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Relatório Praça da Bandeira

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Page 1: Relatório Praça da Bandeira

“O passado que anseia em virar presente: a valorização da Praça da

Bandeira como sítio histórico de Teresina”

Dinoelly Soares Alves

Zafenathy Carvalho de Paiva

Roteiro da aula-orientada

A aula proposta consistia numa visita ao marco zero da cidade de

Teresina, localizado nas imediações da Praça Marechal Deodoro da Fonseca-

popularmente conhecida como Praça da Bandeira-, em frente a igreja de

Nossa Senhora do Amparo. A partir de uma análise in locu pôde-se obter

diversas informações a respeito do processo pelo qual formou-se Teresina,

seja fisica ou socialmente, informações essas que são imprescindíveis no

que tange a busca pela memória e o reconhecimento desse jardim público

como formador de identidades socioculturais.

O ponto de partida para a análise desse sítio histórico foi a Praça Rio

Branco, localizada aos fundos da Igreja do Amparo. Recentemente essa

praça passou por um intenso processo de descaracterização estrutural, onde

conservou-se apenas o seu relógio e suas palmeiras imperais. Em relação à

igreja, do ponto de vista arquitetônico, a mesma não possui um estilo claro,

tendo para muitos profissionais da área um estilo único. Ainda em relação à

igreja, pôde-se perceber que a parte mais antiga da mesma é a parte dos

fundos, que fica de costas para o leste.

Em seguida, nossas atenções voltaram-se para o objeto de análise da

aula-orientada: a Praça da Bandeira. Segundo fontes orais, anteriormente

foi criado um parque no interior da praça para a criação de aves e animais

exóticos, denominado Parque da Bandeira. Fica claro, nessas circunstâncias,

o uso da praça como um lugar de aproximação entre o natural e o urbano,

“uma paisagem artificial, visando a embelezar a vida privada, urbana e

rural” (DELPHIM, 2005:4)

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Fig 1: local onde hoje encontra-se a praça da Bandeira no

início do século, provavelmente no começo do século XX. FONTE: noticiasdacorte.blogspot.com

Com o passar dos anos a praça foi ganhando novas funcionalidades, de

parque zoobotânico a um local de intenso fluxo comercial. Teresina

despontou-se como importante centro comercial em meados do século XX,

sendo o rio Parnaíba o principal meio desse intercâmbio sociocultural, com

movimentação intensa* de pessoas oriundas de diversas regiões do Estado,

e até mesmo de estados vizinhos. Diante disso, a praça adquiriu um novo

cenário: agora caracterizado por um número grande de freqüentadores e

por uma intensa atividade comercial, resultando numa despreocupação com

a sua manutenção básica.

A partir disso, optou-se por gradear todo o entorno da praça, limitando

assim o acesso ao seu interior. No entanto, não surtiu efeito, tanto que esse

jardim de beleza ímpar acabou sendo habitado por diversos grupos

marginalizados da sociedade (usuários de drogas, mendigos, prostitutas,

etc.), aumentado de forma significativa seu estado de degradação.

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O abandono pelo qual a praça esteve submetida trouxe consigo não só o

alto grau de deteriorização, mas também o não “reconhecimento de

identidade pela sociedade”. As praças, além de serem espaços de intensa

troca cultural, “são uma forma de paisagem, seja esta bem vista pela

sociedade ou não. Paisagem que com o passar do tempo foi transformada

pela natureza humana, ou mesmo esquecida por ela.” (CARBONERA &

CHIES: 2009,1). Com as mudanças correntes na economia, política ou nas

relações sociais, ocorrerá uma modificação na paisagem, já que a mesma é

o habitat e o principal objeto de manutenção do homem.

Fig.2: a Praça da Bandeira passa a ser reduto de contrabandistas, usuários de drogas e outros grupos marginalizados socialmente. FONTE: ai5piaui.com

Outro ponto visitado foi o prédio onde hoje funciona o Museu do Piauí. O

acervo está disposto em diferentes salas, seguindo uma ordem cronológica,

desde a pré-história piauiense até o desenvolvimento da imprensa aqui no

Estado. Este Museu foi fundado em 1934, no início como uma seção do

Arquivo Público do Piauí, sob a coordenação do Profº Anísio Brito, sendo a

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sua sede atual o antigo casarão do comendador Jacob Manoel Almendra.

No ano de 1980 passou por um processo de restauro e tornou-se sede

apenas do Museu do Piauí.

Diante dessas observações, partimos em seguida para o que seria, sem

sombra de dúvidas, o principal problema do acompanhamento arqueológico

no centro da capital: a demolição desenfreada de casarões históricos para a

construção de estacionamentos. Durante toda a visita podemos notar o

descaso da população em geral com a salvaguarda do patrimônio histórico,

principal motivo pelo qual Teresina sofre com a crescente destruição desses

edifícios. De fato, se não há um elo entre sociedade e patrimônio histórico,

certamente não haverá proteção alguma desses bens, pois o que permite a

proteção de qualquer bem, seja ele histórico ou não, é o reconhecimento do

mesmo como representação de uma identidade sociocultural.

Fig. 3: demolição de casarão para a construção de um estacionamento no centro de Teresina. FONTE: acessepiaui.com

Para que haja o reconhecimento e valorização desse patrimônio histórico

é necessária uma série de medidas. Primeiramente, um grande trabalho de

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educação patrimonial na cidade, com diversos enfoques. Portanto,

estabelecer uma data anual como marco para o reconhecimento,

preservação e proteção do patrimônio histórico teresinense, com a proposta

de difundir conhecimentos para a formação de novos saberes, saberes esses

essenciais na busca pela memória e identidade coletivas.

Propomos ainda um grande trabalho de arqueologia na cidade, com o

propósito de instituir uma Carta Arqueológica de Teresina. Esse material

será de grande ajuda para que se tenha a real dimensão da abrangência de

áreas que tenham potencial arqueológico, contribuindo assim para uma

maior produção de trabalho de cunho arqueológico na cidade, já que não há

nenhuma bibliografia a respeito.

*A respeito de publicações, a realização de pesquisas arqueológicas

nessas áreas mencionadas torna-se um objeto importante na busca pelo

resgate da memória local. De fato, produzindo-se mais teremos uma

disseminação dos conhecimentos adquiridos ao longo do nosso processo de

formação, sendo esses imprescindíveis nesse contexto de reconhecimento e

valorização sociocultural. Propomos agora alguns trabalhos de arqueologia

histórica a serem realizados nessas áreas: o reais usos da Praça da Bandeira

ao longo do processo de urbanização de Teresina; o papel da praça

enquanto formador da identidade sociocultural; a delimitação do que seria o

centro histórico da cidade; o processo pelo qual deu-se a descaracterização

do centro; uma análise sob o ponto de vista da arqueologia da paisagem no

contexto urbano de Teresina; dentre outros.

Em suma, reconhecer esses locais como pertencentes à sociedade

teresinense vai além de qualquer política publica que tenha como objetivo a

salvaguarda do patrimônio histórico. Devemos, enquanto cientistas sociais e

produtos do meio em que vivemos, estabelecer novas inferências acerca da

real importância de preservar-se o patrimônio histórico e cultural, na

tentativa de reverter a situação em que nos encontramos e apontar os

verdadeiro agentes nesse processo de degradação dos bens históricos da

cidade de Teresina.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELPHIM, Carlos Fernando de Moura. Intervenções em Jardins Históricos: manual. Brasília: IPHAN, 2005.

SILVA, Aline de Figueirôa. Jardins Históricos do Recife: uma história do paisagismo no Brasil (1872-1937). Recife: CEPE, 2010.

TOCCHETTO, Fernanda; THIESEN, Beatriz. A memória fora de nós: a preservação do

patrimônio arqueológico em áreas urbanas. In: LIMA, Tânia Andrade (Org). Revista do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.Patrimônio Arqueológico: o desafio da preservação. Nº

33, 2007

YOKOO, Sandra C.; CHIES, Claudia. O papel das praças públicas: estudo de caso na praça Raposo Tavares na cidade de Maringá. IV Encontro de Produção Científica e Tecnológica.

Maringá/PR, 2009