VII MISSÃO SOLIDÁRIA

GUINÉ-BISSAU 2012/2013

25/12/2012 - 07/01/2013

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A partida no dia de Natal tirou-nos do quadro familiar e do bolo rei mas, a perspectiva de partir por

12 dias numa Missão Solidária para a Guiné-Bissau, a VII da Afectos com Letras, estampou um

sorriso de alegria na cara dos 5 participantes, quatro por repetirem e uma por ir conhecer uma

realidade completamente nova.

O primeiro dia em Bissau foi para descarregar o contentor e dividir os bens por lotes de

distribuição. Os livros de medicina para preencher a nova ala da Biblioteca, o material médico-

hospitalar e os medicamentos destinados ao Hospital Nacional Simão Mendes, os alimentos para

as escolas de Varela, Djoló e para a Fundação Ninho da Criança, os livros para as nossas "Arca-

bibliotecas", as águas para os detidos nas duas prisões de Bissau, os brinquedos (muitos!) e

sumos para a "criançada" que connosco se cruzou nestes doze dias, quer no hospital quer os

alunos das duas escolas que apoiamos. O processo de desalfandegamento e de descarga foi

rápido, a "máquina" dos Afectos com Letras já está bem oleada no terceiro contentor de ajuda

humanitária enviado no ano de 2012!

O trabalho na Biblioteca Pública da "Afectos com Letras" começou bem cedo com a montagem

das estantes destinadas aos novos livros. Com a ajuda dos estudantes do Instituto Politécnico de

Benhoblô e de alguns amigos, rapidamente foram encostadas às paredes que as esperavam e

passou-se à colocação dos livros, retirados dos caixotes e acomodados nas prateleiras.

A nova ala de saúde da Biblioteca ficou pronta ao final do dia, graças ao generoso donativo do Dr.

Duarte Sousa, ex-director do Hospital Nacional Simão Mendes que nos ofereceu a sua biblioteca

privada e ao empenho de todos os que nos ajudaram a concretizar este projecto, oferecendo livros

e publicações da área.

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Na sexta-feira, dia 28, quando nos preparávamos para realizar a festa para as crianças da Ala

Pediátrica do Hospital Nacional Simão Mendes, a notícia de um naufrágio ao largo de Bissau com

cerca de 4 mortos (que terminou com 29 mortos) e vários feridos apanha-nos a ultimar os últimos

preparativos. Imediatamente ajudamos os elementos do Hospital a preparar a recepção aos

feridos, desbloqueando o acesso para as ambulâncias e carros particulares que começam a

chegar e, a primeira imagem que vislumbramos, deixa-nos em choque e preanuncia um dia difícil

e inesquecível para nós. Uma carrinha de caixa aberta chega com vários mortos e outros tantos

feridos, logo seguida de outra e de outra... A festa foi imediatamente anulada. A confusão instala-

se, o choro e os gritos de desespero transformam-se no ar que respiramos no Hospital, durante

horas e horas nesse dia.

Embora não houvesse médicos na nossa equipa, prontamente nos associamos aos esforços de

salvar vidas, indo buscar os medicamentos e material médico-hospitalar transportado no contentor

e que estava destinado a integrar os stocks do Hospital, comprando medicação ali inexistente para

salvar vidas nos cuidados intensivos, dando água, chá e alimentos aos feridos, familiares, e

técnicos hospitalares e da Cruz Vermelha que trabalharam horas a fio, num misto de impotência

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por falta de meios e de uma grande vontade de inventar soluções. Foi um dia muito duro, que nos

fez crescer e perceber que na urgência e na desgraça se vai buscar coragem onde a cremos

inexistente para agir e reagir. No final da tarde, esgotados, ainda fomos levar a todas as crianças

da Ala Pediátrica, um pouco do chá e do arroz doce que tínhamos preparado para a sua festinha.

A viagem para a Ilha de Orango, nos Bijagós, no dia após o naufrágio e com marão (mar agitado)

constituiu uma prova de fogo para o grupo. Foi uma viagem de três horas muito difícil em que as

ondas pareciam querer engolir o nosso bote mas que acabou em bem. Orango tem um parque

natural com um hotel gerido pela comunidade local e para a qual os lucros revertem. O objectivo

desta viagem foi levar até lá uma "Arca-Biblioteca", repleta de livros, que fica agora à disposição

dos habitantes de Orango para leitura. A alegria de quem recebeu os livros afastou dos nossos

espíritos a sombra da viagem e deixou-nos usufruir de umas horas de plena comunhão com a

natureza e com os hipopótamos, numerosos naquela ilha e que nos contemplaram com a sua

pachorrenta sesta na lagoa onde os fomos visitar.

No regresso a Bissau, recomeçaram os preparativos para a festa com as crianças da Ala

Pediátrica do Hospital Nacional Simão Mendes, reagendada para o último dia do ano de 2012. A

festa contou com a participação de vários artistas de excelência da Guiné-Bissau que aceitaram

associar-se a nós, de forma gratuita, neste propósito de levar um pouco de alegria às crianças que

se encontram hospitalizadas e, naturalmente debilitadas, na pediatria. O Demba Baldé, o Patche

di Rima, o Moisés, o João, o Miguelinho, assim como o grupo etnográfico Arco Íris foram os

principais responsáveis por esta tarde tão especial pondo as crianças, pais, médicos e

enfermeiros a cantar, a dançar, a rir, a viver uma tarde com um brilho tão intenso nos olhos que

nos encheu a nós de alegria.

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O Mestre Iano fez-nos os bolos e os salgadinhos e, após o lanche, procedemos à distribuição das

prendinhas por todas as crianças.

Foi uma tarde mágica!

No primeiro dia do ano fomos ao Saltinho, a duas horas de distância de Bissau, e aí distribuímos

pelas crianças com que nos cruzámos bolachas, peluches e bolas de futebol.

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Tal como na última Missão Solidária, e no seguimento de um pedido que nos foi endereçado pela

directora da Fundação Ninho da Criança, fomos a esta Instituição levar leite em pó, alimentos

diversos, sumos, brinquedos e livros para os 43 órfãos ali residentes. Connosco, foram os músicos

Demba Baldé e Patche di Rima que, com a sua voz e boa disposição, fizeram as delícias das

crianças e das "mães" que ali tomam conta deles.

Um dos elementos da Missão foi, na companhia do Frei Michael, entregar águas e bolachas aos

36 detidos na 2ª Esquadra de Bissau e aos 59 detidos na Penitenciária da Polícia Judiciária que

vivem em condições degradantes. Trata-se de um espaço em que ficam os detidos

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preventivamente ainda não condenados e onde a sobrelotação e a falta de condições mínimas de

habitabilidade marcam o dia a dia deste 95 detidos que ali se encontram.

Na Guiné, temos como paragem obrigatória a "nossa" escola de Djoló onde pagamos os salários

dos professores e permitimos que 125 crianças tenham acesso ao ensino de forma constante e a

uma alimentação equilibrada. Foi uma manhã de emoções com a representação de uma peça de

Natal, um recital de poesia, um momento de música e dança com os nossos insubstituíveis

artistas e amigos Demba Balde e Patche di Rima, da leitura de um Conto com a Marta e, claro,

com um lanche e oferta de presentes às crianças. Ali entregámos o montante que vai garantir os

salários neste ano lectivo de 2012/2013 e o regular funcionamento da escola à Irmã Inês,

responsável pela Escola. Custa-nos sempre muito virar as costas a esta "menina dos nossos

olhos", onde as crianças já nos conhecem pelo nome e onde o Salmos, a Graciana ou a Matilde já

fazem parte da nossa família.

Em Ingoré, visitamos com a Irmã Romana e a Irmã Maria o Hospital/Maternidade e a Missão das

Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo onde deixamos livros, medicamentos, algum material

médico-hospitalar e sumos.

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Daqui, seguimos para Varela com uma comitiva bem maior que a que chegou a Bissau. Junta-se

ao grupo o Demba e o seu material de som, o Johannes que merece uns dias de descanso longe

do Hospital onde "pica o ponto" diariamente há 14 anos, o Francisco e a Mara, da AMI, que

conhecemos em circunstâncias tristes (vinham na piroga que naufragou) mas que se tornaram

rapidamente nossos parceiros de aventura solidária e de momentos bons. A viagem teve os seus

percalços com a avaria de um dos carros a deixar 4 elementos do grupo na picada, a 14 km do

destino, com o breu a chegar mas, como tudo na Guiné, o desenrasca e o espírito inventivo

resolveram tudo.

Nessa noite, a música atraiu ate ao local onde jantávamos miúdos e graúdos, levados pela

novidade do som e da música ao vivo do Demba, numa localidade onde não há luz nem água e

onde apenas um gerador (raro) uma pilha ou uma vela (bem mais frequente) iluminam as noites

de quem ali vive.

A Creche de Varela e os meninos esperavam por nós, manhã cedo. Depois de algumas músicas e

brincadeiras, passámos ao lanchinho e entrega de prendas às crianças. Também ali deixámos o

dinheiro que irá pagar o salário dos professores este ano lectivo, 800kg de arroz, 150 kg de leite

em pó e uma palete de massas e bolachas que vão garantir a alimentação das 85 crianças que ali

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estudam e aprendem as primeiras palavras. A partir de Março, uma voluntária da ONG "Afectos

com Letras", irá ali exercer funções de educadora/formadora até ao final do ano lectivo.

Esperamos que seja a primeira de muitas!

O regresso a Bissau marca a recta final da nossa VII Missão e impõe que se proceda à

distribuição dos últimos bens, ainda no armazém. No Hospital entregamos toalhas para uso dos

doentes, gel desinfectante para mãos, livros para a pequena Biblioteca que lá iniciámos em

Agosto. Preparamos os livros que o Frei Michael levará para Quinhamel onde vai fazer uma

Biblioteca em parceria connosco, levamos a tinta para a Biblioteca para pintar o chão e

despedimo-nos dos nossos amigos - muitos - que fomos amealhando na Guiné-Bissau nestes dias

e nas anteriores jornadas.

A partida é sempre dolorosa... A tristeza que nos trás de volta a casa vem no entanto

acompanhada pelo sentido trabalho feito. Não somos super homens nem super mulheres. Não

somos perfeitos nem omnipotentes mas somos gente com vontade de ajudar, de multiplicar

sorrisos e bem-estar entre aqueles que apoiamos.

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Estamos convencidos que mais uma vez conseguimos deixar um pouco de nós, de vós, do nosso

esforço conjunto, na Guiné-Bissau

Por isso, a VII Missão Solidária Guiné-Bissau 2012/2013 foi missão cumprida!

Bem-haja!

Joana Benzinho

O TESTEMUNHO DE QUEM PARTICIPOU NA VII MISSÃO SOLIDÁRIA

(Sara Reis, Pedro Esteves, Marta Dias de Castro, Valentina Cirelli, Joana Benzinho)

MARTA DIAS DE CASTRO

Há vivências, experiências, sentimentos e emoções difíceis de exprimir por palavras. Mas uma coisa é certa: o que se

vive e sente na Guiné é tão intenso que se entranha e nunca mais desaparece.

Fazer parte desta VII Missão Humanitária, a minha 4ª vez na Guiné, fez-me perceber que a fragilidade humana pode

ser levada ao expoente máximo quando os recursos físicos são inexistentes. Mas, que mesmo assim os sorrisos, os

gestos e os carinhos que recebemos e trazemos enchem o nosso coração e fazem-nos ansiar pela próxima ida... Não

sei quando vou regressar mas tenho a certeza de que vou voltar.

Um bem-haja para todos os amigos da Afectos com Letras que acreditam neste projecto e a todos aqueles que

usufruem do nosso esforço e dedicação.

PEDRO ESTEVES

Sem duvida 12 dias que ficarão na minha memória para sempre! Por muito que possa escrever não há palavras que

consigam transmitir o que vivemos e o que aprendemos.

Situações experienciadas que me fizeram crescer enquanto homem e que me deixaram a pensar como é possível

com tão pouco trazer tanta felicidade a estas gentes.

Tenho comigo um desejo, um dia voltar!! Obrigado a todas as pessoas pelo calor com que me receberam. Ficam

comigo todos os sorrisos partilhados nesta aventura.

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SARA REIS

Talvez esta seja a tarefa mais difícil de concretizar… resumir num pequeno texto 12 dias tão intensos como os que

vivi nesta missão solidária da Afectos com Letras, na Guiné-Bissau.

Foi a minha primeira missão solidária e fiquei completamente rendida àquele povo, ao país, às gentes que mesmo

não sendo de lá, dão tudo de si para que tanta gente possa ser feliz, nem que seja só por mais algumas horas.

Antes de ir, tinha a sensação que ia ensinar mais do que aprender, que ia dar mais de mim do que receber… e para

minha surpresa, aprendi tanto, recebi tanto, que neste momento o meu maior desejo é voltar.

Aprendi que é preciso tão pouco para ser feliz e sem dúvida que o fui nestes dias.

Trago na minha memória os sorrisos, os abraços sentidos, os carinhos, os momentos de partilha e sei que serão uma

constante na minha vida.

Há pessoas que valem a pena e esta equipa vale tudo e muito mais do que se possa imaginar!

Obrigada por esta experiência tão intensa e tranquila ao mesmo tempo!

VALENTINA CIRELLI

Para mim foi uma experiencia muito enriquecedora, positiva e maravilhosa poder ajudar crianças e adultos

necessitados. Encheu-me de satisfação ver os sorrisos das crianças e foi excelente a relação que se criou entre os

elementos do grupo e muito divertido o tempo passado em conjunto. Gostaria de repetir a experiencia.

AGRADECIMENTOS

Deixamos o nosso sentido OBRIGADO:

- Ao Hotel Coimbra, em Bissau, e em particular ao Miguel que mais uma vez nos acolheu

graciosamente nestes 12 dias de viagem;

- Aos nossos queridos amigos Manuel Neves, Júlio Ié, Demba Baldé, Patche di Rima, Moisés,

Miguelinho, João, Klim Mota, Iano, Germildo, Grupo Arco-Íris e tantos outros que na Guiné

permitiram a concretização de todos os objectivos a que nos propusemos;

- Aos particulares, aos anónimos, aos amigos do dia-a-dia que se associam a nós através de

donativos que, por pequenos que sejam, ajudam a fazer a diferença quando se tenta mudar os

dias das crianças na Guiné-Bissau; sem querer particularizar, deixamos apenas uma nota especial

ao Dr. Duarte Sousa, à nossa amiga Ricardina, à Anadia Solidária, ao Club de Ancas, a Livraria

Mascote em Anadia, bem como ao Eurodeputado Nuno Teixeira;

- Às madrinhas e aos padrinhos do projecto BAOBÁ, que nos ajudam a manter a escola de

Djoló a funcionar e permitem a muitas crianças aprender as letras e os números e sonhar com um

futuro;

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- Aos nossos familiares e amigos que estão sempre connosco neste projecto e são incansáveis no

apoio logístico aliado aos preparativos dos contentores em Portugal e que nos dão força para

continuar.

APOIOS

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