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1. Identificação: Estagiária: Juliana Costa Meinerz Zalamena Estágio Supervisionado II Local de Estágio: Prefeitura Municipal de Tuparendi Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social Supervisor de campo: Elizabét da Silva Cabaldi Supervisor Acadêmico: Prof. Lislei Teresinha Preuss Total de horas: 104 Semestre: 6º/2009

Relatorio Final de Estagio Supervision Ado II

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1. Identificação:

Estagiária: Juliana Costa Meinerz Zalamena

Estágio Supervisionado II

Local de Estágio: Prefeitura Municipal de Tuparendi

Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social

Supervisor de campo: Elizabét da Silva Cabaldi

Supervisor Acadêmico: Prof. Lislei Teresinha Preuss

Total de horas: 104

Semestre: 6º/2009

2. Descrição e Análise da Prática Profissional de Estágio

Durante a experiência vivenciada no desenrolar do Estágio Supervisionado II, foi

possível um aprofundamento de cada faceta da atividade profissional nesse espaço de

atuação.

Primeiramente, o estágio pôde ser iniciado apenas no mês de setembro, quando a

supervisora de campo Elizabét Cabaldi retornou de suas férias. Este aspecto prejudicou o

andamento do estágio, uma vez que no retorno, houve a surpresa de que o dia de

comparecer não seria mais na quinta-feira, e sim na sexta-feira. O motivo é que a

supervisora acolheu mais três estagiárias da Fundação Educacional Machado de Assis, e os

horários delas acabaram por interferir.

Este aspecto teve suas repercussões positivas e negativas. As negativas

compreendem os fatos de que não seria possível continuar com as atividades no Grupo de

Idosas e no Grupo de mães do PETI, ambos realizados às quintas-feiras e também, quanto a

participação na Reunião Ordinária do CMAS – Conselho Municipal de Assistência Social,

na segunda quinta-feira do mês. Entretanto, os aspectos positivos compreendem o fato de

que na sexta-feira normalmente realizam-se as visitas e outras atividades pendentes, sendo

um dia com ações bastante diversificadas, e dificilmente pré-agendadas.

Nos atendimentos no Plantão Social recebemos uma grande demanda de usuários

requisitando auxílios como materiais de construção, fraldas, alimentos e outros gêneros,

mas para aqueles que já possuem cadastro nas Fichas Sócio- econômicas este procedimento

não é mais responsabilidade da Assistente Social. Os auxílios emergenciais fazem parte dos

processos sócio- assistenciais da profissão, especificamente sendo uma ação sócio-

emergencial, visando atender as solicitações com caráter de emergência, que estão ligadas a

necessidades de urgência das famílias.

Os atendimentos no Plantão Social e os auxílios emergenciais, são uma demanda

relevante da profissão nesse espaço sócio-ocupacional, e são importantes na medida que

visam garantir o suprimento das necessidades básicas das pessoas em extrema

vulnerabilidade social. Porém, segundo Martinelli (2006):

A nobreza de nosso ato profissional está em acolher aquela pessoa por inteiro, em conhecer a sua história, em saber como chegou a esta situação e como é possível construir com ela formas de superação deste quadro. Se reduzirmos a nossa prática a uma resposta urgente a uma questão premente, retiramos dela toda sua grandeza, pois deixamos de considerar, neste sujeito, a sua dignidade humana (MARTINELLI, 2006).

Ainda segundo essa autora, temos de pensar em nossa profissão como “uma

profissão que através de sua intervenção na realidade, de sua interlocução com os

movimentos sociais, com os setores organizados da sociedade civil, participa da

reconstrução do próprio tecido social” (MARTINELLI, 2006). Ou seja, somos

protagonistas de processos políticos, seja como profissionais ou como cidadãos,

participando da construção lenta e gradual de uma nova proposta de sociedade.

O Serviço Social é uma profissão que tem um compromisso com a construção de

uma sociedade humana, digna e justa (MARTINELLI, 2006). Entretanto, os desafios são

cotidianos, pois como aponta Hobsbawn (1995, p. 421), “O Brasil é um verdadeiro

monumento vivo à desigualdade social”. É esse contexto brasileiro e também mundial que

se reflete nas demandas serem atendidas pelo assistente social no município de Tuparendi,

na medida em que os usuários estão inseridos e são produto da conjuntura sócio- histórica

brasileira. É nesse pedacinho de realidade brasileira, agravada em alguns aspectos pelas

características específicas locais, que nos cabe intervir.

Além de precisar ter leitura da conjuntura, precisamos também saber compreender o

conhecimento, como afere Martinelli (2006):

Somos profissionais cuja prática está direcionada para fazer enfrentamentos críticos da realidade, portanto precisamos de uma sólida base de conhecimentos, aliada a uma direção política consistente que nos possibilite desvendar adequadamente as tramas conjunturais, as forças sociais em presença. É neste espaço de interação entre estrutura, conjuntura e cotidiano que nossa prática se realiza. É na vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos que as determinações conjunturais se expressam (MARTINELLI, 2006).

Como denomina Sarlo (1997, p.57), o assistente social precisa ter um “olhar

político” que nos permita “aguçar a percepção das diferenças como qualidades alternativas

e saber descobrir as tendências que questionam ou subvertem a ordem”. Conforme

relaciona Martinelli (2006), o “social”, palavra presente na denominação da nossa

profissão, não está ali por acaso, e sim, faz parte da nossa identidade. Sobre isso ela reitera:

É um social que é síntese de múltiplas determinações: políticas, econômicas, históricas, culturais. Portanto, para bem realizar o nosso ofício, temos de intervir de modo a alcançar esta gama de determinações, que estão presentes até mesmo no menor ato de nossa vida cotidiana: no atendimento do plantão, na solicitação do benefício, na visita domiciliar. Assim como estão presentes também no trabalho com os movimentos sociais, com lideranças comunitárias, nas negociações políticas (...) Em outras palavras, torna-se indispensável que tenhamos um consistente projeto ético-político profissional (MARTINELLI, 2006).

A demanda mais significativa neste dia da semana em que se realiza o estágio,

foram de ordem documental, ou seja, a elaboração de relatórios, projetos, avaliação,

estudos sociais, pareceres, etc. quanto a este aspecto, vale ressaltar que a elaboração da

documentação é de fundamental importância para o trabalho do Assistente Social, como

por exemplo, o relatório da Construção do Centro de Convivência do Idoso e vários estudos

sociais de casos específicos.

A instrumentalidade do Serviço Social precisa estar ligada a teoria da profissão, em

consonância com o Código de Ética Profissional e também com o Projeto Ético-Político da

profissão, mas muitas vezes o profissional, no cotidiano de sua prática, tem dificuldades de

aplicar a teoria, e os pressupostos do Código de Ética e do Projeto Ético – Político acabam

sendo condicionados pelas regras ou linha de pensamento do espaço sócio-ocupacional,

neste caso, a Prefeitura Municipal.

Nesse sentido, recorremos a Guerra (2000, p. 53), para registrar que a

instrumentalidade é uma propriedade ou um determinado modo de ser que a profissão

adquire dentro das relações sociais, no confronto entre as condições objetivas e subjetivas

do exercício profissional. Trata-se de uma propriedade sócio-histórica da profissão, por

possibilitar o atendimento das demandas e o alcance de objetivos (profissionais e sociais)

constitui-se uma possibilidade concreta de reconhecimento social da profissão (Ibid).

Ainda nas palavras de Guerra (2000), a instrumentalidade possibilita que os

profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais, uma vez que é por

meio da instrumentalidade que os assistentes sociais modificam, transformam àquelas

condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes no nível do

cotidiano.

Sendo assim, considera-se que ao alterarem de alguma forma o cotidiano das classes

que demandas intervenção, o assistente social modifica os meios, as condições e os

instrumentos existentes, convertendo-os em formas de alcance de seu objetivo profissional.

Assim, o assistente social dá instrumentalidade às suas ações. Na medida em que os

profissionais criam, utilizam e adequam as condições existentes, transformando-as em

meios para objetivar, concretizar as suas intencionalidades, suas ações passam a ser

portadoras de instrumentalidade.

Segundo Guerra (2000), todo trabalho social possui instrumentalidade, que se

constrói e reconstrói durante a trajetória profissional de seus agentes. Através do processo

de trabalho, a realidade é transformada pelos homens, e nesse processo, transformam-se a si

mesmos e aos outros homens. Esta ação transformadora, cujo modelo privilegiado é o

trabalho, possui uma instrumentalidade.

A instrumentalidade do Serviço Social tem características decisivas no processo de

intermediação entre as políticas sociais existentes e operacionalizadas pelo município, e os

seus usuários. E como forma de trabalho, o profissional precisa lançar mão de diversos

instrumentos, baseando-se, para isso, numa teoria profissional e de vida, que lhe dá o norte

para direcionar suas decisões e ações. Esta teoria é que embasará sua prática profissional,

assim como sua própria concepção de mundo.

O assistente social deve ter clara a importância dos elementos técnicos operativos que compõem sua intervenção. Elaborar relatórios, pareceres, realizar entrevistas, visitas domiciliares, investigação planejamento com grupo e comunidades são elementos constitutivos do processo de trabalho. É preciso qualificar esse processo, dando consistência a esses instrumentos (COUTO apud ZANETTI, 1992).

Sendo assim, subentende-se que o profissional assistente social deve pautar toda a

sua ação na questão dos direitos humanos, observando o uso da instrumentalidade de

acordo com as noções de cidadania preconizadas no código de ética, bem como as normas e

regulamentações da profissão.

É fundamental que o assistente social faça com qualidade a construção do seu

trabalho, obtenha conhecimento específico, acrescentando uma visão crítica e analítica

sobre as informações, ultrapassando as limitações estritamente burocráticas e formais,

dadas pela instituição na qual trabalha. Talvez seja esse um dos maiores desafios da

reafirmação da profissão dentro da Prefeitura Municipal, e nesse caso na Secretaria

Municipal de Saúde e Ação Social.

O assistente social utiliza-se dos instrumentos de sua profissão para analisar um

caso, sob a ótica de sua competência. Não pode usá-los como um fim, mas também deles

não pode prescindir, para que sua ação cotidiana não se transfigure na prática pela prática,

burocratizando-se e perdendo-se no senso comum. ou seja, os instrumentos são apenas as

formas do fazer profissional e não o fazer o profissional em si.

A instrumentalidade do Serviço Social nessa instituição se operacionaliza dentro de

um processo de avaliação, elaboração de parecer e intervenção. Comumente, são feitas

entrevistas e visitas domiciliares para emissão de um parecer social sobre o caso. Os

usuários do Serviço Social nessa instituição, via de regra, são pertencentes aos extratos

mais pauperizados da população, e nos seus atendimentos o assistente social está ali para

ouvir, acolher e emitir um parecer, que mesmo sendo isento de preconceitos ou de

envolvimento pessoais, acaba trazendo implícitos os seus juízos de valor, suas visões de

mundo e ideologias.

Dessa forma, segundo Guerra (2000):

Ao desprender-se da base histórica em que a profissão surge, o Serviço Social pode qualificar-se para novas competências, buscar novas legitimidades, tudo além da mera requisição instrumental-operativa do mercado de trabalho. Este enriquecimento da instrumentalidade do exercício profissional resulta num profissional que, sem prejuízo da sua instrumentalidade no atendimento das demandas, pode antecipá-las (...) reconhecendo a dimensão política da profissão (...) invista na construção de alternativas (...) à superação da ordem social do capital (GUERRA, 2000, p.62).

Um dos princípios norteadores da atuação e da instrumentalidade deve ser, sem

dúvida, o Código de Ética Profissional. Segundo Barroco (2005), a discussão em torno da

ética surgiu especialmente na área da saúde, ou seja, no uso da ciência para este fim.

Porém, mais tarde, com a evidência de que as implicações éticas e morais existem em todas

as práticas profissionais, a elaboração de conjuntos de princípios norteadores extrapolou o

âmbito da medicina e passou a abranger todas as profissões.

Os códigos de ética surgem especialmente com vistas aos tratados e declarações

acerca dos direitos humanos, que emergiram no pós-guerra. Realizando um breve

parênteses histórico, resgatando Diniz e Guillem (2005), cabe aferir que o primeiro

documento internacional conhecido, elaborado nessa direção, foi o Código de Nuremberg,

que introduziu as primeiras recomendações éticas acerca de pesquisa científica com seres

humanos.

Então, os primeiros códigos de ética procuraram coibir as pesquisas que utilizava-se

de pessoas negras, idosos, pacientes de hospitais psiquiátricos, pauperizados, considerando-

as inferiores e passíveis de servirem como cobaia em pesquisas científicas.

Ainda de acordo com Diniz e Guillem (2005), foi na década de sessenta, com a

eclosão da critica social e política, responsável pelo desenvolvimento tecnológico e pelas

mudanças sócio-culturais que atingem a família, os valores e os costumes tradicionais em

geral, desencadeadoras de lutas por direitos civis e políticos, como as dos movimentos de

mulheres e negros, que as ciências humanas e sociais passaram a admitir a necessidade de

elaborar seus próprios códigos de ética.

Em sua dimensão teórica, conforme Barroco (2005), “a ética se distingue do saber

científico pela sua natureza filosófica, que lhe fornece um caráter crítico, dotado de juízos

de valor. A reflexão ética nos convida a indagar sobre o que é bom, justo, legítimo em

relação às ações humanas”. Segundo essa autora:

Como ação prática, a ética é a objetivação concreta dos valores, princípios, escolhas, deliberações e posicionamentos produzidos pela ação consciente dos homens diante de situações de afirmação/negação da vida, dos direitos e valores. Conceber a ética como uma ação critica de um sujeito histórico que reflete teoricamente, faz escolhas conscientes, se responsabiliza, se compromete socialmente por elas e age praticamente para objetivá-las é conceber a ética como componente da práxis (BARROCO, 2005).

Além disso, acompanhou-se a implantação e funcionamento de um grupo de

adolescentes infratores que cumprem ou já cumpriram a medida sócioeducativa, ou seja, o

PSC – Prestação de Serviços a Comunidade. Este grupo atualmente é freqüentado por seis

adolescentes com idade entre doze e quinze anos, que cometeram algum delito e receberam

como pena a medida sócio-educativa.

Historicamente, os sujeitos envolvidos com atos infracionais – vítimas da sociedade

brasileira que exclui e discrimina, tinham um tratamento que não tinha o intuito de educar

ou socializar, apenas de vigiar e punir o adolescente e o jovem infrator, marcando-os com

tratamentos desumanos e excludentes. Apenas com a Constituição Federal de 1988 é que

adotou-se uma legislação pautada nos direitos humanos, e que visa a re-socialização do

adolescente a quem se atribua o ato infracional.

Nesse aspecto, vale salientar que a Constituição Federal inovou e progrediu,

principalmente no que diz respeito aos direitos das crianças e adolescentes no Brasil, que

segue um principio de proteção integral a estes, tendo em consideração condição especial

em que se encontram enquanto pessoas em fase de desenvolvimento.

O artigo 227 do texto da Carta Constitucional assegura uma série de direitos à

criança e ao adolescente, estabelecendo como obrigados a sociedade, os pais e o Estado. A

partir desta premissa, o artigo 98 do ECA estabelece que as medidas de proteção serão

aplicadas sempre que houver violação dos direitos estabelecidos no próprio ECA por “ação

ou omissão da sociedade ou do Estado”, ou “por falta, omissão ou abuso dos pais ou

responsável”. Estes direitos são todos os previstos na legislação protetiva, como vida,

saúde, educação, lazer, convívio familiar etc.

Conforme aponta Mezzomo (2005), o inciso III do artigo 98 também elenca o

próprio comportamento da criança ou adolescente como causa de aplicação de medidas

protetivas. Neste caso não se verificam necessariamente omissões ou abusos de terceiros.

Tais hipóteses correspondem principalmente, mas não exclusivamente, aos casos de

cometimento de atos infracionais, adiante vistos.

Ainda segundo este mesmo autor, as medidas sócio-educativas são:

“(...)uma espécie de medida de proteção, embora voltadas a situações nas quais se verifica um comportamento do adolescente (não criança, ou seja, somente são aplicáveis para atos cometidos a partir dos doze anos de idade) subsumível em uma tipologia de crime ou contravenção, nos termos do artigo 103 do ECA” (MEZZOMO, 2005).

A Constituição Federal, artigo 228, e o ECA, artigo 104, afirmam inimputáveis os

menores de dezoito anos, presumindo, em caráter absoluto que não são capazes de

compreender o caráter ilícito do ato e de portar-se de acordo com ele.

A medida sócio-educativa não tem a natureza de pena, ou seja, não é punição,

embora esteja intimamente ligada a noção de culpabilidade, própria daquilo que é

considerado crime. Sobre esse aspecto, Francischini e Campos (2005) alegam que “com a

pena, busca-se causar sofrimento ao transgressor, puni-lo por meio da privação de direitos.

Com a medida sócio-educativa, por outro lado, é a ação pedagógica sistematizada que é

visada (...)” Por isso, existem várias formas de aplicação da medida sócio-educativa:

A advertência é uma admoestação que faz o adolescente ver o equívoco do seu ato e as conseqüências negativas que poderão advir da reiteração de práticas semelhantes. Para infratores renitentes ou violentos, é uma medida normalmente inócua. A obrigação de reparar o dano por óbvio que pressupõe infração compatível com a espécie, visto que nem toda de infração deixa um dano a reparar. A hipótese de reparação como medida sócio-educativa deve ser aplicada, preferencialmente, quando possa o infrator, por seu trabalho, efetua-la, sob pena de recair, na prática, sobre os responsáveis pelo adolescente. A prestação de serviços à comunidade é sem dúvida uma das medidas mais eficazes. O período e a quantidade de horas semanais deve levar em conta a condição do infrator e a gravidade da infração, estabelecendo-se uma proporcionalidade. O período máximo é de seis meses, em regime de oito horas semanais. O cumprimento da medida não pode causar prejuízo a outros direitos do infrator, como a educação. A liberdade assistida é medida apropriada para os casos residuais, onde uma medida mais branda possa resultar ineficaz, mas nos quais o infrator não se revela perigoso, de modo que fosse recomendada uma internação ou regime de semiliberdade. Trata-se de uma medida que pode ter excelentes resultados nestes casos intermediários (MEZZOMO, 2005).

A execução das medidas sócio-educativas se faz sob a orientação de profissionais

preferencialmente inseridos em serviços estatais de assistência social ou conselheiros

tutelares. No caso dos adolescentes, e também adultos residentes no município de

Tuparendi, são encaminhados os casos pelo fórum e a assistente social encaminha para a

respectiva medida, em geral a prestação de serviços à comunidade.

São compromissos legais do profissional incumbido dessa orientação:

I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; IV - apresentar relatório do caso. ( Artigo 119, ECA).

No caso dos indivíduos autores de ato infracional no município de Tuparendi, é

considerável o número de adultos que cometem delitos e passam a prestar serviço à

comunidade, em geral, em trabalhos braçais pesados em instituições que os acolhem. O

número de adolescentes é visivelmente menor, e os atos infracionais estão ligados

basicamente à pequenos furtos, depredação de patrimônio público ou particular e infrações

de trânsito.

No caso da medida sócio educativa desses adolescentes, não é aplicado trabalhos

pesados, mesmo que em geral eles também cumpram prestação de serviço à comunidade.

Além disso, a intencionalidade nesses casos, como preconiza Pereira (2004), é a re-

socialização do adolescente, o que implica em outras atividades concomitantes à prestação

de serviços. Partindo dessa idéia é que a equipe formulou recentemente o grupo para

atendimento de adolescentes em conflito com a lei.

As medidas sócio-educativas compreendem um caráter peculiar:

Assim, o duplo caráter das medidas – punição (reparo) e criação de condições para a não reincidência – em princípio, teria por finalidade operar um reordenamento dos valores e padrões de conduta do sujeito transgressor. Possibilitar uma ressignificação dos seus padrões de socialização, de modo que os “novos modelos” primem pela consideração da integridade da vida e da preservação do patrimônio (FRANCISCHINI e CAMPOS, 2005).

Nessa perspectiva, os objetivos da medida sócio educativa entram num padrão

típico da sociedade capitalista, apontando a direção do trinômio Estado, família e

propriedade privada (Idem).

O grupo é transitório, ou seja, os adolescentes permanecem freqüentando-o durante

um certo tempo, e depois podem retirar-se, desde que a equipe avalie que a medida tenha

surtido efeito positivo. Porém, mesmo levando em consideração que o grupo está em fase

de melhoramentos, pois é recente na instituição, falta apoio de outros profissionais, da

própria instituição e da sociedade, para que esse tipo de atividade seja mais rica.

Os adolescentes que freqüentam o grupo são todos do sexo masculino, e oriundos de

família empobrecida. Além disso, a maioria deles tem escolaridade abaixo da esperada para

sua idade cronológica, e boa parte deles são negros ou de cor intermediária. Ou seja, são

adolescentes que acumulam várias características de vulnerabilidade social e que desde

cedo começaram a experimentar a exclusão social.

Isso não significa que os adolescentes de famílias mais abastadas, classe social mais

alta, acesso à educação em tempo adequado de cor branca não cometam delitos. Os filhos e

filhas da elite também cometem delitos e também entram em conflito com a sociedade e

com a lei, mas dada a influência e o poder da família, não recebem o mesmo tratamento dos

filhos e filhas das classes mais baixas, sempre tendo uma forma de se safarem.

A exclusão social não é um fator exclusivo para que adolescentes venham a cometer

delitos. Há que se fazer esta separação, pois não significa que todo adolescente pobre é

autor de ato infracional e muito menos que todo adolescente de classe alta é exemplo de

conduta social. porém, as condições sócio-econômicas, a fragilização dos vínculos

familiares, a exclusão e o preconceito da sociedade, são fatores de risco, na medida em que

o adolescente pode vir a querer expressar de alguma forma, as vezes agressiva e ilícita, sua

revolta contra a sua condição. Assim podemos observar na seguinte afirmação:

“As condições inumanas em que milhões de crianças, adolescentes, jovens e adultos, alunos, têm de sobreviver deveriam ser muito mais preocupantes do que as suas indisciplinas e violências. Que esperar de crianças famintas e adolescentes atolados na sobrevivência mais imediata? Quando os seres humanos são acuados nos limites da sobrevivência, sem horizontes, será difícil controlar suas condutas. Talvez resulte estranha, mas lembro da dura frase de Nietzsche: “os insetos não picam por maldade, mas porque querem viver”. (ARROYO, 2004, p. 16)

A sociedade, poder público e profissionais pecam ao dizer que os adolescentes são

violentos, se não for amplamente analisada a estrutura social que os acolhe. Kosik (1976) já

apontava para a necessidade de conhecer o contexto social, quando preconizava que a

compreensão dos fenômenos sociais precisa partir da “aparência” para a sua “essência”.

Sendo assim, o grupo, se bem operacionalizado, pode ser uma excelente ferramenta

para que estes adolescentes em conflito social reencontrem a liberdade, a cidadania negada,

sobretudo, reintegrando-se à sociedade. Ao assistente social cabe o empenho da proteção

integral e no apoio ao desenvolvimento destes adolescentes, pois do contrário, os objetivos

de re-socialização não passarão de utopias, e estes seres humanos acabarão por ser

definitivamente marginalizados pela violência sutil da lógica capitalista.

São usados diferentes termos para designar ou se referir ao trabalho que se deseja

realizar com os adolescentes autores de atos infracionais. Como aponta Francischini e

Campos (2005), são chamados de “reinserção social, readaptação, ajustamento social,

integração à família e sociedade”, etc. O desafio para o município de Tuparendi e para

todos os demais municípios e instituições que apresentem essa demanda é ir para além da

simples responsabilização do adolescente pela transgressão cometida, pois as ações

precisam ser diferenciadas da idéia de cumprimento de pena.

Conforme Francischini e Campos (2005), “estrutura física, formação de recursos

humanos, ações educativas e trabalho transdisciplinar são alguns dos aspectos implicados

nesta questão”. Este tipo de medida deve estar livre de, segundo esses autores, das

“armadilhas das concepções retribucionista e paternalista”. Ou seja:

No retribucionismo encontra- se a defesa do aumento da repressão na proporção da gravidade das infrações praticadas, na expectativa da prevenção do cometimento delas; o paternalismo, por seu turno, tende a isentar de culpa os adolescentes que as cometerem, naturalizando a prática do ato infracional (FRANCISCHINI e CAMPOS, 2005).

É importante que os profissionais conheçam profundamente as legislações e os

direitos dos adolescentes, pois não são raras as formas de violação desses direitos

justamente no ambiente judiciário ou institucional, fazendo com que estes sintam-se réus e

não vítimas. Além disso, para o sucesso do atendimento a esses adolescentes, é

fundamental minorar as dificuldades com que eles se deparam cotidianamente, pois em sua

maioria, as famílias são fragilizadas social, psicológica e economicamente, não tendo

muitas vezes condições de lidar sozinhas com a situação de conflito com a lei que o filho

(a) estabelece.

A sociedade tem responsabilidade estrutural na produção do adolescente em conflito

social, pela forma como o exclui social, cultural e economicamente, e sendo assim, não se

pode ignorar que ela precisa ser responsável também por medidas que venham a incluir

esses sujeitos na sociedade.

Infelizmente, mesmo com a quase perfeição da legislação relacionada, o que se

constata na Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social de Tuparendi é uma vultuosa

precariedade do sistema como funciona o cumprimento das medidas sócio-educativas e a

ausência de um projeto claro e viável para o grupo recém implementado.

Para concluir, concorda-se com Constantino, quando afirma que “A instituição

pretende ajustar o indivíduo à sociedade, mas acaba produzindo o efeito contrário, o de

reafirmação de sua marginalidade” (Constantino, 2000, p. 28). Como expressão dessa

condição, é possível observar o progressivo aumento do número de jovens que reincidem

nas suas transgressões, comprometendo cada vez mais as já pequenas possibilidades de

reinserção.

No decorrer do Estágio o campo recebeu a visita do CFESS, que fiscalizou o campo

de estágio e determinou algumas mudanças quanto ao armazenamento de documentos de

sigilo profissional, que estavam absolutamente expostos na sala, a forma de organização do

ambiente, e as funções dos estagiários e as condições para o devido aproveitamento destes.

Dentre estas mudanças, foi determinado que se providenciasse uma escrivaninha, para nós,

estagiárias em Serviço Social.

As demandas para encaminhamento de Benefícios de Prestação Continuada e de

Passe Livre foi um menor do que no Estágio I, mas nem por isso menos relevante, pois

vários usuários procuraram a Assistente Social para este tipo de encaminhamento, além

disso, para a renovação dos mesmos, mediante exigências legais e por conseqüência, com

muitas dúvidas e dificuldades para estes procedimentos.

Sobre o beneficio do Passe Livre, cabe ressaltar que ele também é fruto do texto

constitucional de 1988, preconizador dos direitos humanos, além de ser uma resposta a

reivindicações de um segmento da sociedade historicamente isolado e excluído, as pessoas

com deficiência. Mais recentemente, e numa forma remodelada, vem sendo aplicado

também aos idosos, com o advento do Estatuto do Idoso.

A titulo de esclarecimento, cabe ressaltar a diversidade de termos utilizados em

diferentes bibliografias consultadas para definir os beneficiários do Passe Livre: encontra-

se termos como “excepcional”, “portador de necessidades especiais”, “pessoa portadora de

deficiência” e nas construções mais atuais, simplesmente “pessoas com deficiência”.

A vulnerabilidade econômica, atrelada à uma situação de deficiência, acentua

consideravelmente a exclusão social, de modo que o Passe Livre é uma forma de proteção a

este segmento vulnerabilizado da população. Através do Passe Livre as pessoas com

deficiência tem acesso ilimitado e gratuito a locomoção, seja ela para tratamento, lazer,

educação, etc., conforme apontamentos de Medeiros et.al (2004).

Entretanto, como percebe-se nos atendimentos à estas pessoas, para

encaminhamento ou renovação do Passe Livre, a maior reclamação existente dá conta da

discriminação e intolerância dos responsáveis por terminais rodoviários, empresas de

transporte coletivo, motoristas e cobradores de ônibus, que demonstram descontentamento,

preconceito em relação aos passageiros pagantes e resistência em aceitar a carteira da

pessoa com deficiência, chegando às vezes ao cúmulo de exigir outra documentação com

foto, como a carteira de identidade, para comprovar que a carteira é realmente de posse da

pessoa que está tentando usar. Isso acontece seguidamente, especialmente quando a

deficiência não é aparente.

No caso dos idosos que possuem o Passe Livre interestadual a situação é um pouco

diferente. Salienta-se, de acordo com constatações no campo de estágio, que é

relativamente mais simples e rápido a concessão do Passe Livre Estadual, aquele em que o

idoso pode viajar dentro do Rio Grande do Sul, do que o Passe Livre Interestadual, que

permite que o idoso viaje gratuitamente a outros estados do Brasil. Este último, além de ser

muito burocrático, tem uma significativa demora no deferimento do pedido, e os idosos

precisam aguardar longamente também pela sua renovação.

Este beneficio, no caso do idoso, é uma grande conquista social, pois este segmento

passa, no Brasil, por vários impedimentos sociais, em geral decorrentes de sua baixa renda.

O Passe Livre proporciona ao idoso que ele possa usufruir de viagens para onde desejar,

possibilidade que seria inviável se fosse preciso empenhar recursos financeiros próprios.

Esse amparo é particularmente importante num momento em que cresce o

percentual de idosos no Brasil. Segundo dados do IBGE, em 1991, a população com idade

acima de 60 anos era de cerca de 10,7 milhões de pessoas, número que atingiu 14,5

milhões, em 2000, representando um aumento de mais de 35% em pouco mais de nove

anos. As estimativas indicam, ademais, que a população de idosos (acima de 60 anos de

idade) deve dobrar nos próximos 20 anos. Ainda segundo o IBGE, a renda média do idoso,

quando este é responsável pelo domicílio, está em torno de 3 (três) salários mínimos.

A União tem a competência para legislar privativamente sobre trânsito e transporte

(art. 22, XI, CF), e é lógico que ao ente do Poder Público responsável pela prestação do

serviço cabe a regulação do mesmo, o que inclui a fixação de tarifas e a eventual concessão

de benefícios. O transporte intramunicipal já está garantido pela Constituição Federal,

conforme estatui o § 2º do art. 230: "Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a

gratuidade dos transportes coletivos urbanos”.

Também o Estatuto do Idoso confirma esta gratuidade, da seguinte forma: “Capítulo

X – Do Transporte:

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares. § 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça prova de sua idade .§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para idosos. § 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo.

Na forma em que se encontra estabelecido, de acordo com Costa e Brandão (2008),

o passe livre é muito contestado pelos empresários do transporte rodoviário por ônibus que,

não concordam em arcar com os gastos decorrentes do transporte gratuito dos idosos, “pois

só receberão o repasse das passagens fornecidas gratuitamente se comprovarem o

desequilíbrio financeiro dos contratos estabelecidos (...)”. Nesse ponto, existe um grande

movimento das empresas que desejam ser ressarcidas pelo Estado, em relação ao custeio

das passagens usadas pelos idosos.

Nesse clima de insatisfação por parte das empresas, não é difícil encontrar situações

de extremo desrespeito a esse direito dos idosos por parte das mesmas, contestando as leis,

negando o acesso ao idoso. Essas situações são freqüentemente relatadas pelos usuários que

procuram orientação da assistente social de como proceder nesses casos.

Os problemas ocorrem partindo de ambas as partes envolvidas, conforme relata

Costa e Brandão (2008), que diz que alguns idosos, na ânsia de garantir a vaga para viajar,

agendam a viajem para o mesmo destino, no mesmo dia e hora, em duas ou mais empresas,

causando transtornos para outros idosos e para as empresas. Outro problema é que as

empresas negam o passe, alegando já terem preenchido as vagas disponíveis, mesmo isso

sendo uma inverdade. Nesses casos a empresa espera que o idoso marque a viajem para

outra data e vende a passagem pretendida por ele.

Alguns idosos omitem renda proveniente de outros rendimentos que ultrapassem o

valor para o recebimento do benefício. Isso ocasiona o uso indevido do beneficio, pois os

idosos acabam burlando os critérios de renda. O Passe Livre do Idoso é, enfim, um direito

social que encontra respaldo no texto constitucional brasileiro.

Quanto ao Beneficio de Prestação Continuada, cabe dizer que este está

fundamentado nas noções de proteção à população idosa, no âmbito da seguridade social.

Em 1993, foi homologada a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, que em seu

capítulo IV, propõe a criação de benefícios de prestação continuada ao idoso e portador de

deficiência que não possuem meios de prover sua própria manutenção ou tê-la provida por

sua família, no valor de um salário mínimo mensal, cujos rendimentos familiares não

ultrapassem ¼ de salário mínimo per capta.

Embora a velhice, nos aspectos psicobiológicos seja a denominação para o período

da vida em que as funções do organismo vão diminuindo progressivamente, até parar em

definitivo, juridicamente o conceito de velhice começa a ser aplicado em pessoas com idade

entre 60 e 65 anos. Este critério é baseado no aspecto cronológico, desconsiderando, por

exemplo, que há pessoas mais jovens que apresentam maiores sinais biológicos de velhice

do que pessoas nessa faixa etária específica.

É o papel da Previdência Social dar cobertura àquelas contingências que afetam

possibilidade de ganho das pessoas. Suas prestações visam substituir uma parte do salário

que deixa de ser percebido pelo segurado incapaz de ganhar. De acordo com Coutinho

(2003), “essa impossibilidade de trabalhar ou de ganhar pode ser ocasionada por riscos ou

por contingências que a vida em sociedade e as limitações decorrentes da velhice

ocasionam”. Porém, numa sociedade onde a Carteira de Trabalho regular e a contribuição

contínua não são uma regra e constituem em privilégio de uma minoria, as pessoas que

trabalharam toda a vida e nunca contribuíram para a Previdência Social ficariam sem

nenhuma espécie de proteção ao chegar a idade avançada, se não fosse o Beneficio de

Prestação Continuada.

São muitos os idosos que empenharam os melhores anos de sua vida no trabalho,

contribuindo para o enriquecimento da nação, mas ao chegarem numa fase da vida em que

não é mais possível continuar trabalhando, não são tratados sujeitos úteis e sim como

objetos descartáveis, como aponta Coutinho (2003). O BPC é um beneficio assistencial,

prestado a quem necessitar da assistência social, independente de contribuição. Os idosos

que são o alvo desse beneficio fazem parte da estatística gigantesca de pessoas que na

juventude, não tiveram acesso ao trabalho informal.

Este beneficio é extremamente excludente, pois a pessoa idosa precisa comprovar

que é absolutamente miserável para conseguir enquadrar-se nos critérios rigorosos de

renda, e ainda, possui regras absolutamente vexatórias, tanto para os idosos quanto para as

pessoas com deficiência, como a revisão que acontece a cada dois anos. ou seja, na perícia,

a pessoa precisa ser avaliada para ser verificado se continua idosa ou se continua deficiente,

mesmo sabendo que a idade não retroage, ninguém fica mais novo, e as deficiências

permanentes não se alteram.

Acredita-se que o BPC, no caso dos idosos especificamente, é importante para garantir a

sobrevivência das pessoas que não tem direito a uma aposentadoria por contribuição.

Porém, esta não pode ser a solução adotada pelos governos nas gerações futuras. Na

verdade, faz-se necessário instituir a obrigatoriedade rígida da Carteira de Trabalho

assinada, para que haja maior comprometimento dos patrões com seus empregados, e além

disso, uma maior flexibilização da contribuição para aqueles trabalhadores autônomos,

informais, cuja renda mal cobre as despesas cotidianas.

Quanto a este último ponto levantado, Lavinas (2007) afirma:

Em lugar de se elegerem novos grupos que devem ser contemplados com um benefício assistencial de prestação continuada da LOAS, cabe, na oportunidade promovida pela reforma, rever o que se tem e o que nos faz cruelmente falta e amealhar os fragmentos do debate. Há que se tecer uma visão integrada e integrativa do sistema de proteção que queremos. Isso implica discutir de forma indissociada a extensão da cobertura social – seja ela assistencial, previdenciária, etc - para todos aqueles, homens ou mulheres, que continuam excluídos do sistema. E, da maneira como está sendo discutida a reforma das aposentadorias e pensões no Brasil, à margem do debate sobre seguridade, dificilmente chegaremos lá (LAVINAS, 2007).

Assim, a perfeição seria atingida quando o direito a uma velhice segura e com o

mínimo de dignidade fosse estendido a todos os cidadãos. Poderíamos comemorar se fosse

estabelecida uma idade mínima universal e também uma renda mínima para todos os

cidadãos que não tem direito a uma renda autônoma nem a um benefício contributivo.

Relacionando a discussão em torno do fenômeno do envelhecimento com o Serviço

Social, Pereira (2005) afirma:

Por ser uma profissão que atua em constante interação com as políticas e os direitos sociais, o Serviço Social não pode ficar alheio à tematização do fenômeno do envelhecimento. E mais, não pode se abster do exame crítico do significado e implicações contextuais desse fenômeno, visto que ele não se dá de forma isolada. O envelhecimento é antes de tudo uma questão complexa (PEREIRA, 2005).

Acentua-se o atendimento de muitos casos de fragilização ou rompimento dos

vínculos familiares em conseqüência da dependência etílica. Alguns casos foram

encaminhados para o Hospital de Irai, para desintoxicação e reabilitação, mas nem sempre

este tipo de tratamento surte o efeito esperado. O alcoolismo, segundo Chaieb e Castellarin

(1998), está centrado como uma das grandes dependências humanas, perdendo apenas para

o tabagismo, e está entre as principais causas da perda de vínculos familiares e

degeneração.

Nascimento e Justo (2000), em um estudo com dependentes etílicos que se tornaram

andarilhos, afirmam que:

O alcoolismo tem sido uma das maiores preocupações da saúde pública no mundo, estando associado a diversos outros problemas como: mortes no trânsito, desentendimentos familiares e afetivos, separação de casais, sendo, também, companheiro inseparável de homicídios, espancamentos de crianças e mulheres, deserção do trabalho, da escola, etc (NASCIMENTO e JUSTO, 2000).

Alguns autores estudados por Nascimento e Justo (2000) apontam o alcoolismo

como resultado de uma soma de fatores biopsicossociais, enquanto outros até admitem a

existência de pré-disposições do ambiente e fatores genéticos como determinantes. Já numa

perspectiva sócio-cultural, estudos apontam que o alcoolismo é resultante de influências

ambientais, como pressões dos amigos, indução familiar, principalmente paterna. Na esfera

psicológica, são vários os fatores que podem vir a fazer com que uma pessoa se torne

alcoolista, regressão emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurança e

fraqueza do ego.

Algumas personalidades são apresentadas como mais propensas ao uso do álcool,

como referenciam Nascimento e Justo (2000) apud Van Kolk et al (1991), como “pessoas

de sujeitos dependentes, tímidos e fugidios, com medo de tomar iniciativas e de assumir

responsabilidades onde a fantasia pode se apresentar como fonte de satisfação ou como

refúgio possível da frustração das aspirações intelectuais”.

Nessa ótica, o álcool funcionaria como um mecanismo de fuga, “devido ao seu

sentimento de inadequação, encoberto por ideais de grandeza, certo perfeccionismo e

exibicionismo, apresentados face à sua auto-imagem negativa. Uma outra característica do

alcoolista é a sua incapacidade para assumir responsabilidades num relacionamento

amoroso permanente”, segundo Nascimento e Justo (2000) apud Sonenreich (1971).

O alcoolista, segundo Nascimento e Justo (2000) apud Castro e Silva Filho (1993),

vai provocando dificuldades no seu relacionamento familiar que se agrava com o tempo.

Melman (1993) interpreta o alcoolista como “um sujeito marcado por uma insatisfação

constante consigo mesmo devido a sua não realização pessoal na sociedade. O sujeito

procura no álcool o refúgio para alcançar sua satisfação, pois, sua existência se apresenta,

na realidade, permeada por uma sensação de insuportabilidade carregada de sofrimento”.

Da mesma maneira, são identificados vários problemas que decorrem do uso do

álcool, como por exemplo, perda do emprego, reclamações, conflitos e rupturas com a

família, perda dos amigos e problemas no relacionamento conjugal (Nascimento e Justo,

2000).

Nas experiências vivenciadas no campo de estágio, evidenciou-se que o alcoolismo

causa rupturas profundas e muitas vezes irreversíveis na estrutura da família. As brigas,

agressões físicas e psicológicas, dentro de um ambiente familiar conturbado, às vezes

desencadeiam a vida errante, ou seja, passam a viver caminhando pelas estradas, migrando

de lugar em lugar, sem residência fixa, sem vínculos afetivos instáveis, sem nenhuma

referência de residência ou de identidade social.

Sobre essa possibilidade, Justo(1998) pondera:

(...) as mudanças ocorridas no plano social, econômico e político, comumente chamados de globalização, impulsionam o indivíduo a grandes movimentações impedindo sua fixação em territórios psicossociais estáveis. Desta forma, o sujeito é estimulado a desertar da vida sedentária e buscar no nomadismo os meios para a sua sobrevivência (JUSTO, 1998).

Sob o ponto de vista de que o alcoolista é um produto das manifestações da questão

social, cabe ressaltar que esta pode ser uma manifestação auto-destrutiva de revolta por não

encontrar um lugar na sociedade. Além disso, o desemprego, a falta de apoio familiar e as

desavenças conjugais são o maior motivo do alcoolismo e do rompimento com a família, e

por vezes, com a vida sedentária.

Em Tuparendi, por exemplo, a Prefeitura Municipal mantém uma casa próxima à

Garagem da Secretaria de Obras, onde estão abrigados, porém não fixamente, cerca de

cinco alcoolistas. Estes vivem em condições subumanas, vivendo exclusivamente para a

manutenção do seu vício. A alimentação e a higiene são precárias, senão quase inexistentes.

Estes alcoolistas, todos do sexo masculino, cuja família não quer reaproximação, já foram

encaminhados inúmeras vezes pela equipe de saúde pública do município, a um Hospital

localizado no município de Iraí, para reabilitação, porém, ao retornarem, voltam para

aquela determinada casa, e não resistem a proximidade com a bebida e voltam a beber.

Neste caso, especificamente, não é só a casa o problema. Na verdade, os alcoolistas

que lá moram já estão em estado avançado de degeneração mental e física causadas pelo

álcool. Isso ocasiona freqüentes doenças, algumas graves, outras não, mas que fazem com

que eles procurem o serviço público de saúde. Sendo assim, deduz-se que eles procuram o

serviço de saúde não para solicitar ajuda para se livrar da dependência etílica, mas sim,

apenas para cuidar de sua doença e conseguir algum remédio que ponha fim ao

desconforto.

Os profissionais da saúde enxergam nesse momento uma oportunidade de tentar

reabilitá-los e oferecem o tratamento contra o alcoolismo, em troca do atendimento médico

para a determinada doença que o acomete. Frágeis e doentes, eles aceitam, fazem o

tratamento, mas quando sua saúde está, na medida do possível, restabelecida, eles

simplesmente voltam a beber. Ou seja, a iniciativa pelo tratamento não parte deles

propriamente, o que diminui consideravelmente as chances de sucesso.

No único caso, dos vários que foram encaminhados à clinica de reabilitação, cujo

paciente está a mais de meio ano sem ingerir bebida alcoólica, a iniciativa do tratamento

partiu dele próprio, com o apoio da família. Por isso retrata-se ser fundamental que o

alcoolista reconheça que a dependência etílica existe, que é uma doença e que precisa de

ajuda. Este, sem dúvida, é o primeiro passo para recuperação. Além desse primeiro passo, o

alcoolista precisa do apoio de familiares e amigos durante o tratamento, e numa terceira

ocupação nessa lista de prioridades, precisa de uma equipe de saúde qualificada e preparada

para lidar com esse tipo de situação, que requer cuidado, paciência, tolerância, persistência

e muito diálogo.

O alcoolismo é uma das facetas de um “mundo social” de excluídos. Esta situação

em que se encontram essas pessoas, com certeza não foi criada ou escolhida por eles, mas

sim, eles foram empurrados para ela por uma sociedade onde não há lugar para todos,

conforme já salientava Castel (1998), quando diz que a sociedade atual é formada de

trabalhadores sem trabalho, não integrados e nem integráveis.

Durante a experiência de Estágio Supervisionado em Serviço Social II, foi possível

verificar que o alcoolismo não é exclusivamente um problema masculino, embora alguns

pais induzam os filhos homens a começarem a beber precocemente para criar “hábitos mais

masculinos”, numa visão machista. Porém, foram atendidos três casos de mulheres

alcoolistas, apenas no período de dois meses (setembro e outubro), o que representa uma

grande incidência desses casos para um município de pequeno porte como Tuparendi.

Nos três casos, as mulheres alcoolistas não admitem que são dependentes, e negam

o fato, por vergonha ou por receio das conseqüências disso, pois todas elas são mães. No

primeiro caso atendido, em conjunto com o Conselho Tutelar, verificou-se que a mulher, de

vinte e sete anos, solteira, está grávida e mesmo assim continua ingerindo bebida alcoólica,

podendo causar sérios prejuízos a formação do bebê.

No segundo caso, também atendido por solicitação do Conselho Tutelar, a mulher

de trinta e quatro anos, residente na zona rural, morando em uma barraca de lona, com

quatro filhos, sendo um deles menor de um ano, bebia de forma compulsiva, não

dispensando cuidados aos filhos, não fazendo a limpeza da casa, das roupas, não

oferecendo alimentação e cuidados de higiene aos filhos, e ainda, sendo vítima de violência

por parte do companheiro, também alcoolista. Recentemente, esta mulher, depois de uma

briga séria com o companheiro, saiu de casa, vindo às pressas para a cidade, onde a

Prefeitura Municipal auxiliou-a arcando com as despesas do hotel, onde ela se alojou até

encontrar uma casa para alugar, um outro problema, pois a única renda que ela possui é o

beneficio máximo do Programa Bolsa Família.

No terceiro caso, a mãe alcoolista passa períodos longos fora de casa, prostituindo-

se. Os três filhos, o menor com apenas oito meses de idade, ficam sob o cuidado do avô e

de uma vizinha, pois o pai trabalha esporadicamente como auxiliar de pedreiro, porém

também é alcoolista, e usa o dinheiro para manter o vício. As crianças apresentam anemia,

e o mais velho tem evidenciado dificuldade de aprendizagem na escola. As brigas são

freqüentes, sendo que na última, a mulher segurava o bebê no colo enquanto ameaçava o

companheiro com uma faca.

Nos três casos, infelizmente, a ação profissional do Serviço Social foi apenas sócio-

emergencial, ou seja, foram auxiliados com alimentos, roupas, pagamento de despesas, etc.

Isso se deve, em parte, ao fato das mulheres negarem a sua dependência etílica e

mostrarem-se resistentes a qualquer medida de intervenção, por parte da equipe de saúde.

É bastante intenso o contato com o Conselho Tutelar em diversos atendimentos,

quando as condições da família em questão oferecem algum risco para crianças e

adolescentes. O Conselho Tutelar, embora muitas vezes apresente dificuldade de

compreensão de alguns fenômenos com os quais ele trabalha cotidianamente, têm

desempenhado um papel importantíssimo no município de Tuparendi, procurando inovar,

ter iniciativas diferentes para melhorar o atendimento de crianças e adolescentes em risco

social.

Além disso, os conselheiros têm freqüentado diversos cursos de capacitação no que

se refere à sua área, e assim, têm visível melhora no que tange a compreensão dos papéis de

um Conselheiro Tutelar. Isso tem qualificado e melhorado o exercício do Conselho Tutelar

no município.

Novamente foi possível verificar a importância do CRAS – Centro de Referência da

Assistência Social, para implantação de programas assistenciais, e as conseqüências

negativas para o trabalho do assistente social causadas pela sua ausência no município de

Tuparendi. O CRAS, segundo o MDS (2008) é:

(...) a unidade pública de assistência social, de base municipal, localizada em

áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à prestação

de serviços e programas sócio-assistenciais da proteção social básica às famílias,

e à articulação destes serviços no seu território de abrangência, de modo a

potencializar a proteção social e atuando na perspectiva da intersetorialidade.

Em primeiro lugar, o CRAS seria fundamental para qualificar o atendimento aos

grupos e aos programas já existentes no município. O Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil, por exemplo, funciona num local alocado na Escola Vera Cruz, o que

gera um ônus significativo para os cofres públicos, e que não tem condições físicas de

acolher o Programa, além de não querer prestar atendimentos que impliquem no contato das

crianças e adolescentes do PETI com os alunos pagantes da escola.

O ASEF e o OASF, grupos freqüentados por mulheres, tem que realizar as suas

atividades em locais emprestados ou inadequados, como na Creche Bruna Dallago,

localizada na Vila Progresso. Bem como o Grupo de Idosas, que precisa usar o Salão da

Comunidade Santa Rosa de Lima, da Vila Glória, o que gera transtornos com a busca de

chave, nos dias em que as pessoas da comunidade estão realizando a limpeza do salão ou

usando-o para as atividades costumeiras, ocasião em que as idosas precisam reunir-se do

lado de fora.

Se existisse um CRAS, com espaço adequado e suficientemente grande, com sala de

reunião especial para esse tipo de atividade, os grupos poderiam ser atendidos de forma

qualificada, podendo armazenar seu material no próprio local, não ter transtornos com

empréstimos de locais, etc.

Em segundo lugar, são inúmeros os programas sociais que só podem ser

implantados no município mediante a existência de um CRAS, sendo essa uma condição

para programas excelentes como o Programa Infância Melhor, ProJovem Adolescente,

Sentinela, etc. algumas ações da proteção social básica precisam ser desenvolvidas

necessariamente no espaço físico do CRAS, outras podem ser realizadas fora dele, mas

desde que sejam a ele referenciadas.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome financia a construção

do CRAS mediante projetos e co-financia o funcionamento dos equipamentos na prestação

de serviços. Existe ainda o CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência

Social, que é “a unidade pública de atendimento especializado da assistência social de

abrangência municipal ou regional da proteção social especial do SUAS – Sistema Único

de Assistência Social” (MDS, 2008). Isso significa que nesses espaços devem ser ofertados

serviços de proteção especial a indivíduos ou famílias vítimas de violência, maus tratos e

outras formas de violação de direitos, especialmente no que tange o abuso e exploração

sexual de crianças e adolescentes.

Como já dizia Nogueira (2005), sem a força estatal e o espaço institucional os

direitos das pessoas ficam desprotegidos e a mercê das oscilações do mundo globalizado.

Reproduzindo esta afirmação para o aparelho estatal municipal, pode-se dizer que é

necessário, para a consolidação das políticas sociais e conseqüentemente, os direitos

sociais, maior vontade política dos governantes e maior emprenho dos profissionais desta

área, além, é claro, de uma destinação maior de recursos orçamentários para este setor.

Essa afirmação interliga-se com a implantação de um CRAS no município de

Tuparendi, afinal, essa é uma necessidade iminente para que os serviços prestados aos

usuários tenham qualidade satisfatória. Porém, para que isso aconteça é necessário, dentre

outras coisas, que o poder público tenha sensibilidade de perceber a necessidade do CRAS,

a importância do mesmo, e a disponibilização de verbas para a sua construção e

funcionamento. Até então, essa não foi a opção da gestão municipal atual, que não se

dispôs a articular com as demais esferas de governo a construção do CRAS.

A experiência de estágio proporcionou aguçar a atitude investigativa, podendo ser

identificadas inúmeras demandas existentes. Apartir dessa investigação no contexto sócio-

institucional e também a análise da conjuntura atual do município de Tuparendi, foi

possível selecionar as demandas mais relevantes e que merecem uma atenção mais urgente

do poder público e do profissional assistente social.

Em um novo processo de escolha, selecionou-se o Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil, especialmente no que tange a Jornada Ampliada, como um programa

muito frágil, em que o atendimento às crianças e adolescentes necessita de melhorias

estruturais. A Jornada Ampliada é um espaço muito importante para os processos sócio-

educativos de crianças e adolescentes retirados de situações de trabalho, porém, através da

observação no Estágio Supervisionado em Serviço Social I, o município de Tuparendi não

contempla as metas do programa.

É uma gama muito restrita de atividades, sendo que na maior parte do tempo as

crianças assistem à vídeos, jogam futebol ou desenham. Raramente são proporcionadas

atividades culturais ou recreativas, e a parte da educação, especialmente no que se refere a

articulação com a Escola Regular é extremamente pobre. Por esses motivos que o Projeto

de Investigação e Intervenção do Serviço Social no contexto Institucional, requisito de

avaliação no componente curricular de Estágio Supervisionado em Serviço Social II, foi

elaborado com vistas à inclusão digital de crianças e adolescentes inseridos no Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil (conforme Anexo III).

2.1 Campanha eleitoral e eleições: um capítulo à parte.

O processo eleitoral, envolvendo a campanha, as eleições e o período de transição

entre a gestão atual e a próxima foi bastante conturbado e interferiu direta e indiretamente

na dinâmica institucional. Toda essa mobilização em torno da escolha do Prefeito e dos

nove vereadores tiveram muitas repercussões no funcionamento da Secretaria Municipal de

Assistência Social, como relatar-se-á em seguida.

Um dos primeiros fatos relacionados à eleição aconteceu logo no inicio da

Campanha Eleitoral, quando o arquivo que continha as Fichas Socioeconômicas de todos os

usuários da assistência social em Tuparendi foi retirado da sala da assistente social e

transferido para a farmácia da Unidade de Saúde, onde uma auxiliar administrativa passou a

realizar a entrega de auxílios de toda ordem, como materiais de construção, fraldas,

alimentos, entre outros gêneros.

O assistente social foi responsável historicamente pelo processo de triagem e

seleção, e no município de Tuparendi, esta responsabilidade data desde a inserção desse

profissional na instituição, no ano de 2000, sendo que antes disso, essa responsabilidade era

das primeiras-damas e seus cargos de confiança.

A versão dos gestores é de que houveram muitas reclamações por parte de muitos

usuários quanto ao tratamento dispensado a eles pela assistente social, o que ocasionou

muito descontentamento por parte das pessoas que precisam dos auxílios. Por isso os

gestores decidiram retirar a responsabilidade sobre os auxílios emergenciais da assistente

social e também o arquivo de Fichas Socioeconômicas da sala da mesma, transferindo esta

incumbência para a auxiliar administrativa.

Porém, essa transferência de responsabilidades não se deve ao comportamento da

assistente social, mesmo por quê, se este fosse o caso, as medidas a serem tomadas seriam

outras. Curiosamente, esta mudança operou-se exatamente às vésperas da campanha

eleitoral, e depois disso, os auxílios são concedidos e depois se procura a assinatura do

profissional.

Segundo informações da assistente social Elizabét Cabaldi, a demanda por cestas

básicas aumenta drasticamente no período de campanha eleitoral. Dessa afirmação, pode-se

concluir que as motivações dessa atitude está na possibilidade de utilizar os auxílios

emergenciais e por conseqüência, os recursos públicos, para realizar uma campanha

eleitoral dentro da instituição, em busca de votos. Este é um hábito costumeiro desde os

primeiros anos de história política democrática de Tuparendi.

Nessas eleições, o sucessor do atual prefeito Ivo Turra (PP), o então Secretário

Municipal de Saúde e Ação Social Olavo Pawlak, concorreu ao cargo de prefeito numa

coligação bastante peculiar entre Partido Progressista (PP), Partido dos Trabalhadores (PT),

Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Partido do Movimento Democrático

Brasileiro (PMDB), ou seja, os demais partidos mais expressivos de Tuparendi, tanto

financeiramente como em número de filiados a nível municipal, e a nível estadual, uma vez

que possuem a governadora Ieda Crusius e o Presidente da República, Luis Inácio Lula da

Silva.

O opositor, Itálico Cielo, concorreu pelo PDT apoiado apenas pelo PTB e PPS,

partidos menos expressivos a nível municipal e também nas outras duas esferas de governo.

Nesse contexto, não é difícil identificar a razão do uso das cestas básicas em busca de mais

votos: O Partido Progressista permaneceu no poder por oito anos, ocasionando extremo

desgaste com a população e correndo sérios riscos de perder a prefeitura para o oponente,

que embora não tivesse experiência na gestão pública, é um sindicalista muito identificado

com causas populares, especialmente da parcela rural.

Além disso, nas eleições passadas a fiscalização e a Lei Eleitoral não era tão rígidas,

e de certa forma eram extremamente permissivas a sorrateira distribuição de alimentos nas

vilas da cidade e nas casas mais pobres do interior. Hoje, isso reverte em criminalização,

então, opta-se por uma distribuição mais velada, usando do ambiente institucional e do

amparo de uma assistente social.

No dia 05 de outubro, em ocasião das eleições municipais, o prefeito eleito com

uma apertada diferença de 121 votos, foi Itálico Cielo, sindicalista que representava a

coligação entre PDT, PTB e PPS. O tão expressivo Partido Progressista, e sua coligação

fortíssima perdeu, mesmo tendo montado uma invejável estrutura. Certamente, a população

de Tuparendi, assim como de outros tantos municípios da região, embarcou na idéia de

mudança, e erradicou desta vez as pessoas que já estavam a muito tempo no poder.

A idéia de mudança é sedutora, afinal, sabe-se que quando as mesmas pessoas

ocupam os mesmos cargos numa mesma instituição, acaba-se criando raízes muito

profundas e os desgastes são inevitáveis, na medida em que falamos de seres humanos, e

ninguém é absolutamente infalível. O certo é que o futuro prefeito terá a grande

responsabilidade de corresponder as expectativas da maioria da população que o elegeu,

quanto a proposta de mudança. Precisa-se lembrar que qualquer pessoa que assuma o

governo, antes de qualquer coisa é um ser humano, que aglutina uma série de defeitos e

qualidades, pois todos nós somos passiveis de imperfeições e de erros, portanto, não

devemos julgar a qualquer pessoa com base na intolerância e na crítica, precipitadamente,

afinal, acredita-se que a intenção é fazer o melhor, mas a perfeição é muito complicada de

ser atingida.

A vitória do candidato de oposição causou muitas repercussões na dinâmica

institucional, visto que a equipe da S.M.S.A.S que estiveram intensamente mobilizados na

campanha do chefe, Olavo, passaram por um visível momento de crise. O clima era pesado,

tenso e de extrema insegurança. Os cargos de confiança, especialmente, na certeza de sua

substituição, simplesmente abandonaram a sua forma antiga de trabalhar, e se jogaram

numa significativa má vontade para com os usuários. o critério de atendimento passou a ser,

e principalmente, em quem o usuário havia votado.

Os funcionários concursados, embora saibam que não serão demitidos, tem a

consciência que irão regredir dos cargos de secretário, diretores, etc. para auxiliares,

telefonistas, balconistas. Isso gerou e ainda gera um ambiente de mistura de vários

sentimentos em relação ao novo.

Além disso, o quadro de pessoal encontra-se curioso quanto à formulação do novo

quadro de secretariado e funcionalismo público da próxima gestão. Argumenta-se que a

coligação de partidos que apóia o futuro prefeito é frágil, pouco expressiva e que aglutina

um número insuficiente de pessoas com perfil adequado para o preenchimento dos cargos

necessários.

O certo é que a mudança vai interferir, positiva ou negativamente na dinâmica

institucional e no cotidiano profissional de todos os envolvidos, inclusive da assistente

social. o quadro de cargos de confiança será totalmente substituído, e os concursados

voltarão aos seus postos primitivos de trabalho. Sendo assim, as profundas transformações

afetarão o Serviço Social, refletindo diretamente nos rumos do seu sentido de atuação na

Instituição.

Conforme as informações colhidas em ocasião da elaboração do Conhecimento da

Instituição no Estágio Supervisionado em Serviço Social I, a atuação do Serviço Social

ainda é muito recente, ou seja, a presença do profissional assistente social em tempo

integral data de 2000, exatamente no ano da posse do atual prefeito Ivo Turra, que foi

reeleito em 2004, numa eleição sem oponentes, visto que daquela vez, o sindicalista Itálico

Cielo renunciou às vésperas das eleições.

Dessa forma, a assistente social ainda não passou, durante sua trajetória nesse

município, por um período de transição e de mudança de prefeito, e via de regra, sempre

seguiu uma linha de atuação inerente aos interesses daquele Programa de Governo, ou seja,

naquilo que o governo julgava ser a melhor opção para o município em termos de

assistência social.

Foram oito anos em que a assistência social permaneceu na mais absoluta

obscuridade, secundária e sem visibilidade na Instituição. A vontade política dos gestores

sempre foi voltada para a saúde, não como uma prioridade do governo, mas como uma

vitrine em potencial para o reconhecimento popular da administração e uma possível

reprodução no poder.

Foi através da vitrine da saúde que o Partido Progressista “fabricou” seu sucessor,

Olavo Pawlak, até então um ilustre desconhecido. Na verdade, utilizaram-se da saúde para

galgar as escadarias da fama, e este aspecto foi largamente veiculado a campanha, na

medida em que estiveram presentes palavras como “gratidão”, insinuando que o povo

precisava ser grato a Olavo por ele ter “salvo suas vidas”, como se fosse um super herói.

Isso se deve ao pouco entendimento do povo sobre seus direitos, pois é amplamente

reconhecido que a saúde é um direito do cidadão, e seja lá quem for o gestor municipal,

recebe um salário para isso e não faz nada além da sua obrigação, visto que as pessoas

pagam impostos para custear a saúde pública. Portanto, não é nem um favor atender as

pessoas de forma satisfatória.

Porém, é justo lembrar que se Olavo usou da saúde para promover-se, Itálico Cielo

usou seu cargo eterno de Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, promovendo-se

através da construção da imagem de salvador da pátria. Sua estratégia de marketing era os

protestos públicos nas ruas, com atitudes de impacto, como por exemplo, dois agricultores

puxando uma carroça, além de queimar bandeiras do PT e fotos do Presidente Lula. Os

protestos não surtiram efeito prático, pois eram apenas manifestações isoladas num

município distante, dadas as imensas dimensões territoriais do Brasil, mas para o

trabalhador, oprimido e revoltado, é importante agarrar-se a um herói para continuar tendo

esperança que alguém vai resolver seus problemas. Tudo isso resultou na popularidade do

sindicalista, que assumirá a Prefeitura nos próximos quatro anos.

Quanto a Assistência Social, como a vitrine era a saúde, esta sempre foi uma

coadjuvante apagada no espetáculo, recebendo a indiferença dos gestores,

Notadamente, seja lá qual foi a lógica utilizada pelo povo para escolher o novo

prefeito, não foi a mesma adotada para a escolha dos representantes do Poder Legislativo.

A idéia de mudança abraçada pelo povo de Tuparendi na hora de votar no sindicalista

Cielo, não foi a mesma que a maioria dos eleitores usou para eleger os vereadores, afinal,

os quatro candidatos que concorriam a reeleição conseguiram uma votação bastante

expressiva. A novidade ficou por conta dos futuros vereadores Pereira, Dr. Helio Kerkoff,

Edemar Sanagiotto e Ajadir Sonza, de modo que a advogada Beate Petry marcou nessa

eleição o seu retorno a trajetória política do município.

Com certeza, só pelo fato do futuro prefeito estar desligado do poderoso bloco que

circundou nos últimos oito anos a administração do Partido Progressista, irá desmontar

estruturalmente o quadro de funcionários da Prefeitura Municipal e montar outro novinho

em folha, isso por si só já é uma tremenda mudança.

Em outro aspecto, governar com apenas três vereadores na Câmara será sem dúvida

um desafio enorme, que exigirá do nosso futuro prefeito um imenso jogo de cintura,

articulação política e será uma ótima oportunidade de exercitar-se o diálogo e o debate em

beneficio da coletividade, do município de Tuparendi.

Além disso, esta nova configuração no município afeta muitos outros setores,

indiretamente, pois estando o líder sindical Itálico Cielo ocupando pelos próximos quatro

anos o Gabinete do Prefeito Municipal, a pergunta que não quer calar é quem afinal, estará

habilitado para substituí-lo no Sindicato de Trabalhadores Rurais. Até pelo seu forte poder

de persuasão e de liderança dentro da entidade, Cielo sempre foi o cérebro do Sindicato, e é

difícil encontrar um nome igualmente relevante quanto o dele, sob o olhar da maioria dos

associados.

Há quem especule uma possível eleição sindical, como houve em 2005. Por outro lado, há

quem aposte num sucessor entre os discípulos de Cielo, o que é bem mais provável, que dê

continuidade as ações do então dirigente, e que dessa forma, o mesmo continue sendo o

cérebro da entidade. Não há como negar que o quadro social do Sindicato encontra-se

apreensivo e no mínimo, curioso para saber os rumos que a instituição sindical irá tomar.

3. Avaliação do processo pedagógico

3.1 Avaliação do Processo Pedagógico de Formação Profissional

Em relação ao processo pedagógico na academia, realizou-se encontros de

supervisão acadêmica coletiva, onde foram tratados assuntos do nosso interesse,

repassados conhecimentos essenciais para a nossa formação profissional e recebeu-se

explicações detalhadas sobre as formas de avaliação do componente curricular.

Quanto aos encontros de supervisão acadêmica coletiva, observa-se que uma

questão negativa diz respeito ao fato das aulas serem quinzenais. Tendo encontros apenas

de quinze em quinze dias, fica-se muito tempo sem contato com a supervisora

acadêmica. Esse aspecto também dificulta a troca de experiências entre as colegas,

coletivamente, uma vez que faz-se isso nas conversas de bastidores.

Este fato é amenizado pelo constante acompanhamento através dos diários de

campo que são entregues à supervisora e devolvidos com observações, o que representa

uma forma de diálogo. O diário é um instrumento importante no sentido de que, através

dele, acompanha-se o acadêmico de forma contínua e sistemática, ao mesmo tempo que o

estagiário pode se auto avaliar constantemente.

Os outros instrumentos de avaliação são igualmente importantes, como o Plano,

onde o próprio acadêmico constrói seus objetivos enquanto estagiários e depois, ao fim

do semestre, pode retomar suas construções e verificar os avanços e retrocessos no

processo de estágio.

3.2 Avaliação dos objetivos propostos no Estágio Supervisionado I

Dentre as atividades propostas no Plano de Estágio Supervisionado em Serviço

Social II, alguns foram atingidos e outros não. Foi possível apreender instrumentos e

técnicas no Serviço Social: planejamento, observação, realização de entrevistas, visitas

domiciliares, estudo e pereceres sociais, etc. estando estes conhecimentos ligados à

comparação da prática com a teoria oferecida no componente curricular de Estágio

Supervisionado em Serviço Social II e também em outros componentes.

Em relação às leituras a serem realizadas, algumas foram contempladas, outras

foram deixadas de lado em decorrência de, durante o estágio, surgirem outros interesses

que suscitaram a necessidade de novas leituras relacionadas à novos temas,

especialmente o trabalho infantil e a inclusão digital, eixos temáticos do Projeto de

Intervenção e Investigação do Serviço Social no Contexto Institucional.

A leitura é algo fundamental e obrigatório para o acadêmico que deseja estar

qualificado para a prática profissional, pois permite uma expansão do universo de

conhecimentos sobre cada fenômeno com os quais o Serviço Social trabalha.

Procurou-se aprofundar os conhecimentos acerca da política de assistência social

no município, o que foi possível através do estudo criterioso dos documentos existentes

no campo de estágio, exceto aqueles aos quais não foi permitido acesso. Também os

programas existentes foram estudados, em relação a realidade local, porém, os objetivos

e relatos encontrados na documentação, nem sempre estão em consonância com as

atividades desenvolvidas na prática pela Diretoria de Ação Social, o que sugere uma

certa discrepância entre o que está no papel (no Plano e nos Projetos), com o que está

posto na realidade.

Para construção de uma proposta interventiva útil, e que fosse reaproveitada na

Instituição após a conclusão do Estágio Supervisionado, ou seja, o principal objetivo

exposto no Plano, foi necessário exercitar a objetividade, na medida em que eram

inúmeras as possibilidades de intervenção que seriam úteis para os usuários, tendo em

vista a fragilidade dos gestores em criar alternativas novas, ousar, inovar em relação ao

atendimento ao seu público alvo.

Ainda no Estágio I, a idéia era aproveitar as roupas que sobraram da Campanha

do Agasalho para confeccionar acolchoados, com a participação das mulheres dos grupos

e sob a orientação da instrutora da EMATER/ Tuparendi. No entanto, não recebeu-se

apoio, pois a Diretoria de Ação Social ressaltou que teria outros planos para os agasalhos.

Quanto à isso, ressalta-se que os agasalhos continuam armazenados até o presente

momento no mesmo local, sem que ninguém esboce nenhuma reação de fazer algo com

eles.

Num segundo momento, pensou-se em buscar um curso, que fosse condizente

com o interesse do público alvo, para os beneficiários do Programa Bolsa Família,

preferencialmente usando os recursos do IGD, enviado mensalmente para o município.

Ao levantar-se essa hipótese, foi ressaltado que estes recursos não estariam disponíveis

no momento para essa finalidade.

Mais tarde, definiu-se o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil como alvo

da proposta de intervenção, no que surgiram várias hipóteses, como por exemplo, aulas

de artes com professores voluntários (acadêmicos do curso de Artes Visuais), orientações

nutricionais através do Cozinha Brasil do SESI (um caminhão do SESI que viaja pelo

Brasil todo visitando cidades conforme agendamento, prestando atividades de educação

alimentar e nutricional para as comunidades, mas que, devido a demora na fila de espera

pelo programa poderia inviabilizar a aplicação do Projeto).

Por fim, de acordo com a demanda trazida pelas próprias crianças e adolescentes,

ao serem indagadas sobre as melhorias que gostariam de ter no PETI, definiu-se que o

Projeto seria baseado na inclusão digital de crianças e adolescentes inseridos no

Programa, como uma ação da Jornada Ampliada.

Foi possível colaborar bastante, nas sugestões que foram aceitas, na melhoria do

atendimento dos usuários e também no que tange a construção de documentação do

Serviço Social, como estudos e pareceres sociais.

Com a visita de fiscalização do CFESS no campo de estágio, foram realizadas

algumas modificações no ambiente, entre elas, colocou-se no espaço uma mesa para as

estagiarias, porém, não é possível realizar atendimentos simultâneos mesmo assim,

devido a falta de privacidade do ambiente. Atender os usuários ao mesmo tempo

significaria constrangê-los, pois eles seriam obrigados a exporem as suas demandas na

presença de outro usuário. Assim, não foi possível colaborar no atendimento dos usuários

do Plantão Social.

3.3 Avaliação do Processo de Supervisão

3.3.1 Supervisão Acadêmica

Durante este semestre foi uma unanimidade um certo sentimento de ausência da

supervisora acadêmica, na medida em que esta esteve mais afastada do Campus Santa

Rosa. Porém, acredita-se que este fato não tenha prejudicado a formação acadêmica, na

medida em que é possível manter contato através de outros meios de comunicação.

Porém, nos encontros de supervisão coletiva os assuntos escolhidos foram de

fundamental importância para que pudéssemos aplicar na prática de estágio, e também

houveram atividades inovadoras e estimulantes, como a atividade das palavras cruzadas e

da elaboração da Estrada da Formação Profissional.

Durante os encontros na Universidade também recebemos orientações detalhadas

de como construir cada trabalho relacionado ao Estágio, especialmente o Relatório e o

Projeto, o que facilitou a compreensão na hora de elaborar a documentação.

As formas de avaliação também se constituíram como justas e democráticas, na

medida em que foram valorizados os esforços para construir os trabalhos destinados a

elaboração de nota. Todas as orientações são feitas buscando um maior empenho e

dedicação do acadêmico, o que implica em cobrança e estímulo.

3.3.2 Supervisão de Campo

Em primeiro lugar, a supervisora de campo, durante suas férias estendidas até o

início do mês de setembro, poderia ter indicado atividades para que fossem

desempenhadas nesse período de ausência, como por exemplo, a permanência no Grupo

de Idosas, às quintas- feiras à tarde. Porém, preferiu que as estagiárias ficassem esse

período completamente afastadas da Instituição.

Em segundo lugar, no retorno dessas férias, a supervisora acolheu mais duas

estagiárias e com isso, sem aviso prévio, trocou o dia de estágio da quinta-feira para a

sexta-feira, pois era o dia de preferência de uma das novas estagiárias da Fundação

Educacional Machado de Assis. Esse fato foi prejudicial na medida em que foi cortado o

vinculo que vinha sendo construído ao longo do Estágio I com as idosas do Grupo que

funciona nesse dia. Observa-se que não foi feita nenhuma espécie de tratativa anterior a

respeito dessa troca do dia de estágio, nem através do telefone e nem de e-mail, o que se

constituiu em algo um pouco desagradável.

Nas sextas feiras não há grupos e nem reuniões dos conselhos de direitos ou

setoriais, o que prejudicou também a participação nestes. Quanto às atividades que

poderiam ter sido aprofundadas durante esse semestre, verifica-se que a supervisora não

permite que sejam realizados contatos mais próximos com estas. Por exemplo, não foi

permitida nenhuma visita ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil durante esse

semestre. No dia 06 de outubro de 2008 as crianças e adolescentes do PETI foram para o

Centro Cívico e Cultural Antonio Carlos Borges e após fizeram um piquenique no

Parque de Santa Rosa, atividade na qual as demais estagiárias foram convidadas a

participar.

A supervisora de campo não oferece condições de aprendizado mais aprofundado,

tolhendo as iniciativas. Acredita-se que a mesma poderia ter proporcionado maiores

momentos de autonomia nas atividades, como, por exemplo, poder realizar entrevistas,

avaliações, estudos e visitas domiciliares, visto que as atividades somente são realmente

apreendidas durante a pratica profissional.

Não foram incentivadas participações nas reuniões dos Conselhos, como no

semestre passado, bem como não houve novamente contato com a Escola Especial, com

o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e com os grupos. Não houve apoio para

nenhuma das idéias de elaboração do Projeto de Intervenção, como se todos fossem

constituir um entrave para a continuidade da rotina da instituição.

3.4 Auto-avaliação

A experiência de estágio não tem sido algo banal. Têm ocasionado mudanças de

opinião, de posição, conflitos internos, e com certeza deixará marcas profundas para a

formação profissional e também pessoal, na medida em que pensa-se que é impossível

separar uma coisa da outra.

A ética profissional não é nada mais do que uma forma de caráter. E caráter é

uma qualidade que se têm ou que não se têm, que se cultiva ou que não se cultiva.

Acredita-se que se está dando conta de todas as atribuições, papéis e obrigações

enquanto estagiária, porém, o conflito interno é uma constante.

Pensa-se que as atividades profissionais possuem uma certa polaridade: ou estão

corretas ou não estão. E se não estiverem corretas, podem prejudicar a vida de muitas

pessoas, na medida em que o Serviço Social trabalha com seres humanos. E errar, com

seres humanos, pode ter conseqüências desastrosas. Compara-se com o erro médico, que

pode ser fatal, o erro dos profissionais das ciências humanas podem ocasionar piora na

situação de vulnerabilidade social, aumento do risco social e mais, impossibilidade de

emancipação social.

Está sendo muito rica a experiência de estágio, justamente pelo fato de aprender

a tolerar, ter paciência, e não verbalizar as opiniões quando estas possam ser inoportunas.

Porém isso não significa que a opinião não exista. É a oportunidade de amadurecer os

pensamentos antes de socializá-los com as pessoas.

É essencial reconhecer que não só os usuários têm problemas, mas também todos

os seres humanos, que convivem conosco, inclusive nós mesmos. É uma habilidade

fundamental para o Serviço Social não julgar as pessoas pelos seus atos, mas isso não

quer dizer se omitir, fechar os olhos para eles. Quando ocorre uma violação de direitos,

uma irregularidade, as pessoas precisam ser responsabilizadas.

Acredita-se que esse senso de justiça extremamente aguçado, às vezes acarrete

muitas crises internas, pois confronta-se os valores morais pessoais com a atuação

profissional. Na verdade é muito difícil “peneirar” os fatos e deixar de lado aqueles que

não estão ligados diretamente à aprendizagem profissional.

A elaboração do relatório e do Projeto de Intervenção II foi uma oportunidade para

exercitar a objetividade e selecionar os fatos mais relevantes, as demandas mais urgentes,

conforme foi cobrado pela supervisora acadêmica durante o Estágio, no que tange a

construção dos documentos do componente curricular.

Há muito ainda para melhorar, e espera-se que no estágio II o aprendizado possa ser

mais rico e que aprenda-se a controlar o senso de justiça, que muitas vezes, ao invés de

ajudar, acaba atrapalhando.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO I

FICHA SÓCIO-ECONÔMICA DA PREFEITURA MUNICIPAL DE TUPARENDI

ANEXO II

MODELO DE “PARECER SOCIAL”

ANEXO III

FOTOS

ANEXO IV

PROJETO DE INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO INSTITUCIONAL

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

PROJETO DE INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO INSTITUCIONAL

“Projeto Inclusão Digital no PETI”

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL II

Juliana Costa Meinerz Zalamena

Santa Rosa, RS, 2008.

1 Identificação Nome do Projeto: “Projeto Inclusão Digital no PETI”. Instituição Responsável: Prefeitura Municipal de Tuparendi/ Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social. Equipe: Estagiária em Serviço Social Juliana Zalamena Supervisora de Campo: Elizabét da Silva Cabaldi Supervisora Acadêmica: Lislei Terezinha Preuss

2. Apresentação

Este projeto trata da inclusão de crianças e adolescentes inseridos no Programa

de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, no mundo da informação, através de um

curso de informática oferecido em uma das empresas de prestação desse tipo de serviço

disponível em Tuparendi /RS.

A abordagem do exposto privilegia o eixo de discussão acerca da exclusão social

ocasionada pela questão social e suas inúmeras manifestações, e o impacto disso na vida

de adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Uma dessas conseqüências é o uso

da mão de obra infanto-juvenil como um incremento na renda familiar, ocasionando

repetência e evasão escolar, problemas diversos no desenvolvimento biológico,

psicológico e social das crianças e adolescentes.

Para coibir o uso da mão de obra infantil, existe no município de Tuparendi o

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, implantado em 2006. Este programa

funciona apartir de três eixos: o repasse de uma bolsa para as famílias inseridas, no

intuito de substituir a renda da criança, o trabalho intenso com as famílias e a Jornada

Ampliada.

Na Jornada Ampliada, a proposta é que sejam realizadas atividades lúdicas,

recreativas, educativas, culturais, artísticas, etc. No município de Tuparendi a Jornada

Ampliada atende atualmente 25 crianças e adolescentes de sete a quinze anos. Os

integrantes são oriundos, em sua totalidade, de famílias em extrema vulnerabilidade

social.

Um dos aspectos que atinge essas famílias em vulnerabilidade social é a

desigualdade de oportunidades. Ou seja, as famílias enfrentam dificuldades até mesmo

para suprir as necessidades básicas. Considerando este fato, a impossibilidade da família

arcar, por exemplo, com o pagamento de cursos de informática para seus filhos é uma

realidade inquestionável, o que os acrescenta na enorme massa da população que é vítima

de exclusão social.

Enquanto nas classes médias e altas, freqüentar cursos de informática é uma

atividade corriqueira no cotidiano de crianças e adolescentes, para as crianças e

adolescentes inseridos no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, essa é

uma hipótese quase improvável. Crianças e adolescentes de classes mais abastadas

possuem várias oportunidades de apreensão de conhecimento, sendo estes inseridos

precocemente em diversas formas de aprendizado, abrangendo até mesmo outras áreas de

conhecimento, como línguas e arte. Porém, para as crianças e adolescentes do PETI, a

Jornada Ampliada se constitui numa das poucas chances de ter acesso a atividades como

essas.

No desenvolvimento do projeto, consta as justificativas acerca da importância do

projeto, e também o embasamento teórico acerca de questões tratadas ao longo do

mesmo, ou seja, as motivações e implicações do trabalho infantil, o Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil, a Jornada Ampliada e o contexto da exclusão e

inclusão digital no Brasil.

Levando-se em consideração que a inclusão digital é um pressuposto fundamental

para garantir a igualdade de oportunidades entre as classes sociais, busca-se elaborar um

plano de ação para que crianças e adolescentes em vulnerabilidade social possam ter

acesso a um curso qualificado de informática, que é sem dúvida, uma prerrogativa

fundamental para a melhoria da qualidade da Jornada Ampliada, da educação oferecida

às crianças e adolescentes, e do incentivo precoce pela busca futura por mais

qualificação.

Por fim, expõe-se a metodologia, ou seja, o detalhamento minucioso de como as

ações serão postas em prática, saindo do papel e ganhando status de realidade, bem como

a exposição detalhada dos recursos humanos e materiais a serem empenhados, além dos

cronogramas físico (períodos da execução) e financeiro (relação de valores).

3. Diagnóstico

A sociedade capitalista instituiu a existência de classes sociais apartir da divisão

social do trabalho. Para designar essas classes, comumente usa-se a denominação de

classe baixa, média e alta, apartir das desigualdades evidentes entre elas, ou seja, a

discrepância entre cidadãos que possuem muito, em relação a aqueles que não possuem

quase nada.

De acordo com Marx (1984), as desigualdades sociais existiram em todos os

sistemas de organização social, desde que o homem passou a dividir o trabalho e

instaurou a propriedade privada, ainda que primitivamente. Porém, as formas de

produção capitalista, e a divisão do trabalho, com a desapropriação do homem de seu

meio de produção, a separação do produto do trabalho, e por último, a transformação do

trabalho em mercadoria acentuaram as desigualdades já existentes e criaram novas

formas de exclusão social.

Ao conjunto de conseqüências negativas do sistema capitalista, especialmente do

conflito entre capital e trabalho, é chamado de “questão social” (IAMAMOTO, 1998).

As diversas manifestações dessa questão social são objeto de estudo e de trabalho do

Serviço Social e conseqüentemente, do profissional Assistente Social. A questão social é,

portanto, nada mais do que a soma de problemas sociais, de desigualdade e exclusão as

quais as pessoas, especialmente as de baixa renda, são vítimas freqüentemente, em

decorrência da lógica capitalista exploradora e excludente.

No município de Tuparendi, são poucas as famílias que ostentam características

de classe alta. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano (PNUD, 2000),

apenas 10% da população concentram 42,48% da renda, e por outro lado, 80% da

população mais pobre acumula somente 41,90% da renda.

É uma minoria também que são assalariados, com Carteira de Trabalho regular e

uma situação estável de vida, comuns a classe média. Uma grande parcela da população

sobrevive do trabalho informal, isento de direitos sociais e sujeito a contingências, mas

que, entretanto, conseguem manter um certo padrão razoável de vida.

O objeto mais significativo de intervenção do Serviço Social na instituição vem a

ser, justamente, aqueles que, vítimas de muitos tipos de exclusão social, sem qualificação

profissional, sem condições de moradia, com empregos temporários, esporádicos e

precários, não conseguem dar conta das suas despesas cotidianas. Muitas dessas famílias

não possuem nenhuma espécie de rendimento próprio, e sobrevivem graças ao beneficio

do Programa Bolsa Família e auxílios da Assistência Social para suprir necessidades

emergenciais, especialmente a alimentação, vestuário e medicação.

No espaço sócio-institucional verifica-se a existência de inúmeras famílias

vulnerabilizadas, em diversos aspectos, principalmente economicamente, dada a

quantidade de famílias que de alguma forma, precisam ser auxiliadas, seja com gêneros

de primeira necessidade, medicamentos, materiais de construção, etc. A Diretoria de

Ação Social conta, em seu arquivo, com 1236 Fichas Sócio- Econômicas (FSE), sendo

que destas apenas 34 pertencem a cidadãos já falecidos.

Esta situação é causada por diversos fatores, entre eles a descapitalização da

agricultura, o êxodo rural e as oportunidades de emprego escassas, para que as famílias

possam prover o sustento de seus membros com uma certa tranqüilidade. As crianças e

adolescentes provenientes destas famílias são vítimas de várias formas de exclusão

social, de preconceitos, falta de oportunidades, etc.

A população de Tuparendi decresceu consideravelmente nas últimas décadas. Em

1991, a população que era de 9843 habitantes, caiu em 2000 para 9542 habitantes

(PNUD, 2000). Recentemente, a PNAD (2007) apontou que o município de Tuparendi

conta atualmente com uma população de 8793 habitantes. Enquanto a população, em seu

total, diminui, a parcela que se encontra em vulnerabilidade social aumenta

consideravelmente.

De acordo com o relatório de administração de 1983/1985, a Secretaria de Bem

Estar Social e Desenvolvimento Comunitário (ou Núcleo da LBA) tinham uma média de

112 famílias que freqüentemente procuravam por auxílios. No relatório da gestão

municipal de 1989 a 1992, o levantamento sócio-econômico do município apontava para

240 famílias cadastradas. Posteriormente, no relatório de atividades da gestão 1997/2000,

encontramos um número aproximado de 331 famílias atendidas pelos auxílios da

Diretoria de Ação Social. Em comparação a hoje, quando são cadastradas nas Fichas

Sócio-Econômicas 1236 pessoas, é possível afirmar que as famílias em vulnerabilidade

social, atendidas pela assistência social, têm aumentado drasticamente.

Visto que estas famílias não têm condições de prover, muitas vezes, a própria

sobrevivência e a aquisição de suprimentos básicos, como alimentação, vestuário e

medicamentos, os seus filhos, foco da discussão do presente projeto, não possuem a

mínima chance de freqüentar cursos que lhe proporcionem inclusão digital na atual

sociedade da informação.

Os adolescentes oriundos de famílias em vulnerabilidade social, não têm acesso

as mesmas oportunidades de um jovem de classe média ou alta, pois não podem pagar,

por exemplo, por serviços de educação externos ao ensino público. Enquanto o

adolescente de classes mais abastadas têm acesso fácil a um curso de informática, o

adolescente pertencente as classes mais baixas mal conseguem concluir o ensino público,

tão precárias são as condições de sua família.

Ao Serviço Social cabe intervir, através de seu conhecimento profissional e de

seus instrumentos de trabalho, para minorar as desigualdades sociais das quais estes

adolescentes são vítimas, garantindo meios de acesso e a eqüidade nas oportunidades,

garantindo assim, maiores possibilidades de inclusão social.

Muitas destas famílias, no intuito de complementar a renda familiar, expõem os

filhos a uma série de formas de trabalho infantil, como catar latas, auxiliar em

construções, cuidar de crianças menores, etc. além do aspecto econômico do trabalho

infantil,ou seja, auxiliar no sustento da família, existe o aspecto subjetivo, muitos pais

acreditam que inserindo os filhos precocemente no trabalho estarão prevenindo seu

possível ingresso no mundo da criminalidade(Campos e Alverga, 2001 ).

Esta prática seja motivada por questões econômicas ou pela crença

indiscriminada na dignidade do trabalho, ocasiona sérios prejuízos ao desenvolvimento

saudável destas crianças e adolescentes, visto que sua integridade física está ameaçada,

além de todas as implicações psicológicas que compõem as peculiaridades desta fase

infantil. As crianças e adolescentes não estão preparados para assumir a responsabilidade

integral de trabalhar, na medida em que precisam ter seus direitos de estudar e brincar,

fazer as atividades condizentes com a sua idade, enfim, terem o direito de viverem uma

etapa da vida de cada vez.

O governo brasileiro, em vista das determinações constitucionais, não permite o

uso de mão de obra infantil, e tem criado diversas medidas de proteção a criança e ao

adolescente, previstas na Constituição Federal de 1988, da Consolidação das Leis

Trabalhistas – CLT e mais recentemente no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,

e operacionalizadas por uma série de políticas de atenção especial a este público alvo, na

qual o carro chefe é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI.

Sabe-se que as pessoas adultas já enfrentam muitas dificuldades e exclusão social,

quando se encontram numa situação de risco social. Estas dificuldades aumentam quando

de tratam de crianças e adolescentes, que são mais frágeis e mais vulneráveis às

conseqüências de uma situação econômica degradante.

O público alvo do PETI são crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil

para freqüentar a Jornada Ampliada, ou seja, atividades realizadas em turno inverso ao da

escola, sejam elas recreativas, educativas e culturais, coordenadas por uma monitora. As

famílias recebem um auxilio financeiro para incentivarem os filhos a participarem do

programa e em substituição a renda trazida por eles para a manutenção das despesas

cotidianas.

4. Justificativa

A Jornada Ampliada precisa oferecer atrativos a estas crianças e adolescentes em

risco social, incentivando a sua criatividade, complementando as ações da escola regular,

e procurando disponibilizar atendimento multidisciplinar a família. Porém, é visível a

necessidade de melhorar as atividades desenvolvidas dentro da Jornada Ampliada do

PETI em Tuparendi, para torná-la mais atrativa para os integrantes e desenvolver ações

que realmente venham a intervir significativamente na melhoria da qualidade de vida e

do futuro destas crianças e adolescentes atendidos.

A Prefeitura Municipal disponibiliza recursos a este programa, mas estes são

insuficientes para sanar todas as necessidades das crianças e adolescentes inseridos no

PETI, uma vez que o orçamento municipal tem suas limitações de arrecadação.

Uma das insuficiências encontradas é a impossibilidade de, com recursos

exclusivamente municipais, oferecer oportunidades de inclusão digital para adolescentes

inseridos no PETI.

O PETI ainda não alcançou muita expressividade, pois as vagas são

extremamente limitadas em relação ao número de crianças e adolescentes em situação de

trabalho infantil. Devido a essa limitação, as crianças atendidas foram selecionadas por

um processo de triagem, e, portanto, são os casos mais graves de uso de mão de obra

infantil no município.

Sendo assim, é fundamental que essas crianças e adolescentes tenham um

atendimento rico e diversificado, que além de oferecer atrativos para mantê-los

freqüentando o PETI, realmente seja um diferencial no desenvolvimento dessas crianças.

Devido às precárias condições de vida de suas famílias, eles dificilmente têm

chance de freqüentar um curso de informática ainda que englobe apenas ensinamentos

básicos, coisa tão corriqueira e fácil para adolescentes da classe média e alta. O acesso à

inclusão digital está muito longe do seu alcance, e são necessárias ações dos órgãos

públicos, conselhos municipais e sociedade civil para que isso se concretize.

De acordo com Sorj (2003), exclusão digital de jovens é um problema que vem

agravando-se na medida em que esse tipo de tecnologia vem sendo largamente utilizada e

expandida. O uso do computador e da Internet se tornou algo imprescindível na nossa

sociedade, de modo que é papel do assistente social buscar alternativas de inclusão das

crianças e adolescentes em vulnerabilidade social inseridos no PETI, que não possuem

condições de custear este serviço.

Não podemos negligenciar a estas crianças e adolescentes a oportunidade de

ampliar seus conhecimentos no que tange as novas tecnologias, e com a

operacionalização deste projeto, estar-se-á abrindo espaço para que estas se posicionem

no mundo atual de forma mais integrada e plena.

O problema da exclusão digital está relacionado, além das condições sócio-

econômicas das famílias, a uma lacuna no sistema de ensino público, que não

proporciona uma educação voltada também para a apreensão de outros conhecimentos

externos ao currículo obrigatório. Segundo Neto e Carvalho (2007), a preocupação do

governo em sua política de inclusão digital está mais voltada para a distribuição de

softwares livres e facilitação da compra do computador, não dando a devida atenção ao

contato e a capacitação para seu uso.

Para Almeida e Paula (2005), a exclusão social pode decorrer tanto pela falta de

um computador, como por não saber usá-lo, e ainda, pela ausência de um conhecimento

mínimo para lidar com essas tecnologias com as quais os cidadãos são confrontados

cotidianamente.

Além disso, Tuparendi é um município localizado a uma grande distância dos

grandes centros, o que fez com que, por muito tempo, o uso de tecnologias como a

Internet, parecesse distante e inatingível. O município vem entrando nessa era

lentamente, e essa demora na expansão dessa tecnologia, aliada ao fato de só as pessoas

de classes mais altas possuírem computadores e Internet, fez com que muitas pessoas

sem acesso a inovação, considerassem-na supérflua, privilegio e excentricidade dos

“ricos”, afastando até a hipótese de fazer parte dessa evolução.

Hoje o acesso a computadores e a Internet está sendo gradualmente

disponibilizado em caráter público, e possivelmente no futuro essa tecnologia poderá ser

acessada por todos os cidadãos. Por isso é importante que as crianças e adolescentes

tenham contato com essas tecnologias e possam ser incluídas nesse processo de

evolução.

É necessário mostrar para as crianças e adolescentes do PETI que a tecnologia e a

informação são importantes não apenas para melhorar as chances de emprego no futuro,

mas também, como aponta Almeida e Paula (2005), “podem ajudá-las no seu dia a dia,

contribuindo para o desenvolvimento do capital intelectual e facilitando a realização de

suas atividades”.

É imprescindível que seja garantido as crianças e adolescentes a oportunidade de

acesso a informática, ferramenta fundamental para um futuro acesso a um emprego

melhor remunerado, e por hora, um instrumento eficaz no incentivo a criatividade e a

busca pela informação e pelo conhecimento.

5. Objetivos 5. 1 Objetivo Geral

Oferecer cursos gratuitos de informática, aos adolescentes maiores de doze anos

inseridos no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, e a adolescentes em

vulnerabilidade social do município de Tuparendi, garantindo-lhes o acesso a inclusão

digital.

5.2 Objetivos Específicos

- proporcionar uma atividade diferenciada das rotineiras no âmbito da Jornada

Ampliada do PETI.

- tornar o PETI mais atrativo para os adolescentes que o freqüentam.

- oportunizar o aprendizado das noções básicas de informática, incluindo

adolescentes que freqüentam o PETI e demais adolescentes em risco social, nos avanços

das tecnologias de informação.

- fomentar o interesse dos adolescentes pelo uso do computador, e de suas

ferramentas de trabalho.

- incentivar o acesso a Internet e a seus recursos de comunicação.

- fazer com que o acesso a cursos de informática não sejam apenas privilégios de

adolescentes provenientes de classe média e alta.

- incentivar a criatividade, o interesse, a dedicação por uma atividade que gostem

realmente e que lhes proporcione, além dos benefícios de aprendizado, prazer em

desempenhá-las.

6. Referencial Teórico

As crianças e adolescentes inseridos no Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil foram retiradas de alguma atividade de trabalho. As famílias usam a mão de obra

infantil para incrementarem a escassa renda familiar, mas essa prática tem outras

motivações, entre elas, a crença de o trabalho ajudaria a educar as crianças e

adolescentes. Sendo assim, segundo Campos e Alverga (2001), a família justifica o uso

do trabalho infantil, a sociedade legitima esse hábito e o empregador argumenta que

estão fazendo um favor à educação da criança e do adolescente.

Entretanto, desde que essa discussão entrou em voga através das Convenções nº.

138 e 182 da Organização Mundial do Trabalho – OIT, considera-se o trabalho infantil

prejudicial ao desenvolvimento saudável da criança e do adolescente, e uma violação de

seus direitos enquanto cidadãos. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 já proibia o

uso do trabalho infantil, e a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, reforçou essa

posição e ainda instituiu condições de proteção ao trabalhador adolescente.

Em 1990, novos parâmetros foram adotados através do Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA, tanto para a proteção do trabalhador adolescente como para a

proibição do uso do trabalho infantil. Apartir disso, o governo federal passou a articular

políticas sociais consistentes para materializar as estratégias de enfrentamento do

trabalho infantil. O PETI foi criado em 1996 e representou a alternativa do governo na

tentativa de erradicar o trabalho infantil.

Ao lado do pagamento de uma bolsa à família e do trabalho assistencial com as

famílias está a Jornada Ampliada, ou seja, a oferta de atividades educativas, recreativas,

culturais às crianças e adolescentes. Se a Jornada Ampliada for atrativa, estimulante, a

família estiver sendo apoiada financeiramente e psicologicamente, as chances da criança

ou adolescente voltar para atividades de trabalho decrescem significativamente.

As conseqüências do trabalho infantil são nocivas para o desenvolvimento

integral da criança e do adolescente, que estão em fase de maturação física e mental.

Essas conseqüências, como ressaltam Asmus et.al (1996), podem estar ligadas ao campo

da saúde, ou seja, as crianças e adolescentes, por estarem com o organismo em formação,

ficam muito mais susceptíveis aos riscos ocupacionais, e as chances de desenvolverem

futuramente um problema de saúde ligado ao trabalho são muitas.

Além dessa conseqüência, pode-se apontar o fracasso escolar, incluindo

repetência e evasão, como sendo outro reflexo do trabalho infantil. As crianças e

adolescentes que trabalham, segundo Mazzoti (2002), apresentam cansaço e desatenção

na sala de aula, o que ocasiona a repetência. Além disso, ainda segundo a mesma autora,

muitas crianças e adolescentes não conseguem conciliar o trabalho e a escola, e por isso,

acabam abandonando esta última.

Segundo Schwartzman (2001), existem crianças e adolescentes inseridos no

PETI, e devido à fragilidade da Jornada Ampliada, não sendo atrativa e estimulante para

ele, acaba abandonando o Programa e voltando ao trabalho. Além disso, o trabalho com a

família é fundamental, pois as crianças e adolescentes muitas vezes não recebem

incentivo dos pais e familiares para freqüentar o PETI, e por vezes, sofrem pressão para

retornar ao trabalho, voltando a contribuir com a renda da família.

Por estes motivos, a Jornada Ampliada precisa oferecer atrativos aos seus

freqüentadores, precisa ser um espaço estimulante, com atividades que as crianças e

adolescentes realmente gostem de fazer. Para o Unicef (2004), uma das razões mais

significativas para o abandono do Programa e o retorno às atividades de trabalho são as

Jornadas Ampliadas empobrecidas de tempo, recursos, monitores capacidados e

preparados para lidar com a realidade peculiar dos alunos e principalmente, a falta de

atividades diferenciadas, sejam elas lúdicas, artísticas, culturais, educativas, esportivas, e

inclusive de acesso a informática.

O Unicef (2004) aponta que 97,88% dos materiais e serviços oferecidos na

Jornada Ampliada pelos municípios se referem à alimentação, e apenas 16,53% dão

conta de ações relacionadas ao acesso a computadores, evidenciando uma articulação

limitada da Jornada Ampliada, realidade essa detectada em todo o país. A mesma Análise

Situacional do PETI (UNICEF, 2004), referia que 94,51% das atividades desenvolvidas

com crianças e adolescentes na Jornada Ampliada são ligadas à atividades esportivas,

seguidas de reforço escolar (94,14%), atividades de lazer e recreativa (92,20%), culturais

(86,34%), artísticas (85,28%), construção de cidadania (62, 32%). Apenas 18,78% das

atividades realizadas nos municípios referem-se ao acesso à informática, perdendo

apenas para as ações de iniciação ao trabalho (15,91%), que contrariam as regras do

Programa, porém, existem em alguns municípios brasileiros.

Sendo assim, é possível concluir que as ações de inclusão digital para crianças e

adolescentes do PETI são atividades isoladas em uma minoria dos municípios que

possuem o Programa. Mas isso não significa que não seja importante, pelo contrário,

segundo o Unicef (2004) essa é uma das maiores carências das Jornadas Ampliadas.

A inclusão digital pode ser uma forma das famílias e das próprias crianças

romperem com a cultura de que o trabalho as enobrece. As pessoas em vulnerabilidade

social têm poucas condições, como afirma Sorj e Guedes (2005), de ultrapassar a

polaridade entre aqueles que possuem e aqueles que não possuem computador e Internet.

É nesse sentido que se fazem necessárias políticas públicas e projetos sociais que

contemplem essa demanda dessa parcela da população.

A exclusão digital é uma conseqüência social, econômica e cultural da

distribuição desigual de computadores e de acesso à Internet entre as pessoas, segundo

Sorj e Guedes (2005). Para estes autores, a entrada de produtos tecnológicos de alto valor

no mercado modificam a concepção do quanto uma pessoa é pobre, pois dentro dos

padrões consumistas, o critério para definir a pobreza de uma pessoa é contabilizar o que

ela não tem.

A introdução de novos produtos tecnológicos nas casas das pessoas começa

sempre com os que podem pagar por eles, demorando um certo tempo para chegar aos

mais pobres, ou não chegando nunca. Esse aspecto, para Sorj e Guedes (2005), acentua a

desigualdade e a exclusão social. Portanto, as políticas de universalização de acesso são

fundamentais para diminuir o impacto negativo que a revolução informacional pode

causar, tornando-se mais um fator de exclusão social.

Takahashi (2005) afirma que “apenas 15% da população brasileira têm acesso a

computadores e a Internet regularmente, em casa, no trabalho, na escola ou em locais de

acesso coletivo”. Para este autor, a exclusão digital é só mais uma interface da velha e

conhecida exclusão social e econômica brasileira.

A exclusão digital é um problema tão grave, que a Organização das Nações

Unidas – ONU, a coloca ao lado de grandes problemas mundiais como o analfabetismo, a

fome e o desemprego. O ponto referencial da ONU, nesse caso, é que “o conhecimento,

adquirido em larga escala através dos meios informacionais, tende a ser cada vez mais

valorizado, enquanto que a sua falta promove cada vez mais o agravamento dos

problemas sociais” (RIBEIRO, SANTOS e CAMARGO, 2004).

Estes autores apontam que a exclusão da sociedade da informação se constitui em

uma nova forma de “apartheid”: o apartheid digital.

Vieira (2001) traz um conceito bastante aceitável de cidadania, como sendo “a

pertença passiva e ativa de indivíduos em um Estado-nação com certos direitos e

obrigações universais em um específico nível de igualdade”. Sendo assim, assegurar o

acesso de todas as pessoas às tecnologias de informação significam, conseqüentemente,

em garantir a igualdade e a cidadania.

Para Castels (1999), a sociedade da informação é, antes de tudo, absolutamente

capitalista, e por isso, seu desenvolvimento começa pelas pessoas com nível de riqueza e

educação mais altos, sendo quase improvável a sua chegada a população com nível

educacional mais baixo e condição econômica inferior.

No mundo contemporâneo a informação adquiriu uma importância

indiscutivelmente econômica, mas na visão de Borges (2008), “é um dos fatores

fundamentais para as transformações sociais, culturais, políticas e econômicas da

atualidade”. A revolução que se operou após as tecnologias de informação e

comunicação (TIC), é o cerne de uma nova ordem social, como aponta Castells (2003).

Porém, essa nova forma de desenvolvimento gerou uma nova forma de domínio e de

controle social causado pela não inclusão digital, nas palavras de Borges ( 2008).

Segundo essa autora:

A inclusão digital ocorre quando o indivíduo utiliza a informática como um meio de acesso à educação, ao trabalho, às relações sociais, à comunicação e ao exercício de sua cidadania. Portanto, incluir o indivíduo digital e socialmente requer ações que lhe ofereçam condições de autonomia e habilidade cognitiva para compreender e atuar na sociedade informacional (BORGES, 2008, p. 147).

De acordo com Borges (2008) apud Cysneiros (2000), a inserção da informática

no ambiente educacional é necessária, na medida em que proporciona o acesso das

crianças e adolescentes a um bem cultural e tecnológico que deveria estar disponível para

todos.

Infelizmente, na escola pública, como lembra Borges (2008), os investimentos

governamentais no sentido de implementar a informática são irrisórios, e as crianças e

adolescentes não recebem incentivos nesse sentido, para que se forme uma geração

qualificada para o trabalho, e, sobretudo, preparada para sobreviver na sociedade

globalizada.

A apropriação dessa tecnologia deve ser disponibilizada pelo poder público,

democratizando as tecnologias digitais, “socializando os mecanismos de inserção do

homem no contexto atual, para que a inovação tecnológica não seja mais um mecanismo

de segregação social” (BORGES, 2008, p. 147).

O Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, possui um conjunto de soluções

que constituem uma espécie de Programa Inclusão Digital. Segundo Neto e Carvalho

(2007), para promover a inclusão digital, porém todos pautados na necessidade de

distribuição de computadores, sendo que a diminuição do preço das máquinas é a

principal preocupação do governo.

Neto e Carvalho (2007) afirmam que o governo brasileiro não tem se preocupado

com programas de capacitação dos cidadãos, para que estes possam vencer não só a

distância financeira do computador, mas a distância de qualificação que o separa dessas

tecnologias. Borges (2008) coloca que, além dos cursos de capacitação para preparar o

cidadão para o acesso as máquinas, é essencial também que seja disponibilizado acesso à

rede, ou seja, a Internet. Dessa forma pode-se afirmar que a condição para a inclusão

digital não é apenas a distribuição de computadores, mas também a capacitação e o

acesso à Internet.

As tecnologias de informação e comunicação ainda não chegam à maior parte da população do planeta, em que pese o ritmo veloz de sua disseminação. Enquanto o mundo economicamente mais desenvolvido encontra-se envolto em um complexo de redes digitais de alta capacidade, utilizando intensamente serviços de última geração, uma parcela considerável da população dos demais países não tem acesso sequer à telefonia básica. O maior acesso à informação poderá conduzir as sociedades e relações sociais mais democráticas, mas também poderá gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando as desigualdades e exclusões já existentes, tanto entre sociedades, como, no interior de cada uma, entre setores e regiões de maior e menor renda. No novo paradigma, a universalização dos serviços de informação e comunicação é condição necessária, ainda que não suficiente, para a inserção dos indivíduos como cidadãos. No Brasil, o crescimento recente das telecomunicações tem democratizado o uso do telefone. O acesso à rede Internet, contudo, ainda é restrito a poucos. Urge, portanto, buscar meios e medidas para garantir a todos os cidadãos o acesso eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção do País na sociedade da informação (Takahashi, 2000, p.7).

O MCT coloca a inclusão digital no patamar de uma forma de inclusão social,

apontando para essa ligação se tornar concreta, um ciclo de ações: facilitando o acesso

aos instrumentos de informática obtém-se a inclusão digital, que insere as pessoas na

sociedade da informação e por conseguinte, facilita a inclusão social. a inclusão digital,

de acordo com Takahashi (2000), promove o acesso eqüitativo à informação, facilidade

de acesso ao emprego, qualificação profissional, ascensão financeira, geração de renda, e

com isso, uma sociedade mais democrática, com relações sociais mais justas.

Dentre as ações governamentais, está Governo Eletrônico, criado pelo Ministério

do Planejamento, Orçamento e Gestão com a finalidade de universalizar os serviços. O

governo também instituiu o “software livre” no Programa Computador para Todos

(Ministério da Fazenda), ou seja, o Linux, um software grátis em oposição ao tradicional

Windows, que necessita de pagamento pela licença de uso.

A proposta do Governo para a inclusão digital permeia o acesso barato à

computadores e a softwares livres, porém, não contempla a capacitação dos usuários, a

familiarização para usar o software livre, que não é tão simples como o Windows. A

necessidade para a verdadeira inclusão digital está, realmente, na interação entre o ser

humano e o computador (NETO e CARVALHO, 2007).

Em suma, a inclusão digital é justificada pela premissa de que todo o cidadão tem

direito à informação, como afirmam Ribeiro, Santos e Camargo (2004). Por isso,

parafraseando os autores, proporcionar acesso a cursos de informática para as crianças do

PETI é “alfabetizá-las digitalmente”.

Com isso, propõe-se que estas crianças e adolescentes estejam livres do

“analfabetismo digital”, que segundo Ribeiro, Santos e Camargo (2004) pode ser um

problema além da simples incapacidade de lidar com um computador e com a Internet,

mas pode significar dificuldade de acessar a qualquer equipamento eletrônico, como

terminais bancários, urnas eletrônicas, terminais de auto-atendimento, entre outros.

7. Metodologia

As vinte e cinco crianças e adolescentes inseridos no PETI serão incentivados a

participarem do curso de informática gratuito, todas elas tendo a oportunidade de

freqüentar, entretanto, desde que tenham interesse na atividade. Ou seja, as crianças e

adolescentes serão estimuladas a realizar o curso, entretanto, não será uma atividade

imposta, obrigatória, pois entende-se que qualquer atividade educativa proporcionada, para

ter bons resultados, precisa vir acompanhada do interesse do seu público alvo. Conforme

Almeida e Paula (2005), as pessoas não podem ser obrigadas a utilizarem as tecnologias

disponibilizadas e precisam primeiro desenvolver seu interesse em aprendê-las e usá-las.

O curso será realizado nas dependências na empresa Star Five, especializada em

cursos de informática, localizada no município de Tuparendi – RS, sob responsabilidade da

proprietária da empresa. O trabalho por parte da empresa será voluntário, e os alunos terão

atendimento, além da instrutora, de oito voluntários, que são alunos da Star Five no Curso

de Informática Avançado.

As vinte e cinco crianças serão divididas em três turmas, selecionadas de acordo

com a idade, que serão atendidas aos sábados pela manhã, tanto para conciliar os horários

das crianças e adolescentes, não interferindo na Jornada Ampliada e na Escola Regular,

quanto pelos horários disponibilizados pela empresa e pelos voluntários do Curso de

Informática Avançado.

O curso será realizado nos mesmos moldes do curso básico oferecido aos alunos

pagantes, ou seja, com carga horária de 50 horas, prestado aos sábados no turno da manhã,

com fornecimento dos certificados mediante freqüência e aproveitamento no curso. Com

isso pretende-se que os alunos atendidos pelo Projeto não sofram nenhum prejuízo ou

discriminação em relação aos alunos pagantes.

Os materiais didáticos (apostila e pastinha), serão obtidos através de doações

buscadas através de parcerias com a Associação Comercial e Industrial de Tuparendi

(ACI), Lions Club de Tuparendi, entre outras, que receberão cópia do Projeto. Pretende-se

oferecer um uniforme com a logomarca da empresa e também do Projeto realizado, sendo

que pretende-se encaminhar cópia do Projeto para a Diretoria de Ação Social e Conselho

Municipal de Assistência Social, para aprovação ou não do recurso para este fim.

Em uma etapa precedente ao inicio do Projeto, será realizada reunião com os pais

para conversar a respeito do curso, justificar a sua importância e solicitar o apoio da

família, no que for possível, para estimular os filhos na realização do curso, bem como na

observação da freqüência e da pontualidade.

No decorrer de todo o curso as crianças e adolescentes, bem como as famílias, terão

o apoio da equipe de voluntários, composta por acadêmicas de Serviço Social, Psicologia e

Pedagogia, realizando-se atividades concomitantes ao curso.

Serão realizados contatos com os professores da Escola Regular e com o monitor da

Jornada Ampliada, no sentido de também incentivarem e valorizarem essa participação,

observando as possíveis mudanças no comportamento ou no desempenho escolar das

crianças e adolescentes que participam do Projeto.

Ao final do curso será organizada uma solenidade de formatura para entrega dos

certificados, proporcionando um integração entre voluntários, alunos, parcerias e as

famílias das crianças e adolescentes.

Ao longo da realização do curso, será realizado um constante trabalho de

monitoramento e avaliação por parte da assistente social, Supervisora de Campo do Estágio

Supervisionado em Serviço Social II. Pretende-se que o Conselho Municipal de Assistência

Social - CMAS, Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes -

COMDICA e Comissão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – COMPETI,

participem do processo como observadores para avaliarem a importância de iniciativas

inovadoras com as crianças e adolescentes do PETI, no intuito de sensibilizá-los para a

continuação do Projeto posteriormente.

8. Recursos 8.1 Humanos

� Instrutora da Star Five; � 8 voluntários do Curso de Informática Avançado da Star Five; � Estagiária em Serviço Social; � 1 voluntária (acadêmica de psicologia); � 1 voluntária (acadêmica de Serviço Social); � 1 voluntária (acadêmica de Pedagogia);

8.2 Materiais

� Espaço físico da Star Five; � Computadores da Star Five; � Material didático (apostila, pastinha); � Uniforme (camiseta);

9. Cronograma Físico Atividades Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Planejamento do Projeto

Χ

Elaboração do Projeto

Χ

Tratativas e Busca de Parcerias

Χ

Férias Χ Conversa no PETI

Χ

Reunião com a família

Χ Χ Χ

Reunião com professores da Escola Regular

Χ Χ Χ

Confecção do material didático

Χ

Inicio do Curso Χ Confecção das camisetas

Χ

Desenvolvimento do Curso

Χ Χ Χ Χ

Término do Curso

Χ Χ

Formatura Χ 10. Cronograma Financeiro Material Fev. Mar. Jul. Material didático/apostila

R$150,00

Camiseta

R$350,00

Pastinha

R$250,00

Formatura/lanche

R$200,00

11. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Lílian Bilatti de; PAULA, Luiza Gonçalves de. O retrato da exclusão digital na sociedade brasileira. Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação Vl. 2, No. 1, pp. 55 a 67, 2005. ASMUS, C. I. F.; BARKER, S. L.; RUZANY, M. H. & MEIRELLES, V. Z., Riscos ocupacionais na infância e na adolescência: uma revisão. Jornal de Pediatria, 72:203-208, 1996. BORGES, Márcia Vieira de Freitas. Inserção da Informática em Ambiente Escolar: inclusão digital e laboratórios de informática numa rede municipal de ensino. Anais do XXVIII Congresso da SBC: Belém do Pará, julho, 2008. CAMPOS, Herculano Ricardo. ALVERGA, Alex Reinecke de. Trabalho infantil e ideologia: contribuição ao estudo da crença indiscriminada na dignidade do trabalho. Estud. psicol. (Natal) vol.6 no.2 Natal July/Dec. 2001. disponível em http://www.scielo.com.br/ acessado em 09 jul.2008. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informação:economia, sociedade e cultura; v.I), 5a ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. CYSNEIROS, Paulo Gileno (2000). “A gestão da Informática na Escola Pública”. In: XI Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. Maceió - AL: Anais SBIE 2000. DURÃES, Leandro. Inclusão Digital. Revista Eletrônica F@pciência, Apucarana-PR, v.1, n.1, 61-66, 2007. IAMAMOTO, M. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998. MARX, K. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I, volume I. Trad. De Reginaldo Sant’Anna. São Paulo: Difel, 9ª edição, 1984. MAZZOTI, Alda Judith Alves. Repensando algumas questões sobre o trabalho infanto-juvenil. In: Revista Brasileira de Educação. Jan – Abr nº19. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação: São Paulo, 2002, p. 87 a 98. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE). Prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção do trabalhador adolescente: Plano Nacional. Secretaria de Inspeção do Trabalho: Brasília, DF, 2004. NETO, Calixto Silva; CARVALHO, José Oscar Fontanini de. O programa de inclusão digital do Governo Brasileiro: análise sob a perspectiva da intersecção entre ciência da informação e interação humano computador. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v.5, n.2, p.25 a 52, jul/dez, 2007.

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