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Presidência da República Controladoria-Geral da União Secretaria Federal de Controle Interno Sumário Executivo Unidade Examinada: FOZ DE RIO DAS OSTRAS S/A Introdução Introdução Este Relatório trata dos resultados de ação de controle ocorrida no município de Rio das Ostras/RJ, desenvolvida em função de demanda apresentada à Controladoria-Geral da União – CGU, conforme Processo nº 00190.500264/2010-59. A fiscalização entre os exercícios de 2012 e 2013 teve como objetivo apurar possíveis irregularidades na obra de ampliação do sistema de esgotamento sanitário no Município de Rio das Ostras/RJ executada com recursos provenientes de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e registros fotográficos. As situações evidenciadas nos trabalhos de campo foram segmentadas de acordo com a competência de monitoramento a ser realizado pela Controladoria-Geral da União. A primeira parte destina-se à apresentação das situações evidenciadas que entendemos ser competência do BNDES, podendo exigir a adoção de medidas preventivas e corretivas. Na segunda parte serão apresentadas as situações detectadas cuja competência primária para adoção de medidas corretivas pertence ao Município de Rio das Ostras/RJ, executor do Relatório de Demandas Externas Número: 00190.500264/2010-59

Relatório de Demandas Externas - MDIC · 2019-09-03 · Foram apontadas, contudo, em visita às áreas das Bacias 1 e 2, condições locais desfavoráveis, tais como: lençol freático

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Presidência da República Controladoria-Geral da União Secretaria Federal de Controle Interno

Sumário Executivo Unidade Examinada: FOZ DE RIO DAS OSTRAS S/A Introdução

Introdução Este Relatório trata dos resultados de ação de controle ocorrida no município de Rio das Ostras/RJ, desenvolvida em função de demanda apresentada à Controladoria-Geral da União – CGU, conforme Processo nº 00190.500264/2010-59. A fiscalização entre os exercícios de 2012 e 2013 teve como objetivo apurar possíveis irregularidades na obra de ampliação do sistema de esgotamento sanitário no Município de Rio das Ostras/RJ executada com recursos provenientes de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e registros fotográficos. As situações evidenciadas nos trabalhos de campo foram segmentadas de acordo com a competência de monitoramento a ser realizado pela Controladoria-Geral da União. A primeira parte destina-se à apresentação das situações evidenciadas que entendemos ser competência do BNDES, podendo exigir a adoção de medidas preventivas e corretivas. Na segunda parte serão apresentadas as situações detectadas cuja competência primária para adoção de medidas corretivas pertence ao Município de Rio das Ostras/RJ, executor do

Relatório de Demandas Externas Número: 00190.500264/2010-59

recurso federal e contratante da empresa beneficiária do financiamento contraído junto ao BNDES. Informações sobre a Execução da Fiscalização Quantidade de ações de controle realizadas nos programas/ações fiscalizados:

Ministério Programa/Ação

Fiscalizado Qt.

Montante Fiscalizado por Programa/Ação

MINISTERIO DO DESENV,IND. E COMERCIO EXTERIOR

Programa de Dispêndio Global - BNDES

1 1.080.000.000,00

TOTALIZAÇÃO DA FISCALIZAÇÃO 1 1.080.000.000,00

O município de Rio das Ostras/RJ foi previamente informado sobre os fatos relatados, e suas manifestações estão consignadas em cada uma das constatações da Parte 2 do Relatório.

Consolidação de Resultados Durante os trabalhos de fiscalização realizados, constataram-se diversas falhas na execução do objeto licitado pelo Município e financiado pelo BNDES.

Do valor inicialmente estimado pela municipalidade para as obras de saneamento, em cerca de R$ 250 milhões, foi identificado sobrepreço de aproximadamente R$ 70 milhões.

Destacam-se, a seguir, as situações de maior relevância identificadas nesse trabalho, detalhadas no corpo do Relatório de Fiscalização:

1) Financiamento pelo BNDES de obras com superestimativa e com execução em divergência ao projeto inicial.

2) Limitação à competitividade devido à presença de exigências desproporcionais em edital de licitação.

3) Imprecisão na definição da proposta econômica do edital da Concorrência nº 1/2006, com comprometimento da avaliação pela equipe de auditoria do que foi efetivamente executado.

4) Quantitativos e preços unitários acima dos valores efetivamente necessários para execução do objeto.

Ainda que o BNDES tenha adotado medidas para que fossem avaliadas a viabilidade técnica do projeto e a compatibilidade dos quantitativos do projeto com os previstos no projeto

básico, recomendamos ao Banco que avalie os impactos das falhas apontadas neste relatório no financiamento concedido, adotando-se, se for o caso, as medidas corretivas necessárias.

Cabe acrescentar que, quanto aos fatos apontados nesse relatório, o BNDES manifestou-se no sentido de aguardar a manifestação dos órgãos estatais responsáveis pelo acompanhamento dos atos da Administração Pública municipal, que no caso são a Câmara Municipal de Rio das Ostras e o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, antes de adotar eventuais medidas em relação aos fatos apontados pela CGU.

Ordem de Serviço: 201407159 Município/UF: Rio das Ostras/RJ Órgão: MINISTERIO DO DESENV,IND. E COMERCIO EXTERIOR Instrumento de Transferência: Não se Aplica Unidade Examinada: FOZ DE RIO DAS OSTRAS S/A Montante de Recursos financeiros: R$ 263.155.116,00 Objeto da Fiscalização: - Ampliação do sistema de esgotamento sanitário do Município de Rio das Ostras/RJ. - Construção de rede coletora, drenagens pluviais, pavimentação, coletores tronco, estações elevatórias. - Ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto. - Operação integral do sistema de esgotamento sanitário de Rio das Ostras. 1. Introdução

Este Relatório apresenta os resultados de ação de controle desenvolvida pela Controladoria-Geral da União (CGU), entre os exercícios de 2012 e 2013, cujo objeto é apuração de possíveis irregularidades na obra de ampliação do sistema de esgotamento sanitário no Município de Rio das Ostras/RJ executada com recursos provenientes de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.

Na documentação apresentada à CGU é informado que a execução das obras foi realizada em divergência do objeto contratado. Conforme os documentos, essa divergência ocorreu contrariamente à posição do corpo técnico da prefeitura, que foi registrada em pareceres. Assim, os fatos levantados podem, segundo essas informações, ser comprovados por documentos apensados ao Processo nº 17210/2006 da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras.

Segundo a documentação, tal fato teria ocorrido por que a obra foi orçada no ano de 2006 com sobrevalorização dos serviços, e foi executada totalmente fora do escopo contratado e das especificações técnicas do edital de licitação, além de estarem em desacordo com os projetos básicos.

As verificações da equipe de auditoria identificaram que a obra foi executada em regime de Parceria Público-Privada – PPP, entre a Prefeitura de Rio das Ostras e a Empresa Saneamento de Rio das Ostras, atual Empresa Foz de Rio das Ostras (Consórcio formado pela Companhia Brasileira de Projetos e Obras CBPO e a Construtora Norberto Odebrecht), vencedora da Concorrência Pública Nacional Nº 019/2006- Secretaria Municipal de Urbanismo, Obras e Serviços Públicos-SEMUOSP, tendo por objeto a ampliação da rede coletora de esgoto, execução de drenagem e pavimentação de vias, urbanização e construção de bacias de acumulação de águas pluviais em alguns bairros do município. A referida empresa seria responsável pela coleta e tratamento dos resíduos e efluentes urbanos e industriais do município por 15 anos, período de vigência de contrato com a Prefeitura, no valor total de R$ 1,08 bilhão, incluído neste valor o total gasto pela empresa na execução da obra. A modalidade de PPP utilizada na presente operação foi a de concessão administrativa - quando a remuneração da parceira privada pelos serviços prestados advém exclusivamente

de recursos públicos. O critério de avaliação das propostas econômicas na referida Concorrênciaº 19/2006 baseou-se no menor preço para contraprestação a ser paga pelo município. A contraprestação mensal do licitante vencedor foi de R$ 5,426 milhões (base novembro/2006), devida pelo município quando do início da operação comercial do Projeto. Para financiar parte da obra executada em regime de PPP o BNDES disponibilizou à Empresa Saneamento de Rio das Ostras, atual Empresa Foz de Rio das Ostras, por meio do Contrato nº 08.2.0744.1, firmado em 11/09/2008, crédito no valor de R$ 263 milhões.

Esse crédito ocorreu após atendimento, pela empresa, das seguintes etapas:

- Consulta prévia: especificações das características básicas do proponente e do empreendimento;

- Enquadramento: realização de pré-avaliação da capacidade da Empresa para executar os projetos e de aportar a contrapartida de recursos próprios; e

- Análise: etapa de análise do Projeto encaminhado pelo Proponente. Nesta fase foi elaborado o Relatório de Análise onde devem ser apresentados todos os aspectos relativos ao Projeto, bem como os referentes ao postulante da colaboração financeira. A Diretoria do BNDES deliberou sobre a operação com base no referido documento. Aprovada a operação pela Diretoria do Banco, foram comunicadas à Empresa exigências para contratação da operação. Segundo o Relatório de Análise AS/DESAM-BNDES nº 17/2008, de 20/08/2008, o valor total para execução do objeto foi de cerca de R$ 375 milhões, conforme XXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXX apresentado a seguir:

“Informações suprimidas por solicitação do BNDES, em função de sigilo, na forma da lei”.

A análise efetuada pela CGU teve como foco a apuração dos fatos apresentados na demanda, com a realização da inspeção física da obra.

Para a execução do trabalho foram adotadas as seguintes ações:

- verificação da licitação e contratação da obra;

- levantamento de informações e dados junto à Prefeitura e ao BNDES; e

- inspeção física de obras.

Cabe destacar que as situações relativas à utilização ou não do método não-destrutivo pipe-jacking na colocação dos tubos; utilização de método mais econômico para o escoramento das valas; reaterro de vala com o material escavado no local em vez de pó de pedra e medição do quantitativo de terra removida para bota-fora não foram verificados diretamente no local. Isso ocorre por se tratarem tanto de procedimentos iniciados e finalizados no decorrer da obra (portanto, já executados), quanto de materiais cobertos pela

pavimentação, cuja inspeção demandaria a coleta de uma amostra a ser retirada com equipamentos e profissionais especializados. No entanto, vale registrar que a Comissão Técnica da PPP, que vistoriou a execução das obras, relatou em 09/01/2009 as irregularidades citadas neste parágrafo.

1.1 Histórico dos fatos Para que se possa ter entendimento geral dos fatos relativos ao projeto, ocorridos ao longo do período transcorrido desde o resultado da concorrência pública nacional para contratação da executora do contrato PPP até a implantação do empreendimento, é importante apresentar, em resumo, histórico dos acontecimentos. O consórcio formado pelas empresas CBPO Engenharia Ltda. e a Construtora Norberto Odebrecht (CNO) sagrou-se vencedor da concorrência pública nacional n.º 019/2006, em 22 de janeiro de 2007, que visou à celebração de contrato PPP, na modalidade de concessão administrativa, para ampliação do sistema de esgotamento sanitário do Município de Rio das Ostras, no Estado do Rio de Janeiro, compreendendo a construção de rede coletora, drenagens pluviais, pavimentação, coletores tronco, estações elevatórias e ampliação da estação de tratamento de esgoto, com previsão de execução em 17 meses, a partir da assinatura do contrato de concessão, bem como a operação integral do sistema de esgotamento sanitário de Rio das Ostras pelo período de 15 anos a contar do início da operação do sistema.

Em 27/03/2007 foi constituída uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), a Saneamento de Rio das Ostras S.A (SRO). Posteriormente, em 24/08/2007, foi firmado o contrato de concessão entre a empresa Saneamento de Rio das Ostras e o Município de Rios das Ostras.

“Informações suprimidas por solicitação do BNDES, em função de sigilo, na forma da lei”.

O BNDES exigiu, em função da complexidade e dos custos das obras previstas, que a postulante (SPE) apresentasse parecer acerca da viabilidade técnica dos projetos. Em dezembro de 2007, a Fundação Coppetec da Universidade Federal do Rio de Janeiro, após análise dos projetos de engenharia, relatórios de concepção, projetos executivos e visita à área, emitiu parecer favorável à viabilidade técnica dos projetos de esgotamento sanitário e de drenagem urbana relativos à PPP de Rio das Ostras.

Quanto ao dimensionamento do projeto, o parecer lembra que os estudos de concepção e planejamento do sistema de esgotamento sanitário de Rio das Ostras consideraram a evolução demográfica estimada pelo IBGE de 2000 a 2005, de forma a fundamentar as vazões e as capacidades dos sistemas projetados. O parecer expõe a aceitação do dimensionamento realizado, tendo em consideração o índice de cobertura projetado e o estudo demográfico usado.

Foram apontadas, contudo, em visita às áreas das Bacias 1 e 2, condições locais desfavoráveis, tais como: lençol freático elevado, elevada pluviometria, necessidade de escoamento contínuo em grande parte de valas para assentamento das tubulações, dentre

outras dificuldades.

A Parceria Público Privada englobou no projeto a elaboração da ampliação do sistema de drenagem de águas pluviais, nas Bacias 1 e 2, com a construção de duas bacias coletoras de águas pluviais, tendo em vista que o Canal dos Medeiros não estava devidamente aberto até o Rio São João em Casimiro de Abreu para o escoamento completo das águas pluviais. Além desta etapa, também foram executados o sistema de coleta de esgoto, a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto – ETE e intervenções urbanísticas de pavimentação.

A execução do projeto visou garantir a ampliação das redes coletoras de forma a contemplar as Bacias 1 e 2, que encontravam-se excluídas do sistema de esgotamento da cidade. A população fixa destas bacias, no ano de 2005, era de 9.300 habitantes, ou 19,2% da população do município. Foi realizada a interligação dessas redes coletoras à Estação de Tratamento de Esgoto – ETE já instalada, que também passou por uma ampliação e modernização.

Com a execução das obras e a operação do sistema, procurou-se elevar o índice de tratamento de esgoto coletado dos antigos 66,7% para próximo de 100% durante os anos de concessão, assim como expandir o nível de coleta de esgoto da cidade.

A empresa Saneamento de Rio das Ostras S.A, constituída pelo grupo vencedor da licitação, iniciou, em setembro de 2007, os investimentos de ampliação do sistema de esgotamento sanitário previstos no contrato de concessão. Importa destacar que após a execução das obras e a sua aceitação pelo Município de Rio das Ostras, formalizada pela emissão da Ordem de Operação, a empresa Saneamento Rio das Ostras passou a fazer jus à remuneração mensal pela operação do sistema. Portanto, durante a fase de implantação a concessionária não foi remunerada pela municipalidade.

De acordo com o edital de licitação, a Contraprestação Pecuniária Mensal (CPM) é composta por duas parcelas, uma fixa e outra variável. A parcela fixa corresponde a 90% do valor da CPM ofertada. O pagamento da parcela variável, equivalente aos outros 10% do valor da CPM, está atrelado a uma nota a ser atribuída ao desempenho da SRO. Segundo o Contrato de Concessão, a Nota de Desempenho será atribuída por meio de uma avaliação dos aspectos operacionais, ambientais, sociais e financeiros feita mensalmente pelo operador do sistema sob observância do Município de Rio das Ostras.

O Contrato de Concessão prevê o reajuste do valor da CPM automaticamente a cada período de 12 meses, através do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado - IPCA divulgado pelo IBGE.

Vale ressaltar que o abastecimento de água do Município de Rio das Ostras é realizado pela CEDAE e que não é cobrada da população qualquer tarifa pelo serviço de esgoto.

1.2 Considerações Considerando que é frequente questionamentos quanto a competência de cada um dos agentes públicos em projetos executados por entes municipais ou estaduais com recursos financiados pelo BNDES, trazemos a seguir alguns entendimentos, inclusive em virtude de

contestação do município de Rio das Ostras quanto à competência da CGU em fiscalizar obras que se enquadrem nessa situação. O município de Rio das Ostras durante os trabalhos expressou o que segue:

Devemos alegar mais uma vez que não cabe à Controladoria-Geral da União contestar a forma licitatória utilizada pelo Município. A União somente participou deste contrato porque o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) celebrou contrato de empréstimo com a empresa Saneamento de Rio das Ostras S.A. (SRO) após a celebração do contrato de Parceria Público-Privada. Neste caso, o procedimento licitatório serviu como condição de financiamento para a empresa Concessionária, mas as regras e características licitatórias foram determinadas pela Administração Pública municipal.”

Essa questão também foi discutida no âmbito do Processo 00190.028054/2011-19, que trata da fiscalização de obras financiadas pelo BNDES e executadas pela Prefeitura Municipal de Americana/SP.

O entendimento da Assessoria Jurídica da CGU foi de que a questão está em discussão junto ao judiciário por força da Ação Ordinária nº 0002027-83.2013.403.6109, em trâmite na 3ª Vara Federal de Piracicaba da Seção Judiciária de São Paulo, na qual o Município de Americana já teve pedido de antecipação de efeitos de tutela e de efeito suspensivo em agravo de instrumento indeferidos. Ressalta-se que as referidas decisões consideraram, prima facie, que a CGU possui competência para a fiscalização.

Para a Assessoria Jurídica da CGU não restaram dúvidas acerca da competência da Controladoria-Geral da União para o exercício de seu mister quando da fiscalização de financiamentos junto ao BNDES.

Cabe trazer também o entendimento do BNDES sobre sua competência em relação à fiscalização de entes públicos que com ele celebram contratos de financiamento. Esse entendimento será levado em consideração na elaboração das recomendações desse relatório:

O BNDES entende que não está no rol de suas atribuições a verificação da conformidade dos aspectos relacionados aos procedimentos licitatórios, vinculados aos contratos de financiamento sob seu acompanhamento, uma vez que trata-se de procedimento público submetido ao crivo da sociedade que, no caso específico, não foi noticiada sua impugnação ou suspensão dos efeitos de sua conclusão.

Com efeito, tal atuação extrapolaria suas competências, a teor do disposto no art. 10 da Lei 4.418/02 (Estatuto do BNDES) e do Acórdão 1.076/2008 TCU, no qual este Tribunal se manifestou em caso semelhante, referindo-se à Caixa Econômica Federal, no sentido de que este agente financeiro público não detém

competência para realizar atividades de controle do procedimento licitatório. As análises técnicas e econômico-financeiras realizadas pelos empregados do BNDES têm por finalidade subsidiar a decisão acerca da concessão de colaboração financeira a uma operação de crédito, respeitando assim as reservas técnicas e legais das instituições, órgãos e entidades da Administração Pública, responsáveis por tal controle de legalidade e regularidade.

Assim sendo, vale frisar que o BNDES se limita a fazer o ‘ateste’ dos aspectos formais da licitação relacionados com a verificação da publicação do edital e do extrato do contrato e do termo de adjudicação e homologação. Como cediço, o procedimento licitatório é público, submetido ao crivo da sociedade, dos concorrentes potenciais e efetivos e dos órgãos de controle, cabendo aos respectivos Tribunais de Contas dos Estados realizarem a fiscalização das licitações realizadas pelos entes federativos.

Na Parte 1 desse relatório serão detalhadas as situações que entendemos ser competência do BNDES, que é o gestor federal nesse caso, e na Parte 2 serão trazidas as constatações cuja competência primaria é da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras/RJ.

2. Resultados dos Exames Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com a competência para adotar providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela forma de monitoramento a ser realizada por esta Controladoria.

2.1 Parte 1 Como já dito, esta parte do Relatório destina-se à apresentação das situações evidenciadas que entendemos ser competência do BNDES, podendo exigir a adoção de medidas preventivas e corretivas. 2.1.1 Financiamento pelo BNDES de obras com superestimativa e com execução em divergência ao projeto inicial.

As seguintes falhas de execução de competência da Prefeitura Municipal de Rio das Ostras foram levadas ao conhecimento do BNDES.

a) Superestimativa de quantitativos em relação às obras de pavimentação, de movimentação de terra e transporte, e de calçada; e

b) Alterações de especificações técnicas das obras relacionadas aos coletores tronco, movimentação de terra, calçada, escoramento de valas e tampa das caixas de inspeção das ligações residenciais.

Tais irregularidades, segundo os apontamentos da Parte 2 desse relatório, resultaram em um sobrepreço superior a R$ 70 milhões, em relação ao valor inicialmente estimando pela municipalidade.

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

A esse respeito, o BNDES se manifestou da seguinte forma:

“Informações suprimidas por solicitação do BNDES, em função de sigilo, na forma da lei”. (...) o BNDES, na época da análise da operação, solicitou à SPE que contratasse instituição idônea, de reconhecida qualidade, para elaborar um parecer específico sobre a viabilidade técnica dos projetos, com o intuito de dirimir as questões relacionadas ao custo das obras e respectivos quantitativos relativos à Parceria Público Privada (PPP) do Município de Rio das Ostras.

Esta solicitação decorreu do fato de que foge ao escopo atuação da equipe técnica do BNDES a verificação dos custos unitários e quantitativos dos projetos.

Desta forma, em 12/06/2007, a Fundação Coppetec, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, após análise dos projetos de engenharia, relatórios de concepção, projetos executivos e de visita à área, emitiu parecer favorável de viabilidade técnica dos projetos de esgotamento sanitário e de drenagem urbana relativos à PPP de Rio das Ostras, informando inclusive que, com base em informações prestadas pela Construtora Noberto Odebrecht S/A (empreiteira responsável pelo empreendimento), os quantitativos de serviços correspondiam aos mesmos quantitativos da planilha de orçamento do projeto básico de engenharia apresentado.

No tocante à constatação descrita no item “b”, esclarecemos que o acompanhamento e a fiscalização das operações são feitos de acordo com os normativos do BNDES e por meio de, mais não exclusivamente:

- Avaliações de relatórios enviados pelo Beneficiário, em que se evidencia a aplicação de recursos liberados (contendo informações acerca da execução físico-financeira, dos pagamentos efetuados, dos riscos de projeto e, eventualmente, de outros aspectos relevantes da relação contratual específica);

- Visitas in loco para acompanhamento do percentual de execução das intervenções físicas; e

- Visitas in loco para a conferência dos processos de pagamento das despesas relacionadas com o projeto (notas fiscais), que pode ser feito por amostragem ou na sua totalidade, a critério da equipe técnica do BNDES, mas sempre arquivados em poder do Beneficiário.

Diante do exposto, observa-se que o foco do acompanhamento realizado pelo BNDES é a execução da finalidade do Contrato de Financiamento e a correta aplicação dos recursos liberados por este Banco.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

O BNDES afirma que tem como rotina a conferência dos pagamentos das despesas relacionadas com o projeto (notas fiscais), mas que durante a execução do projeto não há uma avaliação da correspondência dos valores dessas notas fiscais ao valor de mercado das obras e serviços executados, que nesse caso foram previamente acordados entre o município de Rio das Ostras e o consórcio formado pelas empresas CBPO Engenharia Ltda. e Construtora Norberto Odebrecht (CNO).

Nessa sistemática, o Banco libera parcelas do financiamento quanto comprovado o atendimento de condições contratuais, dentre as quais se encontra a comprovação da utilização dos recursos referentes a parcelas anteriores.

No caso concreto, o BNDES informou que solicitou à Sociedade de Propósito Específico - SPE que contratasse instituição idônea, de reconhecida qualidade, para elaborar um parecer específico sobre a viabilidade técnica dos projetos. Nessa avaliação, segundo o Banco, a Fundação Coppetec, da Universidade Federal do Rio de Janeiro emitiu parecer favorável de viabilidade técnica dos projetos, informando inclusive que os quantitativos de serviços correspondiam aos mesmos quantitativos da planilha de orçamento do projeto básico de engenharia apresentado.

Verifica-se, portanto, que o BNDES adotou medidas com vistas a mitigar o risco de financiar projeto sem viabilidade técnica ou com quantitativos incompatíveis com os previstos no projeto básico.

Não obstante, o que se verificou foi que, durante a execução da obra, itens previstos não foram executados ou sofreram alterações em relação ao projeto licitado, resultando em um sobrepreço apontado de cerca de R$ 70 milhões, ressaltando que não foram verificados todos os itens previstos.

Nesse sentido, ainda que a operação consista no financiamento a uma Parceria Público Privada, na qual o custo da obra é um dos componentes para definição do valor da contraprestação a ser paga pelo Município definida em licitação, entendemos que o BNDES deva avaliar os impactos do sobrepreço apontado no financiamento concedido diretamente à SPE, inclusive no que diz respeito ao limite de 70% do total das fontes de recursos financeiros da sociedade de propósito específico, conforme estabelecido no Art. 27 da Lei nº 11.079/2004.

##/AnaliseControleInterno##

Recomendações: Recomendação 1: Avaliar os impactos das falhas de execução apontadas neste relatório em relação à finalidade estipulada no respectivo contrato de financiamento, adotando-se as correções necessárias, inclusive quanto ao reflexo em relação a outros aspectos atinentes à operação, como o limite percentual de financiamento estabelecido pela Lei das PPP. 2.2 Parte 2 Nessa segunda parte serão apresentadas as situações detectadas cuja competência primária para adoção de medidas corretivas pertence ao Município de Rio das Ostras/RJ, executor do recurso federal e contratante da empresa beneficiária do financiamento contraído junto ao BNDES. 2.2.1 Limitação à competitividade devido à presença de exigências desproporcionais em edital de licitação.

A Prefeitura Municipal de Rio das Ostras - PMRO promoveu a Concorrência nº 19/2006, nos autos do processo nº 17.210/2006, com o objetivo de selecionar empresa ou consórcio de empresas, com vistas à celebração de contrato de parceria público-privada para ampliação do sistema de esgotamento sanitário do município, compreendendo a construção de 62,4 Km de rede coletora de esgotamento sanitário, 59,3 Km de drenagem pluvial, pavimentação, coletores tronco, estações elevatórias, ampliação da estação de tratamento de esgoto e operação integral do sistema de esgotamento sanitário por 17 (dezessete anos), dois dos quais dedicados às obras de ampliação do sistema.

O projeto básico elaborado estimou a despesa total de implantação do sistema em R$ 209.255.833,22 (duzentos e nove milhões duzentos e cinquenta e cinco mil oitocentos e trinta e três reais e vinte e dois centavos), sem considerar 20% de Benefícios e Despesas Indiretas – BDI.

Na análise do edital da Concorrência nº 19/2006, verificou-se a presença de exigências desproporcionais ao projeto licitado:

a) na qualificação econômico-financeira (item 7.3.3 do edital), foi exigido:

a.1) capital social integralizado mínimo de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais);

a.2) caução de proposta de R$ 3.000.000,00 (três milhões);

a.3) índices de liquidez geral e de liquidez corrente maiores que 2 (dois) e índice de endividamento total menor que 0,5 (zero vírgula cinco) em desacordo com os Acórdãos TCU – Plenário nºs 112/2002, 268/2003, 1.926/2004 e 1.140/2005. Apesar de não haver vedação para a utilização de índices contábeis como parâmetro de qualificação econômico-financeira de licitante, os valores desses índices devem vir precedidos de fundamentação, constante do processo licitatório, que leve em consideração aspectos contábeis, econômicos e financeiros, assim como a realidade do mercado, revelando-se razoáveis em relação à natureza do objeto licitado, em observância ao disposto no art. 31, § 5º, da Lei 8.666/93. No presente caso, o Índice de Liquidez Corrente maior ou igual a 2 (dois) está acima do habitual, não tendo sido apresentada nenhuma justificativa plausível para a fixação desse valor, uma vez que acima de 1 (um) já é indicativo de que a empresa se encontra em situação de cumprir suas obrigações de curto prazo;

a.4) comprovação de participação em empreendimento no valor mínimo de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais).

b) na qualificação técnica, foi imposta a comprovação de execução em um único contrato, para cada serviço em área urbana (item 7.3.4.2 do edital):

b.1) operação de estação(ões) de tratamento de esgotos, com capacidade total do sistema maior ou igual a 500 l/s, incluindo operação e manutenção por pelo menos 24 (vinte e quatro) meses;

b.2) ampliação ou construção de estação(ões) de tratamento de esgoto, com capacidade total do sistema maior ou igual a 500 l/s, incluindo projeto executivo, obras civis, fornecimento, instalação ou montagem de equipamentos, testes e comissionamento;

b.3) execução de redes e troncos coletores de esgotos sanitários, em tubulação com diâmetro maior ou igual a 150 mm em quantidade maior ou igual a 60.000 m;

b.4) operação e manutenção ou construção de emissário submarino, em mar aberto, com tubulação de PEAD com diâmetro maior ou igual a 600 mm;

b.5) execução de no mínimo 6 (seis) estações elevatórias de esgotos, sendo que uma delas deverá possuir capacidade mínima de vazão de 260 l/s, incluindo projeto executivo, obras civis, fornecimento e instalação ou montagem de equipamentos, testes e comissionamento;

b.6) execução de redes coletoras, troncos, interceptores ou emissários de esgoto, por método não destrutivo – MND (pipe jacking), em quantidade maior a 3.000 m;

b.7) execução de pavimentação asfáltica em CBUQ em quantidade maior ou igual a 320.000 m2;

b.8) execução de rede de drenagem de água pluvial em quantidade maior ou igual a 60.000 m;

c) na proposta técnica, foi exigida a apresentação de certificação de segurança e saúde ocupacional OSHAS 18.001, certificação de garantia da qualidade ISO 9.001 e certificação de gestão ambiental ISO 14.001 (subitens 3.2.1, 4.2 e 5.2 da alínea ‘A’ do item 8.1.6 do edital) em desacordo com o Acórdão 1265/2009 - Plenário TCU.

Os critérios impostos na qualificação técnica restringiram a competitividade da licitação, contrariamente ao dispositivo do § 2º do art. 12 da Lei nº 11.079/2004. Os licitantes deveriam apresentar acervo técnico, contendo em um único contrato, a execução de obras similares cujos quantitativos corresponderam aproximadamente a 90% daqueles previstos na presente PPP, sem terem sido apresentadas as justificativas para utilização de tais parâmetros.

Também foi demandada a apresentação de qualificações econômicas desproporcionais à garantia de execução da obra. A exigência de capital social mínimo cumulada com a obrigatoriedade de caução da proposta não se alinha ao disposto no § 2º do art. 31 da Lei 8.666/1993, que proíbe tal procedimento. ##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

Questionada por meio do Ofício nº 8.991/2012/NAINF/CGU-Regional/RJ/CGU-PR, de 27/03/2012, a PMRO encaminhou o Ofício nº 210/2012-GAB, de 30/05/2012, onde informou:

Em relação à exigência de qualificação técnica das licitantes e capital social mínimo, ditas exageradas, foram necessárias para selecionar empresas suficientemente qualificadas para a prestação do serviço pretendido, de forma a melhor atender os interesses da Administração Pública, com experiência, renome e confiabilidade e credibilidade suficientes para executar o complexo serviço contratado.

Não há qualquer ofensa à legislação em vigor ou qualquer princípio basilar da Administração Pública, apenas restringiu a licitação àqueles realmente capacitados para a realização de serviço deste porte.

Ao analisar o edital da concorrência, o TCE/RJ, no processo supracitado, solicitou ao Município que anexasse ao edital a planilha orçamentária estimativa das obras relativas à operação do sistema de esgotamento sanitário no Município de Rio das Ostras, detalhada em quantidades e preços unitários, com composição analítica de seus custos. (...)

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

Em sua manifestação, a Prefeitura afirmou que os critérios estabelecidos foram necessários para garantir a seleção de empresas qualificadas a prestar os serviços licitados. Nada obstante, não foram apresentados argumentos técnicos que justificassem a exigência de experiência prévia em um único contrato de cerca de 90% dos serviços previstos na PPP.

Em alguns itens, essa proporção foi igual ou próxima de 100%, conforme demonstrado no quadro a seguir:

Item Previsto Exigido Exigido/Previsto (%)

Operação e Manutenção de Estação de Tratamento de Esgoto (capacidade l/s)

500 l/s 500 l/s 100 %

Ampliação de Estação de Tratamento de Esgoto (capacidade l/s)

500 l/s 500 l/s 100 %

Operação e manutenção de emissário submarino (diâmetro)

630 mm 600 mm 95 %

Execução de no mínimo seis estações elevatórias (capacidade l/s)

265,41 l/s 260 l/s 98 %

Coletores de rede tronco de esgotamento sanitário método não destrutível pipe jacking (extensão em metros)

3.096 m 3.000 m 97 %

Pavimentação asfáltica em CBUQ (área)

321.8454 m²

320.000 m²

99%

Execução de rede de drenagem pluvial (extensão em metros)

60.207 m 60.000 m 99,6%

O objeto ora licitado poderia ter sido executado, por exemplo, por um consórcio mais numeroso de empresas de menor porte, que, consideradas separadamente, teriam grande capacidade técnica e poderiam conjuntamente executar o empreendimento. ##/AnaliseControleInterno##

2.2.2 Imprecisão na definição da proposta econômica do edital da Concorrência nº 1/2006, com comprometimento da avaliação pela equipe de auditoria do que foi efetivamente executado.

A Prefeitura Municipal de Rio das Ostras - PMRO realizou a Concorrência Pública Nacional n.º 1/2006 – SEMUOSP, Processo n.º 17210/2006, visando à celebração de contrato de parceria público privada na modalidade de concessão administrativa para ampliação do sistema de esgotamento sanitário do município de Rio das Ostras, englobando a construção de rede coletora, drenagem de águas pluviais, pavimentação,

coletores tronco, estações elevatórias e ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto – ETE. As obras contempladas na PPP previram a execução de rede de esgotamento sanitário nas Bacias 1 e 2, sendo que os coletores troncos atravessam as Bacias 3, 4 e 5 até a estação de tratamento de esgoto.

Conforme o estudo de viabilidade econômica elaborado pela PMRO, nesta modelagem de PPP foram previstos investimentos nas bacias onde não haviam sido realizados aportes financeiros diretos da PMRO.

As obras de drenagem de águas pluviais e pavimentação foram incluídas na PPP visando à melhoria da condição urbana da população da Bacia 1 e 2 do Município de Rio das Ostras.

O período da aludida concessão é de 17 anos, sendo que, nos 2 primeiros, o investidor privado realizou todas as obras previstas na PPP.

Segundo planilha orçamentária estimativa, elaborada pela PMRO, os custos das obras civis em comento, na data base de julho de 2006, totalizaram R$ 209.255.833,22 (duzentos e nove milhões duzentos e cinquenta e cinco mil oitocentos e trinta e três reais e vinte e dois centavos) que acrescido do BDI de 20%, considerado pela municipalidade, montaram em R$ 251.106.999,86 (duzentos e cinquenta e um milhões cento e seis mil novecentos e noventa e nove reais e oitenta e seis centavos).

Os investimentos necessários para execução das obras e serviços de engenharia seriam integralmente custeados pela empresa vencedora do certame, conforme previsto no aludido edital.

De posse dos custos de investimento e dos custos relativos à manutenção e operação do sistema de esgotamento sanitário, a PMRO elaborou o fluxo de caixa do projeto, tendo sido estimado o valor máximo da Contraprestação Mensal – CPM a ser pago pela empresa vencedora do certame em R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), para uma taxa interna de retorno de projeto real de 13,25%.

Na data de realização do certame, os licitantes apresentaram suas propostas e documentos de habilitação divididos em três envelopes contendo a seguinte documentação:

Envelope A – Documentos de Habilitação;

Envelope B – Proposta Técnica;

Envelope C – Proposta Econômica.

As licitantes foram classificadas em função da Nota Total Final (NTF) obtida por meio da seguinte expressão:

NTF = (70 NT + 30 NE)/100

Onde:

NT – Nota da Proposta Técnica da proponente.

NE – Nota da Proposta Econômica da proponente.

Não foi exigido das empresas participantes do certame, quando da elaboração de suas propostas econômicas, os preços unitários das obras e serviços de engenharia, apenas a CPM, conforme disposto no item 9.2 do edital. Sendo assim, o consórcio vencedor apresentou somente os valores consolidados das obras e serviços de engenharia totalizando R$ 307.571.000,00 (trezentos e sete milhões quinhentos e setenta e um mil reais).

As licitantes informaram a CPM em suas respectivas propostas, critério utilizado como parâmetro no julgamento das propostas econômicas. Cabe aqui ressaltar, que os custos das obras civis informados pelas licitantes não foram analisados pela PMRO, ou seja, não houve verificação acerca da existência ou não de preços unitários acima dos valores referenciais constantes em sistemas oficiais de custos de obras públicas. Foi verificado somente se os valores das CPMs dos licitantes encontravam-se abaixo do valor estimado de R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), o que não se coaduna com o disposto no § 2º do art. 12 da Lei nº 11.079/2004, que regulamenta as PPPs.

A tabela a seguir demonstra comparativamente os valores estimados pela PMRO e com os da proposta do Consórcio vencedor do certame:

Item Orçamento Estimativo (R$) Proposta do Consórcio Vencedor (R$)

Canteiro de Obras 12.874.145,68 13.539.000,00 Bacia 1 62.447.045,12 81.481.000,00 Bacia 2 130.579.112,65 165.290.000,00 Bacia 3 26.580.367,75 27.760.000,00 Bacia 4 1.290.388,08 1.491.000,00 Bacia 5 10.973.565,94 11.457.000,00 Geral da ETE 6.362.374,64 6.553.000,00 Total 251.106.999,86 307.571.000,00

Observa-se que o preço constante na proposta do consórcio vencedor, com data referencial de 11/2006, encontra-se R$ 56.464.000,14 (cinquenta e seis milhões quatrocentos e sessenta e quatro mil reais e catorze centavos) acima do valor estimado pela PMRO – o que corresponde a uma diferença de 22,49% - em sua planilha estimativa, data base de julho de 2006.

Todavia, o Custo da Prestação Mensal – CPM do consórcio vencedor de R$ 5.426.000,00 (cinco milhões quatrocentos e vinte e seis mil reais) encontra-se 9,57% abaixo do valor estimado em R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais) pela PMRO.

Aqui cabe salientar que os fluxos de caixa e as taxas de descontos estimados pela PMRO e pelo consórcio vencedor são distintos, acarretando em CPMs também diferentes, sendo a taxa interna de retorno de projeto da vencedora igual a 11,25%¹.

Durante os trabalhos de campo, foram disponibilizados projetos as built que divergem significativamente dos projetos licitados.

Destacamos que não foram disponibilizadas planilhas de medições das obras que nos permitissem, com o grau de precisão adequado, visualizar o custo total das obras efetivamente executadas.

Os itens executados avaliados pela equipe de auditoria e as analises a respeito estão no próximo item desse relatório (item 2.2.3).

Cabe acrescentar que, em face da natureza das obras da PPP, a comprovação da conformidade da execução de diversos serviços previstos no orçamento estimativo, após a execução dos mesmos, requer perícia de engenharia, inclusive com a utilização de métodos destrutivos.

Contudo, a PMRO criou três Subcomissões Técnicas, constituídas por engenheiros servidores municipais, para avaliação da execução das obras de pavimentação, esgotamento sanitário e drenagem pluvial previstas na Parceria Público Privada – PPP. Nos relatórios preliminares elaborados por estas subcomissões, consta que determinados serviços foram executados com especificações técnicas divergentes e a custos menores do que aqueles incialmente previstos pela PMRO.

Procurando estabelecer o custo de referência foi utilizado como base serviços equivalentes no SINAPI, sistema de referência utilizado para obras públicas com recursos orçamentários da União. Desse modo, os fatos aqui delineados apontam para existência de preços unitários e preço global das obras contratados acima dos valores das tabelas oficiais SINAPI.

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

Questionada por meio do Ofício nº 8.991/2012/NAINF/CGU-Regional/RJ/CGU-PR, de 27/03/2012, a PMRO encaminhou o Ofício nº 210/2012-GAB, de 30/05/2012, onde informou:

Nota-se que os preços unitários para fins de elaboração das propostas econômicas da Concorrência nº 19/2006 tomaram como base o catálogo de custos unitários da Empresa Municipal de Obras (EMOP) e não nos valores referenciais constantes das tabelas oficiais de obras públicas do Sistema Nacional de Pesquisa de Preços de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI). Resta claro que ao realizar a fiscalização do contrato de Parceria Público-Privada a Controladoria-Geral da União equivocou-se na adoção dos valores referenciais de preços unitários.

Ademais, o julgamento das propostas econômicas foi realizado pelo Município a partir do valor da CPM (item 9.2.1.1 do edital) apresentado pelas licitantes, baseado na planilha orçamentária de estimativa fornecida pela Municipalidade.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

A PMRO elaborou o orçamento estimativo das obras previstas no aludido edital tendo sido adotadas determinadas especificações técnicas que influenciam diretamente no custo final da obra.

As alterações das especificações técnicas acarretaram na redução do custo final do empreendimento, consequentemente aumentando a lucratividade do consórcio vencedor.

Entendemos que alterações das especificações técnicas e dos respectivos custos unitários não devem alterar o equilíbrio econômico financeiro estabelecido inicialmente no contrato, ou seja, a lucratividade do consórcio vencedor não deveria ter sido alterada face às modificações aqui apontadas. _____________ ¹ Adotando-se no fluxo de caixa elaborado pela PMRO o preço total da obra ajustado apurado pela CGU, de R$180.835.109,60 e

mantendo-se a mesma taxa interna de retorno de projeto real estabelecida pela PMRO, igual a 13,25%, o CPM seria de R$

4.731.000,00. Assim, o valor da CPM contratado de R$ 5.426.000,00 encontra-se R$ 625 mil ou 14,69% acima da CPM ajustado,

levando-se em consideração o preço total do empreendimento, conforme tabela abaixo.

FLUXO DE CAIXA DESCONTADO CONSIDERANDO O SOBREPREÇO APONTADO

Ano 0 1 2 3 (...) 13 14 15 16

Receita 56.772.000,00 56.772.000,00 56.772.000,00 56.772.000,00 56.772.000,00 56.772.000,00

(-) Operação Manutenção

10.610.000,00 10.610.000,00 10.610.000,00 10.610.000,00 10.610.000,00 10.610.000,00

EBITDA 46.162.000,00 46.162.000,00 46.162.000,00 46.162.000,00 46.162.000,00 46.162.000,00

Depreciação 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97

EBIT 34.106.326,03 34.106.326,03 34.106.326,03 34.106.326,03 34.106.326,03 34.106.326,03

(-) IR (25%) e CSLL (9%)

11.596.150,85 11.596.150,85 11.596.150,85 11.596.150,85 11.596.150,85 11.596.150,85

(=) NOPAT 22.510.175,18 22.510.175,18 22.510.175,18 22.510.175,18 22.510.175,18 22.510.175,18

(+) Depreciação 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97 12.055.673,97

(=) Gross Cash Flow 34.565.849,15 34.565.849,15 34.565.849,15 34.565.849,15 34.565.849,15 34.565.849,15

(-) Capex -87.175.488,70 -106.069.520,66

(+/-) Capital de Giro -13.700.000,00 -100.000,00 -300.000,00 -2.200.000,00 1.900.000,00 8.600.000,00

(=) FCFF -87.175.488,70 -106.069.520,66 20.865.849,15 34.465.849,15 34.265.849,15 32.365.849,15 32.665.849,15 25.965.849,15

(=) FCFF Real -87.175.488,70 -93.659.620,90 16.268.954,40 23.728.722,14 6.797.743,29 5.669.595,25 5.052.668,34 3.546.428,09

VP Saídas (valor presente)

-180.835.109,60

VP Entradas (valor presente)

180.837.197,29

VP (entradas - saídas) 2.087,69

TIR do Projeto Real 13,25%

Tir do Projeto Nominal

18,55%

##/AnaliseControleInterno##

2.2.3 Quantitativos e preços unitários acima dos valores efetivamente necessários para execução do objeto.

O orçamento estimativo foi elaborado pela PMRO levando-se em consideração determinadas especificações técnicas para execução das obras e serviços de engenharia

previstos. Cabe aqui destacar que o custo de um empreendimento de engenharia é função direta das especificações técnicas e dos métodos construtivos considerados.

Em que pese a planilha estimativa ter sido elaborada em função de determinadas premissas técnicas, o edital da presente licitação em seu Anexo I – Descritivo Técnico, deixou a critério das licitantes a definição, em suas respectivas propostas técnicas, de especificações técnicas para as obras e serviços previstos, por exemplo: tipo de escoramento de vala, reaproveitamento de material para reaterro de vala, distância média de transporte – DMT, velocidade de transporte (bota-fora) e posicionamento e cravação de tubos por meio de métodos não destrutivos etc.

Observa-se que, tendo os custos das obras sido baseados em determinadas premissas técnicas, a alteração de tais especificações geram, consequentemente, alteração do equilíbrio econômico-financeiro inicialmente idealizado.

O princípio do equilíbrio econômico-financeiro visa, portanto, garantir a manutenção das condições remuneratórias estabelecidas.

Conforme salientado em item anterior do presente relatório, os projetos as built disponibilizados divergem significativamente dos projetos licitados. Entretanto, como não foram disponibilizadas planilhas de medições que demonstrassem, fidedignamente, os quantitativos das obras e serviços de engenharia efetivamente executados, as análises realizadas por esta equipe de auditoria foram baseadas nos quantitativos previstos no orçamento estimativo, parte integrante da licitação.

Para o caso em tela, observamos a existência de quantitativos de serviços e obras constantes nas memórias de cálculo acima dos valores efetivamente necessários para a execução do objeto. Observamos, ainda, a ocorrência de alterações de especificações técnicas que, conjuntamente com a superestimativa de serviços anteriormente citada, causou o desequilíbrio econômico-financeiro em desfavor da administração pública.

Daqui em diante trataremos das principais irregularidades encontradas, dividindo-as em superestimativa de quantitativos e alterações de especificações técnicas.

As irregularidades aqui descritas, também, foram apontadas pela Comissão de Análise das obras da PPP, constituída por engenheiros da PMRO, no relatório preliminar elaborado em fevereiro de 2009.

2.2.3.1) Superestimativa de Quantitativos

Por meio de análise do orçamento estimativo e das respectivas memórias de cálculo elaborado pela PMRO constatamos a existência de quantitativos superestimados para os seguintes serviços:

- pavimentação de ruas;

- movimento de terra (bota-fora);

- calçadas.

Pavimentação

Os quantitativos dos serviços de pavimentação foram calculados levando-se em consideração rua padrão com largura de 7,00 m para as Bacias 1 e 2. Os serviços de pavimentação previstos contemplam:

a) regularização de sub-leito;

b) aterro de 30 cm de espessura com 7,0 m de largura com material de 1ª categoria;

c) camada de bloqueio (colchão de pó de pedra) de 15 cm e de 7,0 m de largura;

d) base de brita corrida de 15 cm de espessura e 7,0 m de largura;

e) sarjeta e meio-fio conjugado com 0,45 m de base e 0,30 m de altura;

f) pavimentação CBUQ com 5 cm de espessura e 6,40 m de largura, descontada a largura das sarjetas;

g) imprimação de base de pavimentação para 6,40 m de largura;

h) pintura de ligação para 6,40 m de largura.

Por meio de inspeção física nas obras de pavimentação, constatamos, para uma amostra de 70,5% das ruas pavimentadas conforme previsto no respectivo projeto, que a largura média efetivas das ruas é de 6,1 m, não se descontando a largura das sarjetas. Procedendo-se ao ajuste dos quantitativos dos serviços de pavimentação obtemos o sobrepreço de R$ 2.703.487,47 (dois milhões setecentos e três mil quatrocentos e oitenta e sete reais e quarenta e sete centavos), que representa 17% do valor inicialmente previstos para tais serviços, conforme planilha abaixo.

Item Total R$

Pavimentação Bacia 1 3.720.429,25

Pavimentação Bacia 2 14.885.925,70

Total 18.606.354,95

Preço Ajustado 15.902.867,48

Sobrepreço 2.703.487,47

Movimento de Terra e Transporte

Em relação aos serviços de movimento de terra e transporte, constatamos que os serviços foram superestimados em seus quantitativos e os preços unitários adotados não guardam compatibilidade com a velocidade de transporte usual para este tipo de empreendimento.

A distância média de transporte – DMT de 29 Km definida na planilha orçamentária encontra-se 19 Km acima dos valores adotados pela PMRO em obras realizadas nesta municipalidade, conforme salientado no relatório preliminar elaborado pela Comissão Técnica de Avaliação da Execução da Ampliação e Operação do Sistema de Esgotamento Sanitário – PPP. Além da DMT estar acima dos valores usuais estabelecidos pela PMRO, destacamos que existem duas velocidades médias de transporte, 10 Km/h e 20 Km/h, que apresentam custos unitários por T x Km de R$ 1,57 (um real e cinquenta e sete centavos) e R$ 0,78 (setenta e oito centavos), respectivamente. Considerando que a velocidade média mais adequada para as obras em comento é de 20 Km/h, o custo aplicável é de R$ 0,78 (setenta e oito centavos), e procedendo-se ao ajuste do valore de DMT para o valor sugerido pela Comissão da PMRO, obtem-se sobrepreço de R$ 24.030.873,29, conforme detalhado nas duas tabelas a seguir:

Transporte de qualquer natureza com velocidade média de 10km/h em caminhão basculante com capacidade útil de 8t, carga de 50t por dia de 8h

Unid Quant. Custo Unitário

Preço Total (BDI de 20%)

Preço Total-Ajust.para 20km/h e DMT de 10km Sobrepreço

txkm 13.229.884,94 1,57 24.925.103,23 4.270.059,42 20.655.043,81

Transporte de qualquer natureza com velocidade média de 20km/h em caminhão basculante com capacidade útil de 8t, carga de 50t por dia de 8h

Unid Quant. Custo Unitário

Preço Total (BDI de 20%)

Preço Total-Ajust.para 20km/h e DMT de 10km

Sobrepreço

txkm 5.504.895,12 0,78 5.152.581,84 1.776.752,36 3.375.829,48

Cabe destacar que a inspeção física das obras foi realizada por esta equipe em fevereiro de 2012, isto é, em momento posterior aos serviços relacionados ao movimento de terra, realizado durante a execução das obras. Cabe ainda dizer que a Comissão de Fiscalização da PMRO relatou que o material escavado para assentamento da tubulação fora reaproveitado para reaterro de vala. Assim, o sobrepreço apontado acima não leva em consideração o fato do material escavado ter sido reaproveitado na obra e, portanto, não ter sido transportado para o local de bota fora.

Calçada

Além dos serviços de pavimentação de ruas, foi prevista também a execução de calçadas ao longo das ruas a serem pavimentadas. A largura padrão das calçadas consideradas na memória de cálculo é de 2,00 m de cada lado da rua. Entretanto, constatamos que o espaçamento entre as casas e as caixas das ruas variam significativamente de 0,25 m a 2,50 m.

Em função da variação significativa das larguras das calçadas, esta equipe de auditoria não elaborou memória de cálculo contendo os quantitativos em m² efetivamente executados.

2.2.3.2) Obras e Serviços com Especificações Técnicas Alteradas

Por meio de análise do orçamento estimativo elaborado pela PMRO em confronto com as obras e serviços de engenharia efetivamente executados constatamos para os serviços listados a seguir que os preços unitários inicialmente considerados são superiores aos efetivamente incorridos pela empresa contratada:

- coletores tronco – método não destrutivo;

- movimento de terra;

- calçadas;

- escoramento de valas;

- tampa das caixas de inspeção.

Coletores Tronco – Método Não Destrutivo

O método não destrutivo considerado para execução de coletores tronco, segundo planilha estimativa, corresponde ao pipe-jacking cujo custo unitário para posicionamento e cravação por metro de tubo é de R$ 4.570,53 (quatro mil quinhentos e setenta reais e cinquenta e três centavos) que acrescido de BDI de 20% considerado pela PMRO representa o preço unitário de R$ 5.484, 64 (cinco mil quatrocentos e oitenta e quatro reais e sessenta e quatro centavos).

A Comissão da PMRO aponta no relatório preliminar de fevereiro de 2009 que o sistema não destrutivo utilizado é do tipo furação direcional. A citada Comissão solicitou orçamento a duas empresas de engenharia a fim de verificar o preço unitário dos serviços em questão, tendo sido cotados os preços por metro para cravação de tubos, nos diâmetros previstos, em R$ 1.115,00 (um mil cento e quinze reais) e R$ 966,00 (novecentos e sessenta e sei reais), respectivamente.

Adotando-se o preço unitário máximo cotado pela Comissão da PMRO, obtém-se o sobrepreço de R$ 20.200.764,84 (vinte milhões duzentos mil setecentos e sessenta e quatro reais e oitenta e quatro centavos), conforme tabela abaixo:

Posicionamento e cravação de tubulação pipe-jacking

Diâmetro Quant.

Custo Unitário

R$

Preço Unitário Estimado

R$

Preço Total Estimado

R$

Preço Unitário Cotado

R$

Preço Total-Cotado-R$

Sobrepreço

R$

400 mm 1.732 4.133,20 4.959,84 8.590.442,88 1.115,00 1.931.180,00 6.659.262,88

700 mm 3.099 4.570,53 5.484,64 16.996.886,96 1.115,00 3.455.385,00 13.541.501,96

Total 25.587.329,84 5.386.565,00 20.200.764,84

Movimento de Terra

Segundo o relatório da Comissão da PMRO, o material escavado durante o processo de abertura de valas para assentamento da tubulação foi utilizado no reaterro destas valas, não tendo sido utilizado, portanto, pó de pedra, conforme previsto na memória de cálculo integrante do orçamento estimativo.

Realizando o ajuste necessário obtém-se o sobrepreço de R$ 4.437.875,39 (quatro milhões, quatrocentos e trinta e sete mil, oitocentos e setenta e cinco reais e trinta e nove centavos).

Reaterro de vala/cava com pó de pedra

Quant. Custo

Unit. R$ Preço Unit. Estimado

Preço Unit. Referencial sem pó de

pedra

Preço Total Referencial sem pó de

pedra

Preço Total Estimado

Sobrepreço

R$

13.983,75 46,33 55,60 16,36 228.774,15 777.496,50 548.722,35

2.484,72 47,33 56,80 16,36 40.650,02 141.132,10 100.482,08

10,24 48,33 58,00 16,36 167,53 593,92 426,39

67.094,82 49,33 59,20 16,36 1.097.671,26 3.972.013,34 2.874.342,09

292,32 50,33 60,40 16,36 4.782,36 17.656,13 12.873,77

42,70 51,33 61,60 16,36 698,57 2.630,32 1.931,75

6.313,16 52,33 62,80 16,36 103.283,30 396.466,45 293.183,15

7.571,34 53,33 64,00 16,36 123.867,12 484.565,76 360.698,64

2,09 54,33 65,20 16,36 34,19 136,27 102,08

2.244,62 55,33 66,40 16,36 36.721,98 149.042,77 112.320,78

1.962,94 56,33 67,60 16,36 32.113,70 132.694,74 100.581,05

614,25 57,33 68,80 16,36 10.049,13 42.260,40 32.211,27

Total 102.616,95 1.678.813,30 6.116.688,70 4.437.875,39

Preço Referencial: SINAPI Código 1908 – mês julho de 2006.

Calçadas

Por meio de inspeção física nas obras executadas, constatamos que a espessura média das calçadas executadas corresponde a 6 cm, em desacordo, portanto, com a espessura de 15 cm prevista no orçamento estimativo da PMRO, conforme demonstrado no relatório fotográfico abaixo:

Realizando o ajuste necessário a partir do preço referencial adotado, obtém-se o sobrepreço de R$ 1.957.618,80 (um milhão novecentos e cinquenta e oito mil seiscentos e setenta e nove reais e oitenta e quatro centavos).

Pátio de concr. Esp. de 15cm, traço 1:2:2 em quadros de 1,5mx1,5m com sarrapos de pinho incorporados, eccl. Preparo do terreno

Quant.

Custo Unit.

Estimado

R$

Preço Unit.

Estimado

R$

Preço Unit. de

Referência para

espessura de 6cm

Preço Total de Referência para

espessura de 6cm

Preço Total-Estimado-R$

Sobrepreço

R$

176.840,00 29,96 35,95 24,88 4.399.779,20 6.357.398,00 1.957.618,80

Preço Unitário Referencial: EMOP Código 13.370.010-0 – mês janeiro de 2007

Escoramento de Valas

Segundo informações da Comissão de Avaliação das obras da PPP da PMRO contidas no relatório preliminar e respectivo relatório fotográfico, o tipo de escoramento utilizado pela empresa contratada difere daquele incialmente previsto pela PMRO quando da elaboração de orçamento estimativo. O escoramento previsto seria do tipo pranchada horizontal c/pinho de 3ª e perfil "H" 6" x 6", reutilizados 5 vezes. Contudo o registro fotográfico demonstra a execução de

escoramento por meio de chapas metálicas (ensecadeira).

Descrição Quant. (m²)

Custo Unit.

Pranc.

Hor - R$

Preço Unit.

Pranc.

Hor - R$

Preço Unit.

Referencial para

Ensecadeira

R$

Preço Total Referencial

para Ensecadeira

R$

Preço Total-Pranc.Hor.-R$

Sobrepreço

R$

Escoramento 187.973,89 101,17 121,40 38,81 7.295.266,67 22.820.030,25 15.524.763,58

Preço Unitário Referencial: SINAPI Código 20995/1 – mês julho de 2006

Tampa das Caixas de Inspeção das Ligações Residenciais

Na inspeção física das obras realizada em fevereiro de 2012, constatamos que as tampas das caixas de inspeção das ligações prediais de esgotamento sanitário são todas de concreto, em vez de ferro fundido (fofo). Descontando-se o custo unitário das tampas de fofo, de R$ 120,84 (cento e vinte reais e oitenta e quatro centavos), ajustado pela tabela EMOP (elementar nº 01352), e incluindo-se o custo unitário das tampas de concreto de mesmo diâmetro (código EMOP 15.001.080-0) de R$ 19,04 (dezenove reais e quatro centavos), obtém-se um sobrepreço de R$ 1.413.519,80 (um milhão quatrocentos e treze mil quinhentos e dezenove reais e oitenta centavos), como demonstrado abaixo.

Ligação predial de esgoto sanitário, incl. caixa de inspeção com tampão de fofo leve em logr.

Descrição Quant.

Custo Unitário Praticado

R$

Preço Unitário Praticado

R$

Preço Total Praticado - R$

Preço Unitário Ajustado

R$

Preço Total Ajustado - R$

Sobrepreço

R$

s/ pav. c/coletor

único 9.935 925,74 1.110,89 11.036.692,15 988,74 9.823.131,90 1.213.560,38

c/ asfalto e coletor único

1.637 1642,64 1.971,17 3.226.805,29 1.849,02 3.026.845,74 199.959,55

Total 14.263.497,44 12.849.977,64 1.413.519,80

A Comissão de Avaliação das obras da PPP constatou em fevereiro de 2009 que, além da mudança do material das tampas, foi também alterado o diâmetro de 60 cm para 40 cm, o que, segundo o relatório preliminar da Comissão de Avaliação das obras da PPP da PMRO ensejaria uma glosa de R$ 760.000,00 (setecentos e sessenta mil reais). A análise da presente fiscalização não considerou a redução de diâmetro das tampas, o que, aplicada a

correspondência da tabela da EMOP, acarretaria uma glosa ainda maior em relação à que foi calculada na tabela acima.

A tabela abaixo demonstra de forma consolidada os sobrepreços descritos na presente constatação totalizando R$ 70.268.903,17 (setenta milhões, duzentos e sessenta e oito mil, novecentos e três reais e dezessete centavos).

Descrição Valor – R$

Sobrepreço pavimentação 2.703.487,47

Sobrepreço movimento de terra (velocidade 10km/h) 20.655.043,81

Sobrepreço movimento de terra (velocidade 20km/h) 3.375.829,48

Sobrepreço posicionamento e cravação de tubos MND 20.200.764,84

Sobrepreço reaterro de vala com pó de pedra 4.437.875,39

Sobrepreço calçadas 1.957.618,80

Sobrepreço escoramento de valas 15.524.763,58

Sobrepreço tampa das caixas de inspeção 1.413.519,80

Sobrepreço total 70.268.903,30

Valor estimado 251.106.999,86

Valor total ajustado

(Valor Estimado – Sobrepreço) 180.838.096,56

Em complementação, vale citar que não foi possível medir a substituição da cortina atirantada para o estaqueamento efetivamente empregado nas bacias de acumulação 1 e 2. Em que pese o registro fotográfico evidenciar a alteração do projeto básico, não tivemos acesso às planilhas do projeto as built, o que inviabiliza a comparação entre os projetos.

Bacia de Acumulação 1 Bacia de Acumulação 2

##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada

Questionada por meio do Ofício nº 8.991/2012/NAINF/CGU-Regional/RJ/CGU-PR, de 27/03/2012, a PMRO encaminhou o Ofício nº 210/2012-GAB, de 30/05/2012, onde informou:

IV – Da Obra

As supostas irregularidades alegadas pela Controladoria Geral da União em seu relatório devem ser analisadas com ressalvas. Primeiro por se tratar de contrato de concessão administrativa de serviço público precedido de obra, como já amplamente explanado linhas acima; e, segundo porque decorrentes de análise realizada sobre um projeto básico defasado.

De fato o ‘as built’ diverge do projeto básico originalmente licitado, uma vez que durante a elaboração do projeto executivo foram identificadas incompatibilidades entre o projeto básico e a realidade local que tornaram necessárias as alterações realizadas. Por isso, a defasagem do projeto básico em relação ao projeto executivo.

Percebe-se, então, que o relatório elaborado não reflete a realidade. A inobservância das modificações efetuadas no projeto básico, todas previamente autorizadas e fiscalizadas pelo próprio Município, impossibilitou a análise correta da execução das obras.

Essas modificações acompanhadas e autorizadas pelo Município tiveram o objetivo de viabilizar a prestação do serviço, com a fiscalização da realização da obra, não restrita ao projeto básico.

IV. 1 - Pavimentação

No tocante a divergência na largura da rua padrão, durante a execução da obra verificou-se em boa parte das regiões onde as melhorias foram implementadas que a largura média real das ruas é de 6,10 m (seis metros e dez centímetros). Por isso, em reunião realizada em 17 de outubro de 2007 na Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos definiu-se que a melhor largura para as ruas seria de 6,00 m (seis metros) (item I do doc.: 01).

Ocorre que a modificação feita não representou superestimativa de quantitativos, não houve sobrepreço para o serviço uma vez que quilometragem originalmente prevista para os serviços de pavimentação que seria de 42,1 Km (quarenta e dois quilômetros e cem metros) foi alterada para maior, foi realizada pavimentação de 46,1 Km (quarenta e seis quilômetros e cem metros) (doc.: 02).

Como pode se verificar a pavimentação de ruas contemplou 4 Km (quatro quilômetros) a mais do que previsto no projeto básico. Portanto, a alteração da largura média das ruas não configurou sobrepreço do serviço, posto que compensada pela pavimentação de maior número de ruas.

IV.2 - Movimentação de Terra e Transporte

No relatório ora contestado, considerou-se que a distância média de transporte (DMT) adotada na planilha orçamentária de estimativa, 29 Km (vinte e nove quilômetros) encontrar-se-ia fora dos valores adotados pelo Município em outras obras realizadas.

Ocorre que o local de destinação dos resíduos está de acordo com a Licença de Operação expedida pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) autorizado pela Coordenação de Resíduos e Efluentes (SEMMA-PMM) (doc. 03).

O local do bota-fora era situado a Rua Córrego da Pedra, n° 80, Sítio Independência, em Virgem Santa, no Município de Macaé, localizado a 50 Km (cinquenta quilômetros) ou 33,8 Km (trinta e três quilômetros e oitocentos metros) das obras, dependendo do trajeto realizado. Portanto, jamais poderia ser adotada a distância de 10 Km (dez quilômetros).

Além da maior distância, vale frisar que o local de execução das obras, o Município de Rio das Ostras, possui trânsito bastante congestionado em determinados horários em decorrência do movimento pendular Rio das Ostras x Macaé, fazendo com que o custo deste serviço, especificamente, aumente consideravelmente.

Da análise da composição do material escavado é possível verificar que sua utilização no reaterro impossibilitaria a continuidade da execução da obra. Por isso, o material retirado foi devidamente transportado para o local de bota-fora.

Não houve reaproveitamento do material para reaterro de vala. Todo o material escavado durante o processo de abertura de valas para assentamento da tubulação foi transportado para o local do bota fora, uma vez que a composição do solo escavado não era vantajosa para a utilização no reaterro.

Sendo assim, exatamente como previsto no orçamento estimativo da obra, foi utilizado pó de pedra, ou material equivalente, para o reaterro das valas.

IV.3 - Calçadas

No tocante às calçadas, de fato a memória de cálculo apresentada para elaboração da planilha orçamentária de estimativa adotou a medida de 2,00 m (dois metros) como ideal para as calçadas. No entanto, foi verificado a impossibilidade da construção do calçamento da forma prevista no projeto básico.

Diante da verificação do problema, em reunião realizada em 17 de outubro de 2007, o Município e a empresa concessionária definiram que ‘em casos que apresentem condições desfavoráveis, tais como ocupações irregulares, alinhamentos errôneos de construções existentes e etc, a PMRO indicará a solução a ser adotada caso a caso’ (item 1 do doc.: 01).

Assim, onde as calçadas não puderam ser construídas com a largura inicialmente prevista, a fim de respeitar as construções já existentes na área de execução da obra e evitar um problema social, foi necessário adaptar as obras das calçadas às condições reais de cada local.

Entretanto, segundo as Normas Técnicas vigentes, as calçadas para uso exclusivo de pedestres deve possuir espessura entre 05 cm (cinco centímetros) e 06 cm (seis centímetros), já as que suportam trânsito de veículos devem possuir de 08 cm (oito centímetros) a 10 cm (dez centímetros). Considerando que as calçadas em questão são para uso exclusivo de pedestres, a espessura média detectada pela fiscalização é suficiente para o fim a que deve atender.

Ainda sim, é possível verificar que em diversos trechos da extensão do calçamento fez-se necessária a construção de calçadas com espessuras maiores, em virtude da composição do solo do local. A medida de 06 cm (seis centímetros), ainda que de acordo com as Normas Técnicas vigentes e com a determinação da PMRO, não era suficiente em certos locais, tendo sido executado a obra da melhor forma a atender o fim pretendido.

Ademais, conforme acordado judicialmente com o Município, foi determinada a correção de diversas calçadas, sem qualquer custo adicional. Essas correções foram integralmente realizadas pela

Concessionária ainda em 2009, como dá conta o acordo anexo (doe. 06).

Apesar da variação na largura das calçadas, aqui também não houve sobrepreço na obra, uma vez que também foram construídos mais meios-fios e sarjetas do que originalmente previsto. Tomando como base o projeto básico, foram efetivamente construídos 8 km (oito quilômetros) e 2.400 m2 (dois mil e quatrocentos metros quadrados) a mais de meios-fios e sarjetas, respectivamente (doc. 02), conforme verificado no as built.

IV.4 - Coletores Tronco - Método Não Destrutivo

A modificação do método para a execução do coletor tronco deveu-se a dificuldades de execução, uma vez que seria necessário desapropriar inúmeras residências, trazendo transtornos tanto aos munícipes quanto ao Município. Sendo assim, buscou-se um método combinasse a maior qualidade da obra com a menor intervenção possível.

Por isso, em reunião realizada em 16 de outubro de 2007 chegou-se a conclusão de que o melhor método para a construção do coletor tronco seria a execução por meio de furo direcional, método também não-destrutivo (doc. 04).

Cumpre salientar que o método adotado em nada descaracteriza o objeto contratual. Na realidade, o produto final foi alcançado com maior qualidade, já que o método anterior (pipe-jacking) previa a utilização de tubos de concreto e o furo direcional permitiu a utilização de tubos de PEAD (Polietileno), que apesar de possuírem custo mais elevado, apresentam resistência notadamente superior.

IV.5 - Escoramento de Vala

O questionamento ora esclarecido trata apenas de metodologia de engenharia para atingir o objetivo contratado, inexistindo qualquer interferência no produto final. E mais, o contrato de Parceria Público Privada autoriza expressamente que a Concessionária utilize sua própria metodologia de execução de projetos, conforme a Cláusula 13.10.

Dessa maneira, a Concessionária optou pela utilização do método de escoramento por meio de chapas metálicas que não só conferiu maior mobilidade à obra, possibilitando sua conclusão com maior rapidez, mas também proporcionou maior segurança na execução do serviço.

De fato, o uso de proteção metálica é infinitamente mais seguro aos profissionais envolvidos diretamente na obra do que a mera

utilização de estacas-prancha. Ademais, é falsa a noção de que a não-utilização das estacas-prancha seja, necessariamente, mais econômica para a contratada. Em obras, como a realizada no Município de Rio das Ostras, onde a incidência de lençóis freáticos próximos à superfície é muito alta e as chuvas são constantes durante boa parte do ano, o aluguel do equipamento de escoramento metálico pode ultrapassar os custos de aquisição das estacas-prancha previstas para a execução da obra.

IV.6 - Tampas das Caixas de Inspeção das Ligações Residenciais

As tampas de ferro fundido das caixas de inspeção foram instaladas. Ocorre que, por seu alto valor, as tampas tinham que ser recolocadas repetidas vezes, em decorrência de furtos.

Diante desta realidade o Município de Rio das Ostras solicitou a substituição das tampas de ferro fundido por peças confeccionadas em concreto (item 3 do doc. 01) e determinou que a Concessionária promovesse a troca, o reparo e o renivelamento de diversas tampas que se encontravam com defeito, o que foi realizado pela Concessionária ainda em 2009, sem qualquer custo adicional para a Municipalidade (conforme acordo judicial celebrado em 25 de junho de 2009, doc. 06).

Além da alteração do material, foi necessário diminuir o diâmetro de algumas caixas devido a interferências encontradas em razão de redes instaladas, calçadas estreitas já construídas, etc, sem que com isso tenha havido perda na funcionalidade das peças.

##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno

A PMRO concorda que há alterações significativas no projeto executivo quando comparados com o projeto básico. A modelagem, o custo total do investimento e o valor da contraprestação mensal a ser pago à empresa contratada foram estabelecidos tendo como base as especificações técnicas e custos unitários adotados no projeto básico. Dessa maneira, os valores das contraprestações mensais devem, ao mais próximo possível, refletir os custos efetivamente incorridos de forma a garantir à empresa contratada a rentabilidade desejada. A redução do custo de capital, fato ocorrido, gerou aumento do fluxo de caixa, permitindo a empresa uma maior rentabilidade do que aquela prevista quando utilizado o custo estimado pela Administração quando da elaboração do edital.

Não há comprovação de que o(s) local(is) de bota-fora encontram-se a 29 km de distância do local da obra, a licença apresentada representa licença de material de empréstimo.

A PMRO alega que as alterações das especificações técnicas não alteraram o custo final do empreendimento visto que foram executados quantitativos acima daqueles.

Em outubro de 2008, o consórcio vencedor notificou a PMRO informando que as obras previstas haviam sido concluídas. Entretanto, conforme exposto no relatório da Comissão Técnica para avaliação da Ampliação e Operação do Sistema de Esgotamento Sanitário de Rio das Ostras – PPP, parte das obras e serviços de engenharia foram executados em desconformidade com os padrões pactuados entre as partes. Ainda, segundo a Comissão Técnica, seria necessário verificar se o valor da contraprestação mensal é compatível com o custo final incorrido pelo consórcio contratado para execução das obras e serviços de engenharia entregues.

Segundo Parecer do Subprocurador-Geral do município de Rio das Obras, datado de 01 de novembro de 2009, a PMRO, com base no relatório da Comissão Técnica de Avaliação das obras da PPP, propôs duas ações, uma cautelar e outra principal, na justiça objetos dos processos n.º 2009.068.002986-9 e 2009.068.002988-2, visando suspender os pagamentos das contraprestações mensais ao consórcio vencedor da licitação até que o custo efetivo das obras executadas e o respectivo valor da contraprestação mensal pudessem ser recalculados.

Todavia, após acordo judicial na demanda principal, os pagamentos das contraprestações mensais foram mantidos conforme os valores inicialmente pactuados. ##/AnaliseControleInterno##

3. Conclusão

Diante dos fatos aqui apontados, resta claro que parte das obras e dos serviços de engenharia foram executados em desacordo com as especificações técnicas inicialmente prevista pela Prefeitura de Rio das Ostras. Tais alterações reduziram o custo final do empreendimento para o consórcio vencedor sem que a aludida municipalidade lograsse qualquer benefício em função destas alterações. Ou seja, adotando-se o custo efetivo das obras, o valor mensal de contraprestação seria inferior ao valor da proposta do consórcio vencedor, uma vez que no valor total de R$ 1,08 bilhão a ser recebido pelo consórcio para executar a coleta e o tratamento dos resíduos e efluentes urbanos e industriais do município por 15 anos, está prevista, também, a execução das obras de ampliação do sistema de esgotamento sanitário e drenagem do município. Com relação ao processo licitatório para a contratação das obras, foram verificadas ofensas aos princípios constitucionais da igualdade e da competitividade dos licitantes, contrárias aos ditames da Lei das Licitações, que juntamente com fragilidades no acompanhamento da execução das obras, contribuíram para o não cumprimento das metas propostas. Quanto aos projetos, conforme salientado no presente relatório, os projetos as built disponibilizados divergem significativamente dos projetos licitados. Entretanto, como não foram disponibilizadas planilhas de medições que demonstrassem, fidedignamente, os quantitativos das obras e serviços de engenharia efetivamente executados, as análises realizadas por esta equipe de auditoria foram baseadas nos quantitativos previstos no orçamento estimativo, parte integrante da licitação. Destacamos que não foram disponibilizadas planilhas de medições das obras que nos permitisse, com o grau de precisão adequado, visualizar o custo total das obras efetivamente executadas.

Diante do exposto, confirma-se a existência de fatos contrários ao interesse público, principalmente quanto às alterações significativas que foram realizadas no projeto licitado quando da execução da obra, o que causou prejuízos para a municipalidade. Ainda que o BNDES tenha adotado medidas para que fossem avaliadas a viabilidade técnica do projeto e a compatibilidade dos quantitativos do projeto com os previstos no projeto básico, entendemos que o Banco deve avaliar os impactos das falhas apontadas neste relatório no financiamento concedido, adotando-se, se for o caso, medidas corretivas. Cabe acrescentar que, quanto aos fatos apontados nesse relatório, o BNDES manifestou-se no sentido de aguardar a manifestação dos órgãos estatais responsáveis pelo acompanhamento dos atos da Administração Pública municipal. Segundo o Banco, com efeito, ocorreria situação contraditória se fosse tomada, neste momento, alguma medida pelo BNDES e, posteriormente, a Câmara Municipal de Rio das Ostras e o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro reconhecessem a inexistência das irregularidades apontadas em fiscalização realizada por órgão de controle interno da Administração Publica federal. Diante do exposto, o BNDES informou que encaminhará esse relatório final da auditoria para a Câmara Municipal de Rio das Ostras e para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro a fim de que se pronunciem a respeito. Assim, somente após os posicionamentos de tais órgãos estatais de controle, o BNDES informou que poderá tomar as medidas contratuais cabíveis, se for o caso. Nesse sentido, de forma a evitar sobreposição de ações, a CGU não encaminhará esse relatório aos mesmos destinatários citados pelo BNDES.