13
FACULDADE SOCIAL DA BAHIA PSICOLOGIA Katiene Suzart Mariana Góis Wendell Ferreira RELATÓRIO

Relatório_Processos Educativos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Relatório_Processos Educativos

Citation preview

Page 1: Relatório_Processos Educativos

FACULDADE SOCIAL DA BAHIAPSICOLOGIA

Katiene SuzartMariana Góis

Wendell Ferreira

RELATÓRIO

Salvador – BA2011

Page 2: Relatório_Processos Educativos

Katiene SuzartMariana Góis

Wendell Ferreira

RELATÓRIO

Seminário de textos apresentados para

a disciplina Psicologia e Processos

Educativos I do curso de Psicologia da

Faculdade Social da Bahia – 5°

Semestre.

Docente: Ava Carvalho

Salvador – BA2011

Page 3: Relatório_Processos Educativos

1. INTRODUÇÃO

O mundo escolar pode ser melhor entendido a partir da análise das relações

que o constitui. A complexidade inerente às questões escolares torna-se mais

compreensível quando a realidade de cada ambiente, as relações construídas

nesse ambiente e os sujeitos participantes possuem voz. Assim, segundo

Marilena Proença (2006), a escola deve ser compreendida em seu cotidiano,

no modo como funcionam suas relações, na constituição do seu dia-a-dia,

levando em consideração as minúcias que compõem esse universo, um local

que foi historicamente, social e culturalmente construído e que também constrói

nessas três esferas. Nesse contexto, é tendo como base essas idéias que o

presente trabalho guiou suas observações e guiará sua intervenção.

A idéia desse trabalho surgiu através da proposta da disciplina Psicologia e

Processos Educativos I para os discentes do 5° semestre do curso de

Psicologia. O objetivo norteador foi por os alunos em contato direto com a

prática, ou seja, inseri-los no ambiente educacional, na realidade vivida nesse

ambiente. E a partir daí, estabelecer um maior entendimento desse universo,

tendo em vista a atuação do psicólogo em instâncias educacionais, permitindo

aos graduandos uma visão crítica e participativa nos processos educativos

vigentes no país. Dessa forma, a disciplina possuiu como proposta

metodologia, nesse primeiro momento, a prática da observação, primando pela

coletas de dados e procurando entender como se dá o funcionamento dos

ambientes educacionais, bem como as relações existentes entre os

personagens que compõem este ambiente

A partir dos dados coletados na instituição elaborou-se uma proposta de

intervenção, a qual foi construída mediante os anseios e opiniões apresentados

pela coordenadora e pelos alunos, aliados às impressões dos observadores. A

aplicação deste projeto interventor acontecerá como proposta da disciplina

Psicologia e Processos Educativos II, no 1° semestre de 2012.

No que diz respeito a observação, o trabalho de coleta teve como metodologia

a utilização dos processos etnográficos, processos estes inaugurados pelos

antropólogos como métodos para suas pesquisas. Os métodos etnográficos

são um convite aos pesquisadores a sairem de onde estão e partirem para

Page 4: Relatório_Processos Educativos

uma vivência mais atuante, ou seja, ao invés de olhar de fora é preciso estar

dentro, participando e vivenciando, só assim se entende verdadeiramente o

objeto a ser pesquisado, o contrário disto era denomidado por Laplantine como

antropólogos de gabinetes (1988, p. 75).

Os primeiros trabalhos de observação participativa foram realizados por Boas e

Malinowski, sendo eles os precursores desse modelo de observação, a qual

representou um marco na antropologia pelo fato de possibilitar um encontro

com a alteridade. Boas no final do século XIX demonstra um maior interesse

em realizar observações meticulosas, buscou o conjunto de detalhes da

sociedade para poder construir estudos sobre ela. Defendia também a

importância de conhecer o idioma da sociedade que se está trabalhando, pois

assim melhor se compreendia as tradições e cultura de uma sociedade.

(LAPLANTINE, 1988, p.77-80).

Nesse contexto, é esse modelo de observação que tomamos como base,

porque ele permite um olhar mais isento de preconceitos e estereótipos. Assim,

uma observação participativa sustentável e comprometida é aquela que o

pesquisador consegue visualizar o grupo, com o olhar de quem está inserido

no grupo, no processo de alteridade. Compreender pelas perspectivas do

grupo. (MULLER; CARVALHO, 2010, p. 85).

Ainda em pesquisas realizadas, pudemos perceber que essa metodologia já

havia sido proposta na área educacional com Marilene Proença. A autora

trouxe um novo olhar e posicionamento sobre a Psicologia

Escolar/Educacional. Apresentou essas discussões em sua tese de doutorado,

em 1981, e mais tarde, em 1984, publicou o livro: Psicologia e Ideologia: uma

introdução crítica a Psicologia Escolar.

Proença (1981) criticou os métodos que estavam sendo utilizados nas escolas;

a culpabilização do fracasso escolar estar voltado às crianças e às famílias, e

colocou a seguinte questão: sobre a serviço de quem está voltado esta prática

psicológica? Levanta que esse tipo de prática não trazia nenhum avanço na

qualidade da relação escolar (alunos, família, instituição).

A autora propôs uma nova metodologia: repensar a escola através de um

contato direto, um trabalho etnográfico, que pudesse acompanhar o dia a dia,

os processos relacionais constituídos nessa instituição. É pensar como as

Page 5: Relatório_Processos Educativos

políticas públicas estão sendo adequadas nesses espaços e se elas estão

suprindo as necessidades dessa instituição. É buscar uma adequação para

criação de métodos que sejam realmente eficazes para uma prática escolar

participativa e que tenham frutos qualitativos na relação alunos, família,

professores e instituição.

Em nosso trabalho realizamos uma observação participativa no EJA (Ensino a

Jovens e Adultos) do colégio ISBA (Instituto Social da Bahia), que funciona

desde 1979. A escola oferece ensino médio (nominadas as séries como

estágio) e fundamental (séries nominadas como nível). Os alunos realizam em

um semestre o equivalente a um ano letivo das instituições de ensinos

convencionais.

Todos os alunos são estudantes do ISBA, escola particular, como bolsistas. A

escola tem em media 450 alunos, já chegou a ter uma média de 1000 alunos.

Cada turma com aproximadamente quarenta alunos. Todos os colaboradores

também são funcionários do ISBA.

Para ingressar na escola, os alunos precisam passar por um processo seletivo

e encaminhar todas as documentações solicitadas pela instituição que

comprovem carência financeira. A assistente social da instituição faz uma

analise da documentação, a qual precisará ser reapresentada anualmente para

a renovação da bolsa.

Realizamos visitas semanais, as quintas feiras, por um período de uma hora.

Nesse contato conversamos com a coordenação e alunos para podermos

analisar qual seria nossa proposta de intervenção na disciplina Processos

Educativos II, que atendesse melhor a necessidade daquela instituição.

Page 6: Relatório_Processos Educativos

2. DESENVOLVIMENTO

Contatamos a coordenadora do curso Francinete, solicitando realização do

estágio de observação na instituição. Fomos bem recebidos e a coordenadora

demonstrou a satisfação pela proposta de um estágio de observação que não

fosse somente a cunho de pesquisa de graduandos do último semestre,

demonstrando o interesse em realizarmos uma proposta de intervenção junto a

instituição. Os primeiros contatos foram somente com a coordenadora. A

mesma nos apresentou a preocupação da instituição em formar o aluno,

enfatizou a preocupação em formação humana.

Foi posto para nós a dificuldade que a instituição tem encontrado de alunos

que são provenientes de outros programas direcionados para adultos e jovens

que retomam os estudos depois de um tempo longe da escola. Relatou as

dificuldades encontradas na leitura, na escrita, na aprendizagem. E como

intervenção a escola tem buscado realizar oficinas de reforço, aos sábados,

alterando os turnos manhã e tarde, para que todos que tenham interesse

possam participar. Essas oficinas não têm datas fixas, costumam ocorrer uma

vez por mês.

A escola também tem um projeto de inclusão digital. Esse projeto oferece curso

de informática aos alunos. São turmas de 20 alunos, as aulas ocorrem duas

vezes por semana, no horário da tarde. A instituição trabalha muito em parceria

com os líderes de classe. Esses representantes são escolhidos pelos próprios

alunos. Eles participam das reuniões com os professores e coordenação, como

intermediadores das necessidades dos estudantes. A coordenação informou

que eles formavam os líderes, motivando e ensinando a importância da ética e

do sigilo.

Após os contatos com a coordenação, solicitamos contato com os alunos do

terceiro ano, para que pudéssemos conhecer os desejos, a realidade, para

assim propormos um projeto de intervenção. Logo a princípio, a coordenação

Page 7: Relatório_Processos Educativos

demonstrou o desejo em realizar um projeto de “coordenação vocacional” e

“formação humana”, termos usados por ela.

Criamos um roteiro de entrevista para que pudéssemos melhor compreender a

importância do estudo para esses alunos. No roteiro englobamos perguntas

como: Qual o sentido dos estudos? Quais as dificuldades enfrentadas? Qual o

motivo que o fez retornar aos estudos? E quais os projetos após o término do

ensino médio?

Tivemos dois contatos com uma turma de terceiro ano. Nesse contato

pudemos levantar as razões do retorno aos estudos, que na sua maioria era a

necessidade de inserção no mercado de trabalho, crescimento profissional na

empresa que já trabalha. Pudemos perceber que na sua maioria existe um

interesse em continuar os estudos. Alguns citaram que a prioridade

inicialmente é fazer um curso técnico, para que através dele e com a renda

obtida pudessem ingressar e cursar uma faculdade.

Pudemos perceber que muitos deles não tinham informação sobre como

funcionavam o ENEM, o Prouni, quais as vantagens desses programas, como

funciona para conseguir bolsa de estudos em escolas particulares, que UFBA

agora tem cursos noturnos, dentre outros assuntos similares.

A nossa proposta é trabalhar em 2012 com os alunos do terceiro ano, em

reuniões quinzenais, com uma média de seis encontros. Traremos nesses

encontros as informações necessárias para que esses alunos possam

continuar estudando após o término do ensino médio. Levantaremos os cursos

de pré-vestibular gratuitos, cursos noturnos na UFBA e informação sobre

ENEM e Prouni. Apresentaremos também os caminhos que eles podem buscar

para continuar o acesso à educação, bem como um melhor entendimento da

atuação destes no campo de trabalho e orientar no sentido das inclinações

para determinadas áreas que desejam atuar.

Page 8: Relatório_Processos Educativos

3. CONSIDFERAÇÕES FINAIS

A partir das observações participativas pudemos elaborar o projeto, o qual foi

construído levando em consideração os diferentes sujeitos dessa escola, ou

seja, para a formulação do projeto buscou-se ouvir as diversas esferas

presentes na instituição, como foi proposto por Marilene Proença. Os ricos

encontros realizados tanto com a coordenação como com os alunos

possibilitaram uma visão ampla daquele ambiente, o qual possui suas relações

sendo construídas diariamente, em meio as dificuldades e desafios. Nesse

contexto, representou uma preocupação nossa apresentar com fidedignidade a

realidade dessa instituição, torná-la familiar para nós, e a partir do nosso olhar,

torná-la familiar para os outros.

O projeto de intervenção, como dito anteriormente, foi elaborado tomando

como alicerce as especificidades dos sujeitos e da instituição. Nesse ponto,

vale ressaltar que os encontros realizados e as conversas com os alunos do

terceiro ano foram de fundamental importância para o norte dado ao projeto,

pois o que iremos oferecer à próxima turma do terceiro ano é justamente a

demanda, as carências e anseios da turma a qual tivemos contato e que os

estudantes não estarão mais na instituição.

A observação participativa representou o objeto através do qual pudemos

melhor aproveitar o contato com a instituição, pois este tipo de observação

permite um aproveitamento mais proveitoso dos dados. A inserção do

observador no ambiente de observação é significativamente importante,

somente essa convivência pode dar ao observador os elementos necessários

para um projeto que de fato enxergue a realidade do outro por ela mesma e

não pela nossa realidade. Dessa forma, acreditamos que a intervenção

escolhida realmente condiz com a realidade apresentada.

O ambiente escolar, por fim, foi o nosso foco e objetivo. Foi nele que nos

concentramos para poder extrais o elemento que precisávamos. E assim,

tentamos extrair as suas minúcias e particularidades, tendo em vista o seu

melhoramento.

Page 9: Relatório_Processos Educativos

As intervenções consistirão em encontros quinzenais, nos quais faremos as

atividades citadas anteriormente.

Cronograma 2012:

MÊS FEV MAR ABR MAI JUN

Dias de encontro

11 e 25 10 e 24 7 e 21 5 e 19 2 e 16

REFEÊNCIAS

SOUZA, M.P.R. Políticas públicas e educação: desafios, dilemas e

possibilidades. In: VIÉGAS, L.S. e ANGELUCCI, C.B. Políticas Públicas em

Educação: uma análise crítica a partir da Psicologia escolar. São Paulo: Casa

do Psicólogo, 2006, p. 229-43

SOUZA, M.P.R. Problemas de aprendizagem ou problemas de escolarização?

Repensando o cotidiano escolar à luz da perspectiva histórico-crítica em

psicologia. In: OLIVEIRA, M.K; SOUZA, D.T.R. REGO, T.C. Psicologia,

educação e temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002, p.

177-195.

Falta referencia texto da aventura sociológica