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PROVAS DE AGREGAÇÃO À UNIVERSIDADE ABERTA Ao abrigo do Decreto/Lei n.º 239/2007 de 19 de Junho RELATÓRIO DA UNIDADE CURRICULAR ELEMENTOS DE DESENVOLVIMENTO CURRICULARMARIA IVONE CLEMENTE GASPAR Agregação em Educação LISBOA/AGOSTO DE 2010

Relatorio i gaspar

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PROVAS DE AGREGAÇÃO

À

UNIVERSIDADE ABERTA

Ao abrigo do Decreto/Lei n.º 239/2007 de 19 de Junho

RELATÓRIO DA UNIDADE CURRICULAR

“ELEMENTOS DE DESENVOLVIMENTO CURRICULAR”

MARIA IVONE CLEMENTE GASPAR

Agregação em Educação

LISBOA/AGOSTO DE 2010

1

ÍNDICE

Página

Nota prévia ................................................................................................................ 2

1. Introdução ......................................................................................................... 4

2. Objectivos e Competências .......................................................................................... 5

2.1. Objectivos ........................................................................................................ 5

2.2. Competências .................................................................................................. 7

3. Conteúdos ................................................................................................................ 9

4. Metodologia ...................................................................................................... 13

4.1. Estratégias ...................................................................................................... 15

5. Recursos ........................................................................................................... 16

6. Avaliação e Classificação da Aprendizagem ............................................................. 17

6.1. Avaliação ........................................................................................................... 17

6.2. Classificação .................................................................................................... 18

7. Considerações Finais ................................................................................................ 19

8. Bibliografia ............................................................................................................. 20

8.1. Bibliografia indicada aos alunos ....................................................................... 20

8.2. Bibliografia-base na organização da unidade curricular ..................................... 21

9 . Anexos ..................................................................................................................... 27

Anexo 1 - “Contrato de Aprendizagem” .................................................................. 28

Anexo 2 - Plano de desenvolvimento da Unidade Curricular ……………………… 40

Anexo 3 – Texto de apoio ao tema 1….……………………….…………………….…. 59

Anexo 4 - Texto de apoio ao tema 2 ………………………………………………….… 91

Anexo 5 - Texto de apoio ao tema 3 …………………………………………………. 136

Anexo 6 - Texto de apoio ao tema 4 …………………………………………………. 178

Anexo 7 - Avaliação da unidade curricular …………………………………………… 191

2

NOTA PRÉVIA

Tendo em consideração que integro, há vários anos, o corpo docente da Universidade

Aberta, criada em 1988 com a missão de exercer as suas funções de docência através do

“ensino a distância”, o objecto deste Relatório recaíu sobre uma entre as diferentes unidades

curriculares que tenho leccionado neste regime de ensino. Pareceu mais adequado situar a

escolha no plano de estudos de um curso conducente ao grau de Mestre, desenhado para a

oferta em modalidade online, com sala virtual, tendo por base a realidade funcional que

corresponde à aposta profissional dos últimos anos.

Os documentos (ou normativos) que suportam o Processo de Bolonha em Portugal

utilizam frequentemente a expressão “unidade curricular”, em substituição da palavra

“disciplina”. Esta substituição parece ter por base a tentativa em arredar uma palavra que,

embora de uso comum, tipifica um modo de organizar o currículo e, só por si, evoca a

identificação de algo consistente, com percepção na sua individualidade epistemológica.

Embora se possa considerar apenas uma apropriação linguística, ao designar por “unidade

curricular” os diferentes saberes, atribui-se a este tipo de unidade o papel de suporte à

organização de qualquer plano de estudos ou qualquer plano para a aprendizagem.

Destaca-se, assim, o papel do currículo, cuja explicitação parece indispensável,

tornando-se, para muitos especialistas em Educação, o cerne de qualquer aprendizagem.

Tendo por âmbito o campo do Currículo, escolheu-se a área dedicada à sua teoria na

relação com a prática, o que permite conhecer o currículo em processo, donde se elegeu a

unidade curricular objecto deste Relatório com a designação ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO

CURRICULAR.

Concebida a partir do cruzamento de duas traves-mestras – os objectivos a atingir e as

competências a desenvolver – assume o conteúdo programático e a metodologia como eixos

centrais da sua matriz. Perante a necessidade de conhecer e validar os resultados

conseguidos, tem particular relevância a avaliação.

Estes pressupostos geram não só os pontos essenciais ao desenho do Relatório como

lhe acrescenta outros pontos considerados indispensáveis a um todo coerente que sustente a

sua estrutura que inclui um conjunto de nove alíneas: (i) introdução, no sentido de apresentar e

justificar a criação desta unidade curricular; (ii) objectivos e competências, na perspectiva de

acentuar que uma vertente não poderá excluir a outra; (iii) roteiro de conteúdos, na evidência do

conjunto de temas que dão existência a esta unidade que concorre para a constituição do perfil

3

desenhado para o supervisor pedagógico; (iv) metodologia, na preocupação de revelar os

processos de ensino e aprendizagem que se operacionalizaram nesta unidade curricular; (v)

recursos, na intenção de identificar o que constitui a base dos materiais utilizados para apoio do

ensino e aprendizagem; (vi) avaliação e classificação, na certeza de que são pontos essencias

na percepção e na manifestação da aprendizagem conseguida; (vii) considerações finais sobre

aspectos marcantes no percurso desta unidade curricular, no dever de ressaltar marcas

positivas e marcas negativas e (viii) bibliografia, na fidelidade à própria matriz do curso, com a

distinção da que é indicada aos estudantes e da que apoia a concepção e implementação desta

unidade curricular.

Acrescenta-se, a título informativo e, por isso, ocupando lugar na categoria de “Anexos”

– alínea (ix) – um conjunto de documentos que elucidam e completam este relatório. São eles:

(i) o Contrato de Aprendizagem que é um dos fundamentos do Modelo Pedagógico que a

Universidade Aberta aplica para operacionalizar os cursos que tem em oferta na modalidade de

classe virtual; (ii) o plano de desenvolvimento desta unidade curricular; (iii) os quatro textos

tomados como base de apoio aos estudos dos diferentes temas que compõem esta unidade

curricular e (iv) o resultado da avaliação solicitada pela coordenação e realizada pelos

estudantes, sobre esta unidade curricular.

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1 – INTRODUÇÃO

Assumindo o Currículo como o cerne do sistema educativo, será inquestionável que uma

unidade curricular proveniente desta área científica integre qualquer curso no domínio da

Educação.

Nesta perspectiva, o presente Relatório debruça-se sobre uma unidade curricular que foi

criada para integrar um curso do 2.º ciclo de estudos (Mestrado) que a Universidade Aberta

oferece com a designação Supervisão Pedagógica .

O Curso em Supervisão Pedagógica adoptou dois formatos: curso de especialização (ao

abrigo do Decreto-Lei n.º 95/97 de 23 de Abril) e curso de Mestrado (numa primeira edição, ao

abrigo do Decreto-Lei n,º 216/93 e, em edições seguintes, após sujeição à adequação ao

Processo de Bolonha, na aplicação do Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de Março). No curso de

especialização, esta unidade curricular integrou a componente de formação específica, estatuto

que mantém nos Cursos de Mestrado, tendo em consideração que as suas características se

coadunam com a substância da Supervisão.

A Supervisão apela ao sentido de liderança e acompanhamento, aspectos que o

Currículo apresenta, em particular, quando passa a processo guiado ou orientado por alguém.

Tendo resultado da preocupação pelo cruzamento de várias perspectivas de análise e de

entendimento, visa por um lado as diversidades conceptuais e por outro lado, a centralidade do

Currículo em qualquer aprendizagem. Ao entrar em processo, o Currículo desenrola-se por

fases e revela-se no Desenvolvimento Curricular, expressão marcante na designação deste

curso, que necessitou de ser complementada por uma palavra delimitativa da sua amplitude. Na

realidade, o Desenvolvimento Curricular identifica uma área a que se reconhece um âmbito

muito vasto, exigindo, o tratamento das suas diferentes dimensões, a aplicação e o

compromisso de um grupo de especialistas multidisciplinar, com trabalho reflectido na

interdisciplinaridade. Tal pressuposto implica que esta unidade curricular integre, na sua

designação, a palavra elementos, na evidência de que assume parte de um todo. Parte que é

constituída por parcelas consideradas significativas e que, por isso, se ligam, na presunção de

se assumirem como um todo orgânico, surgindo, assim, a designação de Elementos do

Desenvolvimento Curricular.

Sublinha-se que alguns dos elementos seleccionados para análise neste espaço

poderão ser objecto de reflexões mais profundas, constituindo-se em estudos/unidades

curriculares autónomos.

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Com uma abordagem predominantemente teórica, a unidade evoca aspectos de

natureza prática, criando, por vezes, cenários que a ela conduzem. Apresenta-se enquadrada

por uma perspectiva reflexiva, na convicção de que poderá (deverá mesmo) ser uma mais valia

para a Educação.

Esta unidade curricular, assim como todas as outras que integram o referido Mestrado

em Supervisão Pedagógica, é oferecida, desde a sua 1.ª edição, em regime de ensino a

distância na modalidade online, com sala virtual. Perante este contexto, foi construída com base

em dois pressupostos: a disponibilização de uma plataforma, para ser usada como interface

para o ensino-aprendizagem e, a possibilidade de uso permanente do computador como uma

ferramenta indispensável. Tem em perspectiva a formação de comunidades para a (ou de)

aprendizagem1.

2. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS

A junção destas duas palavras – objectivos e competências - não se apoia, de modo

algum, na tentativa de lhes atribuir sinonímia, revela, antes, a preocupação pela resultante

prática desta unidade curricular. Entende-se que o enunciado dos objectivos deve concorrer

para a percepção dos produtos que se pretendem atingir, traduzidos, naturalmente, em saberes

adquiridos e competências desenvolvidas. É o sentido desta relação intrínseca que se torna

responsável pela junção dos dois aspectos no mesmo item descritivo. Os objectivos expressam

a intencionalidade pretendida e, ao orientarem-se para a aquisição de conhecimentos, tendo

em vista o seu uso ou seja a sua mobilização para o campo prático, transformam-se em

competências.

2.1. Objectivos

Os objectivos são intenções que enunciam os resultados esperados. Centram-se na

aprendizagem, finalidade que legitima a própria unidade curricular; desdobram-se em seis

enunciados que se apresentam com uma nota explicativa para cada um deles:

1 - No presente, a Universidade Aberta aplica um modelo pedagógico para o ensino-aprendizagem no regime de educação a distância que está operacionalizado nesta unidade curricular.

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(i) Compreeder que o Desenvolvimento Curricular se integra no campo científico do Currículo. O

Currículo preenche um campo científico ainda jovem mas que se tem afirmado nas últimas

décadas com determinação, ao mesmo tempo que tem feito emergir áreas de investigação,

merecendo particular destaque a que é ocupada pelo Desenvolvimento Curricular. Interessa,

portanto, estabelecer esta relação de dependência.

(ii) Compreender o significado do Desenvolvimento Curricular no âmbito da Educação.

Ocupando o Currículo o centro de qualquer sistema educativo, a sua expressão está no

Desenvolvimento Curricular. Ao desenvolver-se, o Currículo em processo (ou seja o

Desenvolvimento Curricular) torna-se visível e aponta as linhas determinantes da Educação,

tanto formal como não formal.

(iii) Apropriar conceitos estruturantes do Desenvolvimento Curricular.

O Desenvolvimento Curricular estrutura-se em determinados conceitos, alguns dos quais são

decorrentes dos conceitos de Currículo. É desejável que essses conceitos sejam

compreendidos e, sobretudo, que os seus significados sejam apropriados, de forma a

integrarem o domínio do conhecimento de qualquer dos estudantes.

(iv) Identificar e Distinguir elementos constitutivos do Desenvolvimento Curricular.

Considera-se que um número substancial de elementos concorre para a constituição e

configuração do Desenvolvimento Curricular. Pretende-se, que o estudante depois de

percepcionar a multiplicidade e diversidade desses elementos, identifique correctamente

alguns, visando seleccionar aqueles que contribuem, de uma forma directa para o processo

ajustado e coerente do Currículo em acção.

(v) Enquadrar e caracterizar alguns elementos do Desenvolvimento Curricular.

Pretende-se que o estudante situe e/ou contextualize os diferentes elementos do

Desenvolvimento Curricular em análise e que conheça e reconheça, perante situações

diferentes, as características de cada um deles.

(vi) Relacionar o Desenvolvimento Curricular com o Ensino-Aprendizagem.

Tendo por base um dos referentes de currículo - a experiência adquirida - assume-se o

currículo como um ‘processo interaccional’, perspectiva que conduz à integração da

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componente didáctica. A “experiência” adquirida é possibilitada pela aprendizagem

desenvolvida e conseguida pelo que, naturalmente, terá de sobrelevar os processos. Neste

sentido importa considerar a importância e significado da didáctica no desenvolvimento

curricular.

2.2. Competências

Competência é uma noção complexa; desenvolvendo-se em contexto pelo que obriga à

aprendizagem contextualizada, deverá estar pronta a ser transposta para contextos

diferenciados, mobilizando recursos de vários tipos. Entende-se, por competência, a

capacidade em mobilizar os conhecimentos para a acção2 e é nesta capacidade que reside a

essência da competência (Le Boterf, 2004). Ao usar o saber, uma outra exigência é

determinante e situa-se na capacidade de religar (Morin, 2001) o que se vai aprendendendo

e/ou conhecendo. A manifestação da competência será a resultante do saber possuído ou/e

conhecimento adquirido, mobilizado e interligado para a acção específica e contextualizada. A

competência deverá ter sempre uma direcção: é-se competente para ou em.

Recordam-se quatro atitudes próprias da Supervisão Pedagógica: a concepção, a

problematização e a liderança. Tais atitudes sustentam o perfil do supervisor, daí uma componente

da sua formação que integra as intenções já explícitas nos objectivos e propõem o desenvolvimento

de competências manifestando-se nos enunciados seguintes:

(i) Uso adequado na linguagem dos diferentes referentes teóricos de Currículo.

Atendendo a que o Currículo tem vulgarmente quatro referentes: a) ‘lista de intenções’ que

explicita o enunciado sequencial de objectivos, acentuando os resultados pretendidos; b) ‘plano

para a acção’, traduzido num programa para a aprendizagem – o conjunto de tudo o que deve

ser ensinado e aprendido; c) ‘processo interaccional’ que implica a componente didáctica, pois

prende-se com os modos de ensinar e aprender e d) ‘material de aprendizagem’ que poderá ser

considerado como ‘material de ensino-aprendizagem’ e é reconhecido como referente mais

técnico, embora aceitando que os materiais poderão deixar transparecer o fio condutor da

aprendizagem, contribuindo, directamente, para a sua objectivação.

2 Para Le Boterf (2004) Uma pessoa age com competência através de três dimensões: a das práticas ou da acção, a dos recursos disponíveis (recursos pessoais - conhecimentos, capacidades, saber-fazer; recursos emocionais – atitudes sensoriais e físicas e recursos do seu meio ambiente – bancos de dados, suportes documentais, guias, redes de especialistas, colegas) e a da reflexividade (Gaspar, 2004:60).

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O estudante deverá ser capaz de diferenciar a linguagem, adequando-a à significância (e/ou

interpretação) do respectivo referente.

(ii) Aplicação (ou uso em situação) dos referentes do Currículo em processo

O currículo em processo ou o conjunto das diferentes fases do Desenvolvimento Curricular

exigem a destreza de aplicação de um ou de vários referentes teóricos do currículo, com a

possibilidade de distinguir ou associar claramente esses referentes, visando a diferença nos

produtos desejados perante os resultados conseguidos. Assim, o estudante deverá ser capaz

de usar, em situações concretas da operacionalização do Currículo, cada um dos seus

referentes.

(iii) Capacidade de equacionar as razões e efeitos dos diferentes níveis de intervenção e

decisão no Desenvolvimento Curricular

São vulgarmente referenciados três níveis de intervenção no Desenvolvimento Curricular -

macro, meso e micro – respectivamente associados aos planos de decisão central, de decisão

institucional (regional ou estabelecimento de ensino) e de decisão local (ensino-aprendizagem

ou de interacção em aula). Importa que o educador conheça o campo de actuação de cada um

dos níveis, compreenda a natureza das tensões geradas na relação entre os diferentes níveis e

por isso seja capaz de actuar com base na reflexão crítica acerca dos mesmos níveis e

segundo as relações que poderão estar na base de tensões criadoras.

(iv) Capacidade em proceder, de forma distinta e adequada, às diferentes fases do

Desenvolvimento Curricular

Conhecendo as diferentes fases do Desenvolvimento Curricular e a sua abrangência

conteudinal, importará que os estudantes sejam capazes de actuar em qualquer delas,

consciencializando as aptidões que lhes são exigidas e a especificidade das acções

necessárias à realização de cada uma delas, na relação directa com os respectivos contextos.

(v) Capacidade de distinguir, funcionalmente, o construtor, o executor e o avaliador do Currículo

Construir, executar (ou implementar) e avaliar o Currículo terão de ser entendidas como

funções distintas porque têm finalidades diferentes. Contudo, elas terão de ser percepcionadas

num continuum funcional, ou seja conceber, implementar (que poderá antes ser

operacionalizar) e avaliar o Currículo, de modo a que o estudante seja capaz de agir em

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qualquer delas sem perder de vista a outra. Deverá, também, ser capaz de distinguir a actuação

em cada uma dessas funções quando se situa no currículo como plano ou no currículo como

projecto.

3. CONTEÚDOS

O conteúdo deverá assegurar a intencionalidade do objectivo e o sentido prático da

competência; nesta relação, corporiza ambos. Como sublinha Carrilho Ribeiro (1990:105), os

objectivos “constituem-se como critérios de decisão quanto à selecção dos componentes

subsequentes do currículo, sendo simultaneamente factores de coerência dos planos e

programas de ensino”. O conceito de competência assume relevância nesta conceptualização

dos conteúdos na medida em que se assume que todo o saber produzido e consumido se

investe numa apropriação e mobilização que permitam torná-lo “saber em uso”. Perrenoud3

indica o sentido de competência como o saber que habilita o aluno com maior precisão na sua

capacidade de pensar a acção e na sua capacidade (aptidão) para agir na vida pessoal e

profissional. O saber em uso pressupõe a ligação entre saberes e do saber teórico com o saber

prático. Importa saber o ‘quê’ e ‘para quê’, a fim de melhor perceber que a resposta ao “para

quê” assegura a substância da aprendizagem quanto ao “quê”.

Os conteúdos, nesta unidade curricular, respeitam, sobretudo, a conceitos,

interpretações, generalizações e teorias, - “conhecimentos” elaborados e estruturados que

podem ser apropriados e comunicados de forma sistemática - (está-se perante ‘conteúdos

conceptuais’). A selecção e organização dos conteúdos pretende-se coerente com a

identificação de um corpo de aprendizagens necessárias para constituir a substância do que

contribui para o entendimento e intervenção no desenvolvimento do currículo.

Seleccionaram-se, então, quatro temas com a preocupação de, com eles e através

deles, se construir um todo encadeado que mostre a realidade vital, ainda que parcelar, do

currículo, expressa no e pelo desenvolvimento curricular.

3 Perrenoud (2001) utiliza, para competência, o conceito de “saber em acção”, reconfigurado, or muitos autores, para “saber em uso”.

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(i) O primeiro tema pretende criar um quadro teórico de suporte a toda a unidade; desenha-se numa

rede articulada de conceitos e apresenta-se com o título Conceito e princípios orientadores do

Desenvolvimento Curricular . Satisfazendo a preocupação do enquadramento teórico desta

matéria, visa dar sustentabilidade ao seu significado. Aborda dois aspectos fundamentais à

compreensão do Desenvolvimento Curricular: a) em primeiro lugar, clarifica o conceito de Currículo,

como o suporte da análise sustentada do conceito de Desenvolvimento Curricular e b) depois,

identificando alguns dos princípios que orientam o Desenvolvimento Curricular, visa percepcioná-lo

como um processo. Distinguem-se, ainda, os princípios que permitem enquadrar alguns paradigmas

educativos, que se assumem como derivantes em modelos do próprio Desenvolvimento Curricular.

Neste tema releva-se o significado polissémico do termo Currículo, acentuando que essa

polissemia esvai-se à medida que se clarificam e afirmam os seus referentes. Estabiliza-se o

conceito no desenho e assunção dos seus laços epistemológicos, quer no sentido causal quer no

sentido consequencial.

Realizando como primeira tarefa a leitura atenta e crítica de biliografia seleccionada criou-se o

suporte teórico para este tema que integrou três actividades, com a duração de cerca de uma

semana cada: a) Na primeira actividade, desenvolveu-se uma reflexão e discussão em torno dos

conceitos de Currículo e de Desenvolvimento Curricular, visando encontrar os seus princípios

referenciadores. Depois, estabilizaram-se os dois conceitos – currículo e desenvolvimento curricular

– no reconhecimento da sua relação intrínseca e na preocupação em percepcionar ‘modelos de

desenvolvimento curricular’. b) A segunda actividade centrou-se na identificação e significado

dos princípios orientadores do Currículo e, consequentemente, na relação destes princípios

com os do desenvolvimento curricular para conduzir à articulação de paradigma, matriz e

modelo como os elementos que sustentam e, ao mesmo tempo, geram os princípios que

orientam o Desenvolvimento curricular. c) A terceira actividade teve em conta a excessiva

teorização deste tema, pelo que conduziu à sua sistematização, através da elaboração de

um quadro de referência conceptual no qual se introduziram os conceitos; e, na procura de

uma definição explícita para cada um deles, a turma, organizada em pequenos grupos,

construiu um ‘Glossário’.

(ii) O segundo tema incidiu nas Fases do Desenvolvimento Curricular . Teve como tarefa

inicial a leitura de bibliografia seleccionada. Com este tema pretende-se, em primeiro lugar, a

compreensão das três fases do Desenvolvimento Curricular, como a explicitação do Currículo.

Depois, procura-se a percepção da intervenção e decisão no que respeita a níveis ou

patamares de actuação, na relação directa com as fases do processo curricular. Finalmente,

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introduz-se, numa dinâmica relacional, os conceitos de ensino e de competência no âmbito do

Desenvolvimento Curricular.

Criaram-se, então, três actividades específicas, visando a aprendizagem destes

conteúdos. A primeira actividade centrou-se nas fases e níveis de intervenção do

Desenvolvimento Curricular e incrementou o debate em torno de quatro questões: a)

identificação e explicação das fases do Desenvolvimento Curricular; b) significado de cada

uma das fases do desenvolvimento curricular em contexto educativo ou/e formativo; c)

diferenças e semelhanças entre duas designações da segunda fase - implementação ou

operacionalização -e d) significado, repercussão e assunção prática dos níveis de

intervenção ou/e de decisão.

Na segunda actividade foi tida em conta a análise compreensiva e interpretativa dos

conceitos de ensino e competência no Desenvolvimento Curricular. O trabalho foi

desenvolvido em grupos pequenos ou equipas e cada grupo tratava um dos quatro temas

seguintes: (i) conceito de competência e sua relação com o conceito de objectivo de

aprendizagem; (ii) exemplificação de competências no Desenvolvimento Curricular; (iii)

conceito de ensino e sua relação com a profissão de professor e (iv) relação de ensino com

aprendizagem.

A última actividade deste tema foi a elaboração de um paper. Os estudantes reflectiram,

analisaram e sintetizaram o que aprenderam com todo este tema dois sobre “Fases do

Desenvolvimento Curricular” e escreveram um curto ‘artigo’.

(iii) O terceiro tema debruça-se sobre o Desenvolvimento Curricular em Situação . Está-se,

então, perante o estudo do ‘processo organizacional’ que enquadra o Desenvolvimento

Curricular. Este tema é analisado seguindo quatro pontos: a) Em primeiro lugar, determinam-se

alguns dos factores de enquadramento que se afirmam com maior relevância no que respeita a

alunos, a professores e ao processo ecológico. Destacam-se, relativamente a alunos, ‘factores

de natureza psicológica, sócio-cultural, biográfica e escolar’, enquanto no que respeita a

professores, se apontam os ‘factores identificados com a formação, a cultura e as crenças’ e no

que respeita ao processo ecológico, analisam-se os factores relativos à interacção, com

destaque para ‘a escola e a comunidade, para as lideranças e a organização do trabalho na

escola e para a aula com a sua organização de trabalho’. b) No segundo ponto com a

designação de diferenciação e equidade, considera-se a importância crescente da

diferenciação de estratégias e a tendência para a diferenciação de conteúdos curriculares, com

a preocupação de manter a equidade – distinguir, porque se é diferente e assumir a diferença

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no cultivo da prática de igualdade no acesso, no percurso e no sucesso. c) No ponto três,

convida-se à reflexão sobre duas tipologias do currículo - currículo como plano e currículo como

projecto; visa-se identificar as diferenças que marcam estas duas tipologias, destacando as

distinções quanto às fases da concepção e da operacionalização, assim como quanto aos

níveis de decisão. d) Para o ponto quatro reservou-se o processo organizacional do

desenvolvimento curricular que analisa os conceitos de ‘organização do currículo’ e de ‘gestão

do currículo’ a fim de os tomar como simples referências, em apontamentos que respeitam a

níveis e a modos de organização do currículo, assim como a eixos da gestão do currículo. O

currículo poderá estruturar-se segundo níveis4 que permitem maior ou menor flexibilidade na

sua gestão. Poderá organizar-se segundo modos5 que o diferenciam na sua propositura

epistemológica e ontológica: as disciplinas, as áreas científicas, os problemas da actualidade, o

desempenho de funções poderão originar matrizes diferentes dessa organização.

(iv) O quarto e último tema aparece com a designação de desenvolvimento curricular e

diversidade de contextos de aprendizagem . A partir de alguns aspectos da problemática

relacional da educação-formação e de aspectos elementares da teoria da aprendizagem,

analisa-se o processo de desenvolver ou desenrolar o Currículo quando os seus destinatários

actuam em contextos que se apresentam com caraterísticas bem diferentes. Estrutura-se numa

sequência de quatro alíneas no pressuposto de uma maior profundidade do questionamento: a)

Numa primeira alínea, enfoca-se a aprendizagem, entendida como a determinante do

desenvolvimento curricular. b) No pressuposto de que toda a aprendizagem é contextualizada,

reservou-se para o segundo ponto a análise do termo contexto em confronto com o termo

ambiente. Pretende-se mostrar a diferença entre ambientes e contextos e acentuar a

importância do contexto para o desenvolvimento do currículo. c) Tendo em conta distinções

quanto à oferta do currículo e aos processos do seu desenvolvimento, o terceiro ponto analisa,

embora com alguma simplificação, a diversidade de situações de ensino-aprendizagem. d) O

quarto ponto sumariza os anteriores, tratando o desenvolvimento curricular perante contextos

de aprendizagem, na procura do que poderá ser comum ou distinto na diversidade de

4 Os níveis de gestão do currículo que se prendem com a sua estruturação são matéria suficiente para uma unidade curricular. Perante uma unidade que se se designa por “Elementos do Desenvolvimento Curricular” entende-se que eles devem ser referenciados, em bora sem atingir um nível de profundidade. 5 Os modos de organização do currículo são matéria suficiente para uma unidade curricular. Perante uma unidade que se se designa por “Elementos do Desenvolvimento Curricular” entende-se que eles devem ser referenciados, embora sem atingir um nível de profundidade.

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contextos, marcando, e até exigindo, a diferença no próprio desenvolvimento curricular em

situação. Procurou-se enriquecer esta temática com investigação orientada.

4. METODOLOGIA

Desde a sua criação que esta unidade curricular funciona em regime de Educação a

Distância, na modalidade online, recorrendo a uma plataforma de ensino – configura-se em e-

learning. Desenvolve todas as actividades de ensino e de aprendizagem com a mediação de

um sistema tecnológico de gestão de aprendizagem (LMS6), pelo que o ambiente de sala virtual

determina as características do contexto em que se desenvolve o ensino e a aprendizagem.

Privilegiam-se as ferramentas de comunicação assíncrona, com relevo para o forum de

discussão.

Estes aspectos de funcionamemto são contributos a ter em conta na eleição da

metodologia.

Sob o ponto de vista teórico, a metodologia integra a estratégia; será impossível

enquadrar-se de outro modo. Contudo, a relevância do e-learning nesta unidade curricular

impõe uma perspectiva praxiológica, elegendo a estratégia como o modo, por excelência, de

operacionalização da metodologia. É com base neste pressuposto que se autonomiza o

tratamento de ‘estratégias’, embora numa alínea que se inclui neste ponto dedicado à

‘metodologia’.

Acentuando fortemente a aprendizagem, a metodologia adoptada assenta em dois

vectores fundamentais: estudo individual (que pressupõe a autonomia de cada aluno, relativamente

ao processo e ao produto) e trabalho colaborativo (caracterizado, igualmente, por estudo e reflexão

mas com forte marca na relação com os outros, provocando interdependência, partilha, e

negociação, quer quanto ao processo quer quanto ao produto). O estudo individual pressupõe que o

estudante leia os materiais que são disponibilizados e outros que lhe são referidos na bibliografia,

pesquise, faça apreciações críticas, organize e elabore sínteses pessoais. O estudante, com base no

estudo individual, prepara comentários relativos a temas e participa em discussões assíncronas. No

decurso dessas discussões cada estudante partilha as suas leituras e reflexões com os colegas,

6 LMS- Learning Management System.

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procurando aprofundar conceitos, alargar pontos de vista, discutir casos concretos e exemplos,

analisando a aplicação dos conceitos abordados e resolvendo problemas.

Assente no princípio de que o aprendente constrói o conhecimento, baseado na sua

própria experiência e na relação que estabelece com os conceitos que vai elaborando e

assimilando, sobreleva-se, então, a aprendizagem como processo. Sob este ponto de vista e no

pressuposto de que a aprendizagem implica experiência adquirida, novidade e

contextualização, destacam-se duas orientações que acentuam a perspectiva cognitivista e a

perspectiva social/situacional. É intenção conjugar e contrapor o ‘fenómeno individualizado’ e o

‘fenómeno socializado’ propondo respostas metodológicas que se vão adequando à

aprendizagem situacional.

Assumem-se teorias que decorrem de duas categorias: (i) a aprendizagem decorre da

actividade diversificada do aprendente, tendo em conta as componentes de estudo,

observação, investigação, pesquisa e reflexão e (ii) a aprendizagem decorre da interacção entre

as pessoas que aprendem em conjunto e que se manifestam através de atitudes de crítica, de

discussão, de troca de ideias, no privilégio pelo diálogo. Em qualquer dos casos, tem-se

presente que a aprendizagem pressupõe a relação entre o sujeito que aprende e o objecto a

aprender, numa perspectiva de ‘construção’ estando assim, epistemologicamente, ligada ao

construtivismo O ‘diálogo’ transforma-se, entretanto, na linha condutora da interacção e desta

interacção entre os sujeitos resulta um processo de transformação das relações interpessoais.

No reforço do sentido de interdependência e de pertença acentua-se um outro aspecto

da metodologia que é próprio da aprendizagem colaborativa. Aqui, o foco centraliza-se no

grupo, embora não descure o indvíduo como o elemento indispensável à constituição do grupo.

Prefere-se a designação de ‘colaborativa’ em vez de ‘cooperativa’. Wiersema (2000) afirma que

a cooperação é uma técnica para acabar um certo produto em conjunto, enquanto a

colaboração se refere a todo um processo de aprendizagem que culmina no resultado

conseguido. A aprendizagem colaborativa corresponde a um conceito elaborado que

pressupõe, sempre, a existência de um grupo que interage com a finalidade de aprender. É,

precisamente, esta ideia que está subjacente a toda a metodologia aplicada nesta unidade

curricular.

A aprendizagem desenvolve-se, então, segundo um processo de participação, de

partilha, com e pelo diálogo. Trata-se de uma aprendizagem dialógica, baseada na interacção.

Neste sentido, a aprendizagem entende-se como um processo que pressupõe a participação

social, implica o envolvimento de cada um com o outro, dispondo algo em comum.

15

Valoriza-se, assim, a passagem da lógica da distribuição para a lógica da comunicação.

O conhecimento construído, a partir do diálogo, poderá promover no sujeito aprendente a sua

autonomia e a sua percepção do mundo e, ainda, provocar a flexibilização das fronteiras entre

diferentes áreas do conhecimento. A pedagogia do diálogo é gerada num ambiente de

interactividade e concretiza-se por um modo determinante e qualificativo na aprendizagem.

Como professor releva-se a função de orientador que se cruza com as funções de

moderador, coordenador, assessor e de impulsionador da motivação; sendo, por vezes, um

‘provocador’. Responsabiliza-se pela preparação dos ambientes para a aprendizagem com uma

atenção permanente ao processo. Em determinados momentos do processo, assume o

referente de guia com a preocupação pela necessidade de deixar espaço livre ao desempenho

dos alunos.

Importará referir que esta metodologia tem por referência a contratualização com o

aluno. O primeiro documento que o aluno recebe para analisar e comentar é, exactamente, o

“contrato de aprendizagem”7. Com este documento pretende-se aplicar o princípio da

contratualização na aprendizagem, entre quem ensina e quem aprende e assumir o

compromisso mútuo. Os alunos têm espaço para comentar este ‘contrato’ o que se torna

essencial para que o entendam, possam sugerir as alterações (naturalmente, condicionadas) e

para que o assumam como um factor importante ao longo do tempo dedicado a esta unidade

curricular.

4.1. Estratégias

Definir como agir e determinar elementos, passos e momentos da acção é um processo

altamente intencionalizado, dependente de um percurso deliberativo sólido por parte do

professor.

Esta definição teve, como primeiro momento, a deliberação sobre os princípios

estruturantes para as estratégias de ensino-aprendizagem que, nesta unidade curricular, visam

a autonomia do aluno, a reflexão na perspectiva da construção e desconstrução de saberes e a

acentuação da colaboração, com base na interactividade, como já foi referido. Neste sentido,

duas estratégias se afiguraram como dominantes em toda esta unidade curricular: a do

questionamento unidireccional (na relação de cada aluno com o professor) e a do diálogo,

discussão e negociação que é multidireccional (na relação entre alunos). Estas estratégias que

7 O “contrato de aprendizagem” já está contemplado no modelo pedagógico que a Universidade Aberta tem aplicado e, este modelo inclui uma matriz de contrato.

16

são, acentuadamente de natureza cognitiva e interpessoal, evidenciam-se nas diferentes

actividades e tarefas com desempenhos em pequeno grupo, em grande grupo (turma) ou

individualmente. A maioria das actividades assenta em quatro tarefas que são assumidas como

identificadores: a leitura de bibliografia indicada, a pesquisa, a discussão em torno de tópicos e

a elaboração de documentos.

Na aplicação da ‘aprendizagem colaborativa’ e tendo presente os aspectos a que

Salomon8 deu significado, tomam-se como atitudes essenciais geradoras de tarefas para a

consecução deste tipo de aprendizagem: (1) oferta de ideias ou partilha do resultado da

investigação, com convite à crítica e exploração dessas ideias; (2) introdução de questões

provocatórias, identificando problemas ou pedindo opinião; (3) articulação, exposição e suporte

das posições assumidas nas discussões; (4) exploração e sustentação das posições tomadas,

acrescentando explicações e exemplos e (5) reflexão e avaliação das posições pessoais. Estes

cinco pontos constituem a estratégia básica que tem sido aplicada em consonância com os

aspectos fundamentais da medodologia já referida.

Assim, na tentativa de uma maior explicitação, repete-se que a base caracterizadora

deste modo de aprender está na interacção que começa por ser uma atitude intencional, cujos

elementos do contexto conduzirão a que esta atitude desenvolva o pensamento interactivo,

manifestando-se, assim, um comportamento interactivo que se projecta em quatro passos: (1)

perante uma crítica ou uma provocação, discutem-se e explanam-se as ideias que os outros

apresentam; (2) negoceiam-se as interpretações, definições e significados atribuídos a essas

ideias; (3) sumarizam-se as contribuições que vão sendo dadas e se registam sob a forma

escrita e (4) propõem-se acções, baseadas em ideias que tenham sido previamente

desenvolvidas, visando novos impulsos.

5. RECURSOS

Apontam-se, vulgarmente, dois instrumentos básicos para suporte da colaboração: o(s)

instrumento(s) de planificação e a grelha do curso que engloba mapa(s) conceptual(ais); estes

dois instrumentos poderão juntar-se e completar-se constituindo um conjunto mais amplo que

integra referências aos conteúdos, às metodologias e aos processos avaliativos, discriminando

as actividades e as tarefas e apontando os recursos de aprendizagem. Surge, assim, o

8 Citado por Kate Hawkey (2003).

17

‘contrato de aprendizagem’, a negociar com os estudantes. Além destes, importa ter em

consideração outros recursos que são suportes materiais à aprendizagem, pelo que muitas

vezes, são designados simplesmente, por materiais. Será de distinguir que uns são materias de

aprendizagem e outros materiais para a aprendizagem. Indicam-se, assim, como recursos

tecnológicos para a aprendizagem, o computador e a plataforma; como recursos de

aprendizagem, destaca-se a internet e o livro (incluindo-os, respectivamente, na web e na

biblioteca). Recorre-se, em apelos situacionais, a experiências adquiridas ou à prática corrente.

O recurso utilizado com maior frequência, para a aprendizagem, é o texto, indicado ou

sugerido através da referência bibliográfica e/ou webgráfica. Tendo presente o regime e

modalidade de funcionamento desta unidade curricular, utiliza-se, vulgarmente, o editor de

texto. Na preocupação de assimilar, relacionar e aplicar com a máxima precisão os conceitos

estudados, utilizam-se duas potencialidades dentro do recurso plataforma: o fórum e o

glossário. O fórum é imprescindível para a estratégia eleita da comunicação assíncrona frente

à perspectiva da aprendizagem colaborativa. O glossário é particularmente útil para a

sistematização dos conhecimentos.

6. AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS APRENDIZAGENS

Importará distinguir a avaliação da classificação, pois têm acentuações diferentes

relativamente ao processo. Quanto ao resultado, elas poder-se-ão confundir.

6.1. Avaliação

A avaliação integra duas componentes: (i) a da avaliação contínua que absorve 60%

do total e baseia-se na participação nas discussões em grupo/turma e nos resultados de

dois trabalhos realizados, um individualmente (um artigo de curta dimensão - tipo paper) e

outro em grupo/equipa (um curto trabalho de investigação restrita e orientada, conducente

a uma síntese) e (ii) a da avaliação final que assume 40% do total e resulta de um ensaio

subordinado a um tema dentro da área do Desenvolvimento Curricular.

Distinguem-se os vários modos de avaliar que importa referir em separado:

a) quanto à participação nas discussões em grupo/turma e grupo/equipa, a avaliação e

respectiva classificação requer a participação obrigatória em pelo menos 80% das

discussões e será efectuada, para cada estudante, com base em cinco critérios: (i)

participação nas discussões incidindo de forma objectiva nas temáticas; (ii) identificação

18

com clareza das suas dúvidas e solicitação de clarificações dos outros, revelando que

procura relacionar novos conhecimentos com as leituras efectuadas; (iii) contribuição para

a discussão: (a) desenvolvendo pontos de vista e comentários avançados de forma

incipiente por colegas, (b) colocando novas questões que permitem fazer avançar a

discussão, (c) apresentando alternativas sobre questões mal compreendidas ou conclusões

superficiais, (d) desafiando intervenções incoerentes ou contraditórias; (iv) apresentando

ideias, fruto de pesquisa pessoal, que se inserem no tema em discussão e que contribuem

para a progressão desta e (v) revelando espírito crítico revendo as suas opiniões e

apreciações face a comentários dos colegas ou professor.

b) O trabalho elaborado individualmente corresponde a um texto com a forma de artigo (paper);

não deverá exceder 5 páginas, em tamanho A4, letra Times New Roman, corpo 12, a 1,5

espaço. Para a análise destes trabalhos são usados os critérios seguintes: (i) evidencia as

ideias centrais; (ii) articula com coerência as ideias; (iii) apresenta substância no conteúdo e (iv)

questiona as suas posições pessoais face às leituras efectuadas.

c) O trabalho em grupo/equipa, a propósito do tema 4 - “Processo do Desenvolvimento

Curricular em situação” – será desenvolvido de modo a que os resultados dos diferentes grupos

sejam sujeitos a uma síntese elaborada por um representante de cada grupo e que não deverá

exceder 2 páginas em tamanho A4, letra Times New Roman, corpo 12, a 1,5 espaço. Para a

análise destes trabalhos serão usados os critérios seguintes: (i) revela espírito de síntese; (ii)

identifica as ideias centrais; (iii) descreve e articula com coerência as ideias e (iv) argumenta e

justifica as posições defendidas.

d) O trabalho final tem o formato de um ensaio e será avaliado em acordo com os critérios

seguintes: (i) adequação do tema à substância da unidade curricular; (ii) pertinência do tema;

(iii) validade do conhecimento; (iv) precisão dos conceitos; (v) coerência e articulação das

ideias e (vi) clareza da linguagem.

6.2. Classificação

A classificação será expressa numa escala de 0 a 20 valores. A aprovação na

unidade curricular exige classificação igual ou superior a 10 valores e resulta da

acumulação da avaliação contínua com a avaliação final e integra quatro vertentes: (i) a

participação nos fóruns; (ii) a integração e participação no trabalho de grupo, com o

respectivo produto do grupo; (iii) o trabalho individual curto, tipo paper e (iv) o trabalho

individual, tipo ensaio.

19

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade curricular há uma preocupação manifesta de tratar ‘elementos’ com

pertinência para o Desenvolvimento Curricular, na certeza de que, como já foi referido, eles não

se esgotam aqui. Alguns destes elementos seriam, por si sós, tema bastante para se

constituirem em unidades curriculares autónomas, desde que sujeitos a reflexões mais

alargadas e mais profundas. Restringiu-se a análise para não exceder o âmbito da própria

unidade curricular.

A sua concepção e, em particular a sua operacionalização em classe virtual, requerem

especificidades metodológicas que são consideradas nas estratégias que implicam o reforço da

atitude participativa dos alunos e do diálogo na perspectiva de reconstruir o conhecimento para

o compreender melhor e o conseguir apropriar. Houve, assim, uma forte intenção em associar

os aspectos teóricos em análise com a prática observada e experimentada pelo exercício

profissional dos alunos, sempre que tal se tornou possível.

Constata-se que os alunos têm reagido muito bem a esta unidade curricular, com uma

taxa de reprovação abaixo dos 10%.

Os estudantes conhecem a caracterização da unidade curricular através do “contrato de

aprendizagem” que não só a descreve como lhe garante a explicitez de todo o seu percurso.

Considera-se uma peça fundamental e, por esta razão se decidiu introduzi-lo como um anexo.

Sendo um guia orientador representativo do percurso da unidade curricular ele poderá assumir-

se como um elemento estratégico da aprendizagem que se pretende conseguir, ao mesmo

tempo que a descreve.

Com a duração de um semestre, tem quinze semanas de actividades lectivas já

descritas e reserva as cinco últimas semanas para a elaboração do trabalho final. Ao longo

desta segunda parte do tempo os estudantes são convidados a experimentar uma fase mais

solitária, comportamento que fora ensaiada com a elaboração do paper.

20

8. BIBLIOGRAFIA

O ponto designado por “Bibliografia” terá de incluir dois conjuntos de referências. No

primeiro conjunto constam as referências que são indicadas aos alunos e que se

encontram, também, no contrato de aprendizagem (documento em anexo). É a bibliografia

que suporta o estudo e a aprendizagem dos alunos. Enquanto no segundo conjunto se

registam referências que serviram e servem de base à organização e leccionação desta

unidade curricular. Estes dois blocos bibliográficos têm funções e finalidades distintas pelo

que será obrigatório observá-las em separado.

8.1. Bibliografia indicada aos alunos

Esta bibliografia inclui dois tipos de referências. A primeira referência aparece com

o qualificativo ‘fundamental’, pois encontram-se neste item as referências básicas para as

aprendizagens propostas que se pretende resultem em conhecimentos adquiridos e

competências desenvolvidas. A segunda referência inclui bibliografia que, não sendo

básica, ou indispensável, é também importante e de grande significado para aquele aluno

que pretenda desenvolver alguns conhecimentos, aprofundando-os – bibliografia que se

designa por ‘complementar’.

Fundamental

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Complementar

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8.2. Bibliografia base na organização e leccionação da unidade curricular

A lista de bibliografia que se pode ler a seguir contempla todas as obras ou textos que

serviram ao enquadramento teórico da unidade “Elementos do Desenvolvimento Curricular”.

Mantem o papel importante de sustentar a organização e leccionação desta mesma unidade.

Ausubel, David e Sullivan, E. (1970). Theory and Problems of Child Development. Nova Iorque:

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27

9. ANEXOS

28

Anexo 1

MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGICA

ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

- EDC -

Contrato de Aprendizagem

29

ÍNDICE

I. Objectivos

II. Competências

III. Roteiro de Conteúdos

IV. Metodologia

V. Recursos

VI. Ambiente

VII. Sequência

VIII. Avaliação e Classificação

IX. Calendário (Roteiro do Contrato)

30

I. Objectivos Espera-se que, no final desta unidade curricular, o estudante consiga atingir os objectivos seguintes:

• Integrar o Desenvolvimento Curricular no campo científico do Currículo;

• Compreender o significado do Desenvolvimento Curricular no âmbito da Educação;

• Apropriar conceitos estruturantes do Desenvolvimento Curricular;

• Distinguir elementos constitutivos do Desenvolvimento Curricular;

• Enquadrar e caracterizar alguns elementos do Desenvolvimento Curricular;

• Relacionar o Desenvolvimento Curricular com o Ensino-Aprendizagem.

II. Competências

RReelleevvaa--ssee,, ddoo ccoonnjjuunnttoo ddee ccoommppeettêênncciiaass qquuee oo MMeessttrraaddoo eemm SSuuppeerrvviissããoo PPeeddaaggóóggiiccaa pprreetteennddee ddeesseennvvoollvveerr,, aass qquuee ssee mmaanniiffeessttaamm eemm aattiittuuddeess ddee ccoonncceeppççããoo,, rreefflleexxããoo,, pprroobblleemmaattiizzaaççããoo ee lliiddeerraannççaa.. AA ppaarrttiirr ddeessttaass aattiittuuddeess,, eennuunncciiaamm--ssee aass ccoommppeettêênncciiaass iinntteenncciioonnaaddaass::

• Na percepção dos diferentes referentes de Currículo;

• Na aplicação dos referentes de Currículo quando da sua passagem a processo;

• No equacionamento das razões e efeitos dos diferentes níveis de intervenção e decisão no Desenvolvimento Curricular;

• Nos procedimentos adequados às diferentes fases do Desenvolvimento Curricular;

• Na distinção funcional de construtor e de executor do Currículo;

• Na actuação operacional do Currículo, em contextos de ensino-aprendizagem.

III. Roteiro de Conteúdos Esta unidade curricular desenvolve-se seguindo quatro temas que se explicitam a seguir:

Tema 1 – Conceito e princípios orientadores do Desenvolvimento Curricular

Neste tema abordam-se dois aspectos fundamentais à compreensão do Desenvolvimento Curricular: em primeiro lugar, clarifica-se o conceito de Currículo, como o suporte da análise sustentada do conceito de Desenvolvimento Curricular; depois, identificam-se os princípios que orientam o Desenvolvimento Curricular, visando percepcioná-lo como um processo. Distinguem-se, ainda, os princípios que permitem enquadrar alguns paradigmas educativos, que se assumem como derivantes de modelos do próprio Desenvolvimento Curricular.

Tema 2 – Fases do Desenvolvimento Curricular Este tema centra-se na identificação e abordagem das principais fases do Desenvolvimento Curricular, distinguindo-se, para cada uma delas, a natureza da intervenção nos três níveis de intervenção e decisão: macro, meso e micro. Merecem, aqui, particular interesse o conceito de

31

ensino no contexto do Desenvolvimento Curricular e o conceito de competência como referencial do Desenvolvimento Curricular. Tema 3 – Processo do Desenvolvimento curricular em situação Com este tema pretende-se fazer o enquadramento do Desenvolvimento Curricular, determinando os factores que lhe dão maior visibilidade. Será, então, apresentado o Desenvolvimento Curricular em processo, com particular relevância para os seus aspectos organizacionais. Tema 4 – Desenvolvimento curricular e diversidade de contextos de

aprendizagem Para este tema reserva-se a análise da pertinência do Desenvolvimento Curricular em contextos de ensino e aprendizagem diferentes, apontando para as eventuais distinções a considerar perante os diferentes regimes ou modalidades, e mesmo níveis de educação. Convoca-se, também, a problemática relacional de educação/formação, centralizada no Desenvolvimento Curricular.

IV. Metodologia

A metodologia a adoptar assenta em dois vectores fundamentais frente à aprendizagem: estudo individual (que pressupõe a independência de cada um, relativamente ao processo e ao produto) e trabalho colaborativo (caracterizado, igualmente, por estudo e reflexão mas com forte marca na relação com os outros; haverá partilha, interdependência e negociação, quer quanto ao processo quer quanto ao produto). O estudo individual pressupõe que o estudante leia os materiais que são disponibilizados e outros que lhe são referidos na bibliografia, tomando nota dos aspectos que se lhe afiguram menos conhecidos, procurando colocá-los em confronto com os seus conhecimentos anteriores, distinguindo aspectos essenciais de aspectos acessórios, numa perspectiva de apreciação crítica e distanciada, organizando e elaborando sínteses pessoais.

Com base no estudo individual, o estudante deverá preparar comentários de forma a participar activamente em discussões tematizadas, assíncronas. Essas discussões deverão ser encaradas como uma forma de trabalho colaborativo, no decurso do qual cada estudante partilha as suas leituras e reflexões com os colegas, procurando aprofundar conceitos, alargar pontos de vista, discutir casos concretos e exemplos, analisando a aplicação dos conceitos abordados.

Este trabalho, fazendo convergir estudo individual e trabalho colaborativo deverá ocupar as 15 primeiras semanas do semestre, previstas para esta unidade curricular. Durante este período, o estudante receberá indicações quanto a textos base que desenvolverá, completará e enriquecerá em fontes diversificadas. As pesquisas, as leituras e as discussões serão orientadas a partir de questões e de indicações colocadas em espaços adequados na plataforma.

A organização e gestão do trabalho nas cinco últimas semanas serão da responsabilidade de cada estudante. No decurso desse período de tempo, os estudantes deverão elaborar um trabalho, de responsbilidade individual, que terá o formato de um ensaio.

32

V. Ambiente de ensino e de aprendizagem

Todas as actividades de ensino e de aprendizagem serão realizadas em regime de educação a distância, na modalidade online, mediada por um sistema tecnológico de gestão de aprendizagem (LMS9), especificamente a plataforma MOODLE. Todas as informações e actividades relativas a este módulo serão disponibilizadas em ambiente de sala virtual, que determina as características do contexto em que se desenvolve o ensino e a aprendizagem. O trabalho será desenvolvido de acordo com os conteúdos atrás indicados. Para cada um dos temas será disponibilizado um texto orientador e indicada a bibliografia essencial e complementar.. Será privilegiado o fórum como ferramenta de comunicação para organizar as discussões e debates. Há uma significativa incidência na aprendizagem; neste sentido se privilegiam as ferramentas de comunicação assíncrona, com relevo para o forum de discussão.

VI. Sequência Os quatro temas desta unidade curricular, tendo presente os objectivos que os norteiam e as competências que ancoram, desenvolvem-se em nove actividades. Apresenta-se, cada um dos temas num quadro com a indicação das actividades e os elementos que as caracterizam.

Tema 1: Conceito e Princípios orientadores do Desenvolvimento Curricular

Actividade 1 - Leitura do texto (texto 1) que se apresenta, completada com consulta de alguma bibliografia.

Esta actividade é realizada individualmente e ocupará a semana de….. a …….

Actividade 2 – Reflexão e discussão dos conceitos de Currículo e, consequentemente, Desenvolvimento Curricular, perspectivando a análise e o debate dos seus referentes.

Esta actividade será realizada em grupo alargado (turma) e ocupará a semana de …… a …. A discussão será realizada em fórum e implicará a participação de todos os estudantes.

Actividade 3: Identificação dos princípios orientadores do Currículo e, consequentemente, Desenvolvimento Curricular, perspectivando a análise na relação com “matrizes” e “modelos”. Debate organizado e orientado para a percepção das “Perspectivas orientadoras do Desenvolvimento Curricular”.

Esta actividade será realizada em grupo alargado (turma) e ocupará a semana de a ……A discussão será realizada em fórum e implicará a participação de todos os estudantes.

9 LMS – Learning Management System.

33

Actividade 4 - Elaboração de um glossário dos elementos caracterizadores dos diferentes referentes de Currículo e de Desenvolvimento Curricular e dos consequentes teóricos analisados neste tema 1

Este glossário será elaborado pelos alunos, distribuídos em 4 grupos abertos, cabendo a cada um dos grupos um dos 4 referentes do Currículo. A discussão será realizada em 4 fóruns (fora) independentes e ocupará a semana de ....... a ……

Tema 2 : Fases do Desenvolvimento Curricular

Actividade 1: - Leitura do texto que se apresenta (texto 2), completada com consulta de alguma bibliografia.

Esta actividade é realizada individualmente e ocupará a semana de … a ….

Actividade 2: - Identificação, análise e interpretação das três fases do Desenvolvimento Curricular. Debate sobre o significado da interrelação destas fases.

Actividade 3: Reconhecimento dos níveis de intervenção e decisão do Desenvolvimento Curricular. Debate sobre o seu significado e a causa e consequência da sua acção.

Estas actividade serão realizadas em grupo alargado (turma) e ocuparão as semanas de .........a ..... A discussão será realizada em fórum e implicará a participação de todos os estudantes

Actividade 4: Situação, perante uma análise compreensiva e interpretativa dos conceitos de ensino e competência no Desenvolvimento Curricular. Debate sobre o significado da integração destes conceitos no Desenvolvimento Curricular.

Esta actividade será realizada em grupo pequeno (equipa) e ocupará a semana de .......a..... A discussão será realizada em fórum restrito à equipa (embora fique como espaço aberto); implicará a participação de todos os estudantes, dentro do grupo a que pertencerem

Actividade 5: Elaboração de um paper (tipo artigo), subordinado ao tema “Fases do Desenvolvimento Curricular”. Este paper terá o máximo de 5 páginas A4 (com inclusão da bibliografia), com letra tipo Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5.

Esta actividade será realizada, individualmente, e ocupará a semana ........... Será enviado, por correio electrónico – endereço ..................... até ao final do dia ......

Tema 3: Desenvolvimento Curricular em Situação

Actividade 1: Leitura do texto que se apresenta (texto 3), completada com consulta de alguma bibliografia.

Esta actividade é realizada, individualmente, e ocupará a semana de ............a ………

34

Actividade 2: Identificação e análise dos factores de enquadramento do Desenvolvimento Curricular. Questionamento sobre os seus efeitos.

Actividade 3: Distinção e relação entre “Currículo como plano” e “Currículo como projecto”.

Estas actividades serão realizadas em grupo alargado (turma) e ocuparão a semana de .....a..... A discussão será realizada em fórum e implicará a participação de todos os estudantes.

Actividade 4: Descrição do Processo organizacional (no Currículo em acção) com identificação dos diferentes passos e dos elos necessários, tanto à sua eficiência como à sua eficácia.

Esta actividade será realizada em grupo pequeno (equipa) e ocupará o período temporal de .....a ..... A discussão será realizada em fórum restrito à equipa (embora fique como espaço aberto); implicará a participação de todos os estudantes, dentro do grupo a que pertencerem. Cada equipa deverá elaborar uma síntese onde indique os principais aspectos do “Desenvolvimento Curricular em Situação”. Este texto terá o máximo de 2 páginas tamanho A4 com letra tipo Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5.

Tema 4: Desenvolvimento Curricular e Diversidade de Contextos de Aprendizagem

Actividade 1: Leitura do texto que se apresenta (texto 4), completada com pesquisa na Internet.

Esta actividade é realizada individualmente e ocupará a semana de ........a .....

Actividade 2: Identificação dos referentes de aprendizagem. Debate sobre o conceito de contexto e o seu significado em regimes de Educação e Modalidades de ensino-aprendizagem no âmbito do Desenvolvimento Curricular.

Esta actividade será realizada em grupo alargado (turma) e ocupará a semana de ...a... A discussão será realizada em fórum e implicará a participação de todos os estudantes.

Actividade 3: Sistematização deste tema, com a apresentação das conclusões, por equipa, da pesquisa realizada. Esta actividade será realizada em grupo pequeno (equipa) e ocupará a semana A discussão será realizada em fórum restrito à equipa (em espaço, eventualmente fechado); implicará a participação de todos os estudantes, dentro do grupo a que pertencem. Cada grupo publicará o resultado da sua investigação com o registo de ideias-chave sobre o tema 4.

VII. Avaliação e Classificação das Aprendizagens Neste ponto, importa referir os modos de avaliação das aprendizagens, e o tipo de classificação que lhe é aplicado.

1. A avaliação integra duas componentes:

35

• a da avaliação contínua, baseada

a) na participação nas discussões em grupo (turma ou equipa) e nos resultados do trabalho realizado, também, em grupo;

b) nos dois trabalhos, sobre as unidades 2 e 4;

• a da avaliação final, pressupondo

a) um trabalho, tipo ensaio.

2. A classificação será expressa numa escala de 0 a 20 valores. A aprovação na unidade curricular exige classificação igual ou superior a 10 valores.

Será feita a seguinte ponderação:

A. participação nas discussões ...... 20% ( 4 valores)

B. artigo (paper) ........................... 20% (4 valores)

C. trabalho em grupo ...................... 20% ( 4 valores)

D. trabalho final (ensaio) ..................40% (8 valores)

CRITÉRIOS

A. Participação nas discussões

As discussões assíncronas possibilitam que cada estudante contribua quando o entender. Contudo, espera-se que cada estudante participe, pelo menos uma vez, em cada uma das discussões organizadas (quer em equipa, ou seja grupo pequeno, quer em turma, ou seja a totalidade dos alunos). As participações deverão ser previamente ponderadas, reflecidas e escritas usando textos sucintos, claros e precisos. A qualidade da participação sobrepõe-se à sua quantidade. A avaliação será efectuada, para cada estudante, com base nos critérios que se apresentam a seguir.

CRITÉRIOS DE PARTICIPAÇÃO

1. Participa nas discussões incidindo de forma objectiva nas temáticas;

2. Identifica com clareza as suas dúvidas e solicita clarificações dos outros, revelando que procura relacionar novos conhecimentos com as leituras efectuadas;

3. Contribui para a discussão: a) desenvolvendo pontos de vista e comentários avançados de forma incipiente por colegas, b) colocando novas questões que permitem fazer avançar a discussão, c) apresentando alternativas sobre questões mal compreendidas ou conclusões superficiais, d) desafiando intervenções incoerentes ou contraditórias;

4. Apresenta ideias, fruto de pesquisa pessoal, que se inserem no tema em discussão e que contribuem para a progressão desta;

36

5. Revela espírito crítico revendo as suas opiniões e apreciações face a comentários dos colegas ou professores.

Critérios de Avaliação na participação nas discussões

Critérios Classificação (valores)

Participa em todas as discussões e preenche plenamente todos os aspectos de 1 a 5, revelando concisão e espírito de síntese.

4

Participa em todas as discussões e preenche, no geral, os aspectos de 1 a 4. 3

Participa em todas as discussões e preenche, no geral, os aspectos de 1 a 3 a).

2

Participa de forma irregular, revelando muitas lacunas. 1

B. Trabalho individual No final do tema 2 - “Fases do Desenvolvimento Curricular” - será elaborado individualmente um trabalho escrito que assumirá o formato de artigo (paper); não deverá exceder 5 páginas A4, com letra Times New Roman, corpo 12 e a 1,5 espaço.

Para a análise do trabalho - paper - serão usados os critérios seguintes:

• evidencia as ideias centrais;

• articula com coerência as ideias;

• apresenta substância no conteúdo;

• questiona as suas posições pessoais face às leituras efectuadas. C. Trabalho em equipa O tema 4 será desenvolvido em trabalho de grupo

pequeno. Haverá debate, cujas ideias principais serão registadas num documento escrito, por cada um dos grupos e que não excederá as 5 páginas A4, com letra Times New Roman, corpo 12 e a 1,5 espaço.

Para a análise deste trabalho serão usados os critérios seguintes:

• revela espírito de síntese;

• evidencia que identificou as ideias centrais;

• descreve e articula com coerência as ideias;

• argumenta e justifica as posições defendidas.

37

D. Trabalho final

O trabalho final terá o formato de um ensaio e será realizado individualmente. Estará

sujeito a um tema no âmbito do objecto científico deste Mestrado e será elaborado de

acordo com um plano previamente negociado. Terá um máximo de 20 páginas, em

tamanho A4, com letra Times New Roman, corpo 12 e a 1,5 espaço (incluídas as referências

bibliográficas e os eventuais anexos). Será avaliado em acordo com os critérios seguintes:

• pertinência do tema; • validade do conhecimento; • precisão dos conceitos; • coerência e articulação das ideias; • clareza da linguagem.

VIII. Mapa temporal

mês dias tema actividades Recursos avaliação

Objetivos e expectativas da disciplina.

DISCUSSÃO EM FÓRUM CONTRATO DE

APRENDIZAGEM DIAGNÓSTICO DA

SITUA-ÇÃO E

PARTICIPAÇÃO NA

DISCUSSÃO.

Tema 1- conceitos e princípios orientadores do Desenvolvimento curricular

ESTUDO: LEITURA E

COMPREENSÃO DO

TEXTO 1 E DE OUTRAS

LEITURAS

COMPLEMENTARES

TEXTO 1

IDENTIFICAÇÃO E

DEFINIÇÃO DOS

CONCEITOS

ABORDADOS

Tema 1 - conceitos e princípios orientadores do Desenvolvimento curricular 1.1. o conceito de currículo e o conceito de desenvolvimento curricular

DISCUSSÃO EM

FÓRUM

E OUTRA

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

PARTICIPAÇÃO NA

DISCUSSÃO

Tema 1 - conceitos e princípios orientadores do Desenvolvimento curricular 1.2. princípios orientadores docurrículo e do desenvolvimento curricular

DISCUSSÃO EM

FÓRUM PARTICIPAÇÃO NA

DISCUSSÃO

Tema 1 - conceitos e princípios orientadores do Desenvolvimento curricular 1.3 Sistematização

DISCUSSÃO EM

EQUIPA ELABORAÇÃO, EM

EQUIPA, DE UM

GLOSSÁRIO COM

OS DIFERENTES

CONCEITOA

ANALISADOS

38

Tema 2 – fases do desenvolvimento curricular

ESTUDO: LEITURA E

COMPREENSÃO DO

TEXTO 2 E DE OUTRAS

LEITURAS

COMPLEMENTARES

TEXTO

Tema 2 – fases do desenvolvimento curricular 2.1. As Fases e Níveis de intervenção

DISCUSSÃO EM

FÓRUM 2

E OUTRA

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

Participação na discussão

Tema 2 – fases do desenvolvimento curricular 2.2. Ensino ecompetência

DISCUSSÃO EM

EQUIPA Participação na discussão

Tema 2 – fases do desenvolvimento curricular (conclusão)

ELABORAÇÃO DE UM

TRABALHO ESCRITO

DE NATUREZA

INDIVIDUAL (O PAPER)

TRABALHO

INDIVIDUAL, DE

NATUREZA

ESCRITA: (PAPER), DE ACORDO COM

OS CRITÉRIOS

EXPLÍCITOS.

Tema 3 – processo de desenvolvimento curricular em situação

ESTUDO: LEITURA E

COMPREENSÃO DO

TEXTO 3 E DE OUTRAS

LEITURAS

COMPLEMENTARES

TEXTO 3

Tema 3 – processo de desenvolvimento curricular em situação 3.1. os factores de enquadramento ; o currículo como projecto e o currículo como plano

DISCUSSÃO EM

FÓRUM

E OUTRA BIBLIOGRAFIA

COMPLEMENTAR

Participação na discussão

PAUSA TEMPO DE NATAL

Tema 3 – processo de desenvolvimento curricular em situação 3.2. o processo organizacional

DISCUSSÃO EM

EQUIPA

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

SÍNTESE, ELABORADA EM

EQUIPA

Tema 4 – desenvolvimento curricular e diversidade de contextos de aprendizagem

ESTUDO: LEITURA E

COMPREENSÃO DO

TEXTO 4 E PESQUISA

COMPLEMENTAR NA

INTERNET.

TEXTO 4

Tema 4–desenvolvimento curricular e diversidade de contextos de aprendizagem 4.1. aspectos fundamentais quanto a regimes de educação e a modalidades de ensino-aprendizagem

DISCUSSÃO EM

FÓRUM

E OUTRA BIBLIOGRAFIA

COMPLEMENTAR

Participação na

discussão

Tema 4–desenvolvimento curricular e diversidade de contextos de aprendizagem 4.2. Sistematização

DISCUSSÃO EM

EQUIPA (TRABALHO DE

GRUPO)

APRESENTAÇÃO E

JUSTIFICAÇÃO DA

PESQUISA

REALIZADA

39

CONCEPÇÃO E RE

DACÇÃO DO

TRABALHO

FINAL

DATA LIMITE DA ENTREGA DO TRABALHO FINAL

IX. Bibliografia

Fundamental

Bobbitt, John Franklin (2004). O Currículo. Lisboa: Didáctica Editora.

Doll, Ronald C. (1992). Curriculum Improvement – decision making and process.

Boston: Allyn and Bacon.

Gaspar, M. Ivone e Roldão, M. do Céu (2007). Elementos do Desenvolvimento

Curricular. Lisboa: Universidade Aberta

Ribeiro, António Carrilho (1990). Desenvolvimento Curricular. Lisboa: Texto Editora.

Roldão, Maria do Céu (2003). Diferenciação curricular revisitada. Porto:Porto Editora.

Complementar

Pacheco, José Augusto (1996). Currículo: Teoria e Práxis. Porto: Porto Editora.

Slattery, Patrick (1995). Curriculum Development in the Postmodern Era. New York:

Garland Publishing. Inc.

Taba, Hilda (1962). Curriculum Development – theory and practice. New York:

Harcourt, Brace & World.

Tanner, Daniel and Tanner, Laurel (1980). Curriculum Development theory into

practice. New York: Macmillan Publishing Co., Inc.

Tyler, Ralph (1949). Basic Principles of Curriculum and Instruction. Chicago: The

University of Chicago Press.

40

Anexo 2

PLANO DA UNIDADE CURRICULAR

41

ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

BEM VINDOS A ESTA UNIDADE, UMA DAS QUE INTEGRA O VOSSO PLANO DE ESTUDOS NO 1.ª SEMESTRE, E QUE TEM POR OBJECTO APRESENTAR ALGUNS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS AO CURRÍCULO EM PROCESSO, IDENTIFICADO COM O DESENVOLVIMENTO CURRICULAR E CONSIDERADO, POR NÓS, A CHAVE DO SISTEMA EDUCATIVO.

• Notícias Fórum • Contrato de Aprendizagem - MSVP-EDC Book

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CONTRATO DE APRENDIZAGEM

Nesta primeira semana, de …. de a …. de ……., deverão ler e debater o texto que contém o "Contrato de Aprendizagem" (CA).

O debate será realizado em torno de cinco questões, quanto a:

1. Pertinência do objecto desta unidade curricular, no âmbito da Supervisão Pedagógica;

2. Clareza e nível de adesão aos objectivos enunciados; 3. Interesse dos temas propostos; 4. Adequação dos meios de avaliação indicados; 5. Exequibilidade do calendário desenhado.

No dia 5 de Outubro, após a negociação necessária, o Contrato de Aprendizagem deverá estar aprovado e aceite por todos. A aceitação deverá ser explicitada no fórum a abrir, com esta finalidade, a partir do dia … de ….

43

• Debate Fórum • Aceitação do Contrato de Aprendizagem

1 - CONCEITOS E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

Iniciamos, no dia ….. de ………., o tema 1 desta unidade curricular - "Conceitos e Princípos Orientadores do Desenvolvimento Curricular". Irá desenvolver-se ao longo de 4 semanas, integrando uma actividade por semana, num total de 4 actividades.

A 1.ª actividade será realizada individualmente e corresponde à leitura crítica de textos: um texto (texto 1) Conceito e Princípios Orientadores do Desenvolvimento Curricular de Maria do Céu Roldão e Maria Ivone Gaspar (cedido em cópia, nos Recursos). Como leitura complementar, recomendo os capítulos I e II do livro "Elementos do Desenvolvimento Curricular", de Maria Ivone Gaspar e Maria do Céu Roldão, editado pela Universidade Aberta.

Para os estudantes que tiverem tempo disponível e interesse no aprofundamento deste tema, sugiro: (i) Diferenciação Curricular Revisitada de Maria do Céu Roldão (tem 59 páginas) e (ii) dois capítulos de O Currículo em Mudança de Ivor Goodson, o capítulo 3 "Etimologias, Epistemologias e Emergência do Currículo" pp. 61-79 e o capítulo 5 "História do Currículo, Profissionalização e Organização Social do Conhecimento - um paradigma alargado para a história da educação" pp. 97-115.

Estamos perante um estudo com ou em autonomia do estudante, pelo que solicito a vossa concentração para que se realize uma aprendizagem sem acto organizado de ensino.

Esta 1.ª actividade desenrolar-se-á entre os dias …. e ……. de ……...

A tarefa esperada com esta actividade prende-se com a identificação dos conceitos encontrados tendo, como focos determinantes, o CURRÍCULO numa relação directa e expressa com o DESENVOLVIMENTO CURRICULAR.

BOM TRABALHO!

• Estudo Fórum • Conceitos e princípios orientadores do Desenvolvimento Curricular Documento PDF

44

1 - CONCEITOS E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

1.1. O conceito de currículo e o conceito de desenvolvimento curricular

Iniciamos o debate sobre o conteúdo dos textos considerados como o suporte do primeiro tema do programa que seguimos - Conceitos e Princípios Orientadores do Desenvolvimento Curricular. Este debate corresponde à segunda actividade do tema 1 - O conceito de Currículo e o conceito de Desenvolvimento Curricular - e acontecerá em fórum, envolvendo toda a turma, ou seja, em fórum alargado. Tem por objectivo a compreensão e apropriação de conceitos que elegemos como os fundamentos desta unidade curricular.

Assim, o debate será desenvolvido em torno de 5 questões:

1. O que se entende por Currículo? 2. Qual(is) é(são) o(s) conceito(s) de referência do Currículo? 3. O que se entende por Desenvolvimento Curricular? 4. Que relação existe entre Currículo e Desenvolvimento Curricular? 5. Quais são os modelos mais conhecidos de desenvolvimento curricular?

Como se caracterizam?

Todos são convocados para este debate e deverão intencioná-lo e direccioná-lo a cada uma das questões, de modo a encontrarem produtos finais, sintetizados.

Sugiro que, no fórum, abram um espaço para cada uma das questões. Disponibilizarão, assim, 5 fóruns temáticos. Ao intervir em cada um deles, produzirão uma cadeia ou uma "árvore" de intervenções, relativamente ao diálogo produzido a propósito da questão em foco. Recordo que deverão utilizar mensagens curtas e substantivas. Solicito que se preocupem mais com a qualidade da mensagem do que com a quantidade.

Este debate decorrerá entre os dias …. e ….. de ………….

BOM TRABALHO!

• Debate Fórum

45

1 - CONCEITOS E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

1.2. Os princípios orientadores do currículo e do desenvolvimento curricular

Continuamos o tema 1: depois dos conceitos, debruçamo-nos sobre os princípios orientadores. Continuamos a metodologia aplicada na actividade anterior; esta actividade desenvolve-se no período entre … e …. de ………...

Neste período discutiremos, então, os princípios orientadores do Currículo e a projecção destes nos do Desenvolvimento Curricular, de modo a compreender os fundamentos epistemológicos deste campo do saber.

Assim, o debate desenvolver-se-á em torno dos tópicos seguintes:

1. Identificação e significado dos princípios orientadores do Currículo; 2. Relação dos princípios orientadores do Currículo com os princípios

orientadores do Desenvolvimento Curricular; 3. Articulação entre paradigma, matriz, modelo e princípio orientador no

Desenvolvimento Curricular.

Todos são convocados para este debate e deverão intencioná-lo e direccioná-lo a cada um dos pontos, de modo a encontrarem produtos finais, sintetizados.

Sugiro que, no fórum, abram um espaço para cada um dos tópicos. Disponibilizarão, assim, 3 fóruns temáticos. Ao intervir em cada um deles, procurem dialogar de modo a produzir conhecimento partilhado.

BOM TRABALHO!

• Debate Fórum

46

1 - CONCEITOS E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

1.3. Sistematização: elaboração de um glossário

A actividade 4 dentro do tema 1, desenvolve-se na semana de …. a … de …….. Esta actividade requer um trabalho de sistematização dos vários conceitos introduzidos pelos conteúdos deste primeiro tema.

Vamos organizar-nos em grupo ou equipa fechada para encontrar definições para os diferentes conceitos analisados. Cada grupo, constituído com os estudantes abaixo indicados, deverá situar-se num dos glossários e perceber como é o seu funcionamento. Desfaçam todas as dúvidas que possam surgir; por isso, não hesitem em pedir ajuda.

Constituição dos grupos:

Grupo 1: …………..….

Grupo 2: ……………...

Grupo 3: ……………….

Grupo 4: ……………………….

Cada um dos grupos recebe conceitos nucleares e a partir deles seleccionará, na lista que encontra nos "fóruns" anteriores, os conceitos subsidiários que entenda ligados àqueles. Estes conceitos podem, eventualmente, estar ligados a mais do que um conceito nuclear.

Procurarão trabalhar no glossário, abrindo as letras que correspondem à inicial de cada palavra ou expressão que assumem.

Grupo 1 - [em relação ao Currículo] Conceitos de: Concepção; Elaboração e Referente Conceptual.

Grupo 2 - Conceitos de: Currículo; Desenvolvimento Curricular e Vectores do Currículo.

Grupo 3 - Conceitos de: Matriz Curricular; Paradigma Curricular e Modelos do Desenvolvimento Curricular.

Grupo 4 - Conceitos de: Princípios Orientadores do Currículo; Princípios Referenciadores do Currículo e Princípios Orientadores do Desenvolvimento Curricular

47

Abri quatro espaços que têm por designação Glossário. Cada grupo trabalha, em separado, no glossário que tem o seu número. No final, todos terão acesso a todos os glossários, visando a síntese. Para que tal aconteça sem atropelos, cada grupo deverá designar um(a) coordenador(a).

Em cada um dos temas que vamos estudar a seguir, poderemos voltar ao glossário para juntar outros termos ou expressões.

No final do semestre, juntaremos todos os contributos num único glossário, apagando os outros quatro.

BOM TRABALHO

• Glossário 1- ………………………….. • Glossário 2 - ……………………………….. • Glossário 3 - ………………………………….. • Glossário 4 - …………………………… • • Dúvidas Fórum • • Grupo 1- ………………………………….. • Grupo 2 - …………………………………. • Grupo 3 - ………………………………. • Grupo 4 - ………………………………….. • • Glossário final • Debate - glossário final Fórum

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2- FASES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

Iniciamos o tema 2 - Fases do Desenvolvimento Curricular - que irá desenvolver-se ao longo de 4 semanas, integrando uma actividade por semana, num total de 4 actividades.

A 1.ª actividade será realizada individualmente e corresponde à leitura crítica de textos: um texto (texto 2) Fases e Níveis do Desenvolvimento Curricular de Maria do Céu Roldão e Maria Ivone Gaspar (cedido em cópia). Como leituras complementares, recomendo: Desenvolvimento Curricular de António Carrilho Ribeiro- II Parte - "O Processo de Planeamento Curricular" - pp. 77-174.

Estamos, de novo, perante um estudo com ou em autonomia do estudante, pelo que solicito a vossa concentração para que se realize uma aprendizagem sem acto organizado de ensino.

Esta 1.ª actividade desenrolar-se-á entre os dias …. e …. de ……...

A tarefa esperada com esta actividade centra-se no estudo, visando a identificação, a compreensão e a apropriação dos conteúdos relacionados com: (i) as fases em que se desenrola o currículo; (ii) os níveis de intervenção e decisão nessas fases; (iii) o lugar do ensino no desenvolvimento curricular e (iv) o sentido de competências no desenvolvimento curricular.

BOM TRABALHO.

• Fases e níveis do Desenvolvimento Curricular Documento PDF • Estudo Fórum

2. FASES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

2.1. As fases e os níveis de intervenção

Iniciamos, nesta semana, o debate sobre o conteúdo dos textos considerados como o suporte do segundo tema do programa que seguimos - Fases do Desenvolvimento Curricular. Este debate corresponde à segunda actividade do tema em referência (tema 2) e centra-se no item designado por As Fases e os Níveis de Intervenção; acontecerá em fórum, envolvendo toda a turma: será, portanto, um fórum alargado. Tem por objectivos a compreensão e a reflexão, associando a teoria à prática, dos aspectos consignados nas leituras realizadas e que explicitam mais uma componente do que se designa por Elementos do Desenvolvimento Curricular.

Assim, o debate será desenvolvido em torno de três tópicos:

49

1. Significado de cada uma das fases do Desenvolvimento Curricular em contexto educativo ou/e formativo.

2. Fase de implementação ou de operacionalização: diferenças ou semelhanças entre estes dois termos.

3. Níveis de intervenção ou/e de decisão: significado; repercussão e praxis.

Todos são convocados para este debate e deverão intencioná-lo e direccioná-lo a cada uma das questões, de modo a encontrarem produtos finais, sintetizados.

Têm três espaços abertos, destinados ao debate de cada um dos tópicos. Ao intervir em cada um destes fóruns, tentem produzir uma cadeia ou uma "árvore" de spots, relativamente ao diálogo produzido a propósito da questão/item em foco.

As vossas intervenções deverão ser feitas através de spots curtos, incisivos na matéria em análise e marcados pela preocupação em interligar as ideias de uns com as dos outros. Procurem construir e não debitar; procurem contribuir com algo de novo e não repetir.

Este debate decorrerá entre os dias …… e ….. de ……..

Bom trabalho!

• Significado de cada uma das fases do Desenvolvimento Curricular Fórum • Fase de implementação ou de operacionalização: diferenças ou semelhanças entre

estes dois termos. Fórum • Níveis de intervenção ou/e de decisão: significado; repercussão e praxis. Fórum • Dúvidas Fórum

2. FASES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

2.2. Acto de ensinar e competência

Na semana de …. a ….. de ……., no cumprimento da 3.ª actividade - Ensino e Competência - dentro do tema 2, Fases do Desenvolvimento Curricular, solicito um trabalho, em grupo pequeno ou equipa, sobre o acto de ensinar e o significado e importância de competência na relação com o ensino. Vamos organizar-nos em grupos abertos, embora restritos aos estudantes cujos nomes a eles estão ligados. Cada um dos grupos debruça-se sobre um dos temas e tem, por finalidade, a análise e explicação fundamentada de um destes dois aspectos na educação e/ou formação.

TEMA: Acto de ensinar

Grupo 1: .............

50

TEMA: Competências

Grupo 2: ………………….

Esta actividade desenvolver-se-á em três momentos:

1.º - Cada um dos grupos após a escolha de um(a) coordenador(a), passará ao debate do tema que lhe está atribuído.

2.º - Cada grupo, elaborará uma síntese do tema que debateu e, através do(a) seu(sua) coordenador(a), apresentará, no espaço que lhe está reservado, essa síntese.

3.º - Depois, no último dia de trabalho, esperam-se os comentários de todos a propósito dessas sínteses.

NOTAS:

(i) No sentido de desenvolverem o trabalho atribuído ao 3.º momento, eu, na 6.ª feira (dia 20 de Novembro), abrirei o fórum dedicado aos comentários sobre os dois temas.

(ii) As vossas intervenções deverão ser feitas através de spots curtos, incisivos na matéria em análise e marcados pela preocupação em interligar as ideias de uns com as dos outros. Procurem construir e não debitar; procurem contribuir com algo de novo e não repetir (ainda é preciso melhorar esta competência...)

BOM TRABALHO!

• Grupo 1 - Acto de ensinar Fórum • Grupo 2 - Competências Fórum • Comentários às sínteses Fórum

2. FASES DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

2.3. Elaboração de um trabalho individual

A última actividade no tema Fases do Desenvolvimento Curricular proporciona a elaboração de um paper (tipo artigo) sobre este mesmo tema. Esta actividade, de natureza individual, decorre na semana de …. a …. de ….., com a data limite de entrega a …. do mesmo mês.

O texto não deverá exceder 5 páginas, em tamanho A4, letra Times New Roman, corpo 12 e espaço 1,5.

Na avaliação serão contemplados os critérios seguintes:

51

• estruturação do plano do trabalho; • identificação correcta das ideias centrais; • articulação coerente das ideias expostas; • questionamento das posições pessoais face às leituras efectuadas.

O trabalho deverá ser enviado para o endereço [email protected].

BOM TRABALHO!

• Dúvidas Fórum

3. PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM SITUAÇÃO

Iniciamos o estudo do tema 3 do programa - Processo do Desenvolvimento Curricular em Situação. Este tema ocupará o período compreendido entre os dias ….. de …… e …. de …...

A 1.ª actividade, proposta para o período de tempo compreendido entre os dias …. de ……. a .. de ……, é a leitura crítica e a pesquisa de referências sobre este assunto.

Solicito que leiam atentamente o texto 3 - "Processo do desenvolvimento curricular em situação" e o capítulo IV do livro "Elementos do Desenvolvimento Curricular", de Maria Ivone Gaspar e Maria do Céu Roldão, editado pela Universidade Aberta

Como leituras complementares, sugiro: (i) Pacheco, José Augusto Currículo: Teoria e Praxis. Porto: Porto Editora pp. 63-127; (ii) Sacristán, J. Gimeno O Currículo - uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed. pp. 147-309 e (iii) Zabalza, Miguel A. Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola. Porto: Edições ASA. 81-276.

Poderão incluir alguma reflexão sobre a vossa experiência.

Fica aberto um fórum que permitirá comentar e/ou enunciar e esclarecer dúvidas.

BOM TRABALHO!

• Texto 3 - "O desenvolvimento Curricular em Situação" Documento PDF • Estudo Fórum

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3. PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM SITUAÇÃO

3.1. Factores de enquadramento do desenvolvimento curricular

Na semana de … a … de …….., vamos centrar a nossa atenção nos Factores de Enquadramento do Desenvolvimento Curricular e nas duas tipologias de currículo: currículo como plano e currículo como projecto.

O estudo deste tema, nesta segunda semana que lhe é dedicada, será desenvolvido em turma, através do fórum alargado.

O debate organizar-se-á em torno dos tópicos seguintes:

1. Factores de enquadramento do Desenvolvimento Curricular e sua importância frente à contextualização do ensino-aprendizagem;

2. Significado e âmbito de diferenciação curricular; 3. Caracterização do Currículo como Plano e do Currículo como Projecto:

semelhanças e diferenças.

Encontrarão um fórum aberto para cada um dos tópicos. Todos os estudantes procurarão intervir em cada uma desses diferentes tópicos, identificando as ideias-chave. Trarão os contributos das fontes que entenderem.

Entretanto, nos últimos dois dias da semana - dias … e … de … - procurarão elaborar uma síntese de toda a discussão desenvolvida em torno de cada uma das questões. Aparecerão, assim, 3 textos-sínteses. Cada um destes textos deverá ocupar, no máximo, 2 folhas de tamanho A4, letra Times New Roman, corpo 12 e espaço 1,5.

Bom trabalho!

• Factores de enquadramento do Desenvolvimento Curricular Fórum • Significado e âmbito de diferenciação curricular Fórum • Caracterização do currículo como plano e como projecto Fórum • Dúvidas Fórum • As sínteses Fórum

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3. PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM SITUAÇÃO

3.2. Processo organizacional do currículo

No período de tempo compreendido entre os dias …. e ….. de ….., concluiremos o tema 3, centrando a nossa atenção no tópico Processo Organizacional do Currículo.

O estudo deste tema, nesta terceira semana que lhe é dedicada, será desenvolvido em turma, através do fórum alargado.

O debate organizar-se-á em torno dos tópicos seguintes:

1. Significado da Organização do Currículo; 2. Importância da Gestão do Currículo; 3. Impacto da Formação para o Desenvolvimento Curricular.

São criados quatro fóruns: um para cada tópico e outro para as sínteses.

Esta actividade integra 2 tarefas:

1.ª Tarefa - nos primeiros 5 dias - de .. a … de …., os estudantes discutem livremente dentro do fórum aberto para cada um dos itens.

2.ª Tarefa - nos últimos dias - de …. a … de ……, os estudantes elaborarão, para cada tópico, uma síntese de toda a discussão desenvolvida. Essa síntese deverá ocupar, no máximo, 2 páginas de tamanho A4, letra Times New Roman, corpo 12 e espaço 1,5.

OBSERVAÇÃO

1. As tarefas poderão ser concluídas antes do tempo previsto; gostaria que em 22 de Dezembro, todos pudessem iniciar o período de descanso, a que têm direito, na época do Natal.

BOM TRABALHO!

• Significado da organização curricular Fórum • Importância da gestão do currículo Fórum • Impacto da Formação para o Desenvolvimento Curricular Fórum • Sínteses Fórum

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É TEMPO de NATAL!

As actividades lectivas são interrompidas até dia 3 de Janeiro de 2010.

Votos de um muito feliz Natal e de um Ano Novo cheio de alegrias, para cada um de vós.

• Comentários Fórum

4. DESENVOLVIMENTO CURRICULAR E DIVERSIDADE DE CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM

O tema 4 é o último do programa desta unidade curricular e o seu estudo desenrolar-se-á durante o período de…. a …. de ……. de ……...

O primeiro período decorrerá entre os dias … e…. de …….. e será dedicado a estudo individual. Disponibilizo um texto muito curto e proponho que, à leitura desse texto, acrescentem a do capítulo V do livro "Elementos do Desenvolvimento Curricular", de Maria Ivone Gaspar e Maria do Céu Roldão, editado pela Universidade Aberta.

Cada um de vós fará pesquisas complementares, sobretudo na Internet, orientadas para os "três contextos diferenciados de aprendizagem" que são apontados: 'tipos de ensino', 'níveis de ensino' e 'regimes de ensino'.

No final deste período, cada um, abrirá um espaço individualizado, no fórum com o título 'Pesquisa'; aí, deverá registar o endereço (apenas um endereço) que considera mais significativo e mais interessante, indicando os motivos do seu interesse.

BOM TRABALHO

Pesquisa Fórum Dúvidas Fórum Desenvolvimento Curricular e diversidade de contextos de aprendizagem.

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4. DESENVOLVIMENTO CURRICULAR E DIVERSIDADE DE CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM

(continuação)

Na semana de …. a …. de ……. faremos um debate sobre este tema, em equipa ou grupo pequeno. Com o total de 15 estudantes, vamos constituir 3 grupos, com 5 elementos cada. Gostaria que estes grupos fossem de constituição livre, pelo que abro três fóruns identificados com os números de 1 a 3.

O desenvolvimento desta última actividade lectiva passa por um conjunto de tarefas que se aglutinam em dois momentos.

A- No primeiro momento, de …. a …… de …….., desenvolverão as tarefas seguintes:

1. integração de cada estudante num dos grupos; 2. escolha do(a) coordenador(a) do grupo; 3. indicação do site seleccionado (cada aluno regista no espaço do grupo em

que se inscreveu o site que seleccionou - apenas um site por aluno); 4. discussão, em grupo, do conteúdo dos sites registados; 5. aproximação a uma das vertentes abordadas neste último tema da unidade

curricular Elementos do Desenvolvimento Curricular; 6. discussão, em grupo, do conteúdo dos sites que os diferentes elementos

identificaram e registaram. 7. registo, em três página A4 (no máximo), das ideias centrais

retiradas dos diferentes sites em análise, em cada um dos grupos; 8. publicitação, no espaço dedicado ao grupo, do texto então construído.

B - No segundo momento, de …. a ….. de …….., os diferentes coordenadores serão responsáveis por dinamizar a elaboração de uma síntese final do tema, seguindo um plano que terá por itens os títulos das tabelas do texto que foi disponibilizado. A síntese poderá contar com a colaboração de todos, no apoio ao(à) coordenador(a) do grupo a que pertencem. Não deverá exceder 8 páginas de tamanho A4, letra Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5. A elaboração deste texto final deverá ser executada no fórum criado com o título 'síntese final' e deverá ser concluída até ao dia ….. de …...

BOM TRABALHO.

• Grupo 1 - …………………………………… • Grupo 2 - ……………………………….. • Grupo 3 - ………………………………… • • Síntese final Fórum • Dúvidas Fórum • • Sínteses dos três grupos Documento Word

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CONCLUSÃO DO GLOSSÁRIO

Será necessário fundir os diferentes glossários em um glossário, pelo que, durante as duas semanas que restam deste mês de ……………., deverão:

1. rever as diferentes definições, tendo em conta o percurso frente a alguns conceitos;

2. aferir os diferentes conceitos, dentro de cada equipa; 3. conciliar as diferentes definições, do mesmo conceito, numa só.

Neste sentido, abri, no espaço dedicado aos glossários, um fórum com a designação de 'glossário final'.

Bom trabalho.

• Dúvidas Fórum

TRABALHO FINAL (DESENHO)

Aproveitamos os últimos tempos de actividade lectiva para estabilizarmos os títulos dos trabalhos finais. Estes trabalhos são de natureza individual e terão o formato de ensaio. O título deverá ser negociado a partir de uma proposta vossa que resulte de uma escolha dentro dos conteúdos desta unidade curricular. Para o efeito, cada um abrirá um espaço dentro do fórum já criado. Após o acerto do título, cada um apresentará o plano do trabalho. Tanto o título como o plano deverão estar aprovados até ao próximo dia …… de ……..

BOM TRABALHO.

• Ensaio Fórum

TRABALHO FINAL

Concluída a actividade lectiva é tempo de realização do trabalho final. Este trabalho terá o formato de um ensaio e será realizado individualmente. Sujeito a um tema no âmbito do objecto científico deste Mestrado, obedece a um título e a um plano previamente negociados. Terá um máximo de 20 páginas, em tamanho A4, com letra Times New Roman, corpo 12 e a 1,5 espaço (este número de páginas inclui as referências bibliográficas). Será avaliado na aplicação dos critérios seguintes:

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• pertinência do tema;

• validade do conhecimento;

• precisão dos conceitos;

• coerência e articulação das ideias;

• clareza da linguagem.

O trabalho deverá estar concluído até ao dia … de ……. de ……. .

Nesse mesmo dia, será enviado, por correio electrónico para

[email protected]

BOM TRABALHO.

• Dúvidas Fórum

AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO FINAL

Encontram, neste espaço, o resultado da avaliação das diferentes componentes consideradas nesta unidade curricular.

• Avaliação e classificação final Documento • Comentários Fórum

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ENCERRAMENTO DA UNIDADE CURRICULAR - EM … DE ….DE … -

A escassos dias do encerramento desta unidade curricular - Elementos do Desenvolvimento Curricular - não posso deixar de vos cumprimentar com um sentimento de alegria pelo modo como se empenharam na realização de todas as tarefas que foram convidados a realizar e pelas atitudes que revelaram no acompanhamento de todo o processo em que foram envolvidos.

Senti que cada um de vós deu o seu melhor.

Cumprimento, com muito apreço.

• Comentários Fórum

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Anexo 3

TEXTO DE APOIO À UNIDADE TEMÁTICA 1

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MARIA IVONE GASPAR & MARIA DO CÉU ROLDÃO

CONCEITO E PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO

DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

Lisboa/ 2005

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Introdução

Um estudo que tem por objecto o desenvolvimento curricular impõe uma

passagem, ainda que breve, pelo conceito de educação, constituído, naturalmente, no

seu principal alicerce. E, ao ter como referência o currículo , exige a determinação deste

conceito. Neste sentido, antes de se centrar no foco determinante – o desenvolvimento

curricular – far-se-á um percurso pelo significado daqueles dois conceitos.

Relativamente ao conceito de educação, pretende-se tê-lo presente de modo a que ele

seja enquadrador do pensamento que se constrói em torno desta matéria, pelo que é

tratado, apenas, neste espaço de natureza introdutória. Quanto ao conceito de curículo,

sendo ele o cerne do estudo presente, terá maior relevo, pelo que merece um ponto

autónomo. É, entretanto, referido neste espaço, pela necessidade de o articular com o

conceito de educação, pois a explicação e compreensão de um interpela a explicação e

compreensão do outro.

Dewey considera a educação como o método fundamental da reforma e do

progresso sociais. Num dos itens do Artigo I do “Credo” em que professa a sua fé

pedagógica, lê-se: “I believe that this educational process has two sides – one

psychological and one sociological” e, mais à frente, no Artigo V, encontra-se: “ I

believe that education is a regulation of the process of coming to share in the social

consciousness; and that the adjustment of individual activity on the basis of this social

consciousness is the only sure method of social reconstruction”10. Dewey viu a

educação como um processo e uma função sociais e afirmou: “o indivíduo a ser educado

está individualizado na sociedade e a sociedade é uma união orgânica dos indivíduos.”11

Seguindo o pensamento do mesmo autor, é o currículo que dá a consciência social ao

indivíduo, tornando-se no motor da vida escolar. Taba (1962:18) refere-se a três grandes

perspectivas da Educação: (1) Educação como preservação e transmissão da herança

cultural; (2) Educação como um instrumento de transformação da cultura e (3)

Educação como um conjunto de meios para o desenvolvimento individual. Qualquer

destas perspectivas projecta-se na abordagem do currículo, configurando aquilo que

muitos autores designam por ‘fontes’ do currículo.

Ao longo do século XX, surgiram, indubitavelmente, muitas e variadas

definições de educação; dois elementos são comuns à maioria delas e traduzem-se nas

palavras ‘processo’ e ‘desenvolvimento’. Gagné defendera (1982:1) “que o

10 - Dewey, John (1897). My Pedagogic Creed, www.rjgeib.com/biography/credo/dewey.html 11 - Ibidem

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desenvolvimento em todas as suas manifestações deve depender de dois factores –

crescimento e aprendizagem – e das suas interacções”. É, sem dúvida, um processo que

acompanha, assiste e marca o desenvolvimento do indivíduo (do ser humano) desde o

seu nascimento até à sua morte. “A educação é um processo contínuo, ininterrupto do

‘berço ao túmulo’, e ao longo do qual o indivíduo desenvolve o seu conhecimento, as

suas aptidões de comunicação e a sua capacidade de aprendizagem”12. Desta definição

decorre para além das duas ideias já referidas de processo e de desenvolvimento, a ideia

de continuidade. Assume-se, portanto, a educação como um processo emergente,

enquadrado pela psicologia e pela sociologia mas também determinado (ou apoiado)

pela política e economia que decorre ao longo da vida; marcado por etapas diferentes,

que se distinguem por um grau de maior ou menor formalidade, manifestando-se

associado a uma maior ou menor estruturação. Poder-se-á afirmar que tal processo se

sujeita a influências e, ao mesmo tempo, gera influências. Mas o que substancia este

processo? Por outras palavras, qual é o conteúdo do referido processo? Sem dúvida que

será tudo aquilo que é objecto de ensino e de aprendizagem. Ao referir estes dois termos

– ensino e aprendizagem - e, sobretudo ao assumir a sua relação, enfrentam-se

princípios paradigmáticos da educação, que se tornam na moldura do mesmo processo.

O conceito de educação tem implicações directas em vários campos que são

tomados como seus constituintes, relevando-se aquele que aparece como a excelência

do seu fundamento: o currículo. Scheffler distingue, em duas tipologias, as definições

de conceitos que assentam no campo da educação: descritivo e programático (Israel

Scheffler – 1960 - cit. por Tanner e Tanner, 1980:4). Assim, e a título de exemplo, o

currículo poderá ser descritivamente definido, como “um curso de estudos formais”;

enquanto numa definição de tipo programático, o currículo será entendido como “a

totalidade de experiências de cada aprendente sob a influência da escola”. O tipo da

definição revela a natureza do currículo. É exactamente a natureza do conceito de

currículo que fixa o seu âmbito, onde se desencadeiam os elementos constituintes do

Desenvolvimento Curricular. Importará, pois, começar por analisar o conceito de

Currículo, como fundamento do conceito de Desenvolvimento Curricular. Tendo por

objecto o currículo, sustentado na ideia de processo que é transmitida pela palavra

“desenvolvimento”, aceita-se, como pressuposto, uma outra ideia - a de organização do

12 - ERT (1995) Uma Educação Europeia – a caminho de uma sociedade que aprende Bruxelas, La Table Ronde des Industriels Européens.

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currículo, que o referencia e conduz à ideia base de plano - e, em consequência, assume-

se que o conceito de currículo seja o referente do Desenvolvimento Curricular. Daí se

impor um curto debate sobre o conceito de currículo para sedimentar a ideia chave do

desenvolvimento curricular, ou seja, o currículo como processo. Depois, discute-se o

conceito de Desenvolvimento Curricular. Para, num ponto três, se delimitar a

abrangência deste conceito e, finalmente, traçar alguns dos grandes princípios que

orientam o Desenvolvimento Curricular. No final, em breve síntese, serão evidenciados

os pontos determinantes desta unidade.

1. Conceito de Currículo

Tradicionalmente, Currículo foi percebido como informação passada de uma

geração para outra na forma de conhecimento organizado. Nesta perspectiva, uma

definição de currículo poderia compreender as matérias essenciais ou uma colecção de

materiais para a aprendizagem. Mais tarde, profundas mudanças sociais produziram a

escola para todos, tendo-se verificado uma diferença no desenho e na aplicação do

currículo, o que aumentou a proliferação no seu significado. Alguns entendem-no como

a acumulação e organização dos saberes contidos nas matérias escolares; outros

consideram-no como modos de pensamento e inquérito sobre os fenómenos do mundo e

outros, ainda, designam de currículo as experiências acumuladas pela ‘raça’ (no sentido

de nação, etnia, ou mesmo grupo social).

Foi, precisamente, a influência crescente do campo da Educação, ainda na

primeira metade do século XX, que provocou profundas alterações no conceito de

currículo. Tendo sido identificado com o conjunto de conhecimentos a adquirir, passou

a dar importância ao modo como se organizavam esses conhecimentos e a sobrelevar o

sentido de ‘modos de pensamento’ procurando, assim, eliminar a distinção entre

conteúdos e processos.

É consensual afirmar que, em 1918, o currículo, como área do conhecimento, deu

um significativo passo, ao tornar-se no título de uma obra de J. Franklin Bobbitt, de

onde surgiu a base para a sua estruturação etimológica. Afirmou, este autor, que, em

educação, “a tarefa científica que precede todas as outras é a determinação do currículo”

(Bobbitt, 2004:73). O mesmo autor, em 1924, publicou uma outra obra com o título

“Como Fazer um Currículo”, que se caracteriza pela abordagem técnica do currículo.

Em meados do século XX, a definição de currículo alargou, passando a ter em

consideração a diversidade dos aprendentes e a projecção das suas diferenças quanto às

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características reveladas e aos interesses manifestos. O foco passou a estar naquilo que

era experienciado pelo estudante: a definição dos objectivos e a consequente

determinação dos conteúdos deveriam contemplar o desenvolvimento de capacidades e

de aptidões. Finalmente, no 4.º quartel do mesmo século XX, e motivados por

preocupações económicas e financeiras, mas tendo, também, presentes preocupações

que se prendem com a realização de projectos individuais, os teóricos e os

planificadores do currículo refocalizaram os seus esforços. Definiram, então, o currículo

de acordo com o produto ou os resultados, apelando a que, os enunciados dos objectivos

a atingir pudessem desenhar os perfis de formação onde se tornassem explícitas as

competências que o aprendente deveria adquirir e transportar para o campo profissional.

Esta orientação implica reformulação não só na natureza dos conteúdos mas também no

modo como eles se organizam.

Parece um imperativo analisar o conceito de currículo seguindo três passos: num

primeiro passo, lista-se um conjunto de definições do termo, tendo em conta a

diversidade de perspectivas que as originaram; depois, agrupam-se essas definições, de

acordo com as suas linhas maiores, na tendência de construir o conceito que as suporta;

para, no final, após súmula crítica, se eleger aquela definição que vai suportar as

perspectivas de desenvolvimento curricular a assumir.

1.1. Definições de currículo

Importará percorrer uma gama variada de definições, seleccionadas entre mais de

uma centena que se encontram disponíveis, no sentido de promover e sustentar uma

discussão em torno desta palavra que traduz um forte conceito. Listam-se as definições,

na intenção de que o leitor as percorra e se vá questionando quanto às suas semelhanças

e diferenças, na preocupação de encontrar, para cada uma, o seu núcleo substantivo.

(1) “A palavra curriculum, (...) aplicada à educação, consiste numa série de coisas que

as crianças e jovens devem fazer e experimentar para desenvolverem capacidades para

fazerem as coisas bem feitas, que preencham os afazeres da vida adulta, e para serem,

em todos os aspectos, o que os adultos devem ser” (Bobbitt,-1918 1.ª ed.; 2004:74).

(2) “O Currículo é uma sequência de experiências potenciais oferecidas nas escolas para

crianças e jovens em grupo, a percorrer por caminhos do pensamento e da acção”

(Smith, Stanel and Shores, cit. Tanner e Tanner, 1980:12).

(3) “O Currículo é uma sequência de unidades de conteúdo, arranjadas de tal modo que

a aprendizagem de cada unidade pode ser acompanhada como um simples acto, provido

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de capacidades descritas por unidades específicas (numa sequência) conducentes à

mestria do aprendente” Gagné (1982:19-20).13

(4) “O Currículo é um inquérito metodológico que explora caminhos pelos quais

elementos como o professor, estudante, matérias e meio ambiente podem ser vistos”

(Westbury e Steimer cit. Tanner e Tanner, 1980:30).

(5) “O Currículo é uma selecção da cultura da sociedade” (Lawton, 1975:46). “Se

currículo é definido como uma selecção da cultura, então a selecção tem de ser

adequada” (Lawton, 1996:31).

(6) “O Currículo é o conjunto de todas as experiências que as crianças têm sob a

orientação dos professores” Caswell and Campbell (1935).

(7) “O Currículo será toda a aprendizagem, planificada e dirigida pela escola para

atingir os seus objectivos educacionais” (Tyler, 1949:126-128).

(8) “O Currículo é o conjunto de todas as actividades que são providenciadas aos

estudantes pela escola” (Alberty and Alberty 1962, cit. Tanner, 1980:16).

(9) “O currículo é, essencialmente, um plano para a aprendizagem” (Taba, 1962:76).

(10) “O currículo de uma escola é o conteúdo e o processo formal e informal pelos quais

os aprendentes ganham conhecimento e compreensão, desenvolvem aptidões e alteram

atitudes, apreciações e valores debaixo dos auspícios daquela escola” ( Doll, 1978:6)

(11) “O currículo é um plano para o que deve ser ensinado e é composto por o que deve

ser ensinado, a quem, quando e como”(John McNeil);

(12) “O Currículo é um objectivo ou um conjunto de valores que são activados através

de um processo de desenvolvimento e culminam nas experiências dos estudantes em

classe” (Wiles et al., 1998:12).

(13) “O Currículo é a reconstrução do conhecimento e experiência, sistematicamente

desenvolvido debaixo dos auspícios da escola, para tornar o estudante capaz de

aumentar o seu controlo do conhecimento e experiência” (Tanner e Tanner 1980:38).

(14) “O Currículo é uma série estruturada de resultados de aprendizagem que se têm em

vista” (Johnson, 1977:6).

(15) “O currículo é antes de mais um campo de prática profissional” (Walker, 1990:25).

(16) “O Currículo é uma construção social que assume dois pontos de vista: ‘como

facto’ e ‘como prática’” (Young, 2002:23).

13 - Gagné define uma unidade de conteúdo como uma descrição específica de uma simples capacidade ou essencialmente de um objectivo comportamental.

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(17) “O termo currículo não possui um sentido unívoco; existe, antes uma diversidade

de definições e de conceitos em função das perspectivas que se adoptam (Shiro, 1979),

o que vem a traduzir-se, por vezes, em alguma imprecisão acerca da natureza e âmbito

do currículo” (Ribeiro, 1990:11).

A maioria das definições apresentadas situa o currículo em escola, considerada

no seu sentido restrito, e as diferenças no conteúdo das mesmas definições manifestam

o conflito sobre o modo de pensar e organizar a escola; no entanto, algumas destas

definições já anunciam o seu vínculo a espaços de aprendizagem com peso institucional

diverso, pelo que se afirma o currículo a ocupar o centro da aprendizagem,

independentemente do tipo de educação e do nível, regime ou modalidade de ensino em

que essa aprendizagem se realiza.

As definições de currículo enfatizam, vulgarmente, (i) experiências pré-

seleccionadas e guiadas às quais as crianças e os jovens devem ser expostos; (ii) planos

para aprendizagem; (iii) fins e resultados da aprendizagem no educando; e (iv) sistemas,

visando a produção educacional, por exemplo, em contraste com os objectivos

comportamentais a serem atingidos. Diz Ronald Doll (1978:4), que a definição mais

comum, nos anos 30 e 40 do século XX, era “o currículo da escola é toda a experiência

que os alunos têm debaixo da orientação dessa escola”. Mas toda a escola tem um

currículo conhecido, planificado e formal e tem, também, um currículo não planificado,

informal, ou escondido. O mesmo autor afirma: “o currículo de uma escola são o

conteúdo e processo, tanto formal como informal, pelos quais os aprendentes ganham

conhecimento e compreensão, desenvolvem capacidades e outras atitudes, apreciações e

valores debaixo dos auspícios daquela escola” (Doll, 1978:6). Esta definição inclui

ambos os aspectos da escola, formal e informal, o que uma pessoa aprende (conteúdo) e

como uma pessoa aprende (processo), e produtos ou resultados nas formas de

conhecimento, compreensão, capacidades, atitudes, apreciações e valores.

2.2. Construção do conceito de currículo

A maioria das definições apresentadas suportam-se na ideia de plano e agrupam-

se em torno de quatro grandes características: resultados da aprendizagem (ou seja as

finalidades pretendidas); conteúdos a ensinar; processos de aprendizagem e meios ou

materiais para a aprendizagem. Estas características fazem emergir quatro conceitos.

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(1) O primeiro conceito remete para uma listagem de enunciados de finalidades e

objectivos a atingir pela escola (pelos responsáveis do ensino); tais objectivos de

natureza instrucional e/ou educativa poderão situar-se a níveis diferentes e manifestar-se

com âmbito distinto. A aprendizagem é planificada e é guiada. A escola é a única

responsável pelo resultado dessa aprendizagem.

Para os behavioristas, o currículo é concebido como o resultado das

aprendizagens planeadas, representadas por listas de objectivos comportamentais ou

terminais quantificáveis; assumem que a aprendizagem é mecânica e que o aprendente é

condicionado para dar respostas certas. Outras correntes da psicologia da aprendizagem,

para além da behaviorista, aceitam, também, o currículo como um conjunto de

objectivos.

Nesta perspectiva, o currículo é o enunciado sequencial de objectivos, com a

acentuação nos resultados obtidos; assume-se, então, como uma lista de ‘intenções’.

(2) Ao segundo conceito associa-se a ideia de matéria ou conteúdo programático. De

acordo com esta perspectiva, ‘o currículo deverá consistir num plano de estudos

permanentes’. O enunciado desses estudos poderá ser bem diverso, quer quanto ao

modo como esses estudos se organizam, quer em relação às fontes que privilegiam, quer

mesmo quanto às hierarquias que estabelecem. O currículo consistirá, então, no

conjunto de conhecimentos que faculta, nas capacidades e aptidões que promove e

desenvolve, nas competências que proporciona e, até, nos valores que incute.

O currículo é um programa de aprendizagem; é, sobretudo, a lista do que há a

aprender; assume-se, portanto, como um plano para a ‘acção’.

(3) O terceiro conceito de currículo tem como referente a experiência; esta experiência é

possibilitada pela aprendizagem desenvolvida que deverá pressupor a que fora

anteriormente adquirida; nesta perspectiva, o currículo sobreleva os processos de

aprendizagem. Aponta no sentido da individualização e da socialização da

aprendizagem.

O currículo é igualmente um programa, mas destaca os processos para a

aprendizagem; assume-se como um processo ‘interaccional’, perspectiva que conduz à

integração da componente didáctica. Ele pode, aliás, corresponder a um projecto que se

constrói e reconstrói.

(4) Para um quarto conceito, aponta-se o currículo como um conjunto de materiais de

estudo que serão, naturalmente, os materiais a utilizar para a aprendizagem. É visto

como algo que se expressa, tecnicamente, nos materiais, sendo o manual o material

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privilegiado neste contexto conceptual. Mas outros materiais de aprendizagem têm

ocupado lugar a par do manual e alguns avançam, mesmo, no sentido de o

complementar e, por vezes, o substituir.

O currículo é tornado visível em materiais que permitem a sua aplicação;

contudo, estes materiais têm um plano, cuja determinação é muitas vezes subentendida,

pelo que não é expresso; assume-se, então, como objecto ou material.

Os diferentes conceitos implicam diferentes funções do currículo e por isso

diferentes modos de mediar o seu desenvolvimento. No quadro a seguir, faz-se uma

tentativa de esquematizar estes aspectos, na preocupação de os clarificar.

Quadro 1 - Conceitos de currículo

Conceito de currículo Mediação Função

Conjunto de objectivos – estará implícito o programa das aprendizagens. (como intenção)

Fins e resultados instrucionais

Atingir fins mensuráveis; dar visibilidade ao produto.

Conjunto de conhecimentos que desenvolvem capacidades, promovem aptidões, proporcionam competências e incutem valores. (como acção).

Plano de instrução. Organização estruturada

Produzir saberes; Incrementar formação de perfis. Acumular cultura.

Processos de aprendizagem (processo interaccional)

Questionamento e pensamento reflexivo. Transposição do conteúdo para a situação de aprendizagem (situações didactizantes). Poderá verificar-se um certo ecletismo.

Desenvolver características pessoais; promover as relações sociais; possibilitar vivências efectivas.

Conjunto de materiais de estudo (objecto ou material)

Regulação Controlar o conhecimento e a experiência.

Poder-se-á afirmar que os conceitos referidos estão abertamente ligados ao tipo

de currículo formal e expresso, embora em algumas definições transcritas se

percepcione, já, o conceito de currículo latente ou currículo oculto. Contudo, este tipo

de currículo não é objecto directo deste estudo que se detém, apenas, no currículo

manifesto ou expresso e formal.

Importará recordar que o conceito de currículo, como plano, confronta o conceito

de currículo, como projecto; a sua distinguibilidade poderá não obviar, totalmente, à sua

conflitualidade.

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Constata-se, também, nas definições seleccionadas, uma tendência dualista entre

currículo e ensino. O dualismo do currículo-ensino emergiu como uma verdadeira

doutrina do campo do currículo, segundo Tanner e Tanner. Recorda-se que Dewey, no

princípio do século XX, defendia a existência de uma intrínseca continuidade entre fins

e meios, enquanto para Johnson o currículo deveria prescrever, apenas, os resultados da

educação, nunca os meios. Em Toward a Theory of Instruction, Bruner afirma que a

teoria da instrução é prescritiva e normativa para concluir que “conhecimento é um

processo e não um produto”(Bruner, 1966:72).

Recordando que, no campo educacional, se distinguem, tal como se afirmou

atrás, dois tipos de definições: as descritivas e as programáticas, considera-se que o

currículo, sob o ponto de vista descritivo, será ‘um curso formal de estudos’ e, sob o

ponto de vista programático, se identifica (ou se traduz) com a ‘totalidade de

experiências de cada aprendente sob a influência da escola’. “Enquanto a definição

descritiva é predominantemente um enunciado analítico e neutral, a definição

programática intenciona um conjunto de programas de acção que expressam um

programa prático” (Scheffler, cit. Tanner e Tanner (1980:4-5).

Young (2002:23) afirma que o currículo resulta do conhecimento socialmente

organizado e considera-o seguindo duas perspectivas: ‘como facto’ e ‘como prática’. O

ponto de vista do ‘currículo como facto’ é mistificado num certo número de caminhos.

Apresenta o currículo como tendo uma vida nos seus próprios e obscuros contextos

sociais nos quais está embebido; ao mesmo tempo, deixa o currículo como um dado –

nem compreensível nem mutável. A concepção alternativa de ‘currículo como prática’

pode ser igualmente mistificada. Na sua tentativa de por estudantes e professores dentro

do currículo, nega a realidade externa e enfatiza as acções e intenções subjectivas dos

professores e dos alunos como se eles não estivessem sempre a actuar no currículo que

está em parte externa e os precede. Roldão (2003:15) desenvolve esta ideia ao adoptar

“uma perspectiva triangular do currículo que procura fazer interagir pelo menos estes

três níveis de abordagem do conceito: como facto, no seu formato prescrito, que num

dado momento traduz e corporiza o equilíbrio possível dos factores que nele intervêm;

como práxis, apropriada reflexivamente pelos seus actores, que se actualiza em práticas

que o constroem e constantemente reformulam gerando novas tensões de forma

interactiva; como interacção entre o explícito prescrito (facto) e o vivido (praxis),

mediada pelas prestações, reflexão e representações dos seus actores, interacção que,

por sua vez, se constitui ela própria em objecto curricular.”

70

O currículo pode ser concebido como um processo de representação, formação e

transformação da vida social na sociedade, pelo que é um conceito complexo,

poliédrico, sendo a causa e o efeito de múltiplas e variadas influências.

O currículo estrutura-se, compõe-se e organiza-se pelo que, nestas operações se exige

a determinação de “unidade curricular”. Ora esta unidade curricular poderá apresentar

formatos bem distintos o que conduz a designações diferentes, tais como a área, a disciplina,

ou o módulo. São estes aspectos que determinam tecnicamente o currículo que,

naturalmente, derivam de aspectos de natureza filosófica e epistemológica.

O conceito de currículo terá de estar subjacente a qualquer sistema educativo

ou/e sistema formativo, como a qualquer situação que pretenda promover ou resultar em

aprendizagem. Na certeza da ausência de fronteiras que delimitem, com clareza, o

conceito de currículo, admite-se, como subjacente a este estudo, aquele que envolve o

que a ser aprendido, o porquê de ser aprendido e o como facilitar a aprendizagem.

Partindo da definição de John McNeil, a que se acrescentam dois elementos,

considerados ideias fundamentais - aprendizagem e projecto - assume-se que o

currículo é, sobretudo, um plano, completado ou reorientado por projectos, que resulta

de um modelo explicativo para o que deve ser ensinado e aprendido; compõe-se então

de: o que oferece, a quem, quando e como é oferecido.

1.3. Currículo → cerne do Desenvolvimento curricular

O currículo afigura-se como um campo de estudos onde se têm desenhado vários

domínios, oferecendo cada um respostas (ou matéria de estudo) específicas. Ao

estabelecer-se como um campo de estudos, não só prolifera o próprio conceito como

permite o surgimento de áreas de investigação que, ao multiplicarem-se, ampliam as

suas vertentes. Tais áreas foram surgindo, de modo difuso embora na tentativa de

resposta a novas problemáticas. Designaram-se, numa primeira abordagem,

fundamentos do currículo, concepção do currículo, design do currículo, implementação

do currículo, avaliação do currículo e engenharia do currículo. Algumas destas áreas

fundiram-se com outras, pois a forte interligação provocava e desafiava à assimilação,

pelo que não tardou a que surgissem associadas debaixo de uma diferente designação.

Walker (1990:28) escreveu: “Tradicionalmente, o campo de estudos do currículo tem

oferecido três respostas: teoria curricular, desenvolvimento curricular e a investigação

integradora do tema, ou, seja ‘Introdução ao Currículo’”. Em consequência,

autonomizaram-se, especializações conhecidas por, a teoria curricular, a história do

71

currículo, a inovação curricular, o questionamento (ou investigação) curricular e o

desenvolvimento curricular. Esta última, o centro deste estudo, passa a ser o objecto

determinante de toda a análise a produzir.

Da elaboração ou construção do currículo ao enquadramento do desenvolvimento

curricular vai uma significativa distância pelo que foi necessário construir um caminho

condutor à integração de vários aspectos, como aqueles que se relacionam com o

incremento da instrução e com o desenvolvimento dos planos de estudos. Assim, a

evolução do currículo, como foco educacional ou como o foco da educação, domina

quatro áreas: (1) as forças sociais; (2) o tratamento do conhecimento; (3) o crescimento

e desenvolvimento humanos e (4) a aprendizagem como um processo. Estas áreas

poderão ser consideradas os fundamentos da planificação do currículo e, as três

primeiras têm, tradicionalmente, sido designadas como fontes do currículo. Wiles

(1998:13) escreveu “Às três grandes fontes do currículo, sociedade, aprendentes e

conteúdos – acrescentou-se, no início da última década do século XX, a própria

aprendizagem”. As forças sociais emaranham a transformação da composição da

sociedade, com relevância para o modelo económico, explicitada na forma como se

apresenta o poder económico, nos sistemas de produção e nas novas tecnologias. Estas

projectam-se na emergência de uma nova ordem social que é legitimada pelo poder

político14, por sua vez sustentado em princípios fundadores de ideologias que deverão

suportar as mentalidades, ou, em última instância, a cultura15.

O conhecimento tem crescido exponencialmente, mas o forte questionamento a

que tem estado sujeito impõe-lhe graus de exigência. Contudo, é a sociedade que, de um

modo ou outro, vai fazendo inflectir o sentido da sua pertinência. O crescimento e o

desenvolvimento do ser humano é implicado na evolução e tipificação das forças

sociais, tornando-se objecto de estudo de várias áreas do saber, merecendo destaque a

da psicologia.

A aprendizagem como processo confronta-se, naturalmente, com a aprendizagem

como produto. Entretanto, tem-se assistido, nas últimas décadas, à acentuação da

dimensão do processo, e foi precisamente esta dimensão que passou a ter visibilidade

numa determinada perspectiva de currículo, tornando-o um nicho da própria didáctica.

Na noção de desenvolvimento curricular está inserida a noção de didáctica geral, a

14 - Aspectos substantivos que não poderão ser olvidados dentro deste âmbito, tais como: a individualização, a interdependência global, a mobilidade das populações e os consequentes tecidos sociais, o domínio do urbano e o papel dos meios de comunicação. 15 - Entenda-se, aqui, cultura no seu sentido antropológico.

72

preocupação pelos resultados da aprendizagem e o alargamento dos horizontes da

aprendizagem para fora da sala de aula (Machado et al., 1992).

Qual será o paradigma do conceito de currículo que se torna no determinante do

desenvolvimento curricular?

A resposta directa e fechada à questão, talvez esperada, substitui-se por uma

resposta que indicie e motive reflexão e problematização, traduzindo-a, portanto, numa

constelação de elementos que constituem esse paradigma. Tal paradigma emergirá da

resposta às necessidades verificadas, na pessoa (individualmente) e, através da

interacção pessoal, na sociedade. Terá de se traduzir em objectivos, conteúdos,

processos de ensino e aprendizagem e concretizar-se num plano temporizado em função

de diversos factores, designadamente o trabalho efectivo dos alunos que terá de ser um

pressuposto a assumir.

2. Conceito de Desenvolvimento Curricular

A reformulação do sistema educativo, quer no todo quer em qualquer das suas

partes, arrasta sempre a evidências de causa ou efeito no desenvolvimento curricular.

Este axioma suporta a necessidade de clarificação do conceito de Desenvolvimento

Curricular que se afigura no percurso de três passos em cadeia: definição da expressão

que gera a matriz de onde ressaltam o(s) referente(s) para a construção do mesmo

conceito.

2.1. Definição de Desenvolvimento Curricular

A palavra “desenvolvimento” implica mudança, pelo que tem subjacente a ideia

de processo. Sendo um processo no campo do currículo e abrangido pela educação, ele

está sujeito a controlo e todo o processo controlado obriga a tomada de decisões, as

quais implicam escolhas. No desenvolvimento, ao serviço do currículo, a primeira

característica que se lhe atribui é a de enquadramento técnico.

Enquanto o currículo tem conhecido muitas definições, o desenvolvimento

curricular mantém-se fiel a definições que são modeladas pela ideia da integração das

suas fases, pois a sua estrutura é processual. Importará ter em consideração o ‘discurso

curricular’ e a ‘descrição do currículo’. Impõe-se, portanto, clarificar o significado de

“Desenvolvimento Curricular”, para o situar na Ciência da Educação e, através desta, na

Sociedade.

73

Apresentam-se algumas definições mais comuns, seguidas de um comentário

curto.

(1) “Desenvolvimento curricular é basicamente um plano de estruturação do meio

ambiente para coordenar de maneira ordenada os elementos de tempo, espaço, materiais

e equipamento e pessoal” (Feyereisen et al. cit. por Wiles et al., 1998:15); verifica-se,

aqui, uma preocupação sistémica.

(2) “Desenvolvimento curricular é um processo contínuo de estudo e aperfeiçoamento”

(Tanner e Tanner, 1980:682). Nesta definição inclui-se -se a ideia de tornar melhor;

muitas vezes com o sentido de progresso e remodelação.

(3) “Desenvolvimento curricular é o processo para tomar decisões programáticas e para

rever os produtos dessas decisões na base da contínua e subsequente avaliação” Oliva

(1992:160). A acentuação é colocada na função avaliativa, talvez para mudar e, com a

mudança, melhorar.

(4) “Desenvolvimento curricular é um processo lógico que começa com objectivos

claros e procedimentos traduzidos num modo de ‘se-então’, até terminar (Wiles et al.,

1998:3). Há nitidamente o sentido de sequência organizada que se orienta no sentido do

plano. Para estes autores o desenvolvimento curricular é um processo dedutivo.

(5) “Desenvolvimento Curricular consiste em processos vários (técnico, humanístico e

artístico) que permite às escolas e à população escolar realizar certos objectivos

educacionais” (Ornstein e Hunkins, 2004:195). Nota-se a tendência para um certo

ecletismo.

O desenvolvimento curricular poderá ser tomado como um processo dedutivo ou

indutivo, mas é, sempre, abrangente; tanto se serve da teoria do currículo, como a pode

incluir. Nas teorias do currículo estão integradas as teorias da Educação e a filosofia que

suporta o próprio currículo. As teorias do currículo centram-se em questões do

conhecimento e questões de identidade do ser. Na perspectiva estruturalista, as teorias

do currículo envolvem, também, questões de poder, a que geralmente se ligam aspectos

do desenvolvimento curricular. Assim, o desenvolvimento curricular é uma expressão

que terá de ser confrontada com outras, tais como: “teoria curricular”, “desenho

curricular” (“o desenho curricular é, sobretudo, o plano para a organização do currículo”

– Walker, 1990:18) e, ainda, “investigação curricular”. É, de facto, o desenvolvimento

curricular que dinamiza a própria investigação, a propósito de vários elementos,

designadamente daqueles que são contributos novos e consequência da evolução

74

sociológica. Por exemplo, itens culturais, enfatizam a investigação do self e conceitos

do self em relação aos outros.

Desenvolvimento curricular distingue-se da ‘planificação curricular’, na medida

em que a acção de planificar parece conter o sentido estático, enquanto a de desenvolver

incute o sentido dinâmico. Ao planificar o currículo terão de se conjugar os vários

elementos que se consideram como integrantes desse mesmo currículo. (Pratt,1994:v)

afirma que o “termo planificar engloba não só as intenções da instrução mas também, a

avaliação da progressão dos estudantes, os conteúdos e as estratégias de ensino, os

recursos de aprendizagem, o programa de avaliação e a implementação do currículo”.

Entende-se que a implementação do currículo não poderá ser uma integrante do próprio

currículo, mas sim dos elementos processuais catalizadores do seu dinamismo.

“A função do desenvolvimento curricular é investigar, desenhar e fazer a engenharia das

relações do trabalho, dos elementos curriculares que serão empregues durante a fase

instrucional em ordem a atingir os resultados desejados” (Hauenstein, cit. por Wiles et

al., 1998:15).

O desenvolvimento curricular é eminentemente prático. Ao acompanhar, passo a

passo, procedimentos para cada espécie de tarefas, tais como, definição de objectivos,

selecção de manuais e outros materiais, assim como a implementação de inovações

curriculares, exige-se muita atenção aos contextos práticos (Walker, 1990:29). É um

processo que se desenvolve numa sucessão de questões e respectivas respostas pelo que

envolve valores, teorias e praxis. É um processo lógico que começa com objectivos

claros e procedimentos num ‘se-então’ até ao fim. É de natureza dedutiva, resultando

em acções cada vez mais finas para acompanhar a proposta intencional do currículo.

O desenvolvimento curricular começa vulgarmente por um conjunto de questões

que revelam a preferência por determinados valores e, formalizadas essas preferências,

são referidas a filosofias da educação e a teorias de aprendizagem. (Wiles and Bondi,

1998:3).

Para Carrilho Ribeiro (1990:6) o significado de desenvolvimento curricular situa-

se a dois níveis: a nível lato, “Desenvolvimento curricular é um processo dinâmico e

contínuo que engloba diferentes fases, desde a justificação do currículo à sua avaliação

e passando necessariamente pelos momentos de concepção-elaboração e de

implementação” enquanto em sentido restrito, “o desenvolvimento curricular

identificar-se-ia apenas com a construção (isto é, desenvolvimento) do plano curricular,

75

tendo presente o contexto e justificação que o suportam bem como as condições da sua

execução”. O sentido restrito do conceito de desenvolvimento curricular leva à

acentuação da distinção de plano de estudos e de processo de ensino aprendizagem. O

processo de ensino-aprendizagem não pertencerá ao conjunto de elementos

seleccionados para o estudo presente.

2.2. Matriz

O primeiro passo necessário à construção de uma matriz para o desenvolvimento

curricular é clarificar a proposta de currículo. Isto envolve primeiro a identificação da

filosofia que sustenta a proposta e, depois, a dedução apropriada de finalidades e

objectivos. A identificação da filosofia passa pela explicitação de crenças e de valores

em relação ao homem, à sociedade, ao programa educativo, ao estudante, ao ensino e à

aprendizagem.

Os quatro elementos que surgiram no modelo de currículo de Tyler - objectivos,

conteúdos, modos de ensino-aprendizagem e programa de avaliação dos resultados da

aprendizagem - tornaram-se clássicos no desenho do currículo e a sua junção produziu

aquilo que se considera a primeira matriz do desenvolvimento curricular. Se o conceito

de desenvolvimento curricular assenta no pressuposto de que ele é um processo

integrador onde (1) se facilita a análise de uma proposta; (2) se desenha um programa;

(3) se implementa uma série de actividades relatadas e (4) se ajuda na avaliação deste

processo, poder-se-á aceitar que estas dimensões se ligam construindo uma primeira

matriz.

Para Taba (1962:221), “diagnóstico é uma parte essencial do desenvolvimento

curricular” a que faz juntar a “identificação de necessidades”, aspectos que considera

indispensáveis para a matriz norteadora. Surge, assim, uma segunda matriz.

O que é desejado pelo trabalhador de currículo é a correspondência próxima

entre a intenção e o resultado do ensino, que se pode esquematizar com a seguinte

sequência;

intenções → finalidades → objectivos → → centrado → alinhamento → entrega em do ao necessidades currículo estudante.

Esta sequência revela momentos de duas das fases do desenvolvimento curricular.

A clarificação das intenções e a explicitação das finalidades consideram-se dois

76

momentos de grande importância porque deverão constituir os primeiros elos da cadeia

a apresentar. Contudo, deixa-se um comentário, apenas, para os objectivos, a

identificação de necessidades e o ‘alinhamento do currículo’.

1. A formulação de objectivos tem em conta o seu tipo, a sua natureza e o nível a que

são formulados; deverá haver uma relação com as finalidades, no sentido de se

enquadrarem nelas.

2. As necessidades verificadas focalizam os resultados desejados. A dificuldade em

aceder às verdadeiras necessidades dos aprendentes resulta, muitas vezes, num currículo

disfuncional. O inquérito, nesta área, conduz ao ajustamento dos objectivos aos modos

de ensinar e às expectativas da sociedade em relação aos estudantes. Entram, também

no inquérito, aspectos, tais como: informações gerais sobre a escola e o meio

circundante; características da população em geral; características da população da

escola; programas e cursos que são oferecidos na zona; staff profissional; dados para o

plano educativo - padrões e estratégias; dados para planificação do ensino – dados sobre

os estudantes; dados sobre serviços. A identificação das necessidades reais e a proposta

adequada à sua satisfação é de extrema relevância para o bom êxito de todo este

processo.

3. O alinhamento do currículo corresponde ao seu desenho; poderá ser considerado a

sua arquitectura que, eventualmente, terá uma sequência. Importará, aqui, desenhar um

mapa do currículo circunstanciado por matéria, nível, ano e período temporal. Tal mapa

poderá assemelhar-se a um esquema do tipo seguinte:

Inten-

ções

Finali-

dades

Objec-

tivos

Conteú-

dos

Estra-

tégias

Mate-

riais

Capaci-

dades

Apti-

dões

Compe-

tências

(Wiles et al., 1998:77 e seguintes)

O desenvolvimento curricular requer atenção às interacções das matérias que o

constituem e à relevância dessas matérias para a vida do aprendente. (Tanner e Tanner,

1980:56). Identifica-se, entretanto, uma terceira matriz.

“Desenvolvimento Curricular, tal como o desenho de um curso ou de uma

unidade, requer consideração cuidadosa do rationale para o currículo, decisões acerca

77

do que se espera que os estudantes aprendam, atenção aos assuntos da organização e

sequência, determinação das estratégias de ensino e planificação para a avaliação”

(Posner and Rudnisky, 1997:11). Note-se que desta expressão poderá resultar uma

quarta matriz . A qualquer destas matrizes é atribuída ou a característica linear ou a

característica circular. Isto significa que algo de diferente se constata no que respeita à

direcção que imprime à sua dinâmica evolutiva.

O Desenvolvimento Curricular tem-se afirmado como um instrumento de

mudança (Machado et al., 1991) e este sentido de mudança poderá estar subjacente no

tipo de matriz que apresenta. O governo da escola e a sua estrutura administrativa não

são aspectos alheios à eficiência do desenvolvimento curricular; eles poderão ser

responsáveis, ou pelo menos co-responsáveis, pela matriz dominante do

desenvolvimento curricular. É a matriz que indicia o próprio conceito.

2.3. Construindo o conceito

O Desenvolvimento curricular percorre um ciclo de análise, desenho,

implementação e avaliação e os professores, quanto às dimensões do seu trabalho, terão

de considerar o quê, o porquê, o como e o quando. Identifica-se, por vezes, com a

planificação educativa, embora os dois termos não sejam sinónimos; a planificação terá

uma relação estreita com o currículo mas não representa, de modo algum, uma

sinonímia. O currículo poderá inter-relacionar-se com a planificação.

Quais são os fundamentos do desenvolvimento curricular? Os fundamentos

ajudam a determinar e a especificar os níveis de intervenção e de decisão no caminho do

currículo. Reconhecem-se vulgarmente, em três planos: macro, meso ou micro.

Para Slattery (1995:25) “o desenvolvimento curricular no período da pós-

modernidade reconhece a necessidade de incorporar uma nova consciência que

transcende as categorias modernas da metafísica, epistemologia e axiologia. A

reconceptualização desta tríade filosófica deve emergir de modo a integrar existência,

conhecimento e ética no contexto de uma pós-moderna transformação política, cultural

e social”. A época actual promove mais sistemas ecléticos do que integradores, na

pretensão de contrapor os textos representativos aos normativos. A proposta de

Kincheloe (1993)16 para o desenvolvimento curricular pós-moderno inclui os conceitos

16 - cit. por Pattrick Slattery (1995:26). Curriculum Development in the postmodern area, New York, Garland Publishing, Inc.

78

seguintes: relações entre coisas ostensivamente diferentes, o que designa por: cognição

metafórica; coerção ente lógica e emoção alargando as fronteiras da imaginação;

assunção dos factos como partes de um processo mais largo de conexão da mente

holográfica com a realidade holográfica; percepção de diferentes grelhas de referência

em ordem a desenvolver o poder cognitivo da empatia; esperança por um lugar

particular e contexto do acontecimento (evento) educativo; compreensão da interacção

entre o particular e geral; transcendência de noções simplistas de causa-efeito, visando a

criação do holismo não-linear; visão do mundo como um texto a ser interpretado mais

do que explicado; descoberta de vários níveis de conexão entre a mente e o ecossistema

e conhecimento de padrões mais largos das forças da vida para a conexão significativa

entre causalidade e eventos não conectados.

Regista-se a mudança na abordagem: o desenvolvimento curricular deixa de ser

um quadro linear de eventos para o tornar numa interpretação revista, pois o

conhecimento será compreendido como reflexo (reflectindo) de interesses humanos,

valores e acções que são socialmente construídos. O desenvolvimento curricular na era

pós-moderna porá em causa este conceito de tempo e progresso científico linear,

substituindo-o pelo princípio das conexões; princípio que, aliás, se vai afirmando como

central no desenvolvimento curricular da era pós-moderna. O currículo numa concepção

pós-moderna, segundo Caine e Caine (cit. Slattery:1995:49), abraça complexidade,

tolerância à ambiguidade, aceitação da incerteza e avaliação autêntica e situada.

“Modelos tradicionais de desenvolvimento curricular que se focalizam exclusivamente

no incremento de guias de currículo, expansão de laboratórios de tecnologia, elevação

de standards, revisão de manuais e aperfeiçoamento de procedimentos de avaliação

ignoram as crises éticas, ecológicas, sociológicas e económicas que afligem (combatem)

a sociedade presente (Slattery, 1995:67).

O desenvolvimento curricular é, muitas vezes, a resultante de princípios

enquadradores de matrizes diferentes, entre os quais se destacam: (1) a hermenêutica

(como a arte da interpretação); (2) o género e a etnicidade num meio multicultutal; (3) a

compreensão (ou integração) reflexiva; (4) a visão holística do currículo; (5) a

interdependência e (6) a sustentabilidade ecológica. Nesta perspectiva, o equilíbrio

económico, ecológico, ambiental, ético e educacional é posto em questão pelo que o

desenvolvimento curricular terá de assumir, sempre um rationale, o que implica um

tratamento minucioso de diferentes aspectos que suportam o desenho de nível de ensino,

de um curso, ou de uma unidade curricular seja ela de que natureza for.

79

Taba (1962:6-7) afirmara que “O desenvolvimento curricular é um complexo

empreendimento que envolve decisões de muitas espécies (...); todas as decisões têm de

ser tomadas competentemente, numa base válida e reconhecida e com algum grau de

consistência ”. Estas múltiplas e complexas decisões chegam de diferentes segmentos da

organização educacional. O “desenvolvimento curricular científico necessita de

desenhar sobre a análise da sociedade e cultura, estudos do aprendente e do processo de

aprendizagem, e análise da natureza do conhecimento em ordem a determinar a

proposta da escola e a natureza do seu currículo. Envolver uma teoria do

desenvolvimento curricular e um método de pensar acerca dela necessita de seleccionar

as questões e as exigências da cultura e da sociedade, tanto para o presente como para o

futuro” (Taba, 1962:10). Informações acerca do processo de aprendizagem e da

natureza dos aprendentes oferece um conjunto de critérios para o desenvolvimento

curricular.

Todo o professor está ligado ao desenvolvimento curricular, no qual desempenha

papel importante, sendo esse papel fundamental relativamente ao que está a ser

ensinado e ao como é ensinado. O desenvolvimento curricular tem implicações fortes na

formação de qualquer professor e/ou formador, projectando-se no seu profissionalismo.

No campo do desenvolvimento curricular, o professor pode intervir a um dos três níveis

que Tanner e Tanner apresentam e designam por: (1) nível imitativo- manutenção; (2)

nível mediativo e (3) nível generativo-criativo (1980:636). Este último nível implica

que o professor seja, ao mesmo tempo, um investigador. A matriz do desenvolvimento

curricular fica condicionada à definição do currículo e ao seu enquadramento como

plano ou como projecto e, ainda, à conjugação dos seus diferentes elementos, numa

relação com os factores gerais de enquadramento.

3. Âmbito do Desenvolvimento Curricular

O currículo, como a substância do Desenvolvimento Curricular, determina-lhe a

sua complexidade. E, ao construir o seu espaço, o Desenvolvimento Curricular tem-se

cruzado, epistemologicamente, com outros saberes centrados no mesmo campo de

estudos – o do currículo - mas tem, em relação a eles, uma matriz diferente. O conceito

do currículo, como guia de aprendizagem, faz com que o processo de ensino-

aprendizagem o integre, passando, portanto, a ser uma componente do desenvolvimento

curricular.

80

O conjunto de elementos que constituem o currículo podem ser em maior ou

menor número de acordo com o seu conceito, reflectindo-se (ou projectando-se) no

desenvolvimento curricular e determinando, naturalmente, o âmbito deste. Aos quatro

elementos clássicos - o plano de estudos, os objectivos, os conteúdos e os materiais para

a aprendizagem - acrescentou-se, ultimamente, o processo de aprendizagem. O currículo

em processo determina os elementos que assume e são eles que vão constituir e

delimitar o âmbito do desenvolvimento curricular. Poderemos considerar alguns

exemplos.

O desenvolvimento curricular, naturalmente centrado no currículo e na assunção

da ideia de processo que o caracteriza, assume três fases: a da concepção, a da

implementação e a da avaliação (uma das mais importantes – ou mesmo central – pois a

função da avaliação é validar as hipóteses em que se baseia o currículo - Taba,

1962:314). Cada uma destas fases pode ser perspectivada seguindo modelos diferentes,

pelo que qualquer delas é determinada, não só pelo conceito de currículo subjacente mas

também pelo modelo de currículo que as sustenta. As matérias e os seus conteúdos

programáticos são o foco determinante do currículo; logo, as principais tarefas no seu

desenvolvimento serão: (1) a identificação dos objectivos fundamentais, (2) a selecção

de actividades e de materiais de instrução, (3) a descoberta da organização mais

eficiente e (4) o momento do ensino. Está-se perante a selecção de objectivos,

conteúdos e métodos, na preocupação de estabelecer, entre eles uma relação triangular

de inteira interdependência. Nos anos 40 do século XX, o lema que se constituiu como

uma força marcante nas sociedades mais desenvolvidas – “inventa, organiza e

apresenta” terá influenciado Ralph Tyler a afirmar que o currículo se desenvolve na

medida que responde de forma sequente e encadeada a quatro questões; (1) “qual é a

proposta educativa que a escola pretende atingir?” (2) quais são as experiências

educativas que a escola deve providenciar para atingir tal proposta? (3) como podem

essas experiências ser efectivamente organizadas?; (4) como podemos determinar se

essas propostas foram atingidas? O rationale de Tyler tem sido descrito como um

modelo linear para a planificação do currículo, integrando quatro elementos: (1)

objectivos, (2) actividades, (3) organização das actividades e (4) avaliação. Tyler propôs

que os objectivos fossem seleccionados nos campos filosófico e psicológico. São os

objectivos que se tornam na base de selecção das actividades, muitas vezes designadas

por experiências dos alunos. As actividades têm de ser organizadas sequencialmente e

estarem inter-relacionadas. A avaliação deve ser usada para determinar se os objectivos

81

foram de facto atingidos. Este modelo linear poderá ser transformado num modelo

circular, tendo em conta que o resultado da avaliação se projecta na revisão dos

objectivos. Mais, este modelo teve algumas alterações com a experiência, ao longo dos

anos. Assim, na sua linearidade, surge estruturado em seis etapas: (1) identificação de

necessidades, tendo em conta o desenvolvimento social ou pessoal; (2) formulação

sucinta e clara dos objectivos que o desenho curricular deverá servir - cada objectivo

deverá ter, pelo menos, duas partes maiores: uma indicação do que deve ser dado e uma

indicação de como deve ser dado; (3) decisão quanto aos conteúdos que deverão ser

usados neste desenho; dizer então como o conteúdo deverá ser organizado para o ensino

e a aprendizagem; (4) exemplificação de experiências de aprendizagem que os alunos

terão – pensadas muitas vezes a partir das actividades – usando os conteúdos; (5)

deliberação do que será objecto de avaliação de acordo com os objectivos enunciados e

do modo como será feita a avaliação; (6) implicação dos outros – dentro e fora da escola

- da experimentação do desenho traçado.

Taba (1962:12) apresentou um modelo em sete passos: (1) diagnóstico de

necessidades; (2) formulação de objectivos; (3) selecção dos conteúdos; (4) organização

dos conteúdos; (5) selecção das experiências de aprendizagem; (6) organização das

experiências de aprendizagem e (7) determinação do que é avaliado e do seu

significado.

Para Kathrin Feyereisen et al.(1970)17, o desenvolvimento curricular é visto como

um problema com solução por actos em cadeia, traduzidos nos passos seguintes: (1)

identificação do problema; (2) diagnóstico do problema; (3) procura de soluções

alternativas; (4) escolha da melhor solução; (5) ratificação da solução pela organização;

(6) autorização da solução; (7) uso da solução numa base experimental; (8) preparação

da adopção da solução; (9) adopção da solução; (10) direcção e orientação (preparação)

do staff; (11) avaliação da eficácia.

As diferenças que marcam os três modelos descritos traduzem-se em aspectos

distintivos (ou separadores) quanto à abrangência do desenvolvimento curricular.

Depois, o âmbito esclarece-se e projecta-se nos limites que são traçados para cada uma

das três fases em que se desenvolve o currículo e já atrás referidas - a concepção, a

17 - cit. por Wiles and Bondi, 1998:15.

82

implementação e a avaliação – ficando a da implementação condicionada por eventual

projecto, a construir.

4. Princípios orientadores do Desenvolvimento Curricular

Por definição, o desenvolvimento curricular gera uma situação de cadeia ao

traçar a sua linha progressiva. Contudo, esta linha é muitas vezes contrariada pela linha

de tendência oposta - a de regressão – devido a quebra ou deformação dos elos da

cadeia. Contrariam-se, assim, intenções, fundamentos, finalidades e objectivos que

pareciam adequados, provocando a sua inadequação, e gerando, por isso, sentimentos de

insatisfação e inconformidade. É frequente apontar como uma das principais razões para

tais inviabilizações, inversões ou, apenas, distorções a ausência da explicitação de

princípios que orientem o processo. Mas, os princípios não só têm uma função e se

explicitam em características como ainda ocupam um lugar na referida cadeia. Mais

uma vez se recorda que o desenvolvimento curricular é refém das várias decisões que se

tomam frente ao currículo. De facto, o currículo em processo (ou em acção) transforma-

se no desenvolvimento curricular: os princípios que orientam um terão de,

forçosamente, ter implicações no outro.

Importará considerar que o enunciado de princípios se pode confundir com o de

objectivos quando se está perante o conceito mais restrito de currículo, implicando o

enfoque do desenvolvimento curricular, no seu âmbito mais estreito. Assim, os

princípios, numa lógica dedutiva, terão de decorrer dos fundamentos, conferindo-lhe

dinamismo. Os fundamentos são os pilares do edifício que é o currículo, cujas traves

mestras poderemos designar por vectores e cada vector dará origem a um feixe de

princípios. Deste modo, organiza-se este tema em quatro alíneas: na primeira alínea

apresentam-se os grandes vectores de qualquer currículo, na tentativa de analisar o

modo como se projectam no desenvolvimento curricular; na segunda alínea, desdobram-

se os vectores em princípios para, na terceira alínea, se abordarem, de forma sucinta,

alguns modelos de desenvolvimento curricular e por último, se identificarem os

princípios maiores responsáveis pela orientação do desenvolvimento curricular.

4.1. Vectores do currículo

O currículo, seja qual for o referente que consubstancia o seu conceito, é

suportado pela determinação, análise e reflexão de factores estruturantes, designados

muitas vezes como fundamentos e que, ao disporem-se em matrizes dinâmicas, são

83

apelidados de vectores. O vector aponta num sentido, isto é, perspectiva um caminho;

tornando-se em factor de estreitamento desse caminho, determina-o, mas não o fecha.

Na sua generalidade, um vector é um indicador pelo que, ao traduzir um

significado, necessita de o graduar segundo a sua incidência. O currículo apresenta-se,

vulgarmente, suportado por três vectores de formação: o da selectividade, o da

homogeneidade e o da funcionalidade18. Qualquer destes vectores alarga ou restringe o

seu significado, consoante a natureza e o âmbito do currículo que serve. Apresentam-se,

a seguir e apenas com breve referência, cada um destes vectores.

(1) O vector da selectividade explicita as condições postas ao acesso, assim como as que

são implicadas no sucesso de qualquer aprendizagem organizada. Poderá oscilar,

gradativamente, entre um currículo muito selectivo ou nada selectivo, passando por

posições intermédias. O acesso explicita o seu grau selectivo nas condições que

determina para a entrada num curso ou num nível de ensino; enquanto no sucesso a

selecção é marcada pelo modo organizativo do currículo e pelos níveis de exigência

aplicados.

(2) O vector da homogeneidade terá de ser analisado na relação com a heterogeneidade,

funcionando ambos numa inter-relação que é traduzida pela mútua exclusão; isto é, o

espaço conquistado por um é perdido pelo outro. Este vector traduz-se vulgarmente pela

unidade versus diversidade da oferta. Poder-se-á afirmar que se desenvolve entre uma

oferta marcada totalmente pela similaridade da formação e uma oferta dominada pela

total diversificação da formação. Vários pontos intermédios se encontram entre os dois

termos referidos.

(3) O vector da funcionalidade implica a razão de ser do curso. E tenta responder a

questões como por exemplo: para que serve? a que se destina? que utilidade tem? que

dimensão formativa abrange? que resultados educativos prevê?

Para responder a algumas destas questões, convirá ter presente as dimensões de

desenvolvimento do ser humano que se têm tornado nos princípios norteadores da

educação: dimensão intelectual, dimensão social, dimensão pessoal e dimensão

produtiva ou vocacional, cujas ideias fundadoras se encontram em matrizes ideológicas

e sociológicas, quadros de orientação político-económica, paradigmas culturais e

18 D’Hainaut (1981) cit. por Gaspar, M. Ivone (1996). Ensino Secundário em Portugal - que currículo?, Lisboa, ME/IIE.

84

paradigmas educativos, podendo, estes últimos, estar suportados em teorias de

aprendizagem.

4.2. Dos vectores aos princípios

Em cada um dos vectores referidos atrás pode encontrar-se um conjunto de

princípios, cujo enunciado é feito por uma palavra que traduz uma das muitas

características que constituem a matriz referencial do currículo. Neste campo,

identificam-se, com frequência, dez palavras: abrangência, articulação, consistência,

continuidade, equilíbrio, extensão, integração, relevância, sequência, transferibilidade.

Elas pertencem a categorias diferentes mas todas são utilizadas para designar princípios

referenciadores do currículo. Do desdobrar de cada uma delas surtirá a linha de

orientação. Aceitando que estas palavras constituem um curto léxico na matéria em

análise, indica-se, em sumário curto, o significado de cada uma:

(i) Abrangência identifica a amplitude, o que inclui, o que integra, o que

envolve; (= scope). Deverá responder às questões: qual é a quantidade de

conhecimento e/ou de saberes que deve ser providenciada pela escola? em

que competências vertem esses conhecimentos?

(ii) Articulação significa ligação no sentido de unir e de manifestar as relações

entre partes. Percebe-se nas respostas às perguntas: qual é a linha unificadora

da proposta curricular? Como se ligam os diferentes itens da mesma

proposta?

(iii) Consistência traduz a solidez, evidencia-se pela estabilidade da base em que

assenta; dá o sentido de durabilidade e de coesão. Revela-se nas respostas às

questões do tipo: o que está na base disto? o que suporta a proposta? que

fundamentos a tecem?

(iv) Continuidade mostra se existe seguimento sem interrupções, lacunas, vazios

ou hiatos significativos; poderá não implicar a extensão. Tem como questões

referenciais: como se sucedem os diferentes itens? assegura-se a sucessão de

uns aspectos nos outros?

(v) Equilíbrio dá o sentido de proporção, visando a harmonia entre as partes que

são vulgarmente designadas pelas componentes do currículo ou os

segmentos. O equilíbrio contraria forças de predominância não controladas

ou não explícitas. As questões que centralizam as respostas necessárias

85

serão: que relação se estabelece entre as partes? que espaço se dá às

diferentes partes?

(vi) Extensão significa dimensão, alcance, vastidão, traduz quantidade que

poderá fixar-se em conteúdo programático, medido por horas lectivas ou por

horas de trabalho, que implica estudo, pesquisa, ensaios, relatórios, etc. As

questões predominantes serão: o que se pretende medir? qual é a medida

padrão a utilizar?

(vii) Integração corresponde ao fazer parte de; atira para a existência de um todo e

identifica a parte em relação ao todo ao qual pertence; clarifica o sentido de

pertença a ou de não pertença a. Exige como grandes questões: é o mesmo

currículo para todos? ou reconhece-se a diferença dos destinatários o que

implica uma oferta curricular diversificada ? de que consta esse “mesmo

currículo”? e o que faz a diferença?

(viii) Relevância marca a distinção de algo. É a importância em relação a algo.

Revela a qualidade que faz sobressair uma coisa pelo interesse que suscita

e/ou pela conveniência que supõe. A relevância terá de ser contextualizada

relativamente ao tempo e ao espaço. Responde a perguntas, do tipo: que

importância tem para sociedade portuguesa actual? que contributo dá ao

desenvolvimento pessoal dos jovens da faixa etária x ou y?

(ix) Sequência manifesta-se pelo efeito do seguimento que visa assumir uma

ordem ou sucessão; manifesta-se numa arrumação determinada. As questões

principais serão: qual a relação que se estabelece ou qual a relação que se

verifica entre o “antes” e o “depois”? por uma das etapas enunciadas poderá

deduzir-se a outra a seguir?

(x) Transferibilidade implica mudança, troca, passagem; deslocação de

conhecimentos, de competências, de componentes, de conteúdos e, em

particular, de áreas do saber, de cursos, no todo ou por segmentos.

Responderá a questões como, por exemplo: é possível mudar de curso? Em

que momento do percurso do curso? quais são as condições exigidas para a

mudança? O saber adquirido no curso x posso transferi-lo para o curso y?

Sob que condições?

Repare-se que a maioria destes princípios poderá ser assumida por qualquer dos

vectores mas encerram uma orientação diferente de acordo com o vector ao qual se

86

prendem. Todos eles estão ligados à matriz do currículo como plano e podem tornar-se

em linhas de construção do currículo e de orientação do desenvolvimento curricular.

Perante uma outra matriz de currículo, que conduz ao “currículo como projecto”,

poderiam enquadrar-se, apenas, três princípios orientadores: ecletismo, reflexividade e

questionamento.

As decisões na área do desenvolvimento curricular necessitam de ser suportadas

por conhecimento e experiência, aspectos que permitam construir uma base de validade

em relação a algo expresso, de modo a tornar claro o grau da sua consistência. Acontece

que tais decisões são tomadas em níveis diferentes, para diferentes passos, ou seja, em

diferentes momentos do processo e, também, a responsabilidade das mesmas decisões é,

muitas vezes, assumida por estruturas diferentes, Assim torna-se imperativo que a

decisão seja articulada quanto à forma e consistente em relação ao conteúdo.

Se o conceito de currículo determina o desenvolvimento curricular, também os

princípios orientadores do currículo se projectam no modo como o currículo se

desenvolve, isto é no próprio desenvolvimento curricular.

4.3. Modelos de desenvolvimento curricular

O desenvolvimento curricular, tomado no conjunto das três fases que o integram,

apresenta-se segundo modelos que se pautam por características diferentes. Essas

características são geralmente assumidas na fase da ‘implementação’ ou

‘operacionalização’. Merecem destaque quatro desses modelos: o administrativo, o

demonstrativo, o da acção-investigação e o de emergência.

(i) O modelo administrativo tem a sua principal referência num elevado nível

de participação da administração que é a entidade reguladora. Apropria-se da

sua planificação e programação, pelo que deverá considerar as diferentes

variáveis que intervêm no currículo, intervindo fortemente em todas elas.

Implica controlo, impõe liderança que se pretende forte mas que, por vezes,

se esbate devido às quebras na continuidade da administração e consequentes

alterações nas orientações políticas.

(ii) O modelo demonstrativo poderá apresentar-se em dois formatos: a título de

aplicação experimental de projectos curriculares ou para ensaio de currículos

alternativos. Deverá ter uma expressão localizada: determinada a um espaço

e sob determinadas condições.

87

(iii) O modelo de acção-investigação é de natureza sistemática; parte da

assunção de que a mudança do currículo é uma mudança social e é tomado

como “um processo (que) envolve pais, estudantes e professores, a estrutura

do sistema escolar e os padrões das relações pessoais e de grupo entre

membros da escola e da comunidade” (Smith, Stanley, and Shores,

1957:438)19 . Poderá desenvolver-se com a identificação de problemas e

consequente procura da sua solução. Neste sentido, terá de ter

implementação localizada; a solução é cíclica e condicionada, no espaço, no

tempo e no conteúdo.

(iv) O modelo de emergência assume-se como de “emergência técnica”; ou seja,

é um modelo com predominância científica e técnica e que visa a eficiência

da gestão Kirst e Walker (1971:486)20. Identificaram três modelos de

emergência: modelo de análise comportamental (ou behaviourista) - tudo é

programado passo a passo, numa sequência da complexidade hierarquizada,

relevando os objectivos e a sua consecução em termos de produto a atingir;

modelo de análise de sistemas que especifica, à partida, todos os passos a

percorrer no sentido dos resultados desejados para os alunos - procura

estabelecer uma relação fina entre escola e empresa e o modelo baseado no

computador que tem em consideração a quantidade e a qualidade de

informação que pode ser recolhida, pelo que implica a oportunidade e a

adequação do seu tratamento; diversifica meios e materiais para a

aprendizagem.

4.4. Princípios orientadores do Desenvolvimento Curricular

A teoria do desenvolvimento curricular poderá ser fundamental para impedir

decisões quanto a processos que possam, apenas, situar-se no campo do poder político.

Tendo presente que a característica fundadora do desenvolvimento curricular é o

dinamismo, pois ele tem como primeiro elemento definidor “processo”, a sua acção

desenvolve-se num campo multifacetado pela filosofia, política, economia, ética,

epistemologia e psicologia. Centrado naturalmente no currículo, não está vulgarmente

19 - cit. Robert S. Zais, 1976(463-464). Curriculum: principles and foundations, New York, Harper Collins Publishers. 20 - cit. Robert S. Zais, 1976(467-468). Curriculum: principles and foundations, New York, Harper Collins Publishers.

88

sujeito à unidade de posições quanto a decisões em relação a formas de implementação

ou à unidade de interpretações quanto a processos aplicados.

Os princípios orientadores do desenvolvimento curricular poderão revelar-se de

natureza distinta, tendo em conta a entidade vinculadora do currículo e responsável pela

sua regulação, o decisor político, o círculo da investigação, o estabelecimento de ensino

ou o professor. Numa outra perspectiva, os princípios eclético, reflexivo e de

questionamento são tomados como as grandes orientações do desenvolvimento

curricular. Schwab refere a prescrição eclética no desenvolvimento curricular, a fim de

permitir a coerência através da acomodação dos diferentes modelos de currículo e da

utilização das fontes inspiradoras. Esta aproximação de Schwab não poderá ser um

paradigma no campo do currículo. Um paradigma21 de currículo poderá ser, por

exemplo, o rationale de Tyler. Este rationale transformou-se numa autêntica linha

orientadora.

Uma outra linha orientadora parte da grande máxima de competency-based

education (a educação por competências).

Uma terceira linha orientadora apontada para este domínio é a do

“experimentalismo” que decorre de um dos paradigmas da acção curricular.

A negociação, a colaboração e a reciprocidade poderão ser outras linhas que,

naturalmente, decorrem de uma matriz diferente do desenvolvimento curricular.

A orientação prende-se ou é a base da direcção. A direcção, em educação, é um

dos problemas centrais para a definição e delimitação não só dos princípios orientadores

como também das principais linhas de força do currículo e do desenvolvimento

curricular.

O desenvolvimento curricular importa para o seu próprio campo não só os

vectores determinantes do currículo como os princípios que dele decorrem e já referidos

atrás. Um conjunto de grandes princípios do desenvolvimento curricular são aglutinados

às suas fases e explicitados na margem de centralização/descentralização, nos modos de

estruturação, nas decisões quanto à experimentação, e na capacidade de flexibilização.

21 - Kuhn definiu paradigma como uma constelação de crenças, valores, técnicas partilhadas por uma dada comunidade científica.

89

Síntese

O desenvolvimento curricular é um saber que emergiu do campo do currículo e

corresponde ao currículo em acção. “A substância, metodologia e avaliação do ensino

só podem ser compreendidos ou racionalizados pelas finalidades e objectivos do

currículo” (Wiles et al. 1998:109). O conceito de currículo determina o referente de

Desenvolvimento Curricular. Quando o conceito de currículo inclui como destinatários

únicos ‘crianças e jovens’ e se fixa ou liga a um espaço ‘a escola’, há nitidamente uma

limitação ao currículo formal e, muitas vezes, apenas a alguns níveis do Sistema

Educativo (àqueles a que se vincula a escola no seu sentido mais tradicional, ficando

restrita aos niveis não superiores). O desenvolvimento curricular, ao prender-se a uma

definição de currículo, desdobra os princípios que orientam o currículo e serve-se deles.

No entanto, o desenvolvimento curricular, sendo sempre um processo, assume

características totalmente diferentes, caso se aplique ao currículo formal ou ao currículo

não formal, assim como ele pode actuar em âmbitos distintos, que se prendem com os

vínculos aos níveis de decisão e de intervenção que vão do nível macro ao nível micro.

Sempre que há aprendizagem intencionada ela é organizada e, assim, o

Desenvolvimento Curricular está presente em qualquer momento do sistema educativo,

tanto formal como não formal. Ele tem igualmente existência em qualquer

aprendizagem minimamente organizada.

O Desenvolvimento Curricular clarifica a função da escola; dá unidade à escola;

fundamenta a função do professor e predispõe a aprendizagem.

A eficácia do desenvolvimento curricular assenta, entre outros, em dois axiomas,

que têm por determinante o currículo e que se discriminam em: (1) o currículo só pode

ser sucessivamente implementado se os professores tiverem sido intimamente

envolvidos no seu processo de construção e desenvolvimento; (2) não só os professores

como também pais, estudantes e outros membros da comunidade deverão estar

envolvidos (incluídos) no processo de planificação do currículo.

90

BIBLIOGRAFIA

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Bruner, Jerome S. (1966). Toward a Theory of Instruction, Cambridge - Harvard University Press.

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91

Anexo 4

TEXTO DE APOIO À UNIDADE TEMÁTICA 2

92

MARIA DO CÉU ROLDÃO & Maria Ivone Gaspar

FASES E NÍVEIS DO

DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

Lisboa/ 2005

93

Introdução

O desenvolvimento curricular é um processo de construção de currículo, que sustenta

quer a concepção de qualquer processo de aprendizagem, quer a sua

operacionalização/concretização. Por outro lado tal processo, para ser eficaz, requer a

activação de procedimentos de regulação nos diversos momentos do processo – avaliação.

Admite assim vários níveis de operacionalização – macro, meso, micro - que se articulam

entre si no quadro de um sistema de ensino organizado. Articula-se, ainda, com o conceito de

competência que orienta as aprendizagens para o seu uso e mobilização.

Neste capítulo, procura-se caracterizar a natureza e desenvolvimento das diferentes

fases deste processo e a sua articulação conceptual enquanto linha condutora de uma

acção/concepção orientada e regulada para a consecução estratégica das aprendizagens

pretendidas. Desenhar-se-ão os níveis de decisão e acção curricular em que o

desenvolvimento curricular opera e analisar-se-ão as relações deste desenvolvimento com os

conceitos nucleares de ensino e de competência, clarificando diferentes conceptualizações

teóricas que os enquadram.

1. Fases do desenvolvimento curricular

A abordagem que apresentamos assenta no pressuposto de que qualquer postura

teórica relativamente ao currículo – nomeadamente a adopção de uma racionalidade

prático-crítica como aquela em que nos situamos - não exclui, antes requer, a

operacionalização necessariamente técnico-didáctica que, em qualquer circunstância, dá

corpo e existência à prática curricular em situação. Nessa perspectiva, socorremo-nos

dos passos clássicos do desenvolvimento curricular, tal como autores associados a uma

orientação teórica baseada na racionalidade técnica, como Ralph Tyler (1949) e Hilda

Taba (1962), o operacionalizaram. É a lógica com que se organiza o uso e a finalização

deste esquema de operacionalização do desenvolvimento curricular que constrói as

marcas da racionalidade utilizada e não o contrário22. Adoptamos assim aquilo que

94

designamos por “dispositivo comum” para nos referirmos às fases do desenvolvimento

curricular que a seguir se sistematizam.

O “dispositivo comum”do desenvolvimento curricular

Na perspectiva que acima se explicitou, o desenvolvimento curricular integra

sempre três fases:

- concepção do currículo;

- operacionalização/implementação do currículo;

- avaliação do currículo.

Na sua fase de concepção, integra-se a análise da situação a que o currículo a

construir se destina, o estabelecimento articulado de objectivos e conteúdos e a sua

orientação para competências a desenvolver através deles.

Na fase de implementação/operacionalização, definem-se as estratégias de acção

docente que correspondem à construção de situações de aprendizagem pensadas em

função dos alunos, e prevê-se o modo de avaliar se os objectivos de aprendizagem

visados foram atingidos.

Por fim, a fase de avaliação do currículo pressupõe, para além da análise dos

resultados da avaliação da aprendizagem obtidos na fase anterior, um processo de

reapreciação/questionamento de todo o caminho percorrido, interrogando a pertinência e

correcção do desenvolvimento de cada fase, no sentido de identificar e retomar os

aspectos que tenham contribuído para a não consecução da aprendizagem pretendida:

foi a análise de situação a mais correcta? Em que medida objectivos e conteúdos se lhe

ajustaram e tiveram em conta a situação real dos alunos? Houve alterações que não se

tomaram em conta? De que modo foram as estratégias, ou não, adequadas aos

objectivos e competências visadas? Os instrumentos e actividades avaliativas

corresponderam às finalidades e às estratégias trabalhadas?

Tal avaliação não se esgota numa função remedial, mas pressupõe que também

as situações bem sucedidas devem ser desmontadas criticamente para identificar, situar

e analisar os factores de sucesso e adequação, no sentido de os rentabilizar em situações

futuras.

Este dispositivo, originário das visões mais técnicas do currículo, pode todavia

constituir-se também na estrutura-base de um projecto de trabalho de matriz

construtivista. As mesmas questões e as mesmas fases têm de ser percorridas, mas com

lógicas diversas. A diferença essencial reside em que, olhando o currículo como um

95

plano a cumprir (racionalidade técnica) toda a concepção é prévia e desligada da

implementação e avaliação. Estas só ocorrem após a concepção e não a colocam em

causa, apenas procuram melhorar a sua eficácia. Pelo contrário, se se adoptar uma

lógica construtivista e se pretender construir o currículo como um projecto participado,

situado e analítico, a concepção tem em conta a realidade e os actores concretos, que

participam nela. O processo de definição de objectivos e estratégias é contextualizado e

situado numa realidade que lhe dá origem, interage com a concepção inicial, podendo e

devendo introduzir-lhe mudanças e ajustamentos face à realidade dos aprendentes e

tendo em conta a sua transformação ao longo do processo. A avaliação, nesta lógica

muito mais permanente, implica, por sua vez, o ajustamento constante de procedimentos

e a reconceptualização das finalidades visadas.

O conceito central, estruturador de um processo de desenvolvimento curricular,

é assim a sua orientação estratégica, isto é, a organização de um percurso de ensino e

aprendizagem, orientado por finalidades curriculares claras, que seja pensado como o

mais adequado à população de alunos em causa, de modo a que efectivamente se

apropriem dos saberes e se tornem competentes nas diferentes áreas curriculares. Tal

conceito de orientação estratégica pressupõe assim um processo de auto e inter-

regulação permanentes que viabilizem o sucesso pretendido.

É do desenvolvimento de cada uma destas fases do desenvolvimento curricular

que se ocupam as secções seguintes.

1.1. Concepção do currículo

a) Análise de situação

O processo de desenvolvimento curricular parte sempre de uma análise da

situação, ou diagnóstico que, segundo Zabalza (1992), ao raciocinarmos no plano macro

das decisões (um currículo para um país), pressupõe a prévia avaliação de necessidades

de formação da sociedade em causa. A montante desta análise, importa sempre situar

assim o currículo que se pretende desenvolver (construir/operacionalizar/reconstruir) no

contexto social e cultural em que se insere, tendo em conta o sentido, intencionalidade e

função de cada segmento do sistema com que se trabalha e seu lugar no sistema

curricular global.

Nos planos meso e micro, que aqui são os mais relevantes e os que permitirão a

contextualização do trabalho curricular da escola e dos professores, a análise de situação

96

pressupõe um conhecimento prévio e analítico sobre a escola e os alunos e seus

contextos (ou equivalente, se nos reportarmos a situações de aprendizagem organizada

não escolar) e o levantamento e interpretação dos dados respectivos. As áreas sobre as

quais esse questionamento incide tomam como referente a busca de uma a melhor

compreensão da situação em que se vai agir e incluem conhecimento sobre os alunos, o

seu meio familiar, social e cultural, a escola e o meio em que esta se situa.

Na prática corrente das escolas, nomeadamente ao realizarem os seus projectos

de escola, ou dos professores, ao conceberem os seus projectos de turma e as suas

planificações, a análise de situação é uma prática de registo relativamente generalizada.

Contudo, nem sempre ela cumpre a finalidade acima explicitada – obter conhecimento

que permita fundamentar e adequar a acção de ensino. A chamada “Análise de situação”

é muitas vezes vista como uma rotina meramente informativa, caracterizada pela

acumulação por vezes exaustiva de dados, cujo uso é escasso, embora a informação

recolhida por vezes seja muita, ocupando volumosos arquivadores. De facto, o que é

preciso saber, e para quê, sobre cada um destes vastos campos a que a análise da

situação se reporta?

Sobre os alunos, o conhecimento pode dizer respeito ao seu percurso escolar

anterior, às áreas de vantagem e de alguma eventual dificuldade no currículo, à sua

inserção familiar e social, ao nível económico, ao ambiente relacional em que vive, às

condições concretas do seu quotidiano face às exigências do trabalho escolar. Mas de

todos estes aspectos o importante é (1) analisá-los e não catalogá-los (Perrenoud, 1997;

Giméno Sacristán, 1994), e (2) identificar as implicações desses dados para a prática

curricular dos professores e da escola. Assim, importa conhecer o percurso do aluno,

mas não como um dado em si - antes como um descritor que se procura interpretar, de

que se pesquisam as causas ou factores: que tipo de ensino teve um aluno que

“manifesta” dificuldades em Matemática? Em que se traduzem? Onde pode estar a raíz

das alegadas dificuldades? Existe algum aspecto da história escolar que deva ser tido em

conta? E o mesmo critério se aplica a todos os outros aspectos relativos a este item de

análise - alunos.

Assinala-se o risco de converter esta análise em meras afirmações opinativas, de

senso comum e de escassa utilidade, ou até geradoras de obstáculos ao progresso da

aprendizagem do aluno. Não são, por exemplo, analíticas – nem minimamente úteis – as

descrições que repousam sobre características supostamente descritivas da

personalidade ou comportamento, tais como “são alunos distraídos ou desmotivados”. A

97

que se refere tal afirmação? A características inatas e do foro neurológico? Raramente.

Então face a quê se manifestam esses descritores, dados como taxativos e imputados ao

aluno? Face a que tarefas que são apresentadas se manifestam distraídos? Se forem

outras, apelando a outras operações mentais, ou se o aluno for observado noutro

contexto, continuará desconcentrado e desmotivado? Ou muda, por exemplo, na atenção

prestada aos jogos de recreio? Nesse caso, o que fazemos com a descrição - que não é

de facto análise - de uma suposta “falha ou défice “ de atenção ou motivação? Tal tipo

de indicador terá que ser situado face ao que se faz, e como se faz em situação de

trabalho de aula, já que se trata de um processo interactivo e contextual, e não de uma

passagem linear e imobilista (Zabalza, 1992)

Não significa isto que o aluno não deva ser responsabilizado pelas suas

obrigações, pelo contrário. Significa sim que não se pode inferir uma caracterização

adequada e eficaz para o desenvolvimento do processo de desenvolvimento curricular,

sem fazer a respectiva análise, sem se discutir de que forma, e em que circunstâncias,

ocorre um determinado elemento de observação.

Um segundo campo de análise diz respeito às condições e envolvimento do

Aluno que são também relevantes: a família, o meio, a cultura em que vive, o quadro

emocional e afectivo. Igualmente se colocam, para todos estes aspectos, as mesmas

preocupações de natureza estratégica: analisar e retirar implicações.

De um tempo em que pouco se atendia às condições particulares dos alunos,

largamente olhados como um colectivo uniforme ou homogéneo, “como se fossem um

só” (Barroso, 1996), deslocou-se o enfoque, largamente em função dos contributos da

teoria e desenvolvimento curricular, para um grande interesse por estas áreas

enquadradoras e contextualizadoras de cada processo individual de aprendizagem.

Mas de novo importa sublinhar que não se trata de encontrar nas situações

familiares e sociais um justificativo fácil e desresponsabilizador para o insucesso da

escola (Charlot, 1997) face a esses alunos. Na verdade, não é sobre a família ou o meio

do aluno que o professor e a escola vão agir, é dentro desses condicionalismos e tendo-

os em conta. Isto significa que há que analisar de que forma a condição familiar ou

social A ou B de um aluno ou grupo de alunos exige que o professor trabalhe o ensino

dirigido para a aprendizagem, de forma a conseguir que o aluno a desenvolva e adquira.

Por exemplo, se um aluno ou grupo de alunos não têm, por razões sócio-culturais,

acesso em casa a leitura e informação, isso não se torna num défice face ao qual a escola

”constata” os inconvenientes. Tão pouco significa que a escola possa alterar

98

significativamente esse estado de coisas. Significa sim que o seu trabalho de ensinar –

entendido como organizar e promover activamente a aprendizagem - terá de, para esses

alunos, ter este elemento da análise em consideração, organizando estratégias e

facultando materiais de trabalho e suporte de pesquisa que, para outras situações,

poderiam ser remetidos para uma estratégia de pesquisa individual em casa.

Ainda no que se refere a esta primeira fase do processo de desenvolvimento

curricular – análise de situação - é fundamental que se analise sobretudo o projecto e o

modelo pedagógico da escola, a eficácia da acção e gestão curriculares por parte dos

conselhos de turma e departamento que por elas são responsáveis, e muito

particularmente os processos e métodos de trabalho dominantes na acção desenvolvida

pelos professores. Sem esse elemento, geralmente tabu entre os professores, não há

possibilidade de qualquer análise sustentada. Como interpretar, por exemplo, a

desatenção, ou a dificuldade, ou o interesse, sem saber “face a quê?” Como se ensina na

escola? Que práticas de ensino são dominantes? Em que se baseiam e como se regulam?

Em que medida são adequadas e sustentadas?

A este respeito sublinha Miguel Zabalza, referindo-se à análise da dinâmica

institucional:

“Deve fazer-se um esforço de reflexão para revelar o modelo educativo que

impera na escola. Que objectivos aparecem como mais relevantes, que formas de

trabalho e de relação se privilegiam, que modelos didácticos (…). Finalmente é

interessante identificar as inovações em curso na escola. É realmente

surpreendente mas, muitas vezes, um professor não sabe o que o seu colega faz e

como o faz.” (1992: 72).

Do rigor e profundidade da análise da situação depende, em larga medida, o

sucesso de todo o desenvolvimento curricular estratégico, visto que a partir daí se

podem orientar e aprofundar as abordagens a adoptar face a objectivos e conteúdos,

conceber estratégias eficazes e avaliar com rigor. A perspectiva teórica que aqui se

adopta vai no sentido de desconstruir a representação de alegadas “dificuldades de

aprendizagem” como situadas nos alunos (Almeida e Morais, 1992; Roldão, 1995) -

numa recuperação anacrónica da “teoria dos dons”- ou, num plano mais periférico, nas

suas condicionantes socio-culturais supostamente “causais” face ao desempenho do

aluno, para deliberadamente centrar a análise no locus da acção educativa da escola. É

nesse campo que a escola e os professores têm o dever de intervir, procurando

compreender e superar os inúmeros desajustes entre o funcionamento organizacional e

99

curricular existente e inquestionado na instituição escola, e as realidades individuais,

sociais e culturais dos alunos que hoje a frequentam. Sustenta-se tal necessidade

analítica no cruzamento de linhas teóricas de matriz crítica no que à desconstrução do

currículo diz respeito (Popkewitz, 1994; Goodson, 1988, 1997) e das perspectivas de

racionalidade prática (Shulman, 1987) informadas ainda pelas teorizações de Donald

Schön (1987) sobre a prática reflexiva como paradigma de saber profissional.

Rejeitando-se a racionalidade técnica como matriz de referência, dela se

retomam contudo, como já foi anteriormente referido, algumas dimensões fundamentais

ligadas ao domínio de procedimentos, reconceptualizando-os como meios instrumentais

a gerir no quadro de uma prática reflectida e analisada, que desconstrói para

compreender, e reconstrói para agir.

b) Os objectivos/conteúdos da aprendizagem

Os objectivos, no processo de desenvolvimento curricular, lido nesta

perspectiva, visam expressar explicitamente a intencionalidade curricular pretendida,

que no quadro actual atrás analisado, se orientam para ao aprofundamento de

conhecimentos, técnicas e atitudes no sentido do uso competencializador, ou seja, do

desenvolvimento de competências. 23

Também no que se refere aos objectivos e conteúdos - aqui trabalhados e

apresentados conjuntamente, como se explicará mais adiante – a operacionalização

técnica fornece princípios que podem sustentar uma opção mais próxima de uma

perspectiva crítica, mas eficaz na sua concretização. Recorde-se assim que os

objectivos, sendo curriculares, se centram necessariamente na aprendizagem do aluno –

finalidade legitimadora do currículo e da escola. (Carrilho Ribeiro, 1990). Assim,

retomam-se aqui, repensados noutra lógica, alguns desses princípios “clássicos” de

teóricos do currículo na década de 60 e 70 do século XX (Taba, 1962; Bloom, Hastings

Madaus, 1971, Mager,1972)

- a formulação verbal de cada objectivo corresponde ao que se espera que o

aluno adquira, aprenda, fique a saber, no termo do processo de desenvolvimento

curricular em curso;

23 - Referimo-nos a competências em sentido curricular e na sequência do exposto em secção anterior, independentemente do facto de estarem ou não formalizadas nos documentos curriculares. No caso português, o Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) é já um normativo curricular organizado segundo competências. Em grande parte dos currículos de países europeus, observa-se a mesma tendência, com graus variáveis.de operacionalização enunciada.

100

- cada formulação deve conter apenas um objectivo, expresso de forma clara;

- todos os objectivos de aprendizagem se devem formular em termos de

concretizações, de acções passíveis de serem observadas ou exemplificadas.24

Como sublinha Gaspar, “a eficácia dos objectivos aumenta se formulados em

termos de resultados esperados, independentemente de discriminarem condutas

observáveis ou capacidades/competências” (Gaspar, 2001:33). A definição dos

objectivos pretendidos admite sempre graus variados de generalidade, que terão de ser

explicitados e articulados entre si com clareza. Nesse sentido e conforme o seu grau de

generalidade, podem estabelecer-se relações entre objectivos mais gerais e mais

específicos, dependendo a hierarquia dos seus graus de generalidade do contexto

concreto da aprendizagem.

Numa gestão curricular orientada para o desenvolvimento de competências, a

finalidade última de cada objectivo tem de ser concebida à luz da(s) competência(s) que

se têm em vista. A selecção e organização dos conteúdos, por sua vez, pretende-se

coerente com a concepção enunciada do currículo, – um corpo de aprendizagens

necessárias para a consecução das quais se projecta, organiza e regula toda a acção

formativa - e não uma sequência rígida de tópicos, passíveis de permanecer inertes e

desprovidos de significado. É neste sentido que se apresentam numa única secção estes

dois passos da fase de concepção no desenvolvimento curricular – (1) objectivos e (2)

conteúdos de aprendizagem. A sua separação é útil no plano analítico, visto que são

entidades distintas: o objectivo enuncia a finalidade pretendida e, consequentemente, o

resultado esperado; o conteúdo corporiza a substância dessa mesma aprendizagem,

dando visibilidade ao objectivo. Contudo, a sua relação é de interdependência: não é

possível expressar um objectivo que não contenha o conteúdo que serve para o atingir.

O conteúdo por sua vez pode enunciar-se sem objectivos mas fica totalmente

desprovido de orientação sobre aprendizagem, visto que esta lhe é dada pelo objectivo.

Exemplificando, pode enunciar-se o objectivo:

O aluno deverá ser capaz de:

- reconhecer implicações da lei da gravidade em situações do quotidiano.

Ou

24 Em termos de abordagem técnico- behaviourista, a designação adoptada para estes objectivos ao nível do aluno era a de objectivos comportamentais ou operacionais, face aos quais se estabeleceram diversas taxonomias, organizadas nos domínios cognitivo, afectivo, psicomotor. Um dos mais influentes autores nesta linha foi Benjamim Bloom (1956) e a sua Taxonomia dos Objectivos Educacionais para os vários domínios, particularmente influente no que se refere ao domínio cognitivo

101

O aluno deverá ser capaz de:

- relacionar a expansão portuguesa com o desenvolvimento das técnicas de

navegação.

Nestes dois exemplos (ambos susceptíveis de operacionalização em níveis mais

específicos), os objectivos incluem os conteúdos, respectivamente “implicações da lei

da gravidade” e “características e factores da expansão portuguesa”. Seria impossível

formulá-los omitindo o conteúdo. Mas se considerarmos apenas os conteúdos, eles

podem de facto exprimir-se por si: “implicações da lei da gravidade” e “características e

factores da expansão portuguesa”. Mas nenhum deles oferece qualquer indicação sobre

o que deve ser aprendido, muito menos a que nível e com que grau de desenvolvimento.

Poderiam também ser temas de conferências ou artigos, e nada ter a ver com

aprendizagem nem ensino, nem currículo intencionalizado.

É pois o objectivo que dá forma e sentido de aprendizagem ao conteúdo,

explicitando o que o professor, mediatizando e reconstruindo as intenções expressas no

currículo, se propõe fazer com que o aluno aprenda. Assegura, no plano curricular, a

intencionalidade – o para quê. Por sua vez o conteúdo permite corporizar e situar o

objectivo, assegurando a substancialidade da aprendizagem - o quê.

Toma-se, nesta análise, como referência o conceito de “conteúdo” curricular

(Alonso, 1996; Roldão, 1999; Varela de Freitas, 1995) entendido como aprendizagem

intencionalmente visada (seja conceptual, atitudinal ou processual), com as suas

componentes de conhecimento factual e proposicional, processos de aquisição e

construção de conhecimento, e apropriação de sentido:

- Os conteúdos conceptuais dizem respeito à aprendizagem de conceitos, factos,

interpretações, generalizações, teorias, e em geral todos os “conhecimentos”

elaborados e estruturados que podem ser apropriados e comunicados de forma

sistemática. Constituem o grosso do que habitualmente, nos documentos

curriculares se designa por conteúdos, temas ou tópicos, ou ainda - na linguagem

corrente de professores e alunos - matérias. Contudo, tal visão restrita de

“conteúdo” é redutora. Este tipo de conteúdo curricular (portanto de

aprendizagem), largamente hegemónico na prática curricular das escolas, diz

apenas respeito ao quadro dos saberes referenciais, sem dúvida necessários e

essenciais, mas não suficientes, já que só são convertidos em aprendizagens

efectivas, portadoras de sentido e mobilizáveis se outro tipo de “conteúdos” for

aprendido através de, e com eles: os conteúdos processuais.

102

- Por conteúdos processuais entende-se a aprendizagem dos processos cognitivos

implicados na compreensão de qualquer saber declarativo que se transmite ou

comunica, e aos percursos metodológicos que permitem ao sujeito aceder com

rigor à compreensão do conhecimento disponível e à construção de

conhecimento novo nos vários domínios do saber, da ciência e da cultura:

processos de análise, descodificação, selecção, sistematização, síntese,

organização e procedimentos de questionamento, formulação e antecipação de

hipóteses explicativas, comparação e interpretação de dados ou informações,

estabelecimento de analogias e contrastes, organização de conclusões e sua

fundamentação, identificação dos limites e produção de novo questionamento. É

a este conjunto de conteúdos de aprendizagem processuais, em articulação com

conteúdos conceptuais, básicos ou aprofundados, que se refere a tão proclamada

competência de “aprender a aprender”, que integra ainda a capacidade de

analisar o próprio processo pessoal de construção do conhecimento. O “processo

como conteúdo” (Costa e Liebmann, 1996; Formosinho e Niza, 2001) assume

particular ênfase num tempo em que se pretende que os alunos, futuros cidadãos,

se tornem capazes de manejar processos cognitivos e investigativos que lhes

permitam mobilizar e actualizar e construir conhecimento em situação.

- Os conteúdos atitudinais reportam-se às aprendizagens de valores e atitudes,

quer no plano da atitude face às aprendizagens conteudinais e processuais (o

saber e o saber aceder ao saber) que passam (1) pela disposição para aprender e

reconhecimento da valia do saber, entre outros, e se estendem (2) às

aprendizagens relativas ao desenvolvimento pessoal, à interacção relacional e

interpessoal, e ao domínio do desempenho social e cívico, cada vez mais

presentes nas finalidades da educação escolar e desenvolvendo-se através delas

(saber agir, saber viver com os outros)25. Se constituem objectivos do currículo,

intencionalizados e valorizados, não basta enunciá-los e aguardar o seu

desenvolvimento espontâneo, mas trata-se sim de os conceber como

aprendizagens curriculares explícitas, ainda que possam e devam recorrer a

25 Referenciamos-nos também aqui aos quatro pilares da educação, sobejamnente repetidos na retórica educacional – saber, saber fazer, saber ser e saber viver com os outros – enunciados por Jacques Delors no Relatório para a Unesco Educação para o Século XXI (1995), publicado em português em 1996 (Vd Referências bibliográficas)

103

estratégias diversas das do ensino de conteúdos dos dois tipos anteriormente

descritos.

O conceito de competência assume relevância nesta conceptualização dos

conteúdos na medida em que se assume que todo o saber produzido e consumido se

investe numa apropriação e mobilização que permitam torná-lo “saber em uso”,

parafraseando a expressão fixada por Philippe Perrenoud26 para indicar o sentido de

competência (1995, 2000), saber que habilita o aluno com maior empowerment

(Hopkins, 2001) na sua capacidade de pensar a acção e na sua competência de agir na

vida pessoal e profissional.

Definir o como agir – definição da estratégia em todos os seus passos e

elementos, de que nos ocuparemos na secção seguinte - face aos objectivos

equacionados, orientados para as competências visadas, constitui assim um elemento

central do processo de decisão que a gestão do currículo e do desenvolvimento

curricular implicam. Trata-se de um processo altamente intencionalizado,

marcadamente dependente de um percurso deliberativo sólido, quer por parte do

professor individual quer por parte dos diversos colectivos de professores que, em cada

escola, e para cada situação e contexto particulares, são os responsáveis pela gestão e

desenvolvimento curricular e pelos resultados de aprendizagem a que o processo

desenvolvido conduz os alunos.

Como sublinha Carrilho Ribeiro (1990, cit in Gaspar 2001:33), os objectivos

“constituem-se como critérios de decisão quanto à selecção dos componentes

subsequentes do currículo, sendo simultaneamente factores de coerência dos planos e

programas de ensino”.

1.2. A operacionalização/implementação do currículo A operacionalização do currículo, que é enunciado no nível macro, e re-

enunciado e reconceptualizado nos níveis meso (escola/estabelecimento, com seu

projecto curricular próprio) e micro (aula - situação de aprendizagem –

operacionalização da aprendizagem em projecto curricular adequado a cada turma

26 - Perrenoud utiliza o conceito de “saber em acção”.

104

/grupo de alunos27), transforma-se em acto, acção real, apenas nos níveis meso e micro,

mas sobretudo neste último. A terminologia mais técnica do currículo, de raíz anglo-

saxónica, estabeleceu o termo implementação para designar esta fase. Tal verbalização

está, contudo, conotada com uma racionalidade técnica e aplicativa, que separaria a

concepção da implementação, como fases distintas de um processo rigidamente faseado.

Ora toda a teorização curricular mais recente (Goodson, 1988; Zabalza, 1992;

Stenhouse, 1991 Slattery, 1995), tributária de racionalidades prática e crítica (Kemmis,

1993; Tadeu da Silva, 2000), apontando para a recontextualização do currículo

enunciado face a cada situação, vem preferindo à expressão implementação a de

operacionalização, que pressupõe a consideração do contexto e a reconceptualização do

currículo enunciado em cada contexto de acção como parte dessa mesma

operacionalização, que se pretende analítica e reflexiva, versus a ideia aplicacionista

mais associada ao termo implementação. Contudo, ambos os termos são legitimamente

utilizados e genericamente aceites na literatura da área.

Trata-se então de conceptualizar/organizar a acção que irá permitir ao aluno a

aprendizagem que os objectivos /conteúdos referenciam. No plano meso, pode já haver

– e é desejável que haja - trabalho de operacionalização dos objectivos e competências

que se visam, por exemplo, no quadro da acção global da escola. Se uma escola – ou um

departamento, ou um ou mais conselhos de turma – pretendem que os alunos adquiram

conhecimentos (explicitando quais) sobre a história da escola e sua inserção na

localidade (objectivo/conteúdo), podem prever-se estratégias

(operacionalização/implementação) ao nível da escola ou do grupo: por exemplo a

escola – e o o(s) departamento(s) interessados, e o o(s) conselho(s)de turma envolvidos

- organiza uma sessão com várias pessoas ligadas ao assunto e os alunos são convidados

a preparar as questões que pretendem colocar, elaborando depois, com orientação e

apoio colaborativo de vários professores, uma síntese e processo da sua divulgação por

toda a comunidade. Neste exemplo, como em muitos outros, para um objectivo de

aprendizagem mais geral, que pode nascer de uma ou várias das disciplinas curriculares

(com possibilidade de estabelecimento de vários objectivos mais específicos,

operacionalizados nos sentidos pretendidos) seria possível, e desejável, estabelecer

27 - Ver a própria fundamentação e preceituado no DL 6/2001, para o ensino básico, apontando para estes diferentes níveis de concepção/reconceptualização.

105

estratégias ao nível meso, permitindo depois a sua continuidade em objectivos de

aprendizagem ao nível micro, operacionalizado em diferentes disciplinas ou áreas, na

situação aula. É aliás este o sentido que preside à articulação de um projecto (educativo-

curricular) de escola com os projectos diversos que o operacionalizam no trabalho diário

no interior do currículo, repensado em cada turma, e através dos conteúdos de cada

disciplina (projecto curricular de turma).

Miguel Zabalza distingue, neste nível, a aula como um lugar de encontro

privilegiado, potenciador de interacções comunicacionais e inter-relações geradoras de

mudança (Zabalza, 1992: 193). Doyle, com base em investigação sobre professores em

acção, identifica três dimensões que caracterizam este espaço de encontro:

multidimensionalidade, simultaneidade e imprevisibilidade (Doyle, 1977: 51-55, cit in

Zabalza, 1992:194).

Mas o nível intensivo da operacionalização das aprendizagens planeadas e

intencionalizadas (objectivos/conteúdos) é sem dúvida o nível micro, o do trabalho da

aula, embora este possa ainda comportar sub-níveis e sub-espaços de trabalho com sub-

grupos e/ou indivíduos, particularmente num tempo em que a diversidade, e não a

homogeneidade, caracterizamm definitivamente os contextos de trabalho escolar

(Roldão, 2003).

O conceito organizador mais poderoso, na perspectiva que defendemos, para a

organização da fase da operacionalização/implementação do currículo estrutura-se em

torno da noção de estratégia de ensino. Outros autores recorrem ao conceito de

experiências de aprendizagem, ou actividades, ou tarefas (Taba, 1962, Zabalza, 1992;

Carrilho Ribeiro e Carrilho Ribeiro, 1990), e todas estas designações são incorporáveis

no conceito mais abrangente de estratégia. De facto, a estratégia é um conceito

importado da linguagem militar, com conotações também claras na área lexical

associada ao desporto. Implica a concepção de um modo de agir eficaz, articulado em

todas a s suas componentes, de modo a maximizar a possibilidade de sucesso face a um

objectivo pretendido. É muito evidente a mobilização do conceito nas áreas referidas.

No campo do desenvolvimento curricular, enquanto acção intencional orientada para

um objectivo de aprendizagem sedeado no aprendente, e mediado pela acção/interacção

proporcionada pelo ensino28, a pertinência do conceito é também clara, com

28 - A aprendizagem assistida por ensino distingue-se da aprendizagem espontânea resultante dos processo de aprendizagem por socialização que ocorrem ao longo de toda a vida e em todos os contextos. Os dispositivos cognitivos do aprender são idênticos, mas a diferença substantiva reside no facto de, na

106

indispensável inclusão das noções de situações de aprendizagem ou experiências de

aprendizagem, específicas do campo em causa, que ambas se reportam a uma evidência

em matéria curricular: o locus da acção curricular operacionalizada pelo ensino ou

aprendizagem assistida por ensino (Roldão, 2005), reside na intervenção intencional

sobre os dispositivos cognitivos, emocionais, valorativos e motivacionais que permitem

a alguém aprender.

Só agindo estrategicamente se pode ter a pretensão do sucesso (da aprendizagem

do outro), ao contrário do que um certo senso comum da profissão parece acreditar –

reduzindo ensinar a apresentar/explicar, como se a aprendizagem fosse ocorrer

espontaneamente a partir dessa apresentação de conhecimento. Se é certo que importa

tornar o aluno cognitivamente activo para que aprendizagem ocorra, para isso é

indispensável que o professor seja activo e pró-activo, capaz de antecipar, conceber,

reorientar no sentido da aprendizagem visada.

Conceber uma estratégia de ensino29 para que os alunos alcancem um objectivo/

conteúdo pressupõe que o professor realiza diversas operações:

Analisa – a relação do objectivo/conteúdo com a situação dos alunos, as

dificuldades previsíveis, as potencialidades favoráveis, a ligação com os

interesses e características contextuais;

Integra – cada unidade no que a antecedeu e na sequência futura, cada unidade

no conjunto das aprendizagens e experiências do aluno; cada unidade no quadro

mais amplo das várias aprendizagens curriculares - articulação horizontal e

vertical;

Coloca hipóteses – inventaria modos possíveis de organizar a estratégia e

compara as suas eventuais potencialidades face à situação analisada;

Selecciona – escolhe, de entre as opções possíveis, que são de natureza

didáctica, as que face ao contexto e à integração analisada, oferecem maiores

possibilidades de ter sucesso, gerando aprendizagens efectivas;

Organiza – o modo como a estratégia mais geral (por exemplo, a decisão por

um procedimento assente na observação e experimentação para compreender um

aprendizagem assistida por ensino, se verificar uma intervenção deliberada e intencionalizada, que se pretende potenciadora da aprendizagem pretendida – ou seria inútil e dispensável…

29 - O conceito de ensino é aqui assumido no sentido que lhe atribui Roldão (2001) – como a acção organizada e intencionalizada de fazer aprender alguma coisa a alguém. Este conceito será objecto de desenvolvimento mais adiante, na secção Ensino e Competência.

107

conceito como “germinação”) se vai operacionalizar nos seus diferentes passos -

actividades e tarefas - e sua organização - espaço, tempo, intervenientes e

recursos; pode falar-se, nesta organização, de operacionalização da estratégia

global em sub-estratégias ou estratégias e tácticas específicas (os alunos

organizam a experiência ou observam apenas)? Que papéis têm? E o professor?

Com que recursos se vai trabalhar? Quando e com que finalidade intervém o

professor e intervêm os alunos na observação e na experimentação? Que se lhes

pede em cada etapa da sequência desenvolvida? Com que finalidade? Que

instrumentos organizativos são fornecidos (guiões, grelhas de registo, esquemas

conceptuais) ou construídos?

Decide – gere todo o processo de desenvolvimento posto em acção, decidindo

quer ao nível da estratégia global quer ao nível das sub-etapas do seu

desenvolvimento, mediante uma constante análise do que vai ocorrendo e seu

confronto com os objectivos e competências visadas; é, neste sentido, um gestor

do currículo.

A concepção e operacionalização da estratégia, nesta fase do desenvolvimento

curricular, implica que se escolha a forma de organizar o trabalho de aprender, o que

presupõe a mobilização de tipologias várias de estratégias, mas que não se constituem

na “estratégia” para aquela situação que nunca é redutível a um padrão ou estratégia-

tipo. O que define a estratégia – tal como na guerra ou no desporto - é o facto de ser

pensada para a especificidade de cada situação. Trata-se de uma acção interventiva e

não reprodutiva ou aplicativa.

Nas tipologias de estratégias, que não se pretende esgotar, pode encontrar-se um

ou vários referenciais de organização do trabalho de ensinar e aprender (Perrenoud,

1997), de que se destacam:

- aquisição de informação declarativa (por leitura, por pesquisa, por

apresentação do professor, por recurso a formatos narrativos);

- organização de situações de construção de novo conhecimento (a partir de

observação e experimentação; a partir de discussão de fontes de informação não

coincidentes; a partir de pesquisa de fontes orientada; a partir de resposta a questões

novas; a partir de contrastes e semelhanças entre situações ou elementos; a partir de

situações de resolução de problemas);

108

- organização de projectos de aprendizagem ( podem partir da resolução de

problemas, ou de uma exposição de informação que suscite dúvidas, ou de uma

necessidade real, ou de um assunto que esteja a ser mobilizador no momento, ou do

questionamento de uma realidade);

- confronto de ideias para desenvolvimento e fundamentação do conhecimento

(através de debate, com base em informação; leitura e discussão de trabalhos produzidos

pelos próprios alunos e sua reelaboração ou aprofundamento.

A estratégia real (que não se deve confundir com a estratégia-tipo) que se

adopta, em qualquer dos exemplos anteriores, pode combinar momentos de várias delas,

ou não, conforme a análise e a decisão do professor, sendo a estratégia real a

configuração final que se adopta para uma determinada situação de ensino.

Nessa configuração, qualquer que seja a via ou vias, integram-se também

diversos modos organizativos, de que se apresentam alguns exemplos, e que podem

igualmente ser objecto de várias combinações estratégicas

- organização de tarefas cooperativas;

- trabalho individual sobre materiais;

- apresentação/exposição pelo professor, seguida ou não de registo;

- trabalho de pares;

- outros.

Numa mesma estratégia articulam-se assim um sem número de possibilidades

que o decisor – o professor – concebe segundo a sua análise da situação e o que

estrategicamente considera serem as possibilidades de maior sucesso dos alunos.

É aqui que se jogam todos os conceitos de Teoria Curricular no plano da

diversidade e heterogeneidade dos alunos face a um currículo que desejavelmente deve

proporcionar a apropriação de um corpo comum de aprendizagens: diferenciação

curricular, adequação curricular, gestão curricular. Todos estes conceitos se integram no

conceito mais amplo do desenvolvimento curricular que aqui se aborda, traduzindo vias

da sua operacionalização estratégica (Roldão, 1999; Zabalza, 1992; Tomlinson e Allan,

2002) .

1.3. A avaliação do currículo

A avaliação constitui, no dizer de Miguel Zabalza, uma das fases fundamentais

do desenvolvimento curricular e centra-se na avaliação do processo e dos resultados

109

obtidos (Zabalza, 1992: 219). Esta fase do processo de desenvolvimento curricular

constitui o dispositivo central de regulação de todo o trabalho desenvolvido. Essa

regulação – avaliação de processo e de resultados - situa-se a dois níveis:

a)- o nível da regulação e verificação da aprendizagem conseguida pelos alunos,

no interior do processo de desenvolvimento curricular accionado, e

relativamente aos objectivos de aprendizagem visados;

b)- o nível da regulação do próprio processo de desenvolvimento curricular, da

sua pertinência, coerência e adequação – avaliação curricular.

a) O nível da avaliação das aprendizagens dos alunos

A avaliação constitui parte integrante do desenvolvimento curricular, na medida

em que se constitui como o elemento-chave da regulação do processo de ensino e

aprendizagem que integra o desenvolvimento curricular. Qualquer processo de

aprendizagem no campo das experiências informais incorpora a avaliação no seu

desenvolvimento, não separando o eixo aprendizagem do eixo avaliação, sob pena de

comprometer todo o processo. Veja-se, por exemplo, a aprendizagem da condução de

um automóvel – como consegui-la com êxito se o processo do aprendente não for

constantemente reorientado avaliativamente face aos passos que vai dando?

A avaliação escolar, todavia, vem-se constituindo na cultura dos sistemas

educativos, das escolas, e dos professores, como uma entidade autónoma, com vida e

lógicas próprias, que interrompem – e em larga medida pervertem – a integridade do

processo. Ilustrando este paradoxo, exemplifica Zabalza a seguinte situação:

..-se um dia chego à aula e digo aos alunos que, no dia seguinte “ não haverá aula” porque vamos fazer avaliação, que “retomaremos” as aulas normais logo no dia seguinte, estou a exprimir, com palavras claras e explícitas, que a avaliação a que procedo supõe um corte na marcha normal das aulas e que, no que se refere ao próprio processo didáctico, a avaliação não vai ter consequências directas (quer dizer, as aulas após-amanhã e as seguintes, após a avaliação, não serão, em princípio, diferentes das anteriores à avaliação e se o forem não será como consequência dessa avaliação). (Zabalza, 1992: 224).

Ilustra este exemplo o persistente divórcio ensino-avaliação que traduz a

ausência de uma cultura verdadeiramente curricular, e exprime uma perspectiva

mecanicista de ensino, não fundada na análise dos processos de ensino-aprendizagem

escolares enquanto processos de desenvolvimento curricular sustentados em critérios de

rigor e conhecimento científico e clarificadores da sua natureza e dinâmica próprias.

110

A própria organização dos quadros teóricos das Ciências da Educação tem

reflectido este paradoxo pelo desenvolvimento de estudos no domínio específico da

avaliação, desligados da sua inserção no processo mais amplo de desenvolvimento

curricular. A especificidade e complexidade do processo e conceito de avaliação

permitem compreender que assim aconteça no plano da teorização especializada, mas é

importante que não se perca nunca de vista que (1) a avaliação é parte integrante do

desenvolvimento curricular e (2) se define como um processo e um sistema. Na

expressão de Zabalza, “a avaliação é um processo e está num processo, é um sistema e

está num sistema”(1992:224).

Importa compreender que tal prática de dissociação da avaliação face ao processo

de ensino corresponde, na cultura das escolas, à sobreposição, e frequentemente

confusão, entre as diversas funções que a avaliação consubstancia, no que respeita à

avaliação das aprendizagens dos alunos: função diagnóstica ou analítica, função

reguladora e função certificativa (Lemos, 1986; Zabalza, 1992). Estas funções – ao

contrário do que largamente se instituiu na prática das escolas - não são tipos de

avaliação diversos, mas sim dimensões de um mesmo processo avaliativo que requer a

sua articulação.

Podemos sistematizar estas funções na análise seguinte:

- A função diagnóstica refere-se à avaliação da situação do aprendente no início

de uma qualquer aprendizagem, face à aprendizagem pretendida. Pode dizer

respeito a pré-requisitos (caso das línguas, por exemplo), aos conhecimentos

prévios, a concepções alternativas30, a interesses, cultura, experiência e percurso

anteriores. Permite ao professor analisar a situação (1ª fase do processo de

desenvolvimento curricular) ao nível micro, respeitante a cada aluno.

Em caso nenhum, esta função da avaliação se pode confundir com

avaliação do desempenho do aluno31, visto que ela não pode incidir ainda sobre

nenhuma aprendizagem efectivamente trabalhada no processo de

desenvolvimento curricular. Este é um pressuposto-base da avaliação da

aprendizagem curricular: só é susceptível de ser avaliado o que foi desenvolvido

e trabalhado – ensinado, ou seja, organizado deliberadamente para promover a

30 Ver, a respeito de concepções alternativas, Maria Eduarda Moniz dos Santos – (1991). Mudança Conceptual na Sala de Aula: um desafio pedagógico. Lisboa: Livros Horizonte. 31 Contudo, é frequente o uso de avaliações ditas diagnósticas (confusão entre função e tipo, que conduz a usos inapropriados) para caracterizar os níveis de aprendizagem conseguidos pelos alunos, o que constitui, além de um erro teórico, uma lamentável injustiça.

111

aprendizagem - e não o grau de conhecimento, inteligência ou cultura que cada

aluno manifesta, antes, ao lado de, ou mesmo apesar da acção intencional da

escola.

Tais elementos de que todo o aprendente é portador, largamente

diferenciadores dos seus respectivos pontos de partida, devem constituir

fundamentos para sustentar a escolha das estratégias e a sua adequada

diferenciação (Roldão, 2003), mas a sua avaliação é meramente diagnóstica,

para orientação da acção do professor. Não pode em caso algum ser confundida

com a avaliação da aprendizagem conseguida, sob pena de desvirtuar todo o

processo de ensino. Pelo contrário, o que será objecto de avaliação é justamente,

e apenas, o percurso realizado e o nível de desempenho alcançado face aos

objectivos, a partir desse ponto de partida, no sentido de reduzir, mediante a

diferenciação de estratégias, as diferenças que distanciam uns mais que outros

dos objectivos comuns pretendidos, em lugar de agir e ensinar com o que

Perrenoud designa, na esteira de Bourdieu, por “indiferença às diferenças”

(Perrenoud, 1986:58). Assim, a função diagnóstica da avaliação mobiliza-se

apenas para apoiar o professor na organização e gestão do seu processo de

desenvolvimento curricular e, nesse sentido, constitui um poderoso elemento de

regulação da eficácia do processo.

- A função reguladora da avaliação constitui a sua componente essencial e está

por isso sempre presente, e associada às outras dimensões. Como sublinha Linda

Allal (1986) o conceito de avaliação formativa, utilizado pela primeira vez por

Scriven (1967, cit in Allal, 1986), foi inicialmente desenvolvido no âmbito das

teorias neo-behavioristas, sendo reconceptualizado posteriormente no quadro de

concepções cognitivistas e construtivistas. Regular significa, em termos gerais,

segundo Allal (1986: 176) “assegurar a articulação entre as características das

pessoas em formação, por um lado, e as características do sistema de formação

por outro”. A forma de regulação pode adaptar os formandos ao sistema, o

sistema aos formandos, ou gerar uma mediação entre ambas. Sendo assim, a

regulação, no sentido de ajustar os formandos ao sistema, assume uma função

“prognóstica quando se trata de controlar o acesso a um ciclo ou um ano escolar;

é sumativa quando ocorre no fim de um período de estudos (função de

112

certificação32, atribui uma nota ou confere um diploma). Uma outra forma de

regulação é a de assegurar que os meios de formação propostos pelo sistema

estejam adaptados ás características dos alunos. Neste caso, a avaliação assume

uma dimensão formativa porque a sua finalidade é a de fornecer informações

que permitam uma adaptação do ensino às diferenças individuais observadas na

aprendizagem (…) é necessário que a adaptação do ensino possa ter lugar muito

antes de discutir qual a nota a atribuir ou qual a orientação posterior.” (ibidem:

177). A função reguladora, como se vê, oferece um dispositivo de controlo de

um processo, neste caso, de desenvolvimento curricular. A sua tradução em

formatos e momentos com finalidades diversas integra-se num processo global,

em que todas as funções são necessárias. Para a regulação do ensino tendo em

vista a aprendizagem curricular, as estratégias de ensino têm de incorporar no

seu desenvolvimento, momentos de verificação do desenvolvimento de cada

actividade, da apropriação que o aluno está ou não a realizar, e do processo que

está a desenvolver, para identificar os porquês da dificuldade e, em função disso,

reorientar a estratégia e melhorar a consecução do objectivo e a progressão da

competência visados.

- A função certificativa da avaliação, já referenciada acima como outro

dispositivo de regulação, é também essencial num processo formativo: o que se

pretende, nesta dimensão, é aferir as aprendizagem realizadas relativamente às

expectativas sociais face ao currículo que constitui a missão cometida à escola.

Por outras palavras, trata-se de verificar e situar o grau de desempenho ou

domínio conseguido pela escola junto de cada aluno face aos objectivos

pretendidos, para deles prestar contas, expressando num nível, numa

classificação ou nota (que pode ser quantitativa ou qualitativa) o ponto a que

cada aprendente chegou, face aos objectivos curriculares pretendidos e que a

escola tem o dever de certificar. Exemplificando com uma aprendizagem básica,

a competência leitora, a escola certifica qual o nível de desempenho leitor de um

indivíduo, no final de um período ou ciclo de aprendizagem que colocava essa

aquisição como seu objectivo: pode expressá-lo em níveis de proficiência - A, B,

C ou 1, 2, 3, 4, 5, (como ocorre nos numerosos Institutos de Línguas para o

domínio de línguas estrangeiras) ou numa escala numérica, ou num gráfico de

32 Que se apresenta no ponto seguinte.

113

posição; o sentido é sempre o de balanço sumativo do nível alcançado no final

de um ciclo de trabalho face à aprendizagem pretendida, para o certificar

publicamente.

Contudo, a dimensão sumativa da avaliação não é sempre nem necessariamente

equivalente à função certificativa - esta é que requer sempre um balanço sumativo.

Qualquer processo de ensino requer que, no decurso de uma estratégia que integra os

seus dispositivos e momentos de avaliação para reorientar e analisar, também se

incluam, formativamente, momentos e situações de balanço sumativo das aprendizagens

de uma unidade ou de um conceito, que permitam aos alunos situar-se relativamente às

metas pretendidas. Dessas avaliações com função sumativa pode – e deve – retirar-se

informação sobre o aluno, e para o aluno, que permita melhorar, identificar lacunas, ser

orientado para a sua superação. Por isso se reinveste nestes casos também a função

formativa. Os clássicos, e muitas vezes inadequados como instrumento, testes de

avaliação (lidos nas escolas como “avaliação sumativa”) proporcionam, enquanto

instrumento avaliativo, quer o balanço sumativo, quer e a oportunidade de mobilizar a

dimensão formativa, quer até a dimensão diagnóstica a investir em trabalho

subsequente. Não se trata assim de dois ou mais tipos de avaliação, mas de uma

avaliação-processo e de uma avaliação-sistema, retomando a análise de Zabalza acima

referenciada, enquanto parte do desenvolvimento curricular, que se orienta para as

funções que o gestor do currículo – o professor – entender atribuir-lhe no

desenvolvimento do processo, sempre com uma finalidade reguladora, expressa nestas

diferentes funções. O que imprime a um momento ou instrumento de avaliação uma ou

outra, ou várias, das suas funções possíveis, depende da intencionalidade que lhe é

atribuída no decurso do processo no seu todo, e não resulta de uma natureza distinta do

tipo de avaliação. Dependem sim das funções que pretenderem explorar-se, no quadro

do desenvolvimento curricular, os tipos e modos de construção e aplicação dos

instrumentos de avaliação.

A função certificativa ocupou o território da avaliação dentro das escolas,

subsumindo quase totalmente as outras dimensões na vivência e práticas docentes e

discentes, embora não no discurso com que se dá nomes a diferentes modos de

avaliação – como a descrição referenciada atrás por Miguel Zabalza demonstra bem.

Boa parte deste fenómeno algo aberrante prende-se, sobretudo no caso português,

justamente com uma ausência prolongada de formação no domínio do currículo e teoria

e desenvolvimento curricular que permitisse aos docentes apropriarem-se do sentido

114

curricular e sistémico da avaliação no processo global de desenvolvimento curricular

em que a sua prática de ensino se integra.

Numa abordagem diacrónica das visões teóricas sobre a avaliação, Guba &

Lincoln (1989, cit in Fernandes, 2005) identificam três concepções dominantes de

avaliação: avaliação como medida, avaliação como descrição, e avaliação como juízo de

valor, e propõem uma quarta visão, mais complexa e integradora que descrevem e

teorizam como avaliação como negociação e construção. Domingos Fernandes (2005)

analisando este conjunto de perspectivas, propõe numa visão própria uma

conceptualização muito interessante do processo de avaliação que designa por avaliação

formativa alternativa (AFA), inspirada no paradigma construtivista e articulada com os

campos teóricos das teorias da aprendizagem e das teorias do currículo. Na óptica deste

autor, a AFA caracteriza-se por (1) constituir um processo complexo, subjectivo,

sempre localizado e situado; (2) dever sempre ser desenvolvida em contexto, integrada

nos processos de ensino, e participada pelos alunos e (3) dever ser accionada através de

uma diversidade de estratégias, técnicas e instrumentos. Afirma Fernandes que, na

AFA,

“ a ênfase se coloca na compreensão dos processos cognitivos dos alunos que, para tal, são descritos, analisados e interpretados qualitativamente. Por outro lado, há uma preocupação em contextualizar os processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação, que devem desenvolver-se num clima favorável à plena comunicação e interacção. A negociação e os contratos didácticos com os alunos criam condições para o desenvolvimento dos processos de auto-avaliação e de auto-regulação das aprendizagens. Assim, deve existir uma criteriosa selecção de tarefas que promovam a integração, a relação e a mobilização inteligente de diferentes tipos de saberes e que, por isso, possuam elevado valor educativo e formativo. A avaliação de conhecimentos académicos e a avaliação de atitudes, capacidades ou de competências metacognitivas devem ser feitas de forma integrada e inseparável. (Fernandes, 2005: 95).

Tal perspectiva aponta justamente para a incorporação plena da avaliação como

elemento central do processo de desenvolvimento curricular, implicando a superação

das falsas dicotomias que acima se procurou caracterizar como bloqueios a uma

avaliação completa, complexa, adequada e rigorosa que sirva os propósitos de melhoria

das aprendizagens.

b) A avaliação do desenvolvimento curricular

A segunda vertente da avaliação no processo de desenvolvimento curricular vai

para além da avaliação das aprendizagens dos alunos – que dela são apenas uma parte –

115

e desloca-se transversalmente para a avaliação de todo o processo desenvolvido no

sentido, mais uma vez, da sua regulação e reorientação, quer mobilizando a função

formativa, quer a sumativa. Este processo diz respeito ao questionamento, a partir dos

resultados obtidos nas aprendizagens conseguidas (ou não) e nos processos de

aprendizagem desenvolvidos (ou não) pelos alunos, ao longo do ciclo do

desenvolvimento curricular, procurando investigar e reapreciar, avaliativamente, que

aspectos desse processo poderão estar na origem do sucesso ou insucesso da escola e

dos professores face à intenção de aprendizagem de que se partiu.

Assim, há que avaliar até que ponto foi a análise de situação fundamentada,

analítica, e produtiva – terá eliminado ou ocultado, ou interpretado mal aos dados da

situação dos alunos, da escola, dos professores? em quê?

Face à análise de situação, e sua revisão, que adequação foi ou não respeitada e

conseguida no que se refere aos objectivos e conteúdos que se elegeram? revelaram-se

adequados? foram suficientemente precisos e pertinentes? orientados adequadamente

para as competências a desenvolver? inadequados? em quê? porquê?

Na antecipação dos objectivos visados, foram as estratégias bem concebidas?

Orientadas e pensadas no seu desenvolvimento tendo em conta a aprendizagem dos

alunos? Tiveram os objectivos e conteúdos seleccionados suficientemente em conta os

dados da análise de situação? o nível e tipo de objectivos pretendidos? contemplaram a

adaptação à realidade concreta (previamente diagnosticada e posteriormente aferida ao

longo do processo de ensino e aprendizagem, através de procedimentos avaliativos

adequados?) E em que medida foram os procedimentos avaliativos incorporados em

todo o processo de desenvolvimento das estratégias de ensino e coerentes com elas? o

que se avaliou correspondeu aos objectivos definidos? teve em conta apenas os aspectos

que foram trabalhados e orientados para esta aprendizagem? ou valorizaram a norma e

os saberes prévios dos alunos mais cultos ou que sabem mais no grupo, sem cuidar dos

critérios de desempenho correspondentes aos objectivos e referenciadores do sucesso

pretendido?

Importa assim sublinhar que a avaliação do desenvolvimento curricular é o

dispositivo mais importante para a melhoria da qualidade do ensino e, por

consequência, para a melhoria da aprendizagem dos alunos, pela auto-reflexão e análise

crítica que proporciona aos actores responsáveis pelo processo, permitindo que a escola

se transforme numa instituição reflexiva, no dizer de Isabel Alarcão (2001), bem.-

116

sucedida, capaz de se pensar, de produzir conhecimento sobre si e de se orientar no

sentido estratégico que pretende privilegiar em cada situação contextual específica.

2. Níveis de desenvolvimento curricular

Jos Letschert (1995) estabelece, num estudo sobre a educação primária33 em

países da OCDE, o que, na sua perspectiva, caracteriza os três níveis de

desenvolvimento curricular – macro, meso e micro – respectivamente associados aos

planos de decisão central, de estabelecimento ou local e de ensino ou de interacção em

aula:

“ O coração do currículo (…) é a sala de aula onde as interacções entre professores e alunos têm lugar (…); quatro componentes principais do processo de ensino e aprendizagem no nível micro devem ser considerados: o currículo, o ensino, a aprendizagem e os aspectos metodológicos (…). Todas as actividades que acontecem na sala de aula estão embebidas e integradas nas actividades ao nível da escola: nível meso. Aí se tomam decisões que incluem: estabelecimento de objectivos e projectos curriculares específicos, decisões relativas a processos de ensino e aprendizagem, participação dos alunos na vida da escola, níveis de participação dos pais nas decisões, entre outras. (…) Relativamente à acção dos professores em sala de aula (micro) as decisões ao nível meso – da escola – actuam como “variáveis de contexto”. (…) Ao nível macro, saímos do nível da sala e da escola. Olhamos agora a educação como um sistema educativo. (…) A esse nível se decidem: os standards e competências de um currículo nacional, os tópicos de maior relevância, recomendações sobre processos e filosofias de ensino, questões de apoio financeiro aos níveis meso e micro, articulação entre níveis do percurso curricular”. (Boland e Letschert, 1995: 36-38; nossa adaptação/tradução)

O desenvolvimento curricular, em todas as suas fases, atravessa e articula estes

diferentes níveis de decisão e acção: no nível macro as decisões incidem sobretudo no

plano da concepção e são, em geral, apenas indicativas das fases de

implementação/apropriação e de avaliação; nos níveis meso e micro ocorre o inverso: o

nível de concepção é objecto de readaptação/contextualização, mas nunca é totalmente

autónomo visto integrar-se e articular-se com os desígnios curriculares nacionais, ao

passo que os graus de autonomia são maiores nos planos da implementação e avaliação.

33 Assume-se aqui o conceito de educação primária independentemente das denominações diversas que assume em sistemas e épocas diferentes, como correspondendo ao período inicial da escolaridade, de duração variável entre 4 a 8 anos, caracterizado pela sua natureza de formação básica e orientado para a aquisição das funcionalidades e saberes instrumentais requeridos para toda a aquisição de conhecimento.

117

A história dos sistemas educativos é marcada pelos modos como esta articulação

entre o nível macro e os níveis meso e micro se organizaram: países de tradição

histórico-administrativa centralista, como Portugal ou França, tendem a reforçar o nível

macro, e a margem de autonomia curricular é por isso escassa nos outros níveis, que

assim se vêem sobretudo como implementadores/executores e pouco como decisores.

Ao passo que em países como os anglo-saxónicos e os nórdicos, com tradição de grande

autonomia local e institucional das escolas e professores, que prestam contas perante a

sua comunidaade, é o nível macro que se esbate, funcionando mais como um regulador

nacional e avaliador externo das aquisições nucleares e das competências básicas que as

escolas se encarregam de assegurar.

Segundo Roldão (2000)34, tomando como pressupostos a noção da escola como

instituição curricular e o conceito de currículo como corpo de aprendizagens

reconhecidas como socialmente necessárias, a situação actual da escola caracteriza-se

por uma tensão nuclear entre os níveis macro e os meso e micro da decisão curricular:

por um lado subsiste - e porventura reforça-se - a necessidade da apropriação das

aprendizagens curriculares por todos numa sociedade que exige cada vez mais

competências e saberes, a par da capacidade para actualizar e reformular o

conhecimento ao longo da vida; por outro, é cada vez mais ineficaz a prática curricular

da escola, acentuadamente uniformizante e descontextualizada, quer nos tipos de

apresentação do conhecimento que sobrevaloriza quer nos modos curriculares de operar

(ou não) a sua passagem/apropriação pelos sujeitos.

Trata-se, como sublinha Alain Michel (1996:11) de “reconhecer que o problema

fundamental da escola, que é, no fundo, unificar sem uniformizar e diversificar sem

discriminar, está longe de estar resolvido”.

Tal situação dilemática equaciona-se em todos os sistemas das sociedades

ocidentais mas assume linhas diversas e até divergentes conforme as características e

história dos respectivos sistemas. Assim, pode sintetizar-se a mudança de paradigma

curricular que se vive em todos os sistemas em torno dos eixos seguintes, relativos à

articulação dos níveis de decisão:

� a tendência das políticas curriculares orienta-se para a definição de um binómio

curricular que articule (1) a garantia de aprendizagens curriculares essenciais comuns

34 Esta secção baseia-se em adaptação do artigo de ROLDÃO, M. C.(2000) O currículo escolar: da uniformidade à contextualização – campos e níveis de decisão curricular. Revista de Educação, vol IX, nº 1, 81-92.

118

(core curriculum, nível macro) com (2) a diversidade de projectos curriculares

correspondentes a contextos e situações diferenciadas (níveis meso e micro);

� a operacionalização deste binómio em países de tradição curricular descentralizada,

em que as escolas dependem largamente das autoridades e comunidades locais,

implicou nesses países a introdução de um core curriculum nacional comum (caso do

National Curriculum inglês, com as perturbações e resistências que são conhecidas,

ou do currículo nacional norueguês, lançado em 1994, com uma aceitação mais

participada e aparentemente bem conseguida);

� em países de estrutura centralizada, como o francês, o espanhol ou o português, a

ruptura processou-se em sentido inverso, pela atribuição de maior autonomia

curricular às escolas, no quadro de um currículo nacional de cariz mais amplo no

plano das finalidades e competências pretendidas e menos normativo e prescritivo a

nível da operacionalização programática;

� em qualquer das situações é comum a necessidade de regular permanentemente o

equilíbrio entre os dois braços do binómio, assegurando quer a dimensão da

consecução das aprendizagens comuns quer a adequação da diferenciação dos

currículos de cada escola aos fins pretendidos e à melhoria efectiva do nível de

aprendizagem dos alunos;

� tal regulação implica mecanismos de monitorização do sistema no seu todo e a

introdução de uma cultura auto-avaliativa e de prestação de contas por parte de todos

os níveis de decisão curricular, das escolas à administração central.

A flexibilização de que tanto se fala tem assim de ser entendida no quadro da

ruptura quer com o paradigma uniformista (marcante, por exemplo, no caso português e

francês do “currículo pronto-a -vestir de tamanho único”, na expressão emblemática que

lhe deu João Formosinho (1987)), quer com o paradigma da autonomia local plena

(caso de alguns sistemas de tradição descentralizadora, como o Reino Unido ou a

Noruega, já referidos).

Flexibilizar significa assim poder introduzir no currículo uma construção

flexível, moldável, adaptável às vias mais adequadas à consecução da aprendizagem,

requerendo uma articulação que se opera e regula entre o nível do prescritivo nacional

(em termos mais latos e periodicamente renegociado) e o nível do significativo

contextual (em termos mais operativos, e permanentemente avaliado e ajustado).

119

Em última análise, trata-se de flexibilizar para encontrar em cada caso as vias

mais promissoras para aprender, trata-se de ajustar para melhorar a qualidade da

educação que a rigidez e uniformidade algo anacrónicas vêm impedindo face aos

públicos escolares diversos que são os de hoje e às sociedades multiculturais e

diferenciadas a que eles correspondem.

Partindo da emergência de um paradigma curricular de natureza binária,

articulado entre um corpus claro de aprendizagens e competências prescritas a nível

nacional – macro - como necessárias a todos, e as formas múltiplas de as concretizar em

cada projecto curricular contextualizado – níveis meso e micro - impõe-se equacionar as

implicações que tal mudança estrutural acarreta na gestão do currículo e nos actores que

por ela se responsabilizam.

Centrando-nos agora no sistema português, a gestão curricular carece de alguma

análise do próprio conceito e dos níveis em que se tem exercido. É a mudança que se

vem iniciando no sentido da ruptura do paradigma uniformista que traz á discussão a

problemática da gestão curricular, isto é, da tomada de decisões sobre o currículo.

A passagem a um paradigma de diferenciação curricular, no quadro do binómio

currículo nacional - projectos curriculares contextualizados, introduz necessariamente

uma deslocação de centros de decisão e novas modalidades de articulação entre diversos

grupos e níveis de decisores. Assim, a gestão do currículo requer que se articulem os

seguintes níveis de decisão curricular:

���� central - macro;

���� institucional – meso (escola ou grupo de escolas);

���� grupal (órgãos intermédios nas escolas e/ou grupos informais de professores) e

individual (professor) – micro.

Todos estes decisores gerem o currículo, com âmbitos de incidência

diferenciados, mas que têm de se integrar e articular entre si. Contudo, a todos estes

níveis é possível identificar campos de decisão que são comuns, embora trabalhados

com níveis de operacionalização diversos, de que destacaríamos os seguintes.

� As ambições da escola.

� As opções e prioridades que se definem para cada situação.

� As aprendizagens pretendidas.

� Os métodos - sua adequação e diversidade.

� Os modos de funcionamento e organização da escola e das aulas.

120

� A avaliação do resultado das opções tomadas em todos os campos anteriores.

3. Conceitos relacionados com o desenvolvimento curricular: ensino e competência

3.1. O desenvolvimento curricular como processo de construção planeada de aprendizagens pretendidas (currículo). O desenvolvimento curricular enquanto conceito em uso na actividade de ensino,

e enquanto objecto de estudo no plano da investigação educacional, assume significados

marcados pelas condicionantes históricas e epistemológicas que o enquadram. Assim

importa relembrar que:

(1)- o currículo (qualquer que seja a sua orientação e a filosofia educativa que

lhe subjaz) se associa à necessidade de estabelecer/organizar/garantir, de forma

estável e sistemática, um conjunto de aprendizagens pretendidas, desejadas ou

ocorridas;

(2)- o desenvolvimento curricular se associa à dimensão processual e dinâmica

que permite (a) construir um currículo (desenvolvimento curricular enquanto

concepção) e (b) operar a ligação que ele pressupõe entre intencionalidade e

prática (desenvolvimento curricular enquanto acção operacionalizadora).

Os modos como estas duas vertentes conceptuais – a do currículo e a do

desenvolvimento curricular – se articulam pode assumir uma variedade de formatos,

dependendo da concepção de educação, da representação e valores do sistema social em

causa, da existência e peso da instituição escola – ou de outras35 variáveis conjunturais.

Também a concepção de educação que sustenta e legitima um determinado

currículo condiciona a forma que o desenvolvimento curricular assume, como mais

adiante se explicita. Se, como é a tendência dominante nos sistemas educativos das

sociedades desenvolvidas actuais, é a resposta às necessidades sociais e de integração

do indivíduo que marca a agenda da escola e do seu currículo, o desenvolvimento 35 Recorde-se que a escola, enquanto instituição social, se define como uma instituição de matriz curricular – é o reconhecimento da necessidade social de garantir a populações alargadas, e já não só a alguns indivíduos ou grupos, a um certo número de aprendizagens tidas por necessárias que dá origem, no século XVIII, à instituição escola, no formato público e colectivo com que ainda hoje a conhecemos. Mas a realidade currículo e o processo desenvolvimento curricular podem desenvolver-se noutras modalidades organizativas, que visem intencionalidades idênticas: veja-se o crescente desenvolvimento, por exemplo, do home schooling como alternativa à escola pública em vários estados dos Estados Unidos e também em países europeus, como a França.

121

curricular acentua a vertente da acção da escola e dos professores sobre um currículo

nacional previamente construído – separação das fases de concepção e implementação,

com prevalência desta última. Se, pelo contrário, num contexto determinado, geralmente

não escolar, se privilegiarem concepções de educação mais orientadas para prioridades

do desenvolvimento individual e social da pessoa, o currículo pode ir sendo construído

à medida que é desenvolvida a acção educativa e de acordo com o que vai emergindo

como processo de aprendizagem – concepção e implementação ocorrem em simultâneo,

no mesmo plano de decisão e inter-influenciando-se (por exemplo nas escolas que se

orientaram por um paradigma de não directividade, como o conhecido caso da escola de

Summerhill, no Reino Unido, nos anos 60).

Por outro lado, o processo de desenvolvimento curricular ocorre em três planos

de operacionalização, como acima se assinalou, cuja articulação varia e tem que ser tida

em conta na análise de qualquer processo de desenvolvimento curricular:

- o nível macro – que respeita à globalidade de um sistema educativo e tem na

administração central o seu locus de decisão;

- o nível meso - que corresponde ao plano da acção institucional e tem o seu locus de

decisão na escola ou instituição congénere (escola/estabelecimento de

ensino/agrupamento);

- o nível micro – que se refere ao contexto da acção directa de ensino e aprendizagem:

o trabalho curricular da aula, do grupo de alunos com o seu professor

(ciclo/ano/turma/grupo/disciplina/unidade, outros) que se constitui como o locus das

decisões curriculares neste nível.

Em cada um destes níveis – que se entendem na relatividade recíproca que os

articula - é possível ainda discriminar outros sub-níveis: por exemplo o grupo de

professores de uma turma ou de um departamento situam-se num nível micro no plano

global, mas internamente são meso face ao micro da decisão curricular de cada

professor; e este por sua vez pode instituir sub-níveis de decisão micro, se, por exemplo,

trabalhar com pequenos grupos de forma diferenciada. Importa assim compreender que

a explicitação destes níveis de decisão e gestão curricular os representa enquanto peças

duma engrenagem gestionária global, e por isso precisam de ser lidos e desenvolvidos

enquanto planos articulados entre si.

No contexto de currículo escolar, a orientação para as funções sociais do

currículo é predominante na medida em que é inerente à própria legitimação social e

histórica da escola. Mas, ainda assim, assume sentidos e orientações diversas conforme

122

as interacções que se estabelecem entre essas pressões da sociedade e os outros dois

factores de currículo36: os destinatários - alunos - e o elemento conteudinal do currículo -

o saber ou conhecimento que se pretende que seja aprendido. Assim, podem

sistematizar-se, no Quadro nº 1, três entre vários cenários possíveis de articulação das

variáveis aluno, saber e sociedade:

36 Toma-se aqui como referência o rationale de Ralph Tyler

123

Quadro nº 1: Cenários de concepção do currículo e do desenvolvimento curricular

segundo as variáveis alunos, saberes e sociedade.

ALUNO

S

SABERES

SOCIEDAD

E

CURRÍCULO DESENVOLVIMENTO

CURRICULAR

Homogeneidade cultural e de pertença social

Estabilidade e escassa acessibilidade

Exige conformidade a um padrão pouco diferenciado de saberes

Concebido no centro do sistema em todos os seus detalhes

Dimensão construção/concepção compete à administração Dimensão acção/implementação (lógica aplicativa) cabe aos professores. Separação de locus e de agentes de decisão (“curriculum and instruction “). A avaliação curricular na escola limita-se à implementação. A nível nacional pelo contrário só é possível avaliar coerência do currículo enunciado e resultados sem regulação do processo. Não existe verdadeira avaliação curricular como processo regulador de todo o processo.

Alguma diversidade de pertenças e culturas

Disponibilidade de acesso a uma diversidade de saberes

Exige a conformidade a um conjunto de aprendizagens comuns, mas necessita de capacidade de mudança e actualização.

Finalidades comuns e competências a adquirir no currículo definidas como comuns. Reconceptualização do currículo comum nas diferentes situações (projecto curricular da escola)

A concepção/ construção do currículo é partilhada entre o decisor central – para a concepção das grandes finalidades, áreas e competências – e os decisores locais – para a re-construção , re-conceptualização e implementação do currículo. A avaliação/regulação é partilhada entre os dois níveis – regulação nacional de competências de desempenho; regulação local da totalidade do processo e resultados.

124

Predomínio da diversidade cultural e social

Acesso aberto e amplo ao saber , disponível em inúmeras fontes

Requer uma competencialização flexível e domínio de capacidade de aprender a aprender.

Currículo nacional muito aberto, estabelecendo apenas grandes metas a alcançar. Concepção e operacionalização do currículo ao nível da escola

O nível de decisão curricular para todas as fases – concepção, implementação e avaliação - é a escola. O nível de decisão central apenas estabelece as grandes metas a alcançar. A avaliação/regulação é partilhada entre os dois níveis: regulação nacional de competências de desempenho; regulação local da totalidade do processo e resultados

A situação real em cada sistema nunca corresponde exactamente a este ou a outro

modelo. Na maioria das sociedades ocidentais, o 2º cenário é, no momento actual, o que

mais se aproxima da realidade que se vive, com sociedades cada vez mais multiculturais

em que a escolaridade tende a ser cada vez mais longa e generalizada e em que é

crescente o acesso amplo a informação.

Nestas situações, o processo de desenvolvimento curricular tende a articular dois

níveis principais de decisão, o nacional e o local. Desse facto decorre a necessidade de

integrar – em lugar de separar - uma decisão nacional sobre as metas, competências e

áreas da aprendizagem curricular, ao nível geral do interesse da sociedade no seu todo,

com a sua reconceptualização ajustada a cada contexto, repensada e decidida pelos

níveis das escolas concretas, de algum modo também autoras e decisoras sobre o seu

currículo ou projecto próprio, ainda que sempre enquadrado no currículo nacional ( que

neste cenário tende a tornar-se menos prescritivo, mas mais regulador). Deixa assim de

fazer sentido “separar” a concepção realizada pelos decisores centrais (como na visão

técnica mais clássica, expressa no 1º cenário) e a “execução” de tipo bancário37 a cargo

dos professores e escolas, que por elas deverão responder socialmente.

37 Paulo Freire (1975, 1997) usou, ainda que num sentido diferente deste, a metáfora da “educação bancária”.

125

3.2. A diversidade de conceitos de currículo e educação e o desenvolvimento curricular Qualquer manual de currículo (este incluído) assinala nos seus primeiros

capítulos a polissemia do termo, como foi documentado na unidade 1. Tal polissemia

resulta quer das perspectivas teórico-interpretativas adoptadas, quer da natureza sócio-

histórica do currículo como construção social, marcada pela sopções e necessidades de

cada época e contexto.

Colocando-nos numa perspectiva meta-analítica e crítica face ao currículo,

consideramos que, qualquer que seja a linha de análise teórica que se mobilize para

interpretar o fenómeno social que o currículo escolar corporiza, reconhece-se a

invariância de algumas características substantivas no que diz respeito ao currículo

enunciado, a qualquer nível (as a fact, na terminologia de Young, 1998):

- consubstancia-se em aprendizagens pretendidas (conhecimentos, valores, atitudes,

processos, etc);

- a selecção das aprendizagens resulta do reconhecimento da sua necessidade (social,

individual ou ambas);

- a sua existência é legitimada pelas finalidades visadas e pelo carácter de necessidade

que se lhes atribui socialmente;

- o currículo pode ser desenvolvido, passado, construído através de diversos dispositivos

sociais e organizacionais38;

- nas sociedades pós-industrialização tem sido a escola a instituição responsável pelo

currículo, que legitima socialmente a sua existência39;

-a implementação do currículo em contexto escolar pressupõe a articulação da acção de

ensinar com a consecução da aprendizagem pretendida;

- a diversidade de destinatários resultante da massificação e extensão da escolarização

introduz no processo de desenvolvimento curricular a necessidade de (1) articular vários

níveis de decisão e (2) orientar o currículo para a competencialização (Quadro nº 1).

38 Por exemplo, uma pequena comunidade isolada poderia assegurar a “passagem das aprendizagens necessárias “ (currículo, em sentido lato) através do ensino pelos mais velhos, da iniciação a ofícios em aprendizado e da educação religiosa, por exemplo. 39 A questão da permanência ou instabilidade deste papel atribuído historicamente à escola pública desde o final do século XVIII pode ser analisado em Caldwell, B., 2000, Journal of Educational Change, nº 1, artigo em que o autor analisa e avalia a emergência de cenários curriculares alternativos, como, por exemplo, o home schooling, em crescimento em muitos estados norte-americanos.

126

Estas regularidades exigem que se analise brevemente, antes de introduzir as

fases do desenvolvimento curricular, dois dos conceitos convocados: o conceito de

ensinar e o conceito de competência.

3.3. O conceito de ensino no contexto do desenvolvimento curricular – promoção activa e organizada da aprendizagem de alguém Não tem sido frequente na literatura educacional, excepto nas duas últimas décadas,

associar as questões do desenvolvimento curricular à teorização sobre o próprio

conceito de ensinar, assumido como caracterizador nuclear da actividade docente, e

desejavelmente legitimador do seu grau de profissionalidade. As abordagens

sociológicas, às quais se deve muito do aprofundamento das questões da

profissionalidade, tendem geralmente a esbater a componente curricular propriamente

dita (Loureiro, 2001). Por sua vez as teorizações curriculares foram durante muito

tempo distantes das leituras sociológicas, tornando-se hoje clara a necessidade de uma

leitura convergente e interdisciplinar deste conceito.

A representação de ensinar como acção transmissiva de saber foi, até um tempo

relativamente recente, aceite como dominante na representação social. São os efeitos da

massificação escolar e da diversificação crescente dos públicos que trazem para a

agenda educativa o questionamento do próprio conceito de ensinar, bem como o

enfoque na reconceptualização do conceito de currículo. Tais requestionamentos

teóricos decorrem assim, como construções sociais que são, da agudização dos

desfasamentos dos referidos conceitos enquanto associados a uma escolarização

selectiva, dirigida a públicos restritos e assente numa percepção do saber curricular

como enciclopédico e relativamente estático, face a uma nova realidade escolar e social

marcada pela universalidade e diversidade dos públicos escolares, pela rapidíssima

expansão e acessibilidade do conhecimento, cuja centralidade se constitui, nas

sociedades presentes e futuras, como o principal factor de progresso e também de

selecção/exclusão social. No quadro actual da função docente, marcada desta forma pela

alteração da relação do professor com o currículo, e da relação da escola com a

sociedade, torna-se indispensável aprofundar no plano teórico este conceito de ensinar,

definidor central da profissão, e necessariamente associado às próprias noções de

currículo e desenvolvimento curricular, respectivamente substância e processo de

trabalho da actividade docente.

Coexistem, na representação da função de ensinar, duas leituras: ensinar como

professar um saber (o professor como aquele que professa um saber, torna público esse

127

saber que ele domina e que é restrito – daí a importância de o “professar” ), e ensinar como

fazer com que o outro seja conduzido a aprender/apreender o saber que alguém disponibiliza

(ou seja, o professor como aquele que faz aprender, o que sabe fazer com que os outros

saibam, conduzindo-os – ago, do pedagogo) . (Roldão, 2005)40

Estas duas representações de ensinar têm enormes implicações no modo como

professores e escolas gerem o currículo e organizam o desenvolvimento curricular.

A importância do professor como “distribuidor” de um saber que era restrito e

limitado foi relevantíssima, mas num tempo histórico que já passou. O que continua a

justificar, ou até a acentuar, a necessidade social da função social dos professores é que eles

são indispensáveis porque são – ou devem ser - os que fazem os outros (que hoje são todos

os cidadãos) aprender um saber que socialmente se considera que lhes é necessário. Ou seja,

porque e enquanto se constituem em agentes e decisores no processo de desenvolvimento

curricular, sua especialidade própria, seja qual for o campo ou nível de ensino.

Por isso e para isso se constituiu ao longo dos séculos XVIII e XIX a escola, como

instituição curricular pública, organizadora da passagem do currículo, esse corpo de saberes

tidos em cada época como socialmente necessários. Para isso e por isso são necessários

profissionais de ensino que o saibam fazer – os professores.41 Trata-se assim de ressignificar

o sentido de ensinar, pela análise de duas leituras dominantes que na representação social e

na história do professor têm coexistido e em larga medida permanecem em conflito.

Neste confronto, o primeiro elemento de análise a reter é que, em ambas as

leituras de ensinar atrás delineadas, se verifica a mediação do professor entre duas

entidades: o saber conteudinal a fazer aprender (qualquer que ele seja) e o aprendente. O

segundo elemento de análise - e é desse que sobretudo nos ocupamos - reside na ênfase

diversa, relativamente aos dois elementos entre os quais se exerce essa mediação – saber

40 Relativamente ao conceito de ensinar, segue-se de perto, nesta secção, o texto de Roldão, M.C. (2005) Profissionalidade docente e qualidade de ensino-especificidades do ensino superior. Santarém, IPS, no prelo. 41 Esta problemática é indissociável da discussão sociológica do estatuto da actividade docente, a partir dos seus caracterizadores e possíveis desenvolvimentos futuros – Profissionalidade plena? Perfil funcionário? Técnico? Semi-profissionalidade? Para aprofundamento desta questão Vd. GIMÉNO SACRISTÁN, 1994, El Curriculum, una reflexión sobre la práctica, Madrid : Ed. Morata, e A. NÓVOA,1987, Le temps des professeurs: analyse socio-historique de la profession enseignante au Portugal (XVIIIe-XX e siècle). Lisboa: INIC ; Loureiro, C. 2001, A docência como profissão, Porto: ASA.

128

e aprendente - nessas duas perspectivas da função de ensinar, que explicitamos do

seguinte modo:

(1) Considera-se que o professor ensina porque e enquanto professa – expõe, apresenta,

disponibiliza - um saber conteudinal que domina, sendo a apreensão pelo outro

principal ou exclusivamente responsabilidade dele, aprendente? Neste caso, a acção

é largamente intransitiva no que se refere ao aluno, e apenas transitiva no que se

refere ao saber –“ensino Língua ou Matemática”. Perante o conhecimento exposto,

os alunos apreendem ou não, por força do seu esforço ou capacidade apenas. Era

largamente o caso do ensino escolástico a que, infelizmente, nos mantemos, na

nossa praxis de ensino, muitíssimo fiéis. Neste caso, o professor é profissional de

um saber mais do que de uma função. E a sua profissionalidade esbate-se cada vez

mais, visto que essa função de transmitir um saber deixará a curto prazo de ser

socialmente relevante na medida em que o saber está hoje disponível de muitas

outras maneiras que não a fala do professor. No plano curricular, o desenvolvimento

curricular que realiza é em larga medida deficitário, na medida em que não se ocupa

da análise da situação dos aprendentes e do processo a desenvolver para que

aprendam, mas se ocupa sobretudo e apenas da organização de conteúdos.

(2) Ou considera-se que o professor ensina porque e enquanto é especialista da função

de estabelecer, fundamentado em saber próprio, a ligação entre os dois pólos de que

é mediador – o saber e o aprendente? Nesse caso, a leitura da função configura uma

dupla transitividade – o professor é aquele que ensina não só alguma coisa, mas

alguma coisa a alguém. Define-se, nesta perspectiva, como um profissional de

ensino: alguém que sabe - e por isso pode, e a sociedade espera que o faça -

construir a passagem de um saber ao aluno. Lida deste modo, a função incide na

organização activa do que Philippe Perrenoud designa como o trabalho de ensinar de

modo a possibilitar o trabalho de aprender (2000; 2003). A aprendizagem seja do

que for é sempre construída pelo e no aluno, de cujo esforço depende a consecução

final do aprendido. O professor não é um substituto do aluno, nem um assistente

passivo de uma suposta aprendizagem espontânea. Mas é o responsável da mediação

entre o saber e o aluno, porque é suposto ser ele – e não outros – a saber fazê-lo,

pela orientação intencionalizada e tutorizada de acções de ensino que conduzam à

possibilidade efectiva de o esforço do aluno se traduzir na apreensão do saber que se

pretende ver adquirido. Esta mediação é, nesta segunda leitura de ensinar,

129

corporizada no processo de desenvolvimento curricular, estrategicamente

organizado em função da aprendizagem curricular pretendida.

Na medida em que o desenvolvimento curricular assuma a forma de um processo

de gestão estratégica e contextualizada do currículo face a cada situação ou caso,

reforça-se também o estatuto de profissionalidade do professor porque a função de

ensinar, assim entendida, é alguma coisa que lhe é específica, que outros actores,

mesmo que dominem saberes conteudinais idênticos, não saberão fazer.

Tal como o médico não se afirma pelos saberes de Biologia ou Química que tem

de dominar, saberes comuns ao exercício de outros profissionais diferentes, mas pelo

modo específico como sabe conduzi-los e mobilizá-los para o desenvolvimento da sua

função específica, profissional, traduzida no acto médico, assim o professor não define a

especificidade da sua função pelo conteúdo científico, conteudinal, que apresenta ou

expôe, mas pela especificidade de saber fazer com que esse saber-conteúdo se possa

tornar aprendido e apreendido através do acto de ensino (Shulman, 1987).

Esta acção requer um outro vasto conjunto de saberes científicos, no campo da

educação e, particularmente, da teoria e desenvolvimento curricular, e está longe de ser

espontânea ou resultar automaticamente do domínio do conteúdo a ensinar e da sua

exposição-explicação de uma qualquer “matéria”. É no quadro desta segunda leitura de

ensinar, que aqui se assume, enquanto processo de gestão e organização do conjunto de

aprendizagens a promover, que o processo de desenvolvimento curricular assume o seu

sentido pleno, como adiante se explicitará.

3.4. O conceito de competência como referencial do desenvolvimento curricular – a usabilidade do aprendido42

Outro conceito intimamente ligado ao de desenvolvimento curricular, no quadro

actual das tendências e políticas educativas mundiais, é o conceito de competência, que

atravessa hoje todos os debates sobre a educação e, nomeadamente, sobre a sua eficácia.

A ideia competencializadora não é nova e está desde o início associada à escolarização.

Em última análise, é justamente a competência visada que constitui a meta a alcançar

pelo currículo escolar – ou ele seria destituído de legitimidade. Ensina-se algo na escola

42 Nesta secção, segue-se de perto o texto de ROLDÃO, M.C. “ Para um currículo do pensar e do agir: as competências enquanto referencial de ensino e aprendizagem”. Suplemento de En Direct de l’APPF, Fev 2005, 9-20.

130

(por exemplo, ler e escrever, ou usar as tecnologias, ou perceber os processos

científicos, ou a história, ou a economia, ou saber falar línguas, etc.) no pressuposto de

que o uso desses saberes é necessário: às pessoas, para agir, para trabalhar, para

sobreviver, para pensar, para progredir, na sociedade em que se inserem, e à própria

sociedade em causa, para garantir a sustentação dos seus mecanismos de produção,

organização, e desenvolvimento. Por isso existe, histórica e socialmente, um currículo –

conjunto de aprendizagens tidas como necessárias numa época e contexto – e para isso

se organizou uma instituição especializada que o assegure - a escola. Por isso esse

currículo é plástico, socialmente transformável, evolutivo na sua natureza, mas estável

na sua orientação finalizadora que, em última análise, o legitima.

A expressão “saber em uso” – que preferimos a “saber em acção”, usada por

Perrenoud - inspira-se sobretudo nas teorizações43 sobre a competência de Philippe

Perrenoud (2000) e Guy Le Boterf (1994), a que aqui nos reportamos. No plano

epistemológico, a ideia do uso (diferente de aplicação, ou acção) é inerente à própria

natureza do saber: o conhecimento implica capacidade e possibilidade de uso, ou

dificilmente poderá considerar-se verdadeiro conhecimento. No plano do chamado saber

escolar, a ideia aparece como nova, na medida em que se estabilizou, na cultura

estratificada na organização escolar e no grupo profissional docente, uma relação com o

saber que, em larga medida, se caracteriza justamente pelo não uso ou até pela

inutilidade.

Tal transmutação, que transforma o saber escolar num factor de opacidade em

relação ao verdadeiro conhecimento, resulta essencialmente do modo de organização do

trabalho curricular na escola, desde o próprio desenho dos saberes curriculares e

incomunicação que os caracteriza (entre si e com a realidade), até aos métodos de

trabalho centrados na conformidade ao exposto, tornados clássicos na escola

(apresentação, pergunta-resposta, teste ou exame que “fecha” o círculo da relação com

“aquele” saber), passando pela organização do tempo, espaços e recursos, todos eles

orientados para um “percorrer de” linear, sem espaços ou tempos para construção ou

mobilização de conhecimento.

43 Reportamo-nos a uma perspectiva construtivista da competência enquanto conceito integrador e complexo, totalmente distinto da concepção behaviourista e atomística de skill, muito influente em Portugal e na formação de professores na década de 70 do século XX.

131

O saber em uso opõe-se ao saber inerte, desprovido de sentido e vazio de

potencialidades. Não se restringe – nem aí reside – ao simplismo da ideia da

“aplicação”, nem conduz à desvalorização dos saberes sem aparente uso prático.

Conhecer e entender a música de Beethoven pode não ter “uso” prático para o cidadão

comum que não é músico. Mas será (ou não, dependendo do ensinar e do aprender de

que for objecto) um saber em uso, se permitir ao indivíduo entender mais, fruir melhor,

participar com mais conhecimento na cultura em que vive. Esse será o uso, de que aqui

falamos. Tomar os saberes como saberes em uso – isto é como autênticas formas de

conhecimento – implica assim ressignificar os tempos, os métodos e os espaços do

ensinar e do aprender de modo a que sejam reconduzidos às suas finalidades de

vitalização cultural e desenvolvimento do tecido humano e social. Em consequência da

ideia de saber em uso, importa compreender o sentido ou sentidos que podem ser

atribuídos ao conceito de uso, quando nos referimos a competências. Se não

restringimos a ideia de uso ao campo da estrita aplicação - o que de todo adulteraria o

conceito tal como aqui o entendemos - importa clarificar campos de possibilidade de

usos do saber.

Um dos eixos centrais do uso do saber é a capacidade de “religar”, parafraseando

Edgar Morin44, isto é, de estabelecer nexos inteligentes de vária ordem: entre o real e o

sujeito, entre o mundo introspectivo e o mundo da acção, entre o saber e a realidade,

entre os contextos, entre os saberes entre si, para se tornar capaz de lidar com a

complexidade da realidade que importa compreender. Joel de Rosnay reforça desta

forma essa necessidade de estabelecer a relação entre os saberes e entre os saberes e a

acção inteligente:

Gostaria de salientar a complementaridade entre abordagem analítica e abordagem sistémica. A primeira continua a ser necessária para extrair da Natureza os elementos e os factos que permitem basear as teorias. A segunda permite obter uma visão mais global dos sistemas, tornando possível a acção. A sistémica é uma metodologia que permite organizar os conhecimentos tendo em vista uma maior eficácia da acção. Aprender por aprender é uma coisa. Aprender para agir é outra. Aprender para compreender os resultados e os objectivos da acção é ainda outra coisa. Em vez de levar a cabo a acumulação permanente dos conhecimentos, a relação entre analítica e sistémica vai permitir religar os saberes dentro de um quadro de referências mais amplo que favorece o exercício da análise e da lógica. Não será este um dos objectivos fundamentais da educação? (Rosnay, in Morin, 2001: 437)45

44 Morin, E. (coord.) , 2001,O desafio do séc. XXI – religar os conhecimentos. Lisboa: Instituto Piaget. 45 Rosnay, J. Conceitos e operadores transversais, in In E. Morin , Op.cit.

132

Outra leitura do uso integrado no que se refere ao conceito de competência situa-

se no domínio da acção, em diferentes campos da vida social e individual: realização de

tarefas, interacção com outros, gestão de situações do quotidiano. Em todos esses

campos é necessário – e valioso – usar o saber para poder agir inteligentemente,

identificando a natureza da acção, os seus propósitos, o seu contexto, e assim poder

regular adequadamente o seu desenvolvimento.

Usa-se ainda o saber – e esta é a larguíssima fatia do uso do saber que permite

distinguir a pessoa culta – para pensar, para interpretar, para compreender, ou seja , para

poder conhecer mais e melhor, e para fundamentar o pensamento, o argumento, a

decisão. Todos identificamos o pesado défice desta vertente do uso nos alunos que

atravessam o sistema de ensino e saem dele: quantas disciplinas, muitas vezes com bons

resultados classificativos, em que realizaram estudo de textos sem ficar a ser capazes de

seleccionar informação pertinente? Quantas de matemática sem que fiquem a

compreender matematicamente o quotidiano? Quantas das ciências ditas exactas sem

que tenham ficado a saber analisar a realidade, interpretar os fenómenos científicos

polémicos, colocar hipóteses e estudar a sua viabilidade em qualquer situação da vida

pessoal ou profissional? Na gíria dos professores, de todos os níveis, é usual referenciar

esta ausência de competência (uso do saber e saber em uso) com a expressão “Vêm mal

preparados, têm falta de bases”. Que outra coisa quer isto dizer se não que, apesar das

boas classificações que possam ter tido, não aprenderam (porque não foram ensinados a

fazê-lo, nem nunca foram avaliados sobre isso) a usar o saber que formalmente terão

adquirido?

Uma outra importante dimensão do uso do saber é ainda a fruição que é

viabilizada pelo acesso a diversos campos do conhecimento. O saber que realmente se

adquire permite ganhos acrescidos, não só de acesso a novo conhecimento, mas de

apreciação, satisfação, capacidade de prazer e entendimento no domínio cultural. Aqui

se poderia retomar, a título de exemplificação, o uso da Música ou da Arte na

competencialização46 individual e social - para além de enriquecer a capacidade global

de pensar, o uso destes saberes amplia a possibilidade de usufruir de um conjunto de

bens estéticos e culturais que a escola supostamente deveria tornar acessíveis a todos, e

46- Entende-se por competencialização o processo intencionalmente organizado que visa tornar alguém competente nalguma coisa.

133

não apenas aos que já possuem, pelo acaso da origem social, os códigos de acesso a esse

mundo cultural.

Outro dos caracterizadores do uso de saberes consiste na capacidade de transpor

saberes – de um domínio para outro domínio, do campo conceptual para o accional, de

um contexto para outro contexto. Tranposição relaciona-se ainda com outra noção

central na operacionalização do conceito de competência – o contexto. A competência

nunca se pode visibilizar sem um contexto, face ao qual a mobilização de saberes se

accione. Le Boterf (1994) assinala a importância do contexto como sinalizador da

existência – ou não – da competência que estiver em causa. O saber em uso, tornado

competência, institui-se em capacidade de uso em novos contextos, portanto não

dependente do contexto em que a mesma foi inicialmente adquirida. Implica assim ser

capaz de transpor saber(es), adequando o seu uso a cada novo contexto.

Finalmente, a mobilização constitui, na análise de Le Boterf (1994) a essência

mesma da competência. É o próprio processo de mobilização, isto é a capacidade de

convocação, face a uma situação, dos conhecimentos necessários, e a sua articulação e

uso adequados, que, na sua perspectiva, indicia a competência. Exprime-o o autor desta

forma:

(…) A competência não reside nos recursos a mobilizar (conhecimentos, capacidades…) mas na própria mobilização desses recursos. A competência é da ordem do “saber mobilizar”. (...) Note-se, a propósito, o carácter particular desta mobilização. Ela não é da ordem da simples aplicação, mas da ordem da construção. O diagnóstico dum médico não é a simples aplicação de teorias biológicas. A engenharia de uma acção de formação não se reduz à aplicação das teorias da aprendizagem ou da psicologia cognitiva. (1994: 16-18).

No jogo cognitivo que a mobilização implica, podemos distinguir ainda várias

formalizações conceptuais associadas à ideia de competência: ao mobilizar,

necessariamente se integram conhecimentos e situações anteriores, produzindo sobre as

mesmas interpretações e adequando esse conjunto de elementos mobilizados e

integrados à especificidade do contexto.

É nesta perspectiva que se pode entender a importância que o conceito de

competência tem adquirido no debate curricular e nas políticas internacionais neste

domínio. A sua centralidade relaciona-se com a necessidade de repensar a valia

curricular da escola, como garante da apropriação de competências necessárias ao

desempenho pessoal, social, profissional. Nesse sentido se assume que o processo de

desenvolvimento curricular, gerido cada vez mais no nível contextual - meso e micro -

134

mas regulado ao nível macro, com responsabilidade crescente dos professores, se deve

orientar, nas complexas sociedades actuais para objectivos que claramente apontem no

sentido de desenvolvimento de competências, isto é, saberes actuantes e não inertes.

Trabalhar o currículo desse modo joga-se em processos de desenvolvimento curricular

assentes em estratégias adequadas a essa finalidade e regulados por uma avaliação

consistente com o processo de aprendizagem desenvolvido e os objectivos pretendidos.

Síntese

Procurou-se neste capítulo dar conta de algumas das linhas definidoras da

abordagem do conceito de desenvolvimento curricular enquanto operacionalizador do

currículo. Assim, estabeleceram-se as grandes fases que estruturam o desenvolvimento

curricular e o definem como processo de gestão da acção de ensinar e aprender:

concepção, operacionalização/implementação e avaliação. O entendimento destas três

fases que se defende não se configura como uma sequência segmentar e atomística,

meramente técnica, mas como um processo integrado e orientado por uma concepção

planificadora e finalizadora que lhe dá sentido e lhe confere uma orientação estratégica

face aos objectivos e aos sujeitos.

Realidade socialmente construída e politicamente administrada, o currículo

desenvolve-se na prática articulando um conjunto de patamares de decisão de cuja

interacção depende uma arquitectura curricular harmoniosa. O nível macro,

correspondente ao espaço decisional global de uma sociedade ou de um espaço dentro

dessa sociedade (nacional, regional, outros), o nível meso relativo ao campo de decisões

no espaço organizacional da instituição (escola ou agrupamento, ou outros) e o nível

micro relativo à concretização da acção curricular, no acto educativo concreto de cada

professor/conjunto de professores com os seus alunos/grupos de alunos.

Em articulação estreita com o desenvolvimento curricular, entendido como um

processo de construção/apropriação de saber pelo aprendente, orientado pela acção

especializada do professor, procurou clarificar-se o conceito de ensinar, marcado por

uma história de significações controversa, que aqui se assumiu e defendeu como a acção

especializada e fundamentada teoricamente de fazer com que outros aprendam,

caracterizador central da profissionalidade do docente.

Um segundo conceito, indissociável também do desenvolvimento curricular no

quadro social e político da actualidade, é o de competência, entendido, no essencial,

como saber em uso, mediador essencial entre o currículo escolar e a demanda social que

135

o legitima. A competência como referente curriculat implica contrariar a tendência

esterilizante da auto-suficiência do saber escolar, encerrado no seu círculo vicioso de

produção/avaliação interna, remetendo-o antes para a comunidade científica e para a

sociedade em geral como loci da sua efectivação e uso. O conceito de competência

constitui-se como organizador curricular privilegiado na medida em que orienta as

finalidades curriculares para a natureza social do conhecimento e destaca a relevância

da escola e do currículo na competencialização dos seus alunos no plano do saber

actuante, enquanto pessoas, profissionais e cidadãos.

136

Anexo 5

TEXTO DE APOIO À UNIDADE TEMÁTICA 3

137

Maria do Céu Roldão & Maria Ivone Gaspar

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM

SITUAÇÃO

Lisboa/ 2005

138

Introdução

O desenvolvimento curricular não se torna eficaz na promoção de um ensino de

qualidade se se reduzir a uma operacionalização de procedimentos puramente técnica e

descontextualizada, como tem sido por vezes a sua leitura mais comum entre os

professores ou até no plano da formação e da investigação.47 A sua pertinência

funcional e estratégica decorre de se tornar um “processo situado” que tenha em

consideração o contexto em que se opera. Desse contexto fazem parte as condições

pessoais e sociais dos aprendentes, as culturas de que são portadores, a forma como

podem ou sabem interagir com a multiplicidade de códigos que se activam na

aprendizagem em situação escolar, entre outras – aspectos que se analisam neste texto.

É com a perspectiva de adequação a contextos particulares que se relaciona o

conceito de currículo como projecto, que tem de confrontar-se e articular-se com o de

currículo como plano.

Por outro lado, a própria estrutura organizativa do trabalho escolar, nos seus

diferentes planos (escola, docente/s e aula, interacções entre pares, relação com

instrumentos de trabalho e estudo) constitui-se como um poderoso agente de

contextualização de todo o processo, em muitos aspectos determinante – processos que

se desenvolvem e explicitam também neste capítulo. Neste campo aborda-se em

particular a perspectiva do desenvolvimento curricular como gestão estratégica do

currículo pelos professores e escolas, enquanto decisores curriculares nos níveis meso e

micro, responsáveis pela eficácia e adequação das suas decisões tendo em vista a

maximização da qualidade das aprendizagens para diferentes sujeitos e contextos

particulares.

Procura-se ainda, na linha do capítulo anterior, clarificar sentidos para conceitos

intimamente relacionados com a prática do desenvolvimento curricular, entendido como

gestão estratégica do processo de ensino e aprendizagem, nomeadamente os conceitos

de projecto, liderança, supervisão e colaboração.

47 A “tecnicização” do desenvolvimento curricular, redutoramente olhado como o domínio das questões da planificação e avaliação, ocorre também no interior das próprias ciências da educação e explica a sua posição relativamente periférica como corpo de saber. As tendências mais recentes no plano teórico ( Vd Zabalza, Walker, Giméno Sacristán, Goodson, entre outros) bem como os contributos de autores ligados às perspectivas crítica e pós-crítica (Vd Apple, Popkewitz, Tadeu da Silva) têm contribuído para iluminar a centralidade do campo da teoria e do desenvolvimento curricular na construção de conhecimento educacional e na interpretação dos seus significados.

139

Uma última secção ocupa-se da especificidade da formação neste domínio, que

pela sua natureza accional mas necessariamente teorizadora e analítica, requer lógicas

de formação contextualizada.

1. Enquadramento do processo: factores determinantes à visibilidade do efeito e no processo.

O processo organizacional no Desenvolvimento Curricular.

Sumário O desenvolvimento curricular não se torna eficaz se se reduzir a uma operacionalização puramente técnica e descontextualizada. A sua pertinência funcional e estratégica decorre de se tornar um “processo situado” que tenha em consideração o contexto em que se opera. Desse contexto fazem parte as condições pessoais e sociais dos aprendentes, as culturas de que são portadores, a forma como podem ou sabem interagir com a multiplicidade de códigos que se activam na aprendizagem em situação escolar, entre outras – aspectos que se analisam neste texto (1.1.). É com a perspectiva de adequação a contextos particulares que se relaciona o conceito de currículo como projecto, que tem de confrontar-se e articular-se com o de currículo como plano (1.2.). Por outro lado, a própria estrutura organizativa do trabalho escolar, nos seus diferentes planos (escola, docente/s e aula, interacções entre pares, relação com instrumentos de trabalho e estudo) constitui-se como um poderoso agente de contextualização de todo o processo, em muitos aspectos determinante – processos que se desenvolvem e explicitam também neste texto (1.3.). 1.1. Os factores de enquadramento A abordagem situada do desenvolvimento curricular implica pensar todo o processo em

articulação estreita com os factores que o enquadram em cada contexto particular. É

essa centração e adequação a uma lógica de contextualização versus uma lógica de

aplicação que se constitui como um dos elementos de distinção do currículo como

projecto face ao currículo como plano – temática que se abordará na secção 1.2. deste

tema.

Assim, no plano macro, constituem factores clássicos reconhecidos na Teoria Curricular

(Tanner e Tanner, 1980): o saber, a sociedade e os alunos. No que respeita ao saber, há

que equacionar o estado de desenvolvimento da ciência e da cultura, dos saberes em

sentido lato, ao decidir que conteúdos e que objectivos priorizar no currículo de um

país, num dado momento histórico; no que se refere á sociedade, ela constitui a fonte

maior, ou o factor mais influente do currículo, já que é a pressão das necessidades

sociais, económicas, políticas, e o jogo de poderes e interesses que se lhe associam, que

140

determinam em larga medida as orientações e mudanças no que se refere à natureza e

conteúdos do currículo; por fim, o conhecimento sobre os alunos, o desenvolvimento de

saber científico sobre os modos de aprender, e as próprias características que, numa

dada situação e tempo, os distinguem no plano macro-social, constitui outro influente

factor a ter em conta na organização do currículo para uma sociedade.

Por outro lado, o processo de desenvolvimento curricular, considerado aos níveis meso

(escola) e sobretudo micro (situação aula), referencia-se sempre a factores relativos ao

contexto dos alunos, factores relativos ao contexto dos professores, e factores relativos

ao contexto da própria interacção, assumida aqui numa perspectiva ecológica

(Brofenbrenner, 1979). É dos factores do currículo a estes dois níveis – meso e micro –

que se ocupam as secções seguintes.

1.1.1. Factores relativos ao contexto do aluno: familiar, social, cultural.

O aluno, enquanto factor do currículo, era já referido por Ralph Tyler (1949) como uma

das fontes dos objectivos do currículo, na medida em que o conhecimento do aluno, das

suas características e interesses, deverá fundamentar a abordagem de todo o processo de

instrução, e ainda porque as ciências que se ocupam dos processos de aprendizagem dos

alunos, e o conhecimento por elas desenvolvido, constituem sustentação indispensável

da concepção do currículo e do seu desenvolvimento.

Em outros quadros teóricos, nomeadamente de matriz cognitivista e construtivista

(Bruner, 1960, 1996; Gardner, 1991), a importância do aluno como regulador (Roldão,

1999) de todo o processo de desenvolvimento curricular assume acrescida centralidade,

visto que o desenvolvimento curricular se organiza e orienta como um processo

estruturado em função da aprendizagem que se pretende que o aluno desenvolva. Por

outro lado, a massificação e extensão do ensino trouxeram à escola novos públicos, nas

últimas décadas do século XX, sendo cada vez mais este o cenário real com que a escola

trabalha e a que o currículo terá de dar resposta – um leque de alunos cultural e

socialmente diverso, perante quem a sociedade, através da escola, tem o compromisso e

a necessidade de garantir as aprendizagens curriculares que lhes permitam a necessária

integração social e sustentem o próprio desenvolvimento dessa mesma sociedade.48

48 Ver conceito de currículo, Unidades 1 e 2.

141

A questão da diversidade é, assim, central no que se refere à influência dos factores

contextuais no processo de desenvolvimento curricular. Podemos considerar diversos

campos no conjunto dos factores que se reportam ao contexto do aluno:

Factores psicológicos

Factores socio-culturais

Factores biográficos

Factores escolares

Factores psicológicos

O processo de aprendizagem que o desenvolvimento curricular visa organizar dirige-se

a sujeitos de aprendizagem cujas características psicológicas importa conhecer para

adequar o ensino e as respectivas aprendizagens a essa realidade. Assim são relevantes

características em termos de desenvolvimento psicológico (cognitivo, sócio-moral,

afectivo, outros) que permitam, ainda que de forma referencial, ter consciência das

diferenças nos modos de apropriação do conhecimento e de formulação de raciocínio,

níveis de julgamento e modos de comportamento que caracterizam, em termos gerais49,

os processos cognitivos ao longo do desenvolvimento humano (Mosher,1979;

Sprinthall & Mosher, 1978; Flavell & Ross, 1981). Este tipo de conhecimento permite

situar globalmente, para alunos de diferentes idades, a probabilidade de adequação de

determinadas estratégias e conteúdos de aprendizagem. Por exemplo, permite perceber

de que forma se desenvolvem os conceitos matemáticos em crianças em idade escolar

de iniciação, que requerem o suporte da experiência concreta para a construção de

abstracções com sentido. Ou clarificar a eficácia do uso do formato narrativo na

comunicação com crianças, diferente da que pode desenvolver-se com jovens adultos.

Ou estruturar adequadamente as fases mais adequadas ao desenvolvimento da

aprendizagem de uma língua estrangeira.

Mas todos estes aspectos de desenvolvimento psicológico só podem ser lidos como

quadro de referência geral, na medida em que, para cada processo e para cada sujeito

individual, se introduz, nesse quadro de referência, uma situação particular e única em

que se jogam outros factores, também eles de natureza psicológica. Entre eles contam-se

49 A leitura dos constructos da Psicologia do Desenvolvimento não corresponde a leis nem implica determinismo, sendo aliás, no plano teórico, objecto de alguma controvérsia a partir da década de 60 do século XX (Egan, 1987; 1999). Mas fornece sem dúvida um quadro interpretativo de referência riquíssimo, que permite ler de forma informada fenómenos que se desenrolam nos processos de aprendizagem ao longo das diferentes fases do desenvolvimento da criança e do adolescente.

142

características de personalidade, interesses pessoais, estilos de aprendizagem,

experiência e história individual. O conhecimento e análise destes factores é também

relevante para o processo de desenvolvimento curricular, permitindo ajustar estratégias,

ritmos, sequências que, para sujeitos diferentes, devem responder a essa diferença,

oprtimizando-a em termos de construção da aprendizagem comum que se pretende,

expressa nos objectivos curriculares de cada unidade ou sequência de trabalho.

Não se trata assim de enfatizar o diferente para nivelar, de forma segregadora, em

planos de consecução de objectivos de níveis diferentes, (a anacrónica situação de

“grupos de nível”, ou streaming, não promotora de melhores aprendizagens, como a

investigação tem largamente demonstrado), mas sim de rentabilizar a diferença para

optimizar o máximo ganho de aprendizagem curricular possível50. Tal tipo de

diferenciação significa organizar o trabalho da aula com previsão de interacções

colaborativas entre os alunos, confrontá-los com materiais e tarefas desafiadoras, mas

possíveis de resolver face ao ponto em que se encontram, mobilizando os conceitos

vygotskianos (Vygotsky, 1979; 1989) de aprendizagem inter e intra-pessoal e de ZDP

(Zona de Desenvolvimento Proximal)51.

A consideração do percurso individual de vida e experiência, que adiante se retoma no

plano social, é também relevante enquanto factor psicológico, já que as vivências

pessoais dos alunos constituem a base para construir o que John Dewey designava por

continuum de aprendizagem (Dewey, 1966) e de que a não consideração é, em grande

número de situações, uma das razões do insucesso na aprendizagem escolar, pela

distância a que os processos apresentados na escola se situam face aos códigos

dominados pelo aluno, sem qualquer nexo com outras experiências da sua vida real,

tornando-se por isso não significativas, mobilizando o conceito de aprendizagem

significativa teorizado por David Ausubel (Ausubel & Sullivan, 1970) 52.

Factores socio-culturais

50 Ver, a este respeito, a secção Diferenciação e equidade 51 Segundo Vygotsky (1979, Mind in Society), o desenvolvimento é um processo interpessoal – depende das interacções sociais – e ocorre pela interiorização/apropriação desses novos esquemas cognitivos – dimensão intrapessoal. Cada sujeito pode avançar no desenvolvimento das suas operações cognitivas com vista a construção de conhecimento mediante o equilíbrio entre o ponto de desenvolvimento em que se encontra e aquele a que pode chegar pela interacção intencionalizada com outros. Esse “espaço de manobra” para o desenvolvimento, entre o que é e o que pode ser, quando estimulado (nomeadamente pela mediação do ensino) é designado por Vygotsky como Zona de Desenvolvimento Proximal –ZDP. 52 Para David Ausubel a aprendizagem significativa opõe-se à aprendizagem por rotina, residindo a diferença em que, na aprendizagem significativa, os novos elementos se incorporam no esquema cognitivo e experiencial prévio do sujeito, que assim consegue atribuir-lhes um sentido e incorporá-los como seus.

143

A pertença social e cultural dos aprendentes constitui um outro elemento essencial de

ponderação na preparação e organização do desenvolvimento do currículo que os

professores realizam em cada dia. Esses factores de contexto são repetidamente

invocados pelos professores e escolas para justificar o “insucesso” dos alunos. Mas tal

conclusão levaria a pesar que alunos de meios desfavorecidos “não conseguem”

aprender, o que é manifestamente não verdadeiro. Se assim fosse, para quê a escola?

De que forma pesa então esse factor? Pesa – e tem de ser trabalhado intensamente – pela

necessária consideração do facto de alunos de contextos diversos serem portadores de

tipos de culturas e experiências, a que correspondem códigos culturais,

comportamentais e linguísticos, também muito diversos entre si, e por vezes muito

distantes do código e da cultura da escola. Face á expressão desse desajuste inevitável,

quem gere o currículo (as escolas e professores, nos níveis meso e micro) não pode

limitar-se a “catalogar” o desajuste – para isso não faria falta a escola como instituição

curricular incumbida socialmente de uma missão educativa para todos. Mas, pelo

contrário, terá de organizar os percursos de desenvolvimento curricular adequados (1) à

aproximação desses alunos face aos domínios de cultura e saberes que o currículo

escolar contempla (a cultura dita dominante, que, não devendo abafar as outras culturas

em presença, terá todavia de tornar-se acessível a todos) e (2) à integração das suas

culturas e saberes nas aprendizagens curriculares gerais, de modo a promover, em lugar

de impedir, o enriquecimento multicultural e intercultural do currículo escolar.

Ao não adequar o ensino a esta diversidade de públicos, a escola actua ao invés da sua

missão social: em vez de integrar exclui, em vez de ensinar abandona, em favor da

reprodução de um único grupo social, associado ao padrão cultural da classe média, que

assim reproduziria a exclusão e menorização dos restantes. Este fenómeno de

reprodução social operado pela escola, largamente estudado no campo da Sociologia

(Bourdieu & Passeron, 1970; Bernstein, 1996), está na raiz de grande parte do desajuste

que a escola actual manifesta face às novas realidades sociais a que precisa de

responder. No plano do desenvolvimento curricular a questão é muito visível e passa

por repensar o ciclo do desenvolvimento curricular, em termos de se ajustar, quer aos

objectivos sociais visados pelo currículo, quer à possibilitação planeada de caminhos de

aprendizagem que garantam a qualidade e o sucesso máximo a todos53,

53 Nesta perspectiva, não faz qualquer sentido a determinação do que se designou, em forma legislativa, como objectivos mínimos, já que o que compete á escola é garantir as aprendizagens essenciais a todos,

144

independentemente da pertença social, e justamente respondendo-lhe de forma positiva.

A função reprodutora da escola coexiste com a função reconstrutora e de promoção de

melhores níveis de equidade social (OECD, 1996; 1999).

Factores biográficos

Os factores sócio-culturais, pese embora a sua relevância, não reduzem os aprendentes a

um mero colectivo de um grupo de pertença, nem essa pertença pode ocultar a

especificidade dos percursos individuais de cada sujeito. De facto, se é certo que as

crianças de determinado meio não dominam, genericamente, por exemplo, determinados

códigos linguísticos necessários à aprendizagem, todavia cada uma, mercê do seu

percurso individual, das interacções que pôde estabelecer, da experiência individual,

desenvolve o seu próprio percurso que a escola e o professor terão de considerar.

Bernard Charlot (Charlot, Bautier & Rochex, 1999) investigou, a este propósito, grupos

de alunos de dois bairros de Paris, caracterizados por estratos sociais opostos,

identificando casos de sucesso nos grupos desfavorecidos e casos de insucesso nos

grupos favorecidos, diversidade que se explica por outros factores que não apenas o

contexto, factores relativos à história individual da escolarização desses alunos e,

nomeadamente, à forma como se estabeleceram e desenvolveram as suas relações com o

saber fora da escola, com o saber escolar e com a mediação dos professores e dos

colegas.

Renova-se assim a visibilidade do papel de um desenvolvimento curricular estratégico,

concebido e gerido com base numa cuidadosa análise, de modo a permitir um conjunto

de estratégias de trabalho adequadas às especificidades e à diversidade dos alunos,

rentabilizando - e não diabolizando ou catalogando - as suas diferenças, e orientadas

para a consecução das metas de aprendizagem comuns, definidas para o currículo em

causa.

Factores escolares

A linha biográfica na consideração dos factores relativos ao aluno passa por uma

segunda linha de análise – o percurso e vivência de cada aluno na escola. Suponhamos

uma turma de um subúrbio degradado de uma grande cidade, em que a maioria dos

alunos fala crioulo e em que a escola nada conseguiu fazer para integrar os alunos e no nível máximo que for possível para cada um, e não o estabelecimento de objectivos ditos “mínimos”, correspondentes a aprendizagens de segunda escolha para alguns.

145

trabalhar com essa diferença. Numa situação desse tipo, cada aluno atravessa

seguramente níveis sucessivos de reprovação, a que se virão associar aspectos sociais de

rejeição e agressividade que, quando um desses alunos, eventualmente, muda para outro

contexto, todavia o acompanham e estabelecem um ponto de partida negativo na sua

inclusão no percurso curricular da escola e na sua relação com o saber.

As reprovações sucessivas constituem um outro exemplo destes efeitos do percurso

escolar. Alegadamente destinadas a que não progrida quem não atingiu os objectivos,

utilizam a avaliação puramente certificativa para afirmar, e com justeza, essa não

consecução. Mas, se não houver, associado a esse procedimento, a regulação do

trabalho pessoalizado com o aluno, a “repetição” traduz-se na mera acumulação de

desaires e no “transporte” do aluno repetente, empurrado de turma em turma, sem que

nunca chegue a aprender alguma coisa, como era a expectativa invocada.

Curiosamente os países com níveis muito altos de sucesso, expresso não apenas

estatisticamente nas aprovações, mas efectivamente nos desempenhos testados e

avaliados rigorosamnente (caso da Finlândia, neste momento muito referenciada pelos

seus excelentes resultados nos estudos PISA I e II), não contemplam a figura da

repetência, mas também não têm insucesso – provavelmente porque a escola se ocupa

cuidadosamente do seu sucesso, através da regulação constante dos seus processos de

desenvolvimento curricular, adequando-os às situações.

1.1.2. Factores relativos ao contexto do professor – formação, cultura, crenças

O outro elemento do binómio curricular (ensinar/aprender) é o professor, e não

pode descartar-se o peso de um conjunto de outros factores associados ao professor que

influenciam, de forma marcante, toda a orientação do desenvolvimento curricular, por

maioria de razão, já que ele é, nesse processo, o decisor principal.

O professor exerce a sua acção docente também a partir de uma experiência e de um

percurso individual, profissional e académico, e muito particularmente no quadro de

uma cultura profissional dominante, em que foi e continua a ser socializado, e no

interior de uma organização pesada – a escola - marcada por crenças e rotinas

enraizadas e, muitas vezes, inquestionadas e sujeitas a uma representação

“naturalizada”.54

54 Falamos de representação naturalizada (conceito trabalhado na Sociologia) quando, por défice de análise, se olha um qualquer fenómeno social como se fosse imutável e espontâneo, ignorando o modo construído como se estabeleceu, a sua mutabilidade e transitoriedade, e o papel dos actores e dinâmicas sociais que nele intervêm.

146

A forma como o professor organiza as suas aulas, ou seja, estrutura o processo de

desenvolvimento curricular, é frequentemente mais condicionado pelas práticas

dominantes e pela sua própria experiência de aluno, que tende a reproduzir (processo de

isomorfismo), do que pela visão estratégica e fundamentada do modo de construir a sua

acção de ensinar para que ela seja eficaz. Assiste-se, neste domínio, a uma curiosa

ruptura entre a “cultura da formação” e a ”cultura da prática” que parece rejeitar os

inputs teóricos de novo conhecimento em favor da reprodução acrítica de

procedimentos clássicos, apesar de estes se mostrarem todos os dias ineficazes face aos

alunos e às necessidades do tempo actual. Refira-se, por exemplo, o largo predomínio

da exposição/apresentação como estratégia quotidiana (“dar a matéria”, na gíria dos

professores) ou a natureza rotineira das tarefas predominantes em sala de aula, ou o uso

seguidista de manuais, sem intervenção nem concepção por parte do professor.

Conceber e organizar estratégias de ensino (Vd. Unidade 2) implica justamente que o

professor se distancie criticamente dessa visão e, analisando cada situação, construa,

como profissional analítico e crítico, o percurso de ensino e aprendizagem mais

adequado à eficácia da aprendizagem pretendida.

A ausência ou escassez de procedimentos de regulação, avaliação externa e interna, do

desempenho de escolas e professores, agrava e estimula esta cultura reprodutora

defensiva que, entre outros factores, contribui para o insucesso da escola. Os resultados

de estudos internacionais (TIMSS, 1996; PISA I, 2001; PISA II, 2003, entre outros)

apontam, claramente as metodologias de ensino como os factores mais directamente

correlacionados com os níveis de desempenho dos alunos, muito acima da influência de

todos os factores de contexto social e cultural.55

1.1.3. Factores relativos ao contexto da interacção – abordagem ecológica

A actividade curricular desenvolve-se em contexto, ou melhor dizendo, em

diversos contextos, não podendo desligar-se o seu desenvolvimento das interacções que

esses diversos contextos proporcionam face ao currículo, e ao ensino e aprendizagem

que estruturam e medeiam o seu desenvolvimento. Alarcão e Sá-Chaves, baseando-se

no modelo ecológico de educação teorizado por Bronfenbrenner, escreveram: “a

ecologia do desenvolvimento pessoal e profissional do professor implica o estudo (...)

da interacção mútua e progressiva entre, por um lado um indivíduo activo, em constante

55 Os Relatórios destes Projectos podem ser consultados através da página do GAVE, Ministério da Educação.

147

crescimento, e, por outro lado, as propriedades sempre em transformação dos meios

imediatos em que o indivíduo vive, sendo este processo influenciado pelas relações

entre os contextos mais imediatos e os contextos mais vastos em que aqueles se

integram” (1994:210). A posição referida diz respeito ao professor, mas a mesma leitura

interaccional e ecológica se aplica, segundo estes autores, a qualquer sujeito num

processo de desenvolvimento e aprendizagem.

É neste quadro de interacção ecológica, propiciadora de diversos processos de transição,

na terminologia de Bronfenbrenner (1979) que o processo de desenvolvimento

curricular, levado a cabo no nível micro da sala de aula, tem de se articular com os

quadros ecológicos – níveis meso e macro, no quadro dos quais o professor desenvolve

a sua acção. Referenciam-se, como numa lógica de círculos concêntricos, os seguintes,

face aos quais os gestores do currículo – professor, grupo de professores, departamento,

conselho de turma, outros - têm de questionar-se, particularmente aquando da fase de

concepção do desenvolvimento curricular (Vd. Unidade 2), no nível da análise de

situação, de que deverão resultar as suas opções em termos de estratégia de ensino e

organização das actividades – ou experiências de aprendizagem - desenhadas para a

consecução da aprendizagem pretendida:

- A aula e sua organização de trabalho

Que metodologias de ensino são as mais frequentes? com que resultados? Que

outras poderiam ser ensaiadas? Porque (não) são? Como reagem os diferentes

alunos perante diferentes estratégias? Que processos cognitivos são suscitados

ou estimulados? Que clima de trabalho é criado na aula? Com que grau de

paricipação, exigência e responsabilidade? Que modos de regulação e avaliação

são implementados? Como se repercutem sobre a melhoria da aprendizagem dos

alunos?

- A escola: lideranças e organização do trabalho

Como se organiza o trabalho dos professores sobre o currículo? na preparação

das suas aulas? entre professores de uma disciplina, face a problemas concretos?

entre professores de várias disciplinas para desenharem estratégias comuns?

existem exemplos do desenvolvimento articulado de estratégias? que espaços de

discussão e análise existem entre os professores? Há algum exemplo concreto de

trabalho realmente colaborativo? de cooperação entre pares, na docência? na

148

planificação? em ambas? com que resultados? existe trabalho colaborativo na

acção em espaços transversais? qual?

Quem exerce orientação e supervisão sobre o trabalho dos professores/grupos de

professores? De que forma os responsáveis por gestão intermédia56 (director de

turma, chefe de departamento) desenvolvem as suas funções no que se refere ao

currículo e respectiva acção docente?

- A escola e a comunidade

De que forma se (não) estabelece a colaboração entre a escola e a

suacomunidadeenvolvente? Que iniciativas da escola corporizam a intenção de

cooperar com os outros agentes educativos, nomeadamente as famílias? Que

estratégias de acção concreta são desenvolvidas para afirmar a valia da escola na

comunidade? e da comunidade na escola? Em que medida os documentos

estratégicos da escola se ocupam desta interacção? Como são percepcionadas e

valorizadas pelos alunos e professores estas relações? Com que implicações?

Que estratégias são desenvolvidas pela escola e pelos professores face a alunos

com maiores dificuldades no plano económico, linguístico, cultural, no sentido

de acompanharem, em igualdade crescente, as tarefas e actividades propostas no

trabalho curricular das aulas?

1.2. Diferenciação e equidade57

Multiplicam-se no plano político-pedagógico e curricular as orientações no sentido de

gerir o currículo numa lógica diferenciadora, assumindo-se neste texto a designação de

diferenciação curricular como englobante do conjunto de acções curriculares a

diferentes níveis (políticas curriculares, gestão e organização do currículo na escola,

práticas docentes e organização da aprendizagem) deliberadamente orientadas no

sentido de tomar em consideração a diversidade dos públicos escolares para mais

adequadamente promover o sucesso das suas aprendizagens. A visibilidade acrescida do

conceito emerge, particularmente nas últimas décadas, como é sabido, em correlação

56 Vd. Roldão, M.C. O Director de Turma e a Gestão Curricular (1995). Cadernos de Organização e Gestão Escolar, 2. Lisboa: IIE - Instituto de Inovação Educacional 57 Esta secção retoma partes de texto anteriormente publicado por ROLDÃO, 2003, “Diferenciação curricular e inclusão”, in David Rodrigues (org.) (2003) Perspectivas sobre a Inclusão – Da Educação à Sociedade, pp. 151-166. Porto: Porto Editora

149

com os efeitos da massificação escolar já abundantemente estudados, particularmente

nas suas vertentes sociológicas e organizacionais.

O conceito de diferenciação curricular parece ser operativo no futuro, e inevitável a sua

centralidade efectiva. Terá de ser central e estruturante na reconceptualização da

aprendizagem escolar, na medida em que a diversidade social se acentua – ou se

reconhece e nomeia – e num tempo em que o grupo social homogéneo e estanque não é

nem será mais o definidor único das pertenças sociais dos alunos das escolas de hoje e

do futuro. As práticas de ensino bem sucedidas, estudadas na investigação, são

recorrentemente aquelas que apostam em organizar estratégias de diferenciação

autêntica para os seus diferentes estudantes (Hopkins, 2000).

Tal reconhecimento implica todavia abandonar a ilusão de que se pode diferenciar

práticas docentes ou gerir diferenciadamente um currículo nacional comum no quadro

de uma escola que se continue a pensar como organização uniformista obsoleta, fiel à

herança de um passado que já não existe.

Do que se trata, a nosso ver, é de re-situar a escola na sociedade, reorganizando-a na

base de um paradigma de escolarização assente justamente na diferenciação como

referencial e norma, e na prática profissional autónoma, informada e reflexiva como

eixo da acção organizacional (Alarcão, 2001; Roldão, 2001).

Como eixos de problematização desse paradigma de escola, que julgamos

inevitavelmente emergente, sublinham-se os seguintes:

- O currículo visa sempre, no plano social, metas, saberes e competências que

deverão, numa lógica de equidade, ser comuns - o que não implica que sejam

perseguidos e alcançados através de um menu curricular único.

- É a aproximação efectiva de todos os alunos, qualquer que seja o seu ponto de

partida, a essas metas comuns, que pode garantir com mais eficácia os diversos

acessos sociais que são certificados pela escola, e da qual esta terá de prestar

contas.

- Políticas de diferenciação curricular como remediação, mantendo-se a escola

organizada nos moldes actuais, são inevitavelmente reabsorvidas na

uniformidade da estrutura escolar, agravando até a sua ineficácia e o fosso entre

sujeitos com pertenças diversas no plano cultural e social.

- A operacionalização de uma diferenciação consistente para um sucesso menos

ofensivamente diferente, em termos de escola e currículo, consiste em

reconstruir a estrutura organizativa do trabalho de ensinar e aprender

150

(Perrenoud, 1997), tomando a diversidade como referente da organização e não

como desvio a uma norma tornada insignificativa na escola de hoje.

Tal referencial, assente na diversidade, tem as suas principais implicações ao nível da

organização do trabalho de ensinar e aprender no quadro do currículo escolar com base

em:

- outras unidades de agrupamento que não a classe;

- outras tipologias de trabalho que não a exposição, aplicação-verificação ou

apresentação de tarefas rotineiras;

- abandono da segmentação como critério da organização do tempo e do espaço;

- abandono da propriedade individual do professor sobre o espaço e o tempo da

“sua” aula;

- abandono da distribuição unidireccional – e largamente inerte ou retórica e

mecânica - da informação, do discurso e da pergunta;

- organização do espaço e do tempo escolar em formatos diversos (pequeno

grupo, pares, seminário e apresentações por professores e alunos, horas e tempos

dedicados a actividades determinadas e flexíveis);

- organização do trabalho dos professores em termos de (1) disponibilização

consistente e organizada de saber científico e de modos de a ele aceder; (2)

passagem de informação estruturante; (3) apoio/tutorização de grupos de alunos

por professores que de facto orientem percursos de aprendizagem individuais e

interacções dos alunos na construção de saber; (4) mecanismos constantes de

regulação do trabalho desenvolvido e das aquisições e sua apropriação e uso por

todos os aprendentes;

- acesso a, e incorporação de, outros agentes sociais de divulgação de saber e

cultura(s), de forma a permitir o máximo de apropriação cultural efectiva e não

reprodução mimética dessa versão particular do saber que se constitui como um

corpo de dados inerte a que chamamos a “cultura escolar” (Correia, 1999);

- regulação social externa, face ás competências e saberes assumidos como core

curriculum, equitativamente comum de facto, em cada sociedade e época.

Este repensar da escola, em termos da sua estrutura conceptual de referência, exigirá,

nesta perspectiva, abandonar a ilusão de uma diferenciação soft, desenvolvida adentro, e

segundo as regras de uma matriz de uniformidade que a contradiz, mas se mantém

largamente dominante e estruturadora da organização. A possibilidade real da

151

diferenciação passa assim por uma “nova diferenciação” – ou seja, renovar a matriz da

escola sob o signo da diversidade, pois esse é o cenário social e educativo real em que

hoje se vive e é sem regresso.

2. O currículo como plano e o currículo como projecto

Sumário

É com a perspectiva de adequação a contextos particulares que se relaciona o conceito de currículo como projecto, que tem de confrontar-se e articular-se com o de currículo como plano. O currículo como plano corresponde, em sentido lato, a uma racionalidade de tipo técnico, que encara o currículo sobretudo como acção planeada, cuja execução é objecto da respectiva regulação e retroacção face ao cumprimento de objectivos pré-definidos. O currículo como projecto inscreve-se numa racionalidade prática, crítica e construtiva, que concebe o currículo como instrumento a construir e regular de acordo com as realidades contextuais em que o seu desenvolvimento se situa. A dimensão de planeamento inscreve-se no projecto mas de forma flexível e ajustável. No plano do desenvolvimento curricular em situação – níveis macro, meso e micro - o currículo é ele próprio lido como um projecto de aprendizagem, pensado respectivamente para um país, uma instituição, ou uma situação educativa concretas.

2.1. O currículo como plano

A ideia de planeamento enquanto instrumento de previsão e controlo prévios do

desenvolvimento de uma acção – económica, educativa, outras – teve o seu período de

maior influência nas décadas de 50 e 60 do século XX, marcadas pela matriz do

crescimento e relançamento da economia que caracterizou o pós-guerra. No campo da

educação assinala-se a influência das teorias behaviouristas (Bloom, 1956; Taba, 1962;

Tyler, 1949) que marcaram a época, e trouxeram à educação escolar instrumentos

técnicos desenhados para garantir eficácia da acção, largamente associados ao campo da

planificação ou planeamento, associados a uma forte dimensão de controlo/regulação,

feed-back e reorientação.

A associação desta perspectiva técnica a uma concepção behaviourista de

aprendizagem traduziu-se em alguns pressupostos básicos, nomeadamente:

- a aprendizagem é uma mudança ocorrida ou provocada no sujeito;

- o resultado da aprendizagem (processo interno ao sujeito) só pode ser apreendido pelo

outro através de condutas (behaviours) o que corresponde, na perspectiva em causa, a

comportamentos observáveis;

152

- o ensino é assim visto como um conjunto de processos de estimulação que conduzam

o aluno, através de actividades de aprendizagem, ao objectivo pretendido, cuja

consecução se avalia pelas suas manifestações observáveis.

O desenvolvimento curricular trata assim, nesta perspectiva, de racionalizar o

melhor possível os procedimentos e actividades de modo a que objectivos de mudança

comportamental, isto é, traduzidos em comportamentos expressos, possam ser

estimulados, desenvolvidos, treinados.

Ralph Tyler exprimiu com clareza a lógica do currículo como plano: “O

propósito do estabelecimento de objectivos é indicar o tipo de mudanças que devem ser

suscitadas, de modo a que as actividades de ensino possam ser planeadas e

desenvolvidas de forma a atingir esses objectivo; isto é, a provocar essas mudanças nos

estudantes, no aluno”(1949:45).

Toda esta abordagem do planeamento curricular como técnica de condução do

aprendente a uma modelação previamente definida foi muito influente nas práticas de

ensino, particularmente na década de 70, em que a “planificação por objectivos” se

tornou, nessa época, em Portugal, a referência básica da formação e dos estágios para

professores. A preocupação com o rigor da forma do objectivo e da sua explicitação em

comportamentos levou a técnicas apuradas de organização e classificação desses

objectivos, expressas nas numerosas taxonomias de objectivos, nos domínios cognitivo,

afectivo, e outros, das quais a de Benjamin Bloom foi das mais referenciadas e usadas

(Bloom, 1956).

O êxito desta abordagem técnica do desenvolvimento curricular pode

compreender-se pela eficácia que a sua tecnicidade aparentemente imprimia ao processo

de ensino, ajudando, de facto, a estabelecer níveis de consecução, a distinguir graus e

tipos de actividades propostas em consonância com o objectivo visado, a tornar mais

rigorosa a avaliação. Como críticas principais, que envolveram a comunidade científica

e os professores (Roldão, 1981), refiram-se as seguintes:

- a aprendizagem não se esgota nos comportamentos observáveis; - os

comportamentos observáveis podem ser obtidos por treino sem que tenha

realmente ocorrido a aprendizagem;

- o processo curricular não se esgota na condução mecânica de um conjunto de

acções para chegar a demonstrar um comportamento; requer uma

transformação/apropriação que tem de ser ajustada e construída ao longo do

próprio processo.

153

A este respeito se pronunciava Herbert Kliebard em 1971 nos seguintes termos,

considerando o paradigma de Tyler “desejável para aqueles que concebem o currículo

como uma complexa maquinaria destinada a transformar material em bruto, que as

crianças trazem consigo para a escola, em produtos acabados e úteis” (1975:71; cit in

Tanner e Tanner, 1980: 91).

Contudo, é importante sublinhar que a dimensão plano é sempre essencial ao

conceito de currículo e desenvolvimento curricular, o que é diferente de adoptar uma

racionalidade técnica de currículo como plano. De facto, o currículo traduz e

operacionaliza sempre - mesmo quando entendido como projecto – uma dimensão de

finalização, sequencialidade, organização e sistematicidade, que convocam

necessariamente uma ideia de plano organizado.58 É ao nível da racionalidade subjacente

a esse processo planeado que se distinguem filosofias curriculares de matriz tecnicista

ou construtivista.

Uma outra leitura do currículo como plano associa-se ao formato escolar que

vem organizando o currículo numa estrutura permanente e sequencial de disciplinas – o

plano de estudos – e estabelecendo, em cada disciplina, uma organização-plano

sequencial de temas ou tópicos, vulgarmente designada como programa. Tal estrutura,

marcada por uma rigidez forte nos sistemas educativos de administração centralizada,

como o português, e apropriada como prescritiva ou normativa pelas escolas e

professores, tem contribuído para uma leitura redutora do currículo, tomado como uma

lista de conteúdos e disciplinas, quando, como já foi analisado em unidades anteriores, a

sustentação e legitimação social desse currículo se funda nas aprendizagens que

intencionaliza, e face às quais os conteúdos são apenas meios ou caminhos, e não fins

em si mesmos, ainda que indispensáveis ao percurso de aprendizagem e integração

social pretendido.

Também aqui se assinala a simplificação que pode resultar dessa leitura, sendo

que, certamente, o currículo pressupõe sempre a construção de um plano, de uma

sequência, um caminho estruturado. Como sublinha Ivone Gaspar, num estudo

58 Miguel Zabalza (1992: 30-32) referencia e comenta os oito princípios, enunciados por Scurati, para o desenvolvimento de um currículo: Princípio da realidade, princípio de racionalidade, princípio de sociabilidade; princípio de publicidade; princípio de intencionalidade; princípio de organização ou sistematicidade; princípio de selectividade; princípio de decisionalidade. Zabalza acrescenta um nono – o princípio de hipoteticidade, segundo o qual “toda a decisão, proposta, projecto ou análise, tem por base a sua natureza dialéctica, não submetida a regularidades fixas”.

154

investigativo que coordenou, incidindo justamente sobre o nível do currículo enunciado

(Planos de Estudos de diversos países): “a planificação do currículo implica escolhas:

escolha entre teorias de natureza diversa, entre finalidades sociais, entre sistemas

psicológicos, entre sistemas pedagógicos, entre meios de organização da

educação”(Gaspar, 2001:30).

Mas nenhuma razão legitima a ideia de que esse plano deve ser único,

indiferenciado e cego face a circunstâncias diversas. Um plano de estudos referencial,

que será sempre indispensável, pode – e deveria – ser reinterpretado e reelaborado da

forma mais adequada em contextos e situações diversas, de modo a garantir a melhor

forma de alcançar as finalidades pretendidas. Trata-se, mais uma vez, de retomar o nível

macro do plano curricular nacional (referencial comum) e reconstruí-lo, como projecto

contextualizado, em cada escola (nível meso) e em cada situação de aula (nível micro),

mediante a construção de planos próprios.

2.2. O currículo como projecto - escola mediadora e centro da decisão curricular59

Uma das principais dificuldades da escola actual - e a principal responsável pelo

seu crescente insucesso na educação satisfatória de um número cada vez maior dos seus

alunos, que saem escolarizados (mas não educados ou sequer instruídos) - reside no

formato organizativo e curricular que a escola continua a perpetuar, quando a realidade

é profundamente diferente da de décadas anteriores. Não é possível continuar a

conceber o currículo de uma forma estática, apenas como um plano, rígido nos seus

conteúdos, organização e modelos de trabalho, a partir de um único padrão,

centralmente definido que supostamente as escolas “aplicam”.

Daí que assuma tanta centralidade a gestão do currículo. Não porque ela não se

tenha feito sempre, mas porque não é rentável nem eficaz continuar a fazê-la de forma

estereotipada e uniforme - com os fracos resultados que estão à vista.

É neste sentido que a lógica de projecto curricular contextualizado tende a

afirmar-se crescentemente sobre a lógica da administração nacional do currículo.

Aquilo que se busca, na gestão autónoma das escolas, é simplesmente uma via de maior

eficácia e adequação aos públicos. A justificação desta tendência, visível em todas as

dinâmicas sociais (saúde, economia, apoio social, cultura, etc.) reside na procura de

59 As secções seguintes seguem de perto Roldão, M. C. 1999, Gestão curricular: Fundamentos e Práticas. Lisboa: DEB.

155

mecanismos mais eficazes. No caso da educação, trata-se de equacionar caminhos

diferenciados dentro de balizas nacionalmente estabelecidas e controladas, que

conduzam a um maior sucesso da escola na sua função essencial: conseguir que os

alunos adquiram as aprendizagens curriculares com uma eficácia aceitável que lhes

permita assegurar a sua sobrevivência social e pessoal e um nível de pertença e

desempenho socio-cultural que permita à sociedade manter-se equilibrada e superar os

riscos de ruptura.

Assim, se a escola se define como instituição curricular, o projecto educativo de

cada escola terá que ser essencialmente um projecto curricular, isto é, de opções quanto

às aprendizagens (de todo o tipo) que cada escola queira assumir como suas prioridades

(dentro das balizas do currículo nacional e das suas finalidades) e quanto aos modos

que considera mais adequados para o conseguir com sucesso, trabalhando o seu

projecto de forma integrada (Alonso, 1985). Que outro conteúdo pode ter um projecto

educativo na escola que não seja a aprendizagem pela qual a escola é responsável, isto

é, o currículo?

É neste sentido que Zabalza afirma: “A minha ideia acerca do que é um

currículo, e de como se articula operacionalmente, contém como um dos seus

elementos básicos a ideia de que se trata de um projecto: haveria que interpretar a

actividade escolar como um todo integrado, e não como o conjunto de intervenções

individuais (cursos separados, disciplinas separadas, professores separados) que se

justapõem ou sucedem sequencialmente no tempo”(1992a: 88-90).

Currículo como projecto pressupõe assim alguns elementos definidores essenciais:

- o currículo (do nível macro ao micro) constitui um projecto de aprendizagens

socialmente necessárias para um determinado contexto: são essas que é

necessário “cumprir”, isto é, tornar efectivas e actuantes;

- o currículo como projecto pressupõe a construção contextualizada de um plano

de acção – e não a mera aplicação ou o consumo cego de um “currículo pronto-

a-vestir de tamanho único” (Formosinho, 1987);

- o currículo como projecto, servido por um plano ajustável, tem de ser gerido

pelos actores de forma a garantir a sua adequação a diferentes situações e a sua

eficácia final – nos resultados da aprendizagem de todos os alunos;

- o currículo como projecto pressupõe a integração finalizada de todas as acções

curriculares;

156

- o currículo como projecto requer a organização colaborativa permanente do

trabalho escolar de professores e alunos.

2.3. O currículo como projecto - garantia e melhoria das aprendizagens dos alunos

O que está a mudar no currículo da escola pode resumir-se nalguns pontos

essenciais:

1. As sociedades actuais estenderam e continuam a estender a escolaridade - vertical

e horizontalmente: tornando mais longo o tempo de permanência em formação

escolar, e alargando-a a todos os elementos dessa sociedade.

2. As sociedades actuais são cada vez mais heterogéneas do ponto de vista étnico,

cultural, linguístico, etc.

3. A escola actual constituiu-se historicamente a partir de um modelo - curricular e

organizativo - pensado para uma audiência relativamente homogénea, de grupos

bem definidos, e orientado para o acesso de apenas um sector da população aos

postos e funções sociais mais relevantes.

4. A escola actual, herdeira da forma escolar (Nóvoa, 2005; Canário, 1999; Barroso,

1992) dos séculos XVIII e XIX, reflecte essa estrutura na sua organização e

currículo: organização de turmas na base do princípio da norma (todos como se

fossem um) e da rentabilização de recursos materiais e humanos (quando se

tornou preciso alargar o ensino a maior número de pessoas, após a revolução

industrial, por oposição ao ensino individual e doméstico das classes abastadas).

5. A alteração da coerência deste modo organizativo da escola - primeiro nas

sociedades mais desenvolvidas - explode a partir da década de 60, com a

massificação do ensino, e com o reconhecimento da necessidade de escolarização

da população no seu todo para o desempenho de qualquer função social ou

profissional (combate ao analfabetismo, à época ainda muito significativo).

6. As mudanças e melhorias que na escola se têm procurado introduzir são inúmeras

e valiosas e representam extraordinário investimento e esforço dos decisores e

dos professores. Mas não têm, contudo, posto em causa o modelo no seu

essencial. É como se acreditássemos que a escola que conhecemos tem de ser

forçosamente assim, como a conhecemos, e como se esta forma fosse, à partida, o

modo “natural” de ensinar (professor, compêndio, turmas…). A naturalização de

processos culturais constitui, como sabemos, um obstáculo considerável à sua

reconversão.

157

7. A grande “crise” da escola, de que falamos hoje constantemente, não é tão grave

assim; está simplesmente ligada a este desajuste de fundo: queremos aplicar um

tipo de escola idêntico - nos planos organizativo e curricular - a uma situação que

é totalmente diferente.

Daqui resulta o facto de a ineficácia do ensino escolar se agravar, e crescer o

chamado insucesso escolar, vulgarmente associado ao insucesso dos alunos. De facto, e

se relembrarmos que todos os indivíduos, à excepção de uma pequena faixa que não

excede os 5%, são capazes de realizar a aprendizagem que a escola pretende, estes

indicadores afirmam sem margem para dúvidas o pesado insucesso da instituição

escolar - a escola não consegue fazer aprender aos públicos actuais, sobretudo porque

persiste em aplicar um modelo de funcionamento arcaico. O insucesso que colocamos

nos alunos é de facto o insucesso desta instituição que, entre nós, falha em ensinar

eficazmente mais de 30% dos seus alunos. Já John Dewey, escrevendo em 1902 (1956:

4-8, cit. in Tanner & Tanner, 1980: 79) sublinhava os inconvenientes, para a eficácia da

aprendizagem, de não se atender, no processo curricular, à necessária articulação entre a

realidade do aluno, as finalidades sociais e as especializações e áreas do currículo.

Face a este insucesso da escola, o movimento defensivo orienta-se para excluir

todos os que não se integram na norma, ou para criar diferenciações por discriminação -

por exemplo, remeter para outras instâncias todos os que se afastam da referida norma,

ou certificar mesmo os que não aprenderam ou aprenderam menos do que seria

necessário, ou separar grupos de níveis de aprendizagem diferentes (para alguns, que

“têm” mais problemas, bastariam “os mínimos”).

Na prática, procura-se manter um tipo de turma em que todos sejam

suficientemente semelhantes para que o professor continue a poder ensinar como se

fossem um e a poder utilizar um modelo de ensino centrado na “apresentação da

matéria”. Aqueles que têm “sucesso” não precisam muito do professor nem abonam

muito acerca do sucesso da escola - aos alunos sem “dificuldades” bastaria, neste

formato, proporcionar-lhes a informação, com ou sem aulas e professores. Os outros, a

quem é preciso ensinar de outro modo, saem do grupo-turma ou são encaminhados para

outras vias. Assim se reforça o ciclo vicioso. Por sua vez, medidas, como os apoios

educativos, traduzem-se, apesar da correcção das intenções, numa generalizada

persistência do insucesso, mesmo dos alunos com acompanhamento desde o 1º ciclo.

158

Poderíamos então argumentar em sentido contrário: e porque não deixar que uns

aprendam só “os mínimos”, ou adquiram só um pseudo-diploma para aceder ao mundo

do trabalho? Não será a única - ou a melhor - saída? Não parece ser assim. Numerosos

estudos internacionais60, promovidos por organizações como a OCDE, a IEA, a

Comissão Europeia - quer os de política educativa, quer os que incidem na avaliação

dos desempenhos reais (e não só das classificações ou diplomas) dos alunos e das

escolas - alertam recorrentemente para os problemas agravados de exclusão social que o

facto de não ter aprendido já está a provocar dramaticamente nas sociedades actuais.

São já, na sua grande maioria, alfabetizados e escolarizados sem sucesso - na realidade,

iletrados funcionais e desenraizados sociais - os elementos de muitas bolsas de exclusão

ou marginalidade da actualidade.

Nem a economia, nem o mercado de trabalho, nem o difícil equilíbrio das

tensões sociais podem compadecer-se com a existência de bolsas crescentes desta

população quase iletrada, afastada do acesso básico à informação e ao conhecimento,

informação e conhecimento que se constituem hoje como a principal chave para a

inclusão social, para a rentabilidade económica, e também para o bem-estar social e a

estabilidade pessoal e profissional. É justamente na garantia das aprendizagens

curriculares que a escola situa a sua missão central e dela lhe advém – ou não – a sua

legitimidade social.

A mesma escola que se confrontou com a massificação do acesso à educação,

desafio já genericamente superado, encontra-se hoje perante uma situação bem mais

complexa: a premência da subida do nível educativo real das populações. Este é, no

essencial, um problema curricular: do conceito de currículo que se adoptar e da acção e

gestão do desenvolvimento curricular que se promova.Trata-se, assim, nos nossos dias,

da necessidade de “massificar o sucesso” ou seja, garantir a todos uma qualidade

educativa satisfatória, traduzida na consecução efectiva das aprendizagens curriculares,

aproximando o currículo intencional do currículo real. Não pode mais confinar-se a

escola ao papel de assegurar uma socialização de base e uma instrução elementar para a

maioria, com aprendizagem de melhor nível apenas reservada a alguns, sob pena de

assinar a sua falência como instituição curricular e deixar de garantir a equidade social

no que se refere ao direito à educação (Caldwell, 2001).

60 Ver o ponto anterior (ponto 1) desta Unidade, para referências a alguns destes estudos internacionais.

159

Em síntese, o grande problema da escola é hoje o de responder satisfatoriamente

a todos, garantindo-lhes um bom apetrechamento educativo - sendo que esses todos são

cada vez mais diferentes. Tal tensão está na origem da emergência e predominância

actual do conceito de projecto, nomeadamente no que se refere ao modo de trabalhar

com o currículo na escola, de forma contextualizada e significativa (Barroso, 1992).

2.4. Gestão do binómio curricular – uma consequência do currículo como projecto

Trata-se, então, em termos de currículo, de o pensar como um projecto flexível e

não como um plano rígido. Significa pensar o currículo em termos de um binómio e não

como um corpo uniforme. Quais são os termos desse binómio?

� O primeiro elemento prende-se com a dimensão do que é socialmente

necessário a todos - as aprendizagens essenciais comuns, o core curriculum, o

que é socialmente reconhecido como competência(s) indispensável(is) que o

aluno deverá adquirir na escola.

� O segundo termo do binómio refere-se à concretização que cada escola faz

desse core curriculum, concebendo-o como um projecto curricular seu, pensado

para o seu contexto e para a aprendizagem dos seus alunos concretos, e

incorporando adequadamente as dimensões locais e regionais.

A operacionalização deste binómio - em que cada termo só pode definir-se em

articulação com o outro - constitui o essencial da gestão curricular inerente a um

conceito de currículo como projecto de cada escola. Não pode, evidentemente, pensar-se

a flexibilização dos currículos das escolas sem ser por referência a um denominador

comum de aprendizagens a garantir no final, que terá de ser comum, e que deverá ser

objecto de adequados procedimentos de pilotagem e avaliação externa e interna.

No Quadro 1 procura-se sistematizar o essencial das dinâmicas do sistema

curricular que temos vindo a analisar nesta unidade.

160

Quadro 1 – Currículo, gestão curricular e seus actores

CURRÍCULO ESCOLA PROFESSORES

SISTEMA EDUCATIVO CENTRALIZADO

Definido apenas a nível nacional. Uniforme. Constituído essencialmente por conteúdos/tópicos. Avaliação por referência ao normativo programático único.

Estrutura de funcionamento administrativo-burocrática. Organização hierárquica. Campo de iniciativa e decisão limitados. Prestação de contas perante a administração central.

Actividade regulada pelos conteúdos curriculares estabelecidos. Campo de iniciativa e decisão limitados ao desenvolvimento e metodologia das aulas. Prática predominantemente individual.

SISTEMA EDUCATIVO CENTRADO NAS ESCOLAS

Binómio curricular: currículo nacional (core curriculum) + currículo de cada escola (projecto curricular, integrando e ampliando, de forma própria, o currículo nacional). Alargamento do currículo a maior número e tipos de aprendizagens Avaliação por referência a: a) avaliações

nacionais externas;

b) avaliação pela e na escola, face aos seus objectivos.

Estrutura de funcionamento autónoma (em graus variáveis). Organização funcional (em modalidades várias). Campos de iniciativa e decisão próprios. Prestação de contas perante a comunidade e a administração.

Actividade regulada pelos objectivos e metas curriculares da escola. Campos de iniciativa e decisão próprios - gestão curricular, no plano individual e colectivo. Práticas colaborativas entre pares.

161

3. O processo organizacional do currículo

Sumário

O processo organizacional do currículo implica articular adequadamente um conjunto de dimensões: a organização dos conteúdos de aprendizagem e os seus fundamentos educacionais, a organização dos processos de trabalho curricular na escola, e, para isso, é necessário estabelecer e planear os processos e níveis de gestão curricular, tendo em conta os parceiros envolvidos e os actores com responsabilidades de coordenação, liderança e supervisão. A estrutura organizativa do trabalho curricular, e a sua gestão, nos diferentes planos (comunidade-escola, escola-órgãos-docentes/ turma, interacções entre pares, relação com instrumentos de trabalho, dispositivos de liderança, supervisão e formação) constitui-se assim como um poderoso agente de contextualização de todo o processo, em muitos aspectos determinante – processos que se desenvolvem e explicitam neste texto (1.3)

3.1. O conceito de organização do currículo

A organização do currículo pode entender-se a vários níveis, dos quais

destacamos:

- o que diz respeito à organização do conteúdo curricular;

- o que diz respeito à organização do trabalho curricular.

No plano da organização do conteúdo curricular, a história do currículo aponta

para a predominância da organização por disciplinas, correspondente à estruturação

histórica, ao longo do século XIX. do regime de classe e de uma organização do

trabalho de tipo taylorista, assente na ideia de máxima “produtividade” associada ao

princípio “ensinar a todos como se fossem um só” (Barroso, 1994).

Existem contudo outros modos de organização do conteúdo da aprendizagem

curricular pretendida, que têm tido expressão em situações e contextos pontuais, e

assentam noutros pressupostos organizativos. Situam-se neste grupo os currículos

organizados em torno de projectos integrados, os currículos organizados por temas. Uns

e outros podem ainda partir de interesses e questões dos próprios alunos, ou resultar da

natureza e possibilidades de articulação dos conteúdos a aprender, privilegiar conteúdos

substantivos ou conteúdos processuais e atitudinais.

Nesta unidade, ocupamos-nos sobretudo da vertente organizativa, mas a forma de

organização dos conteúdos traduz e estrutura, na verdade, aquilo que a teoria curricular

designa por modelos curriculares, isto é sistemas coerentes de organização e

conceptualização da organização do currículo e da sua operacionalização em acções,

162

fundados em concepções e valores, que vão para além da dimensão organizativa e

configuram um conjunto de modelos de referência.

Segundo Zabalza61 (1990), e seguindo um esquema clássico de Schiro62, esses

modelos organizam-se em torno de 2 eixos – privilégio das fontes do conhecimento

versus privilégio do uso do conhecimento (eixo a), e privilégio das considerações sobre

a realidade objectiva versus privilégio das considerações sobre a realidade subjectiva

(eixo b) - eixos cujo cruzamento configura quatro campos, cada um deles

correspondente a um modelo (cf fig.1):

- Campo 1: Escola centrada nas disciplinas e aprendizagens formais - modelo

academicista;

- Campo 2: Escola centrada na criança: modelo humanista-expressivo;

- Campo 3: Escola centrada na eficácia – modelo tecnológico;

- Campo 4: Escola centrada na mudança social – modelo crítico.

Eixo b

1 2

Eixo a

3 4

Fig. 1- Modelos curriculares e concepções de escola Adaptado de Zabalza, M (1992: 111-117) A maioria dos currículos dominantes nos vários sistemas educativos corresponde

predominantemente, na organização-base, ao modelo academicista, com incorporação

de aspectos dos outros modelos, que procuram integrar nesta matriz: caso das áreas

61 Zabalza propõe, neste livro, um modelo de síntese que procura contrariar a dicotomização que todos estes modelos configuram. 62 Schiro, M. Curriculum for Better Schools”, Educat. Tech, 1978.

163

interdisciplinares ou de projecto que pretendem introduzir alguma ruptura na lógica

academicista, da ênfase (ainda que lateral) na adequação dos tópicos aos interesses da

criança a par da orientação para competências, que se filia em grande parte num modelo

cruzado de eficácia e de mudança social,

Os modelos, em qualquer domínio teórico, e no do Currículo também,

constituem tão só quadros conceptuais de análise, que ajudam a ler e interpretar a

realidade, que não devem ser assumidos como sinónimo de tipologias, o que não seria

de todo exacto.

No que se refere à organização do trabalho curricular, ela é em larga medida

marcada pelo modelo de organização dos conteúdos, como facilmente se compreende.

Assim, todos os dispositivos de organização do trabalho curricular – o ensino e a

aprendizagem – se reportam a dois referentes principais, inter-ligados, já mencionados:

por um lado, a organização do currículo na lógica disciplinar; por outro, a organização

do trabalho escolar com base na unidade turma, correspondente a grupo etário e ano de

progressão (a “classe”, na terminologia do século XIX), assente nos pressupostos da

uniformidade e homogeneidade dos alunos, no trabalho de um professor dirigido a

muitos alunos (do ensino como acto individual ao ensino como acto massificado) e na

sequencialidade anual (a hierarquia temporal segmentária).

Também este formato de organização do trabalho curricular escolar tem, na

evolução das escolas, apresentado exemplos, ou áreas de ruptura, correspondentes a

outros modelos de organização do currículo. Assim, destacam-se formatos organizativos

baseados na tutoria de pequenos grupos ou no trabalho autónomo, em versões muito

diversas, desde o ensino programado ao e-learning passando pelo modelo do grupo

heterogéneo de trabalho, com professores orientadores, como é defendido, e praticado,

por exemplo, no âmbito do Movimento da Escola Moderna (MEM).63

3.2. O conceito de gestão do currículo

A gestão curricular diz respeito ao processo de decisão e aos actores que o

protagonizam, no sentido de adequar a organização e o desenvolvimento do currículo a

uma situação concreta. 63 Sobre alguns aspectos da prática pedagógica do MEM, ver Niza, S (2000). A cooperação educativa na diferenciação do trabalho de aprendizagem. Escola Moderna, 39-46, nº 9, 5ª série; e Niza, S. (1998). A organização social do trabalho de aprendizagem no 1º ciclo do ensino básico. Inovação, 11(1), 77-98.

164

A expressão “gestão do currículo” não corresponde a nenhum facto educacional

novo, ao contrário do que por vezes se supõe, dado o escasso uso da expressão até há

relativamente pouco tempo. Na realidade, existe sempre um modo de gestão do

currículo, adoptado por uma escola ou um grupo de professores, mesmo quando a

“gestão” se traduz na simples aplicação cega de normativos e obediência à sequência

rígida dos programas. Nesse caso é essa a opção, a decisão de gestão adoptada pelos

decisores do nível micro ou meso, e daí decorre o modo como evolui a acção docente

em causa. Podemos considerá-la, do ponto de vista analítico, uma “má ou “boa” gestão,

uma gestão com espaço de decisão limitado ou amplo, mas existe sempre um processo

de decisão, com invocação de um conjunto de fundamentos, mesmo que sejam

implícitos ou se possam considerar “errados” – a comodidade, a desresponsabilização,

as expectativas tradicionais dos pais, ou o receio de falhar, entre outros.

Se a gestão pretender ser mais eficaz, terão os decisores (professores e gestores

no nível da escola) de entrar muito mais fundo no plano das decisões curriculares, e

repensar o binómio curricular - a que atrás nos referimos - para a situação com que, em

cada caso, se trabalha, desenvolvendo o respectivo processo de decisão, implementação

e avaliação do currículo.

O conceito de gestão curricular, já abordado na unidade anterior, articula-se

directamente com as questões da organização do currículo, na medida em que a gestão,

enquanto processo de tomadas de decisão orientadoras da acção, implica

necessariamente o plano da decisão sobre vários níveis de organização, de que se

destacam (1) a organização dos conteúdos de aprendizagem e (2) a organização das

estratégias e acções a desenvolver para accionar o pretendido processo de

aprendizagem. É neste plano que se situa o trabalho docente, é neste plano que nos

referimos à necessidade de uma gestão curricular flexível, baseada na análise concreta

das situações dos aprendentes e dos docentes, para encontrar vias, estratégias de acção,

que optimizem o processo de aprendizagem daqueles alunos em particular.

Neste campo, que podemos designar de nuclear no processo decisório a respeito

da organização do currículo, há que decidir o quê ensinar, o que ensinar com mais ou

menos ênfase e porquê, com que sequência e porquê, com que ligações entre campos do

conhecimento (decisões relativas à organização do conteúdo da aprendizagem).

Outro grupo de decisões, relacionadas com as primeiras, diz respeito ao como

curricular – vamos desenvolver o trabalho de que modo? Que estratégias de ensino se

vão organizar e porquê? Que estratégias se vão reforçar ou aprofundar tendo em conta

165

análises de situação previamente feitas? Trata-se de tomar decisões fundamentadas

sobre métodos, estratégias, tipologia de interacções a desenvolver na acção curricular

concreta (decisões relativas à organização da acção de ensinar e aprender). Mas existe

ainda um outro campo decisional que a gestão do currículo tem de accionar: (3) o

campo da organização das condições do trabalho de ensinar e aprender. É totalmente

inoperante qualquer decisão curricular que não considere estes factores, visto que eles

condicionam e sustentam qualquer acção que se pretenda desenvolver: organização do

espaço, do tempo, dos materiais e recursos mobilizados (decisões relativas à

organização das condições e recursos).

Um dos problemas da introdução de algumas inovações curriculares, cujo efeito

tem sido passageiro, tem residido justamente na articulação deficitária destes três níveis

de decisão. Pode conceber-se uma estratégia de ensino, em si mesma adequada a

diferenciar ritmos e actividades dos alunos, mas se nada se alterar na malha

organizacional de tempos, espaços e recursos que caracterizam a rotina escolar, nada

acontece de facto, porque a diferenciação em causa requereria outra organização do

trabalho, do espaço e do tempo, e outra relação com os recursos usados para esse

mesmo trabalho. Ao manter intocadas as condições e formas do trabalho, remete-se toda

e qualquer inovação para o plano da retórica discursiva, como se a palavra criasse, por

si só, a mudança.

A este respeito sublinha Valter Lemos (2000), referindo-se, a propósito da

flexibilização curricular, às decisões no plano da organização da escola, relativas aos

tempos e aos espaços:

“ Esta flexibilização é absolutamente essencial porque não é crível que o problema do ajustamento e da diferenciação se possa fazer somente ao nível da aula (…) Dizem-nos que esta organização escolar é intocável (…) a organização não é intocável, é uma construção artificial, é uma decisão tomada pelos homens, não lhe assiste nenhum direito divino! Como tal é passível de ser substituída por qualquer outra. (…) Quem estrutura o dia escolar é quem faz os horários. Ao fazerem os horários, estruturam todo o ataque de interacção entre os alunos e os saberes, entre os alunos e os professores. Tudo aquilo que vai ser construído em termos de aprendizagens, vai depender daquela estruturação que é feita em termos dos horários. (…) É necessário ter uma perspectiva de alargamento dos espaços educativos (…) A necessidade de estabelecer limitações espaciais muito bem definidas a alunos e professores (no sentido de uma organização taylorista) durante determinados tempos, e a grande dificuldade que normalmente é criada à mobilidade e apropriação dos espaços (…) é um enorme óbice a qualquer tipo de flexibilização, de flexibilização da gestão curricular (Lemos, 2000: 68-71; destaques nossos).

166

Gerir de facto o currículo, com a autonomia que é já legalmente reconhecida e

discursivamente proclamada, e perante a necessidade que é evidenciada todos os dias

pela ineficácia do sistema existente, implica pois trabalhar em profundidade e gerir a

organização da acção curricular em si, bem como a organização dos elementos

conjunturais e das condições em que a mesma decorre.

3.3. Níveis de organização e gestão do currículo

Retomando brevemente os conteúdos trabalhados em unidade anterior, importa

estabelecer os diferentes níveis a que se processa este processo de tomada de decisão no

plano da organização do currículo, sempre enquadrados pelo nível macro da decisão

curricular que se expressa no currículo nacional e na garantia das competências de saída

a assegurar pela escola:

Nível meso - escola/comunidade

Neste plano da gestão curricular, cabe á escola pensar-se como parte e elemento vivo de

uma comunidade, com parceiros educativos com os quais importa articular a sua acção

específica através do currículo. Neste sentido se situa o projecto da escola e o

planeamento da sua acção como parte actuante de um projecto local da comunidade.

Nível meso – intra -escola

No plano interno, a escola como um todo tem de operacionalizar, de acordo com a sua

realidade, o currículo nacional que lhe compete garantir. Para isso, o currículo

reconceptualiza-se como projecto da escola (Zabalza, 1992a), organizando a totalidade

das aprendizagens e as linhas metodológicas de trabalho docente segundo opções e

prioridades que correspondam à análise da realidade de cada contexto. Trata-se, a este

nível de conceber o currículo como projecto da escola, definindo, para a sua

consecução, uma acção estratégica e respectiva avaliação de processos e resultados. Os

órgãos intermédios – conselhos de docentes, departamentos curriculares, conselhos de

disciplina e conselhos de turma, outros grupos informais – constituem sedes

privilegiadas deste processo de gestão do currículo da escola, isto é, do seu projecto

curricular.

Níveis meso-micro - turmas/grupos de trabalho de alunos

Todos os níveis de gestão curricular convergem para o terreno central do currículo – a

acção de ensinar e aprender nas situações quotidianas. É aí que, ao nível da turma, ou de

outros agrupamentos de alunos, o currículo se reorganiza em função daquele conjunto

167

particular de aprendentes, com vista a optimizar as suas aprendizagens curriculares –

estamos no plano do projecto/currículo da turma onde a decisão dos gestores

(professores) se traduz na reorganização/reconceptualização do projecto/currículo da

escola face a cada turma/grupo de alunos.

3.4. Eixos da gestão do currículo: liderança, colaboração e supervisão

O processo de gestão da organização do desenvolvimento curricular, sobretudo

nos planos micro e meso – eixos de análise que continuam a atravessar toda a

organização deste corpo teórico – implica reflectir também sobre o lugar de

determinados papéis e funções fundamentais na gestão de qualquer processo

organizativo, e por maioria de razão, do processo de desenvolvimento e gestão

curricular: as funções essenciais de liderança, colaboração e supervisão. Estes três eixos

são estruturantes para uma gestão e organização do currículo que funcione e produza

efeitos na aprendizagem, e sem eles não há efectivos processos de decisão institucional

ou inter-individual como os que o currículo requer.

Tem faltado, no debate curricular sobre a proclamada deslocação de níveis de

decisão de para a escola e professores, situar com clareza os dois factores que

condicionam em absoluto uma tal deslocação: de um lado, (1) a própria natureza dos

conteúdos curriculares e do trabalho do seu desenvolvimento (vulgo o quê e o como -

os métodos didácticos, os modos dominantes da prática docente, o acto de ensinar e

ensinar o quê, tal como é vivido nas escolas, os dispositivos estabelecidos para o

trabalho – ou ausência dele - do aluno) e, do outro, (2) a incontornável estruturação que

é dada ao currículo pelo esqueleto organizacional da instituição escolar, espantosamente

imutável há quase dois séculos: a organização dos tempos, dos espaços, da produção

lectiva, do acto – aliás actos segmentares – de ensinar (Alarcão, 2000; Roldão, 1999,

2000a).

3.5. As lideranças e a gestão intermédia64

Nessa estrutura organizativa, até hoje imutável na sua lógica nuclear, têm todavia

sido introduzidos alguns mecanismos de gestão interna à medida que a escola se

ampliou e, como tal, complexificou o seu funcionamento. É aí que podemos situar os

64 Nesta secção, retoma-se texto publicado por Roldão, 2003, “Quem supervisiona o quê? Liderança e colaboração no trabalho curricular da escola”, in Òscar de Sousa e M. Manuel Ricardo (org.) (2003), Uma Escola Com Sentido: o currículo em análise e debate, pp.135-144.

168

modelos de gestão que se foram sucedendo, a regulamentação da alegada autonomia

(mais recente versão, o DL 115-A/95).

Ao longo dessas reestruturações orgânicas da máquina que permanece idêntica,

estabilizaram-se os chamados órgãos de gestão intermédia – os actuais conselhos de

turma e departamentos curriculares, herdeiros estes – ou integradores - dos conselhos de

disciplina. Estas duas estruturas representam a malha central da organização e ao

mesmo tempo estão formalmente investidas do poder de a gerir, na medida em que

supostamente supervisionam e orientam (1) as áreas do saber ou disciplinas que

estruturam a quadrícula curricular, e (2) o agrupamento turma que estrutura a

organização hierárquica das fileiras de alunos, segundo critérios básicos de

homogeneidade (de idade e de nível de aprendizagem).

A deslocação de poderes de decisão curricular para a escola, na sua lentíssima

marcha, traz, na medida em que se concretizar, implicações muito relevantes para estas

estruturas de gestão intermédia, até agora predominantemente acomodadas a uma lógica

executiva de gestão corrente, e desdobramento ou mera transmissão de decisões

emanadas dos níveis hierárquicos superiores.

É neste contexto que se analisam algumas dessas implicações, nomeadamente no

que se refere à necessidade de reconceptualização de funções e órgãos existentes no

quadro actual das escolas e agrupamentos. Desenvolver uma maior autonomia de facto

– e não apenas normativa e burocrática, como é o caso ainda hoje - significará uma

reconversão de 180º: trata-se de planear, optar, decidir estrategicamente,

fundamentando e negociando decisões curriculares da escola, no quadro da articulação

dos seus projectos curriculares reais, com as competências, politica e socialmente

identificadas, que estão explicitadas no currículo nacional prescrito (Currículo Nacional,

2001).

Esses projectos, que apelidámos deliberadamente de projectos curriculares reais,

são raramente visíveis em muitos dos documentos que se designam deste modo, e que,

pelo modo prescritivo da sua introdução no sistema (vd. DL 6/2001), servem

fundamentalmente para dar cumprimento ao normativo legal, mas raramente se

constituem em verdadeiros projectos de acção e gestão curricular da escola.

Reconvertem-se assim conceitos com potencial mobilizador de acção e reflexão em

instrumentos de re-significação burocratizada de práticas curriculares e organizacionais

que permanecem inalteradas sob uma nova legitimação retórica.

169

A análise aqui proposta sublinha a necessidade de reconverter esse

funcionamento em termos de gestão real do trabalho curricular da escola e dos

professores, e construção de dispositivos de supervisão adequados que a suportem. Tal

concepção de uma gestão do currículo na e pela escola e seus professores é orientada

por dois conceitos-chave que sustentam esta reflexão: liderança e trabalho colaborativo

- a primeira como mecanismo global de orientação, concepção, dinamização e regulação

de qualquer projecto institucional, a segunda como cimento organizacional essencial à

eficácia do desenvolvimento do mesmo. Articulam-se com estes dois conceitos as

dimensões da supervisão, da formação e da própria liderança formal, tomadas agora no

plano da sua operacionalização dentro do contexto organizativo da escola.

Toma-se assim como referencial de partida para uma gestão e organização do

trabalho curricular (Roldão, 1999), o que equivale a dizer o trabalho de ensinar e o

trabalho de aprender (Perrenoud, 1997) um conjunto de pressupostos e

questionamentos, sistematizados no Quadro 1, como elementos-base para a reflexão e

acção dos professores e escolas neste domínio.

QUADRO 1 – Pressupostos e questionamentos para a gestão do currículo na e pela

escola

I – RECONHECIMENTO DA NECESSIDADE DE MELHORAR A APRENDIZAGEM MELHORANDO A QUALIDADE PROFISSIONAL E CIENTÍFICA DAS PRÁTICAS E REFORÇANDO O SABER PROFISSIONAL DOS DOCENTES II - RECONHECIMENTO DA NECESSIDADE DE TORNAR AS ESCOLAS INSTITUIÇÕES EFICAZES PORQUE SE PENSAM ESTRATEGICAMENTE: - ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM - ORGANIZAÇÕES INTELIGENTES - INSTITUIÇÕES REFLEXIVAS III – IDENTIFICAÇÃO DA ESPECIFICIDADE DA MISSÃO DA ESCOLA E DA FUNÇÃO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES: - ORGANIZAR OS MODOS DE TRABALHAR O CURRÍCULO E GERIR ESSE TRABALHO

- Reconcebendo o currículo nacional para cada contexto –

construção de projectos próprios.

- Garantindo as aprendizagens essenciais - todas a todos. - Diferenciando, adequando e monitorizando a sua acção.

170

IV - IMPLICAÇÕES NA GESTÃO CURRICULAR NO QUOTIDIANO DA ORGANIZAÇÃO:

- CRIAÇÃO DE NOVAS ESTRUTURAS? ANÁLISE DE VANTAGENS E INCONVENIENTES . - REINVESTIMENTO NAS ESTRUTURAS EXISTENTES? ANÁLISE DE VANTAGENS E INCONVENIENTES . V- AS ESTRUTURAS EXISTENTES COM RESPONSABILIDADE NA GESTÃO DO CURRÍCULO:

- DEPARTAMENTOS CURRICULARES E SEUS COORDENADORES - CONSELHOS DE TURMA E DIRECTORES DE TURMA - CONSELHOS DE DOCENTES E SEUS RESPONSÁVEIS/COORDENADORES

VI – DIMENSÕES DESTA GESTÃO PARA I, II E III

AS VISÍVEIS: - COORDENAÇÃO FORMAL - REPRESENTAÇÃO - MEDIAÇÃO INSTITUCIONAL

AS ESQUECIDAS: - SUPERVISÃO - LIDERANÇA - FORMAÇÃO

Tenta-se, por fim, nos Quadros 2, 3 e 4, com que se finaliza este levantamento de

linhas de reflexão, operacionalizar este conjunto de pressupostos relativamente ao

desempenho do Coordenador de Departamento e do Director de Turma, ou do

Responsável pelo Conselho de Docentes, no 1º ciclo, tomando como eixos os conceitos

de liderança, formação e supervisão.

Assumem-se estes eixos como estruturantes de qualquer projecto de gestão da

escola e do currículo, na medida em que em torno deles se pode reconceptualizar,

transformando-a, a escola burocrática e funcionária que temos tido, através das

seguintes lógicas:

- instituindo e gerindo uma rede de mecanismos de efectiva supervisão interna dos

processos de trabalho, das equipas e da sua gestão do processo curricular que a escola

desenvolve;

- transformando as chefias meramente hierárquicas em lideranças assumidas e

responsáveis, que assumem opções e respondem por elas junto dos pares, numa postura

de condução para metas desejadas, e de monitorização de processos participados;

- transformando o “consumo” da formação em “produção estratégica” de formação,

indispensável ao desempenho e desenvolvimento da instituição.

171

QUADRO 2 – Operacionalização da dimensão de SUPERVISÃO no

desempenho dos cargos de gestão curricular intermédia da escola

DIMENSÕES DE GESTÃO

COORDENADOR DE DEPARTAMENTO CURRICULAR (E DELEGADOS)

DIRECTOR DE TURMA COORDENADOR/RESPONSÁVEL CONSELHO DE DOCENTES

SUPERVISÃO De quê? Por quem?

Da reconceptualização do currículo na área ou disciplina. Das formas de diferenciar o ensino da área ou disciplina para situações diversas. Da forma de integrar esses aspectos nos projectos de turmas diferentes. Outras…

Da reconceptualização do currículo de todas as áreas num projecto de trabalho e melhoria da aprendizagem curricular de cada turma. Das formas de diferenciar o ensino para situações diversas – aspectos comuns e seu desenvolvimento colaborativo. Da forma de integrar o projecto de cada turma nos saberes e competências necessários em cada área e disciplina. Outras….

QUADRO 3 – Operacionalização da dimensão de LIDERANÇA no desempenho dos cargos de gestão curricular intermédia da escola

DIMENSÕES DE GESTÃO

COORDENADOR DE DEPARTAMENTO CURRICULAR (E DELEGADOS)

DIRECTOR DE TURMA COORDENADOR/RESPONSÁVEL CONSELHO DE DOCENTES

Na orientação do trabalho docente do grupo ou departamento. Nas estratégias de formação a desenvolver no grupo.

Na orientação do trabalho docente do conjunto de professores da(s) turma(s). Nas estratégias de formação a desenvolver ao longo e sobre o

172

LIDERANÇA Actuando em que vertentes?

Na organização de trabalho colaborativo dos professores do departamento Na orientação da articulação do departamento com os conselhos de turma. Na implementação e análise da avaliação das práticas docentes. Outras…

desenvolvimento do currículo de cada turma Na organização de trabalho colaborativo dos professores do conselho de turma /conselho de docentes. Na orientação da articulação com os departamentos através de cada docente. Na implementação e análise da avaliação das práticas docentes face às aprendizagens na turma. Outras…

173

QUADRO 4 – Operacionalização da dimensão de FORMAÇÃO no desempenho dos

cargos de gestão curricular intermédia da escola

DIMENSÕES

DE GESTÃO

COORDENADOR DE DEPARTAMENTO CURRICULAR (E DELEGADOS)

DIRECTOR DE TURMA COORDENADOR/RESPONSÁVEL CONSELHO DE DOCENTES

FORMAÇÃO

Sobre quê?

Sobre o(s) campo(s)científico(s). Sobre o conhecimento educativo e didáctico da área. Sobre as formas e estratégias concretas de o concretizar no contexto de cada turma. Sobre a produção de saber educativo na área científica e sua divulgação. Sobre a diferenciação e adequação do ensino da área a contextos de alunos diverso. Sobre a análise dos processos de ensinar e seus resultados. Sobre as evidências de sucesso na aprendizagem de diferentes alunos em áreas curriculares específicas. Outras….

Sobre a articulação curricular / integração das disciplinas e áreas. Sobre o conhecimento educativo e didáctico das áreas (1º ciclo). Sobre a interpretação dos contextos de cada turma assente em análise cientificamente sustentada. Sobre a produção de saber educativo nas áreas científicas e sua divulgação. Sobre a relação entre a especificidade dos saberes e a formação global dos alunos. Sobre as evidências de sucesso na aprendizagem de diferentes alunos. Sobre a análise dos processos de ensinar e seus resultados. Sobre a produção de saber educativo na gestão da aprendizagem em contexto e sua divulgação. Outras…

174

A organização do desenvolvimento curricular não se resume assim a uma

operação meramente técnica de divisão, organização temática e sequencialização de

conteúdos curriculares, mas envolve um processo de concepção e gestão, assente em

opções e prioridades, baseado na análise contextual, desenvolvido nos diferentes níveis

da acção curricular e apoiado por lideranças sólidas, processos supervisivos efectivos e

formação interna alimentadora da melhoria do trabalho curricular, traduzido em

aprendizagens conseguidas.

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178

Anexo 6

TEXTO DE APOIO À UNIDADE TEMÁTICA 4

179

MARIA IVONE GASPAR & MARIA DO CÉU ROLDÃO

DESENVOLVIMENTO CURRICULAR E DIVERSIDADE DE

CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM

Lisboa/ 2005

180

Sumário

O contexto de aprendizagem poderá suportar o quadro conceptual de referência ao

desenho do currículo. Continua a ser comum que esse desenho obedeça a uma matriz

constituída por quatro questões muito semelhantes às do modelo de Tyler: (1) quais são os

objectivos gerais da educação (ou do curso)? (2) quais são os interesses ou as necessidades dos

aprendentes? (3) quais são os temas ou os conteúdos para a aprendizagem? e (4) quais são os

objectivos específicos de aprendizagem a atingir pelos aprendentes, isto é, conhecimentos a

adquirir, capacidades e competências a desenvolver e atitudes a promover?

É na resposta a estas questões que se destacam aspectos, quanto ao tipo de curso, nível

de ensino e regime de ensino, visando acentuar, para cada um deles, o referente do conceito de

currículo, as fases do Desenvolvimento Curricular, os níveis de intervenção no

Desenvolvimento Curricular e os modos de organização do Currículo.

Estes aspectos são considerados, neste texto, através de curtos apontamentos.

Introdução

O termo aprendizagem focaliza, como determinante, todo o sentido do

desenvolvimento curricular que, por sua vez, corresponde ao processo do currículo.

Assumida como um dos fundamentos do Desenvolvimento Curricular, a aprendizagem

será um dos termos do binómio ensino-aprendizagem. Ao referir estes dois termos –

ensino e aprendizagem - e, sobretudo, ao aceitar a sua relação, enfrentam-se princípios

paradigmáticos que emolduram o mesmo processo e, reconhecidos pela distinção do seu

foco, designam-se: paradigma cognitivo, paradigma comportamental, paradigma

interpessoal e paradigma intrapessoal. Qualquer destes paradigmas se poderá especificar

em qualquer dos níveis de ensino e dos cursos que integram o sistema educativo, ou em

outras modalidades de aprendizagem organizadas fora do referido sistema, assim como

em regimes de ensino diferentes: presencial ou a distância. Identificados os próprios

regimes de ensino, per se, com matrizes paradigmáticas, é comum apontar o paradigma

tradicional, como a referência do ensino presencial vs o paradigma inovador como a

chave do ensino a distância.

Está-se perante contextos de aprendizagem que são distinguidos ou por nível de

ensino (com a clivagem, mais vulgar, entre o superior e não superior), ou pelo tipo de

curso (que se enquadra na tipologia formal ou não formal) ou, ainda, por regime de

ensino (presencial ou a distância). Note-se que estas alternativas não têm a mesma

181

categoria. Logo a sua exclusão mútua acontece, apenas, nas duas primeiras, não se

podendo verificar para a terceira. Esta última poderá estar ao serviço de qualquer das

primeiras, pois ela traduz um regime de ensino-aprendizagem que obriga,

particularmente, à organização dos meios e do ambiente onde funcionam (ou se

aplicam) esses meios. Regista-se que os dois regimes de ensino poderão surgir em

alternativa ou em complementaridade. Sendo o currículo a primeira realidade para o

ensino-aprendizagem, terá, também nestes casos, de se determinar o seu conceito como

suporte aos elementos específicos do Desenvolvimento Curricular.

Na impossibilidade temporal de enquadrar os diferentes contextos com alguma

profundidade analítica, optou-se por uma abordagem introdutória, através deste texto,

visando promover, no imediato, acções exploratórias.

Neste sentido, e tendo em conta tudo o que já foi estudado nos três temas

anteriores, começa-se por estabilizar um conceito de currículo, para, de seguida, ser

sustentado em processo, isto é, pelo Desenvolvimento Curricular. Referem-se, a título

indicativo, elementos que correspondem às fases, aos níveis de intervenção e a modos

de organização do currículo no que respeita à distinguibilidade dos contextos de

aprendizagem a provocar. Depois, individualizam-se três contextos de aprendizagem

com destaque para aspectos do Desenvolvimento Curricular com maior acentuação: um

contexto que é determinado pelo tipo de curso, outro pelo nível de ensino e outro, ainda,

pelo regime de ensino. Na perspectiva de síntese, faz-se um curto sumário que pretende

marcar ideias apresentadas numa visualização em tabela.

1. Estabilizando o conceito de currículo

O estudo do conceito de currículo, no primeiro tema, permitiu percorrer quatro

referentes: os objectivos a atingir pela escola, os conteúdos programáticos a aprender, as

metodologias ou os processos de aprendizagem a desenvolver e os materiais a utilizar,

no sentido de criar ambientes adequados à aprendizagem. A construção deste conceito

não poderá descurar qualquer dos referentes mencionados. Contudo, um deles

prevalecerá em relação aos outros. A acentuação de um dos referentes será determinante

para a consolidação do conceito, pelo que impõe a clarificação dos seus principais

domínios e que, vulgarmente, passam pelo plano, pelo resultado, pelo conteúdo e pela

experiência, o que se esquematiza a seguir, na assunção de:

182

(i) “currículo como um plano” - para Taba é, essencialmente, um plano para a

aprendizagem, para Tyler corresponde a toda a aprendizagem dos estudantes

que é planificada e dirigida pela escola para atingir os objectivos

educacionais, para Pratt é um plano para um processo sustentado de ensino e

aprendizagem, enquanto para John McNeil se define por um plano do que

deve ser ensinado e é composto por o que é ensinado, a quem, quando e

como se ensina;

(ii) “currículo como um resultado” - para Howell, Fox e Morehead é um

conjunto de objectivos de aprendizagem estruturados que resultam da

instrução, para Maurice Johnson está relacionado com o que se aprende em

consequência do que se faz, logo o currículo está relacionado com os

resultados e para Glen Glass é o conjunto de todas as experiências que os

aprendentes têm num programa de educação cujo propósito é alcançar

objectivos gerais e relacioná-los com objectivos específicos.

(iii) “currículo como um conteúdo programático” - que consiste em estudos

que se realizam em disciplinas integradas em áreas (Hutchins) ou, como

afirma Philip Phenix, resulta, inteiramente, do conhecimento que se adquire

através das disciplinas ou um conjunto de conteúdos organizado de modo

diverso;

(iv) “currículo como experiência” - para Franklin Bobbitt é uma série de coisas

que as crianças e os jóvens devem fazer e experimentar e para Ronald Doll é,

geralmente, considerado o conjunto de todas as experiências que os

aprendentes têm debaixo dos auspícios da escola;

Mais uma vez se destaca que o conceito de currículo, na sua generalidade, se

vincula à vertente formal do sistema educativo, que pressupõe intervenção em níveis

diferentes. Forshay vê três currículos a imperarem na escola (parece que pressupõe a

escola formal para os níveis de ensino não superior) e que se vinculam a: (1) estudos

académicos formais e actividades co-curriculares planificadas; (2) problemas da

participação social em decisões que afectam a vida em sociedade; (3) actividades que

relacionam o desenvolvimento pessoal e a auto- consciência. Esta perspectiva

tridimensional do currículo confere-lhe abrangência significativa, podendo mesmo

aplicar-se às diferentes situações de ensino-aprendizagem.

183

Atendendo a que o objecto deste tema quebra as barreiras – entre tipo de ensino

“formal” e não-formal”, nível de ensino “superior” e “não superior” e regime de ensino

“presencial” e a “distância” - fixa-se o conceito tomando a definição de currículo como

um plano para um processo sustentado de ensino aprendizagem65 que se explicita no

que se pretende que seja ensinado, desenvolvido, aprendido e apreendido, composto

por o que, a quem, quando e como.

1.1. Currículo em processo

Fixado o conceito de currículo, ele entra em processo no respeito pelas três fases

que se articulam na justificação da própria sequência do Desenvolvimento Curricular.

Repare-se que estas três fases: concepção, implementação/operacionalização e avaliação

interrelacionam-se com os três níveis de intervenção já estudados: macro, meso e micro.

E, tanto as fases como os níveis de intervenção têm visibilidade nos modos de

organização do currículo.

2. Desenvolvimento Curricular perante contextos de aprendizagem

O Desenvolvimento Curricular, limitado aos elementos que se configuraram para

esta unidade curricular, assume e apresenta algumas particularidades em contextos de

aprendizagem específicos, dos quais destacamos três – a formalidade, o nível e o regime

– e que sujeitamos a um princípio dicotomizante: para a formalidade, formal ou não

formal, para o nível, superior ou não superior e para o regime, presencial ou a distância.

2.1. Ensino não formal

O Sistema Educativo tende a não se findar nos seus níveis organizados que

representam o ‘ensino formal’, bem pelo contrário procura continuar o sentido da

educação ao longo da vida. Portanto, à margem deste sistema institucionalizado poderão

admitir-se diversas interpenetrações, surgindo, assim, vários modelos de formação que

representam contextos diferenciados de aprendizagem. Para todos eles há um currículo a

conceber, a operacionalizar e a avaliar. As três fases do Desenvolvimento Curricular

deverão, portanto, ser respeitadas. Mas, a aprendizagem será típica e implicativamente

contextualizada, pelo que resulta a diferenciação quanto ao grau de compromisso dos

níveis de intervenção: privilégio para o nível micro e, com alguma naturalidade, para o

65 - David Pratt (1994:5) Curriculum Planning – a handbook for Professionals

184

nível meso. Recordando Bobbitt e a sua publicação em 1918, com o título O Currículo,

transcreve-se, da tradução portuguesa desta obra, uma afirmação que parece indiciar a

não formalidade dos cursos: “A formação deve ser feita no local onde o trabalho pode

ocorrer normalmente e não onde pode ser mais conveniente para os professores”

(2004:68). Os cursos não formais serão, tendencialmente, marcados pela sua

funcionalidade e, muitas vezes, organizados em torno de problemas.

2.2. Nível de ensino

Qualquer sistema educativo formal organiza-se por etapas de percurso sequencial

que são, vulgarmente, designadas por “níveis”. É comum, identificarem-se, ao longo da

história dos sistemas educativos, três níveis com uma designação que lhes indicia uma

ordem: primeiro (ou primário), segundo (ou secundário, por vezes médio) e terceiro (ou

terciário, mais comum, superior).

Releva-se, aqui, o nível de ensino superior, no que respeita ao Desenvolvimento

do Currículo. Aliás, os dois temas anteriores fixaram-se, preferencialmente, como já foi

referido, em contextos de aprendizagem direccionados para o ensino não superior. O

ensino superior, devido ao grau elevado de autonomia científica e pedagógica de que

vulgarmente goza, reduz, fortemente, a intervenção no nível macro, limita-a ou

condiciona-a no nível meso e reforça aquela que se identifica com o nível micro –

situado no professor e no ambiente de aprendizagem por ele regulado. É suposto que o

processo do currículo estabeleça as três fases, identificando-as com clareza, seja para o

ensino superior ou para o ensino não superior. Contudo, o processo organizativo e de

governo que cacteriza o ensino superior empresta fragilidade à arquitectura e dimensão

das três fases do Desenvolvimento Curricular, com particular evidência para a fase da

concepção e da avaliação. Há, contudo, uma exigência marcante na fase da

implementação que, neste contexto, será designada, com maior propriedade por

operacionalização e cresce a importância para a fase da avaliação.

As funções de conceber, implementar e avaliar poderão distinguir-se pela

funcionalidade mas não pela responsabilidade da intervenção organizativa.

2.3. Regime de ensino (educação)

Os dois regimes em que se oferece o ensino – presencial e a distância – poderão

apresentar-se numa variedade de combinatórias, embora, aqui, a preocupão incida, tão

só, naquilo que marca a sua grande distinção: o professor e o aluno encontram-se num

185

face a face visível ou o professor e o aluno existem, encontram-se mas nem um nem

outro têm uma presença face a face; essa presença é mediada por instrumentos, técnicas

e ou tecnologias.

Em qualquer dos regimes de ensino, o currículo é gerido pelo professor, com

maior ou menor flexibilidade e poder-se-á afirmar que as três fases do Desenvolvimento

Curricular são perceptíveis em ambos os regimes. Os níveis de intervenção poderão ter

peso diferente, acontecendo mesmo a sobrevalorização de um deles: o nível micro.

Note-se que, por definição, o paradigma da educação a distância muda o ambiente do

ensino-aprendizagem; a mudança poderá acontecer em todo o ambiente da educação. A

educação a distância pretende sobrestimar o efeito da pedagogia, relevando os

resultados da aprendizagem, quer de conteúdos quer de processos.

As decisões sobre materiais – no que respeita ao seu tipo, à sua natureza, à sua

usuabilidade, à sua utilidade - terão de ser tomadas à partida, com fundamento e

clarividência; impõem a intervenção ao nível meso e, por vezes ao nível macro. O

desenvolvimento e a aquisição de competências terão de passar por enunciados claros e

devidamente contextualizados.

É imprescindível, no ensino a distância, dar importância ao currículo como

plano, pelo que acentua a atenção a dar à sua concepção. Depois, é imprescindível o

cuidado meticuloso com a sua operacionalização, ou seja, o “governo do curso”. Se a

avaliação do curso for descurada, será difícil controlar um conjunto de variáveis, com

destaque para o impacto do curso perante as necessidades do mercado, ou, pelo menos,

no confronto com as características que lhe conferem sentido de empregabilidade. Ao

distinguir modalidades dentro do regime de ensino a distância, impõe-se referência ao

designado por “convencional” (com recurso a materias scripto, audio e video) e ao

“tecnológico” (que recorre às tecnologias – suporta-se no computador que enquadra um

sistema informático e permite o ensino e aprendizagem electrónicos, através de

ambientes virtuais). Surge, com frequência, a expressão “multimédia” que é conotada

como um regime de ensino que envolve e usa diferentes media. Emergem, assim, os

referentes “materiais” e “metodologias”, com destaque para a especificidade do

ambiente. Este ambiente tem um sinal marcante – a interactividade mediada pelo

computador.

Neste regime, as estratégias de ensino com maior impacto decorrem dos

paradigmas comportamental e interpessoal que acentuam ou a repetição associada a

186

feedback ou a colaboração, relevando a interacção e privilegiam o trabalho de grupo,

enfatizando o trabalho de projecto. Poder-se-á afirmar que a “heurística” está ao serviço

do ensino a distância, em particular nas modalidades electrónicas, de que se destaca a

designada por “modalidade online”; o “modelo heurístico” sobressai entre os que

melhor servem as classes virtuais.

O currículo a ser oferecido em regime a distância poderá estar organizado tendo

por centro um conteúdo disciplinar ou interesses dos aprendentes; caso a oferta se

desenhe na modalidade online, a preferência quanto ao modo de organizar o currículo

deverá estar no “problema a resolver”, embora qualquer dos outros formatos seja

aceitável e preconize bons efeitos.

Após uma descrição muito resumida desta modalidade de aprendizagem (em

classe virtual), apontam-se alguns aspectos que a caracterizam, na tabela n.º 1.

Tabela n.º 1 Modelo de aprendizagem em comunidade online

Descrição

Usa a tecnologia para responder, quer às necessidades individuais quer às necessidades colectivas dos aprendentes, e para assegurar o acesso aos instrumentos (às ferramentas) para a aprendizagem.

Desenvolvimento e Aprendizagem do Adulto

Adapta-se às características sociais, psicológicas e políticas do aprendente adulto.

Contextos de aprendizagem Demonstra elementos próprios para cursos do sistema educativo formal ou não formal, e faculta informação baseada nos modelos de aprendizagem.

Indicadores deAprendizagem Conseguida (ou realizada)

Proporciona experiências de aprendizagem que são transformadoras, inclusivé, experiências de vida; recompensa e estimula a aprendizagem, incentivando a sua procura.

Modelo Instrucional È interactivo e gerador de oportunidades de criação de hábitos na aprendizagem ao longo da vida - adapta-se a diferentes estilos de aprendizagem.

Intenções/Finalidades da Aprendizagem

Apoia a comunicação colectiva e participativa e vai ao encontro da diversidade das necessidades de educação e informação.

Adaptado de Howard, Schenk and Discenza 2004:126

Ao separar o regime de ensino importará ter presente o tipo de curso (formal ou

não formal) e nível de ensino (neste caso, situados no formal e com o separador entre

nível superior e não superior). Assim, respeitam-se as três fases do Desenvolvimento

Curricular em qualquer dos casos, embora tenham amplitude diferente. Quanto aos

187

níveis de intervenção, verifica-se que em qualquer das fases se dá relevância ao nível de

intervenção micro.

No respeito pelos três aspectos que se tomam como principais caracterizadores

de ‘contextos de aprendizagem’ apresenta-se um conjunto de tabelas que permitem a

observação, em síntese.

Observe-se a tabela n.º 2, onde se confrontam os ‘contextos de aprendizagem’

com os ‘referentes do conceito de currículo’.

Tabela n.º 2 - Referente do do conceito de Currículo e contextos de aprendizagem

Referente do conceito de Currículo

Tipos de curso Nível de ensino Regime de ensino

Objectivos a atingir

Indispensáveis em qualquer tipo de curso, tanto menos gerais e mais específicos quanto menor for o grau de formalidade. Como referente, é, aceitável nos cursos de ambos os tipos.

O referente do conceito de currículo situado nos objecti-vos poderá ganhar relevância nos níveis de ensino mais avançados, ainda que ele tenha de estar presente nos diferentes níveis, não será o dominante.

No regime de ensino presencial, os objectivos po-derão ser considerados como um referente único para a construção do conceito de currículo o que não será aceitável no regime de ensino a distância.

Conteúdos Os “conteúdos” tornam-se um referente dominante em qualquer tipo de curso – formal ou não formal.

O referente “conteúdos” poderá prevalecer em qualquer dos níveis de ensino, tornando-se no único a determinar a definição do conceito

Os “conteúdos” são um referente particularmente significativo, mas não único, na construção do conceito de currículo para o regime de ensino a distância, embora seja, tomado, com frequência, e como único, no conceito de currículo para o ensino presencial.

Metodologias As “metodologias” são, também, um referente significativo para qualquer tipo de curso - formal ou não formal.

O referente “metodologias” surge com maior incidência para os níveis de ensino menos avançados (talvez pouco querido pelo nível de ensino superior)

As “metodologias” são um referente com grande impor-tância no conceito de currículo para o regime de ensino a distância; podem ser descuradas, nesta perspectiva, no regime de ensino presencial.

Materiais e Ambiente

Tanto “materiais” co-mo“ambiente” poderão aparecer como um refe- rente privilegiado para cursos não formais.

Como referente, na definição de currículo, “materiais” e “ambiente” raras vezes eles são considerados no nível de ensino superior.

Os “materiais” e, com eles, o “ambiente” de aprendizagem constituem um referente de significado reforçado para o regime de ensino a distância.

188

A tabela n.º3 permite confrontar os ‘contextos de aprendizagem’ com as ‘fases do

Desenvolvimento Curricular’.

Tabela n.º 3 – Fases do Desenvolvimento Curricular e contextos de aprendizagem

Fases do

Desenvolvimento

Curricular

Tipos de curso Nível de ensino Regime de ensino

Concepção A fase “concepção” deverá ser considerada em qualquer tipo de curso

A fase “concepção” parece indispensável para qualquer nível de ensino, mantendo o mesmo grau de exigência em todos eles.

É uma fase do desenvolvimento curricular imprescindível em qualquer dos regimes de ensino.

Implementação/

operacionalização

A fase de “implementação” ou “operacionalização” é, igualmente, indispensável em qualquer tipo de curso.

A fase de “implementação” ou “operacionalização” é, igualmente, exigida em qualquer nível de ensino, enquanto tenha um reduzido grau de estruturação no nível de ensino superior.

A fase de “implementação” ou “operacionalização” tem forte visibilidade em qulaquer dos regimes de ensino, a sua estruturação é de elevado grau no regime de ensino a distância.

Avaliação A “avaliação” será uma fase importante e muito significativa em qualquer tipo de curso, embora nem todos a reconheçam e apliquem.

A fase da “avaliação” parece ter importância equivalente, para qualquer nível de ensino. Exige um grau de estruturação a que nem todos se submetem.

A fase de “avaliação é, muito importante para qualquer dos regimes de ensino; tem extrema relevância para o regime de ensino a distância.

Para a tabela n.º 4 deixa-se a referência sumária à relação dos ‘contextos de

aprendizagem’ com os ‘níveis de intervenção ou decisão no processo de

desenvolvimento do currículo’.

189

Tabela n.º 4 - Níveis de intervenção no Desenvolvimento Curricular

e contextos de aprendizagem

Níveis de intervenção no Desenv. Curricular

Tipos de curso Nível de ensino Regime de ensino

Macro O nível de intervenção “macro” é forte nos cursos de tipo formal, com maior incidência nos sistemas educativos centralizados.

Em princípio este nível de intervenção – “o macro” - não se verifica em níveis de ensino que tenham autonomia científica e pedagógica, o que é comum no nível de ensino superior.

A menor incidência deste nível de intervenção – o “macro” - poderá verificar-se no regime de ensino a distância.

Meso O nível de intervenção “meso” existe em qualquer tipo de curso, embora possa ser esbatido ou, mesmo inexistente, nos cursos de tipo não formal.

O nível de intervenção “meso” verifica-se em qualquer dos níveis de ensino, ainda que se note mais fragilizado no nível de ensino superior.

Parece repetir-se o que foi registado para o nível macro da intervenção. Relativamente ao regime de ensino, o nível meso de intervenção poderá ser mais fragilizado no ensino a distância.

Micro O nível de intervenção “micro” é evidente em qualquer tipo de curso.

O nível de intervenção “micro” parece ser um nível de intervenção forte em qualquer dos níveis de ensino.

O nível “micro” de intervenção no Desenvolvimento Curricular parece ser idêntico (evidente e forte) em qualquer dos regimes de ensino.

A tabela n.º 5 regista a relação entre ‘contextos de aprendizagem’ e alguns

‘modos de organizar o currículo’.

Tabela n.º 5 – Modos de organização do Currículo e contextos de aprendizagem

Modos de organização do Currículo

Tipos de curso Nível de ensino Regime de ensino

Por ‘disciplinas’ O modo de organização por disciplina ou pelas suas variantes - inter-disciplinar ou multi-disciplinar, ou mesmo área disciplinar - é mais comum nos cursos formais.

O modo de organização por disciplina ou pelas suas variantes - interdisciplinar ou multidisciplinar, ou mesmo área disciplinar - é utilizado, vulgarmente, em qualquer nível de ensino; contudo, parece menos frequente no

O modo de organização por disciplina ou pelas suas variantes – interdisciplinar ou multidisciplinar, ou mesmo área disciplinar – encontra-se tanto no regime presencial co-mo no regime a distância.

190

nível primário e mais frequente no nível superior.

Por ‘módulos’ Sendo comum aos dois tipos de curso, o modo de organizar o currículo com base no módulo, há uma certa prefe-rência para os cursos do tipo não formal.

Surge em qualquer nível de ensino, sendo aconselhável nos níveis mais avançados

Pode ser utilizado para os cursos quer no regime de ensino presencial quer no re-gime de ensino a distância.

Em ‘torno de problemas’

É comum aos dois tipos de cursos. Este modo de organização do currículo “por proble-mas” cruza, muitas ve-zes, com a estratégia (dentro da metodo-logia) da resolução de problemas.

É comum a qualquer nível de ensino. Este modo de organização do currículo “por problemas” cruza, muitas vezes, com a estratégia (dentro da meto-dologia) da resolução de problemas.

Este modo de organização do currículo “por problemas” é comum aos dois regimes de ensino; contudo, particular-mente acarinhado para o regime de ensino a distância na modalidade online, cru-zando, muitas vezes, com a estratégia (dentro da metodologia) da resolução de problemas.

Centrado ‘nos interesses dos alunos’

O modo de organizar o currículo “centrado no aluno” é comum aos dois tipos de cursos, embora se possa justificar por razões bem diferentes.

O modo de organizar o currículo “centrado no aluno” parece ter a preferência nos níveis menos avançados.

O modo de organizar o currículo “centrado no alu-no” poderá ser comum a qualquer dos regimes, Por vezes, parece ressaltar a sua preferência no regime presencial.

BIBLIOGRAFIA

Bobbitt, John Franklin (2004) O Currículo, Lisboa, Didáctica Editora.

Cunningham, Craig A. And Billingsley (2003) Curriculum Webs – a practical guide to

weaving the web into teaching and learning, Boston, Pearson Education, Inc.

Howard, Caroline and Schenk and Discenza Richard (2004) Distance Learning and

University Effectiveness: changing educational paradigms for online learning, Hershey

Information Science Publishing.

Ornstein, Allan C. and Behar-Horenstein, Linda S. (1999) Contemporary Issues in

Curriculum, Boston, Allyn and Bacon.

Pratt, David (1994) Curriculum Planning – a handbook for Professionals. Fort Worth,

Harcourt Brace Jovanovitch.

191

Anexo 7

AVALIAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR

“ELEMENTOS DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR”

– realizada pelos alunos –

192

FICHA DE AVALIAÇÃO

CURSO: Mestrado em Supervisão Pedagógica

UNIDADE CURRICULAR: Elementos do Desenvolvimento Curricular

ANO: 2008/2009

Dê a sua opinião sobre a unidade curricular em referência, preenchendo este

questionário que se estrutura em três partes.

Para as questões que encontra na I parte deverá utilizar uma escala de 10 pontos, que

representa uma hierarquia de valor ascendente: 1 o mínimo e 10 o máximo.

As questões apresentadas na II parte oferecem-lhe respostas em alternativa, seguidas de

um pedido de justificação.

Reserva-se, para a III parte , um espaço dedicado a “Observações e/ou Comentários”

que entenda, por bem, fazer.

Fichas de avaliação entregues aos estudantes ……. 21

Fichas de avaliação recebidas.no secretariado do ..... 21

Fichas não devolvidas e/ou perdidas ............................0

Dados recolhidos ……………..em Abril de 2009 Dados tratados ……………… em Maio de 2009

193

RESULTADOS

I PARTE

A escala é de 10 pontos, mas foi utilizada nas respostas, apenas, a partir do ponto 6, razão pela qual se ignoram, no tratamento dos dados, os outros pontos.

s/r 6 7 8 9 10

Classifique a unidade curricular,

1 – Quanto aos conteúdos desenvolvidos, no que respeita a: 1.1. pertinência ..................................................... 28,57% 71,42% 1.2. utilidade profissional ........................................... 14,28% 14,28% 71,42% 1.3. aprofundamento científico .................................. 19,04% 19,04% 61,90% 2 – Quanto à metodologia desenvolvida, no que respeita a: 2.1. estratégias de interacção entre docente e discente 4,76% 33,33% 61,90% 2.2. motivação conseguida .................................... 4,76% 14,28% 23,80% 57,14% 3 - Quanto a materiais utilizados, no que respeita a: 3.1. adequação às temáticas. .................................... 23,80% 76,19% 3.2. pertinência da exploração .............................. 4,76% 14,28% 80,95% 3.3. abertura para a investigação 4,76% 19,04% 4,76% 71,42% 3.4. facilidade de acesso .................................... 4,76% 9,52% 85,71% 4 – Quanto à avaliação definida no que respeita a: 4.1. tipologia (modalidade) utilizada ...................... 4,76% 9,52% 23,80% 61,90% 4.2. modo de aplicação .................................... 9,52% 4,76% 23,80% 61,90% 5 – Quanto à relação humana experimentada 5.1. com os colegas ........................................ 19,04% 23,80% 57,14% 5.2. com a professora ..................................... 4,76% 19,04% 76,19% 6 - Quanto ao apoio prestado no que respeita a: 6.1. aspectos pedagógicos ……………………………… 4,76% 19,04% 76,19% 6.2. aspectos administrativos …………………………….. 9,52% 4,76% 4,76% 80,95%

II PARTE

7 – Pronuncie-se, quanto à gestão do tempo que lhe foi atribuído : 7.1. adequada .................... 20 - 95,24 % 7.2. não adequada ............ 1 - 4,76 % Justifique a sua opção A gestão do tempo foi considerada adequada porque: (i) houve uma organização adequada das tarefas; (ii) foi ajustado às necessidades, com as alterações necessárias; (iii) a relação tempo/actividade a desenvolver foi muito bem conseguida; (iv) as finalidades estavam claramente enunciadas,. A gestão do tempo foi considerada não adequada, porque seria necessário mais tempo, perante o elevado número de actividades, de conteúdos e conceitos 8– Pronuncie-se, quanto ao regime e modalidade de ensino utilizados

194

(regime a distância e modalidade online, com assincronia) 8.1. adequado .................21 - 100% 8.2. não adequado ............0 0%

Justifique a sua opção 8.1. Adequação total à tipologia do curso, com elevado nível de interacção. É um desafio para a autêntica Aprendizagem, com o apoio permanente da professora. Permite economia de tempo e de recursos. Adapta-se muito bem a ritmos de trabalho diferentes, sendo de relevar a flexibilidade do tempo e do espaço. 9 – Pronuncie-se, quanto à satisfação das suas expectativas 9.1. satisfação ……………………..21 - 100% 9.2. não satisfação…………………. 0 0% Justifique a sua opção As expectativas foram largamente superadas: (i) pela dinâmica, pela exigência, pela profundidade, pertinência, relevância e actualidade dos conceitos; (ii) pela qualidade do trabalho, empenho e apoio da professora; (iii) pela metodologia aplicada; (iv) pela possibilidade de aplicação dos conhecimentos à prática docente; (v) pela nova dimensão destes conteúdos. III PARTE

Observações/Comentários Faz-se a transcrição de alguns comentários muito frequentes dos alunos:

(i) “Nesta unidade foi muito importante ter havido um feedback das actividades realizadas no fórum – este feedback permitiu orientar, ajudar e esclarecer eventuais dúvidas; o acompanhamento e as orientações dadas no fórum permitiram que este se transformasse num espaço de interacção muito produtiva.”

(ii) “A avaliação realizada ao trabalho escrito permitiu o conhecimento dos pontos que deveriam ser mais trabalhados ou aprofundados por nós, e forneceu informações fundamentais em relação à forma como deveríamos trabalhar nesta unidade.”

(iii) “Parecendo, no princípio, tratar-se de uma unidade curricular muito difícil, a dinâmica estabelecida pela orientação da professora e pelo desenvolvimento das estratégias de trabalho, tornou-a uma das mais atractivas e de gosto estudar. Além disso, considero o conteúdo desta unidade, o suporte a quase todas as outras.”

(iv) “Considero muito importante o acompanhamento sistemático dos alunos por parte da professora. Os alunos têm em tempo útil uma visão do seu percurso na disciplina e podem reorientá-lo, corrigindo-o sempre que necessário.”

(v) “Esta unidade foi muito útil para mim, na medida em que permitiu desenvolver os conhecimentos em desenvolvimento curricular, compreender melhor esta temática e estabelecer distinções entre conceitos.”