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RELATÓRIO ANUAL 2017

RELATÓRIO ANUAL 2017 · Smart collaboration Conversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner Escritório sem barreiras: nossa organização pautada por um pensamento estratégico

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RELATÓRIO ANUAL 2017

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/22A era da transparênciae qual legado as próximas lideranças empresariais herdarão no Brasil

/6

/34

/30

/26

/12

Smart collaborationConversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner

Escritório sem barreiras:nossa organização pautada por um pensamento estratégico focado no cliente e no futuro

Futuro sustentávele os esforços de negócio direcionados às próximas gerações

Relações público-privadas: oportunidades no mercado sob a perspectiva da inovação

/40

/46

/50

Reformas, alterações regulatórias e os impactosnos novos ciclos de investimentos

Investimentos estrangeiros no Brasil e negócios cross-border

Proteção de dados:tendências internacionais e desafios locais

Segurança jurídicapara negócios disruptivos

SUMÁRIO

4 554

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PARA SE MANTEREM COMPETITIVAS

DIANTE DOS DESAFIOS TECNOLÓGICOS,

ECONÔMICOS E REGULATÓRIOS DO

MUNDO ATUAL, AS ORGANIZAÇÕES

TÊM BUSCADO FOMENTAR O

ENVOLVIMENTO DE DIVERSOS

PROFISSIONAIS EM SUAS EQUIPES, COM

DIFERENTES HABILIDADES E EXPERTISE,

NA BUSCA DE MELHORES SOLUÇÕES

E INOVAÇÃO.

O sócio-diretor do Mattos Filho, José Eduardo Carneiro

Queiroz, convidou Heidi K. Gardner, professora na Harvard

Business School e autora do livro Smart Collaboration, para

uma conversa sobre os impactos de um modelo inteligente de

colaboração no desempenho das organizações de serviços

profissionais e, especialmente, nos escritórios

de advocacia.

6 7

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José Eduardo_Com a globalização e

o avanço tecnológico, as empresas

passaram a enfrentar novos desafios.

No livro Smart Collaboration, você destaca

que o atendimento realizado por uma

equipe de profissionais multidisciplinar e

que atue de forma colaborativa resulta

nas melhores soluções. Como podemos

definir um modelo ideal e inteligente de

colaboração?

JE_Com o amadurecimento de nossa

atuação, entendemos que quanto

mais trabalhássemos por resultados

coletivos, maior seria a produtividade

e a coesão do grupo. Nesse sentindo,

implantamos, em 2009, um modelo

societário e de governança no qual todos

os sócios passaram a ser remunerados

exclusivamente a partir do lucro geral

do escritório, o que proporcionou um

trabalho mais integrado. Como você

avalia esse modelo sob a perspectiva

da smart collaboration que defende em

seus estudos?

JE_Outra frente que considero muito

importante é a comunicação com

os clientes, que nem sempre têm o

exato entendimento de como estamos

organizados. Como o modelo colaborativo

pode impactar os clientes e como eles

podem se beneficiar dessa organização?

JE_Tenho a sensação de que as novas

gerações de profissionais tendem a gostar

mais da abordagem colaborativa do que

da divisão rígida de trabalho entre grupos

específicos. Como você avalia a atuação

colaborativa como ferramenta de atração e

retenção de jovens talentos?

Heidi K. Gardner_O conceito de

colaboração ideal para os negócios é o que

chamamos de 2.0. O formato consiste em

antever questões e tendências de mercado

que impactam os clientes, e apresentar

soluções e oportunidades por meio de uma

atuação colaborativa com profissionais de

diferentes áreas de atuação. A verdadeira

colaboração multidisciplinar requer que

as pessoas combinem suas perspectivas

e expertise e as ajustem às necessidades

do cliente, para que o resultado seja mais

do que a soma do conhecimento individual

dos envolvidos. Para alcançar um grau

mais sofisticado de trabalho, o profissional

precisa enxergar além daquilo que ele

mesmo pode oferecer, aprender como

determinar o que um cliente necessita,

encontrar pessoas que se complementem

para atender a essas demandas e saber

trabalhar com colegas de alto desempenho

de uma forma genuinamente articulada,

sem a necessidade de usufruir de

autoridade ou hierarquia.

HG_A experiência do Mattos Filho faz todo

sentido. Para que a colaboração realmente

funcione, é preciso mexer no objetivo

estratégico e, consequentemente, no

formato de remuneração dos profissionais.

Quando os sócios entendem os trade-offs

e a importância do trabalho colaborativo

e sem barreiras, há uma relação de

ganha-ganha entre a organização e seus

clientes, que também passam a perceber

um atendimento cada vez melhor. Realizar

atividades complexas e interdependentes,

indo além da prestação de serviços

isolados, permite, ainda, acesso aos

principais executivos no cliente. No longo

prazo, o engajamento desses tomadores de

decisão cria uma relação de confiança e de

parceria estratégica.

HG_Observamos que quando a smart

collaboration acontece para lidar com uma

questão específica do cliente, isso possibilita

o desenvolvimento de uma relação de

melhor qualidade. As organizações com

atuação colaborativa oferecem um trabalho

de mais valor para o cliente e estão mais

comprometidas com a busca de uma melhor

solução. Esse comportamento tem se

tornado necessário diante da transformação

do ambiente de negócios. Os clientes

necessitam de uma atuação multidisciplinar,

com profissionais trabalhando juntos

e atravessando a fronteira de seus

conhecimentos específicos.

HG_Os modelos organizacionais, no geral,

estão se tornando menos centralizadores

e hierárquicos, o que já contribui para o

desenvolvimento, engajamento e retenção

de jovens talentos. Esse cenário, somado

à colaboração, traz ainda mais benefícios,

pois facilita a compreensão dos profissionais

sobre o que estão fazendo e os objetivos

do seu trabalho. Assim, ainda que estejam

exercendo uma pequena tarefa, conseguem

perceber a relevância e o impacto para a

construção de um projeto maior. Quando se

fornece uma visão sobre a representatividade

do trabalho de cada um, a atividade se torna

ainda mais interessante, em particular para a

nova geração de profissionais, que se mostra

interessada em fazer a diferença e impactar

positivamente seu entorno.

8 9

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JE_Tradicionalmente os profissionais de

Direito são formados com um olhar mais

direcionado para a individualidade, com

uma cultura de proprietário do caso ou do

cliente. Qual é a importância de incorporar

essa abordagem de colaboração no

programa interno de treinamento, desde o

início da vida profissional do advogado?

JE_Apesar das evidências tão

significativas sobre os benefícios da

colaboração para organizações de

serviços profissionais e os clientes,

sabemos que implementar uma cultura

100% colaborativa ainda é um desafio para

todos, seja por questões de remuneração

ou de valores como competição, que

inibem o trabalho em equipe. Como você

enxerga esses entraves?

JE_Bom você ter tocado nesse ponto.

Também acredito que o feedback on the job

é fundamental para reorganizar caminhos

e estratégias quando o trabalho não está

avançando da forma esperada. A abertura

para o diálogo deve acontecer tanto entre

gestor e equipe quanto entre líderes e

seus pares.

HG_Com base na minha observação

sobre a formação jurídica em muitos

países, o mercado, em geral, não apenas

prepara as pessoas para agirem de forma

individual, mas também as recompensa

por suas notas e conquistas particulares.

Para minimizar esse comportamento,

é importante que os advogados

sejam rapidamente incorporados ao

ambiente de trabalho em equipe e com

acompanhamento de sócios que são

exemplos de colaboração. Há uma série de

competências para o trabalho em equipe

que podem ser desenvolvidas e, com

bons líderes na organização, transmitidas

para os profissionais mais jovens de

forma natural.

HG_Quando os profissionais estão

acostumados a trabalhar com a mesma

equipe para casos similares e com clientes

semelhantes, é natural desenvolver uma

subcultura e assumir uma maneira mais

apropriada de assessorar determinado

perfil de cliente, o que também pode

provocar um choque cultural quando

um novo grupo entra no circuito. Nesse

contexto, a comunicação é um elemento

essencial, principalmente o processo de

feedback. No momento em que as surpresas

aparecem, ou a tensão começa a se formar

entre as áreas que estão começando

a atuar em colaboração, é preciso agir

imediatamente, de forma transparente e

direta sobre o que está ou não funcionando.

HG_Com frequência, vemos os sócios bem

confortáveis em ter esse tipo de conversa

com seus advogados, mas relutam,

por exemplo, em ter com seus pares. O

importante é conscientizar os líderes a

investirem, inicialmente, em uma conversa

com todos os envolvidos, em todos os

níveis hierárquicos, sobre os objetivos do

caso, as expectativas e os papéis que os

diferentes perfis irão desempenhar. Isso

não é perda de tempo ou atraso, pelo

contrário, é fundamental para aumentar a

eficiência e reduzir tensão na medida em

que o projeto ou caso se desenvolve. Tudo

é uma questão de hábito. Com o tempo e

a prática, esse processo se torna cada vez

mais intuitivo.

Os clientes necessitam de

uma atuação multidisciplinar,

com profissionais trabalhando

juntos e atravessando

a fronteira de seus

conhecimentos específicos.”

– Heidi K. Gardner

10 11

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NOSSA ORGANIZAÇÃO

PAUTADA POR UM PENSAMENTO

ESTRATÉGICO FOCADO

NO CLIENTE E NO FUTURO

Temos experimentado um ambiente de

negócios em constante transformação nos

últimos anos, com desafios jurídicos cada

vez mais complexos dos pontos de vista

regulatório, transacional e de contencioso.

Ao longo de nossa trajetória, estivemos

presentes em casos emblemáticos e de

relevância, esforçando-nos ao máximo para

superar os mais diversos desafios trazidos

pelos nossos clientes, o que caracterizou

nosso jeito de atuar. Seguimos investindo

no trabalho coletivo de nossas equipes e

no desenvolvimento permanente de novas

lideranças. Foi esse caminho que nos

fortaleceu como instituição preparada para

responder, daqui em diante, demandas

ainda mais sofisticadas e, até mesmo,

desconhecidas nesse mercado em evolução.

Para assegurarmos nossa organização de

forma institucional, estamos estruturados

de modo que nossos sócios sejam avaliados

e reconhecidos pela sua contribuição geral

para o escritório, e não somente por suas

áreas de atuação ou clientes que atendem.

Isso proporciona mais integração e uma

colaboração efetiva entre as diferentes

áreas, permitindo sempre a escolha do

melhor profissional para trabalhar em

cada caso.

ESCRITÓRIO SEM BARREIRAS

Também temos nos dedicado a ampliar o

atendimento aos nossos clientes. Fizemos

isso expandindo áreas, criando novas

frentes de atuação, abrindo novos escritórios e,

acima de tudo, trazendo mais talentos para

o escritório. Tudo feito com disciplina e foco,

pensando no que nossos clientes

demandam.

Chegamos, então, a um novo conceito: um escritório sem

barreiras. Orientados por uma cultura de colaboração e por

um pensamento estratégico focado no cliente, queremos dar a

nossa clientela o acesso a todas as áreas de atuação e a todos os

profissionais do Mattos Filho.

12 13

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INFRAESTRUTURA E ENERGIA

FINANCIAMENTODE PROJETOS

MINERAÇÃOÓLEO E GÁS

CONSTRUÇÃO E CONTRATOS

COMPLEXOS

ENERGIA ELÉTRICA

INVESTIMENTOS FLORESTAIS

TRIBUTÁRIO

PROTEÇÃODE DADOS ECYBERSECURITY

MERCADO DE CAPITAIS

NEGÓCIOSIMOBILIÁRIOS

FUNDOS DE INVESTIMENTO

DIREITOCONCORRENCIAL

CONTENCIOSOE ARBITRAGEM

SOCIETÁRIO/M&A

EMERGINGCOMPANIES

DIREITO PENALEMPRESARIAL

MEIOS DEPAGAMENTOS

DIREITOPÚBLICOEMPRESARIAL

SEGUROS,RESSEGUROSE PREVIDÊNCIA

TELECOMUNICAÇÕESE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

COMPLIANCEE ÉTICA CORPORATIVA

REESTRUTURAÇÃOE RECUPERAÇÃO

TRABALHISTA,SINDICAL E

REMUNERAÇÃODE EXECUTIVOS

LIFE SCIENCESE SAÚDE

GESTÃO PATRIMONIAL,FAMÍLIA E SUCESSÕES

ORGANIZAÇÕESDA SOCIEDADE CIVIL,

NEGÓCIOS SOCIAISE DIREITOS HUMANOS

RELAÇÕESGOVERNAMENTAIS

AMBIENTAL

PROPRIEDADEINTELECTUAL

MATTOS FILHOCONECTADO

Somos um escritório orientado a atender nossos

clientes por meio da colaboração entre as nossas

diversas áreas de atuação

BANCOSE SERVIÇOSFINANCEIROS

14 151514

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Para apoiar o nosso funcionamento, nossa

área administrativa está organizada em

quatro diretorias: Comunicação e Marketing,

Desenvolvimento humano, Finanças e

Operações, e Tecnologia e Conhecimento.

Com isso, buscamos apoiar e facilitar a

atração de novos profissionais e melhorar

a prestação de serviço, com o apoio de

especialistas nesses temas.

Nossa maneira de pensar o escritório, e em

como podemos estar melhor preparados para

atender nossos clientes, nos dá muito ânimo

e confiança para o futuro. Acreditamos que,

assim, conseguiremos continuar atentos à

evolução do mercado e de nossos clientes,

atrair talentos diversos e formar pessoas que

farão o escritório cada vez melhor. Tudo isso

para sermos sempre o escritório de escolha

de nossos clientes, hoje e no futuro.

PERFIL DO PROFISSIONAL MATTOS FILHO

Estamos comprometidos, também, com as

necessidades das novas gerações de talentos, que

buscam ambientes profissionais diferenciados, com

líderes inspiradores, plano de desenvolvimento e

propósito no trabalho realizado. Atentos a esses

perfis, que já são muito representativos em nosso

escritório, adotamos várias inovações e flexibilizações

da forma de trabalho no esforço de atração de jovens

profissionais. Desde 2015, contamos com o Programa

Jovens talentos, por meio do qual selecionamos

estudantes de Direito para vagas de estágio e trainee,

com atuação em diferentes práticas do escritório. Mais

de 400 jovens foram escolhidos nas três primeiras

edições e 90% deles foram efetivados ao final do

programa, o que reforça nosso compromisso com as

novas gerações de profissionais.

FORMANDO OS MELHORES PROFISSIONAISSomos um escritório que se preocupa com o

desenvolvimento e as oportunidades criadas

para nossos profissionais. Acreditamos que,

somente dessa forma, teremos condições

de nos tornarmos um escritório mais forte

e preparado para as próximas décadas.

Trabalhamos com dedicação e transparência

para atrairmos, cada vez mais, talentos

diversos. Somos reconhecidos por investir

na construção de carreiras prósperas e por

reconhecer a contribuição daqueles que

acreditam em nosso projeto.

Em 2017, reformulamos todos os processos

relacionados à atração e retenção de

talentos, incluindo estagiários, trainees e

advogados. Adotamos descrições de perfis

específicos para cada etapa da carreira

de nossos profissionais, e uma política

de avaliação 360º para todo o escritório.

Dessa forma, mantemos o diálogo aberto

e motivamos nossos profissionais em suas

jornadas transformacionais.

1 32 4É EFICIENTE NO TRABALHO

EMPREENDE

FOCA NO CLIENTE

Ampliamos o atendimento aos nossos

clientes, expandimos áreas, criamos

novas frentes de atuação, abrimos novos

escritórios e trouxemos mais talentos

para nossas equipes

FORMA PESSOAS

16 171716

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Além do grupo 4Women, dedicado ao

protagonismo das mulheres, e do #mfriendly,

que lidera debates em torno do assunto

LGBT+, o Mattos Filho lançou, durante a

primeira edição da Semana da diversidade,

o grupo Soma, que busca discutir e

ampliar ações de promoção à diversidade

racial. Ainda nesse tema, participamos do

projeto participa do projeto Incluir Direito,

reconhecido internacionalmente pela

instituição britânica Latin Lawyer como

Diversity Initiative of the Year 2018, que tem

como objetivo fomentar a participação do

estudante de Direito autodeclarado negro no

mercado jurídico e criar condições para que

participem nos processos de seleção dos

grandes escritórios de advocacia.

E INSTITUTO MATTOS FILHO

VALORIZANDO OS DIREITOS HUMANOS E A DIVERSIDADEPor entender que devemos retribuir à

sociedade parte dos benefícios que

colhemos, lideramos e apoiamos iniciativas

para influenciar e impactar positivamente

as pessoas. Em linha com esses valores, a

promoção e a defesa dos direitos humanos

são prioridades para o Mattos Filho.

O escritório se dedica à advocacia pro bono

há quase 20 anos, tendo contribuído para o

surgimento e regulamentação da prática no

Brasil. Fomos, ainda, o primeiro escritório de

advocacia nacional a ser membro signatário

do Pacto Global, da Organização das Nações

Unidas (ONU) e, recentemente, a integrar seu

comitê brasileiro.

Em iniciativa inédita do mercado jurídico,

lançamos a prática 100% pro bono.

Reformulamos nossa forma de atuar e

passamos a contar com uma equipe de

profissionais dedicados, exclusivamente,

ao exercício da advocacia gratuita – o

que significa um aumento expressivo do

número de horas dedicadas aos clientes pro

bono, quando somadas às horas pro bono

já trabalhadas pelas demais equipes de

advogados do escritório.

Por meio do trabalho jurídico de interesse

social, buscamos contribuir com a ampliação

do acesso à justiça e oferecer oportunidades

de carreira para profissionais que queiram

se dedicar a temas relacionados aos direitos

humanos, ao exercício da cidadania e ao

fortalecimento do Estado democrático de

direito.

Idealizado pelos sócios do Mattos Filho,

foi inaugurado também o Instituto Mattos

Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga,

uma organização da sociedade civil sem

fins lucrativos, com gestão independente

e autônoma. O instituto tem o objetivo

de expandir o acesso ao ensino do

Direito e, com isso, diversificar o perfil de

profissionais nessa área, desenvolver novas

metodologias para difundir o conhecimento

jurídico, apoiar iniciativas da sociedade civil

direcionadas à diversidade e à cidadania,

além de fomentar o exercício da advocacia

pro bono no Brasil.

Com a iniciativa 100% pro

bono, inédita na advocacia

empresarial no Brasil,, somos

capazes de oferecer carreira

para profissionais que queiram

se dedicar, exclusivamente, a

temas jurídicos direcionados

ao interesse público

Acreditamos que o envolvimento das

organizações em desafios da sociedade

acelera o processo de transformação social

e, nesse sentido, dedicamos esforços a

temas com os quais desejamos contribuir

de forma mais expressiva, a exemplo dos

direitos humanos e da diversidade. A partir

do entendimento das principais barreiras,

dentro e fora do escritório, apoiamos

diversos projetos sociais e, internamente,

criamos grupos de afinidade, que buscam

promover um ambiente de trabalho ainda

mais inclusivo e diverso.

18 19

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+ +

1083DE

PR

OFI

SS

ION

AIS

TOTA

L

Grupo de Gestão e Desenvolvimento | 420 (Profissionais de áreas administrativas)

Advogados | 510

Estagiários e trainees | 153

Sócios | 82

28,1

141,8

21,7

588,8RECEITA BRUTA

TRIBUTOS

PPR (PROGRAMA DE PARTICPAÇÃO DE RESULTADOS)

BENEFÍCIOS

Horas de treinamento

Crescimento de 40%*

Número de aulas

Crescimento de 42,5%*

Mulheres em nosso escritório

55%

Participantes em nossos grupos de afinidade

365

+6.300 horas pro bono dedicadas a

casos de interesse público e social

+250 profissionais envolvidos

ACADEMIA MATTOS FILHO

DIVERSIDADE E INCLUSÃO

PRO BONO

RESULTADOS FINANCEIROS

(em milhões de reais)

*Em relação a 2016

2017

21

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A ERA DA

e qual legado as próximas lideranças empresariais herdarão no Brasil

por Fabio Ozi, Renato Portella, Renato Ximenes e Rogério Taffarello, sócios do Mattos Filho

Os últimos anos de investigações acirradas

deixaram lições relevantes para o ambiente

de negócios no Brasil, como a necessidade

de criação e aprimoramento dos controles

internos, regras de governança e gestão

de riscos, que vimos ganhar, cada vez mais,

importância em uma cultura de enforcement.

Para mitigar riscos de responsabilizações

civis e penais, as empresas têm sido

cobradas a apresentar controles e

mecanismos ainda mais rígidos de

compliance. Em resposta a essas exigências,

recentemente, vimos grandes companhias

aprimorarem seus programas de compliance,

firmarem acordos de leniência e recorrerem

à conciliação em disputas com os poderes

público e privado, após sofrerem danos

reputacionais e financeiros. Foram esforços

valiosos para corrigir o passado. Olhando

para o futuro, no entanto, quais cenários

jurídicos e legislativos deveremos encontrar?

Hoje, no Brasil, há uma lacuna no tratamento

legal de casos de pagamento de propina

envolvendo apenas agentes privados e sem

lesão à administração pública. Apesar dos

grandes danos que tais práticas podem

causar às empresas e à sociedade como um

todo, em geral, os responsáveis por esses

atos nem sempre chegam a ser punidos

ou mesmo investigados pelas autoridades

criminais, diferentemente do que acontece

em outras jurisdições. Essa é, a julgar

pelos debates recentemente travados no

Congresso Nacional e em recomendações

internacionais, uma das alterações

legislativas no sentido de uma expansão

dos controles oficiais que temos observado

como prováveis para cenários futuros.

A seu turno, a responsabilidade penal

corporativa, atualmente aplicada no

Brasil apenas em crimes ambientais (lei

9.605/1998), poderá vir a abarcar os crimes

financeiros e contra a administração

pública, entre outros atinentes ao ambiente

empresarial. Essas possibilidades têm sido

debatidas com intensidade na Europa.

Portugal e Espanha, por exemplo, já

adotaram um arcabouço legal referente

ao assunto desde o início dos anos 2000,

seguindo recomendações da Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico (OCDE), da qual o Brasil aspira

ser membro.

22 232322

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2

Como indício de uma nova cultura de

enforcement, mudanças legais importantes

ocorreram no fim de 2017 no âmbito do

mercado financeiro e de capitais, impactando

particularmente os bancos e os demais

prestadores de serviços financeiros e de

valores mobiliários (lei 13.506, publicada

em novembro de 2017). A nova legislação

estabelece novos parâmetros sobre

processos administrativos para o Banco

Central (Bacen) e a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), trazendo a esperada

possibilidade de celebração de acordos de

leniência e, na esfera do Banco Central, de

termos de compromisso para suspensão de

processos, que já eram possíveis para a CVM.

As penalidades a que essas indústrias estão

sujeitas aumentaram consideravelmente.

No caso das instituições financeiras, por

exemplo, algumas multas que eram limitadas

a R$ 250 mil passaram a contar com novos

limites, podendo chegar a até R$ 2 bilhões.

Além do agravamento das possíveis

sanções às empresas previstas pela

legislação, a pressão para adotar práticas

transparentes e mecanismos de compliance

é ainda exercida pelos principais executivos

das empresas e pelos membros dos

Conselhos de Administração, que podem ser

responsabilizados por seus atos. Não fazer

nada passa a ser temerário. O risco de não

cumprir a legislação e cometer práticas ilícitas

por ação ou omissão do gestor se torna

bastante elevado e potencialmente custoso.

Nas palavras do jurista norte-americano Paul

McNulty, “if you think compliance is expensive,

try non-compliance” (algo como “se você acha

que compliance é caro, experimente não se

adequar”). Há poucos anos, esta seria uma

reflexão. Agora, comprova-se como máxima.

Notam-se também mudanças no

relacionamento entre empresas e entre

estas e agentes públicos. Grandes

organizações, normalmente, incluem em seus

contratos cláusulas de proteção às leis de

combate à corrupção e lavagem de dinheiro,

impondo procedimentos éticos e mais

transparentes aos seus parceiros, o que cria,

muitas vezes, um efeito multiplicador. Já em

seus códigos de conduta, as companhias

têm adotado políticas mais transparentes

de relacionamento com seus stakeholders.

Reuniões com agentes públicos, em grande

parte dos casos, devem ser precedidas

de solicitação formal de agendamento,

com indicação dos executivos que estarão

presentes e os assuntos a serem tratados,

que deverão ser registrados nos sistemas de

informação da empresa. O mesmo cuidado

se estende ao oferecimento e recebimento

de presentes corporativos, os quais ficam

sujeitos a limites de valor e regras

de transparência.

Esse processo de mudança no ambiente

jurídico e corporativo não será feito de

um dia para o outro. Por se tratar de uma

mudança cultural, será preciso que o Poder

Público e grandes, médias e pequenas

empresas incorporem essa nova maneira

de relacionamento e de contratação. Esse

momento ainda enseja reflexões sobre a

aplicação de leis e sanções e a importância

de que se esclareça os papéis dos órgãos

públicos na definição de penalidades, para

que não se crie um ambiente de insegurança

jurídica altamente prejudicial aos negócios e

ao desenvolvimento econômico.

Observam-se, em alguns casos, disparidades

interpretativas no mesmo órgão do Judiciário,

enquanto se notam sobreposições de sanções,

o que reforça a relevância da aplicação de leis

com segurança e previsibilidade.

R$

novo limite de multas para instituições financeiras, antes limitado a R$ 250 mil

A responsabilidade penal

corporativa, atualmente

aplicada no Brasil apenas

em crimes ambientais,

poderá vir a abarcar os

crimes financeiros e contra

a administração pública

24 252524

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e os esforços de negócio direcionados às próximas gerações

FUTURO SUSTENTÁVEL

por Bruno Tuca, Flavia Regina de Souza Oliveira, Lina Pimentel e Rossana Fernandes Duarte,

sócias e sócio do Mattos Filho

A gestão das empresas está cada vez

mais orientada para o equilíbrio entre as

dimensões econômicas e socioambientais.

Isso decorre não só de uma conscientização

geral sobre a importância de se desenvolver

e manter negócios sustentáveis, mas

também da própria demanda do público

consumidor, dos investidores e da sociedade.

O Acordo Climático de Paris, para reduzir as

emissões de gases de efeito estufa, é um

exemplo pragmático de que as questões

socioambientais são itens de primeira ordem.

A redução do impacto socioambiental,

incluindo a redução das emissões de dióxido

de carbono e outros gases poluentes, seja

nas indústrias em operação ou mesmo nos

novos projetos, dependerá do financiamento

da iniciativa privada.

Atualmente, a forma mais difundida

para vincular investidores interessados

e empreendedores conscientes são os

chamados “títulos verdes” (green bonds), que

consistem em títulos ou valores mobiliários

emitidos por empresas, instituições

financeiras, organismos multilaterais e até

mesmo governos, que são classificados

como verdes por terem sua destinação de

recursos restrita a projetos que causem

impactos ambientais ou climáticos positivos.

Os títulos verdes são uma tendência

internacional que, em menos de dez anos,

formou um mercado relevante nas principais

praças financeiras do mundo. Somente

em 2017, foram lançados mais de US$ 150

bilhões em títulos verdes, de acordo com a

Climate Bonds Initiative, organização inglesa

sem fins lucrativos.

No Brasil, empresas do setor florestal e de

energia elétrica já emitiram títulos verdes no

mercado local e internacional em operações

muito bem-sucedidas, mas há muito

potencial a ser explorado por emissores

brasileiros, principalmente vindos de

agronegócio e de energia limpa ou renovável,

setores em que o país tem liderança

mundial. Nesse sentido, a Associação

Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o

Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID) e a Comissão de Valores Mobiliários

(CVM) lançaram, em 2017, o Laboratório de

Inovação Financeira (LAB), cuja intenção é

propor o aperfeiçoamento de ferramentas

financeiras e incentivos regulatórios para

o desenvolvimento do mercado dos títulos

verdes no Brasil.

Outra inovação com grande potencial para

ganhar espaço no mercado de capitais são

os títulos de impacto social, ou social impact

bonds, cujo objetivo é propiciar a captação

de recursos privados para o financiamento

de políticas públicas, com foco em ações

de prevenção. O novo modelo de negócios

começou a ser testado em 2010, na

Inglaterra, para administrar uma prisão local.

Oito anos depois, foram lançados mais de

cem papéis no mundo com cerca de US$ 400

milhões captados, segundo dados do Social

Finance Global Network, entidade britânica

que compila informações sobre o setor para

auxiliar governos e organismos multilaterais

em estudos e análises.

EM 2017, FORAM

LANÇADOS MAIS

DE 150 BILHÕES

DE DÓLARES EM

TÍTULOS VERDES

QUE, EM MENOS

DE DEZ ANOS,

FORMARAM

UM MERCADO

RELEVANTE

NAS PRINCIPAIS

PRAÇAS

FINANCEIRAS

DO MUNDO

26 2727

Page 15: RELATÓRIO ANUAL 2017 · Smart collaboration Conversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner Escritório sem barreiras: nossa organização pautada por um pensamento estratégico

por mais de 60 países e mais de 500

empresas no mundo. Outras 700 empresas

globais planejam fazer o mesmo até o fim

de 2018, segundo o CDP (antigo Carbon

Disclosure Project), uma das entidades mais

respeitadas do setor.

A preocupação em criar benefícios sociais e

ambientais vai além do controle das mudanças

climáticas. As empresas e o Estado no

Brasil têm sido cada vez mais pautados pela

agenda sustentável diante das exigências da

sociedade. O tratamento legal dos recentes

desastres ambientais tem indicado que uma

tendência no Judiciário nacional e internacional

é a contabilização ambiental, ou seja, a adoção

de uma visão holística sobre os acidentes, com

uma reflexão que envolve futuras gerações,

múltiplos ecossistemas, diversas comunidades

e a criação de fundos para recuperação da

área degradada no médio e longo prazo.

Para reduzir emissões de gases de efeito

estufa, o governo brasileiro sancionou, em

dezembro de 2017, a lei 13.576, que cria

a Política Nacional de Biocombustíveis

(RenovaBio), assinalando a primeira vez em

que o Brasil utilizará um instrumento de

mercado mandatório para cumprir metas

ambientais. A legislação, que poderia,

eventualmente, abrir um novo ciclo de

investimentos no setor sucroalcooleiro,

obriga as distribuidoras de combustíveis a

adquirir créditos que serão emitidos pelas

produtoras de biocombustíveis, de forma

a criar um círculo virtuoso de incentivo

que poderá triplicar para 18% a fatia de

biocombustíveis em sua matriz.

Essa visão mais abrangente sobre os

aspectos socioambientais é reforçada por

discussões econômicas: a União Europeia

debate diretiva que buscará valorizar os

ativos ambientais no PIB dos seus países

membros. Já no Judiciário, reforça-se a

discussão sobre a responsabilidade solidária,

com conceitos como o do poluidor indireto.

Isso tem aumentado o interesse sobre o

tema em diversos elos da cadeia, como o

ligado a financiadores e investidores, que

irão buscar teses de investimento cada vez

mais baseadas em retorno econômico,

social e ambiental.

Diante dessas indicações, o planejamento

estratégico das empresas passará a

enfatizar os benefícios sociais e ambientais

dos investimentos, e os processos de due

diligence adotarão uma visão ainda mais

ampla sobre os impactos em comunidades

e no meio ambiente no Brasil. Isso ganha

relevância ao se notar que cadeias

relevantes, como o agronegócio, a mineração

e a energia, buscam novas fronteiras de

produção, em que o relacionamento com o

meio ambiente, comunidades tradicionais

e outros stakeholders será ainda maior,

exigindo que todos os elos da cadeia adotem

uma visão holística sobre o tema.

Alguns estados e municípios brasileiros

já estudam o tema. A Estratégia Nacional

de Investimentos e Negócios de Impacto

(Enimpacto), ligada ao Ministério da

Indústria, Comércio Exterior e Serviço

(MDIC), analisa como o segmento pode ser

estimulado. Com a crise fiscal que aperta o

orçamento público, esses títulos poderão

ser uma alternativa na adoção de políticas

públicas nas áreas da saúde, educação e

segurança, por exemplo.

A agenda sustentável não está concentrada

apenas no mercado de capitais. Alguns

governos, como o da França, já estudam

sobretaxar, em 100 euros por tonelada

de carbono, os produtos importados cuja

emissão de carbono correspondente não

tenha sido neutralizada. Estima-se que 20%

das emissões globais serão cobertas por

mecanismos de precificação, hoje adotados

Estima-se que 20% das emissões

globais de carbono serão cobertas

por mecanismos de precificação,

adotados por mais de 500

empresas no mundo

28 29

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RELAÇÕES PÚBLICO-PRIVADAS:

no mercado sob a perspectiva da inovação

Nos próximos anos, mais de R$ 50 bilhões em contratos de concessões

e Parcerias Público-Privadas (PPP) da União, estados e municípios

deverão ser licitados nas áreas de logística, energia elétrica e

saneamento. A tendência de o Estado reforçar a transferência

de ativos para a iniciativa privada e a menor participação

de financiamentos subsidiados pelo governo deverão

coincidir com a entrada de novas empresas no setor.

Sancionada em 30 de junho de 2016, a Lei das

estatais (13.303/2016) estabeleceu que as

organizações públicas, as sociedades de

economia mista e suas subsidiárias deveriam

adotar novos mecanismos de governança e

formas de contratação mais adequadas à

iniciativa privada.

OPORTUNIDADESEmpresas estatais não poderão mais ter

em seus quadros, por exemplo, diretores

vinculados a sindicatos ou a partidos políticos,

o que pode preconizar uma nova era na gestão

dessas companhias, fomentando uma gestão

profissionalizada e atual.

As estatais tendem a adotar um modelo de contratação

mais dinâmico com a Lei das estatais, mas é importante

destacar que, em um ambiente de contratações mais

transparente e ético, quaisquer concessões ou Parcerias

Público-Privadas somente serão bem-sucedidas se a alocação

de riscos entre as partes for equilibrada. Por essa razão, é essencial

que os órgãos de controle da administração pública entendam que

por Bruno Werneck, Marina Anselmo e Pablo Sorj, sócia e sócios do Mattos Filho

30 313130

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a previsibilidade, a segurança jurídica e a

institucionalidade devem guiar o processo

de tomada de decisão dos gestores

públicos, a formulação de políticas públicas

e a aplicação de sanções administrativas.

Outro passo importante para a

implementação de um novo formato de

interação com a administração pública foi

dado a partir da sanção da Lei 13.655/2018,

conhecida como a Lei da segurança jurídica,

que introduz critérios objetivos e claros

nas relações com o Poder Público, para que

o relacionamento com a iniciativa privada

seja construído de forma sustentável,

transparente e duradoura.

Sob outra perspectiva, com o avanço

tecnológico, novos negócios começam a

surgir também no setor de infraestrutura,

ampliando a oferta e a demanda no

segmento por meio do estímulo à pesquisa

e ao desenvolvimento. Um exemplo

da influência da inovação no setor de

infraestrutura são as cidades inteligentes,

conceito que envolve o uso de tecnologias

para oferecer serviços inovadores aos

cidadãos e à administração pública,

como a prestação de serviços digitais,

armazenamento de dados na nuvem,

controle de tráfego, gestão de resíduos

sólidos e bases de dados públicas.

Em um ambiente

de contratações

mais transparente,

concessões ou

Parcerias Público-

Privadas serão

bem-sucedidas se a

alocação de riscos

entre as partes for

equilibrada

A incorporação desses novos serviços

exigirá a adoção de modelos de

contratação pública diferentes dos

tradicionais regidos pela Lei de licitações,

fugindo do atual padrão. Implementar

um modelo de regulação inovador, que

permita às cidades brasileiras se tornarem

revolucionárias em seu desenvolvimento,

será um dos principais desafios dos

próximos anos. Considerando o cenário

de reaquecimento da economia e o

crescimento e a diversificação dos

investimentos privados, o Brasil desponta

como um destino relevante para atrair

investidores nacionais e estrangeiros.

a ç ã o

f o r m a ç ã o

c o l a b o r a ç ã o

t r a n s f o r m a ç ã o

r e n o v a ç ã o

i n o v a ç ã o

a ç ã o

3332

Page 18: RELATÓRIO ANUAL 2017 · Smart collaboration Conversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner Escritório sem barreiras: nossa organização pautada por um pensamento estratégico

por Fabio Kujawski, Lauro Celidonio, Marina Procknor e Renata Cubas, sócias e sócios do Mattos Filho

para negócios disruptivos

Redes digitais e novas mídias, hoje triviais em nosso dia a dia,

revolucionaram o processo de inovação nas organizações nos

últimos anos. Entretanto, é provável que, a partir de 2020, deixem

gradualmente de ser as maiores protagonistas da atual revolução

tecnológica. A teoria das “ondas de Schumpeter”, desenvolvida pelo

economista austríaco Joseph Schumpeter na primeira metade do

século XX, nos remete a cinco ondas de inovação na história recente,

cujos ciclos de vida são encurtados a cada progresso, exigindo revisão

cada vez mais ágil do status quo nos negócios. Estamos vivendo o final

da quinta onda, marcada pela revolução digital.

Diversos modelos de negócio inovadores, como aplicativos de mobilidade,

voz e hospedagem, têm desafiado os padrões e provocado tentativas

de reação dos atuais agentes de mercado e de autoridades. Na esfera

tributária, um exemplo é a recente definição de bens digitais, cuja

circulação “virtual” seria tributável pelo Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS) na visão de fiscos estaduais do Brasil.

A tributação de publicidade online é outro ponto de discussão. Esse

debate teve início em 2003 com a edição da Lei complementar nº 116

(LC 116), que estabeleceu que a atividade ficaria de fora da lista de

serviços sujeitos ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS).

Em dezembro de 2016, foi sancionada a Lei complementar nº 157 (LC 157),

que incluiu a atividade na lista de serviços sujeitos ao ISS, autorizando os

municípios a cobrar o tributo. Oito meses depois, contribuintes paulistas

SEGURANÇA JURÍDICA

34 35

Page 19: RELATÓRIO ANUAL 2017 · Smart collaboration Conversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner Escritório sem barreiras: nossa organização pautada por um pensamento estratégico

conquistaram três precedentes no Tribunal

de Impostos e Taxas (TIT) de São Paulo

contra a cobrança de ICMS sobre veiculação

de publicidade na internet, cancelando autos

de infrações anteriores à edição da LC 157.

A alteração legal, porém, não afastou a

possibilidade de os Estados continuarem

pleiteando a cobrança de ICMS. Aguardam-se

novas decisões de fiscos estaduais sobre

o tema, o que poderá contribuir para uma

interpretação única de cobrança de tributos

sobre a atividade.

A inovação tende a estar à frente dos

legisladores mais eficientes, naturalmente,

dificultando a aplicação e a adaptação da

legislação atual com a mesma velocidade

com que se criam novos negócios. Na maioria

das vezes, as organizações não sabem quais

impostos terão de pagar sobre sua atividade

recém-criada ou enfrentam questionamentos,

já que a legislação não deixa claro quais

normas devem ser seguidas. Os constantes

conflitos entre entes da federação quanto

à competência tributária adicionam

complexidade ainda maior a esse cenário.

Novos negócios e novas tecnologias

continuarão desafiando a legislação, a

regulação e os regimes tributários vigentes, e

misturarão conceitos jurídicos estabelecidos.

Já se questiona, inclusive, o poder de mercado

que algumas companhias terão nos próximos

anos, considerando o volume de dados de

consumidores nas mãos de um grupo restrito

de empresas. Esse cenário tem preocupado

autoridades antitruste e órgãos reguladores,

principalmente na Europa e nos Estados

Unidos, que têm discutido meios para que

esses bancos de dados não se transformem

em um poder de mercado tão grande a ponto

de inibir a concorrência ou a entrada

de novos players. Misturam-se, assim,

conceitos de antitruste, privacidade e

direito do consumidor.

Há, ainda, novos conceitos sobre fusões e

aquisições em negócios disruptivos, que

fugiriam da análise concorrencial tradicional

em busca de uma avaliação mais dinâmica

e prospectiva do mercado. O market share

já não reflete o poder econômico dos

concorrentes. Temos visto este entendimento

em casos julgados pelo Conselho

Administrativo de Defesa Econômica (Cade),

que tem olhado para players inovadores sob

aspectos que vão além da concentração de

mercado, com estratégias e benefícios únicos

ao cliente e captura de eficiências.

AOS ADVOGADOS, CABE O PA-PEL DE REPENSAR A REGULA-ÇÃO E APOIAR EMPRESAS A AL-CANÇAR A SEGURANÇA JURÍDICA AINDA NECESSÁRIA PARAO DESENVOLVIMENTO DES-SES NEGÓCIOS DISRUPTIVOS. AS DÚVIDAS QUE SE COLO-CAM AGORA, E PARA O FUTU-RO, GIRAM EM TORNO DE RE-GULAR OU NÃO ATIVIDADES E TECNOLOGIAS DISRUPTI-VAS E COMO FAZER REGULA-ÇÃO SEM INIBIR A INOVAÇÃO.36 3736

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Entre os exemplos de disrupção de 2017,

mais evidente que as mudanças na matéria

concorrencial, está o desenvolvimento e a

adesão às criptomoedas, que se inserem como

protagonistas dessa discussão atual sobre

regulação, transações, meios de pagamento,

confiança e segurança no meio digital. As

criptomoedas são consideradas, sob a

perspectiva fiscal, ativos virtuais de tal modo

que, existindo lucro em uma transação com

tais ativos, o investidor pode estar sujeito à

tributação sobre ganho de capital. Diante dos

desafios relacionados à rastreabilidade das

transações com criptomoedas, seu uso em

atividade ilícita é conhecido e pode resultar em

ações relacionadas à lavagem de dinheiro e

outros crimes. Em alguns tópicos, ela se insere

na legislação tradicional, em outros, não.

A necessidade de uma nova regulação se

discute o tempo todo, mas ainda não há

consenso quanto a como regular uma moeda

digital sem governo, país ou soberania

definidos. Por ora, a regulação visa proteger a

moeda oficial e os investidores e inibir fraudes.

Fundos de investimentos estão proibidos

de investir diretamente em criptomoedas no

Brasil, de acordo com a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), que também recomendou

que se evitassem investimentos indiretos.

Curiosamente, nem isso, e nem a insegurança

de não poder recorrer ao Código de Defesa do

Consumidor em casos de prejuízos, inibiram

pessoas físicas de investirem nesses ativos.

Por outro lado, o Banco Central (Bacen) tem se

mostrado atento a essas mudanças no cenário

financeiro brasileiro e adotado medidas para

incentivar a inovação e permitir o surgimento

e crescimento das fintechs, ao mesmo tempo

em que busca caminhos para assegurar a

solidez desse mercado em transformação.

Atualmente, as fintechs podem atuar em

atividades tradicionais do mercado financeiro,

como intermediação de valores mobiliários e

ativos financeiros e concessão de crédito, em

parceria com instituições tradicionais ou de forma

independente, buscando as devidas autorizações

regulatórias. O mercado, em geral, tem olhado

para essas startups com bons olhos e incentivado

o fechamento de parceiras comerciais e rodadas

de investimento, incluindo fusões e aquisições.

Se a definição de moeda, um dos elementos

tradicionais característicos da soberania de

um país, está sendo desafiada por tecnologia

privada, certamente outros casos de disrupção

tecnológica e comportamental desafiarão

governos e reguladores em breve. Em alguns

casos, além de todas as questões regulatórias

já conhecidas, a discussão ética terá papel

central nesses movimentos, como a perda da

privacidade individual ou o papel exercido por

entidades paraestatais menos transparentes

e com interesses próprios. Todos esses

exemplos revelam um zeitgeist, ou espírito

dos tempos atuais, repleto de inovações

simultâneas e independentes entre si, que

colocam dúvidas sobre a eficácia de regras

previstas em ondas de inovação anteriores

à atual. É necessário que, assim como as

indústrias têm se adaptado às mudanças, leis

e regulações sejam revistas mais rapidamente,

não apenas no Brasil, mas internacionalmente.

As dúvidas que se colocam agora, e para

o futuro, giram em torno de regular ou não

atividades e tecnologias disruptivas e como

fazer regulação sem inibir a inovação. Por

enquanto, a discussão se trava mais nos

campos de proteção de dados pessoais

e do direito concorrencial e financeiro. A

tradicional noção liberal de se regular apenas

quando existem falhas de mercado se

distancia, enquanto bilhões de pessoas são

afetadas. A conectividade alcançou níveis tão

extraordinários que cada indivíduo se tornou

um agente e um potencial alvo. As novidades

são tantas, e de tal abrangência, que grande

parte dos governos e stakeholders clamam

por limites e regulação. A tendência natural

do regulador é encaixar o “novo” na “velha”

regulação, o que pode gerar efeitos nefastos

à recepção do novo e moderno.

Papel importantíssimo é exercido, ainda, pela

opinião pública, grande aliada das empresas

inovadoras, para romper as resistências

das empresas constituídas e pressionar

reguladores pela recepção dos novos

serviços e produtos. Aos advogados, cabe

repensar a regulação, “pensar fora da caixa”

e apoiar as empresas a alcançar a segurança

jurídica necessária ao desenvolvimento

salutar desses novos negócios.

Papel importantíssimo é exercido pela opinião pública, grande

aliada das empresas inovadoras, para romper as resistências

das empresas constituídas e pressionar reguladores pela

recepção dos novos serviços e produtos

38 39

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O Brasil ainda não avançou com a proposta

de reforma previdenciária, essencial para

melhorar as contas públicas. O mesmo

ocorreu com a reforma tributária, também

importante para elevar a competitividade

da economia nacional em um momento em

que vários países discutem ou implementam

novos programas tributários com redução

da carga de impostos sobre o ambiente

corporativo. O maior exemplo são os

Estados Unidos, cujo Congresso aprovou, no

fim do ano passado, uma reforma tributária

que, dentre outras medidas, trouxe o corte

nominal de 35% para 21% na alíquota de

imposto sobre a renda pago pelas empresas.

Os efeitos da reforma americana sobre o

Brasil e outros países ainda são incertos,

mas as alterações nos Estados Unidos

devem trazer mais um elemento nas

discussões em torno da simplificação do

sistema tributário brasileiro, como forma

de atrair e incentivar o investimento

estrangeiro no país.

por Fabiano Brito, Giovani Loss, Glaucia Lauletta Frascino, João Ricardo de Azevedo Ribeiro e Sólon Cunha,

sócia e sócios do Mattos Filho

REFORMASALTERAÇÕES

REGULATÓRIASE OS IMPACTOS

nos novosciclos de

investimentos

40 414140

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Realmente, dentro da realidade brasileira,

em alguns setores, a tributação corporativa

excede 50% do faturamento das empresas,

o que demonstra a importância desse tema

para o crescimento sustentável da economia

doméstica, ainda mais se considerarmos

o aumento da competitividade em outros

países. Além da simplificação, a discussão

sobre a reforma tributária no Brasil não deve

excluir a possibilidade de concentração da

arrecadação na renda, e não no consumo,

como ocorre atualmente, tema essencial,

mas também desafiador, por significar uma

redistribuição das competências tributárias

hoje consolidadas.

Por outro lado, mudanças na legislação

trabalhista, nos setores de óleo e gás e de

energia elétrica deverão criar oportunidades

para ampliação dos investimentos no Brasil

ao longo dos próximos anos.

Ao estabelecer um novo paradigma

nas relações trabalhistas, criando bases

para discussões mais democráticas entre

empregadores e empregados e privilegiando

sindicatos de base, a reforma poderá

consolidar algumas tendências ao longo

dos próximos anos. Uma delas é de que

as negociações possam envolver mais a

remuneração por produtividade, como alguns

países têm adotado, além da possibilidade

de que as empresas e seus colaboradores

possam firmar mais Programas de

Participação em Lucros e Resultados (PLR)

setoriais, reforçando essa ferramenta de

gestão empresarial.

Ao regular a terceirização como possível na

atividade fim, a legislação poderá incentivar

o setor de serviços, que responde por

70% da economia brasileira e é o maior

empregador formal do país, segundo o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). A nova lei pode estimular mais

negócios como fusões e aquisições nos

setores de saúde, vigilância, tecnologia e

construção civil. Anteriormente, havia riscos

trabalhistas nesses segmentos em relação

à terceirização. Considerando um dos oito

maiores mercados de consumo do mundo, a

legislação contribui para reduzir uma zona

cinzenta que poderia afastar o interesse de

eventuais investidores no país.

Mudanças na legislação trabalhista,

nos setores de óleo e gás e de energia

elétrica deverão criar oportunidades

para ampliação dos investimentos no

Brasil ao longo dos próximos anos

Em infraestrutura, alterações regulatórias,

com destaque para as áreas de óleo e gás

e de energia elétrica, criaram uma nova

dinâmica que deverá destravar um novo

ciclo de investimentos, contribuindo para a

realização de mais negócios, o reforço do

capital privado e a chegada de novos players.

No setor de petróleo, além da extinção

da obrigação de a Petrobras ser a única

operadora de todos os blocos de exploração

do pré-sal no regime de partilha de produção,

o governo divulgou a retomada de leilões

na camada pré-sal com a publicação de um

calendário plurianual de oferta de áreas

exploratórias, com a previsão de dez leilões

até 2019 e redução nos níveis de bens e

serviços de conteúdo nacional.

Com o novo marco regulatório, as áreas

de petróleo, gás natural e biocombustíveis

poderão atrair investimentos em torno de

R$ 800 bilhões até o fim da próxima década,

com projetos anunciados ou contratados

pelo governo desde maio de 2016, segundo

estimativa do Ministério de Minas e Energia.

Grandes petroleiras internacionais deverão

reforçar sua presença ou investir pela

primeira vez no país, seja por meio dos

leilões realizados pelo governo ou por

fusões e aquisições.

42 4342

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Em energia elétrica, assiste-se à

diversificação da matriz com o avanço de

fontes renováveis e discute-se a regulação

para incorporação de novas tecnologias,

como os carros elétricos e sistemas de

armazenamento de energia, o que criará

novos modelos de negócios. Ano passado,

a Agência Nacional de Energia Elétrica

(Aneel) abriu chamada pública para discutir

a regulamentação sobre fornecimento

de energia a veículos elétricos. Hoje, o

abastecimento é exclusivo de distribuidoras

de combustíveis.

Além da retomada dos leilões periódicos de

energia nova em 2017, um dos destaques

tem sido o avanço da contratação de

energia solar, trazendo novos players ao

setor. Segundo dados da Empresa de

Pesquisas Energéticas (EPE), os parques

solares centralizados deverão passar

de cerca de 1 gigawatt (GW) de potência

para 10 GW, em 2026, enquanto a geração

distribuída solar deverá crescer de 75

megawatts pico (MWp), em 2017, para

3.610 MWp, em 2026. Com o avanço

das fontes intermitentes, como a solar,

cresce a importância de sistemas de

armazenamento de energia elétrica, tema

cuja regulação começa a ser debatida. O

desafio no setor elétrico será estruturar um

arcabouço regulatório e institucional que

promova as novas tecnologias e permita

que o Brasil avance na diversificação de sua

matriz.

Diante desse contexto, que combina

a chegada de novos players e as

transformações macro e microeconômicas,

como a reforma trabalhista e o ciclo de

investimentos em energia, o mercado deve

estar preparado para esse novo estímulo

para mais negócios e modelos inéditos de

contratação, seja entre empregadores e

colaboradores ou entre empresas privadas

e Estado.

Os efeitos da

reforma americana

sobre o Brasil ainda

são incertos, mas

devem trazer mais um

elemento nas discussões

em torno da simplificação

do sistema tributário brasileiro,

como forma de atrair e incentivar

investimentos

%50DO FATURAMENTO DAS EMPRESAS

EM ALGUNS SETORES, A TRIBUTAÇÃO CORPORATIVA EXCEDE

O desafio no setor elétrico será

estruturar um arcabouço regulatório

e institucional que promova as novas

tecnologias e permita que o Brasil

avance na diversificação de sua

matriz.

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INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS NO

BRASIL E NEGÓCIOS CROSS-BORDER

SPRJDFNYLDN

Um dos oito principais destinos de investimentos estrangeiros, com

um fluxo de capital externo superior a US$ 70 bilhões em 2017 e

com previsão de receber cerca de US$ 80 bilhões em 2018, o Brasil

continuará sendo um dos maiores receptores de recursos do mundo,

apesar das incertezas políticas. Investidores do Canadá, Estados

Unidos, Europa e Ásia seguirão buscando oportunidades diante de um

ambiente macroeconômico que pode combinar mais de 200 milhões de

habitantes, inflação sob controle, juros baixos, queda do desemprego,

mercado acionário em alta e retomada de investimentos privados em

infraestrutura.

Em 2017, o volume de fusões e aquisições e IPOs no mercado

brasileiro alcançou mais de R$ 320 bilhões, segundo dados da

consultoria Transactional Track Record (TTR). Foram 143 operações

anunciadas e 1.163 concluídas. Para 2018, fundos de private equity,

fundos soberanos, investidores financeiros e operadores estratégicos

deverão buscar fusões, aquisições, joint ventures e investimentos

diretos, principalmente nas áreas de educação, agronegócio, saúde,

seguros e varejo. Infraestrutura também será um destino relevante de

investimentos, especialmente nas áreas de transportes e energia.

Conteúdo exclusivo digital

por Amadeu Carvalhaes Ribeiro, Marcelo Mansur, Moacir Zilbovicius

e Rodrigo Ferreira Figueiredo, sócios do Mattos Filho

46 47

Page 25: RELATÓRIO ANUAL 2017 · Smart collaboration Conversa José Eduardo Carneiro Queiroz e Heidi K. Gardner Escritório sem barreiras: nossa organização pautada por um pensamento estratégico

O BRASIL

CONTINUARÁ

SENDO UM

DOS MAIORES

RECEPTORES DE

INVESTIMENTOS

NO MUNDO,

APESAR DAS

INCERTEZAS

POLÍTICAS

Destaque para o setor de saúde: desde

a autorização concedida em 2015 para

investimento estrangeiro em hospitais,

ampliou-se a procura por negócios

nesse segmento. As fusões e aquisições

envolvendo hospitais e laboratórios de

análises clínicas tiveram, em 2017, o melhor

resultado das últimas duas décadas. A crise

fiscal que atinge o orçamento público e a

sobrecarga dos setores público e privado

também devem criar oportunidades de

investimento para seguradoras e operadoras

privadas de saúde.

Novos negócios ainda poderão surgir do

desenvolvimento de plataformas digitais

de comércio para o consumidor final, como

aplicativos ou comércio eletrônico. No Brasil,

o modelo de varejo ainda está muito calcado

nas lojas físicas, enquanto nos Estados

Unidos, Europa e Japão já são utilizados

recursos de realidade virtual para elevar

a qualidade da experiência de compras e

otimizar o trabalho do lojista nas diversas

etapas no processo de venda. O potencial

de usar tecnologia nas compras no Brasil

é muito grande: o comércio eletrônico

brasileiro estava previsto para crescer 12%

em termos nominais, em 2017, e faturar

R$ 53,5 bilhões, em 2018, segundo a Ebit,

empresa especializada em pesquisas que

visam analisar e entender o perfil e hábitos

do consumidor virtual.

Esse novo ciclo de investimentos será

realizado em um ambiente jurídico mais

seguro e ao mesmo tempo mais complexo,

haja vista o vigor com que as leis vêm sendo

aplicadas no Brasil, especialmente no que diz

respeito ao combate à corrupção.

A análise concorrencial é outro ponto que

tem ganho destaque entre os investidores

externos. Ao vetar quatro transações

de grande porte em 2017 e no primeiro

trimestre de 2018, o Conselho Administrativo

de Defesa Econômica (Cade) indica que

adotará uma postura mais forte e atuante.

Assim, projetos de aquisições de empresas

no Brasil têm muitas vezes se iniciado pela

análise do seu risco concorrencial.

Se, nos últimos três anos, notou-se uma

postura mais defensiva a partir de vendas

de ativos de grandes players nacionais

para se capitalizar e refinanciar dívidas,

observa-se agora uma atitude mais ativa

dos investidores querendo se posicionar

frente ao crescimento potencial do país.

Nesse contexto, deveremos assistir a uma

nova onda de investimentos externos com o

interesse de grupos internacionais querendo

firmar posição no Brasil, uma das oito

maiores economias do mundo e o principal

mercado da América Latina.

A inovação tende a estar à frente dos

legisladores mais eficientes, naturalmente,

dificultando a aplicação e a adaptação da

legislação atual com a mesma velocidade

com que se criam novos negócios. Na

maioria das vezes, as organizações não

sabem quais impostos terão de pagar sobre

sua atividade recém-criada ou enfrentam

questionamentos, já que a legislação

não deixa claro quais normas devem ser

seguidas. Os constantes conflitos entre

entes da federação quanto à competência

tributária adicionam complexidade ainda

maior a esse cenário.

Deveremos assistir a uma nova onda de investimentos externos

com o interesse de grupos internacionais querendo firmar

posição no Brasil

48 49

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PROTEÇÃO DE DADOS: tendências internacionais e desafios locais

Indústria 4.0, inteligência artificial, internet das coisas, cidades inteli-

gentes, quinta geração de tecnologia móvel, armazenamento de dados

por nuvens, big data e um crescente número de usuários de internet,

que deverão passar de 3,7 bilhões no mundo, em 2016, para 4,2 bilhões,

em 2020. A inovação tecnológica deverá avançar entre empresas,

governos, pessoas e elevará a dependência da sociedade pelo inter-

câmbio de dados.

O tema de proteção de dados ganha um espaço relevante na agen-

da de organizações e governos diante de discussões sobre como as

empresas de tecnologia têm buscado proteger a identidade de seus

usuários, e do risco de ataques cibernéticos crescentes, já que nos

últimos oito anos 7,1 bilhões de identidades foram reveladas no mundo

digital por ataques maliciosos, segundo pesquisa da Marsh.

A União Europeia, um dos principais alvos de ataques cibernéticos no

mundo, criou o General Data Protection Regulation (GDPR), um regula-

mento em vigor desde 25 de maio de 2018, que substitui as diretrizes

existentes desde 1995 e incorpora uma única regulamentação, ainda

mais rígida, para a proteção de dados dos usuários estabelecidos

na região. Desse modo, não só as empresas presentes em território

por Cassio Amaral, Thiago Jabor, Thiago Luís Sombra e Vilma Kutomi, sócia e sócios do Mattos Filho

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europeu terão que se adequar ao GDPR,

mas todas aquelas que lidam com dados de

usuários residentes na União Europeia. O

processamento desses dados por empresas,

localizadas ou não em países da região, pode

ser penalizado com multas equivalentes a

até 4% do faturamento anual da companhia

ou 20 milhões de euros – o que for maior.

A regulação europeia também forçou o Brasil

a avançar no tema: um Projeto de Lei foi

recentemente aprovado pelo Senado, regula-

mentando o tratamento de dados pessoais,

transformando o sistema de proteção de

dados e alinhando o país à legislação euro-

peia. Certamente, uma regulação mais ampla

contribui para fomentar o comércio eletrôni-

co, uso da internet e o compartilhamento de

dados no Brasil.

Ainda, em 2014, foi sancionado o Marco Civil

da Internet, que regula o uso da rede no país

por meio da previsão de princípios, garantias,

direitos e deveres, bem como estabelece di-

retrizes para a atuação do Estado. Em junho

de 2016, entrou em vigor o Decreto presi-

dencial nº 8.789, que disciplina o comparti-

lhamento de bases de dados entre órgãos

e entidades federais, e permite explorar as

oportunidades de sistemas big data. Os

dados compartilhados entre órgãos e enti-

dades federais são, em sua maioria, dados

pessoais. Há informações, por exemplo, so-

bre o Programa de Financiamento Estudantil

(Fies), seus usuários e seu perfil de crédito.

Se, de um lado, a iniciativa procura dar um

passo no sentido de promover políticas pú-

blicas mais eficientes e integradas, de outro,

traz preocupação sobre a proteção desses

dados e levanta algumas questões que me-

recem uma discussão mais aprofundada. Os

usuários poderão saber quais órgãos estão

usando essas informações? Como é feita a

segurança do sistema? O decreto também

não impõe limites expressos à extensão

do cruzamento de dados entre os variados

órgãos e entidades do Estado e às informa-

ções que podem ser obtidas.

No campo das relações privadas de

trabalho, no qual ainda inexistente regulação

específica, os princípios de proteção à

intimidade e privacidade previstos na

Constituição Federal são aplicáveis,

mediante consentimento do trabalhador

e/ou observados os limites de decisões

judiciais, conforme a hipótese concreta.

A integração de mídias e a mobilidade

digital têm transformado o ambiente de

trabalho e criado um novo contexto de

relacionamento entre empresa e funcionário.

A responsabilidade do empregador e o

estabelecimento de regras sobre o uso de

redes sociais e internet, proteção de dados

e uso compartilhado de informações para

seus colaboradores, passa a ganhar novas

fronteiras éticas, jurídicas, trabalhistas e

gerenciais.

Desafio semelhante também atinge os

programas de compliance, que investigam

a conduta de profissionais e tentam

apontar eventuais fraudes. Essas iniciativas

também terão de refletir, em seus códigos

de conduta, eventuais conflitos públicos

e privados, como o monitoramento de

e-mails e os limites de controle do ambiente

corporativo.

O mercado financeiro também está atento

ao assunto, com destaque para o setor

de seguros. Os produtos que buscam

proteger empresas e colaboradores de

eventuais vazamentos de informações ou

outros crimes cibernéticos estão em franca

expansão, com empresas discutindo o tema

e desenhando apólices.

Em fevereiro de 2018, Apple, Cisco, Aon e

Allianz se uniram para oferecer descontos

em seguros cibernéticos para empresas que

utilizam seus equipamentos de tecnologia.

O acordo ajudará as empresas a fortalecer

suas defesas e torná-las qualificadas

para obter termos mais favoráveis para a

cobertura cibernética, como descontos ou

ausência/redução de franquias e serviços

de suporte em caso de ataque. Os prêmios

de seguros cibernéticos nos Estados Unidos

totalizaram US$ 1,35 bilhão, em 2016, de

acordo com a National Association of

Insurance Commissioners (Naic). No Brasil,

a procura por apólices ainda é baixa, mas

tende a crescer ao longo dos próximos

anos, com as seguradoras comercializando

produtos diferenciados para atender

pequenas, médias e grandes empresas.

GDPR: multa para as empresas, localizadas ou não em países da União Europeia e que não cumprirem a nova regulamentação, pode chegar a até 4% do faturamento anual da companhia ou 20 milhões de euros

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SÃO PAULO • RIO DE JANEIRO • BR ASÍLIA • NEW YORK • LONDON

COORDENAÇÃO EDITORIAL MATTOS FILHO

Alina Mello, Cristina Calassancio, Danielle Polster,

Elvis Ferreira, Guilherme Yuki, Ive Lima Bögli,

Mariana Amabile, Priscilla de Souza, Raffael Bilinski,

Renata Porfirio, Tamy Tomita, Thais Télis,

Willian Fernandes

COORDENAÇÃO VISUAL MATTOS FILHO

Luiza Andrade, Renata Carvalho, Vitor Molina,

Yzadora Takano

COLABORAÇÃO EDITORIAL

Roberto Rockmann e Tatiana Sasaki

PROJETO GRÁFICO

Dragon Rouge

FOTOS

iStock e divulgação

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