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Relatório Final do ProJovem · UFBA/ISP_ Adriano Anunciação Oliveira UFJF_ Fernando Tavares Junior UFMG/UNIRIO _ Eliane Ribeiro Andrade UFMG/UFRJ_ Marcio da Costa ... o Ministério

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Relatório Final do ProJovem

2005 a 2008

Programa Nacional de Inclusão de Jovens

Novembro 2009

PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS — PROJOVEM

Presidente da RepúblicaPresidente Luiz Inácio Lula da Silva

Secretaria-Geral da Presidência da RepúblicaMinistro-Chefe Luiz Soares Dulci

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à FomeMinistra Márcia Helena Carvalho Lopes

Ministério da EducaçãoMinistro Fernando Haddad

Ministério do Trabalho e EmpregoCarlos Roberto Lupi

Secretaria Nacional de JuventudeSecretário Beto Cury

Coordenação Nacional do ProJovemCoordenadora Nacional – Maria José Vieira Feres

Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovemUniversidade Federal da Bahia/ISP

Universidade Federal de Juiz de ForaUniversidade Federal de Minas Gerais

Universidade Federal do ParáUniversidade Federal do Paraná

Universidade Federal de PernambucoUniversidade de Brasília

Subsistema de Avaliação do ProgramaCoordenação da Avaliação do ProJovem

UFJF_ Centro de Políticas e Avaliação da Educação_ CAED

Grupo de Trabalho da Avaliação do ProJovemEspecialistas e Representantes

UFBA/ISP_ Adriano Anunciação OliveiraUFJF_ Fernando Tavares Junior

UFMG/UNIRIO _ Eliane Ribeiro AndradeUFMG/UFRJ_ Marcio da Costa

UFPA_ Eleide da Silva RodriguesUFPE_ Márcia Ângela Aguiar

UFPR_ Paulo Ricardo Bittencourt Guimarães

Coordenação NacionalMárcia Serôa da Motta Brandão

Relatório ProJovem

Seção I: O ProJovem e o seu Público-Alvo

1 Introdução

1.1 O Projeto Pedagógico Integrado

1.2 O Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovem

1.3 O Público-Alvo do ProJovem

1.3.1 A Dimensão dos Jovens Excluídos1.3.2 Juventude e Exclusão no Brasil1.3.3 Transições no Brasil 1.3.4 Exclusão Juvenil em Perspectiva Histórica

1.4 Perfil dos Jovens Ingressantes no ProJovem

1.4.1 Situação Familiar1.4.2 Trajetória Escolar1.4.3 Trajetória no Mercado de Trabalho

Seção II: Recrutamento dos Jovens

2.1 O Processo de Recrutamento2.2 O ProJovem e as Matrículas na Educação de Jovens e Adultos2.3 Motivações para o Ingresso no ProJovem2.4 Expectativas e Satisfação2.5 Matrículas no ProJovem

Seção III: A Evasão no ProJovem

3.1 Permanência no ProJovem

3.2 A Evasão

3.3 Ajuste do Programa ao Perfil dos Jovens Atendidos

3.4 Análise dos Processos de Evasão

3.5 A Pesquisa de Evasão no ProJovem em 2008

3.5.1 Composição da Amostra Final e Perfil do Evadido3.5.2 Interesse no Programa, o Afastamento e as Condições de Retorno

3.6 Síntese Sobre as Causas da Evasão

SumárioS9

9

11111313181922

23232628

33

3335383941

45

45515458595960

61

Seção IV: Resultados

4.1 Taxas de Aprovação

4.2 Matrizes de Referência para Avaliação

4.3 Resultados e Escalas de Proficiência

4.3.1 Língua Portuguesa 4.3.2 Matemática

4.4 Contribuições do ProJovem para a Vida dos Jovens

4.4.1 Relação o Jovem com o Mundo do Trabalho 4.4.2 ProJovem, Ação Comunitária e Cidadania

Seção V: Implementação do ProJovem

5.1 Dados de Implementação 2005-2008

Seção VI: A Formação de Educadores

6.1 Perfil de Educadores Baseado no SMA

6.2 Pesquisa com os Educadores do ProJovem: Perfil e Formação

6.3 Relação do Educador com o Programa

6.4 Pesquisa com Educadores

6.5 Perfil de Formadores e Educadores, Segundo Dados da Fundar

6.6 Perfil dos Formadores

6.7 Rotinas de Supervisão

6.8 Análise de Discurso

Seção VII: Considerações Finais

7.1 Desenho e Público-Alvo

7.2 Efetividade

7.3 Implementação

7.4 Concluindo

63

6365707482

90

9093

101

101

105

105108109110112112113113

121

121122123124

9Relatório ProJovem

Nesta seção, você conhecerá o ProJovem, seu Projeto Pedagógico Integrado e o papel desempenhado pelas Universidades Federais no SMA. Além disso, o perfil do seu Público-alvo é discutido, e as principais características dos jovens que de fato ingressaram no programa.

1. Introdução

Com a finalidade de atender a uma grande parcela de jovens entre 18 e 24 anos com a segunda etapa do Ensino Fundamental incompleta, foi criado, em 2005, o ProJovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária. Trata-se de um programa elaborado sob a coordenação da Secretaria Nacional da Juventude da Secretaria Geral da Presidência da República, em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Seu surgimento esteve relacionado ao diagnóstico de uma significativa parcela de jovens entre 18 e 24 anos que possuíam apenas 4 a 7 anos de estudos completos, ou seja, que iniciaram o Ensino Fundamental, mas não completaram essa etapa escolar, embora já distantes da idade adequada. O principal objetivo do Programa, portanto, consiste em gerar a oportunidade para esses jovens recuperarem e continuarem seus estudos, ampliando, assim, suas perspectivas de inclusão no mercado de trabalho e na sociedade de forma geral. Esse relatório final torna pública a avaliação Desse projeto, em seu formato original, com os dados de alunos que ingressaram de 2005 a 2008 e cursaram por até um ano o ProJovem.

Além da idade e da escolaridade, o público-alvo do ProJovem possui outro condicionante: a população jovem que reside nas capitais e suas respectivas regiões metropolitanas. Nesse sentido, a questão motora por detrás da realização do ProJovem está relacionada à criação de oportunidades educacionais para os jovens que residem nas áreas metropolitanas urbanas do país.

A motivação para a elaboração de um programa nas dimensões do ProJovem e os seus condicionantes são bastante claros, quando analisados os dados empregados para a sua concepção e plano de execução. Como será discutido nessa seção, em todo o país, para o ano 2003, foi possível identificar um contingente de mais de um milhão de jovens excluídos nas grandes Regiões Metropolitanas. Era urgente, portanto, devolver a esses milhares de jovens a oportunidade de retomar o seu itinerário formativo, de prosseguir nos estudos, desenvolver aptidões e exercer a cidadania. Essa intervenção precisava ser rápida, ter um formato atraente para os jovens e ser eficaz como concretização de um processo educativo comprometido com a transformação social.

Por isso, o programa buscou seus fundamentos principais nos novos paradigmas da educação para o século XXI e estruturou-se como experiência inovadora, unindo em seu Projeto Pedagógico Integrado (PPI) a educação formal com a qualificação profissional e a preparação para os desafios do mundo do trabalho, com as ações de interesse público e os compromissos da cidadania.

Outro aspecto inovador do ProJovem é a incorporação de Universidades no desenvolvimento do programa, através do Sistema de Monitoramento e Avaliação, compondo uma robusta equipe de avaliação para o seu processo de implementação e acompanhamento de sua execução. Dessa forma, foram coletados dados a

O ProJovem e o seu Público-Alvo1

Relatório ProJovem10respeito do projeto desde o seu início, possibilitando não só a avaliação de seu impacto após a sua conclusão, mas também um efetivo monitoramento das condições em que o ProJovem operava em cada município. Tal monitoramento permitiu que a Coordenação Nacional interviesse, quando necessário, corrigindo falhas e adaptando-se a necessidades locais; enfim, aprimorando o programa durante sua própria execução com o intuito de assegurar os melhores resultados possíveis.

Em seu período de abrangência, 241.235 jovens se matricularam no ProJovem distribuídos em 57 capitais e regiões metropolitanas pelo país (tabela 1). Desse total de matrículas, 146.451 de fato chegaram a cursar no programa, e 106.504 o concluíram. A desistência, portanto, de alunos que se inscreveram, mas jamais compareceram às salas de aula, representou um dos maiores desafios para o programa. Na seção III, tal problema, juntamente com a questão da evasão, é analisada considerando os métodos empregados no processo de recrutamento dos jovens atendidos pelo ProJovem, tema da Seção II.

Tabela 1 – Relação de Capitais e Municípios

UF Capitais e Regiões Metropolitanas UF Capitais e Regiões MetropolitanasAC Rio Branco RN Natal

AL Maceió RO Porto Velho

AM Manaus RR Boa Vista

AP Macapá

RS

Canoas

BA Salvador Gravataí

CECaucaia Novo Hamburgo

Fortaleza Porto Alegre

DF Distrito Federal Viamão

ES

Serra SC Florianópolis

Vila Velha SE Aracaju

Vitória

SP

Carapicuíba

GOAparecida de Goiânia Diadema

Goiânia Embu das Artes

MA São Luís Guarulhos

MGBelo Horizonte Itaquaquecetuba

Contagem Mogi das Cruzes

MT Cuiabá Osasco

PAAnanindeua Santo André

Belém São Paulo

PB João Pessoa Suzano

PE

Jaboatão dos Guararapes TO Palmas

Olinda

Paulista

Recife

PI Teresina

PR Curitiba

RJ

Belford Roxo

Duque de Caxias

Magé

Niterói

Nova Iguaçu

Rio de Janeiro

São Gonçalo

São João de Meriti Fonte: Sistema de Monitoramento do Aluno

Relatório ProJovem 11Em termos de resultados, como era de se esperar, as maiores médias em Língua Portuguesa e Matemática foram nas capitais e regiões metropolitanas do Sul, especialmente no Paraná. Os resultados do ProJovem e a avaliação de sua implementação são os temas, respectivamente, das seções IV e V.

A seguir, são apresentados dois importantes componentes do ProJovem, o PPI e o papel desempenhado pelas Universidades Federais; e, logo após, uma discussão mais aprofundada do perfil do público alvo do ProJovem e as principais características dos jovens que ingressaram no programa.

1.1 O Projeto Pedagógico Integrado

O Projeto Pedagógico Integrado do ProJovem tinha como finalidade proporcionar formação integral ao jovem, por meio de uma efetiva associação entre:

• elevação da escolaridade, tendo em vista a conclusão do ensino fundamental;

• qualificação profissional com certificação de formação inicial;

• desenvolvimento de ações comunitárias de interesse público.

O princípio fundamental estabelecido pelo ProJovem é o da integração entre formação básica, qualificação profissional e ação comunitária, tendo em vista a promoção da equidade, considerando as especificidades de seu público: a condição juvenil e a imperativa necessidade de superar a situação de exclusão em que se encontram os jovens no que se refere aos direitos à educação e ao trabalho.

Assim, o ProJovem propôs-se aliar teoria e prática, formação e ação, explorando a dimensão educativa do trabalho e da participação cidadã.

A constituição de um projeto inovador, que procura romper com as barreiras de um ensino cristalizado em si mesmo, já evidencia o sucesso do ProJovem. O desafio de se implantar um projeto pedagógico diferenciado, que, ao mesmo tempo em que atende a uma demanda nacional, também focaliza a intervenção na realidade do jovem, incentivando-o a envolver-se em sua comunidade, a ser proativo e agente da transformação social, foi um aspecto predominante e relevante do programa. Essa forma ampla e articuladora de desenvolver o processo de ensino possibilitou que gestores e educadores construíssem uma linha única de ação. Assim, o estabelecimento de princípios de avaliação permanente contribuiu para a intervenção na melhoria do processo de ensino-aprendizagem, garantindo tanto ao aluno quanto ao educador uma nova postura diante do ensinar e do aprender.

1.2 O Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovem

O ProJovem trouxe importante contribuição para gestão governamental, ao contemplar um Sistema de Monitoramento e Avaliação do Programa, ao longo de sua trajetória.

O Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovem (SMA) foi constituído por sete Universidades Federais e a Coordenação Nacional do Programa, tendo como instância decisória o Conselho Técnico, colegiado composto pela Coordenação Nacional e os coordenadores do SMA nas Universidades Federais conveniadas.

O SMA foi organizado em 4 (quatro) subsistemas, a saber: Monitoramento, Avaliação da Aprendizagem dos alunos, Avaliação do Programa e Supervisão.

A coordenação geral do Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovem esteve sob a responsabilidade da Coordenação Nacional do ProJovem; e sua coordenação operacional, sob a responsabilidade do CAED/UFJF.

Relatório ProJovem12SUBSISTEMA DE MONITORAMENTO: dimensão responsável pelo registro da frequência dos alunos, movimentação escolar e dos resultados das avaliações formativas e externas do programa, possibilitando a geração do auxílio financeiro do aluno, a emissão de histórico escolar e certificado de conclusão do curso. Esse subsistema monitorava o cadastro e a matrícula dos alunos, a formação e a alocação de educadores e coordenadores, registro de frequências, ações curriculares, atividades de avaliações do aluno, produzindo a informação necessária à gestão do Programa em seus diferentes níveis.

SUBSISTEMA DE AVALIAÇÃO EXTERNA DE ALUNOS: dimensão responsável pela aferição do desenvolvimento da aprendizagem, pelo exame final externo, que é obrigatório para fins de certificação dos alunos e obtenção de dados para a avaliação da efetividade do programa. Esse subsistema elaborava os instrumentos de avaliação processual e externa da formação do alunado, organizava a avaliação, produzia e disseminava os resultados correspondentes.

SUBSISTEMA DE AVALIAÇÃO DO PROGRAMA: dimensão responsável pelo desenvolvimento de estudos e pesquisas voltados à avaliação da efetividade e da implementação do programa. A avaliação do programa possibilitou o conhecimento do perfil sociocultural dos atores envolvidos no programa (alunos, educadores, especialistas e gestores), bem como os impactos de uma proposta inovadora em comunidades complexas. A divulgação dos resultados obtidos durante e ao final do processo possibilitou a análise da efetividade e de sua eficácia social. Os resultados foram compartilhados por meio de relatórios especializados e por meio de apresentação em eventos científicos, das áreas de educação, ciências humanas e sociais.

SUBSISTEMA DE SUPERVISÃO: a supervisão do Programa foi realizada por meio de visitas de supervisores das Universidades Federais aos núcleos, estações juventude e oficinas de qualificação profissional, ao longo dos 12 (doze) meses do Programa. A supervisão utilizava formulários correspondentes a diferentes objetos de análise, tais como: condições de oferta dos núcleos, condições das estações juventude, gestão pedagógica, frequência de alunos e educadores e oferta da qualificação profissional. Seu objetivo essencial era avaliar o cumprimento das condicionalidades e condições da implementação local do Programa. Os relatórios foram disponibilizados em site da internet de modo a se constituírem em importantes ferramentas de gestão local e nacional.

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO SMA

A estrutura organizacional do ProJovem foi implantada da seguinte forma:

a) Instituições Regionais: Universidades Federais responsáveis pela coordenação regional das ações do SMA.

; Universidade Federal do Pará (UFPA): Regional Norte: Belém, Boa Vista, Macapá, Manaus, Porto Velho, Rio Branco e Ananindeua.

; Universidade Federal da Bahia (UFBA): Regional Nordeste 1: Aracaju, Maceió, Salvador, São Luís e Teresina.

; Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): Regional Nordeste 2: Fortaleza, João Pessoa, Natal, Recife, Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Caucaia.

; Universidade de Brasília (UnB): Regional Centro-Oeste e Palmas: Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Palmas, Aparecida de Goiânia.

; Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): Regional Sudeste 1: Belo Horizonte, Contagem, Vitória, Serra, Vila Velha, Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Magé, Niterói, Nova Iguaçu e São João de Meriti.

; Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): Regional Sudeste 2: São Paulo, Carapicuíba, Diadema, Embu das Artes, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Osasco, Santo André e Suzano.

; Universidade Federal do Paraná (UFPR): Regional Sul: Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Viamão, Novo Hamburgo, Gravataí e Canoas.

Relatório ProJovem 13b) Grupos de Trabalho: compostos por especialistas das Universidades que elaboravam, propunham e analisavam os resultados das ações desenvolvidas, por cada subsistema.

c) Conselho Técnico: instância colegiada decisória do SMA, composto pela Coordenação Nacional e pelos coordenadores regionais (Universidades) do Sistema. Orientava as ações, critérios e procedimentos para o monitoramento, supervisão, avaliação de alunos e avaliação do Programa.

ATUAÇÃO E RESULTADOS DO SMA

O Sistema de Monitoramento e Avaliação do ProJovem desenvolveu as ações de monitoramento, avaliação de alunos, supervisão e avaliação do programa ao longo dos 12 (doze) meses do Programa, para cada entrada de alunos dos municípios parceiros, apresentando relatórios específicos e gerais. Em 2008, por exemplo, foi realizado Seminário do SMA para apresentação e discussão do Relatório Parcial de Avaliação do ProJovem_ anos 2005 a 2007.

O Relatório Final de Avaliação do ProJovem, que ora se apresenta, é fruto do esforço desse Sistema de Monitoramento e Avaliação, articulando e integrando resultados quantitativos e análises qualitativas advindas da avaliação do desempenho dos alunos, da supervisão e do monitoramento.

1.3 O Público-Alvo do ProJovem

O Brasil tem, atualmente, o maior contingente de jovens de toda a sua história e, ao mesmo tempo, é essa a parcela do povo brasileiro mais gravemente atingida por processos de exclusão, de desigualdade social e de qualidade de vida comprometida. O ProJovem surgiu em meio ao reconhecimento desse segmento populacional como alvo prioritário de políticas públicas que respeitam a sua diversidade e suas aspirações.

O foco do programa voltado para jovens entre 18 e 24 anos de idade, residentes nas capitais e suas áreas metropolitanas, que cursaram até a quarta série e não concluíram o Ensino Fundamental não se deu de forma arbitrária. Tanto a seleção de seu público-alvo, quanto a sua elaboração foram construídas cuidadosamente a partir de estudos a respeito da nossa população e os seus segmentos mais carentes. As características dos jovens que atendem aos critérios do programa, a dimensão desse segmento populacional e sua trajetória histórica serão discutidas a seguir.

1.3.1 A Dimensão dos Jovens Excluídos

O projeto do ProJovem utilizou ampla coleção de dados como base para a reflexão acerca da situação da juventude no Brasil e que, posteriormente, serviram como referências para a formulação e planejamento do Programa. Dentre esses dados, destacam-se os do IBGE, em especial os do Censo 2000 e os da PNAD 2003.

Os dados do Censo foram tomados a partir da referência internacional de idade, datando jovens entre 15 e 24 anos. Essa referência apontava que, à época, 20% da população brasileira eram formados por jovens nessa faixa etária, o que representava algo próximo a 34 milhões de brasileiros. Desses:

“A maioria (68,7%) vivia em famílias que tinham uma renda per capita menor do que 1 salário mínimo (dentre esses encontramos 12,2% (4,2 milhões) em famílias com renda per capita de até ¼ do salário mínimo). Apenas 41,3% (14,1 milhões) viviam em famílias com renda per capita acima de um salário mínimo” (ProJovem, 2005: 9).

Os dados para ajuste mais detalhado da população-alvo do ProJovem foram baseados na PNAD 2003. O Projeto explicita tais dados ao apontar que, dos 34 milhões de brasileiros entre 15 e 24 anos, 23,4 milhões eram jovens de 18 a 24 anos, o que representava, aproximadamente, 13,5% da população total. Tais jovens apresentavam indicadores educacionais preocupantes:

Relatório ProJovem14• Apenas 7,9 milhões (34%) estavam frequentando a escola.

• Quase 5% (753,4 mil) eram analfabetos.

• Pouco mais de um terço (5,4 milhões = 35,3%) não havia concluído sequer o Ensino Fundamental.

• Apenas 547 mil (3,5%) haviam cursado pelo menos um ano de Ensino Superior.

Em relação ao mercado de trabalho, a situação desses jovens também se mostrava muito preocupante:

“Dentre esses jovens, 14 milhões (60%) desenvolviam algum tipo de ocupação, sendo que 13% ou 3,0 milhões de jovens declararam-se desempregados (55% eram mulheres). As maiores taxas de desemprego encontravam-se nas regiões metropolitanas, 24,6%, enquanto, nas áreas urbanas, chegavam a 17,6%” (ProJovem, 2005: 9)

Com base nos dados, foram definidas as metas do ProJovem: atuar em todas as 27 capitais brasileiras, atendendo a 191.500 jovens, no período de 2005 a 2007. Esse contingente representaria cerca de 20% do universo de jovens excluídos. Logo, o público-alvo total do ProJovem seria de, aproximadamente, um milhão de jovens.

De fato, a partir da PNAD 2003, confirma-se a estimação de 23,4 milhões de jovens no Brasil entre 18 e 24 anos (projetando 25,3 milhões em 2005). Mais precisamente, os dados de 2003 apontam 23.371.702 jovens, o que representa 13,4% da população. Do total da população, 31,8% (55.318.349) habitavam as regiões metropolitanas, 26,5% (46.017.235) tinham entre quatro e sete anos de escolaridade e 85,4% não tinham carteira assinada.Tais situações configuram os filtros elementares para estimação da população-alvo do ProJovem.

Tomando como base o total de jovens brasileiros com 18 a 24 anos de idade, o que representa 13,4% da população em geral, configura-se o contingente do ProJovem em relação ao conjunto da população, bem como os grupos de jovens que, potencialmente, serão atendidos em 2005, 2006 e 2007. Percebe-se que a diminuição da natalidade observada nas últimas décadas ainda não afetará substantivamente a proporção dessa população em relação à população total. Cada coorte pregressa apresenta aproximadamente o mesmo peso (2%) das anteriores em relação à população total. A tabela, a seguir, apresenta os dados mencionados.

Relatório ProJovem 15Tabela 1.1 – Brasileiros entre as idades de 18 e 24 anos ou próximos a essa faixa etária

Idad

e20

0320

0420

0520

0620

07

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153.

530.

120

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3.54

1.61

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173

1,9

3.44

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102

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291.

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2003

-200

7)

Relatório ProJovem16Dessa população juvenil, em torno de um terço, ou seja, sete milhões e meio de jovens, concentra-se nas regiões metropolitanas1, como pode ser verificado na Tabela 1.2.

Tabela 1.2 – Jovens entre 18 e 24 anos por situação de residência

Situação de residência Jovens %Regiões Metropolitanas 7.563.124 32,4

Outras Regiões 15.808.578 67,6

Total 23.371.702 100

Urbano 19.973.701 85,5

Rural 3.398.001 14,5

Total 23.371.702 100,0

Fonte: IBGE, PNAD (2003)

O Programa apresenta ainda outros dois condicionantes. O primeiro diz respeito à escolaridade. Percebe-se que em torno de 17% dos jovens metropolitanos apresentam a principal característica considerada pelo ProJovem, ou seja, a não conclusão do Ensino Fundamental. Somente 5% deles estariam fora da cobertura do Programa segundo esse critério, por se localizarem na faixa de 0 a 3 anos de escolaridade. A escolaridade é um filtro bastante seletivo, uma vez que mais de três quartos dos jovens superaram essa etapa da escolarização.

Considerado o critério da escolaridade, a população-alvo é estimada em um milhão e trezentos mil jovens residentes nas dez regiões metropolitanas consideradas pela PNAD. A Tabela 1.3 apresenta os dados detalhados.

Tabela 1.3 – Escolaridade de jovens com idade entre 18 e 24 anos em dez regiões metropolitanas brasileiras em 2003.

Região Metropolitana

Anos de estudo completos

TotalAnalfabeto Fund. Incompleto

Fund completo

Médio incompleto

Médio completo

Superior

sem instrução

1 a 3 4 a 7 8 9 a 10 1112 ou mais

Grande Belém7.938 15.228 73.225 37.585 61.399 73.226 18.792 287.393

2,8 5,3 25,5 13,1 21,4 25,5 6,5 100

Grande

Fortaleza

15.321 25.236 100.936 57.385 76.163 141.941 41.847 458.829

3,3 5,5 22,0 12,5 16,6 30,9 9,1 100

Grande Recife20.594 27.042 127.106 40.149 75.929 147.491 43.063 481.374

4,3 5,6 26,4 8,3 15,8 30,6 8,9 100

Grande

Salvador

13.817 29.483 116.702 58.366 107.02 143.941 46.812 516.141

2,7 5,7 22,6 11,3 20,7 27,9 9,1 100

Grande Belo

Horizonte

8.018 17.552 116.744 71.348 103.396 245.723 76.317 639.098

1,3 2,7 18,3 11,2 16,2 38,4 11,9 100

Grande Rio de

Janeiro

20.836 41.672 244.648 146.519 245.313 428.144 231.209 1.358.341

1,5 3,1 18,0 10,8 18,1 31,5 17,0 100

Grande São

Paulo

45.916 68.869 332.489 226.185 385.183 1.161.546 349.472 2.569.660

1,8 2,7 12,9 8,8 15,0 45,2 13,6 100

Grande Curitiba4.897 12.428 45.95 44.45 61.02 141.635 61.013 371.393

1,3 3,3 12,4 12,0 16,4 38,1 16,4 100

Grande Porto

Alegre

5.739 9.224 90.796 68.457 74.805 160.885 89.365 499.271

1,1 1,8 18,2 13,7 15,0 32,2 17,9 100

Grande Brasília6.472 8.972 55.291 31.504 50.917 103.314 50.506 306.976

2,1 2,9 18,0 10,3 16,6 33,7 16,5 100

Total149.548 255.706 1.303.887 781.948 1.241.145 2.747.846 1.008.396 7.488.476

2,0 3,4 17,4 10,4 16,6 36,7 13,5 100

Fonte: IBGE, PNAD (2003)

1 É importante ressaltar que são 10 as regiões metropolitanas consideradas pela PNAD.

Relatório ProJovem 17Como 54 mil jovens desse contingente se encontram em áreas rurais, estima-se em 1 milhão e duzentos e cinquenta mil jovens a população-alvo do ProJovem nas regiões metropolitanas.

Além da idade e da escolaridade, o Programa apresenta outro critério: não possuir vínculo formal com o mercado de trabalho. Em relação à posse ou não de uma carteira de trabalho, os dados dos jovens metropolitanos são apresentados a seguir (Tabela 1.4).

Tabela 1.4 – Jovens metropolitanos com idade entre 18 e 24 anos e 4 a 7 anos de escolaridade em relação à carteira de trabalho assinada em 2003.

2003

Região MetropolitanaCarteira assinada

Possui Não possui Total

Grande Belém5.832 67.393 73.225

8% 92% 100%

Grande Fortaleza13.58 87.356 100.936

13% 87% 100%

Grande Recife15.394 111.712 127.106

12% 88% 100%

Grande Salvador16.499 100.203 116.702

14% 86% 100%

Grande Belo Horizonte32.43 84.314 116.744

28% 72% 100%

Grande Rio de Janeiro47.045 197.603 244.648

19% 81% 100%

Grande São Paulo56.128 276.361 332.489

17% 83% 100%

Grande Curitiba12.05 33.9 45.95

26% 74% 100%

Grande Porto Alegre26.032 64.764 90.796

29% 71% 100%

Grande Brasília14.814 40.477 55.291

27% 73% 100%

Total239.804 1.064.083 1.303.887

18% 82% 100%

Fonte: IBGE, PNAD (2003)

Considerando os jovens entre 18 e 24 anos, sem carteira assinada, com quatro a sete anos de escolaridade, obtém-se uma estimativa muito próxima da base de estimação do ProJovem: 1.064.083 jovens. A cobertura inicial do ProJovem, porém, inclui as 27 capitais brasileiras. Como os dados da PNAD não fornecem informações por município, buscaram-se no Censo 2000, os dados para a estimativa da população de jovens nessas capitais.

Utilizando-se as duas bases de dados analisadas, é possível observar um processo de redução desse contingente de jovens de baixa escolaridade, resultante da ação simultânea do esforço da política educacional para garantir a universalização do acesso à escola, da transição demográfica e dos efeitos da migração, que leva muitos jovens a se transferirem para as metrópoles.

Com o objetivo de produzir uma aproximação maior do quantitativo de jovens candidatos ao ProJovem, foi realizada uma projeção para 2006, a partir dos dados de 2000, da população com idade entre 18 a 24 anos, com 4 a 7 anos de escolaridade, nas cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. O contingente de 2,1 milhões de jovens, em 2000, sofreria uma redução de 40%, totalizando-se 1,3 milhões em 2006.

Relatório ProJovem18É preciso observar, no entanto, que tais estimativas não puderam considerar as alterações recentes na escolarização das coortes. Como explicitado anteriormente, a geração de tais modelos a partir dos dados disponíveis mostrou-se muito complexa, em função principalmente das variáveis intervenientes e da elevação das margens de erro ao ampliar a consideração de características específicas (de idade, geográficas e de escolarização); por isso, podem e devem ainda ser aperfeiçoados para melhorar a estimação da população-alvo do ProJovem.

Por fim, a análise dos dados leva a uma constatação importante. Uma vez que a universalização do acesso à escola, aliada aos projetos de aceleração e recuperação dos jovens em situação de defasagem educacional, tem conseguido, ao longo do tempo, incluir parcelas significativas desse contingente populacional, parece adequado sugerir que o ProJovem considere a possibilidade de ampliar o teto etário a que se propôs atender inicialmente.

1.3.2 Juventude e Exclusão no Brasil

Nos últimos vinte anos, o Brasil vivenciou um conjunto de transformações sociais, econômicas e demográficas que alteraram profundamente as características da população jovem e afetaram a forma de como as gerações mais novas realizam a transição para a vida adulta. Do ponto de vista demográfico, as mudanças mais importantes observadas foram o prolongamento da vida, medido pela esperança de vida ao nascer2 e a redução da fecundidade. Um dos principais determinantes desse prolongamento foi a redução da mortalidade infantil3. Esse fator, somado à dinâmica de natalidade dos anos 1970, levou ao fenômeno da “onda jovem”, que gerou mais de 34 milhões de brasileiros entre 15 e 24 anos em 2000.

Tais transformações, entretanto, não influenciaram a sociedade brasileira da mesma forma: indicadores apontam que homens e mulheres vêm experimentando mudanças em seus ciclos de vida de maneira diferenciada. Entre as mais significativas, destacam-se o decréscimo generalizado das taxas de participação da população masculina na População Economicamente Ativa (PEA), o aumento expressivo da participação das mulheres na atividade econômica entre 1980 e 2000, especialmente entre aquelas que administravam concomitantemente trabalho, maternidade e casamento e aquelas que acumulavam trabalho com maternidade, e o aumento na proporção de mulheres que frequentavam a escola, bem como o tempo de permanência no sistema educacional (simultaneamente ao trabalho), em comparação aos homens. Tanto para homens, quanto para mulheres, a idade ao entrar no mercado de trabalho, contrair matrimônio e ter filhos aumentou em relação à década de 1980, enquanto a idade de entrada na escola se antecipou (Camarano, et al., 2006a).

Os fatores sociais tradicionalmente elencados para justificar tais fenômenos são a melhoria nas condições de vida em geral, principalmente na oferta de saneamento e atendimento à saúde; a expansão do acesso à escolaridade básica, especialmente na década de 1990; e as mudanças recentes nos mercados de trabalho, nomeadamente nas regiões metropolitanas, onde a fragilização dos vínculos e a intensificação das transições ocupacionais têm se tornado comuns num contexto marcado pelo aumento dos patamares de desemprego, pela ampliação do tempo de procura de trabalho e pela recorrência da desocupação (Guimarães, 2006:172).

Contudo, o aumento da esperança de vida, a ampliação do acesso à educação e a precarização das relações de trabalho, por si só, não são suficientes para explicar ou dar conta das múltiplas formas de transição para a vida adulta que os jovens empreendem a partir do momento em que se lançam em busca dos meios que lhes possibilitem alcançar autonomia em relação à família de origem. Mudanças significativas nos padrões de nupcialidade e nas atitudes e comportamentos em relação à sexualidade feminina também têm impacto sobre a taxa de fecundidade das diferentes faixas etárias, bem como as experiências de paternidade e maternidade. Para entender como essas múltiplas dimensões influenciam-se entre si, é preciso partir de um conceito mais amplo de transição para a vida adulta, que não engloba apenas uma representação linear de percursos biográficos.

A transição é um sistema complexo, que articula uma pluralidade de trajetórias diferentes, intimamente interligadas e que se influenciam mutuamente. Nesse sentido, ela é compreendida não apenas como a passagem da escola para o trabalho, mas como um processo relacional entre trajetórias escolares e laborais,

2 Segundo o IBGE, a esperança de vida ao nascer, no Brasil, aumentou aproximadamente nove anos entre 1980 e 2000, passando de 62,5 anos para 71 (Camarano et. al, 2006a:32).3 Ainda segundo o IBGE, em 1980, de mil crianças vivas, 898 completavam 15 anos. Em 2000, esse número aumentou para 968 (Fonte: Censo Demográfico de 1980 e 2000).

Relatório ProJovem 19afetivas e familiares, as quais conformam o processo de fazer-se adulto e constituem a biografia de um indivíduo. No contexto brasileiro, ela é marcada por profundas disparidades sociais, que imprimem padrões diferenciados de transição. Essas disparidades não se baseiam apenas em distinções de classe e de cor, mas também obedecem a variações de gênero, origem rural/urbana e, certamente, a diferenças regionais (Pimenta, 2007).

A questão é compreender como essas diferenças se articulam para produzir variações nos trajetos de vida dos jovens; nomeadamente, nos que resultam em percursos escolares irregulares, descontínuos e incompletos, característicos do público-alvo do ProJovem. O objetivo, nessa introdução, é apresentar a problemática da defasagem escolar sob a ótica da transição e, a partir de uma perspectiva sociológica, lançar alguns pontos de vista teóricos, através dos quais se procurará analisar parte dos dados levantados em 2007.

1.3.3 Transições no Brasil

Em geral, quando se estuda o processo de transição a partir de estatísticas nacionais, atenta-se para alguns marcadores específicos, que indicam a saída da escola, a inserção no mercado de trabalho, o estado civil, a condição no domicílio e, no caso das mulheres, a maternidade, tradicionalmente utilizados como variáveis indicadoras da “passagem” para a vida adulta. Ainda tomando-se como referência o período entre 1980 e 2000, observa-se que, no Brasil, o evento “saída da escola” geralmente começa antes dos 15 anos e tem como principal característica o fato de ocorrer antes do término da escolaridade obrigatória, diferentemente do que acontece nos países desenvolvidos.

Uma das maiores mudanças, entretanto, foi observada em relação à permanência no sistema de ensino. Enquanto em 1980, aos 15 anos, 50% do grupo de jovens já tinham deixado a escola, essa proporção foi reduzida para 10% em 2000. Em contrapartida, aumentou a proporção de jovens, principalmente do sexo feminino, que estavam estudando aos 29 anos.

Contudo, é preciso ter em mente que a obrigatoriedade do antigo ensino primário só foi estabelecida constitucionalmente em 1934 e que a sua universalização só ocorreu durante os anos 19904. Na realidade, no Brasil, assim como em outros países latino-americanos, a transição escola-trabalho caracteriza-se, antes, pelo ingresso precoce na vida ativa e pela conciliação ou superposição de estudo e trabalho (Hasenbalg, 2003). Com efeito, embora tenha havido, sem dúvida, um adiamento da idade à saída do sistema de ensino, em 2000 houve o crescimento da participação simultânea na escola e no trabalho, sobretudo por parte das mulheres. Porém, se, por um lado, houve mudanças positivas, por outro lado também se observam números preocupantes, como, por exemplo, o crescimento da taxa de mortalidade masculina entre 15 e 29 anos, que passou de 1,98 óbitos por 1.000 habitantes em 1980 para 2,34 em 2000 – um aumento de 18%, o que a torna 3,7 vezes superior à feminina (0,63). Esse crescimento expressivo se deu, sobretudo, em função das causas externas.Enquanto na população total apenas 8% dos homens morriam de causas externas, entre os jovens esse percentual subiu para 74%, em 2000, sendo o homicídio a principal causa de óbitos entre os jovens de 15 a 29 anos, com cerca de 60% das mortes por causas externas nesse grupo. Os acidentes de transporte e as outras causas externas (inclusive suicídio) vinham praticamente em segundo lugar, cada uma com cerca de 20% do total de causas (Ferreira e Araújo, 2006). No que concerne especificamente ao objeto de interesse Desse Relatório, também cresceu o número de jovens que não estudam, não trabalham e não procuram trabalho. Eram cerca de 8 milhões de pessoas, em 2000, nessa situação,ou seja, 17% da população jovem (15 a 29 anos).

Além da magnitude desse segmento, Camarano et al. (2006b) chamam a atenção para a diferenciação por sexo na proporção de jovens que não estudam e não participam do mercado de trabalho. Do total de homens jovens, cerca de 7,4% encontravam-se nessas condições. Entre as mulheres, o percentual corresponde a 26,4%, o que leva a presumir que o fenômeno tem um forte componente de sexo. Analisando os dados do Censo de 2000, os pesquisadores observaram que entre os jovens do sexo masculino que não estudavam e não compunham a força de trabalho, predominavam os de cor parda (49,9%), fato sinalizador de uma super-representação, comparativamente à proporção de pardos na população jovem (42,2%) entre a categoria estudada. Os homens de cor negra também apareciam super-representados nessa mesma categoria (8,7% para 7,0%). Já os brancos estavam super-representados na categoria dos jovens que estudavam, seja

4 Camarano, 2006.

Relatório ProJovem20apenas estudando ou combinando estudo e trabalho. No que diz respeito às mulheres, embora as brancas predominassem entre as que não estudavam e não faziam parte do mercado de trabalho, sua proporção em relação à população total de jovens era menor (49,2% e 53,0%). Mais uma vez, eram as pardas que estavam super-representadas na categoria estudada.

Tanto entre homens como entre mulheres, verifica-se que as maiores proporções com o nível mais baixo de escolaridade (de 0 a 4 anos de estudo e de 5 a 8 anos de estudo) encontravam-se entre os jovens que não estudavam e estavam fora do mercado de trabalho. Outras variáveis que afetam a opção (ou a falta de) dos jovens de não frequentarem a escola e não trabalharem são a situação de domicílio e a região onde habitam que, em 2000, foram predominantes entre os homens rurais e urbanos e as mulheres residentes no meio urbano. Comparando-se apenas as regiões Nordeste e Sudeste, os dados apontam claramente para um percentual mais elevado de jovens nessas condições, para ambos os sexos, na região Nordeste.

O estado conjugal e a maternidade também são fatores associados à condição de não trabalhar e não estudar. A proporção de mulheres casadas que não estudavam nem trabalhavam era de 71,3%, em comparação à de homens casados, que era de 13,4%. Além disso, essas variáveis estão fortemente ligadas à idade: 50,3% das mulheres de 15 a 19 anos e 83,4% entre 25 e 29 anos eram casadas. Também entre elas se encontrava a maior proporção de mães: 71,2% em 2000. O percentual de mulheres com filhos também aumentou com a idade, sugerindo que as mulheres que não participavam do mercado nem estavam estudando não o faziam para se dedicarem aos afazeres domésticos, incluindo o cuidado com as crianças.

No que diz respeito às condições de vida, observa-se que quanto maior a renda do domicílio, maior era a chance de o jovem só estudar ou combinar estudo e trabalho: aproximadamente ¼ dos jovens de ambos os sexos que só estudavam estava no quintil de renda mais elevado. Os jovens que não estudavam e não pertenciam à força de trabalho, por sua vez, viviam em domicílios onde a renda média per capita correspondia a 47% da renda média per capita de domicílios com jovens que só estudavam ou que combinavam as duas atividades, indicando que a renda afeta positivamente a probabilidade de estudar, principalmente sem trabalhar e, negativamente, a de trabalhar sem estudar e a de não exercer nenhuma das atividades. Por fim, a escolaridade do chefe domiciliar também aparece fortemente associada ao fato de não estudar nem trabalhar, uma vez que as mais altas proporções de jovens residentes em domicílios nos quais o chefe tinha baixa escolaridade foram encontradas entre aqueles que estavam fora da escola e do mercado de trabalho, sendo mais elevadas entre as mulheres (56,9% para os homens e 65,8% para as mulheres).

Além dos indicadores de desigualdade social (escolaridade do chefe, renda, cor, situação do domicílio, região), que outros elementos ajudam a explicar a situação em que se encontra o público-alvo do ProJovem, além de condicionantes socioeconômicas? Como entender o forte viés de sexo observado entre os jovens que não estudam, nem trabalham? Qual a importância relativa do casamento e do matrimônio no processo de transição para a vida adulta das mulheres jovens?

Certamente, há fatores estruturais importantes que contribuem de forma contundente para que alguns estudantes interrompam e retomem sucessivamente suas trajetórias educacionais, nem sempre concluindo os níveis de ensino que estavam cursando. Porém, quando as trajetórias educacionais dos jovens são analisadas sob uma perspectiva microssocial, outros aspectos ganham relevância, evidenciando que a continuidade e a duração da escolarização dependem, também:

• Da importância atribuída ao acúmulo de capital escolar tanto pela família como pelos indivíduos.

• Da interiorização (ou não) de disposições positivas e negativas em relação à cultura escolar e à educação institucional.

• Das condições de ensino oferecidas pelas instituições.

• Do tipo de ensino (público ou privado) a que têm acesso.

• Da disponibilidade e dos horários para estudar.

• Dos objetivos futuros no que diz respeito ao grau de escolaridade atingido e à profissão.

Para os jovens socializados em famílias com grande capital escolar, os projetos educacionais, compartilhados tanto pelos pais quanto pelos filhos, pressupõem a continuidade dos estudos até o ensino superior. Nessas famílias, portanto, pode-se dizer que os modelos de transição para a vida adulta que atuam como referência

Relatório ProJovem 21para os investimentos e estratégias de escolarização supõem a passagem pela universidade (Pimenta, 2007). Isso não significa que, para os jovens oriundos de famílias com menos capital escolar, e que muitas vezes não chegaram a completar os estudos, a educação não seja valorizada. Porém, como observa Lahire (2004), a permanência no sistema educacional implica uma configuração de fatores para que se possa efetivamente concretizar. Entre eles, estão a interiorização de disposições positivas em relação à escola e as condições objetivas de ensino encontradas no sistema educacional. Contudo, muitas vezes, a insistência dos pais não é suficiente para manter os filhos estudando; problemas históricos do sistema educacional brasileiro, como os altos índices de reprovação, acabam por desestimulá-los e gerar disposições negativas em relação à prática do estudo. O conjunto dos problemas enfrentados pelos usuários do sistema público de ensino5 parece ser o principal elemento estrutural a interferir nas trajetórias escolares, contribuindo para a busca de alternativas ou para o abandono dos estudos. Porém, nem todos os fatores a afetarem a conformação das trajetórias escolares estão associados aos problemas do sistema educacional; eventos familiares significativos, como problemas de saúde, dificuldades financeiras ou a separação dos pais podem implicar em mudança para instituições mais acessíveis ou a transferência para o horário noturno, a fim de disponibilizar a jornada para o trabalho. Para alguns jovens, especialmente os de segmentos menos favorecidos, a maternidade (ou a paternidade) geralmente implica na opção pelo trabalho em detrimento dos estudos.

A necessidade de trabalhar parece ser o principal fator associado à interrupção dos itinerários escolares; porém, não é razão suficiente para explicar esses desdobramentos, pois muitos jovens, em algum momento, conciliam estudos e trabalho, seja pela frequência à escola noturna, seja pelo exercício de atividades em meio período. O desenvolvimento de disposições positivas em relação à educação institucional depende não apenas de condições econômicas favoráveis, mas também da presença de uma cultura escrita familiar e de ações socializadoras com potencial para favorecer a incorporação dessas disposições, em contextos familiares com menos capital cultural (Lahire, 2004). O estrato social de origem, indicado pela ocupação do pai, exerce forte influência nas duas circunstâncias do ingresso no primeiro emprego, isto é, a idade e o grau de escolaridade. Não por acaso, são os filhos dos profissionais liberais e dos outros profissionais universitários os que ingressam no primeiro emprego com idades mais avançadas e educação mais alta, indicando que esses estratos, mais bem dotados de capital cultural, são os que mais investem na educação dos filhos, postergando a incorporação deles à vida do trabalho (Hasenbalg, 2003).

Todavia, é possível perceber que nem sempre os jovens atravessam situações favoráveis à ativação dessas disposições. Nesses momentos, estudar parece deixar de fazer sentido e os sujeitos não mais tomam iniciativas pró-escolarização. Do ponto de vista objetivo, portanto, é claramente perceptível o impacto das condições socioeconômicas na conformação das trajetórias escolares. Do ponto de vista subjetivo, entretanto, elas podem ser interrompidas e/ou retomadas e tornarem-se mais ou menos prolongadas dependendo dos tipos de disposições interiorizadas (positivas ou negativas) e dos contextos (mais ou menos favoráveis) à sua ativação/supressão. Tais esquemas de percepção têm implicações significativas na maneira como os sujeitos priorizam o tempo e o esforço dedicados ao desenvolvimento de trajetórias escolares e laborais que, muitas vezes, vão além de condicionamentos estruturais.

Além da relação escola-trabalho, um ponto importante a salientar é o impacto da paternidade/maternidade nas trajetórias escolares dos jovens: em um estudo multicêntrico sobre jovens, sexualidade e reprodução no Brasil, realizado por um conjunto de instituições acadêmicas em três capitais entre 1999 e 20026, identificou-se que, da amostra de jovens entre 18 e 24 anos, metade já estava fora do sistema escolar antes de ter filhos,

5 Os problemas enfrentados pela escola pública no Brasil têm sido associados por pesquisadores a uma verdadeira crise da legitimidade da instituição escolar, derivada, sobretudo, da falência da sua função como instrumento de ascensão social e do status do professor como mediador dessa ascensão. Embora, nos últimos anos, tenha havido um processo de democratização do ensino fundamental e médio, o aumento efetivo do número de vagas nesses níveis e a necessidade urgente de profissionalização de professores nem sempre foram bem conduzidos. Por outro lado, a ampliação das oportunidades de educação superior mudou as expectativas dos profissionais que antes objetivavam o magistério, esvaziando e fragmentando a formação dos professores. Paralelamente à diminuição drástica nos salários, ao baixo investimento do Estado no setor educacional e à falta de políticas educacionais efetivamente voltadas para uma real democratização da escola, o que se tem observado é um profundo mal-estar presente nos meios educacionais, contribuindo para a desvalorização da educação e dos magistérios, o que acabou por gerar uma grave crise de identidade da escola (Lucinda et al., 2001:39-40).6 Pesquisa Gravidez na adolescência: estudo multicêntrico sobre jovens, sexualidade e reprodução no Brasil, uma investigação sobre comportamentos sexuais e reprodutivos de jovens brasileiros desenvolvida em duas etapas: uma inicial, qualitativa, em que foram realizadas 123 entrevistas em profundidade entre 1999 e 2000 e outra, quantitativa, abrangendo 4.634 indivíduos, em um inquérito populacional com amostra aleatória estratificada, entre 2001 e 2002, em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. A pesquisa foi elabora pelo Instituto de Medicina Social (IMS) da UFRJ e contou com a participação do Institut National d’Études Démagraphiques (Ined), do Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde (Musa), do Instituto de Saúde Coletiva (ISC), da UFBA, do Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde (Nupacs) da UFRGS.

Relatório ProJovem22o que implica o abandono definitivo dos estudos para aproximadamente 15% das mulheres. “No caso dos homens, vale salientar que 65,4% já trabalhavam antes do nascimento do filho; as mulheres, em percentual bastante próximo, não tinham atividade remunerada e assim permaneceram após o nascimento do filho” (Heilborn e Cabral, 2006:249). Se, como já foi registrado por diversos autores (Duarte, 1986; Sarti, [1996]2005; Heilborn, 1997), no caso dos jovens do sexo masculino das camadas populares, a transição para a vida adulta se dá, predominantemente, por meio do trabalho, através do imperativo moral do “dever de trabalhar” e prover para a família. Para as mulheres, a mudança de estatuto parece se operar, sobretudo, na esfera doméstica e familiar e tem a ver com assumir os papéis de “mãe”, em primeiro lugar e “dona de casa” em segundo7. Geralmente, no Brasil, o envolvimento das meninas nesses papéis acontece de maneira bastante precoce, ainda na primeira infância, quando são chamadas a partilhar as tarefas domésticas e o cuidado com os irmãos menores. A maternidade, primeiramente, e o casamento ainda são, portanto, importantes valores para relevantes segmentos das camadas jovens brasileiras que têm, nesses eventos, um marco de transição para a vida adulta, especialmente para as mulheres. O que a pesquisa aponta é que a gravidez e o nascimento da criança ocorrem, em grande proporção, após a interrupção e/ou conclusão dos estudos e, portanto, não podem ser associados unicamente como fatores que levam à descontinuidade dos percursos escolares.

Por essa razão, o que se pretende destacar é o fato de que, embora o acesso à escolarização básica tenha se expandido de forma ampla e inegável, os projetos educacionais estendidos até os níveis mais altos de ensino – enquanto modelos de transição para a vida adulta – ainda não são compartilhados por boa parte dos jovens (especialmente aqueles oriundos de famílias com baixo capital escolar e econômico), mas ainda são fortemente associados a grupos sociais específicos, em especial aqueles que tradicionalmente têm passagem pelo ensino superior e que ocupam posições não manuais qualificadas e faixas de renda mais altasa.

1.3.4 Exclusão juvenil em perspectiva histórica

A cada ano é menor o número de jovens que chega aos 18 anos sem o Ensino Fundamental. No entanto, para aqueles que foram excluídos do sistema de ensino antes que conseguissem concluir esse nível, são necessárias políticas inclusivas específicas, porque tais jovens tendem a permanecer excluídos apesar dos esforços das políticas tradicionais. Um dado importante a destacar é a persistência da baixa frequência à escola daqueles que se encontram em situação de defasagem escolar. Já foi apontado que, em 2006, 87% dos jovens entre 18 e 29 anos sem o Ensino Fundamental “não frequentavam escola”. Esse afastamento do sistema de ensino é gradual. Quando são ainda adolescentes, eles tendem a permanecer na escola mesmo em situação de atraso em relação aos colegas de classe. Ao longo do tempo, esse percentual é elevado sistematicamente, em especial após os 18 anos. Dos jovens que tinham 13 anos em 1997, 4% estavam fora da escola. Já em 1998 (com 14 anos), 6% não frequentavam a escola. Esse percentual eleva-se para 9% em 1999, para 54% em 2000 (aos 18 anos) e 73% em 2003 (aos 19 anos), com permanente tendência de elevação.

A escolarização tem apresentado grandes avanços para aqueles em idade escolar regular. Para os jovens, como visto, esse quadro revela-se praticamente perene ao longo dos anos. Por isso, apesar de a população jovem excluída diminuir, a maior parte desse efeito não era decorrente das políticas de inclusão juvenil, mas das ações educacionais em idade regular. Com isso, cada vez menos a população excluída educacionalmente no Brasil é formada por jovens.

Ocorre movimento similar em relação à proporção de jovens urbanos que não concluíram o Ensino Fundamental. Ou seja, a cada ano é menor o percentual de jovens entre 18 e 29 anos sem tal nível escolar, embora esse percentual ainda seja muitíssimo elevado no Brasil, superior a 20% das coortes com mais de 18 anos. Como observado em dados anteriores, uma vez registrada a situação de exclusão, sem a adoção de políticas específicas, ela tende a persistir nos anos posteriores. Num quadro de maior escolarização geral, essa população tende a ser ainda mais excluída.

Consideradas todas as tendências acima mencionadas, estima-se que, em 2008, existam no Brasil mais de nove milhões de jovens entre 18 e 29 anos com o Ensino Fundamental ainda incompleto. Desse total, uma parcela muito grande (29%) está no meio rural. Aqueles que moram no meio urbano também se distribuem de forma irregular. Entre 28% e 33% estão em cidades pequenas, com até 200 mil habitantes. Entre 38% e

7 Segundo Heilborn e Cabral (2006), a maternidade ainda é um componente muito valorizado da feminilidade, o que é expresso na sociedade brasileira pelo ideal de ter o primeiro filho bastante jovem (em comparação com países desenvolvidos) (p.230).

Relatório ProJovem 2343% estão em centros urbanos maiores, ou seja, são entre 3,5 e 4 milhões de jovens que moram em cidades com mais de 200 mil habitantes e onde a estrutura das políticas públicas encontra melhores condições de implementação.

1.4 Perfil dos Jovens Ingressantes no ProJovem

O ProJovem é, portanto, uma ação derivada de um diagnóstico preliminar da realidade brasileira e, enquanto tal, sua construção tem se dado em consonância com um processo contínuo de produção de indicadores e dados de monitoramento. Algumas trajetórias e aspectos centrais na vida do jovem integrante do ProJovem – a família, a vida escolar e o trabalho – são sintetizados nas subseções que figurarão a seguir. Os dados apresentados do início do programa são o resultado do questionário socioeconômico aplicado em conjunto com a primeira avaliação, a Avaliação Diagnóstica, e do questionário do survey 1, uma pesquisa amostral. A importância desses questionários se dá por permitir que se caracterize o perfil do jovem que está iniciando o programa, sendo parte dos muitos questionários que compõem o Sistema de Avaliação e Monitoramento do ProJovem. Tal sistema será descrito em maior profundidade na Seção V, sobre condições de oferta.

1.4.1 Situação familiar

A combinação de fatores sociais que contribuem para a explicação da defasagem escolar em que se encontram os alunos do ProJovem vai além da relação escola/trabalho. Nesse sentido, um importante aspecto a ser considerado é a situação familiar em que vivem. Para fins analíticos, os contextos familiares podem ser desagregados em determinadas variáveis que, reunidas, contribuem para caracterizar as condições socioeconômicas dos jovens do programa. Essa caracterização, portanto, permite inferir sobre as possíveis causas do desenvolvimento de suas trajetórias escolares.

De modo geral, os participantes do ProJovem são oriundos, predominantemente, de famílias de baixa renda, com baixo capital humano. Isso pode ser confirmado analisando-se os dados referentes ao grau de escolaridade dos pais e à posse (ou não) de determinados bens. Entre aqueles que tinham conhecimento do nível educacional alcançado pelos pais, 17,3% declararam que o pai não sabia ler e escrever e 19,9% declararam o mesmo em relação à mãe (tabela 1.9). É interessante observar que o percentual de jovens que desconhecem se o pai sabe ler e escrever é quase quatro vezes maior do que aqueles que desconhecem se a mãe sabe ler e escrever.

Tabela 1.5 - Pais sabem ler e escrever?

Sabe ler e escrever

Pai (%) Mãe (%)

Sim 70,5 76,5

Não 17,3 19,9

Não sabe 12,3 3,6

Fonte: Dados do Questionário Socioeconômico

Em relação ao grau de escolaridade, observa-se que entre 13% e 14% responderam que o pai e/ou a mãe nunca estudaram; a maioria dos pais (43%) e das mães (55,2%), entretanto, chegou a cursar o Ensino Fundamental, ainda que não o tenha completado e desses, cerca de 4% não sabem ler e escrever. Apenas 11,1% e 12,9%, respectivamente, declararam que o pai e a mãe chegaram ao Ensino Médio, e em torno de 3% responderam que um dos pais chegou até a faculdade (gráfico 1.1).

Relatório ProJovem24Gráfico 1.1 - Escolaridade dos pais

0,0

10,0

20,0

30,0

Nuncaestudou

1 ª a 4 ª sériefundamental

5 ª a 8 ª sériefundamental

1 ª a 3 ª sériemédio

Até afaculdade Não sei

Pai Mãe

Fonte: Dados do Questionário Socioeconômico

Vale ressaltar que a educação dos pais – em especial, da mãe – é um dos principais fatores associados a uma maior permanência das crianças e dos jovens na escola. Os jovens filhos de pais com baixa escolaridade tendem a perpetuar a condição educacional dos pais. Se for considerado que o número de anos de estudo é um importante fator de determinação dos rendimentos de um indivíduo, pois aumenta sua produtividade no trabalho, tem-se uma situação de difícil mudança na escala de mobilidade social. Isso porque, dificilmente, esses jovens conseguirão empregos bem remunerados com a atual escolaridade que possuem. O ProJovem, portanto, tem um papel ainda mais importante sob Esse aspecto, uma vez que objetiva corrigir, ao menos em parte, a defasagem escolar desses jovens.

Os alunos do ProJovem, em sua maioria, são oriundos de famílias tradicionalmente sem passagem pelo Ensino Superior, em que a geração mais velha não chegou a completar a escolaridade obrigatória. Isso pode ser confirmado, quando analisam-se as respostas para a pergunta “quem na família estudou e ‘foi mais longe’?”, em que, na maior parte dos casos, a pessoa que “foi mais longe” é um membro da mesma geração: o próprio jovem (13%), um(a) irmã(o) mais velho(a) (37,3%) ou mais novo(a) (14,5%). Ainda assim, o grau mais alto de escolaridade atingido é o Ensino Médio, em primeiro lugar, e o Ensino Fundamental, em segundo. Apenas 15,8% responderam ter um parente que chegou até a faculdade (gráfico 1.2).

Gráfico 1.2 - Até que série estudou quem “foi mais longe” na família

Fonte: Dados do Questionário Socioeconômico

No que diz respeito ao capital econômico familiar, as informações levantadas referem-se, basicamente, às condições de moradia e à posse (ou não) de determinados bens de consumo, utilizados para medir a condição socioeconômica dos indivíduos. Em relação às condições de moradia, é importante ressaltar que a maior parte (64,8%) dos ingressantes respondeu que a rua onde morava tinha calçamento; porém, mais de um terço dos jovens ainda morava em bairros com ruas sem calçamento, e 3,7% deles não tinham banheiro em casa. O aparelho eletrodoméstico mais comumente encontrado é a televisão, seguido da geladeira.

Relatório ProJovem 25Apenas 8,6% dos ingressantes tinham computador em casa (gráfico 1.3). Além da relevância do conhecimento de informática como requisito para o mercado de trabalho, esse é, certamente, um fator importante a motivar os jovens a se inscreverem no ProJovem. É interessante observar como a difusão da tecnologia de telefonia celular e a ampliação da oferta de aparelhos pré-pagos contribuíram para disseminar o acesso a esse bem de consumo, tornando o telefone celular mais frequente do que a linha fixa nos domicílios dos jovens participantes.

Gráfico 1.3 - Percentual de Bens de consumo presentes no domicílio

92,6

7,41

86,28

13,72

68,02

31,97

65,13

34,87

44,23

55,77

16,27

83,05

15,85

84,15

8,56

91,44

televisão aparelho de som telefone fixo automóvel

sim não

Fonte: Dados do Questionário Socioeconômico

Outro fator a ser considerado é a posição que os próprios jovens ocupam em seus domicílios. Embora essa questão não tenha sido objeto específico da pesquisa de avaliação, cabe ressaltar que a condição do domicílio interfere de forma contundente na alocação do tempo disponível para o exercício de diferentes tarefas, notadamente os estudos e o cuidado com as crianças pequenas. Nesse sentido, importa estabelecer se os jovens encontram-se na condição de filhos, cônjuges ou chefes de domicílio e também se já têm filhos, uma vez que cada uma dessas situações implica diferentes papéis e responsabilidades familiares, as quais, por sua vez, certamente têm impacto sobre suas trajetórias escolares.

Os dados, aqui disponíveis, entretanto, não permitem inferir com precisão a condição dos jovens frequentes, mas é possível chegar a uma ideia próxima. Da amostra de ingressantes, verifica-se que apenas 33% moravam com o pai, contra 55,8% que responderam morar com a mãe, novamente corroborando com a hipótese de que um grande número de jovens mora em domicílios chefiados por mulheres (gráfico 1.4).

Gráfico 1.4 - Percentual de jovens frequentes que moram com os pais

Fonte: Dados do Questionário Socioeconômico

É importante que se tenha em mente que mais da metade (54,2%) dos que frequentavam o Programa, há pelo menos seis meses, já tinham filhos. Apesar de a conjugalidade e a fecundidade não terem sido um dos enfoques das pesquisas de avaliação do Programa, é possível inferir, a partir dos dados, que uma porcentagem significativa dos participantes já havia constituído domicílio independente; tanto pelo número de jovens que não morava com os pais quanto pelo número de pessoas que moravam no mesmo domicílio: grande parte da amostra (45,7%) vivia com até quatro pessoas, sugerindo famílias em formação (tabela 1.10).

Relatório ProJovem26Tabela 1.6 - Distribuição da amostra de jovens frequentes, segundo o número de pessoas que

moram na casa

Número de pessoas PercentualTrês pessoas ou menos 25,2

Quatro pessoas 20,5

Cinco pessoas 17,5

Seis pessoas 13,0

Sete pessoas 9,6

Oito pessoas ou mais 14,2

Total 100

Fonte: Dados do S1

Isso significa que, para boa parte dos jovens do ProJovem, a família (representada pelo cônjuge, filhos e/ou outros dependentes) ocupa um lugar importante em sua rotina diária, configurando o centro de decisões importantes (a decisão de começar a trabalhar ou optar por um determinado emprego, por exemplo) que incluem, também, a participação (ou não) no ProJovem.

1.4.2 Trajetória escolar

A focalização do ProJovem ocorre na defasagem idade-série em que se encontra o seu público-alvo. Assim, reunir dados que permitam compreender de que forma esses jovens desenvolveram trajetórias escolares irregulares, descontínuas e incompletas é fundamental para o conhecimento dos fatores sociais que interferem em seu desenvolvimento educacional. Um aspecto positivo a ser destacado é o fato de que, segundo os dados do questionário socioeconomico, 74,5% dos participantes responderam ter frequentado a pré-escola. Esse percentual está bastante acima da taxa nacional para a faixa etária a que corresponde esse nível de ensino, segundo o IBGE. Outro dado que pode ser considerado positivo é o fato de 54% da amostra terem entrado na escola com 6 anos ou menos, e 29% com 7 anos. Porém, 17% começaram a estudar após os 8 anos ou mais de idade. O atraso no início do ciclo obrigatório tem consequências a longo prazo. A defasagem em relação aos colegas e a dificuldade de aprendizado pela ausência de competências adquiridas em níveis anteriores constituem fatores que poderiam explicar o baixo grau de escolaridade alcançado por esses jovens. No entanto, parecem ser os processos excludentes, vivenciados na escola regular, os principais fatores que originaram a defasagem observada.

Embora uma porcentagem da amostra de iniciantes (7,14%) tenha frequentado algum tipo de supletivo ou classe de aceleração – o que impossibilita precisar a última série frequentada – a maior parte tentou, sem sucesso, concluir o Ensino Fundamental. Somando-se aos 3,3% de “não respostas,” têm-se 10,3% dos jovens com dificuldade de identificação da última série desse nível de ensino concluída com êxito. Como se pode observar no gráfico 1.3, somente 13,3% não foram além da 4ª série – o que é um dado positivo. Pouco mais de 24% chegaram a concluir a 5ª série; 24,8% a 6ª série, e quase 31% chegaram à 7ª série. A maior parte dos frequentes, portanto, encerrou os estudos próximo ao término do Ensino Fundamental.

Relatório ProJovem 27Gráfico 1.5 - Distribuição da amostra de jovens frequentes, segundo a última série concluída

Fonte: Dados do S1

A irregularidade da trajetória escolar desses jovens pode ser observada no número de vezes em que mudaram de escola: embora tenham acumulado poucos anos de estudo, apenas 5,2% dos jovens ingressantes frequentaram a mesma escola durante sua passagem pelo Ensino Fundamental. A maioria (80%) passou por três ou mais instituições de ensino, o que implicou sucessivas adaptações a horários, grades curriculares, colegas, professores e rotinas diferentes, que certamente interferiram em seus processos de aprendizado. De acordo com a tabela 1.11, pode-se observar que 90% dos iniciantes também tiveram trajetórias descontínuas, uma vez que pararam de estudar pelo menos uma vez antes do final do ano letivo. O índice de reprovações entre eles também é consideravelmente alto: cerca de 81% da amostra foram reprovados pelo menos uma vez.

Tabela 1.7 - Trajetória Escolar: Evasão e Reprovações

Pararam de estudar antes do fim do ano Foram reprovados

Frequência Percentual Frequência PercentualNenhuma vez 7.145 9,9 13.471 18,7

1 vez 16.855 23,4 15.444 21,4

2 vezes 20.652 28,7 17.367 24,1

3 vezes 15.528 21,6 13.362 18,5

4 vezes 7.253 10,1 7.123 9,9

5 vezes ou mais 4.548 6,3 5.316 7,4

Total 71.981 100 72.083 100

Fonte: Amostra do Questionário Socioeconômico

Esses números apontam para uma significativa associação entre a taxa de repetência e a evasão escolar. Segundo Rodriguez et al. (2008), as escolas de nível médio absorvem muitos alunos cuja série é defasada em relação à idade que possuem, devido às elevadas taxas de repetência no Ensino Fundamental. O desempenho desses alunos é extremamente deficiente, sendo essa situação ainda mais agravada pela padronização de um currículo escolar direcionado às crianças mais novas. Nesse sentido, o ProJovem tem sua importância reforçada, pois possibilita ao aluno um aprendizado condizente com sua idade, defasada em relação à série daqueles que prosseguem nos estudos de nível médio.

Relatório ProJovem28Em linhas gerais, a defasagem escolar em que os jovens do ProJovem se encontram, quando consideramos o grau de escolaridade obtido, somada ao fato de que apenas 13,3% haviam participado de algum programa do governo voltado para a educação antes do ProJovem, reforça a sua importância no sentido de redução das desigualdades educacionais nessa faixa etária.

1.4.3 Trajetória no Mercado de Trabalho

Uma das características mais frequentes entre os jovens iniciando o programa e que preencheram o questionário socioeconômico está associada a sua trajetória no mercado de trabalho. Como esperado, a maior parte dos jovens do programa começou a trabalhar bem antes do término da escolaridade obrigatória. Em alguns casos, o início das atividades laborais ocorreu antes da idade mínima legal para o exercício de atividade remunerada. A combinação entre trabalho e estudos, ou, ainda, o abandono da escola devido à necessidade de trabalhar, permanece como um dos principais fatores a influenciar a descontinuidade das trajetórias escolares dos jovens. O precoce início das atividades de trabalho dos jovens está diretamente relacionado a seu contexto social. As relações de interdependência entre o trabalho, a família, a escola e o desenvolvimento de outras tarefas diárias são características comuns ao público-alvo do ProJovem. Diante do atraso na trajetória escolar desses jovens, uma das consequências é a baixa qualificação profissional. Tendo-se em vista as exigências imediatas que as emergentes necessidades de seu contexto social impõem à sua trajetória de vida, juntamente com o desejo de autonomia econômica em relação ao núcleo familiar, as respostas destes jovens são previsíveis. Elas resultam no ingresso de postos de trabalho com curta duração do vínculo empregatício e atividades pouco qualificadas, muitas vezes precárias e associadas à informalidade, e de baixa remuneração. A transposição dessas barreiras compõe os objetivos do programa e é um importante ponto de análises constantes em prol de seu direcionamento e concretização.

É importante enfatizar, contudo, que o trabalho não é a única variável associada ao fracasso escolar, tampouco pode ser apontado como a origem da defasagem em que se encontra o público-alvo do ProJovem. Certamente, o início precoce da vida ativa interfere no desenvolvimento dos percursos escolares, especialmente quando a atividade produtiva é excessiva ou inadequada às capacidades da criança, do adolescente ou do jovem e, principalmente, quando é desprovida de conteúdo pedagógico – isto é, não constitui atividade de formação profissional. A falta de qualificação, associada à baixa escolaridade, resulta em inserções profissionais instáveis em que os jovens ocupam, na maior parte das vezes, posições temporárias, pouco qualificadas, mal remuneradas e, geralmente, alternadas com sucessivos períodos de desemprego.

No que se refere aos jovens iniciantes, como mostra o gráfico 1.6, verifica-se que, embora 20,7% nunca tenham tido uma atividade remunerada antes, e cerca de 9% tenham começado a trabalhar depois dos 18 anos de idade, a maioria iniciou a vida ativa cedo, até mesmo na infância, antes dos 10 anos de idade.

Gráfico 1.6 - Idade do primeiro trabalho remunerado

Fonte: Dados do S1

Relatório ProJovem 29A maior parte dos jovens da amostra (77%) declarou não estar trabalhando na época da pesquisa. Mais preocupante, porém, foi constatar que mais da metade (56,3%) estava desempregada há pelo menos 6 meses, e 20% não tinham trabalho remunerado há quatro anos ou mais. Para se ter uma ideia da experiência profissional dos jovens inquiridos, tomou-se como referência a atividade remunerada que exerceram por mais tempo no ano de 2005, antes da inserção no Programa. A análise dos dados da amostra revelou que a maior parte deles arranjou emprego por meio de suas redes de sociabilidade mais próximas; isto é, cerca de 70% contaram com a ajuda de pais, parentes, amigos ou vizinhos para conseguir trabalho. Ressalte-se que 84% não fizeram qualquer curso que os tenha ajudado a exercer essa atividade. O perfil das atividades exercidas corresponde ao padrão ocupacional já descrito anteriormente (gráficos 1.7a e 1.7b): baixa remuneração; sem vínculo empregatício formal; serviços pouco qualificados ou sem nenhuma qualificação, em que permaneceram por pouco tempo. Como a carreira profissional de um trabalhador é determinada em grande medida por sua primeira inserção no mercado de trabalho, esses jovens estão fortemente propensos a desempenhar atividades mais precárias. O baixo nível de renda acessado pelos jovens no mercado de trabalho constitui-se em mais um motivo para o desinteresse – ou até mesmo para o desalento – de parte desses jovens em ingressar nesse mercado. Além disso, devido a fatores socioeconômicos e à idade, aliados à grande oferta de força de trabalho jovem e problemas na demanda relativa devido à baixa qualificação, as dificuldades de ingresso na vida profissional e obtenção dos retornos esperados podem conduzir os jovens a acatarem vias não convencionais para atingirem o padrão de vida almejado, muitas vezes envolvendo a ilegalidade e a marginalidade.

Gráfico 1.7a - RENDIMENTO MENSAL

Fonte: Dados do S1

Gráfico 1.7b - VÍNCULO EMPREGATÍCIO

Fonte: Dados do S1

Relatório ProJovem30Cerca de 12% dos participantes ficaram menos de um mês em seu último trabalho; 28% até 3 meses, e 20% até 6 meses. Menos de um terço chegou a ficar entre 9 meses e um ano no mesmo trabalho. No gráfico 1.8, podem-se observar as ocupações mais frequentes entre os jovens iniciantes que estavam trabalhando em 2005. A maior frequência ocorre nos serviços domésticos – como babá, diarista, porteiro, jardineiro, empregada doméstica. Ocupações na área de construção civil (14,2%) e de turismo, esporte, lazer e cultura (10,9%) também apresentaram taxas de resposta significativas. Em linhas gerais, esses jovens desempenham atividades associadas a serviços pesados e, em muitas vezes, longas jornadas de trabalho, que se iniciam até mesmo na infância. Isso repercute na falta de atratividade do estudo, fato corroborado pelo elevado índice de abandono do programa. O desestímulo em prosseguir os estudos, porém, pode vir de dificuldades referentes à progressão escolar, de problemas no acesso à educação e, também, de baixo retorno financeiro.

Gráfico 1.8 - Grupos de Ocupação Comuns

Fonte: Dados do S1

Para os jovens integrantes do ProJovem, as dificuldades enfrentadas para se inserirem no mercado de trabalho estão intimamente relacionadas à baixa escolaridade e à falta de qualificação profissional exigida pelo mercado, traduzida tanto em anos de estudo completados ou acúmulo de experiência profissional, quanto na apresentação de diplomas e certificados de cursos e especializações, especialmente em áreas técnicas como informática (gráfico 1.9).

Relatório ProJovem 31Gráfico 1.9 - Principais dificuldades encontradas para conseguir trabalho

Fonte: Dados do S1

A maior parte dos jovens da amostra (56,2%) nunca fez qualquer curso de qualificação profissional, e cerca de 18% responderam ter aprendido sua ocupação “pela prática”. Entre os 26% que fizeram algum curso, esperava-se que, diante de uma política de capacitação profissional para jovens que objetive maior eficácia, suas ocupações estivessem correlacionadas com suas áreas de concentração do curso de qualificação profissional. No entanto, as áreas de concentração mais frequentes (gráfico 1.9) foram telemática (informática, celulares e tecnologia), seguida de construção civil e serviços de garçom, recepcionista, cozinheiro, guia de turismo, que não condizem com as ocupações mais frequentes que esses jovens obtiveram em 2005. Isso significa que, embora alguns tenham conseguido obter alguma qualificação, não necessariamente há correspondência entre a formação profissional e a posição ocupada.

Gráfico 1.10 - Arcos Ocupacionais mais Frequentes

Fonte: Dados do S1

Relatório ProJovem32Na época da pesquisa, de acordo com os dados do Questionário Socioeconômico, 32,3% dos jovens da amostra declararam ter uma atividade remunerada, enquanto 67,7% declararam não ter nenhuma atividade. Porém, quando indagados acerca de quantas horas trabalhavam por dia, o percentual dos que responderam que não tinham trabalho remunerado caiu para 64,2%, o que indica interpretações diferentes para essa pergunta, bem como para as alternativas de resposta para “horas trabalhadas” (tabela 1.12). É possível que a participação em atividades remuneradas ocasionais, os chamados “bicos”, tenha estimulado a opção por algumas das alternativas quanto às horas trabalhadas por dia.

Tabela 1.8 - Distribuição dos jovens frequentes, segundo o número de horas trabalhadas por dia

HORAS DIÁRIAS DE TRABALHO PercentualNão tenho trabalho remunerado 64,2

Menos de 4 horas por dia 4,2

Entre 4 e 6 horas por dia 9,3

Entre 6 e 8 horas por dia 10,5

Mais de 8 horas por dia 11,8

Total 100

Fonte: Dados do S1

Cabe destacar, contudo, que, para esses jovens, a motivação para o trabalho não é obrigatoriamente uma questão apenas de subsistência; embora a motivação mais frequentemente apontada (22,1%) seja a necessidade de sustentar a casa, os filhos ou outros dependentes, a alternativa “para ser independente” aparece imediatamente em segundo lugar (20,5%). Se a essa alternativa for somado outra, “ter dinheiro para gastos pessoais” (17,2%), chega-se à conclusão de que a principal motivação para o trabalho, entre os jovens da amostra, é, antes, o desejo de autonomia (em relação à família de origem) do que o imperativo de prover para a família. Ressalte-se, ainda, a porcentagem significativa (14,9%) de respostas para a alternativa “gosta de trabalhar,” o que permite ter uma ideia da importância do trabalho e do lugar ocupado por ele na na escala de valores desses jovens (gráfico 1.9).

Gráfico 1.11 - Principais Motivações para o Trabalho

Fonte: Dados da Pesquisa de PPI

É importante destacar ainda que, da amostra de ingressantes no Programa, 72% responderam que trabalham auxiliando tarefas domésticas diariamente. Embora esse tipo de trabalho não seja qualificado como “atividade remunerada,” muitas vezes deixa de ser percebido como atividade de trabalho, uma vez que não é considerado um trabalho “para fora,” isto é, fora do âmbito doméstico. Porém, a integração do(a) jovem, do(a) adolescente e, muitas vezes, das crianças nas tarefas da casa, desde muito cedo, não raro interfere no cotidiano delas e no seu desenvolvimento educacional. Não é incomum, por exemplo, que irmãos mais velhos entrem na escola mais tarde para cuidarem de irmãos mais novos.

33Relatório ProJovem

2.1 O Processo de Recrutamento

O acesso a informações sobre a existência do ProJovem e sobre as condições de inscrição se dá, conforme os depoimentos, basicamente por três meios: a propaganda em meio de comunicação de massa; através de amigos e conhecidos; e por meio de divulgação direta, com o recrutamento de organismos municipais. A propaganda em TV e em rádio, primeiramente, é a mais mencionada. Porém, a divulgação boca a boca, através de conhecidos – alunos ou não do ProJovem – foi um meio bastante destacado. Em duas das cidades pesquisadas (Salvador e Boa Vista), o alistamento direto, através de visitas domiciliares, “brigadas” de recrutamento em locais de moradia e carros de som, foi também referido. Em Boa Vista, esse foi o principal meio de acesso ao ProJovem.

“Rapaz, eu, é, por uma pessoa que tava lá com os papel (sic) lá, aí tava um bocado de pessoas com papéis, fiquei querendo saber, aí passei depois pra conversar e saber das pessoas o que tava acontecendo, aí foram lá na casa de uma conhecida minha, uma amiga minha, aí ela me indicou junto com outro cara, aí a gente trocou umas ideia, me amarrei, me interessei, fiz lá a ficha lá e tal, aí quando foi, chegou o momento, aí eu corri atrás e o custo foi só de ir lá, aí depois eu me virei com o restante.” (Grupos Focais, 2006)

O envolvimento de “agentes de matrícula”, ou outros atores sociais que cumprem o papel de ampliar as formas, o acesso e o volume do recrutamento do ProJovem, provocou dois efeitos importantes, não encontrados em outras políticas similares. O primeiro é sua rápida difusão em contextos onde o Estado se faz menos presente. Isso foi indicado pelos padrões diferenciados de acesso a meios de comunicação de massa. Nas três capitais do Sul, TV, rádio e até mesmo jornal foram os veículos principais de informação acerca da existência do ProJovem.

“Eu fiquei sabendo do ProJovem pela televisão e pelo rádio e falei: ‘Esse negócio de ProJovem eu não sei não, viu’.”

“A minha entrada no ProJovem foi pelo rádio por que eu durmo com o rádio ligado.”

“Eu fiquei sabendo pela minha sogra. Ela viu no jornal.”

“Fiquei pela rádio, televisão e uma colega minha também me deu o toque e eu fiz a ligação.” (Grupos Focais, 2006)

Já em Salvador, Boa Vista e outras capitais do Norte-Nordeste, os meios diretos de contato pessoal aparecem com mais destaque. De interesse para a atração ao Programa, o recrutamento direto parece um meio eficaz, ao menos em determinados contextos.

“E tinha também uns papeizinhos verde na rua com um homenzinho assim com um negócio debaixo do braço.”

Recrutamento dos Jovens2

Relatório ProJovem34“Eu vi no carro de som passando, falando que era para se inscrever...” (Grupos Focais, 2006)

Quando solicitados a falar sobre suas dificuldades para ingressar no ProJovem, os alunos relatam8, majoritariamente, problemas referentes ao processo de matrícula e de implantação do Programa. Vários apontam a ansiedade provocada pela demora em receber as cartas de confirmação para efetivação da matrícula. A opção pela via de contato postal parece ter sido um obstáculo. Enquanto alguns apontam o atraso no recebimento, outros informam ter recebido várias cartas, enquanto outros jamais receberam e tiveram de saber se haviam sido selecionados por outras vias. Há, inclusive, casos de alunos que receberam carta como destinatário, mas com a correspondência no interior do envelope destinada a outra pessoa. Diversos afirmaram ter se inscrito mais de uma vez, ao passo que houve depoimentos de candidatos que foram direcionados para matrícula em locais muito distantes de suas casas ou mesmo desconhecidos por eles.

“Foi alguém na minha casa fazer minha inscrição, ai me disse que eu receberia uma carta daqui a um mês, ai eu esperei um mês, mas não chegou essa carta; chegou pra uma amiga minha, mas pra mim não chegou, até pensei que não iria, mas daqui a um tempo graças a DEUS chegou a carta com o nome do colégio.”

“Por que quando a gente liga eles não dão certeza de que você vai entrar no projeto não, eles falam assim ‘Você vai ser sorteada.’ E a gente fica naquela expectativa, será que eu vou ser ou será que eu não vou ser? Então até aquela carta chegar você fica numa ansiedade demais por que é um projeto e você quer participar entendeu, então fica naquela ansiedade até a carta chegar.”

“Pra mim foi difícil, eu tive que me inscrever três vezes. Eu me inscrevi na primeira vez e não fui selecionada. Daí disseram (...) segunda vez e não fui selecionada (...).”

“Pra mim não mandaram carta, eu que me interessei mesmo, aí vi que minhas colegas receberam e liguei de novo e corri atrás, aí ela bateu no computador e falou ‘Você foi sorteada.’ Até hoje a carta não chegou.”

“Pra mim foram várias cartas com o nome de outra pessoa, mas com meu endereço.”

“A minha veio selada e com o meu nome e dentro da carta estava com nome de Rodrigo. Aí eu liguei e ela falou pra rasgar a carta e jogar fora que esses problemas assim acontecem.”

Deve-se ressaltar, porém, que um número expressivo não relatou dificuldades maiores para ingresso no ProJovem, como exemplificado abaixo:

“Pra mim não teve dificuldade porque eu moro com a minha família, né? Ai minha mãe, mesmo que meu marido não cuide, minha mãe ou minhas irmãs cuidam dos meus filhos. Ai, eu não tenho dificuldade pra ir pra escola ou qualquer coisa que seja relacionado ao ProJovem.”

“Só tive que tirar a carteira de trabalho.”

“Eu acho que foi fácil também porque eu liguei e logo veio a carta.”

São também relevantes as dificuldades ligadas às próprias condições de vida dos alunos. Assim, a falta de perspectiva de com quem deixar os filhos, barreiras com maridos “pouco colaborativos”, dificuldades burocráticas ou, ainda, situações de trabalho que limitavam a perspectiva de ingresso no Programa são

8 Em 2006, foi realizada uma pesquisa qualitativa para avaliar o ProJovem por meio de grupos focais. A pesquisa foi realizada com alunos de cinco capitais estaduais nas quais o Programa se desenvolve e envolveu 169 jovens matriculados e frequentes, divididos em grupos masculinos e femininos, sendo dois por gênero em cada capital. É importante ressaltar que, pela própria natureza e metodologia do estudo empregado, não se devem tomar as informações e análises apresentadas como representativas do universo do alunado do ProJovem, ainda que os jovens tenham sido escolhidos aleatoriamente, seguindo critérios estabelecidos.

Relatório ProJovem 35mencionadas com razoável frequência. Importa salientar, também, que muitos jovens conseguiram ingressar e permanecer porque encontraram apoio próximo. Para vários jovens ouvidos, o retorno ao estudo parece algo que impõe sacrifícios.

“Rapaz, arrumar o histórico da 4ª (série) foi ralado.”

“Pra gente nada é fácil, nada é fácil, eu tive que ir buscar minha transferência três vezes em colégios diferente, pra tentar buscar essa transferência e tentar me matricular”9 (Grupos Focais, 2006)

O avanço etário carrega consigo outros desejos e demandas, principalmente a independência, a constituição de uma “nova família”, o trabalho e a identidade ocupacional. É verdade que os jovens, ainda que pouco escolarizados, encontram-se ocupados, embora sem carteira assinada. Muitos são responsáveis por seus domicílios e também já possuem filhos.

Uma característica relacionada à ocupação do tempo do jovem, que poderia dificultar sua presença em programas com o perfil do ProJovem, é a necessidade de cuidar de filhos. Embora não definidora, aqui, de qualquer situação de exclusão, importa considerar também esse fator. Os dados indicam que praticamente dois a cada três jovens já são pais e mães.

“A única dificuldade pra eu entrar no ProJovem é porque eu tenho muitos filhos, ai eu fiquei pensando, né? Com quem eu ia deixar? Com o marido já sabe, né? Ah não vou ficar! E vivia reclamando. Eu nunca estudei porque ele não deixava, ele sempre botava os filhos no meio, ‘quem vai ficar com os filhos?’ Mas dessa vez é diferente, num tem com quem ficar, eu deixo aí, mas agora vou estudar. Mas ele olha agora, mas rapaz! Como olha. Eu tô pra cá e ele tá em casa cuidando.”

“Pra mim não teve dificuldade porque eu moro com a minha família, né? Ai minha mãe, mesmo que meu marido não cuide, minha mãe ou minhas irmãs cuidam dos meus filhos. Ai, eu não tenho dificuldade pra ir pra escola ou qualquer coisa que seja relacionado ao ProJovem.”

A migração é outra característica da população alvo. Mais da metade desses jovens vive há menos de 10 anos na metrópole, e um terço, há menos de 5 anos. Apesar de os dados de migração não serem tomados de todos os entrevistados, a representatividade das amostras permite afirmar que a migração é elevada e influencia diretamente a composição do público-alvo do programa, podendo estar relacionada à situação de defasagem escolar que o ProJovem procura reverter.

Por fim, importa considerar algumas características relativas à renda. Observa-se que, entre os que não têm carteira assinada, 39% do público-alvo do ProJovem declararam estar ocupado. A renda familiar pode ser traduzida em outros condicionantes. Tomado o salário mínimo como referência, o auxílio financeiro era maior que o rendimento de menos de 10% dos jovens do ProJovem, e mais de 70% deles ganhavam pelo menos um salário mínimo.

2.2 O ProJovem e as matrículas na Educação de Jovens e Adultos

Este tópico tem por objetivo investigar possíveis correlações entre as matrículas no ProJovem e as matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para tal, realizou-se uma comparação entre os dados encontrados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e no Censo Escolar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), considerando-se os anos-base 2003, 2004, 2005 e 2006.

9 Todas as declarações dos estudantes, utilizadas nesse capítulo, foram retiradas do Relatório Final dos Grupos Focais, com Estudantes do ProJovem de agosto de 2006.

Relatório ProJovem36Os dados da PNAD foram selecionados das bases fornecidas pelo IBGE nos anos acima referidos. Extraíram-se os dados relativos à matrícula de jovens entre 18 e 24 anos de idade do sistema público de ensino, no intervalo da 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental. Esses dados foram divididos em duas categorias, a primeira considerando os valores relativos ao Brasil como um todo, e a segunda levando em conta apenas os dados relativos à área urbana das 10 maiores regiões metropolitanas.

Os dados do Censo Escolar foram retirados da Sinopse Estatística da Educação Básica dos anos acima referidos. Nesse documento, os alunos do Ensino Fundamental são divididos em quatro categorias de matrícula: Ensino Fundamental Regular; Programas de Correção de Fluxo – EF (Ensino Fundamental); Educação de Jovens e Adultos – Cursos Presenciais com Avaliação no Processo e Educação de Jovens e Adultos – Cursos Semipresenciais com Avaliação no Processo. Foram utilizados os mesmos parâmetros demográficos aplicados às PNADs. Entretanto, para efeitos de comparação, uma vez que o Censo Escolar não apresenta dados referentes às regiões metropolitanas, mas por municípios, foram utilizados dados agregados do Brasil como um todo.

É importante ressaltar, também, que as duas bases apresentam alguns valores distintos devido às diferentes datas de consulta para sua elaboração: o Censo Escolar é consolidado no final de março de cada ano; e a PNAD, no final de setembro. Assim, o Censo Escolar trabalha com valores referentes à matrícula, enquanto a PNAD assume valores mais próximos à frequência, sofrendo alguns efeitos do intervalo de seis meses, como o da evasão.

A utilização desses parâmetros é necessária para testar a existência de similaridade entre os dados comparados dessas duas bases distintas. Não foram utilizados os dados das categorias Educação de Jovens e Adultos – Cursos Semipresenciais com Avaliação no Processo e Ensino Fundamental – Correção de Fluxo, devido à ausência do peso da faixa etária. Foram utilizados os dados da Educação de Jovens e Adultos – Cursos Presenciais com Avaliação no Processo aplicados à população de jovens de 18 a 24 anos. Pela Tabela 2.2, pode-se observar que o peso da referida faixa etária nas matrículas do EJA passa de 37,8% em 2003, para 33,6% em 2006.

Tabela 2.2 - Peso da faixa etária (18 a 24 anos) nas matrículas do EJA - Censo Escolar

AnoJovens Matrícula Total % Faixa Etária

(A) (B) (A/B)2003 666.617 1.764.869 37,80%

2004 674.233 1.866.192 36,10%

2005 663.253 1.906.976 34,80%

2006 681.942 2.029.153 33,60%

Fonte: MEC - Censo Escolar

Nota: Matrícula total refere-se aos jovens de todas as idades matriculados no EJA.

Uma das formas de observar a relação que o jovem estabelece com a escola é a declaração geral de frequência ao Supletivo Público. A partir da Tabela 2.3, é possível perceber a proporção de matriculados no supletivo EF – Ensino Fundamental – (PNAD) e no EJA (Censo Escolar) ao longo dos anos é relativamente estável, com uma média de 15,6%.

Relatório ProJovem 37Tabela 2.3 - Comparação do número de frequentes em cursos supletivos EF (PNAD) em relação ao

número de matrículas do EJA (MEC: Censo Escolar)

AnoJovens Matriculados

PNAD (Supletivo EF) Censo Escolar (EJA) Percentual(A) (B) (A/B)

2004 108.748 674.233 16,0%

2005 100.738 663.253 15,2%

2006 106.254 681.942 15,6%

Média 105.247 673.143 15,6%

Fonte: MEC - Censo Escolar e IBGE- PNADs

Pode-se verificar (Tabela 2.4) que o número de jovens matriculados em programas de Educação de Jovens e Adultos, no Brasil, em 2006, apresentou um crescimento de 2,82%, após uma pequena queda de 1,63% em 2005. Esse crescimento também é verificado na Tabela 2.5, que mostra um aumento de 5,48% do total de jovens matriculados em cursos supletivos do Ensino Fundamental.

Tabela 2.4 - Matriculas de jovens entre 18 e 24 anos na 5ª a 8ª série da Educação de Jovens e Adultos no Brasil - (MEC: Censo Escolar)

Ano Jovens Variação % Anual Total Ensino Regular2003 666.617 1.289.607

2004 674.233 1,14% 1.111.736

2005 663.253 -1,63% Não disponível

2006 681.942 2,82% 829.021

Fonte: MEC - Censo Escolar

Tabela 2.5 - Número de matrículas de jovens de 18 a 24 anos no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série

AnoJovens

TotalRegular Variação % Anual Supletivo Variação

2003 1.060.908 120.794 1.181.702

2004 969.386 -8,63% 108.748 -9,97% 1.078.134

2005 883.736 -8,84% 100.738 -7,37% 984.474

2006 808.738 -8,49% 106.254 5,48% 914.992

IBGE - PNAD

Em contrapartida a esse crescimento, as duas tabelas apontam uma queda no número total de matriculados no Ensino Fundamental do Brasil. Dois fatores podem explicar esse comportamento de queda das matrículas. O primeiro está relacionado à transição demográfica, cujas projeções indicam uma desaceleração progressiva do ritmo de crescimento da população jovem como um todo. O segundo refere-se à progressiva diminuição da exclusão educacional trazida pelas novas coortes.

Observa-se, ainda, uma grande queda no número de matrículas ocorrida entre os anos de 2004 e 2005. Essa queda acompanha a redução do número de matrículas de jovens de 18 a 24 anos no Ensino Fundamental regular. O fato é que, desde 2005, a EJA está em processo de recuperação tanto de frequência quanto de matrículas.

A fim de se verificar se o aumento no número de matrículas da EJA se mantém nas áreas abrangidas pelo ProJovem, foram selecionadas 10 regiões metropolitanas, sendo elas Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A partir dos dados da PNAD, selecionou-se o número estimado de alunos frequentes, tanto nos cursos supletivos quanto nos cursos regulares (Tabela 2.6).

Relatório ProJovem38Tabela 2.6 - Número de Jovens matriculados nos cursos supletivos e regulares em 10 regiões

metropolitanas

AnoNúmero de Matrículas

Variação % Anual TotalSupletivo Regular

2003 49.521 222.330 271.851

2004 49.873 173.641 -17.8% 223.514

2005 31.623 176.007 -7.1% 207.630

2006 38.293 172.976 1.8% 211.269

Fonte: IBGE - PNAD

Conforme observado, o número de matrículas nas 10 regiões metropolitanas apresenta um pequeno crescimento entre 2005 e 2006, acompanhando a tendência presente na EJA. A partir desses dados, pode-se demonstrar que o ProJovem não afeta a EJA, já que esse acréscimo no número de matrículas observado coincide com a primeira grande entrada do ProJovem.

Pelo acima disposto, pode-se concluir a existência de uma queda no número de matrículas no Brasil, tanto no ensino regular quanto no ensino supletivo, em decorrência de fatores de transição demográfica e da diminuição da exclusão educacional. A partir de 2006, percebe-se um aumento nos percentuais de matriculados no ensino supletivo em regiões metropolitanas, indicando que o ProJovem não atinge o mesmo público que a Educação de Jovens e Adultos, vindo a somar enquanto política de inclusão educacional.

2.3 Motivações para o ingresso no ProJovem

Três são os motivos principais encontrados para ingresso no Programa: a oportunidade de retomar os estudos e concluir o Ensino Fundamental; a oferta dos cursos de informática e profissionalização; e o auxílio financeiro oferecido. Deve-se assinalar, contudo, que quase sempre que o auxílio é mencionado, segue-se uma ressalva de que ele não seria o interesse principal dos depoentes. Eles reafirmam que os objetivos escolares e a oportunidade profissional são suas principais motivações, ainda que o auxílio financeiro seja importante, principalmente para cobrir as novas despesas advindas com o retorno aos estudos.

“Esse programa veio a calhar nesse momento que todo mundo estava passando por várias dificuldades e tipo assim, esse programa ele veio... e nós não estamos só pelo dinheiro, é pelo fato de aprender também. Para mim pelo menos é assim.”

“Não, eu fiquei interessada por que a gente que parou cedo os estudos, eu achei legal por que aí a gente poder arrumar emprego, dar continuidade nos estudos e também pela ajuda que o governo ia dar de cem reais. Isso é uma ajuda ótima pra quem vai estudar e vai ganhar, está sendo ótimo.”

“Ah, é muito bom mesmo. Eu tenho 23 anos. Se não fosse pelo ProJovem eu ia estar na oitava série com 27 anos. Quase a minha vida, quase toda estudando. E eu quero fazer o segundo grau também, aí Esse programa foi muito bom mesmo com Esse negócio de ser o fundamental todo.” (Grupos Focais, 2006)

Como pode ser observado, boa parte dos jovens tem trabalho, família e filhos. O auxílio financeiro em si parece não ser um maior atrativo para uma parcela significativa desses jovens trabalhadores. Por outro lado, estudar envolve gastos que impactam a renda familiar. Receber um recurso extra para poder estudar representa também uma motivação extra, já que o estudo traz consigo despesas novas, como transporte, alimentação, vestuário, ou mesmo remuneração de alguém para cuidar das crianças, no caso das jovens mães.

Dadas as condições de vida dos jovens, constituiu um desafio criar formas de atrair o público-alvo para o ProJovem. No entanto, a meta proposta foi atingida, e o volume da procura pelo ProJovem mostrou-se proporcional ao indicado pelos dados, o que reforça o argumento da necessidade de uma política ampla de inclusão, especialmente voltada para os jovens brasileiros.

Relatório ProJovem 392.4 Expectativas e satisfação

Atreladas às motivações, os jovens também criam expectativas que esperam ser satisfeitas ao longo do curso. Ainda que todos saibam que a satisfação de expectativas sempre encontrará limites na vida real, a medida de satisfação do jovem com o Programa é fundamental para compreender o tipo de relação que cada indivíduo estabelece com a política, tanto o ProJovem em específico quanto nas políticas de inclusão, bem como instrui, de forma mais geral, a crença no Estado e na oferta mais equânime de oportunidades. Isso tem influência direta em indicadores de permanência e está relacionado, também, no investimento que o aluno faz nas atividades previstas, que por sua vez afeta os resultados gerais de aprendizagem e da alteração da relação com o mercado de trabalho e com o espaço público.

Para Essa análise em questão, importa compreender a importância das expectativas criadas e da satisfação delas para a permanência dos jovens no Programa. Para tanto, foi observado um conjunto de variáveis que tiveram como objetivos evidenciar as motivações para o ingresso, as expectativas, as reações positivas e negativas e, finalmente, o abandono ou a permanência do jovem até o final do curso.

As principais motivações para a inscrição no Programa são, em primeiro lugar, aquelas ligadas ao mercado de trabalho: buscar qualificação para conseguir/manter emprego (20,2% das respostas em 55% de todos os entrevistados) e aprender uma nova profissão (19% das respostas em 52% de todos os entrevistados). Em segundo plano, a obtenção do diploma de Ensino Fundamental responde pela mais alta concentração de respostas (23% das respostas em 63% de todos os entrevistados).

Juntas, essas razões representam praticamente dois terços das motivações para o ingresso, indicando que a procura por certificação e qualificação – duas exigências na competição por vagas no mercado de trabalho – figuram entre os principais fatores que levam os jovens a retomar suas trajetórias educacionais. O interesse em aprender outra profissão e o atrativo que possibilita o aprendizado de informática enfatizam a importância de orientar o conteúdo dos Programas de aceleração da escolaridade para a profissionalização e preparação para o trabalho.

Tabela 2.8 – Motivações para o ingresso no ProJovem (jovens frequentes)

MotivaçõesPercentual de

Respostas CasosAprender uma outra profissão 20,2 55,0

Qualificar-me para arrumar/manter um emprego 19,0 51,8

Obter conhecimento de informática 11,8 32,1

Melhorar minha comunidade 5,8 15,8

Obter diploma de Ensino Fundamental em 1 ano 23,1 63,0

Ocupar meu tempo livre com atividades úteis 9,2 25,0

Receber o auxílio de R$ 100,00 oferecido pelo governo 10,9 29,8

Total 100,0 272,4

Fonte: Dados do S1

Sobre a satisfação dos jovens atendidos com o Programa, observa-se que o ProJovem está adequado às expectativas dos jovens participantes: ao longo do curso, 90% dos entrevistados consideravam que o Programa atendia ou superava suas expectativas. Ao final, esse percentual permanecia elevado. Para 78% dos concluintes, o ProJovem continuava atendendo ou superando suas expectativas. Embora a não satisfação tenha crescido 12 pontos percentuais, ou seja, mais que dobrado, esse resultado é esperado, afinal o Programa foi testado ao longo de todas as expectativas projetadas.

Relatório ProJovem40Tabela 2.9 – Satisfação com o ProJovem ao longo do curso

O ProJovem ATENDEU ÀS SUAS EXPECTATIVAS? PercentualSim, atende e até supera minhas expectativas 39,5

Sim, atende às minhas expectatvias 50,7

Não, não atende às minhas expectativas 9,9

Total 100,0

Tabela 2.10 – Satisfação com o ProJovem ao final do curso

O ProJovem ATENDEU ÀS SUAS EXPECTATIVAS? PercentualSim, atende e até supera minhas expectativas 31,9

Sim, atende às minhas expectatvias 46,0

Não, não atende às minhas expectativas 22,1

Total 100,0

A satisfação/insatisfação com o ProJovem varia com o tempo e está sujeita às mudanças de opinião em virtude de problemas de implementação, da relação com os professores, das condições das escolas, da convivência com os colegas, de problemas com o recebimento de benefícios, da instalação/funcionamento dos equipamentos de informática, do conteúdo e apresentação dos materiais didáticos, das dificuldades para chegar à Estação Juventude e ao próprio núcleo, dentre outros fatores que interferem na maneira como o jovem se relaciona com a experiência de voltar à escola.

No decorrer do processo de aplicação do Survey II, aconteceram, em importantes capitais, conversas com os educadores a respeito da rotina de frequência dos jovens e de outros elementos ligados à implementação do Programa. Diversos motivos foram apresentados para explicar as baixas taxas de frequência, especialmente no início (segundas-feiras) e final (sextas-feiras) da semana. Segundo os relatos, os principais motivos apresentados para as faltas são o trabalho dos jovens e a dificuldade em conseguir responsáveis para cuidar dos filhos, no caso das alunas que são mães.

Porém, a instável assiduidade sugere que a frequência regular também pode ser prejudicada pela ausência de disposições positivas em relação à prática do estudo (que deveriam ter sido interiorizadas nas primeiras experiências de escolarização). É necessário, especialmente, levar-se em conta que os participantes do ProJovem tiveram trajetórias educacionais bastante erráticas, marcadas por reprovações e defasagem escolar.

A demora no envio, no recebimento e na instalação dos microcomputadores, atrasando consideravelmente as aulas de informática, também foi um dos fatores de desestímulo. Durante a implementação do Programa, algumas escolas deixaram de oferecer merenda ou ofereciam a de baixa qualidade, o que também se tornou um agravante para a frequência. Essas falhas pontuais foram registradas em relatos advindos de diferentes regiões, o que sinaliza um desafio constante das coordenações municipais no processo de implementação.

Relatório ProJovem 412.5 Matrículas no ProJovem

Tabela 2.11 – Número de Matrículas do ProJovem por Município

Município Matrículas Município MatrículasAnanindeua 1884 Manaus 6662

Aparecida de Goiânia 694 Mauá 408

Aracaju 4811 Mogi das Cruzes 920

Belém 9557 Natal 7383

Belford Roxo 1715 Niterói 1299

Belo Horizonte 8311 Nova Iguaçu 1992

Boa Vista 1928 Novo Hamburgo 823

Distrito Federal 11179 Olinda 1381

Campo Grande 4113 Osasco 908

Canoas 779 Palmas 1279

Carapicuíba 654 Paulista 1048

Caucaia 1256 Porto Alegre 5795

Contagem 1171 Porto Velho 3023

Cuiabá 3371 Recife 17953

Curitiba 4166 Rio Branco 2256

Diadema 1115 Rio de Janeiro 30051

Duque de Caxias 2991 Salvador 12673

Embu das Artes 742 Santo André 817

Florianópolis 742 São Gonçalo 2221

Fortaleza 18232 São João de Meriti 1100

Goiânia 2936 São Luís 7462

Gravataí 674 São Paulo 17335

Guarulhos 1767 Serra 963

Itaquaquecetuba 1115 Suzano 849

Jaboatão dos Guararapes 1465 Teresina 6484

João Pessoa 7224 Viamão 716

Macapá 2427 Vila Velha 602

Maceió 6874 Vitória 1771

Magé 1168 TOTAL 241235

Este trecho apresenta a distribuição de jovens que tiveram suas matrículas cadastradas no Sistema de Monitoramento do ProJovem, por Região Metropolitana e mês, desde o começo do Programa, entre 2005 e 2008, quando se encerraram os novos ingressos. Até 2008, o número total de matrículas de jovens (241.235) atingiu e superou a meta inicial de 200.000 jovens. Observou-se, no entanto, que o ritmo de inclusão de novas matrículas, atreladas à abertura de núcleos, inclusão de cidades e ampliação do atendimento, foi bem diverso ao longo do período investigado. Os parágrafos, abaixo, desenvolvem a síntese do panorama de atendimento do ProJovem ao longo do tempo, bem como a expansão de sua cobertura geográfica nacional.

Na abertura do Programa (julho de 2005), foram matriculados 4.567 jovens. De agosto a outubro de 2005, a média mensal de novas matrículas foi inferior a 1000 matrículas/mês. Isso fez com que o período entre 18 de julho e 21 de novembro de 2005 respondesse por 6,4% do total de matrículas cadastradas no sistema, uma média aproximada de 815 novas matrículas a cada semana. Nessa primeira fase, aderiram ao Programa apenas oito das vinte e sete capitais que viriam a ingressar depois. As mais importantes foram Fortaleza, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, que, juntas, responderam por quase dois terços das matrículas.

Relatório ProJovem42A partir de 28 de novembro de 2005, o ProJovem experimentou uma nova fase. Houve a “primeira grande entrada”, um período que corresponde a 20,6% do total de matrículas. Foram, aproximadamente, mais 4.957 matrículas novas por semana, um volume seis vezes maior do que o verificado no período anterior. O ritmo de novas matrículas foi bem mais intenso em função do ingresso de novas capitais (14) e da ampliação do ProJovem em capitais que já haviam ingressado (8). Considerando as capitais que já haviam realizado seu ingresso de forma única em 2005, o Programa então atinge, nesse período, vinte e duas Unidades da Federação, ou seja, mais de três quartos dos Estados em todas as Regiões do país. Com isso, consolida-se como política nacional e supera as 65 mil matrículas totais. As capitais com volumes mais significativos de matrículas foram Salvador, Recife e novamente Rio de Janeiro e Fortaleza, que atingiram, juntas, mais de vinte e nove mil jovens.

O restante do primeiro semestre de 2006 foi caracterizado, novamente, por um período bem lento de ingresso, com 8,3% do total de matrículas. Entre 03 de fevereiro e 25 de julho daquele ano, menos de 800 jovens, em média, matricularam-se por semana, embora 17 capitais tenham ampliado sua rede de atendimento ou aderido ao ProJovem. O Programa chegou, então, aos municípios de mais quatro novos Estados: Acre, Amapá, Paraná e Santa Catarina. Com isso, todos os Estados passam a ter o ProJovem em suas capitais, restando apenas o ingresso do Distrito Federal.

A segunda grande entrada no ProJovem foi registrada no período seguinte, entre 31 de julho e 01 de setembro de 2006. Tal como na primeira, o volume geral de novos jovens atendidos é substancial: 14,4% do total, inferior ao registrado na primeira grande entrada, mas com média de 5.800 novos jovens atendidos a cada semana; ou seja, foi o período de mais intenso crescimento do Programa. Nessa etapa, ocorre a adesão do Distrito Federal e com isso o ProJovem chega a todas as Unidades da Federação. Ampliaram o atendimento 13 capitais nesse período, além do ingresso citado. As capitais com volumes mais expressivos de matrículas são Brasília, São Paulo e, novamente, Rio de Janeiro e Fortaleza.

O restante do segundo semestre de 2006, entre 01 de outubro a 05 de dezembro, é marcado pela adesão de cidades das Regiões Metropolitanas. O mesmo aconteceu no primeiro semestre de 2007, mais especificamente entre 02 de janeiro e 21 de junho daquele ano. Foram períodos caracterizados por um volume médio mensal de matrículas bastante significativo: 1975 e 1364, respectivamente. A representatividade também é significativa: 8,2% e 14,1% das matrículas totais, respectivamente.

No entanto, tais números ainda são muito inferiores aos registrados nas grandes entradas. No segundo semestre de 2006, foram abertos núcleos em 17 cidades de nove Estados, com destaque para as duas maiores regiões metropolitanas no país: Rio de Janeiro e São Paulo. No primeiro semestre de 2007, foram abertos núcleos em 30 cidades de oito Estados. A região metropolitana do Rio de Janeiro respondeu por quase metade dos novos jovens atendidos. Logo depois vieram as regiões metropolitanas de São Paulo, Belém e Recife. Juntas, elas somaram 86% das matrículas nesse período.

Por fim, a “terceira grande entrada” foi verificada entre 25 de junho e 01 de outubro de 2007, com o ingresso de mais de 67 mil jovens, ou seja, 28% das matrículas totais do Programa. Ainda assim, a média semanal de novas matrículas foi inferior à primeira e à segunda grande entrada: 4829 novos jovens atendidos a cada semana. Destacam-se as grandes entradas ocorridas nas regiões metropolitanas de Recife e Fortaleza, com mais de 8.000 matrículas novas. Logo após, Fortaleza e São Paulo são as regiões metropolitanas com números mais expressivos, entre cinco e seis mil.

Ao total, foram 241.235 jovens matriculados ao longo de 28 entradas de jovens no ProJovem entre os anos de 2005 e 2008. Ver Gráfico 2.1.

Relatório ProJovem 43Gráfico 2.1: Total de Matrículados ao Longo dos Anos (2005 -2007)

Fonte: SMA, Perfil do Aluno

De forma geral, observou-se que a concentração do atendimento em períodos mais definidos tende a otimizar os esforços dos municípios e da Coordenação Nacional, bem como tende a produzir melhores resultados. As grandes entradas demonstraram ser possível atender a muito mais jovens num período mais curto e organizado do tempo. Nesses períodos, quase cinco mil novos jovens eram incluídos no programa a cada semana. Nos outros períodos, a média nunca chegou a 2000 novas matrículas por semana, girando em torno de mil novas matrículas ou menos. Além disso, o fluxo de atividades nos núcleos e nas coordenações tornou-se ininterrupto, o que impossibilitava a manutenção de uma equipe menor para atender a períodos específicos do Projeto Pedagógico Integrado, como as Unidades Formativas, as Avaliações e as atividades de QP e AC. As equipes de educadores, coordenadores e profissionais do Programa tiveram que lidar, no mesmo período, com núcleos em todas as etapas de formação, principalmente em 2006 e 2007, quando encontraram, sob sua responsabilidade, núcleos iniciantes, intermédios e concluintes.

45Relatório ProJovem

Aqui, você terá uma análise da permanência dos jovens no programa. nessa seção são cobertos o volume e principais motivos para a evasão, bem como tentativas do Programa para reaver e manter tais alunos.

3.1 Permanência no ProJovem

O maior desafio do ProJovem é a permanência do jovem no Programa ao longo de todas as etapas de sua execução. A relação ambivalente entre recrutamento e desistência ainda cria constrangimentos significativos à organização, implementação e execução da Política. A evasão demonstrou sinais de queda, mas ainda mostrou-se substancial ao final do programa. As causas da evasão merecem ser melhor compreendidas, uma vez que quase 90% dos evadidos pretendiam retornar ao ProJovem ou outro programa similar.

Os dados Desse tópico referem-se à situação dos núcleos no ProJovem, desde o início do Programa até novembro de 2008. Uma vez que praticamente todos os núcleos já haviam encerrado suas atividades, as 241.232 matrículas foram categorizadas em quatro grupos. O primeiro refere-se a todas as possíveis causas de “perdas”, ou matrículas “perdidas” por alguma razão que impediu sua realização ou sua consumação plena no período investigado. O segundo conjunto refere-se à “desistência”. São jovens que tiveram pleno acesso a um núcleo ativo, mas que, por alguma razão, abandonaram o programa antes de seu início ou logo nas primeiras semanas, não havendo qualquer registro de sua participação efetiva. O terceiro conjunto refere-se aos jovens que participaram do Programa e o abandonaram ao longo de seu curso; são considerados “evadidos”. Finalmente, o quarto grupo refere-se às matrículas “ativas”, que efetivamente iniciaram e chegaram depois às etapas de conclusão. Mais informações sobre as categorias de permanência podem ser obtidas nos relatórios gerenciais de permanência e nos relatórios parciais de pesquisa. Por hora, cumpre sinteticamente analisar o fluxo do atendimento dos jovens, os principais determinantes de sua variação e os maiores desafios a serem superados.

Perdas

A perda de matrículas, como dito, está ligada a circunstâncias que limitaram ou impediram a consumação da matrícula, ou seja, a ocorrência das aulas e a finalização do curso. São três os principais impedimentos: núcleos que nunca chegaram a funcionar, jovens que nunca foram enturmados, núcleos que não concluíram suas atividades nem tinham previsão de conclusão. A combinação desses elementos produziu ainda um quarto tipo de “perda”. As quatro subcategorias estão descritas a seguir:

• Perda 1: Jovens que foram enturmados em núcleos que funcionaram, mas não concluíram. Eram apenas 836. Com a entrada de novos dados em janeiro de 2009, esse número caiu para 610.

A Evasão no ProJovem3

Relatório ProJovem46• Perda 2: Jovens que nunca chegaram a ser enturmados, logo nunca tiveram consumado o direito

efetivo de frequentar o ProJovem. É a parcela mais significativa: 8162.

• Perda 3: Jovens enturmados em núcleos que nunca chegaram a funcionar. São 3082.

• Perda 4: Jovens não enturmados em núcleos ainda em funcionamento. São apenas oito. Esses oito casos diluem-se nas subcategorias 1 e 2.

A soma de todos os quatro tipos de matrículas “perdidas” (12080) representa 5,0% do conjunto de matrículas (241.235). Entre todas as cidades atendidas, em apenas duas Unidades da Federação, as perdas atingiram dois dígitos: Distrito Federal (23%) e São Paulo (22%). Em ambos os casos, houve ingresso tardio e foram verificadas dificuldades no processo inicial de funcionamento. Se excetuadas apenas as cidades de Brasília e São Paulo, mantidas as cidades de suas respectivas regiões metropolitanas, o percentual de “perdas” do ProJovem cai de 5,3% para 2%.

Os núcleos que permaneciam em funcionamento, mas sem data de conclusão no dia da consolidação dos dados, encontravam-se em apenas duas cidades: São Paulo (73%) e Jaboatão dos Guararapes (27%). Somavam, como dito, um número pouco expressivo de matrículas: apenas 836. Portanto, a “perda” de matrículas não pode ser considerada um problema expressivo do Programa, em escala nacional, mas característico de casos isolados, fundamentalmente de municípios que encontraram problemas mais severos na gestão do ProJovem.

Desistência

Caso diferente é o observado na análise da “desistência”. Como antecipado, a desistência é caracterizada nos casos em que a matrícula foi efetivada e o jovem, de fato, teve condições de exercer o pleno direito de frequentar e finalizar o ProJovem, mas por alguma razão ele desistiu desse direito sem ao menos ter estabelecido uma relação estável com o Programa. São jovens que nunca freqüentaram, ou foram apenas a alguns dias de atividade e nunca mais apareceram, não realizaram nenhuma das atividades censitárias previstas e que, em grande parte das situações, ninguém do núcleo conhece ou teve notícia da sua participação no Programa. Dadas essas circunstâncias, eles não podem ser considerados evadidos, uma vez que não estabeleceram uma relação estável que depois foi cancelada, que é a característica da evasão.

O diagnóstico do fenômeno da desistência foi produzido por diversas metodologias. Foram realizadas pesquisas amostrais que buscavam, in loco, o paradeiro de cada jovem com matrícula vinculada àquele núcleo (Pesquisa de Status). Os resultados foram apresentados no Relatório de Pesquisa, referente às aplicações realizadas em 2007, e também sintetizados no Relatório Parcial de Avaliação do Programa – 2007. As principais razões da desistência são o desconhecimento do início das aulas, incompatibilidade entre a vida do jovem (trabalho, família, transporte, lugar de moradia) e a frequência às aulas naquele núcleo, além de outras falhas no recrutamento, como o desconhecimento da matrícula. Isso ocorre quando, por exemplo, alguém da família do jovem faz todo o processo de matrícula (que é relativamente simples), mas não avisa nem acompanha as decorrências, resultando no “desconhecimento” da matrícula.

Os indicadores observados na pesquisa de campo, embora amostrais e referentes apenas a um período do ProJovem, são muito similares aos observados no conjunto dos dados do Programa, ao longo de toda a sua execução. A pesquisa de campo não tem como estimar “perdas”. A distribuição geográfica e longitudinal também é diversa. Ainda assim, os indicadores são bastante similares. A desistência diagnosticada na pesquisa de status foi de 37%, enquanto os números finais do Sistema de Monitoramento e Avaliação apontaram para 35%. A evasão aferida pela pesquisa de status foi de 19,5%, enquanto o indicador global foi um pouco menor: 16,6%. As tabelas abaixo trazem os números completos.

Relatório ProJovem 47Tabela 3.1: Subtipos de relação do jovem com o Programa segundo

a Pesquisa de Campo de Status (2007)

Subtipos PercentualDesistentes 37,0%

Evadidos 19,5%

Frequentes 43,4%

Total 100,0%

Fonte: Subsistema de Avaliação do Programa

Tabela 3.2: Categorias da relação do jovem com o Programa segundoa dados gerais do ProJovem (2005 - 2008)

Categorias PercentualPerdas 5,0%

Desistentes 34,3%

Evadidos 16,6%

Concluintes 44,1%

Total 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Observou-se que, ao contrário das “perdas”, que são mais localizadas, a desistência é um fenômeno generalizado. No entanto, encontram-se grandes variações em sua concentração e volume, tanto ao longo do tempo, quanto em relação à distribuição geográfica. A relação entre desistência e a concentração dos ingressos em “Grandes Entradas” já foi explicitado anteriormente. Dois outros fatores importantes são o geográfico, que incorpora tanto a implementação local do Programa quanto as características do público-alvo em cada cidade, e o tempo, ou seja, a época em que se iniciaram as aulas, que também está relacionado à maior ou menor “maturidade” do Programa em cada município, seja da capital ou de sua região metropolitana.

De forma geral, os Estados do Nordeste registraram desistência bem menor do que o restante do país. Por outro lado, os três Estados do Sul e Goiás registraram taxas bem superiores à média nacional. A Tabela 2.13 traz os dados completos. Importa destacar que a desistência implica, também, em uma “perda” de matrículas, agravada por todo investimento feito para sua efetivação. Enquanto as “perdas” citadas anteriormente são muito negativas, mas não implicaram ônus severos à implementação do Programa, uma vez que predominantemente não houve enturmação ou o núcleo não entrou em funcionamento, a “desistência” refere-se a matrículas para as quais foram abertos núcleos, foram providas salas, foram alocados educadores, enfim, foi provida a estrutura necessária ao funcionamento, com todos os custos vinculados. Daí a desistência ser talvez o maior problema encontrado no ProJovem. A observação dos dados, a seguir, ilustra um pouco como os desafios para diminuir a desistência mostram-se diferentes em função dos múltiplos contextos regionais.

Relatório ProJovem48Tabela 3.3: Taxa de Desistência por Unidade da Federação (UF) a partir dos dados gerais de

avaliação e monitoramento do ProJovem

Coordenação Municipal Desistência Coordenação Municipal DesistênciaAnanindeua 38.6% Magé 36.4%

Aparecida de Goiânia 65.0% Manaus 34.7%

Aracaju 20.6% Mogi das Cruzes 45.7%

Belém 39.1% Natal 25.7%

Belford Roxo 38.9% Niterói 33.7%

Belo Horizonte 39.4% Nova Iguaçu 14.8%

Boa Vista 49.8% Novo Hamburgo 49.8%

Brasília 45.5% Olinda 29.6%

Campo Grande 35.1% Osasco 49.9%

Canoas 45.1% Palmas 42.4%

Carapicuíba 47.6% Paulista 33.5%

Caucaia 28.2% Porto Alegre 52.4%

Contagem 47.4% Porto Velho 34.7%

Cuiabá 41.0% Recife 19.5%

Curitiba 58.0% Rio Branco 40.4%

Diadema 38.2% Rio de Janeiro 33.6%

Duque de Caxias 38.2% Salvador 26.9%

Embu das Artes 30.3% Santo André 58.5%

Florianópolis 47.4% São Gonçalo 22.2%

Fortaleza 25.6% São João de Meriti 40.8%

Goiânia 60.0% São Luís 34.6%

Gravataí 70.0% São Paulo 40.1%

Guarulhos 57.3% Serra 40.1%

Itaquaquecetuba 45.2% Suzano 40.8%

Jaboatão dos Guararapes 42.8% Teresina 24.8%

João Pessoa 23.9% Viamão 47.5%

Macapá 38.5% Vila Velha 44.9%

Maceió 19.6% Vitória 54.6%

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Entre a desistência e o recrutamento configura-se, no entanto, um processo dialético complexo. É função do recrutamento alcançar o maior número possível de jovens e, para tanto, deve ser cada vez menos oneroso. O fraco vínculo e o baixo investimento inicial demandado ao jovem tendem a facilitar a configuração das condições de “desistência”. O ProJovem, em geral, é atraente para o seu público-alvo. Todos mantêm consigo a esperança e o sonho de se “incluírem”, de aproveitarem as oportunidades, de estudarem, de alterarem a nefasta relação que até então mantêm com o mercado de trabalho e o espaço público. No entanto, isso implica em um investimento significativo do jovem e de suas famílias em termos de tempo, dedicação, dinheiro, disciplina, entre outros fatores. Por isso, o aprimoramento da implementação inicial cumpre papel decisivo na diminuição da desistência, bem como na sua aproximação com o recrutamento. No entanto, a desistência não desaparecerá. Por isso, esse desafio merece atenção especial e busca de soluções criativas e eficazes para seu gerenciamento.

A pesquisa de status também interrogou, a cada jovem amostrado, sobre as causas da desistência e da evasão. Como citado anteriormente, os dados mais completos podem ser obtidos nos relatórios de pesquisa e no relatório síntese (2007). Importa, aqui, resgatar o argumento de que a vida do jovem e sua condição de

Relatório ProJovem 49exclusão pesam muito sobre a decisão, na maioria das vezes indesejada, de não prosseguir no ProJovem. As pesquisas específicas sobre evasão, realizadas em três distintos períodos, também apontam nessa direção. Dilemas vinculados ao trabalho e à família são os maiores empecilhos à trajetória de reinclusão desses jovens. O trecho abaixo, extraído do Relatório Parcial de Avaliação do ProJovem – 2007, traz alguns dados que suportam esse argumento.

“Em relação ao subgrupo “desistentes”, a causa mais citada como motivo para desistência corresponde aos motivos de trabalho, com 35,5% do percentual válido (...) Quanto ao subgrupo “evadidos”, a causa mais citada para a frequência ao Programa diz respeito a motivos de trabalho, com 25% do percentual válido. Em seguida, aparece a licença de maternidade com 21,4%.” Relatório Parcial de Avaliação do ProJovem - 2007

A análise mais cuidadosa das causas da evasão será apresentada no trecho final Dessa seção. O fator que ainda merece consideração é a influência do tempo, da maturação do Programa, sobre as taxas de desistência. A Tabela 2.14 mostra que a desistência está pouco vinculada ao amadurecimento ou à falta de experiência inicial do ProJovem e seus órgãos gestores. É certo que as primeiras entradas em cada município sofrem maiores dificuldades de implementação. No entanto, as entradas posteriores não registram taxas de desistência muito menores do que as iniciais.

A diferença entre “grandes entradas” e “entradas regulares”, analisadas a seguir, parece mesmo cumprir papel relevante na melhor organização dos processos de recrutamento, implementação inicial e funcionamento dos núcleos. Todavia, as taxas mais elevadas de desistência foram observadas nos últimos períodos de ingresso do ProJovem, principalmente entre outubro de 2006 e junho de 2007. Essa taxa caiu ao final, no último período de ingresso que, entretanto, foi marcado como a terceira grande entrada. Além disso, essa concentração de matrículas pareceu ter papel mais significativo do que o amadurecimento do ProJovem ao longo do tempo.

Tabela 3.4: Taxa de Desistência por período de ingresso, a partir dos dados gerais de avaliação e monitoramento do ProJovem

Períodos de ingresso (entradas) Desistência

jul05 a nov05 32,7%

nov05 a fev06 22,2%

fev06 a jul06 36,5%

jul06 a set06 33,3%

ou06 a dez06 45,3%

jan07 a jun07 39,6%

jun07 a out07 37,6%

Total 34,2%

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Acerca das diferenças entre “entradas regulares”10 e “grandes entradas”, observou-se que os núcleos que ingressaram junto das grandes entradas apresentaram melhores indicadores de permanência. Em síntese, as grandes entradas apresentam maior percentual de concluintes do que as entradas regulares. Além disso, as grandes entradas apresentam também taxas de desistência inferiores às entradas regulares. Para iniciar a análise, a tabela abaixo ilustra os números gerais desse fenômeno:

10 Grande parte das entradas de alunos ocorria de acordo conforme previstos. Contudo, atrasos nas negociações com prefeituras, problemas com escolas ou diversos outros possíveis problemas, algumas entradas “fugiram”dos cronogramas previstos.

Relatório ProJovem50Tabela 3.5: Permanência no Programa a partir do tipo de entrada

Categorias de Permanência Entradas regulares Grandes Entradas Total

Matrícula TotalN 95535 145700 241235

% 100,0 100,0 100,0

PerdaN 5861 6219 12080

% 6.1 4.3 5.0

DesistenteN 36656 46048 82704

% 38.4 31.6 34.3

Matrícula InicialN 53018 93433 146451

% 55.5 64.1 60.7

EvadidoN 12689 27190 39879

% 13.3 18.7 16.5

Concluinte (Mat. Final)N 40261 66243 106504

% 42.1 45.5 44.1

Apesar de os números gerais já serem favoráveis às grandes entradas, deve-se considerar que elas são penalizadas pelos ingressos das duas capitais com piores indicadores de permanência, tanto de perdas, quanto de desistência e evasão. Os maiores percentuais de perdas entre as capitais foram, respectivamente, 31% e 23%, São Paulo e Brasília. As duas juntas respondem por 76% de todas as “perdas” em matrículas.

Tais números foram fortemente influenciados por entradas tardias com grande interstício entre o recrutamento e o início das aulas. No entanto, a manutenção dessas cidades concentradas em um dos grupos cria um forte viés para Essa análise em curso. As entradas regulares não foram afetadas por nenhum viés específico. Logo, para melhor compreender a relação entre a concentração de matrículas e os indicadores de permanência, ou seja, da relação que o jovem estabelece com o Programa, foram extraídos os dados dessas duas capitais, que enfrentaram problemas graves de recrutamento e adesão inicial, para que a comparação entre as entradas regulares e as concentradas pudesse ser explicitada melhor. A tabela seguinte traz os números filtrados:

Tabela 3.6: Permanência no Programa a partir do tipo de entrada, extraído o viés de entradas tardias.

Categorias de Permanência Entradas regulares Grandes Entradas Total

Matrícula TotalN 79396 126464 205860

% 100,0 100,0 100,0

PerdaN 2280 2008 4288

% 2,9 1,6 2,1

DesistenteN 30239 38051 68290

% 38,1 30,1 33,2

Matrícula InicialN 46877 86405 133282

% 59,0 68,3 64,7

EvadidoN 12311 24049 36360

% 15,5 19,0 17,7

Concluinte (Mat. Final)N 34566 62356 96922

% 43,5 49,3 47,1

Observa-se que a perda e a desistência são significativamente menores nas grandes entradas. A posterior relação que o jovem estabelece com o programa não é tão afetada pela concentração das entradas, mas a relação inicial o é. Embora a evasão seja maior nas grandes entradas, ainda assim a conclusão é significativamente superior, dada a menor queda de matrículas em função da “desistência” e das matrículas

Relatório ProJovem 51“perdidas”. Como dito, essas categorias serão descritas posteriormente com mais afinco, mas importa destacar, nesse trecho que analisa as matrículas no Programa e seu fluxo, que a organização do processo de ingresso tem influências sobre seu curso, principalmente sobre a relação inicial que o jovem estabelece com o Programa.

3.2 A Evasão

Para além da análise isolada da desistência, é importante investigar a correlação entre a desistência e outros fenômenos ligados à relação que o jovem estabelece com o Programa. O mais importante é a evasão. Havia duas fortes hipóteses a serem testadas. A primeira refere-se à compreensão que a desistência e a evasão fossem de fato apenas um único fenômeno conjunto, distantes apenas no tempo. Isso significaria acreditar que, uma vez efetivada a matrícula, o abandono do Programa estivesse atrelado a circunstâncias únicas, e não a circunstâncias distintas ao longo do curso. Logo, não importaria se o jovem abandona logo no início ou ao longo do Programa. Importaria caracterizar o abandono apenas, indistinto em relação ao período ou às motivações específicas a ele relacionadas. Assim, não importaria caracterizar a matrícula inicial depois da desistência, uma vez que essa seria apenas uma “evasão precoce”. Essa hipótese seria reforçada por uma alta correlação entre desistência e evasão.

Em contrapartida, a outra hipótese é a de que a desistência é diferente da evasão, e cada fenômeno é caracterizado por situações diferentes, e que, portanto, devem ser tratados em separado. Isso implica em uma alteração significativa de análise, uma vez que são investigados, portanto, dois fenômenos com processos distintos e causas diferentes. Isso justifica a matrícula inicial ser consolidada apenas após a desistência e implica na investigação separada das causas e na descrição de processos distintos. Assim sendo, seriam necessárias diferentes tomadas de decisões, específicas para a desistência – atreladas à gestão do recrutamento – e para a evasão – atreladas à gestão dos núcleos e preocupações típicas da permanência do jovem no Programa. Essa hipótese pressupõe uma menor correlação entre desistência e evasão, e uma maior relação entre a evasão e a matricula inicial.

Por razões implícitas à inibição de colinearidades, a análise da correlação entre desistência e evasão se faz pelo agregado (núcleo, município ou outro), ou seja, pela comparação entre suas respectivas taxas. Dada a necessidade de um número substantivo de casos, optou-se pela comparação entre os agregados no nível das cidades. Observou-se que desistência e evasão não guardam entre si correlação significativa (Pearson < 0.04). Ou seja, a flutuação entre as taxas de desistência não encontra sintonia com a flutuação das taxas de evasão e vice-versa. No entanto, observou-se que a matrícula inicial é inversamente proporcional à desistência, mas é diretamente proporcional à evasão (Pearson = 0.47) e, principalmente, à matrícula final (Pearson = 0.92). Por sua vez, a matrícula final não está correlacionada à evasão, mas apenas à matrícula inicial.

Dessa forma, ganha força a segunda hipótese de que desistência e evasão são fenômenos distintos. Além disso, a matrícula inicial é um importante indicador da relação que os jovens estabelecem com o programa naquele município. Quanto maior a matrícula inicial, maior será a matrícula final. Em outras palavras, reforça-se o argumento de que o jovem que consegue conhecer o programa e estabelecer com ele uma relação minimamente estável em seu início tende a continuar até o final. Por outro lado, quanto mais jovens se matriculam, maior também é o número de jovens que evadem, mas ainda assim, proporcionalmente menor do que o dos que permanecem. Dessa forma, o grande desafio da permanência é a diminuição das taxas de desistência e a ampliação da matrícula inicial.

As causas que afetam a desistência parecem ser, processualmente, distintas daquelas que afetam a evasão. Embora as egigências familiares e de trabalho estejam entre as principais fontes de demandas dos jovens que competem com a frequência ao Programa, a decisão de se afastar é distinta. A desistência é afetada por jovens que “desistem” antes de conhecer. Em grande parte, porque percebem que “não vão dar conta”, ou porque sua vida mudou entre o recrutamento e o início das aulas: mudaram de endereço, de emprego, dentre outras mudanças típicas desse público-alvo.

O abandono ao longo do curso é bem menor. Em grande parte derivado de motivos mais fortes do que os que marcam a desistência. Observou-se que o aluno tende a estabelecer uma relação forte com o ProJovem.

Relatório ProJovem52A chance de ter de forma integrada o Ensino Fundamental, a preparação para o mercado de trabalho e a inclusão digital, além das atividades da participação social e cidadã, faz com que a motivação para sair da situação estrutural de exclusão que caracteriza seu cotidiano seja grande. Essa motivação está atrelada à esperança de (re)construir sua trajetória de vida (escolar, de trabalho, e cidadã) e se abrir a um leque inteiramente novo de oportunidades, obstruídas até então pela trajetória pregressa excludente. Daí a grande motivação dos evadidos de voltarem. Ou seja, a frustração com o ProJovem em si é muito baixa. A evasão não caracteriza uma negação ao Programa, mas um impedimento conjuntural, em grande parte relacionado às vidas privada e social do jovem.

Entendida dessa forma, como distinta da desitência, a evasão bruta representa 17% do total de matrículas. No entanto, não é esse número que importa. Importa o número de jovens que evadiram a partir da matrícula inicial, já descontada a desistência e as perdas. Assim, a taxa de evasão em dezembro de 2008, com dados consolidados de outubro, foi de 28%.

O outro lado desse número é a matrícula final, ou alunos concluintes. Ele representa todos os jovens que chegaram ao final do curso. No período em análise investigado, a matrícula final atingiu 73%. A tabela a seguir traz as taxas de evasão e conclusão (matrícula final), além das porcentagens de alunos que realizaram a prova da Unidade Formativa IV, completaram a Qualificação Profissional e realizaram o Exame de Certificação Final, de acordo com a Unidade da Federação do jovem, mais especificamente, da respectiva capital e sua região metropolitana.

Relatório ProJovem 53Tabela 3.7: Taxas de Evasão e Conclusão por Região Metropolitana

Coordenação Municipal Evasão Matrícula Final UF4 QP EFNEAnanindeua 38.3% 61.6% 57.6% 31.0% 55.4%

Aparecida de Goiânia 23.9% 75.7% 49.0% 74.5% 41.2%

Aracaju 29.5% 70.5% 64.7% 56.4% 64.1%

Belém 18.4% 81.5% 60.2% 72.5% 57.9%

Belford Roxo 14.6% 85.3% 59.7% 80.3% 60.9%

Belo Horizonte 38.7% 61.3% 54.2% 52.4% 54.9%

Boa Vista 21.9% 78.0% 65.9% 72.8% 64.3%

Brasília 26.7% 73.2% 58.5% 71.1% 58.7%

Campo Grande 39.2% 60.7% 51.7% 57.2% 51.2%

Canoas 35.2% 64.3% 53.7% 58.1% 53.2%

Carapicuíba 41.1% 58.9% 55.4% 54.0% 55.1%

Caucaia 23.8% 76.2% 65.2% 72.1% 57.2%

Contagem 30.7% 69.3% 62.6% 60.5% 62.9%

Cuiabá 25.1% 74.8% 64.5% 62.0% 61.5%

Curitiba 38.7% 61.3% 53.1% 49.9% 54.3%

Diadema 31.9% 68.1% 63.3% 54.8% 65.5%

Duque de Caxias 28.2% 71.8% 55.2% 63.1% 56.8%

Embu das Artes 29.1% 70.9% 62.4% 58.8% 61.5%

Florianópolis 43.9% 56.1% 53.2% 54.3% 52.3%

Fortaleza 27.6% 72.4% 56.5% 61.1% 53.8%

Goiânia 32.2% 67.8% 60.3% 50.0% 58.7%

Gravataí 26.7% 73.3% 69.8% 46.5% 68.3%

Guarulhos 41.6% 58.4% 48.1% 52.7% 47.1%

Itaquaquecetuba 33.3% 66.7% 55.8% 64.7% 54.0%

Jaboatão dos Guararapes 32.1% 67.9% 50.7% 55.1% 49.2%

João Pessoa 28.9% 71.1% 64.0% 54.9% 62.2%

Macapá 36.5% 63.5% 55.4% 45.1% 57.0%

Maceió 16.7% 82.9% 64.1% 79.1% 62.9%

Magé 24.4% 75.6% 48.8% 67.0% 47.9%

Manaus 15.9% 84.0% 60.4% 78.7% 59.0%

Mogi das Cruzes 45.6% 54.4% 49.8% 54.0% 50.2%

Natal 36.3% 63.6% 56.7% 41.3% 54.9%

Niterói 18.2% 81.7% 58.2% 71.8% 60.7%

Nova Iguaçu 7.0% 92.9% 60.6% 92.6% 59.1%

Novo Hamburgo 45.5% 54.5% 47.2% 52.1% 47.9%

Olinda 20.9% 79.0% 63.1% 73.7% 60.3%

Osasco 27.8% 72.2% 63.4% 69.5% 66.2%

Palmas 34.7% 72.3% 67.4% 65.1% 64.6%

Paulista 18.7% 81.3% 69.7% 80.2% 72.1%

Porto Alegre 36.2% 63.8% 58.7% 54.2% 57.3%

Porto Velho 48.7% 51.2% 44.8% 32.2% 43.1%

Recife 26.4% 73.6% 64.0% 61.8% 62.9%

Rio Branco 22.4% 77.6% 69.4% 69.5% 74.5%

Rio de Janeiro 10.6% 89.4% 44.1% 85.5% 44.1%

Relatório ProJovem54Salvador 32.3% 67.7% 54.5% 33.0% 51.6%

Santo André 46.2% 53.8% 48.8% 49.1% 49.7%

São Gonçalo 30.7% 69.3% 62.8% 42.6% 59.9%

São João de Meriti 17.7% 82.2% 60.1% 64.1% 55.9%

São Luís 38.1% 61.9% 49.5% 40.4% 49.2%

São Paulo 50.6% 49.4% 42.8% 30.6% 38.7%

Serra 37.7% 62.3% 55.1% 59.3% 54.7%

Suzano 36.5% 63.5% 51.4% 59.4% 52.4%

Teresina 22.1% 77.9% 63.0% 70.7% 62.9%

Viamão 37.6% 62.4% 56.3% 59.2% 56.5%

Vila Velha 32.6% 67.4% 53.3% 61.5% 56.3%

Vitória 37.4% 62.4% 57.0% 57.2% 58.8%

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

As capitais e regiões metropolitanas dos Estados mais ricos do Brasil, que também são as regiões que mais oferecem oportunidades aos jovens, tiveram, de forma geral, taxas de evasão maiores. Esse é, principalmente, o caso das capitais das regiões Sul e Sudeste. Isso demonstra que é mais difícil para o jovem decidir entre uma oportunidade conjuntural, mas necessária à sua vida naquele período, e a oportunidade mais estrutural que o ProJovem representa para o futuro de cada jovem atendido. Por isso também, essas capitais tendem a encontrar desafios maiores para a permanência dos jovens. Observa-se também que, para algumas capitais, há uma maior variação entre o número de alunos que completam as três fases finais do programa, demonstrando, portanto, a dificuldade de se calcular a evasão do ProJovem.

Outro conjunto de capitais que enfrenta dificuldades em função de oportunidades criadas é aquele próximo às fronteiras agrícolas do Centro Oeste e Norte do país. A razão parece ser similar às oportunidades criadas nos centros urbanos mais ricos.

No entanto, algumas capitais, como o Rio de Janeiro, tiveram êxito nos trabalhos para diminuição da evasão. Enquanto outras capitais do Sul e do Sudeste apresentaram taxas de evasão em torno de 40%, a região metropolitana do Rio de Janeiro apresentou evasão próxima a 15%. Há outros casos de sucesso nos trabalhos das coordenações municipais em prol da diminuição da evasão, como o caso de Recife, uma das capitais mais ricas do Nordeste e, mesmo assim, com taxas de evasão similares ou menores do que as verificadas na Região. Importa destacar que os desafios são de fato grandes e complexos. No entanto, é possível superá-los com a adoção de medidas de gestão eficazes para cada contexto e adequadas à realização do ProJovem no município.

Por hora, resta deter a observação apenas sobre as diferenças regionais, que por sua vez também refletem diferenças econômicas e sociais importantes. As taxas de evasão e de conclusão poderão ser melhor compreendidas a partir de algumas das condicionantes capazes de explicar a maior permanência dos jovens no Programa. Os parágrafos que seguem analisam o perfil dos jovens iniciantes e concluintes.

3.3 Ajuste do Programa ao perfil dos jovens atendidos

Toda Política Pública de Inclusão deve dedicar uma atenção especial ao perfil de seu público-alvo, ao alcance de seu atendimento e, muito especialmente, a como esse atendimento se distribui entre diferentes grupos da população. Se um programa universal atende a muito mais mulheres do que homens, talvez algumas de suas características possam ser pouco inclusivas aos homens. Se o atendimento favorece muito mais indivíduos brancos do que não brancos, algum elemento ligado à cor pode estar afastando não brancos. Portanto, a avaliação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens também se dedica a analisar o perfil de seu atendimento e o atrito observado ao longo de seu curso.

Relatório ProJovem 55São cinco as principais características de perfil analisadas: sexo, idade, cor, estado civil, paternidade/maternidade. Sempre que a oscilação de alguma característica sociodemográfica é significativa11, essa observação aponta para possíveis dificuldades de determinado grupo de permanecer no Programa, sem que se possa, entretanto, identificar as causas disso. O passo seguinte seria exatamente a investigação aprofundada dessas circunstâncias que causam “atrito”, para que possam ser tomadas medidas suficientes para sua superação.

A primeira característica demográfica a ser analisada é a idade. Como o ProJovem atendeu a uma faixa etária determinada (18 a 24 anos), por um período relativamente largo de tempo (2005 a 2008), a mensuração da idade é estabelecida melhor em função da coorte, ou ano de nascimento. Assim, comparam-se grupos mais ou menos homogêneos, independente do período que frequentaram o programa. A oscilação entre os grupos pode determinar se a frequência ao Programa é mais fácil/difícil ou mais atraente/desinteressante aos mais jovens (próximos aos 18 anos) ou aos mais adultos (próximos aos 24 anos). A tabela a seguir traz os percentuais para todos os jovens com dados completos:

Tabela 3.8: Distribuição percentual de iniciantes e concluintes por ano de nascimento

Ano de nascimento Iniciantes Concluintes1981 ou anterior 4.4 3.3

1982 10.7 7.8

1983 17.4 12.2

1984 15.7 11.2

1985 13.7 9.8

1986 12.0 8.9

1987 10.8 8.1

1988 8.8 6.7

1989 ou posterior 5.4 4.1

Total 100,0 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Observa-se que as oscilações são pequenas, não revelando atrito do ProJovem com nenhum grupo etário. A proporção de cada coorte entre os iniciantes e concluintes é praticamente idêntica. As singelas alterações revelam leve tendência de permanência maior de grupos mais jovens, também menos afetados por demandas familiares e de trabalho, geralmente progressivas com a idade. Tais mudanças são completamente compreensíveis dentro dos padrões gerais de oferta de políticas públicas de longo curso, não revelando qualquer atrito vinculado à idade, o que representa um forte argumento em prol do caráter inclusivo do Programa e de seu ajuste ao público-alvo planejado.

A segunda característica demográfica é o sexo do aluno. Nesse quesito, como já denotado na seção anterior, era esperada uma leve sobrerepresentação do público feminino em função de ser esse o comportamento social observado a todas as políticas educacionais. As mulheres tendem a estudar mais que os homens, a investir mais em sua própria escolarização e na de seus filhos. Contudo, qualquer grande oscilação poderia ser interpretada como decorrência de algum efeito colateral do planejamento (projeto) ou da implementação (execução) do ProJovem, ou seja, uma reação negativa dos homens por se sentirem prejudicados ou menos considerados.

A tabela a seguir revela, no entanto, que a oscilação entre iniciantes e concluintes em relação ao sexo foi de apenas 2%, algo previsto e de acordo com o registrado em outras pesquisas, tanto quanto observado na literatura sobre o tema. Dessa forma, não são também observados atritos de sexo no ProJovem, constituindo-se uma política inclusiva para ambos os sexos.

11 Considera-se significativa para efeitos dessa análise uma oscilação superior a 5%.

Relatório ProJovem56Tabela 3.9: Distribuição percentual de iniciantes e concluintes por sexo

Sexo Iniciantes ConcluintesMasculino 43.9 41.9

Feminino 55.8 57.8

Total 100,0 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

A terceira característica demográfica é a cor. Em geral, é também a característica que traz consigo mais polêmica, uma vez que o tema racial suscita debates intensos nos meios sociais, políticos e acadêmicos. No entanto, em relação ao ProJovem, não foram observados quaisquer tipos de atritos. O atendimento prioritário se destinou aos grupos que mais demandam políticas inclusivas: pardos e negros somam mais de três quartos dos concluintes. A tendência observada foi de leve crescimento de sua participação. Além disso, a menor porcentagem de alunos concluintes em relação aos iniciantes é de alunos autodeclarados brancos. Sendo assim, o ProJovem se releva também como uma política inclusiva em relação à cor ou raça. Os dados podem ser melhor analisados a partir de sua disposição na tabela que se segue:

Tabela 3.10: Distribuição percentual de iniciantes e concluintes por cor

Cor Iniciantes Concluintes Total (Concluintes/Iniciantes)Pardos 41.6 41.8 73.0%

Negros 15.2 15.0 71.6%

Brancos 18.5 18.0 70.5%

Amarelos 1.0 1.0 72.3%

Indígenas 0.0 0.0 -

Total 100,0 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Um fato importante a destacar é que o ProJovem não atinge outro grupo alvo de políticas inclusivas: os indígenas. Contudo, esse grupo não apresenta forte concentração nas capitais e regiões metropolitanas. Logo, não se esperava que os resultados fossem muito diversos para o conjunto de todos os jovens atendidos no Brasil.

Por fim, as duas últimas análises repousam sobre a formação social da família: o estado civil e a paternidade/maternidade. Esperava-se que os jovens casados e com filhos fossem encontrar mais dificuldade de frequentar o Programa. Além de essa hipótese ser difundida no senso comum, também encontra largo amparo na literatura acerca da juventude, tanto pedagógica quanto sociológica, em especial em relacão às desigualdades. Além disso, as pesquisas sobre evasão também haviam apontado a família e os filhos como um dos fortes elementos que causam a evasão.

No entanto, embora os fatores familiares e parentais sejam responsáveis por boa parte da evasão, o perfil de iniciantes e concluintes em relação a esses dois temas são significativamente similares. Se muitos jovens não conseguem continuar no programa em função de demandas domésticas, outros são afetados por demandas de trabalho ou cerceados pela violência em torno dos núcleos. Por isso, a “família” não constitui em si um limite mais severo à conclusão do ProJovem. É um fator que dificulta a permanência de parte dos jovens, mas não necessariamente a sua inclusão. A proporção de jovens casados, e com filhos, que iniciam é bem similar à proporção dos que concluem.

Relatório ProJovem 57Tabela 3.11: Distribuição percentual de iniciantes e concluintes por estado civil

Estado civil Iniciantes ConcluintesSolteiro 83,9 83,7

Casado 15,2 15,5

Divorciado 0,8 0,8

Viúvo 0,1 0,1

Total 100,0 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Tabela 3.12: Distribuição percentual de iniciantes e concluintes por pater/maternidade

Tem filhos? Iniciantes ConcluintesNão 54,0 53,6

Sim 46,0 46,4

Total 100,0 100,0

Fonte: Sistema de Monitoramento e Avaliação

Dessa forma, após analisados os principais fatores sociodemográficos que poderiam indicar “atrito” ou menor capacidade de inclusão do ProJovem, não foram registradas quaisquer disparidades marcantes entre o perfil de iniciantes e concluintes. Por isso, o ProJovem pode ser considerado uma política pública largamente inclusiva, que incorpora, sem distinção, todos os grupos sociais e os trata de forma equânime, fazendo com que o perfil dos iniciantes seja muito similar ao perfil dos concluintes em relação a vários fatores sociais que historicamente são marcas de clivagem social no Brasil.

Também muito positiva foi a análise da eficácia, ou seja, a proporção entre aqueles que chegaram ao final do curso e aqueles que se certificaram. No total, foram certificados 85.895 jovens dos 106.019 que estiveram aptos a postular a certificação, ou seja, pelo menos quatro, a cada cinco jovens que chegaram ao final do programa, conseguiram se certificar. A taxa de promoção ou aprovação foi superior a 81%. Importa destacar que era condição necessária à certificação a participação em exames externos e a realização de testes ao longo de todo o curso. O resultado do exame revelou uma média geral (que inclui tanto os certificados quanto os não certificados) superior à média dos concluintes da escola regular12. Isso revela um grande sucesso do Projeto Pedagógico Integrado e o êxito de fluxo em função da elevada aprovação.

No entanto, a desistência ainda persiste como um desafio para a ampliação da cobertura do ProJovem e de sua eficácia na promoção da inclusão social, marca de seu objetivo, de sua justificativa e registro em seu projeto constitutivo. Embora típicas de todas as políticas sociais destinadas à juventude, a desistência e a evasão representaram os principais limites ao êxito pleno do ProJovem.

Para enfrentar tais desafios de forma inovadora, é importante aprofundar as pesquisas e o conhecimento de seus “processos produtivos”. Nessa direção, os parágrafos seguintes dedicam mais atenção a esses processos com o intuito de tentar instruir com melhor qualidade a tomada de decisões e a gestão de políticas públicas similares.

12 Média dos concluintes do Ensino Fundamental Regular (8ª série) nas Redes Municipais das capitais, de acordo com dados do SAEB em 2005.

Relatório ProJovem583.5 Análise dos processos de evasão

O acesso, a permanência e a aprendizagem de alunos continuam como desafios do sistema público educacional brasileiro, ainda no século XXI. Esse desafio torna-se maior no segmento da educação de jovens e adultos, onde a evasão, de tão elevada e persistente ao longo do tempo, costuma ser tratada como uma característica dessa modalidade. A juventude é muito volátil em relação à vida escolar, pois não se prende ao estudo e facilmente abandona a escola, mesmo em se tratando dos jovens pertencentes às classes sociais mais baixas. Tal fato ressalta a importância de programas voltados à juventude que atendam a suas necessidades, assumindo o desafio de manter os jovens participantes até o fim do curso.

De acordo com a literatura, alguns dos principais fatores que influenciam a evasão são: o desinteresse nas aulas por falta de uma identificação com o conteúdo, a falta de uma metodologia apropriada para trabalhar com jovens e adultos, a falta de uma prática pedagógica motivadora, o conflito da escola com o trabalho e suas implicações, ou porque a formação não era tão significativa para as vidas dos jovens como eles imaginavam.

Sabe-se que, na educação de jovens a adultos, o ensino deve levar em conta as questões da vida cotidiana dos estudantes, os conhecimentos populares que o aluno traz consigo, sua história de vida e suas experiências. Em relação a isso, os aportes teóricos no Projeto Pedagógico Integrado do ProJovem garantem o foco das questões sociais relacionadas à juventude. Portanto, sua estrutura, seus materiais didáticos e seu currículo partem do contexto social que o envolve, de suas dificuldades no mundo do trabalho e de suas potencialidades como sujeitos cidadãos. Esse é um ponto extremamente importante para dar sentido à educação dos jovens. Mas parece que só isso não é suficiente para garantir a permanência.

Diante de um programa formulado, especificamente, para o público jovem e adulto, apesar de problemas sofridos durante seu processo, o ProJovem obtém sucesso e reconhecimento na avaliação feita pelos seus beneficiários, por educadores e gestores do programa. Tanto é que, em pesquisas já feitas, a maioria dos jovens afirma que faria o programa novamente. Entretanto, a taxa de evasão anual do ProJovem é considerada alta, assim como no ensino regular, girando em torno de 30% a 40%, a depender da onda de entrada dos alunos.

Ao atrair o adulto para o ProJovem, é preciso garantir que ele não o abandone. Dessa forma, o levantamento dos motivos de evasão em cada ano de execução do programa traz informações relevantes sobre esse fenômeno que ainda é considerado como um aspecto preocupante em qualquer programa educacional.

Pesquisas anteriores sobre a evasão no ProJovem identificaram que os motivos internos de abandono, ou seja, fatores ligados ao programa, ao invés de causas sociais externas, estavam associados a questões de implementação (ausência de laboratórios e aulas de informática, problemas com as bolsas, etc.) ou a motivações externas ao programa (questões pessoais dos alunos). A seção seguinte tem como objetivo levantar as causas da evasão no ano de 2008, momento em que grande parte das questões de implementação já foi minimizada.

Relatório ProJovem 593.5.1 A pesquisa de Evasão no ProJovem em 2008

A pesquisa de evasão no ProJovem, em 2008, contemplou a aplicação de um instrumento com itens abertos e fechados (o mesmo instrumento de 2007) em alunos identificados como evadidos, devido ao elevado número de faltas registrados. Com base em amostra selecionada pelo CAEd, o estudo conseguiu levantar informações de 737 alunos em 25 cidades brasileiras (em 2007, foram 518 alunos em 18 capitais), segundo descrito na tabela abaixo.

Tabela 3.13: Número de entrevistas por cidade

Cidades IndivíduosAracaju 61

Belford Roxo 1

Boa Vista 24

Campo Grande 27

Cuiabá 37

Florianópolis 8

Fortaleza 3

Goiânia 21

Gravataí 10

Guarulhos 2

João Pessoa 65

Macapá 30

Maceió 30

Mogi das Cruzes 9

Natal 7

Palmas 8

Porto Alegre 11

Recife 123

Rio de janeiro 48

Salvador 79

Santa Rita 1

São Paulo 92

Teresina 36

União dos Palmares 1

Várzea Grande 1

Total 737

Pelo fato de os jovens não frequentarem mais a escola, entrou-se em contato com os evadidos através de informações pessoais, como número telefônico e endereço residencial, obtidos junto às coordenações municipais do ProJovem. Além disso, buscaram-se informações complementares que pudessem localizar o evadido na própria escola onde ele estudou.

De posse dessas informações, tentou-se localizar os evadidos e agendar a entrevista em locais que fossem o mais próximo de suas residências, como orientado nacionalmente. Esse momento foi bastante complicado, pois nem sempre o número telefônico correspondia à casa do aluno, sendo às vezes de vizinhos ou inexistente.

Ao localizar os evadidos via telefone, o pesquisador explicava-lhes o motivo do contato no sentido de agendar horário e local mais apropriado para os jovens. Nos casos em que não era possível a localização via telefone, de posse dos endereços, o pesquisador dirigia-se até a residência desses jovens. Apesar de muitos esforços, vários alunos evadidos não foram localizados.

Relatório ProJovem603.5.2 Composição da amostra final e perfil do evadido

Do total de alunos pesquisados, aproximadamente, 46,1% são do sexo masculino e 53,9% são do sexo feminino. Dos 737 entrevistados, 70,7% declararam-se solteiros, enquanto 28% informam serem casados ou morarem com um(a) companheiro(a). A maioria, 51,2%, declarou ter filhos, sendo que, desses, 42,4% informaram ter duas ou mais crianças.

Sobre a situação educacional dos evadidos do Programa, mais da metade (cerca de 65,2%) concluiu até a 6ª série do Ensino Fundamental, 75,3% estudaram em três ou mais escolas, 92,8% começaram e pararam de estudar antes do final do ano ao menos uma vezm e 51,4% já repetiram o ano letivo mais de uma vez. Esses dois últimos valores apontam duas características típicas, geralmente observadas no histórico educacional dos alunos da educação de jovens e adultos: o abandono e a repetência. E mostra que a grande maioria dos jovens que evadem do ProJovem são reincidentes, ou seja, apresentam um histórico de evasão no ensino regular e de repetência, aspectos que, entretanto, não são estranhos à população geral do programa.

3.5.3 Interesse no programa, o afastamento e as condições de retorno:

Quanto à sua participação no programa, 26,4% declararam ter frequentado o ProJovem por menos de 2 meses, 31,5% frequentaram de 3 a 4 meses, e a maioria, 42,2%, declarou ter participado do ProJovem por mais de 5 meses. Para os entrevistados, os aspectos que mais os atraíram para o ProJovem foram: a possibilidade de concluir o Ensino Fundamental em apenas 1 ano (76,7%) e a qualificação profissional (64,9%). Destacam-se, mas em menor proporção, fatores como a bolsa de R$ 100,00 (42,1%) e a obtenção de conhecimentos em informática (39,8%). Aspectos como a possibilidade de intervir para melhorar a própria comunidade foram citados como atraentes por apenas 24,7%.

Apesar de, segundo os critérios amostrais, todos os entrevistados serem evadidos devido à quantidade de faltas registradas, a pesquisa procurou levantar a percepção dos sujeitos quanto à sua situação em relação ao ProJovem. Assim, dos 737 entrevistados, 69,6% assumem ter se afastado definitivamente do programa, mas 30,4% acreditam que, apesar das elevadas faltas, ainda podem continuar frequentando o ProJovem. Por outro lado, 6,5% (48 entrevistados) consideram estar frequentando normalmente o programa.

Diante dessa disparidade de percepções, a pesquisa, através de itens abertos, perguntou aos infrequentes os motivos de suas elevadas faltas e, aos assumidamente evadidos as razões do seu afastamento. No conjunto, os fatores associados revelam o conjunto dos motivos que levam os jovens a se distanciar progressivamente do ProJovem.

Entre aqueles que se consideram infrequentes, os aspectos mais citados que motivam suas faltas são: incompatibilidade do ProJovem com o trabalho (29,3%); problema de saúde pessoal ou na família (23,9%); distância até o núcleo / transporte (10,1%); cuidar de filhos ou parentes (8%); gravidez (4,8%); questões familiares/pessoais (4,3%).

Entre aqueles que se consideram de fato evadidos, os aspectos mais citados para o seu afastamento do programa são: incompatibilidade do ProJovem com o trabalho (32,8%); problema de saúde pessoal ou na família (9,1%); distância até o núcleo / transporte (11,0%); cuidar de filhos ou parentes (7,8%); gravidez (5,2%); questões familiares/pessoais (4,1%).

A principal diferença notada entre os dois subgrupos relaciona-se com problemas de saúde enfrentados pelo aluno ou em sua família. A incidência de respostas abertas relacionadas com esse fator é substancialmente maior na parcela de entrevistados que se considera apenas infrequente. Isso talvez se deva à possibilidade de esses alunos considerarem que suas faltas, por motivo de saúde, são ou serão justificadas, viabilizando seu retorno ao Programa.

De todo modo, chama à atenção a quase ausência de menção espontânea a questões estruturais ou de implementação do ProJovem, entre os fatores que levaram ao afastamento dos alunos, à exceção apenas do aspecto distância casa-núcleo, algo não previsto na concepção original do programa. Por

Relatório ProJovem 61exemplo, um fator como atraso ou não recebimento de bolsa foi citado apenas por 28 dos 737 alunos entrevistados (3,8% do total).

Portanto, segundo as declarações espontâneas dos evadidos, a causa única mais relevante que leva ao afastamento do programa é a incompatibilidade com o trabalho, seguida por uma miríade de fatores associados a questões estritamente pessoais.

A pesquisa também buscou levantar, a partir de declarações livres, o que o aluno evadido gostaria de ver mudado no ProJovem, de modo a facilitar seu reingresso. Para significativos 19,9% dos entrevistados nada precisa ser alterado. O aspecto mais citado, presente em 24,6% das respostas, foi a demanda por flexibilização dos horários e turnos nos quais o programa é oferecido. A necessidade de melhoria da bolsa (seja quanto à regularização dos pagamentos, seja no aumento do seu valor) foi citada em 11,9% das respostas. Destaca-se, também, que em 9% das respostas é mencionada a necessidade de haver núcleos mais próximos às residências.

3.6 Síntese sobre as causas da evasão

Em relação às pesquisas de evasão de anos anteriores, é notável a redução de fatores associados a questões de implementação entre aqueles que levam ao afastamento do aluno do programa. O que se verificou, em 2008, é que o evadido tem perfil bastante próximo à população geral que participa do ProJovem e que os motivos de seu afastamento do programa estão muito mais ligados a contingências pessoais que a questões estruturais do ProJovem (ao menos na percepção dos alunos).

Entretanto, os alunos que permaneceram no programa também sofrem contingências semelhantes, mas nem por isso abandonaram o ProJovem. Além disso, entre os que se afastaram do Programa pelos diversos fatores citados, 88,1% desses alunos evadidos retornariam, ou pretendem retornar, ao ProJovem. Isso fortalece a hipótese de que as causas da evasão são multifatoriais e necessariamente associadas a questões pessoais, de tolerância, frustração, etc.

A pesquisa, todavia, indica que o ProJovem precisa estar atento aos limites impostos pela necessária participação no mercado de trabalho, tentando viabilizar modos de tornar a frequência às aulas menos conflitante com as atividades remuneradas exercidas por parte significativa de seus alunos.

63Relatório ProJovem

Os resultados do programa para os alunos que permaneceram até a sua conclusão são analisados nessa seção. Educação, Trabalho e Cidadania são as três grandes áreas de contribuição do ProJovem.

4.1 Taxas de Aprovação

A tabela a seguir exibe a porcentagem de aprovação no ProJovem. Seguindo a mesma lógica da seção anterior, são apresentados a proporção de alunos aprovados segundo o total de alunos matriculados, alunos que chegaram a frequentar aulas (iniciantes) e alunos concluintes – que realizaram a qualificação profissional, exame de certificação final e ou o exame da unidade formativa IV.

Considerando-se a matrícula total, a proporção de alunos que obtiveram a sua certificação final é bastante baixa, em torno de 27,1% na média Nacional. Tal baixa proporção corrobora com a identificação da desistência como um dos grandes problemas enfrentados pelo ProJovem. Dentre os alunos que chegaram até a etapa final do programa, a proporção de alunos certificados é maior (51,6%). São Paulo apresentou a menor porcentagem de alunos certificados, apenas 30,3% dos seus alunos concluintes conseguiram a sua certificação. Já Rio Branco, que apresentou os melhores resultados em termos de aprovação, teve 75,3% dos seus alunos concluintes certificados.

Resultados4

Relatório ProJovem64Tabela 4.1: Proporção de alunos certificados em relação ao total de Matrículas,

alunos Iniciantes e Concluintes

MunicipioMatrícula

TotalIniciantes Concluintes Municipio

Matrícula Total

Iniciantes Concluintes

Ananindeua 27.2% 44.4% 46.8% Manaus 36.5% 55.8% 57.9%

Aparecida de Goiânia

13.0% 37.0% 40.7% Mogi das Cruzes 23.0% 42.4% 45.2%

Aracaju 42.5% 53.5% 56.5% Natal 31.2% 42.9% 45.7%

Belém 30.8% 51.8% 54.1% Niterói 34.4% 57.6% 58.7%

Belford Roxo 30.4% 49.8% 51.8% Nova Iguaçu 29.9% 52.7% 53.4%

Belo Horizonte 26.8% 47.3% 56.0% Novo Hamburgo 23.2% 46.2% 52.0%

Boa Vista 27.0% 55.3% 57.1% Olinda 31.1% 49.5% 51.1%

Brasília 18.1% 58.0% 61.3% Osasco 31.7% 63.6% 66.5%

Campo Grande 28.6% 48.8% 54.5% Palmas 19.5% 41.6% 40.2%

Canoas 23.7% 47.6% 50.5% Paulista 42.6% 64.1% 67.6%

Carapicuíba 24.5% 46.9% 53.0% Porto Alegre 25.1% 53.7% 63.7%

Caucaia 35.5% 49.4% 51.0% Porto Velho 22.7% 34.7% 44.7%

Contagem 28.7% 54.6% 58.0% Recife 41.3% 52.5% 55.3%

Cuiabá 27.3% 52.5% 55.3% Rio Branco 41.4% 70.8% 75.4%

Curitiba 21.5% 52.5% 58.2% Rio de Janeiro 26.5% 41.0% 42.2%

Diadema 34.1% 55.4% 58.9% Salvador 25.9% 35.9% 39.4%

Duque de Caxias

29.3% 47.4% 51.3% Santo André 17.1% 41.4% 51.3%

Embu das Artes 24.4% 49.7% 54.7% São Gonçalo 23.4% 44.0% 44.9%

Florianópolis 23.0% 49.4% 52.5%São João de Meriti

23.5% 39.8% 41.4%

Fortaleza 32.3% 43.4% 45.6% São Luís 22.5% 34.5% 39.0%

Goiânia 20.7% 51.9% 55.2% São Paulo 8.2% 25.3% 30.3%

Gravataí 18.0% 59.9% 60.8% Serra 25.4% 50.4% 52.1%

Guarulhos 16.9% 39.5% 44.4% Suzano 27.4% 46.4% 52.4%

Itaquaquecetuba 25.1% 46.4% 49.6% Teresina 41.2% 54.8% 58.6%

Jaboatão dos Guararapes

21.4% 37.5% 43.4% Viamão 27.5% 52.5% 55.6%

João Pessoa 40.5% 53.2% 55.7% Vila Velha 16.9% 33.6% 36.2%

Macapá 18.7% 30.5% 34.3% Vitória 25.0% 55.0% 62.7%

Maceió 44.2% 56.6% 60.3% Total 27.1% 48.0% 51.6%

Magé 20.4% 34.3% 36.3%

Relatório ProJovem 654.2 Matrizes de Referência para Avaliação

Apresentam-se, a seguir, as Matrizes de Referência utilizadas na avaliação diagnóstica do ProJovem, acompanhadas de uma análise dos tópicos da Matriz de Língua Portuguesa e dos temas que compõem a Matriz de Matemática.

Matriz de Referência para Avaliação em Língua Portuguesa

Matriz de Referência de Língua Portuguêsa - Tópicos e Descritores – 4ª série do Ensino FundamentalI – PROCEDIMENTOS DE LEITURA

D1 – Localizar informações explícitas em um texto.

D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.

D4 – Inferir uma informação implícita em um texto.

D6 – Identificar o tema de um texto.

D11 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.II – IMPLICAÇÕES DO SUPORTE DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO

D5 - Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.).

D9 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.III – RELAÇÕES ENTRE TEXTOS

D15 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.IV – COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO

D2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto.

D7 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.

D8 – Estabelecer relação causa /consequência entre partes e elementos do texto.

D12 – Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.V – RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRESSIVOS E EFEITOS DE SENTIDO

D13 – Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.

D14 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações.VI - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

D10 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.

A Matriz de referência para Avaliação em Língua Portuguesa está estruturada sobre o foco da LEITURA, ou seja, a interação do leitor com o texto é a referência para a avaliação das habilidades necessárias ao uso da língua escrita na vida em sociedade. Isso porque o principal objetivo do teste de Língua Portuguesa é avaliar a capacidade de o leitor produzir sentido para textos de diferentes gêneros, mobilizando, para isso, diversas habilidades.

Essas habilidades estão agrupadas, segundo suas características, nos cinco tópicos que compõem a matriz e que são apresentados e analisados a seguir.

I – PROCEDIMENTOS DE LEITURA: o conjunto de descritores desse tópico demonstra quais são as competências básicas para leitura de textos de gêneros diversos. É importante ressaltar que o aluno considerado proficiente deve ser capaz de localizar informações no texto e identificar seu sentido global. O aluno também precisa saber perceber a intenção do autor e distinguir entre fato e opinião. Deve, ainda, inferir as informações implícitas e, dessa forma, conseguir analisar e criticar o texto, apreendendo seu significado e utilizando-o na vida em sociedade.

Relatório ProJovem66II - IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO: esse tema requer que o aluno apresente duas competências básicas: interpretar textos, atrelando a linguagem verbal, a não-verbal, o reconhecimento dos diferentes tipos de gêneros textuais e sua aplicabilidade às situações comunicativas.

III - COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO: o aluno, ao responder aos itens que avaliam os descritores presentes nesse tema, deve possuir habilidades que lhe permita reconhecer a coerência e a coesão nos textos apresentados. São esses os elementos que constroem a articulação entre as diversas partes de um texto, e, reconhecendo-os, o aluno consegue realizar tarefas que exigem um nível de leitura mais elaborado.

O aluno deve entender que o texto não é um agrupamento de palavras e frases, mas um conjunto em que há interligações entre as diversas partes. Com isso, ele pode ter uma apreensão geral do assunto do texto, de acordo com o gênero em que está inserido.

IV - RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRESSIVOS E EFEITOS DE SENTIDO: em questões que estejam de acordo com esse tópico, o aluno deve saber reconhecer certos recursos gramaticais ou lexicais que expressam certos sentidos no texto, conforme a intenção do autor ou ao contexto em que está sendo utilizado. Alguns deles são os sinais de pontuação (reticências, exclamação, interrogação, etc.) e mecanismos de notação (itálico, negrito, caixa alta, tamanho da fonte). O conhecimento de diferentes gêneros textuais pode tornar o aluno habilitado a perceber e a construir significações nas diferentes situações comunicativas apresentadas.

V – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: o último tema da Matriz de Referência versa sobre a variação da língua na comunicação humana. O aluno deve ser capaz de reconhecer as diversas possibilidades de enunciação, analisando-as sem preconceito e passando a ter consciência linguística. É importante que, além da percepção da variação, o aluno entenda os diversos usos, quando é utilizada a linguagem formal, a informal, a técnica ou as linguagens relacionadas aos falantes, como, por exemplo, a linguagem dos adolescentes e das pessoas mais velhas.

Nos quadros abaixo, são apresentados os níveis de desempenho e a relação dos perfis de leitor com os intervalos da Escala.

Níveis de Desempenho Orientação

I Atenção Especial

II Acompanhamento

III Mínimo Satisfatório

IV Suficiente

Relatório ProJovem 67Níveis de desempenho Faixas de proficiência

Nível I

Os alunos têm pontuação abaixo de 150 nos testes e, por isso, merecem atenção especial por parte de seus professores. Tais alunos demonstraram grande dificuldade nas competências básicas de leitura de textos simples, ou seja, não construíram ou estão ainda em processo de construção dessas competências. Essas competências são: localização de informações explícitas, inferência de informações e de sentido de palavras, reconhecimento do tema, interpretação de textos que conjugam as linguagens verbal e não-verbal, identificação da finalidade do texto, identificação de elementos da narrativa, distinção entre fato e opinião.

Abaixo de 150 pontos

Nível II

Estes alunos apresentam processo mais avançado de leitura, mas ainda não consolidaram as competências básicas. Identificam melhor o tema de textos informativos, interpretam textos em que há equilíbrio das linguagens verbal e não verbal, inferem sentido em textos simples. Entretanto, inferir o sentido de palavras ou expressões e identificar finalidade de textos são desafios, dentre outros, que merecem acompanhamento mais próximo do professor.

Entre 150 e 175 pontos

Nível III

Aqueles que obtiveram escores entre 175 e 200 pontos conseguiram realizar importantes saltos qualitativos, principalmente na inferência de informação implícita e na interpretação de textos. Todavia, ainda apresentam grande dificuldade em textos instrucionais e na identificação de efeitos de sentido decorrente do uso de pontuação. Por isso, não podem ser ainda considerados autônomos; mas, com o apoio do professor, devem atingir níveis mais hábeis de proficiência.

Entre 175 e 200 pontos

Nível IV

Os alunos que estão nas faixas superiores a 200 pontos demonstram que já construíram, ou estão bem avançados no processo de construção de competências de leitura, tais como: localização de informações explícitas em textos instrucionais com complexidade vocabular elevada (como pode ser o caso de parte do material didático); identificação de efeitos de humor em textos do gênero “piada” e de efeitos de sentido decorrentes do uso de pontuação em textos instrucionais.

Acima de 200 pontos

Relatório ProJovem68Matriz de Referência para Avaliação em Matemática

Matriz de Referência de Matemática - Tópicos e Descritores – 4ª série do Ensino FundamentalI – ESPAÇO E FORMA

D1 – Identificar a localização /movimentação de objeto em mapas, croquis e outras representações gráficas.

D2 – Identificar propriedades comuns e diferenças entre poliedros e corpos redondos, relacionando figuras tridimensionais com suas planificações.

D3 – Identificar propriedades comuns e diferenças entre figuras bidimensionais pelo número de lados, pelos tipos de ângulos.

D4 – Identificar quadriláteros observando as posições relativas entre seus lados (paralelos, concorrentes, perpendiculares).

D5 – Reconhecer a conservação ou modificação de medidas dos lados, do perímetro, da área em ampliação e /ou redução de figuras poligonais usando malhas quadriculadas.II – GRANDEZAS E MEDIDAS

D6 – Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de medida convencionais ou não.

D7 – Resolver problemas significativos utilizando unidades de medida padronizadas como km/m/cm/mm, kg/g/mg, l/ml.

D8 – Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.

D9 – Estabelecer relações entre o horário de início e término e /ou o intervalo da duração de um evento ou acontecimento.

D10 – Num problema, estabelecer trocas entre cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro, em função de seus valores.

D11 – Resolver problema envolvendo o cálculo do perímetro de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.

D12 – Resolver problema envolvendo o cálculo ou estimativa de áreas de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.III – NÚMEROS E OPERAÇÕES/ALGÉBRICAS E FUNÇÕES

D13 – Reconhecer e utilizar características do sistema de numeração decimal, tais como agrupamentos e trocas na base 10 e princípio do valor posicional.

D14 – Identificar a localização de números naturais na reta numérica.

D15 – Reconhecer a decomposição de números naturais nas suas diversas ordens.

D16 – Reconhecer a composição e a decomposição de números naturais em sua forma polinomial.

D17 – Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números naturais.

D18 – Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de números naturais.

D19 –Resolver problema com números naturais, envolvendo diferentes significados da adição ou subtração: juntar, alteração de um estado inicial (positiva ou negativa), comparação e mais de uma transformação (positiva ou negativa).

D21 – Identificar diferentes representações de um mesmo número racional.

D22 – Identificar a localização de números racionais representados na forma decimal na reta numérica.

D23 – Resolver problema utilizando a escrita decimal de cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro.

D24 – Identificar fração como representação que pode estar associada a diferentes significados.

D25 – Resolver problema com números racionais expressos na forma decimal envolvendo diferentes significados da adição ou subtração.

D26 – Resolver problema envolvendo noções de porcentagem (25%, 50%, 100%).IV – TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

D27 – Ler informações e dados apresentados em tabelas.

D28 – Ler informações e dados apresentados em gráficos (particularmente em gráficos de colunas).

Relatório ProJovem 69A matriz de Referência para avaliação em Matemática tem como princípio norteador a resolução de problemas relacionados à vida em sociedade do estudante. Isso porque o objetivo do teste de matemática é avaliar a capacidade de o estudante resolver situações-problema que envolve contagem e medida, significado das operações e seleção de procedimentos de cálculo; ler e escrever números utilizando conhecimentos sobre a escrita posicional; comparar e ordenar quantidades que expresse grandezas familiares aos estudantes; interpretar e expressar os resultados da comparação e da ordenação; medir, utilizando procedimentos pessoais, unidades de medidas convencionais ou não e instrumentos disponíveis e conhecidos; localizar a posição de uma pessoa ou um objeto no espaço e identificar características nas formas dos objetos; ler e interpretar tabelas e gráficos.

I – ESPAÇO E FORMA: o conjunto de descritores desse tópico se relaciona com as formas geométricas que estão presentes na natureza e nos objetos construídos pelo homem. Ao estudar esse tema, as crianças têm a oportunidade de relacionar a Matemática ao mundo em que vivem, haja vista que aspectos do pensamento geométrico e espacial fazem parte de suas primeiras experiências. Ressalva-se que o aluno considerado proficiente apresenta a capacidade de estabelecer relações com e entre as pessoas, lugares e objetos no espaço. Assim sendo, os alunos, mediante o estudo do tema, deverão apresentar a capacidade de compreender, descrever e representar, de maneira organizada, as formas e modalidades básicas que lhes permitam orientar-se e situar os objetos no espaço.

II – GRANDEZAS E MEDIDAS: a inclusão desse tema nos currículos é justificado pela relação do cotidiano com a produção de significados de conceitos matemáticos e suas diferentes aplicações e usos culturalmente definidos. Após o seu estudo, os alunos adquirirão habilidades para, no dia a dia, estabelecer comparações entre diferentes medidas, realizar operações e desenvolver a cognição a respeito ao senso de estimativa, de posição, de localização e ainda a noção de quantidades fracionárias.

III – NÚMEROS E OPERAÇÕES/ ALGÉBRICAS E FUNÇÕES: o conjunto de descritores desse terceiro tema demonstra ênfase no trabalho com as operações dadas, preferencialmente, pela resolução de situações-problema. Essa opção traz implícita a convicção de que, ao conduzir o aluno para esses tipos de situações em que, o pensar e o comunicar matemáticos ganham prioridades, ele apresentará uma aprendizagem significativa dos números e cálculos. Ressalva-se no estudo desse tema que o aluno consiga construir sentido de número e que adquira compreensão global e estratégias de manipulação dos números e das operações.

IV – TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO: o último tema tem como objetivo habilitar o aluno, por meio de situações relacionadas ao cotidiano, a observar, estabelecer comparações e possibilitar uma melhor compreensão da articulação entre conceitos e dados organizados em listas e/ou em tabelas. O aluno considerado proficiente, mediante o estudo desse tema, apresentará habilidades para o desenvolvimento de produção de estimativas, de emissão de opiniões pessoais e de tomadas de decisão.

Nos intervalos abaixo, são apresentados os níveis de desempenho e a relação dos perfis dos estudantes com intervalos da Escala.

Níveis de Desempenho Orientação

I Atenção Especial

II Acompanhamento

III Mínimo Satisfatório

IV Suficiente

Relatório ProJovem70Níveis de Desempenho Faixa de proficiência

Nív

el I

Os alunos têm pontuação abaixo de 150 nos testes, e por isso, merecem atenção especial por parte de seus professores. Tais alunos demonstram grandes dificuldades nas competências básicas de resolução de problemas, ou seja, não construíram ou estão ainda em processo de construção das competências básicas de educação matemática.

Abaixo de 150 pontos

Nív

el II

Estes alunos apresentam processo um pouco mais elaborado de resolução de problemas, mas ainda não consolidaram as competências básicas. Nessa faixa, pode-se afirmar que, em termos de habilidades desenvolvidas, eles são capazes apenas de resolver problemas envolvendo adição com números naturais, extrair informações de uma tabela simples ou das colunas mais elevadas de um gráfico.

Entre 150 e 175 pontos

Nív

el II

I

Aqueles que obtiveram escores entre 175 e 200 pontos conseguiram realizar importantes saltos qualitativos, principalmente na identificação de figuras a partir do número de lados; converter minutos em horas exatas; localizar números na reta numerada; resolver problemas elementares envolvendo subtração; multiplicação e divisão e, manipulação de quantias de dinheiro. Contudo, não consolidaram a maioria das competências ligadas ao espaço e à forma, às grandezas e medidas, e mesmo operações. Por isso, não podem ser ainda considerados autônomos, mas com o apoio do professor, devem atingir níveis mais hábeis de proficiência.

Entre 175 e 200 pontos

Nív

el IV

Os alunos que estão na faixa superior a 200 pontos demonstram que já construíram ou estão bem avançados no processo de construção de competências matemáticas. Eles demonstram reconhecer a localização dos objetos em representações gráficas; utilizar medidas não convencionais de comprimento; relacionar horas, dias e semanas; estabelecer trocas entre cédulas e moedas; dentre outras habilidades que franqueiam maior autonomia nas próximas etapas de aprendizagem.

Acima de 200 pontos

4.3 Resultados e escalas de proficiência

Uma das possibilidades de avaliação do ProJovem, sob o ponto de vista de seu êxito pedagógico, é tomar por referência a escala de proficiência do SAEB, que informa e constitui parâmetros acerca das habilidades e competências investigadas para os alunos do Ensino Fundamental na rede regular de ensino no país.

A partir desses parâmetros é possível dizer que a análise comparativa dos resultados auferidos, nos três processos de avaliação diagnóstica, realizados pelos jovens participantes do programa, permite ratificar uma conclusão já apontada no relatório parcial de 2007: os jovens do ProJovem conquistam um patamar que os coloca em igualdade de condições para a continuidade dos estudos (CAED. Relatório parcial de avaliação do ProJovem 2007. p. 4). Se essa continuidade não ocorre, devem ser buscados elementos compreensivos no plano de motivações extra escolares e, portanto, vinculadas a distinções em termos socioeconômicos, que, muitas vezes, restringem as possibilidades de progressão.

Em relação aos resultados de Língua Portuguesa, tem-se a tabela 4.1 comparando as proficiências dos alunos na Avaliação Diagnóstica e o Exame de Certificação Final, além da tabela 4.2, em termos de frequências, nas faixas médias de proficiência, que servem como parâmetro à fixação de perfis de desempenho:

Relatório ProJovem 71Tabela 4.2: Proficiência em Língua Portuguesa na Avaliação Diagnóstica e EFNE

LÍNGUA PORTUGUESA

CAPITAL

PERCENTUAL DE ALUNOS COM PROFICIENCIA

MENOR QUE 200

PERCENTUAL DE ALUNOS COM PROFICIENCIA MAIOR

QUE 225TOTAL DE ALUNOS

DIAGNOSTICA EFNE DIAGNOSTICA EFNEARACAJU 52.7% 29.8% 25.2% 44.5% 1379

BELÉM 46.0% 25.2% 31.7% 54.0% 567

BELO HORIZONTE 38.2% 22.8% 42.4% 56.7% 1089

BOA VISTA 56.3% 29.5% 20.2% 45.2% 332

BRASÍLIA 53.3% 23.2% 21.3% 52.2% 1350

CAMPO GRANDE 29.3% 17.9% 46.3% 62.6% 693

CURITIBA 30.2% 2.7% 54.5% 92.3% 222

FLORIANÓPOLIS 32.6% 25.6% 39.5% 53.5% 43

FORTALEZA 62.3% 33.2% 18.5% 41.5% 3473

JOÃO PESSOA 61.1% 39.2% 17.7% 33.8% 767

MACAPÁ 53.2% 28.6% 27.3% 46.4% 220

MACEIÓ 55.6% 28.4% 22.8% 47.5% 2116

MANAUS 51.5% 28.3% 23.8% 45.3% 1158

NATAL 61.7% 28.8% 19.1% 47.2% 1515

PALMAS 68.5% 38.7% 14.3% 31.0% 168

PORTO ALEGRE 36.4% 17.6% 42.9% 61.8% 629

PORTO VELHO 55.6% 27.6% 20.7% 50.0% 540

RECIFE 54.5% 27.4% 24.4% 49.5% 3716

RIO BRANCO 65.0% 45.0% 30.0% 25.0% 20

RIO DE JANEIRO 48.5% 24.4% 28.1% 57.1% 2254

SALVADOR 62.0% 15.8% 19.1% 69.1% 2404

SÃO LUÍS 67.2% 40.3% 15.5% 39.5% 1441

SÃO PAULO 45.4% 23.2% 34.7% 53.9% 659

TERESINA 57.4% 29.6% 20.8% 49.1% 1801

VITÓRIA 48.5% 20.0% 28.5% 56.4% 165

Tabela 4.3: Frequências obtidas nas Faixas de Desempenho para Língua Portuguesa

Diagnóstica Intermediária Exame finalAté 150 17,64 11,58 3,45

150 – 175 15,05 15,06 7,96

175 – 200 20,85 19,81 15,76

200 – 225 21,53 20,41 22,15

225 ou mais 24,94 33,14 50,67

Fonte: Relatório das avaliações Diagnósticas 1, 2 e Exame final externo. CAED. 2008.

O que se pode depreender, a partir dos dados, é que, em primeiro lugar, os resultados se sustentam e denotam progressividade sob o ponto de vista do desenvolvimento de conceitos por parte do conjunto dos participantes. Apesar do baixo número de alunos equiparáveis para o cálculo de proficiências da tabela 4.1, o avanço obtido ao longo do ProJovem é claro.

Relatório ProJovem72A proporção de estudantes que se situam num plano rudimentar sob o ponto de vista das práticas de leitura decresce de modo sistêmico ao longo do processo, chegando a um percentual bastante baixo no Exame Final Externo.

O mesmo vale para a segunda faixa de proficiência, isto é, aqueles alunos que se situam entre 150 e 175 pontos e que revelam ser um leitor iniciante, incapaz de demonstrar a consolidação de competências básicas de leitura. nesse caso, o decréscimo também é sensível ao longo do processo e apenas cerca de 8% do total de alunos chegam ao final do ProJovem nessa faixa. As duas faixas seguintes, que caracterizam um leitor ativo, capaz de realizar inferências a partir dos textos que lhe são apresentados, já apresentam uma tendência de crescimento e transmutação pequena ao longo do processo, considerando-se que a progressão, nesse caso, elevaria os jovens a uma condição de leitor interativo e autônomo. Ou seja, é a faixa na qual se observa menor incidência de transformação no perfil do estudante, a partir dos efeitos gerados pela escolarização. De qualquer modo, os percentuais médios obtidos até esse patamar já servem para colocar a maioria dos jovens participantes do programa em situação de paridade em face do SAEB.

A última faixa, acima de 225 pontos, revela os estudantes alocados em uma condição de leitores interativos, que já construíram competências complexas no processo de letramento. Nesse caso, não só merece destaque o fato de que mais da metade dos participantes do ProJovem se situa nesse estrato, como também o aspecto de progressão sustentada e significativa nesse nível ao longo das três avaliações diagnósticas. Nesse sentido, é possível inferir, a partir dos dados, que o jovem se transforma sob o ponto de vista da relação do saber e das práticas de leitura ao longo do processo.

Tendência semelhante à relatada em relação à Língua Portuguesa verifica-se em relação à Matemática, embora, para esse conteúdo disciplinar, a caracterização descritiva das faixas de proficiência se dê mais em relação ao desenvolvimento de habilidades específicas do que quanto a competências globais que caracterizem um perfil de aluno no tocante ao desenvolvimento do pensamento lógico-matemático. A Tabela 4.3, a seguir, evidencia as tendências de agrupamento verificadas em relação às faixas de proficiência; e a Tabela 4.4, as melhorias de proficiência em matemáticas pelos alunos do ProJovem.

Tabela 4.4: Frequências obtidas nas Faixas de Desempenho para Matemática

Diagnóstica Intermediária Exame finalAté 150 19,34 15,21 5,27

150 – 175 17,91 18,21 14,79

175 – 200 21,01 20,10 21,18

200 – 225 18,31 17,92 20,61

225 ou mais 23,43 28,57 38,16

Fonte: Relatório das avaliações Diagnósticas 1, 2 e Exame final externo. CAED. 2008.

Relatório ProJovem 73Tabela 4.5: Proficiência em Matemática na Avaliação Diagnóstica e EFNE

MATEMÁTICA

CAPITAL

PERCENTUAL DE ALUNOS COM PROFICIENCIA

MENOR QUE 200

PERCENTUAL DE ALUNOS COM PROFICIENCIA MAIOR

QUE 225TOTAL DE ALUNOS

DIAGNOSTICA EFNE DIAGNOSTICA EFNEARACAJU 53.5% 44.2% 26.2% 34.9% 1364

BELÉM 55.6% 39.5% 27.4% 39.5% 552

BELO HORIZONTE 43.1% 37.9% 36.9% 41.6% 1103

BOA VISTA 64.2% 47.9% 19.7% 31.8% 330

BRASÍLIA 52.9% 27.5% 26.9% 52.8% 1136

CAMPO GRANDE 38.4% 31.8% 40.8% 49.4% 692

CURITIBA 34.9% 11.5% 48.3% 75.9% 261

FLORIANÓPOLIS 34.1% 15.9% 50.0% 65.9% 44

FORTALEZA 69.3% 45.0% 16.7% 33.7% 3351

JOÃO PESSOA 60.4% 44.4% 21.2% 37.6% 753

MACAPÁ 56.3% 34.3% 22.5% 45.5% 213

MACEIÓ 57.8% 51.1% 24.0% 31.7% 2036

MANAUS 57.8% 34.2% 23.1% 44.2% 1208

NATAL 66.5% 40.8% 17.9% 36.4% 1509

PALMAS 75.6% 51.8% 9.5% 26.8% 168

PORTO ALEGRE 40.9% 29.8% 35.0% 53.5% 660

PORTO VELHO 61.3% 39.6% 20.8% 37.0% 538

RECIFE 59.8% 41.8% 22.8% 37.5% 4170

RIO BRANCO 63.6% 68.2% 27.3% 18.2% 22

RIO DE JANEIRO 51.9% 35.1% 29.8% 44.0% 2222

SALVADOR 64.8% 48.5% 17.7% 30.5% 2370

SÃO LUIS 72.2% 54.0% 13.4% 26.8% 1445

SÃO PAULO 48.2% 25.8% 33.0% 51.5% 699

TERESINA 67.0% 53.7% 17.0% 27.1% 1756

VITÓRIA 57.8% 38.6% 21.7% 39.8% 166

Os elementos mais significativos, no caso desse campo de saber, ficam por conta da redução verificada na primeira faixa e na expansão progressiva, ainda que em menor proporção do que aquela observada em relação à Língua Portuguesa, na última faixa, referente ao estrato mais alto em termos de desempenho e à alocação do maior contingente de estudantes.

A seguir, são apresentadas as médias de proficiência nas avaliações que compõem o ProJovem, em Língua Portuguesa e Matemática, segundo as variáveis: data de entrada, estado, última série frequentada, sexo, cor, estado civil, se possuem filhos ou não e idade. Cabe ressaltar que não foi possível calcular a proficiência para todos os alunos que participaram do programa devido a dificuldades de equiparação entre as avaliações diagnóstica e de certificação final. Consequentemente, nem todos os municípios terão médias para seus escores de proficiência para o exame de certificação final.

Relatório ProJovem744.3.1 Língua Portuguesa

Percebe-se que a média de proficiência dos alunos na avaliação diagnóstica, segundo a data de entrada, mantém-se regular ao longo dos meses, com destaque para o intervalo de fevereiro a julho de 2006, período correspondente à maior média verificada.

DiagnósticaEntradas Média das Notas

Jul.05 a nov.05 198,2646

Nov.05 a fev.06 193,2618

Fev.06 a jul.06 203,3081

jul.06 a set.06 186,8735

out.06 a dez.07 185,8516

Jan.07 a jun.07 197,0280

Jun.07 a out.07 191,7012

Total 193,2448

Os municípios que obtiveram melhores resultados na avaliação diagnóstica foram Novo Hamburgo (223,78) e Campo Grande (218,53). A menor média foi verificada foi no município de Gravataí.

Média do Escore na Avaliação DiagnósticaMunicípio Média Município Média

Ananindeua 206.92 Magé 192.28

Aparecida de Goiânia 212.15 Manaus 196.26

Aracaju 196.21 Mogi das Cruzes 211.12

Belém 201.15 Natal 183.25

Belford Roxo 191.09 Niterói 199.32

Belo Horizonte 211.77 Nova Iguaçu 202.07

Boa Vista 188.84 Novo Hamburgo 223.78

Distrito Federal 194.12 Olinda 195.7

Campo Grande 218.54 Osasco 213.94

Canoas 208.79 Palmas 180.75

Carapicuíba 193.97 Paulista 192.85

Caucaia 190.67 Porto Alegre 215.64

Contagem 192.56 Porto Velho 192.65

Cuiabá 197.14 Recife 194.06

Curitiba 217.94 Rio Branco 201.25

Diadema 205.28 Rio de Janeiro 198.31

Duque de Caxias 194.17 Salvador 185.21

Embu das Artes 197.42 Santo André 199.7

Florianópolis 211.39 São Gonçalo 200

Fortaleza 185.11 São João de Meriti 209.66

Goiânia 210.49 São Luís 179.47

Gravataí 142 São Paulo 205.9

Guarulhos 197.41 Serra 213.65

Itaquaquecetuba 196.57 Suzano 192.42

Relatório ProJovem 75Jaboatão dos Guararapes

187.19 Teresina 188.73

João Pessoa 191 Viamão 214.36

Macapá 196.61 Vila Velha 215.32

Maceió 192.72 Vitória 201.32

As mulheres obtiveram os melhores resultados na avaliação diagnóstica, com uma diferença de quase seis pontos na escala de proficiência.

DiagnósticaSexo Média de notas

Masculino 189,8200

Feminino 195,9620

Total 193,2910

Na variável cor, verifica-se que os jovens declarados indígenas (175,60) obtiveram as menores médias. Os maiores resultados ficaram com os autodeclarados brancos (198,62).

DiagnósticaCor Média das notas

Parda 191,4668

Branca 198,6281

Negra 190,0053

Amarela 193,6652

Indígena 175,6000

Total 192,9259

De acordo com o estado civil, observa-se que a categoria “outros” obteve a melhor média na avaliação diagnóstica; os registrados “viúvos” ficaram com as notas mais baixas.

DiagnósticaEstado Civil Média das notas

Solteiro 191,9480

Casado 198,6467

Divorciado 199,3455

Viúvo 186,8796

Outros 206,0625

Total 193,0805

Relatório ProJovem76No que concerne à última série frequentada, as maiores médias foram observadas nos que concluíram, por último, a sétima e oitava séries do Ensino Fundamental. Destaque, também, para aqueles que concluíram o 1º ano do Ciclo Avançado, os quais obtiveram média considerável.

DiagnósticaÚltima série frequentada Média das notas

Quarta Série 186,2261

Quinta Série 192,5909

Sexta Série 198,9905

Sétima Série 207,0947

Oitava Série 204,2052

1º Ano/Ciclo Intermediário 181,0770

2º Ano/Ciclo Intermediário 189,4603

3º Ano/Ciclo Intermediário 196,3382

1º Ano/Ciclo Avançado 201,5244

Total 192,4318

No quesito “possui filhos”, a maior média verificada foi para os jovens que possuem filhos. Pode-se inferir, com isso, que, mesmo encontrando dificuldades para cuidar dos filhos, os jovens encaram o ProJovem como caminho de mudança.

DiagnósticaPossui filhos Média das notas

Sim 197,3784

Não 189,0653

Total 192,8506

De acordo com a idade, as notas são maiores para os que possuem idade mais avançada. Os que tinham 25 anos, portanto, obtiveram as maiores médias na avaliação diagnóstica.

Verifica-se que as médias decrescem juntamente com a idade. A exceção acontece com os jovens de 16 anos, que obtiveram média maior do que os de 17 anos.

DiagnósticaIdade em 2005 Média das notas

25 ou mais 200,7355

24 197,1755

23 196,3243

22 195,6427

21 194,6293

20 192,2713

19 191,2991

18 190,9051

17 188,7425

16 ou menos 191,9349

Total 193,2370

Relatório ProJovem 77Percebe-se que a média de proficiência dos alunos nas avaliações intermediárias, segundo a data de entrada, assim como na diagnóstica, mantém-se regular ao longo dos meses, com destaque para o intervalo de fevereiro de 2006 a julho de 2006, maior média verificada.

IntermediáriaEntradas Média das Notas

Jul05 a nov05 211,1632

Nov05 a fev06 207,5172

Fev06 a jul06 214,5120

Jul06 a set06 207,8073

Out06 a dez06 212,3676

Jan07 a jun07 201,1085

Jun07 a out07 198,2421

Total 205,0210

As mulheres também obtiveram os melhores resultados nas avaliações intermediárias, com uma diferença de quase quatro pontos na escala de proficiência.

Intermediária Sexo Média de notas

Masculino 202,7269

Feminino 206,7562

Total 205,0220

Na variável cor, verifica-se que os jovens declarados de cor amarela obtiveram as menores médias (204,58). Os maiores resultados ficaram com os autodeclarados brancos (211,68).

Intermediária Cor Média das notas

Parda 206,2242

Branca 211,6869

Negra 205,5301

Amarela 204,5830

Total 207,4889

Na categoria estado civil, as maiores médias ficaram com os divorciados (213,38); os piores resultados são encontrados na faixa “outros” (188,18).

Intermediária Estado Civil Média das notas

Solteiro 205,4098

Casado 212,0423

Divorciado 213,3861

Viúvo 201,3612

Outros 188,1866

Total 206,4997

Relatório ProJovem78Os que concluíram a oitava série por último, obtiveram a maior média (223,98), seguidos dos que concluíram a sétima (214,25). Destaque, novamente, para os que concluíram o 1º ano do ciclo avançado, com média de 210,58 nas avaliações intermediárias.

Intermediária

Última série frequentada Média das notas

Quarta Série 204,0327

Quinta Série 209,5861

Sexta Série 208,0116

Sétima Série 214,2543

Oitava Série 223,9857

1º Ano/Ciclo Intermediário 196,0564

2º Ano/Ciclo Intermediário 198,2147

3º Ano/Ciclo Intermediário 207,6452

1º Ano/Ciclo Avançado 210,5857

Total 204,0101

Mais uma vez, no quesito “possui filhos”, a maior média verificada foi para os jovens que possuem filhos. O fato de terem filhos, portanto, não impede que os jovens se dediquem aos estudos.

Intermediária Possui filhos Média das notas

Sim 210,8715

Não 203,9791

Total 207,0943

As médias no Exame Final Nacional Externo mostram que os jovens que frequentaram o Programa desde o início são aqueles que obtiveram melhores resultados. Percebe-se, então, que no intervalo de fevereiro a julho de 2006, encontram-se os jovens que obtiveram as maiores médias que, no caso, foram de 240,37.

EFNEEntradas Média de Notas

jul05 a nov05 226,3474

nov05 a fev06 230,6146

fev06 a jul06 240,3485

jul06 a set06 218,6595

ou06 a dez06 224,9238

jan07 a jun07 207,0071

jun07 a out07 201,5971

Total 226,9984

Relatório ProJovem 79O município que obteve o melhor resultado no EFNE foi Curitiba (276,02), seguido por Goiânia (267,02). A menor média foi verificada em Paulista (178,74).

Média do Escore no Exame de Certificação FinalMunicípio Média Município Média

Ananindeua 214.56 Magé -

Aparecida de Goiânia - Manaus 222.92

Aracaju 222.3 Mogi das Cruzes 238.01

Belém 228.4 Natal 222.64

Belford Roxo 231.04 Niterói 238.33

Belo Horizonte 233.57 Nova Iguaçu -

Boa Vista 219.87 Novo Hamburgo -

Distrito Federal 229.88 Olinda -

Campo Grande 237.96 Osasco -

Canoas 236.33 Palmas 208.93

Carapicuíba - Paulista 178.74

Caucaia 183.69 Porto Alegre 238.53

Contagem 231.16 Porto Velho 222.99

Cuiabá 220.25 Recife 224.54

Curitiba 276.02 Rio Branco 205.88

Diadema 233.84 Rio de Janeiro 235.45

Duque de Caxias 214.49 Salvador 245.27

Embu das Artes 228.92 Santo André -

Florianópolis 232.43 São Gonçalo -

Fortaleza 217.92 São João de Meriti -

Goiânia 267.39 São Luis 211.18

Gravataí - São Paulo 231.15

Guarulhos 225.39 Serra -

Itaquaquecetuba 227.05 Suzano -

Jaboatão dos Guararapes 214.42 Teresina 223.19

João Pessoa 211.71 Viamão -

Macapá 220.76 Vila Velha -

Maceió 223.56 Vitória 229.18

As mulheres, mais uma vez, conquistaram os melhores resultados (228,46), superando a média dos homens (224.85).

EFNESexo Média de notas

Masculino 224,8653

Feminino 228,4631

Total 226,9885

Relatório ProJovem80As maiores médias no EFNE, segundo a categoria cor, foram dos autodeclarados brancos (229,32) e dos autodeclarados negros (229,25), com uma diferença ínfima entre os resultados.

EFNECor Média das notas

Parda 225,5476

Branca 229,3241

Negra 229,2532

Amarela 227,5482

Indígena 209,5542

Total 227,1945

A variante “estado civil” manteve os resultados balanceados, mas os divorciados são os que atingiram as maiores médias (232,18); os viúvos (220,57), as notas mais baixas.

EFNEEstado Civil Média das notas

Solteiro 226,4313

Casado 230,0517

Divorciado 232,1835

Viúvo 220,5786

Outros 231,5759

Total 227,0758

Os resultados das notas do EFNE apontam que os jovens que possuem filhos são os que têm melhores médias, assim como na diagnóstica e nas intermediárias.

EFNE

Possui filhos Média das notas

Sim 229,4213

Não 224,8318

Total 226,9601

A média das notas no Exame aumenta de acordo com a idade; ou seja, quanto maior a idade, melhor o resultado verificado. A exceção acontece com os jovens de 22 anos, que obtiveram uma pequena diferença que os favoreceu em relação aos jovens de 23 anos.

EFNE

Idade em 2005 Média das notas

25 ou mais 231,3883

24 230,6982

23 229,0375

22 229,1771

21 226,8217

20 226,6696

19 225,8858

18 225,0489

17 219,3271

16 ou menos 216,0171

Total 226,9864

Relatório ProJovem 81A proficiência agregada, como visto, mede o conhecimento adquirido pelo jovem durante o Programa, tendo em vista os resultados obtidos em todas as avaliações do ProJovem. Como percebido, os jovens cuja entrada foi entre fevereiro e julho de 2006 obtiveram uma maior proficiência agregada, o que demonstra o diferencial do Programa para aqueles que fizeram parte da primeira grande entrada.

Proficiência agregadaEntradas Média das Notas

jul05 a nov05 26,1283

nov05 a fev06 35,2225

fev06 a jul06 38,7838

jul06 a set06 31,9920

ou06 a dez06 37,6840

jan07 a jun07 24,5237

jun07 a out07 39,1156

Total 33,7865

O município que mais agregou foi Salvador (60,06), com uma diferença significante do município Paulista, cujo resultado final foi pior do que o inicial, apresentando uma queda de 14,11 entre as duas médias.

Proficiência Agregada entre EFNE e a Avaliação DiagnósticaMunicípio Média Município Média

Ananindeua 7.64 Magé -

Aparecida de Goiânia - Manaus 26.66

Aracaju 26.09 Mogi das Cruzes 26.89

Belém 27.25 Natal 39.39

Belford Roxo 39.95 Niterói 39.01

Belo Horizonte 21.8 Nova Iguaçu -

Boa Vista 31.03 Novo Hamburgo -

Distrito Federal 35.76 Olinda -

Campo Grande 19.42 Osasco -

Canoas 27.54 Palmas 28.18

Carapicuíba - Paulista -14.11

Caucaia -6.98 Porto Alegre 22.89

Contagem 38.6 Porto Velho 30.34

Cuiabá 23.11 Recife 30.48

Curitiba 58.08 Rio Branco 4.63

Diadema 28.56 Rio de Janeiro 37.14

Duque de Caxias 20.32 Salvador 60.06

Embu das Artes 31.5 Santo André -

Florianópolis 21.04 São Gonçalo -

Fortaleza 32.81 São João de Meriti -

Goiânia 56.9 São Luís 31.71

Gravataí - São Paulo 25.25

Guarulhos 27.98 Serra -

Itaquaquecetuba 30.48 Suzano -

Jaboatão dos Guararapes 27.23 Teresina 34.46

João Pessoa 20.71 Viamão -

Macapá 24.15 Vila Velha -

Maceió 30.84 Vitória 27.86

Relatório ProJovem82Os homens foram os que mais agregaram proficiência, com uma pequena diferença em relação às mulheres.

Proficiência agregada

Sexo Média de notas

Masculino 34,6238

Feminino 33,2017

Total 33,7908

Na categoria cor, os que obtiveram maior proficiência agregada foram os de cor negra, seguido dos de cor amarela.

Proficiência agregada

Cor Média das notas

Parda 33,2831

Branca 32,0422

Negra 38,8012

Amarela 33,6790

Indígena 22,0542

Total 34,0604

Quanto ao estado civil, a classe “outros” (35,00) foi a que mais agregou proficiência ao longo do Programa, seguido dos solteiros (34,29) e tendo os casados como os que menos agregaram (31,32).

Proficiência agregadaEstado Civil Média das notas

Solteiro 34,2961

Casado 31,3271

Divorciado 32,6368

Viúvo 33,3964

Outros 35,0035

Total 33,7942

Dentro da opção ‘ter filhos ou não’, os que não possuíam conquistaram maior proficiência agregada.

Proficiência agregada

Possui filhos Média das notas

Sim 31,8923

Não 35,6467

Total 33,9349

4.3.2 Matemática

Dentro das avaliações que incluem a disciplina de Matemática, percebe-se que a média de proficiência dos alunos na avaliação diagnóstica, segundo a data de entrada, apresentou uma diferença de, aproximadamente, doze pontos na escala de proficiência entre os períodos de entrada. A maior média, contudo, foi observada no período entre fevereiro e julho de 2006.

Relatório ProJovem 83Diagnóstica

Entradas Média das notasjul05 a nov05 196,9086

nov05 a fev06 191,3176

fev06 a jul06 200,2882

jul06 a set06 189,5364

out06 a dez06 187,5540

jan07 a jun07 194,9046

jun07 a out07 184,7148

Total 191,6209

Entre os municípios, a média das notas apontou que o Novo Hamburgo foi o que obteve os melhores resultados (235,81), já o município de Gravataí obteve a menor média (154,00).

Média do Escore na Avaliação DiagnósticaMunicípio Média Município Média

Ananindeua 198.12 Magé 194.04

Aparecida de Goiânia 209.85 Manaus 192.86

Aracaju 198.37 Mogi das Cruzes 202.16

Belém 197.11 Natal 181.13

Belford Roxo 196.01 Niterói 195.43

Belo Horizonte 208.78 Nova Iguaçu 197.34

Boa Vista 184.84 Novo Hamburgo 235.81

Distrito Federal 195.78 Olinda 189.55

Campo Grande 214.75 Osasco 203.52

Canoas 210.7 Palmas 176.29

Carapicuíba 194.14 Paulista 190.9

Caucaia 180.93 Porto Alegre 211.98

Contagem 196.24 Porto Velho 190.78

Cuiabá 196.59 Recife 191.59

Curitiba 217.76 Rio Branco 195.81

Diadema 204.86 Rio de Janeiro 198.21

Duque de Caxias 192.55 Salvador 186.32

Embu das Artes 210.11 Santo André 203.38

Florianópolis 220.69 São Gonçalo 199

Fortaleza 180.83 São João de Meriti 203.12

Goiânia 208.1 São Luís 176.95

Gravataí 154 São Paulo 206.73

Guarulhos 196.36 Serra 215.9

Itaquaquecetuba 196.47 Suzano 199.8

Jaboatão dos Guararapes 187.11 Teresina 183.85

João Pessoa 189.66 Viamão 209.51

Macapá 190.41 Vila Velha 218.27

Maceió 193.76 Vitória 195.45

Relatório ProJovem84Os jovens do sexo masculino obtiveram a maior média na avaliação diagnóstica; tiveram uma diferença de oito pontos em relação às mulheres.

DiagnósticaSexo Média das notas

Masculino 196,5044

Feminino 187,7213

Total 191,6142

Segundo a categoria “cor”, os jovens autodeclarados brancos obtiveram a maior média na avaliação diagnóstica de matemática, seguidos dos jovens de cor amarela.

DiagnósticaCor Média das notas

Parda 189,9824

Branca 197,9215

Negra 188,7487

Amarela 192,1062

Indígena 178,2000

Total 191,6716

A média das notas, na categoria “estado civil”, manteve-se regular na diagnóstica, registrando o item “outros” com a maior média, seguido dos divorciados e dos casados.

DiagnósticaEstado civil Média das notas

Solteiro 190,9810

Casado 195,2688

Divorciado 195,5586

Viúvo 187,4289

Outros 195,8182

Total 191,7042

Mais uma vez, os jovens que possuem filhos são os de maior média, com uma diferença de 3 pontos que os separam dos que não têm filhos.

DiagnósticaPossui filhos Média das notas

Sim 193,2599

Não 190,1461

Total 191,5685

Relatório ProJovem 85Os melhores resultados nas avaliações intermediárias de Matemática, de acordo com o período de entrada, foram dos jovens cuja entrada se encontra entre julho e novembro de 2005, seguidos dos que entraram no intervalo entre fevereiro e julho de 2006.

IntermediáriaEntradas Média das notas

jul05 a nov05 205,3812

nov05 a fev06 201,7527

fev06 a jul06 202,2780

jul06 a set06 194,2025

out06 a dez06 199,8727

jan07 a jun07 197,2114

jun07 a out07 196,0129

Total 198,1433

Segundo a variante “sexo”, verifica-se que os homens foram o que tiveram melhor desempenho nas intermediárias de matemática, mantendo uma diferença de quase seis pontos em relação às mulheres.

IntermediáriaSexo Média das notas

Masculino 201,2122

Feminino 195,8515

Total 198,1423

Os jovens autodeclarados brancos foram os que obtiveram a maior média de notas segundo a variante cor, seguidos dos de cor amarela. Os autodeclarados negros obtiveram a média mais baixa nessa variante.

IntermediáriaCor Média das notas

Parda 197,7487

Branca 204,4574

Negra 196,6389

Amarela 199,1569

Total 199,4342

A categoria “estado civil” registrou uma diferença de aproximadamente treze pontos entre a maior e a menor média de notas. Os divorciados, contudo, foram os de maior média, ao passo que o item “outros” obteve a menor média.

IntermediáriaEstado civil Média das notas

Solteiro 198,1060

Casado 202,5521

Divorciado 204,1196

Viúvo 195,1786

Outros 191,6875

Total 198,8463

Relatório ProJovem86Em relação à variável “possui filhos”, nota-se que os jovens que possuem filhos são os que obtiveram maior média nas avaliações, mantendo uma diferença de aproximadamente quatro pontos que os separam dos que não têm filhos.

IntermediáriaPossui filhos Média das notas

Sim 201,4310

Não 197,0300

Total 199,0342

No Exame Final Nacional Externo, verificou-se que os jovens cuja entrada esteve situada entre fevereiro e julho de 2006 obtiveram as melhores médias na avaliação. O período entre janeiro e junho de 2007 registrou as menores médias dos jovens.

EFNEEntradas Média das notas

jul05 a nov05 214,7237

nov05 a fev06 210,9732

fev06 a jul06 223,2879

jul06 a set06 218,3289

out06 a dez06 218,4890

jan07 a jun07 185,1562

jun07 a out07 188,0676

Total 214,5509

Os melhores resultados no EFNE foram verificados em Curitiba (261,88), seguido da capital Florianópolis (251,21). As menores médias foram verificadas nos municípios de Caucaia e Rio Branco, respectivamente, 183,07 e 188,10.

Média do Escore no Exame de Certificação FinalMunicípio Média Município Média

Ananindeua 196.11 Magé -

Aparecida de Goiânia - Manaus 220.77

Aracaju 211.73 Mogi das Cruzes 229.02

Belém 215.97 Natal 210.99

Belford Roxo 228.56 Niterói 226.78

Belo Horizonte 216.58 Nova Iguaçu -

Boa Vista 205.55 Novo Hamburgo -

Distrito Federal 229.53 Olinda -

Campo Grande 225.09 Osasco -

Canoas 237.3 Palmas 204.12

Carapicuíba - Paulista 199.23

Caucaia 183.07 Porto Alegre 229.62

Contagem 222.21 Porto Velho 213.31

Cuiabá 207.98 Recife 214.52

Curitiba 261.88 Rio Branco 188.1

Diadema 221.51 Rio de Janeiro 220.4

Relatório ProJovem 87Duque de Caxias 222.42 Salvador 205

Embu das Artes 224.89 Santo André -

Florianópolis 251.21 São Gonçalo -

Fortaleza 210.49 São João de Meriti -

Goiânia 231.18 São Luís 201.48

Gravataí - São Paulo 226.27

Guarulhos 224.09 Serra -

Itaquaquecetuba 221.22 Suzano -

Jaboatão dos Guararapes 200.75 Teresina 202.88

João Pessoa 211.15 Viamão -

Macapá 218.31 Vila Velha -

Maceió 205.98 Vitória 214.78

Os jovens do sexo masculino são os que obtiveram melhor desempenho no Exame Final, mantendo uma diferença de quase sete pontos em relação às mulheres.

EFNESexo Média das notas

Masculino 218,7300

Feminino 211,6376

Total 214,5446

A variável cor registrou as maiores médias para os de cor branca, seguidos dos de cor amarela.

EFNECor Média das notas

Parda 213,5539

Branca 220,0191

Negra 210,5800

Amarela 215,8054

Indígena 176,6840

Total 214,5230

As maiores médias no EFNE, na variante “estado civil”, foram verificadas no item “outros”, que mantém uma diferença de mais ou menos cinco pontos que o separam dos divorciados, segunda melhor média. Os viúvos tiveram o desempenho mais baixo nessa avaliação.

EFNEEstado civil Média das notas

Solteiro 213,7762

Casado 217,9071

Divorciado 218,6442

Viúvo 209,9569

Outros 224,8662

Total 214,5015

Relatório ProJovem88Novamente, os jovens que possuem filhos são os que obtiveram melhor desempenho no EFNE, com uma pequena diferença em relação aos jovens que não possuem filhos.

EFNEPossui filhos Média das notas

Sim 215,7722

Não 213,2301

Total 214,4089

A medida da proficiência agregada nas avaliações de Matemática, de acordo com a entrada do jovem no Programa, registrou que os que entraram no período entre outubro e dezembro de 2006 foram os que mais agregaram proficiência. O período entre julho e novembro de 2005 registrou a menor proficiência agregada.

Proficiência AgregadaEntradas Média das notas

jul05 a nov05 16,4945

nov05 a fev06 18,5469

fev06 a jul 06 27,3150

jul06 a set06 29,2869

out06 a dez06 29,7272

jan07 a jun07 18,0831

jun07 a out07 24,6101

Total 22,1652

O Distrito Federal registrou o segundo maior índice de proficiência agregada (33,75), atrás apenas de Curitiba (44,12). O município de Rio Branco obteve uma proficiência agregada, em Matemática, de -7,71; apresentando juntamente com Ananindeua (-2,01) uma proficiência negativa.

Escore de Proficiência Agregada entre EFNE e Avaliação Diagnóstica Município Média Município Média

Ananindeua -2.01 Magé -

Aparecida de Goiânia - Manaus 27.91

Aracaju 13.36 Mogi das Cruzes 26.86

Belém 18.86 Natal 29.86

Belford Roxo 32.55 Niterói 31.35

Belo Horizonte 7.8 Nova Iguaçu -

Boa Vista 20.71 Novo Hamburgo -

Brasília 33.75 Olinda -

Campo Grande 10.34 Osasco -

Canoas 26.6 Palmas 27.83

Carapicuíba - Paulista 8.33

Caucaia 2.14 Porto Alegre 17.64

Contagem 25.97 Porto Velho 22.53

Cuiabá 11.39 Recife 22.93

Curitiba 44.12 Rio Branco -7.71

Diadema 16.65 Rio de Janeiro 22.19

Duque de Caxias 29.87 Salvador 18.68

Relatório ProJovem 89Embu das Artes 14.78 Santo André -

Florianópolis 30.52 São Gonçalo -

Fortaleza 29.66 São João de Meriti -

Goiânia 23.08 São Luís 24.53

Gravataí - São Paulo 19.54

Guarulhos 27.73 Serra -

Itaquaquecetuba 24.75 Suzano -

Jaboatão dos Guararapes 13.64 Teresina 19.03

João Pessoa 21.49 Viamão -

Macapá 27.9 Vila Velha -

Maceió 12.22 Vitória 19.33

As jovens, do sexo feminino agregaram mais proficiência em Matemática do que os homens, mantendo uma diferença de mais ou menos três pontos que as separam dos jovens do sexo masculino.

Proficiência AgregadaSexo Média das notas

Masculino 20,4024

Feminino 23,4141

Total 22,1698

A proficiência agregada, segundo a variável “cor”, foi maior nos jovens autodeclarados brancos, seguidos dos jovens de cor parda. Os indígenas tiveram proficiência agregada negativa.

Proficiência AgregadaCor Média das notas

Parda 22,5925

Branca 22,7700

Negra 20,9315

Amarela 20,8046

Indígena -14,3160

Total 22,2854

O item “outros”, dentro da variável “estado civil”, obteve a maior proficiência agregada, seguido de perto pelos viúvos. Os divorciados foram os que menos agregaram.

Proficiência AgregadaEstado civil Média das notas

Solteiro 22,1546

Casado 22,0925

Divorciado 16,6458

Viúvo 35,0581

Outros 35,2481

Total 22,1142

Relatório ProJovem90Os jovens que não possuem filhos, contudo, agregaram mais proficiência do que os jovens que possuem filhos.

Proficiência AgregadaPossui filhos Média das notas

Sim 21,7982

Não 22,6480

Total 22,2596

4.4 Contribuições do ProJovem para a Vida dos Jovens

Além de atuar sobre a defasagem idade-série de seu público-alvo e oferecer a oportunidade de obtenção do certificado de Ensino Fundamental, o ProJovem almeja combater a condição de exclusão social de seus alunos, oferecendo não só uma educação de qualidade, mas também atuando sobre sua capacitação para o mercado de trabalho. Além disso, educa-os em relação aos seus direitos e obrigações cívicas. O programa atua, portanto, em três grandes áreas: Educação, Trabalho e Cidadania. Até então, foram apresentados os avanços obtidos na área da educação. Será visto agora como, entre 2005 e 2008, as contribuições do ProJovem na vida de seus jovens para as outras duas grandes áreas.

4.4.1 Relação do Jovem com o Mundo do Trabalho

Diante do forte estímulo à retomada dos estudos, o ganho mais significativo do aluno do programa é o acesso a níveis mais altos de ensino. Conforme o gráfico 1.14, as perspectivas profissionais dos jovens de ambas as amostras – iniciantes e concluintes – são, em sua grande maioria, de “estudar e ter um diploma” (76% e 71%, respectivamente). É importante observar que ocorre uma redução de cerca de cinco pontos percentuais dos iniciantes para os concluintes. Essa redução, apesar de pequena, também é verificada para aqueles que reportaram não ter nenhum projeto profissional para os próximos meses. Isso evidencia uma maior perspectiva dos jovens com relação a suas futuras atividades profissionais. Em contrapartida, todos os demais projetos dos concluintes relativos ao mercado de trabalho tiveram aumento em comparação aos iniciantes. Destaca-se a busca pelo trabalho formal, com registro em carteira, bem como a procura por qualquer tipo de emprego ou trabalho. Vale ressaltar que, nesse último caso, o acréscimo foi de cerca de 7 pontos percentuais, evidenciando uma maior valorização da busca de emprego, em geral no período de término do programa. Também houve um aumento nas manifestações favoráveis à iniciativa de montar um negócio próprio ou trabalhar por conta própria. De modo geral, esses resultados parecem estar associados a uma mudança mais abrangente em termos de perspectivas futuras, no sentido de maior valorização do vínculo empregatício e consciência dos direitos trabalhistas.

Relatório ProJovem 91Gráfico 1.14 - Frequência de respostas para principais projetos profissionais

para os próximos meses

76,071,0

25,729,9

18,726,1

12,115,9

9,313,5

5,6 7,2 2,8 3,8 4,2 2,1 4,1 5,1

Estud

ar e t

er um

diplom

a

Proc

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go/tra

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Entra

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opera

tiva

Nenh

um

Outro

s

Iniciantes Concluintes

Fonte: Dados do S1 e S3

Outros impactos positivos também podem ser percebidos nas mudanças de perspectivas e estratégias em relação à inserção no mercado de trabalho (gráfico 1.15). Cerca de 21% dos jovens não tomaram nenhuma providência para conseguir trabalho no mês em que foi realizada a pesquisa. O primeiro fato a ser destacado é que esse percentual decresceu com o decorrer do Programa, passando para 20% entre os concluintes. Isso demonstra uma maior motivação e iniciativa do jovem em face do mercado de trabalho. Por outro lado, é válido notar que, na pesquisa realizada com educadores, a expectativa (66,2% dos docentes) é de que mais da metade dos jovens conseguirá empregos de pouca qualificação. Talvez por isso os educadores (78,5% dos docentes) também entendam que poucos jovens ou nenhum obterão mobilidade social elevada. Isso corrobora a ideia de que o ganho mais significativo do aluno do programa é o acesso a níveis mais altos de ensino.

Gráfico 1.15 - Providências tomadas para procurar trabalho

21,3 20,1

12,0 15,2 11,715,4

9,5 11,47,7

9,36,6

15,1

5,5 8,6

50,5

38,7

Nenh

uma

prov

idên

cia

Cons

ulto

uag

ênci

a ou

sind

icat

o

Cons

ulto

uem

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edid

apa

ra in

icia

rne

góci

o

Out

rapr

ovid

ênci

a

IniciantesConcluintes

Fonte: Dados do S1 e do S3

Relatório ProJovem92Um segundo aspecto positivo, ainda conforme o gráfico 1.15, é o aumento considerável no número de jovens concluintes (em comparação aos ingressantes) interessados em inscrever-se em concursos públicos: 8,3% inscreveram-se em concurso, e 9,6% fizeram concurso. Também merecem destaque aqueles que tomaram medida para iniciar negócio, perfazendo um total de quase 11%. Esses números indicam uma mudança de atitude em relação às estratégias tradicionais de consultar parentes, amigos ou colegas, para as quais se observou, em geral, um pequeno declínio. Isso pode ser confirmado ao analisar-se a resposta dos concluintes à pergunta acerca das providências que pretendiam tomar nos próximos meses para conseguir trabalho ou mudar/melhorar de trabalho. Pelo gráfico 1.16 há, claramente, uma modificação na atitude dos jovens participantes do Programa, especialmente no que diz respeito às estratégias utilizadas para inserção no mercado. Portanto, embora os jovens ainda recorram a métodos tradicionais para obter trabalho, é possível dizer que, no decorrer do curso, houve alguma mudança de atitude, indicando que os jovens concluintes passaram a sentir maior autonomia em relação às suas redes sociais de origem e a considerar novas estratégias de inserção no mercado de trabalho.

Gráfico 1.16 - Projetos profissionais para os próximos meses

40,2

29,1

20,824,1 22,1

14,4 13,56,1

3,6

Faze

r/ins

creve

r-se

em co

ncurs

o

Cons

ultar

paren

te, am

igoou

coleg

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Cons

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ência

Cons

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Coloc

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nder

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Tem

traba

lho e

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reten

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curar

outro

Nenh

uma

provid

ência

Fonte:Dados do S3

Ao se compararem as duas amostras, como se pode observar pelo gráfico 1.17, constata-se que, por um lado, há uma efetiva consolidação da perspectiva inicial de continuar os estudos além do Ensino Fundamental: mais de 72% dos concluintes ainda desejam essa continuidade. Por outro lado, o ProJovem deixa de ser visto pelos jovens apenas como instrumento capaz de assegurar posições no mercado de trabalho via certificado de conclusão de curso. Dos 53,6% de jovens iniciantes que vislumbravam no ProJovem uma forma de conseguir um emprego, somente 46,5% mantiveram Essa expectativa ao final do referido programa. Essa interpretação, porém, precisa ser vista com ressalvas, uma vez que pouco mais de 50% dos concluintes haviam participado de aulas teóricas e práticas de qualificação profissional. nesse sentido, o ganho mais substantivo pode estar relacionado ao percentual daqueles que consideram que o ProJovem contribuirá para aumentar sua autoestima (26,5%). Adicionalmente, pode-se considerar a percepção de que os jovens concluintes estão saindo do Programa mais atentos à participação em suas comunidades (16,7%) do que estavam no início do ProJovem (10,7%). Esses configuram, certamente, dois dos resultados mais positivos do programa.

Relatório ProJovem 93Gráfico 1.17 - Frequência de respostas para contribuição do ProJovem

na opinião de iniciantes e concluintes

73,5 72,3

53,646,5

26,535,7

10,913,7

10,716,7

7,2 8,4 10,5 12,23,3 2,8

Con

tinua

rm

eus

estu

dos

noen

sino

Con

segu

irum

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preg

o

Mel

hora

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hora

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Mel

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Out

ros

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Não

sei

IniciantesConcluintes

4.4.2 ProJovem, Ação Comunitária e Cidadania

Um dos aspectos que torna o ProJovem inovador e o diferencia dos demais programas educacionais é o desenvolvimento de ações comunitárias, integrando práticas de solidariedade e valores de cidadania à educação básica e qualificação profissional. Contudo, a avaliação desse importante componente do Projeto Pedagógico Integrado configura-se como um grande desafio. As contribuições do programa com relação a ganhos pessoais, em termos de valores adquiridos e reconhecimento de direitos e deveres cívicos, não são de fácil observação e muito menos cabíveis de serem mensuradas em escalas como as proficiências em Língua Portuguesa e Matemática apresentadas até aqui. A despeito disso, o objetivo aqui é de identificar possíveis mudanças na percepção dos estudantes com relação à sua cidadania e atitudes para com sua comunidade em decorrência do ProJovem. Para tal tarefa, foram usados, como subsídio, os dados do Survey 1 e 3, realizados, respectivamente, nos primeiros e últimos meses do programa. Em complemento, também se fez uso da análise dos 20 grupos focais, realizados em 2006, em cinco capitais estaduais nas quais o programa estava em vigor.

O público-alvo do ProJovem, conforme discutido na primeira seção desse relatório, vive em uma realidade de exclusão social e econômica, e sua situação de liminaridade está diretamente vinculada à sua baixa escolaridade. Uma vez que nossa sociedade é regida por um mercado de trabalho que se pauta pela necessidade de formação escolar, a falta dessa formação restringe a mobilidade social de jovens como os que se enquadram no perfil atendido pelo programa. Dessa forma, perpetua-se a precária situação econômica em que vivem, gerando um círculo vicioso que empurra essas pessoas para a margem da sociedade num sentido simbólico, pois acabam por não ter acesso igual a oportunidades, cultura, lazer e até a direitos básicos como a educação e saúde. Em um sentido concreto, levando-os a viver na periferia das cidades, afastados dos centros políticos, culturais e sociais.

Esses jovens, quando entram para o projeto, não estão retornando à escola regular, mas fazendo parte de uma formação que pretende a elevação da escolaridade, com a conclusão do Ensino Fundamental, aliada a uma qualificação profissional e uma formação cidadã. O foco dessa seção recairá sobre o aspecto da formação cidadã, que representa uma preocupação com a mudança de perspectiva desses jovens, mas pode ser também um chavão preocupante. Essa diferença ocorre quando o assunto é tratado de forma trivial, sugerindo que da mesma forma como qualificamos profissionalmente uma pessoa, podemos alterar o seu olhar e a sua consciência sobre a coletividade, além do seu posicionamento na sociedade.

O processo de constituição da cidadania é cultural, construído na coletividade através da tradição do grupo no qual o sujeito está inserido. Em função disso, não será alterado por um discurso externo, que não possua legitimidade para o grupo, ou ainda mais, que não seja reflexo de mudanças no comportamento cotidiano.

Relatório ProJovem94O que não significa que não pode ser alterado, mas que o processo de mudança é lento e profundo como o aprendizado dos demais valores culturais aos quais todos são submetidos, como o dos valores associados à questão de gênero ou de vínculos familiares.

Dentre os diversos tópicos abordados nos grupos focais com educadores do ProJovem, foi abordado o tema da relação entre professor e aluno. Analisando-se o conteúdo das falas sobre esse assunto, além da forte relação empática entre ambos, perpassa uma imagem de transformação do aluno no decorrer do programa.

- Na verdade esses jovens não são os mesmos que entraram, com certeza não são...

- O nosso grupo é excelente aonde nós conseguimos chamar praticamente todos os alunos que não estavam indo, hoje eles vão porque o grupo se reuniu, o grupo pegou a lista de telefone, o grupo ligou para todos os alunos, os alunos não sabiam que as aulas tinham começado, nós fomos nas casas desses alunos informamos, fizemos toda parte estrutural e hoje nós tornamos praticamente uma família, aonde os alunos ligam para o meu trabalho, ligam para a minha casa, ligam para o meu celular, se eles estão passando por algum problema, se a gente pode ajudar, chegam na escola eles recorrem a gente por todos os problemas, nos conseguimos dentistas para eles, nós conseguimos psicólogos para eles, porque eles tem uma confiança muito grande em nós professores.

- Eu estou achando interessante também que antigamente eles não faziam assim, vamos dizer no início do projeto, novembro, a gente ainda estava se conhecendo. Hoje eles ligam, professor desculpa, mas eu não estou podendo ir porque estou com dengue. Tem aluno que manda recado, olha a Daniele não Essa vindo porque infelizmente o marido dela precisou trabalhar e ela teve que ficar com a criança menor.

- O aluno vem para a sala de aula em busca dos cem reais, mas hoje nós percebemos que eles vêm pelo carisma, porque nós conquistamos dia a dia, as noites né com eles.

Tais falas são importantes, pois elas indicam um efeito socializador do ProJovem, que parece ter construído laços sólidos de afeto entre os professores e seus alunos e um padrão de relacionamento diverso daquele corriqueiro na escola “comum” com o qual esses alunos estão acostumados. Dessa forma, existindo tais laços, o discurso e preocupação dos professores em relação à dimensão da “exclusão” e em reverter às experiências negativas de seus alunos têm maiores chances de êxito. Portanto, entre as declarações efusivas dos educadores de apreço pelos alunos e a experiência de convivência adquirida no programa, reside, possivelmente, uma das maiores contribuições do ProJovem em termos de cidadania. Assim sendo, ao se afastar do que constitui uma tradição pedagógica e curricular mais recorrente, e inovar sob o ponto de vista da ação docente, é possível que muitos jovens tenham de fato adquirido valores de cidadania pregados pelo ProJovem.

A empatia entre professores e alunos se faz presente também nas falas dos jovens que participaram dos grupos focais, destacando novamente tal relação como um dos pontos fortes do ProJovem.

- Mais atenção dos professores, tem professores da escola normal não tem atenção como o ProJovem tem. Uma vez a professora sentou assim e falou para a gente; eu estou com o meu garantido, vocês que se danem. Vou ler meu jornal.

- Moderador: Esse é do ProJovem?

- Todas: Não! Das escolas normais.

- Do ProJovem não! Elas vão, são amigas. Explica tudo, explica 2 até 100 vezes, se a gente pedir para explicar, eles explicam.

Relatório ProJovem 95Contudo, no que concerne às aulas de Ação Comunitária – espaço dedicado para o aprendizado e discussão de normas, valores e direitos, além da elaboração de um projeto de ação para a comunidade –, os alunos participantes dos grupos focais foram bastante críticos. Aparentemente, a Ação Comunitária não representou um fator de atratividade para os jovens. As discussões apenas tangenciaram esse aspecto, mesmo porque não era um dos objetivos do encontro discutir especificamente essa atividade. Porém, foi possível constatar que, entre as falas relacionadas a expectativas e motivação para o ingresso no Programa, palavras como “Comunitária” e “Comunidade” não aparecem em nenhum dos grupos focais.

- A primeira professora não conseguiu fazer nada, a primeira professora nos três primeiros meses não conseguiu fazer nada e “ralou” do ProJovem. Entrou outra agora, acho que ela já está lá há um mês, acho que ela está há um mês ou dois e até agora ela não conseguiu, eu não entendi o que ela veio fazer ali.

-Moderador: Essa professora é de ação comunitária?

- Ação comunitária, assistente social.

- ... inglês e informática é necessário, porque a aula de ação comunitária não é fundamental, nessa parte não está sendo fundamental por que está tomando tempo de matérias que a gente está precisando.

- Eu gosto mais da ação comunitária, que fala sobre a periferia, fala sobre a sociedade do rico, a sociedade do pobre, o que o pobre pode e não pode. Eu gosto mais por que ela fica conversando com a gente, faz atividade com a gente dentro da sala de aula, pede pra gente recortar gravuras em revistas sobre a nossa vida, sobre o que a gente pode fazer, sobre o que a gente pode transformar.

Essas falas são importantes para se pensar a maneira como o assunto é discutido pelos alunos. Pode-se perceber que eles, à exceção de raras falas que elogiam a aula, tecem críticas sobre o componente curricular. Tais críticas são sobre o seu caráter desnecessário e a ausência de conteúdo. A questão da necessidade é apresentada por eles como relativa e se vincula à necessidade de utilizar o tempo para aprender coisas mais “práticas”, como inglês ou informática, que interferem de forma mais imediata no objetivo de se qualificar. A falta de conteúdo pode ser entendida como uma dificuldade de compreensão de uma didática diferenciada que não é pautada em conteúdo fixo com explicação e prova, o que aumenta a sensação de que aquele tempo é ocupado por algo que sequer é uma “aula” e por isso está atrapalhando a formação profissional, que é o objetivo principal dos alunos.

Outro problema é que o discurso da inclusão não parece ser mais algo tão esporádico ou inovado, mas, sim, algo que, na visão dos alunos, tem se repetido sem muito êxito no sentido de efetivação na prática cotidiana. Por outro lado, uma fala demonstra uma luz sobre o que deveria estar sendo apreendido, quando um aluno faz referência ao fato de a aula de qualificação profissional estar ensinando “umas paradas diferentes, de carteira assinada”. Associar a disciplina de ação comunitária com o tema tratado na qualificação profissional indica um conhecimento sobre o que é a temática discutida na disciplina. Os direitos trabalhistas são um aspecto fundamental para pensar o posicionamento do cidadão perante a sociedade, especificamente no mercado de trabalho.

Pode-se refletir que somente a intenção de formar a cidadania e a organização desse intento em aulas de ação comunitária não são suficientes para alterar a realidade desses jovens. Como já visto, tal questão vai além da sala de aula, sendo o próprio convívio com professores e demais colegas de suma importância. Contudo, isso não significa que as aulas não possam contribuir também. Veja-se, então, com base nas análises de algumas questões sobre as atitudes dos alunos perante a sociedade em que vivem, quais foram as contribuições do ProJovem.

Primeiramente, considerando o âmbito da política, analise-se a perspectiva dos jovens sobre o governo brasileiro. Uma vez que o próprio ProJovem é um projeto do governo federal, espera-se que o seu público alvo o identifique como tal. Contudo, se essa relação não é clara para tais jovens, é possível supor uma

Relatório ProJovem96distância incomensurável entre os mesmos e a consciência cidadã. Em alguns casos, podem-se observar indícios dessa distância, como aparecem nessa fala:

- O que eu acho do ProJovem é o seguinte, ele surgiu do nada e está beneficiando muitas pessoas que estavam fora da escola e queriam estudar. Com essa ajuda de 100 reais agora vai melhorar mais ainda porque a gente vai ter mais vontade de ir para a escola mesmo, por isso que eu dou uma nota 10 para o ProJovem.(grifo nosso)

A referência à existência “do nada” do projeto remete, talvez, não ao desconhecimento de que se trata de um programa do governo, mas a incapacidade de perceber nesse fato algo representativo da ação governamental. Todavia, essa referência é um caso isolado nos relatos dos grupos focais, o mais comum é a identificação do projeto com o governo. Essa identificação é feita através da ideia de um governo federal centralizado, representado pela imagem de Brasília, que surge como a simbolização dessa realidade distante:

- A gente tá falando não é que é ruim, entendeu, o programa, mas a gente tá falando do que tá acontecendo no programa porque às vezes vocês aí de Brasília não vê o que tá acontecendo, tá entendendo? Então vocês estão pedindo pra gente falar o que tá acontecendo. Realmente, adorei o programa, adoro esse programa do Governo, ProJovem. (grifo nosso)

O reconhecimento da possibilidade do diálogo com a instância governamental é um aspecto a ser destacado aqui. O diálogo se constrói a partir de reivindicação, de críticas construtivas a respeito do ProJovem, direcionadas a quem tem o poder de solucioná-las. Evidencia a consciência de direitos, inclusive com o uso do termo, e é colocado imediatamente a quem está conduzindo o trabalho de pesquisa e que representa o governo federal. Contudo, apesar de ser dito a esse sujeito político, o pesquisador do governo, o interlocutor buscado é outro, Brasília. Ao direcionar as suas queixas para o local onde entendem que o governo federal atua, demonstram que, apesar de saberem que o ProJovem é um projeto do governo, não identificam o governo nele. Ademais, além da associação do governo às características de distância e centralismo, aparece também em meio às falas dos grupos focais a ideia de desorganização:

- Tem muitas coisas que funcionam assim de uma maneira que achei que não iam funcionar porque as coisas do governo federal assim são desorganizadas. Mas lá até que o troço é organizado...

Dessa forma, entre os participantes dos grupos focais, observa-se a percepção de um governo distante e desinformado sobre a sua realidade, cujas ações são, em geral, desorganizadas ou insuficientes. Contudo, cabe ressaltar, que, ao mesmo tempo em que o governo e sua ações são criticadas, o ProJovem se destaca como algo diferente e positivo para suas vidas.

Partindo das falas dos grupos focais e avançando nos dados dos surveys, pode ser analisada outra importante questão a respeito das atitudes dos alunos do ProJovem perante a sociedade: o voto. A grande maioria dos alunos é detentora do título de eleitor. No entanto, isso diz mais sobre a obrigatoriedade do voto no Brasil do que sobre atitude cidadã, já que o documento é solicitado para maiores de 18 anos nos mais diversos setores da vida pública, desde a educação até o trabalho, e havendo sanções para quem não esteja em dia com justiça eleitoral.

Relatório ProJovem 97Tabela 4.6 – Percentual de jovens com titulo de eleitor

Percentual Survey 1 Survey 3

Sim 97.3 98.0

Não 2.7 2.0

Total 100.0 100.0

Para se estudar, portanto, a atitude cidadã dos alunos do programa com relação ao voto, recorre-se a uma questão em comum a ambos os surveys: se o voto não fosse obrigatório, você votaria?

Tabela 4.7 – Percentual de jovens que votariam mesmo sem a obrigatoriedade

Se o voto não fosse obrigatório, você votaria?

Percentual Survey 1 Survey 3

Sim 60.8 60.1

Não 39.2 39.9

Total 100 100

Nesse caso, a proporção de alunos que ainda votaria, independentemente da obrigatoriedade ou não do voto, permanece a mesma entre os surveys 1 e 3. Apesar de o programa não ter, portanto, causado nenhum aparente impacto em seus alunos sobre a participação no processo democrático, é interessante observar que a grande maioria dos jovens amostrados, mesmo do survey 1, já conferia certa importância ao voto. Considerando-se a situação de exclusão social e econômica na qual vivem, o fato de aproximadamente 60% dos alunos do ProJovem fazerem questão de votar indica que eles percebem o voto como um possível meio para a melhoria de suas vidas.

As relações que os alunos têm com associações também podem ser uma questão chave para se compreender o seu posicionamento perante a sociedade. Considerando-se que 61.1% dos alunos, no survey 1, declararam não pertencer a nenhum dos tipos de associação citada, percebeu-se que era necessário problematizar as relações sociais cotidianas dessas pessoas para pensar como elas se incluem na vida social, já que também não fazem trabalho voluntário, somente 25% dos jovens declararam esse tipo de atividade. Há, aí, indícios de uma fraca participação cidadã? Ou haverá uma participação que não ocorre nos moldes institucionais?

Tabela 4.8 – Percentual dos jovens segundo as associações a que pertencem

Quais associações você pertence?

Percentual Survey 1 Survey 3

Religiosas 12,4 12,2

De bairro 13,4 17,0

Grêmio estudantil 1,9 2,9

Educativas ou culturais 3,3 4,8

Profissionais ou sindicatos 1,3 2,4

Filantrópicas não religiosas 0,8 1,3

Esportivas 5,7 6,7

Nenhuma acima 61,1 52,8

Total 100,0 100,0

Relatório ProJovem98Tabela 4.9 – Percentual dos jovens que trabalharam como voluntários

Em qual tipo de associação você trabalhou como voluntário?

PercentualSurvey 1 Survey 3

Nunca trabalhei como voluntário 75,0 70,4

Associações ou movimentos religiosos 7,5 7,6

Associação de bairro 5,2 7,6

Grêmio estudantil 1,5 2,6

Associações educativas ou culturais 3,1 4,0

Associações profissionais ou sindicatos 0,4 0,7

Associações filantrópicas não religiosas 0,8 0,5

Associações Esportivas 2,4 2,2

Outra 4,1 4,3

Total 100,0 100,0

Fonte: Dados do S1

As relações que estão sendo articuladas podem não ter o caráter público, quando se manifestam no âmbito atingido pelas associações. As mais citadas entre os que participam são as de bairro, (13.4%), e as religiosas, (12.4%), mas por outro lado, mais de 41% dos jovens declaram participar de eventos em suas religiões semanalmente. O que se pode indicar, aqui, é que a participação nesse universo, próximo de casa, onde eles conhecem as associações é muito permeado pelo espaço privado, logo regido por outra lógica, que não é a associativa, mas a da amizade, a do compadrio, da ajuda não necessariamente institucionalizada. Afirma-se que só 13.4% se preocupam com o seu bairro ou que somente esses atuam na sua melhoria pode não ser verdadeiro. Concomitantemente, os alunos que consideram integrar alguma associação de bairro demonstram um certo comprometimento com a melhoria de sua comunidade e envolvimento regular em atividades voltadas para Esse fim.

Considerando-se essa última hipótese, pode-se afirmar que, com o ProJovem, houve um ligeiro aumento no envolvimento de seus alunos com o bem estar de sua comunidade. Segundo as tabelas 1.16 e 1.17, tanto a participação em associações, quanto o serviço voluntário aumentaram, especialmente nos bairros em que os alunos vivem. Apesar de se tratar de uma pequena parcela do total de jovens entrevistados, esse aumento na participação em associações e no trabalho voluntário é indicativo de uma mudança comportamental por parte de alguns jovens, que possivelmente adotaram uma postura mais solidária em sua vida social.

Outra interessante questão dos surveys a ser analisada diz respeito a quais seriam as contribuições do ProJovem. Tanto no início do programa, quanto próximo de seu final, as principais contribuições selecionadas pelos alunos foram, respectivamente, a continuação dos estudos e a obtenção de um emprego (Gráfico 1.1). Contudo, ao se compararem os resultados dos dois surveys, essas duas opções foram proporcionalmente menores no último, especialmente com relação à contribuição para-se conseguir um emprego. Enquanto isso, outras opções, como melhorar a autoestima e melhorar a participação do aluno em sua comunidade, sofreram um aumento significativo.

Esses dados podem indicar uma mudança tanto nas motivações dos jovens quanto na sua percepção sobre o ProJovem. No decorrer do programa, alguns alunos podem ter enxergado novas opções, como a criação de um negócio próprio, ao invés da obtenção de um novo emprego. Da mesma forma, outros podem ter frustrado suas expectativas iniciais, não mais acreditando que o ProJovem lhes ajudará a obter empregos, mas enxergando no programa outras contribuições, como o incentivo a envolver-se com questões de sua comunidade.

Relatório ProJovem 99Gráfico 4.1: As contribuições do ProJovem segundo seus alunos

Sob a perspectiva da Cidadania e da Ação Comunitária, a contribuição do projeto para a autoestima do aluno e a melhoria na participação na comunidade são extremamente positivas. Não só já havia um número significativo de alunos que, no início do ProJovem, acreditava que o programa lhe traria tais contribuições, como também houve um aumento na proporção de jovens que as marcaram quando próximos de sua formatura. A autoestima é de grande importância para esses jovens, especialmente se considerando os possíveis efeitos de anos e anos de exclusão social e econômica. Mais autoestima e engajamento nos problemas de sua comunidade são passos positivos para que tais jovens possam exercer de fato a sua cidadania.

101Relatório ProJovem

Nesta seção, aspectos da implementação do ProJovem são discutidos com base nos dados de Supervisão. É apresentado um panorama geral do programa a nível nacional, com ressalvas a respeito de variações regionais.

5.1 Dados de Implementação 2005-2008

Os dados analisados a seguir representam um panorama geral dos dados gerados pela Supervisão do ProJovem durante a vigência do Programa. Eles foram reunidos a partir dos relatórios mensais de supervisão, com base nos quais foram calculadas as médias e percentuais para cada uma das variáveis avaliadas.

O principal intuito com a realização das rotinas de supervisão era o de fornecer, não só à coordenação nacional do programa, mas também a gestores locais e educadores do programa, sumários sobre a situação e condições de cada núcleo operante. A nível local, os dados de supervisão eram disponibilizados via um portal construído e gerenciado pelo CAEd, auxiliando educadores e coordenadores de cada Estação Juventude no desempenho de suas funções. A nível nacional, os relatórios de supervisão permitiam à coordenação nacional acompanhar o andamento do programa e realizar intervenções, quando necessário. Em certas ocasiões, quando constatado condições aquém do desejado, a coordenação nacional solicitou a realização de rotinas emergenciais de supervisão para averiguar o que estava acontecendo e pressionar as coordenações locais a tomarem providências cabíveis.

Os dados analisados com mais frequência, nos relatórios síntese de supervisão, referem-se à presença de educadores, à disponibilidade de equipamentos de informática, bibliotecas e banheiros, ou seja, aos recursos humanos e materiais encontrados pelos alunos no núcleo. Esses dados permitem obter uma primeira ideia das condições gerais em que os jovens desenvolveram suas atividades educativas durante o ProJovem, mas não são suficientes para explicar as motivações mais profundas que levaram aos fenômenos de infrequência e evasão do Programa. Para os fins a que se propõe, este relatório se aterá às condições de oferta e, com base em alguns dados juntos ao Subsistema de Avaliação do Programa, serão lançadas algumas hipóteses para explicar a relação entre condições de oferta e taxa de aproveitamento.

Metodologia

O ProJovem tinha 2.932 núcleos cadastrados na base de dados. Porém, 419 deles não chegaram a funcionar. Sendo assim, o total de núcleos que funcionaram no programa foi de 2.513 núcleos.

Para que fosse gerado Esse relatório, foram considerados apenas 2.059 dos núcleos para análise, devido à aplicação de alguns filtros na base utilizada. Dentre os filtros aplicados na base, podem ser citados:

• Filtro de Rotinas: Esse filtro teve por objetivo retirar da base de dados as rotinas que não apresentassem os itens analisados para indicar as condições de oferta em cada núcleo (Foram mantidas, assim, apenas as rotinas: 1, 2, 9, 19, 20, 31, 44, 51, 55);

• Filtro de Certificação: Esse filtro teve por objetivo retirar da base de dados os núcleos que não tiveram alunos certificados;

Implementação do ProJovem5

Relatório ProJovem102• Filtro de Aplicação: Esse filtro teve como objetivo retirar da base de dados os núcleos em que não

ocorreu aplicação (Núcleo não foi encontrado; Núcleo desativado; Os alunos foram transferidos para outros núcleos);

• Filtro de Alunos: Esse filtro teve como objetivo retirar da base de dados os núcleos que apresentassem poucos alunos.

Ao final, não foram utilizados na análise 454 dos núcleos, pois:

• 22 dos núcleos apresentaram variáveis que indicavam que o instrumento não fora aplicado;

• 24 dos núcleos apresentaram lançamento de rotinas que não possuíam os itens para indicar as condições de oferta;

• 13 dos núcleos não tiveram seus alunos certificados;

• 395 dos núcleos não apresentaram nenhum lançamento na base.

• Os resultados obtidos acima não citam a remoção de núcleos que apresentaram poucos alunos, pois esse filtro foi analisado juntamente com a observação de outros filtros supracitados.

Análise Nacional

Tabela 5.1: Condições gerais de oferta, valores médios por IR e critério

IR

N. M

atri

cula

dos

Méd

ia d

e jo

vens

pre

sent

es

Pre

sent

es (%

)

Núc

leos

com

turm

as fu

ndid

as (%

)

N d

e Tu

rmas

(min

)

N d

e Tu

rmas

(max

)

Com

puta

dore

s di

spon

íves

(%)

Bib

liote

cas

disp

onív

eis

no e

spaç

o do

núc

leo

(%)

Bib

liote

cas

disp

onív

eis

(%)

% m

édio

de

educ

ador

es

Méd

ia d

e ba

nhei

ros

disp

onív

eis

Tot

al d

e nú

cleo

s

Em

func

iona

men

toSudeste I 55.353 1.663 43% 32% 2 3 51% 60% 41% 73% 3 507 507

Sudeste II 26.219 1.021 47% 47% 3 4 71% 78% 76% 82% 4 253 250

Nordeste I 38.305 3.977 55% 23% 3 3 67% 54% 43% 81% 6 320 320

Nordeste II 55.942 3.841 49% 29% 4 4 57% 76% 54% 79% 4 466 466

Norte 27.731 1.609 41% 58% 3 4 62% 67% 50% 81% 3 231 230

Centro Oeste 23.572 1.612 37% 50% 2 4 67% 82% 58% 88% 4 143 143

Sul 13.695 690 40% 40% 2 4 91% 97% 56% 83% 3 139 139

Total 240.817 2.059 45% 40% 3 4 67% 73% 54% 81% 4 2.059 2.055

O ProJovem foi implantado em 56 municípios, dos quais 26 eram capitais e 30 eram municipalidades próximas às regiões metropolitanas das capitais estaduais. No total, foram formados 2.059 núcleos, dos quais 2.055 estiveram em funcionamento durante o Programa. Ao final do ProJovem, matricularam-se, em todo o território nacional, cerca de 240.817 jovens. Estiveram frequentes, em sala de aula, em média, 2.059 alunos, distribuídos entre os diversos núcleos. O percentual médio de presentes, alcançado pelo Programa durante o período de funcionamento, na relação frequentes/matriculados, foi de 45%. Cerca de 40% dos núcleos em sua totalidade tiveram suas turmas fundidas. Os núcleos funcionaram com um número mínimo de 3 turmas em média e máximo de 4 turmas em média. Em geral, 67% dos equipamentos de informática destinados ao Programa foram instalados nas IRs. Cerca de 73% dos núcleos abertos dispunham de bibliotecas e, em média, 54% delas foram disponibilizados aos alunos do ProJovem. Havia 4 banheiros disponíveis aos alunos. O percentual médio de educadores presentes nos dias de supervisão foi de 81%.

Relatório ProJovem 103Comparando-se as IRs entre si, a Regional que teve o maior número de matriculados foi a Nordeste II, em primeiro lugar, seguida da Sudeste I. É interessante observar esse fato, uma vez que a oferta de núcleos e vagas na IR Sudeste I era maior do que na Nordeste II. O número de matriculados foi menor na IR Sul. As médias mais altas de jovens frequentes foram observadas nas IRs Nordeste I, em primeiro lugar, e Nordeste II, em segundo. A mais baixa foi observada na Regional Sul.

Porém, quando analisados os dados de média de matrículas e frequentes no período, observou-se que os percentuais de jovens presentes, em relação aos que se matricularam, foram maiores nas Regionais Nordeste I, em primeiro lugar (55%), e Nordeste II, em segundo (49%), ficando a Centro-Oeste com o pior desempenho (37%). Entretanto, esse dado deve ser analisado levando-se em consideração a capacidade de oferta das IRs. Nesse sentido, é importante destacar que o Programa teve maior adesão na IR Nordeste I, onde havia 40% menos núcleos do que na Sudeste I, com 507 núcleos. O sucesso do ProJovem nessas IRs pode ser evidenciado observando-se o percentual de núcleos que tiveram suas turmas fundidas: nas IRs Nordeste I e II, somente 23% e 29% dos núcleos chegaram a ter suas turmas aglutinadas – os menores percentuais entre as IRs, contrariamente ao que ocorreu na Regional Norte, onde esse fenômeno ocorreu em quase 60% dos núcleos.

Quando é analisado comparativamente o conjunto das capitais em relação aos demais municípios, não foram observadas diferenças significativas em relação às condições de oferta de recursos humanos e materiais. Porém, é preciso destacar que a adesão ao Programa parece ter sido superior nas cidades menores em relação às capitais, uma vez que o fenômeno de aglutinação de turmas foi muito maior nas últimas do que nas primeiras. Nas capitais, 48% dos núcleos tiveram suas turmas fundidas, enquanto nas cidades menores, em média, isso ocorreu em apenas 25% deles, indicando menor incidência de baixa frequência e evasão.

Comparando-se as IRs em termos de condições de oferta, fica evidente que o fator oferta de recursos materiais e humanos, dentro dos parâmetros selecionados para as análises gerais das condições de oferta nos relatórios síntese de supervisão, não é suficiente para explicar a maior ou menor adesão ao Programa, expressa na taxa de participação ou percentual de jovens presentes.

Analisando-se, exclusivamente, a disponibilidade de equipamentos e educadores, bem como a oferta de núcleos e vagas, pode-se dizer, em linhas gerais, que as Regionais mais bem sucedidas na implantação do ProJovem foram a Regional Sul, em primeiro lugar, e a Regional Sudeste II, em segundo. A IR Sul conseguiu instalar 91% dos laboratórios de informática; 97% dos núcleos abertos dispunham de bibliotecas, e desses, mais da metade estava disponível aos alunos do ProJovem; a presença de educadores nos dias de supervisão esteve, em média, acima de 80%, e a média de banheiros disponíveis era aceitável.

Em termos de recursos materiais, embora a IR Sudeste II tivesse instalado menos equipamentos de informática (78%), disponibilizou um percentual maior de bibliotecas aos alunos do ProJovem do que todas as demais IRs. O problema é que a Regional Sul atendia a apenas 7% das vagas do Programa, e a Regional Sudeste II, embora tivesse quase o dobro de núcleos e vagas da IR Sul, proporcionalmente à sua capacidade de atendimento, não obteve tanto sucesso quanto poderia ter obtido em relação à adesão de jovens, especialmente quando se leva em consideração o caso da capital São Paulo, onde se concentrava o maior número de núcleos dessa Regional.

Desse modo, mesmo em condições não tão propícias quanto se desejaria, as Regionais Nordeste I e II obtiveram um desempenho muito melhor do que as Regionais Sudeste I e II, e mais ainda quando comparadas à Regional Sudeste I, cuja oferta de núcleos e vagas era o dobro da IR Sudeste II, mas com condições muito piores. Nesse caso, talvez as condições materiais dos núcleos tenham interferido na taxa de participação, mas essa análise é inconclusiva, levando-se em consideração, exclusivamente, os percentuais de equipamentos disponíveis e a presença de educadores.

105Relatório ProJovem

O perfil dos educadores do ProJovem, a avaliação de sua formação, e a sua relação com o programa são apresentados nessa seção. Os dados apresentados aqui são de diversas pesquisas realizadas ao longo do programa para avaliar um dos principais aspectos do ProJovem: o professor.

6.1 Perfil de Educadores baseado no SMA

As informações abaixo refere-se aos dados das Bases do Subsistema de Monitoramento, em especial àquela que trata do perfil dos funcionários, lançados pelas Estações Juventude (EJs), e contém dados de aproximadamente 25% dos educadores inscritos no Programa. Por não se tratar de uma pesquisa, inferências conclusivas não podem ser realizadas. Entretanto, os dados indicam tendências importantes sobre o perfil do educador do ProJovem. A primeira delas é a distribuição geográfica dos núcleos e EJs que mais conhecem seus funcionários e registram tais dados.

Esse lançamento não é hoje compulsório. Essa obrigação pode ser interessante para o funcionamento do ProJovem, nessa edição ou numa seguinte, principalmente se ampliado o conjunto de informações que podem ser introduzidas no sistema, ainda que o prazo para tal procedimento se realizar possa ser estendido para além da primeira Unidade Formativa. A tabela a seguir traz a distribuição atual dos funcionários com dados registrados no sistema.

Tabela 6.1 – Status dos profissionais nas coordenadorias municipais

Cidade Coordenador Educador Administrativo Pedagógico TotalAnanindeua 6 100 106

Aparecida de Goiânia 1 1

Belford Roxo 14 55 7 1 77

Belo Horizonte 1 1

Boa Vista 8 58 4 70

Brasília 23 279 7 309

Carapicuíba 6 31 4 41

Contagem 6 107 2 115

Cuiabá 1 4 5

Embu das Artes 3 28 3 34

Florianópolis 7 13 2 22

Fortaleza 1 1

Guarulhos 11 59 2 1 73

Magé 2 2 4

Nova Iguaçu 7 46 7 1 61

A Formação de Educadores6

Relatório ProJovem106Novo Hamburgo 7 55 3 65

Olinda 7 48 1 1 57

Osasco 1 1

Recife 10 594 14 7 625

Rio de Janeiro 2 1 3

Suzano 8 38 5 51

São Gonçalo 16 16

São Luis 2 2

São Paulo 2 250 252

Total 131 1.783 63 15 1.992

Fonte: Bases do Sistema de Monitoramento e Avaliação

Em relação ao status do funcionário nas diferentes coordenadorias municipais, percebe-se que quase todos se dedicam à função específica de educador. Em seguida, encontram-se aqueles com a função de coordenador. Esses dados indicam que há uma maior preocupação destas coordenadorias municipais em lançar dados no sistema referentes a funções e execuções dos profissionais educadores. A tabela a seguir tratará das áreas de atuação. Observar-se-á que não é costumeiro o registro das áreas em que os profissionais atuam, o que prejudica muito o cruzamento dos dados para obtenção do perfil. Ainda assim, é relevante a consideração das áreas para evidenciar a distribuição proporcional dos educadores em diferentes conteúdos.

Tabela 6.2 – Status do funcionário conforme área de atuação

Conteúdo da Disciplina Coordenador Educador TotalLíngua Portuguesa 154 154

Matemática 131 131

Língua Estrangeira 135 135

Ciências Humanas 137 137

Ciências da Natureza 148 148

Ação Social/Comunitária 3 67 70

Qualificação Profissional 2 113 115

Inform./Plantão/Integração 2 2

Síntese Integrada 2 2

Habilidades Básicas 2 2

Proj. Orientação Profissional 1 10 11

Total 10 897 907

Fonte: Bases do Sistema de Monitoramento e Avaliação

Pela tabela acima, é possível identificar que as Estações Juventude lançam prioritariamente informações acerca dos profissionais ligados às disciplinas do Ensino Fundamental e, em menor número, dos profissionais responsáveis pela ação social/comunitária e de qualificação profissional. Quanto ao sexo, percebe-se que, em todas as funções, as profissionais do sexo feminino são maioria. No geral, 65,8% das profissionais são mulheres. O destaque fica para a função de Coordenador, em que 78,2% são mulheres.

Relatório ProJovem 107Tabela 6.3 – Status do educador segundo o sexo

FunçãoSexo

TotalFem Masc

Coordenador93 26

78,2% 21,8% 100,0%

Educador1.016 548 1.564

65,0% 35,0% 100,0%

Administrativo36 20 56

64,3% 35,7% 100,0%

Pedagógico7 6 13

53,8% 46,2% 100,0%

Total1.152 600 1.752

65,8% 34,2% 100,0%

Fonte: Bases do Sistema de Monitoramento e Avaliação

Considerando-se o status do profissional segundo a idade, a maior parte dos coordenadores encontra-se com mais de 45 anos. Entre os educadores, a maior faixa situa-se entre os 26 e os 35 anos. Aqueles em funções administrativas são os mais jovens, sendo que 51,9% têm menos de 25 anos. Os que exercem funções pedagógicas são os que apresentam melhor distribuição em relação à idade, com percentuais parecidos em todas as faixas de idade.

Tabela 6.4 – Status do funcionário segundo a idade

Idade (anos)Função

TotalCoordenador Educador Administrativo Pedagógico

Menos de 254 140 28 1 173

3,8% 10,6% 51,9% 8,3% 11,6%

Entre 26 e 3021 363 11 2 397

20,0% 27,4% 20,4% 16,7% 26,6%

Entre 31 e 3522 278 8 2 310

21,0% 21,0% 14,8% 16,7% 20,7%

Entre 36 e 4014 196 4 3 217

13,3% 14,8% 7,4% 25,0% 14,5%

Entre 41 e 4512 165 2 2 181

11,4% 12,5% 3,7% 16,7% 12,1%

Mais de 4532 182 1 2 217

30,5% 13,7% 1,9% 16,7% 14,5%

Total105 1.324 54 12 1.495

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Bases do Sistema de Monitoramento e Avaliação

Acerca do estado civil, percebe-se maior concentração de solteiros(as) em quase todas as funções do ProJovem. No geral, 57% dos profissionais são solteiros(as). A exceção se dá entre aqueles(as) que ocupam funções pedagógicas: 53,8% são casados(as).

Relatório ProJovem108Tabela 6.5 – Status do funcionário segundo o estado civil

Estado CivilFunção

TotalCoordenador Educador Administrativo Pedagógico

Solteiro52 805 44 4 905

44,5% 57,3% 80,0% 30,8% 57,0%

Casado49 523 9 7 588

41,9% 37,3% 16,4% 53,8% 37,0%

Viúvo2 4 1 7

1,7% 0,3% 7,7% 0,4%

Divorciado10 51 1 62

8,5% 3,6% 1,8% 3,9%

Outros4 21 1 1 27

3,4% 1,5% 1,8% 7,7% 1,7%

Total117 1.404 55 13 1.589

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Bases do Sistema de Monitoramento e Avaliação

6.2 Pesquisa com os Educadores do ProJovem: Perfil e Formação

A pesquisa com Educadores foi aplicada a uma amostra de 128 núcleos ativos entre os meses de julho e setembro de 2007, com a validação das respostas de 826 educadores. Observou-se uma distribuição equilibrada dos componentes curriculares, com leve defasagem da “Ação social e comunitária”, menos presente nos núcleos. Em relação à autodenominação de cor de pele, percebe-se uma divisão proporcional entre “Negros” e “Brancos” e baixa presença de “Amarelos” (4%) e “Indígenas” (1,6%). Tem-se, também, que a maior parte dos educadores é constituída por mulheres (68,8%) com idade variando entre 25 e 34 anos (47,2%).

Quanto às características de formação, quase todos têm ensino superior (96,3%), cursado na modalidade presencial (98,8%). Em relação ao tipo de instituição em que cursaram a graduação, há proporcionalidade entre instituições públicas (47,7%) e particulares nas capitais (44%). A maior parte dos educadores tem até 10 anos de formados (77,4%), sendo que 59,2% deles têm entre 1 e 9 anos de experiência em docência. Esses valores apontam a tendência de que os educadores do Programa são recém-formados, com ingresso rápido no mercado de trabalho e relativamente pouco tempo de docência. Aproximadamente, a metade (47,8%) já lecionou no Ensino Fundamental, e 40% têm, ao menos, uma especialização.

Em relação às características de trabalho, apenas 5,8% não trabalhavam antes do ProJovem, e, aproximadamente 15%, trabalhavam em ocupações não docentes. Portanto, a maior parte dos educadores tinha vínculos docentes antes do Programa. Desses, 41,7% trabalhavam em uma escola, e 25% em duas escolas. Considerando-se o número de contratos de trabalho, aproximadamente 40% se dedicam exclusivamente ao ProJovem, e quase dois terços (63,5%) não exercem outra atividade remunerada. O salário bruto como professor está situado entre R$ 601 e R$ 1.800 reais para 80% dos docentes, enquanto a renda familiar bruta é bem maior, na faixa de R$ 1.201 até R$ 3.600 reais para 67,3% dos respondentes.

As características de trabalho apresentadas sinalizam um perfil jovem, de profissionais recém-formados, provenientes da rede pública de ensino e com experiência didática relativamente recente no Ensino Fundamental, além de boa parte ter pós-graduação. Entretanto, há também professores mais velhos (32,3% com mais de 45 anos) e com larga experiência de ensino (31,9% com mais de 10 anos de docência). A renda particular da maioria varia entre 1,5 e 5 salários mínimos, e, em torno da metade, a renda familiar varia entre três e dez salários mínimos.

Relatório ProJovem 1096.3 Relação do Educador com o Programa

A análise dos motivos de ingresso do educador no ProJovem revelou que a ação social, com foco na transformação da realidade dos jovens, e as características do projeto pedagógico implementado são aspectos valorizados em seu primeiro contato com o Programa. Os fatores indicados pelos docentes como motivadores para seu ingresso no ProJovem apontam para a busca de uma nova identidade como educador, vislumbrando a possibilidade de se tornarem agentes ativos na mudança da realidade social na qual esses jovens estão inseridos. Para 40% dos docentes, a realização de um trabalho de transformação social foi a principal motivação e para 39% foi o caráter inovador do projeto.

“As escolas municipais, as escola estaduais que eu conheço, elas estão aquém, porque elas têm um formato muito tradicional na concepção de educação, as escolas do Estado. Parece que eles estão muito mais preocupados em indicar números do que propriamente de formar um cidadão.”

“... muitas das vezes assim a gente trabalhou em colégios que excluem, em colégios preconceituosos, colégios que discriminam e essa é uma oportunidade de estar em uma estrutura que insere, que inclui, isso que me apaixonou.”

A possibilidade de uma transformação coletiva é apontada como um dos propósitos atrativos para o Programa por 97% dos educadores, enquanto a possibilidade de realização de um trabalho diferente da escola regular foi assinalada por 74,4% dos docentes. Mais de 70% concordaram, também, que o desafio de trabalhar com jovens de baixo nível cultural, mas que apresentam grande desejo de aprender, e o tipo de material didático utilizado são elementos de atração ao Programa.

“Com relação a gente trabalhar em escola normal, eu estou mais de trabalhar no ProJovem, porque não estou ligando a nada material, só aos os meus alunos. São muito melhores do que todos que eu já trabalhei, porque nós estávamos preparados para muita coisa, só que chegamos lá foi abraço, carinho e dedicação.”

“Existe um vínculo... existe Esse vínculo muito mais forte entre professor e aluno, mais que na escola normal. Isso existe. Existe também o... os professores eu acho que eles tão... o Programa (...) outro tipo de disposição, outro tipo de instrumento ou até comprometimento que uma escola normal teria.”

“A diferença está mais nos professores. Esses do ProJovem são educados, tratam bem a gente. Professores ótimos, não tratam a gente com diferença.”

“Os professores da escola comum, a maioria ensina por ensinar. Os professores do ProJovem acreditam no que ensinam e ensinam por amor, eles têm muita paciência, isso faz aumentar o interesse da gente para aprender, não só pela a bolsa, mas pelo o estudo mesmo. Foi um incentivo muito grande.”

Os processos seletivos, em geral, articulavam a prova de títulos, aplicada em 62% dos docentes, e a entrevista, aplicada em 47%. Estes valores demonstram que o processo de seleção de educadores para o Programa apresenta uma estrutura formal, ajustada com o mercado de trabalho. A análise do meio mais comum pelo qual os educadores tomaram conhecimento do ProJovem revelou que as propagandas em meios de comunicação (30,9%) foram tão eficientes quanto a indicação de amigos (28,9%) na divulgação do Programa para esse público.

Relatório ProJovem1106.4 Pesquisa com Educadores

Este trecho apresenta a análise das informações obtidas através do questionário de Educadores. Além de traçar o perfil do educador do ProJovem, manifesta sua atuação no Programa. Foi realizada uma pesquisa amostral em 14 capitais, totalizando 826 educadores. Essa amostra foi produzida em maio/2007, com a aplicação do questionário sendo realizada em julho/2007. Ela se dirige principalmente, para o segundo ciclo do ProJovem. A pesquisa, então, refere-se aos núcleos ativos, com no mínimo duas unidades formativas concluídas em julho de 2007, concentrando grande parte das capitais que aderiram ao Programa a partir de julho de 2006 (segunda grande entrada). Muitas cidades tiveram mais de uma entrada. É provável que os educadores tenham permanecido. Infere-se, então, que tais dados sejam muito úteis para traçar um perfil fidedigno de um largo escopo dos profissionais do ProJovem como um todo, inclusive daqueles que iniciaram suas atividades em 2005 ou início de 2006 (primeira grande entrada). A tabela 55 refere-se à participação dos educadores na Formação Inicial do Programa. Percebe-se que 87,7% dos amostrados participaram da Formação Inicial, o que demonstra a grande adesão nesse momento da implementação.

Tabela 6.6 – Participação na Formação Inicial do ProJovem

Educadores Percentual Percentual VálidoSim 719 87,0% 87,7%

Não 101 12,2% 12,3%

Total 820 99,3% 100,0%

Não Sabe/Não Respondeu 6 0,7%

Total 826 100,0%

Fonte: Questionário de Educadores

Ao se analisar a participação por cidade, verificam-se altos índices de participação em grande parte dos municípios, chegando em alguns casos a 100%. Em relação à avaliação da qualidade da Formação Inicial, 91,3% avaliaram-na como positiva: excelente ou boa. Apenas 8,7% qualificaram-na negativamente. Esse resultado demonstra que a Formação Inicial atende bem às necessidades principais para a inclusão do educador no Programa.

Tabela 6.7 – Avaliação da Formação Inicial do educador

Educadores Percentual Percentual VálidoExcelente 288 34,9% 37,5%

Boa 414 50,1% 53,8%

Ruim 57 6,9% 7,4%

Péssima 10 1,2% 1,3%

Total 769 93,1% 100,0%

Não Sabe/Não Respondeu 57 6,9%

Total 826 100,0%

Fonte: Questionário de Educadores

Notou-se que o nível de exigência em relação ao curso de Formação Inicial diminui, à medida que a idade do educador avança. É mais provável que aqueles que se formaram há mais tempo tenham mais proveito desse período, em função da maior agregação de novos conceitos e conhecimentos, uma vez que estavam afastados há mais tempo da Universidade. Em relação aos mais novos, imagina-se que essa exigência se deve ao fato de que alguns conceitos foram estudados há menos tempo em sua graduação, por isso não reconheçam na formação tantos elementos inovadores. Considerando-se a Formação Conti-nuada, 74,1% avaliaram que

Relatório ProJovem 111essa atende a suas expectativas. Esse valor é relevante, mas comparado aos índices de aprovação da Formação Inicial, é menor. Isso demonstra que a Formação Continuada ainda pode ser aperfeiçoada.

Tabela 6.8 – Avaliação da qualidade da Formação Continuada

Educadores Percentual Percentual VálidoSim 585 70,8% 74,1%

Não 205 24,8% 25,9%

Total 790 95,6% 100,0%

Não Sabe/Não Respondeu 36 4,4%

Total 826 100,0%

Fonte: Questionário de Educadores

Em relação ao perfil, 97,1% dos respondentes já haviam concluído o Ensino Superior. Levando-se em conta aqueles que chegaram à pós-graduação, verifica-se o alto índice de qualificação entre os profissionais do Programa. Considerando-se o nível de titulação mais alto completado, observa-se que o nível de exigência em relação à Formação Inicial cresce, quando a titulação aumenta. A hipótese mais provável para tal fato é que, quanto maior a titulação, maior seria a exigência em relação ao nível do Programa de formação. Entre aqueles que avaliaram a formação, nota-se que os educadores com curso superior na área de humanas apresentam maior exigência quanto aos conteúdos apresentados. Os educadores com apenas o Ensino Médio foram aqueles que atribuíram melhores conceitos à Formação Inicial. Ao relacionar capital com a avaliação média da Formação Inicial, percebe-se um retrato muito positivo, com pequena variação na maior parte delas. Uma vez que não foram encontradas distorções entre a avaliação da qualidade da Formação Inicial nas diferentes capitais pesquisadas, infere-se que a qualidade da mesma foi preservada, como um processo nacional e positivo vinculado à implementação do Programa. Os maiores desvios foram encontrados em Brasília e Cuiabá, onde a Formação Inicial foi avaliada mais negativamente, enquanto em João Pessoa e Fortaleza foram observadas mais avaliações positivas. No que se refere à frequência a reuniões pedagógicas, nota-se que é muito alta, uma vez que 92,2% dos educadores declararam participar assiduamente dessas reuniões.

Quando somado àqueles que participam frequentemente, o percentual encontrado (99,1%) demonstra a grande adesão a essas reuniões.

Tabela 6.9 – Frequência de participação nas reuniões pedagógicas

Educadores Percentual Percentual Válido Sempre 744 90,1% 92,2%

Frequentemente 56 6,8% 6,9%

Raramente 3 0,4% 0,4%

Nunca 4 0,5% 0,5%

Total 807 97,7% 100,0%

Não Sabe/Não Respondeu 19 2,3%

Total 826 100,0%

Fonte: Questionário de Educadores

Relatório ProJovem1126.5 Perfil de Formadores e Educadores, segundo dados da FUNDAR

A FUNDAR, responsável pela Formação Inicial, aplica um questionário a seus cursistas, sejam eles educadores ou formadores de educadores. Os dados ora apresentados referem-se à tabulação desses formulários. Considerando-se o sexo, a maioria entre os educadores (71,9%) é de mulheres. A faixa de idade mais comum é de 26 a 35 anos, representando 45,5%. Em seguida, o intervalo mais frequente é o de 36 a 40 anos, que corresponde a 17,7% do percentual válido. Pode-se observar que parte significativa dos respondentes ocupa a faixa de 26 a 40 anos de idade.

No que se refere à ocupação, cerca de 33% dos educadores exercem função docente, e 15,8% são especialistas. Quase todos têm graduação em alguma licenciatura, sendo Letras a mais frequente (21,4%). O acesso dos educadores a cursos de Formação Continuada é relevante, já que 52,6% já participaram dos mesmos. A faixa de renda mensal individual mais comum (84,1%) é de até 5 salários mínimos.

Em relação à experiência profissional na área de educação, 22,6% tem experiência em magistério regular e rede pública. A maior parte ficou sabendo do ProJovem por meio de amigos (36,8%) e da prefeitura (32,6%). Além disso, 48,8% não conheciam o Programa antes de iniciar o curso, e 41,3% o conheciam parcialmente.

Em relação ao acesso a multimeios, 66,2% dos educadores formados pela FUNDAR têm computador em casa, sendo que, desses, 81,4% têm acesso à Internet. Cerca de 43,6% dos educadores fazem uso assíduo de computadores, enquanto 28,3% os usam moderadamente. Para manterem-se atualizados, os educadores recorrem também a jornais e revistas, mas em menor número (14,2%). Cerca de 32,2% dos educadores relataram conhecer alguns dos softwares educativos. Parece que o uso dos computadores nas Estações Juventude pode ser mais abrangente do que apenas nas aulas de informática dos jovens, possibilitando-lhes aulas mais atrativas e interessantes.

6.6 Perfil dos Formadores

Quanto ao sexo dos formadores de educadores, a maioria (80,4%) é do sexo feminino. Não foram observadas variações relevantes na relação entre sexo e idade, estando a maioria dos formadores na faixa dos 36 a 45 anos (cerca de 38%). Em relação à área de graduação, as mais comuns são Pedagogia (41%) e Letras (11%). As demais licenciaturas somam 27%. Ciências Humanas e Sociais somam 17%, e outras, 3%. Alguns possuem mais de uma graduação, com predominância da área de Humanas.

Relativamente à experiência profissional, 73% dos formadores já haviam atuado nessa atividade. O ProJovem não é a única fonte de renda para 77% deles, sendo que 55,8% atuam como docentes em outras instituições educativas. Quanto à experiência profissional com jovens, 11,4% relatam ter atuado em instituições filantrópicas, e 15,9% em Educação de Jovens e Adultos.

Considerando-se a carga horária semanal de trabalho, 32,7% trabalham de 11 a 20 horas por semana. Cerca de 30% trabalham de 30 a 40 horas por semana. Esses dados são indicadores de que esses profissionais exercem mais de uma atividade remunerada, provavelmente para complementar a renda familiar, já que 50% têm renda mensal de 5 a 10 salários, e 32,1% de até 5 salários mínimos.

As formas de divulgação do ProJovem a que tiveram acesso foram, principalmente, alguma instituição a qual estavam vinculados (40,4%) e os meios de comunicação (20,2%). Cerca da metade já conhecia parcialmente os fundamentos do ProJovem antes de serem inseridos no curso, enquanto 27,7% afirmaram ter um conhecimento ainda maior dos fundamentos do Programa. Porém, 26% responderam não conhecê-lo antes de sua inserção nos mesmos.

Outro aspecto abordado foi o acesso à Internet: 94,7% têm acesso à rede, sendo que grande maioria usa mais de um instrumento, como e-mails e sites (38,3%). A maior parte usa o computador frequentemente (77,8%), embora 52,5% dos formadores não conheçam o sistema operacional LINUX. Daqueles que afirmaram conhecê-lo, apenas 18% relataram domínio em sua operacionalização, enquanto 58,7% declararam ter

Relatório ProJovem 113conhecimento apenas parcial, e 23,7% responderam não saber utilizá-lo.

6.7 Rotinas de Supervisão

São poucos os dados oriundos das rotinas de supervisão acerca da formação dos educadores. Dadas suas estratégias de aplicação, há baixa expectativa de inferência, por isso também a coerência com os demais dados é pouco esperada, tanto quanto as comparações entre as diferentes rotinas. No entanto, importa perceber convergências gerais em relação ao fenômeno estudado.

Os dados apresentados referem-se às Rotinas I e II, aplicadas entre julho de 2006 e setembro de 2007. Foram 2.932 formulários aplicados na primeira rotina, e 2.618 na segunda. Acerca da qualificação dos educadores, mais uma vez observou-se uma boa formação, com baixos percentuais de não-graduados (9,2% na rotina I e 4,1% na rotina II) e elevado percentual de pós-graduados (33,7% na I e 36,4% na II). A participação na Formação Inicial também foi massiva: 94,3% dos respondentes da rotina I e 91,4% da II.

A participação na Formação Inicial do Programa é um dos fatores que mais facilitam o trabalho no ProJovem para 24,3% dos respondentes da rotina I e 25,7% da II, o mais elevado percentual entre todos os fatores descritos. Algo similar ocorre com a participação na Formação Continuada. A importância dessa formação é reforçada no item que versava sobre os principais fatores que dificultam o trabalho docente. Na rotina I, 12% dos educadores e, na rotina II, 14% atribuíram a não participação na Formação Inicial como principal fator. São poucos os educadores que não participaram de tal formação, mas parece que essa lacuna é o principal problema enfrentado por eles.

No total, foram 8.975 respostas aos fatores facilitadores na primeira rotina e 8.569 na segunda. Entre os fatores que dificultam o trabalho docente no ProJovem, foram 8.308 respostas na primeira rotina e 8.506 na segunda.

6.8 Análise de discurso

Pelo que foi apontado até agora, tudo parece indicar que os educadores deveriam conhecer bem o ProJovem e suas propostas, uma vez que participaram das formações e as avaliaram positivamente. Isso de fato ocorre. Os educadores demonstram um considerável conhecimento da proposta do ProJovem, tanto curricular quanto política. Em relação ao currículo, têm clareza de que o funcionamento do cotidiano de sala de aula não deve reproduzir a escola tradicional e que os conteúdos frequentemente devem se integrar. Politica-mente, também é clara sua importância para a inclusão juvenil, constituindo importante objetivo para o conjunto da sociedade, bem como a relevância dessa oportunidade para cada jovem em particular. Nesse contexto, em relatos e encontros, aparecem sugestões (boa parte delas incorporadas à proposta do ProJovem Urbano), críticas (notadamente à implementação), comentários (elogios à proposta e desafios à sua realização) e dúvidas (grande parte em função do largo número de inovações).

Os trechos das citações que serão posteriormente apresentados são baseados na fala dos educadores, registradas em vários grupos focais organizados no Brasil durante o primeiro semestre de 200613. Os educadores demonstram aprovar suas diretrizes, bem como seus fundamentos, revelando que estão cientes do mesmo. Parecem conhecer o Projeto Pedagógico Integrado, tanto no quesito curricular quanto no político. Dessa maneira, as três áreas da vida do jovem abrangidas acabam sendo ressaltadas: educação, mundo do trabalho e relação com o espaço público.

O conhecimento do ProJovem está provavelmente relacionado à Formação Inicial. Tal hipótese baseia-se tanto na programação dessa formação quanto em fatores como as limitadas informações disponíveis na sociedade, as poucas fontes de informação, o curto tempo de vida do Programa, o grande conjunto de inovações incorporadas em vários campos, dentre outros. Observa-se que, uma vez verificada a convergência desse argumento em pesquisas com outras fontes e metodologias, o fato de a Formação Inicial ter promovido o conhecimento da proposta em si e a adesão dos educadores (formadores) à mesma pode representar,

13 Informações disponíveis no relatório “Avaliação e participação: a fala de professores sobre o ProJovem”, 2006.

Relatório ProJovem114por si só, um ponto muito positivo na implementação do ProJovem, mesmo sem a consideração específica da capacitação técnica esperada também por essa formação. O conhecimento da proposta e a adesão dos educadores à política são dois dos principais elementos que concorrem para a alteração da identidade docente, que, por sua vez, é um dos elementos definidores do sucesso dos jovens que permanecem no Programa. O processo de recrutamento e seleção de educadores utilizado no Programa foi também relatado pelos educadores. A divulgação precária nos meios de comunicação e pouca informação acerca dos procedimentos e critérios adotados pelos organizadores foram reclamações mais frequentes nos discursos. Porém, formas de seleção mais idôneas também foram relatadas como recrutamento de profissionais que integravam o cadastro de reserva de concursos públicos municipais ou divulgação de recrutamento em sites oficiais, mesmo sendo ações pontuais. As maneiras mais comuns de conhecimento acerca do recrutamento do ProJovem ocorreram, segundo os educadores, pelo contato com pessoas já inseridas em outros programas sociais e educativos para os jovens, como a Educação de Jovens e Adultos.

Considerando-se a motivação do professor em integrar o Programa, ela pode ser sintetizada em dois aspectos: militância e oportunidade econômica. A militância é associada aos pressupostos norteadores do projeto, conjugados muitas vezes com ideias sociais dos educadores. Desse modo, a concretização do projeto associa-se à realização social e profissional do educador, como explicita o relato a seguir.

Foi o projeto, achei ele lindo, maravilhoso e falei nossa, fiquei toda entusiasmada, falei: “Nossa vai ser um projeto dos meus sonhos.” (...)

No que se refere à Formação Inicial, essa é avaliada pelos educadores como muito pertinente, possibilitando-lhes conhecer o Programa, sua estrutura e pressupostos políticos, bem como obter uma visão acerca do seu público-alvo, as peculiaridades dessa modalidade de ensino e questões sociais. Algumas críticas foram apresentadas, como o não acesso a tal formação em alguns núcleos e carga horária excessiva. O desejo de conhecer mais profundamente o ProJovem ficou explícito nos discursos de alguns educadores, o que parece demonstrar o seu envolvimento com o projeto.

“A capacitação pra mim (foi) o melhor que eu encontrei nesse Programa de inclusão social dos jovens. Foi o curso de capacitação.”

“Empolgante, interessante, pessoal super capaz que nos capacitaram assim pessoas assim inteligentíssimas né? Passaram muita experiência pra gente, uma experiência diferente.”

“Eu acho que poderia ter sido aprofundado muito mais, o que é o projeto, as propostas, as diretrizes, tem muita coisa, o próprio livro poderia ter sido trabalhado.”

A Formação Continuada parece ser um elemento não muito produtivo na avaliação de alguns educadores. O foco central (a formação dos educadores) é muitas vezes deslocado, e as questões administrativas das EJs são, muitas vezes, sobrepostas às pedagógicas. Tais observações aconteceram no primeiro semestre de 2006 e podem ter sido alteradas ao longo do tempo, mas os relatos a seguir tratam de alguns dos aspectos negativos citados:

“Na verdade eu penso assim a Formação Continuada, as questões administrativas são tão... sobrepõe né? ... Então essa Formação Continuada na verdade a proposta não era pra ser essa, até que realmente precisávamos sim.”

“Já! Tudo cai naquela mesma coisa, cansativa e não atinge o objetivo da gente. A gente vai lá e a questão administrativa entra, aí a gente perde muito tempo e acaba não falando o que gostaria mesmo que fosse colocado.”

“Tem reuniões boas, mas deixa muito a desejar, a gente perde muito tempo, a gente fica, a gente estava tendo reunião de oito da manhã até cinco da tarde, o dia inteirinho no sábado. E assim a gente perdia muito tempo nessa questão aí.”

Relatório ProJovem 115Tal descentralização pode acarretar, em alguns casos, em perda da qualidade, já que nos poucos núcleos em que a Formação Continuada era efetivamente realizada, logo quando o ProJovem começou, ocorreram avaliações positivas por parte dos educadores.

E em relação à Formação Continuada, que a gente tem toda a semana, algumas oficinas eu vejo assim que são extremamente produtivas e a gente retira bastante coisa delas.

Percebe-se que a relação professor-jovem é pautada por questões afetivas e positivas. Os educadores demonstram preocupação com a vida do jovem externamente ao núcleo, com seu processo de aprendizagem, bem como com os motivos que o fazem evadir do Programa e com o contexto violento no qual estão inseridos. Esses fatores reforçam a hipótese de que o educador está voltado para a formação integral do jovem, o que nem sempre acontece no ensino regular. Esse caráter integral é também indício da militância, um dos fatores que motiva a sua inserção no ProJovem.

A história de vida dos nossos alunos, é uma história toda cheia de promessas não cumpridas, a história deles toda é assim, então na hora que você entra com alguma coisa e promete e não cumpre, gente, você está sacramentando todo um processo que iniciou lá na infância dele...

No entanto, embora tais resultados possam, de alguma forma, extrapolar alguns objetivos estritos (uma adesão alta à proposta não estava prevista como meta da Formação, nem a alteração da “identidade docente”), isso não esgota o papel da Formação Inicial. Ela também deve ser capaz de gerar as competências técnicas necessárias à implementação do ProJovem, em especial de seu Projeto Pedagógico Integrado (PPI). A proficiência dos jovens esbarrará, segundo os formadores, nos limites da proficiência dos próprios educadores que, em geral, tende a se mostrar, em muitas cidades, abaixo da desejável. Entretanto, o fato de terem feito a “opção” pelo ProJovem pode ter sido a chave do compromisso com a política, demonstrado nos GFs.

Esse aspecto é um desafio maior à avaliação. Duas são as principais razões que dificultam tal análise. A primeira delas refere-se ao conjunto dos problemas diagnosticados na implementação, descritos com grande frequência nas pesquisas e nos relatos de supervisão. Uma vez que as condições gerais de oferta não se realizaram de modo suficiente e uniforme no conjunto dos núcleos das diferentes cidades ao longo do tempo, é muito difícil precisar quais limitações no desenvolvimento das competências docentes também podem ter concorrido para a não implementação adequada do PPI nas salas de aula. O currículo é um fenômeno plural, decorrente da manifestação de múltiplas esferas de ação. Em termos metodológicos, é claramente resultado de um processo multicausal (por ser efeito de muitas causas) e interativo, ou seja, é afetado tanto pela causa em si quanto pelo efeito conjunto e integrado da ação de diferentes causas, sendo que essa interação não tem como ser dimensionada e prevista anteriormente com clareza. Por isso, a ocorrência de múltiplas falhas na implementação, notadamente no que diz respeito às contrapartidas municipais, limita a análise da construção das competências técnicas específicas durante a formação e sua relação com implementação do Projeto Pedagógico Integrado.

Todavia, essa mesma análise aponta para duas direções importantes. A primeira delas é a descrição das principais falhas de implementação que comprometem, aos olhos dos educadores, a realização adequada do ProJovem nos núcleos. Isso será tema de um tópico específico, tratado posteriormente. A segunda orientação das análises aponta para as competências efetivamente verificadas, que se mostraram robustas e conseguiram atingir os objetivos previstos, apesar das múltiplas falhas na implementação. Essas competências, portanto, não seriam passíveis de críticas, uma vez que foi verificada sua eficiência em conseguir atingir as metas do Programa, mesmo que, para isso, vários obstáculos tenham de ser superados. Nesse caso, destacam-se, por exemplo:

• A dedicação dos educadores aos jovens e às suas dificuldades de aprendizagem: nas pesquisas de evasão, as dificuldades de aprendizagem não são relatadas como problema. Além disso, as médias das formativas são estáveis e altas, e a proficiência agregada, significativa. Nos grupos focais de jovens, há também reiterados relatos da dedicação dos docentes.

Relatório ProJovem116• A boa relação entre educadores e jovens: os grupos focais com jovens registraram muitos relatos

positivos sobre os educadores, quase os identificando como “heróis” do ProJovem. Por outro lado, não há relatos de muitos incidentes de atrito entre educadores e jovens e há muitos relatos de experiências de sucesso do envolvimento com os docentes.

• A aprendizagem dos conteúdos fundamentais: as avaliações formativas apresentam médias relativamente altas; os jovens que concluem o Programa demonstram proficiência similar à media dos egressos das escolas municipais de Ensino Fundamental e o percentual de jovens que ficam abaixo da média no EFNE é baixo.

• A adaptação ao material didático: nas várias fontes, não aparecem grandes dificuldades relacionadas à compreensão, ao uso, à adaptação ou operação do material didático. Há elogios à qualidade geral e muitas sugestões para seu melhor desenvolvimento, o que demonstra clara compreensão do Projeto do ProJovem e do que se pode esperar de seu material instrucional.

Alguns fragmentos desses relatos indicam sugestões que já foram objeto de mudanças, principalmente aquelas cogitadas na formulação do ProJovem Urbano. Diante da apresentação de um projeto inovador e flexível, certamente ocorrida nos contatos iniciais com o Programa, os educadores se depararam com muitos controles e tendem a sugerir a diminuição do “engessamento” de sua operação para torná-la mais adequada a seu público-alvo, como os padrões de frequência, entrega de muitos trabalhos, número de aulas diárias, inexistência de férias, recessos ou etapas progressivas em que o jovem pudesse regressar após um período fora, dentre outros. Relataram também que tal engessamento acaba por anular os controles, aumentando a fraude. Parece que os educadores tendem a lançar frequências, trabalhos e notas, mas alguns agentes administrativos, em especial nas EJs, não realizam a inclusão no sistema.

(Na EJ eles) não têm controle de absolutamente nada, você manda as notas e as notas que vão (são outras). Os trabalhos e a frequência, que estão atrelados basicamente à bolsa dos jovens (também). Os que fazem, os que estão ali diariamente são penalizados e os que não aparecem, recebem.

Críticas acerca de falhas na implementação, dirigidas, sobretudo, às Coordenações Municipais, foram recorrentes. Uma sugestão foi a realização de um curso para os Gestores Municipais de diversos níveis. Tal curso poderia ocorrer nos moldes da formação dos formadores e mesmo de educadores. Esses relataram a discrepância existente entre o projeto e a realidade de trabalho, o que revela o seu conhecimento. No plano estrutural, destacaram a carência de espaço físico, de ambientes apropriados para as aulas, bem como as dificuldades decorrentes da localização dos núcleos. Relatos sobre problemas de comunicação entre a Gestão Municipal do ProJovem e os estabelecimentos de ensino designados para alocar o Programa foram constantes. Alguns educadores relataram a maneira hostil com que foram tratados pelos diretores das escolas, chegando mesmo a serem “expulsos” das mesmas.

As críticas à implementação também se referem às aulas de informática e qualificação profissional. Segundo os educadores, esses seriam os maiores atrativos do Programa para os jovens. A ausência dessas aulas, tanto para núcleos iniciantes, quanto em núcleos que se encontravam no fim do Programa, são reveladoras das fragilidades da implementação, como se observa no depoimento abaixo. A organização do Programa também foi bastante criticada pelos professores, afirmando a precariedade da articulação entre as esferas do mesmo.

Nós criamos uma expectativa muito grande de que Esse Programa era diferenciado, que traz uma, teoricamente ele traz atrelado três esferas da educação que é a formação básica a formação da escolarização, a formação para o trabalho e ação comunitária, isso é algo novo, interessantíssimo e realmente é o caminho que deveria ter sido. Na verdade essa história não aconteceu, não houve integração de AC, não houve integração de EQT...

Relatório ProJovem 117Em outras situações, há muitas sugestões que transcendem o funcionamento imediato do núcleo e demonstram alto grau de conhecimento do ProJovem e envolvimento com ele. No que se refere aos recursos materiais e pedagógicos, as opiniões são divergentes. Isso sugere diferenças de operacionalização do Programa. Carência de recursos didáticos comuns a qualquer instituição educativa (caneta, papel, giz, quadro negro, etc.), bem como de recursos de multimídias (computadores, aparelhos de DVD, etc.). é frequente nos relatos.

Nos núcleos em que tais carências parecem estar mais agravadas, os educadores tentam supri-las com recursos próprios. Porém, mesmo lançando mão desses mecanismos, eles continuam a buscar junto às Estações Juventude a solução desses problemas. Isso revela o quanto os educadores conhecem o projeto em seus aspectos estruturais e organizacionais, vislumbrando a sua implementação de maneira efetiva. Em contrapartida, em outros núcleos, os educadores declararam ter suporte de recursos didáticos satisfatório, utilizando os recursos físicos e de multimídias disponíveis nas escolas em que estão implementados.

Os educadores descreveram o material didático, principalmente o livro, como muito bem elaborado, enfatizando sua qualidade, notadamente o material de língua inglesa. Porém, ressaltaram alguns aspectos que merecem maior atenção: a linguagem empregada em alguns livros, segundo os educadores, contém regionalismos que dificultam a compreensão por parte de um público tão diversificado; a existência de termos do senso comum em detrimento de termos científicos em alguns livros é uma fragilidade que dificulta a ampliação do vocabulário dos jovens, dentre outras. Entretanto, a denúncia dessas fragilidades tem por objetivo melhorar a qualidade do que é produzido para os jovens, não sendo críticas negativas aos materiais didáticos como um todo. Mais uma vez, percebe-se o envolvimento dos educadores com a qualidade do que está sendo veiculado pelo Programa. Isso fica bem elucidado no relato abaixo.

Nos núcleos onde eu trabalho a recepção do ProJovem foi muito boa, até hoje a gente tem acesso a toda a estrutura da escola, quadra, biblioteca, laboratório de informática, Internet, a gente tem acesso a tudo, até o próprio material como folhas, caneta, pincel.

Mas lá nós temos uma escola municipal que nos dá toda a estrutura, inclusive os computadores. Mas assim uma diretora que nos acolhe que parece assim que a gente tá no céu de alegria...

Acho que em alguns casos tiveram erros, por exemplo, um erro que eu aponto no caso de ciências humanas, existe na unidade 1 um conceito de urbanização totalmente equivocado, totalmente errôneo e nós, na nossa Formação Inicial com o pessoal da UFMG, nós discutimos isso mesmo. A professora de inglês disse que na unidade 1 veio alguns erros no livro, o professor de português, eu não sei se tem alguém aqui, também reclamou de muitos erros no livro de português e principalmente os de português, foram os que mais reclamaram. Isso acontece? Acontece, nós somos capazes de relevar isso? Sem problema, isso não precisa nem chegar em Brasília, chegue que da próxima vez haja uma revisão mais detalhada pra não virem inclusive provas com erro. Esse é o problema do material, mas ele em si é muito bom, é interessante.

A questão da evasão também foi abordada pelos educadores. Eles demonstraram preocupação com os altos índices de evasão, buscando identificar as possíveis causas que levam o jovem a se afastar do Programa. Esses profissionais afirmam que a evasão pode ser associada a diversos fatores, sendo os problemas de implementação das aulas de informática e qualificação profissional os grandes motivos para o afastamento do jovem do ProJovem. Isso gera grandes preocupações, sobretudo porque os maiores atrativos para os jovens no Programa, na visão dos educadores, são as aulas de qualificação profissional e informática.

Um deles é desilusão com o próprio Programa. Por que as pessoas tinham uma expectativa e foi outra, alguns deles inclusive com os EQT’s. Eles falavam “Eu vou sair daqui com uma profissão!”, eles chegavam com essa expectativa e “Não vai ter então vou sair!”, Outros por conta de, desse caso, de estar vinculado ao dinheiro e realmente ele não tinha o dinheiro, ou foi por lá e pensava que lá era um assistencialismo puro e simplesmente e acabou não recebendo e saiu ...

Relatório ProJovem118A questão do EQT é um problema sério também porque, aqui se falou que nem começou o EQT na primeira estação (...), o horário, os meninos não tem como, eles não trabalham, mas eles fazem bico, têm obrigação, as meninas são mães, tem uma série de questões. Segundo, não tem dinheiro pra pagar passagem, vai deslocar, a gente nem sabe onde que vai ser. Nós estamos fazendo um outro levantamento no núcleo, pra todo mundo escrever, que é a dificuldade que vai ter de estar fazendo durante o dia, por causa da passagem, por causa do trabalho, isso tudo vai ser levado, vai ser outra vez encaminhado, não sei se vai resolver, mas é outra luta que a gente está tendo, pra ver o que é que vai poder ser feito.

A comparação com o ensino regular revela aspectos positivos do Programa, na visão dos professores. Maior autonomia em relação à maneira de lecionar e solucionar os problemas que emergem no cotidiano de sala de aula é um deles. Há também a perspectiva de terem chegado de um modelo tradicional e se depararem com um modelo de “educação” mais participativo e até um pouco mais agitado do que normalmente existe.

Esse tipo de comentário revela não só conhecimento de detalhes específicos do Programa como a tentativa clara de buscar uma solução para os problemas. Muitos educadores tomam como seus os problemas e desafios do ProJovem. Isso demonstra comprometimento e adesão aos ideais da política. Não deve ser creditado exclusivamente à Formação Inicial esse tipo de efeito. No entanto, é inegável sua relação com tal comportamento docente. De outra forma, esse resultado provoca também seus próprios efeitos em cascata. O mais importante é direcionado à redefinição da identidade do professor. O educador tende a se enxergar de forma distinta, bem como suas funções na sala de aula. Essa transformação é muito evidente para os jovens. Três parecem ser os eixos em torno dos quais os educadores articulam essa nova identidade:

Identidade Republicana: os educadores percebem a importância de sua ação para a sociedade como um todo, para o país, enfim, para a construção do Bem Público. Inclusão, diminuição das desigualdades, aprendizagem efetiva, inserção no mercado de trabalho, envolvimento com os problemas da comunidade são alguns elementos que aparecem como redefinidores da ação docente.

Identidade Missionária: os educadores percebem que realizam uma importante ação social, algo positivo, bom, que tem méritos únicos num país que precisa muito desse tipo de ação. Sua aula é repleta de elementos únicos, que o tornam peça chave para a promoção do bem comum. Sentem-se gratificados por isso e de alguma forma percebem que sua ação ganhou novo sentido e novo significado.

Identidade docente: os vários elementos inovadores do PPI fazem com que muitos educadores redescubram seu prazer e sua motivação em dar aulas, em promover a aprendizagem de jovens excluídos, em vencer desafios e superar os obstáculos que antes haviam expulsado os jovens da escola. Percebem a construção de uma nova competência técnica, sentem-se aprendizes e, ao mesmo tempo, mais capazes. Isso representa uma soma às suas experiências e competências.

É comum que tais educadores encontrem núcleos em condições gerais não satisfatórias. Como dito anteriormente, a esfera municipal é identificada como a principal responsável pelos problemas, embora isso também afete a Gestão Central do ProJovem. Na perspectiva dos educadores, o Comitê Gestor Municipal não funciona adequadamente. É pouco útil e normalmente atrapalha. Esse tipo de relato foi mais frequente entre os formadores. Eles também apontam que seria muito proveitoso que os convênios contemplassem e explicitassem melhor as contrapartidas municipais.

Na opinião dos educadores, o processo de adesão ao ProJovem poderia prever mãodupla, com iniciativa tanto do Município quanto do Governo Federal. Dessa forma, as contrapartidas poderiam ser previstas na proposta de adesão. Os agentes públicos que demandariam o ProJovem descreveriam num projeto ou carta de intenções as contrapartidas mínimas e as estruturas (regulares e extraordinárias) que garantiriam

Relatório ProJovem 119o funcionamento mínimo do Programa tal como previsto em seu Projeto. Assim, seria possível a abertura de núcleos por demanda, a partir da obtenção de um número mínimo de “matrículas” e solicitação via Prefeitura, Estado (ou ONG, com mediação de uma esfera pública).

As investigações acerca da implementação também apontam na mesma direção. Os convênios tendem a privilegiar muito os municípios, preveem requisitos mínimos nas contrapartidas (o que acaba gerando mais demandas aos municípios, que ainda assim não suprem as necessidades dos núcleos), limitam a atuação da Coordenação Nacional sobre a implementação local (o que dificulta imensamente a correção de qualquer problema de implementação ou fraude, ainda que identificado a tempo), e não preveem a responsabilização ou punição para as situações em que as ações municipais não são coerentes com o previsto no Projeto. De maneira geral, as contrapartidas, ou a ausência delas, são o maior entrave à implementação e à melhoria da qualidade.

Parte do sucesso está diretamente relacionado ao fato de os educadores acreditarem na proposta curricular e política do ProJovem. Essa proposta é apresentada geralmente na Formação Inicial. A forma como ela é apresentada promove maior adesão dos formadores e educadores à proposta e isso é fundamental nos meses seguintes, porque eles passam a ser defensores e quase coimplementadores do ProJovem.

De modo geral, observou-se que os elementos destacados na ação e no discurso docente encontraram paralelismo, em sua Programação, com elementos destacados pela Instituição responsável pela formação (FUNDAR), tanto de alguns grupos de educadores quanto, principalmente, do conjunto dos formadores. De certa forma, parece ter ocorrido algum tipo de transmissão da cultura institucional da FUNDAR através das estratégias de gestão da Formação Inicial. Além dos elementos característicos do ProJovem, são enfatizados na Formação Inicial características da FUNDAR, herdadas do pensamento do próprio Darcy Ribeiro, que se revelaram em grande parte ajustadas à operação do ProJovem, como o compromisso político, o desafio de diminuir desigualdades, a crença no potencial do povo brasileiro e sua juventude, etc.

Em si, esse efeito imprevisto não apresenta valoração positiva ou negativa. Quando se contrata uma Instituição para formar os profissionais responsáveis pela realização de determinado plano de ação (como uma política pública), os elementos definidores dessa ação é que são centrais. As características culturais da Instituição contratada devem ser minimizadas ou mesmo anuladas, para darem completo destaque à política em si. No entanto, nesse caso, parece que a Formação Inicial conseguiu explicitar bem os conteúdos relacionados ao ProJovem e o papel coadjuvante assumido pelos conteúdos destacados pela FUNDAR tiveram efeito muito positivo.

A aliança entre competência técnica e compromisso político, argumento chave do discurso da FUNDAR, parece ter encontrado no ProJovem um terreno fértil para sua realização, principalmente ao encontrar no PPI e no Material Didático uma resposta aos anseios de educadores que queriam reencontrar o prazer de educar jovens, mas não encontravam uma boa proposta técnica, de qualidade. Quanto maior a distância entre a FUNDAR e a formação do educador, mais frágil tende a ser a Formação Inicial. Quanto mais próxima, mais ajustada tende a ser essa mesma formação. Por isso, o acompanhamento das Instituições Formadoras em cada região merece zelo especial. Esse argumento é reforçado pelas críticas à Formação Continuada, algo inverso do verificado em relação à Formação Inicial.

121Relatório ProJovem

7.1 Desenho e Público-Alvo

A exclusão juvenil, em todo o país, é ainda muito grande, embora demonstre sinais de diminuição ao longo dos anos. Os maiores entraves à inclusão são fatores relacionados aos desafios da vida do jovem, como trabalho, família, local de moradia e limitações econômicas; bem como sua história pregressa, marcada por uma trajetória educacional conturbada e atitudes excludentes dos sistemas de ensino. Parece inquestionável, portanto, que é plenamente justificável uma política que ofereça a esses jovens condições de recuperar a possibilidade de continuar os estudos e, consequentemente, abrir novos espaços para sua inclusão no mercado de trabalho.

A inclusão de jovens, como os que se enquadram no perfil do ProJovem, depende de políticas específicas para esse público-alvo. Reiterou-se que tais programas não competem com as já tradicionais Políticas de Educação de Jovens e Adultos. Ao contrário, ampliam a rede de atendimento do Estado e fornecem subsídios à reflexão das ações governamentais, bem como para estratégias em parceria, complementares ou de mútuo reforço.

Por meio dos dados colhidos de alunos ingressantes no programa, confirmou-se mais uma vez que o ProJovem atende à população a qual se destina, predominantemente àqueles que se encontram em piores condições de vida, dentro de uma faixa da população já marcada pela pobreza e pela exclusão histórica e estrutural. Além disso, foi possível obter a confirmação de que o desenho e o funcionamento do programa não segmentam seu público, ou seja, não há viés interno de perfil entre ingressantes e concluintes. Logo, todos os perfis são equanimemente aceitos pelas características do Programa, inibindo a emergência de qualquer tipo de discriminação ou empecilho à finalização do curso, o que reforça seu caráter inclusivo.

No entanto, mais uma vez observou-se a grande dificuldade de esse público conseguir vencer, durante 12 meses seguidos, todos os desafios impostos por sua condição de vida. São alunos jovens, em situação de vulnerabilidade social que, por diversas circunstâncias, foram desprovidos do direito de apropriarem-se do conhecimento, mas que puderam retornar aos bancos escolares, vislumbrando uma oportunidade de retomar seu processo de aprendizagem sob novas perspectivas. Esse grupo específico, contudo, que teve uma relação conflituosa com o ambiente escolar, constituída por anos de fracasso, apresentou dificuldade em manter-se no programa. Muitos desistiram nesse processo. Grande proporção dessa evasão, segundo as diversas pesquisas realizadas, está correlacionada a questões sociais externas ao programa, mas a taxa de evasão de 27% para o Brasil, e que, em alguns municípios, passou de 40%, indica a necessidade de um contínuo esforço para atrair e manter os alunos nas salas de aula. Tal desafio compete não só à gestão central, mas também às gestões locais. Um exemplo disso é o ótimo desempenho obtido em Recife e Rio de Janeiro que tiveram êxito em seus trabalhos para a diminuição da evasão.

Não só a evasão mas também a baixa frequência dos alunos constituíram outro desafio para o programa. Os dados de supervisão, utilizados como suporte para muitas das conclusões Desse relatório, constatam uma baixa assiduidade entre os alunos do programa. Segundo relatos de alunos, os principais motivos apresentados para as faltas são o trabalho dos jovens e a dificuldade em conseguir responsáveis para cuidar dos filhos, no caso das alunas que são mães. Porém, como demonstados, a instável assiduidade sugere que a frequência regular também pode ser prejudicada pela ausência de disposições positivas em relação à prática do estudo, já que os participantes do ProJovem tiveram trajetórias educacionais bastante erráticas, marcadas por reprovações e defasagem escolar.

Considerações Finais7

Relatório ProJovem122Da mesma forma, os processos iniciais de inscrição/matrícula, em especial seu interstício e suas formas de contato com o jovem, e matrícula/implementação inicial, em especial a entrada em operação de todos os procedimentos que deveriam ser prévios à abertura de um núcleo, representam também desafios à gestão, tanto central como local. Muitas matrículas não chegaram efetivamente a se converter em frequência aos núcleos, configurando a desistência como o principal problema relacionado ao recrutamento dos jovens. Tais diagnósticos motivam proposições, como a de diminuir o intervalo entre o contato com o jovem e o início das atividades, o planejamento mais atento das entradas e sua concentração para otimizar esforços, além da revisão dos procedimentos de início dos núcleos e outras medidas.

Em síntese, observou-se que a exclusão no Brasil ainda é muito grande e que as políticas tradicionais encontram dificuldades para atender a tais segmentos excluídos; sua distribuição geográfica é plural e suas condições de vida ainda operam como um obstáculo a seu atendimento. O desenho do ProJovem mostrou-se atraente e ajustado a seu público. Deverão ser aprimoradas estratégias específicas, como recrutamento, matrícula, programação curricular e planejamento das entradas.

7.2 Efetividade

Considerando-se as características de seu público-alvo e os resultados obtidos, é possível afirmar que o ProJovem atingiu seus principais objetivos. A proficiência agregada pelos jovens ao longo do Programa, com a exceção de alguns municípios que apresentaram resultados atípicos, denota uma elevação significativa na escolaridade de seus alunos. Além disso, os jovens conseguiram acompanhar com êxito os temas abordados no Material Didático, o que é verificado através das aprovações nas Unidades Formativas no decorrer do programa e no Exame Final Nacional Externo.

A relação com o mundo do trabalho também se altera positivamente. Durante o período de desenvolvimento do ProJovem foi possível observar uma mudança de atitude em relação ao trabalho com jovens, ampliando-se os espaços de discussão nas capitais e municípios envolvidos. Os que persistiram e alcançaram sua certificação saíram totalmente transformados em relação às suas expectativas de vida, especialmente porque o acesso ao conhecimento os desafiou a prosseguirem em seus estudos e aumentou a sua confiança. Dessa forma, as perspectivas de inserção no mercado de trabalho também se ampliaram.

Além disso, um número expressivo de trabalhadores, antes desqualificados, passa a estabelecer uma nova relação com a esfera produtiva, permitindo a oferta de mão de obra mais adequada ao mercado de trabalho, conhecedora de seus deveres e de seus direitos, e melhor qualificada para geração de maior produtividade e valor agregado. Logo, esse conjunto de fatores permite maior renda, maior circulação de mercadorias e serviços e maior autonomia, o que por sua vez gera menor desigualdade e menor dependência das redes de proteção social, sejam governamentais, familiares ou sociais.

Por fim, com relação à questão de cidadania e ação comunitária, os jovens do programa possuem vínculos com seus locais de residência, mas com baixo capital social. No entanto, com a realização do ProJovem, seu capital social é ampliado. Os jovens que ingressam no programa passam a conviver com mais amigos e desenvolvem relações positivas com seus professores – que apresentam uma perspectiva de fora, preocupada com o status de exclusão de seus alunos. Observa-se, também, um maior engajamento dos alunos, ao término do programa, com associações de bairro e outras não religiosas. Além do aumento em trabalhos voluntários e uma maior autoestima, os resultados sugerem que o ProJovem proporciona aos jovens alunos mais do que o aumento da escolaridade. Percebe-se a ampliação do seu interesse pela comunidade em que vive e um maior envolvimento com ações comunitárias. Nota-se, também, o desenvolvimento de competências e habilidades básicas para a vida pública, pessoal e o mundo do trabalho. Contudo, essa esfera do ProJovem se mostra como a menos atraente para os alunos. As aulas de ação comunitária são vistas por alguns alunos como tempo perdido, preferindo que o seu tempo fosse ocupado com aulas extras de matemática e inglês, ou com os cursos de informática e qualificação profissional. Isso reduz o potencial efeito do programa com relação a esse aspecto uma vez que ele recebe menores “investimentos” pessoais dos jovens em sua realização.

Relatório ProJovem 1237.3 Implementação

Se a efetividade constituiu a dimensão mais exitosa do Programa, a implementação revelou-se portadora de mais e maiores desafios. São três as principais esferas nas quais a implementação encontra maiores dificuldades de realização: o início dos núcleos (recrutamento e implementação inicial), a oferta simultânea dos elementos diferenciadores do PPI (principalmente Informática e QP) e a articulação entre as Instituições (em geral, escolas) que recebem o Programa, as Coordenações Municipais, a Coordenação Nacional e as Instituições Regionais. Por outro lado, a implementação mostra-se positiva em áreas estratégicas para o Programa, como a Formação de Educadores, a implantação dos sistemas informáticos, dentre outras.

A fase inicial de abertura dos núcleos parece ser um grande “gargalo” de todo o processo de implementação. O largo interstício entre a matrícula e o início das aulas fragiliza a relação entre o ProJovem e seu público-alvo, favorecendo a desistência, muitas vezes involuntária, como as que decorrem de migração ou falhas de comunicação (contato) com o jovem. Além disso, a abertura dos núcleos envolve uma extensa série de processos: dados para abertura de contas, validação das matrículas, instalação e implantação dos sistemas informáticos e dos laboratórios de informática, treinamento dos profissionais envolvidos, adequação das instalações, envio e entrega dos materiais, dentre outros. De fato, o desafio é enorme. No entanto, isso não justifica sua não realização. Quanto maior o intervalo entre a abertura de inscrições e o início das aulas, maior tende a ser a desistência. Além disso, quanto mais fragmentada é a abertura de núcleos, mais frágil é sua implementação, mais conturbado é seu percurso, e mais complicado fica o processo de supervisão e monitormaneto.

Importa salientar que todo o planejamento do ProJovem (número de núcleos, computadores, materiais, contratação de educadores, dentre vários elementos) é baseado no número de matrículas, e a desistência representa uma enorme mudança nesse número. Hoje, há cidades em que a desistência na primeira Unidade Formativa chegou próxima a 70%. Além disso, o pagamento de benefícios está diretamente relacionado aos dados completos de matrícula e os indicadores de insucesso no pagamento são afetados por esses casos. Soma-se a isso o número de benefícios pagos no primeiro mês (em que é registrada para todos a aptidão em relação à frequência e à entrega de trabalhos) e que posteriormente são objeto de estorno, um processo muito moroso e que poderia ser evitado. A fusão de turmas e núcleos, o excesso de testes impressos e enviados e outros problemas de implementação enfrentados ao longo do Programa estão ligados ao período inicial dos núcleos. Por isso a recomendação de alterações nesse processo e atenção especial à sua realização.

Em relação ao pagamento dos benefícios, como dito, boa parte dos problemas estão ligados à implementação inicial. O trabalho dos “Apoios ao Cadastro” resolveu grande parte dessas falhas de informação. De forma geral, a prolonga no pagamento de benefícios não parece se dever ao sistema de pagamentos em si, mas aos prazos inerentes ao processo e, principalmente, ao período inicial de abertura dos núcleos, como as informações mínimas para abertura de conta, o lançamento completo dos dados de frequência e entrega de trabalhos, a exportação para o CAEd, etc. Considerados todos os fatores, a operação de pagamento de benefícios é avaliada positivamente, também por ter se mostrado hábil na solução dos problemas encontrados ao longo do processo.

O PPI revela sinais ambíguos de implementação, mas muito positivos de efetividade, fato sinalizador de que seus resultados poderiam ser ainda melhores se sua implementação fosse plena. Em relação aos materiais didáticos, formação de educadores e outros elementos eminentemente pedagógicos, a implementação do PPI obteve grande êxito, o que é muito coerente com o rendimento dos jovens. Contudo, o componente curricular QP apresenta implementação irregular, muitas vezes tardia, fundamentalmente em decorrência do prazo, que, por sua vez, também se relaciona a alguns elementos dos convênios.

Dentre os elementos do PPI, a Informática, mais especificamente a implantação dos laboratórios, foi o elemento que demonstrou piores indicadores e que mais comprometeu seu funcionamento, uma vez que se previa a inclusão digital ao longo de todo o Programa. Mesmo com motivação e envolvimento elevados, esse elemento curricular não obteve o êxito esperado.

De forma geral, a implementação do PPI pode ser avaliada positivamente. O cerne de seus elementos pedagógicos superou os desafios experimentados pelo ProJovem como um todo, e pelos componentes do

Relatório ProJovem124PPI em particular, e conseguiu se apresentar de maneira clara e positiva dentro do cotidiano dos núcleos. Seus resultados também foram positivos. A aprendizagem avançou em média um nível de proficiência e se nivelou com egressos da escola regular. O acompanhamento dos conteúdos expressos no Material Didático também foi proveitoso, e os resultados do EFNE foram significativamente positivos. A relação com o Trabalho se alterou e houve ganhos importantes nas expectativas, nas formas de obtenção de trabalho, nos projetos profissionais, na qualificação e em outros indicadores. No entanto, tais resultados poderiam ser melhores se outros componentes, em especial QP e Informática, tivessem conseguido maior êxito em sua efetivação, principalmente na oferta simultânea e plena dos componentes curriculares. Mais uma vez, isso também está relacionado à preparação prévia dos núcleos em sua fase inicial de trabalhos, o que está diretamente ligado à primeira esfera crítica de implementação.

A terceira esfera se refere aos problemas enfrentados pela articulação institucional necessária à correta implementação do Programa. Foram muitas as evidências de atritos entre os núcleos e as instituições que os alocaram. Salas fechadas, limitações de acesso às instalações, separação entre alunos regulares e os jovens atendidos, dificuldades para conseguir instalar o laboratório de informática, dentre outros entraves, são exemplos dessa dificuldade de articulação no nível operacional. Logicamente, esses empecilhos estão também relacionados às esferas citadas anteriormente, mas referem-se a um tipo distinto de problema.

O desenho do ProJovem prevê uma articulação institucional complexa. Era esperado que surgissem atritos e desafios em sua realização. No entanto, observaram-se mais entraves do que os esperados no nível operacional (núcleos e escolas) e menos no nível central (Coordenações Municipais e Nacional). De forma geral, os dilemas centrais são resolvidos com relativa eficiência, derivada de negociações em bloco dos problemas e soluções únicas, baseadas numa decisão central. Já os problemas operacionais mostram-se pontuais, não tão graves a ponto de demandar intervenção central, com demanda de negociação local e com tendência a se multiplicarem, o que, no conjunto, representam problemas mais graves do que os verificados no nível central, mas sem a possibilidade de resolução na forma gerida pelos problemas centrais.

Por outro lado, a Coordenação Nacional (CN) tem acesso aos problemas pontuais (de núcleos) de forma bastante rápida e clara através do SMA (em especial através da Supervisão e do Monitoramento), bem como de canais abertos de diálogo com todos os Subsistemas, o que facilita também sua compreensão e instrui melhor a tomada de decisões. No entanto, a CN não dispõem dos mecanismos de intervenção direta, nem de mecanismos indiretos de intervenção sobre as Coordenações Municipais (CMs), quando essas não resolvem os problemas citados. Na via inversa, as CMs dispõem dos melhores meios e recursos para intervenção, mas dispõem de acesso mais limitado ao SMA, o que pode ser uma das origens da dificuldade de decisões ágeis e adequadas. As demandas das CMs por dados também alimentam essa hipótese.

7.4 Concluindo

A reinserção do jovem na escola, a identificação de oportunidades de trabalho e capacitação para o mundo do trabalho, a identificação, elaboração de planos e o desenvolvimento de experiências de ações comunitárias e a inclusão digital como instrumento de inserção produtiva e de comunicação foram contribuições do programa que puderam ser observadas nas visitas de supervisão e na aplicação dos exames externos. Foi possível verificar que o ProJovem apresentou uma dimensão de qualidade crescente, especialmente quando-se observoue o avanço qualitativo demonstrado pelos alunos no decorrer de um ano de intensas atividades.

Merece destaque o alto índice de participação discente nos Fóruns promovidos pelas Coordenações Municipais, pelo companheirismo e atitude cidadã desenvolvida por meio dos projetos de Ação Comunitária e a elevação do nível de escolaridade, expressos na melhoria na produção escrita, leitura e cálculo.

Relatório ProJovem 125Com o desenvolvimento de projetos que evidenciavam a integração entre ensino fundamental, qualificação profissional e ação comunitária, o programa ofereceu muitas oportunidades para que os jovens experimentassem novas formas de interação, se apropriassem de novos conhecimentos, reelaborassem suas próprias experiências e sua visão de mundo e, ao mesmo tempo, se re-posicionassem quanto à sua inserção social e profissional.

Por fim, a análise dos dados leva a uma constatação importante. Uma vez que a universalização do acesso à escola, aliada aos projetos de aceleração educacional e recuperação dos jovens em situação de defasagem escolar, tem conseguido, ao longo do tempo, incluir parcelas significativas desse contingente populacional, parece adequado que o ProJovem amplie o teto etário a que se propôs atender inicialmente, como o fez no ProJovem Urbano – o novo desenho do programa que entrou em vigor em 2009. De fato, a inclusão do grupo de 25 a 29 anos nas ações governamentais já vem ocorrendo no país. A ampliação desse limite de idade não é uma singularidade brasileira. Trata-se de uma tendência geral de países que buscam implementar políticas públicas voltadas para a juventude. Portanto, a principal motivação Dessa ampliação da faixa etária juvenil está relacionada à realidade da população brasileira. As lições do ProJovem em seu desenho original servem de exemplo para esse novo desenho do programa. Com a experiência adquirida nesses três anos de 2005 a 2008, o ProJovem Urbano promete obter grandes êxitos na reinserção social de muitos jovens brasileiros.