugar,

o pensamento conceitual, em segundo, o caráter dialógico, e em terceiro, a postura

crítica e radical. Contudo o que Deleuze e Guattari argumentam é que quanto ao caráter

Page 21: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

dialógico e a postura critica radical são encontrados também em outras áreas do saber,

no entanto quanto ao conceitual é intrínseca a disciplina de filosofia visto que:

o filosofo é amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer

dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de

inventar ou fabricar conceitos, pois os conceitos não são

necessariamente formas, achados ou produto. A filosofia, mais

rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos [...]

criar conceitos sempre novos é o objetivo da filosofia. É porque

o conceito precisa ser criado que ele remete ao filósofo como

aquele que o tem em potência, ou que têm sua potência e

competência [...] os conceitos não nos esperam inteiramente

feitos, como corpos celestes. Não há céu para os conceitos. Eles

devem ser inventados, fabricados, ou antes, criados, e não

seriam nada sem a assinatura daqueles que os cria [...] Que

valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou um

conceito, ele não criou seus conceitos?(DELEUZE,

GUATTARI, 1992, p.13-14).

Gallo ainda nos lembra de que é importante observar “que o que Deleuze e

Guattari chamam de conceito não é exatamente aquilo que estamos acostumados”, pois

para eles “conceito é uma forma racional de equacionar o problema ou problemas,

exprimindo uma visão coerente do vivido”. (GALLO, 2003, p.23), ou seja, é a partir do

que se conhece na história da filosofia e fazendo filosofia como vimos em Hegel, e

também a partir daquilo que se constrói através do diálogo entre saberes como vimos

em Platão, que os conceitos são estabelecidos. “Importa que cada estudante possa passar

pela experiência de pensar filosoficamente, de lidar com conceitos criados na história,

apropriar-se deles, compreendê-los, recriá-los e, quem sabe, chegar mesmo a criar

conceitos próprios” (GALLO, 2007, p.26).

Podemos então concluir a partir dos pensamentos dos filósofos citados nessa

atividade que o papel e a importância da filosofia para a formação do cidadão vão muito

além do que sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais ou do que está presente na

Page 22: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

LDB. A filosofia possibilita àqueles que a conhecem a oportunidade não apenas de

criticar o mundo, ou poder viver em sociedade de forma cidadã. Possibilita a magnífica

chance de conhecer e mudar não o mundo, mas conhecer e mudar-se a si mesmo.

4. RECOMENDAÇÕES METODOLÓGICAS

4.1. O INÍCIO DE “TUDO”

Ao principiarmos essa etapa da atividade proposta, partimos das orientações do

que diz respeito a formação e ao perfil do curso de Licenciatura Plena em Filosofia

assim como encontramos no site da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, que diz:

“O Curso de Licenciatura Plena em Filosofia da UEPB forma profissionais

docentes/pesquisadores qualificados para trabalhar com o ensino/pesquisa na área de

Filosofia. [...] a LDBN determina o ensino obrigatório de Filosofia no Ensino Médio”.

Sendo assim e estando legitimamente matriculado nesse curso no presente ano de 2011,

nos submetemos dentro do currículo da Universidade na disciplina de Estágio

Supervisionado II a essa experiência ímpar que muito contribui para a formação do

graduando, pois lhe oferece a oportunidade de conhecer o futuro ambiente de trabalho, e

lhe põe diante da realidade das escolas brasileiras com todos os seus desafios a serem

aceitos e problemas a serem superados.

Assim começamos nossas atividades preparando-nos durante o primeiro semestre

de 2011 trabalhando ainda em sala de aula na universidade, as metodologias que nos

ajudariam nessa tarefa, assim desenvolvemos projetos voltados para a Filosofia e seu

ensino, esses procuravam facilitar o domínio dos conteúdos necessário para o ensino

médio e nos capacitava a trabalhar com textos clássicos abordando também os temas

transversais que estão em evidência nos dias atuais.

4.2. OS DESAFIOS E A SUPERAÇÃO

Num segundo momento já embasado pela teoria fomos à prática, basicamente no

segundo semestre devido a greve dos professores da Rede Estadual de Ensino, o que já

se nos apresentou como o primeiro obstáculo a ser superado pois a greve prejudicou os

alunos e também o estágio, pois tivemos que adiar por um mês nosso estágio e os alunos

ficaram sem aula, prejudicando principalmente os concluintes do ensino médio que se

preparavam para o ENEM e o Vestibular.

Page 23: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

Resolvido o problema da greve voltamos às atividades, nos reunimos come o

professor de filosofia da Escola Estadual da Prata, o professor Ayice Chaves o qual nos

recebeu e nos orientou quanto aos procedimentos dali em diante, pois como havia quase

trinta dias sem aula, os conteúdos estavam atrasados e também as notas do segundo

bimestre, por isso num primeiro momento em sala de aula ficamos apenas como

observadores, pois o professor titular precisava adiantar conteúdos e fazer provas e

trabalhos para as nota atrasadas, isso evidenciou um dos problemas que a escola pública

brasileira enfrenta na atualidade a desvalorização da categoria dos professores e a

irresponsabilidade do governo para com a educação pois o mesmo não se preocupa o

quanto deveria com os nossas crianças e jovens.

Posteriormente, quando as aulas começaram a voltar a sua normalidade,

começamos também a participar mais ativamente nas discussões que se faziam em sala

de aula, nas primeiras participações de forma bastante discreta, pois queríamos ganhar a

confiança dos alunos sem que para isso precisássemos ostentar alguma aparência de

“sabe tudo”, dessa forma adquirimos o respeito e a amizade e enfim com a oportunidade

franqueada pelo professor Ayice Chaves podemos começar as primeiras aulas, seguindo

sempre suas orientações.

Nas primeiras aulas trabalhamos com textos que se referiam à filosofia antiga, ou

seja, a filosofia em seus primórdios sustentada pelo mito, onde entendemos que o mito

já é filosofia como disse Aristóteles, pois tenta explicar o mundo e sua origem. Assim

podemos juntamente com o professor sugerir atividades e aplicar provas a respeito do

conteúdo. Observamos durante esse período que muitos alunos são bastante esforçados

e buscam uma formação para melhorar de vida, ou de situação econômica, enfim, são

alunos que querem alguma coisa com a educação, que se esforçam para tê-la. Por outro

lado, em oposição a esses encontramos também aqueles que infelizmente não assumem

nem compromisso e passam a maior parte do tempo sem se importar com sua vida

estudantil, isso fica evidenciado pelo grande número de alunos nos corredores do

colégio em quanto isso a biblioteca da escola, que possui um número considerável de

obras a maior parte do tempo se encontra vazia. Esse é outro problema que precisa ser

visto, o que tem levado os nossos jovens a serem tão irresponsáveis com o próprio

futuro? Podemos enquanto professores dos mesmos, incentivar de alguma maneira de

forma mais eficaz para que mudem de atitude e pensem mais em seus futuros? Ficam

essas questões como desafios para todos nós (os que já fazem e os que ainda farão parte

do processo de educação) que nos propomos serem educadores.

Page 24: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

Existem certos elementos do passado que precisam ser preservados conforme

podemos verificar nos vídeos relacionados a Escola Estadual da Prata que dizem

respeito a isso, como os alunos respeitavam seus professores e como havia ordem na

escola, hoje podemos perceber que o professor tem perdido em grande parte sua

autoridade e os alunos conhecedores de seus direitos, usam-no muitas vezes para

cometerem perversões na escola porquê sabem que ficaram impunes, aqui fica também

uma crítica ao Sistema que afrouxou demais e agora não sabem mais o que fazer.

Durante o terceiro bimestre começamos a trabalhar com a turma do terceiro ano C

o filósofo Epicuro, desenvolvemos as aulas no texto Carta a Meneceu (Sobre a

Felicidade) a qual se encontra em anexo. A aula foi muito produtiva, pois podemos

discutir sobre a felicidade, como alcançar a felicidade, o tetrapharmakon de Epicuro

para a felicidade, fizemos o calculo dos prazeres, onde abordamos que segundo nem

toda felicidade relaciona-se com prazer, mas nem todo prazer relaciona-se com

felicidade, aí discutimos sobre os prazeres oferecidos pelas drogas, pela prostituição e

vícios e constatamos juntos que esses são prejudiciais à vida. Por fim fizemos uma

atividade sobre o tema, à mesma ficou em posse do professor Ayice Chaves para ser

avaliada como nota do terceiro bimestre.

Na última aula fizemos as considerações finais acerca da filosofia da felicidade

em Epicuro e acrescentando a isso uma palavra de incentivo a continuidade dos estudos,

bem como também motivação para os desafios da vida.

Por fim, fizemos nossos agradecimentos ao professor Ayice Chaves, pela força

que nos deu durante as atividades, por ter nos recebido tão bem e ter se tornado um

amigo, estendemos esse agradecimento aos alunos que por sua vez também se

emocionaram e agradeceram nossa participação, fizemos algumas fotografias para

constar em nosso trabalho como segue em anexo e finalizamos a aula.

Acreditamos que o estágio cumpriu-se na medida do possível seus objetivos, e

ficamos felizes por termos de alguma maneira não apenas adquirido conhecimentos para

nossas vidas, mas também ter contribuído para o conhecimento e crescimento

intelectual de alguns alunos que durante o estágio acompanharam nossas aulas com

muito entusiasmo e assiduidade.

CONCLUSÃO

Diante de tudo que vimos no discorrer desse relatório podemos concluir que no

que diz respeito ao Ensino de Filosofia no Brasil muito se tem ainda a aprender tendo

Page 25: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

em vistas que a presença dessa disciplina nos currículos escolares foi muito oscilante o

que causou muitos prejuízos à educação, observamos também que a filosofia no Brasil

sempre se mostrou subserviente as ideologias e privada de sua criticidade inerente ao

filosofar.

O retorno oficial dessa disciplina aos currículos do Ensino Médio no Brasil

possibilita uma nova oportunidade para que se desenvolva de forma crítica e

independente firmando-se como de fato é, ou seja, pensamento atuante.

Todo o trabalho apresentado mostrou-nos que o ensino de filosofia ainda é muito

deficiente, mas as possibilidades estão sendo aproveitadas e a cada dia os desafios são

vencidos. Assim esperamos que a Filosofia cumpra seu papel para com a formação do

cidadão.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei Federal no 4.024/1961.

Disponível no endereço eletrônico: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/htm.

Page 26: RELATÓRIO  DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM FILOSOFIA

BRASIL. Projeto de Lei, 2003. Altera dispositivos do artigo 36 da Lein. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes ebases da educação nacional. Brasília, DF: Câmara dos Deputados,2003.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e

Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

GALLO, S.; CORNELLI, G.; DANELON, M. (Orgs.). Filosofia do ensino de filosofia. Petrópolis: Vozes, 2003.

GALLO, S., KOHAN, W. O. (Orgs.). Filosofia no ensino médio. Petrópolis, RJ: Vozes,

2000.

HORN, G. B. A presença da filosofia no Ensino Médio brasileiro: uma perspectiva

histórica. In: GALLO, S.; KOHAN, W. O. (Orgs.). Filosofia no Ensino Médio.

Petrópolis: Vozes, 2000.

HORN, G. B. Do ensino da filosofia à filosofia do ensino: contraposições entre Kant e Hegel. In:http:/www.anped.org.br/reunioes/26/trabalhos/geraldobalduinohorn.

http://www.colegiodaprata.xpg.com.br/

http://www.youtube.com/?gl=BR&hl=pt

PLATÃO. A República. 6. ed. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 1990.

Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio: Parte VI – Ciências Humanas

e suas Tecnologias. Brasília, MEC/SEMTEC, 1999.

SILVEIRA, R.; GOTO, R. (Orgs.). Filosofia no ensino médio: temas, problemas e

propostas. São Paulo: Loyola, 2007.

ANEXOS

Os anexos referentes ao estágio no Estadual da Prata encontram-se na pasta anexos.

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