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RELATÓRIO FINAL Metodologia O papel dos municípios na educação Breve caracterização da Área Metropolitana e da cidade do Porto Volume 1 Maio de 2007 Grupo de Trabalho Carta Educativa do Porto

RELATÓRIO FINAL Metodologia O papel dos municípios na ... · A realidade educativa da cidade do Porto é equacionada em termos da oferta e da procura de ensino e de formação,

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RELATÓRIO FINAL

Metodologia

O papel dos municípios na educação

Breve caracterização da Área Metropolitana e da cidade do Porto

Volume 1 Maio de 2007

Grupo de Trabalho Carta Educativa do Porto

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Equipa Técnica Coordenação do Grupo de Trabalho para a elaboração da CEP

António Lacerda (CMP/GEP) Constituição do Grupo de Trabalho - Câmara Municipal do Porto Gabinete de Estudos e Planeamento

Fernando Pau-Preto Idalina Machado Ana Sofia Vasconcelos

Colaboração Carlos Oliveira Marta Gomes Natércia Azevedo Sérgio Rocha

Departamento de Educação e Juventude Manuela Góis Paula Pimentel

Direcção Municipal de Urbanismo / Departamento de Planeamento Urbanístico

Lurdes Carreira Direcção Regional de Educação do Norte

Vasco Freitas Contactos: Câmara Municipal do Porto Telefone: 222 097 000

Email: [email protected]

Gabinete de Estudos e Planeamento Telefone: 222 097 008 Praça General Humberto Delgado Fax: 222 097 081 4049-001 Porto Email: [email protected] Departamento Municipal de Educação e Juventude Telefone: 222 061 750 Rua de Entre Paredes, 61, 1.º Fax: 222 061 798 4000-198 Porto Email: [email protected] Porto, Maio de 2007

CEP

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Índice volume 1 I. Introdução / Antecedentes 1 II. Metodologia adoptada para a elaboração da Carta Educativa do Porto 1. Pressupostos assumidos 12. O Papel da Autarquia Local 23. O Processo de Elaboração 3

3.1 O Diagnóstico 33.2 A Estratégia de Intervenção 73.3 A proposta de reordenamento da rede escolar 9

III. O papel dos municípios no desenvolvimento da educação. A educação no contexto europeu, nacional e metropolitano 1. O papel dos municípios 12. As cidades educadoras 43. Contexto europeu e nacional 64. Contexto metropolitano 13 IV. A Cidade do Porto, principais tendências evolutivas 11. Principais tendências evolutivas a nível sócio-económico 2

1.1 Dinâmicas demográficas 21.1.1 Evolução e distribuição da população residente 21.1.2 Crescimento natural e estrutura etária da população 5

1.2 Dinâmicas sócio-económicas 81.2.1 População residente empregada, evolução dos níveis de instrução e respectiva distribuição territorial

8

1.2.2 Perfil de actividades da população residente empregada 121.2.3 Emprego 141.2.4 O Porto no contexto nacional 15

2. Condições materiais colectivas 173. Estratégia de desenvolvimento urbanístico 20

3.1 Linhas orientadoras na intervenção do município 203.2 Zonas prováveis de expansão urbana 20

3.2.1 A Baixa 203.2.2 Zona Empresarial do Porto 213.2.3 Outras Intervenções Prioritárias 213.2.4 Futuras áreas de desenvolvimento 24

4. Considerações finais 25 Índice de figuras CAPÍTULO 2 2.1 – Componentes do diagnóstico 3

2.2 – Componentes da estratégia 7

2.3 – Componentes da proposta de reordenamento da rede 9

CAPÍTULO 3 3.1 - Níveis de escolaridade da população dos 25-64 anos na UE (a 25 estados) – 2002 7

3.2 - Saída precoce do sistema de ensino (2001) 7

3.3 - Educação Pré-Escolar (público e privado) por concelho da GAMP (%) 14

3.4 - Ensino Secundário (público e privado) por concelho da GAMP (%) 15

3.5 - Evolução das frequências escolares por níveis de ensino na GAMP 15

CEP ii

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3.6 - Evolução das frequências escolares por concelho da GAMP 16

3.7 - Peso dos alunos do Porto no total da GAMP (%) por ensino público e ensino privado 16

3.8 - Taxa de variação (%) dos Alunos (público e privado) na GAMP entre o ano lectivo 2001/02 e 2006/07

17

3.9 - Abandono, saída antecipada e precoce (%) nos concelhos da GAMP em 2001 18

3.10 - Retenção e abandono (ensino público e privado) por ano de escolaridade, 2000/01 18

CAPÍTULO 4 4.1 - Evolução da população residente no concelho do Porto 1

4.2 - Variação da população residente no concelho do Porto, por freguesias entre 1991 e 2001 2

4.3 - Variação da população residente entre 1991 e 2001 4

4.4 - Variação das famílias clássicas residentes por freguesia entre 1991 e 2001 4

4.5 - Nados vivos e Óbitos no concelho do Porto 5

4.6 - Taxa de Natalidade e Mortalidade por freguesia (2001) 6

4.7 - População residente segundo grupos etários 6

4.8 - Proporção de idosos e de jovens no total da população residente do Porto (%) 7

4.9 - Relações populacionais 7

4.10 - Variação da população residente empregada, entre 1991 e 2001 (%) 9

4.11 - População residente empregada com nível de instrução inferior ao 1º ciclo (em %) 10

4.12 - População residente empregada com o 1º ciclo do ensino básico concluído (em %) 10

4.13 - População residente empregada com bacharelato ou licenciatura concluída (em %) 11

4.14 - População residente empregada com mestrado ou doutoramento concluído (em %) 11

4.15 - Variação da população residente e empregada no Porto entre 1991 e 2001,por ramo de actividades (%)

12

4.16 - População residente empregada em actividades de intermediação imobiliária (em %) 13

4.17 - População residente empregada em cafés, restaurantes, hotéis e similares (em %) 13

4.18 - Emprego no Porto por nível de instrução, em 1991 e 2000 14

4.19 - População residente empregada nas actividades financeiras, em 2001 (%) 16

4.20 - Carta dos Sistemas de Espaços Colectivos 18

4.21 - Rede de transportes públicos no concelho do Porto 19

4.22 - Carta das Áreas Prioritárias de Intervenção (UOPG e ACRRU) 25

Índice de tabelas CAPÍTULO 3 3.1 - Quadro síntese com indicadores e objectivos da Estratégia de Lisboa 10

3.2 - Frequências escolares por níveis de ensino na GAMP 14

3.3 - Indicadores de abandono e saída antecipada e precoce (GAMP) em 2001 17

CAPÍTULO 4 4.1 - Distribuição por grupos etários e variação (2001 e 1991) 2

4.2 - Evolução dos níveis de instrução no Porto, entre 1991 e 2001 (%) 9

4.3 - Distribuição da população residente empregada por sector de actividade (%) 15

4.4 - Distribuição da população residente empregada por grupos de profissões (%) 16

4.5 - Distribuição da população residente empregada por nível de instrução, em 2001 (%) 17

CEP

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I. Introdução

Este documento constitui a proposta de Carta Educativa do Porto (CEP) e representa o

culminar de um longo processo de análise da realidade educativa e de definição de

uma estratégia de desenvolvimento dos sistemas de educação e de formação.

Reconhecendo-se que as cartas educativas são documentos orientadores da política

educativa à escala local entendeu-se dar conteúdo a este objectivo. Quer isto

significar que a sua elaboração foi vista como uma oportunidade para se despoletar

um debate alargado sobre a educação e a formação na cidade e uma oportunidade

ainda para se gerar um compromisso na acção envolvendo um leque alargado de

entidades com responsabilidades, directas e indirectas, nestes domínios de capital

importância para o nosso desenvolvimento.

Este entendimento traduziu-se necessariamente num trabalho longo de auscultação

dos diversos intervenientes para se incorporarem os diferentes pontos de vista e num

período de maturação para que o conhecimento que se ia produzindo e as

responsabilidades que se pretendia partilhar revertessem a favor de uma actuação

mais eficaz.

Os elementos que agora se apresentam reflectem esta orientação geral que marcou o

processo de desenvolvimento do trabalho e que emprestou à Carta Educativa do Porto

o cunho de um programa local para a política educativa para além do que seria a

leitura, em sentido estrito, do âmbito deste instrumento designado por carta

educativa.

Muito sumariamente refira-se que este documento está organizado em 6 capítulos.

Em primeiro lugar apresenta-se a metodologia que foi adoptada na elaboração da CEP,

explicitando-se o processo seguido a nível da construção do diagnóstico e a nível da

definição da estratégia e do quadro de intervenções.

No momento seguinte aborda-se o papel dos municípios no desenvolvimento da

educação e procede-se à análise sumária da educação em diferentes contextos

(europeu, nacional e metropolitano).

A caracterização da cidade do Porto nos domínios relacionados com a educação e a

formação constitui o capítulo seguinte que funciona como o enquadramento geral para

uma análise mais completa do sistema educativo na cidade, que se aborda no ponto

subsequente.

CEP Capítulo I - 1

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A realidade educativa da cidade do Porto é equacionada em termos da oferta e da

procura de ensino e de formação, e da sua evolução recente. Para além da análise de

natureza mais quantitativa contemplou-se igualmente a visão dos agentes da

comunidade educativa e que resultou dos inquéritos, entrevistas e reuniões de

trabalho realizados com um vasto conjunto de elementos. Este capítulo culmina com a

apresentação das linhas de força da política municipal de educação e das principais

acções desenvolvidas para a valorização da educação e do papel central da escola no

processo de ensino.

Após a apresentação dos principais traços do diagnóstico realizado, é explicitada a

estratégia de desenvolvimento do sistema educativo que passa pela identificação dos

objectivos concretos a prosseguir e pela definição das linhas de actuação que norteiam

as acções a implementar por um conjunto alargado de entidades.

No capítulo final desenvolve-se a proposta de reordenamento da rede escolar

respeitante aos equipamentos da competência municipal, os Jardins-de-infância e as

Escolas básicas do 1º ciclo da rede pública.

Esta é a proposta de Carta Educativa do Porto que constitui um meio para que, em

conjugação de esforços, Autarquia, Ministério da Educação, comunidade educativa e

sociedade em geral possam prosseguir um mesmo desígnio – o desenvolvimento

consistente dos sistemas de educação e de formação. Será essa concertação de

vontades a força motriz que permitirá ao Porto assumir-se como uma Cidade

Educadora.

Um última palavra de profundo reconhecimento a todos os responsáveis das escolas,

professores, associações de pais, famílias e alunos, múltiplas entidades, com especial

destaque para as que têm assento no Conselho Municipal de Educação, que, pela sua

disponibilidade permanente e colaboração activa, tornaram realidade este projecto.

CEP Capítulo I - 2

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II. Metodologia adoptada na elaboração da CEP

Neste capítulo dar-se-á a conhecer a metodologia que norteou a elaboração da Carta

Educativa do Porto (CEP) centrando-se a atenção, em particular, no processo de

trabalho que foi adoptado, ao qual se atribui um papel determinante.

Impõe-se, num primeiro momento, explicar o entendimento, assumido desde o início

pelo município do Porto, sobre as chamadas cartas educativas. Naturalmente que se

trata, conforme refere a legislação que institui esta figura, de um documento

orientador da política educativa. No entanto, a sua elaboração foi vista como uma

oportunidade para se despoletar um debate alargado sobre o sistema de

educação e de formação a nível local e uma oportunidade para se gerar um

compromisso na acção que envolvesse um leque alargada de entidades com

responsabilidades, directas e indirectas, nestes domínios.

Esta leitura marca claramente a orientação que presidiu à elaboração da Carta

Educativa do Porto. Estamos convencidos que a forma como estes exercícios de

planeamento (porque é disso que se trata) são desenvolvidos condiciona o seu

resultado final, ou seja, a sua eficácia.

1. Pressupostos assumidos

O trabalho realizado baseou-se num determinado conjunto de premissas, ou seja,

considerou-se que o processo de elaboração teria de ser:

Participado, atribuindo-se uma particular importância aos agentes educativos

e às entidades com assento no Conselho Municipal de Educação;

Construído com o contributo activo dos próprios agentes educativos,

segundo uma lógica de aprendizagem; e, por fim,

Mobilizador de vontades e de recursos.

Estas condições, habitualmente tidas por necessárias em exercícios de planeamento,

tornam-se quase que imperativas em temas tão cruciais e transversais como os da

educação e da formação.

Se a questão da necessidade de se assegurar uma participação efectiva da

comunidade educativa é consensual, o mesmo não se poderá dizer da ideia de que a

elaboração da Carta é uma construção “aberta”. Com isto quer-se significar que terá

de haver, por um lado, vontade e disponibilidade para que sejam ouvidos os diversos

intervenientes, para que se incorporem diferentes pontos de vista, para que se

CEP Capítulo II - 1

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promova a sua discussão, em suma, para se aprender conjuntamente e, por outro

lado, tempo de maturação para que o conhecimento produzido e a partilha de

responsabilidades, por um número crescente de parceiros ao longo deste percurso,

reverta a favor de uma actuação futura mais eficaz.

Assumir esta atitude é reconhecer a importância do resultado final, ou seja do

documento Carta Educativa, e do envolvimento da comunidade na sua preparação, e,

sobretudo, valorizar a dinâmica que se pretende instalar e fazer prolongar para além

do período de elaboração com vista à sua implementação.

2. O Papel da Autarquia Local

Em todo o processo o município do Porto surgiu como o seu principal dinamizador com

responsabilidades na condução deste projecto, função que necessariamente lhe

competia desempenhar, e que justificou a opção de constituir um Grupo de Trabalho

interno1 para a elaboração da CEP e para o desenvolvimento de todas as acções

correlacionadas.

Isto significa também, face às premissas atrás referidas, que o município procurou ser

um facilitador, entendido como um actor que deveria saber potenciar os diferentes

pontos de vista e pugnar pelo estabelecimento de consensos quanto às matérias de

maior relevância.

Isto não obsta a que tenha igualmente de se constituir como um agente de

mudança que sabe lançar desafios, que tenta romper com situações problemáticas ou

que procura outras vias de solução para os problemas diagnosticados.

Esta tensão existe permanentemente bem como as dúvidas sobre quais as matérias

em que a opção deverá tender para um lado ou para o outro. Em certas circunstâncias

e em determinadas questões, a preocupação central é procurar o maior denominador

comum entre as várias posições em confronto. Noutros momentos, o principal

objectivo é forçar as mudanças necessárias. Esta situação foi bem notória quando se

passou da fase do diagnóstico, mais consensual, para a fase da definição da estratégia

de actuação, em que o campo de incertezas aumenta e o conflito de posições emerge

com mais acuidade.

O desempenho, por parte do município, destes diferentes papéis defronta-se ainda

com uma outra condicionante: o quadro de competências dos municípios em matéria

de educação e de formação é claramente limitado. Ou seja, dito de forma mais

1 O Grupo de Trabalho foi constituído por técnicos do Gabinete de Estudos e Planeamento, do Departamento Municipal de Educação e Juventude e da Direcção Municipal de Urbanismo, e teve a participação da Direcção Regional de Educação do Norte.

CEP Capítulo II - 2

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directa, a capacidade real de intervenção é escassa e depende da receptividade e da

adesão de terceiros.

Estas foram algumas das questões que balizaram a actuação municipal. No entanto, o

município do Porto resolveu assumir este papel porque colocou como desafio principal

contribuir para que o Porto seja uma cidade educadora, que faça da formação, da

promoção e do desenvolvimento de todos os seus habitantes, com especial atenção

para as crianças e para os jovens, um objectivo central da sua acção, só realizável se

for partilhado por um amplo leque de entidades, públicas e privadas, com diferentes

níveis de responsabilidade social.

3. O Processo de Elaboração

A metodologia seguida na elaboração da Carta Educativa do Porto contemplou três

etapas: uma fase inicial de construção do diagnóstico dos sistemas de educação e de

formação, uma segunda de definição da estratégia e do quadro global de

intervenções, por fim, a de explicitação da proposta de reordenamento da rede escolar

da responsabilidade municipal.

3.1 O Diagnóstico

O diagnóstico incidiu sobre os principais traços caracterizadores da realidade educativa

e sobre as tendências de evolução instaladas.

Figura 2.1 – Componentes do diagnóstico

Fonte: CMP/GTCEP, 2006

CEP Capítulo II - 3

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Para o efeito, desenvolveu-se o trabalho em dois eixos complementares: uma

abordagem de natureza quantitativa e uma avaliação de natureza mais qualitativa,

resultado da auscultação e participação directa da comunidade educativa.

Com a análise quantitativa procurou-se caracterizar o processo de reestruturação

territorial a nível metropolitano, nos domínios com influência directa sobre os sistemas

de educação e de formação, como é o caso da demografia e da economia.

De igual modo procedeu-se ao estudo da evolução da procura e da oferta de ensino e

ainda dos principais fenómenos associados à educação: as questões do abandono e

das saídas do sistema de ensino, do insucesso escolar e do desempenho do sistema

educativo. Sendo a realidade urbana complexa e espacialmente diferenciada,

impunha-se tentar compreender igualmente o padrão territorial destes fenómenos, o

mesmo é dizer, analisar as disparidades intra-urbanas.

Como corolário desta análise e no que concerne ao sistema de educação tornaram-se

evidentes os principais desafios a vencer ou as tendências a contrariar, bem como, os

recursos a potenciar em prol da melhoria da qualidade do ensino e da promoção do

sucesso escolar.

O outro eixo de avaliação, essencial para uma melhor caracterização dos fenómenos

e, sobretudo, para a sua interpretação, desdobrou-se em várias frentes de trabalho.

É de salientar, em primeiro lugar, a importância que se atribuiu ao envolvimento

activo do Conselho Municipal de Educação (CME) e de cada um dos seus membros

individualmente, em todas as fases do processo de elaboração da CEP.

A participação do CME iniciou-se com a realização de um exercício SWOT2 a cada um

dos seus membros com vista à definição do seu posicionamento face a um conjunto de

aspectos considerados como as principais fragilidades, potencialidades, oportunidades

ou ameaças que atingem os sistemas de educação e de formação e, ainda, o contexto

socio-económico em que nos situamos, ou seja, a realidade local. Os resultados

obtidos permitiram distinguir as questões em que havia uma forte convergência de

posições daquelas em que imperava a divergência e serviram de mote às reuniões de

trabalho com cada entidade para se aprofundar o diagnóstico estratégico.

Uma segunda frente de trabalho contemplou a participação das escolas, públicas e

privadas. Foram entrevistados todos os Conselhos Executivos dos agrupamentos

verticais de escolas, bem como escolas secundárias, uma escola profissional, uma

escola artística, uma escola de música e estabelecimentos de ensino privado, num

total de 26 entidades. Adoptou-se o esquema da entrevista semi-estruturada em

2 A análise SWOT (strengths, weaknesses, opportunities, threats) é um instrumento de apoio ao diagnóstico estratégico e à tomada de decisão.

CEP Capítulo II - 4

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todos contactos efectuados. Os temas abordados distribuíam-se por quatro áreas:

caracterização da escola ou do agrupamento, quanto aos diferentes tipos de

problemas existentes e quanto ao sucesso alcançado; projecto educativo e desafios

futuros para a afirmação de uma escola de qualidade; a relação da escola com os

alunos, famílias e comunidade local, ou seja, grau de abertura da escola à sociedade;

e, por fim, expectativas face à CEP e à própria intervenção municipal em matéria de

educação.

A preocupação central da entrevista, para além do objectivo de se tentar compreender

a realidade concreta de cada comunidade educativa, era evidenciar as condições de

base para a valorização da educação, para a melhoria da qualidade do ensino e para a

promoção do sucesso escolar. Dentro desta lógica, procurou-se conhecer os projectos

e as iniciativas que configuravam boas práticas de intervenção a divulgar amplamente.

Depois de uma fase inicial de estudo do sistema educativo e de trabalho conjunto com

o CME e com os estabelecimentos de ensino, deu-se início a uma série de sessões de

divulgação e de debate sobre a Carta Educativa que envolveram associações de pais,

associações profissionais e outras, educadores e docentes, estabelecimentos de ensino

privado, restantes municípios da Área Metropolitana do Porto, comunidades migrantes,

ordens religiosas e universidades seniores.

Paralelamente, foi aberto um espaço próprio no “site” do município para dar a

conhecer o trabalho em curso de elaboração da CEP. É de referir que, para além de se

divulgarem as várias etapas deste processo e de se explicitarem os resultados

alcançados em cada momento, foi lançado um inquérito on-line com recurso à

ferramenta de análise SWOT para se auscultarem outras opiniões e se suscitarem

comentários. Esta linha de acção tinha também subjacente uma outra intenção, a de

contribuir para que se verificasse uma apropriação, por parte de todos os actores do

processo, do conhecimento que se ia produzindo ao longo do tempo, a tal lógica de

aprendizagem conjunta que se pretendeu fomentar.

A experiência adquirida com estes desenvolvimentos do projecto foi fundamental para

se avançar com uma outra frente de trabalho considerada imprescindível para a

construção do diagnóstico e para o apoio à definição da estratégia de intervenção.

Referimo-nos ao lançamento dos inquéritos aos alunos e às famílias. Ouvir e fazer

participar a população estudantil e suas famílias permitiria aprofundar a análise,

conhecer a realidade segundo uma outra perspectiva, cruzar diferentes leituras, captar

pistas quanto às orientações a traçar para o desenvolvimento dos sistemas de

educação e de formação.

O inquérito aos alunos abrangeu cerca de 1.850 estudantes, seleccionados

aleatoriamente de forma a garantir a representatividade dos 3 níveis de ensino que se

pretendia caracterizar: 2º e 3º ciclos do ensino básico e ensino secundário, público e

CEP Capítulo II - 5

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privado, da cidade do Porto. Esta operação contou com a estreita colaboração dos 55

estabelecimentos de ensino destes estudantes e resultou de um contrato estabelecido

com o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica

Portuguesa.

O inquérito às famílias foi realizado por entrevista directa no domicílio e cobriu 800

famílias representativas da totalidade dos agregados familiares residentes no Porto e

com filhos dependentes a estudar na cidade e em qualquer nível de ensino, com

excepção do ensino superior.

As dimensões a inquirir, para além da caracterização sócio-cultural e económica dos

agregados familiares, contemplaram a trajectória escolar dos estudantes, o apoio

pedagógico e as condições de estudo, a avaliação da escola e as expectativas no que

respeita ao percurso escolar e profissional.

De notar a grande receptividade encontrada tanto por parte dos alunos como das

famílias, tendo-se obtido informação preciosa cujo interesse ultrapassa o âmbito da

própria CEP.

O quadro de competências municipais em matéria de educação justificou que se

atribuísse uma particular atenção às condições da rede escolar do 1º ciclo e dos

jardins-de-infância. Para o efeito, celebrou-se um contrato com o Centro de Estudos

da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto3 tendo em vista a

caracterização física e funcional de cada estabelecimento de ensino. O levantamento

efectuado incidiu sobre o edifício e seu espaço envolvente e representa um suporte

essencial para a definição das intervenções a realizar e para a adopção de um

programa de manutenção e gestão da rede escolar mais eficiente.

Por recomendação do CME, foi encomendado à Faculdade de Psicologia e de Ciências

da Educação da Universidade do Porto um estudo de avaliação do funcionamento dos

agrupamentos verticais de escolas que permitisse conhecer os resultados alcançados

com este modelo organizacional e equacionar a necessidade de uma eventual

redefinição da estrutura dos agrupamentos. O estudo baseou-se num inquérito

dirigido ao corpo docente destes estabelecimentos de ensino tendo as suas

recomendações sido incorporadas no trabalho da CEP.

Eis o trabalho desenvolvido com vista à construção do diagnóstico dos sistemas de

educação e de formação que contou com a participação efectiva da comunidade

educativa em diversos momentos e em moldes diferenciados.

3 O Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (CEFA-UP) contou com a colaboração da Faculdade de Arquitectura de Pescara da Universidade de Chieti, Itália.

CEP Capítulo II - 6

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Em resumo, recolheu-se a informação disponível necessária à caracterização da

situação, analisaram-se os documentos de referência em matéria de política

educativa, auscultaram-se directamente todas as entidades com assento no CME com

as quais se debateram as questões relevantes, entrevistaram-se as escolas,

inquiriram-se os alunos e as famílias, caracterizou-se detalhadamente a rede de

educação pré-escolar e do 1º ciclo, deu-se a conhecer o trabalho desenvolvido ao

longo do tempo e avaliaram-se os resultados do modelo organizacional dos

agrupamentos verticais de escolas.

3.2 A Estratégia de Intervenção

A segunda etapa deste processo de elaboração da CEP consistiu na definição da

estratégia e do quadro global de intervenções.

Ressalve-se, desde já, que todo o trabalho anterior de diagnóstico permitiu que

emergissem e se fossem consolidando algumas ideias força que marcam a estratégia

de intervenção. Isto é, esteve sempre subjacente à forma de abordagem das questões

do diagnóstico não só a caracterização dos problemas como também a discussão

sobre as vias de solução a adoptar e mesmo sobre as acções tipo a implementar. Um

desafio que permanentemente era lançado a todas as entidades com

responsabilidades no CME durante as reuniões de trabalho conjuntas já mencionadas,

tinha a ver com a seguinte pergunta: “o que se pode fazer melhor e qual o

contributo adicional de cada entidade para se resolverem os problemas

detectados?”. Em suma, procurou-se que o diagnóstico abrisse o caminho para a

discussão da estratégia.

Figura 2.2 – Componentes da estratégia

Fonte: CMP/GTCEP, 2006

CEP Capítulo II - 7

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Nesta segunda fase do trabalho, a primeira questão que se levantou prendia-se com a

identificação dos grandes objectivos que deveriam nortear as intervenções a inscrever

na CEP.

A nível europeu foram assumidos em 2001 três objectivos concretos para o

desenvolvimento dos sistemas de educação e de formação com vista a tornar a

Europa a economia mais competitiva baseada na sociedade do conhecimento e da

informação. Esta aposta demonstrava a importância atribuída à qualificação dos

recursos humanos no desenvolvimento económico e na construção de uma sociedade

mais coesa.

O desafio que a Comissão e o Conselho Europeus lançaram aos Estados e às restantes

autoridades regionais e locais foi que assumissem e desenvolvessem estes objectivos

concretos à luz das suas realidades específicas, o mesmo é dizer, que estabelecessem

as estratégias mais adequadas para a prossecução dos mesmos face ao contexto em

presença.

Foi este o princípio adoptado a nível da Carta Educativa do Porto, entendida como um

documento que, por um lado, explicita o quadro de intervenção municipal e que, por

outro, avança propostas de medidas e de acções da responsabilidade directa de outras

entidades, em particular da tutela.

Como tal, os grandes objectivos que presidiram à definição das estratégias de

actuação que consubstanciam a CEP são simplesmente os seguintes:

Aumentar a qualidade e a eficácia dos sistemas de educação e de

formação

Permitir o acesso de todos à educação e à formação “ao longo da vida”

Abrir os sistemas de educação e de formação ao mundo.

Tratava-se agora de, no contexto específico do Porto, perceber o que significa cada

objectivo concreto, explicitando as várias dimensões que lhes estão associadas, e

discutir as estratégias que permitirão concretizá-los. Ou seja, para cada objectivo

estratégico procurou-se identificar os objectivos intermédios, de natureza mais

operacional, que contribuem para a sua realização e que, por sua vez, serão

materializados em linhas de actuação bem determinadas. Por fim, a cada objectivo

intermédio associam-se ainda, a título exemplificativo, um conjunto de acções-tipo e

apontam-se as entidades com competências nessas matérias.

Este processo foi desenvolvido por iterações sucessivas, trabalho este que envolveu,

em particular, o CME e os órgãos de gestão dos Agrupamentos Verticais e das Escolas

Secundárias.

CEP Capítulo II - 8

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O resultado final consubstancia, na prática, um vasto programa de actuação que

responsabiliza um conjunto alargado de entidades. Trata-se, de facto, de uma carta

de compromisso, não assinada, que deverá originar posteriormente um programa de

acção concreto.

Chegado a este momento é importante clarificar uma questão central, sem rodeios.

Há a plena consciência de que a opção de se alargar substancialmente o leque de

intervenções a inscrever na CEP, abarcando-se matérias que extravasam em muito a

competência estrita do município, é polémica e questionável, e, sobretudo, de eficácia

incerta. Mas foi este o desafio assumido face à leitura que se fez da importância do

tema, da sua oportunidade e do papel que pode desempenhar um município como

catalizador de recursos e de vontades em prol de uma cidade melhor.

3.3 A proposta de reordenamento da rede escolar

A última etapa deste processo consistiu no desenvolvimento da proposta de

reordenamento da rede escolar da responsabilidade municipal, jardins-de-infância e

escolas do 1º ciclo, que constitui uma das componentes obrigatórias de uma carta

educativa.

Figura 2.3 – Componentes da proposta de reordenamento da rede

Fonte: CMP/GTCEP, 2006

Há, contudo, a plena consciência da necessidade de se vir a dispor de um quadro de

referência a nível metropolitano em matéria de rede escolar, que não resulte da mera

soma das “partes concelhias”, por motivos de racionalização e optimização dos

CEP Capítulo II - 9

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investimentos a realizar e por razões que se prendem com a própria realidade deste

território. As dinâmicas de funcionamento do espaço metropolitano, que é uma

estrutura territorial cada vez mais complexa e interdependente, traduzem-se,

nomeadamente, na intensificação dos fluxos diários de estudantes entre concelhos, o

que exige uma outra escala espacial de análise, em termos de rede de equipamentos

educativos.

Assumida a tarefa de se estudar e propor soluções para a cidade do Porto tendo em

vista a melhoria da sua rede escolar, a questão principal centrou-se na análise

prospectiva da evolução da procura relativa à educação pré-escolar e ao 1º ciclo de

escolaridade, a curto e médio prazo, isto é, para os próximos 4 e 9 anos.

Para o efeito, começou-se por caracterizar a situação existente em 2001, com base na

informação dos Censos, em termos das taxas de escolarização, dos níveis de

insucesso escolar, do grau de atractividade das escolas do Porto sobre a população

residente noutros concelhos, e ainda quanto à expressão que assume a procura do

ensino público na cidade do Porto, isto é, o seu peso relativo.

Conhecidas e quantificadas estas componentes da procura escolar, identificaram-se as

carências actuais de salas de aula, por estabelecimento e por Agrupamento, para que

todos os alunos pudessem usufruir de uma escola a tempo inteiro, com todas as

turmas a funcionarem em regime normal, e traçaram-se cenários quanto à evolução

da procura do ensino público para 2010/11 e para 2015/16, com base num conjunto

de premissas sobre cada uma das componentes referidas. Como resultado final

estimaram-se as necessidades futuras de salas de aula.

Face a estes resultados, à análise das condições físicas e funcionais das escolas, e às

expectativas de desenvolvimento urbanístico da cidade do Porto definiram-se

propostas de intervenção na rede escolar tendo em vista três objectivos:

Alargar a cobertura da educação pré-escolar pública;

Generalizar a regime normal de funcionamento das EB1;

Melhorar as condições dos JI e das EB1.

Estas propostas traduzem-se em intervenções de requalificação e ampliação de

escolas, na definição de novos centros escolares a implantar nas zonas de crescimento

urbanístico que estão em fase adiantada de estudo e, por fim, na utilização de espaços

escolares do Ministério da Educação que resultem da reestruturação da rede dos 2º e

3º ciclos e do ensino secundário.

A concretização destas propostas de valorização do espaço da escola contribui

fortemente para a criação de um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem, como

é preocupação do município do Porto.

CEP Capítulo II - 10

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III. O papel dos municípios no desenvolvimento da educação. A educação no contexto europeu, nacional e metropolitano

1. O papel dos municípios

A História recente é pródiga em evidências que mostram o papel crescente que os

municípios são chamados a desempenhar no âmbito da educação, mormente no que

respeita à transferência de competências e atribuições tradicionalmente cometidas à

administração central. Na verdade, esta é uma herança do 25 de Abril e da nova

situação que em Portugal se passou a viver. O investimento dos municípios da

educação veio traduzir uma aposta num modelo de organização administrativa

dinâmica, que permitisse a obtenção de elevados níveis de satisfação das

necessidades dos cidadãos. Este é um dos corolários do princípio da “autonomia

responsável” que enforma os regimes democráticos.

Fazendo uma breve resenha histórica, e cingindo-se ela ao período pós-revolução de

74, data de 1984 a concretização da transferência de novas atribuições educativas

para as câmaras municipais, que se traduziu em financiamentos ao nível da educação

pré-escolar, básica e de adultos, acção social escolar, ocupação de tempos livres,

desporto e cultura (Decreto-Lei 77/84, de 8 de Março). A actuação da administração

local, nessa altura, incidiu maioritariamente sobre a construção ou recuperação de

edifícios para os níveis de educação pré-escolar e primária, equipamentos e materiais

escolares, apoios à educação de adultos, actividades de ocupação de tempos livres,

bibliotecas municipais, cursos de formação e alfabetização. Este é o primeiro elemento

que ajuda a fixar o esforço de intervenção dos municípios na área da educação

Ainda nos anos oitenta, os municípios foram interpelados no sentido de uma maior

participação na educação escolar por outras vias. Ela iniciou-se com a Lei de Bases do

Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14 de Outubro), que suscitou interpretações e

movimentos no sentido de um maior envolvimento municipal na educação.

Assim, foi proposta a criação do Conselho Local de Educação e a participação das

câmaras municipais nos órgãos de direcção dos estabelecimentos de ensino não

superiores. Em 1989 foi criado o Gabinete de Ensino Tecnológico, Artístico e

Profissional, que estimulou a criação de uma rede de escolas profissionais e artísticas

de nível secundário constituídas por parcerias e apoiadas por fundos comunitários. Foi

por intermédio dessas parcerias que as câmaras municipais passaram a desempenhar

um papel relevante, sendo, em muitos casos, os seus principais impulsionadores. A Lei

Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei nº 5/97, de 10 de Fevereiro) constituiu outro

elemento normativo que ampliou a participação municipal num domínio que, aliás, já

lhe era tradicionalmente atribuído. A possibilidade de criação de uma rede pública

CEP Capítulo III - 1

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municipal de jardins-de-infância surge, sem dúvida, como a principal inovação desta

lei.

Outros aspectos se podem acrescentar a estes, como sejam a participação das

câmaras municipais nos conselhos consultivos das escolas básicas e secundárias

(1989) e os conselhos municipais de transportes escolares criados na sequência do

Decreto-Lei nº 77/84 que transferiu para os municípios os encargos nos transportes

escolares do ensino básico.

Mais recentemente, foram delineadas pela Lei nº 159/99, de 14 de Setembro (que

estabelece o quadro de transferência de atribuições para as autarquias locais) as

competências dos órgãos municipais em matéria de educação, que se centram nos

seguintes aspectos, seguindo o estatuído no seu art. 19º:

Planear e gerir os equipamentos educativos, mais precisamente nos investimentos

para construção, apetrechamento e manutenção de estabelecimentos de educação

pré-escolar e do ensino básico;

Proceder à elaboração da então chamada “carta escolar”, a ser integrada nos

planos directores municipais;

Criar os conselhos locais de educação;

Garantir a rede de transportes públicos escolares;

Assegurar a gestão dos refeitórios dos estabelecimentos de educação pré-escolar e

do ensino básico;

Garantir o alojamento aos alunos do ensino básico, em alternativa ao transporte

escolar;

Comparticipar no apoio às crianças que frequentam o pré-escolar e aos alunos do

ensino básico, no âmbito da acção social escolar;

Apoiar o desenvolvimento de actividades complementares de acção educativa nos

níveis pré-escolar e básico;

Gerir o pessoal não docente nos estabelecimentos de educação pré-escolar e do 1º

ciclo do ensino básico.

Como atrás se referiu, pertence ao âmbito de competência dos municípios a

manutenção e gestão dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos

estabelecimentos das escolas do ensino básico, embora na prática tal não se verifique.

Efectivamente, a CMP gere os estabelecimentos de educação pré-escolar afectos à

rede escolar pública e os estabelecimentos das escolas do ensino básico do 1º ciclo.

Os restantes estabelecimentos de ensino, referentes aos 2º e 3º ciclos do ensino

básico, estão a ser geridos e mantidos pelo Ministério da Educação / DREN, apesar de,

segundo aquela lei, tais competências caberem à autarquia.

Na verdade, a Lei nº 159/99, de 14 de Setembro, teve como objectivo estabelecer um

quadro de transferências de atribuições e competências para as autarquias locais,

determinando que a concretização dessas transferências se efectivasse através de

CEP Capítulo III - 2

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diplomas específicos. O já referido art. 19º elencou as competências a transferir no

âmbito da educação e do ensino não superior, tendo, sequencialmente, o art. 13º da

Lei nº 30-C/2000, de 29 de Dezembro, e o art. 12º da Lei nº 109-B/2001, de 27 de

Dezembro, pretendido concretizá-las. No entanto, esta foi uma intervenção

meramente formal que, em termos reais, nada veio acrescentar.

Esse vazio legal foi colmatado através do Decreto-Lei n.º 7/2003 de 15 de Janeiro,

entretanto alterado pela Lei nº 41/2003, de 22 de Agosto, que reserva o seu capítulo

VI à construção, apetrechamento e manutenção de estabelecimentos de educação e

ensino, conferindo, no seu art. 22º, mais solidez às competências dos municípios:

“1 — A realização dos investimentos na construção, apetrechamento e manutenção

dos estabelecimentos de educação pré-escolar e do ensino básico, previstos na carta

educativa, é da competência dos municípios.

2 — A realização dos investimentos previstos no número anterior, no que se refere à

educação pré-escolar e ao 1.º ciclo do ensino básico, compreende a identificação, a

elaboração e a aprovação dos projectos, o seu financiamento e a respectiva execução.

3 — O exercício das competências previstas no n.º 1 efectiva-se, no que respeita aos

2.º e 3.º ciclos do ensino básico, através de contrato entre o Ministério da Educação e

os municípios, assente na identificação padronizada de tipologias e custos.

4 — A realização dos investimentos, nos termos do n.º 2, na construção,

apetrechamento e manutenção dos estabelecimentos do ensino secundário, previstos

na carta educativa, é da competência do Ministério da Educação”.

Não é do nosso conhecimento a existência de algum documento protocolado entre o

Ministério da Educação/DREN e a autarquia, no que diz respeito às escolas do 2.º e

3.º ciclos do ensino básico.

O Decreto-Lei n.º 7/2003 de 15 de Janeiro regulamenta igualmente as competências,

composição e funcionamento dos conselhos municipais de educação (CME). Além

disso, regula o processo de elaboração, aprovação e os efeitos das cartas educativas.

A utilidade e a pertinência de uma estrutura local deste género, e aqui estamos a

referir-nos ao CME, parece indiscutível, assumindo o papel de meio privilegiado para

assegurar uma coordenação local entre todos os actores educativos e os parceiros

sociais interessados, lançando as bases para o desenvolvimento de um projecto

educativo local. Como instância de coordenação e consulta, o CME analisa e

acompanha o funcionamento do sistema educativo municipal e propõe as acções que

considere adequadas à promoção de padrões mais elevados de eficiência e eficácia

daquele sistema.

A carta educativa, por sua vez, e ainda de acordo com o Decreto-Lei n.º 7/2003, é um

instrumento de planeamento e ordenamento prospectivo de edifícios e equipamentos

CEP Capítulo III - 3

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educativos a localizar nos concelhos, de acordo com as ofertas de educação e

formação que seja necessário satisfazer ao nível local.

Estes são passos importantes da definição do papel crescente que os municípios

assumem no campo da educação, numa lógica que denota um esforço de

descentralização administrativa nesse âmbito.

Sistematizando, as competências do município na área da educação, atribuídas por via

do quadro legal vigente, podem agrupar-se nas seguintes grandes dimensões: gestão

de estabelecimentos de educação pré-escolar da rede pública, intervenção em escolas

do 1º ciclo do ensino básico e participação na constituição dos agrupamentos verticais

de escolas (quanto a este ponto, refira-se o Decreto-Lei nº 115-A/98, de 4 de Maio,

que prevê, no seu art. 6º, a necessidade de emissão de um parecer favorável por

parte das autarquias locais envolvidas na constituição de um agrupamento de

escolas). Para além disto, os municípios estão representados, a nível nacional, no

Conselho Nacional de Educação, e, a nível de estabelecimento escolar, nas

assembleias de escola.

Paulatinamente, e acompanhando a evolução da sociedade, as autarquias viram o seu

espectro de actuação alargado o que, longe de ser redutor, pode, por isso mesmo,

inspirá-las a ir mais além. Foi comungando desse entendimento que a CMP aceitou

comprometer-se com o projecto de uma Carta Educativa que, mais do que um

documento de planeamento e reordenamento da rede educativa do concelho, é um

instrumento (na verdadeira acepção da palavra, um meio ou processo para alcançar

um resultado) cujo objectivo é a definição estratégica de políticas locais para o

desenvolvimento dos sistemas de educação e formação.

Este processo, no entanto, não se poderá esgotar num documento que se resuma a

um repositório de directrizes. Para além de constituir um projecto em constante

mutação, ele revelar-se-á, muito mais do que um documento, um pretexto para a

discussão alargada em torno das questões da educação. O fim último desta tarefa

será, pois, conseguir a convergência de todos os esforços para algo que este município

corajosamente convoca à sua alçada mas que depende da participação concertada de

todos: a criação de um meio propício para que as crianças e os jovens possam

desenvolver-se integralmente como pessoas.

2. As Cidades Educadoras

O Porto faz parte da rede de Cidades Educadoras, conjuntamente com outros nove

municípios portugueses. Esta rede internacional nasceu de uma iniciativa promovida

em Novembro de 1990 pelo Ayuntamiento de Barcelona e pode definir-se como sendo

um movimento de cidades, representadas pelas respectivas autarquias, que se

CEP Capítulo III - 4

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agrupam com o objectivo de trabalharem conjuntamente em projectos e actividades

tendentes a desenvolver o potencial educativo latente em todos os espaços da cidade,

transformando-a numa escola aberta a toda a comunidade. Nasce, por esta via, uma

nova dimensão do conceito de cidade, o que implica que se passe a considerar que a

educação das crianças, dos jovens e da população em geral não é apenas da

responsabilidade das entidades tradicionalmente ligadas a estas matérias (Estado,

Escola e Família), mas também das associações, das instituições culturais, das

empresas, dos meios de comunicação social, enfim, de todas as instâncias da

sociedade.

O entendimento que presidiu à constituição da rede de Cidades Educadoras é o de que

a cidade tem de tirar proveito do enorme manancial educativo que o seu património

cultural e humano lhe proporciona, colocando-o ao serviço da construção da

sociedade. Estas são cidades que não estão fechadas sobre si mesmas, que se

relacionam com o que as rodeia, com o objectivo de aprender, trocar experiências e,

portanto, enriquecer a vida dos seus habitantes. Sendo comunidades em constante

evolução, conferem prioridade à cultura e à formação permanente dos cidadãos,

reconhecendo que desempenham uma importantíssima função educadora que acresce

ao rol de funções tradicionais (económica, política, social e de prestação de serviços).

O Porto, como Cidade Educadora, reconhece que o grande desafio do século XXI é

investir na educação de cada indivíduo, de modo a que seja cada vez mais capaz de

exprimir, afirmar e desenvolver o seu próprio potencial humano em termos de

criatividade, solidariedade, empreendedorismo e capacidade de diálogo.

O organismo aglutinador desta rede de cidades é a Associação Internacional das

Cidades Educadoras (AICE), que tem como documento fundador a Carta das Cidades

Educadoras, que define os princípios que norteiam o perfil educativo de uma cidade.

De acordo com este documento, uma Cidade Educadora deverá assumir os seguintes

compromissos:

Combater a discriminação e a exclusão social, nas suas mais diversas formas,

garantindo o acolhimento de comunidades de imigrantes ou de pessoas que vêm

de fora da cidade, de modo a que elas sintam a cidade como sua, e combatendo as

novas formas de exclusão, que se manifestam no “fosso digital” que existe entre

as gerações e/ou grupos sociais;

Estimular o associativismo, enquanto modo de participação cívica e de

responsabilização dos indivíduos pela condução da vida em sociedade;

Garantir a prestação de informação suficiente e inteligível para todos;

Promover a formação sobre valores e práticas de cidadania democrática, como o

respeito, a tolerância, a responsabilidade, a participação na res publica;

Encorajar a colaboração dos vários agentes sociais, dos sectores público e privado,

no sentido de mitigar as desigualdades e de fomentar a coesão social;

CEP Capítulo III - 5

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Empreender projectos de formação, tendo em vista vários destinatários,

privilegiando o grupo das crianças e dos jovens, mas dando a devida ênfase à

promoção e desenvolvimento de todos os habitantes da cidade, numa lógica de

formação ao longo da vida;

Encorajar o diálogo entre gerações, como forma de enriquecimento do capital

humano;

Exercer com eficácia as suas competências em matéria de educação;

Definir as políticas locais de educação, partindo de um diagnóstico preciso acerca

das necessidades dos seus habitantes, e avaliar a sua eficácia, monitorizando os

resultados.

O cumprimento destes princípios confere a uma cidade como o Porto uma dimensão,

mais do que educativa, educadora. A consciencialização de todos os actores sociais

para a importância de uma educação/formação ao longo da vida, sempre em fluxos

recíprocos, transformará a cidade num espaço privilegiado de cidadania.

Com Roberto Carneiro, podemos falar, a respeito do espírito enformador das cidades

educadoras, num “novo contrato social”, assente na dependência mútua dos

indivíduos, na diversidade da vida social, na criação de prosperidade e no

desenvolvimento pessoal, cultural e comunitário.

3. O contexto europeu e nacional

O Conselho Europeu de Lisboa (2000) definiu um novo objectivo estratégico para a

União Europeia:

“Tornar-se na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do

mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e

melhores empregos, e com maior coesão social”.

Numa sociedade do conhecimento os recursos humanos constituem o factor chave de

desenvolvimento. A situação de Portugal no contexto europeu em matéria de recursos

humanos em 2001 é bastante gravosa. Tal como se pode constatar na imagem

seguinte, possuímos os níveis de habilitação da população mais baixos, com a pior

situação a nível europeu.

CEP Capítulo III - 6

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Figura 3.1 - Níveis de escolaridade da população dos 25-64 anos na UE (a 25 estados) – 2002

Fonte: EC, A new partnership for cohesion - Third report on economic and social cohesion, 2004

A taxa de saída precoce do sistema de educação (18 a 24 anos sem conclusão do 12º

ano de escolaridade) é também a pior situação a nível europeu (taxas superiores ao

dobro da média europeia) e na qual registamos a maior discrepância entre sexos (ver

gráfico seguinte).

Figura 3.2 - Saída precoce do sistema de ensino (2001)

0

10

20

30

40

50

60

Ale

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Áust

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burg

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Port

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UE15

(%)

Homens Mulheres

Fonte: Eurostat, 2002

Esta situação é bem demonstrativa da dimensão do desafio que enfrentamos em

termos de qualificação de recursos humanos e de promoção da educação, com

especial atenção para as crianças e jovens.

CEP Capítulo III - 7

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A educação e a formação são os sustentáculos de uma sociedade moderna e

desenvolvida, assente numa comunidade de saber e conhecimento. Os países que

hoje, a nível global, se encontram na vanguarda do desenvolvimento social e

económico são os Estados Unidos da América (EUA) e os países da União Europeia

(UE), nomeadamente a Alemanha, a França e o Reino Unido. Esse desenvolvimento é

fruto da adopção de mecanismos e estruturas que permitem a fruição de melhores

condições de vida, o respeito pelos direitos humanos e a participação activa e

esclarecida dos cidadãos na vida pública. No entanto, não deixam esses países de se

debater com dificuldades, que podem transformar-se em fragilidades, onde se

destacam, entre outras, os fenómenos de exclusão, a sociedade de informação e do

conhecimento, o papel da escola e os perfis de formação.

Nas sociedades desenvolvidas, como é o caso da UE, as mudanças estruturais

sucedem-se em várias áreas, desde a política à tecnologia. Ora, um dos principais

desafios que se colocam a estas sociedades reside precisamente na educação, já que

dela vai depender a qualidade dos recursos humanos, existentes e vindouros, que são

factor crucial para consolidar sociedades assentes naquelas mudanças, e que hão-de

desenvolver o seu trabalho nos vários sectores de actividade.

Mas qual deverá ser a formação de base desses cidadãos? Essa formação de base,

quer sejam os anos da escolaridade obrigatória, o diploma da escola secundária ou da

escola profissional, do politécnico ou da universidade, é a trave mestra do indivíduo

enquanto profissional. Vista assim, essa formação inicial desdobra-se em 3

componentes:

Conhecimentos e saberes: língua materna, línguas estrangeiras, matemática,

história...

Atitudes e comportamentos: auto-estima, autonomia, capacidade de trabalhar em

grupo, responsabilidade, empreendedorismo,...

Valores: honestidade, humildade, solidariedade, tolerância, ...

O desafio que se coloca é educar com base nestas dimensões, o que nem sempre é

fácil, quer por impreparação e falta de meios das escolas e dos professores, quer pela

impossibilidade de se lutar contra as várias solicitações que se deparam aos jovens e

que contrariam aqueles valores.

A UE deve procurar, neste sentido, desenvolver estruturas e instrumentos à escala

europeia, com vista à construção de uma rede de projectos e programas conjuntos de

educação e formação, para que sejam criadas as bases de um espaço europeu do

conhecimento. Nesse sentido foram emanados os objectivos e as recomendações

resultantes da Estratégia de Lisboa.

Na Cimeira Europeia de Lisboa, em Março de 2000, sob o lema “Emprego, Reformas

Económicas e Coesão Social: para uma Europa baseada na Inovação e no

CEP Capítulo III - 8

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Conhecimento”, a UE propôs tornar-se, até 2010, a “economia baseada no

conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir um

crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos e com maior

coesão social”.

No que concerne a objectivos específicos, foram traçadas as seguintes metas:

Até 2010, todos os Estados-Membros deverão reduzir os níveis de saída

antecipada, no mínimo, para metade, com referência à taxa registada no ano

2000, por forma a atingir uma taxa média UE igual ou inferior a 10%.

Até 2010, todos os Estados-Membros terão reduzido pelo menos a metade o

desequilíbrio entre homens e mulheres nos diplomados na área da Matemática,

Ciências e Tecnologias (MCT), assegurado simultaneamente um aumento global

significativo do número total de diplomados em relação ao ano 2000.

Até 2010, a percentagem de cidadãos dos 25 aos 64 anos com habilitações

mínimas correspondentes ao ensino secundário deve ser igual ou superior a 80%,

em cada Estado-Membro.

Até 2010, a percentagem de alunos de 15 anos com fraco aproveitamento escolar

(resultados do PISA ≤1) em leitura, matemática e ciências será reduzida, no

mínimo, para 15,5%, em cada Estado-Membro.

Até 2010, o nível médio europeu de participação na aprendizagem ao longo da

vida deverá ser equivalente, no mínimo, a 12,5% da população adulta em idade

activa (25-64 anos).

Se nos centrarmos no panorama nacional, verificamos que, a partir dos anos 80,

houve um salto quantitativo no acesso generalizado à educação, houve uma “explosão

nos níveis de escolaridade”. Pode dizer-se que houve realmente um crescimento

exponencial nas frequências dos níveis de ensino básico, secundário e mesmo

superior. O parque escolar cresceu visivelmente e a maioria dos professores e

educadores é actualmente profissionalizada.

Com a entrada de Portugal na família europeia, em 1986, o nosso País beneficiou,

pois, de meios que lhe permitiram avançar em termos de nível de desenvolvimento e

que trouxeram importantes e inegáveis melhorias na qualidade de vida dos cidadãos.

Esses indicadores escondem, contudo, alguns constrangimentos estruturais que

importa salientar:

A persistência de uma não despicienda fatia da população com um baixo nível de

habilitações académicas e profissionais (uma grande parte da população activa não

conseguiu ir muito mais além do 6º ano de escolaridade);

Iliteracia e fracos conhecimentos a nível da Matemática e das Ciências;

A existência de fenómenos de exclusão e pobreza;

A pouca abertura de alguns sectores da sociedade para considerarem a educação e

o saber como pilares do desenvolvimento e da realização pessoal;

CEP Capítulo III - 9

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A pouca capacidade para que se desenvolvam a pesquisa e a investigação

científicas.

Estas dificuldades devem constituir preocupação não só dos responsáveis políticos

mas também de todos os cidadãos, de maneira a promover uma cultura de

responsabilidade partilhada.

Se se levar a cabo uma análise de dados estatísticos relativos à situação do País em

face dos objectivos da Estratégia de Lisboa, verifica-se que há ainda um longo

caminho a percorrer.

Tabela 3.1 – Quadro síntese com indicadores e objectivos da Estratégia de Lisboa

Situação actual Indicador

Meta 2010 (relativo a

2000) Na UE Em Portugal

Dados relativos ao Porto

Saída precoce do sistema de ensino ≤10% 15,9% (em 2004)

39,4% (em 2004)

29,4% (em 2001)

Nº de diplomados em MCT +15%

(783.000) 740.000

(em 2003) 13.000

(em 2003) -

Percentagem mulheres/total de diplomados em MCT

Aumento (não quantificado)

30,5% (em 2001)

42,5% (em 2001)

-

Cidadãos de 25-64 anos com habilitações correspondentes ao ensino secundário (mín.)

85% 76,4%

(em 2004) 49%

(em 2004) 47,2%

(dados de 2001)

Alunos de 15 anos com fraco aproveitamento escolar em leitura, matemática e ciências (PISA ≤1)

15,5% 19,8%

(em 2003) 22%

(em 2003) -

Participação na aprendizagem ao longo da vida (25-64 anos)

12,5% 9,4%

(em 2004) 4,8%

(em 2004) -

Fonte: Comissão Europeia

Para obviar a este estado de coisas, o Programa para a Educação do XVII Governo

Constitucional estabelece um conjunto de objectivos gerais, que se inscrevem no

quadro definido pela Estratégia de Lisboa e que abrangem medidas como:

Prolongar a educação fundamental até ao fim do ensino ou formação de nível

secundário, o que implica trazer todos os menores de 18 anos para o sistema de

ensino ou formação profissional, mesmo que estejam já inseridos no mercado de

trabalho;

Alargar progressivamente a educação pré-escolar a todas as crianças;

Melhorar a dimensão e a estrutura dos programas de educação e formação

destinados aos adultos;

Alterar o modo de concepção e organização do sistema e dos recursos educativos,

colocando-os ao serviço do interesse público, nomeadamente dos alunos e das

famílias, o que irá influir em questões tão fulcrais como o processo de

recrutamento e colocação de docentes ou o horário de funcionamento e a

estruturação dos estabelecimentos de ensino pré-escolar e das escolas;

Incutir em todo o sistema de educação e formação (currículos, desempenho de

alunos e professores, eficiência das escolas) a cultura e a prática da avaliação e da

prestação de contas. São cada vez mais frequentes as avaliações de resultados

escolares, por meio de aplicação de testes a nível internacional, numa sociedade

CEP Capítulo III - 10

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globalizada e mediatizada que não pode manter na sombra os sectores da vida

pública. Impera o “mandato da transparência” e Portugal não pode escapar e essa

intenção.

De um modo mais concreto, foram apontados pelo actual Governo alguns

ajustamentos a efectuar no ensino básico, destacando-se:

Ensino do Inglês a partir do 1º ciclo;

Obrigatoriedade do ensino experimental das ciências;

Valorização do ensino da Língua Portuguesa e da Matemática, e generalização do

acesso e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Neste último

aspecto, e no sentido de uma desejável paridade com os restantes países

europeus, é fundamental o conceito de “literacia tecnológica”, o principal motor de

transmissão de conhecimento e que deve fazer parte do leque de saberes de todos

os cidadãos. Também aqui a escola e os seus actores, alunos e professores, têm

um papel determinante a desempenhar, mormente na utilização dos conteúdos

didácticos digitais, mas igualmente, nas palavras de Roberto Carneiro, na

“produção e disseminação desses conteúdos”, assumindo-se como “unidade

pedagógica viva”.

Aperfeiçoamento do sistema de avaliação nacional por provas aferidas,

reconhecendo-o como o sistema mais adequado para avaliar o desenvolvimento

dos currículos nacionais e o desempenho das escolas;

Alteração do sistema de avaliação dos alunos, para que a aplicação de critérios

rigorosos na transição dos alunos tenha como efeito útil a aplicação de programas

de recuperação de alunos com dificuldades de aprendizagem;

Valorização das componentes técnica, tecnológica e vocacional no 3º ciclo, quer

pelo seu relevo educativo, quer por serem instrumentos valiosos para a prevenção

do abandono escolar, quer mesmo como meio de orientação para opções

subsequentes dos cursos secundários.

Como metas a alcançar, ao nível da escolaridade básica, as propostas vão no sentido

de assegurar:

100% das crianças com 5 anos a frequentar o ensino pré-escolar;

Redução drástica do insucesso no ensino básico e do abandono na transição para o

ensino secundário;

Garantia de necessidades de educação e ensino especial e oferta de programas de

complementos educativos e apoio social em todos os agrupamentos.

No que concerne ao ensino de nível secundário, são inaceitavelmente baixas as

actuais taxas de frequência deste nível de ensino e escandalosamente altas as taxas

de repetência e abandono.

Importa, por isso, generalizar, de facto, a frequência do ensino secundário, para o que

se apontam as seguintes mudanças:

CEP Capítulo III - 11

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Tornar obrigatória a oferta pública de cursos secundários, que satisfaçam as

necessidades em todo o território e tornar obrigatória a frequência de ensino ou

formação até aos 18 anos. O que vem sendo dito corrobora Roberto Carneiro,

quando afirma que, a nível internacional, é ponto assente que o triunfo das

pessoas começa num novo “limiar de escolarização”: o final dos estudos

secundários. A “3ª Revolução Industrial” está já instalada e os factores críticos

para a vencer residem nos atributos de uma “sociedade do conhecimento”:

empreendedorismo; conhecimentos e competências; inovação e criatividade;

sistemas de educação, formação e investigação e uma cultura de aprendizagem

permanente.

Alargar a oferta de cursos tecnológicos, artísticos e profissionais;

Valorizar a identidade do ensino secundário, que confere certificação própria e

qualificação;

Assegurar um ensino recorrente diversificado, quer com programas diurnos para

alunos dos 15 aos 18 anos, quer com programas pós-laborais para trabalhadores-

estudantes.

Aponta-se também a necessidade de fazer a aproximação entre o ensino secundário e

o sistema de formação profissional. Nesse sentido, será estimulada a procura de

cursos do campo das ciências e tecnologias, sejam eles cursos científico-humanísticos,

tecnológicos ou profissionais, sendo que será lançado um programa de

desenvolvimento da formação pós-secundária, expandindo os cursos de educação

tecnológica.

São, pois, vários os desafios que se avizinham para dissipar os atrasos estruturais

com que o sistema educativo se debate.

Uma preocupação transversal a vários sectores da sociedade reside na discriminação

social, que se revela sob várias formas. Refira-se, a este propósito, a XIII Conferência

Ibero-americana de Educação, que teve lugar em Setembro de 2003, em Tarija, na

Bolívia. Nessa ocasião, foi reconhecido o papel fundamental da educação na redução

das desigualdades e na inclusão social, muito ao encontro do que já havia sido

defendido na cimeira de Lisboa: “o investimento nas pessoas e o desenvolvimento de

um Estado-providência activo e dinâmico será fundamental (...) para assegurar que a

emergência desta nova economia [do conhecimento] não venha agravar os problemas

sociais existentes em matéria de desemprego, exclusão social e pobreza”.

A coesão social é um objectivo que tem de se espelhar em políticas públicas

concertadas, das quais a educação assume particular importância. De facto, os

sistemas educativos podem, e devem, ser os principais aliados na eliminação do

trabalho infantil, do abandono escolar, do analfabetismo e da discriminação, situações

que, entre outras, reproduzem a exclusão social.

CEP Capítulo III - 12

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Assim, uma educação de qualidade para todos deve garantir o acesso e a permanência

de crianças e jovens na escola, mas também a igualdade de oportunidades para um

desenvolvimento humano integral.

A educação sempre teve uma enorme influência constitutiva nas sociedades, e

ultimamente tem entrado em novas dimensões, fruto da globalização e da sociedade

do conhecimento. Qualquer estratégia séria com o intuito de melhorar a

competitividade económica, a prosperidade e a coesão social terá de estar alicerçada

em políticas consistentes de educação e formação.

“As pessoas são o trunfo principal da Europa.” Nesta frase, saída da Cimeira Europeia

de Lisboa em 2000, está condensado o espírito que deve presidir à construção de

movimentos de sensibilização em favor das causas da educação e da formação. É aqui

que se apoia o carácter desta Carta Educativa: mais do que um documento configura-

se como uma oportunidade para se promover a discussão alargada em torno das

questões da educação, para mobilizar vontades e recursos, na senda de uma

sociedade cunhada pelo ritmo das aprendizagens e pela busca da sabedoria. Esta

sociedade estará fundeada em comunidades de aprendentes, que se verão

fortalecidas, enquanto sociedade civil, porque sabem, porque aprendem.

4. O contexto metropolitano

A Grande Área Metropolitana do Porto (GAMP) constitui a maior concentração

demográfica e económica do noroeste peninsular, com uma população de 1,55

milhões de habitantes e 755 mil postos de trabalho, ocupando uma posição destacada

no que se refere aos serviços avançados de apoio à produção, à dotação e qualidade

das infraestruturas relacionadas com a competitividade económica, e à oferta de

equipamentos de nível superior.

Trata-se de um espaço sujeito a um processo de reestruturação territorial acelerado e

intenso cuja manifestação mais visível se prende com o forte crescimento urbanístico

e com o aumento dos fluxos de pessoas e bens. As dinâmicas de crescimento

demográfico e económico são bem diferenciadas e têm-se traduzido num movimento

de descentralização da população e do emprego.

O Porto perde a importância que detinha do ponto de vista da função residencial em

prol dos seus concelhos limítrofes, mantendo, contudo, uma forte atractividade em

domínios como o emprego, o ensino (e não só o superior), a cultura e o lazer, e,

sobretudo, os serviços ligados à investigação e desenvolvimento (I&D).

No presente ano lectivo de 2006/07, a população escolar da GAMP distribuiu-se da

seguinte forma: quase 38 mil crianças na educação pré-escolar, cerca de 177 mil

CEP Capítulo III - 13

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alunos no ensino básico e 54 mil no secundário, o que totaliza pouco mais de 268 mil.

A cidade do Porto concentrou 21% deste total, com particular destaque para o ensino

secundário com 30%, valor este bem superior ao seu peso populacional (17%).

Tabela 3.2 - Frequências escolares por níveis de ensino na GAMP

2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07

Educação Pré-Escolar 35.937 35.560 35.990 36.661 36.970 37.5741.º Ciclo do Ensino Básico 77.331 76.625 76.434 75.393 76.675 76.4712.º Ciclo do Ensino Básico 41.962 42.775 42.508 40.856 39.470 38.9643.º Ciclo do Ensino Básico 61.401 60.020 58.955 58.846 60.783 61.273Ensino Secundário 57.339 55.055 54.655 55.215 51.330 54.143Total GAMP 273.970 270.035 268.542 266.971 265.228 268.425

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2007

É significativo constatar que, a nível da GAMP, quando se segue a população escolar

do 3º ciclo para o secundário, as frequências baixam cerca de 11%, ou seja,

aproximadamente 7 mil alunos, o que dá uma indicação muito segura e preocupante

da expressão do fenómeno da saída precoce do sistema de ensino por parte dos

jovens no fim da escolaridade obrigatória.

O ensino público representa 80% da população escolar da GAMP. No entanto, a sua

expressão no que concerne à educação pré-escolar ronda 51%, sendo de 74% a taxa

de cobertura para o ensino secundário. Nos restantes ciclos de escolaridade o ensino

público é responsável por mais de 87% dos alunos matriculados. O ensino privado

assume maior expressão na cidade do Porto com 41% dos alunos. A nível da educação

pré-escolar, as redes solidária e particular abarcam 73% das crianças que frequentam

os jardins-de-infância no Porto.

Figura 3.3 - Educação Pré-Escolar (público e privado) por concelho da GAMP (%)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Arou

ca

Espinh

o

Gondo

mar

Maia

Matos

inho

s

Porto

Sant

a Mar

ia d

a Fe

ira

Sant

o Tirso

Trof

a

Valong

o

Vila

do C

onde

Vila

Nova

de Gaia Concelhos

pertencentes à GAMP

Ensino Privado

Ensino Público

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2007

CEP Capítulo III - 14

Page 31: RELATÓRIO FINAL Metodologia O papel dos municípios na ... · A realidade educativa da cidade do Porto é equacionada em termos da oferta e da procura de ensino e de formação,

No ensino secundário a oferta privada já assume uma dimensão considerável não só

no concelho do Porto, como nos concelhos de Santa Maria da Feira e de Vila Nova de

Gaia.

Figura 3.4 - Ensino Secundário (público e privado) por concelho da GAMP (%)

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2007

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Arou

ca

Espinh

o

Gondo

mar

Maia

Matos

inho

sPo

rto

Sant

a Mar

ia da Fe

ira

Sant

o Tirso

Trof

a

Valong

o

Vila

do Con

de

Vila

Nova

de Gaia Concelhos

pertencentes à GAMP

Ensino Privado

Ensino Público

Nos últimos 6 anos assistiu-se a uma quebra das frequências escolares em todos os

ciclos da escolaridade obrigatória bem como ao nível do ensino secundário, mais

acentuada no Porto do que na GAMP. Só no âmbito da educação pré-escolar e

unicamente para a GAMP é que se verificou um acréscimo do número de crianças

matriculadas, que se ficou a dever à rede pública que registou um aumento contínuo

desde 2001/02, da ordem dos 12%.

Figura 3.5 - Evolução das frequências escolares por níveis de ensino na GAMP

30.000

35.000

40.000

45.000

50.000

55.000

60.000

65.000

70.000

75.000

80.000

2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 Anos Lectivos

N.º

de A

lunos

Educação Pré-Escolar

1.º Ciclo doEnsino Básico

2.º Ciclo doEnsino Básico

3.º Ciclo doEnsino Básico

EnsinoSecundário

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2007

CEP Capítulo III - 15

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A figura seguinte ilustra a evolução das frequências escolares por concelho nos últimos

6 anos.

Figura 3.6 - Evolução das frequências escolares por concelho da GAMP

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

2001 / 2002 2002 / 2003 2003 / 2004 2004 / 2005 2005 / 2006 2006 / 2007 Anos Lectivos

N.º

de A

luno

s

Arouca

Espinho

Gondomar

Maia

Matosinhos

Porto

Póvoa de Varzim

Santa Maria da Feira

Santo Tirso

São João da Madeira

Trofa

Valongo

Vila do Conde

Vila Nova de Gaia

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2006

Ao longo destes anos houve uma ligeira diminuição do peso relativo do Porto na

GAMP, em termos de população escolar e em todos os níveis de ensino, quer no

público como no privado. É de salientar que 49% dos alunos do básico e do secundário

que frequentam o ensino privado na GAMP estudam na cidade do Porto, o que mostra

a importância das escolas particulares do Porto.

Figura 3.7 - Peso dos alunos do Porto no total da GAMP (%)

Ensino público Ensino privado

0,0

5,0

25,0

20,0

15,0

10,0

30,0

1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo

EducaçãoPré-Escolar

Ensino Básico EnsinoSecundário

(%)

2001/2002

2006/2007

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo

EducaçãoPré-Escolar

Ensino Básico EnsinoSecundário

(%)

2001/2002

2006/2007

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2006

O ensino privado sofreu uma diminuição de 6% de alunos, fortemente marcada pela

quebra abrupta do secundário, que em 5 anos perdeu mais de 3 mil estudantes, o que

equivale a 19% das matrículas do ano de 2001/02. Já o ensino público estancou a

quebra que se vinha a processar anteriormente, para o que contribuiu o já referido

acréscimo de mais de 2 mil crianças na educação pré-escolar. É também de registar

CEP Capítulo III - 16

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que a frequência do ensino secundário a nível das escolas públicas se estabilizou à

volta dos 40 mil alunos.

Figura3.8 - Taxa de variação (%) dos Alunos (público e privado) na GAMP

entre o ano lectivo 2001/02 e 2006/07

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

Educação Pré-Escolar

1.º Ciclo doEnsino Básico

2.º Ciclo doEnsino Básico

3.º Ciclo doEnsino Básico

EnsinoSecundário

(%)

Ens. Público Ens. Privado

Fonte: Min. Educação, GIASE-DSE/CMP, 2006

As taxas de abandono escolar e, sobretudo, de saída antecipada e precoce do sistema

de ensino para 2001 são bastante elevadas a nível da Grande Área Metropolitana do

Porto mesmo quando comparadas com as já de si elevadas taxas médias do

Continente. Só o Porto se destaca pela positiva, muito embora no caso da taxa de

saída precoce se constate que o valor do Porto é bem superior à média registada na

UE (29% para 19%). Estas elevadas taxas de saída relacionam-se fundamentalmente

com oportunidades de integração precoce no mercado de trabalho e deverão

igualmente reflectir histórias de insucesso escolar repetido.

Tabela 3.3 - Indicadores de abandono e saída antecipada e precoce (GAMP) em 2001

Concelho Abandono (%) Saída Antecipada (%) Saída Precoce (%)

Arouca 3,3 45,4 62,3 Espinho 4,1 27,2 44,5 Gondomar 2,3 21,4 42,2 Maia 1,8 19,6 38,8 Matosinhos 2,1 18,4 37,0 Porto 2,6 15,6 29,4 Póvoa de Varzim 3,9 38,8 57,2 Santa Maria da Feira 3,1 33,7 53,9 Santo Tirso 2,7 35,1 53,0 São João da Madeira 1,3 24,7 45,8 Trofa 2,5 32,4 52,8 Valongo 3,0 24,9 44,9 Vila do Conde 3,3 36,1 55,9 Vila Nova de Gaia 2,6 21,8 42,6 Continente 2,7 24,6 44,8

Fonte: Ministério da Educação e INE, 2001.

CEP Capítulo III - 17

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Figura 3.9 – Abandono, saída antecipada e precoce (%) nos concelhos da GAMP em 2001

Fonte: Ministério da Educação e INE, 2001.

A retenção constitui a principal manifestação do insucesso escolar. Os valores da

retenção são elevados, em particular no ensino público, com especial incidência em

todos os anos do secundário e no primeiro ano do 3º ciclo. A cidade do Porto, quando

confrontada com a AMP e o Continente, apresenta sistematicamente as maiores taxas

de retenção, à excepção dos valores para os 3º e 9º anos.

Figura 3.10 – Retenção e abandono (ensino público e privado) por ano de escolaridade, 2000/01

Fonte: Min. Educação, GIASE, 2004

Como nota final é de sublinhar que esta realidade educativa a nível metropolitano tem

merecido um acompanhamento por parte do Conselho de Vereadores da Educação da

GAMP, de forma a que, através de um trabalho conjunto, se assegure uma maior

eficácia da actuação municipal e se contribua para a melhoria dos sistemas de

educação e de formação.

0

10

20

30

40

50

60

70

2ºAno

3ºAno

4ºAno

5ºAno

6ºAno

7ºAno

8ºAno

9ºAno

10ºAno

11ºAno

12ºAno

(%)

Continente AMP Porto

0

10

20

30

40

50

60

2ºAno

3ºAno

4ºAno

5ºAno

6ºAno

7ºAno

8ºAno

9ºAno

10ºAno

11ºAno

12ºAno

(%)

Continente AMP Porto

CEP Capítulo III - 18

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IV. A Cidade do Porto

Neste capítulo pretende-se apresentar uma breve caracterização da cidade do Porto

nos domínios que mais directamente se cruzam com a realidade do sistema educativo.

Em primeiro lugar, impõe-se analisar as dinâmicas instaladas quer do ponto de vista

demográfico quer do ponto de vista socio-económico. O conhecimento dos principais

traços caracterizadores da estrutura da população residente e da sua evolução recente

bem como da realidade social e económica urbana, com especial incidência no perfil

de qualificações e no padrão de actividades económicas da população activa, é

essencial para se compreender os desafios lançados aos sistemas de educação e de

formação.

Em segundo lugar, dever-se-ão apontar as potencialidades de que a cidade dispõe, do

ponto de vista dos recursos materiais, ou seja, a rede de equipamentos culturais e

desportivos, os espaços verdes e a rede de transportes públicos que condicionam o

quadro de vida da população. Em particular os equipamentos culturais, em que a

cidade é rica, prestam um serviço na esfera educativa que muito contribui para a

melhoria da qualificação integral dos cidadãos.

Merece igualmente destaque a realidade do movimento associativo pelo papel que

desempenha em prol da participação cívica e, neste caso concreto, pelo contributo que

lhe cabe ter na valorização da educação e na afirmação do Porto como Cidade

Educadora.

Por fim, é necessário ter presente as orientações que estão definidas quanto ao

desenvolvimento urbanístico do Porto, ou seja, proceder a uma análise prospectiva

quanto às principais apostas em termos de transformação urbana. A leitura do Plano

Director Municipal (PDM) dá pistas quanto à evolução das necessidades de

equipamentos educativos que interessa antecipar.

CEP Capítulo IV - 1

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1. Principais tendências evolutivas

1.1 Dinâmicas demográficas

1.1.1 Evolução e distribuição da população residente

A população da cidade do Porto ao longo do século passado cresceu gradualmente até

aos anos 80, momento em que atingiu o seu máximo com 327 368 habitantes.

Durante todo este período, verificou-se apenas uma excepção, quanto à tendência

contínua de crescimento, nos anos 60, altura em que a forte emigração verificada à

escala nacional levou à estagnação do efectivo populacional da cidade. Desde a

década de 80, ou seja nos últimos 20 anos, tem-se verificado um decréscimo

populacional significativo. Em 2001 residiam no concelho do Porto 263 131 indivíduos,

o que, face a 1991, representa uma perda de quase 40 mil indivíduos, correspondente

a uma redução de 13%.

Figura 4.1 - Evolução da População Residente no concelho do Porto

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

1900

1920

1940

1960

1981

2001

Anos

N.º Ind.

Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População

Analisando os dados censitários para o período mais recente, segundo grupos etários,

constata-se uma quebra acentuada nos grupos mais jovens, bem como um aumento

da população idosa.

Tabela 4.1 - Distribuição por grupos etários e variação (2001 e 1991) TOTAL 0-14 ANOS 15-24 ANOS

1991 2001 1991 2001 1991 2001 Nº Nº Nº % Nº % Nº % Nº %

302472 263131 51269 16,9 34584 13,1 49891 16,5 36850 14,0

TOTAL 25-64 ANOS 65 e + ANOS 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Nº Nº Nº % Nº % Nº % Nº % 302472 263131 156532 51,8 140694 53,5 44780 14,8 51003 19,4

VARIAÇÃO (2001 e 1991)

TOTAL 0-14 ANOS 15-24 ANOS 25-64 ANOS 65 e + ANOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %

-39341 -13,0% -16685 -32,5 -13041 -26,1 -15838 -10,1 6223 13,9 Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População, 1991 e 2001

CEP Capítulo IV - 2

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À escala intra urbana constata-se que a variação da população residente não é

uniforme, sendo mais acentuada na zona central e na zona oriental1. No chamado

núcleo histórico, concretamente nas freguesias de Miragaia, Vitória, Sé e São Nicolau

registaram-se valores de perda acima dos 25% e, inclusivamente em Santo Ildefonso

este valor chegou aos 41%. Esta tendência negativa estende-se às freguesias

contíguas, com perdas na ordem dos 15 a 25 %, e neste cenário de regressão

demográfica as únicas excepções verificam-se na freguesia de Ramalde, onde ocorreu

um ligeiro acréscimo (3,7%), e na freguesia da Foz do Douro onde se observou uma

estagnação.

Fig. 4.2 - Variação da população residente no concelho do Porto,

por freguesias entre 1991 e 2001

Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População

Por sua vez, à escala metropolitana continuou a assistir-se, na década de 90, a uma

dinâmica de recomposição deste espaço, marcada pela forte tendência de

descentralização populacional para os concelhos periféricos.

Num contexto de regressão populacional ao nível da cidade central, é de notar que a

AMP apresentou um acréscimo de 93 mil residentes neste período temporal. A

deslocalização da função residencial a partir do centro é protagonizada essencialmente

por casais jovens, facto que vem agravar o envelhecimento da população residente no

Porto, que tem sido acentuado, em particular nas freguesias mais centrais.

As freguesias contíguas ao concelho do Porto, de urbanização mais consolidada,

designadamente de Gaia e Matosinhos, exibem uma tendência de crescimento

moderado. Torna-se, no entanto, bastante perceptível a existência de uma coroa de

freguesias na envolvente do Porto, onde se denota um elevado crescimento

populacional, sobressaindo pelo seu peso demográfico Águas Santas (Maia), Rio Tinto

(Gondomar), Canidelo (Gaia) e Senhora da Hora (Matosinhos).

1 Ver mapa das freguesias em anexo.

CEP Capítulo IV - 3

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Fig. 4.3 - Variação da população residente entre 1991 e 2001

Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População

Vejamos muito sumariamente as tendências de evolução das famílias na cidade do

Porto. Verificou-se um ligeiro aumento do número de famílias de cerca de 1,2%, tendo

sido ultrapassados, pela primeira vez, os 100 mil agregados familiares na cidade.

Fig. 4.4 - Variação das famílias clássicas residentes por freguesia entre 1991 e 2001

Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População

Numa análise mais fina, ao nível da freguesia, verifica-se um claro contraste entre as

zonas ocidental e norte e as zonas central e oriental. O Centro Histórico constitui a

área com maior perda (entre 20 a 35%). A zona norte e a zona ocidental, compensam

a diminuição do número de famílias, apresentando-se Ramalde, Lordelo do Ouro e Foz

do Douro, como as freguesias onde o número de famílias mais cresceu, na ordem dos

15 a 25%.

CEP Capítulo IV - 4

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A disparidade entre a evolução das famílias e da população poderá ser explicada pelas

transformações que atingiram a estrutura familiar, como resultado das mudanças

sociais e culturais entretanto ocorridas. O aumento do número de famílias contribuiu,

por sua vez, para um certo amortecimento dos efeitos negativos decorrentes da

regressão demográfica, designadamente no que respeita ao abandono do parque

habitacional.

1.1.2 Crescimento natural e estrutura etária da população

No inicio da década de 90 os valores relativos aos nados vivos ainda superavam

ligeiramente os correspondentes aos óbitos no concelho. Contudo, desde 1993, a

quebra da natalidade registada é responsável por um saldo natural negativo que ainda

se mantém. Em 2005, o saldo natural atingiu o valor de – 714 indivíduos.

Fig. 4.5 - Nados Vivos e Óbitos no concelho do Porto

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005

Anos

N.º

Ind.

Nados-vivos Óbitos

Fonte: INE, 2005

No período 1991/2000, o saldo natural acumulado foi negativo, atingindo quase os

3.500 indivíduos. Registe-se que o Porto constituiu o único concelho da sub-região que

ao longo da última década apresentou um crescimento natural negativo.

Entre 1991 e 2001 a taxa de natalidade passou de 11,8 para 9,3 nados-vivos por mil

habitantes, enquanto que a taxa de mortalidade se relevou relativamente estável

(11,7 e 12,4%0).

Comparando as taxas de natalidade e mortalidade, por freguesia no ano de 2001,

verifica-se que apenas quatro freguesias, a Foz do Douro, Aldoar, Ramalde e Nevogilde

apresentam valores superiores da taxa natalidade face à taxa de mortalidade. Em

situação contrária destaca-se o centro histórico com os valores mais altos para a taxa

de mortalidade, designadamente o conjunto Sé, Miragaia, Vitória (com taxas

superiores a 19%0) e ainda Bonfim, S. Nicolau e S.to Ildefonso (taxas superiores a

15%0).

CEP Capítulo IV - 5

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Fig. 4.6 - Taxa de Natalidade e Mortalidade por freguesia (2001)

5,0

7,0

9,0

11,0

13,0

15,0

17,0

19,0

21,0

23,0

25,0

Mir

agaia

São

Nic

ola

u

Vitóri

a

Cedofe

ita

Bonfim

Mass

are

los

Santo

Ildefo

nso

Ald

oar

Foz

do

Douro

Lord

elo

do

Ouro

Nevogild

e

Cam

panhã

Para

nhos

Ram

ald

e

Centro Histórico CentroTradicional

Zona Ocidental ZonaOriental

(%)

Taxa de Natalidade Taxa de Mortalidade

Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 2001

Analisando a população residente do concelho segundo os grupos etários quinquenais,

constata-se o retraimento dos escalões de base o que faz antever a continuidade do

decréscimo do movimento natural e o potencial aumento do envelhecimento da

população. De realçar o facto do grupo etário correspondente às crianças com menos

de 5 anos representar um quantitativo de cerca de 10.500 indivíduos, ou seja, menos

26% da dimensão que tinha em 1991.

Figura 4.7 - População residente segundo grupos etários

Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 2001

CEP Capítulo IV - 6

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O índice de envelhecimento2 da população do Porto é de 147 idosos por cada 100

jovens, claramente superior aos verificados ao nível da GAMP e mesmo da Região

Norte. Observando os dados à escala da freguesia constata-se que a proporção de

idosos é sempre superior à proporção de jovens, com excepção de Aldoar.

Fig. 4.8 - Proporção de idosos e de jovens no total da população residente do Porto (%)

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

Mir

agaia

São

Nic

ola

u

Vitóri

a

Cedofe

ita

Bonfim

Mass

are

los

Santo

Ildefo

nso

Ald

oar

Foz

do

Douro

Lord

elo

do

Ouro

Nevogild

e

Cam

panhã

Para

nhos

Ram

ald

e

Centro Histórico Centro Tradicional Zona Ocidental Zona Oriental

(%)

Peso relativo da população com 65 e mais anos no total da população residente

Peso relativo da população com menos de 15 anos no total da população residente

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e da Habitação 2001

É igualmente notório que é na zona central do Porto que este desequilíbrio

idosos/jovens é mais acentuado. Na zona ocidental ambas as populações (jovens e

idosos) praticamente se equivalem.

Última nota sobre o movimento migratório ocorrido na década de 90. O seu impacto

foi muito significativo quer em termos da evolução populacional registada, quer em

termos do envelhecimento demográfico. Estima-se que o saldo migratório negativo no

período 1991/2000 tenha atingido cerca de 36.000 indivíduos, com particular

incidência em dois grandes grupos etários: a população em idade activa mais jovem

(15 a 30 anos em 1990) e o conjunto das crianças que nasceram ao longo da década

de 90. Figura 4.9 - Índices populacionais

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

Mir

agaia

São

Nic

ola

u

Vitóri

a

Cedofe

ita

Bonfim

Mass

are

los

Santo

Ildefo

nso

Ald

oar

Foz

do

Douro

Lord

elo

do

Ouro

Nevogilde

Cam

panhã

Para

nhos

Ram

ald

e

Centro Histórico CentroTradicional

Zona Ocidental ZonaOriental

(%)

Relação existenteentre a populaçãode menos de 14anos e de 65 emais anos, com apopulação residente dos 14-64 anos

Relação existenteentre a populaçãode 65 e mais anoscom a população residente demenos de 15 anos

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e da Habitação 2001

2 Relação entre a população de 65 e mais anos e a população de menos de 15 anos.

CEP Capítulo IV - 7

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1.2 Dinâmicas sócio-económicas

O Porto constitui o principal pólo de emprego numa Área Metropolitana cuja relevância

económica face a conjunto do País apresenta-se, relativamente a vários indicadores,

superior à sua dimensão demográfica. Com efeito, os dados provenientes do Instituto

Nacional de Estatística (INE) permitem constatar que, para uma população em torno

dos 12 % do total nacional (em 2001), a AMP representa cerca de 14 % do número de

sociedades, responsáveis por 15 % do emprego e do volume de vendas. Em 2001, a

AMP concentrava cerca de 610 mil postos de trabalho (e a GAMP cerca de 755 mil),

dos quais quase 220 mil se localizavam na sua cidade central.

Apesar da relevância deste efeito de polarização exercido pelo Porto à escala regional,

tem sido notória, ao longo da década de 90, a afirmação de movimentos centrífugos

do ponto de vista da localização de diversas actividades económicas. Vejamos quais as

principais tendências observadas no passado decénio, no que concerne à interligação

entre o perfil de qualificações e a base económica centrada no Porto. Para o efeito,

recorreu-se a duas fontes estatísticas, nomeadamente os Recenseamentos Gerais da

População e os quadros de pessoal do Ministério da Segurança Social e do Trabalho.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos aos dois últimos

recenseamentos caracterizam a população empregada e residente no Porto, do ponto

de vista dos níveis de instrução e ramos de actividade, cruzada com a distribuição

geográfica à escala da freguesia. Menos ricos, os dados relativos ao emprego

provenientes do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, permitem observar a

evolução temporal a nível concelhio, entre 1991 e 2000, do ponto de vista dos

padrões educacionais dos trabalhadores por conta de outrem não afectos à função

pública.

Dada a importância do enquadramento da situação do Porto à escala nacional,

proceder-se-á também a uma análise comparativa que tem por referência geográfica

não apenas o conjunto do país, mas também a aglomeração metropolitana centrada

em Lisboa.

1.2.1 População residente empregada, evolução dos níveis de instrução e

respectiva distribuição territorial

Entre 1991 e 2001, a população empregada e residente no concelho do Porto reduziu-

se em 15 %, tendo passado de 134 mil indivíduos para cerca de 114 mil. Este

resultado, que reflecte a tendência mais geral de perda da população residente no

Porto, em favor dos municípios vizinhos, é especialmente visível nas freguesias mais

centrais e em Campanhã (figura 11). Com efeito, nas freguesias situadas nas zonas

norte e ocidental, a redução da população residente empregada foi circunscrita a taxas

CEP Capítulo IV - 8

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inferiores à média do concelho tendo mesmo, no caso de Ramalde, sido registados

valores positivos.

Fig. 4.10 - Variação da população residente empregada, entre 1991 e 2001 (%)

-50 -40 -30 -20 -10 0 10

Vitória

Miragaia

Santo Ildefonso

São Nicolau

Campanhã

Cedofeita

Massarelos

Bonfim

Porto

Aldoar

Nevogilde

Paranhos

Lordelo do Ouro

Foz do Douro

Ramalde

Fonte: INE - Recenseamentos Gerais da População

Do ponto de vista das qualificações profissionais, o último intervalo inter-censitário

correspondeu a um período de forte incremento dos níveis de instrução. Com efeito,

se em 1991 quase 40 % da população residente empregada tinha habilitações iguais

ou inferiores ao 1º ciclo, contra menos de 15 % dos efectivos com um diploma do

ensino superior, decorridos dez anos a representatividade destes dois grupos

apresentava-se mais próxima, em torno dos 26 %. Em termos absolutos, passaram a

residir no Porto mais 10.000 bacharéis, licenciados, mestres ou doutorados, ao mesmo

tempo que a população empregada com quatro anos de escolaridade (ou menos) se

reduzia em quase 23 mil pessoas (tabela 2).

Tabela 4.2 - Evolução dos níveis de instrução no Porto, entre 1991 e 2001 (%)

1991 2001 Nível de instrução

nº % nº % Inferior ao 1º ciclo 8.235 6,2 4.852 4,3 1º ciclo concluído 44.945 33,6 24.900 21,9 2º ciclo concluído 21.196 15,9 12.028 10,6 3º ciclo concluído 16.328 12,2 18.449 16,0 Ensino secundário ou médio concluído 23.143 17,3 23.113 20,3 Licenciatura ou Bacharelato concluído 18.551 13,9 27.634 24,3 Mestrado ou Doutoramento concluído 1.268 0,9 2.617 2,3

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População

À escala intra-urbana, as divergências territoriais são significativas, expressas no

contraste entre os baixos padrões educacionais da população empregada residente em

Campanhã e na maioria das freguesias centrais, em particular do centro histórico, e os

valores relativos às zonas norte e ocidental. As duas freguesias localizadas na frente

marítima – Nevogilde e Foz do Douro – apresentam indicadores particularmente

favoráveis deste ponto de vista.

As próximas duas figuras (12 e 13), relativas aos dois escalões de instrução mais

baixos (o nível inferior ao 1º ciclo e o 1º ciclo concluído) ilustram esta realidade. No

CEP Capítulo IV - 9

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que diz respeito à população residente empregada com nível de instrução inferior ao

1.º Ciclo do Ensino Básico as percentagens referentes a Campanhã e às quatro

freguesias que compõe o centro histórico (em particular na Sé e Vitória) são

claramente as mais elevadas, registando estas duas últimas valores acima dos 8 %.

No outro extremo, as percentagens de Nevogilde, Foz do Douro, Ramalde, Massarelos,

Paranhos e Bonfim são as mais baixas.

Fig. 4.11 - População residente empregada com nível de instrução inferior ao 1º ciclo (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

No que toca à população residente empregada com o 1.º Ciclo do Ensino Básico (1.º

CEB) concluído as percentagens espelham de certo modo a mesma realidade: a zona

ocidental com baixas percentagens e a zona oriental com o centro histórico registando

as percentagens mais elevadas. Pode-se constatar que mais de 30% da população

residente empregada nas quatro freguesias do centro histórico e na freguesia da

Campanhã apenas possuem o 1.º CEB concluído em oposição às duas freguesias da

zona oriental que apresentam percentagens inferiores a 15%.

Fig. 4.12 - População residente empregada com o 1º ciclo do ensino básico concluído (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

Como atrás se referiu, a situação relativa aos vários escalões do ensino superior (duas

figuras seguintes) apresenta-se oposta do ponto de vista territorial: em Campanhã e

nas freguesias históricas as percentagens são claramente as mais baixas (menos de

10%), sendo particularmente elevadas as percentagens das freguesias de Nevogilde e

Foz do Douro com percentagens superiores a 35%.

CEP Capítulo IV - 10

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Fig. 4.13 - População residente empregada com bacharelato ou licenciatura concluída (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

Os dados referentes à população residente com mestrado e doutoramento são

especialmente expressivos no que respeita ao contraste entre os níveis de instrução

das áreas ocidental e oriental da cidade. Na zona ocidental as percentagens são mais

elevadas registando valores superiores a 2,5%, em claro contraste com as

percentagens registadas no centro histórico e em Campanhã com percentagens

inferiores a 1 %.

Fig. 4.14 - População residente empregada com mestrado ou doutoramento concluído (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

Os resultados da presente análise são coerentes com outros indicadores, provenientes

não só dos Recenseamentos Gerais da População como de vários outros estudos, que

realçam a maior representatividade, nas freguesias ocidentais, de população

pertencente aos estratos sócio-profissionais mais elevados, mais jovem e com mais

elevado poder aquisitivo. No entanto, deve ser salvaguardado o facto de existirem

importantes disparidades no interior das próprias freguesias.

Em freguesias ocidentais, tais como Aldoar, Ramalde e, principalmente, Lordelo do

Ouro, é relativamente elevada a proporção de residentes empregados com índices de

escolarização muito baixos, não obstante a situação ser, em geral, mais favorável do

que no conjunto da cidade. Para este significativo grau de polarização contribuirá a

coexistência entre bairros sociais e conjuntos habitacionais destinados às classes

média e alta.

CEP Capítulo IV - 11

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1.2.2 Perfil de actividades da população residente empregada

O cruzamento entre os elementos relativos aos níveis de instrução da população

residente empregada e a distribuição desta população segundo as actividades

económicas permite constatar a interligação entre a evolução dos índices de

escolarização e as transformações da base económica, não obstante o facto de, tal

como revelado no recente “Inquérito à Mobilidade 2000”, do Instituto Nacional de

Estatística, ainda serem significativos a proporção de residentes no Porto que

trabalham em concelhos vizinhos e, sobretudo, os movimentos de entrada de activos

no Porto.

A figura 16 evidencia a crescente terciarização, ao longo da década de 90, do perfil de

actividades da população empregada e residente no Porto. A forte quebra das

indústrias transformadoras, de quase nove pontos percentuais (correspondendo a

cerca de 15.000 indivíduos) teve por contraponto o incremento de grande parte dos

serviços, independentemente de serem dirigidos às famílias ou às empresas. No

entanto, o comércio surge como a grande excepção no que concerne ao terciário,

dado ter registado perdas de quase 6.000 residentes, e o saldo entre saídas e

entradas apresenta-se claramente negativo.

Fig. 4.15 - Variação da população residente e empregada no Porto entre 1991 e 2001,

por ramo de actividades (%)

-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30

Indústriastransformadoras

Transportes ecomunicações

Comércio ,restaurantes e

hotéis

Outrasactividades

Construção

Serviços sociais,pessoais ecolectivos

Serviços àsempresas

(%)

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População

De um ponto de vista intra-concelhio, a distribuição geográfica dos residentes por

ramo de actividade evidencia não apenas o perfil de qualificações de cada uma das

actividades em presença, como as próprias disparidades territoriais referidas no ponto

anterior. Deste modo, os profissionais cuja actividade apresenta elevados índices

médios de qualificação, tais como os bancos e seguros, o ensino, a saúde, a

investigação e desenvolvimento, as operações sobre imóveis e a distribuição de

electricidade, gás e água, tendem a residir nas freguesias situadas nas zonas norte e

CEP Capítulo IV - 12

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ocidental. Pelo contrário, os profissionais do comércio, restaurantes e hotéis e da

construção civil, geralmente com reduzidas qualificações, residem predominantemente

na zona central e em Campanhã. As duas figuras seguintes referentes à percentagem

da população residente empregada, respectivamente em actividades de intermediação

imobiliária e em restaurantes e hotéis, reflectem esta realidade contrastada.

A “coerência” entre os padrões de qualificação sectorial e territorial não se estende,

contudo, a todas as actividades. No caso de algumas indústrias transformadoras mais

“tradicionais”, tais como as alimentares, o calçado e as indústrias metalúrgicas,

geralmente pouco qualificadas do ponto de vista dos níveis de instrução, grande parte

dos trabalhadores residem em freguesias com índices de escolarização

comparativamente elevados, como é o caso das situadas na zona ocidental.

Fig. 4.16 - População residente empregada em actividades de intermediação imobiliária (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

Fig. 4.17 - População residente empregada em cafés, restaurantes, hotéis e similares (em %)

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População, 2001

A presença de bairros sociais nestas freguesias, a que se aludiu anteriormente,

associada a estratégias residenciais que privilegiam a proximidade (tratam-se, na sua

maioria, de actividades situadas predominantemente nos concelhos vizinhos) poderão

justificar este padrão de localização pouco consentâneo com as tendências mais

gerais. Refira-se ainda que Campanhã – freguesia que alia a condição periférica aos

baixos índices de instrução - concentra, de longe, a maior proporção de residentes

empregados nas indústrias transformadoras.

CEP Capítulo IV - 13

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1.2.3 Emprego

Os dados referentes ao emprego, provenientes do Departamento de Estatística do

Trabalho, Emprego e Formação Profissional (DETEFP) do Ministério da Segurança

Social e do Trabalho, reportam-se exclusivamente aos Trabalhadores por Conta de

Outrem e não incluem os trabalhadores da Função Pública. Este facto limita

consideravelmente o âmbito de análise. A título de exemplo, e apesar de os dados não

serem directamente comparáveis, devido ao facto de o “Inquérito à Mobilidade 2000”

ter sido efectuado por amostragem, refira-se que este inquérito sugeria que o volume

total de emprego naquele ano ascendia a 200.000 efectivos no Porto e a 590.000 no

conjunto dos 9 municípios da Área Metropolitana (AMP). Os dados do Ministério do

Trabalho para o mesmo ano indicam, no entanto, respectivamente 116.389 e 346.966

trabalhadores. Além disso, e contrariamente aos recenseamentos da população, os

elementos provenientes desta base não estão desagregados ao nível da freguesia. No

entanto, pelo menos no que respeita às actividades cuja presença de profissionais

liberais e de funcionários públicos é diminuta, esta fonte estatística pode constituir um

instrumento importante na avaliação de tendências evolutivas.

Os elementos disponíveis confirmam as tendências gerais observadas no ponto

relativo à população residente empregada, que apontam para o elevado incremento do

emprego nos escalões de ensino mais elevados, a par da progressiva diminuição da

presença de profissionais com reduzidos níveis de instrução (figura 17).

Fig. 4.18 - Emprego no Porto por nível de instrução, em 1991 e 2000

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

Inferior ao 1ºCEB

1º CEB 2º CEB 3º CEB EnsinoSecundário

EnsinoSuperior

Outros /ignorado

1991 2000

Fonte: Departamento de Estatística do Trabalho, Emprego e Formação Profissional (DETEFP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho

O perfil de escolarização do emprego revela igualmente uma grande convergência com

o observado em relação à população residente empregada, apresentando-se

particularmente favorável no caso dos bancos, seguros e operações sobre imóveis, no

ensino e saúde, nas comunicações e na distribuição de electricidade, gás e água.

Apresenta indicadores francamente desfavoráveis entre as indústrias transformadoras

CEP Capítulo IV - 14

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mais “tradicionais” (têxteis, vestuário, calçado, mobiliário, alimentação, bebidas,

mobiliário e metalurgia de base), na construção e no comércio, restaurantes e hotéis.

A menor proporção de profissionais com diplomas de ensino superior ao nível da

análise do emprego, comparativamente aos dados censitários apresentados no ponto

anterior, sobre o perfil da população residente, estará em larga medida ligada às

características da base utilizada que, como atrás se refere, exclui os profissionais

liberais mas também grande parte de importantes sectores fortemente qualificados,

como são o ensino e a saúde.

1.2.4 O Porto no contexto nacional

Da leitura dos dois últimos recenseamentos, no que diz respeito à população residente

empregada, é possível observar a persistência de importantes divergências

qualitativas relativamente aos outros espaços de referência a nível nacional em

termos urbanos e metropolitanos: Lisboa e a sua Grande Área Metropolitana (GAML).

Como seria previsível em territórios urbanos e metropolitanos, a grande maioria da

população residente no Porto e respectiva Área Metropolitana exerce a sua actividade

profissional predominantemente no sector terciário, tendência que, como vimos, tem

vindo a reforçar-se de forma considerável.

No entanto, este contexto de terciarização acentuada não impediu a manutenção de

índices relativos à implantação dos serviços claramente inferiores aos registados em

Lisboa e na sua Grande Área Metropolitana (tabela 3). No Porto tal como em Lisboa, a

proporção da população residente empregada nos serviços relacionados com as

actividades económicas apresenta-se em recuo, por oposição aos valores referentes

aos serviços sociais. Tal não é, contudo, a evolução observada no conjunto do País.

Tabela 4.3 - Distribuição da população residente empregada por sector de actividade (%)

Primário Secundário Serviços de

natureza social Serviços

económicos 1991 2001 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Porto 0,3 0,4 29,2 21,2 22,2 34,4 48,2 44,0

GAMP 2,4 1,7 40,2 35,2 15,6 22,4 37,8 35,6

Lisboa 0,4 0,5 20,1 16,2 27,2 35,6 52,3 47,7

GAML 1,7 1,2 28,3 24,1 23,5 30,4 46,4 44,3

Portugal 10,8 5,0 37,9 35,1 17,4 25,5 33,9 34,4 Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População

A presença de determinadas actividades, dotadas de maior conteúdo direccional e

mais qualificadas do ponto de vista dos seus recursos humanos, constitui um indicador

importante na identificação do grau de modernização da base económica local e

regional. É o caso de alguns serviços dirigidos às empresas, designadamente os

bancos, seguros e outras actividades financeiras. A figura 18 sugere que, deste ponto

CEP Capítulo IV - 15

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de vista, o Porto e a área metropolitana apresentam uma diferença considerável, se

tivermos como referência a aglomeração centrada na capital.

FFiigguurraa 44..1199 -- População residente empregada nas actividades financeiras, em 2001 (%)

0 1 2 3 4 5 6

Portugal

AML

Lisboa

GAMP

Porto

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População

Não obstante estes factos, a repartição da população residente empregada por grupo

de profissões revela uma situação relativamente aproximada entre as duas Áreas

Metropolitanas do País (tabela 4.4), apresentando-se o perfil de Lisboa ligeiramente

mais polarizado, na medida em que é simultaneamente mais elevada a proporção dos

activos residentes na capital pertencentes aos segmentos com níveis de qualificações

mais elevados (quadros dirigentes e profissões intelectuais e científicas) e mais

reduzidos (trabalhadores não qualificados).

Tabela 4.4 - Distribuição da população residente empregada por grupos de profissões (%)

Trabalhadores não-qualificados

Trabalhadores qualificados

Quadros intermédios

Quadros dirigentes, profissões

intelectuais e científicas

1991 2001 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Porto 14,3 14,3 53,3 43,1 11,3 13,3 20,2 29,1

GAMP 12,6 12,9 68,5 59,6 7,7 10,4 11,2 17,1

Lisboa 16,7 14,8 48,4 40,4 11,7 13,3 21,8 30,9

GAML 15,7 14,9 59,6 52,6 10,8 13,0 14,0 19,6

Portugal 16,6 15,0 65,1 59,3 7,4 9,5 9,8 15,5 Fonte: INE, Recenseamento Geral da População

A situação de relativa proximidade entre as duas principais aglomerações do país

estende-se à análise relativa aos níveis de instrução (tabela 4.5), sendo igualmente

notória a maior presença de profissionais com índices educacionais muito baixos

(inferiores ao 1º ciclo) em Lisboa, facto que converge com as conclusões relativas aos

grupos de profissões.

CEP Capítulo IV - 16

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Tabela 4.5 - Distribuição da população residente empregada por nível de instrução, em 2001 (%)

Inferior ao

1º ciclo 1º ciclo

concluído 2º ciclo

concluído 3º ciclo

concluído

Ensino secundário concluído

Ensino superior concluído

Porto 4,3 21,9 10,6 16,2 20,3 26,6

GAMP 4,8 29,9 18,1 17,3 16,9 13,0

Lisboa 6,1 18,8 8,2 15,1 21,1 30,8

GAML 5,6 21,7 11,2 20,8 22,7 18,0

Portugal 6,3 29,5 17,8 17,8 16,5 12,2 Fonte: INE, Recenseamento Geral da População

O confronto entre os dois quadros anteriores permite constatar a forte presença, em

todos os espaços considerados, de profissionais qualificados, mas detentores de fracos

níveis de habilitações, iguais ou inferiores a 6 anos de escolaridade. Tal situação

denuncia a presença de um amplo número de activos cujos conhecimentos foram

adquiridos de forma empírica e não por via dos sistemas formais de ensino e

formação. Tratando-se de uma prática recorrente em muitas pequenas empresas do

ramo industrial, do comércio e de alguns serviços, este facto não deverá encontrar-se

desligado do atraso no processo de terciarização referido anteriormente.

2. Condições materiais colectivas

A cidade do Porto dispõe de um vasto conjunto de recursos que muito contribuem

para a formação integral das crianças e jovens, complementando, por esta via, o

papel chave da escola na educação e formação da população. Referimo-nos não só à

oferta de equipamentos de utilização colectiva e à rede de infra-estruturas mas

sobretudo ao tecido social e cultural que dá vida à cidade, ou seja, aos agentes

individuais e colectivos.

Sem pretender elencar este conjunto de recursos imprescindíveis para a aposta na

qualificação dos jovens e, em particular dos estudantes, vale a pena reter, ainda que

telegraficamente, alguns breves apontamentos:

• No que respeita aos parques e jardins, a cidade do Porto beneficia de um conjunto

de espaços diversificado, com uma área correspondente a uma capitação de

10m2/hab. Neste capítulo cabe destacar, como principal equipamento, o Parque da

Cidade, com os seus cerca de 80 ha.

• Quanto aos equipamentos desportivos a Cidade tem vindo a registar um aumento

da oferta quer através de investimentos públicos, quer de privados. Estima-se que

a cidade disponha actualmente de 49 piscinas, 34 pavilhões e 469 outras

instalações desportivas. A capitação de infra-estruturas desportivas atingiu em

2001 um valor de 2,1 equipamentos por 1.000 habitantes, o que é tido como uma

resposta ao aumento significativo da prática desportiva não competitiva. De acordo

com um levantamento recente, predominam as salas de desporto e os pequenos

CEP Capítulo IV - 17

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campos. Apesar do quadro globalmente favorável, observam-se na Cidade

assimetrias significativas no acesso a estes equipamentos, sendo particularmente

penalizadas as freguesias do centro histórico.

Figura 4.20 - Carta dos Sistemas de Espaços Colectivos

LEGENDA:

Fonte: CMP/DMU, PDM, 2005

• No que se refere à oferta de equipamentos culturais vale a pena salientar, em

primeiro lugar, o papel determinante que desempenham não só por contribuírem

para alargar o leque de oportunidades para ocupação dos tempos livres e de lazer

da população, mas por prestarem, muitas vezes, serviços educativos

complementares aos proporcionados pelo sistema formal de ensino. O Porto possui

uma vasta rede de equipamentos culturais de qualidade que abrange,

nomeadamente, bibliotecas de acesso ao público, galerias de arte, museus e salas

de espectáculo. São 115 bibliotecas procuradas por mais de 750 mil utilizadores em

2003, 48 galerias de arte com cerca de 600 mil visitantes e 29 museus e espaços

museológicos que registaram mais de 630 mil entradas, valores estes de 2004. Os

museus constituem uma marca distintiva do Porto quer pela história que encerram

quer pela diversidade e riqueza dos seus acervos, afirmando-se como espaços

privilegiados de aprendizagem e de conhecimento. Uma referência particular é

devida ao Museu de Arte Contemporânea de Serralves, ao Museu Soares dos Reis,

ao Museu de Arte Sacra, ao Museu do Carro Eléctrico, ao Centro Português de

Fotografia, à Casa do Infante e ao Museu dos Transportes e Comunicações. A

CEP Capítulo IV - 18

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cidade do Porto dispõe ainda de um conjunto de recintos culturais vocacionados

para a música, teatro e dança dos quais se destaca a Casa da Música, o Teatro

Nacional S. João, o Teatro Carlos Alberto, o Coliseu, o Rivoli, entre outros. Estes

diversos equipamentos, para além de integrarem, em muitos casos, o património

da cidade do Porto, constituem um importante factor de desenvolvimento pessoal

dos cidadãos e um recurso chave para a dinamização cultural da cidade. Os

espectáculos culturais ultrapassam anualmente as 2.000 sessões, tendo-se vindo a

registar um aumento sustentado da oferta de espectáculos nestes últimos anos.

• No que respeita ao tecido associativo especificamente dirigido para fins culturais,

recreativos e desportivos, que traduz muito do que é a capacidade de intervenção

cívica da sociedade civil, constata-se, de acordo com um inquérito realizado em

2003, que havia 311 associações, o correspondente a uma capitação de 1,27

associações por 1.000 habitantes, que prestam um serviço assinalável, muitas

delas vocacionadas para as camadas jovens da população.

Por fim, e no âmbito das condições oferecidas pela cidade em matéria de mobilidade,

é de salientar que o Porto dispõe de uma rede de transporte público urbano que

assegura uma adequada cobertura espacial e apresenta um bom nível de desempenho

traduzido, nomeadamente, no aumento da velocidade de deslocação em transporte

público rodoviário de passageiros. Por outro lado, o Metro do Porto, apesar de cobrir

unicamente dois corredores de transporte, tem registado um crescimento muito

significativo da procura com impacto favorável na melhoria das condições de

mobilidade urbana. Nas estações do Porto o número médio de validações por dia útil

atinge actualmente os 114 mil registos.

Figura 4.21 - Rede de transportes públicos no concelho do Porto

Fonte: STCP e Metro do Porto, 2006

CEP Capítulo IV - 19

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3. Estratégia de desenvolvimento urbanístico

3.1 Linhas orientadoras da intervenção do município

Da explicitação da Estratégia de actuação do Município do Porto – projecto de cidade

que a Câmara Municipal do Porto pretende concretizar – salientam-se como eixos de

intervenção prioritária o reforço do papel do Porto como referência histórica e

como principal centralidade na Região.

Neste contexto, e ainda que traçando um cenário eminentemente físico, o PDM3 surge

como instrumento enquadrador das diferentes estratégias multi-sectoriais de

intervenção, capaz de consubstanciar um projecto de cidade de enfoque

qualitativo.

Propõe o PDM, como projectos-âncora a desencadear no âmbito dos objectivos

traçados, a reabilitação da Baixa (Centro Histórico e áreas centrais - ACRRU4) e a

reconversão da Zona Empresarial do Porto (ZEP).

3.2 Principais áreas de expansão urbana

3.2.1. A Baixa (UOPG5 8,9,10,11,12)

A par da vertente física da reabilitação do edificado, e da qualificação do espaço

público, a regeneração urbana desta zona não poderá descurar as questões de

modernização da actividade comercial e as medidas de incentivo ao mercado de

habitação.

Neste contexto, a instalação de equipamentos de ensino superior e investigação

nesta zona da cidade, é entendida como uma das acções prioritárias a cativar,

atendendo aos potenciais reflexos directos na revitalização local (mercado da

habitação e comércio local). Assim, agora que se encontra constituída a SRU

(Sociedade de Reabilitação Urbana, criada no âmbito do decreto-lei 104/04 de 7 de

Maio), e se prevêem na ACRRU áreas de intervenção prioritária planificadas a escala

de maior detalhe, está a ser definida uma estratégia concertada que, avaliando as

potencialidades físicas e sistémicas desses tecidos em estudo, favoreça a instalação

deste tipo de equipamentos.

3 Plano Director Municipal - Estabelece o modelo de estrutura espacial do território municipal, constituindo uma síntese da estratégia de desenvolvimento e ordenamento local prosseguida, integrando as opções de âmbito nacional e regional com incidência na respectiva área de intervenção. O modelo de estrutura espacial do território municipal assenta na classificação do solo e desenvolve-se através da qualificação do mesmo (1 e 2 do Artigo 84.º do Decreto-Lei n.º 380/99 de 22 de Setembro). 4 Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística. 5 Unidades Operativas de Planeamento e Gestão – correspondem a subsistemas urbanos a sujeitar a estudos urbanísticos, tendo como objectivo a execução programada das áreas a urbanizar propostas pelo PDM.

CEP Capítulo IV - 20

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3.2.2 Zona Empresarial do Porto (UOPG 3)

Outro dos objectivos estratégicos do PDM, prende-se com a modernização da base

económica do Porto, tendo a Zona Empresarial um papel preponderante neste

capítulo. Perspectivando a elaboração de um Plano de Urbanização para a zona, o PDM

incentiva aqui a fixação de actividades ligadas a diferentes áreas de negócio que

desenvolvam investigação e inovação. Esta estratégia é coerente com o reforço dos

Cursos Superiores de cariz tecnológico e com a aposta tanto nos Cursos Secundários

orientados para a vida activa (Cursos Tecnológicos) como no Ensino Profissional.

3.2.3 Outras Intervenções Prioritárias

Para além destes objectivos, faz ainda parte da estratégia definida, o reforço da

coesão sócio-territorial e a promoção da qualidade de vida e das condições para um

desenvolvimento urbano sustentável. Situam-se também neste âmbito acções como a

reabilitação dos Bairros Sociais e a planificação das áreas urbanizáveis que o

PDM enquadra em Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG).

Destas, salientam-se no horizonte mais próximo, (com estudos já em curso,

inclusivamente) as seguintes intervenções:

Bairro S. João de Deus – definida em PDM como UOPG 15;

Contumil – definida em PDM como UOPG 17;

Avenida Nun´Alvares – definida em PDM como UOPG 1;

Requesende – definida em PDM como UOPG 4.

UOPG 15 – S. João de Deus

O estudo elaborado, iniciou-se tendo por base as linhas estratégicas de intervenção no

Bairro existente (termos de referência) traçadas pelo Pelouro da Habitação e Acção

Social, que foram, resumidamente, as seguintes: diminuir a densidade construtiva;

diminuir a densidade demográfica; retirar famílias do Bairro; introduzir equipamentos

com capacidade atractiva do exterior; retirar do Bairro equipamentos de fixação.

Para além de uma completa reestruturação viária, o estudo reduziu os 630 fogos

preexistentes a 187, assumindo demolições, construções novas e reabilitadas,

privilegiando a tipologia unifamiliar. Esta redução reflecte-se na correspondente

redução demográfica.

Relativamente a equipamentos, e nomeadamente aos Educativos, previu-se no estudo

prévio a reconversão da Escola e Infantário para novas funções capazes de atrair

pessoas ao bairro contrariando o fenómeno de “ghetização” e ainda a instalação, na

periferia a Sul do Bairro, de um Equipamento de Ensino Superior.

Também o Estudo Prévio previu a instalação na periferia de construções de raiz para

uma nova escola e para um novo jardim-de-infância. Evidencia-se nas diferentes fases

CEP Capítulo IV - 21

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por que tem passado este estudo a nítida necessidade de localizar aqui equipamentos

que atraiam fluxos exteriores ao bairro e a necessidade de reconversão dos

equipamentos existentes.

As alterações demográficas decorrentes desta intervenção, cuja implementação se

encontra já em curso, justificam um ajustamento da rede de Equipamentos

Educativos. Ainda, perspectivando-se a substituição das construções existentes onde

estão instalados os equipamentos a reconverter, justificar-se-á a ponderação sobre a

sua mais conveniente re-localização e re-dimensionamento, atendendo ainda às

expectativas existentes para a envolvente, nomeadamente para a UOPG 17- Contumil.

UOPG 17 – Contumil

Os estudos até agora desenvolvidos permitiram a caracterização da zona, diagnóstico

e termos de referência para a elaboração do Plano de Pormenor (actualmente em

curso) previsto em PDM.

Assim, em traços gerais, os estudos em curso atendem aos seguintes objectivos

programáticos:

- disponibilização dos terrenos indispensáveis à implementação das infra-estruturas

previstas na proposta do PDM e que respeitam à abertura da via de ligação entre a

Estrada da Circunvalação e a zona das Antas, incluída nas acessibilidades do Euro

2004 (ao estádio do Dragão), bem como a instalação da linha do Metro de Gondomar.

Envolvimento dos respectivos proprietários através de processos de perequação que

evitem o recurso a expropriações;

- a área destina-se à implantação de habitação colectiva e unifamiliar, incluindo

comércio, equipamentos e serviços. Neste âmbito, os estudos desenvolvidos

perspectivam uma densificação correspondente a 162 unidades de habitação

unifamiliar e 2000 fogos de habitação colectiva.

Perspectivam-se, nos estudos desenvolvidos, áreas para equipamento contíguas à

Escola existente (e que poderão assumir-se como complemento ou ampliação) bem

como duas outras bolsas, estrategicamente localizadas, potenciando acessibilidades (a

Sul da linha do Metro, em cada um dos topos nascente e poente da área em estudo).

Numa dessas bolsas está em avaliação a eventual instalação de um Equipamento de

Saúde.

Como se pode concluir, atendendo à imediata execução das infra-estruturas, prevê-se

a transformação desta zona num horizonte temporal relativamente curto, pelo que

urge uma opção fundamentada relativamente à oferta de equipamentos educativos,

que tenha ainda em consideração a alteração do tecido social e físico da envolvente

próxima (S. João de Deus e Ranha).

CEP Capítulo IV - 22

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Alerta-se ainda para o facto dos estudos de diagnóstico do PDM, identificarem zonas

frágeis ao nível da oferta de equipamentos educacionais de Ensino Básico do 1º Ciclo6

entre Contumil e a A3.

UOPG 1 – Avenida Nun’Álvares

A intervenção perspectivada tem por objectivo a abertura da Avenida Nun´Álvares

permitindo a estruturação das áreas envolventes.

A área destinar-se-á a habitação, comércio, serviços e equipamentos.

Os estudos realizados em sede de Plano de Pormenor, permitem perspectivar nesta

área um acréscimo da ordem dos 2000 fogos.

A abertura da Avenida Nun´Álvares é uma das acções executórias prioritárias

(prioridade de nível 1) previstas em PDM7, o que irá desencadear a ocupação

subsequente.

Os estudos de revisão do PDM8 detectaram já carências ao nível da oferta dos

equipamentos educativos do Ensino Básico do 1º Ciclo, nas freguesias de Nevogilde e

Foz do Douro. É pois o momento para se traçarem objectivos a nível da oferta

genérica de equipamentos educativos, concretizável dentro do perímetro da área em

estudo.

UOPG 4 – Requesende Norte/ Viso

Conforme o regulamento do PDM o exprime, pretende-se promover a estruturação

desta significativa área de expansão da Cidade, compatibilizando-a com o

atravessamento e requalificação da Ribeira da Granja, como elemento estruturador de

um espaço verde e dos equipamentos a criar.

Relativamente a equipamentos, prevê-se a criação de uma área destinada ao conjunto

de associações de Ramalde e de outros vocacionados para a Educação e Desporto. Os

estudos em curso, compatibilizados com os parâmetros definidos em PDM, fazem

perspectivar uma densificação correspondente a aproximadamente 685 novos fogos,

prevendo ainda a substituição do tecido social e físico do bairro existente a Norte.

Acresce ainda que esta área foi uma das identificadas nos estudos de diagnóstico do

PDM como zona frágil ao nível da oferta de equipamentos educacionais de Ensino

Básico do 1º Ciclo.

6 Vide Relatório do PDM. 7 In Programação de Acções – Regulamento do PDM. 8 Vide Relatório do PDM.

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3.2.4 Futuras Áreas de Desenvolvimento

Para além dos cenários atrás traçados, correspondentes a áreas alvo de estudos de

escala de maior detalhe já em curso, o PDM prevê ainda outras UOPG, também

consideradas como acções programáticas de nível 19, para as quais traça objectivos e

define parâmetros passíveis de constituir o ponto de partida para a reestruturação,

reconfiguração e planificação da oferta de equipamentos educativos.

Enquadram-se nesta situação as seguintes áreas:

UOPG 2 – Aldoar. Propõe-se um índice máximo para as Áreas de Urbanização

Especial de 0,8 correspondente a um acréscimo de aproximadamente 310 fogos.

UOPG 5 – Prelada. Salienta-se nesta UOPG a área verde pública associada à Quinta

da Prelada, e cerca de 135 novos fogos. A pequena área de expansão prevista e a

franca proximidade relativamente a equipamentos educativos existentes poderá

não ter reflexos ao nível da reestruturação da rede.

UOPG 7 – Regado. Salienta-se nesta UOGP uma significativa reformulação viária. A

densificação desta área corresponderá no limite a cerca de 535 novos fogos.

UOPG 14 – Areosa. Perspectiva o PDM uma densificação da ordem dos 456 fogos.

Alerta-se ainda para o facto dos estudos de diagnóstico do PDM, identificarem

como zona frágil ao nível da oferta de equipamentos educacionais de Ensino Básico

do 1º Ciclo, uma área ao longo da Avenida Fernão de Magalhães, entre a Areosa e

o Lima 510.

UOPG 19 – Mercado Abastecedor. Atendendo aos objectivos traçados para esta

área, perspectiva-se uma densificação da ordem dos 865 fogos. Nesta UOPG

salienta-se a localização de uma área de equipamento (antigo matadouro) cuja

reconversão se admite. Contudo, convém não esquecer que as condicionantes

resultantes da classificação do edifício como Imóvel de Interesse Patrimonial, terão

reflexos ao nível da sua vocação funcional.

UOPG 20 – Avenida 25 de Abril. A urbanização das margens da Alameda 25 de

Abril é um dos objectivos traçados para esta UOPG. Dessa operação resultará para

a zona um acréscimo máximo da ordem dos 238 fogos. Perspectiva-se a execução

desta UOPG com base num Plano de Pormenor, cuja proposta a nível de

equipamentos se enquadre nas propostas já esboçadas em PDM (Planta de

Ordenamento - Carta de Qualificação do Solo).

UOPG 23 – Parque Oriental. Para além da criação do Parque Urbano ao longo do

Vale do Rio Tinto, o PDM perspectiva para aqui significativas áreas de expansão,

apoiadas pelas infra-estruturas que se encontram actualmente em implementação.

Esta expansão reflectir-se-á, no limite, num acréscimo de aproximadamente 800

novos fogos.

9 In Programação de Acções – Regulamento do PDM. 10 Vide Relatório do PDM.

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Figura 4.22- Carta das Áreas Prioritárias de Intervenção (UOPG’s e ACRRU)

Fonte: CMP/DMU, PDM, 2005

4. Considerações finais

A título de notas finais justifica-se tecer algumas considerações resultantes da análise

realizada nos pontos anteriores.

A cidade do Porto enfrenta um processo de declínio da sua população residente, que

se prolonga desde os anos 80, com reflexos evidentes na quebra da procura escolar. A

inversão desta tendência, que é acompanhada pelo envelhecimento progressivo da

população, representa, pela sua natureza estrutural, um desafio exigente, difícil de

vencer, cujo sucesso implica uma mobilização forte e continuada de um vasto

conjunto de agentes, públicos e privados.

Assistiu-se a uma melhoria substancial, ao longo da década de 90, dos níveis de

escolarização quer da população activa residente no Porto, quer do emprego aqui

localizado, ainda que insuficiente à luz dos padrões europeus e face ao perfil

ambicionado para a cidade do Porto.

Esta realidade coexiste, no entanto, com a persistência de disparidades muito

acentuadas do ponto de vista territorial, expressas no contraste entre os baixos

padrões de qualificação académica e profissional da população empregada e residente

na zona oriental e na maioria das freguesias do centro histórico e os índices,

claramente mais favoráveis, registados nas freguesias das zonas norte e ocidental. A

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aposta numa cidade coesa passa obrigatoriamente pela redução deste nível de

desequilíbrios intra urbanos.

A modernização da base económica do Porto e da AMP e o reforço da sua

competitividade, necessários ao desenvolvimento da Região Norte e do País, exigem

um grande investimento na qualificação das pessoas, quer a nível da população

estudantil quer dos activos inseridos no mercado de trabalho. A persistência de um

modelo de qualificação profissional fortemente polarizado, no qual é visível a escassez

de trabalhadores posicionados nos níveis intermédios de instrução, a par de uma

cultura instalada que não valoriza suficientemente as competências académicas e

profissionais, constituem um constrangimento ao processo de construção de uma

economia competitiva, mais aberta à introdução das novas tecnologias e a novos

processos de organização do trabalho. A diversificação das ofertas educativas e a

valorização social do ensino profissional e do técnicoprofissional são vias a

desenvolver.

A cidade do Porto enquanto local privilegiado de concentração de serviços

administrativos, de actividades económicas, culturais, de emprego qualificado e de

centros de investigação (I&D), continua a desempenhar um conjunto de funções

direccionais próprias das cidades centrais que asseguram as condições necessárias

para a sua afirmação como cidade educadora. A mobilização deste “património” que

dá vida à cidade é um dos factores críticos para o sucesso da aposta na valorização da

educação e da escola.

As orientações traçadas quanto às opções de desenvolvimento urbanístico permitem

antever novas necessidades de equipamentos educativos que terão de ser

devidamente articulados com as outras intervenções previstas. Estes equipamentos

deverão ser assumidos como espaços públicos de referência urbanística. Mais, as

unidades territoriais objecto de estudo urbanístico poderão ser encaradas, no seu

conjunto, como territórios educativos, isto é, espaços capazes de proporcionarem um

quadro de vida favorável ao desenvolvimento completo dos cidadãos. Os estudos

urbanos apontam necessidades e constituem, simultaneamente, oportunidades para a

qualificação territorial, com reflexos nos planos da coesão social e da própria

competitividade económica.

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