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1 Escola Ágora - Ensino Fundamental Trinta anos de existência Relatórios de Trabalho 1º Trimestre 2015

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Escola Ágora - Ensino Fundamental

Trinta anos de existência

Relatórios

de

Trabalho

1º Trimestre

2015

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Pessoas reunidas em torno de uma identidade, de um interesse comum,

caracterizam uma sociedade.

Neste mundo globalizado, onde as notícias são compartilhadas em tempo real,

onde podemos estar conectados o tempo todo com o planeta todo, a convivência, a

tolerância, o encontro humano parecem, cada vez mais, situações raras de se

vivenciar.

A China, como primeira sociedade estudada neste ano, causou encanto e

estranhamento. A história, a cultura, os costumes, o modo de viver e de ser dos

chineses ocupou estes três primeiros meses do nosso trabalho, cujo maior objetivo é

observar grupos que se formaram ao longo da história do Homem. Outras sociedades

sucederão esse país nos próximos trimestres.

Pensar sobre escolhas e ações individuais delimitadas pela vida em grupo – nas

famílias, nas escolas, nas comunidades, nas nações será favorecedor para

recuperarmos feitos humanos em sua dimensão coletiva, para construirmos, através

da colaboração mútua, o verdadeiro sentido de bem comum, a essência de uma

sociedade que possa, de fato, oferecer à sua população, a plena experiência da “vida

boa”.

Um abraço,

Terê

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Relatório do Trabalho do Primeiro Ano

Tranquilos e desenvoltos. Assim chegaram as meninas e meninos deste primeiro ano. Boa

parte deles já conhecia a Escola de “longa data”, visto que têm irmãos que estudam aqui. Os demais,

não deram sinais de insegurança; muito facilmente, uniram-se aos primeiros, passearam pelos

espaços mais próximos à nossa sala de aula, travaram brincadeiras, iniciaram os primeiros vínculos.

Nas semanas iniciais, foi comum ver as meninas e alguns rapazes na classe, durante as horas livres:

conversavam, desenhavam, exploravam a lousa e, certifiquei-me algumas vezes, aguardavam o

momento da aula! A turma do futebol não perdeu tempo, rapidamente compreendendo a dinâmica

de uso da quadra e do campo, os combinados para pegar e devolver bolas. Outros meninos, e

também outras moçoilas, por sua vez, aventuraram-se pela mata, descobrindo bichos, moedas,

cabanas. Em todos os casos, foram animados e acompanhados por colegas de outras turmas, com

os quais seguem interagindo intensamente. Essa diversidade resultou interessante porque, quando

nos reuníamos em sala, havia muito que contar sobre a forma de aproveitar os horários livres, de

modo que, aqueles que até então ficavam na classe, começaram a sair em busca de outros

divertimentos; quem estava no futebol, engajou-se, por exemplo, na construção de cabanas... O

transcorrer das semanas foi revelando um grupo bastante empreendedor: iniciaram e executaram

uma série de projetos (clubes, lojas, construções, “criação e treinamento de grilos”...), realizaram

diversos negócios e já tiveram muitas conversas sobre os papéis que desempenham em cada

brincadeira, a relação entre chefes e chefiados, as regras, o jogo do poder. Recentemente, alguns

alunos relataram-me que haviam tomado uma decisão: “Agora, o clubinho não tem mais chefe; todo

mundo vai ser chefe porque, senão, dá muita briga e o chefe fica só mandando e não se diverte.”

Na semana seguinte, trouxeram-me um problema: parte dos donos decidiu vender o tal clube, sem

que todos estivessem de acordo, ou seja, estavam enfrentando o primeiro problema dessa gestão

compartilhada... É visível a beleza e a riqueza dessas experiências, desses processos. Crianças de

cinco e seis anos criando e fazendo acontecer seus projetos, negociando, administrando e

encontrando soluções para os conflitos e problemas que, eventualmente, encontram; tudo com a

maior seriedade...

Como alunos, avalio que receberam, com tranquilidade e segurança, os desafios de chegar

ao Ensino Fundamental. Percebo que compreendem o fato de, a um só tempo, pertencerem a

diferentes grupos: o da Escola Ágora, o do primeiro ano e aos grupos chefiados pelos alunos do

nono ano; transitam por esses diferentes agrupamentos com desenvoltura, recebendo o que lhes é

proposto com animação e engajamento. Aos poucos, estão conhecendo e internalizando as regras

que organizam a vida em nossa Escola, bem como os princípios que as geraram, mostrando, com

raras exceções, muita confiança e adesão a elas, quando bem compreendidas. Observo, por sinal,

que não se furtam em perguntar o porquê de determinadas decisões, escolhas e formas de fazer:

“Por que as pessoas acham que o olho-de-cabra vale tanto aqui?”; “Por que a gente está fazendo

essas lições de família e da escola?”; “Por que não pode sentar com outros amigos no almoço?”;

“Por que a gente tem mais aulas com você do que com outros professores?”. Por vezes, parece,

mesmo, inquirição, sabatina...

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A rotina de aulas, bem como a alternância entre aulas e horas livres foi bem compreendida

por todos, de modo que as crianças sabem para onde devem se dirigir a cada momento, assim como

antecipam atividades que fazem nas aulas comigo, a cada dia. Alguns alunos registram a nossa rotina

na lousa, já na primeira hora livre; outros, ajudam-me a anotá-la, ora lembrando compromissos, ora

propondo situações (“Vamos fazer o jogo da matemática hoje, Beta?”; “Já que tem feriado na

quinta, podemos pegar livros novos hoje mesmo?”; “A gente podia usar o caderno de descoberta,

faz tempo que a gente não usa...”). Conforme pude compartilhar com vocês em nossa recente

reunião, de modo geral, os alunos dessa turma propõem atividades desse tipo, de “gente grande”,

de estudo. No que tange à rotina, o desafio do grupo consiste na superação de atrasos e na

preparação do corpo para as aulas, pois, ainda precisamos frequentemente chamar algumas

crianças, avisando-as que a hora livre chegou ao fim, ou, pedir para que muitas delas voltem para

lavar as mãos, usar o banheiro ou tomar água, antes do início das atividades. Essas questões foram

conversadas com eles, em algumas ocasiões, mas, observo que seguem precisando do auxílio dos

adultos para dar conta de perceber os sinais que, na Ágora, mostram que o horário das aulas está

se aproximando, bem como para lembrá-los de que é preciso estar com o corpo devidamente

preparado para o trabalho em classe. Por outro lado, há dias em que preparam surpresas: organizam

a sala para nossa roda de história, deslocando os móveis, guardando materiais que usaram na hora

livre, apagando a lousa e colocando-se em roda, no chão...

O convívio intenso dos horários livres tem, naturalmente, feito emergir dúvidas e pequenos

conflitos, os quais têm sido trazidos pelos alunos para nossas aulas, ou mesmo, durante os tempos

livres. Sempre que isso acontece, dedicamos a roda de conversa a tratar desses percalços, o que

considero fundamental para o saudável desenvolvimento de cada criança na relação com o outro e

com as regras que organizam a vida coletiva na Ágora. Foram, sempre, conversas muito boas, no

sentido de que todos os envolvidos puderam falar, expor seus incômodos e percepções, sendo,

efetivamente, ouvidos pelos demais, a partir de minha mediação e do olhar de colegas que não

estavam diretamente envolvidos na questão. Da mesma forma, em cada caso, procurei ajudá-los a

pensar em soluções, em como agir frente a situações como as que estavam relatando. Entendo que

tais conversas – primeiras e leves reflexões, dada a idade que têm- colaboraram muito para que as

crianças conhecessem umas às outras de forma mais profunda, criando cumplicidades,

desenvolvendo a empatia, estreitando laços de amizade.

No que diz respeito ao trabalho específico de nossas aulas, o grupo mostrou-se receptivo às

propostas que fui introduzindo: roda de conversa no início do dia, apresentação das atividades

planejadas para cada encontro, roda de leitura de histórias (feita diariamente), alternância entre

atividades dentro e fora da classe, registro do dia no caderno de lições. Da mesma forma,

“compraram” os projetos do trimestre: estudos sobre a China, investigação sobre as árvores da

Escola, o Projeto Convivência (“Eu em casa, eu na Escola”), jogos de contagem, atividades plásticas.

Observo que conduzem seus dias e trabalhos com bom ritmo e, no geral, de forma harmônica, num

espírito progressivamente mais colaborativo e de crescente envolvimento. São bastante

conversadeiros os alunos desse grupo; assim, no decorrer das atividades, a principal intervenção

que tenho feito diz respeito ao necessário equilíbrio frente a essas conversas – há momentos em

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que elas podem, sim, acontecer, sendo, inclusive, bem-vindas, e outros, em que o silêncio e a

quietude são prerrogativas do bom desempenho nas tarefas. Também temos tratado da escuta

atenta ao professor: todos precisam ouvir as orientações com atenção para que possam

compreender o que devem fazer; da mesma forma, precisam ouvir as explicações para que

efetivamente apreendam o que lhes está sendo ensinado. Noto uma maior prontidão da turma

nesse sentido, mas, ainda acontecem as tais conversas paralelas com forte tendência a se estender

– uma formiga que aparece, uma borboleta que passa; a descoberta de que o amigo tem um par de

tênis (ou botas) idêntico ao outro; além, é claro, das (por vezes divertidíssimas) livres associações

que fazem a partir do conteúdo tratado pela professora... (“Você não é índio, pode ser descendente

de algum povo indígena.” “Eu também sou sem dentes, olha!!”, “Na minha escola antiga, a gente

fazia uma lista do banguelas.” “Eu já perdi três...”. “Teve um dia em que eu vi um índio vendendo

colares, perto de uma praia.” – sequência ilustrativa do caminhar de determinadas conversas...).

Nossa viagem pela China foi guiada especialmente pela leitura de contos, o que permitiu aos

alunos criar um imaginário acerca das paisagens, da cultura, da simbologia da China, sobretudo a

Antiga China, a dos imperadores. Para orientar essa nossa viagem, acompanhamos as aventuras de

duas personagens, Flor Selvagem e Tang, em três aventuras: “Em busca de um nome”, “Um sonho

para todas as noites” e “A viagem de Mao-mi”, escritos por Lisa Bresner que, além das delicadas

narrativas, nos oferece uma série de informações sobre a história, a cultura, os costumes e as

invenções mais importantes do legado chinês. Ao longo de cada livro, as crianças puderam, ainda,

aproximar-se da escrita chinesa, conhecendo caracteres que designam nomes próprios, fenômenos

naturais, acidentes geográficos, cores e números. Esses caracteres encantam pela beleza dos traços

(a caligrafia chinesa é uma verdadeira obra de arte!) e, certamente, também por guardarem

resquícios de sua origem ideográfica, tão próxima das crianças. Arriscamos algumas reproduções de

determinados caracteres, usando tinta guache e também nanquim, com os dedos e pincéis. “O

nanquim é aguado!”, “O pincel escorrega.”, “Se molhamos demais, a tinta escorre e borra” foram

comentários que revelaram a percepção dos alunos acerca desses materiais. Nesse período, foi

comum incluírem as tais “letras” chinesas em suas lições, assim como em desenhos livres feitos em

folhas ou na lousa. As plantações de arroz e a alimentação nas áreas rurais, as escolas em Pequim,

os guerreiros de Xian, a simbologia do dragão e sua associação à figura dos imperadores, bem como

o zodíaco chinês configuraram um conjunto de temas e informações ao qual os alunos do primeiro

ano tiveram acesso, por meio de vídeos, fotografias, textos informativos e literários.

As descobertas que fomos fazendo, a partir dessas diversas leituras, foram registradas por

cada estudante em seu caderno de descobertas, por meio de colagens, desenhos e orações, ditadas

por eles e escritas por mim, no caso daqueles que ainda não escrevem convencionalmente. Esse

caderno, por sinal, é muito caro às crianças do primeiro ano; gostam de apreciá-lo e, muitas vezes,

pedem-me para utilizá-lo em aula. Trata-se de um material que pretende guardar a memória do que

vão descobrindo, tanto no trabalho, quanto em suas explorações nas horas livres. Temos incluído

nele imagens e tabelas que utilizamos para aprender, também; casos, por exemplo, de um quadro

que apresenta a evolução da escrita chinesa e o círculo com o horóscopo chinês. Dessa maneira, os

alunos estão aproximando-se dos diferentes tipos e funções de uso e registro da linguagem.

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O caderno de lições constitui outro espaço de registro bastante importante nesse ano

inaugural de Ágora. A cada dia, os alunos rememoram as atividades feitas e escolhem, dentre essas

experiências, uma que desejam registrar. Fazem-no por meio do desenho, que é, sem dúvida, a

linguagem das crianças – como afirmou Mário de Andrade, “O desenho fala, chega mesmo a ser

uma espécie de escritura, uma caligrafia.”. Enquanto produzem essa lição, estão construindo, ora

uma narrativa, ora uma descrição, ora um recorte, e também, um híbrido delas: por vezes, todos

esses “tipos de textos” juntos. Esse desenho é revelador de uma série de questões relacionadas ao

desenvolvimento das crianças: a maneira como percebem, elaboram, revisitam e reelaboram a

própria experiência, o espaço e o tempo; a capacidade que possuem (e vão aprimorando) de

representar acontecimentos, episódios, sentimentos, sensações, movimentos, seus e dos outros; as

habilidades relativas à composição de imagens, tais como relação figura-fundo, proporção, posição,

pontos de vista, perspectiva e representação de figura humana, entre outros. Vale dizer, quanto a

esses últimos tópicos, que, nesse momento da escolaridade, as crianças fazem experimentações,

trabalhando, sempre, de maneira intuitiva, mas, alimentados pela observação constante que fazem

das tantas imagens presentes em nosso cotidiano, bem como de desenhos produzidos pelo próprio

grupo. Minha função, muitas vezes, consiste em identificar essas experimentações e as boas

soluções que encontram para representar o vivido e socializá-las em classe, de modo que as

conquistas de um possam transformar-se em conhecimento e referência para todos. Assim, o grupo

vai, progressivamente, ampliando seu repertório, seu vocabulário para esta linguagem que é o

desenho.

Dedicamos algumas aulas ao estudo de construções icônicas da China – os palácios e a

Grande Muralha, mas, também, os inúmeros terraços de arroz. Dimensionar esses monumentos

não é tarefa simples para estudantes dessa faixa etária, mas, juntos, fomos estabelecendo algumas

comparações: a altura da Muralha é quase duas vezes a altura das salas de aula de nossa Escola; a

extensão seria quase a mesma de todo o litoral brasileiro (“Já imaginou uma muralha em todas as

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praias do Brasil? Seria bem esquisito...”, uma criança comentou, enquanto outra perguntava:

“Quanto tempo leva para andar em toda a muralha? Será que alguém já andou em toda ela?”...).

Essa disposição e curiosidade para medir pôde ser observada em outros momentos de nossos

encontros, por exemplo, no estudo das árvores da Escola: “É muito alta essa árvore!”, “A mangueira

é muito maior que a pitangueira”, “Os pinheiros são as árvores mais altas da escola”, “O limoeiro

não é alto, mas é espalhado...” são exemplos de percepções frequentes durante os momentos de

observação. Algumas vezes, perguntei-lhes quantos metros achavam que determinada árvore

media. Se era de pequeno porte, reportavam-se à minha altura, ou à do Beto e do Thiago, para

arriscar uma medida – assim descobriram, por exemplo, que a pitangueira próxima à nossa sala não

pode ter mais de dois metros. No caso daquelas espécies com mais de vinte metros, um aluno, por

diversas vezes, posicionou-se rente à árvore dizendo: “Acho que tem uns vinte de mim!”, ou, “Acho

que tem uns seis de mim.” Por conta dessa iniciativa, comecei a fotografá-los ao lado de algumas

árvores, tentando enquadrá-los por inteiro; dentro em breve, faremos um pequeno estudo das

medidas aproximadas desses exemplares, a partir da altura dos alunos retratados.

São alunos bastante disponíveis aos conteúdos matemáticos e possuem bons recursos para

fazer contagens até trinta, assim como pequenas somas e subtrações. No grupo, temos aqueles que

se apoiam nos dedos, em objetos ou desenhos, e, outros com procedimentos de cálculo mental

bastante eficientes e avançados. Por conta dessa diversidade, tenho investido em propostas

individuais – pequenos cálculos e situações-problema, por vezes, ajustando essas questões às

possibilidades de cada grupo de crianças. Ao mesmo tempo, dedicamos alguns momentos à

socialização de respostas e jeitos de contar/calcular, com cada aluno apresentando suas estratégias,

na lousa ou no próprio caderno de matemática! Gostam muito de exibir esses conhecimentos, por

sinal...

Ainda no que se refere aos assuntos matemáticos, temos realizado alguns jogos com dados:

jogo das fichas, sete cobrinhas, soma com dados. Todos eles envolvem um mesmo conteúdo que se

desdobra em dois eixos: contar de forma controlada (sem se perder) e de maneira cada vez mais

ágil. O controle sobre a contagem envolve a capacidade de fazer a correspondência biunívoca (1

ficha = 1; 2 fichas = 2 e assim sucessivamente), a organização espacial dos objetos de contagem (em

fileiras ou grupos de 2, 5 ou 10, por exemplo) e o domínio da série numérica ( o que vem depois do

dezenove, do vinte e nove e assim por diante). A agilidade está relacionada, por exemplo, à

capacidade de ver a face do dado e, por sua configuração gráfica, saber prontamente que

quantidade ela representa e, ainda, num nível mais refinado, automatizar as somas possíveis entre

dois dados (o que resulta em cinco, em seis, em sete; a menor e a maior soma possíveis etc). Outra

frente de trabalho diz respeito à grafia dos números, bem como à sua formação. O registro diário

de datas, o jogo de amarelinha, anotação de pontuações em jogos diversos e tarefas de estudo

especialmente preparadas para esse fim têm sido atividades constantes em nossas aulas e

permitem o aprendizado ou a consolidação da maneira correta de traçar e posicionar números e

algarismos.

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Gostaria de voltar um pouco mais ao estudo das árvores da Escola, que considero um projeto

muito importante deste trimestre. Estamos, desde as primeiras semanas de aula, envolvidos com a

proposta de identificar e conhecer mais detidamente parte da flora da Ágora. O conteúdo que

permeia esse projeto é a observação, a intenção é afinar o olhar para as coisas ao nosso redor,

dedicando a elas nossa atenção, nossa capacidade de ver, comparar, relacionar. De modo geral, as

crianças saem munidas de pranchetas e lápis grafite, observam por alguns minutos o exemplar

escolhido para cada dia e, orientados por minhas perguntas, têm a tarefa de descrever e encontrar

particularidades da árvore em questão. Na sequência, desenham cuidadosamente raízes (quando

aparentes), tronco, galhos, folhas, flores e frutos (que estiveram menos presentes, neste período,

dada a estação do ano em que nos encontramos). Aquilo que não conseguem observar in loco,

pesquisamos em livros específicos, particularmente, nos volumes da coleção “Árvores Brasileiras”,

da editora Plantarum. Têm sido momentos muito especiais em nossas aulas, pela seriedade com

que encaram a tarefa de conhecer e registrar descobertas, por meio de palavras e desenhos e,

também, pela visível transformação que conquistaram em suas representações, evidenciando o

alcance do objetivo primeiro de observar. A cada nova árvore, tornam-se mais meticulosos,

aproximam-se do tronco para desenhar detalhes de sua textura, recolhem folhas de diferentes

tamanhos e colorações, incluem novos detalhes. A comparação entre as espécies estudadas (quanto

a dimensões, cores, presença e tipo de flores e frutos, forma de crescimento dos galhos etc) foi

quase natural – comparar é um recurso precioso para aprender! Atrelado a esse estudo, oferecemos

à Escola o nosso presente em homenagem aos trinta anos de Ágora: placas com a identificação de

algumas árvores. Fizeram-nas com esmero e muito orgulho! No momento, estamos ampliando essa

investigação através da leitura e apreciação de “O livro das Árvores”, do povo Ticuna, por meio do

qual esse grupo indígena apresenta a floresta Amazônica, com seus bichos e seres mágicos/místicos,

bem como os mitos e lendas que criaram ao longo de incontáveis gerações. Essa obra é, também, a

porta de entrada para o estudo, ainda incipiente, das sociedades indígenas do Brasil.

Finalizo este relato com a certeza de que estamos percorrendo um caminho produtivo e

transformador, neste grupo de crianças alegres e amigas do conhecimento, tal como Terê

imaginava, ainda em 1984 (talvez antes!), quando a Ágora tomava forma e se preparava para

nascer...

Um abraço,

Beta

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Relatório do Trabalho do Segundo Ano

No segundo ano, os alunos passam por uma série de transformações: deixam de ser os mais

novos e passam a compor o grupo de “veteranos” da Escola; utilizam diferentes e mais numerosos

materiais, o que exige uma organização individual mais apurada; as tarefas de estudante modificam-

se, exigindo maior concentração e paciência. Aprender a ler e a escrever é outra conquista própria

e efetiva desse ano. Notei que, para a maioria dos estudantes dessa turma, tais mudanças não

configuraram um problema. Arguto, curioso, divertido, energético, o grupo destacou-se por

incorporar, com agilidade, alguns procedimentos que, no geral, alunos dessa série levam mais

tempo para assimilar; arrumar o material na mesa quando chegam à classe, colocar o caderno de

lição sobre a minha mesa e realizar diariamente a lição de casa, são exemplos disso. O envolvimento

dos estudantes com os temas trabalhados foi, também, notável; isso ficou nítido durante nossas

rodas, nas quais fizeram questão de colocar suas ideias e impressões acerca dos assuntos que

estiveram em pauta. São, também, aplicados e, rapidamente, incorporaram orientações e sugestões

para alcançar melhores resultados nos registros dos cadernos que revelam as atividades, vivências

e aprendizados feitos por eles na Escola. Naturalmente, por serem pequenos, necessitam de ações

constantes que os ajudem a ampliar o tempo de concentração em determinadas atividades, bem

como a enfrentar dificuldades próprias do aprendizado, sem desistir. Nesse sentido, acreditar mais

no próprio potencial e trabalhar para ter mais paciência e calma são objetivos a serem alcançados

por esses estudantes.

Três novos integrantes juntaram-se ao grupo. Aparar arestas, reestruturar o grupo criando

uma identidade coletiva configurou, nesses primeiros meses, uma tarefa exigente. Em sala, com a

intenção de promover essa interação, procurei propor atividades que estimulassem as novas

conexões misturando, nos grupos de trabalho, alunos novos e os que aqui já estavam em 2014.

Porém, ao observá-los no horário livre, constatei que ainda havia a separação de “novos” e “antigos”

nas brincadeiras por eles empreendidas. Passei, então, a solicitar às crianças que mostrassem aos

que chegaram alguns lugares e brincadeiras preferidos. Embora neste final de trimestre tenha

notado melhora e observado uma turma mais afinada, esse aspecto deverá ainda ser assistido e

acompanhado para que se consolide. Nas horas livres, atividades diversas, como construção de

cabanas, oficina de bolos e de buracos na fábrica de terra, criação de um banco com dinheiro feito

de papel, gangorra, balanço, “beyblade” de pedras e sementes mostraram como esse espaço tão

importante foi apreciado e aproveitado pelo grupo de meninas e de meninos. Notei poucos conflitos

acontecendo nessas brincadeiras. Quando surgiram, foram resolvidos pelas próprias crianças,

poucas vezes exigindo a intermediação de um adulto.

Com vistas a ajustar alguns comportamentos que comprometeram o andamento das aulas,

o grupo de professores combinou algumas medidas. Uma delas disso, que minimizou o atraso para

iniciar o trabalho foi esperar que o grupo reunisse-se e sentasse diante da sala de aula para, depois,

nela entrarem juntos ou, dirigirem-se, também em conjunto ao espaço específico de uma

determinada atividade, como Educação – Física, por exemplo. Em nossas aulas, particularmente,

notei que algumas posturas individuais acabavam por comprometer o desenvolvimento adequado

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das atividades. Levantar-se para denunciar ações de algum colega, distrair-se com objetos trazidos

das horas livres, ou, mesmo, brincar com o próprio material escolar, assobiar e conversar sobre os

mais diversos assuntos num alto tom de voz, são alguns exemplos. Diante disso, alguns ajustes

foram necessários. Deixar paus e pedrinhas no canto da sala, modificar a configuração das carteiras

e, especialmente, trazer propostas mais dirigidas com materiais que pudessem ser apreciados e

manuseados pelos alunos, terminando as aulas com uma roda para conversar a respeito das

informações e do que foi apreendido por eles foram ações efetivas para trazer maior concentração

e quietude para os momentos de trabalho.

A escuta foi outra habilidade que precisou ser exercitada. Para muitos, ainda é difícil ouvir

uma determinada orientação até o final sem interromper a professora e, mais que isso,

compreender por completo o que deve ser feito. Um exemplo que ilustra bem essa minha reflexão,

foi analisar o resultado de uma lição de casa. Para explicá-la, como usualmente acontece, li

coletivamente a proposta da tarefa, registrei na lousa algumas estratégias que poderiam ser

empregadas em casa, solicitei que algumas crianças explicassem o que era para ser feito, abri espaço

para perguntas e, no final, pedi que depois de realizar a lição, recortassem as bordas das folhas para

que pudessem colá-la no caderno no dia seguinte. Para minha surpresa, um grupo de crianças

apenas recortou a folha, mostrando que só registrou a última informação! Assim, cuidar de emitir

comandas mais curtas e diretas foi um dos caminhos que escolhi para evitar esses enganos na

comunicação. Porém, é desejável e esperado de alunos dessa idade que cada vez mais as crianças

consigam dar conta de ouvir uma explicação mais extensa até o final e saibam o que devem fazer a

partir daí, com maior independência. Esse modelo de maior competência faz parte de nossos

objetivos com os alunos, mas considero que a parceria das famílias é essencial para obtermos

resultados frutíferos e proveitosos.

A seguir, compartilho com vocês aspectos do trabalho realizado neste primeiro trimestre,

nas diversas áreas de conhecimento.

Língua Portuguesa

Como mencionei acima, o segundo ano marca a entrada das crianças no mundo da escrita e

da leitura de maneira mais objetiva e sistemática. Assim, muitas das atividades que fazemos neste

início de trabalho são voltadas para que os alunos reflitam e entendam as regularidades que

norteiam o sistema alfabético, ou seja, saber que a escrita representa a fala e que cada som é, por

sua vez, representado pela combinação de determinadas letras dispostas numa ordem específica.

O registro da rotina na lousa, que, em princípio, proporciona às crianças organização e

segurança, torna-se, nessa fase, um recurso didático interessante, já que tem como função

comunicar, através da palavra escrita, o que está planejado para aquele dia. Como algumas

atividades são permanentes, os alunos vão reconhecendo a grafia das palavras que as representam

e habituando-se a “ler” a lista de tarefas planejadas apoiando-se nelas, ainda, para escrever outras.

Os nomes dos amigos fazem parte também desse grupo de palavras que chamamos de “estáveis”,

ou seja, aquelas que o estudante reconhece de memória e pode tentar reproduzir a partir do que

memorizou sobre as letras que as compõem e sobre a ordem em que estas estão dispostas.

Portanto, o sorteio dos ajudantes do dia é uma situação propícia de observação da escrita desses

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nomes. Jogar forca, escrever letras em desordem para serem colocadas na sequência correta, ou ir

retirando o nome de um envelope, letra por letra, são algumas atividades que fazemos nesses

momentos.

Como esperado, as crianças chegam a essa etapa escolar em níveis diferentes de compreensão

do sistema de escrita alfabética. Por essa razão, atividades pontuais foram apresentadas para cada

grupo, a depender das necessidades observadas. O uso de letras móveis foi um aliado em tais

momentos. Além de ser um material muito favorecedor nessa fase, pois dispensa o aluno do

trabalho motor de traçar as letras e, assim, a atenção dele pode se voltar para a escolha de quais

letras usar e em que ordem colocá-las, comtempla, também, a diversidade de conhecimento sobre

o código alfabético. Cada grupo usou tal recurso de acordo com o conhecimento apresentado,

fazendo atividades de bingo ou ordem alfabética para fixar a grafia da letra ao seu respectivo nome;

listas com nomes de animais ou brincadeiras para os que não tinham a base alfabética consolidada

e a escrita de frases, ou de palavras, em duplas, para aqueles que já escreviam convencionalmente.

Outras tarefas pontuais, como preencher cruzadinhas, caça-palavras e completar expressões com

algumas letras já registradas, fizeram com que as crianças colocassem em jogo suas certezas sobre

como se escreve corretamente e avançassem em suas hipóteses sobre a escrita.

Trabalhamos com dois gêneros textuais, poemas e textos instrucionais. Iniciamos esse estudo

com leituras de poemas de diversos autores, como Cecília Meirelles e Vinicius de Moraes. Em cada

caso, fui chamando atenção dos alunos para a presença de rimas, repetições e aliterações. Neste

ano, elegi um autor em especial, José Paulo Paes, e seus livros, “Poemas para Brincar” e “É o Bicho”,

como materiais de referência. Com alguns textos, realizamos atividades de encontrar as palavras

que rimavam e escrever outras que poderiam rimar também e, assim, criamos alguns textos

inspirados em poemas como “Cemitério”.

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Como continuidade desse trabalho, trouxe, também, algumas parlendas para a classe.

Recorremos a elas enquanto fazíamos roda de chamada ou precisávamos realizar alguma escolha,

como, por exemplo, quem leria algo. Por tais textos fazerem parte da cultura infantil e as crianças

saberem muitos de cor, isso também permitiu uma rica exploração e reflexão sobre as palavras em

sua dimensão sonora, ao mesmo tempo que possibilita analisá-las quanto a suas formas gráficas.

Um exemplo de atividade pode ser visto abaixo, quando as crianças criaram textos inspirados na

parlenda “Macaco foi à feira”. No primeiro caso, foram desafiados a trocar o nome do animal e as

palavras marcadas por outras, que começassem com a mesma letra do bicho que haviam escolhido;

em outro, cada estudante foi desafiado a inventar um verso com o próprio nome.

Os textos instrucionais foram introduzidos através da proposta de criar um manual de jogos

e divertimentos para que pudéssemos registrar brincadeiras feitas com as parlendas, como, “Corre

Cutia” e “Lá em Cima do Piano”. Por sugestão das crianças, farão parte desse trabalho, também,

alguns jogos realizados em nossas aulas de Matemática. Como modelos desse tipo de texto, usamos

os manuais dos jogos da Escola que as crianças mais gostaram de jogar. Exploramos esse material

para investigar quais eram as partes que o compunham e, assim, poder produzir, conjuntamente,

os textos que farão parte do nosso livro de brincadeiras.

Todo dia, há um tempo reservado para ler os mais diversos tipos de texto. O principal

objetivo dessa atividade é criar uma relação especial com a leitura, fazer com que as crianças

desenvolvam a capacidade de escuta, de envolvimento e gosto pela literatura, além de ampliar o

repertório pessoal dentro desse universo, o que é fundamental para a formação de bons leitores.

As visitas à biblioteca acontecem semanalmente, sempre às sextas-feiras. As crianças escolhem, dos

exemplares previamente selecionados, um para levar para casa e, no dia determinado, comentam

o que mais lhes chamou a atenção, aproveitando, ainda, para indicar os títulos que mais apreciaram

para os colegas. Fazem, ainda, algumas atividades para registrar seu percurso leitor, este um projeto

que nos acompanhará ao longo de todo o segundo ano.

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Lição de Casa

Levar diariamente para casa o caderno e registrar nele o que aconteceu durante o seu dia é

uma tarefa recheada de desafios novos e importantes para esta turma. É o momento de refletir, de

rememorar a jornada e realizar um desenho, ou escrita, que comunique suas vivências e

experiências na Escola. Tal tarefa tem papel de destaque em nossas aulas e, por isso, realizamos as

rodas de lição para compartilhar o que é feito em casa. Tal procedimento é muito importante, pois,

além de garantir um espaço para os alunos mostrarem suas produções e favorecer a conquista de

registros mais completos, ainda os ajuda a desenvolver a observação, aprendendo, assim, uns com

os outros, modos diferentes de realizar registros interessantes, detalhados e bem cuidados do

ponto de vista estético.

Tenho proposto diferentes dinâmicas para esse momento de apreciação:

Roda de lição tradicional- os alunos apresentam sua produção e depois, os colegas podem

fazer comentários sobre o que ficou bom, o que poderia ser melhor produzido e, ainda, fazem

perguntas sobre algo que não entenderam, ou, que os deixou curiosos.

Roda passeio – os alunos deixam os cadernos abertos em cima das mesas e fazem um

percurso por todas as lições, observando-as e realizando comentários com os colegas,

parando para tirar uma eventual dúvida com o autor do registro.

Roda em grupos – os alunos se reúnem em trios ou quartetos, estipulados por mim.

Listamos alguns critérios na lousa que cada grupo deverá observar, como pintura sem

borrões e limpeza da folha, por exemplo. Cada grupo recebe cadernos dos colegas, avalia e

escolhe uma lição para apresentar para a sala. Uma variação dessa roda é cada aluno, com

seu próprio caderno, escolher livremente uma lição para mostrar para a turma.

Nessas situações, um ponto importante trabalhado neste trimestre foi o respeito às

produções dos colegas, enfatizando as boas soluções encontradas por cada aluno e desenvolvendo

um cuidado para apontar o que pode ser aprimorado. Pensando na importância desses momentos,

é fundamental que todas as crianças tenham, em casa, tempo e local adequados para realizar o

relatório diário com calma. Por isso, é importante que vocês, pais, continuem colaborando. Sentir

orgulho da própria produção é essencial para que o aluno construa uma postura dedicada e

comprometida com os estudos.

Matemática

As aulas de Matemática são organizadas de modo a colocar os estudantes diante do desafio

de resolver problemas, e através desse recurso, introduzir conceitos e procedimentos específicos

dessa área de conhecimento para que possam estabelecer relações e fazer reflexões para

desenvolver noções matemáticas cada vez mais complexas.

Nosso primeiro problema surgiu, justamente, da curiosidade de uma das crianças que queria

saber quantos alunos havia na Escola. Compartilhei esse questionamento com o grupo e, depois de

uma rápida discussão, em que cada um estimou uma determinada quantidade segundo parâmetros

próprios, perguntei como poderíamos descobrir o número exato. As mais diversas propostas

surgiram: contar os alunos na hora livre, contar as pessoas nas salas, ou, perguntar para a Elis.

Propus, então, uma pesquisa. Divididos em duplas, os estudantes ficariam responsáveis por

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descobrir a quantidade de pessoas de um grupo específico. Cada equipe, então, foi, toda orgulhosa

e munida de uma prancheta, contar e anotar a informação que havia sido combinada. De volta à

sala, cada um com um papel, nos deparamos com um novo problema. Como faríamos para organizar

os dados apurados de modo que pudéssemos visualizá-los? Recolhi todos os papéis e entreguei a

um aluno. Disse que perguntaria algumas quantidades e marcaria o tempo que levaria para receber

as respostas. Assim, fui questionando “Quantos alunos há no terceiro ano?” Como esperado, sendo

necessário procurar a anotação entre as outras, demorava certo tempo para encontrá-la. Em

seguida, desenhei na lousa uma tabela com duas colunas, com os títulos “grupos” e “número de

alunos”. Perguntei se alguém conhecia aquele recurso e, diante da negativa, expliquei-lhes que uma

tabela era uma maneira eficiente para organizar dados de uma pesquisa como aquela que eles

tinham realizado. Cada dupla ditou sua descoberta para, juntos, preenchermos a tabela. Isso feito,

buscamos a quantidade de alunos nos mais diversos grupos e verificamos que, efetivamente,

conseguíamos fazer isso com maior agilidade utilizando a tabela. Pesquisa organizada, era o

momento de responder à questão inicial: quantos alunos há na Escola? Deixei que cada dupla

tentasse solucioná-la usando os recursos e estratégias conhecidos por eles, porém, não houve muito

progresso, pois, devido à grande quantidade de números e à opção por desenhar marcas no papel

para controlar as contagens, eles se perdiam com frequência. Então, na aula seguinte, propus um

desmembramento: somar, separadamente, dois grupos por vez.

Como pode ser visto, a solução encontrada novamente, foi desenhar pauzinhos para marcar

as quantidades e depois contá-los um a um.

Estamos, agora, no momento de tornar tais resoluções mais “matemáticas” e, para isso, é

essencial explorar o funcionamento do nosso sistema de numeração, apoiado na base 10. Atividades

com jogos foram disparadoras dessas discussões. Como exemplo, o jogo das fichas. Nele, cada

jogador lança um dado e, a partir do número obtido, pega a quantidade de fichas correspondentes,

acumulando-as num prato descartável. No final, deve contabilizá-las para, inclusive, saber quem

venceu o jogo. De início, o controle sobre essa contagem foi bem difícil por causa da grande

quantidade de peças. Aos poucos, outras maneiras mais eficientes para computar os pontos foram

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sendo encontradas e trocadas entre os estudantes, como agrupar o material de dois em dois, cinco

em cinco e, claro, de dez em dez. Foi, então, que introduzi o conceito de dezena, prendendo cada

conjunto de fichas grupo de dez com uma fita crepe, deixando aquelas que sobravam soltas. Na

próxima etapa, chegaremos, à decomposição de números, que poderá ser usada como recurso

eficiente para resolver situações- problema.

Propostas de cálculo mental passaram, também, a fazer parte da nossa rotina. Para garantir

o sucesso dessa maneira de fazer cálculos, é muito importante que as crianças saibam, de memória,

alguns resultados de contas simples. Para memorizar as somas que totalizavam dez, utilizamos um

material trazido por um dos alunos chamado “Escala Cuisenaire”. Através da combinação de bastões

de cores diferentes, as crianças foram listando aquelas cuja soma resultaria em uma dezena. Lancei

mão, ainda, de um jogo chamado “memória dez”. Nele, cada trio recebia dois “kits” de cartas com

algarismos de 0 a 9 e, como num jogo de memória, tentavam encontrar os valores que adicionados

somavam dez. Para problematizar o jogo, propus situações ao longo das partidas, como:

“Se um aluno virar o 4 no jogo, qual par deve procurar?”

“Numa partida, um aluno virou as cartas 7 e 8.Ele formou par? Por quê?”

Em Geometria, as crianças exploraram o tangran, um jogo chinês formado por sete figuras:

duas peças triangulares grandes, duas peças triangulares pequenas, uma forma triangular média,

uma forma quadrada e um paralelogramo todas da mesma cor.

Primeiramente, as crianças puderam explorar livremente o jogo. Em outros momentos,

solicitei alguns desafios, como, montar triângulos e quadrados usando duas, três ou quatro peças.

Outra atividade realizada e muito apreciada foi solicitar que, em duplas, trabalhassem com uma

espécie de ditado de desenho. Funciona da seguinte maneira: uma das crianças escolhe uma das

peças sem mostrá-la para seu parceiro de trabalho e deve descrevê-la para que ele a desenhe. Ao

final do processo, devem comparar o desenho com a peça escolhida para ver o que conseguiram.

Uma variação, que traz uma dificuldade adicional, é colocar a figura geométrica escolhida numa

posição determinada. Esse é um jogo bastante eficaz para que as crianças pensem nas

características das figuras geométricas que compõem o tangran, bem como para detalhes espaciais

importantes, como a posição das formas geométricas no trabalho. No início, foi bastante comum as

figuras desenhadas saírem diferentes daquelas escolhidas, mas, através das discussões e da

apropriação progressiva do vocabulário geométrico conseguiram chegar a resultados bastante

satisfatórios.

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Ciências

Nosso estudo, nas aulas de Ciências, tomou forma através do grande entusiasmo

manifestado pelos estudantes do segundo ano pelos insetos da Escola. Usaram muitas horas livres

capturando-os e prendendo-os em potes, que exibiam orgulhosos aos colegas.

Assim, a primeira atividade que propus foi um desenho de uma formiga e de uma borboleta.

Como esperado, cada um desenhou os insetos sem muita preocupação com o formato do corpo,

número de pernas, ou mesmo, cor. Num segundo momento, apreciamos essas produções e fiz a

seguinte pergunta: “Qual dessas ilustrações poderiam estar em um livro de Ciências?” Depois de

muita ponderação e alguns argumentos da minha parte, todos reconheceram que os desenhos

feitos não tinham mesmo muito compromisso com a forma real dos insetos. Fomos à biblioteca e

retiramos vários livros que tratavam do assunto; pedi, então, que cada dupla de crianças escolhesse

uma imagem e, a partir da observação atenta da mesma, realizassem um segundo desenho dos

mesmos espécimes. A diferença foi realmente muito grande, como pode ser constatado no exemplo

abaixo:

Na roda seguinte, falamos a respeito de como a observação atenta de fenômenos e animais

da natureza é instrutiva, consistindo num procedimento muito importante do aprendizado que

iríamos empreender no trimestre, o estudo dos insetos sociais. Tal escolha foi muito apropriada,

pois, possibilitou um entendimento maior por parte das crianças sobre a definição de sociedade e

veio ao encontro do tema proposto em nosso projeto anual, “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”.

Para iniciarmos nossos estudos, optei por uma pesquisa conjunta sobre formigas, porque,

nesta série, como as crianças ainda precisam ganhar experiência com esse tipo de atividade, essa

dinâmica se dá, inicialmente, em grupo, sendo que eu assumo o papel de leitora e consultora dos

materiais. O objetivo é ensinar procedimentos que essa tarefa exige, tais como aprender a usar o

índice para encontrar os assuntos que se quer; ao buscar informações como dimensões, por

exemplo, ao invés de ler o conjunto todo de informações procurar por números no corpo do texto;

ler subtítulos para antecipar o assunto tratado. Ao longo da leitura dos materiais, tomo o cuidado

de escolher alguns parágrafos para reler, comentar o significado de expressões importantes, voltar

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a ler alguns trechos que elucidem o sentido de um determinado termo ou ideia. Assim, as crianças

vão se aproximando desse gênero e aprendendo as diferenças entre ler para se entreter e ler para

buscar informações e novos aprendizados.

Realizamos, paralelamente, a observação de um formigueiro que formou-se na frente da

nossa sala. Munidos de lupas, as crianças puderam ver alguns túneis e, também, ao remexerem a

terra com pauzinhos, descobriram alguns ovos. Durante alguns dias, acompanharam a

movimentação desses insetos, porém, com as chuvas, ele ficou bastante reduzido e chegamos à

conclusão que as formigas decidiram mudar-se para um local mais seguro. Assim, para que

pudéssemos prosseguir com essa experiência, decidimos montar um formigueiro que pudesse ficar

na sala. Em um aquário, coletamos parte de um que encontramos na Escola e, durante algumas

semanas, observamos a formação dos túneis e a movimentação dos insetos. Como complemento,

assistimos a alguns filmes que mostraram a complexidade dessa construção, os tipos de formiga e

sua função na colônia.

Projeto Anual

Estudar as sociedades. Essa foi a proposta da Escola durante o planejamento que realizamos

ao longo de duas semanas, no início do ano. Uma escolha feliz, pois, especialmente com os

pequenos, ela nos dá a oportunidade de discutir, entre outros assuntos, direitos, deveres,

responsabilidade e a consciência de pertencimento a um grupo, habilidades que, hoje em dia,

andam tão esquecidas no convívio humano.

Nesse primeiro período, estudamos a sociedade chinesa, que alia tradição e modernidade,

e, atualmente, destaca-se como grande potência econômica.

Para tanto, elegi uma coleção bastante interessante para nossa jornada. O primeiro livro,

chamado “O Segredo de um Nome”, conta a história de uma menina que não gosta do próprio nome

e, por isso, deseja mudá-lo. Ao longo da narrativa, muitos costumes chineses foram abordados: as

iguarias, o costume de se ter três nomes, um quando se nasce, o segundo que é recebido entre os

sete e nove anos, quando se entra na Escola e, finalmente, o nome social, dado entre os dezesseis

e vinte anos. Após a leitura, realizamos uma atividade que mobilizou por muitos dias as crianças:

escolher um nome chinês e treinar sua escrita com o respectivo caractere. Isso foi feito com diversos

materiais e, finalmente, registrado no papel manteiga, que é o que mais se assemelha ao papel de

arroz. Para que os estudantes conhecessem mais sobre essa arte, que é a caligrafia chinesa, lemos,

ainda, alguns textos informativos a respeito desse tema e a partir desses estudos, escrevemos

algumas anotações coletivas sobre tais aprendizados.

No segundo exemplar da série, conhecemos outro personagem, Tang, um menino que não

sabe sonhar. Numa noite, quando adormece, percorre a China em busca do seu “sonho para todas

as noites”. Para conhecê-lo, porém, precisa aprender novos sinogramas e, nessa viagem, atravessa

bambuzais, molha os pés nos arrozais e conhece as maravilhosas plantações e o perfume das folhas

de chá. Para que as crianças pudessem imaginar tais cenários, apreciamos uma série de imagens

dos arrozais, além de também conhecer e ler mais sobre a Muralha da China, ponto de partida do

personagem na narrativa. Aproveitamos esse “tour” para conhecer outras magnificas construções

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chinesas, como a Cidade Proibida, e outras menos antigas, mas igualmente surpreendentes,

construídas para a Olímpiada de 1998, como o estádio Ninho do Pássaro e o Cubo d`Água.

O terceiro volume mostra o encontro dos dois personagens anteriores numa aventura em

busca de um gato, Mao- Mi. Nela, as crianças encontram os três senhores do tempo, responsáveis

por criar grandes invenções: a pólvora, o guarda – chuva, a pipa e o papel, dentre outros. Como uma

maneira de vivenciar essas descobertas, realizamos algumas tarefas nas quais as crianças puderam

colocar a “mão na massa”, fazendo papel reciclado e paraquedas.

Projeto Convivência

Tal como apresentado em nossa última reunião de pais, em função de posturas observadas

em situações de aula e hora livre, que revelam certa falta de recurso para resolver conflitos e, muitas

vezes, dificuldade por parte das crianças em identificar os próprios sentimentos, para poder

administrá-los de forma mais harmoniosa e respeitosa, instituímos um espaço para trabalhar com

tais questões. O projeto, intitulado “Convivência”, acontece uma vez por semana. Para o segundo

ano, o tema norteador é: Eu e minha família, meus amigos e suas famílias; nós juntos na Escola.

Estabeleci três eixos para abordá-lo: o primeiro, é conhecer mais a respeito da própria

família, investigar as origens, de onde vieram os avós, bisavós, o encontro dos pais, o próprio

nascimento, a história de escolha de seu nome... Enfim, situá-los como indivíduos, participantes de

uma determinada genealogia, que contribui para serem quem são, que, por essa história, têm suas

convicções e, a partir delas, suas normas norteadoras. Paralelamente, pesquisaremos a história da

Ágora, que também “nasceu” por uma conjunção de fatores, e, assim como em cada família,

organiza-se em torno de seus princípios. O objetivo é que os estudantes observem que as regras de

suas famílias, assim como a de seus colegas são importantes, pois são responsáveis por organizar as

relações interpessoais e oferecem a segurança necessária para um desenvolvimento adequado.

Além disso, preparam-nas, ainda, quando passam a conviver em um espaço social mais amplo, como

a Escola, por exemplo, garantindo uma convivência mais harmoniosa, coletiva, social.

O terceiro foco é explorar situações cotidianas e algumas, retiradas de um dos materiais de

referência, o livro “Eu e os outros”, de Lilianna Iacocca, para que possamos analisar e discutir as

reações que algumas ações desencadeiam na vida em grupo. Nosso encontro inaugural ilustra bem

esse objetivo; por conta de um desentendimento de hora livre, conversamos sobre o sentimento de

raiva. Cada criança relatou situações em que esse sentimento se fez presente e as reações advindas

dele. De modo geral, todos revelaram compreender que essas respostas, muitas vezes

intempestivas acabam por prejudicar a boa convivência. O mais importante, nessas situações, é

repertoriar os alunos para conseguirem reconhecer as próprias emoções e, assim, possam lidar

melhor com elas quando estiverem em situações conflituosas.

Num outro encontro, solicitei que cada criança desenhasse uma regra que existe em sua casa

e, também, uma da Ágora. Com esse material, depois de socializar o que cada um elegeu, nossa

discussão girou em torno dos motivos que levam ao estabelecimento de regras e a importância

delas para que possamos viver em grupo. Em nossas considerações, os estudantes concordaram

que as normas precisam ser respeitadas e cumpridas, pois, senão, segundo fala deles “o mundo

ficaria uma bagunça!”

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As atividades seguintes darão início à nossas incursões na história das famílias e da Escola.

Sobre elas, poderei dar mais notícias no próximo relatório.

Finalizo aqui minha reflexão a respeito das vivências do segundo ano neste primeiro

trimestre, um recorte do processo que as crianças, na Ágora, têm a oportunidade de viver tão

intensamente.

Um abraço,

Vanessa

Relatório do Trabalho do Terceiro Ano

Notícias sobre a dinâmica do grupo

Iniciar um ano letivo é sempre um desafio para todos, alunos e professores. São várias as

expectativas em relação à professora, aos alunos, às exigências da nova série, às novidades. Com

habilidade, temos que equilibrar esses aspectos para que a experiência ocorra positivamente; assim,

é natural que leve algum tempo para nos adaptarmos a tudo isso. Ao longo desses meses de

trabalho, viemos nos aproximando e nos conhecendo um pouco mais a cada dia. Dessa forma, as

relações vêm se construindo, fortalecendo-se e, agora, chegando ao final deste trimestre, estou

certa de que o ano correrá cada vez mais produtivo, pois já alcançamos uma boa parceria de

trabalho. Foi interessante notar que, nesse processo, o vínculo entre nós estreitou-se por meio do

trabalho. Conforme avançávamos nos conteúdos, as crianças mostravam-se satisfeitas com as

vivências e com os aprendizados e mais próximas, receptivas e felizes entre si. Nesse sentido, vale

a pena ressaltar que tal característica revela um grupo de alunos curiosos, que valorizam o

conhecimento e o aprender.

Desde o início das aulas, estabeleci uma rotina bem definida para as atividades de cada dia;

também, realizamos conversas que retomaram princípios e combinados de convívio e trabalho,

ressaltando estratégias de organização validadas no coletivo, com o objetivo de que os alunos

fossem regulando suas atitudes conforme esses parâmetros. A partir disso, não foi difícil para essas

crianças orientarem-se: mostraram-se sempre abertas a receber tais direções, apropriando-se bem

das regras e combinados estabelecidos, revelando-se seguras diante desses. Alguns combinados de

trabalho de que falo referem-se a como proceder no início do dia, ao finalizar uma atividade,

durante as discussões coletivas, em momentos de cópia, volta da hora livre etc. Hoje, já é possível

notar algumas mudanças na dinâmica do grupo, que veio se adequando às novas regras, o que,

certamente, contribuirá para um trabalho de cada vez maior qualidade.

A característica mais marcante destes alunos, talvez, seja o respeito, tanto em relação ao

trabalho (seus combinados e sua execução propriamente dita), quanto dos relacionamentos

interpessoais, o que ficou bastante claro em uma atividade do “Projeto Convivência”, na qual

elegeram o “melhor lado” deles, de onde se evidenciou a preocupação com o outro (o que ele sente

e do que ele precisa), a disponibilidade para ajudar, o desejo de serem simpáticos, amigáveis e

atenciosos. Tais atitudes são visíveis, diariamente, em nosso convívio e manifestam-se

espontaneamente em nossos momentos compartilhados.

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Nas aulas, essas crianças adoram uma novidade e são perseverantes diante dos desafios; a

maioria tem iniciativa própria para participar das situações coletivas, principalmente elaboração

textos ou discussões sobre conteúdos das diferentes áreas, dando excelentes ideias. Assumem com

prontidão todas as tarefas que proponho, envolvendo-se nas atividades produtivamente. São

focados em todas as modalidades de trabalho (individual, duplas e grupo) e costumam respeitar as

diferentes opiniões. Geralmente, perguntam quando têm dúvidas e são providos de boa escuta e

compreensão. Uma de nossas metas é regular melhor o trabalho em grupos, pois, às vezes, em meio

a tantas trocas e animação por estarem trabalhando em conjunto, acabam excedendo o volume da

voz.

O horário livre é sempre muito aproveitado por estes alunos, que se envolvem em inúmeras

atividades. Estar em meio à natureza parece ser um prazer para a maioria deles, que criam fábricas

e lojas dos mais variados temas e produtos, constroem cabanas e objetos com madeiras, exploram

o território escolar, coletam insetos, brincam no balanço, além de desfrutar dos jogos de futebol.

Meninos e meninas brincam juntos, observo que são amigos e mostram-se afetuosos uns com os

outros.

A turma do terceiro ano tem avançado em seus saberes nas diferentes áreas, nas atitudes e

procedimentos formadores do ofício de estudante e nas condutas para a boa convivência.

Passo, agora, a compartilhar com vocês os caminhos e as conquistas do terceiro ano em cada

uma das áreas trabalhadas neste período.

Projeto Convivência

Conviver é um desafio que se coloca a cada dia para todos nós. Na Escola, essa experiência

ocorre de forma intensa, pois, cotidianamente, acontecem muitas situações que são verdadeiros

desafios para as crianças. Conforme a sociedade tem caminhado, observamos ser este um ponto

frágil e, por isso mesmo, fundamental de ser abordado para que sigamos buscando o

desenvolvimento humanizado que nos inspira. Com o intuito de trazer para a consciência aspectos

de nossas relações com o mundo, o Projeto Convivência propõe-se ser a um espaço para que as

crianças comuniquem suas necessidades e possam transformar suas atitudes e o lugar em que

vivem a partir da identificação de problemas, conversas sobre eles e criação de suas respectivas

soluções. Também, um espaço para falar de coisas positivas, de boas atitudes e estabelecer bons

modelos e condutas a seguir. Em nossa rotina, as aulas sobre o tema aconteceram semanalmente e

tratam, até o momento, de questões como: resolução de conflitos, como proceder diante de uma

situação desagradável, pensar em si em relação aos outros, pensar nos outros e no que eles me

influenciam. Partir do “Como sou?” E, projetar “Quem quero ser?”.

Depois de apresentar o novo projeto às crianças, li para eles uma história da tradição hindu,

que aborda a dualidade que existe na formação do ser humano. Abaixo, transcrevo um trecho

retirado do livro “Eu & Os outros – Melhorando as relações”:

“- Quero que percorra o mundo e traga para mim um homem verdadeiramente bom

(pede Krishna).

Dharmaraja obedeceu e depois de buscar por muitos anos retornou ao palácio de Krishna. Inquirido

sobre o homem realmente bom, respondeu:

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- Senhor, encontrei pessoas desorientadas, confusas, que agiam às cegas. Mas em lugar nenhum

encontrei pessoas totalmente más. Todos são bons de coração, apesar de suas falhas e deficiências.”

A partir daí, os alunos puderam pensar sobre os próprios “dois lados” e na influência que

ambos têm nas relações que estabelecem com os outros. Conseguiram perceber que as coisas

acontecem de uma forma mais positiva quando estamos cooperativos e de bom humor, ao passo

que alguns problemas surgem ao nosso redor quando é o “lado mais difícil” que está no comando,

causando, às vezes, confusões e desentendimentos. No que diz respeito a eles próprios, revelaram

inúmeras atitudes favoráveis ao convívio, reconhecendo-se generosos, solícitos, amigáveis,

cuidadosos, companheiros, entre outros, o que, de fato, são. Em relação ao “lado difícil”, alguns

chegaram a considerar importante modificar suas atitudes em prol do bom convívio, outros, no

entanto, revelaram-se “confortáveis” com a forma como agem.

Língua Portuguesa

Escrita

Os relatórios diários foram utilizados como ponto de partida para diversos enfoques da

língua, ao longo de atividades que abordaram questões como: trechos incompletos e sua

reelaboração, partindo de perguntas levantadas pelos alunos; repetição indesejável de um nome

ou palavra e revisão do trecho encontrando substitutos para eles; paragrafação para a organização

dos diferentes assuntos; marcadores temporais (para mostrar que o tempo passou ou está

passando); uso da vírgula em listas que, com frequência, aparecem nesse texto; comentários e

observações de um bom modelo, estando o grupo com a tarefa de comentar o que esse continha

de bom e o que poderia ser aprimorado, dando sugestões; escrita de um relatório completo, além

de análises de questões ortográficas recorrentes entre eles e troca de cadernos para que um

realizasse correção da lição do outro. Os aspectos mais observados neste período foram a descrição

dos acontecimentos das aulas de forma clara e completa, o detalhamento das situações, de modo

que estivesse presente no texto o que fizeram e como fizeram e, também, a presença de opiniões

com justificativas. Para estas crianças, elaborar como e justificar a própria opinião permanece sendo

um desafio. Portanto, continuaremos investindo nesse trabalho. Avalio que as situações coletivas

foram especialmente favorecedoras e que, normalmente, as produções subsequentes a essas

propostas apresentaram uma mudança qualitativa, pois é comum que as crianças adquiram um

melhor parâmetro daquilo que é esperado que façam e que apropriem-se de ideias dos colegas,

passando a utilizá-las em seus próprios textos.

Ao longo do trimestre, realizaram uma reescrita do conto "A boa sopa", do livro Contos de

Grimm. Essa atividade foi bastante explorada com a intenção, num primeiro momento, de

diagnosticar os conhecimentos ortográficos e discursivos por parte dos alunos. Partindo dela,

trabalhamos a repetição de termos, buscando alternativas para substituí-los por palavras de sentido

semelhante, bem como a função dos marcadores temporais, também nesse tipo de texto. Em

ambos os casos, uma listagem (de palavras substitutas e de expressões que marcassem o tempo)

foi precedida de reflexão baseada em trechos de produções dos próprios alunos. Também,

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aprofundamos o estudo sobre o uso do parágrafo. Algumas voltas ao texto foram realizadas a fim

de modificá-lo, introduzindo os novos conhecimentos adquiridos, de modo que no final,

conquistaram uma versão melhor elaborada, mais enriquecida de elementos gramaticais da língua

portuguesa. Conteúdos como as substituições e os parágrafos seguem sendo um desafio e, por isso,

um aspecto no qual continuaremos investindo.

Ortografia

O grupo, no geral, já resolveu questões ortográficas iniciais, seus alunos vêm escrevendo

com a correção esperada para este estágio da escolaridade. Observei, no entanto, em alguns alunos,

certas trocas entre G e GU, C e Q, GU e QU e LI e LH. Para sanar essa falha, foram realizados ditados

de palavras, listas de vocabulário para auxiliá-los na escrita, atividades em fichas onde precisavam

encontrar equívocos em determinadas grafias e fazer a respectiva correção dos erros nos relatórios

diários, ou, até, reescritas, a partir das minhas indicações. Também, abordamos frequentemente as

letras que concorrem no momento de se escrever uma palavra, por terem o mesmo som e que, por

isso, nos confundem, bem como aquelas nas quais pronúncia e escrita divergem. Iniciamos o

trabalho com o estudo de ocorrências, como o uso do M /N, a respeito do qual os alunos realizaram

análise e agrupamentos de palavras com essas letras, verificando onde se encontrava a origem da

confusão entre os sons do M e N, quando estes situam-se no final das sílabas, elaboraram

explicações e, por fim, regras para orientar seu uso.

Leitura

Frequentamos, semanalmente, a biblioteca da Escola, onde os alunos mergulharam em um

acervo dos mais variados livros e efetuaram retiradas. Trabalhamos com a indicação de títulos, a

partir da elaboração de comentários nas rodas de apresentação, atividade fundamental de inserção

e manutenção dos alunos no universo da leitura. Foi nesses momentos que a maioria das crianças

escolheu os livros que levaria para casa, baseando-se, especialmente, na apresentação de um amigo

querido, ou, de um leitor entusiasmado, de modo a ir ampliando, a cada semana, seu repertório de

leitura. Essa turma mostra-se curiosa, interessada e à vontade com livros. Apreciá-los, mostrar

passagens ou ilustrações, uns para os outros, foram ações comuns em nossos encontros.

Outras duas atividades interessantes, que envolvem a leitura e que fizeram parte da rotina

semanal do terceiro ano, foram os momentos de leitura individual, muito apreciados por todos, que

aconteceram após a aula de biblioteca, quando tinham o tempo de uma aula para dar início ou

continuidade ao livro que os acompanharia naquela semana. As crianças eram orientadas a escolher

um lugar tranquilo e deixar-se levar pela história. Também, fizemos rodas de história, nas quais li

para eles títulos selecionados por mim, nesse início de ano, aproveitando o estudo sobre a China:

os três livros de uma mesma coleção, “Um sonho para todas as noites”, “O segredo de um nome” e

“A viagem de Mao-Mi”. Ainda, “O rio Amarelo” e “A origem do dragão” foram alguns títulos que os

encantaram e os entretiveram.

Realizamos uma sequência de atividades, em que as crianças abordaram a leitura de textos

informativos, a partir de roteiros previamente organizados por mim. As propostas focavam ora em

estratégias de leitura, ora na compreensão do texto. Puderam, dessa forma, entender que uma vez

apropriados de estratégias de leitura, mais ampla seria a compreensão daquilo que haviam lido. Na

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prática, observaram elementos presentes nos textos informativos que dão pistas sobre do que

tratam e as regularidades desse tipo de texto; fizeram leituras, localizaram trechos, grifaram, a fim

de selecionar partes importantes e que respondiam às questões colocadas. Também, pudemos

conversar sobre bons procedimentos de leitura. Diante disso, posso dizer que esse trabalho que

vem avançando será continuado, pois, apesar de, no geral, esses alunos terem boas compreensão

e estratégias para realizar uma leitura, apenas a prática trará a independência necessária para

desempenhos mais satisfatórios.

Matemática

Os eixos que organizaram o trabalho nessa área foram: números, resolução de problemas e

operações. Os alunos realizaram, ao longo das semanas, várias atividades em fichas e no caderno,

retomadas posteriormente em situações de correção, através da qual analisamos e discutimos essas

produções. Foram convidados a pensar em questões propostas por mim acerca dos números, no

enunciado de problemas, nas estratégias de cálculo, entre outros assuntos. Na maior parte das

vezes, os conhecimentos adquiridos pelo grupo foram sistematizados e registrados para servir como

referência e fonte de consulta a desafios futuros. A orientação foi partir daquilo que conheciam e

dominavam, de modo que pudessem estabelecer relações com novos conteúdos, ou, progredir

naqueles já conhecidos, para ampliar o repertório matemático.

Resolução de problema

O trabalho com problemas instigou-os a pensar nas informações contidas em seus

enunciados a partir dos números apresentados, da relação entre eles, de algumas palavras e das

perguntas, aspectos que fornecem pistas, orientando a escolha da operação. Nas aulas, trabalhamos

com uma variedade de enunciados (conceitualmente distintos) e examinamos as diferentes

estratégias que poderiam ser utilizadas para resolvê-los, a parir de explicações produzidas pelas

crianças e por perguntas colocadas por mim a fim de explorar relações entre enunciados e recursos

para solucioná-los.

Observei que o grupo, em sua grande maioria, dominava a resolução de problemas de adição

e subtração simples, compreendendo enunciados e identificando operações adequadas a solucioná-

los. Partindo daí, o desafio escolhido para avançar foi o trabalho com problemas contendo a

primeira ou a segunda parcelas incógnitas, por exemplo, “Mariana está lendo um livro de 132

páginas. Ela já leu 28 páginas. Quantas páginas faltam para que ela acabe de ler esse livro?”. Avalio

ter sido esse um bom estímulo, já que mobilizou os alunos a reelaborar os conhecimentos que

tinham até então, ao mesmo tempo em que se mostraram hábeis para compreender as novas

questões. É possível afirmar que a maioria dos estudantes, atualmente, resolve esse tipo de

problema com segurança e que o grande ganho deste período foi a ampliação do repertório de

estratégias e a análise dos problemas “mistos”, aqueles que podem ser resolvidos por meio da

subtração (conforme a ideia de tirar uma das partes de um total) e da aproximação (conforme a

ideia de, a partir do número menor, ir adicionando quantidades que o aproximem do valor total).

Cálculo (algoritmo e mental)

Em cálculos, foram realizadas atividades em que as contas apareciam descontextualizadas

dos problemas, para que o foco fosse exclusivamente dirigido às estratégias. A base desse trabalho

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foram os algoritmos da adição com e sem transporte e da subtração sem empréstimo. Inicialmente,

verifiquei que ainda havia muita dúvida em relação aos procedimentos utilizados nessa técnica. Por

isso, foi preciso fazer uma retomada desse conteúdo a partir de um trabalho de desmontagem da

conta, a fim de os alunos compreenderem o que está por trás da síntese que é o algoritmo, para

que pudessem mobilizar conhecimentos sobre o sistema de numeração que já possuem, o que

contribuiu para que essa maneira de operar fizesse sentido. O grupo avançou em seus saberes, nesta

altura do trimestre, a maioria opera com sucesso, ainda que alguns ainda tenham dúvidas quanto

ao transporte, na adição. Mesmo assim, com uma pequena ajuda conseguem rever o cálculo e

corrigir-se.

O estudo de cálculo mental tratou das somas e subtrações entre números da ordem da

dezena e unidade e esteve vinculado às resoluções dos algoritmos, uma vez que os números

envolvidos relacionam unidades. Discutimos maneiras eficientes de operar com os números das

parcelas de modo a agilizar o cálculo. Ainda, dispusemos de alguns jogos com cartas, dados e

tabuleiros, que focam essas operações, a fim de ampliar ainda mais a compreensão de tal exercício.

Sistema de numeração decimal

Em relação ao sistema de numeração, o trabalho abordou a leitura, a escrita, a ordenação e

a comparação de números de 1.000 a 10.000. Baseou-se na observação e análise de regularidades

próprias a ele, que nos ajudam a compreendê-lo melhor, como a repetição dos algarismos de 1 a 9

na ordem da unidade de milhar, centena, dezena e unidade; o uso do ponto para marcar a ordem

do milhar, separando-a da centena, dezena e unidade; o fato de números dessa grandeza possuírem

quatro algarismos, a importância do uso do zero para marcar as ordens vazias etc. O processo foi

desenvolvido a partir de uma sequência de atividades com retas numéricas, quadros numéricos,

ditados de números, jogos matemáticos e findou em muitos aprendizados e no avanço do grupo,

que ampliou seu universo numérico.

Ciências

As aulas de Ciências foram momentos proveitosos e muito apreciados por todos, nos quais,

as crianças envolveram-se, participando com curiosidade e animação. O estudo eleito para o

semestre aborda o “Ar”, suas características e propriedades. A atividade disparadora apresentava

quatro sacos escuros, de modo que não se via o que havia em seu interior, dispostos em quatro

bandejas. Cada um deles continha um material distinto (água, tijolo, areia e ar). Em grupos, deviam

tocar nesses sacos e anotar o que sentiam. Depois de alguma discussão sobre as características

percebidas nos diferentes materiais, os sacos foram abertos e seus conteúdos revelados. Havia

muitas certezas entre os alunos em relação a todos os elementos: a respeito de suas características

(quente, frio, mole, duro etc), propriedades (sólido ou líquido) e, até mesmo, de sua existência

(eram visíveis). Apenas o ar, por sua invisibilidade, gerou algumas perguntas e contradições. Por

exemplo, antes de abrirmos o saco, todos afirmavam que ali havia ar, mas, ao abrirmos, a explicação

que deram foi “Está vendo, não tem nada!”. De imediato, perguntei: “Não tem nada? Mas, vocês

acabaram de dizer que tinha ar...”. Daí, as primeiras questões que investigamos foram a existência

e a presença do ar, a partir de experimentos.

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Os alunos foram convidados a elaborar perguntas que explicitassem suas curiosidades sobre

o tema, mostrando-se bastante competentes nisso. Com as perguntas listadas, escolhi aquelas que

se adequavam melhor ao estudo e possíveis de serem verificadas em situações de aula. A partir daí,

organizei o trabalho em duas frentes: aprender a partir do experimento e aprender a partir da

leitura de texto informativo. E, é assim que temos investigado o assunto: experimentando, lendo,

elaborando hipóteses e registrando-as. De que é feito o ar? O ar é gasoso? Oxigênio é diferente de

ar? Qual é a forma do ar? Tem ar no espaço? Tem ar na terra? O ar está em todos os lugares? O ar

tem peso? São algumas das perguntas feitas pelas crianças, que estamos e continuaremos

desvendando ao longo do semestre.

Projeto “A formação das sociedades, um estudo humanizador”

A proposta do terceiro ano para o projeto foi explorar a China a fim de conhecer sua riqueza

e diversidade culturais e um pouco de sua história e, a partir disso, olhar para além do

estranhamento que o diferente costuma causar em nós, atuando com curiosidade, encantamento

e respeito. Nossa entrada no universo chinês deu-se por meio de histórias, que foram nos

oferecendo elementos interessantes sobre aquele país e povoando nosso imaginário. Prontamente,

as crianças estavam dentro do tema, com muitas perguntas surgindo na cabeça, querendo aprender

e conhecer mais: como é a escola? como é a comida? como são as brincadeiras? como se vestem?

qual é a religião? como são as cidades? festividades? arte? histórias chinesas? que animais têm?

como é a natureza? – alguns bons exemplos do que verbalizaram.

A opção pelo caminho a ser percorrido, através da leitura dos livros “Um sonho para todas

as noites”, “O segredo de um nome” e “A viagem de Mao-Mi”, todos da mesma coleção, aconteceu

parte pela riqueza do conteúdo que traziam, de maneira que conseguíamos tratar de variados

temas, orientados por suas leituras: a caligrafia e a fala, as invenções, a origem dos ideogramas,

nomes e personagens peculiares como dragões, carpas, monges e reis. Concomitantemente a isso,

trabalhamos em propostas de experimentação, para nos aproximarmos daquilo que estávamos

aprendendo a partir do fazer. Estivemos focados, principalmente, nas questões da fala e da escrita,

as crianças escolheram um nome chinês e investiram na aprendizagem de sua grafia. Animados,

foram treinando ora em pautas especiais, com lápis, ora livremente com nanquim e pincel chinês!

Avançaram tanto que a maioria conseguiu até decorar os ideogramas do nome escolhido! A leitura

de textos informativos e os vídeos sobre esses temas contribuíram ainda mais para esse processo.

Outro eixo avançou através de conteúdos mais históricos, trazendo alguns dados mais

específicos sobre a população, o território, a antiguidade, as dinastias, o império e acontecimentos

do século XIX, como a invasão inglesa e a derrubada do império, por meio de revoltas populares.

Esses conteúdos também reapareceram em outros momentos; por exemplo, quando assistíamos a

um vídeo sobre a “Cidade Proibida” muitas informações históricas anteriormente tratadas foram

retomadas. No geral, o entendimento por parte do grupo sobre conceitos como dinastias,

unificação, império foi bem apropriado, de modo que conseguiram utilizá-los, com frequência em

outros contextos de trabalho, quando elaboravam explicações. Descobriram os próprios signos

chineses e a importância que esse povo atribui ao horóscopo e seus símbolos. As festividades foram

abordadas a partir da mais importante delas, o Ano Novo chinês e o cardápio variado e regional

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também foi investigado. Por meio da leitura de um texto sobre aprendizado do mandarim por

crianças brasileiras, descobriram que no futuro pode ser útil falar mandarim para negociar com a

China, uma das maiores economias do mundo.

De fato, essa língua tão diferente, que remete a um código que as crianças quiseram decifrar,

essa caligrafia, que muitas vezes se confunde com a arte, os dragões, as superstições, os guerreiros

com armaduras, os imperadores de uma cidade proibida e misteriosa, bem como outros símbolos

contribuíram para o início de um desvendar desse povo do Oriente. Como os próprios alunos

disseram, “essas são coisas novas que apareceram em suas vidas” e aprendê-las os fez mudar.

Nosso estudo sobre as diferentes formas de viver e conviver seguirá no decorrer do ano, pois

ainda temos muitas sociedades a estudar.

Finalizando, considero que o grupo atuou de maneira competente e interessada, obtendo

desempenho ótimo em todas as aulas, mantendo-se atentos, participativos, produzindo boas

discussões e registros adequados. Assim temos caminhado; vem sendo um enorme prazer conviver

com essa turma, conhecendo-os melhor e atuando junto a cada um deles.

Encerro, desejando a continuidade de um bom ano a todos!

Um abraço,

Carolina

Relatório do Trabalho do Quarto Ano

Notícias sobre o grupo

Os primeiros meses do quarto ano foram marcados por situações de aproximação,

reconhecimento de procedimentos já assimilados e apresentação de novas metas e expectativas.

Lembro-me do primeiro dia, a chegada dos alunos e dos professores, os primeiros

cumprimentos e a apreensão em relação à nova professora. Alguns minutos passados e os alunos já

sabiam onde seria a sala de aula, mas a questão persistia... Logo, o chamado: “Todo mundo no

refeitório” e as primeiras informações sobre o ano letivo eram transmitidas pela Terê. Ao final, a

esperada apresentação dos professores e, finalmente, a curiosidade era sanada.

Os alunos reagiram positivamente às novidades e mostraram-se receptivos. Aproximaram-

se, teceram alguns comentários e seguiram para a primeira aula do dia, que seria de Música, com a

Luciana (situação bastante apreciada por todos, por sinal!). Assim, com muito entusiasmo, iniciamos

o ano de 2015 na Escola.

Desde o final do ano passado, ocorreram saídas de alunos desse grupo. Tal condição

promoveu uma reacomodação de cada um dos estudantes na formação de um novo coletivo, com

desafios que vão além das demandas da série atual e das metas pessoais a serem conquistadas.

Observo que as crianças estão experimentando novas parcerias para o trabalho e para o

convívio. Nesse processo, é fundamental que encontrem cumplicidade e apoio entre os colegas e

que possam pedir ajuda aos professores quando necessário.

A chegada à nova série traz alguns desafios específicos: uma rotina diferenciada, uma

matéria com professor especialista (Ciências) e a expectativa de se colocar como um aluno mais

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crescido, já capaz de atuar com maior consciência, tanto nas situações de estudo, como nas de

convivência.

A cada ano, é importante que os estudantes construam, com seus professores, vínculos de

confiança, mediados, principalmente, pelo trabalho, pelo conhecimento. Nesse sentido, constato

que, diante das novas propostas de aula, a maioria do grupo mostrou-se bem disposta e, aos poucos,

vem se descobrindo como estudantes capazes de exercer um papel diferenciado, vinculando-se aos

novos conteúdos e buscando uma atuação progressivamente mais competentes intelectualmente.

Neste primeiro período, apresentei atividades em que a troca de informações,

procedimentos, estratégias e saberes relacionados aos conteúdos de cada área tivessem destaque

em nossas aulas. Através delas, fui intervindo como alguém que sugere caminhos, orienta o labor,

apresenta ou compartilha soluções.

Na série atual, é fundamental que as crianças aprendam a desenvolver procedimentos de

estudo individual – revisão, identificação de dificuldades, autocorreção etc. Esse processo exige

maturidade e envolvimento com a própria aprendizagem, tarefa desafiadora para alguns; afinal,

comprometer-se com o aprendizado requer disciplina e empenho, atitudes exigentes para algumas

crianças. Abrir mão de procedimentos conhecidos e confiar nas indicações da nova professora nem

sempre é fácil!

Visando tais posturas, em nossa rotina, tenho proposto situações que favoreçam uma

atuação mais consciente. Durante as aulas, minhas intervenções tiveram como principal objetivo

evidenciar a conduta do aluno em cada momento, ajudando-o a perceber-se como parte do grupo

e a identificar os efeitos, positivos ou não, de sua atuação no trabalho individual e coletivo.

Para contemplar as diferentes demandas da turma, tenho garantido momentos de trabalho

individual, além das socializações de ideias e aulas expositivas. Nas aulas do primeiro tipo, cada

aluno realiza tarefas que favoreçam o próprio avanço nos conteúdos já trabalhados. As propostas

são adequadas à necessidade de cada um deles, incluindo tarefas de revisão e novos desafios. Nos

momentos coletivos, tenho reiterado a necessidade de alguns estudantes calibrarem a própria

participação, evitando comentários constantes nos fazeres e nas falas de colegas. Temos como meta

equilibrar essas intervenções espontâneas e evitar as atitudes impulsivas, tanto nos momentos de

brincadeira, quanto em situações coletivas de estudo.

Neste início de curso, percebi alguns pontos que serão foco de observação e intervenção ao

longo do ano: a capacidade de ouvir o outro com atenção e paciência, controlando a atuação

durante as aulas, e a atitude tolerante frente às diferenças, desafio cada vez mais difícil de ser

alcançado atualmente, em nossa sociedade.

Em relação às horas livres, pude acompanhar mais de perto algumas situações vivenciadas

pelos meninos e pelas meninas, das quais destacaria alguns pontos significativos, como: a

descontração das brincadeiras de encenação e dos jogos de mesa, as atividades corporais, como

correr, jogar bola, treinar golpes de defesa ou construir cabanas e as negociações envolvidas com

as compras e vendas de terreno. A seguir, compartilho comentários registrados por alunos em

relatórios diários, que mostram o quanto os horários livres são levados a sério:

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“Hoje, na hora livre do lanche, eu, o Pedro e o João resolvemos vender esculturas e muito feno. Se

você fosse à fábrica de terra e gostasse de uma escultura, você poderia comprar uma. Agora, se nós

viéssemos até você para perguntar se queria comprar um bolão de feno para a cabana, nós só

perguntávamos para as pessoas que têm cabana, e, caso você não aceitasse, a gente sugeriria uma

escultura e o bolão de feno pelo mesmo preço: um olho de cabra. Se a pessoa aceitasse, ela pagava e a

gente entregava o que ela escolheu.”

“Nesse tempo, comecei a vender feno e paus, porque achei um lugar com muito feno. O Leo já

começou pedindo 10 kg, eu peguei um punhado e falei que era 1kg. O Martim também pediu 10 kg e, como

é aniversário da Escola, fiz 75% de desconto e, como 10 kg custam quatro olhos de boi, nesse dia, vendi

por um só.”

“Depois de ficar mais tempo na cabana, eu fiquei passeando por aí, lembrando-me das coisas boas

que fiz na Escola nesses quatro anos.”

Quem conhece os outros é inteligente

Quem conhece a si mesmo é iluminado

Quem vence os outros é forte

Quem vence a si mesmo é invencível

Lao tse

Neste primeiro trimestre, também iniciamos o Projeto Convivência, com a intenção de

favorecer as relações interpessoais dos alunos. Os encontros foram quinzenais e as propostas

diversificadas. Estreamos com uma conversa sobre como cada um deles se sente quando é

desconsiderado por um colega (a partir de uma situação apresentada por um dos estudantes). No

final, surgiu uma nova questão: “O que você faria se um colega demonstrasse que não faz questão

de compartilhar com você alguma atividade na hora livre? Como você reagiria?”, assunto discutido

no encontro seguinte. Em outro momento, fizemos a leitura do livro “Eu, você e tudo que existe”,

que trata da importância da integração entre os elementos da natureza e o homem, de Liliana

Iacocca e Siron Franco. Durante a socialização do tema e das impressões dos alunos, as reflexões

seguiram por caminhos variados: “Essa história explica uma situação de passado, presente e, talvez,

de futuro”; “A história mostra que devemos respeitar tudo: a si mesmo, ao outro e tudo que existe”;

“Eu pensei que existe um passado que era bom, o presente com alguns estragos feitos pelo homem

e um futuro que pode voltar ao passado bom”; “Nós precisamos aprender a conviver com os outros

e com a natureza”, entre outras.

Enfim, convivi, nesses primeiros meses, com um grupo sensível, formado de crianças fortes,

capazes de progredir significativamente em seus fazeres e saberes. Para que todos sigam por esse

caminho, é indispensável que os alunos persistam frente aos desafios para o próprio

desenvolvimento e estabeleçam uma convivência respeitosa e cada vez mais comprometida e

guiada pelos princípios da Escola.

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Projeto anual

Desde o início do ano, os alunos tiveram momentos de aula dedicados ao projeto “A

formação das sociedades, um estudo humanizador”. Neste primeiro trimestre, voltamos nossos

olhares para a sociedade chinesa. As primeiras leituras apresentaram, através de narrativas

literárias, aspectos importantes da cultura da China; as histórias lidas explicitaram situações

cotidianas que evidenciam alguns dos grandes diferenciais na cultura oriental em relação à nossa,

ocidental.

Os alunos conheceram um sistema de escrita que não usa o alfabeto e, sim, caracteres que

possuem significados e pronúncias diversas. Tiveram, também, contato com determinados aspectos

da China antiga: hábitos cotidianos, crenças, relação com a natureza, simbologias, religião,

alimentação, entre outros. A partir das narrativas, mostraram-se intrigados com as diferenças

identificadas nessa cultura, por exemplo: quando lemos a história de uma criança com idade escolar

que era proibida de ir à escola, independentemente de sua vontade, por ser uma menina e por ter

que cuidar do irmão mais novo e da mãe que estava doente, uma aluna comentou que não poderia

imaginar que tal diferenciação entre meninos e meninas existisse nos dias atuais, em algum país.

Alguns textos informativos foram trabalhados, apresentando de forma mais objetiva

aspectos apreendidos através da literatura. Os alunos leram e discutiram sobre as primeiras

ocupações chinesas na região do rio Amarelo, as dinastias, como eram as primeiras cidades e como

era a vida em família nas dinastias Han e Tang .

Durante as discussões, foram bastante atentos à diversidade presente naquele país,

considerando-se ambiente natural e modo de vida. Também, destacaram a importância dos

inventos chineses para os dias atuais, reconhecendo o quanto contribuíram para as criações mais

recentes. Para as crianças, foi um desafio imaginar como podiam ser tão avançados em seus

conhecimentos, há tantos anos.

Além das análises, tivemos momentos de descontração. Uma das propostas foi escolher

nomes chineses para si mesmos, usando os respectivos caracteres, considerando características

pessoais para isso. Tiveram, também, uma aula com uma colega para escrever caracteres com o

apoio de pincéis chineses e nanquim. E, ainda, assistiram a imagens inusitadas, como a travessia de

um rio, através de uma tirolesa, para fazer compras em um povoado. Após a leitura de uma lenda

sobre a origem do T’ai Chi Chuan, os alunos assistiram a uma pequena apresentação dos gestos

realizados nessa arte marcial, através da qual aproximaram-se de algumas considerações feitas

pelos chineses a partir da observação da natureza e dos animais, que foram utilizadas para a criação

dos movimentos apresentados por mestres dessa arte.

Avalio que o tema tem favorecido o envolvimento e a curiosidade dos alunos nas aulas;

percebo que as informações apresentadas despertam, de modo crescente, o interesse e favorecem

o aprofundamento no estudo.

Algumas das leituras realizadas nesse período foram: “Um sonho para todas as noites”, “O

segredo de um nome” e “A viagem de Maomi”, de Lisa Bresner; “Histórias chinesas”, recontadas

por Ana Maria Machado – “A Casa de Porcelana Azul”; “A menina do País das Neves”, de He Zhihong

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e algumas lendas do livro “O imperador Amarelo”, adaptação de Heloisa Prieto. Em todos os casos,

os alunos encantaram-se com as tão distintas situações relatadas.

História e Geografia

No mês de março, iniciamos o estudo sobre as grandes navegações, tema que seguirá sendo

visitado até o final do semestre. Os alunos conhecerão os feitos de alguns navegadores, em especial

a grande viagem de Marco Polo, através da leitura compartilhada. Nesse trabalho, destacaremos os

conhecimentos que, além de impulsionarem as navegações dos séculos XV e XVI, modificaram a

compreensão de mundo e possibilitaram o encontro entre diferentes civilizações e sociedades.

Na área de Geografia, dois foram os eixos das atividades: explorar a representação do espaço

e a apresentação de dados (códigos e legendas). Como o uso do Geoatlas se inicia no quarto ano,

propus atividades para a observação e análise de alguns dados apresentados nessa publicação. Na

primeira apreciação individual, destacamos alguns aspectos: quais são as informações expostas,

como estão organizadas, como os assuntos foram agrupados no índice, diferentes tipos de imagens

apresentadas e glossário específico da área. Outra atividade foi a leitura coletiva do texto que

explica a evolução dos mapas, desde as primeiras representações do ambiente feitas pelo homem,

até as últimas, com melhor qualidade, possíveis pela captação por satélites e tratamento gráfico

pela computação.

Nos encontros seguintes, as atividades de leitura foram mais direcionadas para que os alunos

lessem e interpretassem informações apresentadas nas diferentes representações, através de

símbolos e legendas, aproximando-os da linguagem cartográfica.

As aulas foram produtivas e instigantes, os alunos mostraram-se envolvidos e desafiados em

iniciarem sua prática no uso dessa ferramenta que os acompanhará nos próximos anos escolares.

Língua Portuguesa

Neste trimestre, na área de Língua Portuguesa, tenho investido esforços na formação de

usuários cada vez mais competentes da linguagem escrita.

O trabalho com o relatório, por ser uma tarefa individual e diária na rotina dos estudantes

da Ágora, é a maior oportunidade para que desenvolvam a capacidade de expressar suas ideias e

observações, produzindo textos a respeito do que viveram na Escola. No quarto ano, iniciamos essa

prática com grande investimento na escrita, construindo e aprimorando competências no uso da

linguagem, de modo cada vez mais formal. Focamos, primeiramente, a estruturação global do texto

(título, introdução, descrições de alguns momentos do dia e fechamento) e o registro de

comentários pessoais. Para isso, realizamos leituras em voz alta, analisando o vocabulário

empregado e as informações apresentadas por diferentes alunos sobre uma mesma situação, com

o objetivo de fornecer bons exemplos e ampliar as possibilidades de narrativa e a particularização

descritiva. Trabalhamos, ainda, a pontuação e a continuidade (coesão) entre os parágrafos nas

diversas situações relatadas. Para alguns alunos, ainda é difícil estabelecer as conexões entre esses

tópicos, sem a repetição indesejável de palavras ou expressões. É importante que cada um se

reconheça no seu registro, imprima seu estilo aos textos que redige e avance na própria escrita.

Reconhecer que essa linguagem requer empenho e revisão constantes, independentemente do

gênero textual, é um valor que estamos construindo. Afinal, para a realização dessa tarefa,

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queremos que cada aluno busque, dentro do possível, a melhor forma de comunicar-se,

expressando-se com clareza, por meio da linguagem escrita.

Visando a ampliação de repertório, realizamos leituras em voz alta, revisões de alguns

trechos escolhidos para a análise do grupo e reescritas. Os alunos também têm sido orientados a

destacar a própria participação nas atividades propostas em aula; mais do que contar o que foi

apresentado pelo professor, é importante que registrem como foi fazer aquela tarefa, o que

aprenderam, o que tentaram, como fizeram, o que foi fácil ou difícil.

Durante as leituras para o grupo, procuro destacar as diferenças entre a linguagem oral e a

escrita, como, também, elementos próprios da estruturação do texto, e, ainda, o detalhamento das

descrições e comentários pessoais (através dos quais o aluno avalia sua participação e

aproveitamento nas atividades relatadas).

Também, analisamos diferentes introduções e fechamentos para que construam seu

repertório em relação ao que essas passagens do texto podem contemplar. Para alguns deles, ainda

é difícil variar a forma de relato. Observo que seguir rigorosamente o modelo de estrutura

estabelecida lhes é mais confortável.

Atualmente, o detalhamento das descrições é um desafio, temos debatido a importância de

selecionar o que de ser registrado, de modo a garantir a memória do que é mais significativo e

importante sobre cada momento relatado. Outro aspecto trabalhado tem sido a clareza da

explicação; para isso, temos realizado a troca de cadernos entre as crianças, a fim de que diferentes

leitores possam oferecer ao autor outros olhares, outros “feedbacks”. Esses momentos têm sido

valorizados pelos estudantes, inclusive, através dos comentários registrados no caderno do colega.

A partir do quarto ano, os alunos começam a responsabilizar-se pelos títulos dos próprios

relatos. Também temos dedicado encontros para desenvolver olhares mais atentos a esse item do

relatório, a fim de que percebam os efeitos que podem alcançar com “bons” títulos. Neste

momento, já conseguem despertar curiosidade, anunciar informações relevantes do texto e alguns

têm arriscado títulos mais poéticos, ou, engraçados.

Outro foco do trabalho nestes meses foi o desenvolvimento do prazer pela leitura. As rodas

de biblioteca, situação de troca de experiências entre leitores, têm sido momentos apreciados por

todos. Tenho orientado os alunos em relação ao comprometimento e esforço necessário para que

finalizem a leitura de cada exemplar escolhido. Algumas vezes, as crianças comentam a dificuldade

de compreender determinado texto, ou, então, a decepção com a história escolhida. Em tais

situações, sugiro que prossigam um pouco mais e, caso julguem necessário, troquem de livro.

Durante esses encontros, ajudo-os nas escolhas, leio um trecho em voz alta, destaco características

da trama, sempre buscando a obra mais adequada para cada um.

Tivemos, também, alguns momentos em que os alunos falaram e escreveram sobre livros

que leram, fizeram indicações para os colegas e justificaram a apreciação de determinados títulos.

Para alguns deles, ler é ainda uma tarefa trabalhosa; estender o tempo de concentração é um

desafio, cuja superação, certamente, modificará o aproveitamento e a compreensão do que está

sendo lido. Por isso, é muito importante que tentemos estimular essa atividade, tanto na Escola,

como em casa.

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Neste período, destinamos parte das aulas a alguns estudos gramaticais e treinos

ortográficos. Através da leitura de textos, os alunos identificaram as situações em que foram

empregadas as letras maiúsculas (substantivos próprios e início de frase). Também, analisaram

trechos de relatórios produzidos pelo grupo, para identificar quando a vírgula ou o ponto eram

necessários para a organização das informações registradas. Atualmente, a maioria dos alunos já é

capaz de empregar a vírgula em listas, após marcadores temporais e espaciais (na aula, fizemos.../

no refeitório, encontrei...). E, ainda, treinaram a separação de sílabas, o emprego do dígrafo CH e

das letras O ou U no final de palavras.

Iniciamos, em abril, dois projetos que seguirão no próximo trimestre: a criação de histórias

a partir de estímulos variados, para que os alunos escrevam outros textos de autoria, e o estudo de

biografias. Sobre esses trabalhos, escreverei mais detalhadamente no próximo relatório.

Matemática

Nesta área do conhecimento, destaco a resolução de problemas e o cálculo mental como

conteúdos abordados. O trabalho desenvolveu-se de forma equilibrada ao longo do trimestre. Elegi

propostas que levassem a discussões em que os alunos fossem instigados a produzir explicações

matemáticas para justificar seus encaminhamentos. Muitas vezes, através de situações simples,

tanto nos problemas, como nos cálculos, surgiram questionamentos que ampliavam a análise da

situação em si, traziam novas questões sobre o sistema de numeração decimal (suas regularidades),

proporcionalidade, representações decimais e, acima de tudo, evidenciaram o quanto os alunos

estavam considerando as relações existentes entre os campos de conteúdos estudados na área.

Na resolução de problemas, que apresentam situações contextualizadas, as crianças têm a

possibilidade de ampliar seus conhecimentos a respeito do sentido das operações e colocar em

prática o aprendizado das técnicas operatórias. Por exemplo, em uma situação de divisão, algumas

crianças usam as subtrações consecutivas para descobrir o resultado. Ou, para calcular 25 x 12,

apoiam-se na decomposição, como 25 + 25 = 50, até chegar a 300 (12 vezes o 25) ou (20 x 10) + (20

x 2) + (5 x 10) + (5 x 2), totalizando 300.

Partindo do conhecimento matemático que possui, o estudante faz a escolha de uma ou

outra estratégia para solucionar a situação apresentada, o que torna essa proposta uma boa

oportunidade para registrar as etapas do pensamento e comunicar o próprio raciocínio. Ao

socializarem tais resoluções, os alunos têm a desafiadora tarefa de interpretar o próprio registro e

as diferentes soluções apresentadas pelos colegas, descobrindo, muitas vezes, outros caminhos e

alternativas. Algumas vezes, são convidados a resolver novos problemas usando estratégias

distintas das suas.

Os primeiros problemas propostos apresentaram enunciados que favoreciam a identificação

das informações relevantes à solução e a questão a ser resolvida. No trabalho em aula, os alunos

foram orientados a fazer uma primeira leitura do problema, reler a situação colocada, destacando

as questões propostas e, em seguida, selecionar os dados necessários para chegar à resposta. Por

fim, deveriam estabelecer uma estratégia para resolver a situação. Também, tenho insistido na

validação do resultado obtido, com a pergunta “A resposta faz sentido?”, para que retomem as

grandezas envolvidas no enunciado e verifiquem se o resultado oferece uma resposta cabível.

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Neste trimestre, fizemos a revisão dos algoritmos de adição e subtração, principalmente,

daqueles casos em que as trocas (empréstimos) acontecem entre grandezas mais distantes, por

exemplo, 70.020 – 6.547. Nesses cálculos, os alunos tiveram a oportunidade de voltar a questões

que fundamentam a construção dos números, tratam do sistema de numeração e consideram o

valor posicional dos algarismos, o princípio multiplicativo presente nas ordens de unidade, dezena,

centena e assim por diante. Afinal, o algoritmo permite repensar os números e as grandezas que

eles representam.

Os cálculos mentais propostos, neste primeiro trimestre, tiveram a intenção de favorecer a

compreensão do sistema de numeração decimal e agilizar a capacidade de resolver problemas e

contas. Através dessas propostas, pude perceber, durante as discussões, que as crianças avançaram

no controle dos seus procedimentos. Ou seja, observei que o treino de cálculo mental contribuiu

para o conhecimento sobre os campos numéricos; aumentou a capacidade do aluno de operar com

diferentes quantidades, reduziu os encaminhamentos errôneos. Durante as socializações das

resoluções, analisamos as diferentes estratégias usadas por eles, muitas vezes, surpreendentes,

comparando o que tinham em comum e relacionando-as aos algoritmos convencionais. Os alunos

exercitaram, também, o arredondamento e a compensação; por exemplo, quando quero subtrair

99, posso tirar 100 e “devolver” 1, ou seja, subtraio 100 e somo 1 ao resultado, agilizando o

processo.

Nesse trabalho, ficaram bem marcadas algumas posturas e procedimentos essenciais ao

estudo nessa área: crianças entusiasmadas com a tarefa, concentração, reflexão para decidir a

resposta e flexibilidade para conhecer e experimentar diferentes estratégias de cálculo.

“Entendemos por cálculo mental o conjunto de procedimentos em que, uma

vez analisados os dados a serem tratados, eles se articulam, sem recorrer a um

algoritmo preestabelecido para obter resultados exatos ou aproximados.”

Cecília Parra – “Didática da Matemática: reflexões psicopedagógicas”

Finalizo este primeiro relatório com a certeza de que ainda teremos muitos momentos de

estudo significativos ao longo do ano, equilibrando as ações e explorando as potencialidades dos

alunos do quarto ano!

Um abraço,

Wânia

Ciências

"-Léo, a gente vai explodir coisas?

-Depende. O que você vai descobrir com isso?"

Os alunos do quarto ano estavam bastante ansiosos no primeiro dia em que entrei na classe

para nossa aula de Ciências. Como quase todos os grupos dessa idade, mostraram-se muito curiosos

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e animados. Queriam explodir a classe, misturar poções e estudar os bichos. Dentro de suas

expectativas, queriam ser cientistas. Que bom!

Já nesse primeiro contato, um dos alunos me perguntou:

- Léo, a gente vai explodir coisas?

Ao que eu respondi:

- Depende. O que você vai descobrir com isso?

Essa interação foi bastante interessante, pois nos levou a discutir os motivos que levam

cientistas a realizar experimentos. Dos mais simples aos mais complexos. Os alunos perceberam que

não é comum elaborar testes, se já sabemos o resultado. Seria, portanto, necessário que tivéssemos

uma dúvida, a qual poderia ser respondida pelo ensaio.

As aulas de Ciências do quarto ano partem dessa premissa básica: o que vamos descobrir hoje?

Essas descobertas podem ir desde o modo de trabalhar de um cientista, até quais são os trechos

mais importantes de um texto.

Aproveitei o projeto do ano, de estudos de sociedades, e o foco na China para conhecer,

juntamente com esses alunos, parte da natureza oriental. Utilizamos Marco Polo, um dos primeiros

europeus a explorar a Ásia, como exemplo de pessoa que visita lugares desconhecidos e, por isso,

precisa aprimorar seu olhar e registrar suas descobertas para relatar posteriormente. Assistimos a

trechos do documentário “Wild China”, em que são apresentadas diferentes regiões do país. Nessa

atividade, chamei a atenção dos alunos para algumas características dos ambientes e dos animais

que os ocupam. Nas aulas seguintes, produzi uma ficha para que analisássemos algumas

características dos animais, como sua coloração, dentição, posição dos olhos, entre outros.

Essas atividades serviram de preparação para aquelas em que analisaríamos a natureza da

Escola. Lembrei-os, durante a tarefa, de observar os cenários em todas as suas direções, atentar

para seus sentidos (tato, olfato, audição etc.) e buscar palavras adequadas para descrever o que

percebessem. Elaborar textos descritivos foi, também, uma estratégia para que apurassem suas

observações. Em uma aula, por exemplo, trouxe uma aranha que um aluno havia encontrado no

horário livre para que eles a descrevessem. Listei, porém, algumas palavras que não poderiam ser

empregadas na tarefa: “aranha”, “aracnídeo” e “armadeira”. Isso obrigou os alunos a perceberem

outras características que poderiam considerar para apresentar o animal, como o número de

pernas, formato do corpo, posição dos olhos…

Percebi um grupo bastante atento e receptivo neste primeiro trimestre. Mesmo em atividades

mais tradicionais, como a leitura de textos, envolveram-se, esclareceram dúvidas e seguiram minhas

orientações para a execução das tarefas. Houve momentos de desconcentração, especialmente nas

atividades realizadas fora da classe, mas, de maneira geral, bastou que eu lhes chamasse a atenção

para retomarem o foco no trabalho.

Observar e registrar são os dois primeiros passos tomados por naturalistas ao estudar o próprio

entorno. Ao assumir o papel de “pequenos naturalistas”, o grupo do quarto ano desafiou-se a

enfrentar a etapa seguinte: elaborar suas perguntas científicas. Esses questionamentos guiarão o

prosseguimento dos estudos da classe, em sua busca por novas descobertas...

Leonardo

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Relatório do Trabalho do Quinto Ano

Dois mil e quinze começou, entre outras novidades, com a notícia de que continuaríamos

juntos, agora, durante as aulas de Matemática e Geografia. Viriam novos desafios, descobertas e

projetos. Essa perspectiva me permitiria aproveitar o que sei sobre cada um deles: do que gostam,

como se comportam, o que sabem, como respondem em diferentes situações... Um conjunto de

informações que, transformado em conhecimento, ajuda a planejar o trabalho e as intervenções,

guardando espaço, é claro, para as mudanças próprias da ação do tempo que, de alguma forma,

areja o que somos e define novas possibilidades e horizontes; afinal, as crianças continuam

crescendo. Permaneço com o olhar atento, de quem quer entendê-los, desafiá-los, ajudá-los a

avançar.

O fato de já termos uma convivência antiga e o tempo juntos agora ser menor, possibilitou

que começássemos o ano a pleno vapor. “Andréia! A aula está passando muito rapidamente, você

já vai embora?”, “Precisamos começar logo a lição porque hoje é só até a hora livre”, “Devíamos ter

mais Geografia na sexta, uma aula é muito pouco”. Aproveitar bem o tempo tem sido uma meta

com a qual se mostram comprometidos, principalmente, na realização de atividades individuais;

querem terminar, acertar todos os exercícios e alcançar bom resultado. O desafio é fazê-los

enxergar outros cuidados, a importância e o valor da participação em todos momentos da aula,

inclusive, porque a adesão de cada um traz reflexos no aproveitamento individual e no coletivo.

Escutar a fala do colega, uma explicação sobre como o outro fez de determinada tarefa, a leitura

cuidadosa de um enunciado, elencar exemplos, ouvir e tentar responder à pergunta de um amigo

são procedimentos que devem ser mais valorizados na sala de aula. Do ponto de vista do

comportamento, na maior parte das vezes, fazem o que se espera deles, sabem quais são as

expectativas, não ficam conversando em voz alta ou desviando o assunto da aula quando alguém

está com a palavra; no entanto, é frequente, mobilizarem-se com outros afazeres, como se a fala

dirigida ao coletivo ou a um determinado aluno fosse pouco importante. Dispersam-se com os

próprios materiais, fazem anotações independentes, querem resolver a sua tarefa, propriamente

dita, olham para o movimento de fora... Poderiam aproveitar melhor as explicações e os momentos

coletivos, trazendo para o próprio trabalho novas informações, outros dados e jeitos de fazer. Às

vezes, precisam muito ouvir o próprio nome, ser o porta-voz de cada situação, receber orientações

bem dirigidas e específicas para se interessarem e interagirem. A título de exemplo, duas situações

ilustrativas: uma criança que estava tentando achar, na sua lição, o problema que estávamos

começando a discutir, quando o encontrou, imediatamente, manifestou: “Ah! Mas, essa eu acertei”;

depois da explicação e registro sobre outro caminho possível para solucionar aquele mesmo

problema, com tempo, perguntas e exploração suficiente, quando recebeu um problema similar,

não empregou em sua resolução nenhuma parte da estratégia discutida anteriormente, mesmo

sendo ela muito mais curta. Em outro caso, depois da correção e esclarecimento sobre como fazer

um determinado cálculo, outro aluno pedia, insistentemente, que eu mostrasse onde o dele estava

errado, “em que linha”, perguntava-me; não estava “disposto” a rever a conta inteira.

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Voltar-se para o outro, escutar, aprender com ele é uma tarefa exigente e necessita de

tempo, paciência e, às vezes, abrir mão de ser o protagonista. Acredito que podemos transformar

esses aspectos no próximo trimestre.

Matemática

No primeiro trimestre, organizamos o trabalho em quatro direções: números fracionários,

números inteiros e operações, medidas e resolução de problemas, enfatizando aqueles que

compreendem várias informações (dados) e mais de uma etapa para se chegar à resposta; por

exemplo: “Em um aniversário onde foram 45 pessoas, ¾ delas não comeram bolo. A mãe do

aniversariante cortou o bolo em 22 pedaços. Quantos deles sobraram?”

Problemas desse tipo pedem uma leitura cuidadosa, muitas vezes, é preciso reler mais vezes

o enunciado, identificar o que informa cada dado para, depois, pensar uma estratégia e operar mais

de um cálculo. Destacar esses procedimentos e evidenciar a necessidade de voltar à pergunta para

se ter certeza de que o número, a quantidade encontrados respondem-na, revela o caminho seguido

pelos estudantes do quinto ano.

O trabalho com frações tem motivado bastante os alunos por ser um conteúdo novo;

mostram-se interessadíssimos e hoje sabem, além da nomenclatura, que essa notação expressa

quanto é a parte em relação a um todo.

Ao longo do trimestre, trabalhamos situações para que compreendessem a fração como

representação numérica associada à divisão de um inteiro em partes iguais. Um dos primeiros

desafios que enfrentaram foi olhar para desenhos que tinham partes pintadas e registrar, sob forma

de fração, que parte era aquela. Em outra situação, diante de figuras em branco acompanhadas de

escritas fracionárias, pintavam a parte correspondente na figura.

Por outro lado, entendemos ser de crucial importância que os alunos saibam que as frações

não se aplicam somente a figuras, mas, também, a quantidades numéricas, ou seja, a casos tais

como ¼ de 100 pessoas, 2/3 de 90 ovos, 1/6 de uma hora etc. Nessa direção, o grupo resolveu

problemas como: “O tanque de um automóvel comporta 64 litros de gasolina. Se o marcador

assinala ¾ dessa quantidade, quantos litros de combustível devem ser colocados para completar o

tanque?”; “Um avião comercial desenvolve, geralmente, uma velocidade de 720 km por hora. Certo

dia, devido a fortes ventos, sua velocidade foi reduzida a 5/6 da normal. Qual a velocidade do avião

nesse dia?”; “Lia leu 2/3 do livro que ganhou da sua tia. Se ela está na página 90, quantas faltam

para terminar? Quantas páginas tem essa obra?”.

Observo as crianças recorrendo à representação fracionária em muitos momentos: para

indicar a quantidade de acertos nos exercícios, ao compararem o resto de uma divisão ao dividendo,

ao comunicarem quantos alunos participarão de uma brincadeira ou que parte da sala entregou o

caderno. Evidenciam, com isso, reconhecer a função da fração e os contextos de uso desse novo

conteúdo.

Como forma de dar mais uso e sentido a ele – que não precisa sobreviver apenas nas receitas

– comecei a registrar no canto de algumas tarefas a fração correspondente aos acertos de cada

aluno. O resultado foi imediato e, mesmo colocando como denominador o total de questões

daquela lição, algumas crianças começaram a converter, automaticamente, em mais ou menos que

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metade, terços ou quartos. Iniciamos, ainda de maneira incipiente, o estudo da equivalência entre

frações.

Devemos lembrar que dividir um número é uma forma de fracioná-lo, esses conteúdos

alimentam o trabalho com divisão. No caso do estudo dos algoritmos, as crianças continuam

operando com a divisão americana, o processo longo, mas, agora, todas sabem que dividir uma

parte do dividendo de cada vez é a solução mais econômica para se chegar à resposta. É o que têm

feito e sentem-se bem apropriadas desse procedimento, o que nos permitiu introduzir novos

desafios e metas. Começamos a resolver divisões pelo processo curto e os alunos identificaram, por

comparação, os mesmos cálculos que faziam “antigamente”, como dizem. Nem todos os estudantes

estão confortáveis ou seguros para usar esse novo jeito, mas, estamos caminhando para isso. Como

retorno positivo, foi bom ouvir o aluno que chegou este ano dizendo: “Na outra Escola era assim

que a gente fazia, eu achava até que já tinha esquecido, mas, agora, depois de fazer a conta

americana, vi que não esqueci; está até mais fácil, eu entendi como esse jeito curto é feito.”

Na perspectiva de ensinar e fortalecer sempre o valor do conhecimento matemático para

nossos pequenos aprendizes, é importante trazer situações atuais e cotidianas como fomento; daí,

o espaço para resolvermos problemas sobre a falta de água em São Paulo, ou, situações de compras

que tanto mobilizam o interesse de todos. Entre as propostas, trouxe uma propaganda que

comparava, de forma implícita, o valor de um quilo de carne com o preço de um ovo de chocolate

de 200 g. Depois de compartilhados os dados, surgiram as primeiras observações:

“Bom, o chocolate tem o mesmo preço da carne, mas, o ovo está mais caro porque tem só

200g e a carne tem um quilo. Acho que o ovo deveria ser mais barato, só que é mais enfeitado, tem

brinquedinho e passa por mais etapas para ser confeccionado.”

“A carne deveria ser muito mais cara porque tem 1.000g e o ovo só 200g! A carne alimenta

mais e o ovo não pode matar sua fome, por exemplo.”

Depois, algumas transformações precisaram ser feitas; afinal, um produto estava em

quilogramas, outro em gramas. Como comparar pesos diferentes? O que é melhor, descobrir:

quanto seriam duzentos gramas de carne ou um quilo de ovo? Que operações fariam no primeiro

caso? E no outro? Quantas vezes o ovo é mais caro que a carne? ...As crianças ficaram motivadas

entre os muitos cálculos, cada pergunta sendo apresentada de uma vez, é claro. Depois de deixar

os dois produtos com a mesma unidade de medida, os meninos estavam em condições de comparar,

de fato, um preço com outro. “O ovo é mais caro que a carne, aproximadamente, cinco vezes!”,

constataram. Na sequência, novas questões: Quanto custaria um ovo de um quilo usando como

referência o preço do ovo pequeno? (R$ 111,50). Um tablete de duzentos gramas de chocolate custa

aproximadamente, R$5,50. Se comprássemos um quilo de chocolate em tabletes, quanto

pagaríamos? (R$ 27,50). Cálculos daqui, surpresas dali, nasciam comentários de vários tipos; percebi

que era o momento de registrarem as conclusões individualmente:

“Não sabia que cinco ovos ficam tãoooo caro e que comprar cinco barras é muitoooo mais barato.

Vinte barras têm quase o mesmo preço que cinco ovos! Acho que o ovo também é mais caro porque vem

com um brinquedinho, mas, deve ser mais barato comprar o brinquedo fora do ovo.”

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“Acho que é caro demais, tinha que ser, no mínimo, de chocolate suíço, com amendoim, uma

camada de manteiga de amendoim e bombons dentro; acho que dificilmente alguém vai comprar muito

dessas mercadorias. Eu vou comprar, mas nem tanto! R$111,00 por um quilo de chocolate? Acho que estão

loucos. Com esse dinheiro consigo comprar no mínimo cinco tabletes de chocolate de boa qualidade. Um

quilo de carne custa R$22,00, menos que ¼ de quilo de ovo de páscoa, que custa R$111,00. Os preços estão

subindo demais!”

“Eu achei uma roubada porque, se você comprar cinco ovos de 180g, você gasta R$ 111,50 e se você

comprar 4 kg de chocolate em barras de 200g, cada uma, você gasta menos do que R$100,00. Eu acho

melhor comprar barrar e fazer ovos, igual a minha mãe já fez. Eu acho que o ovo deveria ser mais ou menos

do mesmo preço da barra, só um pouco mais caro, tipo uns R$50,00.”

Geografia

O que pretendíamos? Ampliar as capacidades dos alunos de observar, conhecer, explicar,

comparar e representar as características do lugar em que vivem, bem como de diferentes

paisagens e espaços geográficos.

Optamos por iniciar esse estudo observando com atenção lugares que frequentam, no caso,

a Escola. A proposta era, em duplas, representarem esse espaço de modo esquemático, através de

um mapa. A partir dessa experiência e do resultado de cada trabalho, compararíamos essas

produções iniciais identificando eventuais problemas e boas soluções e os alunos modificariam o

próprio mapa.

Enquanto confeccionavam os mapas, eu circulava registrando observações e comentários

que alimentariam a discussão posterior. Observei que representar as diferenças de nível, no terreno,

era um problema recorrente. Pensavam em pintar as construções, contudo, faziam-no a título de

embelezamento, então, propus que voltássemos ao atlas para recuperar a função e o uso das cores

na linguagem dos mapas. Depois, examinamos o conceito de limitei do terreno; naturalmente, todos

assumiram como tal os quatro cantos da folha A3 que haviam recebido. Novamente, recorremos ao

atlas e os alunos observaram que o papel não era a referência, mas sim, o formato do território.

Mesmo assim, depois da primeira conversa, quando retomaram o próprio trabalho, uma parte das

duplas achou que poderia solucionar o problema de definição dos limites fazendo uma cerca em

torno da folha. Não era tão simples assim. Conversamos sobre a dificuldade de esboçar/traçar o

terreno sem dispor de uma imagem aérea e a necessidade de buscarmos outras formas de conhecer

esse formato; entre sugestões mais ou menos realizáveis, saímos procurando pontos altos, de onde

tivéssemos uma visão mais ampla do terreno. Esse olhar mais cuidadoso ajudou algumas crianças a

redefinirem, inclusive, o posicionamento do papel. Outras questões brotaram do desafio de mapear a Escola: o que representar? “Os mapas não trazem todas

as árvores, todos os detalhes”, disse um, “Vamos desenhar só o formato da casinha ou mostrar cada uma

das salas, as divisões que existem dentro dela?”, perguntou outro. O que era essencial desenhar para

caracterizar esse espaço?

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Uma vez definido o que desenhar, era preciso respeitar o lugar onde cada coisa fica; o

formato que tem; mais ou menos, a proporção em relação aos demais elementos; as distâncias,

vizinhanças etc. “As duas quadras formam um L, uma não está ao lado da outra”; “A horta do João

não fica tão encostada na casinha do Beto, acho que ela tem que ser virada”; “Tá errado, aqui parece

que a quadra está na frente da sala dos professores, mas, lá é fábrica de terra. É o que alguém vê

quando encosta na mureta”. Eram tantas mudanças e considerações que, em determinado

momento, optamos por representar coletivamente, no chão da sala, os diferentes espaços e suas

relações, usando desenhos móveis das construções.

Na segunda tentativa de representar a Escola, algumas duplas apresentaram trabalhos mais

enxutos, com menos figuras ilustrativas, mas, destacando o que efetivamente caracterizava o

terreno e fazia dele um espaço de convivência, incluíram, por exemplo, os banquinhos perto da

árvore do estacionamento, a mangueira, as cabanas e o balanço. Aos poucos, foi ficando marcante

a necessidade de observar mais, explorar de outro jeito, detalhar, para conhecer melhor um espaço

que, a princípio, todos imaginavam ter bem guardado na cabeça. Estavam descobrindo os desafios

da representação cartográfica. Na primeira versão, poucos consideravam a necessidade de ir olhar,

comparar um micro-espaço com outro; já na segunda versão, esse procedimento ficou bem

destacado. Um dos alunos tentou explicar: “Uma coisa é conhecer cada coisa: a quadra, o refeitório,

a casinha do Beto. Outra, bem mais difícil, é conhecer tudo junto”.

Essa proposta também nos possibilitou rever o atlas, procurando outros elementos que

pudessem ser aproveitados além da cor, por exemplo, as legendas. Essas convenções informam de

modo padronizado sobre a organização e características dos terrenos.

Estudar Geografia é, também, entender o significado e o funcionamento dos lugares, para

compreender melhor a nossa vida e de outras sociedades. Nesse sentido, o Projeto do ano é muito

promissor também para esse campo. A partir das informações recolhidas do atlas e outros textos

históricos que caracterizavam a China, os alunos fizeram um esforço para dar novos significados às

descrições. Dessa forma, comparações e aproximações a conceitos como planície, vale, planalto,

irrigação, entre outros, foram necessários para que interpretassem as informações e conhecessem

mais sobre aquela região ou sociedade.

Descrever alguns aspectos da China, como os que mostram as condições adversas e difíceis

em que os chineses trabalhavam na agricultura durante a época do Império, destacando a

necessidade de organização e planejamento antecipado para enfrentarem as condições climáticas,

fez, por exemplo, com que as crianças se surpreendessem com o grau de sofisticação/evolução

daquela sociedade. Achei curioso o fato de muitos estudantes, no final da apreciação do Calendário

Agrícola Chinês, perguntarem quem o elaborou e se todos eram obrigados a segui-lo. Ficaram

surpresos com a informação de que eram agentes do governo seus autores. Em outro momento,

ficaram impressionados com a possibilidade dos chineses serem enviados para longe das suas casas

para trabalhar na construção do país. “De graça”, observou um aluno. Novamente, algumas crianças

perguntavam se eram obrigados a ir e se todo mundo seguia essa ordem. Sem entrar em muitos

detalhes, contei para eles que hoje, no Brasil e em outros países, as pessoas não trabalham

diretamente para o governo, mas, pagam impostos, os quais são usados também para a construção

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do país. Ficaram muito interessados com a “novidade”; um deles completou “E o dinheiro que os

nossos pais pagam vem do trabalho que eles fazem, então, dá na mesma”. Sendo uma turma

faladeira, claro, todos quiseram dar sua opinião. Alguns acharam muito pior ter que deixar a família,

outros acharam justo; teve quem quisesse maiores informações, por exemplo, saber se a pessoa

podia ou não escolher para onde ir. Entre outros comentários e “conclusões”, um dos alunos

externou: “A China estava certa porque trabalho todo mundo pode fazer, mas, dinheiro nem todo

mundo tem”. Essas polêmicas aguçam e despertam a turma, são necessárias, mas, naturalmente,

nesse momento da vida em que estão, não pretendemos nos estender demais ou fechar posições

ou conclusões sobre elas.

Esperamos que, no decorrer deste trabalho, que começa no quinto ano, os alunos sejam

capazes de olhar uma paisagem, não somente física, e compreender basicamente seu significado.

Que consigam refletir sobre a multiplicidade de espaços geográficos, de sujeitos e tempos

históricos. Que compreendam como o homem vem se relacionando com seu meio, através do

tempo.

Andréia

Grandes mudanças

O grupo chegou ao quinto ano encontrando várias novidades. Uma professora para as aulas

de Língua Portuguesa e História, recém chegada à Ágora. Outra professora para Geografia e

Matemática, já bastante conhecida pelo grupo. Além disso, dois alunos novos e o ensino de Inglês.

Em pouco tempo, todos se mostraram bastante à vontade com as novidades e

extremamente curiosos quanto ao trabalho, jogos, brincadeiras e relações com os outros, colegas e

professores.

O quinto ano tem uma marca muito interessante: entusiasmo. Diante de diversas propostas,

mostram-se alegres, querem conversar sobre suas ideias, opiniões e têm grande vontade de contar

aos amigos o que já sabem. Algumas vezes, não foi fácil conter essa empolgação e organizar as falas

dos alunos para que compusessem uma conversa coletiva. O principal objetivo das aulas do primeiro

trimestre foi este: conquistar um espaço de diálogo, onde as falas fossem ouvidas e valorizadas,

embora falar ainda seja considerado, por muitos deles, mais importante que ouvir. Enquanto

conduzi as atividades, tive em mente desconstruir esse hábito, para dar lugar a uma atitude de

escuta respeitosa. Creio que continuaremos ainda por um bom tempo com esse desafio!

Língua Portuguesa

Nesta área, começamos as aulas com bastante investimento na criação do jornal,

tradicionalmente produzido pelos alunos do quinto ano. Em primeiro lugar, lemos algumas matérias

de capa da “Folha de São Paulo” e analisamos a organização geral desse veículo. A notícia que mais

chamou a atenção e despertou o interesse dos alunos foi sobre a questão da falta d’água em São

Paulo. Todos se mostraram preocupados com o tema e quiseram compartilhar seus comentários:

“Na minha casa, a gente economiza água na hora de lavar louça, enxágua em uma bacia, porque

poupa muito e, depois, usa a água para lavar o quintal”. Ou: “Aqui na Ágora as descargas são novas,

foram trocadas porque economizam água”.

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Em um segundo momento de trabalho com jornal, o grupo debruçou-se sobre a leitura do

“Joca”, publicação voltada para crianças de sete a doze anos. A empolgação foi tanta que alguns

pediram para os pais assinarem o periódico, o que vale a pena, pois sua qualidade jornalística é

muito boa. Nessa ocasião, foram formadas duplas para ler alguns exemplares e, depois, contar, com

as próprias palavras algumas notícias para a turma. O envolvimento foi grande, os alunos sentiram-

se importantes diante de tantas notícias de diversas partes do mundo. Ao narrarem o que haviam

acabado de ler, sua desenvoltura demonstrou o quanto já são leitores competentes, capazes de

apropriar-se do que leem.

Posteriormente, trabalhamos com questões de compreensão de texto em relação a algumas

notícias. Ao respondê-las, esses estudantes aprofundaram seu conhecimento de linguagem

jornalística, bem como apreenderam quais informações são imprescindíveis nesse tipo de produção.

Outra atividade importante foi sobre a “imparcialidade”, tão desejável quando se fala dos periódicos

impressos, mas, também, daqueles que passam na televisão ou em notícias publicadas em revistas,

que se propõem a informar o leitor sobre o que está acontecendo no mundo.

O auge desse trabalho foi a produção do Especial Ágora – Todas as informações precisas

para você. O quinto ano ficou muito feliz e animado diante da proposta de produzir o informativo

da Escola. A primeira edição, publicada em março, trouxe uma matéria criada a partir de entrevista

que fizeram com a Terê. Os próprios alunos pensaram nas perguntas a serem feitas e registraram

as respostas, em um encontro que durou mais de uma hora e contou com estudantes bastante

sérios e comprometidos com a atitude de jornalistas. Além disso, o grupo elegeu um desenhista,

encarregado de ilustrar a conversa.

Após o encontro, organizaram as informações coletadas em um texto que consideraram

adequado para publicação. Nesse momento, foi preciso muito diálogo para tomar decisões, pois, o

que é muito relevante para alguns, não é para outros... Então, nossa redação do Especial Ágora

ficou agitadíssima, com dezesseis jornalistas exercitando a argumentação e a aceitação de ideias

com as quais, a princípio, não concordavam. Foi um ótimo laboratório para vivenciar a tolerância,

paciência para ouvir e esperar a vez de falar...

Outra atividade realizada em nossas aulas de Língua Portuguesa foi o trabalho com contos

populares chineses. “O manto do rei dos tigres” foi um deles, lido para o grupo, que, na sequência,

teve a responsabilidade de reescrevê-lo, em duplas. A narrativa era longa e exigiu dos alunos grande

esforço de memória e cooperação com os parceiros, já que, muitas vezes, o que um esquecia, era o

que o outro lembrava. Por isso mesmo, tiveram a oportunidade de valorizar os colegas,

aprofundando os vínculos de maneira bastante respeitosa. Depois que a primeira reescrita foi

concluída, fiz a correção da mesma e solicitei que fosse passada a limpo, ainda em duplas. Nesse

momento, pedi que estivessem muito atentos à pontuação, que é um dos grandes desafios do

quinto ano. O exercício valeu a pena, continuaremos investindo nisso por um bom tempo.

Outros contos também foram trabalhados com enfoque na compreensão das narrativas e

elaboração de respostas a diversas perguntas sobre a história. Procurei conversar sobre as

possibilidades de dar respostas a uma questão, de forma clara e completa. Nesses momentos, os

alunos sentiram necessidade de voltar ao texto para lembrar de alguma informação e, ao reler

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algum trecho, muitas vezes compreenderam algo que não tinham percebido na primeira leitura.

Além disso, aproveitei todas as oportunidades para orientá-los a investir na ortografia e aprimorar

a pontuação.

A produção dos relatórios diários também foi fundamental para o trabalho com Língua

Portuguesa. Nesses textos, os alunos já conseguem descrever os fatos ocorridos, tanto nas aulas,

quanto nas horas livres. O desafio maior vem sendo ampliar e aprofundar os trechos em que

registram o que pensaram de cada atividade e como se sentiram durante sua realização. Muitas

vezes, ao serem perguntados sobre o que acharam do jogo, da lição ou outro acontecimento

qualquer, ficam satisfeitos respondendo apenas: “Foi legal”, “Adorei” ou “Não gostei”. Venho

tentando garantir, conquistar com nossos escritores, que o registro de opiniões seja mais detalhado,

explicando ao leitor o porquê das coisas. Um dos objetivos do relatório é garantir que o aluno reflita

sobre seu dia. Nesse sentido, dizer apenas se gostou, ou não, de algo, contribui pouco para um

entendimento mais abrangente e aprofundado da vida escolar. Todavia, se a criança se propuser a

registrar por que gostou, por que não gostou e como se sentiu durante cada momento, certamente,

poderá conhecer-se cada vez mais e, consequentemente, refletir sobre si mesma, bem como sobre

o próprio processo como estudante.

Projeto Convivência

Essas aulas têm o objetivo de assegurar um espaço de formação dos nossos alunos em

relação a leis, regras e princípios morais. Nos primeiros encontros, lemos o livro “A Constituição

para crianças”, que traz a história da Constituição brasileira, como foi criada, além de outras

reflexões sobre a história do Brasil: a época em que o Brasil era império, o período da ditadura

militar... Nossa conversa sobre a ditadura deixou as crianças estarrecidas. “Como assim, o governo

podia torturar e matar?”, “Ainda bem que a ditadura acabou!” e “Você viveu durante a ditadura?”,

foram algumas das dúvidas e comentários acalorados que ouvi durante nossa conversa. Contei a

eles sobre uma senhora que ouvi, certa vez, em uma palestra, relatando que sua irmã havia sido

torturada e morta na década de 70. Eles ficaram tão chocados com a história que passaram a

perguntar-me, de vez em quando, como andava minha “amiga” que perdeu a irmã...

Minha preocupação, durante esse tipo de conversa, foi ressaltar, sempre, com os alunos, as

vantagens da democracia: todos têm o direito de escolher os governantes, os mandatos têm data

certa para terminar e a liberdade de expressão está garantida.

Nas aulas seguintes, procurei discutir regras e leis mais próximas ao cotidiano da Escola.

Trouxe para o debate situações-problema enfrentadas por muitos deles durante as brincadeiras

relacionadas à construção de cabanas. O material utilizado, por exemplo – paus, feno e cipós –

pertence a quem? Quem o encontrou pode dispor dele como quiser, sem consultar os outros

participantes da cabana? É justo proibir que alguém integre uma equipe de cabanas? Quando há

algum conflito envolvendo o grupo, o que é melhor fazer? Nos debruçamos sobre diversas situações

e não chegamos a nenhum consenso. O quinto ano é composto por alunos de personalidade forte,

muita convicção das próprias ideias e pouca paciência ao serem contrariados. Por tudo isso, teremos

ainda um longo trabalho pela frente em nosso “Projeto Convivência”! No entanto, as conversas e

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perguntas como essas cumpriram o objetivo de convidá-los à reflexão, desnaturalizando algumas

práticas que vão ao encontro dos princípios da Ágora.

História

Iniciamos o ano conversando sobre nosso projeto, “A história das sociedades: um estudo

humanizador”. A primeira sociedade escolhida para ser estudada foi a China, entre outros motivos,

por ser das mais antigas do mundo. Além disso, hoje é o país mais populoso do planeta. Discutir isso

com os alunos foi interessante, pois ficaram espantados imaginando há cerca de cinco mil anos a

civilização chinesa começou sua história. Propus que fizessem o exercício de pensar no Brasil nessa

época remota, ao que eles próprios refutaram: “O Brasil não existia”. “Nessa época a terra estava

aqui, mas ainda não tinha esse nome”, “Os portugueses ainda não tinham chegado, nem os

africanos”, foram algumas das informações que trouxeram para o debate, muito orgulhosos de seu

conhecimento.

Ao falarmos sobre o primeiro imperador chinês, discutimos a definição da palavra Império

e, novamente, comparamos esse modelo com a realidade brasileira. Os alunos foram convidados a

refletir sobre as diferenças entre o presidente de um país e um imperador. Todos mostraram

satisfação por pertencerem a uma nação que tem um presidente e condenaram as atrocidades

feitas pelo imperador Qin, que deu nome à China. Continuando o estudo, os alunos viram imagens

do Exército de Terracota, um dos símbolos do poder e grandiosidade do imperador Qin. Os registros

no caderno, construídos coletivamente, tiveram também o objetivo de promover reflexão sobre a

Língua Portuguesa: parágrafo, pontuação e escolha das melhores palavras para não sermos

repetitivos.

Parte importante da aprendizagem sobre a China aconteceu durante a leitura do livro “Nas

folhas do chá”, que conta a história de duas meninas, uma brasileira e outra chinesa, que se

correspondem por e-mail e constroem uma grande amizade. Durante a narrativa, trocam

informações sobre as respectivas culturas e trazem uma boa ideia de como é viver na China hoje

em dia. As personagens conversam sobre as tradições praticadas no ano novo chinês, a importância

da família na sociedade chinesa, o modo como se vestem os habitantes desse país, entre outros.

Paralelamente à leitura, os alunos realizaram um trabalho, individual, com textos informativos sobre

a sociedade chinesa. Durante a proposta, demonstraram bastante interesse em aprender mais

sobre o país de He Juhua, protagonista do livro “Nas folhas do chá”.

Além disso, foram apresentados ao pensamento de Lao Tsé e Confúcio, a partir da leitura

coletiva de textos sobre esses dois sábios chineses. Nossas discussões sobre o pensamento deles foi

muito estimulante, pois não foi fácil compreender a mensagem desses filósofos. Por exemplo:

“Quem conhece os outros é inteligente

Quem conhece a si mesmo é iluminado”

Lao Tsé

Conversamos bastante sobre o significado dessa afirmação. O que será que Lao Tsé está

querendo nos dizer? Depois de muitas ideias colocadas na roda de conversa, chegaram à conclusão

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de que conhecer a si mesmo é muito importante para poder evitar sofrimentos, ou, para conseguir

controlar-se e não fazer algo que possa magoar os outros. “Se eu sei que vou ficar triste brincando

de uma brincadeira, não entro, vou procurar outra coisa, ou peço ajuda para alguém”, “É bom a

gente saber por que fica triste com alguma situação, assim dá pra conversar e melhorar a tristeza”...

Pude ouvir muitas falas bonitas e profundas, que mostram que os alunos têm preocupações e a

infância não é feita só de alegrias... Em seguida, fizeram comparações entre o pensamento de

Confúcio e a filosofia da Ágora. O sábio acreditava que os mais velhos têm muito a ensinar aos mais

novos e devem ser respeitados acima de tudo. Nosso quinto ano comentou: “Por isso, aqui na Ágora,

tem os chefes de grupo, que têm mais responsabilidade do que a gente, porque são mais

experientes”. Disseram, também: “É certo o nono ano ser chamado para resolver algumas brigas,

porque eles são mais sabidos, já dizia o Confúcio”.

Outra sociedade estudada, na época em que comemoramos o dia do índio, foi a indígena.

Lemos um texto, “Índios & Civilizados”, que nos ajudou muito a refletir sobre o projeto deste ano

da Ágora, pois trouxe ideias fundamentais acerca da cultura indígena, contrapondo-a à cultura dos

habitantes das cidades. Além disso, os alunos assistiram a um filme sobre as aldeias Ikpeng, e

discutiram os costumes, principalmente das crianças, pensando sobre as grandes diferenças entre

um índio e um morador das cidades.

Para finalizar, gostaria de contar sobre as comparações que os alunos fizeram entre o

pensamento de Confúcio e o modo de vida indígena. Alguns comentários foram: “Os índios também

valorizam a vida simples perto da natureza, como Confúcio”. Além disso, trouxeram também a

seguinte ideia: “Há cinco mil anos, Confúcio já acreditava que as pessoas seriam mais felizes perto

da natureza, como nossos índios vivem até hoje. Por isso eles são felizes!”.

Acredito que o grupo tem muito a aprender junto, os desafios são grandes, mas todos estão

empenhados em investir na superação dos mesmos! Teremos um grande 2015!

Um abraço,

Danile

Ciências

"Se você quiser criar algo novo, certifique-se de saber o que tentaram anteriormente."

E.H. Gombrich

Alguns diriam que os chineses foram os maiores de todos os inventores. Imprensa, pólvora,

navegação transoceânica são alguns exemplos de conquistas que ocorreram no Oriente, antes da

Europa. Algumas delas com séculos de diferença. Ao nos aproximarmos da sociedade chinesa,

procurei selecionar algumas características que julguei necessárias para os novos estudos do quinto

ano.

Atividades práticas são, em sua maioria, muito bem recebidas por esse grupo. Para iniciar o

ano, escolhi produzir pipas e investigar seu funcionamento com a classe. A realização dessa

atividade requereu muita organização e atenção. Além de seguir os procedimentos para a confecção

das pipas, foi necessário preparar a área de trabalho, separar os materiais e manter a atenção nos

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passos indicados. Nos momentos iniciais, percebi o grupo mais disperso e confuso, pouco

organizado, solicitando meu auxílio com muita frequência. Conforme se adaptavam às novas

demandas, o trabalho tornou-se mais fluido e coeso. Ao finalizarem os procedimentos, os alunos

dispuseram-se, espontaneamente, a auxiliar os colegas para que todos concluíssem as pipas.

Marcamos uma data para que fôssemos ao CEMUCAM, onde teríamos mais espaço e

liberdade para testar os planadores. Descobrimos que era proibido soltar pipas no parque e, por

isso, retornamos para a Escola. Imaginei que a decepção com o ocorrido fosse atrapalhar a

atividade. Contudo, pouco tempo depois, os alunos já tentavam, em duplas, soltar os papagaios,

sob os olhares curiosos de Andréia e Danile, suas professoras, que também nos acompanharam na

tarefa.

Na etapa seguinte, registramos os resultados e discutimos algumas das hipóteses

apresentadas sobre as observações experimentais. Combinamos, também, de repetir os testes,

assim que algumas das pipas fossem restauradas, e num dia em que ventasse mais.

Os estudos de Ciências tiveram continuidade com a exploração das bússolas e ímãs. Nessas

aulas, assim como nas anteriores, privilegiei o uso de experimentos para que investigássemos as

criações chinesas. O grupo produziu suas próprias bússolas e elaborou hipóteses sobre o

funcionamento dos ímãs, distância em que atuam, seus pólos e imantação.

O último projeto do trimestre envolve a produção da pólvora e os estudos das

transformações. Nessa primeira incursão química, retomaremos o papel da pergunta científica

como norteadora de nossas pesquisas, bem como modos de divulgarmos as descobertas realizadas.

O grupo do quinto ano iniciou o curso com alguns desafios por superar: manter a atenção e

organização durante a realização das propostas. Se, por um lado, mantém o entusiasmo pelas

atividades práticas, é necessário que produzam avanços mais significativos na produção escrita.

Para isso, será fundamental organizarem-se melhor, tanto espacialmente, quanto em seus

pensamentos. Para auxiliá-los nessa tarefa, combinei, no início do ano, que poderiam sair para

beber água e ir ao banheiro antes do início de nossas aulas, sem que precisassem me pedir

autorização. Aqueles que não necessitassem fazê-lo, deveriam separar os materiais e preparar-se

para o início da aula. Esse procedimento diminuiu consideravelmente os pedidos para sair durante

as discussões, o que tornou-as mais produtivas. Além disso, notei os alunos mais responsáveis por

sua própria atuação e preocupados em não abusar da confiança que depositei neles.

Leonardo

Inglês

Um trimestre de lições valiosas para os alunos e para mim, todos embarcados em uma

viagem para a distante China, como parte do projeto “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”. Ainda que distante geograficamente e acentuadamente diferente, a sociedade

chinesa, seus valores e cultura, tem se tornado mais próxima e encantadora a cada leitura feita! O

estudo de língua inglesa foi beneficiado com o projeto do ano, tendo realçado o seu valor de vínculo

de conhecimentos.

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Dentre as variadas novidades do quinto ano, está a inauguração das aulas de Língua Inglesa,

um momento aguardado com curiosidade, o que certamente foi um motor para um ótimo

aproveitamento por parte dos estudantes.

O objetivo do inglês no quinto ano é apresentar aos alunos a um novo sistema linguístico,

em três aspectos centrais: oralidade (fala e escuta), escrita e leitura. Embora a oralidade seja

enfatizada nesse momento inicial, nossas aulas são preparadas de modo a garantir a abordagem

desses três aspectos. Diferentes formas de desenvolver habilidades em cada eixo são contemplados,

tratando de modo lúdico e significativo o ato de aprender.

O instrumento pedagógico que centralizou o trabalho foram os jogos e as brincadeiras, já

que eles proporcionam momentos de interação mais significativa dos alunos com o idioma. Com os

jogos e brincadeiras propostos, foram desafiados a empregar os conteúdos linguísticos estudados,

praticando, além deles, importantes conteúdos de negociação e respeito entre os pares. Afinal,

mesmo com o intuito de aprender de forma divertida, os jogos possuem regras que orientam e

facilitam as relações.

Tendo claros os princípios que orientaram nosso trabalho, pudemos explorar os conteúdos

e as atividades com os quais estivemos engajados durante o trimestre. Iniciamos o curso fazendo

um levantamento a respeito de palavras e expressões já conhecidas do novo idioma, a partir da

escrita e ilustração da página inicial do caderno de inglês.

A seguir, partimos para a aprendizagem de conteúdos úteis para o cotidiano de sala de aula.

Primeiramente, estudamos a pronúncia do alfabeto em inglês, traçando as diferenças e

semelhanças com o português, o que foi importante para aprenderem a soletrar palavras em inglês,

um recurso de aprendizagem de vocabulário e de negociação durante diversas interações. Olhando

para o entorno da sala de aula, os alunos puderam conhecer os vocábulos que nomeiam objetos do

dia a dia, tais como: chair, desk, pencil, backpack, dentre outros. Empregando tais vocábulos,

inauguramos nossas brincadeiras com o clássico jogo do Hangman, em que os alunos, organizados

em dois times, arriscam falar letras que compõem as palavras que estudaram. Os estudantes ainda

tiveram a oportunidade de conhecer um guessing game, em que cada um escolhe um objeto e conta

à turma qual a letra inicial da palavra que o nomeia para que os demais o adivinhem. Ainda nos

conteúdos úteis para a realidade imediata de nossas aulas, conheceram e praticaram a pronúncia e

a escrita de números ordinais e cardinais, de zero a trinta e um. Isso os ajudou a expressar datas, já

que ritualmente iniciamos a aula com a escrita do heading e do topic. Para a prática dos números,

escolhemos Buzz game, um desafio matemático em que a turma se reúne em círculo e recita, um

aluno por vez, cada um dos números em ordem, eliminando os múltiplos de quatro. Também,

brincaram de escrever um número nas costas de um colega para que este adivinhasse qual número

havia sido escrito. A brincadeira fez tamanho sucesso que, atendendo a pedidos, foi repetida ao

final de outras aulas.

Partindo para os estudos sobre a China, escolhi narrativas tradicionais que compõem as

crenças chinesas e que ainda hoje se mantêm e influenciam o cotidiano de uma parcela desse povo.

Além disso, o tema do zodíaco reúne vocábulos sobre os animais, adjetivos descritivos de

personalidade e a função de perguntar e responder sobre aniversários. Após lerem um pequeno

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texto descritivo sobre o zodíaco daquele país, com exercícios de interpretação em duplas, os alunos

coletaram adjetivos descritivos e confeccionaram cartões utilizados no jogo Twenty questions.

Neste jogo, os alunos atuaram em duplas. Cada aluno escolheu um determinado signo enquanto o

seu parceiro tinha o número de vinte perguntas para adivinhar qual o signo selecionado. Para

aprofundar os conhecimentos sobre o zodíaco, fizemos uma leitura compartilhada do mito que os

originou. Na história, todos os animais do mundo recebem uma mensagem de Buda convidando-os

para um banquete na montanha. O gato, com preguiça de ler a mensagem, pede para que o rato a

leia, mas não imagina que o rato iria mentir sobre a data da festa. Assim, o gato perdeu o dia do

evento e, por consequência, a chance de ser presenteado por Buda com um signo do zodíaco. A

história envolveu a turma, levando-os a comentar sobre a postura duvidosa do rato.

Sabendo que o dominó tem origem na China, prepararam-se para esse milenar passatempo

lendo um texto instrucional sobre como jogá-lo. Aprenderam, também, expressões úteis para a

negociação durante o jogo, como “It’s my turn!”. Certamente, um momento de diversão, mas,

também, de construção de autoconfiança!

Nosso ritual de finalização de aula consiste em anotar o glossário nas páginas finais do

caderno. Dessa forma, estamos construindo um registro a ser consultado sempre que necessário.

O grupo do quinto ano tem se mostrado aberto às novas aquisições, superando os receios e

avançando de forma produtiva. Gostam de participar e compartilhar o que aprenderam, tanto nas

atividades com a turma toda, quanto naquelas realizadas em duplas e pequenos grupos. As

brincadeiras propostas são sempre levadas a sério, com alto engajamento e esforço para atingir

boas produções orais e escritas. Diante de características tão positivas, noto que esses alunos têm

um grande potencial para um ótimo desenvolvimento nesse novo idioma!

Denise

Relatório do Trabalho do Sexto Ano

Português

Posso ser chinesa, mas meu conhecimento ainda é apenas

uma colher de chá no oceano que é a China.

Xinran, O que os chineses não comem. Companhia das Letras. São Paulo, 2008.

Novo ano, novo tema a ser explorado. O projeto em curso intitula-se: A história das

sociedades – um estudo humanizador. Iniciamos os trabalhos, aproximando-nos da distante e

misteriosa China. Em todas as aulas, implementamos o nosso momento chinês − assim batizado por

essa turma − caracterizado pela leitura e discussão de textos relacionados à cultura desse país. Ora

leio-lhes contos, ora apresento-lhes as crônicas da jornalista Xinran, autora do livro citado acima.

São momentos muito apreciados pelos alunos, pois, por meio deles, temos nos surpreendido com

aspectos dessa cultura extremamente diferentes da brasileira.

A leitura dos dois gêneros – contos chineses e crônicas – atende a dois objetivos distintos. O

primeiro dedica-se ao estudo da estrutura narrativa. Até o quinto ano, os alunos conheciam as

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partes que compõem esse gênero apenas como começo, meio e fim. A partir do sexto ano, é

necessário que essa estrutura seja ampliada. Discutimos que uma narrativa linear, aquela que

obedece a uma ordem cronológica, possui, nessa ordem, situação inicial, conflito, complicação

(clímax) e desfecho. Além daqueles apenas lidos por mim e comentados em classe, os contos “A

cidade feliz” e “Mãe Wu” foram explorados mais detidamente, a fim de que percebessem cada uma

dessas partes. Já o segundo – crônicas de Xinran − destina-se ao conhecimento de aspectos culturais

da China. O estudo dos dois gêneros será muito proveitoso para as produções de textos que farão

até o final do semestre: contos de autoria que revelem a cultura e a sociedades chinesas.

Com o mesmo intuito explicitado acima e também trabalhar a intepretação e a prática

textual, lemos e discutimos alguns provérbios chineses. Iniciamos nossa conversa sobre esse gênero

relembrando alguns desses ditos brasileiros famosos. Em seguida, partimos para os chineses. Para

realizar o exercício inicial, os alunos deveriam extrair o sentido de cada um deles e imaginar em que

contexto poderiam ser aplicados. Como modelo de prática textual, mostrei-lhes uma produção de

Millôr Fernandes, autor brasileiro conhecido por seu humor sofisticado, ao transgredir gêneros

clássicos da língua. Nesse texto, o autor reescreve alguns provérbios, propondo a eles nova

roupagem, utilizando-se de uma linguagem surpreendentemente oposta ao gênero popular,

conseguindo, com isso, efeito humorístico curioso. O trabalho do aluno era escolher um provérbio

e, como fez Millôr, brincar com a linguagem, reescrevendo-o com trato extremamente formal e

enciclopédico. Para tanto, utilizaram variados dicionários e muita criatividade.

Quanto ao estudo da gramática a aos padrões da escrita, propus uma revisão sobre questões

de ortografia e pontuação de texto da ordem do narrar, substantivo, adjetivo. As questões

relacionadas à ortografia visavam ao reconhecimento de algumas regularidades e irregularidades,

tais como: sufixo -ano e -ense na formação do adjetivo pátrio, letra u em desinência verbal na

formação do pretérito perfeito do indicativo no lugar da letra l (fugil), ou, da letra o (saio);

regularidades contextuais: s/ss, m/ antes de p e b; questões que compreendem a transcrição da fala:

troca de e por i; origem etimológica: g/j, z/x.

As questões sobre pontuação retomavam o texto de tipo narrativo. Foram escolhidas duas

pequenas fábulas, por se tratarem de textos curtos, porém completos, com a presença de narrador

em parágrafo independente, depois da fala de personagem, bem como no meio dela. O texto

proposto era um bloco único, completamente sem pontuação. As tarefas dos alunos eram perceber

onde estavam os parágrafos e colocar a pontuação necessária para a sua legibilidade, além de

verificar a utilização da letra maiúscula e minúscula no início de frases ditas pelas personagens e

pelo narrador. Notei que alguns fizeram-na com certa dificuldade. Realizamos a correção passo a

passo, de modo que foi possível avançar na aprendizagem desses conteúdos. Pretendo explorar

mais esse tipo de atividade ao longo do ano.

Para iniciar os conteúdos ligados à fonologia, propus a leitura de poemas em cuja construção

há um trabalho de realce dos sons (aliteração e assonância) para que a mensagem ganhe maior

expressividade. Foram propostos os seguintes poemas: Trem de Ferro, de Manuel Bandeira,

Pescaria e Bolhas, de Cecília Meireles e O anjo, de Roseana Murray. Os alunos foram convidados a

ler os poemas, com o objetivo de descobrir como essas produções abordavam, além das ideias, a

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sonoridade. Em cada poema, teriam de desvendar o jogo sonoro de cada um. Após um primeiro

reconhecimento individual, a classe foi dividida em grupos de três integrantes para analisar um

exemplar e criar uma estratégia de apresentação em que a sonoridade ficasse evidente. Foram

quatro apresentações muito curtidas por todos e bastante proveitosas.

Feitas as apresentações e observados os recursos responsáveis pela sonoridade, iniciamos

um estudo sobre o que é fonema e letra. Discutimos como se dá a passagem de ar pela boca, quando

proferimos as vogais, quando as pronunciamos e o som delas sai aberto, fechado, ou nasalizado.

Também ouvimos atentamente a pronúncia das consoantes e o quanto a passagem de ar se dá de

forma diferenciada, em que posição a língua se encontra quando proferimos os fonemas

consonantais. Em seguida, discutimos a pronúncia de alguns fonemas. Por exemplo, em táxi, para

falar a letra X nessa composição, falamos dois sons para uma única letra. Enquanto que, em carro,

precisamos de duas letras para o som rê. Dessa forma, os alunos puderam concluir que o fonema é

o som, pertence à oralidade, ao passo que a letra é a representação gráfica do som, ressaltando a

ideia de que a escrita é uma representação gráfica da fala e não uma correspondência imediata e

lógica dela.

Após as discussões sobre fonema e letra, foram propostas algumas atividades: verificação

de palavras em que deveriam contar quantos fonemas e quantas letras havia em cada caso; troca

de um fonema e consequente mudança completa da palavra, verificação de exemplos quando para

um fonema existem várias letras diferentes (espontâneo, exclamar; chamar, caixa). Toda essa

discussão servirá para ancorar o estudo de ortografia.

Quanto aos estudos de Fonologia, estamos na fase de reconhecimento do que é uma vogal,

semivogal para entender os encontros vocálicos (ditongo, tritongo e hiato). Percebi que todos estão

compreendendo bem esses conteúdos, mesmo aqueles que apresentam um pouco mais de

dificuldade.

No tocante aos relatórios, os alunos dessa série consolidam um fazer diferente. Ao invés de

elaborá-lo e entregá-lo diariamente, são encaminhados a fazê-lo também todos os dias, mas a

entregá-lo uma vez por semana, sempre às segundas-feiras. Logo nas primeiras aulas, discutimos

sobre as partes que compõem esse gênero e o quanto sua produção é relevante para a

aprendizagem de cada um. Além disso, falamos sobre como deveriam se comportar para que não

houvesse atrasos ou esquecimentos. Todos demonstraram reconhecer a importância dessa

produção. O que observo é que a maioria se esforça para realizá-la de forma completa e

competente. As produções são variadas. Há relatórios muito bons, com riqueza de detalhes e

impressões, outros mais resumidos, alguns incompletos. Estamos trabalhando arduamente para

que todos possam obter conquistas nesse campo de atuação, explorando progressivamente o

próprio potencial escritor.

O grupo, até o momento, tem se mostrado muito comprometido com a própria

aprendizagem, pois revela empolgação, quando as propostas lhe são apresentadas, e boa vontade

para colocá-las em prática. Trata-se de uma turma com participação equilibrada; sabe falar, bem

como ouvir o outro, o que propicia atmosfera positiva para o estudo.

Joana

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Inglês

Um trimestre de lições valiosas para os alunos e para mim, todos embarcados em uma

viagem para a distante China, como parte do projeto “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”. Ainda que distante geograficamente e acentuadamente diferente, a sociedade

chinesa, seus valores e cultura, tem se tornado mais próxima e encantadora a cada leitura feita! O

estudo de língua inglesa foi beneficiado com o projeto do ano, tendo realçado o seu valor de vínculo

de conhecimentos.

Na passagem para o Ensino Fundamental II, uma série de transformações ocorre para os

alunos do sexto ano; isso não poderia ser diferente com as aulas de inglês. Neste momento, o curso

se volta para a formalização gramatical e lexical. Outra grande novidade é a introdução do material

didático, importante organizador do curso, por conter variados textos, instruções, explicações e

exercícios que facilitam a sistematização dos conteúdos. É, também, favorecedor ao

desenvolvimento da autonomia, uma vez que pode ser consultado de forma individual, em casa.

Com esse mesmo intuito, as lições de casa passam a figurar na rotina escolar, com atividades

complementares do Workbook. A fim de auxiliar os alunos nessa adaptação, temos incorporado,

aos minutos finais de cada aula, a feitura das lições de casa, como oportunidade de esclarecer

dúvidas e ter apoio na familiarização em relação às instruções de leitura dos textos e dos exercícios.

Os conteúdos específicos do sexto ano têm o duplo objetivo de instrumentalizar os alunos a

expressarem-se sobre a sua realidade imediata e torná-los aptos a conhecer uma cultura diferente

de sua própria, acessando textos e informações sobre outros povos e seus costumes. O Projeto “A

formação das sociedades, um estudo humanizador”, cujo enfoque inicial foi a China, contribuiu de

forma frutífera para tais objetivos.

Iniciamos os estudos explorando expressões úteis para o nosso cotidiano de sala de aula,

com as funções comunicativas de pedir permissão, fazer solicitações e dar ordens, compreendendo

a diferença entre perguntas iniciadas por Can I...? e as iniciadas por Can you...? e contrastando-as

ao modo imperativo, em que não são feitas perguntas.

Ainda com esse intuito, revisaram os vocábulos para meses e datas, a fim de escrever o

heading no início de cada aula. Com os números em revisão, tratamos também de perguntar e dizer

as horas, utilizando variadas ferramentas, como cartões ilustrados com relógios para que, em

duplas, perguntassem e respondessem, e uma ficha com relógios sem ponteiros seguidos por

legendas.

O estudo de gramática teve início com os pronomes sujeito, por sua importância nos textos

e na localização de informações. Além disso, a consolidação dos pronomes sujeito facilitou os

estudos sobre o verbo to be, que ocorreu mais adiante.

Para nos aproximarmos da função comunicativa de apresentações (como em “This is my

friend Maria”, por exemplo), nacionalidades e descrições físicas, fizemos a leitura e a interpretação

de um diálogo entre uma família inglesa que recebe a visita de um parente americano. Nessa

atividade, os alunos praticaram o diálogo em pares, percebendo a entonação e alterando trechos

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para personalizar aquele texto, adequando-o às suas próprias realidades. Assim, brincaram de

apresentar-se e de descrever-se uns para os outros.

Depois da leitura e da prática do diálogo, localizaram em um mapa os países de língua inglesa

e estudaram e contrastaram diversas nacionalidades e países. Trabalhando em pares, colaboraram

para a construção de uma tabela organizadora desse tema.

O estudo do verbo to be, apesar de tradicionalmente inaugurar muitos cursos de inglês, só

foi enfatizado depois desse levantamento de vocabulário e de funções comunicativas. Afinal, sendo

um verbo de ligação, sua utilização requer que se fale que alguém é algo ou está em uma

determinada condição. Assim, os alunos foram convidados a falar sobre países, nacionalidades,

descrições físicas e emocionais, dentre outros, empregando o verbo do to be de forma situada, em

temas específicos.

Voltando-nos para os estudos sobre a China, lemos e discutimos um texto autêntico, ou seja,

um texto complexo, produzido sem a finalidade de ensinar inglês. O material escolhido foi um

capítulo do livro “China: everything you ever wanted to know”, por tratar-se de um texto informativo

sobre o zodíaco chinês. O material nos auxiliou no trabalho com adjetivos, anos, vocábulos sobre

animais, dentre outros. Em duplas, os alunos jogaram um guessing game, praticando de forma

extensiva perguntas com verbo to be, para descobrir quais as características de cada signo que mais

combinam com sua própria personalidade.

O grupo do sexto ano tem surpreendido positivamente por sua atenção aos combinados e

foco às atividades propostas, demonstrando boa adaptação aos novos desafios, como a organização

dos materiais de aula, a rotina de lições de casa, os estudos mais concentrados em aspectos formais

da língua. Dedicam-se com igual envolvimento a atividades mais interativas, em que é preciso

colaborar com os pares, e aquelas individuais, que pedem por foco. É notável, também, o gosto

desses alunos por participar em formulação de hipóteses, deduzindo regras gramaticais a partir da

observação desses conteúdos acionados em textos. Portanto, esses alunos sinalizam maturidade e

preparo, o que, seguramente, garantirá um ótimo desenvolvimento no decorrer do ano.

Denise

História

“A História é a Ciência dos homens no tempo” -

Marc Bloch (1886-1944), historiador francês.

Nosso trabalho começou com a apresentação de uma "nova" História aos alunos. Além da

busca pelos primeiros momentos da trajetória humana, nosso tema do trimestre, tínhamos pela

frente a tarefa inicial de definir melhor a História. Lançando mão da frase reproduzida acima,

começamos um debate sobre as diferentes interpretações para essa palavra que, para os gregos

antigos, seus criadores, significava “pesquisa”. Apoiamos essa conversa inicial numa narrativa

chinesa antiga, "A fábula dos cegos e do elefante", lida e discutida para que todos percebessem que,

quando se trata de seres humanos, dependendo da perspectiva, cada um testemunha um mesmo

fato histórico de uma maneira particular, inédita. Em meio à acalorada e divertida discussão que se

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seguiu, surgiu a questão: “mas como definir o que realmente aconteceu no passado?” A partir deste

ponto, por meio da leitura de uma ficha que trazia diversos exemplos de produções humanas em

épocas e lugares variados, os alunos conseguiram chegar a uma definição coletiva do que seria um

documento histórico: "qualquer coisa produzida por seres humanos que possa ser usada pra gente

entender melhor o que aconteceu no passado”. O autor da epígrafe acima, sem dúvida, encontra-se

sorrindo por aí…

Para complementar essa etapa inicial, retomamos o que os alunos já sabiam a respeito de

linhas do tempo, apresentando não apenas diversos formatos possíveis para elas mas, da mesma

forma, ajudando-os a entender por que judeus, chineses, muçulmanos, entre outros, contam o

tempo com referenciais diferentes dos utilizados por nós. Isso levou o grupo a uma interessante

atividade na qual encaixamos as linhas do tempo de diversos grupos humanos dentro de uma linha

principal (o que, por sua vez, levou a uma pergunta astuta do grupo, a qual somente responderemos

no futuro: “Mas, por que a gente usa o nascimento de Jesus e não o de outra pessoa [como

referência]?”). Para o sucesso de todos na observação e construção de linhas do tempo,

instrumento importante em nossas aulas, recorremos a sessões de exercícios básicos, individuais e

em grupos, de contagem de períodos de tempo antes e depois de Cristo e, da mesma forma, de

conversão de números romanos para indo-arábicos e vice-versa, parte do "vocabulário" presente

nas fichas trabalhadas em sala e, também, em materiais especiais presentes na Escola, como

“Timelines of History”, que trazem linhas do tempo sincrônicas e ilustradas, mostrando aos alunos,

de maneira clara, acontecimentos paralelos em diferentes regiões do mundo, ajudando em nossa

investigação sobre os primeiros grupos humanos.

Em torno da palavra “hominídeos”, recém-incorporada ao vocabulário de todos,

trabalhamos com fichas que exploravam achados arqueológicos, testes de laboratório e séries de

pistas deixados por humanos na pré-História. Como num jogo de detetives, todos puderam ver que

o passado remoto da humanidade pode ser decifrado, mas apenas até certo ponto: modos de vida,

restos de habitações e instrumentos de caça, pinturas rupestres (capítulo especial em nossas aulas,

com todos trazendo interessantes hipóteses sobre sua existência e motivações) são, sem dúvida,

elementos que possibilitam conhecer um pouco melhor o cotidiano e as realizações dos primeiros

humanos; por outro lado, datas mais precisas e o próprio “surgimento” desses grupos, ainda são

assuntos longe de serem esclarecidos. Acredito que o mistério que envolve essas origens humanas

traga o necessário ar de reverência e desafio imaginativo que a História deve inspirar nos

estudantes, especialmente os de sexto ano.

Os termos “nômade" e “sedentário”, surgidos na etapa seguinte a partir de nossas leituras,

levaram os alunos a realizar exercícios em que deviam lançar hipóteses sobre a qual grupo

pertenceriam objetos encontrados em escavações, tais como pontas de flecha de pedra, enxós de

madeira e metal, pentes de osso, tigelas de cerâmica, entre outros. Mais do que apenas reconhecer

a origem, os materiais e as funções desses artefatos, procuramos imaginar e registrar como seria o

cotidiano desses grupos, seus desafios e conquistas e por que os grupos sedentários tiveram muito

mais chances de preservação do que os de nômades. Em meio aos debates sobre a sedentarização

dos humanos, sobrepusemos dois mapas: no primeiro, vimos referências geográficas a famosos

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sítios arqueológicos de grupos sedentários; o segundo, um mapa indicando a formação das mais

antigas cidades conhecidas. Todos perceberam a correspondência entre sedentarismo e

desenvolvimento de núcleos urbanos, especialmente no centro-leste da China, no centro da Europa,

no norte da África e no Oriente Médio, mas foi gratificante observar que os alunos identificaram o

traço comum: o sedentarismo e a posterior formação de cidades apenas se sustentaram com a

proximidade de grandes rios.

Tal dado alcançou maior impacto quando selecionei a Mesopotâmia como assunto para o

primeiro estudo de grupos humanos. O nome da região - do grego, meso + potamos, ou “terra entre

rios” - confirmava as ideias anteriores do grupo e, ao mesmo tempo, explicava como a agricultura

pode prosperar num vale cercado por desertos. Lemos a respeito de como as primeiras cidades

passaram a existir para possibilitar trocas, de produtos e ideias, e, ao mesmo tempo, como essas

trocas precisavam ser reguladas por leis, pois causavam muitas disputas; para que as leis fizessem

sentido, deveriam emanar de uma autoridade reconhecida por todos, e os governantes e tribunais

passaram a existir. Nosso primeiro exemplo foi a Babilônia do rei Hamurábi, famoso pela formulação

do mais antigo código legal conhecido, baseado no princípio do “olho por olho, dente por dente”:

foi com um misto de euforia e incredulidade que os alunos leram trechos como “Se um filho bater

em seu pai, cortarão a sua mão”, ou, “Se um homem cegou o olho de outro homem, o seu próprio

será cegado”, imaginando como seria viver dessa forma, comparando com o que conhecemos hoje

e escrevendo sobre por que razões essas leis foram feitas assim.

O projeto de nossa Escola para este ano - “Formação das sociedades - um estudo

humanizador”, orienta nossa abordagem com o sexto ano para as sociedades antigas, com atenção

às formas empregadas por diversos grupos humanos para a construção de uma obra comum, por

meio de instituições (leis, governo, religião). Dos babilônios, estamos passando aos chineses, foco -

neste primeiro momento - do projeto coletivo da Escola. A China abrigou o mais duradouro império

contínuo da História e, desenvolvendo-se em paralelo às sociedades mediterrânicas, tomou rumos

muito diferentes dos observados em outras partes do mundo. Estabelecer os marcos de fundação

da China e comparar seu desenvolvimento com o dos babilônios é uma forma eficaz e rica de

explicar os diferentes modos de organização humana na Antiguidade, nosso objetivo mais imediato

nas aulas de História, com vistas a criar com os alunos um panorama inicial de como os primeiros

grupos humanos começaram a História tal qual a conhecemos.

Para finalizar, foi com alegria e empolgação que comecei o trabalho com este grupo. Os

alunos tem se mostrado ativos e curiosos, registram o que descobrem, mantêm a prontidão com

seus cadernos e os horários e são bons debatedores, oferecendo ricos recursos a este professor…

Por outro lado, o grupo - possivelmente ajustando-se à “novidade” que protagonizam, estar no

sexto ano - ainda se dispersa com brincadeiras e conversas fora de hora. Acredito que no devido

tempo, já que o grupo dá mostras de poder fazê-lo, tal quadro tornar-se-á mais suave e a

curiosidade e as boas produções ganharão o merecido destaque.

João

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Geografia

Este início de semestre foi um período de adaptação à nova rotina de estudos, aos conteúdos

e suas respectivas abordagens, particularmente, à nova professora e suas condutas pedagógicas.

No dia a dia, o conhecimento, como mediador desse processo, cumpriu seu papel

aproximando, promovendo descobertas, revelando dúvidas e dificuldades e apontando novos

caminhos para todos.

Os estudos sobre China iniciaram-se já na primeira semana de aulas, a partir de um conteúdo

mais amplo, leitura da paisagem; chamou-me atenção a muralha, por ser a única obra humana vista

do espaço, dado que nos serviria de ponte para os trabalhos com imagens de satélite.

Para tanto, selecionei e apresentei aos alunos três fontes de estudo em três linguagens

distintas, todas contemplando o território chinês e a grande muralha:

1. Áudio visual – episódio de documentário (Patrimônios da Humanidade);

2. Texto – um capítulo do livro “Maravilhas feitas pelo Homem”;

3. Mapas temáticos e imagens de satélite do Extremo Oriente em diferentes escalas (atlas

geográfico e painéis).

Paralelamente, foram abordados conteúdos fundadores da alfabetização cartográfica, como

orientação espacial com rosa-dos-ventos e atividades de localização, ancoradas na leitura de plantas

e mapas.

Tendo como base o manual de cartografia, esses estudantes examinaram os mapas físico e

político da China e, orientados por etapas detalhadas, confeccionaram uma representação temática

contendo elementos selecionados e extraídos de ambos. Essa experiência mostrou-lhes como obter

dados e manipulá-los para atender determinados fins, sobretudo, para produzir algo novo e

diferente do que está no livro.

Essa e outras atividades despertaram admirável interesse por parte dos alunos, que atuaram

com o rigor metodológico exigido, seguindo as comandas passo a passo e procurando sempre

finalizar com capricho suas obras.

Ao longo desses primeiros meses, os estudantes obtiveram noções preliminares sobre as

paisagens chinesas: seus principais rios, Hoang-Ho e Yang-Tsé-Kiang; planalto do Tibete; desertos;

planícies; florestas equatoriais e tropicais; por fim, algumas importantes localidades/cidades. O

desenvolvimento e ampliação dos saberes sobre a diversidade climática e, por conseguinte,

paisagística desse país, está em curso e deverá ser objeto das próximas produções dessa turma.

No cotidiano, monitorei a organização individual para os estudos, registrando como

responderam às demandas de sala de aula (prontidão, materiais e manipulação destes,

comunicação oral e escrita, concentração, interação etc.) e devolvendo essas observações a eles,

individualmente e/ou ao grupo como um todo.

Inicialmente, a turma não estava plenamente alinhada ao ritmo das aulas, todavia passadas

algumas semanas, começaram a responder melhor...

Atualmente, salvo ocorrências pontuais, os alunos vêm cumprindo o contrato firmado no

início de cada aula, também expresso por um pequeno manual, orientando, inclusive,

encaminhamentos de lições de casa, reposição de tarefas em virtude de faltas, entre outros.

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Ressalto que, em nosso primeiro encontro, surpreendi-me ao entrar na sala de aula e encontrar

todos eles com o atlas sobre a mesa! Prontos para o trabalho!

Ademais, esses aprendizes mostraram-se relativamente hábeis ao manipular o atlas

geográfico e encontrar informações diversas (consultar o índice, encontrar o mapa solicitado,

identificar elementos e localizar lugares, por exemplo).

Esse grupo, embora heterogêneo quanto ao ritmo de trabalho, revelou uma dinâmica

favorecedora, pois a condução das atividades foi constante e sem perturbações ou interrupções por

inadequação de postura. Os alunos interagiram com os temas e divertiram-se com os novos e

desafiadores procedimentos, respondendo prontamente aos pedidos que fiz.

Foi um bom começo. Parece-me que nosso curso será bastante promissor, de agora em

diante!

Mônica

Ciências

“E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e

sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e

sabereis que eu sou o Senhor.”

Ezequiel 37:6

Tal qual Deus já demonstrou com Ezequiel, reconstruir a vida a partir de ossos é uma tarefa

que deve ser divulgada. Arqueólogos e paleontólogos têm se dedicado a esse trabalho com afinco.

Neste início de ano, os alunos do sexto ano uniram-se a eles com o objetivo de retratar a história da

vida na Terra.

Em nossas primeiras aulas, procurei estabelecer as diferenças entre os estudos que faríamos

em Ciências e aqueles que ocorreriam em História. Apesar de tratarmos de uma escala de tempo

muito maior, a quantidade de detalhes a que paleontólogos e arqueólogos têm acesso diretamente,

a partir de suas evidências, é consideravelmente menor. Os alunos perceberam, já nas discussões

iniciais, que seria necessário fazer concessões e inferências com menor grau de confiabilidade para

deduzir, por exemplo, a cor dos dinossauros que estudaríamos no trimestre.

Ao término dos primeiros debates, procuramos elaborar uma linha temporal contendo os

principais acontecimentos da história da Terra. Formação do planeta, surgimento da vida, extinções

em massa, ocupação do ambiente terrestre, entre outros, foram alguns dos fatos que incluímos

nessa atividade. Além de nos aproximarmos da escala temporal, tomando maior consciência do

espectro de tempo analisado, familiarizar-se com a sequência dos acontecimentos era fundamental.

Assim, perceber que homens e dinossauros jamais conviveram, mas que podemos ser responsáveis

pela extinção de mamutes são exemplos de elaborações importantes que fizemos nessas aulas.

Em seguida, propus que os alunos produzissem perguntas que gostariam de responder ao

longo desses estudos. Nas aulas seguintes, separamos materiais e, divididos em duplas, os

estudantes pesquisaram algumas das respostas para suas perguntas. Para auxiliá-los nessa tarefa,

assistimos a um documentário; preparei, também, aulas expositivas para esmiuçarmos alguns

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conceitos que poderiam ser pertinentes à tarefa, como a influência do tamanho no modo de vida

de alguns animais extintos.

A tarefa final do trimestre será reunir as informações pesquisadas, bem como as fontes

consultadas, para produzir um relato sobre o Mesozoico, a era dominada pelos dinossauros, e o

Pleistoceno, época recente, em que viveram representantes da megafauna de mamíferos, como a

preguiça-gigante e mamutes. Nessa etapa, mais que retomar fatos, o objetivo dos alunos será

apresentar os argumentos utilizados pelos cientistas para elaborar esses “cenários”, cujos detalhes

só podemos inferir a partir dos restos e vestígios do passado.

Percebi os alunos do sexto ano bastante interessados e envolvidos ao longo do trimestre.

Apesar disso, precisaram de bastante ajuda para concentrar-se nos momentos de pesquisa,

localizando as informações relevantes e registrando a bibliografia consultada. Intensificar o foco no

trabalho será fundamental, no próximo trimestre, quando realizaremos um número maior de

atividades práticas, em que o registro será fundamental para que retomemos as observações

realizadas.

Leonardo

Matemática

Os alunos tiveram oportunidade de expor suas expectativas sobre o aprendizado de

matemática nesse novo ciclo. Nas duas primeiras semanas de aula, o foco do trabalho foi

direcionado às quatro operações fundamentais: adição, subtração, multiplicação e divisão. Para

isso, trabalhamos com uma ficha revisando os conteúdos estudados no ensino fundamental I.

Aprofundamos os significados dessas operações, utilizando-as na resolução de problemas.

Os alunos foram apresentados à organização das aulas de matemática em três frentes:

geometria, resolução de problemas e "matemática".

Discutimos qual a melhor maneira de organizar o material, necessária aos nossos encontros,

orientei-os a verificar o horário sempre que fossem organizar o material no dia anterior à aula para

que não houvesse esquecimento, especialmente nas aulas de geometria. É preciso salientar que a

falta de alguns itens exclui totalmente a possibilidade de execução das propostas desse eixo.

Esses alunos dominam a soma e a subtração. Na multiplicação, alguns ainda precisam

memorizar a tabuada para ter mais agilidade nos cálculos. Uma das informações que trabalhamos

para manipular melhor a tabuada foi a ideia de que a multiplicação é a simplificação da soma, ou

seja, se eles souberem, por exemplo, a tabuada do 5 e do 8, outros resultados podem ser alcançados

por meio da soma de valores. No sexto ano, é importante, também, que a técnica para a divisão já

esteja consolidada, por isso, exploramos três modos de resolvê-la, todos já conhecidos dos alunos,

demonstrando que é possível ter agilidade em qualquer uma das maneiras escolhidas. A discussão

foi muito produtiva e chegamos à conclusão que a divisão é resultado de subtrações sucessivas e,

novamente, verificamos que o domínio da tabuada é fundamental para que as estimativas sejam

feitas com eficácia. Os alunos participaram da aula resolvendo as questões na lousa com estratégias

variadas e trabalhando em duplas. Os que apresentaram maior dificuldade foram acompanhados

individualmente.

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Caracterizamos as sequências de múltiplos e outras a eles relacionadas. Resolvemos diversos

problemas referentes a datas e calendário e abordamos a regularidade que envolve os múltiplos de

10, 5 e 2. Estudamos que, ao aplicar o conceito para obtenção de múltiplos de um número natural,

encontramos o mínimo múltiplo comum entre dois ou mais números em problemas diversos. Assim,

os alunos também tiveram a oportunidade, de modo informal, de encontrar a intersecção de dois

conjuntos. Relacionamos as noções de “ser múltiplo de”, “ser divisível por” e “ser divisor de”,

associando-as à resolução de problemas.

Um dos problemas que trabalhamos e que deu dimensão da sequência de múltiplos

envolveu o calendário, tal como apresentado abaixo.

Introduzimos a geometria por meio do estudo de conceitos básicos de ponto, reta e plano –

fundamentais para a análise da geometria em relação às formas da natureza. Fizemos a construção

dos blocos retangulares. Nessa construção foi possível verificar a importância da precisão das

medidas angulares e de comprimento. A primeira etapa foi o desenho da figura planificada, através

da qual os alunos conseguiram verificar a quantidade de faces e seus formatos retangulares. Nesse

exercício, eles também constataram que as faces opostas precisam ter a mesma medida, caso

contrário, a planificação não pode ser fechada para dar forma ao bloco. Entre traços e recortes,

surgiu a pergunta sobre o cubo e se ele poderia ser construído de modo semelhante. Os estudantes

também questionaram se o cubo é um bloco retangular. Diante de tal questionamento, tive a

oportunidade de explicar uma propriedade importante dos quadriláteros: um quadrado é um

retângulo com os lados iguais, e para que o quadrilátero seja um retângulo, basta ter os lados

paralelos e quatro ângulos de 90º. Contamos as faces, vértices e arestas e chegamos à conclusão

que o bloco é uma figura tridimensional, não plana.

No estudo sobre China, o tema escolhido também envolveu a geometria. Estudamos o

Tangran, que é um misto de jogo e quebra-cabeça. Construímos os tangrans analisando as figuras

planas oriundas de suas subdivisões, suas proporcionalidades e dimensão artística. O Tangran

quadrado é o mais tradicional e foi o primeiro a ser construído pelo grupo do sexto ano.

Avaliei que os alunos estão ainda em fase de adaptação e tenho feito um trabalho de

orientação para que se ajustem o mais rapidamente possível à dinâmica de troca e organização de

materiais, lição de casa, autonomia na construção do conhecimento e uso da agenda. Observo, no

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geral, conquistas nessa direção. O grupo mostra-se muito receptivo às orientações e tem ótima

relação com o conhecimento matemático.

Wagner

Relatório do trabalho do Sétimo Ano

Português

Novo ano, novo tema a ser explorado. O projeto em curso intitula-se: A história das

sociedades – um estudo humanizador. Iniciamos os trabalhos, aproximando-nos da distante e

misteriosa China. Em todas as aulas, implementamos o nosso momento chinês, caracterizado pela

leitura e discussão de textos relacionados à cultura desse país. Ora leio-lhes contos, ora apresento-

lhes as crônicas da jornalista Xinran, retiradas do livro O que os chineses não comem, da editora

Companhia das Letras. São momentos muito apreciados pelos alunos, pois, por meio deles, temos

nos surpreendido com aspectos dessa cultura extremamente diferentes da brasileira.

A leitura dos dois gêneros – contos chineses e crônicas – atende a dois objetivos distintos. O

primeiro dedica-se ao estudo da estrutura narrativa. Discutimos que uma narrativa linear, aquela

que obedece a uma ordem cronológica, possui, nesta ordem, situação inicial, conflito, complicação

(clímax) e desfecho. Além daqueles apenas lidos por mim e comentados em classe, os contos “A

cidade feliz” e “Mãe Wu” foram explorados mais detidamente, a fim de que percebessem alguns

recursos linguísticos importantes em cada uma dessas partes: adjetivos, substantivos, verbos no

pretérito imperfeito e perfeito do indicativo e marcadores temporais. Já o segundo – crônicas de

Xinran − destina-se ao conhecimento de aspectos culturais da China. O estudo dos dois gêneros será

muito proveitoso para as produções de textos que farão até o final do semestre: contos de autoria

que revelem a cultura e a sociedade chinesas.

Com o mesmo intuito explicitado acima e também trabalhar a intepretação e a prática

textual, lemos e discutimos alguns provérbios chineses. Iniciamos nossa conversa sobre esse gênero

relembrando alguns desses ditos brasileiros famosos. Em seguida, partimos para os chineses. Para

realizar o exercício inicial, os alunos deveriam extrair o sentido de cada um deles e imaginar em que

contexto poderiam ser aplicados. Como modelo de prática textual, mostrei-lhes uma produção de

Millôr Fernandes, autor brasileiro conhecido por seu humor sofisticado, ao transgredir gêneros

clássicos da língua. Nesse texto, o autor reescreve alguns provérbios, propondo a eles nova

roupagem, utilizando-se de uma linguagem surpreendentemente oposta ao gênero popular,

conseguindo, com isso, efeito humorístico curioso. O trabalho do aluno era escolher um provérbio

e, como fez Millôr, brincar com a linguagem, reescrevendo-o com trato extremamente formal e

enciclopédico. Para tanto, utilizaram variados dicionários e muita criatividade. Os alunos divertiram-

se bastante com essa atividade.

Quanto ao estudo da gramática e de padrões da escrita, propus uma revisão das regras de

acentuação. Desde o ano passado, venho trabalhando esse conteúdo a fim de que se os alunos

apropriem-se dessas regras e façam uso delas em seus escritos. Fizemos uma sequência de

exercícios bastante reflexivos, o que garantiu o avanço dos aprendizes. Notei que vários alunos

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passaram a usar essas normas com maior comprometimento em suas produções. Porém, esse

assunto deve ser retomado sempre que necessário.

Para revisar a pontuação, trouxe duas pequenas fábulas, texto da ordem do narrar,

completamente sem pontuação. Os alunos deveriam reescrevê-los, organizando-os em parágrafos,

atentos à pontuação lógica (, .) e expressiva (! ? ... −). Foi possível notar que alguns ainda possuíam

dúvidas com relação à pontuação das falas de personagens com interferência do narrador. Esse

trabalho proporcionou progressos significativos a alguns estudantes.

Com relação ao estudo do substantivo, aproveitamos os contos chineses para diferenciar

substantivos e adjetivos usados para caracterizar personagens. De modo geral, não houve grandes

dificuldades para diferenciar essas classes gramaticais. O próximo passo será estudar as subclasses

do substantivo: concretos/abstratos, primitivos/derivados, próprios/comuns, simples/compostos e

coletivos.

Nas aulas de leitura deste trimestre, a fim de se aproximarem ainda mais da cultura chinesa,

os alunos têm explorado os contos dessa civilização. Nos primeiros encontros, mostraram-se

desconcentrados, buscando conversas paralelas, troca de livros, sem a exploração necessária antes

de abandonar o título escolhido. Mas, após reflexão em conjunto com o grupo sobre os objetivos

dessas atividades, houve consenso sobre quais elementos deveriam perseguir: concentração e

empenho. Depois dessa discussão, em geral, tenho observado maior comprometimento da parte

dos estudantes.

Quanto às outras aulas de Português, o grupo, apesar da agitação que lhe é peculiar, tem

demonstrado empenho para avançar nas aprendizagens. Em geral, apresenta-se empolgado com as

propostas de trabalho e amante das novidades, exigindo, constantemente, orientações e cuidados

para não perder o foco do estudo.

Joana

Inglês

Um trimestre de lições valiosas para os alunos e para mim, todos embarcados em uma

viagem para a distante China, como parte do projeto “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”. Ainda que distante geograficamente e acentuadamente diferente, a sociedade

chinesa, seus valores e cultura, tem se tornado mais próxima e encantadora a cada leitura feita! O

estudo de língua inglesa foi beneficiado com o projeto do ano, tendo realçado o seu valor de vínculo

de conhecimentos.

O objetivo do ensino de inglês no sétimo ano é a formalização gramatical e lexical, o que

garantirá maior confiança à expressão desses alunos. Visa, também, a garantir o espaço para

comparações entre tais aspectos de suas próprias vidas e cultura com outros contextos.

Utilizando uma variedade de gêneros textuais, como diálogos, textos biográficos, textos

informativos e textos ficcionais, buscamos garantir uma maior exposição a bons modelos de

emprego do idioma, aumentando o repertório linguístico e textual dos estudantes.

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Iniciamos nossos estudos com um conjunto de exercícios para retomar e esclarecer

conteúdos abordados no sexto ano. Através dessa atividade, os alunos puderam relembrar e

reconhecer o quanto tinham avançando até aquele momento.

Organizamos as atividades pedagógicas em torno do tema das moradias e de como essas

podem influenciar o cotidiano em diferentes contextos. Lemos, por exemplo, um diálogo do

material didático em que se compreende a rotina do pai do personagem Brad, que está, no

momento, em um alojamento na Antártida. Aproveitando a oportunidade do tema, conheceram

termos descritivos de lugares, como snow, river, lake, dentre outros. Além disso, compreenderam

o conceito de substantivos contáveis e incontáveis.

Um ponto gramatical importante empregado para expressar nossa realidade imediata,

estudado neste trimestre, foi o Presente Contínuo. Por meio dele, descrevemos ações que ocorrem

no momento da fala. No diálogo exposto, entre Brad e seu pai, observamos tais tipos de descrição

para inferir as regras de formação e utilização desse tempo verbal. Com o objetivo de aproximar

esse aprendizado dos alunos, convidei-os a observar seus próprios colegas e descrevê-los em ações

que estavam acontecendo no momento da aula. Expandindo as descrições, imaginaram e

registraram o que, provavelmente, os membros de sua própria família estariam fazendo naquele

momento.

Em uma das nossas aulas, reforçamos o uso do Presente Contínuo estabelecendo um circuito

de atividades em diferentes níveis de complexidade, com cinco estações para prática em pequenos

grupos: 1) leitura; 2) prática gramatical do livro didático; 3) prática gramatical em uma ficha; 4)

descrição, por escrito, de uma cena em uma lanchonete; 5) jogo de perguntas e respostas com

flashcards. Enquanto os alunos treinavam, pude acompanhá-los e esclarecer dúvidas.

Outro ponto gramatical trabalhado foi There is/are, junto de some, any e a para tratar de

itens que existem em um local. Assim, os alunos adquiriram maior precisão para descrever suas

próprias casas, empregando as formas gramaticais corretas a partir do conceito de substantivos

contáveis e incontáveis. Além disso, interagiram com os colegas, elaborando pequenas entrevistas

para descobrir sobre as casas deles.

Dando continuidade à discussão sobre as moradias, lemos dois textos informativos sobre

casas ecológicas, que possuem itens e soluções que evitam o desperdício de água e energia, tema

crucial para os dias atuais.

No momento em que selecionava textos sobre a China, notei a necessidade de organização

e disciplina entre o sétimo ano. Isso me levou a escolher o mito sobre a criação do sol, conhecido

como The Ten Suns, em Inglês. O mito trata da crença, entre os chineses antigos, de que, há muitos

anos, existiam dez sóis e, consequentemente, dez dias na semana, já que a tarefa de cada um

daqueles sóis era atravessar o céu em uma carruagem, trazendo a luz do dia para a Terra. Ocorre

que, sendo a tarefa diária uma viagem solitária, os sóis resolveram quebrar a regra e reunir-se todos

de uma vez na carruagem, causando estragos ao planeta, queimando árvores e secando rios. O pai

dos sóis, Di Jun proibiu-os de viajarem todos juntos, porém, não foi ouvido. A situação só se resolveu

quando o imperador chamou o arqueiro real para atirar suas flechas nos sóis, matando-os. A mãe

dos sóis, entretanto, pediu ao arqueiro que poupe a vida do último sol, já que a vida na Terra não

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seria possível sem ele. A leitura provocou uma sensibilização para a diferenciação entre obrigação

e diversão, o que os sóis do mito não souberam fazer. Essa falta de compromisso dos sóis prejudicou

o coletivo e a eles mesmos, o que muito nos revela sobre a tarefa de estudantes. Concluímos, em

nossas discussões sobre o conto, que esse é um desafio a ser cumprido pelo sétimo ano.

A produção linguística resultante foi a reescrita do final da história, que ocorreu em duplas

e contou com a possibilidade de uma ilustração. Compartilhamos esses textos no grupo. A

criatividade desses novos finais surpreendeu positivamente!

Os alunos do sétimo ano ainda demonstram um grau relevante de imaturidade que, em alguns

momentos, dificulta a realização das propostas. A organização dos próprios estudos permanece um

desafio para alguns, que continuam esquecendo tarefas e materiais. Percebo, em razão disso, a

necessidade de limites mais pontuais para esse grupo, com combinados que os auxiliem a

desenvolver a seriedade e o comprometimento exigidos pelo trabalho escolar.

Denise

História

“(...) O homem que eu combateria com a maior satisfação entre todos seria um

daqueles que se vangloriam de valer por três espartanos. Os espartanos não são

inferiores a homem algum em combate, e juntos eles são os mais valentes de todos os

homens. De fato, sendo livres eles não são livres em tudo; eles têm um senhor – a lei

– mais respeitada pelos espartanos que tu por teus súditos. Eles cumprirão com

certeza todas as suas ordens, e suas ordens são sempre as mesmas: não fugir do

campo de batalha diante de qualquer número de inimigos, mas permanecer firmes em

seus postos e neles vencer ou morrer” - palavras atribuídas a Leônidas, rei espartano,

em um diálogo com Xerxes, rei persa, por ocasião da Batalha das Termópilas (480

a.C.), mencionadas pelo historiador grego Heródoto (484-425 a.C.)

Retomamos, nesta nova etapa, os estudos realizados até o final do ano passado, a respeito

da Grécia Clássica. Naquele momento, estudamos o modelo grego proposto por Atenas e nos

centramos no modo como os atenienses dos séculos V-IV a.C. viviam, suas leis, política (centrada na

democracia) e a mitologia grega, em geral. Agora, revisitando esses estudos, propusemos

comparações com o modo de vida (no mesmo período) dos gregos de Esparta, cidade rival de Atenas

ao longo da maior parte da história grega. Começamos com uma ficha que permitia a retomada do

que já havíamos estudado, combinada a dados de localização temporal, espacial e do modo de vida

dos espartanos. Naturalmente, o texto acabou levando a uma discussão a respeito da famosa

Batalha das Termópilas, ocorrida em 480 a.C., opondo gregos e os invasores persas: os alunos

perguntavam a respeito da veracidade da narrativa presente num filme muito popular há quase dez

anos - “300”, de Zack Snyder, baseado nos quadrinhos homônimos de Frank Miller. Originalmente,

o planejamento sobre os gregos tinha como foco a comparação de Atenas e Esparta como dois

modelos para organizarmos uma sociedade; este foco se manteve, mas a referência ao filme abriu

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um interessante debate paralelo: nos filmes “históricos”, como se equilibram fatos, suas

interpretações e os elementos ficcionais?

A pergunta acima, com respostas ainda muito complexas para serem abordadas diretamente

com o grupo permitiu, porém, que todos se empolgassem com o material que já estava montado,

envolvendo-se no debate. Começamos contando histórias de como os espartanos organizavam sua

sociedade em torno do exército, utilizando uma ficha com diversos excertos de documentos gregos

que falavam de tudo um pouco - democracia, escravidão, lugar e funções das mulheres, acordos e

desacordos entre cidades gregas e das mesmas com estrangeiros etc. Porém, os trechos que

mencionavam os espartanos foram os mais “populares”: desde o famoso descarte dos recém-

nascidos considerados defeituosos, passando pela agogé - o rigoroso treinamento a que eram

submetidos os meninos de sete anos - , até alguns detalhes das batalha contra os persas, tudo foi

objeto de instigante questionamento. Como havia planejado exibir alguns trechos-chave do filme

propus, na semana anterior à sessão, a leitura de uma reportagem da revista “Superinteressante”,

publicada à época de seu lançamento, explorando as correspondências entre trechos do filme e os

fatos que os basearam. Ao final, os alunos produziram frutíferos comentários sobre o que assistiram,

muitos bem pontuados pelos debates preparatórios que realizamos.

Depois do frenesi causado pelos gregos, apontamos as atenções para a Ásia, especificamente

para a China, primeiro tema do projeto anual de nossa escola, “Formação das sociedades - um

estudo humanizador”. Enquanto os gregos têm muito a nos dizer a respeito da identidade dos

ocidentais, estudar os chineses, no mesmo período é uma forma interessantíssima de propor

comparações e aproximar os alunos um pouco mais de um povo e uma cultura aparentemente tão

distantes. Escolhi fazer um percurso semelhante ao adotado anteriormente: num primeiro

momento, localização espacial e temporal, principais recursos naturais e dados da paisagem; em

seguida, um conjunto de textos informativos explicando aspectos básicos da composição da

população chinesa por volta do século V a. C. e de suas características políticas e econômicas, com

a formação das primeiras dinastias imperiais. Os alunos perceberam rapidamente que a ideia de o

imperador chinês ser um enviado dos deuses os diferenciava dos gregos no mesmo período mas, ao

mesmo tempo, também observaram que mandarins, no Oriente, e aristocratas, no Ocidente, eram

bastante semelhantes em suas características e funções na sociedade. Montamos uma pirâmide

social a partir do texto, para destacar seus elementos e realizamos, em seguida, a leitura de um

material sobre o cotidiano dos chineses na Antiguidade: suas invenções, as formas de vestimenta,

a repressão às mulheres, os hábitos alimentares. A partir dos exercícios propostos a respeito,

acredito que está nascendo uma interessante produção comparativa entre as sociedades grega e

chinesa antigas, com desdobramentos a serem explorados nas próximas semanas.

Com relação ao grupo, tudo se resumiu, neste primeiro momento do ano, em bem

administrar e ajudar a desenvolver os recursos há muito conhecidos: os alunos se mostram criativos,

espontâneos, questionadores, bastante unidos quando num debate e desejosos de “chegar a algum

lugar”, trazer informações ou argumentar para impressionar o interlocutor (ou o professor). A

mesma energia, contudo, permitiu desvios, conversas fora de hora e assuntos paralelos que,

embora com menor impacto do que no ano anterior, ainda são objeto de necessárias intervenções.

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Os registros escritos de todos (com as devidas variações), neste momento, mostram-se mais

sofisticados do que anteriormente, e há maior prontidão do grupo como um todo na seleção de

materiais, na realização das leituras e na produção das lições, indícios de que o grupo vem reunindo

melhores condições para aprendizados e produções mais consistentes.

João

Geografia

As atividades introdutórias aos estudos sobre a China contaram com a exibição de filmes e a

exploração de mapas temáticos. Praticamos a leitura conjunta dos mapas, sempre associando a

localização das cidades às características naturais da região, com olhar especial sobre os aspectos

hidrográficos, geomorfológicos, climáticos e vegetacionais. Inicialmente, procurei trazer para o

grupo aspectos históricos sobre o povoamento, ressaltando a importância dos rios Hoang-Ho e

Yang-Tsé-Kiang na construção da civilização chinesa.

O filme sobre a muralha da China revelou preciosidades históricas e naturais a esses

estudantes, que registraram e compartilharam suas impressões e descobertas:

“... foi feita com blocos de granito, mas no deserto, utilizaram tijolos de areia, cascalho, barro e

argila vermelha. O trecho inicial está sobre montanhas cobertas por florestas; nesse trecho o

muro atinge nove metros de altura, já no deserto não passa de cinco.”

“... sua função era proteger... ‘ao sul, as terras são nossas, ao norte, são deles’ (Imperador Qin)”

Depois dessa grandiosa obra humana, os alunos revisitaram e ampliaram a história geológica

dos Himalaias. Nessa atividade, mobilizaram conhecimentos prévios, sobretudo, recuperados das

aulas de ciências no ano passado. Diante disso, foi possível aprofundar e ampliar conhecimentos a

partir da exploração cartográfica e debater as hipóteses levantadas acerca de outros acidentes

geográficos do planeta. Outros desdobramentos ocorreram face à necessidade de desbravar a

notável diversidade natural/paisagística desse país. Encerramos essa etapa do trabalho

confeccionando e interpretando um mapa síntese, onde foram representados os aspectos

abordados nas aulas. Para arrematar, realizamos uma “chamada oral” de correlação de mapas: um

por um, os alunos foram identificando os porquês de uma determinada paisagem, conjugando os

fatores naturais envolvidos.

Essa turma tem um admirável gosto pelas descobertas: gostam de exercícios desafiadores,

empolgam-se diante das propostas de trabalho, apreciam uma boa discussão e não desistem

facilmente de suas próprias ideias – precisam ser convencidos! O panorama que acabo de descrever

representa um terreno bastante fértil para a construção de conhecimentos. Todavia, essa qualidade

vem perdendo espaço para os bate-papos entre boa parte desses estudantes, que tentam desviar

a atenção dos colegas com comentários e brincadeiras impertinentes à aula.

Perante esse quadro, foram feitos alguns ajustes na distribuição espacial das

carteiras/lugares na classe, (re)apresentei-lhes o manual de organização para os estudos

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(geralmente, usado com o sexto ano) e renovamos nosso contrato, visando reequilibrar a dinâmica

das aulas, tanto em relação às condutas dispersivas, quanto à falta de materiais e não cumprimento

de lições de casa.

Num desses episódios de dispersão, tivemos uma conversa, comuniquei-lhes que tinha uma

porção de ideias de atividades interessantes para que eles desenvolvessem, mas estava apreensiva

quanto à concretização desse plano, pois as posturas, em geral, ainda estavam aquém de um

exercício que exigiria rigor cientifico. Enfim, notei que ficaram tocados... Desde então, nossas aulas

foram mais produtivas. Recentemente, lendo seus relatórios semanais, chamou-me a atenção a

seguinte frase:

“... se eu tivesse trazido meu material, faria um mapa da China bem complexo; isso me serviu de

lição para nunca esquecer meu material.”

No cotidiano, a turma ainda requer eventuais intervenções, mas já percebi que precisam

estar envolvidos num problema comum, que comprometa cada um de um modo especial!

Mônica

Ciências

“Nada em Biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução.”

Theodosius Dobzhansky

O veneziano Marco Polo foi um dos primeiros europeus a explorar a Ásia e divulgar seus

achados no velho continente. Ao chegar ao Oriente, encontrou espécies de plantas e animais que

se assemelhavam àquelas que conhecia, mas traziam diferenças perceptíveis, como tamanho,

coloração, tipo de alimentação etc. Darwin e Wallace, britânicos, viveram experiências semelhantes,

mas diferenciaram-se por tentar entender os fatores que produziram essas diferenças. Em 1858,

apresentaram suas ideias ao mundo e revolucionaram as Ciências Naturais. Tal qual os viajantes

europeus, os alunos do sétimo ano tiveram como tarefa, neste início de ano, conhecer parte da

diversidade biológica e a metodologia utilizada, atualmente, para catalogar, classificar e estudar a

imensa variedade de seres vivos conhecidos.

Num primeiro momento, aproveitamos o projeto do ano, de estudos de sociedades, e o foco

na China para investigar a coleção de espécies oriundas do “Império do Meio”. Ao observar alguns

padrões de distribuição, como a ocorrência quase exclusiva de grandes mamíferos em ambientes

mais abertos, e a prevalência de animais herbívoros, o grupo iniciou a aproximação com o trabalho

dos naturalistas ingleses, que também observaram esses padrões em suas pesquisas. Conhecemos

parte da geografia e clima da China, relacionando-os com os seres vivos que existiam em cada

região.

A partir dessa primeira aproximação, introduzi os estudos de classificação, em que

procuraríamos organizar os conhecimentos sobre seres vivos. Nessas aulas, discutimos o conceito

de critério e como utilizá-lo para produzir categorias relevantes em nossas classificações. Em uma

de nossas discussões, os alunos perceberam existiriam critérios melhores que outros e que

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preferiríamos aqueles que produzissem o mesmo resultado, independentemente de quem fizesse

a separação. A isso, chamamos objetividade.

A última etapa do trabalho consistirá em compreender como biólogos realizam suas

classificações atualmente. Desde os trabalhos de Darwin e Wallace, o critério fundamental para essa

tarefa tem sido a ancestralidade comum. A partir da análise de algumas plantas da Escola,

identificaremos os caracteres a serem analisados e elaboraremos nossas hipóteses evolutivas,

apresentando as novas características e adaptações em representações gráficas chamadas

cladogramas.

O grupo do sétimo ano tem se mostrado bastante envolvido nas discussões. É bastante

comum fazerem perguntas e apresentarem suas hipóteses para explicar os fatos que analisamos.

Houve, contudo, questões de desorganização, tanto no início da aula, quanto na finalização de

tarefas e no uso dos materiais. Nas próximas etapas, será fundamental que o grupo incorpore

procedimentos de preparação para o trabalho de modo que esses alunos possam, de fato,

desenvolver todas as suas capacidades.

Leonardo

Matemática

Iniciamos o ano letivo com a retomada dos conhecimentos prévios dos alunos, por meio de

problemas com quatro operações, frações e suas operações e porcentagem. Corrigimos os

exercícios coletivamente, discutindo as respostas e retomando conceitos que os alunos não

lembravam. Nessa abordagem, falamos mais intensamente sobre os modos de resolver uma divisão,

analisando as diferentes técnicas utilizadas para esse objetivo, escolhendo a mais eficiente e rápida.

Relembrei os métodos para os alunos que tiveram dificuldade em resolver a divisão. Os alunos que

já tem o procedimento consolidado também ajudaram os demais no esclarecimento das dúvidas,

solucionando resolvendo exercícios na lousa ou contribuindo oralmente.

Estudamos outros conceitos envolvendo frações: equivalência, adição e subtração, divisão e

multiplicação. Utilizamos desenhos para representar as operações e até generalizar até a obtenção

da regra e compreensão do seu uso. Discutimos a diferença entre as operações com números

naturais e com frações.

Aprofundamos os estudos dos números negativos trabalhando com problemas mais

complexos, que trouxeram para a discussão outros significados. Situações como no caso de retirar

um débito de R$ 10,00, de forma que - (- 10) = + 10 = 10. Outras situações em que a representação

matemática necessitava do uso dos parênteses foram abordadas, como por exemplo: 12 – (+4) ou

– 12 + (- 4). Outro fator que auxiliou a absorção do conceito foi o jogo de perdas e ganhos, no qual

os alunos aplicavam os conceitos e as técnicas aprendidas.

No estudo da multiplicação e divisão de decimais, justificamos a técnica pela propriedade da

escrita decimal, multiplicação e divisão por números de base 10. No entanto, surgiu entre os alunos

a dúvida sobre por que a divisão de dois números pequenos 3,6 : 0,6 e de dois números “grandes”

3600 : 600 têm o mesmo resultado. A partir disso, passei da representação do algoritmo para um

problema monetário. Por exemplo: “Quantas vezes R$ 0,60 cabem em R$ 3,60 e quantas vezes R$

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600,00 cabem em R$ 3600,00?”. Desse modo, consegui esclarecer a questão e os alunos

entenderam a similaridade.

Resolvemos também uma série de problemas comuns ao nosso cotidiano, para os quais

foram discutidas várias estratégias de resolução para se chegar ao mesmo resultado. Depois,

elegemos o modo mais simples e prático de solucioná-los. Ainda sobre o mesmo assunto, discutimos

um modelo que foi dividido em quatro etapas: preparação, compreensão do problema,

estabelecimento e aplicação de um plano e revisão. Discutimos e refletimos como cada uma das

etapas podem auxiliar na construção de um plano para solucionar o desafio apresentado.

Inicialmente, os alunos mostraram-se um pouco resistentes, afirmando que a maneira pessoal a que

estavam acostumados era mais prática e rápida. Depois de esmiuçarmos o texto e aplicarmos as

etapas em alguns problemas, a maioria ficou convencida que a pressa associada à falta de estratégia

para abordagem de um problema pode conduzir ao erro e, pior ainda, atrapalhar o processo para

se alcançar o resultado correto.

Ainda em relação às frações e decimais, estudamos instrumentos e unidades de medidas.

Exploramos esse universo levando em consideração os conhecimentos prévios gerais. Abordamos

o significado de medir, bem como as unidades de medidas mais usadas. Uma atividade bastante

desafiadora foi a análise de um caso onde a medida foi feita indiretamente: a distância entre a Terra

e a Lua, em que, obviamente, fica impossível a utilização dos instrumentos tradicionais para se

medir comprimento. Sendo assim, o uso de um raio laser e a velocidade da luz precisam ser levadas

em consideração para que o cálculo se concretize.

Em geometria, noções matemáticas foram construídas a partir da linguagem informal dos

alunos, por exemplo, dizer “ângulos iguais” é o mesmo que dizer “ângulos congruentes”. Também,

definimos retas paralelas e retas perpendiculares, além de triângulos quanto às suas medidas de

lados e medidas angulares. Outro estudo interessante envolvendo geometria foi a utilização da

narrativa de que a propriedade que caracteriza a circunferência foi desenvolvida com base em um

relato verdadeiro sobre uma comunidade africana. Há muitos séculos, os pescadores de

Moçambique empregavam a defumação para conservar o pescado: faziam uma fogueira na praia e

espetavam cada peixe em uma vara fincada na areia. O fogo desidrata os peixes, que demoram mais

para estragar. Essa prática requer certos cuidados. Os peixes deveriam estar à mesma distância da

fogueira. Para posicioná-los, os nativos cravavam uma estaca na areia, onde a fogueira seria acesa,

e amarravam nela uma corda. Na outra extremidade da corda, amarravam outra estaca e com esta

desenhavam uma circunferência. A partir desse exemplo, pudemos observar os conceitos de raio,

diametro, centro e corda da circunferência.

No estudo de China, o tema também foi a geometria. Estudamos o Tangran, um misto de

jogo e quebra-cabeça. Construímos os tangrans analisando as figuras planas oriundas das suas

subdivisões, suas proporcionalidades e dimensões artísticas. O Tangran quadrado é o mais

tradicional, foi o primeiro a ser construído. Analisamos, também, outros formatos de tangran, como

o oval, o retangular e o circular. Utilizamos o livro “Mon Tangram Magnétique”, que nos deu

possibilidade de construirmos diversas formas diferentes.

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O grupo do sétimo ano continua lidando muito bem com os novos desafios propostos, pois

construíram uma base sólida dos conhecimentos matemáticos no sexto ano. Porém, esses alunos

precisam controlar a ansiedade e o imediatismo que surgem em alguns momentos da resolução de

problemas mais complexos. Tenho procurado oferecer-lhes orientações para que se desenvolvam

nesse sentido.

Wagner

Relatório do trabalho do Oitavo Ano

Português

Tecer um caminho de trabalho na Ágora é uma tarefa bastante desafiadora. As possibilidades

são muitas e os livros, inesgotáveis. Pensar o trabalho específico da área de Língua Portuguesa, em

todas as suas habilidades — leitura, produção textual, oralidade, estudo da norma culta, literatura

—, e articulá-lo ao projeto da escola exigiu muita reflexão, suscitou dúvidas e tentativas, num

enveredar por jornadas repletas de cabanas onde as ideias amadurecem.

Nestes primeiros meses de Ágora, iniciei o nosso trabalho com a preocupação de traçar um

perfil de aluno leitor. Para isso, propus que fizessem uma lista dos livros lidos nos últimos anos,

descortinando repertórios, livros preferidos e preteridos, motivando, com esse inventário, diálogos

e uma primeira aproximação, levando os alunos a refletirem sobre o que leem.

Minha segunda preocupação foi de convidá-los a pensar sobre a linguagem e o estudo da

língua. Nesse sentido, trabalhamos alguns conceitos de Linguagem, Língua e Fala, com o objetivo

de ensinar ao aluno que a linguagem, como capacidade inerente ao ser humano, é um instrumento

do pensamento que instaura o conhecimento, sendo assim, universal, já que todos os seres

humanos nascem com essa capacidade (a linguagem) de desenvolver a língua. A segunda definição

de linguagem trabalhada — que é a mais utilizada ao se referir a esse termo — foi a de veículo de

comunicação social, ou seja, característica humana que instaura a sociedade. Nessa definição, a

linguagem seria sinônimo de língua por ser através dela que nos comunicamos e construímos nossa

identidade face à inescapável experiência de alteridade, ao inescapável ser social que somos.

Em sala, estudamos a língua para além de uma expressão verbal. Busquei acentuar que,

através da língua, estabelecemos a nossa subjetividade e somos capazes de simbolizar o mundo.

Mostrei também que, do ponto de vista linguístico, a língua é a concretização da linguagem em um

grupo social específico. Quanto à fala e à escrita, vimos que se trata de uma atualização da língua a

partir de um sujeito, o que torna ambas as modalidades individuais. Em seguida, trabalhamos as

especificidades da modalidade oral e da modalidade escrita para, então, adentrarmos o importante

caminho das Variações Linguísticas. Nesse campo, motivei uma reflexão sobre os usos da Língua

“Culta” — ou norma urbana de prestígio — e os da Língua Coloquial.

A temática Variações Linguísticas rendeu bons debates em sala de aula. Após conversarmos

sobre os diferentes usos da língua e articulá-los com as modalidades da fala e da escrita, preocupei-

me em relativizar a ideia de que, no Brasil, existe uma unidade linguística, demonstrando a sua

complexidade. Preocupei-me em esclarecer que a língua culta é um uso possível, uma variação da

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língua, existindo uma diversidade de usos possíveis, assim como há uma multiplicidade de sotaques

possíveis, nenhum mais correto que o outro. Existe o mais prestigiado e o menos prestigiado, como

reflexo da desigualdade social no Brasil, preconceito linguístico espelhando nitidamente o

preconceito e exclusão sociais:

“O substantivo “língua” é, sempre, coletivo, porque serve como rótulo unificador para uma

multidão de coisas variadas, variáveis e variantes...

[...] É preciso que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura

abandonem esse mito da “unidade” do português brasileiro e passem a reconhecer a

verdadeira diversidade linguística de nosso país. [...] Não se trata simplesmente, como deve

ficar claro, de aceitar a variedade linguística estigmatizada falada pelos alunos e ficar só nisso

– essa é uma acusação ridícula dirigida aos linguistas por aqueles que não conseguem ou não

querem ler com a devida atenção as coisas que nós escrevemos. A função da escola é, em

todo e qualquer campo de conhecimento, levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que

ela não sabe e, no caso específico da língua, conhecer e dominar, antes de mais nada, a

leitura e a escrita e, junto com elas, outras formas de falar e de escrever, outras variedades

de língua, outros registros. [...] desejo ardentemente que “qualquer menino do povo” possa

entender Drummond, adorar Drummond, odiar Drummond, superar Drummond”. Só não

quero que isso seja feito por meio de uma pedagogia repressora, autoritária, baseada numa

concepção de língua arcaica, que trate a heterogeneidade linguística como um “mal social”

que deve ser extirpado a todo custo.”1

Para finalizar essa temática, propus uma atividade de leitura do texto “Os Novos Códigos”

de Lya Luft, o qual despertou debate quanto às modificações no uso da língua diante das novas

tecnologias. A esse respeito, cada aluno produziu um pequeno texto registrando seu

posicionamento no caderno.

Após o trabalho sobre as Variações Linguísticas, propus pensarmos o que é a Gramática? Por

que estudamos Gramática na escola? Diante dessas questões, levei para a sala de aula as ideias de

Celso Pedro Luft — gramático, filólogo e linguista — que diferencia Gramática Natural e Gramática

Normativa:

“Gramática natural porque é da natureza da língua, como é da natureza humana, aprender

sistemas de regras para sistematizar comportamentos; aprendizado que independe de

ensino: a vida o propicia ‘ao natural’.”2

As aulas de gramática normativa iniciaram-se com uma revisão das regras de acentuação

gráfica, o que retomou partes da Fonética. Por meio de fichas, arejei aos alunos do Oitavo Ano essas

1 BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2009 – pp. 32 e 34. 2 LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. Porto Alegre: L&PM, 1985.

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regras, segundo o Novo Acordo Ortográfico, em vigor desde 2009. Propus muitos exercícios de

fixação e, nos relatórios, fui rigorosa sobretudo com a acentuação correta das palavras.

Adiante, entrei propriamente em Morfologia, fazendo uma revisão das classes gramaticais

através de fichas contendo explicações e exercícios corrigidos em sala. Para investigar o aprendizado

dos alunos nesse âmbito, propus duas fichas de exercícios — avaliação —, as quais corrigi em casa,

tecendo um diagnóstico da sala. Com a correção dessas fichas, percebi que há muito a ser lembrado

das classes gramaticais. No momento, estamos trabalhando os pronomes.

Quanto às aulas de leitura, muitas delas, neste trimestre, foram orientadas. Levei contos

chineses, como “O Espelho”, Mãe Wu”, “Ploft”, entre outros, e indiquei livros e a pasta onde os

alunos os encontrariam. Algumas leituras foram realizadas em conjunto, outras eu li para a turma,

outras foram individuais. Familiarizados com alguns contos chineses, propus uma atividade de

exposição na qual os alunos, em duplas ou trios, escolhiam um deles e o transformariam em história

em quadrinhos. Os contos escolhidos foram: “Kuafu persegue o sol”; “Mãe Wu”; “Tang, o caçador”

e Doce Primavera”. Fizemos uma exposição, na sala, com a história em quadrinhos de cada conto.

Também trabalhamos o poema de Manuel Bandeira: “Poema tirado de uma notícia de

jornal”. Através de uma atividade de leitura desse texto, discutimos a diferença entre apreensão

textual e compreensão textual, texto literário e texto não literário, e, por fim, os alunos

transformaram o poema em uma reportagem de jornal — linguagem não literária — e apresentaram

em sala.

Ainda sobre as aulas de leitura, buscando articulá-las com o projeto da escola, trabalhamos

alguns provérbios chineses. Através de uma ficha, estudamos o conceito de provérbios,

comparamos provérbios brasileiros com chineses e praticamos a reescrita de alguns, ou seja,

explicamo-los, desentranhando a moral de cada um.

Após trabalharmos os provérbios, iniciei a leitura das crônicas da jornalista chinesa Xinran,

retiradas do livro “O que os chineses não comem”. A partir delas, abordamos aspectos da sociedade

chinesa. Nas últimas aulas de leitura, solicitei aos alunos que fizessem diários de leitura dos textos

lidos, ou seja, que escrevessem ideias, associações, informações que chamaram a atenção deles

nesses textos. Pedi-lhes que as registrassem no final do caderno.

Quanto à produção textual, o principal acompanhamento, nestes primeiros meses, deu-se

através dos relatórios. No geral, percebo empenho e criatividade, mas, ao mesmo tempo, houve

muitos atrasos na entrega e considerável oscilação na qualidade da escrita, o que demonstra que

há muito trabalho pela frente, em específico na modalidade escrita da língua.

De modo geral, o grupo tem se apresentado receptivo diante das propostas de trabalho,

executando-as com empenho e regularidade.

Deyse

Inglês

Um trimestre de lições valiosas para os alunos e para mim, todos embarcados em uma

viagem para a distante China, como parte do projeto “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”. Ainda que distante geograficamente e acentuadamente diferente, a sociedade

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chinesa, seus valores e cultura, tem se tornado mais próxima e encantadora a cada leitura feita! O

estudo de língua inglesa foi beneficiado com o projeto do ano, tendo realçado o seu valor de vínculo

de conhecimentos.

O curso do oitavo ano tem um duplo objetivo: o desenvolvimento de fluência oral e leitora,

por um lado, e a sofisticação das produções textuais, por outro. Para contribuir nesse sentido,

ocorrem mais inserções de textos autênticos, ou seja, textos complexos, produzidos sem o intuito

de ensinar inglês, por se tratarem de bons modelos para o repertoriamento que está em processo.

A escrita processual, isto é, prática de produção textual em etapas, com variadas versões para os

textos, também ocorre com maior intensidade. Ainda assim, os elementos gramaticais e lexicais

continuam presentes, para dar apoio à precisão e eficiência na comunicação de ideias e

informações.

Inauguramos o trimestre com um levantamento sobre o que foi aprendido no ano passado,

com atividades de leitura, escrita, vocabulário e gramática centradas no uso do Passado Simples.

Nessa atividade, os alunos leram e escreveram uma narrativa sobre como conheceram um amigo.

Compartilharam versões iniciais entre os colegas e leram para o grupo suas versões finalizadas.

Continuando as tarefas do trimestre, discutimos atividades e práticas de rotina e de tempo

livre. Assim, os alunos compararam suas próprias rotinas e hobbies às dos colegas e puderam

informar-se, no material didático, sobre as atividades de diferentes estudantes, um australiano e

uma afegã, retomando o Presente Simples e os advérbios de frequência.

Na sequência, estudaram os verbos like, hate e love seguidos de verbos que apresentam o

sufixo –ing, nominalizando tais verbos. Munidos de tal estrutura, relataram e comparam suas

preferências (e a falta delas) por determinadas atividades.

Por meio da leitura sobre festivais no Brasil e no mundo, como o carnaval de Notting Hill, na

Inglaterra, e o Sing Sing Festival, na Papua Nova Guiné, tiveram a oportunidade de conhecer e

empregar vocabulário sobre performances artísticas.

Com relação ao projeto “A formação das sociedades, um estudo humanizador”, o oitavo ano

leu e reescreveu o conto chinês “The Runaway Spirit of Qian Niang”, em que o real e o sobrenatural

se intercalam. O conto, datado da época da dinastia Tang (618—907), em que surgiram os primeiros

textos escritos por autores conhecidos, narra a saga de Qian Niang, uma bela mulher apaixonada

por Wang Zhou desde menina. Seu pai Zhang Yi promete sua mão a um homem rico, casamento

mais promissor para o futuro da família, ignorando seu amor de infância. Qian decide, então, fugir

para viver em outra cidade com seu amado, mas, depois de anos, sente falta da família que deixou

para trás. O casal retorna para sua cidade natal e Wang Zhou, adiantando-se para pedir perdão a

Zhang Yi por ter levado sua filha para longe, é surpreendido com a notícia de que Qian nunca havia

deixado a casa dos pais: ela esteve enferma, na cama, durante todos aqueles anos. Descobrem,

então, que o corpo e o espírito de Qian haviam se separado, estando seu corpo na casa dos pais e

seu espírito, ao lado de Wang Zhou.

A história surpreendeu a turma, que passou a conhecer uma tradição entre os chineses

antigos, que acreditavam ser possível a separação material entre corpo e espírito. Além disso,

realizaram a reescrita do conto, com suas próprias palavras, alterando-lhe o desfecho.

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O grupo do oitavo ano demonstrou gosto pelos desafios propostos, cujas exigências

estabelecem um longo caminho a ser percorrido, de bastante trabalho, aprofundamento e

amadurecimento, necessários a esse grupo. Nesse sentido, esperam-se maior concentração,

empenho e autoconhecimento por parte desses estudantes, garantindo que precisão e criatividade

se conciliem e tornem mais concretos seus avanços.

Denise

História

Começamos o ano retomando os estudos anteriores sobre a Alta Idade Média na Europa.

Nos recordamos de muitas coisas e, por fim, do grande medo que as pessoas tinham, à época, do

famoso Ano Mil. Os milenaristas - aqueles que acreditavam que o Juízo Final chegaria nessa data -

cultivaram rituais, especulações, justificativas, predições e temores variados, que circulavam em

meio aos povos cristãos com uma velocidade espantosa, sempre com o tom do velho adágio, “quem

conta um conto aumenta um ponto”. A tônica era o fim dos tempos, o momento em que Deus

desfaria tudo o que os humanos conheciam. Enquanto reencontrávamos esse assunto, e falávamos

a respeito do medo experimentado pelos europeus e por eles disseminado para os povos vizinhos,

apresentei aos alunos uma material muito interessante, recém-incorporado ao acervo da escola, a

“World History Timeline”: um cartaz que traz um esquema de linha do tempo das sociedades

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humanas cruzando dados de ocupação espacial. Esse material, apresentado aos pais dos alunos do

oitavo ano em nossa Reunião de Pais, traz uma forma inovadora de se considerar o conjunto das

realizações civilizacionais humanas, despertando um sem-número de novas questões. E, o que

mostrei aos alunos como um pontapé inicial para o ano, até de forma tímida, corriqueira, acabou se

tornando um elemento estratégico para o trabalho ao longo do trimestre.

Entre outras percepções, os alunos chegaram a ideias como: “o império chinês durou muito

mais do que qualquer outro”, “não sabia que os bizantinos haviam dominado uma região tão

grande”, “o que é essa mancha maior… impérios islâmicos?”, “cadê Portugal e o Brasil?”, “o império

romano foi muito mais curto do que eu pensava” e, por fim, “nossa, essas faixas querem dizer que

os europeus sempre foram muito divididos?”. Como pudemos ver, as hipóteses e novos olhares

foram muitos. E a reflexão sobre as divisões europeias, já começada no ano anterior, será retomada

em breve, sob novo prisma (os acontecimentos que levaram das Cruzadas ao Renascimento,

momento em que o medo acima mencionado é convertido em um outro tipo de poder, inspirado

por uma revolução econômica). Neste trimestre, portanto, nos dedicamos a explorar o que ocorria

em outras partes do mundo: quem eram, o que faziam e como viviam bizantinos, muçulmanos e

chineses enquanto a Europa encontrava-se no auge da Idade Média?

Numa primeira etapa, os alunos leram um conjunto de fichas, realizando exercícios, a

respeito do Império Bizantino: surpreenderam-se pela proximidade com a Europa e pelo fato de

terem adotado a religião cristã, embora em outra forma (a ortodoxa) que, como vimos, expressava-

se através de rituais diferentes dos cristãos da Europa, diferindo também nas referências

arquitetônicas, visuais e culturais (destaque para o fato de os bizantinos serem grandes mercadores,

portanto, travarem contatos com inúmeros povos e conhecimentos, enquanto a agricultura feudal

ainda era a atividade primária de uma Europa mais fechada). Os bizantinos estavam entre a Europa

e a Ásia e dominaram um vasto território até que Maomé, um mercador árabe do século VI, liderou

um movimento religioso que unificou diversas tribos de mercadores que circulavam ao sul do

território bizantino, em torno de uma mensagem centrada em um único Deus, Alá. Ampliando os

estudos realizados sobre os bizantinos, nos debruçamos sobre dados biográficos a respeito de

Maomé, textos informativos sobre a situação dos árabes no período, crônicas sobre como Maomé

unificou povos dispersos ao redor de um único princípio divino e histórias da tradição islâmica, bem

como seu vocabulário (o que nos levou a um conjunto interessante de exercícios, que incorporaram

até mesmo uma espécie de “quiz” sobre palavras da língua portuguesa incorporadas do árabe). Ao

final, debatemos o modo como a religião islâmica se espalhou rapidamente após a morte de seu

fundador, levando com ela uma outra dinâmica de trocas culturais, de mercadorias e ampliando

aquele medo dos europeus do fim dos tempos ou de um mundo em que os "ímpios" (os

muçulmanos) reinassem.

Nem preciso dizer que as religiões deram o tom deste primeiro trimestre, em um grupo que

me surpreendeu pelo interesse demonstrado no assunto. Às contradições evidentes que surgiram

enquanto refletíamos sobre judeus, cristãos e muçulmanos de ontem e hoje, com origens

semelhantes mas tão diferentes entre si, opusemos um outro cenário, muito diferente: a China da

dinastia Tang (618-907), período-chave discutido neste trimestre, auge do feudalismo na Europa,

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da expansão bizantina e do aparecimento do fenômeno islâmico e de sua expansão. A China - peça

importante em nosso projeto coletivo anual, “Formação das sociedades - um estudo humanizador”

- encaixou-se perfeitamente no caminho que o oitavo ano vinha traçando. Em primeiro lugar, pelo

contraste, em todas as instâncias, com as correspondentes sociedades ocidentais do período. Tudo

era diferente, das instituições à organização política, do fechamento para outros povos à forma de

ocupar o território, o que levou o grupo a estabelecer comparações, o grande tema deste trimestre

em nossas aulas. Em segundo lugar, e foi este o ponto que chamou maior atenção dos alunos, por

sua complexa e rica herança religiosa, tão diferente do modelo monoteísta. Mencionamos

rapidamente, em sala, o taoismo e o confucionismo, abrindo caminho para uma ênfase maior ao

principal movimento filosófico e religioso da dinastia Tang, a importação do budismo proveniente

da Índia. A biografia de Sidharta Gautama, que a tradição coloca como um dos budas (“iluminados”)

e seus ensinamentos, renderam muita discussão, estranhamento e fascínio, bem como textos

bastante interessantes dos alunos, em que tinham de comparar as sociedades estudadas e as

religiões que as compunham esboçando uma história ficcional, textos que ampliaremos e

desenvolveremos nas próximas semanas.

O grupo percebeu, por conta do interesse de todos no tópico religiões, que o assunto, assaz

complexo, demanda tempo, estudo e reflexão para ser melhor compreendido. Em relatórios

anteriores, fiz referência à dificuldade que este grupo apresentava para se relacionar com o

conhecimento e desejar aprofundamento, mencionando ainda que os alunos poderiam tirar melhor

proveito de seu número reduzido para arquitetar projetos coletivos com maior agilidade e

complexidade: esses traços permanecem, embora com importantes alterações. Aos poucos, o grupo

vem produzindo textos e exercícios com respostas mais aprofundadas, adequadas à faixa etária,

mas ainda há muito por fazer, inclusive para equilibrar melhor os trabalhos, destacando o modo

como cada um pode contribuir melhor para o conjunto. Em termos gerais, percebi que os alunos

inspiraram-se verdadeiramente por algumas das histórias e exemplos de conduta das tradições

religiosas que estudamos, o que pode nos dar bons elementos para promover mudanças

significativas no proceder de cada um e na identidade do grupo.

João

Geografia

As atividades introdutórias aos estudos de China contaram com a exibição de filmes e a

exploração de mapas temáticos. Praticamos a leitura conjunta dos mapas, sempre associando a

localização das cidades às características naturais da região, com olhar especial sobre os aspectos

hidrográficos, geomorfológicos, climáticos e vegetacionais. Inicialmente, procurei trazer para o

grupo aspectos históricos sobre o povoamento, ressaltando a importância dos rios Hoang-Ho e

Yang-Tsé-Kiang na construção da civilização chinesa.

Aos poucos, retomamos a prática do glossário, ampliando o acervo de palavras-chaves dos

estudos desse ano. Nas aulas que se seguiram, ofereci as bases para os estudos de geografia

humana: pensar a sociedade a partir de processos demográficos, urbanos e econômicos.

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“Nas primeiras aulas de geografia, pegamos todas as palavras que havíamos procurado no

dicionário e a Mônica explicou uma por uma, muito mais detalhado e de um jeito mais compreensível!

Ajudou muito!”

Depois da discussão de conceitos relativos à dinâmica populacional, os alunos produziram

textos resultantes da interpretação de mapas, gráficos e tabelas. Trabalharam, também, com alguns

indicadores socioeconômicos, efetuando cálculos e compreendendo o lugar das estimativas,

sobretudo a leitura estatística dos dados. Resumidamente, esse momento pode ser descrito assim:

Inicialmente, os estudantes receberam uma matéria da BBC Brasil sobre as dez cidades com

maior crescimento econômico em 2014. O trabalho foi associado à leitura de mapas e a uma tabela

com dados socioeconômicos dos dez países mais populosos do mundo (PIB per capita e Densidade

Demográfica calculados por eles). Acredito que o texto forneceu uma dimensão do real,

confirmando o lugar da China no cenário econômico mundial.

Lendo os registros desses alunos, selecionei trechos que retratam parte do aproveitamento

desse período de mergulho na China:

“A Mônica está nos explicando vários assuntos sobre a China, o que é muito legal porque é um país que

tem muito para ser estudado... Vimos um texto sobre as dez cidades com maior crescimento no PIB em

2014. Claro que metade das cidades era da China... O texto descrevia em que aspectos a cidade havia

melhorado. Eu fiquei com vontade de ir para vários lugares como Xiamen, porque tinha crescido muito no

PIB... Em outra aula, nós vimos um filme chamado “Wild China”, que, traduzindo, seria mais ou menos

“China Selvagem”; com certeza foi a aula que mais aprendi sobre o país, cultura, meio ambiente,

costumes... Escrevemos tudo que aprendemos e acredite, deu mais de duas páginas...”

“Era mais interessante do que eu pensava... Ocupou a aula inteira e mostrou muita coisa nova. A relação

dos chineses com os animais é muito diferente da nossa, por exemplo: é muito comum levarem seus

pássaros de estimação em suas gaiolas para encontrarem outros pássaros nas árvores dos parques públicos

de Pequim. A população também é muito chocante! Claro que eu já sabia disso, mas imagens de escolas

extremamente grandes e com inúmeros alunos ainda me surpreenderam. Como a China é um país muito

grande, há temperaturas muito variadas. Nunca tinha pensado nisso!”

“Espero aprender muito mais sobre a China ao longo do bimestre!”

Como era esperado, foram momentos de descobertas para todos nós, tendo surgido muitas

perguntas e constatações, principalmente, porque neste momento do trabalho os alunos estão se

aproximando mais de informações sobres as condições de vida das pessoas.

Tenho feito orientações de trabalho claras e constantes; reler, reescrever e relembrar vêm

sendo primordiais para anular a tendência à assimilação superficial e promover o resgate e

aprofundamento do assunto. No processo de construção do conhecimento, preocupa-me o fato

desses alunos interessarem-se muito mais pela temática do que pelos procedimentos de trabalho

envolvidos. Venho persistindo no método, sobretudo fornecendo e exigindo o cumprimento do

passo a passo.

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Até o presente momento, realizaram apenas atividades individuais ou em duplas. Portanto,

futuramente, pretendo investir mais em produções e sínteses coletivas, bem como na socialização

de ideias, estimulando o desenvolvimento do pensamento abstrato e, acima de tudo, promovendo

uma melhor articulação entre esses estudantes, que carecem de maior consciência de grupo.

Mônica

Ciências

"Se estiver buscando uma explicação fisiológica

para a postura ereta, a mais plausível é a da regulação da

temperatura corporal."

Ian Tattersall

Investigar a história e o funcionamento do corpo humano é o grande projeto do oitavo ano.

Para que isso ocorra adequadamente, porém, é necessário que se legitimem as muitas formas de

se pensar e estudar o corpo. Assim, iniciamos nossas aulas do período, em que estudaríamos os

sistemas muscular e esquelético, com exercícios de alongamento e, em alguns casos, também de

uso de força. Nessas atividades, pedi que os alunos prestassem atenção às partes do corpo que

sentiam ser mais exigidas em cada exercício, os limites que percebiam em cada movimento e,

também, as mudanças que sentiam ao longo da prática.

Esse “ritual” inicial de todas as aulas permitiu que os alunos se envolvessem de diferentes

formas nas tarefas e discussões de aula: ao analisarmos modelos do esqueleto humano,

reconheciam as articulações e estruturas empregadas nos movimentos, perceberam como o corpo

se aquecia durante a realização dos exercícios e elaboraram perguntas baseados em suas

experiências.

Além disso, estudamos, também, a estrutura interna de ossos e músculos, sua composição

e como posturas e exercícios modificam, ao longo do tempo, a estrutura do esqueleto. Esse

fenômeno, ao longo de muitas gerações, proveu mudanças na organização e proporção de nossos

ossos, ao compará-los com os de outros primatas. Elaborar argumentos e descrições a partir dessas

observações, foi, também, parte do trabalho escrito e das discussões que ocorreram no período.

Paralelamente a isso, em uma aula curta semanal, os alunos do oitavo ano vêm trabalhando

juntamente com o nono ano em atividades de experimentação. Nesta primeira etapa, investigam

como se dá a herança biológica em moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster). Para isso,

estudaram como identificar machos e fêmeas nessa espécie e reproduziram os procedimentos de

Gregor Mendel, ao estudar a transmissão de caracteres através de gerações sucessivas em ervilhas.

Em nossas primeiras aulas, foi necessário reproduzir as duas variedades de moscas que

obtivemos de pesquisadores da USP. Como a quantidade inicial era insuficiente, replicamos os

espécimes em meio de cultura para que atingissem um número adequado. Depois de separar

machos e fêmeas dos estoques recebidos, formarão, agora, os casais entre moscas selvagens e

mutantes para registrar o que ocorre nas gerações seguintes.

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Os alunos do oitavo ano voltaram a apresentar aproveitamento irregular neste trimestre. Se,

em uma aula, mostram-se interessados e participativos, em outra, perdem-se nas discussões, fazem

perguntas que pouco se relacionam ao tema trabalhado, ou envolvem-se em conversas paralelas.

O grupo já se mostrou capaz de ótimos resultados, mas, é preciso amadurecer e focar o trabalho

com maior regularidade para que atinjam seu verdadeiro potencial.

Leonardo

Matemática

Iniciamos o trabalho com a retomada dos conhecimentos prévios dos alunos, por meio de

fichas de problemas e discussões sobre as expectativas dos alunos para o ano de 2014.

No campo da álgebra, os alunos foram apresentados aos sistemas de equações e sua

utilidade para a resolução de problemas. Introduzi o assunto pedindo que os alunos solucionassem

três questões. A princípio, utilizaram como estratégia a aproximação e cálculos aritméticos, mas

depois chegaram à conclusão que o melhor caminho seria traduzir algebricamente os problemas.

Nesse momento, depararam-se com a necessidade de representar duas incógnitas, porque seria

impossível dar uma única solução para cada problema. Perceberam, também, que alguns dados

pareciam não fazer sentido; isso acontecia porque nunca haviam montado duas equações a partir

de um mesmo problema. Assim que alertei-os sobre essa possibilidade, parte dos alunos conseguiu

montar a segunda equação. Nesse outro momento, provoquei-os mostrando a “chave” símbolo que

tornava as duas equações dependentes. A partir disso, analisamos os métodos resolutivos da adição

e da substituição.

Estudamos os números primos reconhecendo seu papel como geradores dos demais

números naturais com exceção do 0 e do 1, entre outras características. Também, fizemos a

decomposição de alguns números em fatores primos. Posteriormente, revisitamos os mínimos

múltiplos comuns, já estudados no ano anterior, mas agora resolvidos por meio da decomposição

simultânea em fatores primos. O processo, porém, não foi feito de forma mecânica. Nos problemas

propostos, os alunos tiveram oportunidade de descobrir e verbalizar propriedades (por exemplo: o

mmc de dois números consecutivos é o produto deles). O jogo “Quatro em linha” também deu

oportunidade para que incorporassem algumas propriedades. Por exemplo: para obter 9 na cartela

C, deve-se escolher 3 e 9 nas cartelas A e B, pois se x é múltiplo de y, então mmc (x, y) = x. O jogo

levou-os a pensar, ainda, em problemas tais como: Quais seriam os números das cartelas A e B que

têm mmc igual a 78? Depois que jogaram, debatemos outras descobertas que realizaram durante

as partidas.

Em geometria, trabalhamos a construção de ângulos relativos a duas retas concorrentes,

experimentando, na prática, as propriedades dos ângulos notáveis. Verificamos a congruência

(igualdade de medidas) entre os ângulos correspondentes formados por paralelas através da

experiência de deslizar o esquadro na régua. Depois dessa constatação, fizemos a medida com

transferidor dos outros ângulos, chegando à conclusão que todos os ângulos do sistema eram

suplementares (a soma resulta em 180º) ou congruentes (iguais).

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Também desenhamos figuras espaciais. Mostrei ao grupo algumas figuras espaciais

desenhadas sobre malhas quadriculadas e triangulares, chamando atenção para um aspecto

essencial na representação: o ponto de vista do observador. Exercitaram a visualização e a

representação de objetos tridimensionais, compreendendo os princípios que regem o desenho em

perspectiva.

Por conta do estudo sobre China, estudamos a origem de dois jogos: damas chinesas (um

jogo de origem controvertida) e jogo chinês, um jogo alemão inspirado em velhas lendas chinesas.

Estamos analisando as figuras geométricas que compõem o jogo de damas chinesas, para podermos

construí-lo.

Os alunos desse grupo tiveram certa dificuldade em adaptar-se à dinâmica do curso de

matemática do oitavo ano. Não sustentaram conquistas nas quais tinham avançado no ano passado:

organização, atenção e compromisso com as aulas. Para solucionar essa questão, adotei algumas

práticas, tais como ocupação de lugares estipulada por mim, correção individualizada do caderno,

verificação de anotações de tarefa na agenda e lições concluídas no horário livre, o que vem surtindo

efeito. Do começo do ano até aqui houve avanços, porém, acredito que ainda temos um longo

caminho pela frente.

Wagner

Relatório do trabalho do Nono Ano

Português

Tecer um caminho de trabalho na Ágora é uma tarefa bastante desafiadora. As possibilidades

são muitas e os livros, inesgotáveis. Pensar o trabalho específico da área de Língua Portuguesa, em

todas as suas habilidades — leitura, produção textual, oralidade, estudo da norma culta, literatura

—, e articulá-lo ao projeto da escola exigiu muita reflexão, suscitou dúvidas e tentativas, num

enveredar por jornadas repletas de cabanas onde as ideias amadurecem.

Nestes primeiros meses de Ágora, iniciei o nosso trabalho com a preocupação de traçar um

perfil de aluno leitor. Para isso, propus que fizessem uma lista dos livros lidos nos últimos anos,

descortinando repertórios, livros preferidos e preteridos, motivando, com esse inventário, diálogos

e uma primeira aproximação, levando os alunos a refletirem sobre o que leem.

Minha segunda preocupação foi de convidá-los a pensar sobre a linguagem e o estudo da

língua. Nesse sentido, trabalhamos alguns conceitos de Linguagem, Língua e Fala, com o objetivo

de ensinar ao aluno que a linguagem, como capacidade inerente ao ser humano, é um instrumento

do pensamento que instaura o conhecimento, sendo assim, universal, já que todos os seres

humanos nascem com essa capacidade (a linguagem) de desenvolver a língua. A segunda definição

de linguagem trabalhada — que é a mais utilizada ao se referir a esse termo — foi a de veículo de

comunicação social, ou seja, característica humana que instaura a sociedade. Nessa definição, a

linguagem seria sinônimo de língua por ser através dela que nos comunicamos e construímos nossa

identidade face à inescapável experiência de alteridade, ao inescapável ser social que somos.

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Em sala, estudamos a língua para além de uma expressão verbal. Busquei acentuar que,

através da língua, estabelecemos a nossa subjetividade e somos capazes de simbolizar o mundo.

Mostrei também que, do ponto de vista linguístico, a língua é a concretização da linguagem em um

grupo social específico. Quanto à fala e à escrita, vimos que se trata de uma atualização da língua a

partir de um sujeito, o que torna ambas as modalidades individuais. Em seguida, trabalhamos as

especificidades da modalidade oral e da modalidade escrita para, então, adentrarmos o importante

caminho das Variações Linguísticas. Nesse campo, motivei uma reflexão sobre os usos da Língua

“Culta” — ou norma urbana de prestígio — e os da Língua Coloquial.

A temática Variações Linguísticas rendeu bons debates em sala de aula. Após conversarmos

sobre os diferentes usos da língua e articulá-los com as modalidades da fala e da escrita, preocupei-

me em relativizar a ideia de que, no Brasil, existe uma unidade linguística, demonstrando a sua

complexidade. Preocupei-me em esclarecer que a língua culta é um uso possível, uma variação da

língua, existindo uma diversidade de usos possíveis, assim como há uma multiplicidade de sotaques

possíveis, nenhum mais correto que o outro. Existe o mais prestigiado e o menos prestigiado, como

reflexo da desigualdade social no Brasil, preconceito linguístico espelhando nitidamente o

preconceito e exclusão sociais:

“O substantivo “língua” é, sempre, coletivo, porque serve como rótulo unificador para uma

multidão de coisas variadas, variáveis e variantes...

[...] É preciso que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura

abandonem esse mito da “unidade” do português brasileiro e passem a reconhecer a

verdadeira diversidade linguística de nosso país. [...] Não se trata simplesmente, como deve

ficar claro, de aceitar a variedade linguística estigmatizada falada pelos alunos e ficar só nisso

– essa é uma acusação ridícula dirigida aos linguistas por aqueles que não conseguem ou não

querem ler com a devida atenção as coisas que nós escrevemos. A função da escola é, em

todo e qualquer campo de conhecimento, levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que

ela não sabe e, no caso específico da língua, conhecer e dominar, antes de mais nada, a

leitura e a escrita e, junto com elas, outras formas de falar e de escrever, outras variedades

de língua, outros registros. [...] desejo ardentemente que “qualquer menino do povo” possa

entender Drummond, adorar Drummond, odiar Drummond, superar Drummond”. Só não

quero que isso seja feito por meio de uma pedagogia repressora, autoritária, baseada numa

concepção de língua arcaica, que trate a heterogeneidade linguística como um “mal social”

que deve ser extirpado a todo custo.”3

Para finalizar essa temática, propus uma atividade de leitura do texto “Os Novos Códigos”

de Lya Luft, o qual despertou debate quanto às modificações no uso da língua diante das novas

tecnologias. A esse respeito, cada aluno produziu um pequeno texto registrando seu

posicionamento no caderno.

Após o trabalho sobre as Variações Linguísticas, propus pensarmos o que é a Gramática? Por

que estudamos Gramática na escola? Diante dessas questões, levei para a sala de aula as ideias de 3 BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2009 – pp. 32 e 34.

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Celso Pedro Luft — gramático, filólogo e linguista — que diferencia Gramática Natural e Gramática

Normativa:

“Gramática natural porque é da natureza da língua, como é da natureza humana, aprender

sistemas de regras para sistematizar comportamentos; aprendizado que independe de

ensino: a vida o propicia ‘ao natural’.”4

As aulas de gramática normativa iniciaram-se com uma revisão das regras de acentuação

gráfica, o que retomou partes da Fonética. Por meio de fichas, arejei aos alunos do Nono Ano essas

regras, segundo o Novo Acordo Ortográfico, em vigor desde 2009. Propus exercícios de fixação e,

nos relatórios, fui rigorosa sobretudo com a acentuação correta das palavras.

Adiante, realizamos a leitura do texto “Regras Gerais” de Rosely Sayão. Como proposta de

trabalho, os alunos identificaram no texto as partes que compõem um artigo de opinião. Feita a

atividade, discutimos cada uma dessas partes em sala de aula.

Com vontade e dedicação, começamos o estudo da Sintaxe. Primeiramente, entreguei aos

alunos uma longa ficha com exercícios que retomam os estudos de sujeito e predicado e de

transitividade verbal. Essa atividade diagnóstica revelou necessária uma revisão aprofundada de

sujeito e predicado antes de adentrarmos na transitividade verbal.

Quanto às aulas de leitura, muitas delas, neste trimestre, foram orientadas. Levei contos

chineses, como “O Espelho”, Mãe Wu”, “Ploft”, entre outros, e indiquei livros e a pasta onde os

alunos os encontrariam. Algumas leituras foram realizadas em conjunto, outras eu li para a turma,

mas essa turma prefere a leitura silenciosa e individual. Familiarizados com alguns contos chineses,

propus uma atividade de exposição na qual os alunos, em duplas ou em trios, escolhiam um deles e

o apresentariam. Alguns grupos fizeram história em quadrinhos (contos “Mãe Wu” e “A Fada

Dralmakyd”), outros fizeram um “stop-motion” (conto “O peso imaginário”) e outros narraram a

história com uma trilha sonora no violino (conto “Ploft”). Essa atividade foi muito estimulante.

Através dela, percebi a seriedade e o envolvimento do Nono Ano em projetos, além da capacidade

criativa e intelectual da turma.

Também trabalhamos o conto “Caso Pançudo”, de Mário de Andrade, através do qual

reavivamos o gênero narrativo, em específico o conto, relembrando o que é introdução,

desenvolvimento, clímax e desfecho, personagens, espaço narrativo, protagonista e antagonista,

narrador etc. Assinalei, nesse conto, a linguagem caipira do interior paulista, bem como a crítica

social ao sistema patriarcal intrínseca na história.

Outro gênero trabalhado foi a crônica. Levei “Ao respeitável público”, de Rubem Braga e

“Hoje não escrevo”, de Carlos Drummond de Andrade. Os alunos leram em casa as crônicas e, em

sala, durante duas aulas, responderam a questões dissertativas sobre ambos os textos, além de

estudá-los comparativamente. O resultado desse trabalho foi gratificante. A turma conseguiu

4 LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. Porto Alegre: L&PM, 1985.

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apreender e interpretar sutilezas das crônicas, como o discurso indireto livre, o diálogo interior,

entre outros, o que foi surpreendente.

Ainda sobre as aulas de leitura, buscando articulá-las com o projeto da escola, além de

motivá-los a lerem contos chineses, estamos lendo crônicas da jornalista chinesa Xinran, retiradas

do livro “O que os chineses não comem”. A partir delas, abordamos aspectos da sociedade chinesa,

comparando-os com a sociedade brasileira. Nas últimas aulas de leitura, solicitei aos alunos que

fizessem diários de leitura dos textos lidos, ou seja, que escrevessem ideias, associações,

informações que chamassem a atenção deles nos textos lidos. Pedi para que registrassem-nas no

final do caderno. Observando o amadurecimento da turma face às leituras propostas, entreguei aos

alunos o poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa. Pedi para que o lessem em casa, avolumando o

diário de leitura. Posteriormente, analisaremos, juntos, o poema em sala de aula.

Quanto à produção textual, agucei um debate sobre a importância de escrever, ato que nos

distancia do momento vivido, organiza o pensamento, possibilitando uma reflexão sobre o

aprendizado assimilado na medida em que tecemos a nossa memória. Partindo dessas reflexões,

conversamos sobre Literatura, definindo-a como arte que se manifesta pelas palavras, sejam elas

orais ou escritas. Nesse sentido, sublinhei a importância do ensino de Literatura na escola, pois ele

possibilita o acesso do aluno à cultura letrada, amplia a capacidade linguística e o conhecimento

social. Afinal, somos seres sociais e simbólicos, e a língua, instrumento da arte literária, é

sociocultural. Assim, a Literatura, além de garantir o direito do ser humano à fantasia e à

imaginação, possibilita o reconhecimento de nós mesmos através do outro. A partir desse

reconhecimento, podemos fazer uma reflexão sobre o lugar que cada um de nós ocupa no mundo.

O principal acompanhamento da produção textual, nestes primeiros meses, deu-se através

da escrita de textos argumentativos e dos relatórios. No geral, percebo muito empenho, criatividade

e autonomia, além de responsabilidade no cumprimento e na entrega das tarefas. Percebo que eles,

Nono Ano, leem as correções que faço, os comentários que redijo, buscando sempre melhorar.

Deyse

Inglês

Um trimestre de lições valiosas para os alunos e para mim, todos embarcados em uma

viagem para a distante China, como parte do projeto “A formação das sociedades, um estudo

humanizador”. Ainda que distante geograficamente e acentuadamente diferente, a sociedade

chinesa, seus valores e cultura, tem se tornado mais próxima e encantadora a cada leitura feita! O

estudo de língua inglesa foi beneficiado com o projeto do ano, tendo realçado o seu valor de vínculo

de conhecimentos.

Nono ano

No nono ano, principal objetivo do curso de inglês é a articulação de elementos gramaticais

e lexicais com atividades de desenvolvimento de fluência escrita, leitora e oral. O pano de fundo

para esse trabalho é a diversidade cultural, contemplada pelo domínio de uma língua internacional.

Nossa primeira atividade diagnóstica de leitura colocou os estudantes em contato com um

texto noticiando a pessoa mais velha a matricular-se em uma escola de alfabetização, uma mulher

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de noventa anos, no Quênia. Além do trabalho linguístico, o texto gerou uma interessante discussão

sobre os motivos que a levaram a estudar e quais as implicações disso em sua vida.

Dando início aos estudos de gramática, exploramos os adjetivos comparativos e superlativos,

por meio dos quais é possível estabelecer dois tipos de comparações: a primeira, entre dois

elementos (algo ou alguém); a segunda, entre um elemento e todos os demais dos quais ele faz

parte. Para efetivar esse estudo, os alunos utilizaram textos informativos e um quiz sobre recordes

da natureza. Também, expressando-se em temas mais voltados ao cotidiano, estabeleceram

comparações entre livros, canções, filmes e cidades já visitadas, por exemplo. Assim, soubemos das

opiniões do grupo sobre quais os melhores (the best, better), os piores (the worst, worst), os mais

interessantes (the most interesting, more interesting) livros, canções, filmes, dentre outros.

Complementaram os estudos de adjetivos comparativos e superlativos os advérbios too e

(not) enough, para expressar excesso ou falta de certas qualidades. Além disso, estudaram e

expressaram-se utilizando have/has to, sobre tarefas necessárias ou desnecessárias em

determinadas situações, como estudar um novo idioma.

Com base na leitura de um anúncio de turismo ecológico, gênero textual em que geralmente

se recorre aos superlativos, exaltando as qualidades e benefícios do produto anunciado, os alunos

produziram seus próprios anúncios sobre locais reais ou imaginários, empregando os conteúdos

estudados até o momento.

O projeto da Escola foi contemplado por meio da leitura do conto chinês “Prince Huo’s

Daughter”, de Chiang Fang, autor que viveu no período da dinastia Tang (618—907). Trata-se da

história de Jade, filha bastarda do príncipe Huo com uma de suas concubinas. Ela é apresentada por

uma alcoviteira a Li Yi, um jovem que deseja uma boa esposa para se casar. Porém, por ser filha de

uma concubina, Jade não tem o mesmo status ocupado por uma esposa e, depois de dois anos

vivendo juntos, Li Yi a abandona, escalado para trabalhar em um distante condado. Antes de partir,

Li Yi promete a Jade que virá buscá-la, deixando-a em um estado de espera e sofrimento que a

consome até fisicamente. Ela passa anos esperando a volta de seu amado, que jamais torna a

procurá-la. Poucas horas antes de falecer, Jade tem a oportunidade de encontrar-se pela última vez

com Li Yi e o amaldiçoa, dizendo-lhe que, após sua morte, ela se tornará um espírito vingador que

perturbará suas futuras esposas e concubinas. A maldição se cumpre, tornando Li Yi um homem

extremamente possessivo e violento com suas mulheres.

O conto foi estudado sob a luz das posições sociais de homens e mulheres da China feudal.

O nono ano pôde, então, refletir sobre a organização patriarcal sobre a qual se estabeleceu aquele

período histórico, relegando às mulheres um papel de coadjuvante e, no caso das concubinas,

inferiorizado, semelhante ao de um objeto que pode ser comercializado e descartado. Puderam

relacionar, a partir disso, as diferenças e semelhanças entre tais papeis e os de homens e mulheres

nas sociedades ocidentais tradicionais e contemporâneas. Relacionaram passado e presente de

forma consistente e reflexiva, valorizando as lutas do movimento feminista, que vem sendo atacado

entre os jovens nos dias atuais, segundo os alunos.

Os alunos foram convidados a reescrever o conto, em linguagem própria, a ser lida pelos

colegas do oitavo ano, alterando-lhe o desfecho. Seguiram orientações quanto ao planejamento da

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produção em pequenos grupos e decidiram quais os elementos centrais do texto a ser reorganizado.

A escrita seguiu seu processo: revisões em grupo e apreciação coletiva, antes que a versão final

chegasse aos destinatários.

O nono ano é um time de talentos diversos, com alunos extremamente empenhados,

focados, desejosos por aprender. Têm demonstrado muita maturidade para lidar com as diferenças

de habilidades entre seus integrantes, especialmente nos trabalhos de colaboração e interação

entre grupos. Vários desses alunos dedicam-se a expandir os conteúdos, avançando para além dos

textos em seus questionamentos e críticas. É um grande nono ano, que pode, ainda, viver muitas

experiências ricas para viver e demonstrar na Escola e nas aulas de Inglês!

Denise

História

“É inútil fechar os portões às ideias: elas pulam por cima.”- Klemens von

Metternich (1773-1859), estadista austríaco.

“Uma revolução é uma opinião apoiada por baionetas.”- Napoleão

Bonaparte (1769-1821), general e imperador francês.

Curiosamente, as aulas de História deste ano começaram pela astronomia. O conceito de

revolução foi formulado primeiramente nesta área, para descrever o movimento (do latim, evolutio)

de corpos celestes desenhando órbitas em torno de corpos maiores. O movimento, elíptico e

mensurável, demonstrava que o mesmo planeta, ao completar uma revolução solar, por exemplo,

retornava ao ponto de origem, mas voltava diferente, transformado por seus fenômenos internos.

Bastou isso e a menção à Revolução Francesa de 1789, para reacendermos o debate encerrado no

final do ano passado sobre o iluminismo e as ideias que basearam o movimento na França, marco

do início da Idade Contemporânea, essa em que vivemos e que cada vez mais esforço empregamos

para compreender.

Embora a primeira das epígrafes acima sugira o importante peso das ideias, considerando as

características deste grupo de alunos, optei por apresentar o maior número possível de dados

concretos sobre os anos que antecederam a Revolução: começamos com a leitura e a construção

de um roteiro sobre um capítulo do livro “A História Comestível da Humanidade”, de Tom Standage,

que tratava dos problemas constantes que a humanidade enfrentou para garantir o abastecimento

de alimentos, especialmente os grãos. No texto, o milho estava em pauta, bem como os esforços

nem sempre considerados corretos ou saudáveis para torná-lo disponível para bilhões de

consumidores nos dias atuais. Em paralelo, apresentei uma ficha sobre a França pré-Revolução, que

explorava as péssimas colheitas nos anos anteriores, que forçaram o país, "celeiro da Europa” no

final do século XVIII, a importar trigo (base da alimentação do povo) de outros países. Somando-se

a isso os gastos absurdos para a manutenção da corte francesa de Luis XVI e as perdas financeiras

que o apoio francês à independência dos EUA havia ocasionado (menos por defender os EUA, mais

para prejudicar a rival Inglaterra), o país encontrava-se não apenas falido mas com uma população

faminta. Estudamos em sala algumas das estatísticas populacionais disponíveis sobre o período e

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todos os dados (muitos, assustadores) apontavam para a inevitabilidade de uma revolução, ou algo

do gênero.

O debate sobre os acontecimentos que levaram às mudanças na França foi muito

interessante. Separados em duplas, os alunos produziram textos e as respectivas apresentações do

que pesquisaram aos colegas, praticando as etapas sucessivas de pesquisa enciclopédica, busca por

informações em revistas e livros presentes no acervo da escola, busca por dados extras na internet

e, por fim, apoio de uma bibliografia mais especializada para cada caso, a partir de sugestões

minhas. Do significado e origens do lema “liberté, egalité, fraternité”, a uma pesquisa sobre as

origens da Marselhesa (até hoje, o sangrento hino francês, ouvido e discutido por todo o grupo

previamente), passando por um perfil do tristemente ilustre Dr. Joseph-Ignace Guillotin (criador do

instrumento de execução símbolo da Revolução, a guilhotina), os alunos souberam - com

desenvoltura - conectar os dados presentes nas fichas às informações encontradas em suas

pesquisas, escrevendo e apresentando narrativas coerentes. Nossos estudos ensejaram, ainda, um

acirrado debate sobre os termos “direita” e “esquerda”, surgidos nesse mesmo período, pelas

divisões entre os partidos girondino e jacobino, com referências dos alunos ao contexto mundial e

brasileiro atual, no qual tais conceitos encontram-se, evidentemente, em cheque.

Complementaram o trabalho, além de exercícios sobre o tema, a proposta de uma pequena

narrativa ficcional, na qual cada aluno teria um protagonista na noite do quatorze de julho de 1789,

data da famosa queda da Bastilha, marco da Revolução: o que a personagem estaria fazendo? Onde

estaria? A que grupo pertencia? Como presenciou os acontecimentos?

Causando ainda mais impacto nos alunos do que a própria Revolução, o estudo subsequente,

sobre Napoleão Bonaparte, abriu as portas para ótimos momentos nos debates em sala. A trajetória

fascinante desse personagem e as contradições que o acompanharam foram material para

discussões prolongadas, reviravoltas de opinião e a produção de sínteses escritas

interessantíssimas. Entre todos os (muitos) dados apresentados, a passagem em que Napoleão

torna-se imperador, em 1804, foi das mais chamativas para o grupo. Uma pergunta que pairou sobre

todos foi significativa: mas, como um sujeito nascido em meio à Revolução, que tinha visto o

combate nas ruas e vivido aqueles momentos, tornou-se um tipo de governante que o próprio

movimento havia, aparentemente, banido? A questão ganhou contornos mais fortes nos debates

em sala quando fizemos uma breve audição da Sinfonia “Eroica”, de Beethoven, composta pelo

alemão, originalmente, em homenagem ao jovem general Napoleão que, em 1796, parecia encarnar

o espírito da Revolução Francesa: o compositor teria rasgado os originais ao saber da nomeação de

Napoleão como imperador. O episódio, inclusive, foi melhor observado pelos alunos quando

fizemos um exercício de análise da famosa tela de Jacques-Louis David, pintor oficial do período

napoleônico, retratando a coroação do general como imperador: na imensa tela, que até hoje se

encontra em exposição para o público, Napoleão posiciona-se, solenemente, para receber a coroa

das mãos do papa, o representante de Deus na Terra; agora, no esboço feito in loco pelo pintor, não

disponível à época para o público, Napoleão, após arrebatar a coroa das mãos do sumo pontífice,

coroa a si mesmo, quebrando uma tradição de mais de mil anos diante de toda a nobreza francesa

e europeia. O recado estava dado, de maneira contundente: uma nova era começava… Os alunos

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fizeram, ao final, uma avaliação a respeito dos dois temas até o momento estudados, num formato

mais próximo dos exercícios típicos encontrados em provas de vestibulinhos, como forma de

praticarem estratégias de resolução de problemas, com bons resultados. Ao simularmos uma

situação de avaliação, pude comentar que, além de uma oportunidade para praticar, ficava evidente

que as anotações de todos, construídas ao longo do trimestre em seus cadernos, mostravam um

conjunto de informações muito mais interessante e coeso do que aquele que aparecia em avaliações

do gênero, que têm um caráter mais objetivo. Ou seja, os alunos podem confiar que os alicerces

que vêm construindo são sólidos.

Encerramos a discussão com um breve retorno ao Brasil do mesmo período, focando os

acontecimentos que cercaram a Inconfidência Mineira: as ideias iluministas estavam presentes na

Vila Rica do século XVIII, de maneira velada e com interpretações dúbias. Mas, foram inspiradoras

de um movimento que não chegou a sê-lo. Estudamos alguns dados e observamos brevemente as

imagens de Tiradentes, nenhuma delas registrada durante a vida do alferes mineiro, mas quase

todas retratando um homem de impressionante semelhança com a figura de Jesus Cristo. Não foi

necessário grande esforço para que o grupo percebesse a forma como a imagem deste inconfidente

foi propositadamente trabalhada quase cem anos após sua morte, para encaixar-se nos ideais da

república recém-implantada no Brasil, assunto ao qual retornaremos em breve. Começamos

recentemente, ainda dentro do “assunto" revolução (contemplando o tema inicial do projeto

coletivo anual de nossa escola, “Formação das sociedades - um estudo humanizador”) um ciclo de

leituras, registros e debates acerca de um fenômeno marcante do século XX, ocorrido na China: a

chamada Revolução Cultural promovida por Mao-Tsé Tung, a partir de 1949. Além de um rico

debate sobre ideais diferentes de revolução, bem como o contato com um modelo de sociedade

muito diverso daquele com que convivemos, a aproximação com a China do século XX trará

elementos para que todos compreendam melhor os estudos que realizaremos a partir de agora,

sobre o capitalismo e as tensões políticas que cercaram o mundo nos últimos duzentos anos.

Nos meses finais do oitavo ano, havia sido muito gratificante estudar o iluminismo e o

desenvolvimento da Europa no século XVIII, tecendo um paralelo com o Brasil no mesmo período.

O grupo mostrava sinais de amadurecimento e aprofundamento no debate, nas leituras e no

compromisso com os combinados. Tudo isso encontra-se ampliado neste ano, com alunos

presentes, empenhados, bons argumentadores e respeitadores do direito de cada um expressar-se.

Embora com os previsíveis titubeios ocasionais, têm feito um bom trabalho como chefes de grupo

e são um nono ano que convida o professor a propor novos caminhos e estratégias desafiadoras,

fazendo conexões interessantes entre o passado e o momento presente. Antevejo um período

empolgante e de muito aprendizado daqui em diante, para todos os envolvidos!

João

Geografia

Os estudos iniciais sobre a China contaram com a exibição de filmes e a exploração de mapas

temáticos. Exercitamos a correlação de mapas, sempre associando a localização das cidades às

características naturais da região, com olhar especial sobre os aspectos hidrográficos,

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geomorfológicos, climáticos e vegetacionais. A princípio, procurei trazer para o grupo aspectos

históricos sobre o povoamento, ressaltando a importância dos rios Hoang-Ho e Yang-Tsé-Kiang na

construção da civilização chinesa.

A primeira atividade foi cumprir um roteiro de leitura, discutindo as questões, opiniões e

dúvidas durante o processo.

De modo geral, os alunos seguiram o roteiro perfeitamente e apresentaram ótimos resumos:

textos bem escritos, objetivos e claros. Não houve fuga do assunto, como era comum acontecer;

todos se mantiveram fiéis ao texto, mesmo quando foi permitido realizar uma pesquisa mais aberta.

Percebi que apropriaram-se dessa ferramenta de modo bastante eficaz e cada um ampliou à sua

maneira o repertório anterior a leitura.

Pretendi, com esse primeiro texto, refletir sobre a ideia de “sociedades em rede” (referência

ao sociólogo, Manuel Castells). Sendo assim, apresentei-lhes o trecho de um livro que remetia ao

Google Earth (“Informação: Google Earth, 2012”. In: Brotton, Jerry. Uma história do mundo em

doze mapas. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014). O roteiro de leitura que o acompanhou permitiu que

os alunos mobilizassem conhecimento prévio, levantassem hipóteses e mergulhassem no assunto.

Essa atividade, contendo catorze etapas, levou-os a buscar dados noutras fontes e a refazer a leitura

com mais recursos. Por fim, escreveram um resumo e avaliaram que saberes levariam para os

estudos sobre China. Nas aulas seguintes, exploramos dados complementares sobre o uso da

internet no Brasil e no mundo, sobretudo interpretando mapas temáticos e gráficos. Além disso,

exibi um vídeo de cunho jornalístico sobre os BRICS (episódio China), onde o principal executivo da

Baidu (equivalente à “Google chinesa”) foi entrevistado e ressaltou, inclusive, como lidam com as

intervenções mais rígidas do governo sobre a informação.

Finalizamos essa etapa com uma avaliação do trabalho realizado... Fiquei surpresa com

alguns depoimentos pedindo o uso do roteiro com mais frequência; alguns alunos até suscitaram a

possibilidade de, por conta própria, absorver e transferir esse procedimento para atividades

futuras! E ainda, mencionaram que ele seria um bom manual!

Julguei esse momento bastante positivo, pois disseram que esse método os ajudara a reter

as ideias principais, ampliando seus recursos sobre os lugares citados, levando-os a escrever um

resumo mais consistente, entre outros ganhos. Considerando que essa turma não é de se expor

facilmente, isso nos mostra um dado relevante!

Acredito que o roteiro proporcionou um caminho seguro e palpável, sobretudo, fez com que

cada um desenvolvesse uma trajetória singular, na medida em que cada etapa ultrapassada indicava

um nível a mais de aprofundamento, que não estava isenta de uma escolha pessoal.

Continuarei trazendo propostas que promovam esse tipo de “conforto”, que talvez seja

necessário para fortalecer a confiança desses estudantes nos momentos de comunicar suas opiniões

e para fomentar debates que contribuam para o desenvolvimento do grupo como um todo.

Mônica

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Ciências

"Esperamos pela luz, mas contemplamos a escuridão."

Isaías 59:9

A Ciência desenvolveu-se, entre outros motivos, para explicar aquilo que o senso comum

não era capaz de fazer. Conceber o tamanho do Universo é uma tarefa impossível. Nossa experiência

é tão limitada que, o máximo que podemos fazer, é tratá-lo fazendo uso de comparações. Para

facilitar a aproximação dos temas que estudaríamos nesse período, fiz uso de trechos de três filmes:

“Contato”, “Gravidade” e “Apollo 13”. Essas obras cinematográficas serviram como fios condutores

de nossas aulas.

Ao assistirmos a “Contato”, pudemos discutir a constituição do Universo, suas distâncias e

como cientistas fazem para estudar fenômenos que ocorrem a milhões de anos-luz de seus

escritórios. Explorei, também, algumas consequências da teoria da relatividade, como a natureza

dos buracos-negros, a relatividade do tempo e a possibilidade de existência de “buracos-de-

minhoca”, túneis que permitiriam viagens a áreas longínquas do Universo.

Com “Gravidade” e “Apollo 13”, estudamos a conquista espacial, condições de vida e

desafios que devem ser superados por engenheiros e astronautas para que possamos construir

estruturas como a Estação Espacial Internacional, ou concretizar as explorações da Lua e de Marte.

A ideia de “projeto”, como estabelecimento de objetivos e união de pessoas para atingi-los foi

bastante forte nessas aulas, bem como o gradual respeito e assombro ante as dificuldades em se

sobreviver longe da Terra.

Paralelamente a isso, em uma aula curta semanal, os alunos do nono ano vêm trabalhando

juntamente com o oitavo ano em atividades de experimentação. Nesta primeira etapa, investigam

como se dá a herança biológica em moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster). Para isso,

estudaram como identificar machos e fêmeas nessa espécie e reproduziram os procedimentos de

Gregor Mendel, ao estudar a transmissão de caracteres através de gerações sucessivas em ervilhas.

Em nossas primeiras aulas, foi necessário reproduzir as duas variedades de moscas que

obtivemos de pesquisadores da USP. Como a quantidade inicial era insuficiente, replicamos os

espécimes em meio de cultura para que atingissem um número adequado. Depois de separar

machos e fêmeas dos estoques recebidos, formarão, agora, os casais entre moscas selvagens e

mutantes para registrar o que ocorre nas gerações seguintes.

Os alunos do nono ano mostraram-se muito envolvidos e interessados nos trabalhos do

trimestre. Em seus relatos, demonstraram ampliar a consciência e admiração pelas pessoas que

trabalham com pesquisa espacial e também, para minha surpresa, admitiram desconhecer uma

série de fatores prejudiciais à vida fora da Terra, como a ausência de gravidade, que se mostra

divertida à primeira vista, mas traz consequências bastante desagradáveis a nossos corpos. Essa

maturidade em analisar e posicionar-se frente às questões científicas e suas implicações em nossa

vida foram uma grata surpresa e, tornam-se, agora, um fator preponderante para os próximos

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estudos, em que deverão organizar melhor suas ideias para elaborar e apresentar argumentos

pertinentes a nossos estudos.

Foi um ótimo começo!

Leonardo

Matemática

Na nossa primeira aula do ano, retomei com os alunos os conteúdos que tinham estudado

até o momento e propus a elaboração de uma ficha recuperando os conteúdos dos anos anteriores

para começarmos o trabalho.

O estudo que fizemos sobre figuras semelhantes esteve associado às construções

geométricas que comprovam as propriedades. Ampliamos e reduzimos polígonos, com ângulos

correspondentes de mesma medida, calculando a razão entre as medidas dos lados

correspondentes, e chegamos ao coeficiente de proporcionalidade, que é sempre o mesmo entre

figuras semelhantes. Seguimos estudando semelhança, deduzindo propriedades que são mais

específicas para o triângulo, de grande valia para situações práticas do dia a dia como, por exemplo,

chegar a medidas inacessíveis. Construímos um teodolito (instrumento utilizado por topógrafos e

agrimensores para medir longas distâncias) bem simples e com baixa precisão, mas que nos

possibilitou fazer medidas aproximadas de árvores e outras grandezas, o que seria impossível sem

a utilização do conceito de semelhança de triângulos. Também fizemos construções geométricas

empregando apenas régua e compasso: hexágonos, retas paralelas e perpendiculares e triângulos.

Retomamos situações de cálculos de porcentagens, resolvemos problemas que envolvem

juros simples e composto e problemas por meio da regra de três composta.

Abordamos a importância da compreensão do cálculo de juro para fixação da ideia que juro

é a remuneração de um empréstimo. Observamos as situações em que o juro aparece: empréstimos

financiam indústrias, construções, crediários etc. Por isso, o cálculo de juros é a operação básica da

matemática financeira e comercial.

No estudo de equações do 2º grau, resolvemos essas equações aplicando a fórmula de

Bhaskara. Retomamos procedimentos de resolução de sistemas de equações do 1º grau,

solucionamos sistemas do 2º grau e problemas típicos que recaem em equações ou em sistemas de

equações do 1º e do 2º grau.

Estudamos a notação científica, que tem as potências como linguagem essencial. Expus sua

importância em diversos campos da ciência, uma vez que se trata de conhecimento obrigatório para

engenheiros, arquitetos, agrimensores, entre outros. Resolvemos problemas envolvendo distância

entre planetas, expansão de doenças, tamanho da Terra, quantidade de anos de formação do

planeta.

Analisamos as propriedades de radicais e conceitos. Fizemos as deduções para chegar a essas

nas propriedades, investigando e comparando-as com a ordem de resolução das operações nas

expressões que envolvem os números naturais. Também, fizemos cálculo com os radicais,

decompondo em fatores primos o radicando e simplificando-o ao máximo possível. Demonstrei a

importância da racionalização na simplificação dos cálculos aritméticos.

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Nos estudos sobre China, examinamos as estratégias e a melhor maneira de compreender e

“traduzir”, para os alunos mais novos, as regras dos jogos chineses comprados pela escola. Também,

lemos um texto sobre a importância da China no cenário econômico mundial e sua evolução frente

às grandes potências mundiais. Analisamos os números que evidenciam o crescimento do país

asiático e possibilitam uma projeção, bem como o que essa situação implica para economia

brasileira. Esse trabalho será finalizado com o cruzamento de alguns estudos que estão sendo feitos

em geografia.

O grupo do nono ano é muito aplicado, demonstrando grande interesse pelas atividades

propostas. No entanto, não se expressa oralmente tanto quanto deveria. Buscarei algumas

estratégias para “provocá-los” e gerar uma mudança nesse comportamento, pois precisam colocar

mais suas hipóteses, relacionar novas informações com as que já possuem, debater as próprias

ideias criando um ambiente mais propício à construção do conhecimento.

Wagner

Relatório do Trabalho de Música

Primeiro e Segundo anos

Os sons que vêm do próprio corpo, da natureza e dos instrumentos começam a compor o

universo musical dos primeiros anos. Aos poucos, os elementos da linguagem musical vão sendo

introduzidos aos alunos através da prática.

Ouvindo, tocando e explorando os instrumentos, é possível distinguir os sons graves dos agudos,

ter noções de timbre e intensidade e diferenciar os instrumentos elétricos dos acústicos. A voz

amplificada ao microfone é uma descoberta interessante e divertida.

O ritmo é parte essencial do processo de musicalização e deve passar pelo corpo para que

seja internalizado. O senso rítmico começa com a percepção da pulsação. Através dos jogos e

brincadeiras musicais, os alunos desenvolvem maior consciência dos movimentos dentro do

espaço/tempo. Caminhar mantendo a pulsação, correr, parar, dançar e cantar foram algumas das

atividades lúdicas feitas em nossos encontros, neste primeiro trimestre.

A voz e as suas possibilidades têm forte presença em todas as aulas, por isso nelas,

procuramos delinear um repertório comum a todos, resgatando a identidade do cancioneiro

popular tradicional do nosso país.

A apreciação musical ficou a cargo do projeto do ano da Escola: “A formação das sociedades:

um estudo humanizador”. Os alunos entraram em contato com um universo musical bastante

distinto. Conheceram diversos instrumentos, como o sitar, o gunhzen, as tablas, e ouviram música

chinesa, indiana, tibetana, árabe, cigana, entre outras. As civilizações orientais possuem um sistema

tonal que foge da afinação pitagórica e dos temperamentos, aos quais nosso ouvido ocidental está

habituado. A apreciação musical dessas sonoridades aprimora a escuta, que vai além do simples

gostar ou não, enriquecendo e expandindo nossas experiências.

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As turmas dos primeiro e segundo anos são bastante musicais e já trazem uma bagagem

grande de canções e brincadeiras; estiveram, no geral, sempre atentos e dispostos ao trabalho.

Terceiro, Quarto e Quinto anos

Os terceiro, quarto e quinto anos estão praticando a flauta doce neste primeiro trimestre,

com o intuito de trabalhar a introdução à leitura de partituras. Os sistemas de notação musical

existem há milhares de anos, porém, o sistema ocidental, no formato usado até hoje, foi criado

durante a Idade Média, tornando-se universal. É importante que os alunos conheçam-no e sejam

capazes de interpretar as notas escritas no pentagrama. Para isso começamos uma investigação

sobre o que as turmas já conheciam sobre o sistema de notação musical convencional: símbolos,

claves, sequência de notas, figuras de ritmo, compassos, sustenidos e bemóis etc.

A partir desse levantamento, os alunos exercitaram a escrita musical, reproduzindo as claves

e notas na pauta para, depois, encontrarem os sons na flauta doce. A técnica da flauta desenvolve

habilidades como motricidade fina, coordenação e respiração, além de aumentar a capacidade de

concentração. Para executarem as notas corretamente, os orifícios do instrumento devem ser

completamente cobertos e a digitação deve ser praticada. Os alunos fizeram exercícios rítmicos,

melódicos e harmônicos em conjunto.

O estudo do ritmo começa a entrar em uma outra fase; escrever e ler uma figura rítmica,

transforma a experiência da percepção corporal em interpretação intelectual e sua representação

no instrumento.

O terceiro ano começou a praticar somente a mão esquerda na flauta doce. As notas a serem

executadas nesta posição são: sol, lá, si, dó, ré. Com essas notas, a melodia da obra Ode à Alegria,

de Beethoven pôde ser reconhecida, tendo sido tocada com entusiasmo por todos!

O quarto ano aprendeu as notas das cinco linhas e quatro espaços do pentagrama. A

sequência da escala diatônica ascendente e descendente, foi trabalhada com a célebre Minha

Canção de Os Saltimbancos de Chico Buarque, como forma de memorizar as notas. Outras músicas,

já conhecidas, também ganharam pequenas partes na flauta. Os alunos dedicaram-se bastante e

adotaram uma postura mais centrada durante os encontros.

O quinto ano trabalhou a canção indiana Chanda Mama, com a letra no idioma hindi, que

fala sobre a lua. O tema foi aprendido com entusiasmo por toda a classe, as notas foram decifradas

diretamente da partitura para as respectivas digitações na flauta doce. Como nem todos da turma

têm preferência por tocar a flauta, alguns estão cantando com empolgação contagiante!

A apreciação musical ficou a cargo do projeto do ano da Escola: “A formação das sociedades:

um estudo humanizador”. Os alunos entraram em contato com um universo musical bastante

distinto. Conheceram diversos instrumentos, como o sitar, o gunhzen, as tablas, e ouviram música

chinesa, indiana, tibetana, árabe, cigana, entre outras. As civilizações orientais possuem um sistema

tonal que foge da afinação pitagórica e dos temperamentos, aos quais nosso ouvido ocidental está

habituado. A apreciação musical dessas sonoridades amplia a escuta, que vai além do simples gostar

ou não, enriquecendo nossa própria experiência de vida.

Sexto, Sétimo, Oitavo e Nono anos

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O trabalho de música para essas séries, envolve a compreensão e a interpretação dos

elementos da linguagem musical, leitura de partituras e cifras, prática vocal e instrumental e

apreciação musical.

A introdução à leitura de partituras foi o mote para o começo do semestre. Os sistemas de

notação musical existem há milhares de anos, porém, o sistema ocidental, no formato usado até

hoje foi criado durante a Idade Média, e tornando-se universal. É importante que os alunos o

conheçam e sejam capazes de interpretar as notas escritas no pentagrama. Para isso começamos

uma investigação sobre o que as turmas já conheciam sobre o sistema de notação musical

convencional: símbolos, claves, sequência de notas, figuras de ritmo, compassos, sustenidos e

bemóis etc.

A partir desses conhecimentos, começamos a exercitar a escrita musical, reproduzindo as

claves e notas na pauta, para depois encontrarmos os sons nos respectivos instrumentos.

O sexto ano já estava habituado com o sistema de notação musical desde o ano passado,

porém neste ano, as atividades exigiram que os alunos conseguissem interpretar as notas escritas

na partitura para poder executar as músicas. Nessa fase, somente as alturas das notas (melodias)

foram trabalhadas. A turma está executando uma música tradicional do Tibete, ensinada para os

americanos, pela colônia de refugiados tibetanos em Nova Iorque.

O sétimo ano conheceu os mantras, a fala considerada sagrada pelos orientais, pronunciada

e escrita em uma das línguas mais antigas já registradas pela humanidade, o sânscrito. Os orientais

utilizam o entoar dos mantras como uma forma de purificar a fala. Agora, estão engajados em

praticar a música tradicional chinesa Silver Clouds Chasing the Moon (Nuvens de Prata Caçando a

Lua), em livre tradução, um tema instrumental inspirador.

O oitavo ano começou com a música Sarva Mangalam, de Ravi Shankar, famoso músico

indiano, que abriu as portas dessa música para o ocidente nos anos 60, influenciando tanto John

Coltrane quanto os Beatles. A música indiana é baseada no sistema de Ragas, que são estruturas

melódicas, nas quais harmonia é constante e sem alterações.

O nono ano também mergulhou no universo da sonoridade oriental, executando uma melodia

indiana interpretada pelo grupo brasileiro Mawaca. Kali, o nome da música, é também o nome de

uma deusa hindu irada.

Cada instrumento possui desafios e peculiaridades que são trabalhadas de forma específica.

Desde a digitação das notas na flauta transversal, o ritmo do violão, passando pelos acordes no

piano, tudo é minuciosamente elaborado com a participação dos alunos para na performance.

A apreciação musical ficou a cargo do projeto do ano da Escola: “A formação das sociedades:

um estudo humanizador”. Os alunos entraram em contato com um universo musical bastante

distinto. Conheceram diversos instrumentos, como o sitar, o gunhzen, as tablas, e ouviram musica

chinesa, indiana, tibetana, árabe, cigana, entre outras. As civilizações orientais possuem um sistema

tonal que foge da afinação pitagórica e dos temperamentos, aos quais nosso ouvido ocidental está

habituado. A apreciação musical dessas sonoridades amplia a escuta que vai além do simples gostar

ou não, enriquecendo e ampliando nossa própria experiência de vida.

Luciana

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Relatório do Trabalho de Artes – Primeiro ao Quinto Anos

"Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma

vida inteira para aprender a desenhar como as crianças"

Pablo Picasso

Este primeiro trimestre foi recheado de boas adaptações, tanto para os alunos, como para

mim.

Logo que iniciei meu planejamento, constatei que o tema do trimestre, a China, seria um

prato farto para contemplar os conteúdos e procedimentos que deveria explorar em Artes.

A primeira aula tinha um objetivo muito claro: levá-los de volta ao passado na longínqua

China. Com a história da origem do Teatro de Sombras, pude apresentar a China: seus costumes,

comida, roupas e Arte.

Quem nunca ouviu uma história e se deixou levar, levante a mão! O pacto estava formado.

Estavam curiosos para saber mais sobre a cultura milenar que este país poderia nos apresentar!

Pintura Ming(1368–1644) da cidade proibida usada para fazer leitura de imagens com os alunos de Arte do primeiro ao nono ano.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_ProibidaPrimeiro ano

Vamos fazer uma cabana debaixo da mesa? O grupo do primeiro ano logo topou e

começaram a se movimentar para ajudar a construir um lugar especial para ouvir a história. Todos

entraram debaixo da mesa, acendi uma vela e, muito atentos, ouviram a história até o fim.

As aulas do primeiro ano são muito dinâmicas, necessitam de rotina e acontecem às

segundas e quartas-feiras, contribuindo muito para a organização da turma aprendiz. Sempre

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começamos nossos encontros em círculo, onde apresento a proposta do dia, e terminamos

organizando todo o material utilizado: pincel, lápis de cor, canetas coloridas e etc. Ao final, peço

que eles lavem as mãos e formem uma fila para o almoço.

Os estudos em artes começaram a partir dos procedimentos ligados à fabricação do

nanquim. Os alunos recolheram madeiras secas, montaram uma fogueira para queimá-las,

experimentaram desenhar com os pauzinhos em ponta de carvão e, depois, misturaram água, ao

pó do carvão, para pintar com o nanquim fabricado. Observei que fizeram as atividades, cada um

no seu ritmo; literalmente, descobrindo a China.

Os alunos pequenos necessitam trabalhar a coordenação motora e entrar em contato com

materiais variados para desenvolver os sentidos. A argila é daqueles materiais especiais, muito rico

e familiar para eles, especialmente nesta Escola, que possui uma fábrica de barro, muito apreciada

por todos. Desenvolveram potes, com e sem alça, e tiveram alguns desafios técnicos, como modelar

a partir da técnica da bola de argila, herança indígena do nosso país, e saíram-se, de modo geral,

muito bem.

Na sequência, propus que trabalhassem com pintura e construção de mandalas, mistura de

cores, pintura com guache, reforçando procedimentos, como: recortar, colar, pintar, observar. Esse

conjunto constituiu um procedimento muito importante, pois atuaram concentrados, com muito

capricho.

Regidos pelos estudos chineses, também propus que trabalhassem com jardins de pedra, o

que resultou em estudos e composições muito interessantes e proveitosos para lidar com

agrupamentos de duplas e trios e avaliar como estão se desenvolvendo nos processos de

socialização. Notei que foi uma atividade muito lúdica, mas, também, desafiadora para eles, pois

tiveram que repartir as pedras bonitas, selecionar materiais e dividir o espaço com os companheiros

de grupo, o que possibilitou bons momentos de conversas.

No que se refere à dinâmica do grupo, alguns desafios apareceram logo nas primeiras aulas,

como: aceitar que as meninas estivessem no lugar da frente nas filas, fazer uma roda de conversa

organizada, dividir as atenções da professora no momento inicial do trabalho, situar-se entre

horários livres e de aula e aprender a conviver com o outro.

Atenta às necessidades da área, não poderia deixar de iniciar os estudos de leitura de

imagens. Apresentei a eles a Cidade Proibida, em Pequim. Notei que gostaram muito de ver as

imagens dos dragões minuciosamente esculpidos nos telhados das construções. Quase todos

escolheram o palácio para representar em desenho.

São muitas as necessidades e possibilidades que preciso explorar com eles, mas até o

momento, caminham muito bem! Aguardem as próximas notícias.

Segundo ano

Depois de uma história com imperador, dançarinas, banquete imperial com espetinhos de

escorpião, grilos e etc, introduzi os estudos da área de artes. Aliás, ficaram ansiosos para saber mais

sobre a China.

Contaminados pela fogueira do primeiro ano, propus que refizessem todo o caminho da

fabricação do nanquim, passando por todas as etapas: recolher gravetos e queimá-los numa

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fogueira, transformá-los em carvão, triturá-los em pilão, misturar cola e pintar. Essa sequência de

trabalho necessitou que muitas aulas tivessem que ser realizadas fora da sala e essas dinâmicas

mostraram o quanto o segundo ano precisa da presença firme do professor para não perder o foco.

Propus também, um estudo prático e reflexivo sobre algumas técnicas de reprodução de

imagem e escrita. Apresentei-lhes, de início, algumas escritas que utilizavam símbolos e desenhos,

como a egípcia e fenícia. Cada aluno desenhou uma imagem, escolheu seu significado e, ao final,

transformou-a em carimbo. Observei que fizeram escolhas bem variadas de temas, como águia,

catapulta, água, tempestade... Realizaram as primeiras impressões com tinta de gravura e ficavam

inconformados com as manchas, típicas dessa técnica, ao redor da imagem central. Foi necessário

parar a aula e contar-lhes um pouco mais sobre o processo de impressão e os borrões que

apareciam. Notei o quanto não estão acostumados a esse tipo de imagem (com ruídos) e o quanto

estavam sendo rigorosos e perfeccionistas consigo próprios. Ficaram aliviados com a explicação

sobre as especificidades da técnica utilizada.

Percebi, no segundo ano, uma turma com muita energia, onde a contenção corporal é

necessária e, portanto, procurei encaminhar todas as aulas marcando a nossa rotina, com muita

tutela e mediação do professor. Nos momentos de roda inicial, espero silêncio ou faço alguma

intervenção e aguardo até que fiquem mais tranquilos. Nossas aulas sempre se iniciam com uma

fila na porta da classe, de onde partimos em direção à sala de artes. Os rituais de roda inicial e

arrumação da sala (lavar rolos de impressão, guardar lápis e canetas...) nos momentos finais

também fazem parte dos preceitos educativos trabalhados em nossos encontros.

Terceiro ano

O terceiro ano é uma turma muito interessada, acolhedora e trabalhadora. Receberam-me

muito curiosos e iniciamos os estudos de artes e da China mergulhando nas técnicas de desenho

utilizando nanquim. Primeiramente, realizaram experimentações com esse material, desenhando

letras e formas em papel vermelho de tamanho pequeno; ficaram surpresos com a qualidade da

tinta que fabricaram.

Na sequência dos estudos, apresentei a eles o zodíaco chinês e os animais nele

representados; em duplas, trabalharam desenhando em grande escala. Todo o processo envolveu

muitos procedimentos, como escolha de imagens, recorte, desenho, pintura com pincel e palito de

madeira (guache e nanquim industrial, respectivamente). O destaque foi para a fabricação e pintura

com purpurina dourada. Percebi que transformar o pó em tinta deixou os completamente

fascinados.

Desenvolvemos, também, um projeto com modelagem em argila: trabalharam a massa,

aprenderam a tirar bolhas e fazer placas, onde gravaram os seus desenhos em baixo relevo sulcando

a massa; ficaram muito entusiasmados com a possibilidade de queimar as placas transformando-as

em cerâmica. Trabalharam muito interessados por aprender a lidar com a argila e todos foram bem

sucedidos nos resultados.

Continuaram seus estudos com modelagem em argila, mas, desta vez, propus uma

abordagem mais autônoma: um colorido prato de comida, resultado das pesquisas sobre a

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alimentação chinesa. Percebi que, por ser um trabalho que exigia menos rigor técnico, dedicaram-

se mais à expressão.

Enfim, para fechar este primeiro trimestre, ao grupo do terceiro ano também foi

apresentada uma reprodução de pintura da Cidade Proibida e uma seleção de imagens para que

pudessem fazer uma leitura mais formal de imagens. Noto o quanto é difícil para os alunos

perceberem o que já dominam, e privarem-se do contato direto com o material ou suporte plástico,

mas, reforço para eles a importância da aprendizagem desse tipo particular de leitura, pois, só

assim, se tornarão cidadãos livres das armadilhas visuais.

Quarto ano

Como já havia citado na abertura deste documento, iniciei as atividades do quarto ano,

envolvendo-os com uma história que possibilitou apresentar a mim e à China.

Iniciamos o estudo sobre esse país experimentando várias possibilidades de desenhar: tanto

no que diz respeito ao tamanho e cor do suporte (no caso, o papel), como ao instrumento e ao tema.

Começamos com o desenho a carvão. Usar gravetos carbonizados, alimentados pelo fogo de uma

vela, fascinou-os e produziu o interesse e a dedicação que eu esperava deste grupo. Percebi que

ficaram hipnotizados e que o instrumento rústico e comum transformou-se num artefato

encantado. Seguiram seus estudos desenhando com carvão industrializado e tinta nanquim. Nessas

propostas, sempre usaram como suporte o papel branco. Passei, depois, a oferecer propostas que

trabalhavam exatamente o oposto do que tinham explorado até então, com a intenção de provocar

o olhar e os sentidos desses estudantes. Trabalharam, assim, com o papel preto e o lápis branco.

Esmeraram-se tanto em alguns registros que adiantei o trabalho de apreciação com as imagens

produzidas por eles.

Depois de terem vivido a exploração da representação bidimensional, iniciaram os estudos

para explorar a produção tridimensional. Apresentei-lhes muitas imagens dos Guerreiros de Xian:

grande complexo artístico chinês, descoberto na década de 70, datado do século. III A.C., onde

existem mais de oito mil esculturas entre guerreiros, soldados, oficiais, cavalos e toda a grandeza

que envolvia um exército imperial. A partir desses estudos, propus ao grupo um exercício de

desenho coletivo da face humana: cada aluno recebia uma folha de sulfite A4 e a dividia em quatro

partes; no primeiro campo desenhavam adereços de cabeça; no segundo, olhos e início do nariz; no

terceiro, boca e final do nariz e, no quarto, queixo, barba e pescoço. A cada comando, o aluno

passava o desenho para o colega ao lado para ser continuado, e assim, sucessivamente, até o

desenho voltar ao seu autor inicial, que poderia, então, dar os retoques finais. Esse exercício de

composição e detalhamento do rosto humano foi necessário para perceberem a complexidade da

representação exigida pela proposta. Percebi um grande avanço no detalhamento das esculturas

depois dos estudos por meio do desenho.

Após esse estudo minucioso, começaram a trabalhar o rosto humano em argila. Ainda estão

nesse processo, mas, posso avaliar que os estudos expressam muita qualidade e rico detalhamento.

Vale destacar que, através dessa modelagem, estamos trabalhando procedimentos técnicos ligados

à argila, como: aprender a ocar uma peça maciça, colar e costurar argila usando barbotina (cola de

argila), além do uso e experimentação de várias ferramentas (mais conhecidas como estecas).

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Quanto à dinâmica deste grupo, desde a primeira aula, a turma apresentou claras

características e demandas: precisavam ser desafiados na mesma proporção que deveriam perceber

os limites nas aulas de artes. Avalio que estamos trilhando um bom caminho!

Quinto ano

O quinto ano do Ensino Fundamental costuma ser um ano de grande amadurecimento motor

e cognitivo, apresentando alunos muito dispostos e interessados na aprendizagem da área de artes.

Comecei nossas aulas oferecendo aos alunos a possibilidade de escolher um elemento ao

final da história “A origem do Teatro de Sombras” para representar através do desenho.

O desenho é a base da expressão plástica. Exige muitas habilidades, como: escolher uma

síntese para representar; coordenar traço, linha, contorno; explorar figura e fundo, campo visual de

trabalho. Percebi, acompanhando este processo, uma dedicação e um interesse muito grandes por

parte da grande maioria dos alunos nesta linguagem. Alguns até pediram para fazer mais que uma

representação!

Após concluir este processo, passamos a focar a modelagem como forma de expressão. Essa

linguagem explora elaborações de expressão muito diferentes da exigida no campo bidimensional.

Os alunos têm que lidar com uma síntese abstrata e mental para transformá-la em forma tátil e

objetiva, conservando as propriedades técnicas e físicas do material, ou seja, é necessário que o

objeto permaneça em pé e tenha a consistência correta e adequada para existir. Considero cinco

aspectos muito importantes a serem trabalhados com os alunos referentes à modelagem: trabalhar

a massa retirando as bolhas de ar, elaborar placas, modelar potes, ocar peças, aprender a usar

barbotina (cola de argila).

O quinto ano iniciou esses procedimentos pelos potes. Avalio que gostaram muito de

trabalhar com o material e empenharam-se para vencer os requisitos técnicos, como: espessura da

massa, superfície sem rachaduras, bordas regulares. Ofereci a possibilidade de uma segunda criação

com maior autonomia usando os requisitos técnicos aprendidos e, mais uma vez, mostraram,

grande parte dos alunos, muita energia e vontade de se expressar. Estão se apropriando das

ferramentas (estecas, esponja, palitos, barbotina) aos poucos.

O próximo trabalho será pintura e composição em um suporte tridimensional: bancos de

madeira.

Cíntia

Relatório do Trabalho de Artes – Sexto ao Nono Anos

Sexto ano

Nossa sociedade globalizada vem se transformando em diversos sentidos e o papel da

imagem, em diferentes contextos, desde a comunicação cotidiana à construção do conhecimento,

faz-se cada vez mais presente. Assim, investir na conquista estratégias de leitura e interpretação de

imagens por parte dos estudantes é um dos eixos de aprendizagem do curso de Artes na Ágora.

Nos dois primeiros meses de aula, o trabalho esteve focado em três tópicos principais: leitura

de imagem, cultura chinesa e cooperação entre duplas de alunos na resolução de questões.

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Os objetivos de desenvolver um processo – e não apenas uma atividade – que contempla a

leitura e a interpretação de imagens são vários:

- Preparar os alunos para “traduzir” o mundo imagético que os cerca, cujo volume de

imagens circulantes só aumenta;

- Desenvolver a apropriação e aplicação de conceitos da linguagem visual na elaboração do

significado de uma obra de arte, cujo domínio os auxiliarão também na prática artística;

- Considerar a arte como linguagem humana e fonte de conhecimento, sendo ela fruto de

um contexto de produção específico, por meio do exercício de traçar relações entre forma e

conteúdo.

A obra escolhida como objeto de estudo foi uma pintura chinesa do século XVI sobre a Cidade

Proibida, em Pequim. O exercício de leitura desenvolveu-se por meio de um roteiro de questões e

discussões, aulas expositivas e produções textuais, intercalados com a prática do desenho de

observação da imagem. Ao final, os alunos elaboraram uma nova composição com a mesma

temática, na qual buscaram ressignificar os elementos (desenhos feitos por eles) oriundos da

pintura original.

Explico a seguir o passo-a-passo do processo. Inicialmente, os alunos foram agrupados em

duplas e observaram uma reprodução da obra chinesa com o intuito de selecionar algumas figuras

(entre oito e dez) para reproduzir separadamente, por meio de desenhos, em um papel. Assim,

puderam perceber os diferentes elementos, e seus detalhes, que a composição apresenta. Em

seguida, receberam um roteiro de questões dividido em três partes (identificação de elementos da

linguagem; relações entre conceitos e aspectos da imagem; socialização das descobertas/leituras).

Ainda em pequenos grupos, discutiram cada pergunta da primeira parte e, individualmente,

elaboraram suas próprias respostas por escrito. Depois, compartilhamos no coletivo essas

respostas, ampliando a troca, que havia ocorrido nas duplas, para todos.

Ao longo das aulas, a classe revelou grande capacidade de concentração e envolvimento nas

diferentes atividades propostas, garantindo produções de qualidade. Participaram de forma

produtiva das conversas sobre a China, trazendo contribuições: recordaram do Templo Zu Lai,

familiar para vários alunos, e de outras referências de visualidade oriental, como desenhos

animados. De maneira geral, empenharam-se nas trocas entre duplas, focando a atividade a ser

realizada.

Retomando a sequência do trabalho, após as primeiras questões, apresentei-lhes fotos

atuais e informações sobre a Cidade Proibida, o contexto em que surgiu e como é hoje, destacando

a carga cultural e histórica da sociedade chinesa presente nessa gigantesca construção. Com esses

dados em mente, os alunos reuniram-se novamente para discutir sobre novas questões, mais

complexas agora, e, depois, compartilhamos as respostas. O grupo mostrou-se, mais uma vez,

disponível e adequado na troca de ideias. Como conclusão desse trabalho de leitura, os alunos

produziram um texto final sobre a obra, para o qual seguiram orientações: que cuidassem da clareza

de suas ideias ao escreverem sobre um objeto visual; que buscassem traçar relações entre as

características da imagem e o contexto histórico-cultural que a gerou; que utilizassem conceitos da

linguagem visual, como cor, forma, proporção, profundidade, composição, entre outros. A grande

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maioria não entregou a tarefa na data pedida, o que gerou uma conversa sobre as responsabilidades

estudantis na relação ensino-aprendizagem. Na aula seguinte, todos entregaram suas produções e

notei que há estágios diferentes em relação à apropriação de conceitos visuais na linguagem escrita,

o que devemos seguir desenvolvendo ao longo do curso.

O desafio seguinte foi de ordem artística: os alunos retomaram seus desenhos iniciais e

elaboraram, cada um, sua própria Cidade Proibida, incorporando os elementos da composição

inicial e dando um novo contexto para eles. Além disso, deveriam explorar diferentes escalas das

figuras com a intenção de dar sensação de profundidade (tamanho maior para o que está mais

perto).

Em relação às técnicas artísticas, os alunos usaram nanquim com bico de pena sobre os

traços e aquarela para pintar, buscando avançar no domínio desse material, utilizando-o conforme

suas intenções expressivas. Para tanto, fizemos um exercício com a aquarela em que eles

experimentaram alguns recursos: tons em degradê, tons justapostos, tons sobrepostos com

transparência e o efeito de manchas. Mostraram-se muito envolvidos com essa técnica e com a

possibilidade de aprender a utilizá-la de forma controlada.

No próximo trimestre, seguiremos ainda com o estudo sobre China, focando a escrita por

meio dos caracteres típicos de sociedades orientais. Vamos elaborar um glossário com caracteres

inventados pelos alunos e explorar a técnica do carimbo em composições que relacionem imagem

e escrita.

Um bom ano para todos nós!

Sétimo ano

Nossa sociedade globalizada vem se transformando em diversos sentidos e o papel da

imagem, em diferentes contextos, desde a comunicação cotidiana à construção do conhecimento,

faz-se cada vez mais presente. Assim, investir nas estratégias de leitura e interpretação de imagens

por parte dos estudantes é um dos eixos de aprendizagem do curso de Artes na Ágora.

Nos dois primeiros meses de aula, o trabalho esteve focado em três tópicos principais: leitura

de imagem, cultura chinesa e cooperação entre pequenos grupos de alunos na resolução de

questões.

Os objetivos de desenvolver um processo – e não apenas uma atividade – que contempla a

leitura e a interpretação de imagens são vários:

- preparar os alunos para “traduzir” o mundo imagético que nos cerca, cujo volume de

imagens circulantes só aumenta;

- desenvolver a aplicação/ apropriação de conceitos da linguagem visual na elaboração do

significado de uma obra de arte, cujo domínio os favorecerá também a prática artística;

- considerar a arte como linguagem humana e fonte de conhecimento, fruto de um contexto

de produção específico, por meio do exercício de traçar relações entre forma e conteúdo.

A obra escolhida como objeto de estudo foi uma pintura chinesa do século XVI sobre a Cidade

Proibida, em Pequim. O exercício de leitura desenvolveu-se por meio de um roteiro de questões e

discussões, aulas expositivas e produções textuais, intercalados com a prática do desenho de

observação da imagem. Ao final, os alunos elaboraram uma nova composição com a mesma

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temática, na qual buscaram ressignificar os elementos (desenhos feitos por eles) oriundos da

pintura original.

Explico a seguir o passo-a-passo do processo: inicialmente, os alunos foram agrupados em

trios e observaram uma imagem da obra chinesa com o intuito de selecionar algumas figuras (entre

oito e dez) para reproduzi-las separadamente, por meio de desenhos, em um papel. Assim, vieram

a perceber os diferentes elementos (e seus detalhes) que a composição apresenta. Em seguida,

receberam um roteiro de questões dividido em três partes. Ainda em pequenos grupos, discutiram

cada questão da primeira parte e cada um elaborou suas próprias respostas por escrito. Depois,

compartilhamos no grupo essas respostas, ampliando para toda a turma a troca que havia ocorrido

nos trios.

Ao longo das aulas, o grupo revelou-se interessado, competente e extremamente agitado,

falante e disperso. Os alunos demonstraram dificuldade de “caminhar” juntos, mantendo o mesmo

foco. Quando um fala, dificilmente temos a atenção de todos simultaneamente. Não que não se

interessem ou não atentem para o que precisam fazer, mas não sustentam essa atenção. Há uma

constante interação deles em pequenos grupos dentro de um maior, causando um dinamismo que

alterna produtividade e dispersão. Não foram poucos os momentos em que chamei a atenção para

isso, destacando que as conversas excessivas atrapalham o desenvolvimento das atividades e

pontuando que, neste trimestre, “saber o momento de falar” é uma atitude que se espera desses

alunos e vem sendo observada como critério de avaliação de nossas aulas.

Retomando a sequência do trabalho, após as primeiras questões, apresentei fotos atuais e

informações sobre a Cidade Proibida, o contexto em que surgiu e como está hoje, destacando a

carga cultural e histórica da sociedade chinesa presentes nessa gigantesca construção. Com esses

dados em mente, os alunos reuniram-se novamente para discutir outras perguntas, mais complexas

agora e, depois, compartilhamos as respostas. O grupo mostrou-se aberto a essa atividade, embora

alguns alunos tenham demonstrado certo constrangimento em expor sua produção para o grupo.

Em certos casos, notei timidez e, em outros, falta de confiança na própria produção. Alguns

empenharam-se e levaram a sério o processo; outros, nem tanto. Meu estímulo foi para que

superassem tais questões, destacando a nossa “eterna” condição de aprendizagem como

indivíduos. Como conclusão desse trabalho de leitura, os alunos produziram um texto final sobre a

obra, para o qual seguiram orientações: que cuidassem da clareza de suas ideias ao escrever sobre

um objeto visual; que buscassem traçar relações entre as características da imagem e o contexto

histórico-cultural que a gerou; que utilizassem conceitos da linguagem visual como cor, forma,

proporção, profundidade, composição, entre outros. Notei que há estágios diferentes em relação à

apropriação de conceitos visuais na linguagem escrita e apenas alguns apresentaram relações entre

os aspectos pedidos, questões que devemos seguir desenvolvendo ao longo do curso.

O desafio seguinte foi de ordem artística: os alunos retomaram seus desenhos iniciais e

elaboraram cada um sua própria Cidade Proibida, incorporando os elementos da composição inicial

e dando um novo contexto para eles. Além disso, deveriam explorar diferentes escalas das figuras

com a intenção de obter a sensação de profundidade (tamanho maior para o que está mais perto).

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Em relação às técnicas artísticas, os alunos usaram nanquim com bico de pena sobre os

traços e aquarela para pintar, buscando avançar no domínio desse material, utilizando-o conforme

suas intenções expressivas. Para tanto, fizemos um exercício com a aquarela em que eles

exercitaram alguns recursos: tons em degradê, tons justapostos, tons sobrepostos com

transparência e o efeito de manchas. Mostraram-se muito envolvidos com essa técnica e com a

possibilidade de aprender a utilizá-la de forma controlada.

O aspecto agitado e dispersivo do grupo resultou numa demora maior do que a prevista e

necessária para a realização das atividades propostas. Esse fato foi colocado aos alunos em diversas

situações. Venho observando que, aos poucos, estão se dando conta do prejuízo decorrente de

posturas inadequadas. Desse modo, finalizamos o trimestre com o processo ainda em curso, ficando

as etapas da autoavaliação e da apreciação coletiva para o início de maio.

Na sequência, seguiremos ainda com o estudo sobre China, focando seus símbolos culturais

e tradicionais por meio do zodíaco chinês. Unindo o conhecimento de si mesmos e a simbologia de

uma cultura tradicional, o objetivo geral é que possam abordar as próprias identidades somando-

se essa sabedoria milenar. Por outro lado, serão testados em relação à técnica do “kirigami”, a arte

do recorte chinês.

Muitos desafios à espera desse grupo: eles podem mais!

Oitavo ano

Um dos principais eixos de aprendizagem da Arte na escola é a leitura de imagens,

considerando a identificação de seus elementos e aspectos, a compreensão do contexto de sua

produção e a transposição da linguagem visual para a escrita por meio da apropriação de conceitos

visuais. Como etapas do processo de construção de tal competência (leitura de imagens),

destacamos o viés descritivo, o analítico e o interpretativo. Nada mais pertinente para lidar com o

mar de imagens em que nos encontramos hoje em dia, cujo volume tende a aumentar.

Nessa direção, o curso de Artes iniciou o ano com um roteiro de leitura de uma obra chinesa

do século XVI, estabelecendo, a partir dessa escolha, uma contribuição ao projeto anual “A

formação das sociedades, um estudo humanizador”. Inicialmente, os alunos foram orientados a

observar uma reprodução dessa pintura a fim de escolher parte dela para reproduzir por meio de

um desenho, em uma folha maior (tamanho A3). Em seguida, agruparam-se em duplas ou trios para

discutir as primeiras questões do roteiro e trocar impressões e ideias sobre a obra estudada. Cada

um elaborou suas próprias respostas, posteriormente compartilhadas no grupo todo.

Em um segundo estágio, apresentei a eles conteúdos ligados à pintura estudada, cujo tema

era a Cidade Proibida, localizada em Pequim, trazendo fotografias atuais do local e informações

sobre o contexto da época em que foi construído. De maneira geral, o grupo mostrou-se

concentrado e envolvido nas atividades propostas, participando das conversas de forma produtiva.

Por outro lado, ainda esteve disperso em muitos momentos, ocupando-se de assuntos estranhos ao

trabalho.

Depois da exposição de dados histórico-culturais, os alunos voltaram aos grupos menores

para discutir novas questões, agora mais complexas, tratando de alguns conceitos da linguagem

visual, tais como composição, relação entre figura e fundo, efeito de profundidade e de relações

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entre aspectos da obra e contexto de produção. Notei que alguns alunos comprometeram-se a

discutir as questões e os conceitos envolvidos, enquanto outros trataram a tarefa de forma

superficial. Ao final desse processo, produziram textos interpretativos sobre a pintura, buscando

utilizar os conceitos trabalhados e articular as relações apontadas. Alguns apresentaram uma escrita

fluída e consistente, outros revelaram dificuldades para estabelecer relações apropriadas,

particularidades que apontei de forma individualizada na devolutiva dos trabalhos.

Ao término desse estudo, voltamo-nos para a prática artística, em que os estudantes

retomaram os próprios desenhos de observação de parte da pintura estudada, dando continuidade

à composição, elaborando, cada um, sua própria “Cidade Proibida”. Além do desafio de ressignificar

a figura inicial, colocando-a em novo contexto, deveriam lançar mão de recursos ligados à

profundidade, como o uso de diversos planos e a exploração da escala das figuras conforme a

distância entre elas. Todos revelaram suas particularidades da própria linguagem visual por meio

desse desenho, sendo que a maioria avançou na direção desses objetivos.

Para o desenvolvimento dessa composição, foi proposto o uso de nanquim com bico de pena

para os traços e pintura com aquarela para as cores. Antes de pintar, realizamos um exercício com

a aquarela em que eu demonstrei o passo-a-passo para a aquisição de alguns recursos: degradê,

justaposição e sobreposição de cores e manchas características dessa técnica. A partir disso, os

alunos tiveram condições para utilizar o material com intencionalidade, explorando suas variações.

Avançaremos na questão da representação da profundidade em um plano bidimensional

(desenho e pintura) ao longo deste ano, por meio de diversas propostas. A próxima será a

representação de um quarto idealizado por esses estudantes, na qual a técnica da perspectiva

clássica será desvendada e aplicada por eles nas próprias criações.

O convite é para que mergulhemos mais fundo!

Nono ano

Um dos principais eixos de aprendizagem da Arte na escola é a leitura de imagens,

considerando a identificação de seus elementos e aspectos, a compreensão do contexto de sua

produção e a transposição da linguagem visual para a escrita por meio da apropriação de conceitos

visuais. Como etapas do processo de construção de tal competência (leitura de imagens),

destacamos o viés descritivo, o analítico e o interpretativo. Nada mais pertinente para lidar com o

mar de imagens em que nos encontramos hoje em dia, cujo volume tende a aumentar.

Nessa direção, o curso de Artes iniciou o ano com um roteiro de leitura de uma obra chinesa

do século XVI, estabelecendo, a partir dessa escolha, uma contribuição ao projeto anual “A

formação das sociedades, um estudo humanizador”. Inicialmente, os alunos foram orientados a

observar uma reprodução dessa pintura a fim de escolher parte dela para reproduzir por meio de

um desenho, em uma folha maior (tamanho A3). De maneira geral, apresentaram ótimos desenhos!

Em seguida, agruparam-se em duplas ou trios para discutir as primeiras questões do roteiro e trocar

impressões e ideias sobre a obra estudada. Posteriormente, cada um elaborou suas próprias

respostas, que foram compartilhadas no grupo todo.

Em um segundo estágio, apresentei a eles conteúdos ligados à pintura estudada, cujo tema

era a Cidade Proibida, localizada em Pequim, trazendo fotografias atuais do local e informações

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sobre o contexto da época em que foi construído. Depois, os alunos voltaram aos grupos menores

para discutir novas perguntas, agora mais complexas, tratando de alguns conceitos da linguagem

visual, tais como composição, relação entre figura e fundo, efeito de profundidade e de relações

entre aspectos da obra e contexto de produção. O grupo mostrou-se, nesse início de ano, muito

concentrado e comprometido com a própria produção durante as aulas. Levou as questões e

problemas a sério, buscando hipóteses e soluções nos pequenos grupos. Ao final desse processo,

produziram textos interpretativos sobre a pintura, buscando utilizar os conceitos trabalhados e

articular as relações apontadas. Essa etapa, encomendada como lição de casa, demandou mais

tempo do que o previsto. Na data combinada de sua entrega, poucos realizaram produções

significativas, o que foi surpreendente, se considerarmos o que foram capazes de fazer em aula.

Retomamos os objetivos do texto a ser produzido e, na semana seguinte, a maioria apresentou

produções de qualidade. No entanto, no momento de compartilhá-las com o grupo, alguns

mostraram-se resistentes ou constrangidos em expor o que haviam feito. Com meu incentivo, cada

um leu um trecho de seu texto e, assim, pudemos ter uma visão ampla da caminhada do grupo

nessas quatro semanas iniciais.

Ao término desse estudo, voltamo-nos para a prática artística, em que os alunos retomaram

os próprios desenhos de observação de parte da pintura estudada e deram continuidade à

composição, elaborando, cada um, sua própria “Cidade Proibida”. Além do desafio de ressignificar

a figura inicial, colocando-a em novo contexto, deveriam lançar mão de recursos ligados à

profundidade, como o uso de diversos planos e a exploração da escala das figuras conforme a

distância entre elas. Todos revelaram suas particularidades da própria linguagem visual por meio

desse desenho, sendo que a maioria atingiu os objetivos traçados de forma admirável.

Para o desenvolvimento dessa composição, foi proposto o uso de nanquim com bico de pena

para os traços e pintura com aquarela para as cores. Antes de pintar, realizamos um exercício com

a aquarela, em que eu demonstrei o passo-a-passo para a aquisição de alguns recursos: degradê,

justaposição e sobreposição de cores e manchas características dessa técnica. A partir disso, os

alunos tiveram condições para utilizar o material com intencionalidade, explorando suas variações.

Aprofundaremos a questão da relação entre forma e conteúdo, ou seja, arte e contexto,

aliando trabalhos conceituais à prática artística. Seguiremos no estudo da cultura chinesa,

analisando obras de diversos períodos de sua história e buscando estabelecer articulações entre

elas e a sociedade que a gerou. Se a Arte é fruto de seu tempo e lugar, ela também transforma e

(re)cria esse mesmo tempo e esse mesmo lugar. Como na natureza, o fruto torna-se semente.

Iluminar sua potência é um dos principais norteadores do curso do Nono Ano. Que frutifique!

Um abraço,

Fabi

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Relatório do Trabalho de Teatro

Primeiro ano

Tradicionalmente, as aulas de Teatro do primeiro ano na Escola Ágora têm dois objetivos

bem definidos: o primeiro, consiste em aprender a ter aulas de teatro; o segundo, visa a

conscientização e a organização do corpo, para que, futuramente, os alunos possam utilizá-lo

expressivamente. Neste início de ano, não foi diferente...

Tratando do primeiro objetivo, especificamente, gostaria de relatar que nossos encontros

acontecem na parte da frente da “Casinha do Pato”, sendo constituídos de um ritual rigoroso,

persistente e, até aqui, eficaz: em dias quentes, os alunos devem tirar os tênis, colocá-los em cima

do murinho e sentar em roda, em silêncio, para o início da chamada. A repetição desse

procedimento faz com que as crianças incorporem uma marca, de que a aula já começou e que a

hora livre ficou para trás.

Desde o começo do ano, esse grupo demonstrou boa capacidade de concentração e bastante

interesse pelos assuntos desenvolvidos em aula, construindo um ambiente de trabalho agradável e

produtivo. Costumam ser ágeis no início de nossos encontros, fazendo silêncio e abandonando os

assuntos de hora livre com tranquilidade. Avalio que o grupo tem se apropriado dos combinados e

regras da Escola com bastante fluidez. Além disso, durante o trabalho, de modo geral, são

respeitosos uns com os outros, quase não brigam e demonstram prazer em escutar as ideias dos

colegas.

Um exercício que eles adoram realizar – e que é bastante útil para trabalhar a escuta – é o

“Beto manda!”. Consiste em um jogo de orientações, em que eu dou uma ordem, mas, só podem

obedecê-la se ela for precedida pela expressão “Beto manda!”. Por exemplo: “Beto manda pôr a

mão na barriga!”, e todos devem pôr a mão na barriga. Se a ordem for apenas “Mão na cabeça!”,

ninguém pode pôr a mão na cabeça; todos devem permanecer como estão, pois não foi dada a

comanda “Beto manda!”. Quem não está atento e faz o que não deve, sai do jogo e fica observando

os colegas. Da primeira vez que o realizamos, nenhum aluno conseguiu chegar até o final.

Atualmente, eles já se comportam de modo muito mais eficiente, conseguindo resistir no jogo por

mais tempo a cada encontro nosso.

Neste momento, estamos desbravando o segundo objetivo estabelecido para o primeiro

ano: descobrir o corpo humano. Para isso, estamos desvendando o sistema esquelético e as

articulações, através de exercícios de dança, percepção corporal, toques e, também, observando

fotos e desenhos sobre o nosso corpo. A cada semana, apresento-lhes diferentes partes do corpo,

a partir dos ossos. Começamos pelos pés, pernas e quadris. Na semana seguinte, avançamos para a

coluna vertebral, e assim vai. Após observarem ilustrações, partimos para o reconhecimento através

do toque e, em seguida, realizamos exercícios e jogos mais lúdicos que, de alguma maneira,

relacionem-se com o conteúdo visitado naquela semana; atividades de caráter prático, que visam à

consciência e a contenção corporais. Eles têm demonstrado empenho e interesse pelo assunto,

utilizam seus próprios repertórios, estabelecem relações e tecem comentários interessantes,

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inclusive, em horas livres (demonstrando, assim, boa capacidade de recuperar os estudos

efetuados), um processo saudável de construção e aquisição de conhecimento.

Avalio que o primeiro ano teve um primeiro trimestre bastante feliz nas aulas de Teatro.

Muitos aprendizados foram feitos e outros ainda estão sendo realizados. Vamos continuar

desenvolvendo os objetivos propostos, avançando conforme as capacidades do grupo.

Segundo ano

Houve uma pequena correção de rota nos objetivos estabelecidos para o segundo ano neste

primeiro trimestre. De modo geral, foram crianças curiosas e, em certa medida, interessadas pelos

assuntos desenvolvidos em aula. No entanto, demonstraram alguma dificuldade em criar uma

“atmosfera de aula”, em estabelecer um ambiente propício ao aprendizado, em encarar a escola

como um local de construção do conhecimento, onde não é possível ter prazer o tempo todo.

Interromperam a aula em muitos momentos, falando sobre assuntos que não tinham a ver com os

temas nela tratados. Mesmo quando discorreram sobre as atividades realizadas, fizeram-no de

modo desorganizado, falando uns por cima dos outros, sem levantar a mão para esperar a vez.

Assim, a cada dia, fomos observando as demandas e, junto à coordenação, re-estabelecendo

um novo eixo para o trabalho, “Fortalecimento dos aprendizados”. As demandas do grupo exigiram

essa mudança, que, até aqui, tem surtido efeito.

Com os objetivos ajustados para a real capacidade do grupo, buscamos, através de exercícios

práticos, desenvolver de modo cada vez mais eficiente as habilidades necessárias para o fazer

teatral. Os títulos das aulas dos primeiros dois meses ajudam a desvendar e entender o que temos

explorado:

Aula 1 – Retomada

Aula 2 – A importância do olhar

Aula 3 – A importância da escuta

Aula 4 – Controle do corpo

Aula 5 – A importância da plateia

Aula 6 – Poses expressivas

Fica evidente a insistência em realçar os aspectos considerados importantes para o bom

andamento de nossas aulas, tais como o olhar, a escuta e o controle do corpo. Explicitar aos alunos

qual era o título da aula, no começo de cada encontro, foi, também, um fator favorecedor de

engajamento e, consequentemente, de aprendizado.

Uma atividade que surtiu bastante efeito foi o “Boneco de massa”. Realizada na sexta aula –

Poses expressivas – essa é uma tarefa que, desde o ano passado, o grupo demonstra bastante prazer

em desenvolver. Consiste em manipular um parceiro, como se ele fosse um boneco de massa, que

não é capaz de movimentar-se sozinho. Foram orientados a “esculpir” seus bonecos com muito

cuidado, primeiramente, de modo livre e, em seguida, sob um tema proposto por mim. Após montar

seu boneco, os escultores davam um passeio pela sala para observar as “obras” dos colegas. Depois,

invertíamos: quem fez boneco, faz escultor e vice-e-versa. Foi uma atividade que os ajudou bastante

a concentrar energias no trabalho, pois todos têm que se envolver com muito controle do corpo,

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tanto quem esculpe, quanto quem é o boneco, pois este último deve permanecer na pose escolhida

pelo seu parceiro, sem movimentar nem um músculo.

Outra escolha que demonstrou utilidade nesse processo de aprendizagem foi a constituição

de um elemento intrínseco ao Teatro: a plateia. Uma parte dos alunos foi colocada no lugar de

espectadores, para observar os colegas atuando durante os exercícios, o que mostrou-se um

caminho de mão dupla: ao mesmo tempo em que a plateia podia aprender com os erros e acertos

de quem estava no palco, os jogadores que ali atuavam decidiram qualificar sua produção, com

maior força e rigor, uma vez que eram o centro das atenções dos colegas e quiseram mostrar o seu

melhor.

Assim caminha o trabalho com o segundo ano. Muita energia ainda é necessária para que as

aulas transcorram com eficiência. Mas, a produção do grupo, aos pouquinhos, a cada semana, vem

avançando. Partiremos, agora, para a criação de algumas cenas inspiradas em dois livros: o primeiro

é a lenda chinesa “Pote Vazio”, uma fábula construída em cima da ideia que devemos fazer, sempre,

o melhor que podemos, de modo honesto. Utilizaremos, também, a obra “Falando de convivência”

para criar pequenas cenas e reconhecer problemas cotidianos, tais como a falta de gentileza, a

banalização da violência, os limites de uma brincadeira, enfim, desse mar sem fim, chamado

convivência.

Terceiro ano

O grupo (ou, o ambiente) é, frequentemente, um meio pelo qual se aprende. O objetivo

principal para a turma, ao longo deste 2015, será aliar a consciência corporal à percepção do outro.

O entendimento de que trabalho em grupo requer tolerância, respeito e participação será adquirido

na prática, através de exercícios que promovam a cooperação coletiva. Olhar nos olhos,

acompanhar os colegas, não se precipitar e saber esperar a própria vez são aspectos que começaram

a ser desenvolvidos no início deste trimestre e continuarão a sê-lo até o último dia de aula.

Os exercícios que desenvolvem a coletividade, como o “Todos caminhando no mesmo

ritmo!”, foram encarados com bastante dedicação e envolvimento. O grupo demonstrou, mais uma

vez, sua marcante característica, de divertir-se com as propostas, sem, no entanto, deixar de lado a

seriedade. Avalio que esta turma não encontrou maiores dificuldades para encarar esse conteúdo,

uma vez que o grupo funciona bem; há respeito, paciência e colaboração entre esses alunos.

Outro aspecto importante, que vem sendo desenvolvido durante as aulas, é a capacidade

das crianças de jogar um jogo sem interrompê-lo, ou seja, concentrar-se estritamente no que

precisa ser feito, no objetivo a ser cumprido. Tanto comentários inadequados, sobre assuntos que

não fazem parte do conteúdo trabalhado, quanto dúvidas e reflexões sobre as atividades, precisam

ser evitados durante a execução da tarefa. Alguns exemplos esportivos foram oferecidos aos alunos:

“Quando começa uma partida de futebol, por exemplo, para onde todos os jogadores olham? É

possível pensar em outra coisa que não seja a bola?”. Assim, a intenção é de que todos resolvam

suas dúvidas antes do início do jogo, pois, estando as regras entendidas, toda a energia pode ser

canalizada para resolver o problema proposto e os estudantes ficam livres para atuar. Orientei-os

para que, se tivessem alguma dúvida, que resolvessem-na no jogo; afinal, eu estava de fora para

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observá-los e reencaminhá-los, caso alguém estivesse fazendo algo indevido. As reflexões e

comentários deviam ser expostos depois e, não, durante a atividade.

Para desenvolver ambos aspectos – trabalho coletivo e jogar sem interromper –, uma

atividade muito útil foi o jogo da Máquina Maluca, que consiste em uma pessoa ir à frente, realizar

uma ação, um gesto, que se repete continuamente, acompanhado de um som, que também se

repete. Em seguida, essa ação deve ser complementada por um outro participante, que trará

consigo um outro som, até que todos estejam juntos, como parte da engrenagem de uma máquina

maluca. É um trabalho que exige total concentração e precisão.

Apesar das dificuldades encontradas, dadas pela própria natureza da proposta, avalio que o

grupo fez o melhor que podia durante os exercícios. Concentraram-se no que precisava ser feito,

ouviram as orientações que ajudaram a aperfeiçoar a realização da tarefa e, principalmente,

conseguiram atuar de modo mais independente, sem interromper a atividade. Chegaram, inclusive,

a apresentar o trabalho para o restante da Escola, em meados do mês de abril.

Apesar de um pouco mais falantes que o costume, especialmente nos momentos de

conversa e reflexões, os alunos demonstraram muito empenho em silenciar e focar no que precisava

ser feito. Até aqui, o terceiro ano está de parabéns!

Prólogo para quarto e quinto anos

Tradicionalmente, as aulas de Teatro no quarto ano desenvolvem um trabalho baseado nos

conceitos do teatro de animação e manipulação de bonecos. No entanto, a avaliação da experiência

dos últimos anos mostrou uma possibilidade diferente, mais favorecedora ao aprendizado dos

alunos. Pensamos em uma inversão com o trabalho que, anteriormente, era realizado no quinto

ano, sobre o desenvolvimento da expressividade. Assim, o trabalho com bonecos, a partir de 2016,

será efetivado no quinto ano, cabendo ao curso do quarto ano, desde agora, o objetivo de

desenvolver, ampliar e enriquecer o repertório expressivo dos alunos. Para isso, partiremos do

silêncio.

Já o quinto ano, oriundo dessa pesquisa com o teatro de animação, cuja expressividade

delineia-se pela projeção da representação em um objeto externo (o boneco), precisa, agora,

começar a aprimorar a comunicação a partir do próprio corpo. Tendo em vista que conciliar voz e

gesto pode ser matéria de estudo para toda a vida de um ator, preferimos iniciar essa lapidação da

expressividade utilizando somente um elemento. O uso da fala pode trazer alguns empecilhos

indesejáveis a esse momento, funcionando como uma “muleta expressiva”. Portanto,

organizaremos, primeiramente, o corpo; prepararemos o terreno para que o aprendizado se realize

de maneira integral mais à frente.

Quarto e quinto anos

Foco, precisão e expressividade. Essas palavras resumem muito bem os primeiros meses de

aula. A intenção foi disponibilizar o corpo para o trabalho expressivo, através de jogos e exercícios

que:

1. Ampliassem o repertório expressivo dos alunos;

2. Estabelecessem o corpo, sem o uso da fala, como o principal meio de comunicação;

3. Desenvolvessem o foco, ou o “Ponto de Concentração”.

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Trabalhando a expressão por um viés corporal, sem o uso da fala, a ideia é extrair do corpo

todas as possibilidades expressivas, bem como construir uma atmosfera de aula que parta do

silêncio. O processo de observação, reflexão e experimentação prática, privado da linguagem verbal,

potencializa-se, posto que a única maneira da criança manifestar-se é através da ação. Não há

espaço para travas e limitações que a língua nos impõe. Nesse momento, interessa-nos desenvolver

a disponibilidade corporal e a consciência de que o corpo do ator é diferente do da personagem.

Em um de nossos encontros, decidi comunicar-me com os alunos somente através de gestos

e, como treino, eles deveriam fazer o mesmo. Expliquei as atividades sem dizer uma só palavra e,

na maioria dos casos, não houve problema no entendimento das regras dos jogos. Quem falasse,

era orientado (sempre com mímica) a manter o silêncio. Caso insistisse na fala, o aluno era retirado

do jogo e ficava um tempo de fora, assistindo aos colegas.

No quarto ano, alguns jovens tiveram que sair muitas vezes. Outros, nenhuma. Mas, ao longo

da aula, foram se adaptando ao procedimento silencioso e, ao final, conseguiram atuar de maneira

satisfatória.

No quinto ano, poucos alunos ficaram de fora em raras ocasiões, o que indicou boa

capacidade para trabalhar sem o uso da voz.

Além do silêncio, outro aspecto extensamente trabalhado foi a expressividade, através de

exercícios como “Siga o Mestre” e “Bolinha Mágica”, nos quais cada aluno foi convocado a exercitar

suas habilidades, expandindo e aperfeiçoando seu repertório expressivo.

Para seguirmos adiante com as criações de cenas, assistimos a dois filmes daquele que talvez

seja o principal modelo de corpo expressivo: Charlie Chaplin. O primeiro, “Corrida de automóveis

para garotos”, em que surge o personagem “Vagabundo”, de 1914 e, em seguida, “O Garoto”, de

1921, que apresenta uma imagem de qualidade técnica bastante superior. Foi uma experiência

bastante proveitosa e divertida. É sempre bom travar contato com aqueles que são considerados

gênios...

Sobre a dinâmica e aproveitamento do grupo do quarto ano, é possível observar certa

dificuldade em manter o silêncio e estabelecê-lo como ponto de partida para a aula. A turma ainda

não consegue criar um ambiente silencioso de modo ágil e algumas atividades demoram a ser

realizadas. Com isso, é difícil fazer com que a sala se concentre durante uma atividade inteira, do

começo ao fim. Muitas foram as vezes em que não realizamos todos os exercícios planejados para

aquela aula.

Por outro lado, mostraram muito interesse pelos assuntos desenvolvidos e, quando houve

silêncio e concentração, foi possível observar bastante qualidade na execução dos exercícios, tanto

no foco, quanto na expressividade. As pequenas cenas inspiradas nas trapalhadas de Chaplin foram

engraçadas e expressivas. Atualmente, estamos decidindo qual caminho tomar para concluir esse

processo do teatro mímico; qual assunto/história colocar em cena, levando em conta o projeto do

ano da Escola.

Em relação ao quinto ano, avalio que o grupo tem apresentado maior maturidade,

envolvendo-se com as propostas e atingindo um dos objetivos estabelecidos para o período, o de

criar uma atmosfera de aula mais silenciosa e concentrada.

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Até aqui, o maior desafio para este grupo tem sido o desenvolvimento do conceito de

precisão, em que cada gesto feito em cena faz parte da história que está sendo contada. Já que a

voz não diz palavra alguma, quem fala é o corpo, qualquer movimento é percebido pela plateia:

uma arrumada no cabelo, na roupa, risadas, mãos que se esfregam por conta do nervosismo...

Estamos tentando caminhar nesse sentido, de “limpar” e tornar os gestos mais precisos, para que

façam parte da história. A função da plateia, nesse momento, é fundamental, pois os jovens podem

perceber os acertos e as dificuldades dos colegas e aprender com eles. Observar, reconhecer e

transformar têm sido orientações constantes em nossos encontros.

Para além disso, o grupo tem demonstrado muito prazer em conviver e realizar os exercícios

propostos. Durante as aulas, todos trabalham com todos sem maiores dificuldades. Por conta disso,

vêm ampliando seus repertórios expressivos de modo consistente. Há, também, interesse pelos

assuntos e pelas propostas de cenas. Muitos alunos oferecem-se para executá-las. Assim como no

quarto ano, atualmente, estamos decidindo qual caminho tomar para concluir esse processo do

teatro mímico; qual assunto/história colocar em cena, levando em conta o projeto do ano da Escola.

Sexto ano

Improvisação. Este é o eixo principal que norteia o trabalho com o sexto ano, durante todo o

primeiro semestre. É extremamente importante que seja desenvolvido com profundidade e

dedicação, pois é um conteúdo que acompanhará os alunos até o final do nono ano.

Improvisar, em linguagem teatral, significa estar pronto para agir e reagir de acordo com o que

surge na cena. Significa estar no momento presente. Significa estar disponível. Significa desenvolver

a espontaneidade e a intuição. Obviamente, não se trata de algo fácil...

A improvisação, em nossas aulas, não é vista como um simples recurso para criar cenas, mas,

sim, como ferramenta que possibilita aos jovens atuarem de maneira espontânea, desburocratizada,

gerando uma experiência prazerosa.

Tudo começa no jogo. Diz a grande arte-educadora norte-americana Viola Spolin, em seu livro

“Improvisação para o Teatro”:

“Um ator deve ver e relacionar-se com um colega ator, não com um “personagem”. Jogamos futebol

com outros seres humanos, não com os uniformes que estamos usando. Isto significa simplesmente que

ambos os atores sabem que o outro está jogando e sustentam o jogo.”

Assim, diversos jogos foram (e ainda serão) utilizados para ajudar os alunos a desenvolverem

suas habilidades. Essas atividades buscam aproximá-los do jogo teatral, que é a característica de

uma cena “jogada”, construída com a força do momento presente, que seja viva e pulsante diante

dos olhos da plateia. Um acontecimento que faça e construa sentido, tanto para quem faz, quanto

para quem assiste.

Utilizamos jogos que desenvolvem a expressividade corporal e verbal, a agilidade mental, o

bom humor, a intuição e a espontaneidade. Um bom exemplo é o “Ploft, Zum”, em que os jovens

ficam em um círculo e devem passar a vez para outra pessoa através dos comandos “Ploft”, “Zum”,

“Bóing” e “Xis”. Se olhar para quem está à sua direita, o jogador deve dizer “Ploft”. O jogador que

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está à direita desse primeiro, deve jogar e dizer um dos quatro comandos, para passar a vez a outro

jogador. Se olhar para quem está à sua esquerda, deve dizer “Zum”. Com o comando “Bóing”, o

jogador pode passar a vez para qualquer outro jogador da roda, fazendo um movimento com a

coluna e a cabeça, culminando em um olhar para seu alvo. Quando alguém fala “Xis”, o jogo volta

para quem começou aquela rodada. Não pode demorar pra falar, nem gaguejar, nem falar outra

palavra. Quem erra, sai do jogo. Os alunos divertiram-se bastante com essa atividade, em que não

é possível pensar em mais nada, pois corre-se o risco de ficar fora...

Junto a esse processo, estamos começando a fortalecer a capacidade de entender um outro

ponto de vista, que não seja o seu próprio, para poder representar da melhor maneira possível uma

situação e os personagens envolvidos. Essa habilidade está diretamente ligada ao processo de

desenvolvimento da autonomia ética. Se um sujeito é capaz de entender o ponto de vista de outra

pessoa, então ele é capaz de agir no mundo sem desrespeitar ou suprimir essa outra opinião. Esse

sujeito, que consegue colocar-se no lugar de seu semelhante, é mais respeitoso e menos

individualista.

Na criação de cenas, desenvolvemos o conceito de “Ação e Reação”, em que os jovens devem

ser capazes de improvisar sobre um tema de maneira lógica. Os alunos precisam ouvir o que o

parceiro está propondo em cena e, não, “impor” a própria ideia. Necessitam, também, olhar para os

acontecimentos ao redor com maior perspicácia – observar e perceber as ações e os movimentos

(alheios e próprios) com maior destreza e agilidade.

Este primeiro trimestre foi um período de bastante trabalho para o sexto ano, em que foi

possível observar um amadurecimento, tanto na maneira como encararam as propostas, quanto na

produção que efetivamente realizaram. Mostraram mais fôlego para executar atividades mais

exigentes, interromperam as aulas poucas vezes e divertiram-se sem perder a seriedade e o foco. O

sexto ano apresentou-se como um grupo cumpridor das tarefas, empenhado e envolvido com o

trabalho. Demonstraram estar particularmente motivados pela possibilidade de improvisar e de

expressar-se em cena; as criações de cenas que temos feito têm, por sinal, apontado caminhos

interessantes. Apesar de ainda serem necessários diversos ajustes, especialmente na ampliação do

repertório expressivo, avalio que a noção de “jogo teatral” está sendo bem assimilada e executada

pelos alunos dessa turma.

Sétimo ano

Começamos o ano desenvolvendo um aspecto fundamental para o fazer teatral e que, em

minha avaliação, não fizemos de modo satisfatório no último ano: a improvisação.

Improvisar, em linguagem teatral, significa estar pronto para agir e reagir de acordo com o que

surge na cena. Significa estar no momento presente. Significa estar disponível. Significa desenvolver

a espontaneidade e a intuição. Obviamente, não se trata de algo fácil...

A improvisação, em nossas aulas, não é vista como um simples recurso para criar cenas, mas,

sim, como uma ferramenta que possibilita aos jovens atuarem de maneira espontânea,

desburocratizada, que gera uma experiência prazerosa.

Desenvolvemos o conceito de “Ação e Reação”, em que os jovens devem ser capazes de

improvisar sobre um tema de maneira lógica. Para isso, os alunos precisam ouvir o que o parceiro

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está propondo em cena e, não, “impor” sua ideia. Necessitam, também, olhar para os

acontecimentos ao redor com maior perspicácia – observar e perceber as ações e os movimentos

(alheios e próprios) com maior destreza e agilidade. Todas essas capacidades acabam por

desenvolver um outro aspecto fundamental para a improvisação e para qualquer cena teatral: a

espontaneidade.

Um exercício em que essa dedicação exclusiva ao momento presente foi evidente chama-se

“Video Game”. Trata-se de um jogo de improvisação e de concentração total na realização das

tarefas. Quatro jogadores dividem-se em quatro diferentes funções. Na posição central está o

jogador 1, o que mais trabalhará naquela rodada. Ele tem que executar três ações diferentes,

simultaneamente: ao mesmo tempo em que copia todos os gestos do colega que está na posição 2,

à sua frente, deve responder às perguntas feitas por um outro colega que está ao seu lado, na

posição 3. Concomitante a essas duas ações há, ainda, uma terceira, que determinará a duração da

rodada: o jogador da posição 4 está atrasado e precisa ir embora. O jogador 1 deve, então, arranjar

um bom motivo para que ele fique. Se o jogador 4 for convencido por um bom argumento, senta-se

em uma cadeira colocada ali perto e a rodada acaba. Se, por acaso, os motivos que o jogador 1

oferecer não forem fortes o suficiente, o jogador 4 vai embora e a rodada também tem fim. Os

jogadores fazem o rodízio, trocam de posição, e uma nova rodada se inicia. É um jogo muito

engraçado para quem assiste e, para quem está na posição 1, extremamente difícil, uma vez que é

preciso ouvir o que os colegas estão dizendo, argumentar com eles, executar ações físicas que nada

têm a ver com o assunto discutido e responder às perguntas que embaralham as informações. Os

estudantes encararam a tarefa com muita disposição.

Após quase dois meses de aula, iniciamos o desenvolvimento do eixo programado para o

primeiro semestre, que é o trabalho com um texto teatral. A ideia é aproximar os jovens da história

e das situações propostas pelo autor e, não, obrigatoriamente, de suas palavras. Não partimos da

“memorização de textos e falas”, mas, sim, da cena, da ação, da improvisação. As palavras foram

lidas somente depois que os alunos conheceram e exercitaram no palco algumas das ideias contidas

no texto. Estamos utilizando diversos textos curtos ou trechos de peças para treinar essa

aproximação. A maneira como um autor organiza as palavras é uma garantia de boa estrutura. Às

vezes, podemos nos perder no delicioso limbo divertido da improvisação... O objetivo é apropriar-

se, primeiramente, da ideia central contida no texto. Em seguida, vamos nos aproximando dos

detalhes e sutlezas que os autores utilizam para enriquecer seus textos.

Para uma primeira experiência, escolhemos a crônica “Os três corvos”, do equatoriano José

Antonio Campos. O texto, escrito em forma de diálogo, é bastante engraçado. Quando os alunos o

improvisaram, divertiram-se bastante e, em seguida, ao lerem as palavras do autor, admiraram-se

de como chegaram perto da estrutura proposta por ele, partindo apenas da situação descrita por

mim. Além disso, alguns alunos comentaram sobre como acharam interessante o estilo e as palavras

utilizadas pelo autor.

Atualmente estamos ensaiando esse trabalho e, assim que o apresentarmos para a Escola,

procuraremos um novo texto que possibilite a continuidade dessa atividade.

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Sobre a dinâmica do grupo, é preciso ressaltar que o sétimo ano não tem demonstrado muita

facilidade em manter-se no assunto discutido em aula, especialmente nos momentos de conversa e

reflexão. Muitos comentários são feitos em momentos inadequados e há um burburinho

generalizado, constante, que, em muitos momentos, prejudica o andamento das aulas. Assim, a

expressividade e as habilidades de cada um vem sendo desenvolvidas de modo irregular. Algumas

pessoas tem demonstrado maior disponibilidade e segurança para experimentar e descobrir novas

maneiras de se comunicar. Portanto, estamos buscando estabelecer um ambiente de trabalho que

seja cada vez mais organizado, tranquilo e convidativo para que todos possam jogar e aprender: uma

atmosfera menos ruidosa (e mais divertida) sem, no entanto, perder o foco e a capacidade de

concentração.

Comparativamente, avalio que, no que diz respeito à improvisação, a turma tem trabalhado

com maior desenvoltura, em relação ao processo de apropriação do texto. De fato, é uma demanda

mais exigente, onde estamos centrando nossas forças atualmente.

Oitavo ano

Vindos de felizes experiências teatrais realizadas no ano passado, iniciamos nosso trabalho

reverenciando as ideias desenvolvidas por Ariane Mnouchkine, diretora francesa do Théâtre du

Soleil. Diz a fabulosa artista que a imaginação de um ator é um músculo, que precisa ser

extensamente trabalhado. Utilizamos, para isso, jogos e exercícios de improvisação que favoreceram

diversos conteúdos expressivos, por vezes mais subjetivos, que buscavam o desempenho individual

(em uma proposta de dança e expressividade corporal, por exemplo), ou, por vezes, exercícios de

criação de cenas e personagens, onde era necessário interagir com os demais. Durante os dois

primeiros meses, dedicamos nosso tempo a esse trabalho. Foi possível observar certa facilidade do

grupo em dispersar-se, especialmente no início de nossos encontros. Os alunos demoravam até que

pudéssemos, de fato, começar. Alguns pareciam não embarcar nas propostas, permanecendo quase

como que espectadores, sem conseguir aprofundar-se nas atividades, atuando de modo superficial.

O riso e as brincadeiras foram constantes. Em grande parte, esse movimento partiu dos meninos,

mas, em alguns momentos, as meninas foram contagiadas. Conversamos mais de uma vez sobre

essa característica, relembrando também as realizações do ano passado; era imperiosa uma

mudança de postura, já que seria impossível criar algo naquele ambiente. Aos poucos, bem

lentamente, tem sido possível observar algumas mudanças. O dia em que todos atuaram de modo

mais maduro e adequado foi, justamente, quando conversamos sobre o eixo de aprendizagem

programado para o restante do semestre: humor. Já havíamos experimentado cenas engraçadas e

divertidas nos exercícios de improvisação do começo do ano e, aliando ao exagero com que, às vezes,

brincadeiras foram feitas em aula, avaliei que seria um desafio para esse grupo tratar esse tema do

humor de maneira séria, equilibrada e madura. Além disso, a maneira como nossa sociedade e,

sobretudo, os adolescentes lidam com a comédia e com o ato de “fazer piada”, é um assunto que já

vem preocupando os educadores há algum tempo.

Partindo do pressuposto estabelecido psicólogo Yves de La Taille em um de seus livros,

refletimos:

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Qual é a diferença entre rir cruelmente do mundo e rir do mundo cruel? O que implicam essas

duas expressões? Como já descrito, foi uma discussão interessante, da qual os jovens participaram

de maneira séria e concentrada, colocando-se problemas e levantando hipóteses. Puderam

expressar quais são as referências de comédia a que estão acostumados e, assim, iniciamos nossa

pesquisa nesse campo.

Atualmente, nos encontramos conversando sobre possibilidades, levantando material e

criando pequenas cenas que tratem de situações cômicas, sempre com essas preocupações em

mente: do que se ri? De quem se ri? Como se ri?

Esses alunos terão contato com alguns atores e escritores cômicos, como Charlie Chaplin, Jim

Carrey e Luis Fernando Veríssimo, para podermos decidir por qual caminho enveredar neste

primeiro semestre.

Esperamos que os alunos conquistem cada vez mais maturidae e envolvam-se nas propostas

com afinco, já que somente assim poderão repetir o sucesso experimentado no ano passado, pois o

simples fato de trabalharmos com a comicidade não garantirá risos e aplausos entusiasmados.

Nono ano

Ariane Mnouchkine, diretora francesa do Théâtre du Soleil, e Viola Spolin, arte-educadora

norte-americana foram duas pessoas a quem recorremos nesse início de ano. Nada como lançar

mão dos mestres, especialmente para desenferrujar os sentidos após as férias... Da França,

emprestamos a ideia, já conhecida no ano passado, de que a imaginação de um ator é um músculo,

que precisa ser extensamente trabalhado. Já de Viola Spolin, exploramos a ampliação do sentido

que a palavra “talento” tem. Realizamos um trabalho de leitura e interpretação de texto, a partir de

um trecho de seu livro “Improvisação para o teatro”, em que diz:

“Todas as pessoas são capazes de atuar no palco. Todas as pessoas são capazes de

improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de jogar e aprender a ter valor no palco.”

Assim, iniciamos nosso processo, através de jogos e exercícios de improvisação que

buscavam favorecer diversos conteúdos expressivos; desenvolver as habilidades individuais – em

uma proposta de dança e expressividade corporal, por exemplo – e, por vezes, exercícios de criação

de cenas e personagens, onde era necessário interagir com os demais.

Foi notório o envolvimento do grupo nessas atividades iniciais, sobretudo nas dinâmicas que

exploraram a improvisação através da dança e da ocupação do espaço. Percebi, logo no princípio,

um coletivo que, apesar de tímido, aparentou consistência e vontade de realizar trabalhos com “cara

de nono ano”. Um exercício que exemplificou essa dedicação foi o “Portas mágicas”. Baseia-se,

principalmente, na musculação da imaginação, preconizada por Ariane Mnouchkine. Nessa tarefa,

os alunos foram convidados a interagir corporalmente com uma história narrada por mim. Esse

enredo consistia na travessia de portas, dos mais variados formatos e tamanhos, que eles

“encontravam” pelo caminho. Ao cruzar uma porta, o cenário descrito mudava completamente,

tendo os jovens que imaginarem-se e adaptarem-se a esse novo visual. Às vezes, as descrições que

forneci eram mais completas; já em outras portas, os alunos eram os responsáveis por criar esse

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ambiente. Foi uma proposta bem interessante, que despertou a curiosidade e os sentidos desses

aprendizes. Para complementá-las, sugeri que escrevessem um conto, uma narrativa que abordasse

essa aventura com outras possibilidades de portas e/ou cenários. A maioria dos alunos quis encarar

a tarefa, as produções foram bem interessantes.

Após mais alguns encontros preparatórios, onde foi possível observar, a cada semana, maior

envolvimento e divertimento com as propostas, começamos a conversar sobre escolhas: o que

gostariam de trazer à cena, levando em consideração o tema do ano? Antes de comentar as

respostas e os interesses do grupo, é necessária uma breve explicação sobre a importância da

autoria, objetivo principal dessa proposta: a intenção da mesma é fazer com que os jovens comecem

a refletir sobre a relevância de cada assunto trazido à baila. Num mundo já repleto de informações

(e que, vivendo na era da internet, nós, antigos espectadores e receptores de sons e imagens criados

por outros, agora, podemos ser, também, autores e produtores), faz-se completamente necessário

que o artista responsabilize-se pelo produto que oferece ao público. De que maneira esse trabalho

interfere no nosso mundo? Contribuindo? Reproduzindo? Transformando? Se, teoricamente, todos

podem produzir informação, cabe ao artista o refinamento da matéria. Essa foi, basicamente, a

diretriz que precedeu as escolhas e a fala de cada um.

Atualmente, estamos experimentando possibilidades para decidir o que faremos até o final

do semestre, qual será nosso objeto de estudo. Avalio que, até aqui, o grupo vem se esforçando para

fazer seu melhor, especialmente nos exercícios práticos, ouvindo as orientações e buscando o

aperfeiçoamento. Contudo, acredito que podem evoluir ainda, participando desses momentos de

conversa e reflexão com um pouco mais de brilho e entusiasmo, já que vamos pautar nossas escolhas

em decisões que, por vezes, serão coletivas.

Beto

Relatório do Trabalho de Educação Física

Introdução

A Educação Física na Ágora é uma disciplina que, além de sua especificidade de estudar o

movimento humano em suas várias facetas, possui uma peculiaridade e um “privilégio”, traduzidos

no seu maior compromisso com o percurso, e não, predominantemente, com o destino, a despeito

da importância relativa que este último possa assumir. Nesse sentido, o brincar tendo um fim em si

mesmo, a descoberta dos próprios limites e possibilidades corporais, a dimensão do encantamento

e do deslumbramento com aquilo que é possível efetuar em termos de movimento, a necessidade

de fazer um bom trabalho, sempre tendo a si próprio como base de comparação, bem como a

ampliação do próprio entendimento e olhar acerca da cultura corporal de um modo geral pautaram

o trabalho de Educação Física neste início de ano com os alunos; tudo isso, é claro, considerando o

tempo da e para a criança.

Parte I - O trabalho com os grupos

Nestes primeiros meses, introduzimos os estudos da Educação Física a partir do trinômio

fazer/pensar/comportar-se. Para isso, o conteúdo jogo foi trabalhado com todos os grupos,

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adaptando-se as exigências de cada um deles para, ao mesmo tempo, respeitar as possibilidades

corporais de cada faixa etária, bem como considerar as demandas e as necessidades de cada grupo.

Alguns jogos foram praticados por quase todas as turmas, enquanto outros, de menor

complexidade, foram trabalhados com os grupos até o quarto ano, e os de maior complexidade com

as classes a partir do quinto ano.

Em relação à temática de estudo da Ágora - “A formação das sociedades; um estudo

humanizador” – e mais, especificamente, sobre a China, a partir de um determinado tipo de

entendimento sobre a cultura milenar desse país, com seus movimentos lentos, cadenciados e

harmônicos, a ideia foi apresentar aos alunos uma espécie de contraponto à cultura da pressa, “da

correria” e à lógica utilitária, típica do mundo produtivo contemporâneo. Para isso, discutimos

algumas questões referentes à maneira como o corpo era e é entendido, bem como um possível

uso que dele se fazia ou se faz ou, mesmo, relação que com ele se estabeleceu ou se estabelece,

hoje e ontem, tentando apontar alguns de seus possíveis desdobramentos em termos humanitários.

Além disso, uma das propostas realizadas com muitos grupos foi a denominada de

“Movimento como linguagem”. Basicamente, a partir do entendimento de que o movimento pode

ser analisado como um tipo de linguagem, o objetivo desse projeto foi o de produzir, ler e

interpretar diferentes textos corporais (artísticos e de desempenho), dentre os quais, tanto os dos

próprios alunos, quanto de outras pessoas. Para tanto, as etapas seguidas para esse estudo foram:

1) produção de “textos corporais” pelos alunos 2) leitura e interpretação desses e de outros textos

produzidos por outros autores, de diferentes culturas 3) apresentação de alguns conceitos como os

de “alfabetização motora” e “texto corporal”, com a sensibilização do olhar para o potencial

“artístico” e de “encantamento” que tais textos/manifestações podem suscitar e 4) relato por parte

do aluno da própria experiência corporal em termos de sensações, sentimentos, percepções,

momentos marcantes e significativos. Nesse sentido, a partir de imagens e vídeos dos alunos e

outras pessoas se movimentando, estudou-se sobre: um possível significado sobre o que venha a

ser alguém fisicamente alfabetizado; quais os elementos que compõem um texto corporal; como se

produz um texto corporal, considerando as possibilidades de produção de diferentes textos

corporais; o que é importante observar para ler/apreciar um texto corporal – capacidade do

autor/escritor/executor em termos de capacidades físicas, habilidades motoras, fluência de

movimento, beleza dos gestos, sincronia dos integrantes de uma equipe, treino, esforço etc.

Com os menores, especialmente com os alunos de primeiro a quarto anos, enfocamos,

também, os procedimentos, rituais, rotinas e combinados das aulas de Educação Física. Entre eles,

as informações que constam no manual de Educação Física, referentes, por exemplo, à antecipação

necessária às aulas, ao vestuário adequado, à pontualidade, assim como atitudes esperadas, tanto

na execução das práticas corporais, quanto no trato com os colegas e com o professor. Nas práticas,

foram-lhes solicitados, além do esforço como elemento central para a realização de qualquer

exercício ou tarefa, também que colocassem em ação os quatro ingredientes do bom jogo, que são:

fazer o melhor, seguir as regras, divertir-se e cumprimentar os colegas ao final de cada atividade,

dizendo-lhes “bom jogo”. Isto é, deslocando o olhar da preocupação exagerada com os possíveis

resultados obtidos para a valorização da prática em si.

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Algumas atividades empreendidas com os grupos neste período foram: trilhas, descalçados;

brincadeiras como “eu sentei”, pega-pega, esconde-esconde, “corrida-pô”, “jan ken pô linhas”,

boliche; circuitos diversos de atividades motoras; atividades desafiadoras – exercícios utilizando a

bola suíça (fitball), movimentos no tatame, equilíbrio de bastão, desafio da corda – pular a corda

com o maior número de pessoas ao mesmo tempo; e jogos – pique-cone, pique -cone rabo,

“queimada das bolas”, “bola na linha”, “queimada das duas bolas”, gol a gol setorizado, jogo dos

cavaleiros, “passando o bolão”, “queimada com pinos”, “queimada divertida” utilizando uma e duas

bolas médias e grandes, resgate, gol a gol com as mãos, “dodgeball” etc. Na prática de todas essas

propostas, dependendo do grupo, alterei as exigências das práticas acrescentando ou retirando

regras, aumentando ou diminuindo as áreas de atuação/jogo, bem como adicionando ou subtraindo

o número de materiais etc, de modo a facilitar o aprendizado corporal de todos.

Ao final de cada aula, abri um espaço de roda de conversa para pensar, junto aos alunos, a

respeito de como tinha sido a experiência de aula para o grupo. Nesses momentos, além de

discutirmos eventuais ajustes necessários a serem observados nas aulas seguintes e de realizar as

autoavaliações de desempenho, os alunos tiveram a oportunidade de tecer comentários, assim

como expor as próprias impressões, percepções, sentimentos acerca de situações e acontecimentos

ocorridos em nossos encontros. Algumas perguntas que orientaram essas conversas com os grupos

foram: de qual atividade você gostou mais e de qual gostou menos; qual foi a mais e a menos

fácil/difícil; o que aprendeu hoje; em que aspecto melhorou; como pode melhorar sua atuação nas

aulas de Educação Física, de maneira geral, e, nas práticas, de maneira específica; qual é o seu ponto

de vista sobre o que foi debatido em nossas aulas...

Parte II - Respostas frente ao trabalho

O primeiro ano, aos poucos, foi se acostumando às primeiras duas aulas da semana e às duas

aulas após o segundo horário livre das sextas-feiras, momentos do trabalho em Educação Física,

para os quais deviam estar preparados, com os trajes apropriados e muita disposição para conhecer

um pouco mais sobre as possibilidades e limites corporais de cada um. Com muita alegria e certa

agitação em alguns momentos, participaram das práticas das aulas com o empenho e o

envolvimento peculiares de crianças dessa faixa etária, aproveitando para descobrir novas formas

de explorar o próprio corpo por meio dos movimentos. Ao longo do tempo, foram percebendo

melhor as demandas dos jogos, respeitando suas regras. Por exemplo, com muita animação, no

início de cada aula, corriam sobre as linhas da quadra na brincadeira “Jan ken pô linhas” para tentar

ganhar dos colegas na disputa do papel, tesoura ou pedra... Além disso, mostraram-se atentos às

explicações dadas, facilitando bastante a aprendizagem dos conteúdos práticos e comportamentais

explorados. Também, começaram a entender o espírito das autoavaliações baseadas nos quatro

ingredientes do bom jogo e das palavras de final de cada encontro, que têm por objetivo traduzir

para cada um deles a própria experiência de aula.

O segundo ano, mesmo que, às vezes, tenha passado um pouco dos limites, após eu chamar

a atenção do grupo quanto a isso, voltou a desempenhar da melhor forma possível e com muita

disposição as práticas das aulas, aproximando-se um pouco mais do equilíbrio e da justa medida

entre o divertimento e a seriedade que devem fazer parte de nossos encontros. Entenderam que,

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apenas fazendo o melhor em cada jogo e prática, sendo ou não os preferidos de cada um deles, é

que se vai mais longe corporalmente, aproveitando com mais propriedade o próprio potencial físico.

Com energia, esforço e alegria, perseveraram na realização das partidas executadas, superando

tanto fatores externos, como o calor sentido em algumas aulas, como a si mesmos. Por exemplo,

permaneceram por mais tempo na área de jogo em um determina partida, ou, mesmo, melhoraram

em algum aspecto ao longo das partidas realizadas de um mesmo jogo. Diante de um

desentendimento entre os alunos em alguma prática, interrompi-a para conversar com eles que, de

maneira geral, responderam muito bem, ajustando apropriadamente o que era preciso. Para nossa

sorte, choveu na véspera de uma das atividades que empreendemos: os alunos descalços,

percorrendo uma trilha, superando obstáculos, tiveram a oportunidade de pisar na lama.

Inicialmente, a resistência de alguns alunos para pisar na lama e sujar os pés cedeu lugar à alegria

de sentir na própria pele a textura, a temperatura, enfim, as sensações que tal experiência

proporcionou.

Com o ótimo clima em que se deram nossas aulas, traduzido pelo bom humor e pela

descontração que pautaram nossos encontros, o terceiro ano atuou de forma excepcional em cada

uma das práticas propostas, aproveitando-as para produzir competentes movimentos que, muitas

vezes, surpreenderam a todos pela sua beleza e destreza. O grupo, como um todo, avançou em sua

condição corporal, conseguindo superar as próprias marcas, alcançando mais pontos, colocando

sempre em prática elementos como a perseverança, o esforço e, é claro, bastante diversão. Diante

de alguns acidentes, mostraram-se fortes para resolver as situações adversas com a calma e a

serenidade necessárias, sem despender muita energia em pequenos obstáculos e percalços que

encontraram pelo meio do caminho. Na “queimada das bolas”, por exemplo, além de colocarem em

ação todas as regras do jogo, de forma autônoma, divertiram-se à beça nas partidas e executaram

desvios, pulos, saltos e arremessos com a agilidade de exímios praticantes. A quase unanimidade

de autoavaliações positivas ao final de cada encontro mostra quão empenhados os alunos do

terceiro ano estiveram, nas aulas de Educação Física até agora.

Basicamente, o grupo do quarto ano teve um rendimento excelente nas aulas de Educação

Física. Certa feita, após alguma confusão por parte dos alunos entre os espaços de aula e horário

livre, conversei com eles a respeito da necessidade de separar esses dois momentos, deixando para

o segundo as brincadeiras e conversas particulares e destinando a atenção e o interesse para o

primeiro. Pareceu-me que compreenderam muito bem essa distinção, passando, a partir de então,

a estar efetivamente de espírito em cada momento de aula. Além disso, melhoraram

substancialmente a forma de jogar as partidas realizadas, elaborando melhores estratégias,

posicionando-se na quadra com maior visão de jogo ou, ainda, produzindo movimentos precisos e

habilidosos. No pique-cone, por exemplo, com muito empenho e vontade, foram protagonistas de

partidas cada vez mais disputadas e eletrizantes, explorando todo potencial motriz que possuem.

Ao final dessas partidas, além de dizerem “bom jogo” uns aos outros, também comentavam como

determinado aluno tinha sido rápido, como outro colega tinha conseguido passar entre duas

pessoas da defesa do outro time sem ser pego etc.

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A turma do quinto ano teve um desempenho muito bom nas aulas de Educação Física.

Empolgados, esforçados e divertidos, atuaram em cada uma das partidas disputadas com muita

vontade. Por falar em vontade, às vezes, durante as pelejas, discutiam entre si sobre algum lance

ou, mesmo, por causa de algum desentendimento entre duas ou mais pessoas. Deixava-os sozinhos

tentando resolver essas questões até certa altura, intervindo quando começavam a exceder-se ou

não encontravam uma solução. Nessas ocasiões, reunia-os, às vezes duas ou mais pessoas, em

outras, o grupo todo, para conversamos sobre o que tinha acontecido, sobre a necessidade de

atitudes serenas e tranquilas para solucionar os desentendimentos com maior chance de sucesso.

Certa vez, diante de um comentário insistente de que o jogo tinha sido injusto, tive a oportunidade

de conversar com o grupo sobre a diferença entre injustiça e desequilíbrio de forças em um jogo

das aulas de Educação Física. Tentei mostrar-lhes, por exemplo, que um time escolhido

aleatoriamente não era necessariamente injusto, inclusive, evidenciando que, nessa ocasião, o time

que supostamente estivesse com algum tipo de desvantagem devia tentar superar essa condição

bolando mais e novas estratégias, esforçando-se mais etc, ao passo que não seguir as regras, isso

sim, constituía uma injustiça... De maneira geral, acho que entenderam o recado, expandindo as

próprias noções de como atuar com o corpo em movimento nas nossas aulas. Além disso, o grupo

divertiu-se ao mesmo tempo em que se esforçou bastante em busca de um ponto a mais, de uma

marca inédita. A vontade de jogar era tamanha, que nem o calor de dias mais ensolarados, que,

naturalmente, são mais extenuantes para o desempenho físico, foi páreo para pará-los, queriam

mais e mais jogo... Para exemplificar o aproveitamento da turma, ao final de cada aula, diante da

pergunta se haviam melhorado em algum aspecto, em relação a si próprios, ou, mesmo,

coletivamente, a maioria dizia que sim...

O grupo do sexto ano mostrou-se muito empenhado nas aulas de Educação Física. Com a

empolgação, dedicação e bom humor que lhe são peculiares, a turma envolveu-se de forma

exemplar em cada prática e jogo, tentando extrair de cada um deles o melhor de si em termos

corporais. O clima de descontração também foi uma marca importante de nossos encontros. Elogiei-

os ao final de muitos encontros pelo desempenho que apresentaram, dizendo-lhes, em algumas

ocasiões, que o destaque da aula era a turma, que participara com esmero de nossas aulas.

O sétimo ano teve um desempenho bastante satisfatório nas aulas de Educação Física. No

início do ano, alguns alunos passaram um pouco dos limites, envolvendo-se, por exemplo, em

conversas paralelas quando a aula já havia se iniciado, ou brincando quando não deviam, mas, nos

últimos encontros, mudaram bastante nesse aspecto. Muitos alunos saíam correndo em direção à

quadra ao final da primeira aula, depois do almoço, às quartas-feiras, sedentos pela aula de

Educação Física, pedindo para que um colega que insistia em conversar fora da hora parasse de

fazê-lo e, assim, começássemos logo nossa aula. Além disso, nas práticas, o envolvimento desses

estudantes foi muito bom, pois todos se empenharam demais nas partidas efetuadas, tentando dar

seu melhor e produzindo competentes movimentos; nas nossas conversas, foram atentos e

mostraram interesse, contribuindo com boas observações para as discussões a respeito dos temas

tratados sobre o corpo – autoconhecimento, condições climáticas, limites, e sobre as práticas

executadas. Na “queimada com pinos”, além de divertirem-se bastante, colocaram o próprio

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potencial motor em ação apropriando-se, a cada peleja realizada, de uma condição mais

desenvolvida em termos estratégicos, de visão de jogo, de posicionamento em quadra etc.

De maneira geral, o oitavo ano começou o trimestre bem, caiu um pouco de rendimento no

meio do período, mas voltou um bom padrão nas últimas aulas. Os meninos do grupo apresentaram

um comportamento inadequado em alguns encontros, distraindo-se demais uns com os outros com

brincadeiras bobas em alguns momentos de aula, atrapalhando, assim, o andamento da mesma. Em

uma ocasião, o grupo inteiro teve uma atitude de certa forma descompromissada, pois não se

empenharam coletivamente para procurar as bolas usadas nas partidas, como combinado

previamente. Diante desse acontecimento, reuni-os e tive uma conversa pontual e objetiva sobre a

confusão que algumas pessoas fazem entre os espaços públicos e privados e alguns de seus possíveis

desdobramentos, a necessidade de respeitar limites, o comportamento imaturo que alguns estavam

apresentando, mais parecido com o de uma criança mais nova e tal. Atentos à conversa,

responderam, a meu ver, muito bem a ela, mudando “da água para o vinho” nas últimas aulas.

Passaram a ficar mais atentos aos diferentes momentos de aula, chamaram a responsabilidade para

si em relação às diferentes tarefas efetuadas, além de empenharem-se melhor nas práticas

empreendidas. Por falar em prática, devido ao fato do número reduzido da turma, apenas sete

pessoas e, também, pelo fato de que as nossas aulas foram desmembradas em duas aulas curtas,

distribuídas na semana, adaptei as partidas para dar conta dessas condições, tanto em relação ao

tempo de prática quanto às áreas de jogo. Os alunos mostraram-se receptivos a essas alterações e

aproveitaram a maior parte das atividades para tentar superar-se, tanto individual quanto

coletivamente.

Como um todo, o nono ano sempre esteve empenhado nas práticas e atento às minhas

intervenções. Com a ideia de que a nossa maior responsabilidade/compromisso em termos

educacionais é com a formação do nosso aluno e não com a sua produção, isto é, com o processo e

não, prioritariamente, com o produto do ensino, orientei-os a aproveitarem esse início de semestre

para preocupar-se especialmente com o próprio esforço, com o próprio desempenho e

competência; que usassem as atividades de natureza mais livre, como é o caso dos jogos realizados

nas aulas para tentar superar a si próprios, e para, ainda, divertirem-se, sem considerar o que os

outros conseguem, deixando para focar a atenção mais para frente num ambiente mais

competitivo, que provavelmente enfrentarão saindo da Ágora... Entendendo o espírito e o objetivo

das nossas aulas, os estudantes puseram em ação toda sua energia e dedicação para, entre outros

resultados, obterem belos textos corporais, cheios de magia, criatividade e arte. Movimentos

criados a partir da imprevisibilidade das inúmeras possibilidades de jogadas surpreenderam pela

sua beleza e deram o tom neste primeiro trimestre nas aulas de Educação Física com o nono ano.

Vamos em frente...

Thiago