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Sobral - CE | 24 a 26 de novembro de 2015

Relatório do Encontro Cearense de Convivência com o Semiárido e Agroecologia

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O documento em questão traz a síntese das discussões realizadas durante os três dias do Encontro Cearense de Convivência com o Semiárido e Agroecologia, que aconteceu em Sobral/CE, entre os dias 24 e 26 de novembro de 2015.

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FICHA TÉCNICA OFICINASRealização:Rede Cáritas Ceará

Assessoria de Comunicação: Raquel Dantas, Daniel Lamir, Monaiane Sã e Lívia Teixeira.

Assessoria técnica do Encontro:Francisca Maria Rodrigues Sena

Relatoria e sistematizaçãoFrancisca Maria Rodrigues Sena

Relatoria gráfica:Ricardo Wagner (Organização Barreira Amigos Solidários)

Revisão:Francisca Malvinier Macedo

Fotografias:Monaiane Sá (Secretariado Regional)

Carta política: Francisca Sena (Assessora Externa)

Projeto Visual

Mandalla ComunicaçãoProjeto Gráfico e Diagramação:Sâmila Braga

DisPoníVel em:www.aguanossadecadadia.org.br

Os Impactos Nocivos do Uso de Agrotóxicos e Lavouras Transgênicas Facilitadora: Ana Cristina (Esplar)

Educação Contextualizada no Semiárido enquanto Política Pública Facilitador: Paulo Geovan (RESAB)

Construções de Saberes - Pesquisa Engajada como Estratégia de Construção do Conhecimento Agroecológico Facilitadoras: Emanuelle Rocha (Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para Sustentabilidade - TRAMAS) e Camila Aguiar

Soberania e Segurança Alimentar e o Mercado Solidário Facilitadoras: Glória Carvalho (Cáritas Regional) e Malvinier Macedo (Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA)

Reforma Agrária - as Injustiças e os Conflitos Socioambientais Facilitadora: Maria das Dores (Cáritas Diocesana de Sobral)

Fortalecimento da RIS Facilitador: Erivan Camelo Silva (Cáritas Diocesana de Sobral)

Acesso e Gestão de Águas no Semiárido Facilitador: Marcos Jacinto (Instituto Elo Amigo)O Movimento Ceará Agroecológico: A Construção da Política e do Plano Estadual de Agroecologia Facilitador: Nicolas Fabre (Movimento Ceará Agroecológico e Associação dos Municípios do Estado do Ceará – APRECE)

Comunicando um Semiárido Agroecológico Facilitador: Daniel Lamir e Raquel Dantas (AP1MC/Cáritas Regional Ceará)

A Política Nacional de ATER: O que tem de Inovação e Desafios para o Fortalecimento da Transição Agroecológica? Facilitador: Luiz Eduardo (CETRA)

Diálogos e Conexões entre o Rural e o Urbano sobre a Produção, a Comercialização e o Consumo de Alimentos Facilitador: Tiago Bezerra (Ethnos socioambiental)

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Abertura do encontro

Estratégias coletivas locais de participação e organização

política de agricultoras/es para o desenvolvimento

sustentável no Semiárido

A implementação da Política Nacional da Agroecologia e a Produção Orgânica no

Ceará: Limites e Possibilidades na Construção da Agrobiodiversidade

Construção de propostas de fortalecimento para agricultura

familiar agroecológica a partir do uso das sementes

crioulas – Mini-plenárias

Lançamento da exposição fotográfica e exibição do Vídeo:

Sementes da vida, soberania e segurança alimentar.

Compartilhamento de Experiência da Escola Família

Agrícola – EFA Ibiapaba

ÍNDICEConstruir estratégias coletivas e específicas de fortalecimento do

protagonismo de cada segmento na agricultura familiar agroecológica –

Mini-plenárias

Diálogos e Convergências: O que podemos influenciar nas Políticas

Públicas de Agroecologia e Convivência com o Semiárido?

Feira de Intercâmbio de Sementes e Feira da

Socioeconomia Solidária e Cultural

O presente construindo

o futuro

Imagens dos Espaços Informativos e

Interativos

Avaliação do Encontro

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Data: 24 a 26 de novembro de 2015

Local: Centro de Treinamento de Sobral - CETRESO

Participantes: 180 (96 mulheres e 84 homens), de 42 municípios, de 8 microrregiões do Ceará.

Encontro Cearense de Convivência

com o Semiárido e

Agroecologia

24/11Terça-feira

Refletir sobre as conquistas e desafios das políticas públicas para agricultura familiar a partir da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica;Construir estratégias de fortalecimento de segmentos específicos na agricultura familiar agroecológica;Dialogar com o poder público, apresentando propostas e buscando incidir para que as políticas públicas ampliem e fortaleçam a agrobiodiversidade;Intercambiar experiências de redes que ampliem e diversifiquem a produção a partir do uso das sementes crioulas.

Abertura do encontro e místicaFoi com entusiasmo e melodia que Eri-van Silva e Socorro Gadelha iniciaram o encontro, dando boas-vindas às/aos par-ticipantes que vieram de várias regiões do Ceará. Na mística inicial, mulheres e homens que convivem com o semiárido foram entrando no ambiente do encon-tro expressando suas vidas e caminhadas, através de poemas e símbolos: terra, água, cisterna de placas, enxada, panela, cesto com hortaliças, sementes, plantas, ali-mento e a luz (fogo).

Apresentação de participantesEm seguida houve a apresentação das/dos participantes por região. Cada uma das re-giões foi se apresentando (Cariri, Centro--Sul, Vale do Jaguaribe, Inhamuns, Forta-leza, Vale do Curu e Aracatiaçu, Ibiapaba, e Sobral. E gente do Piauí e Pernambuco) após a chamada da música (ao lado).

Objetivos:

“Eu vim, eu vim, eu vim me encontrar! (bis)

Com a/o (nome da região), aqui é o meu lugar.Com a/o (nome da

região), eu vim me encontrar”.

música

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Mesa de aberturaEm seguida, houve a composição da mesa de abertura, que foi coordenada por Ales-sandro Nunes, do Secretariado Regional da Cáritas. Alessandro convidou para o espaço de convivência as seguintes repre-sentações: José Canafístula (Pe. Berg), da Diocese de Sobral; Leomésia Brás, da Fe-deração dos Trabalhadores e Trabalhado-ras na Agricultura no Estado do Ceará – FETRAECE; Malvinier Macedo, do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido – FCV-SA/Consea CE; José Erisvaldo Goiano, re-presentando a Fundação Banco do Brasil – FBB; Tunilda dos Santos – Rede de Inter-câmbio de Sementes - RIS. Cada represen-tante fez uma breve fala:

Pe. Berg Deu boas-vindas. Falou que a fé, a caridade e a esperança caracterizam o povo sertanejo. O povo planta e aguarda a chuva. Espera em Deus. É um homem, em si, bondoso e caridoso. Disse que todos se sentissem bem-vindos e que aproveitassem o máximo possível do encontro.

leomésiaDesejou boas-vindas às/aos participantes. Falou da alegria de participar desse mo-mento que fala da vida de agricultoras/es. Que é importante refletir no contexto de crise política e econômica, como poderia ser ampliado o recurso para o semiárido. Considerou que o encontro tem tudo para ter uma boa construção.

malVinierFalou que um grupo de entidades come-çou a se reunir em maio de 1998, para refletir sobre como ajudar às famílias afe-tadas pelos efeitos da seca. Na época, as organizações não tinham ideia dos desdo-bramentos daquela articulação que veio a oficializar em fevereiro de 1999, o FCVSA. Disse que este encontro faz parte dessa história e que as/os participantes se sen-

Estratégias coletivas locais de participação e organização política de agricultoras/es para o desenvolvimento sustentável no SemiáridoNeste momento, coordenado por Lour-des Camilo, do Secretariado Regional da Cáritas, houve a apresentação de quatro experiências significativas de Desenvolvi-mento Sustentável no Semiárido:

1ª Experiência: Rede de Intercâmbio de Sementes l Erivan Silva (RIS)

Onde a História Nasce!Erivan informou que no Ceará, as primei-ras Casas de Sementes surgiram na década de 1970, por iniciativa da Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base e da Comissão Pastoral da Terra - CPT, no Sertão dos Inhamuns. Devido aos gran-des períodos de estiagens e a perda das Sementes, as comunidades começaram a pensar uma forma coletiva de guardá-las. O registro da primeira Casa de Sementes no Ceará, foi no município de Tauá.

Organização e ResistênciaAs casas de sementes nasceram no perío-do do regime militar e serviram também como disfarce para que nas reuniões fosse conversado assuntos de interesse da orga-nização política dos/as agricultores/as.

Em 1991, foi fundada a Rede de Intercâm-bio de Sementes do Ceará – RIS-CE que atualmente é composta por 130 casas de sementes, distribuídas em 15 municípios do estado, tendo aproximadamente três mil agricultoras/es associadas/os.

RIS - Microrregião NorteO primeiro registro de Casa de Semen-tes na Microrregião Norte é de 1983, na comunidade Bulandeira, situada no mu-

tissem acolhidas/os. Que o encontro foi preparado com cuidado e carinho. Espe-ra que as pessoas aproveitem o momento para trocar experiências, para aprender e ensinar.

josé goianoFalou que é gerente do Banco do Brasil de Sobral e que estava representando a FBB. Divulgou alguns números da FBB no Ce-ará: entre 2006 e 2015 foram investidos R$ 86,9 milhões, em 113 municípios, atendendo a 236.356 pessoas. As princi-pais ações da FBB ocorrem no campo da educação, geração de trabalho e renda e replicação de tecnologias sociais. Existe o programa AABB Comunidade, que apoiou 298 projetos em 35 municípios, com o investimento de R$ 12,9 milhões, para o atendimento de 45.391 crianças. Através da linha de ação Desenvolvimento Regio-nal Sustentável, foram investidos R$ 2,7 milhões, apoiando 14 municípios do es-tado e beneficiando 5.149 pessoas. Tam-bém tem o Voluntariado BB, que investiu R$ 770,7 mil para apoiar 14 projetos em 5 municípios, atendendo3.058 pessoas. Ele ficou de enviar dados mais completo da sua fala (Anexo I).

tunilDaFalou da felicidade de estarem ali e que vieram para aprender e ensinar. Também disse que é uma satisfação grande perce-ber a presença da juventude. Percebe que de uns tempos para cá a juventude vem dando seus avanços, atrás dos seus obje-tivos e direitos. Já vem entrando na luta e já está enxergando mais além. Por fim, desejou boas-vindas a todas/os.

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cheirinha, Santana do Acaraú e Forquilha.As reuniões da coordenação da Rede ocor-rem bimestralmente e é feita de forma am-pliada, envolvendo representantes das ca-sas de sementes e entidades. Anualmente ocorrem os encontros de avaliação e pla-nejamento. Anualmente, também aconte-ce no meio do ano a Festa da Colheita nas comunidades, no município e na região, juntando todas as casas de sementes da microrregião Norte.

Os recursos financeiros para a realização das atividades são assegurados pela contri-buição das comunidades e entidades par-ceiras. No momento está em construção um projeto de SUS.

E onde estamos?!

nicípio de Santana do Acaraú, a partir da organização comunitária mobilizada pelo Movimento de Educação de Base– MEB.

Desde os anos 1990, que as entidades fa-zem atividades conjuntamente enquan-to RIS na Microrregião Norte do Ceará. As Casas de Sementes nesta microrregião nasceram com o intuito de preservar as se-mentes e organizar os/as trabalhadores/as;

Objetivos da RISResgate das Sementes Crioulas (nosso patrimônio genético);

Organização de grupos/comunidades em torno das casas de sementes;Fortalecimento da agricultura campo-nesa a partir dos princípios agroecoló-gicos;Garantia da segurança alimentar em quantidade e qualidade;Preservação do patrimônio genético das comunidades;Valorização da cultura camponesa (festas, comidas, folclore...);Autonomia política dos/as agricul-tores/as em relação às Sementes da Vida e combate às sementes híbridas e transgênicas.

A RIS é formada por 54 casas de semen-tes, que são apoiadas por várias organiza-ções: Cáritas Diocesana de Sobral, Cáritas Regional, FETRAECE, Instituto Carnaúba, Centro de Capacitação e Assessoria Técni-ca - CAPACIT, Esplar - Centro de Pesquisa e Assessoria e os Sindicatos de Trabalha-doras e Trabalhadores Rurais - STTRs de Massapê, Sobral, Marco, Morrinhos, Fre-

Estrutura Política e Organizativa da RIS

MUNICÍPIO no De comuniDaDes

no De sócias/os

Hom mul

Massapê 14 270 324

Frecheirinha 04 39 33

Bela Cruz 02 36 17

Sobral 08 190 199

Santana do Acaraú

12 170 147

Forquilha 09 96 85

Morrinhos 03 22 3

Pacujá 01 10 12

Marco 01 12 10

Santa Quitéria 01 6 10

TOTAIS10 54 851 890Total geral de sócias/os

(25% jovens) 1.741

Resultados / aprendizadosOrganização comunitária nas loca-lidades que tem a Casa de Sementes da Vida (vai gerando outras organiza-ções);Garantia da continuidade das Semen-

tes da Vida nas comunidades – muitas variedades;Sustentabilidade e autonomia para os agricultores/as em relação às Semen-tes da Vida; Soberania e segurança alimentar a partir das Sementes da Vida e dos ma-nejos agroecológicos - “sem sementes não tem jeito, a gente não pode fazer nada”(depoimento da dona Sena);Programas ou projetos para traba-lhar diretamente com as Casas de Sementes;Diminuição do desmatamento, quei-madas e um número pequeno de quem ainda usa herbicidas;Implantação de roçados comunitários (atualmente são 11) levando em conta a transição agroecológica;Surgimento de novas Casas de Se-mentes – de 2011 para 2015, elas du-plicaram;Aumento da participação das mu-lheres nas reuniões e atividades dos grupos;Bom relacionamento com as institui-ções e entidades parceiras;Intercâmbios de Sementes da Vida en-tre os agricultores/as;Realização da festa da colheita nas co-munidades que resgata a cultura local (comidas típicas, danças, festa popu-lar, celebração, partilha, mutirão…);Outras atividades coletivas que nas-cem a partir da organização das Casas de Sementes;Formação de parcerias que reforçou o fortalecimento da RIS;Maior sensibilidade das famílias para se trabalhar a sustentabilidade de for-ma geral, pois as sementes geram vá-rias discussões que tem como princí-pio, o cuidado.

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ASPECTOS IMPACTOS

Culturais

Realização de atividades em forma de mutirão (coleta de sementes, ro-çado coletivo, reuniões dos grupos, gestão da casa, entre outros) vai ge-rando a cultura da solidariedade;

Preservação das Sementes da Vida em forma de mutirão tem gerado mais responsabilidade por parte de todas/os;

Melhoria da alimentação (soberania/Segurança) de forma diversificada;

Realização de festas para celebrar a colheita.

Econômicos

Não gastar dinheiro com a compra de sementes ou venenos para o roçado;

Produção de inseticidas naturais feitos com produtos locais;

Garantia de a segurança alimentar e nutricional a partir do que é produzido.

Ambientais

Menos desmatamento;

Menos queimadas;

Grande diminuição do uso de venenos pelos agricultores/as;

Adoção de manejos agroecológicos;

Preservação de espécies nativas, das sementes da Vida, cuidados com as fontes de água.

Político- sociais

Organização e mobilização da comunidade para prática de manejos ade-quados na agricultura e vivência da cultura camponesa;

Autonomia política para não receber as sementes impostas pelo governo e empresas que comercializam sementes;

Fomento de outras atividades organizativas que tem como princípio as sementes.

Desafios / dificuldadesMaior mobilização para propormos políticas públicas em vista da preser-vação e reconhecimento das nossas SEMENTES DA VIDA;Combater de forma mais concreta as políticas que favorecem o agronegó-cio (transgênicos, híbridos, agrotóxi-cos e outras);Produzir mais SEMENTES DA VIDA em vista da comercialização com o gover-no para o Programa Hora de Plantar;Famílias que ainda não tem terra para plantar e produzir de forma sus-tentável;Melhor articulação em nível de estado... RIS estadual /Fórum do Semiárido.

2ª Experiência - Ciclovida – Ivânia e Inácio

IvâniaA experiência da agricultura familiar de Ivânia e seu companheiro Inácio, no mu-nicípio de Pentecoste – Ceará, foi fruto de sonhos alimentados por vários grupos que eles participaram ao longo da vida. Tinham o sonho de produzir não ape-nas para a sobrevivência, mas também para gerar autonomia de forma ampla na vida: no jeito cultural, na alimentação, nos saberes e poder compartilhar com os filhos. Quando começaram a experiência tinham como grande meta comer apenas os alimentos produzidos ali. Como são vegetarianos, gostavam e costumavam plantar muita horta.

Em 1999, começaram a refletir sobre essa produção e se ela estava plantando também a autonomia alimentar e po-lítica das/dos agricultoras/es. No final daquele ano, começaram a se dar conta de que não estavam plantando as semen-tes de autonomia, as sementes crioulas, pois usavam as sementes dos pacotes que compravam no mercado.

Na época, Ivânia e Inácio não tinham noção de como as sementes crioulas esta-vam desaparecendo. Então, começaram a procurá-las nos vizinhos e nas comuni-dades próximas, quando se deram conta disso. Quando chegavam às casas e per-guntavam pelas sementes, as pessoas di-ziam que não tinham ou então, diziam que tinha, mas quando iam buscar, eram as sementes do mercado. O casal expli-cava que queria as sementes antigas, que eram plantadas por nossos pais. As pesso-as diziam que aquela semente, do merca-do, era mais fácil, rápida e barata.

Ao perceberem o que estava acontecen-do, pensaram no que podiam fazer de acordo com as condições da família. O único recurso que tinham eram as bici-cletas, utilizadas no transporte diário. Então, começaram a percorrer as comu-

nidades, que tinham distância de 20 a 30 km de onde moravam. Depois, saíram pelos sertões do Ceará com os dois filhos pequenos, que tinham 8 e 9 anos. Expli-cavam para os filhos que eles iriam fal-tar à escola por uma semana, mas que o motivo era importante, pois se não recu-perassem as sementes crioulas, no futuro eles iam ficar sem alimentação. O filho Sandino percorreu boa parte do trajeto no Ceará. Na hora que precisou retornar para casa, não queria parar, pois estava preocupado com as sementes.

A partir dessa vivência eles se deram con-ta de que as agricultoras tinham perdido boa parte das sementes de hortaliças e ou-tras. Ivânia considera que a forma como as sementes foram tiradas foi cruel, com a estória de que a semente do mercado era melhor, mais rápida, mais bonita. Com isso, as famílias foram perdendo as se-mentes, mas não tinham consciência dis-so. Nas conversas do casal com as pessoas, elas iam se dando conta de que tinham determinadas sementes no passado, mas começaram a usar a semente do governo e foram deixando de guardar aquelas.

Ivânia e Inácio começaram a ficar pre-

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ocupados com esta realidade e com os silêncios, as perdas das sementes e suas causas... Daí, decidiram percorrer de bi-cicleta os sertões do Rio Grande do Norte. Foram ficando mais preocupados. Decidi-ram, então, sair pelo país afora. As pessoas diziam que eles estavam ficando neuróti-cos. E eles se perguntavam se estavam fi-cando loucos mesmo. Com a viagem eles poderiam ficar convencidos ou não dessa loucura. Saíram percorrendo o sertão. Só tinham 2 bicicletas. O Inácio tinha uma cargueira antiga e Ivânia, uma Mornark, que depois trocou por uma Ceci. As crian-ças queriam ir, mas não foi possível. Atra-vessaram a Paraíba, Pernambuco, Bahia, Brasília, Goiás... Ao andarem pelas comu-nidades, compartilhando a vivência, as suas visões foram mudando, as preocu-pações foram aumentando, mas também, se alegrando com as boas iniciativas. Via-jaram na perspectiva também de se ani-mar e ver as resistências, pois toda ação tem uma reação. Pensavam que se as se-mentes foram tiraram, deve haver reação e resistência de grupos ecológicos. Foram ficando animados e passaram a identificar

as resistências, apesar das dificuldades, da grande escassez de sementes e dos confli-tos de terra.

Atravessaram o Brasil, o Paraguai, a Ar-gentina e o Uruguai. Encontraram muitas resistências, muitos movimentos agroeco-lógicos, muitos movimentos e grupos de casas de sementes crioulas, muitos saberes das sementes sendo resgatados e as novas gerações, trabalhando numa outra pers-pectiva de agricultura, retomando a agri-cultura mais antiga e mais harmônica. No retorno, vieram com as sementes que tro-caram no caminho e foram passando de volta nas comunidades, principalmente deixando as sementes que haviam se per-dido naquela região. Quando chegaram, fizeram uma agrofloresta com as sementes que trouxeram.

Para finalizar, Ivânia agradeceu estar neste espaço do encontro e falou da alegria de poder compartilhar a experiência. Agrade-ceu às pessoas que contribuíram com a ex-periência, que deu força nessa caminhada e que não estão ali.

InácioAgradeceu o convite para participar do encontro e o reencontro com muita gen-te maravilhosa, para partilhar a alegria e a loucura da sua experiência. Disse que no início estavam preocupados, achando que era uma paranoia deles e se fossem convencidos de que as coisas não esta-vam tão graves, iam voltar mais tranqui-los. Ele relatou que quando chegaram ao Paraná um homem perguntou de onde eles estavam vindo e quando responde-ram que era do Ceará, ele perguntou se eles tinham sido mordidos por cachor-ros doidos. E para voltarem teriam que ser mordidos de novo. Inácio disse que foram mordidos por um cachorro doido, chamado agronegócio.

Ele falou que tem um filme do youtube que narra esta história, a viagem e os seus objetivos. O Ciclovida se organizou e, por onde passou, conseguiu sensibilizar mui-ta gente por aí. A experiência hoje é uma mobilização internacional. Já houve 3 en-contros do Ciclovida em Pentecoste, em que veio gente de várias partes do mundo. Muitas pessoas pedalando passam de bici-cleta na casa do casal, que dificilmente fica só. Geralmente tem 10, 15, 20 pessoas na sua casa partilhando uma riqueza cultural muito grande. Pessoas da América, de par-te da Europa e da América do Norte tem passado por lá e, também, tem convidado e levado o casal para alguns lugares, como por exemplo, os Estados Unidos, para ver a resistência dos grupos de lá. Nessas an-danças, perceberam que há uma preocu-pação e uma resistência que são reais. Fi-zeram um filme lá, também. No âmbito maior, o casal constatou o engajamento da juventude e não só as pessoas mais ve-lhas, com maior vivência. Inácio disse que percebeu haver uma nova prática e uma nova cultura de resistência.

Inácio fez uma provocação à plená-ria: quem nasceu primeiro, as sementes crioulas ou as sementes modificadas/transgênicas? E logo em seguida respon-

deu: nasceram todas iguais, na mesma época. Antes não existiam as sementes crioulas, mas só as sementes. Aquelas foram chamadas crioulas como alcunha da resistência para combater as sementes que surgiram. Essa resistência surge a par-tir da década de 1970, quando começam o avanço do melhoramento das semen-tes e o desprezo pelas sementes da vida. Isso não está fora da questão política de dominação, das questões econômicas dos países pós-segunda guerra. A questão dos transgênicos, por exemplo, surge no con-texto do capitalismo querendo se apro-priar, transformar tudo em mercadoria. E por quê? Para dominar o mundo, a terra e as sementes. Para dominar as sementes, se elas estão livres no ambiente, com os agricultores cultivando-as, não é fácil. O capital decide fazer uma armadilha, que é uma coisa sutil. Há um grande proje-to sutil, calado e oculto que as pessoas não tomam conhecimento, que se cha-ma zoneamento com patenteamento, que é a paulada final. Um dos objetivos é minar o campo das sementes, acaban-do com elas e depois o agronegócio entra instalando-se com o patenteamento, que não é tão fácil. Esse patenteamento pas-sou muito tempo no Congresso Nacional tentando passar. Então, eles procuraram de alguma forma fazer esse patenteamen-to usando ou aplicando conhecimentos, pesquisas, estudo intelectual. Em seguida eles patenteiam estes estudos, tornando as sementes em transgênica e passando a dominar. Os transgênicos vem, sobre-tudo, como resultado da Monsanto para mudar o trato cultural, para aplicação do herbicida. Aí uma resposta das pesquisas e estudos da ciência da tecnologia para que o agronegócio se expanda com mais força, é transformar as sementes com aquela cultura adaptada ao veneno que vai implicar numa prática cultural que não é agroecológica. Portanto, o uso das sementes crioulas representa uma resis-tência que se contrapõe a da Monsanto.

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3ª Experiência - Rede de Agricultoras/es agroecológicos/as do Vales do Curu e Aracatiaçu

que os/as agricultores/as da região se encontrassem e se organizassem, pois era difícil. Às vezes eles se encontra-vam numa reunião ou outra. Mas com o acompanhamento, foi surgindo uma necessidade das/os produtoras/es se en-contrarem mais vezes para conversar e compartilhar reflexões sobre seus as-suntos e a afinidades.

Em 2006/2007 as/os agricultoras/es começaram a realizar os primeiros en-contros para falar de agroecologia. Já estavam se apropriando do assunto e gostando da ideia. Então, formaram a Rede de Agricultores. E foram tentar qualificar agricultores a fazer parte des-sa conversa. Hoje a Rede de Agriculto-res é referência no território. Aderbaldo disse que quando leu no encontro que a agroecologia muda a vida no semiá-rido, sabe que muda sim, pois conhe-ce isso na prática. Os agricultores que começaram esta articulação em 2006, 2007, 2008, puseram a mão na massa e resolveram fazer agroecologia, muda-ram de posição, ampliaram seus conhe-

Aderbaldo MouraAderbaldo falou que não é possível falar de agricultoras/es agroecológicas/as sem falar em agroecologia. E não se fala em agroecologia sem falar de sementes de qualidade.

Antes a palavra agroecologia para ele era como se fosse uma palavra em fran-cês, em inglês, não sabia o que era isso. Há 11 anos ele ouviu falar de agroecolo-gia pela 1ª vez, quando sua comunida-de passou a ser acompanhada por uma organização que atua na região que é o Centro de Estudos do Trabalho e de As-sessoria ao Trabalhador – CETRA. Falou que antes trabalhava de forma conven-cional, cortando e queimando a mata e que, com isso, ficou devendo muito à natureza. Foi isso que o cativou de-pois a voltar à natureza e fazer alguma coisa por ela. O CETRA contribuiu para

cimentos e, como muitos, mudaram o seu patamar financeiro.

Para ele, a Rede continua atraindo ou-tras pessoas, mas no início não foi fácil. As pessoas resistiam por não acreditar que era possível plantar sem queimar, sem usar veneno, sem matar os animais predadores. As pessoas diziam que não daria certo, que eles iriam passar fome e que a roça não ia mais produzir. Até que os agricultores aprendessem a controlar o ambiente para produzir sem veneno e sem queimar, levou um tempo.

Apesar das resistências, conseguiram provar que era possível. Passaram a fazer feiras só com produtos agroecológicos. Hoje, a Rede realiza algumas feiras no território. Ele falou da feira que aconte-cerá em Itapipoca no dia seguinte.

A Rede já festejou 10 anos e conta atu-almente com 300 pessoas. Continuam com a alegria ampliada por produzirem, mesmo atravessando os períodos de es-tiagem, esse fenômeno que ocorre no semiárido, onde muita gente deixa de

colher. Há uma diferença na vida dos agricultores que formaram a Rede, que antes só colhiam uma vez por ano, logo após o inverno, mas hoje com a agroe-cologia, colhem 12 meses por ano, to-dos os dias do mês.

Por fim, ele disse que resgatar a semente crioula foi promover a vida no território. Fazer agroecologia representa uma nova vida no território. Atualmente, os pro-dutores fazem a agroecologia e alguns estão em transição agroecológica. Ele fi-nalizou dizendo que a agroecologia é a saída. A agroecologia é a nova vida no semiárido cearense e em todo mundo.

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Liliane Carvalho

Liliane começou falando do sentimento ao chegar neste encontro. Ficou impres-sionada com a quantidade de pessoas que estão ali reunidas e das/os amigas/os que reencontrou. Ficou muito co-movida com a capacidade humana e de como as mãos, os corações e as mentes são capazes de transformar um ambien-te feito de concreto e que aparentemen-te não desperta nenhum sentimento, em algo tão extraordinário, tão fasci-nante, num cenário belíssimo.

Falou da sua felicidade em divulgar uma experiência que é absolutamente simples, pequena e extraordinária, pe-los seguintes motivos: 1. porque apesar de pequena ela consegue transformar a vida das pessoas que estão envolvidas na iniciativa; 2. porque ao fazer isso, elas estão conseguindo transformar a vida de outras pessoas que se achegam

4ª Experiência – Feira Feminista – Movimento Ibiapabano de Mulheres (MIM)

a elas; 3. porque é um processo multi-plicador, de transformação.

Enfatizou que essa experiência é reali-zada pelas mulheres agricultoras fami-liares que moram em Viçosa do Ceará e que há 8 anos estão se organizando de forma constante e dinâmica, para a produção agroecológica, entendendo não a agroecologia aqui como algo aca-bado, mas como algo em transição. Es-sas mulheres estão sempre aprendendo e reaprendendo a fazer agroecologia e estão comercializando os produtos na feirinha, desde 2007, quando o MIM, o STTR de Viçosa do Ceará e a Funda-ção Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente – CEPEMA se reuniram e viram que era possível fazer essa experiência de feira de trocas de serviços, produtos e saberes.

Um pouco da nossa história...Em 2008, as mulheres de Viçosa do Ceará começaram a “botar banca” na feira, uma vez por mês, aos sábados, em frente à sede do Sindicato, com o apoio da Budega do Povo. No início eram poucos produtos, mas como elas são muito atrevidas, mesmo não sendo nada visualmente grandioso, exuberan-te, toparam o desafio.

A partir de 2011, as feiras começaram a ser realizadas semanalmente, a partir da provocação de uma mulher consu-midora: Por que vocês não fazem todo sábado? Ela reclamou que nunca sabia ao certo o dia e que às vezes chegava lá e a feira não estava acontecendo. Ao re-fletirem, veio a pergunta: E temos pro-dução? Refletiram e decidiram que se tinha o desejo e a demanda, iam fazer com que a produção chegasse e atendes-se a essa demanda. De lá para cá, mui-ta coisa mudou. Hoje, há uma maior quantidade de produtos e aumentou o movimento na feira.

Em 2011, realizaram um projeto apoia-do pela Coordenadoria Ecumênica de Serviços – CESE que fortaleceu a experi-ência da feira, além de promover a for-mação, a cultura local, a comunicação e a realização de intercâmbios. Passaram a trazer um grupo de forró pé de serra para animar a feirinha, para fortalecer a cultura musical mais tradicional. No começo, as mulheres batiam lata para atrair as pessoas que pessoas que acaba-vam descobrindo que além do barulho, tinha também produtos para vender.

O mesmo projeto contribuiu para que fizessem um exercício superinteressante de gestão da comercialização. De acor-do com a aplicação dos recursos do pro-jeto, as mulheres acompanharam pas-so a passo o que era gasto em todas as

atividades, fazendo a gestão de forma coletiva. Foi um processo interessantís-simo que possibilitou aprendizados.

Os intercâmbios fortaleceram demais o conhecimento de outras experiências que eram realizadas em Viçosa do Ceará, como a experiência do Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2 onde as mu-lheres conheceram a cisterna calçadão, os canteiros econômicos e a produção do quintal produtivo, que as deixou ani-madas. Os intercâmbios foram funda-mentais para fortalecer as iniciativas.

Quanto à comunicação, buscaram di-vulgar melhor a feira. As mulheres gra-varam um spot para divulgar a feirinha em todos os bairros da cidade, través de uma moto com som. Houve, ainda, uma experiência interessante em rela-ção à fala pública das mulheres na feira.

No projeto também foram realizados dois seminários, um de lançamento e outro de encerramento do projeto, que contou com a troca de mudas, simboli-zando que aquela semente ia germinar, crescer e se multiplicar.

Na experiência, uma questão fundamen-tal se colocou para as mulheres: para fa-zer a feira é preciso primeiro organizar a produção para depois se fazer a comercia-lização? Elas descobriram que não, desfa-zendo essa ordem. Embora não tivessem toda a produção garantida, se aventura-ram a comercializar, o que também in-fluenciou o aumento da produção.

Na experiência, a produção respeita as culturas sazonais, fazendo crescer a va-riedade de produtos na feira. Hoje tem: hortaliças, legumes, verduras, frutas, plantas medicinais, comidas típicas e o bazar do MIM (para ajudar na sua atu-ação política e incentivar o reuso das roupas usadas, o consumo consciente e o combate à lógica capitalista).

Para garantir a autonomia e a susten-

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tabilidade, as mulheres investem em criatividade e sempre contam com par-cerias: Budega do Povo; Escola de For-mação Política e Cidadania Paulo Freire – ESPAF; realização das feiras regionais que a Rede Bodega promove; as visitas de intercâmbios das famílias do P1+2. Isso incentiva as famílias de outros mu-nicípios a realizarem atividades seme-lhantes como em Ibiapina e Ubajara. Então, elas estão conseguindo dissemi-nar essas sementes.

Nossos princípios Autonomia das mulheres;fortalecimento do feminismo;trocas solidárias;comércio justo;agroecologia;venda direta ao consumidor, evitando a presença do atravessador;consumo consciente;prática da Soberania;segurança alimentar.

Nossa comunicaçãoAs mulheres tem um grande cuidado em se comunicar com o público através de artigos publicados em alguns canais: Revista da Articulação de Mulheres Brasileiras - AMB, Revista da Fundação CEPEMA, Caderno de Sistematização do FMCSA, Boletim Candeeiro da Articulação do Semiárido/Cáritas, Banner da Articulação Semiárido Brasileiro - ASA/Escola de Formação Política e Cidadania Paulo Freire – ESPAF, Panfletos, Spots, Mimosa (carrinho de picolé adaptado que tem entrada para microfone, pen drive, CD...), Grupo musical, Teatro, Informação, música e cultura.

DesafiosProdução de sementes crioulas;

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sustentabilidade financeira;atrair mais mulheres produtoras para a feira em Viçosa do Ceará e na Ibiapaba;continuar divulgando a cultura popu-lar na música, no cordel, poesia, con-tos, danças, teatro;manter vivo o processo de formação permanente sobre o feminismo, a agro-ecologia e a economia solidária;investir mais nos intercâmbios;melhorar a embalagem dos produtos;fazer o escalonamento e monitora-mento da produção;certificação social;promover e organizar a produção urba-na em quintais e terrenos “baldios”;conhecer e aplicar a precificação dos produtos;atrair as famílias do P1+2 para a partici-pação na Feira.

Pontos Críticos:Precariedade no acompanhamento e assessoria técnica aos sistemas pro-dutivos;ausência de uma política pública de in-centivo e valorização dessa iniciativa;fragilidade na infraestrutura da feira;depoimentos que revelam o quanto a feira tem contribuído com a autono-mia das mulheres;o reconhecimento social da feira e o fortalecimento institucional do STTR e do MIM.

Avanços:Autonomia das Mulheres;prática da fala pública;valorização dos produtos orgânicos e hábito de consumo;sair das mãos dos atravessadores e ven-der diretamente aos consumidores;mudança de mentalidade e de compor-

tamento da população/consumidores;aumento da produção, comercializa-ção, clientela e divulgação da feira;exercício da comercialização e gestão financeira dos seus rendimentos;

entrada das mulheres da feira na Coo-perativa Budega do Povo;inserção de pessoas dos grupos do Pro-jeto Agroecologia em Rede dos STTR de Tianguá e Viçosa do Ceará.

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Debate

joão Batista – sttr De soBralFalou que os dados apresentados por Eri-van sobre a RIS da região de Sobral são de 2014. Em 2015, esses números já aumen-taram. Disse que no contexto de seca de dois, três ou quatro anos, que tanto ame-dronta os agricultores, as casas de sementes tem feito a diferença, pois são experiências muito valiosas. Não é a toa que os agricul-tores tem levado esse trabalho à frente. De início, havia maiores desafios, mas agora a experiência vem se consolidando.

ana cristina – esPlarFalou do trabalho desenvolvido pelo ES-PLAR na organização de mulheres para a produção agroecológica de alimentos, na região de Canindé, onde eram acompa-nhados doze grupos produtivos. No início do trabalho o grande desafio era que elas conseguissem identificar e mapear o que tinham nos seus quintais. Então, foram feitos diagnósticos nos quintais que além de indicarem as variedades que tinham, possibilitava identificar as que estavam faltando e as que poderiam ser recupera-das e produzidas.

tiDéAchou espetacular a experiência do Ciclo-vida. Já havia assistido ao vídeo, mas disse que é mais interessante ouvir a fala da Ivâ-nia e do Inácio. Pediu para o Inácio falar um pouco mais sobre zoneamento agro-nômico, pois tem interesse em conhecer um pouco mais desse assunto.

leomésiaDisse que duas coisas chamaram a sua atenção: 1. a festa da colheita, que Erivan falou, pois representa fortemente a soli-dariedade e a partilha que ocorre, não só na festa, mas em vários outros momentos, resgatando o que tinha sido perdido; 2. a Ciclovida, que é uma história muito bo-nita. Achou legal a iniciativa da Ivânia e do Inácio quando perceberam que as/os agricultoras/es estavam perdendo as me-lhores sementes. Disse ainda que conhece o grupo responsável pela experiência da feira, apresentada por Liliane, e que tam-bém acha muito bonita. Perguntou como concretamente era garantido o acompa-nhamento técnico da experiência. Para o Aderbaldo, ela disse que há uma dívida grande com a natureza e que é preciso co-meçar a pagá-la.

selisValDo – sttr De soBralConsidera-se um agroecologista em tran-sição. Parabenizou todos os debatedores. Disse que temos uma dívida com a natu-reza. Em seguida, apresentou uma preocu-pação de se trabalhar mais a questão das plantas medicinais e das farmácias vivas. Perguntou: quem não gosta de um chá de capim santo ou erva cidreira? Pediu que Inácio e Ivânia falassem mais sobre a ex-periência. O que os motivou a viajarem por todo país? O que precisaram? Onde se hospedaram? Parabenizou a Liliane pelo trabalho e o Aderbaldo por brigar em favor da natureza.

aurinoFalou que sente muita alegria e acha bonito ver toda aquela gente reunida. Disse que uma pessoa sabida é a que acha feijão na casa e não na Grendene (indústria de calçados), a que enxerga o alimento no seu quintal. Não se pode esperar que venha tudo de fora, pois é bom quando a vaca e a cabra estão no próprio terreiro. Destacou que é preciso lutar pela reforma agrária. Lutar pela ter-ra prometida para aumentar o roçado e cuidar dela. Disse que a Bíblia fala que Deus entregou a terra e todos terão que prestar contas para provar se cuidou di-reito. Os agricultores tem muitos conhe-cimentos e aprendem a cuidar da terra a partir de uma faculdade diferente.

aline – centro De aPoio ao DesenVolVimento social e comunitário – caDescDisse que é fã das outras 3 experiências, mas iria falar da Ciclovida. Acha que ela é mais desafiante e inovadora por eles terem saído em busca de algo que fosse verdadei-ro. Disse que gostaria de saber o que Ivâ-nia e Inácio fizeram depois dessa vivência

e de retornarem para a comunidade. Per-guntou Quais os reconhecimentos sociais e humanos da experiência?

DEBATEDORAS/ES

iVâniaDisse que os desafios da viagem foram muitos, mas uma coisa que ela e Inácio tinham certeza era de que não queriam apoio e patrocínio de nenhuma instituição atrelada à degradação do meio ambiente ou que pudesse frear a liberdade deles. En-tão, saíram com transporte e recurso pró-prio. Mentiram para a família dizendo que estava tudo assegurado, mas era mentira, pois só tinham 30 reais para a viagem. Ga-nharam uma barraca de camping, levaram as panelas de casa e um pouco de comida. Ivânia disse que o Inácio tem um lema que ela não concordava, mas ela agora já está convencida: A estrada faz a estrada. Não se preocupe com a estrada, vamos com o que temos. Disse que realmente a estrada foi muito solidária e que cada problema que surgiu, foi resolvido. Em relação ao retorno para casa, ela disse que não conseguiria re-sumir e passou a palavra para Inácio.

inácioExplicou que o zoneamento agronômi-co é um projeto burguês do agronegócio. Eles já conseguiram muita coisa, como mudar o Código Florestal, barrar as de-sapropriações. Através da chamada re-engenharia do capital ou reengenharia industrial ou terceira revolução, eles que-rem ajustar tudo o que possa ser trans-formado em mercadoria e lucro. Com a agricultura isso não foi fácil porque ela estava solta. Ele disse que pensava que o zoneamento se concluiria no período de dez anos, mas ficou animado porque isso não aconteceu. No zoneamento cada agricultor e os dados da sua produção são mapeados. A partir daí, vai ser determi-

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nado o que cada um pode produzir, que semente utilizar, onde pegar as sementes. Mesmo que a pessoa queira e tenha di-nheiro, não vai conseguir comprar nem as modificadas, porque o comando não poderá ser desregulado para não desequi-librar a economia. É o ajuste chamado just in time, que faz parte da dominação da produção e do consumo. Tudo isso para tentar resolver a crise. Inácio disse que ficaram animados com as iniciativas que conheceram por aí. Também houve a oportunidade deles incentivarem outras experiências. Eles descobriram que existe um bando volante de pessoas levando e trazendo sementes dentro e fora do Bra-sil. Por outro lado, viram a aceleração do agronegócio, o que gerou desânimo. Até pensaram em desistir, quando passaram cinco dias rodando sem parar circulando no meio do agronegócio de um lado e de outro, com produção transgênica. Disse que apesar de ter muita coisa preocupan-te, há algo gigantesco que os animou e anima que é a resistência. Por isso, vie-ram participar deste encontro.

eriVanFalou que sabia que o número das casas de sementes já era maior, mas na impos-sibilidade atualizá-lo diariamente, a cada 3, 6 ou 12 meses isso é feito. No início desse ano tinham 53 casas de sementes e agora são mais de 60. Em relação às varie-dades de sementes armazenadas, há prin-cipalmente as dos alimentos mais tradi-cionais, como o milho, feijão, etc. Aos poucos a RIS tem refletido sobre as diver-sas sementes. Há casas que tem semen-tes para alimentação das pessoas e dos animais, como as leguminosas, mas tam-bém, forrageiras, sábia, aroeira, mororó... Disse que algumas casas estão no estágio inicial, sobretudo as que são mais jovens, mas umas vão passando lições para ou-tras. Os momentos de troca de sementes são boas oportunidades, por exemplo, para este encontro foi solicitado que cada

agricultor trouxesse suas sementes. Ama-nhã, na feira, haverá a oportunidade de trocar sementes e no próximo ano, com certeza, terão mais variedades e mais ca-sas de sementes. Existem muitas batatas e macaxeiras nos roçados que já estão misturadas ou cruzadas. Aquelas que são mais resistentes, infelizmente, estão sen-do exterminadas. Por isso, eles estão aos poucos refletindo sobre isso. Disse que es-tão refletindo também sobre as “semen-tes” de animais. As chamadas galinhas melhoradas, na verdade, são as pioradas. Os animais que resistem no semiárido, ao calor, ao sol e tem mais gosto na hora de fazer a comida, precisam ser preservados porque são os agricultores que vem ao longo dos anos cuidando delas.

liliane Agradeceu pelas perguntas e a oportuni-dade de falar mais duas coisas importan-tes. Como que as mulheres conseguem se manter com seus poucos e simples produtos? Ela disse que tem uma pessoa chamada Valdecir Alves, que é advogado dos servidores públicos municipais, e que em uma das suas defesas, disse: tudo na natureza nasce pequeno. O pé de tamarin-do, que é extraordinário, nasce pequeno; um elefante nasce pequeno. Liliane acha essa afirmação de uma sabedoria incrível. Que é preciso ter a humildade de esperar crescer e com o tempo e a experiência, tornar-se grandiosa. As mulheres compre-enderam isso, que elas não precisavam ter uma enorme produção para começar ou entrar na feirinha. Então, elas colocam o que tem. Como isso acontece? É um se-gundo ponto. Liliane fez referência ao Re-ginaldo Ferreira, da Vila de Poetas, que diz que sustentabilidade é a gente permane-cer na simplicidade durante anos. A sus-tentabilidade é o tempo que a gente gas-ta estando juntos. Não é o dinheiro que garante a sustentabilidade de uma longa viagem, de um bom empreendimento. Ela disse que as mulheres entenderam que o

pouco que produzem no quintal produ-tivo é extremamente importante, porque estão juntas para dizerem isso umas às ou-tras. para dizerem que quando uma dona Ilda pensa em deixar a feirinha, que ela vai trazer um grande problema para todas, que ela não pode sair e que o problema dela será superado. No grupo ela desaba-fa, chora, é acolhida no abraço e recebe o apoio das outras mulheres. Se não fos-se o grupo, ela já teria deixado. Isso faz parte da história da organização das mu-lheres e dá sustentabilidade à experiência. Quanto ao acompanhamento técnico, elas sabem que é importante, mas não é imprescindível, pois conseguem trabalhar com esta ausência. Como isso é feito? É feito através do empoderamento. Quando uma mulher toma para si o que é de to-das, se reconhece como necessária e con-segue ser responsável por si e pelas demais ao mesmo tempo. Esse empoderamento garante que quando estão juntas, aquilo que elas sabem, passam para outra e vão socializando os conhecimentos e as expe-riências. Enquanto essa assistência técnica não vem de fora para dentro, elas fazem entre elas mesmas. Talvez não seja o sufi-ciente, porque o conhecimento é sempre bom e importante, mas tem dado certo.

aDerBalDoAgradeceu a oportunidade de falar de novo. Disse que o essencial do começo de todas as coisas é o amor e que sem ele não se consegue nada em nenhuma área da vida. Amar a natureza é o princípio da agroecologia. O contrato com a natureza é fazer o que se gosta. Sai da dimensão da quantidade, trocando os números, pela quantidade de plantas que se tem e quantas se quer cuidar. Quando a pessoa conhece uma planta, cuida melhor, se sente mais perto, faz a produção agroeco-lógica acontecer e a natureza fluir.

A implementação da Política Nacional da Agroecologia e a Produção Orgânica no Ceará: Limites e Possibilidades na Construção da Agrobiodiversidade – Guillermo Gamarra Rojas – Universidade Federal do Ceará - UFCGuillermo agradeceu o convite e falou do desafio simultâneo de falar com um gru-po tão diverso e um grupo que tem uma longa caminhada e vivência na agroeco-logia. Disse que buscará problematizar alguma questões sobre a agrobiodiversi-dade e as implementações neste caminho atual de construção de uma política esta-dual de agroecologia. Ele não tem o pro-pósito de trazer respostas nem fazer um esboço certinho das coisas. A política de agroecologia é um resultado, uma con-sequência de um conjunto de iniciativas que se fizeram há muitos anos, que ini-ciou há pelo menos 30 anos. Não é uma coisa nova que surge de um dia para o outro. É um processo da construção da política resultado da garra de agricultores e organizações com disposição de traba-lhar, de se colocar de forma competente. É uma realidade nacional e agora tem o desafio de fazê-la no estado. Existe toda uma dinâmica que está se articulando em torno dessa construção da política.

Guillermo disse que não é brasileiro, mas boliviano, da região Amazônica. Passou a primeira infância entre a Amazônia e o Pantanal boliviano, numa época em que não havia estradas e aviões por lá. A vida era muito próxima dos seus ancestrais e da natureza. Ele veio ao Brasil na década de 1980, direto para o Nordeste (Maceió). O que logo chamou sua atenção é que encontrou plantas que havia lá na Ama-Almoço

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zônia, uma região extremamente úmida, aqui também, no litoral e no sertão alago-ano, muito mais seco. Ficava se pergun-tando como era possível em condições ambientais tão diferentes, a mais de 3000 km de distância, poder encontrar abacaxi, mamão e caju, numa diversidade enorme. Na Amazônia, tinha o caju e o abacaxi do mato, silvestres... Essa coisa ficou sempre martelando na sua cabeça. Depois de 5 anos no Nordeste, ele voltou para Ama-zônia para ver e trabalhar o que havia de variedade de alimentos. Disse que come-çou a coletar tudo o que era de abacaxi, mamão e banana que achava nos quintais abandonados e na terra dos agricultores. Sempre pegava uma muda diversa. Foi prazeroso, uma espécie de hobby. Num período de três anos, ele identificou cerca de duzentos tipos diferentes de abacaxi, de variadas cores e tamanhos: grande, pe-queno, azedo, com polpa amarela, com polpa roxa. A mesma coisa também foi observada com o mamão e com a banana. Isso lhe deu uma satisfação pessoal gran-de, porque ele compartilhava isso com um monte de gente. Houve um negócio bacana de troca não só de frutas, mas de muitas outras coisas. Aquela região é mui-to rica em biodiversidade, a chamada di-versidade da vida.

Ele disse que o ponto central dessa pe-quena experiência é que a natureza, a

vida, tem uma capacidade tremenda de se adaptar. Existe caju no litoral, passan-do pelo sertão e chegando à Amazônia. A vida traz a possibilidade a todos os seres vivos. Falou que é importante levar um pouco mais a sério esse assunto. Ele saiu da Amazônia no final de 1988 e retornou quase vinte anos depois. Na mesma re-gião em que ele trabalhava havia muitas mudanças: tinha estrada, aeroporto, edifí-cios, televisão, internet... E já não encon-travam algumas variedades. Por exemplo, se quisesse comer aquele tipo de mamão no campo, aquele de polpa amarela, ex-tremamente aromático, não encontrava. Hoje só existem dois tipos de mamão e mais nada. Não encontra mais aquele monte de abacaxi que tinha nos quintais. Só tem o abacaxi do tipo pérola (que tam-bém tem em Pernambuco). Em menos de vinte e cinco anos, aquela diversidade que a vida criou, sumiu. Ele considera isso um negócio muito sério. Foi necessário muito tempo para que essas plantas existissem, para que elas se adaptassem a essa diversi-dade de condições, mas em menos de vin-te anos, foi destruído. Daí ele perguntou: Quem fez isso? Fomos nós? O consumi-dor? Foi o agricultor? Ou foi um conjunto de gente que criou essa situação?

Guillermo disse que o que ocorreu, cien-tificamente, chama-se de erosão genéti-ca. Se tomar como exemplo o milho, a

batata e tudo o que comumente este co-letivo consome, chega-se a uma situação bastante parecida. Da grande variedade que havia, hoje prevalecem dois ou três tipos. Diariamente morre uma grande quantidade de variedades de espécies que os filhos desta geração jamais conhece-rão. Existe uma parte que não se recupe-ra nunca mais. Hoje, se sabe pela ciência, que morrem de quarenta a cinquenta es-pécies de seres vivos por dia, numa ve-locidade tremenda. Algumas nunca mais vão existir, pois não tem como inventar esta vida de novo. Disse que isso é um ponto relevante.

É criado o argumento de que determi-nado mamão é bom porque é pequeno, pode ser comido de uma vez só e aguenta transporte. Então, as pessoas começam a consumir esse mamão e esquece todos os outros. E isso vai determinando a alimen-tação, que passa a ser reduzida, composta de um, dois ou três produtos. Perguntou, será que é possível falar e identificar o res-ponsável por isso? Ele disse que é o ser hu-mano, mas deve-se ver a possibilidade de indicar um pouco melhor, colocar nome e CPF dos responsáveis. Será que é possível?

Para ele, uma das questões que está em-perrando essa história toda é que o ser humano diz que tudo isso tem solução, que existe a ciência para isso, que ela vai resolver. As pessoas acreditam que os bi-chinhos estão morrendo todo dia sem ter relação com seu modo de vida e sem nenhuma consequência. Então, pode ir destruindo mesmo. Acham que aquilo que interessa pode ser guardado em um só lugar. Esse lugar teoricamente pertence a todos. Onde é que é isso? Onde é que se faz isso? Isso quem faz é o Estado, que vai ficar responsável por essa genética e variedade da vida, da biodiversidade. Isso já acontece em parte. É possível fazer uma coleção de tudo o que está por aí e guar-dar? Quanto custa isso? E se acontecer de alguém soltar uma bomba lá? Ou, sen-do mais pragmático, e se o governo um

dia disser que esse assunto não interessa mais? E que não há mais recurso como se mantinha aquilo ali. Disse que as pessoas apostam tudo numa única saída. Entrega--se tudo na mão de pessoas supostamente bem intencionadas. E a nossa responsabili-dade ficou aonde? Onde é que se encontra a nossa capacidade e a nossa liberdade de escolha do que plantar e do que comer? Porque as pessoas são obrigadas a comprar alimentos no mercado?

Disse que nas feiras da Bolívia é possível encontrar uns vinte ou trinta tipos dife-rentes de batatinhas. Aqui, só se encontra uma ou duas. Lá tem vinte a trinta tipos, e as pessoas sabem para que serve. Uma é boa para fazer purê, outra para fazer batata frita, outra é boa para fazer um prato tal. Vários aspectos são preservados e presen-tes a partir da agricultura: o modo de fazer a comida, o jeito de se sentar e ter uma boa alimentação.

Ele falou que tanto aqui como na Amazô-nia é possível perceber o empobrecimento das variedades. E é porque a reflexão é só sobre os alimentos. E sobre o resto da vida, por exemplo, a vida aqui no semiárido? Isso pensando só nas plantas, sem falar dos bichos. Quantas plantas tem na caa-tinga e que são úteis para nós? Um estudo feito por agricultores familiares na Paraíba, numa pequena região, mostrou que a pes-soas conhecem em torno de 99% das plan-tas da caatinga e sabe para que servem. Mas será que ainda é assim? Quem está lá é o agricultor e ele está sujeito ao processo. Hoje, mais de 70% da biodiversidade do semiárido foi eliminada. E a preocupação não é apenas com o alimento, mas com os animais, com os medicamentos. Guil-lermo retomou a pergunta. De quem é a culpa disso tudo? Disse que no Ceará, in-clusive em Sobral, existem núcleos de de-sertificação. A desertificação não é uma brincadeira, é um tema extremamente sé-rio. Se a agricultura no semiárido é difícil pelas suas condições, principalmente por conta da limitação de água, como ficará

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com o agravamento da situação? Dizem que o semiárido vai ficar mais quente e tem coisa que não tem mais volta. Quem é o responsável por esta história?

Falou que, diante desse contexto, vem a compreensão da política pública. Por que política pública não é para todos? Então, a Política de Agroecologia, dissociada das outras políticas, não vai fazer milagre. Esta política tem que ser pensada a partir das vivências que tem aqui, que demonstram que é possível criar soluções para reverter esse quadro. Guillermo disse que seria um pouco mais dramático e afirmou que se não for entre aqueles que estão ali, não vai acontecer porque o resto não tem inte-resse, não está preocupado, nem enxerga o problemão que vem pela frente. Se isso não for alterado, a perspectiva é de que os problemas sérios de pobreza e fome no se-miárido não melhorem.

Então, isso é uma questão política que não vai ser dada e sim conquistada. O movi-mento que está se organizando para fazer esse trabalho vai encontrar resistências dentro do próprio governo. É preciso ir atrás, se organizar de uma forma tal que chegue primeiro levando a mensagem do problema concreto. Não é só a diversidade da vida, é a própria vida, o próprio alimen-to. Se faltar alimento vai ter uma guerra. As pessoas ficarão quietas ou voltarão a fazer os saques de vinte anos atrás? Os saques são formas de resistência. Disse que a nossa história é cheia disso, não é novo. A bus-ca de trabalhar essa política tem que partir daqui, insistindo nisso. Um caminho, um passo importantíssimo é a valorização da vida. A vida é mais do que alimentos, pois as pessoas tem que respirar, tem que ter li-berdade, tem que ter muitas coisas... Disse para ninguém esquecer que essa diversi-dade se perdeu nas mãos de uma vida, de uma geração. Daí perguntou, o que acon-tece quando atravesso o rio que divide a Bolívia e o Brasil? Quando se sai do Brasil e pisa no território boliviano, é possível se espantar com a diversidade de cheiros. Por

quê? Porque eles se alimentam de uma for-ma mais diversa, porque conservam mais do que os brasileiros. Aqui foi dado sumiço em quase tudo.

E aí quem está sendo o guardião disso tudo? É a agricultura familiar. Por isso, es-tamos aqui em comunhão e se sentindo estimulado pelo outro. Essa política tem que trabalhar contra algumas figuras e instituições. Tem gente que está ganhan-do dinheiro com isso. Que ganha com a criação de variedades e patenteamento de sementes. Ao criar uma variedade ela tem um nome que é o meu carimbo e quem for usá-la, terá que pagar por isso. Então, tem gente, organizações que são especiali-zadas exatamente nisso. Mas também tem gente que não está percebendo que isso que ocorre é grave. Por quê? Tudo pode ser vendido com um conjunto de ideias mara-vilhosas. Se existe um mercado internacio-nal para determinado mamão, então, todo mundo vai produzir só este mamão, e es-quecer os outros, porque ele gera dinheiro. E assim para cada coisa, para cada alimento alguém está se apropriando disso.

Guillermo considerou que um dos cami-nhos para se contrapor a isso é fortalecer os bancos de sementes, para que a políti-ca de distribuição de semente, por exem-plo, seja tarefa dos bancos comunitários, onde você vai ter a escolha de um tipo de feijão que se planta de uma determina-da forma, numa determinada época. Para isso, é preciso se organizar. Que outras coisas pode se fazer pela biodiversidade? É mudar a nossa alimentação. Nem preci-sa mudar a política para que isso ocorra: resgatar os hábitos alimentares, realizar as feiras e os momentos da celebração da colheita das sementes, fortalecer a cultu-ra e a diversidade.

Disse que em relação à política, é preciso insistir que elementos chaves estão apare-cendo, como por exemplo, a distribuição de sementes, apoio à diversidade de cul-tivos. Nesta conversa é preciso começar a

pensar uma política pública que seja válida para todos. É preciso trabalhar na contra-mão. Existe uma turma que está fazendo a mesma coisa com as plantas medicinais, e isso é mais grave ainda, porque a planta medicinal relaciona-se à vida, à morte, ao alívio de dores. E aí como é que fica? Existe uma política de fitoterápicos para o estado? Diziam que a agricultura familiar iria par-ticipar dessa política de fitoterápicos, mas jamais ocorreu. Quem está lucrando com os fitoterápicos, que suspostamente era para atender o Sistema Único de Saúde e dar os remédios básicos para a população? Diziam que mais de 90% dos problemas da saúde popular se resolveria com essas vias do Programa Farmácias Vivas. Por que não se implementa isso aí? Porque existe outro negócio que é o mercado que não quer que esse negócio funcione. Então, deve se ar-ticular a política de agroecologia às plan-tas medicinais. Guillermo considera que é necessário cuidar da vida comum. Quando se fala da preservação da caatinga, fala-se também da preservação de um conjunto de recursos que são fundamentais para a vida. Sem a caatinga não tem água. Então, ele acha que é importante começar traba-lhar essas três coisas já faladas: caatinga, plantas medicinais e o alimento. Por fim, agradeceu a atenção.

Que outras coisas pode se fazer pela biodiversidade? É mudar a nossa alimentação. Nem precisa mudar a política para que isso ocorra: resgatar os hábitos alimentares, realizar as feiras e os momentos da celebração da colheita das sementes, fortalecer a cultura e a diversidade.”

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Debate

marcelo (emBraPa)Acrescentou algo que Guillermo falou sobre responsabilidades e como isso tam-bém faz ser ouvido. No seu mestrado, nos anos 1980, as discussões eram interessan-tes sobre centros de origens, diversidade genética, onde era enfatizada a questão da vulnerabilidade quando você começa a ter plantas uniformes, o que isso podia trazer. Citava-se a crise da batata, no final do século, na Inglaterra e a do milho nos Estados Unidos. Havia uma consciência disso e de que quando há uma revolução financeira, intelectual, também diminuiu o número de coisas que você se alimenta. Em alguns desses países não se come mais farinha, que se tornou alimento de pes-soas pobres. As pessoas deixam de comer algumas coisas. Disse que naquela época, provavelmente as crianças achavam que ovos, as galinhas, davam no supermer-cado. Alguns anos depois, no seu dou-torado, isso tudo desapareceu. Ninguém mais falava em vulnerabilidade genética, em erosão. Só falavam de biotecnologia, de produção transgênica. Dentro da pró-pria academia essa involução aconteceu. Hoje, formadores da academia e pesqui-sadores da EMBRAPA, que recentemente lançou seus cursos de doutorado, tem esta mesma visão. Marcelo pensa que to-dos nós também somos responsáveis pelo que Guillermo perguntou. Então, tanto a academia como a pesquisa, tem CPF e endereço e contribui com isso aqui. São pequenos grupos dentro da EMBRAPA que querem trabalhar com agroecologia, mas não é feita nenhuma gestão em cima do grupo de pesquisa, nem do grupo da academia, que acabam trabalhando da forma que querem.

mikaely (cáritas Diocesana De iguatu)

Disse que Guillermo foi seu orientador na especialização e que era uma honra que ele estivesse aqui. Ela fez referência a um projeto da Cáritas sobre gestão da di-versidade de sementes. Nas capacitações, é perguntado aos agricultores: quais são os animais que existiam antes e que não existem mais? E as sementes? Durante os trabalhos de grupos os agricultores listam os animais e as sementes que tinham na região e quando vão para o debate, per-cebem que muitos animais sumiram, as pessoas da região acabaram com determi-nada variedade de frutas, de plantas, de sementes. Na comunidade Serra do Valé-rio, onde antes produziam tudo e onde era povoado, quando os recursos acaba-ram, subiram a serra e viram que lá só ti-nha animais. Daí, eles acabaram com os animais e aumentaram a diversidade de outras plantas que não existiam. As ações das organizações geram impactos nas comunidades, mas às vezes o trabalho é feito sem analisar o que ela tem e quais as espécies que estão sendo preservadas. O projeto veio para reanimar as comuni-dades e fazer um debate muito rico, con-tribuindo para que os agricultores perce-bam os males que estão causando e quais as estratégias que podem ser adotadas para recuperar a biodiversidade.

antônio Francisco (centro De DeFesa Dos Direitos Humanos antônio conselHeiro – cDDH)Disse que a sua família cuidou de uma pequena propriedade lá no município de Pedra Branca. Ele costuma dizer que é da quarta geração da família e, brincando, diz que mora há duzentos anos naquele local, porque seu bisavô já vivia ali. Ele é cordelista e observa muito a natureza, porque escreve os versos realmente nes-te sentido. Disse que percebe e sente as mudanças que aconteceram desde que obtiveram a terra e sabe que também são agentes dessas mudanças. Ele tem sessen-ta anos e percebe o desaparecimento de

muitas espécies. Sua família, que sempre cultivou roça, antes tinha quatro ou cin-co variedades só de feijão. Milho, tinha três ou quatro variedades para plantar. As sementes de milho e feijão tinham o nome da família. Seu pai, que viveu 86 anos, quando perdia uma semente, anda-va duas a três léguas na casa do compadre ou amigo que tinha aquela semente para recuperá-las. Isso não ocorre mais hoje e o prejuízo é grande. É preciso muita orga-nização para estar nesta luta para buscar reparar um pouco esse prejuízo do que tem acontecido.

luiz eDuarDo (cetra)Disse que a biodiversidade é um tema importante e que sua questão principal é a alimentação. O cardápio na nossa cultura está resumido a quatro varieda-des: milho, arroz, trigo e soja. Boa par-te dessa alimentação é industrializada (aproximadamente 75%) e transgênica. O mercado tem os impérios de águas e de alimentos numa uma cadeia perver-sa que está bem articulada, organizada e interessada em que a população consu-ma seus alimentos, fique doente e com-pre remédios produzidos por eles. Existe toda uma propaganda em cima das em-presas farmacológicas, que também são impérios. É alarmante a questão da ero-são genética e dos conhecimentos, por-que as famílias agricultoras sabem como trabalhar as plantas da caatinga, em par-ticular, os fitoterápicos como ninguém. São vários conhecimentos que vão se perder. Nos quintais produtivos agroeco-lógicos, há uma enorme agrobiodiversi-dade. Em Aracatiaçu, o trabalho iniciou com mais de dez variedades de tubércu-los e batatas, como por exemplo, araruta e cará, que estão sendo conservados. É preciso estabelecer o elo da produção e do consumo. É necessário restabelecer a cultura alimentar e saber quem vai con-sumir. Também, é importante trabalhar em cima da valorização das variedades

das receitas. Há cinquenta anos, existia um cardápio muito rico e com receitas específicas das comunidades, das regi-ões, mas isso realmente foi perdido.

aurinoNa fala anterior, o rapaz universitário foi feliz. Está faltando essas pessoas para es-tarem junto dos agricultores, para apren-der com eles. A universidade é uma coisa que vem do alto, do céu. Não é coisa para fazer escondido do povo. Universal é o nome de Cristo, porque respeita o mais pobre, mais fracos... Agora a política safa-da acode aqueles que já são bons, ricos e sabidos. Não é universal. Universal é está aqui junto do povo.

guillermo

Disse que Eduardo tocou num assunto extremamente importante e que é preci-so pensar como trabalhar isto na política, que é a relação da produção com o con-sumidor. A cada dia há menos gente no campo e mais gente na cidade. Isso signi-fica que há cada vez mais gente que não sabe exatamente o que as pessoas do cam-po passam e a sua importância. As pesso-as perderam a noção do que seja isso. O Marcelo (EMBRAPA)disse uma coisa im-portante, que tem gente que acha que o ovo vem do supermercado. É importan-te refletir, como é que a agricultura vai conversar com o cidadão urbano que não entende o problema e tem outras preocu-pações. Não significa que ele esteja numa boa situação, por que não está mesmo. Quem está numa boa é a elite. O povão está numa condição provavelmente pior do que quem está no campo, que tem uma vida rica, porque tem vida. Quem está na cidade tem uma vida quase de semiescravidão porque o que ganha não lhe permite ter vida digna. O indivíduo, não o rico, embora tenha que falar com

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ele também, mas a grande maioria das pessoas, que podem ser aliadas. O desafio é saber como, mas é um assunto de ex-trema importância. Como é que a popu-lação que come feijão, arroz e macarrão todo dia e que está agora na cidade não tem mais a relação com o campo?

Disse que de fato, houve uma conversa nos últimos vinte anos com a biotecno-logia. Mas o que é biotecnologia? É você trabalhar por uma vida de forma a trans-formar a vida de alguma maneira sem a preocupação de que desapareça não sei quantas variedades, não sei quantos ti-pos de plantas. Acredita-se que a biotec-nologia vai poder criar uma vida nova. Essa propaganda foi vendida no Brasil, principalmente para quem está na uni-versidade e grupos de pesquisas través dos cursos abertos e proliferados nas dé-cadas de 1990 e 2000, mas que ainda se encontram. Era uma febre. A profissão mais importante era biomolecular. É um palavrão danado, para dizer que as pes-soas se dedicaram a parte mais ínfima da célula da vida para poder manipulá-la e gerar essa diversidade de vida que con-trariamente estamos acabando. Isso é um engodo, uma grande mentira. É im-portante para determinadas aplicações médicas, mas não é importante para a nossa agricultura.

A seleção das plantas e animais sempre ocorreu só que houve um momento na história em que o ser humano descobriu que podia selecionar ou fazer certos cru-zamentos que não davam mais. Come-çaram a dizer que vão produzir um tipo de planta, alimento ou de bicho, como aconteceu com a galinha, que não vai reproduzir. Então, é criada uma depen-dência de alguém para o resto da vida, adquirindo aquele produto. Houve um processo de apropriação da vida para co-locá-la no bolso.

A outra questão trazida é a conservação dessa diversidade no campo dos agricul-

tores. Há muito anos, que a gente está problematizando. Mas esse processo que estamos vivendo é recente, de uns cin-quenta anos para cá. Ele tem um impac-to forte que pode nos levar ao colapso. É extremamente sério. Existem algumas histórias muito interessantes. Uma de-las foi documentada por um senhor que estudou as sociedades que tiveram um grande apogeu e de repente sumiram e não deixaram nada além de ruínas. Uma das coisas que ele descobriu nos estudos é que todas essas sociedades, agora, são desertos. Essa é uma constatação váli-da para todas. No Egito, na América do Norte e nas regiões Andinas, onde houve também este processo, em todos os casos o ser humano fez algo para além do que a natureza podia suportar e isso tem a ver com acabar com as florestas. Sem florestas não tem solo, sem solo não tem alimento e sem alimento as pessoas vão se matar, não tem conversa intermediária. No fim, essas histórias mostram coisas terríveis. Na maioria dos casos, esses povos termi-naram sendo canibais, comendo uns aos outros, porque não havia mais floresta, solo, água... A única coisa que havia para comer era gente. É preciso aprender com essas coisas.

Ele considera que estamos caminhando numa velocidade tremenda e que se essa situação não for levada a sério, nossos filhos e netos vão viver algo ruim que nem sonhamos. Com relação ao que a Mikaely falou, ele disse que se em cada comunidade for feito um pequeno resga-te do que havia e do que ela se alimenta-va, é possível perceber que a vida de uma maneira geral se empobreceu. Disse que não somos mais ricos e só estamos so-brevivendo. Ele acha que esse grupo tem experiências legais, mas ele é seleto, que está atento a esses processos, querendo mudar de vida e faz isso com consciên-cia. Mas a grande maioria não está nes-sa, está é morta, está na contramão mes-mo. É possível sobreviver no meio dessa contramão toda. É preciso trabalhar es-

ses grupos. Aí vem a política novamen-te, que pode ajudar com isso. Disse que temos que ter uma política que trabalhe esta consciência. Não sabe como colocar tudo isso numa política de agroecologia, mas é preciso batalhar por isso.

Debate

inácioDisse que a erosão da biodiversidade, o agronegócio e o Estado estão minando e deixando quanto menos possível para manter o futuro. Hoje, o Estado se coloca como promotor e fiador de uma cultura agronegocista. Os seus órgãos estão a serviço, como a EMBRAPA, ou do agronegoção ou do agronegocinho. Todos tem que se enquadrar dentro do sistema do agronegócio. As secas, por exemplo, elas não são mais superadas com as frentes de emergência. Isso é coisa do passado. Antes do governo Fernando Henrique Cardoso, já havia os saques. E depois houve uma mudança na mesma época em que o agronegócio começou a crescer. O próprio governo promovia os saques. Os agricultores reivindicavam frentes de trabalho, cesta básica, água/carro pipa...O governo criou um sistema meio que automático onde ele passou a decretar, a dar o seu veredicto sobre a condição da seca. Os seus órgãos vão fazer pesquisa, dão um laudo. Aí o governo dispara automaticamente o seguro safra que é cento e cinquenta reais anualmente por cada família. O valor começou custando cinco reais, mas sempre vai subindo. Se o governo disser que ali realmente foi seco, as famílias ficam recebendo aquela micharia sem fazer mais nada. Já o agronegócio reivindica a posse de tudo. Quanto à desapropriação das terras, o INCRA é um órgão obsoleto.

cristina (mim)

Falou que é possível perceber que as mu-danças são muito rápidas e trágicas. Vem de uma geração que de repente começou este movimento em torno da biotecnolo-gia que cresceu dentro das universidades. Ela também pegou uma universidade com esse processo. Lá, não tinha discus-são de agroecologia. Quem queria discu-tir isso tinha que criar um movimento paralelo. Na universidade só se falava sobre veneno e biotecnologia. Quem não se encaixava, era considerada atrasada, da esquerda, revolucionária e estava fora dos padrões. Diante disso, ela perguntou: Guillermo, você vê algum horizonte, al-gum movimento de mudança dentro da universidade? Se existe, como ele está? Disse, ainda, que o governo tem atitudes pontuais na qual a gente não pode apos-tar. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que tem ações voltadas para a agricultura, mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem ações grandes, gigantescas. E a ministra ainda falou que é preciso combater o preconceito contra o agrone-gócio. Então, é uma correlação de forças desigual dentro do governo. Então eu queria ver como está esse momento na universidade, para saber se ainda há uma esperança junto aos agricultores e agri-cultoras sobre a agroecologia.

guillermoDisse que acredita que há vários planos deliberados para tudo isso. Existe também um pensamento hegemônico presente em todas as instituições de ensino e pesquisa em particular, mas também na escola, des-de o ensino básico. Com pouca exceção, se constrói um processo de fé cega numa suposta tecnologia que vai resolver todos os problemas. Ela está fortemente associa-da à ideia da acumulação de capital. Afir-ma-se que a tecnologia é o fator de com-petitividade da empresa, da agricultura. Como disse Inácio, querem fazer de tudo

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um agronegócio ou um agronegocinho, inclusive às vezes está na nossa cabeça e nos pegamos fazendo um pequeno paco-tinho de agronegócio. Ele considera que esse plano não é elaborado por alguém específico, mas um plano em que a socie-dade vai compactuando constantemente baseado numa nova crença de que é ne-cessário ter muitas riquezas, ter um consu-mo elevado e que a tecnologia vai resolver os problemas. Acha que todos nós de uma maneira ou de outra alimenta este pro-cesso. É muito difícil dizer que a universi-dade é isso e que setores da universidade predominantemente se identificam mais com esse tipo de pensamento. Ele analisa que a universidade está num processo de crise muito importante, mas que ela não atingiu 30% das almas na universidade. Eles continuam pensando do mesmo jei-to e achando que é isso mesmo, que é o preço que temos que pagar. O pobre que se lasque. Ele acha que essa consciência de que estamos numa crise é para poucos, como quem está neste encontro.

Para ele não ficar num ponto de vista ex-tremamente negativo, disse que a ciência também demonstra, mas fundamental-mente a prática que vocês estão fazendo, que sabem dialogar com a natureza, onde tem uma capacidade tremenda de recons-trução. E que este diálogo com a natureza é um diálogo em sociedade. Considerou que estamos aprendendo a conhecer o proces-so e o aprendizado se dá conversando. Ele acha que há um espaço de regeneração tre-mendamente poderoso. A natureza é pode-rosa e o ser humano poderosíssimo. Se ele é capaz de criar uma bomba atômica que pode nos destruir cem vezes por que não pode criar algo para a vida? E a prova são as experiências ouvidas aqui. São experiências pequenas, mas com profundo significado. Cada uma delas é capaz de tocar muitos corações. São propostas de transformação e isso infelizmente não chegou a nossa aca-demia não. Ainda é preciso chegar lá, por-que a academia é racional, diferentemente daqui, ela se nega a pensar com o coração.

Construção de propostas de fortalecimento para agricultura familiar agroecológica a partir do uso das sementes crioulas – Mini-plenáriasInicialmente aconteceram as onze mini--plenárias temáticas, facilitadas e sistema-tizadas por representantes de organiza-ções parceiras. A participação foi definida a partir da escolha feita no credenciamen-to. Esse momento gerou um rico e partici-pativo debate, além da sistematização das sínteses que foram apresentadas em ple-nárias no final da tarde.

Alimentação contaminada com veneno e genes estranhos;

a rotulagem dos transgê-nicos é de difícil identifi-cação por conta do tama-nho e agora não é mais obrigatória;

quando compramos esses produtos fortalecemos o agronegócio e as empresas;

a população está cada vez mais atenta;

a comunidade perdeu suas sementes e suas práticas;

desmatamento, contami-nação da água do solo por agrotóxicos.

Como saberemos quais produtos são transgêni-cos?

garantir que as leis sejam de fato cumpridas;

eliminar o uso de agrotó-xicos no país;

incentivar outros agri-cultores para trabalhar a transição agroecológica;

valorização do agricultor de campo;

inserção da juventude no campo;

que as sementes distribu-ídas pelo governo sejam compradas das comuni-dades rurais (sementes crioulas);

garantir assessoria técni-ca permanente e que in-centive as práticas agroe-cológicas.

ater- Melhoria na assistência técnica;

- fortalecimento;

- levar informações e for-mação para as famílias;

- enfoque na agroecologia.

comuniDaDes

Mudar o modo de pensar: não pensar apenas no di-nheiro;

práticas agroecológicas (não queimar, não usar agrotóxicos, etc.).

goVerno

Fortalecimento das políti-cas de ATER;

fortalecimento dos proje-tos de convivência com o semiárido (1ª e 2ª água, casas de sementes, semen-tes crioulas);

taxação sobre a comercia-lização dos agrotóxicos;

fiscalização;

comercialização de pro-dutos da agricultura fa-miliar;

fortalecimento de crédito rural.

Realidade

Desafios

PropostasContrapondo-se a essa realidade:

Através dos espaços de for-mação, estamos mudando a forma de ver a natureza e a forma de produção;

resgate e armazenamento das sementes crioulas;

políticas públicas voltadas para as comunidades ru-rais;

tecnologia de convivência com o semiárido;

realizamos práticas agroe-cológicas.

Os Impactos Nocivos do Uso de Agrotóxicos e Lavouras TransgênicasFacilitaDora: Ana Cristina (Esplar)

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Formação dos educadores;

afirmação da identidade camponesa;

fazer o ensino escolar con-textualizado da educação infantil à universidade;

sensibilizar pais e respon-sáveis para a construção conjunta de uma ação com formação integral;

fortalecimento das redes de Educação Contextuali-zada no Semiárido - ECSA;

dar visibilidade às expe-riências de Educação Con-textualizada.

No processo de interação de conhecimentos, o conheci-mento dos agricultores não é reconhecido;

as pesquisas não são direcio-nadas para a autonomia da agricultura familiar;

o processo de ensino não apresenta um processo de educação contextualizada: currículo e conteúdos pro-postos nas escolas não dia-logam com a realidade do campo;

poucos setores na universi-dade estão dispostos a reali-zar pesquisas com as comu-nidades;

desvalorização dos pesquisa-

Realidade e desafios

Realidade e desafios

Educação Contextualizada no Semiárido enquanto Política PúblicaFacilitaDor: Paulo Geovani - Cáritas Diocesana de Crateús

Construções de Saberes - Pesquisa Engajada como Estratégia de Construção do Conhecimento AgroecológicoFacilitaDora: Emanuelle Rocha - Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para Sustentabilidade – TRAMAS

socieDaDe ciVilNegociar com o poder pú-blico a formação em ECSA.

PoDer PúBlicoManter as escolas no cam-po e/ou criá-las.

socieDaDe ciVil e PoDer PúBlicoGarantir as propostas pe-

uniVersiDaDe, emBraPa, moVimentos sociais, agricultoresRealizar pesquisas para a diversificação dos sistemas agroalimentares localiza-dos, utilizando uma aborda-gem territorial;

construir e fortalecer um modelo de inovação que permita a interação de co-nhecimentos tradicionais e técnicos e que contemple a

Propostas Propostas

dagógicas das escolas e nos planos educacionais a ECSA;

intercâmbio das experi-ências existentes de ECSA;

sistematizar e publicar as experiências de ECSA.

dores que atuam com agri-cultura familiar;

hierarquização de conhe-cimentos: o conhecimento técnico é considerado supe-rior aos conhecimentos de agricultores e comunidades;

a pesquisa é voltada para a especialização;

criação de cursos de gradu-ação voltados para o agro-negócio e mineração em detrimento de cursos que atendam as demandas dos povos do campo;

visão tecnicista da agroeco-logia;

conflitos ambientais: amea-ça aos territórios, aos modos de vida e, consequentemen-te, à agroecologia;

as pesquisas apresentam um processo linear de produção de conhecimento;

falta um compromisso das instituições de pesquisa e ensino na demanda por pes-quisas agroecológicas.

autonomia dos agricultores;

estabelecer um debate contí-nuo sobre o tema agroecolo-gia em diferentes esferas de conhecimento e com diferen-tes atores;

formar redes de pesquisa em agroecologia no Ceará;

produzir conhecimentos agroe-cológicos com as comunidades;

resgatar e sistematizar co-nhecimentos agroecológicos existentes a partir das práti-cas dos agricultores;

a pesquisa deve passar por um controle social para que a sociedade possa participar do processo de demanda e ava-liação dos resultados dos co-nhecimentos produzidos.

uniVersiDaDe e emBraPaReconhecer os esforços dos pesquisadores que atuam com agricultura familiar e agroecologia;

realizar pesquisas com inter-disciplinaridade;

estimular a execução de pro-jetos que possibilitem a tro-ca de conhecimentos entre os diversos atores – universida-des, agricultores, comunida-des, juventudes, instituições, governo.

uniVersiDaDes, instituto FeDeral De eDucação, ciência e tecnologia Do ceará - iFce, moVimentos sociaisEstimular as instituições de ensino para a formação de técnicos comprometidos com a agroecologia.

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Realidade

Pontos críticos no Brasil segunDo a organização Das nações uniDas Para alimentação e agricultura– FaoA fome é maior entre os po-vos tradicionais, entre as populações rurais e, maior, entre as populações negras;

falta de reforma agrária e política agrícola adequada;

os modelos de produção agrícola tipicamente con-vencionais precisam ir para a conversão agroeco-lógica, sendo que a falta da terra inibe o processo da produção agroecológica;

falta política de abasteci-mento e produção, logís-tica (mercado, qualidade, transporte...);

incrementar o acesso à água para consumo e pro-dução;

excesso de peso da popula-ção em função da má qua-lidade da alimentação.

Pontos críticos gerais ViViDos no Dia a DiaA desagregação familiar em função das novas pro-fissões. As famílias comem

Concentração de terras;

presença do agronegócio;

agricultoras/es sem terra para morar e plantar;

pouca água para o consu-mo humano e produção;

pressão da bancada rura-lista para derrubar os di-reitos dos povos indígenas, quilombolas, agricultoras e agricultores;

presença dos transgênicos;

uso dos agrotóxicos na ir-rigação;

questão da mineração;

energia eólica e termelétri-ca;

construções de hotéis na região do litoral;

preço dos alimentos acima da inflação.

Realidade

Realidade

Soberania e Segurança Alimentar e o Mercado SolidárioFacilitaDoras: Glória Carvalho - Cáritas Regional e Malvinier Macedo – Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA

Reforma Agrária - as Injustiças e os Conflitos SocioambientaisFacilitaDora: Dorinha – Cáritas Diocesana de Sobral

Fortalecimento da RISFacilitaDor: Erivan Silva – Cáritas Diocesana de Sobral

qualquer coisa em qual-quer hora e em qualquer lugar;

a alimentação industria-lizada ajuda na poluição e degradação ambiental, além de prejudicar a saúde;

a substituição do alimento natural pelo processado, mesmo quando a família tem o produto disponível.

Não aceitação dos produ-tos da agricultura fami-liar na merenda escolar;

hábito alimentar familiar em descompasso com a merenda escolar;

reeducação para o consu-mo da produção da agri-cultura familiar agro-ecológica (alimentação saudável);

diversificação de produ-ção, saindo do tradicional (milho, feijão, fava).

Desafios

Fortalecimento das lutas pela permanência na terra (unificada);

recuperar a produção cam-ponesa;

diálogo com as cidades;

manter os jovens no campo;

criação de escolas agrícolas;

regularização fundiária;

enfrentar os meios de co-municação;

o agronegócio;

enfrentar a falta da agua;

enfrentamento das dívidas entre agricultoras/es fami-liares.

Desafios

Governo, FAO, instituições se unirem para enfrentar e combater ou superar os de-safios;

a população tem que buscar informações sobre os recur-sos, a atuação dos conselhos e fiscalizar;

engajar juventudes nos pro-cessos de formação e inter-câmbios;

Propostas

PropostasO grupo não construiu as pro-postas.

criar e fortalecer as feiras da agricultura familiar agroe-cológica;

fortalecer e criar as casas de sementes comunitárias;

resgatar sementes e hortali-ças crioulas.

Não compreensão das vanta-gens das sementes crioulas;

pesquisas feitas por alguns agricultores sobre a qualida-de das sementes;

com as perdas das varieda-des das sementes crioulas, perde-se também a sobera-nia alimentar;

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alguns agricultores (que não são sócios das casas de se-mentes) recebem sementes do governo não para plan-tar, mas pelo comprovante;

a qualidade das sementes depende da preservação da terra;

as empresas querem tomar a soberania dos agricultores;

as casas de sementes guar-dam uma variedade de se-mentes;

as práticas de queimadas es-tão diminuindo;

os projetos de incentivo de sementes financiados pelo governo ajudam na compre-ensão da qualidade das se-mentes.

Superar a falta de conheci-mentos sobre a história das sementes;

envolver a juventude na te-mática da agroecologia;

conscientizar os agricul-tores da importância da agroecologia;

sistematizar as variedades das sementes;

reforma agrária: ter terra para fazer agroecologia;

pautar política de semen-tes do governo;

educação relacionada aos camponeses;

criar e fortalecer a RIS;

intercambiar experiências de gestão de sementes.

Conscientizar o consumi-dor sobre os benefícios da agroecologia além da ques-tão da alimentação;

estimular a certificação participativa dos produtos agroecológicos;

fomentar a construção co-letiva de conhecimentos agroecológicos.

Desafios

comuniDaDes e socieDaDe ciVilFortalecer ou criar a RIS em todas as regiões;

encampar a campanha con-tra os transgênicos.

comuniDaDes, socieDaDe ciVil e PoDer PúBlicoPautar, lutar e refletir sobre a reforma agrária;

fortalecer a luta pela educa-ção no campo.

socieDaDe ciVil e PoDer PúBlicoPropor para EMBRAPA fazer pesquisas direcionadas às se-mentes crioulas.

PoDer PúBlicoPropor para o governo o in-centivo para o fortalecimen-to da RIS.

Este fórum e outras ar-ticulações pressionem os governos para assegurar a erradicação do desmata-mento, ampliando as estra-tégias de reflorestamento e sensibilização e capacita-ção para a preservação am-biental;

agilizar e concluir o cadas-tro ambiental rural;

mobilizar a juventude para o compartilhamento do debate e ações de acesso a terra e à água;

ampliar as tecnologias de convivência com o semiá-rido;

implementar estratégias de tratamento de reuso da água;

fortalecer as articulações do semiárido para ocupa-rem os espaços de gestão das águas;

instalar poços com sistema de dessalinização;

agilizar os mecanismos de desapropriações para faci-litar o acesso a terra pelas famílias do semiárido.

Organização popular;

participar das conferên-cias de ATER;

envolver todas as secreta-rias de governo dentro da política de agroecologia;

dar visibilidade à agroecolo-gia usando o banco de dados;

Propostas

Propostas

PropostasRealidade e desafios

Realidade

Acesso e Gestão de Águas no SemiáridoFacilitaDor: Marcos Jacinto – Instituto Elo Amigo

O Movimento Ceará Agroecológico: A Construção da Política e do Plano Estadual de AgroecologiaFacilitaDor: Nicolas Fabre – Movimento Ceará Agroecológico e Associação dos Municípios do Estado do Ceará - APRECE

Ausência do poder público no apoio e reconhecimento do direito da população aos projetos intermediários de acesso à água (adutoras);

assegurar a inserção das po-pulações difusas no acesso a terra e à água;

Já existe um plano que foi construído pelos movimentos sociais e este tem enfrentado a rejeição por parte do governo estadual, que tem desvaloriza-do o assunto.

consolidação da gestão com-partilhada das águas;

retomar e assegurar os pro-jetos intermediários.

Desafios

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Realidade

Realidade

Realidade e desafios

Comunicando um Semiárido AgroecológicoFacilitaDor e FacilitaDora: Daniel Lamir e Raquel Dantas/ AP1MC/Cáritas Regional

A Política Nacional de ATER: O que tem de Inovação e Desafios para o Fortalecimento da Transição Agroecológica?FacilitaDor: Luiz Eduardo – CETRA

Diálogos e Conexões entre o Rural e o Urbano sobre a Produção, a Comercialização e o Consumo de Alimentos FacilitaDor: Tiago Bezerra – Ethnos socioambiental

Não temos acesso aos meios de comunicação de massa;

nossas realidades não estão retratadas nos meios de co-municação de massa;

os programas de rádios dos STTRs são alguns dos poucos veículos com abertura para tratar a nossa pauta;

meios de comunicação ten-denciosos;

o acesso às informações so-bre agroecologia estão fora desses veículos de massa. Es-tão nos espaços de intercâm-bios e mobilização popular.

A semente crioula dá vá-rias produções;

autonomia a partir da conservação das sementes crioulas;

programas a partir dos movimentos e organiza-ções voltados para a agro-ecologia;

há organizações que traba-lham a recuperação das se-mentes;

organizações da igreja for-mando pessoas;

a semente do governo só tem boa produção a 1ª. Vez;

ruralCusto alto do transporte da produção (frete)

falta da estrutura hídrica para acesso à água de qua-

dependência do forneci-mento de semente a partir dos programas de distribui-ção do governo;

profissionais desqualificados;

ATER defasada;

ATER descontínua;

ATER voltada para o merca-do e gerando monocultura;

grandes investimentos ao agronegócio;

o IFCE e universidades for-mam profissionais para o agronegócio.

A educação contextualiza-da;

fortalecer as Escolas Famí-lias Agrícolas;

as estratégias para outras pessoas que não estão sen-sibilizadas sobre a nossa pauta (nossas produções);

falta de protagonismo na construção das nossas his-tórias.

Ter um modelo de educa-ção voltada para a agricul-tura camponesa – para a realidade;

a distribuição das semen-tes ainda é baseada nas se-mentes do governo;

desvalorização dos profis-sionais – salários baixos e más condições de trabalho;

trabalhar projetos para ge-rar autonomia e sustenta-bilidade – existem projetos prontos de galinha caipira;

muitas famílias ainda não tem acesso à terra para produzir alimentos saudá-veis;

as linhas do Programa Na-cional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF são desconectadas da realidade e da compra de insumo de empresas es-pecíficas.

Desafios

Traçar estratégias em rede;

desenvolver novas lingua-gens;

promover a divulgação dos nossos produtos em outros espaços (escolas);

promover a formação e sensibilização das nossas pautas em outros espaços (escolas).

Criar um programa que fortaleça as casas de se-mentes crioulas – comuni-dades e sociedade civil;

metodologias participati-vas de estímulo às trocas de conhecimentos/semen-tes crioulas através de in-tercâmbios e outros espa-ços coletivos;

organização da comunida-de = as famílias agriculto-ras precisam se juntar e se unir;

implantação de Fundos Ro-tativos Solidários de acor-do com as necessidades das famílias;

a própria comunidade ter conhecimento da política de ATER.

Propostas Propostas

Desafios

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lidade;

falta de compromisso no pagamento do produtor – Plano de Aquisição de Alimentos e Programa Na-cional de Alimentação Es-colar;

educação alimentar;

desvalorização dos produ-tos – “preço baixo”;

comercialização da produ-ção;

informação sobre o local de produção;

falta de incentivo às feiras agroecológicas.

urBanoFalta de espaço para a pro-dução - “Concentração de áreas”;

falta de água (acesso);

falta de incentivo fiscal;

falta de política pública.

priorizar espaços públicos (praças, terrenos, etc.) para a produção de alimentos;

incentivar jardinagem co-mestível em espaços públi-cos.

PropostasruralFortalecer a organização de cooperativas e programas logísticos.

organização de consumido-res (grupos);

construir bancos de dados sobre os locais de produção;

construir calendário de fei-ras agroecológicas.

urBanoPriorizar a construção de Política Agrícola Urbana;

EXibição do Vídeo: Sementes da vida, Soberania e Segurança Alimentar eLançamento da Exposição FotográficaO vídeo foi produzido pela Cáritas Dioce-sana de Sobral em parceria com a Cáritas Diocesana de Itapipoca, Cáritas Regional Ceará, Rede de Intercâmbio de Sementes - RIS e o Fórum Cearense pela Vida no Se-miárido – FCVSA e teve o apoio da Funda-ção Banco do Brasil – FBB e do Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. O vídeo reúne o depoi-mento de várias agricultoras/es do semiá-rido cearense sobre suas práticas agroeco-lógicas, particularmente, na preservação das sementes crioulas.

Em seguida, as/os participantes puderam conferir a exposição fotográfica com ima-gens do cotidiano das mulheres e homens que convivem com o semiárido cearense:

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25/11Quarta-feiraMísticaExperiência da Escola Família Agrícola da Ibiapaba – EFA – João (pai de um educando)João disse que na região da Ibiapaba exis-tem realidades diferentes: o cinturão ver-de, o sertão e o carrasco. E que ele mora nesta última, já se aproximando do Piauí. A experiência da EFA Ibiapaba é fruto da ação dos sindicatos da serra e já tem dois anos de funcionamento, com a ajuda dos amigos solidários e sem nenhum apoio do governo.

Em seguida, João falou a situação do seu filho que fez uma prova para ingressar na EFA a partir do incentivo do pai, que sem-pre participou desses movimentos. No iní-cio ele demonstrou pouca vontade, pois não queria. Mas depois de uma semana que as aulas começaram e os meninos ti-veram uma semana de adaptação, ele per-guntou se ainda havia vaga. Como ainda tinha, ele foi. Ele achava que o filho não ia se adaptar porque tinha que passar quinze dias direto, longe da mãe e do pai, com quem já tinha convivência. Além disso, ele tinha que lavar roupa, lavar prato, la-var cueca... Mas depois de uma semana ele voltou e disse que queria ficar na escola.

A partir daí, João começou a fazer um tra-balho de agroecologia. A cada dia que se passa, a cada reunião, a cada encontro, ele acha que ainda está muito longe de se

chegar onde pretende. A agroecologia não se faz sozinho, mas tem que ter envolver toda a família: o marido, a esposa, os fi-lhos. No dia de fazer tarefa, o filho não esquece o que tem para fazer nem com quem tem que fazer. A experiência é de sentar tudo junto, evitando dividir entre as tarefas de homem e as de mulher. Na agroecologia, ele disse, dá para perceber que isso não existe.

Quando o filho volta para casa, João ob-servar as mudanças no comportamento dele. A primeira coisa observada foram as músicas do celular que o filho escuta. An-tes ele queria mais aquelas batucadas que os jovens gostam e passou a ouvir outras músicas. Quando ele ia tomar banho, de-pois via que o filho tinha já lavado e es-tendido a cueca. Quando ia almoçar, em seguida ia para pia lavar o prato. Depois ele começou a observar os canteiros e lhe dizia: papai, isso aqui não está certo não. Vamos fazer desse jeito? O filho propôs mudanças no chiqueiro das ovelhas, su-gerindo fazer uma coberta e um aterro; no chiqueiro das galinhas, propôs fazer um canto pras ela se aproveitar o esterco. O fi-lho tem chamado o pai para participar das coisas que vem fazendo. Ele considera as EFAs como saída para a juventude. Disse que não sabe como mudar isso, mas acre-dita muito que as EFAs serão uma saída.

João relatou que na escola da comunidade, a diretora fez um projeto de convivência com o semiárido. A mãe da diretora tinha uma cisterna em casa para o consumo humano, que ela sempre usava como referência quan-do ia dar aula. Não explorava mais por não saber. Quando a professora tomou conheci-mento da EFA, ela procurou os quatro meni-nos que estudam lá. Então, eles fizeram todo um apanhado da história, foram lá, deram uma aula, uma palestra para quase duzentas crianças. A atividade foi um sucesso total, de-pois eles começaram a explicar a situação da convivência com o semiárido. Os meninos da EFA também conseguem dar cursos sobre as sementes crioulas. Quando eles chegam à

comunidade, as pessoas nem imaginam que são eles que darão a palestra. Os meninos são desacreditados. Mas no final da atividade, os participantes avaliam muito bem o conteú-do e o desempenho dos meninos. Consegui-ram ir muito além dos jovens que estão nas nossas escolas. Disse que isso é um pouco das várias coisas que os estudantes do curso de agropecuária baseado na agroecologia estão aprendendo. A agroecologia de saberes é um conjunto de tudo aquilo que você imagina de bom, de respeito com a natureza e com o ser humano.

Construir estratégias coletivas e específicas de fortalecimento do protagonismo de cada segmento na agricultura familiar agroecológica – Mini-plenáriasInicialmente, Sena refletiu que muitas vezes quando se fala em agroecologia, as pessoas são desconsideradas. Nessa lógica, se pensa nas plantas, na água, no ar, no solo, mas não se pensa nas pessoas. Porém, a agro-ecologia acontece a partir de relações so-ciais, de relações entre mulheres e homens, entre pessoas adultas, idosas, jovens... Estas relações envolvem poder, e poder, envol-ve tomada de decisão. No P1MC e P1+2 as mulheres muitas vezes não tem o poder de decidir onde construir a cisterna. Se não é capaz de decidir isso, imagine outras coi-sas. A juventude é desacreditada e às ve-zes só falta uma oportunidade para que a coisa ocorra diferente. É importante dizer que cada política pública que existe hoje, principalmente aquelas que favorecem os direitos das mulheres, das juventudes, das populações indígenas e quilombolas, é fru-to da organização política desses sujeitos e das suas proposições de políticas públicas.

Em relação às mulheres, há uns quinze

anos, por exemplo, a sua situação e condi-ções de vida eram bem diferentes. Nos últi-mos anos tem havido uma melhoria que é fruto dessa luta. Hoje há um número maior de mulheres com documentação, que é o que atesta formalmente a sua cidadania, e tem sua importância, pois é exigida para ter acesso aos seus direitos, como por exemplo, à Previdência Social. Hoje, é comum se falar Sindicato dos Trabalhadores (e das Traba-lhadoras) Rurais. Antes, não tinha a palavra trabalhadoras. O acréscimo não é apenas de uma palavra, mas é a expressão da organi-zação política das trabalhadoras rurais orga-nizadas, que justamente reivindicaram seu reconhecimento. Um levantamento que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) fez, em 2003, indicava que apenas 12% das mulheres tinham a titulação das terras da reforma agrária no seu nome. A denúncia e pressão das mulheres fizeram com que a política mudasse, passando a ser obrigatória a inclusão do seu nome e não apenas o do marido/companheiro no do-cumento, para que o seu acesso à terra seja assegurado e para que corrigir uma desigual-dade histórica.

Em relação à juventude, a sua organiza-ção política é fundamental para romper com a sua invisibilidade, desvalorização e os obstáculos à sua participação efetiva na comunidade, bairro, município... Por isso, as juventudes tem se organizado para a luta e conquista de políticas públicas. Este ano o governo federal passou a adotar po-líticas afirmativas, como a adoção de cotas mínimas para o acesso à terra, destinando 5% dos lotes da Reforma Agrária. Também passou a reservar pelo menos 25% de jo-vens como beneficiários da ATER. Além disso, abriu uma linha de crédito específi-ca do PRONAF para a juventude.

Quanto às comunidades indígenas e qui-lombolas um dos maiores desafios está relacionado ao seu reconhecimento e ao direito aos seus territórios. A luta é pela identificação, delimitação, demarcação, homologação e registro dos seus territó-

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rios. Atualmente, tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Cons-tituição – PEC 215 que altera o poder de determinar sobre as terras indígenas, qui-lombolas e unidades de conservação, do executivo para o legislativo. Isso representa uma ameaça aos direitos desses povos e do meio ambiente.

Todas as questões colocadas, sinalizam con-dições desiguais de vida e de poder de quem vive no semiárido, que foram construídas historicamente ao longo de décadas e de sé-culos. É importante refletir sobre estas ques-tões e pensar estratégias de superação. Não dá para conceber a agroecologia de forma restrita, sem refletir sobre e sem trabalhar as relações de poder que envolvem as famílias nos processos produtivos. A agroecologia deve ser concebida de forma ampla, con-templando a visibilidade, o respeito e a va-lorização, a garantia dos direitos das mulhe-res, das juventudes, dos povos quilombolas e indígenas.

Depois foram exibidos dois vídeos para con-tribuir no debate e em seguida foi realizado um trabalho de grupos específicos (mulhe-res, juventudes, povos indígenas e quilom-bolas) e outro geral para refletir sobre as suas contribuições, os desafios da sua realidade e a elaboração de propostas que podem ser adotadas para o fortalecimento da sua parti-cipação e promoção de relações igualitárias no semiárido e na vivência da agroecologia.

Exibição de filmes

2. Resistência dos povos indígenas e quilombolas

1. A vida de Margarida Pode ser encontrado no link:

vimeo.com/60410186

Contribuições

Contribuições

GRUPO DE MULHERES

GRUPO DE JUVENTUDES

Fortalecimento dos grupos de mulheres;

formação nas casas de se-mentes;

produção do quintal pro-dutivo (destaque para as plantas medicinais);

diminuição do uso de agro-tóxicos e queimadas;

práticas agroecológicas;

segurança alimentar;

participação nas feiras.

Participação nos espaços de formação sobre agroe-cologia e convivência com o semiárido;

levar os conhecimentos ad-quiridos nas instituições de ensino para a comuni-dade (destaque para a edu-cação contextualizada);

construção de espaços de mobilização e organização da juventude na comuni-dade.

Superação da violência;

empoderamento;

formação de grupos de mu-lheres;

questão cultural (patriar-cado);

autonomia financeira;

superação da divisão sexu-al do trabalho/familiar;

desconstrução do machismo.

Desafios

Juventude se sentir res-ponsável pela construção e desenvolvimento dos seus territórios;

apelo do capitalismo atra-vés do agronegócio e o in-centivo ao estilo de vida urbano;

falta de incentivo e apoio da sociedade, poder públi-co e da família;

falta de interesse e valoriza-ção dos saberes, da memó-ria e das tradições culturais das comunidades do campo.

Desafios

Assistência técnica exclusiva para mulheres;

acesso ao crédito;

políticas públicas de promo-ção para autonomia das mu-lheres;

realização de mais forma-ções;

criação dos conselhos muni-cipais de mulheres;

Lei Maria da Penha articula-da com outras políticas pú-blicas (delegacias especiali-zadas, casas de abrigo, etc.). Criar Rede de juventudes e

fazer mapeamento dos gru-pos e organizações de juven-tude nas comunidades;

Propostas

Propostas

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fortalecer os espaços de edu-cação contextualizada no campo;

valorizar a identidade dos jovens;

elaborar cartilha com infor-mações sobre como acessar projetos voltados para as ju-ventudes;

realizar intercâmbios para trocas de experiências;

buscar parcerias para a for-mação da juventude nas co-munidades.

GRUPO DE QUILOMBOLAS E POVOS INDÍGENAS

HOMENS PENSANDO A VIDA DAS MULHERES E DAS JUVENTUDES

ContribuiçõesA mulher limpa o roçado, colhe os frutos, cuida da casa, faz o trabalho repro-

dutivo. Ela está dentro de todos os setores de susten-tação da família, e muitas vezes, numa atuação que não lhe permite o descanso merecido;

contribuição nos processos de mobilização e articula-ção política da comunidade, desenvolvendo o papel de articuladora, coordenado-ra, presidente de associações e movimentos, animando e dinamizando a caminhada da comunidade.

se observarmos bem a prática agroecológica foi iniciada pelas mulheres, guardiãs da biodiversidade através dos quintais pro-dutivos.

ContribuiçõesNa resistência e preserva-ção dos costumes e hábitos alimentares;

na saúde alternativa (mei-zinheiras);

na relação igualitária com a natureza (respeito entre todos os seres, não promo-ver queimadas, não utili-zar venenos);

na cultura camponesa e co-letividade.

Descontruir visões que veem a agroecologia como um braço do agronegócio na perspectiva do lucro, sem perder o foco na agro-ecologia como contribui-ção para a agrobiodiversi-dade e o desenvolvimento sustentável e integrado;

machismo predominante presente em nossa cultura;

invisibilização de alguns segmentos fundamentais para a sociedade: jovens, idosos, mulheres;

sucessão na construção da agroecologia e do desen-volvimento sustentável do campo, insuficiente envol-vimento das juventudes;

deficiência na forma de co-

municação junto às juven-tudes, necessidade de adap-tação da linguagem e das estratégias utilizadas para a mobilização e envolvi-mento das juventudes;

condicionar nossa vivência e narrativa para multipli-car e disseminar as práticas positivas a partir do am-biente familiar passando para a convivência social;

contextualizar o ensino com a realidade e com a cultura histórica do cam-po – as estratégias utiliza-das afastam as crianças e adolescentes dessa realida-de. É necessário ampliar a quantidade das Escolas do Campo e das EFAs;

colocar em prática na rea-lidade das comunidades o que temos construído teo-ricamente para que sirva de exemplo e de visibilida-de para que incentive mais os jovens a participarem e multiplicarem essas ex-periências. “Um exemplo educa mais do que mil pa-lavras”;

fortalecer a educação com valores numa perspectiva de aproximar e integrar a educação familiar com a educação formal.

Como transformar em po-lítica pública ou apoiar fi-nanceiramente as experiên-cias exitosas desenvolvidas por agricultoras/es familia-res em parcerias com movi-mentos e instituições sociais (agroecologia, educação contextualizada, EFA...).

dades tradicionais, princi-palmente com as mulheres;

falta de reconhecimento do saber ancestral;

o capitalismo destrói a cul-tura e os valores das comu-nidades tradicionais;

falta de assistência técnica apropriada.

Desafios

Reconhecimento das terras indígenas e quilombolas no Ceará/Reforma Agrária;

preconceito com as comuni-

Desafios

Receber assistência técnica diferenciada;

garantir escolas contextu-alizadas que levem em con-ta a agroecologia e a juven-tude;

produzir e comercializar produtos locais, agregando valores, a partir do incenti-vo governamental para as comunidades;

casas de sementes para todas as comunidades quilombo-las e indígenas;

implantar estruturas hídri-cas (tecnologias sociais – cis-ternas, poços etc.);

implantar estruturas produ-tivas que deem conta da con-vivência com o semiárido.

Propostas

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Ampliar a q uantidade e melhorar a infraestrutu-ra dos ambientes escolares que desenvolvem a experi-ência da educação contex-tualizada para o semiárido (Escolas do Campo, EFA);

inserir cursos de agroeco-logia no itinerário forma-tivo das Escolas Técnicas Estaduais e Escolas de En-sino Integral (Mais Educa-ção);

estimular e motivar jovens a ocuparem os espaços de participação política (rede de jovens, conselhos);

reforma Agrária inclusive para as juventudes;

envolver os sindicatos nes-sas lutas pelo desenvolvi-mento sustentável no semi-árido;

elaborar e disseminar ma-terial de formação voltado para a agroecologia e con-vivência com o semiárido.

Propostas Diálogos e Convergências: O que podemos influenciar nas Políticas Públicas de Agroecologia e Convivência com o Semiárido?Inicialmente, Alessandro deu as boas-vin-das e convidou os representantes do poder público para ocupar o espaço de convi-vência: Marcelo Araújo – analista da Em-presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; Cássio Trovatto, coordenador da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); e Itamar Lemos, coordenador de Desenvolvimento da Agricultura Familiar da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA). Além deles, também integrou este momento, Paulo César, representando a Articulação Semiárido Brasileiro – ASA. Em seguida, Sena apresentou slide com as sínteses das propostas elaboradas a partir do debate e reflexão das plenárias temáti-cas e de segmentos específicos:

Produção Agroecológica, Soberania e Segurança Alimentar

Fortalecimento das políticas de Assis-tência Técnica e Extensão Rural, com enfoque na agroecologia, que assegu-rem informações e formação para fa-mílias camponesas;

fortalecimento e apoio aos projetos de convivência com o semiárido (água para o consumo humano e para a pro-dução de alimentos, casas de sementes crioulas);

taxação dos agrotóxicos;

fortalecimento do crédito rural, como o PRONAF;

fortalecer a Rede de Intercâmbio de Sementes;

priorizar a construção de uma Política Agrícola Urbana;

priorizar espaços públicos (praças, ter-renos, etc.) para produção de alimen-tos;

incentivar jardinagem comestível em espaços públicos.

Acesso à TerraAgilizar os mecanismos de desapro-priações para facilitar o acesso à terra das famílias do semiárido;

fazer a reforma agrária, assentando as famílias que estão acampadas e regula-rizar a situação daquelas que estão em processo de titulação da terra.

Acesso à ÁguaInstalar poços com sistema de dessali-nização;

desenvolver programas que assegurem o acesso à água para o consumo huma-no e produção de alimentos;

implementar estratégias de tratamento e reuso da água.

Produção do Conhecimento e Educação Contextualizada

Garantir e ampliar a educação no cam-po, mantendo e criando novas escolas no campo;

garantir a educação contextualizada enquanto política pública, com pro-postas pedagógicas nas escolas e nos planos educacionais;

favorecer o intercâmbio de experiên-cias em Educação contextualizada;

sistematizar e publicar as experiências de Educação Contextualizada;

apoiar o funcionamento das EFA;

EMBRAPA fazer pesquisas direcionadas às sementes crioulas;

fomento para construção coletiva de conhecimentos agroecológicos;

assegurar a função social da ciência, dia-logando com as demandas de constru-ção de conhecimentos dos territórios.

Preservação e conservação ambiental e a biodiversidade

Assegurar a erradicação do desmata-mento, ampliando as estratégias de re-florestamento e sensibilização e capa-citação para a preservação ambiental;

implantar a política estadual de agro-ecologia em sua totalidade, envolven-do todas as secretarias, fomentando e dando visibilidade ao Plano;

assegurar orçamento público para fo-mentar a produção agroecológica;

sistematizar a produção agroecológica através de um banco de dados;

divulgar a produção agroecológica, conscientizando o/a consumidor/a so-bre os benefícios da agroecologia;

agilizar e concluir o cadastro ambien-tal rural;

ampliar as tecnologias de convivência com o semiárido através de políticas públicas.

ComercializaçãoApoiar feiras e espaços de comerciali-zação de produtos agroecológicos e da economia solidária.

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Ações Afirmativas

MulheresAssistência técnica exclusiva para mu-lheres;

acesso ao crédito;

políticas públicas de promoção da au-tonomia das mulheres;

criação dos conselhos municipais de mulheres;

Lei Maria da Penha articulada com rede de proteção às mulheres vítimas de violência (delegacias especializadas, casas de abrigo etc.).

JuventudesCriar rede de juventudes e fazer mape-amento dos grupos e organizações de juventude nas comunidades;

ampliar a quantidade e melhorar a infraestrutura dos ambientes escola-res que desenvolvem a experiência da educação contextualizada para o semi-árido (Escolas do Campo, EFA);

inserir cursos de agroecologia no iti-nerário formativo das Escolas Técnicas Estaduais e Escolas de Ensino Integral (Mais Educação);

valorizar a identidade dos jovens;

elaborar cartilha com informações sobre como acessar projetos voltados para as juventudes;

realizar intercâmbios para trocas de ex-periências;

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estimular e motivar os jovens para que ocupem os espaços de participação po-lítica (rede de jovens, conselhos);

fazer reforma agrária para as juventudes.

Comunidades Indígenas e Quilombolas

Receber assistência técnica diferenciada;

garantir escolas contextualizadas que levem em conta a agroecologia e a ju-ventude;

produzir e comercializar produtos lo-cais, agregando valores, a partir do in-centivo governamental para as comu-nidades;

casas de sementes para todas as comu-nidades quilombolas e indígenas;

implantar estruturas hídricas (tecnolo-gias sociais – cisternas, poços etc.);

implantar estruturas produtivas que deem conta da convivência com o se-miárido.

Juventudes e MulheresEnvolver os sindicatos nessas lutas pelo desenvolvimento sustentável no semiárido;

elaborar e disseminar material de for-mação voltado para a agroecologia e a convivência com o semiárido.

Após a apresentação da síntese, foi aberto espaço para que os convidados fizessem suas apresentações, dialogando com o que acabara de ser exposto.

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Marcelo Araújo - EMBRAPAAgradeceu o convite e disse que integra o arranjo da Agricultura Familiar e de Agro-ecologia da EMPRAPA, que envolve várias unidades no semiárido (Sobral, Fortaleza, Petrolina, Aracaju) e tabuleiros costeiros, entre outros. Já existe dentro da institui-ção essa questão que é muito ligada ao Plano Nacional de Agroecologia e Pro-dução Orgânica – PLANAPO. Disse que é uma questão que veio já direcionada pela própria diretoria da EMBRAPA, o que que-bra barreiras já existentes. Cada unidade da realidade tem seu grupo que trabalha com isso. Em Sobral, a equipe é pequena. Apesar disso, ele disse que já foram im-pulsionados e já tem projetos de pesqui-sa dentro desse arranjo. Além disso, tem também outro núcleo de agroecologia. Está sendo proposto um portfólio eviden-ciando uma maneira diferente de convi-vência com o semiárido. Ainda não está terminado e reconhecido pela diretoria da EMBRAPA. Mesmo assim, a equipe já fala em alguns locais que a Empresa tem um projeto que foi aprovado aqui e contém uma série de elementos, que chamamos de plano de ação, que trata de algumas questões que foram discutidas aqui. Este projeto prevê questões que já vem fazen-do sendo trabalhado há bastante tempo, pelo menos há 3 anos.

Disse que no tempo do Programa Fome Zero, do Brasil sem Miséria, houve o reco-nhecimento do agricultor familiar como sujeito. Indagou, Se ele é sujeito, o que acontece? Ele deixa de ser objeto e se torna ativo. Existe um grupo em Sobral em que a EMBRAPA aprende mais com ele do que o contrário. Os saberes dos agricultores orientam a construção dos projetos. Com isso, conseguem reconhecer o agricultor e o agricultor, em alguma medida, consegue reconhecer a EMBRAPA, pela forma como o trabalho é desenvolvido. A EMBRAPA trabalha na perspectiva de um mercado li-

bertador, que seja construído socialmente em nível local e regional. A questão das feiras e das trocas faz parte dessa ativida-de. Disse que estão implementando algo importante que é comunicar o semiárido, não para mostrar o que a EMBRAPA faz, mas para disseminar os conhecimentos.

Falou que existe outra linha que é a Agro-biodiversidade, que iniciou um projeto há um tempo no Vale do Curu e depois em Tauá, juntamente com a Cáritas (Zé Ma-ria).Parte desse projeto trabalha com as se-mentes crioulas. Ele disse que as sementes crioulas precisam ser qualificadas, melhor conhecidas, de forma a levar autonomia para o agricultor. Que sementes são essas? Qual é o ecótipo que existe na localidade? Disse que refletem como caminhar para a transformação da produção das sementes locais, para que ela atenda à comerciali-zação no PAA. Hoje, diante da transgenia muito forte, é importante caminhar com a questão do beneficiamento das semen-tes crioulas, especialmente no aspecto jurídico. Embora não tenha competência para isso, a EMBRAPA pode ser o canal de comunicação com o seu pessoal, tendo o cuidado para não extinguir as sementes locais. A EMBRAPA já trabalhou com isso no Ceará, em Minas Gerais, com peque-nas unidades de beneficiamento para a agricultura familiar. Disse que tem o know how nisso e se for apresentada demanda, farão encaminhamento para os canais competentes.

Marcelo disse para Sena que na síntese sentiu falta das propostas da mini-plená-ria1 que trabalhou sobre a produção do co-nhecimento. Mas é importante que o do-cumento deste encontro contemple isso. A EMBRAPA está trabalhando um modelo de inovação para atender a autonomia e decisão do agricultor na sua produção e não a do órgão, que também tem uma linha que pode aproximar e realizar pes-quisas agroecológicas. Disse que tem uma equipe trabalhando nesta área. Do que ele viu citado ali, a EMPRAPA está caminhan-

1 Sena explicou que as propostas foram sistematizadas de acordo com as sínteses da plenária. Diante disso, o gru-po da mini-plenária substituiu a sua sistematização assegurando um registro mais coerente com o debate feito.

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do na agrobiodiversidade. A sugestão de que a EMBRAPA deve fazer pesquisa com sementes crioulas já está em atendimento. Falta ainda a discussão final, mas já que foi demandanda pesquisa da EMBRAPA, na área, ele vê oportunidade de que isso chegue formalmente à instituição ou ao gestor, como uma demanda do encontro.

Em relação à questão agroecológica, disse que realizaram um seminário, em março, onde muitas coisas colocadas ali, foram discutidas e que paulatinamente vem atendendo estas questões. O trabalho é feito em construção com as partes inte-ressadas. Nesses projetos tem a questão de gênero e da juventude. Recentemente houve um intercâmbio de conhecimen-tos com o pessoal da região do Cariri (Farias Brito, Juazeiro do Norte, Crato e Jardim) e outro com os agricultores que participam dos seus projetos em Santa Quitéria, Crateús, Tamboril. Também re-alizam intercâmbios e essas capacitações. Por esse trabalho, Marcelo disse que a EMBRAPA acaba compreendendo que está sendo apenas a facilitadora, mas a decisão de fazer e de como fazer termi-na sendo dos agricultores. A solução está com estas pessoas que já convivem com a terra. Agora estão tentando agendar um encontro com a Cáritas, ainda em de-zembro. Por fim, agradeceu.

Itamar Lemos - SDAInicialmente ele manifestou a satisfação de participar deste evento, justificou a au-sência do secretário do Desenvolvimento Agrário Dedé Teixeira que já tinha outro compromisso firmado e não pode com-parecer. Parabenizou todo o grupo pela realização do encontro, que está bem re-presentado. Disse que gostaria de levar um documento do encontro para que a SDA continue a discussão. Disse que a palavra do governador Camilo Santana é diálogo e que a Secretaria vai no mes-mo caminho e por isso, o secretário Dedé Teixeira e os coordenadores estão aber-

tos para aprofundar o diálogo e chegar a uma convergência, de acordo com a de-manda de vocês. Mas, explicou que não tem poder de decisão. Após o debate com a SDA, será possível fechar com mais de-talhe essa discussão. Fez referência à fala da Sena, que colocou um dado impor-tante do crescimento do Plano Agrope-cuário e o da Agricultura Familiar. Houve crescimento, mas ainda é desigual. Tem um estudo que mostra que enquanto os agricultores familiares representam 88% do público do estado, eles só detém 44% da terra. A desigualdade começa por aí. Então, esta questão precisa sempre ser discutida: a questão da reforma agrária, do acesso à terra. A SDA tem dado apoio à questão da regularização fundiária e também à questão do crédito fundiário. Mas isso é pouco. É preciso avançar mui-to nesta questão da distribuição da terra.

Em relação à ATER é importante ter mais detalhes no documento porque é preciso saber o seguinte: qual é a ATER que vocês realmente querem? A ATER que é ofere-cida hoje atende? E já se sabe que não atende. Qual o perfil do técnico da ex-tensão rural hoje, para fazer o trabalho, inclusive na construção de conhecimen-tos em relação à agroecologia e ao meio ambiente como um todo? Ele atende o que vocês reclamam? É possível que a resposta seja não. Talvez seja importante marcar um encontro só para discutir isso na Secretaria.

Em relação à convivência com o semiári-do, a Secretaria executa diversos projetos embora, se houvesse mais recursos, pode-ria fazer um trabalho muito melhor. Tem o trabalho a partir dos convênios que se firmam com as comunidades ou com as secretarias das prefeituras municipais para fazer o trabalho de convivência com o semiárido: a captação hídrica, quintais produtivos, mandalas... Mas o recurso é pequeno. A partir de um encontro como esse, a Secretaria pode batalhar por mais recurso para melhor tratar o meio am-

biente e o uso dos recursos naturais re-nováveis.

Em relação às sementes, aqui cabe tam-bém uma discussão muito grande. Disse que tentam fazer o melhor possível atra-vés do Programa Hora de Plantar, pro-grama que os agricultores conhecem e que vai fazer vinte e nove anos de exis-tência, em 2016. Praticamente, não de direito, mas já de fato, este Programa é uma política pública. A Secretaria tem tentado chegar o mais próximo possível de vocês. Por exemplo, ela não aceita se-mente com agrotóxico, nem transgêni-ca. O fornecedor é obrigado a fornecer por entidade credenciada no Ministério da Agricultura que aquela semente não é transgênica e que não recebe nenhum tipo de agrotóxico. Além do mais, o Hora de Plantar incentiva práticas conservado-ras do meio ambiente, em que o agricul-tor que receber a semente e fizer qualquer prática de manejo e conservação de solo e água, além dos 50% de rebate, ele tem mais 30%. Por quê? Porque a Secretaria quer que ele faça uma leitura mais agroe-cológica possível. Ele recebe 10%, e se ele não fizer nenhuma queimada ele recebe 30%. Do pagamento de 100%, tem 50% de rebate, tem 30% por não fazer quei-mada e tem mais 10%, se fizer qualquer prática de conservação de solo e água. Essas orientações são colocadas no ma-nual operacional do banco. Quem tiver interesse é só procurar a Empresa de As-sistência Técnica e Extensão Rural - EMA-TER. Lembrou que quando o ano é ruim, como está acontecendo agora, por cinco anos consecutivos, o governo do estado vendo a situação dos agricultores, geral-mente anistia o pagamento.

Sobre as sementes crioulas é uma questão que a SDA também quer trabalhar e por isso ele já comentou com o pessoal da FE-TRAECE que é importante dar um passo mais concreto. Tem sido feitas reuniões e a coisa não sai do lugar. Toda semente crioula tem que ser registrada no MDA e

no Ceará, não tem nenhum histórico de registro de sementes crioulas. Disse que é preciso ver qual a alternativa para fa-cilitar o caminho, talvez uma declaração de semente agroecológica. Já houve reu-niões com a Cáritas, CETRA, FETRAECE. No dia 30, haverá uma reunião da Secre-taria com a FETRAECE para discutir os caminhos mais concretos para viabilizar a questão das sementes crioulas. O estado tem condições e interesse de participar desse processo, mas tem que trabalhar de modo legal, pois ele é fiscalizado e tem que seguir as normas vigentes ou, então, terá que trabalhar para pressionar a mu-dança dessas normas para que os agricul-tores forneçam as sementes e possam ter acesso. Disse que ele tem muito interes-se e que estava ali em nome do Marcos Vinícius Assunção, que é consultor da SDA e professor da universidade, doutor na área de sementes. Ele tem interesse de dar passos e discutir caminhos práticos e concretos para começar a comercializar as sementes crioulas. A partir desse en-contro é possível sair do marco zero por-que há muita reunião e a coisa não está acontecendo. A SDA tem condições de colocar dentro do Hora de Plantar parte do recurso das sementes crioulas. É preci-so ter uma legislação propriamente defi-nida, que propicie ao estado, poder com-prar as sementes crioulas sem depois ser questionado por nenhum ministério.

Em relação à Convivência com o semi-árido, há um ditado que diz muito aqui no Ceará que a dor ensina a viver. Real-mente apesar dos anos secos, é possível serem vistas experiências fantásticas dos agricultores em relação à convivência com o semiárido, na produção dos seus alimentos e para os animais. O Ceará foi o único estado do Nordeste que do ano passado para cá aumentou a produção de leite. Em todos os estados nordestinos, a produção diminuiu na seca. Por quê? Porque o agricultor aprendeu a fazer sila-gem e o feno, a plantar gliricídia, a usar a palma forrageira, que pegou para valer.

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A Secretaria está chegando agora a quase 40 milhões raquetes de palmas distribuí-das. Só este ano foram distribuídos oito milhões de raquetes. Ano passado a SDA fez uma rica experiência com sementes de gliricídia. A gliricídia que é um grande parceiro da palma. A palma é muito rica em água e vitaminas, mas não tem fibra. Se gliricídia for plantada perto da palma, é possível ter no mesmo local a proteína e a fibra, além da água e vitamina para o rebanho.

Muitas das sementes distribuídas foram guardadas e serão plantadas na próxima estação chuvosa. Disse que tem muito interesse nessa questão da fenação, da produção de feno. Há muito a se avan-çar nesta questão. No ano em que chove pouco, como se perde a oportunidade de fazer feno? Feno de mata-pasto, de fede-goso, que são produtos nativos. As pesso-as deixam aquilo secar e quando vai usar não tem mais valor e fazendo o feno, podem guardar. O governo está introdu-zindo equipamentos como ensiladeiras e máquinas para fazer feno para facilitar a vida no campo dos agricultores. O êxodo rural em qualquer parte do mundo é uma coisa que acontece. A população acaba saindo do campo para a cidade. E a agri-cultura depende de mão-de-obra. Como é que ela sobrevive? Modernizando-se. E como ela se moderniza? Melhorando os processos de produção, melhorando o processamento. A pessoa querer que hoje o jovem permaneça na propriedade, tra-balhando com a mão de obra do pai e da mãe, trabalhando na enxada, na foice e no machado e à noite na escola estudan-do, fazendo o curso técnico, se especia-lizando, aí ele desiste. Agora se começar a colocar equipamentos que facilitem o trabalho dele no campo, uma máquina de fazer feno, de fazer silagem, um mini--trator, que traz mais conforto e aumen-ta sua produtividade, ele vai pensar duas vezes em sair do campo para a cidade. Existe financiamento do PRONAF que pode ir a esse encontro.

Itamar disse que, além disso, a SDA tem um trabalho com quintais produtivos. Tem um convênio com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST em que hoje nos assentamentos, há 419 mandalas implantadas e funcionando no Ceará. A mandala é uma ferramenta agroecológica fabulosa e potente na pro-dução de alimentos para a família e para a geração de renda. Os quintais produti-vos tem sido hoje, os grandes contribuin-tes para a produção de alimentos do PAA e PNAE. A SDA está aberta a esta questão de inclusão dos produtores do PAA e do PNAE e através da Coordenadoria do De-senvolvimento da Agricultura Familiar, tem a primazia de hoje coordenar o Plano ABC, que é o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricul-tura. O Plano ABC tem tudo a ver com a recuperação do meio ambiente, a recu-peração das matas ciliares, de trabalhar com a compostagem orgânica, com os biodigestores, com a reprodução das áre-as de pastagens. O Plano tem um Comitê Gestor e ele também é fundamento para o Cadastro Ambiental Rural, porque ele vai ser exigido nas áreas recuperadas que estavam degradadas.

Cássio Trovatto – MDA Agradeceu ao convite da rede Cáritas para dialogar, ouvir e debater. Disse que a bu-rocracia da elaboração e da execução das políticas são complicadas e que esses mo-mentos são muito importantes. Em segui-da, parabenizou a todos os participantes pelas questões refletidas no campo da “nossa” agricultura familiar, porque ele também se considera agricultor familiar. “Parabenizou todos vocês pelo debate e pela construção”.

Disse que considera superimportante a ideia de que a construção da agroecologia tem o seu princípio. Para fazê-la é neces-

sário doação e um olhar diferenciado, de acordo com o projeto político, seja na vi-são dos agricultores/as familiares seja na do governo. Porque se não se tem visão estra-tégica do que se quer, muitas coisas exter-nas podem assombrar. Com relação ao que é agroecologia, é importante refletir o que é convivência com o semiárido na perspec-tiva da agroecologia e o que é agroecologia na perspectiva do semiárido. Se não se tem a construção daquilo que se quer como processo de desenvolvimento, não se che-ga ao objetivo comum e conjunto.

Disse que é coordenador da Formação da Agricultura Familiar na perspectiva de for-mar técnicos, agricultores e jovens, além de coordenador, junto com a secretaria, do Plano Nacional de Agroecologia e Pro-dução Orgânica – PLANAPO, pelo MDA e junto à Câmara Interministerial de Agro-ecologia. Falou que ficou triste e chateado com uma notícia que reforça a posição de uma parte do governo. A ministra Kátia Abreu reafirmou que não quer o Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotó-xicos – PRONARA, pois ele “atrasa a agri-cultura brasileira”. Ela já tinha dito isso há três semanas, quando o Programa deveria ter sido lançado na Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Lá, ela falou que juntará todas as forças para dizer que o agrotóxico é o elemento prin-cipal da alimentação da população brasi-leira. Disse que produzir com transgênico, com agrotóxicos e com eucalipto não dá para dizer que é sustentável e vender di-zendo que é produção alimentar saudável. De que forma é possível viver? O PRONA-RA foi construído por dez ministérios. A EMBRAPA aceitou, mas tem órgão do Mi-nistério que não aceita.

Disse que queria começar a fala nesta perspectiva. É preciso nos unir e fazer um grande enfrentamento no campo da ideologia política do que se quer no cam-po, em particular, na agricultura familiar brasileira, seja no Nordeste, no Norte, no Sudeste, aonde tiver. O MDA e mais oito

ministérios assinaram a Portaria indican-do querer o PRONARA na rua, se efeti-vando, junto com todos vocês. Sem isso, ninguém conseguirá vencer. Disse que não vai ser uma pessoa que vai intimidar o governo a fazer esse lançamento. A Ká-tia Abreu também está com um Projeto de Lei na Câmara dos Deputados acabando com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, acaban-do o Instituto Chico Mendes de Conser-vação da Biodiversidade – ICMBio, o Ins-tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA, na participa-ção da regulamentação do agrotóxico na área ambiental, na saúde, querendo ser a única protagonista do regimento em cima do agrotóxico.

Esse é um cenário de resistência e das for-ças contrárias que existe hoje no debate da agricultura no Brasil. Essa fala é para con-textualizar a nossa proposta. E ela não tem que ser pequena, ela tem que ser grande. Disse que o MDA quer um Brasil agroeco-lógico, fora do agrotóxico e do transgênico, com segurança alimentar, com produção de alimentos saudáveis, com recurso natu-ral, com agrobiodiversidade. Os agriculto-res são os grandes responsáveis pela maio-ria da produção de alimentos consumidos por 200 milhões de pessoas no Brasil. Não são outros. É a agricultura familiar respon-sável pela maioria da produção de alimen-tos da população brasileira. Então, quem tem que dizer o que tem que ser, são os agricultores: produzir sem uso de veneno, sem uso de transgênicos, sem pulverização aérea, com segurança hídrica, com igual-dade, com direito, com equidade, com se-gurança alimentar para todos. Disse que é aqui que nasce a força do rural, por isso, a importância de construir propostas e bus-car relações com os movimentos sociais da agricultura familiar. É isso que o MDA, o INCRA, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, Ministé-rio do Meio Ambiente – MMA e o Minis-tério da Educação– MEC vem buscando construir com vocês.

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O PLANAPO tem dado condição de poten-cializar os esforços do governo federal na construção de uma relação da política com a realidade e a demanda do campo que en-volve um conjunto de temas que inclusive foram pautados aqui: terra, território, segu-rança hídrica para a produção e consumo, questão das sementes, fortalecer os espa-ços construtivos da agricultura familiar e a produção de sementes crioulas, tradicio-nais, locais, com crédito diferenciado na perspectiva de poder ofertar uma política pública diferenciada, dando um novo de-senho do crédito. Hoje, o crédito tem uma diferença de 120% na taxa de juros entre o agricultor agroecológico e o tradicional. Nem precisa ter certificado de orgânico.

Disse que também estão avançando com velocidade para trabalhar com o Programa Nacional de Sementes e Mudas para a Agri-cultura Familiar. O MDA e o MDS através deste Programa estão trazendo 600 bancos de sementes. É um programa que dialoga com um conjunto de outras políticas, que se articulam e fazem com que o agricultor se sinta mais responsável pelo processo da multiplicação e da distribuição de se-mentes dos agricultores. Ele considera que estão avançando no empoderamento da participação social dos produtores. Quem não acredita na agricultura agroecológica, está errado, porque não tem mais volta. A Presidenta Dilma assinou o Decreto que instituiu a Política Nacional de Agroecolo-gia e Produção Orgânica e foi clara ao dizer que quando se discute sustentabilidade no campo, está sendo trabalhado o conceito da agroecologia. Para dar sustentação a essa política, foi criada a Comissão Nacio-nal de Agroecologia, que permite o diálo-go com o governo e a sociedade, a elabo-ração da política pública diferenciada para a agroecologia, buscando democratizar a participação e o acompanhamento social. São fatores fundamentais que favoreceram o avanço da agroecologia nesses dois anos, embora haja muito para avançar.

A EMBRAPA e as suas organizações esta-

duais, a partir da base da Política Nacional de Agroecologia, vem conseguindo espa-ços cada vez maiores dentro da instituição. São desafios tremendos para todos. Há um esforço para que todos os ministérios que compõem a política nacional não sejam simplesmente uma oferta de programa, mas que internalize nas suas funções, a agroeco-logia como processo de desenvolvimento. É um desafio enorme. O 1º PLANAPO está acabando e o 2º está sendo elaborado em diálogo com a sociedade, desde julho. Ele defende uma ação atrelada ao Plano Pluria-nual – PPA, que é o programa de governo onde pode ser assegurado o recurso e con-seguir executá-lo da forma que foi pensado.

Algumas conquistas foram extremamente importantes. No Programa Nacional de Se-mentes e Mudas para a Agricultura Familiar não se trabalha mais com sementes transgê-nicas. Busca-se fortalecer a multiplicação e distribuição das sementes crioulas e estamos indo atrás dos agricultores junto com o MDS no Programa de Casas de Sementes. Disse que também estão trabalhando para dimi-nuir a dependência das sementes transgêni-cas e na perspectiva para dentro do crédito rural. Estão trabalhando a Assistência Técni-ca e Extensão Rural – ATER, que a partir de agora acontecerá na perspectiva da agroeco-logia. Na política de seguro da agricultura familiar hoje é aceito o policultivo. Não tem mais aquela questão de que é só o mono-cultivo, acabou. Os agricultores também são beneficiários da política de seguro rural.

Disse que o primeiro momento desta fala é dizer que o MDA debate muito a agroecolo-gia. Primeiro, como política, enfrentando as forças contrárias ao projeto político. Estão querendo passar a perna no governo. Não é à toa que prenderam hoje de manhã o senador. Isso tudo que eles fazem é políti-ca que nos afeta como projeto político de governo defendido desde o 1º mandato do governo Lula. Eles querem derrubar todas as conquistas até hoje. Isso é um movimento político agroecológico que precisa ser refle-tido a partir daquilo que está acontecendo.

Segundo, como prática, onde diariamente busca pela transição cada vez mais eficiente no processo com geração de renda, pensan-do uma economia diferenciada. Economia também faz parte da política. Só é possível mudar a economia de mercado por uma economia solidária, fazendo política.

Por fim, disse que há uma conquista mui-to importante na institucionalização dos meios de governo de que a agroecologia é o caminho prioritário sem volta, sem re-torno, para avançar no desenvolvimento que se quer. Disse que encerra o primeiro momento da sua fala com essas questões para depois fazer um diálogo mais junto de vocês. Agradeceu.

Paulo César – ASAIniciou falando que ao chegar ao encon-tro, refletiu sobre o significado das pessoas terem saído de tão longe para estarem ali. E ficou pensando: Viemos aqui para quê? O que a gente quer de verdade? O que es-tamos fazendo para chegar até onde que-remos? Considerou que o sentido de estar ali é sinal de maturidade. Destacou quatro sinais de maturidade na caminhada en-quanto Articulação do Semiárido.

O primeiro, é a consciência de quem so-mos, da nossa identidade, de onde nós estamos, das características de onde nós estamos, do que a gente precisa para ter uma vida mais digna, pois se fala tanto em desenvolvimento, mas que infelizmente não chegou plenamente para todos. En-tão, a maturidade da nossa consciência de que somos do semiárido e nós temos um projeto para que esse semiárido possa nos possibilitar garantia de direitos e vida dig-na para todos.

O segundo, é o desejo de transformar. Disse que todos estão ali com experiências concretas. Não estão fazendo teorizações, mas falando de uma realidade que os agri-cultores aqui já vivenciam no trabalho

agroecológico, na produção de alimentos, no acesso à água, na construção de pos-sibilidades de garantia de uma vida me-lhor. A teoria é importante, mas quando a prática é bem materializada, tem muito mais valor. Disse que ali tem dezenas de doutores que na sua prática agroecológi-ca fazem as sementes, os frutos chegarem aqui, mesmo com escassez de água.

O terceiro sinal de maturidade é a capa-cidade de saber propor. Disse que não es-tavam ali simplesmente para criticar go-vernos. A produção feita no encontro diz para toda a sociedade e para os governos presentes que queremos contribuir com o desenvolvimento local, do município e do estado, com propostas claras e viáveis para que os problemas, as dificuldades, os desa-fios possam ser superados a partir daquilo que foi experimentado e visualizado de forma contextualizada. Isso é importante, porque durante muitos anos, a sociedade sempre confiou aos governos o desenvolvi-mento. Ele disse que estão presentes, sujei-tos de transformação da própria realidade, que não estão acomodados aguardando que as coisas caiam maravilhosamente do céu. Tem uma coisa muito extraordinária que tem acontecido todos os anos que é a incorporação por parte dos governos de algumas tecnologias que são da sociedade civil, como aquelas de convivência com o semiárido. Ele disse que não sabe se as pes-soas conseguem perceber isso, mas décadas atrás não se falava em semiárido, mas em política de combate à seca.

Em relação ao que queremos, ele contou que certa vez foi fazer um trabalho de im-plementação de uma casa de sementes e começou fazendo uma apresentação, depois uma contextualização. E quando terminou a apresentação, um cidadão ba-teu no seu ombro e perguntou: vocês vão trazer as sementes amanhã? Muitas vezes as/os agricultoras/es querem objetividade, querem colocar as mãos na massa e cons-truir. Neste encontro está sendo produzi-do um documento maravilhoso que tem

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as digitais de cada participante. Aí está o nosso projeto de desenvolvimento para o semiárido. E o que queremos? A gente não quer só produzir conhecimento não, mas que ele esteja voltado para a articulação de políticas que possam garantir a sua mate-rialização e viabilizar o desenvolvimento que queremos. Disse que queremos uma resposta do governo, sem aquela angús-tia de quando participamos de audiências públicas e ficamos meses e meses esperan-do uma resposta, nem que seja negativa. Não é sendo imediatista.

Disse que há mais de quatrocentos anos es-peramos que as políticas públicas possam chegar, principalmente aqui no Nordeste, de uma forma mais igualitária. E quando a Sena falou da desigualdade de investimen-tos dos recursos para o agronegócio e para a agricultura familiar, essa diferença ela não consegue ser mensurada somente em nú-meros, porque quando você tem recurso X e recursos Y para a agricultura familiar, eles não dão conta de dizer da falta de assistên-cia técnica, da falta de apoio... Disse que tudo que fizeram em relação ao desenvolvi-mento do semiárido foi a duras penas, com políticas públicas que às vezes não disponi-bilizam os recursos necessários para imple-mentação daquilo que precisamos.

Disse que espera com o documento, a efetivação de políticas públicas, inclu-sive para quem mais precisa. Falou que não queremos a resposta do governo para amanhã não, mas para hoje, para agora, porque já faz muito tempo que esperam por elas. Perguntou: E que políticas pú-blicas queremos? Não é qualquer politi-quinha, mas uma política pública que ga-ranta com efetividade os nossos direitos, chegando às comunidades mais longes, pois às vezes elas não chegam ou demo-ram a chegar. Uma política pública que possa contemplar os princípios que esta-mos construindo aqui: da sustentabilida-de, da agroecologia, da preservação das sementes tradicionais, dos indígenas, dos negros, das mulheres, dos jovens. Que es-

sas políticas cheguem de fato com efetivi-dade e de forma contextualizada.

Disse também que espera que o documento do encontro possa chegar o mais longe que puder, no governo federal. Que a resposta precisa ser dada com rapidez e agilidade. Esse momento é oportuno porque é um espaço de diálogo com o governo de for-ma interessante. Disse que não estão aqui só para ouvir, mas também para propor, cobrar, monitorar para que as políticas pú-blicas se materializem. Destacou que preci-sam de políticas públicas voltadas para as mulheres, para a juventude, que agilizem o processo de reforma agrária, que possibili-tem o acesso à água para o consumo huma-no e produção de alimentos, que garantam todos os direitos previstos na Constituição. Disse que sairá do encontro animado com as proposições, mas sai também preparado para continuar esse movimento que não termina aqui. O documento ainda será en-riquecido, mas já espera que contemple as propostas a serem encaminhadas. A partir daí aguardarão uma resposta. A resposta que se quer são políticas públicas para que possam continuar o processo de desenvol-vimento do semiárido.

Debate

renato - irauçuBaPerguntou ao Marcelo, da EMBRAPA, por que existe uma distância ente os sindica-tos e a EMBRAPA? Antigamente era dife-rente. Depois perguntou ao Itamar, por que a semente do Hora de Plantar demora tanto chegar aos municípios? Isso preju-dica demais o agricultor nessa região seca que é o semiárido, que sofre muito com esse problema de estiagem. Perguntou ao Cássio, por que há tanta burocracia para que o agricultor possa ter a Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP no sistema do MDA? Disse que quem é produtor e for-nece alimento pelo PAA, precisa da DAP

e quando ela vence, demora mais de qua-renta dias para chegar.

WalDemar - esPlarDisse que o Itamar havia falado sobre as sementes crioulas que não são uniformi-zadas e que não tem nenhuma cadastra-da no sistema do MDA. Ele considera que dificilmente elas serão cadastradas, por-que a legislação atual não permite isso. As sementes crioulas não são totalmente uniformes. Essa uniformização pelo mé-dio e pequeno produtor que seria parte dessa distribuição seria bastante compli-cada. A legislação atual não atende e não respeita as sementes crioulas como respei-ta as sementes produzidas pelos grandes produtores do agronegócio. Qual a res-ponsabilidade da EMATER com relação ao Hora de Plantar? Retomou a fala do Itamar que afirmou que dependendo das práticas agroecológicas, os agricultores podem ter abatimento, desconto. Porque os técnicos não estão em campo fazen-do esta divulgação? Por que no processo seletivo dos técnicos não tem nenhuma cobrança do conteúdo agroecológico? Os técnicos são selecionados e contratados para atender ao agronegócio, não para prática agroecológica e produção orgâ-nica. Depois ele se dirigiu ao Marcelo, que falou sobre alguns intercâmbios que estão sendo realizados pela EMBRAPA. Disse que conhece a qualidade da EM-BRAPA, dos técnicos, dos pesquisadores e queria saber como a EMBRAPA pode fazer a sistematização das experiências e a divulgação pública nas grandes mídias, inclusive se posicionando perante as lou-curas da Kátia Abreu? Sistematizando e trazendo essas experiências como exito-sas, além das notas das visitas que realiza. Por exemplo, a EMBRAPA citou que es-teve na experiência na comunidade Ria-cho do Meio, em Choró, mas não faz a sistematização. Por que não fazer se tem técnicos tão qualificados?

lourDes – cáritas regional Informou que no encontro estão presentes quarenta municípios do Ceará, de quase todas as regiões, com exceção do Sertão Central. As/os participantes são diversos, representantes de associações comunitá-rias, sindicatos, instituições ligadas à Igre-ja... Em seguida refletiu sobre duas ques-tões colocadas pelo Itamar. A primeira é em relação à juventude. Ele afirmou que se a juventude não tiver incentivos, prin-cipalmente de máquinas e equipamentos que diminuam o trabalho, não ficarão no campo. Disse que tem havido outras expe-riências, por outro viés, que é a Educação contextualizada, onde a partir dela as/os jovens de comunidades afirmam que que-rem continuar no campo. Agora, é preciso que a educação seja contextualizada, volta-da para o campo. Falou que no Ceará, há o fechamento de muitas escolas na zona rural para o programa chamado nuclea-ção. As comunidades tem resistido e tem havido pressão nas Câmaras de Vereado-res, mas o programa vem como um rolo compressor, com força total. A juventude precisa de outro tipo de incentivo, não de máquinas. A outra coisa que Itamar falou foi sobre as práticas agroecológicas que recebem incentivos. Então ela pergun-tou como falar de práticas agroecológicas usando as sementes híbridas que são distri-buídas para agricultoras/es? Como é que a SDA pensa isso? Como distribuir sementes híbridas e querer que o povo faça práticas agroecológicas, que se fizer recebe incen-tivos? Depois perguntou para o Cássio: Você colocou que daqui para a frente toda a assistência técnica vai ser voltada para a agroecologia, mas a pergunta é: como é que se faz isso quando a assistência técnica oficial, o quadro técnico da EMATER já está ultrapassado e sem nenhuma formação em agroecologia? O que existe de assistência técnica voltada para agroecologia é realiza-da pelas instituições da sociedade civil que são contratadas, mas não pelo governo. Depois fez pergunta ao Marcelo: Apesar

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da mão pesada da Kátia Abreu no Minis-tério, a EMBRAPA tem realizado iniciativas importantes neste campo da agroecologia, da agrobiodiversidade. Como ampliar para outras regiões do estado do Ceará?

inácio – cicloViDaDisse que sua preocupação é que geralmen-te as pessoas do poder público são muito francas e combativas contra os transgêni-cos, mas na prática, esbarram muito nas burocracias e nas dualidades internas dos órgãos, dos ministérios... Disse que o Mar-celo falou que a questão dos estudos e pes-quisas sobre as sementes crioulas são coi-sas do futuro, mas dependem do MDA. O Itamar fala que se pode desde já, incluir e distribuir as sementes crioulas no Hora de Plantar. Antes a gente tirava as sementes da EMATER e devolvia o pagamento em sementes. De um tempo para cá é pago com dinheiro. Por que o órgão não recebe mais sementes? Porque sabe que as semen-tes que são distribuídas não tem mais ne-nhum valor de reprodução. Qual o futuro do Programa Hora de Plantar?

eriVanEm função do diálogo com a EMBRAPA. A Cáritas tem refletido com a RIS, que temos a necessidade de dizer que as se-mentes crioulas, as sementes da vida são boas e resistentes. Disse que recentemen-te refletiram sobre uma pesquisa, feita na Paraíba, onde se comparou as sementes crioulas com as sementes híbridas. Os re-sultados mostram que a semente crioula é a mais resistente, a que produz mais, a mais gostosa. O Marcelo apontou a pos-sibilidade de diálogo e fazer uma dessas pesquisas, que é complicada para organi-zações e comunidades que não tem um know how, mas a EMBRAPA tem. Pediu para Marcelo falar mais sobre isso. De-pois, lançou questão para o Cássio. O 1º PLANAPO é uma vitória porque antes

não tinha nada, mas teve várias dificul-dades na sua implementação, inclusive com a burocracia. O Plano desenvolveu várias atividades de apoio, fomento, etc. em vários lugares do país. Agora vai ser lançado o 2º PLANAPO. Como é que vai sair de fato? Qual o rosto? Quais são os desafios que iremos enfrentar aqui na base para poder acessar essas iniciativas do 2º PLANAPO?

Mesa

Marcelo - EMBRAPADisse que o Renato em parte tem razão. A EMBRAPA trabalha com projetos e para continuar as ações tem que ter recursos para estar em campo. Quando há uma demanda, é transformada em projeto. Disse que não estão afastados dos sindi-catos. De modo geral, a EMBRAPA está muito próxima da FETRAECE, dialogan-do com a diretoria e com a regional de Crateús e do Cariri, e que não é não por acaso que tem destinado recursos para ambos. Aproveitou para dizer a Lourdes, que o trabalho é ampliado na proporção que tem recursos, mas há de convir que a instituição não tem pernas.

Disse que talvez deva aproveitar a ideia do Waldemar de sistematizar as experiên-cias, pois a EMBRAPA está pecando nessa história de sistematizar e publicar. Falou que existe uma burocracia para fazer isso. Depois de escrito, vai para Comissão Lo-cal de Publicações - CLP. Depois vai para ali e vai para acolá. O que se escreve hoje, só vai poder publicar, mesmo interna-mente, depois de muito tempo. Antes, o tempo era de seis meses a um ano. Hoje, ele não sabe como está.

Respondendo à provocação do outro co-lega, disse que a EMBRAPA está atrasada na pesquisa sobre variedades de semen-tes crioulas. Disse que recentemente, em Brasília, fez contato com o pessoal da aca-

demia e de outras unidades da EMBRAPA, mostrando as experiências já realizadas. Hoje há uma disposição de trabalhar de forma mais sólida, isso aí. Perguntou: O que nós vamos fazer? Disse que é dar res-postas ao cadastro das sementes crioulas. Relatou que teve uma experiência com o MAPA, anos atrás, muito ruim, no regis-tro da variedade de sorgo forrageiro, pois disseram que não era uniforme. Então, a gente disse que não queria uniformida-de. A EMBRAPA trabalha com o chama-do composto. Basicamente, as sementes crioulas dentro da variedade tem uma va-riabilidade genética muito grande. Tem grande, tem pequena. Disse que a pro-posta deles é verificar as variedades que os grupos e comunidades tem. Quem vai apontar as sementes é a RIS e a Cáritas. A EMBRAPA não tem conhecimentos so-bre essas sementes, mas tem ferramentas para pesquisar e fazer testes que levarão ao cadastro no futuro, se for possível. Disse que vão comparar a variedade uma com a outra, vai ter testemunha, pode ser uma variedade da EMBRAPA, como testemunha referencial. Vão estudar den-tro de cada variabilidade toda a caracte-rística, porque é preciso descrevê-la. No caso do milho, por exemplo, descrever a altura, o número de espigas, a cor dos grãos, se há um sistema de policultivo ou não. Ao mesmo tempo, se consegui-rem recursos adicionais, inclusive com a CONTAG, farão a caracterização genética propriamente dita, sabendo quais são os marcadores moleculares. Existe toda uma ferramenta e metodologia para gerar condições suficientes e necessárias para que isso aconteça.

Disse que a EMBRAPA tem um desejo de que as pessoas sejam produtoras de for-rageiras, acompanhando os critérios da nova lei aprovada este ano, onde tem todos aqueles questionamentos que nin-guém pode tirar isso do agricultor. Então, é necessário estabelecer alguns instru-mentos legais para fazer isso. Em segui-da ele perguntou: É difícil isso? E logo

respondeu que não. Falou que já fez isso em Tauá junto com a Cáritas e não teve nenhuma dificuldade. Foi com o feijão que, diferentemente do milho, tem uma característica diversa de reprodução.

Itamar - SDAQuanto à demora da chegada das semen-tes, Itamar disse que isso realmente acon-teceu em muitos anos e a SDA tinha um problema. Antes, a Secretaria fazia um edital, mas nesse ano foi dado um passo importante: o governador Camilo Santa-na no começo do ano assegurou o recur-so para a programação de 2016 e edital de credenciamento nos mês de setembro. A proposta para o ano que vem é fazer esse credenciamento já em março, abril e maio, para que os fornecedores vencedo-res saibam o que vão produzir dos editais, ficando mais rápido. Já existe o compro-misso com todos que até o final de dezem-bro, todas as sementes serão entregues nos armazéns regionais. A partir daí, ime-diatamente, a EMATER vai receber e fazer a distribuição nos municípios. No Cariri, dependendo da decisão do secretário, a entrega das sementes será feita na segun-da quinzena de dezembro, porque lá cho-ve mais cedo. E nos demais municípios, talvez a distribuição seja iniciada no co-meço de janeiro. Disse que a crítica proce-de pelos fatores colocados, mas a SDA está tentando consertar a questão dos editais.

Depois Itamar respondeu ao Waldemar, que em relação às sementes crioulas, a Secretaria está totalmente aberta para mudar a produção dessas sementes. In-clusive o governo tem um laboratório de sementes de alta qualidade e especializa-ção, que é considerado um dos melhores laboratórios de sementes do país, a pon-to da EMBRAPA analisar as suas semen-tes nele. A SDA se colocou à disposição também de todo processo de uniformiza-ção, beneficiamento das sementes criou-las. Então, isso aí continua aberto porque o laboratório é da Secretaria, que é uma

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instituição pública. Quem quiser ir lá e tiver interesse em requerer o uso do labo-ratório de análises, isso é possível.

Em relação à questão da EMATER, às ve-zes ela passa por dificuldades. O pessoal efetivo está velho e precisa se renovar. O último concurso foi em 1984 e a empresa está com muitos servidores aposentados. Um concurso público é a grande questão para a EMATER renovar o seu quadro. Hoje ela está vivendo praticamente para fazer o trabalho de campo, com os bol-sistas, mas que também tem seus limites. Algumas pessoas que estão no campo tem dado sua contribuição, mas não qua-lificada, na agroecologia, na produção agroecológica. Esta questão está posta para o governo. Este ano há a dificuldade que todo o país está passando, e com o Ceará não é diferente, mas ele espera que em 2016, essa questão seja resolvida.

Disse que atualmente está em gestação o Plano Estadual de Agroecologia. O docu-mento que sairá daqui, sem dúvida ne-nhuma pode se constituir num grande subsídio para este Plano.

Depois, Itamar falou para Lurdes sobre a questão da juventude, que embora ele não tenha falado, em nenhum momento ele esqueceu a questão da Educação Con-textualizada, pois ela é fundamental. Para ele, é preciso trabalhar também, para a juventude ficar mais motivada, a questão da economia de processos. Não é possível continuar com processo de produção an-tigo, de baixa produtividade, porque não conseguirá manter o jovem no campo. Fazer de uma forma que dá mais confor-to e qualidade de trabalho para ele ficar mais motivado.

Em relação à incoerência das práticas agro-ecológicas, disse que anteriormente fez re-ferência àquelas relacionadas ao manejo e conservação da água e do solo. E em relação à semente híbrida, é preciso lembrar que estamos numa democracia, que é feita com pessoas que pensam diferente. O milho hí-

brido hoje é responsável por uma grande produção. Se a Secretaria chegar no Cariri ou em Tauá, as pessoas não vão querer saber de variedades. Elas querem saber do milho híbrido. Agora, no momento em que hou-ver uma grande produção de semente criou-la, que tiver escala, as sementes híbridas po-derão perder espaço. Mas no momento o que existe é isso aí. Nas reuniões que acon-teceram com os movimentos sociais, foi de-finido que a Secretaria distribuiria as semen-tes crioulas em 2016, só que não tem. Não tem sementes crioulas registradas no MDA e nenhuma cultivada em variedade. O estado tem que trabalhar de acordo com a legisla-ção e ela diz que a semente crioula deve estar registrada no MDA. No Ceará, não tem uma semente crioula registrada, a não ser a cas-tanha, que a EMATER conseguiu registrar. Então, é preciso parar com esse discurso e fazer coisas na prática para produzir semen-tes crioulas em escala para atender 182.600 agricultores. Cadê as sementes para atender esse pessoal todo? Não tem. Então, o que está sendo feito é não aceitar agrotóxico e a semente transgênica. A Secretaria está total-mente aberta para trabalhar com a semente crioula. Seria bom se em 2017, já houvesse sementes registradas, e se não, uma alterna-tiva que possa ser comprada pelo governo.

Em relação ao pagamento, antigamente o governo recebia o pagamento em semen-tes, só que se verificou que o Estado é um péssimo gerente. Colocaram estas semen-tes no escritório da EMATER, que ia de-pois para o escritório regional, para depois ver o que fazia com esta semente. Quando a semente chegava ao destino final, ela es-tava ruim, sem valor comercial nenhum e não tinha onde armazenar. Então, se de-cidiu pelo pagamento em espécie. O agri-cultor recebe e depois que produz, paga a metade do que recebeu e ele pagando, já está credenciado para o ano seguinte. O Estado não tinha condições operacionais legais para receber essas sementes porque elas ficavam todas perdidas. Com o direito recebido ele vai para a Companhia Esta-dual de Desenvolvimento Agrário e Pesca

–CEDAP, favorecendo novos agricultores familiares. É uma resposta melhor, mais prática e ninguém perde com isso.

Cássio - MDADisse que a questão da assistência técnica é o grande desafio para o plano de agroecolo-gia. Quem tem feito mais assistência técni-ca no campo agroecológico são as organi-zações não governamentais. Nas chamadas públicas que o MDA lançou, 90% de quem executa é ONG. Poucas são as organizações de governo que conseguiram ser contrata-das. Mas não é só isso. As ONGs comuni-caram ao Ministério a grande dificuldade de encontrar técnicos com acúmulo em agroecologia. O MDA junto com outros ministérios vem trabalhando um conjunto de ações paralelas para diminuir esse pro-blema, como debate com as universidades e os institutos federais, para fomentar nú-cleos de agroecologias na academia. Hoje, são cento e vinte núcleos espalhados em diversas universidades e institutos federais, capacitando e qualificando estudantes na interdisciplinaridade, ou seja, não só estu-dantes de agronomia, pecuária, zootecnia, mas um conjunto de várias áreas do co-nhecimento de forma a ter como foco do desenvolvimento, a identidade do rural, da agricultura familiar e da agroecologia, como práticas e processos.

Disse que o MDA tem trabalhado também com o Fórum Nacional de Professores de Ensino e Extensão Rural, buscando captar e influenciar o olhar, a nova forma de ver o desenvolvimento, com práticas e técnicas que aperfeiçoem o diálogo e a relação de técnicos com agricultores, buscando con-cretizar relações de compartilhamento, de construção de conhecimento no serviço de ATER. Também vem fazendo formações no formato, ou seja, o MDA contrata ou convenia com as organizações governa-mentais ou ONGs. É exemplar o caso da Rede ATER Nordeste. Nela, o MDA conse-gue fortalecer este processo de diálogo na construção e na identificação dos gargalos

da ATER, a partir das realidades locais. Este projeto encerrará agora em dezembro, de-pois de dois anos e a perspectiva é repro-duzir por mais dois. Então, uma educação que a gente chama de compartilhada com saberes locais e adaptados, com as carac-terísticas e as condições estabelecidas no campo das ONGs. Mas continua sendo um gargalo porque a agroecologia ainda não é um curso, identificado e registrado nas ins-tituições de ensino. As iniciativas que tem, são cursos de 40 a 80 horas, que ajudam a qualificar alguns serviços e práticas, não como processos, porque não existe uma educação continuada.

Falou que o 1º plano foi construído na perspectiva do que vinha acontecendo en-quanto política. Qual é o objetivo da Polí-tica Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica? É integrar e articular as políti-cas no campo do desenvolvimento rural. A agricultura familiar é a única beneficiá-ria? Não. São beneficiários desta política, o agricultor familiar, consumidores, organi-zações econômicas da agricultura familiar específicas (cooperativas, associações...). Enfim, existe uma diversidade de forças articuladas que constrói e dialoga com a agricultura familiar no Brasil, inserida no conjunto das políticas públicas. Hoje, são dez ministérios responsáveis pela imple-mentação do Plano Nacional de Agroeco-logia, que integram quase quarenta órgãos de governo, que também tem seus depar-tamentos e coordenações. Só no MDA são quatro órgãos: a Secretaria da Agricultura Familiar; a Secretaria de Desenvolvimento Territorial; a Secretaria de Desenvolvimen-to Agrário; e o INCRA. O grande desafio nesse 1º plano, é identificar as resistências desses órgãos, buscando a aproximação, a articulação e a integração para entender o que cada uma dessas políticas constrói, executa e como trabalhar em conjunto, de forma a levar o Plano até o fim. Disse que foi um processo rico. Tem esse viés mais amplo e interinstitucional que se busca essa articulação. O que tem ajudado é que muitas políticas já tinham um caminhar

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nesta perspectiva. Um exemplo disso está relacionado à política de assistência téc-nica. Ele fez um resgate da 1ª Conferência Nacional de ATER, em 2007, quando se definiu o princípio da agroecologia como processo diretivo da ATER. Então, a partir daí começou uma relação de proximidade da ATER com a agroecologia.

Cássio aproveitou fara divulgar que em 2016, o MDA fará a 2ª Conferência Nacio-nal de ATER e convidou a plenária para participar. O processo começará com um conjunto de conferências territoriais que acontecerão aqui no Ceará no período de 1º a 16 de dezembro. O MDA quer ouvir os/as agricultores/as, sindicatos, quilom-bolas, indígenas, sobre qual a assistência técnica que querem para os próximos qua-tro anos. Falou da importância da partici-pação de todos, reforçando e ampliando o debate que ocorre no encontro sobre a assistência técnica. Serão três eixos temá-ticos para a conferência e isso não é à toa: o primeiro é formar um grande Sistema Nacional de ATER, para garantir e propor que ela seja uma ação integrada dos gover-nos estaduais e federal, com seus recursos e estruturas, na proposição e execução. O segundo eixo é Formação e Construção do Conhecimento. Nesta perspectiva, pensar ações que venham responder a essa difi-culdade, para qualificar a ATER, na medi-da da execução, mas também no campo da educação que tem muitos problemas. Há jovens saindo da universidade sem co-nhecer a realidade da agricultura familiar, sem conhecer o campo. Ele disse que esses são os grandes eixos que estão dados para construir e tornar a agroecologia como norte ou pensar a transversalidade do de-bate da 2ª Conferência Nacional de ATER, e posteriormente elaborar o 2º plano.

Cássio falou que para ter de fato um Brasil agroecológico é importante e necessário ter o Plano Estadual de Agroecologia, numa ação articulada e horizontalizada. Disse que em relação ao Plano Plurianual – PPA do Ce-ará, aquele coletivo está com a faca e o quei-

jo na mão, porque está prevista a institui-ção de uma política e um plano estadual de agroecologia. Então, as coisas tem um senti-do lógico do jeito que estão sendo constitu-ídas. Essa relação política já está bem costu-rada, bem articulada, bem estruturada.

É nesta perspectiva que a multisetorialida-de do plano é importante. Vocês podem identificar as demandas e as necessidades de cada uma das áreas que tem aqui, das regiões, dos territórios, das comunidades e apresentar ao governo. Muitas vezes, o crédito é o mais importante e ele já está estabelecido dentro do plano. Quanto à pesquisa, os parceiros aqui neste encon-tro estão se colocando à disposição nesse processo. Nessa construção é importante pensar qual é a necessidade atual e pensar como construir um plano de desenvolvi-mento para utilizar o Plano Nacional de Agroecologia como estratégia de desen-volvimento. Com a ATER, por exemplo, foi desse jeito. Foi construído um cená-rio de articulação com outras políticas e houve o levantamento de demandas a partir das organizações sociais. O MDA não lança uma chamada de ATER se não ouvir as organizações da base que estão executando essas ações. O MDA executa 100% do orçamento de ATER e nunca dei-xou de executá-lo. Para que o recurso da ATER seja ampliado, o que vem ocorrendo desde 2002, o MDA tem que executar. Em 2002, o recurso da ATER era R$ 15 mi e hoje é de R$ 350 mi. Porém, o desafio não é só aumentar a quantidade de recursos, mas aumentá-lo para que a ATER seja uni-versalizada para todos/as agricultores/as.

Disse que em relação ao 2º PLANAPO, os desafios são muito grandes. É preciso discuti-lo, saber que ele existe e articular as ações no território. Os conselhos ter-ritoriais podem ser gestores da política, acompanhando, fazendo a gestão do PLA-NAPO. Quando as pessoas são sujeitos do processo de gestão e da articulação das po-líticas no território, conseguem facilitar o acesso a elas. Isso garante cada vez mais

essa relação de proximidade entre políti-ca, execução e as instituições que estão lá, para fazer as políticas serem executadas.

Com relação à DAP, ele disse que conver-saria em particular com o Renato, por não saber se é uma questão pontual ou geral no estado do Ceará. Mas disse que com certeza tentará resolver a situação e diluir esse es-paço de tempo para a emissão da DAP.

Debate

senaLançou uma questão para o Cássio. Disse que uma das dificuldades que as/os agri-cultoras/es enfrentam, são as exigências para comercialização dos produtos para o PAA e PNAE. Muitas das exigências são feitas às famílias que não tem autonomia para resolver e isso acaba interferindo no fornecimento dos produtos. Daí, ocorre um corte brusco, como o que ocorreu no município de Santana do Acaraú, quando o abatedouro fechou e a cooperativa pa-rou de fornecer produtos para a merenda escolar. Isso gerou uma quebra para as/os produtoras/es. As famílias não tem autonomia diante dessa situação e se a legislação não for alterada, continuarão prejudicadas, pela descontinuidade do fornecimento da alimentação e a perda do seu rendimento. Depois dialogou com o Paulo, que falou em política de convivên-cia com o semiárido. Ela considera que a política do governo do estado é totalmen-te contra a convivência com o semiárido, com exceção de ações pontuais. Um dos exemplos é o suporte dado pelo governo a termelétrica do Pecém que consome 800 l por segundo, 48.000 l de água por minuto, e 1.152.000 l por dia, num estado onde as pessoas estão sem ter acesso à agua. Cerca de 50% da tarifa da água é abatida com incentivos do governo para apoiar uma atividade poluente, degradante e consu-midora desse absurdo de água só para res-

friar os equipamentos. Disse que o desafio desse coletivo é construir propostas e pres-sionar cada vez mais o governo e o capital para gerar um modelo de desenvolvimen-to que seja assentado na convivência com o semiárido. Outra questão é o crédito fundiário, chamado também de “reforma agrária de mercado”, que corresponde à compra da terra, que tem endividado as famílias agricultoras. A terra não é assegu-rada enquanto direito e sim, como mer-cadoria para quem pode pagar ou quem acha que pode pagar mesmo que depois sofra com o endividamento. Disse que o discurso governamental federal e esta-dual reafirmam que a agroecologia é fun-damental e que não vai haver recuo, mas como fazer agroecologia sem terra? Que autonomia o/a agricultor/a tem quando produz numa terra que não é dele/a? En-tão, não dá para esse coletivo aqui deixar de pensar nesta perspectiva mais ampla e lutar para a reforma agrária acontecer.

eunice Disse que nos debates deste encontro so-bre a agrobiodiversidade, pode afirmar e reafirmar que os quintais produtivos tem dado uma contribuição bem grande nes-ta questão. Disse que estão vivendo cinco anos de estiagem, de seca, coisa que vem causando preocupação. Disse que o Ita-mar, falou sobre a questão da implemen-tação do quintal produtivo pelo estado, e isso lhe deixou preocupada. Ele falou que o governo não pode mais implementar por falta de água. Disse que há cinco anos, escuta a história de que virá uma nova eta-pa, então, como ficará a vida das/os agri-cultoras/es no semiárido, se não tem água nem uma política de captação de reuso da pouca água que tem? É fácil implementar um quintal produtivo se já tem a água, mas nesse caso não tem, e ainda há a pers-pectiva do pouco que tem, ainda diminuir mais. Disse que está acompanhando a ar-ticulação da Federação para tentar marcar uma audiência pública com o governador

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do estado ainda esta semana. Disse que não sabem o que o governo está propon-do e o que ele tem de ação concreta diante dessa situação, que é preocupante. Falou que mesmo que não estejam com uma proposta além da sistematização, ela passa pela captação e o reuso da água.

cHico antônio (cáritas)Disse que é da região da Ibiapaba, Viçosa do Ceará, e que está na Cáritas Regional, trabalhando no Projeto Sementes do Se-miárido. Disse que na segunda fala do Ita-mar, ele mencionou algo que lhe remeteu a duas questões do trabalho de grupo de ontem. Disse que não se tem autonomia e segurança alimentar, se não se pode esco-lher o que plantar, a quantidade e a hora que quer plantar. E não tem segurança alimentar se não tem diversidade na pro-dução da agricultura familiar. Outra coisa, é que no diagnóstico do Projeto das Se-mentes, no trabalho de campo, a maioria dos agricultores diz assim: o milho do go-verno, ou seja, o milho híbrido, só produz em condições ótimas. Tem que ter chuva em quantidade adequada e solo bom. O milho crioulo quando ele não produz pela falta de chuva, pelo menos deixa a forra-gem do gado e o híbrido nem isso faz. O programa de governo que disponibilizou os híbridos principalmente na década de 1980, fez uma educação para o homem do campo que o milho crioulo não satisfazia a necessidade da agricultura familiar e o agricultor foi assimilando isso aos poucos. Agora para plantar de novo a diversidade do milho crioulo que tinha e se perdeu, tem que resgatar. É preciso fazer o cami-nho inverso agora e a Empresa de Assis-tência Técnica de Extensão Rural do Ceará - EMATERCE tem um papel fundamental nisso, que é o processo de deseducação. Disse que o milho crioulo é produtivo, mesmo em condições desfavoráveis. A pesquisa da Paraíba, feita pela EMBRAPA, apontou que em todas as circunstâncias, nos três anos de pesquisa, o milho criou-

lo produziu melhor que o milho híbrido. No diagnóstico das casas de sementes isso também foi constatado. As pessoas plan-taram milho híbrido no início, porque os técnicos chegaram dizendo que era uma boa opção. Agora, é preciso resgatar isso, tem que passar por um processo e dizer, olha: o milho crioulo é rentável, é pro-dutivo e produz uma diversidade maior. O milho híbrido tem duas ou três varie-dades, e o crioulo, tem quinze, vinte e trinta... e se andar pelo semiárido dá para identificar mais do que isso.

aurinoDisse que os agricultores sentem a necessi-dade de parceria e de técnicos nos assenta-mentos. Existem os técnicos, mas quando eles vão para a comunidade resolver uma questão, daí, dizem que vão marcar uma reunião para outro dia. Isso não é muito bom, pois a comunidade sente a necessi-dade de lutar por coisas importantes que é a água e o quintal produtivo. Mas esses ór-gãos só querem marcar reunião. Tem coisa que não pode ser adiada e a comunidade quer uma fala diferente, uma cultura di-ferente, aumentar as quadras das pessoas. Há três ou quatro anos, o povo do Ingá Vertentes, em Santana do Acaraú, luta por um poço profundo. Chegou agora, com três anos, um poço, no Vertentes onde é mais necessitado, a dois km do açude. Tem mais cisterna, tem o poço profundo que dá água para cinco famílias. A má-quina foi pro Vertentes e quando chegou lá não cava na areia, já bate na pedra, da mesma forma que foi feito antes e a co-munidade disse que não vai mais deixar o técnico voltar. Depois nós vamos fazer uma conversa com o prefeito para ele fa-zer um estudo do poço profundo que tem uma máquina que cave lá. As coisas não são do jeito que o agricultor pensa, estão carregando água em tonel como era anti-gamente lá no terreno. Um poço profun-do ia servir para trinta famílias do assenta-mento. É tudo ao contrário.

Mesa

Paulo César - ASADirigiu-se ao Itamar, ao Marcelo e ao Cássio para falar de uma coisa importante que é a oportunidade. Oportunidade como possiblidade de construção de algo maior, melhor e que possa responder às questões desse coletivo. Disse que o encontro tem a presença de cerca de quarenta municípios do estado do Ceará, faltando apenas uma região. Só a região de Sobral tem 53 comunidades com casas de sementes. Itapipoca tem mais 30 casas de sementes e nas outras regiões tem mais dezenas dessas estruturas que congregam produtores/as, agricultores/as, jovens, que mesmo nesse período de estiagem estão conseguindo reproduzir as suas sementes e manter o seu banco genético. Isso é um potencial inegável. Inclusive a maioria desses agricultores planta as suas sementes, produzidas por eles mesmos. Porque às vezes, as sementes do governo não chegam no período, não tanto pela burocracia, mas pelas questões climáticas. Às vezes chove, aí libera a semente, o inverno “pega” ou “não pega”. Então, ele perguntou: qual a grande oportunidade aí? Ele disse ter esperança de sair do encontro com a possibilidade de aproveitar esse potencial. Essas dezenas de agricultores/as que produzem em parceria com a EMBRAPA, o MDA e a SDA, podem fazer uma experiência. O governo estadual da Paraíba compra a semente do pequeno agricultor para distribuir para eles mesmos. Eles já vivenciam isso lá. O que tem de extraordinário lá que não tem aqui? Disse que nós somos parecidos, aqui estão os agricultores/as que produzem e aqui está o governo que precisa desse potencial, para comprar e distribuir. Então, a proposta é fortalecer isso como outros estados já fazem. Disse que todos ali não são contra o governo, mas querem participar, mas participar de uma forma que as políticas possam

efetivamente chegar até ás comunidades. Então, disse ao Itamar que a SDA analisasse essa proposta com carinho, porque isso é uma grande oportunidade para ambos: construir uma parceria na perspectiva de fortalecer a RIS e tentar fazer uma experiência parecida com a da Paraíba. Ele acha que pode ser um caminho, pelo menos para experimentar. Se hoje, os agricultores tem sementes é porque produzem e estão articulados e organizados nas casas de sementes, bebendo dos princípios da agroecologia. Isso está sendo sustentável. Disse que sua proposta é para não ficar somente nos sonhos, mas fazer algo concreto. Os sonhos são importantes, mas eles são mais importantes quando são criadas as condições de materializá-los na prática. Disse que estão à disposição do governo do estado, do governo federal, da EMBRAPA, para construir processos coletivos que fortaleçam isso que já é vivenciado. Disse que este encontro extraordinário é sinal que as experiências das casas de sementes, das agricultoras, dos jovens tem dado certo, sem muito investimento. Disse que isso seria potencializado com recursos, com investimentos, com assistência técnica...A experiência seria bem maior, num nível bem melhor de organização na perspectiva da sustentabilidade nutricional e alimentar.

Cássio – MDAConsiderou que as políticas do MDA conseguem trazer hoje um leque de opor-tunidades que precisa ser utilizado. Tem que ter de fato uma assistência técnica que consiga olhar as necessidades que vem sendo concretizadas. Disse que o Ministério não quer uma ATER que vai lá chamar para outra reunião, inclusive pediu que quando isso ocorresse, fosse encaminhado para o MDA ou para o IN-CRA, de forma que permita a identifica-ção da instituição e do técnico com essas práticas. Assim o Ministério pode saber o que está acontecendo, cobrar e impedir

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que a assistência técnica, que é paga pelo governo, seja feita dessa forma. Se a as-sistência técnica não estiver atendendo à demanda que vem dos/das agricultores/as familiares, isso tem que ser falado.

Em seguida, ele perguntou quem acessa o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF hoje. De-pois que as pessoas levantaram as mãos ele falou que eram poucos. Então ele disse que era preciso fazer uma reflexão do porquê a maioria não está utilizando o PRONAF. Perguntou se é por causa da DAP? Se sim, tem que discutir a razão, quais os problemas e as dificuldades den-tro dos municípios que estão aqui, por-que a DAP é o primeiro instrumento que identifica o agricultor para o acesso às po-líticas públicas. A ATER, o PAA, o PNAE, todos precisam da DAP. Hoje, são mais de quinze políticas públicas que a DAP é a porta de entrada. Disse que quem hoje é credenciado no MDA para emitir a DAP, são os sindicatos, a EMATER, a CONTAG, a FETRAF. Quando ocorrer problemas é preciso relatar o mais rápido possível para o MDA, pelos sindicatos, pela assistência técnica oficial, pelo município, que faz parte do garantia safra. De alguma for-ma esta informação tem que chegar, de forma que não haja interrupção do agri-cultor na política. Isso é fundamental, porque a DAP mesmo que ela tenha uma certa burocracia, é uma conquista de fato de todos/as agricultores/as. Então, ela dá prioridade às políticas públicas do gover-no federal para a agricultura familiar. No estado do Ceará tem uma situação parti-cular em relação à DAP, que não tem em nenhum outro lugar do Brasil. Existem mais DAP do que agricultores identifica-dos pelo IBGE. Isso já foi, inclusive, tema de discussão e debate para ver o que esta-va acontecendo, mas entendeu-se que há um certo equilíbrio e que não há proble-ma em relação a isso.

As chamadas de ATER hoje permitem que o agricultor passe a ser também uma lideran-

ça no processo de extensão rural. Não é só o técnico formal, com a carteira, formado num instituto ou universidade. Hoje existe a possibilidade do agricultor ser o multipli-cador do seu conhecimento. É isso que tem que ser discutido na 2ª Conferência. Disse que o crédito, o garantia safra são extre-mamente importantes, pois são 1.200.000 agricultores na região Nordeste que aces-sam esta política. A comercialização para o PAA e PNAE só será de fato revertido aquele número de qualidade e quantidade, depois que houver aquele ajuste para o novo PPA, colocado no orçamento do município, se as organizações estiverem fortalecidas.

Em relação ao Programa Nacional de Re-forma Agrária, ele disse que o ministro tem colocado isso de forma muito clara, objeti-va e evidente para todos. O desafio dele é conseguir chegar até o fim do seu mandato tendo assentado 120 mil famílias. Essa é uma meta que ele começou como estraté-gia no início do governo e não é brinca-deira. Ele está perseguindo, buscando re-lações com os estados para que possa dar continuidade a uma política do governo Lula que foi fundamental, ao afirmar que a fome só poderia ser acabada, se de fato o governo apostar na agricultura familiar e não em tecnologias de alta produtividade que se coloca aí no cenário internacional. Aqui no Brasil ainda tem grandes institui-ções pesquisadoras que falam esta língua: Só vamos conseguir acabar com a fome no mundo se acabar com a agricultura fa-miliar e se dermos avanço de tecnologia e pronto acabou. E o Brasil deu o exemplo. O governo só pode fazer melhor do que foi feito até agora se a reforma agrária estiver consolidada. Além disso, nesse período de quatro anos, o esforço é para que seja ga-rantida vida boa e boa vida a todos os/as agricultores/as. Se não for possível juntar outros ministérios para assumir esse com-promisso com os recursos diferenciados, o MDA não vai conseguir isso aí. Esse tam-bém é um grande desafio.

É preciso articular as políticas para forta-

lecer as estratégias locais e territoriais da agricultura familiar. A Política territorial é importante para fortalecer a participação e o controle das políticas e a articulação territorial para as pessoas qualificarem a política. Cássio disse que esta semana houve o encontro dos Núcleos de Exten-são em Desenvolvimento Rural – NEDET, em Salvador. Todos os territórios estão fazendo esta reflexão. Para ele, é aí que poderão conseguir consolidar, ampliar, levar a demanda da ATER, da questão da DAP, de quais são os problemas e as difi-culdades em relação ao PAA, fazer o deba-te da agroecologia como eixo estratégico do desenvolvimento. O governo não vai criar o caminho, ele será construído por todos. Assim, é possível o MDA saber a demanda real dos territórios. Hoje, o re-curso é de R$ 350 mi por ano para gastar em assistência técnica, o que dá por volta de 250 a 300 mil agricultores sendo as-sistidos. Porém, o governo não consegue chegar nas 4.3 mi de propriedades rurais da agricultura familiar, não porque não queira, mas porque o recurso não alcan-ça. Esse é o grande desafio, o grande gar-galo dentro da proposta que está sendo trabalhada de ATER. Por fim, agradeceu e parabenizou a coordenação do encontro, a Cáritas e a todos participantes.

Itamar - SDAEle dialogou com o Paulo, quando disse que as pessoas ali não são contra o gover-no. Daí, ele disse que o governo também não é contra vocês. Triste do governo que for contra o povo. Estará falido. O gover-no está aqui para apoiar os agricultores familiares, mesmo que haja dificuldades e burocracia pública.

Em relação à experiência da Paraíba, a grande parte das sementes está registra-da no MDA. Agora o governo do estado não pode comprar o produto sem o am-paro legal. Ele deu exemplo de quan-do era diretor da EMATER por mais de dez anos, houve uma decisão na época,

apoiada por um conjunto de órgãos e no ano passado teve um problema para ele. Tem que trabalhar na legalidade. Se o que a Paraíba faz é viável, é preciso sa-ber e discutir. Em cima da outra opor-tunidade, lanço o desafio. Qual a oferta de sementes que vocês terão disponíveis para 2017? Para 2016, não dá mais. Ele gostaria de receber quais as variedades e que quantidades são possíveis de vocês fornecerem. Ele garante tirar uma parte do recurso do Hora de Plantar para isso, desde que seja legal. Já pediu isso várias vezes ao longo de três anos, mas nunca recebeu. Quer saber o que este coletivo tem para ofertar. A Secretaria pode co-locar no Hora de Plantar, abrir o edital e aí vocês participam, ganham, vendem pro estado, que depois distribuirá. É pre-ciso sair desse impasse, não tem semente crioula porque o governo não compra, o governo não compra semente crioula porque não quer. Tem que ser encontra-da uma saída e saber na prática o que fazer. Disse que chega de reunião.

Em relação aos quintais produtivos quando falou da falta d´água, foi em re-lação ao convênio entre o MST e a SDA. Uns não foram instalados porque não tinha mais água. Disse que está mais do que na hora de vocês solicitarem ao governo do estado um programa para abertura de poços nas propriedades. Um exemplo, no assentamento Campos Ver-des, em Aracati, tem água no subsolo à vontade. Aqueles assentados que tinham condições de fazer o poço estavam pro-duzindo -banana, melão, melancia, fei-jão e milho verde - e vendendo seus pro-dutos, mantendo a família. Aqueles que não tinham condições foram contem-plados com a água extraída do subsolo. O programa foi feito pela SDA com o apoio do governo federal para o acesso à água ficar mais viável e não depender só de chuva para manter os quintais produ-tivos. A FETRAECE conseguiu R$ 2.000 a 3.000 mi com o governador Camilo para a cavação de poços. Parte desse recurso,

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a própria FETRAECE é quem vai admi-nistrar e abrir os poços.

Marcelo (EMBRAPA)Disse que entende a questão que o Paulo coloca e que o grupo que trabalha com a agrobiodiversidade, com agroecologia, hoje na EMBRAPA, já está respondendo a esta preocupação. Tem um projeto se-miaprovado e já está tratando isso com a Cáritas Regional e a Cáritas de Sobral. Ele acredita que essa coisa avançará. Mas chamou atenção para o seguinte: é preci-so verificar quais são as variedades mais adaptáveis de sementes crioulas porque na forma que ela é selecionada, é uma se-leção local, que maximiza a questão da localidade, da região. Então, em termos técnicos ela maximiza aquela ação geno-típica do ambiente. Falou que a semente crioula tem que ter identidade territorial, regional, local. A semente crioula sele-cionada em Tauá poderá ou não se dar bem em outro local no mesmo semiári-do. Na experiência que a EMBRAPA teve com o Vale do Curu, como se chamava antigamente o território, era que entre as variedades de sementes, houve uma interação do ambiente, muito grande de tal forma que a variedade que deu bem em Tejuçuoca, mas não em Pentecoste, nem Apuiarés. Os agricultores se espe-cializaram e a seleção deles ocorreu em um ou dois locais. Então, a produção de sementes crioulas tem que ser vista com cautela. Como levar essas sementes para o Inhamuns, para Sobral? Então, essa é uma questão que tem que ser analisada cautelosamente nessa caminhada. Agra-deceu o convite para participar deste se-minário. Disse que o convívio com todos foi muito importante. Que conheceu novas pessoas, novos companheiros e, a partir do relatório, vamos transformá-lo em demandas e passá-los para o poder formal da EMBRAPA.

Feira de Intercâmbio de Sementes e Feira da Socioeconomia Solidária e cultural

26/11Quinta-feiraO presente construindo o futuroComo última atividade do encontro, foi feito um trabalho de grupos, por região, para refletir e traçar estratégias de amplia-ção do debate e fortalecimento das ações de convivência com o semiárido e a agrobio-diversidade. Cada região trabalhou a partir da matriz com as sínteses dos debates dos dias anteriores. Em seguida, as sínteses dos grupos foram partilhadas na plenária.

Região Norte – Sobral– ErivanNo final de janeiro, no planejamento da RIS, as propostas do encontro serão leva-das para que sejam refletidas, planejadas e encaminhadas. Propostas:

os imPactos nociVos Do uso De agrotóxicos e laVouras transgênicas

Refletir cada temática com as comu-nidades a partir das RIS municipais, levando em conta os saberes locais;

realizar reuniões entre os fóruns mi-crorregionais de convivência com o semiárido e os órgãos ambientais sobre os descasos das vendas ilegais dos agrotóxicos – sem receituários - (Agência Nacional de Vigilância Sani-tária- ANVISA,Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNatu-rais – IBAMA, Superintendência Esta-dual do Meio Ambiente - SEMACE);

trabalhar os defensivos naturais com as comunidades;

encampar a luta contra os agrotóxicos.

eDucação contextualizaDa no semiáriDo enquanto Política PúBlica

Realizar um seminário sobre Educação do Campo na região de SOBRAL – FC-VSA, RIS, Universidade Vale do Acaraú, UFC, EMBRAPA, ETC.

construções De saBeres: Pesquisa engajaDa como estratégia De construção Do conHecimento agroecológico

Sempre estar atento para quem está fa-zendo pesquisas no território;

demandar as pesquisas sobre a agro-ecologia para os órgãos competentes (universidades/Instituto de pesquisas);

criar um grupo entre comunidades, RIS, universidades UVA/UFC, instituto de pesquisas, para pensar o que, onde e como irá ser pesquisado.

soBerania e segurança alimentar e o mercaDo soliDário

Juntar todos os movimentos (EMBRA-PA e outros) que estão construindo processos de comercialização justa e solidária/agroecológica para se reunir e refletir estratégias; (aproveitar expe-riências que estão iniciando processos de feiras agroecológicas, como em Bela Cruz e Massapê).

Fortalecimento Da ris

Que cada Microrregião possa criar ou fortalecer a RIS e se pensar em consti-tuir uma RIS estadual em 2016;

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fortalecer a ideia do nome SEMENTES da VIDA para o CEARÁ;

dialogar com o governo para constituir apoio para a RIS e com o método que já vem sendo trabalhado;

refletir com os agricultores sobre a qua-lidade e quantidade de sementes para a casa de sementes e para a comercia-lização.

acesso e gestão De águas no semiáriDo

Intercambiar experiências entre agri-cultores/as em roçados agroecológicos que estão sendo implantados nas casas de sementes.

Região Fortaleza – GraçaA realidade no urbano é diferente do ru-ral, embora os impactos de um, reflitam no outro. As propostas do encontro se-rão pautadas na Assembleia da Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza que ocorrerá no dia seguinte. O grupo não elaborou propostas para todas as ações, pois não tem muita familiaridade com as temáti-cas abordadas. Propostas:

os imPactos nociVos Do uso De agrotóxicos e laVouras transgênicas

Incluir processos educativos para a redução de consumo de alimentos com agrotóxicos;

reduzir as queimadas nas margens dos rios;

incentivar as famílias para a criação de quintais produtivos urbanos;

compor as articulações de monitora-mento dos programas e projetos de convivência com o semiárido e das po-líticas de ATER.

eDucação contextualizaDa no semiáriDo enquanto Política PúBlica

Apropriar-se das estratégias de convivência com o semiárido e de educação contextualizada, para fortalecer o monitoramento das políticas.

construções De saBeres: Pesquisa engajaDa como estratégia De construção Do conHecimento agroecológico

Incentivar a implementação de quintais produtivos, a partir da parceria com a universidade e a Prefeitura Municipal de Fortaleza para produção de conhecimento sobre a agroecologia no urbano.

soBerania e segurança alimentar e o mercaDo soliDário

Propor a pauta da agroecologia no Conselho Municipal de Segurança Alimentar;

fazer articulação com o Conselho Esta-dual para o fortalecimento da discus-são no debate sobre agroecologia.

Região do Cariri – Carol e Cícero

Levar informações adquiridas neste encontro para as demais pessoas das comunidades durante as reuniões sin-dicais e de associações relativas à loca-lidade;

incentivar os agricultores a usarem a agroecologia por ser sustentável no desafio em longo prazo, na prepara-ção dos (agricultores) veteranos que plantam há muito tempo usando for-mas padrões de preparações do plantio (queimadas, agrotóxicos, etc.);

levar a divulgação de todas as informa-ções trazidas por meio de rádios locais;

reservar um horário em meios de co-municações locais (rádio) para divulgar os projetos vindos para a comunidade (casas de semente, quintais produti-vos, feiras agroecológicas, etc.);

levar mais conhecimento ao governo para dar assistência técnica e que possa nos informar como a gente deve tra-balhar;

garantir a participação de representan-tes do município e das comunidades em reuniões do fórum microrregional;

mais divulgações das feiras de produ-tos orgânicos por meio de redes de co-municações alcançáveis das cidades e comunidades;

ampliar a rede de intercâmbio de se-mentes do Cariri com o projeto de se-mentes do semiárido incluindo Nova Olinda, Santana do Cariri, Potengi e Altaneira;

participar das reuniões do Conselho de Educação e cobrar do poder público a implantação das escolas na zona rural;

criar perfis nas redes sociais para divul-gar (fotos, informações, etc.) das casas de sementes, ficando sob a responsabilida-de de um representante da comunidade.

Região Centro-Sul - Wollace

os imPactos nociVos Do uso De agrotóxicos e laVouras transgênicas

Articular junto ao Fórum Microrregio-nal o diálogo com assistência técnica go-vernamental (EMATERCE) na busca de uma assessoria baseada na agroecologia.

eDucação contextualizaDa no

semiáriDo enquanto Política PúBlica Promover através do Fórum Microrregio-nal, audiência pública sobre ECSA com a sociedade civil e os gestores públicos.

construções De saBeres: Pesquisa engajaDa como estratégia De construção Do conHecimento agroecológico

Realização de seminário anual sobre agroecologia, colocando no calendário anual do Forúm Microrregional.

soBerania e segurança alimentar e o mercaDo soliDário

Fortalecer feiras da agricultura familiar nos municípios onde já existe;

estimular e mobilizar agricultoras/es familiares para participarem das feiras da agricultura familiar existentes nos municípios.

reForma agrária As Injustiças e os Conflitos Socioam-bientais

Provocar o debate sobre reforma agrá-ria no Fórum Microrregional (dentro da formação dos projetos de convivên-cia com o semiárido).

Fortalecimento Da ris Levar a discussão da criação da RIS para a microrregião do Centro-Sul, através da Cáritas de Iguatu.

acesso e gestão De águas no semiáriDo

Mapear pontos hídricos (nascentes, rios, poços...) das microrregiões, ge-rando conhecimentos e reflexões mo-

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bilizando as comunidades na luta pelo acesso à água, com o apoio dos recur-sos públicos.

o moVimento ceará agroecológico: a construção Da Política e Do Plano estaDual De agroecologia

Fazer divulgação do movimento Cea-rá Agroecológico para os agricultores e agricultoras familiares, organizações e instituições afins.

comunicanDo um semiáriDo agroecológico

Fazer um processo de conscientização da participação da comunidade no processo pedagógico, dentro da mi-crorregião

a Política nacional De ater: o que tem De inoVação e DesaFios Para o Fortalecimento Da transição agroecológica?

Apoiar o FCVSA no projeto de assesso-ria técnica para as famílias atendidas por tecnologias de convivência com o semiárido na produção de alimentos.

Região ItapipocaAumentar o quantitativo de técnicos para que possa atender à demanda das comunidades;

melhorar o processo de seleção e pre-paração das/dos técnicas/os e que eles se adequem às necessidades das comu-nidades;

agroecologia nas escolas, desde o ensi-no básico;

processos de formação para técnicos;

fiscalização do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA;

menos burocracia no acesso ao crédito rural;

Região de Jaguaribe – Gracinha

Levar as propostas para as microrre-giões, para o FCVSA, principalmente porque somos a região que mais se usa venenos e tem queimadas;

mobilizar as lideranças que fazem par-te da microrregião para discutir coleti-vamente as propostas e fazer um plano de ação para apresentar ao poder pú-blico;

apresentar as propostas nas mesas de negociações, nas audiências públicas, nas igrejas, STTRs, FETRAECE, Câma-ra de Vereadores, EMATERCE, etc. para que a Educação Contextualizada che-gue aos municípios.

cada participante levar essas propostas para as organizações comunitárias;

Região da Ibiapaba – Chico Antônio

maior visibilidade para a educação contextualizada, intercâmbio e trocas de experiências;

pedido para a Secretaria de Educação do Estado para incluir o ensino da agroecologia na grade curricular das escolas;

informação mais clara para a popula-ção – mídia;

diminuição das distâncias campo x ci-dade;

valorização das práticas de refloresta-mento e conservação ambiental;

ampliação das tecnologias de armaze-namento de água;

aumento do diálogo dentro das comu-nidades.

os imPactos nociVos Do uso De agrotóxicos e laVouras transgênicas

aterParticipar das Conferências de ATER e garantir espaços para intervir com nos-sas propostas;

Realizar momentos de formação e dis-seminar informações através de mini--cursos, oficinas, programas de rádios, trazendo informações neste campo para os agricultores.

comuniDaDesPromover intercâmbios, e de forma mais econômica, mapear experiências exitosas dentro dos municípios, reali-zando momentos intercomunitários;

mapear e potencializar as unidades de referências.

goVernoTrazer para o Fórum Microrregional de

Convivência do Semiárido o gerente geral das agências do Banco do Nor-deste - BNB e do PRONAF e tentar fazer com que eles diminuam a burocracia, que muitas vezes não é de âmbito fede-ral, mas dentro das agências;

eDucação contextualizaDa no semiáriDo enquanto Política PúBlica

Trazer os secretários de educação para discutir as propostas de educação con-textualizada e depois levar para os mu-nicípios;

fortalecer a Escola Família Agrícola (EFA) da Ibiapaba com as articulações regionais e com as políticas públicas;

articular nos municípios a inclusão da EFA como beneficiária do PAA.

reForma agrária - as injustiças e os conFlitos socioamBientais

Identificar novas áreas para desapro-priação e promover audiência sobre re-forma agrária e regularização fundiária;

fortalecer os assentamentos oficiais através dos fóruns dos assentados lo-cais, com o envolvimento do Fórum Microrregional para potencializar as ações de assistência técnica na área da agroecologia.

Diálogos e conexões entre o rural e o urBano soBre a ProDução, a comercialização e o consumo De alimentos

Utilizar os espaços escolares para im-plementar hortas e arborização de fru-tíferas(tirar o nim e a acácia, colocar canteiros econômicos, ecológicos, pés da graviola, de jaca, de manga...).

comunicanDo um semiáriDo

agroecológico Divulgar os produtos como: banner, boletins e programas de rádios nas es-colas e outros espaços públicos, para além dos grupos que já conhecem.

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O final do encontro foi marcado pela dis-tribuição da lembrancinha do encontro e numa alegre e colorida ciranda.

Avaliação

Que bom que...Houve um despertar de to-dos os movimentos;

temos tantas pessoas discu-tindo o mesmo tema;

conheci muitas pessoas, muitas respostas;

conheci tantas atividades diferentes através de um in-tercâmbio;

não falamos só da semente em si, mas de tudo que ela envolve;

houve coletividade e com-partilhamento das vivências;

a temática foi objetiva (foi bastante objetiva com deba-tedores dos temas aborda-dos);

a participação, especialmen-te das/os agricultores e das/os jovens;

metodologia;

os objetivos foram alcança-dos;

o ambiente, o local, o acolhi-mento e a alimentação;

a feira;

a troca de sementes e o for-talecimento das sementes crioulas;

noite cultural;

as apresentações;

debates nas plenárias;

convidados vieram e foram

A Universidade não partici-pou (estudantes);

que não chamaram mais jo-vens das comunidades;

faltou na mística a nossa volta aos nossos ancestrais;

a falta de outros movimen-tos sociais;

pessoas que vieram, mas que não ficaram para o en-cerramento e as comunida-de que não puderam vir;

conversas paralelas;

não compreensão de algu-mas falas devido o baixo ní-vel de escolaridade de algu-

Que pena que...

objetivos como Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio - MDA, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário - SDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA e 40 municípios que tem casas de sementes;

a discussão e a reunião fo-ram perfeitas;

reencontro permitiu discu-tir o semiárido e as políti-cas públicas;

a quantidade de agricul-toras/es que representam seus lugares entendem que tem vez e voz nesse espaço;

construímos propostas;

esse encontro aconteceu e promoveu mais conheci-mentos;

que estivemos aqui.

mas/alguns participantes;

palestrantes sem envolvi-mento da região;

balburdia à noite no local de repouso;

o encontro acabou;

as/os representantes dos outros municípios não tive-ram tempo de se conhecer melhor;

esses encontros não aconte-cem frequentemente;

que os nossos representan-tes ainda estão distantes;

está só em reuniões, somen-te se discute;

não se discutiu a situação dos municípios que estão fora do semiárido legal;

faltou a representação de alguns órgãos públicos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-cursos Naturais Renováveis – IBAMA e a SEMACE;

começou com bastante pes-soas e no final tinha poucas;

aconteceram atrasos;

o poder público não se en-volve como deveria;

não captamos tudo o que queremos;

coalizão do MDA com a Mi-nistra Kátia Abreu.

informar mais sobre o que é o evento;

na próxima, a mística este-ja conectada com a ques-tão espiritual e valorize o ciclo ancestral;

a falta de compreensão do poder público;

esse encontro se tornar anual e já trouxesse ações realizadas das propostas e que seja feito em outras dioceses;

palestrantes sejam pessoas envolvidas com a região;

mesa de debate com agri-cultoras/es;

que nos próximos encon-tros tenha mais intercâm-bios e rodas de conversa;

todas as pessoas levem as propostas para suas comu-nidades;

se os representantes parti-cipassem;

partirmos para a prática;

levar as propostas e ideias debatidas no encontro para os jovens que são o fu-turo do Brasil;

no próximo encontro dis-tribuísse um kit com uma caneca e uma blusa;

tenha participação de mais agricultoras/es e represen-tantes do poder público.

ter outros encontros iguais a esse.

Fazer o resgate cultural, descentralizar as apresen-tações culturais do evento;

uma pré-articulação den-tro das comunidades para

Que tal...

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