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1 Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação Cesariana Abril/2015

Relatorio PCDTCesariana CP

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relatorio conitec cesariana

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  • 1

    Diretrizes de Ateno Gestante: a

    operao Cesariana

    Abril/2015

  • 2015 Ministrio da Sade.

    permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que no seja

    para venda ou qualquer fim comercial.

    A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra da CONITEC.

    Informaes:

    MINISTRIO DA SADE

    Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos

    Esplanada dos Ministrios, Bloco G, Edifcio Sede, 8 andar

    CEP: 70058-900, Braslia DF

    E-mail: [email protected]

  • 3

    CONTEXTO

    Em 28 de abril de 2011, foi publicada a Lei n 12.401, que altera diretamente a

    Lei n 8.080 de 1990 dispondo sobre a assistncia teraputica e a incorporao de

    tecnologias em sade no mbito do SUS. Esta lei define que o Ministrio da Sade,

    assessorado pela Comisso Nacional de Incorporao de Tecnologias no SUS

    CONITEC, tem como atribuies a incorporao, excluso ou alterao de novos

    medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a constituio ou alterao de

    Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas.

    Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas (PCDT) so documentos que visam

    a garantir o melhor cuidado de sade possvel diante do contexto brasileiro e dos

    recursos disponveis no Sistema nico de Sade. Podem ser utilizados como material

    educativo dirigido a profissionais de sade, como auxlio administrativo aos gestores,

    como parmetro de boas prticas assistenciais perante o Poder Judicirio e como

    documento de garantia de direitos aos usurios do SUS.

    Os PCDT so os documentos oficiais do SUS para estabelecer os critrios para o

    diagnstico de uma doena ou agravo sade; o tratamento preconizado incluindo os

    medicamentos e demais tecnologias apropriadas; as posologias recomendadas; os

    cuidados com a segurana dos doentes; os mecanismos de controle clnico; e o

    acompanhamento e a verificao dos resultados teraputicos a serem buscados pelos

    profissionais de sade e gestores do SUS.

    Os medicamentos e demais tecnologias recomendadas no PCDT se relacionam

    s diferentes fases evolutivas da doena ou do agravo sade a que se aplicam, bem

    como incluem as tecnologias indicadas quando houver perda de eficcia, contra-

    indicao, surgimento de intolerncia ou reao adversa relevante, provocadas pelo

    medicamento, produto ou procedimento de primeira escolha. A nova legislao

    estabeleceu que a elaborao e atualizao dos PCDT ser baseada em evidncias

    cientficas, o que quer dizer que levar em considerao os critrios de eficcia,

    segurana, efetividade e custo-efetividade das intervenes em sade recomendadas.

  • 4

    Para a constituio ou alterao dos PCDT, a Portaria GM n 2.009 de 2012

    instituiu na CONITEC uma Subcomisso Tcnica de Avaliao de PCDT, com as

    seguintes competncias: definir os temas para novos PCDT, acompanhar sua

    elaborao, avaliar as recomendaes propostas e as evidncias cientficas

    apresentadas, alm de revisar periodicamente, a cada dois anos, os PCDT vigentes.

    Aps concludas todas as etapas de elaborao de um PCDT, a aprovao do

    texto submetida apreciao do Plenrio da CONITEC, com posterior

    disponibilizao do documento em consulta publica para contribuio de toda

    sociedade, antes de sua deliberao final e publicao.

    O Plenrio da CONITEC o frum responsvel pelas recomendaes sobre a

    constituio ou alterao de Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas, alm dos

    assuntos relativos incorporao, excluso ou alterao das tecnologias no mbito do

    SUS, bem como sobre a atualizao da Relao Nacional de Medicamentos Essenciais

    (RENAME). composto por treze membros, um representante de cada Secretaria do

    Ministrio da Sade sendo o indicado pela Secretaria de Cincia, Tecnologia e

    Insumos Estratgicos (SCTIE) o presidente do Plenrio e um representante de cada

    uma das seguintes instituies: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - ANVISA,

    Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANS, Conselho Nacional de Sade - CNS,

    Conselho Nacional de Secretrios de Sade - CONASS, Conselho Nacional de

    Secretarias Municipais de Sade - CONASEMS e Conselho Federal de Medicina - CFM.

    Cabe Secretaria-Executiva da CONITEC exercida pelo Departamento de Gesto e

    Incorporao de Tecnologias em Sade (DGITS/SCTIE) a gesto e a coordenao das

    atividades da Comisso.

    Conforme o Decreto n 7.646 de 2011, a publicao do PCDT de

    responsabilidade do Secretrio de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos aps

    manifestao de anuncia do titular da Secretaria responsvel pelo programa ou ao,

    conforme a matria.

    Para a garantia da disponibilizao das tecnologias previstas no PCDT e

    incorporadas ao SUS, a lei estipula um prazo de 180 dias para a efetivao de sua

    oferta populao brasileira.

  • 5

    APRESENTAO CONSULTA PBLICA

    Nas ltimas dcadas, o Brasil vivenciou uma mudana no padro de

    nascimento, em que as operaes cesarianas tornaram-se a via de parto mais comum,

    chegando a 85% dos partos realizados nos servios privados de sade. No sistema

    pblico de sade a taxa consideravelmente menor, de 40%, mas ainda sim elevada,

    se considerarmos a recomendao da Organizao Mundial de Sade, de 15%. Deve-se

    ressaltar que, quando realizada sob indicaes mdicas especficas, a operao

    cesariana uma cirurgia essencial para a sade materna e infantil. Entretanto, pode

    levar ao aumento do risco de complicaes graves quando realizada sem a correta

    indicao.

    Diante do uso excessivo de operaes cesarianas desnecessrias no contexto

    nacional, torna-se imprescindvel a qualificao da ateno gestante, a fim de

    garantir que a deciso pela via de parto considere os ganhos em sade e seus possveis

    riscos, de forma claramente informada e compartilhada entre a gestante e a equipe de

    sade que a atende.

    As Diretrizes de Ateno Gestante: a operao cesariana compem um

    esforo da Coordenao Geral de Sade da Mulher do Ministrio da Sade para a

    qualificao do modo de nascer no Brasil e ser acompanhada pelas Diretrizes de

    Ateno Gestante: o parto normal. Esses documentos em conjunto visam a orientar

    as mulheres brasileiras, os profissionais de sade e gestores, nos mbitos pblico ou

    privado, sobre importantes questes relacionadas s vias de parto, suas indicaes e

    conduta, baseado nas melhores evidncias cientficas disponveis.

    Para a construo deste documento, enfatizou-se uma participao ampliada

    de diversos grupos de interessados, alm do rigor cientfico, incluindo profissionais

    especialistas, representantes de classes profissionais e de servios de sade,

    organizaes em defesa das mulheres, especialistas em metodologia cientfica, rgos

    vinculados sade nos mbitos pblico e privado, alm do envolvimento de revisores

    externos. As contribuies de todos foram compartilhadas em encontros presenciais e

    comunicao distncia.

  • 6

    O documento resultante do consenso obtido pelo grupo ampliado foi

    apresentado Subcomisso Tcnica de Avaliao de PCDT da CONITEC e aprovado

    pelo Plenrio da CONITEC no dia 02 de abril de 2015, em sua 34 Reunio. As Diretrizes

    de Ateno Gestante: a operao cesariana seguem agora para consulta pblica a

    fim de que se considere a viso de toda a sociedade e se possam receber as suas

    valiosas contribuies.

  • 7

    Diretrizes de Ateno Gestante: a Operao Cesariana

    Ministrio da Sade

    Braslia, abril de 2015

  • 8

    SUMRIO

    RESUMO EXECUTIVO ................................................................................................ 9

    INTRODUO ......................................................................................................... 17

    ESCOPO E OBJETIVOS ............................................................................................. 19

    PBLICO-ALVO ....................................................................................................... 19

    MTODOS .............................................................................................................. 20

    CAPITULO 1 - CUIDADO CENTRADO NA MULHER ................................................................ 24

    CAPTULO 2 - CESARIANA PROGRAMADA ........................................................................ 28

    CAPTULO 3 - OPERAO CESARIANA A PEDIDO ................................................................ 46

    CAPTULO 4 PARTO VAGINAL COM CESARIANA PRVIA ..................................................... 52

    CAPTULO 5 CUIDADO DO RECM-NASCIDO (PECULIARIDADES DA OPERAO CESARIANA) ......... 62

    ATUALIZAO DAS DIRETRIZES ............................................................................... 70

    GLOSSRIO............................................................................................................. 71

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................... 78

    APNDICE 1 MEMBROS DO GRUPO ELABORADOR E DO GRUPO CONSULTIVO ........................... 88

    APNDICE 2 - DIRETRIZES INCLUDAS E EXCLUDAS NA BUSCA SISTEMTICA. .............................. 91

    APNDICE 3 - RESULTADO DA AVALIAO DA QUALIDADE COM O INSTRUMENTO AGREE II ............ 93

    APNDICE 4 QUESTES INCLUDAS NO ESCOPO E NO RESPONDIDAS POR ESTA DIRETRIZ ............ 94

    APNDICE 5 - QUESTES INCLUDAS NO ESCOPO E RESPONDIDAS POR ESTA DIRETRIZ ................... 97

  • 9

    RESUMO EXECUTIVO

    O momento do nascimento determina questes sobre o processo do parto e via

    de parto, autonomia da gestante na escolha da via de parto e nas estratgias de sade

    envolvidas para reduo de morbimortalidade materna. A taxa de cesariana no Brasil

    situa-se ao redor de 56%, com ampla variao entre os servios pblicos e privados

    (40% nos servios pblicos e 85% nos servios privados) (1). Como as indicaes de

    cesariana tm despertado divergncia de opinies no pas, propem-se esta diretriz

    para orientar profissionais de sade e populao em geral sobre as melhores prticas

    relacionadas ao tema baseado nas evidncias cientficas existentes.

    Por iniciativa do Ministrio da Sade do Brasil, 72 questes sobre cesariana

    foram discutidas e elaboradas com a finalidade de nortear esta diretriz. Utilizando uma

    metodologia de adaptao de diretrizes clnicas (ADAPTE)(2), foram selecionadas duas

    diretrizes sobre cesarianas para o processo de adaptao: 1) Caesarean Section,

    elaborada pelo NICE (The National Institute for Health and Care Excellence / United

    Kingdom Department of Health, publicado em 2011 e atualizado em 2013) e 2) a guia

    de assistncia ao parto para mulheres com cesarianas prvias do Colgio Francs de

    Ginecologistas e Obstetras (publicado em 2013). Estas duas diretrizes foram

    selecionadas aps avaliao da qualidade metodolgica do processo de elaborao,

    foram adaptadas para a realidade brasileira. As evidncias cientficas relevantes a cada

    pergunta ou conjunto de perguntas foram resumidas e classificadas. As

    recomendaes destas diretrizes foram discutidas por especialistas e representantes

    da sociedade civil brasileira, alm de representantes e consultores do Ministrio da

    Sade. Informaes adicionais sobre as evidncias referidas nesta diretriz podem ser

    encontradas nas verses ampliadas das diretrizes utilizadas para a adaptao, o

    NICE/Caesarean section (http://www.nice.org.uk/guidance/cg132/resources/guidance-

    caesarean-section-pdf) e Delivery for women with a previous cesarean: guidelines for

    clinical practice from the French College of Gynecologists and Obstetricians (CNGOF)

    (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23810846). As recomendaes para

    direcionamento de conduta sobre Cesariana no Brasil esto no quadro a seguir.

  • 10

    Tpico Recomendao Evidncia

    Oferta de

    informaes

    recomendado fornecer informaes baseadas

    em evidncias sobre o parto e forma de

    nascimento para as gestantes durante a ateno

    pr-natal e incluir a gestante no processo de

    deciso.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Consentimento

    informado

    Um termo de consentimento informado deve ser

    obtido de todas as mulheres que sero submetidas

    cesariana.

    Quando a deciso pela cesariana for tomada,

    devem ser registrados os fatores que a

    influenciaram na deciso e qual deles o mais

    influente.

    Qualidade de

    evidncia 4

    Apresentao

    plvica

    Em apresentao plvica, recomendada verso

    ceflica externa com 36 semanas completas de

    idade gestacional, na ausncia de trabalho de

    parto, comprometimento fetal, sangramento

    vaginal, bolsa rota ou complicaes maternas.

    Em gestantes a termo com apresentao plvica, a

    verso ceflica externa no recomendada.

    A cesariana recomendada para gestantes com

    fetos em apresentao plvica devido reduo

    de mortalidade perinatal e morbidade neonatal.

    Quando se oferece uma cesariana por

    apresentao plvica deve-se aguardar o termo

    completo (pelo menos 39 semanas) e

    preferentemente o desencadeamento do trabalho

    de parto.

    Qualidade de

    evidncia 1a

    Gestao

    mltipla

    Em gestao gemelar no complicada cujo

    primeiro feto tenha apresentao ceflica, a

    cesariana no recomendada de rotina.

    No caso de gestao gemelar no complicada cujo

    primeiro feto tenha apresentao no ceflica, a

    cesariana recomendada.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Nascimentos

    pr-termo

    A cesariana no recomendada de rotina como de

    forma de nascimento em trabalhos de parto pr-

    termo.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Fetos pequenos

    para a idade

    A cesariana no recomendada de rotina como

    forma de nascimento em fetos pequenos para

    Qualidade de

    evidncia 3

  • 11

    gestacional idade gestacional.

    Placenta prvia A cesariana programada recomendada como

    forma de nascimento para fetos que tm placentas

    centro-total ou centro-parcial.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Placenta baixa e

    acretismo

    placentario

    Um exame ecogrfico com Doppler

    recomendado em mulheres com cesariana prvia e

    suspeita de placenta de insero baixa entre 32-34

    semanas para investigao de acretismo

    placentrio.

    Caso o diagnstico de placenta acreta seja

    sugerido pelo exame ecogrfico, recomendada a

    Ressonnica Nuclear Magntica nos lugares em

    que o exame esteja disponvel com a finalidade de

    investigar a extenso da invaso.

    Em gestantes com acretismo placentrio:

    recomendado programar a operao

    cesariana;

    recomendada a presena de dois mdicos

    obstetras, anestesista e pediatra para o

    procedimento.

    recomendada a tipagem sangunea e a

    reserva de hemoderivados para eventual

    necessidade durante o procedimento.

    recomendado que o hospital de assistncia

    tenha condies de suporte para pacientes

    em estado grave de sade.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Qualidade de

    evidncia 3/4

    Preditores da

    progresso do

    trabalho de

    parto

    A utilizao de pelvimetria clnica no

    recomendada para predizer a ocorrncia de falha

    de progresso do trabalho de parto ou definir via

    de parto.

    A utilizao de tamanho do p, a altura materna e

    estimativa de tamanho fetal (clnica ou ecogrfica)

    no so recomendados para predizer a falha de

    progresso de trabalho de parto.

    Qualidade de

    evidncia 1a

    Qualidade de

    evidncia 3

    HIV A cesariana no recomendada para prevenir

    transmisso vertical, em gestantes HIV positivas

    quando:

    - a mulher faz uso de profilaxia antirretroviral

    Qualidade de

    evidncia 3/4

  • 12

    (HAART) com carga viral menor que 400

    cpias/mL ou

    - a mulher est em terapia antirretroviral

    (TARV) com carga viral menor que 50

    cpias/mL.

    A cesariana recomendada nas gestantes HIV

    positivas sem uso de antirretrovirais ou com carga

    viral maior que as referidas acima.

    A cesariana recomendada em mulheres HIV

    positivas com carga viral desconhecida, em incio

    de trabalho de parto, com bolsa ntegra e com 3

    cm ou menos de dilatao cervical. Nesta situao,

    recomendado iniciar a profilaxia endovenosa

    com antirretroviral (zidovudina) 3 horas antes do

    procedimento.

    Hepatite B A cesariana programada no recomendada para

    prevenir a transmisso vertical em gestantes com

    infeco por vrus da hepatite B.

    Qualidade de

    evidncia 2a

    Hepatite C A cesariana programada no recomendada para

    prevenir a transmisso vertical em gestantes com

    infeco por vrus da hepatite C.

    A cesariana programada recomendada para

    prevenir a transmisso vertical do HIV e Hepatite C

    em mulheres com esta co-infeco.

    Qualidade de

    evidncia 2b

    Qualidade de

    evidncia 3

    Herpes simples A cesariana recomendada nas mulheres com

    infeco primria ativa do vrus do Herpes simples

    durante o terceiro trimestre da gestao por

    reduzir risco de infeco neonatal do HSV.

    A cesariana no recomendada de rotina para

    mulheres com infeco ativa recorrente do vrus

    do Herpes simples.

    Qualidade de

    evidncia 4

    Obesidade A cesariana programada no recomendada de

    rotina para mulheres obesas.

    Qualidade de

    evidncia 2b

    Cesariana a

    pedido

    A informao sobre indicaes de cesariana, o

    procedimento, seus riscos e repercusses para

    futuras gestaes deve ser feita de maneira clara e

    acessvel respeitando as caractersticas

    socioculturais e individuais da gestante.

    Qualidade de

    evidncia 4

  • 13

    Se no h indicao mdica, deve-se discutir as

    razes da preferncia por cesariana.

    recomendado que a gestante converse sobre sua

    preferncia com outros profissionais (anestesista,

    outro obstetra, enfermeiras(os) obsttricas(os),

    obstetrizes).

    Em caso de ansiedade relacionada ao parto ou

    partofobia, recomendado apoio psicolgico

    multiprofissional.

    Se aps informao (e apoio psicolgico quando

    indicado) a gestante mantiver seu desejo por

    cesariana, o parto vaginal no recomendado.

    Quando a deciso pela cesariana for tomada,

    devem ser registrados os fatores que a

    influenciaram na deciso, e qual deles o mais

    influente.

    Caso o obstetra manifeste objeo de conscincia

    e no deseje realizar a cesariana a pedido, deve ser

    indicado outro profissional mdico que faa o

    procedimento.

    A cesariana programada no recomendada antes

    de 39 semanas de gestao.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Qualidade de

    evidncia 3

    Profilaxia de

    infeces

    relacionadas

    cesariana

    recomendado oferecer antibioticoprofilaxia

    antes da inciso na pele na inteno de reduzir

    infeco materna.

    A escolha do antibitico para reduzir infeco ps-

    operatria deve considerar frmacos efetivos para

    endometrite, infeco urinria e infeco de stio

    cirrgico.

    No recomendado o uso de amoxicilina-

    clavulonato para profilaxia antibitica.

    Durante a cesariana, recomendado a remoo da

    placenta por trao controlada do cordo e no

    por remoo manual, para reduzir risco de

    endometrite.

    Ligadura/hemostasia de tecido subcutneo no

    recomendada de rotina para gestantes com menos

    de 2 cm de tecido adiposo, pois no diminui

    incidncia de infeco.

    Qualidade de

    evidncia 4

    Qualidade de

    evidncia 1a

  • 14

    Cesariana prvia O aconselhamento sobre a via de parto em

    gestantes com cesariana prvia deve considerar:

    - Preferncias e prioridades da mulher

    - Riscos e benefcios de uma nova cesariana

    - Riscos e benefcios de um parto vaginal aps

    uma cesariana, incluindo o risco de uma

    cesariana de no planejada.

    As mulheres com trs ou mais cesreas anteriores

    devem ser esclarecidas de que h aumento do

    risco de ruptura uterina com o parto vaginal,

    porm esse risco deve ser pesado contra os riscos

    de se repetir o procedimento cirrgico.

    Trabalho de parto e parto vaginal em mulheres

    com cesariana prvia recomendado na maioria

    das situaes.

    De maneira geral, a cesariana no recomendada

    em mulheres com 3 ou mais cesarianas prvias,

    exceto em situao de bito fetal.

    O trabalho de parto e parto vaginal no

    recomendado para mulheres com cicatriz uterina

    longitudinal de cesariana anterior.

    Qualidade de

    evidncia 3

    Qualidade de

    evidncia LE4

    A avaliao ultrassonogrfica da cicatriz uterina

    ps-cesariana segmentar e pelvimetria no so

    recomendados de rotina em mulheres com uma ou

    mais cesarianas prvias.

    Qualidade de

    evidncia

    LE4/LE2

    O trabalho de parto e parto vaginal em mulheres

    com cesariana prvia pode ser realizado mesmo

    quando esse intervalo de menos de 6 meses, se

    as condies obsttricas so favorveis.

    Qualidade de

    evidncia LE4

    Para as gestantes que desejam um parto vaginal

    aps cesariana recomendada a monitorizao

    fetal intermitente e assistncia que possibilite

    acesso imediato cesariana.

    recomendado que a assistncia ao parto em

    gestantes com cesariana prvia seja em ambiente

    hospitalar.

    A forma de nascimento deve ser discutida e

    escolhida no oitavo ms de gestao pela gestante,

    durante o pr-natal.

    Qualidade de

    evidncia LE4

  • 15

    A forma de nascimento escolhida, parto vaginal

    planejado ou cesariana programada, deve ser

    registrada em pronturio mdico, contendo os

    motivos que influenciaram na escolha da forma de

    nascimento, data e o nome do obstetra.

    recomendada a obteno de um termo de

    consentimento ps-informao quer para um

    parto vaginal quer para uma cesrea programada

    na presena de uma ou mais cicatrizes de cesrea

    anterior.

    recomendado o uso prudente de balo cervical

    ou ocitocina para induo de trabalho de parto em

    gestantes com uma cesariana prvia, apenas se

    houver indicao mdica, no se devendo realizar

    induo eletiva por convenincia do mdico ou da

    gestante.

    O uso de misoprostol para induo do parto em

    mulheres com cicatriz de cesrea anterior,

    independente do nmero de cesreas prvias, no

    recomendado.

    Durante a induo do parto, a gestante com

    cesariana anterior deve ser monitorizada

    frequentemente, com acesso a monitorizao fetal

    e cesariana caso necessrio.

    Qualidade de

    evidncia

    LE2/LE4

    Cuidado do

    recm-nascido

    recomendada a presena de um profissional

    adequadamente treinado em reanimao neonatal

    em cesariana realizada sob anestesia geral ou se

    tiver evidncia de sofrimento fetal.

    Qualidade de

    evidncia 3

    (de acordo

    com a

    Portaria

    SAS/MS 371

    de 07/05/14

    e NT 16/2014

    de

    10/06/2014)

    recomendado o cuidado trmico para o recm-

    nascido de cesariana.

    O contato pele-a-pele precoce entre a me e o

    recm-nascido recomendado e deve ser

    Qualidade de

    evidncia 3

    Qualidade de

    evidncia 1b

  • 16

    facilitado.

    recomendado clampeamento tardio do cordo

    umbilical para o RN a termo com ritmo respiratrio

    normal, tnus normal e sem lquido meconial.

    Nos casos de mes isoimunizadas, ou portadoras

    dos vrus HIV ou HTLV, o clampeamento deve ser

    imediato.

    Qualidade de

    evidncia 1b

    recomendado suporte adicional para a mulher

    que foi submetida cesariana para ajud-las a

    iniciar o aleitamento materno to logo aps o

    parto.

    Qualidade de

    evidncia 1a

    A cesariana no recomendada para realizao de

    laqueadura tubria.

    Lei 9.263/96

  • 17

    INTRODUO

    O Brasil vive uma epidemia de operaes cesarianas. Nas ltimas dcadas a

    taxa nacional de operaes cesarianas tem aumentado progressivamente e a cesariana

    hoje o modo mais comum de nascimento em nosso pas. A taxa de operao

    cesariana na populao de mulheres que do a luz hoje em nosso pas est ao redor de

    56% (cerca de 1.600.000 cirurgias por ano), havendo uma diferena importante entre

    os servios pblicos de sade (40%) e os servios privados de sade (85%)(1).

    Em condies ideais, a operao cesariana uma cirurgia segura e com baixa

    frequncia de complicaes graves. Alm disso, quando realizada em decorrncia de

    razes mdicas, a operao cesariana efetiva na reduo da mortalidade materna e

    perinatal. Desta forma, seu valor na obstetrcia moderna deve ser reconhecido e

    enaltecido.

    Entretanto, a operao cesariana frequentemente utilizada de forma

    desnecessria em nosso meio, sem razes mdicas que as justifiquem. importante

    salientar que o conjunto de evidncias cientficas no sugere benefcio da operao

    cesariana em mulheres que no precisam realmente dela. Nesse sentido e aps

    estudos recentes, a Organizao Mundial da Sade concluiu que taxas populacionais

    de cesariana superiores a 10% no contribuem para a reduo da mortalidade

    materna, perinatal ou neonatal(3). Desta forma, para populaes com baixas taxas de

    nascimentos por cesariana, a meta de apenas 10-15% dos nascimentos ocorreram por

    cesariana permanece vlida. Entretanto, considerando as caractersticas da populao

    obsttrica brasileira, caracterizada atualmente por um elevado contingente de

    mulheres com cesarianas prvias, estima-se que a taxa de referncia para a populao

    brasileira esteja ao redor de 29% (REF: Souza et al. C-Model. BJOG 2015, in press).

    Mais do que isso, acredita-se que as complicaes maternas graves da

    operao cesariana possam estar contribuindo para a estagnao da reduo da

    mortalidade materna no Brasil. Ainda que as complicaes maternas sejam raras,

    quando o procedimento realizado milhes de vezes, observa-se um nmero

    expressivo de complicaes cirrgicas graves que podem resultar em mortes

  • 18

    maternas. Do ponto de vista neonatal, e principalmente pela realizao de operaes

    cesarianas desnecessrias em mulheres com real idade gestacional ao redor da 37

    semana, o procedimento passa a ser um importante contribuinte da ocorrncia de

    desconforto respiratrio neonatal e internao em unidades de terapia intensiva

    neonatal(4).

    Enfatizam-se aqui as implicaes da cesariana na morbimortalidade materna e

    neonatal, contudo, a operao afeta diversos outros aspectos, incluindo a formao do

    vnculo materno-infantil, o custo, o futuro reprodutivo da mulher e possveis

    repercusses de longo prazo deste modo de nascer na criana (5). Da mesma forma

    que a operao cesariana possui implicaes complexas, so tambm complexas as

    causas do uso excessivo da operao cesariana no Brasil. Estas causas incluem a

    maneira como a assistncia ao nascimento organizada em nosso pas, ainda bastante

    centralizada na atuao de obstetras individuais em contraposio abordagem

    multidisciplinar e de equipe, as caractersticas socioculturais, a qualidade dos servios

    que assistem aos partos que frequentemente sub-tima ou que deixa a desejar em

    sua capacidade de acolher a mulher e as caractersticas da assistncia pr-natal, que

    comumente deixa de preparar as mulheres para o parto de forma adequada. O

    presente documento visa oferecer aos profissionais de sade e s mulheres brasileiras

    uma diretriz informada por evidncias cientficas sobre importantes questes

    relacionadas cesariana.

  • 19

    ESCOPO E OBJETIVOS

    Os grupos elaborador e consultivo reuniram-se em julho de 2014 em Braslia a

    fim de definir o escopo destas Diretrizes sobre a Cesariana. Participaram da oficina

    indivduos e instituies interessadas, convidados pela Coordenao Geral de Sade da

    Mulher do Ministrio da Sade, no intuito de estabelecer as questes de sade

    relacionadas ao tema que seriam respondidas no processo de adaptao. Os membros

    dos grupos elaborador e consultivo encontram-se listados no Apndice 1. Aps

    exposio da metodologia de trabalho e discusso sobre o escopo, definiu-se que as

    presentes diretrizes iriam buscar responder um total de 72 perguntas consideradas

    prioritrias pelo grupo consultivo.

    Esta diretriz tem como finalidades principais avaliar e sintetizar a informao

    cientfica em relao s prticas mais comuns na ateno cesariana programada, de

    modo a fornecer subsdios e orientao a todos os envolvidos no cuidado, no intuito

    de promover e proteger a sade e o bem-estar da mulher e da criana. As questes de

    sade foram distribudas em captulos que delinearam acerca dos cuidados mulher e

    ao recm-nascido, s cesariana programada, ao parto vaginal aps uma cesariana

    prvia e estratgias para reduo das taxas de cesariana no Brasil.

    PBLICO-ALVO

    As Diretrizes de Ateno Gestante: a Operao Cesariana esto diretamente

    relacionadas a forma de nascimento e fornecem informaes a mulheres, gestantes ou

    no, seus parceiros e populao em geral sobre as circunstncias do procedimento.

    Para os profissionais de sade que assistem ao nascimento (obstetras, enfermeiras(os)

    obsttricas(os), obstetrizes, pediatras, anestesistas, dentre outros), essa diretrizes

    pretendem guiar as condutas relacionadas ao procedimento e os cuidados com a

    mulher e o recm-nascido.

  • 20

    MTODOS

    As presentes diretrizes so oriundas do trabalho normativo da Coordenao

    Geral de Sade das Mulheres do Ministrio da Sade do Brasil e tm a finalidade de

    promover o uso de polticas e prticas informadas por evidncias cientficas em nosso

    territrio. A tarefa de desenvolver diretrizes informadas por evidncias cientficas

    envolve a realizao de diversas revises sistemticas, classificao das evidncias

    cientficas, sua interpretao e o desenvolvimento de recomendaes de forma

    consensuada incluindo os profissionais de sade e os representantes da sociedade

    civil. Outros pases e organizaes j passaram por este processo e existe hoje uma

    metodologia especfica para reduzir a duplicao de esforos e permitir a adaptao de

    diretrizes a outros pases. Considerando que a base de evidncias comum, a

    Coordenao Geral de Sade das Mulheres do Ministrio da Sade do Brasil optou por

    adaptar diretrizes recentes, informadas por evidncia e de boa qualidade para a nossa

    realidade, utilizando para isso a metodologia ADAPTE(2). Esta metodologia consiste em

    um conjunto de procedimentos padronizados para adaptar para a nossa realidade, e

    de forma transparente, as melhores e mais recentes recomendaes informadas por

    evidncia. O processo inclui os passos a seguir:

    1) Constituio de um grupo tcnico elaborador das diretrizes que foi responsvel por

    redigir o documento, discutir consideraes a respeito das recomendaes adaptadas

    realidade brasileira.

    2) Constituio de um grupo consultivo, com ampla participao de profissionais

    especialistas na ateno sade da mulher e da criana, como obstetras, enfermeiras

    obsttricas e obstetrizes, pediatras e representantes da entidades da sociedade civil

    organizada (Apndice 1).

    3) Definio do escopo das diretrizes pelo grupos elaborador e consultivo a fim de

    estabelecer as questes de sade relevantes para o cenrio brasileiro a serem

    respondidas pela diretriz.

  • 21

    4) Busca sistemtica de diretrizes recentes, informadas por evidncias e relevantes ao

    escopo escolhido nas bases de dados Medline, Tripdatabase, US Guideline

    ClearningHouse, Google Scholar, PAHO, WHO, Embase, ACOG, RCOG, NICE, ICSI, GIN,

    Scottish & New Zealand Guidelines. A estratgia de busca bsica utilizada nestas

    diretrizes foi: ([caesarean] OR [caesarian] OR [caesarean section] OR [caesarean

    delivery] OR [caesarian section] OR [caesarian delivery]) AND ([guideline] OR

    [guidance] OR [algorithm] OR [recommendation]). Foram encontrados 29 diretrizes,

    das quais 19 estavam duplicadas e foram includas 10 diretrizes no processo de

    avaliao da qualidade (Apndice 2).

    5) As diretrizes identificadas na etapa anterior foram avaliadas quanto a sua qualidade

    metodolgica por trs componentes do grupo elaborador, de forma independente e

    mascarada, utilizando-se o instrumento AGREE II (Apndice 3) (6). De acordo com os

    critrios de qualidade propostos pelo instrumento, e por deciso unnime dos

    avaliadores, foram selecionadas as diretrizes sobre cesarianas elaboradas pelo NICE

    (The National Institute for Health and Care Excellence / United Kingdom Department of

    Health, publicado em 2011 e atualizado em 2013)(5) e de assistncia ao parto para

    mulheres com cesarianas prvias do Colgio Francs de Ginecologia e Obstetrcia

    (publicado em 2013)(7).

    6) O processo de adaptao das recomendaes iniciou-se com a busca nas diretrizes

    selecionadas, por respostas s questes de sade includas no escopo brasileiro. As

    respostas s 49 questes do escopo nacional contempladas nas diretrizes-fonte foram

    ento adaptadas a nossa realidade e so abordadas mais adiante. A lista de questes

    no respondidas pelas diretrizes identificadas encontram-se no Apndice 4.

    7) O grupo elaborador preparou um esboo inicial das diretrizes para ateno

    cesariana, seguindo o escopo definido para a realidade brasileira e baseado nas

    recomendaes das diretrizes selecionadas no processo (NICE e Colgio Francs de

    Ginecologia e Obstetrcia), para apreciao pelo grupo consultivo.

    8) O esboo elaborado foi avaliado pelos participantes do grupo consultivo, que teve a

    oportunidade de ler e comentar cada um de seus itens. Em reunio em Braslia, em 23

  • 22

    de maro de 2015, esses grupos se reuniram a fim de estabelecer consenso a respeito

    das recomendaes, tanto em relao a seu contedo quanto a seu formato. O

    presente documento resulta da incorporao das sugestes realizadas nessa etapa.

    9) Em observao legislao brasileira sobre a incorporao de tecnologias e de

    Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas no SUS, constantes na Lei n 8.080 de

    1990 alterada pela Lei n 12.401 de 2011, nos Decretos n 7.508 e 7.646 de 2011 e na

    Portaria n 2.009 de 2012, o documento consensuado foi submetido avaliao pela

    Subcomisso Tcnica de Avaliao de Protocolos Clnicos e Diretrizes Teraputicas da

    Comisso Nacional de Incorporao de Tecnologias no SUS (CONITEC), assim como ao

    prprio Plenrio da CONITEC em sua 34 Reunio.

    10) Com a recomendao favorvel do Plenrio da CONITEC, o documento segue para

    consulta pblica e avaliao por revises externos.

    Prximos passos:

    11) Avaliao e incorporao de sugestes relevantes oriundas da consulta pblica

    12) Aprovao final pela CONITEC e Ministrio da Sade.

    As respostas das questes de sade foram agrupadas por temas em captulos e

    respondidas de acordo com o processo de adaptao (Apndice 5). Como as diretrizes

    selecionadas utilizaram metodologias diferentes para classificao das evidncias

    cientficas, seguem em tabelas, as classificaes utilizadas pelo NICE (Tabela 1) e

    Colgio Francs de Ginecologia e Obstetrcia (Tabela 2). As questes no respondidas

    pelas diretrizes selecionadas sero abordadas em um momento posterior (Apndice 4).

    Para maiores informaes sobre o conjunto de evidncias cientficas sugere-se a

    leitura da documentao original*.

    *NICE/Caesarean section:

    http://www.nice.org.uk/guidance/cg132/resources/guidance-caesarean-section-pdf

  • 23

    *Delivery for women with a previous cesarean: guidelines for clinical practice from the

    French College of Gynecologists and Obstetricians (CNGOF)

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23810846.

    Tabela 1. Classificao de nveis de evidncias utilizado pelo NICE-UK.

    Nvel de evidncia

    1a Reviso sistemtica ou metanlise com estudos clnicos randomizados

    1b Pelo menos um ensaio clnico randomizado

    2a Pelo menos um estudo controlado bem desenhado sem randomizao

    2b Pelo menos um estudo quase-experimental bem desenhado, como uma

    coorte

    3 Estudos descritivos no-experimental bem desenhado, como estudos

    comparativos, de correlao, caso-controle e srie de casos

    4 Opinio de comit de experts e/ou experincia clnica de autoridades

    respeitadas.

    Tabela 2. Classificao de nveis de evidncias utilizada pelo Colgio Francs de Ginecologia e

    Obstetrcia.

    Nvel de evidncia GRADE

    LE1 Ensaios clnicos randomizados muito robustos, metanlise com

    ensaios clnicos randomizados

    LE2 Ensaio clnico randomizado no muito robustos estudos

    comparativos no randomizados bem desenhados

    LE3 Estudos de Caso-controle

    LE4 Estudos comparativos no randomizados com grande vis,

    estudos retrospectivos, estudos transversais e srie de casos.

  • 24

    CAPITULO 1 - CUIDADO CENTRADO NA MULHER

    O cuidado na oferta de informao e planejamento da forma de nascimento

    so discutidos neste captulo com nfase na abordagem quanto aos riscos e benefcios

    relacionados cesariana programada comparado ao parto vaginal.

    As gestantes devem receber informaes baseadas em evidncia e apoio para que

    realizem decises informadas sobre o parto?

    Quem deve oferecer estas informaes?

    Qual o contedo e formato destas informaes?

    Oferta de informaes

    O momento do nascimento costuma trazer questes delicadas para as

    mulheres muitas vezes devido desinformao sobre o processo do parto e forma de

    nascimento.

    Uma reviso sistemtica com 6 ensaios clnicos randomizados (ECR) contento

    1443 gestantes avaliou o efeito da informao educativa no pr-natal e aspectos como

    ansiedade, amamentao, cuidados com a criana, apoio e ajuste psicossocial da

    mulher. O maior ECR (n=1275) demonstrou um aumento de parto vaginal aps

    cesariana relacionado educao no pr-natal, porm a maioria dos ECR tem difcil

    interpretao devido ao pequeno tamanho da amostra e baixa qualidade

    metodolgica (8). Um ECR avaliando o impacto do uso de folhetos informativos para

    gestantes no pr-natal no mostrou benefcios relacionados a postura ativa da mulher

    quanto as decises sobre a gravidez, comparado com aquelas que no receberam os

    folhetos, no entanto, as mulheres mostraram-se satisfeitas por receber o informativo

    (9) (qualidade de evidncia 1b).

    Riscos e Benefcios de uma cesariana programada comparada ao parto vaginal

    planejado

    Nove estudos observacionais foram includos na reviso sistemtica realizada

    pelo NICE-UK (5) comparando as repercusses de uma cesariana programada e um

  • 25

    parto vaginal planejado. Em todos os estudos, a deciso da forma de nascimento foi

    realizada no pr-natal e no no momento do parto. A qualidade dos estudos existentes

    baixa ou muito baixa.

    As evidncias da reviso sistemtica demonstraram que no h diferena na

    incidncia de leso cervical e vesical, leso iatrognica, embolia pulmonar, falncia

    renal aguda, infeco e ruptura uterina em gestantes submetidas cesariana

    programada. Trs estudos avaliaram taxa de mortalidade materna, um deles mostrou

    maior mortalidade em cesariana programada (10) e dois estudos no obtiveram

    diferena significativa comparando com parto vaginal (11, 12). Dos trs estudos que

    avaliaram incidncia de histerectomia ps-parto, dois evidenciaram maior risco de

    histerectomia em mulheres submetidas cesariana (11, 12), um estudo mostrou maior

    risco de trombose venosa profunda (11), choque cardiognico (11) e maior tempo de

    internao hospitalar (13) comparando com parto vaginal. Um estudo avaliou dor

    abdominal e perineal nos primeiros 3 dias ps-parto, evidenciando menos dor na

    cesariana programada (14) e um estudo mostrou maior chance de leso vaginal

    quando a gestante submetida a parto vaginal planejado (12). Quanto s repercusses

    neonatais, a reviso evidenciou maior risco de admisso em unidade de terapia

    intensiva (UTI) neonatal nos recm-nascidos de cesariana, no havendo diferena

    estatstica com relao incidncia de hipxia e encefalopatia isqumica, hemorragia

    intracraniana e morbidade respiratria quando comparado ao parto vaginal (15, 16)

    (qualidade de evidncia 3).

    Tabela de evidncias NICE p.p. 50 a 57 ou 63 a 68

    Resumo das Evidncias

    Apesar da baixa qualidade dos estudos existentes sobre riscos e benefcios da

    cesariana programada e do parto vaginal, os riscos e complicaes da cesariana devem

    ser ponderados para auxiliar na tomada de deciso quanto a forma de nascimento.

  • 26

    Consideraes do grupo elaborador

    A informao sobre indicaes de cesariana, sobre o procedimento e seus

    riscos, suspeita de comprometimento fetal, apresentao anmala, repercusses para

    futuras gestaes deve ser feita de maneira clara e acessvel respeitando influncias

    socioculturais e individuais da gestante. No foram encontrados muitos estudos

    dissertando sobre a forma de abordagem e o instrumento de oferta de informao a

    respeito da forma de nascimento. Porm, o grupo elaborador desta diretriz acredita

    que a abordagem do tema seja em grupo de gestantes ou individual, a discusso sobre

    assuntos inerentes da gestao e forma de nascimento pode ajudar a esclarecer

    dvidas e tambm a fomentar questionamentos sobre os riscos e as situaes em que

    a cesariana necessria. A gestante deve receber a informao de riscos e benefcios

    de uma cesariana sendo mostrados os dados de literatura disponveis, na esperana de

    que cada mulher tenha o melhor entendimento sobre o procedimento e assim possa

    tomar decises a respeito.

    Recomendao:

    recomendado fornecer informaes baseadas em evidncias sobre o parto e

    forma de nascimento para as gestantes durante a ateno pr-natal e incluir a

    gestante no processo de deciso.

    Deve ser obtido um consentimento informado? Quem deve obter o consentimento

    informado? Em que momento o consentimento informado deve ser obtido?

    Quais informaes devem ser discutidas com a mulher na obteno do consentimento

    informado?

    Consentimento informado

    O termo de consentimento para cesariana deve ser obtido para todas as

    mulheres que sero submetidas ao procedimento. No termo de consentimento devem

    estar includas as condies clnicas da paciente, opes de tratamento, riscos e

    benefcios do procedimento, incluindo o risco da no realizao da cesariana. A

  • 27

    informao deve ser fornecida de forma clara e acessvel respeitando linguagem e

    caractersticas socioculturais (qualidade de evidnica 4). No h estudos que

    evidenciem a melhor forma de obter o consentimento informado e como devem ser

    fornecidas as informaes.

    Consideraes

    As evidncias devem ser discutidas com a gestante respeitando sua dignidade,

    privacidade, caractersticas culturais e autonomia, considerando tambm sua situao

    clinica atual. Na ausncia de estudos a respeito de consentimento informado para

    cesariana, como no existe legislao sobre regra sobre emisso de termo de

    consentimento, as recomendaes foram baseadas no cdigo de tica mdica que

    disserta sobre termo de consentimento para procedimentos cirrgicos (Resoluo

    CFM1.931/2009).

    Recomendao:

    Um termo de consentimento informado deve ser obtido de todas as mulheres

    que sero submetidas cesariana

    Quando a deciso pela cesariana for tomada, devem ser registrados os fatores

    que a influenciaram na deciso e qual deles o mais influente.

  • 28

    CAPTULO 2 - CESARIANA PROGRAMADA

    Este captulo destinado a considerar situaes em que se pretende programar a

    cesariana.

    Apresentao plvica

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres com gestao nica e feto em apresentao plvica? O que deve preceder

    este oferecimento? Em que momento deve ser realizada?

    A verso ceflica externa deve ser oferecida para mulheres com gestao nica e feto

    em apresentao plvica antes da operao cesariana? Onde a verso ceflica externa

    deve ser realizada? Em que momento deve ser realizada?

    A apresentao plvica apresenta-se em 4% do total de gestaes nicas. A

    verso ceflica externa uma opo para fetos em apresentao plvica(5).

    Uma reviso sistemtica com 6 ECRs, (n=612), mostrou reduo de 60% dos

    partos no ceflico utilizando verso ceflica externa em mulheres com gestao

    plvica, comparando com aquelas em que a verso no foi utilizada (RR=0,42, 95% IC

    o,35-0,50). Encontraram reduo de cesariana nas mulheres que realizaram verso

    ceflica externa comparada com aquelas que no utilizaram a verso (n=612, RR=0,52,

    95% IC, 0,39-0,71) (17, 18). A verso ceflica externa realizada com menos de 37

    semanas no diminuiu o nmero de partos no ceflicos (RR=1,02, 95% IC 0,89-1,17)

    (19) (evidncia 1a). Entretanto, devem ser consideradas algumas complicaes

    relacionadas ao procedimento: frequncia cardaca fetal no tranquilizadora

    (comumente bradicardia transitria, 1,1-16%), sangramento vaginal indolor (1,1%),

    ruptura de placenta (0,4-1%), desencadear trabalho de parto (3%) (18, 20) (qualidade

    de evidncia 1b).

    Avaliando o efeito da forma de nascimento em gestaes a termo com

    apresentao plvica, uma reviso sistemtica incluindo 3 ECR (n=2396) mostrou

    reduo de mortalidade perinatal e neonatal (RR=0,33, 95% IC 0,19-0,56) assim como

    morbidade neonatal grave quando oferecido cesariana O risco de mortalidade

  • 29

    perinatal e neonatal ou morbidade neonatal grave foi de 1,6% no grupo de cesariana

    programada e 5% no parto vaginal planejado (qualidade de evidncia 1b). A reduo

    do risco absoluto de morbidade e mortalidade neonatal foi de 3,4% com cesariana

    programada (evidncia 1a)(21). A proporo de partos plvicos decresce com a idade

    gestacional chegando a 30% em gestaes com menos de 28 semanas. A taxa de

    sobrevivncia em partos plvicos maior com cesariana programada (86,5%)

    comparado com parto vaginal planejado (77,4%) (22)(qualidade de evidncia 3).

    Resumo das Evidncias

    A verso ceflica externa apresenta-se como uma alternativa efetiva em

    mulheres com apresentao plvica, visando diminuir as complicaes de um parto

    plvico. A cesariana programada tambm pode ser uma alternativa na assistncia a

    mulher com feto de apresentao plvica, porm seu benefcio no evidente em

    fetos prematuros.

    Consideraes do grupo elaborador

    Apesar de as evidncias mostrarem os benefcios da verso ceflica externa em

    mulheres com fetos em apresentao plvica, o procedimento exige habilidade tcnica

    do profissional obstetra e no deve ser realizada em fetos a termo. Caso a gestante

    no deseje ser submetida verso ceflica externa ou o profissional no tenha

    condies hbeis de fazer o procedimento, a cesariana programada surge como opo

    de nascimento.

    Considerando que a verso espontnea para apresentao ceflica pode

    ocorrer a qualquer momento durante a gravidez e que cesarianas programadas

    precocemente esto associadas a aumento da morbidade neonatal, alm do

    incremento na morbidade materna, quando se oferece uma cesariana por

    apresentao plvica deve-se aguardar o termo completo (pelo menos 39 semanas) e

    preferentemente o desencadeamento do trabalho de parto.

    Considerando ainda que o risco absoluto de mortalidade neonatal baixo,

    apesar do aumento do risco relativo j demonstrado, e os potenciais vieses do grande

    estudo que domina a reviso sistemtica da Biblioteca Cochrane (Term Breech Trial), o

  • 30

    grupo elaborador refora que os resultados desses estudos sejam apresentados s

    gestantes de forma que a deciso pela via de parto seja informada por evidncias e

    que o direito da mulher que pretende ter um parto vaginal seja respeitado. O grupo

    elaborador recomenda que apenas profissionais com a devida qualificao e

    experientes com o manejo do parto plvico prestem assistncia ao parto nessa

    modalidade e que um termo de consentimento ps-informao seja obtido das

    mulheres que pleiteiem um parto vaginal com fetos em apresentao plvica.

    Recomendaes:

    Em apresentao plvica, recomendada verso ceflica externa com 36

    semanas completas de idade gestacional, na ausncia de trabalho de parto,

    comprometimento fetal, sangramento vaginal, bolsa rota ou complicaes maternas.

    Em gestantes a termo com apresentao plvica, a verso ceflica externa

    no recomendada.

    A cesariana recomendada para gestantes com fetos em apresentao

    plvica devido reduo de mortalidade perinatal e morbidade neonatal.

    Quando se oferece uma cesariana por apresentao plvica deve-se aguardar

    o termo completo (pelo menos 39 semanas) e preferentemente o desencadeamento

    do trabalho de parto.

    Gestao mltipla

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres com gestaes gemelares no complicadas, cujo primeiro feto est em

    apresentao ceflica?

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres com gestaes gemelares no complicadas, cujo primeiro feto est em

    apresentao no ceflica?

    Cerca de 15 em 1000 gestaes so gemelares (gmeos 14,4/1000 e triplos

    4/1000), sendo sua frequncia aumentada nos ltimos anos devido a gestaes

  • 31

    provenientes de reproduo assistida (23). A maior morbidade e mortalidade perinatal

    de gestaes gemelares est associada prematuridade, baixo peso ao nascer,

    discordncia de crescimento entre os fetos, monocorionicidade e relacionadas ao

    nascimento do segundo feto (24-26) (qualidade de evidncia 3).

    Uma reviso sistemtica incluindo 1 ECR (n=60), comparou cesariana e parto

    vaginal em gestaes gemelares cujo segundo feto est em apresentao no ceflica.

    No houve diferena nas repercusses neonatais como trauma de parto ou morte

    perinatal, no entanto, o estudo era muito pequeno para estimar com acurcia dessas

    variveis. No houve diferena no tempo de internao hospitalar e o grupo que teve

    cesariana programada teve mais risco de febre puerperal comparado ao parto vaginal

    (RR=3,67, 95% IC 1,15-11,69) (27, 28) (qualidade de evidncia 1b). A reviso incluiu

    ainda 3 coortes retrospectivas que tambm no mostraram diferena consistente

    entre os grupos quanto a mortalidade neonatal, trauma de parto, complicaes

    neurolgicas, hiperbilirrubinemia, hipoglicemia ou taquipnia transitria (27)

    (qualidade de evidncia 1b).

    Cesarianas programadas de gemelares realizadas entre 36-37 semanas e 6 dias

    esto associadas a aumento de taquipnia transitria do recm-nascido (TTRN) e

    distrbios respiratrios em um ou nos dois fetos comparado a cesarianas realizadas

    entre 38 e 40 semanas (RR=5,94, 95% IC 0,78-45,01) (29) (qualidade de evidncia 2b).

    Resumo das Evidncias

    Poucos estudos controlados foram includos na reviso do NICE sobre gestaes

    gemelares. No foram identificados estudos de boa qualidade para gestaes mltiplas

    com mais de 2 fetos e modo de nascimento, assim como os desfechos neonatais e

    melhor momento para uma cesariana programada.

    Consideraes do grupo elaborador

    Diferentes abordagens podem ser necessrias de acordo com as caractersticas,

    principalmente a corionicidade e a presena ou no de comorbidades, quando est

    presente uma gestao gemelar. Assim, a determinao da poca para interrupo da

    gravidez deve ser individualizada. Na gravidez gemelar no complicada sugere-se

  • 32

    aguardar o trabalho de parto e indicar cesariana quando o primeiro gemelar se

    encontrar em apresentao no ceflica.

    Recomendao:

    Em gestao gemelar no complicada cujo primeiro feto tenha apresentao

    ceflica, a cesariana no recomendada de rotina.

    No caso de gestao gemelar no complicada cujo primeiro feto tenha

    apresentao no ceflica, a cesariana recomendada.

    Nascimentos pr-termo

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres em trabalhos de parto pr-termo sem outras complicaes maternas ou

    fetais?

    Um grande nmero de estudos observacionais mostrou maior taxa de

    morbidade (como paralisia cerebral) e mortalidade neonatal em recm-nascidos pr-

    termo (30, 31) (qualidade de evidncia 3). A reviso sistemtica realizar a respeito do

    tema incluiu 6 ERCs, 3 ECRs com fetos ceflicos e 3 ECRs com fetos em apresentao

    plvica. Um a cada seis dos recm-nascidos alocados para cesariana nasceu de parto

    vaginal, e vice-versa. Devido a grande taxa de descontinuidade e dificuldade de

    recrutamento os resultados produzidos foram inconclusivos (32) (qualidade 1b).

    A melhor forma de nascimento para fetos pr-termo ainda incerta. A

    cesariana foi proposta para melhorar as taxas de mortalidade, porm nestes casos

    pode ter maior dificuldade tcnica no procedimento. (30) (qualidade de evidncia 3).

    Resumo das Evidncias

    Os estudos sobre forma de nascimento em fetos pr-termos so de baixa

    qualidade e no permitem concluir os desfechos neonatais comparando parto vaginal

    e cesariana programada. No foram observados melhores resultados neonatais

    naqueles nascidos de cesariana.

  • 33

    Consideraes do grupo elaborador

    No h vantagens documentadas para recm-nascidos pr-termo nascidos de

    cesariana e a cesariana pode estar associada a aumento da morbidade materna. Alm

    disso, indicar cesariana de rotina pode promover um aumento do nmero de

    nascimentos prematuros, uma vez que o parto prematuro pode ser evitado em

    determinadas circunstncias. O grupo elaborador no sugere cesariana de rotina em

    funo exclusiva da prematuridade, quer na presena de trabalho de parto prematuro

    quer quando a interrupo da gravidez est indicada por alguma complicao prpria

    da gestao ou nela intercorrente.

    Recomendao:

    A cesariana no recomendada de rotina como forma de nascimento em

    trabalhos de parto pr-termo.

    Fetos pequenos para a idade gestacional

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    gestantes com fetos pequenos para a idade gestacional?

    Fetos pequenos para idade gestacional (PIG) tm mais risco de hipxia,

    complicaes neonatais e alteraes no desenvolvimento neuropsicomotor. Estudos

    observacionais mostram que fetos PIGs tem maior risco de morte neonatal quando

    exposto ao trabalho de parto em comparao com aqueles que no foram expostos

    (RR=1,79, 95% IC 1,54-1,86) (33) (qualidade de evidncia 3). A cesariana pode reduzir a

    necessidade de reanimao neonatal (OR= 0,2, 95% IC 0,08-0,66) (34) (qualidade de

    evidncia 3). A cesariana no mostrou diferena na reduo de paralisia cerebral em

    fetos PIGs (35).

  • 34

    Resumo das Evidncias

    Os poucos estudos encontrados sobre forma de nascimento em fetos PIGs so

    retrospectivos de pouca validade interna. No foi evidenciado benefcio da cesariana

    na reduo de desfechos neonatais negativos graves como mortalidade neonatal e

    paralisia cerebral.

    Consideraes

    Como no foram encontrados estudos de boa qualidade evidenciando

    melhores desfechos neonatais com a cesariana comparando com parto vaginal, o

    grupo elaborador desta diretriz concorda com a maioria dos guidelines no

    recomendando cesariana de rotina para fetos PIG.

    Recomendao:

    A cesariana no recomendada de rotina como forma de nascimento em

    fetos pequenos para idade gestacional.

    Placenta prvia

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres cujos fetos tm placentas centro-total ou centro-parcial?

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    mulheres cujos fetos tm placentas baixas (no centro-totais ou centro-parciais)?

    A placenta de insero baixa (placenta prvia) a indicao primria de

    cesariana em cerca de 3% na Inglaterra (23). Quando detectada com 20 semanas de

    gestao costuma resolver-se. Deve ser repetida ultrassonografia com 32 semanas e se

    permanecer o diagnstico de placenta de insero baixa com 36 semanas ou mais, a

    cesariana normalmente necessria. A cesariana de mulheres com placenta prvia

    tem risco aumentado de perda sangunea maior que 1000mL comparado com

    cesariana por outras indicaes (RR=3,97, 95% IC 3,24-4,85) (23) (qualidade de

    evidncia 3).

  • 35

    Resumo das Evidncias

    As evidncias encontradas relacionadas s complicaes da cesariana em

    mulheres com placenta prvia so provenientes de estudos observacionais de boa

    qualidade.

    Consideraes do grupo elaborador

    O NICE no apresenta estudos quanto a melhor forma de nascimento em

    placentas de insero baixa. Classicamente as formas de placenta prvia centro-total

    ou centro-partical tm sido definidas como indicao absoluta de cesariana, uma vez

    que essa oclui o canal cervical no momento do parto e evidente o risco de

    hemorragia e morte fetal caso o trabalho de parto progrida nessa circunstncia,

    podendo mesmo ocorrer o bito materno. Diante dessa situao no h como

    conduzir ensaios clnicos randomizados e, considerando os riscos associados, o grupo

    elaborador sugere programar cesariana eletiva a partir de 37 semanas na presena de

    placenta prvia centro-total ou centro-parcial. Todavia, a placentao s pode ser

    adequadamente avaliada no terceiro trimestre, porque antes desse perodo, em

    decorrncia do crescimento uterino, pode ocorrer alterao da relao entre placenta

    e orifcio cervical externo, modificando o diagnstico. Na ausncia de estudos

    comprovando vantagens da cesariana em casos de placenta prvia no centro-total ou

    centro-parcial, o trabalho de parto pode ser conduzido em outras formas de placenta

    baixa.

    Recomendao:

    A cesariana programada recomendada como forma de nascimento para

    fetos na presena de placentas centro-total ou centro-parcial.

    Acretismo placentrio

    Para mulheres com placenta baixa entre 32 e 34 semanas de gestao e antecedente

    de cesariana prvia, um exame ecogrfico com Doppler deve ser oferecido para o

    diagnstico de acretismo placentrio?

  • 36

    Em mulheres em que foi possvel estabelecer o diagnstico anteparto de acretismo

    placentrio, deve ser oferecido encaminhamento para um centro de referncia?

    Realizao de Ressonncia Nuclear Magntica (RNM) deve ser oferecida nestes casos?

    Quais so as intervenes disponveis para mulheres com acretismo placentrio?

    As gestantes com cesariana prvia tem um risco de 0,6-1,3% de desenvolver

    placenta de insero baixa, destas 11-14% podem evoluir com acretismo placentrio.

    Quanto maior o nmero de cesarianas anteriores, maior o risco de placenta prvia e,

    por conseguinte maior risco de acretismo placentrio (2 cesarianas prvias tem risco

    de 23-40% enquanto 3 cesarianas ou mais tem risco de 35-67% de acretismo numa

    prxima gestao) (36).

    Em uma reviso sistemtica do NICE (5) avaliando a acurcia dos exames de

    imagem na investigao de acretismo placentrio em gestantes com cesariana prvia,

    foram includos 5 estudos (37-41). Dois estudos avaliaram a acurcia da ressonncia

    nuclear magntica (RNM) para investigao de acretismo placentrio em gestantes

    com cesariana prvia. Os estudos mostraram que a RNM tem alta sensibilidade e

    especificidade, assim como altos valores preditivos positivos e negativos na avaliao

    de acretismo placentrio (37, 40). Considerando a prtica clnica, os autores sugerem

    que os exames para investigao de placenta prvia sejam realizados entre 32-34

    semanas de gestao (5).

    Tabela de evidncia - pagina 78 e 79 do NICE.

    Os efeitos do diagnstico pr-natal de acretismo placentrio atravs de exames

    de imagem e as repercusses maternas e perinatais foram tambm avaliados na

    reviso do NICE(5). Dois estudos observacionais foram includos comparando um

    grupo com diagnstico pr-natal de acretismo e um segundo grupo sem diagnstico de

    acretismo at o parto. Um estudo mostrou menor perda sangunea e menor

    necessidade de histerectomia de emergncia nas gestantes com diagnstico pr-natal

    (42) enquanto o segundo estudo mostrou menor necessidade de hemotransfuso e

    maior nmero de admisses em UTI neonatal dos recm-nascidos (RR=1,57, 95% IC

  • 37

    1,16-2,28) no grupo com diagnstico pr-natal de acretismo (43) (qualidade de

    evidncia 2b).

    Resumo das Evidncias

    A maioria dos estudos avaliou as gestantes com cerca de 30 semanas de

    gestao mostrando que a ultrassonografia com doppler tem alta sensibilidade e

    especificidade, assim como altos valores preditivos positivos e negativos para

    diagnstico de acretismo placentrio. Dos trs estudos que avaliaram a acurcia da

    ultrassonografia com doppler, dois so de moderada qualidade e um de baixa

    qualidade. Os estudos que avaliaram acurcia da RNM para investigao de invaso

    placentria em placenta acreta so de moderada qualidade evidenciando tambm

    altos valores preditivos positivos e negativas, e alta sensibiliadade.

    Consideraes do grupo elaborador

    diferena do grupo elaborador do NICE, o grupo elaborador desta diretriz no

    v necessidade de hematologista para cesariana, em sala de parto, pois no h

    evidncia na literatura sobre o benefcio deste profissional na reduo de morbi-

    mortalidade em placenta acreta.

    Deve-se explicar o procedimento de RNM para a gestante, que um

    procedimento relativamente seguro e que falta evidncia sobre as repercusses para o

    feto em longo prazo e deve ser realizado se aceito pela gestante.

    Recomendao:

    Um exame ecogrfico com Doppler recomendado em mulheres com

    cesariana prvia e suspeita de placenta de insero baixa entre 32-34 semanas para

    investigao de acretismo placentrio.

    Caso o diagnstico de placenta acreta seja sugerido pelo exame ecogrfico,

    recomendada a Ressonnica Nuclear Magntica nos lugares em que o exame esteja

    disponvel com a finalidade de investigar a extenso da invaso.

    Em gestantes com acretismo placentrio:

    recomendado programar a operao cesariana;

  • 38

    recomendada a presena de dois mdicos obstetras, anestesista e

    pediatra para o procedimento.

    recomendada a tipagem sangunea e a reserva de hemoderivados

    para eventual necessidade durante o procedimento.

    recomendado que o hospital de assistncia tenha condies de

    suporte para pacientes em estado grave de sade.

    Desproporo cfalo-plvica

    Como fazer o diagnstico da desproporo cfalo-plvica? A pelvimetria clnica deve

    ser utilizada para predizer a ocorrncia de falha de progresso de trabalho de parto? A

    pelvimetria clnica deve ser utilizada no processo de deciso quanto via de parto?

    O tamanho do p, a altura materna, e estimativas de tamanho fetal (ecogrficas ou

    clnicas) devem ser utilizadas para predizer a ocorrncia de falha de progresso de

    trabalho de parto?

    Estudos observacionais no demonstraram validade em testes para predizer

    falha de progresso do trabalho de parto (tamanho do p, a altura materna e

    estimativa de tamanho fetal) (44, 45) (qualidade de evidncia 3). A pelvimetria clnica

    ou por Raio-X tem sido utilizada como instrumento para predizer a necessidade de

    cesariana. Reviso sistemtica da Cochrane contendo 4 ERCs (n=895) relacionou os

    efeitos de pelvimetria radiolgica e a via de parto. Dois desses ERCs incluram

    mulheres com cesariana prvia. As mulheres que fizeram pelvimetria tiveram mais

    chance de evoluir para cesariana (OR=2,97, 95% IC 1,63-288), no sendo observada

    diferena nas repercusses neonatais (asfixia, admisso em unidade intensiva

    neonatal) e deiscncia de sutura) (46) (qualidade de evidncia 1a). No h evidncia

    que suporte o uso da pelvimetria para predizer a ocorrncia de falha de progresso de

    trabalho de parto.

  • 39

    Resumo das Evidncias

    Os testes e pelvimetria para predizer falha de progresso do trabalho de parto

    (tamanho do p, a altura materna e estimativa de tamanho fetal) foram avaliados por

    estudos de boa qualidade.

    Consideraes do grupo elaborador

    A ultrassonografia, pelvimetria e outros testes no tm acurcia para prever

    falha de trabalho de parto. Portanto, o grupo elaborador considera que o

    acompanhamento do trabalho de parto ainda a melhor forma de evidenciar

    desproporo cefaloplvica. Tendo em vista as evidncias mais recentes sobre

    evoluo do trabalho de parto, com a curva de Zhang et al. (2010) limites menos

    rgidos para documentar falha de progresso podem ser adotados, no havendo

    obrigatoriedade de intervir em um trabalho de parto que se estende alm dos limites

    habituais se me e concepto se encontram bem.

    Recomendao:

    A utilizao de pelvimetria clnica no recomendada para predizer a

    ocorrncia de falha de progresso do trabalho de parto ou definir via de parto.

    A utilizao de tamanho do p, a altura materna e estimativa de tamanho

    fetal (clnica ou ecogrfica) no so recomendados para predizer a falha de

    progresso de trabalho de parto.

    Transmisso vertical de infeces e forma de nascimento

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida a mulheres

    vivendo com uma infeco pelo vrus HIV para prevenir a transmisso vertical? Em que

    circunstncias esta operao deve ser oferecida para evitar a transmisso vertical?

    HIV

    Avaliando a via de parto como modo de prevenir transmisso vertical do vrus

    HIV em gestante soropositivas, uma reviso do NICE(5) incluiu 4 estudos, todos

  • 40

    observacionais, 1 prospectivo (47) e 3 retrospectivos (48-50) (qualidade de evidncia

    2b). Todos avaliaram taxa de transmisso vertical, de acordo com a carga viral e via de

    parto, em usurias de terapia antirretroviral. Dois estudos avaliaram a transmisso

    vertical comparando cesariana e parto vaginal, planejado e no planejado (48, 49).

    Apesar da qualidade de evidncia ser considerada muito baixa para determinar a taxa

    de transmisso vertical para cada tipo de parto, a evidncia dos estudos foi capaz de

    demonstrar que no h diferena significativa na taxa de transmisso vertical entre a

    cesariana e o parto vaginal, quando as gestantes usavam profilaxia antirretroviral

    (HAART) e a carga viral estava abaixo de 50 cpias/ml. Um estudo tambm observou

    menor transmisso vertical do HIV com HAART e carga viral abaixo de 400 (50). Atravs

    de modelo econmico comparando cesariana e parto vaginal, sugere-se que a custo-

    efetividade do parto vaginal melhor, no entanto, pensando no risco de transmisso

    vertical do HIV, nas repercusses em longo prazo e custo para tratamento do recm-

    nascido, a cesariana deve ser considerada.

    Resumo das Evidncias

    Os estudos relacionados a transmisso vertical do HIV so de muito baixa

    qualidade. Os estudos retrospectivos utilizaram antirretrovirais em pacientes com

    carga viral baixa, porm variada (50 ou 400 cpias/ml).

    Consideraes do grupo elaborador

    No NICE, no h informao sobre indicao da forma de nascimento em

    mulheres com carga viral desconhecida, bolsa rota ou em trabalho de parto. No Brasil,

    existem recomendaes especficas do Ministrio da Sade quanto a indicao de

    cesariana nessas situaes. Se gestante soropositiva estiver em incio de trabalho de

    parto, com bolsa ntegra e com 3 cm ou menos de dilatao cervical, deve-se iniciar

    profilaxia venosa com antirretroviral (zidovudina) e realizar a cesariana aps 3 horas da

    infuso. Sendo assim, o grupo elaborador desta diretriz acrescenta a recomendao do

    Ministrio da Sade no processo de adaptao. Em mulheres com carga viral entre 50-

    400 cpias/ml, no h evidencias que a cesariana previne a transmisso vertical.

  • 41

    Recomendao:

    A cesariana no recomendada para prevenir transmisso vertical, em

    gestantes HIV positivas quando:

    - a mulher faz uso de profilaxia antirretroviral (HAART) com carga viral

    menor que 400 cpias/mL ou

    - a mulher est em terapia antirretroviral (TARV) com carga viral menor

    que 50 cpias/mL.

    A cesariana recomendada nas gestantes HIV positivas sem uso de

    antirretrovirais ou com carga viral maior que as referidas acima.

    A cesariana recomendada em mulheres HIV positivas com carga viral

    desconhecida, em incio de trabalho de parto, com bolsa ntegra e com 3 cm ou menos

    de dilatao cervical. Nesta situao, recomendado iniciar a profilaxia endovenosa

    com antirretroviral (zidovudina) 3 horas antes do procedimento.

    Hepatite B

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida a mulheres

    vivendo com uma infeco pelo vrus da hepatite B para prevenir a transmisso

    vertical?

    A soroprevalncia de anticorpo anti-HBc no Brasil de 7,4% (95% IC 6,8%-8,0%)

    (51). A transmisso vertical do vrus B para o recm-nascido costuma ocorrer durante o

    parto e ps-parto atravs de contato com sangue, liquido amnitico e secreo

    vaginal. Uma coorte (n=447) comparou cesariana e partovaginal e taxa de transmisso

    vertical do vrus B. Todas as mulheres utilizaram imunoglobulina para o vrus B e os

    autores sugerem que a combinao cesariana e imunoglobulina deve ser considerada

    em gestante com nveis srios elevados de HBV-DNA(52) (qualidade de evidncia 2a).

    Resumo das Evidncias

    No existe ERC avaliando o benefcio da cesariana na reduo de transmisso

    vertical do vrus B. Os estudos avaliando cesariana e reduo de transmisso vertical

    no permitem generalizao.

  • 42

    Consideraes

    Existem estudos de boa qualidade, randomizados que possam determinar os

    benefcios da cesariana e reduo de transmisso vertical. O grupo elaborador desta

    diretriz considera pontos importantes para reduo da transmisso vertical, a deteco

    e tratamento precoce da hepatite B (antes ou durante o pr-natal) e a administrao

    de imunoglobulina para vrus B no parto e vacinao adequada para o recm-nascido.

    Recomendao:

    A cesariana programada no recomendada para prevenir a transmisso

    vertical em gestantes com infeco por vrus da hepatite B.

    Hepatite C

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida a mulheres

    vivendo com uma infeco pelo vrus da hepatite C para prevenir a transmisso

    vertical?

    O risco de transmisso vertical por vrus da hepatite C baixo, em torno de 3-

    5%, mas chegam a 20-30% de transmisso em mulheres com co-infeco com HIV (51).

    Uma coorte com 441 mulheres portadora de hepatite C estimou um risco de 6,7%

    (95% IC 4,0-10,2) de transmisso vertical e aquelas com co-infeco para HIV tiveram

    3,8 vezes maior risco de transmisso para os recm-nascidos (53) (qualidade de

    evidncia 2b). As mulheres com infeco por vrus C no tiveram diferena quanto

    transmisso vertical comparando os tipos parto (OR 1,19, 95% IC 0,64-2,20). Na anlise

    de subgrupo de mulheres portadoras de co-infeco com HIV (n=503, 35,4%), mostrou

    reduo de 60% de transmisso do vrus da hepatite C quanto submetidas cesariana

    (OR= 0,46, 95% IC 0,23-0,80) (qualidade de evidncia 3). No foi relatado uso de

    terapia antirretroviral nessas mulheres (53).

    Resumo das Evidncias

    Quanto a forma de nascimento e transmisso vertical de hepatite C, no

    existem ERCs, apenas estudos observacionais retrospectivos de qualidade moderada.

  • 43

    Consideraes

    Considerando os poucos estudos a respeito da preveno transmisso vertical

    em hepatite C, no se pode recomendar a cesariana para todas as gestantes com

    hepatite C. No entanto, quando h co-infeco com HIV a cesariana programada a

    melhor opo de forma de nascimento.

    Recomendao:

    A cesariana programada no recomendada para prevenir a transmisso

    vertical em gestantes com infeco por vrus da hepatite C.

    A cesariana programada recomendada para prevenir a transmisso vertical

    do HIV e Hepatite C em mulheres com esta co-infeco.

    Herpes vrus (HSV)

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida a mulheres

    com infeco primria ativa do vrus da Herpes simples (HSV) durante o terceiro

    trimestre da gestao? A operao cesariana deve ser oferecida a mulheres com

    infeco ativa recorrente do vrus da Herpes simples?

    A Infeco neonatal do HSV-2 est associada morbidade grave e alta taxa de

    mortalidade e pode ocorrer transmisso atravs do canal de parto durante o

    nascimento (54). Poucas sries de casos suportam as evidncias sobre transmisso

    vertical do HSV-2, no entanto, a alta mortalidade suporta as recomendaes. Um

    estudo avaliou 101 gestantes que tiveram infeco herptica genital (primria ou

    recorrente) durante o terceiro trimestre de gestao. O risco de herpes neonatal foi

    maior nas que tiveram infeco primria (3 casos de herpes neonatal em 9 expostos)

    (55). Em estudo com 15923 mulheres em inicio de trabalho de parto, 56 delas

    relataram infeco por HSV e 18 (35%) apresentavam infeco primria no momento

    do parto. Seis recm-nascidos (33%) cujas mes tinham infeco primria no parto

    desenvolveram herpes neonatal (56) (qualidade de evidncia 3). Nenhum estudo

    permitiu avaliar associao entre forma de nascimento e transmisso do herpes vrus.

  • 44

    Trs ECRs avaliaram o uso de aciclovir oral para preveno de infeco herptica

    recorrente no parto em gestantes com 36 semanas. Os estudos evidenciaram reduo

    de cesariana devido a herpes genital, porm no conseguiram evidenciar benefcio do

    aciclovir na reduo de transmisso vertical do vrus (57-59) (qualidade de evidncia

    1b).

    Resumo das Evidncias

    Os estudos encontrados relacionando herpes vrus na gestao e herpes

    neonatal so de casustica pequena e baixa qualidade. ECRs de boa qualidade no

    evidenciaram reduo de transmisso vertical do herpes vrus com uso de aciclovir.

    Consideraes

    Apesar dos estudos serem de baixa qualidade de evidncia, parece que a

    cesariana possa reduzir a transmisso do herpes vrus nas gestantes com infeco

    primria ativa no final da gestao. O aciclovir no traz benefcio na reduo de

    transmisso vertical do herpes vrus seja na infeco primria ou recorrente e no

    deve ser utilizado.

    Recomendao:

    A cesariana recomendada nas mulheres com infeco primria ativa do

    vrus do Herpes simples durante o terceiro trimestre da gestao por reduzir risco de

    infeco neonatal do HSV.

    A cesariana no recomendada de rotina para mulheres com infeco ativa

    recorrente do vrus do Herpes simples.

    Obesidade

    Na ausncia de outras indicaes, a operao cesariana deve ser oferecida para

    gestantes obesas? Existe algum valor de ndice de massa corporal a partir do qual a

    cesariana deva ser oferecida?

  • 45

    A obesidade uma morbidade crnica que est associada maior necessidade

    de cuidados s gestantes obesas durante o pr-natal e parto, maior risco de

    complicaes maternas e neonatais alm de maior risco de cesariana. Uma coorte

    contendo 591 gestantes obesas extremas (IMC>50kg/m2) comparou cesariana

    programada e parto vaginal planejado. Incluram nuliparas e multparas, com cesariana

    prvia e complicaes gestacionais como diabetes e pr-eclmpsia e aps ajuste de

    covariveis no evidenciou diferena nas complicaes anestsicas, ps-natais e

    neonatais, exceto distcia de ombro que foi maior naquelas que tiveram partos

    normais (3% vs 0%, p=0,0019) (qualidade de evidncia 2b). Contudo, as evidncias no

    apoiam a indicao de cesariana para obesas extremas devendo esta ser

    individualizada. (16).

    Resumo das Evidncias

    O principal estudo analisando forma de nascimento e obesidade boa

    qualidade e mostra que nem mesmo nos casos de obesidade extrema, a cesariana traz

    melhores desfechos que o parto vaginal.

    Consideraes

    A gestao de mulheres com IMC maior que 50kg/m2 habitualmente est

    associado com outras morbidade como hipertenso, diabetes, alm de um maior risco

    de complicaes cirrgicas. Baseado em estudos populacionais, o grupo elaborador do

    NICE no encontrou benefcios da cesariana em nenhum grau de obesidade, inclusive

    nas obesas extremas (IMC>50kg/m2). Logo, em pacientes obesas no se deve

    considerar a cesariana como melhor opo de nascimento.

    Recomendao:

    A cesariana programada no recomendada de rotina para mulheres obesas.

  • 46

    CAPTULO 3 - OPERAO CESARIANA A PEDIDO

    Como aconselhar uma mulher que solicita a operao cesariana? Qual o contedo que

    deve ser discutido? (utilizar o informativo sobre operao cesariana)

    Se a razo apresentada para a solicitao da operao cesariana ansiedade em

    relao ao parto ou partofobia, a mulher deve ser encaminhada para avaliao e

    suporte psicolgico?

    Quais so as possveis linhas de cuidado para tratamento da ansiedade relacionada ao

    parto e a partofobia? Os grupos de gestante podem contribuir para o tratamento da

    ansiedade relacionada ao parto e a partofobia?

    Se mesmo aps o aconselhamento a mulher mantm a solicitao de operao

    cesariana para o parto, uma segunda opinio mdica deve ser obtida?

    No caso de operao cesariana a pedido, existe uma idade gestacional mnima para a

    sua realizao?

    A taxa de cesariana vem crescendo ao longo dos anos e por vrias razes as

    mulheres tm solicitado a via cirrgica como forma de nascimento. Histria pessoal ou

    de pessoas prximas de parto vaginal com desfechos negativos so mencionados pelas

    mulheres, medo de sentir dor, falta de conhecimento sobre os mecanismos de alvio

    da dor no trabalho de parto e preocupao com sofrimento fetal e cesariana de

    urgncia so alguns assuntos envolvidos na escolha e desejo pela cesariana

    programada. Este captulo destina-se a nortear cesariana programada a pedido da

    gestante. Considerando os riscos inerentes ao procedimento e os princpios universais

    de biotica, no se recomenda que a cesariana seja realizada por convenincia mdica,

    de forma que essa no ser abordada no presente captulo.

    Dezenove estudos observacionais foram encontrados relatando taxa de

    cesariana a pedido da gestante. Um achado consistente foi a relao da preferncia de

    cesariana e cesariana prvia, experincia negativa com parto vaginal anterior,

    complicao na gestao ou medo do parto vaginal (60, 61). A maior preferncia por

    cesariana foi pela percepo de segurana para o beb. Um estudo caso-controle

    encontrou relao do desejo de cesariana pelas mulheres com o medo do parto em

  • 47

    experincia de abortos espontneos (OR= 1,73 95% IC 1,05-2,85), maior tempo entre

    os partos (OR= 1,44 95% IC 1,19-1,75), longo tempo no segundo estgio do parto

    vaginal anterior (OR=4,50 95% IC 1,18-9,31), ou cesariana de emergncia (OR=26,91

    95% IC 11,86-61,07) (62) (qualidade de evidncia 3).

    Uma coorte prospectiva com 357 mulheres avaliou repercusses ps-parto de

    cesarianas programadas em primparas na Sucia. Foi comparada a cesariana

    programada a pedido da gestante com parto vaginal planejado. O estudo encontrou

    maior permanncia hospitalar nas mulheres que tiveram cesariana a pedido, maior

    satisfao destas nos primeiros dois dias de parto e menor taxa de amamentao em 3

    meses ps-parto. No houve diferena em depresso puerperal e necessidade de

    terapia intensiva neonatal (63) (qualidade de evidncia 2b).

    Momento para se realizar a cesariana programada

    Recm-nascidos de cesariana entre 37-42 semanas tm mais risco de

    desconforto respiratrio ao nascer, este risco diminuindo com o aumento da idade

    gestacional (64). Um grande estudo prospectivo realizado na Inglaterra avaliou 33289

    partos e a prevalncia de desconforto respiratrio neonatal, taquipnia transitria do

    recm-nascido e admisso em UTI neonatal. O estudo mostrou diminuio do

    desconforto respiratrio neonatal a partir de 39 semanas de gestao (42,3 por 1000

    nascidos vivos com 38 semanas para 17,8 por 1000 com 39 semanas, OR= 8,2 e 3,5

    respectivamente). A morbidade neonatal tambm foi maior naqueles recm-nascidos

    de cesariana programada sem que a gestante tenha iniciado o trabalho de parto (64)

    (qualidade de evidncia 3).

    Resumo das Evidncias

    Todos os desfechos analisados nos estudos com cesariana a pedido so de

    muito baixa qualidade. Quanto ao momento do nascimento, com quantas semanas

    deve ocorrer a cesariana programada, os estudos analisados foram coortes extensas

    bem desenhadas, de boa qualidade.

  • 48

    Consideraes

    O grupo elaborador acredita que providenciar informaes sobre o parto s

    gestantes, apoio emocional e psicolgico pode diminuir a ansiedade relacionada ao

    parto vaginal e reduzir a necessidade de cesarianas por solicitao da gestante.

    Recomenda-se o dilogo com profissionais que prestam assistncia ao parto, mulheres

    que tiveram a experincia de partos vaginais humanizados, doulas, pediatras e

    anestesistas que possam tirar dvidas a respeito dos riscos de uma cesariana e os

    benefcios de um parto vaginal.

    As evidncias devem ser discutidas com a gestante respeitando sua dignidade,

    privacidade, caractersticas culturais e autonomia, considerando tambm sua situao

    clinica atual. Evidncias demonstram que quando ouvidas e aconselhadas, muitas

    gestantes modificam sua opinio porque o desejo inicial de uma cesariana pode estar

    associado com falta de informao, ansiedade e medo da dor, questes que podem ser

    abordadas em encontros presenciais com profissionais de sade ou em grupos de

    gestantes.

    Em decorrncia dos potenciais danos perinatais de uma cesariana eletiva antes

    de 39 semanas, e com o conceito de termo completo para designar os conceptos

    entre 39 e 40 semanas como um grupo com menor morbidade perinatal e neonatal, o

    grupo elaborador sugere que no se programe cesariana a pedido antes de 39

    semanas e que se aguarde preferencialmente o trabalho de parto, uma vez que sua

    presena indica habitualmente o amadurecimento do beb de forma a garantir uma

    melhor adaptao ao ambiente extrauterino.

    Recomendao:

    A informao sobre indicaes de cesariana, o procedimento, seus riscos e

    repercusses para futuras gestaes deve ser feita de maneira clara e acessvel

    respeitando as caractersticas socioculturais e individuais da gestante.

    Se no h indicao mdica, deve-se discutir as razes da preferncia por

    cesariana. recomendado que a gestante converse sobre sua preferncia com outros

    profissionais (anestesista, outro obstetra, enfermeiras(os) obsttricas(os),

    obstetrizes).

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    Em caso de ansiedade relacionada ao parto ou partofobia, recomendado

    apoio psicolgico multiprofissional.

    Se aps informao (e apoio psicolgico quando indicado) a gestante

    mantiver seu desejo por cesariana, o parto vaginal no recomendado.

    Quando a deciso pela cesariana for tomada, devem ser registrados os fatores

    que a influenciaram na deciso, e qual deles o mais influente.

    Caso o obstetra manifeste objeo de conscincia e no deseje realizar a

    cesariana a pedido, deve ser indicado outro profissional mdico que faa o

    procedimento.

    A cesariana programada no recomendada antes de 39 semanas de

    gestao.

    Profilaxia de Infeco na cesariana

    Quais intervenes devem ser realizadas para reduzir a ocorrncia de infeco

    operatria na cesariana?

    Infeco ps-parto uma importante causa de morbidade materna e pode

    prolongar o tempo de internao hospitalar relacionada ao parto. Seis ECRs (n=2566)

    a via de parto e morbidade materna. A incidncia de infeco em cesariana foi 6,4%

    comparado a 4,9% em parto vaginal. O maior ECR sugere uso de antibitico profiltico

    durante a cesariana (65). Duas coortes conduzidas em Israel (n=75947) (66) e nos

    Estados Unidos (n=33251) (67) avaliaram o risco de infeco e via de parto. A primeira

    coorte evidenciou incidncia de infeco puerperal em mulheres submetidas

    cesariana foi 2,6% comparado a 0,2% naquelas cujos partos foram vaginais (RR= 14,97

    95% IC 11,96-18,74)(66). No outro estudo, o risco de infeco puerperal tambm foi

    maior nas mulheres que tiveram cesariana (7,9%) comparado quelas que tiveram

    parto vaginal (1,8%) (RR=4,51 95% IC 4,00-5,09) (67) (qualidade de evidncia 1a).

    Uma reviso sistemtica incluindo 81 ECRs (n=11957) analisando benefcio da

    profilaxia com antibiticos durante a cesariana. O uso de profilaxia antibitica em

    cesariana reduziu a incidncia de febre puerperal (RR=0,45 95% IC 0,39-0,52),

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    endometrite (RR=0,39 95% IC 0,34-0,43), infeco do stio operatrio (RR=0,41 95% IC

    0,35-0,48), infeco urinria (RR=0,54 95% IC 0,46-0,64) e infeco grave (RR=0,42 95%

    IC 0,28-0,65) (68). Para avaliar a eficcia de diferentes regimes de antibioticoprofilaxia,

    uma reviso sistemtica incluiu 5 ECRs concluiu que tanto ampicilina quanto as

    cefalosporinas de primeira gerao tem mesma eficcia em reduzir endometrite ps-

    operatria. No foi evidenciado benefcio no uso de antibiticos de maior espectro ou

    mltiplas doses (69) (qualidade de evidncia 1a).

    Durante o procedimento cirrgico, foi avaliado 5 ECRs em metanlise que se

    propunha em avaliar o risco de endometrite de acordo com o