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Relatório sobre introdução dos painéis comparativos de preços dos combustíveis nas auto-estradas ___________________________________________________________________________________ 1 Relatório Final Análise do sector e da fileira da cortiça em Portugal Dezembro de 2012

Relatório final - Análise do sector e da fileira da cortiça em Portugal

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Relatório sobre introdução dos painéis comparativos de preços dos combustíveis nas auto-estradas ___________________________________________________________________________________

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Relatório Final

Análise do sector e da fileira da cortiça

em Portugal

Dezembro de 2012

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

2 2

Autoridade da Concorrência

Gabinete de Estudos Económicos e Acompanhamento de Mercados (GEE/GAM) Av. de Berna, 19 1050-037 Lisboa Portugal Tel: (+351) 217902000 Fax: (+351) 217902099

www.concorrencia.pt

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3 3

Índice

Sumário Executivo .................................................................................5

Recomendações ................................................................................... 17

1. Introdução ..................................................................................... 21

1.1. Estrutura do relatório ................................................................................. 21

1.2. Enquadramento ......................................................................................... 22

1.3. Resumo das iniciativas da AdC no sector da cortiça ........................................ 22

1.4. Advertências ............................................................................................. 23

1.5. Termos de referência .................................................................................. 25

1.6. Cronologia ................................................................................................. 25

2. O enquadramento regulatório da fileira da cortiça ........................ 27

2.1. Nota Prévia ............................................................................................... 27

2.2. Enquadramento Geral ................................................................................. 28

2.3. Aspetos Específicos .................................................................................... 29

2.3.1. Vertente Positiva - Proteção ao património ............................................. 29

2.3.2. Vertente Negativa - Restrições à intervenção .......................................... 30

2.3.3. Conversões ......................................................................................... 31

2.3.4. Corte ou Arranque ............................................................................... 32

2.3.5. Práticas culturais ................................................................................. 33

3. Caracterização do sector da cortiça ............................................... 35

3.1. Introdução ................................................................................................ 35

3.2. Os estágios da cadeia de valor ..................................................................... 40

3.3. A comercialização de cortiça natural ............................................................. 56

3.3.1. Introdução ......................................................................................... 56

3.3.2. Condicionantes genéricas da oferta e da procura de cortiça natural ........... 61

3.3.2.1. Oferta de cortiça natural .............................................................. 61

3.3.2.2. Procura de cortiça natural............................................................. 69

3.3.3. Barreiras genéricas à entrada/expansão na comercialização da cortiça natural

71

3.3.4. As pranchas de cortiça amadia .............................................................. 74

3.3.4.1. Os mercados .............................................................................. 74

3.3.4.2. O poder de mercado .................................................................... 97

3.3.4.3. Avaliação do contexto concorrencial .............................................. 106

3.3.5. Os bocados, o refugo, virgem e as aparas ............................................. 117

3.3.5.1. Os mercados ............................................................................. 117

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4 4

3.3.5.2. O poder de mercado ................................................................... 126

3.3.5.3. Avaliação do contexto concorrencial .............................................. 129

3.3.6. A falca e a cortiça queimada ................................................................ 130

3.3.6.1. Os mercados ............................................................................. 130

3.3.6.2. O poder de mercado ................................................................... 139

3.3.6.3. Avaliação do contexto concorrencial .............................................. 143

3.4. A comercialização de produtos intermédios .................................................. 144

3.4.1. Introdução ........................................................................................ 144

3.4.2. Os granulados de cortiça ..................................................................... 145

3.4.2.1. Os mercados ............................................................................. 145

3.4.2.2. O poder de mercado ................................................................... 150

3.4.2.3. Avaliação do contexto concorrencial .............................................. 153

3.5. A comercialização de produtos finais derivados da cortiça .............................. 154

3.5.1. Introdução ........................................................................................ 154

3.5.2. A comercialização a retalho de vedantes para vinhos .............................. 157

3.5.2.1. Introdução ................................................................................ 157

3.5.2.2. Rolhas para vinhos tranquilos ...................................................... 165

3.5.2.3. Rolhas para vinhos espumantes/champanhe .................................. 174

3.5.3. A comercialização de isolamentos térmicos e acústicos para a indústria da

construção ....................................................................................................... 177

3.5.4. A comercialização de pavimentos ......................................................... 180

Referências bibliográficas .................................................................. 185

Glossário ............................................................................................ 189

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

5 5

Sumário Executivo

Enquadramento 1. Com a Resolução da Assembleia da República n.º 64/2009, aprovada em 3

de Julho de 2009, intitulada “Defender o montado, valorizar a fileira da

cortiça”, resolveu aquele órgão de soberania, nos termos do n.º 5 do artigo

166.º da Constituição, «recomendar à Autoridade da Concorrência a

investigação aprofundada e urgente sobre o que se está a passar neste

importante e estratégico sector para a economia nacional, designadamente

ao nível da comercialização a montante e a jusante com particular incidência nas importações e exportações, e a tomada de medidas ou

recomendação de propostas que considere necessárias ao normal

funcionamento do mercado e estabilidade do sector.»

2. Preocupações sobre o funcionamento da fileira da cortiça foram também

manifestadas à Autoridade da Concorrência por alguns operadores do setor.

3. O presente Relatório pretende caracterizar o funcionamento da fileira da

cortiça em Portugal, desde a extração da matéria-prima até à

comercialização dos vários produtos transformados, bem como o atual

enquadramento regulatório da fileira, apresentando um conjunto de

recomendações que têm como objetivo promover um funcionamento mais

eficiente dos vários estádios da fileira, mediante a redução de certas

assimetrias de informação existentes entre operadores, a dinamização de

uma bolsa de transacções de matéria prima, e a eventual revisão de diversa

legislação sobre o setor.

4. A elaboração deste Relatório implicou a consulta e troca de correspondência

entre a AdC e mais de 40 entidades públicas e privadas, nacionais e

estrangeiras.

5. Os pontos seguintes caracterizam, resumidamente, o funcionamento do

setor, focando os diversos estágios da fileira e os diferentes produtos.

Caracterização do setor da cortiça em Portugal 6. A fileira nacional do sector da cortiça representou em 2010 uma facturação

superior a mil milhões de euros, 1,5% da produção industrial nacional e

cerca de 2,1% das exportações nacionais.

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6 6

7. Deste volume de facturação, cerca de 17% correspondeu a vendas de cortiça

natural em bruto, 18% a vendas de produtos intermédios, e os restantes

65% a vendas de produtos finais.

8. Dos principais produtos finais derivados da cortiça, destacam-se as rolhas,

cuja representatividade em 2010 terá sido de cerca de 75% das vendas em

valor (34% das vendas em volume) e os materiais de construção, com

particular incidência para os revestimentos e isolamentos, cuja

representatividade terá sido, em 2010, de 22% das vendas em valor (61%

do volume de vendas).

9. A estrutura competitiva do sector é muito distinta de estágio para estágio da

cadeia de valor, e mesmo dentro de alguns estágios existem grandes

diferenças, dependendo do mercado de produto em análise.

10. Nas actividades a montante, isto é, ligadas à comercialização de cortiça

natural em sentido lato, é possível distinguir pelos menos três estruturas de

mercado com características distintas: a venda de pranchas de cortiça

amadia; a venda de bocados, refugos, cortiça virgem e aparas; e a venda de

falca e cortiça queimada.

11. Nas actividades intermédias importa distinguir as relacionadas com o ramo

da granulação das restantes.

12. Já nas actividades a jusante interessa analisar separadamente a

comercialização de vedantes (rolhas) para vinhos tranquilos, a

comercialização de vedantes para espumantes, e a venda de isolamentos

térmicos e acústicos e revestimentos/pavimentos.

A venda de pranchas de cortiça amadia

13. Na venda de pranchas de cortiça amadia, a oferta encontra-se altamente

fragmentada com os maiores vendedores a representarem frequentemente

menos de 1% do volume de vendas.

14. Por contraposição, a procura tem verificado um aumento significativo da

concentração, com o maior grupo (Grupo Amorim) a atingir os [25%-35%]

das compras de amadia, a nível Ibérico, em 2010, e quatro dos dez maiores

grupos do sector em Portugal terem saído do mercado nos últimos 5 anos.

15. A este aumento de quota de mercado do maior grupo económico está

associado um aumento do poder de mercado na compra de pranchas de

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cortiça amadia. O aumento do poder de mercado do principal comprador é

mais acentuado nas amadias de maior calibre e qualidade (amadias de 12 a

18 linhas de calibre e nas cortiças de 1.ª a 3.ª e 1.ª a 5.ª).

16. Tal situação é potenciada, entre outros factores e, em primeiro lugar, pela

assimetria de informação existente entre o maior operador e os restantes e,

em segundo lugar, pelas restrições regulamentares que condicionam a oferta

de cortiça amadia.

17. No que se refere à assimetria de informação, o Grupo Amorim, pela sua

escala e rede de intermediários (formais ou informais), consegue reunir um

conjunto de informações sobre a disponibilidade de cortiças para venda em

cada ano e sobre transacções que nenhum outro grupo está em condições

de dispor sem custos acrescidos relevantes.

18. Segundo informações recolhidas junto de vários operadores, o poder

financeiro e a reputação desse Grupo permitem-lhe utilizar esta rede de

“intermediários” para difundir informações e recolher assimetricamente

informação sobre a actuação dos seus concorrentes ao nível da compra.

19. A grande generalidade dos restantes compradores, com quotas de compra

inferiores a 5%, não está em condições de ter um conhecimento do mercado

com este nível de profundidade e dispõe de um poder de influência sobre os

intermediários muito reduzido pois o nível de dependência destes face a

essas empresas é, em geral, muito inferior.

20. A assimetria de informação aumenta os riscos e dificulta a elaboração e

implementação de estratégias, em particular por parte das empresas de

menor dimensão ou de potenciais entrantes.

21. O aumento do poder de mercado do principal comprador nos mercados de

compra de amadias é, também, potenciado pelas restrições regulamentares

que condicionam a oferta.

22. Essas restrições resultam, fundamentalmente, do Decreto-Lei n.º 169/2001,

de 25 de Maio (alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho),

mas também dos regimes jurídicos subjacentes ao fracionamento de prédios

rústicos, cuja sede principal consta dos artigos 1376 a 1382 do Código Civil,

e ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).

23. No que se refere ao Decreto-Lei n.º 169/2001, que estabelece o

enquadramento regulatório do sector corticeiro, ao tornar de difícil

exequibilidade a reconversão cultural dos terrenos com sobreiros para

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produtos de maior valor acrescentado ou a eliminação de sobreiros pouco

produtivos, retira-se poder negocial aos silvicultores interferindo sobre a

oferta.

24. Estas limitações tenderão a reduzir o poder negocial dos vendedores, tendo

vindo a contribuir para uma mais fraca renovação e manutenção do parque

de sobreiros nacional e para uma pressão do preço médio da cortiça no

sentido da baixa.

25. No que se refere a aspetos relacionados com a dimensão média da

propriedade agricola, designadamente da propriedade dos montados, os

regimes jurídicos relativos ao fracionamento de prédios rústiscos e IMI têm

implicações a este nível, na medida em que podem condicionar a obtenção

de economias de escala ao nível da produção e contribuir para uma

fragmentação cada vez maior da propriedade.

26. Por um lado, a possibilidade de, nomeadamente por transmissão sucessória,

os prédios rurais serem fraccionados cria um incentivo adicional à sua

fragmentação visto ser uma opção simples de distribuição da herança.

27. Por outro, o facto de a grande generalidade dos prédios rurais não estar

avaliada a preços de mercado para efeitos fiscais (designadamente de IMI)

cria um incentivo para a sua manutenção no mesmo proprietário em regimes

pouco produtivos, e assim reduzindo as transacções de propriedades com

sobreiros.

28. Em consequência:

A área de montado em Portugal tem permanecido praticamente

inalterada nas últimas cinco décadas (TCMA de 0,06%/ano vs., por

exemplo 0,86%/ano em Espanha) e apresenta indícios de, a médio

prazo e não ocorrendo alterações ao nível da estrutura de oferta, vir a

diminuir;

A propriedade do montado encontra-se muito fragmentada (o que

significa que, em 2005, mais de 30% da área de montado produzia

menos de 0,01% da produção nacional de cortiça natural, um aumento

de 10 pontos percentuais face a 1995);

A qualidade dos povoamentos de sobreiro encontra-se

significativamente aquém da qualidade da generalidade dos restantes

povoamentos florestais (em 2005, cerca de 60% do parque de sobreiros

exibia danos e 8,2% dos sobreiros estavam mortos).

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As vendas de cortiça virgem, bocados, refugo e aparas

29. Em termos de dimensão, a venda de bocados, refugo e aparas em Portugal

terá representado um volume global de cerca de 27,5 milhões de euros em

2010 (o correspondente a 69 mil toneladas, ou seja, 4,6 milhões de

arrobas).

30. Os mercados de compra e venda de bocados/refugo/aparas em Portugal

caracterizam-se pela existência de um grande número de agentes de

pequena dimensão do lado da oferta e um aumento do peso relativo do

principal comprador.

31. É seguro afirmar que nenhum operador deterá um peso relativo na venda

em Portugal destes produtos superior a 10%. Já ao nível da compra tem-se

vindo a assistir a um aumento da concentração sobretudo por via do

aumento do peso relativo do principal operador do sector, o Grupo Amorim,

que passou, como comprador, dos [10% a 20%] em 2006, para uma

percentagem superior a 35% em 2010, o valor mais elevado dos últimos

cinco anos.

32. Tratando-se estas matérias-primas de subprodutos da produção de bens de

maior valor acrescentado, poderá existir alguma rigidez nestes mercados em

termos de incentivos à entrada e expansão.

33. Na realidade, uma menor rentabilidade ou quebra nas vendas – seja de

pranchas de cortiça amadia, seja de rolhas de cortiça natural ou discos –

poderá reduzir os incentivos à entrada na produção deste tipo de matérias-

primas, na medida em que a sua produção poderá apenas fazer sentido

como subproduto de outra atividade de maior valor acrescentado.

34. Essa limitação das capacidades de produção poderá constituir uma relevante

barreira estrutural à entrada, à saída e à expansão.

35. É tanto mais significativa esta restrição quanto maior for a substituibilidade

entre rolhas de cortiça natural e rolhas que utilizem aglomerados.

36. Um aumento do poder de mercado do lado da compra, por parte do Grupo

Amorim, poderá gerar situações de maior dependência em relação a este

Grupo de alguns vendedores de aparas que, estando na venda desse

produtos, são também seus concorrentes na venda de rolhas de cortiça

naturais e discos.

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10 10

As vendas de falca e cortiça queimada

37. Em termos de dimensão, a venda de falca em Portugal terá representado um

volume global de cerca de 7,3 milhões de euros em 2010 (o correspondente

a 43 mil toneladas, ou seja, 2,87 milhões de arrobas).

38. O principal volume de transações de falca, em valor, ocorre entre lenhadores

ou transportadores e a indústria transformadora.

39. As barreiras à entrada e saída neste tipo de atividade parecem ser

relativamente baixas, sendo o tipo de tecnologia envolvida simples.

40. Por esse motivo, existe um elevado número de empresas/indivíduos a atuar

na venda de falca, não tendo nenhuma delas um peso relativo relevante.

41. Estima-se que nenhum operador detenha uma quota de mercado em

Portugal superior a 15% na venda de falca e cortiça queimada nos últimos

cinco anos.

42. Já ao nível da compra a situação é completamente distinta, sendo mais de

3/4 (cerca de [75% a 85%] em média de 2006 a 2010) da falca e cortiça

queimada produzida em Portugal adquirida pelo Grupo Amorim.

43. A fragmentação do mercado do lado da venda associada à muito elevada

concentração do lado da compra indicia um poder de mercado, ou um poder

de negociação, muito reduzido dos vendedores e um elevado poder de

mercado, ou de negociação, do principal comprador, existindo praticamente

uma situação de empresa dominante na compra com uma franja

competitiva.

44. Mesmo as restrições à oferta de falca em território nacional que resultam do

facto de a sua extracção apenas fazer sentido económico enquanto exista a

possibilidade de valorizar a lenha de sobreiro, não parecem limitar, de forma

significativa, o poder de mercado do lado da compra, em resultado da

dependência dos diversos vendedores de falca do Grupo Amorim.

45. O muito elevado nível de concentração registado ao nível da compra de falca

e cortiça queimada poderá constituir uma preocupação concorrencial.

46. Essa preocupação poderá ser tanto maior quanto a discrepância de dimensão

e de capacidade financeira entre quem compra e quem vende for elevada,

podendo gerar uma situação de dependência do vendedor face ao

comprador.

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11 11

47. Por outro lado, a falta de formalidade nas transações de falca e cortiça

queimada faz com que o mercado funcione de forma menos transparente, o

que dificulta a sua monitorização.

Vendas de granulado de cortiça

48. Estima-se que apenas 49% do volume produzido de granulado seja

comercializado no mercado sendo o restante consumido internamente pelas

empresas que o produzem.

49. Assim, em termos de dimensão, a venda nacional de granulado em mercado

terá representado um volume global de 27 milhões de euros em 2010

(correspondente a 28 mil toneladas).

50. Estima-se que a venda de granulados de cortiça seja bastante fragmentada

– todas elas detendo quotas de mercado abaixo dos 10% - não existindo

nenhuma empresa que assuma particular relevância na sua comercialização.

51. No que se refere à compra de granulados de cortiça verifica-se que o Grupo

Amorim se apresentou, nos últimos cinco anos, como o maior comprador,

tendo representando em média [5%-10%] do total da procura. Estima-se

que o seu peso na compra de granulados tenha variado entre os [0% a

10%] em 2007 e os [5% a 15%] em 2010.

52. Estima-se que o segundo maior comprador de granulado (Grupo Piedade)

tenha representado um peso inferior a 5% da procura nacional nos últimos 5

anos. Os restantes grupos económicos terão representado pesos

significativamente inferiores aos destes.

53. Esta estrutura de mercado indicia a existência de um nível baixo de

concentração quer ao nível da procura, quer ao nível da oferta de

granulados, não sendo expectável a existência de poder de mercado

significativo, nem do lado da oferta nem da procura nestes mercados.

54. Existem, por isso, condições para que o preço do aglomerado de cortiça se

aproxime dos seus custos marginais de produção e, sendo ele um

subproduto, reflita menos as variações dos preços da matéria-prima que

estão na sua origem e mais a evolução dos custos incrementais da sua

produção.

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12 12

Vedantes para vinhos tranquilos

55. Admite-se a possibilidade de existência de quatro mercados ao nível dos

vedantes para vinhos tranquilos: os vedantes “top”, “médios”, “comerciais”

e, “económicos”.

56. Em território nacional, o conjunto de produtos suscetíveis de ser

considerados como substituíveis do ponto de vista económico são distintos

para cada uma das categorias, sendo relativamente consensual que, dentro

dos vedantes “Top” e “Médio”, a pressão de preço exercida pelos vedantes

alternativos (plástico e alumínio) é suficientemente baixa para que se admita

não fazerem parte do mesmo mercado relevante, muito embroa só uma

análise rigorosa, que sairia do âmbito do presente relatório, o pudesse

caracterizar..

57. Estima-se que os mercados “Top” e “Médios” em Portugal sejam dominados

pelo Grupo Amorim, com quotas de mercado de [25%-45%] em 2010.

58. Esta elevada concentração registada nos vedantes de maior valor

acrescentado reflete a forte presença do Grupo Amorim na compra das

cortiças amadias de maior qualidade.

59. Nos mercados de vedantes “comerciais” e “económicos” estima-se que os

níveis de concentração sejam menos elevados. Ainda assim, tem-se vindo a

assistir a um aumento da concentração nos últimos anos nestes mercados.

60. Estima-se que em 2010 os Grupos Álvaro Coelho, Piedade, JPS Cork e

Amorim, no seu conjunto, tenham representado cerca de 62% das vendas

de vedantes destas categorias em território nacional.

61. O grupo Álvaro Coelho e Piedade terão representado, nesse ano, [15% a

25%] das vendas nacionais destes vedantes, o Grupo JPS Cork [10% a

20%] e o Grupo Amorim [5% a 15%].

62. As empresas de maior dimensão na produção de vedantes para vinhos

tranquilos a nível mundial são o Grupo Amorim em Portugal e Espanha, o

Grupo Oeneo em França e Espanha, os Grupos Molinas e Ganau em Itália e o

Grupo Nomacorc nos EUA.

63. De acordo com estimativas da AdC, em 2009, o Grupo Amorim terá sido

responsável por [15% a 20%] das vendas de vedantes para vinhos

tranquilos a nível mundial, a empresa Nomacorc por [10% a 15%] e o Grupo

Oeneo por menos de 5%.

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13 13

Vedantes para vinhos espumantes

64. Das quatro qualidades de vedantes de vinhos espumantes (“Extra”,

“Superior”, 1ª ou 2ª), em Portugal a competição tende a ser distinta entre

dois grandes grupos de rolhas: as de mais elevada qualidade, e as restantes.

65. Estima-se que o mercado de vedantes de espumante de topo represente

cerca de 10% do total.

66. Em 2010, as quatro principais empresas vendedoras deste tipo de vedante

em Portugal representaram cerca de 72% do mercado em volume.

67. Ou seja, em Portugal os mercados de venda de vedantes para vinhos

espumantes são substancialmente mais concentrados do que os restantes

mercados de vendas de vedantes para vinhos.

68. Em 2010, o Grupo Amorim representou [25% e 35%] das vendas nacionais

destes vedantes em volume, o Grupo Relvas [20% e 30%], o Grupo Álvaro

Coelho [5% a 15%] e o Grupo MA Silva [5% a 15%].

69. Tem-se verificado nos últimos anos uma redução relativa do peso de

mercado do Grupo Amorim nas vendas em mercado nacional, tendo os

restantes grupos de maior dimensão mantido a sua posição relativa.

70. Para efeitos de enquadramento, refira-se que se ao nível da venda de

vedantes para vinhos espumantes em Portugal o Grupo Amorim se assume

como líder mas com um peso de [25% e 35%], já ao nível da produção

deste tipo de vedantes este grupo apresenta a liderança destacada com

[60% a 70%] da produção nacional em 2010, um valor não muito diferente

do registado nos últimos 5 anos.

71. Por contrapartida, o segundo maior produtor, o Grupo Relvas, tem vindo a

perder peso relativo ao nível da produção deste tipo de vedantes.

72. As empresas históricas a nível mundial na produção de vedantes para

espumantes são o Grupo Amorim em Portugal e Espanha, o Grupo Oeneo em

França e Espanha e os Grupos Molinas e Ganau em Itália.

73. De acordo com estimativas da AdC, em 2010, o Grupo Amorim terá sido

responsável por [30% a 40%] das vendas de vedantes para vinhos

espumantes a nível mundial.

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14 14

Isolamentos térmicos e acústicos

74. São diversas as alternativas aos derivados da cortiça para os isolamentos

térmico e acústico na indústria da construção. Essa diversidade poderá ser

inferior se considerarmos segmentos específicos, podendo em determinados

mercados os isolamentos derivados de cortiça assumir uma maior

relevância.

75. Estima-se, contudo, que em Portugal os isolamentos técnicos e acústicos

derivados da cortiça representem uma pequena fração da comercialização

deste tipo de isolamentos.

76. Ainda assim, importa registar que a unidade de isolamentos do Grupo

Amorim é das que apresenta dos mais elevados níveis de rentabilidade de

forma relativamente consistente, o que poderá indiciar a existência de um

mercado relevante de isolamentos de características mais restritas onde este

grupo, eventualmente, detenha uma posição dominante.

77. Os principais vendedores de isolamentos de cortiça em território nacional

são o Grupo Amorim, a Isocor, a Sofalca, a JPS Cork e a Soiga.

78. Estima-se que o Grupo Amorim tenha representado, em média, mais de

65% da produção nacional de isolamentos em cortiça e que seja responsável

por [15% a 25%] das vendas nacionais desse tipo de isolamentos.

Pavimentos

79. Existe uma grande diversidade de materiais para aplicação em pavimentos.

Destes destacam-se os parquets de madeira, os pisos laminados, os

pavimentos de cortiça, as alcatifas, os linóleos, os pisos vinílicos, os de

cerâmica, pedra entre diversos outros.

80. Estima-se, contudo, que em Portugal os pavimentos derivados da cortiça

representem uma pequena fração da comercialização de pavimentos e que

possam fazer parte de um mercado mais amplo que inclui outros pavimentos

para além daqueles.

81. Tal indício é reforçado pelo facto de a unidade de pavimentos do Grupo

Amorim, o principal produtor de pavimentos de cortiça em território

nacional, ser aquela que apresenta menores índices de rentabilidade.

82. Os principais vendedores de pavimentos de cortiça em território nacional são

o Grupo Amorim, o Grupo MJO, a Allied Cork, a Granorte, a Soiga e a Supra.

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83. Estima-se que o Grupo Amorim tenha representado, em média, nos últimos

cinco anos, [40 a 50%] das vendas nacionais de pavimentos de cortiça.

84. O peso do grupo Amorim na comercialização de pavimentos derivados da

cortiça em Portugal tem vindo a aumentar, em particular desde 2007,

estimando-se que em 2010, o peso relativo deste grupo tenha superado os

65%, o que contrasta com os [25% a 35%] registados em 2007.

85. Em termos de produção, os principais produtores de pavimentos de cortiça a

nível nacional nos últimos cinco anos foram os Grupos Amorim, MJO e

Granorte.

86. Estima-se que em 2010 o Grupo Amorim tenha sido responsável por mais de

65% da produção nacional de pavimentos de cortiça.

Em Conclusão

87. A fileira nacional do sector da cortiça representou, em 2010, cerca de 1,5%

da produção industrial nacional e cerca de 2,1% das exportações nacionais.

88. Dos principais produtos finais derivados da cortiça, destacam-se as rolhas e

os materiais de construção, com particular incidência para os revestimentos

e isolamentos.

89. A estrutura competitiva do sector é muito distinta de estágio para estágio da

cadeia de valor, e mesmo dentro de alguns estágios existem grandes

diferenças, dependendo do mercado de produto em análise. São analisadas

neste relatório as atividades a montante, as intermédias e as a jusante.

90. A área de montado em Portugal tem permanecido praticamente inalterada

nas últimas cinco décadas e apresenta indícios de, a médio prazo e não

ocorrendo alterações ao nível da estrutura de oferta, vir a diminuir. Por

outro lado, a propriedade do montado encontra-se muito fragmentada e a

qualidade dos povoamentos de sobreiro encontra-se significativamente

aquém da qualidade da generalidade dos restantes povoamentos florestais.

91. De forma a mitigar certas preocupações de índole concorrencial, a AdC

recomenda uma revisão do Decreto-Lei n.º 169/2001, de 25 de Maio, uma

avaliação da adequação do regime jurídico relativo ao fracionamento de

prédios rústicos, cuja sede principal consta dos artigos 1376 a 1382 do

Código Civil, e do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI) ao caso

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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específico do sobreiro e do montado, bem como a promoção da criação de

uma “bolsa de transações de cortiça natural”.

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17 17

Recomendações

93. Ao abrigo do artigo 7.º n.º 4 alínea b) dos Estatutos, aprovados pelo

Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de Janeiro, a Autoridade da Concorrência

(AdC), ouvido o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas,

recomenda:

I. A revisão do Decreto-Lei n.º 169/2001, de 25 de Maio, no sentido de

assegurar:

a. A redução e eventual eliminação de barreiras à entrada e

expansão nos mercados de venda de cortiça em bruto, através da

consagração da criação, possivelmente pelo Instituto da

Conservação da Natureza e das Florestas (doravante ICNF), de

uma base de dados com informação sectorial que:

1. Antes do início da tiradia (preferencialmente até ao final do

mês de Março), inclua uma listagem com identificação de

todos os proprietários que, nesse mesmo ano, irão proceder à

extracção de cortiça amadia, virgem, refugos, bocados e falca,

com indicação dos montantes estimados a extraír. Por forma a

garantir a qualidade dessa informação:

- Tal base de dados deverá ser gerida por uma entidade pública

(possivelmente pelo ICNF);

- Tal procedimento poderia ser inteiramente realizado por via de

uma plataforma on-line, a ser criada por essa entidade

pública, podendo as associações de produtores facilitar a

introdução desta informação em representação dos

produtores, mas assegurando os níveis de confidencialidade e

privacidade considerados adequados;

- A notificação desta informação pelo produtor deveria ser

obrigatória, prevendo-se coimas para o reporte fora dos

prazos e exigindo-se aos compradores de cortiça a guarda dos

certificados de notificação dos vendedores, passando tal

comprovativo de notificação a obrigatoriamente acompanhar a

compra;

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18 18

- Esta plataforma poderia ser desenvolvida a nível ibérico com

possibilidade de aproveitamento de sinergias entre

autoridades nacionais e possível co-financiamento Europeu.

2. Durante o período de tiradia, seja actualizada com base nas

vendas entretanto efectuadas, e que sejam publicados

mensalmente os “preços da cortiça percebidos pelos

silvicultores”;

3. Após o período da tiradia, e com periodicidade anual, se

efectue um inquérito de resposta (possivelmente) obrigatória

aos silvicultores, à indústria e a outros agentes do sector por

forma a compilar um conjunto de estatísticas sobre a

campanha de extracção de cortiça do ano.

b. Eventualmente salvaguardando aspetos de natureza ambiental e

ecológica subjacente à produção suberícola, eliminar restrições à

oferta de cortiça no mato através da revisão do Decreto-Lei n.º

169/2001, com a determinação de um leque mais alargado de

situações em que é possível a reconversão de culturas e a

flexibilização do abate de sobreiros de baixa rentabilidade por

substituição por sobreiros de maior produtividade sem

necessidade de aprovações administrativas, mas meras

notificações.

II. A promoção da criação de uma “bolsa de transacções de cortiça natural”,

que permita uma redução do poder negocial do lado da compra,

permitindo ao vendedor um exercício menos condicionado do seu poder

negocial, não obstante a plena consciência que a AdC tem da

heterogeneidade de um produto com valor comercial como a cortiça

natural. Essa bolsa deverá ter as seguintes características:

a. Não ser propriedade de nenhuma das partes (nem dos

compradores ou grupos de compradores, nem dos vendedores ou

grupos de vendedores). Idealmente deverá ser gerida por

entidade idónea para ambas as partes;

b. O seu modo de funcionamento e atuação deve estar ser sujeito a

supervisão/fiscalização por parte de uma entidade pública,

possivelmente o ICNF;

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c. Deve garantir o anonimato do comprador nas licitações, apenas

devendo ser revelado o nome do comprador de cada lote após o

fecho do mercado;

d. Deve disponibilizar a análise de amostras de cortiça retiradas por

entidade idónea e de acordo com metodologias estatísticas

comumente aceites por produtores e vendedores, nos termos

regulamentados;

e. Deve garantir mecanismos incentivadores para que seu uso possa

representar o meio para a realização do grosso das transacções.

III. No sentido de assegurar a promoção da eficiência económica ao nível da

produção da cortiça natural, e de contribuir para o aperfeiçoamento do

sistema normativo português em todos os domínios que possam afetar a

livre concorrência (artigo 6.º, n.º 1 alínea f) dos Estatutos), a AdC

recomenda, nos termos do artigo 7.º n.º 4 alínea b) do Estatutos,

igualmente, uma avaliação da adequação do regime jurídico relativo ao

fracionamento de prédios rústicos, cuja sede principal consta dos artigos

1376 a 1382 do Código Civil, e do Código do Imposto Municipal sobre

Imóveis (CIMI) ao caso específico do sobreiro e do montado, por forma a

encontrar soluções que impeçam ou limitem substancialmente a

fragmentação da propriedade da terra, e que, pelo contrário, promovam

a sua consolidação através da colocação dos prédios rurais menos

produtivos no mercado para que possam ser adquiridos por entidades

que acrescentem maior valor à produção.

IV. Por último, não só pelo peso que o setor representa na produção

industrial nacional como pelo seu peso nas exportações, e a fim de

colmatar a ausência de dados e informações estatísticas de natureza

quantitativa e qualitativa, tal como identificadas nas recomendações I, II

e III, a AdC recomenda que, pelo menos o compêndio das mesmas seja

objecto de divulgação numa base periódica e regular, de fácil acesso à

generalidade dos operadores ao longo da fileira da cortiça e de outras

entidades, salvaguardadas as usuais reservas de confidencialidade.

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1. Introdução

1.1. Estrutura do relatório

94. O presente Relatório encontra-se organizado em 4 capítulos.

95. Na Introdução (capítulo 1) encontra-se detalhada a sua estrutura e os seus

enquadramento, termos de referência, e cronologia. É, igualmente, feito um

conjunto de advertências.

96. O capítulo 2 resume as actividades da AdC na fileira do sector da cortiça até

à data de produção do persente relatório.

97. No capítulo 3 consta um resumo do enquadramento regulatório do sector da

cortiça.

98. O capítulo 4 compreende a caracterização de toda a fileira do sector da

cortiça.

99. A caracterização referida no capítulo 4 compreende uma descrição dos vários

estágios da cadeia de valor e análise específica dos mercados dos produtos

mais relevantes em cada um dos estágios.

100. Relativamente aos estágios mais a montante, e no que se refere

especificamente a comercialização de cortiça natural, são analisados com

particular detalhe a comercialização de pranchas de cortiça amadia, bocados,

refugo, cortiça virgem, falca e cortiça queimada.

101. Nos estágios intermédios é analisada a comercialização de granulados.

102. Em relação aos estágios mais a jusante, a análise da AdC incide sobre a

comercialização de vedantes para vinhos tranquilos, de vedantes para

vinhos espumantes/champanhes, de isolamentos térmicos e acústicos e de

pavimentos.

103. Nesta caracterização, a AdC pretende fazer um diagnóstico jusconcorrencial

do sector corticeiro em Portugal, procurando identificar a existência de poder

de mercado1, as condicionantes de procura e da oferta, as barreiras à

entrada, expansão e à saída, e, sempre que oportuno, complementando-o

com uma avaliação do contexto concorrencial em que se desenvolve a

comercialização dos produtos em análise.

1 Neste relatório, quando se emprega a expressão “poder de mercado”, poderemos por vezes querer

referir “poder de negociação”, quando se tratam de negociações bilaterais entre duas partes, comprador e vendedor. Por simplicidade, não empregaremos estas duas expressões mas apenas a de “poder de mercado”.

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1.2. Enquadramento

104. Nos termos dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de

18 de Janeiro, designadamente do seu artigo 7.º, n.º 3, al. a), compete à

Autoridade da Concorrência (AdC), no exercício dos seus poderes de

supervisão, proceder à realização de estudos e inquéritos que, em matéria

de concorrência, se revelem necessários.

105. No exercício desses poderes de supervisão – e para assegurar o

cumprimento da sua missão – incumbe à AdC, nomeadamente, fomentar a

adopção de práticas que promovam a concorrência e a generalização de uma

cultura de concorrência junto dos agentes económicos e do público em geral,

e de contribuir para o aperfeiçoamento do sistema normativo português em

todos os domínios que possam afectar a livre concorrência (cfr. artigo 6.º,

n.º 1 dos Estatutos).

106. Nesse sentido, em cumprimento da missão legalmente conferida pelos seus

Estatutos e, em particular pela Resolução da Assembleia da República n.º

64/2009, de 3 de Julho2 – Defender o montado, valorizar a fileira da cortiça

– a Autoridade da Concorrência procede à “investigação aprofundada e

urgente sobre o que se está a passar neste importante e estratégico sector

para a economia nacional, designadamente ao nível da comercialização a

montante e a jusante com particular incidência nas importações e

exportações, e a tomada de medidas ou recomendação de propostas que

considere necessárias ao normal funcionamento do mercado e estabilidade

do sector.”

1.3. Resumo das iniciativas da AdC no sector da

cortiça

107. Conforme referido supra, a Autoridade da Concorrência tem por missão

assegurar a aplicação das regras da concorrência em Portugal, no respeito

pelo princípio da economia de mercado e da concorrência não falseada,

tendo em vista o funcionamento eficiente dos mercados e a repartição eficaz

dos recursos, na prossecução dos interesses dos consumidores3.

2 Resolução da Assembleia da República n.º 64/2009, de 3 de Julho, publicada no Diário da República,

I.ª série em 4 de Agosto de 2009.

3 Vide artigo 1.º dos Estatutos da AdC, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de Janeiro.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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108. O cumprimento desta missão e das atribuições que lhes estão inerentes

materializa-se com o exercício de poderes sancionatórios, de supervisão e,

de regulamentação.

109. Até ao início do presente Estudo, a actuação da AdC na fileira da cortiça

circunscreveu-se ao exercício dos seus poderes sancionatórios,

designadamente através da análise de denúncias de práticas susceptíveis de

infringir a legislação da concorrência. Da análise dessas denúncias não

resultou a abertura de qualquer processo.

110. Concomitantemente, a Autoridade da Concorrência – enquanto membro da

Rede Europeia de Concorrência4 (internacionalmente designada por ECN –

European Competition Network) – realizou uma consulta aos seus membros

congéneres sobre a experiência recente destes no sector da cortiça5.

111. Do conjunto de respostas recebidas, verifica-se que em nenhuma das

jurisdições que compõem a Rede Europeia da Concorrência o sector da

cortiça terá sido objecto de estudo ou análise sectorial, pelo que o presente

estudo será pioneiro na Rede Europeia de Concorrência.

1.4. Advertências

112. O presente estudo, por comparação com anteriores desenvolvidos pela

Autoridade da Concorrência noutros sectores de actividade, revelou-se de

particular complexidade.

113. Essa complexidade resultou, por um lado, da escassez de quantidade e

qualidade dos dados disponíveis e, por outro, da limitada transparência no

relacionamento intra empresarial no sector.

4 A Rede Europeia da Concorrência foi formalmente instituida em 2004, no âmbito do enquadramento

da entrada em vigor do Regulamento (CE) n.° 1/2003 do Conselho, de 16 de Dezembro de 2002, relativo à execução das regras de concorrência estabelecidas nos artigos 81.° e 82.° do Tratado (actualmente, 101.º e 102.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia). Apesar de não ter personalidade jurídica, a rede ECN actua enquanto fórum privilegiado para a discussão, colaboração e actuação coordenada entre as Autoridades da Concorrência de cada um dos Estados-Membros da União Europeia e entre estas e a Comissão Europeia, na aplicação do referido Regulamento n.º 1/2003 e dos artigos 101.º e 102.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Vide, igualmente, Comunicação da Comissão sobre a cooperação no âmbito da rede de autoridades de concorrência, publicada no Jornal Oficial 2004/C 101/03 de 27 de Abril de 2004.

5 A pergunta colocada foi a seguinte: “Has your Agency recently (i.e. since year 2000) conducted any study and/or sector enquiry on the Cork Sector, in particular from a competition law perspective; If so, the PCA [Portuguese Competition Authority] would very much appreciate if you could provide us with a publicly available version of the study and/or sector enquiry (preferably in English).”

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114. No que se refere aos dados do sector, verifica-se que estes são escassos,

pouco pormenorizados e de pouca fiabilidade. Senão vejamos:

Não raras vezes as Estatísticas de Produção industrial do INE são

inconsistentes com os dados de Comércio Externo provenientes do

mesmo Instituto6;

Os dados quantitativos do INE são pouco desgregados, impedindo a

quantificação exacta de alguns mercados;

Dados de fonte pública sobre as quantidades e preços da cortiça

extraída no montado nacional, em cada ano, deixaram de existir;

Os dados de extracção de cortiça, por ano, publicados pela APCOR são

pouco pormenorizados não distinguindo os diferentes tipos de cortiça

e, em alguns anos (por exemplo em 2010), não parecem ser

consistentes com os dados recolhidos junto das 20 maiores empresas

transformadoras do sector.

115. A isto acresce o facto de quatro7 das maiores empresas do sector terem

entrado em insolvência nos últimos 5 anos, e de 5 empresas do grupo das

20 maiores não terem respondido aos pedidos de elementos enviados pela

Autoridade da Concorrência.

116. Tal situação gerou uma lacuna de dados obtidos por forma directa. Nestes

casos a AdC teve que recorrer a métodos indirectos de estimação do peso

relativo de cada uma dessas empresas com base no respectivo perfil

produtivo e nas performances de empresas do sector com perfis produtivos

semelhantes ajustados pelas diferenças de dimensão.

117. No que se refere à transparência da informação obtida, importa referir que

nem sempre foi possível esclarecer as relações de controlo entre as várias

entidades, para efeitos da Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho, que aprova o

regime jurídico da concorrência, sendo, por isso, meramente tentativa a

aproximação do peso de mercado de alguns operadores.

118. Por último, em razão da evolução da legislação orgânica do Estado, em

particular no que concerne entidades administrativas com atribuições e

competências em matéria de ambiente, agricultura e ordenamento do

6 A título meramente exemplificativo refira-se que, para várias anos, os valores das exportações de

rolhas para vinhos espumantes são superiores às vendas da indústria.

7 Grupo Suberus; Grupo Abel Costa Tavares; Grupo Fernando Oliveira Cortiças; Empresa Industrial de Paços Brandão.

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território, a designação das respectivas entidades ao longo do presente

Estudo poderá não corresponder à atual, pelo que se procederá à sua

menção de acordo com a designação atual ou, tanto quanto possível,

aproximada.

119. Assim, articulando com a actual orgânica do Ministério da Agricultura, do

Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT), indicações

relativas ao exercício das competências relacionadas com procedimentos de

autorização e comunicação sobre qualquer intervenção sobre o montado em

geral e, em particular, sobre o sobreiro (cfr. Decreto-Lei n.º 169/2001,

alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho) far-se-ão por

referência ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

(doravante “ICNF”8), sendo que as várias outras entidades serão designadas

por referência ao órgão de tutela do sector em causa (e.g. membro do

Governo responsável pela tutela da agricultura, das florestas, do ambiente,

do ordenamento do território…).

1.5. Termos de referência

120. O presente estudo pretende abordar, designadamente, os seguintes temas:

Caracterização do sector da cortiça em Portugal;

Análise individualizada dos diferentes estádios da cadeia de valor que

compõem o sector da cortiça em Portugal;

Análise do enquadramento regulatório nacional do sector da cortiça;

Enquadramento jusconcorrencial do sector da cortiça em Portugal, à luz da

Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho.

1.6. Cronologia

121. O presente Relatório implicou a consulta e troca de correspondência entre a

AdC e mais de 40 entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras.

122. O calendário previsto (e que se veio a concretizar) para o relatório foi o

detalhado na Tabela infra.

8 No qual passou a integrar a anterior Autoridade Florestal Nacional (AFN).

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Tabela 1 – Cronologia de Elaboração do Relatório

Actividade Cronologia

Início do Estudo 14/01/2011

Primeira ronda de reuniões com empresas do sector 14/01/2011 a 21/01/2011

Primeiro pedido de elementos a empresas do sector corticeiro 11/04/2011 a 13/04/2011

Resposta das empresas ao primeiro pedido de elementos

24/05/2011 06/06/2011

Segundo pedido de elementos a empresas do sector corticeiro

09/09/2011

Resposta das empresas ao segundo pedido de elementos

11/11/2011a 18/11/2011

Terceiro pedido de elementos a empresas do sector corticeiro

03/11/2011

Resposta das empresas ao terceiro pedido de elementos

07/12/2011 a 14/12/2011

Segunda ronda de reuniões com empresas do sector 06/01/2012 a 17/01/2012

Envio do Relatório para o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

Agosto 2012

Receção de comentários do ICNF Outubro 2012

Relatório Final Dezembro 2012

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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2. O enquadramento regulatório da fileira da

cortiça

2.1. Nota Prévia

123. Atualmente, o enquadramento regulatório do sector corticeiro encontra-se

consagrado no Decreto-Lei n.º 169/2001, de 25 de Maio (alterado pelo

Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho) onde se definem e estabelecem

medidas de proteção ao sobreiro e à azinheira.

124. Sem prejuízo, a natureza algo errática que tem caracterizado a recente

evolução legislativa relacionada com a fileira da cortiça obriga a uma

reflexão sobre a necessidade de lhe ser conferida a estabilidade regulatória

que um sector considerado como “estratégico” carece.

125. Com efeito, em 2001, as matérias relacionadas com o sector da cortiça

passaram a estar consagradas no referido Decreto-Lei n.º 169/2001,

posteriormente alterado em 2004.

126. Por sua vez, em 2009, foi publicado o Código Florestal, aprovado pelo

Decreto-Lei n.º 254/2009, de 24 de Setembro. Este reunia e sistematizava,

num único instrumento, toda a legislação dispersa sobre as várias fileiras

relacionadas com a floresta e com os recursos florestais. Este diploma

revogava o Decreto-Lei n.º 169/2001 [artigo 5.º, alínea ee) do referido

Diploma de 2009].

127. Contudo, não obstante a data da sua publicação – 24 de Setembro de 2009

– o Código Florestal nunca chegou a entrar em vigor. Em primeiro lugar,

houve um período de vacatio legis de 90 dias à qual se seguiram duas

prorrogações: (i) pela Lei n.º 116/2009 de 23 de Dezembro, que prorrogava

a entrada em vigor daquele diploma por um período de 360 dias; e, (ii) pela

Lei n.º 1/2011, de 14 de Janeiro, que determinava que a entrada em vigor

do Decreto-Lei n.º 254/2009 seria prorrogada por 365 dias após o termo da

prorrogação concedida pela Lei n.º 116/2009.

128. Assim, seria expectável que – findo este período de prorrogações e sem que

qualquer manifestação em sentido diferente por parte do legislador tivesse

ocorrido – o Código entrasse em vigor no dia 18 de Dezembro de 2011.

129. Contudo – e em segundo lugar – tal manifestação veio a ocorrer no passado

dia 13 de Março de 2012, com a publicação da Lei n.º 12/2012. A publicação

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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desta Lei teve três consequências imediatas: (i) a revogação do Decreto-Lei

n.º 254/2009, de 24 de Setembro que aprova o Código Florestal; (ii) a

produção dos seus efeitos retroage à data de entrada em vigor do diploma

de 2009; e, (iii) a repristinação do Decreto-Lei n.º 169/2001, de 25 de Maio.

130. Nestes termos, em virtude de um conjunto de iniciativas e de contra-

iniciativas legislativas, o enquadramento regulatório afeto à fileira da cortiça

mantém-se o mesmo desde 2001, sem que tal tenha contribuído para a sua

estabilidade ou estabilização.

131. Feitas estas considerações, procede-se, de seguida, à análise do sector da

cortiça, no âmbito do seu atual regime jurídico, o Decreto-Lei n.º 169/2001,

alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004.

2.2. Enquadramento Geral

132. Conforme referido anteriormente, o regime jurídico em vigor referente ao

montado e ao sobreiro encontra-se previsto no diploma de 2001.

133. Articulando com a actual orgânica do Ministério da Agricultura, do Mar, do

Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT) o exercício das

competências relacionadas com procedimentos de autorização e de

comunicação sobre qualquer intervenção sobre o montado em geral e, em

particular, sobre o sobreiro (cfr. em particular, o artigo 9.º) recai sobre o

ICNF.

134. Por sua vez, as competências de fiscalização estão hoje sob a alçada da

Guarda Nacional republicana (GNR), concretamente no Serviço de Protecção

da Natureza e do Ambiente (SEPNA) e no corpo de vigilantes da natureza

nas áreas classificadas - hoje parte integrante do ICNF.

135. O atual regime jurídico prevê que determinadas intervenções ou omissões

sobre o montado em geral e sobre o sobreiro em particular são suscetíveis

de constituir contraordenações passíveis de aplicação de coimas (artigos

21.º), bem como de sanções acessórias (artigo 22.º).

136. Nos termos do seu artigo 14.º, o ICNF é responsável pela compilação,

tratamento e respetiva divulgação de informação recolhida sobre o mercado

da cortiça. Para tal, e até ao final de cada ano civil, é obrigatório o envio,

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pelos produtores de cortiça em cru ao ICNF, de uma declaração da cortiça

virgem9, secundeira ou amadia extraída destinada a venda ou autoconsumo.

137. Esta declaração denomina-se de “Manifesto de produção suberícola”. Sobre

os seus dados e informações é assegurada a confidencialidade e o

anonimato, e a sua utilização é feita exclusivamente para fins estatísticos.

2.3. Aspetos Específicos

138. Em linhas gerais, o regime jurídico previsto no Decreto-Lei n.º 169/2001

caracteriza-se por uma forte componente pro-activa e positiva centrada na

proteção do património silvícola e por uma componente negativa centrada

num conjunto de restrições à intervenção sobre o montado em geral e sobre

o sobreiro em particular.

2.3.1. Vertente Positiva - Proteção ao património

139. A vertente positiva é caracterizada por um conjunto de obrigações

focalizadas na manutenção e preservação do montado e do sobreiro.

140. São de realçar os deveres imputáveis aos detentores de povoamentos10 de

os manterem em boas condições vegetativas, e de se absterem de adotar

medidas que conduzam, ou que possam conduzir, a situações de abandono,

degradação, depreciação ou perecimento dos povoamentos (artigo 17.º).

141. Encontram-se, igualmente, previstas medidas corretivas de rearborização,

de beneficiação, designadamente em casos de cortes ou arranques ilegais,

ou de compensação mediante a constituição de novas áreas de sobreiro ou

de beneficiação das existentes (artigo 3.º, n.º 7, artigo 23.º, n.ºs 1 e 2, e

artigo 8.º).

142. Estão, igualmente, consagradas medidas de prevenção, como as medidas

preventivas de apreensão de bens utilizados nas operações ou intervenções

em desrespeito pela Lei e adotar as medidas destinadas a fazer cessar a

ilicitude, ou medidas de embargo a quaisquer ações em curso que estejam a

9 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “cortiça virgem” cortiça

proveniente de partes de árvores nas quais é a primeira vez que se extrai cortiça (alínea g)).

10 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “Povoamento de sobreiro, de azinheira ou misto” formação vegetal onde se verifica presença de sobreiros ou azinheiras, associados ou não entre si ou com outras espécies, cuja densidade satisfaz determinados valores mínimos (alínea q)).

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

30 30

ser efetuadas com inobservância das determinações legalmente expressas

(artigos 20.º e 19.º, respetivamente).

2.3.2. Vertente Negativa - Restrições à intervenção

143. Esta perspetiva manifesta-se, desde logo, por uma regra geral de proibição

em intervir sobre o montado, em geral, ou no sobreiro em particular aliada a

um muito reduzido número de situações nas quais as intervenções

adequadas à gestão e exploração dos montados são permitidas.

144. A regra geral parece ser, de facto, a da proibição de “qualquer operação que

mutile ou danifique exemplares de sobreiro ou azinheira, bem como

quaisquer ações que conduzam ao seu perecimento ou evidente depreciação,

nomeadamente as podas executadas com inobservância do disposto no

artigo 15.º e as ações de descortiçamento que provoquem danos no

entrecasco.” (artigo 17.º, n.º 4), ou – quando excecionalmente possíveis - a

sua sujeição a procedimentos de autorização ou comunicação pelas e às

autoridades competentes, designadamente ao ICNF

145. Igualmente de notar são os longos períodos temporais – em regra, 25 anos -

sobre os quais recai a inibição de (i) desafetação do uso agrícola após corte

de sobreiros necessários à realização de empreendimentos agrícolas com

relevante e sustentável interesse para a economia local [artigo 3.º, n.ºs 7 e

6, e artigo 2.º, n.º 2 alínea b)]; (ii) conversão (que não de imprescindível

utilidade pública), operações relacionadas com edificação, obras de

construção, obras de urbanização, loteamentos e trabalhos de remodelação

dos terrenos, de acordo com o definido no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de

Dezembro, introdução de alterações à morfologia do solo ou estabelecimento

de quaisquer novas atividades, designadamente agrícolas, industriais ou

turísticas, em terrenos em que haja ocorrido corte ou arranque ilegal de

povoamentos de sobreiros (artigo 5.º); (iii) alterações do uso do solo em

áreas de sobreiro que tenham sofrido conversões por terem sido afetadas

por incêndio, anormal mortalidade ou depreciação do arvoredo em

consequência de ações ou intervenções ou sujeitas a cortes ou arranques

não autorizados (artigo 4.º).

146. Assim, e excecionando as relativas ao regime sobre o período de inibição

(vide infra), as disposições nucleares sobre intervenções em sobreiros são

aquelas que se debruçam sobre conversões (artigo 2.º), corte ou arranque

(artigo 3.º), e com “práticas culturais”. Estas últimas encontram-se

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

31 31

dispersas, designadamente, pelos artigos 11.º (Desbóia), 12.º

(Descortiçamento), 13.º (Extração de cortiça), 15.º (Poda) e 16.º

(Restrições às práticas culturais).

2.3.3. Conversões

147. No que concerne as conversões11 apenas são as mesmas permitidas nos

casos de (i) empreendimentos de imprescindível utilidade pública nos termos

do artigo 6.º do diploma de 2001; (ii) empreendimentos agrícolas com

relevante e sustentável interesse para a economia local12; (iii) ou alteração

do regime para talhadia13.

148. Relativamente ao caso de conversão que vise a realização de

empreendimentos de imprescindível utilidade pública, a lei obriga que os

mesmos sejam declarados, constando no artigo 6.º os trâmites a observar

para o efeito.

149. Nos termos desta disposição, a declaração de imprescindível utilidade

pública – tal como a de empreendimentos agrícolas com relevante e

sustentável interesse para a economia local – compete conjuntamente ao

membro do Governo responsável pelas áreas da agricultura e

desenvolvimento rural, ao membro do Governo responsável pela área com a

tutela sobre o empreendimento (se não se tratar de projeto agrícola) e ao

membro do Governo responsável pela área do ambiente e ordenamento do

território, no caso de não haver lugar a avaliação de impacte ambiental (n.º

1).14

11 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “conversão” alteração que

implica a modificação do regime, da composição ou a redução de densidade do povoamento abaixo de determinados valores mínimos (alínea b)).

12 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “Empreendimento agrícola de relevante e sustentável interesse para a economia local» empreendimento agrícola com importância para a economia local, avaliada em termos de criação líquida de emprego e valor acrescentado superior ao do uso atual da terra, com viabilidade económica e financeira, que dê origem a produtos com escoamento garantido no mercado e que não sejam alvo de mecanismos de suporte dos preços de mercado, apoios à produção, à exportação ou ao rendimento e cuja localização, não possuindo alternativa, apresenta adequada aptidão edafo-climática para o uso agrícola em causa; (alínea l)).

13 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “talhadia” regime em que a continuidade do povoamento é garantida pelo aproveitamento de rebentos de toiça ou de raiz (alínea r)) e por “toiça” parte da árvore que permanece agarrada ao solo após o abate (alínea s)).

14 Para efeitos de instrução do pedido, o proponente deve apresentar: a) uma memória descritiva e justificativa que demonstre tecnicamente o interesse económico e social do empreendimento, a sua sustentabilidade e a inexistência de alternativas válidas quanto à sua localização; b) a declaração de impacte ambiental, quando esta seja exigível (n.º 3).

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150. Adicionalmente no caso de empreendimentos agrícolas com relevante e

sustentável interesse para a economia local [artigo 2.º, n.º 2, alínea b)], a

sua conversão apenas é permitida se se atender às condicionantes de limites

máximos de área afetada e de verificação de uma correta gestão e um bom

estado vegetativo e sanitário da restante área ocupada por povoamentos de

qualquer das espécies (artigo 3, n.º 6), bem como observação dos trâmites

previstos no artigo 6.º (vide supra).

151. Já no caso de conversão através de alteração do regime para talhadia,

estabelece o artigo 10.º que o ICNF pode autorizar a exploração de sobreiros

e azinheiras sob este regime “sempre que considere aconselhável esta forma

de exploração” (n.º 1).

2.3.4. Corte ou Arranque

152. O artigo 3.º do Diploma de 2001 estabelece que o corte ou arranque de

sobreiros ou azinheiras é permitido em determinadas situações, mediante

autorização ou comunicação pelo ICNF.

153. Assim, o seu n.º 3 prevê que sejam permitidos cortes ou arranques (i) em

desbaste15, sempre com vista à melhoria produtiva dos povoamentos, e caso

não exista um plano de gestão florestal aprovado; (ii) em cortes de

conversão16, nos casos em que são permitidas conversões (vide ponto 147

supra e artigo 2.º, n.º 2); e, (iii) por razões fitossanitárias, nos casos em

que as características de uma praga ou doença o justifiquem.

154. Por sua vez – e tal como já referido anteriormente no ponto 150 - no caso

de empreendimentos agrícolas com relevante e sustentável interesse para a

economia local, eventuais cortes de conversão necessários à sua realização

apenas são autorizados se se atenderem às condicionantes de limites

máximos de área afetada e de verificação de uma correta gestão e um bom

estado vegetativo e sanitário da restante área ocupada por povoamentos de

qualquer das espécies (artigo 3.º, n.º 6), bem como observação dos

trâmites previstos no artigo 6.º (vide supra). As áreas sujeitas a estes cortes

15 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “desbaste” operação em que,

através do arranque ou corte seletivo, são eliminados sobreiros ou azinheiras mortos, caducos ou fortemente afetados por pragas ou doenças ou que prejudicam o desenvolvimento de outros em boas condições vegetativas (alínea h)).

16 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “corte de conversão” intervenção em que, através de arranque ou corte de árvores, se reduz a densidade do povoamento abaixo de determinados valores mínimos (alínea c)).

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não podem ser desafetadas do uso agrícola por um período de 25 anos (vide

infra).

155. Adicionalmente, em consequência de corte ou arranque ilegal em

povoamento de sobreiro ou azinheira, não só sobre os terrenos afetados

incorre (i) uma proibição por um período de 25 anos qualquer conversão

(que não de reconhecida imprescindível utilidade pública), quaisquer

operações relacionadas com edificação, obras de construção, obras de

urbanização, loteamentos e trabalhos de remodelação dos terrenos, de

acordo com o definido no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro,

qualquer introdução de alterações à morfologia do solo ou coberto vegetal

ou estabelecimento de quaisquer novas atividades, designadamente

agrícolas, industriais ou turísticas (artigo 5.º); como também (ii) a

rearborização ou beneficiação das áreas afetadas, em condições e prazo

determinadas pelos serviços afetos ao membro do Governo responsável

pelas áreas da agricultura e do desenvolvimento rural, podendo estes

substituir-se ao possuidor ou proprietário na execução destas operações,

fazendo-se ressarcir das correspondentes despesas pelo mesmo, se

necessário por recurso a cobrança coerciva do crédito correspondente em

processo de execução fiscal (artigo 23.º).

2.3.5. Práticas culturais

156. À semelhança do regime relativo a conversões e a corte ou arranque de

sobreiros ou azinheiras, também o regime de práticas culturais nos

povoamentos de sobreiro e azinheira se caracteriza por uma regra geral de

proibição ou de muito reduzida margem de atuação por parte do produtor.

157. Assim, nos termos do regime atualmente em vigor, são proibidas (i) a

desbóia17 de sobreiros cujo perímetro do tronco seja inferior a determinada

medida, exceto se explorados em regime de talhadia, se imediatamente

seguidos de corte ou arranque (artigo 11.º); (ii) a extração de cortiça que

exceda determinada medida em altura (artigo 12., n.º 1º); (iii) extração de

cortiça em fustes18 e pernadas19 cujo perímetro seja inferior a determinada

17 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “desbóia” o primeiro

descortiçamento a que um sobreiro é submetido (alínea i)); e por “descortiçamento” operação que consiste em extrair de sobreiros vivos parte da cortiça que os reveste (alínea j)).

18 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “fuste” parte do tronco da árvore livre de ramos (alínea n)).

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medida (artigo 12.º, n.º 3); (iv) extração de cortiça amadia20 ou

secundeira21 com menos de nove anos de criação (artigo 13.º, n.º 1), exceto

em determinadas circunstâncias definidas e autorizadas pelo ICNF [artigo

13.º, n.º 2 (com a redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 155/2004,

de 30 de Junho)]; (v) exploração em meças22 a partir de 2030 (artigo 13.º,

n.º 4); (vi) efetuar podas fora de determinados períodos temporais (artigo

15.º); (vii) mobilizações ou intervenções de solo e operações que afetem o

sistema radicular ou que desloquem ou removam a camada superficial do

solo (artigo 16.º).

158. Ainda que admissíveis, a operação de poda de sobreiros e azinheiras carece

de autorização do ICNF, apenas sendo permitida quando vise melhorar as

suas características produtivas (artigo 15.º, n.º 1).

19 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “pernada” as ramificações

principais e que se inserem diretamente no tronco da árvore (alínea p)).

20 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “cortiça amadia” a cortiça proveniente de partes de árvores nas quais é a terceira vez ou seguintes que se extrai cortiça (alínea d)).

21 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “cortiça secundeira” a cortiça proveniente de partes de árvores nas quais é a segunda vez que se extrai cortiça (alínea f)).

22 Para efeitos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 169/2001, entende-se por “exploração em meças” o tipo de descortiçamento no qual a superfície do sobreiro explorada para produção da cortiça se encontra dividida em duas ou mais partes, com vista à extração sistemática da mesma em anos diferentes (alínea m)).

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35 35

3. Caracterização do sector da cortiça

3.1. Introdução

159. O que vulgarmente se designa por cortiça natural corresponde à casca do

sobreiro, uma árvore de grande longevidade com características especiais23.

160. Apenas duas espécies de sobreiros são susceptíveis de ser utilizadas para a

produção de cortiça natural. A espécie designada por Quercus Suber,

presente em explorações silvícolas nas regiões mediterrânicas de Portugal,

Espanha, Itália, França, Marrocos, e Argélia, e a designada por Quercus

Variabilis (árvore de folha caduca, ao contrário da Uuercus Suber), presente

em florestas selvagens, fundamentalmente na China.

161. As características da cortiça extraída das duas variedades de sobreiro são,

contudo, distintas, proporcionando a espécie Quercus Suber cortiça de

superior qualidade com um rol de aplicações mais diversificado e de maior

valor acrescentado para a indústria.

162. Pelas características do seu solo e clima, entre outros factores, Portugal tem

sido, desde há décadas, líder na produção mundial de cortiça natural desta

espécie.

163. Portugal é, também, líder mundial na transformação de cortiça natural.

164. Em 2010, a fileira do sector da cortiça em Portugal terá representado um

volume de facturação ligeiramente superior aos 1,1 mil milhões de euros.24

165. Deste montante, cerca de 180 milhões de euros (16%) resultaram de

vendas de cortiça natural em bruto, e os restantes cerca de 961 milhões de

euros de vendas da indústria transformadora, incluindo produtos intermédios

e produtos finais.

166. No que se refere à produção/extração de cortiça natural, e de acordo com o

último inventário florestal nacional de 2006, Portugal detinha uma área de

povoamentos de sobreiros (Quercus Suber) de 715 mil hectares,

23 É uma árvore de grande longevidade e com uma enorme capacidade de regeneração. Consegue viver

em média 150 a 200 anos, apesar dos muitos descortiçamentos que lhe fazem ao longo da sua existência: cerca de 16 intercalados por períodos de nove anos (o primeiro ocorre em média 25 anos após a plantação).

24 Cálculos da AdC com base em dados do INE (Estatísticas da produção industrial – 2010 e Contas da Silvicultura – 2009). Inclui o valor das Vendas (exclui Prestações de Serviços).

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36 36

correspondente a cerca de 34% da área total destes sobreiros a nível

mundial.

Gráfico 1 – Área plantada de sobreiro (espécie Quercus Suber), por país, em 2005-2011

Ilustração 1 – Principais áreas geográficas de exploração de sobreiros (Quercus Suber)

Fonte: AFN [atual ICNF].

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37 37

167. Em Portugal, 84% da área de sobreiro encontrava-se situada no Alentejo,

6% no Centro e 10% nas restantes regiões do país.

Fonte: INF5, Relatório Final do INF5, AFN 2010, cedido pelo ICNF.

168. De acordo com os últimos dados disponíveis (2010), Portugal extrai

anualmente, em média, o equivalente a 36% do total de cortiça extraída

anualmente a nível mundial (53% se considerarmos apenas a espécie

Quercus Suber).

Regiões (NUT II) Área (ha) %

Norte 11935 2

Centro 45221 6

LVT 23610 3

Alentejo 601906 84

Algarve 33250 5

Total 715922 100

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38 38

Gráfico 2 – Estimativa da produção anual de cortiça natural, por país, em 2010

169. Uma vez extraída, a cortiça natural é industrialmente transformada, em

produtos derivados, dos quais se destacam as rolhas, o aglomerado, os

revestimentos e os isolamentos, entre outras aplicações.

170. De acordo com os dados mais recentes25, em 2009, existiam 597 empresas

transformadoras de cortiça responsáveis pelo emprego de cerca de 8,7 mil

trabalhadores.26

171. Tal como referido supra (parágrafo 165) a indústria transformadora de

cortiça nacional representou, em 200927, um volume de vendas de 857

milhões de Euros, correspondente a cerca de 1,5% do total da produção

industrial nacional.28

172. Deste total de vendas, estima-se, que pelo menos, 18% tenham

correspondido a produtos intermédios derivados da cortiça, isto é, a

produtos que serviram de matéria-prima a outras empresas da fileira da

cortiça (vendas intra-industriais), e os restantes 82% a produtos finais.29

25 Ministério do Trabalho (2009).

26 APCOR (Estudo de Caracterização Sectorial - 2011).

27 Último ano para o qual existem dados disponíveis.

28 Cálculos da AdC com base em dados do INE (Estatísticas da produção industrial – 2010). Inclui o valor das Vendas (exclui Prestações de Serviços).

29 Refira-se que Portugal importou também cortiça natural e cortiça aglomerada como produtos intermédios (o valor destas importações não se encontra refletido nos números acima).

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173. Dos principais produtos finais derivados da cortiça, destacam-se as rolhas,

cuja representatividade em 2010 terá sido de cerca de 75% das vendas em

valor (34% das vendas em volume) e os matériais de construção, com

particular incidência para os revestimentos e isolamentos, cuja

representatividade terá sido, em 2010, de 22% das vendas em valor (61%

do volume de vendas em volume).

174. Sendo o processo de produção de rolhas, em particular das rolhas de cortiça

natural, relativamente menos complexo e por isso menos intensivo em

capital, face ao associado à produção de outro tipo de produtos derivados da

cortiça, verifica-se que a produção daquele produto assume uma grande

relevância para a rentabilidade de toda a fileira.

175. Os mercados externos representaram em 2010 cerca de 91% das vendas de

produtos finais em valor da indústria nacional.

176. As exportações de cortiça natural e produtos intermédios e finais derivados

da cortiça representaram 2,1% das exportações nacionais totais, em valor,

em 2010.

177. Em 200930, Portugal foi líder mundial na exportação de cortiça e seus

derivados, tendo os valores associados a essas vendas representado 62% do

valor total exportado nesse ano a nível mundial.

Gráfico 3 – Peso das exportações portuguesas no total das exportações de cortiça e

produtos finais derivados da cortiça em valor, em 2009

178. Os mercados externos foram particularmente relevantes para a indústria de

os isolamentos e revestimentos em cortiça, representando cerca de 95% do

30 Último ano para o qual existe disponibilidade de dados com o detalhe requerido.

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volume de vendas destes produtos em quantidade e aproximadamente a

mesma percentagem em valor.

3.2. Os estágios da cadeia de valor

179. De forma simplificada, a cadeia de valor do sector da cortiça pode dividir-se

em três estágios distintos:

Estágio 1: A comercialização da cortiça natural

Estágio 2: A venda de produtos intermédios derivados da cortiça

Estágio 3: A venda de produtos finais de derivados da cortiça

180. Por sua vez, o terceiro estágio da cadeia de valor pode ser dividio em dois

sub-estágios: (i) um que incluiria as vendas à saída da fábrica e vendas por

grosso, isto é, as vendas do fabricante e; (ii) um segundo que incluiria as

vendas a consumidores finais dos produtos finais derivados da cortiça.

181. Relativamente a este estágio a AdC centrará a sua análise no primeiro dos

referidos sub-estágios, isto é, nas vendas pelo fabricante à saída da fábrica,

independentemente dos canais de distribuição utilizados.

182. Para além das fases acima identificadas, existe uma grande variedade de

outras atividades conexas com cada uma das fases (e.g., associada à fase

de exploração da cortiça existe a atividade de extração de cortiça, entre

diversas outras).

183. Contudo, por questões de simplicidade, apenas as mais representativas do

ponto de vista económico ou que suscitem maiores preocupações

concorrenciais serão analisadas no presente Relatório.

Estágio 1 - A comercialização da cortiça natural

184. O primeiro estágio da fileira da cortiça compreende a exploração do montado

pelos silvicultores e a subsequente comercialização da casca de sobreiro,

designada por “cortiça natural”.

185. Por “montado” entende-se uma área povoada de sobreiros, um sistema de

produção agrário em que o coberto arbóreo mais ou menos denso é

predominantemente constituído por sobreiros e onde a produção suberícola

se conjuga com outras produções agrícolas e pecuárias.

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41 41

186. A cortiça é extraída do tronco e ramos do sobreiro, sob a forma de peças

semi-tubulares, habitualmente no Verão, e com uma periodicidade legal

mínima (em Portugal) de nove anos, sem prejuízo de possíveis exceções

previstas no artigo 13.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 169/2001 (cfr. parágrafo

157).31

187. O primeiro descortiçamento (“desbóia”) produz uma cortiça chamada

“virgem”, com uma superfície exterior muito irregular. Descortiçamentos

sucessivos dão origem a cortiça de maior qualidade, com uma superfície

exterior mais uniforme, designada cortiça de reprodução, ou “amadia”.

188. A primeira cortiça de reprodução, ainda com algumas irregularidades, tem o

nome específico de “secundeira”, e é utilizada – tal como a virgem –

sobretudo, para trituração, obtenção de granulados e, eventual e

posteriormente, para o fabrico de aglomerados.

189. Dos despojos da poda do sobreiro é, ainda, obtida a “falca”, tecido misto de

cortiça virgem, entrecasco e lenho.

190. A cortiça virgem, secundeira, amadia e a falca constituem quatro matérias-

primas utilizadas pela indústria corticeira, ainda que com características e

potenciais de utilização que as diferenciam.

191. A qualidade (ausência de defeitos) e a espessura (calibre) da cortiça extraída

são determinantes da sua posterior aplicação industrial.

192. As pranchas de cortiça de maior qualidade e calibre destinam-se à produção

de rolhas de cortiça natural.

193. A cortiça de menor espessura (“delgada”) mas boa qualidade é destinada à

produção de discos para rolhas técnicas (rolhas 1+1, meias rolhas, etc.) e

rolhas de espumante32.

194. A cortiça de menor qualidade e menor calibre destina-se a produção de

granulados de cortiça, empregues na produção de rolhas de cortiça

aglomerada ou de outros aplicações, como revestimentos e outras obras

31 A sua exploração começa após a árvore atingir cerca de 0,7 m de perímetro a 1,3 m do solo. Desta

forma, a primeira extração da cortiça ocorre 25 a 30 anos após plantação (ou 30 a 40 anos segundo o Código Internacional das Práticas Suberícolas da CE Liège).

32 Refira-se que a rolha de champanhe é uma rolha técnica, contudo será feita referência específica à rolha de champanhe sempre que tal se justifique.

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42 42

(cilindros maciços, discos, cubos, blocos, ladrilhos de qualquer formato,

juntas, artigos de decoração e de isolamento, etc.).

195. Já a cortiça extraída da falca é fundamentalmente utilizada para a produção

de aglomerado negro para isolamentos no sector da construção civil.

196. A cortiça virgem, secundeira e amadia vendida pelos silvicultores é adquirida

fundamentalmente por três tipos de agentes: diretamente pela indústria de

segunda linha; indústria de primeira linha; e intermediários – ver Ilustração

2.

197. As empresas de primeira linha dedicam-se, normalmente, à preparação da

cortiça natural, através de um processo de cozedura33 das pranchas de

cortiça e subsequente selecção34.

198. As empresas de segunda linha dedicam-se à produção de produtos finais de

derivados da cortiça.

199. Os intermediários tendem a ser empresas em nome individual ou

particulares, bons conhecedores da produção de cortiça na sua área de

actuação e são utilizados para a aquisição de cortiça, fundamentalmente, por

indústrias de segunda linha de menor dimensão, mas também por alguma

de maior dimensão para acomodar necessidades pontuais ou específicas.

33 À chegada à unidade de preparação, a cortiça é enfardada e cozida em água fervente durante cerca

de 1 hora, tornando-a mais plana e removendo a grande maioria das impurezas acumuladas ao longo de uma década. Este processo faz com as paredes suberosas das células tomem a forma e dureza necessárias para a fabricação da rolha de cortiça.

34 As placas de cortiça são depois qualificadas e calibradas. Uma vez qualificadas e calibradas são armazenadas em locais arejados e limpos durante 2 a 3 semanas antes de serem transformadas.

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43 43

Ilustração 2 – Tipologia de compradores de cortiça natural

Fonte: Análise AdC com base em entrevistas a compradores e vendedores de cortiça natural.

200. Em 2010, a indústria de segunda linha e indústria de primeira

linha/intermediários foram responsáveis por aproximadamente 72% e 28%,

respetivamente, das compras de cortiça natural.

201. E se esta é a composição típica dos compradores de cortiça amadia no mato,

a falca, por sua vez, é vendida fundamentalmente a lenhadores que

procedem à separação da cortiça da madeira. A cortiça daí extraída é

vendida como um subproduto da atividade desses lenhadores à indústria de

• É a indústria destinatária final da cortiça natural.

• Dedica-se à produção de produtos finais de derivados da cortiça.

• As empresa de segunda linha de menor dimensão e com menores níveis de integração vertical recorrem a empresas de primeira linha ou intermediários para a aquisição da cortiça natural, ao contrário das empresas de maior dimensão que optam fundamentalmente pela compra directa aos silvicultores.

Indústria de segunda linha

• As empresas de primeira linha dedicam-se normalmente à preparação da cortiça natural procedendo à cozedura das pranchas de cortiça e sua selecção.

• Destas operações resultam, para além da prancha para a transformação, o refugo cozido, desperdícios e aparas que se destinam ao ramo da granulação.

• Estas indústrias tendem a localizar-se junto das zonas de extracção da cortiça.

• Estes produtos intermédios são posteriormente vendidos à indústria de segunda linha para transformação em produtos finais.

Indústria de primeira linha

• São utilizados para a aquisição de cortiça fundamentalmente por indústrias de segunda linha de menor dimensão e que não têm uma estrutura de compras própria.

•Por vezes são utilizados por indústrias de segunda linha com estrutura de compras própria, para acomodar necessidades pontuais ou específicas de menor dimensão em geografias delimitadas.

• Tendem a ser empresas em nome individual ou particulares, bons conhecedores da produção de cortiça na sua área de actuação (geralmente de âmbito regional), mas com reduzido nível de sofisticação da sua actividade.

• Assumem normalmente os riscos associados à stockagem do produto (roubos; redução de peso; incêndios; entre outros) e muitas vezes o risco de extracção da cortiça do sobreiro.

Intermediários

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44 44

cortiça de segunda linha directamente ou a transportadores que agregam

essa falca e a vendem e transportam para as indústrias de segunda linha.

202. São raros os casos em que a indústria de segunda linha adquire diretamente

a falca ao silvicultor, porque, por um lado, o constituinte de maior valor

daquela máteria-prima é a madeira para lenha e, por outro lado, a

relativamente elevada fragmentação da propriedade e da extracção de falca

tende a promover o recurso a elementos agregadores dessa matéria-prima.

Estágio 2 - A venda de produtos intermédios derivados da cortiça

203. A fileira da cortiça é caracterizada por um relevante volume de transações

intra-industriais de segunda linha, essencialmente em resultado da

existência de diversas empresas especializadas em nichos de mercado que

produzem bens intermédios derivados da cortiça (em alguns casos

subprodutos da sua produção final) para, posteriormente, serem utilizados

como matéria-prima para a produção de bens finais.

204. Os principais produtos intermédios transacionados intra-indústria são:

Cortiça Triturada/Granulada/Regranulada

Cortiça aglomerada

Pó de cortiça

Bastões

Corpos

Tapadeiras

Discos

Folhas/Rolos

Rolhas35

205. Existem muito outros produtos intra-indústriais no sector da cortiça.

35 Semi-acabadas.

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45 45

Cortiça Triturada/Granulada/Regranulada/Aglomerada e pó de cortiça

206. Da preparação da cortiça obtêm-se os “triturados” através da simples

trituração de aparas de cortiça cozida (i.e. desperdícios de cortiça que

resultam, fundamentalmente, da produção de outros produtos). Os

triturados são classificados em função das suas características

granulométricas e tipo de matéria-prima.

207. Da atividade de produção de rolhas de cortiça e dos refugos de cortiça

menos nobres, a generalidade das empresas da indústria de segunda linha

produz “granulados” e “triturados” como um subproduto da sua atividade

principal, com o objetivo de rentabilizar estes subprodutos.

208. O granulado obtêm-se por trituração e moagem das aparas de cortiça, sendo

posteriormente classificado de acordo com a sua massa volúmica e

características granulométricas.

209. O produto desta atividade é a matéria-prima para o ramo aglomerador da

indústria de segunda linha, que faz aglomerados dos pedaços que resultam

dessa mesma trituração.

210. Por sua vez, algumas empresas do ramo aglomerador transformam a cortiça

triturada e granulada em aglomerado que, posteriormente, vendem a outras

empresas que transformam esse aglomerado em produtos finais,

designadamente em revestimentos, isolamentos, pavimentos, rolhas e

outros produtos.

211. Os desperdícios das empresas que produzem granulado são, por sua vez

reaproveitados e reentram muitas vezes no circuito comercial. São os

chamados regranulados que servem de matéria-prima a empresas do ramo

aglomerador.

212. Para além disso, em diversos tipos de tratamento industrial da cortiça é

produzido pó de cortiça, o qual é também utilizado como matéria-prima, por

exemplo na indústria rolheira, mas também noutras, como fonte de

produção de energia.

213. Esse processo encontra-se sinteticamente ilustrado abaixo.

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46 46

Ilustração 3 – A cortiça triturada, granulada, regranulada e aglomerada como matéria-

prima (produto intermédio)

Fonte: Análise da AdC com base em informação da UNAC, Grupo Amorim e Pestana e Tinoco

(2009).

214. Em suma, o aproveitamento dos “desperdícios” da atividade principal de

cada uma das empresas, ao revelar-se fundamental para o seu equilíbrio

financeiro, gera um intenso fluxo comercial entre empresas do mesmo sector

de “produtos intermédios”.

Bastões, Corpos, Tapadeiras, Discos, Folhas, Rolos

215. A indústria da cortiça é caracterizada pela existência de um elevado número

de empresas de pequena dimensão, muito especializadas em determinados

segmentos de negócio.

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47 47

216. Assim, é possível encontrar empresas que se dedicam, quase

exclusivamente, à elaboração de produtos intermédios muito específicos

que, posteriormente, servem de matéria-prima a empresas que

complementam o ciclo produtivo do produto final.

217. São empresas que não se confundem com as da indústria de primeira linha,

mas que contemplam apenas uma parte do processo produtivo do produto

final.

218. Este conjunto de empresas permite às empresas de maior dimensão

acomodar flutuações na procura de produtos finais com maior flexibilidade.

219. É o caso das empresas que se especializam na produção de bastões, corpos,

tapadeiras, discos, folhas, e rolos.

Rolhas

220. Embora as rolhas sejam um produto final, existem na indústria corticeira

diversas transações intra-industriais de rolhas refletindo, essencialmente, os

desajustamentos entre a capacidade produtiva e capacidade de vendas das

várias empresas existentes.

221. As empresas com uma estrutura de vendas mais organizada e desenvolvida

tendem a subcontratar a produção de algumas das rolhas que

comercializam, especialmente aquelas cujo processo produtivo garante um

menor valor acrescentado.

Estágio 3 - A venda de produtos finais de derivados da cortiça

222. A cortiça natural e os granulados são transformados pela indústria de

segunda linha num conjunto alargado e diversificado de produtos finais.

223. Os principais produtos finais derivados da cortiça são as rolhas, os

isolamentos e revestimentos para o ramo da construção civil (materiais de

construção), as obras de arte e outras aplicações especificas.

224. A Ilustração 4 representa de forma simplificada os principais produtos finais

derivados da cortiça.

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48 48

Ilustração 4 – Principais produtos finais derivados da cortiça

Fonte: Análise AdC com base em dados da APCOR.

Rolhas

225. As rolhas podem ser divididas em diversas categorias tendo em consideração

o seu modo de fabrico e qualidade.

226. Em termos de modo de fabrico distinguem-se as rolhas naturais das rolhas

técnicas e das aglomeradas.

227. A venda das rolhas de cortiça ocorre de forma direta entre os produtores

com equipas de vendas e as empresas vinícolas (principais compradoras),

existindo, adicionalmente, uma rede de distribuidores.

Rolhas Naturais

228. Existem vários tipos de rolhas naturais: as simples; as multipeça; as

colmatadas e as capsuladas.

Rolhas

Rolhas Naturais

• Rolhas naturais simples (Flor; Extra; Superior; 1º; 2º; 3º; 4º; 5º)

• Rolhas Naturais Multipeça

• Rolhas Naturais Colmatadas (A, B, C ou I, II, III)

• Rolhas Capsuladas

Rolhas Técnicas

• 1+1 (A, B, C)

• 2+0 (A, B, C)

• 2+2 (A, B, C)

• Rolhas de Champanhe (Extra, Superior, 1º e 2º)

Rolhas Aglomeradas

Materiais de Construção

Isolamentos

• Blocos/Cubos (Termicos/ Acusticos/Vibráticos)

Revestimentos

• Pisos

• Paredes

Obras de

arte

Outras aplicações

técnicas

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49 49

229. As rolhas naturais simples produzem-se por corte na prancha de cortiça,

passando por diversas fases designadamente: Rabaneação; Brocagem; Pré-

Secagem; Retificação; Lavagem e Secagem; Seleção; Marcação; Tratamento

e Expedição.36

230. Em termos de qualidade as rolhas naturais simples são classificadas em,

pelo menos, nove categorias. Por ordem decrescente de valor, classificam-se

em: Flor, Extra, Superior, 1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª, 5.ª e 6.ª

231. As rolhas naturais multipeça são fabricadas a partir de duas ou mais

metades de cortiça natural coladas entre si. São rolhas feitas de cortiça mais

delgada não adequada ao fabrico de rolhas naturais de uma só peça.

36 As fases do processo de fabrico são:

Rabaneação: As pranchas de cortiça são cortadas em tiras com uma largura ligeiramente superior ao comprimento das rolhas a fabricar.

Brocagem: A perfuração das tiras de cortiça é efetuada com tubos de diâmetro ligeiramente superior ao diâmetro da rolha a fabricar. A concentração e o saber de um broquista são elementos fundamentais para a deteção de defeitos e irregularidades dos traços, mantendo ao mesmo tempo a cadência necessária para produzir os muitos milhões de rolhas que os mercados consomem diariamente.

Pré-Secagem: Antes da retificação das dimensões é necessário efetuar uma secagem para garantir uma estabilidade dimensional das rolhas.

Retificação: A retificação permite conferir as dimensões finais especificadas e regularizar a superfície da rolha.

Nova lavagem e secagem: A lavação é um dos processos finais de limpeza. Aqui qualquer poeira ou

produto contaminante que possa ter sido absorvido durante a brocagem é eliminado. Ciclos extrativos e potentes centrifugações procuram remover as impurezas e libertar as rolhas de compostos polifenólicos indesejáveis à neutralidade do vinho.

Escolha: Atualmente, as rolhas são sujeitas a um processo de seleção inicialmente feito por máquinas de escolha automática e posteriormente por trabalhadores especializados nesta área (escolhedor). O processo de escolha automática foi concebido para tornar o fluxo das rolhas mais regular, fazendo com que o exame e a classificação das mesmas seja mais rápido e eficaz.

Marcação no corpo e/ou topos: Uma grande parte das rolhas é expedida para os diversos pontos do globo, logo após o processo de escolha. Outras, porém, receberão operações de acabamento, nomeadamente, marcação no corpo e/ou topos, conforme as especificações do cliente ou mercado. Num processo não muito diferente da impressão “offset”, cada rolha passa rapidamente na máquina de marcar, para impressão de um grafismo ou texto associado ao produtor do vinho, à região produtora, ano de colheita, etc.

Tratamento: Em máquinas especificamente preparadas para este fim, são aplicados nas rolhas produtos à base de parafinas e silicones de conformidade alimentar, cientificamente estudados, por forma a garantir a boa estanquicidade da garrafa e uma fácil extração da rolha. Ou seja, tornar as rolhas impermeáveis tanto à absorção de líquidos como à extração de compostos para o vinho, fornecendo-lhes melhores desempenhos tanto no engarrafamento como no desenrolhamento. Estes processos facilitam uma cobertura homogénea das rolhas.

Expedição: as rolhas são contadas e embaladas em sacos de polietileno, sob vácuo e com introdução de SO2 (dióxido de enxofre). Estes sacos poderão ainda ser acondicionados em caixas de cartão para que fique garantida a integridade dos mesmos durante as operações de transporte.

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232. As rolhas colmatadas são rolhas de cortiça natural com os poros preenchidos

exclusivamente com pó de cortiça resultante da retificação das rolhas

naturais.37

233. Em termos de qualidade as rolhas naturais colmatadas são classificadas em

pelo menos três categorias em função do nível de colmatagem: A, B, C ou I,

II, III.

234. A rolha capsulada é uma rolha de cortiça natural (ou uma rolha colmatada)

em cujo topo é colocada uma cápsula. Esta cápsula pode ser de madeira,

PVC, porcelana, metal, vidro ou outros materiais.

Rolhas Técnicas

235. As rolhas técnicas são constituídas por um corpo de cortiça aglomerada,

muito denso, com discos de cortiça natural colados no seu topo – ou em

ambos os topos. As rolhas técnicas com um disco em cada topo são

designadas rolhas técnicas 1+1. Com dois discos de cortiça natural em cada

topo chamam-se rolhas técnicas 2+2, e com dois discos em apenas um dos

topos chamam-se rolhas técnicas 2+0.

236. A qualidade da rolha técnica é bastante mais homogénea do que a da rolha

natural. Contudo, o padrão visual dos discos de cortiça natural utilizados nos

seus topos varia. Esse padrão é geralmente classificado em 3 classes: A, B e

C, sendo a classe C a mais baixa.

237. Uma exceção a esta classificação ocorre para as rolhas de champanhe, que

podendo ser consideradas como fazendo parte da família das rolhas técnicas,

pois são produzidas a partir de um corpo formado por aglomerado de

grânulos de cortiça, ao qual, num dos topos, é aplicado um, dois ou três

discos de cortiça natural selecionada, são habitualmente classificadas nas

classes de qualidade: Extra, Superior, 1º e 2º.

Rolhas Aglomeradas

238. As rolhas aglomeradas são inteiramente fabricadas a partir da aglomeração

de granulados da cortiça proveniente de subprodutos resultantes da

produção de rolhas naturais.38

37 Para a fixação do pó nos poros é utilizado uma cola à base de resina natural e de borracha natural.

Atualmente, neste processo, também é utilizada uma cola à base de água.

38 As rolhas aglomeradas podem ser fabricadas por moldagem individual ou por extrusão.

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51 51

Materiais de Construção

239. Outra gama importante de produtos finais da indústria de segunda linha são

os materiais de construção em derivados da cortiça, dos quais se destacam

os de isolamento e os de revestimento.

240. Como materiais de isolamento relevam os blocos e cubos em aglomerado de

cortiça expandida.

241. O aglomerado de cortiça expandida, vulgarmente conhecido por “aglomerado

negro” de cortiça é um produto em que a aglutinação dos grânulos da

matéria-prima (proveniente de desperdícios de cortiça que são triturados) se

efetua exclusivamente em consequência da expansão volumétrica e da

transpiração das resinas naturais da cortiça, por ação da temperatura

transmitida por um fluido térmico (vapor de água).39 É assim produzido um

aglomerado em cuja constituição não se utilizam quaisquer colas ou aditivos,

sendo unicamente constituído por cortiça, razão pela qual também se

designa por “aglomerado puro”.

242. O aglomerado negro é sobretudo utilizado como isolante térmico, acústico

vibrático e, devido à sua cor, como elemento decorativo.

243. Outra gama importante de materiais de construção em derivados da cortiça

são os revestimentos para pisos e paredes.

244. Estes são normalmente produzidos através de aglomerado puro não

expandido ou de aglomerado composto (que resulta da aglutinação da

cortiça granulada com substâncias estranhas ao sobreiro, tais como

borracha, plástico, asfalto, cimento, gesso, caseínas, resinas naturais e

sintéticas, colas e químicos).

245. O material de construção para isolamentos e revestimentos é normalmente

vendido pela indústria a uma grande diversidade de distribuidores que

posteriormente o vendem às empresas de construção civil, ou diretamente a

particulares e empresas.

39 A aglomeração dos grânulos de cortiça natural processa-se num autoclave, no qual é injetado vapor

de água aquecido a temperaturas superiores a 300º C. Neste método forma-se um bloco paralelepípedo, funcionando o próprio autoclave com molde. Após o completo arrefecimento e a estabilização dimensional, seguem-se as fases de corte e de acabamento, em que os blocos são seccionados em placas, é acertada a esquadria destas e, eventualmente, são submetidas a uma lixagem de superfície para efeitos decorativos.

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52 52

Obras de arte e outras aplicações técnicas

246. Com o crescente desenvolvimento tecnológico, a utilização da cortiça e dos

seus derivados tem vindo a aumentar numa infinidade de aplicações como

marroquinaria, vestuário, pesca, mobiliário, calçado ou indústria automóvel

e até espacial.

247. O aglomerado puro, essencialmente resultante da trituração da cortiça

virgem, pode aplicar-se em painéis de afixação, em peças de calçado, em

impressoras informáticas, em caixas e tabuleiros, em capacetes de proteção,

em boias, coletes e flutuadores, nos punhos das canas de pesca, em tapetes,

malas e pastas, até em tecido para vestuário e papel. No desporto, o

aglomerado puro de cortiça é utilizado em bolas de hóquei, críquete, basebol

e badmington, raquetes de ténis de mesa, nas pequenas bolas dos apitos,

nos tacos de golfe, nos alvos para as setas e nas buchas para cartuchos. Na

indústria pode utilizar-se como junta mecânica ou material antivibrático em

diferentes maquinarias.

248. Nos aglomerados compostos, em particular a associação dos grãos de cortiça

com borracha (rubbercork), a combinação da elasticidade e outras

características da cortiça com a resistência mecânica da borracha, permite a

produção de componentes para as indústrias automóvel e elétrica (juntas de

máquinas, motores, transformadores, entre outros).40

249. Atenta a multiplicidade de produtos finais derivados da cortiça o presente

relatório versará apenas sobre os principais produtos ou grupos de produtos,

designadamente as rolhas, os revestimentos e isolamentos.

Quantificação da importância de cada estágio da cadeia de valor

250. A produção nacional, importações e exportações relativas a cada estágio da

cadeia de valor encontram-se resumidas na ilustração abaixo, para o ano de

201041.

40 A título informativo, refira-se que material derivado da cortiça foi utilizado no Space Shuttle no

fabrico do escudo protector de calor, essencial na reentrada do Shuttle na atmosfera. Por outro lado, a empresa francesa DynAero, fabricante de aviões, espera desenvolver aviões de dois a quatro lugares usando cortiça como uma das várias matérias primas, em conjugação com outros materiais e em substituição de outros materiais compósitos. Em particular, a DynAero usará material formado por um core de cortiça envolvido por fibra de carvão no fabrico da fuselagem e asas do aparelho. A DynAero possui uma fábrica em Ponte de Sor para a produção de aviões ligeiros de nova geração – vide o website desta empresa.

41 Último para o qual é possível fazer uma aproximação dos fluxos entre os vários estágios.

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53 53

Ilustração 5 – Importância relativa de cada estágio da cadeia de valor (em volume –

valores em milhares de toneladas – 2010)

Fonte: Análise da AdC com base em dados do INE e da APCOR.

251. A produção nacional de produtos finais de cortiça é fundamentalmente

assegurada pela extracção de cortiça em território nacional.

252. Estima-se que a extracção de cortiça nacional em 2009 (de 100 mil

toneladas – 6,7 milhões de arrobas) tenha coberto 84% das necessidades

produtivas nacionais de 2010.42

42 Note-se que a cortiça extraída num determinado ano apenas fica em boas condições de utilização no

ano seguinte, tendo que passar por processos de secagem entre outros entretanto.

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253. A primeira fase de transformação da cortiça (cozedura e selecção) está, em

grande parte, internalizada pelas indústrias de segunda linha que se

encontrem verticalmente integradas.

254. O recurso a empresas de primeira linha ou intermediários para a aquisição

de cortiça selecionada foi relativamente baixo (cerca de 28% do total em

201043).

255. Apenas cerca de 18% da cortiça natural em bruto ou da cortiça adquirida

simplesmente preparada (cerca de 21,5 mil toneladas) resultou

efectivamente na produção de rolhas de cortiça natural ou em componentes

maciças de rolhas técnicas.

256. Os restantes 82% corresponderam a bocados, aparas, granulados e outras

peças destinadas a rolhas técnicas, de aglomerado ou outros produtos que

utilizam os granulados como matéria-prima.

257. Do total de aparas produzidas em Portugal, cerca de 53,4% (cerca de 53,4

mil toneladas) destinaram-se ao auto consumo, isto é, não foram

comercializadas no mercado sendo utilizadas por grupos verticalmente

integrados.

258. Do total de aparas consumidas pela indústria nacional 10,5% (cerca de 11,7

mil toneladas) foram importadas. O nível de exportação de aparas foi

praticamente insignificante em 2010.

259. A generalidade das aparas foi utilizada para a produção de granulados para

as suas diferentes aplicações. Do total de granulados produzidas em

Portugal, cerca de 51,3% destinaram-se ao auto consumo, isto é, não foram

comercializadas no mercado sendo utilizadas por grupos verticalmente

integrados.

260. Do total de granulados consumidos pela indústria nacional 13,5% foram

importados. O nível de exportação de granulados foi de 19,7% da produção

nacional de granulados em 2010.

261. No que se refere aos produtos finais44 derivados da cortiça, a indústria

rolheira representou cerca de 34% das vendas, a indústria dos isolamentos e

43 Note-se que esta percentagem deve ser vista como um limite máximo do peso da indústria de

primeira linha e intermediários, na medida em que, em alguns casos, poderá incluir transacções intra-grupo.

44 Foram considerados produtos finais aqueles que se estima se destinem ao consumo final ou que ainda que sejam produtos intermédios se destinem à exportação, isto é, não se preveja que venham a integrar novo processo produtivo em Portugal. Assim as rúbricas “Matérias-primas em bruto ou pouco trabalhadas” e “cortiça triturada, granulada e desperdícios” incluem apenas as vendas para o

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revestimentos de cortiça cerca de 61% e as restantes indústrias 5% das

vendas em volume em 2010.

262. Note-se, contudo, que a indústria rolheira apesar de não ter representado

mais de 34% do total das vendas da indústria em volume, em termos de

valor foi responsável por cerca de 75% das vendas.

263. Já as vendas de pavimentos, isolamentos e revestimentos de cortiça, que

representaram cerca de 61% do volume de vendas de produtos finais em

2010, não significaram mais do que 22% das vendas em valor, o que

reflecte o grande diferencial de valorização dos diferentes produtos finais

derivados da cortiça.

264. As diferenças entre o peso relativo de cada grupo de produtos em volume e

em valor no total das vendas de produtos finais derivados da cortiça

encontra-se desenvolvida nos gráficos abaixo apresentados.

Gráfico 4 – Vendas de produtos finais derivados da cortiça em volume e em valor – 2010

265. Refira-se, por fim, que a grande maioria dos produtos finais derivados da

cortiça se destinou à exportação (cerca de 90% do volume e 91% do valor,

em 2010).

266. O peso das exportações foi particularmente assentuado em relação às

vendas de rolhas de espumantes e de isolamentos e pavimentos, para as

quais se estima os mercados externos tenham representado cerca de 95%

do volume produzido.

mercado externo destes produtos e não vendas internas ou consumos internos das indústrias nacionais.

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56 56

3.3. A comercialização de cortiça natural

3.3.1. Introdução

267. A venda de cortiça natural na Península Ibérica movimentou, em média nos

últimos 10 anos45, 387 milhões de euros anuais (263 milhões em Portugal e

124 milhões em Espanha).

268. Estima-se46 que na Península Ibérica tenham sido comercializadas 168 mil

toneladas de cortiça natural em bruto em 2010 (116 mil em Portugal e 53

mil em Espanha).

269. Historicamente, a produção de cortiça natural em bruto tem-se revelado

muito volátil. Nos últimos 10 anos, a produção ibérica oscilou entre as 146

mil toneladas extraídas em 2009 e as 242 mil registadas em 2006.

270. No gráfico abaixo consta a evolução da produção de cortiça natural na

Península Ibérica.

Gráfico 5 – Evolução da produção de cortiça natural na Península Ibérica – 2000 a 201047

45 Média do período que inclui os anos de 2000 a 2009. Para 2010 não existem ainda valores definitivos

disponíveis.

46 Estimativas da AdC com base em elementos resultantes do questionário às 20 maiores empresas do sector. A APCOR aponta para um valor superior de extracção em Portugal para 2010.

47 As barras de tom mais claro correspondem a estimativas da AdC na ausência de dados oficiais para Espanha para os anos 2004, 2009 e 2010 e para Portugal em 2010.

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57 57

271. Da cortiça natural comercializada na Península Ibérica estima-se que, em

média nos últimos cinco anos, cerca de 62% corresponda a cortiça Amadia

(incluindo delgados), 31% a Falca, 6% a Bocados, e menos de 1% a cortiça

virgem ou queimada.

272. A evolução do peso relativo das tipologias de cortiça comercializadas tem

sofrido algumas alterações nos últimos anos conforme ilustra o gráfico

abaixo, contudo não parece existir uma tendência de evolução de longo

prazo bem definida.

Gráfico 6 – Peso relativo das várias categorias na venda de cortiça natural na Península Ibérica – 2006 a 2010

273. Dos vários tipos de cortiça, as pranchas de cortiça amadia têm um valor

claramente superior ao de qualquer outra tipologia/formato de cortiça

natural. Em 2010, o seu valor foi 5,7 vezes superior ao dos bocados, 6,4

superior ao da cortiça virgem, 9,5 vezes superior ao da falca e mais de 12

vezes ao da cortiça queimada.

274. Os bocados e a cortiça virgem, por sua vez apresentavam uma valorização

superior à falca e à cortiça queimada, em média, superior a 50%.

275. O preço das pranchas de cortiça amadia é o único que consistentemente se

encontra acima do custo de extração da cortiça.

276. Já o preço dos bocados e da cortiça virgem tem sido muito próximo do seu

custo de extração e o preço da falca e da cortiça queimada encontrou-se,

durante a última década, consistentemente abaixo dos seus custos de

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58 58

extração.48A última década tem sido caracterizada por alterações

significativas nos preços de alguns tipos de cortiça natural em bruto.

277. O preço médio das pranchas de cortiça amadia, em bruto, na pilha, tem

vindo a cair acentuadamente desde 2000.

278. Assim, em 2000, o preço médio da amadia na pilha era de €43,3/arroba e

em 2010 de €24,4/arroba (-43,7%).49

279. O preço da cortiça virgem permaneceu relativamente estável até 2008,

tendo registado uma queda significativa em 2009 (à semelhança do ocorrido

na cortiça amadia).

280. Em 2002, o preço médio da cortiça virgem na pilha era de €5,6/arroba e em

2010 de €3,8/arroba (-32,5%).

281. O preço dos bocados tem permanecido menos volátil na última década. Em

2003, o preço médio dos bocados era de €4,0/arroba e em 2010 de

€4,2/arroba (+5,5%).

282. Também o preço da falca tem permanecido mais estável ao longo da última

década. Em 2006, o preço era de €2,4/arroba e, em 2010, de €2,6/arroba

(+6,7%).

283. Dada a informação que foi possível recolher, a evolução dos preços das

várias tipologias/formatos de cortiça natural em bruto encontra-se

representada no gráfico abaixo.

48 Note-se que a falca é extraída pois o seu aproveitamento vai para além do que resulta da indústria

corticeira e porque a poda dos sobreiros é fundamental para o seu desenvolvimento com qualidade. O facto de os bocados serem um subproduto não implica necessariamente que não tenham um custo de extracção. Poderá sim o seu custo marginal de extracção ser inferior ao custo marginal de extracção da cortiça amadia. Naturalmente que se quem extrai a cortiça não tiver que fazer pilhas de bocados dispenderá menos tempo no processo e poderá praticar um preço inferior resultante da actividade de extracção. Note-se também que, embora a cortiça queimada resulte de sinistros, o que releva é até que ponto a cortiça virgem e a queimada possam ser substitutos mais ou menos próximos do ponto de vista da procura e, como tal, o seu preço poderá ser comparado.

49 Tal como referido no glossário, a arroba moderna equivale a 15 kgs.

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Gráfico 7 – Evolução do preço médio das várias categorias de cortiça natural em

Portugal – 2000 a 2010

284. A análise da AdC sobre comercialização de cortiça natural começa por avaliar

nos subcapítulos 3.3.2 e 3.3.3, as condicionantes da oferta, da procura e as

barreiras à entrada e saída na comercialização da cortiça natural, comuns às

diferentes tipologias de cortiça natural.

285. Nos restantes subcapítulos serão avaliadas as características específicas da

comercialização de cada uma das principais tipologias de cortiça natural,

atentas as diferenças ao nível da sua utilização, níveis de aproveitamento e

preços.

286. Conforme referido no capítulo 3.2 não existe uma única tipologia ou

qualidade de cortiça natural. A qualidade e a espessura da cortiça extraída

são determinantes para a sua posterior aplicação industrial, produtividade e

preço.

287. No subcapítulo 4.3.4 será analisada a comercialização das pranchas de

cortiça amadia, no subcapítulo 3.3.5 a comercialização de bocados, refugos,

cortiça virgem e cortiça secundeira. Já o subcapítulo 3.3.6 incidirá sobre a

venda de falca e cortiça queimada.

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60 60

288. A divisão da análise em três grandes tipologias de matéria-prima de cortiça

natural não significa que cada uma delas constitua necessariamente apenas

um mercado relevante de produto.

289. Significa antes que uma análise de substituibilidade, para efeitos de

delimitação de mercados de produto relevantes, entre os vários géneros de

cortiça natural deverá começar pelos géneros incluídos em cada uma dessas

tipologias, excluindo, em princípio, os incluídos nas restantes tipologias pelo

facto de não serem substitutos próximos.

290. De facto, a separação nestas três grandes categorias resulta tão só do

reconhecimento generalizado, ao nível da indústria, de que o nível de

substituibilidade entre as matérias-primas incluídas em cada uma das

tipologias é particularmente reduzida.

291. Em particular, é relativamente consensual do ponto de vista da procura que:

As pranchas de cortiça natural amadia de maior qualidade e calibre se

destinam à produção de rolhas de cortiça natural, não tendo como

substitutos próximos os bocados de cortiça, os refugos, a cortiça

virgem, a cortiça secundeira, a falca ou a cortiça queimada;

As pranchas de cortiça natural amadia de menor espessura mas boa

qualidade são fundamentalmente utilizadas para produção de discos

para rolhas técnicas e de espumante, não tendo como substitutos

próximos os bocados de cortiça, os refugos, a cortiça virgem, a cortiça

secundeira, a falca ou a cortiça queimada;

Os bocados de cortiça, os refugos, a cortiça virgem, e a cortiça

secundeira pela diferença de qualidade, aproveitamento e de preços

não são substitutos próximos da falca ou da cortiça queimada, uma

vez que os primeiros servem a indústria do aglomerado puro ou

compósito e os restantes a indústria do aglomerado negro expandido,

conforme anteriormente analisado no subcapítulo 3.2.

292. Também os enormes diferenciais de preços entre as três grandes categorias

acima apresentadas, e as diferenças de evolução desses preços são um

indício relevante da reduzida substituibilidade existente, do ponto de vista da

procura, entre essas categorias.

293. A substituibilidade, do ponto de vista da oferta, entre tipologias é também

reduzida pois, por exemplo, os intervenientes na venda de falca e cortiça

queimada (normalmente lenhadores/transportadores) são maioritariamente

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distintos dos presentes nas vendas de cortiça amadia (produtores, indústria

de primeira transformação, intermediários).

294. A transferência de atividades de um destes operadores de um para outro

negócio nunca seria fácil e rápida até porque o principal valor da falca

resulta do negócio da lenha e não do da cortiça. Por isso, para os lenhadores

essa é a principal atividade, sendo acessória a de extração de cortiça.

295. Nos subcapítulos que se seguem será, então, analisado o funcionamento dos

mercados de comercialização das seguintes três grandes categorias de

cortiça natural em bruto:

Pranchas de cortiça amadia;

Bocados, refugos, cortiça virgem e cortiça secundeira;

Falca e cortiça queimada.

3.3.2. Condicionantes genéricas da oferta e da procura de cortiça

natural

3.3.2.1. Oferta de cortiça natural

296. A comercialização da cortiça natural é influenciada por diversos fatores do

lado da oferta e da procura.

297. Em termos de oferta, tem-se verificado, nos últimos 60 anos, um aumento

pouco significativo da área de sobreiro em território nacional e uma

degradação da qualidade do montado.

298. Estima-se que a taxa de crescimento média anual (TCMA) de área cultivada

com sobreiro tenha sido de 0,06% ao ano, em Portugal, de 1945 até 2006

(ano do último inventário florestal). Esta taxa de crescimento encontra-se

abaixo da registada em Espanha (0,86%/ano) e em Marrocos (0,15%/ano),

muito embora se deva ter em conta a diferente dimensão territorial dos

países, que relativizam o significado destas taxas de crescimento referidas

Durante o mesmo período França, Itália, Argélia a Tunísia registaram

reduções na área cultivada de sobreiro.

299. A desaceleração da taxa de crescimento média da área de sobreiro é mais

vincada na última década. Comparando os dois últimos inventários florestais

nacionais (1995 vs. 2005) verifica-se que, neste período, a taxa de

crescimento do montado foi de 0,04%/ano em Portugal. Em Espanha a taxa

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de crescimento atingiu os 4,4%/ano no mesmo período. Todos os restantes

países produtores de cortiça natural registaram na última década

decréscimos da área cultivada de sobreiro, com exceção da Tunísia e

Marrocos.

300. Esta evolução pode ser aferida no gráfico abaixo.

Gráfico 8 – Evolução da área cultivada com sobreiro (Quercus Suber) de 1940 a 2010

301. A quase estabilização da área de montado nos últimos anos resulta, em

grande parte, do reduzido número de novas entradas ou expansões das

áreas já existentes de montado, que quase se limitam a repor áreas de

montado que deixam de produzir.

302. De facto, se analisarmos a área de montado por classes de idade

verificamos, por um lado, uma relativamente baixa área de novas plantações

de sobreiro e, por outro, uma cada vez maior área dominada por sobreiros

com mais de 60 anos.

303. Em 2005, apenas 1,2% da área de sobreiro tinha árvores com menos de 10

anos, o que compara com 2% em 1995. Refira-se que a percentagem que

garantiria uma distribuição uniforme do sobreiro por faixas etárias, para a

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faixa dos 0 aos 10 anos seria de 5,4%, isto é, mais de 4 vezes superior à

verificada50.

304. Também a faixa dos 10 aos 35 anos se apresentou abaixo da percentagem

que garantiria uma distribuição uniforme da área de sobreiro por faixas

etárias.

305. Já a faixa de mais de 60 anos representava a maior percentagem relativa de

todas as faixas etárias, encontrando-se acima da percentagem que

garantiria uma distribuição uniforme, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 9 – Percentagem de área cultivada com sobreiro (Quercus Suber) por classe de

idades (1995 vs. 2005 vs. Distribuição uniforme).

306. Ou seja, a manter-se o ritmo de entradas e saídas no montado nacional, a

médio prazo (40-50 anos) é de esperar um declínio da área de montado em

território nacional, com consequências relevantes sobre a produção nacional

de cortiça natural (podendo ser necessário acentuar o recurso à importação).

50 Assumindo uma longevidade média do sobreiro de 185 anos. A distribuição uniforme entre as 4

classes etárias constantes do Gráfico 9 é definida com base nesta longevidade média, tomando o rácio entre o diferencial etário dentro de cada classe e a longevidade média de 185 anos. Note-se que a distribuição uniforme assim definida assume que as taxas de natalidade e mortalidade das árvores ou a taxa de natalidade líquida das árvores é constante ao longo da sua vida, ou pelo menos constante ao longo destas 4 classes etárias. De notar que recentemente fornecidos à AdC pelo ICNF incluem ainda uma nova categoria de povoamento, denominado “jovem”, constituído por sobreiros com menos de 10 anos.

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307. A oferta de cortiça é também caracterizada por uma muito elevada

fragmentação das áreas de montado, e que se tem vindo a agravar nos

últimos anos.

308. Assim, em 2005, mais de 30% da área de montado correspondia a parcelas

com menos de 40 hectares (representativas de menos de 0,01% da

produção nacional de cortiça natural).

309. Esta percentagem aumentou significativamente face ao anterior inventário

florestal (de 1995), onde era de cerca de 20%.

310. Assim, assiste-se a uma proliferação de propriedades de montado de

pequena dimensão por contrapartida de uma redução do número de

propriedades de grande dimensão.

311. Essa situação encontra-se ilustrada graficamente abaixo.

Gráfico 10 – Evolução da dimensão média da propriedade do montado – 1995 vs. 2005

312. A pulverização da propriedade do montado tem inevitavelmente como

consequência um menor aproveitamento das economias de escala

proporcionadas por montados de maior dimensão.

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313. Outra tendência que se verifica do lado da oferta é a deterioração da

qualidade do parque de sobreiros nacional.

314. Dos vários povoamentos florestais de dimensão relevante existentes em

território nacional, o de sobreiro é o que apresenta uma maior percentagem

de árvores com danos51. Segundo dados relativos ao último inventário

florestal (2005), cerca de 60% das árvores de sobreiro existentes em

Portugal tinham danos. Essa situação encontra-se evidenciada no gráfico

abaixo.

Gráfico 11 – Percentagem de árvores com danos por povoamento florestal – 1995 vs.

2005

315. De acordo com o último inventário florestal (2005) o povoamento de

sobreiro é, também, o que apresenta a maior percentagem de árvores

mortas. Em 2005, 8,2% do povoamento de sobreiro era constituído por

árvores mortas (o que compara, por exemplo, com 3,1% para a azinheira)52.

316. O gráfico abaixo ilustra essa situação.

51 Árvores que têm ciclos de vida superiores a 1 século, como é o caso do sobreiro, têm naturalmente

evidências de danos superiores às que têm ciclos de vida de 30 anos, como é o caso do eucalipto. Árvores que são sujeitas a um processo naturalmente agressivo de remoção da casca de 9 em 9 anos, não podem deixar de evidenciar danos.

52 Dos 8,2 % de árvores mortas, 5,3 % são árvores queimadas em resultado dos grandes incêndios

ocorridos no Algarve em 2004.

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Gráfico 12 – Percentagem de árvores mortas por povoamento florestal – 2005

317. Em suma, são de realçar três importantes elementos caracterizadores da

oferta de cortiça natural:

A área de montado existente em Portugal tem permanecido

praticamente inalterada nas últimas cinco décadas e existe evidência

que sugere que, a médio prazo, e não ocorrendo alterações ao nível da

estrutura de oferta, essa tendência será para um decréscimo dessa

área;

A propriedade do montado encontra-se extremamente fragmentada, não

existindo um suficiente número de silvicultores com relevante dimensão;

A qualidade dos povoamentos de sobreiro encontra-se aquém da

generalidade dos restantes povoamentos florestais, com possíveis

implicações sobre a qualidade da cortiça e sobre o seu preço.

318. São diversos os fatores que contribuem para estas características da

estrutura de oferta: as características dos proprietários do montado; a

evolução da rentabilidade do montado; o enquadramento regulatório da

atividade.

319. No que se refere às características dos proprietários do montado verifica-se

que, na maior parte dos casos, são pessoas individuais e não pessoas

coletivas. Com efeito, de uma forma geral, embora existam excepções, os

proprietários ou produtores não se encontram organizados sob forma

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empresarial, nem têm formação específica na área para além da que resulta

do saber acumulado ao longo dos anos pelas sucessivas gerações familiares.

320. Esta característica, associada ao facto de nas principais zonas geográficas de

exploração de sobreiro em Portugal (Alentejo) se ter verificado uma

desertificação populacional, de competências e um envelhecimento

populacional acentuado, contribui para o facto de a exploração do montado

não se ter expandido de forma relevante nas últimas décadas e para a

deterioração da qualidade do montado.

321. Este conjunto de situações tem contribuído para reduzir os incentivos a

novas plantações.

322. A própria transmissão da propriedade de montados por via sucessória tem

promovido uma redução da dimensão média das propriedades com

consequências sobre as economias de escala a obter ao nível da exploração

do montado.

323. Esta tendência de evolução da rentabilidade do montado nacional tem

inevitavelmente condicionado a oferta de cortiça natural.

324. A rentabilidade do montado depende, fundamentalmente, da evolução do

preço da cortiça natural, dos custos de manutenção e exploração do

montado e dos custos de investimento.

325. Para aproximar a evolução da rentabilidade da exploração do montado

analisou-se a evolução dos preços reais médios da cortiça amadia na pilha e

dos preços reais de extração da cortiça (como “proxy” para os custos de

manutenção e exploração).

326. Em termos de preço da cortiça natural na árvore, apesar das oscilações

sazonais típicas desta atividade, verifica-se que em termos reais este se

manteve relativamente estável no período entre 1945 e 1975, a partir do

qual se verificou um acréscimo.

327. Também os custos de extração reais da cortiça permaneceram relativamente

estáveis até 1975, tendo aumentado posteriormente a esta data a um ritmo

substancialmente superior ao dos preços da cortiça.

328. Esta situação encontra-se ilustrada no gráfico abaixo apresentado.

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68 68

Gráfico 13 – Evolução do preço da cortiça amadia na pilha vs. Custo de extração da

cortiça - 1945 a 2005 - Preços constantes de 2010

329. Estima-se, por isso, que a evolução dos custos de operação e exploração do

montado possa ter vindo a contribuir para uma menor rentabilidade de

exploração do montado.

330. Essa menor rentabilidade poderá justificar, em parte, por um lado o

relativamente baixo ritmo de crescimento da área de montado em Portugal

nos últimos 60 anos e, por outro lado, uma redução da qualidade dos

montados como consequência de mais baixos níveis de manutenção.

331. Um terceiro elemento que tem contribuído para uma certa estabilização da

área de montado existente em Portugal nas últimas décadas e,

eventualmente, a redução da sua qualidade, tem sido o enquadramento

regulatório (vide capítulo 0) da atividade, restringindo de forma significativa

as alterações ao uso do solo na presença desta espécie e limitando

consideravelmente qualquer intervenção sobre o sobreiro, seja em matéria

de conversão, corte ou arranque, ou qualquer operação cultural.

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332. Assim, nas últimas décadas, só com raríssimas exceções tem sido possível

alterar a afetação dos usos dos terrenos onde predomina o sobreiro.53

333. Estas restrições constituem, por um lado, limitações à saída dos silvicultores

da exploração do sobreiro, mas são também barreiras à entrada ao criarem

um ónus sobre o potencial interessado em desenvolver uma exploração de

sobreiros54.

334. Os três elementos acima referidos como condicionantes da evolução da área

explorada de sobreiro são também particularmente relevantes na qualidade

da área de sobreiro existente em Portugal.

335. O condicionamento, por via regulamentar, da concorrência entre a

exploração de diversas espécies florestais tem necessariamente implicações

sobre a quantidade e qualidade oferecida da cortiça natural.

336. Uma vez analisadas as principais condicionantes da oferta de cortiça natural

interessa compreender as condicionantes da procura de cortiça natural.

3.3.2.2. Procura de cortiça natural

337. A procura de cortiça natural é uma procura induzida fundamentalmente pela

procura de vedantes (rolhas) e subsidiariamente de materiais de construção

(revestimentos, isolamentos e pavimentos), entre outros.

338. No que se refere à procura de vedantes, a sua evolução depende,

fundamentalmente, da evolução das vendas da produção vinícola e do seu

grau de aderência aos vedantes de cortiça natural.

339. Com oscilações, a produção mundial de vinho aumentou até à década de

1980, período a partir do qual entrou em declínio. Desde meados da década

de 1990 a produção mundial de vinho apresenta uma tendência de

crescimento a ritmos relativamente baixos, que contrasta com a tendência

de declínio que permanece em continente Europeu.

340. Entre 1995 e 2009, a produção mundial de vinhos cresceu cerca de 0,5% ao

ano, enquanto na Europa se verificou um decréscimo inferior a 0,01%.

53 Cf. Relatório da AFN [atual ICNF] sobre aprovações de abate de sobreiros.

54 Como é sobejamente conhecido na literatura económica, as barreiras à saída de uma actividade económica acabam por desencorajar a entrada nessa mesma actividade funcionando, embora de forma indireta, como barreiras à entrada.

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341. A evolução da produção de vinho mundial e Europeia encontra-se ilustrada

no gráfico abaixo.

Gráfico 14 – Evolução da produção mundial de vinho - 1960 a 2009 – Milhões de

toneladas

342. Conforme anteriormente referido, a procura de cortiça natural é, também,

uma procura induzida pela procura de materiais de construção

(revestimentos, isolamentos e pavimentos) sendo sensível à conjuntura

verificada neste sector, em particular no que respeita à construção de

edifícios.

343. A construção de edifícios na Europa apresentou taxas de crescimento

relevantes até 2007 (taxa de crescimento média anual de 2,2% de 1993 a

2007), tendo entrado posteriormente em acentuado estado de declínio (taxa

de crescimento média anual de -6,3% de 2007 a 2010).

344. Essa evolução encontra-se ilustrada no gráfico abaixo.

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Gráfico 15 – Índice de Construção de Edifícios na EU a 27 – 2010=100

345. Essa evolução do sector da construção civil na Europa nos anos mais

recentes teve necessariamente efeitos sobre a procura de cortiça natural.

Não será por isso de estranhar que 2009 tenha sido o ano de mais baixo

nível de compra de cortiça natural em Portugal, com os níveis de procura a

ficarem próximos dos registados na década de 30.

3.3.3. Barreiras genéricas à entrada/expansão na comercialização

da cortiça natural

346. As barreiras à entrada/expansão na venda de cortiça natural são

essencialmente de três índoles:

Barreiras financeiras;

Barreiras geográficas e geológicas;

Enquadramento regulatório.

347. As barreiras de cariz financeiro à entrada de novos operadores na venda de

cortiça natural são da maior relevância.

348. Sendo o ciclo de exploração do sobreiro muito longo, a entrada no negócio

da venda de cortiça natural em bruto obriga a uma elevada imobilização de

capital por um período longo.

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349. Refira-se a este título que a primeira extração de cortiça com algum nível de

rentabilidade ocorre, por norma, 43 anos55 após a plantação do sobreiro.

Assim, o proprietário, só após 43 anos a suportar investimentos e custos de

manutenção do montado obtém o primeiro rendimento relevante.

350. Mais ainda, cada extração subsequente ocorre apenas em ciclos de 9 anos,

salvo raras exceções.

351. Estas barreiras têm vindo a ser atenuadas pela relevante comparticipação

financeira da UE a projetos de expansão da área de montado. 56

352. Ainda assim, este elevado empate de capital associado à redução dos níveis

de rentabilidade do montado, descritos no subcapítulo anterior, tem

contribuído para uma retração da entrada e expansão da área de montado

em Portugal.

353. Ao nível da produção existem, também, barreiras geográficas e geológicas à

entrada no mercado, designadamente a limitação da

capacidade/locais/terrenos/clima apropriados para produção de sobreiros.

De facto, o sobreiro é uma árvore muito exigente em termos de

temperatura, exposição solar, humidade e qualidade do solo.

354. Estes fatores fazem com que um número limitado de áreas seja susceptível

de ser utilizado para a sua exploração em condições competitivas. As

principais áreas encontram-se representadas na Ilustração 1, seção 4.1.

supra.

355. Finalmente, o enquadramento regulatório da atividade de exploração do

montado, em particular o Decreto-Lei n.º 169/2001, impõe relevantes

barreiras à entrada e expansão da área de sobreiro em Portugal, tal como

argumentado no capítulo 3.

356. Ao procurar limitar a saída de agentes da produção de sobreiros impedindo a

reconversão das áreas de sobreiro noutras culturas e limitando a

reconversão dos montados de menor qualidade em montados de maior

qualidade, a regulamentação terá conduzido, desta fora, importantes

55 Embora a primeira extração ocorra aos 25 anos e a segunda aos 34 anos de idade da árvore, a

cortiça proveniente dessas extrações é normalmente de baixo valor comercial, aproximando-se esse valor do seu custo de extração.

56 Através do PAMAF, do Regulamento 2080, do AGRO e do RURIS. As áreas arborizadas e beneficiadas apuradas ao abrigo destes programas, para o período 1994 a 2006) situam-se nos 110 031 ha e 212 242 ha. Mais recentemente, através do PRODER os apoios para a Florestação de Terras Agrícolas incluem um financiamento de 70% de apoio à instalação; Prémios de manutenção (160 €/ha durante 5 anos); Prémio Perda de Rendimento (219 €/ha durante 15 anos).

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73 73

barreiras à saída do mercado e reduziu os incentivos à manutenção dos

montados.

357. As consequências práticas desta política foram já expostas no capítulo 3

supra.

358. Como acima referido, as barreiras à saída são, também, barreiras à entrada

na medida em que quem pretende entrar na venda de cortiça natural em

bruto sabe que a estratégia de saída que não passe pela venda do montado

é de difícil ou impossível execução.

359. Do ponto de vista da procura de cortiça natural foram, também, referidas

por várias empresas de segunda linha as seguintes barreiras à entrada e

expansão:

Barreiras financeiras;

Dependência de alguns silvicultores e intermediários face a grupos

económicos de grande dimensão na indústria de transformação.

360. A compra de cortiça natural em bruto exige uma importante capacidade para

suportar investimentos em fundo de maneio. É que a cortiça adquirida na

campanha de um determinado ano apenas pode ser utilizada no ano

seguinte, tendo que passar por um processo prévio de tratamento e

selecção.

361. Assim, quando decorre a campanha de extração da cortiça num determinado

ano (a campanha decorre normalmente entre meados de Maio e Agosto57), o

comprador tem que determinar a quantidade de cortiça a adquirir com base

nas suas expectativas (incertas) de produção do ano seguinte e, desde logo,

tem que empatar capital na sua aquisição.

362. Esta situação terá contribuído para uma vaga de falências no sector

transformador nos últimos cinco anos (cinco das dez maiores empresas

transformadoras deste sector em Portugal declararam falência nos últimos 3

anos) com o desajustamento da política de compras e de eventuais

expetativas criadas à realidade que o mercado veio a demonstrar.

363. Apenas as empresas com estratégias de compra mais sofisticadas e maior

capacidade financeira conseguem entrar no negócio da compra de cortiça no

montado.

57 Periodo correspondente à fase mais activa do crescimento da cortiça.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

74 74

364. Este facto faz com que as empresas transformadoras de menor dimensão

tendam a utilizar intermediários, a realizar compras conjuntas ou a recorrer

à indústria de primeira transformação para se abastecerem de matéria-

prima.

365. Outra barreira à entrada na compra de matéria-prima foi identificada por

algumas empresas transformadoras como sendo a dependência de vários

intervenientes na venda de matéria-prima (silvicultores e intermediários) ao

Grupo Amorim (o principal comprador de cortiça no mercado Ibérico).

366. De acordo com essas empresas, a dependência desses intervenientes faz

com que não tomem decisões de venda sem muitas vezes consultar esse

grupo económico, pelo interesse que têm em manter boas relações com ele,

evitando situações desfavoráveis no futuro.

367. Essa dependência foi identificada como mais intensa em zonas geográficas

específicas do país.

368. Esse procedimento constitui uma importante barreira à entrada e expansão

especialmente em relação às cortiças de maior qualidade que são mais

escassas e às falcas que, não sendo tão escassas, representam um nível de

dependência elevado dos vendedores em relação ao Grupo Amorim (o Grupo

Amorim representa cerca de [70%-90%] da compra de falca na Península

Ibérica).

3.3.4. As pranchas de cortiça amadia

3.3.4.1. Os mercados

369. A cortiça amadia é a cortiça natural proveniente de partes de sobreiros nas

quais é a terceira vez ou seguintes que se extrai cortiça.

370. É, por isso, extraída de sobreiros com pelos menos 43 anos de idade.

371. As pranchas de cortiça amadia correspondem a placas inteiras retangulares

de cortiça amadia de dimensão superior a 400 cm2 (abaixo desta dimensão

são vulgarmente designadas por bocados – vide subcapítulo 3.3.5).

372. A comercialização dessas pranchas tem particularidades que importa ter em

consideração para aferição dos níveis de substituibilidades entre as pranchas

de cortiça com diferentes características.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

75 75

373. Em primeiro lugar, importa verificar até que ponto a heterogeneidade da

cortiça, designadamente em termos de qualidade e calibre, condiciona a

substituibilidade entre diferentes tipos de pranchas de cortiça amadia.

374. Dos elementos recolhidos junto das empresas inquiridas resulta claro, por

exemplo, que existem categorias de cortiça amadia que do ponto de vista da

procura não são substitutas de outras, no sentido em que não permitem a

produção de produtos finais com determinadas qualidades.

375. Em segundo lugar, interessa perceber se os diferentes modos de

comercialização são substituíveis entre si, isto é, se, por exemplo, a cortiça

amadia adquirida na árvore é uma substituta próxima da cortiça amadia

adquirida na pilha.

376. Em terceiro lugar, importa compreender o nível de substituibilidade existente

entre as pranchas de cortiça crua extraídas diretamente dos montados e as

pranchas de cortiça cozidas e/ou selecionadas vendidas pela indústria de

primeira transformação.

377. Finalmente é relevante conhecer a dimensão geográfica da comercialização

de pranchas de cortiça amadia.

A qualidade/calibre da cortiça amadia

378. A qualidade (ausência de defeitos)58 e a espessura (calibre)59 da cortiça

extraída são determinantes da sua posterior aplicação industrial.

379. No que se refere à qualidade/calibre a cortiça amadia, esta pode ser dividida

em pelo menos 42 categorias distintas.

380. Abaixo ilustram-se as diversas categorias usualmente utilizadas pela

indústria:

58 A ‘qualidade’ de uma prancha de cortiça depende da sua porosidade, defeitos, aspecto da “barriga” e

aspecto da “costa”. A “costa” de uma prancha é a parte mais escura e exterior da prancha; a “barriga” é a parte oposta à “costa”.

59 A ‘espessura’, ou ‘calibre’, de uma prancha de cortiça é medida em linhas, em que 1 linha corresponde a 2,256mm. A cortiça com 9 anos de crescimento tem, normalmente, entre 6 e 24 linhas (13,5mm a 54 mm) de espessura. Ver Naturlink, “Cortiça – do montado à rolha”. Existem classificações do calibre de uma prancha que incluem uma última classe, denominada “triângulo”, que inclui pranchas com um calibre superior a 24 linhas (i.e., superior a 54,14 mm), sendo então a classe “grossa” definida como incluindo pranchas com calibres entre 18 e 24 linhas.

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76 76

Ilustração 6 - Classificação da prancha de cortiça amadia segundo calibre, qualidade e

utilização final

* A rolha 1+1 é composta por um corpo de cortiça aglomerada, tendo colado um disco de cortiça natural em cada topo.

** As meias rolhas são provenientes da brocagem da cortiça proveniente de duas pranchas delgadas coladas barriga com barriga.

Fonte: UNAC

381. O facto de existirem 42 combinações possíveis de qualidades/calibres de

cortiça amadia não significa, necessariamente, que existam 42 mercados

relevantes de produto a este nível da cadeia de valor uma vez que quanto

mais próximas as combinações qualidade/calibre maior o nível de

substituibilidade entre as diferentes categorias, isto é, existe um efeito de

cadeia de substituição entre algumas categorias.

382. Na realidade, uma prancha de cortiça amadia de menor qualidade/calibre

poderá até ser mais rentável do ponto de vista da sua utilização se a sua

diferença de preço venda para uma de nível de qualidade/calibre

imediatamente superior justificar as diferenças de rentabilidade entre as

duas.

383. Quanto maior a qualidade da cortiça, maior o seu preço e melhor o seu

rendimento, isto é, maior a quantidade relativa de rolhas de cortiça natural

de elevada qualidade susceptíveis de serem produzidas.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

77 77

384. Contudo, existem limites à substituibilidade, do lado da procura, dentro de

determinados conjuntos de categorias de qualidade/calibre.

385. Por um lado, importa distinguir as cortiças com menos de 12 linhas

(vulgarmente designadas por “delgados”) das com pelo menos 12 linhas

(vulgarmente designadas por “cheio”).

386. As cortiças amadias com mais de 12 linhas de calibre (isto é, mais de 27 mm

de diâmetro) têm baixos índices de substituibilidade por cortiças amadias de

menos de 12 linhas, pois só as primeiras são susceptíveis de ser utilizadas

na produção de rolhas naturais. As segundas são fundamentalmente

utilizadas para a produção de discos para rolhas técnicas e rolhas de

espumante.

387. Embora em teoria se possa considerar que poderão ser utilizadas cortiças de

maior espessura para a produção de discos, tal não representa uma opção

economicamente viável tendo em consideração as diferenças entre os preços

das cortiças de diferentes calibres e entre as rolhas de cortiça natural e os

discos.

388. Por outro lado, dentro das cortiças de calibre superior a 12 linhas importa

distinguir as de qualidade mais elevada (de 1.ª a 3.ª – doravante do tipo 1)

das de 4.ª a 6.ª uma vez que só as primeiras permitem a produção de uma

quantidade relativamente mais elevada de rolhas naturais da mais elevada

qualidade (qualidades flor, extra, superior e 1.ª).

389. Aliás esta distinção é prática corrente na indústria, que tende a classificar as

pranchas de cortiça amadia entre cortiças de 1.ª a 3.ª (tipo 1), de 1.ª a 5.ª

(tipo 2) e de 6.ª ou refugo (tipo 4). As restantes pranchas de cortiças

amadias destinam-se à produção de discos (tipo 3).

390. Estima-se que enquanto uma prancha de cortiças de 1.ª a 3.ª possa gerar,

em média, 49% de rolhas de qualidade de Extra a 1.ª, uma prancha de

cortiça de 1.ª a 5.ª possa gerar apenas 17% de rolhas dessas qualidades,

conforme se ilustra no gráfico abaixo. Uma prancha de cortiça de 6.ª ou

refugo representará níveis de aproveitamento ainda inferiores.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

78 78

Gráfico 16 – Índice de aproveitamento médio das pranchas de cortiça amadia de

diferentes qualidades para a produção de diferentes qualidades de rolhas60

391. Dentro das cortiças de menor calibre (inferior a 12 linhas), importa distinguir

as cortiças de 6.ª a refugo ou de qualidade de 4.ª a refugo mas calibre

inferior a 8 linhas (tipo 4) que se destinam maioritariamente à produção de

granulados de cortiça, das restantes que se destinam à produção de discos

(tipo 3).

392. Embora, em teoria, pudessem ser utilizadas cortiças de maior espessura e

qualidade para a produção de granulados de cortiça, tal também não

representa uma opção economicamente viável tendo em consideração as

diferenças entre os preços de compra dos diferentes tipos de cortiça e o

preço de venda dos produtos potenciados por cada tipo de cortiça.

393. As diferenças ao nível do preço de compra dos diferentes tipos de matéria-

prima e ao nível dos preços de venda dos principais produtos transformados

encontram-se evidenciadas nos gráficos abaixo.

394. Primeiramente no que se refere aos principais tipos de cortiça amadia o

perfil de preços dos últimos anos é o constante do gráfico abaixo:

60 Sendo a cortiça um produto natural os índices de aproveitamento podem apresentar uma importante

variabilidade.

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79 79

Gráfico 17 – Distribuição do preço da cortiça amadia dos vários calibres e qualidades em

percentagem da procura satisfeita – Portugal – 2006 a 2010

395. Nos últimos 5 anos, as cortiças amadias do tipo 1 apresentam preços entre

30% e 120% superiores ao preço médio das cortiças amadias.

396. As cortiças amadias do tipo 2 apresentaram preços entre 10% e 35%

superiores ao preço médio das cortiças amadias.

397. Já as cortiças de tipo 3 apresentaram preços num intervalo entre -5% e

10% do preço médio.

398. As restantes cortiças (amadias) apresentaram preços sempre inferiores à

média, e em alguns casos representaram valores 80% inferiores à média

(amadias de 6.ª qualidade ou refugos).

399. Desta forma, ainda que a totalidade da produção de cortiça amadia da maior

espessura e qualidade (tipo 1) fosse detida por um único vendedor, se este

aumentasse os seus preços de forma permanente em 10%, tal não

demoveria a esmagadora maioria dos compradores da aquisição dessa

cortiça uma vez que o perfil de tipologias de rolhas que são susceptíveis de

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

-100% -80% -60% -40% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140%

% d

e p

rocu

ra s

atis

feit

a

Desvio face ao preço médio (em %)

Distribuição do preço da cortiça amadia em função da quantidade

2010

2009

2008

2007

2006

Fonte: Análise da AdC com base num Inquérito às 20 maiores empresas transformadoras do sector e UNAC.

Tipo 1

Tipo 4

Tipo 3

Tipo 2

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80 80

ser produzidas com essa matéria-prima apresenta margens mais61 de 24%

superiores às que resultariam do perfil de rolhas produzidas através de

outras cortiças de menor espessura e qualidade.

400. O mesmo raciocínio é aplicável às cortiças do tipo 2. Isto é, se a totalidade

da produção de cortiça amadia de calibre superior a 12 linhas nas qualidades

4.ª a 5.ª fosse detida por um único vendedor, e se este aumentasse os seus

preços de forma permanente em 10%, estima-se que tal não demoveria a

esmagadora maioria dos compradores da aquisição deste tipo de cortiça uma

vez que as rolhas que são susceptíveis de ser produzidas com essa matéria-

prima apresentam margens mais de62 33% superiores às que conseguiriam

obter com a produção de discos utilizando cortiças de menor espessura e

qualidade.

401. Se a produção de cortiça amadia de tipo 3 fosse detida por um único

vendedor, e se este aumentasse os seus preços de forma permanente em

10%, estima-se que tal não demoveria a esmagadora maioria dos

compradores da aquisição deste tipo de cortiça uma vez que os discos que

são susceptíveis de ser produzidos com essa matéria-prima apresentam

margens mais63 de 95% superiores às que conseguiriam obter com a

produção de discos utilizando cortiças de menor espessura/qualidade.

402. A diferença na valorização dos diferentes produtos finais derivados da cortiça

encontra-se expressa no gráfico abaixo.

61 A análise foi realizada sobre os preços. As percentagem apresentadas são, por isso, as referentes às

alterações dos preços. O impacto sobre as margens será sempre superior na medida em que, de acordo com as principais empresas da indústria rolheira os custos de produção (excluindo o custo da matéria-prima) não diferem de forma significativa para os diferentes tipos de rolhas de cortiça natural.

62 Idem.

63 Idem.

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81 81

Gráfico 18 – Estimativa64

do Índice de preço médio das rolhas de cortiça natural Superior

Vs. Rolhas de cortiça natural de qualidades inferiores vs. Discos vs. Granulado – 2006 a

2010 - Rolhas de cortiça naturais do tipo Superior = 100.

403. Refira-se, também, que do ponto de vista da oferta, a substituibilidade é

ainda mais reduzida entre categorias na medida em que cada silvicultor não

tem capacidade de rapidamente (num determinado ano) substituir a sua

produção de uma qualidade de cortiça amadia por outra, não só porque os

ciclos produtivos do sobreiro são muito longos (43 anos até à extração da

primeira cortiça amadia), mas também porque a qualidade da cortiça é

apenas parcialmente controlável pelo silvicultor.

404. Em suma, das 42 combinações possíveis de espessura/qualidade das

pranchas de cortiça amadia é possível identificar quatro grupos de categorias

de pranchas de cortiça amadia cujo nível de substituibilidade intergrupal, do

ponto de vista da procura, parece ser mais reduzido.

405. Estes quatro grupos65 encontram-se representados no quadro abaixo:

64 O preço médio usa como referência as rolhas de 45 por 24 milímetros. Admite-se que a estrutura de

preços entre os diferentes tipos de rolhas de cortiça natural não se alterou de forma significativa nos últimos 5 anos. O preço médio das rolhas de cortiça natural obtidas a partir de prancha de 1.ª a 3.ª e de 4.ª a 5.ª foram obtidas considerando-se uma distribuição de produtividades idêntica à constante do parágrafo 390 e gráfico que se lhe segue. Assume-se que 10% das pranchas de cortiça amadia são de 1.ª a 3.ª e as restantes de 4.ª a 5.ª.

65 A designação de tipo 1, 2, 3, e 4 é da Autoridade da Concorrência e resulta da necessidade de simplificar a linguagem quando se refere a cada uma das cortiças amadias com as características acima específicadas.

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82 82

Ilustração 7 – Quadro resumo dos principais tipos de prancha e das suas utilizações

Tipo Espessura/Qualidade Estimativa de Índices de

produtividade

Tipo 1 Pelo menos 12 linhas e 1.ª

a 3ª Mais de 50% das Rolhas de

Flor/Extra/Superior a 2.ª

Tipo 2 Pelo menos 12 linhas e 4.ª

a 5.ª Mais de 50% das Rolhas de 3ª; 4ª; e

5ª qualidade

Tipo 3 Menos de 12 linhas e 1.ª a 3.ª ou entre 10 e 12 linhas

de 4.ª a 5.ª Discos

Tipo 4 6ª a Refugo ou 4.ª a 5.ª com menos de 10 linhas

Granulado

Fonte: Análise da AdC com base em elementos das empresas.

A forma de comercialização da cortiça amadia

406. A comercialização da cortiça amadia crua pode ocorrer de diversas formas,

dependendo, em particular, do modo de armazenamento da cortiça no

campo e da sua pesagem.

407. Em termos do modo de armazenamento da cortiça no campo, este pode

ocorrer “na árvore” ou na “pilha”.

408. A cortiça diz-se “vendida na árvore” quando o comprador a adquire sem que

tenha sido previamente extraída e empilhada. Nestes casos, a regra mais

frequente é a de que os custos de extração da cortiça corram por conta do

comprador.

409. A comercialização da cortiça na árvore é realizada normalmente por

proprietários que tendem a dedicar pouco tempo à gestão direta dos seus

montados ou procuram receber o dinheiro da venda por antecipação

relativamente à época normal.66 Igualmente, permite aos vendedores

reduzir o empate de capital (designadamente na atividade de extração) e

reduz o risco de roubo para o vendedor67.

410. A cortiça diz-se vendida “na pilha” quando o comprador a adquire já extraída

e empilhada no campo. Nestes casos, a regra geral, é a de que os custos de

extração correm por conta do vendedor.

66 AGRO.GES, 1997.

67 Se este o passar para o comprador, como é frequente nestes casos.

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83 83

411. Uma vantagem desta modalidade para o proprietário é poder ser ele a

controlar a boa execução das operações de descortiçamento protegendo

assim a capacidade produtiva dos seus montados contra os problemas de

descortiçamento excessivo característicos da extração a cargo do

comprador.68

412. Tanto num caso como noutro a extração da cortiça é efetuada por

empresas/indivíduos terceiros69 não existindo integração vertical desta

atividade nem ao nível dos compradores nem ao nível dos vendedores.

413. A venda de cortiça na árvore pode contemplar a posterior pesagem, ou

corresponder a “venda a olho”, sem pesagem da cortiça extraída.

414. No caso da “venda a olho” o proprietário normalmente utiliza os seus

registos anteriores para avaliar os volumes a extrair e o comprador recorre a

coeficientes de segurança (descontos) que lhe asseguram uma margem

suficiente para cobrir o risco de avaliação.

415. No caso da venda “a olho” as operações de extração podem provocar um

prejuízo para o estado das árvores. Havendo interesse por parte do

comprador em retirar o maior volume possível de cortiça, a tiragem pode ser

«forçada» sem que as consequências negativas futuras sejam ponderadas 70,

designadamente danos consideráveis na árvore, com sérias consequências

negativas na qualidade da cortiça a extraír em ciclos seguintes.

416. Também a cortiça vendida na pilha pode ocorrer de acordo com estas duas

formas de medição: a olho; a peso.

417. Quando a cortiça é vendida a olho, isto é, através de uma avaliação visual

do volume de cortiça presente na pilha, o preço unitário por arroba pode ou

não ser estabelecido previamente.

418. No primeiro caso, o acordo é estabelecido com base numa avaliação

expedita do peso da pilha através da «cubicagem» (isto é, da medida do

volume da pilha e da avaliação do seu peso médio por m3).

68 Visto que, neste caso, poderá não ocorrer a internalização de uma importante externalidade no

sentido de que o industrial/comprador estará sobretudo interessado no rendimento marginal da cortiça extraída e o proprietário/vendedor no rendimento médio que a mesma lhe poderá dar ao longo dos anos de vida da árvore.

69 Os "tiradores" de cortiça na altura do descortiçamento que ocorre durante o Verão organizam-se em ranchos liderados por pessoas que atualmente andam na casa dos 50 a 60 anos.

70 Este é um caso típico de não internalização de uma importante externalidade, que poderia ser conseguida e.g., através da integração vertical de actividades.

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84 84

419. No segundo caso, é o valor global da pilha que é acordado diretamente sem

que um preço unitário seja sequer discutido.

420. O quadro abaixo ilustra as principais formas de comercialização da cortiça

natural existentes em Portugal.

Ilustração 8 – Quadro resumo dos tipos de comercialização de cortiça amadia crua

Fonte: Análise da AdC com base em dados do sector.

421. Para além destes elementos, a comercialização da cortiça amadia pode

diferir em função dos riscos relativos ao armazenamento (stocagem), ao

transporte, à pesagem e às garantias e prazos de pagamentos, entre outros.

422. Em 2010, a UNAC estima que cerca de três quartos da cortiça tenha sido

vendida na pilha e um quarto na árvore.

423. Nesse ano, 61% da cortiça natural crua terá sido vendida na pilha e pesada

e 15% terá sido comercializada na pilha, não tendo sido pesada.

424. Em 2010, 24% da cortiça natural crua terá sido vendida na árvore tendo

sido pesada após a extração, conforme gráfico abaixo.

Medição

Extração

Amadia Crua

Na árvore

Pesada A olho

Na pilha

Pesada Cubicada

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85 85

Gráfico 19 – Estimativa do peso das vendas de cortiça por forma de comercialização –

Ano de 2010

425. Este panorama não difere de forma significativa do verificado em 2009.

426. Assim, as vendas de cortiça na árvore sem pesagem têm vindo a perder

relevância.

427. Nos últimos anos verifica-se um aumento significativo das vendas de cortiça

na pilha (43% das vendas em 2000 e 76% em 2010) por contrapartida de

uma redução das vendas de cortiça na árvore e um aumento, também

significativo, das vendas de cortiça pesada (57% das vendas em 2000 e

85% das vendas em 2010), o que pode reflectir uma maior preocupação dos

silvicultores em reduzirem o risco a quem compra, por forma a potenciarem

a melhoria das condições de preço, numa conjuntura de redução dos preços

de compra.

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86 86

Gráfico 20 – Estimativa da evolução do peso das vendas de cortiça na pilha e cortiça

pesada no total – 2000 a 2010

428. Em termos de preços, de 2000 para 200871, verificou-se uma redução do

diferencial entre o preço da cortiça vendida na pilha e na árvore, tendo esse

diferencial sido praticamente nulo desde 2006.

429. Contudo, uma vez que a análise numa base anual dos diferenciais pode ser

sensível a fatores como a qualidade da cortiça transacionada, importa, mais

do que comparar esse diferencial com o custo de extração da cortiça em

cada ano, analisar as séries numa perspetiva de prazo mais longo, onde as

diferenças médias de qualidade se tendem a anular. Em particular, o facto

de a quantidade de cortiça vendida na árvore ser cada vez menor, faz com

que o seu preço médio fique mais sujeito a oscilações de preço.

430. Assim, na última década verifica-se que o diferencial entre o preço da cortiça

vendida na pilha e na árvore foi relativamente próximo do custo de extração

da cortiça.

431. De 2000 a 2010, o custo médio de extração da cortiça foi de €3,92/arroba

enquanto de 2000 a 2008 o diferencial de preços entre a cortiça comprada

na pilha e na árvore foi de €3,45/arroba.

432. Ainda assim, o diferencial de preços não deixa de ser inferior ao custo de

extração, aliás como seria de esperar na medida em que, sendo a compra da

71 Último ano para o qual existem dados disponíveis.

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cortiça na árvore mais arriscada para o comprador que fica sujeito ao risco

de qualidade/espessura é natural que este exija um prémio de risco no

preço, esbatendo-se, desta forma, o diferencial entre o preço da cortiça na

árvore e na pilha.

433. O gráfico abaixo detalha a evolução destas variáveis na última década.

Gráfico 21 – Diferencial entre o preço de venda da cortiça amadia “na pilha” e “na

árvore” vs. Custo de extração da cortiça – 2000 a 2010 – preços correntes

434. Em suma, o diferencial de preço entre a cortiça vendida na pilha e vendida

na árvore parece ser, em grande parte, justificado pelas diferenças ao nível

dos custos de extração e da alocação dos riscos de qualidade/espessura.

435. Este fator indicia uma substituibilidade elevada entre as compras feitas na

árvore e na pilha.

436. Os contratos celebrados entre a indústria e os silvicultores indiciam também

que do ponto de vista da procura existe alguma indiferença entre a compra

na pilha ou na árvore.

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88 88

437. Até porque, mesmo nas compras na árvore, em que o risco da qualidade

corre por conta do comprador, este, por vezes, mitiga-o com a renegociação

do preço após a tirada.

438. Para além disso, tanto o comprador como vendedor facilmente substituem

uma venda na pilha por uma venda na árvore uma vez que as atividades de

extração são tipicamente realizadas por empresas terceiras subcontratadas

para o efeito não existindo integração vertical desta atividade, nem nas

atividades do comprador nem nas do vendedor.

439. Em suma, a forma de comercialização da cortiça parece não ter um impacto

significativo sobre a delimitação de mercado de produto ao nível deste

estágio da cadeia de valor.

O nível de transformação das pranchas de cortiça amadia

440. Conforme representado na Ilustração 2 (constante da página 43) a cortiça

amadia pode ser adquirida em cru diretamente junto dos proprietários do

montado pela indústria de segunda linha/intermediários, ou cozida junto da

indústria de primeira linha que procede a um primeiro tratamento.

441. Esse tratamento inclui as seguintes operações:

Escolha das peças de cortiça empilhadas em função da sua qualidade e

expessura para as utilizações industriais posteriores;

Raspagem da parte exterior do líber72;

Cozedura em água a ferver ou a vapor por um período de 30 a 45

minutos;

Repouso das pranchas durante um período de 10 a 15 dias;

Disponta e recorte das pranchas de modo a obter peças de qualidade e

espessura uniformes;

Triagem das pranchas por qualidades e calibres de acordo com as

normas em vigor;

Prensagem e enfardamento das pranchas;

Imobilização das pranchas durante cerca de um ano para estabilização

(perda de seivas, redução de tensões internas, etc.).

72 O líber, também denominado por floema, é o tecido das plantas vasculares que transporta a seiva

elaborada pelo caule até à raíz e aos órgãos de reserva.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

89 89

442. A indústria de primeira linha incorpora, por isso, um processo produtivo

"perdedor de peso", i.e., é menor o peso da prancha do que o peso da

cortiça em bruto que lhe deu origem.

443. Por este motivo, esta indústria tende a localizar-se próxima das zonas de

montado, pois esse menor peso permite reduzir os custos de transporte para

a indústria de segunda linha.

444. É o caso das zonas do Azaruja, Vendas Novas, Montijo, Coruche, Ponte de

Sor, Alter do Chão.

445. Antes de analisar se a cortiça cozida e selecionada pode ser considerada

como substituta próxima da cortiça crua do ponto de vista da procura e da

oferta, importa, em primeiro lugar, compreender a expressão da atividade

de venda de pranchas de cortiça amadia cozida e selecionada.

446. Da análise realizada pela Autoridade da Concorrência resulta que os

principais Grupos presentes na indústria de segunda linha estão,

atualmente, também presentes na indústria de primeira linha, tendo

integrado verticalmente esta atividade.

447. É o caso dos Grupos Amorim, Piedade, Cork Supply, Álvaro Coelho, MA Silva,

Subercentro, e MJO.

448. Note-se que nem sempre foi assim, tendo a integração vertical vindo a

acentuar-se na última década, com um cada vez maior número de empresas

de segunda linha a incorporar actividades de primeira linha.

449. Alguns dos principais exemplos do intensificar da integração vertical são o

início de actividade, em 2001, de uma nova unidade da Amorim & Irmãos,

S.A. em Coruche; de uma unidade da Álvaro Coelho & Irmãos II - Produção

De Cortiça, S.A. em Ponte de Sor; da M. A. Silva 3 - Cortiças, Lda. em Alter

do Chão, em Março de 2004; da conclusão da aquisição pelo Grupo Amorim

da empresa Equipar (Coruche) em Fevereiro de 2006; e a criação da Cork

Supply Portugal III (Montijo) em 2006.

450. Esta verticalização da atividade resulta, em grande parte, do facto de o

investimento na indústria de primeira linha ser exigente ao nível da

imobilização do capital na aquisição das pilhas de cortiça (um ano ou mais) e

da necessidade de um maior controlo de qualidade ao longo de toda a cadeia

de valor, em particular pelas empresas produtoras de rolhas de cortiça.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

90 90

451. Este controlo de qualidade é particularmente importante para minimizar o

nível de TCA73 das rolhas, uma das principais desvantagens competitivas

destes vedantes face aos alternativos.

452. Esse empate de capital não está ao alcance da maior parte dos muitos

proprietários florestais agindo individualmente, nem das indústrias de

segunda linha de menor dimensão, nomeadamente dos pequenos produtores

de rolhas de cortiça natural.

453. A forte integração vertical existente a este nível faz com que a presença dos

grandes grupos da indústria de segunda linha na compra de pranchas de

cortiça amadia cozida e selecionada seja residual.

454. No caso dos Grupos Amorim, Piedade e Cork Supply essa compra

representou menos de 5% do total de compras no ano de 2010.

455. Assim, tendo em conta as diferenças de dimensão entre a indústria de

segunda transformação e a de primeira transformação independente,

existem claramente limites de capacidade à substituibilidade no curto prazo

entre cortiças cruas compradas no montado e pranchas de amadia cozidas e

selecionadas.

456. Ou seja, ainda que existisse um monopolista na indústria de primeira

transformação independente e este aumentasse os seus preços em 10% de

forma permanente, no curto prazo, não seria de esperar que a procura se

transferisse deste monopolista para o montado de forma a que esse

aumento de preço se tornasse não rentável.

457. Na realidade, a indústria de segunda transformação verticalmente integrada

apenas recorre à indústria de primeira transformação independente para

compra de quantidades residuais e qualidades específicas de cortiça, por

forma a suprir lacunas das suas compras no montado.

458. Para além disso, a indústria de segunda transformação não verticalmente

integrada não teria a capacidade financeira nem disporia do tempo

necessário para substituir, num curto período de tempo, a compra de cortiça

à indústria de primeira linha pela compra de cortiça no mato.

459. As restrições à capacidade da indústria de primeira transformação

independente impedem, também, essa substituibilidade em grande escala,

73 TCA é a sigla por que é conhecido o composto “2,4,6, Tricloroanisol”. O TCA é um composto químico

mais frequentemente associado ao denominado “gosto a rolha”, sendo um fungo metabólico do “2,4,6 Triclorofenol”.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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mesmo quando consideradas as capacidades inutilizadas de empresas que

entretanto saíram do mercado.

460. Assim, a substituibilidade existente apresenta um carácter diminuto no curto

prazo.

461. Num período mais longo não é de excluir um nível de substituibilidade

significativamente superior.

462. Essa situação pode justificar a aparente baixa sincronia dos movimentos de

preços da cortiça crua e da cortiça cozida e selecionada no curto prazo.

463. Por exemplo, de 2009 para 2010 verifica-se uma tendência de redução dos

preços das cortiças amadias cruas de maior qualidade (casos das aquisições

de lotes de cortiças no montado que permitem uma maior quantidade de

calibres 12 a 18 e classificação de 1.ª a 3.ª ou de 1.ª a 5.ª), mas um

aumento dos preços da prancha de cortiça amadia cozida e selecionada de

pranchas de calibres 12 a 18 e classificação de 1.ª a 3.ª ou de 1.ª a 5.ª.

464. Essa evolução pode ser aferida no gráfico abaixo.

Gráfico 22 – Estimativa do intervalo de variação do preço de venda das pranchas de

cortiça amadia crua na pilha vs. Preço médio de venda das pranchas de cortiça amadia

cozida e selecionada – 2007 a 2010 – preços correntes

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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465. Em suma, a baixa substituibilidade verificada, do lado da procura, entre

cortiça natural crua e cortiça cozida/selecionada parece indicar que os dois

tipos de prancha, atentas as condições actualmente existentes, não farão

parte de um mesmo mercado.

A dimensão geográfica da venda de cortiça amadia

466. Em 2010, Portugal importou 21,4 mil toneladas de cortiça natural, em bruto

ou simplesmente preparada, o equivalente a cerca de 18% do montante

total de cortiça natural em bruto extraída no país.

467. Por sua vez, nesse mesmo ano exportou 5,2 mil toneladas de cortiça natural,

em bruto ou simplesmente preparada, o equivalente a cerca de 4% do

montante total de cortiça natural em bruto extraída no país.

468. A evolução do peso das exportações e importações de cortiça natural em

bruto ou simplesmente preparada, em volume, durante a última década

consta do gráfico abaixo.

Gráfico 23 – Importações e exportações de cortiça natural, em bruto ou simplesmente

preparada em % da produção nacional de cortiça natural – 2000 a 2010

469. Nos últimos 10 anos, o volume de importações de cortiça natural em bruto

ou simplesmente preparada foi o equivalente a entre 18% e 30% da

produção nacional. Já as exportações situaram-se entre os 4% e os 11%.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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470. A quase totalidade da cortiça natural em bruto importada provém de

Espanha (mais de 97% desde 2005).

471. Uma parte relevante das exportações nacionais de cortiça natural em bruto

ou simplesmente trabalhada destina-se, também, a Espanha (30% em 2010

e 42% de Janeiro a Setembro de 2011).

472. A evolução do peso de Espanha nas importações e exportações nacionais de

cortiça natural em bruto ou simplesmente trabalhada pode ser aferida no

gráfico abaixo.

Gráfico 24 – Percentagem das importações e exportações nacionais de cortiça natural

em bruto ou simplesmente trabalhada de/para Espanha – 2000 a 2010

473. A representatividade do comércio de cortiça natural entre Portugal e

Espanha é um elemento relevante para a delimitação geográfica dos

mercados.74

474. De acordo com informação recolhida junto das empresas que se dedicam à

transformação da cortiça existe um nível substancial de substituibilidade

entre a cortiça natural nacional e a importada de Espanha, ao contrário do

que ocorre em relação à cortiça natural de outras proveniências.

475. Essa substituibilidade resulta de diversos fatores, designadamente a

proximidade geográfica e as semelhanças ao nível da qualidade da cortiça.

74 Veja-se a este título Bishop & Walker (2010), cap. 4.

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476. Em termos de proximidade geográfica refira-se que 84% da área de

montado nacional encontra-se localizada no Alentejo e 90% (em 2008) da

produção de cortiça em Espanha encontra-se situada nas duas regiões

espanholas que fazem fronteira com o Alentejo (Andaluzia e Extremadura),

conforme gráfico abaixo.

Gráfico 25 – Peso de cada região Espanhola na produção de cortiça natural em bruto

– 2008

477. Desta proximidade geográfica entre regiões produtoras ibéricas resulta que

os custos de transporte da prancha de cortiça amadia das principais regiões

produtoras nacionais (em particular do Alentejo) para a principal zona de

transformação da cortiça existente na Península Ibérica (Santa Maria da

Feira) não é substancialmente distinto do preço de transporte das pranchas

de cortiça amadia crua das principais regiões produtoras Espanholas (em

particular da Extremadura e Andaluzia) para a principal zona de

transformação da cortiça existente na Península Ibérica.

478. De acordo com os elementos recolhidos junto das empresas do sector

resulta que a substituição de cortiça natural na região do Alentejo para a

região da Extremadura implicava, tudo o resto constante, um acréscimo do

custo de transporte de cerca de 9 cêntimos por arroba, o equivalente a cerca

de 0,4% do preço médio da cortiça na pilha em Portugal em 2010.

479. Já a transferência da compra de cortiça natural da região do Alentejo para a

região da Andaluzia implicaria, em 2010, tudo o resto constante, um

acréscimo do custo de transporte de cerca de 87 cêntimos por arroba, o

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equivalente a cerca de 3,6% do preço médio da cortiça na pilha em Portugal

em 2010.

480. Esta análise encontra-se no gráfico abaixo:

Gráfico 26 – Preço médio de transporte da cortiça natural da região de produção da

cortiça natural para a principal região de transformação da Península Ibérica – 2010

481. O diferencial de custos de transporte indicia que, ainda que numa destas

regiões uma única empresa detivesse a totalidade da produção de cortiça

natural em bruto, não seria rentável que esta aumentasse o preço da cortiça

em 5% a 10% de forma permanente na medida em que tal induziria a

substituição de cortiça desta região para as outras regiões analisadas

atentas as relativamente reduzidas diferenças atualmente existentes ao nível

dos custos de transporte.

482. A qualidade da cortiça é outro fator que justifica os elevados níveis de

substituibilidade encontrados entre a compra em Portugal e em Espanha.

483. De acordo com a generalidade dos operadores do sector, em média, a

cortiça espanhola é de qualidade inferior à nacional. Tal resulta, sobretudo,

do facto de a percentagem de cortiças de qualidade superior em Espanha ser

inferior à registada em território nacional. Contudo, em Espanha é possível a

aquisição de lotes de cortiça natural com elevados níveis de

substituibilidade, mesmo em cortiças de maior qualidade, relativamente à

cortiça natural produzida em Portugal.

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96 96

484. Refere um dos operadores: “A questão da qualidade/preço da cortiça põe-se

sempre na análise de cada lote comprado e não de uma forma geral, em

relação à proveniência do estrangeiro ou nacional, pelo que comprar em

Portugal ou Espanha depende apenas de princípios de racionalidade

económica e não de um critério que tenha a ver com a proveniência, aliás,

de acordo com aquilo que são os princípios do mercado comum europeu.”

485. Assim, nas principais regiões produtoras de cortiça em Portugal e Espanha

parece existir cortiça de qualidade semelhante que permite uma aplicação

genérica desta matéria-prima juntamente com a portuguesa.

486. Tal facto deve, contudo, ser sempre balanceado tendo em consideração as

diferenças ao nível das capacidades produtivas de cortiça amadia em bruto

nos dois países.

487. Conforme ilustrado no Gráfico 1, seção 4.1., a quantidade de cortiça em

bruto produzida em Espanha é inferior à nacional. Esses diferentes níveis de

capacidade produtiva estima-se que sejam mais desequilibrados em relação

às cortiça de maior qualidade, o que representará sempre uma limitação à

substituibilidade geográfica total.

488. Apesar destas diferenças não é de excluir que o preço da cortiça natural em

Espanha exerça uma pressão competitiva relevante sobre o preço da cortiça

natural em Portugal, podendo a pressão competitiva ser mais acentuada nas

cortiças de tipos 2 e 4 (vide classificação constante da Ilustração 7), e

menos acentuada nas cortiças dos tipos 1 e tipo 3.

489. Atento o objectivo do presente Relatório, por meras questões de

simplicidade, admite-se um nível suficiente de substituibilidade entre a

cortiça amadia natural extraída em Portugal e Espanha, dispensando-se a

análise específica por tipo de cortiças.

490. Se a cortiça natural proveniente de Espanha parece exibir um nível de

substituibilidade relativamente elevado face à cortiça extraída em Portugal,

já o mesmo não se poderá dizer relativamente à cortiça natural proveniente

de outros países, designadamente de Marrocos, Argélia, França e Itália.

491. No que se refere a Marrocos e à Argélia a legislação existente nestes países

condiciona a exportação de cortiça que não sofra transformação nesses

países, como forma de proteger a indústria local. Assim, não é sequer viável,

por imperativos legais, a importação de cortiça natural de Marrocos e da

Argélia.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

97 97

492. Refira-se, também, que várias empresas transformadoras referiram

problemas de qualidade (designadamente níveis de TCA elevados) na cortiça

extraída nesses dois países, pelo que, ainda que não existissem imperativos

legais a impedir essa importação, as diferenças de qualidade da cortiça

poderiam implicar um baixo nível de substituibilidade das cortiças amadias

das diferentes proveniências.

493. Já relativamente a outras regiões geográficas importantes na produção de

cortiça (vide Ilustração 1), designadamente em França e Itália, os custos de

transporte da cortiça passariam a representar percentagens superiores a 5%

do preço de compra da cortiça amadia em pilha, o que significa que para um

monopolista hipotético localizado em território ibérico poderia ser

economicamente mais rentável a aplicação de um aumento não transitório

do preço da cortiça natural em bruto de 5%.

494. Em suma, da análise realizada resulta que atualmente (e tendo em

consideração os preços e qualidades atualmente existentes) parece existir

um relativamente elevado grau de substituibilidade entre cortiça amadia de

Portugal e Espanha para algumas das categorias de cortiça identificadas na

Ilustração 7. Já relativamente aos restantes países produtores de cortiça, tal

substituibilidade parece não ser de molde a influenciar a decisão de preços

de um monopolista hipotético.

3.3.4.2. O poder de mercado

A oferta de pranchas de cortiça amadia

495. A venda dos vários tipos de cortiça amadia crua é realizada por silvicultores,

proprietários de montados. Em Portugal e em Espanha, predominam nesta

atividade empresários em nome individual ou sociedades agrícolas/florestais

de pequena dimensão.

496. Os níveis de integração vertical da indústria de segunda linha a montante

para a actividade de exploração do montado são pouco significativos e pouco

frequentes.

497. No leque das principais empresas do sector, as raras excepções a esta regra

são o Grupo Amorim, que apesar de não ser directamente proprietário de

montados tem accionistas maioritários que detém montados, e o Grupo

Piedade.

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498. Mas mesmo em relação a estes grupos a quantidade produzida de cortiça

para autoabastecimento é relativamente residual face às necessidades dos

seus processos produtivos.

499. Assim, nos últimos 5 anos destacaram-se como principais produtores de

cortiça natural na Península Ibérica as empresas:

Herdade do Pinheiro, S.A;

Fundação da Casa de Bragança;

Companhia Agrícola Quinta de Corona.

500. A evolução da importância relativa dos vários vendedores de cortiça natural

encontra-se expressa no gráfico abaixo:

Gráfico 27 – Evolução do peso relativo dos vários vendedores de cortiça amadia na

Peninsula Ibérica – 2006 -2010

501. Nos últimos 5 anos, o conjunto dos 20 maiores produtores de cortiça natural

não representou mais de 5% do total de cortiça vendida na Peninsula

Ibérica.

502. A venda de cortiça natural encontra-se, por isso, fortemente fragmentada,

não detendo nenhum proprietário de montado e/ou intermediário, em

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média, para o período de 2006 a 2010, um peso nas vendas superior a 1%

do total comercializado na Peninsula Ibérica.

503. O principal produtor dos últimos cinco anos, a Herdade do Pinheiro, S.A,

representou entre 0,4% e 0,8% do total comercializado na Península Ibérica.

Jáá a Fundação da Casa de Bragança representou entre 0,1% e 1,0% e a

Companhia Agrícola Quinta de Corona entre 0,0% e 0,6%.

504. Estima-se, também, que nenhuma indústria de primeira linha independente

represente, em média, mais de 5% do total de cortiça natural vendida na

Península Ibérica.

505. Note-se que, de futuro, a fragmentação pode vir a acentuar-se (vide Gráfico

10 com evolução da área média do montado nos últimos 10 anos) em

resultado da desertificação e envelhecimento populacional nas zonas de

exploração de sobreiros e pela fragmentação da propriedade que resulta do

processo de transmissão sucessória.

506. Esta muito elevada fragmentação da oferta pode gerar ineficiências

económicas importantes. Por um lado, dificulta a rentabilização da

exploração do montado pois reduz as possibilidades de aproveitamento de

economias de escala pelo produtor e, por outro lado, aumenta

substancialmente os custos de procura dos compradores.

507. A título de exemplo, num determinado ano, facilmente uma indústria

rolheira de média dimensão poderá ter que comprar cortiça amadia a mais

de 100 vendedores distintos.

508. Se considerarmos, adicionalmente, que os vendedores de um determinado

ano não serão os mesmos dos dos anos anteriores uma vez que tipicamente

os proprietários de montado de menor dimensão não detêm sobreiros com

uma diversidade de idades que lhe permita a extracção de cortiça todos os

anos, então facilmente se conclui que a muito elevada fragmentação dos

mercados de venda não pode deixar de representar elevados custos de

procura.

509. Os intermediários utilizados pelas empresas de segunda transformação, de

forma mais intensa em regiões com níveis superiores de fragmentação da

propriedade, designadamente no Algarve e em Trás-os-Montes reduzem

esses custos de procura mas de forma pouco significativa na medida em que

nenhum deles individualmente representa sequer 1% das vendas de amadia

na Península Ibérica.

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510. As empresas menos afectadas por esta situação acabam por ser as de maior

dimensão que conseguem mais facilmente atingir economias de escala no

processo de procura de matéria-prima, podendo agregar a informação

relativa aos produtores de cortiça de forma mais abrangente.

511. A agregação de informação relativa às expectativas de tiradia num

determinado ano por cada um dos produtores poderia reduzir a ineficiência

gerada por esta elevada desagregação da oferta.

A procura de pranchas de cortiça amadia

512. A cortiça natural vendida é adquirida fundamentalmente por três tipos de

agentes: diretamente pela indústria de segunda linha; indústria de primeira

linha; e intermediários.

513. Em 2010, estima-se que a indústria de segunda linha, indústria de primeira

linha/intermediários foram responsáveis por aproximadamente 72% e 28%

das compras de cortiça natural.

514. A indústria de segunda linha assume um papel fundamental na compra dos

vários tipos de cortiça amadia. Desta, destaca-se claramente a indústria

rolheira para a qual as pranchas de cortiça amadia são a matéria-prima

essencial.

515. Esta industria sofreu recentemente (anos de 2008 e 2009) uma muito

relevante alteração estrutural em Portugal, com a falência de quatro dos dez

maiores grupos do sector. Designadamente:

Grupo Suberus

Grupo ACT (Abel Costa Tavares)

Grupo FOC (Fernando Oliveira Cortiças)

Empresa industrial de Paços de Brandão

516. No conjunto, estes grupos representavam, em 2008 (ano em que os

problemas financeiros se começaram a revelar75), um volume de compra que

se estima como correspondenda a cerca de [25%; 30%] das compras de

cortiça amadia, sendo de difícil estimação o peso de cada um por tipo de

cortiça amadia.

75 A insolvência da Empresa Industrial de Paços de Brandão é anterior a este ano, pelo que o seu peso

não se encontra reflectido na quantificação apresentada.

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517. Existem indícios de que nos próximos anos poderão existir mais falências de

Grupos do sector com relevância.

518. Assim, a partir de 2009 verifica-se um aumento significativo da concentração

ao nível da compra, com o Grupo Amorim a assumir uma posição destacada.

519. Em particular, no ano de 2010, este grupo terá representado cerca de [35%-

45%] das compras de amadia em Portugal, o correspondente a [25%-35%]

das compras Ibéricas desta matéria-prima. No ano de 2011 o peso relativo

deste grupo terá aumentado por força das aquisições realizadas ao nível da

indústria de primeira transformação.

520. Trata-se do peso relativo mais elevado dos últimos cinco anos, sendo que,

em média, no período de 2006 a 2010, o peso do Grupo Amorim na compra

de cortiças amadias na Península Ibérica foi de [20%-30%].

521. Este aumento de quota de mercado do principal operador resulta, por um

lado, da saída do mercado das empresas ACT e FOC (a segunda e terceiras

maiores empresas na compra de amadia na Península Ibérica em 2008), e,

por outro lado, da aquisição do controlo efectivo das empresas Trefinos e

Francisco Oller, S.A. em Espanha, respectivamente a segunda e terceira

maiores empresas transformadoras de cortiça presentes em território

espanhol76.

522. Em 2010, o segundo maior comprador de cortiça amadia na Peninsula

Ibérica foi o Grupo Bourrassé (Socori) com um peso estimado inferior a

10%.

523. Dos restantes grupos destaque para os Grupos Relvas, Álvaro Coelho,

Piedade77 e Oeneo, cada um deles com um peso inferior a 5% na compra de

amadias na Península Ibérica.

524. A evolução do peso de cada um dos principais grupos económicos na compra

de cortiça amadia em Portugal e na Península Ibérica encontra-se ilustrada

abaixo:

76 Segundo os dados de 2010 do Grupo Oeneo terão até sido as primeira e segunda empresas em

2010.

77 Refira-se que o Grupo Piedade se encontra verticalmente integrado ao nível da produção de cortiça, detendo montados que explora directamente. Essa factor faz com que o recurso deste Grupo aos mercados de compra e venda de amadia seja inferior às suas necessidades produtivas.

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102 102

Gráfico 28 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de cortiça natural

amadia em Portugal – 2006 -2010

Gráfico 29 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de cortiça natural

amadia na Península Ibérica – 2006 -2010

O poder de mercado na compra e venda de pranchas de cortiça amadia

525. O aumento da fragmentação dos mercados de venda de cortiça amadia ao

nível dos vendedores em simultâneo com o aumento da concentração do

lado da compra tem gerado uma redução do poder de mercado dos

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vendedores e um aumento do poder de mercado, em particular do Grupo

Amorim.

526. Uma aproximação do poder de mercado pode ser avaliada pela diferença

entre o preço de venda dos vários tipos de cortiças amadias e os seus custos

marginais.

527. A AdC desenvolveu um índice de evolução do poder de mercado dos

vendedores construído tendo em consideração os preços dos vários tipos de

cortiça amadia no mato78 e uma proxy dos custos marginais79.

528. O gráfico abaixo mostra a evolução desse índice para alguns dos principais

tipos de cortiça amadia:

Gráfico 30 – Índice de poder de mercado dos vendedores de cortiça amadia para os

diferentes tipos de cortiça amadia – 2006 - 2010

78 Refira-se que a cortiça comprada no mato apresenta uma grande heterogeneidade, mesmo dentro de

um mesmo montado. Por isso, quando se refere cortiça comprada no mato de 1.ª a 3.ª qualidades e calibre 12 a 18, aquilo que está implícito é a prevalência de cortiça com este tipo de aproveitamento em prancha e depois de cozida e selecionada, o que não exclui a existência de cortiças com outras qualidades e calibres em menores quantidades. O Índice de poder de mercado é, por isso, uma aproximação.

79 Construída com base num índice de custos de extração.

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104 104

529. Da análise realizada resultam indícios de que o poder de mercado dos

vendedores se tenha vindo a reduzir na venda de cortiça amadia, por

contraposição a um aumento do poder de mercado do principal Grupo

comprador.

530. Essas reduções de poder de mercado dos vendedores são mais evidentes

nas amadias de 12 a 18 linhas de calibre e nas cortiças de 1.ª a 3.ª e 1.ª a

5.ª (tipo 1 e tipo 2 acima identificados).

531. Tal situação decorre, em particular, do facto de as cortiças de expessura

adequada para a produção de rolhas naturais e de maior qualidade serem

relativamente escassas, o que incrementa o poder de mercado do vendedor

deste tipo de cortiças.

532. Por contraposição, desde 2010 que existem indícios de um aumento

substancial do poder de mercado do principal Grupo comprador de cortiças

amadias na atividade de aquisição deste tipo de matérias-primas.

533. De acordo com os relatórios e contas deste Grupo, publicamente disponíveis,

a sua unidade de matérias-primas terá passado de margens EBITDA de [5%-

13%] verificadas nos anos de 2006 a 2009 para margens de 22%.80

534. O gráfico abaixo ilustra a evolução dessas margens.

Gráfico 31 – Margem EBITDA da unidade de matérias-primas do grupo Amorim – 2006 -

2010

80 Fonte: Relatório e Contas do Grupo Amorim de 2010. Refira-se que estando esta unidade

predominantemente vocacionada para servir aas restantes unidades produtivas do mesmo grupo, o valor das suas vendas depende fundamentalmente do nível de preços de transferência fixados. Ainda que, de acordo com os critérios contabilísticos utilizados, esses preços de transferência devam refletir os preços de mercado, tal não invalida o facto de tais preços de transferência resultarem sempre de uma apreciação de carácter subjetivo do próprio Grupo.

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105 105

535. A análise da AdC encontra-se corroborada com informação de alguns

produtores e da generalidade das empresas do sector que referem que o

poder de mercado do Grupo Amorim se reflete de diversas formas na

compra de cortiça amadia.

536. Em primeiro lugar, importa salientar o poder financeiro deste grupo que lhe

permite uma vantagem competitiva importante face aos restantes agentes

do sector.

537. A actividade de compra de amadia no mato implica uma enorme mobilização

de recursos financeiros na medida em que o período que medeia entre o

momento de aquisição da cortiça no mato e a venda do produto final que a

integra atinge facilmente um ano, chegando em muitos casos a ano e meio.

538. Várias empresas procuram minimizar este empate de capital através dos

pagamentos faseados da matéria-prima. Ainda assim, tal apenas atenua –

mas não elimina, – as relevantes necessidades de investimento em fundo de

maneio resultantes da compra no mato.

539. O Grupo Amorim possui uma capacidade de investimento em fundo de

maneio várias vezes superior à de qualquer outra empresa do sector, o que

lhe atribui uma vantagem competitiva face às restantes empresas.

540. Consegue, desta forma, antecipar os seus concorrentes começando a

adquirir as cortiças de melhor qualidade no início da época de extracção,

quando alguns dos seus concorrentes ainda não estão em condições de

proceder a antecipações de pagamentos.

541. Esta capacidade financeira, associada à recente debilidade financeira e

falência de dois dos seus principais concorrentes (FOC e ACT) que não

cumpriram com os pagamentos aos seus fornecedores de matéria-prima,

tem vindo a consolidar a imagem do Grupo Amorim como de “bom pagador”

e de “cumpridor de prazos de pagamento”.

542. De acordo com alguns vendedores de cortiça esta reputação permite ao

Grupo Amorim, por um lado, oferecer preços mais vantajosos que os dos

seus concorrentes e, ainda assim, adquirir a necessária matéria-prima e, por

outro lado, antecipar-se aos seus principais concorrentes na compra das

cortiças de maior qualidade (em especial as de tipo 1 e 2).

543. Em segundo lugar, o grupo Amorim beneficia da vantagem de ser uma das

empresas há mais anos a actuar no sector com algum nível de sofisticação.

Assim, ao longo de décadas, este grupo construiu uma base de dados sobre

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os diversos montados que lhe permite um conhecimento muito mais preciso

da produtividade da cortiça de cada um dos vendedores.

544. Esse conhecimento acumulado permite ao Grupo Amorim o desenvolvimento

de relações de grande proximidade em relação a alguns vendedores de

cortiça que lhe garantem cortiças com os níveis de produtividade mais

elevados para os tipos de produtos que necessita de fabricar.

545. Essa relação de muitos anos faz com que, em áreas geográficas em que

existe uma grande presença do Grupo Amorim na compra (designadamente

nas regiões de Coruche, Portalegre e Ponte de Sor), a capacidade de entrada

de outros operadores seja reduzida, quer pela incapacidade financeira do

entrante potencial para fazer melhores ofertas e/ou de garantir direitos de

opção informais sobre determinadas cortiças, quer pela ameça credível de

retalização em anos futuros.

546. Na realidade, o diferencial de capacidades financeiras garante ao Grupo

Amorim a capacidade para tornar mais difícil a atividade de concorrentes que

pretendam rivalizar consigo na compra de cortiça amadia junto dos seus

habituais vendedores.

547. Sendo o processo de aquisição de cortiça amadia no mato dispendioso em

termos de tempo e de recursos, na medida em que a dimensão dos

vendedores (mesmo dos maiores) é muito reduzida e a compra de cortiças

em herdades em que existe pouca informação sobre a qualidade obriga a um

investimento inicial na análise de amostras de cortiça do montado relevante,

verifica-se uma certa rigidez na compra e venda, com tendências de alguma

fidelização entre vendedores e compradores.

548. Tal fenómeno só não é mais visível na medida em que os ciclos de produção

da cortiça são muito longos e apenas um pequeno número de vendedores

(herdades) é capaz de ter uma diversidade de idades de montado que lhe

permite estar no mercado todos os anos.

3.3.4.3. Avaliação do contexto concorrencial

549. O aumento e o exercício do poder de mercado por parte do principal

comprador de cortiça amadia não causaria preocupações de índole

concorrencial se tal ocorresse pelos seus próprios méritos, em respeito e

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cumprimento dos Princípios de Concorrência e da Lei que a tutela, e, em

particular, se tal se refletisse numa passagem dos ganhos obtidos para os

consumidores do produto final, isto é, para os compradores dos produtos

finais derivados da cortiça.

550. Contudo, a evidência aponta para o facto de ao aumento do poder de

mercado nos mercados da compra de matéria-prima amadia (conforme

análise constante do parágrafo 532 e seguintes) estar, também, associado

um aumento generalizado do ‘poder de mercado’ em vários mercados de

venda de produtos derivados da cortiça81.

551. Assim sendo, a passagem para os consumidores de produtos derivados dos

ganhos decorrentes do poder de mercado na compra será, em princípio,

mais baixa do que seria na ausência do aumento desse poder de mercado a

jusante.

552. Este aumento do poder de mercado, a jusante, do principal comprador nos

mercados de compra de amadias, e em particular das amadias de maior

calibre e qualidade, poderá revelar-se preocupante.

553. Tal situação é potenciada, entre outros factores, e em primeiro lugar, pela

assimetria de informação existente; em segundo lugar, pelas restrições

regulamentares que tendem a condicionar a oferta.

554. No que se refere à referida assimetria de informação, e como referido

anteriormente, importa reter que o Grupo Amorim, pela sua escala e rede de

intermediários82, consegue reunir um conjunto de informações sobre a

disponibilidade de cortiças para venda em cada ano e sobre transacções

efetuadas que nenhum outro grupo está em condições de dispor sem custos

acrescidos relevantes.

555. Em termos de escala, representando o Grupo Amorim [20%-30%] da

compra anual de amadia na Peninsula Ibérica e considerando, por um lado, a

muito baixa dimensão de cada produtor (inferior a 1% do total) e, por outro

lado, que a generalidade dos produtores de cortiça natural não vende a sua

cortiça no mercado todos os anos (tendendo a vender em ciclos de 9 anos),

então facilmente se conclui que, em teoria, para suprir as suas necessidades

de abastecimento o Grupo Amorim, num período de cerca de 4-5 anos, terá

81 Em 2010 as margens EBITDA do Grupo Amorim registaram um aumento relativamente às verificadas

nos anos de 2006 a 2009, quando se situaram no intervalo de [9%-13%] (Fonte: Relatório e Contas do Grupo Amorim de 2010).

82 Intermediários no sentido lato do termo.

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adquirido cortiça directa ou indirectamente a praticamente todos os

produtores de cortiça Ibéricos.

556. Esta condição garante-lhe o acesso privilegiado à informação sobre as

próximas extracções e à qualidade da cortiça de cada um dos vendedores.

557. A grande generalidade dos restantes produtores, com quotas de mercado de

compra inferiores a 5%, não está em condições de ter um conhecimento do

mercado com este nível de detalhe e profundidade.

558. Esta assimetria de informação é potenciada, por outro lado, pelo facto de os

mercados da venda serem muito fragmentados, existindo agentes

(normalmente locais) que agregam compras a diferentes proprietários e,

posteriormente, que vendem essa matéria-prima agregada.

559. Estes “intermediários”, para além de agregarem vários lotes de cortiça,

recolhem um conjunto de informações de transacção no terreno e são fontes

de disseminação de informação.

560. O poder financeiro e a reputação do Grupo Amorim permitem-lhe utilizar

esta rede de “intermediários” para difundir informações e recolher

assimetricamente informação sobre a actuação dos seus concorrentes ao

nível da compra.

561. As restantes empresas da segunda transformação não dispõem de tal poder

de influência, pois o nível de dependência destes intermediários face a essas

empresas é, em geral, muito inferior ao que existe em relação ao Grupo

Amorim.

562. O próprio enquadramento regulatório (designadamente o Decreto-Lei n.º

169/2001) não atenua essa assimetria de informação.

563. Aliás, a assimetria de informação tem sido potenciada por dificuldades na

recolha e tratamento de informação, em tempo útil que, idealmente, deveria

ser disponibilizada por entidades públicas que acompanham o sector83,

desde que equipadas com suficientes recursos.

83 Aquando da existência do Instituto dos Produtos Florestais (IPF, extinto em 1988), as estatísticas

que forneciam informação anual, a nível nacional e por zonas de produção suberícola (14 ao todo), sobre os preços de transacção, no mato, da cortiça de reprodução (convertidos em preços na pilha, incluindo, portanto, os custos da operação de descortiçamento) eram obtidas, total ou principalmente, a partir de informação recolhida a nível local, junto de produtores suberícolas privados.

Depois da extinção do IPF e porque alguns dos técnicos regionais do mesmo transitaram para a então Direcção-geral das Florestas, ainda se conseguiu manter, durante alguns anos (até 1995), este tipo de recolha de informação. Entre 1982 e 1995, os apuramentos finais foram efectuados com base na informação recolhida, em separado, para as propriedades privadas e públicas (para estas últimas,

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564. De facto, foi referido pela generalidade das empresas do sector que há falta

de informação sobre aspectos fundamentais do sector florestal português.

Há grande dificuldade em obter informações básicas que se esperaria

estivessem facilmente disponíveis.

565. A falta de informação aumenta as incertezas e os riscos e, pior ainda,

dificulta a elaboração e implementação de estratégias, em particular por

parte das empresas de menor dimensão ou de potenciais entrantes.

566. O papel das associações de produtores não parece ter sido suficiente para

colmatar estas lacunas, atenta a relativamente baixa dimensão das amostras

que estão em condições de recolher numa base voluntária.

567. Tal assimetria/falta de informação pode ser mitigada desde que exista uma

entidade pública (eventualmente, o ICNF) que desenvolva um sistema de

recolha de informação florestal84 que agregue todos os agentes do sector e

as entidades com responsabilidade no âmbito dos Sistema Estatístico

Nacional.

568. Este sistema de recolha de informação florestal deverá em particular

assegurar:

Primeiro, que antes do início da tiradia seja disponibilizada

publicamente uma listagem com identificação de todos os

proprietários que nesse mesmo ano pretendem proceder à

extracção de cortiça, com indicação dos montantes estimados de

cortiça a extraír;

que representam a menor parte, dispunha-se de informação exaustiva), tentando-se depois efectuar uma ponderação de modo a que os preços globais reflectissem o que se passava no conjunto de ambas as propriedades. Para a cortiça virgem (cuja produção é substancialmente inferior à da cortiça de reprodução e cujos preços também tendem a oscilar menos), admitia-se que os preços de transacção no mato correspondiam aos de aquisição pelas fábricas, informação esta obtida, sem desagregação por zonas de produção suberícola, através de uma outra fonte de informação estatística – a dos “Mapas de Movimento Comercial e Fabril” –, a cujo preenchimento os industriais eram obrigados. Tinha se, no entanto, a noção de que quaisquer informações sobre preços oriundas dos Mapas de Movimento Comercial e Fabril não eram muito credíveis.

Após a extinção do IPF, deixaram de se elaborar os “Mapas de Movimento Comercial e Fabril”, pelo que deixou de se conhecer (mesmo que de forma indirecta) o preço de transacção, no mato, da cortiça virgem.

Alguns anos depois da extinção do IPF, o então antecessor da Autoridade Florestal Nacional, também deixou cair a série estatística relativa aos preços de transacção, no mato, da cortiça de reprodução (a série que existe é entre 1959 e 1995).

Entre 2000 e 2006, retomou-se a recolha de informação estatística sobre preços da cortiça no mato através do Sistema de Informação de Cotações de Produtos Florestais na Produção (SICOP); Presentemente, existe um vazio total na matéria.

84 Refira-se que este problema não parece ser específico ao sector da cortiça, mas a outros produtos florestais. Interessa, por isso, analisar até que ponto as plataformas criadas para gerir esta informação não são extensíveis a toda a fileira florestal, com importantes ganhos de escala e eficiência para a entidade que as venha a promover.

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Segundo, que durante o período de tiradia tal base de dados seja

actualizada com base nas vendas entretanto efectuadas, e que

sejam publicados mensalmente os “preços da cortiça percebidos

pelos silvicultores”;

Terceiro, que após o período da tiradia, e com periodicidade anual,

se efectue um inquérito de resposta obrigatória aos silvicultores, à

indústria e a outros agentes do sector, por forma, a compilar um

conjunto de estatísticas sobre a companha de extracção de cortiça

do ano.

569. O Decreto-Lei n.º 169/2001 cria uma oportunidade para operacionalizar o

Sistema Nacional de Informação de Recursos Florestais (SNIRF) – vide, e.g.,

o seu Artigo 14.º (“Declaração da cortiça”)

570. Contudo, prevê que a adesão ao sistema de recolha previsto seja voluntária,

o que se revela claramente insuficiente face à relevância do sector da cortiça

para a economia nacional e à escassez de informação relevante com

impactos assimétricos sobre o mercado.

571. Mas a assimetria/ausência de informação sobre os mercados de compra e

venda de cortiça no mato revela-se também noutras variáveis que

contribuem para o aumento dos custos de procura dos operadores de menor

dimensão.

572. Para qualquer operador, a compra de cortiça a um novo fornecedor reveste-

se, quase sempre, de um maior nível de incerteza quando comparada com a

compra a um fornecedor habitual, na medida em que é mais fácil estimar os

índices de aproveitamento das pranchas de cortiça de uma exploração da

qual já foi adquirida cortiça anteriormente do que de uma para a qual não se

conhece o histórico.

573. Para reduzir esse nível de incerteza o potencial comprador muitas vezes

extrai amostras da cortiça para análise. Este processo, para além de implicar

custos, impõe demora na concretização do negócio.

574. Pensado numa perspectiva global, pode revestir-se, também, de alguma

ineficiência quando vários potenciais compradores acabam por extrair

amostras de uma mesma propriedade para análise, aumentando, desta

forma, os custos de transacção decorrentes da repetição das análises.

575. De acordo com vários operadores, estes custos de transacção fazem com

que alguns operadores evitem a aquisição de cortiça amadia nas zonas

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geográficas em que o Grupo Amorim tem uma maior presença, procurando

não rivalizar com este Grupo na compra de matéria-prima, na medida em

que, neste caso, a probabilidade de poderem vir a adquirir a cortiça será

menor, tornando menos favorável a relação custo-benefício associada à

transacção, o que constitui um indício de um elevado potencial de domínio

por parte deste Grupo.

576. Acresce que, em resultado da sua dimensão enquanto comprador, da

informação que dispõe e das vantagens que possui em termos financeiros e

de reputação, a dependência de muitos produtores/vendedores

relativamente ao Grupo Amorim é certamente maior que a dependência que

aqueles terão face a outros compradores de menor dimensão.

577. Esta situação tem tendencialmente consequências do ponto de vista dos

preços e do livre jogo da procura e da oferta de cortiças no mercado.

578. Este poder de infuência poderia ser reduzido através da criação de um

sistema de transacção, tipo bolsa em sistema de chamada, que garantisse

um acesso idêntico a todos os potenciais compradores às análise e amostras

da cortiça.

579. Um funcionamento mais eficiente de trocas comerciais poderá ser

estabelecido através do desenvolvimento de leilões em que as transacções

de matéria prima possam ser efectuadas, garantindo um acesso aberto e

idêntico a todos os potenciais compradores e vendedores, aumentando a

liquidez do mercado.

580. A criação de uma “bolsa de transacção” com estas características poderia

potenciar uma redução do poder negocial do lado da compra, em especial

para as cortiças amadias de maior qualidade e espessura (vide análise

constante do subcapítulo onde se incluem o Gráfico 11 e o

581. Gráfico 12), permitindo ao vendedor um exercício menos condicionado do

seu poder negocial que decorre da maior escassez deste tipo de cortiças.

582. Esta bolsa de transacções adequadamente regulada, não deveria ser

propriedade de nenhuma das partes (nem dos compradores ou grupos de

compradores, nem dos vendedores ou grupos de vendedores), devendo ser

gerida por entidade idónea para ambas as partes e garantindo, se possível, o

anonimato das licitações dos compradores e vendedores durante o período

de tempo considerado desejável.

583. Refira-se que as bolsas de transacções de produtos agrícolas, pecuários, e

florestais são comuns em diversos países existindo, também em Portugal,

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alguma experiência acumulada nesta matéria (veja-se a título de exemplo as

transacções de pescado na Docapesca).85

584. A implementação de mecanismos incentivadores ao uso desta plataforma

será fundamental para o seu sucesso.

585. Conforme anteriormente referido, o poder de mercado do principal

comprador nos mercados de compra de amadias é também potenciado pelas

restrições regulamentares que condicionam a oferta.

586. Essas restrições resultam, fundamentalmente, do Decreto-Lei n.º 169/2001,

de 25 de Maio (alterado pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho),

mas também dos regimes jurídicos subjacentes ao fracionamento de prédios

rústicos, cuja sede principal consta dos artigos 1376 a 1382 do Código Civil,

e ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).

587. No que se refere ao Decreto-Lei n.º 169/2001, conforme detalhado nos

subcapítulos 2.3.3, 2.3.4, e 2.3.5, este impõe relevantes limitações à

exploração do montado.

588. Ao tornar de difícil exequibilidade a reconversão cultural dos terrenos com

sobreiros para produtos de maior valor acrescentado ou a eliminação de

sobreiros pouco produtivos, o Decreto-Lei n.º 169/2001 poderá retirar poder

negocial aos produtores de cortiça interferindo sobre a oferta.

589. Tivessem os silvicultores a possibilidade de afetar os seus terrenos a outras

culturas e poderiam alternar entre produções tendo em conta as

expectativas de rentabilidade de cada uma, em cada momento.

590. Essas limitações poderão reduzir substancialmente o poder negocial dos

vendedores, podendo contribuir para uma degradação do parque de

sobreiros nacional (conforme análise realizada nos parágrafos 313 e

seguintes) e para uma pressão do preço da cortiça no sentido da baixa.

85 Vide e.g., Marques, P.V., P. C. de Mello & J.G. Martines Fo. (2006): Mercados Futuros e de Opções

Agropecuárias. Piracicaba, S.P., Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/Universidade de São Paulo, 2006, Série Didática nº D-129:

«É de fundamental importância entender as forças de mercado que dão origem às formas diferentes de formação e transmissão de preços de produtos agropecuários. Para isto, é necessário conhecer as cadeias produtivas, suas inter-relações contratuais, os determinantes da oferta e da demanda dos produtos e de seus substitutos e os demais elementos da estrutura do mercado que influenciam o comportamento dos preços. Estes conhecimentos compreendem o que se denominam fundamentos do mercado os quais, juntamente com o acompanhamento dos preços dos mercados futuros, fornecem as ferramentas básicas para entender as mudanças de preços e assim, poder operar nos mercados agropecuários.»

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591. Compreende-se a preocupação do Decreto-Lei n.º 169/2001 em acautelar,

por um lado, questões de índole ambiental e, por outro lado, os diferentes

ciclos de reprodução das diferentes espécies vegetais, contudo, tais

preocupações não podem anular, por completo, questões de índole

concorrencial.

592. Assim, parece excessivo, por exemplo, o facto de as zonas em que o

sobreiro não é a espécie predominante ou que não têm as melhores

condições para o seu desenvolvimento (por exemplo a Zona Norte e Centro

do país) terem restrições ao abate de sobreiros, à sua poda ou a outros

aspectos relacionados com a gestão do montado idênticas às das restantes

regiões.

593. Parecem também excessivas as regras que impõem a necessidade de

autorização para abate de sobreiros quando o proprietário visa substituir

sobreiros, isto é, quando da reestruturação do terreno não resulta uma

alteração líquida do parque de sobreiros após o abate.

594. A alteração do Decreto-Lei n.º 169/2001, com a determinação de um leque

mais alargado de situações em que é possível a reconversão de culturas e a

flexibilização do abate de sobreiros de baixa rentabilidade por substituição

por sobreiros de maior produtividade sem necessidade de aprovações

administrativas, mas meras notificações, é um aspeto que poderá mitigar

algumas das preocupações concorrenciais identificadas ao nível da venda de

cortiças amadias.

595. No que se refere a aspetos relacionados com a dimensão média da

propriedade agricola, designadamente da propriedade dos montados, os

regimes jurídicos relativos ao fracionamento de prédios rústiscos e IMI têm

implicações a este nível, na medida em que podem condicionar a obtenção

de economias de escala ao nível da produção e contribuir para uma

fragmentação cada vez maior da propriedade (cfr. parágrafos 307 e

seguintes)

596. Por um lado, a possibilidade de, nomeadamente por transmissão sucessória,

os prédios rurais serem fraccionados cria um incentivo adicional à sua

fragmentação visto ser uma opção simples de distribuição da herança

597. Tendo em consideração a já muito elevada fragmentação do montado, uma

avaliação da adequação do regime jurídico relativo ao fracionamento de

prédios rústicos, cuja sede principal consta dos artigos 1376 a 1382 do

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Código Civil, ao caso específico do montado e do sobreiro deverá ser

equacionada, por forma a encontrar soluções que impeçam ou limitem

substancialmente a fragmentação da propriedade da terra.

598. Por outro lado, o facto de a grande generalidade dos prédios rurais não estar

avaliada a preços de mercado para efeitos fiscais (designadamente de IMI)

pode criar um incentivo para a sua manutenção em regimes de baixa

produtividade, no caso de proprietários que não estão suficientemente

motivados por considerações puramente financeiras, uma vez que os custos

efectivos associados à manutenção do montado nestas circunstâncias são

relativamente insignificantes. Fossem esses custos de maior relevância,

representariam um sinal económico importante para a tomada de decisão

dos agentes económicos.

599. A introdução de mecanismos que promovam uma maior fluidez no mercado

de compra e venda de montados revela-se fundamental para assegurar uma

inversão da tendência de fragmentação da propriedade do montado.

600. Tais incentivos poderão passar pela revisão do Código de IMI no sentido de

assegurar uma tributação dos prédios rurais com base na valorização desses

prédios para valores o mais próximo possível de mercado.

601. Tal poderá fomentar a saída do mercado de proprietários que não utilizem as

melhores práticas produtivas fomentando a entrada de operadores que

consigam extrair um maior valor da terra, o que contribuirá, claramente,

para um aumento da sua produtividade média.

602. Em suma, ao abrigo do artigo 7.º n.º 4 alínea b) do Estatutos, aprovados

pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de Janeiro, a Autoridade da

Concorrência recomenda:

I. A revisão do Decreto-Lei n.º 169/2001, de 25 de Maio, no sentido de

assegurar:

a. A redução e eventual eliminação de barreiras à entrada e

expansão nos mercados de venda de cortiça em bruto, através da

consagração da criação, possivelmente pelo Instituto da

Conservação da Natureza e das Florestas (doravante ICNF), de

uma base de dados com informação sectorial que:

1. Antes do início da tiradia (preferencialmente até ao final do

mês de Março), inclua uma listagem com identificação de

todos os proprietários que, nesse mesmo ano, irão proceder à

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extracção de cortiça amadia, virgem, refugos, bocados e falca,

com indicação dos montantes estimados a extraír. Por forma a

garantir a qualidade dessa informação:

- Tal base de dados deverá ser gerida por entidade pública

(designadamente pelo ICNF);

- Tal procedimento poderia ser inteiramente realizado por via de

uma plataforma on-line, a ser criada por essa entidade

pública, podendo as associações de produtores facilitar a

introdução desta informação em representação dos

produtores, mas assegurando os níveis de confidencialidade e

privacidade considerados adequados;

- A notificação desta informação pelo produtor deveria ser

obrigatória, prevendo-se coimas para o reporte fora dos

prazos e exigindo-se aos compradores de cortiça a guarda dos

certificados de notificação dos vendedores, passando tal

comprovativo de notificação a obrigatoriamente acompanhar a

compra;

- Esta plataforma poderia ser desenvolvida a nível ibérico com

possibilidade de aproveitamento de sinergias entre

autoridades nacionais e possível co-financiamento Europeu.

2. Durante o período de tiradia, seja actualizada com base nas

vendas entretanto efectuadas, e que sejam publicados

mensalmente os “preços da cortiça percebidos pelos

silvicultores”;

3. Após o período da tiradia, e com periodicidade anual, se

efectue um inquérito de resposta (possivelmente) obrigatória

aos silvicultores, à indústria e a outros agentes do sector por

forma a compilar um conjunto de estatísticas sobre a

campanha de extracção de cortiça do ano.

b. Eventualmente salvaguardando aspetos de natureza ambiental e

ecológica subjacente à produção suberícola, eliminar restrições à

oferta de cortiça no mato através da revisão do Decreto-Lei n.º

169/2001, com a determinação de um leque mais alargado de

situações em que é possível a reconversão de culturas e a

flexibilização do abate de sobreiros de baixa rentabilidade por

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substituição por sobreiros de maior produtividade sem

necessidade de aprovações administrativas, mas meras

notificações.

II. A promoção da criação de uma “bolsa de transacções de cortiça natural”,

que permita uma redução do poder negocial do lado da compra,

permitindo ao vendedor um exercício menos condicionado do seu poder

negocial, não obstante a plena consciência que a AdC tem da

heterogeneidade de um produto com valor comercial como a cortiça

natural. Essa bolsa deverá ter as seguintes características:

a. Não ser propriedade de nenhuma das partes (nem dos

compradores ou grupos de compradores, nem dos vendedores ou

grupos de vendedores). Idealmente deverá ser gerida por

entidade idónea para ambas as partes;

b. O seu modo de funcionamento e atuação deve estar ser sujeito a

supervisão/fiscalização por parte de uma entidade pública,

possivelmente o ICNF;

c. Deve garantir o anonimato do comprador nas licitações, apenas

devendo ser revelado o nome do comprador de cada lote após o

fecho do mercado;

d. Deve disponibilizar a análise de amostras de cortiça retiradas por

entidade idónea e de acordo com metodologias estatísticas

comumente aceites por produtores e vendedores, nos termos

regulamentados;

e. Deve garantir mecanismos incentivadores para que seu uso possa

representar o meio para a realização do grosso das transacções.

III. No sentido de assegurar a promoção da eficiência económica ao nível da

produção da cortiça natural, e de contribuir para o aperfeiçoamento do

sistema normativo português em todos os domínios que possam afetar a

livre concorrência (artigo 6.º, n.º 1 alínea f) dos Estatutos), a AdC

recomenda, nos termos do artigo 7.º n.º 4 alínea b) do Estatutos,

igualmente, uma avaliação da adequação do regime jurídico relativo ao

fracionamento de prédios rústicos, cuja sede principal consta dos artigos

1376 a 1382 do Código Civil, e do Código do Imposto Municipal sobre

Imóveis (CIMI) ao caso específico do sobreiro e do montado, por forma a

encontrar soluções que impeçam ou limitem substancialmente a

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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fragmentação da propriedade da terra, e que, pelo contrário, promovam

a sua consolidação através da colocação dos prédios rurais menos

produtivos no mercado para que possam ser adquiridos por entidades

que acrescentem maior valor à produção.

IV. Por último, não só pelo peso que o setor representa na produção

industrial nacional como pelo seu peso nas exportações, e a fim de

colmatar a ausência de dados e informações estatísticas de natureza

quantitativa e qualitativa, tal como identificadas nas recomendações I, II

e III, a AdC recomenda que, pelo menos o compêndio das mesmas seja

objecto de divulgação numa base periódica e regular, de fácil acesso à

generalidade dos operadores ao longo da fileira da cortiça e de outras

entidades, salvaguardadas as usuais reservas de confidencialidade.

3.3.5. Os bocados, o refugo, virgem e as aparas

3.3.5.1. Os mercados

Análise de substituibilidade entre bocados, refugo, virgem e aparas

603. A comercialização de cortiça como matéria-prima não se esgota na compra e

venda de pranchas de cortiça amadia cruas ou cozidas, que servem

fundamentalmente a indústria rolheira de rolhas de cortiça natural.

604. Assim, da própria extracção de pranchas de cortiça amadia para o

processamento na indústria rolheira resultam bocados e refugos não

susceptíveis de serem utilizados na produção de rolhas de cortiça natural.

605. Os bocados são peças de cortiça (virgem, secundeira ou amadia) cuja

superfície é inferior a 400 cm².86

606. Os refugos são cortiça amadia de baixa qualidade, não susceptível de ser

transformada em rolhas de cortiça natural.87

607. A própria cortiça virgem também não é susceptível de ser utilizada pela

indústria rolheira.

86 Código Internacional das Boas Práticas rolheiras – CE Liege.

87 Código Internacional das Boas Práticas rolheiras – CE Liege.

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608. Para além destas matéria-primas provenientes directamente do montado, da

produção de rolhas naturais resultam sub-produtos (aparas e desperdícios)

que são susceptíveis de servir de matéria-prima a outras empresas do sector

corticeiro.

609. Estima-se que menos de 20%88 da cortiça destinada à produção de rolhas de

cortiça naturais resulte, efectivamente, em rolhas de cortiça natural.

610. Ou seja, uma importante parte da cortiça enquanto matéria-prima não é

comercializada sob a forma de pranchas de cortiça amadia natural.

611. Inclui, igualmente, a comercialização de um conjunto variado de outras

matérias-primas de cortiça que são particularmente relevantes para a

indústria granuladora e aglomeradora (incluindo empresas rolheiras

produtoras de rolhas técnicas e/ou de aglomerado).

612. Nos aglomerados compostos são utilizados granulados obtidos a partir da

trituração de bocados, refugo e desperdícios de outras operações de

processamento, como sejam as aparas (de broca, de recorte etc.), rolhas

defeituosas, restos de aglomerados, e outros.

613. O aglomerado branco (que resulta, essencialmente, da trituração da cortiça

virgem) pode aplicar-se em painéis de afixação, em peças de calçado, em

impressoras informáticas, em caixas e tabuleiros, em capacetes de

protecção, em bóias, coletes e flutuadores, nos punhos das canas de pesca,

em tapetes, malas e pastas, até em tecido para vestuário e papel. No

desporto, o aglomerado branco de cortiça é utilizado em bolas de hóquei,

críquete, basebol e badmington, raquetes de ténis de mesa, nas pequenas

bolas dos apitos, nos tacos de golfe, nos alvos para as setas e nas buchas

para cartuchos. Na indústria pode utilizar-se como junta mecânica ou

material anti-vibrático em diferentes maquinarias.

614. Estas matérias-primas (cortiça virgem, refugo, bocados e aparas)

representaram, em 2010, no seu conjunto um volume de vendas estimado,

em território nacional, de 69 mil toneladas (o que compara com os 61 mil

toneladas vendidas de pranchas de cortiça amadia em Portugal).

615. Dentro deste conjunto de matérias primas as aparas destacam-se das

restantes pela sua representatividade (em média 85% do total do volume de

88 Pereira (2007).

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2006 a 2010) e a cortiça virgem assume uma relevância despicienda (em

média menos de 1% do total do volume de 2006 a 2010).

616. As quantidades procuradas de cada uma destas categorias de matérias-

primas, para os anos de 2006 a 2010, encontra-se ilustrada no gráfico

abaixo.

Gráfico 32 – Estimativa da evolução das quantidades vendidas de refugo, bocados,

virgem e aparas – 2006 - 2010

617. A comercialização da cortiça virgem, pela sua muito baixa

representatividade, não será aprofundada no âmbito deste relatório.

618. Do ponto de vista da delimitação de mercados de produto importa, em

primeiro lugar, compreender se estes produtos que provêm directamente do

montado (bocados e refugos) apresentam um nível de substituibilidade

relevante entre eles do ponto de vista da procura.

619. Em segundo lugar, importa perceber se as aparas de cortiça, isto é, os

desperdícios de cortiça que resultam, fundamentalmente, da produção de

rolhas de cortiça natural e de discos, exercem um nível de pressão

competitiva significativo sobre as restantes duas matérias-primas, para que

possam ser consideradas substitutas na produção de rolhas técnicas, e

aglomerados.

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620. Dos pedidos de elementos realizados às 20 principais empresas industriais

do sector resulta que existe uma considerável substituibilidade entre as três

matérias-primas acima identificadas, a saber: bocados, aparas e refugo.

621. Não significa isso que não existam matérias-primas que apenas sirvam a

produção de um determinado tipo de produto.

622. Por exemplo, para a produção de algumas rolhas técnicas de elevada

qualidade o refugo poderá não configurar uma alternativa viável às aparas

por condicionar o nível de qualidade da rolha.

623. Contudo, de acordo com as entrevistas realizadas às principais empresas do

sector, a quantidade vendida de produtos em que tal substituibilidade é

admissível (pavimentos, rolhas de cortiça aglomerada) é suficientemente

ampla para que alterações significativas e não transitórias, ainda que

pequenas (5% a 10%) no preço de uma matéria-prima possam ter um

impacto ainda mais significativo (mais de 5% a mais de 10%) sobre a

procura dessa matéria-prima, por transferência dessa procura para as

restantes matérias-primas.

624. Importa, no entanto, referir que existem restrições de capacidade à

substituibilidade entre estas matérias-primas (i.e., existem restrições a uma

substituibilidade do lado da oferta entre bocados, aparas e refugo).

625. Tais restrições de capacidade resultam do facto de:

Na indústria rolheira o volume percentual de cortiça amadia

“desperdiçada” ser muito elevado (cerca de 80% da cortiça amadia

introduzida no processo de fabrico). Esses “desperdícios” são as

chamadas ‘aparas’ e ‘rolhas defeituosas’.

A extração isolada de bocados e refugo não ser economicamente rentável

(o seu preço na última década tem sido muito próximo do custo de

extração), apenas existindo produção de bocados e refugo na medida em

que estes sejam subprodutos da extração da cortiça amadia em prancha

em montados com diversidade de qualidades de cortiça ou subprodutos

da primeira transformação da cortiça (operação de traçamento).

626. Por um lado, a quantidade produzida de aparas é substancialmente superior

à que resulta de bocados e refugo (em 2010 as quantidades estimadas

foram de 57,6 mil toneladas de aparas, contra cerca de 11 mil toneladas de

bocados/refugos).

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627. Por outro lado, um fator que afeta a substituibilidade prende-se com as

características dos bocados. Os bocados resultam, em grande parte, de

quebras de pranchas aquando da extração de cortiça amadia. Ora a menor

dimensão dessas peças faz com que a possibilidade do seu aproveitamento

para a indústria da rolha de cortiça natural seja baixa. Isto faz com que o

seu preço seja significativamente inferior ao das pranchas de cortiça amadia

que lhe deram origem (pelo menos 5 vezes inferior).

628. Não seria, por isso, uma estratégia racional a extração da cortiça amadia sob

a forma de bocados pois tal representaria uma destruição de valor para o

silvicultor.

629. Nessa medida a produção de bocados estará sempre limitada à quantidade

desta matéria-prima que resulte da extração de pranchas de cortiça amadia

no mato ou do processo de preparação de pranchas na indústria de primeira

transformação, não sendo sensível a quantidade extraída desta matéria-

prima a flutuações do seu preço na ordem dos 5% a 10%.

630. Na prática estas restrições de quantidade existentes ao nível dos bocados

fazem com que seja sempre possível a substituição deste tipo de matéria-

prima por aparas e refugo, mas nem sempre seja possível a substituição, em

grande escala, de refugo e aparas por bocados.

631. Apesar destas limitações à substituibilidade, não é de excluir a existência de

pressões de preço entre os bocados/refugo e as aparas, conforme indicia o

paralelismo de preços das duas matérias-primas no gráfico abaixo.

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Gráfico 33 – Evolução do preço de venda de bocados, aparas e cortiça virgem – 2006 a 2010

632. A venda de bocados/refugo/aparas tem geralmente um estatuto de

comercialização secundário, sendo o seu preço normalmente fixado de forma

complementar (para acertos) à operação de venda de pranchas de cortiça

amadia.

633. Também aqui a venda de aparas constitui uma atividade complementar à

produção de rolhas de cortiça naturais.

634. Refira-se que há uma relação direta entre o preço dos bocados e refugo e os

excedentes de produção (aparas e desperdícios): a cotação destes influencia

naturalmente o preço dos bocados e refugos.

635. O preço das aparas acaba por ser um dos elementos que influencia os preços

dos bocados e refugo na medida em que representa a melhor alternativa

existente para a indústria face à compra de bocados e refugo.

636. Refira-se que o facto de o preço das aparas ser substancialmente superior ao

dos bocados resulta fundamentalmente dos diferentes índices de

aproveitamento das matéria-primas. Recorde-se que as aparas são cortiça

cozida que passou por um conjunto de tratamentos perdedores de peso. Já

os bocados são essencialmente cortiça crua que carece, ainda, de um

conjunto de tratamentos.

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637. A substituibilidade entre estas matérias-primas faz com que seja normal

empresas de maior dimensão terem equipas de compras especializadas na

compra de bocados, refugo e aparas, distintas das especializadas na compra

de amadias ou de falca89.

638. A cortiça virgem, conforme referido, pela sua pouca expressividade e pelas

diferentes aplicações (não vocacionada para a indústria rolheira) que

permite não parece acompanhar de forma tão próxima os preços dos

bocados e das aparas o que poderá indiciar que se encontra num mercado

relevante distinto.

639. Não obstante, a sua reduzida representatividade não justifica, para efeitos

do presente estudo, o seu tratamento de forma autónoma, pelo que a

análise que se segue nem sempre incluirá a cortiça virgem.

A dimensão geográfica da venda de bocados, refugo, aparas e virgem

640. Importa compreender se os bocados, o refugo e as aparas provenientes de

Espanha, ou de outras origens, constituem uma alternativa economicamente

viável aos bocados, refugo e aparas extraídas/produzidas em Portugal.

641. Por forma a enquadrar a dimensão desse fenómeno, interessa compreender

o volume de comércio internacional associado a este tipo de produtos.

642. Em 2010, estima-se que Portugal tenha importado cerca de 12% do

montante total consumido de bocados/refugo/aparas/virgem no país.90

643. A evolução das importações de bocados/refugo/aparas/virgem durante os

últimos cinco anos consta do gráfico abaixo:

89 Vide subseção 3.3.6.

90 Na ausência de informação estatística agregada sobre os movimentos de entrada e saída de cortiça virgem/secundeira/bocados/refugo/aparas em Portugal, a AdC estimou, com base na informação das 20 maiores empresas do sector corticeiro nacional a dimensão do fluxo de importações destes produtos.

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Gráfico 34 – Importações de bocados/refugo/aparas em % do consumo nacional de cortiça natural – 2000 a 2010

644. Nos últimos 5 anos, estima-se que as importações de

bocados/refugo/aparas/virgem foram o equivalente a entre 9% e 12% da

produção nacional.

645. Estima-se que a quase totalidade provenha de Espanha e uma menor

percentagem de Marrocos.

646. De acordo com as 20 maiores empresas91 do sector, a substituição de aparas

compradas em Portugal (junto dos centros de transformação nacionais) por

aparas adquiridas em Espanha, tudo o resto constante, implica um

acréscimo sobre o preço de compra em Espanha, em custos de transporte de

entre 3,8 a 9 cêntimos por quilo92, o equivalente a cerca de 7% a 9% do

preço médio de aparas nas regiões Espanholas mais próximas93 da fronteira

e 25% a 33% para regiões mais remotas94.

91 O Grupo Amorim foi o único a manifestar uma posição diferente relativamente a esta matéria (em

parte tal resultará do facto de ser um grupo verticalmente integrado internacionalmente e em que as vendas intra-grupo deste tipo de matérias-primas pode assumir um peso relevante).

92 Depende da localização exacta do vendedor (custo mais baixo associado a localizações próximas da fronteira).

93 Extremadura.

94 Região de Algeciras e outras regiões da Andaluzia mais distantes da fronteira com Portugal.

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647. Fossem os preços de compra de aparas idênticos entre países e os preços do

transporte seriam, por si só, suficientes para justificar a relativamente baixa

pressão concorrencial exercida pelos vendedores de aparas espanholas em

território nacional.

648. Contudo, Espanha tem apresentado, em média, nos últimos cinco anos,

preços das aparas inferiores aos nacionais, pelo que importa aferir se os

custos de transporte associados eliminam essa vantagem comparativa.

649. Da análise realizada resulta que, com excepção do ano de 2008, se verifica

que o preço das aparas em Portugal esteve sempre dentro da faixa de

preços equivalente ao preço de compra em Espanha adicionado do

respectivo custo de transporte.

650. Esta análise encontra-se no gráfico abaixo:

Gráfico 35 – Preço médio de transporte de bocados/refugo/aparas da região de produção

da cortiça natural para a principal região de transformação da Península Ibérica – 2010

651. Mais, ainda que em Portugal existisse uma única empresa a produzir a

totalidade das aparas, para ela não seria rentável um aumento do preço em

5% a 10%, de forma permanente, face ao nível actual sem que isso

implicasse uma saída das bandas de flutuação que garantem que o preço

das aparas em Espanha acrescido do custo de transporte tornariam a

importação de Espanha sempre economicamente mais vantajosa.

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652. Em suma, da análise realizada resulta que atualmente (e tendo em

consideração os diferenciais de preços, custos de transporte e quantidades

atualmente comercializadas) parece existir algum grau de substituibilidade

entre bocados/refugo/aparas/virgem de origem portuguesa e produtos

similares de origem espanhola.

653. Esta substituibilidade pode ser, contudo, algo restringida pela incapacidade

de Espanha fornecer uma quantidade considerável desta matéria-prima que

permita substituir de forma considerável (e do lado da oferta) a matéria-

prima nacional, o que poderá estar na base das relativamente reduzidas

importações deste tipo de matéria-prima.

654. Também por este motivo, a AdC, para efeitos do presente relatório e por

razões de prudência, analisou com maior detalhe a comercialização de

bocados/refugas e aparas em território nacional, não excluindo, no entanto,

que futuras análises adoptem um âmbito geográfico mais alargado.

3.3.5.2. O poder de mercado

655. Na venda de bocados/refugo/aparas existe uma grande diversidade de

operadores presentes.

656. Numa primeira fase existem os silvicultores que vendem diretamente o

refugo e os bocados.

657. Numa segunda fase existem as indústrias de primeira linha que procedem ao

primeiro tratamento da cortiça e a selecionam em categorias.

658. Numa terceira fase encontram-se as indústrias de segunda linha que

produzem rolhas de cortiça natural e discos e como subproduto as aparas.

659. Note-se, contudo, que os principais grupos económicos do sector tendem a

internalizar a utilização de bocados/refugo/aparas na medida em que não se

limitam à produção de rolhas de cortiça natural, englobando nas suas

operações a produção de um conjunto amplo de outros produtos derivados

da cortiça que utilizam as aparas das rolhas bem como

bocados/refugo/aparas que adquirem em conjunto com as pranchas de

cortiça amadia.

660. Assim, a venda de bocados/refugo/aparas assume para esses grupos um

carácter residual, apenas recorrendo a ela para suprir os desequilíbrios

internos de produção resultantes do diferente mix de produtos finais.

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661. Desta forma, os principais intervenientes na venda de aparas são empresas

de relativamente menor dimensão e mais especializadas na produção de

rolhas de cortiça natural.

662. Existindo uma grande diversidade de empresas de pequena dimensão com

estas características é difícil estimar o volume global que representará este

mercado em Portugal.

663. Contudo, é seguro afirmar que nenhum operador deterá um peso relativo na

venda em Portugal destes produtos (bocados/refugo/aparas) superior a

10%.

664. Já ao nível da compra tem-se vindo a assistir a um aumento significativo da

concentração (na compra de bocados/refugo/aparas), sobretudo por via do

aumento do peso relativo do principal operador do sector, o Grupo Amorim.

665. Com um peso na compra de aparas/bocados/refugo que se estima em [10%

a 20%] em 2006, este Grupo tem vindo a aumentar o seu peso tendo, em

2010, atingido uma percentagem superior a 35%, o valor mais elevado dos

últimos cinco anos.

666. A evolução do peso de cada um dos principais grupos económicos na compra

de bocados/refugo/aparas em Portugal encontra-se ilustrada abaixo:

Gráfico 36 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de

bocados/refugo/aparas em Portugal – 2006 - 2010

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667. Por forma a aferir o impacto da concentração do ponto de vista da compra,

em particular a partir do ano 2010, a AdC desenvolveu um índice de poder

de mercado95 que procura medir a evolução do poder de mercado do

vendedor em função da evolução da diferença entre o preço médio de venda

de cada uma dessas matérias-primas e os seus custos marginais.96

668. Para cálculo do índice de preços foi considerada a evolução do preço de

venda das aparas97

de 2006 a 2010 constante do Gráfico 33.

669. Os custos da produção de aparas foram aproximados com base na evolução

dos preços médios da cortiça amadia que lhes dá origem.

670. O gráfico abaixo mostra a evolução desses índices de preços e custos:

Gráfico 37 – Índices de evolução dos preços e custos das aparas de cortiça em Portugal

de 2006 a 2010

95 A AdC estimou a evolução do poder de mercado dos vendedores desenvolvendo um índice de preços

das aparas e um índice de custos para a produção de aparas.

96 Os custos marginais foram equiparados aos custos médios, tidos como proxy, e estes foram estimados, para efeitos de simplificação, como sendo iguais aos preços médios da cortiça amadia que lhes dá origem. Tal simplificação resulta da percepção de que: (1) os custos médios para a produção de aparas são próximos dos custos marginais, uma vez que os principais custos são variáveis (prendem-se com a aquisição de cortiça), e (2) que o preço da cortiça amadia está fortemente correlacionado com o custo médio das aparas (uma vez que elas são um subproduto relativamente simples da cortiça amadia).

97 Tal índice não foi calculado para os bocados e refugos pois a considerar-se que estão no mesmo mercado relevante, as conclusões não são susceptíveis de ser significativamente distintas.

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671. Da análise realizada resultam indícios de que o poder de mercado dos

vendedores terá aumentado até 2009 (uma vez que o indíce de preços caiu

menos do que o índice de custos) e tenha, eventualmente, iniciado uma

trajectória de estabilização em 2010.

672. O comportamento verificado em 2008 e 2009 poderá ser justificado, por um

lado, pela saída de várias empresas do sector vendedoras de aparas,

originando uma redução da produção de aparas com reflexos sobre as

margens dos restantes operadores que permaneceram nos mercados e, por

outro lado, pela pressão no sentido da alta que resultou do aumento do peso

relativo da procura de aparas e bocados para a produção de rolhas técnicas

e de aglomerado face à procura de cortiça amadia para a produção de rolhas

de cortiça natural (em 2007 as rolhas de cortiça natural representavam

cerca de 42% do total (em quantidade) das rolhas produzidas em Portugal e

em 2009 não ultrapassavam os 32%).

673. A evolução verificada em 2010, poderá resultar do aumento da concentração

de mercado do lado da compra que foi substancial nesse ano.

674. Ainda assim, só uma série mais longa permitiria tirar conclusões definitivas

sobre esta matéria.

3.3.5.3. Avaliação do contexto concorrencial

675. Os mercados de compra e venda de bocados/refugo/aparas em Portugal

caracterizam-se pela existência de:

um grande número de agentes de pequena dimensão do lado da oferta;

um aumento do peso relativo do principal comprador;

um produto transacionado visto como relativamente homogéneo, tendo

em consideração a finalidade a que se destina

(granulação/aglomeração);

676. Tratando-se estas matérias-primas de subprodutos da produção de bens de

maior valor acrescentado, poderá existir alguma rigidez nestes mercados em

termos de incentivos à entrada e expansão98.

98 Isto é, dentro de determinadas circunstâncias, que se verificam no caso em apreço, a elasticidade da

oferta de um sub-produto é típicamente menor que a elasticidade da oferta do produto principal.

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677. Na realidade uma menor rentabilidade ou quebra nas vendas, seja de

pranchas de cortiça amadia, seja de rolhas de cortiça natural ou discos,

poderá reduzir os incentivos à entrada na produção deste tipo de matérias-

primas na medida em que a sua produção poderá apenas fazer sentido como

subproduto de outra atividade de maior valor acrescentado.

678. Em sentido contrário, um aumento da rentabilidade e/ou da quantidade

adquirida de rolhas de cortiça natural e discos poderá aumentar os

incentivos à entrada na venda deste tipo de subprodutos, sem que esse

aumento da oferta resulte de um qualquer estímulo por parte da procura.

679. Desse ponto de vista, trata-se de mercados que podem ser afetados de

forma significativa pela rigidez introduzida pela evolução das capacidades de

produção de rolhas de cortiça natural e discos.

680. Essa limitação das capacidades de produção poderá constituir uma relevante

barreira estrutural à entrada, à saída e à expansão.

681. É tanto mais importante esta restrição quanto maior for a substituibilidade

entre rolhas de cortiça natural e rolhas que utilizem aglomerados.

682. O aumento do poder de mercado do lado da compra, por parte do Grupo

Amorim, poderá gerar situações de maior dependência em relação a este

Grupo de alguns vendedores de aparas que, estando na venda desse

produtos, são também seus concorrentes na venda de rolhas de cortiça

naturais e discos.

3.3.6. A falca e a cortiça queimada

3.3.6.1. Os mercados

A substituibilidade de produtos

683. Importa compreender, em primeiro lugar, se existem outros produtos que

possam constituir uma alternativa economicamente viável à falca e à cortiça

queimada e, em segundo lugar, se a falca e a cortiça queimada são

economicamente substituíveis entre si.

684. Essa análise compreenderá um delimitação do potencial de utilização de

cada matéria-prima e uma aferição das diferenças de preço e produtividade,

em termos de aproveitamento, das várias matérias-primas.

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685. Enquanto a indústria rolheira utiliza, fundamentalmente, as pranchas de

amadia como matéria-prima e a do aglomerado branco as aparas, os

bocados e o refugo, a indústria do aglomerado expandido utiliza a cortiça

que não é usualmente processada nas restantes indústrias, nomeadamente

a falca e a cortiça queimada.

686. No fabrico do aglomerado expandido de cortiça é utilizado um triturado mais

grosseiro obtido, essencialmente, por trituração de falca e de outros tipos de

cortiça de menor valor, designadamente a cortiça queimada.

687. A falca é obtida dos despojos da poda, sendo um tecido misto de cortiça

virgem, entrecasco e lenho, retirada tradicionalmente a partir dos ramos

podados dos sobreiros.

688. A cortiça queimada corresponde à casca do sobreiro proveniente de

montados afetados por incêndios.

689. As pranchas de cortiça amadia, os bocados, o refugo e as aparas, de um

ponto de vista económico, atualmente, não são matérias-primas substitutas

da falca e da cortiça queimada.

690. Não quer isto dizer que em termos meramente técnicos tal substituibilidade

não seja possível em alguns casos. Contudo, existem fatores técnicos que

tornam a falca mais atrativa do que os outros tipos de cortiça para a

produção do aglomerado expandido.

691. A falca possui um teor de extrativos superior ao dos restantes tipos de

cortiça, que funcionam como ligantes intergranulares naturais, o que

constitui uma vantagem comparativa face às restantes matérias-primas de

cortiça (designadamente, pranchas de amadia).

692. Outros factores, para além das características do produto acima indicadas,

tornam claras as diferenças entre a comercialização de falca/cortiça

queimada e a comercialização de pranchas de cortiça amadia, cortiça

virgem, bocados, refugos e aparas.

693. Em primeiro lugar, a falca e a cortiça queimada, tendo em consideração as

suas utilizações finais, são matérias-primas muito mais indiferenciadas do

ponto de vista do comprador em comparação com as pranchas de amadia.

694. Também por esse motivo a sua forma de comercialização tende a assumir

características completamente distintas e o seu preço é muito mais

homogéneo, conforme resulta do gráfico abaixo.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

132 132

Gráfico 38 – Distribuição do preço da falca em função da quantidade de procura

satisfeita – 2006 a 2010

695. Para a generalidade dos últimos cinco anos anos (com excepção de 2008)

mais de 70% da falca foi transacionada numa faixa de preços de -5% a +5%

do seu preço médio. Recorde-se, por exemplo, que nas pranchas de cortiça

amadia a faixa de preços de -5% a +5% não representava mais do que 10%

a 15% do total de transacções, o que demonstra bem as diferenças ao nível

da diferenciação dos produtos.

696. Em segundo lugar, enquanto na venda de cortiça amadia predominam os

contratos escritos com alocação de riscos a cada uma das partes e com

pagamentos em tranches diferidas que facilmente chegam a um ano, na

venda de falca praticamente não existem contratos escritos, assumindo a

sua comercialização um carácter muito mais informal e completando-se o

pagamento normalmente em prazos mais curtos.

697. Em terceiro lugar, o tipo de agentes envolvidos nas transacções de falca é

distinto do interveniente na compra de outros tipo de cortiças.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

133 133

698. Do lado da venda estão normalmente presentes lenhadores ou

transportadores e, do lado da compra, algumas empresas têm equipas

diferenciadas para a compra de pranchas de amadia e de falca.

699. Em quarto lugar, o baixo nível de substituibilidade efetiva entre a

falca/cortiça queimada e as restantes matérias-primas de cortiça reflecte-se

nos seus preços.

700. A falca e a cortiça queimada são as matérias-primas de cortiça de mais baixo

valor, sendo o seu preço várias vezes inferior ao dos restantes tipos de

cortiça, mesmo dos próprios bocados.

701. O gráfico abaixo mostra a evolução do diferencial de preços entre os

bocados, a falca e a cortiça queimada nos últimos 5 anos.

Gráfico 39 – Evolução do diferencial de preço entre a falca, a cortiça queimada e os

bocados – 2006 a 2010

702. O preço da falca esteve relativamente estável nos últimos 5 anos tendo

oscilado entre os €2,4/@ e os €2,6/@ e foi relativamente insensível às

variações dos preços da cortiça amadia e dos bocados.

703. A cortiça queimada apresentou também uma grande estabilidade de preços

durante o período oscilando entre os €1,8/@ e os €1,9/@.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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704. Estes preços são menos de metade quando comparados com os preços dos

bocados. Por maioria de razão, o diferencial de preço para as restantes

matérias-primas da cortiça é ainda superior.

705. Se tivermos em consideração que os níveis de aproveitamento das várias

matérias-primas de cortiça para a produção de aglomerado expandido de

cortiça não são significativamente distintos dos da falca ou da cortiça

queimada, existindo até as vantagens técnicas acima referenciadas a favor

da falca, este diferencial de preços apresenta-se como relevante do ponto de

vista da análise de substituibilidade entre produtos.

706. Assim sendo, se um monopolista hipotético aumentasse, de forma

permanente, o preço da falca ou da cortiça queimada em 10%, aumentaria

os seus lucros pois as perdas no volume vendido seriam significativamente

inferiores a 10% atentos os diferenciais de preços entre as matérias primas

e os diferenciais de aproveitamento.99

707. Importa, agora, compreender se a falca e a cortiça queimada poderão ser

consideradas substitutas.

708. A falca é tecnicamente substituível pela cortiça queimada em várias

aplicações e os preços das duas matérias-primas são semelhantes atentas as

diferenças de produtividade entre ambas, o que permite adequados níveis de

substituibilidade.

709. Contudo o inverso já não é necessariamente verdade atentas as restrições à

capacidade produtiva de cortiça queimada. Na realidade, por definição, a

cortiça queimada é a que resulta de incêndios e, por isso, a quantidade

produzida deste tipo de cortiça não é (ou não deverá ser, em princípio)

controlável, dependendo de fatores exógenos.

710. Assim, a possibilidade de substituir falca por cortiça queimada em larga

escala encontra-se claramente condicionada pela quantidade disponível de

cortiça queimada no mercado, num determinado ano.

711. Ou seja, a substituibilidade entre falca e cortiça queimada não parece ter a

mesma intensidade em ambas as direções (substituibilidade do lado da

99 De acordo com a informação publicamente disponível, refira-se que o principal Grupo económico a

atuar a nível mundial na produção de aglomerado expandido de cortiça é precisamente na Unidade responsável pela produção desse aglomerado (Unidade de isolamentos) que tem a maior rentabilidade (margem EBITDA de 24% que compara, por exemplo, com uma margem EBITDA de 13% na Unidade de rolhas em 2010), o que indicia que aumentos de 10% no preço da matéria-prima, poderiam ou ser passados para o consumidor ou acomodados pela indústria transformadora – conforme Gráfico 46.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

135 135

oferta é limitada e assimétrica entre os dois produtos, ainda que o possa não

ser do lado da procura).

712. Estima-se que as transacções de cortiça queimada não representem mais de

2% da quantidade total transacionada de falca, em volume, nos últimos

cinco anos, pelo que para efeitos da presente análise se revela de minimis a

aferição de substituibilidade entre falca e cortiça queimada.

A dimensão geográfica da venda de falca e cortiça queimada

713. Importa compreender se a falca e cortiça queimada proveniente de Espanha,

ou de outras origens, constitui uma alternativa economicamente viável à

falca e cortiça queimada extraída em Portugal.

714. Por forma a enquadrar a dimensão desse fenómeno, interessa compreender

o volume de comercio internacional associado a este tipo de produtos.

715. Em 2010, estima-se que Portugal tenha importado 11,7 mil toneladas de

falca e cortiça queimada, o equivalente a cerca de 21% do montante total

consumido no país.100

716. A evolução do peso das importações de falca e cortiça queimada no total de

falca introduzida no sistema produtivo nacional, durante os últimos cinco

anos, consta do gráfico abaixo.

Gráfico 40 – Importações de falca e cortiça queimada em % das utilizações na produção nacional – 2000 a 2010

100 Na ausência de informação estatística agregada sobre os movimentos de entrada e saída de falca e

cortiça queimada em Portugal, a AdC estimou, com base na informação das 20 maiores empresas do sector corticeiro nacional a dimensão do fluxo de importações destes produtos.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

136 136

717. Entre 100% e 99% da falca importada provém de Espanha.

718. Os preços da falca em Portugal e Espanha não parecem ser muito distintos.

Em particular, nos últimos dois anos (2009 e 2010) apresentaram-se com

diferenças inferiores a 2%.

719. O gráfico abaixo ilustra a evolução do preço da falca em Portugal e em

Espanha.

Gráfico 41 – Evolução do preço médio da falca em Portugal e em Espanha – 2000 a 2010

720. De acordo com os elementos recolhidos junto das empresas do sector, a

substituição de falca da região do Alentejo por falca da região da

Extremadura Espanhola implicaria, tudo o resto constante, um acréscimo do

custo de transporte de cerca de 0,6 cêntimos/kg., o equivalente a cerca de

3,3% do preço médio da da falca em Portugal em 2010.

721. Já a transferência da compra de falca da região do Alentejo para a região da

Andaluzia implicaria, em 2010, tudo o resto constante, um acréscimo do

custo de transporte de cerca de 5,8 cêntimos/kg., o equivalente a cerca de

33,9% do preço médio da falca adquirida em Portugal em 2010.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

137 137

722. O peso dos custos de transporte reduz-se relativamente à falca triturada

que, tendo um preço de cerca de duas vezes superior à falca não triturada,

tudo o resto constante, representa um acréscimo do custo de transporte de

cerca de 0,5 cêntimos/kg (+1,53%) se proveniente da Extremadura

Espanhola e de 4,8 cêntimos/kg (+14,9%) se proveniente da Andaluzia, face

ao preço médio da falca adquirida em Portugal, em 2010.

723. Por maioria de razão, o peso dos custos de transporte da falca de Marrocos é

ainda mais elevado e, se tivermos em consideração que a falca (e cortiça

queimada) de Marrocos é transacionada em quantidades residuais e sofre de

restrições à exportação desse país semelhantes às existentes para as

amadias, verificamos que esta nunca constituiria uma alternativa viável de

substituição de uma parte relevante das falcas nacionais.

724. Esta análise encontra-se no gráfico abaixo:

Gráfico 42 – Preço médio de transporte da falca e cortiça queimada da região de

produção da cortiça natural para a principal região de transformação da Península

Ibérica – 2010

725. Atentos os diferenciais nos preços de venda de falca entre os dois países e

os custos de transporte envolvidos não é provável que os preços da falca em

Espanha representam uma pressão competitiva relevante sobre os preços da

falca em Portugal.

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138 138

726. Isto será particularmente claro relativamente às falcas da região da

Andaluzia (a principal região produtora de cortiça em Espanha), podendo

não ser tão evidente relativamente à região da Extremadura espanhola.

727. Porque as condições de mercado na Extremadura espanhola não parecem

ser suficientemente diferentes das existentes em Portugal, a não inclusão

dessa região de Espanha na análise subsequente não limitará

siginifcativamente o alcance das suas conclusões.

728. O diferencial de custos de transporte indicia que, se em Portugal existisse

um monopólio na venda de falca, poderia ser rentável um aumento do preço

da falca em 5% a 10% de forma permanente na medida em que tal não

induziria uma substituição por falca importada (designadamente da

Andaluzia) de magnitude suficiente para anular o ganho proveniente do

aumento de preços em resultado da redução das quantidades vendidas.

729. Assim, o relativamente elevado nível de importação de falca de Espanha

poderá dever-se sobretudo à escassez desta matéria-prima em Portugal e à

elevada concentração em Portugal de empresas utilizadoras desta matéria-

prima no seu processo produtivo.

730. Recorde-se que a extracção de falca apenas para o aproveitamento da sua

cortiça poderá não ser uma actividade rentável, fazendo apenas sentido a

sua extracção na medida em que a madeira da falca seja valorizada. Aliás

estima-se que a cortiça de falca não represente mais de 25% do valor da

falca para o seu vendedor.101

731. Assim, a abundância de cortiça de falca depende, de forma indirecta, do jogo

entre a procura e a oferta de lenha de sobreiro.

732. Esse factor condiciona, necessariamente, a disponibilidade de cortiça de

falcas, quer em Portugal, quer em Espanha.

733. Em suma, da análise realizada resulta que atualmente (e tendo em

consideração os preços e qualidades atualmente comercializadas) parece não

ser de excluir um relativamente baixo grau de substituibilidade da falca e

cortiça queimada Portuguesa e Espanhola, e por maioria de razão pela de

qualquer outro país, pelo que nas análises que se seguem a AdC aprofudará,

por razões de prudência, a compra e venda de falca em território nacional.

101 Pestana & Tinoco (2009).

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139 139

Não se exclui, no entanto, que futuras análises adoptem um âmbito

geográfico distinto.

3.3.6.2. O poder de mercado

734. Em termos de dimensão, a venda de falca em Portugal terá representado um

volume global de cerca de 7,3 milhões de euros em 2010 (o correspondente

a 43 mil toneladas).

735. Nos últimos 5 anos, a evolução das vendas, em quantidades, foi a constante

do gráfico abaixo apresentado.

Gráfico 43 – Estimativa da venda de falca e cortiça queimada em Portugal – 2006 - 2010

736. A compra e venda de falca e cortiça queimada apresentam características

distintas das da compra e venda dos restantes tipos de matéria-prima de

cortiça.

737. É prática normal os proprietários dos montados cederem gratuitamente a

falca que resulta das podas dos sobreiros, por contrapartida do não

pagamento dos custos associados à própria poda.

738. Esta poda é frequentemente realizada por lenhadores (indivíduos a nível

particular) ou em empresas de pequena dimensão e âmbito local.

739. Os lenhadores separam a madeira da cortiça, com o objetivo principal de

comercializar a lenha daí resultante. A venda da cortiça da falca constitui

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

140 140

uma atividade complementar a essa (estima-se que a cortiça proveniente da

falca represente apenas ¼ do valor da falca extraída102).

740. Por vezes, a falca dos vários lenhadores é agregada por empresas

transportadoras que a vendem à indústria corticeira de forma agregada.

741. Assim o principal volume de transações de falca, em valor, não ocorre entre

os silvicultores e os lenhadores ou transportadores, mas entre estes dois

últimos grupos e a indústria transformadora.

742. As barreiras à entrada e saída neste tipo de atividade parecem ser

relativamente baixas, sendo o tipo de tecnologia envolvida simples.

743. Por esse motivo, existe um elevado número de empresas/indivíduos a atuar

na venda de falca, não tendo nenhuma delas um peso relativo relevante.

744. Estima-se que nenhum operador detenha uma quota de mercado superior a

15% na venda de falca e cortiça queimada nos últimos cinco anos.

745. Uma estimativa da evolução da importância relativa dos vários vendedores

de falca e cortiça queimada em Portugal encontra-se expressa no gráfico

abaixo:

102 Pestana & Tinoco (2009).

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141 141

Gráfico 44 – Evolução do peso relativo dos vários vendedores de falca em Portugal –

2006 – 2010

746. A empresa Pedro & Alves, Lda. especializada em transportes de carga e

exploração florestal tem um peso relativo na venda que se estima ter

variado entre os 12% (em 2007) e os 4% (em 2009 e 2010) nos últimos

cinco anos.

747. Em média o peso relativo desta empresa foi de 8%.

748. A segunda, terceira e quarta maiores comercializadoras de falca foram, nos

últimos 5 anos, Maria Amélia Canaverde Coelho, a empresa Interlimites -

Transportes, Unipessoal, Lda, e José Joaquim Flamínio Teles, que

representaram em média, no período, um peso relativo de 3% cada um.

749. Os restantes operadores terão representado pesos inferiores.

750. Já ao nível da compra a situação é completamente distinta, sendo a maior

parte (cerca de [75% a 85%] em média de 2006 a 2010) da falca e cortiça

queimada produzida em Portugal adquirida pelo Grupo Amorim.

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142 142

751. A evolução do peso de cada um dos principais grupos económicos ativos na

compra de falca e cortiça queimada em Portugal encontra-se ilustrada

abaixo:

Gráfico 45 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de falca e cortiça

queimada em Portugal – 2006 - 2010

752. A fragmentação do mercado do lado da venda associada à muito elevada

concentração do lado da compra e à reduzida diversidade de aplicações para

a falca para além das que resultam da fileira do sector da cortiça, indicia um

poder de mercado reduzido do lado dos vendedores e um elevado poder de

mercado do principal comprador, existindo praticamente uma situação de

monopsónio com uma franja competitiva.

753. Mesmo as restrições à oferta de falca em território nacional que resultam do

facto de a sua extracção apenas fazer sentido económico enquanto exista a

possibilidade de valorizar a lenha de sobreiro, não parecem restringir o

poder de mercado do lado da compra de forma significativa em resultado da

dependência dos diversos vendedores de falca em relação ao Grupo Amorim.

754. O poder de mercado do principal comprador pode ser avaliado pela diferença

entre o preço médio de venda dos produtos finais derivados da utilização de

falca e cortiça queimada e os seus custos marginais de produção.

755. De acordo com os Relatórios e Contas públicos do principal comprador de

falca, a sua Unidade de Isolamentos (principal responsável pela compra de

falca e cortiça queimada) terá as margens EBITDA mais elevadas de todas

as áreas de negócio do Grupo (entre 19% e 24% nos anos de 2006 a 2010 –

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143 143

o que compara por exemplo com margens entre 1% e 13% na Unidade de

Revestimentos e 8% e 13% na unidade de Rolhas).103

756. O gráfico abaixo ilustra essas diferenças de margem.

Gráfico 46 – Margem EBITDA da unidade de Isolamentos do Grupo Amorim face às

margens das unidades de Rolhas, Pavimentos e Aglomerados compósitos – 2006 -2010

757. Para além da evidência acima recolhida, das respostas aos pedidos de

elementos da AdC e das reuniões com entidades do sector resulta que a

generalidade dos operadores e associações do sector reconhece a existência

de um muito elevado nível de controlo do Grupo Amorim, enquanto

comprador, sobre a comercialização de falca e cortiça queimada.

3.3.6.3. Avaliação do contexto concorrencial

758. O muito elevado nível de concentração registado ao nível da compra de falca

e cortiça queimada não pode deixar de merecer uma especial atenção de um

ponto de vista jusconcorrencial.

759. É tanto mais importante quanto a discrepância de dimensão e de capacidade

financeira entre quem compra e quem vende é elevada, podendo gerar uma

situação de possível dependência do vendedor face ao comprador, tanto

103 Fonte: Informação pública constante do Relatório e Contas do Grupo Amorim de 2010.

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144 144

maior quanto menor for o leque de alternativas de venda de que cada

vendedor poderá beneficiar.

760. A falta de formalidade nas transações de falca e cortiça queimada contribui

para que o mercado funcione de forma menos transparente, o que dificulta o

seu acompanhamento e monitorização.

761. Atenta a relativamente baixa diferenciação do produto e a existência de

vários vendedores, a criação de uma plataforma eletrónica de encontro entre

a procura e a oferta gerida por uma entidade pública poderia potenciar uma

maior transparência na formação do preço e garantiria condições de

igualdade no acesso ao mercado por parte dos diferentes clientes

independentemente da sua dimensão.

762. A falca seria, por isso, um dos produtos a ser integrado na plataforma de

transacções sugerida no subcapítulo 3.3.4.3, devendo sobre os seus

produtores existir o mesmo tipo de obrigações que se sugerem para os

vendedores de pranchas amadias.

763. Deveria, igualmente, integrar o sistema de recolha de informação florestal

sugerido no subcapítulo 3.3.4.3.

3.4. A comercialização de produtos intermédios

3.4.1. Introdução

764. A indústria da fileira do sector da cortiça é caracterizada pela existência de

um conjunto de unidades transformadoras quem para além de produtos

finais derivados da cortiça, elaboram produtos intermédios que são depois

utilizados por outras empresas da fileira para a produção dos produtos finais.

765. Existe, por isso, uma forte relação intraindustrial no sector.

766. O número de produtos intermédios envolvidos excede claramente as

dezenas podendo aproximar-se das centenas.

767. Apenas a título de exemplo, alguns dos principais produtos intermédios

transacionados intra-indústria são: a cortiça triturada; a cortiça granulada, a

cortiça regranulada, a cortiça aglomerada, o pó de cortiça, os bastões, os

corpos, as tapadeiras, os discos, as folhas, os rolos, as rolhas semi-

acabadas.

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145 145

768. Uma análise exaustiva da fileira do sector da cortiça obrigaria

necessariamente à identificação de todos esses produtos, à delimitação de

mercados relevantes e à aferição de poder de mercado relativamente a

todos esses produtos intermédios.

769. Não cabe, contudo, dentro do objeto do presente relatório, a análise da

totalidade desses produtos atentos os recursos que tal implicaria.

770. Desta forma, a AdC, e para efeitos de elaboração do presente relatório,

focalizará a sua análise num conjunto de produto que assume maior

relevância ao nível das vendas intraindustriais, designadamente os

granulados de cortiça, referidos no subcapítulo 3.4.2.

771. Os granulados de cortiça são um material importante para a generalidade

das indústrias da fileira do sector.

3.4.2. Os granulados de cortiça

3.4.2.1. Os mercados

A substituibilidade de produtos

772. As empresas do ramo granulador transformam essencialmente os bocados,

refugo, as aparas, a cortiça virgem/secundeira em grãos de cortiça que

vendem a outras empresas que, por sua vez, os transformam em produtos

finais (revestimentos, isolamentos, pavimentos, e rolhas).

773. Este processo consta da Ilustração 3 acima apresentada.

774. São considerados granulados os fragmentos de cortiça de granulometria

superior a 0,25 mm e inferior a 22,4 mm.

775. As partículas inferiores a 0,25 mm são consideradas pó de cortiça.

776. Existe, por isso, uma enorme diversidade de granulados de cortiça. Estes

são frequentemente classificados de acordo com a dimensão dos seus grãos,

a sua composição e as suas possibilidades de utilização.

777. Em termos da dimensão dos grãos, esta difere em função das utilizações

pretendidas. Podemos ter desde o micro granulado utilizado frequentemente

em rolhas técnicas até granulados grosseiros utilizados em revestimentos.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

146 146

778. Em termos de composição do granulado e possibilidades de utilização

importa, desde logo, distinguir os granulados produzidos a partir de cortiças

com potencial de utilização na indústria alimentar dos restantes.

779. Existem tipos de cortiça que não são susceptíveis de ser utilizados para a

produção de rolhas ou outros produtos finais que impliquem o contacto com

bens alimentares. É o caso dos calços, da cortiça com mancha amarela, da

cortiça queimada e das cortiças com outros defeitos, designadamente

cortiças que estiveram em contacto direto com substancias susceptíveis de

contaminação.104

780. Este tipo de granulados não é, por isso, suceptível de ser utilizado pela

indústria rolheira que produz rolhas técnicas de aglomerado.

781. Existem, também, granulados que incluem outros produtos para além da

cortiça.

782. Tal é particularmente frequente nos regranulados, que podem incluir

aglutinantes, borracha, e outros componentes.

783. Este tipo de aglomerados, de uma forma geral, não é, também, utilizável

pela indústria rolheira mas poderá ser utilizado na indústria dos

revestimentos compósitos, entre outras.

784. Os granulados e/ou os regranulados podem ser utilizados como produto final

com a função de isolamento térmico, no enchimento de espaços vazios entre

paredes duplas ou sobre o tecto do último piso. São também utilizados na

preparação de argamassas com betão, para aligeirar o peso em

determinados elementos de construção, ou mesmo para fabrico de

peças/blocos de construção.

785. Dentro deste campo há que salientar os regranulados obtidos a partir dos

desperdícios do aglomerado expandido cuja principal aplicação é o

enchimento de paredes, terraços e coberturas.

786. Para o isolamento de blocos de betão no que respeita à transmissão de

ruídos por percussão, pode ser usada uma camada de granulado de cortiça.

787. Assim, em linhas gerais, é possível fazer uma distinção clara entre os

granulados susceptíveis de ser utilizados na indústria rolheira e os não

susceptíveis de serem utilizados nesta indústria.

104 Cf. Código Internacional de práticas rolheiras.

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147 147

788. É, por isso, provável que as diferentes características técnicas dos

granulados sejam só por si suficientes para que do ponto de vista da procura

nem todos os granulados possam constituir alternativas.

789. Outra evidência que aponta no mesmo sentido prende-se com o facto de a

principal empresa vendedora de granulado no mercado nacional ser também

a maior empresa compradora de granulado.

790. Mesmo do ponto de vista da oferta, a substituibilidade entre eles poderá ser

limitada, não porque não seja possível tecnologicamente passar da

granulagem de um tipo para outro (o que não se afigura como dispendioso

ou de lenta execução), mas tão-somente pelo facto de existirem restrições

ao nível da matéria-prima utilizada.

791. Isto é, o tipo de granulado produzido estará sempre dependente do tipo de

desperdícios gerados pela indústria sendo de mais difícil rentabilização a

produção independente de granulado não proveniente de desperdícios da

indústria.

792. É, por isso, provável a existência de vários mercados relevantes associados

aos vários tipos de granulado.

793. Não obstante, para efeitos do presente estudo e tendo em consideração o

seu carácter generalista e as dificuldades na obtenção de dados (cfr. nota

introdutória), a AdC optou por realizar a sua análise englobando os vários

tipos de granulado.

794. Refira-se a este nível, que os principais grupos económicos do sector

fabricam simultaneamente produtos que utilizam cortiça natural em prancha

e granulada. Isso faz com que apenas a parcela que produzem a

mais/menos de desperdícios granuláveis face às suas necessidades de

utilização de granulado sejam colocadas no mercado. Desta forma, a sua

participação nestes mercados de compra e venda de granulados por parte de

alguns destes grupos acaba por ser mais residual.

795. Outro motivo que justifica uma menor presença dos grandes grupos

económicos na compra deste tipo de matéria-prima prende-se, muitas

vezes, com a perda de controlo sobre o processo produtivo e sobre a

qualidade dos produtos finais. Em particular, para a indústria rolheira

assumem particular relevância os níveis de TCA (vide supra).

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

148 148

A dimensão geográfica da venda de granulado

796. Importa compreender se os granulados provenientes de Espanha, ou de

outras origens, constituem uma alternativa económicamente viável aos

produzidos em Portugal.

797. Por forma a enquadrar a dimensão desse fenómeno, interessa compreender

o volume de comércio internacional associado a este tipo de produtos.

798. As principais empresas portuguesas do sector rolheiro produtoras de rolhas

técnicas e de aglomerado importaram, em média, nos últimos cinco anos,

entre [25% a 30%] do total do granulado adquirido nesse período.105

799. Refira-se, contudo, que estas empresas detêm unidades produtivas em

Espanha, o que poderá justificar, em grande parte, esta importação de

granulados das suas unidades espanholas numa lógica de aproveitamento de

sub-produtos intra-grupo, reduzindo as dificuldades de colocação desses

subprodutos localmente e em grande escala, e melhorando os mecanismos

de controlo de qualidade.

800. Para as restantes empresas de menor dimensão (para as quais existem

dados com boa qualidade estatística) verifica-se que as importações de

granulado não vão para além dos 5% do total das necessidades,

representando em geral 1% a 2%.

801. A quase totalidade do granulado importado estima-se que provenha de

Espanha.

802. De acordo com informação recolhida junto das empresas que se dedicam à

transformação da cortiça, existem limitações à substituibilidade entre

granulado nacional e importado.

803. Essa baixa substituibilidade resulta, fundamentalmente, do peso dos custos

de transporte no preço do produto.

804. De acordo com os elementos recolhidos junto das empresas do sector,

resulta que a substituição de granulado nacional por aglomerado proveniente

de Espanha ou de Marrocos implicaria um custo de transporte equivalente a

mais de 10% do preço do produto.

805. Para além disso, verifica-se que o preço do granulado adquirido em Portugal

e o adquirido em Espanha, apesar de próximos (diferença média de 3,7%

105 Refira-se que estas empresas detêm unidades produtivas em Espanha, o que poderá justificar em

grande parte esta importação de aparas das suas unidades espanholas.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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desfavorável ao aglomerado adquirido em Espanha) não aparentam seguir

as mesmas tendências de evolução106.

806. O gráfico abaixo ilustra a evolução do preço do granulado em Portugal e em

Espanha.

Gráfico 47 – Evolução do preço médio do granulado em Portugal e em Espanha – 2000 a 2010

807. O diferencial de custos de transporte indicia que, se em Portugal a produção

de aglomerado estivesse concentrada numa única empresa, seria rentável

para essa empresa um aumento do preço permanente em 5% a 10%, pois a

substituição desse granulado por outro proveniente de países externos não

seria suficientemente grande para anular o ganho resultante desse aumento

de preços.

808. A qualidade do granulado foi outro fator apontado por algumas empresas

como justificativo dos relativamente baixos níveis de importação de

granulado.

106 O coeficiente de regressão entre os dois preços é de 0,002. Note-se contudo, que esta baixa

correlação da evolução dos preços nos dois países poderá estar relacionada com o facto de existirem mercados de produto relevantes distintos, conforme anteriormente referido.

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150 150

809. Em suma, da análise realizada resulta que atualmente (e tendo em

consideração os preços e qualidades atualmente comercializadas) parece não

ser de excluir um relativamente baixo grau de substituibilidade de granulado

Português e Espanhol, e por maioria de razão pela de qualquer outro país,

pelo que nas análises que se seguem a AdC aprofudará, por razões de

prudência, a compra e venda de granulado em território nacional. Não se

exclui, no entanto, que futuras análises adoptem um âmbito geográfico

distinto.

3.4.2.2. O poder de mercado

810. Estima-se que apenas 49% do volume produzido de granulado seja

comercializado no mercado sendo o restante consumido internamente pelas

empresas que o produzem.

811. Assim, em termos de dimensão, a venda de granulado em mercado em

Portugal terá representado um volume global de 27 milhões de euros em

2010 (correspondente a 28 mil toneladas).

812. Nos últimos 5 anos, a evolução das vendas, em quantidades, terá variado de

acordo com o gráfico abaixo apresentado.

Gráfico 48 – Estimativa da venda de granulado em Portugal – 2006 - 2010

813. A maior parte do granulado comercializado entre empresas é produzido por

empresas especializadas na granulação/indústria rolheira de relativamente

pequena dimensão (faturações abaixo dos 10 milhões de euros), que

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

151 151

compram fundamentalmente apara da indústria rolheira, mas também

bocados e refugos e procedem à sua granulação.

814. A venda de granulado encontra-se dispersa por um variado conjunto de

empresas da indústria rolheira que utilizam as cortiças de menor qualidade

que adquirem (bocados e refugos) e os desperdícios da produção de rolhas

de cortiça natural (designadamente as aparas) para granular. O granulado

que não consomem internamente na produção de rolhas técnicas é vendido

no mercado.

815. A grande generalidade das empresas da fileira da cortiça de maior dimensão

estão menos presentes na venda de granulados na medida em que estes

constituem, por um lado, desperdícios de algumas das suas áreas de negócio

mas, por outro lado, matéria-prima para outras áreas de negócio.

816. As empresas verticalmente integradas, onde se incluem os principais grupos

económicos do sector corticeiro apenas recorrem à compra e venda de

granulado de forma residual para suprirem excessos ou falhas desta

matéria-prima na sua produção, utilizando maioritariamente os desperdícios

do fabrico de produtos finais em cortiça natural para suprirem as suas

próprias necessidades de granulado.

817. Estima-se que a venda de granulados de cortiça seja bastante fragmentada

não existindo nenhuma empresa que assuma particular relevância na sua

comercialização, todas elas detendo quotas de mercado abaixo dos 10%.

818. A própria flutuação do peso relativo das empresas ao longo dos últimos cinco

anos sugere que nenhuma empresa assume particular preponderância

relativamente às restantes.

819. No que se refere à compra de granulados de cortiça verifica-se a seguinte

evolução estimada do peso de cada um dos principais grupos económicos:

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Gráfico 49 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de granulados em

Portugal – 2006 - 2010

820. O Grupo Amorim apresentou-se, nos últimos cinco anos, como o maior

comprador de granulados em território nacional, tendo representando [5%-

10%] do total da procura. Estima-se que o seu peso na compra de

granulados tenha variado entre os [0% a 10%] em 2007 e os [5% a 15%]

em 2010.

821. Estima-se que o segundo maior comprador de granulado (Grupo Piedade)

tenha representado um peso inferior a 5% da procura nacional nos últimos 5

anos.

822. Os restantes grupos económicos terão representado pesos significativamente

inferiores aos destes.

823. Esta estrutura de mercado indicia a existência de um nível baixo de

concentração quer ao nível da procura, quer ao nível da oferta de

granulados, não sendo expectável a existência de poder de mercado

significativo, nem do lado da oferta nem da procura nestes mercados.

824. Existem, por isso, condições para que o preço do aglomerado de cortiça se

aproxime dos seus custos marginais de produção e, sendo ele um

subproduto, reflita menos as variações dos preços da matéria-prima que

está na sua origem e mais a evolução dos custos incrementais da sua

produção.

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825. Aliás, essa maior estabilidade de preços pode ser aferida no gráfico abaixo

que apresenta a evolução do preço de mercado do granulado de cortiça nos

últimos 5 anos.

Gráfico 50 – Evolução do preço médio dos granulados de cortiça em Portugal – 2006 - 2010

3.4.2.3. Avaliação do contexto concorrencial

826. Em termos genéricos, e conforme anteriormente referido, poderá afirmar-se

que a compra e venda de aglomerados de cortiça apresenta um

relativamente baixo índice de concentração, seja do lado da oferta, seja do

lado da procura.

827. Tal situação poderá ter vindo a contribuir para uma relativa estabilidade de

preços que poderá estar associada ao baixo poder de mercado que se

verifica.

828. A própria flutuação do peso relativo das empresas ao longo dos últimos cinco

anos sugere que nenhuma empresa assume particular preponderância

relativamente às restantes na comercialização de aglomerado de cortiça.

829. Não obstante, conforme referido, a possibilidade de existência de diferentes

mercados relevantes de produto para os diferentes tipos de aglomerado

implicará a análise de cada uma dessas situações, caso a caso.

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830. Para efeitos do presente relatório, atenta a dimensão relativa deste conjunto

de produtos, os resultados obtidos na presente análise e a ausência de

sinalização de problemas concorrenciais relevantes nestes mercados por

parte dos operadores, não se justifica um detalhe adicional das condições

jusconcorrenciais em que se desenvolvem.

3.5. A comercialização de produtos finais derivados

da cortiça

3.5.1. Introdução

831. A rolha é o produto da indústria corticeira com maior relevância em termos

de valor (estima-se que em 2010 tenha representado 75% das vendas da

indústria nacional).

832. Contudo, a utilização da cortiça e dos seus derivados para além da indústria

rolheira tem vindo a aumentar de forma muito significativa, sobretudo na

construção civil, em pavimentos ou isolamentos, mas também numa

infinidade de outras aplicações como marroquinaria, vestuário, pesca,

mobiliário, calçado ou indústria automóvel e até espacial.

833. Existe uma multiplicidade de produtos finais derivados da cortiça, cada um

deles com uma grande variedade de aplicações em diferentes indústrias.

834. A tabela abaixo sintetiza algumas dessas aplicações:

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Ilustração 9 – Tipologia de utilizações de diferentes produtos derivados da cortiça

• Rolhas

• Discos

• Paineis refratários

• Peças com forma especial

Indústria vitivinícola

• Isolamento térmico

• Isolamento acústico e correcção acústica

• Isolamento vibratório

• Revestimentos

• Juntas de descontinuidade e dilatação

• Decoração

Indústria da Construção

• Isolamento térmico e vibratório de câmaras frigoríficas, frigoríficos domésticos e transportes frigoríficos

Indústria do frio

• Isolamento térmico, vibratório e correcções acústicas

• Revestimentos e decoração

• Cinturões e boias de salvamento

• Pavimentos antideslizantes

Indústria naval

• Juntas de estanquicidade

• Flutuadores

• Discos e peças de elevada rotação

• Isolamento térmico, acústico, vibratório e de impacto

Indústria dos Transportes

• Fundações redutoras de vibrações

• Juntas de estanquicidade; Junta mecânica

• Peças de alta rotação

Indústria da maquinaria em geral

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156 156

Fonte: Asecor.

• Discos e carretes de alta rotação

• Peças de roupa e guarda chuvas em folha de cortiça

• Colares e Braceletes

• Solas, tacões, palmilhas e corpos

Indústria do vestuário

• Suberina, friedelina, ceras

• Rolhas e peças de diversos tamanhos para vedação e acondicionamento Indústria química e

farmacêutica

• Boias e flutuadores de diversas dimensões

• Artes de pesca, pegas de canas Indústria pesqueira

• Granulados e lãs de cortiça Indústria da embalagem

• Bolas de diversos tamanhos

• Raquetes, tampas, paineis

• Bolas dos apitos

• Tacos de golfe

• Alvos para as setas

• Buchas para cartuchos

• Outros

Indústria do desporto

• Tapetes e material de decoração

• Peças de apoio, recipientes culinários

• Caixas de conservação e transporte de alimentos e bebidas, recipientes para gelo

• Material de escritório diverso

Indústria dos artigos domésticos

• Tiras, placas e paineis

• Componentes de aparelhos ortopédicos

• Recheio de colchões e almofadas (lã de cortiça)

• Figuras decorativas

•Válvulas de aparelhos musicais

• Isolamento térmico em naves espaciais

Outras aplicações

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157 157

835. Não cabe no âmbito deste Relatório a análise das várias dezenas de

mercados relevantes que estão associados à comercialização de produtos

derivados da cortiça.

836. Antes, a AdC identificou, de forma genérica, um conjunto de produtos de

maior relevância e a análise que se segue incidirá sobre esses produtos.

837. Os produtos selecionados para análise, pela sua representatividade em

termos de valor e volume foram os vedantes para vinhos (subcapítulo

3.5.2), os isolamentos (subcapítulo 3.5.3) e os pavimentos (subcapítulo

3.5.4).

3.5.2. A comercialização a retalho de vedantes para vinhos

3.5.2.1. Introdução

838. Em teoria, para a vedação de vinhos, podem ser utilizados vedantes com

diferentes características, dos quais se destacam a:

Rolha de cortiça [natural (simples, colmatada ou multi-peça), técnica ou

aglomerada]

Rolha sintética (plástico)

Rolha de alumínio (screwcap)

Bag-in-Box107

Embalagens de cartão revestidas108

Embalagens PET109,110.

839. A escolha do vedante depende de vários fatores. De entre eles destacam-se

os seguintes: o modo de vinificação, a estrutura aromática do vinho, o tipo

de vinho, o meio de transporte, o local de consumo, as preferências dos

107 A “bag-in-box” é um tipo de embalagem com capacidade para 3 a 5 litros elaborada em filme

multicamada (composto por nylon, EVOH e polietileno) que é acondicionado dentro de uma caixa, normalmente de papelão.

108 As embalagens de cartão revestidas são embalagens de cartão revestidas de materiais impermeabilizantes e normalmente com tampa de plástico.

109 As embalagens PET são integralmente feitas em plástico incluindo o próprio vedante.

110 Polyethylene terephthalate (PET).

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consumidores, a duração de guarda do vinho, o posicionamento de preço e a

qualidade do vinho.

840. Estima-se que, em 2010, entre 55% a 70% do vinho produzido a nível

mundial tenha sido vendido a granel, em contentores cúbicos, “bag in box”,

embalagens de cartão revestidas ou embalagem PET, não tendo utilizado

rolhas de cortiça, rolhas sintéticas ou rolhas de alumínio.111

841. O preço médio do vinho vendido através destes formatos terá variado entre

os €0,5/litro e os €1,5/litro, dependendo do país, situando-se a média

mundial dos últimos cinco anos próxima do €0,8/litro112.

842. De acordo com a generalidade das empresas da indústria rolheira, para

estes segmentos de vinhos, embora em alguns casos se possa registar a

penetração de rolhas de cortiça, para a grande maioria das situações a rolha

de cortiça não está em condições de concorrer com estes vedantes

alternativos não exercendo, por isso, em relação a esses vedantes, uma

pressão competitiva efetiva.

843. Assim, do grupo inicial de vedantes de vinhos apresentados, a análise da

AdC incidirá fundamentalmente sobre as rolhas de cortiça, sintéticas e de

alumínio uma vez que as restantes formas de vedação parecem estar em

mercados de produto distintos.

844. As principais vantagens e desvantagens de cada um destes três tipos de

vedantes consta das ilustrações abaixo:

111 Oeneo, Murphy Wine.

112 Murphy Wine.

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159 159

Ilustração 10 – Principais vantagens de cada um dos três principais tipos de vedantes

Fonte: Asecor.

• 100% natural

• Biodegradável

• Estrutura e propriedades físicas únicas (compressão, elasticidade, ...)

• Longevidade

• Associação entre a cortiça e vinho de qualidade

• Impacto ambiental

Rolhas de cortiça

• Ausência de TCA

• Recurso menos limitado

• Facilidade de extração

• Facilita diferenciação

• Uniformidade do produto

• Facilidade de reutilização

• Vinho não adquire o sabor a madeira

• Respeita as propriedades do vinho

• Potencia uma menor utilização de antioxidantes

• Preço

Rolhas sintéticas

• Ausência de TCA

• Recurso menos limitado

• Fácil abertura e reutilização

• Preço

Rolhas de alumínio

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160 160

Ilustração 11 – Principais desvantagens de cada um dos três principais tipos de

vedantes

Fonte: Asecor.

845. De acordo com os dados disponíveis, as rolhas de cortiça, sintéticas e de

alumínio vedaram o equivalente a cerca de 16,5 mil milhões de garrafas a

nível mundial em 2010.

846. Nesse ano registou-se um crescimento das vendas de rolhas de cortiça,

sintéticas e de alumínio de 4,3%, por comparação com 2009, o que

representa uma alteração da conjuntura recessiva que se verificava no

sector desde 2008 (nesse ano as vendas caíram 3,7% e, em 2009, a queda

foi de 7%).

847. A evolução das vendas destas três tipologias de vedantes desde 2004

encontra-se no gráfico abaixo:

• Podem conter TCA

• A cortiça é um recurso mais limitado

• Dificuldade de remover o vedante de forma integral

• Falta de uniformidade

• Preço

Rolhas de cortiça

• Incapacidade de expansão do vedante

• Menor entrada de oxigénio

• Conservação do vinho limitada

• Associação do vedante sintético com vinhos de menor qualidade

• Não possui taninos que podem melhorar o vinho

• Um bom vedante sintético pode ser relativamente dispendioso

Rolhas sintéticas

• Capacidade de conservação do vinho limitada temporalmente

• Associação a vinhos de menor qualidade

Rolhas de alumínio

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

161 161

Gráfico 51 – Estimativa das vendas mundiais de vedantes de cortiça, sintéticos e

alumínio para vinhos e taxas de crescimento médio anual, 2004 – 2010

848. Dentro deste conjunto de vedantes estima-se que o peso relativo de cada

uma destas tipologias nos últimos 7 anos tenha sido a apresentada no

gráfico abaixo:

Gráfico 52 – Peso relativo dos vários tipos de vedante para vinhos113

, 2004 - 2010

113 Conforme anteriormente referido, excluem-se os vendidos a granel, Bag-in-Box, PET.

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162 162

849. Em 2010, estima-se que, a nível mundial, as rolhas de cortiça tenham

representado 64% dos vedantes, contra 23% das screw caps e 13% das

rolhas sintéticas.

850. Note-se que o peso das rolhas de cortiça na vedação de vinhos esteve em

queda até 2009, tendo registado alguma recuperação a partir desse ano.

851. A redução do peso das rolhas de cortiça natural ocorreu, numa primeira fase

(até 2006), sobretudo em resultado do aumento do peso das rolhas

sintéticas, sendo que a partir de 2008 o peso das rolhas sintéticas inverteu a

sua tendência com a saída do mercado de três dos quatro maiores

produtores de rolhas sintéticas (NuKorc, Supreme Corq, Neocork).

852. O crescimento do peso relativo das screw caps foi mais acentuado a partir de

2006 tendo estabilizado de 2009 para 2010.

853. Este crescimento dos vedantes sintéticos e de alumínio esteve, em grande

medida, por um lado associado aos problemas/desvantagens aliados às

rolhas de cortiça e, por outro lado, ao facto de o preço médio destes

vedantes ser inferior ao da generalidade dos vedantes de cortiça, em

particular, das rolhas de cortiça natural.

854. O problema mais relevante associado às rolhas de cortiça prende-se com a

presença do TCA e à frequente ligação dos níveis de TCA à rolha de

cortiça114.

855. Refira-se, por exemplo, que num estudo de 2003 da Wine and Spirit

Association realizado com base em mais de 13 mil amostras provenientes de

17 países se concluiu que cerca de 1% dos vinhos vedados tinham

problemas relacionados com o sabor a rolha de cortiça, problema esse

inexistente nos vinhos vedados com recurso a vedantes sintéticos e de

alumínio.115

856. Estudos em Espanha revelam que cerca de 19% das garrafas vedadas com

rolhas de cortiça apresentaram problemas de acordo com os

distribuidores.116

857. Apesar destas contrariedades, em 2010 os vedantes de cortiça recuperaram

algum terreno face ao vedantes alternativos, em parte como resultado de

114 Para uma visão geral dos microrganismos associados à cortiça, ver Santos, et al., 2005.

115 2003, Harpers News.

116 2008, ASECOR.

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163 163

uma redução dos problemas associados à rolha de cortiça e a uma redução

dos preços relativos da rolha de cortiça.

858. De acordo com estudos realizados em Espanha, dos cinco principais factores

que levam à preferência de vedantes de cortiça destaca-se, em primeiro

lugar, as exigências de qualidade do próprio vinho engarrafado. 117

859. Seguem-se-lhe factores como a tradição, as preferências dos consumidores,

a boa qualidade de protecção do vinho e o facto de ser um produto

natural.118

860. Não sendo possível estabelecer uma relação linear entre apenas uma das

características do vinho e o tipo de vedante utilizado, é possível afirmar, de

forma genérica, que na maioria das geografias a rolha de cortiça natural é

preferida para os vinhos de maior qualidade e longevidade e as rolhas

sintéticas e de alumínio têm sido sobretudo utilizadas nos segmentos de

entrada das gamas de vinhos.

861. Estes factos apontam para a existência de mercados relevantes em que os

vedantes de diferentes origens (cortiça, plástico e alumínio) exercem uma

pressão competitiva não despecienda entre eles, e de mercados relevantes

em que tal não ocorre.

862. Importa, por isso, logo à partida, proceder ao agrupamento dos diversos

vedantes em três grandes grupos:

Vedantes para vinhos tranquilos

Vedantes para vinhos espumantes

Vedantes para vinhos espirituosos

863. Esse agrupamento consta da ilustração abaixo:

117 2008, ASECOR.

118 2008, ASECOR.

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164 164

Ilustração 12 – Tipologia de vedantes por grandes tipologias de vinhos

864. Enquanto que, para os vinhos tranquilos, em alguns segmentos as rolhas de

plástico e alumínio parecem exercer uma pressão competitiva sobre as

rolhas de cortiça, já o mesmo não se poderá dizer em relação aos vinhos

espumantes.

865. Os vedantes para vinhos espirituais, atentas as suas especificidade e

relativamente menor dimensão, não serão analisados com a mesma

profundidade.

866. Por esta razão, a análise da AdC incidirá separadamente sobre os vedantes

para vinhos tranquilos no subcapítulo 3.5.2.2 e sobre os vedantes para

vinhos espumantes/champanhe no subcapítulo 3.5.2.3.

867. Em termos geográficos, verifica-se que o preço e peso relativo de cada um

dos diferentes tipos de vedante é, de acordo com a informação facultada,

significativamente distinto de país para país, o que não permite excluir a

possibilidade da existência de uma dimensão geográfica nacional na

comercialização de vedantes para vinhos.

868. Assim, por exemplo, na Europa e, mais em geral, no hemisfério Norte,

tendem a predominar as rolhas de cortiça às quais está associada uma

reputação de boa performance física/mecânica e qualidade enquanto, por

exemplo, na Austrália e na nova Zelândia as srew caps têm taxas de

penetração muito mais elevadas não gozando as rolhas de cortiça da

reputação de que usufruem noutros mercados.

• Rolhas de cortiça natural

• Rolhas de cortiça natural colmatada

• Rolhas técnicas

• Rolhas de cortiça aglomerada

• Rolhas de microgranulado

• Rolhas sintéticas

• Rolhas de alumínio

Vinhos Tranquilos

• Rolhas técnicas de dois discos

• Rolhas de cortiça aglomerada

• Rolhas de microgranulado

Vinhos Espumantes

• Rolhas de cortiça natural capsuladas

• Outras Vinhos Espirituosos

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165 165

869. As preferências dos consumidores parecem ser relativamente diferenciadas

entre regiões geográficas e mesmo entre países, reflectindo-se tal sobre as

decisões dos compradores de vedantes.

870. Por este motivo a análise da AdC estará fundamentalmente concentrada

sobre a venda de vedantes para vinho em Portugal.

3.5.2.2. Rolhas para vinhos tranquilos

871. Para a vedação de vinhos tranquilos, em geral, podem ser utilizados

vedantes com diferentes características, dos quais se destacam a:

Rolha de cortiça natural

Rolha de cortiça natural colmatada

Rolha de cortiça natural multi-peça

Rolhas técnicas de cortiça

Rolhas de microgranulado de cortiça

Rolhas sintéticas (de plástico)

Rolhas de alumínio (screw caps)

872. A rolha de cortiça natural corresponde a uma rolha de cortiça feita

totalmente de cortiça natural.

873. A rolha de cortiça natural colmatada é uma rolha feita de cortiça natural em

que são obturadas as suas lenticelas com uma mistura de colas e pó de

cortiça proveniente dos acabamentos dimensionais das rolhas de cortiça

natural.

874. A rolha de cortiça natural multi-peça é constituída por várias peças de

cortiça natural coladas umas às outras.

875. A rolha técnica (também designada por ‘Um mais Um’) é constituída por um

corpo de cortiça aglomerada e 2 discos de cortiça natural colados num ou

em ambos os topos.

876. A rolha de cortiça aglomerada é obtida pela mistura de granulados com

adição de um adesivo.

877. A rolha de cortiça aglomerada obtida pela aglutinação de grânulos de cortiça

com dimensão compreendida entre 0,25 mm e 8 mm, com a adição de um

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

166 166

adesivo e tendo, pelo menos, 51% de grânulos de cortiça (em massa),

preparadas através de um procedimento que visa melhorar a sua

neutralidade sensorial, e que pode conter materiais sintéticos expansores é

vulgarmente designada por rolha de cortiça aglomerada nova geração ou

rolha de microgranulado.

878. As rolhas sintéticas ou de alumínio são vedantes compostos pelos materiais

que lhes dão o nome, sendo que a rolha de alumínio é de rosca, o que

facilita a sua utilização após a abertura.

879. Há 9 classes visuais para rolhas de cortiça natural, conforme detalhado no

subcapítulo 3.2. A classificação de rolhas de acordo com as suas

características visuais tem sido importante na sua comercialização.119

880. Como resultado, o preço das rolhas de cortiça natural é principalmente

determinado pela sua classe visual e comprimento.

881. As rolhas técnicas são geralmente classificadas em 3 classes visuais,

relacionadas com a aparência do disco de cortiça natural da rolha, chamadas

de A, B e C. A gama escolhida depende do uso pretendido: gamas mais altas

para vinhos de qualidade mais alta e para aqueles com um tempo de vida

útil mais longo.

882. Tendo em consideração, o tipo de rolha, o seu preço, o comprimento, e o

tipo de vinho tranquilo a que se destina é possível segmentar os vedantes

para vinhos tranquilos em seis categorias distintas.

883. Destas seis categorias, tomando em consideração, por um lado, a

elasticidade preço da procura cruzada120 e, por outro lado, o efeito de cadeia

de substituição entre algumas dessas categorias, admite-se a possibilidade

de existência de quatro mercados ao nível dos vedantes para vinhos

tranquilos: os vedantes “top”, “médios”, “comerciais” e “económicos”.121

884. O tipo de rolha e/ou classe em cada uma destas gamas são mostradas na

tabela abaixo.

119 Tem havido um acordo tácito entre Vendedores e Compradores que as características visuais da

cortiça, e num nível inferior o comprimento da rolha, se relaciona com o desempenho global da rolha, apesar de não haver evidência científica que suporte esta relação.

120 Veja-se a este título a análise constante da Tabela 3.

121 Estas designações são as comummente utilizadas na indústria rolheira e, por isso, acolhidas pela análise da AdC.

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Relatório sobre introdução dos painéis comparativos de preços dos combustíveis nas auto-estradas ___________________________________________________________________________________

167

Tabela 2 – Segmentação das rolhas para vinhos tranquilos vs. segmentação dos vinhos

54/53

49

45/44

38

Tipo de vinho

Preço do

vinho % do Vinho

Icone > €150 1%

Ultra Premium €14 - €150 5%

Super Premium €7 - €14 10%

Premium €5 - €7

Popular €2 - €5

Básico <€3 50%

34%

Segmentos de rolhas

Designações comuns

Tipo de rolhas

Comprimento da rolha (mm)

2

Média

Rolha de cortiça natural

(Superior, 1.ª)

Top

1

Rolha de cortiça natural

(Flor, Extra, Superior)

3 4

Rolhas técnicas 1+1 (A e B)

Rolha de cortiça natural (2.ª

e 3.ª) e colmatada (3.ª e 4.ª)

Rolhas técnicas 1+1 (B)

Screw caps

Rolhas técnicas 1+1 (B e C) Rolhas técnicas 1+1 (C)

Comercial

Rolha de cortiça natural (1.ª,

2.ª e 3.ª)

5 6

Económica

Rolha de cortiça natural (3.ª)

e colmatada (4.ª)

Rolha de cortiça natural (3.ª

e 4.ª) e colmatada (4.ª e 5.ª)

Rolhas de microgranulado Rolhas de microgranulado

Rolhas sintéticas Rolhas sintéticas

Screw caps Screw caps

Rolha de cortiça aglomerada

Rolhas de microgranulado

Rolhas sintéticas

Screw caps

Rolhas de microgranulado

Rolhas sintéticas

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Relatório sobre introdução dos painéis comparativos de preços dos combustíveis nas auto-estradas ___________________________________________________________________________________

168

885. Os vedantes “Top” destinam-se a vinhos com preços médios por garrafa

superiores a €14 (mais frequentemente a vinhos com preços superiores a

€150), representam menos de 5% do total de rolhas vendidas, têm um

comprimento nunca inferior a 44 milímetros (frequentemente de 54-53

milímetros) e apresentam preços por rolha sempre superiores a 10

cêntimos/rolha (frequentemente bem superiores a este valor, sendo normais

preços até €1,5 por rolha).

886. Para esta categoria de vedação as rolhas sintéticas, de alumínio, de cortiça

natural de menor qualidade, técnicas e de cortiça aglomerada não parecem

exercer uma pressão competitiva relevante sobre as rolhas de cortiça natural

da mais elevada qualidade (Flor, Extra e Superior).

887. De acordo com o inquérito da AdC às principais empresas da indústria

rolheira a atuar em Portugal, se uma única empresa detivesse o monopólio

da venda de rolhas de cortiça natural das qualidades Flor, Extra e Superior

estaria em condições de aumentar, de forma permanente, o preço destas

entre 5% a 10% em Portugal sem que a redução da quantidade vendida

deste tipo de rolhas fosse substituído por outros vedantes de forma

relevante, isto é, sem implicar um decréscimo do nível de lucro.

888. Os vedantes “Médios” destinam-se a vinhos Ultra ou Super Premium com

preços médios por garrafa entre os €7 e os €150 (mais frequentemente a

vinhos com preços superiores a €14), representam cerca de 10% do total de

rolhas vendidas, têm um comprimento nunca inferior a 44 e nunca superior

a 49 milímetros.

889. Para esta categoria de vedação as rolhas sintéticas, de alumínio, de cortiça

natural de menor qualidade, técnicas e de cortiça aglomerada não parecem

exercer uma pressão competitiva relevante sobre as rolhas de cortiça natural

de elevada qualidade (Superior e 1.ª).

890. De facto, de acordo com o inquérito da AdC às principais empresas da

indústria rolheira a atuar em Portugal, se uma única empresa detivesse o

monopólio de produções de rolhas de cortiça natural das qualidades Superior

e Primeira estaria em condições de aumentar, de forma permanente, o preço

destas rolhas entre 5% a 10% em Portugal sem que a redução da

quantidade vendida deste tipo de rolhas fosse substituído por outros

vedantes de forma relevante, isto é, sem implicar um decréscimo do nível de

lucro.

Page 169: Relatório final - Análise do sector e da fileira da cortiça em Portugal

Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

169 169

891. Os vedantes ditos “Comerciais” destinam-se a vinhos Premium ou populares

com preços médios por garrafa entre os €2 e os €7, representam cerca de

34% do total de rolhas vendidas, têm um comprimento sempre inferior a 53-

54 milímetros e frequentemente inferior a 49 milímetros e apresentam

preços por rolha entre os 2 e os 7 cêntimos.

892. De acordo com o inquérito às principais empresas rolheiras do sector, para

esta categoria os tipos de rolha que exercem uma maior pressão competitiva

entre eles são: as rolhas naturais de 1.ª a 3.ª e as colmatadas de 3.ª a 4.ª,

as rolhas técnicas de classes visuais A e B, as rolhas de microgranulado de

melhor qualidade, e os vedantes de plástico e de alumínio de maior

qualidade.

893. Os vedantes ditos “Económicos” destinam-se a vinhos populares ou básicos

com preços médios por garrafa inferiores a €5 (frequentemente inferiores a

€3), representam mais de 50% do total de rolhas vendidas, têm um

comprimento sempre inferior a 49 milímetros e apresentam preços por rolha

entre os 1,5 e os 3 cêntimos.

894. De acordo com o inquérito às principais empresas rolheiras do sector, para

esta categoria os tipos de rolha que exercem uma maior pressão competitiva

relevante entre eles são: as rolhas naturais de 3.ª a 4.ª e as colmatadas de

4.ª a 5.ª, as rolhas técnicas de classes visuais B e C, as rolhas de

microgranulado de menor qualidade, e os vedantes de plástico e de alumínio

de menor qualidade e as rolhas de cortiça aglomerada.

895. Na tabela abaixo são apresentadas estimativas dos valores gerais das

elasticidades preço cruzadas da procura122

entre os diferentes tipos de

rolhas, que justificam, em parte a agregação de produtos apresentada

acima, conforme se referiu anteriormente.

122 O valor da elasticidade procura-preço cruzada entre dois produtos A e B é definida, grosso modo,

como a variação percentual da quantidade procurada de um dos produtos na sequência de uma variação percentual (pequena) no preço do outro produto. No caso em análise, é importante saber se o valor da elasticidade é positivo (produtos substitutos) ou negativo (produtos complementares) e, no caso de ser positivo, se é maior ou menor que 1. Note-se que o valor da elasticidade preço-procura cruzada entre A e B não tem que ser igual ao valor da elasticidade preço-procura cruzada entre B e A, mesmo na ausência dos denominados “efeitos rendimento”.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

170 170

Tabela 3 – Estimativadas elasticidades procura-preço cruzadas entre os diferentes tipos

de rolhas

Fonte: Análise da AdC com base nas respostas aos inquéritos às 20 maiores empresas do sector.

896. Em suma, o conjunto de produtos que podem ser considerados substituíveis

do ponto de vista económico são distintos para cada uma das categorias,

sendo particularmente claro que dentro dos vedantes “Top” e “Médio” a

pressão de preço exercida pelos vedantes alternativos, designadamente o

plástico e alumínio é suficientemente baixa para que se admita não fazerem

parte do mesmo mercado.

897. Uma vez identificados os principais grupos de produtos onde os níveis de

substituibilidade são mais acentuados, e tendo em consideração o que se

Ro

lha

de

cort

iça

nat

ural

(Fl

or,

Ext

ra,

Sup

erio

r)

Ro

lha

de

cort

iça

nat

ural

(Su

per

ior,

1.ª

)

Ro

lha

de

cort

iça

nat

ural

(1

.ª, 2

.ª e

3.ª

)

e co

lmat

ada

(3.ª

e 4

.ª)

Ro

lhas

téc

nic

as 1

+1 (

A e

B)

Ro

lhas

de

mic

rogr

anu

lad

o a

lta

qu

alid

ade

Ro

lhas

sin

téti

cas

de

alta

qu

alid

ade

Scre

w c

aps

de

alta

qu

alid

ade

Ro

lha

de

cort

iça

nat

ural

(3

.ª e

4.ª

) e

colm

atad

a (4

.ª e

5.ª

)

Ro

lhas

téc

nic

as 1

+1 (

B e

C)

Ro

lhas

sin

téti

cas

de

baix

a q

ual

idad

e

Scre

w c

aps

de

baix

a q

ual

idad

e

Ro

lha

de

cort

iça

aglo

mer

ada

Rolha de cortiça natural (Flor, Extra,

Superior) <1 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolha de cortiça natural (Superior, 1.ª)<1 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolha de cortiça natural (1.ª, 2.ª e 3.ª) e

colmatada (3.ª e 4.ª) ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolhas técnicas 1+1 (A e B)≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolhas de microgranulado alta qualidade≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolhas sintéticas de alta qualidaden.d. ≈0 ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Screw caps de alta qualidaden.d. ≈0 ≈0 ≈0 ≈0

Rolha de cortiça natural (3.ª e 4.ª) e

colmatada (4.ª e 5.ª) ≈0

Rolhas técnicas 1+1 (B e C)

Rolhas sintéticas de baixa qualidade

Screw caps de baixa qualidaden.d.

Rolha de cortiça aglomerada

>1

>1

>1

[1 a 1,5] [0,5 a 1]

>1

>1

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

171 171

referiu anteriormente, designadamente que estes mercados de venda a

retalho tendem a ser de dimensão nacional ou mesmo regional, importa

compreender o peso dos vários operadores em cada um destes grupos

homogéneos de produtos.

898. A tarefa da AdC a este nível revelou-se de grande dificuldade atentas as

enormes lacunas de dados existentes relacionadas, por um lado, com a

falência de quatro dos maiores grupos do sector e, por outro lado, com a

não resposta aos questionários da AdC de cinco das maiores empresas da

indústria rolheira123.

899. Assim, os dados de algumas empresas foram estimados com base no seu

volume de faturação e perfil produtivo estimado com base em entrevistas

realizadas aos seus concorrentes.

900. Por estes motivos e, por forma a minorar o impacto destas estimativas na

análise da AdC, o peso relativo dos principais operadores apenas foi

calculado para os mercados de vedantes “comerciais” e “económicos”, e de

forma agregada, uma vez que no seu conjunto se estima que representem

cerca de 84% do total das vendas em quantidade de vedantes para vinhos

tranquilos.

901. Para os mercados de vedantes “Top” e “Médios” apenas foi realizada uma

estimativa do peso relativo do principal operador, uma vez que a

relativamente reduzida dimensão destes mercados faz com que os erros de

estimação possam assumir um peso demasiado significativo.

902. Assim, estima-se que nos mercados “Top” e “Médios” em Portugal o Grupo

Amorim seja o maior operador, com quotas de mercado de [25%-45%] em

2010.

903. Esta elevada concentração registada nos vedantes de maior valor

acrescentado reflete a forte presença do Grupo Amorim na compra das

cortiças amadias de maior qualidade (designadamente dos tipos 1 e 2),

conforme análise constante do subcapítulo 3.3.4.2.

904. Nos mercados de vedantes “comerciais” e “económicos” estima-se que os

níveis de concentração sejam menos elevados.

905. Ainda assim, tem-se vindo a assistir a um aumento da concentração nos

últimos anos neste mercados.

123 Refira-se que estas última empresas foram alvo de processos de incumprimento cujo valor da coima

pode atingir 1% do seu volume de negócios.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

172 172

906. Estima-se que em 2010 os Grupos Álvaro Coelho, Piedade, JPS Cork124 e

Amorim, no seu conjunto, tenham representado cerca de 62% das vendas

de vedantes destas categorias em território nacional.

907. O grupo Álvaro Coelho e Piedade terão representado nesse ano [15% a

25%] das vendas nacionais destes vedantes, o Grupo JPS Cork [10% a

20%] e o Grupo Amorim [5% a 15%].

908. Nos últimos 5 anos o Grupo Piedade e Álvaro Coelho são os que apresentam

maiores crescimentos relativos nas vendas destes vedantes em território

nacional.

909. No gráfico abaixo apresenta-se uma estimativa da evolução do peso relativo

de cada um dos principais operadores na venda de vedantes “comerciais” e

“económicos” para vinhos tranquilos em Portugal, nos últimos 5 anos:

Gráfico 53 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de rolhas para

vinhos tranquilos para as categorias comercial e económico em Portugal – 2006 - 2010

910. A estrutura de vendas de vedantes em Portugal mostra a diferente

intensidade exportadora dos principais produtores de vedantes de cortiça

presentes na sua produção em Portugal.

124 O Grupo JPS Cork, constituído em 1993, tem origem na atividade de transformação de cortiça

iniciada em 1924 por Jorge Pinto de Sá. O Grupo JSP Cork é constituído pelas empresas Jorge Pinto de Sá, Lda., e SEDACOR – Sociedade Exportadora de Artigos de Cortiça, Lda.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2006 2007 2008 2009 2010 2006-2010

Peso dos principais grupos económicos do sector na venda de rolhas para vinhos tranquilos em território nacional

Outros

Lafitte

Juvenal Ferreira

Cork Supply

M.A. Silva

Gupo Bourrassé (Socori)

António Almeida

Grupo Suberus

Abel Costa Tavares

Grupo Amorim

JPSCork

Piedade

Alvaro Coelho

Fonte: Estimativas da AdC com base em dados da APCOR, Ministério da Agricultura de Espanha, 20 maiores grupos empresariais do sector, e Informa.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

173 173

911. Ou seja, existe uma discrepância significativa entre o peso de cada grupo na

produção em Portugal de vedantes “comerciais” e “económicos” de cortiça

para vinhos tranquilos e as vendas realizadas em território nacional.

912. Assim, se ao nível da produção nacional o Grupo Amorim se assume como o

principal produtor nacional destes vedantes, com um peso de [20% a 30%]

em 2010, já ao nível da comercialização em Portugal destes vedantes este

Grupo não dispõe da liderança do mercado.

913. Existem um conjunto de grupos económicos a produzir em Portugal mas

quase exclusivamente dedicados à comercialização nos mercados externos.

914. São os casos, por exemplo, do grupo Bourrassé e Cork Supply.

915. O gráfico abaixo apresenta o peso relativo dos principais grupos económicos

na produção de rolhas para vinhos tranquilos para as categorias comercial e

económico a partir de Portugal.

Gráfico 54 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de rolhas para

vinhos tranquilos para as categorias comercial e económico a partir de Portugal – 2006 -

2010

916. Refira-se, por memória, que as empresas de maior dimensão na produção

de vedantes para vinhos tranquilos a nível mundial são o Grupo Amorim em

Portugal e Espanha125, o Grupo Oeneo em França e Espanha, os Grupos

Molinas e Ganau em Itália e o Grupo Nomacorc nos EUA.

125 Neste país através da Trefinos e da Oller.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

174 174

917. De acordo com estimativas da AdC, em 2009, o Grupo Amorim terá sido

responsável por [15% a 20%] das vendas de vedantes para vinhos

tranquilos a nível mundial, a empresa Nomacorc por [10% a 15%] e o Grupo

Oeneo por menos de 5%.

3.5.2.3. Rolhas para vinhos espumantes/champanhe

918. Para a vedação de vinhos espumantes, em teoria, podem ser utilizados

vedantes com diferentes características, dos quais se destacam a126:

Rolha técnica;

Rolha de cortiça aglomerada;

Rolha de microgranulado.

919. A rolha técnica para vinhos espumantes é produzida a partir de um corpo

formado por aglomerado de grânulos de cortiça ao qual, num dos topos, é

aplicado um, dois ou três discos de cortiça natural selecionada.

920. A rolha de espumante mais clássica é a que inclui dois discos de cortiça

natural e uma dimensão de 31 por 48 milímetros.

921. As rolhas de espumante têm um diâmetro superior ao das rolhas normais,

por forma a responder às elevadas pressões internas geradas pelos

espumantes.

922. Estas rolhas estão geralmente separadas em classes “Extra”, “Superior”, 1ª

ou 2ª, dependendo essa classificação fundamentalmente da qualidade dos

discos que as compõem. Note-se que esta classificação pode variar entre os

produtores.

923. As rolhas de espumante totalmente em cortiça aglomerada são

relativamente pouco utilizadas em território nacional sendo utilizadas

frequentemente em vinhos efervescentes de gamas de entrada. São rolhas

de relativamente baixo valor acrescentado, por vezes também utilizadas na

vedação de cidras e cervejas de especialidade.

924. As rolhas de microgranulado são feitas de granulados de muito pequena

dimensão oferecendo um aspeto muito homogéneo ao vedante.

126 Refira-se que também existem vedantes sintéticos para vinhos espumantes, contudo a sua

comercialização em território nacional é inexpressiva.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

175 175

925. De acordo com algumas das empresas presentes no mercado, das quatro

qualidades de vedantes de vinhos espumantes acima referidas, em Portugal

a competição tende a ser distinta entre dois grandes grupos de rolhas, as de

mais elevada qualidade e as restantes.

926. Estima-se que o mercado de vedantes de espumante de topo represente

cerca de 10% do total em quantidade.

927. Na ausência de dados que permitam estimar com a qualidade necessária o

peso de mercado de cada um dos operadores em cada um dos dois grupos

de vedantes para vinhos espumantes, a AdC estimou o peso relativo dos

principais operadores na venda de vedantes para vinhos espumantes em

Portugal de forma agregada.

928. Estima-se que, em 2010, as quatro principais empresas vendedoras deste

tipo de vedante em Portugal tenham representado cerca de 72% do mercado

em volume.

929. Ou seja, os mercados de venda de vedantes para vinhos espumantes são

substancialmente mais concentrados do que os restantes mercados de

vendas de vedantes para vinhos em Portugal.

930. Em 2010 o Grupo Amorim representou [25% e 35%] das vendas nacionais

destes vedantes em volume, o Grupo Relvas [20% e 30%], o Grupo Álvaro

Coelho127 [5% a 15%] e o Grupo MA Silva128 [5% a 15%].

931. Tem-se verificado nos últimos anos uma redução relativa do peso de

mercado do Grupo Amorim nas vendas em mercado nacional129, tendo os

restantes grupos de maior dimensão mantido a sua posição relativa.

127 Estimativa AdC.

128 Estimativa AdC.

129 Note-se ainda assim que o peso do Grupo Amorim poderá estar subestimado na medida em que não estão incluídas nessas vendas eventuais vendas de empresas desse grupo localizadas em Espanha mas realizadas em Portugal (designadamente a Oller e a Trefinos).

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176 176

Gráfico 55 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de rolhas para

vinhos espumantes em Portugal – 2006 - 2010

932. Para efeitos de enquadramento refira-se que se ao nível da venda de

vedantes para vinhos espumantes em Portugal o Grupo Amorim se assume

como líder mas com um peso de [25% e 35%], já ao nível da produção

deste tipo de vedantes este grupo apresenta a liderança destacada com

[60% a 70%] da produção nacional em 2010, um valor não muito diferente

do registado nos últimos 5 anos.

933. Por contrapartida, o segundo maior produtor, o Grupo Relvas, tem vindo a

perder peso relativo ao nível da produção deste tipo de vedantes.

934. O gráfico abaixo apresenta o peso relativo dos principais grupos económicos

na produção de rolhas para vinhos espumantes a partir de Portugal.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

177 177

Gráfico 56 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de rolhas para

vinhos espumantes a partir de Portugal – 2006 - 2010

935. Refira-se, por memória, que as empresas históricas a nível mundial na

produção de vedantes para espumantes são o Grupo Amorim em Portugal e

Espanha130, o Grupo Oeneo em França e Espanha e os Grupos Molinas e

Ganau em Itália.

936. De acordo com estimativas da AdC, em 2010, o Grupo Amorim terá sido

responsável por [30% a 40%] das vendas de vedantes para vinhos

espumantes a nível mundial.

3.5.3. A comercialização de isolamentos térmicos e acústicos para a

indústria da construção

937. Existe uma enorme diversidade de isolamentos térmicos. Alguns exemplos

desses isolantes são: o aglomerado expandido de cortiça, a lã de rocha131, a

lã de vidro, o poliuretano, o poliestireno132 expandido133, o poliestireno

extrudido134, a fibra de madeira, a lã de ovelha, e o cânhamo.

130 Neste país através da Trefinos e da Oller.

131 Os produtos de lã de rocha são produzidos a partir do basalto. A base destes produtos é a lã de rocha composta de fibras siliciosas obtidas por centrifugação.

132 O poliestireno é um homopolímero resultante da polimerização do monômero de estireno. Trata-se de uma resina do grupo dos termoplásticos cuja característica reside na sua fácil flexibilidade ou moldabilidade sob a ação do calor que a deixa em forma líquida ou pastosa.

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

178 178

938. Os compradores (particulares e empresas) de isolamentos térmicos para

aplicação em edifícios ou obras de engenharia procuram normalmente as

seguintes propriedades: um baixo coeficiente de condutividade térmica, a

não absorção de humidade, a resistência mecânica, a trabalhabilidade, a

resistência ao fogo, a ausência de cheiro, o não ser atacado por roedores, a

durabilidade, a baixa massa volúmica, e o preço.

939. Cada um dos isolamentos térmicos acima referidos apresenta maior ou

menor intensidade de vantagens em algumas dessas propriedades.

940. O aglomerado expandido de cortiça responde bem a algumas das

propriedades acima elencadas sendo particularmente competitivo para

isolamentos de baixas temperaturas ou em zonas de carga.135

941. Os aglomerados de cortiça ao serem materiais isolantes com uma massa

volúmica e calor específico relativamente elevados conduzem a difusividades

térmicas muito baixas comparativamente a outros isolantes, permitindo uma

excelente conservação do calor (ou do frio).136

942. Para além disso, o aglomerado expandido de cortiça, comparativamente a

outros isolantes orgânicos (p.e. plásticos celulares) não se funde facilmente,

não regista perdas totais de resistência e de forma, e pode ser protegido

com pinturas antifogo.

943. Finalmente, não apresenta problemas de compatibilidade com outros

materiais com os quais possa a vir estar em contacto, não havendo

problemas de maior de interação com solventes, resinas, ligantes

hidráulicos, colas, betumes, etc.

944. São vários os exemplos da utilização do aglomerado expandido de cortiça no

isolamento térmico:

Na proteção das coberturas em betão armado contra as amplitudes

térmicas, reduzindo perdas de energia, protegendo as lajes e impedindo

133 O poliestireno expandido (EPS), mais por esferovite, é um plástico celular e rígido com variedade de

formas e aplicações, e que apresenta-se como uma espuma moldada constituída por um aglomerado de grânulos.

134 Os produtos para isolamento térmico em espuma de poliestireno extrudido são placas rígidas com estrutura de célula fechada e a característica cor azul. As soluções de isolamento térmico do poliestireno extrudido abrangem cada tipo de aplicação através dos produtos Roofmate, Wallmate e Floormate.

135 Andrade, 1962.

136 Fernandez, 1987.

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ou reduzindo a condensação superficial da humidade nas paredes e

tetos.

Nas instalações frigoríficas em zonas em que se tenham que exercer

elevadas pressões fixas e/ou móveis, nomeadamente em pisos ou zonas

de carga/descarga.

No enchimento entre paredes, em que o aglomerado expandido de

cortiça é vantajoso dadas as suas qualidades elásticas e de deformação.

945. Existe, também, uma enorme diversidade de isolamentos acústicos utilizados

pela indústria da construção que vão muito para além dos derivados da

cortiça.

946. Os compradores (particulares e empresas) de isolamentos acústicos para

aplicação em edifícios ou obras de engenharia procuram normalmente as

seguintes propriedades: um coeficiente de absorção adequado, a

durabilidade, a aparência, a resistência ao fogo, o peso, o coeficiente de

reflexão da luz, o método de aplicação e o preço.

947. Cada um dos diferentes tipos de isolamentos acústicos cumpre com

diferentes intensidades cada uma dessas características.

948. Neste campo, o aglomerado expandido de cortiça é um absorsor acústico de

estrutura porosa que apresenta características que respondem

comparativamente melhor a alguns desses requisitos genéricos.

949. Em particular, o aglomerado expandido de cortiça apresenta baixos

coeficientes de absorção para frequências inferiores a 800Hz e elevados até

4000Hz e, quando se aumenta a sua espessura, aumenta para as

frequências inferiores a 800Hz e diminui para as superiores.

950. São vários os exemplos da utilização do aglomerado expandido de cortiça,

no isolamento acústico:

A nível da percussão são aplicados como camada situada entre o forro e

o pavimento (pavimentos flutuantes) e revestem tetos e paredes

(absorvendo uma parte da energia total do som incidente).

Ao nível da transmissão de som por impacto, o isolamento consegue-se

através de descontinuidades estruturais, asseguradas por vários tipos de

aglomerados de cortiça.

951. Em suma, são diversas as alternativas aos derivados da cortiça para os

isolamentos térmico e acústico na indústria da construção.

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952. A diversidade das alternativas poderá ser inferior se considerarmos

segmentos específicos, podendo em determinados mercados os isolamentos

derivados de cortiça assumir uma maior relevância.

953. Estima-se, contudo, que em Portugal os isolamentos técnicos e acústicos

derivados da cortiça representem uma pequena fração da comercialização

deste tipo de isolamentos.

954. Por esse motivo, não cabe no âmbito deste relatório a identificação de todos

os mercados relevantes que possam existir dentro da comercialização de

isolamentos térmicos e acústicos.

955. Ainda assim, importa registar que a unidade de isolamentos do Grupo

Amorim é das que apresenta dos mais elevados níveis de lucratividade de

forma relativamente consistente (veja-se a este respeito o Gráfico 46

anteriormente apresentado), o que indicia, conforma anteriormente referido

o poder de compra deste grupo nos mercados da falca, mas poderá, também

indiciar a existência de um mercado relevante de isolamentos de

características mais restritas onde este grupo detenha uma posição

dominante.

956. Por este motivo a AdC estimou o peso dos principais comercializadores e

produtores nacionais de isolamentos de cortiça.

957. Os principais vendedores de isolamentos de cortiça em território nacional

são o Grupo Amorim, a Isocor, a Sofalca, a JPS Cork e a Soiga.

958. Estima-se que o Grupo Amorim tenha representado, em média, mais de

65% da produção nacional de isolamentos em cortiça e que seja responsável

por [15% a 25%] das vendas nacionais de isolamentos.

3.5.4. A comercialização de pavimentos

959. Existe uma grande diversidade de materiais para aplicação em pavimentos.

Destes destacam-se os parquets de madeira, os pisos laminados, os

pavimentos de cortiça, as alcatifas, os linóleos, os pisos vinílicos, os de

cerâmica, pedra entre diversos outros.

960. Os pavimentos de cortiça são particularmente competitivos nos segmentos

de mercado que valorizam as características naturais do produto, baixos

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níveis de ruído137, capacidade de absorção de choques138, e elevados índices

de conforto térmico.

961. Estima-se, contudo, que em Portugal os pavimentos derivados da cortiça

representem uma pequena fração da comercialização de pavimentos e que

possam fazer parte de um mercado mais amplo que inclui outros pavimentos

para além dos derivados de cortiça.

962. Tal indício é reforçado pelo facto de a unidade de pavimentos do Grupo

Amorim, o principal produtor de pavimentos de cortiça em território

nacional, ser aquela que apresenta menores índices de rentabilidade

(conforme análise constante do Gráfico 46).

963. Assim, não cabe no âmbito deste relatório a identificação de todos os

mercados relevantes que possam existir dentro da comercialização de

pavimentos uma vez que se estima que o peso de mercado de qualquer

produtor de derivados da cortiça será relativamente residual.

964. Não obstante, a AdC não deixou de identificar e estimar o peso dos

principais vendedores e produtores de pavimentos com componentes de

cortiça em Portugal.

965. Os principais vendedores de pavimentos de cortiça em território nacional são

o Grupo Amorim, o Grupo MJO, a Allied Cork, a Granorte, a Soiga e a Supra.

966. Estima-se que o Grupo Amorim tenha representado, em média, nos últimos

cinco anos [40 a 50%] das vendas nacionais de pavimentos de cortiça.

967. O peso do grupo Amorim na comercialização de pavimentos derivados da

cortiça em Portugal tem vindo a aumentar, em particular desde 2007,

estimando-se que em 2010, o peso relativo deste grupo tenha superado os

65%, o que contrasta com os [25% a 35%] registados em 2007.

137 A fricção entre um sapato e um pavimento tem duas origens. Uma é a adesão, ao formarem-se

ligações atómicas entre as duas superfícies em contacto, e se ter que realizar trabalho para quebrar e refazer essas ligações, se o sapato escorregar. Este efeito é o único que acontece, por exemplo, entre uma sola rígida e um pavimento em pedra, e uma vez que é apenas um efeito de superfície, é anulado, por exemplo, por um polimento. A outra origem é devida à perda não elástica. Quando uma sola escorrega num pavimento de cortiça, deforma-a. Se a cortiça fosse perfeitamente elástica, não tinha que se realizar trabalho, pois o que era feito à partida era recuperado após a passagem, mas como a cortiça possui um elevado coeficiente de dissipação de energia, é como andar de bicicleta em areia: o trabalho efectuado não é recuperado. Este efeito é o principal quando superfícies ásperas deslizam na cortiça, e como depende de processos que se passam abaixo da superfície, não é afectado por películas, revestimentos, polimentos ou lavagens. O mesmo se passa quando um cilindro ou uma esfera rolam sobre a cortiça.

138 A cortiça é resiliente e absorve os choques do andamento (diminuindo os ruídos de percussão e dando conforto ao andar). A resiliência da cortiça faz com que os revestimentos com este material aliviem a tensão nas articulações e coluna, sendo agradáveis ao toque, mesmo com os pés descalços, facto importante em determinadas culturas e, para além disso, estes não retêm facilmente a sujidade e reduzem os ruídos de impacto ao caminhar.

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968. O gráfico abaixo apresenta uma estimativa do peso relativo dos vários

vendedores de pavimentos em cortiça em Portugal nos últimos cinco anos.

Gráfico 57 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de pavimentos de

cortiça em Portugal – 2006 - 2010

969. Em termos de produção, os principais produtores de pavimentos de cortiça a

nível nacional nos últimos cinco anos foram os Grupos Amorim, MJO e

Granorte.

970. Estima-se que em 2010 o Grupo Amorim tenha sido responsável por mais de

65% da produção nacional de pavimentos de cortiça.

971. O gráfico em anexo apresenta uma estimativa do peso relativo dos vários

produtores de pavimentos em cortiça em Portugal nos últimos cinco anos.

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Gráfico 58 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de pavimentos

de cortiça em Portugal – 2006 - 2010

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Glossário

Arroba – Medida equivalente, em Portugal, a 15 kg.

Barriga - A Barriga é a parte mais clara e interior da prancha de cortiça.

Líber - O líber, também denominado por floema, é o tecido das plantas vasculares

que transporta a seiva elaborada pelo caule até à raíz e aos órgãos de reserva.

Bocados de cortiça - Peças de cortiça virgem ou de reprodução cuja superfície é

inferior a 400 cm².

Calços - Partes da cortiça formadas na base do tronco, em contacto directo com o

solo (chamados “zapatas” em Espanha).

Corpo - Peça cilíndrica em cortiça natural, constituída de uma ou mais peças, ou em

cortiça aglomerada, obtida por extrusão, moldagem ou brocagem após moldagem,

e objecto de transformação complementar para a fabricação da rolha.

Cortiça amadia – a cortiça proveniente de partes de sobreiros nas quais é a terceira

vez ou seguintes que se extrai cortiça.

Cortiça com verde - Cortiça que, enquanto fresca, apresenta, junto da barriga,

células com um aspecto translúcido, pois elas contêm ainda água de constituição.

Aquando da secagem, essas células contraem-se mais que o tecido suberoso

adjacente, o que origina deformações da cortiça.

Cortiça crua - Cortiça de reprodução que não foi submetida a nenhum tratamento

depois da extracção.

Cortiça de reprodução - Cortiça formada após tiradia da cortiça virgem.

Cortiça de trituração - Refugos cozidos resultantes da preparação da cortiça e/ou da

sua transformação em rolhas.

Cortiça em cru - A cortiça após extracção, antes de sofrer qualquer tratamento

físico ou mecânico.

Cortiça em “raça” - Cortiça preparada não classificada.

Cortiça para rolhas - Cortiça apta para transformação em rolhas e destinada ao seu

fabrico.

Cortiça preparada - Cortiça de reprodução, tendo sido já cozida, aplanada,

seleccionada e eventualmente submetida a uma operação de "escolha" (usualmente

designada por cortiça “em raça” ou traços”).

Cortiça secundeira - A cortiça proveniente de partes de sobreiros nas quais é a

segunda vez que se extrai cortiça.

Cortiça triturada - Fragmentos de cortiça, de dimensões variadas, obtidos por

trituração ou moagem da cortiça preparada ou trabalhada por talha.

Cortiça virgem - Cortiça proveniente do primeiro descortiçamento do tronco e dos

ramos do sobreiro.

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Costa - A costa é a parte mais escura e exterior da prancha de cortiça.

Desbaste - A operação utilizada para correcções de densidade em povoamentos de

sobreiro ou azinheira ou mistos destas espécies, ou através da qual, por arranque

ou corte selectivo, são eliminadas árvores mortas, caducas, ou fortemente

afectadas por pragas ou doenças ou que prejudicam o desenvolvimento de outras

em boas condições vegetativas ou ainda que representem perigo para as pessoas e

bens.

Desbóia - O primeiro descortiçamento a que um sobreiro é submetido.

Disco - Peça cilíndrica em cortiça natural de espessura e diâmetro variáveis, obtida

por corte no sentido perpendicular às camadas de crescimento da prancha de

cortiça.

Fardo - Conjunto de pranchas de cortiça preparada por classes visuais e calibres.

Granulados - Fragmento de cortiça, de dimensão variável, obtido por trituração ou

moagem da cortiça preparada ou proveniente da fabricação de rolhas, e classificado

por granulometria e massa volúmica. A granulometria poderá variar entre 0,25 e

8,0 mm.

Indústria rolheira - Indústria de transformação da cortiça em rolhas para vinhos

tranquilos ou vinhos efervescentes, para bebidas gaseificadas, cidra, cerveja e

bebidas espirituosas.

LdC ou Lei da Concorrência – Lei n.º 18/2003, de 11 de Junho, que aprova o

Regime Jurídico da Concorrência. Alterada pelo Decreto-Lei n.º 219/2006, de 2 de

Novembro, pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro e pela Lei n.º 52/2008

de 28 de Agosto. Revogada pela Lei n.º 19/2012 de 8 de Maio.

Linha - A espessura, ou calibre, de uma prancha de cortiça é medida em linhas, em

que 1 linha corresponde a 2,256mm. A cortiça com 9 anos de crescimento tem,

normalmente, entre 6 e 24 linhas (13,5mm a 54 mm) de espessura.

Mancha amarela - Mancha amarelada que se desenvolve nas costas da cortiça, que

eventualmente apresenta uma descoloração no tecido suberoso adjacente, podendo

desenvolver um odor característico.

Prancha - cortiça crua ou preparada, de qualidade e calibre susceptíveis de uma

ulterior transformação por talha.

Refugo - cortiça de reprodução, de baixa qualidade, não susceptível de ser

transformada em rolhas.

Rolha capsulada - Rolha em cortiça natural, natural colmatada, composta ou de

cortiça aglomerada, em que o corpo cilíndrico ou cónico tem um diâmetro inferior

ao da cabeça. A cabeça é composta por materiais distintos daqueles que compõem

o corpo(ex. madeira, plástico, etc.).

Rolha de cortiça natural — rolha de cortiça feita totalmente de cortiça natural.

Rolha de cortiça natural colmatada — rolha feita de cortiça natural em que são

obturadas as lenticelas das rolhas e/ou dos discos da cortiça com uma mistura de

colas e pó de cortiça proveniente dos acabamentos dimensionais das rolhas de

cortiça natural.

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Rolha de cortiça natural multi-peça – rolha de várias peças de cortiça natural

coladas umas às outras.

Rolha de cortiça aglomerada — Rolha de cortiça obtida pela mistura de granulados

com adição de um adesivo.

Rolha de cortiça aglomerada nova geração — rolha obtida pela aglutinação de

grânulos de cortiça com dimensão compreendida entre 0,25 mm e 8 mm, com a

adição de um adesivo e tendo, pelo menos, 51 % de grânulos de cortiça (em

massa), preparadas através de um procedimento que visa melhorar a sua

neutralidade sensorial, e que pode conter materiais sintéticos expansores.

Rolha N+N (Um mais Um ou Rolha Técnica) — rolha com um corpo de cortiça

aglomerada e n discos de cortiça natural colados num ou em ambos os topos

(Nota: Nesta designação n indica o número de discos usados).

Tapadeiras (de cortiça) — grande rolha, mais baixa que o batoque.

TCMA – Taxa de crescimento média anual.

Siglas Institucionais

AdC – Autoridade da Concorrência, criada pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de

Janeiro, o qual também aprova os respetivos Estatutos.

AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.

AIFF - Associação para a Competitividade das Indústrias da Fileira Florestal

APCOR - Associação Portuguesa de Cortiça

ASECOR - Asociación Sanvicenteña de Empresarios del Corcho, Espanha.

CELiege - Confédération Européenne du Liège / European Cork Confederation

INE – Instituto Nacional de Estatística

UNAC – União da Floresta Mediterrânica

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Índice de Ilustrações Ilustração 1 – Principais áreas geográficas de exploração de sobreiros (Quercus Suber) ...... 36 Ilustração 2 – Tipologia de compradores de cortiça natural .......................................... 43 Ilustração 3 – A cortiça triturada, granulada, regranulada e aglomerada como matéria-prima

(produto intermédio) ......................................................................................... 46 Ilustração 4 – Principais produtos finais derivados da cortiça ........................................ 48 Ilustração 5 – Importância relativa de cada estágio da cadeia de valor (em volume – valores em

milhares de toneladas – 2010)............................................................................. 53 Ilustração 6 - Classificação da prancha de cortiça amadia segundo calibre, qualidade e

utilização final ................................................................................................ 76 Ilustração 7 – Quadro resumo dos principais tipos de prancha e das suas utilizações .......... 82 Ilustração 8 – Quadro resumo dos tipos de comercialização de cortiça amadia crua ............ 84 Ilustração 9 – Tipologia de utilizações de diferentes produtos derivados da cortiça............ 155 Ilustração 10 – Principais vantagens de cada um dos três principais tipos de vedantes ...... 159 Ilustração 11 – Principais desvantagens de cada um dos três principais tipos de vedantes .. 160 Ilustração 12 – Tipologia de vedantes por grandes tipologias de vinhos ......................... 164

Índice de Tabelas Tabela 1 – Cronologia de Elaboração do Relatório .................................................... 26 Tabela 2 – Segmentação das rolhas para vinhos tranquilos vs. segmentação dos vinhos ... 167 Tabela 3 – Estimativadas elasticidades procura-preço cruzadas entre os diferentes tipos de

rolhas ........................................................................................................ 170

Índice de Gráficos Gráfico 1 – Área plantada de sobreiro (espécie Quercus Suber), por país, em 2005-2011 ..... 36 Gráfico 2 – Estimativa da produção anual de cortiça natural, por país, em 2010 ................. 38 Gráfico 3 – Peso das exportações portuguesas no total das exportações de cortiça e produtos

finais derivados da cortiça em valor, em 2009 .......................................................... 39 Gráfico 4 – Vendas de produtos finais derivados da cortiça em volume e em valor – 2010 .... 55 Gráfico 5 – Evolução da produção de cortiça natural na Península Ibérica – 2000 a 2010 ..... 56 Gráfico 6 – Peso relativo das várias categorias na venda de cortiça natural na Península Ibérica

– 2006 a 2010 ................................................................................................ 57 Gráfico 7 – Evolução do preço médio das várias categorias de cortiça natural em Portugal –

2000 a 2010 .................................................................................................. 59 Gráfico 8 – Evolução da área cultivada com sobreiro (Quercus Suber) de 1940 a 2010 ........ 62 Gráfico 9 – Percentagem de área cultivada com sobreiro (Quercus Suber) por classe de idades

(1995 vs. 2005 vs. Distribuição uniforme). ............................................................... 63 Gráfico 10 – Evolução da dimensão média da propriedade do montado – 1995 vs. 2005 ...... 64 Gráfico 11 – Percentagem de árvores com danos por povoamento florestal – 1995 vs. 2005 . 65 Gráfico 12 – Percentagem de árvores mortas por povoamento florestal – 2005 .................. 66 Gráfico 13 – Evolução do preço da cortiça amadia na pilha vs. Custo de extração da cortiça -

1945 a 2005 - Preços constantes de 2010 .............................................................. 68 Gráfico 14 – Evolução da produção mundial de vinho - 1960 a 2009 – Milhões de toneladas . 70 Gráfico 15 – Índice de Construção de Edifícios na EU a 27 – 2010=100 .......................... 71 Gráfico 16 – Índice de aproveitamento médio das pranchas de cortiça amadia de diferentes

qualidades para a produção de diferentes qualidades de rolhas .................................... 78 Gráfico 17 – Distribuição do preço da cortiça amadia dos vários calibres e qualidades em

percentagem da procura satisfeita – Portugal – 2006 a 2010 ........................................ 79

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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Gráfico 18 – Estimativa do Índice de preço médio das rolhas de cortiça natural Superior Vs. Rolhas de cortiça natural de qualidades inferiores vs. Discos vs. Granulado – 2006 a 2010 -

Rolhas de cortiça naturais do tipo Superior = 100. ..................................................... 81 Gráfico 19 – Estimativa do peso das vendas de cortiça por forma de comercialização – Ano de

2010 ............................................................................................................ 85 Gráfico 20 – Estimativa da evolução do peso das vendas de cortiça na pilha e cortiça pesada

no total – 2000 a 2010 ...................................................................................... 86 Gráfico 21 – Diferencial entre o preço de venda da cortiça amadia “na pilha” e “na árvore” vs.

Custo de extração da cortiça – 2000 a 2010 – preços correntes .................................... 87 Gráfico 22 – Estimativa do intervalo de variação do preço de venda das pranchas de cortiça amadia crua na pilha vs. Preço médio de venda das pranchas de cortiça amadia cozida e

selecionada – 2007 a 2010 – preços correntes ......................................................... 91 Gráfico 23 – Importações e exportações de cortiça natural, em bruto ou simplesmente

preparada em % da produção nacional de cortiça natural – 2000 a 2010 ......................... 92 Gráfico 24 – Percentagem das importações e exportações nacionais de cortiça natural em

bruto ou simplesmente trabalhada de/para Espanha – 2000 a 2010 ............................... 93 Gráfico 25 – Peso de cada região Espanhola na produção de cortiça natural em bruto – 2008

.................................................................................................................. 94 Gráfico 26 – Preço médio de transporte da cortiça natural da região de produção da cortiça

natural para a principal região de transformação da Península Ibérica – 2010 ................... 95 Gráfico 27 – Evolução do peso relativo dos vários vendedores de cortiça amadia na Peninsula

Ibérica – 2006 -2010 ........................................................................................ 98 Gráfico 28 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de cortiça natural amadia em

Portugal – 2006 -2010 .................................................................................... 102 Gráfico 29 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de cortiça natural amadia na

Península Ibérica – 2006 -2010 ......................................................................... 102 Gráfico 30 – Índice de poder de mercado dos vendedores de cortiça amadia para os diferentes

tipos de cortiça amadia – 2006 - 2010 ................................................................. 103 Gráfico 31 – Margem EBITDA da unidade de matérias-primas do grupo Amorim – 2006 -2010

................................................................................................................ 104 Gráfico 32 – Estimativa da evolução das quantidades vendidas de refugo, bocados, virgem e

aparas – 2006 - 2010 ..................................................................................... 119 Gráfico 33 – Evolução do preço de venda de bocados, aparas e cortiça virgem – 2006 a 2010

................................................................................................................ 122 Gráfico 34 – Importações de bocados/refugo/aparas em % do consumo nacional de cortiça

natural – 2000 a 2010 ..................................................................................... 124 Gráfico 35 – Preço médio de transporte de bocados/refugo/aparas da região de produção da

cortiça natural para a principal região de transformação da Península Ibérica – 2010 ........ 125 Gráfico 36 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de bocados/refugo/aparas em

Portugal – 2006 - 2010 .................................................................................... 127 Gráfico 37 – Índices de evolução dos preços e custos das aparas de cortiça em Portugal de

2006 a 2010 ................................................................................................ 128 Gráfico 38 – Distribuição do preço da falca em função da quantidade de procura satisfeita –

2006 a 2010 ................................................................................................ 132 Gráfico 39 – Evolução do diferencial de preço entre a falca, a cortiça queimada e os bocados –

2006 a 2010 ................................................................................................ 133 Gráfico 40 – Importações de falca e cortiça queimada em % das utilizações na produção

nacional – 2000 a 2010 ................................................................................... 135 Gráfico 41 – Evolução do preço médio da falca em Portugal e em Espanha – 2000 a 2010 . 136 Gráfico 42 – Preço médio de transporte da falca e cortiça queimada da região de produção da

cortiça natural para a principal região de transformação da Península Ibérica – 2010 ........ 137 Gráfico 43 – Estimativa da venda de falca e cortiça queimada em Portugal – 2006 - 2010... 139 Gráfico 44 – Evolução do peso relativo dos vários vendedores de falca em Portugal – 2006 –

2010 .......................................................................................................... 141 Gráfico 45 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de falca e cortiça queimada em

Portugal – 2006 - 2010 .................................................................................... 142

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Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o sector da cortiça - 2012 ___________________________________________________________________________________

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Gráfico 46 – Margem EBITDA da unidade de Isolamentos do Grupo Amorim face às margens

das unidades de Rolhas, Pavimentos e Aglomerados compósitos – 2006 -2010 ............... 143 Gráfico 47 – Evolução do preço médio do granulado em Portugal e em Espanha – 2000 a 2010

................................................................................................................ 149 Gráfico 48 – Estimativa da venda de granulado em Portugal – 2006 - 2010 .................... 150 Gráfico 49 – Evolução do peso relativo dos vários compradores de granulados em Portugal –

2006 - 2010 ................................................................................................. 152 Gráfico 50 – Evolução do preço médio dos granulados de cortiça em Portugal – 2006 - 2010

................................................................................................................ 153 Gráfico 51 – Estimativa das vendas mundiais de vedantes de cortiça, sintéticos e alumínio para

vinhos e taxas de crescimento médio anual, 2004 – 2010 .......................................... 161 Gráfico 52 – Peso relativo dos vários tipos de vedante para vinhos, 2004 - 2010 .............. 161 Gráfico 53 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de rolhas para vinhos

tranquilos para as categorias comercial e económico em Portugal – 2006 - 2010 ............. 172 Gráfico 54 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de rolhas para vinhos

tranquilos para as categorias comercial e económico a partir de Portugal – 2006 - 2010 ..... 173 Gráfico 55 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de rolhas para vinhos

espumantes em Portugal – 2006 - 2010 ............................................................... 176 Gráfico 56 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de rolhas para vinhos

espumantes a partir de Portugal – 2006 - 2010 ...................................................... 177 Gráfico 57 – Peso relativo dos principais grupos económico na venda de pavimentos de cortiça

em Portugal – 2006 - 2010 ............................................................................... 182 Gráfico 58 – Peso relativo dos principais grupos económico na produção de pavimentos de

cortiça em Portugal – 2006 - 2010 ...................................................................... 183

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